direito internacional privado milena barbosa de melo

40
Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Upload: thomaz-chaves-paixao

Post on 07-Apr-2016

218 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Direito Internacional PrivadoMilena Barbosa de Melo

Page 2: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Objeto do DIP A disciplina abrange quatro

matérias específicas: a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, conflito de leis e conflito de jurisdição.

Page 3: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Nacionalidade Caracterização do nacional de cada Estado; Formas originárias e derivadas de aquisição

da nacionalidade; Perda da nacionalidade e sua reaquisição; Conflitos positivos e negativos de

nacionalidade (dupla nacionalidade e apatrídia);

Efeitos do casamento sobre a nacionalidade.

Page 4: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Art.12, Constituição Federal

Art. 12. São brasileiros:I - natos:a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais

estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,

desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 54, de 2007)

II - naturalizados:os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

Page 5: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Art.12, Constituição Federal (cont.)

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira

§ 1º   Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição

§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:I - de Presidente e Vice-Presidente da República;II - de Presidente da Câmara dos Deputados;III - de Presidente do Senado Federal;IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;V - da carreira diplomática;VI - de oficial das Forças Armadas.VII - de Ministro de Estado da Defesa.

Page 6: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Art.12, Constituição Federal (cont.)

§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária

pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma

estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis;

Page 7: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Condição Jurídica do Estrangeiro Direitos o estrangeiro de entrar e

permanecer no país; Quando domiciliado ou residente

no território nacional: direito civil, comercial, trabalhista, previdenciário, político, etc.

Page 8: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Conflito de Leis Relações humanas ligadas a dois

ou mais sistemas jurídicos cujas normas não coincidem.

Page 9: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Conflito de Jurisdições Competência do Judiciário

(reconhecimento e execução de sentenças).

Page 10: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Conceito

“Direito Internacional Privado (DIP) é a projeção do direito interno sobre o plano internacional”.

(Bartin)

Page 11: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

As Fontes do Direito Internacional Privado

A LEI:A norma de DIP, corporificada em dispositivo legal, teve início discreto nas codificações do século XIX, destacando-se o Código de Napoleão.No BRASIL, a Lei de Introdução ao Código Civil (1916, substituída em 1942)

Page 12: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC – Decreto Lei nº4.657, 04/09/1942

Art. 1o  Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

   § 1o  Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

Page 13: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)   (...) Art. 4o  Quando a lei for omissa, o juiz

decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

    (...) Art. 7o  A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

   § 1o  Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

Page 14: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)§ 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.

    § 3o  Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.

   § 4o  O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.

Page 15: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)§ 5º - O estrangeiro casado, que se

naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.

Page 16: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)    § 6º - O divórcio realizado no estrangeiro, se

um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de três anos da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separarão judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no País. O Supremo Tribunal Federal, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.

Page 17: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)   Art. 8o  Para qualificar os bens e regular

as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.

   § 1o  Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.

Page 18: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)    Art. 9o  Para qualificar e reger as obrigações,

aplicar-se-á a lei do país em que se constituirem.    § 1o  Destinando-se a obrigação a ser executada no

Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

    § 2o  A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente.

    Art.  10.  A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.

Page 19: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)   § 1º A sucessão de bens de estrangeiros,

situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.

   § 2o  A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

Page 20: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)Art. 11.  As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituirem.

        § 1o  Não poderão, entretanto. ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.

        § 2o  Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituido, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação.

        § 3o  Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.

Page 21: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

LICC (cont.)        Art. 14.  Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o

juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência.        Art. 15.  Será executada no Brasil a sentença proferida

no estrangeiro, que reuna os seguintes requisitos:        a) haver sido proferida por juiz competente;        b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente

verificado à revelia;         c) ter passado em julgado e estar revestida das

formalidades necessárias para a execução no lugar em que ,foi proferida;

        d) estar traduzida por intérprete autorizado;         e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

Page 22: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

A DOUTRINA Grande desenvoltura e importância; Intérprete da jurisprudência; Guia e orientador da jurisprudência; Cria soluções onde o legislador

silenciou, pois abrange amplo campo de atuação.

Page 23: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

A JURISPRUDÊNCIA Atua perante o laconismo da legislação; Supre a lentidão das fontes

internacionais em criar normas; Nos países europeus, onde há grande

circulação de pessoas, mercadorias e turistas, a produção dos Tribunais Nacionais é intensa na solução de litígios;

No Brasil, e nos países sul-americanos em geral, a maior importância recai na Doutrina.

Page 24: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

TRATADOS E CONVENÇÕES Fonte externa; Bilaterais ou multilaterais; Tratam sobre nacionalidade (Convenção de

Haia, 1930, promulgada no Brasil pelo Decreto nº21.798/1932); condição jurídica do estrangeiro (Convenção sobre Condição Jurídica do Estrangeiro aprovada em Havana – 1928 – e promulgada no Brasil pelo Decreto 18.956/29; e alimentos (Convenção da ONU sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro – aprovada no Brasil pelo Decreto 56.826/65.

Page 25: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Convenções não ratificadas como fonte de Direito Demora: discussão, formulação,

aprovação e ratificação. Falta do número mínimo de

ratificações; Tratados do pós-Guerra.

Page 26: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

O que é um Tratado? Do latim tractatus (levar, conduzir, discutir,

cumprir, trabalhar). É o estudo feito sobre certo assunto e convertido em obra escrita.

No sentido jurídico, é o convênio, acordo, declaração ou ajuste firmado entre duas ou mais nações, em virtude do que as signatárias se obrigam a cumprir e respeitar as cláusulas e condições que nele se inscrevem, como se fossem verdadeiros preceitos de Direito Positivo.

Page 27: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

O que é uma Convenção? Do latim conventio (estar de acordo,

concordar, ajustar); Na técnica do Direito Internacional, os

ajustes, acordos ou tratados, são mais propriamente designados de convenções.

Tem sentido mais estrito que tratado. A convenção indica o ajuste ou acordo sobre assuntos de interesse entre as nações, de caráter não-político, feitos numa assembléia.

Page 28: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

IMPORTANTES FONTES DO DIP Tratado de Lima; Tratado de Montevidéu; Código Bustamante - Convenção

de Direito Internacional Privado dos Estados Americanos, de 1928, também conhecida como a Convenção de Havana.

Page 29: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo... O Direito Internacional Privado é a disciplina que tem por

objeto principal o estudo das normas que determinam a solução de divergências de direito privado envolvendo mais de um sistema jurídico nacional. 

Dito de outro modo: quando, para a solução de determinada divergência jurídica envolvendo direito privado, se apresenta a possibilidade de aplicarem-se as leis de dois ou mais estados nacionais, é preciso primeiramente resolver qual o sistema jurídico nacional cujas regras devem ser aplicadas. 

O Direito Internacional Privado é, portanto, um sobredireito, pois seu objeto é o Direito. 

Como, porém, cada país soberano tem suas próprias regras de Direito Internacional Privado, freqüentemente acontece que a solução de determinado problema varie, dependendo de qual sistema nacional de Direito Internacional Privado se aplique. 

Page 30: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) Para nós, brasileiros, que temos uma só lei

nacional, válida em todo o País, em matéria civil, comercial, penal, trabalhista, processual etc., esse tipo de problema só se apresenta quando o conflito se dá com a lei de um outro país.  É que nosso país, embora seja uma república federativa, não reconhece competência aos seus estados federados para legislarem a respeito dessas matérias, todas reservadas à União. 

Page 31: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) No entanto, existem países federados que reservam aos

seus estados-membros competência para legislar nesses campos, e lá o problema do conflito entre as leis diferentes deixa de ser exclusivamente internacional, para assumir uma coloração nacional também.  É o caso do Estados Unidos da América que, como o nome já diz, se constitui numa federação de estados que mantêm, cada qual, uma larga autonomia entre si e relativamente à União.  Esses estados federados não abrem mão de aplicar a sua lei local em litígios de seus residentes com residentes de outros estados federados.  Nos Estados Unidos da América, a nossa disciplina é, por isso mesmo, objeto de estudo acurado nas faculdades de direito, e recebe o nome genérico de "Conflict of Laws", envolvendo tanto os conflitos interestaduais quanto os internacionais e ainda aqueles entre leis estaduais e federais.

Page 32: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) O Direito Internacional Privado vem se

desenvolvendo desde a Idade Média, a partir da experiência das cidades-estados do continente europeu que, por serem muito numerosas e próximas, viam-se freqüentemente a braços com os problemas de seus cidadãos que cruzavam fronteiras, casavam-se, estabeleciam-se, tinham herdeiros e bens, ou mantinham contratos em jurisdições vizinhas, tudo gerando infindáveis controvérsias a respeito de qual legislação seria aplicável. 

Page 33: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) Ao longo dos séculos, desenvolveu-se a noção de

conexão, para balizar a escolha da lei nacional aplicável.  Os elementos de conexão de uma relação jurídica podem ser vários, como, por exemplo, a nacionalidade das pessoas envolvidas, o local onde pratiquem o ato, o local onde o bem se encontre e, mais importante, o domicílio.  A conexão funciona, portanto, para definir se o "centro de gravidade" de determinada questão a atrai mais ou menos à esfera de influência de um ou de outro sistema legal nacional, e serve para determinar qual a lei nacional aplicável.  Para cada tipo específico de problema predomina determinado elemento de conexão, como veremos no decorrer do curso.

Page 34: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) As leis entram em conflito quer no tempo, quer no

espaço.  No Brasil, o estatuto básico para resolver essas duas modalidades de conflito entre leis é a Lei de Introdução ao Código Civil, que constitui, na verdade, uma lei de introdução a todas as leis, e não apenas ao C.Civil. 

Trata-se do Decreto-Lei nº 4.657, de 04/09/1942, cujos arts. 1º e 2º trazem as normas para regular a vigência e o conflito de leis no tempo, e cujos arts. 7º a 19 nos fornecem a disciplina do conflito de leis no espaço, isto é, entre as normas brasileiras e as editadas por outros países. 

É claro que, além dessas, muitas outras disposições legais serão estudadas em nosso curso de Direito Internacional Privado, inclusive da Constituição Federal, do Código Civil, do Código Penal, dos Códigos de Processo Civil e Penal, e um bom número de outras leis. 

Page 35: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) Cabe no escopo do DIP tudo o que diga

respeito ao cumprimento de decisões judiciais estrangeiras, à nacionalidade,  ao direito dos estrangeiros, à permanência deles no território nacional, deportação, expulsão e extradição, entre outros assuntos.  Embora essas matérias não tenham que ver com o conflito de leis, acham-se também abrangidas pelo Direito Internacional Privado, pois dizem respeito a interesses privados vistos sob a ótica internacional.

Page 36: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) Pode-se vislumbrar no futuro a probabilidade de que, a

exemplo da Europa, também os países latino-americanos venham a unir-se, e disso já é bom sinal o Mercado Comum do Cone Sul, ou Mercosul, que tem todas as possibilidades de constituir-se no núcleo em torno do qual se congreguem as nações latino-americanas para formar, também elas, uma comunidade com normas legais e moeda próprias. 

Não nos esqueçamos de que a Constituição brasileira, ao traçar os princípios pelos quais se regerão suas relações internacionais, determinou, no § único do art. 4º:

 “ A República Federativa do Brasil buscará a integração

econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações."

Page 37: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) Na América Latina, houve diversas tentativas de evitar os

conflitos de leis nacionais, especialmente os de 2º grau.  A mais importante consistiu no assim chamado Código de

Bustamante, cuja denominação própria é Convenção de Direito Internacional Privado dos Estados Americanos, de 1928, também conhecida como a Convenção de Havana, e à qual aderiram, além do Brasil, a Bolívia, o Chile, a Costa Rica, Cuba, República Dominicada, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicaragua, Panamá, Peru, El Salvador e Venezuela. 

Com 437 artigos, o Código de Bustamante constitui um verdadeiro código de DIP, mas seu defeito mais marcante consiste em que, em diversas passagens, ele remete à lei nacional de cada país, para determinar como se resolvem problemas específicos.  Com isso, a sua utilidade se reduz bastante. 

Page 38: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) Não nos esqueçamos de que, mesmo no âmbito da América

Latina, Argentina, Colômbia, México, Paraguai e Uruguai não aderiram ao Código de Bustamante. 

A situação só não é pior porque esses países têm sistemas jurídicos aproximadamente compatíveis com os dos seus outros vizinhos de continente.  Aí, ao invés de uniformização, o que existe é uma razoável uniformidade. 

A uniformização é uma iniciativa consciente, conduzida pela diplomacia, com um objetivo determinado de conseguir que diversos países observem as mesmas normas legais.  Já a uniformidade corresponde à igualdade que surge naturalmente, de raízes históricas e culturais comuns. 

Nada há de estranho, por exemplo, em que as leis civis e comerciais brasileiras e argentinas sejam tão semelhantes no que diz respeito às obrigações.  O contrário é que seria de se estranhar.  Pois há uma certa uniformidade também no que se refere ao DIP dos diversos países latino-americanos, e também ela é natural. 

Page 39: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) Quando a nossa primeira Lei de Introdução ao

Código Civil surgiu, em 1916, ela diferia diametralmente das leis de nossos vizinhos no que se refere ao estatuto pessoal, como se vê do seu art. 8º: "A lei nacional da pessoa determina a capacidade civil, os direitos de família, as relações pessoaes dos conjuges e o regimen dos bens no casamento, sendo licito quanto a este a opção pela lei brasileira." 

Era o critério da nacionalidade que predominava no Brasil, não o do domicílio.

Nossos vizinhos argentinos, uruguaios e paraguaios sempre optaram pelo critério do domicílio, para determinar o estatuto pessoal. 

Page 40: Direito Internacional Privado Milena Barbosa de Melo

Em resumo (cont.) Diferentemente, o critério da nacionalidade era o

preferido pelos países europeus, que costumavam enviar contingentes numerosos de imigrantes à América, e que desejavam manter o vínculo deles com a pátria de origem. 

Pois bem, em 1942, nosso país finalmente desistiu dessa posição injustificável à européia e alinhou-se com os nossos "hermanos" do continente. 

Uma nova Lei de Introdução ao Código Civil foi editada, o Decreto-Lei nº 4.657, de 4/9/1942, cujo art. 7º reza: "A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família."  Como se vê, a uniformidade terminou prevalecendo naturalmente, porque está mais de acordo com nossas raízes históricas.