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Milena Eloy da Cruz PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO Centro Universitário Toledo Araçatuba 2019

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Page 1: Milena Eloy da Cruz

Milena Eloy da Cruz

PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2019

Page 2: Milena Eloy da Cruz

Milena Eloy da Cruz

PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO

Trabalho de conclusão do Curso de Graduação em

Direito, da Universidade Toledo de Araçatuba do

Estado de São Paulo – UniToledo. Sob orientação da

Professora Camila Paula de Barros Gomes.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2019

Page 3: Milena Eloy da Cruz

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Prof. Me Camila Paula de Barros Gomes

_____________________________________

Prof. Me

_____________________________________ Prof. Me

Araçatuba, 07 de março de 2019.

Page 4: Milena Eloy da Cruz

“O verdadeiro valor das coisas é o esforço e o

problema de adquiri-las”.

(Adam Smith)

Page 5: Milena Eloy da Cruz
Page 6: Milena Eloy da Cruz

Agradeço primeiramente a Deus por me dar sabedoria e perseverança suficiente para a

elaboração deste trabalho e conclusão dessa faculdade.

A meus familiares por me apoiarem nestes momentos em que mais precisei.

Agradeço a meus professores, não apenas os da faculdade, mas todos que passaram

por minha vida, principalmente aos professores do primário e minha irmã Nayla, que me

ensinou a ler e escrever.

Agradeço a minha orientadora pela paciência e pela orientação, e aos meus amigos.

Page 7: Milena Eloy da Cruz

RESUMO

O trabalho consistiu em demonstrar o problema sofrido pelo cárcere brasileiro. Buscou-se a

apresentação de um breve histórico do surgimento da pena. Posteriormente a demonstração de

como a legislação brasileira dispôs o tratamento que deveria ser adotado e exercido aos

condenados. Em seguida, foi demonstrado como os encarcerados são tratados dentro do atual

sistema carcerário brasileiro, os quais tem violação de diversos direitos. Ademais foi proposto

como solução uma reforma do sistema penitenciário através da privatização dos presídios na

modalidade da parceria público privada (PPP) com contrato de concessão administrativa. Foi

abordado quais países já adotam esse sistema e ainda que o Brasil já teve seu primeiro

presídio privatizado na cidade de Ribeirão das Neves em Minas Gerais.

Palavras-chave: privatização; parceria público-privada; sistema carcerário.

Page 8: Milena Eloy da Cruz

ABSTRACT

The work consisted in demonstrating the problem suffered by the Brazilian prison. We sought

to present a brief history of the appearance of the sentence. Subsequently the demonstration of

how the Brazilian legislation arranged the treatment that should be adopted and exercised to

the condemned. Next, it was demonstrated how the incarcerated are treated within the current

Brazilian prison system, which has a violation of several rights. In addition it was proposed as

a solution a reform of the penitentiary system through the privatization of prisons in the

modality of the private public partnership (PPP) with contract of administrative concession. It

was approached which countries already adopt this system and although Brazil already had its

first privatized prison in the city of Ribeirão das Neves in Minas Gerais.

Keywords: privatization; public-private partnership; prison system.

Page 9: Milena Eloy da Cruz

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Quantidade de estabelecimentos penais ............................................................ 17

Tabela 2 - Total dos presos penais ....................................................................................... 18

Page 10: Milena Eloy da Cruz

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8

I SISTEMA CARCERÁRIO ................................................................................................ 10

1. Breve histórico ................................................................................................................... 10

1.1 Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais do apenado ............................ 12

1.2 A superlotação dos presídios, proliferação de epidemias e contágio de doenças ....... 15

1.2.1 Superlotação dos presídios ............................................................................................. 16

1.2.2 Proliferação de epidemias e contágio de doenças .......................................................... 18

1.3 Rebeliões e fugas dentro dos presídios ........................................................................... 20

II PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA (PPP) E CONCESSÃO ........................................ 24

2.1 Contrato de concessão ..................................................................................................... 24

2.2 Parceria Público Privada ................................................................................................ 28

2.2.1 Origem do Instituto ......................................................................................................... 28

2.2.2 Modelo brasileiro ............................................................................................................ 29

2.3 Privatização do Sistema Carcerário e obstáculos ......................................................... 31

2.4 Experiências internacionais ............................................................................................ 33 2.4.1 Modelo Norte Americano ............................................................................................... 33

2.3.2 Modelo Francês .............................................................................................................. 34

III EXPERIÊNCIAS DE PRISÕES NO BRASIL QUE ADOTARAM O MODELO DE

PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA ............................................................................... 37

3.1 A experiência nacional: da cogestão às Parcerias Público-Privadas .......................... 37

3.2 Penitenciária Guarapuava-PR ....................................................................................... 39

3.2.1Estrutua ............................................................................................................................ 39

3.2.2 Contratação ..................................................................................................................... 40

3.2.3 Os presos ........................................................................................................................ 40

3.3 Penitenciária de Juazeiro do Norte- CE ........................................................................ 41

3.3.1Estrutura .......................................................................................................................... 41

3.3.2 Contratação ..................................................................................................................... 42

3.3.3Os presos ......................................................................................................................... 42

3.4 Penitenciária de Minas Gerais ....................................................................................... 43

3.4.1 Estrutura ......................................................................................................................... 44

3.4.2 Contratação ..................................................................................................................... 44

3.4.3 Os presos ........................................................................................................................ 45

3.5 Desvantagens do sistema de privatização dos presídios brasileiros ............................ 47

3.6 Vantagens do sistema de privatização dos presídios brasileiros ................................. 48

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 50

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 53

Page 11: Milena Eloy da Cruz

8

INTRODUÇÃO

A privatização por meio das parcerias público-privadas surgiu no Brasil no ano de

2004, através da lei 8.987, que introduziu no sistema jurídico os contratos de concessão

patrocinada e de concessão administrativa, cujo objetivo é transferir a uma empresa particular

a gerência de determinado serviço público que tem como titular o ente estatal.

No caso do presente trabalho, o foco está na privatização do sistema carcerário, pois é

notória a sua falência e sua crise, a qual é irrecuperável sozinha pelo Estado, precisando este

de ajuda. A privatização, via concessão administrativa, pode se revelar uma forma de

contribuir para a melhora do sistema.

No primeiro capítulo será abordado um breve histórico sobre a pena, demonstrado a

realidade em que se vivem os apenados no Brasil, as condições degradantes e desumanas

pelas quais eles são submetidos, bem como qual seria o tratamento adequado e disciplinado

legalmente, muitas vezes não cumprido em sua totalidade.

O segundo capítulo explica a modalidade de contrato de concessão (Parceria-Público

Privada) implementada no Brasil no ano de 2004, espelhada no modelo Francês. Além disso,

apontou-se no segundo capítulo alguns países que adotaram a privatização do sistema

carcerário, por meio das PPP’s e os benefícios que esse método tem gerado.

No terceiro capitulo o enfoque foi tomado ao Brasil. Assim, foi abordado que o Brasil

teve como pioneiro o Estado no Paraná no modelo de privatização/cogestão do sistema

penitenciário, o qual não foi detentor de muito sucesso. Posteriormente, outros os Estados

brasileiros também adotaram esse sistema.

Após a chegada lei de parceria público privada, no ano 2004, o primeiro Estado a

adota-lo no Brasil, na forma de privatização do cárcere, foi Minas Gerais.

O presídio de Ribeirão das Neves foi o escolhido como pioneiro para privatização. O

complexo teve sua inauguração no ano de 2013 e está sendo gerido pela empresa GPA que

conta com a colaboração de mais 13 (treze) empresas. O contrato foi estabelecido com prazo

de 27 (vinte e sete) anos.

Ainda, foi abordado no terceiro capítulos a visão de vantagens e desvantagens nesse

novo sistema que aparentemente surgiu para reformar o sistema carcerário brasileiro.

Page 12: Milena Eloy da Cruz

9

O método utilizado para a realização desse trabalho constitui-se em pesquisas

bibliográficas, pesquisas de artigos científicos, buscas em jornais e revistas digitais, ainda

pesquisa nas legislações brasileiras.

Page 13: Milena Eloy da Cruz

10

I SISTEMA CARCERÁRIO

Neste primeiro capítulo, visa-se a abordagem da dignidade da pessoa humana no

contexto do cárcere, bem como a realidade por eles vivida. Realizando-se um retrocesso

acerca da função da pena e sua real finalidade que, por ora parece não ser atendida dentro do

sistema prisional brasileiro, levando os presos a condições desumanas.

1 Breve histórico

Abordar-se-á aqui um breve histórico do surgimento da prisão e sua convicta

finalidade que difere com a realidade.

O cárcere teve seu surgimento na idade antiga no século V d.C. o qual foi marcado

pelo aprisionamento, definido como uma maneira de garantir o domínio físico do aprisionado,

para tão somente este ser digno de uma punição, no entanto, o aprisionamento não era

considerado uma pena e sim um castigo (ESPEN, 2019).

Na idade média o cárcere era destinado para aqueles que fossem ociosos e não

queriam trabalhar, pois eram considerados para a sociedade da época, como um atraso para o

capitalismo, assim como os mendigos e delinquentes juvenis, e não para aqueles que

realmente cometeram algo ilícito. Dessa maneira, os encarcerados deveriam trabalhar dentro

do cárcere na indústria têxtil. Além disso, o cárcere não tinha um tempo pré-determinado, o

sujeito ficava encarcerado o tempo necessário para sua disciplina (DA SILVA, s/d).

Dessa maneira, fica evidente que as penas daquela época eram fixadas sem o critério

de justiça.

O professor Mirabete (2006, p.35) dispõe que, ainda que o Direito Penal tenha surgido

com o homem, não pode se dizer que houve um sistema orgânico de princípios penais nos

tempos primitivos.

Ainda mais porque os grupos sociais que viviam a essa época acreditavam que eram

envolvidos por um ambiente mágico e religioso, no qual tudo o que acontecia era atribuído

como originário das forças divinas, dos deuses. Esse episódio ficou conhecido como ―tabu‖,

na qual quem não as obedeciam sofreria castigos (MIRABETE,2006).

Page 14: Milena Eloy da Cruz

11

Assim como dispõe Marques (2016, p.24) o tabu é o mais antigo código feito pelos

homens que não foi escrito. Ele proibia práticas decorrentes da tradição sagrada de coisas ou

pessoas, bem como as que decorressem desse caráter, sem possuir qualquer explicação ou

origem, passando-se de geração para geração.

Observa-se então, que o tabu pode ser considerado o primeiro sistema penal humano.

Assim, a punição do culpado, por meio de um poder central, como forma de controle

social, visava a garantir a sobrevivência dos membros da comunidade, porquanto a

transgressão colocava todos em perigo. A violação do tabu transformava o

transgressor em tabu, tornando-o perigoso e impuro, e o contágio deveria ser evitado

por atos de expiação e purificação, por meio de cerimônias purificadoras. (FREUD,

apud, MARQUES,2016, p 26).

Dessa forma, pode-se dizer que os homens que descumprissem as práticas impostas

pela tradição sagrada ou o que delas decorressem, sofreriam um tipo de punição da sociedade,

sendo considerados impuros. Assim, fica caracterizado o primeiro tipo de sistema penal

criado pela sociedade punitiva, ligado inteiramente a questões religiosas.

No entanto, pode-se observar que naquela época o castigo era a própria vida do

homem, podendo ser equiparada a vingança que era desproporcional com a ofensa e aplicada

sem preocupação com a justiça (MIRABETE, 2006).

Com o passar dos anos, já no século XVII, época contemporânea, posteriormente a

Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão, de 1789, a pena

perdeu seu caráter religioso, e passou a ser de natureza intrínseca, isso é, próprio da prática

governamental, e não mais ligados aos direitos naturais (MARQUES,2016).

No século das luzes (XVIII), foi inserida a pena privativa de liberdade passando a

fazer parte do rol do Direito Penal, gradativamente sendo banida as penas cruéis e desumanas

(SANTIS; ENGBRUCH, 2017).

Foi então, que na Reforma Penal de 1984, no Brasil, após uma série de mudanças

sociopolíticas sofridas no período de exceção democrática, com início, após o golpe de 1964,

aderiu-se ao caráter subjetivo promovido pelo Código de 1940 (ROIG, 2015).

A pena deixou de ser uma proteção jurídica, passando a ser medida de acordo, de

qualidade e intensidade do delito, nos séculos XIX e XX (GARUTTI; OLIVEIRA, 2012).

Atualmente, tem-se que a pena é um privilégio legal do Estado, sendo um reflexo da

política por ele adotado.

Assim para a constatação de um crime e de sua respectiva pena é necessário a análise

do motivo do crime, culpabilidade, antecedentes, conduta social e personalidade do agente.

Page 15: Milena Eloy da Cruz

12

Sendo aplicado no Brasil o modelo trifásico, consistente em pena-base, circunstâncias

atenuantes e agravantes e por fim causas de aumento e diminuição (ROIG,2015, p.28/29).

Observa-se que após o passar dos anos, a pena evoluiu progressivamente, e que apesar

de um tanto quanto precário ainda, já se encontra num patamar avançado.

1.1 Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais do apenado

Após a Segunda Grande Guerra Mundial, em 1945 foi preciso a criação de um

mecanismo de asseguramento aos direitos e dignidade humana, que embora sejam natos aos

seres humanos foram violados de forma brutal pelos mesmos (DE CARVALHO DUARTE,

2009).

Assim, em 1948 foi proclamada a Declaração Universal de Direito Humanos

suscitando garantir os direitos humanos (DALBONI; OREGON, 2018).

Destarte, nota-se que os direitos humanos objetivam a proteção dos abusos praticados

tanto pelo Estado como pelos cidadãos que violem esses direitos que são inerentes aos

homens.

Tendo em vista que a dimensão do significado de dignidade da pessoa humana e

humanidade das penas abrange a necessidade de se evitar ao máximo que os sujeitos

de direito sejam afetados pela intervenção do poder punitivo, e que a construção de

uma sociedade livre, justa, solidária, orientada no sentido da erradicação da

marginalização e redução das desigualdades sociais e que promova o bem de todos

mostra-se incompatível com a habi ita o desmesurada e irraciona daque e poder, é

possíve conc uir pe a e ist ncia de um aut ntico dever jurídico-constitucional das

agências jurídicas, em especial a judicial, no sentido de minimizar a intensidade de

afetação do poder punitivo sobre o indivíduo sentenciado (ROIG, 2015, p.22).

O principal objetivo da dignidade da pessoa humana, portanto, é garantir a todas as

pessoas condições necessárias para que todos possam viver uma vida digna, sendo respeitado

todos os direitos e deveres, sendo os valores morais unificados para que o cidadão tenha o seu

direito em questões e em valores preservados (SIGNIFICADOS, 2019).

A dignidade da pessoa humana inerente ao ser humano, pode ser suscitada conforme

explica Leite (p.45, 2011):

(...) é factível dizer que a dignidade da pessoa humana é uma qualidade intrínseca de

todos os seres humanos, que pressupõe a existência de direitos fundamentais que os

protegem contra atos desumanos atentatórios a sua integridade física, psíquica e

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13

moral. Portanto a dignidade da pessoa humana pressupõe observância do respeito do

direito à vida, à honra, ao nome, a limitação do poder (político ou econômico), as

condições mínimas para uma existência com liberdade, autonomia, igualdade e

solidariedade.

Essa dignidade é atribuída a pessoa conforme os direitos que a ela são dados, ou seja,

os direitos fundamentais que a ela são inerentes. Assim quando uma das normas inerentes a

pessoa for violada, pode-se dizer que ela é indignamente humana, não sendo considerada

pessoa humana (MAURICIO, 2011).

Dignidade da pessoa humana pode ainda ser considerada como,

(...) a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz

merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,

implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que

assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e

desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma

vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável

nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres

humanos, mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede da vida

(SANTIAGO, 2011, p. 38).

Ainda a Constituição da República Federativa do Brasil no artigo 1º, inciso III intitula

como princípio fundamental ―Art. 1º A Repúb ica Federativa do Brasi , formada pe a uni o

indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado

Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)III - a dignidade da pessoa humana‖.

Outra Convenção importante para a proteção internacional dos direitos humanos é a

Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou

Degradantes.

Para Sanguiné (2014) para que seja acionado a convenção a tortura e outros

tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes é necessário que o agente sofra algum

tipo de vexame ou tratamento humilhante, isso é excedendo o limite da gravidade.

No entanto, ele explica que:

A ausência de intenção de humilhar ou vexar a vítima não exclui completamente a

existência de um tratamento desumano ou degradante. Assim, as condições adotadas

no meio carcerário em relação aos presos preventivos constituem objetivamente,

penas ou tratamentos desumanos ou degradantes, v.g., o fato de o detido portar,

durante mais de um ano, um capuz munido de dois buracos para os olhos, quando

dos seus deslocamentos tanto no interior quanto no exterior do estabelecimento

penitenciário, mas também na sala de audiência e durante suas entrevistas ao falar

com seus vizinhos ou advogados; o fato de um preso preventivo ser constrangido a

dividir um compartimento de um furgão de um metro de superfície (cada um tendo

que se sentar sucessivamente sobre os joelhos do outro), durante seu trajeto entre o

estabelecimento penitenciário e o tribunal, durante mais de uma hora e pelo menos

duzentas vezes; as revistas corporais pelas quais o preso deve desnudar-se, podem

Page 17: Milena Eloy da Cruz

14

ser às vezes necessários para a segurança da instituição penitenciária ou a defesa da

ordem e a prevenção de crimes, porém devem ser realizadas de modo adequado,

pois, se não for assim, incorreria na falta manifesta de respeito pelo preso e lesão de

sua dignidade humana constitutiva de tratamento degradante; também a acumulação

de revistas corporais regulares, aplicadas semanalmente por um tempo prolongado,

com outras medidas de segurança rigorosas aplicadas nas unidades de alta segurança

de um complexo penitenciário. Da mesma forma, a aglomeração em condições

sanitárias espantosas e a inexistência de camas e material de dormir representam um

tratamento degradante. A superpopulação das celas e suas diversas repercussões

físicas e psicológicas se consideram tratamento degradante ainda que não exista

intenção de humilhar. Esta configuração objetiva aparece inclusive quando as

condições julgadas somente são degradantes pelas limitações funcionais de uma

pessoa incapacitada. Porém facilita que, às vezes, condições muito similares se

reputem tratamento desumano. As condições de detenção, em particular uma cela

superlotada, com espaço físico inferior a 2 m, com insalubridade extrema (detido

ocasionalmente com pessoas com sífilis e tuberculose, numa célula infestada de

sarna e constantemente iluminada), e os seus efeitos prejudiciais à saúde

(gastroduodenite crônica, infecções fúngicas nos pés e virilha e micose) e ao bem-

estar do prisioneiro, causando-lhe grandes sofrimentos mentais (síndrome astênica

de origem neurótica), atentando à sua dignidade e gerando sentimentos de

humilhação e aviltamento, combinadas com a duração superior a quatro anos no

qual esteve detido em tais condições, configuram um tratamento degradante. A

prisão preventiva do imputado em um contêiner de metal utilizado como se fora uma

cela do Centro de Detenção Provisória constitui um tipo de prisão desumana e

degradante. (SANGUINÉ, 2014, s/p.)

O artigo 5º, inciso XLIX da Constituição Federal dispõe ainda, que o preso tem direito

ao respeito de sua integridade física e moral. No mais, a Convenção Interamericana de

Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) dispõe em seu artigo 5º que:

1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos

ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito

devido à dignidade inerente ao ser humano.4. Os processados devem ficar separados

dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a

tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas. 6. As penas

privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação

social dos condenados [].

Assim, entende-se que todas as pessoas, sem exceção possuem direito a dignidade

incluindo dessa forma aqueles que se submetem ao cometimento de ato ilícito, ou seja, crime.

De acordo com Sarlet (2004, apud Nunes, 2018, p.72) ―todos – mesmo o maior dos

criminosos – são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos como pessoas –

ainda que não se portem de forma igualmente digna nas suas relações com seus semelhantes,

inclusive consigo mesmas‖.

No mais, a Lei de Execução Penal expõe em seu artigo ―Art. 40 - Impõe-se a todas as

autoridades o respeito à integridade física e mora dos condenados e dos presos provisórios‖.

Page 18: Milena Eloy da Cruz

15

Apesar de toda conceituação da dignidade da pessoa humana e da previsão legal, e por

mais que se tenha evoluído ao longo da história, a situação enfrentada pelos encarcerados no

Brasil ainda precisa de reforma.

O Brasil enfrenta uma crise em seu sistema carcerário, sendo essa considerada uma

falência prisional, a qual acarreta diversos problemas não sendo possível que se aborde todos.

Mas um dos principais motivos a ser apontado seria a superlotação carcerária, a qual

suscita diversos outros problemas como proliferação de endemias, epidemias, rebeliões, más

condições de vida, podendo até ser considerados uns dos fatos ensejadores para a

reincidência, devido a revolta que neles podem causar.

1.2 A superlotação dos presídios, proliferação de epidemias e contágio de doenças

Atualmente o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de países com a maior

população carcerária do mundo, com um número de 726.000 (setecentos e vinte e seis mil)

presos, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da China (VERDÉLIO, 2017).

Uma das causas apontadas para esse grande número carcerário poderia ser atribuída a

uma falha estrutural do Estado, uma vez que o mesmo não disponibiliza formas de

ressocialização eficaz aos detentos, como por exemplo um emprego ou uma escolarização.

Ainda, nota-se que há uma má gestão dos complexos penitenciários e por consequência dos

aprisionados, como por exemplo, os presos não são separados de acordo com a tipificação do

delito cometido, não há condições de higienização, há um crescimento da violência dentro do

cárcere, aumento de pessoas a integrarem as organizações criminosas, pois, como o Estado os

dei a a merc , a organiza o criminosa os ―amparam‖, em troca da realização de ilícitos,

sendo assim configurado como uma via de mão dupla (CÂMARA LIGADA, 2017).

Dessa forma, a falta de estrutura estatal contribui para rebeliões, assim como ocorreu

no massacre do Carandiru na cidade de São Paulo - SP, com o assassinato de 123 (cento e

vinte e três) detentos, em meados de 1992. E no início do ano de 2017, na penitenciária em

Natal-RN, uma rebelião que ocasionou a morte de 26 (vinte e seis) detentos. Já em Roraima,

também no início de 2017, houve uma rebelião e a morte de 33 (trinta e três) detentos, bem

como no Amazonas, na mesma época, a morte de 50 (cinquenta) detentos e 112 (cento e doze)

que foragiram (O GLOBO, 2017).

Page 19: Milena Eloy da Cruz

16

Nota-se que, o sistema carcerário brasileiro suplica por ajuda, sendo o Estado legítimo

a tomar uma medida que seja rápida e eficaz, para que episódios como esse possam cessar.

―O cárcere se mostra refratário ao aprofundamento de diagnósticos, à fisca iza o e ao

monitoramento por agentes externos, bem como à revisão e à inovação das suas práticas de

gest o‖ (CNJ, 2018).

Assim, como dispõe Hilderline Câmara de Oliveira1 (2007), em sua pesquisa de Pós-

Graduação para a Universidade Federal do Maranhão:

O fato é que no conte to do sistema penitenciário brasi eiro, ―a preserva o da vida,

essência primeira e fundamental da própria natureza, é o objetivo primordial do

homem‖ (Bussinger, 1997, p.13), n o é um direito efetivado, tampouco estabe ecido.

O que prevalece nesse modelo de prisão é certamente a ideia de que os abusos dos

direitos humanos das vítimas, que estão presas e por isso, criminosas não merecem a

atenção do poder público e da sociedade.

Nota-se que apesar de uma legislação protetora aos direitos humanos e aos direitos dos

apenados, para que esses pudessem cumprir suas penas da melhor maneira, o Brasil não tem

prestado o devido cuidado com eles, que são uma de suas maiores vítimas.

1.2.1 Superlotação dos presídios

A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) estabeleceu no artigo 87 que as

penitenciárias se destinam a pessoas condenadas à pena de reclusão, em regime fechado.

Ainda institui no artigo 88 que o condenado ficará encarcerado em cela individual, o qual será

composto de dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Além disso, são requisitos básicos

para as celas que sejam ambientes salubres e com área mínima de seis metros quadrados.

Bem como, no artigo 84, da mesma lei, fica disposto que os presos condenados

deverão ficar separados dos presos provisórios. Dentro dessa divisão serão separados de

acordo com os delitos cometidos. No mais, o artigo estabelece que o preso que tiver sua

integridade física, moral ou psicológica ameaçada ficará em local separado dos demais presos.

De acordo com o Banco Nacional de Monitoramento das Prisões, dados coletados pelo

Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no ano de 2018, informam que o número da população

carcerária tem crescido alarmantemente. Cerca de 602.217 (seiscentos e dois mil e duzentos e

dezessete) pessoas encontram-se privadas de sua liberdade, ou seja, condicionadas dentro de

Page 20: Milena Eloy da Cruz

17

um presídio. O Brasil é detentor de aproximadamente 208,5 milhões de habitantes, dessa

maneira, pode-se concluir que a cada mil pessoas três encontram-se presas.

No ano de 2017 foi constatado que no Brasil existiam 762 estabelecimentos prisionais

do tipo cadeias públicas sendo destinadas as pessoas que são presas provisoriamente, isso é

aquelas que aguardam por alguma decisão. Possuía 562 penitenciárias subdividas em 389

masculinas e 68 femininas, nas quais destinavam-se aquelas pessoas que já foram condenadas

e estão a cumprir pena privativa de liberdade. Essas penitenciárias podem ser de Segurança

Máxima Especial destinadas a pessoas com pena privativa de liberdade, sendo exclusivamente

condicionada a cela individual, e as penitenciarias de Segurança Média ou Máxima

direcionadas a pessoas também com pena privativa de liberdade, mas que podem ser

condicionadas as celas individuais ou coletivas. Temos ainda que existem 87 unidades de

Colônias Agrícolas, Industriais ou Similares, sendo 69 para homens e 12 para mulheres e 6

para ambos, destinando-se as pessoas que cumprem pena em regime semiaberto. Ainda, 42

unidades de Casas de Albergados, que se destinam as pessoas que cumprem penas privativas

de liberdade em regime aberto, sendo 28 masculinas e 3 femininas e 11 para ambos. Cerca de

29 hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico que se destinam as pessoas submetidas a

medida de segurança, sendo que existem 11 para homens, 18 para ambos e nenhuma que se

destina apenas as mulheres. (CNMP, 2017)

Tabela 1: Conselho Nacional do Ministério Público. Cumprimento da Execução CNMP 56/2010

Acessado em 08 de outubro de 2018. Imagem referente a quantidade de estabelecimentos penais.

Page 21: Milena Eloy da Cruz

18

De acordo com dado coletado no ano de 2017, pelo Conselho Nacional do Ministério

Público, a capacidade total entre homens e mulheres encarcerados em regime fechado dentre

todas as penitenciárias brasileiras é de 218.797; todavia, a ocupação chega a 337.957 pessoas.

Dessa maneira, é possível analisar que a taxa de ocupação é de 154,48% maior do que a

capacidade permitida.

Dentre os presos em regime fechado, o CNJ dispôs que a maior parte dos encarcerados

aguardam por ter suas prisões em definitivos, assim, como dispõe o gráfico:

Tabela 2: Conselho Nacional de Justiça, dado retirado no BNMP/2.0/CNJ – 06 de agosto de 2018.

Acessado em 08 de outubro de 2018. Imagem referente ao total dos presos penais.

A penitenciária de Caiuá, localizada no interior de São Paulo, possui capacidade de

comportar 844 (oitocentos e quarenta e quatro) detentos provisoriamente. No entanto, sua

capacidade atual encontra-se em 1.152 (mil cento e cinquenta e dois) detentos, ou seja, cerca

de 308 (trezentos e oito) presos encontram-se a mais num espaço que está acima de seu limite

(ESTEVES, 2018).

De tal maneira, conclui-se que mais da metade dos presos que se encontram

encarados, vivem em condições desumanas devido ao aglomeramento de pessoas em

pequenos espaços.

Essa delonga, acaba por gerar revoltas e descredibilidade com a justiça, uma possível

reincid ncia, a esse ―mundo do crime‖ esquecido e margina izado por todos, inclusive uma

possível rebelião.

1.2.2 Proliferação de epidemias e contágio de doenças

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19

Devido a superlotação que os presos se encontram, tendo que dividir uma cela que em

tese seriam para 2 (duas) pessoas com no mínimo 15 (quinze) pessoas, as condições sanitárias

e alimentícias encontram-se precárias, o que facilita a proliferação de doenças.

Tanto os fatores estruturais, como os fatores de gestão, por exemplo a má alimentação,

sedentarismos, uso de entorpecentes, falta de higienização, e toda qualidade estruturaria da

própria penitenciária, contribuem para essa má condição. Os presos encarcerados adquirem os

mais variáveis tipo de doenças, devido à falta de resistência física e a fragilidade em que se

encontram (ASSIS, 2007).

As doenças mais comuns que atingem os presos, por conta dos locais insalubres, como

por exemplo a falta de arejamento, falta de iluminação solar, seja pelo aglomerado de pessoas

que consequentemente aumentam a sujeira, são as doenças respiratórias como tuberculoses e

pneumonias. Outros tipos estão ligados a saúde dentária, tendo em vista que o único

tratamento encontrado nesse sentido é para extração de dentes. Quando o preso fica doente o

tratamento médico-hospitalar fica na maioria das vezes inviável, pois depende de escolta da

Polícia Militar, que na maioria das vezes é demorada, além de nem sempre estar disponível. E

quando há o policiamento, nem sempre há leitos a disposição dos presos, vindo muitos deles a

morrer dentro do próprio cárcere (ASSIS, 2007).

Todavia, a lei de nº 7.210/84, prevê nos artigos 10 ao 27 a garantia aos presos de

assistência à saúde, material, social, religiosa, educacional e jurídica. Em específico, o artigo

14 que prevê a garantia a saúde, sendo estabelecido que o preso tem direito ao tratamento

odontológico, médico e farmacêutico. Ainda, se no estabelecimento prisional em que se

encontra não tiver, poderá mediante autorização da direção do estabelecimento a ir em outro

local.

Em pesquisas realizadas entre os anos de 2017 e 2018, o Conselho Nacional de

Justiça, contabilizou cerca de 109 mortes dentro do sistema carcerário; frisa-se que os dados

não foram coletados em todos os Estado brasileiros, portanto estão incompletos.

Mas, o fato é que num curto espaço de tempo, cerca de um ano, pessoas que estavam

acondicionadas a cumprirem suas penas, perderam suas vidas por uma negligência estatal.

Todavia, os dados disponibilizados pelo Conselho Nacional do Ministério Público,

apontaram que no ano de 2017 cerca de 63,29% receberam assistência médica e 57,38%

receberam assistência odontológica.

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20

Apesar dos números parecerem elevados, as situações em que os detentos se

encontram ainda são alarmantes.

Outra doença frequente entre os presos são as sexualmente transmissíveis, cerca de

59,33% dos encarcerados possuem doenças sexualmente transmissíveis, dado coletado pelo

Conselho Nacional do Ministério Público.

Assim, pode-se concluir que faltam profissionais, falta estrutura, falta gestão, falta

administração, falta um maior investimento para que o Estado possa de fato cumprir o que é

proposto na forma da lei.

1.3 Fugas e rebeliões

O motim carcerário, definido pelo Dicionário Online de Português como toda ação

contra qualquer autoridade por meio de violência, falta de ordem ou pela utilização de

armamento, e também considerado tumulto, revolta ou agitação popular, demonstra a

deficiência da pena privativa de liberdade no Brasil (BITENCOURT, 2017).

É por meio das rebeliões que a sociedade tem a ci ncia do que acontece por ―trás‖ dos

muros das penitenciárias.

Motivadas por anseios de ruptura ou de visibilidade, as rebeliões irrompem os muros

das prisões, produzindo sensações de descontrole, e comunicas por meio de signos e

manifestações originais de violência, ao mesmo tempo em que desmitificam a

função de contenção atribuída à pena privativa de liberdade incentivam a

reafirmação dos métodos formais de controle disciplinamento. (FREIERE, 2005,

153).

O professor Bitencourt (2017) em seu livro Crise do Sistema Carcerário aponta alguns

fatores que contribuem para a crise da pena. Um dos primeiros fatores por ele apontado consta

na violência como não sendo exclusivamente do sistema carcerário, mas que ela

originalmente advém da sociedade, como por exemplo alguma violência sofrida pela

encarcerado em seu convívio familiar. Outro aspecto por ele apontado são os que estimulam

os conflitos dos encarcerados que, embora aja melhora nas condições carcerárias o nível de

frustação dos detentos continua estável, sendo esse um dos fatores que mais influenciam os

conflitos naquele ambiente. Ainda há a prisão de segurança máxima, tendo em vista que as

prisões comuns contam com um aglomeramento de pessoas dificultando dessa maneira a

vigilância e os devidos cuidados com os internos; todavia ela facilita as relações e

comportamentos homossexuais, além disso favorece a rivalidade étnicas ou grupos distintos.

Page 24: Milena Eloy da Cruz

21

A aflição se intensifica quando se fala em grandes prisões, pois aumenta-se a tensão com

violências e frustações.

Há a influência de ideologias políticas e radicais também um dos fatores, e que

segundo o professor Bittencourt (2017) não mais interessa as reformas ou melhoramento, mas

sim uma destruição total do sistema carcerário e da sociedade que o criou. Também há os

motins decorrentes das reformas, pois a reforma tende a enfraquecer o poder dos internos,

retirando algumas regalias, fazendo dessa forma com que os líderes dos cárceres organizem

rebeliões.

E por fim, pode ser apontado as graves deficiências do regime penitenciário

consistente em falta de orçamento, servidores técnicos não preparados, bem como a

ociosidade dos detentos. E outros aqui já apontados, como por exemplo as más condições de

alimentação, higienização, castigos desumanos e etc.

O sistema prisional brasileiro caracteriza-se pela não superação dos problemas

estruturais como é o caso do crescimento alarmante dos crimes organizados, assim como a

eclosão das rebeliões e o aumento das práticas de tortura e morte dentro do cárcere (FREIRE,

2005).

Os cárceres geridos pelo Poder Público encontram-se com péssimas condições

estruturais e administrativas, dados esse reconhecidos pelo CNJ.

Um exemplo claro, é a ocupação dos presídios com capacidade maior do que aquela

permitida, facilidade para entrada de armas, celulares e drogas, ausência de estruturação com

separação dos encarcerados, que deveria ser de acordo com o delito cometido e sua

periculosidade, além da ausência de agentes para manter a segurança, com o fim de evitar

choques entre facções (D'ANGELIS, 2017).

Em 1992 o Brasil ficou marcado pelo início de um conflito entre grupo de presos no

interior da Casa de Detenção de São Paulo, bairro que ficou amplamente conhecido, o

Carandiru.

O presídio a época possuía cerca de 7.200 (sete mil e duzentos) encarcerados, sendo

que sua capacidade máxima era de 1.200 (mil e duzentos) presos. A administração já tinha

assumido a incapacidade para solução desse conflito, momento este que autorizou a polícia

militar a invadir os pavilhões. Com a invasão foi ocasionada 111 (cento e onze) mortes, sendo

103 (cento e três) causadas por armas de fogo de punho dos próprios dos policiais, reagiram

de forma violenta, tendo em vista que os encarcerados não se encontravam armados. Se não

bastasse tal tragédia, os mortos foram empilhados em uma sala e o chão do presídio lavado

para que impossibilitasse a realização de perícia (FREIRE, 2005).

Page 25: Milena Eloy da Cruz

22

Outro caso que chamou a atenção não só do país como também da Corte

Interamericana de Direitos Humanos, foi o caso conhecido como Caso do Presídio do Urso

Branco, na cidade de Porto Velho- RO, ocorrido em julho de 2002.

Os presos pleiteavam por melhores condições dentro do cárcere, e a única maneira

pela qual encontraram para atingir seus objetivos, foi a violência. Instrumento também

utilizado para que eles estivessem pleiteando por melhores condições.

O presídio de Porto Velho tinha como principal alvo, os presos que não tivessem

trânsito em julgado de sua sentença e os presos provisórios, com capacitação máxima de 420

internos; todavia essa capacidade foi dobrada, e já estava com cerca de 1000 (mil) presos

ocupando o local. Não havia segurança suficiente, e com a superpopulação começaram as

disputas pelo poder entre os encarcerados ocasionando a morte de vários deles. Dentre essas

atrocidades, que pararam de envolver apenas os detentos, evolvendo também os carcereiros, a

Corte Interamericana foi acionada para combater. Assim, condenou o Estado a indenizar a

família dos presos sobreviventes, além de melhorar a situação do presidio, coisa que até hoje,

ano de 2018, ainda não ocorreu (KOSTER, s/d).

Pode-se notar que a crise do sistema carcerário é antiga, e ainda não houve solução. O

ano de 2018 também foi marcado por algumas rebeliões que mais uma vez, trouxe atenção do

país ao problema no cárcere. No norte e nordeste do país, algumas penitenciarias foram alvos

de rebeliões que ocasionaram a morte de centenas de presos.

Outrora, além de todos esses motivos que são ensejadores, para as rebeliões e fuga, um

artigo rea izado pe a ―Ponte- direitos humanas, justi a, seguran a púb ica‖, pub icada no ano

de 2016, por Felipe Athayde Lins de Melo traz informações relatadas pelos próprios presos,

no interior de São Paulo, que empregaram fuga do Centro de Progressão Penitenciária (CPP)

de Jardinópolis/SP.

Também comuns eram as ameaças de transferências de unidades e as imposições de

castigos realizadas pelos agentes de segurança, bem como a imposição de outras

obrigações não previstas legalmente, como a adesão a campanhas de vacinação que,

em princípio, são de participação voluntária, e a presença em cultos ou cerimônias

religiosas. Por fim, e ainda mais motivador, o constante desrespeito aos familiares

das pessoas presas, permanecendo, como na maior parte das unidades prisionais

paulistas, os constrangimentos relacionados à entrada de itens de alimentação e

higiene pessoal que o Estado é incapaz de fornecer adequadamente e, sobretudo, a

prática da revista vexatória (MELO, 2016).

Dessa maneira conclui-se que o sistema carcerário se encontra em grande falência,

sendo que diversos fatores contribuíram e continuam contribuindo para tal decadência.

Page 26: Milena Eloy da Cruz

23

Assim como é perceptível que o Poder Público está com ausência estrutural para a

realização da manutenção do sistema e dos cuidados básicos, impedindo dessa forma que o

cárcere possa cumprir o seu principal objetivo, punição e ressocialização.

Dessa forma é necessário que a Administração Pública de forma rápida possa agir

solucionando ou pelo menos arriscando uma forma de solução das condições em que os

encarcerados se encontram.

Page 27: Milena Eloy da Cruz

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II PARCERIA PÚBLICO PRIVADA (PPP) E CONCESSÕES

A parceria-público privada é uma modalidade de contrato de concessão que pode ser

de duas formas: patrocinada ou administrativa. Foi instituída no Brasil por meio da lei

11.079/2004, inspirado no modelo inglês.

A lei que rege os contratos de concessões comuns é a Lei 8.987/95 promulgada em 13

de fevereiro. Enquanto que a lei 11.079/04 trata especificamente das concessões especiais,

isso é das parcerias público privadas.

2.1 Contrato de concessão

A legislação que rege o contrato de concessão é a de direito público, com algumas

prerrogativas e derrogações, por se tratar de contrato celebrado com a administração pública

de direito público.

O contrato de concessão envolve três partes: o Estado, uma pessoa de direito privado

que prestará o serviço, e o usuário que será o beneficiário do serviço prestado.

Apesar da transferência da prestação do serviço à concessionária, entende-se que o

titular do serviço continua sendo o Estado, pois esse somente passará a execução do serviço

para a pessoa de direito privado.

Para Mello (2006), a concessão é o instituto segundo qual o Estado transfere o

exercício de um serviço público para uma pessoa de direito privado prestar em seu próprio

nome, assumindo todo risco do negócio, por meio de condições estabelecidas unilateralmente

pelo Estado, com garantia do equilíbrio econômico financeiro, com tarifas a serem pagas pelo

usuário do serviço, que seria a coletividade ou por meio de outro, decorrente da exploração do

serviço.

Esse contrato tem prazo de validade pré-determinado, podendo ser de longa duração,

desde que com prazo previsto para o término.

Para a complementação do conceito de concessão, Di Pietro (2006) explica que o

contrato segue com algumas cláusulas exorbitantes que poderão ser modificadas e rescindidas

Page 28: Milena Eloy da Cruz

25

de forma unilateral pela Administração Pública, com fundamentação no interesse público.

Além disso, o objeto do contrato estará previsto na legislação. A fiscalização do serviço é

realizada pelo Poder Público que poderá aplicar algumas penalidades. A concessão só poderá

ser realizada por meio de licitação na modalidade concorrência, assim como dispõe o artigo

2º, inciso II da ei 8.987/95 ―II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação,

feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa

jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua

conta e risco e por prazo determinado‖.

A Constituição Federal em seu artigo 175 autorizou o Poder Público a realizar o

contrato de concessão. Veja-se:

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de

concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços

públicos. Parágrafo único A lei disporá sobre: I - o regime das empresas

concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu

contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e

rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usuários; III - política

tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado. [BRASIL, 1988]

O §2º da lei 8.987/95 dispõe sobre o poder concedente que o Estado transferirá a

execução do serviço para o concessionário.

Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:[...] III - concessão de serviço

público precedida da execução de obra pública: a construção, total ou parcial,

conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse

público, delegada pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de

concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade

para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da

concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou

da obra por prazo determinado [...].[BRASIL, 1995]

O serviço concedido consiste na construção total ou parcial de obra pública,

conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de qualquer obra de interesse público que

ocorrerá mediante licitação ou concorrência cabendo a concessionária demonstração de sua

capacidade para realização do serviço, bem como colocar a assunção dos riscos (COSTA,

2013).

Ainda Costa, (2013) trouxe que no contrato de concessão se admite arbitragem,

mecanismo privado para a resolução de disputas que decorrerem dos contratos. Além disso,

cabe ao Poder Público a fiscalização do serviço prestado pela concessionária, pois caso não o

Page 29: Milena Eloy da Cruz

26

faça ou se omita ficará responsável subsidiariamente por qualquer prejuízo causado, pois em

regra a responsabilidade do executor do serviço é objetiva.

Outro ponto que merece ser destacado diz respeito à possibilidade de subconcessão

que conforme explica Di Pietro (2006)

Na subconcessão existe a delegação de uma parte do próprio objeto da concessão

para outra empresa (a subconcessionária); O contrato de subconcessão tem que ser

autorizado pelo poder concedente, está sujeito à prévia concorrência e implica, para

o subconcessionário, a sub-rogação em todos os direitos e obrigações do

subconcedente, dentro dos limites da subconcessão. A subconcessão tem a mesma

natureza de contrato administrativo que o contrato de concessão e é celebrado à

imagem deste. A subconcessionária responde objetivamente pelos danos causados a

terceiros, com base no artigo 37, § 6º, da Constituição.

Dessa forma, pode-se dizer que é admitido a contratação de subconcessão, casos em

que a empresa concedente, contrata outra empresa para prestação do serviço, desde que

antecedida de licitação, e dentro dos limites legais.

A subconcessão tem previsão legal, no artigo 26 da lei 8.987/95, a saber:

Art. 26. É admitida a subconcessão, nos termos previstos no contrato de concessão,

desde que expressamente autorizada pelo poder concedente. § 1o A outorga de

subconcessão será sempre precedida de concorrência. § 2o O subconcessionário se

sub-rogará todos os direitos e obrigações da subconcedente dentro dos limites da

subconcessão. [BRASIL, 1995]

É importante ressaltar que o poder concedente precisa autorizar a subconcessão, pois

ela implicará em todos os direitos e obrigações do subconcedente respeitando a limitação

contratual. A responsabilidade é objetiva de quem subconceciona (DI PIETRO, 2006).

Em regra, tem-se que a responsabilidade do Estado é objetiva, significando dizer que

ele será responsável pelos danos causados pelos seus agentes, podendo eles atuarem em favor

da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios; todavia em se tratando de

responsabilidade decorrente de atos praticados ou provocados por pessoas pertencentes a

Administração Indireta ou das pessoas que prestam serviços ao ente estatal (como por

exemplo no caso das concessões) a responsabilidade do Estado passará a ser subsidiária

(CARVALHO FILHO, 2014).

Dessa maneira, pode-se dizer que a responsabilidade subsidiária decorre nos casos em

que a responsável originária não consegue mais arcar com suas responsabilidades.

Ainda, explica Carvalho Filho (2014) que o Poder Público responde de maneira

solidária aos danos causados pelas prestadoras de serviços. Estes serão responsáveis caso em

Page 30: Milena Eloy da Cruz

27

que a conduta praticada decorra de ato danoso consequências tanto da negligência como da

omissão decorrida pela administração. Todavia, caso a responsabilidade decorra de culpa

exclusiva da vítima, a responsabilidade do ente estatal passará a ser subsidiária.

No mais, explica Maffini (p 230, 2013)

Em re a o as pessoas jurídicas ―de direito privado prestadoras de servi os

púb icos‖ (b), deve-se considerar que o elemento determinante da incidência da

regra do art. 37, §6º, da CF corresponde à atividade prestada, qual seja a prestação

de serviços públicos.

Enquadram-se em tal hipótese as empresas públicas e as sociedades de economia

mista prestadoras de serviços públicos, bem como as pessoas jurídicas que sejam

concessionárias ou permissionárias de serviços públicos, nos termos da legislação

pertinente. Especialmente no que tange as concessionárias de serviços públicos,

embora tenham sido proferidas pela 2.ª Turma do STF, que consideram inaplicável o

artigo 37, §6º, da CF contra concessionárias de serviço público, quando estas

causarem lesões a terceiros não usuários (RE 262.251, RE 302.622 e RE 370.272),

tal posição restou superada quando a composição plenária do Pretório Excelso tratou

da matéria. Com efeito, o STF, quando do julgamento do RE 591.874, decidiu que a

e press o ―terceiro‖, contida no art.37, §6º, da CF, abrangeria tanto os usuários do

serviço prestado pela concessionária quanto os usuários eventualmente lesados. De

qualquer modo, contudo, a responsabilidade fica condicionada a implementação dos

pressupostos constitucionais [...]. Além disso em relação a tais pessoas jurídicas de

direito privado prestadoras de serviços públicos, ou seja, as concessionárias, haverá

responsabilidade do Poder Público – criador, mantenedor ou contratante – apenas de

forma subsidiária.

O contrato de concessão poderá ser extinto, conforme explicado por Mello (2006)

trazido pelo artigo 35 da lei 8.987/95, das seguintes formas, a saber:

I. Advento do termo contratual: nos casos em que finda o prazo contratual

estabelecido, aplicando ao serviço público a reversão que integrará o patrimônio

público. A reversão nada mais é do que tudo aquilo que a concessionária utilizou

para a prestação do serviço ficará para a administração pública, que o indenizará

para que o serviço possa continuar a ser executado.

II. Encampação ou resgate: é a rescisão unilateral que parte da concedente com base

na conveniência e oportunidade administrativa, casos em que o Poder Público

assumirá a execução do serviço ou o substituirá por outro serviço mais eficaz. A

indenização nesse caso está prevista nos artigos 35 e 37 da lei 8.987/95 sendo

apenas das parcelas não pagas ou depreciadas aos bens reversíveis.

III. Caducidade: é ato que advém da concedente antes do término do prazo contratual

com fundamento na inadimplência do concessionário caracterizado como violação

da grave da obrigação. Tem previsão legal no artigo 38, §2º da Lei 8.987/95

Page 31: Milena Eloy da Cruz

28

IV. Rescisão: pode ser unilateral, casos em que a administração pública pode rescindir

com fundamento no interesse público, desde que indenize a concessionária ou

quando está não estiver executando o serviço, nesse caso não caberá indenização.

Ou ainda pode ser rescisão consensual por acordo entre as partes

V. Anulação: ocorro nos casos de existência de algum vício jurídico na elaboração

contratual, se não advir da má-fé do concessionário, pois nesse caso haverá

indenização por todas as despesas já realizadas, e se o serviço já estiver em

execução caberá reversão dos bens.

VI. Falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade do

titular, no caso de empresa individual: a falência poderá ser dada em função da

insolvência de incapacidade ou deficiência da gestão das atividades.

Assim, pode-se concluir que o contrato de concessão é envolvido por três agentes. O

Poder Público que seria o titular do serviço que o repassa para um concessionário, que

executará o serviço, sendo remunerado pelo beneficiário do serviço que é a sociedade.

Esse contrato tem como objeto apenas obras e serviços previstos na legislação.

2.2 Parceria Público Privada

A parceria-público privada é uma modalidade do contrato de concessão, sendo este um

contrato especial com previsão legal na lei 11.079/04, que teve como espelho o modelo da

Inglaterra.

2.2.1 Origem do Instituto

O instituto da Parceria Pública Privada foi apresentado pelo Deputado Federal do

Estado do Paraná, no ano de 2003, decorrente da lei de licitações. O projeto apresentado foi

sancionado pelo Congresso Nacional no final de 2004. A esperança para essa criação foi para

Page 32: Milena Eloy da Cruz

29

que através das parcerias o Estado pudesse reduzir economicamente seus gastos, além de ter

uma maior efetivação na elaboração de determinados serviços (GALVÃO, 2005).

Todavia, constata-se que a privatização no Brasil ocorreu previamente, em meados dos

anos 90, ainda no governo do Co or que institui um p ano denominado de ―Plano Nacional de

Desestatização‖, advindo pela Lei nº 8.031/90. Assim, explicado por Lima (2004) que ainda

diz que:

Foi no governo de Fernando Collor que se deu o primeiro passo nesse sentido, com a

instituição do Plano Nacional de Desestatização pela Lei nº 8.031/90. A ideia era

diminuir o tamanho do Estado brasileiro através da venda de empresas públicas,

sociedades de economia mistas e de ativos em empresas privadas pertencentes ao

Poder Público, bem como delegar a prestação das correspondentes atividades à

iniciativa privada. Por intermédio, portanto, de privatizações, almejava-se, além dos

recursos que seriam obtidos com as vendas, diminuir os gastos públicos com tais

atividades, de modo que, seja pelo lado do incremento da receita, seja pelo lado da

redução das despesas, tivesse o Estado mais recursos para aplicação em

infraestrutura. Além do mais, por força dos contratos de concessão, as empresas

adquirentes normalmente tinham o dever de fazer investimentos consideráveis na

área que acabavam de receber, o que também alavancava a infraestrutura do setor.

Contudo com o advento da Lei de Licitações Gerais e Lei de Concessão (Lei 8.666/93

e Lei 8.987/95), o projeto teve que ser adequado aos moldes dessa nova legislação; todavia, os

modelos de contratuais previstos nessas leis, não atendia a todas as demandas de

infraestrutura do Estado, como as penitenciárias, pois nos contratos comuns havia a presença

de três sujeitos (usuário, Estado e empresa contratada), a qual o usuário é o detentor do

pagamento de tarifas a empresa contratada, ocorre que o mesmo não poderia acontecer nos

casos das penitenciárias, por exemplo.

Assim, houve a necessidade de melhor readequação para esses contratos.

Dessa maneira, foi necessário a construção de uma nova lei em análise aos modelos

internacionais, o que melhor se adequava a situação brasileira foi o modelo europeu. Dessa

forma surgiu a lei das parcerias público privadas, no ano de 2004.

2.2.2 O modelo brasileiro

Page 33: Milena Eloy da Cruz

30

A lei 11.079/04 apresenta dois modelos de contratos especiais de concessão, sendo

elas de concessão patrocinada ou de concessão administrativa.

No que tange a concessão patrocinada, é trazida pela lei no artigo 2º, §1º, como sendo

―[...] concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de

fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários

contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado‖.

Ou seja, nessa modalidade de concessão a empresa recebe duas fontes de remuneração

sendo realizada tanto pelo usuário do serviço (sociedade), como pelo titular do serviço

(Administração Pública), por um serviço a ser prestado.

A concessão administrativa, por sua vez, está prevista no artigo 2º, §2º da lei

11.079/04 que dispõe ―[...] é o contrato de prestação de serviços de que a Administração

Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento

e instalação de bens‖.

Isto é, na modalidade da concessão administrativa a execução do serviço será

remunerada tão somente pela administração pública.

Assim, Costa, (2013) diferencia concessão administrativa e patrocinada da seguinte

maneira: ―A diferencia o entre ambas é a re ativa à contrapresta o pecuniária do parceiro

púb ico ao privado paga na patrocinada. Na concess o administrativa, a remunera o é feita

exclusivamente pelo parceiro público, por isso ela se aproxima de um contrato de

empreitada‖.

Mello, (2006) explica que na modalidade da concessão patrocinada a ideia para o

investimento das parcerias-púb ico privada seria ―acudir à car ncia de es‖. Nessa moda idade

de concessão cabe ao Poder Público a investidura de até 70% (setenta por cento) da

remuneração transferida ao executor do serviço, conforme autorização do artigo 3º da lei

11.070/04.

No que tange a concessão administrativa, explica o professor Mello, (2006), que essa

seria uma modalidade de prestação de serviço com execução de obras e fornecimento de

instalações de bens e equipamentos, o que pode ser considerada de falsa concessão, pois a

remuneração neste caso é exclusivamente tarifada por um serviço público em que a

administração pública é usuária direta ou indireta; todavia, não pode ser considerada uma

tarifa, mas tão somente como uma remuneração contratual, descaracterizando dessa forma a

parceria como uma forma de concessão.

Para que possa ser rea izado o contrato de concess o na moda idade PPP’s a ei

estabelece, no artigo 2º, §4º que o valor da contratação não poderá ser inferior a dez milhões

Page 34: Milena Eloy da Cruz

31

de reais, bem como prevê que o prazo para a prestação do serviço não poderá ser inferior a

cinco anos. Ainda, dispõe que o objeto do contrato deverá ser o fornecimento de mão de obra,

o fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução de obra pública.

Carvalho Filho, (2015) explica que a lei exige que a contratação só poderá ocorrer se

antes forem encaminhados ao Senado Federal e à Secretaria do Tesouro Nacional informações

que indiquem o cumprimento dos limites das despesas considerando a receita recorrente

líquida da pessoa federativa. Se o contrato não tiver previsão pecuniária deixará de ser

contrato de concessão da modalidade especial e passará a ser concessão na modalidade

comum.

Dessa maneira pode-se concluir que o contrato de concessão na modalidade da

parceria-público privada, carrega uma série de requisitos a serem cumpridas tanto pela

Administração Pública, como pela empresa concedente.

Além disso, ficará a cargo da empresa a prestação de um serviço que será de maneira

eficiente e mediante remuneração a ser realizada conforme for a prestação de serviço.

No Brasil já foram privatizados alguns serviços, dentre eles unidades educacionais,

hospitais, serviços de energia, bem como algumas penitenciárias (PALHARES, 2018).

A concessão administrativa tem sido vista como uma possível solução para a

privatização de presídios. Este o objeto central dessa análise.

2.3 Privatização do sistema carcerário e obstáculos

A privatização prisional tem como consequência deixar a mercê da empresa ganhadora

da licitação a gerência total e ampla do objeto a ser licitado, de modo que o Poder Público

nada intervirá em sua gerência, tão somente continuará a exercer o controle da pena do

agente.

Para os autores Kuhnen, Paula Brasil e Oliveira Filho (2013), a privatização não seria

a melhor forma de solução do déficit carcerário, tendo em vista que no momento em que se

privatizaria, traria maior lucro para os empresários, e os encarcerados ao invés de serem

tratados como deveriam, isso é, presos, seriam considerados trabalhadores. Além do mais, a

privatização traria maior gastos ao ente estatal, tendo em vista que sem a privatização o gasto

com um presidiário é de cerca R$800,00 (oitocentos reais), enquanto que dentro de um

sistema carcerário privatizado, esse valor chega a ser de cerca de R$1.200,00 (mil e duzentos

Page 35: Milena Eloy da Cruz

32

reais). E que, portanto, a melhor maneira de colaborar com o sistema em questão seria a

criação de novas ocupações aos detentos, tendo em vista a ociosidade do cárcere atualmente,

podendo inclusive qualificá-los ao mercado de trabalho fora do cárcere.

Célia Regina Nilander Maurício (2011) em sua tese de mestrado de direito penal,

elencou alguns obstáculos quanto a privatização do sistema carcerário, a saber:

a) Éticos: a Constituição Federal garante o direito à liberdade, e que este obstáculo

está diretamente ligado ao princípio da liberdade, tendo em vista que o único apto

a sancionar alguém é o Estado, e que, portanto, ele não pode o transferir a um ente

particu ar essa responsabi idade. Conc uindo que é ―into eráve enriquecer sobre a

base do quantum de castigo que seja capaz de infligir a um condenado‖.

b) Jurídicos: pressupõe princípio da violação de indelegabilidade da atividade

jurisdicional acarretando em inconstitucionalidade. A Lei de Execução Penal,

transfere ao ente estatal o monopólio de execução penal, ficando este proibido de

repassa-lo a qualquer pessoa física ou jurídica.

c) Políticos: explica que ao transferir essa função a entes particulares,

descaracterizaria a função política do Estado, pois sintetiza que a função da

penitenciária é combate à criminalidade e que os entes particulares não têm esse

objetivo, e por esse motivo não devem administrar o sistema carcerário.

Assim, consta que esse é o argumento negativo que mais ganhou força dentre aqueles

contrários a privatização dos presídios. Eles alegam que o artigo 2º da Constituição Federal,

dispõe que os poderes são da União, e que, portanto, ela dever ser a responsável pela

execução e cuidado dos encarcerados e não os repassa a terceiros (CARVALHO, 2008).

Ainda, é garantido pelos opositores que as empresas que ficariam responsáveis pela

privatização, usariam os detentos como empregados, o que poderia acabar por gerar trabalho

escravo. Um exemplo utilizado pelo autor é no Estados Unidos, onde um preso recebe cerca

de US$ 0.28 a hora enquanto o salário mínimo é US$5 ocasionando o que fora por ele

denominado de trabalho semiescravo (CARVALHO, 2008).

Dessa maneira, nota-se que os opositores são contra a terceirização, pois segundo seus

entendimentos, o Estado é detentor e responsável pelo gerenciamento carcerário; todavia, o

que pode eles não foram notado é que o sistema prisional brasileiro está falido, e que o Estado

não tem mais condições de manter os presídios, o que faz gerar inúmeros problemas, como já

citado no capítulo anterior.

Outrora, o sistema de privatização não retira do ente estatal a titularidade do serviço a

ser executado. A transferência a empresa privada far-se-á tão somente a gerência do cárcere,

Page 36: Milena Eloy da Cruz

33

manutenção de melhor qualidade de vida ao apenado, que está ali tão somente ao

cumprimento de pena e não há ser humilhado ou torturado pelo cometimento de um crime.

2.4 Experiências internacionais

Nota-se que o sistema de privatização do sistema carcerário é recente não só no Brasil,

como no mundo.

A ideia de privatização do sistema carcerário surgiu em 1761 por Jeremy Bethan que

defendia que as prisões deveriam ser gerenciadas por particulares, assim como eram as

fábricas, desde que não maltratassem os detentos (GHADER, 2011).

Países como Estados Unidos, França, Bulgária, Alemanha, Chile, México, Irlanda,

Israel, Escócia, Canadá, Austrália, Peru, entre outros adotaram a ideia de privatização

carcerária.

Dessa maneira, nota-se dois modelos de privatização existentes no mundo, o francês e

o americano.

2.4.1 Modelo Norte-Americano

O primeiro país a implementar tal ideia foi o Estados Unidos, em meados da década de

80. Diante de uma crise do sistema carcerário o presidente a época Ronald Reagan surgiu com

a ideia de transferir a empresas privadas o gerenciamento dos presídios com o propósito de

combate a falência (ARAÚJO NETO, 2013).

Neste modelo a função estatal é tão somente a de fiscalização das empresas. Transfere-

se as empresas o poder de direção.

A pioneira foi a prisão de Saint Mary, cujo a empresa que a administrou foi U.S.

Correction Corporation administra Saint Mary (MAURÍCIO, 2011).

Todavia, começou a ocorrência de desvios de finalidades das empresas, que passaram

a explorar a mão de obra dos encarcerados, e ao invés de preocuparem com a ressocialização

e cumprimento de pena do apenado, visavam tão somente o lucro

Page 37: Milena Eloy da Cruz

34

Em janeiro de 2007, a Revista Exame realizou a seguinte matéria,

Os Estados Unidos têm a maior população carcerária do planeta, 2,2 milhões de

pessoas. Como a legislação possibilita a ampla participação das empresas privadas,

as companhias estão aproveitando a oportunidade para obter bons lucros. Hoje, elas

são contratadas pelo governo para projetar e construir presídios, vigiar e reabilitar

detentos e prestar serviços gerais, como limpeza das celas e alimentação dos presos.

O resultado é um mercado de 37 bilhões de dólares, que deve continuar em

expansão, pois o número de presos cresce à taxa de 3,4% ao ano desde 1995.

(POLONI, 2007)

Atualmente 7% (sete por cento) dos presos naquele país, encontram-se em presídios

privados. A ideia de privatizar adveio devido a ideologia de mercado, por causa do aumento

do número de encarcerados, bem como o aumento do custo das prisões. ―N o há armas na

prisão, e os presos, todos, estão próximos do livramento condicional e foram selecionados

para que a empresa pudesse operar sem maiores prob emas‖ (MAURÍCIO, 2011).

No mais, a súmula 1981 da Suprema Corte dos Estados Unidos determina que

[...] não há obstáculo constitucional para impedir a implantação de prisões privadas,

cabendo a cada Estado avaliar as vantagens advindas dessas experiências, em termos

de qualidade e segurança, nos domínios da execução penal.

Dessa maneira, pode-se observar que o marco inicial da privatização decorreu de uma

falência no sistema prisional. Embora com alguns defeitos, pois as empresas particulares

deixaram de ver os encarcerados como presos, e passou a vê-los como fonte de arrecadação

de dinheiro.

Não é esse o modelo adotado pelo Brasil, tendo em vista que no Brasil é necessário

que a empresa passe por um processo licitatório.

Além do mais a empresa no Brasil ficará tão somente responsável pela gerência do

presídio, ficando o Estado o titular do serviço e responsável pela parte jurídica do apenado.

2.4.2 Modelo Francês

A ideia de privatização na França também foi decorrente das crises em que vivia a

época o sistema carcerário, má gestão administração do cárcere, superlotação dos presos.

Page 38: Milena Eloy da Cruz

35

Foi então que a França após muitos projetos criou a Lei 87/432 estabelecendo a

privatização dos presídios. Para que isso ocorresse era necessário que a empresa interessada

participasse de um processo licitatório com obediência a alguns requisitos (MAURÍCIO,

2011).

Lei n. 87/432: A Assembleia Nacional e o Senado aprovaram. O presidente da

República promulga a lei cujo teor é o seguinte: [...]

Art. 2º. O Estado pode confiar a uma pessoa de direito público ou privado uma

missão versando ao mesmo tempo sobre a construção e adaptação de

estabelecimentos penitenciários. [...] Estas, pessoas, ou grupos, são designadas ao

final de um processo licitatório. Nos estabelecimentos penitenciários as funções

outras que de direção, cartório, vigilância, podem ser confiadas a pessoas jurídicas

de direito público ou privado segundo uma habilitação definida por decreto. Estas

pessoas podem ser escolhidas em processo licitatório na forma prevista na alínea

precedente. Art. 3º. Os estabelecimentos penitenciários podem ser erigidos em

estabelecimentos públicos penitenciários, submetidos a tutela estatal. Cabe ao

Ministro da Justiça designar os membros da direção do cartório e da vigilância dos

estabelecimentos.

Além disso foi estabelecido que a empresa apenas cuidaria da gestão dos cárceres,

como por exemplo da alimentação, da infraestrutura do prédio, do trabalho e educação ao

encarcerado dentre outras coisas, e que continuaria a cargo do Estado a responsabilidade

jurídica, isso é a execução penal (MAURÍCIO, 2011).

O modelo Europeu é um dos modelos mais invejáveis do mundo, e tem provado que a

privatização é uma ótima alternativa para a solução de falências carcerárias.

No modelo Europeu o condenado é informado de seus direitos e deveres assim que

chega ao estabelecimento prisional, sendo submetido a uma avaliação médica, sendo

encaminhado ao tratamento na constatação de deficiência física ou mental. Recebe

todo vestuário que tem direito, inclusive o que terá de utilizar para comparecer aos

tribunais. Os detentos podem ser alocados em celas individuais ou para no máximo

duas pessoas, com uma rigorosa separação por idade, saúde e periculosidade. Os

desordeiros são colocados em regime de confinamento solitário, por razões

disciplinares e de segurança, para evitar influência sobre os demais, bem como inibir

condutas futuras. A preocupação do sistema é tratar o preso com dignidade respeito,

não sendo admitido qualquer discriminação social, racial ou religiosa [...] Os

momentos de lazer, recreação e prática esportiva não são considerados como simples

passatempos ou distrações. As atividades devem sempre proporcionar uma ocupação

inteligente, com acompanhamento por profissionais competentes e treinados. O

sistema de ensino penitenciário é invejável, uma vez que os presos recebem

ensinamentos condicionados ao seu temperamento e deficiência, com setores

especializados e orientados a melhorar a formação escolar de cada um. A

profissionalização é obrigatória, principalmente aos inexperientes (inicialmente na

condição de aprendizes), de acordo com as habilidades de cada detento, e essenciais

a sociedade. Para os dirigentes europeus, o trabalho no estabelecimento prisional

não é concebido como uma punição, mas como elemento essencial na reeducação

social do indivíduo. (RABELO; VIEGAS; RESENDE, 2011)

Page 39: Milena Eloy da Cruz

36

Observa-se dessa maneira que o objetivo da privatização é o melhoramento da

condição do apenado, respeitando dessa forma seus direitos humanos e garantindo a eles a

ressocialização e a reinserção desse apenado a sociedade.

É explicado por Duarte, (2012) que em média 80% (oitenta por cento) do valor gasto

pelo preso é retornado por ele no período em que ele se encontra recluso. A dificuldade, no

entanto, encontra-se no preconceito enraizado na sociedade em face da aceitação de um ex-

presidiário.

O problema agora não está mais nos apenados e sim na sociedade, pois o Estado

fornece todo o tipo de assistência ao preso, garantindo a ele todos os seus direitos previstos

tanto legalmente, como nos tratados internacionais que garantem o direito dos apenados.

O modelo de sistema de privatização adotado pelo Brasil é o francês. Embora ainda

haja poucos presídios aqui privatizados, nota-se já uma diferença entre os presos

condicionados aos presídios comuns e os presos que encontram-se acondicionados nos

presídios privatizados.

Page 40: Milena Eloy da Cruz

37

III EXPERIÊNCIAS DE PRISÕES NO BRASIL QUE ADOTARAM

O MODELO DE PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA

O Brasil implementou a política de privatização na modalidade parceria pública-

privada no ano de 2004 com o advento da lei 11.079/04. Dessa maneira houve a esperança de

modificação dos presídios brasileiros, tendo em vista que atualmente encontram-se em ruínas.

Todavia, em 1999, antes da implementação legal das privatizações por meio das

PPP’s, houve o primeiro modelo de privatização através do modelo de cogestão ou

terceirização que ocorreu nos cárceres.

O pioneiro desse sistema foi a Penitenciária Industrial de Guarapuava (PRIG),

localizada na cidade de Guarapuava - PR. Após outros quatro sistemas de cárcere também

localizados no Estado do Paraná adotaram esse sistema (Casa de Custódia de Curitiba, Casa

de Custódia de Londrina, prisão de Piraquara e prisão de Foz do Iguaçu). Todos eles geridos

pela mesma empresa Humanitas Administração Prisional S/C ocorrido por meio de dispensa

de licitação (MAURÍCIO, 2011).

Posteriormente, outros Estados adotaram o modelo de cogestão/privatização, como no

caso da Penitenciária de Cariri, localizada na cidade Juazeiro do Norte-CE, além dos Estados

da Bahia, Santa Catarina, entre outros.

O pioneiro na imp ementa o do mode o das PPP’s foi o Estado de Minas Gerais,

localizada da cidade de Ribeirão das Neves, administrado pela empresa Gestores Prisionais

Associados.

Recentemente, em janeiro de 2019, o governador do Estado de São Paulo, João Dória

anunciou a privatização de quatro novos presídios no modelo das parcerias públicos privadas

PPPs) no Estado. (PINHONI, 2019).

3.1 A experiência nacional: da cogestão às Parcerias Público-Privadas

Pelo disposto acima, nota-se que as primeiras experiências de privatização do sistema

carcerário no Brasil envolveram o sistema de cogestão, sendo, posteriormente, introduzido o

modelo de concessão administrativa, espécie de parceria público-privada.

Page 41: Milena Eloy da Cruz

38

Há dois modelos de contrato de gestão. O primeiro modelo possui previsão

constitucional no artigo 37, §8º denominado de contrato de gestão interno ou endógeno. Esse

contrato visa compromete-se a uma maior eficiência com objetivo de metas a serem

cumpridas. O segundo modelo possui previsão no artigo 5º da lei 9.637/98 e traduz no

contrato entre a Administração Pública e uma entidade privada que não possui fins lucrativos,

ou seja, as denominadas Organizações Sociais com fomento a entidade privada

(OLIVEIRA,2017).

Dessa maneira, pode-se concluir que o modelo utilizado na privatização dos cárceres,

é o previsto pela Constituição. A saber:

§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da

administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado

entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de

metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:

I - o prazo de duração do contrato;

II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e

responsabilidade dos dirigentes;

III - a remuneração do pessoal.

Frisa-se importante, portanto, salientar a diferenciação entre o modelo de privatização

por meio das parcerias públicos privadas e o modelo de cogestão ou contrato de gestão.

Assim, pode ser explicado como:

A diferença de um modelo de PPP para um modelo de cogestão, como os que

existem atualmente, é que o contrato entre o estado e a empresa é rigoroso e focado

no preso — diz Rodrigo Gaiga, diretor do consórcio GPA e coordenador do

complexo pelo grupo. — É um divisor de águas para o sistema prisional porque traz

um elemento de gestão transformador. Se não cumprirmos os indicadores, que serão

fiscalizados pela empresa independentemente de auditoria Accenture, receberemos

penalidades financeiras, então, é do interesse de todos que tudo funcione da melhor

maneira possível e que os materiais usados na construção dos presídios sejam os

melhores, porque precisam durar muito (SCOFIELD JR., 2012).

No mais, Di Pietro (p 351, 2014) explica que o objetivo do contrato de gestão é o de

compor desígnio a ser cumprido, o qual haverá uma permuta de benefícios entre a

Administração Pública e a empresa vencedora. A finalidade é a eficiência.

Ainda, explica Di Pietro (p 351, 2014) a eficiência é um princípio constitucional

previsto em todos os contratos de gest o o qua devem estabe ecer ―a forma de como a

autonomia será exercida, metas a serem cumpridas pelo órgão ou entidade no prazo

estabelecido no contrato; e controle de resultado para a verificação do cumprimento ou não

das metas estabe ecidas‖.

Page 42: Milena Eloy da Cruz

39

Dessa forma, pode se observar que os contratos de cogestão consistem na privatização

de alguns setores de serviços e não no cárcere como um todo. Por exemplo, o contrato de

gestão pode privatizar a segurança limpeza, alimentação e etc.; não se tem uma empresa que

ficaria responsável pela gestão do cárcere como uma responsabilidade de todo.

3.2 Penitenciária Guarapuava-PR

Inaugurada em 12 de novembro de 1999, a penitenciária de Guarapuava foi exportada

do modelo de gestão privada. O consórcio que a criou foi denominado de PIG (Penitenciária

Industrial de Guarapuava). A PIG está localizada a 265 km (duzentos e sessenta e cinco

quilômetros) da cidade de Guarapuava-PR. Além dela outros presídios do Estado adotaram o

modelo de cogestão, dentre eles Casa de Custódia de Curitiba, Casa de Custódia de Londrina,

prisões de Piraquara e Foz do Iguaçu (SOARES, 1999).

3.2.1 Estrutura

Esse primeiro modelo de privatização no sistema carcerário, foi a adoção do sistema

misto, cogestão/terceirização, uma vez que na PIG ocorreu a terceirização dos serviços de

segurança interna e de acompanhamentos médicos e jurídicos dos detentos (CORDEIRO,

2006 apud OLIVEIRA, 2011).

O site do DEPEN, informa que a construção do cárcere decorreu com base nos

recursos do Governo Federal e Estadual, num montante de R$ R$5.323.360,00, sendo que

80% (oitenta por cento) do valor foi proveniente do Ministério da Justiça, e os outros 20%

(vinte por cento) provenientes do Estado.

O cárcere possui capacitação máxima de 240 (duzentos e quarenta) presos de média e

baixa periculosidade e em média 117 (cento e dezessete) funcionários. As celas têm em média

6m² (seis metros quadrados) com capacidade para 02 (dois) presos (CORDEIRO, 2006 apud

OLIVEIRA, 2011).

Page 43: Milena Eloy da Cruz

40

Ainda, dispõe a Secretaria Da Segurança Pública e Administração Penitenciária,

Departamento Penitenciário – DEPEN ―Seu projeto arquitetônico privilegia uma área para

indústria de mais de 1.800m²‖.

3.2.2 Contratação

O sistema de contratação da PIG celebrou com a empresa Humanista Administração

Prisional S/C para a realização do suporte aos detentos no que tange a alimentação, assistência

médica, psicológica jurídica e nas demais necessidades dos detentos. Foi nomeado pelo

Estado do Paraná um diretor que ficou responsável pela supervisão do cárcere, fiscalizando

tanto o trabalho da empresa, como o cumprimento da Lei de Execução Penal (CORDEIRO,

2006 apud OLIVEIRA, 2011).

Os contratos entre o governo e as empresas têm validade de um ano, com

possibilidade de renovação e prazo máximo de 60 (sessenta) meses (LOPES, 2006)

3.2.3 Os presos

O presídio teve como objetivo a ressocialização do preso para voltar em sociedade

após a prática do ilícito, e para isso proporcionou curso profissionalizante e trabalho dentre da

penitenciária.

Assim, dispõe o site do DEPEN (2019) que

(...) o barracão da fábrica trabalha 70% dos internos da Unidade, em 3 turnos de 6

horas, recebendo como renumeração de 75% do salário-mínimo; os outros 25% são

repassados ao Fundo Penitenciário do Paraná, como taxa de administração,

revertendo esses recursos para melhoria das condições de vida do encarcerado.

Outrora, aqueles que não trabalhassem na indústria eram destinados ao trabalho dentro

do próprio cárcere como na limpeza, cozinha, lavanderia e embalagens de produtos. Com a

exploração da mão de obra dos presos em período integral.

Page 44: Milena Eloy da Cruz

41

Ainda, informa O iveira (2011), ―Os detentos ganharão salário mínimo e a cada três

dias de trabalho terão a pena reduzida em um dia. Eles também terão direto a estudar‖.

Essa foi uma das maneiras encontradas para manterem os presos ocupados, além de

beneficiá-los para a vida fora do cárcere, tendo em vista o aprendizado satisfatório.

Os resultados desse trabalho não poderiam ser diferentes, dentre de todos os cárceres

do Estado do Paraná, o número de reincidência do presídio de Guarapuava foi de 6% (seis por

cento). Enquanto que o presídio de Maringá o índice alcançava em 30% (trinta por cento) e a

média nacional cerca de 70% (setenta por cento) (MAURÍCIO, 2011).

Após 15 (quinze anos) de privatização e com toda estrutura de segurança que continha

a penitenciaria de Guarapuava foi alvo de rebelião. Em outubro de 2014 cerca de 13 (treze)

agentes penitenciários e diversos presos, foram feitos reféns. Em média 19 (dezenove)

pessoas ficaram feridas, e a rebelião só teve fim com a transferência de 31 (trinta e um) presos

da penitenciária de Guarapuava para outros presídios no interior do Estado.

O fim da privatização se deu pela não renovação do contrato de terceirização, tendo

em vista o valor elevado.

3.3 Penitenciária de Juazeiro-CE

Com início em novembro de 2000, a privatização na Penitenciária de Cariri, localizada

na cidade de Juazeiro do Norte-CE, têm destinação aos presos que se encontram em regime

fechado.

A privatização decorreu de um Projeto de Lei nº 51/2000 criado pela deputada Gorete

Pereira (CORDEIRO, 2006 apud OLIVEIRA, 2011).

3.3.1 Estrutura

O presídio tem capacidade para 590 (quinhentos e noventa) presos. Assim explica

Amaral (2008) que o cárcere é disposto:

Page 45: Milena Eloy da Cruz

42

Com uma área de 15.000 m², tem 66 celas coletivas para cinco presos cada uma e

117 para dois presos cada. Possui ainda 12 "quartos de convivência familiar", 850

metros de cercas eletrificadas, (com ouriços e sensores de movimento) sobre

muralhas de 7m de altura; 17 guaritas; cozinha industrial; sistema de som; sala de

controle por 64 câmaras de circuito interno; auditório com salão de artes e eventos;

cabines telefônicas, play ground, campo de futebol, cinco quadras poliesportivas;

painéis, orações e mensagens bíblicas abertos em paredes; fábricas de velas,

calçados e bijuteiras e uma padaria, 4 salas de aula, biblioteca e administração,

lanchonete, consultórios médico-odontológicos, enfermaria, farmácia, 5 refeitórios

para detentos e mais 4 para a administração, lavanderia.

Dessa maneira, pode-se observar que o cárcere foi construído de forma a

ressocialização dos presos, com áreas extensas para a prática de atividades, lazer e educação.

3.3.2 Contratação

O cárcere de Cariri ocorreu em 2000 sem a ocorrência de licitação, em decorrência de

um projeto de lei. A autorização para a dispensa de licitação decorreu de autorização

Procuradoria Geral do Estado – PGE (CARVALHO, 2007).

O Governo do Ceará apoiado pelo Ministério da Justiça em 2002, mais uma vez sem a

realização de licitação terceirizou mais estabelecimentos prisionais no Estado, conseguindo a

inauguração da Penitenciária Industrial de Sobral (Pris) e o Instituto Presídio Professor Olavo

Oliveira II (MAURÍCIO, 2011).

Todavia, em 2007 o Ministério Público Federal contestou a privatização desses dois

sistemas prisionais (Pris e o Instituto), pois as privatizações ocorreram com a dispensa de

licitação, além do elevado custo ao erário (AMARAL, 2008).

3.3.3 Os presos

A ideia principal do PIRC (Penitenciária Industrial Regional de Cariri) é baseada na

ressocialização do preso.

Em maio de 2001 com a finalidade de preparação dos presos para ressocialização ou

reserva da população com ex-presidiários criou-se um núcleo de ressocialização,

Page 46: Milena Eloy da Cruz

43

implementada com a Humanitas Administração Prisional S/C em forma de cogestão

(MAURÍCIO, 2011).

Além disso, os presos trabalham para uma empresa privatizada, e recebem assistência

psicológica e orientação sexual.

Nessa penitenciária, através de parceria com a empresa Criativa Joias, 150

presidiários fabricam folheados, com uma produção de 250 mil peças/mês. Cada

preso recebe cerca de 75% do salário mínimo por mês e redução da pena.

No tocante à individualização da pena, os serviços de assistência psicológica, de

orientação social e sexual, tanto ao interno quanto ao egresso, são efetuados por um

quadro de funcionários próprio da CONAP. Já a assistência jurídica é prestada na

PIRC por um quadro composto por 04 (quatro) advogados contratados e auxiliados

por estagiários que prestam a referidas assistências aos internos que não possuem

defensores. A assistência religiosa, concebida como o direito de acesso à religião, é

efetivada através de diferentes cultos religiosos. No que se refere à saúde dos presos,

o atendimento é prestado por uma equipe composta de um médico, um psiquiatra,

dois psicólogos, um dentista, dois enfermeiros e três assistentes sociais. A

infraestrutura física é dotada de um núcleo de saúde, em que são prestados

atendimentos ambulatoriais, uma enfermaria e um centro cirúrgico no qual são feitos

procedimentos cirúrgicos de baixa e média complexidade. A assistência educacional

do preso se dá através de uma escola de ensino fundamental e médio na qual os

internos recebem a instrução escolar. No tocante a superlotação penitenciaria,

ressalta-se que a PIRC não possui esse grave problema, sendo que a lotação máxima

alcançada foi de 520 internos (dados de 2005). Ainda com relação à assistência ao

egresso, uma equipe de assistentes sociais dos quadros da própria CONAPrealiza

esse trabalho (AMARAL, 2008)

Até o presente momento, verificou-se que o contrato de gestão com as penitenciárias

n o foi baseado nas PPP’s, tendo em vista que a egis a o somente chegou ao Brasi em

2004. Ademais, uma empresa em específico, Humanitas Administração Prisional SC foi a

responsável pela manutenção do cárcere pioneiro (Paraná) e de outras. Assim, adotaram o

modelo de cogestão, sendo dispensado o processo de licitação.

Todavia, em análise as formas de contratação, a empresa ficava responsável por um

curto espaço de tempo.

3.4Penitenciária de Minas Gerais

O edital de licitação foi aberto em 2008, o contrato foi assinado em junho de 2009

com a empresa vencedora a GPA (Gestores Prisionais Associados) e a Secretaria de Estado de

Defesa Social de Minas Gerais.

Page 47: Milena Eloy da Cruz

44

No contrato ficou estabelecido a construção de 05 (cinco) unidades prisionais,

divididas em 03 (três) de regime fechado e 02 (duas) em regime semiaberto. A primeira

unidade foi inaugurada em janeiro de 2013. Atualmente 13 (treze) empresas fazem parceria

com a GPA empregando cerca de 140 (cento e quarenta) presos, isso é 30% (trinta por cento)

dos presos aptos ao trabalho. Nacionalmente a média chega a 10% (dez por cento) (GPA,

2019).

3.4.1 Estrutura

O complexo foi construído para uma capacidade total de 3.040 (três mil e quarenta)

presos do sexo masculino. A área total do complexo é de 66 mil m², composta por 05 (cinco)

unidades, das quais 03 (três) delas encontram-se prontas. Três destinadas são destinadas ao

regime fechado e uma ao semiaberto. As celas do regime fechado possuem 12m²

comportando 04 (quatro) presos por cela, enquanto que as celas do regime semiaberto medem

18m² comportando 06 (seis) presos por cela (GPA, 2019).

Para complementar a segurança, foram compostas portas automatizadas, detectores de

metal e aparelhos de raio-X. Outra inovação são os scanners corporais para acabar com as

revistas íntimas dos visitantes. Todas as três unidades têm bloqueadores de celulares

(BERGAMASCHI, 2017).

O complexo ainda é composto por uma escola que contem oito salas de aula,

biblioteca além de sala de informática.

A segurança acontece por meio de monitoramento. O lugar abarca 264 (duzentos e

sessenta e quatro) câmeras de alta definição. Além disso, o complexo possui um centro de

saúde com consultório médico e dentário, enfermaria e farmácia. Para completar é composto

de 06 (seis) galpões de trabalho com total infraestrutura para indústria.

O investimento total foi comportado pela empresa GPA. O projeto completo custou

R$430 milhões de reais, até agora foram investidos o estimado de R$330 (trezentos e trinta)

milhões de reais.

3.4.2 Contratação

Page 48: Milena Eloy da Cruz

45

Por meio da lei 11.079/04 (Lei de contratação de parceria público privada) foi

contratada no ano de 2009 pela Secretaria de Estado e de Defesa Social de Minas Gerais a

Concessionária Gestores Prisionais Associados S/A – GPA. O contrato da privatização foi

estabelecido nos moldes da concessão administrativa. O beneficiário a essa privatização foi o

Complexo Penitenciário de Ribeirão das Neves.

O contrato foi fixado num prazo de 27 (vinte e sete) anos, isso é, seu fim se dará no

ano de 2036, podendo ser prorrogado por período que não ultrapasse o total de 35 (trinta e

cinco) anos, ou seja, pode ser prorrogado por mais 8 anos (ORSINI, 2016).

Fixou-se no contrato, que os dois primeiros anos dedicar-se-ia a construção do

complexo, enquanto o restante ficaria dedicado a gestão do presídio (ORSINI, 2016).

Ademais é necessário que a empresa concedente se atente a alguns deveres dispostos

ao contrato, sob o risco de pagamento de multa. Dentre eles, observa-se que:

O projeto de PPP do Complexo Penal assenta-se sobre os princípios da necessidade

de uma gestão profissional de unidades penitenciárias, aplicando conceitos de

qualidade e eficiência na custódia do indivíduo infrator e promovendo a efetiva da

ressocialização do detento. Também consiste em princípio norteador do referido

projeto a importância do controle e da transparência na execução da política de

segurança pública. Por fim, os princípios da relevância de padrões contratuais que

incentivem a cooperação entre o setor público e privado, a fim de que os ganhos de

eficiência possam ser efetivamente verificados, bem como os níveis adequados de

retorno sejam garantidos tanto ao operador quanto ao investidor.

Dentre os serviços que devem ser prestados pelo Parceiro Privado, incluem-se:

Serviços de atenção médica de baixa complexidade interna ao estabelecimento

penal; Serviços de educação básica e média aos internos; Serviços de treinamento

profissional e cursos profissionalizantes; Serviços de recreação esportiva;

Serviços de alimentação; Assistência jurídica e psicológica;

Os serviços de vigilância interna; Os serviços de gestão do trabalho de preso

(COMPLEXO PENAL, 2019)

É válido lembrar que apesar do Poder Público conceder a gestão a uma empresa

privada, ele (Poder Público) continua sendo o responsável por fiscalizar a maneira pela qual o

complexo é gerido.

Por ser o responsável fiscal, cabe ao Poder Público a aplicação de leis, e a

responsabilização das penas dos apenados de acordo com a Lei de Execução Penal.

3.4.3 Os presos

Page 49: Milena Eloy da Cruz

46

Como disposto acima, o complexo penitenciário é composto por uma estrutura que

comporta salas de aula e galpões de trabalho destinados aos presos com duas vantagens em

específico.

A primeira é que conforme dispõe a Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal):

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá

remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

§1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:

I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de

ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de

requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;

II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho.

A segunda, pois, essa é uma das maneiras encontradas para que os presos não fiquem

ociosos dentro do cárcere, bem como uma forma de capacita-los a reinserção a sociedade,

tendo em vista que com diplomação de um curso profissionalizante, diploma em ensino

fundamental, médio e superior, e a experiência na realização de um trabalho poderá facilitar a

inclusão social fora do cárcere.

Dessa forma, observa-se que no complexo, 13 (treze) empresas em parceria com a

GPA empregam 410 (quatrocentos e dez) presos, cerca de 30% (trinta por cento) dos

condenados (GPA, 2019).

No que tange aos estudos, a penitenciária é integrada por 40 (quarenta) professores

com funcionamento no período matutino e vespertino de segunda a sexta-feira, contando

ainda com um pedagogo no período integral.

Mais de 2.000 (dois mil presos) dentre os 2.164 (dois mil cento e sessenta e quatro)

presos estão matriculados. Dentre esse número, 474 (quatrocentos e setenta e quatro)

encontram-se no ensino básico, 140 (cento e quarenta) realizam o ensino técnico e outros 30

estudam curso superior à distância (GPA, 2019).

No ano de 2018, 53 (cinquenta e três) detentos se formaram nos cursos de informática

e segurança do trabalho (VALE, 2018).

O complexo tem mostrado evolução quanto aos detentos encarcerados, além disso o

presídio nunca foi alvo de rebelião. No entanto, apesar da segurança altíssima, dois detentos

conseguiram fugir.

No mais, o cárcere mostra-se mais benéfico e condições melhores aos encarados. O

modelo de privatização conseguiu até agora cumprir com o pactuado nas Convenções

Humanas, e com os direitos garantidos pela Constituição Federal.

Page 50: Milena Eloy da Cruz

47

Não se encontram situações insalubres ou desumanas, nem mesmo a superlotação,

tendo em vista que esse é um dos requisitos cumpridos pela empresa concedente, o não

recebimento de detentos que sejam superiores a sua capacidade.

3.5 Desvantagens do sistema de privatização dos presídios brasileiros

Apesar da privatização ser uma possível solução para a crise do sistema penitenciário,

é composto por vários aspectos negativos.

O primeiro aspecto negativo apontado é que o Estado estaria a passar uma

responsabilidade com previsão constitucional a uma empresa privatizada, sendo essa mais

acessível a um cartel criminoso, podendo essas empresas ser comandas por chefes de facções,

pois nunca se sabe ao certo quem são os responsáveis por essas empresas (GRÉCI JÚNIOR,

2015).

Outro ponto apontado como negativo é que os presos ao trabalharem não estariam se

beneficiando do ―sa ário‖ recebido, mas sim pagando seus custos no cárcere, não repassando

seu direito a progressão de pena. Além disso, mostra-se desvantagem ao Estado pois este

gasta o dobro que gastaria com um preso no regime público.

Ou seja, uma das maiores preocupações com o sistema carcerário privatizado é a

maior preocupação do Brasil nos últimos tempos, a corrupção que pode ocorrer pelo

superfaturamento das obras, desvio de verba durante a construção dos presídios e etc.

Ainda Gérci Junior (2015) explica que haveria uma confusão entre a ética-moral, pois

as empresas estariam vendo apenas o aspecto lucrativo dos presos e sua mão de obra e não a

ressocialização deles. Podendo dessa maneira ser declarada inconstitucional, além de violar o

princípio da dignidade humana.

Afinal, as empresas responsáveis pela administração da penitenciária almejam o

lucro, em detrimento da dor do homem-preso. Este passa a ser visto como mero

instrumento para a obtenção de lucro, tendo, portanto, sua dignidade ferida. O que

traz preocupação em relação à privatização das penitenciárias é o fato de que, quanto

maior o sofrimento e a dor, maior será o lucro obtido. Assim, quanto maior o

número de pessoas presas, maior será a quantidade de presídios administrados por

empresas privadas (FERREIRA, 2007 apud GÉRCI JUNIOR, 2015)

Assim, pode-se comparar que os serviços prestados pelos detentos para a empresa

privada são equivalentes a mão de obra escrava, pois eles (detentos) pagam por estarem

Page 51: Milena Eloy da Cruz

48

trabalhando, com trabalhos intensos, com vantagem única e exclusiva para as empresas que

visionam lucros.

Pois, observa-se que dentro do ambiente carcerário a mão-de-obra torna-se barata, e o

trabalho intenso.

Por fim, dispõe Araújo (2016) esse modelo de reforma do sistema penitenciário não

ocorreria de maneira adequada, pois para que a empresa obtinha lucro é necessário que os

presídios estejam ocupados, dessa maneira, os ―se ecionados seriam aque es de c asses mais

baixas, pobres, negros, moradores de rua, cuja condição monetária não os favorecem, sendo

esses alvo do Direito Penal e vítimas da sociedade.

―[...] não resta dúvida que a ideologia empregada por esta pseudo-reforma chegará a

ser: quanto mais pobres no cárcere melhor, melhor para o governo, melhor para a sociedade,

melhor para o particular, melhor pra todos, menos para o pobre (ARAÚJO, 2016).‖

Dessa maneira, observa-se que para os pensadores contrários a privatização, esse

apenas seria mais um meio ineficaz para a resolução de um problema tão abrangente.

3.6 Vantagens do sistema de privatização dos presídios brasileiros

Ainda há aqueles que veem a privatização como uma forma possível de reestruturação

do sistema carcerário. Uma maneira de diminuir as mazelas construídas ao longo do tempo.

O primeiro aspecto a ser a apontado é que os presídios ao ficarem na gestão de uma

empresa privada será melhor gerida, cumprindo o que está determinado na lei, bem como

atentando as convenções da dignidade humana, pois se fugirem de um desses requisitos

podem sofrer sanções pelo Estado, como exemplo multa.

Além disso, ao Estado há uma diminuição dos lucros, uma vez que estes são

partilhados com a empresa.

Em relação a constitucionalidade, foi percebido que em nenhum outro país que

também adotou este modelo foi decretada a inconstitucionalidade.

Ademais, verifica-se que a Constituição dispõe ser totalmente possível a concessão,

vejamos:

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de

concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços

públicos.

Parágrafo único. A lei disporá sobre:

Page 52: Milena Eloy da Cruz

49

I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o

caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de

caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;

II - os direitos dos usuários;

III - política tarifária;

IV - a obrigação de manter serviço adequado.

A única exigência legal é que para as concessões é necessário a realização de licitação,

como já ocorre para a realização da escolha de uma empresa responsável pela gerência

penitenciária.

Outrora, nota-se que o Estado não isenta sua responsabilidade ao sistema carcerário,

pois ele fica sendo o fiscal do cumprimento das exigências legais e contratuais exercida pela

empresa privada. Além disso, o ato de eximir-se da responsabilidade também não acontece,

pois ele continua a contribuir com certa parcela aos investimentos do cárcere.

No mais, em relação ao trabalho que pelos presos são exercidos, bem como os estudos

por ele realizados mostra-se como uma forma de dignifica-los e dar a eles melhores condições

de reinserção a sociedade quando do fim do cumprimento da pena no cárcere.

É dignificante ao homem a proporcionalidade de um trabalho, pois muitos daquele que

se encontra encarcerados cometeram o ilícito por não terem emprego quando da vida em

sociedade, tendo como única escolha a prática de ilícito.

Portanto, até agora uma das únicas maneiras que, por enquanto, encontra-se eficaz ao

encarcerados e a melhora do sistema penitenciário seria a privatização dos presídios por meio

da concessão administrativa.

Page 53: Milena Eloy da Cruz

50

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dada as circunstâncias do trabalho, pôde-se verificar que o Brasil sofre de maneira

intensa com o cárcere, demandando em condições desumanas aqueles que foram condenados.

Ressalta-se que o trabalho abordou apenas os cárceres e presídios que abrigam pessoas

que já foram condenados a uma pena que os leva a privação de sua liberdade.

Em primeiro lugar ficou demonstrado a realidade do sistema carcerário, sendo

elencados dados referentes a situações de superlotação carcerária, e suas consequências, como

epidemias, endemias.

Além disso, foi referido aos tratados de Direitos Humanos e Convenção de Tortura

que o Brasil participa. Disposições legais tanto constitucionais, quanto da lei de execução

penal, que de demonstram qual seria a forma ideal de cumprimento de pena.

Abordou-se ainda gráficos que demonstram que os apenados, apesar de terem seus

direitos resguardados legalmente, não possuem tratamentos hospitalares, odontológicos ou

farmacêuticos adequados, o que acaba os levando a óbitos. E esses fatores ocorrem por falta

de estruturação estatal, falta de verba para investimento e falta de profissionais.

No mais, como proposta de solução para essa crise penitenciária, surgiu em 2004 (não

especificamente para a privatização dos presídios, mas acabou contribuindo para esses fatos)

o contrato de concessão na modalidade de parceria público privada.

Dessa maneira, o segundo capítulo dedicou-se tão somente para a explicação e

diferenciação entre um contrato de concessão comum e um contrato de concessão através da

parceria público privado, sendo indicado para a privatização dos presídios a celebração de

contrato de concessão administrativa.

A diferença consiste em tão somente, no quesito de remuneração a empresa

concedente. Na modalidade de concessão administrativa fica a cargo do ente estatal o

fornecimento de determinada quantia, desde que não superior a 70% do valor contrato. Assim,

verifica-se a presença de dois sujeitos nesse contrato, o ente estatal e a empresa concedente.

No que tange aos contratos comuns, há a presença de três sujeitos, o ente estatal, a

empresa concedente e o usuário, sendo este último o responsável pelo pagamento de tarifas,

portanto o contrato acaba sendo ―pago‖ por e e.

É importante frisar que o contrato de concessão, concede poderes a uma empresa

privada para a realização de obras e prestação de serviço, cujo o proprietário continua a ser o

Page 54: Milena Eloy da Cruz

51

ente estatal. Sendo dessa maneira ocorrido apenas uma transferência para a execução do

serviço ou obra.

A primeira implementação de presídio privatizado no Brasil, que atendeu aos

requisitos dispostos pela lei de parceria público privada, encontra-se no Estado de Minas

Gerais na cidade de Ribeirão das Neves.

O presídio é gerido pela empresa GPA que possui mais 13 (treze) afiliados. O cárcere

foi entregue no ano de 2013 com previsão contratual de 27 anos.

Em 06 (seis) anos de privatização nunca houve nenhum tipo de rebelião; todavia,

houve a fuga de dois detentos.

O presídio conta com uma ampla estrutura, que atende os requisitos legais previsto na

lei de execução penal e na constituição.

Uma grande maioria dos presos, se não todos encontra-se trabalhando dentro do

próprio complexo e estudando, sejam terminando ensino médio ou fundamental, sejam em

cursos profissionalizantes.

É notável que ao saírem de dentro do cárcere os apenados encontram recolocação no

mercado de trabalho. Além da contribuição social, os presos ao trabalharem ou estudarem

recebem diminuição de suas penas, assim como disposto no Código Penal.

No mais, até agora o complexo tem insurgido com bons resultados.

As críticas feitas a esse mode o de ―so u o‖ encontrado ao cárcere s o inúmeras. Há

quem diga que esse modelo de privatização, apenas tem dado certo pois os presos que lá se

encontram são selecionados, tendo em vista que dentro do presídio apenas existem presos de

média a baixa periculosidade.

Todavia, tem-se deixado de analisar que para os detentos de alta periculosidade há a

e ist ncia dos RDD’s (Regime Discip inar Diferenciado). Outrora, encontra-se esse sistema

no início, sendo necessário conseguir reabi itar aque es que seja mais ―fáceis‖, por assim dizer

a reinserção social.

Outra ponto negativo apontado pelos críticos, seria que as empresas usaria a mão de

obra dos presos como trabalho escravo. Todavia, essa crítica não merece prosperar, tendo em

vista que a lei permite que os presos trabalhem ainda que presos. Além disso, eles não

trabalham de graça, pois recebem uma gratificação por esse serviço prestado, além da redução

da pena, assim pode ser considerado uma via de mão duplica.

Além disso, poderia haver uma alteração da legislação para que o preso pudesse de

certa forma contribuir para o pagamento de suas necessidades básicas enquanto presos.

Page 55: Milena Eloy da Cruz

52

Outro ponto alegado, seria que a empresa concedente estaria a visualizar o detento

como lucro, e não como ser humano. Assim, para ela seria mais benefício se houvessem mais

presos.

Contudo é importante duas fixações. A primeira no que diz respeito ao lucro, pois é

notável que a empresa precisará cumprir os requisitos contratuais, pois se não ela sofreria

sanções. Dessa maneira, fica claro que para a empresa quanto melhor estiver o preso, e

melhor atendido suas necessidades básicas, mais ela ganharia. Portanto, pode-se concluir que

ela ver o preso como o lucro não é maleficio.

Outrora, a empresa não possui capacidade para obrigar um preso ser preso, pois sua

única função neste momento é construção do presídio e gerenciamento dele, com a

fiscalização estatal, pois o poder de julgar, isso é de condenar ou não alguém continua sendo

do poder judiciário.

Dessa maneira, entende-se que a privatização dos presídios baseado no contrato de

parceria público privada no modelo de contrato de concessão administrativa, pode ser uma

das possíveis soluções para a crise no sistema penitenciário em que o Brasil se encontra.

Page 56: Milena Eloy da Cruz

53

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