direito processual penal - 01ª aula - 01.08.2008

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Page 1: Direito Processual Penal - 01ª Aula - 01.08.2008

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Assuntos tratados 1º Horário � Bibliografia � Inquérito Policial (conceito, natureza jurídica, características, investigações extra-

policiais) 2º Horário � Continuação IP (valor probatório, vícios, incomunicabilidade, indiciamento, inicio) Bibliografia

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo e execução penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 990p. TAVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. Ed. Jus Podiun. – encontrado apenas no site da editora

1º HORÁRIO INQUÉRITO POLICIAL 1. Introdução O direito processual penal vem estudar a persecução penal, ou seja, perseguição do crime. A persecução penal se divide em uma fase preliminar, investigatória e outra processual.

Papel da policia no Brasil está no art. 144, CF. Esse papel vem bifurcado. Num primeiro momento temos a Polícia Administrativa (ou Ostensiva) que tem um papel de prevenção. Seria aquela policia que teoricamente inibiria o crime pela sua ostentação na rua. O principal exemplo de Polícia Administrativa é a Policia Militar, Policia Rodoviária e Policia Ferroviária. Contudo, uma vez ocorrida a infração penal constatamos outro braço da policia que e a Policia Judiciária vulgarmente conhecida como Policia Civil, que tem como espécies policia civil estadual e polícia civil federal. Apenas, com a CF/88 passou-se a exigir para o cargo de delegado ser delegado de carreira, sendo que para tanto deveria ser bacharel em direito. Policia civil esta que tem uma dupla missão constitucional: 1º - funcionar como auxiliar do poder judiciário; 2º - confeccionar o inquérito policial. 2. Conceito de inquérito policial O prof. Aury Lopes Júnior conceitua o inquérito policial como procedimento administrativo preliminar presidido pela autoridade policial que objetiva apurar a autoria e a materialidade (própria existência da infração), tendo por finalidade contribuir na formação da opinião delitiva (opnio delicti) do titular da ação penal. O IP se presta, ainda, a permitir que o magistrado tome medidas cautelares no transcorrer da persecução penal. 3. Natureza jurídica

Qual a essência do instituo, ou seja, qual o enquadramento do instituto dentro do ordenamento, qual a sua classificação? O IP possui natureza jurídica de mero procedimento administrativo

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preliminar. Como mero procedimento administrativo preliminar ele será regido pelas regras do ato administrativo em geral. 4. Características do IP 1ª) O IP é inquisitivo. Logo, não há nem contraditório e nem ampla defesa. Não tendo contraditório, logo, não há lide e, por conseguinte, não há partes. No IP se tem uma autoridade investigante e um investigado (indiciado). É possível a existência de inquéritos não policiais que comportam contraditório e ampla defesa ex antigo inquérito judicial disciplinado na revogada lei de falência. Esta posição está se fragilizando em razão do entendimento do STF de que não é necessário a presença de advogado em procedimento administrativo. 2ª) O IP é discricionário. Os administrativistas tradicionalmente revelam que a discricionariedade nada mais é do que margem de conveniência e de oportunidade. É liberdade dentro da lei, liberdade regrada. No campo processual, o IP é discricionário porque o delegado conduz as investigações da forma que lhe é mais eficiente. Constatamos essa discricionariedade na possibilidade do delegado indeferir o requerimento da vitima ou indiciado. Sendo “requerimento”, o Delegado não é obrigado a cumprir diligências do indiciado ou da vítima Obs.1.: A única diligência que não pode ser indeferida é o corpo de delito. Obs.2.: Por analogia, em caso de indeferimento, a vitima ou o suspeito podem apresentar recurso administrativo endereçado ao Chefe de Polícia. Obs.3.: O MP e o juiz requisitam, estando assim o delegado obrigado a cumprir. Essa ordem não revela um vinculo hierárquico, pois isso não há. A obrigatoriedade decorre de lei e não de vinculo hierárquico, pois este não há. 3ª) O IP é sigiloso: quem vela por essa sigilosidade é o Delegado. Segundo o senso comum essa sigilosação visa à eficiência das investigações. Tecnicamente, a sigilosidade é a proteção do investigado, preservar a imagem daquele presumidamente inocente. Assim, terceiros interessados estariam afastados inclusive a imprensa. Logo, a publicidade dos atos é afastada. Contudo, temos pessoas que não se submetem ao sigilo policial: - MP; - Juiz; - Advogado e o defensor público: possui apenas direito de consulta aos autos do IP - Art. 7, XIV,

EOAB. Obs.1.: Ferramenta cabível para garantir vista dos autos do IP é o Mandado de Segurança. Para o STJ é também cabível o Habeas Corpus sendo possível vislumbrar pela negativa do acesso aos autos um risco direto ou indireto à liberdade de locomoção do sujeito. O professor critica esse entendimento do STJ. Obs.2.: Para o STJ o judiciário pode decretar, em prol do interesse público, o sigilo absoluto do IP obstando assim o acesso do advogado e do defensor. 4ª) O IP deve ser escrito: todos os atos produzidos oralmente serão, assim, reduzidos a termo. Obs.: se for possível os atos do inquérito podem ser documentados por outros meios inclusive com captação áudio-visual.

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5ª) O IP indisponível: o delegado nunca poderá arquivar o IP. Assim, uma vez instaurado o IP, o delegado estará obrigado a concluí-lo e remetê-lo ao juiz. O delegado poderá não instaurar se o fato for atípico (tipicidade formal). Ex: incesto no Brasil não é crime. Tb poderá não instaurar nas hipóteses de extinção da punibilidade. 6ª) O IP é um procedimento dispensável. Não há vinculo causa-efeito, ou seja, não preciso necessariamente do IP para que o processo penal comece. Obs.: isso caiu na AGU 2007. Se o IP é dispensável quer dizer que temos coleta de provas de outras formas que seriam as investigações extra-policiais: Pode ser realizada pelos seguintes órgãos: - CPI: investigações parlamentares (vide Lei nº. 10.001/03) Este inquérito será analisado

preferencialmente quando comparado com o IP. - IPM: presidida por um oficial da corporação - Inquéritos presididos pelo procurador geral de justiça ou procurador geral da republica contra

membros do MP. A previsão de investigação do MP é implícita e não explícita. Policia civil não investiga membros MP.

- CD e SF em caso de crimes cometidos em suas dependências: vide Súmula 397, STF - As autoridades que gozam de foro privilegiado não serão indiciadas pela Policia Civil, pois

esta atribuição é de um desembargador ou de um ministro do tribunal onde esta autoridade desfruta do foro privilegiado. Ex: quem indicia o governador é um ministro do STJ

- MP: art.129, CR/88 - O STJ através da Súmula 234 sempre se mostrou favorável às investigações ministeriais. O STF, contudo, recentemente, em dois acórdãos da lavra de Nelson Jobim considerou inconstitucionais as investigações do MP sob o argumento de que a presidência da investigação policial é do delegado (art. 144, CF). Ora! O prof critica, pois por obvio a presidência das investigações policiais é do delegado de policia, a questão seria quanto as investigações extra-policiais. Resta observar que nas hipóteses do ECA, o STF entende que o MP poderia presidir investigação para responsabilizar o adolescente infrator. Também poderia nos casos de ação civil pública. A nossa doutrina, contudo, majoritariamente é favorável à investigação criminal pelos órgãos ministeriais em decorrência de uma autorização implícita extraída do art.129, VI e VIII da CR/88 (o prof critica, pois a maioria da doutrina penalista é composta por membros do MP).

2º HORÁRIO

5. Atribuição Delegado não possui competência e sim atribuição. Atribuição é o poder conferido em lei à autoridade. Temos, no Brasil, dois critérios de atribuição: 1º critério: critério territorial. Para saber qual delegado presidirá o IP deveremos saber onde houve a consumação do delito. Terá atribuição para presidir o IP, o delegado que milita na circunscrição onde o crime se consumou. Obs.: Circunscrição é a delimitação territorial onde determinado delegado pode atuar. 2º critério: é o critério material. Aqui temos a bifurcação da policia civil em policia civil estadual e policia civil federal. Policia federal é o policia civil da união e terá atribuição de investigar os crimes federais (art. 108 e 109, CF).

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Obs.: Atuação da PF na apuração de infrações estaduais: a lei 10.446/02 autoriza, excepcionalmente, a atuação da PF na apuração de infrações estaduais que tenham repercussão interestadual ou internacional e exijam repressão uniforme. Essa atuação da PF não prejudica a atuação das policias dos estados. Então, seria um caso de legitimidade concorrente. 6. Valor probatório do IP: Em regra, os elementos colhidos no inquérito não podem lastrear sentença condenatória, pois não foram colhidos em contraditório ou ampla defesa, logo o inquérito teria valor probatório relativo, se prestando apenas a lastrear a inicial acusatória (Ferando Capez). A reforma também incide aqui. Daí as exceções (onde agora se autoriza que elementos do IP tenha status de prova): art. 155, CPP 1- provas irrepetíveis: prova irrepetível é aquela que não pode ser feita, pois irá perecer. Essa pericia terá status de prova quando no processo ela se submeta ao contraditório. Esse contraditório é chamado de contraditório diferido ou postergado ou retardado. Ex: pericia nos vestígios do crime. 2 - provas cautelares. Ex.: a cautelaridade é para arregimentar o elemento probatório. Ex: interceptação telefônica, busca e apreensão, seqüestro, arresto, hipoteca. 3- incidente cautelar de produção antecipada de prova – tramita perante um juiz com a presença das futuras partes sob o manto do contraditório e da ampla defesa e os elementos nele colhidos já têm o status de prova podendo validamente ser utilizados na fase processual. Ex: pessoa muito idosa, gravemente doente, com viagem marcada, etc.

“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil.”

6. Vícios do IP No IP é atécnico falar em nulidade, pois nulidade é instituto específico para caracterizar sanção processual e IP ocorre na fase pré-processual. Sendo assim, o professor prefere a expressão vícios do IP. Segundo o STF os vícios do inquérito não transcendem ao processo, pois o inquérito é meramente dispensável e não tem o condão de macular o processo deflagrado com base no mesmo. O STJ e doutrina majoritária também entendem dessa forma. 7. Incomunicabilidade A incomunicabilidade vinha disciplina no art. 21, CPP autorizando ao juiz a decretação pelo prazo de 3 dias sem prejuízo do acesso do advogado e defensor. Tal artigo não foi recepcionado pela CF/88 já que não admitimos incomunicabilidade nem mesmo no Estado de defesa. A lei 10.792/03 que instituiu o RDD (regime disciplinar diferenciado) nos arts. 52 e ss da LEP também não trouxe a previsão da incomunicabilidade.

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8. Indiciamento Indiciamento é a comunicação ao suspeito de que ele passa a ser o foco da infração, saindo-se de um mero juízo de possibilidade para um juízo de probabilidade. O indivíduo passa do status de possível autor da infração para autor da infração. Momento do indiciamento: para Aury Lopes Jr. deve-se indiciar logo após ouvi-lo, no entanto, se houver prisão cautelar, logo após o recolhimento ao cárcere. Quem esta preso na fase do inquérito esta necessariamente indiciado. Desindiciamento é a retratação do indiciamento. Pode ser feito pelo delegado. O professor ainda revela a existência de um desindiciamento coacto que seria aquele advindo de um HC procedente para trancar IP. Observações: - Indiciado “menor”: que seria aquele entre 18 e 21 anos. O art.15 do CPP que indicava que as

pessoas entre 18 e 21 anos deveriam estar acompanhadas por curador encontra-se tacitamente revogado pelo art.5º do CC/02

- Para o inimputável a figura do curador continua existindo. 9. Procedimento a) Início: portaria Conceito de portaria: é a peça escrita confeccionada por determinação do delegado que contém o fato a ser apurado, os envolvidos, eventuais testemunhas, diligencias a serem realizadas e que no seu desfecho determina a instauração do inquérito.