direito processual penal 2 - epereira.awardspace.comepereira.awardspace.com/7p/direito processual...
TRANSCRIPT
09/02
Como recomendação de livros, temos Aury Lopes Jr., Gustavo Badaró ou Elmir
Duclerc. Se possível, ler um dos clássicos: Hélio Tornaghi e Frederico Marques.
Combinar o Aury com o Tourinho é válido.
Teoria da Prova
Quanto a questão das provas, em específico, recomenda-se a leitura do livro
‘Nulidades do Processo Penal’.
As formas jurídicas são criadas para garantir os direitos dos indivíduos frente
ao Estado, que deve ser a reserva de razão da sociedade. Caso o Estado viole a
norma no decurso da persecução penal, ele deixa de possui este superioridade
ética, logo a persecução deixa de ser legítima e deve, portanto, cessar.
Primeiro temos que delimitar o significado da palavra ‘prova’, que é, em
princípio, polissêmica. Seus três principais significados no Direito.
No primeiro, prova é vista como atividade, com a finalidade de mostrar a
veracidade ou não de um afirmação. Alguns doutrinadores entendem que acusação
é sinônimo de imputação (a afirmação de que o autor praticou determinado fato
naturalístico, entendido como crime), outros que soma-se a isso ‘pedido de
condenação’. Ou seja, a prova, no sentido dado acima, visa exatamente confirmar a
acusação.
Outro sentido, é prova como meio, instrumento utilizado para a demonstração
da verdade de uma afirmação ou existência de um fato.
Por último, prova é entendida como o resultado da atividade probatória: a
certeza ou convicção que surge no espírito do julgador.
Lembrando que a presunção de inocência nos diz que todos devem ser tratados
como inocentes até que se prove o contrário (primeira dimensão do princípio da
presunção de inocência), temos que o ônus de se provar a acusação é todo de
quem a faz (segunda dimensão do princípio da inocência).
Segundo Elmir Duclerc, a prova é um ato de comunicação, pois se está
comunicando ao juiz determinado fato.
Além disso, a prova é um direito público subjetivo das partes, sendo esta sua
natureza jurídica. O princípio do contraditório faz com que, de todo direito a prova
exercido, surja um direito a contra-prova.
A prova serve para verificar a veracidade das afirmações pronunciadas pela
partes ao longo do processo, principalmente no que tange à acusação, sendo a
verdade um dos principais valores do processo penal (junto à liberdade). As
garantias processuais servem exatamente para buscar assegurar a produção desta
verdade.
Mas o que é verdade? Segundo Habermas, verdade é consenso, ou seja, aquilo
que, em virtude de determinada tradição, pode ser visto como verdade pelos
participantes deste grupo. Para outros, verdade é um valor que é atribuído a
determinada idéia e para outros é apenas um ponto de vista.
Porém, o que prevalece é o conceito greco-romano de verdade, que entende a
verdade como correspondência entre o que é e que é dito, uma forma de
adequação. Evidente que este conceito não se sustenta. Nesta visão, Carnelutti
dizia que a verdade só poderia surgir do todo, mas a nossa apreensão é sempre
parcial da realidade, portanto a verdade não é acessível para nós.
A partir desta problematização do conceito de verdade, entendemos que a
verdade no processo apenas pode ser uma verdade aproximativa, nunca uma
verdade real.
Infelizmente, muitos ainda acreditam que o processo penal é regido pelo
princípio da verdade real. Porém, se temos uma verdade real, teríamos que admitir
uma verdade irreal, o que não faz sentido. Ademais, como já vimos o todo é
inapreensível e a questão das falsas memórias também dificulta a possibilidade de
se pensar num conceito de verdade real.
A noção de verdade real é antiga. A Inquisição trabalhava com este conceito,
utilizando a tortura como forma de descubrir a verdade. Historicamente, a busca
da verdade real apenas serviu como forma de se justificar inúmeras atrocidades.
A maioria da jurisprudência brasileira e da doutrina admite este princípio como
vetor do Processo Penal, porém temos uma certa linha crítica que contestam este
princípio do ponto de vista dogmático.
O problema da verdade real é que ela incentiva o juiz a sair de sua inércia e
agir diretamente no processo para buscar tal verdade. Assim, ele passa a produzir
prova de ofício, o que faz com que ele deixe sua posição de imparcialidade, se
aproximando de determinada parte ou tese, o que não poderia ser feito. Alguns
autores defendem que o juiz pode sair de sua inércia apenas para produzir provas
a favor do réu (Geraldo Prado) e outros que o juiz nunca pode produzir provar ().
Porém, a maior parte da doutrina entende que o juiz sempre pode sair de sua
inércia para produzir.
O art. 156 trata da gestão da prova. Segundo seu caput é quem alega que
deverá provar, porém seus incisos dão ao juiz o poder de agir de ofício, criando
uma espécie de sistema de natureza inquisitorial.
11/02
Princípios Processuais Penais Relacionados à Prova:
Princípios são vetores interpretativos, mandamentos nucleares de um sistema
normativo. Não deixam de ser normas, apenas são mais abrangentes que as
chamadas regras.
Princípio da Comunhão dos Meios de Prova: Toda prova que é produzida num
processo deixa de ser prova de uma das partes e passa a sê-la do processo como
um todo, não importa quem a tenha pedido, podendo, inclusive, prejudicar a este.
Assim, depois de produzida, não existe prova da acusação ou da defesa, apenas
prova do juízo.
Princípio da Formação Dialética das Provas: Toda afirmação ou prova
produzida por requerimento de determinada parte, deve poder ser analisada
(necessidade de ciência) pela outra, que deverá, também, poder se manifestar
quanto a ela (possibilidade de reação).
Princípio da Presunção de Inocência: Este princípio possui três dimensões. Na
primeira ele é uma norma de tratamento que nos diz que o acusado deve se
tratado como inocente até o trânsito em julgado da sentença condenatório penal.
Daí o entendimento de que, mesmo pendente recurso extraordinário (que, em tese,
não possui efeito suspensivo), não poderá se o réu recolhido à prisão sem
necessidade excepcional e fundamentada. A proibição do uso de algema também é
decorrência desta norma. Em segundo lugar, ele é uma norma de garantia, pois
deve-se sempre proteger o lado mais fraco das relações, que no caso do decorrer
do processo penal é o réu. Por último, temos este princípio como norma
probatório, o que significa que todo o ônus probatório cabe à acusação.
Princípio da Não Auto-Incriminação: Este princípio nos diz que ninguém está
obrigado a produzir prova contra si mesmo e está expresso no brocardo latino
nemo teneatur sine detegere. Parte minoritária da doutrina construiu uma divisão
entre provas invasivas (com penetração no corpo, como soro da verdade e agulha
que extra sangue) e provsa não-invasivas (sem esta penetração), para argumentar
que apenas as provas invasivas estão vedadas por este princípio.
O procedimento probatório é o conjunto de atos que compõe a dinâmica
probatório e é composto, nesta ordem, por: proposição, admissão, produção e
valoração.
16/02
Provas Ilícitas
A Constituição trata das provas ilícitas em seu art. 5º, LVI, e o Código de
Processo Penal em seu art. 157, que determina que estas devem ser
desentranhadas do processo, evitando assim que estas influenciem a convicção do
julgador.
Segundo Luiz Gustavo Grandinetti, a opção constitucional foi no sentido de
declarar a inadmissibilidade de todo e qualquer meio de prova ilícito, porém a
jurisprudência relativiza esta vedação. Esta opção constitucional teria sido o
resultado de um ponderação entre as várias inviolabilidades (física, domiciliar,
correspondência, dentre outras) prescritas no texto constitucional, de um lado, e a
verdade processual e segurança pública, de outro, que acabou por privilegiar as
primeiras.
A doutrina costuma diferenciar prova ilícita de prova ilegítima, sendo ambas
espécies da prova ilícita lato sensu. A prova ilegítima seria a produzida em
desconformidade com norma de direito processual e a prova ilícita stricto sensu
resultado de violação de norma de direito material ou da Constituição.
A partir desta distinção, passa a se discutir se as provas ilegítimas estariam
também vedadas pela norma constitucional. Parte da doutrina, entende que estas
não estariam albergadas pela Constituição, pois não estaria o dispostivo
constitucional preocupado com formalidades processuais quando foi pensada, mas
apenas com a tutela de direitos e garantias fundamentais.
Os demais doutrinadores dizem que a Constituição traz no seu art. 5º, LVI, uma
norma de garantia, que visa proteger o cidadão contra o arbítrio estatal. Assim, a
Carta Maior estaria vedando todas as provas ilícitas lato sensu, que seja, as
ilegítimas e ilícitas stricto sensu.
Ainda na linha de relativização desta norma de garantia, a doutrina entende
que é possível a utilização de provas ilícitas quando isto evitar uma violação ainda
maior daqueles princípios e valores que foram exatamente o alvo de preocupação
da legislador constituinte quando este criou a vedação constitucional em questão.
Surgem daí algumas ponderações importantes, entre prova ilícita e ampla
defesa e entre prova ilícita e liberdade. Norberto Bobbio entende que sempre deve
prevalecer a norma permissiva (a norma mais favorável) sobre a proibitiva, assim
como deve preponderar o bem jurídico mais valioso. Logo, a ampla defesa e a
liberdade, nos casos acima, devem prevalecer.
Existe uma teoria estrangeira chamada de teoria do male captum, bene
retentum que nos diz que aquilo que foi mal captado (ou seja, em violação de
norma jurídica) poderá ser bem utilizado. Nossa Constituição, porém, não permite
sua utilização, pois ela pressuporia uma separação entre o plano da norma que
proibia a produção da prova da forma que a foi e sua utilização no processo penal,
separação esta que não existe no ordenamento jurídico brasileiro.
Quanto à tortura, soros da verdade e detectores de mentira, temos que estas
nunca são permitidas, por violarem valores constitucionais centrais do nosso
ordenamento jurídico.
Quanto à consequência jurídica da admissão de prova ilícita no processo, parte
da doutrina (Grinover, por exempo) entende que esta é inexistente e outra que é
absolutamente nula, predominando a segunda.
Segundo Afrânio Silva Jardim, temos a teoria da exclusão da ilicitude, frente às
provas ilícitas produzidas pelo réu. Aqui, entende-se que o réu está sendo alvo de
uma violação grave, está sendo acusado de um crime que não cometeu, ademais o
processo penal em si já é um mal que sofre o acusado, logo há uma exclusão de
ilicitude (estado de necessidade) que faz com que as provas, que seriam ilícitas,
produzidas pelo réu passem a poder ser admitidas no processo. Esta tese não é
majoritária.
Outros doutrinadores (Barbosa Moreira, Pacelli, dentre outros) entendem que o
mais correto seria pensar numa ponderação dos valores envolvidos, defendendo
uma teoria da proporcionalidade/sopesamento. Nesta linha, a prova ilícita pro reo
é majoritariamente aceita, enquanto que a prova ilícita pro societate é recusada
pela grande maioria da doutrina e da jurisprudência. Porém, recentemente começa
a surgir uma corrente que defende a prova ilícita pro societate.
A doutrina da prova derivada e a teoria dos frutos da árvore envenenada,
oriunda do direito estadounidense, tratam da prova ilícita por derivação. Aqui
temos uma prova que em si mesmo é lícita, mas que somente foi obtida devido a
informações provenientes de provas obtidas ilicitamente. Esta prova não poderá
ser utilizada. Um exemplo é o mandado de busca e apreensão requisitado pela
autoridade policial após a tortura de um suspeito que confessa onde estariam os
instrumentos do crime.
Esta vedação não é, porém, absoluta. Há duas exceções. Uma delas é quando
há quebra do nexo causal entre a prova ilícita originária e a prova derivada, o que,
na prática, significa que não há uma prova propriamente derivada (independent
source). Outra é quando a prova teria sido descoberta de qualquer maneira
(independent discovery), como quando interrogo estuprador, que já havia
permitido o exame de DNA, que confessa mediante tortura. Tais exceções estão
expressamente autorizadas no art. 157, §1º e §2º.
O problema destas exceções é que elas acabam por permitir que o Estado atue
contrariamente a sua própria lei e que não haja uma resposta adequada a tal
conduta. O princípio da confiança que deve reger as relações entre cidadãos e o
Estado estaria violado desde o momento da violação da norma jurídica. Logo, como
seria possível confiar plenamente, por exemplo, no depoimento dos policiais
quando a própria instituição ao qual pertencem já violou a lei no curso do mesmo
processo? Não o seria.
Recentemente surgiu a questão da videoconferências como meio de produção
de prova. Do ponto de vista teórico, temos que a videoconferência violaria o
princípio da ampla defesa, pois esta se divide em defesa técnica e autodefesa, e
este último em direito de audiência e direito de presença, estando este último
claramente violado no caso em tela. O STJ preponderantemente admitia a
videoconferência e o STF não a admitia, inclusive já se considerou esta
inconstitucional (HC 88914 – Rel. Min. Cezar Peluso), mas que falou da exigência
de lei que regulasse a matéria e garantisse os direitos fundamentais, que acabou
por vir, mas a respeito da qual não houve uma discussão quanto a se esta é ou não
inconstitucional. A doutrina também diverge a respeito, sendo Gustavo Badaró a
favor da sua utilização e Paulo Rangel contra.
18/02
Artigo 155 do CPP, com a nova redação vai estabelecer e consagrar no plano
do direito positivo o principio do livre convencimento motivado. A primeira parte
do artigo diz que: só é prova capaz de formar o convencimento do juiz, aquela
submetida ao contraditório. Esse principio é democrático, porque não basta o juiz
formar a sua convicção, tem que expor, mostrando as razoes de fato e de direto
que levou a tal conclusão. Não adotamos no Brasil o principio da prova tarifada, ou
seja, de que cada prova tem um valor. Não basta formar o convencimento, e sim,
motivá-lo.
A segunda parte do artigo é objeto de crítica na doutrina, dizendo que não se
pode fundamentar a decisão exclusivamente nos elementos colhidos na fase
inquisitorial ou pré-processual (investigação). Os elementos produzidos na fase
inquisitorial violam o principio do contraditório, por ser fase de investigação
preliminar, não há contraditório. Por isso, alguns autores, entendem essa segunda
parte do artigo como inconstitucional. Como compatibilizar esse artigo com a
constituição? A parte final desse artigo fala das ressalvas. As provas cautelares por
evidente, embora produzidas em fase prévia, sao produzidas pelo crivo do
contraditório. Quando o legislador fala em exclusivamente, se refere a elementos
prévios submetidos ao contraditório. Então, o legislador ressalva as provas
cautelares, que tem como requisitos o "fumus boni iuiris" e "periculum in mora".
São aquelas prova que se não forem produzidas desde já, podem desaparecer. São
produzidas de início, muitas vezes, antes de se ter ação penal. (pessoa morrendo
no hospital, se for esperar ter ação penal, a pessoa morre. Então, antecipa-se a
produção da prova). Quando o legislador fala em não repetíveis e antecipadas,
parte da doutrina vai dizer que estas são espécies do gênero provas cautelares.
Para o professor, a prova antecipada sempre é espécie do gênero prova cautelar,
mas as prova não repetíveis nem sempre se inserem no crivo do contraditório. As
provas não repetíveis são aquelas que não podem ser repetidas pelo crivo do
contraditório.
O parágrafo único vai dizer somente quanto ao estado das pessoas serão
respeitados o estabelecido na lei civil. Vigora o principio da liberdade das provas.
Qualquer prova é admitida. A exceção, é a prova relativa ao estado das pessoas.
O artigo 156 do CPP, vai tratar de uma das questões mais importantes que é o
ônus da prova. Ônus, como definição, se aproxima da ideia de faculdade. Na
faculdade, entretanto, o não fazer, não há consequência. No ônus, é livre para
fazer ou não fazer, mas se não fizer há uma consequência jurídica desfavorável.
Num processo, a consequência é a perda do pedido, ou seja, o pedido é julgado
improcedente.
A primeira parte do artigo seria um modelo acusatório perfeito, no qual as
partes dialeticamente construiriam a solução do caso penal.
◆ Parte da doutrina, como o Marcelo Spolastri, sustenta que as causas de
exclusão da ilicitude e da culpabilidade, quando afirmadas pela defesa, devem ser
provadas pela defesa.
◆ A segunda posição se baseia no artigo 41 do CPP. A descrição do fato
criminoso com todas as suas circunstâncias devem conter a denúncia. O fato
criminoso é típico, ilícito e culpável. Se o MP tem que descrever o fato criminoso,
ele não deve descrever apenas o fato tipico. A legitima defesa é um fato adequado
ao direito. Para essa parte da doutrina, então, o ônus da prova no processo penal, e
todo do MP. O MP é que deve provar o fato ilícito, ou seja, de que não se estava em
legitima defesa, por exemplo. Caberia ao Estado provar que não ocorreu a legitima
defesa, e não a vitima provar a legitima defesa. O Afrânio defende essa corrente. O
professor filia-se a essa posição por entender que a leitura do ônus da prova
diminui a distancia entre Estado e cidadão.
Na segunda parte do artigo, diz que a apesar da prova da alegação incumbir a
quem propuser, o juiz pode de oficio, ordenar e determinar diversas provas. No
inciso I o erro é quando fala que o juiz pode, de oficio, produzir prova, antes de
iniciar a ação penal. Além de ser grosseiramente errado, fere o princípio da
imparcialidade. Trata-se portanto, de inconstitucional. Sempre que o juiz age de
oficio, abandonando a inércia, compromete a sua imparcialidade.
O inciso II fala em curso da instrução ao antes de proferir a sentença, o juiz ao
pedir prova, quer condenar. Ao abandonar a inércia, sem provocação, e de oficio,
entende-se que quer condenar, porque para absolver bastaria aplicar o "Principio
do indúbio, pro réu", ou seja, na duvida ou falta de provas, absolve-se o réu (artigo
386, VII do CP). Se não houver prova suficiente para a condenação, o juiz deve
absolver o réu.
Corpo de delito:
Conceito: É o conjunto dos vestígios materiais deixados pelo crime. Tudo o que
for possível sentir (apreensível) aos sentidos e relacionados ao crime, integra o
corpo de delito. São os elementos sensíveis materiais deixados pelo crime. Esse
conjunto é chamado de "corpus cirminis"
Corpus intrumentorum" são os instrumentos utilizados no crime. A faca com
sangue, o revólver, a bala encontrada no corpo são exemplos. Há divergência sobre
periciar revolver utilizado no roubo. Parte da doutrina entende que se o resolver
não foi disparado, serviu para a grave ameaça, com isso, não precisa nem ter
munição. Basta que as testemunhas mencionem o fato de o assaltante estar
armado, estaríamos diante de um roubo qualificado pelo uso de arma, não
necessitando de perícia. Há outra posição na doutrina que diz que a arma apara
poder qualificar o delito precisa ser periciada para verificar se era realmente arma
e se tinha potencial lesivo. A arma como qualificadora significa que ela aumenta o
risco de lesão a se causar pelo indivíduo. Sendo assim, haveria o roubo simples do
caput ou com grave ameaça, mas não roubo qualificado pelo uso de arma de fogo,
de maneira que arma de brinquedo não configura
"Corpus probatorium": Conjunto dos elementos probatórios
Natureza jurídica do exame do corpo de delito: Natureza jurídica significa
explicar em que categoria jurídica é possível enquadrar determinado bem jurídico.
O exame do corpo de delito é, portanto, um meio de prova. E mais do que isso, é
uma perícia. CPP diz exame de corpo de delito e das perícias e geral. Ou seja, o
exame do corpo de delito é uma espécie privilegiada de perícia. Tem-se uma
avaliação da perícia sobre o objeto do delito.
Características: Constatação direta e documentação imediata. Todo e qualquer
exame de corpo de delito tem em comum a constatação e documentação. Se
constata a partir e uma analise do fenômeno e, a partir desta, se da a forma de
documento o que foi constatado.
Artigo 158 do CPP: Toda infração deixa vestígio? Existem dois tipos de
vestígios: "Delicta facte permanente" e "Delicta facto transeunte", esta última não
deixam vestígios. Exemplo disso é o furto de carteira. O exame de corpo de delito é
indispensável em se tratando de crimes que deixam vestígios. O homicídio sempre
deixa vestígio que é o corpo. Um estelionato deixa vestígio? Se for com a
falsificação de cheque deixa. O estupro deixa vestígio, embora não seja um vestígio
que possa definir a existência ou não do crime. Toda conjunção carnal deixa
vestígio, porém a partir do exame de corpo de delito, não há como definir de a
mulher foi estuprada. Prova que houve conjunção carnal, mas não prova a
existência do crime. Porém isso não torna dispensável o exame de corpo de delito
em tal caso.
Exame de corpo de delito é gênero e espécies são: o exame de corpo de delito
direto e indireto. O direto supõe que o perito entre em contado com um dos
sentidos do objeto periciado. Cadáver, arma, arrombamento. O exame de corpo de
delito indireto o perito não entra em contato direto com a coisa periciada. Ele tem
informações, e a partir desta, ele documenta-as
Diante do artigo 158, nem mesmo a confissão do acusado dispensa a
materialidade do delito, ou seja, o exame de corpo de delito.
Para alguns autores, o artigo 158 é um resquício do sistema da prova legal ou
tarifada, porque o exame de corpo de delito se trata de prova necessária.
Esse artigo tem dimensão de garantia do cidadão, porque antigamente não
havia a garantia do exame de corpo de delito. Na verdade evitou erro judicial,
porque antigamente dava-se a pessoa como morta e depois de anos aparecia viva.
O artigo 159 do CPP descreve o perito, tendo que ser portado do diploma de
curso superior.
Se não houver perito oficial - parágrafo primeiro. Não precisa ser da área,
desde que haja habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
O parágrafo terceiro trata de uma tentativa de oficializar o principio do
contraditório em se tratando das perícias.
O parágrafo quarto trata do assistente técnico.
02/03
O exame de corpo de delito é espécie do genêro perícia e se divide em direto (o
que se faz diretamente sobre o objeto da perícia) e indireto (aquele que se faz a
partir de informações sobre tal objeto). Neste segundo caso, para alguns a prova
testemunhal é o próprio objeto do corpo de delito e para outros é apenas um
substituto para tal.
Artigo 160: Antigamente se entendia que o perito não trazia nenhum juízo de
valor para a perícia que realizava, não haveria interpretação, mas mera
constatação. A perídica seria uma técnica neutra. Esta concepção não é mais
aceita, se reconhecendo que todo laudo pericial possui sim um conteúdo subjetivo.
Nesta linha, o Código determina que o perito deve realizar um laudo minucioso do
que examinaram e responder aos quesitos formulados. Quanto à diferença entre
autor e laudo, no auto, o perito está em contato direto o objeto da perícia a
respeito de alguma característica atual deste (o médico legista examina o
cadáver). Já no laudo, o perito se debruça sobre o objeto para analisar fato
pretérito, como quando examina determinada cena do crime para tentar
reconstruir certo fato. Ademais, este artigo estabelece o prazo de dez dias,
prorrogáveis via justificativa do perito, para a realização deste laudo.
Artigo 161: O exame de corpo de delito pode ser realizado a qualquer hora e
em qualquer lugar, pois, por vezes, não é possível que se leve o objeto até o local
oficial de realização das perícias ou que se espere para tal. Um exemplo é a mulher
vítima de violência doméstica que esta hospitalizada.
Artigo 162: A autópsia deve ser realizada pelo menos seis horas depois do
óbito, para se evitar que se constate equivocadamente a morte de pessoas, por
exemplo, em estado catatônico. Claro que em casos evidentes, como decapitação,
não é necessário que se espere este tempo. O parágrafo único traz a possibilidade
de se dispensar a autópsia no caso de não haver infração penal a apurar ou quando
a causa mortis for auto-evidente. Quanto à primeira, apesar da dicção legal
parecer indicar que será o perito que fará o julgamento quanto à presença ou não
de infração penal, será o delegado que reconhecerá ou não este fato, já que é ele
que preside esta parte da persecução penal.
Artigo 163: Fala da exumação do cadáver, que se faz necessária às vezes.
Artigo 167: Aqui temos a possibilidade da prova testemunhal suprir o exame de
corpo de delito. Para alguns, como Frederico Marques, teríamos aqui uma prova
indireta (pois não haveria contato direto do perito com o objeto do corpo de delito).
Para outros temos aqui caso de impossibilidade de exame de corpo de delito direito
ou indireto, onde a prova testemunhal entraria. Isto entraria em contradição com o
artigo 158, pois nem mesmo a prova oriunda confissão poderia suprir a ausência
do exame de corpo de delito em crimes que deixam vestígios. Este exatamente o
argumento de Fredrico Marques, mas sua posição é minoritária. A maioria da
doutrina entende que o artigo 158 trata de delitos a respeitos dos quais ainda
restam vestígios, enquanot que o artigo 167 trata dos delitos nos quais
desaparecem os delitos. Porém, temos que entender que o primeiro artigo é norma
de garantia para o acusado, visando privilegiar a norma com maior precisão
técnica. Assim, a melhor leitura é entender que o artigo 167 só pode ser aplicado
quando os vestígios desaparecem sem nenhuma culpa por parte das autoridades
que conduzem a persecução penal, como no caso de delagado que não ordena o
exame de corpo de delito em caso de violência, deixando a lesão sarar e utilizando
apenas prova testemunhal.
Artigo 168: Aqui temos a possibilidade de exame complementar da perícia,
como no caso de lesão corporal na qual não se verificou se houve ou não risco de
morte. Seu §2º trata de lesão grave que incapacitou para as ocupações habituais
por mais de trinta dias, exigindo que haja exame complementar trinta dias após a
lesão. Sem este, não há a possibilidade de se qualificar o delito e nem mesmo se
pode realizar um exame antecipado deduzindo que será implementada esta
condição. O §3º reproduz o art. 167, mas aplicado ao exame complementar.
Artigo 175: Aqui temos a necessidade de se examinar os instrumentos
empregados para a prática da infração. No caso de roubo com emprego de arma
de fogo, caso não se recupere a arma, não é possível tal exame, o que significa que
não deveria ser aplicada este qualificadora. Na prática, porém, a jurisprudência
dos Tribunais superiores é no sentido de admitir este qualificadora mesmo em caso
de não recuperação da arma.
Artigo 181: Aqui, em seu parágrafo único, temos a possibilidade da autoridade
ordenar novo exame, caso reconheça sua necessidade, por, por exemplo, não ter
ficado convencido com o primeiro. Temos uma busca da verdade eticamente
possível, não uma busca da verdade real, pois esta não existe.
Artigo 182: O juiz não esta vinculado ao julgamento presente no laudo, embora
seja muito comum que o juiz o faça, já que o perito é um especialista, que saberia
melhor do que o juiz avaliar determinados tipos de informação.
Artigo 184: O juiz sempre poderá indeferir o pedido de perícia, exceto no caso
de exame de corpo de delito.
Interrogatório
Quanto à natureza jurídica do interrogatório, há uma controvérsia sobre se este
é meio de defesa ou meio de prova, sendo que para alguns é ambos e para outros é
meio de defesa, mas cujo conteúdo pode ser tornado meio de prova. Na época da
elaboração do Código, se entendia-o como meio de prova, mas a doutrina atual vê-
se-o como meio de defesa – como maior manifestação da auto-defesa –, embora a
jurisprudência mantenha o entendimento anterior.
Como no interrogatório o acusado não esta obrigado a dizer a verdade,
podemos dizer que ele é necessariamente parcial e tendencialmente falsa. Tanto
que a confissão do réu não leva necessariamente à condenação, pois outros
elementos apresentados em juízo podem fazer com que o juiz afaste a confissão.
Ora, se a possibilidade de falsidade é tão grande, não faz sentido vê-lo como meio
de prova, pois a prova deve apresentar elementos com certo grau de
fidedignidade, o mais distante da parcialidade possível, o que está bem longe da
realidade do interrogatório.
04/03
Como já vimos, a ampla defesa inclui a autodefesa e a defesa técnica. A
primeira se divide em direito de audiência (que inclui direito de fala) e direito de
presença. O interrogatório é a maior manifestação do direito de audiência, direito
de fala, direito que tem o acusado de ter uma audiência com o juiz.
O direito de fala (defesa pessoal positiva) leva, necessariamente, ao direito de
silêncio (defesa pessoal negativa – que está expressamente prevista no art. 5º,
LXIII, da Constituição Federal). Ambos são forma de se evitar a coisificação do
acusado, tornando sujeito no processo penal, e não apenas objeto de investigação.
Quanto ao direito de mentir, no Brasil há controvérsia doutrinária, mas
prevalece o entendimento de que há sim tal direito. Nos Estados Unidos da
América é diferente, caso o acusado minta, ele estará comentendo o crime de
perjúrio.
O direito de mentir é consequência da ampla defesa, pois se o acusado não
pudesse mentir a defesa não seria ampla, mas limitada. Assim, o direito de mentir
estaria incluído no termo ‘meios e recursos a ela inerentes’ do inciso LV do art. 5º
da Constituição Federal que se refere à ampla defesa. Na verdade, melhor do que
falar em direito de mentir, é falar em irrelevância jurídica da mentira. Gustavo
Badaró fala que “o direito à mentira do acusado inclui o direito de apresentar
versão para enconbrir fatos sobre os quais deseja se calar”.
Porém, a mentira pode sim ter consequências jurídicas. Isto quando ela
imputar ao acusado crime que ele não cometeu, que é o delito previsto no art. 341
do Código Penal, auto-acusação falsa. Parte minoritária da doutrina entende que
este artigo não teria sido recepcionado pela nova ordem constitucional instaurada
em 1988.
O direito ao silêncio, por ser um direito, não pode acarretar consequências
negativas para o réu.
O art. 185 nos mostra como o interrogatório não estabelece uma relação
apenas entre juiz e réu, já que a presença do defensor e do promotor passa a ser
obrigatória, podendo estes perguntar ao réu, o que não ocorria no sistema
anterior.
Apesar do Código de Processo Penal apresentar o interrogatório e a confissão
como duas coisas diversas, na verdade a confissão é o possível conteúdo de um
interrogatório. Ela pode ser parcial ou total. Assim, como qualificada, que é
quando o réu confessa, mas apresenta uma versão que apresenta alguma
excludente de ilicitude ou de culpabilidade.
A confisssão pode ser pré-processual ou endoprocessual. A primeira pode se
dar através de documento ou do contato dele com a autoridade policial. Ela,
porém, possui valor apenas endoprocedimental, servindo apenas para constituir
indício de autoria mínimo necessário para conferir seriedade à acusação,
permitindo a denúncia. Ou seja, ela não vale como confissão do ponto de vista de
valoração pelo juízo.
A confissão endoprocessual, por outro lado, evidentemente possui valor
probatório, mas não é mais a “rainha das provas”, como o era considerado no
passado.
Ada Grinnover entende que o interrogatório não é meio de prova, mas sim
fonte de prova. Outra parte da doutrina, como já vimos, discute se ela é meio de
prova ou meio de defesa.
A hipnose, métodos químicos (como soro da verdade) e métodos físicos (como
detectores de mentira) que visem fazer com que o acusado fale a verdade violam a
dignidade da pessoa humana, além de não possuírem certeza de veracidade.
O interrogatório no caso de concurso de agente está previsto no art. 191,
estabelecendo que os acusados deverão ser interrogados em separado, pois o
interrogatório de um pode ser meio de prova contra o outro. É necessário que haja
a possibilidade de contraditório entre os dois réus. Por exemplo, o co-réu que
acusa exclusivamente o outro apresenta auto-defesa em relação a si e prova em
relação ao outro co-réu.
O art. 187 nos diz que o interrogatório será constituído sobre os fatos e sobre a
pessoa da acusado, porém esta segunda noção é um resquício de um direito penal
do autor, que é absolutamente contrária ao Estado Constitucional atual, pois todos
tem o direito a serem o que forem, não podendo, porém, fazer o que quiser. Há um
direito à perversão, desde que se limite ao foro íntimo de cada um. Assim, esta
noção de interrogatório sobre a pessoa do réu apenas pode ser utilizada para
favorecer o réu, caso contrário estaríamos ressuscitando uma noção penal oriunda
de regimes totalitários.
Este mesmo artigo define uma ordem de perguntas a serem feitas ao acusado,
terminando por estabelecer que pode perguntada qualquer coisa, claro que se
limitando aos fatos relativos ao delito supostamente cometido.
Quanto ao interrogatório on line, a opinião majoritária é de que ele não viola o
ordenamento jurídico. O professor entende, porém, que este entedimento viola o
art. 5º, 5, da Pacto de São José da Costa Rica, já que este determina que a pessoa
detida deverá ser conduzida à presença do juiz.
O procedimento probatório possui quatro fases. Começa com a proposição da
prova, seguida por sua admissão, produção (introdução das provas nos autos) e
valoração (alguns dizem que a valoração não integra o procedimento probatório,
mas sim o de julgamento), nesta ordem (porém, por vezes, a produção é anterior à
própria proposição, como pode o ser no caso de documentos).
16/03
Em relacão às provas orais, temos o interrogatório (que já vimos ser meio de
defesa e não meio de prova, sendo a confissão um possível conteúdo deste, e não
outro tipo de prova, cabendo também confissão por escrito), a fala do ofendido
(art. 201), testemunhas (arts. 202/225) e acareação (art. 229).
Há um limite para o oitiva de testemunhas, mas a fala da vítima não entra
neste número. Ele possui um comprometimento maior com a percepção da
realidade que a testemunha, sendo, assim, comprometido com a versão da
acusação, que por vezes é mera reprodução da fala deste.
Apesar de ser possível a condenação somente pela fala da vítima, isto não
muda que esta é qualitativamente diversa dos testemunhos.
O ofendido está obrigado a ir à presença do juiz, segundo o §1º do art. 201,
porém parte da doutrina e da jurisprudência entende que está de acordo com a
Constituição, pois seria caso de vitimização secundária, na qual estaria o próprio
Estado “punindo” novamente a vítima.
Qualquer um pode ser testemunha (art. 202), mas há uma diferença entre ser
testemunha e prestar compromisso. Há uma diferença entre testemunhas
compromissadas e não compromissadas, aquelas obrigadas a falar a verdade e
aquelas que não o estão. Logo, parte da doutrina entende que apenas as primeiras
poderiam praticar crime de falso testemunho, enquanto que outra entende que
ambas praticam o crime de falso testemunho.
A testemunha não pode ler, sendo sua prova dada totalmente oralmente (art.
204). Ela deve ter entrado em contato com o fato testemunhado a partir de um de
seus sentidos, caso contrário não será testemunha.
A testemunha está obrigada a depor caso arrolada, sendo a possibilidade de
eximir-se desta obrigação taxativa, como é o caso, por exemplo, de ascendentes e
cônjuges. Porém, nos casos de pessoas que podem eximir-se desta obrigação, caso
não haja outro modo de se provar o fato, não haverá mais a possibilidade de se
recusar a depor por parte destes. Vide art. 206.
O art. 207 indica que pessoas estão proibidas de depor por dever de guarda
segredo, como é o caso do padre que houve confissão e do psicólogo, sendo
possível que se aproveite sua fala caso desobrigadas pela parte interessada, ou
seja, por aquele que se prejudicaria pela fala.
O art. 208 declara que algumas pessoas não prestam o compromisso do art.
203. A jurisprudência quase unânime chama a testemunha não compromissada de
informante. Esta tem dever moral de falar a verdade, mas não dever jurídico, caso
se entenda que este surge do compromisso do art. 203.
O art. 209 pode ser entendido como não recepcionado pela Constituição, por
ser caso em que o juiz age de ofício, rompe a inércia e imparcialidade que devem
reger sua atuação. As testemunhas referidas (§1º deste artigo) podem sim ser
ouvidas, a discussão é se podem ser chamadas de ofício pelo juiz ou se é
necessária provocação por uma das partes. A doutrina majoritária é no sentido do
juiz poder sim adotar estas medidas de ofício.
O art. 210 trata da incomunicabilidade das testemunhas, sendo nulo o
testemunho dado por aquela pessoa que rompeu a incomunicabilidade.
A partir do art. 213, temos que o que importa para a fala da testemunha é a
narração do fato vivenciado, e não suas opiniões pessoais. Estas só terão lugar na
sua fala quando forem indispensáveis para a correta narração deste. Isto busca
fazer com que o processo de reconstrução histórica dos fatos se torne o menos
parcial e subjetiva possível, lembrando que a verdade ideal não é atingível (pois a
verdade é total e toda reconstrução é parcial), mas isto não é motivo para que se
abdique totalmente deste valor, pelo contrário, reforça a importância ainda maior
do cuidado que se deve ter no processo.
Quanto ao reconhecimento de pessoas, é essencial que diversas pessoas
similares sejam postas próximas umas das outras, para evitar o sugestionamento.
Isto significa que nenhuma destas deve estar com características que a
diferenciem das demais, por exemplo, usando uniforme dos sistema penitenciário
ou algemada. O reconhecimento feito em audiência possui sim validade, mesmo
não sendo feito de acordo com os ritos determinados, apenas deverá ter um peso
menor na valoração das provas pelo juiz.
Caso em sede policial seja feito um reconhecimento descumprindo o rito
previsto para este, poderá a defesa arguir que qualquer reconhecimento posterior
não é reconhecimento do autor do fato, mas sim reconhecimento de quem foi
reconhecido em sede policial, o que é bem diferente.
A acareação coloca acusados e/ou testemunhas frente a frente para aclara
ponto conflitante entre os depoimentos destas.
Trabalho para entregar no dia da prova: Busca e Apreensão – pautado à luz da
normatividade constitucional – procedimento, legitimação, questões controvertidas
(mandado de busca e apreensão coletiva, busca e apreensão em escritório de
advocacia)
23/03
Sujeitos Processuais
O processo penal se dá no jogo dialético entre dever de punir e estado de
liberdade, que é irrenunciável. Tal dinâmica é levada a cabo pelos sujeitos
processuais, pelas partes, que são as “pessoas que participam do procedimento
direcionado à entrega da prestação jurisdicional”.
As partes podem ser também definidas como “aqueles sujeitos processuais que
discutem as causas e esperam do juiz uma apreciação e decisão do mérito dela.” O
processo penal brasileiro deve ser um processo entre partes em posição de
igualdade, o que muitas vezes não ocorre na prática, falha esta que é fomentada
pela própria arrumação cênica da maioria das varas criminais.
As partes se dividem em sujeitos processuais parciais (que são as partes em
sentido substantivo, “os titulares da relação jurídica substantiva que no processo
se discute” - são parciais pois sua visão está comprometida com uma das versões
em choque) e sujeito processual imparcial. A parte acusadora não tem um direito à
condenação, mas apenas “o dever de exigir uma resposta jurisdicional ao pedido
formulado”.
O sujeito processual imparcial é o juiz ou Tribunal, imparcial não por serem
totalmente neutro, mas sim por não se vincular a priori com uma das
possibilidades, permanecendo equidistante dos interesses em jogo, do órgão
acusador e da defesa. Uma das principais características desta imparcialidade é a
inércia da função judicial. A função do magistrado é “aplicar (declarar e/ou atuar)
a lei, com imparcialidade, ao caso concreto (doutrina tradicional) e garantir os
direitos fundamentais (doutrina garantista).” Logo, o magistrado deve atuar sim
sempre dentro dos estritos limites legais que vinculam sua prática funcional, mas
este respeito à legalidade não pode fazer com que o magistrado perca de vista que
o polo mais fraco da relação processual é o réu, logo a garantia dos direitos
fundamentais dele deve ser sempre uma preocupação central do órgão judicante.
O juiz tem uma série de poderes-deveres (utilizamos este nome pois todo poder
dele está ligado a uma determinada obrigação e forma de atuação a qual ele deve
se vincular). Estes se dividem em poderes jurisdicionais (que são aqueles
diretamente ligados ao exercício jurisdicional) e poderes não-jurisdicionais
(“ligadas às funções atípicas atribuídas ao órgão julgador pelo legislador”).
Dentre os atos praticados pelo juiz de natureza jurisdicional, temos os atos de
impulso do processo (“concretização do princípio do impulso oficial – uma vez
provocado, o processo se desenrola independentemente da vontade das partes, no
sentido de que ele não será abandonado se uma delas o quiser, podendo sim ser o
réu julgado inocente à pedido do MP) e atos relacionados à correta condução do
processo, por exemplo. Não podemos perder de vista que, dentre todos os
possíveis atos a serem praticados pelo juiz, temos sempre a “vedação ao juiz dos
chamados 'poderes de iniciativa', aqueles que se dão sem provocação das partes,
tais como o de ordenar diligências na busca da verdade.” Também temos os atos
instrutórios jurisdicionais.
Os atos não jurisdicionais são aqueles, por exemplo, relativos ao poder de
polícia exercido na audiência pelo juiz, como o poder de expulsar alguém que
esteja perturbando a ordem da audiência. Estes são os atos não relacionados
propriamente a aplicação do direito material.
O juiz possui uma série de prerrogativas, que, para não se tornarem privilégios,
devem estar sempre vinculadas ao seu exercício funcional, sempre se direcionando
uma melhor prestação jurisdicional, e nunca a um maior conforto pessoal para o
magistrado. O art. 95 da CF traz estas prerrogativas e estas garantias são,
sobretudo, garantias da própria sociedade, na medida em que visam dar
independência ao magistrado. As prerrogativas são: vilaliciedade, irredutibilidade
dos salários e inamovibilidade. Todas estas visam dificultar “perseguições
governamentais.”
O Promotor de Justiça não é imparcial, pois é parte, mas sim independente. A
visão predominante, porém, é que o Ministério Público é imparcial, tanto que ele
pode pedir a absolvição do réu, mas o professor diz que esta não é incidência da
imparcialidade, mas sim manifestação da vinculação do Promotor à legalidade,
pois não se pode pedir a condenação de alguém que se sabe, ou se acreditar ser,
inocente.
“O processo penal brasileiro é um processo de partes (processo estruturado de
forma a permitir um 'duelo intelectual' (CORDERO) entre a acusação e a defesa).
Isto significa que as partes devem desfrutar de idênticas possibilidades para
sustentarem as suas posições.” Este duelo, como já dissemos, se dá entre as partes
parciais do processo, sendo partes aqueles que “formulam ou contradizem uma
pretensão em juízo”, assim parte “é quem pede ou em face de quem se pede”.
Sujeitos Parciais
O Ministério Público (Parquet) simboliza a sociedade, sendo órgão essencial ao
adequado funcionamento da atividade jurisdicional a quem cabe a defesa da ordem
pública, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Vide arts. 127/130 da CF. Ele é parte no processo penal e, como tal, deve se
submeter às regras processuais que limitam e direcionam a atividade das partes.
Ele não é um Quarto Poder, mas sim parte da estrutura do Poder Executivo, mesmo
que não haja, na prática, nenhum controle, ou muito pouco. O Ministério Público é
sim controlado ou fiscalizado, como no caso da ação penal privada subsidiária da
pública. O MP é regido pelos seguintes princípios: unidade (os Promotores sempre
atuam em nome da instituição), indivisibilidade (um Promotor pode ser substituído
por outro, respeitadas as regras legais para tal) e autonomia funcional (o Promotor
se vincula apenas ao direito, e nunca a outro Promotor ou à cúpula da instituição).
O Promotor possui uma série de garantias funcionais e prerrogativas.
Sem o Ministério Público não teríamos a possibilidade de um órgão judicante
imparcial e nem a condução racional do processo, pois o MP não atua marcado
pela vingança, como o faz o particular quando vítima. Estas são suas duas
principais funções: “proporcionar imparcialidade ao órgão julgador” e
racionalidade ao processo.
O imputado é aquele a quem se atribui a prática de um delito, aquele contra
quem se exerce a persecução penal, ou seja, contra quem corre ação penal. Assim,
para termos um imputado, temos que individualizar a pessoa perseguida (o que
não signfica que precisemos do nome dele, basta que haja dados suficientes para
que se determine precisamente quem é esta pessoa). A imputação é de algo a
alguém, sendo que se imputa um fato naturalístico ao agente, e não um
acontecimento jurídico.
25/03
A capacidade de ser acusado é um pressuposto processual, ela pode ser geral
ou específica. A geral é a capacidade para ser perseguido penalmente (a lei de
direito material trata da imputabilidade: capacidade jurídica de ser punido) e a
específica é a de praticar certos atos no procedimento penal. Aqui se estabelece
dentro do direito processual.
O réu era visto objeto da persecução penal. Ela está ligada ao poder estatal de
punir. Está vedada a coisificação da pessoa. Agora é visto como sujeito. Desde
Kant, já começou esse processo de homem no centro do universo. O réu é sujeito
passivo da ação penal, já o indiciado é aquela pessoa a quem se atribui um delito
na fase pré-processual, na investigação preliminar, inquérito policial.
A persecução penal em duas fases não é o fim em si mesma. O Estado não está
contra o indivíduo, e sim a favor dele. O Estado existe para ele.
Impedir as punições injustas que implicam no afastamento de direitos e
garantias individuais é a finalidade da persecução penal.
Prisão Cautelar
Teoria Geral da Prisão Cautelar
A prisão sempre é exceção, a regra é a liberdade. Assim, o termo 'liberdade
temporária' é equivocado.
Existem dois tipos de prisão: prisão enquanto pena, que é satisfativa, pois
satisfaz a pretensão estatal de punição que nasce com a prática do delito; prisão
cautelar, que é assecuratória, pois visa garantir a eficácia prática do processo de
conhecimento penal. Esta lógica é muito semelhante à presente no processo civil.
A prisão definitiva é aquela proveniente de decisão da qual não cabe mais
recurso.
A prisão cautelar pode ser pré-processual e a processual. A primeira é aquela
que se dá antes da instauração da instância, antes do oferecimento da ação, antes
do processo penal. O ordenamento jurídico brasileiro admite apenas uma forma de
prisão pré-processual, a prisão temporária, que pode ser utilizada para permitir a
investigação preliminar. Já a prisão processual é aquela de natureza cautelar
decretada após o início da ação, assim, ela não visa permitir a investigação, mas
para garantir a eficácia do processo de conhecimento.
A teoria geral da prisão cautelar é marcada por uma série de princípios, que
são os vetores interpretativos e os mandamentos nucleares do sistema jurídico,
não deixando, porém, de serem normas, apenas são menos densas que regras.
O primeiros destes princípios é o princípio da presunção de inocência, que
possui tripla dimensão: de garantia, probatória (in dubio pro reo) e de tratamento
(o indiciado e o réu devem ser tratados como se inocente fossem até o trânsito em
julgado de sentença condenatória). Esta última dimensão é que nos importa aqui,
pois aquele que é inocente, ou tratado como inocente, não pode ficar preso. Outros
princípios, porém, podem levar ao afastamento deste princípio, caso se apresente a
necessidade da prisão daquele que deve ser tratado como inocente.
Outro princípio é o da proporcionalidade, ou da homogeneidade. Segundo ele,
a medida cautelar é por definição acessória. Sendo a finalidade do processo a
imposição de uma pena, que não necessariamente será privativa de liberdade,
nestes casos seria possível no curso do processo, com mera cognição sumária,
decretar prisão cautelar? Se tudo indica que ele não ficará preso no final do
processo, após cognição exauriente, poderá haver prisão cautelar? Parte
considerável da doutrina entende que não, pois seria desproporcional a medida
acessória em relação ao provimento final. Mas isto não é uma regra absoluta, como
não o é a aplicação de nenhum destes princípios.
Por último, temos o princípio do devido processo legal, que determina que a
aplicação de uma prisão cautelar deve respeitar rigorosamente o procedimento
estabelecido em lei.
Toda prisão cautelar deve respeitar a duplo juízo. Temos sempre que ver se ela
atenda a um juízo de legalidade (art. 5º, LXV, da CF – relaxamento da prisão) e a
um juízo de necessidade. Um exemplo de aplicação do juízo de legalidade temos na
prisão em flagrante, caso ela não se adeque a uma das situações do art. 302, o juiz,
pelo dispostivo constitucional citado acima, deverá relaxar a prisão.
Somente após verificada a legalidade da prisão cautelar é que analisamos a
necessidade. Este juízo se divide em fumus comissi delicti (há probabilidade do
cometimento do delito por aquela pessoa e da existência do crime, que se
identifica com a justa causa para o oferecimento de ação penal, que é o suporte
probatório mínimo para a propositura desta) e periculum libertatis (há risco
processual, ou seja, a liberdade da pessoa pode prejudicar a eficácia do processo).
Estes dois juízos estão relativamente explicitados no art. 312.
Resumidamente, o conceito de risco do art. 312 que justifica a prisão cautelar,
no caso de risco à instrução criminal, se refere a liberdade do réu colocar em risco
a colheita de provas, como no caso dele próprio estar queimando documentos
vitais à acusação. O risco à aplicação diz respeito a existência de dados concretos
que indiquem o réu quer se evadir, como passagem marcada para o exterior.
Maria Ignez Baldez defende que nestes dois casos o Estado deve ser capaz de
adotar uma outra medida que não a prisão cautelar para diminuir/excluir o risco
processual, não fazendo sentido passar para uma medida mais drástica quando
teríamos outros meios, como confiscar passaporte ou proteger testemunhas.
A posição dela é minorataríssima e de difícil aplicação prática por falta de
vontade política neste sentido, mesmo que a fundamentação teórica seja correta. A
doutrina, então, discorda da posição da professora, entendendo perfeitamente
legítimas estas formas de prisão cautelar.
A controvérsia maior é entorno dos conceitos de ordem pública e ordem
econômica. Em primeiro lugar, temos a questão se o conceito de ordem pública
permite que o clamor público justifique prisão cautelar. Apesar do TJ/RJ utilizar
este argumento do clamor público, não podemos nos esquecer que o Judiciário é
um poder contra-majoritário, que deve ter como principal parâmetro a
Constituição e não a vontade pública, que por vezes é “vontade publicada”
(expressão reproduzida professor). A preocupação principal deve ser com os
direitos fundamentais e não com a satisfação de ânsias populares.
Assim, excluído o clamor público, alguns autores dizem que ordem pública diz
respeito à possibilidade grande daquela pessoa em liberdade venha a praticar
outros crimes. Porém, este raciocínio é equivocado, pois viola o princípio da
presunção de inocência. Há decisões dos Tribunais Superiores de que a existência
de diversas anotações na FAC justifica a prisão cautelar por risco à ordem pública,
já que indicaria uma maior probabilidade desta pessoa vir a cometer algum delito.
XX/03
Direito processual penal 2 Direito processual penal 2 Direito processual penal
2 Direito processual penal 2 Direito processual penal 2