direito, política e manejo pesqueiro na bacia amazônica

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Em 2009 foi criado o Ministério da Pesca e Aquicultura provocando uma ruptura de paradigmas político, jurídicos e de gestão. O que antes se pautava por uma visão holística, sob a óptica do Ministério do Meio Ambiente e IBAMA, passa para um viés mais produtivista, redundando no fortalecimento do Programa Fome Zero e contribuindo para a segurança alimentar da população. Este livro conta essa história. Não há a pretensão de esgotar o assunto ou estabelecer uma verdade última, mas simplesmente lançar a primeira palavra na construção de um debate sobre o tema.

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DireitoDireitoDireitoDireitoDireito, P, P, P, P, Política eolítica eolítica eolítica eolítica eManejo PManejo PManejo PManejo PManejo Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueiro nao nao nao nao na

Bacia AmazônicaBacia AmazônicaBacia AmazônicaBacia AmazônicaBacia Amazônica

Serguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily Franco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de CamargoThaísa RThaísa RThaísa RThaísa RThaísa Rodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargo

(orgs.)(orgs.)(orgs.)(orgs.)(orgs.)

2012

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Direitos reserDireitos reserDireitos reserDireitos reserDireitos reservados desta ediçãovados desta ediçãovados desta ediçãovados desta ediçãovados desta ediçãoRiMa Editora

FFFFFotos capaotos capaotos capaotos capaotos capa: Serguei Aily Franci de Camargo

© 2012 dos autores

Rua Virgílio Pozzi, 213 – Santa Paula13564-040 – São Carlos, SPFone/Fax: (16) 3411-1729

www.rimaeditora.com.br

COMISSÃO EDITORIALDirlene Ribeiro MartinsPaulo de Tarso Martins

Carlos Eduardo M. Bicudo (Instituto de Botânica - SP)Evaldo L. G. Espíndola (USP - SP)João Batista Martins (UEL - PR)

José Eduardo dos Santos (UFSCar - SP)Michèle Sato (UFMT - MT)

Direito, política e manejo pesqueiro na BaciaAmazônica / organizado por Serguei Aily Franco deCamargo e Thaísa Rodrigues Lustosa de Camargo –São Carlos : RiMa Editora, 2012 – e-book.

132 p.

ISBN 978-85-7656-244-3

1. Direito. 2. Pesca. 3. Bacia Amazônica. 4. Política.I. Autores. II. Título

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À memória de meu pai, João Maria Franco de Camargo,por despertar em mim o gosto e o respeito

pela natureza e o amor pela Amazônia.

A Deus, pela infinita bondade, pela graça da vida, saúde e paz.À minha mãe (em memória), que, com seu amor,

ensinou-me o valor dos estudos e, com sua habilidade e competência,despertou-me o interesse pelo Direito.

Aos meus avôs, Denísio e Conceição, ao meu pai,aos meus tios e irmãos, pelo incentivo.

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... IXIXIXIXIX

ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. XIXIXIXIXI

Capítulo 1 – A PCapítulo 1 – A PCapítulo 1 – A PCapítulo 1 – A PCapítulo 1 – A Pesca na Amazônia Brasileiraesca na Amazônia Brasileiraesca na Amazônia Brasileiraesca na Amazônia Brasileiraesca na Amazônia Brasileira ................................................................................................................................................................................................................................. 11111Andrei Sicsú de Souza; Serguei Aily Franco de Camargo; Thaísa Rodrigues

Lustosa de Camargo

Capítulo 2 – O Direito PCapítulo 2 – O Direito PCapítulo 2 – O Direito PCapítulo 2 – O Direito PCapítulo 2 – O Direito Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueiro noo noo noo noo noOrdenamento Jurídico BrasileirOrdenamento Jurídico BrasileirOrdenamento Jurídico BrasileirOrdenamento Jurídico BrasileirOrdenamento Jurídico Brasileirooooo ................................................................................................................................................................................................................................................................................... 1919191919

Serguei Aily Franco de Camargo; Andrei Sicsú de Souza;Thaísa Rodrigues Lustosa de Camargo

Capítulo 3 – O Direito PCapítulo 3 – O Direito PCapítulo 3 – O Direito PCapítulo 3 – O Direito PCapítulo 3 – O Direito Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueiro na Esfera Internacional:o na Esfera Internacional:o na Esfera Internacional:o na Esfera Internacional:o na Esfera Internacional:A RA RA RA RA Região da Tegião da Tegião da Tegião da Tegião da Tríplice Fríplice Fríplice Fríplice Fríplice Frrrrronteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Peru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbia ........................................................................................................................3939393939

Serguei Aily Franco de Camargo; Arilúcio Bastos Lobato; Thaísa RodriguesLustosa de Camargo; Andrei Sicsú de Souza

Capítulo 4 – O Manejo de RCapítulo 4 – O Manejo de RCapítulo 4 – O Manejo de RCapítulo 4 – O Manejo de RCapítulo 4 – O Manejo de Recursos Pecursos Pecursos Pecursos Pecursos Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueirososososos ...................................................................................................................................................................................................5959595959Blanca Lourdes Bottini Rojas; Serguei Aily Franco de Camargo;

Miguel Petrere Jr.

Capítulo 5 – Síntese Histórica Sobre o Manejo PCapítulo 5 – Síntese Histórica Sobre o Manejo PCapítulo 5 – Síntese Histórica Sobre o Manejo PCapítulo 5 – Síntese Histórica Sobre o Manejo PCapítulo 5 – Síntese Histórica Sobre o Manejo Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueirooooona Amazônia Brasileirana Amazônia Brasileirana Amazônia Brasileirana Amazônia Brasileirana Amazônia Brasileira ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................7979797979

Blanca Lourdes Bottini Rojas; Serguei Aily Franco de Camargo;Miguel Petrere Jr.

Capítulo 6 – ACapítulo 6 – ACapítulo 6 – ACapítulo 6 – ACapítulo 6 – Acordos de Pcordos de Pcordos de Pcordos de Pcordos de Pesca na Amazônia Brasileira:esca na Amazônia Brasileira:esca na Amazônia Brasileira:esca na Amazônia Brasileira:esca na Amazônia Brasileira:PPPPPrincípio da Dignidade da Princípio da Dignidade da Princípio da Dignidade da Princípio da Dignidade da Princípio da Dignidade da Pessoa Humana eessoa Humana eessoa Humana eessoa Humana eessoa Humana eConhecimento TConhecimento TConhecimento TConhecimento TConhecimento Tradicional no Manejo Pradicional no Manejo Pradicional no Manejo Pradicional no Manejo Pradicional no Manejo Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueirooooo ................................................................................................................................................................9595959595

Denison Melo de Aguiar; Serguei Aily Franco de Camargo;Thaísa Rodrigues Lustosa de Camargo

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Sobre os ASobre os ASobre os ASobre os ASobre os Autoresutoresutoresutoresutores ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 117117117117117

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AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

Ao final de todo o trabalho, repensamos a trajetória de pesquisa que nosconduziu até aquele momento. Pessoas e instituições sempre contribuem edeixam suas marcas em nossa memória. Academicamente, pouco fazemos deforma isolada, ainda que raras torres de marfim persistam para nossa admira-ção e respeito.

Agradeço às minhas instituições de origem: Universidade do Estado doAmazonas (Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental) e Universida-de Nilton Lins (Programa de Pós-Graduação em Aquicultura), por apoiarem apesquisa que consubstanciou esta obra.

Agradeço ao Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista(Rio Claro), na pessoa do Prof. Dr. Miguel Petrere Jr, meu supervisor de está-gio de pós-doutorado, por me receber e proporcionar todas as condiçõesnecessárias ao desenvolvimento de nossos trabalhos. Agradeço também aoCNPq, pelo financiamento (auxílio à pesquisa) concedido.

Entretanto, as instituições só existem e passam a fazer sentido através daspessoas que as integram. Esta é uma obra coletiva, que não seria possível sema participação de todo o grupo de pesquisa “Direito e Pesca”: Thaísa R. L. deCamargo, Miguel Petrere Jr., Denison M. de Aguiar, Blanca L. B. Rojas, AndreiSicsú de Souza e Arilúcio B. Lobato, aos quais agradeço pela caminhada emconjunto.

Registro também meus agradecimentos à participação ocasional de di-versos outros pesquisadores, que em vários momentos se fizeram presentesnas discussões do grupo: Saúl Prada-Pedreros (Universidad Javeriana, Colôm-bia), Edson Damas da Silveira (UEA), Sandro Nahmias Melo (UEA), Ozorio J.M. Fonseca (UEA), Walmir A. Barbosa (UEA), Erivaldo Cavalcanti e Silva Filho(Uniniltonlins) e Carlos Edwar de Carvalho Freitas (UFAM).

Ao final, não poderia deixar de lembrar e agradecer aos pescadores! Elessempre me receberam e ensinaram suas formas de vida e de encarar a nature-za e o mundo, às vezes tão complicado... Agradeço assim, ao pessoal de BoaVista do Ramos: o Duarte, o Toti e o Isaac.

Manaus, fevereiro de 2012.Serguei Aily Franco de Camargo

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ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação

O título da obra DireitoDireitoDireitoDireitoDireito, P, P, P, P, Política e Manejo Política e Manejo Política e Manejo Política e Manejo Política e Manejo Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueiro na Bacia Amazônicao na Bacia Amazônicao na Bacia Amazônicao na Bacia Amazônicao na Bacia Amazônicareflete a preocupação dos pesquisadores integrantes do Grupo de Pesquisa/CNPq “Direito e Pesca”, que vem atuando no Programa de Pós-Graduaçãoem Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas, desde 2008.

Ainda em 2008, foi proposto ao CNPq um pedido de auxílio à pesquisa,concedido através do fundo setorial CT-Amazônia, com a finalidade de explo-rar uma lacuna da literatura, caracterizada pela ausência de obras jurídicassobre o setor pesqueiro. Os trabalhos começaram. Os pesquisadores ArilúcioBastos Lobato, Andrei Sicsú de Souza e, posteriormente, Denison Melo deAguiar foram agregados ao projeto de pesquisa, desenvolvendo suas disserta-ções de mestrado em direito ambiental respectivamente sobre: a problemáti-ca jurídico-internacional do manejo da pesca dos grandes bagres migradores;o conhecimento tradicional associado ao manejo pesqueiro na Amazônia; e oprincípio da dignidade da pessoa humana e a pesca artesanal na Amazônia.

Já nesta primeira fase dos trabalhos, percebeu-se que abordar o assunto,através de uma incursão ao “Direito Pesqueiro na Bacia Amazônica” era pre-tensioso, inclusive por se atribuir ao direito pesqueiro uma certa autonomiaepistemológica, inexistente até o momento. Entretanto, os objetivos práticosda equipe foram melhor delimitados. Buscou-se, então, delinear o referenciallegal para a tutela dos estoques pesqueiros na bacia Amazônica e da atividadepesqueira propriamente dita. Estabeleceram-se diálogos e parcerias com ou-tros grupos de pesquisa em outras instituições (Programa de Pós-Graduaçãoem Aqüicultura da Universidade Nilton Lins/AM, Universidade Federal doAmazonas - UFAM, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, Uni-versidade Estadual Paulista - UNESP e Universidade de Campinas - UNICAMP).As contribuições não tardaram e a forma de compreensão do problema assu-miu um foco jurídico, que se apropriou do conhecimento de outras áreas,principalmente da biologia e da ecologia.

Juntaram-se à equipe as pesquisadoras Blanca Lourdes Bottini Rojas, quetrabalhou em seu mestrado na UNESP de Rio Claro com a comparação dasestratégias de manejo do Brasil e Venezuela; e Thaísa Rodrigues Lustosa deCamargo, que trabalhou com a nova situação do marco regulatório da pescaa partir de 2009. O último reforço veio com a volta do Dr. Miguel Petrere Jr.para o Amazonas, onde suas contribuições se fizeram sentir sobre toda a equi-pe. A rota estava traçada!

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1212121212 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

A bacia Amazônica não foi escolhida por acaso. Trata-se da maior baciahidrográfica brasileira e onde se concentra a maior parte da pesca (em sentidolato) do país. Na Amazônia, foram constatados os maiores níveis de consumode pescado do mundo, chegando, de acordo com alguns autores, a atingir até600gr/pessoa/dia, como será discutido ao longo do presente estudo. A im-portância do pescado para as populações dispersas nas vastas áreas de várzease da bacia é vital, constituindo-se na maior fonte protéica disponível.

Historicamente, a pesca se desenvolveu à margem do Estado. Com opassar do tempo, a população da Amazônia cresceu, aumentando as pressõessobre os estoques pesqueiros. As viagens de pesca passaram a buscar locaiscada vez mais distantes dos grandes centros e os primeiros sinais de depleçãoforam detectados na década de 1970, pelo Prof. Dr. Miguel Petrere Jr., entãopesquisador do INPA.

O acirramento dos conflitos deu lugar a embates cada vez mais freqüen-tes e violentos. Em 1973, foi deflagrada a “Guerra do Peixe” no lago deJanauacá, próximo a Manaus. Com a igreja católica trabalhando em suas co-munidades eclesiais de base, os agrupamentos humanos do interior da Ama-zônia consolidaram um senso de comunidade, dando poder às suas liderançase assumindo uma postura coesa na proteção de seus locais de pesca.

Vieram inovações tecnológicas, políticas públicas e incentivos fiscais quederam fomento ao setor. Entretanto, o caminho do antigo Código de Pescade 1967, para a atual Lei de Pesca de 2009 foi longo. Muitas estratégias demanejo foram adotadas e abandonadas. Novos paradigmas ambientais surgi-ram com a Constituição Federal de 1988 e, no Brasil inteiro, os movimentossociais se fortaleceram, com destaque para o importante papel que o Grupode Trabalho Amazônico desenvolveu em prol das comunidades tradicionais,resultando no surgimento de novos direitos.

Estava aberto o caminho jurídico para a participação das comunidadesde usuários na gestão dos recursos naturais (pesqueiros) em um sistema deno-minado posteriormente gestão participativa. Entretanto, a construção de umacultura institucional que permitisse a recepção dos usos e costumes (ou doconhecimento tradicional) dos usuários na elaboração de estratégias e aimplementação de ações de manejo ainda levou algum tempo.

Os anos 1990 e 2000 marcaram a importante contribuição dos projetosde cooperação técnica internacional no fortalecimento institucional do IBAMA,e na execução do sistema de gestão participativa da pesca. O ano de 2002entrou para a história do setor pesqueiro como o ano da edição da InstruçãoNormativa n° 29 do IBAMA, que prevê todos os passos para a construção dosacordos comunitários de pesca, atualmente tão usados na bacia.

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Apresentação 1313131313

Em 2009 foi criado o Ministério da Pesca e Aquicultura provocandouma ruptura de paradigmas político, jurídicos e de gestão. O que antes sepautava por uma visão holística, sob a óptica do Ministério do Meio Ambien-te e IBAMA, passa para um viés mais produtivista, redundando no fortaleci-mento do Programa Fome Zero e contribuindo para a segurança alimentar dapopulação.

Este livro conta essa história. Não há a pretensão de esgotar o assuntoou estabelecer uma verdade última, mas simplesmente lançar a primeira pala-vra na construção de um debate sobre o tema.

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A PA PA PA PA Pesca naesca naesca naesca naesca naAmazônia BrasileiraAmazônia BrasileiraAmazônia BrasileiraAmazônia BrasileiraAmazônia Brasileira

Andrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily Franco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargo

Thaísa RThaísa RThaísa RThaísa RThaísa Rodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargo

O presente capítulo traz a síntese da caracterização da atividade pesqueira naAmazônia brasileira. São abordados os principais aspectos referentes à ecolo-gia e biologia das espécies-alvo, consumo de pescado na região, artes de pescae frota pesqueira (assim como a evolução das tecnologias de pesca).

A maior parte dos dados apresentados na seqüência são provenientes deestudos realizados por pesquisadores (consultores) no âmbito do ProjetoManejo dos Recursos Naturais de Várzea – ProVárzea. O ProVárzea foi umprojeto de cooperação técnica internacional, implementado pelo InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA efinanciado pelos governos da Inglaterra, Alemanha e Brasil, entre os anos de2000 e 2007, cujo objetivo principal era fornecer as bases científicas e práti-cas para a execução de políticas públicas que visassem o desenvolvimentosustentável do setor pesqueiro na bacia Amazônica.

A bacia Amazônica e seus recursos pesqueirA bacia Amazônica e seus recursos pesqueirA bacia Amazônica e seus recursos pesqueirA bacia Amazônica e seus recursos pesqueirA bacia Amazônica e seus recursos pesqueirososososos

A bacia Amazônica abrange sete países da América do Sul: Bolívia, Brasil,Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Venezuela. Na parte brasileira da bacia,destaca-se a pesca comercial por ser a mais importante, em termos da produçãoanual de animais aquáticos no país até recentemente. Sabe-se que a produçãopesqueira aumentou de forma considerável até meados dos anos 1990.

De acordo com Barthem e Fabré (2004), estima-se que grande parte dasespécies de peixes (aproximadamente 60%) são subexplotadas, enquanto 30%estão em sobrepesca ou se recuperando, incluindo aí diversas espécies de ta-manho grande e de lento crescimento como é o caso do tambaqui Colossomamacropomum, e do surubim Pseudoplatystoma spp. Outras espécies de tama-nho mediano, como o jaraqui Semaprochilodus spp., e a curimatã Prochilodusnigricans, apresentam, da mesma forma, sinais de sobrepesca. No entanto, épreciso interpretar com cautela os dados sobre os níveis de explotação, tendo

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em vista que determinados fatores ambientais, como a intensidade das cheias,ofuscam os efeitos da pesca, em especial o caso das espécies oportunistas oude ciclo de vida curto.

A intensa pressão pesqueira, associada com um fraco recrutamento cau-sado pelas condições ambientais desfavoráveis, poderia ocasionar o esgota-mento das pescarias. Por outro lado, positivamente, o pirarucu Arapaima gigase a piramutaba Brachyplatystoma vailantii estão em recuperação. No caso dopirarucu, que passou a década de 1970 com a sua comercialização quase nulae desapareceu completamente em algumas áreas, a recuperação pode estarrelacionada com a adoção de novas práticas de ordenação comunitária.

Ainda de acordo com Barthem e Fabré (2004), a pesca na Amazôniadestaca-se frente às demais regiões do país, tanto em relação à pesca costeiraquanto de águas interiores, em razão da riqueza de espécies explotadas, daquantidade de pescado capturado e da dependência das comunidades tradici-onais em relação à pesca.

Uma questão relevante é a unidade populacional explotada pela pesca.Grande parte das espécies-alvo da pesca comercial são razoavelmente bem co-nhecidas, no entanto, pouco se sabe se os indivíduos destas espécies estão agru-pados em uma única população ou estoque pesqueiro. Segundo Barthem eFabré (2004), estima-se, conservadoramente, que o total desembarcado nosnúcleos urbanos e do que é consumido pela população ribeirinha gire em tornode 400.000 toneladas anuais. Essa quantidade é expressiva, considerando que apesca na costa brasileira nunca alcançou 1.000.000 de toneladas anuais.

Outro fato para se comemorar é que a atividade pesqueira, que mesmose mantendo sem subsídio dos governos locais, é responsável por mais de200.000 empregos diretos, além de fornecer a principal fonte protéica para apopulação amazônica (FISCHER et al, 1992 apud BARTHEM; FABRÉ, 2004).O consumo do pescado é difuso em áreas rurais, em torno de 500g por pes-soa ao dia. Apesar de ser um dos mais elevados do mundo, comprovando adependência direta das comunidades tradicionais aos recursos pesqueiros, istonunca foi considerado nos indicadores econômicos regionais (Cf. BARTHEM;FABRÉ, 2004).

Em virtude desse altíssimo consumo e, consequentemente, da pressãopesqueira, é imprescindível pensar no manejo dos recursos pesqueiros paraconservação dos sistemas aquáticos amazônicos e a sustentabilidade de umaatividade tão importante dentro do aspecto socioeconômico para a popula-ção tradicional amazônica. A eficiência do manejo depende do conhecimentointegrado da biologia das espécies exploradas e das características ambientaislocais. Apesar disso, não se pode esquecer a importância do conhecimentotradicional para a conservação dos recursos aquáticos.

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A Pesca na Amazônia Brasileira 33333

A atividade pesqueira concentra-se praticamente na planície, nos trechosonde os rios são mais caudalosos, e na região estuarina, onde a água doce seencontra com a água salgada do oceano. Apesar de não haver pesca expressi-va nas demais estruturas geotectônicas, estas exercem uma função essencial naconstituição dos ambientes aquáticos e na produção biológica que sustenta osrecursos pesqueiros, de modo que a sua compreensão deve ser incluída nosestudos relacionados à ecologia e à pesca da Amazônia.

Outro fator que explica a abundância pesqueira é a localização geográfi-ca dos Andes. Nesta região ocorre a lixiviação dos nutrientes de suas encostaspela forte chuva que alcança a 8.000 mm/ano, sendo importante para osecossistemas aquáticos e para a pesca (DAY; DAVIES, 1986 apud BARTHEM;FABRÉ, 2004).

As águas na bacia amazônica classificam-se em: branca, preta e clara. Estaclassificação foi proposta por Harold Sioli há mais de 20 anos e seguida porinúmeros estudos limnológicos realizados posteriormente (BARTHEM; FABRÉ,2004). Os mais importantes afluentes de água branca nas cabeceiras do siste-ma Solimões-Amazonas são os rios: Napo, Marañon e Tigre, e da margemdireita os afluentes são: Juruá, Purus e Madeira.

A diversidade de peixes é proporcional à dimensão da bacia amazônica.Existem vários estudos que tratam sobre a quantidade de espécies encontra-das na Amazônia. Estima-se que o número de espécies de peixes para toda abacia é maior que 1.300. Isto representa um número superior ao encontradonas demais bacias do mundo. Entretanto, considera-se que o estado atual deconhecimento da ictiofauna da América do Sul se equivale ao dos EstadosUnidos e do Canadá de um século atrás, e que pelo menos 40% das espéciesde peixes ainda não haviam sido descritas, o que poderia elevar este númeropara além de 1.800 espécies. Outro estudo estima o número de espécies depeixes da América do Sul em torno de 3.000 (BARTHEM; FABRÉ, 2004).

Um dos estudos mais atuais aponta uma riqueza para a região em tornode 8.000 espécies (VARI; MALABARBA, 1998 apud BARTHEM; FABRÉ, 2004).Em razão disso, defende-se a expectativa da existência de endemismo nascabeceiras dos rios, uma vez que a região ainda apresenta poucos dados, eesta ausência de dados mais precisos é o principal indutor das estimativaselevadas de número de espécies para a região. Não raro, há a descrição denovas espécies, mesmo sendo algumas delas já explotadas pela pesca comerci-al, e diversos grupos ainda carecem de uma revisão mais atualizada.

De acordo com Barthem, Guerra e Valderrama (1995), as espécies explo-radas pela pesca comercial e de subsistência são mais de 200. É claro que esteé um dado bem preliminar, uma vez que novas espécies de peixes de grande

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44444 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

porte estão sendo estudadas, descritas e catalogadas, e muitas outras, quecotidianamente são desembarcadas na maioria dos mercados locais, apresen-tam incertezas quanto à sua identificação. Algumas destas podem agruparmais de uma espécie, como acontece no caso das oriundas de água doce.Analisando as estimativas da abundância de espécies da bacia, há uma previ-são que a pesca comercial explore entre 2 e 10% de todas as espécies existen-tes (BARTHEM; FABRÉ, 2004).

Apesar do número de espécies na Amazônia ser bem expressivo, a maiorparte do desembarque se concentra em poucas espécies ou grupos de espéci-es. Algo entre 6 e 12 espécies representam mais de 80% do desembarque nosprincipais portos da região, como os portos de Belém, Santarém, Manaus,Tefé, Iquitos e Pucalpa (BARTHEM; FABRÉ, 2004).

Importa salientar que o tipo de ambiente encontrado nas áreas de pescadetermina a composição e a quantidade dos peixes capturados neste meio. Eisto é percebido nos diversos mercados encontrados em toda a Amazônia. En-tretanto, a composição do desembarque pode também estar associada com apreferência regional, como é o caso de espécies de escamas muito apreciadas,enquanto que as espécies de bagres, em grande parte dos mercados da Amazô-nia central, são rejeitadas em relação às espécies de escamas. As duas espéciesque mais se destacam na comercialização e que por conta disso são mais impor-tantes para a região de uma forma geral são: curimatã Prochilodus nigricans, edourada Brachyplatystoma rousseauxii. Dentre todos os portos a exceção éManaus, onde o jaraqui Semaprochilodus sp. é o peixe mais importante, acom-panhado pela curimatã Prochilodus nigricans (Cf. BARTHEM; FABRÉ, 2004).

O ritmo de inundação é determinante para existência, produtividade einteração da biota existente nas áreas alagadas periodicamente, pois atravésdesse processo acontecem as mudanças físico-químicas do ambiente.Consequentemente, as espécies respondem com uma série de adaptaçõesmorfológicas, anatômicas, fisiológicas e etológicas e as comunidades com modi-ficações em sua estrutura (JUNK et al., 1997 apud BARTHEM; FABRÉ, 2004).

O ciclo de inundação pode ser classificado em quatro fases: enchente,cheia, vazante e seca. A enchente é caracterizada pela elevação do nível daságuas do rio, bem como pela expressiva ampliação dos ambientes aquáticosna planície de inundação. Durante este período, logo no início, ocorre a deso-va de inúmeras espécies migradoras, que com o auxílio da alagação espalhamseus ovos por estas áreas. Primeiramente, a enchente inunda os campos, emseguida uma vegetação baixa e arbustiva, popularmente denominada dechavascal, depois uma vegetação de transição entre a floresta arbórea e avegetação arbustiva e por fim a floresta arbórea (AYRES, 1993). São nesteslocais que os peixes encontram um ambiente propício para abrigo e alimento,

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A Pesca na Amazônia Brasileira 55555

tais como: frutos, folhas e sementes, derivados de florestas e de campos alaga-dos, algas planctônicas e perifíticas, comumente encontradas em ambienteslacustres e em áreas alagadas suavemente sombreadas, apresentando muitamatéria orgânica em decomposição, derivada das macrófitas aquáticas, restode animais e da floresta.

Esta fase é marcada pela grande dispersão dos peixes e pela intensidadecom que se alimentam, sendo assim o período no qual as espécies ligadas àsáreas alagadas apresentam a maior taxa de crescimento.

Já a cheia acontece quando o nível da água atinge o seu máximo, caracte-rizando-se por três aspectos principais: pela curta duração, baixa oscilação donível da água, e pelo domínio do ambiente aquático na planície de inundação.

A vazante, no entanto, é o oposto da enchente, é o período que os peixescomeçam a se agrupar, devido à contração do ambiente aquático. As espéciesmigradoras iniciam a formação dos cardumes para grande viagem de dispersão,que perdura por toda a seca até o início da enchente. O período de seca repre-senta uma fase dramática para a esmagadora maioria das espécies, em razão doambiente aquático está bem restrito, com pouco alimento e abrigo. Opostamente,este é o período mais propício aos predadores, que passam a perseguir os car-dumes de caracoídeos e siluroídeos que se encontram migrando no canal do rioou presos nos lagos (Cf. BARTHEM; FABRÉ, 2004).

Mesmo com a alta diversidade das capturas, as 10 primeiras espéciesmais pescadas representam 83% dos volumes totais desembarcados. Entre asespécies principais encontram-se: mapará Hypophthalmus spp., curimatãProchilodus nigricans, dourada Brachyplatystoma rousseauxii, jaraquiSemaprochilodus spp., surubim Pseudoplatystoma spp., pescada Plagioscionspp., piramutaba Brachyplatystoma vaillantii, aracu Anostomidae (alguns gê-neros), pacu Serrasalminae (alguns gêneros) e filhote Brachyplathystomafilamentosum (BARTHEM; FABRÉ, 2004).

Segundo a literatura pesqueira (BATISTA, 2001), as espécies de peixesclassificam-se em três grandes grupos, de acordo com as características doambiente e o comportamento dos peixes: os sedentários, encontrados maisnos sistemas lacustres; os migradores, que transitam nos ambientes lacustres efluviais; e os grandes migradores, presentes especialmente na calha dos rios.

O ciclo de vida das espécies sedentárias ou lacustres desenvolve-se espe-cialmente nos lagos ou em sistemas de lagos associados. Entretanto, existemoutros habitats relevantes para a reprodução e/ou refúgio, como por exem-plo: aningais, chavascais, cabeceiras dos lagos dendríticos,1 canais, paranás.

1. Denominadas de gavetas pelos moradores locais.

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Importa dizer que algumas espécies migram em determinada época afim de se reproduzirem, se alimentarem ou se dispersarem e, de acordo com onível do rio, passam parte de seu ciclo vital nos lagos, principalmente noperíodo de enchente, se alimentando e crescendo. O jaraqui, por exemplo,migra logo no primeiro ano de vida, assim como algumas espécies. Já otambaqui, bem como outras espécies, continua alguns anos habitando nasáreas inundadas antes de começar sua migração pelo rio. Os jaraquis, curimatãse matrinchãs têm altas taxas de fecundidade e de crescimento e formam den-sos e numerosos cardumes durante suas migrações.

Os peixes considerados grandes migradores têm como habitats princi-pais o estuário e a calha dos rios e durante a sua longa jornada percorremmais de 3.000 km para completar suas migrações tróficas e reprodutivas. Estasespécies possuem uma dependência indireta das planícies alagadas, uma vezque, durante a seca, predam as espécies que estão saindo destas áreas. ParaAlonso (2002), um caso interessante é o da dourada que permanece no estu-ário crescendo rapidamente por um período de dois anos até atingir cerca de80cm, para iniciar sua migração rio acima até os países fronteiriços da Colôm-bia e do Peru, onde residem os estoques de reprodutores.

De acordo com Barthem e Fabré (2004, p. 48), alguns fatores são deter-minantes para a pesca na Amazônia:

A paisagem, os ambientes, as características climáticas e a dinâmica sazonal dealagação na Amazônia determinam a distribuição e a ecologia dos recursos pes-queiros, e conseqüentemente o comportamento do pescador e da pesca. A pescaé influenciada pela cultura local e pelos fatos históricos da macroeconomia regio-nal, nacional e até internacional, que determinaram mudanças na forma e inten-sidade de exploração dos recursos pesqueiros amazônicos. Contudo a disponibi-lidade, a acessibilidade e a vulnerabilidade dos recursos pesqueiros da Amazônia,que representam a base de produção de um setor econômico que mobiliza maisde US$ 200 milhões*ano-1, é o resultado da interação entre os componentes:sazonalidade ambiental, recurso natural e capacidade pesqueira.

Nessa esteira não se pode deixar de destacar o aspecto cultural, pois apesca na Amazônia é muito mais que uma atividade laboral ou econômica,representa uma forma de expressão cultural que transcende qualquer perspec-tiva economicista ou ecológica.

Além de ser uma expressão da cultura amazônica, a pesca é um produtohistórico, pois a importância da pesca na Amazônia vem de antes da colonização,quando os indígenas já utilizavam o pescado em sua dieta como principal item desua alimentação (VERÍSSIMO, 1895), embora as necessidades primárias de prote-ínas dos ameríndios que viviam ao longo do Amazonas fossem complementadaspor quelônios e pelo peixe-boi (BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004).

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TTTTTransformações da tecnologia pesqueira na Amazôniaransformações da tecnologia pesqueira na Amazôniaransformações da tecnologia pesqueira na Amazôniaransformações da tecnologia pesqueira na Amazôniaransformações da tecnologia pesqueira na Amazônia

A tecnologia pesqueira avançou bastante desde o contato dos indígenascom os portugueses. As redes, por exemplo, já eram utilizadas pelos índiosCarajá do rio Araguaia, no Pará, durante os séculos XVII e XVIII, fabricadas apartir dos feixes de fibra de embaúba Cecropia spp., ou confeccionadas comfibra de algodão, ou da folha da palmeira do tucumã Astrocaryum spp. Estesapetrechos eram usados como barreiras ao deslocamento dos peixes que eramcapturados manualmente (MACHADO, 1947; LE COINTE, 1944 apud SMITH,1979), ao invés de utilizá-las para emalhar, como hoje em dia acontece.

A malhadeira não era utilizada durante o final do século passado, bemcomo no início do século XX. A malhadeira, como apetrecho de pesca naregião, só vai surgir timidamente no início da década de 1960 (BATISTA; ISAAC;VIANA, 2004). De acordo com Petrere Junior (1978), o uso frequente damalhadeira na pesca comercial já era percebido na década de 70. Dado quetambém é confirmado por Smith (1979), indicando o uso deste apetrecho napesca ribeirinha no Alto Amazonas.

Outros instrumentos relevantes na pesca são os arcos e flechas, que sãoutilizados pelos índios desde os tempos pré-coloniais, contudo no presentesão usadas com menor frequência. Etnógrafos e viajantes registraram que apro-ximadamente 21 tribos usavam estes apetrechos. De acordo com Smith (1979),os caboclos-ribeirinhos também se apropriaram deste instrumento, apesar dea variedade de flechas ser aparentemente maior entre os índios do que atual-mente se observa entre os caboclos-ribeirinhos.

Segundo Smith (1979), as tarrafas não eram usadas pelos índios, mas fo-ram introduzidas na época colonial, juntamente com as redes de arrasto (FUR-TADO, 1981). Não se sabe ao certo se as tribos usavam anzóis para pescar noperíodo que antecede à colonização. No entanto, Smith (1979) registra a utili-zação de anzóis de material metálico pelos índios, em especial entre os Tiriyo,Kalapalo e os Trumai, e existem referências de que índios Cioni, no rio Putumayo,fabricavam anzóis de madeira ou ossos, iscados com frutos de embaúba Cecropiasp. Além disso, Veríssimo (1895, p. 33) destaca que os índios transformaram:“[...] pontas ou bicos de suas armas de pesca, primitivamente de osso, de dentesde animais, de taquaras aguçadas em pontas de ferro [...]”. Isto indica a utiliza-ção frequente pelos índios desse tipo de material.

O uso do caniço segue a mesma lógica, tendo em vista que os Tiriyo dorio Paru usavam mandíbulas de formiga e garras de gavião real Harpia harpyiacomo anzóis até se apropriarem dos anzóis de metal oriundos do Suriname.Já os Jivaro e os Tukuna usavam anzóis de metal para a pesca com caniço(GIACONE, 1949; NIMUENDAJÚ, 1952 apud SMITH, 1979).

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Da mesma maneira, não se esclarece se as zagaias foram usadas por tri-bos amazônicas antes do contato com os europeus. Todavia, registra-se queem 1852, em Alter do Chão, Pará, índios semi-integrados lanceavam peixes ànoite, usando feixes flamejantes feitos com frondes de palmeiras. Também háregistro que no início da década de 1950, os Ticuna do Alto Solimões já usa-vam zagaias de 2m de comprimento equipadas com 4 a 9 pontas amoladas dearame para pescar durante o dia, sendo que no passado as pontas eram demadeira (BATES, 1864 apud SMITH, 1979).

A partir do Século XIX, a captura do pirarucu Arapaima gigas justificou aprimeira pescaria comercial em maior escala até então, embora ainda no sécu-lo XVIII, muito provavelmente, já se tenha iniciado o desenvolvimento da suaexploração. No final do século XIX, houve a queda da exploração do peixe-boi, o que também contribuiu expressivamente para aumentar a pressão so-bre o pirarucu.

Cabe ainda mencionar a importante contribuição do colonizador portu-guês realizou à tecnologia pesqueira, com a introdução do metal na confec-ção dos apetrechos, tais como: anzóis ou ponteira de apetrechos penetrantes.Além disso, desenvolveu novas técnicas para o uso das redes confeccionadascom fibras autóctones ou de algodão, materiais até então disponíveis, e aintrodução da técnica do arrastão de praia. Mais recentemente, em meadosdas décadas de 1920 e 1930, surgem os primeiros registros de pescarias com ouso de bomba para a captura de cardumes migradores.

A partir do final da década de 1940 e início da década de 1950, a pescapassa por profundas transformações, através das importantes inovaçõestecnológicas ocorridas nesta época; como a introdução dos motores a diesel,e das embarcações equipadas com caixas de gelo. Embora estas embarcaçõesapresentassem um sistema de isolamento térmico precário, isto já permitiaque o raio de ação da frota de Manaus se ampliasse consideravelmente, seestendendo do Baixo Madeira ao Baixo Purus (BITENCOURT, 1951).

A década de 1960 ficou marcada por três eventos impactantes para aatividade pesqueira na região. O primeiro deles foi a introdução e apopularização do polietileno ou isopor como isolante térmico, permitindo aconservação e a acumulação do pescado por mais tempo, viabilizando ampli-ar o raio de ação da frota. O segundo foi a criação da Zona Franca de Manaus,responsável pelo vertiginoso crescimento da população urbana da cidade,através da imigração de ribeirinhos, bem como, de pessoas interessadas pelopólo industrial, atraídas pela perspectiva de emprego na região. Nas cidades,este contingente de pessoas aumentou substancialmente a demanda por pes-cado, potencializando a pressão consumidora, e dessa forma, criando umimportante mercado urbano. Em terceiro lugar, houve a introdução de linhas

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sintéticas, que popularizaram o uso das redes de arrasto e de espera, favore-cendo o aumento do esforço de pesca e consequentemente da produção.

Não há dúvida de que, com a criação da zona de livre comércio deManaus (Zona Franca), o Estado do Amazonas experimentou importantestransformações, incluindo a ampliação do mercado para a pesca comercial.Nesse contexto, a pesca então deixou de ser um problema pontual e localiza-do para se tornar uma questão regional com fortes implicações sociais, econô-micas, culturais, ecológicas e políticas.

Métodos tradicionais de pescaMétodos tradicionais de pescaMétodos tradicionais de pescaMétodos tradicionais de pescaMétodos tradicionais de pesca

Na Amazônia, devido à diversidade biológica, ambiental, social e cultu-ral, encontra-se uma grande diversidade de aparelhos ou utensílios de pescausados pelos pescadores. Eles foram desenvolvidos com características especí-ficas para capturar da maneira mais eficiente possível, um determinado recur-so ou um conjunto de espécies alvo, sob uma condição ambiental específica.Registra-se pelo menos 15 tipos diferentes de utensílios de pesca para Amazô-nia (BARTHEM et al., 1997), dentre os quais destacam-se os mais tradicionais,como arco e flecha, arpão, anzóis, linha-de-mão, espinhel e caniço, até osmais modernos, como rede, tarrafa, malhadeira (ou rede-de-espera), rede-de-cerco e arrastão (FERREIRA, 2009). Os apetrechos mais tradicionais em geralapresentam baixo ou restrito poder de captura, por esta razão, são mais utili-zados para subsistência das populações caboclas-ribeirinhas, enquanto que osaparelhos considerados mais modernos, fabricados com base nas redes, sãomais apropriados para as pescarias comerciais na Amazônia, em razão do seumaior poder de captura e eficiência.

O uso de determinado tipo de apetrecho depende exclusivamente daespécie-alvo e/ou do ambiente de pesca eleito. Segundo Batista, Isaac e Viana(2004, p. 193):

As redes de emalhar são as mais utilizadas em todos os casos, mas elas predomi-nam nos ambientes lacustres. A miqueira e a malhadeira predominam nos lagos,e as bubuias são mais usadas nos rios. Dentre estas redes, distinguimos o usomuito freqüente de três tipos diferentes: i) a miqueira que é utilizada principal-mente para a captura de mapará, mas também de peixes de escama, como opacu; ii) as malhadeiras muito utilizadas nos lagos na captura de tambaqui, acarie pescadas, e no rio para pescar curimatã e bagres; iii) a bubuia utilizada princi-palmente nos canais dos rios, para a captura de bagres, tais como dourada,piramutaba, filhote, surubim, jaú e cujuba.

A tarrafa é um apetrecho polivalente, pois pode ser usada tanto nos rioscomo nos lagos, destaca-se na captura de curimatã e surubim, por sua eficiên-cia durante as subidas de piracemas nos canais mais estreitos dos rios ou nas

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entradas dos lagos. Já, a redinha destaca-se na captura de jaraqui, bem comode curimatã, piramutaba e mapará. É uma arte bem peculiar, que é utilizadanos canais dos rios para a captura dos peixes migradores.

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As embarcações de pesca na Amazônia têm dois momentos distintos,antes e depois da década de 1960. Este período representa um divisor deáguas para a Amazônia e para a pesca, em particular. Na década de 1940,aproximadamente, a pesca na Amazônia era praticada por uma frota bemartesanal, composta por embarcações pequenas, construídas de madeira e compropulsão a remo ou vela. A partir da década 1960, começa a transformação dafrota pesqueira na Amazônia, em razão da liberação de incentivos fiscais para aregião e da abertura da economia local a grandes empresas oriundas de outrasregiões do país, o que contribuiu para o ligeiro desenvolvimento tecnológicoda pesca. As frotas ganharam motores e artes de pesca mais resistentes (redes denáilon) e mais eficientes na captura de peixes e crustáceos.

De acordo com Batista, Isaac e Viana (2004) o IBAMA estimou a quefrota pesqueira da Amazônia brasileira em 1994 contava com aproximada-mente 20.000 barcos e podia ser dividida, inicialmente, de acordo com a suaárea de atuação em: i) frota marinha/estuarina e ii) frota de águas interiores.Para este estudo importa mais a análise da frota de águas interiores.

Uma marca bastante significativa nas pescarias de águas interiores é aexclusividade de embarcações artesanais, construídas de madeira, que podemser divididas em canoas e barcos geleiros. As canoas são embarcações bemsimples, de pequeno porte (3-5 m), não possuem casaria e nem porão paraguardar gelo ou pescado. Podem ser motorizadas ou movidas a vela e/ou aremo. Quando motorizadas podem alcançar 10m de comprimento e trans-portar em média até meia tonelada de pescado. As capturas são preferencial-mente realizadas em locais próximos ao desembarque.

Já os barcos geleiros classificam-se de acordo com a sua forma de atua-ção. Na Amazônia, na maioria dos casos, a captura é feita por canoas peque-nas, que levam o pescador até o local da pescaria, uma vez que os locais depesca, geralmente, são de difícil acesso. No apoio encontra-se o “barco-base”,onde ocorre a armazenagem da produção, que é conservada em gelo. Alémdisso, têm-se:

[...] os barcos de pesca ou “pescadores” [que] são embarcações que possuem asua própria tripulação de pescadores. Os barcos “compradores” apenas percor-rem as comunidades ribeirinhas ou locais de pesca, comprando pescado dos pes-cadores locais. Existem também barcos “mistos” que tanto levam pescadores como

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efetuam compras. Adicionalmente, o pescado pode ser transportado a portos decomercialização em caixas de isopor, carregadas por barcos de carga ou de trans-porte de passageiros (BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004, p. 73).

Estima-se que nos portos do Baixo Amazonas, desembarcam mais de1600 embarcações deste tipo (BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004), grande parteidentificada como barco pescador. Seus comprimentos médios e capacidadede transporte de pescado são muito variados, misturando-se embarcações deorigens das mais diversas possíveis, que vão desde Almeirim até Manaus. Asembarcações provenientes do estado do Amazonas são geralmente de maiorporte e capacidade de transporte, em relação aos barcos do estado do Pará.

Segundo Batista, Isaac e Viana (2004), na Amazônia Central, a frotapesqueira apresenta dois tipos característicos de embarcações pesqueiras: acanoa e os barcos geleira, estes, por sua vez, também utilizando canoas. Asembarcações pesqueiras apresentam variação temporal e espacial no portedas embarcações. Os barcos de Manaus possuem um tamanho em média en-tre 10m e os 16m. O comprimento do casco é entre 8 e 24m em Manacapuru;entre 9 e 23m em Itacoatiara e entre 4 e 20m em Parintins (BATISTA, 1998).

A captura por unidade de esforço varia muito, pois depende em regrado tipo de pesca, sendo maior nos barcos de maior porte e maior capacidadede carga e gelo. Este tipo de barco trabalha em maior escala e comercializa suaprodução diretamente para os frigoríficos. Os barcos mistos são mais eficien-tes do que barcos pescadores, seguidos de canoas motorizadas e, por fim, ascanoas. Tanto os pescadores em canoas isoladas como os de barcos de pescautilizam a canoa para se deslocarem. No entanto, a existência do barco depesca possibilita o transporte de apetrechos de maior tamanho, com maisfacilidade e com maior mobilidade na região, havendo possibilidade de apre-sentar produtividade diferente.

Características da pesca na AmazôniaCaracterísticas da pesca na AmazôniaCaracterísticas da pesca na AmazôniaCaracterísticas da pesca na AmazôniaCaracterísticas da pesca na Amazônia

A importância dos recursos pesqueiros na Amazônia é enorme, pois nãose limita ao tradicional destaque do papel ecológico ou econômico, cumpresalientar o significativo impacto social e cultural deste recurso na região. Opescado é claramente a principal fonte protéica na alimentação das popula-ções ribeirinhas amazônicas, senão vejamos:

O consumo per capita de peixe no Brasil é de 20 gramas por dia (7 kg/ano),enquanto a média mundial é de 16 kg/ano. Na Amazônia, o consumo é estimadoem 369g/dia (135 kg/ano). Observa-se, no entanto, que este é variável ao longo dabacia hidrográfica, sendo de 490-600g/dia (179 a 219 kg/ano) no baixo Solimões/alto Amazonas e 500-800g/dia (183 a 292 kg/ano) no Alto Solimões. Em Manaus,

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o consumo per capita oscila entre 100 a 200g/dia (36 a 72 kg/ano). Como oconsumo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 12 kg/ano, fica evidente a importância deste alimento para a região, onde o consumo depescado é até 15 vezes maior que o recomendado (FERREIRA, 2009, p. 22).

A atividade pesqueira na Amazônia pode ser dividida em cinco categori-as: pesca de subsistência, pesca comercial, pesca industrial, pesca ornamental epesca esportiva (BARTHEM et al., 1997 apud BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004).

A pesca de subsistência é a explotação pesqueira mais antiga, existentedesde a Amazônia pré-colonial, sendo atualmente uma atividade habitualexercida de maneira artesanal pelos caboclo-ribeirinhos. Estes exploram osrecursos através das mais diversificadas tecnologias, tornando as inúmeras es-pécies de peixes, espalhadas em ambientes diversos, acessíveis e vulneráveis àpesca conforme as mudanças dinâmicas na variação das enchentes e vazantes.Atuam em complexos sistemas aquáticos, localizados geralmente a menos deuma hora de suas casas, deslocando-se em canoas a remo, levando seus apare-lhos de pesca, chamados no estado do Amazonas de “utensílios de pesca” eno estado do Pará de “arreios de pesca”.

A captura tradicional de peixes realiza-se através de apetrechos simples,como linha-de-mão com anzol, arpão ou arco e flecha, com métodos tãoantigos quanto à presença humana na Amazônia. A partir da década de 1960,o uso de redes na pesca de subsistência passou a ser comum, quando o náilontornou-se mais disponível, contribuindo para que a malhadeira se tornasse outensílio de pesca mais importante nesta categoria.

Segundo Furtado (1981), a pesca comercial foi uma das primeiras ativida-des econômicas da Amazônia colonial. A explotação pesqueira de escala inicioucom as tartarugas, especialmente a tartaruga da Amazônia Podocnemis expansa.Logo após, passou para o peixe-boi Trichechus inunguis e depois ao pirarucuArapaima gigas. A pressão pesqueira causou a redução drástica dos recursos,chegando à beira da extinção, pois a exploração ocorreu de forma descontrola-da, em razão da decadência de outros produtos regionais como a borracha(extraída da seringueira Hevea brasiliensis), e a juta Corchorus capsularis.

Com a criação da Zona Franca de Manaus, houve um grande aumentoda demanda de pescado para os centros urbanos, principalmente pelaefervescência do momento, gerando um mercado propício para a atividadepesqueira mercantil. Entretanto, isso só foi possível a partir da solução deproblemas-chave, como:

[...] a conservação do pescado, que foi solucionada com a maior disponibilidadede gelo e de estruturas isotérmicas à base de isopor, madeira e zinco, construída nosporões dos barcos de pesca. Facilidades outras ampliaram a explotação, destacan-

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do-se a introdução de motores a diesel a partir da década de 50 e a disponibilizaçãode linhas de náilon no comércio local a preços acessíveis na década de 60.(MCGRATH et al., 1993a apud BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004, p. 80).

Desde então, o papel do pescador profissional ampliou-se consideravel-mente. Este profissional da pesca, antes dessas transformações, era um pesca-dor de subsistência, que aproveitou a oportunidade para alcançar melhorescondições de vida. O pescador profissional é caracterizado como citadino emonovalente (FURTADO, 1993), tendo na pesca sua única ou principal ativi-dade remunerada, com bons conhecimentos sobre o meio em que trabalham,as águas em que pescam e sobre os peixes que capturam, possuindo notáveishabilidades com os utensílios de pesca tradicionais que utilizam, embora se-jam também muito supersticiosos.

Importa considerar que os mesmos fatores que contribuíram para o au-mento dos pescadores citadinos também favoreceram a participação dos ribei-rinhos moradores na geração de excedentes comercializáveis. Dessa forma, napesca comercial regional, encontram-se pescadores categorizados como profis-sionais e como ribeirinhos moradores. No primeiro caso, os pescadores traba-lham a partir de barcos de pesca ou pescam e vendem grande parte de suaprodução para as “geleiras” (embarcações com caixas ou urnas com gelo). Nosegundo caso, os pescadores comercializam sua produção diretamente nos mer-cados dos centros urbanos municipais ou remetem diretamente para grandescentros urbanos, transportando a produção em caixas de isopor com gelo nosbarcos de linha regionais ou enviam indiretamente por intermédio das geleiras.

No Baixo Amazonas, a pesca é realizada pelos pescadores das principaiscidades do Médio Amazonas, como: “Santarém, Óbidos, Monte Alegre,Alenquer, Prainha e Almeirim, e pelos pescadores de Manaus, à montante, eBelém, Macapá e Abaetetuba, à jusante, bem como pelos moradores ribeiri-nhos (BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004, p. 87)”. Nesta região, os lagos devárzea são bem numerosos e estendem-se em ambas as margens. O principalcentro de comercialização de pescado é a cidade de Santarém, com um de-sembarque aproximado de 4.000 toneladas de pescado anualmente. Dessetotal, quase 100 espécies são comercializadas, embora apenas 10 espécies re-presentam mais de 80% do total (BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004).

Constituída basicamente de bagres de grande porte (Siluriformes), a pro-dução que vai para os frigoríficos representa aproximadamente 50% do totaldesembarcado (ISAAC; RUFFINO, 2000). A pesca lacustre, em especial depeixes de escama, acontece o ano inteiro, enquanto que a pesca de peixeslisos na calha do rio é determinada pela sazonalidade, hidrologia e biologiadas espécies.

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A arte de pesca mais utilizada é a rede de emalhar, seguida também douso frequente de tarrafa, anzol e espinhel. No período de safra, que ocorre dejulho a outubro, aumenta a diversidade de uso de aparelhos, bem como seuuso associado. Mesmo sendo proibido, as pescarias com bomba continuamsendo realizadas. Os apetrechos como rede de cerco, redinha ou arrastadeira,são característicos das embarcações do estado do Amazonas, pois a determi-nação proibitiva não era observada no estado. Já as redes de emalhar, sãomais utilizadas pelos pescadores comerciais, possuem uma classificação con-forme a espécie-alvo e têm tamanhos de malha seletivos.

No Médio Amazonas, as pescarias artesanais utilizam uma grande varie-dade de métodos de pesca, sendo as redes de emalhar as mais utilizadas. Amiqueira destaca-se por ser a mais produtiva dentre todas as redes, entretan-to, as malhadeiras e bubuias também representam um método bem interes-sante. A adoção de variadas artes de pesca contribui muito para o sucesso daspescarias e, quando há a combinação de técnicas, aumenta a eficiência nascapturas. Comumente ocorre a combinação de redes de emalhe com linhas,permitindo otimizar a utilização do tempo, pois, enquanto as redes estão naágua, a captura passa a ser com linhas.

Para Batista, Isaac e Viana (2004), a pesca no Alto Amazonas (BaixoSolimões) é realizada por aproximadamente 20 mil pescadores profissionaisfixados em Manaus e cidades circunvizinhas ou de áreas ribeirinhas, comoManacapuru, Itacoatiara e Parintins e por cerca de 70 mil pescadores ribeiri-nhos das comunidades das várzeas da região. A pesca acontece o ano inteironos rios e lagos da região. Todavia, a pesca nos rios ocorre habitualmente nosarredores da boca de lagos. O sucesso das pescarias é bem maior nos rios eparanás durante os períodos que os peixes migram (abril a junho; agosto anovembro), e nos lagos no período da estação seca (setembro a novembro).

Nesta região, o principal centro consumidor é Manaus, onde sãocomercializadas em torno de 40 e 50 mil toneladas por ano (BATISTA; ISAAC;VIANA, 2004). Os apetrechos de pesca mais usados pelos ribeirinhos destaregião são a malhadeira, o caniço e a tarrafa. Todavia, emprega-se mais de umapetrecho por pescaria. A malhadeira é mais utilizada durante os períodos deseca e enchente (outubro a abril), enquanto o caniço é o aparelho mais requi-sitado no período da cheia, já iniciando a vazante (maio a julho). Nas embar-cações de pesca de Manaus, predomina o uso da redinha. A malhadeira é osegundo aparelho mais utilizado. Mais de 100 espécies ocorrem nas capturasque desembarcam nas cidades e áreas rurais. No entanto, o desembarque nacidade é muito mais centralizado do que o rural, com apenas 10 itens signifi-cando mais de 90% do total.

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De acordo com um estudo,

A composição das capturas do pescador ribeirinho é bastante distinta entre ape-trechos e de acordo com a finalidade da captura (Batista et al., 1998). Na pescapara alimentação familiar, sardinha (Triportheus spp.) e pacu (Myleinae) são ositens mais abundantes nas capturas efetuadas com caniço. Já com a tarrafa, sãodestaques a branquinha (Curimatidae) e o bodó (Liposarcus pardalis). Commalhadeira, a captura é maior para os itens bodó, curimatã (Prochilodus nigricans),piranha (Serrasalmidae) e tambaqui/ruelo (Colossoma macropomum). Este uten-sílio também é utilizado na pesca para comercialização, mas neste caso a curimatãpredominou com 40% do total, seguida pela aruanã (Osteoglossum bicirrhosum).(BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004, p. 89).

Nas capturas realizadas pelos barcos de pesca, o tambaqui surge como aprincipal espécie-alvo da malhadeira. Outras espécies como a aruanãOsteoglossum bicirrhosum, os jaraquis e a curimatã também se destacaram.Com o uso da redinha o jaraqui Semaprochilodus insignis e S. taeniurus apare-ce claramente como a principal espécie-alvo, seguido de perto pela curimatã.Além disso, pacu e matrinchã também têm boa presença, todavia apresentamelevada variação interanual no desembarque.

Conforme Viana (2004), a pesca no Médio Solimões apresenta dadosbastante significativos. A cidade de Tefé é o principal porto de desembarque depescado daquela região. Os bagres representam uma parte expressiva da captu-ra, sendo desembarcados diretamente nos frigoríficos locais, sem passar peloporto ou mercado da cidade. O volume de bagres capturados na região é deaproximadamente 2.000 toneladas por ano, equiparando-se com a capturaregistrada para Santarém. Nas pescarias de Tefé, encontram-se 17 variados tiposde apetrechos de pesca, os quais podem ser agrupados da seguinte forma:

[...] anzol (inclui espinhel, caniço, poita, pinauaca, linha de mão, curumim ecurrico), arpão (arpão, flecha, zagaia), redes de arrasto (rede-malhadeira,arrastadeira e redinha), tarrafa (tarrafa), rede de emalhar (malhadeira), armadi-lhas (curral), outros (mãos, não identificado)”. Barthem (1999) descreve as carac-terísticas e o uso desses aparelhos em Tefé. (VIANA, 2004, p. 255).

Em Tefé, os primeiros barcos de pesca, sem caixas isotérmicas, surgem nadécada de 1980. As pescarias utilizando esses barcos eram realizadas perto dacidade, e sua duração não chegava a um dia, trazendo sempre o peixe frescopara o mercado. De acordo com Viana (2004), o IBAMA de Tefé estima quegrande parte das embarcações pesqueiras dotadas com câmaras de gelo,registradas na Capitania dos Portos do município, pelo seu porte, foramconstruídas por estaleiros da cidade, em meados da década de 1980.

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Segundo Viana (2004), já na pesca no Alto Solimões chegando até FonteBoa, o principal porto de comercialização do pescado centraliza-se no merca-do de Letícia na Colômbia, no qual desembarcam, constantemente, pescadovindo de Manacapuru, no Baixo Solimões. Cidades próximas à Letícia, comoSão Paulo de Olivença e Santo Antonio do Içá, no Amazonas, que têm suaseconomias inteiramente ligadas com a atividade, bem como o fluxo de recur-sos para comunidades ribeirinhas, dependem do bom andamento deste setor.

Dentre as principais espécies que se destacam na região estão: a doura-da, o surubim, o pirarucu e a piraíba. No ano de 2001, em Letícia, o desem-barque atingiu a marca de 8.217 toneladas. O ápice de produção para adourada acontece no mês de dezembro, entretanto, para a piraíba as capturassão distribuídas de forma mais uniforme ao longo do ano, com picos emmaio, setembro e novembro. A maioria do pescado que abastece Letícia vemdo Alto Solimões brasileiro (BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004).

Os rios desta região que apresentam maior produtividade pesqueira sãorespectivamente: Japurá, Içá e Solimões. O setor colombiano do rio Amazo-nas também apresenta melhora na sua produção. A região do Alto Solimõesapresenta uma boa diversidade de aparelhos de pesca encontrada nos rios Içá,Japurá e Solimões; no entanto, evidenciaram-se diferenças no que tange aosmétodos de pesca mais frequentemente utilizados pelos ribeirinhos. Por exem-plo, no Japurá, a pesca é realizada principalmente com poita, arpão, caniço eespinhel, enquanto que no Içá são utilizados utensílios que requerem menordesembolso por parte do pescador, como é o caso do caniço, flecha, arpão elinha. No rio Solimões, o pescador lida principalmente com malhadeiras degrande porte para a pesca dos grandes bagres, sendo estas pescarias com finscomerciais. A pesca de subsistência, para alimentação da família, é feita utili-zando tarrafa, zagaia e caniço. Demonstra-se que, em ambientes diversos, acomposição de equipamentos muda com o decorrer do tempo. Esses instru-mentos de pesca são empregados durante o ano em diferentes proporções, nadescida das águas utiliza-se o arpão, já na subida das águas e durante parte dadescida usam-se a corda e as malhas.

A produtividade pesqueira apresenta similaridade entre rios e lagos. Istoporque não apresenta diferenças ou tendências expressivas entre a produtivi-dade do rio frente ao lago, talvez seja a escala de trabalho destes pescadoresa explicação, tendo em vista que utilizam áreas como lagos, furos, igarapés eparanás, além de pescarem nos rios; entretanto, quando posicionados estrate-gicamente na boca de lagos, potencializam a produtividade de suas pescarias,segundo as condições ambientais.

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A Pesca na Amazônia Brasileira 1717171717

Considerações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finais

Diante do contexto descrito acima, algumas considerações preliminarespodem ser registradas, como forma de direcionar a discussão para os próxi-mos capítulos. Assim, pode-se afirmar que a pesca é uma atividade extrativade imensa importância para a bacia Amazônica e suas populações. A depen-dência dessas populações em relação aos recursos pesqueiros pode ser confir-mada pelo alto consumo de pescado nas cidades e pelos ribeirinhos, distribu-ídos ao longo das várzeas e dos cursos d’água da bacia, onde seus padrõesculturais e suas formas de vida reforçam essa dependência.

As tecnologias de pesca evoluíram através do tempo. Melhores motores,redes e formas de conservação do pescado tornaram-se disponíveis. Estas faci-lidades refletiram na dinâmica do setor e proporcionaram capturas e desem-barques crescentes. O aumento da pressão sobre alguns estoques conduziu asobrepesca e a necessidade de deslocamentos cada vez maiores por parte dospescadores comerciais.

Entretanto, apesar do volume e da importância do setor pesqueiro naAmazônia, pode-se afirmar que o mesmo ainda carece de investimentos go-vernamentais, implementação de políticas de ordenamento e incentivo à or-ganização.

RRRRReferênciaseferênciaseferênciaseferênciaseferênciasALONSO, J. C. PPPPPadrão espaçoadrão espaçoadrão espaçoadrão espaçoadrão espaço – temporal da estrutura populacional e estado atual daexploração pesqueira da dourada Brachiplatistoma rousseauxii, Castelnau, 1855 (Siluriformes:Pimelodidae) no sistema Estuário-Amazonas-Solimões. Tese de Doutorado, INPA/UFAM,Manaus, 2002.

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1818181818 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

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O Direito PO Direito PO Direito PO Direito PO Direito Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueirooooono Ordenamentono Ordenamentono Ordenamentono Ordenamentono OrdenamentoJurídico BrasileirJurídico BrasileirJurídico BrasileirJurídico BrasileirJurídico Brasileirooooo

Serguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily Franco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de CamargoAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de Souza

Thaísa RThaísa RThaísa RThaísa RThaísa Rodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargo

O presente capítulo traz uma visão geral do arcabouço jurídico relativo àtutela da atividade pesqueira no Brasil. Inicia contextualizando epistemolo-gicamente o direito pesqueiro e, em seguida, aborda questões referentes aodireito constitucional. A legislação infraconstitucional sobre a matéria, assimcomo os aspectos gerais sobre as distribuições de competências materiais so-bre o tema também serão abordados.

Observe-se inicialmente que pouca literatura jurídica trata do manejo defauna e, mais especificamente, do direito pesqueiro no Brasil. Nesse sentido,pode-se afirmar, com uma boa margem de segurança, que praticamente todaa doutrina disponível sobre o tema em foco é proveniente de outras áreas doconhecimento (normalmente produzidas por engenheiros de pesca, biólogos,ecólogos, entre outros). Sendo assim, primou-se por uma apresentação sinté-tica da lei, com observações pessoais dos autores.

O direito pesqueirO direito pesqueirO direito pesqueirO direito pesqueirO direito pesqueirooooo

Ainda não se pode falar em um direito pesqueiro autônomo, uma vezque este ramo do direito não possui autonomia epistemológica e nem princí-pios próprios que o fundamentem. O direito pesqueiro localiza-se abrigadopelo direito agrário, seguindo a orientação do art. 187 da Constituição Fede-ral, ao dispor que o planejamento agrícola deve compreender as atividadesagroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais. Reforçando essa idéia,encontra-se o art. 27, da Política Nacional de Pesca, instituída pela Lei 11.959de 29 de junho de 2009, que declara que são considerados produtores ruraise beneficiários da política agrícola as pessoas físicas e jurídicas que desenvol-vam atividade pesqueira de captura e criação de pescado. No mesmo sentidodispõe o ainda vigente art. 18, parágrafo único do Código de Pesca, Decreto

22222

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2020202020 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

Lei 221 de 28 de fevereiro de 1967, ao prescrever que as operações de capturae transformação de pescado são consideradas atividades agropecuárias paraefeito legal.

O princípio da função social aplicado ao direito agrário obriga, dentreoutras coisas, que o proprietário rural faça a utilização adequada dos recursosnaturais disponíveis preservando o meio ambiente. Observa-se também que aatividade pesqueira interessa ao direito ambiental, quando a Constituição, emseu art. 225, § 1º, inciso I, incumbe o Poder Público de preservar e restaurar osprocessos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies eecossistemas, e de proteger a fauna e a flora, vedando as práticas que colo-quem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ousubmetam os animais a crueldade, conforme o inciso VII do mesmo artigo.

A Constituição FA Constituição FA Constituição FA Constituição FA Constituição Federal de 1988ederal de 1988ederal de 1988ederal de 1988ederal de 1988

A análise do ordenamento pesqueiro exige um estudo detalhado doarcabouço legal que regulamenta a atividade no país. Esta tarefa deve obede-cer a hierarquia normativa que orienta o estudo a partir da Lei Maior de umEstado, que no caso é a Constituição Federal. Paralelamente à Carta Políticade 1988, cabe também uma análise atenta dos documentos internacionais1

que interessam à matéria, sem esquecer, é claro, de toda a regulação infracons-titucional que rege o tema.

A Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88) em seu art. 20,inciso III, diz que são bens da União, lagos, rios e quaisquer correntes de águaem terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam delimites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou deleprovenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais. Diz ainda,no inciso V do supracitado artigo, que os recursos naturais da plataformacontinental e da zona econômica exclusiva também pertencem à União.

O art. 23 da CF/88 declara que é competência comum da União, dosEstados, do Distrito Federal e dos Municípios a proteção do meio ambiente ea preservação das florestas, da fauna e da flora. O art. 24 preconiza quecompete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentementesobre pesca, conservação da natureza e proteção do bem ambiental. No en-tanto, apesar da CF/88 ser bem explícita, uma corrente minoritária entendeque o Município também tem competência para legislar sobre a matéria pos-ta, com base no art. 30, ao dizer que compete aos Municípios legislar sobre

1. A análise dos instrumentos jurídicos internacionais referentes à pesca será feita em capí-tulo próprio.

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assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal e a estadual noque couber. Ocorre que a CF/88 não autoriza o Município a legislar sobreestes temas.

Em termos práticos, o problema maior dos municípios legislarem sobrepesca é a necessidade de se pensar a bacia hidrográfica como unidade degestão, pois não há bacias que se circunscrevam ao território de um municípioe se as legislações entre municípios vizinhos forem incompatíveis, a gestãotorna-se impossível.

PPPPPolítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável daolítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável daolítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável daolítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável daolítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável daAAAAAquicultura e da Pquicultura e da Pquicultura e da Pquicultura e da Pquicultura e da Pescaescaescaescaesca

A Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009 (nova lei da pesca) estabelece aPolítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca,regulando as atividades pesqueiras e revogando a Lei nº 7.679, de 23 denovembro de 1988, que tratava sobre a proibição da pesca de espécies emperíodos de reprodução. Referido dispositivos revogaram ainda os arts. 1º a5º, 7º a 18, 20 a 28, 30 a 50, 53 a 92 e 94 a 99 do Decreto-Lei nº 221, de 28de fevereiro de 1967, o antigo Código de Pesca.

A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e daPesca traz como objetivos: o desenvolvimento sustentável da pesca comofonte de alimentação, emprego, renda e lazer, garantindo-se o uso sustentáveldos recursos pesqueiros, visando também a otimização dos benefícios econô-micos decorrentes, em estreita harmonia com a preservação e a conservaçãodo meio ambiente e da biodiversidade; o ordenamento, o fomento e a fisca-lização de toda a atividade pesqueira; a preservação, a conservação e a recu-peração dos recursos pesqueiros e dos ecossistemas aquáticos; e, por fim, odesenvolvimento socioeconômico, cultural e profissional dos que exercem aatividade pesqueira, bem como de suas comunidades.

Em seu art. 2º, I, a lei define recursos pesqueiros como: “os animais e osvegetais hidróbios2 passíveis de exploração, estudo ou pesquisa pela pescaamadora, de subsistência, científica, comercial e pela aquicultura”. No incisoIII do mesmo artigo declara que pesca “é toda operação, ação ou ato tenden-te a extrair, colher, apanhar, apreender ou capturar recursos pesqueiros”. Já oultrapassado Código de Pesca de 1967 definia pesca como: “todo ato tenden-te a capturar ou extrair elementos animais ou vegetais que tenham na águaseu normal ou mais frequente meio de vida”.

2. Que tenham na água seu normal ou mais frequente meio de vida.

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2222222222 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

No inciso X ainda do art. 2º, o novel estatuto dispõe sobre as áreas deexercício da atividade pesqueira, dizendo que tais áreas se classificam da se-guinte forma: i) as águas continentais; ii) interiores; iii) o mar territorial; iv) aplataforma continental; v) a zona econômica exclusiva brasileira; vi) o alto-mar; e, finalmente, vii) outras áreas de pesca.

Segundo o inciso XII do mesmo artigo, o ordenamento pesqueiro é oconjunto sistematizado de normas e ações que permitem administrar a ativi-dade pesqueira, com base no conhecimento atualizado dos seus componentesbiológico-pesqueiros, ecossistêmico, econômicos e sociais.

De acordo com o art. 3º da lei em tela, o Poder Público deve regulamen-tar da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Atividade Pes-queira, conciliando o equilíbrio entre o princípio da sustentabilidade dos re-cursos pesqueiros e a obtenção de melhores resultados econômicos e sociaispossíveis. Para tanto, o gestor pesqueiro deve nortear sua política de pescacalculando, autorizando ou estabelecendo, em cada caso em particular: i) osregimes de acesso; ii) a captura total permissível; iii) o esforço de pesca susten-tável; iv) os períodos de defeso; v) as temporadas de pesca; vi) os tamanhosde captura; vii) as áreas interditadas ou de reservas; viii) as artes, os aparelhos,os métodos e os sistemas de pesca e cultivo; ix) a capacidade de suporte dosambientes; x) as necessárias ações de monitoramento, controle e fiscalizaçãoda atividade; e, xi) a proteção de indivíduos em processo de reprodução ourecomposição de estoques. Ademais, em seu §1º, do mesmo artigo, a lei deter-mina que o ordenamento pesqueiro deve considerar as peculiaridades e asnecessidades dos pescadores artesanais, de subsistência e da aquicultura fami-liar, visando a garantir sua permanência e sua continuidade.

Ao analisar o art. 4º da lei, percebe-se que a atividade pesqueira não selimita ao ato puro e simples de pescar, mas compreende todos os processosenvolvidos na pesca, incluindo aí a explotação,3 a exploração, o cultivo, aconservação, o processamento, o transporte, a comercialização e a pesquisados recursos pesqueiros.

O art. 5º da lei preconiza que o ato autorizativo prévio exarado pela auto-ridade competente para o exercício da atividade pesqueira deve assegurar, entreoutras coisas: a proteção dos ecossistemas e a manutenção do equilíbrio ecológi-co, observados os princípios de preservação da biodiversidade e o uso sustentáveldos recursos naturais; e, a busca de mecanismos para a garantia da proteção e daseguridade do trabalhador e das populações com saberes tradicionais.

Conforme o art. 7º, da Política Nacional de Pesca só se atinge o desen-volvimento sustentável através dos seguintes meios: i) gestão do acesso e uso

3. Tirar proveito econômico de (determinada área), sobretudo quanto aos recursos naturais.

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dos recursos pesqueiros; ii) determinação de áreas especialmente protegidas;iii) participação social; iv) capacitação da mão de obra do setor pesqueiro; v)educação ambiental; vi) construção e modernização da infraestrutura portuá-ria de terminais portuários, além da melhoria dos serviços portuários; vii)pesquisa dos recursos, técnicas e métodos pertinentes à atividade pesqueira;viii) sistema de informações sobre a atividade pesqueira; ix) controle e a fisca-lização da atividade pesqueira; e x) crédito para fomento ao setor pesqueiro.

De acordo com o arcaico Código de Pesca de 1967 em seu art. 2º, apesca era classificada em apenas três formas: a pesca comercial, a pescadesportiva e a pesca científica. A pesca comercial é a que tem por finalidaderealizar atos de comércio na forma legal. A pesca desportiva é a que se praticacom linha de mão, por meio de aparelhos de mergulho ou quaisquer outrospermitidos pela autoridade competente, e que em nenhuma hipótese venha aimportar em atividade comercial. E, finalmente, a pesca científica é a exercidaunicamente com fins de pesquisas por instituições ou pessoas devidamentehabilitadas para tal fim.

Já a Lei nº 11.959/09, no art. 8º que trata da pesca, inova ao trazer umaclassificação mais fiel, estabelecendo que a pesca se apresenta de duas formasbásicas: pesca comercial e pesca não-comercial. A pesca comercial pode ser: i)artesanal quando praticada diretamente por pescador profissional, de formaautônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção pró-prios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar em-barcações de pequeno porte; ii) industrial quando praticada por pessoa físicaou jurídica e envolver pescadores profissionais, empregados ou em regime deparceria por cotas-partes, utilizando embarcações de pequeno, médio ou grandeporte, com finalidade comercial.

Ou pode ser não comercial: i) científica quando praticada por pessoafísica ou jurídica, com a finalidade de pesquisa científica; amadora quandopraticada por brasileiro ou estrangeiro, com equipamentos ou petrechos pre-vistos em legislação específica, tendo por finalidade o lazer ou o desporto; e,por fim, ii) de subsistência quando praticada com fins de consumo domésticoou escambo sem fins de lucro e utilizando petrechos previstos em legislaçãoespecífica.

Cumpre destacar que no parágrafo único, do art. 4º, a lei esclarece quese considera atividade pesqueira artesanal, os trabalhos de confecção e dereparos de artes e petrechos de pesca, os reparos realizados em embarcaçõesde pequeno porte e o processamento do produto da pesca artesanal. Comisso, a lei estende o conteúdo material do conceito de pesca artesanal, con-templando também as atividades meio.

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É claro que a nova lei trouxe avanços, principalmente em comparaçãocom o código de 1967. Entretanto, não se pode negar o forte traço produtivistaque a lei possui.

Lei Nº 11.958, de 26 de Junho de 2009 –Lei Nº 11.958, de 26 de Junho de 2009 –Lei Nº 11.958, de 26 de Junho de 2009 –Lei Nº 11.958, de 26 de Junho de 2009 –Lei Nº 11.958, de 26 de Junho de 2009 –Criação do Ministério da PCriação do Ministério da PCriação do Ministério da PCriação do Ministério da PCriação do Ministério da Pesca e Aesca e Aesca e Aesca e Aesca e Aquiculturaquiculturaquiculturaquiculturaquicultura

A Lei nº 11.958, de 26 de junho de 2009, que altera a Lei nº 10.683, de28 de maio de 2003, dispondo sobre a transformação da Secretaria Especialde Aquicultura e Pesca da Presidência da República em Ministério da Pesca eAquicultura, é uma reprodução quase fiel da Medida Provisória nº 437 de 29de julho de 2008, assinada pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva nodia 04 de agosto do mesmo ano, na ocasião do lançamento do projeto “MaisPesca e Aquicultura” e do Plano de Desenvolvimento Sustentável 2008/2011na cidade de Salvador.

Segundo o Discurso do Ex-Presidente da Repuìblica, Luiz Inaìcio Lula daSilva, na cerimônia de abertura da 1a Conferência Nacional de Aquicultura ePesca em 2003 (MPA, 2012), o Brasil, com 8,5 milhões km², com 8 mil quilô-metros de costa e 190 milhões de habitantes, só produz 1 milhão de toneladasde pescado por ano. Enquanto o Peru, pesca nove vezes mais e só tem 27milhões de habitantes e o Chile, que tem uma população de apenas 13 mi-lhões, pesca o dobro que o Brasil. Ressalte-se, entretanto que na costa do Peruexistem áreas de ressurgência, que elevam a produtividade primária do siste-ma, proporcionando uma produção pesqueira imensa, principalmente deanchoveta, que é uma espécie filtradora. Por isso, em comparação, pode-seafirmar que a costa brasileira é pobre e não sustenta uma produção como ado Peru.

Este Plano de Desenvolvimento Sustentável “Mais Pesca e Aquicultura”visa fomentar a produção de pescado no país, com metas a serem cumpridasaté 2011, para atender à crescente demanda mundial por alimentos. Alémdisso, o plano objetiva ainda a geração de empregos, o aumento de rendados trabalhadores do setor, o incentivo à criação em cativeiro, à pesca oceâni-ca, o estímulo ao consumo e à melhoria das condições sociais e de trabalhodos pescadores artesanais. Se as metas forem alcançadas, a produção de pesca-do deverá ter um aumento em torno de 40%, devendo passar da atual marcade um milhão de toneladas para 1,4 milhões por ano (MPA, 2012).

A Lei 11.958/2009 diz ainda que as Superintendências Federais de Pescae Aquicultura terão jurisdição no âmbito de cada Estado da Federação e doDistrito Federal, exceto quando no interesse comum, para execução das res-pectivas atribuições, mediante ato do Ministro de Estado.

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Contudo, até que seja aprovada a estrutura regimental do Ministério daPesca e Aquicultura, são mantidas a estrutura, as competências, as atribuições,a denominação das unidades e a especificação dos cargos da Secretaria Especi-al de Aquicultura e Pesca, vigentes em 29 de julho de 2008, cabendo à Subchefiapara Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República prestar assis-tência jurídica ao órgão.

Decreto Nº 6.678, de 8 de dezembrDecreto Nº 6.678, de 8 de dezembrDecreto Nº 6.678, de 8 de dezembrDecreto Nº 6.678, de 8 de dezembrDecreto Nº 6.678, de 8 de dezembro de 2008o de 2008o de 2008o de 2008o de 2008

Merece destaque o Decreto nº 6.678, de 8 de dezembro de 2008, queaprovou o VII Plano Setorial para os Recursos do Mar. Este instrumento utilizacomo base legal a Agenda 21, adotada na Conferência das Nações Unidassobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), a Convenção sobreDiversidade Biológica, o Código de Conduta para a Pesca Responsável daFAO e os planos internacionais de ação correlatos, o que representa um im-portante avanço para a gestão de recursos pesqueiros no país. O dispositivoorienta juridicamente o papel do Estado e dos usuários em um sistema degestão integrada e participativa, que se pauta principalmente pela aplicaçãodo Princípio da Precaução. Adiciona-se a isso, o fato da Política Nacional paraos Recursos do Mar (PNRM) incluir entre os seus objetivos a promoção dodesenvolvimento socioeconômico a partir do uso sustentável desses recursose o resgate da cultura das populações tradicionais.

PPPPPolítica Nacional de Rolítica Nacional de Rolítica Nacional de Rolítica Nacional de Rolítica Nacional de Recursos Hídricosecursos Hídricosecursos Hídricosecursos Hídricosecursos Hídricos

Outro instrumento jurídico importante é a Política Nacional de RecursosHídricos (Lei nº 9.433/1997), a qual considera a ictiofauna como parte inte-grante dos recursos hídricos e que, portanto, deve ser manejada por baciahidrográfica. Nesta perspectiva, são os Comitês de Bacia que definem as prio-ridades de manejo sustentável, a partir da combinação da disponibilidade dosrecursos naturais e as necessidades e características sociais. Uma prova disso éque as opiniões da comunidade e/ou usuários devem ser consideradas nasdecisões administrativas desses comitês. Porém, vale lembrar que estas deci-sões devem respeitar o interesse público, contemplando os direitos constituci-onais das presentes e futuras gerações, segundo o art. 225 caput da CF/88,além de contribuir para o desenvolvimento sustentável.

PPPPPolítica Nacional de Educação Ambiental (Lei Nº 9.795/99)olítica Nacional de Educação Ambiental (Lei Nº 9.795/99)olítica Nacional de Educação Ambiental (Lei Nº 9.795/99)olítica Nacional de Educação Ambiental (Lei Nº 9.795/99)olítica Nacional de Educação Ambiental (Lei Nº 9.795/99)

Importa também destacar a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, quedispõe sobre a educação ambiental, instituindo a Política Nacional de Educa-ção Ambiental. Logo no art. 1º, a lei define educação ambiental como:

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os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valoressociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a con-servação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qua-lidade de vida e sua sustentabilidade.

Em seu art. 3º, o dispositivo legal declara que a educação ambiental éum direito de todos, como parte de um processo mais amplo, incumbindo,no inciso VI do mesmo artigo, à sociedade como um todo, a manter a aten-ção permanente para a formação de valores, atitudes e habilidades que incen-tivem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identifica-ção e a solução de problemas ambientais.

No art. 4º, a lei estabelece os princípios que devem nortear a educaçãoambiental no país. Para esta análise interessa destacar, o enfoque humanista,holístico, democrático e participativo; a concepção do meio ambiente em suatotalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, osocioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; bem como oreconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.

Já no art. 5º encontram-se os objetivos da educação ambiental, dentreeles destacam-se: i) o desenvolvimento de uma compreensão integrada domeio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo, dentreoutros aspectos, os socioculturais; ii) o incentivo à participação individual ecoletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meioambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valorinseparável do exercício da cidadania; iii) o estímulo à cooperação entre asdiversas regiões do Brasil, em níveis micro e macrorregionais, com o propósi-to de construir uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos prin-cípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, res-ponsabilidade e sustentabilidade; iv) assim como, o fortalecimento da cidada-nia, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para ofuturo da humanidade.

A educação ambiental pode dar-se de várias formas. Uma das formasque mais se aproxima das comunidades tradicionais, dos caboclos e ribeiri-nhos da Amazônia é a educação ambiental não-formal que compreende asações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre asquestões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualida-de do meio ambiente, principalmente, a sensibilização ambiental das popula-ções tradicionais ligadas às unidades de conservação, conforme o art. 13, incisoV da referida lei.

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Lei de Crimes Ambientais (Lei Nº 9.605/98)Lei de Crimes Ambientais (Lei Nº 9.605/98)Lei de Crimes Ambientais (Lei Nº 9.605/98)Lei de Crimes Ambientais (Lei Nº 9.605/98)Lei de Crimes Ambientais (Lei Nº 9.605/98)

Em matéria penal, encontra-se a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998(Lei de Crimes Ambientais), que dispõe sobre as sanções penais e administrati-vas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. O art. 33tipifica que aquele que provocar, pela emissão de efluentes ou carreamentode materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes emrios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras, sofrerá umapena de detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente.Pontua ainda que incorre nas mesmas penas:

I – quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aquicultura dedomínio público;

II – quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licen-ça, permissão ou autorização da autoridade competente;

III – quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobrebancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.

Tipifica ainda a lei em seu art. 34, que quem pescar em período no quala pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente, serápenalizado com detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penascumulativamente. Além disso, incorre nas mesmas penas quem:

Art. 34. [...]

I – pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferi-ores aos permitidos;

II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de apa-relhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

III – transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientesda coleta, apanha e pesca proibidas.

No art. 35, a lei penal ambiental destaca que é crime pescar mediante autilização de explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produ-zam efeito semelhante, bem como a utilização de substâncias tóxicas, ou ou-tro meio proibido pela autoridade competente. Nestes casos a pena é dereclusão de um a cinco anos.

Vale mencionar também que, em seu art. 36, a lei que pune os crimino-sos ambientais, define a pesca como:

todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espé-cimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetí-veis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas deextinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.

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O Decreto Lei 221/1967, em seu art. 1o, definia pesca como sendo: “[...]todo ato tendente a capturar ou extrair elementos animais ou vegetais quetenham na água seu normal ou mais frequente meio de vida.”. Assim, é possí-vel perceber que a lei criminal ampliou o rol de verbos-tipo relacionados àconduta criminosa do agente. Ressalte-se também que para a lei criminal, afinalidade da pesca não precisa ser econômica.

Por outro lado, segundo Constantino (2001), o legislador cometeu peri-goso equívoco, ao deixar propositadamente desprotegidos os mamíferos aqu-áticos, cuja pesca é regulamentada por legislação própria. Nesse caso, ao men-cionar no final do art. 36 “ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção”, osmamíferos aquáticos restam duplamente desprotegidos, pois, apesar de cons-tarem nas listas oficiais de espécies ameaçadas, estão sujeitos a aplicação delegislação pesqueira especial (de cunho administrativo, proveniente do IBAMAou MPA). Caso inexistam essas normas administrativas, as condutas típicasnão poderão ser punidas, uma vez que os mamíferos não se enquadram emnenhum dos grupos biológicos descritos no caput do artigo em tela.

PPPPPolítica Nacional da Biodiversidade (Decreto Nº 4.339/02)olítica Nacional da Biodiversidade (Decreto Nº 4.339/02)olítica Nacional da Biodiversidade (Decreto Nº 4.339/02)olítica Nacional da Biodiversidade (Decreto Nº 4.339/02)olítica Nacional da Biodiversidade (Decreto Nº 4.339/02)

Importa mencionar também, o Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de2002, que instituiu a Política Nacional da Biodiversidade, trazendo princípiose diretrizes para sua implementação. A Política Nacional da Biodiversidadetem como objetivo geral a promoção da conservação da biodiversidade e dautilização sustentável de seus componentes, de maneira integrada, com a re-partição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursosgenéticos, de componentes do patrimônio genético e dos conhecimentos tra-dicionais associados a esses recursos.

Esta política estabelece como princípios a soberania dos Estados sobre aexploração de seus próprios recursos biológicos, conforme as políticas de meioambiente e de desenvolvimento implementadas pelos próprios países. Alémdisso, os países se responsabilizam pela conservação de sua biodiversidade.Declara ainda como princípio que o manejo de solos, águas e recursos bioló-gicos são uma questão de escolha da sociedade, devendo envolver todos ossetores relevantes da sociedade e todas as disciplinas científicas e considerartodas as formas de informação pertinentes, incluindo os conhecimentos cien-tíficos, tradicionais e locais, inovações e costumes.

Destaca também que a manutenção da diversidade cultural nacional éimportante para pluralidade de valores na sociedade em relação àbiodiversidade, sendo que os povos indígenas, os quilombolas e as outrascomunidades locais desempenham um papel importante na conservação e na

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utilização sustentável da biodiversidade brasileira, ressaltando ainda que to-das as ações relacionadas ao acesso ao conhecimento tradicional associado àbiodiversidade deverão transcorrer com consentimento prévio informado dospovos indígenas, dos quilombolas e das outras comunidades locais.

Salienta, além disso, que o valor de uso da biodiversidade é determina-do pelos valores culturais, incluindo aí valor de uso direto e indireto, de op-ção de uso futuro e, ainda, valor intrínseco, incluindo os valores ecológico,genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e es-tético.

A política prevê ainda algumas diretrizes, tais como: a que aponta que asustentabilidade da utilização de componentes da biodiversidade deve ser de-terminada do ponto de vista econômico, social e ambiental, especialmente quan-to à manutenção da biodiversidade; que a gestão dos ecossistemas deve serdescentralizada e implementada nas escalas espaciais e temporais apropriadas.

Traz ainda, alguns componentes integrantes desta política e seus respec-tivos objetivos específicos, os quais devem ser considerados como os eixostemáticos que orientarão as etapas de implementação desta. Como exemploestá o componente 1, que trata do conhecimento da biodiversidade, congre-gando diretrizes voltadas à geração, sistematização e disponibilização de in-formações que permitam conhecer os componentes da biodiversidade do paíse que apóiem a gestão da biodiversidade, bem como diretrizes relacionadas àprodução de inventários, à realização de pesquisas ecológicas e à realizaçãode pesquisas sobre conhecimentos tradicionais.

No campo de análise deste componente, encontram-se os seguintes ob-jetivos específicos: i) apoiar estudos que promovam a utilização sustentávelda biodiversidade em benefício de povos indígenas, quilombolas e outrascomunidades locais, assegurando sua participação direta; ii) desenvolver estu-dos acerca do conhecimento, inovações e práticas dos povos indígenas,quilombolas e outras comunidades locais, respeitando, resgatando, manten-do e preservando os valores culturais agregados a estes conhecimentos, ino-vações e práticas, e assegurando a confidencialidade das informações obtidas,sempre que solicitado pelas partes detentoras destes ou quando a sua divulga-ção possa ocasionar dano à integridade social, ambiental ou cultural destascomunidades ou povos detentores destes conhecimentos; iii) apoiar estudos einiciativas de povos indígenas, quilombos e outras comunidades locais de sis-tematização de seus conhecimentos, inovações e práticas, com ênfase nos te-mas de valoração, valorização, conservação e utilização sustentável dos recur-sos da biodiversidade; iv) promover estudos e iniciativas de diferentes setoresda sociedade voltados para a valoração, valorização, conhecimento, conser-

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vação e utilização sustentável dos saberes tradicionais de povos indígenas,quilombolas e outras comunidades locais, assegurando a participação diretados detentores desse conhecimento tradicional; v) além de apoiar e estimulara pesquisa sobre o saber tradicional (conhecimentos, práticas e inovações) depovos indígenas, quilombolas e outras comunidades locais, assegurando a suaintegridade sociocultural, a posse e o usufruto de suas terras.

Competências materiais sobre a pescaCompetências materiais sobre a pescaCompetências materiais sobre a pescaCompetências materiais sobre a pescaCompetências materiais sobre a pesca

Conforme já disposto, o Ministério da Pesca e Aquicultura foi criadopela Lei nº 11.958, de 26 de junho de 2009, que altera a Lei nº 10.683/03, apartir da transformação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presi-dência da República em Ministério da Pesca e Aquicultura. Entre suas compe-tências, têm-se (art. 27, XXIV da Lei nº 10.683/03):

a) política nacional pesqueira e aquícola, abrangendo produção, trans-porte, beneficiamento, transformação, comercialização, abastecimen-to e armazenagem;

b) fomento da produção pesqueira e aquícola;

c) implantação de infraestrutura de apoio à produção, ao beneficiamentoe à comercialização do pescado e de fomento à pesca e aquicultura;

d) organização e manutenção do Registro Geral da Pesca;

e) sanidade pesqueira e aquícola;

f) normatização das atividades de aquicultura e pesca;

g) fiscalização das atividades de aquicultura e pesca no âmbito de suasatribuições e competências;

h) concessão de licenças, permissões e autorizações para o exercício daaquicultura e das seguintes modalidades de pesca no território nacio-nal, compreendendo as águas continentais e interiores e o mar territorialda Plataforma Continental, da Zona Econômica Exclusiva, áreas adja-centes e águas internacionais, excluídas as Unidades de Conservaçãofederais e sem prejuízo das licenças ambientais previstas na legislaçãovigente [...];

i) autorização do arrendamento de embarcações estrangeiras de pesca ede sua operação, observados os limites de sustentabilidade estabeleci-dos em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente;

j) operacionalização da concessão da subvenção econômica ao preçodo óleo diesel instituída pela Lei nº 9.445, de 14 de março de 1997;

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k) pesquisa pesqueira e aquícola; e

l) fornecimento ao Ministério do Meio Ambiente dos dados do RegistroGeral da Pesca relativos às licenças, permissões e autorizações conce-didas para pesca e aquicultura, para fins de registro automático dosbeneficiários no Cadastro Técnico Federal de Atividades PotencialmentePoluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais.

Historicamente, a criação do MPA coloca o setor pesqueiro em nívelbastante elevado na burocracia estatal, denotando a importância do setorpara a segurança alimentar da população brasileira, conforme destacado peloEx-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ocasião do lançamento do projeto“Mais Pesca e Aquicultura”. A integração da produção pesqueira às priorida-des do Programa Fome Zero indica a preocupação política de valorização daatividade pesqueira não só como forma de produção de alimento de boaqualidade a baixo custo, como a manutenção de aspectos culturais concernentesao modo de vida da população (no caso em tela: os ribeirinhos amazônicos).

Entretanto, a junção de duas atividades tão distintas como a pesca e aaquicultura sob o mesmo manto jurídico-institucional, pressupõe uma mu-dança de paradigma no desenvolvimento do setor pesqueiro. As orientaçõesoutrora seguidas pelo Ministério do Meio Ambiente passam a dar lugar a umaevidente tendência produtivista de aparente contradição entre um setor tradi-cionalmente extrativista e predominantemente artesanal (quanto aos modosde produção) e outro setor inserido e perfeitamente adaptado à lógica doagronegócio. Ao que tudo indica, o único ponto em comum aos dois setoresé o produto final, qual seja o peixe.

Apesar da transformação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pescaem Ministério, os dispositivos da Lei nº 10.683/03 que tratavam sobre a trans-ferência de competências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento para referida Secretaria foram mantidos:

Art. 32. São transferidas as competências:

[...]

VI – do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, relativas à aquiculturae pesca, para a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca;

Art. 33. São transferidos:

[...]

III – o Departamento de Pesca e Aquicultura, da Secretaria de Apoio Rural eCooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para aSecretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República;

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O Ministério compreenderá, em sua estrutura organizacional, as Supe-rintendências Federais de Pesca e Aquicultura, unidades descentralizadas cujajurisdição limita-se a cada Estado da Federação e ao Distrito Federal, que possu-em a competência de (art. 9º da Lei nº 11.958/09): i) fomento e desenvolvimen-to da pesca e da aquicultura; ii) apoio à produção, ao beneficiamento e àcomercialização do pescado; iii) sanidade pesqueira e aquícola; iv) pesquisa edifusão de informações científicas e tecnológicas relativas à pesca e à aquicultura;v) assuntos relacionados à infraestrutura pesqueira e aquícola, ao cooperativismoe associativismo de pescadores e aquiculturas e às Colônias e Federações Estadu-ais de Pescadores; vi) administração de recursos humanos e de serviços gerais;vii) programação, acompanhamento e execução orçamentária e financeira dosrecursos alocados; viii) qualidade e produtividade dos serviços prestados aosusuários e aperfeiçoamento da gestão da Superintendência.

O Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca, por seu turno, possui acompetência de formular a política nacional de sua área, propondo diretrizespara o desenvolvimento e fomento da produção; apreciar as diretrizes para odesenvolvimento do plano de ação da pesca e aquicultura e propor medidasdestinadas a garantir a sustentabilidade da atividade, nos termos do art. 29,§7º da Lei nº 10.683/03.

O § 4º do art. 27 da supracitada lei dispõe ainda que a competência doMinistério do Meio Ambiente para o zoneamento ecológico-econômico “[...]será exercida em conjunto com os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; da IntegraçãoNacional; e da Pesca e Aquicultura”.

O MMA também deverá atuar em conjunto e sob a coordenação doMPA nas temáticas relacionadas ao uso sustentável dos recursos pesqueiros(art. 27, § 6º da Lei nº 10.683/03), quais sejam: “fixar as normas, critérios,padrões e medidas de ordenamento do uso sustentável dos recursos pesquei-ros, com base nos melhores dados científicos e existentes, na forma de regula-mento” (I); e “subsidiar, assessorar e participar, em interação com o Ministériodas Relações Exteriores, de negociações e eventos que envolvam o compro-metimento de direitos e a interferência em interesses nacionais sobre a pesca eaquicultura” (II).

PPPPPolítica nacionalolítica nacionalolítica nacionalolítica nacionalolítica nacional

O MMA possui competência sobre a política nacional do meio ambientee dos recursos hídricos e a política de preservação, conservação e utilizaçãosustentável de ecossistemas, e biodiversidade e florestas, nos termos do art.27, XV, a e b da Lei nº 10.683/03. O Conselho Nacional de Pesca, do MPA,

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por seu turno, tem competência sobre a política nacional pesqueira e aquícola,abrangendo produção, transporte, beneficiamento, transformação,comercialização, abastecimento e armazenagem (Lei nº 11.958/09, art. 27,XXIV).

O primeiro conflito encontra-se na própria política, uma vez que osrecursos pesqueiros integram diversos ecossistemas, possuindo diversidade es-pecífica e, em grande parte, desconhecida (v.g. na bacia Amazônica, ondeestimativas mais conservadoras indicam cerca de 2000 espécies de peixes,enquanto outras chegam a indicar até 8.000, para um universo descrito dealgumas poucas centenas – BATHEM; FABRÉ, 2004). Cabendo, dessa forma,aos dois Ministérios versarem sobre o assunto. A duplicidade de regulamenta-ção sobre um mesmo recurso natural, proveniente de ministérios com orien-tações distintas pode ensejar problemas práticos, interferindo na distribuiçãodas competências materiais.

As ações de execução das políticas fazem parte da esfera das autarquiasdo MMA: IBAMA e Chico Mendes. No primeiro caso, as ações referem-se“[...] às atribuições federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controleda qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscali-zação, monitoramento e controle ambiental [...]” (Lei nº 7.735/89, art. 2º,II). O Instituto Chico Mendes possui uma atribuição mais restrita, sendo com-petente especificamente para executar ações em unidades de conservação ins-tituídas pela União (Lei nº 11.516/07, art. 1º, I), o que também está incluídonas atribuições genéricas do IBAMA.

NormatizaçãoNormatizaçãoNormatizaçãoNormatizaçãoNormatização

O Ministério da Pesca e Aquicultura incorporou a competência da extin-ta Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) de normatizar asatividades de aquicultura e pesca (Lei nº 10.683/03, art. 27, XXIV, f – alteradopela Lei nº 11.958/09). No entanto, o Conselho Nacional do MMA é o únicocom poder verdadeiramente normativo. A legislação também prevê que oMMA deverá atuar em conjunto e sob a coordenação do MPA nas temáticasrelacionadas ao uso sustentável dos recursos pesqueiros (art. 27, § 6º, I), quaissejam: “fixar as normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento do usosustentável dos recursos pesqueiros, com base nos melhores dados científicose existentes, na forma de regulamento”.

Esta “parceria” forçada tende a entravar a normatização em função dasdiferenças de orientação dos dois ministérios: enquanto o MMA possui visãotradicionalmente conservacionista, o MPA parece ter sido criado com umaorientação mais produtivista.

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FFFFFiscalizaçãoiscalizaçãoiscalizaçãoiscalizaçãoiscalização

A fiscalização das atividades de aquicultura e pesca é competência doMPA no âmbito de suas atribuições e competências (Lei nº 10.683/03, art. 27,XXIV, g). Contudo o poder de polícia ambiental pertence ao IBAMA (Lei nº7.735/89, art. 2º, I), excetuando a fiscalização nas unidades de conservaçãoinstituídas pela União, onde passa ter um poder de polícia suplementar ao doInstituto Chico Mendes (Lei nº 11.516/07, art. 1º, IV).

Na prática, este tipo de distribuição de atribuições provoca problemasoperacionais. Na região do Pantanal do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,quem fiscaliza a atividade de pesca esportiva são órgãos estaduais, que igno-ram se os pescadores portam licenças federais (expedidas até então peloIBAMA), exigindo apenas o porte das estaduais. Esta prática provoca evasãode divisas da esfera federal para as estaduais. (BERNADINO, 2009).

Educação e pesquisaEducação e pesquisaEducação e pesquisaEducação e pesquisaEducação e pesquisa

Cabe às Superintendências Federais de Pesca e Aquicultura do MPA acompetência pela pesquisa pesqueira e aquícola (Lei nº 10.683/03, art. 27,XXIV, l). Ao Instituto Chico Mendes, fomentar e executar programas de pes-quisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e de educaçãoambiental (Lei nº 11.516/07, art. 1º, III).

A questão da promoção da educação ambiental era melhor explicitadana legislação da extinta Secretaria Especial do Meio Ambiente (Dec. nº 73.030/73, art. 4), cujas competências incluíam: i) promover, em todos os níveis, aformação e treinamento de técnicos e especialistas em assuntos relativos àpreservação do meio ambiente; ii) promover, intensamente, através de pro-gramas em escala nacional, o esclarecimento e a educação do povo brasileiropara o uso adequado dos recursos naturais, tendo em vista a conservação domeio ambiente.

Antes da criação do MPA e do Instituto Chico Mendes, existiram diver-sas ações de pesquisa, conservação da biodiversidade e educação ambiental.Cite-se como exemplos alguns projetos de cooperação técnica internacionalda Amazônia (IARA e ProVárzea), que além de desenvolverem ampla ativida-de de pesquisa, contribuíram sobremaneira para o ordenamento pesqueiro,desenvolvendo ainda diversas atividades de educação ambiental,consubstanciadas na produção de inúmeros documentos institucionais,documentários e eventos com participação social (Cf. Página institucional doIBAMA/ProVárzea).

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Ações conjuntasAções conjuntasAções conjuntasAções conjuntasAções conjuntas

Há ainda as previsões de parcerias entre o MMA e o MPA. O MMAtambém deverá atuar em conjunto e sob a coordenação do MPA nas temáticasrelacionadas ao uso sustentável dos recursos pesqueiros (Lei nº 10.683/03, art.27, §6º, I), como, por exemplo, o estabelecimento de limites de sustentabilidadepara autorização de embarcações estrangeiras (art. 27, XXIV, i), conforme jácitado.

O MPA deve fornecer ao Ministério do Meio Ambiente os dados doRegistro Geral da Pesca relativos às licenças, permissões e autorizações conce-didas para pesca e aquicultura, para fins de registro automático dos beneficiáriosno Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras eUtilizadoras de Recursos Ambientais (Lei nº 10.683/03, art. 27, XXIV, m).

O MMA também deve atuar em parceria com o Ministério das RelaçõesExteriores para “subsidiar, assessorar e participar de negociações [...] e eventosque envolvam o comprometimento de direitos e a interferência em interessesnacionais sobre a pesca e aquicultura” (Lei nº 10.683/03, art. 27, XXIV, §6º, II).

O IBAMA deve executar as ações supletivas de competência da União,de conformidade com a legislação ambiental vigente.

Apesar de inúmeros exemplos de previsões legais de açõesinterministeriais nos níveis interno e externo (internacional), observa-se quena prática, poucos resultados foram atingidos até o momento. No âmbitodo Tratado de Cooperação Amazônica, assinado na década de 70, apesar dagrande ênfase que se deu a promoção da utilização racional dos recursosnaturais da bacia Amazônica e ao desenvolvimento da navegação, até opresente momento não se observou nenhuma Comissão ligada ao Ministé-rio das Relações Exteriores tratando, por exemplo, da pesca dos grande bagresmigradores; ou ainda, da implementação de ações concretas para o desen-volvimento da navegação, apesar do grande volume de recursos arrecada-dos pela Receita Federal através da cobrança do Adicional ao Frete paraRenovação da Marinha Mercante (que iniciou na década de 40 e persiste atéhoje).

No âmbito específico da relação MMA e MPA, observa-se a dificuldadede articulação interministerial, denotada pelo acompanhamento prático deprocesso para homologação de acordo comunitário de pesca no município deBoa Vista do Ramos (AM). O referido processo foi encaminhado ao IBAMAem 2009, levando mais de dois anos para ser concluído. Note-se que nomomento da homologação do acordo em pauta, vários de seus dispositivos

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haviam perdido a enforçabilidade prática, levando à falência do texto antesmesmo de sua vigência.4

Críticas às divisões de competências materiaisCríticas às divisões de competências materiaisCríticas às divisões de competências materiaisCríticas às divisões de competências materiaisCríticas às divisões de competências materiais

Conforme mencionado acima, antes da criação da Secretaria Especial deAquicultura e Pesca e, posteriormente, do Ministério da Pesca e Aquicultura, aatividade pesqueira estava ligada ao Ministério do Meio Ambiente, que pos-sui visão mais conservacionista (incentivando o manejo adequado e a utiliza-ção racional desses recursos). Após o lançamento do Programa Fome Zero e oinício das atividades da SEAP, a visão passa a ser produtivista, com enfoquemaior sobre a aquicultura e insumos de produção pesqueiros, principalmentesobre o fomento ao setor.

Com o Ministério da Pesca e Aquicultura, a discussão em torno das com-petências toma maior relevância e especificidade, apesar da falta de clareza eincertezas futuras, posto que o MPA encontra-se em fase de estruturação.

Mesmo sabendo-se que a temática ambiental é única e que os recursospesqueiros não podem ser observados e compreendidos separadamente domeio ambiente como um todo, as diversas previsões de ações conjuntas entreo MMA e o MPA ou das previsões de competências ministeriais simultâneasgeram problemas práticos, como sobreposição de regras e/ou lacunas.

No momento, com o final recente do período de vacatio legis da normaque criou o MPA e início do seu processo de estruturação, resta aguardar pelasarticulações interministeriais, minimizando eventuais conflitos de competên-cia e atuação prática dos órgãos da administração pública.

Considerações FConsiderações FConsiderações FConsiderações FConsiderações Finaisinaisinaisinaisinais

Diante do exposto, podem ser registradas algumas conclusões preliminaressobre a tutela da atividade pesqueira no Brasil. Em primeiro lugar, destaca-se afalta de autonomia epistemológica do direito pesqueiro, sujeitando este ramo doconhecimento à aplicação dos princípios gerais do direito e, mais especificamen-te, do direito agrário. Isso impede o desenvolvimento de uma exegese legal ade-quada e a consequente aplicação relativizada da lei aos casos concretos.

Tal falta de autonomia epistemológica se reflete na prática, através dacriação de um Ministério que congrega duas atividades visceralmente distintas:

4. Observações práticas de trabalho de campo no município de Boa Vista do Ramos (AM)em projeto coordenado por Serguei Aily Franco de Camargo (com financiamento daFundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas - FAPEAM).

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a pesca e a aquicultura. A visão holística do ordenamento pesqueiro é substitu-ída por outra, de cunho produtivista e mais próxima do direito agrário.

A despeito dessas considerações, pode-se registrar também atransversalidade do assunto na legislação, o que enseja a tutela da atividadepesqueira e dos recursos pesqueiros sob diversos prismas (v.g. educacional,social, econômico, cultural, biológico, ecológico, entre outros).

RRRRReferênciaseferênciaseferênciaseferênciaseferências

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O Direito PO Direito PO Direito PO Direito PO Direito Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueirooooona Esfera Internacional:na Esfera Internacional:na Esfera Internacional:na Esfera Internacional:na Esfera Internacional:A RA RA RA RA Região da Tegião da Tegião da Tegião da Tegião da TrípliceríplicerípliceríplicerípliceFFFFFrrrrronteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Peru eeru eeru eeru eeru eColômbiaColômbiaColômbiaColômbiaColômbia

Serguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily Franco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de CamargoArilúcio Bastos LobatoArilúcio Bastos LobatoArilúcio Bastos LobatoArilúcio Bastos LobatoArilúcio Bastos Lobato

Thaísa RThaísa RThaísa RThaísa RThaísa Rodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de CamargoAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de Souza

A bacia Amazônica estende-se por nove países. Nesse caso, alguns estoquespesqueiros podem ser compartilhados por um ou mais países. A atividadepesqueira é desenvolvida tradicionalmente por comunidades ribeirinhas e opescado é a principal fonte de proteína animal de toda essa população.

Pesquisas recentes indicam que o Brasil avançou na gestão de recursospesqueiros, principalmente através da implementação do sistema de gestãoparticipativa da pesca, enquanto que na esfera internacional pouco se temfeito para regulamentar o aproveitamento de estoques pesqueiros comuns efomentar o desenvolvimento regional sustentável.

Nesse contexto, o presente capítulo traz como estudo de caso, a questãoda pesca do pirarucu Arapaima gigas na região da tríplice fronteira (Brasil,Peru e Colômbia), para em seguida abordar aspectos relacionados ao direitointernacional e direito comparado em seus pontos mais relevantes para a ba-cia Amazônica.

A região da tríplice FA região da tríplice FA região da tríplice FA região da tríplice FA região da tríplice Frrrrronteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Peru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbia

De acordo com Faulhaber (2010), no fim do século XIX, colocou-se emquestão a linha de fronteira Brasil, Peru e Colômbia, que desde fins do séculoXVIII, já era objeto de divergências entre Portugal e Espanha. Chegou-se a um

33333

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4040404040 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

consenso sobre o interesse comum que viabilizou o caminho para o Atlânticopor colombianos e peruanos, que resultou na aceitação da ocupação luso-brasileira do Solimões, Içá e Japurá (respectivamente Amazonas, Putumayo eCaquetá na Colômbia e no Peru), até então contestada por colombianos eperuanos. Nessa argumentação, a questão da exploração do látex e da escra-vidão indígena apareceu a partir de observações dos conflitos étnicos e políti-cos concernentes ao estabelecimento de fronteiras.

Os conflitos territoriais na região foram documentados, além dos regis-tros consulares, por uma literatura que, embora informada por uma polêmicade caráter racionalista, produziu informações com base na observação direta,que se tornam fonte para a reflexão antropológica sobre o tecido social queconstitui as representações sobre fronteira e identidade indígena no divisor deáguas do Caquetá-Japurá e Putumayo-Içá (Faulhaber, 2010).

De acordo com Gomes e Albuquerque (2010), o pescado assume grandesignificado na alimentação humana, representando 70% da proteína animalconsumida pela população da região da tríplice fronteira. Em Santo Antoniodo Içá (AM) é a principal fonte de alimentação. Este município situa-se naregião do Alto Solimões, em sua margem esquerda, próximo a tríplice frontei-ra do Brasil, Colômbia e Peru.

Na economia do setor pesqueiro os que mais se destacam são: Pirarucu (Arapaimagigas), Piraíba (Brachyplathystoma filamentum), Tambaqui (Colossomamacropomum), Surubim (Pseudoplatystoma fasciatum), Pirara (Phracthocefalushemeliopterus), Dourado (Brachyplastytoma roussearri), Piracatinga (Calophysusmacopterus). Devido este comércio, a Colômbia está se tornando um dos maio-res exportadores de peixes da América do Sul, graças ao Brasil. Anualmente, das600 toneladas de pescado que são retirados de lagos e rios do Alto Solimões, 400toneladas vão ilegalmente para aquele país. A proposta de realizar um estudosobre o setor do comércio pesqueiro no Alto Solimões justifica-se face à necessi-dade de identificar os fatores que comprometem o manejo sustentado dessasespécies, em função do tráfico e do comércio ilegal na região de fronteira. Acaptura indiscriminada e a atividade comercial sem projeto de manejo têm pro-porcionado risco de extinção de muitas espécies. [...] Resultados preliminares,obtidos por meio de entrevistas abertas, visitas locais e pesquisa bibliográficarevelaram que o comércio de peixes na Amazônia ocidental é realizado quaseque exclusivamente na cidade de Letícia-Colômbia, saindo do Brasil pela cidadede Tabatinga, no Amazonas. (GOMES; ALBUQUERQUE, 2010, p. 01).

Segundo Nogueira (2010), diversos municípios amazonenses exportamseu pescado, formando uma verdadeira rede de comercialização desses pro-dutos com a Colômbia. Entre os maiores exportadores em 2003, têm-se: Tefé,Coari, Japurá, e Manaus.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE, 2010), o município de Tabatinga possui cerca de 49.000 habitantes,

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O Direito Pesqueiro na Esfera Internacional: A Região da Tríplice Fronteira... 4141414141

Benjamin Constant cerca de 30.000, o que indica a magnitude da população

local, apenas do lado Brasileiro da região de fronteira.

Para Nogueira (2010), Tabatinga possui um papel de destaque na fron-

teira por ser o ponto de ligação entre o Brasil e a Colômbia, ou seja, o cami-

nho de passagem, legal ou ilegal, de todo o pescado capturado no Alto Solimões

e de outras regiões do Amazonas.

No entanto, a estrutura pesqueira da cidade enfrenta dificuldades, como a

ausência de uma fábrica de gelo e de fiscalização pelos órgãos brasileiros. A

região do Alto Solimões não possui frigoríficos beneficiadores, como Médio

Amazonas, dispondo apenas de câmaras frigoríficas, denominadas “Quartos

Frios” ou “Bodegas”, que são usadas, em regra, para o congelamento e

armazenamento do pescado. Neste caso, o pescado sofre apenas o evisceramento

e o descabeçamento para ser congelado. Como consequência, os pescadores

brasileiros vêem-se obrigados a adquirir o gelo colombiano, ficando sujeitos às

especulações comerciais daquele mercado (NOGUEIRA, 2010).

Outro efeito é que muitos barcos não passam pela fiscalização do Institu-

to Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA) e da

Receita Federal no porto de Tabatinga, sendo o pescado transportado sem

nenhuma espécie de controle para Letícia (Colômbia).

A cidade de Letícia é a porta de entrada de boa parte do pescado prove-

niente do lado brasileiro da bacia, de onde é distribuído para outros locais,

chegando até a Bogotá, e para exportação.

Os colombianos consomem peixes frescos e secos do Brasil e do Peru. Na

fronteira, as nacionalidades se confundem. Colombianos e peruanos pescam

em águas brasileiras. Embarcações frigoríficas de um país possuem tripulação de

outro, sem, contudo, serem fiscalizados por órgãos de nenhum dos três países.

Os peruanos, conforme noticiado amplamente pela imprensa local,

comercializam uma série de itens menores, com destaque sobre os combustí-

veis. Adquiridos em Letícia por preços bem menores que os praticados no

Brasil, acabam sendo comercializados informalmente em garrafas PET no lado

brasileiro da fronteira.

A pesca do pirarucu A pesca do pirarucu A pesca do pirarucu A pesca do pirarucu A pesca do pirarucu Arapaima GigasArapaima GigasArapaima GigasArapaima GigasArapaima Gigas na fr na fr na fr na fr na fronteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Ponteira Brasil, Peru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbiaeru e Colômbia

O pirarucu Arapaima gigas é uma das espécies mais antigas de peixe de

água doce do planeta. Possui respiração pulmonar e seus machos podem che-

gar a medir 450cm (AXELROD et al., 1991) e 200kg de peso (WHEELER,

1977). Apesar de sedentário, o pirarucu faz parte do estoque pesqueiro da

região da tríplice fronteira, distribuindo-se pela bacia Amazônica.

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4242424242 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

É extremamente apreciado pela população local e sofre pressão intensi-va de pesca (FISHBASE, 2010), o que levou o IBAMA a restringir sua explotação.Atualmente, a pesca desta espécie é proibida no Estado do Amazonas, sendopermitida apenas em áreas de manejo (v.g. Reserva de Desenvolvimento Sus-tentável de Mamirauá, localizada no município de Tefé-AM).

O comércio internacional desta espécie também é restrito desde 1975,conforme a “Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies da Fauna eFlora Selvagens em Perigo de Extinção” (Convention on International Tradein Endangered Species of Wild Fauna and Flora – CITES), que a inclui no seuapêndice II.

A região da tríplice fronteira possui deficiência de fiscalização, permitin-do grande atividade de comércio ilegal (contrabando). Dentre os itenscomercializados desta forma temos o pescado, combustíveis e drogas. O pes-cado serve, em muitos casos, como forma de disfarçar o tráfico.

Independente desta situação, observa-se em toda a calha Solimões-Ama-zonas a presença de comunidades ribeirinhas e organizações de base. Estascomunidades podem ser indígenas e não-indígenas, mas em todos os casos, apesca é uma atividade importante à manutenção da segurança alimentar.

A organização do setor pesqueiro no Brasil é dada ao nível federal, porlegislação própria. As colônias e capatazias de pesca continuam a se constituirem entidades de mobilização e defesa dos interesses da categoria dos pesca-dores profissionais. Por outro lado, as organizações de base, representando ascomunidades tradicionais, passaram a ocupar importante lugar no cenáriopolítico e institucional ao garantirem ativa participação no sistema de gestãoparticipativa da pesca. A atuação destas organizações de base está distribuídadesde as ações locais (nas comunidades) até o acompanhamento e fiscalizaçãodos acordos de pesca.

A promoção do desenvolvimento regional, no âmbito da bacia Amazô-nica, é uma das diretrizes do Tratado de Cooperação Amazônico (TCA). Anecessidade de articulação internacional para o estabelecimento de políticassetoriais e normatização faz-se presente.

O direito pesqueirO direito pesqueirO direito pesqueirO direito pesqueirO direito pesqueiro na esfera internacionalo na esfera internacionalo na esfera internacionalo na esfera internacionalo na esfera internacional

Convenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora eConvenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora eConvenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora eConvenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora eConvenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora eFFFFFauna Selvagens em Pauna Selvagens em Pauna Selvagens em Pauna Selvagens em Pauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cerigo de Extinção (Cerigo de Extinção (Cerigo de Extinção (Cerigo de Extinção (CITESITESITESITESITES)))))

A Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora eFauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) foi assinada em 1973 por 175países com o objetivo de, através da cooperação internacional, proteger cer-

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O Direito Pesqueiro na Esfera Internacional: A Região da Tríplice Fronteira... 4343434343

tas espécies da fauna e da flora selvagem contra toda exploração pelo comér-cio internacional.

Em seu texto inicial, os Estados contratantes reconhecem que a fauna e aflora selvagem, em suas muitas belezas e variedade de formas, são uma parteinsubstituível do sistema natural da Terra que devem ser protegidas por esta epelas próximas gerações. Reconhecem também que a cooperação internacio-nal é essencial para a proteção dessas espécies.

Assim, toda importação, exportação e re-exportação de animais e vege-tais (bem como suas partes e derivados), cuja classificação esteja presente nosanexos da Convenção, precisa ser previamente autorizada. As espécies encon-tram-se distribuídas em três apêndices, de acordo com o grau de proteçãoconsiderado necessário.

Os apêndices I, II e III da Convenção listam as espécies protegidas sobdiferentes níveis ou tipos de proteção contra a exploração descabida. O apên-dice I apresenta as espécies ameaçadas de extinção, cuja comercialização inter-nacional é proibida pela CITES, exceto para fins científicos. O apêndice II trazos nomes das espécies que não necessariamente estão em perigo de extinção,mas devem ter sua comercialização reduzida e controlada para sua conserva-ção.

O comércio internacional das espécies do apêndice II deve ser autoriza-do pelo outorgante da permissão de exportação ou do certificado de re-ex-portação (exportação de produto importado). A CITES não exige a permissãode importação para essas espécies, contudo, alguns países são mais rigorososneste sentido. Permissões e certificados devem ser outorgadas apenas se auto-ridades superiores estiverem certas das condições encontradas, bem como quetoda a comercialização não causará detrimento à sobrevivência da espécie emseu ambiente natural.

O apêndice III é uma lista das espécies incluídas sob o requerimento deuma das Partes que já regulam sua comercialização e necessitam da coopera-ção de outros países para prevenir exploração não-sustentável ou ilegal. Ocomércio internacional dessas espécies é permitido apenas com a apresenta-ção de permissões ou certificados apropriados.

Nomes de espécies podem ser acrescidos ou removidos dos apêndices I,II e III, ou movimentados entre eles apenas por convenção das partes emencontro ordinário ou extraordinário com este fim. No entanto, espécies po-dem ser acrescidas ou removidas do apêndice III a qualquer momento e porqualquer uma das partes unilateralmente.

Segundo dados da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espé-cies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES, 2012), o Brasil

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4444444444 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

foi o 16o país a aderir ao documento em 1975 e tende a privilegiar os recursos/espécies constantes do anexo II, promovendo o comércio da fauna e da floraselvagens em bases sustentáveis, viabilizando a conservação e reprodução deespécies, cujo valor econômico é internacionalmente reconhecido. O apêndi-ce I ficaria restrito apenas aos casos de risco de extinção, quando a interrupçãodo comércio faz-se temporariamente necessária para a recuperação das popu-lações ameaçadas.

A CITES estabelece apenas diretrizes orientadoras, cabendo a cada paísdefinir legislações nacionais específicas para a proteção das espécies contem-pladas em seus anexos. No caso brasileiro, a legislação ambiental acolhe inte-gralmente as diretrizes e demandas da Convenção, classificando o Brasil nacategoria 1 em termos de implementação nacional do instrumento.

Além disso, o Brasil antecipou-se na implementação de sistema decertificação eletrônica. Antes mesmo da publicação da Lei nº 11.958 (Criação doMinistério da Pesca e Aquicultura - MPA), em 29.06.09, o IBAMA concedialicenças eletrônicas. Atualmente, o MPA mantém de forma semelhante, o Regis-tro Geral da Pesca, criado com a finalidade de licenciar toda pessoa que faz dapesca a sua profissão ou o seu principal meio de vida (MPA, 2012). No entanto,a CITES tem sua atuação restrita às transações que envolvem o comércio inter-nacional. Não possui mandato para tratar de outros fatores de ameaça, como ocomércio ilegal dentro dos limites de cada país, por exemplo.

O piracuru, bem como as demais espécies incluídas no apêndice II, deveter sua comercialização em consonância com o estabelecido pela Convenção.Sua exportação deve obedecer as seguintes condições (art. IV, 2.): uma auto-ridade científica ligada ao órgão competente para cuidar de assuntos relacio-nados a exportação, deve garantir que esta não prejudicará a sobrevivênciada espécie; a autoridade executiva responsável pelas exportações deve garan-tir que os exemplares não foram obtidos em contravenção as leis de proteçãoda fauna e da flora, e que qualquer indivíduo vivo será transportado emcondições mínimas que minimizem os riscos ao bem estar e a saúde.

Código de Conduta para a PCódigo de Conduta para a PCódigo de Conduta para a PCódigo de Conduta para a PCódigo de Conduta para a Pesca Resca Resca Resca Resca Responsávelesponsávelesponsávelesponsávelesponsável

O Código de Conduta para a Pesca Responsável – CCPR (FAO, 2012)estabelece princípios e padrões internacionais de comportamento para práti-cas responsáveis com o propósito de assegurar a conservação eficaz, gerência

1. O Código de Conduta para uma Pesca Responsável foi adotado pela Conferência daFAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) na sua vigé-sima oitava sessão, em 31 de Outubro de 1995.

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e desenvolvimento dos recursos de vida aquática, com o devido respeito aoecossistema e à biodiversidade. O código reconhece o valor nutritivo, econô-mico, social, ambiental e cultural, destacando a importância da pesca e osinteresses de todos aqueles que estão envolvidos com o setor pesqueiro.

O CCPR não é vinculante, pois sua aplicação pelos Estados não é obriga-tória. Contudo, traz princípios importantes de interesse de todos os países,como os seguintes princípios gerais: i) os Estados e os usuários que vivem dosrecursos aquáticos devem conservar os ecossistemas aquáticos. O direito depescar traz consigo a obrigação de fazê-lo de maneira responsável, para asse-gurar a conservação e a gestão eficazes dos recursos aquáticos; e ii) a gestãopesqueira deverá promover a manutenção da qualidade, diversidade e dispo-nibilidade de recursos haliêuticos em quantidades suficientes para a presente eas gerações futuras, no contexto da segurança alimentar, redução da pobrezae do desenvolvimento sustentável.

Em análise, o princípio 6.4 do CCPR prevê que as medidas de conserva-ção e as decisões sobre o manejo pesqueiro devem ser embasadas nas melho-res evidências científicas disponíveis, levando-se em consideração os conheci-mentos tradicionais das comunidades sobre a utilização dos recursos em seuhabitat, além de fatores ambientais, econômicos e sociais relevantes. Os prin-cípios 6.5 e 7.5.1 estabelecem que o manejo pesqueiro em seus diversos níveisdeve orientar-se através de medidas de precaução, visando à conservação dosrecursos. No mesmo sentido, é mencionado que a ausência de informaçõescientíficas não deve ser utilizada para adiar ou inviabilizar medidas para con-servação de espécies-alvo e/ou do sistema ecológico como um todo(CAMARGO; SURGIK, 2006).

Por este prisma, podemos considerar que todo o contexto legal deve serinterpretado a partir do sistema precaucionário, o qual permite o manejocomunitário e a gestão participativa dos estoques pesqueiros no Brasil. Nestaesteira, a Constituição, ao declarar que a conservação do meio ambiente édever de todos, também engloba a participação das comunidades tradicionaisusuárias dos recursos pesqueiros no sistema de gestão em seus diversos níveis.No entanto, esta participação é exercida de forma organizada e representati-va, como acontece no terceiro setor. É por esta razão, que o Decreto n° 221/1967 (Código de Pesca), incentiva a organização comunitária de pescadoresem colônias, associações e cooperativas.

De acordo com Diegues (2009), o CCPR introduziu pela primeira vez,de maneira formal, a necessidade de se levar em conta o conhecimento dospescadores artesanais sobre os recursos pesqueiros, no mesmo patamar doconhecimento científico. Chama a atenção para o fato de que há a necessida-de de se distinguir o conhecimento científico dos biólogos que é generalizador,

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aplicável, sobretudo ao estudo das pescarias monoespecíficas e dos grandesecossistemas, e o dos pescadores que é sempre particular, localizado e aplicá-vel, sobretudo em nichos ecológicos específicos. Enfatiza também a necessida-de do uso de artes de pesca seletivas, o que é mais costumeiro entre os pesca-dores artesanais que entre os industriais. O exemplo disso é a utilização maci-ça das grandes redes de arrasto pela pesca industrial em oposição à variedadedos equipamentos de pesca utilizados pela pequena pesca.

O autor ressalta ainda, que CCPR não leva em conta, de maneira ade-quada, o papel das organizações de pescadores no processo de ordenamento,haja vista que a participação das colônias de pesca é fundamental para ummanejo adequado dos recursos pesqueiros.

Destaca também, a necessidade de se redefinir o conceito de manejopesqueiro entendido exclusivamente como um processo monodisciplinar. ParaDiegues (2009), há a necessidade de incorporar a dimensão social e cultural,pois o que administra são, sobretudo, os comportamentos humanos e atecnologia, que escapam à simples dimensão biológica.

Importa salientar ainda, segundo Diegues (2009), a experiência de cria-ção de reservas extrativistas aquáticas, tanto em águas continentais quantocosteiras o que pode ser uma solução para inúmeros conflitos já existentesentre pescadores artesanais e a administração desses parques.

Cumpre mencionar que a extinta Secretaria Especial de Aquicultura ePesca, convertida em 2009 no MPA, já adotava em suas normativas a aplica-ção do CCPR.

TTTTTratado de Cooperação Amazônicaratado de Cooperação Amazônicaratado de Cooperação Amazônicaratado de Cooperação Amazônicaratado de Cooperação Amazônica

A Bacia Amazônica, na qualidade de maior sistema fluvial do mundo, épossuidora de uma extraordinária riqueza natural, da maior biodiversidade,além do significativo potencial energético (hidrelétrico e petrolífero), e deuma privilegiada localização (região equatorial, estendendo-se dos Andes aoOceano Atlântico).

O receio de uma investida internacional2 na apropriação da região e ointeresse no desenvolvimento econômico foram as razões políticas que

2. Segundo Marcovitch (2005, p. 07), “o fundo dos oceanos, a Antártida e a Amazôniaconstituem, na opinião da professora Bertha Becker, da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), os últimos “eldorados” do nosso planeta. A Amazônia, único “eldorado”em terras delimitadas por fronteiras reconhecidas e soberania afirmada, tem desperta-do propostas de “internacionalização” com muita frequência, e reiteradas em 2005,quando a região foi caracterizada, em discurso, como “bem público mundial.”

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consubstanciaram a formalização do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA),em 03 de julho de 1978, pelos oito (dos nove) países amazônicos, a saber:Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Fi-cou excluída a Guiana Francesa que também está, geograficamente, em terri-tório amazônico.

Por sinal, a disputa mundial pelas riquezas naturais é a razão do receiodas investidas estrangeiras nos países não desenvolvidos, conforme Becker(2008, p. 77):

Isso, consequentemente, trouxe uma disputa das potências pelos estoques dasriquezas naturais, uma vez que a distribuição geográfica de tecnologia e de recur-sos está distribuída de maneira desigual. Enquanto as tecnologias avançadas sãodesenvolvidas nos centro de poder, as reservas naturais estão localizadas nos pa-íses periféricos, ou em áreas não regulamentadas juridicamente. Esta é, pois, abase da disputa.

Então, decorrente de uma proposta brasileira, o TCA tem como um deseus objetivos primordiais a cooperação internacional e a afirmação da respon-sabilidade soberana dos países amazônicos na defesa do meio ambiente epatrimônio natural, no desenvolvimento sustentável da região e na melhoriada qualidade de vida da população, bem como a defesa do patrimônio natural.

Esse pacto coaduna com o propósito de integração da Amazôniatransnacional, da Amazônia sul-americana. Refere-se, portanto, a uma hodiernaescala para pensar e agir na Amazônia. Segundo Becker (2008), a união dospaíses amazônicos pode fortalecer o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)e, de certa forma, construir um contraponto com outras relações internacio-nais, como a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a União Euro-péia. Além do mais, estabelece uma presença coletiva e uma estratégia co-mum, o que possibilita o reforço nos clamores da América do Sul. E, finalmen-te, por ser fundamental para firmar projetos conjuntos quanto ao aproveita-mento da biodiversidade e da água, inclusive nas áreas que já possuem equi-pamento territorial e intercâmbio, como é o caso das cidades gêmeas localiza-das em pontos das fronteiras políticas (BECKER, 2008).

Mencionado processo levou a uma forte reativação das fronteiras polí-ticas da Amazônia, consideradas, anteriormente, como fronteiras mortas. EmTabatinga e Letícia pode-se constatar a vivificação das mesmas, o que vem aconstituir um preocupação para todos os países.

O fato de a globalização incidir na Amazônia dos países vizinhos atravésda presença militar, e no Brasil por intermédio da cooperação internacional,constitui uma diferença importante.

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Realiza-se uma articulação sul-americana por meio do resgate do Trata-do de Cooperação Amazônica (OTCA), e também a partir da iniciativa doplanejamento físico da integração por meio de transporte multimodal, difu-são da internet nos países vizinhos e intercâmbio energético. Em Roraimadeu-se o primeiro passo para a integração oficial através da construção daestrada que liga Manaus à Venezuela. O gás já vem sendo transferido da Bolí-via e do Peru, e a Bolsa de Mercadorias e Estudos propõe a extensão dafronteira agropecuária do centro-oeste brasileiro para os países vizinhos.

Para Rodrigues (2001), entre Estocolmo e Montago Bay, o fato de maiorrelevância no cenário ambiental (inclusive da Amazônia), para o Brasil e para aAmérica do Sul, foi a formalização desse Tratado. Nesse sentido, o autor afirma:

Segundo o diplomata brasileiro Pedro Motta Pinto Coelho, “No TCA estão firma-dos princípios básicos para a cooperação regional, como a idéia de que, paralograr-se o desenvolvimento integral dos respectivos territórios da Amazônia, énecessário manter o equilíbrio entre o crescimento econômico e a preservaçãodo meio ambiente; ou a idéia de que tanto o desenvolvimento sócio-econômicocomo a preservação do meio ambiente são a responsabilidades inerentes à sobe-rania de cada Estado. (RODRIGUES, 2001, p. 39)

O Tratado de Cooperação Amazônica apresentou-se consistente e ade-quado não apenas como reação ao contexto internacional da época, desfavo-rável ao Brasil em razão das políticas de ocupação e de exploração na Amazô-nia brasileira oriundas dos governos militares, mas igualmente visionário.

Dessa forma, há de ser destacada a extraordinária capacidade de preveressa tensão (desenvolvimento socioeconômico e preservação ambiental) e detentar equacioná-la, razão pela qual se recomenda, positivamente, sua estru-tura como acordo, quadro flexível, capaz de nortear matrizes coerentes parao desenvolvimento da cooperação regional.

QuadrQuadrQuadrQuadrQuadro normativo internacional bilateralo normativo internacional bilateralo normativo internacional bilateralo normativo internacional bilateralo normativo internacional bilateral

No que se refere ao quadro normativo internacional bilateral, interessaressaltar o Acordo para a Conservação da Flora e da Fauna dos TerritóriosAmazônicos do Brasil e da República da Colômbia (1973).

Também se destaca o Acordo de Cooperação Amazônica entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Governo da República da Colômbia (1981).

Acerca das relações entre o Brasil e o Peru, em 1975 foi formalizado oAcordo para a Conservação da Flora e da Fauna dos Territórios Amazônicosdo Brasil e do Peru.

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Além de outros acordos que podem ser apresentados tais como: o Acordode Pesca entre o Brasil e a Argentina (1967) e o Acordo de Pesca e Preservaçãode Recursos Vivos entre o Brasil e o Uruguai (1968).

QuadrQuadrQuadrQuadrQuadros normativos internosos normativos internosos normativos internosos normativos internosos normativos internos

A constitucionalização da proteção ao meio ambiente demonstra-se comouma tendência internacional, no que se refere ao processo de consolidaçãodo direito ambiental. Da análise das Constituições dos Estados partes do TCA,pode-se destacar, como de interesse no presente estudo, as Constituições doBrasil, da Colômbia e do Peru.3

A Declaração de Estocolmo de 1972, instrumento marco do direitoambiental, influenciou as constituições, com seus princípios de proteção, dentreos quais: o direito fundamental ao meio ambiente. Da análise dos textos cons-titucionais dos países do OTCA, apenas as constituições do Brasil e a Colômbiaprevêem a responsabilidade civil por danos ambientais (SOLA et al., 2007).

A fim de se aprofundar no assunto em pauta, aborda-se, também, oordenamento jurídico interno, enfatizando as disposições relacionadas ao meioambiente e a responsabilidade ambiental.

Ressalta-se que, no que tange aos grandes bagres migradores, a explora-ção dos estoques tem sido feita pelo Brasil, Peru e Colômbia de forma inde-pendente e com regulamentações próprias (BARTHEM, 1999). Entretanto, oEquador e a Bolívia ainda não possuem regulamentações direcionadas para apesca de bagres, apesar de participarem em conjunto com o Brasil, Colômbiae Peru de reuniões que discutem um plano de manejo para essas espécies nabacia amazônica (FABRÉ; BARTHEM, 2005).

Ordenamento jurídico da ColômbiaOrdenamento jurídico da ColômbiaOrdenamento jurídico da ColômbiaOrdenamento jurídico da ColômbiaOrdenamento jurídico da Colômbia

A Constituição Colombiana de 1991 (com alteração em 2005) faz refe-rência expressa à obrigação do Estado e do povo de proteger as riquezasculturais e naturais (artigo 8º), bem como trata da saúde e saneamentoambiental (artigo 49). Contudo, é o artigo 78, no capítulo III, que trata, espe-cificamente, do meio ambiente e dos direitos coletivos.

Na Colômbia, embora não exista regulamentação destinada ao controledo esforço de pesca, tem-se determinado cumprimentos mínimos de capturapara algumas espécies de bagres.

3. A Constituição Brasileira já foi analisada no capítulo 02, ao se tratar sobre “O direitopesqueiro no ordenamento jurídico brasileiro”.

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No que se refere à pesca de consumo, a atividade está regulamentadapor intermédio do Acordo 015/Inderena4/1987 e 075/Inderena/1989, os quaisrestringem áreas de pesca, estabelecem áreas de reserva e regulamentam asartes de pesca. Essa legislação ainda apresenta as medidas de conservaçãopara as espécies. Na categoria nacional de espécies ameaçadas, a dourada e apiramutaba encontram-se em perigo de extinção (VIEIRA, 2005).

Ordenamento jurídico do POrdenamento jurídico do POrdenamento jurídico do POrdenamento jurídico do POrdenamento jurídico do Peruerueruerueru

A Constituição Peruana de 1993, com modificação de 2005, possui umcapítulo sobre meio ambiente e recursos naturais, no qual estabelece que tan-to os recursos renováveis como os não-renováveis são patrimônio da Nação.

Determina, ainda, o mencionado texto constitucional que a política na-cional do meio ambiente irá promover o uso sustentável desses recursos eestabelece a obrigação do Estado de proteger a biodiversidade e promover odesenvolvimento sustentável da Amazônia.

No Peru, os trabalhos atuais sobre o tamanho de primeira maturação dealgumas espécies de bagres, entre as quais se destaca a dourada, têm conduzi-do as instituições envolvidas no manejo da pesca a iniciar os trabalhos pararegular o tamanho de captura. As medidas de ordenamento aplicáveis à ativi-dade pesqueira de grandes bagres amazônicos estão referidas nas disposiçõesda Lei Geral de Pesca aprovada mediante o Decreto Lei n. 25.977 e seu regu-lamento aprovado por Decreto Supremo n. 1-94-PE. Essas leis foram atualizadaspor meio da Resolução Ministerial n. 147-2001-PE.

Não é permitido usar redes com malha menor que duas polegadas parapeixes de escama e redes menores que oito polegadas (1 pol = 2,54 cm) naspescarias comercias de grandes bagres e pirarucu. Na pesca é proibida qual-quer modalidade de artes e procedimentos que atentem contra o recurso emeio ambiente como: tapagem de bocas de lagos, destruição de refúgios,agito da água, substâncias tóxicas e explosivos, sendo proibido, inclusive, con-duzir nas embarcações (VIEIRA, 2005).

O direito transfrO direito transfrO direito transfrO direito transfrO direito transfronteiriço e a responsabilidadeonteiriço e a responsabilidadeonteiriço e a responsabilidadeonteiriço e a responsabilidadeonteiriço e a responsabilidadepor perigo de dano ambientalpor perigo de dano ambientalpor perigo de dano ambientalpor perigo de dano ambientalpor perigo de dano ambiental

Antecede a exposição dos argumentos, a necessidade de salientar que seentende por dano ambiental transfronteiriço e poluição transfronteiriça.

4. Instituto Nacional de Recursos Naturales y Renovables del Medio Ambiente da Colômbia

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Dentre as múltiplas funções das águas transfronteiriças, pode-se afirmarque a mais recorrente é a de que servem como limites internacionais entreEstados. No caso de água doce, merece destaque outras funções primordiaiscomo: o consumo, a navegabilidade, usos industriais e a pesca.

A princípio, podemos simplesmente considerar a poluição transfronteiriçacomo a poluição cujas consequências ultrapassam os limites territoriais de outroEstado. Poluição transfronteiriça é uma expressão que foi utilizada na OCDE –Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a princípio, nosentido de regulamentar o fenômeno da poluição atmosférica. Atualmente, adita expressão está definida como aquela que ultrapassa a fronteira de um oumais Estados, qualquer que seja a sua natureza (MENEZES; BRANDÃO; MEN-DONÇA, 2007).

Quando a poluição transfronteiriça atinge os mananciais de água docedo planeta, o dano ambiental torna-se grave ou de difícil reparação, resultan-do em ameaça, inclusive, diretamente à vida (em todas as suas formas), inde-pendente das leis que regem os Estados soberanos (MENEZES; BRANDÃO;MENDONÇA, 2007).

Entenda-se por poluição da água “qualquer alteração de sua proprieda-de física, química ou biológica” (SILVA, 2002). Desse modo ocorrem os confli-tos internacionais, que se somam as disputas quanto ao uso e o acesso equitativoaos recursos em situação de escassez relativa ou absoluta.

As palavras de Nusdeo (2001, p. 362-363), refletem a importância e apreocupação com a exploração dos recursos naturais:

Todos os seres vivos nutrem-se de elementos produzidos ou sintetizados por outrosseres, segundo uma cadeia de sistemas que pode atuar indefinidamente e se perpe-tuar, na ausência de intervenções exógenas [...] este mesmo tipo de intercâmbio éexercitado pela espécie humana com o meio ambiente que a envolve. Ele é com-posto por um conjunto de elementos naturais – água, ar, terra, vegetação etc. – acomporem a chamada biosfera, de onde o homem retira oxigênio, alimentos,matérias-primas e a própria água, além de energia. Esses elemento todos são, deuma forma ou de outra, processados, transformando-se em bens destinados a pres-tar os mais diversos serviços ao homem, para, a seguir, serem devolvidos ao mesmoambiente, como sucata ou produtos imprestáveis de todo o tipo.

Mas quando se trata de poluição é necessário abordar a questão dasexternalidades, que no caso, representa o comprometimento dos recursos,tais como a fauna ou a extinção das espécies, a diminuição do volume ou adegradação das águas e outros.

A questão toma dimensões maiores quando está relacionada às baciashidrográficas compartilhadas, uma vez que o tratamento a ser dispensado ao

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problema das externalidades depende de cooperação multilateral. Nesse as-pecto, deve-se considerar que, em sede de Direito Internacional, não existeminstituições com poder sancionador, que possam constranger os atores à ob-servação do bem público.

Ainda que nenhum usuário possa ser excluído do acesso ao recurso hídrico,alguns prejuízos causados aos países transfronteiriços acabam se refletindo nacoletividade em geral, como é o caso do comprometimento de um estoquepesqueiro ou a extinção de espécies. Sendo essas externalidades as principaisocasionadoras de conflitos, que podem repercutir em consequências realmen-te desastrosas.

Na hipótese dos conflitos entre os países, a de se considerar a coopera-ção como a alternativa mais adequada, principalmente para aqueles que pos-suem um bom relacionamento bilateral, como é o caso do Brasil, do Peru e daColômbia, pois há a grande possibilidade de os problemas serem resolvidospor intermédio de consenso.

Pondera-se que uma situação indesejada pelo Direito Internacional seriaa interferência de um árbitro externo, ou ainda a presença de uma potênciacom interesses na região conflituosa que, de certa maneira impusesse as partesenvolvidas um acordo. Essa situação, com certeza, alteraria a posição relativados países conflitantes, tornando a escolha da cooperação uma estratégia nãomuito recomendável em virtude de seus custos.

Além do mais, os países diretamente interessados devem ser aqueles quede fato negociam e estabelecem acordos e firmam a cooperação a fim decompartilharem, da melhor forma, os recursos naturais em comum.

A cooperação não deve ser admitida apenas como o instrumento parasuperar conflitos, uma vez que a sua melhor utilização está vinculada à pre-tensão da exploração conjunta dos mencionados recursos, tendo como fatordeterminante o interesse comum entre as nações.

Os Estados, em prol do bem da comunidade internacional e da convi-vência pacífica entre as nações, assim como em face do imperioso equilíbriodo meio ambiente, devem observar a obrigação de diligência, prevista noDireito Internacional e que é constituída de regras de comportamento volta-das à proteção do meio ambiente, das quais se destacam:

a) os Estados devem possuir de maneira permanente o aparato jurídicoe material suficiente para assegurar normalmente o respeito de suasobrigações internacionais e devem dotar-se no campo da proteção aomeio ambiente, da legislação e da regulamentação administrativa, penale civil necessárias;

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b) o cumprimento com o dever de diligência implica, em concomitânciaao princípio da boa-fé, que o Estado ademais deve dotar-se da infra-estrutura legal e administrativa apropriada, deverá realizá-lo com adiligência e a vigilância apropriada às circunstâncias;

c) igualmente e enquanto não haja identidade entre os princípios, é semembargo possível apreciar intimamente relacionado o dever de dili-gência com o dever de cooperação internacional e posto aos Estados,em particular no que se refere à proteção do meio ambiente (MENEZES;BRANDÃO; MENDONÇA, 2007, p. 356).

Nesse contexto, invoca-se o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA)5

na qualidade de pacto firmado, em sua totalidade e sem reservas, por oitopaíses amazônicos, dentre os quais, Brasil, Peru e Colômbia.

Trata-se de um instrumento jurídico de natureza técnica que, como já foivisto, tem por objetivo promover o desenvolvimento harmonioso e integra-do da Bacia Amazônica e que tem como base a sustentação de um modelo decontemplação econômica regional que almeja a melhora da qualidade devida de seus habitantes e a conservação e utilização racional dos recurso natu-rais disponíveis.

Dentre as previsões do preâmbulo do TCA, merece atenção a colaboraçãoentre os Estados partes visando promover a utilização racional dos recursosnaturais, em prol do desenvolvimento harmonioso dos respectivos territórios.

No art. 1º os países se comprometem a realizar esforços conjuntos parapromover o desenvolvimento de seus respectivos territórios, levando-se emconta a preservação do meio ambiente.

O art. 5º do mencionado tratado estabelece que as partes contratantesprocurem envidar esforços com vistas à utilização racional dos recursos hídricos.

O documento prevê, também, várias instâncias de decisão com a finali-dade de assegurar a cooperação entre todos os países membros do sistemahídrico: a) Reunião de ministros das relações exteriores; b) Conselho de coo-peração amazônico; c) Comissão nacional permanente.

Está preconizado que todos os planos e programas binacionais devemter o mesmo propósito, como também devem utilizar um processo de plane-

5. O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) foi assinado em Brasília, no dia 03/07/78,e referendado no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 69/78, sendo que o derradeiroinstrumento de ratificação, por intermédio do governo da Venezuela, foi depositadoem Brasília, em 03/07/80, passando a vigorar após a edição do Decreto Presidencial n.85.050, de 03/08/80.

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jamento estruturado, que incorpore os elementos mais importantes e queafetam o desenvolvimento de uma determinada região, dando atenção parti-cular ao manejo da base de recursos naturais.

A formulação dos planos e programas binacionais, assim como a estrutu-ra operacional e enfoques metodológicos, utilizados na operacionalização dopacto originaram resultados arquivados na Secretaria-Geral do Tratado (emBrasília), contudo, embora sejam considerados importantes no ponto de vistaformal, apresentam-se fracos na questão operacional, uma vez que as propos-tas revestem-se de caráter principiológico e geral (MENEZES; BRANDÃO;MENDONÇA, 2007, p. 386).

Reafirma-se que, em qualquer atividade econômica a idéia de desenvol-vimento está inteiramente vinculada à utilização do patrimônio natural. As-sim, a ausência de uma estratégia adequada para assegurar o gerenciamentointegral desse patrimônio, em prazo prolongado, converte o desenvolvimen-to sustentável em um objetivo de alcance dificultoso ou inatingível.

Apesar disso, os critérios utilizados para definir os projetos binacionais enacionais revelam o interesse dos países membros do TCA em melhorar obem-estar social das comunidades transfronteiriças.

Então, diante desse interesse e das manifestações, explícitas e implícitasdo TCA, pode-se afirmar a necessidade: a) de utilizar todos os meios possíveiscom objetivo de prevenir ou minorar danos ao meio ambiente; b) de utilizaros mecanismos do Direito Internacional vinculados ao meio ambiente, inclu-sive as iniciativas diplomáticas e consulares dos três países (Brasil, Peru e Co-lômbia), para a conservação dos recursos naturais dispostos em ambientestransfronteiriços; c) da utilização dos instrumentos de Direito Interno dosmencionados países em favor da preservação ambiental e da harmoniosa con-vivência entre as nações; d) de, diante da poluição transfronteiriça (no caso, operigo de depleção do estoque pesqueiro de bagres migradores), acionar aComissão Especial do Meio Ambiente da Amazônia, conforme disposição doTCA, a fim de fomentar atos preventivos, inclusive de reparação, e atribuirresponsabilidade por eventuais riscos de danos e danos aos recursos naturaisda região.

No âmbito nacional, o Brasil possui instrumentos valiosos disponíveispara a defesa do meio ambiente:

a) a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6938/81);

b) a Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85);

c) o Código de Defesa do Consumidor (que confere amplitude aindamaior à da ação civil pública);

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d) a Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9608/98 – que dispôs sobre assanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividadeslesivas ao meio ambiente);

e) e o art. 225 da Constituição Brasileira.

Várias opções foram apontadas, que se encontram dispostas noordenamento jurídico pátrio e no Direito Internacional Ambiental, para aprevenção e a responsabilização pelo dano ambiental transfronteiriço. Poressa razão, e com fulcro no entendimento de Menezes, Brandão e Mendonça(2007, p. 400-402), apresenta-se um ordenamento de ações destinadas àprevenção, à reparação e a responsabilidade por dano ambientaltransfronteiriço.

Considerações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finais

A bacia Amazônica se distribui por diversos países e, consequentemente,compartilha estoques pesqueiros, tais como dos bagres migradores (douradae piramutaba) e de peixes sedentários, como o caso do pirarucu.

A necessidade da promoção do desenvolvimento em bases sustentáveisda bacia e a utilização racional dos recursos naturais motivou o estabeleci-mento do Tratado de Cooperação Amazônica, no início da década de 1970.Entretanto, a partir do direito comparado é possível perceber que os Estadossignatários do mencionado documento pouco avançaram no sentido de criarlegislações compatíveis para a manutenção desses estoques pesqueiros com-partilhados, ignorando até o momento, a poluição transfronteiriça, que ame-aça a integridade ecológica da bacia, prejudicando a pesca.

RRRRReferênciaseferênciaseferênciaseferênciaseferências

AXELROD, H.R.; BURGESS, W.E.; PRONEK, N.; WALLS, J.G. DrDrDrDrDr. Axelr. Axelr. Axelr. Axelr. Axelrod’sod’sod’sod’sod’s AAAAAtlas oftlas oftlas oftlas oftlas offreshwater aquarium fishesfreshwater aquarium fishesfreshwater aquarium fishesfreshwater aquarium fishesfreshwater aquarium fishes. Sixth edition. T.F.H. Publications, Neptune City, New Jersey,1991.

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O Manejo deO Manejo deO Manejo deO Manejo deO Manejo deRRRRRecursos Pecursos Pecursos Pecursos Pecursos Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueirososososos

Blanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RojasojasojasojasojasSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily Franco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargo

Miguel PMiguel PMiguel PMiguel PMiguel Petrere Jretrere Jretrere Jretrere Jretrere Jr.....

Este capítulo apresenta uma ampla revisão da literatura sobre as basesconceituais do manejo pesqueiro. Dado o caráter multidisciplinar e holísticodo pensamento que envolve as técnicas e estratégias de manejo, são visitadasvárias áreas da ciência, dentre as quais a ecologia, a biologia, a economia e asciências sociais.

Nesse sentido, com a finalidade de transportar para os juristas as princi-pais idéias que permeiam as técnicas de manejo utilizadas, não só na Amazô-nia, mas também pelo mundo, optou-se por estruturar o texto como umasequência de tipos conceituais de manejo e, sempre que possível, buscou-seapresentar exemplos relevantes para o propósito da obra, que é fomentar adiscussão sobre o direito pesqueiro no Brasil.

Bases conceituaisBases conceituaisBases conceituaisBases conceituaisBases conceituais

O manejo de recursos naturais abrange várias disciplinas, tais como aecologia, ciências sociais e a gestão pública. As regras que o fundamentamenvolvem formas de aproveitamento e a definição de seus respectivos titula-res, visando à regulação de padrões de uso e à potencialização dos resultados.Portanto, o manejo (gestão ou gerenciamento) de recursos naturais possuiduas dimensões inter-relacionadas: o sistema social e o sistema ecológico (Cf.CARLSSON; BERKES, 2005; CASTRO, 2004; SEIXAS; BERKES, 2005).

Assim, o manejo dos recursos naturais ocupa um papel determinante noprocesso de regulação das inter-relações entre os sistemas naturais e sociais alongo prazo. Neste caso, deve-se levar em consideração a diversidade de inte-resses dos atores sociais envolvidos no processo de manejo, e as incertezas econtrovérsias científicas sobre as dinâmicas ecossistêmicas (VIEIRA; BERKES;SEIXAS, 2005).

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Segundo Ludwig, Hilborn e Walters (1993), as potencialidades de apro-veitamento de alguns tipos de recursos naturais renováveis (v.g. estoques pes-queiros) são incertas e de difícil estimativa. Portanto, é importante que a aca-demia e os tomadores de decisão sejam cuidadosos no uso dos modelospreditivos e com as propostas neles baseados.

No caso do manejo dos recursos pesqueiros, o processo é complexo,pois requer a integração da biologia e da ecologia das espécies-alvo, com osfatores socioeconômicos e institucionais que afetam o comportamento dosusuários (pescadores) e dos responsáveis pela sua administração. Embora osplanos de manejo tenham sido melhorados ao longo do tempo, muitos esto-ques pesqueiros tem sofrido declínio, chegando inclusive a níveis de colapso(POMEROY, 1998; LUDWIG; HILBORN; WALTERS, 1993; FAO, 2006). Empescarias continentais, o declínio de alguns estoques na bacia amazônica, comoo da piramutaba Brachyplatystoma vaillantii, do tambaqui Colossomamacropomum, e do pirarucu Arapaima gigas, refletem as dificuldades de seestabelecer planos de manejo.1

É enganoso acreditar que o principal objetivo do manejo de recursospesqueiros é simplesmente a manutenção biológica dos estoques. Entretanto,ressalte-se que este enfoque limitado foi bastante ampliado através do tempo,incluindo-se objetivos econômicos, sociais e ambientais, que envolvem a as-sistência social ao pescador, a promoção da eficiência econômica das pescariase o compartilhamento justo dos recursos (HILBORN; WALTERS, 1992; BERKESet al., 2006; KING, 2007).

Neste sentido, antes de determinar uma estratégia de manejo para aspescarias que se desenvolvem em uma localidade, a autoridade gestora dosrecursos deve definir claramente seus objetivos, que devem ser sustentadoscom base em um ou vários critérios, dependendo do contexto em que seencontram (FAO, 1999; PROYECTO FODEPAL, 2004). Os objetivos podemvariar no tempo e no espaço, além de mudarem sob circunstâncias externas.Critérios de conservação, sustentabilidade, usos recreativos e de equidade deacesso frequentemente são considerados no manejo das pescarias.2

1. A literatura, nesse particular, é bastante vasta em exemplos. Ver BAYLEY; PETRERE,1989; BARTHEM et al., 1997; ISAAC; RUFFINO, 1996; BATISTA et al., 1998; CASTILLOet al., 1988; DURAN, 1995; HURTADO, 1997; CASTILLO; MATOS; BRAVO, 2000a;CASTILLO; PINERO; BRAVO, 2000; CASTILLO; RUIZ; BRAVO, 2000; CASTILLO, 2001;CORTES-MILLAN, 2002; NOVOA, 2002; CASTELLO, 2004; FABRÉ; BARTHEM, 2005;RUEDA, 2006; BARBARINO, 2005; RODRIGUEZ et al., 2007.

2. Nesse sentido se manifestam diversos autores, como: PANAYOTOU, 1983; HILBORN;WALTERS, 1992; SEIJO; DEFEO; SALAS, 1997; FAO, 1999; BERKES et al., 2006; KING,2007; PROYECTO FODEPAL, 2004

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Assim, uma vez acordados os objetivos, podem ser desenvolvidas asestratégias de manejo, que devem prioritariamente, evitar a extinção comer-cial e biológica das espécies-alvo das pescarias.3 Estas estratégias devem tam-bém otimizar os benefícios derivados da atividade pesqueira e promover ouso sustentável dos recursos (FAO, 1999; BERKES et al., 2006).

Em muitos casos, observa-se o estabelecimento de limites territoriais,controle de acesso a certas zonas de pesca e cotas de captura. Entretanto, adificuldade para estabelecer direitos de propriedade sobre os recursos pes-queiros tem sido um problema em diversos sistemas jurídicos, como no casodo Brasil. Assim, na maioria dos casos, outorgam-se direitos para o uso ouaproveitamento dos recursos, sem a imposição de qualquer alteração nos di-reitos de propriedade.4

Neste sentido, é pertinente abordar o tema dos recursos de propriedadecomum, dentre os quais os recursos pesqueiros, e os princípios e fundamentosdo manejo. Ressalte-se, entretanto, que no Brasil os recursos pesqueiros sãobens de domínio público e livre acesso, não se confundindo com a condiçãode recurso comum, conforme definido por Hardin (1968).

A regulação de recursos de prA regulação de recursos de prA regulação de recursos de prA regulação de recursos de prA regulação de recursos de propriedade comum e aopriedade comum e aopriedade comum e aopriedade comum e aopriedade comum e adefinição de direitos de prdefinição de direitos de prdefinição de direitos de prdefinição de direitos de prdefinição de direitos de propriedadeopriedadeopriedadeopriedadeopriedade

De acordo com Pauly (1983), o pecado capital do manejo pesqueiro é odeclínio dos estoques e a consequente tragédia dos comuns. Essa tragédia con-siste no fracasso da administração do uso de um estoque pesqueiro (de propri-edade comum ou livre acesso), provocado pela falência de ações ou políticasdirigidas para regular o desenvolvimento das pescarias (BARTHEM et al., 1997).

Hardin (1968) desenvolveu o conceito de propriedade comum partindoda evolução histórica de áreas comuns (pastagens) instituídas à época do siste-ma feudal na Inglaterra. Segundo referido autor, os feudos possuíam áreasonde os trabalhadores (servos) do senhor feudal podiam criar animais parasua alimentação. Essas áreas de pastagem não possuíam um proprietário/usu-ário identificado ou singular, mas eram destinadas a um sujeito coletivo dedireitos, quais sejam, os servos daquele feudo. Com o passar do tempo, osistema feudal entrou em declínio e terminou, restando, entretanto, essas áre-as “comuns”, que continuavam a existir sob as mesmas condições de uso eacesso da época em que foram criadas.

3. Segundo Reis, Kullander e Ferraris (2003), 20% das espécies continentais já estão extintas.

4. Sobre ese tema, ver ACHESON, 1981; HILBORN; WALTERS, 1992; PROYECTO FODEPAL,2004; PAIVA, 2004.

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Assim, é importante entender que no Brasil não existem recursos de pro-priedade comum, conforme o conceito de Hardin (1968). Apesar disso, asconsequências do aproveitamento irracional dos recursos pesqueiros nacio-nais, assim como as condições de acesso irrestrito aos estoques, equiparam-sena prática à tragédia dos comuns.

De acordo com Hardin (1968), uma área de livre acesso, aberta àexplotação (pastagem) por qualquer usuário (pastor), corre o risco de destrui-ção irreversível, pois é esperado que cada pastor aumente seu rebanho visan-do um retorno individual maior, sem se preocupar com os demais usuários,provocando prejuízos compartilhados por todos. Assim, este autor concluique a liberdade em relação a recursos comuns gera a ruína de todos.

Para Hardin (1968), uma forma de evitar este resultado é definir direitosde propriedade. Sob o ponto de vista da teoria econômica, esta definiçãopermite que os usuários explotem racionalmente o recurso, assegurando suasustentabilidade a longo prazo e maximizando a renda. Isto se deve aos in-centivos que são alocados quando o possuidor tem a exclusividade para fazeruso do recurso e para transferi-lo com relativa facilidade, com a certeza deque se respeitará sua propriedade e seu direito terá vigência determinada.Assim, Hardin (1968) propõe que estes recursos devem ser privatizados oudestinados à esfera de propriedade pública, estabelecendo-se regras de acessopara regulamentar seu uso, bem como se deve estabelecer princípios de aces-so preferencial.

Berkes (1985) e Feeny et al. (1990) expõem que os recursos comuns sãosusceptíveis ao esgotamento e à degradação, porque compartilham duas ca-racterísticas básicas: (i) a impossibilidade de controlar o acesso dos usuários; e(ii) a subtrabilidade, que se traduz na situação onde aquilo que é apropriadopor um usuário torna-se sua propriedade, excluindo os demais usuários (v.g. apesca: o peixe que é capturado por um pescador passa a ser de sua proprieda-de e não pode mais ser capturado por ninguém).

Berkes (1996) e Feeny et al. (1990) identificam quatro categorias de di-reitos sobre os recursos naturais: i) livre acesso; ii) propriedade privada; iii)propriedade estatal; e iv) propriedade comum, assim definidos:

t Livre acesso: o acesso aos recursos não é condicionado, sendo livre eaberto para qualquer pessoa. Nesse caso, os recursos são consideradoscoisa de ninguém (HARTMANN, 1990).

t Propriedade privada: faz referência à condição na qual um indivíduoou corporação tem direito de excluir outros e de ter normas para ouso do recurso. Geralmente, os direitos de propriedade privada são

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reconhecidos e regulamentados pelo Estado, sendo, em muitos casos,exclusivos e transferíveis.

t Propriedade estatal: exprime que os direitos sobre o recurso são deexclusividade do governo, que controla seu acesso e regulamenta seuuso (HARTMANN, 1990).

t Propriedade comunal ou comunitária: refere-se àquele regime em queo recurso é manejado por uma comunidade definida de usuários, quepodem excluir a ação de indivíduos externos e regulamentam a utili-zação do recurso por parte dos membros da comunidade local(HARTMANN, 1990). No Brasil, os acordos comunitários de pesca,instrumentos de direito administrativo e de eficácia entre as partes(administrados), têm servido a esse propósito. A fragilidade da situa-ção jurídica, entretanto, é compensada pela legitimidade social danorma, fazendo-se respeitar mesmo por usuários não abrangidos pe-los acordos. Casos observados de falência desses acordos relacionam-se a vícios de origem (nos quais nem todos os usuários foram consul-tados e/ou opiniões fortes não foram contempladas), e ao desvirtua-mento de seus objetivos, quando as comunidades passam a usar oinstrumento como forma de reservar um local para a prática comuni-tária da pesca comercial, ocasionando a pressão e consequentes con-flitos com pescadores de fora.

Considerando os quatro aspectos acima, McCay e Acheson (1987) críticama teoria de Hardin (1968), devido ao equívoco feito entre a propriedadecomum e o livre acesso. É incorreto simplificar as causas do declínio ambiental,atribuindo-lhes apenas o viés econômico da utilização irracional dos comunse desconsiderando o desempenho dos sistemas sócioeconômicos e o compor-tamento de territorialidade dos usuários desses recursos. Por outro lado, Berkes(1996) diz que privatização dos comuns não é uma opção, pois implicaria naexclusão de usuários tradicionais.

Apesar dos diferentes aspectos acima demonstrados, os estoques pes-queiros apresentam as condições de recurso de uso comum, pois não há exclu-sividade sobre os mesmos. Neste caso, a subtrabilidade incentiva o aumentodo esforço de pesca para se compensar os ganhos individuais dos usuários(PROYECTO FODEPAL, 2004). Nesse contexto, espera-se o surgimento deusuários com comportamento de free riders, o que em alguns casos podeconduzir a falência do sistema de manejo.

Sob a perspectiva de Hardin (1968), caso o recurso seja de uso comum, ounão tenha usuários definidos ou certeza sobre os mesmos, cada indivíduo tem aopção de capturar mais ou limitar sua captura, levando em conta os custos e

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benefícios individuais esperados. Assim, o pescador opta por aumentar sua cap-tura porque existem benefícios individuais esperados por um esforço maior decaptura, enquanto os custos esperados, entendidos como uma sobre-explotaçãodo recurso são compartilhados entre todos os usuários do recurso.

Com esta premissa, todos os pescadores aumentam o esforço pesqueiroe investem na melhoria do poder de pesca das embarcações. Esta situaçãogera a sobre-explotação do recurso e produz importantes perdas para os pes-cadores que tem que exercer um esforço pesqueiro maior para obter menorescapturas, terminando, finalmente, numa situação onde não há mais recurso enão há novos ingressos (BERKES et al., 2006).

Camargo (1998) aponta que, nas circunstâncias de livre acesso, os riscoseconômicos da extinção das pescarias são maiores que a circunstâncias deacesso limitado, pois no manejo dos recursos naturais é pertinente estabelecerdireitos, taxas e privilégios. No Brasil, apesar da situação jurídica dos estoquespesqueiros, não se pode falar em livre acesso, uma vez que a atividade éregularmente licenciada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura. Observam-setambém diversas práticas de limitação de acesso aos estoques pesqueiros, atravésde medidas de restrição de frota pesqueira (v.g. pesca de camarões).

Assim, a sustentabilidade da atividade pesqueira tem que lidar com aquestão de como se define o “uso” dos recursos. As formas de apropriação doespaço pelos pescadores são o eixo principal da polêmica sobre as perspecti-vas de vida e trabalho das comunidades de pescadores. Portanto, os tipos demanejo pesqueiro procedem do sistema de acesso aos mesmos, do comporta-mento de territorialidade e das interações intra e intercomunitárias, principal-mente com o estado (Cf. McCAY; ACHESON, 1987; CAMARGO, 1998; BERKESet al., 2006).

O manejo da pesca é necessário para que a atividade permaneça lucrati-va. Para tal, a agência/órgão gestor (governamental ou não) que dirige omanejo deve estar preparada para manter o equilíbrio entre os interesses detodos os envolvidos, enquanto garante que o sistema pesqueiro de formageral seja sustentável (FAO, 1999; BERKES et al., 2006).

Assim, diferentes abordagens de manejo são reconhecidas pela literatu-ra. Segundo Berkes et al. (2006), entre elas, observam-se o manejoecossistêmico, o manejo adaptativo, os novos regimes de governança, o ma-nejo compartilhado (ou co-manejo), o uso do conhecimento tradicional oulocal dos pescadores e os meios de vida sustentáveis.

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O Manejo de Recursos Pesqueiros 6565656565

Abordagens de manejo pesqueirAbordagens de manejo pesqueirAbordagens de manejo pesqueirAbordagens de manejo pesqueirAbordagens de manejo pesqueirooooo

Manejo pesqueiro tradicional ou convencional

Ainda que a conservação não fosse essencialmente o alvo dos sistemasde pesca tradicionais, eles teriam que ser sustentáveis a longo prazo. Destaforma, os princípios de uso sustentável e as abordagens de precaução foramincorporados na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos do Mar de1982; no Código de Conduta para Pesca Responsável de 1995, entre outrosacordos internacionais relacionados à pesca (FAO, 1995a; BERKES et al., 2006).

Apesar de considerar que não existe um conceito claro para o manejosustentável de recursos pesqueiros, a FAO (1999) entende que o mesmo é oprocesso integrado de agrupamento de informações, análise, planejamento,consulta, tomada de decisões, alocação de recursos e implementação das re-gulamentações ou normas que governam as atividades pesqueiras, de modo aassegurar a sustentabilidade do uso dos recursos e o alcance de outros objeti-vos das pescarias.

Dias Neto (2003) define a gestão do uso sustentável dos recursos pes-queiros como sendo a mediação pelo uso de um bem da União, envolvendoa aplicação de um conjunto harmônico de medidas de expansão ou retraçãoda pesca, para obter a sustentabilidade da atividade e o equilíbrio doecossistema onde ocorre a pescaria, para a garantia de preservação do bancogenético da espécie ou das espécies explotadas e a rentabilidade econômicados empreendimentos; assim como a geração de emprego e renda justa parao trabalho.

Nota-se que, em ambos os conceitos, coincidem os fatores biológicos,econômicos, sociais, legais e políticos, que geralmente envolvem compromis-sos para assegurar à sustentabilidade da atividade. Atualmente, os objetivosdas práticas de manejo pesqueiro visam equilibrar conjuntamente a conserva-ção dos estoques, o bom desempenho econômico das pescarias, os reflexossociais da atividade pesqueira e os aspectos políticos. Também tem sido incor-porada a busca pelo maior nível e satisfação das pessoas que vivem da pesca(PAIVA, 1986; BERKES et al., 2006).

Segundo Caddy e Mahon (1996), a definição de objetivos claros de ma-nejo facilitaria a adesão dos grupos envolvidos na atividade pesqueira. Assim,para o planejamento inicial das estratégias de manejo, os mencionados auto-res defendem a utilização de pontos de referência, que são os valores referenciaissobre a situação ou estado da pescaria, ou da população em estudo.

Os pontos de referência podem ser classificados em: i) objetivos (PROs);ii) limites (PRLs); iii) umbral (PRUs) e; iv) precaucionários (PRPs). Os PROs

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indicam o estado desejável que se deve encontrar uma pescaria ou um recur-so. Os PRLs indicam a situação indesejável na qual uma pescaria ou recursopesqueiro poderiam estar e as ações de manejo pesqueiro que deveriam serevitadas. Os PRUs indicam um alerta para quando se ultrapassaram os objeti-vos de manejo estabelecidos previamente. Por último, os PRPs são aquelesestabelecidos para recursos no início de uma explotação ou no caso de haverinformação científica insuficiente para o estabelecimento de um plano demanejo (CADDY; MAHON, 1996). Este último nada mais representa que aaplicação do princípio da precaução ao manejo pesqueiro.

Para as medidas técnicas de regulamentação, uma vez definidos os objetivose os pontos de referência, se estabelecem formas de controle para garantir osucesso das estratégias adotadas. Tais controles são denominados medidas técni-cas de manejo e podem ser medidas de controle dos insumos (inputs) ou doproduto (outputs). Entre estas se destacam: i) limitação do tamanho da frota,proibição de petrechos, restrições do exercício da atividade e incentivos fiscais e;ii) limitação do tamanho de captura das espécies-alvo, da quantidade de pescado,da captura de determinadas espécies e o estabelecimento de épocas e áreas paraa pesca (PROYECTO FODEPAL, 2004; COCHRANE, 2005; KING, 2007).

Todas estas medidas de controle para regular a atividade podem gerarresultados positivos. Porém, deve ser adotada pelo órgão gestor, aquela com-binação de opções que melhor se adapte à natureza da pescaria e dos gruposde interesses presentes, com a finalidade de proporcionar a sustentabilidadeda atividade pesqueira (CADDY; MAHON, 1996; PROYECTO FODEPAL,2004). É importante lembrar que, uma vez adotadas as estratégias de manejo,as decisões tomadas devem ser mantidas por um tempo mínimo, evitandoque interesses pontuais e de curto prazo interfiram nas medidas estabelecidase provoquem o colapso das estratégias.

Para superar as dificuldades a serem enfrentadas na fase de implementaçãodas medidas, Caddy e Mahon (1996) recomendam que as incertezas sobre oestado dos estoques sejam quantificadas, com a finalidade de conhecer a pro-babilidade de alcançar o objetivo desejado. Em relação ao risco, os mesmosautores identificam duas categorias: o risco de não conseguir um PROs e orisco de exceder um PRLs. Os custos por não alcançar um PROs são definidosem termos da redução ou interrupção a curto prazo o fluxo de benefíciospara os participantes da pescaria e para os consumidores, ainda que isto possaresultar em ganhos brutos a longo prazo. Entretanto, os custos de exceder umPRLs são mais sérios e podem ir desde um simples decréscimo até o colapsodas populações, impactos sobre as espécies associadas e desestabilização dosecossistemas, assim como a perda de renda a longo prazo, incluindo assimimpactos entre gerações.

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Manejo ecossistêmico

A abordagem de manejo ecossistêmico foi inicialmente tratada no Fórumde Consultas sobre Princípios Ecossistêmicos dos Estados Unidos (EPAP), em1998. Baseado na literatura dos ecossistemas pesqueiros e na experiência deseus representantes, este fórum sugeriu princípios, objetivos e políticas queincorporam elementos-chave para a abordagem ecológica do manejo da pes-ca. Assim, seus elementos fundamentais são: i) a manutenção dos bens e servi-ços ambientais e seus benefícios; ii) a redefinição dos limites que caracterizamo manejo, pois o ecossistema funciona como uma entidade una e indivisível,o que sugere transcender limites jurisdicionais, posto que os ecossistemas ul-trapassam as fronteiras entre estados e países; iii) a adoção de uma visão alongo prazo, garantindo a sustentabilidade dos recursos para as gerações futu-ras; iv) a integração da informação social e econômica com a informaçãoambiental e; (v) a manutenção do potencial produtivo (FAO, 2004a).

Também chamado de manejo pesqueiro baseado no ecossistema -“Ecosystem-based fisheries management” (EBFM), este enfoque foi posterior-mente discutido na “Conferência de Reykjavik sobre a Pesca Responsável noEcossistema Marinho”, organizada pela FAO e pelos Governos de Islândia eNoruega, no ano 2001. A declaração desta Conferência afirma que a incorpo-ração do conceito de ecossistema implica na sua conservação mais efetiva eno seu uso sustentável, reafirmando-se igualmente os princípios do Código deConduta para a Pesca Responsável (FAO, 2004a, b; FAO, 2006; COCHRANE,2005; FAO, 2007).

Mediante o enfoque ecossistêmico das pescarias, procura-se equilibrar osdiversos objetivos sociais, considerando os conhecimentos e as incertezas so-bre os componentes bióticos, abióticos e humanos dos ecossistemas e suasinterações, para então aplicar à pesca um enfoque integrado dentro de limitesecológicos fidedignos. Assim, segundo a FAO (2004a; 2006; 2007), o EBFMnão é incompatível com os enfoques atuais de ordenamento da pesca sendomais uma extensão ampliada destes.

O EBFM orienta-se não só para a regulamentação da pesca de certasespécies, mas também cuida para que a pesca não tenha um efeito indesejávelem outras espécies afins ou dependentes das espécies alvo. Os esforços, por-tanto, estarão dirigidos na preservação da integridade do ecossistema medi-ante o estabelecimento de limites conservadores (precaucionários) (Cf FAO,2006; COCHRANE, 2005).

Na abordagem ecossistêmica, deve-se considerar o homem como parteda cadeia alimentar e não apenas as relações tróficas no ambiente aquático. Ohomem assume a função de predador e ente de distorção das relações existen-

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tes no ambiente. Assim, conforme dispõe Cury, Shannon e Shin (2003), asestratégias de manejo devem considerar a estrutura dinâmica do ecossistemae as diferentes interações tróficas que nele ocorrem.

Neste sentido, é fundamental aceitar a interdependência de todos oselementos que formam um ecossistema. Como demonstra Sanders (2002),embora os problemas práticos colocados por esta nova abordagem sejambastante complexos, existem mecanismos científicos que poderiam possibilitarintervenções de manejo visando à conservação da estrutura e da função doecossistema aquático, possibilitando a conservação dos recursos pesqueiros.

Berkes et al. (2006) apontam que vários gestores usam índices de captu-ra como indicadores de integridade ecológica ou saúde do ecossistema.5 Orápido decrescimento dos índices de captura é indicativo de que algo estáacontecendo no ambiente. Faz-se necessário ressaltar que o manejo pesqueirodeve visar à sustentabilidade do ecossistema e não só das espécies alvo. Omanejo baseado no ecossistema enfatiza a proteção do potencial reprodutivodo sistema que produz os fluxos de recursos, em vez de proteger uma espécieou um estoque individual como recurso.

Manejo adaptativo

Este conceito foi desenvolvido pelos ecólogos Holling e Walters da Uni-versidade de British Columbia, Canadá em 1970. O manejo adaptativo estárelacionado com o aprendizado através da prática. É um processo sistemáticode melhorar continuamente as políticas e práticas de manejo, aprendendocom os resultados dos programas operacionais (WALTERS; HOLLING, 1990).

Segundo Hilborn e Walters (1992), o manejo adaptativo é um processode realimentação, onde a combinação da informação formal e informal e aspolíticas formuladas pela administração pesqueira têm que ser repassadas aosusuários e tomadores de decisão, de forma que as lições sejam absorvidas eincorporadas pela sociedade.

Assim, este enfoque é um processo que tenta organizar os usuários eadministradores, para que tomem suas decisões a partir de informações gera-das por diversos testes de hipótese e por modelagem (HILBORN; WALTERS,1992). As decisões de manejo são periodicamente revisadas e corrigidas combase na avaliação dos resultados obtidos através do monitoramento das açõesefetivadas.

5. A exemplo disso, cita-se o ProVárzea (IBAMA, GTZ, KfW e DfID), que teve como um deseus principais objetivos o monitoramento da integridade da bacia Amazônica, atravésda avaliação das condições da pesca.

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Berkes et al. (2006) apontam que, assim como os indivíduos aprendem,as organizações e instituições também podem aprender. Portanto, o manejoadaptativo baseia-se na aprendizagem social e institucional. Este manejo dife-re da prática convencional do manejo de recursos por enfatizar a importânciada retroalimentação do ambiente na formação de políticas, seguido por umanova experimentação sistemática (não aleatória) para modelar as políticassubsequentes.

Os passos essenciais na aprendizagem com a experiência incluem docu-mentar decisões, avaliar resultados e responder à avaliação. Assim, as institui-ções que desenvolvem ações de manejo precisam ter publicações, registros ebancos de dados que são os mecanismos de memória institucional que pro-movem as mudanças das políticas estabelecidas (BERKES et al., 2006).

Em resumo, o manejo adaptativo é o senso comum. Embora seja utiliza-do no dia a dia, muitas vezes falha quando aplicado ao manejo dos recursospesqueiros. Os aspectos formais, como, por exemplo, a teoria das probabili-dades, fornecem uma base estatística para se delinear as regras de tomada dedecisão, mas estas são raramente utilizadas, pois as decisões costumam sermais políticas que técnicas (HILBORN; WALTERS, 1992).

Manejo compartilhado (participativo) ou co-manejo

Carlsson e Berkes (2005) demonstram que é abundante a literatura queenfoca como os sistemas ecológicos e sociais podem estar ligados, com a fina-lidade de promover a sustentabilidade da explotação dos recursos naturais.

Observou-se que os programas de manejo pesqueiro de pequena escala,promovidos ou não pelos governos, não consideravam a heterogeneidadedas comunidades de pescadores e sua racionalidade a respeito da explotaçãodo recurso. Segundo Pomeroy (1999), para se ter um enfoque de manejopesqueiro baseado na comunidade, as agências de administração pesqueiradevem considerar o melhor o uso dos recursos, com a finalidade de promoveruma economia sustentável e avançar no desenvolvimento local.

Porém, estão documentados casos em que os pescadores intervieram natomada de decisões e nas resoluções de conflitos relacionados com o uso dorecurso e seu manejo local (JENTOFF; MCCAY, 1995). Atualmente, o conceitode manejo compartilhado ou co-manejo tomou corpo com a finalidade dearticular as relações sociais e ecológicas que se dão no uso dos recursos natu-rais (CARLSSON; BERKES, 2005). No caso do manejo pesqueiro, esta aborda-gem possui uma nova estratégia que afasta a forma de manejo centralizado, ede cima para baixo.

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Berkes et al. (2006) definem o manejo participativo, ou co-manejo, comoa partilha de poder e de responsabilidades entre o governo e os usuárioslocais dos recursos. Por outro lado, Carlsson e Berkes (2005) definem o co-manejo como os sistemas de governo que combinam o controle estatal com olocal, descentralizando as tomadas de decisões e as responsabilidades.

Assim, Carlsson e Berkes (2005) afirmam que o manejo compartilhadoou co-manejo dos recursos naturais seria a potencial solução para as divergên-cias entre dois sistemas alternativos: o centralizado (nível estatal versus nívellocal), e o sistema de manejo dos recursos com base comunitária. Ressalte-seque há vários níveis de co-manejo, dependendo do nível de partilha de poderentre o governo central e os usuários locais desses recursos. Portanto, o mane-jo compartilhado compreende a partilha de estruturas de governo entre osatores envolvidos com o recurso e as instituições governamentais (JENTOFT;McCAY; WILSON, 1998; BERKES et al., 2006).

Na prática, observa-se que o manejo pesqueiro compartilhado é a parce-ria na qual o governo, a comunidade de usuários locais do recurso (pescadores),os agentes externos (organizações não-governamentais acadêmicas e institui-ções de pesquisa) e outros atores relacionados com a pesca e os recursos pes-queiros (proprietários de embarcações, comerciantes de pescado, bancos queconcedam empréstimos, estabelecimentos turísticos, etc.) compartilham respon-sabilidades e a autoridade por tomar decisões sobre o manejo de uma pescaria.

O manejo compartilhado é, portanto, um processo no qual se reconhe-cem os diferentes valores, necessidades, inquietudes e interesses abrangidosno manejo de um recurso, estando sujeito às políticas existentes, do ambientelegal, do apoio político do governo para ações e iniciativas comunitárias e dacapacidade das organizações comunitárias se tornarem parceiras do governo.As parcerias são construídas, fortalecidas ou redefinidas em diferentes mo-mentos do processo do manejo compartilhado. O processo pode incluir orga-nizações formais e informais de usuários de recursos e outros atores.

Convém ressaltar que, segundo Berkes et al. (2006) no manejo compar-tilhado são concebidas duas categorias: i) o manejo compartilhado baseadona comunidade,6 e ii) o manejo compartilhado centrado nos atores.

A primeira considera o manejo comunitário como parte integral domanejo compartilhado, incluindo as características dos dois tipos de manejo eapresentando uma conexão entre os parceiros, que ocorre quando a comuni-dade está empoderada e organizada. É uma categoria mais complexa, custosa

6. Esta é a forma de manejo mais comum observada na bacia Amazônica. É com basenesses critérios que são elaborados os acordos comunitários de pesca, conforme serávisto detalhadamente no decorrer desta obra.

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e prolongada que o manejo comunitário puro, sendo comumente encontradaem países em desenvolvimento. Berkes et al. (2006) sugerem que uma varia-ção do manejo compartilhado baseado na comunidade é o manejo comparti-lhado tradicional ou habitual, que é empregado para gerir pescarias de pe-quena escala em várias partes do mundo, onde os órgãos oficiais de gestãoreconhecem formalmente os arranjos comunitários de manejo.7

O manejo compartilhado centrado nos atores é mais avançado e maisfrequente em países desenvolvidos, conferindo pouca ou nenhuma atençãopara o desenvolvimento comunitário. A ênfase é fazer com que os atoresparticipem do processo do manejo dos recursos. Dessa forma, o manejo com-partilhado consiste em uma parceria principalmente entre a indústria e o go-verno, sendo as representações dos pescadores e outros atores que estabele-cem as regras de manejo, como no caso da pesca do bacalhau na NoruegaGadus morhua ou os Conselhos Regionais de Manejo Pesqueiro nos EstadosUnidos (JENTOFT; McCAY, 1995; BERKES et al., 2006).

Conhecimento ecológico local

Geralmente, os órgãos que promovem a gestão de uso de recursos naturaisconseguem dar impulso para a realização de pesquisas sobre um dado recurso,como parte da responsabilidade do governo para contribuir com sua conserva-ção e assim promover planos de manejo. Entretanto, é comum a escassez derecursos financeiros e físicos para se realizar tais pesquisas (BERKES et al., 2006).

No manejo das pescarias tropicais de pequena escala, especialmente nospaíses em desenvolvimento, as informações biológicas são insuficientes, escassase/ou inexistentes, sendo supridas pelo conhecimento tradicional dos pescadoresde pequena escala.8 Segundo Johannes (1998), sistemas de manejo com limita-ção de dados não significam um manejo sem informação, pois esta pode serobtida de duas fontes: i) utilizando estudos de pescarias semelhantes; ou ii)utilizando o conhecimento local dos pescadores sobre seu ambiente de pesca.

Atualmente, o manejo das pescarias de pequena escala acompanha atendência mundial de descentralizar a tomada de decisões (de acima parabaixo). Portanto, o conhecimento local dos pescadores passou a ter um papeldeterminante nesta nova forma de abordar o manejo, posto que esse conhe-cimento fornece dados para o monitoramento dos estoques.9

7. Cite-se como exemplo os acordos comunitários de pesca na Amazônia.

8. Nesse sentido, dispõem ACHESON, 1981; ACHESON; WILSON, 1996; JOHANNES, 1998;RUDDLE, 2000; BERKES et al., 2006.

9. Este é o entedimento defendido pelos seguintes autores: JOHANNES, 2000; RUDDLE,2000; SILVANO, 2004; BEGOSSI, 2008; BEGOSSI; SILVANO, 2008).

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Portanto, para Berkes (2008), considera-se o Conhecimento EcológicoTradicional (CET), como cumulativo e dinâmico, sendo característico de soci-edades com continuidade histórica no uso de recursos em um determinadoambiente, pois é estabelecido a partir das experiências e se adapta permanen-temente às mudanças socioambientais locais.

Segundo Johannes (2000), o conhecimento local dos pescadores está rela-cionado à observação das diferenças no comportamento sazonal e do habitatdas espécies-alvo (abundância), e como isto afeta suas estratégias de pesca.

Deste modo, o manejo dos recursos pesqueiros é um processo local,envolvendo um estreito vínculo entre pescadores locais (conhecimento lo-cal), e investigadores (conhecimento científico).10 Assim, os métodos usadospara alcançar um manejo local devem ser simples, a fim de ser transmitidos eaplicados em escala maior. Como demonstra Begossi (2008), métodos práti-cos podem ser aplicados em toda a comunidade e poderão ser ampliados emcomunidades vizinhas, no intuito de obter informações biológicas e ecológi-cas sobre as espécies, principalmente sobre a dieta e reprodução, que sãoinformações importantes para tomar decisões de manejo.

Abordagem de meios de vida sustentáveis

A abordagem baseada em Meios de Vida Sustentáveis (MVS) é uma maneiradiferente de olhar para as prioridades de desenvolvimento. Esta abordagem colo-ca as pessoas no centro do desenvolvimento. As pessoas são consideradas prioritáriase não os recursos que usam ou os governos que as servem. Esta abordagembaseia-se no potencial das pessoas, não nas suas necessidades. Leva em considera-ção o efeito das decisões relativas a questões de desenvolvimento sobre os dife-rentes grupos, como, por exemplo, homens e mulheres; enfatiza a importânciade se entender a relação entre as decisões políticas e o dia a dia das pessoas eaproxima os parceiros, que podem ser do setor governamental, civil, privado,local, regional, nacional ou internacional (ALLISON & ELLIS, 2001).

Os objetivos da utilização dessa abordagem são obter uma compreen-são mais realista dos meios de vida das pessoas e os fatores que os determi-nam, e assim, apoiar o desenvolvimento com base na capacidade das pessoasmarginalizadas, de forma a proporcionar que elas possam melhorar suas con-dições de vida. Segundo Allison e Ellis (2001), a idéia é que a voz e a opiniãodas populações marginalizadas sejam ouvidas.

A abordagem MVS contribui para a compreensão da potencialidade dospescadores em lidar com as crises tais como: inundações, catástrofes e doen-

10. Mais uma vez, cita-se como exemplo da utilização desse conhecimento no manejopesqueiro, o processo de formulação de acordos de pesca na bacia Amazônica.

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ças. Pode ajudar a entender a capacidade adaptativa dos pescadores, dentroda arena política do manejo pesqueiro de pequena escala.

A vulnerabilidade é um conceito-chave na abordagem do MVS. O aces-so tanto aos recursos, quanto às atividades influenciadas pelos fatores inter-nos, tais como a política e o contexto institucional dos meios de vida (relaçõessociais, instituições e organizações) ou por fatores externos, incluindo as ten-dências e os choques afetam a organização social das comunidades pesquei-ras. Os recursos permitem às pessoas construir estratégias de subsistência eestas são compostas por um leque de atividades baseadas nos recursos natu-rais ou outros. Como demonstram Allison e Ellis (2001), a chave para ummanejo sustentável da pesca e do desenvolvimento, consiste em facilitar aospescadores o encontro de seus próprios meios para sair da pobreza, atravésda construção de suas capacidades e dos capitais próprios existentes.

Considerações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finais

Como visto acima, a escolha das estratégias de manejo aplicáveis a umcaso concreto envolvem a disponibilidade de informações científicas sobre osestoques (biologia e ecologia das espécies-alvo), de aparelhamento de gestãodo Estado e da possibilidade e/ou viabilidade da participação dos usuários noprocesso de gestão de uso dos estoques.

Os objetivos das diferentes estratégias são convergentes: proporcionar odesenvolvimento sustentável da atividade em diferentes escalas. Nesse senti-do, praticamente qualquer alternativa de manejo exposta neste capítulo en-contra amparo legal em nosso ordenamento, partindo da interpretação daprópria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, no qual o direito aomeio ambiente ecologicamente equilibrado assume o status de direito funda-mental para as presentes e futuras gerações.

A interpretação do referido texto constitucional permite ainda a aplica-ção do princípio da precaução ao manejo pesqueiro, ensejando grande diver-sidade de estratégias possíveis. Resta assim, interpretar a legislação brasileirasob a óptica dos conceitos expostos, permitindo o desenvolvimento sustentá-vel do setor pesqueiro.

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Síntese HistóricaSíntese HistóricaSíntese HistóricaSíntese HistóricaSíntese HistóricaSobre o ManejoSobre o ManejoSobre o ManejoSobre o ManejoSobre o ManejoPPPPPesqueiresqueiresqueiresqueiresqueiro nao nao nao nao naAmazônia BrasileiraAmazônia BrasileiraAmazônia BrasileiraAmazônia BrasileiraAmazônia Brasileira

Blanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RojasojasojasojasojasSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily Franco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargo

Miguel PMiguel PMiguel PMiguel PMiguel Petrere Jretrere Jretrere Jretrere Jretrere Jr.....

O presente capítulo discorre sobre a evolução histórica da atividade pesqueirano Brasil, com especial foco sobre a Amazônia. São abordados aspectosinstitucionais sobre o manejo pesqueiro implementado nos períodos da SUDEPEe posteriormente, com a criação do IBAMA.

O texto apresenta também uma breve descrição dos projetos de coope-ração técnica internacional que contribuíram para o fortalecimento institucionaldo IBAMA e para a implementação do sistema de gestão participativa dapesca. Assim, comenta os projetos IARA e ProVárzea, para em seguida apre-sentar breves notas sobre o manejo comunitário e sobre o manejo em áreasde reserva. Relata por fim a experiência do sistema de manejo do pirarucu emMamirauá, como exemplo de parceria bem sucedida entre usuários e Estadoatuando na gestão participativa da pesca.

Antecedentes: do período colonial aos prAntecedentes: do período colonial aos prAntecedentes: do período colonial aos prAntecedentes: do período colonial aos prAntecedentes: do período colonial aos projetos deojetos deojetos deojetos deojetos decooperação técnica internacionalcooperação técnica internacionalcooperação técnica internacionalcooperação técnica internacionalcooperação técnica internacional

Segundo Veríssimo (1970), embora haja uma longa trajetória no uso dospeixes pelos nativos e moradores na região amazônica, costuma-se consideraro início da atividade pesqueira no período colonial, com a criação dos pes-queiros reais. Estas áreas eram demarcadas pelas autoridades, definindo ondeos índios eram obrigados a pescar, além das áreas de pescas voltadas paraalimentação de militares, religiosos e funcionários da Fazenda Real. Tais pes-queiros existiram nos Estados do Amazonas, Pará e Maranhão.

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Referido autor menciona que, no início da era republicana em 1893, asvelhas Ordenações do Reino já estavam sendo desconsideradas pelo incre-mento das explotações das espécies mais apreciadas (pirarucu, peixe boi,tambaqui e a tartaruga). Naquela época, a pesca era realizada sem métodonem sistema, não tomando os administrados nenhuma providência para pro-teger os estoques.

Ribeiro e Petrere (1990) observam que no transcurso do século XX ocor-reu a ruptura dos padrões tecnológicos da pesca amazônica, com a introduçãode novos aparelhos de pesca, caixas e urnas de gelo nos barcos pesqueiros.

No final dos anos 60, o governo Federal iniciou uma política oficial volta-da para estimular a pesca, a fim de torná-la uma atividade econômica de desta-que para a Amazônia. Assim, em 1962, foi criada a Superintendência do Desen-volvimento da Pesca (SUDEPE), que institucionalizava a atividade pesqueira emtodo o país e era encarregada de formular, executar e coordenar as política eações de pesquisa e ordenamento da explotação pesqueira (RUFFINO, 2005).

Em 1967, o Governo do Brasil e o Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) estabeleceram um convênio que originou o Pro-grama de Pesquisa e Desenvolvimento Pesqueiro do Brasil (PDP/FAO). As agên-cias responsáveis pela execução e coordenação do Programa foram a Organi-zação de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) e o Ministérioda Agricultura, através da SUDEPE (MESCHKAT, 1975).

No início da década de 1970, com o colapso das plantações de juta,observou-se outro momento de extraordinária expansão pesqueira, ocasiona-do pela introdução de fibras sintéticas na fabricação de redes (MESCHKAT,1961; PEREIRA, 2004).

O movimento desenvolvimentista promoveu a pesca industrial na re-gião e, através de subsídios do Estado, a frota aumentou e incorporou novastécnicas pesqueiras. Começaram a se instalar empresas frigoríficas para com-pra, beneficiamento e estocagem do pescado, visando o comércio internacio-nal. Nesta época, as exportações aumentaram, observando-se pela primeiravez a figura de pescador profissional itinerante.1

Ainda na década de 1970, o processo regional de desenvolvimento pes-queiro foi antecedido por uma explotação excessiva dos recursos, dada à cres-cente urbanização de Manaus, Belém e outras capitais amazônicas.2 A título

1. Nesse sentido, dipõem McGRATH et al., 1993; CASTRO; McGRATH, 2001; BARTHEMet al., 1997.

2. Este é o posionamento adotado por PAIVA, 1983; PETRERE, 1990; FURTADO, 1993;ISAAC; RUFINO, 1996.

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de ilustração, registre-se que no mesmo período, o consumo de pescado emManaus era sete vezes maior que nos países do primeiro mundo (Cf. BARTHEMet al., 1997; GIUGLIANO et al., 1978).

Logicamente, essa dinâmica desenvolvimentista no setor pesqueiro ama-zônico gerou o aumento da pressão pesqueira. Assim, Petrere (1985, 1986)observou que o tempo de procura do peixe e a distância percorrida nas viagensde pesca havia aumentado no final dos anos 70. Nesse cenário, os conflitospelo uso dos recursos pesqueiros ao longo do rio Amazonas não se fizeramesperar. Nos anos 70, no Lago Janauacá, próximo a Manaus, houve uma refre-ga entre moradores locais e pescadores profissionais da frota pesqueira de Manaus,que ficou conhecida como a “guerra do peixe” (GOULDING, 1983).

Tais conflitos se caracterizavam por tensões de aspectos variados, tais comoconfrontações verbais, atos de simples censura aos invasores, queima de equipa-mentos, apreensão de embarcações e até sérios atos de violência pessoal. A mai-oria deles teve lugar nos lagos de várzea do Médio Amazonas, também conheci-dos como “lagos da confusão”. Estavam envolvidos nestas desavenças, os ribeiri-nhos, pescadores das comunidades localizadas nos lagos e os “pescadores de fora”ou “invasores”, provenientes de outros locais e que ansiavam por pescar emáguas consideradas comunitárias. Houve (e ainda há) uma tensão devido à proi-bição dos fazendeiros ao acesso dos pescadores nos lagos ou corpos de águaslocalizados em suas terras particulares. Conflitos adicionais também ocorreram (eainda ocorrem) entre pescadores comerciais (monovalentes) e pescadores de sub-sistência (polivalentes), entre criadores de búfalos e pescadores e entre moradoresvizinhos (HARTMANN, 1990; FURTADO, 1993; RUFFINO, 2005).

Com a finalidade de reduzir os conflitantos, já no final da década de 70,a SUDEPE editou diversos instrumentos administrativos. Contudo, Barthem etal. (2007) demonstra que, como as informações e dados científicos eram es-cassos, a iniciativa da SUDEPE obteve pouco sucesso (em parte devido tam-bém à ineficiência da fiscalização).

No final da década dos 80, foi criado o Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), assimilando em suaestrutura a SUDEPE e mudando o panorama do manejo dos recursos pesquei-ros para uma visão integrada do meio ambiente norteada para: i) o uso sus-tentado dos recursos; ii) a economia dos empreendimentos; e iii) a justiçasocial (FISHER et al., 1992; RUFFINO, 2005).

Em 1990, o Departamento de Pesca e Aquicultura (DEPAQ)3 estabeleceuas bases do Programa de Pesca Continental/Gerenciamento por Bacias

3. Este departamento depois foi denominado de Coordenação Geral de Gestão de Recur-sos Pesqueiros (CGREP).

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Hidrográficas, como uma forma de corrigir a falta de políticas pesqueirasdirigidas à pescaria continental. Segundo este programa, que se iniciou a par-tir do ano de 1990, as principais linhas de ação a serem executadas em cadabacia eram: i) adequar a regulamentação existente em cada bacia, compatibi-lizando-a com as necessidades técnicas de ordenamento; uma vez que estasdeveriam ser coerentes com as diferentes realidades regionais; ii) identificar eapoiar as linhas de pesquisa prioritárias, com vistas a subsidiar o processo deordenamento; iii) desenvolver instrumentos de administração que possibili-tassem estabelecer o zoneamento da atividade pesqueira; e iv) participar dediferentes fóruns com vistas a integrar a atividade pesqueira às demais ativida-des usuárias de recursos ambientais (florestais, agropecuárias, minerais). (CfFISCHER et al., 1992; RUFFINO, 2005).

Assim, em 1991, o IBAMA iniciou conjuntamente com Agência de Coo-peração Técnica Alemã (GTZ) o projeto “Administração de Recursos Pesquei-ros na região do Médio Amazonas: Estados do Pará e Amazonas – ProjetoIARA”, que se estendeu até dezembro de 1992 (primeira fase). A segunda fasefoi desenvolvida entre janeiro de 1993 e dezembro de 1995, mas existiramprorrogações até o final dos anos 90 (IBAMA, 1995; ISAAC; RUFFINO;McGRATH, 1998).

O projeto tinha como principal objetivo fornecer subsídios à elaboraçãoe implementação de medidas que permitissem o uso sustentável dos recursosaquáticos, realizando suas atividades através de uma abordagemmultidisciplinar, multi-institucional e participativa. Abrangendo uma área de1.000km na calha do rio Amazonas, entre as cidades de Almerim, PA eItacoatiara, AM, o projeto assessorou cerca de 600.000 pessoas, metade pes-cadores comerciais e metade pescadores de subsistência. Segundo dados doIBAMA (1995), as famílias assistidas possuíam em média cinco pessoas e rela-cionavam-se, direta ou indiretamente, à atividade pesqueira (construção na-val, venda de apetrechos e comercialização).

Portanto, para atingir seus objetivos, o Projeto IARA atuou em duasfrentes: i) produziu informações técnico-científicas em biologia e ecologiapesqueira, socioeconomia e tecnologia de pesca e de pescado, com a finalida-de de suprir lacunas do conhecimento para a região, proporcinando basecientifica para a elaboração de medidas de manejo; e ii) desenvolveu, atravésda educação ambiental, a conscientização, conservação e implementação deum sistema de administração pesqueira com a participação ativa e efetiva dosgrupos-alvo em todas as etapas (planejamento, ações, monitoramento e ava-liação) (IBAMA, 1995; ISAAC; RUFFINO; McGRATH, 1998).

O IARA também buscou interações com outras instituições, tais como oConselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ins-

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tituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Museu Parense Emilio Goeldi(MPEG), Universidade Federal do Pará (UFPA), Núcleo de Altos Estudos Ama-zônicos (NAEA), Prefeituras Municipais da região, Colônias de Pescadores ecomunidades ribeirinhas, cujo aporte foi essencial para balizar as decisões doprojeto.

A partir das experiências do Projeto IARA, em 1993, o IBAMA promo-veu a utilização de diversos mecanismos institucionais gerenciais (v.g. fórunsde discussão para proporcionar a integração institucional e a contextualizaçãosetorial da pesca). Para Ruffino (2005), estes mecanismos foram fortalecidosem 1995, com o estabelecimento de diretrizes claras sobre o manejo integra-do e sobre a reorganização institucional do IBAMA.

Assim, o IBAMA empreendeu uma série de iniciativas com a finalidadede induzir a sustentabilidade da pesca na região amazônica, integrando a so-ciedade civil neste processo. Nesse sentido, Ruffino (2005) destaca o Progra-ma de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal (PROECOTUR),o Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora (PNDPA) e oPrograma Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), que deuimpulso ao Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVárzea).

O ProVárzea foi proposto para ser executado no período 2000-2005(sendo prorrogado até 2007), tendo como objetivo geral, de acordo comIBAMA (2002, p. 11): “estabelecer as bases técnica, científica e política para aconservação e o manejo ambientalmente e socialmente sustentáveis dos re-cursos naturais das várzeas da região central da bacia amazônica, com ênfasenos recursos pesqueiros”. Para alcançar este objetivo, o projeto foi divididoem três linhas de abordagem (IBAMA, 2002):

t Componente 1 – Estudos Estratégicos: para subsidiar a elaboração depolíticas públicas e aperfeiçoar os sistemas de manejo;

t Componente 2 – Iniciativas Promissoras: para apoiar e promover odesenvolvimento de sistemas de manejo dos recursos naturais da vár-zea; e

t Componente 3 – Monitoramento e Controle: desenvolvimento e tes-te em duas áreas piloto (Santarém, PA e Parintins, AM) de um sistemade monitoramento e controle dos recursos naturais da várzea.

Este projeto foi executado pelo IBAMA, através de uma unidade de coor-denação e duas comissões: i) Comissão de Acompanhamento, de caráterdeliberativo, estabelecida para avaliar e fazer ajustes ao projeto. Era compostapor representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), IBAMA, Secreta-ria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará (SECTAM), Insti-tuto Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM), Empresa Brasileira de Pesqui-

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sa Agropecuária (EMBRAPA) e Grupo de Trabalho da Amazônia (GTA); e ii)Comissão de Apoio, para o Componente 3, que envolvia parcerias com institui-ções governamentais (federais, estaduais e municipais) e não governamentais.

Os beneficiários do projeto foram o próprio IBAMA e as OrganizaçõesEstaduais de Meio Ambiente. Os benefícios para as populações locais incluí-ram a redução da destruição dos habitats, melhora do ordenamento da pesca,diminuição dos conflitos sociais pelo uso dos recursos pesqueiros, melhoriadas condições de vida dos usuários e o fortalecimento de suas organizações debase. O ProVárzea contou com recursos do governo britânico através do DfID,do governo alemão através do KfW e GTZ, do Fundo Fiduciário para a Prote-ção das Florestas Tropicais Brasileiras (RFT), administrado pelo Banco Mundi-al e a contrapartida do governo brasileiro (IBAMA, 2002).

Outras iniciativasOutras iniciativasOutras iniciativasOutras iniciativasOutras iniciativas

Algumas iniciativas para organizar a atividade pesqueira, em conjuntocom a conservação da biodiversidade, foram realizadas pelo Governo doEstado do Amazonas. Em 1990, foi criada a unidade de conservação deMamirauá, com o objetivo de proteger as várzeas da confluência dos riosSolimões e Japurá, próximo a cidade de Tefé. Em 1996, Mamirauá passa a seruma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), uma nova categoria deunidade de conservação ainda inédita no país.

O modelo criado no Estado do Amazonas foi posteriormente incorpo-rado ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Assim, se-gundo Queiroz (2005), esta área protegida de uso sustentado assumiu comoobjetivo básico a promoção da conservação da biodiversidade, assegurandoas condições e os meios necessários para a reprodução social, a melhoria dosmodos e da qualidade de vida (por meio da explotação racional e sustentadados recursos naturais por parte das populações tradicionais), além de valori-zar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambi-ente desenvolvido por estas populações.

Estratégias de manejo pesqueirEstratégias de manejo pesqueirEstratégias de manejo pesqueirEstratégias de manejo pesqueirEstratégias de manejo pesqueiro pro pro pro pro propostas e adotadas naopostas e adotadas naopostas e adotadas naopostas e adotadas naopostas e adotadas naAmazônia brasileiraAmazônia brasileiraAmazônia brasileiraAmazônia brasileiraAmazônia brasileira

Segundo Ruffino (2005), o modelo de manejo pesqueiro estabelecido noBrasil foi o manejo convencional baseado em três suposições básicas: i) os recur-sos pesqueiros são de domínio da União e devem ser acessíveis a qualquercidadão; ii) os grupos de usuários não são capazes de manejar os recursos sem asupervisão e o controle do Estado; e iii) o rendimento máximo sustentável decada recurso pode ser estimado por meio de métodos científicos.

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Este modelo definido também como tecnocrata (McGRATH et al., 1998)tem sido questionado, pois o Estado não se mostrou capaz de regular efetiva-mente a pesca regional. Além disso, a complexidade da atividade e a sensibi-lidade das espécies de água doce às modificações do ambiente dificultam aestimativa do rendimento ótimo ou sustentável da atividade. Assim, as es-tratégias de manejo baseiam-se em taxas de crescimento e mortalidade paracalibrar as estimativas.4

Diante desses entraves, Bayley e Petrere (1989) discutem quatro estraté-gias de manejo pesqueiro para a Amazônia: i) proibição permanente da pescacomercial; ii) manutenção da diversidade de captura atual; iii) gerenciamentoda atividade em função da produção máxima; e iv) não fazer nada.

Evidentemente, a primeira opção é injusta e irreal, podendo ser viável ofechamento temporário de áreas selecionadas, como um sistema fluvial (v.g.o rio Purus), uma determinada área de várzea ou uma represa. A segundaopção também é difícil de ser alcançada, em função da deterioração das co-munidades de peixes sob fortes pressões demográficas e econômicas. A tercei-ra opção representa o dilema entre a escolha do rendimento máximo susten-tável em peso ou do rendimento máximo econômico. A última opção, apesarde frequentemente adotada, intencionalmente ou por simples incapacidadedo Estado, é uma estratégia que deve ser evitada. Entretanto, reconhece-seque a melhor escolha para um manejo pesqueiro apropriado seria o uso com-binado das possibilidades acima destacadas (Cf. BARTHEM, et al., 1997;FREITAS, 2002; BATISTA; ISSAC; VIANA, 2004).

Barthem et al. (1997) também propõem um manejo compatível com ascaracterísticas ecológicas das espécies-alvo. Dessa forma, o manejo para as espé-cies migradoras deve considerar seus movimentos como parte do comporta-mento do ciclo de vida e, assim, estabelecer estratégias que não as afetem (v.g.estabelecimento de períodos de defeso durante a época de reprodução).

Para espécies sedentárias, que habitualmente se encontram nos lagos ouáreas alagadas, Freitas (2002) defende que o manejo tem que minimizar osdesacordos existentes entre os pescadores comerciais e os de subsistência, dadaa importância alimentar deste recurso nessas comunidades.5

Para espécies migradoras que percorrem o canal do rio, o manejo pro-posto devia levar em consideração a complexidade de seus deslocamentos(RUFFINO; BARTHEM, 1996). A piramutaba constitui o exemplo mais rele-vante deste grupo. Segundo Barthem e Goulding (1997), estudos sobre seu

4. Nesse sentido dispõem GOULDING, 1983; WELCOMME, 1985; RUFFINO 2005.

5. Cite-se o exemplo do manejo do pirarucu em Mamirauá.

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comportamento mostram as extensas migrações realizadas desde a região doestuário do rio Amazonas até a região do alto rio Marañon, como parte deseu ciclo de vida. Portanto, o manejo de espécies com migrações extensasdeveria considerar as épocas de movimentação para definir a explotação co-mercial em níveis sustentáveis.

Nesse sentido, a proposta de Barthem et al. (1997) se constitui nummecanismo de embasamento técnico-científico, mediante o qual o órgão deadministração pesqueira pode dar suporte às suas tomadas de decisões.

Segundo Ruffino (2005), os resultados de várias pesquisas realizadas naregião Amazônica, a partir de 1996, permitiram atualizar as regulamentaçõesadministrativas existentes. As novas medidas de manejo incluem a limitaçãodo acesso a determinados locais de pesca, defesos e a regulamentação depetrechos, sempre observando o disposto na legislação federal.

O período de piracema (reprodução) para a região amazônica abarca osmeses de dezembro a fevereiro, época de chuvas, quando os cardumes mi-gram dos lagos e rios de águas pretas e claras, pobres em nutrientes, paradesovar no encontro das águas brancas ou barrentas. Como estas são ricas emnutrientes e possuem bastante oxigênio, permitem que as larvas (alevinos)sobrevivam. A piracema é imposta para as espécies comerciais mais importan-tes como o tambaqui, curimatã, matrinxã, pirapitinga, aracu, pacu e branqui-nha (RUFFINO, 2005).

Alguns exemplos sobre a regulamentação de artes e os métodos de pescana Amazônia são a Portaria-IBAMA nº 8 de 2 de fevereiro de 1996, que con-tinha medidas restritivas específicas para a pesca na Amazônia (com exceçãoda bacia Araguaia-Tocantins); e a Instrução Normativa-IBAMA 43 de 23 dejulho de 2004, que valia para todo o território nacional. Contudo, as medi-das contidas nestes instrumentos não aprofundaram as questões de naturezaeconômica, sociais e culturais determinantes para que as estratégias de mane-jo fossem bem-sucedidas.

Manejo com participação comunitáriaManejo com participação comunitáriaManejo com participação comunitáriaManejo com participação comunitáriaManejo com participação comunitária

Os fatos ocorridos na década de 1970, que contribuíram para a intensi-ficação da pesca na Amazônia, também conduziram a conflitos e tensões en-tre pescadores. Como se mencionou anteriormente, um dos primeiros inci-dentes registrados foi a guerra do peixe, no lago Janauacá, próximo de Manaus,em 1973 (CASTRO; McGRATH, 2001).

Como consequência de tais fatos, as comunidades ribeirinhas passaram ase organizar para se protegerem da pressão da pesca comercial. Como dis-põem Castro e McGrath (2001), essa iniciativa ficou conhecida inicialmente

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como “Movimento de Preservação dos Lagos”, e foi liderado pela Igreja Ca-tólica, através da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Assim, várias comunidades passaram a controlar o acesso e uso dos lagosatravés de instrumentos informais, estabelecidos entre as comunidades vizi-nhas. Por meio de suas associações e organizações comunitárias, constituíramos acordos de pesca que, em princípio, foram instituídos como contratos par-ticulares, sem validade extra-partes e de legalidade questionável, porém do-cumentados em atas e abaixo-assinados (ISAAC; CERDEIRA, 2004).

Para Furtado (1993), o objetivo principal desses instrumentos era estabe-lecer regras para a pesca nos lagos, a fim de limitar o acesso e as formas de usodos recursos pesqueiros, visando garantir a manutenção e produtividade.

Apesar de desde o ano de 1972 haver registros de iniciativas voltadaspara a regulamentação do acesso aos recursos aquáticos na região de Maicá,município de Santarém (ISAAC; CERDEIRA, 2004), somente na década de1990, as populações ribeirinhas passaram a se organizar e utilizar de fato osacordos de pesca, devido à ineficiência da fiscalização do Estado (BATISTA;ISSAC; VIANA, 2004).

Muitos acordos de pesca (conforme a Instrução Normativa-IBAMA no

29/2002) ainda estão em vigor na Amazônia. Estes eram regulamentados naforma de instrumentos administrativos pelo IBAMA. Entretanto, após a cria-ção do MPA e do estabelecimento de competências conjuntas entre MMA eMPA, os processos para a homologação de acordos de pesca devem tramitarnas esferas administrativas apropriadas nos dois Ministérios.

Atualmente, os comunitários de uma determinada região, interessadosna negociação de um acordo de pesca, devem promover uma discussão am-pla, onde comunidades vizinhas, instituições governamentais e não governa-mentais e pescadores profissionais (Colônias de Pescadores) discutem e gerampropostas de manejo de pesca e fiscalização. Para que os acordos tenhamviabilidade operacional, foram desenvolvidas medidas quem garantam suaeficácia. Uma dessas medidas era a formação de Agentes Ambientais Voluntá-rios (AVV), que colaborassem com as instituições competentes na fiscalizaçãoe ações de educação ambiental (CERDEIRA, 2002).

Acredita-se que a sequência prática adotada para o estabelecimento deum acordo de pesca (adaptado a partir da IN-IBAMA 29/2002) deve passarpor: i) ações de mobilização comunitária e institucional; ii) reuniões inter eintra-comunitárias, com a participação dos demais atores interessados no pro-cesso; iii) encaminhamento da proposta final ao MPA, lembrando que o pro-cesso também tramitará pelo IBAMA; e iv) posterior conversão do acordo eminstrumento de caráter administrativo. Ações de monitoramento e avaliação

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do cumprimento das normas estabelecidas também devem ser conduzidascom a participação dos AAV e/ou lideres comunitários.

Manejo em áreas de reserManejo em áreas de reserManejo em áreas de reserManejo em áreas de reserManejo em áreas de reservavavavava

O Brasil possui importantes exemplos de implementação de estratégiasde uso de recursos pesqueiros em unidades de conservação na bacia amazôni-ca. São áreas de uso restrito, onde as comunidades participam efetivamenteda gestão do manejo dos recursos locais (RUFFINO, 2005).

Assim, pode ser mencionada a Reserva Extrativista do Jutaí, AM, ondeos comunitários estão manejando a atividade pesqueira, através de um siste-ma de rodízio de lagos. Segundo Batista, Isaac e Viana (2004), neste sistema,a pesca é realizada durante períodos específicos em um determinado lago.Finalizado esse período, a pesca passa a ser executada em outro lago e assimsucessivamente, até que retorne ao primeiro.

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) tambémé um exemplo de unidade de conservação manejada. Conforme mencionadoacima, ela foi criada pelo governo do Estado de Amazonas, na região domédio Solimões, compreendendo uma área de 1.124.000ha. Em 1998 foi cri-ada a Reserva Amanã, com um área de 2.313.000ha, sendo constituída por16% de área de várzea, 7% de zonas de Igapó e 77% de florestas de terrafirme (QUEIROZ, 2005; 2009).

Entre 1990 e 1995, com a finalidade de elaborar um Plano de Manejopara gerenciar a RDSM com a colaboração dos moradores e usuários, foramrealizados estudos socioeconômicos (nas comunidades de pescadores do áreaenvolvida), biológicos e ecológicos, considerando as espécies de importânciaeconômica, como tambaqui Colossoma macropomum, pirarucu Arapaima gigase outras espécies aquáticas e terrestres ameaçadas de extinção. Este plano per-mitiu o estabelecimento de um sistema de zoneamento da área focal, onde sepropuseram zonas de preservação permanente localizadas no interior da re-serva e zonas destinadas à explotação sustentável pelas comunidades residen-tes e usuárias.6

O manejo participativo da RDSM é exercido através de fóruns comuni-tários e suas lideranças, onde são tomadas as principais decisões referentes aomanejo dos recursos naturais. A instância máxima de decisão na RDSM é aAssembléia Geral de Usuários da Reserva Mamirauá, que acontece uma vezao ano. As assembleias são parte de uma estrutura representativa com lideran-

6. Nesse sentido dispõem QUEIROZ; CRAMPTON, 1999; QUEIROZ, 2005.

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ças eleitas pelas comunidades. Antes das assembleias, cada grupo de comuni-dades e os setores propõem uma pauta de tópicos relevantes que é transmiti-da para as comunidades previamente. Assim, cada comunidade tem a oportu-nidade de discutir internamente os assuntos da pauta, elegendo um represen-tante como porta-voz destas decisões.

Os representantes eleitos das 63 comunidades da RDSM se reúnem anu-almente em assembleia, quando interagem com outras instituições locais paradiscutir os avanços, os retrocessos e as novas estratégias na implementação doplano de manejo. No processo de tomada de decisão, são considerados osmoradores da reserva que participam da escolha dos lagos que são destinados àpesca, no estabelecimento da cotas de captura, na definição das épocas de pes-ca, assim como outras atividades de ordenação. Para respaldar estas decisões,um programa de pesquisas é mantido e também são promovidas atividades desensibilização, mobilização, informação e fortalecimento da organização.7

Como demonstra Queiroz (2009), as Reservas Mamirauá e Amanã con-tam com um sistema misto de fiscalização, formado por guardas-parque con-tratados e uma rede de agentes voluntários treinados pelo IBAMA. Órgãosestatais oferecem apoio ao sistema, como o Instituto de Proteção Ambientaldo Amazonas (IPAAM), vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável (SDS), IBAMA, Polícia Militar e Exército. Alémdisso, cada sistema de manejo possui um protocolo próprio de controle, rea-lizado pela respectiva associação comunitária nas atividades locais de execu-ção. Estes últimos, como uma forma de controle social endógeno do sistema,buscam controlar o acesso e uso das zonas de pesca e o respeito às normas deuso. Os resultados são variáveis no tempo e de acordo com a associaçãocomunitária em questão.

Queiroz (2009) também discorre que uma metodologia mista demonitoramento da pesca manejada foi implementada, com a participaçãodos membros das associações comunitárias. Através dela, são principalmenteacompanhadas as formas de uso das zonas de pesca, as cotas de produção, aaplicação correta dos apetrechos, a comercialização e a partilha das cotasglobais em cotas individuais entre os membros das associações.

Segundo Castello (2004) e Queiroz (2005), os planos de controle dapesca nas Reservas Mamirauá e Amanã envolvem o manejo de cerca de 5espécies, mas o mais conhecido e de maior visibilidade é o do pirarucu. Paraesta finalidade, foi elaborado um sistema de zoneamento. Entretanto, ozoneamento proposto não foi totalmente acatado pelos pescadores. A pro-

7. Nesse sentido dispõem QUEIROZ; CRAMPTON, 1999; BATISTA; ISSAC; VIANA, 2004;RUFFINO, 2005; QUEIROZ, 2005.

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posta consiste em uma zona de proteção permanente e uma zona de usosustentado para a pesca. Nesse sentido, é importante destacar que cerca de25% da produção das reservas em tela provém de zonas de proteção. Olevantamento dos estoques realizados em ambas as zonas, com periodicidadeanual pelos pescadores, sugeriu que os estoques de pirarucu, mesmo sob regi-me de explotação, apresenta uma tendência de estabilização.

Simultaneamente, a produção apresentou um crescimento sensível aolongo do tempo (de 3 para aproximadamente 250ton), e tem demonstradouma tendência de estabilização (que aparentemente ainda não está limitadapelo estoque, e sim por outros fatores). As cotas são preenchidas em cerca de75% apenas (Cf. QUEIROZ, 2009).

No período, houve um grande crescimento na renda per capita geradapela atividade, quando computados os valores obtidos durante os meses dapesca. Queiroz (2009) destaca que o manejo do pirarucu tem experimentadogrande expansão no mesmo período, partindo de 40 para 700 pescadores, ede 4 para 26 comunidades, além de uma colônia de pescadores urbanos(Maraã).

O autor ainda demonstra que, apesar desta expansão, o rendimentolíquido per capita apresentou uma redução de quase 10% nos últimos 3 anos.Isto se deve especialmente à redução média de 30% no preço pago ao produ-tor no mesmo período. Trata-se de um problema de mercado que precisa serresolvido com instrumentos de mercado.

Desde 1999, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá(IDSM)8 tem participado da construção de acordos de pesca que envolvemáreas dentro ou fora das reservas. O Acordo de Pesca do Pantaleão, com umtrecho no interior da Reserva Amanã, envolve a Colônia de Tefé e os morado-res locais. Este acordo de pesca versa não apenas sobre a pesca do pirarucu,mas também (ou principalmente) sobre a pesca de outras espécies nobres,como o tambaqui e a pescada. Este acordo, com apenas 2 anos, se mostracomo a melhor oportunidade para redução dos conflitos sociais da pesca naregião (QUEIROZ, 2009).

Com a ajuda dos pescadores, responsáveis por gerarem a informação, oIDSM criou um sistema de rastreamento on-line que visa certificar a origemdo produto e ajudar na sua diferenciação no mercado. O sistema tambémserve para fortalecer o controle e reduzir as fraudes. O Sistema de Rastreamentodo Instituto Mamirauá exige que o usuário indique o código do lote (carga deum barco) ou de um lacre (número de cada indivíduo) produzido. Assim,

8. Unidade do MCT que investiga estratégias de desenvolvimento sustentável de áreasprotegidas.

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informa as características da pesca, os lagos onde os animais que compõem olote foram pescados, as características da comercialização e a composição dolote (cada um dos indivíduos). Informa também as características de cada umdos indivíduos que formam o lote (tamanho, peso, origem, etc.). O interessa-do pode verificar a veracidade das informações através do site do SIRIM-IDSM, fornecendo o código do lote que quer rastrear. O sistema mostra olocal onde a coleta foi realizada (QUEIROZ, 2009).

Este sistema permite a certificação de origem do pescado. Tal garantia éde grande importância, uma vez que pescado (pirarucu) proveniente de ou-tras áreas de pesca não manejadas da Amazônia acaba entrando no mercadocomo se fossem de Mamirauá.

Considerações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finais

Diante do exposto, percebe-se a evolução dos sistemas de manejo utili-zados nas pescarias da Amazônia. A falência de um sistema centralizado nogoverno, devido à ausência institucional, política e administrativa cede lugara participação dos usuários em um sistema de gestão participativa.

O sistema de gestão participativa, entretanto, possui origens culturais(das comunidades ribeirinhas) e institucionais, sendo inegável o impulso dosprojetos de cooperação técnica internacional para a institucionalização dessesistema pelo IBAMA.

Com a evolução dos movimentos sociais na Amazônia e a implementaçãode um Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), este modelode gestão participativa se espalha, adentrando em áreas especialmente afeta-das e protegidas. Isto pode ser observado claramente com o caso relatadosobre a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá.Este modelo, posteriormente inserido no SNUC, tem servido de paradigmaem outras áreas do Brasil. No mesmo sentido, é esperado que o sucesso doenvolvimento comunitário no manejo do pirarucu em Mamirauá possa serreplicado, beneficiando outras comunidades.

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Síntese Histórica Sobre o Manejo Pesqueiro na Amazônia Brasileira 9393939393

_____. PPPPPrrrrrograma Pograma Pograma Pograma Pograma Piloto das Florestas Tiloto das Florestas Tiloto das Florestas Tiloto das Florestas Tiloto das Florestas Trrrrropicais do Brasil: Subpropicais do Brasil: Subpropicais do Brasil: Subpropicais do Brasil: Subpropicais do Brasil: Subprograma Unidades de Con-ograma Unidades de Con-ograma Unidades de Con-ograma Unidades de Con-ograma Unidades de Con-serserserserservação e Manejo de Rvação e Manejo de Rvação e Manejo de Rvação e Manejo de Rvação e Manejo de Recursos Naturais/ Pecursos Naturais/ Pecursos Naturais/ Pecursos Naturais/ Pecursos Naturais/ Prrrrrojeto de Manejo de Rojeto de Manejo de Rojeto de Manejo de Rojeto de Manejo de Rojeto de Manejo de Recursos Naturais daecursos Naturais daecursos Naturais daecursos Naturais daecursos Naturais daVárzea (PVárzea (PVárzea (PVárzea (PVárzea (PrrrrroVárzea): Conceito e Estratégia. oVárzea): Conceito e Estratégia. oVárzea): Conceito e Estratégia. oVárzea): Conceito e Estratégia. oVárzea): Conceito e Estratégia. Manaus, IBAMA, 2002. 81 p.

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AAAAAcordos de Pcordos de Pcordos de Pcordos de Pcordos de Pesca naesca naesca naesca naesca naAmazônia Brasileira:Amazônia Brasileira:Amazônia Brasileira:Amazônia Brasileira:Amazônia Brasileira:PPPPPrincípio da Dignidade darincípio da Dignidade darincípio da Dignidade darincípio da Dignidade darincípio da Dignidade daPPPPPessoa Humana eessoa Humana eessoa Humana eessoa Humana eessoa Humana eConhecimento TConhecimento TConhecimento TConhecimento TConhecimento Tradicionalradicionalradicionalradicionalradicionalno Manejo Pno Manejo Pno Manejo Pno Manejo Pno Manejo Pesqueiresqueiresqueiresqueiresqueirooooo

Denison Melo de AguiarDenison Melo de AguiarDenison Melo de AguiarDenison Melo de AguiarDenison Melo de AguiarSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily Franco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargoranco de Camargo

Thaísa RThaísa RThaísa RThaísa RThaísa Rodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargo

O sexto e último capítulo desta obra apresenta de forma sintética a relaçãoentre o princípio da dignidade da pessoa humana e o manejo pesqueiro naAmazônia brasileira. O caminho é denso. Parte do conhecimento adquiridoatravés de gerações de ribeirinhos em contato com a natureza, observando adinâmica temporal dos recursos naturais (pesqueiros) dos quais dependem.Essa relação de convívio e dependência é a base formadora de uma culturaque se traduz em um modo de vida peculiar.

Assim, o modo de vida dessas populações, seus tabus, crenças e relaçõesde parentesco e compadrio criam uma dinâmica própria de aproveitamentode recursos naturais. Quando o foco é a pesca, os acordos comunitários depesca recepcionam essa cultura, que deve ser respeitada, com base no princí-pio da dignidade da pessoa humana. Os ribeirinhos têm o direito, constituci-onalmente garantido, de viverem como sempre viveram e continuar transmi-tindo sua cultura para seus descendentes.

O princípio da dignidade da pessoa humanaO princípio da dignidade da pessoa humanaO princípio da dignidade da pessoa humanaO princípio da dignidade da pessoa humanaO princípio da dignidade da pessoa humana

Os princípios de direito são diretrizes, alicerces de valor genérico queembasam, condicionam e orientam o ordenamento jurídico, ou seja, são o

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9696969696 Direito, Política e Manejo Pesqueiro na Bacia Amazônica

seu fundamento. Os princípios possuem conexões entre si, assim como comtodas as demais normas, formando um conjunto harmônico que impede queo ordenamento seja uma série de fragmentos desconexos.

Dessa forma, verifica-se que os princípios jurídicos desempenham papelimportante, podendo auxiliar na interpretação de outras normas jurídicas,possibilitar a integração de lacunas e servir de padrão para se verificar a vali-dade de leis. No âmbito do direito ambiental, eles servem ainda para balizara atuação do Estado em relação à tutela do ambiente.

Os princípios apresentam diferentes graus de importância e de concre-tização dentro do ordenamento jurídico. Os princípios que compõem a base,a estrutura do ordenamento, constituindo-se em fundamentos de interpreta-ção e aplicação do direito positivo, foram denominados por Canotilho (2003),ao dispor sobre a ordem constitucional portuguesa, como princípios estru-turantes.

Os princípios estruturantes são concretos, possuem conteúdo específicoe condicionam-se mutuamente. Eles podem ser concretizados por princípiosconstitucionais gerais ou especiais e ainda por regras constitucionais. Seu graude concretização e sua densidade podem ser aumentados por meio da práticalegislativa e jurisprudencial.

Tais princípios possuem duas dimensões: constitutiva e declarativa. Pelaprimeira, pressupõe-se que os princípios auxiliam na compreensão global daordem constitucional. Pela dimensão declarativa, eles tornam-se “super-con-ceitos”, utilizados para representar a totalidade de outros subprincípios.

A dignidade da pessoa humana é um dos principais princípios estruturantesde qualquer Estado Democrático de Direito, estando expressamente previstono art. VI, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezem-bro de 1948, ao dispor que: toda pessoa tem o direito de ser reconhecidacomo tal perante a lei, em qualquer lugar. Em outros termos, a dignidade é a“condição humana de ser humano” (SARLET, 2009, p. 28).

Como dispõe Silva (2005), a dignidade é o valor supremo que funda-menta todos demais direitos fundamentais do homem, uma vez que decorrediretamente do direito fundamental à vida. No ordenamento jurídico brasi-leiro, tal princípio está consolidado como um dos fundamentos do EstadoDemocrático brasileiro, no art 1º, III da Constituição Federal de 1988, ao ladoda soberania (I); da cidadania (II); dos valores sociais do trabalho e da livreiniciativa (IV); e do pluralismo político (V).

No mesmo sentido, Derani (2008, p. 214) menciona:

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Acordos de Pesca na Amazônia Brasileira: Princípio da Dignidade... 9797979797

Os Direitos Fundamentais são, como as demais normas, direcionados aos indiví-duos ou a organizações administrativas ou privadas. Sua validade e sua eficáciasão evidenciadas na atividade social. A teoria dos Direitos Fundamentais procuraverificar como se dá esta realização e quais os fatores indispensáveis para o desen-volvimento das políticas para o desenvolvimento de políticas para sua implanta-ção, clareando vias para a plena realização de valores sociais mais prezadospositivados na Constituição.

Segundo Sarlet (2009), não se pode definir a dignidade da pessoa huma-na em termos abstratos, uma vez que a mesma só terá pleno sentido eoperacionalidade no caso concreto. Contudo, para instrumentalizar a praxisjurídica, o autor conceitua a dignidade da pessoa humana como:

[...] a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o fazmerecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comuni-dade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamen-tais que assegurem a pessoa tanto quando contra todo e qualquer ato de cunhodegradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciaismínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participaçãoatividade co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comu-nhão com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais seresque integram a rede a vida. (SARLET, 2009, p. 64).

Analisando este conceito, Sarlet (2009) postula ainda que a dignidadeda pessoa humana possui dimensões, conforme a perspectiva da condiçãohumana em questão. Entre ela, têm-se:

1. Dimensão Ontológica: É a dignidade da pessoa humana enquantoelemento que o qualifica como ser humano (qualidade intrínseca). É oelemento nuclear da noção de dignidade humana, sendo existenteantes do direito e de qualquer experiência especulativa. Por ser umavalor supremo, é irrenunciável e inalienável, não podendo ser criada,concedida ou retirada;

2. Dimensão comunicativa-relacional ou comunitária e social: Nessa di-mensão, a dignidade da pessoa humana é constituída em sociedade,no âmbito da intersubjetividade e da pluralidade, através do reconhe-cimento da pessoa humana como tal. Esta dimensão parte, necessari-amente, da noção individual da dignidade (dimensão ontológica),indispensável para o reconhecimento e proteção dos direitos e liber-dades civis. A dignidade na perspectiva comunitária respalda a auto-determinação comunitária ou social. Neste sentido, a pessoa humanafaz sacrifícios individuais em prol de uma coletividade.

3. Dimensão Histórico-cultural: Esta dimensão é o conteúdo concretoda dignidade da pessoa humana. Dentro da perspectiva jurídico-

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normativa, há de se considerar que a dignidade da pessoa humanatem um contexto histórico e cultural de uma determinada comunida-de. Neste sentido, Dworkin (2003), postula que se tem o direito denão ser vítima de indignidades relacionadas à comunidade, que sãodeterminadas pelo lugar e pela época em que se manifestam.

4. Dupla Dimensão negativa e prestacional da dignidade: Por esta di-mensão, a dignidade corresponde ao dever do Estado de proteger eassistir a dignidade humana individual e coletiva, especialmente quan-do se tratar dos fragilizados e daqueles que estiverem em ausência deautodeterminação.

Outra dimensão do princípio da dignidade é a ecológica, pela qual aconservação dos recursos naturais é um dos requisitos imprescindíveis para aexistência de uma vida humana digna, em razão da interação homem-nature-za. Nesse sentido, se posiciona Sarlet (2009: 38):

[...] sempre haverá como sustentar a dignidade da própria vida de um modogeral, ainda mais numa época em que o reconhecimento da proteção do meioambiente como valor fundamental indica que não mais está em causa apenas avida humana, mas a preservação de todos os recursos naturais, incluindo todas asformas de vida existentes no planeta, ainda que se possa argumentar que talproteção de vida em geral constitua, em última análise, exigência da vida huma-na com dignidade, tudo para o reconhecimento do que se poderia designar deuma dimensão ecológica ou ambiental da dignidade da pessoa humana.

Essa relação homem-ambiente foi positivada pelo art. 225 da Constitui-ção Federal de 1988, ao estabelecer como um direito fundamental de todos omeio ambiente ecologicamente equilibrado ao mesmo tempo que tambématribui a todos (poder público e coletividade) o dever de “[...] defendê-lo epreservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Dessa forma, tem-se que,pela dimensão ecológica, a manutenção dos recursos naturais é imprescindí-vel para uma existência digna, bem como o ser humano, enquanto tal édeterminante na conservação dos recursos naturais.

Considerando as diversas dimensões do princípio da dignidade, verifica-se que ela perpassa pela interação, individual e coletiva, do homem com omeio ambiente. Essa interação é diretamente influenciada pelos diferentesmodos de viver do homem no tempo e no espaço.

Assim, constitui-se um direito das comunidades tradicionais a manuten-ção de seu modo de vida e de sua cultura. Na perspectiva de interesse dopresente trabalho – a pesca na Amazônia brasileira, o direito ao meio ambien-te ecologicamente equilibrado engloba a manutenção de modo de vida dascomunidades tradicionais de ribeirinhos pescadores, passando a significar

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Acordos de Pesca na Amazônia Brasileira: Princípio da Dignidade... 9999999999

abundancia de pescado, garantia da segurança alimentar e das práticas cultu-rais das presentes e futuras gerações.

A dignidade do pescador da Amazônia brasileiraA dignidade do pescador da Amazônia brasileiraA dignidade do pescador da Amazônia brasileiraA dignidade do pescador da Amazônia brasileiraA dignidade do pescador da Amazônia brasileira

Segundo dados oficiais, no ano de 2010, os estados da Amazônia Legalpossuíam uma densidade demográfica cinco vezes menor que a média nacio-nal. Roraima e Amazonas eram os últimos da lista com, respectivamente, 1,09e 2,2 habitantes por km² (CELENTANO; SANTOS; VERÍSSIMO, 2010).

Longe de ser uma natureza intocada (DIEGUES, 1996), as riquezasambientais amazônicas são fontes de sobrevivência de seus moradores.1 Abacia Amazônica se estende por 6,8 milhões de km2 (BARRETO et al, 2005) eao longo dos leitos da infinidade de rios e lagos existentes, comunidades seformam e se dispersam, tendo muitas vezes como única ligação as águas.

Como demonstra Fraxe (2004, p.103), o caboclo ribeirinho da Amazô-nia Brasileira, “se identifica com seu território, onde cada árvore tem umsignificado, e o referencial de vida é a família, os vizinhos, a roça, o rio, ocampo de futebol e a capela.” Trabalhando para manter a família, o ribeiri-nho sofre a influência do meio ambiente, ao mesmo tempo em que se esforçapara se adaptar as variações do meio.

Neste sentido, a ideia de pescador não está somente no sentido daqueleque pesca, que explota um peixe dos lagos e rios para sua alimentação, mastambém na interação do ser humano com a natureza. Witkoski (2007) defen-de que a formação da identidade do homem amazônico possui duas fases. Aprimeira reflete a interação entre o homem e a natureza. A segunda, o mo-mento no qual o homem se relaciona com outros grupos humanos. Este rela-cionamento com outros grupos possibilita um intercâmbio mais amplo, queorigina a sociedade amazônica.

Na relação homem-natureza, o pescador pode ser monovalente oupolivalente. O primeiro é aquele que só vive da pesca. O segundo, o quedivide seu tempo com a lavoura, caça, coleta e extrativismo. Para Canto (2007),o pescador polivalente é aquele que possui estratégias de uso múltiplo dosrecursos naturais, envolvendo agricultura, pesca e extrativismo, numa relaçãocomunitária de sobrevivência.

Nas comunidades ribeirinhas de pescadores, os modos de vida se inte-gram em esquemas mais complexos. Esses grupos asseguram a continuidade

1. Raynaut (2004, p. 29) também se manifesta neste sentido: “A visão de uma natureza virgeme intocada não passa de um mito e quase todos os meios ‘naturais’ do mundo não podemser analisados sem levar em conta o papel da intervenção humana na sua dinâmica”.

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das atividades, por regras coletivas de apropriação dos recursos naturais e desua explotação, evitando comprometer a capacidade produtiva do sistema(PEREIRA; ARAÚJO; WITKOSKI, 2007).

Neste contexto, pode-se propor uma acepção preliminar de dignidadeda pessoa humana, aplicada à realidade concreta de uma comunidade ribeiri-nha da Amazônia: a qualidade de ribeirinhos-pescadores implica na manuten-ção de um complexo de direitos e deveres fundamentais, que asseguram aestes oposição a qualquer ato degradante e desumano, garantindo as condi-ções existenciais necessárias para uma vida saudável, além da manutenção dosmodos tradicionais de ser, fazer e viver, promovendo a participação comuni-tária no processo de emancipação coletiva.

Leivas (2007) coloca que o direito à alimentação adequada expressa oconteúdo do direito mínimo existencial, sendo determinante para a existênciabiológica do ser. Derani (2006) reforça que o alimento não é apenas respon-sável pela compleição física do indivíduo, mas é um fator da construção docorpo coletivo de uma sociedade e da construção da cultura. Vale lembrarque o peixe é a maior fonte proteica para as populações ribeirinhas da Ama-zônia.

Assim, para que o princípio da dignidade da pessoa humana possa serassegurado, bem como os direitos fundamentais dele decorrentes, cabe aoEstado tomar as medidas adequadas e necessárias, para a conservação dosestoques. É neste ponto que o conhecimento dos usuários sobre o recursovem a ser útil, melhorando as estratégias de manejo.

Conhecimento tradicional associado à pesca eConhecimento tradicional associado à pesca eConhecimento tradicional associado à pesca eConhecimento tradicional associado à pesca eConhecimento tradicional associado à pesca eao manejo pesqueirao manejo pesqueirao manejo pesqueirao manejo pesqueirao manejo pesqueirooooo

A tutela do conhecimento tradicional associado à biodiversidade, emespecial à pesca, é um desafio para o Direito. Isto significa que a partir dainserção dos movimentos sociais na Constituinte de 1988, houve a formaçãode um novo paradigma que enseja a mudança do referencial individualistapara um referencial coletivo de sujeito de direitos (MARÉS, 2002).

As comunidades ribeirinhas possuem atributos de coletividade, que ascolocam em situação similar aos povos indígenas e às populações tradicionais,submetendo-as a condição de sujeitos coletivos de direitos. Depreende-se deMarés (2002) que os direitos coletivos tradicionais são aqueles direitos pelosquais várias pessoas são proprietárias de um bem ou recurso, possuindo umafração ideal do todo. Esta lógica é perfeitamente aplicável aos recursos ouestoques pesqueiros dos quais essas comunidades dependem.

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Acordos de Pesca na Amazônia Brasileira: Princípio da Dignidade... 101101101101101

Marés (2002) conceitua ainda o “ser coletivo” como o direito de “to-dos”, o direito de um grupo de pessoas que vivem de uma forma diferentedos outros (v.g. índios). Esses direitos não possuem uma titularidade individu-alizada, nem uma relação jurídica precisa. Eles são uma garantia genérica quedeve ser cumprida, condicionada ao exercício dos direitos individuais tradici-onais. Em outros termos, é um direito onde todos ou uma coletividade sãosujeitos.

Segundo Moreira (2007), é necessário obter um sistema jurídico quepossua ações afirmativas para segurar a esses sujeitos o papel de titulares dedireitos à tutela de conhecimentos tradicionais associados. Para o autor, oconhecimento tradicional é “[...] a forma mais antiga de produção de teorias,experiências, regras e conceitos, isto é, a mais ancestral forma de produzirciência” (MOREIRA, 2007, p. 33), numa realidade onde se integram a vidaeconômica e vida social. Redunda num conhecimento de convivência e nãomeramente utilitarista, numa forma de produção decorrente das práticas everdades culturais, por meio da observação minuciosa e detalhada do meio,com base experimental de acertos e erros. Estes conhecimentos se destinam àmanutenção das formas das sociedades tradicionais, apresentando uma natu-reza de conhecimento popular.

Para Rampazo (2005, p. 18), o conhecimento popular “é o conhecimen-to do povo, que nasce da experiência do dia-a-dia: por isso é chamado deempírico [...] É igualmente popular (ou vulgar) o conhecimento que, em ge-ral, o lavrador iletrado tem das coisas do campo”. Da mesma forma é para opescador, que possui o conhecimento sobre a natureza que o envolve. Sabequando e como pescar, que árvores utilizar para cada fim específico (v.g. amadeira apropriada para construir uma canoa) e assim por diante. Esse conhe-cimento lhe foi passado, não só pela geração que lhe antecedeu, mas porvárias outras gerações.

No passado, esse conhecimento tradicional servia precipuamente para amanutenção de um modelo de vida. Segundo Moreira (2007), a partir doséculo XX, ele passou a ser analisado numa percepção utilitarista, na qualassume valor econômico e torna-se insumo no processo produtivo (v.g. paraa indústria farmacêutica). Ressalte-se, entretanto, que o conceito de conheci-mento tradicional também envolve um valor simbólico e espiritual, sendovital para a manutenção da cultura de uma comunidade e sua forma de vida.

Assim, em virtude do conhecimento que possuem, as comunidades ribeiri-nhas assumem um papel relevante para a conservação, uso sustentável e gestãoparticipativa dos recursos pesqueiros. Para Santilli (2005), os conhecimentostradicionais associados à biodiversidade, envolvem vários aspectos, como: i)técnicas de manejo de recursos naturais; ii) métodos de caça e pesca; iii) conhe-

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cimento sobre propriedade farmacêuticas, alimentícias e agrícolas de espécies,bem como iv) as próprias categorizações e classificações da flora e fauna. Assim,para se ter tal conhecimento é necessário uma relação intrínseca com a nature-za, na qual a manutenção do conhecimento depende das condições de seguran-ça e sobrevivência dos povos indígenas ou comunidades tradicionais.

Diegues (2000, p. 30) define o conhecimento tradicional “[...] como osaber e o saber-fazer, a respeito do mundo natural e sobrenatural, gerados noâmbito da sociedade não urbano-industrial e transmitidos oralmente de gera-ção em geração”. Dessa forma, não existe uma classificação rígida entre o“natural” e o “social”. Há entre estes um contínuo, uma vez que ambos serelacionam em uma determinada realidade, criando uma identidade humana,na perspectiva de que as populações tradicionais convivam e influenciem aformação da biodiversidade.

A convivência das comunidades com a biodiversidade cria padrões dedependência. Assim, faz-se necessária a adoção de medidas de manejo paramanter os níveis de aproveitamento de recursos em um padrão racional. Se-gundo Pizzatto e Pizzatto (2009, p.205), manejo é “o ato de intervir no meionatural, com base em conhecimentos tradicionais, científicos e técnicos, como propósito de promover e garantir a conservação da natureza”. Daí infere-seque o manejo pressupõe também a etnoconservação e a conservação dosmodelos de vida das comunidades tradicionais.

Para Sobreiro, Souza e Freitas (2006, p. 19), o manejo pesqueiro “é ogerenciamento da pesca, dos pescadores, dos peixes, dos recursos financeirose do ambiente em que vivem; é desenvolvido com a finalidade de permitir aexploração sustentável dos peixes. Pode ser executado em forma de leis, acor-dos comunitários, etc.”.

Para se compreender o manejo pesqueiro, deve se unir o conhecimentotradicional ao conhecimento científico. Segundo Silvano (2004), a etnobiologiaé fundamental no estudo do conhecimento tradicional que as comunidadespossuem sobre os recursos naturais e seus ecossistemas. Essa ciência se preocu-pa com a relação que os grupos humanos têm com os peixes, pois geralmenteos pescadores possuem conhecimento detalhado sobre a ecologia, comporta-mento e classificação dos mesmos. Este conhecimento influencia nasustentabilidade das formas de vida das sociedades tradicionais, posto que taisconhecimentos ecológicos locais podem auxiliar na conservação e no uso ra-cional dos estoques pesqueiros.

O desenvolvimento sustentável, no que tange à pesca, é uma relação denecessidade presente e de limitações futuras, pois se deve considerar a manu-tenção das comunidades atuais, prevendo o suprimento e a segurança alimen-

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tar de uma população crescente. A Constituição Brasileira de 1988, em seu art.225, traz a ideia de desenvolvimento sustentável como direito a ser promovi-do por todos os interessados (comunidades tradicionais, organizações não-governamentais e órgãos governamentais), com um objetivo em comum: asadia qualidade de vida das comunidades tradicionais presentes e futuras. Odesenvolvimento sustentável não deve ser somente uma “expectativa de di-reito”, mas uma realidade presente nos acordos de pesca.

O Supremo Tribunal Federal (STF), no julgado da Ação direta deInconstitucionalidade n. 3540, se posiciona da seguinte maneira:

O princípio de Desenvolvimento Sustentável, além de ser impregnado de carátereminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissosinternacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção dejusto equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada,no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflitoentre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja a obser-vância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais signi-ficativos Direitos Fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, quetraduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado emfavor das presentes e futuras gerações. (grifo nosso).

É dentro desse contexto que as comunidades tradicionais estão inseridas,em relação ao manejo dos recursos pesqueiros através dos acordos de pesca.

AAAAAcordos de pesca na Amazônia brasileiracordos de pesca na Amazônia brasileiracordos de pesca na Amazônia brasileiracordos de pesca na Amazônia brasileiracordos de pesca na Amazônia brasileira

HistóricoHistóricoHistóricoHistóricoHistórico

A partir da segunda metade do século XIX, as riquezas naturais da Ama-zônia brasileira começam a apresentar seus primeiros sinais de escassez. Frentea essa escassez, surgem conflitos sociais entre os habitantes locais, que depen-de de seus recursos naturais para sobreviverem. No caso específico da pescainterior,2 ribeirinhos e pescadores comerciais acirram a disputa pelos estoquespesqueiros e encontram um Estado sem forças para regê-los e fiscalizá-los. Asleis gerais não dão conta de alcançar as especificidades dos conflitos locais e opoder de polícia não consegue se fazer presente em uma área tão extensa e dedifícil acesso.

A década de 1960 marca a intensificação da pesca comercial, que veioprejudicar a pesca de subsistência em vários locais da Amazônia. Um exemplodisso ocorreu na região do Maicá, nas proximidades da cidade de Santarém,PA. Observou-se que as comunidades ribeirinhas locais começaram a se orga-

2. É a pesca realizada em águas interiores, continentais.

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nizar, criando suas próprias regras de manejo. O objetivo era excluir da regiãoos pescadores de fora. Esta medida acirrou as disputas pelos lagos e os confli-tos entre os pescadores locais de subsistência, os fazendeiros que utilizavam asáreas de pesca para o manejo de gado (bovino e bubalino), e os pescadoresde fora (comerciais).

Frente a esses conflitos, a busca pelo consenso aparece, então, comoúnica alternativa para manutenção dos estoques. Pescadores comerciais e ri-beirinhos, enquanto categorias distintas passam a se organizar e a escolherseus representantes, no intuito de defender seus interesses e formular baseslegais que limitem a atividade pesqueira em cada localidade.

Os acordos de pesca surgem, assim, como marco no sistema de gestãoparticipativa. Apesar de não se poder falar em inovação, pois sua prática jáera constatada antes da Instrução Normativa n° 29/2002 do Instituto Brasilei-ro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), os acor-dos passam a ser o foco de vários projetos de cooperação técnica internacio-nal (v.g. Projeto Administração dos Recursos Pesqueiros do Médio Amazonas:Estados do Pará e Amazonas - IARA, Projeto Aproveitamento dos RecursosNaturais de Várzea – PróVárzea, e Projeto de Aproveitamento Pesqueiro dasÁguas Interiores do Ceará - PAPEC), executados em contrapartida pelo IBAMA.3

Estado atual dos acordos de pescaEstado atual dos acordos de pescaEstado atual dos acordos de pescaEstado atual dos acordos de pescaEstado atual dos acordos de pesca

Os Acordos de Pesca constituem instrumentos de manejo comunitários delagos, com a finalidade de reduzir ou controlar a pressão sobre o estoque pesquei-ro e são baseados no conhecimento tradicional dos pescadores sobre a dinâmicapesqueira dos ambientes de pesca da Amazônia (ISAAC; CERDEIRA, 2004).

O manejo comunitário de pesca compreende as ações de manejo toma-das ao nível local, pelos próprios usuários-comunitários. De acordo comCerdeira (2009), o manejo comunitário de pesca na Amazônia é uma respos-ta da sociedade civil à falta de gestão adequada da região e à ausência de umapolítica pesqueira que atenda aos anseios locais.

Castro e McGrath (2001) mencionam que muitas comunidades ribeiri-nhas da Amazônia instituem formas de manejo comunitário de lagos, comoresposta a pressão da pesca comercial e com o objetivo de proteger seu modode vida. Assim, delimitam lagos de várzea e regras de pesca, com o devidoapoio de órgãos governamentais e não-governamentais, dentro de um siste-ma de co-gerenciamento, objetivando a conservação dos recursos naturais, alimitação do acesso e formas de uso dos mesmos, para assegurar a produtivi-dade do sistema e a justiça social.

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Esta forma de manejo é uma alternativa ao modelo convencional im-posto pelo poder público, que propõe um ordenamento local à pesca capazde sustentar os modos de vida da população moradora. Para Ruffino (2005),o modelo convencional de manejo tem por base três idéias: i) os recursospesqueiros são de domínio da união e devem ser acessíveis; ii) os usuários nãopossuem capacidade de manejo do recurso sem a supervisão do Estado; e iii)o rendimento máximo sustentável pode ser estimado.

Ruffino (2005) também justifica que a incapacidade do Estado em regu-lar efetivamente a pesca leva o recurso à condição de livre acesso, significando“sem controle”. Apesar dos pescadores serem considerados incapazes de con-trolar a pressão excessiva sobre o recurso e de conservá-lo por agências dogoverno, as experiências bem sucedidas com o manejo comunitário de pescatem mostrado o contrário - as comunidades, mesmo com baixa densidadepopulacional, possuem sim capacidade de controle social.

Ainda segundo o autor, esta capacidade de controle social, que permiteo monitoramento e o desenvolvimento do manejo comunitário, somente épossível se as comunidades envolvidas no manejo apresentarem nível de or-ganização adequado. Benatti, McGrath e Oliveira (2003) consideram a orga-nização comunitária frágil, sendo necessária a verificação dos fatores que in-fluenciam esta organização e seu desenvolvimento em nível de políticas públi-cas. No entanto, os estudos desses autores apontam a organização social comofator de sucesso do manejo do pirarucu no município de Tefé, no Amazonas.

Respostas sobre a eficácia do modelo de manejo comunitário de pesca,para conservação dos estoques pesqueiros, são objetivos a serem alcançadosem sistemas de monitoramento e avaliação dos impactos desses acordos. Se-gundo Cerdeira (2009), o manejo comunitário pode ser eficiente na recupe-ração das espécies sedentárias como o pirarucu e o tucunaré, que possuemgrande valor econômico.

Para as espécies migradoras, que utilizam diferentes ambientes, o mane-jo deve ser tratado em escala macro-regional, o que exigiria maiores níveis deorganização dos usuários. Os pontos frágeis dos acordos, nestes casos, seriama sua abrangência geográfica limitada e o fato de os efeitos de suas medidas sedirigirem a determinados grupos usuários, no que se refere ao seu desenvolvi-mento econômico e social.

Estudos de Lorenzen, Almeida e Azevedo (2006) exemplificam métodosde manejo aplicados a lagos da região do Médio Amazonas, relatando asexperiências do Projeto IARA-IBAMA, na década de 90, e do ProVárzea-IBAMA,entre 2005 e 2006, no lago do Maicá em Santarém (PA), onde foram utiliza-dos acordos comunitários de pesca.

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É importante destacar que os acordos comunitários de pesca são frutode um processo de discussão envolvendo uma variedade de interessados. Res-salte-se que o simples estabelecimento de um acordo não garante seu cumpri-mento, considerando que é necessário que as regras negociadas sejamconsensuais e compatíveis com a realidade social e ambiental das comunida-des tradicionais envolvidas.

Há de se considerar que os acordos de pesca são: i) uma forma de solu-ção de conflitos socioambientais; ii) uma tentativa da conservação dos recur-sos naturais e dos modo de vida das populações tradicionais. Portanto, osacordos de pesca representam uma possibilidade efetiva de gestão participativa.

Para Ruffino (2005) os acordos de pesca foram originados a partir dodeclínio da produtividade pesqueira e da ausência dos organismos de estadona gestão da pesca. As comunidades (usuários) frente a esta realidade tiveramque desenvolver sistemas de manejo próprio, inicialmente sem a presença doEstado. Tal medida possibilita a defesa das áreas que são consideradas de usocomunitário, através da elaboração das normas específicas do acordo de pes-ca, baseadas no conhecimento tradicional associado à pesca e nomonitoramento relacionado às éticas sociais locais.

Pode-se afirmar que, através dos acordos de pesca, houve a sistematiza-ção de um direito costumeiro. Antes de se ter a ideia de acordos de pesca, asnormas consuetudinárias4 relativas à conservação dos recursos naturais utiliza-dos pelas comunidades tradicionais já eram existentes.

Camargo e Surgik (2004) mencionam que a possibilidade de gestãoparticipativa é legalizada no Brasil, através do já citado art. 225 da CF/88, aodeterminar que a conservação do meio ambiente é possibilidade e dever detodos. Nesse sentido, se abre a possibilidade de participação em grande escaladas comunidades tradicionais, como usuárias de recursos pesqueiros nos maisdiversos níveis.

Assim, ao se manejar os recursos pesqueiros, sob a perspectiva de baciahidrográfica, em pequena ou grande escala, deve-se considerar dois fatoresrelevantes: i) o manejo comunitário pressupõem a descentralização adminis-trativa e recepção de usos e costumes pelos órgãos estatais de gestão (IBAMAe MPA); e ii) o “interesse público ao meio ambiente ecologicamente equilibra-

4. Ráo (2004) menciona que Direito Costumeiro são normas não-escritas, que podem serpositivadas, quando incluídos em um sistema legislativo, obedecendo a ordem políticae pública, definindo e limitando o poder e as funções do Estado. No entanto, há de seprevenir que, conforme Bourdieu (1989), quando ocorre a codificação, pode ocorrerque a lei prejudique o fluído social e a criatividade.

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do demanda controle de acesso aos estoques pesqueiros” (CAMARGO;SURGIK, 2004, p.173). Faz-se necessário esclarecer que o manejo pesqueirolida com incertezas sobre o estado dos estoques das espécies-alvo e outrosfatores ecológicos. Nesse sentido, deve-se aplicar o princípio da precaução,com a implementação de um sistema definido sob parâmetros seguros, permi-tindo a sustentabilidade da atividade pesqueira.

Para Cerdeira e Camargo (2008), o manejo comunitário de recursospesqueiros faz parte do sistema de gestão participativa, que tem dois extre-mos: de um lado o manejo governamental e do outro o comunitário, comdiferentes níveis de escala administrativa. A gestão participativa se constrói narelação Estado-Sociedade Civil organizada.

Estado e sociedade agem de forma diferenciada. O Estado deve estarpresente em todas as comunidades, especialmente para a homologação dosacordos de pesca. As comunidades atuam ao nível local (inter e intra-comuni-tário). A gestão participativa está exatamente no lugar da tomada de decisõesem conjunto.

A finalidade primordial do manejo comunitário de recursos pesqueiros éa de viabilizar a pesca sustentável e o comércio em pequena escala, permitin-do a sobrevivência dos núcleos familiares e das comunidades e evitando aescassez dos estoques pesqueiros. Em última análise, o manejo comunitárioproporciona meios para a melhoria da qualidade de vida.

A pesca artesanal visa primordialmente à subsistência e a pesca comerci-al, ao lucro. O choque que ocorre entre estas atividades ocasiona os conflitosobservados na Amazônia, quando pescadores industriais (comerciais) de ou-tras regiões adentram em áreas de lagos utilizados por comunidades locais,prejudicando a sustentabilidade e sobrevivência dos ribeirinhos (v.g. conflitosna região do lago Maicá). Observa-se que as comunidades têm defendidosuas áreas mesmo antes da participação do IBAMA na homologação dos acor-dos de pesca.

Cerdeira e Camargo (2008) mencionam que os primeiros acordos foramconvertidos em portarias. Em 1998, o IBAMA reconheceu formalmente o pri-meiro acordo de pesca do lago Sapucuá, em Oriximiná, PA. Em 1999, foielaborado o primeiro acordo de pesca do Lago Maicá. Mesmo com efeitospositivos, os conflitos ainda eram frequentes e envolviam pescadores de forada região e comunidades locais, que não cumpriam as regras do acordo. Ain-da assim, pode-se afirmar que estes fatos transformaram os acordos de pescaem instrumentos de valorização da dignidade da pessoa humana.

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AAAAAcordos de pesca na região do rio Urubu,cordos de pesca na região do rio Urubu,cordos de pesca na região do rio Urubu,cordos de pesca na região do rio Urubu,cordos de pesca na região do rio Urubu,em Boa Vem Boa Vem Boa Vem Boa Vem Boa Vista do Rista do Rista do Rista do Rista do Ramos – AMamos – AMamos – AMamos – AMamos – AM

RRRRRegião do rio Urubu, em Boa Vegião do rio Urubu, em Boa Vegião do rio Urubu, em Boa Vegião do rio Urubu, em Boa Vegião do rio Urubu, em Boa Vista do Rista do Rista do Rista do Rista do Ramos – amos – amos – amos – amos – AMAMAMAMAM55555

Boa Vista do Ramos, município localizado à margem direita do rio Paranádo Ramos, distante 367 km de Manaus por via fluvial, limita-se com os muni-cípios de Maués, Urucurituba, Barreirinha e Itacoatiara. Tem 44 comunidadesdistribuídas em vastas áreas de várzea. Apesar do potencial pesqueiro apre-sentado pelo município por seus extensos ambientes de lago, a pesca em BoaVista do Ramos é pouco desenvolvida. A pesca mais intensa é a de subsistên-cia realizada pelas comunidades, além daquela praticada por pescadoresitinerantes de outros municípios e até de outros Estados. Estes pescadores têmmaior poder de captura, e seus acessos aos lagos das comunidades têm causa-do, muitas vezes, conflitos com moradores locais.

Entre as sete regiões de Boa Vista do Ramos, tem-se a região do RioUrubu, que é constituída de seis comunidades: Santo Antônio do Rio Urubu,Nossa Senhora do Carmo do Itaúbal, São Pedro do Tamoatá, Nossa Senhorade Fátima da Terra Preta, São João do Itaúbal e Boa União do Rio Urubu.

Segundo os primeiros moradores da região, o agrupamento mais antigoé a comunidade Nossa Senhora de Fátima da Terra Preta, com cerca de 100cem anos. No entanto, as comunidades só se tornaram oficialmente reconhe-cidas entre 16 e 50 anos atrás. No ano de 2009, a população total da regiãoera de 704 habitantes, distribuindo-se de forma desproporcional nas diferen-tes comunidades. A de Nossa Senhora de Fátima da Terra Preta também era amais populosa, com 229 moradores.

Cada comunidade é dirigida por uma coordenação eleita a cada biênio,quando são escolhidos: coordenador, vice-coordenador, secretária, tesourei-ro e Conselho Fiscal. Há ainda organizações religiosas católicas e evangélicase, em algumas comunidades, associações voltadas a grupo de trabalhadores,como Associações Agrícolas, Colônia de Pescadores, Sindicato dos Trabalha-dores Rurais e Cooperativa de criadores de abelhas indígenas sem ferrão.

As casas são de madeira, cobertas com palha, telha de amianto ou alumí-nio e se organizam no espaço pelas relações de parentesco e vizinhança. Ascomunidades se estruturam em torno de escolas, centros sociais, geradores de

5. Estas informações foram baseadas no levantamento realizado por meio do Censo Esta-tístico Comunitário (CEC), em abril de 2009, no âmbito do projeto “Gestão Participativada Pesca na Região do Rio Urubu, em Boa Vista do Ramos/AM”.

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energia a diesel e campos de futebol. Algumas dispõem de sistema de abaste-cimento d’água que atendem as casas próximas. Em regra, os sanitários são defossa séptica com casinha de madeira e a água consumida é oriunda principal-mente dos rios, mas também há poços comunitários e particulares. As princi-pais formas de comunicação são a telefonia móvel e o rádio.

Como meio de transporte, destacam-se pequenas embarcações particu-lares, de até 13 metros, como rabetas e canoas a remo. O atendimento emsaúde é voltado para atenção básica e feito por agentes de saúde, não haven-do postos disponíveis. Em casos graves, os pacientes são encaminhados aoshospitais mais próximos, nas sedes dos municípios de Boa Vista do Ramos eMaués.

O ensino fundamental está disponível em todas as comunidades da re-gião. Há ainda escolas não formais voltadas à educação de jovens, como aCasa Familiar Rural (CFR) e o Instituto de Permacultura do Amazonas (IPA). Aprimeira oferece, em módulos, o ensino médio em 3 anos. Já o IPA fazcapacitação dos jovens em informática, aproveitamento dos recursos naturaislocais, reflorestamento, criação de galinha, etc.

A economia da região, assim como nas demais áreas de várzea, édiversificada e voltada, prioritariamente, para subsistência. Como base princi-pal, tem-se a pesca, que é complementada pela agricultura; criação de peque-nos animais, como galinha, pato, porco e carneiro; pecuária de boi branco ebúfalo; meliponicultura (desde 2001) e pelo extrativismo. Também se consti-tui em importante fonte de renda, as aposentadorias recebidas. Apenas 25%dos pescadores da região se declaram praticantes da pesca comercial.

A pesca se dá ao longo de todo o ano em áreas de lagos, rios e igarapés,com a utilização de diversos instrumentos, como malhadeiras, tarrafas, cani-ço, linha de mão, espinhéis, flechas e arpão.

O peixe é a principal fonte de proteína nessas comunidades, estimando-se seu consumo diário na região em quase 600g por pessoa. Outras fontes deproteínas seriam as oriundas de caça, como quelônios, veado, tatu, paca, cutia,porco do mato, ou de criação.

Os acordos de pesca da região do rio UrubuOs acordos de pesca da região do rio UrubuOs acordos de pesca da região do rio UrubuOs acordos de pesca da região do rio UrubuOs acordos de pesca da região do rio Urubu

As avaliações iniciais sobre a gestão participativa da pesca na região dorio Urubu, em Boa Vista do Ramos, tiveram início com o projeto de pesquisa“Gestão Participativa da Pesca na região do rio Urubu, em Boa Vista do Ra-mos/AM” financiado pelo Programa Integrado de Pesquisa e InovaçãoTecnológica (PIPT) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazo-nas (FAPEAM), concluído em 2010.

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O primeiro acordo de pesca da região do Rio Urubu foi celebrado em2001, com a participação de 05 das 06 comunidades existentes, mas só foipublicado no Diário Oficial da União em março de 2003, através da Portariano 11 do IBAMA, quando passou a vigorar. Referido acordo, no entanto, nãoobteve êxito, não sendo observado pelos comunitários, razão pela qual sur-giu a necessidade de se fazer um novo acordo.

O processo de elaboração do segundo acordo contou com a realizaçãode 04 assembleias, no período de agosto e setembro de 2008 e 03 reuniõesintercomunitárias no período de abril a julho de 2009. Cabe destacar que oscritérios determinados pelo IBAMA, através da Instrução Normativa n° 29/2002, foram observados, como: i) não estabelecer privilégios a nenhum gru-po; ii) representar o interesse da maioria dos atores envolvidos; iii) ter viabi-lidade operacional, principalmente no que tange a fiscalização; iv) não disporsobre elementos de regulamentação exclusiva do poder público previstos emlei, como penalidades, multas, entre outros.

Na oportunidade, foram discutidas questões sobre: i) ações de fiscaliza-ção que deveriam ser implementadas; ii) a necessidade de placas de advertên-cia sobre as regras vigentes, em locais estratégicos; iii) ações de abordagemaos proprietários da região que têm dentro de suas propriedades todos oslagos de pesca, em busca de apoio ao trabalho de manejo proposto; iv) ascondições de conservação dos lagos da região, os conflitos existentes e a ne-cessidade de parceria e colaboração entre as próprias comunidades, para quese logre êxito nas ações de ordenamento dos lagos de pesca do rio Urubu.

Entre as propostas aprovadas, têm-se a limitação do uso de malhadeiras(até 03 por barco, com tamanho máximo de 100m e malha mínima de 70mm),limite de pescado por viagem de 200kg por barco pescador, reserva de lagospara reprodução pelo período de 02 anos (lagos Marajá e Laguinho) etc.

Quase um ano após a celebração do segundo acordo, foi realizada umanova pesquisa para se verificar os seus resultados. Na oportunidade, identifi-cou-se que 91% dos entrevistados tinham conhecimento do acordo de pescavigente, apesar de não se lembrarem de suas regras. No entanto, apenas 25%dos pescadores indicaram haver descumprimento do acordo, principalmente,no que se refere ao uso do arrastão, à inobservância do defeso, à captura dequelônios no verão e a não permissão para utilização de alguns lagos de pescaem propriedades da região, além da invasão de barcos pescadores provenien-tes, na maioria das vezes, do Pará.

Segundo os comunitários, as ações de fiscalização estavam sendo realiza-das nos lagos por grupos de moradores, muitas vezes, acompanhados poragentes ambientais voluntários treinados pelo IBAMA, sem o apoio dos ór-

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gãos fiscalizadores e da Prefeitura do município. Apesar de identificadosdescumprimentos das regras do acordo, evitam-se reclamações no intuito denão haver conflitos na vizinhança. A comunidade, na verdade, não tolera sãoos chamados pescadores “de fora”, com suas grandes geleiras.

Dessa forma, verifica-se que as comunidades tradicionais podem e de-vem participar ativamente das ações de conservação. Pode se dizer, então,que os acordos de pesca são instrumentos da tutela parcial de conhecimentostradicionais associados à pesca (manejo de espécies-alvo), promovendo a re-lação homem-natureza e a segurança alimentar.

Considerações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finais

As pescarias amazônicas possuem características que conformam as es-tratégias de manejo empregadas. O caráter multiespecífico e difuso da ativi-dade, somados a vastidão geográfica abrangida e a falta de fiscalização pro-movem diversas dificuldades.

A utilização de técnicas paramétricas de manejo implicariam em grandebase científica sobre a ecologia e biologia das espécies-alvo, assim como infor-mações detalhadas sobre as pescarias e seus pescadores. No caso brasileiro,não existem bases suficientes para o estabelecimento, por exemplo, de políti-cas de captura por espécie e/ou região, como acontece em pescariasmonoespecíficas no Atlântico Norte (v.g. bacalhau e arenque).

Nesse caso, algumas tentativas pontuais e bem sucedidas, como o manejodo pirarucu em Mamirauá assumem extrema importância, dado o carátermultiplicador da iniciativa, que envolve o estabelecimento de cotas de captura,pressupondo a participação das comunidades usuárias no processo de gestão.

Surge como alternativa para o ordenamento do setor na Amazônia ainclusão dos usuários na gestão dos recursos. A partir de uma cultura local deorganização comunitária, consolidada pela iniciativa da igreja católica, as li-deranças locais foram fortalecidas. Essa noção de conjunto social, aliada aausência do Estado e o aumento da pressão pesqueira e o acirramento dosconflitos entre comunidades locais e pescadores de fora, criaram o cenárioideal para a implementação de um sistema de gestão participativa da pesca.

Este sistema visa inicialmente garantir os meios e a forma de vida dascomunidades. Possui caracteres claramente precaucionários, situando-se emlimites seguros para o desenvolvimento da atividade pesqueira. Objetiva amanutenção cultural das comunidades ribeirinhas, refletindo por fim, sobre amanutenção da sóciodiversidade amazônica.

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RRRRReferênciaseferênciaseferênciaseferênciaseferências

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BENATTI, J. H.; MCGRATH, D.; OLIVEIRA, A. C. M. de. PPPPPolíticas públicas e manejoolíticas públicas e manejoolíticas públicas e manejoolíticas públicas e manejoolíticas públicas e manejocomunitário de recursos naturais na Amazôniacomunitário de recursos naturais na Amazôniacomunitário de recursos naturais na Amazôniacomunitário de recursos naturais na Amazôniacomunitário de recursos naturais na Amazônia. Sociedade & Meio Ambiente, Jul-Dez, Vol.6, n°. 02, p. 137-154, 2003. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/pdf/317/31760209.pdf>. Acesso em 10 jan. 2010.

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AneAneAneAneAnexxxxxoooooD.O.U Nº 186, terça-feira, 26 de setembro de 2007

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOSINSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOSINSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOSINSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOSINSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOSNANANANANATURAIS RENOVÁVEISTURAIS RENOVÁVEISTURAIS RENOVÁVEISTURAIS RENOVÁVEISTURAIS RENOVÁVEIS

PORPORPORPORPORTTTTTARIA Nº 45, DE 25 DE SETEMBRO DE 2007ARIA Nº 45, DE 25 DE SETEMBRO DE 2007ARIA Nº 45, DE 25 DE SETEMBRO DE 2007ARIA Nº 45, DE 25 DE SETEMBRO DE 2007ARIA Nº 45, DE 25 DE SETEMBRO DE 2007

O PRESIDENTE SUBSTITUTO DO INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOSRECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS IBAMA, no uso das suas atribuições legais previstasno art. 22, inciso V, do Anexo I, da Estrutura regimental, aprovada pelo decreto nº 6.099,de 26 de abril de 2007;

Considerando o disposto no Decreto nº 5.583, de 16 de novembro de 2005, que autorizao IBAMA a estabelecer normas para a gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros deque trata o § 6º do art. 27 da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003;

Considerando o Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, a Lei 7.679, de 23 denovembro de 1998, a Instrução Normativa IBAMA nº 29, de 31 de dezembro de 2002,que estabelece critérios e procedimentos para a regulamentação de Acordos de Pesca;

Considerando a necessidade de dar ordenamento legal ao manejo dos ambientes aquáti-cos do lago de Balbina, município de Presidente Figueiredo, estado do Amazonas, tendoem vista as constantes pressões aos estoques pesqueiros das espécies conhecidas popular-mente como tucunaré (Cichla sp);

Considerando que as espécies de tucunaré (Cichla sp) são a principal fonte de renda dospescadores do lago de Balbina;

Considerando as deliberações dos ribeirinhos e representantes da Colônia de Pescadores Z-6 de Presidente Figueiredo, Capatazia da Colônia de Pesca Z-6 na comunidade RumoCerto, Cooperativa de Pescadores, Agricultores, Barqueiros e Remanejamento Florestal dePresidente Figueiredo, Associação de Moradores da Comunidade Rumo Certo, Associaçãodos Barqueiros da Comunidade Rumo Certo, Associação dos Piscicultores e Criadores dePeixe de Presidente Figueiredo, Associação dos Moradores da Vila de Balbina - AMVIB,Associação dos Piloteiros Profissionais e Guias Turísticos da Vila de Balbina, Federação dosPescadores dos Estados do Amazonas e Roraima - FEPESCA, Secretaria Especial de Aqüiculturae Pesca - SEAP-PR/AM, Comissão de Desenvolvimento do Interior, Agricultura, Pesca e Abas-tecimento da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas, Associação dos PescadoresProfissionais, Piscicultores e Aquicultores de Balbina, Associação Comunidade Waimiri Atroari- ACWA, Prefeitura Municipal de Presidente Figueiredo, Secretaria Municipal de Meio Ambi-ente de Presidente Figueiredo - SEMMA, Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Agricul-tura de Presidente Figueiredo - SEMDA, Câmara Municipal de Presidente Figueiredo, ManausEnergia S/A, Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas - IPAAM, Secretaria de Estado doMeio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas - SDS, Núcleo de RecursosPesqueiros - NRP / IBAMA Amazonas, foi consenso a necessidade de estabelecimento deAcordo de Pesca para favorecer a reprodução das espécies de tucunaré (Cichla sp) no lago deBalbina, município de Presidente Figueiredo no estado do Amazonas; e,

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Considerando, ainda, o que consta do Processo nº 02005.000364/07-14, resolve:

Art. 1º – Estabelecer regras para a pesca no lago de Balbina, localizado no município dePresidente Figueiredo,estado do Amazonas.

Art. 2º – A área de abrangência do Acordo de Pesca compreende o antigo leito e toda amargem direita da bacia hidrográfica do rio Uatumã a montante da barragem da hidrelé-trica de Balbina, incluindo os igarapés que primitivamente eram afluentes e formadores dorio Uatumã.

Art. 3º – Suspender a pesca comercial das espécies de tucunaré (Cichla sp) no lago deBalbina no período de 1º de agosto a 30 de novembro de cada ano;

Art. 4º – Limitar a pesca esportiva/amadora a dez quilogramas de peixes mais um exemplarpor unidade de pesca, ou seja, por embarcação, independente do número de ocupantes.

Art. 5º – Limitar a pesca de subsistência a dez quilogramas de peixes por pescador.

Art. 6º – Estabelecer em 30cm o tamanho mínimo de captura das espécies de tucunaré(Cichla sp) no lago de Balbina.

§1º – Para efeito de mensuração, define-se o comprimento total como sendo adistância entre a ponta do focinho e a extremidade da nadadeira caudal.

§2º – Para efeito de mensuração na fiscalização, o pescado deverá estar inteiro.

Art. 7º – Permitir apenas o uso dos seguintes petrechos para a prática da pesca artesanal eesportiva das espécies de tucunaré (Cichla sp) no lago de Balbina: linha de mão, caniçosimples, molinete, anzol e currico.

Art. 8º – Proibir a utilização de malhadeira para a captura das espécies de tucunaré (Cichlasp).

Art. 9º – A fiscalização, vigilância e monitoramento dos ambientes aquáticos previstosneste Acordo far-se-ão mediante parceria entre os órgãos do Sistema Nacional do MeioAmbiente – SISNAMA e sociedade civil organizada, por meio de Mutirões Ambientais.

Art. 10º – Aos infratores da presente Portaria serão aplicadas às penalidades previstas naLei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, no Decreto nº 3.179, de 21 de setembro de 1999,e demais normas complementares.

Art. 11º – O presente acordo terá vigência de dois anos, a partir da data de sua publicação.

BAZILEU ALVES MARGARIDO NETO

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Sobre os ASobre os ASobre os ASobre os ASobre os Autoresutoresutoresutoresutores

Serguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily FSerguei Aily Franco de Camargo ranco de Camargo ranco de Camargo ranco de Camargo ranco de Camargo – Possui graduação em Direito pela UniversidadeEstadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”– UNESP/Franca (1992), mestrado em Conser-vação e Manejo de Recursos, área de concentração Gestão Integrada de Recursos, pelaUNESP/Rio Claro (1998), doutorado em Aquicultura em Águas Continentais pela UNESP/Jaboticabal (2002), pós-doutorado em Ecologia pelo NEPAM/UNICAMP (2004) e pós-doutorado em Ecologia pelo Depto. de Ecologia da UNESP/Rio Claro (2012). Foi Delega-do-Corregedor Chefe da Divisão de Informações da Corregedoria de Polícia Civil da Secre-taria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Estado do Tocantins (1994). Atualmenteé professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental da Uni-versidade do Estado do Amazonas, em Manaus, onde exerceu a funcão de Coordenador(entre 07/2009 e 01/2012) e, professor Adjunto I do Departamento de Direito da UniniltonLins, editor da Revista Hiléia (1679-9321) e da Revista Jurídica Virtual da Uninilton Lins(2177-3505), parecerista ad hoc da Revista Acta Amazonica (0044-5967), da revistaNeotropical Ichthyology (1679-6225), da Revista Universitas Scientiarum (0122-7483), doBoletim do Instituto de Pesca (0046-9939/impresso e 1678-2305/virtual) e da EDUSP. Atuanas áreas de Direito e Ecologia, com ênfase sobre Amazônia, Direito Ambiental, recursospesqueiros de águas interiores e economia pesqueira.

Thaísa RThaísa RThaísa RThaísa RThaísa Rodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargoodrigues Lustosa de Camargo – Possui graduação em Comunicação Social -Relações Públicas pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM (2004) e em Direitopela Universidade do Estado do Amazonas – UEA (2008), Especialização em Direito eProcesso do Trabalho pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Regiãodo Pantanal – UNIDERP (2010) e em Pesquisa Educacional pela UEA (2006) e Mestradoem Direito Ambiental pela UEA (2011). Atualmente cursa o Doutorado em Ciências doAmbiente e Sustentabilidade na Amazônia no Centro de Ciências do Ambiente/UFAM. Éagente técnico jurídico do Ministério Público do Estado do Amazonas e atua academica-mente na área de direito do trabalho e direito ambiental (meio ambiente do trabalho,legislação pesqueira e serviços ambientais).

Miguel PMiguel PMiguel PMiguel PMiguel Petrere Jretrere Jretrere Jretrere Jretrere Jr..... – Possui graduação em Filosofia (1972) e Matemática pela antigaFaculdade de Filosofia Ciências e Letras de Sorocaba (1974), mestrado em Biologia (Ecolo-gia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (1977) e doutorado (1982) na Schoolof Biological Sciences - University of East Anglia, Inglaterra. Foi co-merecedor do TheIbaraki Kasumigaura Prize (Copenhagen, Dinamarca) devido a excelência do artigo apre-sentado na 8th. International Conference on the Conservation and Management of Lakes –Lake99. Professor Livre-Docente aposentado do Departamento de Ecologia na UNESP –Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, onde ensinou Ecologia Quantitati-va, Modelos Estatísticos em Ecologia ao nível de graduação, de 1984 a 2010. Na pós-graduação ministra os cursos de Dinâmica da População de Peixes e Métodos Estatísticospara Ciências Biológicas, na PG em Zoologia. Atualmente é professor da Universidade doEstado do Amazonas, em Manaus, na PG em Direito Ambiental. Também é professorpesquisador da Universidade Nilton Lins (Manaus), professor-orientador credenciado noCHREA/USP (São Carlos), na PG em Biologia de Água Doce e Pesca Interior no INPA

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(Manaus) e na PG em Ciências Pesqueiras nos Trópicos da UFAM (Manaus), onde ministraa disciplina Teoria da Amostragem. Atua na área de Recursos Pesqueiros e em EstatísticaExperimental, com ênfase em Recursos Pesqueiros de Águas Interiores, principalmente nosseguintes temas: Amazônia, ecologia de peixes e da pesca, manejo de estoques pesqueirosusando modelos matemáticos e estatísticos tanto analíticos como de simulação. É membrotitular da ACIESP (Academia de Ciências do Estado de São Paulo) e Fellow da The LinneanSociety of London.

Denison Melo de AguiarDenison Melo de AguiarDenison Melo de AguiarDenison Melo de AguiarDenison Melo de Aguiar – Possui graduação em Direito pela Universidade da Amazô-nia (2006) e Mestrado em Direito Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação em DireitoAmbiental da Universidade do Estado do Amazonas (2011). Atualmente cursa o Doutora-do em Ciências Pesqueiras nos Trópicos na Universidade Federal do Amazonas (PPGCIPET-UFAM). É professor na UNINORTE (Laureate International Universities, Manaus), Presi-dente do Centro de Estudos em Direito Ambiental da Amazônia (CEDAM), advogado eEditor Adjunto da Revista Hiléia – Revista de Direito Ambiental da Amazônia (ISSN 1679-9321). Tem experiência nas áreas de Direito Ambiental, Direitos Humanos e Direito Pes-queiro, estudando principalmente acordos comunitários de pesca, conhecimentos tradicio-nais associados ao manejo pesqueiro e conflitos socioambientais no setor pesqueiro.

Andrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de SouzaAndrei Sicsú de Souza – Possui graduação em Direito pela Universidade do Estado doAmazonas – UEA (2006) e em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM(2007) e Mestrado em Direito Ambiental pela UEA (2009). Possui Curso Avançado dePropriedade Intelectual pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas –SECT (2006) e Especialização em Comercialização de Tecnologia pelo Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia – INPA (2006). É advogado desde 2007 atuando na assessoriajurídica de ONGs e Organizações Indígenas. Pesquisador e professor nas áreas de DireitoAmbiental, Direitos Humanos, Direitos Indígenas, Direito Civil, Propriedade Intelectual eConhecimentos Tradicionais.

Arilúcio Bastos LobatoArilúcio Bastos LobatoArilúcio Bastos LobatoArilúcio Bastos LobatoArilúcio Bastos Lobato – Possui graduação em Direito pela Universidade Federal doAmazonas (1997), Especialização em Direito Processual e Direito Civil e Processual Civilpelo Centro Integrado de Ensino Superior do Amazonas (2000), Especialização em DireitoProcessual pela Fundação Gestúlio Vargas em parceria com o Instituto Superior de Admi-nistração e Economia da Amazônia (2000) e Mestrado em Direito Ambiental pela Univer-sidade do Estado do Amazonas (2009). É analista judiciário (execução de mandados), noTribunal Regional do Trabalho (Manaus) e professor de direito da Universidade Metropo-litana de Manaus – FAMETRO e do Centro Universitário do Norte – UNINORTE, ondeministra disciplinas de Direito Civil, Processo Civil e Introdução ao Estudo do Direito.

Blanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini RBlanca Lourdes Bottini Rojasojasojasojasojas – Possui licenciatura em Biologia, pela Faculdade deCiências da Universidade Central da Venezuela (1987) e Mestrado em Ciências Biológicas(Zoologia), pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, UNESP/Rio Cla-ro (2009). Atualmente é Coordenadora de Pescarias Continentais, do Instituto Socialistade la Pesca y Acuicultura da Venezuela (INSOPESCA), onde realiza trabalhos de revisão emonitoramento de pesquisas sobre avaliação e manejo de recursos pesqueiros marinhos efluviais, visando o estabelecimento de normas para a gestão da pesca. Seus interesse depesquisa recaem sobre os seguintes temas: gestão dos recursos pesqueiros e desenvolvi-mento sustentável; manejo pesqueiro com enfoque participativo; segurança alimentar ecircuitos agroalimentares.