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Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial Colégio Militar de Fortaleza 3º ano do Ensino Médio Professor Vinícius Vanir Venturini [email protected] 1 Revisado ________ TC Jean Cid (coord. de disciplina) Nota de aula 04.2 - Conflitos atuais Conflitos na África Ruanda (Guerra Civil de 1990 a 1993 e massacre em 1994) Ruanda é um país do centro-oriental da África e é formado pelos grupos étnicos hutus, que representam cerca de 85% da população, e tutsis, uma minoria que dominou o país por um longo período. Desde a colonização, acentuou-se uma grande rivalidade entre os povos hutus e tutsis. Entre os anos de 1990 e 1993, ocorreu a Guerra Civil de Ruanda. Nessa época, a oposição formada pelos tutsis atacou as tropas do governo, cujo presidente era Juvénal Habyarimana (hutus). O maior desdobramento dessa guerra civil ocorreu em 1994 e ficou conhecido como Genocídio de Ruanda contra tutsis e hutus moderados. O presidente Habyarimana foi assassinado. Extremistas hutus, então, começaram um intenso massacre, que vitimou mais de 800 mil pessoas em Ruanda. Atualmente, como forma de evitar outros conflitos, é ilegal falar sobre etnia no país. O genocídio, além de dizimar o país, empobreceu ainda mais a população, que vive em estado de miséria. Obs.: a cinegrafia do conflito pode ser percebida nos filmes Hotel Ruanda (2004), Apertando a mão do diabo, a história de um massacre (2001) e Tiros em Ruanda (2005); ●Burundi (a partir de 1993 a 2006) Considerado um dos países mais pobres do mundo, Burundi encontra-se imerso nas consequências de doze anos de guerra civil. Durante os anos de 1993 e 2004, o território sofreu com a intensificação de conflitos étnicos entre hutus, que representam cerca de 85% da população, e tutsis, que representam aproximadamente 14%. No ano de 1972, os hutus levantaram-se contra o poder que estava nas mãos dos tutsis, sofrendo uma grande represália que deixou cerca de 200 mil hutus mortos. Em 1993, os tutsis assassinaram o presidente hutu Melchior Ndadaye, dando início a uma guerra civil entre as duas etnias. Em 2005, os principais grupos rebeldes começaram a desmobilizar e converterem-se em partidos políticos, apesar de alguns setores só aceitarem os acordos de paz em 2008.

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3º ano do Ensino Médio

Professor Vinícius Vanir Venturini [email protected]

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Revisado

________ TC Jean Cid

(coord. de disciplina)

Nota de aula 04.2 - Conflitos atuais Conflitos na África

●Ruanda (Guerra Civil de 1990 a 1993 e massacre em 1994) Ruanda é um país do centro-oriental da África e é formado pelos grupos étnicos hutus, que representam

cerca de 85% da população, e tutsis, uma minoria que dominou o país por um longo período. Desde a colonização, acentuou-se uma grande rivalidade entre os povos hutus e tutsis. Entre os anos de 1990 e 1993, ocorreu a Guerra Civil de Ruanda. Nessa época, a oposição formada pelos tutsis atacou as tropas do governo, cujo presidente era Juvénal Habyarimana (hutus).

O maior desdobramento dessa guerra civil ocorreu em 1994 e ficou conhecido como Genocídio de Ruanda contra tutsis e hutus moderados. O presidente Habyarimana foi assassinado. Extremistas hutus, então, começaram um intenso massacre, que vitimou mais de 800 mil pessoas em Ruanda. Atualmente, como forma de evitar outros conflitos, é ilegal falar sobre etnia no país. O genocídio, além de dizimar o país, empobreceu ainda mais a população, que vive em estado de miséria.

Obs.: a cinegrafia do conflito pode ser percebida nos filmes Hotel Ruanda (2004), Apertando a mão do diabo, a história de um massacre (2001) e Tiros em Ruanda (2005);

●Burundi (a partir de 1993 a 2006) Considerado um dos países mais pobres do

mundo, Burundi encontra-se imerso nas consequências de doze anos de guerra civil. Durante os anos de 1993 e 2004, o território sofreu com a intensificação de conflitos étnicos entre hutus, que representam cerca de 85% da população, e tutsis, que representam aproximadamente 14%.

No ano de 1972, os hutus levantaram-se contra o poder que estava nas mãos dos tutsis, sofrendo uma grande represália que deixou cerca de 200 mil hutus mortos. Em 1993, os tutsis assassinaram o presidente hutu Melchior Ndadaye, dando início a uma guerra civil entre as duas etnias.

Em 2005, os principais grupos rebeldes começaram a desmobilizar e converterem-se em partidos políticos, apesar de alguns setores só aceitarem os acordos de paz em 2008.

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●República Democrática do Congo (a partir de 1996) Os conflitos que pairam no Congo perpassam questões políticas, econômicas, étnicas e culturais. A

República Democrática do Congo enfrentou inúmeros golpes de Estado e governos ditadores. A ONU já estabeleceu, sem sucesso, três missões de paz nesse território. Os atuais conflitos envolvem, principalmente, disputas de poder na política e na economia. No país, há presença de diversos grupos armados, e governos de países vizinhos acusam o governo congolês de apoiar esses grupos rebeldes.

Os conflitos no Congo iniciaram-se em 1996 e são provenientes do Genocídio em Ruanda, no qual hutus mataram cerca de 800 mil pessoas e seguiram para a República Democrática do Congo. Os tutsis também migraram para Ruanda com medo de uma nova ofensiva. Após o intenso fluxo migratório, os tutsis, novamente, começaram a sofrer represálias por parte dos congoleses e também dos hutus. Esse cenário deu origem à Primeira Guerra do Congo, na qual os tutsis, que voltaram ao poder por meio de Laurent Kabila, acreditavam que era necessário rebelarem-se contra os hutus, envolvendo nessa represália todos os países constituídos por essa etnia. Kabila encontrou dificuldades para governar. Sem apoio político, passou a enfrentar o descontentamento dos tutsis, que cobravam o cumprimento das promessas feitas pelo então presidente do Congo. Para demonstrar controle e proteger os tutsis, Kabila expulsou tropas de Ruanda e Uganda, dando início à Segunda Guerra do Congo. O conflito só cessou em 2002 com a intervenção das Nações Unidas.

Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo - MONUSCO, é uma das missões de manutenção de paz da ONU em vigor na República Democrática do Congo, que foi criado pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas para acompanhar o processo de paz da Segunda Guerra do Congo, com emprego de força letal contra as ofensivas dos rebeldes em especial do M23. O M23 é formado por ex-amotinados do exército e por recrutas, forçados a se juntar ao grupo.

Os conflitos na África com interferência da Guerra Fria Após sofrer com o neocolonialismo e o imperialismo imposto pelas potências europeias desde o século XVIII,

com radical do modo de vida das tribos, sua organização, espaço territorial, cultura, após a 2ª Guerra Mundial ocorre o enfraquecimento das potências europeias possibilitando a o processo de independência das colônias africanas. Porém os Estados Unidos e a União Soviética, a partir da Guerra Fria, articularam a independência de vários países africanos, através da oferta de armamentos, treinamento de combate/guerrilha e financiamentos diversos.

São exemplos de países, que sofreram diretamente interferência, apoio para independência, pelos Estados Unidos, ou pela União Soviética: a Guerra da República Democrática do Congo, na década de1960, na conquista da independência da Bélgica, a Guerra da Argélia, década de 1960, conquista na independência da França, a Guerra

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da Somália, década de 1960, conquista da independência da Inglaterra, Angola e Moçambique, 1975), conquista da independência de Portugal, a Guerra da Namíbia, década de 1960, e Guerra da Independência da África do Sul, conquista da independência do Reino Unido/Inglaterra.

●Angola (1975 a 2002)

Iniciado após a independência do país, o conflito na Angola perdurou por quase três décadas. A Guerra Civil Angolana iniciou-se em 1975 e cessou-se em 2002 por meio de acordos de paz. Esse conflito, como o de Moçambique, fez parte da Guerra Fria, uma vez que o território angolano sofreu influência da União Soviética, apoiando os rebeldes, contra o Governo, apoiado pelos Estados Unidos. Essa guerra foi protagonizada pelo Movimento Popular de Libertação da Angola e pela União Nacional para a Independência Total de Angola - UNITA, que travaram uma luta pelo poder. Considerada uma das guerras mais prolongadas em território africano, teve como vitorioso o Movimento Popular de Libertação da Angola em 2002, porém vitimou cerca de 500 mil pessoas, devastando o território angolano. Obs.: Angola é o país dos mutilados, devido à grande quantidade de minas terrestres empregadas na guerra civil;

Países com intervenção Soviética durante a Antiga Ordem Mundial

Angola país dos mutilados

●Nigéria (a partir de 1953, Guerra de Biafra)

Sem dúvida um dos eventos mais dramáticos e comoventes da África foi a Guerra de Biafra, que chocou o mundo com suas imagens marcantes e comoventes de adultos e crianças em estado de extrema subnutrição, ou simplesmente mortas. O agente causador da guerra foi um choque entre dois grupos étnicos da Nigéria.

A Nigéria se tornou independente em 1960, foi formada pela reunião do povo ibo com o povo hausa. Os ibos eram provenientes da província de Biafra, a leste do país, e formavam a elite da Nigéria. De uma forma geral eram os que tinham os melhores empregos e os melhores salários. Num golpe de Estado, em 1966, um grupo de oficiais do exército da etnia ibo tomou o poder. No entanto, em um contragolpe, o novo governo foi derrubado e os ibos passaram a ser caçados e massacrados no país inteiro.

Os que conseguiram escapar fugiram para a sua província de origem e se declararam independentes. A província de Biafra era muito rica em petróleo. Por esse motivo, o governo não iria aceitar sua separação, tendo em vista que era a região mais rica do país. Fator que resultou numa guerra civil que teve início em 1967, e fim em 1970.

Morreram, aproximadamente, um milhão de pessoas, em sua maioria ibos. Biafra se rendeu e foi anexada novamente ao território da Nigéria. Desde o fim da guerra civil, o país vem sendo governado por militares, a administração pública é dominada pela corrupção.

A Nigéria, além do conflito étnico, enfrenta conflitos de ordem religiosa e por disputas de recursos naturais. Na região Norte do país, concentram-se muçulmanos; na região Sul, concentram-se cristãos. O conflito entre essas duas ordens religiosas já deixou milhares de pessoas mortas desde o ano de 1953.

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A disputa por recursos naturais, em 2010, promoveu um ataque no estado de Plateau (região central da Nigéria). Nessa região, onde predominam cristãos, há muitos muçulmanos que migram para lá, fazendo com que haja disputa e contestação dos recursos naturais e também da terra. Esse conflito vitimou cerca de 700 pessoas, deixando, aproximadamente, 500 mortos e 200 feridos.

●Sudão do Sul (a partir de 1955)

O Sudão tem uma história marcada por muitos conflitos e guerras civis. É um país abundante em petróleo e em recursos minerais, como o ouro. A Primeira Guerra Civil Sudanesa ocorreu entre os anos de 1955 e 1972. Esse conflito bélico, travado entre o governo do Sudão e rebeldes do Sul, tinha por objetivo a separação da região Sul do Sudão. Essa guerra civil dizimou cerca de meio milhão de pessoas. Cessou com o acordo conhecido como Tratado de Adis Abeba, que afirmou a independência e a autonomia da região sul do Sudão, criando, então, o Sudão do Sul.

Esse acordo, contudo, foi rompido no ano de 1983, e a guerra reiniciou-se. Deu-se início, então, à Segunda Guerra Civil Sudanesa, conflito que durou de 1983 a 2005. Essa guerra foi um embate entre a parte Norte do Sudão e a parte Sul. A motivação desse conflito foi uma questão religiosa: o governo da região Norte que era muçulmano e tentou impor o código de leis do islamismo em todo o país. Contudo, boa parte da população da região Sul do Sudão era cristã ou animista.

Esse conflito bélico perdurou cerca de 20 anos e dizimou aproximadamente 2 milhões de pessoas. Em 2005, foi assinado um acordo de paz e, a partir disso, surgiu a região autônoma do Sudão do Sul. Essas guerras sudanesas tiveram como consequência um quadro de miséria, fome, doenças e muitos refugiados.

Atualmente, o Sudão do Sul vive um quadro dramático de fome e tem enfrentado problemas em relação ao número de refugiados que se deslocaram para lá. O conflito mais atual no Sudão do Sul, de ordem política, é travado entre os rivais Salva Kiir, presidente do país, e Riek Machar, o maior líder rebelde sudanês. Essa guerra civil estende-se desde o ano de 2013 e é motivada por esse conflito político e étnico, que vitimou cerca de

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10 mil pessoas e arruinou a economia do país. Segundo O Globo, Kiir e Machar firmaram, em agosto de 2018, um acordo para dividir o poder, dando início a um possível acordo de paz. ●Questão do Boko Haram (a partir de 2009)

O Boko Haram é um grupo terrorista surgido na Nigéria que, muitas vezes, é denominado como “grupo radical islâmico”, pois as suas ações correspondem ao fundamentalismo religioso de combate à influência ocidental e de implantação radical da lei islâmica, a sharia. O nome Boko Haram significa “a educação não islâmica é pecado” ou “a educação ocidental é pecado” na língua Hausa, um idioma bastante falado no norte do território nigeriano.

Com o passar do tempo, o Boko Haram foi se tornando um grupo militar cada vez mais bem armado, recebendo vários treinamentos e ações de formação por parte da Al-Qaeda do Magreb e de alguns outros grupos militares radicais existentes na região setentrional da África. Em 2009, com a morte de Mohammed Yusuf durante um confronto armado, o Boko Haram tornou-se uma organização militar totalmente radical. No entanto, somente em 2013 os Estados Unidos passaram a considerar, oficialmente, o Boko Haram como grupo terrorista, que é hoje um dos maiores da atualidade.

O principal objetivo do Boko Haram atualmente, além de combater os princípios e legados ocidentais deixados pela colonização britânica no país, é a construção de uma república islâmica. Para conseguir esse objetivo, o grupo terrorista utiliza muitos métodos radicais, incluindo a realização de atentados e o sequestro para realizar avanços territoriais. O Boko Haram também age por meio do sequestro de mulheres, utilizando-as para a obtenção de resgates e, principalmente, negociando-as como escravas sexuais.

Ações do Boko Haram, em 2014, esse grupo radical islâmico ganhou notoriedade quando raptou cerca de 270 mulheres nigerianas para serem escravas sexuais e para serem usadas em combates. Já no ano de 2017, segundo a UNICEF, cerca 83 crianças foram usadas como bombas pelo Boko Haram, o que chocou o mundo. *Depois da morte do profeta Maomé, em 632, seus seguidores concordaram com a criação do califado, que significa sucessão em árabe, como um novo sistema de governo. O califa é literalmente o sucessor do profeta como chefe da nação e líder da 'umma', comunidade de muçulmanos, e tem o poder de aplicar a lei islâmica (sharia) na terra do Islã.

Os milhares de combatentes e militantes do Boko Haram vêm lutando não tão somente contra as tropas governamentais da Nigéria, mas também contra o apoio de outros países. Chade e Níger, que formam uma coalização africana, vêm atuando no território nigeriano para combater as ações da milícia terrorista, que eventualmente realiza atividades fora da Nigéria e ameaça, com uma possível expansão, os países circunvizinhos, principalmente Camarões, que já sofreu alguns atentados.

As ações do Boko Haram são uma demonstração da expansão da atividade de grupos terroristas pelo mundo, algo que se intensificou nos períodos posteriores à Guerra Fria. O líder Abubakar Shekau jurou, inclusive, uma lealdade a outro grupo terrorista radical, o Estado Islâmico. Essa postura não se trata, ao menos por enquanto, de uma aliança entre os dois grupos, mas pode indicar um paralelo sem igual para o crescimento da ação de grupos radicais pelo mundo.

Primavera Árabe (a partir de 2010) Primavera Árabe caracterizou uma série de protestos e revoltas ocorrida nos países de língua árabe a

partir do final de 2010, em que a população de diferentes lugares foi às ruas com diferentes objetivos, que giraram em torno da derrubada de ditadores, da realização de eleições e da melhoria das condições de vida. Trata-se de um dos principais eventos desse início de século e deflagra a grande instabilidade política existente na região.

Tudo começou em dezembro de 2010 na Tunísia, com a derrubada do ditador Zine El Abidini Ben Ali. Em seguida, a onda de protestos se arrastou para outros países. No total, entre países que passaram e que ainda estão passando por suas revoluções, somam-se à Tunísia: Líbia, Egito, Argélia, Iêmen, Marrocos, Bahrein, Síria, Jordânia e Omã. Obs.: a Primavera Árabe caracterizou-se também pelo uso das mídias sociais na coordenação dos movimentos populares (Twitter, Facebook, WhatsApp etc.);

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Primavera Árabe

●os protestos na Tunísia, os primeiros da Primavera Árabe, foram também denominados por Revolução de Jasmin. Essa revolta ocorreu em virtude do descontentamento da população com o regime ditatorial, iniciou-se no final de 2010 e encerrou-se em 14 de janeiro de 2011 com a queda de Ben Ali, após 24 anos no poder.

O estopim que marcou o início dessa revolução foi o episódio envolvendo o jovem Mohamed Bouazizi, que vivia com sua família através da venda de frutas e que teve os seus produtos confiscados pela polícia por se recusar a pagar propina. Extremamente revoltado com essa situação, Bouazizi ateou fogo em seu próprio corpo, marcando um evento que abalou a população de todo o país e que fomentou a concretização da revolta popular.

● a revolta na Líbia é conhecida como Guerra Civil Líbia ou Revolução Líbia e ocorreu sob a influência das revoltas na Tunísia, tendo como objetivo acabar com a ditadura de Muammar Kadhafi. Em razão da repressão do regime ditatorial, essa foi uma das revoluções mais sangrentas da Primavera Árabe. Outro marco desse episódio foi a intervenção das forças militares da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), comandadas, principalmente, pela frente da União Europeia. O ditador líbio foi morto após intensos combates com os rebeldes no dia 20 de outubro de 2011. ●a Revolução do Egito foi também denominada por Dias de Fúria, Revolução de Lótus e Revolução do Nilo. Ela foi marcada pela luta da população contra a longa ditadura de Hosni Mubarak. Os protestos se iniciaram em 25 de janeiro de 2011 e se encerraram em 11 de fevereiro do mesmo ano. Após a onda de protestos, Mubarak anunciou que não iria se candidatar novamente a novas eleições e dissolveu todas as frentes de estruturação do poder. Em junho de 2011, após a realização das eleições, Mohammed Morsi foi eleito presidente egípcio, porém, também foi deposto no ano de 2013. ●a onda de protestos na Argélia ainda está em curso e objetiva derrubar o atual presidente Abdelaziz Bouteflika, há 12 anos no poder. Em virtude do aumento das manifestações de insatisfação diante de seu mandato, Bouteflika organizou a realização de novas eleições no país, mas acabou vencendo em uma eleição marcada pelo elevado número de abstenções. Ainda existem protestos e, inclusive, atentados terroristas que demonstram a insatisfação dos argelinos frente ao governo. ●a Primavera Árabe também ocorreu no Marrocos. Porém, com o diferencial de que nesse país não há a exigência, ao menos por enquanto, do fim do poder do Rei Mohammed VI, mas sim da diminuição de seus poderes e atribuições. O rei marroquino, mediante os protestos, chegou a atender partes das exigências, diminuindo parte de seu poderio e, inclusive, nomeando eleições para Primeiro-Ministro. Entretanto, os seus poderes continuam amplos e a insatisfação no país ainda é grande. ●os protestos e conflitos no Iêmen estiveram em torno da busca pelo fim da ditadura de Ali Abdullah Saleh, que durou 33 anos. O fim da ditatura foi anunciado em novembro de 2011, em processo marcado para ocorrer de forma transitória e pacífica, através de eleições diretas. Apesar do anúncio de uma transição pacífica, houve conflitos

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e repressão por parte do governo. Foram registrados também alguns acordos realizados pelos rebeldes com a organização terrorista Al-Qaeda durante alguns momentos da revolução iemenita. E hoje o Iêmen sofre com guerra civil devastadora. ●a Jordânia foi um dos últimos países, até o momento, a sofrer as influências da Primavera Árabe. Revoltas e protestos vêm ocorrendo desde a segunda metade de 2012, com o objetivo de derrubar o governo do Rei Abdullah II, que, com receio da intensificação da Primavera Árabe em seu país, anunciou no início de 2013 a realização de novas eleições. Entretanto, o partido mais popular do país, a Irmandade Muçulmana, decidiu pelo boicote desse processo eleitoral diante das frequentes denúncias e casos comprovados de fraudes e compras de votos. ●assim como no Marrocos, em Omã não há a exigência do fim do regime monárquico do sultão Qaboos bin Said que impera sobre o país, mas sim a luta por melhores condições de vida, reforma política e aumento de salários. Em virtude do temor do alastramento da Primavera Árabe, o sultão definiu a realização das primeiras eleições municipais em 2012. O sultão vem controlando a situação de revolta da população do país através de benesses e favores à população. ●os protestos no Bahrein objetivam a derrubada do rei Hamad bin Isa al-Khalifa, no poder há oito anos. Os protestos também se iniciaram em 2011 sob a influência direta dos efeitos da Revolução de Jasmim. O governo responde com violência aos rebeldes, que já tentaram atacar, inclusive, o Grande Prêmio de Fórmula 1. Registros indicam centenas de mortos durante combates com a polícia. ●os protestos na Síria também estão em curso e já são classificados como Guerra Civil (desde de 2011) pela comunidade internacional. A luta é pela deposição do ditador Bashar al-Assad, cuja família encontra-se no poder há 46 anos. Há a estimativa de mais de 200 mil pessoas morreram na guerra e, segundo cálculos da ONU, há até 4 milhões de refugiados: milhares deles protagonizam a mais recente crise migratória na Europa. Há certa pressão por parte da ONU e da comunidade internacional em promover a deposição da ditadura e dar um fim à guerra civil, entretanto, as tentativas de intervenção no conflito vêm sendo frustradas pela Rússia, que tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU e muitos interesses na manutenção do poder de Assad.

Obs.: existem ainda indícios de que o governo sírio esteja utilizando armas químicas e biológicas para combater a revolução no país.

Criação e atuação do Estado Islâmico O Estado Islâmico nasceu em 2003 quando o Iraque estava ocupado por tropas americanas após os

atentados de 11 de setembro. Seu fundador, Abu Musab al-Zarqawi, de nacionalidade jordaniana, era responsável pelo grupo Al-Qaeda no Iraque. Por isso realizou inúmeros atentados contra civis muçulmanos no Iraque e na Jordânia. Suas ideias eram consideradas mais ambiciosas que as de Osama Bin Laden, pois Zarqawi pretendia convocar uma jihad e fundar um Estado Islâmico. Este teria como território países como o Iraque, Síria, Jordânia, Israel, Palestina, norte da África e a Penísula Ibérica.

Abu Musab al-Zarqawi foi morto em 2006 pelas tropas americanas, mas seus ideais já haviam se espalhado e conquistado vários adeptos. Após o falecimento de Abu Musab al-Zarqawi, Abu Bakral-Baghdadi assume a liderança do grupo. Numa aparição pública, na recém-consquitada cidade iraquiana de Mossul, ele se proclama califa em junho de 2014.

Um califa é o sucessor de Maomé, fundador do islamismo e sua função é governar o califado. Por sua vez, o califado é território onde todos os muçulmanos viveriam de acordo com o Islã original. Os integrantes do Estado Islâmico também seguem o salafismo - um movimento político que evoca a jihad contra o Ocidente.

Jihad significa, literalmente, o “esforço no caminho de Deus”. Neste sentido, pode ser o esforço pessoal que o fiel faz para seguir a vontade de Deus na sua vida. No entanto, há correntes islâmicas que o interpretam como fazer a guerra santa contra os infiéis.

Após a morte de Abu Musab al-Zarqawi, parte do seu grupo vai para a Síria durante a Primavera Árabe, em junho de 2011 e se juntam aos rebeldes que lutam conta o presidente sírio Bashar al-Assad. Rapidamente, o Estado Islâmico passa agir de forma independente, aproveitando que o governo central sírio não conseguia controlar a situação. Assim conquistam cidades importantes como Raqa, que é proclamada capital do Estado Islâmico e a histórica cidade de Palmira, onde causam danos a importantes monumentos. A população muçulmana civil destes territórios deve reconhecê-los como líderes ou partir deixando todos os seus bens. Caso não o façam, matam os homens e escravizam mulheres e crianças. Já os cristãos e seguidores de outras religiões têm suas propriedades confiscadas, são expulsos do território ou mortos.