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Direito do Ordenamento e do Urbanismo 2007/2008 Curso de Administração Pública

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Direito do Ordenamento e do Urbanismo

2007/2008

Curso de Administração Pública

Sumário da 3.ª Sessão As políticas sectoriais públicas e a sua influência no

território A importância da coordenação entre actores e políticas Restrições de utilidade pública e servidões administrativas:

noção e caracterização geral Exemplos de Servidões Administrativas Regimes legais que instituem restrições por utilidade

pública Reserva Agrícola Nacional Reserva Ecológica Nacional Rede Nacional das Áreas Protegidas e Regime Legal da Rede

Natura 2000 Regime da Ocupação, Uso e Transformação da Orla Costeira Regime Jurídico Florestal

A possível consideração das restrições por utilidade pública como Planos Sectoriais

As políticas sectoriais públicas e a sua influência no território

Políticas sectoriais mais importantes: Ambiente; Infra-estruturas; Equipamentos públicos e de interesse público; Indústria; Comércio; Turismo; Património cultural Agricultura.

A importância da coordenação entre actores e políticas As relações de coordenação entre políticas

sectoriais, seus actores e respectivos instrumentos: O ordenamento do território deve ser visto como uma

política coordenadora e integradora das várias actividades e políticas de carácter sectorial que se desenvolvem sobre o território.

Necessidade de consagração de soluções concertadas (ou o mais concertadas possível) entre as várias entidades com funções e interesses relevantes na matéria, tendo também como consequência vincular mais essas entidades à observância dos planos em que os seus representantes participaram e a cujas soluções deram o seu assentimento.

A importância da coordenação entre actores e políticas Exemplos de

coordenação organizatória: Dos procedimentos

complexos ao sistema do “balcão único”;

A criação de entidades gestoras de processos;

A conferência de serviços instrutória e decisória.

Exemplos de coordenação instrumental: Flexibilização das relações

de hierarquia entre planos; Desejável recusa aos

planos sectoriais de aptidão de vinculação directa e imediata dos particulares, devendo as suas opções ser plasmadas em planos urbanísticos;

A necessidade de relações de articulação, designadamente transnacional.

Restrições de utilidade pública e servidões

administrativas: noção e caracterização geral Servidões Administrativas: encargo imposto sobre certo prédio em proveito da utilidade pública de uma coisa.

Restrições de utilidade pública: correspondem a limitações ao direito de propriedade que visam a realização de interesses públicos abstractos.

O funcionamento das servidões e restrições como condicionantes ao uso do solo: Standards Urbanísticas de Eficácia Imediata e de Eficácia Diferida

De um conceito unívoco de servidões do urbanismo para uma distinção entre servidões e restrições baseada na sua diferente força normativa

Restrições de utilidade pública e servidões administrativas: noção e caracterização geral Servidões Legais e Servidões Administrativas: de uma

diferenciação com efeitos relevantes e assente na sua origem, para uma distinção imperfeita e tendencialmente irrelevante

O conceito de servidões legais e a indemnização por expropriação (a compensação do valor da parcela sobrante onerada com uma servidão non aedificandi) – A jurisprudência do Tribunal Constitucional (cfr., designadamente, o ac. 331/99, de 2 de Junho e os votos de vencido do Conselheiro Cardoso da Costa e do Conselheiro Paulo Mota Pinto.

A indemnização das servidões: indemnização directa ou A indemnização das servidões: indemnização directa ou indirectaindirecta

Restrições de utilidade pública e servidões administrativas: noção e caracterização geral Segundo o art.º 8.º, n.º 2, do Código das

Expropriações “as servidões, resultantes ou não de expropriações, dão lugar a indemnização quando:

a) Inviabilizem a utilização que vinha sendo dado ao bem, considerado globalmente;

b) Inviabilizem qualquer utilização do bem, nos casos em que este não esteja a ser utilizado; ou

c) Anulem completamente o seu valor económico.”

Restrições de utilidade pública e servidões administrativas: noção e caracterização geral

Procedimento e requisitos de imposição de servidões administrativas: Precedência de Aviso público a efectuar, em princípio, pela Câmara

Municipal – DL 181/70; A possibilidade de formulação de reclamações (erroneamente

designada “audiência prévia”) – DL 181/70; Recurso a uma “via de direito privado”: a proporcionalidade da medida; Audiência prévia, nos termos do (100.º CPA); A necessidade de prática de um acto que individualize a servidão

(artigo 8.º, n.º 2 e 13.º, n.º 2 do CE); As servidões administrativas devem estar sujeitas a inscrição no registo

predial, tal como sucede com as servidões no domínio civil, ainda que esta inscrição deva ser promovida oficiosamente pela entidade responsável: o extracto da inscrição da servidão deve conter como menções especiais, “o encargo imposto, a duração, quando temporária e a causa”, devendo ser único mesmo que incida sobre vários prédios (cfr. art. 95.º, n.º 1, alínea c), do CRP e Parecer da DGRN n.º 2/2004).

Restrições de utilidade pública e servidões administrativas: noção e caracterização geral Outros critérios de classificação das

servidões:Quanto à sua duração: permanentes ou

temporárias;Quanto ao seu conteúdo: positivas

(implicando um comportamento) ou negativas (co-envolvendo uma abstenção);

Quanto à sua finalidade: activas (in faciendo) ou passivas (in patiendo)

Restrições de utilidade pública e servidões administrativas: noção e caracterização geral Exemplos de servidões administrativas:

obrigações de não edificação (como sucede com uma determinada área contígua às vias rodoviárias e ferroviárias ou das zonas especiais de protecção dos imóveis classificados),

obrigação de dar acesso, por exemplo a cursos de água navegáveis ou de deixar colocar postes ou passar condutas

limitação da altura dos edifícios (como pode suceder num raio delimitado no âmbito das servidões aeroportuárias),

proibição da utilização de certos materiais de construção (como nas servidões de protecção contra perturbações electromagnéticas no âmbito das telecomunicações),

não admissibilidade de utilizações do solo especialmente poluentes (perto de hospitais ou de zonas de captação de água para consumo),

Obrigação de cortar árvores confinantes a estradas e caminhos municipais ou de proceder a operações de gestão de combustível florestal,

Sujeição a autorização da autoridade competente, para aferir da necessidade em concreto da imposição de uma servidão.

Restrições de utilidade pública e servidões administrativas: noção e caracterização geral

Exemplos de restrições de utilidade pública que identificam as terras que devem ficar sujeitas a protecção (diferenciada em função do objectivo a atingir): seja em função da protecção das suas características

ambientais específicas (pense-se em zonas em que existem ecossistemas de fauna ou flora específicos),

seja em função da sua aptidão produtiva, designadamente para fins agrícolas,

seja em função da sua particular localização (zonas de defesa e segurança nacionais situadas, por exemplo, nas fronteiras).

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública Reserva agrícola Nacional – Decreto-Lei n.º

196/89, de 14 de Junho (com alterações) Defesa das áreas de maior aptidão agrícola e

garantia da sua afectação à agricultura (artigo 1.º); Inclusão dos solos de Classe A e B e dos solos de

baixas aluvionares e coluviais ou outros cuja integração seja considerada pertinente (artigo 4.º) e possibilidade de integração específica na RAN de solos relevantes para a economia local ou regional (artigo 6.º);

Elaboração de uma Carta da RAN (aprovada por Portaria e publicada, e, interregnamente, elaboração de uma carta de capacidade de uso dos solos) (artigos 5.º e 24.º);

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública Reserva Agrícola Nacional

Obrigação de identificação da RAN em todos os instrumentos físicos que definam a ocupação física do território (designadamente planos municipais de ordenamento do território) (artigo 33.º);

Participação das Comissões Regionais da RAN no âmbito do procedimento de elaboração dos Planos;

Caducidade das Cartas da RAN relativas às áreas abrangidas por planos municipais que as integrem (artigo 32.º).

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública Reserva Agrícola Nacional

Os solos da RAN devem ser exclusivamente dedicados à agricultura, sendo proibidas as acções que diminuam ou destruam as duas potencialidades agrícolas, designadamente “obras hidráulicas, vias de comunicação e acessos, construção de edifícios, aterros e escavações” (artigo 8.º);

Possibilidade de utilização não estritamente agrícola dos solos integrados na RAN, mediante parecer prévio favorável da CRRAN, sob pena de nulidade do acto autorizativo (artigos 9.º, 10.º e 34.º);

Desvios possíveis à RAN, quando não haja alternativa idónea de localização: Obras com finalidade exclusivamente agrícola, quando

integradas em explorações agrícolas viáveis; Habitação para residência habitual dos agricultores e

explorações agrícolas viáveis; Habitação para utilização própria e exclusiva dos seus

proprietários, que se encontrem em situação de extrema necessidade;

Vias de comunicação e outros empreendimentos ou construções de interesse público;

Exploração de inertes, com apresentação de plano de recuperação dos solos que seja aprovado;

Obras para defesa do património cultural, designadamente arqueológico;

Operações de florestação e exploração florestal, com projectos aprovados ou autorizados;

Instalações de agro-turismo e turismo rural; Campos de golfe declarados de interesse para o Turismo pela

Direcção-Geral do Turismo.

Acórdão do STA, de 22 de Junho de 2006, proferido no âmbito do proc. 0805/03

A utilização dos solos integrados na RAN para vias de comunicação e seus acessos carece de parecer favorável das Comissões Regionais da Reserva Agrícola, o qual tem de ser prestado previamente à declaração expropriativa;

O parecer da CRAN só foi solicitado cerca de sete meses depois da prolação do acto expropriativo impugnado e só foi entregue cerca de dez meses após essa prolação;

Pode ser usado o princípio do aproveitamento do acto administrativo, segundo qual não se justifica a anulação de um acto, mesmo que enferme de um vício de violação de lei ou de forma, sempre que, estando em causa um comportamento vinculado, o acto que haja de proferir não possa ter outro conteúdo senão aquele que lhe foi dado, impondo a sua renovação?

O Tribunal considerou – contra jurisprudência constante do STA e com um voto de vencido -, que em causa estava um vício absoluto – uma nulidade -, sendo por esta colocados em causa os próprios fundamentos do sistema. A atribuição de quaisquer efeitos jurídicos, ainda que colaterais, ao acto nulo representaria um entorse intolerável na estrutura normativa do Estado de Direito.

E isto mesmo que se trate de uma norma de procedimento, já que “a circunstância de ter sido emitido parecer favorável, embora a posteriori, não altera os dados da questão. É que o “fim procedimental singular da norma” (HILL), o seu “escopo de protecção”, não é tanto o interesse geral, que sempre existe, de uma correcta decisão de fundo, mas a exigência expressamente afirmada no texto da lei, de um certo momento para a emissão daquele acto.

Trata-se de nulidades ligadas à infracção de interesses comunitários de grande alcance, como o ordenamento do território ou o aproveitamento racional dos recursos naturais, com expresso assento constitucional [arts. 65° n.° 4 e 66° n° 2 al. d)]. Logo, de nulidades de “valor reforçado”.

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública Reserva Ecológica Nacional (Decreto-Lei n.º 93/90 , de

19 de Março, alterado in fine pelo Decreto-Lei n.º 180/2006) A Reserva Ecológica Nacional, adiante designada por REN,

constituí uma estrutura biofísica básica e diversificada que, através do condicionamento à utilização de áreas com características ecológicas específicas, garante a protecção de ecossistemas e a permanência e intensificação dos processos biológicos indispensáveis ao enquadramento equilibrado das actividades humanas (artigo 1.º)

A REN abrange zonas costeiras e ribeirinhas, águas interiores, áreas de infiltração máxima e zonas declivosas, referidas no anexo I e definidas no anexo III do presente diploma, que dele fazem parte integrante, sendo delimitada por Resolução do Conselho de Ministros (artigos 2.º e 3.º).

Artigo 3.º (…) 10 — A delimitação da REN pode ocorrer juntamente com a

elaboração, alteração ou revisão de plano especial ou plano municipal de ordenamento do território, sendo nesse caso praticados simultaneamente o acto de aprovação da delimitação da REN e o acto de aprovação ou ratificação do instrumento de gestão territorial em causa.

11 — Quando a delimitação ou alteração da REN ocorra simultaneamente com o procedimento de elaboração, alteração ou revisão de plano especial de ordenamento do território ou plano director municipal, deve ser solicitado parecer à comissão mista de coordenação prevista no Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro.

12 — Quando a alteração da delimitação da REN ocorra simultaneamente com a elaboração, alteração ou revisão de plano especial ou plano municipal de ordenamento do território, a nova delimitação determina a publicação da carta da REN do concelho.

13 — Nas situações em que a demarcação da REN, constante de plano especial ou municipal de ordenamento do território, não coincida com a delimitação da mesma reserva operada pela resolução mencionada no n.º 1, deve o respectivo plano ser objecto de alteração, no prazo de 90 dias, nos termos do artigo 97.º do Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro.

Reserva Ecológica Nacional De uma perspectiva limitada das derrogações admitidas ao regime

da REN (acções ligadas à defesa nacional ou de reconhecido interesse público, nos termos do anterior artigo 4.º), para a busca das utilizações compatíveis sobre o solo. ANEXOS IV e V: Acções insusceptíveis de prejudicar o equilíbrio

ecológico das áreas integradas na Reserva Ecológica Nacional, sujeitas ou isentas de autorização ou de comunicação prévia à CCDR.

Exemplo: Ampliação de estruturas afectas a agroturismo, turismo rural, turismo de habitação, turismo de aldeia e casas de campo. — A pretensão pode ser autorizada desde que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos: A edificação existente esteja licenciada, nos termos legalmente exigidos; Seja justificada por razões de necessidade decorrentes do uso existente; Não implique acréscimo da área de implantação superior a 30 % da área de implantação existente; Os equipamentos de recreio e lazer de apoio ao empreendimento sejam dimensionados em função da capacidade de alojamento do empreendimento, devendo as intervenções respeitar a topografia do terreno e privilegiar a utilização de materiais permeáveis ou semipermeáveis nos pavimentos, bem como o recurso a materiais perecíveis nos equipamentos de apoio (…) A autorização da pretensão de ampliação determina a interdição de nova ampliação nos 10 anos subsequentes.

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública Rede Nacional das Áreas Protegidas e Regime Legal da

Rede Natura 2000 Resolução do Conselho de Ministros n.º 152/2001, que adopta a

Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade:

conservar a natureza e a diversidade biológica, incluindo os elementos notáveis da geologia, geomorfologia e paleontologia;

promover a utilização sustentável dos recursos biológicos; contribuir para a prossecução dos objectivos visados pelos

processos de cooperação internacional na área da conservação da natureza e da biodiversidade.

contribuir para parar a perda da biodiversidade Rede Fundamental de Conservação da Natureza e o Sistema

Nacional de Áreas Classificadas

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública Rede Nacional das Áreas Protegidas (Decreto-Lei n.º

19/93, de 23 de Janeiro): A conservação da Natureza, a protecção dos espaços naturais

e das paisagem, a preservação das espécies da fauna e da flora e dos seus habitats naturais a manutenção dos equilíbrios ecológicos e a protecção dos recursos naturais contra todas as formas de degradação constituem objectivos de interesse público, a prosseguir mediante a implementação e regulamentação de um sistema nacional de áreas protegidas (artigo 1.º);

As áreas protegidas de interesse nacional classificam-se nas seguintes categorias: a) Parque nacional; b) Reserva natural; c) Parque natural; d) Monumento natural. Classificam-se como paisagem protegida as áreas protegidas de interesse regional ou local. Podem ainda ser classificadas áreas de estatuto privado, designadas «sítio de interesse biológico» (artigo 2.º).

E ainda:Reservas e

parques marinhos (artigo 10.º-A)

Reservas integrais (artigo 11.º).

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública Quaisquer entidades públicas ou privadas,

designadamente autarquias locais e associações de defesa do ambiente, podem propor a classificação de áreas protegidas de âmbito nacional, regional e local (artigo 12.º, 26.º);

Classificação através de Decreto Regulamentar, precedida de inquérito público e audição das autarquias envolvidas (artigo 13.º, 27.º);

O acto de classificação deve definir as limitações urbanísticas aplicáveis e o prazo de elaboração do plano de ordenamento, caducando pelo não cumprimento deste prazo: sucessiva prorrogação do mesmo por Diploma legal (artigo 13.º, 27.º).

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública Regime Legal da Rede Natura 2000 (Decreto-

Lei n.º 140/99, de 24 de Abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º 49/2005, de 24 de Janeiro): A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica de âmbito europeu que compreende as áreas classificadas como Zonas Especiais de Conservação (Lista Nacional de Sítios/ Habitats – classificação por Resolução do Conselho de Ministros) e as áreas classificadas como Zonas de Protecção Especial (Directiva Aves – classificação por Decreto Regulamentar) - artigo 4.º;

Artigo 8.º Ordenamento do Território

1—Os instrumentos de gestão territorial aplicáveis nas ZEC e nas ZPE devem garantir a conservação dos habitats e das populações das espécies em função dos quais as referidas zonas foram classificadas.

2—Quando a totalidade ou parte das ZEC e ZPE se localizem dentro dos limites de áreas protegidas, classificadas nos termos da lei, o objectivo previsto no número anterior é assegurado através de planos especiais de ordenamento das áreas protegidas.

3—Na primeira revisão ou alteração dos instrumentos de gestão territorial aplicáveis deve (…) b) Adaptar-se o instrumento de gestão territorial às medidas de conservação definidas através dos mecanismos previstos no n.o 1 do artigo 7.o e no artigo 7.o-B ou previstas no plano sectorial.

4—A execução da Rede Natura 2000 é objecto de um plano sectorial (…).

6—As formas de adaptação dos planos especiais e dos planos municipais de ordenamento do território existentes são definidas no plano sectorial previsto no n.º 4, nos termos do n.º 1 do artigo 25.o do Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro.

7—A adaptação dos planos especiais e dos planos municipais de ordenamento do território existentes, em conformidade com o disposto no número anterior, deve ocorrer no prazo de seis anos após a aprovação do plano sectorial.

Artigo 9.º Actos e actividades condicionados

(…) 2—Até à revisão ou alteração dos planos especiais de ordenamento do território aplicáveis e, nas áreas não abrangidas por aqueles planos, sempre que os relatórios dos planos municipais de ordenamento do território aplicáveis não contenham a fundamentação referida na alínea a) do n.o 3 do artigo anterior, dependem de parecer favorável do ICN ou da comissão de coordenação e desenvolvimento regional competente:

a) A realização de obras de construção civil fora dos perímetros urbanos, com excepção das obras de reconstrução, demolição, conservação de edifícios e ampliação desde que esta não envolva aumento de área de implantação superior a 50% da área inicial e a área total de ampliação seja inferior a 100 m2 (…)

3—O parecer previsto no número anterior deve ser emitido no prazo de 45 dias úteis a contar da data da sua solicitação.

4—O prazo referido no número anterior suspende-se, nas situações previstas no n.o 2 do artigo 10.o, desde a data da proposta do procedimento da avaliação de impacte ambiental até à decisão sobre a realização desse procedimento.

5—A ausência de parecer no prazo previsto no n.º 3 equivale à emissão de parecer favorável.

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública

Regime da ocupação, uso e transformação da orla costeira – Decreto-Lei n.º 302/90, de 26 de Setembro Faixa costeira: banda ao longo da costa marítima, cuja largura é

limitada pela linha de máxima praia-mar de águas vivas equinociais e pela linha situada a 2 km daquela para o interior (artigo 1.º, n.º 2)

A aprovação ou ratificação dos instrumentos de gestão territorial para a orla costeira depende, em regra, da observância dos princípios definidos por anexo (artigo 3.º):

Afastamento das construções da linha da costa; evitar estradas e edificação linear ao longo da costa; concentrar edificação nos aglomerados existentes; limitação da altura dos edifícios; enterramento das infra-estruturas e limitada impermeabilização do solo.

Na ausência de tais instrumentos, os projectos de loteamentos ou obras apenasd podem ser aprovados se observarem aqueles princípios ou justificarem a sua inobservância (designadamente para instalação de empreendimentos turísticos) (artigo 11.º)

Regimes legais que instituem restrições por utilidade pública

Regime Jurídico FlorestalDecreto-Lei n.º 327/80, de 26 de Agosto: 

Bases gerais da prevenção, detecção e combate aos incêndios florestais

Lei n.º 33/96, de 17 de Agosto: Lei de Bases da Política Florestal,

Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho - Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios

Regime Jurídico Florestal

Medidas de ordenamento florestal com incidência territorial

Planos de ordenamento florestal:

Plano Nacional de Prevenção e Protecção da Floresta contra os Incêndios Florestais - Resolução do Conselho de Ministros n.º 65/2006, de 26 de Maio

Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) - Decreto-Lei n.º 204/99, de 9 de Junho e Resolução do Conselho de Ministros n.º 118/2000, de 13 de Setembro

Planos Municipais de Defesa da Floresta contra Incêndios - Portaria n.º 1139/2006, de 25 de Outubro

Planos de Gestão Florestal - Decreto-Lei n.º 205/99, de 9 de Junho

Regime Jurídico Florestal Artigo 16.º do Decreto-Lei n.º 124/2006

Edificação em zonas de elevado risco de incêndios 1 - A classificação e qualificação do solo definida no âmbito dos

instrumentos de gestão territorial vinculativos dos particulares deve reflectir a cartografia de risco de incêndio, que respeita a zonagem do continente e as zonas críticas definidas respectivamente nos artigos 5.º e 6.º, e que consta nos PMDFCI.

2 - A construção de edificações para habitação, comércio, serviços e indústria é interdita nos terrenos classificados nos PMDFCI com risco de incêndio elevado ou muito elevado, sem prejuízo das infra-estruturas definidas nas redes regionais de defesa da floresta contra incêndios.

3 - As novas edificações no espaço florestal ou rural têm de salvaguardar, na sua implantação no terreno, a garantia de distância à estrema da propriedade de uma faixa de protecção nunca inferior a 50 m e a adopção de medidas especiais relativas à resistência do edifício, à passagem do fogo e à contenção de possíveis fontes de ignição de incêndios no edifício e respectivos acessos.

Regime Jurídico Florestal

Standards urbanísticos de aplicação directa às operações urbanísticas ou sua necessária integração nos planos municipais de ordenamento do território, tendo, assim, a natureza de standard urbanístico de planeamento?

A auto-suficiência normativa da norma do n.º 3 do artigo 16.º: encontra-se dependente do zonamento de risco de incêndio?; a que tipo de solos se aplica (qual a noção de solo agrícola e florestal)?; que tipo de actividades urbanísticas inviabiliza (construção de raiz, ampliações?).

Regime Jurídico Florestal

Integração dos instrumentos de ordenamento florestal, sobretudo dos planos municipais de defesa da floresta contra Incêndios nos Planos Municipais de Ordenamento do Território, no caso do disposto no n.º 2 do artigo 16.º

Neste sentido vai o artigo 10.º, n.º 6, do Decreto-Lei n.º 124/2006:“as cartas da rede regional de defesa da floresta contra incêndios e de risco de incêndio, constantes dos PMDFCI, devem ser delimitadas e regulamentadas nos respectivos planos municipais de ordenamento do território” e a configuração dos PMDFCI, uma vez que não são sujeitos a discussão pública, nem publicados.

Os Projectos de Intervenção em Espaço Rural: Planos de Pormenor sob modalidade específica (artigo 91.º - A, do RJIGT).

Regime Jurídico Florestal

Gestão Florestal

Zonas de Intervenção Florestal (Decreto-Lei n.º 127/2005, de 5 de Agosto e Portaria n.º 222/2006, de 8 de Março)

-Regras de constituição que visam a promoção do associativismo florestal e devem ser encaradas de forma prioritária;

- A gestão unívoca das ZIF e a existência de um fundo comum;

- A existência necessária de um plano de defesa da floresta e de um plano de gestão florestal obrigatórios para os aderentes da ZIF;

- A possibilidade de concessão de apoios financeiros prioritários e de prémios às ZIF e isenção de taxas e emolumentos.

Regime Jurídico Florestal

Ordenamento de áreas percorridas por incêndios

-Decreto-Lei n.º 139/88, de 22 de Abril, impõe a obrigatoriedade de rearborização dos terrenos percorridos por ou autorização prévia, consoante esta operação seja feita com ou sem alteração do tipo e composição do povoamento preexistente, “excepto quando esta não constituir a forma de utilização mais adequada dos terrenos em causa ou quando tal não lhe seja exigível, nomeadamente face à situação económica em que se encontre”;

- Caso os incêndios se dêem em sítios e áreas protegidas, a obrigação de reflorestação resulta do disposto no Decreto-Lei n.º 180/89, de 30 de Maio.

Regime Jurídico FlorestalOrdenamento de áreas percorridas por incêndios

Decreto-Lei n.º 327/90, de 22 de Outubro (alterado recentemente pelo Decreto-Lei n.º 55/2007, de 12 de Março) impossibilita a realização de acções urbanísticas e outras em terrenos com povoamentos florestais não incluídos em espaços classificados em planos municipais de ordenamento do território como “urbanos, urbanizáveis ou industriais” ou em terrenos não abrangidos por planos municipais de ordenamento eficazes, pelo prazo de 10 anos, ou de alteração dos PMOT no sentido apontado.

O n.º 7 do artigo 1.º comina com nulidade quaisquer actos administrativos praticados em violação da imposição de “imobilização” resultante do Decreto-Lei n.º 327/90.

Regime Jurídico Florestal

Em causa está uma limitação ao poder de planeamento de todo despicienda, na medida em que pode implicar uma leitura excessivamente ampla desta restrição pode implicar uma completa impossibilidade de definição de um projecto urbanístico para uma área municipal determinada. Pense-se, por exemplo, nos Municípios cujo solo rural foi quase integralmente assolado por incêndios florestais em anos recentes ou em zonas com povoamentos florestais que sucessivamente — em ciclos por vezes inferiores a dez anos — são percorridas por incêndios, tornando inviável quase ad aeternum a sua planificação urbanística.

Regime Jurídico Florestal

Derrogações à regra da imobilização dos terrenos com povoamentos florestais percorridos por incêndios:

1. Caso não haja, comprovadamente, relação entre a causa do incêndio e os interessados ou transmitentes (cfr. o acórdão do Tribunal Constitucional n.º 639/99 (DR, II Série, de 23 de Março de 2000)

Esta hipótese, pensada na perspectiva da gestão urbanística concreta e não do ponto de vista do fenómeno do planeamento, apresenta-se com pressupostos muito limitados, uma vez que a dispensa em causa deve impreterivelmente ser requerida até um ano após a ocorrência do incêndio.

Regime Jurídico Florestal

2. Dispensa adicional de aplicação do regime jurídico aplicável aos terrenos com povoamentos florestais percorridos por incêndios, para as acções de interesse público ou de um empreendimento com relevante interesse geral, como tal reconhecidos por despacho conjunto dos membros do Governo responsáveis pelas áreas do ambiente e do ordenamento do território e da agricultura e do membro do Governo competente em razão da matéria. O levantamento das proibições opera por efeito desse reconhecimento, o qual pode ser requerido a todo o tempo” (n.º 5 do artigo 1.º). Este fundamento geral não dispensa uma apreciação subjectiva sobre se o incêndio se ficou a dever a causas a que os interessados ou transmitentes são alheios.

Regime Jurídico Florestal A perspectiva do planeamento urbanístico:

limitação das restrições impostas pelo Decreto-Lei n.º 327/90 aos “terrenos com povoamentos florestais percorridos por incêndios”

Os instrumentos de planeamento passam a ter de definir as manchas de povoamentos florestais e a integrar e actualizar os levantamentos cartográficos das áreas percorridas por incêndios (artigos 2.º e 4.º), enquanto condicionantes ao planeamento municipal

De acordo com o disposto no Decreto-Lei n.º 124/2006, povoamento florestal corresponde à “área ocupada com árvores florestais que cumpre os critérios definidos no Inventário Florestal Nacional, incluindo os povoamentos naturais jovens, as plantações e sementeiras, os pomares de sementes e viveiros florestais e as cortinas de abrigo” [artigo 3.º, n.º 1, alínea s)]

Regime Jurídico Florestal Essencial se torna, para que se possa dar seguimento a um

procedimento de planeamento, que se proceda à determinação se havia previamente à ocorrência de um incêndio no local para o qual se prevê uma ocupação urbanística um efectivo povoamento florestal. Neste caso, por exemplo, se se encontram documentadas pré-existências urbanísticas na área, designadamente aglomerados ou unidades industriais, ainda que o Plano as tenha incluído em solo rural, nada haverá a opor à ampliação do perímetro urbano do ponto de vista da legislação florestal, na medida em que não havia na área qualquer povoamento prévio.

Nas hipóteses de alargamento de perímetro mantêm-se as exigências urbanísticas de demonstração da imprescindibilidade deste aumento, nos termos previstos no Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial e, mais recentemente, no Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território.

Regime Jurídico Florestal

Medidas Preventivas

A definição de manchas críticas, de zonagem e de períodos críticos no âmbito do sistema nacional de defesa contra incêndios

Definição de regras de condicionamento de acesso, circulação e de permanência e de medidas preventivas, designadamente de limpeza

Aprovação do Regulamento do fogo controlado (Decreto-Lei n.º 1061/2004).

Consideração das restrições por utilidade pública como Planos Sectoriais

Artigo 35.º do RJIGT Noção

1 — Os planos sectoriais são instrumentos de programação ou de concretização das diversas políticas com incidência na organização do território.

2 — Para efeitos do presente diploma, são considerados planos sectoriais: a) Os planos, programas e estratégias de desenvolvimento

respeitantes aos diversos sectores da administração central, nomeadamente nos domínios dos transportes, das comunicações, da energia e dos recursos geológicos, da educação e da formação, da cultura, da saúde, da habitação, do turismo, da agricultura, do comércio, da indústria, das florestas e do ambiente;

b) Os planos de ordenamento sectorial e os regimes territoriais definidos ao abrigo de lei especial;

c) As decisões sobre a localização e a realização de grandes empreendimentos públicos com incidência territorial.

Consideração das restrições por utilidade pública como Planos Sectoriais

A possibilidade de os Planos Directores Municipais (mas não os PU e PP’s) poderem alterar Planos Sectoriais, desde que sejam objecto de ratificação – artigo 80.º do RJIGT;

A suspensão ou revogação dos instrumentos de planeamento não implica, ainda assim, a suspensão das condicionantes (REN e RAN, por exemplo) que se mantêm.

Questão:

Um terreno agrícola, utilizado pelo proprietário desde há muitos anos para o cultivo do arroz, foi abrangido por uma restrição por utilidade pública destinada à salvaguarda da fauna e flora indígenas, da qual resulta a proibição de se manter aí o cultivo referido.

Poderá o proprietário exigir do Estado a indemnização correspondente à expropriação por utilidade pública, isto é à perda da propriedade sobre o seu bem?

Bibliografia

Fernando Alves Correia, Manual de Direito do Urbanismo, 3.ª ed., Vol. I, 2006, p. 239-311;

Dulce Lopes, “Defesa das pessoas e bens contra incêndios: A legislação florestal revisitada”, O Municipal, n.º 316, Maio, 2007, p. 12-13.