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Bento Herculano Duarte NetoJosé Augusto Rodrigues Pinto
Júlio César BebberOtávio Augusto Reis de SousaPedro Paulo Teixeira Manus
Ricardo Tadeu Marques da FonsecaSergio Torres Teixeira
Victor Russomano Junior
Direito Processual do Trabalho
3.ª edição2009
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D812 Duarte Neto, Bento Herculano. / Direito Processual do Tra- balho. / Bento Herculano Duarte Neto et al. 3. ed. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. [Atualizado até abril de 2009]608 p.
ISBN: 978-85-387-0407-2
1. Justiça do Trabalho. 2. Direito do Trabalho. I. Título. II. Pin-to, José Augusto Rodrigues. III. Bebber, Júlio César. IV. Sousa, Otávio Augusto Reis de. V. Manus, Pedro Paulo Teixeira. VI. Fonseca, Ricardo Tadeu Marques da. VII. Teixeira, Sergio Tor-res. VIII. Russomano Junior, Victor.
CDD 341.688
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Coordenador e Professor da Especialização em Direito do Trabalho e Pro-cesso do Trabalho da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Presidente Honorário da Academia Nacional de Direito do Trabalho (ANDT). Juiz do Trabalho aposenta-do. Advogado e Consultor Jurídico.
José Augusto Rodrigues Pinto
Mestre em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo (USP). Pro-fessor de Direito Processual do Trabalho da Escola da Magistratura do Trabalho (Amatra). Juiz do Trabalho da 24.ª Região.
Júlio César Bebber
Doutor em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Cató-lica de São Paulo (PUC-SP). Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Potiguar (UnP). Professor convidado de cursos de Pós-Graduação na Universida-de do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), na Universidade da Amazônia (Unama), no Centro Universitário Nilton Lins (UniNiltonLins-AM), no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) e na Universidade Federal de Feira de Santana (UEFS). Membro da Academia Nacio-nal de Direito do Trabalho (ANDT) e do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). Juiz do Trabalho da 21.ª Região.
Bento Herculano Duarte Neto
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Doutor em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho (ANDT). Ministro do Tribunal Superior do Trabalho.
Pedro Paulo Teixeira Manus
Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista e Mestre em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de Direito do Trabalho das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil) e dos cursos de Pós-Graduação lato sensu da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). Pro-curador Regional do Ministério Público do Traba lho da 9.ª Região.
Ricardo Tadeu Marques da Fonseca
Doutor em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho (ANDT). Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Juiz do Trabalho da 20.ª Região.
Otávio Augusto Reis de Sousa
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Mestrando em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB). Profes-sor da Graduação da UnB. Condecorado com a Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, concedida pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Advogado.
Victor Russomano Junior
Doutor em Direito Público pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor de Graduação e Pós-Graduação da UFPE. Professor da Escola da Magistratura de Pernambuco (Esmape) e coordenador da Escola Superior da Ma-gistratura Trabalhista de Pernambuco (Esmatra). Juiz do Trabalho da 6.ª Região.
Sergio Torres Teixeira
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Sumário
Princípios do Direito Processual do Trabalho........................................................... 17
Conceitos ...................................................................................................................................... 17
Funções ......................................................................................................................................... 18
Sistematização............................................................................................................................ 19
Organização judiciária trabalhista e investidura dos juízes .................................... 29
Órgãos da jurisdição trabalhista .......................................................................................... 29
Investidura dos juízes e ministros ....................................................................................... 32
Jurisdição e competência trabalhista ............................... 37
Jurisdição e competência ....................................................................................................... 37
Competência trabalhista e Emenda Constitucional 45/2004 .................................... 46
O Ministério Público do Trabalho: sua estrutura e atribuições .......................... 51
O Ministério Público do Trabalho: evolução histórica ........................................................................................... 51
Funções institucionais e princípios do MP ....................................................................... 51
Estrutura do MPT ....................................................................................................................... 53
Atribuições do MPT .................................................................................................................. 55
Coordenadorias das atividades do MPT ............................................................................ 56
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Fontes e autonomia do Direito Processual do Trabalho ..................................... 61
Conceitos ...................................................................................................................................... 61
Funções ......................................................................................................................................... 61
Sistematização ........................................................................................................................... 62
Autonomia do Direito Processual do Trabalho ............................................................... 63
Partes e procuradores ............................................................. 67
Introdução ................................................................................................................................... 67
Partes processuais ..................................................................................................................... 68
Substituição processual no processo trabalhista .......................................................... 76
Representação judicial e procuradores no processo trabalhista ............................. 79
Representação processual, litisconsórcio e intervenção de terceiros ......................... 85
Introdução ................................................................................................................................... 85
Representação processual no processo trabalhista...................................................... 86
Litisconsórcio: generalidades ............................................................................................... 91
Litisconsórcio no processo trabalhista .............................................................................. 93
Intervenção de terceiros no processo trabalhista ......................................................... 95
Atos, termos e prazos processuais ...................................103
Introdução .................................................................................................................................103
Ato processual e termo processual: generalidades ....................................................104
Atos e termos processuais no processo trabalhista ....................................................106
Prazos processuais ..................................................................................................................107
Comunicação dos atos processuais ..................................................................................110
Anulação de ato processual ...............................................115
Conceito ......................................................................................................................................115
Princípios básicos da invalidação dos atos jurídicos processuais ..............................................................118
Regras legais de tratamento da nulidade no processo civil e trabalhista ....................................................................119
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Despesas processuais ...........................................................123
Conceito ......................................................................................................................................123
Classificação ..............................................................................................................................123
Disciplina legal (Lei 10.537/2002) – CLT ..........................................................................124
Assistência judiciária gratuita e gratuidade da justiça...............................................126
Dissídio individual: generalidades ...................................131
Introdução .................................................................................................................................131
Dissídio individual: generalidades ....................................................................................132
Ação judicial: generalidades................................................................................................133
Ações no âmbito da Justiça do Trabalho ........................................................................138
Ação declaratória incidental ................................................................................................139
Assistência judiciária e justiça gratuita ............................................................................140
Procedimentos no processo trabalhista ........................................................145
Introdução .................................................................................................................................145
Procedimento: generalidades .............................................................................................146
Procedimentos no processo trabalhista .........................................................................147
Procedimento ordinário ........................................................................................................149
Procedimento sumaríssimo (arts. 852-A a 852-I) .........................................................152
Procedimentos especiais trabalhistas ..............................................................................157
Petição inicial e pedido no processo trabalhista .....................................161
Introdução .................................................................................................................................161
Petição inicial: generalidades ..............................................................................................162
Petição inicial no processo trabalhista ............................................................................162
Requisitos extrínsecos ...........................................................................................................163
Requisitos intrínsecos ............................................................................................................165
Requisitos especiais da petição no procedimento sumaríssimo ..........................................................................................168
Emenda, aditamento e indeferimento da petição inicial ....................................................................................169
Pedido .........................................................................................................................................170
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Audiência ..................................................................................175
Noções gerais............................................................................................................................175
Publicidade da audiência .....................................................................................................175
Publicidade restrita da audiência ......................................................................................176
Local de realização da audiência .......................................................................................177
Dias e horários das audiências ...........................................................................................177
Prazo mínimo entre a citação e a realização da audiência ...............................................................................177
Unidade e fracionamento da audiência ..........................................................................178
Atrasos das partes e do juiz .................................................................................................180
Comparecimento das partes na audiência ....................................................................181
Ausência das partes na audiência .....................................................................................184
Adiamento da audiência ......................................................................................................185
Polícia de audiência ................................................................................................................187
Arquivamento ..........................................................................189
Noções gerais............................................................................................................................189
Arquivamento ...........................................................................................................................189
Efeitos do arquivamento ......................................................................................................190
Perempção e arquivamento ................................................................................................190
Conciliação ................................................................................................................................191
Noções gerais............................................................................................................................191
Momentos da conciliação ....................................................................................................191
Acordo .........................................................................................................................................192
Efeitos da sentença de homologação do acordo para as partes ...................................................................193
Efeitos da sentença de homologação do acordo para a União ......................................................................193
Resposta do réu ......................................................................197
Noções gerais............................................................................................................................197
Defesa direta e defesa indireta ...........................................................................................198
Contestação...............................................................................................................................199
Exceção .......................................................................................................................................208
Reconvenção .............................................................................................................................212
Compensação ...........................................................................................................................214
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Revelia ........................................................................................217
Noções gerais............................................................................................................................217
Observações específicas .......................................................................................................217
Observações de excepcionais .............................................................................................218
Revelia, livre convencimento e amplo poder instrutório do juiz .....................................................................................218
O instituto da prova no processo do trabalho ......................................................227
Considerações introdutórias ...............................................................................................227
Conceito jurídico de prova ...................................................................................................228
Objeto da prova .......................................................................................................................230
Artigo 334 do CPC ...................................................................................................................233
Classificação das provas ........................................................................................................235
Princípios informadores da prova .....................................................................................236
O instituto da prova no processo do trabalho ......................................................239
O direito à prova e o acesso à Justiça ...............................................................................239
Licitude da prova .....................................................................................................................243
O instituto da prova no processo do trabalho ......................................................247
A questão do ônus da prova ...............................................................................................247
Ônus dinâmico da prova ......................................................................................................249
Poder instrutório do juiz .......................................................................................................251
O instituto da prova no processo do trabalho ......................................................255
Valoração da prova .................................................................................................................255
Persuasão racional ..................................................................................................................256
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Regras de investigação do valor das provas ..................................................................258
Prova e nulidade processual................................................................................................260
O instituto da prova no processo do trabalho ......................................................263
Depoimento pessoal ..............................................................................................................263
Confissão ....................................................................................................................................267
Exibição de coisa ou documento.......................................................................................270
Prova documental ...................................................................................................................273
Prova testemunhal ..................................................................................................................278
Prova pericial .............................................................................................................................282
Inspeção judicial ......................................................................................................................286
Prova emprestada ..................................................................................................................287
Indícios e presunções ............................................................................................................288
Os recursos na Justiça do Trabalho ..................................293
Teoria geral dos recursos trabalhistas ..............................................................................293
Recursos em espécies ............................................................................................................316
Liquidação de sentença trabalhista .................................355
Conceito ......................................................................................................................................355
Métodos ......................................................................................................................................355
Procedimentos .........................................................................................................................356
Arbitramento ............................................................................................................................358
Impulso inicial ..........................................................................................................................359
Natureza e recorribilidade da decisão na liquidação .................................................360
Sucessividade dos métodos de liquidação trabalhista .............................................360
Estrutura dos atos de execução trabalhista ..................365
Conceito de execução ...........................................................................................................365
Títulos para execução forçada de obrigação trabalhista ..........................................365
Classificação dos títulos para execução forçada ..........................................................366
Estrutura da execução forçada trabalhista .....................................................................367
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Execução de sentença ..........................................................373
Conceito e natureza da execução .....................................................................................373
Tipos de obrigação .................................................................................................................374
Títulos executivos judiciais e extrajudiciais ...................................................................377
Execução provisória e execução definitiva ....................................................................378
Aplicação da Lei 6.830/80 e do CPC .................................................................................378
Início da execução...................................................................................................................379
Pagamento e quitação ..........................................................................................................380
Garantia do juízo .....................................................................................................................380
Penhora – “penhora on-line” ................................................................................................381
Exceção de pré-executividade............................................................................................383
Meios de defesa na execução: CLT, artigo 884 ...............................................................................................385
Agravo de Petição: CLT, artigo 897 ....................................................................................388
Insolvência e execução trabalhista ...................................................................................391
Execução contra a Fazenda Pública: CF, artigo 100.......................................................................................392
O precatório e os débitos de pequeno valor .................................................................393
Execução de contribuição previdenciária: CF, artigo 114, VIII ......................................................................................393
Hasta pública: CLT, artigo 888 .............................................................................................394
Embargos à Praça ....................................................................................................................397
Responsabilidade do sócio por dívidas sociais ............................................................398
Publicidade na execução como garantia de terceiros ...............................................399
Embargos de Terceiro ............................................................................................................400
Bem de família ..........................................................................................................................401
Penhora da empresa e administração .............................................................................402
Ações especiais na Justiça do Trabalho, inclusive decorrentes da Emenda 45/2004 ..................405
Questões propedêuticas – Jurisdição e Competência ...............................................405
Inquérito civil e ação civil pública ....................................441
Inquérito civil ............................................................................................................................441
Ação civil pública .....................................................................................................................442
Instrumentos de atuação do MPT .....................................................................................444
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Dissídio coletivo ......................................................................451
Introdução .................................................................................................................................451
Formas de solução dos conflitos coletivos do trabalho ............................................454
Dissídio coletivo: conceito e classificação ......................................................................459
Dissídio coletivo: competência e instauração ...............................................................461
Procedimento do dissídio coletivo ...................................................................................462
Sentença normativa: efeitos, vigência, extensão, revisão, recurso e ação de cumprimento ...................................................464
Sentença normativa: Recurso Ordinário e ação de cumprimento ...................................................................465
Ação rescisória .........................................................................469
Ação rescisória no processo do trabalho: cabimento, fundamento e competência ........................................................................470
Ação rescisória no processo do trabalho: fundamentos de admissibilidade, juízo rescindendo, juízo rescisório e prazo para a propositura ....................................................................472
Ação rescisória no processo do trabalho: legitimidade, procedimento e Recurso Ordinário .......................................................476
Tutela antecipada, específica e cautelar ........................479
Antecipação dos efeitos da tutela .....................................................................................479
Antecipação dos efeitos da tutela – aspectos gerais procedimentais ..................................................................490
Antecipação dos efeitos da tutela e processo do trabalho .......................................................................................498
Antecipação dos efeitos da tutela e Administração Pública ....................................................................................500
Nota sobre as características do processo cautelar ....................................................510
Introdução ................................................................................515
Cabimento dos Recursos de Revista e de Embargos (regras gerais) ......................529
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Anotações adicionais ...........................................................555
Súmula 126 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) ..................................................................................................555
Súmula 297 do TST..................................................................................................................562
Súmulas 23 e 296 do TST ......................................................................................................575
Súmula 337 do TST..................................................................................................................581
Súmula 221 do TST..................................................................................................................588
Referências ................................................................................595
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José Augusto Rodrigues Pinto
Órgãos da jurisdição trabalhista
Origem
A origem mais remota dos órgãos destinados a arbitrar os conflitos do trabalho com o formato que vieram a ter no Brasil, até extinguir-se a repre-sentação classista, parece encontrar-se nos Conseils de Prud‘hommes inspira-ção medieval robustecida com as novas relações entre empregados e patrões criadas pela Revolução Industrial. Elas forçaram o interesse do Poder em dis-cipliná-las mediante as primeiras regras formais para encaminhamento de solução dos conflitos e tiveram uma ideia que merece maior realce: conferir aos próprios sujeitos afetados pelo conflito a oportunidade de discutir e deci-dir sua solução, mas, sobretudo, de negociá-la.
Nesse sentido, foi a primeira experiência de nosso ordenamento positivo, surgida em âmbito estadual com a Lei 1.869, de 10 de outubro de 1922, que criou, em São Paulo, os tribunais rurais para conhecer os dissídios individuais entre os fazendeiros e seus trabalhadores subordinados, colocando, ao lado do Juiz de Direito da Comarca, um representante de cada facção do conflito.
Embora a experiência não tenha frutificado, decerto por ainda faltarem, à época, as condições sociais e econômicas desejáveis, essa origem passou para o plano federal quando o Governo revolucionário de 1930 criou, em paralelo ao novel Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, dois órgãos administrativamente subordinados ao titular da Pasta, voltados para a solu-ção dos dissídios individuais e coletivos do trabalho, as Juntas de Conciliação e Julgamento e as Comissões Mistas, por volta de 1932.
Organização judiciária trabalhista e investidura dos juízes
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Direito Processual do Trabalho
EvoluçãoA evolução desses órgãos foi mais ativa durante toda aquela década, que pra-
ticamente nos legou o formato atual da Justiça do Trabalho. Seus passos podem ser seguidos por meio de alguns textos legais de maior importância histórica. Assim é que, em 1934, a Constituição Federal (CF) então promulgada, de índole sabidamente socialista, institucionalizou uma Justiça especializada do trabalho, ainda que não a inserisse no quadro constitucional do Poder Judiciário (art. 22). A Carta de 1937 não repetiu o dispositivo, porém, em sua vigência, o Decreto-Lei 1.237/37 (vigente a partir de 1.º de maio de 1940 e regulamentado pelo Decreto- -Lei 5.596, de 12 de dezembro de 1940) deu à Justiça do Trabalho, além de sua própria denominação, toda uma estrutura de organização judiciária autônoma competente para dirimir os litígios do trabalho. A queda do Estado Novo, junto com o fascismo europeu, ao término da Segunda Grande Guerra, ensejou ao governo provisório instalado na transição para o estado de direito democrático estender formalmente as garantias constitucionais da magistratura nacional à Justiça do Trabalho, que já existia, de fato, nos termos do Decreto-Lei 9.797, de 9 de setembro de 1946. Por fim, a Justiça do Trabalho consolidou-se, de direito, como órgão do Poder Judiciário ao ser promulgada a Constituição de 12 de outu-bro de 1946 (art. 94), e assim é conservada, a despeito da profunda alteração morfológica por que passou com a extinção da representação classista paritária, pela Emenda Constitucional (EC) 24/99 à Constituição de 1988.
Durante esses seus pouco mais de 60 anos de existência, adaptações e altera-ções, a Justiça do Trabalho desempenhou um papel, historicamente reconhecido pela opinião popular e erudita, de importante fator de amortecimento das ten-sões sociais próprias de toda transição da escala de economia rural para indus-trial, resistindo às críticas e, mesmo, a algumas tentativas de fazê-la desaparecer, reabsorvida pela Justiça Estadual ou absorvida pela Justiça Federal ordinária, que foi recriada no Brasil, em 1966, e integrada ao sistema judiciário nacional pela Constituição de 1967.
Aliás, a recriação da Justiça Federal respondeu pelo único retrocesso da Jus-tiça do Trabalho em sua marcha histórica, graças precisamente ao artigo 125, I, da EC 1, de 24 de janeiro de 1969, o qual, alterando a redação do artigo 199, I, da Constituição de 1967, determinou a competência dos juízes federais para conhe-cer e julgar as causas trabalhistas em que fossem interessadas como partes, rés, assistentes ou opoentes, a União, suas autarquias e empresas públicas, ressalvada
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Organização judiciária trabalhista e investidura dos juízes
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matéria falimentar, eleitoral e militar. Felizmente, essa aberração, que durante 12 anos lançou a sombra da dúvida sobre a credibilidade dos juízes federais e do trabalho, foi removida pela Constituição de 1988.
A tendência evolutiva da Justiça do Trabalho sinaliza para sua expansão, junto com o próprio direito material do trabalho, no sentido de incumbir-se da solu-ção de todos os conflitos oriundos de relações de trabalho e não simplesmente de emprego.
ClassificaçãoO aparato da Justiça do Trabalho é composto de dois conjuntos de órgãos de
funcionamento articulado, assim classificados:
jurisdicionais � , por disporem do poder de julgar;
auxiliares (administrativos) � , por funcionarem sem poder de decisão, ser-vindo de braço executivo dos mandados dos órgãos jurisdicionais.
São órgãos jurisdicionais especificamente trabalhistas, que atuam distribuídos em graus de exercício do poder de dizer o direito (graus da jurisdição):
Varas do Trabalho (1.º grau ou grau inferior); �
Juízos de Direito (1.º grau supletivo); �
Tribunais Regionais do Trabalho (2.º grau superior); �
Tribunal Superior do Trabalho (2.º grau superior ou extraordinário traba- �lhista).
O Juízo de Direito é supletivo porque só tem atuação trabalhista nas áreas ter-ritoriais em que não funcionar uma Vara do Trabalho. O Tribunal Superior do Tra-balho (TST) é tido por muitos como ocupante de grau extraordinário, por limitar sua atuação ao exame de recursos que veiculem matéria estritamente jurídica de cumprimento de legislação federal e homogeneização de jurisprudência.
Na estrutura examinada, a Vara do Trabalho ocupa o lugar anteriormente devido à Junta de Conciliação e Julgamento, órgão colegiado no qual tinha assento, além do juiz de direito representante do poder jurisdicional do Estado, um juiz repre-sentativo de cada classe em conflito (econômica e trabalhadora). Essa representa-ção foi extinta pela EC 24/99, consoante já foi assinalado.
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Direito Processual do Trabalho
Composição dos órgãos jurisdicionais
A atual Vara do Trabalho é órgão singular, ou seja, representado por um único agente, que é o Juiz do Trabalho (Substituto, se em exercício, ou Titular, se na jurisdição plena). Trata-se de juiz de carreira, isto é, cujo acesso ao cargo somente é possível por concurso público, e cuja progressão obedece a regras da Consti-tuição.
O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) é órgão coletivo, de número variável de juízes, fixado por lei federal, conforme as exigências do movimento de processos. Sua composição tem tríplice proveniência: magistrados de carreira, representan-tes do Ministério Público e da Advocacia. A proporção participativa das facções é de quatro quintos do total para os juízes de carreira e um quinto para os procura-dores e advogados.
O TST também é órgão coletivo, atualmente composto por 27 juízes, com o título de ministros (CF/88, art. 111-A; EC 45/2004). É bom notar que esse número foi diminuído de 27, virtualmente restaurando os dez cargos de ministros clas-sistas, extintos com a respectiva representação pela EC 24/99.
Composição dos órgãos auxiliares
Os órgãos auxiliares (Secretarias de Varas, Tribunais Regionais e TST) são ocu-pados por servidores integrantes efetivos do quadro geral da Justiça do Trabalho, de acordo com estrutura legal própria, compreendendo cargos e funções neces-sários ao cumprimento de suas atribuições. Sua composição é variável, acompa-nha a envergadura do órgão jurisdicional, operando sob a chefia de um Diretor de Secretaria, cuja função é de confiança imediata da Administração do Tribunal Regional, em relação a ele mesmo e às Varas do Trabalho, e do Tribunal Superior, no seu grau jurisdicional.
Investidura dos juízes e ministrosA investidura dos juízes e ministros submete-se a pequenas variações de meca-
nismo, conforme o órgão de que se trate, como veremos a seguir.
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Organização judiciária trabalhista e investidura dos juízes
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Varas do TrabalhoO cargo é público, estruturado em carreira, e vitalício. Logo, seu acesso só pode
ser conseguido por concurso de provas e títulos, sendo a vitaliciedade declarada mediante título formal, concedido pelo Tribunal, decorrente de aprovação em estágio probatório de dois anos de exercício. A carreira tem três níveis: inicial, de Juiz do Trabalho Substituto, acessado por nomeação; intermediário, de Juiz de Vara do Trabalho; e final, de Juiz de Tribunal Regional do Trabalho, acessados por progressão vertical sujeita aos critérios alternados de merecimento e antiguidade. O cargo de Ministro do TST é isolado.
Tribunais superioresO sistema de provimento dos cargos, nos Tribunais Regionais e Superior do
Trabalho, é diferenciado conforme devam ser seus ocupantes magistrados de car-reira ou representantes do quinto constitucional do Ministério Público do Traba-lho ou da Advocacia nas respectivas cortes. Vejam-se a seguir os diferenciais.
Juízes de carreira
Para o Tribunal Regional dá-se o acesso, alternadamente, ou por elevação do mais antigo no cargo de Juiz de Vara, ou por merecimento, por ato de promoção do escolhido pelo Presidente da República em lista tríplice de juízes de vara da região, organizada pelo tribunal interessado. Para o Tribunal Superior, ocorre por nomeação do escolhido pelo Presidente da República, em lista tríplice de juízes dos tribunais regionais, organizada pelo TST, sendo o escolhido submetido, antes de ser nomeado, à aprovação em sessão pública pelo Senado da República. A modo distintivo da investidura decorre de estar o cargo de Juiz de Tribunal Regio-nal num dos níveis da carreira da magistratura trabalhista, ao passo que o cargo de Ministro do Tribunal Superior é isolado.
Juízes do quinto constitucional
Para o Tribunal Regional, a investidura se dá mediante a elaboração, pela classe a ser representada ao Tribunal no qual existe a vaga, de uma lista de seis nomes escolhidos entre seus membros (do Ministério Público do Trabalho ou da Advo-
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Direito Processual do Trabalho
cacia, conforme o caso), que o Tribunal reduzirá a três para envio ao Presidente da República que, entre eles, escolhe livremente o nomeado. Para o TST, os seis nomes da lista elaborada pela classe a que se refere a representação serão reduzi-dos a três pelo próprio TST, e enviados ao Presidente da República, o qual indicará ao Senado da República o escolhido, a fim de, naquela casa legislativa, ser subme-tido a exame e, uma vez aprovado, liberado para a nomeação.
É importante notar que, em todos os casos, por exigência do artigo 94 da CF, a indicação de nome do Ministério Público só poderá recair, validamente, entre os que contarem, no mínimo, dez anos na carreira. A indicação de nome da Advocacia, por sua vez, só poderá recair entre aqueles que, além de terem notó-rio saber jurídico e gozarem de reputação ilibada, contem, no mínimo, dez anos de efetiva atividade profissional. Note-se, também, que para nenhum dos casos é exigida a especialização trabalhista do indicado, de modo a permitir a indica-ção de nomes de procuradores não necessariamente integrantes do Ministério Público do Trabalho nem de advogados necessariamente trabalhistas. Apesar disso, tem-se visto que as indicações até aqui têm sido feitas com obediência a esse sensato detalhe.
Garantias constitucionaisToda a magistratura nacional é beneficiária de garantias, universalmente reco-
nhecidas como indispensáveis a assegurar a independência e a isenção no exercí-cio do cargo. A magistratura trabalhista não foge, pois, a essa regra e, por ser dis-pensada ao cargo, alcança, por igual, os oriundos da própria carreira e os oriundos das fontes de representação do quinto constitucional. Ao tempo de existência da representação classista, mesmo os representantes das classes, que não eram juízes de direito, gozavam das garantias em causa, com a devida adaptação ao modo do exercício do cargo.
Assim, todos os juízes do trabalho são vitalícios, a partir do recebimento do título de vitaliciedade, inamovíveis e irredutíveis. Isso quer dizer que não podem perder o cargo, salvo por sentença criminal transitada em julgado, não podem ser retirados do território de exercício da jurisdição, salvo motivo de interesse públi-co e não podem sofrer redução de valor dos vencimentos, salvo as exceções do artigo 95, III, da CF/88.
Os extintos juízes representantes classistas não gozavam do predicamento da vitaliciedade em virtude da natureza temporária do exercício do cargo, cuja
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Organização judiciária trabalhista e investidura dos juízes
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investidura dava-se por mandato de três anos, renovável uma vez. Também os juízes de primeiro grau, enquanto em estágio probatório, não são protegidos pela vitaliciedade.
Proibições constitucionaisEm contrapartida às garantias ou predicamentos da magistratura trabalhista,
sujeitam-se seus agentes jurisdicionais a proibições destinadas a preservar a inco-lumidade moral do cargo. São elas as constantes do parágrafo único do artigo 95 da CF/88: de exercer qualquer outro cargo ou função, na atividade pública ou pri-vada, salvo um cargo de magistério; a de receber custas ou qualquer outra forma de retribuição por participação em processo; a de dedicar-se a atividade político-partidária.
A EC 45, de 8 de dezembro de 2004, acrescentou, ainda, as proibições de rece-bimento, “a qualquer título ou pretexto”, de auxílios ou contribuições de pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, ressalvadas exceções de lei, e de exercer a advocacia perante o juízo ou tribunal de que se tiver afastado, nos três anos seguintes à aposentadoria ou exoneração, tendo ficado conhecida esta última proibição pelo nome de “quarentena”.
Ampliando seus conhecimentosDireito Processual do Trabalho, de Wagner D. Giglio, editora Saraiva.
Processo Trabalhista de Conhecimento , de José Augusto Rodrigues Pinto, edi-tora LTr, 2004.
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