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1 Direito Internacional – Polícia Federal Prof.Cristiano de Souza DIREITO INTERNACIONAL 1 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: CONCEITO, FONTES E PRINCÍPIOS. A sociedade internacional vive em plena relação ora Estado-Estado, ora Estado-Indivíduo. Embora sucessivas alterações das tratativas internacionais (Tratados, Protocolos, etc.), hoje, podemos afirmar que o Direito Internacional não é capaz de resolver todos os problemas encontrados nas relações internacionais. Da mesma forma, também, não é inútil na resolução dos mesmos problemas. Mas, o que vem acontecendo no cenário internacional é a conjunção de forças e interesses em busca de métodos e soluções para encontrar a paz mundal. É preciso compreender a complexidade das relações internacionais, pois transcendem fronteiras dos Estados vinculados a outras áreas como a economia, política e soberania. Assim, temos hoje a sociedade internacional formada pela vontade de associar-se para atingir certos objetivos que compartilham, apresentando as seguintes características: É Universal: pois suas tratativas abrangem o mundo inteiro, direta ou indiretamente. É heterogênea: pois seus integrantes podem apresentar características diversas quanto ao aspecto cultural, financeiro, político. É descentralizada: não há um poder central internacional ou um governo mundial. Sistema de coordenação: não há sistema de subordinação, pois prevalece o interesse entre seus membros. Tratando-se de Direito Internacional, as terminologias mais aplicadas são: Direito Internacional Público, Direito das Gentes e Jus inter gentes. Os objetivos comuns da sociedade internacional são a redução da anarquia na sociedade internacional e delimitação da competência de seus membros, regular a cooperação internacional, conferir tutela a bens jurídicos os quais a sociedade internacional deferiu importância mundial. Ainda, o direito internacional apresenta as seguintes características que servem de base para os demais temas que serão desenvolvidos: Existência de dicotomia entre a relativização ou absolutismos da soberania nacional; Ausência de poder central para a produção e aplicação das normas; Descentralização da fonte normativa; As normas são criadas pelos próprios destinatários; Presença de mecanismos de exercício de jurisdição; Jurisdição internacional exercida apenas com o consentimento dos Estados; Possibilidade de sanções internacionais; Aplicação no âmbito interno de cada Estado. No entanto, cabe lembrar que estamos no cenário do direito internacional (genérico) e somente agora adentraremos em seus ramos com as principais características. Dir. Internacional Público Dir. Internacional Privado Objetivo: regular a relação entre as sociedades internacionais. Disciplina diretamente as relações internacionais (norma direta) Normas estabelecidas internacionalmente. Objetivo: regular conflito de leis no espaço. Indica apenas a norma nacional aplicável ao conflito aparente de leis no espaço. (norma indicativa) Normas internacionais ou internas.

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Direito Internacional – Polícia Federal

Prof.Cristiano de Souza

DIREITO INTERNACIONAL 1 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: CONCEITO, FONTES E PRINCÍPIOS.

A sociedade internacional vive em plena relação ora Estado-Estado, ora Estado-Indivíduo. Embora sucessivas alterações das tratativas internacionais (Tratados, Protocolos, etc.), hoje, podemos afirmar que o Direito Internacional não é capaz de resolver todos os problemas encontrados nas relações internacionais. Da mesma forma, também, não é inútil na resolução dos mesmos problemas. Mas, o que vem acontecendo no cenário internacional é a conjunção de forças e interesses em busca de métodos e soluções para encontrar a paz mundal.

É preciso compreender a complexidade das relações internacionais, pois transcendem fronteiras dos Estados vinculados a outras áreas como a economia, política e soberania.

Assim, temos hoje a sociedade internacional formada pela vontade de associar-se para atingir certos objetivos que compartilham, apresentando as seguintes características:

� É Universal: pois suas tratativas abrangem o mundo inteiro, direta ou indiretamente.

� É heterogênea: pois seus integrantes podem apresentar características diversas quanto ao aspecto cultural, financeiro, político.

� É descentralizada: não há um poder central internacional ou um governo mundial.

� Sistema de coordenação: não há sistema de subordinação, pois prevalece o interesse entre seus membros.

Tratando-se de Direito Internacional, as terminologias mais aplicadas são: Direito Internacional Público, Direito das Gentes e Jus inter gentes.

Os objetivos comuns da sociedade internacional são a redução da anarquia na sociedade internacional e delimitação da competência de seus membros, regular a cooperação internacional, conferir tutela a bens jurídicos os quais a sociedade internacional deferiu importância mundial.

Ainda, o direito internacional apresenta as seguintes características que servem de base para os demais temas que serão desenvolvidos:

� Existência de dicotomia entre a relativização ou absolutismos da soberania nacional;

� Ausência de poder central para a produção e aplicação das normas;

� Descentralização da fonte normativa;

� As normas são criadas pelos próprios destinatários;

� Presença de mecanismos de exercício de jurisdição;

� Jurisdição internacional exercida apenas com o consentimento dos Estados;

� Possibilidade de sanções internacionais;

� Aplicação no âmbito interno de cada Estado.

No entanto, cabe lembrar que estamos no cenário do direito internacional (genérico) e somente agora adentraremos em seus ramos com as principais características.

Dir. Internacional Público Dir. Internacional Privado

� Objetivo: regular a relação entre as sociedades internacionais.

� Disciplina diretamente as relações internacionais (norma direta)

� Normas estabelecidas internacionalmente.

� Objetivo: regular conflito de leis no espaço.

� Indica apenas a norma nacional aplicável ao conflito aparente de leis no espaço. (norma indicativa)

� Normas internacionais ou internas.

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� Regras de D.I.Público � Regras de D.I.Privado

Diante do impacto direto da norma internacional no direito interno, é preciso compreender a relação que irá se formar diante de cada regramento constitucional estabelecido pelo Estado aderente ao direito internacional. As teorias do monismo e dualismo explicam satisfatoriamente a aplicação das normas de direito internacional no âmbito interno.

Teoria do Dualismo e Monismo

DUALISMO MONISMO

� 02 ordens jurídicas diferentes e independentes entre si.

� 01 ordem jur. Internacional e 01 ordem jur. Nacional.

� Impossibilidade de conflito entre Dir. Internacional e Dir. Interno.

� Teoria da Incorporação: precisa de diploma legal que incorpore o conteúdo internacional.

� 01 só ordem jurídica

� 01 ordem jurídica com normas internacionais e internas.

� Possibilidade de conflito entre norma internacional e interna.

� Não precisa de diploma legal de incorporação.

Dualismo Radical Dualismo Moderado Monismo Internacional Monismo Nacional

Necessidade de lei interna incorporadora da norma internacional

Exige apenas a ratificação do Chefe do Executivo com a aprovação prévia do Congresso Nacional.

O dir. internacional pretere ao dir. interno.

Teoria adotada no Dir. Internacional

O dir. interno pretere ao dir. internacional.

Teoria aplicada por grande maioria dos Estados.

Monismo Internacional Radical

Monismo Internacional Moderado

O tratado internacional prevalece sobre qualquer norma interna, inclusive a C.F.

A norma interna quando em oposição à norma internacional poderá ser declarada inválida

O tratado internacional prefere a norma interna com mitigações/atenuações, podendo o direito interno ser aplicado eventualmente.

A norma interna em confronto com a norma internacional não pode ser declarada inválida. Nesse caso o Estado é que será responsabilizado internacionalmente no caso de violações dos tratados.

Hoje a ideia que prevalece é de que o mais importante é a garantia dos Direitos Humanos, não importando se esse Direito foi recepcionado como Emenda Constitucional ou como norma supra legal. Por isso, a efetividade desses direitos é que tem foco principal na visão moderna.

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Fontes do Direito Internacional Público

Fontes materiais ou formais

AS fontes materiais são os fatos internacionalmente relevantes que são usados como fundamentos sociológicos para a edição das normas. Ao passo que as fontes formais são o modo de revelação e exteriorização da norma jurídica e dos valores que pretendem tutelar. São as chamadas “normas de direito

positivo ou positivadas”.

Fontes Materiais Fontes Formais

� Motivos ou fatos que induzem ao surgimento de normas jurídicas.

� Serve como fundamento filosófico, político, sociológico para a criação da norma.

� É à maneira de exteriorização da pretensão dos Estados.

� Manifesta-se no processo de elaboração das normas

Fontes do Direito Internacional

Na visão moderna do direito internacional apresentam-nos dois tipos de fontes formais, a seguir detalhadas:

Fontes do Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça

Demais Fontes

� Tratados/Convenções

� Costumes

� Princípios gerais do direito

Meios Auxiliares:

a) Jurisprudência

b) Doutrina

c) Facultativo a equidade (ex aequo et bono)”se as partes assim concordarem”

� Equidade e analogia (controverso)

� Atos unilaterais dos Estados

� Atos unilaterais de Org. Internacionais

� Jus Cogens

� Soft Law

Necessário lembrar que o rol do art. 38 da C.I.J. é exemplificativo e não há hierarquia entre as fontes!

Para melhor apresentar a vocês essa matéria, montei um quadro comparativo das principais fontes formais do direito internacional com suas características.

Tipo de Fonte Principais características

Tratados/Convenções

� Nasce de acordos internacionais celebrados entre Estados - Estados ou Estado e Organizações Internacionais.

� Possui forma escrita.

Costume � Prática reiterada e generalizada aceita como fonte pelos Estados.

Jurisprudência

� Decisões reiteradas proferidas por órgãos internacionais de solução de controvérsia.

� Serve como fonte auxiliar.

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Doutrina � Estudos de especialistas em DIP

Princípios Gerais do Direito

� Norma abstrata e genérica

� Possui estabilidade

� Teor axiológico normativo

Analogia

� Parte dos doutrinadores afirma que a analogia é apenas elemento de integração e não fonte de direito internacional.

� Aplicável na falta de norma para o caso concreto.

Equidade

� Somente pode ser usado com anuência das partes.

� Aplicável na carência de norma reguladora ou no caso de norma inadequada.

Atos unilaterais dos Estados

� Podem ser expressos ou tácitos

� Criados sem a consulta aos demais Estados

Decisões de Organizações Internacionais

� Podem ser impositivas ou facultativas

Jus Cogens

� Imperatividade

� Valor primordial para a convivência humana

� Modificável apenas por norma da mesma espécie não podendo ser por preceitos particulares internacionais

� Derrogam normas contrárias dos tratados

Soft Law

� Eventual transformação em norma tradicional

� Obrigatoriedade é limitada ou inexistente

� Possui elaboração rápida e flexível

� O descumprimento nem sempre gera sanção internacional

ATOS INTERNACIONAIS. 2.1. TRATADOS: VALIDADE; EFEITOS; RATIFICAÇÃO; PROMULGAÇÃO; REGISTRO, PUBLICIDADE; VIGÊNCIA CONTEMPORÂNEA E DIFERIDA; INCORPORAÇÃO AO DIREITO INTERNO; VIOLAÇÃO; CONFLITO ENTRE TRATADO E NORMA DE DIREITO INTERNO; EXTINÇÃO.

Tratado é o gênero que expressa um acordo de vontades de forma escrita elaborado por Estados e Organizações Internacionais com o objetivo de regulamentar tema de interesse comum no âmbito do direito internacional com certa obrigatoriedade entre as partes.

Como condição de validade dos tratados deve preencher os seguintes requisitos:

� As partes devem ter capacidade internacional (Estados e Organismos Internacionais)

� Os agentes precisam estar habilitados

� Objeto lícito e possível

� Precisa de consentimento regular das partes

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Agentes habilitados para celebrar tratados internacionais

Diante da norma internacional apresentam-se os seguintes habilitados a celebrar um tratado internacional:

� Chefe de Estado/Governo

� Ministro das Relações Exteriores (em qualquer Estado)

� Embaixadores nos Estados onde estão creditados

� Representante do Estado com plenos poderes para tal ato.

Norma de vigência dos Tratados

Quanto à vigência dos tratados possuímos uma flexibilidade de acordo com a vontade das partes, assim podemos classificá-los em:

� Vigência contemporânea ou diferida

� Pode ser por prazo determinado ou indeterminado

� Pode estar condicionada a cláusula resolutória

OBS: as normas de tratado não retroagem, salvo disposição em contrário.

OBS: as normas de tratados não se aplicam a terceiros, salvo com o consentimento do terceiro.

Casos de extinção dos Tratados

� Denúncia do Estado acreditante e sua retirada;

� Por vontade comum das partes;

� Perda do objeto e a impossibilidade de seu cumprimento;

� Permanência de numero inferior de partes estabelecido no tratado;

� Substituição por outro tratado;

� Rompimento das relações diplomáticas;

� Desuso ou caducidade.

Fases da internacionalização do Tratado no direito interno

Por questões didáticas apresentarei essas fases em quadro, pois acredito ser mais eficaz no processo de memorização.

Fases Objetivos Envolvidos nessa fase

0 - Negociação Debater e Elaborar em conjunto o texto do tratado

Nessas duas fases podem participar:

a) Ch. Executivo

b) Min. Rel. Exteriores

c) Agente Diplomático credenciado com plenos poderes

1 - Assinatura Encerramento das negociações com a adesão ao texto.

2 - Autorização do Poder Legislativo = CN

Deliberação se o tratado não afronta a C.F.

No caso de autorização, o C.N. expedirá um DECRETO LEGISLATIVO de aprovação.

Competência exclusiva do C.N. conforme art. 49, I, CF/88.

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3 - Ratificação

É o momento em que o Estado formalmente se vincula ao tratado. (Estado-Estado)

Efeito Ex tunc até a assinatura.

Tipos de ratificação:

a) Trocas de instrumentos

b) Depósitos de instrumentos

c) Notificação ao outro Estado

No Brasil, é ato privativo do Presidente (único legitimado)

4 - Promulgação Mediante DECRETO EXECUTIVO o Presidente dá executoriedade ao Tratado

Presidente da República

5 - Publicação no D.O.U. Somente após a publicação o tratado passa a ser obrigatório à população. (tratado-população)

4.1. Hierarquia dos Tratados e legislação brasileira

Após o enfrentamento dessa matéria o STF já pacificou esse tema na seguinte forma:

� Tratados em Geral: tratados equivalem a lei ordinária e submetidos ao critério cronológico e da especialidade = Status infra constitucionalidade

� Tratados de Direito Humanos: O STF por maioria vem entendendo que tratados de Direito Humanos possuem status de supralegalidade. No entanto, quando aprovados conforme o procedimento do art. 5º, §3º da CF/88 terá status de Emenda Constitucional.

2.2. CONVENÇÕES, ACORDOS, AJUSTES E PROTOCOLOS.

A convenção de Viena de 19691 é o diploma legal que regulamenta o direito dos tratados definindo alguns conceitos, tais como:

� Tratado= declaração de vontade indicando convergência entre as partes

� Convenção: é um tratado multilateral que dita normas gerais e obrigatórias para os signatários dos tratados.

� Acordo ou Ajuste: são tratados aplicáveis geralmente nas áreas comerciais. Ex: GATT

� Protocolo: indica um tratado complementar a um tratado já existente. Ex: Protocolo de Olivos.

� Pacto: são tratados solenes de natureza política

� Carta ou Estatuto: aplicam-se aos tratados já constituídos quando criam as Organizações Internacionais ou Tribunais Internacionais

� Tratado de Sede: tratado bilateral entre Estado e Organismos Internacionais.

1 Decreto Legislativo nº 496 de 17.07.2009 Aprova o texto da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, concluída em Viena, em 23 de maio de 1969, ressalvados os arts. 25 e 66. D.O.U.: 20.07.2009. Faço saber que o Congresso Nacional aprovou, e eu, José Sarney, Presidente do Senado Federal, nos termos do art. 48, inciso XXVIII, do Regimento Interno, promulgo o seguinte DECRETO LEGISLATIVO O Congresso Nacional decreta: Art. 1º Fica aprovado o texto da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, concluída em Viena, em 23 de maio de 1969, ressalvados os arts. 25 e 66.

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OBS: A Convenção de Viena de 1986 tratou da matéria referente aos tratados de Estados x Organizações Internacionais.

2.3. ASPECTOS PENAIS DO PROTOCOLO DE SÃO LUÍS (DECRETO Nº 3.468/2000).

O Decreto nº 3.468/2000 promulgou o Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais, assinado em San Luis, República Argentina, em 25 de junho de 1996, entre os Governos da República Federativa do Brasil, da República Argentina, da República do Paraguai e da República Oriental do Uruguai. (Mercosul). Nesse sentido, os Estados Partes prestarão assistência mútua, para a investigação de delitos, assim como para a cooperação nos procedimentos judiciais relacionados com assuntos penais. A assistência será prestada mesmo quando as condutas não constituam delitos no Estado requerido. A assistência compreenderá:

a) notificação de atos processuais;

b) recepção e produção de provas, tais como testemunhos ou declarações, realização de perícias e exames de pessoas, bens e lugares;

c) localização ou identificação de pessoas;

d) notificação de testemunhas ou peritos para o comparecimento voluntário a fim de prestar testemunho no Estado requerente;

e) traslado de pessoas sujeitas a um processo penal para comparecimento como testemunhas no Estado requerente ou com outros propósitos expressamente indicados na solicitação;

f) medidas acautelatórias sobre bens;

g) cumprimento de outras solicitações a respeito de bens, como por exemplo o seqüestro;

h) entrega de documentos e outros elementos de prova;

i) apreensão, transferência de bens confiscados e outras medidas de natureza similar;

j) retenção de bens para efeitos do cumprimento de sentenças judiciais que imponham indenizações ou multas impostas por sentença judicial; e

k) qualquer outra forma de assistência em conformidade com os fins deste Protocolo que não seja incompatível com as leis do Estado requerido.

Cada Estado Parte designará uma autoridade Central encarregada de receber e transmitir os pedidos de assistência jurídica mútua. Para esse fim, referidas Autoridades Centrais se comunicarão diretamente entre elas, remetendo tais solicitações às respectivas autoridades competentes.

Denegação de Assistência: O Estado Parte requerido poderá denegar a assistência quando:

a) a solicitação se refira a delito tipificado como tal na sua legislação militar, mas não na legislação penal ordinária;

b) a solicitação se refira a delito que o Estado requerido considere como político ou como delito comum conexo com delito político ou realizado com finalidade política;

c) a solicitação se refira a delito tributário;

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d) a pessoa em relação a qual se solicita a medida haja sido absolvida ou haja cumprido condenação no Estado requerido pelo mesmo delito mencionado na solicitação. Contudo, esta disposição não poderá ser invocada para negar assistência em relação a outras pessoas; ou

e) o cumprimento da solicitação seja contrário à segurança, à ordem pública ou a outros interesses essenciais do Estado requerido.

A solicitação de assistência deverá formular-se por escrito. Se a solicitação for transmitida por telex, fac-símile, correio eletrônico ou meio equivalente, deverá ser confirmada por documento original firmado pela autoridade requerente dentro dos 10 (dez) dias seguintes a sua formulação. A solicitação deverá ser redigida no idioma do Estado requerente e será acompanhada de uma tradução no idioma do Estado requerido.

O processamento das solicitações será regido pela lei do Estado requerido, mas a pedido do Estado requerente, o Estado requerido cumprirá a assistência de acordo com as formas ou procedimentos especiais indicados na solicitação, a menos que esses sejam incompatíveis com sua lei interna.

No que tange a limitações no emprego da informação ou prova obtida, salvo consentimento prévio do Estado requerido, o Estado requerente somente poderá empregar a informação ou a prova obtida, na investigação ou no procedimento indicado na solicitação.

Formas de Assistência:

a) Notificação

Caberá à Autoridade Central do Estado requerente transmitir a solicitação de notificação para comparecimento de uma pessoa ante a autoridade competente do Estado requerente, com razoável antecedência à data prevista para o mesmo. Se a notificação não se realizar, a autoridade competente do Estado requerido deverá informar à autoridade competente do Estado requerente as razões pelas quais não pode diligenciar, por intermédio das Autoridades Centrais.

Entrega de Documentos Oficiais

Por solicitação da autoridade competente do Estado requerente, a autoridade competente do Estado requerido:

a) proporcionará cópia de documentos oficiais, registros ou informações acessíveis ao público; e

b) poderá proporcionar cópias de documentos oficiais, registros ou informações não acessíveis ao público, nas mesmas condições pelas quais esses documentos se disporiam a suas próprias autoridades. Se a assistência prevista nesta alínea é denegada, a autoridade competente do Estado requerido não estará obrigada a expressar os motivos da denegação.

Devolução de Documentos e Elementos de Prova

O Estado requerente deverá, logo que possível, devolver os documentos e outros elementos de prova fornecidos quando solicitado pelo Estado requerido.

Testemunho no Estado Requerido

Toda pessoa que se encontre no Estado requerido à qual se solicite prestar testemunho, apresentar documentos, antecedentes ou elementos de prova em virtude do presente Protocolo, deverá comparecer, em conformidade com as leis do Estado requerido, ante a autoridade competente.

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O Estado requerido informará com suficiente antecedência o lugar e a data em que será recebida a declaração da testemunha ou os mencionados documentos, antecedentes ou elementos de prova. Quando seja necessário, as autoridades competentes se consultarão, por intermédio das Autoridades Centrais, para efeitos de fixar uma data conveniente para as autoridades requerente e requerida.

O Estado requerido autorizará a presença das autoridades indicadas na solicitação durante o cumprimento das diligências de cooperação, e lhes permitirá formular perguntas se tal estiver autorizado pelas leis do Estado requerido e em conformidade com essas leis. A audiência terá lugar segundo os procedimentos estabelecidos pelas leis do Estado requerido.

Se a pessoa referida no parágrafo 1 alega imunidade, privilégio ou incapacidade segundo as leis do Estado requerido, essa alegação será resolvida pela autoridade competente do Estado requerido antes do cumprimento da solicitação e comunicada ao Estado requerente por intermédio da Autoridade Central.

Se a pessoa referida no parágrafo 1 alega imunidade, privilégio ou incapacidade segundo as leis do Estado requerente, a alegação será informada por intermédio das respectivas Autoridades Centrais, a fim de que as autoridades competentes do Estado requerente resolvam a respeito da alegação.

Os documentos, antecedentes e elementos de prova entregues pela testemunha ou obtidos como resultado de sua declaração ou por ocasião da mesma, serão enviados ao Estado requerente junto com a declaração.

Testemunho no Estado Requerente

Quando o Estado requerente solicitar o comparecimento de uma pessoa ao seu território para prestar testemunho ou oferecer informações, o Estado requerido convidará a testemunha ou perito a comparecer ante a autoridade competente do Estado requerente.

A autoridade competente do Estado requerido registrará por escrito o consentimento da pessoa cujo comparecimento é solicitado no Estado requerente e informará de imediato à Autoridade Central do Estado requerente sobre a resposta.

Ao solicitar o comparecimento, a autoridade competente do Estado requerente indicará os gastos de traslado e estada a seu encargo.

Traslado de Pessoas Sujeitas a Procedimento Penal

A pessoa sujeita a procedimento penal no Estado requerido, cujo comparecimento ao Estado requerente seja necessário em virtude da assistência prevista no presente Protocolo, será trasladada com esse fim ao Estado requerente, sempre que essa pessoa e o Estado requerido consintam nesse traslado.

A pessoa sujeita a procedimento penal no Estado requerente da assistência e cujo comparecimento ao Estado requerido seja necessário, será trasladada ao Estado requerido, sempre que o consinta essa pessoa e ambos os Estados estejam de acordo.

Quando um Estado Parte solicitar a outro, o traslado de uma pessoa de sua nacionalidade e sua Constituição impeça a entrega de seus nacionais, a qualquer título, deverá informar o conteúdo dessas disposições ao outro Estado Parte, que decidirá acerca da conveniência do solicitado. Para os efeitos desse meio de cooperação:

a) o Estado receptor deverá manter a pessoa trasladada sob custódia, a menos que o Estado remetente indique o contrário;

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b) o Estado receptor devolverá a pessoa trasladada ao Estado remetente tão pronto quanto as circunstâncias o permitam e com sujeição ao acordado entre as autoridades competentes de ambos os Estados, sem prejuízo do estabelecido no parágrafo anterior;

c) com respeito à devolução da pessoa trasladada, não será necessário que o Estado remetente promova um procedimento de extradição;

d) o tempo decorrido sob custódia no Estado receptor será computado para efeitos de cumprimento da sentença que se lhe impuser;

e) a permanência dessa pessoa no Estado receptor não poderá exceder 90 (noventa) dias, a menos que a pessoa e ambos os Estados consintam em prorrogá-la;

f) em caso de fuga no Estado receptor da pessoa trasladada que esteja sujeita a uma medida restritiva de liberdade no Estado remetente, este poderá solicitar ao Estado receptor o início de um procedimento penal para esclarecimento do fato bem como o fornecimento de informação periódica.

Salvo-conduto

O comparecimento ou traslado da pessoa que consinta declarar ou dar testemunho estará condicionado a que o Estado receptor conceda um salvo-conduto sob o qual, enquanto se encontre nesse Estado, este não poderá:

a) deter ou julgar a pessoa por delitos anteriores a sua saída do território do Estado remetente;

b) convocá-la para declarar ou dar testemunho em procedimento não especificado na solicitação.

O salvo-conduto previsto no parágrafo anterior cessará quando a pessoa prolongar voluntariamente sua estada no território do Estado receptor, por mais de 10 (dez) dias, a partir do momento em que sua presença não for necessária nesse Estado, de conformidade com a comunicação ao Estado remetente.

Localização ou Identificação de Pessoas

O Estado requerido adotará as providências necessárias para averiguar o paradeiro ou a identidade das pessoas individualizadas na solicitação.

Medidas Acautelatórias

A autoridade competente do Estado requerido diligenciará a solicitação de cooperação acautelatória, se esta contiver informação suficiente que justifique a procedência da medida solicitada. Essa medida será efetivada de acordo com a lei processual e substantiva do Estado requerido.

Quando um Estado Parte tiver conhecimento da existência dos instrumentos, do objeto ou dos frutos do delito, no território do outro Estado Parte, que possam ser objeto de medidas acautelatórias, segundo as leis desse Estado, informará à Autoridade Central do referido Estado. Esta remeterá a informação recebida a suas autoridades competentes para os efeitos de determinar a adoção das medidas cabíveis. Referidas autoridades atuarão de conformidade com as leis de seu país e comunicarão ao outro Estado Parte, por intermédio das Autoridades Centrais, as medidas adotadas.

O Estado requerido resolverá, segundo sua lei, qualquer solicitação relativa à proteção dos direitos de terceiros sobre os objetos que sejam matéria das medidas previstas no parágrafo anterior.

Entrega de Documentos e outras Medidas de Cooperação

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A autoridade competente diligenciará a solicitação de cooperação no que se refere a inspeções e entrega de quaisquer objetos, compreendidos, entre outros, documentos ou antecedentes, se esta contiver informação que justifique a medida proposta. Essa medida será efetivada de acordo com a lei processual e substantiva do Estado requerido.

Os Estados Partes se prestarão assistência, de conformidade com suas respectivas leis, nos procedimentos referentes a medidas assecuratórias, indenização das vítimas de delitos e cobrança de multas impostas por sentença judicial.

Custódia e Disposição de Bens

O Estado Parte que tiver sob sua custódia os instrumentos, o objeto ou os frutos do delito, disporá dos mesmos de conformidade com o estabelecido em sua lei interna. Na medida em que o permitam suas leis e nos termos que se considerem adequados, esse Estado Parte poderá transferir a outro os bens confiscados ou o produto de sua venda.

Autenticação de Documentos e Certidões

Os documentos emanados de autoridades judiciais ou do Ministério Público de um Estado Parte, que devam ser apresentados ao território do outro Estado Parte, e tramitem por intermédio das Autoridades Centrais, ficam dispensados de toda a legalização ou outra formalidade análoga.

Consultas

As Autoridades Centrais dos Estados Partes realizarão consultas, quando lhes convier, com a finalidade de facilitar a aplicação do Protocolo.

2.4. CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL (CONVENÇÃO DE PALERMO); DECRETO Nº 5.015/2004.

A Convenção das nações unidas contra o crime organizado transnacional, tem como objetivo promover a cooperação para prevenir e combater mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional.

Para efeitos da Convenção, entende-se por:

a) "Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material;

b) "Infração grave" - ato que constitua infração punível com uma pena de privação de liberdade, cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com pena superior;

c) "Grupo estruturado" - grupo formado de maneira não fortuita para a prática imediata de uma infração, ainda que os seus membros não tenham funções formalmente definidas, que não haja continuidade na sua composição e que não disponha de uma estrutura elaborada;

d) "Bens" - os ativos de qualquer tipo, corpóreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, tangíveis ou intangíveis, e os documentos ou instrumentos jurídicos que atestem a propriedade ou outros direitos sobre os referidos ativos;

e) "Produto do crime" - os bens de qualquer tipo, provenientes, direta ou indiretamente, da prática de um crime;

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f) "Bloqueio" ou "apreensão" - a proibição temporária de transferir, converter, dispor ou movimentar bens, ou a custódia ou controle temporário de bens, por decisão de um tribunal ou de outra autoridade competente;

g) "Confisco" - a privação com caráter definitivo de bens, por decisão de um tribunal ou outra autoridade competente;

h) "Infração principal" - qualquer infração de que derive um produto que possa passar a constituir objeto de uma infração definida no Artigo 6 da Convenção;

i) "Entrega vigiada" - a técnica que consiste em permitir que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, os atravessem ou neles entrem, com o conhecimento e sob o controle das suas autoridades competentes, com a finalidade de investigar infrações e identificar as pessoas envolvidas na sua prática;

j) "Organização regional de integração econômica" - uma organização constituída por Estados soberanos de uma região determinada, para a qual estes Estados tenham transferido competências nas questões reguladas pela Convenção e que tenha sido devidamente mandatada, em conformidade com os seus procedimentos internos, para assinar, ratificar, aceitar ou aprovar a Convenção ou a ela aderir; as referências aos "Estados Partes" constantes da Convenção são aplicáveis a estas organizações, nos limites das suas competências.

Para efeitos desta Convenção, a infração será de caráter transnacional se:

a) For cometida em mais de um Estado;

b) For cometida num só Estado, mas uma parte substancial da sua preparação, planeamento, direção e controle tenha lugar em outro Estado;

c) For cometida num só Estado, mas envolva a participação de um grupo criminoso organizado que pratique atividades criminosas em mais de um Estado; ou

d) For cometida num só Estado, mas produza efeitos substanciais noutro Estado.

Criminalização da participação em um grupo criminoso organizado

Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas ou outras que sejam necessárias para caracterizar como infração penal, quando praticado intencionalmente: Um dos atos seguintes, ou ambos, enquanto infrações penais distintas das que impliquem a tentativa ou a consumação da atividade criminosa: i) O entendimento com uma ou mais pessoas para a prática de uma infração grave, com uma intenção direta ou indiretamente relacionada com a obtenção de um benefício econômico ou outro benefício material e, quando assim prescrever o direito interno, envolvendo um ato praticado por um dos participantes para concretizar o que foi acordado ou envolvendo a participação de um grupo criminoso organizado; ii) A conduta de qualquer pessoa que, conhecendo a finalidade e a atividade criminosa geral de um grupo criminoso organizado, ou a sua intenção de cometer as infrações em questão, participe ativamente em:

a. Atividades ilícitas do grupo criminoso organizado;

b. Outras atividades do grupo criminoso organizado, sabendo que a sua participação contribuirá para a finalidade criminosa acima referida;

b) O ato de organizar, dirigir, ajudar, incitar, facilitar ou aconselhar a prática de uma infração grave que envolva a participação de um grupo criminoso organizado.

Criminalização da lavagem do produto do crime

Cada Estado Parte adotará, em conformidade com os princípios fundamentais do seu direito interno, as medidas legislativas ou outras que sejam necessárias para caracterizar como infração penal, quando praticada intencionalmente:

a) i) A conversão ou transferência de bens, quando quem o faz tem conhecimento de que esses bens são produto do crime, com o propósito de ocultar ou dissimular a origem ilícita dos bens ou ajudar qualquer pessoa envolvida na prática da infração principal a furtar-se às consequências jurídicas dos seus atos; ii) A

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ocultação ou dissimulação da verdadeira natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens ou direitos a eles relativos, sabendo o seu autor que os ditos bens são produto do crime;

b) e, sob reserva dos conceitos fundamentais do seu ordenamento jurídico: i) A aquisição, posse ou utilização de bens, sabendo aquele que os adquire, possui ou utiliza, no momento da recepção, que são produto do crime; ii) A participação na prática de uma das infrações enunciadas no artigo, assim como qualquer forma de associação, acordo, tentativa ou cumplicidade, pela prestação de assistência, ajuda ou aconselhamento no sentido da sua prática.

Medidas para combater a lavagem de dinheiro por cada Estado Parte:

a) Instituirá um regime interno completo de regulamentação e controle dos bancos e instituições financeiras não bancárias e, quando se justifique, de outros organismos especialmente susceptíveis de ser utilizados para a lavagem de dinheiro, dentro dos limites da sua competência, a fim de prevenir e detectar qualquer forma de lavagem de dinheiro, sendo nesse regime enfatizados os requisitos relativos à identificação do cliente, ao registro das operações e à denúncia de operações suspeitas;

b) Garantirá, que as autoridades responsáveis pela administração, regulamentação, detecção e repressão e outras autoridades responsáveis pelo combate à lavagem de dinheiro (incluindo, quando tal esteja previsto no seu direito interno, as autoridades judiciais), tenham a capacidade de cooperar e trocar informações em âmbito nacional e internacional, em conformidade com as condições prescritas no direito interno, e, para esse fim, considerará a possibilidade de criar um serviço de informação financeira que funcione como centro nacional de coleta, análise e difusão de informação relativa a eventuais atividades de lavagem de dinheiro.

Criminalização da corrupção

Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e outras que sejam necessárias para caracterizar como infrações penais os seguintes atos, quando intencionalmente cometidos:

a) Prometer, oferecer ou conceder a um agente público, direta ou indiretamente, um benefício indevido, em seu proveito próprio ou de outra pessoa ou entidade, a fim de praticar ou se abster de praticar um ato no desempenho das suas funções oficiais;

b) Por um agente público, pedir ou aceitar, direta ou indiretamente, um benefício indevido, para si ou para outra pessoa ou entidade, a fim de praticar ou se abster de praticar um ato no desempenho das suas funções oficiais.

A expressão "agente público" designa, além do funcionário público, qualquer pessoa que preste um serviço público, tal como a expressão é definida no direito interno e aplicada no direito penal do Estado Parte onde a pessoa em questão exerce as suas funções.

Confisco e apreensão

Os Estados Partes adotarão, na medida em que o seu ordenamento jurídico interno o permita, as medidas necessárias para permitir o confisco:

a) Do produto das infrações previstas na Convenção ou de bens cujo valor corresponda ao desse produto;

b) Dos bens, equipamentos e outros instrumentos utilizados ou destinados a ser utilizados na prática das infrações previstas na Convenção.

Disposição do produto do crime ou dos bens confiscados

Um Estado Parte que confisque o produto do crime ou bens, disporá deles de acordo com o seu direito interno e os seus procedimentos administrativos. Quando os Estados Partes agirem a pedido de outro Estado Parte deverão, na medida em que o permita o seu direito interno e se tal lhes for solicitado, considerar prioritariamente a restituição do produto do crime ou dos bens confiscados ao Estado Parte requerente, para que este último possa indenizar as vítimas da infração ou restituir este produto do crime ou estes bens aos seus legítimos proprietários.

Jurisdição

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Cada Estado Parte adotará as medidas necessárias para estabelecer a sua competência jurisdicional em relação às infrações enunciadas nos Artigos 5, 6, 8 e 23 da Convenção de Palermo, nos seguintes casos:

a) Quando a infração for cometida no seu território; ou

b) Quando a infração for cometida a bordo de um navio que arvore a sua bandeira ou a bordo de uma aeronave matriculada em conformidade com o seu direito interno no momento em que a referida infração for cometida.

Ainda, um Estado Parte poderá igualmente estabelecer a sua competência jurisdicional em relação a qualquer destas infrações, nos seguintes casos:

a) Quando a infração for cometida contra um dos seus cidadãos;

b) Quando a infração for cometida por um dos seus cidadãos ou por uma pessoa apátrida residente habitualmente no seu território;

Extradição

Aplicam-se o instituto da extradição as infrações abrangidas pela Convenção em que a pessoa que é objeto do pedido de extradição se encontre no Estado Parte requerido, desde que a infração pela qual é pedida a extradição seja punível pelo direito interno do Estado Parte requerente e do Estado Parte requerido. Se um Estado Parte que condicione a extradição à existência de um tratado receber um pedido de extradição de um Estado Parte com o qual não celebrou tal tratado, poderá considerar a Convenção como fundamento jurídico da extradição. Os Estados Partes que condicionem a extradição à existência de um tratado:

a) No momento do depósito do seu instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão à Convenção, indicarão ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas se consideram a Convenção como fundamento jurídico para a cooperação com outros Estados Partes em matéria de extradição; e

b) Se não considerarem a Convenção como fundamento jurídico para cooperar em matéria de extradição, diligenciarão, se necessário, pela celebração de tratados de extradição com outros Estados Partes.

Os Estados Partes que não condicionem a extradição à existência de um tratado reconhecerão entre si, o caráter de infração cujo autor pode ser extraditado. A extradição estará sujeita às condições previstas no direito interno do Estado Parte requerido ou em tratados de extradição aplicáveis, incluindo, nomeadamente, condições relativas à pena mínima requerida para uma extradição e aos motivos pelos quais o Estado Parte requerido pode recusar a extradição.

Nenhuma disposição da Convenção deverá ser interpretada no sentido de que impõe uma obrigação de extraditar a um Estado Parte requerido, se existirem sérias razões para supor que o pedido foi apresentado com a finalidade de perseguir ou punir uma pessoa em razão do seu sexo, raça, religião, nacionalidade, origem étnica ou opiniões políticas, ou que a satisfação daquele pedido provocaria um prejuízo a essa pessoa por alguma destas razões.

Transferência de pessoas condenadas

Os Estados Partes poderão considerar a celebração de acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais relativos à transferência para o seu território de pessoas condenadas a penas de prisão ou outras penas de privação de liberdade devido a infrações previstas na Convenção, para que aí possam cumprir o resto da pena.

Assistência judiciária recíproca

Os Estados Partes prestarão reciprocamente toda a assistência judiciária possível nas investigações, nos processos e em outros atos judiciais e prestarão reciprocamente uma assistência similar quando o Estado Parte requerente tiver motivos razoáveis para suspeitar de que a infração é de caráter transnacional, inclusive quando as vítimas, as testemunhas, o produto, os instrumentos ou os elementos de prova destas infrações se encontrem no Estado Parte requerido e nelas esteja implicado um grupo criminoso organizado.

A cooperação judiciária prestada pode ser solicitada para os seguintes efeitos:

a) Recolher testemunhos ou depoimentos;

b) Notificar atos judiciais;

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c) Efetuar buscas, apreensões e embargos;

d) Examinar objetos e locais;

e) Fornecer informações, elementos de prova e pareceres de peritos;

f) Fornecer originais ou cópias certificadas de documentos e processos pertinentes, incluindo documentos administrativos, bancários, financeiros ou comerciais e documentos de empresas;

g) Identificar ou localizar os produtos do crime, bens, instrumentos ou outros elementos para fins probatórios;

h) Facilitar o comparecimento voluntário de pessoas no Estado Parte requerente;

i) Prestar qualquer outro tipo de assistência compatível com o direito interno do Estado Parte requerido.

Sem prejuízo do seu direito interno, as autoridades competentes de um Estado Parte poderão, sem pedido prévio, comunicar informações relativas a questões penais a uma autoridade competente de outro Estado Parte, se considerarem que estas informações poderão ajudar a empreender ou concluir com êxito investigações e processos penais ou conduzir este último Estado Parte a formular um pedido ao abrigo da Convenção.

Os Estados Partes não poderão invocar o sigilo bancário para recusar a cooperação judiciária. Ainda, os Estados Partes poderão invocar a ausência de dupla criminalização para recusar prestar a assistência judiciária. O Estado Parte requerido poderá, não obstante, quando o considerar apropriado, prestar esta assistência, na medida em que o decida por si próprio, independentemente de o ato estar ou não tipificado como uma infração no direito interno do Estado Parte requerido.

Qualquer pessoa detida ou a cumprir pena no território de um Estado Parte, cuja presença seja requerida num outro Estado Parte para efeitos de identificação, para testemunhar ou para contribuir por qualquer outra forma para a obtenção de provas no âmbito de investigações, processos ou outros atos judiciais relativos às infrações visadas na Convenção, pode ser objeto de uma transferência, se estiverem reunidas as seguintes condições:

a) Se referida pessoa, devidamente informada, der o seu livre consentimento;

b) Se as autoridades competentes dos dois Estados Partes em questão derem o seu consentimento, sob reserva das condições que estes Estados Partes possam considerar convenientes.

Cada Estado Parte designará uma autoridade central que terá a responsabilidade e o poder de receber pedidos de cooperação judiciária e, quer de os executar, quer de os transmitir às autoridades competentes para execução. Se um Estado Parte possuir uma região ou um território especial dotado de um sistema de cooperação judiciária diferente, poderá designar uma autoridade central distinta, que terá a mesma função para a referida região ou território. As autoridades centrais deverão assegurar a execução ou a transmissão rápida e em boa e devida forma dos pedidos recebidos. Quando a autoridade central transmitir o pedido a uma autoridade competente para execução, instará pela execução rápida e em boa e devida forma do pedido por parte da autoridade competente. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas será notificado da autoridade central designada para este efeito no momento em que cada Estado Parte depositar os seus instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão à Convenção. Os pedidos de cooperação judiciária e qualquer comunicação com eles relacionada serão transmitidos às autoridades centrais designadas pelos Estados Partes. A presente disposição não afetará o direito de qualquer Estado Parte a exigir que estes pedidos e comunicações lhe sejam remetidos por via diplomática e, em caso de urgência, e se os Estados Partes nisso acordarem, por intermédio da Organização Internacional de Polícia Criminal, se tal for possível. A cooperação judiciária poderá ser recusada:

a) Se o pedido não for feito em conformidade com as regras gerais da cooperação judiciária;

b) Se o Estado Parte requerido considerar que a execução do pedido pode afetar sua soberania, sua segurança, sua ordem pública ou outros interesses essenciais;

c) Se o direito interno do Estado Parte requerido proibir suas autoridades de executar as providências solicitadas com relação a uma infração análoga que tenha sido objeto de investigação ou de procedimento judicial no âmbito da sua própria competência;

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d) Se a aceitação do pedido contrariar o sistema jurídico do Estado Parte requerido no que se refere à cooperação judiciária.

Os Estados Partes não poderão recusar um pedido de cooperação judiciária unicamente por considerarem que a infração envolve também questões fiscais. Qualquer recusa de cooperação judiciária deverá ser fundamentada. A cooperação judiciária poderá ser diferida pelo Estado Parte requerido por interferir com uma investigação, processos ou outros atos judiciais em curso.

Investigações conjuntas

Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais em virtude dos quais, com respeito a matérias que sejam objeto de investigação, processos ou ações judiciais em um ou mais Estados, as autoridades competentes possam estabelecer órgãos mistos de investigação. Na ausência de tais acordos ou protocolos, poderá ser decidida casuisticamente a realização de investigações conjuntas. Os Estados Partes envolvidos agirão de modo a que a soberania do Estado Parte em cujo território decorra a investigação seja plenamente respeitada.

Transferência de processos penais

Os Estados Partes considerarão a possibilidade de transferirem mutuamente os processos relativos a uma infração prevista na Convenção, nos casos em que esta transferência seja considerada necessária no interesse da boa administração da justiça e, em especial, quando estejam envolvidas várias jurisdições, a fim de centralizar a instrução dos processos.

Estabelecimento de antecedentes penais

Cada Estado Parte poderá adotar as medidas legislativas ou outras que sejam necessárias para ter em consideração, nas condições e para os efeitos que entender apropriados, qualquer condenação de que o presumível autor de uma infração tenha sido objeto noutro Estado, a fim de utilizar esta informação no âmbito de um processo penal relativo a uma infração prevista na Convenção.

Proteção das testemunhas

Cada Estado Parte, dentro das suas possibilidades, adotará medidas apropriadas para assegurar uma proteção eficaz contra eventuais atos de represália ou de intimidação das testemunhas que, no âmbito de processos penais, deponham sobre infrações previstas na Convenção e, quando necessário, aos seus familiares ou outras pessoas que lhes sejam próximas.

Sem prejuízo dos direitos do arguido, incluindo o direito a um julgamento regular, as medidas poderão incluir, entre outras:

a) Desenvolver, para a proteção física destas pessoas, procedimentos que visem, consoante as necessidades e na medida do possível, nomeadamente, fornecer-lhes um novo domicílio e impedir ou restringir a divulgação de informações relativas à sua identidade e paradeiro;

b) Estabelecer normas em matéria de prova que permitam às testemunhas depor de forma a garantir a sua segurança, nomeadamente autorizando-as a depor com recurso a meios técnicos de comunicação, como ligações de vídeo ou outros meios adequados.

Assistência e proteção às vítimas

Cada Estado Parte adotará, segundo as suas possibilidades, medidas apropriadas para prestar assistência e assegurar a proteção às vítimas de infrações previstas na Convenção, especialmente em caso de ameaça de represálias ou de intimidação e estabelecerá procedimentos adequados para que as vítimas de infrações previstas na Convenção possam obter reparação. Ainda, cada Estado Parte, sem prejuízo do seu direito interno, assegurará que as opiniões e preocupações das vítimas sejam apresentadas e tomadas em consideração nas fases adequadas do processo penal aberto contra os autores de infrações, por forma que não prejudique os direitos da defesa.

2.5. DECRETO Nº 5.017/2004 (PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL RELATIVO À

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PREVENÇÃO, REPRESSÃO E PUNIÇÃO DO TRÁFICO DE PESSOAS, EM ESPECIAL MULHERES E CRIANÇAS).

Os objetivos do Protocolo são os seguintes:

a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas, prestando uma atenção especial às mulheres e às crianças;

b) Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico, respeitando plenamente os seus direitos humanos; e

c) Promover a cooperação entre os Estados Partes de forma a atingir esses objetivos.

Para efeitos do Protocolo:

a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos;

b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente Artigo será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a);

c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para fins de exploração serão considerados "tráfico de pessoas" mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos da alínea a) do presente Artigo;

d) O termo "criança" significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.

Os Estados Partes estabelecerão políticas abrangentes, programas e outras medidas para:

a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas; e

b) Proteger as vítimas de tráfico de pessoas, especialmente as mulheres e as crianças, de nova vitimação.

Os Estados Partes envidarão esforços para tomarem medidas tais como pesquisas, campanhas de informação e de difusão através dos órgãos de comunicação, bem como iniciativas sociais e econômicas de forma a prevenir e combater o tráfico de pessoas. As políticas, programas e outras medidas estabelecidas incluirão, se necessário, a cooperação com organizações não-governamentais, outras organizações relevantes e outros elementos da sociedade civil. Os Estados Partes tomarão ou reforçarão as medidas, inclusive mediante a cooperação bilateral ou multilateral, para reduzir os fatores como a pobreza, o subdesenvolvimento e a desigualdade de oportunidades que tornam as pessoas, especialmente as mulheres e as crianças, vulneráveis ao tráfico e adotarão ou reforçarão as medidas legislativas ou outras, tais como medidas educacionais, sociais ou culturais, inclusive mediante a cooperação bilateral ou multilateral, a fim de desencorajar a procura que fomenta todo o tipo de exploração de pessoas, especialmente de mulheres e crianças, conducentes ao tráfico.

Cláusula de salvaguarda

Nenhuma disposição do Protocolo prejudicará os direitos, obrigações e responsabilidades dos Estados e das pessoas por força do direito internacional, incluindo o direito internacional humanitário e o direito internacional relativo aos direitos humanos e, especificamente, na medida em que sejam aplicáveis, a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 relativos ao Estatuto dos Refugiados e ao princípio do non-

refoulement neles enunciado.

As medidas constantes do Protocolo serão interpretadas e aplicadas de forma a que as pessoas que foram vítimas de tráfico não sejam discriminadas. A interpretação e aplicação das referidas medidas estarão em conformidade com os princípios de não-discriminação internacionalmente reconhecidos.

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2.6. ATRIBUIÇÕES DO DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL PARA QUESTÕES DECORRENTES DE TRATADOS INTERNACIONAIS.

As atribuições da Polícia Federal para questões decorrentes de Tratados Internacionais está regulamentado pela Lei nº 10.446, de 8 de maio de 2002, que dispõe sobre infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, para os fins do disposto no inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição Federal de 1988.

Art. 1º Na forma do inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais:

I – seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro (arts. 148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;

II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990); e

III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e

IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação.

Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça.

3. PERSONALIDADE INTERNACIONAL. 3.1. Estado; imunidade à jurisdição estatal; consulados e embaixadas.

No conceito clássico do doutrinador Francisco Rezek2 “O Estado, personalidade originária de direito internacional público, ostenta três elementos conjugados: uma base territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa área e, uma forma de governo não subordinado a qualquer autoridade exterior”.

Ainda, pela Convenção de Montevidéu sobre Direitos e Deveres dos Estados3, de 1933, já elencava os requisitos para o reconhecimento do Estado no direito das Gentes, conforme o seu art. 1º.

O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos:

I. População permanente.

II. Território determinado.

III. Governo.

IV. Capacidade de entrar em relações com os demais Estados.

2 Rezek, Francisco. Direito Internacional Público. 11ª Ed.Saraiva. pag. 161. 3 Assinado em: Montevidéu, Uruguai, Data: 26/12/1933 Aprovação: Decreto Legislativo nr. 18, de 28/08/1936 Promulgação: Decreto nr. 1.570, de 13/04/1937

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No mesmo sentido, a referida Convenção, no seu art. 3º diz que a existência política do Estado independe de anuência dos demais Estados.

A existência política do Estado é independente do seu reconhecimento pelos demais Estados. Ainda antes de reconhecido, tem o Estado o direito de defender sua integridade e independência, prover a sua conservação e prosperidade, e conseguintemente, organizar-se como achar conveniente, legislar sobre seus interesses, administrar seus serviços e determinar a jurisdição e competência dos seus tribunais.

OBS: Os elementos do Estado são apenas três: território, povo e governo soberano.

OBS: O reconhecimento dos outros Estados não é elemento do Estado.

Elementos do Estado

Território Povo Governo

Por sua vez, o território é o espaço físico/geográfico dentro do qual o Estado exerce seu poder soberano. No sentido físico/geográfico consideramos o solo, águas interiores, subsolo, espaço aéreo, mar territorial, plataforma continental, zona econômica exclusiva.

OBS: A embaixadas e consulados situados no exterior, as embarcações e aeronaves militares ou civis onde quer que se encontre em áreas internacionais não são parte do território do Estado, embora o ente estatal exerça sua jurisdição sobre tais bens móveis ou imóveis.

Jurisdição estatal e imunidades

No entanto, o Estado exerce jurisdição estatal sobre seu território de forma geral e exclusiva. Mas, no que tange a competência, esta não é absoluta, pois há casos em que o ente estatal não exerce sua jurisdição sobre certas pessoas, bens e áreas, como os privilégios e imunidades gozados por Estados, Organismos Internacionais e autoridades como diplomatas.

Quanto às imunidades separamos em tópicos a seguir:

� Imunidade do Estado Estrangeiro: A atuação do ente estatal no exterior está diretamente relacionada ao tipo de solução dada no caso de controvérsia que envolva um Estado estrangeiro. Sobre esse assunto temos duas teorias:

a) Teoria Clássica: par in parem nom habet judicium/imperium

- para esta teoria o Estado estrangeiro não poderia ser julgado pelas autoridades de outro Estado contra a sua vontade, salvo se renunciasse a sua imunidade. É um tipo de imunidade absoluta com princípio par in parem nom habet judicium/imperium que significa que “iguais não podem julgar iguais”.

b) Teoria Moderna: atos de império e atos de gestão

Povo ≠ População

� Conceito político e jurídico

� Inclui apenas os nacionais não importando se estão no exterior.

� Conceito estatístico

� Inclui os nacionais e estrangeiros

� Considera apenas as pessoas de passagem pelo país.

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- Já para a teoria moderna os Estados estrangeiros podem ser obrigados a responder por seus atos em outros Estados dentro de certas condições, por isso a teoria moderna separa os atos em dois tipos:

b.1) Atos de império: é a prática de atos ligados à soberania. Ex: ofensivas militares, concessão ou denegação de visto, admissão de estrangeiro, ingresso e deportação.

b.2) Atos de gestão: são os atos em que o Estado se equipara ao particular, não havendo imunidade de jurisdição. Ex: aquisição de bens móveis e imóveis, contratação de empregados, responsabilidade civil.

Diante do novo cenário mundial e com a nova interpretação do STF após a CF/88, a teoria adotada atualmente no Brasil é a teoria moderna. Assim, os atos praticados pelos Estados de relação meramente civil, comercial ou trabalhista são considerados atos de gestão e, portanto, não se encontram protegidos pela imunidade de jurisdição estatal.

� Imunidade de Organizações Internacionais: quanto às organizações internacionais as imunidades são estabelecidas dentro de seus atos constitutivos ou por tratado especifico com os Estados, assim trata-se de direito convencional.

OBS: Cabe salientar que, ao contrário do que se observa, no tocante às organizações internacionais à imunidade de jurisdição do Estado é meramente costumeira, não havendo ainda tratados firmados sobre essa matéria.

� Imunidade de Execução: embora o STF já tenha se manifestado quanto à relativização da imunidade de jurisdição quanto ao processo de conhecimento, diferentemente vem decidindo nos processos de execução, agindo com mais cautela e prudência. Sendo assim, analisando a doutrina e os recentes julgados da suprema corte, elencamos as diferentes formas de executar um Estado estrangeiro: 1) pagamento voluntário pelo Estado; 2) negociação por vias diplomáticas pelo Min. Das Relações Exteriores; 3) Carta rogatória; 4) execução de bens não afetos aos serviços diplomáticos e consulares; 5) renúncia à imunidade de execução pelo Estado estrangeiro.

Competência para o julgamento

As regras de competência para o julgamento das pessoas jurídicas de direito internacional público no Brasil são fixadas pela CF/88.

STF STJ TST Justiça Federal

Art. 102, I, e

I - processar e julgar, originariamente

e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;

Art. 105, II, c

II - julgar, em recurso ordinário:

c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

Art. 114, I

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

Art. 109, II

Aos juízes federais compete processar e julgar:

II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;

Órgãos do Estado nas Relações Internacionais

Os órgãos do Estado nas relações internacionais são os indivíduos encarregados de representar os Estados, que são pessoas jurídicas, no campo de relacionamento externo.

Porém, os órgãos são uma extensão longa manus do Estado, não possuem personalidade jurídica e estão subordinados diretamente à Pessoa Jurídica. No entanto, possuem competência para administrar a

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dinâmica das relações estatais com outros Estados, Organizações Internacionais e demais sujeitos de Direito Internacional Público e para agir em nome do ente estatal na sociedade internacional.

Observando as provas e o perfil das bancas, pelo qual achamos mais didático apresentar esse assunto em quadros comparativos, vez que as questões tendem a confundir o candidato com trocas de palavras ou significações.

Os Estados possuem representantes, pessoas físicas, que aparecem na seguinte forma:

Órgãos do Estado nas relações internacionais Chefe de Estado Ministro das

Relações Exteriores

Agentes diplomáticos

Agentes consulares

Qualquer funcionário que, ocasionalmente,

represente o Estado

internacionalmente

No que tange aos princípios, extraímos da própria CF/88, que são amplamente cobrados nas relações e tratativas trabalhistas.

Princípios das relações internacionais do Brasil (CF, art. 4°) Independência

nacional Prevalência dos direitos humanos

Autodeterminação dos povos

Não intervenção Igualdade entre os Estados

Defesa da paz

Solução pacífica dos conflitos

Repúdio ao terrorismo e ao

racismo

Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade

Concessão de asilo político

Promoção da integração latino-

americana

Por sua vez, destacamos as diferenças básicas entre as funções do Chefe de Estado e do Ministro das Relações Exteriores.

Funções do Chefe de Estado e do Ministro das Relações Exteriores Manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos

Auxiliar o Presidente da República na formulação da política exterior do Brasil, assegurar sua execução e manter relações com Estados estrangeiros e organizações internacionais

Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional

Política internacional, relações diplomáticas e serviços consulares

Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional

Participação nas negociações comerciais, econômicas, técnicas e culturais com governos e entidades estrangeiras

Celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional

Programas de cooperação internacional e de promoção comercial

Apoio a delegações, comitivas e representações brasileiras em organismos internacionais.

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Por fim, na mesma linha de raciocínio, demonstraremos as diferenças e peculiaridades das funções diplomáticas e consulares.

Funções dos Agentes Diplomáticos Representar o

Estado acreditante

perante o Estado acreditado

Proteger os interesses do

Estado acreditante e de seus nacionais

no Estado acreditado

Negociar com o governo do

Estado acreditado

Inteirar-se das condições e da evolução dos

acontecimentos do Estado acreditado ou da organização internacional junto

à qual atuam e informar o Estado

acreditante a respeito

Promover relações

amistosas e desenvolver as

relações econômicas, culturais e

científicas entre o Estado

acreditante e o acreditado

Funções dos Agentes Consulares Proteção dos interesses do Estado que o

envia e de seus nacionais

Função notarial e de registro

civil

Oferecer proteção e

assistência a nacionais no

exterior

Representar o Estado na

ausência de missão

diplomática

Representar o Estado junto a

uma organização internacional,

quando necessário.

Cabe salientar a diferença quanto ao modo de admissão do Embaixador e do Cônsul no Estado acreditado (quem recebe).

� Direito de Legação: é a prerrogativa de enviar e de receber agentes diplomáticos. Esse direito de legação é suspenso com a guerra ou rompimento das relações diplomáticas

� Agréement: (do francês “concordância ou anuência) é ato discricionário pelo qual o Estado acreditado aceita a indicação do Embaixador estrangeiro em seu país. Assim é preciso requerer o Agréement. O processo de concessão é secreto e o Estado que denega não necessita explicar as razoes da recusa. (art. 4º da Convenção de Viena de 1961)

� Aprovação pelo Senado Federal: além Agréement, a indicação do Embaixador precisa ser aprovada pelo Senado Federal por voto secreto, após arguição secreta conforme art. 52, IV, CF/88.

� Carta Patente: é o documento que materializa a nomeação do Cônsul emitida pelo Estado que o indica.

� Exequatur: é a autorização do Estado acreditado (quem recebe) para que o Cônsul possa desempenhar o seu exercício em seu território. Via de regra, não exige formalidades. (art. 12, §1º, Convenção de Viena de 1963).

Privilégios e Imunidades Diplomáticas Privilégio e imunidade

Exceções e/ou OBS

Imunidade penal --------------------- Imunidade cível Causas relativas a imóveis particulares que não o residencial.

Causas sucessórias a título pessoal. Reconvenções.

Imunidade tributária Causas relativas a imóveis particulares que não o residencial. Causas sucessórias a título pessoal. Tributos indiretos. Tarifas de serviços públicos. Tributos incidentes sobre rendimentos privados auferidos no Estado acreditado. Impostos sobre o capital, referentes a investimentos em empresas no

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Estado acreditado. OBS: as isenções não se estendem a quem contrate com a missão.

Inviolabilidade. Pessoal. Residencial. Bagagem. Comunicações. Veículo. Arquivos e documentos.

Inviolabilidade da bagagem relativizada quando de seu emprego para fins incompatíveis com a atividade diplomática.

Liberação da obrigação de depor como testemunha.

Privilégios e imunidades consulares Privilégios e imunidades

Exceções e/ou observações

Imunidade penal relativa.

Possibilidade de prisão em caso de crime grave e em decorrência de decisão da autoridade competente. Possibilidade de prisão a partir de sentença judicial definitiva. O processo deve ser conduzido com as deferências devidas ao agente e de maneira a pouco perturbar as funções consulares. Cônsules honorários: imunidades restritas aos atos relacionados ao exercício de suas funções. Não se estendem à família.

Imunidade cível por atos realizados no exercício de suas funções.

Ações que resultem de contrato que o funcionário não tiver realizado como agente do Estado que o envia. Ações propostas por terceiros por conta de danos causados em acidentes de veículo, navio ou aeronave. Cônsules honorários: imunidades restritas aos atos relacionados ao exercício de suas funções. Não se estendem à família.

Imunidade tributária. Mesmas exceções cabíveis para os diplomatas. As imunidades abrangem também as tarifas cobradas para os serviços consulares. Cônsules honorários: as isenções incidem sobre instalações consulares que pertencerem ao Estado da repartição ou que forem por estes locadas, bem como sobre as importações de uso consular.

Inviolabilidade. Pessoal. Residencial. Bagagem. Comunicações. Veículo. Arquivos e documentos.

Inviolabilidade da bagagem relativizada quando de seu emprego para fins incompatíveis com a atividade consular. A residência do cônsul é inviolável, mas não a dos demais agentes consulares da repartição, salvo, para estes, no campo tributário.

Obrigação de depor como testemunha.

Não podem ser obrigados a depor sobre atos vinculados a suas funções. Não são obrigados a exibir documentos oficiais nem a depor, na qualidade de peritos, sobre as leis do Estado que o enviou.

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3.2. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS: CONCEITO; NATUREZA JURÍDICA; ELEMENTOS CARACTERIZADORES; ESPÉCIES.

As organizações intergovernamentais são entidades criadas e compostas pelos Estados através de tratados, adquirindo personalidade jurídica a partir de seu funcionamento. Essa personalidade é chamada de derivada, ao passo que os Estados têm personalidade originária.

Sendo assim, essas organizações podem celebrar tratado atuando como sujeitos de direito independente da vontade de seus Estados-Membros.

OBS: não confundir organizações intergovernamentais com as ONGs que são entes privados com personalidade jurídica de direito interno não podendo celebrar tratados.

Os elementos marcantes das organizações intergovernamentais são:

� Multilateralidade

� Personalidade jurídica própria

� Permanência

� Poder regulamentar

� Institucionalização

� Caráter voluntário da associação

No que tange os aspectos formais, cada organização pode regular por meio de seu ato constitutivo a forma de admissão de novos membros como também a forma de expulsão e/ou o direito de retirada.

Dentre as organizações intergovernamentais destaca-se a ONU pela sua relevância na solução dos conflitos internacionais.

A ONU foi criada em 26/06/1945 na Conferencia de São Francisco e sua sede é em Nova Iorque – EUA, e suas principais funções são:

� Manter a paz e a segurança internacional

� Desenvolver relações amistosas entre as nações

� Promover a cooperação internacional

Destacam-se seus órgãos pelas suas funções de extrema relevância as quais abordaremos sistematicamente em quadros:

Principais Órgãos da ONU

Assembleia Geral Conselho de Segurança Secretariado

Discutir qualquer tema de interesse da ONU

Responsabilidade pela manutenção da paz internacional

Órgão administrativo

Emitir recomendações Investigar situações de instabilidade e tomar medidas cabíveis

Principal representante da ONU é o Secretário Geral

Solicitar atenção do Conselho para situações que possam constituir ameaça

Definir e implantar sanções Exerce funções diplomáticas como bons ofícios e mediações.

Decidir sobre a formação da força de paz

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3.3. POPULAÇÃO; NACIONALIDADE; TRATADOS MULTILATERAIS; ESTATUTO DA IGUALDADE.

A nacionalidade é o vínculo jurídico-político que une uma pessoa e um Estado. Entretanto, nacionalidade não se confunde com cidadania (exercício dos direitos políticos). Pois, a cidadania pressupõe a nacionalidade.

Assim, caso ocorra à suspensão dos direito políticos isso em nada afetará a sua nacionalidade. A Convenção de Haia, de 1930, define expressamente que cabe a cada Estado determinar por

legislações internas quem serão seus nacionais. Portanto, trata-se de regra de soberania do Estado. Diante da evolução deste tema, no cenário internacional, o direito de nacionalidade passou a ser

considerado um direito humano, ganhando amparo pela Declaração de Direitos Humanos (art. XV, §1º), Pacto de Direitos Civis e Políticos (art. 24, §1º), Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 20, §2º).

Consequentemente, surgiu uma regra geral da proibição do banimento, ou seja, vedação de expulsão de seus próprios nacionais, o qual encontra respaldo na CF/88. (art. 5º, XLVII, d).

Tipos de nacionalidade Os tipos de nacionalidade são definidos no momento em que há relação entre pessoa e Estado.

Sendo assim, sua classificação é dividida em originária ou secundária. Da mesma forma como abordamos os demais temas, iremos demonstra em quadros sistemáticos.

Tipos de Nacionalidade Originária/Primária Secundária/Adquirida

Jus solis Jus sanguinis Depende de manifestação de vontade da pessoa humana e concordância do Estado. Chamada de Naturalização. Ato soberano do Estado. A pessoa tem mera expectativa de direito. O Brasil não adota o casamento como critério de atribuição de nacionalidade secundaria, apenas confere uma diminuição no prazo mínimo de residência para fazer o requerimento.

Critério territorial. Não depende da nacionalidade dos ascendentes.

Depende da nacionalidade dos ascendentes.

O Brasil adota os dois sistemas.

Art. 12. São brasileiros:

I - natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;

Art. 12. São brasileiros:

I - natos:

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira

Art. 12. São brasileiros:

II - naturalizados:

Estrangeiros de Língua Portuguesa

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

Estrangeiro de qualquer nacionalidade

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

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competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80)

Art. 112. São condições para a concessão da naturalização:

I - capacidade civil, segundo a lei brasileira;

II - ser registrado como permanente no Brasil;

III - residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização;

IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando;

V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família;

VI - bom procedimento;

VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e

VIII - boa saúde.

§ 1º não se exigirá a prova de boa saúde a nenhum estrangeiro que residir no País há mais de dois anos.

Art. 113. O prazo de residência fixado no artigo 112, item III, poderá ser reduzido se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições

I - ter filho ou cônjuge brasileiro;

II - ser filho de brasileiro;

III - haver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da Justiça;

IV - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística; ou

V - ser proprietário, no Brasil, de bem imóvel, cujo valor seja igual, pelo menos, a mil vezes o Maior Valor de Referência; ou ser industrial que disponha de fundos de igual valor; ou possuir cota ou ações integralizadas de montante, no mínimo, idêntico, em sociedade comercial ou civil, destinada, principal e permanentemente, à exploração de atividade industrial ou agrícola.

Parágrafo único. A residência será, no mínimo, de

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um ano, nos casos dos itens I a III; de dois anos, no do item IV; e de três anos, no do item V.

Art. 114. Dispensar-se-á o requisito da residência, exigindo-se apenas a estada no Brasil por trinta dias, quando se tratar:

I - de cônjuge estrangeiro casado há mais de cinco anos com diplomata brasileiro em atividade; ou

II - de estrangeiro que, empregado em Missão Diplomática ou em Repartição Consular do Brasil, contar mais de 10 (dez) anos de serviços ininterruptos.

Embora os naturalizados tenham direitos e garantias, ambos, previstos pela CF/88, também, em sentido contrário, apresentam restrições e/ou procedimentos diferenciados em determinados casos, tais como:

� Proibição de acesso a determinados cargos públicos e vedação de participação do Conselho da República (art. 12,§3º c/c art. 89, VII, CF/88).

� Possibilidade de cancelamento judicial da naturalização (art. 12, §4º, I, CF/88).

� Possibilidade de extradição em caso de crime comum praticado antes da naturalização ou comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes (art. 5º, LI, CF/88).

� Restrições às atividades em empresas de telecomunicações (art. 222, CF/88).

Estatuto da Igualdade Brasil-Portugal É muito importante não confundir tipos de nacionalidade com os direitos previstos no Estatuto da

Igualdade Brasil-Portugual que foi substituído pelo Tratado da Amizade assinado em 22/04/2000 e promulgado em 2001.

Nesse sentido, o tratado determina que brasileiros e portugueses gozarão dos mesmos direitos e estarão sujeitos aos mesmos deveres dos nacionais desses Estados, exceto os direitos reservados apenas aos seus nacionais.

Os efeitos nãos são automáticos, pois precisam preencher determinados requisitos:

� Requerimento

� Capacidade civil

� Residência habitual no país que pleiteia

� Decisão do Ministro da Justiça

Porém, para o exercício dos direitos políticos será necessário que o período de residência seja de no mínimo de 3 anos. Pode votar e ser votado.

OBS: os portugueses beneficiários do Estatuto da Igualdade podem ingressar no serviço público, salvo nos cargos privativos a brasileiros. Submetem-se a lei penal brasileira nas mesmas condições que os brasileiros.

OBS: porém, não podem prestar o serviço militar. OBS: podem ser extraditado e expulso e não gozam da proteção das autoridades diplomáticas

brasileiras.

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3.4. ESTRANGEIROS: VISTOS; DEPORTAÇÃO, EXPULSÃO E EXTRADIÇÃO: FUNDAMENTOS JURÍDICOS; RECIPROCIDADE E CONTROLE JURISDICIONAL.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece no seu art. 13, II que todo homem tem direito de deixar qualquer país, inclusive o seu, e regressar como forma de consolidar o direito de ir e vir no âmbito internacional.

No entanto, os atos pelos quais os não-nacionais são admitidos no Brasil são discricionários. Assim, o estrangeiro que preenche todos os requisitos necessários tem apenas mera expectativa de direito de ser admitido.

Da mesma forma a concessão de visto também é ato discricionário do Estado ao qual o estrangeiro deseja ingressar.

Deportação

É o ato discricionário pelo qual o Estado de ofício retira compulsoriamente de seu território um estrangeiro que entrou ou permanece de forma irregular.

Não é permitida a deportação quando configurar extradição inadmitida pela lei brasileira. Assim, nos casos em que o estrangeiro é perseguido por crime político ou crime não tipificado no Brasil ou sofrer pena não permitida pelo direito brasileiro.

Não sendo exequível a deportação ou quando existirem indícios sérios de periculosidade ou indesejabilidade do estrangeiro, proceder-se-á a sua expulsão. Ainda, o fato de o estrangeiro possuir cônjuge ou filho brasileiro não impede a sua deportação.

Expulsão

É o ato pelo qual o Estado retira o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.

É passível, também, de expulsão o estrangeiro que: a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil; b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro.

Trata-se de ato discricionário (Decreto) de competência do Presidente da República após o processo administrativo realizado dentro do Ministério da Justiça obrigando o estrangeiro a sair do território nacional e proibir o seu retorno.

O estrangeiro só poderá retornar ao Brasil caso o decreto de expulsão seja revogado por meio de outro decreto.

Reingressar o estrangeiro no território nacional sem a revogação da expulsão é crime previsto no art. 338 do CP.

Ainda, há casos específicos em que não se procederá a expulsão conforme o art. 75 do Estatuto do Estrangeiro.

Art. 75. Não se procederá à expulsão:

I - se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; ou

II - quando o estrangeiro tiver:

a) Cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos; ou

b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente.

§ 1º. não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o reconhecimento de filho brasileiro supervenientes ao fato que o motivar.

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§ 2º. Verificados o abandono do filho, o divórcio ou a separação, de fato ou de direito, a expulsão poderá efetivar-se a qualquer tempo.

No âmbito dos tratados o Pacto de São José no seu art. 22, §9º proíbe a expulsão coletiva.

Extradição

A extradição é o ato de cooperação internacional pelo qual um Estado entrega a outro Estado a pessoa que tenha violado as leis deste Estado e para que neste responda pelo ilícito que cometeu.

Deverá haver um Tratado ou Promessa de Reciprocidade com o Estado solicitante para a concessão da medida. Contudo, é possível a extradição tanto na fase processual como após a condenação ou, ainda, diante de mera ordem de prisão. Não havendo tratado ou promessa de reciprocidade inviável o exame do pedido de extradição.

Pelo princípio da identidade ou dupla tipicidade o ato delituoso em que se baseia o pedido extraditório deve ser considerado ilícito em ambos os Estados.

Já pelo principio da especialidade somente será deferida a extradição para que o extraditando seja processado ou julgado pelos fatos constantes no pedido de extradição.

OBS: No Brasil, não se concede extradição de estrangeiro por crimes políticos ou de opinião, assim, como também nos casos sujeitos a tribunal de exceção.

OBS: o fato de o estrangeiro ser casado com brasileiro ou possuir filhos brasileiros não impede sua extradição, pois essa proteção é somente para o caso de expulsão.

Durante o processo de extradição a defesa é meramente delibatória ou contenciosa limitada, pois só poderá versar sobre a identidade da pessoa reclamada, defeito de forma dos documentos apresentados ou ilegalidade da extradição.

Art. 85. Ao receber o pedido, o Relator designará dia e hora para o interrogatório do extraditando e, conforme o caso, dar-lhe-á curador ou advogado, se não o tiver, correndo do interrogatório o prazo de dez dias para a defesa.

§ 1º A defesa versará sobre a identidade da pessoa reclamada, defeito de forma dos documentos apresentados ou ilegalidade da extradição.

Não cabe habeas corpus contra decisões do STF em processos de jurisdição única, assim, a Corte não conhece do writ quando se trate de extradição. Quanto a obrigatoriedade de extradição em recente julgamento do italiano Cesare Battisti o STF manifestou-se no sentido de que “cabe ao judiciário (STF)

autorizar a extradição e ao chefe do executivo (PR) de forma discricionária decidir sobre a entrega ou

não do extraditando ao Estado solicitante”.

VISTO DE ENTRADA

O visto, ainda que autorizado pela Secretaria de Estado das Relações Exteriores – Divisão de Imigração - SERE/DIM, configura mera expectativa de direito. O ingresso do estrangeiro poderá ser impedido e a estada em território nacional reduzida quando julgado conveniente ao interesse nacional, por decisão do Ministério da Justiça, a ser executada pelo Departamento de Polícia Federal (art. 26 da Lei n.º 6.815/80).

Do Impedimento

Art. 26. O visto concedido pela autoridade consular configura mera expectativa de direito, podendo a entrada, a estada ou o registro do estrangeiro ser obstado ocorrendo qualquer dos casos do artigo 7º, ou a inconveniência de sua presença no território nacional, a critério do Ministério da Justiça.

§ 1º O estrangeiro que se tiver retirado do País sem recolher a multa devida em virtude desta Lei, não poderá reentrar sem efetuar o seu pagamento, acrescido de correção monetária.

§ 2º O impedimento de qualquer dos integrantes da família poderá estender-se a todo o grupo familiar.

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A posse ou a propriedade de bens no Brasil não confere ao estrangeiro o direito de obter visto ou autorização de permanência no território nacional.

O visto é individual, uma vez que a legislação brasileira não prevê o visto coletivo. Caso exista mais de uma pessoa no mesmo documento de viagem, a Autoridade Consular deverá conceder visto ao titular e a cada um dos dependentes, nele incluídos, que pretendam viajar ao Brasil.

Todos os vistos deverão ser concedidos para múltiplas entradas em território nacional. O Visto de Trânsito (VITRA) será concedido para uma única entrada em território nacional.

TIPOS DE VISTO

Os vistos são classificados em função da natureza da viagem e da estada no Brasil, em:

a) Visto Diplomático - VIDIP

b) Visto Oficial - VISOF

c) Visto de Cortesia - VICOR

d) Visto de Turista - VITUR

e) Visto de Trânsito - VITRA

f) Vistos Temporários - VITEM

g) Vistos Permanentes - VIPER

h) Visto de Residência Temporária - VRT

CRITÉRIO DA JURISDIÇÃO CONSULAR

O visto deve ser tramitado na Repartição Consular com jurisdição sobre o local de residência do estrangeiro.

QUADRO GERAL DE REGIME DE VISTOS – QGRV

O Quadro Geral de Regime de Vistos define o regime de vistos aplicável para cada nacionalidade. Caso o estrangeiro possua mais de uma nacionalidade, a Autoridade Consular deverá considerar a nacionalidade indicada no documento de viagem apresentado para definir o regime de visto aplicável.

Aos que tiveram decretada a perda da nacionalidade brasileira, será aplicado o regime previsto para os cidadãos de sua atual nacionalidade. O Quadro Geral de Regime de Vistos estabelece as seguintes possibilidades por nacionalidade:

a) necessidade ou dispensa de visto por força de acordo internacional, firmado com base no princípio da reciprocidade;

b) autorização de ingresso com identidade civil por força de acordo internacional firmado com base no princípio da reciprocidade;

b) concessão de visto sem consulta à SERE;

c) concessão de visto sem consulta, seguida de comunicação à SERE/DIM;

d) concessão de visto mediante consulta obrigatória ou autorização prévia da SERE/DIM;

e) gratuidade de visto por força de Lei ou Acordo Internacional;

f) prazo máximo de validade de VITEM II e VITUR;

g) prazo para primeira entrada em território nacional, em atendimento ao princípio da reciprocidade de tratamento; e

h) vistos concedidos em laissez-passer.

DECISÃO

Após a análise, a Autoridade Consular poderá decidir pela concessão, não concessão ou denegação do visto. Sempre que surgir dúvida sobre os objetivos da viagem pretendida, os documentos apresentados

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ou a identificação do solicitante, o interessado deverá ser entrevistado pela Autoridade Consular, que poderá solicitar documentos e esclarecimentos adicionais.

Ao proceder à entrevista, a Autoridade Consular deverá fazer-se acompanhar de outro funcionário, com vistas a assegurar a imparcialidade. Havendo qualquer incongruência na entrevista, ou entre esta e a documentação apresentada, a Autoridade Consular, a seu critério, não concederá ou denegará o visto.

CONCESSÃO

Caso o estrangeiro preencha os requisitos para o visto pleiteado, a Autoridade Consular poderá conceder o visto, que será aposto no documento de viagem do solicitante.

A Autoridade Consular deverá transmitir ao estrangeiro as informações necessárias à entrada e permanência regular em território nacional, em harmonia com a legislação brasileira em vigor, tais como a necessidade de registrar o visto e as restrições ao exercício de atividades profissionais regulamentadas no território nacional, sem a prévia autorização do correspondente Conselho Federal da classe ou órgão equivalente.

A Autoridade Consular poderá autorizar, sem a necessidade de consulta à SERE/DIM, a concessão de visto em passaporte estrangeiro de filhos de nacionais brasileiros, nascidos no exterior, que ainda não tenham sido registrados em Repartição Consular. Em tais hipóteses, os responsáveis ou o próprio interessado, se maior de idade, deverão ser orientados quanto à necessidade de observância do prazo relativo à estada de estrangeiros no Brasil, nos termos do Estatuto do Estrangeiro.

Esta regra não se aplica aos nascidos no exterior, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, quando qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil, caso em que a nacionalidade brasileira originária é atribuída desde o nascimento pela Constituição Federal.

A Autoridade Consular poderá, sem a necessidade de consulta à SERE/DIM, autorizar a aposição de visto em passaporte estrangeiro de brasileiro, de qualquer idade, que possua uma segunda nacionalidade, de país cuja legislação exija a apresentação de documento de viagem emitido por autoridades locais para a saída de seu território. Em tais hipóteses, os responsáveis ou o próprio interessado, se maior de idade, deverão ser orientados quanto à necessidade de observância do prazo relativo à estada de estrangeiros no Brasil, nos termos do Estatuto do Estrangeiro.

NÃO-CONCESSÃO

A Autoridade Consular não deverá conceder visto ao estrangeiro:

I – que não preencha os requisitos para o tipo de visto pleiteado;

II- menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou sem autorização de viagem por escrito dos responsáveis legais ou autoridade judicial competente;

III – que não satisfaça as condições de saúde eventualmente estabelecidas pelo Ministério da Saúde do Brasil.

O interessado poderá apresentar nova solicitação de visto, caso apresente a documentação regulamentar para o tipo de visto pretendido.

DENEGAÇÃO

A Autoridade Consular deverá denegar visto ao estrangeiro:

a) considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais;

b) anteriormente expulso do país, salvo se a expulsão tiver sido revogada;

c) condenado ou processado em outro país por crime doloso, passível de extradição segundo a Lei brasileira;

e) que, ao solicitar o visto comporte-se de forma agressiva, insultuosa ou desrespeitosa para com os agentes do serviço consular brasileiro;

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f) sempre que haja indícios de má-fé ou fraude na entrevista ou documentação apresentada, que denotem tentativa de imigração irregular ou ocultação dos reais motivos da viagem do interessado ao Brasil; e

g) que modifique o tipo de visto solicitado em virtude de dificuldades em cumprir com a documentação exigida para o visto inicialmente solicitado.

PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE UTILIZAÇÃO DO VISTO

O prazo para utilização dos vistos está consignado no QGRV para o Brasil, por nacionalidade, em observância ao princípio da reciprocidade de tratamento. Nos termos do QGRV, os vistos que tenham validade para primeira entrada em 90 dias da data de concessão deverão incluir a seguinte observação: “Primeira entrada em 90 dias da data de concessão/First entry within 90 days of the date of concession”.

O visto não utilizado dentro do prazo de 90 dias poderá ser prorrogado, uma única vez e por igual período, pela Autoridade Consular, cobrando-se novamente os emolumentos correspondentes à concessão do visto. Deverá ser incluída a seguinte observação: “Fica prorrogado o prazo para utilização deste visto por 90 dias, nos termos do Artigo 20, parágrafo único, da Lei nº 6.815/80”.

PROTOCOLO DE PEDIDO DE REGISTRO OU PRORROGAÇÃO DE PRAZO DE ESTADA - DPF

A Autoridade Consular poderá conceder, excepcionalmente, visto de turista, por 90 dias, para estrangeiro, titular de visto temporário ou permanente que apresente “protocolo de pedido de registro ou de prorrogação de estada” válido, emitido pelo Departamento de Polícia Federal. Esta exceção se destina a permitir que o estrangeiro ingresse em território nacional para receber do Departamento de Polícia Federal o documento solicitado ou a prorrogação de seu visto. O VITUR poderá ser concedido ainda que o interessado já tenha permanecido mais de 180 dias no Brasil sob o amparo de VITUR ou VITEM II.

VACINAÇÃO

Não é necessária apresentação de certificado de imunização para a obtenção de visto para o Brasil. A ANVISA recomenda a imunização contra febre amarela para estrangeiros que pretendam visitar áreas endêmicas de febre amarela no Brasil.

CONCESSÃO VISTOS DIPLOMÁTICOS, OFICIAIS E DE CORTESIA

O VIDIP, VISOF e VICOR poderá ser concedido no exterior pelas Embaixadas, Consulados-Gerais, Consulados e, quando autorizado pela SERE/DIM, pelos Vice-Consulados e Escritórios de Representação do MRE no Brasil.

VISTO DIPLOMÁTICO (VIDIP)

O Visto Diplomático poderá ser concedido às autoridades e funcionários estrangeiros, que tenham status diplomático e viajem ao Brasil em missão oficial, de caráter transitório ou permanente, representando Governo estrangeiro ou Organismo Internacional reconhecidos pelo Governo brasileiro.

Os pedidos de VIDIP deverão ser formulados por Nota Verbal da Chancelaria local, Missão Diplomática estrangeira ou Organismo Internacional. A Nota Verbal deverá explicitar claramente:

a) nome completo e nacionalidade;

b) tipo, número, país expedidor e data de expiração do documento de viagem;

c) cargo ou função do estrangeiro;

d) objetivos, o local e a duração da missão (quando for o caso, a entidade ou pessoa a ser contatada no Brasil).

No caso de funcionário de Organismo Internacional, a Nota Verbal deverá ser acompanhada de laissez-passer do Organismo Internacional e certificado da organização de que o estrangeiro é funcionário e viaja em missão oficial. Caso não disponha de laissezpasser, o Organismo Internacional deverá justificar o motivo pelo qual o estrangeiro viaja com o passaporte de sua nacionalidade.

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O Posto da missão Diplomática concederá VIDIP com validade de até 2 anos. Em caso de reciprocidade de tratamento, a ser indicado na Nota Verbal de solicitação, poderá ser concedido VIDIP por prazo superior a 2 anos.

VISTO OFICIAL (VISOF)

O VISOF poderá ser concedido às autoridades e funcionários estrangeiros, que viajem ao Brasil em missão oficial, de caráter transitório ou permanente, representando Governo estrangeiro ou Organismo Internacional reconhecidos pelo Governo brasileiro, incluídas nessa definição, por exemplo:

a) missões oficiais nas Embaixadas, Consulados ou Escritórios do Organismo Internacional no Brasil;

b) missões de cunho científico-cultural previstas em Acordo Internacional;

c) missões de assistência técnica praticada no âmbito de acordos que contemplem expressamente a concessão de VISOF a técnicos, peritos e cooperantes;

d) missões de cooperação com órgãos governamentais brasileiros;

e) estudantes militares para frequentar curso nas Academias das Forças Armadas brasileiras;

f) estudantes estrangeiros para cursar o Instituto Rio Branco;

g) diretor da Aliança Francesa, Instituto Goethe, Instituto Miguel de Cervantes, JBIC (“Japan Bank for International Cooperation”), KFW (“Kreditanstalt für Wiederaufbau”) e outros, nos termos dos acordos de sede das instituições no Brasil; e

h) funcionários administrativos de Embaixadas, Consulados e, caso previsto no Acordo de Sede, dos Organismos Internacionais estrangeiros no Brasil.

Os pedidos de VISOF deverão ser formulados por Nota Verbal da Chancelaria local, Missão Diplomática estrangeira ou Organismo Internacional. A Nota Verbal deverá explicitar claramente:

a) nome completo e nacionalidade;

b) tipo, número, país expedidor e data de expiração do documento de viagem;

c) cargo ou função do estrangeiro; e

d) os objetivos, o local e a duração da missão (quando for o caso, a entidade ou pessoa a ser contatada no Brasil).

No caso de funcionário de Organismo Internacional, a Nota Verbal deverá ser acompanhada de laissez-passer do Organismo Internacional e certificado da organização de que o estrangeiro é funcionário e viaja em missão oficial. Caso não disponha de laissezpasser, o Organismo Internacional deverá justificar o motivo pelo qual o estrangeiro viaja com o passaporte de sua nacionalidade.

O Posto da missão Diplomática concederá VISOF com validade de até 2 anos. Em caso de reciprocidade de tratamento, a ser indicado na Nota Verbal de solicitação, poderá ser concedido VISOF pelo prazo da missão do funcionário.

REUNIÃO FAMILIAR

O VIDIP e VISOF poderá ser estendido, por reunião familiar, ao cônjuge do interessado e aos descendentes solteiros e menores de 21 anos ou até o ano-calendário em que completem 24 anos, desde que inscritos em curso de graduação ou pós-graduação no Brasil, e garantida a reciprocidade de tratamento a brasileiro no país de origem do estrangeiro.

Aos demais familiares, bem como aos serviçais de titulares de VIDIP e VISOF, poderá ser autorizada a concessão de VICOR.

Caso solicitado por Nota da Chancelaria estrangeira local, Missão Diplomática estrangeira ou Organismo Internacional, atestando a condição de companheiro(a) e garantia de reciprocidade de tratamento, a Autoridade Consular poderá consultar a SERE/DIM/CGPI, que decidirá sobre a conveniência de estender o VIDIP ou VISOF para cônjuge do mesmo sexo ou companheiro(a), sem distinção de sexo.

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O prazo de estada autorizado para o dependente corresponderá ao do visto do titular. Caso não exista em vigor Acordo de Trabalho para Dependentes, a Autoridade Consular deverá incluir no visto a seguinte observação: “Reunião familiar, proibido o exercício de qualquer atividade remunerada no Brasil”.

VISTO DE CORTESIA (VICOR)

O VICOR poderá ser concedido estritamente às personalidades e autoridades estrangeiras em viagem não-oficial ao Brasil. A Autoridade Consular poderá conceder VICOR, por até 90 dias.

A concessão de VICOR com prazo de estada superior a 90 dias está sujeita a consulta obrigatória à SERE/DIM.

DEPENDENTES E FAMILIARES

O VICOR poderá ser concedido, por reunião familiar, aos descendentes maiores de 21 anos e outros familiares de funcionário diplomático, administrativo ou técnico estrangeiro, portador de VIDIP ou VISOF, designado para missão de caráter permanente no Brasil. A Autoridade Consular deverá incluir no visto observação relativa ao motivo da concessão (ex: Filho maior de 21 anos).

COMPANHEIRO(A)

O VICOR poderá ser concedido a companheiro(a), sem distinção de sexo, de detentor de VIDIP ou VISOF em missão de caráter permanente no Brasil, mediante consulta à SERE/DIM, caso solicitado por Nota da Chancelaria estrangeira local, Missão Diplomática estrangeira ou Organismo Internacional, atestando a condição de companheiro(a) e a garantia de reciprocidade de tratamento.

RESTRIÇÕES

Em todos os casos, a entidade ou pessoa a que esteja vinculado o beneficiário de VICOR deverá providenciar sua saída do território brasileiro quando cessarem as razões que justificaram a concessão do visto.

É expressamente vedado ao titular de VICOR, inclusive no caso de companheiro(a), o exercício de atividade remunerada, exceto quando exercê-la em favor do Estado estrangeiro, Organização Internacional de caráter intergovernamental a cujo serviço se encontre no País, ou do Governo ou de entidade brasileiros, mediante instrumento internacional firmado com outro Governo que contenha cláusula específica sobre o assunto.

CONCESSÃO DE VISTO DE TURISTA E VISTO DE TRÂNSITO

VISTO DE TURISTA

O VITUR poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil em caráter temporário, sem qualquer intuito imigratório ou de exercício de atividade remunerada, com fins de turismo. O visto terá validade máxima de até 90 dias, prorrogável.

O VITUR poderá ser concedido ao estrangeiro: portador de protocolo de pedido de registro ou prorrogação de prazo de estada – DPF; portador de protocolo de pedido de permanência no Brasil - MJ; e para estrangeiro ascendente de menor brasileiro.

CONCURSOS ARTÍSTICOS E COMPETIÇÕES ESPORTIVAS

Poderá ser concedido VITUR aos participantes de concursos artísticos e competições esportivas em que não haja cobrança de ingressos, nem remuneração ou cachê pagos por fonte brasileira, ainda que concorram a prêmios, inclusive em dinheiro.

CONFERÊNCIAS, SEMINÁRIOS E CONGRESSOS

Poderá ser concedido VITUR ao cientista, professor, pesquisador ou profissional estrangeiro que pretenda vir ao Brasil, em visita, para participar de conferências, seminários, congressos ou reuniões na área de pesquisa científico-tecnológica e desenvolvimento, desde que não receba remuneração pelas suas atividades. O visto poderá ser concedido inclusive se o estrangeiro obtiver ressarcimento das despesas de estada, diretamente, ou por intermédio de diárias.

MENOR ESTRANGEIRO ADOTADO

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O VITUR poderá, igualmente, ser concedido ao menor estrangeiro adotado por cidadão brasileiro ou estrangeiro residente no Brasil, a fim de permitir o seu ingresso no país, devendo o adotante ser instruído a regularizar sua permanência junto ao Ministério da Justiça.

VISTO DE TRÂNSITO

O VITRA será concedido ao estrangeiro que, para atingir o país de destino, tenha de entrar em território nacional. Não se exigirá VITRA ao estrangeiro em viagem contínua, que tenha de fazer escalas ou conexões no Brasil, desde que permaneça na área de trânsito internacional do porto ou aeroporto brasileiro.

O VITRA é válido para uma única entrada no Brasil e para estada máxima improrrogável de 10 dias.

CONCESSÃO DE VISTO TEMPORÁRIO

Os Vistos Temporários (VITEM) classificam-se em função da natureza da atividade a ser desempenhada pelo estrangeiro no Brasil.

O artigo 13 da Lei n° 6.815/80 classifica os Vistos Temporários em:

a) Visto Temporário I – viagem cultural ou em missão de estudos;

b) Visto Temporário II – em viagem de negócios;

c) Visto Temporário III – na condição de artista ou desportista;

d) Visto Temporário IV – na condição de estudante;

e) Visto Temporário V – na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou a serviço do Governo brasileiro;

f) Visto Temporário VI – na condição de correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou agência noticiosa estrangeira; e

g) Visto Temporário VII – na condição de ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa

Os pedidos de VITEM I, VITEM VI e VITEM VII estão sujeitos ao critério da jurisdição consular. Os pedidos de VITEM II, VITEM III, VITEM IV e VITEM V poderão, excepcionalmente, ser tramitados independentemente do critério da jurisdição consular.

Depende de consulta obrigatória à SERE/DIM a concessão de VITEM I para estrangeiro que venha ao País prestar serviço voluntário junto a entidade religiosa de assistência social ou organização não governamental, sem fins lucrativos, para tratamento de saúde, e de VITEM VI para correspondente estrangeiro.

Depende de autorização prévia da SERE/DIM a concessão de VITEM III e VITEM V, com base em contrato de trabalho ou investimento, tramitados junto à CGIg/MTE ou ao MTE/CNIg (Conselho Nacional de Imigração). Os demais tipos de VITEM podem ser concedidos sem consulta à SERE/DIM.

VITEM I - VIAGEM CULTURAL OU EM MISSÃO DE ESTUDOS

O VITEM I terá validade de até 2 anos, prorrogável, e está sujeito ao critério da jurisdição consular. Ao conceder VITEM I, a Autoridade Consular anotará ao lado do visto, quando houver, o nome da instituição a que ficará vinculado o estrangeiro, o número da Resolução Normativa correspondente ou o inciso I, artigo 13, da Lei nº 6.815/80 e o número do despacho telegráfico de autorização.

Na condição de cientista, professor, pesquisador ou profissional estrangeiro para participar de conferências, seminários ou congressos, caracterizados como eventos certos e determinados, por período que não ultrapasse 30 (trinta) dias, improrrogável, recebendo pro labore pelas suas atividades.

As sociedades ou entidades esportivas que mantenham treinamento regular e especializado de prática desportiva, poderão habilitar-se a receber estrangeiro menor de 21 anos de idade, não-profissional, vinculado a congênere de outros países, para aprimorar a formação do atleta em modalidade específica.

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O visto poderá ter validade de até 1 (um) ano, prorrogável sucessivamente mediante a comprovação de matrícula em estabelecimento de ensino e aproveitamento escolar;

Ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil ao abrigo de Acordo de Cooperação Internacional, reconhecido pelo Ministério das Relações Exteriores, na qualidade de técnico, prestador de serviço, voluntário, especialista, cientista e pesquisador, junto a entidades oficiais, privadas ou não governamentais. Neste caso, o visto poderá ter validade de até 2 (dois) anos, prorrogável, podendo ainda haver a extensão, por reunião familiar, desde que comprovada capacidade financeira do titular.

Ao estrangeiro que pretenda vir ao País para receber treinamento na operação e manutenção de máquinas e equipamentos produzidos em território nacional, sem vínculo empregatício no Brasil, o visto poderá ter validade de até 60 (sessenta) dias, prorrogável uma única vez por igual período;

Ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil para estudar em curso regular, no âmbito de programa mantido por entidade dedicada ao intercâmbio estudantil o visto poderá ter validade de até 1 (um) ano, improrrogável;

Em caráter excepcional, para o estrangeiro que venha ao Brasil se submeter a tratamento de saúde o VITEM I poderá ter validade de até 2 anos;

Ao estrangeiro que venha ao País prestar serviço voluntário junto à entidade religiosa de assistência social ou organização não-governamental sem fins lucrativos, mesmo aquela que não esteja prevista na Lei n. 9.790, de 23 de março de 1999, sem vínculo empregatício com pessoa jurídica sediada no Brasil o VITEM I poderá ter validade de até 2 (dois) anos;

VITEM II - EM VIAGEM DE NEGÓCIOS;

O VITEM II poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil em caráter temporário, a negócios, sem receber qualquer remuneração em território nacional. A Autoridade Consular deverá verificar se a atividade a ser realizada pelo estrangeiro no Brasil não configura caso de VITEM V para assistência técnica.

VITEM III - NA CONDIÇÃO DE ARTISTA OU DESPORTISTA

A concessão de VITEM III depende de autorização prévia da SERE/DIM. O VITEM III está dispensado do critério da jurisdição consular.

Poderá ser concedido VITEM III a artistas, desportistas, técnicos em espetáculos de diversão e demais profissionais, que, em caráter auxiliar, participem da atividade do artista ou desportista, sem vínculo empregatício com pessoa física ou jurídica no Brasil. O visto terá validade máxima de 90 dias, prorrogável uma única vez pelo DPF;

VITEM IV – NA CONDIÇÃO DE ESTUDANTE

O VITEM IV poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil em caráter temporário, na condição de estudante, sem qualquer intuito imigratório ou de exercício de atividade remunerada. O VITEM IV está dispensado do critério da jurisdição consular e poderá ter validade de até um ano, prorrogável.

ESTÁGIO

Ao estrangeiro admitido no País para estágio, ou seja, o ato educativo supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de ensino superior. O visto poderá ter validade de até 1 (um) ano, prorrogável uma única vez por igual período. Esta circunstância deverá constar no documento de identidade do estrangeiro, bem como a indicação de sua condição de estagiário;

PARTICIPANTE DE PROGRAMA DE ESTUDANTES CONVÊNIO DE GRADUAÇÃO (PEC-G) OU PÓS-GRADUAÇÃO (PEC-PG)

O VITEM IV poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda participar do Programa PEC-G ou PEC-PG. O visto poderá ter validade de até 1 (um) ano, prorrogável;

ESTUDANTE RELIGIOSO

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O VITEM IV poderá ser concedido ao estrangeiro ministro de confissão religiosa ou membro de instituição de vida consagrada ou confessional, e de congregação ou ordem religiosa, que pretenda vir ao País na condição de estudante, de qualquer nível. O visto poderá ter validade de até 1 (um) ano, prorrogável;

VISTO TEMPORÁRIO VI – NA CONDIÇÃO DE CORRESPONDENTE DE JORNAL, REVISTA, RÁDIO, TELEVISÃO OU AGÊNCIA NOTICIOSA ESTRANGEIRA.

A concessão de VITEM V depende de autorização prévia da SERE/DIM e está dispensada do critério da jurisdição consular. O VITEM V poderá ter validade de até 2 (dois) anos, prorrogável.

CONCESSÃO DE VISTOS PERMANENTES

O VIPER terá validade indeterminada e está isento do critério da jurisdição consular. A concessão de Visto Permanente (VIPER) está sujeita à consulta obrigatória à SERE/DIM, por Ofício, nos casos de:

a) reunião familiar;

b) transferência de rendimentos de aposentadoria;

c) para diretor, gerente ou administrador de entidade religiosa, de assistência social ou organização não-governamental sem fins lucrativos;

d) recuperação da condição de permanente.

REUNIÃO FAMILIAR

O VIPER, a título de reunião familiar, poderá ser concedido ao dependente legal de cidadão maior de 21 anos, brasileiro ou estrangeiro, residente temporário ou permanente no Brasil. No caso de estrangeiro residente temporário no Brasil, o direito à reunião familiar poderá ser invocado quando a estada restante no País for superior a seis meses, vedado o exercício de qualquer atividade remunerada pelo dependente. O prazo de estada do visto do dependente deverá corresponder ao prazo de estada restante do visto do titular. Nesse sentido, a Autoridade Consular deverá checar o prazo de estada do visto do titular e o carimbo de entrada em território brasileiro.

Nos termos da Resolução Normativa n.° 36/1999/CNIg, consideram-se dependentes legais:

a) cônjuge;

b) filhos solteiros, menores de 21 anos, ou maiores que comprovadamente sejam incapazes de prover o próprio sustento;

c) ascendentes desde que demonstrada a necessidade efetiva de amparo pelo chamante; e

d) irmão, neto ou bisneto se órfão, solteiro e menor de 21 anos, ou de qualquer idade quando comprovada a necessidade de prover o próprio sustento.

PERDA E RECUPERAÇÃO DA CONDIÇÃO DE PERMANENTE

O estrangeiro perderá a condição de residente permanente no Brasil no caso de ausência ininterrupta do território nacional por período superior a dois anos. A Autoridade Consular poderá conceder novo VIPER ao estrangeiro que, tendo residido no Brasil na condição de permanente, dele se tenha ausentado por prazo superior a dois anos ininterruptos para, comprovadamente, realizar ou completar:

a) estudos universitários de graduação ou pós-graduação;

b) treinamento profissional;

c) atividade de pesquisa por entidade reconhecida pelo Ministério da

Ciência e Tecnologia; e

d) atividade profissional a serviço do Governo brasileiro.

CONCESSÃO DE VISTO DE RESIDÊNCIA TEMPORÁRIA PARA NACIONAIS DOS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL, BOLÍVIA E CHILE (DECRETO Nº 6.975, DE 7/10/2009) (VRT)

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O Visto de Residência Temporária para nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL, Bolívia e Chile será concedido diretamente pela Repartição Consular com jurisdição sobre o local de residência do estrangeiro.

O VRT terá validade de até dois anos. O pedido de VRT deverá ser acompanhado dos seguintes documentos, conforme Artigo 4º do Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, Bolívia e Chile:

a) passaporte válido;

b) certidão de nascimento e comprovante do estado civil e certidão de nacionalização ou naturalização, quando for o caso;

c) certidão negativa de antecedentes judiciais e penais e/ou policiais no país de origem ou nos que houver residido, ou documento equivalente, para os legalmente imputáveis;

d) declaração, sob as penas da lei, de ausência de antecedentes internacionais penais ou policiais, para os legalmente imputáveis.

3.5. ASILO POLÍTICO: CONCEITO, NATUREZA E DISCIPLINA.

O asilo consiste na proteção estatal dada ao indivíduo cuja vida, liberdade ou dignidade estejam ameaçadas pelas autoridades de outro Estado por perseguições de ordem política. O asilo poderá ser de dois tipos:

� Asilo diplomático: conhecido como extraterritorial, pois é a acolhida da pessoa em missões diplomáticas, navios de guerra e aeronaves militares. Trata-se de mera etapa anterior ao asilo definitivo, porém é mera expectativa de direito à concessão do asilo definitivo. Ainda, a perseguição precisa ser atual ou iminente. Para que o asilo diplomático se transforme em territorial o asilado precisa receber salvo conduto para sair do local protegido.

� Asilo territorial: conhecido como externo ou internacional, é o asilo perfeito e acabado no sentido de que o beneficiário foi acolhido no território estrangeiro.

OBS: não cabe asilo diplomático nos consulados.

OBS: a concessão de asilo é ato discricionário do Estado, pelo qual não existe direito individual ao asilo.

4. PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS.

O conceito de direitos humanos vem sofrendo ampliação no cenário internacional. Assim, na concepção moderna de direitos humanos significa o conjunto de direitos essenciais para que o ser humano seja tratado com dignidade entre a espécie humana sem qualquer distinção contanto com instrumentos de repressão ao excesso cometido pelos Estados infratores da norma jus cogem.

Grande parte da doutrina defende que os direitos humanos não necessitam ser positivados para serem reconhecidos como tal, pois o seu fundamento não está no ordenamento jurídico interno. Mas, é de grande valia a sua positivação interna para evitar a omissão estatal.

Entre tantas, apresentamos as principais características dos Direitos Humanos:

1) Universalidade: no sentido de ser um direito extensivo a todos da mesma espécie, sem distinção de sexo, raça, cor, origem, nacionalidade, idade, religião ou orientação sexual.

2) Transnacionalidade: sendo um direito pertencente a pessoa independentemente de sua nacionalidade incluindo os apátridas.

3) Indisponibilidade: são direitos que não podem ser afastados da pessoa humana, ainda que o destinatário queira.

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4) Inalienabilidade: a pessoa humana não pode vender, negociar, trocar ou conceder o seu direito na qualidade de pessoa humana.

5) Irrenunciabilidade: da mesma forma, não pode renunciar o seu direito para que seja cometido algum abuso de direito por outras pessoas.

6) Caráter não exaustivo: não há um rol elencando todos os direitos humanos, por isso é um rol exemplificativo e aberto, podendo sofrer mutações com a evolução dos conceitos internacionais e nacionais.

7) Indivisibilidade: não é possível fracionar o direito humano, pois é um conjunto de normas protetivas.

8) Historicidade: significando uma principal característica do direito humano a sua evolução e transmutação ao longo de anos numa relação complexa e difícil.

4.1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS.

A Declaração universal dos Direitos Humanos de 1948

Esse documento, em verdade, foi inicialmente idealizado pela Comunidade Internacional, no momento da assinatura da Carta das Nações Unidas, em São Francisco (1945), ocasião em que se comprometeu a promover o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais.

Desse modo, a CDH, com a missão de elaborar uma Carta Internacional de Direitos Humanos8, teve a Declaração com o primeiro documento a compô-la e sua proclamação em 10 de dezembro de 1948, em Paris, culminou na primeira iniciativa de se tentar traçar um padrão internacional de proteção aos direitos humanos.

Entretanto, importante se faz frisar que várias foram as divergências entre os países, em especial aos países do "Bloco Socialista", liderados pela ex-União Soviética, que discordavam por exemplo com a preponderância das "liberdades civis". Assim, a explicação para uma rápida adoção de tão importante documento deveu-se a seu caráter não obrigatório, posto que, diferentemente, dos tratados, convenções, pactos e acordos, as declarações não possuem força jurídica obrigatória.

Tradicionalmente, os direitos garantidos por esse documento são divididos em duas categorias:

1 - Os Direitos Civis e Políticos (arts. 3º a 21), que tratam da liberdade de pensamento, consciência, religião, opinião e expressão, movimento e residência, reunião e associação política, bem como os direitos a formar governo, a eleições legítimas com sufrágio universal e igual.

2 - Os Direitos Econômicos Sociais e Culturais (arts. 22 a 28), que tratam dos direitos ao trabalho, repouso, lazer e segurança social, e ainda à instrução e participação na vida cultural da comunidade.

4.2. DIREITOS CIVIS, POLÍTICOS, ECONÔMICOS E CULTURAIS.

Uma vez adotada a Declaração, estava então se formando um cenário internacional mais homogêneo para que a CDH pudesse elaborar os pactos, que inclusive implementassem um sistema de controle dos direitos já assegurados internacionalmente, sendo assim estes pactos considerados a complementação da Carta Internacional de Direitos Humanos.

Ao contrário da Declaração, o processo de elaboração dos Pactos foi bastante duradouro, estendeu-se por 20 (vinte) anos, além de 10 (dez) anos para sua entrada em vigor. Em linhas gerais, pode-se explicar tal fato pela essência organizacional dos Pactos para os Estados que a eles aderissem, o que culminou com uma série de discussões acerca de questões que mais refletiam uma disputa entre países de sistemas político-econômicos diversos.

Apesar de tantas divergências, os dias pactos internacionais foram finalmente adotados em 10 de dezembro de 1966, pela Assembleia Geral, sendo que suas 35 (trinta e cinco) ratificações, número mínimo para a vigência dos pactos, somente foram obtidas 10 (dez) anos depois.

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Assim, a entrada em vigor do Pacto Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais se deu em 03 de janeiro de 1976, e a partir de então os Estados-partes estavam obrigados a tomar medidas para o cumprimento dos direitos por tal pacto assegurados, como por exemplo: o direito ao trabalho, à remuneração justa; à educação; à livre associação; a um nível de vida adequado, entre outros.

Ademais, este pacto estabelece que os Estados -partes devem submeter relatórios periódicos ao Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC), dos quais trataremos no capítulo seguinte deste trabalho.

Alguns meses mais tarde, exatamente em 23 de março de 1976, inicia-se a vigência do Pacto dos Direitos Civis e Políticos. Por este pacto os Estados-partes estão obrigados a respeitar e assegurar os direitos de seus jurisdicionados, e ainda a adotar medidas legislativas para o real cumprimento das obrigações assumidas. Os principais direitos e liberdades assegurados pelo pacto são: direito à vida, a não ser submetido a tortura; de não ser escravizado; a uma nacionalidade; às liberdades de opinião e de expressão; de movimento, entre outros.

Por fim, diferentemente do Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o Pacto de Direitos Civis e Políticos tem como mecanismo de implementação o Comitê de Direitos Humanos, que os reporta ao ECOSOC (art. 40 e parágrafos).

4.3. MECANISMOS DE IMPLEMENTAÇÃO.

A adoção de inúmeros tratados de direitos humanos, tanto em defesa global quanto em regional, por quase a totalidade dos Estados do mundo, traduz-se em uma tendência progressiva ao reconhecimento, por parte das mais diversas nações, dos direitos humanos como universais e interdependentes.

É imperioso, porém, quando da adoção dos referidos tratados, que mecanismos de implementação eficazes estejam assegurados a fim de que as obrigações assumidas pelos Estados-partes de cada novo instrumento internacional sejam cumpridas.

Desde a Declaração Universal de 1948, coexistem diversos instrumentos de proteção estabelecendo regras de conteúdo material. Com o intuito de dar a esses textos proteção efetiva, criaram-se os órgãos com competência investigatória, consultiva ou jurisdicional. Recentemente vem-se, de forma gradual, atribuindo capacidade processual às vítimas.

Tal fato ocorre porque, dentre outros fatores, os direitos assegurados à pessoa humana independem da nacionalidade dos indivíduos, já que tais direitos são a todos dirigidos pela pura e simples qualidade de seres humanos que os é inerente. Logo, pode-se afirmar que “os indivíduos, em relação a tais documentos e às instituições, órgãos ou entidades encarregadas de protegê-los, não aparecem através de um Estado, mas sim ‘desnacionalizados’”.

No atual estágio de evolução dos mecanismos internacionais de proteção aos direitos humanos, as pessoas são titulares para exercer direitos diretamente no plano internacional, sendo-lhe inclusive atribuída capacidade processual para recorrer aos órgãos de supervisão internacional.

Entretanto, a evolução desses mecanismos trouxe a necessidade de se promover a harmonização dos dispositivos convencionais (internacionais) e internos (nacionais).

Via de regra, a harmonização se dá através das “cláusulas de compatibilização” contidas nos tratados, as quais fazem referência aos dispositivos constitucionais e leis ordinárias, o que significa dizer que os tratados assumem caráter subsidiário, na medida em que atribuem aos órgãos e procedimentos de direito público nacional a competência de primeiro conhecer da violação.

Ademais, os procedimentos internacionais não somente têm papel subsidiário, como também – e é ai que reside o maior óbice a sua implementação – são de caráter facultativo, posto que o reconhecimento da competência dos órgãos internacionais depende de ratificação da cláusula que os institui, fato ocorrido recentemente quando o Estado brasileiro finalmente reconheceu a jurisdição da corte Interamericana de Direitos Humanos.

Os Principais Mecanismos

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Os instrumentos internacionais, ainda que com certas peculiariedades, preveem mecanismos diversos de monitoramento dos direitos internacionalmente assegurados, dentre os quais se podem destacar: os relatórios; as comunicações interestatais, as petições individuais; e os procedimentos de investigação.

Os Relatórios

Os relatórios são os mais tradicionais mecanismos de monitoramento utilizados pelos órgãos internacionais criados por tratados. Sua origem remonta a extinta Liga das Nações que os adotava efetivamente para assegurar os direitos de povos dos antigos territórios coloniais ou protetorados.

Alguns anos foram necessários para que os tratados também determinassem que países independentes igualmente apresentassem relatórios. Assim, em meados dos anos 50, os relatórios passaram a ser requeridos de todos os países, ainda que de forma voluntária e geral. Somente mais tarde, por volta de 1965, que, pela adoção de convenções sobre violações específicas – a começar pela Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, em 1965 -, desenvolveu-se um sistema formal de apresentação de relatórios, especificando-se as obrigações dos Estados através dos instrumentos internacionais.

Desta feita, pode-se afirmar ainda que os relatórios são os mais importantes dos mecanismos, pelo simples fato de que são os propulsores dos demais mecanismos, uma vez que os subsidia com informações relevantes sobre a situação do Estado-parte.

O sistema de relatórios pode ser considerado um sistema de supervisão comum, de natureza especialmente não contenciosa e baseada no método do diálogo, previsto em diversos instrumentos internacionais que dispõem sobre o envio de relatórios periódicos aos órgãos de supervisão, que por sua vez têm a função de elaborar os seus relatórios, eventualmente utilizados como fonte de informações para tomada de decisões contra os Estados-partes.

Os relatórios devem ser elaborados pelo Estado-parte de dado tratado de direitos humanos, a fim de esclarecer de que forma o Estado tem promovido o cumprimento das obrigações assumidas quando da ratificação do instrumento. Ademais, devem conter as medidas administrativas, legislativas e judiciais adotadas pelo Estado.

As Comunicações Interestatais e as Petições Individuais.

Ainda são consideradas mecanismos de procedimento especial, generalizadamente denominados “comunicações”, têm característica “quase judicial”, uma vez que respeita o principio do devido processo legal, comportando inclusive requisitos formais e materiais de admissibilidade, como veremos a seguir, o que implica no fato do órgão supervisor ter a obrigação de dar às partes o direito de defesa.

Através das Comunicações Interestatais, um Estado-parte pode denunciar que outro Estado-parte violou direitos humanos enunciados em certo tratado. É um mecanismo previsto como cláusula facultativa e, portanto, requer que o Estado-parte expressamente declare a sua aceitação, como por exemplo dispõe o art. 45 da Convenção Americana.

Já pelas Petições Individuais (ou comunicações individuais), qualquer pessoa ou grupo de pessoas tem o direito de petição a organismos internacionais, desde que respeitados os requisitos de admissibilidade. Esse mecanismo também consta nos tratados em geral; como cláusula facultativa, à exceção do que determina o art. 44 da Convenção Americana de Direitos Humanos, o qual não exige o reconhecimento expresso do referido mecanismo.

Sobre as petições individuais, cabe ainda enfatizar que em princípio cabe ao reclamante/peticionário escolher qual o instrumento ou até mesmo organismo internacional mais favorável a seu caso, na hipótese de o mesmo direito ser protegido em esferas global e regional.

Procedimentos de Investigação

Estes podem ser procedimentos permanentes ou ad hoc. Tais procedimentos têm cabimento em situações de violação de direitos humanos particulares de um país ou território, podendo-se nomear

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relator especial sobre a situação de um país específico; ou até mesmo se referir a certas práticas que afetem um grande número de pessoas em mais de um país ou território.

A guisa de ilustração, por ocasião dos eventos ocorridos no Chile, durante o regime Pinochet, a Comissão de Direitos Humanos estabeleceu um Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre a situação dos direitos humanos naquele país, o que culminou em 1979 com a nomeação de um Relator Especial (Special Rapporteur) sobre a Situação de Direitos Humanos no Chile, tendo seu mandato sido expirado em 1990. Com intuito similar, a Comissão, em 1982, recomendou a nomeação de um Relator Especial em Execuções Sumárias e Arbitrárias, dado o enorme volume de casos de assassinatos, execuções sumárias, ocorridos em várias partes do mundo.

Acrescente-se que as investigações englobam visitas in loco; contratação de profissionais peritos em determinadas matérias (relatores especiais) a fim de avaliarem as denúncias, a oitiva de testemunhas e produção de provas em geral, e demais iniciativas necessárias.

Os Mecanismos Internacionais perante a ONU

Inicialmente, deve-se esclarecer que os mecanismos internacionais do sistema global são bastante complexos, podendo ser divididos em mecanismos convencionais (treaty based), uma vez que são previstos em certo tratado; e mecanismos extra-convencionais (Inon-treaty based), pois, apesar de não previstos em tratados, são utilizados para situações de violação de alto impacto perante a Comunidade Internacional, como uma forma de proporcionar tratamento especial a certos fatos, que podem ou não terem sido objeto de algum dos mecanismos convencionais.

Mecanismos Convencionais

Pelo sistema das Nações Unidas há órgãos que, criados por suas respectivas convenções, são competentes para receber petições ou comunicações de indivíduos vítimas de violações de direitos humanos. Tais órgãos foram criados com a função de monitorar as obrigações assumidas pelos Estados-partes. Como dito anteriormente, o sistema de petições é facultativo, o que significa afirmar que a mera ratificação do tratado não implica em aceitação desses mecanismos de controle pelo Estado.

De todos os órgãos, o Comitê de Direitos Humanos é o mais bem estruturado e experiente em receber petições individuais, razão do destaque dado a este órgão de monitoramento. Este Comitê foi criado pelo Protocolo facultativo de Pacto de Direitos Civis e Políticos, e é formado por 18 (dezoito) expertos os quais se reúnem ordinariamente três vezes ao ano.

O Protocolo prevê requisitos substanciais e formais para a admissibilidade da comunicação pelo Comitê. Quanto aos requisitos substanciais, o art. 1º do Protocolo determina que o Comitê é competente para receber petições de indivíduos vítimas de violações previstas no Pacto (direitos previstos nas parte II e III do citado instrumento, além da proibição de pena de morte, contido no Segundo Protocolo Facultativo, vigente a partir de 11 de julho de 1991). A comunicação poderá ainda ser submetida por um representante, na hipótese da vítima não poder fazê-lo por impedimentos diversos, tais como a alegação de seu desaparecimento. Acrescente-se que este representante deve ser um parente próximo, cabendo a este último provar a sua qualidade, constituindo-se este no primeiro requisito de admissibilidade da comunicação.

Além disso, somente os estados que hajam ratificado o Protocolo Facultativo podem ser sujeitos à denúncias levadas ao Comitê de Direitos Humanos. Quanto ao indivíduo que alega ser vítima de violação, este pode ser cidadão ou residente do Estado-parte, com tanto que esteja sob a jurisdição do referido Estado-parte do Protocolo no momento da denúncia.

Quanto aos direitos assegurados, não possuem efeito retroativo no que se refere às petições. Assim, uma denúncia/comunicação individual será declarada inadmissível se a mesma tiver ocorrido antes da vigência do Pacto e de seu Protocolo Facultativo pelo Estado-parte. Mas, se a violação for continuada, e parte dela houver ocorrido na vigência de tais instrumentos, o Comitê irá considerá-la admissível. Deve-se ainda observar, quando da aceitação da comunicação pelo Comitê, se o direito invocado segundo a Pacto não foi objeto de reserva quando da ratificação pelo Estado-parte.

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Ademais, o artigo 5 (2), prevê que o Comitê não poderá considerar comunicação, com mesmas partes e objeto, que esteja sendo apreciada por outro procedimento de investigação internacional, como a comissão Interamericana de Direitos Humanos, de âmbito regional.

Por fim, assim como outros órgãos internacionais de direitos humanos, o Comitê não pode aceitar comunicações antes que os recursos internos tenham sido esgotados (exhaustion of domestic remedies) ou que tais recursos tenham sido ineficazes ou injustificadamente prolongados.

Quanto aos requisitos formais, o Comitê de Direitos Humanos possui um modelo de petição para auxiliar aos peticionários, ainda que não seja obrigatório o seu uso. A petição deve conter as seguintes informações: a) nome, endereço, e nacionalidade da vítima e do autor, se diferentes; as razões que levam o autor a agir em nome da vítima, na hipótese de parente próximo; identificação do Estado contra o qual a denúncia é feita; os artigos do Pacto que se alega serem violados, procedimentos tomados em âmbito interno (espécie de histórico das fases processuais domésticas ocorridas); declaração de que o mesmo caso está ou não sendo apreciado por outro procedimento internacional regional ou global; uma descrição detalhada dos fatos como forma de fundamentação das alegações, incluindo-se datas mais importantes.

A petição deve ser encaminhada ao Comitê de Direitos Humanos, aos cuidados do Centro de Direitos Humanos da Sede das Nações Unidas em Genebra. Não deve ser anônima, podendo-se requerer ao Comitê que não revele o nome do autor e/ou vítima quando da publicação da decisão. Por fim, não há prazo específico para a submissão da petição ao Comitê.

O procedimento tem início com o recebimento da petição pelo Comitê. Em seguida um Special Rapporteur, membro do Comitê, é designado para obter maiores informações das partes sobre a petição recebida, até que esteja certo de que a petição preenche todos os requisitos preliminares de admissibilidade. O relator, então, transmite a petição ao Estado-parte denunciado, requerendo que se pronuncie sobre a veracidade dos fatos, dentro de um prazo, em regra, de dois meses, e ao autor é dada a oportunidade de tecer comentários a resposta do Estado.

No curso da apreciação dos requisitos de admissibilidade, o Comitê pode requerer ao Estado que tome medidas cautelares, como por exemplo o Comitê pode demandar que o Estado não aplique pena de morte contra a vítima. Essa medida não possui caráter compulsório, mas somente moral.

Uma vez declarada a petição admissível, pelo artigo 4 (2) do Protocolo o Estado tem seis meses para submeter explicações escritas, esclarecendo os fatos, ou mencionando as providências tomadas, se houver. Qualquer pronunciamento do estado é enviado ao autor o qual, por sua vez, tem seis semanas para oferecer informações adicionais ou observações.

Para este procedimento em particular predominam as informações escritas fornecidas pelas partes. Assim, inexistem previsões de oitiva das partes em audiência ou investigações in loco das denúncias. Ademais, ao contrário de muitos outros procedimentos internacionais, o Comitê não possui função de intermediador de possível conciliação (solução amistosa) entre as partes.

No que se refere a decisão, esta deve compreender a maioria de votos dos presentes, mas na prática tenta-se obter o consenso dos membros. Com o recebimento de todas as informações relevantes, o Comitê formula suas recomendações, as quais são enviadas às partes. É dada a devida publicidade dessas recomendações através de publicação, ao final de cada sessão, no Relatório Anual do Comitê para a Assembleia Geral.

Acrescente-se que as recomendações não são de caráter compulsório e, até recentemente, nenhuma sanção existe para os Estados que não a fazem cumprir. Na prática, o que se tem observado é que poucos Estados respondem positivamente às recomendações, informando sobre as medidas tomadas para remediar a situação.

Além do mecanismo previsto no Protocolo facultativo acima descrito, as convenções em geral preveem a criação de respectivos comitês de monitoramento através de comunicações interestatais e individuais, com procedimentos de admissibilidade e fases procedimentais semelhantes, ainda que cada qual tenha alguma peculiaridade.

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5. CONFLITOS INTERNACIONAIS.

Apenas conflitos entre entidades coletivas internacionais são significativos para o Direito Internacional. Não é qualquer conflito que interessa para o Direito Internacional, só os que possuem uma certa relevância política e jurídica. A Carta da ONU adota duas possibilidades: situação de conflito (o conflito ainda não se instaurou mas está em via de acontecer) e conflito propriamente dito (a guerra já começou).

A Assembleia Geral da ONU e o Conselho de Segurança conhecem os dois. Para eles, não importa se o conflito está em vias de acontecer ou se já está acontecendo. Hoje é possível prever as consequências de uma invasão armada em determinado país.

O Tribunal Internacional de Justiça só conhece o conflito, para ele não interessa indícios de que existe uma possibilidade de que um conflito pode acontecer. Como ele atua como Tribunal, só lhe interessa a guerra já deflagrada.

Em razão da gravidade pode ou não ameaçar a paz e a segurança internacionais. Quem define qual conflito ameaça a paz e a segurança internacionais é o Conselho de Segurança da ONU, que é formado, ao todo, por 15 países, sendo 5 permanentes e 10 rotativos, dois de cada continente. Esses 5 países que fazem parte do Conselho Permanente são os EUA, a Rússia, a China, a França e a Inglaterra. A diferenciação desses 5 países para os demais é que eles têm o poder de veto, assim, pode-se ter 14 votos a 1, se esse único voto for de um dos países que fazem parte do Conselho Permanente, a situação é vetada. É o Conselho de Segurança que define se o conflito merece ou não intervenção da ONU, razão pela qual a questão acaba ficando muito no aspecto jurídico. Isso faz com que a ONU perca a credibilidade que tinha no âmbito internacional, quando de sua criação.

5.1. MEIOS DE SOLUÇÃO: DIPLOMÁTICOS E JURISDICIONAIS.

Meios Diplomáticos

Negociação: canais diplomáticos convencionais. É o primeiro e mais simples meio diplomático de resolução pacífica de controvérsias internacionais, além de ser o mais comumente utilizado no contencioso interestatal. Consiste no entendimento direto que chegam os Estados em relação ao conflito existente, manifestado por meio de comunicação diplomática. Este meio de solução pacífica de controvérsias internacionais poderá assumir a forma de negociações bilaterais (entre dois sujeitos de Direito Internacional Público) ou de negociações multilaterais (entre três ou mais sujeitos de Direito Internacional Público), ocorrendo, normalmente, durante as sessões de conferências ou congressos internacionais. Quase sempre há a renúncia da pretensão de um dos Estados, ou o reconhecimento por parte de um deles do direito reclamado pelo outro. Não se descarta também a transação, que consiste no estabelecimento de concessões mútuas entre as partes. As negociações têm como característica fundamental o fato de estarem revestidas de grande informalidade, podendo se dar a qualquer tempo durante o período do conflito.

Inquérito: forma-se uma comissão de pessoas que têm por encargo apurar os fatos ocorridos entre as partes, preparando-as para o ingresso num dos meios de solução pacífica de controvérsias internacionais, implicando o dever dos Estados em suportar a presença de pessoas ou comissões em seus territórios, bem como o dever de fornecer-lhes os dados necessários ao bom termo das investigações. É sempre preliminar aos outros meios de solução pacífica de controvérsias.

Bons ofícios: aproximação de um terceiro Estado que tenta pacificar o conflito. Pelos bons ofícios determinado terceiro oferece sua colaboração com vistas a resolver determinada controvérsia internacional entre dois ou mais Estados ou organizações internacionais. Esse terceiro se limita a aproximar as partes e proporcioná-las um campo neutro de negociação internacional, sem tomar partido na contenda e sem se intrometer das discussões entre ambas.

Mediação: um terceiro Estado entra nas negociações e pode até apresentar solução. A mediação difere dos bons ofícios por ser mais extensa do que aquele, iniciando com o processo de aproximação das partes e terminando com a solução proposta.

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Conciliação: uma comissão independente examina o conflito e propõe solução. Caracteriza-se em não ter apenas um conciliador, como ocorre na mediação, mas uma comissão de conciliadores, composta por representantes dos Estados envolvidos no litígio e também de pessoas neutras ao conflito. O grupo de conciliadores não é formado por pessoas necessariamente neutras ao litígio. Esse grupo de pessoas emite, ao final, um parecer ou relatório propondo a solução do conflito pelos termos que decidiram por maioria de votos. Contudo, tal relatório não tem força vinculante para as partes e só será observado quando ambas assim desejarem.

Meios Jurisdicionais (Permanentes e temporários) Os mecanismos judiciais de solução de controvérsias são aqueles que funcionam por

meio de órgãos jurisdicionais em regra pré-existentes e permanentes, representado pelas cortes e os tribunais internacionais.

As concepções antigas de soberania constituem óbice evidente para tomar viáveis iniciativas voltadas a criar órgãos jurisdicionais internacionais capazes de efetivamente influenciar as relações internacionais. Com isso, a prática revela que ainda são relativamente poucas as cortes internacionais, as quais contam, ademais, com poderes muito limitados, dentre os quais destacamos a Corte Internacional de Justiça (CIJ) e o Tribunal Penal Internacional (TPI).

No atual estágio da sociedade internacional, a maioria das cortes internacionais só pode atuar com o consentimento expresso dos Estados, evidenciado quando estes criam tais órgãos, por meio de tratados ou quando o ente estatal concorda em se submeter a processo nesses foros, o que ocorre por disposição de ato internacional, em cada conflito específico ou em de-corrência da adoção de cláusulas de aceitação de competência contenciosa, a partir das quais o Estado fica sujeito a ser réu em processos em tribunais internacionais, ainda que contra sua vontade. Os meios jurisdicionais de solução de controvérsias internacionais diferenciam-se, portanto, dos juízes e tribunais nacionais, aos quais todas as pessoas que se encontram em um Estado devem sempre se submeter, ainda que contra a sua vontade.

Os tribunais internacionais normalmente são criados por tratados, que regulam seu funcionamento e suas hipóteses de atuação. Em geral, são dotados de certo grau de institucionalização e são permanentes.

Arbitragem: Tribunal ad hoc (temporário – se reúne quando necessário e, uma vez proferida a decisão, ele se dissolve). Na decisão judicial o Tribunal é permanente e julga bom base na legalidade estrita e segue rito processual. A Corte Interamericana de Direitos Humanos não é Tribunal temporário, mas funciona em estrutura permanente, tem tratado que determina qual o rito de processamento das ações.

Os tribunais judiciais internacionais têm sua composição fixa e previamente estabelecida para a resolução de conflitos internacionais, o que não ocorre com a arbitragem, cuja formação do tribunal é específica para determinado caso concreto.

Em linhas gerais, a arbitragem internacional consiste na criação de um tribunal formado por árbitros de vários Estados, escolhidos pelos litigantes por sua notória especialidade na matéria envolvida e baseado no respeito ao direito, geralmente por meio de um compromisso arbitral em que as partes já estabelecem as regras a serem seguidas e aceitam a decisão que vier a ser tomada. Tem como fundamento o consentimento das partes.

5.2. CORTES INTERNACIONAIS.

A Corte Internacional de Justiça (CIJ) foi criada em 1945 e sucedeu a Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJT). É sediada na Haia (Holanda) e é regida pelo Estatuto da Corte Internacional de Justiça. A CIJ é o principal órgão jurisdicional da ONU e é competente para conhecer de conflitos entre Estados relativos a qualquer tema de Direito Internacional. A CIJ é formada por quinze juízes, eleitos pela Assembléia-Geral e pelo Conselho de Segurança da ONU, em votação na qual não pode haver veto, para mandadtos de nove anos, com direito a reeleição. Os magistrados da Corte serão escolhidos não segundo um critério de repartição geográfica ou de nacionalidade, mas de representatividade dos principais sistemas jurídicos mundiais. Não deve haver porém, mais de um juiz da mesma nacionalidade. Cabe destacar que os Estados evolvidos em processos na Corte têm direito a indicar um magistrado ad hoc de -nacionalidade para atuar no feito quando não houver um juiz que seja seu nacional.

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A CIJ tem competência contenciosa e consultiva. No exercício da competência contenciosa, julga litígios entre Estados, examinando processos que resultam numa sentença e atuando, portanto, de forma semelhante aos órgãos jurisdicionais internos. Na competência consultiva, emite pareceres, que só podem ser solicitados pela Assembleia-Geral e pelo Conselho de Segurança de ONU, bem como por outros órgãos das Nações Unidas e entidades especializadas. Tais pareceres, em princípio, não são vinculantes, embora possam vir sê-lo, caso as partes que o solicitem assim o convencionem.

Portanto, pessoas naturais, empresas e ONG’s não podem ser partes na CIJ, nem como autores nem como réus. Igualmente, a Carta da ONU e o Estatuto da CIJ não autorizam os Estados a solicitarem pareceres à Corte.

Acompanhando a regra geral referente aos órgãos jurisdicionais internacionais a CIJ não tem competência automática sobre os Estados. Nesse sentido, o ente estatal, ainda que seja parte do Estatuto da CIJ, só pode ser obrigado a se submeter a processo na Corte com seu consentimento, que pode ser manifestado de quatro maneiras: previsão em tratado de submissão de um conflito à CIJ; decisão voluntária das partes envolvidas em um litígio de submetê-lo à Corte, por meio de um acordo denominado compromisso; aceitação de jurisdição da CIJ em processo proposto por outro Estado; e declaração de submissão à competência contenciosa da Corte, pela qual o Estado fica, a partir desse ato, sujeito a ser réu em processo nesse órgão independentemente de novo consentimento posterior. Tal declaração, chamada cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, pode ser feita a qualquer tempo. O Brasil ainda não aceitou a cláusula facultativa de jurisdição obrigatória da CIJ.

O processo pode incluir medidas cautelares e é público, ao final, a deliberação acerca da sentença é feita por maioria de votos dos Magistrados da Corte, admitindo-se opiniões dissidentes, no todo ou em parte. A sentença é definitiva e obrigatória e deve ser cumprida de boa-fé. Nesse sentido, seu descumprimento enseja a responsabilidade internacional do violador e a possibilidade de ação do próprio Conselho de Segurança da ONU para garantir sua execução, seja por meio de recomendações, seja por outras medidas. Apesar de a sentença ser inapelável, são admitidos pedidos de esclarecimento. É possível, também, a revisão da sentença, mas apenas depois de pelo menos dez anos e diante de fato novo.

6. DOMÍNIO PÚBLICO INTERNACIONAL: MAR; ÁGUAS INTERIORES; MAR TERRITORIAL; ZONA CONTÍGUA; ZONA ECONÔMICA; PLATAFORMA CONTINENTAL; ALTO-MAR; RIOS INTERNACIONAIS; ESPAÇO AÉREO; NORMAS CONVENCIONAIS; NACIONALIDADE DAS AERONAVES; ESPAÇO EXTRA-ATMOSFÉRICO.

Direito do Mar

O principal tratado referente ao mar é a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Convenção de Montego Bay4) e a Lei nº 8.617/93 que dispõe sobre o mar territorial, a zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental.

Mar territorial

É a zona marítima adjacente ao território do Estado com largura de até 12 milhas marítimas, conforme a Convenção de Montego Bay e art. 1º da Lei 8.617/93.

Art. 1º O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala,

4 DECRETO Nº 1.530, DE 22 DE JUNHO DE 1995 Declara a entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,concluída em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo nº 5, de 9 de novembro de 1987 , a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, concluída em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982; Considerando que o Governo brasileiro ratificou a referida Convenção em 22 de dezembro de 1988; DECRETA: Art. 1º Fica declarado que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, concluída em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982, entrou em vigor internacional e para o Brasil em 16 de novembro de 1994, de conformidade com o seu art. 308, parágrafo 1.

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reconhecidas oficialmente no Brasil.

Nesta faixa limitada, o Estado exerce soberania estatal relativa, pois é previsto o instituto da passagem inocente, caracterizado como sendo navegação pelo mar territorial com o fim de atravessá-lo sem penetrar nas águas interiores, sem fazer escalas ou instalação portuária.

De acordo com o art. 27 da Convenção de Montego Bay o Estado costeiro não exercerá sua jurisdição penal a bordo de navio estrangeiro que passe (passagem inocente) por seu mar territorial, salvo nos seguintes casos:

ARTIGO 27 Jurisdição penal a bordo de navio estrangeiro

1. A jurisdição penal do Estado costeiro não será exercida a bordo de navio estrangeiro que passe pelo mar territorial com o fim de deter qualquer pessoa ou de realizar qualquer investigação, com relação à infração criminal cometida a bordo desse navio durante a sua passagem, salvo nos seguintes casos:

a) se a infração criminal tiver consequências para o Estado costeiro;

b) se a infração criminal for de tal natureza que possa perturbar a paz do país ou a ordem no mar territorial;

c) se a assistência das autoridades locais tiver sido solicitada pelo capitão do navio ou pelo representante diplomático ou funcionário consular do Estado de bandeira; ou

d) se essas medidas forem necessárias para a repressão do tráfico ilícito de estupefacientes ou de substâncias psicotrópicas.

Mas, caso não se configure a passagem inocente haverá aplicação da lei penal brasileira no mar territorial conforme preconiza o art. 5º, §2º do CP.

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

§ 2º - É também aplicável à lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

OBS: os navios de guerra ou os navios não comerciais utilizados pelo Estado gozarão de imunidade de jurisdição. No entanto, a sua saída do mar territorial poderá ser exigida pelo Estado costeiro diante de sua soberania.

Zona contígua

É a área adjacente ao mar territorial na qual o Estado exerce poder de fiscalização necessária para evitar infração a leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração e sanitários.

Possui extensão máxima de 24 milhas marítimas contados da linha de base que serve também para medir a largura do mar territorial.

No entanto, a zona contígua brasileira compreende uma faixa que inicia em 12 milhas e vai até 24 milhas da linha base.

Art. 4º A zona contígua brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às vinte e quatro milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.

Art. 5º Na zona contígua, o Brasil poderá tomar as medidas de fiscalização necessárias para:

I - evitar as infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de

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imigração ou sanitários, no seu território, ou no seu mar territorial;

II - reprimir as infrações às leis e aos regulamentos, no seu território ou no seu mar territorial.

Plataforma continental

O conceito de plataforma continental está no art. 11 da Lei 8.617/93:

Art. 11. A plataforma continental do Brasil compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância.

Na plataforma continental o Estado costeiro exerce direitos de soberania para efeitos de exploração e aproveitamento de seus recursos naturais. Esse direito é exclusivo de forma que a não exploração desses recursos pelo Estado costeiro não implica autoriza outro Estado a fazê-la.

Porém, a Convenção de Montego Bay possibilita que a plataforma continental possa estender-se até 350 milhas agregando mais 150 milhas as 200 já fixadas, conforme o seu art. 76.

ARTIGO 76 Definição da Plataforma Continental

1. A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, até ao bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância.

2. A plataforma continental de um Estado costeiro não se deve estender além dos limites previstos nos parágrafos 4º e 6º.

4. a) para os fins da presente Convenção, o Estado costeiro deve estabelecer o bordo exterior da margem continental, quando essa margem se estender além das 200 milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar territorial, por meio de:

i) uma linha traçada de conformidade com o parágrafo 7º, com referência aos pontos fixos mais exteriores em cada um dos quais a espessura das rochas sedimentares seja pelo menos 1% da distância mais curta entre esse ponto e o pé do talude continental; ou

ii) uma linha traçada de conformidade com o parágrafo 7º, com referência a pontos fixos situados a não mais de 60 milhas marítimas do pé do talude continental.

b) Salvo prova em contrário, o pé do talude continental deve ser determinado como ponto de variação máxima do gradiente na sua base.

5. Os pontos fixos que constituem a linha dos limites exteriores da plataforma continental no leito do mar, traçada de conformidade com as sub-alíneas i) e ii) da alínea a) do parágrafo 4º, devem estar situadas a uma distância que não exceda 350 milhas marítimas da linha de base a partir da qual se mede a largura do mar territorial ou a uma distância que não exceda 100 milhas marítimas da isóbata de 2500 metros, que é uma linha que une profundidades de 2500 metros.

6. Não obstante as disposições do parágrafo 5º, no caso das cristas

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submarinas, o limite exterior da plataforma continental não deve exceder 350 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial. O presente parágrafo não se aplica a elevações submarinas que sejam componentes naturais da margem continental, tais como os seus planaltos, elevações continentais, topes, bancos e esporões.

Zona econômica exclusiva

Na zona econômica exclusiva o Estado é soberano para a exploração, aproveitamento, conservação e gestão de recursos naturais assim como, também, sobre pesquisa científica, proteção e preservação do meio ambiente. Ainda, pode nesta faixa tem soberania na construção, operação e o uso de todos os tipos de ilhas artificiais, instalação e estruturas.

Art. 6º A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.

Art. 7º Na zona econômica exclusiva, o Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos.

Alto mar

É a área que não pertence a nenhum Estado, cuja exploração deve ser feita em benefício da humanidade em geral.

Admite-se seu uso apenas para fins pacíficos. Embora nenhum Estado detém soberania sobre o alto mar, há deveres fixados na Convenção de Montego Bay dentre os quais:

Art. 98 Dever de prestar assistência

Art. 99 Proibição do transporte de escravos

Art. 100 Dever de cooperar na repressão da pirataria

Art. 108 Tráfico ilícito de estupefacientes e substâncias psicotrópicas

Espaço Aéreo

O Estado exerce soberania em todo o seu espaço aéreo, inclusive sobre o mar territorial. Não há o instituto da passagem inocente no que tange ao espaço aéreo, trata-se de soberania absoluta.

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Entretanto, a Convenção sobre Aviação Civil Internacional – Convenção de Chicago permite que os Estados-partes sobrevoe em outros Estados-partes sem fazer escalas, ou fazendo escalas apenas para fins não comerciais, sem a necessidade de obter licença prévia.

Posteriormente foi aprovado um protocolo modificando a Convenção de Chicago para determinar que, em caso de interceptação, a vida dos ocupantes da aeronave e a segurança do equipamento não sejam postas em perigo. Mas, isso não exclui a soberania do Estado em ordenar o pouso dessa aeronave.

Na Convenção de Chicago foi criado a Organização da Aviação Civil Internacional – ICAO, com sede em Montreal (Canadá) como órgão responsável da aplicação das leis internacionais relativos a aviação civil e, também, pela uniformização das regras em relação a aeronáutica.

Tráfego Aéreo

O tráfego aéreo tem seu funcionamento regulado pelas cinco liberdades que foram divididas em dois tipos, quais sejam:

Liberdades técnicas

� Liberdade de sobrevoo: sem escala no território de um ente estatal. No entanto, poderá haver restrições em certas áreas e a definição de determinadas rotas.

� Liberdade de escala técnica: sem fins comerciais ou em caso de urgência.

OBS: essas duas liberdades técnicas são abertas a todos os estados-partes da Convenção de Chicago dispensando nova autorização especial do Estado sobrevoado.

Liberdades comerciais

� Liberdade de desembarcar passageiros e mercadorias procedentes do Estado de origem da aeronave.

� Liberdade de embarcar passageiros e mercadorias com destino ao Estado de origem da aeronave.

� Liberdade de embarcar e desembarcar passageiros e mercadorias procedentes ou com destino a terceiros países.

Espaço extra-atmosférico

A regulamentação desse espaço teve origem em dois fatos importantes: o primeiro satélite artificial sputnik em 1957 pela URSS e o pouso na lua em 1969 pelos EUA.

O principal instrumento internacional é o Tratado sobre princípios reguladores das atividades dos Estados na exploração e uso do espaço cósmico, inclusive a lua e demais corpos celestes, assinado em 1967 e promulgado no Brasil pelo Decreto 64.362/69.

Suas principais características regulamentadoras sobre o espaço extra-atmosférico:

� É de acesso livre

� Insuscetível de apropriação ou anexação por qualquer Estado

� Sua investigação e exploração deve ser para fins pacíficos

� A migração espacial e as causalidades do retorno não alteram a propriedade e responsabilidade pelo país que fabricou o engenho.

� Não é permitido pôr em órbita artefatos com armas nucleares ou de destruição em massa.

� Não pode construir bases militares ou fazem manobras militares

� Os Estados que lancem objetos espaciais responderão de forma objetiva pelos danos causados por esses artefatos.

Cronologicamente, temos diversos tratados que regulamentam situações ligadas ao espaço extra-atmosférico.

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a) Tratado sobre espaço exterior, de 1967, na ONU, que prescreve a liberdade do espaço extra-atmosférico e dos corpos celestes

b) Acordo sobre recolhimento de Astronautas, em 1968, na ONU.

c) Convenção sobre a responsabilidade pelos danos causados por engenhos espaciais, de 1972, na ONU.

d) Convenção sobre registro Internacional se objetos lançados no espaço exterior, em 1975, na ONU.

e) Convenção sobre as atividades dos Estados na Lua e em outros corpos celestes (Tratado da Lua), de 1979.