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1 76 Novembro, 2019 LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIA DIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO Este boletim tem caráter genérico e informativo, não constituindo opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. Para mais informações, entre em contato com nossos advogados ou visite o website www.pinheironeto.com.br. ↑ voltar ao início O boletim eletrônico PrevNotícias é desenvolvido pelos profissionais que integram a área Previdenciária de Pinheiro Neto Advogados. PERIODICIDADE Mensal SÓCIO RESPONSÁVEL Cristiane Ianagui Matsumoto Gago COLABORADORES Mariana Monte Alegre de Paiva, Henrique Wagner de Lima Dias, Eduardo Kauffman Milano Benclowicz, Jéssica Min Kyong Chung, Raissa Cristina Pimenta, Esther Simon Seroussi Souccar, Naomi Sylvia Levy Goldenberg e Pedro Javier Martins Uzeda Leon. CONTATO pinheironeto.com.br Pinheiro Neto LEGISLAÇÃO (FOTO: ISTOCK) Novidades da MP 905/2019 Senado Federal aprova a PEC Paralela Fiscalizações em matérias previdenciárias CARF afasta novamente contribuição previdenciária sobre hiring bonus STJ determina a incidência de contribuição previdenciária sobre a hora repouso alimentação A PEC Paralela e a tributação previdenciária das entidades sem fins lucrativos Novidades da MP 905/2019 Em 11.11.2019, foi editada a Medida Provisória MP nº 905/2019, que faz parte do Programa Verde e Amarelo do Governo Federal, visando à redução do desemprego no país entre 2020 e 2022. No que se refere ao custeio da Previdência Social, destacamos que o artigo 24 da referida MP extingue a contribuição de 10% sobre o saldo do FGTS, instituída pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 110/2001, a partir de 1.1.2020. Tal extinção reforça a argumentação em defesa das contribuições nos litígios em andamento que visam à declaração de inconstitucionalidade de tal cobrança. Ademais, a MP promoveu alterações substanciais na Lei nº 10.101/2000, que dispõe sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) da empresa, endereçando diversos pontos polêmicos que vinham sendo debatidos na jurisprudência. Vale destacar, também, que a norma dispõe sobre requisitos para pagamento de prêmios, previstos nos parágrafos 2º e 4º do artigo 457 da CLT, trazendo regras mais claras e objetivas que certamente podem estimular a concessão desse tipo de remuneração variável. Confira-se um breve resumo das importantes alterações no link. A despeito do fato de que a MP implementou diversas alterações e inovações relevantes nas legislações previdenciárias, trabalhistas e tributárias, é importante lembrar que a MP nº 905/2019, embora eficaz, precisa ser convertida em Lei. Por isso, vale acompanhar a sua tramitação no Congresso Nacional.

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nº 76Novembro, 2019

LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO

Este boletim tem caráter genérico e informativo, não constituindo opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. Para mais informações, entre em contato com nossos advogados ou visite o website www.pinheironeto.com.br.

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O boletim eletrônico PrevNotícias é desenvolvido pelos profissionais que integram a área Previdenciária de Pinheiro Neto Advogados.

PERIODICIDADE

Mensal

SÓCIO RESPONSÁVEL

Cristiane Ianagui Matsumoto Gago

COLABORADORES

Mariana Monte Alegre de Paiva, Henrique Wagner de Lima Dias, Eduardo Kauffman Milano Benclowicz, Jéssica Min Kyong Chung, Raissa Cristina Pimenta, Esther Simon Seroussi Souccar, Naomi Sylvia Levy Goldenberg e Pedro Javier Martins Uzeda Leon.CONTATO

pinheironeto.com.brPinheiro Neto

LEGISLAÇÃO

(FOTO: ISTOCK)

▪ Novidades da MP 905/2019 ▫ Senado Federal aprova a PEC Paralela ▫ Fiscalizações em matérias previdenciárias

▫ CARF afasta novamente contribuição previdenciária sobre hiring bonus

▫ STJ determina a incidência de contribuição previdenciária sobre a hora repouso alimentação

▫ A PEC Paralela e a tributação previdenciária das entidades sem fins lucrativos

Novidades da MP 905/2019Em 11.11.2019, foi editada a Medida Provisória MP nº 905/2019, que faz parte do Programa Verde e Amarelo do Governo Federal, visando à redução do desemprego no país entre 2020 e 2022.

No que se refere ao custeio da Previdência Social, destacamos que o artigo 24 da referida MP extingue a contribuição de 10% sobre o saldo do FGTS, instituída pelo artigo 1º da Lei Complementar nº 110/2001, a partir de 1.1.2020. Tal extinção reforça a argumentação em defesa das contribuições nos litígios em andamento que visam à declaração de inconstitucionalidade de tal cobrança.

Ademais, a MP promoveu alterações substanciais na Lei nº 10.101/2000, que dispõe sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) da

empresa, endereçando diversos pontos polêmicos que vinham sendo debatidos na jurisprudência.

Vale destacar, também, que a norma dispõe sobre requisitos para pagamento de prêmios, previstos nos parágrafos 2º e 4º do artigo 457 da CLT, trazendo regras mais claras e objetivas que certamente podem estimular a concessão desse tipo de remuneração variável.

Confira-se um breve resumo das importantes alterações no link.

A despeito do fato de que a MP implementou diversas alterações e inovações relevantes nas legislações previdenciárias, trabalhistas e tributárias, é importante lembrar que a MP nº 905/2019, embora eficaz, precisa ser convertida em Lei. Por isso, vale acompanhar a sua tramitação no Congresso Nacional.

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 76

Novembro, 2019

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a alteração, seja das Constituições Estaduais, seja das Leis Orgânicas - ainda que facultativo.

Com relação às revisões de renúncias, a PEC Paralela introduziu, em linhas gerais, a (i) exigência de contribuições previdenciárias de empresas do SIMPLES (limitadas àquelas necessárias ao custeio de benefícios decorrentes de acidente de trabalho ou exposição a agentes nocivos); (ii) a possibilidade de limitação da imunidade de entidades filantrópicas de baixo impacto social (nos termos a serem definidos por Lei Complementar); e (iii) reoneração das receitas decorrentes de exportação agrícola.

Por fim, cabe adicionar que a PEC Paralela à Reforma da Previdência n°133/2019 também introduziu o chamado mecanismo da adesão automática dos servidores públicos aos planos de benefícios de previdência privada, o que colaborará e incentivará o ingresso desses indivíduos nos planos de complementação da aposentadoria da categoria. A despeito da adesão automática, aqueles que não tiverem interesse em contribuir poderão voluntariamente cancelar sua adesão.

Com a conclusão da votação no Senado Federal, a PEC foi encaminhada para a Câmara dos Deputados, onde também será objeto de votação em dois turnos. Vale também acompanhar a sua tramitação.

Senado Federal aprova a PEC Paralela Em 19.11.2019, o Senado Federal aprovou em segundo turno a PEC Paralela à Reforma da Previdência (PEC nº 133/19) após a rejeição de três destaques (Emendas nos 35, 123 e 146) e aprovação de um (Emenda nº 49). Frise-se que o destaque aprovado inclui nova regra de transição para o cálculo de benefícios de aposentadoria, especificamente no que concerne ao cálculo dos benefícios, sendo válido tanto para o Regime Geral da Previdência Social (RGPS) como para os Regimes Próprios dos Servidores. Referida regra tem por objetivo estabelecer um processo gradativo, atenuando eventuais impactos adversos que seriam imediatamente percebidos pelos segurados na alteração da fórmula de cálculo do salário de benefício. Isso porque a Emenda n° 49 estabelece que o cálculo do salário de benefícios será inicialmente feito com base na média dos 80% maiores salários de contribuição (regra atualmente vigente), aumentando progressivamente para 90% em 2022 e para 100% em 2025.

Vale reiterar que a PEC Paralela possui dois objetivos centrais: (i) viabilizar a adesão dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na Reforma da Previdência e (ii) possibilitar a revisão de renúncias previdenciárias de baixo impacto social.

No que diz respeito ao item (i), a PEC Paralela pretende facultar aos entes federados que tiverem interesse que, por lei ordinária, de iniciativa do chefe do Poder Executivo, promovam a adesão de seus servidores ao Regime Próprio, sendo dispensada

Fiscalizações em matéria previdenciáriaDentre os principais tópicos previdenciários atentamente observados pela Receita Federal, o Plano Anual de Fiscalização da Receita Federal de 2019 traz item específico referente à “observância dos limites de exposição ao agente ruído”, de extrema relevância e que já foi objeto de análise pelo Supremo Tribunal Federal em outras oportunidades. Entendemos que há argumentos para defender que a neutralização dos agentes nocivos nos limites legais eximiria as empresas do pagamento do adicional ao SAT de que trata o artigo 57, § 6º, da Lei nº 8.213/1991, não sendo exigida a eliminação dos agentes.

Além disso, o mencionado Plano faz breve menção a outros tópicos, dentre os quais destacamos: (i) ausência ou insuficiência de recolhimento do Funrural; (ii) desoneração da Folha de Pagamento; (iii) descumprimento dos requisitos para fruição da imunidade/isenção tributária/previdenciária pelas entidades assistenciais; (iv) terceirização de atividades; e (v) remuneração disfarçada.

Haja vista o aprimoramento das fiscalizações em matéria previdenciária e dada a vasta gama de temas expressamente indicados pela Receita Federal como foco de sua atuação, é preciso atentar ao início das fiscalizações e, potencialmente, às futuras autuações. ▪

(FOTO: ISTOCK)

▫ Novidades da MP 905/2019 ▪ Senado Federal aprova a PEC Paralela ▪ Fiscalizações em matérias previdenciárias

▫ CARF afasta novamente contribuição previdenciária sobre hiring bonus

▫ STJ determina a incidência de contribuição previdenciária sobre a hora repouso alimentação

▫ A PEC Paralela e a tributação previdenciária das entidades sem fins lucrativos

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 76

Novembro, 2019

JURISPRUDÊNCIA

STJ determina incidência de contribuição previdenciária sobre Hora Repouso AlimentaçãoEm 27.11.2019, os Ministros da 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisaram os Embargos de Divergência opostos pela Fazenda Nacional contra acórdão proferido em sede do Recurso Especial nº 1.619.117/BA, que discutia a incidência da contribuição previdenciária sobre o pagamento realizado pelo empregador ao empregado a título de hora repouso alimentação (HRA).

Havia, até então, divergência de entendimento entre as 1ª e 2ª Turmas do STJ. Enquanto a 1ª Turma entendia que a HRA possuiria natureza indenizatória e, logo, sobre ela não incidiria contribuição previdenciária, a 2ª Turma defendia a sua natureza salarial.

A 1ª Seção, então, definiu, por 7 x 2, que incide, sim, a contribuição previdenciária sobre a HRA no período anterior à Reforma Trabalhista. A decisão se baseia no artigo 71, § 4º da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que prevê expressamente o caráter indenizatório da verba. Logo, os efeitos da decisão foram modulados, de modo que a contribuição previdenciária é devida apenas em relação ao período anterior a novembro de 2017. ▪

Carf afasta novamente contribuição previdenciária sobre hiring bonusA Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), pela segunda vez, em 2019, decidiu que os valores referentes ao pagamento de hiring bonus (bônus de contratação) não devem compor a base de cálculo das contribuições previdenciárias, dada a natureza indenizatória do referido benefício.

Os Conselheiros da Segunda Turma da CSRF entenderam que o pagamento do hiring bonus se presta para fins meramente indenizatórios, em decorrência de eventual desgaste que o empregado sofrerá devido à sua demissão e posterior contratação em novo ambiente de trabalho.

Contudo, é importante frisar que, para que haja o afastamento da natureza salarial desta verba, é necessário que haja efetiva comprovação de que não existe qualquer ligação entre o pagamento do benefício e o trabalho exercido pelo empregado, de maneira a afastar qualquer indício que o vincule ao salário.

Nesse sentido, o novo precedente deliberado pela CSRF apenas reitera a tendência que tem sido aplicada pela jurisprudência administrativa em analisar a incidência de contribuições previdenciárias sobre o pagamento de hiring bonus de maneira individualizada. (FOTO: ISTOCK)

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▪ CARF afasta novamente contribuição previdenciária sobre hiring bonus

▪ STJ determina a incidência de contribuição previdenciária sobre a hora repouso alimentação

▫ A PEC Paralela e a tributação previdenciária das entidades sem fins lucrativos

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 76

Novembro, 2019

A PEC Paralela e a tributação previdenciária das entidades sem fins lucrativosCom o objetivo de tratar de aspectos que foram excluídos da Reforma da Previdência, a PEC n° 133/2019 traz diversos temas de grande importância que podem vir a causar grande impacto financeiro às empresas, especialmente aqueles relacionados à tributação previdenciária.

Uma das matérias tratadas na referida PEC diz respeito às entidades filantrópicas na área educacional, em razão da tentativa de alteração do artigo 195 da Constituição Federal, para que tais entidades passem a se sujeitar à incidência das contribuições previdenciárias.

A proposta se mostra, a nosso ver, questionável, tanto do ponto de vista jurídico quanto do social.

Do ponto de vista jurídico, a manutenção da imunidade para entidades de assistência social e saúde implica séria violação ao princípio da isonomia, na medida em que as entidades educacionais, sem qualquer justificativa plausível, seriam tributadas, nos termos propostos pela PEC.

Por outro lado, do ponto de vista social, é preciso considerar que, partindo do pressuposto de que a educação em nosso país é umas das maiores deficiências quando pensamos em seu sistema, a proteção desse direito social é absolutamente necessária.

A atuação de entidades filantrópicas no segmento educacional

inquestionavelmente ajuda a garantir mais investimentos no setor, havendo assim grande retorno para a sociedade e benefícios diretos para milhares de estudantes.

A imunidade das contribuições previdenciárias atribuída constitucionalmente a tais entidades serve justamente como incentivo a esse tipo de retorno educacional à sociedade.

Assim, a tributação dessas entidades, como pretendida pela PEC, pode representar um grave retrocesso na estrutura educacional brasileira, a ser ponderado pela sociedade. O ganho em termos arrecadatórios precisa ser de fato considerado, mas não sob pena de desestimular o papel tão relevante desempenhado por tais entidades.

Em razão de diversos questionamentos sobre o teor da proposta, felizmente a redação foi alterada pelo Senado para prever, no artigo 195 da Constituição, a imunidade para entidades de assistência social e saúde e educação.

Agora, aprovada em plenário, a PEC n° 133/2019 foi encaminhada à Câmara dos Deputados. Esperamos que a imunidade dessas entidades continue preservada.

Cristiane I. Matsumoto, Mariana Monte Alegre de Paiva e Pedro Javier Martins Uzeda Leon sócia, associada e integrante de Pinheiro Neto Advogados. ▪

DIREITO COMENTADO

(FOTO: ISTOCK)

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▫ CARF afasta novamente contribuição previdenciária sobre hiring bonus

▫ STJ determina a incidência de contribuição previdenciária sobre a hora repouso alimentação

▪ A PEC Paralela e a tributação previdenciária das entidades sem fins lucrativos