direito_societário_avançado

285
ROTEIRO DE CURSO 2010.1 DIREITO SOCIETÁRIO AVANÇADO AUTOR: OTTO EDUARDO FONSECA DE ALBUQUERQUE LOBO

Upload: alessandro-rocha

Post on 24-Nov-2015

128 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • ROTEIRO DE CURSO2010.1

    DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    AUTOR: OTTO EDUARDO FONSECA DE ALBUQUERQUE LOBO

  • SumrioDireito Societrio Avanado

    1. ROTEIRO DO CURSO .......................................................................................................................................... 51.1 Viso Geral .............................................................................................................................. 51.2 Objetivos Gerais ...................................................................................................................... 51.3 Metodologia ............................................................................................................................ 51.4 Desa os e Di culdades ............................................................................................................ 61.5 Mtodos de Avaliao .............................................................................................................. 61.6 Atividades Complementares ..................................................................................................... 6

    2.1. AULA 1: O CONTEXTO DAS TRANSAES DE FUSES E AQUISIES ............................................................................. 7A) Ementrio de Temas .................................................................................................................. 7B) Material de Leitura .................................................................................................................... 7C) Roteiro de Aula ......................................................................................................................... 7D) Bibliogra a Complementar .................................................................................................... 10E) Glossrio ................................................................................................................................. 10F) Questes de Concurso ............................................................................................................. 11

    3.1. AULA 2: ASPECTOS BSICOS DA LIMITADA E DA SOCIEDADE ANNIMA ...................................................................... 12A) Ementrio de Temas ................................................................................................................ 12B) Material de Leitura .................................................................................................................. 12C) Roteiro de Aula ....................................................................................................................... 12D) Estudo de Caso....................................................................................................................... 15E) Textos de Apoio ....................................................................................................................... 15F) Jurisprudncia ......................................................................................................................... 17G) Questes de Concurso ............................................................................................................ 26H) Glossrio ................................................................................................................................ 27

    4.1. AULA 3: USO DA LIMITADA E DA SOCIEDADE ANNIMA: VANTAGENS E DESVANTAGENS ................................................. 28A) Ementrio de Temas ................................................................................................................ 28B) Material de Leitura .................................................................................................................. 28C) Roteiro de Aula ....................................................................................................................... 28Anexo II....................................................................................................................................... 35D) Atividade a ser desenvolvida em sala de aula redao de parecer. .......................................... 39E) Jurisprudncia ......................................................................................................................... 39F) Textos de Apoio ....................................................................................................................... 45

    5.1. AULAS 4 E 5: ALIENAO DE CONTROLE NAS SOCIEDADES ANNIMAS ...................................................................... 47A) Ementrio de Temas ................................................................................................................. 47B) Material de Leitura .................................................................................................................. 47C) Roteiro de Aula ........................................................................................................................ 47D) Texto de Apoio ......................................................................................................................... 56

    6.1. AULA 6 . POISON PILLS ................................................................................................................................ 59A) Ementrio de Temas .................................................................................................................. 59B) Material de Leitura .................................................................................................................. 59C) Roteiro de Aula ........................................................................................................................ 59D) Textos Complementares ............................................................................................................. 63E) Glossrio ................................................................................................................................. 72

    7.1 AULA 7: TAKEOVER PANEL .............................................................................................................................. 73A) Ementrio de Temas .................................................................................................................. 73B) Material de Leitura .................................................................................................................. 73C) Roteiro de Aula ........................................................................................................................ 73C) Bibliogra a .............................................................................................................................. 77G) Questes de Concurso ............................................................................................................ 79H) Glossrio ................................................................................................................................ 79

  • 8.1. AULA 8: A CISO PARCIAL COM VERSO DE CAPITAL DE UMA EMPRESA DE PETRLEO ................................................... 81A) Ementrio de Temas ................................................................................................................ 81B) Material de Leitura .................................................................................................................. 81C) Caso Gerador .......................................................................................................................... 81D) Roteiro de Aula ...................................................................................................................... 82E) Atividade a ser desenvolvida eM aula ....................................................................................... 88Anexo I Lista de Questes da Operao .................................................................................... 88Anexo II Organograma da Operao ......................................................................................... 90Anexo III Alterao Contratual da BK do Brasil Ltda. ............................................................... 91Anexo IV Laudo de Avaliao ................................................................................................... 93Anexo V Procurao ................................................................................................................. 94Anexo VI Carta Petrobras ....................................................................................................... 98Anexo VII Atas de AGE Aprovando a Incorporao ................................................................ 100F) Textos de Apoio ..................................................................................................................... 107G) Glossrio .............................................................................................................................. 112H) Questes de Concurso .......................................................................................................... 113

    9.1. AULAS 9, 10, 11 E 12: PROVIDNCIAS PRELIMINARES E FINAIS DE UMA OPERAO DE M&A A AQUISIO DE AES DE VRIAS EMPRESAS BRASILEIRAS POR UMA EMPRESA IRLANDESA .......................................................................... 114

    A) Ementrio de Temas .............................................................................................................. 114B) Material de Leitura ................................................................................................................ 114C) Roteiro de Aula ..................................................................................................................... 115Anexo I Lista Preliminar de Questes da Operao ................................................................. 120Anexo II O Contrato de Con dencialidade ............................................................................ 122Anexo III O Memorando de Entendimentos .......................................................................... 131Appendix 1 Model Assumptions ............................................................................................. 139Anexo IV Lista de Contratos ................................................................................................... 140Anexo V Proposta da Estrutura Societria e Tributria da Operao ........................................ 141Anexo VI Organograma da Operao ..................................................................................... 159Anexo VII Contrato de Compra e Venda de Aes .................................................................. 160Anexo VIII Summary of Deal ................................................................................................. 187D) Glossrio .............................................................................................................................. 190E) Questes de Concurso ........................................................................................................... 191

    10.1. AULAS 13 E 14: GOVERNAA CORPORATIVA, OS INTERESSES FUNDAMENTAIS E AS QUESTES TICAS. ......................... 192A) Ementrio de Temas .............................................................................................................. 192B) Material de Leitura ................................................................................................................ 192C) Roteiro de Aula ..................................................................................................................... 192D) Textos de Apoio .................................................................................................................... 198E) Estudo de Casos .................................................................................................................... 215F) Glossrio ............................................................................................................................... 217G) Questes de Concurso .......................................................................................................... 218

    11.1. AULA 15: A COMPRA DE UNIDADE PRODUTIVA ISOLADA DE EMPRESA EM RECUPERAO JUDICIAL SEM SUCESSO TRABALHISTA E TRIBUTRIA ............................................................................................................................ 219

    A) Ementrio de Temas .............................................................................................................. 219B) Material de Leitura ................................................................................................................ 219C) Roteiro de Aula ..................................................................................................................... 219D) Estudo de Caso..................................................................................................................... 223E) Textos de Apoio ..................................................................................................................... 228F) Atividade a ser desenvolvida em sala de aula Parecer Sobre Contratos

    com Empresa que Entrou em Recuperao Judicial ............................................ 248G) Jurisprudncia ...................................................................................................................... 248H) Questes de Concurso .......................................................................................................... 249I) Glossrio ................................................................................................................................ 250

  • 12.1 AULA 16: OPERAES DE REORGANIZAES SOCIETRIA: ASPECTOS TRIBUTRIOS ................................................... 251A) Ementrio de Temas .............................................................................................................. 251B) Material de Leitura ................................................................................................................ 251C) Roteiro de Aula ..................................................................................................................... 251D) Textos de Apoio .................................................................................................................... 263

    13.1. AULA EXTRA: O USO DOS FUNDOS DE INVESTIMENTOS EM PARTICIPAES FIP........................................................ 273A) Ementrio de Temas .............................................................................................................. 273B) Material de Leitura ................................................................................................................ 273C) Roteiro de Aula ..................................................................................................................... 273D) Textos de Apoio .................................................................................................................... 275E) Caso ...................................................................................................................................... 281F) Glossrio ............................................................................................................................... 281

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 5

    1. ROTEIRO DO CURSO

    1.1 VISO GERAL

    Sejam bem-vindos ao curso de Direito Societrio Avanado. Prope-se anlise e aplicao das seguintes leis e tratados a casos con-

    cretos de direito societrio e, especi camente, fuses e aquisies: Lei das S.A., Novo Cdigo Civil, Lei de Recuperao Judicial e Falncia, Lei de Ar-bitragem, Lei de Introduo ao Cdigo Civil, Lei que previne a lavagem de dinheiro (Lei no. 9613/98), Cdigo de Processo Civil e tratados rmados pelo Brasil.

    1.2 OBJETIVOS GERAIS

    O advogado que pretende trabalhar com direito societrio e, especi ca-mente, fuses e aquisies necessita ter uma viso multidisciplinar do direito e, principalmente, compreender as questes mais relevantes. A nfase bus-car o equilbrio entre a teoria e a prtica. Portanto, nesta disciplina o aluno ir analisar e discutir questes conceituais e prticas destes temas, atravs de estudo de casos, anlise e elaborao de memorandos, contratos e documen-tos tpicos de direito societrio e, especi camente, fuses e aquisies.

    Ainda, com relao parte espec ca de fuses e aquisies, importante que os alunos reconheam que estas no so um conjunto de leis, mas sim um processo que envolve transferir um negcio, parcial ou totalmente, de um dono a outro.

    1.3 METODOLOGIA

    O material didtico menciona o roteiro de cada aula, com indicao dos textos para leitura, os casos prticos a serem estudados e outras questes rele-vantes. Sero tambm apresentados textos de leitura complementares.

    As primeiras aulas sero importantes para rmar os conceitos bsicos da matria. Prope-se tambm trabalhar em diversos contratos que sero a espi-nha dorsal de parte do curso.

    Sero apresentadas questes praticas e tericas na maioria das aulas. Ademais, o curso poder contar com atividades complementares, como a

    realizao de palestras com professores e pro ssionais convidados, projeo de lmes e documentrios, e apresentao de seminrios pelos alunos.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 6

    1.4 DESAFIOS E DIFICULDADES

    Os principais desa os sero identi car e analisar as questes relacionadas ao direito societrio, especi camente as fuses e aquisies, e aplicar os co-nhecimentos tericos, incluindo as leis e tratados, aos casos concretos e aos contratos e documentos a serem elaborados em situaes trazidas por opera-es societrias.

    1.5 MTODOS DE AVALIAO

    Sero realizadas 02 (duas) provas, em sala de aula, compreendendo toda a matria ministrada at a data de cada prova. Os alunos podero consultar os textos de leis sem comentrios ou anotaes. Podero, tambm, ser feitas avaliaes baseadas em atividades complementares ou em trabalhos sobre te-mas espec cos a serem indicados pelo professor.

    A mdia aritmtica referente disciplina ser obtida com base em tais avaliaes. O aluno que obtiver mdia aritmtica inferior a 7 (sete) dever re-alizar uma terceira prova, a qual compreender toda a matria do semestre.

    1.6 ATIVIDADES COMPLEMENTARES

    Dependendo do andamento do curso, podero ser propostas atividades adicionais que valero pontos para a mdia aritmtica (obtida com base nas duas primeiras provas) referente disciplina.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 7

    1 um mercado invadido por siglas e jarges, na sua maioria provenientes da lngua inglesa, como, por exemplo, as chamadas operaes de mergers &acquisitions (M&A para os ntimos), private equity funds, venture capital investors, investment bankers, take over (inclundo o mais agressivo hostile take over), leverage buy out, management buy out, drag along, tag along, e outras afi ns. Ainda que que os cultores do ver-nculo possam se escandalizar com tal invaso da lngua ptria, o fato que acabamos por importar o jargo que prevalece no eixo Nova Iorque/Londres, que onde se processa a grande maio-ria das operaes de reorganizao societria de maior expresso. Muniz, Ian; Branco, Adriano Castello. Fuses e Aquisies Aspectos Fiscais e Societ-rio So Paulo: Quartier Latin, 2007.

    2.1. AULA 1: O CONTEXTO DAS TRANSAES DE FUSES E AQUISIES

    A) EMENTRIO DE TEMAS

    Introduo ao estudo de operaes envolvendo fuses e aquisies. O contexto de transaes em fuses e aquisies. Breve histrico recente das operaes de M&A nos Estado Unidos e no Brasil.

    B) MATERIAL DE LEITURA

    Leitura Bsica

    Th e M&A Process, A Practical Guide for the Business Lawyer, Committee on Ne-gotiated Acquisitions, Th e American Bar Association , 2005, captulos 1 e 2.

    BAINBRIDGE, Stephen M., Mergers and Acquisitions. New York: Foun-dation Press, 2nd Edition. Captulos 1, 1.1 A (no ler B), C, e D, 1.2 e 1.3 (no ler E)

    Leitura Complementar

    COLE, Brett. M&A Titans, How the Pioneers of Wall Street`s Mergers and Acquisitions Industry Shaped the Corporate World. New York: John Wiley & Sons, Inc. 2008.

    FILHO, Alfredo Lamy e BULHES PEDREIRA, Jos Luiz. Direito das Companhias. Volume II, 2009. p. 1737 - 1814

    BORBA, Jos Edwaldo Tavares. Direito Societrio. Rio de Janeiro: Renovar, 11 Edio, 2008. p. 149-156.

    Muniz, Ian; Branco, Adriano Castello. Fuses e Aquisies Aspectos Fiscais e Societrio So Paulo: Quartier Latin, 2007 pp. 13-20.

    C) ROTEIRO DE AULA

    Introduo

    A prpria expresso fuses e aquisies, tambm largamente conhecida atravs da sigla M&A1, fcil de ser dita. Fcil de se dizer, mas difcil de se

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 8

    2 The M&A Process, A Practical Guide for the Business Lawyer, Committee on Negotiated Acquisitions, The American Bar Association , 2005, pg 1.

    3 Apostila Organizao Jurdica da Grande Empresa redigida pelos Pro-fessores Bruno Camara Soter, Fbio Henrique Peres e Caitlin Mulholland, da Escola de Direito da Fundao Getlio Vargas, 2 Edio, pg 110.

    4 Peter Hunt tambm ensina o conceito de reorganizao societria:What is a corporate restructuring? The sim-plest answer is that a restructuring is the realignment of the ownership, operations, assets, or capital structure of a company in order to improve operating performance, optimize a capital structure, and enhance public perception. The defi nition of a restruc-turing has evolved over the years from a simple balance sheet reconfi guration to a range of fi nancial and transac-tion driven alternatives that include everything from simply enhancing internal operating performance to an outright sale or merger of a company, and from a sale of assets to a especial dividend or share repurchase in the face of a takeover threat. Restructuring have been used in the past for a number of reasons, including to lever and delever a balance sheet, concentrate equity ownership, realize value of a subsidiary, and appease vocal investors. When all is said and done, however, restructurings are usually designed to enhance share-holder value. Apud, Muniz, Ian; Branco, Adriano Castello. Fuses e Aquisies Aspectos Fiscais e Societrio So Paulo: Quartier Latin, 2007.

    5 The M&A Process, A Practical Guide for the Business Lawyer, Committee on Negotiated Acquisitions, The American Bar Association , 2005, pg 1.

    6 Falava-se, ainda em 1996, da pos-sibilidade de ocorrer uma Onda de Fuses e Aquisies no Brasil. Esta teoria da Onda de Fuses e Aquisies no Brasil. Acabou se confi rmando pelo enorme nmero de fuses e aquisies ocorridas no Brasil de 2005 ao incio de 2008, perodo em que o Pas vivenciou um enorme crescimento de atividade na rea de M&A s e IPOs.

    Desse modo, factvel concluir que existe uma possibilidade de ocorrncia de uma Onda de Fuses e Aquisies no Brasil, uma vez que as condies apon-tadas como comuns a todas as ondas anteriores j existem.

    Essa concluso reforada pelo au-mento considervel no nmero de ope-raes de Fuses e Aquisies que esto ocorrendo no Brasil. De acordo com pesquisa realizada pela KPMG, o nme-ro de Fuses e Aquisies no primeiro trimestre de 1996 foi 71% superior em relao ao primeiro trimestre de 1992. Essas Fuses e Aquisies tiveram como

    entender. A percepo popular, muito veiculada em lmes e programas de televiso, de que fuses e aquisies envolvem poder e prestgio.2

    As fuses e aquisies tratam tambm de reorganizaes societrias. De-nomina-se reorganizao societria a operao ou o conjunto de operaes utilizado pelas sociedades para reordenar sua estrutura, com o objetivo de ob-ter algum tipo de vantagem comparativa, tais como ganhos operacionais ou isenes scais.3 No direito Brasileiro, as reorganizaes societrias incluem os seguintes instrumentos: transformaes, fuses, cises e incorporaes. So tambm comumente usadas as formaes de grupos e acordos. 4

    A anlise da recente histria Norte Americana de transaes em fuses e aquisies no traz muitos subsdios para compreender o tema:

    Recent history is not particularly helpful in trying to understand M&A. M&A activity in the 1980s triggered concern. Corporate raiders, cultural icons being acqui-red by companies from other countries, stable industries being uprooted and transfor-med, all caused stress and tensions in the minds of many people. M&A in the 1990s was a di erent story. Deals generated attention, the stock market was climbing, new industries were being created, and magazines pro les new young millionaires who had developed and sold their business to larger more established buyers. Th en the technology bubble burst. M&A transaction should be straightforward, right?5

    J a anlise da recente experincia brasileira de fuses e aquisies nos traz mais informaes sobre o tema. Esta anlise nos mostra claramente que ocor-reu uma relevante mudana no panorama ambiental e econmico do Brasil nos anos 90, que permitiu a criao de um novo ambiente que exigiu uma transformao nas estruturas empresariais nacionais. Este novo ambiente tem como caractersticas a modernizao da indstria, a insero do Pas no mer-cado global e o crescimento da economia Brasileira.

    A anlise do atual panorama ambiental e econmico do Brasil demonstra que ocorreram mudanas signi cativas na dcada de 1990, criando um novo ambiente e tornando necessria a transformao das estruturas empresariais nacionais.

    As principais caractersticas deste novo ambiente so a insero do Brasil no mercado global, o crescimento da economia do pas e sua exposio a uma nova realidade tecnolgica.

    Neste aspecto, o novo ambiente parece apresentar caractersticas semelhantes que-las da economia americana quando ocorreram as Ondas de Fuses e Aquisies, qual sejam, crescimento econmico e mudanas tecnolgicas e no ambiente empresarial.6

    H uma legislao de M&A?

    H uma legislao espec ca sobre M&A? Por que ser que um advogado que procura se inteirar sobre M&A precisa entender a Lei de Introduo ao Cdigo

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 9

    tipo dominante a fuso horizontal, com empresas multinacionais atuando como compradoras. Dadas as caractersticas do ambiente empresarial interno, com elevadas taxas de juros, descapitali-zao de grande parte das empresas nacionais, falta de recursos para inves-timento em modernizao do parque tecnolgico e de redes de distribuio (caso da indstria de autopeas), frag-mentao da atividade industrial de diversos setores em muitas pequenas e mdias empresas (o que favorece uma consolidao), potencial do mercado interno e pouca competitividade para atuar em um mercado globalizado, as empresas com capacidade para liderar essa Onda de Fuses e Aquisies so as multinacionais, as quais devem atuar no sentido de promover integrao horizontal, concentrando-se em seus core business. O presente trabalho, no entanto, de carter terico e explora-trio, sendo os autores de opinio que devem ser realizados maiores estudos sobre o tema (MATIAS, Alberto Borges, BARRETO, Antonio C. P., GORGATI, Vla-mir. Fuses e Aquisies no Brasil atual: Possibilidades de ocorrncia de uma onda. So Paulo, 1996. Disponvel em < http://www.cepefi n.org.br > Acesso em 19 de fevereiro de 2009) )

    7 The M&A Process, A Practical Guide for the Business Lawyer, Committee on Negotiated Acquisitions, The American Bar Association , 2005, pp 1.

    8 No outra a lio transcrita a seguir: A interao entre a Teoria Econmica e o Direto, embora essencial, ainda pouca explorada no Brasil. Tal defi ci-ncia decorre, em grande parte, da formao dos economistas e dos ad-vogados em seus cursos de graduao. Os economistas, com raras excees, s tomam contato com o Direito por meio de uma cadeira de Direito Comercial ou Direito do Estado, em geral apresen-tada de forma discursiva e descritiva, sem relao com as demais matrias do currculo bsico. Quanto aos bacharis em Direito, sua formao tende a ser generalista e humanista, havendo to-tal ausncia de matrias quantitativas e mais formalistas, como tem de ser o estudo de Economia e Finanas mesmo em seu nvel bsico.

    Este precrio dialogo entre as duas profi sses j causaria problemas mes-mo em economias simples, com restri-tos mercados fi nanceiros e de capitais, com servios pblicos controlados pelo governo e fechadas ao comrcio inter-nacional e aos investimentos estran-geiros, como era o caso do Brasil at a maior parte do sculo passado.

    No Brasil de hoje, integrado ao mundo exterior, com mercados fi -nanceiros de capitais cada vez mais complexos em nmeros e densidade de instrumentos e operaes, com a necessidade de regulamentar da forma

    Civil Brasileiro? E as regras de recuperao judicial e falncias? E as questes tri-butrias? E as regras de arbitragem? necessrio entender de contabilidade? Os advogados que trabalham com M&A precisam entender de contencioso?

    Is there a law of M&A? Why is it that when a lawyer looks for guidance in M&A, he might nd decisions in hotly contested litigation issued by Delaware courts? Or rigorous explanations contained in securities law treatises? Or referen-ces to federal statutes regarding how many days notice must be given if a plant will be dosed? Or, even worse in the minds of many lawyers, the realization he may need to know something about accounting? Do M&A lawyers need to understand litigation, securities law, labor law, and numbers? Is that what M&A is all about?7

    O advogado que pretende trabalhar com direito societrio e fuses e aqui-sies necessita ter uma viso multidisciplinar do direito e de outras matrias e, principalmente, compreender as questes mais relevantes. 8

    A relevncia do estudo de fuses e aquisies

    Fuses e aquisies, assim como todo tipo de atividade empresarial, afe-tam a sociedade. Pode-se a rmar que as sociedades e, naturalmente, os indi-vduos, so profundamente afetados pelas fuses e aquisies. As atividades das grandes empresas, sejam nacionais ou multinacionais, tm uma relao direta com a qualidade de vida das pessoas atravs de uma intricada rede de inter-relacionamentos. Quando as aes e atividades das empresas geram re-sultados positivos, as pessoas so bene ciadas pela prosperidade econmica. O oposto tambm verdadeiro, pois as pessoas so negativamente afetadas quando tais aes e atividades geram prejuzos.

    When in the nal analysis those actions turn out well, society reaps rewards of economic prosperity. Conversely, when those actions go awry, society reaps punitive repercussions.9

    As fuses e aquisies podem afetar todos os aspectos de uma empresa: es-trutura, processo, controles, administrao motivao e carreiras. Estas ativi-dades empresarias envolvem bilhes de reais, causam tremendos desgastes na esfera trabalhista, deslocando trabalhadores e, em alguns casos, os resultados foram bastante perniciosos.

    As bolsas de valores no Brasil e no exterior tambm so sempre afetadas por rumores e notcias de fuses e aquisies. Estes rumores e notcias causam aumento no valor das aes e nos ndices das bolsas de valores, e as pessoas so bene ciadas pela valorizao das aes e do mercado. Porm, h casos em que ocorre o exato oposto, e estas so negativamente afetadas.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 10

    menos distorcida e mais efi ciente pos-svel as concesses de servios pblicos a zelar para que o consumidor no seja prejudicado por prticas monopolistas, o desconhecimento mtuo e a falta de uma linguagem comum entre econo-mistas e advogados podem ser extre-mamente nocivos ao desenvolvimento do Pas. SADDI, Jairo (Org.) Fuses e Aquisies: aspectos jurdicos e econ-micos. So Paulo: IOB, 2002, Prefcio.9 The M&A Process, A Practical Guide for the Business Lawyer, Committee on Negotiated Acquisitions, The American Bras Association , 2005, pg 1.

    10 Idem.

    A Complexidade das Operaes de M&A

    Uma operao de M&A geralmente um negcio complexo, pois envolve a transferncia de uma empresa. A empresa moderna em si um ente extre-mamente complexo, com seus empregados, ativos, direitos e deveres.

    Because M&A is the transfer of a business, and businesses are inheren-tly complex (whether looked at from a strictly legal or another perspective), an M&A transaction is complex. Take a simple type of transaction, a private company that wants to transfer one of its existing businesses to a newly created separate subsidiary. Even this seemingly simple non-arms length transaction is fraught with complexity because the business and its assets, including its human capital, must be identi ed and legal constraints on its transfer must be identi- ed. Are contracts assignable? Is the proper intellectual property being transfer-red? What are the employment implications of this transfer? What are the tax and accounting issues?10

    D) BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

    SADDI, Jairo (Org.) Fuses e Aquisies: Aspectos Jurdicos e Econmicos. So Paulo: IOB, 2002, pgs 11- pginas 9-23.

    E) GLOSSRIO

    Fuso. Operao pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que as suceder em todos os direitos e obrigaes (Bovespa).

    Ciso. Operao pela qual a companhia transfere parcelas do seu patri-mnio para uma ou mais sociedades, constitudas para esse m ou j exis-tentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver verso de todo o seu patrimnio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a verso (Bovespa).

    Incorporao. Operao pela qual uma ou mais sociedades so absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigaes (Bovespa).

    Auto-Regulao. Conjunto de normas e procedimentos de scalizao criados por entidades privadas para fazer cumprir as prticas equitativas de mercado e manter padres ticos na conduo das negociaes. As bolsas de valores e de mercadorias e as entidades de classe que congregam instituies nanceiras so as principais fontes de auto-regulao do SFN - Sistema Fi-nanceiro Nacional

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 11

    F) QUESTES DE CONCURSO

    1) Como o contabilista desempenha suas funes?

    2) Por que razo, particularmente no perodo aps a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foram criados grandes grupos econmicos?

    3) Qual o conceito do grupo econmico denominado Konzern, na Alemanha?

    4) Qual o quorum necessrio para proceder transformao da so-ciedade?

    5) De que forma so afetados os direitos dos credores, quando a socie-dade transformada?

    6) Haver mudana no nome da sociedade transformada?

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 12

    11 Limited Liability companies can be established in all 50 States, plus the District of Columbia. To create an LLC, Articles of Organization must be fi led with with the applicable state govern-ment. The owners of the LLC are gener-ally referred to as the members. The members can manage the company themselves (a member managed com-pany) or they may appoint a manag-er who may or may not be a member of the company (a manager-managed company). WINSTON, Richard L. A Foreigners Legal Guide Doing Business in the United States. Richard L. Winston Editor: Miami, Florida 2004 pp 114.

    3.1. AULA 2: ASPECTOS BSICOS DA LIMITADA E DA SOCIEDADE ANNIMA

    A) EMENTRIO DE TEMAS

    Caractersticas da sociedade limitada e das sociedades annimas. A respon-sabilidade limitada dos scios e dos acionistas. A legislao aplicvel. Ques-tes relevantes relacionadas ao uso das sociedades limitada e S.A. Tributos. Lei Aplicvel. Administrao. Acordo de Acionistas.

    B) MATERIAL DE LEITURA

    Leitura Bsica

    FILHO, Alfredo Lamy e BULHES PEDREIRA, Jos Luiz. Direito das Companhias. Volume I, 2009. pginas 28 107

    BAINBRIDGE, Stephen M., Mergers and Acquisitions. New York: Founda-tion Press, 2nd Edition. Captulo 2.

    Leitura Complementar

    BORBA, Jos Edwaldo Tavares. Direito Societrio. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, pp 149-151.

    REQUIO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro: Forense, 2008, pp 1-10.

    FILHO, Alfredo Lamy e BULHES PEDREIRA, Jos Luiz. Direito das Companhias. Volume I, 2009. pg. 441-502 (Acordo de Acionistas)

    C) ROTEIRO DE AULA

    Noes Histricas e Caractersticas da Limitada e da S.A.

    A sociedade limitada muito similar GMBH Alem e a Limited Liabi-lity Company norte americana.11

    A sociedade limitada representa a mais recente das formas societrias exis-tentes no direito brasileiro. Surgida na Alemanha em 1892, passou a Portugal (1901), a cujo modelo se liou o Decreto no. 3.708, de 10 de janeiro de 1919, que a adotou no Brasil sob o nome de sociedade por cotas de respon-

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 13

    12 BORBA, Jos Edwaldo Tavares. Direi-to Societrio. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, pp 113-114.

    13 REQUIO, Rubens. Curso de Direito Co-mercial: Rio de Janeiro: Saraiva, 2008, 2 Volume, pp. 3-4.

    sabilidade limitada. O cdigo civil de 2002 regulou inteiramente a sociedade limitada, assim revogando o Decreto n. 3.708/19. 12

    J a sociedade annima o equivalente da Corporation norte-america-na, sendo que a Lei 6.404/76 em parte baseada na legislao do Estado de Delaware, EUA.

    Todos os autores esto concordes em que a sociedade por aes se con gu-rou como o tipo ideal das sociedades colonizadoras do sculo XVII, surgindo a primeira em 1602, na Holanda. Seguiram-se muitas outras, fundadas na Frana, Inglaterra e Portugal, todas visando explorao das novas posses-ses. Por sinal, em 1621, foi constituda nos Pases Baixos a Companhia das ndias Ocidentais, que teve profunda ingerncia em nossa histria colonial. Seu escopo era patrocinar a conquista do Brasil, tanto que enviou expedio armada, ocupando o Nordeste e nomeando seu administrador o Prncipe de Nassau, conhecido personagem histrico.13

    Uso da Sociedade Annima (S.A.) vs. Limitada, questes prticas.

    Sero discutidas, abaixo, as vantagens e desvantagens que cada tipo so-cietrio possui, incluindo os aspectos scais e questes relativas ao controle administrativo e societrio.

    Tributos: No h qualquer vantagem ou desvantagem scal em relao aos tipos societrios supracitados, uma vez que todas as pessoas jurdicas bra-sileiras so tributadas de forma equivalente. No caso de haver interesse de um acionista/quotista investidor estrangeiro, sempre recomendvel buscar a opinio de um tributarista estrangeiro que tenha a exata compreenso de qual tipo societrio mais indicado do ponto de vista do investidor estrangeiro.

    Lei Aplicvel: A aplicao da lei que regulamenta as Sociedades Limitadas, o Cdigo Civil de 2002 (CC), mais incerta do que a aplicao da Lei das So-ciedades Annimas (LSA); haja vista que, enquanto a LSA entrou em vigor em 1976 (e, por conta disso, vem sendo interpretada, jurisprudencialmente, desde esta data), o CC s passou a viger em 2003, revogando sub silentio o Decreto n. 3708, que regulamentava as Limitadas desde 1919. Alm disso, por possuir dispositivos legais ambguos, o CC causa preocupao quanto a sua aplicao, o que se agrava pela escassa jurisprudncia acerca de seus ditames legais.

    Administrao. Uma diferena importante, entre Limitada e S.A., diz respeito estrutura da administrao da sociedade.

    A Limitada no precisa ter um Conselho de Administrao, e pode ter apenas um administrador. J na S.A., obrigatria a existncia do Conselho

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 14

    14 Artigo 138. A administrao da com-panhia competir, conforme dispuser o estatuto, ao conselho de administrao e diretoria.

    1 O conselho de administrao rgo de deliberao colegiada, sendo a representao da companhia privati-va dos diretores.

    2 As companhias abertas e as de capital autorizado tero, obrigatoria-mente, conselho de administrao.

    Art. 139. As atribuies e poderes conferidos por lei aos rgos de adminis-trao no podem ser outorgados a outro rgo, criado por lei ou pelo estatuto.

    SEO IConselho de AdministraoComposioArt. 140. O conselho de administrao

    ser composto por, no mnimo, 3 (trs) membros, eleitos pela assemblia-geral e por ela destituveis a qualquer tempo, devendo o estatuto estabelecer:

    I o nmero de conselheiros, ou o mximo e mnimo permitidos, e o processo de escolha e substituio do presidente do conselho;

    I o nmero de conselheiros, ou o mximo e mnimo permitidos, e o pro-cesso de escolha e substituio do pre-sidente do conselho pela assemblia ou pelo prprio conselho; (Redao dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    II - o modo de substituio dos con-selheiros;

    III o prazo de gesto, que no po-der ser superior a 3 (trs) anos, permi-tida a reeleio;

    IV as normas sobre convocao, instalao e funcionamento do con-selho que deliberar por maioria de votos.

    IV as normas sobre convocao, instalao e funcionamento do conse-lho, que deliberar por maioria de votos, podendo o estatuto estabelecer quorum qualifi cado para certas deliberaes, des-de que especifi que as matrias. (Redao dada pela Lei n 10.303, de 2001).

    Pargrafo nico. O estatuto poder prever a participao no conselho de re-presentantes dos empregados, escolhidos pelo voto destes, em eleio direta, orga-nizada pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representem. (Includo pela Lei n 10.303, de 2001)

    1o Sero arquivadas no registro do comrcio e publicadas as atas das reuni-es do conselho de administrao que contiverem deliberao destinada a pro-duzir efeitos perante terceiros. (Redao dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    2o A escolha e a destituio do auditor independente fi car sujeita a veto, devidamente fundamentado, dos conselheiros eleitos na forma do art. 141, 4o, se houver. (Includo pela Lei n 10.303, de 2001)

    15 Apostila Organizao Jurdica da Grande Empresa redigida pelos Pro-fessores Bruno Camara Soter, Fbio Henrique Peres e Caitlin Mulholland, da

    de Administrao nas companhias abertas, nas sociedades de economia mista e nas companhias com capital autorizado, sendo facultativa nas demais com-panhias fechadas.14 O Conselho de Administrao da S.A. ser composto por no mnimo 3 (trs) acionistas, residentes ou no no Brasil.

    Note-se que os membros do Conselho de Administrao, diferentemente do que ocorre com os diretores, no representam a sociedade perante tercei-ros no podendo, portanto, assumir direitos e obrigaes , nem exercem atribuies de natureza executiva, mas simplesmente estabelecem, em con-junto, a orientao geral dos negcios da companhia, elegendo e destituindo os diretores e scalizando sua atuao.15

    A Diretoria da Sociedade Annima composta por no mnimo 2 (dois) membros, podendo se instalar um Conselho Fiscal (sua existncia obri-gatria), que dever ser composto por, pelo menos, 3 (trs) membros e no mximo 5 (cinco).

    Conforme j aludido, enquanto o Conselho de Administrao cumpre uma funo de orientao de negcios da empresa, a Diretoria o seu rgo executivo, cabendo a ela representao da companhia perante terceiros, na forma estabelecida estatutariamente.16

    Todos os administradores da Limitada, assim como todos os diretores da S.A. tm de ser residentes permanentes no Brasil, o que no se exige dos membros do Conselho de Administrao, que no precisam ter residncia no pas. Apesar disso, os membros do Conselho da Administrao tm de ter, pelo menos, uma ao da companhia (normalmente, uma ao preferencial, sem direito de voto)17.

    No mais do que um tero dos membros do Conselho de Administra-o podero ser membros da Diretoria. A composio do Conselho de Ad-minisrao deve obedecer aos ditames legais, de tal modo que este eleja os Diretores da companhia, sendo que estes Diretores devem dar ateno aos conselhos e recomendaes do Conselho de Administrao, respeitando as clusulas estatutrias. O Conselho de Administrao tambm incumbido, dentre outros deveres, de selecionar o auditor independente da companhia e a autorizar a alienao de quaisquer bens da sociedade.

    Em suma, enquanto a estrutura de uma Sociedade Limitada tende a ser menos onerosa, a estrutura de uma Sociedade Annima proporciona um controle maior ao acionista, nacional ou estrangeiro. 18

    Acordo de Acionistas. Outra diferena relevante que, luz do art. 118 da LSA, faculta-se aos acionistas fechar acordo espec co, no que concerne a compra e venda de aes, ao direito preferencial para adquiri-las, bem como ao exerccio do direito de voto e do poder de controle da companhia.19

    Esse acordo no precisa ser registrado em nenhum rgo pblico, sendo oponvel aos membros da companhia e a terceiros desde o momento em que

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 15

    Escola de Direito da Fundao Getlio Vargas, 2 Edio, pp 72.

    16 Idem.

    17 Esta determinao foi, recentemente, acrescentada LSA, com o intuito de incentivar as multinacionais a par-ticiparem da estrutura societria da companhia.

    18 Representao de Acionista Residen-te ou Domiciliado no Exterior

    Art. 119. O acionista residente ou domiciliado no exterior dever manter, no Pas, representante com poderes para receber citao em aes contra ele, propostas com fundamento nos preceitos desta Lei.

    Pargrafo nico. O exerccio, no Brasil, de qualquer dos direitos de acio-nista, confere ao mandatrio ou repre-sentante legal qualidade para receber citao judicial.

    19 Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de suas aes, preferncia para adquiri-las, exerccio do direito a voto, ou do poder de controle devero ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede. (Reda-o dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    1 As obrigaes ou nus decorren-tes desses acordos somente sero opo-nveis a terceiros, depois de averbados nos livros de registro e nos certifi cados das aes, se emitidos.

    2 Esses acordos no podero ser invocados para eximir o acionista de responsabilidade no exerccio do direito voto (artigo 115) ou do poder de con-trole (artigos 116 e 117).

    3 Nas condies previstas no acordo, os acionistas podem promover a execuo especfi ca das obrigaes assumidas.

    4 As aes averbadas nos termos deste artigo no podero ser negocia-das em bolsa ou no mercado de balco.

    5 No relatrio anual, os rgos da administrao da companhia aberta in-formaro assemblia-geral as dispo-sies sobre poltica de reinvestimento de lucros e distribuio de dividendos, constantes de acordos de acionistas arquivados na companhia.

    6o O acordo de acionistas cujo prazo for fi xado em funo de termo ou condio resolutiva somente pode ser denunciado segundo suas estipulaes. (Includo pela Lei n 10.303, de 2001)

    7o O mandato outorgado nos ter-mos de acordo de acionistas para pro-ferir, em assemblia-geral ou especial, voto contra ou a favor de determinada deliberao, poder prever prazo su-perior ao constante do 1o do art. 126 desta Lei.(Includo pela Lei n 10.303, de 2001)

    8o O presidente da assemblia ou do rgo colegiado de deliberao da companhia no computar o voto proferido com infrao de acordo de acionistas devidamente arquivado.(In-

    for registrado na sede da companhia. Atravs de um acordo de acionistas, tambm possvel regular a poltica de dividendos da companhia, nomear administradores e deliberar sobre outras questes importantes. Adicional-mente, a LSA estipulou que qualquer voto que contrarie o que cou estipula-do no acordo de acionistas no poder ser contabilizado; e, que se o acionista, que tiver sido parte do acordo no comparecer Assemblia de Acionistas (ex.: em que seja exigida unanimidade), a outra parte do acordo poder votar em nome do ausente. Assim como o membro do Conselho, designado por uma das partes do acordo, poder votar em nome do membro do Conselho de Administrao, que tiver sido designado pela parte que faltou a Assem-blia. Apesar de, a princpio, tudo o que foi discutido neste pargrafo poder ser aplicado na estrutura de uma Limitada, o problema que o instrumento societrio de uma Limitada tem que ser registrado em rgo pblico, o que no confere ao membro da sociedade muita privacidade.

    No entanto, nada impede que um acordo, em separado, seja rmado entre os quotistas, com o intuito de obter o mesmo resultado (ou seja, ter um acor-do pblico e outro privado, abordando questes distintas). H quem defenda que o instrumento societrio, de uma Limitada, que no for levado a registro pblico no oponvel aos administradores da companhia nem a terceiro.

    D) ESTUDO DE CASO

    Redigir as primeiras linhas de um parecer da Sociedade Limitada Nave-gao XYZ Ltda., sobre se deveria adotar a forma de S.A. ou manter a atual forma de Limitada.

    A Navegao XYZ Limitada uma empresa de navegao de longo curso cujos quotistas so: a) ABC Corporation, com sede em Houston, Texas, que detm %99.9 das quotas de XYZ; e, b) Ronaldinho Gacho, que reside no Brasil e detm %0,01 das quotas de XYZ.

    E) TEXTOS DE APOIO

    O acionista controlador e o abuso de poder

    Jorge Lobo 09/11/2006

    A doutrina h muitos anos vem combatendo o abuso de poder de controle nas sociedades annimas no que tange violao dos direitos de acionistas minoritrios e preferencialistas. Esse fato, to corriqueiro, exige, nas palavras de Dominique Schmidt, professor da Universidade de Strasbourg e advogado

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 16

    cludo pela Lei n 10.303, de 2001) 9o O no comparecimento as-

    semblia ou s reunies dos rgos de administrao da companhia, bem como as abstenes de voto de qual-quer parte de acordo de acionistas ou de membros do conselho de adminis-trao eleitos nos termos de acordo de acionistas, assegura parte prejudicada o direito de votar com as aes perten-centes ao acionista ausente ou omisso e, no caso de membro do conselho de administrao, pelo conselheiro eleito com os votos da parte prejudicada.(In-cludo pela Lei n 10.303, de 2001)

    10. Os acionistas vinculados a acordo de acionistas devero indicar, no ato de arquivamento, representante para comunicar-se com a companhia, para prestar ou receber informaes, quando solicitadas.(Includo pela Lei n 10.303, de 2001)

    11. A companhia poder solicitar aos membros do acordo esclarecimento sobre suas clusulas.(Includo pela Lei n 10.303, de 2001).

    francs, repensar o delicado problema da proteo aos minoritrios, para pr m a idias que se tornaram tristemente clebres, como, por exemplo, s o meu dinheiro sagrado, o resto ao inferno palavras de um capitalista americano reproduzidas por Joaquin Garrigues, professor da Universidade de Madri ou o acionista um tolo e um arrogante: tolo, porque nos d seu dinheiro, e arrogante, porque deseja ainda receber dividendos frase atribu-da ao banqueiro Furstenberg.

    No estudo da responsabilidade do controlador por atos praticados com abu-so de poder, causadores de danos sociedade, acionistas minoritrios e prefe-rencialistas, investidores em valores mobilirios e empregados, fundamental distinguir os contra legem (contra a lei) e os em fraus legis (fraude lei).

    So contra legem os que, realizados pelos administradores da companhia a mando do controlador, infringem os estatutos sociais ou a lei ou a ambos com o atraso nos lanamentos dos livros comerciais e scais obrigatrios, despesas pessoais do controlador e de sua famlia, quebra do princpio de controle interno nas atividades de compra, contas a pagar e contas a receber, controle de estoque, operaes que privilegiam empresas do mesmo grupo econmico, perdo ou remisso parcial de juros de mora, juros compensa-trios e multas incidentes sobre dvidas vencidas e no pagas, sem a devida contrapartida ou motivo plenamente justi cvel etc.

    Em fraus legis os que, embora formalmente incensurveis, mas intrinse-camente prejudiciais companhia, seus acionistas e credores, distanciam-se do esprito da lei de que so exemplos a excessiva remunerao dos ad-ministradores, a dissoluo imotivada de empresa rentvel, a alterao esta-tutria para prejudicar minoritrios e preferencialistas, destacando-se a no distribuio de dividendos por diversos exerccios seguidos.

    A Lei de Sociedades Annimas A Lei das S.A. no seu artigo 117, ao disciplinar a matria, deixa claro que indispensvel que, na ao de ressarci-mento de perdas e danos proposta pelo prejudicado, restem exaustivamente provados a efetiva qualidade de controlador interno, para usar consagrada ex-presso do professor Modesto Carvalhosa, a conduta ilcita, o dano patrimo-nial concreto e atual e o nexo causal ligando a ao ilegal ao dano ressarcvel.

    Vem se repetindo, de forma alarmante, o uso, indevido e arbitrrio, da teoria da desconsiderao da personalidade jurdica.

    O Superior Tribunal de Justia (STJ), alis, decidiu mais de uma vez que nas demandas sobre abuso de poder do acionista controlador se aplicam os princ-pios essenciais da responsabilidade civil, pressupostos indefectveis da ao de in-denizao (Recurso Especial n 10.836-SP, julgado em 4 de fevereiro de 1992).

    Talvez por faltarem ainda estudos doutrinrios e julgados dos tribunais sobre a responsabilidade do controlador por danos causados a terceiros, ta-xativamente prevista no artigo 117, pargrafo 1, alnea e da Lei de Socie-dades Annimas, vem se repetindo, de forma alarmante, o uso, indevido e

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 17

    arbitrrio, da teoria da desconsiderao da personalidade jurdica, j positi-vada no artigo 50 do Cdigo Civil e no artigo 28 do Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC) pelos Tribunais de Justia (TJs) do pas.

    Como enfatizou o deputado Ricardo Fiza na justi cao ao Projeto de Lei n 2.426, de 2003: Embora s recentemente tenha sido introduzido na legislao brasileira, o instituto da desconsiderao da personalidade jurdica vem sendo utilizado com um certo aodamento e desconhecimento das ver-dadeiras razes que autorizam um magistrado a declarar a desconsiderao da personalidade jurdica.

    A meu ver, no obstante a polmica reviso crtica do conceito de pessoa jurdica, desde a sua rejeio na teoria pura do direito at chegar teoria da realidade tcnica ou jurdica, permanece intocada, no que tange ao direito positivo dos povos cultos, a distino ntida, plena e absoluta entre os direitos e obrigaes da empresa e os dos membros que a compem.

    Esta a regra, legal, que vige, entre ns, e, por igual, em todos os quadran-tes deste planeta. Excepcionalmente, os tribunais, sobretudo da Alemanha e dos Estados Unidos, tm se afastado desse princpio basilar para, descerrando o vu, alcanar os scios e acionistas da pessoa jurdica para responsabiliz-los por atos fraudulentos ao direito de terceiros. Assim, creio, devem conduzir-se os operadores do direito, evitando deixar-se levar pela seduo de modismos em detrimento da correta aplicao da teoria da desconsiderao da persona-lidade jurdica. Jorge Lobo advogado especialista em direito comercial.

    F) JURISPRUDNCIA

    APRECIAO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO PAS RJ2008/2712 LUIZ ALVES PAES DE BARROS

    Reg. n 6271/08 Relator: SGE

    Trata-se de Termo de Acusao apresentado pela Superintendncia de Relaes com Empresas SEP em face do Sr. Luiz Alves Paes de Barros, visando a apurar a responsabilidade pela no divulgao de alienao de participao acionria relevante do Banco Alfa de Investimentos S.A. e da Financeira Alfa S.A. C.F.I.

    Aps apurao dos fatos, a SEP props a responsabilizao do Sr. Luiz Alves Paes de Barros, acionista do Banco Alfa e da Financeira Alfa, por: a) ter infor-mado, intempestivamente, a alienao correspondente a 6,809% e 15,206% das aes preferenciais de emisso do Banco Alfa de Investimentos S/A e da Financeira Alfa S/A C.F.I., respectivamente; b) ter deixado de informar Fi-nanceira Alfa S/A C.F.I., imediatamente, aps as alienaes correspondentes a 5% e 10% das aes preferenciais de emisso da companhia; e (c) no infor-mar a participao acionria restante aps as alienaes relevantes.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 18

    Regularmente intimado, o Sr. Luiz Alves Paes de Barros apresentou suas razes de defesa, e, aps negociaes levadas a efeito pelo Comit, apresentou proposta em que se compromete a pagar CVM a quantia de R$ 100 mil.

    Para o Comit, a proposta apresentada contempla compromisso tido como bastante para desestimular condutas assemelhadas, em linha com a mais recente orientao do Colegiado em casos do gnero.

    O Colegiado deliberou pela aceitao da proposta de celebrao de Termo de Compromisso apresentada pelo Sr. Luiz Alves Paes de Barros, pelos argu-mentos expostos no parecer do Comit, tendo ressaltado que a redao do Termo de Compromisso dever quali car o pagamento a ser efetuado como condio para celebrao do termo de compromisso. O Colegiado xou, ainda, o prazo de dez dias, a contar da publicao do Termo no Dirio O cial da Unio, para o cumprimento da obrigao pecuniria assumida, e o prazo de trinta dias para a assinatura do Termo, contado da comunicao da pre-sente deciso ao proponente. A Superintendncia Administrativo-Financeira SAD foi designada como responsvel por atestar o cumprimento da obri-gao assumida pelo proponente.

    PARECER DO COMIT DE TERMO DE COMPROMISSOREF.: PROCESSO ADMINISTRATIVO SANCIONADOR

    CVM N RJ2008/2712

    RELATRIO1. Trata-se de Termo de Acusao ( s. 62/72) apresentado pela Superin-

    tendncia de Relaes com Empresas SEP em face do Sr. Luiz Alves Paes de Barros, pelo descumprimento do disposto no inciso III e pargrafos 3 e 4 do art. 12 da Instruo CVM n 358/02 (depois das alteraes promovidas pela Instruo CVM n 449/07), in verbis:

    Art. 12. Os acionistas controladores, diretos ou indiretos, e os acionistas que elegerem membros do Conselho de Administrao ou do conselho scal, bem como qualquer pessoa natural ou jurdica, ou grupo de pessoas, agindo em conjunto ou representando um mesmo interesse, que atingir participa-o, direta ou indireta, que corresponda a 5% (cinco por cento) ou mais de espcie ou classe de aes representativas do capital de companhia aberta, devem enviar companhia as seguintes informaes:

    ...III nmero de aes, bnus de subscrio, bem como de direitos de

    subscrio de aes e de opes de compra de aes, por espcie e classe, j detidos, direta ou indiretamente, pelo adquirente ou pessoa a ele ligada;

    ...3o A comunicao a que se refere o caput ser feita imediatamente aps

    ser alcanada a participao ali referida.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 19

    4o As pessoas mencionadas no caput deste artigo tambm devero infor-mar a alienao ou a extino de aes e demais valores mobilirios mencio-nados neste artigo, ou de direitos sobre eles, a cada vez que a participao do titular na espcie ou classe dos valores mobilirios em questo atingir o percen-tual de 5% (cinco por cento) do total desta espcie ou classe e a cada vez que tal participao se reduzir em 5% (cinco por cento) do total da espcie ou classe.

    A acusao originou-se do Processo CVM n RJ2008/655, que trata de irregularidade detectada por meio da divulgao dos Comunicados ao Mer-cado, enviados pelo Banco Alfa de Investimentos S/A (Banco Alfa) e pela Financeira Alfa S/A C.F.I. (Financeira Alfa), atravs do Sistema IPE, em 11.12.07. Segundo disposto nos referidos comunicados, naquela data o acio-nista Luiz Alves Paes de Barros teria informado o que se segue: (i) a alienao, no decorrer do ms de outubro de 2007, de 2.470.000 aes preferenciais de emisso do Banco Alfa, representativas de 6,809% do total dessa espcie de aes; e (ii) a alienao, no decorrer do ano de 2007, de 6.905.300 aes preferenciais de emisso da Financeira Alfa, representativas de 15,206% do total dessa espcie de aes. (Pargrafo 2 do Termo de Acusao)

    Cabe destacar a distribuio acionria do Banco Alfa, constante do IAN referente ao exerccio social ndo em 31.12.06, reapresentado em 11.03.08: (Pargrafo 3 do Termo de Acusao)

    Acionistas

    Ordinrias Preferenciais % de AesTotal

    Quanti-dade

    %Quanti-

    dade%

    CONSRCIO ALFA DE ADMINISTRAO S.A. 15.709 29,12 0 0 17,41

    ALFA HOLDINGS S.A. 15.743 29,18 1 0 17,45

    CORUMBAL PARTICIPAES E ADMINSITR. LTDA 7.008 12,99 11.083 30,55 20,05

    CAIXA DE PREVID. FUNCS. BANCO DO BRASIL 2.989 5,54 2.939 8,10 6,57

    METRO TECNOLOGIA INFORMTICA LTDA 4.720 8,75 458 1,26 5,74

    MRIO SLECAR JNIOR 3.083 5,71 3.093 8,53 6,85

    LUIZ ALVES PAES DE BARROS 522 0,97 8.095 22,32 9,55

    AES EM TESOURIA 0 0 0 0 0

    OUTROS 4.175 7,74 10.606 29,24 16,38

    TOTAL 53.949 100 36.275 100 100

    Igualmente cumpre destacar a distribuio acionria da Financeira Alfa, constante do IAN referente ao exerccio social ndo em 31.12.06, reapresen-tado em 11.03.08: (Pargrafo 4 do Termo de Acusao)

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 20

    Acionistas

    Ordinrias Preferenciais % de AesTotal

    Quanti-dade

    %Quanti-

    dade%

    CONSRCIO ALFA DE ADMINISTRAO S.A. 17.359 29,21 11 0,02 16,42

    ALFA HOLDINGS S.A. 17.381 29,24 11 0,02 16,44

    CAIXA PREV. FUNCS. BANCO DO BRASIL 3.210 5,40 16.870 36,41 18,99

    CORUMBAL PARTICIPAES E ADM. LTDA 14.190 23,87 3.912 8,44 17,11

    LUIZ ALVES PAES DE BARROS 0 0 8.046 17,37 7,61

    MARIO SLERCA JUNIOR 930 1,56 3.174 6,85 3,88

    AES EM TESOURARIA 0 0 0 0 0

    OUTROS 6.369 10,72 14.303 30,89 19,55

    TOTAL 59.439 100 46.327 100 100

    Diante dos Comunicados ao Mercado, a Gerncia de Acompanhamento de Mercado 1 (GMA-1) solicitou BOVESPA os negcios do Sr. Luiz Alves Paes de Barros com as aes preferenciais e ordinrias de emisso do Grupo Alfa, desde 2006. Aps a anlise dos negcios realizados, a GMA-1 encami-nhou memorando SEP, contendo as seguintes concluses: (Pargrafo 8 do Termo de Acusao)

    Assim sendo, o Sr. Luiz Alves Paes de Barros violou quatro vezes o dis-posto no art. 12, caput, combinado com os s 3 e 4 da Instruo CVM n 358/02, que determinam a obrigao de comunicar a alienao de participa-o relevante imediatamente aps ser reduzida a participao referida. Todas as alienaes foram informadas com considervel atraso, que vai de cerca de um ms a mais de cinco meses, bem como o investidor no informou as alie-naes a cada vez que atingido percentual relevante, mas somente quando j havia alienado 15,206% das aes PN da Financeira Alfa S.A.

    Cumpre notar que o investidor, alm de detentor de parcela signi cativa das aes do grupo, era pessoa conhecida dos participantes do mercado de capitais, de modo que a informao de que alienava suas participaes era especialmente relevante. De fato, a divulgao de suas alienaes impactou negativamente as cotaes de todas as aes do grupo. (grifamos)

    Conforme dados do IAN de 31.12.06, da Financeira Alfa (CRIV), o investidor detinha 8.046.000 aes preferenciais, equivalentes a 17,37% da classe.

    Nota-se, pois, que foram retardadas e omitidas comunicaes ao mercado, at que o investidor pudesse se desfazer de todo o lote que desejava.

    Por m, os comunicados no trouxeram o nmero de aes detidas restan-tes, em violao ao art. 12, inciso III da Instruo CVM n 358/02.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 21

    6. Em 25.01.08, com a nalidade de atender ao disposto no art 6-B da Deliberao CVM n 457/02(1) (vigente poca), foi enviado Ofcio ao Sr. Luiz Alves Paes de Barros, referindo-se aos Comunicados de Merca-do divulgados em 11.12.07 e solicitando esclarecimentos sobre: (i) a falta de divulgao de comunicados a mercado referentes s vendas de 5% e de 10% das aes preferenciais da Financeira Alfa, ocorridas, respectivamente, em 16.05.07 e em 03.07.07; (ii) a no divulgao de comunicado a merca-do, referente alienao de 5% das aes preferenciais do Banco Alfa, em 23.10.07; e (iii) o atraso na divulgao dos comunicados assinalados no pa-rgrafo anterior, por parte do alienante, em claro desacordo ao disposto no 4 do art. 12 da Instruo CVM n 358/02. (Pargrafo 10, itens a e b, do Termo de Acusao)

    7. Em 31.01.08, o Sr. Luiz Alves Paes de Barros protocolizou resposta ao O cio supra, nos seguintes termos: (Pargrafo 11 do Termo de Acusao)

    1- Na qualidade de membro do Conselho Fiscal tanto do Banco quanto da Financeira, encaminho diariamente s referidas sociedades, todas as in-formaes sobre minhas negociaes de aes de emisso destas empresas, para atualizao dos mapas de participao acionria, informaes estas que so objeto de repasse mensal a essa D. Autarquia por parte das empresas, na forma da regulamentao aplicvel.

    2 Tendo em vista esta atualizao e o conseqente repasse mensal de alterao das informaes CVM, acreditei que as empresas fariam tambm as comunicaes de alterao substancial de participao societria, sem ne-cessidade de comunicao espec ca de minha parte, e at mesmo que estas comunicaes fossem desnecessrias, uma vez que a CVM j havia recebido as informaes pertinentes.

    Pelo que fui informado em dezembro de 2007, o Banco e a Financeira presumiram que eu, na qualidade de acionista, faria o acompanhamento de minhas participaes societrias relevantes e lhes enviaria comuni-cado especfico a cada vez em que fosse atingida a variao percentual de 5%.

    Em 11.12.07 foi detectada a falha de comunicao entre o acionista/con-selheiro e as empresas e foram imediatamente enviadas s mesmas os Comu-nicados ao Mercado, que foram retransmitidos CVM, via sistema IPE.

    Embora o 4 do artigo 12 da Instruo CVM n 358/02 preveja a obri-gatoriedade de efetuar Comunicado ao Mercado cada vez que a participao na espcie ou classe dos valores mobilirios em questo tiver alterao de 5% (cinco por cento) do total desta espcie ou classe, o mesmo no explici-ta prazo para cumprimento da referida obrigao. Assim, pereceu-me que, com a divulgao dos Comunicados ao Mercado em 11.12.07, as exigncias previstas na referida Instruo haviam sido cumpridas, abrangendo todas as negociaes efetuadas at aquela data.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 22

    Ressalto que no houve qualquer alterao no controle ou na participao em rgos de administrao das empresas, nem qualquer prejuzo ao merca-do. Cabe ainda notar que as medidas corretivas para o ajuste das providncias j foram tomadas desde dezembro de 2007.

    8. Em que pesem os argumentos expostos pelo investidor, a SEP concluiu que o mesmo deveria, nos termos da Instruo CVM n 358/02, ou seja, imediatamente aps sua participao acionria reduzir-se em 5% do total da espcie ou classe das aes de emisso de uma companhia aberta, ter infor-mado sobre as alteraes de participao acionria relevante. No obstante, veri cou-se que o Sr. Luiz Alves Paes de Barros: (pargrafo 12 do Termo de Acusao)

    deixou de informar, em 16.05.07, a alienao de participao acionria relevante na Financeira Alfa, equivalente a 5% das aes preferenciais de sua emisso; no informou, em 03.07.07, a venda de 10% das aes preferenciais da Financeira Alfa; deixou de informar, em 23.10.07, a alienao de participao acionria relevante no Banco Alfa, equivalente a 5% das aes preferenciais de sua emisso; comunicou intempestivamente, em 11.12.07, a alienao de 6,809% das aes preferenciais de emisso do Banco Alfa; e comunicou fora do prazo, na mesma data, a venda de 15,206% das aes preferenciais da Financeira Alfa.

    9. Adicionalmente, observa a rea tcnica que os comunicados de 11.12.07 no dispunham acerca do saldo das aes detidas aps a negocia-o, em desacordo com o estabelecido no inciso III do art. 12 da Instruo CVM n 358/02. Acresce que tanto o Banco Alfa como a Financeira Alfa possuem acentuada disperso acionria(2), sobretudo no que diz respeito s suas aes preferenciais, e que, antes das negociaes em tela, o in-vestidor detinha 22,32% das aes preferenciais de emisso do Banco e 17,37% das aes preferenciais de emisso da Financeira. (pargrafo 12 do Termo de Acusao)

    10. Segundo esclarece a SEP, o fato de o investidor, na qualidade de mem-bro do Conselho Fiscal do Banco Alfa e da Financeira Alfa, informar s Com-panhias a titularidade e as negociaes realizadas com valores mobilirios emitidos pelas Companhias, no prazo de 5 (cinco) dias aps a realizao de cada negcio, conforme previsto no art. 11 da Instruo CVM n 358/02, no o dispensa da obrigao de informar s Companhias sobre alienaes de participaes acionrias relevantes, conforme disposto no art. 12 da referida Instruo. (pargrafo 19 do Termo de Acusao)

    11. Diante de todo o exposto, a SEP props a responsabilizao do Sr. Luiz Alves Paes de Barros, acionista do Banco Alfa e da Financeira Alfa, pelo

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 23

    descumprimento ao disposto no inciso III e pargrafos 3 e 4 do art. 12 da Instruo CVM n 358/02 (depois das alteraes promovidas pela Instruo CVM n 449/07), con gurada infrao grave para os ns previstos no 3 do artigo 11 da Lei n 6.385/76 e pelo art. 18 da mesma Instruo, conside-rando que: (Pargrafo 23 do Termo de Acusao)

    informou, intempestivamente, atravs dos Comunicados ao Mercado, de 11.12.07: (i) a alienao correspondente a 6,809% das aes preferenciais de emisso do Banco Alfa, ocorrida em outubro de 2007; e (ii) a alienao correspondente a 15,206% das aes preferenciais de emisso da Financeira Alfa, ocorrida no decorrer de 2007;

    deixou de informar Financeira Alfa, imediatamente, aps as aliena-es correspondentes a 5% e 10% das aes preferenciais emisso da companhia, ocorridas, respectivamente, em 16.05.07 e 03.07.07; e deixou de informar, nos Comunicados ao Mercado de 11.12.07, a par-ticipao acionria restante aps as alienaes relevantes.

    12. Devidamente intimado, o acusado apresentou defesa tempestiva ( s. 92/100), bem como proposta de Termo de Compromisso ( s. 101/105), na qual reitera argumentos prprios de defesa e a rma o atendimento aos requi-sitos insertos nos incisos I e II do 5 do art. 11 da Lei n 6.385/76 (cessao da prtica do ato ilcito e correo das irregularidades apontadas, inclusive indenizando os prejuzos). A uma, porque no teria dado continuidade suposta conduta ilcita, sendo certo que, com a divulgao dos Comunica-dos ao Mercado em 11.12.07 e o compromisso assumido em sua proposta, as irregularidades restariam plenamente sanadas. A duas, porque a quantia pecuniria ofertada encontrar-se-ia em linha com os precedentes de termos de compromisso em casos anlogos ao presente, no que toca indenizao dos prejuzos.

    13. Deste modo, compromete-se a: cumprir integralmente a legislao e regulamentao aplicveis; divulgar ao mercado, atravs de comunicados ao mercado, a sua participao acionria nas Companhias, aps as alienaes de aes efetuadas em outubro de 2007, de 2.470.000 aes pre-ferenciais de emisso do Banco Alfa, representativas de 6,809% do total de aes preferenciais emitidas poca das alienaes e aps as alienaes realizadas no ano de 2007 de 6.905.300 aes preferenciais de emisso da Financeira Alfa, representativas de 15,206%, do total de aes preferenciais emitidas poca das alienaes, bem como a sua atual participao acionria nas com-panhias; e pagar CVM a quantia pecuniria no valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 24

    14. Subsidiariamente, o proponente solicitou que, caso a presente propos-ta no seja aceita, possam ser acordados os termos da mesma de modo a ir ao encontro dos interesses desta Comisso.

    15. Consoante dispe a Deliberao CVM n 390/01, a Procuradoria Federal Especializada PFE analisou os aspectos legais da proposta apresen-tada, nos seguintes termos:

    7. Veri ca-se que o compromitente se prope a pagar, como condio de e ccia do Termo de Compromisso, a importncia de R$ 40.000,00 (qua-renta mil reais) CVM, conforme item (iii) s s 105.

    8. O inciso II, do 5, do artigo 11, da Lei n 6.385/76, determina que sejam corrigidas as irregularidades apontadas, inclusive indenizando os pre-juzos. Neste sentido, entendo que a proposta de correo da irregularidade, conforme prevista no item (iii), s s. 105, atende a exigncia legal, tendo em vista que o pagamento de importncia CVM constitui uma das formas de indenizao dos prejuzos sofridos pelo mercado ou pela CVM.

    9. Entendo, tambm, que as propostas contidas nos itens (i) e (i), s s. 105, atendam exigncia contida no inciso I, do 5, do artigo 11, da Lei n 6.385/76, que determina a cessao das prticas ilcitas.

    10. Por oportuno, cabe ressaltar que a anlise da convenincia e opor-tunidade, bem como da aptido da proposta para ressarcir ou minorar os danos causados ao mercado, se for o caso, no incumbe a esta Procurado-ria e sim ao Comit de Termo de Compromisso e ao rgo Colegiado da Comisso de Valores Mobilirios, nos termos do art. 8 e 9 da Delibera-o n 486/05.

    11. Isto posto, entendo que no h bice para a anlise pelo Comit de Termo de Compromisso sobre a convenincia e oportunidade na celebrao do compromisso proposto, nos termos do que dispe o artigo 8, caput, da Deliberao CVM n 390/01, com as alteraes introduzidas pela Delibera-o CVM n 486/05.

    16. Consoante faculta o 4 do art. 8 da Deliberao CVM n 390/01, em reunio de 01.10.08 o Comit decidiu negociar a proposta apresentada pelo proponente, nos seguintes termos: ( s. 111/112)

    O Comit concluiu que o compromisso assumido no se mostrava ade-quado ao escopo do instituto de que se cuida, notadamente sua funo pre-ventiva, vez que o valor ofertado no representaria montante su ciente para ns de inibir a prtica de condutas assemelhadas, em linha com orientao do Colegiado.

    Em vista disso, o Comit sugeriu o aprimoramento da proposta, de sorte a contemplar obrigao pecuniria da ordem de R$ 100.000,00 (cem mil re-ais), observando que o prazo praticado em compromissos dessa natureza de 10 (dez) dias, a contar da publicao do Termo de Compromisso no Dirio O cial da Unio.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 25

    Isto posto, o Comit assinala o prazo de 10 (dez) dias teis para que os proponentes apresentem suas consideraes e, conforme o caso, aditem a proposta apresentada, ocasio em que ser encerrada a fase de negociao de que trata o 4 do art. 8 da Deliberao CVM n 390/01, com o conse-qente encaminhamento de parecer ao Colegiado.

    17. Em vista disso, em 08.10.08 o proponente manifestou sua concor-dncia com os termos sugeridos pelo Comit ( s. 113/114), comprome-tendo-se a pagar CVM o montante de R$ 100.000,00 (cem mil reais), no prazo mximo de 10 (dez) dias contados da data de celebrao do Termo de Compromisso.

    FUNDAMENTOS18. O pargrafo 5 do artigo 11 da Lei n 6.385/76, estabelece que a

    CVM poder, a seu exclusivo critrio, se o interesse pblico permitir, sus-pender, em qualquer fase, o procedimento administrativo instaurado para a apurao de infraes da legislao do mercado de valores mobilirios, se o investigado ou acusado assinar termo de compromisso, obrigando-se a cessar a prtica de atividades ou atos considerados ilcitos pela CVM e a corrigir as irregularidades apontadas, inclusive indenizando os prejuzos.

    19. Ao normatizar a matria, a CVM editou a Deliberao CVM n 390/01, alterada pela Deliberao CVM n 486/05, que dispe em seu art. 8 sobre a competncia deste Comit de Termo de Compromisso para, aps ouvida a Procuradoria Federal Especializada sobre a legalidade da propos-ta, apresentar parecer sobre a oportunidade e convenincia na celebrao do compromisso, e a adequao da proposta formulada pelo acusado, propondo ao Colegiado sua aceitao ou rejeio, tendo em vista os critrios estabele-cidos no art. 9.

    20. Por sua vez, o art. 9 da Deliberao CVM n 390/01, com a redao dada pela Deliberao CVM n 486/05, estabelece como critrios a serem considerados quando da apreciao da proposta, alm da oportunidade e da convenincia em sua celebrao, a natureza e a gravidade das infraes objeto do processo, os antecedentes dos acusados e a efetiva possibilidade de puni-o, no caso concreto.

    21. Por ocasio da anlise da proposta, cumpre veri car no somente o atendimento aos requisitos legais necessrios celebrao do Termo de Com-promisso, como tambm a sua adequao ao instituto, especialmente a pro-porcionalidade entre os compromissos assumidos e a reprovabilidade da con-duta imputada ao proponente, evidenciando a convenincia e oportunidade na celebrao do ajuste de que se cuida.

    22. Face negociao realizada, o proponente aditou sua proposta nos moldes sugeridos pelo Comit, contemplando compromisso tido como bas-tante para desestimular condutas assemelhadas, em atendimento nalidade

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 26

    preventiva do instituto de que trata a Lei n 6.385/76, em linha com a mais recente orientao do Colegiado da CVM em casos do gnero.

    23. Deste modo, o Comit conclui que a proposta apresentada coaduna-se com o instituto do Termo de Compromisso, cumprindo, no caso, sugerir a designao da Superintendncia Administrativo-Financeira SAD para o atesto do cumprimento da obrigao assumida.

    CONCLUSO24. Em face do acima exposto, o Comit de Termo de Compromisso pro-

    pe ao Colegiado da CVM a aceitao da proposta de Termo de Compromis-so apresentada por Luis Alves Paes de Barros.

    Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2008.

    Roberto Tadeu Antunes FernandesSuperintendente Geral

    Waldir de Jesus Nobre Mario Luiz LemosSuperintendente de Relaes com

    o Mercado e IntermediriosSuperintendente de Fiscalizao Externa

    Fbio Eduardo Galvo Ferreira Costa

    Ronaldo Cndido Da Silva

    Superintendente de Processos Sancionadores

    Gerente de Normas de Auditoria

    (1) Art. 6-B. Para formular a acusao, a Comisso de Inqurito e o Superintendente, na hiptese referida no art. 4, devero ter diligenciado no sentido de obter do acusado esclarecimentos sobre os fatos descritos no rela-trio ou no termo de acusao, conforme o caso.

    (2) Segundo disposto no pargrafo 12, alnea d, do Termo de Acusao, o Banco possui 39,35% das suas aes em circulao no mercado, das quais 24.734.522 so preferenciais, ou seja, 68,19% dessa espcie. J na Financeira, 48,12% das suas aes encontram-se em circulao, desse total, 42.231.742 so aes preferenciais

    G) QUESTES DE CONCURSO

    1) possvel criar uma Limitada. que no tenha em seu quadro inter-no um conselho administrativo? E numa S.A?

    2) Estrangeiro no residente no Brasil pode ser administrador de uma limitida? E de uma S.A.?

    3) Explique o conceito de transformao de uma companhia.

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 27

    H) GLOSSRIO

    Ao: (stock) Frao negocivel em que se divide o capital social de uma empresa; uma ao , pois, um valor mobilirio que representa o capital so-cial de uma companhia aberta, uma vez que seus ttulos so negociados em bolsa de valores ( Maria Tereza Camargo Biderman).

    Acionista: (shareholder) Proprietrio de aes representativas do capital social de uma companhia, possuindo, portanto, papis que representam uma frao do capital social dessa companhia.

    Acionista Controlador: (controlling shareholder) o titular de direitos de scio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberaes da assemblia geral e o poder de eleger a maioria dos adminis-tradores da companhia e usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais, eleger os membros do conselho e ou diretores e orientar o funciona-mento dos rgos da companhia.

    Abertura de Capital: Oferta pblica de parcela do capital social de uma companhia, que passar a ter suas aes negociadas em mercado e distribu-das entre outros acionistas alm dos que representam o controle acionrio. Somente os valores mobilirios de emisso de companhia registrada na CVM Comisso de Valores Mobilirios podem ser negociados no mercado de valores mobilirios. Nenhuma distribuio pblica de valores mobilirios efetivada no mercado sem prvio registro na CVM (BM&F).

    Companhia Aberta. Companhia com valores mobilirios registrados na CVM, admitidos negociao no mercado de ttulos e valores mobilirios, de bolsa ou de balco. A CVM pode classi car as companhias de capital aber-to em categorias, conforme as espcies e classes dos valores mobilirios por ela emitidos, negociados nesses mercados. EnFin. A companhia aberta sujeita-se ao cumprimento de uma srie de normas quanto a: a) natureza e perio-dicidade de informaes a divulgar; b) forma e contedo dos relatrios de administrao e demonstraes nanceiras; c) padres contbeis, relatrio e parecer de auditores independentes; d) informaes prestadas por diretores e acionistas controladores, relativos compra, permuta ou venda de aes emi-tidas pela companhia, sociedades controladas e controladoras; e) divulgao de deliberaes de assemblia de acionistas, rgos da administrao, fatos relevantes ocorridos nos negcios, que possam in uir de modo pondervel na deciso de comprar ou vender aes, por parte de investidores (BM&F).

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 28

    4.1. AULA 3: USO DA LIMITADA E DA SOCIEDADE ANNIMA: VANTAGENS E DESVANTAGENS

    A) EMENTRIO DE TEMAS

    Caractersticas da limitada e da S.A. Direitos de minoria. Responsabilida-de por participao societria. Dividendos. Capitalizao. Publicaes.

    B) MATERIAL DE LEITURA

    Leitura Bsica

    FILHO, Alfredo Lamy e BULHES PEDREIRA, Jos Luiz. Direito das Compa-nhias. Volume I, 2009. pg. 129-160, pg. 758-760 (Publicaes), pg. 868-870 (Proteo da minoria), Volume II, pg. 1707 1736 (Dividendos)

    Leitura Complementar

    BORBA, Jos Edwaldo Tavares. Direito Societrio. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, pp 149-151.

    REQUIO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeiro: Forense, 2008, pp1-10.

    C) ROTEIRO DE AULA

    Direitos da Minoria. Outra vantagem de uma S.A., em relao a uma Li-mitada, diz respeito forma com que exibiliza os direitos dos scios mino-ritrios (ver anexos 1 e 2), o que torna mais fcil garantir o poder de controle do scio majoritrio. O CC introduziu uma srie de dispositivos voltados a proteo do scio minoritrio da sociedade Limitada. Se no vejamos:

    I) o art. 1076 exige a aprovao de quotistas que representem do capital social para: a) alterar o contrato social da companhia; b) aprovar uma opera-o de M&A, assim como qualquer deliberao relacionada a liquidao so-cietria (semelhante ao que dispe o Captulo 7 da Lei Norte-Americana);

    II) o art. 1071, II, III, IV e VIII, c/c art. 1076, exige a aprovao de, pelo menos, metade dos quotistas, que representam o capital social, para a) nomear e destituir os administradores da companhia e b) de-cidir sobre uma eventual reorganizao societria (semelhante ao que dispe o Captulo 11 da Lei Norte-Americana);

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 29

    20 Art. 202. Os acionistas tm direito de receber como dividendo obrigatrio, em cada exerccio, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importncia determinada de acordo com as seguintes normas: (Reda-o dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    I metade do lucro lquido do exerc-cio diminudo ou acrescido dos seguin-tes valores: (Redao dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    a) importncia destinada cons-tituio da reserva legal (art. 193); e (Includa pela Lei n 10.303, de 2001)

    b) importncia destinada formao da reserva para contingncias (art. 195) e reverso da mesma reserva formada em exerccios anteriores; (Includa pela Lei n 10.303, de 2001)

    II o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poder ser limitado ao montante do lucro lquido do exerccio que tiver sido realizado, desde que a diferena seja registrada como reserva de lucros a realizar (art. 197); (Redao dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    III os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se no tiverem sido absorvidos por pre-juzos em exerccios subseqentes, deve-ro ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado aps a realizao. (Redao dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    1 O estatuto poder estabelecer o dividendo como porcentagem do lucro ou do capital social, ou fi xar ou-tros critrios para determin-lo, desde que sejam regulados com preciso e mincia e no sujeitem os acionistas minoritrios ao arbtrio dos rgos de administrao ou da maioria.

    2o Quando o estatuto for omisso e a assemblia-geral deliberar alter-lo para introduzir norma sobre a matria, o dividendo obrigatrio no poder ser inferior a 25% (vinte e cinco por cento) do lucro lquido ajustado nos termos do inciso I deste artigo. (Redao dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    3o A assemblia-geral pode, desde que no haja oposio de qual-quer acionista presente, deliberar a distribuio de dividendo inferior ao obrigatrio, nos termos deste artigo, ou a reteno de todo o lucro lquido, nas seguintes sociedades: (Redao dada pela Lei n 10.303, de 2001)

    I companhias abertas exclusiva-mente para a captao de recursos por debntures no conversveis em aes; (Includo pela Lei n 10.303, de 2001)

    II companhias fechadas, exceto nas controladas por companhias aber-tas que no se enquadrem na condio prevista no inciso I. (Includo pela Lei n 10.303, de 2001)

    4 O dividendo previsto neste artigo no ser obrigatrio no exerccio social em que os rgos da administrao infor-marem assemblia-geral ordinria ser ele incompatvel com a situao fi nancei-

    III) o art. 1061 e o art. 1076 exigem que, enquanto o capital so-cial no for integralizado, todos os quotistas (por unanimidade) devem concordar com a nomeao de um administrador que no seja scio, em sendo o caso (e, quando o capital social for totalmente integraliza-do, bastar a aprovao de 2/3 dos quotistas para tanto). Tais direitos no so conferidos aos acionistas minoritrios da S.A..

    Responsabilidade por participao societria. Outra caracterstica, que distingue uma S.A. de uma Limitada, que o acionista s responsvel pela integralizao das aes que ele subscreveu, enquanto que todos os quotistas, em conjunto, so responsveis por todas as quotas subscritas at elas serem completamente integralizadas.

    Dividendos. Uma caracterstica de uma S.A., que no comum a uma Limitada, diz respeito necessidade de ter dividendos, quer como uma percentagem dos lucros ou do capital. Nos termos do art. 202, LSA,20 caso o estatuto social no especi car nenhum dividendo obrigatrio, este dever corresponder a 50% do lucro anual, exceo de algumas reservas. Os acionistas, por maioria de votos, tm o direito de reduzir o dividendo obrigatrio.

    Os acionistas sempre podero (por unanimidade de votos dos membros pre-sentes, ou atravs de uma clusula transcrita em um acordo de acionistas) deci-dir no distribuir o dividendo obrigatrio. Em qualquer assemblia de acionis-tas em que o administrador da companhia tenha advertido que a distribuio dos dividendos seria prejudicial s nanas da companhia, esta no se far ne-cessria, mas os dividendos devero ser registrados como reserva especial.

    Capitalizao. A LSA lana mo de dispositivos que tratam especi camen-te das possveis formas de capitalizao societria, quais sejam, dentro outros: aes preferenciais, debntures, warrants, partes bene ciarias (interesses em lucro) e bnus de subscrio. No h, no CC, dispositivo que proporcione tais possibilidades Limitada.

    Publicaes. Ao contrrio do que acontece numa Limitada, que somente est obrigada a publicar balano se for considerada empresa de grande porte (aquela que possue um ativo total superior a R$ 240 milhes ou uma receita bruta anual a R$ 300 milhes),21 a S.A. obrigada a publicar suas demons-traes nanceiras, o que inclui: a) o balano societrio dos ativos e passivos da companhia; b) os lucros e prejuzos acumulados; c) a demonstrao dos resultados nanceiros; e (iv) a demonstrao das origens e aplicaes em fun-dos. O custo destas publicaes obrigatrias uma S.A. alto e no varia de acordo com o valor do capital ou do investimento. Alm disso, a S.A. obri-

  • DIREITO SOCIETRIO AVANADO

    FGV DIREITO RIO 30

    ra da companhia. O conselho fi scal, se em funcionamento, dever dar parecer sobre essa informao e, na companhia aberta, seus administradores encaminharo Comisso de Valores Mobilirios, dentro de 5 (cinco) dias da realizao da assem-blia-geral, exposio justifi cativa da informao transmitida assemblia.

    5 Os lucros que deixarem de ser distribudos nos termos do 4 sero registrados como reserva especial e, se no absorvidos por prejuzos em exer-

    gada a publicar a convocao das assemblias de acionistas. Esta exigncia dispensada caso todos os acionistas compaream assemblia. Deste modo, uma das maiores desvantagens de uma S.A. a necessidade de publicidade que dada s suas questes nanceiras e contbeis, que pode ser uma questo relevante a uma empresa que no queira tornar pblico seus balanos.

    Anexo I Os Direitos da Minoria, por Assunto

    Limitada S. A.

    Reunio de Quotistas Assemblia de Acionistas

    De acordo com o art. 1073, I, do CC, qual-quer quotista pode convocar uma assemblia geral de quotistas sempre que os administra-dores da sociedade demorarem mais do que 60 dias para convoc-la nos casos previstos na lei ou no contrato social.

    Quotistas que representem mais do que 1/5 do capital social, podem convocar uma assem-blia geral sempre que os administradores da sociedade no atenderem, em 8 dias, ao pedido deles de convocao fundamentada, com indi-cao das questes que seriam discutidas.