direito eleitoral - material de estudo, resumo

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por Vanessa Maria Feletti DIREITO ELEITORAL 1

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Direito Eleitoral, material de estudo - resumo. Elaborado especificamente para concursos e, mais especificamente, para o concurso de Procurador da República - Ministério Público Federal.

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por Vanessa Maria Feletti

DIREITO ELEITORAL

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por Vanessa Maria Feletti

SUMÁRIO

Ponto 1.a. Alistamento eleitoral e voto. 4

Ponto 1.b. Domicílio eleitoral. Conceito, transferência e prazos. 16

Ponto 1.c. Perda ou suspensão dos direitos políticos. 22

Ponto 2.a. Voto universal, direto e secreto.

Ponto 2.b. Nacionalidade e Cidadania. Direitos políticos. Cargos privativos de brasileiro nato. 36

Ponto 2.c. Plebiscito e referendo. Iniciativa popular. 42

Ponto 3.a. Seções, zonas e circunscrições eleitorais. 46

Ponto 3.b. Fraude no alistamento eleitoral e revisão do eleitorado. 48

Ponto 3.c. Votação. Voto eletrônico. Mesas receptoras. Fiscalização 51

Ponto 4.a. Jurisdição e Competência. Peculiaridades da Justiça Eleitoral. Consultas, instruções, administração e contencioso. 57

Ponto 4.b. Juntas, Juízes e Tribunais Regionais Eleitorais. Tribunal Superior Eleitoral. 60

Ponto 4.c. Recursos Eleitorais. 66

Ponto 5.a. Inelegibilidades constitucionais e infraconstitucionais. LC 135/2010. 72

Ponto 5.b. Propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Direito de resposta. Pesquisas e testes pré-eleitorais. 92

Ponto 5.c. Registro de candidaturas. Impugnação. Legitimidade. 97

Ponto 6.a. Propaganda eleitoral em geral. Início. Bens públicos e bens particulares. Símbolos e imagens semelhantes às de órgãos do governo. 108

Ponto 6.b. Condições de elegibilidade. 118

Ponto 6.c: Abuso do Poder Econômico, Político e dos Meios de Comunicação Social. Ação de investigação judicial eleitoral. 121

Ponto 7.a. Propaganda eleitoral na imprensa, na internet e mediante outdoors. Comícios.

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Alto-falantes e distribuição de material de propaganda política. Distribuição proporcional de horários gratuitos pelos meios de comunicação audiovisuais. 126

Ponto 7.b. Recurso contra a Diplomação. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. 132

Ponto 7.c. Condutas vedadas aos agentes públicos nas campanhas eleitorais. Captação ilícita de sufrágio. 141

Ponto 8.a. Partidos Políticos. Princípios constitucionais a serem observados na sua criação. Vedações. Fusão e incorporação. 148

Ponto 8.b. Personalidade jurídica dos Partidos Políticos. Registro e funcionamento. Estatutos. Fundo Partidário. Propaganda partidária. 152

Ponto 8.c. Autonomia dos Partidos Políticos. Normas de fidelidade e disciplina partidárias. 157

Ponto 9.a. Crimes eleitorais. Jurisdição e competência. 161

Ponto 9.b. Natureza e tipicidade dos crimes eleitorais. Bem jurídico protegido. Código Eleitoral e legislação esparsa. 166

Ponto 9.c. Ação penal. Propositura. Titularidade. Processo e julgamento. Recursos. 173

Ponto 10.a. A função eleitoral do Ministério Público Federal. Procuradoria Regional Eleitoral. Ministério Público Estadual. 181

Ponto 10.b. A atuação do Ministério Público Eleitoral junto à Justiça Eleitoral. Fiscalização, processos, ações e recursos. Legitimidade. 184

Ponto 10.c. Financiamento de campanhas. Fiscalização. Ações. 189

Ponto extra: Minirreforma Eleitoral: estudo do GENAFE.195

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Ponto 1.a. Alistamento eleitoral e voto.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Direito Eleitoral do José Jairo Gomes, 8ª ed. Ed. Atlas, 2012; Aula de Direito Eleitoral do Curso Alcance. Roberto Almeida, 2013.

Legislação básica: CF, art. 14,§1º, I,II; §2º; CE art.42; Res. TSE no. 21.538/2003

Consideração inicial: o domicílio eleitoral, local em que será feito o alistamento, não se confunde com o domicílio civil, pois o domicílio eleitoral é caracterizado quando a pessoa, mesmo não residindo no local com ânimo definitivo, com ele mantenha vínculos de natureza meramente afetiva, social, econômica ou política.

1. CONCEITO: É a primeira fase do processo eleitoral e decorre de um procedimento cartorário que se perfaz pelo preenchimento do requerimento eleitoral (RAE), na forma da Resolução TRE 21.538/2003. Consiste no reconhecimento da condição de eleitor (que é cidadão), que corresponde à aquisição da cidadania, determinando a inclusão do nome do alistando no corpo eleitoral [a partir do alistamento terá capacidade eleitoral ativa]. Formaliza, portanto, a inscrição eleitoral, para que possa ser exercida a obrigação ou a faculdade do voto. A qualificação resume-se à comprovação de que o indivíduo atende a todos os requisitos legais para se alistar e votar. De outra banda, a inscrição resume-se no registro do nome e dados do eleitor perante a Justiça Eleitoral. O processo de alistamento é iniciado por requerimento do interessado. O rígido controle sobre o processo de alistamento justifica-se por ser esse ato o primeiro componente do sistema eleitoral, e eventuais fraudes verificadas nessa fase podem comprometer a lisura do futuro pleito. Naqueles casos em que o voto é obrigatório (alfabetizados, entre 18 e 70 anos), o requerimento de inscrição constitui-se em dever. O pedido deve ser feito dentro de um ano, a contar do atingimento da idade mínima, ou da nacionalização, sob pena de multa (3 a 10% do salário-mínimo do valor utilizado como base de calculo – art. 80 e 85 CE). O artigo 8º do CE, que disciplina essa multa, diz ela será imposta pelo juiz e cobrada no ato da inscrição eleitoral. Por outro lado, não se aplicará a pena ao não alistado que requerer sua inscrição eleitoral até o centésimo primeiro 151 º dia anterior à eleição subsequente à data em que completar dezenove anos.

Natureza Jurídica: segundo Marlon Reis, o alistamento tem natureza jurídica de ato jurídico complexo, integrado por duas fases: a) verificação do preenchimento das condições constitucionais e legais para votar (qualificação) e b) também a inscrição no cadastro eleitoral. Na verdade quando se ressalta o caráter declaratório do alistamento está se fazendo referencia ao fato de que a justiça eleitoral somente verifica a existência ou não destes requisitos (ato vinculativo) gerando assim um caráter meramente declaratório (item a), quando, na verdade, também é ato constitutivo da inscrição do eleitor no cadastro da justiça eleitoral, gerando por consequência também a aquisição de sua capacidade eleitoral ativa, conforme item “b” acima. Então é possível afirmar que possui natureza constitutiva da capacidade eleitoral ativa (direito de votar) e da cidadania do nacional[1].

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Considerações genéricas sobre o título eleitoral: documento solene e formal que expressa a cidadania brasileira; faz prova até a data de sua emissão que o eleitor está regular com a Justiça Eleitoral; a emissão do título deve ser feita por computador (obrigatoriamente), sendo assinado pelo juiz eleitoral, contendo a assinatura do eleitor para fins de conferência na folha de votação que fica, no dia das eleições, nas seções eleitorais. No caso do eleitor analfabeto, obviamente, poderá constar a impressão digital de seu polegar; nas hipóteses de alistamento, transferência, revisão e segunda via, a data de emissão do título será a de preenchimento do requerimento; a entrega do título é sempre pessoal, através de comprovação de documento oficial de identidade do eleitor.

Note-se que o alistamento eleitoral não possibilita o exercício de todos os direitos políticos, uma vez que a obtenção da capacidade eleitoral passiva depende do preenchimento de outros requisitos constitucionalmente previstos e se dá de forma progressiva no tempo. Entretanto, não é possível afirmar a existência de graus de cidadania. Acerca desta questão, confira o seguinte trecho extraído da obra de José Afonso da Silva, in verbis: (...) Neste caso, podemos admitir que a aquisição dos direitos políticos se opera por graus, apenas para denotar o fato de que a plenitude de sua titularidade se opera por etapas: (1) aos 16 anos de idade, o nacional já pode alistar-se tornando-se titular do direito de votar; (2) aos 18 anos, é obrigado a alistar-se tornando-se titular do direito de votar, se não o fizera aos 16, e do direito de ser eleito Vereador; (3) aos 21 anos, o cidadão (nacional eleitor) incorpora o direito de ser votado para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Deputado Distrital (Distrito Federal), Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; (4) aos 30 anos, obtém a possibilidade de ser eleito para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; (5) finalmente, aos 35 anos o cidadão chega ao ápice da cidadania formal com o direito de ser votado para Presidente e Vice-Presidente da República e para Senador Federal (art. 14, § 3°)[2].

2. LOCAL: Via de regra, o alistamento realiza-se no cartório eleitoral. A legislação também admite o deslocamento do juiz eleitoral a outro local, dentro de sua jurisdição, para receber os pedidos de alistamento (artigo 43 do CE). Essa mobilidade funcional somente é permitida aos juízes eleitorais, e nunca aos funcionários da Justiça. No caso de eleitores cegos, o artigo 50 do CE ordena que o juiz eleitoral se desloque até o respectivo estabelecimento de proteção, em data previamente fixada, para alistá-los. O eleitor ficará inscrito em determinada Zona Eleitoral, a qual é verificada conforme o domicílio eleitoral

3. PRINCIPAIS EFEITOS: - permite determinar a condição do eleitor: Sua condição, portanto, não fica sujeita a apuração e discussão no momento do exercício do voto. Essa condição de eleitor persiste até que sobrevenha decisão judicial declaratória do cancelamento ou da exclusão; - forma os dados numéricos do alistamento, necessários para a fixação do número de representantes nas eleições proporcionais; - oferece maior comodidade ao cumprimento do dever do voto, na medida em que estabelece a permanente vinculação do eleitor a uma determinada seção eleitoral (46, §3º, CE). A seção é a menor unidade da estrutura eleitoral, composta do conjunto de votantes com proximidade domiciliar. Nas capitais, as seções são constituídas de até 500 400 eleitores, e nos demais municípios, até 400 300; - delimita o termo inicial da incorporação do eleitor ao corpo eleitoral da circunscrição, para que nela possa concorrer a cargos eletivos. Essa

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consequência decorre da exigência de domicílio eleitoral como requisito à elegibilidade.

4. REQUISITOS: Predomina, como regra geral, a obrigatoriedade do alistamento dos maiores de 18 anos.

ALISTÁVEIS FACULTATIVOS: O alistamento é facultativo para: a) analfabetos; b) maiores de 70 anos; c) maiores de 16 e menores de 18 anos. OBS: o analfabeto que venha a ser alfabetizado não está sujeito à multa prevista no artigo 15 da Resolução TSE n° 21.538/2003, caso não efetue o alistamento eleitoral no prazo legalmente fixado. OBS: Pontos do CE não recepcionados: os inválidos (CE) e para aqueles que se encontrem fora do país. Estas disposições, contudo, não foram recepcionadas pela Constituição Federal de 1988. Como consignado no item acima, alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os relativamente incapazes em decorrência de deficiência mental e excepcionais, ressalvada a possibilidade de a pessoa portadora de deficiência que torne impossível ou demasiadamente oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais requerer ao juiz eleitoral a expedição de certidão de quitação eleitoral, com prazo de validade indeterminado. Quanto àqueles que se encontrem fora do país, a obrigação de alistamento eleitoral e do voto pode ser cumprida por meio das representações diplomáticas ou consulares. OBS: É permitido o alistamento de pessoa com 15 anos? Os menores entre 16 e 18 anos incompletos (CF), o artigo 14 Resolução TSE n° 21.538/2003 faculta o alistamento, no ano em que se realizarem as eleições, do menor que completar 16 anos até a data do pleito, inclusive. Ressalte-se que o título de eleitor emitido nesta condição somente produzirá efeitos com o implemento da idade de 16 anos.

INALISTÁVEIS: O alistamento é vedado para: a) estrangeiros; b) conscritos; c) os que tenham perdido os direitos políticos em razão de cancelamento de naturalização por sentença transitada em julgado, por prática de atividade nociva ao interesse nacional; d) os que tenham perdido os direitos políticos em razão de aquisição de outra nacionalidade voluntária, salvo nos casos de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira ou de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; e) os que tenham seus direitos políticos suspensos nos casos de: incapacidade civil absoluta; condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem os seus efeitos; recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa; improbidade administrativa. OBS: Pontos do CE não recepcionados: os que não saibam exprimir-se na língua nacional (previsão do artigo 5, II, do Código Eleitoral - Pela jurisprudência do TSE, esta exigência não foi recepcionada, sob o argumento de que “Vedado impor qualquer empecilho ao alistamento eleitoral que não esteja previsto na Lei Maior, por caracterizar restrição indevida a direito político, há que afirmar a inexigibilidade de fluência da língua pátria para que o indígena ainda sob tutela e o brasileiro possam alistar-se eleitores”); OBS: Conforme ensina José Jairo Gomes, embora a Constituição Federal seja silente, os apátridas também não podem ser inscritos como eleitores[3]. OBS: Ante a possibilidade de o conscrito ter realizado seu alistamento eleitoral antes de ser incorporado ao serviço militar (já que é facultado o alistamento eleitoral do maior de 16 e menor de 18 anos), o TSE entendeu que o conscrito deve ser impedido de votar, por estar com seus direitos políticos suspensos durante o período de serviço militar obrigatório,

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embora esta causa de suspensão não esteja elencada no artigo 15 da Constituição Federal (Resolução TSE n° 20.165, de 7 de abril de 1998).

Estando o alistando dentro do rol dos obrigatórios ou facultativos, é iniciado o processo, que compreende a qualificação e a inscrição (42 do CE).

A qualificação é o ato por meio do qual o indivíduo fornece suas informações pessoais. Para alistar-se, o alistando deve apresentar-se em um Cartório Eleitoral ou local previamente designado e fornecer as informações necessárias ao preenchimento do Requerimento de Alistamento Eleitoral – RAE[4].

O requerimento será instruído com um dos seguintes documentos, que não poderão ser supridos mediante justificação (artigo 44 do CE): I - carteira de identidade expedida pelo órgão competente do Distrito Federal ou dos Estados; II - certificado de quitação do serviço militar[5]; III - certidão de nascimento ou de casamento extraída do Registro Civil; IV - instrumento público do qual se infira, por direito ter o requerente idade superior a dezoito anos (ou dezesseis, pela regra atual da CF) e do qual constem, também, os demais elementos necessários à sua qualificação; V - documento do qual se infira a nacionalidade brasileira, originária ou adquirida, do requerente.

Será devolvido o requerimento que não contenha os dados constantes do modelo oficial, na mesma ordem, e em caracteres inequívocos (rejeição preliminar, que abrange qualquer dos requisitos formais prévios do requerimento).

5. PROCESSO: Incumbe aos partidos políticos, na pessoa de seus delegados, e ao MPE, na pessoa do Promotor de Justiça Eleitoral, a fiscalização do procedimento. O eleitor deve comparecer ao cartório ou outro local previamente definido, para subscrever o formulário. O requerimento de alistamento eleitoral é preenchido apenas por servidor da Justiça Eleitoral (Res.21538/03) que digitará as informações pessoais do eleitor, que deverá estar presente no momento desse preenchimento. Faculta-se ao eleitor escolher o local de votação com a disponibilização de relação de todas as seções que pertencem a sua zona eleitoral. O pedido será submetido à apreciação do juiz eleitoral, nas 48h subsequentes.

Poderá o juiz, se tiver dúvida quanto à identidade do requerente ou sobre qualquer outro requisito para o alistamento, converter o julgamento em diligência para que o alistando esclareça ou complete a prova ou, se for necessário, compareça pessoalmente à sua presença. Depois de sanadas quaisquer dúvidas, o juiz deferirá o pedido, datando e assinando o título e a folha individual. A lei veda expressamente a assinatura desses documentos pelo juiz antes do deferimento do pedido. Tal ato constitui ilícito penal eleitoral (45, §11, CE).

Se o pedido for indeferido: caberá recurso ao TRE (Resolução TSE n° 21.538/2003). Do despacho que indeferir o requerimento de inscrição, caberá recurso interposto pelo alistando no prazo de cinco dias. O parquet também tem legitimidade para recorrer na qualidade de custus legis se o indeferimento for ilegal. Se o pedido for deferido: também é cabível recurso para o TER do deferimento do alistamento, do qual poderá recorrer qualquer delegado de partido político no prazo de dez dias, contados da colocação da

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respectiva listagem à disposição dos partidos, o que deverá ocorrer nos dias 1º e 15 de cada mês, ou no primeiro dia útil seguinte, ainda que tenham sido exibidas ao alistando antes dessas datas e mesmo que os partidos não as consultem (Lei n° 6.996/82, art. 7°). A possibilidade de interposição de recurso pelo delegado de partido contra decisão que deferir o requerimento de alistamento eleitoral tem como objetivo retirar do corpo eleitoral os eleitores que não possuam verdadeiro interesse na circunscrição eleitoral em que forem inscritos, para garantir que o resultado das eleições corresponda à vontade legítima dos eleitores da localidade. Cabe observar, ainda, que o membro do Ministério Público que oficiar perante o juízo eleitoral terá legitimidade para recorrer e o prazo será igual àquele deferido ao delegado de partido[6].

A interposição de recurso transforma a natureza do procedimento de alistamento eleitoral de administrativa para judicial, porquanto surge conflito de interesses que deve ser resolvido pelo Estado-juiz. Dessa forma, é necessário que o interessado preencha os pressupostos processuais pertinentes, inclusive aqueles referentes à capacidade postulatória. (ver artigo 29 e ss, do ce Resolução 21538 Do acesso às informações constantes do cadastro).

Qualquer irregularidade determinante de cancelamento de inscrição deverá ser comunicada por escrito ao juiz eleitoral, que observará o procedimento estabelecido nos arts. 77 a 80 do Código Eleitoral. Por outro lado, exerce o MP a função de fiscal da ordem jurídica eleitoral e sua atuação se dá de forma obrigatória em todos os termos do processo eleitoral, pelo que pode acompanhar os procedimentos sobre alistamento.

6. FASES DO ALISTAMENTO:

Prazo para alistamento: O artigo 91 da Lei 9504/97 determina que “Nenhum requerimento de inscrição eleitoral ou de transferência será recebido dentro dos cento e cinquenta dias anteriores à data da eleição”. O alistamento reabrir-se-á em cada zona, logo que estejam concluídos os trabalhos da sua junta eleitoral. OBS: 2ª via: o eleitor já alistado poderá requerer a 2ª via em até 10 dias das eleições.

Prazos de entrega dos títulos (art. 69, CE): resultantes dos pedidos de inscrição ou de transferência: até 30 dias antes da eleição/ segunda via: até a véspera do pleito.

Fiscalização do TSE[7]: A Lei 9504/97 introduziu método de controle automático do TSE, sobre o alistamento e a transferência, nos termos do artigo 92: O Tribunal Superior Eleitoral, ao conduzir o processamento dos títulos eleitorais, determinará de ofício a revisão ou correição das Zonas Eleitorais sempre que: I - o total de transferências de eleitores ocorridas no ano em curso seja dez por cento superior ao do ano anterior; II - o eleitorado for superior ao dobro da população entre dez e quinze anos, somada à de idade superior a setenta anos do território daquele Município; III - o eleitorado for superior a sessenta e cinco por cento da população projetada para aquele ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE”.

Por outro lado, compete aos juízes eleitorais fiscalizar o ato de alistamento do eleitor e seu cancelamento. Possui também legitimidade para impugnar a inscrição de eleitores o

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Ministério Público e os partidos políticos.

7. DUPLICIDADE E PLURALIDADE: É vedada a emissão ou permanência de mais de um título ou inscrição eleitoral referentes ao mesmo eleitor. O processo administrativo e conditio sine qua non para o exame da tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade da conduta do eleitor (arts.289,290,291 e 350 CE).

A competência para a decisão administrativa de duplicidade ou pluralidade de alistamentos é do juiz onde foi efetuada a inscrição mais recente (art.41 da Res.21538) quando envolver uma mesma zona eleitoral. Em casos que envolvam zonas eleitorais diferentes a competência será do Corregedor Regional Eleitoral.

Das decisões do juiz eleitoral cabe recurso para o Corregedor Regional no prazo de três dias; e, das decisões do Corregedor Regional, cabe recurso para o corregedor–geral eleitoral (que atua no TSE), no prazo de três dias. Trata-se de recurso INOMINADO. São legitimados para a interposição os eleitores, partidos políticos e MP.

8. CANCELAMENTO E EXCLUSÃO: De início, importa esclarecer a diferença entre cancelamento e exclusão. Em face de irregularidades expressamente previstas no Código Eleitoral, o título de eleitor será cancelado e, consequentemente, o eleitor terá seu nome excluído do banco de dados da JE. As inscrições eleitorais são permanentes, habilitando o eleitor ao direito de sufrágio nos pleitos que se realizarem dentro da área política a que pertence. Essa condição persiste até que sobrevenha decisão judicial impondo o cancelamento da inscrição e a exclusão do eleitor.

Causas de cancelamento de inscrição: estão no artigo 71 do CE:

a) a infração dos artigos 5º e 42: trata-se das inscrições obtidas com desrespeito às vedações legais: (1) dos que não saibam exprimir-se na língua nacional; (2) dos que estavam privados, temporária ou definitivamente dos direitos políticos; (3) dos conscritos; (4) dos que não são domiciliados no local do alistamento. O cancelamento, portanto, refere-se à existência de vício ‘ab origine’, que não se convalida pelo decurso do tempo;

OBS: no que tange ao alistamento dos indígenas, a Resolução 20.806/2001,TSE estabelece que o alistamento é exigido para os índios integrados e alfabetizados. Os índios não integrados e os em vias de integração têm o direito ao alistamento e ao voto como facultativo. Portanto, não é mais considerado causa de cancelamento da inscrição o fato de ser um índio isolado ou não integrado.

b) a suspensão ou perda dos direitos políticos;

c) a pluralidade de inscrição: o cancelamento da inscrição em pluralidade obedecerá à seguinte ordem (75 CE): (1) da inscrição que não corresponda ao domicílio eleitoral; (2) daquela cujo título não haja sido entregue ao eleitor; (3) daquela cujo título não haja sido utilizado para o exercício do voto na última eleição; e (4) da mais antiga;

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d) o falecimento do eleitor; neste caso, quando se tratar de fato notório, ficam dispensadas as formalidades previstas nos incisos II e III do artigo supracitado (artigo 79 do Código Eleitoral). Note-se que o § 3° do artigo 71 do Código Eleitoral estabelece a obrigação de os oficiais de registro civil enviarem, até o dia 15 de cada mês, ao juiz eleitoral da zona em que oficiarem, comunicação dos óbitos de cidadão alistáveis ocorridos no mês anterior, para cancelamento das inscrições, sob pena de incorrem no delito previsto no artigo 293 do Código Eleitoral.

e) abstenção reiterada: deixar de votar em 3 (três) eleições consecutivas, o cancelamento não ocorrerá se o eleitor apresentar justificativa para a falta ou efetuar o pagamento da multa que lhe for aplicada, conforme o disposto no § 6° do artigo 80 da Resolução n° 21.538/2003. Na contagem das faltas, são consideradas as ausências nas eleições com datas fixadas pela Constituição, nos referendos, nos plebiscitos e nas novas eleições determinadas pelos tribunais regionais eleitorais (v.g. eleições suplementares). Ressalte-se que não serão computadas eleições que tiverem sido anuladas por força de determinação judicial.

OBS: Nos termos do artigo 80 da Resolução n° 21.538/2003, o prazo de apresentação de justificativas para a ausência é de 60 dias a contar da data da realização da eleição. Para o eleitor que se encontrar no exterior na data do pleito, o prazo será de 30 dias, contado da data do seu retorno ao país. Por oportuno, cabe destacar que o pedido de justificação será sempre dirigido ao juiz eleitoral da zona de inscrição, podendo ser formulado na zona eleitoral em que se encontrar o eleitor, o qual providenciará sua remessa ao juízo competente.

f) revisão do eleitorado: Há, ainda, uma hipótese genérica de cancelamento de inscrições (em processo de ‘revisão’), trazida pela Lei 4961/66, que acrescentou §4º ao artigo 71 do CE: A revisão do eleitorado consiste no procedimento administrativo em que é verificada a regularidade da inscrição dos eleitores que figuram no cadastro eleitoral de determinada zona ou município. O referido procedimento está previsto no § 4° do artigo 71 do Código Eleitoral e no artigo 58 da Resolução TSE n° 21.538/2003, o qual determina que os tribunais regionais eleitorais poderão determinar a realização de correição e de revisão do eleitorado quando houver denúncia fundamentada de fraude no alistamento de uma zona ou município: “§4º Quando houver denúncia fundamentada de fraude no alistamento de uma zona ou município, o Tribunal Regional poderá determinar a realização de correição e, provada a fraude em proporção comprometedora, ordenará a revisão do eleitorado obedecidas as Instruções do Tribunal Superior e as recomendações que, subsidiariamente, baixar, com o cancelamento de ofício das inscrições correspondentes aos títulos que não forem apresentados à revisão”.

OBS: Pode haver revisão em ano eleitoral? Note-se que, de acordo com o § 2° do artigo 58 da Resolução TSE n° 21.538/2003, não será realizada revisão de eleitorado em ano eleitoral, salvo em situações excepcionais, quando autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Os trabalhos de revisão são presididos pelo juiz eleitoral da zona, fiscalizados pelo representante do Ministério Público que oficiar perante o juízo e inspecionados pelo Tribunal Regional Eleitoral, por meio da Corregedoria Regional (artigos 59 58 e 62 da

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Resolução TSE n° 21.538/2003). Ademais, o juiz eleitoral deverá dar conhecimento aos partidos políticos da realização da revisão, facultando-lhes, por meio dos delegados credenciados nas zonas ou perante os TREs, o acompanhamento e fiscalização de todo o trabalho (artigo 67 da Resolução TSE n° 21.538/2003). Nos termos do artigo 63 da citada resolução, o juiz eleitoral deverá fazer publicar, com antecedência mínima de cinco dias do início do processo revisional, edital para dar conhecimento da revisão aos eleitores cadastrados no município ou zona, convocando-os a se apresentarem, pessoalmente, no cartório ou nos postos criados, em datas previamente especificadas, com o objetivo de efetuar a revisão de suas inscrições, com a confirmação dos seus domicílios, sob pena de cancelamento das inscrições.

OBS: Cancelamento de inscrição eleitoral. Revisão do eleitorado. Não comparecimento ao cartório no prazo estipulado. Legitimidade. O só envio de documentação no prazo não supre a falta da presença do eleitor. É legítimo o cancelamento da inscrição do eleitor que deixa de atender convocação para comparecer pessoalmente ao cartório eleitoral em processo de revisão do eleitorado.” (TSE. Acórdão n° 1.222. Relator Ministro Eduardo Alckmin. Julgado em 24 de novembro de 1998). Monica: a resolução permite se a pessoa pegar uma senha, deixar os documentos para serem vistos depois do expediente.

Concluídos os trabalhos de revisão, ouvido o Ministério Público, o juiz eleitoral deverá determinar o cancelamento das inscrições irregulares e daquelas cujos eleitores não tenham comparecido, adotando as medidas legais cabíveis, em especial quanto às inscrições consideradas irregulares, situações de duplicidade ou pluralidade e indícios de ilícito penal a exigir apuração. Entretanto, o cancelamento das inscrições somente poderá ser efetivado após a homologação da revisão pelo TRE (artigo 73, caput e parágrafo único, da Resolução TSE n° 21.538/2003).

Na linguagem do CE, a exclusão aparece como o resultado final do processo, instaurado diante de uma causa de cancelamento de inscrição. Diz o artigo 72, ‘caput’, do CE: “Durante o processo e até a exclusão pode o eleitor votar validamente”. O parágrafo único do artigo 72 determina a anulação dos votos, no seguinte caso: “Parágrafo único. Tratando-se de inscrições contra as quais hajam sido interpostos recursos das decisões que as deferiram, desde que tais recursos venham a ser providos pelo Tribunal Regional ou Tribunal Superior, serão nulos os votos se o seu número for suficiente para alterar qualquer representação partidária ou classificação de candidato eleito pelo princípio majoritário”.

O termo ‘exclusão’ é também usado pelo CE para designar o próprio procedimento que visa o cancelamento da inscrição. Nesse sentido, os artigos 73 e seguintes do CE, que estabelecem o rito do processo (LER). O processo pode iniciar-se ex officio , sempre que o juiz eleitoral tiver conhecimento de alguma causa de cancelamento (artigos 71, § 1°, e 74 do Código Eleitoral). O processo pode ser iniciado também a requerimento de delegado de partido, do Ministério Público ou de qualquer eleitor.

A instauração do processo de cancelamento não se sujeita a prazo de preclusão ou a escoamento de limites temporais, por se tratar de matéria de ordem pública, de natureza constitucional.

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É interessante destacar o posicionamento de José Jairo Gomes acerca das causas de cancelamento da inscrição. Adotando o entendimento exposto por Decoiman e Prade, o referido autor assevera que algumas hipóteses legais de cancelamento de inscrição poderiam ser consideradas, hoje em dia, causas de suspensão da eficácia do alistamento eleitoral, tendo em vista que a sistemática legal foi prevista para uma realidade diferente da atual.

OBS: Após cancelada, é possível uma nova inscrição eleitoral? Sim. De acordo com o artigo 81, CE, cessada a causa de cancelamento, poderá o interessado requerer novamente a inscrição eleitoral.

9. FISCALIZAÇÃO PARTIDÁRIA: Os partidos estão legalmente habilitados a acompanhar todos os trabalhos sobre o ingresso e a exclusão no corpo eleitoral, exercendo ampla atividade de fiscalização (artigo 66 do CE). Diante da disciplina legal, os partidos políticos realizam todas essas atividades na condição de parte, não se limitando apenas a formular representação e deixar tudo a critério da Justiça Eleitoral. A lei lhes outorgou posição para que possam diretamente promover as medidas necessárias à lisura do alistamento, instaurando o contencioso eleitoral adequado.

Nesses atos, os partidos são representados por seus delegados credenciados, no seguinte número: perante o juízo eleitoral: 3 delegados; perante o TRE: 4 02 delegados (resolução 21538); perante o TSE: 5 delegados (não encontrei essa quantidade – onde está?);

Nos termos do artigo 27 da Resolução TSE n° 21.538/2003, poderão os partidos políticos, por seus delegados: acompanhar os pedidos de alistamento, transferência, revisão, segunda via e quaisquer outros, até mesmo emissão e entrega de títulos eleitorais/ requerer a exclusão de qualquer eleitor inscrito ilegalmente e assumir a defesa do eleitor cuja exclusão esteja sendo promovida/ examinar, sem perturbação dos serviços e na presença dos servidores designados, os documentos relativos aos pedidos de alistamento, transferência, revisão, segunda via e revisão de eleitorado, deles podendo requerer, de forma fundamentada, cópia, sem ônus para a Justiça Eleitoral.

O artigo 28 da referida resolução estabelece que, para os fins citados acima, os partidos políticos poderão manter até dois delegados perante o Tribunal Regional Eleitoral e até três delegados em cada zona eleitoral, que se revezarão, não sendo permitida a atuação simultânea de mais de um delegado de cada partido. Ressalte-se que os delegados credenciados no Tribunal Regional Eleitoral poderão representar o partido, na circunscrição, perante qualquer juiz eleitoral.

O VOTO:

Sufrágio corresponde ao direito de votar e ser votado. O voto é o ato material que concretiza o direito de sufrágio. Escrutínio é a forma pela qual o voto se exterioriza, podendo ser público ou secreto.

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Natureza jurídica do voto: Paulo Bonavides, ao tratar do sufrágio, menciona duas escolas ou correntes principais (voto como função ou direito): A dos que acolhem a doutrina da soberania nacional e são conduzidos a ver o sufrágio como uma função; A dos que se apegam à doutrina da soberania popular e que inferem, daí, o voto como um direito. Diz Paulo Bonavides que pela doutrina da soberania nacional o eleitor é tão somente um instrumento ou órgão de que se serve a nação para criar um órgão maior. De outro lado, a se adotar a corrente contrária (soberania popular), ter-se-á o eleitor como parte desse órgão maior.

A maior parte da doutrina adota a posição de que o sufrágio (ou voto) no direito brasileiro apresenta duplo aspecto de ser direito e dever.

O sufrágio pode ser universal ou restrito. O primeiro possibilita, de forma ampla, o exercício do voto aos nacionais. A segunda forma possui restrições, tais como, em face da fortuna (censitário, como estabelecia a Constituição do Império), sexo, capacidade intelectual, etc.

Dalmo de Abreu Dalari explica que todos os países definem uma idade mínima para se poder votar, havendo uma tendência para fixá-la em dezoito anos. Lembrar que, no Brasil, o voto é obrigatório a partir dos 18 anos, sendo facultativo aos maiores de 16 e menores de 18 anos e maiores de 70.

O voto censitário fundamenta-se, segundo seus defensores, nas seguintes razões: os que têm mais bens têm mais interesses em que os governos sejam melhores para protegerem seu patrimônio; os mais ricos pagam mais impostos e portanto, têm o direito de escolherem quem os haverá de administrar; podem acompanhar melhor a política por que não necessitam trabalhar muitas horas por dia. Obviamente a tibieza dos argumentos não lhes dá sustentação. No entanto, o poder econômico dos candidatos parece continuar sendo importante para influenciar o voto.

No que concerne ao voto capacitário, vale dizer que grande parte dos países exige alguma espécie de grau de instrução para que se possa votar. Porém, tendo em vista que, em muitos países, tal restrição equivale a privar a maioria da população adulta de votar, há forte tendência para afastar tal restrição.

Quanto aos portadores de deficiência (ou necessidades especiais) cabe distinguir entre os que não têm consciência da significação do ato de votar devido a problemas mentais e o deficiente físico. Este último deve ter não só o direito genérico de votar, mas também o direito a que seja facilitado o exercício do voto. Deverão requerer ao juiz de sua zona eleitoral, até trinta dias antes da eleição, a viabilização de meios para tanto.

Há também legislações, como a nossa, que impedem os condenados criminalmente de votar. Argumenta-se que tal restrição se deve à necessidade de reeducação do criminoso para que volte a exercer os atos da vida civil. Pode-se pensar que tal restrição corresponde à morte civil do condenado e/ou que gera fundadas dúvidas acerca do auxílio que possa trazer a sua recuperação.

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Por fim, há restrições para os praças (conscritos) visando evitar que a política invada os quartéis.

Seja como for, a universalidade do voto sempre deverá ser entendida de forma relativa. Sempre haverá restrições a grupos de pessoas tais como: os absolutamente incapazes, por não poderem exercer de forma plena a liberdade de votar; e os estrangeiros[10]. Não há contradição na existência dessas limitações, todavia será inadmissível a lei discriminar sem o mínimo de racionalidade, pois, em tais casos, haveria infringência ao princípio constitucional da isonomia da vedação à discriminação.

No ordenamento jurídico brasileiro, o voto é direto, ou seja, o eleitor é qualquer cidadão que não necessita de intermediários para escolher seus representantes. Em face da Lei Maior de 1988, a regra eleva-se à condição de clausula pétrea e consiste na eleição direta para todos os cargos eletivos, exceção feita exclusivamente no caso de vacância do cargo de Presidente e Vice-Presidente da República nos dois últimos anos de mandato. Nesse caso a Constituição prevê eleição indireta para o restante do mandato.

O voto também deverá ser secreto, dificultando fraudes e garantindo a liberdade de escolha aos eleitores. A legislação dever garantir seu sigilo. A título de exemplo, vale lembrar que o uso de telefone celular na sala de votação é proibido. Da mesma forma, é obrigatório que o voto se efetive em cabine indevassável. Por outro lado, considerando que o exercício do voto deve prevalecer, é lícito ao eleitor levar anotado o número ou nome do candidato de sua preferência. Da mesma forma, na hipótese de um eleitor, plenamente capaz, que não possa, por deficiência física, votar sozinho, poderá ser acompanhado por amigo ou parente. Por fim, nada impede que os pais ou avós levem crianças para acompanhá-los a urna para votar.

Outra característica consiste em ser o voto de igual valor para todos os cidadãos (one man, one vote). Trata-se da aplicação no campo do direito eleitoral do princípio da isonomia.

O voto dever ser periódico, ou seja, os mandatos não podem ser demasiadamente longos. Tendo em vista tratar-se de clausula pétrea, vem a dúvida quanto à alteração da periodicidade dos mandatos eletivos.

O voto é um direito-dever do indivíduo-cidadão. Todavia, o constituinte, tendo em consideração a realidade de nosso país, possibilitou que os analfabetos, os idosos e os maiores de 16 e menores de 18 anos, não fossem obrigados a cumprir com esse dever.

Quanto à obrigatoriedade do voto, diz parte da doutrina que relaciona-se ao fato de ser o exercício da cidadania ainda novidade para o povo brasileiro.

O eleitor que não vota ou justifica sofre sanções de ordem pecuniária, além de restrições a direitos da seguinte forma: impossibilidade de participar de concursos públicos ou tomar posse no cargo; tirar passaporte ou carteira de identidade; obter empréstimos de órgãos públicos e o recebimento de remuneração pelos servidores ou empregados públicos. Observar que os enfermos, quem estiver ausente de sua zona eleitoral e o servidor público em serviço estão dispensados de votar.

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O tema “voto” também é objeto de análise do ponto 2.a.

Questões de prova:

Alistamento eleitoral e voto. Ambos são facultativos para os que tem idade entre 16 e 18 anos e os maiores de 70 anos?

O alistamento de brasileiro que reside no estrangeiro é obrigatório? Se se alistar no exterior deve votar em quais eleições?

Todos os alistáveis são elegíveis?

Quais são os casos de alistabilidade facultativa? Os maiores de 70 anos, os maiores de 16 e menores de 18 anos e os analfabetos.

Se o alistável facultativo se alistar, o voto dele passa a ser obrigatório? Não. A Constituição é clara ao afirmar que o alistamento eleitoral e o voto são facultativos para essas pessoas.

O sigilo de voto é absoluto ou pode ser relativizado no caso de uma pessoa que precise de ajuda para votar?

Diferencie voto e sufrágio.

Voto obrigatório significa que eleitor tem que votar em algum candidato?

O que é voto direto, secreto, universal e periódico?

Voto eletrônico impresso, criado pela última reforma. ADIN, liminar, constitucionalidade etc. Voto impresso, qual função? Vulnera o sigilo do voto?

Alistamento eleitoral já garante capacidade eleitoral passiva?

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Ponto 1.b. Domicílio eleitoral. Conceito, transferência e prazos.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Direito Eleitoral do José Jairo Gomes, 8ª ed. Ed. Atlas, 2012; Aula de Direito Eleitoral do Curso Alcance. Roberto Almeida, 2013.

Legislação básica: Código Eleitoral; Lei n.º 6.996/82; Lei n.º 9.504/97; Res. 21.538/2003.

1. DOMICÍLIO ELEITORAL:

No Direito Eleitoral, o conceito de domicílio eleitoral é mais amplo do que aquele do Direito Civil, este sendo definido no art. 70 do CC (“O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo” — elemento objetivo: residência + elemento subjetivo: ânimo, intenção, de definitividade).

“Agravo de instrumento. Recurso especial. Revisão eleitoral. Domicílio eleitoral. Cancelamento de inscrição. Existência de vínculo político, afetivo, patrimonial, e comunitário. Restabelecimento da inscrição. 1. Demonstrado o interesse eleitoral, o vínculo afetivo, patrimonial e comunitário da eleitora com o município e não tendo ocorrido qualquer irregularidade no ato do seu alistamento, mantém-se o seu domicílio eleitoral. 2. Precedentes. 3. Recurso conhecido e provido.” (Ac. no 2.306, de 17.8.2000 e, no mesmo sentido, o Ac. no 16.305, de 17.8.2000, rel. Min. Waldemar Zveiter.)

Conceito legal de domicílio eleitoral (art. 42, § ún. do CE): “Para o efeito da inscrição, é domicílio eleitoral o lugar de residência ou moradia do requerente, e, verificado ter o alistando mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer delas”.

Domicílio eleitoral afetivo: ocorre quando a pessoa transfere seu domicílio civil, mantendo, porém, o domicílio eleitoral em outra circunscrição. Ac.-TSE n.º 16.397/2000 e 18.124/2000: o conceito de domicílio eleitoral não se confunde, necessariamente, com o de domicílio civil; aquele, mais flexível e elástico, identifica-se com a residência e o lugar onde o interessado tem vínculos (políticos, sociais, patrimoniais, negócios).

Obs.: ver Decreto-Lei n.º 201/67, art. 7.º, II: cassação do mandato de vereador quando fixar residência fora do município.

Domicílio eleitoral do funcionário público: Há casos em que a lei não dá margem à escolha do domicílio civil (hipóteses de domicílio legal ou necessário: entre outros, o do incapaz, do servidor público, do militar, do marítimo e do preso (art. 76 do CC). É o caso do funcionário público, cujo domicílio será obrigatoriamente o local de seu ofício (“o lugar em que exercer permanentemente suas funções”). Todavia, admite-se que o funcionário público transferido deixe de requerer sua transferência de inscrição eleitoral, mantendo inalterada sua inscrição de origem, pois não lhe é imposta, obrigatoriamente, a transferência. Por outro lado, se o funcionário público requerer transferência eleitoral para um lugar diferente daquele onde exerce suas funções, esse pedido não pode ser deferido, pois seu domicílio deverá ser o da sede da repartição. Nesse caso, faltar-lhe-ia condição para requerer a

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transferência, pois não poderia fazer prova de que reside em local diferente da repartição.

Cuidado: apenas os conscritos não podem alistar-se como eleitores, durante o serviço militar obrigatório (CF 14 § 2.º). Os demais militares devem inscrever-se. Ora, o domicílio do militar é domicílio necessário (tal como o do marítimo): “o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado” (CC 76 § único).

Crime do art. 289 do CE: “Art. 289. Inscrever-se, fraudulentamente, eleitor: Pena – reclusão até 5 anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa.” Segundo Vera Michels, o elemento objetivo do tipo previsto nesse artigo consiste em declarar falsamente, no momento da inscrição eleitoral, residência ou domicílio. (...) A jurisprudência do TSE é no sentido de não se configurar a falsidade ideológica, quando couber a autoridade pública averiguar a fidelidade da declaração que lhe é prestada

Prova do domicílio: dá-se por certidão de alistamento, para fins de transferência. Já para fins de alistamento (qualificação + inscrição), a prova pode dar-se por qualquer outro meio idôneo. “Domicílio eleitoral. Prova robusta de residência. Esparsas contas de luz e posse de imóvel insuficiente. Simples inscrição no cartório eleitoral insuficiente. O domicílio eleitoral deve ser provado de forma robusta, não bastando contas de luz esparsas e simples aquisição de imóvel no local pretendido.” (Ac. no 12.565, de 17.9.92, rel. Min. José Cândido.)

Voto fora do domicílio: A previsão foi incluída pela Lei nº 12.034/2009, a qual incluiu no CE o art. 233-A, verbis: Art. 233-A. Aos eleitores em trânsito no território nacional é igualmente assegurado o direito de voto nas eleições para Presidente e Vice-Presidente da República, em urnas especialmente instaladas nas capitais dos Estados e na forma regulamentada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Condições do local de Domicílio e sua influência na obrigatoriedade de alistamento e voto do portador de necessidades especiais. Res.-TSE no 21.920/2004: Art. 1º - O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para todas as pessoas portadoras de deficiência. Parágrafo único. Não estará sujeita a sanção a pessoa portadora de deficiência que torne impossível ou demasiadamente oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais, relativas ao alistamento e ao exercício do voto.

Res.-TSE no 21.385/2003: inexigibilidade de prova de opção pela nacionalidade brasileira para fins de alistamento eleitoral, não prevista na legislação pertinente.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (Med. Liminar) 4467- O Tribunal, por maioria e nos termos do voto da Relatora, contra os votos dos Senhores Ministros Gilmar Mendes e o Presidente, Ministro Cezar Peluso, concedeu liminar para, mediante interpretação conforme conferida ao artigo 91-A, da Lei nº 9.504/97, na redação que lhe foi dada pela Lei nº 12.034/09, reconhecer que somente trará obstáculo ao exercício do direito de voto a ausência de documento oficial de identidade, com fotografia. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa, com voto proferido na assentada anterior. (STF - Plenário, 30.09.2010.)

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2. TRANSFERÊNCIA E PRAZOS

Conceito de Transferência: ato de natureza administrativa pelo qual, a requerimento do eleitor, o juiz eleitoral autoriza seja o eleitor inscrito em outra seção, zona ou circunscrição eleitoral, com a perda do domicílio eleitoral anterior. Pode haver desistência da transferência, mas será deferida apenas enquanto o Formulário de Alistamento Eleitoral ainda se encontrar no cartório, ou no caso de pluralidade de residências.

As regras e processamento da transferência estão nos artigos 55 a 61 do CE. Houve alterações, que iremos comentar.

São quatro os requisitos cumulativos para a transferência: no mínimo 1 ano da inscrição no antigo domicílio (o prazo é contado da inscrição imediatamente anterior ao novo domicílio. Não se aplica quando se tratar de transferência de título eleitoral de servidor público civil, militar, autárquico, ou de membro de sua família, por motivo de remoção ou transferência); residência mínima de 3 meses no novo domicílio (não se aplica quando se tratar de transferência de título eleitoral de servidor público civil, militar, autárquico, ou de membro de sua família, por motivo de remoção ou transferência); até 150 dias da eleição (91 da Lei 9504/97) e estar quite com a Justiça Eleitoral.

OBS: a transferência do título eleitoral, em caso de mudança de domicílio, além de poder ser feita apenas após o transcurso de pelo menos um ano da inscrição primitiva e da exigência mínima de 3 meses no novo domicílio, deverá ser requerida pelo eleitor ao juiz eleitoral do novo domicílio, mediante requerimento com entrada no cartório eleitoral até 150 dias antes da eleição. Atenção: remoção para outra localidade de empregado de empresa privada não afasta a exigência mínima de 3 meses no novo domicílio. Atenção: segunda transferência de domicílio não afasta a exigência de transcurso de 1 ano da inscrição anterior.

Procedimento (art. 57 CE): (1) Pedido formulado pelo eleitor, instruído com o título eleitoral, no juízo eleitoral do novo domicílio; (2) Publicação na imprensa oficial, na Capital, e em cartório, nas demais localidades; (3) Impugnação no prazo de 10 dias; (4) Decisão imediata pelo juiz a respeito das impugnações; (5) Recurso ao TRE em 3 dias, pelo eleitor (pedido indeferido; a jurisprudência estendeu para o partido político) ou delegado de partido (pedido deferido). Recurso ao TRE em 05 dias, pelo eleitor (pedido indeferido) e 10 dias para delegado de partido (pedido deferido). Inexistindo recurso, o juiz eleitoral comunica a transferência ao TRE em 10 dias. Decisão pelo TRE em 5 dias.

Observações: Ac.-TSE no 15.143/98: incompatibilidade, com o cadastro eletrônico, do voto em separado, na hipótese de omissão do nome do eleitor na folha de votação. Res.-TSE no 20.686/2000: impossibilidade de voto em separado, nos locais em que adotada urna eletrônica, com base no art. 62 da Lei no 9.504/97; nos locais onde for realizada a votação por cédulas, somente poderá votar o eleitor cujo nome conste da folha de votação. Res.-TSE no 20.638/2000: impossibilidade de voto em separado na hipótese de dúvida ou impugnação quanto à identidade de eleitor, impedindo-o de votar na urna eletrônica até

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decisão do juiz eleitoral.

Prazos: há divergência quanto ao prazo para recurso do indeferimento ou do deferimento da transferência, diante do que dispõe a Lei nº 6.996/82, art. 7º, § 1º (“Do despacho que indeferir o requerimento de inscrição, caberá recurso interposto pelo alistando no prazo de 5 (cinco) dias e, do que o deferir, poderá recorrer qualquer Delegado de partido político no prazo de 10 (dez) dias”):

O art. 60 do CE veda que o eleitor transferido vote no novo domicílio eleitoral em eleição suplementar à que tiver sido realizada antes de sua transferência. Assim sendo, anulada a eleição, o eleitor transferido de domicílio não poderá votar na nova eleição.

Se houver informação de filiação partidária, o juiz da zona para onde o eleitor se transferiu oficia o juiz eleitoral da antiga zona para que a remeta.

Observação: (1) Qualquer pessoa pode se filiar a partido político? Não, somente as que estiverem no pleno gozo dos direitos políticos, ressalvada a possibilidade de filiação do eleitor considerado inelegível - Res.TSE 23.117, de 20.8.2009). (2) ser fundador ou apoiador na criação da legenda não é sinônimo de ser filiado.

Procedimento de revisão ou correição das Zonas Eleitorais (art. 92 da Lei 9.504/97): o Tribunal Superior Eleitoral, ao conduzir o processamento dos títulos eleitorais, determinará de ofício a revisão ou correição das Zonas Eleitorais sempre que, cumulativamente (Res.-TSE nos 20.472/99, 21.490/2003, 22.021/2005 e 22.140/2006), I – o total de transferências de eleitores ocorridas no ano em curso seja dez por cento superior ao do ano anterior; II – o eleitorado for superior ao dobro da população entre dez e quinze anos, somada à de idade superior a setenta anos do território daquele Município; III – o eleitorado for superior a sessenta e cinco por cento da população projetada para aquele ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Medidas cabíveis: além dos recursos acima indicados, cabe MS, bem como as ações autônomas de impugnação. “(...) Domicílio. Transferência. Procedimento administrativo. Mandado de segurança. Cabimento. Assistência. Admissão. 1. Demonstrado o benefício que a requerente poderá auferir com o provimento do recurso, admite-se seu ingresso no feito como assistente. 2. A decisão judicial relativa a transferência de domicílio é de natureza administrativa, não fazendo coisa julgada. Pode, assim, ser atacada por mandado de segurança.” (Ac. de 14.2.2006 no AgRgAgRgREspe no 24.844, rel. Min. Humberto Gomes de Barros.)

Visão panorâmica:

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Questões de prova:

Conceitue domicílio eleitoral.

Ligação afetiva com Belém do Pará, poderia ter domicílio eleitoral lá? Resposta do examinador: deve ser critérios objetivos como vínculo patrimonial, familiar e profissional e não pode afetivo.

Domicílio eleitoral é igual ao civil?

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Qual a relação entre domicílio eleitoral e elegibilidade?

Condenação criminal a partir de quando há suspensão? Da sentença? Do transito em julgado?

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Ponto 1.c. Perda ou suspensão dos direitos políticos.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Direito Eleitoral do José Jairo Gomes, 8ª ed. Ed. Atlas, 2012; Aula de Direito Eleitoral do Curso Alcance.

Legislação básica: art. 15 da CR/88.

Considerações iniciais:

Direitos políticos positivos e negativos: Direitos políticos positivos consistem no conjunto de normas que asseguram a participação do indivíduo no processo político e nos órgãos governamentais. Ex: normas sobre o voto, normas sobre alistamento, plebiscito, referendo e iniciativa popular. Os direitos políticos negativos correspondem às previsões que restringem o acesso do indivíduo aos órgãos governamentais, mediante impedimentos a candidatura. Ex: normas sobre perda e suspensão dos direitos políticos, normas sobre inelegibilidade.

Direito de votar e ser votado: O direito de votar (capacidade eleitoral ativa) e o direito de ser votado (capacidade eleitoral passiva) estão incluídos nos direitos políticos atribuídos ao cidadão. A perda e a suspensão dos direitos políticos são hipóteses que atingem, respectivamente, a titularidade para negá-los e o exercício para restringi-los temporariamente. Têm como fundamento constitucional o art. 15 e, no CE, art. 71.

O art. 15 da CF/88 prevê que é vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos enumerados nos incisos I a V, não as especificando. Referido dispositivo constitucional decorre do estabelecimento do Estado Democrático de Direito (art. 1°, caput), o qual tem como fundamento o pluralismo político (art. 1, V).

OBS: Os art. 6º, I, e 8º, I do DL nº 201/67, falam em extinção do mandato de prefeito e vereador declarado pelo Presidente da Câmara, quando ocorrer “cassação dos direitos políticos” ou condenação por crime funcional ou eleitoral.

O art. 71 do CE prevê cinco causas de cancelamento da inscrição eleitoral, as quais acarretam a privação do exercício dos direitos políticos: (1) A infração ao art. 5° (inalistáveis) e art. 42 (domicílio eleitoral); (2) Suspensão ou perda dos direitos políticos; (3) A pluralidade de inscrição; (4) O falecimento do eleitor; e (5) Deixar de votar em três eleições consecutivas.

Perda e suspensão dos direitos políticos:

Natureza jurídica: Antônio Carlos Mendes acentua que a perda ou suspensão dos direitos políticos não constituem sanção penal, mas sanção constitucional de natureza não penal.

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A classificação abaixo utilizada no que se refere às hipóteses de perda e suspensão de direitos políticos tem como base a obra de Sanseverino. Entretanto, cabe referir que, para Alexandre de Moraes, as hipóteses de suspensão são: incapacidade civil absoluta, condenação criminal com trânsito em julgado, enquanto durarem seus efeitos, e improbidade administrativa; as hipóteses de perda são: cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado em virtude de atividade nociva ao interesse social (art. 12, §4°, I, CF/88), aquisição de outra nacionalidade (art. 12, §4°, II, CF/88) e escusa de consciência. A distinção entre perda e suspensão é temporal, não qualitativa.

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1) A suspensão dos direitos políticos:

Suspensão é a privação temporária dos direitos políticos, que serão readquiridos nos futuro, uma vez cessadas as causas que deram ensejo à suspensão. Atinge não a titularidade, mas o exercício dos direitos políticos de forma temporária.

1.1) Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos (art. 15, III): A hipótese atinge a condenação criminal por crime, doloso ou culposo ou contravenção penal. O termo “enquanto durarem seus efeitos” se refere até a data da declaração do termo de extinção da pena ou da punibilidade (art. 107, CP), (vide súmula 09, TSE). Uma vez cumprida ou extinta a pena, a pessoa readquire os direitos políticos automaticamente.

OBS 1: Os incidentes na execução penal não fazem com que a pessoa readquira os direitos políticos (ex.: livramento condicional e sursis). Então, o sujeito em sursis não readquire seus direitos políticos, sendo necessária a declaração do termo de extinção da pena ou da punibilidade para que automaticamente os direitos políticos sejam readquiridos.

OBS 2: Medida despenalizadora da Lei 9.099/95 acarreta em suspensão dos direitos políticos? Nas hipóteses de transação penal ou de suspensão condicional do processo não haverá sequer condenação, logo não há que se falar em suspensão de direitos políticos.

OBS 3: A condenação a pena de multa importa na suspensão dos direitos políticos. Não é a prisão que importa na suspensão dos direitos políticos, e sim a condenação criminal transitada em julgado. Pena de multa é pena, a qual decorre de condenação criminal transitada em julgado.

OBS 4: Preso pode votar? Depende do fundamento da prisão. A prisão só suspende os direitos políticos se for decorrente de condenação criminal transitada em julgado. O entendimento atual é de que não há voto do preso provisório e do preso devedor de alimentos por impossibilidade física na prática, pois ele mantém seus direitos políticos e seu direito de votar. [caiu na discursiva do MPF 26]. [se pagar a multa na execução fiscal a punibilidade se extingue e automaticamente readquire os direitos políticos].

OBS 5: Suspensão dos direitos políticos X Inelegibilidade do art. 1º, I, c, LC 64/90: O prazo da LC 64/90 é de desde o trânsito em julgado ou de decisão de colegiado até 8 anos após o cumprimento da pena [observe que houve a antecipação dos efeitos admitindo a suspensão a partir de decisão de órgão colegiado sem o trânsito em julgado]. Linha do tempo para entender: 1) condenação por juiz de primeiro grau: Nada acontece para o Direito Eleitoral. Pode votar e pode ser votado. 2) Condenação por órgão colegiado: Se iniciará a inelegibilidade com a privação dos direitos políticos passivos. Então, não poderá ser votado, sendo inelegível a partir desse momento. Pode votar? Sim, a inelegibilidade atinge apenas a capacidade eleitoral passiva. 3) Trânsito em julgado: ocorre a suspensão de todos os direitos políticos, ativos e passivos. 4) Extinção da pena: cessam os efeitos da condenação e readquire os direitos políticos ativos. Continua inelegível por força da LC 64/90. 5) Após 8 anos: readquire todos os direitos políticos. Portanto, a inelegibilidade só atinge o direito de ser votado. A suspensão atinge o direito de ser votado e o de votar. Elas ocorrem em momentos diferentes. Atenção 1: O que aconteceu com o Collor não foi

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inelegibilidade. Ele sofreu processo de impeachment por crime de responsabilidade e ficou impedido de exercer qualquer cargo público por 8 anos e não apenas inelegível por 8 anos, o que atingiria apenas sua capacidade de ser votado. Atenção 2: Para o TSE, a decisão de Tribunal de Júri é decisão de órgão colegiado, gerando a inelegibilidade acima.

OBS 6: Antes da AP 470 era assim: A condenação criminal transitada em julgado não acarreta, de forma automática, a perda do mandato de Deputado Federal ou Senador (art. 55, VI, CF/88). Com efeito, o art. 55, IV, CF/88, prevê a perda do mandato no caso de perda ou suspensão dos direitos políticos. Mas, como há regra específica de perda do mandato por condenação criminal (inciso VI), aplica-se o princípio da especialidade e, assim, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou Senado Federal (art. 55, §2°). Após mudança de entendimento do STF na Ação Penal 470 é assim: O Supremo Tribunal Federal decidiu, em 17/12/12, que parlamentares condenados criminalmente pela corte na Ação Penal 470, o processo do mensalão, devem perder o mandato após o trânsito em julgado do processo. A decisão foi proferida após o voto do decano do tribunal, ministro Celso de Mello, dar maioria apertada à corrente defendida pelo relator e presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa: cinco votos a quatro. Com a decisão, os deputados federais Valdemar Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT), condenados no processo do mensalão, devem perder seus mandatos, cabendo à Câmara ato meramente declaratório. Votaram pela perda de mandato Joaquim Barbosa, Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Luiz Fux. Ficaram vencidos o revisor, Ricardo Lewandowski, e os ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Rosa Weber. Em seu voto, Celso de Mello acompanhou o entendimento defendido pelo ministro Gilmar Mendes. Ambos afirmam que a perda de mandato deve ser automática em dois casos: quando a condenação superior a um ano contiver improbidade administrativa, ou quando a pena for superior a quatro anos. “Nessas duas hipóteses, a perda de mandato é uma consequência direta e imediata causada pela condenação criminal transitada em julgado”, afirmou o decano. Nos demais casos, Celso e Gilmar defendem que caberá às Casas Legislativas decidir quanto à perda mandato.

Jurisprudência do TSE:

- Súm.-TSE 9/92: “A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos”. Ac.-TSE nos 13.027/96, 302/98, 15.338/99 e 252/2003: para incidência deste dispositivo, é irrelevante a espécie de crime, a natureza da pena, bem como a suspensão condicional desta.

- LC 64/90, art. 1°, I, e, com a redação dada pelo art. 2º da LC nº 135/2010: inelegibilidade desde a condenação até o transcurso do prazo de oito anos, após o cumprimento da pena, para os crimes nela elencados.

- Ac.-TSE, de 3.4.2008, no REspe nº 28.390: a suspensão dos direitos políticos decorrente de condenação criminal não se confunde com o disposto no art. 1º, I, e, da LC nº 64/90.

- Res.-TSE nº 23.241/2010: “A exigência de documentos originários da Justiça Eleitoral como condição para o exercício de atos da vida civil, à margem dos impedimentos

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legalmente estabelecidos em razão do descumprimento das obrigações relativas ao voto, representa ofensa a garantia fundamental, haja vista o caráter restritivo das aludidas normas.”

- Ac.-TSE, de 15.10.2009, no REspe nº 35.803: “A suspensão dos direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal é efeito automático da condenação criminal transitada em julgado e não exige qualquer outro procedimento à sua aplicação”.

- Res.-TSE nº 22.193/2006: aplicação deste dispositivo quando imposta medida de segurança. Ac.-TSE nº 13.293/96: incidência, ainda, sobre condenação por prática de contravenção penal.

1.2) Interdição por incapacidade civil absoluta (art. 3º do CC): não gera por si só a suspensão, sendo necessária a interdição.

OBS 1: Os menores de dezesseis anos não entram nas hipóteses de suspensão, pois é hipótese de impedimento, pois o menor de 16 anos ainda sequer tem direitos políticos;

OBS 2: Uma pessoa em coma está com os direitos políticos suspensos? Não, pois o coma não gera por si só a suspensão, sendo necessária a interdição.

1.3) Condenação transitada em julgado por improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º (art. 15, V): Não basta o ato de improbidade, tem que haver condenação transita em julgado. Na Lei 8.429/92, o art. 12 prevê, entre outras sanções, a suspensão de direitos políticos, nos seguintes prazos: I (enriquecimento ilícito) - 8 a 10 anos; II (prejuízo ao erário) - 5 a 8 anos; e III (princípios da Administração Pública) - 3 a 5 anos. Essa suspensão não é automática, devendo ser tratada expressamente na decisão da improbidade administrativa. A Lei 8.429/92 estabelece a suspensão dos direitos políticos como uma das sanções aplicáveis, cabendo ao juiz decidir sobre sua incidência no caso concreto e sobre o prazo de suspensão. A condenação por improbidade também pode implicar inelegibilidade, nos termos do art. 1°, I, “h” da LC 64/90.

2) A perda dos direitos políticos:

Perda dos direitos políticos é a privação definitiva dos direitos políticos que, entretanto, poderão ser readquiridos no futuro, mediante provocação do interessado [a causa é definitiva, mas se houver provocação pode readquirir os direitos políticos].

2.1) Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII (art. 15, IV): O serviço militar é obrigatório nos termos da lei (art. 143, CF/88). Compete às Forças Armadas, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar (art. 143, §1°). A regulamentação da regra constitucional foi feita pela Lei 8.239/91, a qual dispõe sobre serviço militar obrigatório e

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prevê a possibilidade de serviço alternativo (art. 3°, §§1° e 2°).

O art. 438, CPP, prevê como hipótese de perda dos direitos políticos a recusa ao serviço do júri: “Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto. § 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

2.2) Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado: Essa é a primeira hipótese da perda dos direitos políticos. Também ocorre a perda dos direitos políticos quando há opção voluntária para aquisição de outra nacionalidade pelo brasileiro nato. Portanto, tanto o brasileiro nato quanto o naturalizado podem sofrer a perda dos direitos políticos por essa hipótese.

Observações finais:

As hipóteses de incapacidade civil absoluta, previstas no art. 3°, I e III, CC, podem envolver situações que só têm relevância para os efeitos dos direitos políticos se ocorrerem após os 16 anos. As demais situações dos incisos II e III do Código Civil podem envolver ou situação de suspensão (quando for provisória a causa de incapacidade civil) ou de perda (quando for definitiva a causa da incapacidade). As hipóteses de incapacidade absoluta estão indicadas no art. 3°, II do CC/02. Quanto aos menores de 16 anos, há impedimento à aquisição de direitos políticos, pois são inalistáveis. Os demais casos, em regra, exigem processo judicial de interdição. Decretada a interdição, o juiz cível deve comunicar o juiz eleitoral ou o TRE. O art. 1773 do CC/02 dispõe que a sentença de interdição produz efeitos desde logo, embora sujeita a recurso. Controvérsia: J. Jairo entende que a suspensão de direitos políticos, por força do art. 1.773 do CC/02, não exige o trânsito em julgado; já Rodrigo L. Zílio entende que o trânsito em julgado é necessário.

Outra situação de suspensão ocorre na hipótese do maior de 16 anos e menor de 18 anos, que tenha feito alistamento eleitoral facultativo. Convocado para prestar serviço militar obrigatório, passa para a condição de conscrito e, no âmbito dos direitos políticos, não pode alistar-se (art. 14, §2°, CF/88). Parece razoável dizer-se que o indivíduo tem os seus direitos políticos suspensos durante o período do serviço militar obrigatório.

Antônio Carlos Mendes chama a atenção para outra hipótese de perda que não está expressamente prevista no rol do art. 15, CF/88. Trata-se da perda da nacionalidade do brasileiro que adquirir outra nacionalidade (art. 12, §4°, CF/88), ressalvados os casos das alíneas “a” e “b” do inciso II. É a aquisição voluntária de nacionalidade derivada.

Quadro esquemático do livro do Thales Tácito:

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Questões de prova:

Improbidade administrativa é perda ou suspensão? A partir de quando?

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Perda e suspensão dos direitos políticos, fale sobre cada uma prevista no art. 15, CF dizendo se é perda ou suspensão.

Casos de perda e suspensão de direitos políticos, fale sobre elas.

Quais os casos de perda ou suspensão dos direitos políticos previstos na Constituição Federal?

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Ponto 2.a. Voto universal, direto e secreto.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º. José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 8ª Edição. Ed. Atlas.201; Luiz Carlos dos Santos Gonçalves. Direito Eleitoral.Coleção Concursos Jurídicos. Ed. Atlas.2010; A Constituição e o Supremo. http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/

Legislação básica: Art. 14º, I, II, III, e §1º CF. 60, §4°, II da CF. Art. 220 do CE. Arts. 59, §4° e 61, LE. Lei 7.444/85

1. Noções Gerais: É um direito político e, portanto, um direito fundamental. No Brasil é um direito público subjetivo e, ao mesmo tempo, um dever cívico. O voto direto secreto universal e periódico é cláusula pétrea (art. 60, §4°, II da CF). No sistema eleitoral brasileiro o voto apresenta as seguintes características: personalidade, obrigatoriedade, liberdade, secreto, direto, periódico, igual. Importante destacar que também se trata de direito humano (art. 25 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de 1966/ Dec 592/92)

2. Conceitos.

A) Sufrágio e voto: sufrágio é o direito público subjetivo de participar da formação da vontade política do Estado. Possui duas dimensões, ativa (direito de votar) e passiva (direito de ser votado, de ser eleito). O voto é o ato pelo qual o direito de sufrágio é concretamente exercido.

O sufrágio pode ser universal ou restrito, igual ou desigual: Sufrágio universal é aquele em que o direito de votar é atribuído ao maior número possível de nacionais, excluídos apenas aqueles que, por motivos razoáveis (eg, idade), não podem participar do processo político eleitoral. Sufrágio restrito é aquele concedido somente a alguns nacionais, com base em critérios discriminatórios e irrazoáveis. O sufrágio restrito pode ser censitário (baseado na capacidade econômica do indivíduo), capacitário/cultural (fundado na aptidão intelectual do indivíduo) ou masculino (fundado no sexo, com exclusão das mulheres). Sufrágio igual é aquele fundado no princípio da isonomia, de modo que o voto de todos os cidadãos possui idêntico peso político (one man, one vote). Sufrágio desigual é aquele caracterizado pela superioridade de certos votantes. Exemplo é o voto familiar, em que o pai de família detém número de votos correspondente ao de filhos. No Brasil, foi adotado o sufrágio universal e igual, nos termos do art. 14 da CRFB. Há, porém, quem entenda que a inelegibilidade dos analfabetos configura resquício do sufrágio capacitário/cultural. Sobre o pondo José Jairo afirma que: “A vigente constituição acolheu em parte esse tipo de sufrágio. Com efeito, nega a capacidade eleitoral passiva dos analfabetos, pois estabelece que eles são inelegíveis(...)”Gomes. p. 46.

B) Voto e escrutínio: “enquanto o voto é o exercício do sufrágio, dos direitos políticos, o escrutínio designa a maneira como esse processo se perfaz, isto é, como o voto se

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concretiza” Gomes.p.51. O escrutínio no Brasil é secreto e informatizado, pois com isso se procura resguardar a autenticidade da manifestação do eleitor, garantindo o sigilo da votação.

C) Sufrágio e cidadania: “A cidadania constitui atributo jurídico que nasce no momento em que o nacional se torna eleitor” Gomes. p. 46.

D) Voto: o voto concretiza o direito de sufrágio. Natureza jurídica: direito ou dever? A doutrina da soberania popular entende que o voto é um direito. A doutrina da soberania nacional entende que o voto é um dever, uma função política em benefício da coletividade e do Estado. J. Jairo, assim como a maioria da doutrina brasileira, adota posição sincrética, entendendo que o voto é um direito público subjetivo dotado de função social e política, função esta que legitima sua obrigatoriedade. O voto no Brasil é pessoal (vedado o exercício mediante representante), obrigatório (não exercício deve ser justificado), livre (liberdade de escolha), secreto (conteúdo não pode ser revelado pela Justiça Eleitoral), direto (em regra, representantes são escolhidos sem intermediários), periódico (princípio republicano) e igual (igual valor numérico e político). O voto direto, secreto, periódico e universal é cláusula pétrea (art. 60, §4°, II, CRFB). ATENÇÃO: a obrigatoriedade não é protegida por cláusula pétrea.

E) Voto múltiplo: é aquele em que o eleitor pode votar mais de uma vez em circunscrições diferentes. F) Voto Plural: é uma variação do voto múltiplo, que permite ao eleitor votar mais de uma vez na mesma circunscrição.

3. Voto universal: ver acima o que foi dito sobre o sufrágio universal. É cláusula pétrea.

“Caracteriza-se, pois, o sufrágio universal, pela concessão genérica de cidadania, a qual só é limitada excepcionalmente” Gomes. p. 46

“Significa que, embora nem todo o povo ou todos os habitantes votem, as restrições não impedem a participação da maioria. Universal, portanto, não é sinônimo de “para todos” porque os menores de 16 anos não votam, os estrangeiros não votam e quem tiver com os direitos políticos perdidos ou suspensos também não” Gonçalves. p. 17

O preso provisório e o adolescente em conflito com a lei têm direito ao voto.

4. Voto direto: é aquele mediante o qual o eleitor escolhe seus representantes de modo imediato, sem qualquer mediação por instância intermediária ou colégio eleitoral. É regido pelo princípio da imediaticidade do voto. É cláusula pétrea (art. 60, §4°, II, CRFB), e visa a garantir o princípio democrático. Não retira o caráter direto do voto a adoção do sistema proporcional, pois, neste sistema, o voto do eleitor é que é decisivo para a atribuição do mandato, não qualquer decisão a ser tomada por intermediário ou órgão colegiado.

OBS 1: O voto indireto constitui exceção ao cânone do exercício direto do sufrágio e é previsto somente para a dupla vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente nos últimos dois anos do período presidencial (art. 81, §1°, da CRFB). Neste caso de dupla vacância, a eleição será feita pelo Congresso Nacional, em 30 dias da última vacância,

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devendo ser observadas as condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade. A votação deve ser aberta, para que o eleitor conheça o voto de seu representante (STF, ADI 4.298/TO).

OBS 2: No âmbito dos Estados e dos Municípios, esta hipótese de voto indireto no caso de dupla vacância não é caso de norma de reprodução obrigatória, pois não se submete ao princípio da simetria, mas pode ser aplicada no âmbito dos Estados, desde que exista previsão na Constituição Estadual, e dos Municípios desde que haja previsão na Lei Orgânica e não exista vedação na respectiva Constituição Estadual (STF, ADI 3.549-GO).

OBS 3: As constituições estaduais podem dispor de modo diverso? Embora não deixem de revelar certa conotação eleitoral, porque dispõe o procedimento de aquisição eletiva do poder político, não haveria como reconhecer ou atribuir características de direito eleitoral stricto sensu às normas que regem a eleição indireta no caso de dupla vacância no último biênio do mandato. Em última instância, essas leis teriam por objeto matéria político administrativa que demandaria típica decisão do poder geral de autogoverno, inerente à autonomia política dos entes federados. Portanto, o artigo 81, §1º, CF se aplica somente à dupla vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, como especialíssima exceção ao cânone do exercício direto do sufrágio. Não obstante a inaplicabilidade do princípio da simetria ao caso, se a constituição estadual reproduzir o texto do artigo 81, §1º, CF, a reserva de lei ao qual a norma reproduzida se refere se trata de lei de competência do próprio ente federado. [ADI 4298MC/TO, 2009]

5. Voto secreto: o conteúdo do voto não pode ser revelado pela Justiça Eleitoral. O segredo é direito do eleitor, sendo que só ele, querendo, pode revelar seu voto. O sigilo do voto é cláusula pétrea (art. 60, §4°, II, CRFB), e visa a garantir a liberdade do eleitor e a lisura do pleito. É nula a votação quando preterida formalidade essencial do sigilo do voto (art. 220, IV do CE.). No caso de voto eletrônico a urna deverá possuir recursos que mediante assinatura digital permitam o registro digital de cada voto e a identificação da urna em que foi registrado, resguardando o anonimato do eleitor (arts. 59, §4° e 61,LE). Na ADI 4543/DF o STF por unanimidade deferiu medida cautelar para suspender eficácia do art. 5º da Lei 12.034/2009 por entender vulnerado o sigilo do voto e a segurança do sistema.

6. Jurisprudência:

A) “Sigilo do voto: direito fundamental do cidadão. (...) A exigência legal do voto impresso no processo de votação, contendo número de identificação associado à assinatura digital do eleitor, vulnera o segredo do voto, garantia constitucional expressa. A garantia da inviolabilidade do voto põe a necessidade de se garantir ser impessoal o voto para garantia da liberdade de manifestação, evitando-se qualquer forma de coação sobre o eleitor. A manutenção da urna em aberto põe em risco a segurança do sistema, possibilitando fraudes, impossíveis no atual sistema, o qual se harmoniza com as normas constitucionais de garantia do eleitor. Cautelar deferida para suspender a eficácia do art. 5º da Lei 12.034/2002.” (STF ADI 4.543-MC);

B) “Ação direta de inconstitucionalidade – Lei 6.571/1994, do Estado da Bahia – Dupla vacância dos cargos de Governador e de Vice-Governador do Estado – Eleição pela

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Assembleia Legislativa para o exercício do mandato residual. (...) A cláusula tutelar inscrita no art. 14, caput , da Constituição tem por destinatário específico e exclusivo o eleitor comum, no exercício das prerrogativas inerentes ao status activae civitatis . Essa norma de garantia não se aplica, contudo, ao membro do Poder Legislativo nos procedimentos de votação parlamentar, em cujo âmbito prevalece, como regra, o postulado da deliberação ostensiva ou aberta. As deliberações parlamentares regem-se, ordinariamente, pelo princípio da publicidade, que traduz dogma do regime constitucional democrático. A votação pública e ostensiva nas Casas Legislativas constitui um dos instrumentos mais significativos de controle do poder estatal pela sociedade civil.” (STF ADI 1.057-MC.) (grifo meu). “Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:I- plebiscito;II- Referendo; III- Iniciativa Popular”.

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Ponto 2.b. Nacionalidade e Cidadania. Direitos políticos. Cargos privativos de brasileiro nato.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º. José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 8ª Edição. Ed. Atlas.201; Luiz Carlos dos Santos Gonçalves.Direito Eleitoral.Coleção Concursos Jurídicos. Ed. Atlas.2010; Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado.Ed. Saraiva. 2012; A Constituição e o Supremo. http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/

Legislação básica. Arts. 12 a 16 da CF. Dec. 4246/2002. Lei 818/1949. Arts. 111 a 121 da Lei 6.815/80. Dec. 3453/2000. Lei 4737/1965. Lei 9709/98.

1.Noções Gerais: Enquanto a cidadania identifica os detentores de direitos políticos, a nacionalidade é um vínculo do indivíduo com o Estado. Ambos são direitos fundamentais. Importante destacar que também se trata de direito humano (arts. 24 e 25 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de 1966/ Dec 592/92)

2. Nacionalidade e cidadania:

A nacionalidade é o vínculo jurídico-político que une uma pessoa física a um Estado, pois perante o Estado ele é nacional ou estrangeiro, do qual decorre uma série de direitos e obrigações. Aquisição de nacionalidade pode ser: 1) Originária ou primária: esse tipo, em geral, não está relacionado a um ato de vontade, pois decorre de um fato natural, o nascimento. Dois critérios predominam para definição da nacionalidade primária: o jus solis e o jus sanguinis. O jus solis, ou critério territorial, determina a nacionalidade pelo lugar do nascimento, sem influência da nacionalidade dos ascendentes. É adotada em países que formaram seu povo com grande influência de imigrantes. Nos países onde predomina a emigração, o critério predominante é do jus sanguinis, que atribui a nacionalidade pelos ascendentes, é o critério mais antigo. 2) Secundária ou adquirida: é adquirida por fato posterior ao nascimento, em geral por um ato de vontade.

A nacionalidade é um verdadeiro direito fundamental que une o indivíduo a um Estado. Segundo Gilmar Ferreira Mendes a “nacionalidade configura vínculo político e pessoal que se estabelece entre o Estado e o indivíduo, fazendo com que este integre uma dada comunidade política, o que faz com que o estado distinga o nacional do estrangeiro para diversos fins” MENDES, p. 679

Apatridia é um conflito negativo de atribuição de nacionalidade, ocorrendo pela sua perda arbitrária, em geral por motivos políticos, ou não incidência de qualquer critério de atribuição de nacionalidade a uma pessoa. Essa situação fere o direito humano à nacionalidade. A Polipatria ou plurinacionalidade é um conflito positivo na atribuição da nacionalidade devido à coincidência de critérios para uma mesma pessoa. Muito embora a nacionalidade seja, primariamente, assunto de Direito interno (Convenção de Haia Concernente a Certas Questões Relativas aos Conflitos de Leis sobre Nacionalidade, de

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1930), o direito internacional regula alguns dos seus aspectos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. XV, § 2°) afirma que “ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade”, ou seja, é possível a perda da nacionalidade, contanto que seja em decorrência de regras previamente estabelecidas e compatíveis com as normas internacionais de direitos humanos. O Direito Internacional repugna a retirada da nacionalidade por motivos políticos, raciais ou religiosos, ou a partir de considerações de caráter meramente discricionário PORTELA, p.261.

Cidadania, ao seu turno, é a condição jurídica por meio da qual se permite que o nacional exerça seus direitos políticos de votar e ser votado. A cidadania pressupõe a nacionalidade, ou seja, para que se possa ser cidadão de um determinado Estado é imprescindível que a pessoa também seja um dos nacionais deste Estado. Verifica-se, deste modo, que é justamente a possibilidade de exercer direitos políticos que diferencia o nacional cidadão do nacional destituído de cidadania, pois todo cidadão é nacional, mas nem todos nacional é cidadão. OBS: é possível um não nacional, logo sem cidadania, exercer direitos políticos? Sim. É o caso do português equiparado.

“Chama-se de cidadão o [nacional] detentor de direitos políticos. Trata-se do nacional admitido a participar da vida política do País, seja escolhendo os governantes, seja sendo acolhido para ocupar cargos político-eletivos. Conforme averba Silva (2006,p.347) “a cidadania se adquire com a obtenção da qualidade de eleitor que documentalmente se manifesta na posse de título de eleitor válido” José Jairo Gomes. Op. Cit. p.45

Cidadania X Nacionalidade: “É comum a confusão entre os conceitos de cidadania e nacionalidade.(...) A cidadania é um status ligado ao regime político; identifica os detentores de direitos políticos. Já a nacionalidade é um status do indivíduo perante o Estado. Indica que uma pessoa encontra-se ligada a determinado Estado. (...) A cidadania constitui atributo jurídico que nasce no momento que o cidadão se torna eleitor” Gomes. p.45/46. Portanto: Cidadão, em regra, é um nacional, entretanto, há casos de cidadania sem nacionalidade (português equiparado, art. 12, §1º, CRFB) e nacionalidade sem cidadania (ex.: menor de 16 anos; art 15, CRFB, salvo o inciso I).

Como o indivíduo adquire a cidadania? O indivíduo adquire os direitos políticos da cidadania por intermédio do alistamento eleitoral (que possui natureza jurídica de ato administrativo declaratório). Isto é, na ocasião na ocasião em que o indivíduo obtém a qualidade de eleitor, adquire o direito de votar nas eleições em geral, nos plebiscitos e referendos, bem como de subscrever projetos de lei de iniciativa popular. A capacidade eleitoral passiva, porém, é gradativa. Aos 18 anos, desde que preencher os demais requisitos de elegibilidade, adquire a capacidade para ser vereador; aos 21 anos, deputado estadual, deputado distril, deputado federal, Prefeito e vice; aos 30 anos, Governador e vice; aos 35 anos, para senador, presidente ou vice-presidente da república.

É possível haver a perda da nacionalidade? Sim. Pode atingir tanto o brasileiro nato quanto o naturalizado. O brasileiro nato e o naturalizado podem perder sua nacionalidade pela aquisição de outra nacionalidade, por naturalização voluntária exceto se nas hipóteses do art. 12, § 4º, inc. II, alíneas “a” e “b” (aquisição de nacionalidade originária ou imposição de naturalização por outro Estado). O brasileiro naturalizado também pode perder sua

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nacionalidade por cancelamento da naturalização brasileira, por sentença judicial, em razão de atividade nociva ao interesse nacional (ex.: se condenado pelo crime de tráfico de drogas – mas não é efeito direto ou automático da condenação penal, pois a perda da nacionalidade é sanção de caráter administrativo. Atenção: não existe hipótese de perda da nacionalidade brasileira como sanção de caráter penal).

Estatuto da igualdade: Estatuto da Igualdade entre brasileiros e portugueses de 1971 foi substituído pelo Tratado de Amizade e Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e o Brasil, de 22∕04∕2000. Tratado de ampla cooperação nos campos político, cultural, científico, econômico e financeiro. Importante: Segundo REZEK, altera a clássica noção da nacionalidade como pressuposto necessário da cidadania. “Seu regime torna possível que, conservando incólume o vínculo de nacionalidade com um dos dois países, o indivíduo passe a exercer no outros direitos inerentes à qualidade de cidadão”.

OBS 1: não é hipótese de aquisição de nacionalidade. É norma que permite o exercício de direitos inerentes ao brasileiro nato, com exceção dos casos previstos na CF.

OBS 2: os benefícios do Estatuto da Igualdade NÃO SÃO AUTOMÁTICOS! Só serão atribuídos aos brasileiros e portugueses que o requeiram, que sejam civilmente capazes e com residência habitual no país em que são pleiteados, por decisão do Ministério da Justiça, no Brasil, e do Ministério da Administração Interna, em Portugal.

Os portugueses podem requerer direitos iguais aos dos brasileiros naturalizados (não aos dos brasileiros natos), sem se tornar nacionais do Brasil e sem perder sua nacionalidade de origem – situação chamada de “quase-nacionalidade”. Dois procedimentos: a) quase-nacionalidade restrita – Simples igualdade de direitos e obrigações civis – basta a prova da sua nacionalidade, da sua capacidade civil e de sua admissão no Brasil em caráter permanente, sem necessidade de prazo mínimo de residência no país; b) quase-nacionalidade ampla – Para aquisição de direitos políticos – deve estar em gozo de seus direitos políticos em Portugal e residir no Brasil há pelo menos 3 anos. Enquanto estiver exercendo seus direitos políticos no Brasil, ficarão suspensos seus direitos políticos em Portugal.

Por esse Estatuto, brasileiros e portugueses ainda: a) ficam submetidos à lei penal do Estado de residência, nas mesmas condições dos respectivos nacionais; b) não estão sujeitos à extradição, salvo se requerida pelo Governo do Estado da Nacionalidade; c) gozo de iguais direitos e deveres; d) caso necessitem de proteção diplomática, será o país de origem que irá protegê-lo; e) extinção do benefício estatutário – pela expulsão do território nacional ou pela perda da nacionalidade originária. A suspensão dos direitos políticos no país de origem acarretará também a extinção dos mesmos direitos no outro país.

O estatuto de igualdade se extinguirá com a perda, pelo beneficiário, de sua nacionalidade, ou com a cessação da autorização de permanência.

OBS 1: Os beneficiários do Estatuto da Igualdade se submetem à lei do Estado em que residem.

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OBS 2: O português e o brasileiro que gozam do Estatuto da igualdade não estão sujeitos à extradição, salvo se requerida pelo governo do Estado de nacionalidade. (Info STF 121).

OBS 3: O status do português beneficiário NÃO SE IDENTIFICA COM O DO BRASILEIRO NATURALIZADO, visto que o cidadão de Portugal pode ser extraditado e expulso e, no exterior, não conta com proteção diplomática e consular.

OBS 4: Atualmente a principal dificuldade para a aplicação do Estatuto da Igualdade Brasil-Portugal consiste na impossibilidade de Portugal atribuir status de cidadão português e, portanto, detentor de cidadania europeia para cidadãos de um Estado não pertencente à EU. Com isso, viola-se a regra constitucional da reciprocidade.

Nacionais do MERCOSUL: Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Parte do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e Acordo sobre Residência para Nacionais do Mercosul Bolívia e Chile (Estados Associados) – promulgados no Brasil pelos Decretos n. 6.964∕2009 e 6.975∕2009, respectivamente. O estrangeiro beneficiado com os Acordos de Residência possui igualdade de direitos civis no Brasil. Deveres e responsabilidades trabalhistas e previdenciárias são também resguardadas, além do direito de transferir recursos. Interessante que os estrangeiros poderão requerer residência em quaisquer dos Estados signatários, independentemente de estarem em situação migratória regular ou irregular. Os que estiverem em situação irregular ficam isentos de multas ou outras sanções administrativas relativas à sua situação migratória. É concedida a residência temporária por dois anos; 90 dias antes de terminar esse prazo, o estrangeiro pode requerer a transformação em residência permanente.

3. Critérios adotados pelo Brasil para aquisição da nacionalidade: Originária: a) Jus soli – o indivíduo tem a nacionalidade do Estado em cujo território nasceu – critério territorial (em regra, adotado pelos países de tradição imigratória); b) Jus sanguinis - a nacionalidade se transmite por laços familiares de ascendência – critério familiar – fixado por laços sanguíneos. O indivíduo tem a nacionalidade de seus pais, pouco importando o local em que tenha nascido (em regra, adotado pelos países de tradição emigratória); c) Sistema misto – combina os dois critérios – será nacional tanto aquele que nascer no território do Estado quanto o que tem laços familiares com um nacional do Estado. Para a maioria da doutrina, o Brasil adota o sistema misto (com prevalência do jus soli). Derivada ou adquirida: é uma nacionalidade secundária, a qual é obtida mediante ato voluntário do agente em um processo de naturalização. É aquela solicitada por vontade própria, por uma decisão do indivíduo, conjugada à manifestação do Estado em conceder sua nacionalidade. É a nacionalidade que o indivíduo adquire posteriormente ao seu nascimento e, em regra, implica a ruptura do vínculo anterior. Depende do atendimento a requisitos, ora alternativos, ora cumulativos, definidos pelo ordenamento jurídico de cada Estado.

OBS: Já houve no Brasil hipótese de naturalização tácita? Sim. Na Constituição de 1891. [“São cidadãos brasileiros os estrangeiros que, achando-se no Brasil em 15 de novembro de 1889, não declararem, dentro de seis meses depois de entrar em vigor a Constituição o ânimo de conservar a nacionalidade de origem].

OBS: A concessão de naturalização a estrangeiro é ato vinculado? Não. Em regra, a decisão

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pela concessão da nacionalidade derivada é ato discricionário da autoridade pública nacional, não sendo direito adquirido pelo estrangeiro, mesmo que ele preencha todos os requisitos legais. Porém, existem hipóteses constitucionais em que o Estado é compelido a conceder a naturalização (caso do art. 12, II da CF∕88).

4. Cargos Privativos de Brasileiros Natos: Destaque-se que apenas a Constituição pode estabelecer distinção entre os brasileiros natos e naturalizados, sendo que ela o fez somente em quatro aspectos: ocupação privativa de certos cargos, exercício privativo de funções, propriedade de empresa jornalística e tratamento diferenciado para a extradição. Interessa-nos, no presente ponto, apenas os dois primeiros. O rol de cargos privativos de brasileiros natos está previsto no art. 12, § 3° da CR

A Constituição também estabelece em seu art. 89, inciso VII, que os seis cidadãos que integram o Conselho da República devem ser brasileiros natos, maiores de 35 anos, sendo que dois deles serão nomeados pelo Presidente da República, dois serão eleitos pelo Senado Federal e outros dois eleitos pela Câmara dos Deputados.

OBS: Português equiparado: Português equiparado não pode ocupar cargos privativos de brasileiro nato (art. 12, §3º, CRFB/88), sendo assim, não possui elegibilidade plena, visto que jamais poderá ser presidente e vice-presidente da república. Deve-se fazer remissão à resolução nº 21.538/03, art. 51, §4º c/c art. 17 do Decreto 3.927/01. Esses dispositivos afirmam que, caso o português opte por exercer direitos políticos no Brasil, ficará suspenso desses mesmos direitos em Portugal.

5. Direitos Políticos: “É o ramo do Direito Público cujo objeto são os princípios e as normas que regulam a organização e o funcionamento do Estado e do Governo, disciplinando o exercício e o acesso ao poder estatal. Encontra-se, pois, compreendido no Direito Constitucional(...)”. “Denominam-se direitos políticos ou cívicos [aqueles] inerentes à cidadania. Englobam o direito de participar direta ou indiretamente, da organização e do funcionamento do Estado.” “(...) os direitos políticos disciplinam as diversas manifestações da soberania popular, a qual se concretiza pelo sufrágio universal, pelo voto direito e secreto (com valor igual para todos os votantes), pelo plebiscito referendo e iniciativa popular”.

Existem duas modalidades de direitos políticos: os direitos políticos ativos e direitos políticos passivos. Enquanto os primeiros asseguram a pessoa o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais, os direitos políticos passivos facultam que ela possa ser votada e está ligado às condições de elegibilidade. “Extrai-se do Capítulo IV, do Título II, da Constituição Federal, que os direitos políticos disciplinam as diversas manifestações da soberania popular, a qual se concretiza pelo sufrágio universal, pelo voto direito e secreto (com valor igual para todos os votantes), pelo plebiscito, referendo e iniciativa popular.” Gomes. p.4.

Questões de prova:

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Fale sobre a capacidade eleitoral passiva e ativa dos portugueses no brasil.

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Ponto 2.c. Plebiscito e referendo. Iniciativa popular.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º. José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 8ª Edição. Ed. Atlas.2012; Luiz Carlos dos Santos Gonçalves.Direito Eleitoral.Coleção Concursos Jurídicos. Ed. Atlas.2010; Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado.Ed. Saraiva. 2012; A Constituição e o Supremo. http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/

Legislação básica. Arts. 14 da CF. Art. 18 §3º e 4°da CF. Art. 49, XV da CF. Art. 61 §2º da CF; Art. 2º do ADCT; Arts. 1o, II e III, 2º, §, 3º, 6º, 8º, 10 a 14 da Lei 9709/1998

1. Noções Gerais: A CRFB, no intuito de atenuar o formalismo da democracia representativa, inovou na adoção de instrumentos da democracia direta ou semidireta. Aproximou-se, assim, do ideal da democracia participativa. “No sistema brasileiro a democracia representativa é temperada com mecanismos próprios de democracia direta, entre os quais citem-se: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular (CF, art 14, I, II, III e art. 61§ 2º)” Gomes. p. 40.

2. Conceitos: Plebiscito e referendo: São consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional administrativa ou legislativa. (art. 2º da Lei 9709/98). A diferença entre plebiscito e referendo concentra-se no momento de sua realização.

Plebiscito: “(...) consiste na consulta prévia à edição de “ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido” (Lei 9709/98, art. 2º, §1º)” (grifo meu) Gomes. p. 40. (exp.: plebiscito sobre a monarquia de 1993).

Referendo: “É a consulta posterior à edição de “ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição” (Lei 9709/98, art. 2º, §2º)” (grifo meu) Gomes. p. 40/41. Referendo é uma consulta posterior sobre determinado ato ou decisão governamental, seja para atribuir-lhe eficácia que ainda não foi reconhecida (condição suspensiva), seja para retirar a eficácia que lhe foi provisoriamente conferida (condição resolutiva). (exp.: recente referendo sobre o uso de armas).

Iniciativa popular: “(...) é o poder atribuído aos cidadãos para apresentar projetos de lei ao Parlamento, desfechando, com essa medida, procedimento legislativo que poderá culminar em uma lei” Gomes. p.41.

3. Detalhamento: A realização de plebiscito e referendo depende de autorização do Congresso Nacional (art. 49, XV da CRFB), excetuados os casos expressamente previsto na Constituição (art. 18, §§3º e 4º da CRFB), para alteração territorial de Estados e Municípios, e no art. 2º do ADCT, sobre a forma e sistema de governo.

O plebiscito e o referendo estão submetidos à reserva legal expressa (art. 14, caput da CRFB). A matéria está hoje regulada na Lei nº 9.709/98. O art. 3º do aludido diploma

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consagra que o plebiscito e o referendo serão convocados por meio de decreto legislativo proposto por no mínimo 1/3 dos votos dos membros que compõem uma das Casas do Congresso Nacional. Não se admite a convocação de plebiscito ou referendo mediante iniciativa popular. De acordo com a Lei 9.709/98, plebiscito e referendo devem ser convocados para questões de relevância nacional, bem como para formação e alteração territoriais de Estados e Municípios (art. 18, §§ 3º e 4º da CRFB).

O Brasil já realizou um referendo sobre o sistema de governo, em 6 de janeiro de 1963, durante a gestão de João Goulart. Em 21 de abril de 1993 foi realizado plebiscito sobre a forma e o sistema de governo no Brasil (monarquia parlamentar ou república; parlamentarismo ou presidencialismo). Em 23 de outubro de 2005 foi realizado referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, com vistas à aprovação ou não do disposto no art. 35 da Lei nº 10.826, de 23 de dezembro de 2003, conhecida como Estatuto do desarmamento. Nesta consulta, maioria do eleitorado optou pela não proibição. ATENÇÃO: há quem sustente, como Ivo Dantas, que o sistema presidencialista e a forma republicana de governo adquiriram o status de cláusulas pétreas após o plebiscito de 1993.

Iniciativa popular: A iniciativa popular está prevista no art. 61, §2º da CRFB e poderá ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído em pelo menos cinco Estados, com não menos 0,3% do eleitorado de cada um destes Estados. A iniciativa popular também é regulada pela Lei nº 9.709/98. Esta lei estabeleceu que o projeto de iniciativa popular deve restringir-se a um único assunto e que não se pode rejeitar proposição decorrente de iniciativa popular por vício de forma (art. 13, §2º). Como se observa, o povo não tem a capacidade de legislar diretamente, apenas possuindo a prerrogativa de apresentar o projeto de lei à Câmara que poderá, ou não, se tornar lei. ATENÇÃO: A doutrina majoritária não admite iniciativa popular em sede de emendas constitucionais, por entender que o rol do art. 60 da CRFB é taxativo, mas existem fozes em sentido contrário entendendo que por um critério de razoabilidade é admissível iniciativa popular de PEC com base na idéia de que o titular do Poder Constituinte é o povo, concepção inexoravelmente ligada à noção de soberania popular.

O resultado de plebiscito ou referendo pode ser alterado por lei ou emenda à constituição? Segundo Pedro Lenza, o legislador não pode contrariar a vontade popular, que passa a ser vinculante, e a lei ou a EC seriam inconstitucionais por violação aos artigos 14, I ou II c/c art. 1º da Constituição.

4. Jurisprudência:

A) Pedido. Associação civil. Projeto. Iniciativa popular. Proposta. Alteração. Lei Complementar nº 64/90. Eleitores. Apoio. Utilização. Urna eletrônica. Momento. Eleição municipal de 2008. Divulgação. Meios de comunicação. Gratuidade. Impossibilidade. Ausência. Previsão legal. Lei nº 9.709/98. 1. O art. 13 da Lei nº 9.709/98 - que regulamenta o art. 14, I, II e III, da Constituição Federal - estabelece que a iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco

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Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. 2. O citado diploma não prevê a possibilidade de que cidadãos, que desejam subscrever eventual projeto de lei de iniciativa popular, possam fazê-lo por meio da urna eletrônica, no momento de uma eleição realizada no país. 3. De igual modo, a mencionada lei regulamentadora não prevê a possibilidade da divulgação dessa iniciativa por intermédio dos meios de comunicação de massa, de forma gratuita. Pedido indeferido. (PA nº 19937 - juiz de fora/MG, Resolução nº 22882 de 05/08/2008, Rel. Min. CARLOS EDUARDO CAPUTO BASTOS);

B) “Após a alteração promovida pela EC 15/1996, a Constituição explicitou o alcance do âmbito de consulta para o caso de reformulação territorial de Municípios e, portanto, o significado da expressão ‘populações diretamente interessadas’, contida na redação originária do § 4º do art. 18 da Constituição, no sentido de ser necessária a consulta a toda a população afetada pela modificação territorial, o que, no caso de desmembramento, deve envolver tanto a população do território a ser desmembrado, quanto a do território remanescente. Esse sempre foi o real sentido da exigência constitucional – a nova redação conferida pela emenda, do mesmo modo que o art. 7º da Lei 9.709/1998, apenas tornou explícito um conteúdo já presente na norma originária. A utilização de termos distintos para as hipóteses de desmembramento de Estados-membros e de Municípios não pode resultar na conclusão de que cada um teria um significado diverso, sob pena de se admitir maior facilidade para o desmembramento de um Estado do que para o desmembramento de um Município. Esse problema hermenêutico deve ser evitado por intermédio de interpretação que dê a mesma solução para ambos os casos, sob pena de, caso contrário, se ferir, inclusive, a isonomia entre os entes da federação. O presente caso exige, para além de uma interpretação gramatical, uma interpretação sistemática da Constituição, tal que se leve em conta a sua integralidade e a sua harmonia, sempre em busca da máxima da unidade constitucional, de modo que a interpretação das normas constitucionais seja realizada de maneira a evitar contradições entre elas. Esse objetivo será alcançado mediante interpretação que extraia do termo ‘população diretamente interessada’ o significado de que, para a hipótese de desmembramento, deve ser consultada, mediante plebiscito, toda a população do Estado-membro ou do Município, e não apenas a população da área a ser desmembrada. A realização de plebiscito abrangendo toda a população do ente a ser desmembrado não fere os princípios da soberania popular e da cidadania. O que parece afrontá-los é a própria vedação à realização do plebiscito na área como um todo. Negar à população do Território remanescente o direito de participar da decisão de desmembramento de seu Estado restringe esse direito a apenas alguns cidadãos, em detrimento do princípio da isonomia, pilar de um Estado Democrático de Direito. Sendo o desmembramento uma divisão territorial, uma separação, com o desfalque de parte do território e de parte da sua população, não há como excluir da consulta plebiscitária os interesses da população da área remanescente, população essa que também será inevitavelmente afetada. O desmembramento dos entes federativos, além de reduzir seu espaço territorial e sua população, pode resultar, ainda, na cisão da unidade sociocultural, econômica e financeira do Estado, razão pela qual a vontade da população do território remanescente não deve ser desconsiderada, nem deve ser essa população rotulada como indiretamente interessada. Indiretamente interessada – e, por isso, consultada apenas indiretamente, via seus representantes eleitos no Congresso

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Nacional – é a população dos demais Estados da Federação, uma vez que a redefinição territorial de determinado Estado-membro interessa não apenas ao respectivo ente federativo, mas a todo o Estado Federal. O art. 7º da Lei 9.709, de 18-11-1998, conferiu adequada interpretação ao art. 18, § 3º, da Constituição, sendo, portanto, plenamente compatível com os postulados da Carta Republicana. A previsão normativa concorre para concretizar, com plenitude, o princípio da soberania popular, da cidadania e da autonomia dos Estados-membros. Dessa forma, contribui para que o povo exerça suas prerrogativas de cidadania e de autogoverno de maneira bem mais enfática.” (STF ADI 2.650)

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Ponto 3.a. Seções, zonas e circunscrições eleitorais.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Rodrigo Lopez Zilio. Direito Eleitoral, 3ª Edição. Ed. Verbo Jurídico; José Jairo Gomes. Direito Eleitoral, 6ª Edição. Ed. Atlas.

Legislação básica: Código Eleitoral e Lei 9.504/97.

O CE dividiu o eleitorado brasileiro em circunscrição eleitoral, zona eleitoral e seções eleitorais.

Circunscrição eleitoral: O conceito de circunscrição eleitoral é encontrado no art. 86 do Código Eleitoral. É uma divisão territorial que tem em vista a realização do pleito. Nas eleições municipais, cada município constitui uma circunscrição. Nas eleições gerais (Governador, Senador e Deputado), a circunscrição é o Estado da Federação. Já nas eleições presidenciais, a circunscrição é o território nacional.

Questões que envolvam eleições: Circunscrição municipal – juiz eleitoral; Circunscrição estadual – TER; Circunscrição nacional – TSE

OBS: A circunscrição tem importância na fixação do domicílio e inelegibilidade parental.

Zona eleitoral: A zona eleitoral é unidade de jurisdição eleitoral – equivale, mutatis mutandis, às varas da justiça comum. A cada zona corresponde um juiz eleitoral. São organizadas dentro de cada circunscrição, conforme organização, de modo que o território dos Estados é dividido em diversas zonas.

OBS: a Zona eleitoral não se confunde com os limites do município. Há zonas eleitorais que abrangem mais de uma município e há municípios com mais de uma zona eleitoral.

Compete privativamente aos Tribunais Regionais Eleitorais dividir a respectiva circunscrição em zonas, submetendo, assim como a criação de novas zonas, à aprovação do TSE (CE, art. 30, IX).

Compete ao TSE aprovar a divisão da circunscrição dos Estados em Zonas Eleitorais ou a criação de novas Zonas (CE, art. 23,VIII).

Segundo o art. 88 do CE, não é permitido registro de candidato, embora para cargos diferentes, por mais de uma circunscrição ou para mais de um cargo na mesma circunscrição.

A seção eleitoral é uma subdivisão da zona e constitui a menor unidade de organização eleitoral, permitindo facilitar os trabalhos eleitorais. Cada seção eleitoral corresponde a uma unidade de votação, sendo que os eleitores são organizados a votar considerando a zona e a seção na qual estão inscritos. Nela funcionará a mesa receptora, composta de seis mesários nomeados pelo juiz eleitoral. Cada seção eleitoral terá no mínimo duas cabinas de

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votação.

Cabe ao juiz eleitoral da zona a tarefa de dividi-la em seções, sendo que as seções eleitorais da capital devem ter entre 50 e 400 eleitores, e as demais localidades, entre 50 a 500, podendo ter mais conforme juízo de conveniência e oportunidade da justiça eleitoral. Devem ser providenciadas seções específicas para cegos, as quais, não atingido o número mínimo exigido, poderão ser completadas com outros eleitores (CE, art. 117, §2º).

A força armada encarregada da segurança das eleições deverá conservar-se a cem metros da seção eleitoral e não poderá aproximar-se do lugar de votação ou nele penetrar sem ordem do presidente da mesa (CE, art. 141).

Questões de prova: [Atenção: observe como as questões se repetem. A segunda pergunta é da prova oral do 26º concurso e a última é da prova oral do 27º concurso].

Conceitos de seção, zona e circunscrição. Quem define as zonas eleitorais.

A zona coincide sempre com o município?

A zona coincide sempre com o Município? E com comarca?.

Hipóteses para a revisão eleitoral. Diferenciar as duas: a originária, de fraude, e a complementar, hipóteses mais objetivas (o TSE tem entendido que são requisitos cumulativos). Quem determina a revisão?

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Ponto 3.b. Fraude no alistamento eleitoral e revisão do eleitorado.

Principais obras consultadas: idem 3.a

Conceito: Segundo Rodrigo Zílio, o alistamento eleitoral consiste em ato voluntário de manifestação de vontade do indivíduo nacional (nato ou naturalizado) que objetiva habilitá-lo ao exercício dos direitos políticos.

A ocorrência de fraude no alistamento eleitoral pode desencadear a revisão do eleitorado, que consiste em procedimento administrativo, de competência da Justiça Eleitoral, que tem como finalidade reexaminar o cadastro dos eleitores de uma Zona ou Município, seja para determinar que o cidadão comprove que mantém o domicílio eleitoral na respectiva zona, seja para cancelar as inscrições irregulares. Assim, todos são convocados a comparecer perante a Justiça Eleitoral para confirmar seus domicílios e a regularidade de suas inscrições, sob pena de terem suas inscrições canceladas, sem prejuízo das sanções cabíveis, se constatada irregularidade.

A revisão eleitoral encontra fundamento no artigo 71, §4º, do Código Eleitoral, no artigo 92 da Lei nº 9.504/97 e nos artigos 58 a 76 da Resolução TSE nº 21.538/2003.

Há dois tipos de revisão:

a) artigo 71, § 4º, do CE “Quando houver denúncia fundamentada de fraude no alistamento de uma zona ou município, o Tribunal Regional poderá determinar a realização de correição e, provada a fraude em proporção comprometedora, ordenará a revisão do eleitorado obedecidas as Instruções do Tribunal Superior e as recomendações que, subsidiariamente, baixar, com o cancelamento de ofício das inscrições correspondentes aos títulos que não forem apresentados à revisão”.

A correição referida em tal dispositivo não é obrigatória, não sendo condição prévia à revisão. O TRE, ao examinar a denúncia, pode entender desnecessária a realização de correição, se, desde logo, considerar comprovada a fraude em proporção comprometedora.

b) artigo 92 da Lei nº 9.504/97: O Tribunal Superior Eleitoral, ao conduzir o processamento dos títulos eleitorais, determinará de ofício a revisão ou correição das Zonas Eleitorais sempre que: I - o total de transferências de eleitores ocorridas no ano em curso seja dez por cento superior ao do ano anterior; II – o eleitorado for superior ao dobro da população entre dez e quinze anos, somada à de idade superior a setenta anos do território daquele Município; III - o eleitorado for superior a sessenta e cinco por cento da população projetada para aquele ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Entende-se que os requisitos para a revisão previstos no artigo 92 da Lei nº 9.504/97 devem ser preenchidos cumulativamente. Nesse sentido se manifestou o TSE (Res. ns. 22.162,

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22.125 e 22.126).

Não será realizada revisão de eleitorado em ano eleitoral, salvo em situações excepcionais, quando autorizada pelo TSE (Res. TSE 21.538/2003).

Vale ressaltar que, apesar de ser determinada pelo TRE ou TSE, a revisão eleitoral é sempre presidida pelo juiz eleitoral da zona em que esta será ultimada e sua realização conta com a fiscalização do Ministério Público e dos partidos políticos.

O Tribunal Regional Eleitoral, por intermédio da Corregedoria-Regional Eleitoral, inspecionará os serviços de revisão.

O Juiz Eleitoral deverá dar conhecimento da revisão aos partidos políticos, já que eles também têm a prerrogativa de acompanhar e fiscalizar os trabalhos.

Prazo para início dos trabalhos de revisão: Depois de aprovada a revisão de eleitorado pelo Tribunal competente, o Juiz da Zona Eleitoral terá o prazo de 30 (trinta) dias para dar início aos serviços.

Atividades da revisão: A revisão deve ser precedida de intensa divulgação, indicando datas e locais onde ocorrerá. A critério do Juiz, poderá haver postos de revisão fora dos cartórios eleitorais. O período de revisão de eleitorado não pode ser inferior a 30 (trinta) dias. Caso seja necessário prorrogá-lo, o magistrado deve requerer fundamentadamente ao Presidente do Tribunal, com pelo menos 5 (cinco) dias de antecedência do término do período inicialmente estabelecido. O eleitor deve comparecer nos locais divulgados munido de comprovante de domicílio eleitoral e de identidade, para assinar o caderno de revisão após os servidores da Justiça Eleitoral compararem os dados dos documentos apresentados com os constantes do caderno. Mesmo que os dados constantes do caderno de revisão não coincidam completamente com os documentos apresentados, o eleitor será considerado revisado e assinará o caderno de revisão se conseguir comprovar a sua identidade e o domicílio eleitoral. Apenas não assinará o caderno de votação o eleitor que não comparecer ou que, comparecendo, não conseguir comprovar a identidade ou o domicílio eleitoral

Término da revisão de eleitorado: Terminados os trabalhos revisionais, o Juiz Eleitoral deverá ouvir o Ministério Público e, após, no prazo de 10 (dias), proferir sentença determinando o cancelamento das inscrições irregulares e daquelas cujos eleitores não compareceram à revisão. Se houver indícios de infrações penais, o Ministério Público, que será ouvido antes da sentença, promoverá a apuração. Contra essa sentença do cabe recurso do interessado para o TRE no prazo de 03 dias. Se a sentença em vez de cancelar inscrição aparentemente incorreta, ratificar a inscrição como legitima, tem se entendido que não há recurso dessa decisão (José Jairo Gomes)

Com efeito, o TSE já decidiu que “[...] para a configuração do delito do art. 350 do Código Eleitoral é necessário que a declaração falsa, prestada para fins eleitorais, seja firmada pelo próprio eleitor interessado. 2. Assim, não há configuração do referido crime em face de declaração subscrita por terceiro de modo a corroborar a comprovação de domicílio por eleitor, porquanto suficiente tão-somente a própria declaração por este

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firmada, nos termos da Lei nº 6.996/82. [...]”(Ac. de 21.8.2008 no RHC nº 116, rel. Min. Arnaldo Versiani; no mesmo sentido o Ac. de 2.5.2006 no RESPE nº 25.417, rel. Min. José Delgado.)

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Ponto 3.c. Votação. Voto eletrônico. Mesas receptoras. Fiscalização

Principais obras consultadas: idem 3.a

Voto: O voto é um dos mais importantes instrumentos democráticos, pois enseja o exercício da soberania popular e do sufrágio. Cuida-se de ato pelo qual os cidadãos escolhem os ocupantes dos cargos politico-eletivos. O voto é personalíssimo, obrigatório, livre, secreto, direto, periódico e igual.

Votação: Votação, por sua vez, é a série de atos para o exercício do direito de voto. (Sufrágio é o direito de participar das decisões políticas, expressando sua vontade na escolha dos ocupantes de cargos público-eletivos ou em deliberações em referedum ou plebiscito. O voto é o meio jurídico de expressão da vontade, materializando o sufrágio). A votação compreende os seguintes atos: apresentação e identificação do eleitor perante o órgão da Justiça Eleitoral, no caso, a mesa receptora de votos; emissão de voto pelo eleitor; entrega do comprovante de votação ao eleitor.

Voto de presos provisórios e adolescentes internados: O TSE expediu instruções para a instalação de seções eleitorais em estabelecimentos prisionais e em unidades de internação a fim de garantir o direito de voto de presos provisórios e adolescentes internados (Res. 22712 e 23219).

Voto em trânsito: A Lei 12.034/09 acrescentou ao CE o art. 233-A. “Aos eleitores em trânsito no território nacional é igualmente assegurado o direito de voto nas eleições para Presidente e Vice-Presidente da República, em urnas especialmente instaladas nas capitais dos Estados e na forma regulamentada pelo Tribunal Superior Eleitoral.”

Voto eletrônico: O voto eletrônico foi criado pela Justiça Eleitoral do Brasil com a finalidade de prevenir as fraudes, antes existentes na votação e na totalização dos votos, através de preenchimento manual. O Brasil adota prioritariamente o sistema eletrônico de votação, então, em todo território nacional, a votação é feita por meio do voto em urnas eletrônicas, salvo situação excepcional, ou seja, motivo de força maior que impeça a votação eletrônica e seja conveniente a utilização do voto através de cédulas (votação manual), cabendo ao TSE a avaliação das circunstâncias para fins de autorização da votação manual, nos termos do art. 59 da Lei 9.504/97 (a cuja leitura se remete) que regula o procedimento nestas hipóteses. A votação e totalização dos votos serão feitas pelo sistema eletrônico de votação, como regra geral. ATENÇÃO: No sistema eletrônico de votação, computam-se para a legenda partidária: a) os votos em que não seja possível a identificação do candidato, desde que o número identificador do partido seja digitado de forma correta; b) quando o eleitor assinalar o número do partido no momento de votar para determinado cargo e somente para este será computado (arts 59, § 2º e 60 da Lei 9.504/97).

Local de votação: o local de votação será preferivelmente em prédios públicos, mas nada

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impede o uso de propriedade particulares se faltarem locais públicos. É vedado o uso de propriedade pertencente a candidato, membro de diretório de partido político, delegado ou coligação, bem como de seus cônjuges ou parentes, consanguíneos ou afins até o 2º grau, inclusive.

Impressão do voto eletrônico: A Lei 12.034/09 introduziu mudanças na votação, a saber: “Art. 5º: Fica criado, a partir das eleições de 2014, inclusive, o voto impresso conferido pelo eleitor, garantido o total sigilo do voto ( ...) ”.O STF deferiu medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade (ADI 4543), ajuizada pelo Procurador Geral da República, para suspender os efeitos do art. 5º da Lei 12.034/2009, que dispõe sobre a criação, a partir das eleições de 2014, do voto impresso. Em 06/11/2013 o Pleno do STF julgou como inconstitucional a impressão do voto eletrônico sob o argumento de que haveria maiores possibilidades de violação ao sigilo dos votos, além de potencializar falhas e impedir o transcurso regular dos trabalhos nas diversas seções eleitorais.

Voto em trânsito nas eleições presidenciais: segundo o disposto no art. 233-A do CE, introduzido pela referida Lei, aos eleitores em trânsito no território nacional é igualmente assegurado o direito de voto nas eleições para Presidente e Vice-Presidente da república, em urnas especialmente instaladas nas capitais dos estados e na forma regulamentada pelo TSE (Na Resolução nº 23.215 do TSE estabelecida para as eleições de 2010, o eleitor deveria se habilitar em qualquer cartório eleitoral do país, entre 15 de julho e 15 de agosto de 2010, informando a capital do estado brasileiro em que estaria presente no dia da eleição, não sendo admitida a habilitação por procurador). Desta forma, o eleitor faria uma “transferência provisória” do seu título para as citadas seções especiais, mantendo, no entanto, o domicílio eleitoral.

O que é zerésima? Antes de permitir que o primeiro eleitor vote, o presidente da mesa receptora deve providenciar a emissão da zerésima, isto é, um documento emitido pela urna eletrônica que é comprobatório de que não consta nenhum voto nela inserido até aquele momento.

Mesas receptoras: As mesas receptoras são órgãos eventuais da Justiça Eleitoral, com a função administrativa de colher os votos e proceder a apuração eletrônica nas eleições. A votação se realiza perante a mesa receptora que vai receber os votos dos eleitores. A cada seção eleitoral corresponde uma mesa receptora de votos. Compete aos juízes eleitorais designar os lugares de votação onde funcionarão as mesas receptoras, 60 dias antes das eleições, devendo ser publicada a designação (art. 135 do CE). Essas mesas são constituídas de um presidente, dois mesários, dois secretários e um suplente, chamados indistintamente de ‘mesários’. O Presidente da Mesa tem atribuições para decidir imediatamente todas as dúvidas e dificuldades que ocorrerem (art. 127, II, do CE), tem o poder de polícia dos trabalhos da seção (arts. 127, III, e 139 do CE) e a autoridade para expedir salvo-conduto em favor do eleitor que sofrer violência, moral ou física, na sua liberdade de votar, ou pelo fato de haver votado (art. 235 do CE), cuja desobediência acarreta prisão em flagrante do agente. Na lei 9.504/97, estão previstos algumas peculiaridades das mesas receptoras: “Art. 63. Qualquer partido pode reclamar ao Juiz Eleitoral, no prazo de cinco dias, da nomeação da Mesa Receptora, devendo a decisão ser proferida em 48 horas. § 1º Da decisão do Juiz Eleitoral caberá recurso para o Tribunal Regional, interposto dentro de

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três dias, devendo ser resolvido em igual prazo. § 2º Não podem ser nomeados presidentes e mesários os menores de dezoito anos. Art. 64. É vedada a participação de parentes em qualquer grau ou de servidores da mesma repartição pública ou empresa privada na mesma Mesa, Turma ou Junta Eleitoral.

OBS: se o nome do eleitor não consta da lista de votação de sua seção por exclusão indevida de seu nome do cadastro geral não é permitido o voto em separado. Ele ficará sem votar. [vários precedentes do TSE nesse sentido]

Fiscalização: com o objetivo de garantir a lisura na votação, os partidos ou coligações têm o direito subjetivo eleitoral de fiscalizar os trabalhos das mesas receptoras, designando pessoas para atuarem como fiscal ou delegado. Enquanto o fiscal atua em uma seção ou mais de uma (Lei 9.504/97, art. 65, § 1º), o delegado representa o partido tendo acesso a todas as seções. Os fiscais e delegados atuam em todo o processo de votação e apuração participando do preenchimento dos boletins de urna e observando o processamento eletrônico da totalização dos resultados (art. 66 – Lei 9504/97), podendo formular protestos e denunciar formalmente qualquer ato irregular por parte dos membros da Mesa receptora (art. 132 CE). Algumas regras importantes sobre a fiscalização das eleições: Art. 65. A escolha de fiscais e delegados, pelos partidos ou coligações, não poderá recair em menor de dezoito anos ou em quem, por nomeação do Juiz Eleitoral, já faça parte de Mesa Receptora. § 1º O fiscal poderá ser nomeado para fiscalizar mais de uma Seção Eleitoral, no mesmo local de votação. § 2º As credenciais de fiscais e delegados serão expedidas, exclusivamente, pelos partidos ou coligações. § 3º Para efeito do disposto no parágrafo anterior, o presidente do partido ou o representante da coligação deverá registrar na Justiça Eleitoral o nome das pessoas autorizadas a expedir as credenciais dos fiscais e delegados. Art. 66. Os partidos e coligações poderão fiscalizar todas as fases do processo de votação e apuração das eleições e o processamento eletrônico da totalização dos resultados. § 1o Todos os programas de computador de propriedade do Tribunal Superior Eleitoral, desenvolvidos por ele ou sob sua encomenda, utilizados nas urnas eletrônicas para os processos de votação, apuração e totalização, poderão ter suas fases de especificação e de desenvolvimento acompanhadas por técnicos indicados pelos partidos políticos, Ordem dos Advogados do Brasil e Ministério Público, até seis meses antes das eleições. (...) § 7o Os partidos concorrentes ao pleito poderão constituir sistema próprio de fiscalização, apuração e totalização dos resultados contratando, inclusive, empresas de auditoria de sistemas, que, credenciadas junto à Justiça Eleitoral, receberão, previamente, os programas de computador e os mesmos dados alimentadores do sistema oficial de apuração e totalização.

Competência para apuração: Eleições municipais: Juntas Eleitorais; Eleições gerais: TER; Eleições presidenciais: TSE. Ressalte-se que em todas as eleições o trabalho inicial é feito pelas Juntas Eleitorais, as quais remetem os resultados parciais obtidos ao TER. Este, em se tratando de eleições gerais, providenciará a totalização dos votos e a divulgação dos respectivos resultados. Se a eleição for presidencial, o TER encaminha os resultados parciais para o TSE, sendo que este promove a totalização dos votos e a publicação dos resultados.

OBS: O que é “teoria da própria conta e risco” e “teoria dos votos engavetados”? O

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candidato que não tem seu registro deferido pode prosseguir na campanha eleitoral, sendo apto para fazer propaganda eleitoral, participar de comícios, debates, mas por sua conta e risco (teoria da conta e risco), ou seja, se no dia da votação ele não tiver registro, seus votos serão considerados nulos. Assim, o candidato que tiver seu registro indeferido poderá recorrer da decisão e prosseguir por sua conta e risco, enquanto estiver sub judice, em sua campanha e ter seu nome mantido na urna eletrônica, ficando a validade de seus votos condicionada ao deferimento de seu registro por instância superior. Isso porque, “transitada em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado o registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido” (art. 15 da LC 64/90). Em fase de recurso, este não será substituído; todavia, se a decisão recorrida se confirmar pela instância superior (leia-se TSE, e não STF, ou seja, não precisa de trânsito em julgado) e o candidato vencer as eleições, os votos atribuídos a ele serão nulos (teoria dos votos engavetados), regras válidas para as eleições majoritárias e proporcionais. A Lei n. 12.034/2009, em seu art. 16-A, cria a possibilidade de um candidato concorrer mesmo que seu registro esteja sub judice, ou seja, sem decisão final favorável do TSE. Ele poderá fazer a campanha normalmente enquanto estiver nessa condição, inclusive no rádio e na TV. Trata-se da adoção da teoria da conta e risco, aplicada pelo TSE em várias eleições, ou seja, efeito suspensivo do indeferimento de registro (art. 15 da LC 64/90). Assim, caso a decisão não tenha sido apreciada pelo TSE, em sede de Embargos de Declaração em REspe, até a eleição, seu nome também deverá figurar na urna eletrônica. Todavia, os votos recebidos por ele só serão válidos se o pedido de registro for aceito definitivamente pelo TSE, o que se denominou de “teoria dos votos engavetados” (após a eleição, o efeito do recurso não será mais suspensivo, e os votos são nulos, para todos os efeitos, enquanto o TSE não decidir o tema — art. 257 do CE). Uma vez indeferido o registro, o candidato não mais poderá assumir seu cargo, caso vença as eleições, devendo, nesse caso, assumir o 2º colocado (no caso de eleição majoritária), e não o Vice, uma vez que, indeferido o registro do candidato a titular, não pode ser deferido o do Vice, já que a chapa é “única e indivisível”. Caso a nulidade resultante da teoria dos votos engavetados, leia-se dos votos atribuídos aos candidatos (e não os chamados votos apolíticos, isto é, aquele em que o eleitor digita número inexistente na urna eletrônica e confirma), ultrapasse 50% + 1 dos votos, o TSE entendeu que devem ser realizadas novas eleições, nos termos do art. 224 do CE que se aplica para AIRC (cf. Consulta n. 1.657/2008), sendo eleições diretas, se estiverem nos 2 primeiros anos do mandato, e eleições indiretas (no Legislativo), se estiverem nos 2 últimos anos do mandato. Se o TSE não acolher a decisão que impugnar o registro de candidatura, deferindo-o, os votos que estavam “engavetados” são tornados válidos, e, como tal, o candidato assume o cargo, caso tenha vencido a eleição, independentemente de outros recursos no próprio TSE ou no STF.

No caso de eleição proporcional, assume o próximo que conseguir atingir o quociente eleitoral e partidário, ou seja, os votos não vão para a legenda, como determina o art. 175, § 4º, do CE, pois, do contrário, bastaria colocar “candidato inelegível” que este teria o seu registro impugnado, mas “daria votos à legenda dele”. Por isso, foi criada a teoria dos votos engavetados. Assim, o partido ou coligação, quando percebe uma decisão judicial que INDEFERE o registro de candidatura, pode manter seu candidato, pela teoria da conta e risco, e aguardar até a decisão do TSE, o que poderá ocorrer ou, não querendo assumir o risco do que possa ocorrer, poderá substituir o candidato, na forma e nas regras do art. 13

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da Lei Eleitoral.

OBS: Explicação de porque não há efeito suspensivo para a teoria dos votos engavetados: Não há efeito suspensivo do recurso contra decisão que indeferir o registro de candidatura, pois, após as eleições, aplica-se a teoria dos votos engavetados, ou seja, os votos são considerados nulos para todos os efeitos até decisão final do TSE. Assim, somente se aplica a teoria dos votos engavetados se houver alguma decisão judicial que indefira o registro, pois, enquanto estiver deferido, ainda que sub judice, não se aplica tal teoria, e sim assume o vencedor até decisão final do TSE, inclusive podendo diplomar e tomar posse até tal decisão.

Os processos que cuidam dos candidatos a cargo majoritário (por exemplo: Prefeito/Vice-Prefeito) deverão ser julgados conjuntamente, e o registro da chapa majoritária somente será deferido se ambos os candidatos forem considerados aptos, não podendo este ser deferido sob condição. Se o juiz (eleição municipal), TRE (eleição geral) ou TSE (eleição presidencial) indeferir o registro da chapa, deverá especificar qual dos candidatos, ou ambos, não preenchem as exigências legais e deverá apontar o óbice existente, podendo o partido político ou a coligação, por sua conta e risco, recorrer da decisão ou, desde logo, indicar substituto ao candidato que não for considerado apto, na forma do art. 13 da Lei n. 9.504/97.

[Importante inclusão legislativa na lei no final de 2013: Coloco os artigos aqui apenas para leitura, pois eles não alteram o dito acima. Art. 16-A. O candidato cujo registro esteja sub judice poderá efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão e ter seu nome mantido na urna eletrônica enquanto estiver sob essa condição, ficando a validade dos votos a ele atribuídos condicionada ao deferimento de seu registro por instância superior. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009). Parágrafo único. O cômputo, para o respectivo partido ou coligação, dos votos atribuídos ao candidato cujo registro esteja sub judice no dia da eleição fica condicionado ao deferimento do registro do candidato. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009). Art. 16-B. O disposto no art. 16-A quanto ao direito de participar da campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito, aplica-se igualmente ao candidato

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cujo pedido de registro tenha sido protocolado no prazo legal e ainda não tenha sido apreciado pela Justiça Eleitoral. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)]

Justificativa: no dia da eleição, o eleitor que estiver fora de seu domicílio poderá comparecer em qualquer seção eleitoral para justificar sua ausência no pleito. Se não o fizer, poderá realizar a justificativa em até 60 dias após o pleito, por requerimento dirgido ao juiz eleitoral. Se o eleitor estiver fora do país na data da eleição, terá 30 dias após o seu retorno para justificar sua ausência.

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Ponto 4.a. Jurisdição e Competência. Peculiaridades da Justiça Eleitoral. Consultas, instruções, administração e contencioso.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Rodrigo Lopez Zilio. Direito Eleitoral, 3ª Edição. Ed. Verbo Jurídico; José Jairo Gomes. Direito Eleitoral, 6ª Edição. Ed. Atlas.

Legislação básica: Constituição Federal, Código Eleitoral e Lei 9.504/97.

A Justiça Eleitoral foi criada pelo Decreto n.º: 21.076, de 21/02/1932 (Código Eleitoral de 1932) e constou na Constituição Federal de 1934, peça primeira vez. Compõe a justiça especializada da União e, diferentemente das demais, além de exercer atividade jurisdicional, no contencioso eleitoral, exerce atividade tipicamente administrativa a preparar as eleições, seja na fase pré-eleitoral até a diplomação dos eleitos.

Sua competência é compreendida pelas funções:

1) administrativa/executiva: prepara, organiza e administra todo o processo eleitoral. O Juiz age independentemente de provocação do interessado, possui poder de polícia administrativa necessário para condução das atividades no processo eleitoral. Há função administrativa na expedição de título eleitoral, na inscrição de eleitores, na transferência de domicílio eleitoral, etc. (o juiz não pode, de ofício, impor multa no caso de propaganda irregular - sempre perguntado no MPF).

2) jurisdicional: decide as contendas que lhe são submetidas – princípio da demanda – ou as lides originadas das impugnações admitidas de procedimentos administrativos, caso em que a atividade administrativa convola-se em atividade jurisdicional (ex: transferência de domicílio eleitoral impugnado por delegado de partido).

3) normativa: a atividade legislativa da Justiça Eleitoral resta consubstanciada no poder normativo inerente a todo e qualquer órgão judicial, ao proceder o disciplinamento interno de seus serviços, além disso, cabe ao colegiado do TSE expedir resoluções, conforme art. 1º, parágrafo único, do Código Eleitoral e art. 23, IX, CE. O artigo 61 da LPP tem norma em idêntico sentido. As resoluções se limitam a regulamentar a legislação eleitoral, não podendo inovar a ordem jurídica, como se leis fossem, não sendo admitido restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das previstas na legislação eleitoral (GOMES, 2010, p. 63). Artigo 105, Lei 9.504: Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o TSE, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes dos partidos políticos. § 1º O TSE publicará o código orçamentário para o recolhimento das multas eleitorais ao Fundo Partidário, mediante documento de arrecadação correspondente. § 2º Havendo substituição da UFIR por outro índice oficial, o TSE procederá à alteração dos valores estabelecidos nesta Lei pelo novo índice. § 3º Serão aplicáveis ao pleito eleitoral imediatamente seguinte apenas as resoluções publicadas até a

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data referida no caput.

4) consultiva: O Código Eleitoral atribui competência para responder consulta sobre matéria eleitoral, a serem formuladas por autoridade pública ou partido político, ao Tribunal Superior Eleitoral (art. 23, inciso XIII) e aos Tribunais Regionais Eleitorais (art. 30, inciso VIII). A legitimidade para formular consultas junto ao TSE é de autoridade pública, com jurisdição federal, ou partido político, através de seu órgão de direção nacional, ao passo que, perante o TRE a legitimidade é do órgão de direção estadual do partido político, além de autoridade pública. As consultas devem sempre ser feitas em tese sem conexão com situações concretas. As respostas dadas pela JE decorrentes das consultas formuladas não possuem caráter vinculante, mas podem servir de fundamente para decisões administrativas e judiciais da JE. Como somente é possível conhecer de consulta formulada em tese, o entendimento é que a JE somente responde consultas até o período anterior à realização das convenções partidárias.

Peculiaridades:

Ausência de quadro próprio de juízes. Justificativa, pelo baixo número de processos, não justifica estrutura própria. Para evitar prejuízo à dinâmica eleitoral, que exige rápido cumprimento, o art. 26-B da LI e art. 94 da LE, coloca como atuação prioritária dos juízes que exercem cumulativamente a judicatura de outro setor, exceto HC e MS, sob pena de responsabilidade.

Temporariedade. Biênio. No máximo 2 consecutivos. A justiça eleitoral em si é perene, só o exercício é temporário. No exercício, os juízes gozam de pleno exercício.

Ausência de quadro próprio de MP – também acumulam funções regulares com as eleitorais e devem dar prioridade aos feitos eleitorais, sob pena de crime de responsabilidade.

TSE – PGE (PGR)

TRE – PRE (PRP)

Juiz – promotor estadual (MPE)

Poder de polícia – juízes eleitorais podem determinar medidas necessárias a inibir a realização de propaganda eleitoral.

Dinâmica bastante acelerada – prazos curtos, fluindo durante sábados, domingos feriados, etc.

Questões de prova:

Peculiaridades da Justiça Eleitoral. Fale sobre as funções diferenciadas da Justiça Eleitoral. Quanto à função regulamentar, incide o princípio da anualidade? Afronta o princípio da

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legalidade estrita?

Fale sobre a função de consulta da Justiça Eleitoral? Quem são os legitimados ativos? As consultas são vinculantes?

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Ponto 4.b. Juntas, Juízes e Tribunais Regionais Eleitorais. Tribunal Superior Eleitoral.

Principais obras consultadas: idem ao 4.a

Dispõe o art. 118 da CF que a Justiça Eleitoral possui 4 órgãos, quais sejam: o Tribunal Superior Eleitoral (inciso I); os Tribunais Regionais Eleitorais (inciso II); os Juízes Eleitorais (inciso III) e a Junta Eleitoral (inciso IV).

Atenção: A justiça eleitoral não possui juízes próprios ou de carreira. Então os órgãos são integrados por magistrados de outras justiças, advogados e cidadãos (convocados para a composição das Juntas Eleitorais).

Divisão geográfica da Justiça Eleitoral: A Justiça Eleitoral segue peculiar divisão interna, distinguindo-se a seção, a zona e a circunscrição eleitoral. A Zona Eleitoral encerra a mesma ideia de comarca. É o espaço territorial sob a jurisdição do juiz eleitoral. No entanto, uma comarca pode abrigar mais de uma zona. Ademais, a área da zona não coincide necessariamente com a do município. Logo, uma zona pode abranger mais de um município, assim como um município pode conter mais de uma zona eleitoral. A seção eleitoral é uma subdivisão da zona. Trata-se do local onde os eleitores comparecem para votar. A circunscrição é também uma divisão territorial, mas tem em vista a realização do pleito. Nas eleições municipais, cada município constitui uma circunscrição. Nas eleições gerais (Governador, Senador e Deputado), a circunscrição é o Estado da Federação. Já para as eleições presidenciais, a circunscrição é o território nacional.

1) TSE:

O TSE será composto de, no mínimo, 7 ministros, escolhidos da seguinte forma: 3 oriundos do STF (escolhidos por eleição mediante votação secreta); 2 oriundos do STJ (escolhidos

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por eleição mediante votação secreta) e 2 advogados oriundos de lista sêxtupla indicados pelo STF e nomeados pelo Presidente da República (requisitos: notável saber jurídico e idoneidade moral). O Presidente de o Vice Presidente do TSE, obrigatoriamente, são escolhidos entre os Ministros do STF, ao passo que o Corregedor Eleitoral, obrigatoriamente, será escolhido entre os Ministros do STJ.

Não há previsão de indicação de membro do MP para compor o TSE.

O TSE delibera por maioria de votos, em sessão pública, com a presença da maioria de seus membros (art. 19 do Código Eleitoral), salvo algumas exceções (ver artigo). O artigo 19 não se aplica aos TRE´s.

As decisões do TSE são irrecorríveis, salvo as que contrariarem a CF (caberá RE no prazo de 03 dias – súmula 728 do STF) e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança (caberá recurso ordinário para o STF, nos termos do art. 102, inc. II da CF).

Competências do TSE estão previstas no Código Eleitoral, dentre as quais se destacam o processamento e o julgamento do Registro e da Cassação de Registro de partidos políticos, seus diretórios nacionais e de candidatos à Presidência e Vice-Presidencia da República e do conflito de jurisdição entre Tribunais Regionais e juízes eleitorais de Estados diferentes.

Também compete ao TSE responder, sobre matéria eleitoral, à consultas que lhe forem feitas em tese por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional de partido político.

Não é demais lembrar que o TSE possui competência para regulamentar as leis eleitorais, o fazendo, em regra, por meio de Resoluções. Assim, foi atribuída ao TSE a competência privativa para expedição de instruções, visando à regulamentação e execução do Código Eleitoral (inc. IX do art. 23 do Código Eleitoral).

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2) TREs:

O art. 120 da CF prevê que haverá um TRE na capital de cada Estado e no DF.

Os TREs compor-se-ão mediante eleição, pelo voto secreto, de 2 desembargadores do TJ, de 2 juízes de direito, escolhidos pelo TJ, de 1 juiz do TRF ou, não havendo, de um juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo TRF respectivo e de 2 juízes dentre 6 advogados indicados pelo TJ (sem participação da OAB) e nomeados pelo Presidente da República (requisitos: notável saber jurídico e idoneidade moral).

OBS: O STF, em interpretação dada ao art. 94 da CF, tem entendido lícita a exigência de 10 anos de efetiva atividade jurídica como requisito para que advogados possam vir a integrar os TREs (RMS 24.232, Rel. Joaquim Barbosa).

OBS: O TSE já decidiu que Procurador do Estado pode compor a lista tríplice do TRE.

OBS: De igual modo, não há previsão de indicação de membro do MP para compor o TRE.

Competências do TRE estão previstas no Código Eleitoral, dentre as quais se destacam o processamento e o julgamento do registro e do cancelamento do registro dos diretórios estaduais e municipais de partidos políticos, bem como de candidato a Governador, Vice-Governador, membro do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas e responder às consultas em matéria eleitoral feitas, em tese, por autoridade pública ou partido político.

OBS: O advogado que foi membro do TSE ou do TER tem que obedecer o período de quarentena de 3 anos, tal como entendido elo CNJ em 2008, ficando tais magistrados quando afastados do cargo no TSE ou TER, impedidos de exercer a advocacia pelo prazo

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de 3 anos, mas atenção, é apenas perante os órgãos jurisdicionais em que atuaram.

OBS: No que tange a advocacia em geral, o CNJ entendeu que o magistrado eleitoral da classe dos advogados tem o direito de exercer advocacia concomitante com a judicatura, desde que em outras áreas que não a eleitoral.

3) JUIZES ELEITORAIS:

Os Juízes Eleitorais são juízes de Direito estaduais que exercem, por delegação, a função eleitoral. São, portanto, oriundos da Justiça Estadual e designados pelo TRE.

Nos termos do art. 32 do Código Eleitoral, a jurisdição em cada zona eleitoral será exercida por um juiz de direito em efetivo exercício (ou, na falta deste, por substituto legal), o qual não se afastará de sua jurisdição ordinária.

Competências: estão elencadas no Código Eleitoral, destacando-se: processar e julgar os crimes eleitorais, ressalvadas as competências do TSE e dos TREs (a competência penal do TSE não foi recepcionada pela CR/88 - ver art. 105, I, a da CR); expedir títulos eleitorais; dividir a zona em seções eleitorais; mandar organizar em ordem alfabética a relação dos eleitores; ordenar o registro e cassação do registro dos candidatos aos cargos eletivos municipais.

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4) JUNTAS ELEITORAIS:

A Junta Eleitoral é órgão colegiado na Justiça Eleitoral com existência, apenas, junto à instância de primeiro grau. Sua existência é provisória, já que constituída apenas nas eleições, sendo extinta após o término dos trabalhos de apuração dos votos, exceto nas eleições municipais, em que permanece até a diplomação dos eleitos.

Composição: As Juntas Eleitorais serão compostas de um Juiz de Direito, que será o presidente, e de dois ou quatro cidadãos de notória idoneidade (art. 36 do CE), devendo ser nomeados até 60 dias antes da eleição pelo TRE (art. 36, §1º do CE). A Junta é presidida pelo juiz eleitoral.

Competências: a apuração, no prazo de 10 dias, das eleições realizadas nas zonas eleitorais sob sua jurisdição; resolver impugnações e demais incidentes verificados durante os trabalhos de contagem e apuração; expedir boletins de apuração e expedir diploma aos eleitos para os cargos municipais. OBS: e no município em que tem mais de uma zona eleitoral? Compete à Junta que for presidida pelo juiz eleitoral mais antigo.

Não pode ser nomeado membro de juntas eleitorais: 1) os candidatos e seus parentes, ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclusive, e bem assim seu cônjuge; 2) os membros de diretórios de partidos políticos devidamente registrados e cujos nomes tenham sido oficialmente publicados; 3) as autoridades e os agentes policiais, bem como os funcionários no desempenho de cargos de confiança do Executivo; 4) os que pertencem ao serviço

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eleitoral; 5) os membros do Ministério Público; 6) os fiscais e delegados de partidos políticos ou coligações; 7) os menores de 18 anos.

OBS: As juntas eleitorais podem ser desdobradas em turmas? Sim. Por decisão de seu presidente as juntas eleitorais podem ser desdobradas em turmas.

OBS: É possível uma zona eleitoral ter mais de uma junta eleitoral? Excepcionalmente, sim. O presidente do TER, com a aprovação deste, designará juízes de Direito da mesma ou de outras Comarcas para presidi-las.

OBS: Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos.

OBS: Os integrantes do TSE continuam a exercer suas atividades no STF, STJ e advocacia de forma concomitante.

Questões de prova:

Fale sobre a composição do TRE ou TSE. Quem indica os membros da OAB, no TRE? Quem os nomeia, no TRE?

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Ponto 4.c. Recursos Eleitorais.

Principais obras consultadas: idem 4.a

1. ASPECTOS GERAIS:

Recurso ≠ Impugnação ≠ representação: Os recursos, entendidos como meios de impugnação de decisões judiciais, voluntários, internos à relação jurídica processual em que se forma o ato judicial atacado, aptos a obter deste a anulação, a reforma ou o aprimoramento, evitando-se a preclusão ou a coisa julgada, distinguem-se das impugnações, por estas serem manifestações da irresignação fora do contencioso eleitoral, antes ou depois de tomada uma decisão, exaurindo-se no instante em que é apresentada, diversamente do que ocorre com os recursos. Por sua vez, a representação, no processo eleitoral, aproxima-se da correição parcial, na Justiça Comum, e pode ser usada para colmatar omissões injustificadas de juízes e tribunais, ou quando do ato, da resolução ou do despacho não couber recurso algum, como ressuma de diversas prescrições constantes do CE, destacando-se, dentre elas, as regras substanciadas nos seus arts. 22, I, i, 29, I, g e 121 (Tito Costa).

Pressupostos: A respeito dos seus pressupostos, quanto ao cabimento, vige o princípio da taxatividade, podendo ser interpostos os recursos que têm previsão na CF/88, no Código Eleitoral (CE) e na legislação eleitoral extravagante (v.g LC 64/90), aplicando-se subsidiariamente o CPC e o CPP. Além do mais, a decisão tem que ser recorrível [As decisões interlocutórias proferidas pela Justiça Eleitoral são irrecorríveis. As decisões do TSE também são irrecorríveis, salvo se contrariar a CF (cabe RE) ou se denegarem MS ou HC julgados em única instância (cabe ROC)]; quanto à legitimidade recursal predomina que se restringe ao candidato, coligação, partidos políticos e MP (TSE), excluído o eleitor, nada obstante exista doutrina em sentido contrário; quanto a tempestividade a regra é 3 dias, salvo disposição em contrário (art. 258, CE) [Atenção: Não há prazo diferenciado para o MPE. Porém, a defensoria pública tem prazo em dobro]; e quanto ao preparo há isenção, nos termos do art. 373 do CE [Não há pagamento de custas e honorários advocatícios na Justiça Eleitoral].

Efeitos: Na Justiça Eleitoral a regra é que os recursos eleitorais não têm efeito suspensivo. Porém, a parte poderá requerer, através de medida cautelar inominada, a concessão de efeito suspensivo, a fim de impedir a ocorrência de dano grave e de difícil reparação (art. 257, CE). Quando recebido apenas em seu efeito devolutivo, a parte vencedora pode executar provisoriamente a decisão. Atenção: existe um recurso eleitoral que possui efeito devolutivo e suspensivo. Trata-se da apelação criminal ou recurso eleitoral criminal. Atenção: Quando a AIJE é julgada procedente por juiz eleitoral, o recurso obsta os efeitos da inelegibilidade, suspensão do registro ou nulidade do diploma (art. 15, LC 64/90).

Quanto ao efeito preclusivo, vale salientar que, embora ocorra preclusão das matérias não impugnadas, o efeito preclusivo não incide sobre matérias constitucionais, as quais poderão

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ser objeto de novo recurso, em momento posterior (art. 259, CE).

É permitido o efeito extensivo, pois se apenas um dos litigantes interpuser o recurso o resultado poderá beneficiar os litisconsortes.

O efeito regressivo é cabível no recurso inominado e no recurso em sentido estrito, pois cabe o juízo de retratação em ambos.

O efeito translativo ocorre quando o juízo ad quem puder examinar questões não suscitadas nas razões recursais, ou mesmo não apreciadas pelo juízo a quo. Ex: questões de ordem pública, como condições da ação e pressupostos processuais. Ex 2: no processo penal eleitoral o recurso eleitoral criminal (apelação criminal), além do efeito devolutivo e suspensivo, também possui o efeito translativo quando interposta pelo réu, pois o TRE pode apreciar qualquer matéria em favor do apelante, mesmo que não formulada na sua peça recursal (pois a liberdade de ir e vir é um direito indisponível).

O efeito substitutivo ocorre, pois o acórdão do TRE substitui e prevalece sobre a sentença do juiz eleitoral.

Princípios: os mesmos do CPC.

Desistência do recurso: MP: vedado pelo princípio da indisponibilidade. Parte: em regra, pode desistir do recurso e não precisa da anuência da parte ex adversa. Porém, se o recurso eleitoral abordar matéria de interesse público, a parte recorrente não poderá desistir do recurso. Isso é uma peculiaridade única do processo eleitoral [há vários precedentes do TSE nesse sentido].

Classificação: 1) Quanto ao objeto tutelado: a) Recursos ordinários ou normais: visam a reapreciação da decisão. Basta a sucumbência para serem admitidos; b) Recursos extraordinários e especiais: além da sucumbência, exigem outros pressupostos especiais para sua admissibilidade. 2) Quanto ao fim pretendido: a) Reforma; b) Invalidação; c) Esclarecimento ou integração. 3) Quanto à extensão da matéria: a) Parcial: apenas a matéria impugnada será apreciada. As outras estão preclusas [exceto se for matéria constitucional]; b) Total. 4) Quanto à fundamentação: a) Recurso de fundamentação livre: todo e qualquer fundamento pode ser utilizado; b) Recurso de fundamentação vinculada: o recurso somente é admitido se a fundamentação exigida em lei for demonstrada. Ex: em um embargo de declaração é obrigatório demonstrar o fundamento que e a omissão, obscuridade ou contradição. 5) Quanto à fonte: a) Constitucionais; b) Legais; c) Regimentais.

2. RECURSOS CONTRA DECISÕES DOS JUÍZES ELEITORAIS.

São quatro recursos cabíveis:

1) Apelação criminal ou Recurso eleitoral criminal (REC): Art. 262, CE. Julgada pelo TER. Prazo: 10 dias a partir da publicação da decisão. Legitimidade: Candidato, eleitor, não-

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eleitor (com o objetivo de mudar a fundamentação) ou MPE (independente se atuou como parte ou como custos legis). OBS: no caso de competência originária do TRE não cabe REC para o TSE. Caberá REsp ou HC, apenas. Efeitos: devolutivo, suspensivo e, se interposto pelo réu, translativo. OBS: se o réu estiver preso, a decisão absolutória somente terá efeito devolutivo, devendo o réu ser solto imediatamente.

2) RESE: Art. 364, CPP. Deve ser interposto mediante petição para o juiz de 1º grau, mas com razões dirigidas ao TRE. Julgado pelo TRE. Hipóteses: artigo 581, CPP. Efeitos: devolutivo, mas permite o juízo de retratação (efeito regressivo). Prazo: 3 dias [Atenção: prevalece o prazo de 3 dias previsto no 258, CE sobre o prazo de 5 dias previsto no CPP. Cuidado, pois em prova eles colocam o prazo do CPP e está errado]. Contrarrazões em 3 dias. OBS: o RESE não será encaminhado para o TRE se houver retratação da decisão.

3) Recurso eleitoral inominado: Art. 265, CE. Julgado pelo TRE. Cabimento: É cabível o recurso eleitoral inominado contra todos os atos, resoluções e despachos de juízes eleitorais ou juntas eleitorais, desde que não relativos a matéria criminal e desde que não haja recurso específico. Ex: contra despacho de juiz eleitoral que deferir ou indeferir inscrição eleitoral, decisão que indeferir ou deferir a transferência eleitoral, decisão que acolher impedimento de mesário etc. Efeitos: devolutivo. Prazo: 3 dias.

4) Embargos de declaração: É julgado pelo próprio juiz eleitoral. Prazo: 3 dias.

OBS: Agravo de instrumento: Predomina o entendimento jurisprudencial de não ser cabível o recurso de agravo contra decisão interlocutória no processo eleitoral, em que pese a crítica da doutrina (Tito Costa). Registre-se alguns poucos precedentes do TSE no sentido de admitir a interposição do agravo na modalidade retida.

3. RECURSO CONTRA A DECISÃO DAS JUNTAS ELEITORAIS:

São quatro recursos cabíveis:

1) Recurso Parcial: É cabível contra decisão de Junta eleitoral (ou de TRE) sobre matéria concernente à contagem e apuração de votos (está em desuso, pois hoje o sistema é eletrônico). Legitimidade: Candidato, partido político, ocligação, delegado ou fiscal de partido ou de coligação. Prazo: deve ser interposto de imediato. Forma: pode ser interposto verbalmente ou por escrito, porém, as razões recursais devem ser interpostas por escrito.

2) Recurso inominado: igual para decisão de juiz eleitoral.

3) Recurso contra a diplomação (RCD): é ação e não um recurso. Será estudado junto com as ações.

4) Embargos de declaração: igual para decisão de juiz eleitoral.

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4. RECURSOS CONTRA DECISÕES NOS TER:

São nove recursos cabíveis:

1) Recuso Parcial: É dirigido ao TSE. Mesmas regras acima.

2) Recurso contra diplomação (RCD): é ação e não um recurso. Será estudado junto com as ações.

3) Recurso inominado eleitoral: Art. 264, CE. É oponível contra atos, resoluções ou despachos do presidente do TRE, quando não cabível recurso específico.

4) Embargos de declaração:. Cabimento: Apesar de previstos pelo CE apenas contra acórdãos (art. 275, CE), à semelhança do que ocorre no processo civil e penal, admite-se a oposição de embargos também contra decisão interlocutória monocrática e sentença. No primeiro caso, há jurisprudência que entende pelo recebimento dos embargos como agravo regimental. Não é cabível em sede de consulta (TSE). Cabível em hipóteses de obscuridade, contradição, dúvida e omissão. Não é admitido quando houver simples dúvida de interpretação do julgado, tendo em vista seu caráter estritamente subjetivo [TSE RO 912/06] Prazo: O prazo, em regra, é de 3 dias, tendo a lei 12.034/09 expressamente consignado esse prazo nas representações (rectius: ações) previstas na lei 9.504/97, superando, portanto, antiga jurisprudência do TSE que entendia pelo prazo de 24 h, com fundamento no artigo 96 da Lei das Eleições (Atenção: o prazo de 3 dias na 9.504 é só nas representações do 41-A, por isso aplicam o prazo de 24 horas no caso das representações do art. 96). Efeitos: Apesar de o art. 275, § 4º, CE, textualmente prescrever que “os embargos de declaração suspendem o prazo para a interposição de outros recursos, salvo se manifestamente protelatórios e assim declarados na decisão que os rejeitar”, a jurisprudência do TSE assevera que ocorre interrupção do prazo, salvo se manifestamente protelatórios.

5) Revisão criminal: Não é recurso. É ação rescisória no âmbito criminal direcionada ao próprio TRE, que pode ser utilizada a qualquer tempo, com exclusividade em favor da defesa. Será estudo junto com as ações.

6) Agravo regimental ou Agravo interno: É para o próprio TRE. Previsto no regimento interno. Prazo: 3 dias (se for direito de resposta é de 24 horas). Cabimento: seve para agravar decisão monocrática de membro do TRE. O mérito é julgado pelo pleno.

7) Agravo de instrumento eleitoral ou Agravo: Cabimento: é cabível sempre que o presidente do TRE negar seguimento ao REspE ou quando o presidente do TSE negar seguimento ao RE. Efeito: devolutivo. É possível obter o efeito suspensivo na instância superior mediante o uso de ação cautelar inominada nos casos de lesão grave e difícil reparação. Prazo: 3 dias, contados da intimação da denegatória de seguimento (ou 24 horas se for direito de resposta ou representação por propaganda irregular). Igual prazo para as contrarrazões. Atenção: em nenhuma hipótese, o presidente do TRE ou TSE poderá negar seguimento a agravo, mesmo que ele tenha sido interposto fora do prazo legal.

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8) Recurso ordinário eleitoral (ROE): Cabimento: Cabível contra acórdão do TRE que (i) versa sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; (ii) anula diploma ou decreta a perda de mandato eletivo federal ou estadual; (iii) denega habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção (art. 121, § 4º, inc. III a V, CF c.c art. 276, II, CE); (iv) infidelidade partidária (Resolução TSE 22.610), (v) Prestação de contas partidárias (Lei 9.504/97, art. 37). Atenção: não cabe ROE contra matéria estritamente administrativa (REspe 21.587/MA). Prazo: O prazo é de 3 dias. Efeito: meramente devolutivo. Porém, é possível obter o efeito suspensivo por meio de cautelar inominada perante o TSE. OBS: Não há juízo de admissibilidade, apenas o oferecimento de razões e contrarrazões, devendo o recurso subir em seguida. Igualmente aplicável o disposto no art. 270, CE, que dispõe: “se o recurso versar sobre coação, fraude, uso de meios de que trata o art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei dependente de prova indicada pelas partes ao interpô-lo ou ao impugná-lo, o Relator no Tribunal Regional deferi-la-á em vinte e quatro horas da conclusão, realizando-se ele no prazo improrrogável de cinco dias”. OBS: Não exige o pré-questionamento. OBS: como é recurso ordinário, a parte recorrente poderá fundamentá-lo em fatos e, se quiser, fazer juntar documentos novos, para reexame fático probatório pelo TSE.

9) Recurso especial eleitoral (REspE): Cabimento: Cabível contra acórdão de TRE que (i) contraria disposição expressa da CF ou lei federal; e (ii) diverge (dissídio pretoriano) na interpretação de lei com outro(s) tribunal(is) eleitoral(is) (art. 121, § 4º, I e II CF c.c art. 276, I, CE). Prazo: O prazo é de 3 dias (se for direito de resposta ou propaganda eleitoral irregular é de 24 horas). Após o oferecimento de razões e contrarrazões, ocorre o juízo de admissibilidade em 48 horas, uma vez admitido, abre-se 3 dias para as contrarrazões. Requisitos: o REspE tem que preencher dois requisitos (o RE contra decisão do TSE também tem que preencher esses mesmos requisitos): pré-questionamento e não rediscutir ou reexaminar matéria fático probatória. Efeito: meramente devolutivo (pode ser concedido efeito suspensivo mediante manejo de ação cautelar inominada para tal fim). Se negado seguimento ao REspE, cabe agravo para o TSE no prazo de 3 dias.

4. RECURSOS CONTRA DECISÕES DO TSE:

Cabem sete recursos contra decisões do TSE:

1) Recurso inominado eleitoral: Art. 264, CE. É oponível contra atos, resoluções ou despachos do presidente do TSE, quando não cabível recurso específico.

2) Agravo de instrumento ou agravo: Cabimento: serve para fazer subir para o STF o RE que teve seu seguimento negado pelo presidente do TSE. Prazo: 3 dias. OBS: Com a nova redação do art. 544, CPC (alterado pela lei 12.322/10), agora, o processamento do agravo é realizado nos mesmos autos, não se formando instrumento, o que é inteiramente aplicável ao processo eleitoral (TSE).

3) Embargos de declaração:

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4) Agravo regimental ou Agravo interno: É para o próprio TSE. Previsto no regimento interno. Prazo: 3 dias (se for direito de resposta é de 24 horas). Cabimento: seve para agravar decisão monocrática de membro do TSE, levando a decisão impugnada ao Colegiado. O mérito é julgado pelo pleno.

5) Revisão criminal: Não é recurso. Será estudado junto com as ações.

6) Recurso ordinário constitucional (ROC): Cabimento: É cabível em decisões de única instância que denegar HC, MS, HD ou MI. Efeito: meramente devolutivo. É possível ao STF atribuir efeito suspensivo. Prazo: 3 dias. OBS: Pode reexaminar fatos e provas.

7) Recuso extraordinário (RE): Cabimento: Cabível nas hipóteses do art. 102, III, a, b, c e d, CF . O prazo é de 3 dias, conforme súmula 728, STF. Não é cabível contra acórdão dos TRE’s. É o que se extrai do disposto no art. 121, caput, e seu § 4º, I, da CF de 1988, e nos arts. 22, II, e 276, I e II, do CE (STF). Jurisprudência: CF/88, art. 102, II, a, e III: cabimento de recurso ordinário e extraordinário; e art. 121, § 3º: irrecorribilidade das decisões do TSE. Após o oferecimento de razões, ocorre o juízo de admissibilidade, de forma idêntica aos recursos extraordinários não eleitorais. Prazo: 3 dias [Súmula STF nº 728/2003: "É de três dias o prazo para a interposição de recurso extraordinário contra decisão do Tribunal Superior Eleitoral, contado, quando for o caso, a partir da publicação do acórdão, na própria sessão de julgamento, nos termos do art. 12 da Lei nº 6.055/1974, que não foi revogado pela Lei nº 8.950/1994]. Efeito: meramente devolutivo. Cabe medida cautelar inominada em busca do efeito suspensivo. Requisitos: tem que preencher dois requisitos: pré-questionamento e não rediscutir ou reexaminar matéria fático probatória. OBS: Exige repercussão geral das questões constitucionais.

Observações finais:

(1) Lei 9.096/95, artigo 37, § 4º: Da decisão que desaprovar total ou parcialmente a prestação de contas dos órgãos partidários caberá recurso para os Tribunais Regionais Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme o caso, o qual deverá ser recebido com efeito suspensivo.

(2) § 5º. As prestações de contas desaprovadas pelos Tribunais Regionais e pelo Tribunal Superior poderão ser revistas para fins de aplicação proporcional da sanção aplicada, mediante requerimento ofertado nos autos da prestação de contas.

(3) Lei 9.096/95, artigo 45, § 5º. Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais que julgarem procedente representação (por propaganda partidária irregular), cassando o direito de transmissão de propaganda partidária, caberá recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, que será recebido com efeito suspensivo.

Questões de prova:

Havendo um acórdão no TRE contrário à CF, qual é o recurso cabível? Seria cabível recurso imediato para o STF?

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Ponto 5.a. Inelegibilidades constitucionais e infraconstitucionais. LC 135/2010.

Obras consultadas: Santo Graal 27º. Caderno Ênfase 2013. Gomes, José Jairo. Curso de Direito Eleitoral, 7ª. Edição, 2011. Ramayana, Marcos. Legislação Eleitoral Brasileira, 6ª. Edição www.tse.gov.br

Legislação: Lei nº 9.504/97, LC 64/90; LC 135/2010.

Introdução: os direitos políticos negativos correspondem às previsões constitucionais que restringem o acesso do cidadão à participação nos órgãos governamentais, por meio de impedimento às candidaturas. Dividem-se em regras sobre inelegibilidade e normas sobre perda e suspensão dos direitos políticos.

Conceito de inelegibilidade: é inelegível a pessoa que, embora regularmente no gozo de seus direitos políticos, esteja impedida de exercer temporariamente sua capacidade eleitoral passiva, ou seja, da condição de ser candidato e, consequentemente, de poder ser votado. A inelegibilidade é uma condição obstativa do exercício passivo da cidadania. Atenção: inelegibilidade não é pena. A pessoa poder ser considerada inelegível sem o cometimento de qualquer ilegalidade, mas tão somente em razão de suas características pessoais, tal como a inelegibilidade decorrente de vínculo de parentesco e a inelegibilidade decorrente de ocupar cargo de MP ou magistratura.

Inelegibilidade ≠ suspensão dos direitos políticos: Segundo Acórdãos do TSE n. 12.371/92 e n. 22.014/2004, a inelegibilidade atinge somente a capacidade eleitoral passiva, mas não restringe o direito de votar (capacidade eleitoral ativa). Já a suspensão dos direitos políticos atinge tanto a capacidade eleitoral ativa quanto a passiva

Inelegibilidade ≠ condições de elegibilidade: Condições de elegibilidade (nacionalidade brasileira, pleno gozo dos direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição e filiação partidária deferida há pelo menos um ano antes do pleito). “No caso da realização de novas eleições, é possível a mitigação de prazos relacionados a propaganda eleitoral, convenções partidárias e desincompatibilização, de forma a atender o disposto no art. 224 do Código Eleitoral”. TSE. AgR-MS - Agravo Regimental em Mandado de Segurança nº 57264 - Ourolândia/BA Acórdão de 12/05/2011 Relator(a) Min. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA . Além disso, não pode pesar contra o cidadão qualquer causa de inelegibilidade, cabendo diferenciar-se as causas constitucionais de inelegibilidade, previstas no art. 14 da Constituição Federal, das causas infraconstitucionais, reguladas pela Lei Complementar 64/90.

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A principal diferença entre condição de elegibilidade e inelegibilidade é a exigência de lei ordinária para estabelecer condições de elegibilidade. Ex: para o crime de captação ilícita de sufrágio a sanção é a cassação do registro ou do diploma do candidato (art. 41, a da Lei nº 9.504/97). Esse artigo foi inserido por lei ordinária, mas o STF trouxe a diferença entre os institutos e não precisa ser estabelecido por lei complementar.

Espécies de inelegibilidade:

Qual é a diferença entre as inelegibilidades constitucionais e legais? [essa pergunta caiu na discursiva do MPF] As inelegibilidades constitucionais não precluem nunca, podendo ser alegadas na fase de registro das candidaturas ou posteriormente, antes ou após as eleições. As inelegibilidades legais precluem se não forem alegadas na fase de registro dos candidatos, salvo quando supervenientes (art. 223 do CE).

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I) Inelegibilidades Constitucionais:

1) Inelegibilidades constitucionais absolutas: As causas constitucionais de inelegibilidade absolutas não precluem e podem ser arguidas a qualquer tempo, são as seguintes:

(a) os inalistáveis: A CRFB expressamente prevê duas pessoas: os estrangeiros, salvo o português equiparado e os conscritos, no cumprimento de serviço militar obrigatório. E quem se alistou aos 16 anos e depois foi cumprir o serviço militar obrigatório? O conscrito já alistado não vota. Então, o jovem que realiza o alistamento eleitoral aos 16 (dezesseis) anos, e aos 17 (dezessete) se alista no serviço militar não poderá votar segundo TSE. Além das hipóteses constitucionais, há outras hipóteses de inalistáveis: 1) o menor de 16 (dezesseis) anos; e 2) as pessoas privadas dos direitos políticos (art. 5º, III do CE). As hipóteses de privação de direitos políticos estão no art. 15 da CRFB e, o eleitor poderá incorrer em uma delas antes ou após o alistamento. Se for antes, não pode se alistar; se for após, o alistamento será cancelado. [Portanto, são inalistáveis: estrangeiro, salvo o português equiparado, os conscritos, os menores de 16 anos e os que perderam ou tiveram seus direitos políticos suspensos].

(b) os analfabetos: Analfabeto é alistável, mas é inelegível. Eles não podem se eleger, logo foi revogado o art. 5º, I do CE. A prova da alfabetização se dará mediante comprovante de escolaridade. Não havendo comprovante de escolaridade, admite-se a declaração de próprio punho, podendo o juiz se houver dúvidas, determinar a aferição por outros meios, inclusive teste de analfabetismo. O teste será realizado individualmente com o pré-candidato e sem que lhe sejam causados constrangimentos. O TSE admite a elegibilidade do analfabeto funcional, desde que tenha demonstrado um nível mínimo de compreensão escrita em teste. O TSE considerou que a mera assinatura em documentos é insuficiente para provar a condição de alfabetizado - Respe 21958/2004. Para a UNESCO, o analfabeto funcional é aquele que não completou 5 (cinco) anos de escolaridade. No Brasil, é aquele que não consegue produzir e compreender textos simples.

2) Inelegibilidades constitucionais relativas: A inelegibilidade relativa alcança apenas alguns casos.

(a) motivos funcionais: O art. 14, §5º, CF foi inserido pela EC nº 16/97. Ele proíbe a reeleição para um terceiro mandato consecutivo A regra compreende três personagens: Chefes do Executivo, quem os tenha sucedido (Vice) e quem os tenha substituído (decorrente de impedimento).

Titular do executivo: para a reeleição não se exige a desincompatibilização, entretanto para os chefes do executivo concorrerem a outros cargos deverão renunciar aos respectivos mandatos até 6 (seis) meses anteriores as eleições (art. 14, §6º da CRFB).

Manobra que o STF rejeitou: no final do segundo mandato o governador renunciou e se candidatou ao Governo na eleição que se aproximava, objetivando não caracterizar uma segunda reeleição e sim uma nova eleição. O STF rejeitou essa manobra e caracterizou a vedação à segunda reeleição [Atenção: se houver um mandato de intervalo, a pessoa pode se candidatar novamente e se eleger e se reeleger novamente]. Diferente é se duas vezes

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como vice-governador a pessoa se candidata a governador na “terceira” vez, pois como o cargo é diferente, não há que se fala em segunda reeleição.

OBS: para o chefe do executivo a desincompatibilização é definitiva, pois ele tem que renunciar ao cargo. Há, porém, desincompatibilizações temporárias nas quais se pede uma licença, retornando depois do pleito, se não eleito, ao cargo em que ocupava, é o caso do servidores públicos da administração direta que querem se candidatar.

OBS: não pode aquele que foi titular de dois mandatos consecutivos na chefia do executivo se candidatar no período subsequente ao cargo de vice.

OBS: a figura do prefeito itinerante, também chamado de prefeito profissional foi apreciado pelo STF. O prefeito itinerante é aquele que transfere um ano antes do término do mandato para outro município seu domicílio eleitoral para se candidatar a um terceiro mandato consecutivo. Inicialmente, o TSE entendia ser possível, pois a CRFB vedava o exercício ao mesmo cargo. Em 2008, houve virada jurisprudencial. Segundo o STF, a mudança de domicílio eleitoral para município diverso por quem já exercera dois mandatos consecutivos como prefeito de outra localidade configura fraude a regra constitucional que proíbe uma segunda reeleição. Essa prática configura desvio de finalidade visando a monopolização do poder local, havendo presunção da fraude nas seguintes hipóteses: I) os municípios forem muito próximos ou limítrofes de modo a pressupor a existência de uma microrregião eleitoral, formada por eleitores com características comuns e igualmente influenciados pelos grupos políticos atuantes na região; II) os municípios tiverem origem comum, resultante de fusão, incorporação ou desmembramento. Nessas hipóteses, há presunção de que a transferência de domicilio eleitoral visa alcançar finalidade incompatível com o art. 14, §5º e a perpetuação no poder local com o comprometimento ao princípio republicano (vide RE 637.485). No julgado supramencionado, o STF em nome da proteção da confiança legítima usou o princípio da anualidade eleitoral para que a regra se aplique apenas às próximas eleições. [observe que o supremo aplicou o principio da anualidade eleitoral para uma nova interpretação, para uma virada jurisprudencial, e não para uma mudança legislativa] [o julgamento é do final de 2013].

Vice: A desincompatibilização no que se refere aos vices: já os vices poderão concorrer a outros cargos preservando os respectivos mandatos [ou seja: vice não tem que desincompatibilizar para concorrer a outros cargos], desde que, nos 6 (seis) meses anteriores as eleições não tenham sucedido ou substituído o titular. (art. 1º, §2º da Lei Complementar 64/90).

OBS: os vices poderão se candidatar ao cargo do titular, mesmo tendo substituído este no curso do primeiro e/ou segundo mandato. Entretanto, ocorrendo vacância do cargo o vice sucederá definitivamente, caso em que somente poderá se candidatar para um único período subsequente. [pois como passa a ser titular, também passa a respeitar a regra dos titulares]

OBS: segundo o TSE a substituição nos 6 (seis) meses anteriores a eleição configura um primeiro mandato eletivo (vide Resolução nº 21.456/06 do TSE).

Resumindo:

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(b) reflexas: Ela está prevista no art. 14, §7º da CRFB. A regra torna inelegível o cônjuge, parentes ou afins até o segundo grau dentro da circunscrição territorial do Chefe do Executivo [Tio e primo pode. Cunhado, sogra ou sogro não pode].

Inelegibilidade reflexa e Heterodesincompatibilização: A desincompatibilização do chefe do executivo para se eleger a outro cargo eletivo é hipótese de autodesincompatibilização, pois permite o afastamento da própria inelegibilidade funcional. Porém, o ato de desincompatibilização do chefe do executivo pode beneficiar um terceiro que está reflexamente inelegível por ele, sendo esse caso chamado de heterodesincompatibilização. Assim, segundo orientação do TSE, se o titular do mandato se afastar definitivamente do cargo 6 meses antes das eleições e não se candidatar à reeleição (afastamento esse que não era necessário para sua reeleição), evitará a inelegibilidade dos respectivos parentes.

OBS 1: as mesmas vedações atingem o cônjuge, parentes ou afins dos vices, que tenham sucedido o chefe do executivo ou que os tenha substituído nos 6 (seis) meses anteriores ao pleito.

OBS 2: a inelegibilidade alcança ainda pessoas que vivam em união estável ou homoafetivas (Respe 24564/2004).

OBS 3: O TSE também entende no rol das inelegibilidades reflexas a relação de parentesco socioafetiva (Recurso Especial Eleitoral nº 303157).

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OBS 4: a inelegibilidade reflexa somente se verifica do ente maior para menor. Da menor para maior não reflete. [Então, o cônjuge do prefeito pode se candidatar a governador ou presidente da república].

Cônjuge, parentes ou afins até o segundo grau de:

Inelegível para:

Prefeito Prefeito, vice-prefeito e vereador dentro do mesmo Município.

Governador Prefeito, vice-prefeito, vereador, governador e vice-governador, deputado estadual, deputado federal e senador dentro do mesmo Estado ou DF [ou seja: inelegível para todos os Municípios do Estado ou qualquer cargo por aquele Estado].

Presidente Qualquer cargo do país.

OBS 5: A inelegibilidade reflexa é o vínculo de parentesco com o chefe do poder executivo ou do vice que o tiver sucedido ou substituído no seis meses anteriores para o poder executivo e para o poder legislativo. Porém, o parentesco com membros do poder legislativo não afetará a elegibilidade de nenhum parente para nenhum cargo.

OBS 6: O governador Garotinho exerceu o primeiro mandato e poderia se reeleger uma única vez. Todavia, 6 (seis) meses antes das eleições ele renunciou para concorrer ao cargo de Presidente da República, assumindo a Vice Governadora, sua mulher. Desse modo, sua esposa pode concorrer ao cargo de Chefe do Executivo do Estado. Rosinha exerceu apenas um mandato, e não pode buscar a reeleição, pois foi considerando que o núcleo familiar estaria no terceiro mandato. Note-se que a súmula n° 6 do TSE que vedava a elegibilidade de parentes resta superada. No caso em tela, o STF aplicou a proibição do terceiro mandato consecutivo e a inelegibilidade reflexa. Assim, impediu que uma mesma família se perpetuasse no poder e, portanto, nenhum cônjuge, parente ou afim até o 2º grau poderia concorrer. [observe que o STF combinou duas regras constitucionais, a inelegibilidade reflexa e a vedação de três mandatos consecutivos]. [se Garotinho tivesse renunciado no segundo mandato, a sua mulher, que era vice, não poderia sequer concorrer ao cargo de governadora, pois isso caracterizaria o terceiro mandato consecutivo]. Atenção: a inelegibilidade reflexa estaria afastada se fosse para outro cargo, como prefeita de Campos, pois estaria afastada a vedação de terceiro mandato.

OBS 7: A súmula vinculante 18 [A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal] visa afastar o uso de manobras para afastar a inelegibilidade reflexa. Então, o que se divorcia no curso do mandato do chefe do executivo, continua inelegível na circunscrição dele. [mas não é inelegível em outros lugares]. A LC nº 135/10 [lei da ficha limpa] agravou o determinado na súmula vinculante 18 e tornou inelegível para qualquer cargo por 8 anos após a decisão que reconhecer a fraude aquele que simulou o desfazimento do vínculo conjugal com intuito de afastar a inelegibilidade reflexa, nos termos do art. 1º, I, n da LC nº 64/10.

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OBS 8: Os cônjuges, parentes ou afins até o segundo grau do prefeito do município-mãe são inelegíveis no município desmembrado e ainda não instalado, consoante súmula nº 12 do TSE. [após instalado, será outro Município e não terá a inelegibilidade].

OBS 9: A inelegibilidade reflexa não alcança o cônjuge supérstite (sobrevivente, viúvo) quando o falecimento tiver ocorrido no primeiro mandato, com regular sucessão do vice-prefeito, e tendo em conta a construção de novo núcleo familiar. (STF, 2013, Info 703).

Portanto, um resumos dessas OBS fica assim:

(c) serviço militar: Há conflito tríplice de normas constitucionais. O art. 142, §3º, V da CRFB estabelece a impossibilidade de militar da ativa estar filiado a partido político. O art. 14, §3º, V da CRFB assevera que filiação é condição de elegibilidade. O art. 14, §8º da CRFB permite que o militar alistável seja elegível, observados as seguintes condições. A

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jurisprudência solucionou o conflito, vejamos: o militar da reserva pode concorrer a cargos eletivos e o prazo de um ano de filiação. OBS: Se a inatividade ocorrer faltando menos de um ano para eleição, ele deverá se filiar no prazo de 48 (quarenta e oito) horas após tornar-se inativo. Essa orientação afasta o requisito de um ano de filiação partidária. O militar da ativa não pode estar filiado. Então como fazer para um militar da ativa concorrer a um cargo público? Segundo o TSE, o partido, após a escolha do militar da ativa em convenção partidária e com a autorização do militar, deverá pedir o registro da candidatura à Justiça Eleitoral, suprindo a exigência de filiação (vide Resolução nº 21.787/04). Haverá vinculação ao partido, mas não há filiação ao partido. [se eleito, irá para a inatividade] Quem é o militar alistável? Serão alistáveis os militares não conscritos, desde que atendidas condições da CRFB. Condições: 1) Os militares com menos de 10 (dez) anos de serviço, devem requerer desligamento do serviço militar. 2) Por outro lado, aqueles com mais de 10 (dez) anos, serão agregados pela autoridade superior. [Se não eleito, retorna ao serviço militar. Se eleito, será diplomado e passará para a inatividade].

II) Inelegibilidades legais:

As inelegibilidades legais estão previstas em lei complementar, art. 14, §9º da CRFB c/c LC n° 64/90. Devem ser arguidas no período do Registro, sob pena de preclusão, salvo as supervenientes. [Art. 14, § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta].

A LC nº 135/10 (Lei da Ficha Limpa) alterou a LC n° 64/90 tornando inelegíveis aqueles que foram condenados por órgão colegiado ou decisão transitada em julgado e aumentando o período de inelegibilidade para 8 (oito) anos. [Atenção: Órgão colegiado de qualquer tribunal: Isso mesmo, basta a condenação de Órgão colegiado, sem exigir trânsito em julgado nesse caso. Também não se exige que seja matéria penal, pois improbidade administrativa também gera a inelegibilidade. Mas basta condenação? Não. Pode ser condenado em vários juízos e ser ficha limpa, desde que sejam condenações de primeiro grau e não transitadas em julgado].

A LC nº 135/10 observou o princípio da anualidade? Resposta: O TSE, em sede de consulta, entendeu inicialmente que se aplicaria a LC nº 135/10 imediatamente, pois seria norma de direito material. O STF decidiu em sentido oposto: decidiu que a lei não poderia ser aplica às eleições de 2010 em razão do princípio da anuidade e em nome do princípio da proteção da confiança. (vide RE 633.703, ADC 29 e 30, ADI 4.578)

Constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa: O TSE entendeu que a lei da ficha limpa se aplicava a fatos ocorridos antes de sua vigência, encontrando argumento na valorização da moralidade e do interesse público. Porém, argumentava-se que pelo princípio da irretroatividade da lei e pelo princípio da não culpabilidade isso não poderia ocorrer. O STF declarou que a lei da ficha limpa é constitucional e se aplica a fatos ocorridos antes de sua

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vigência, com fundamento no argumento da valorização da moralidade e do interesse público. Argumentou, ainda, que a lei atende à razoabilidade e proporcionalidade, pois atende à necessidade, adequação e proporcionalidade em sentido estrito. Além disso, asseverou que a inelegibilidade não seria pena e, por isso não se aplicaria o princípio da irretroatividade da lei penal, nem na presunção de inocência. Além disso, o Supremo entendeu que ele não poderia agir como legislador positivo e alterar o prazo de inelegibilidade previsto em lei.

Estrutura da lei da ficha limpa: As situações de inelegibilidades legais estão expressas no art. 1º da LC nº 64/90, quais sejam: A) Absoluta: a pessoa fica inelegível para qualquer cargo (art. 1º, I); B) Relativa (também chamadas de incompatibilidades): estão ligadas a alguém que ocupa um cargo e está incompatível a concorrer algum cargo, devendo se desincompatibilizar. São elas: B.1) Presidente da república (art. 1º, II); B.2) Governador (art. 1º, III); B.3) Prefeito (art. 1º, IV); B.4) Senador (art. 1º, V); B.5) Deputado federal, estadual e do distrito federal (art. 1º, VI); B.6) Vereador (art. 1º, VII)

Prazo para a desincompatibilização: Pode ser de 6 (seis), 4 (quatro) ou 3 (três) meses a depender do cargo pretendido e qual ocupa.

Inelegibilidade legal absoluta:

1) Renúncia do mandato: se renunciar ao mandato para evitar a perda do cargo gera a inelegibilidade (Art. 1º, I, k da LC nº 64/90) [Art. 1º São inelegíveis: I - para qualquer cargo: [...] k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)]. OBS: No passado, a condenação a perda do mandato tornaria inelegível por 3 (três) anos. Portanto, atualmente, a renúncia gera inelegibilidade, desde que haja alguma representação capaz de gerar a perda do mandato (exceção art. 1º, §5º da LC nº 64/90). Atenção: não é qualquer renúncia que gera a inelegibilidade: Art. 1º, [...] § 5º A renúncia para atender à desincompatibilização com vistas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alínea k, a menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao disposto nesta Lei Complementar. (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010).

2) Abuso do poder político ou econômico: (art. 1º, I, “d” e "h" da LC nº 64/90) O art. 1º, I, d se refere aquele que cometeu o abuso, mas não é titular de cargo na Administração direta ou indireta. Ressalte-se que não se exige que a potencialidade lesiva afete o resultado das eleições para decretação de inelegibilidade decorrente de abuso de poder político, econômico ou do uso indevido dos meios de comunicação social. Assim, a LC 135/2010 alterou consolidada jurisprudência das cortes eleitorais, que fixavam tal exigência. Basta a gravidade da conduta. OBS: A representação que fala a letra “e” é a ação de investigação

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judicial eleitoral (AIJE) que se destina a afastar abuso de poder político e econômico [conteúdo mais abrangente], a outro turno a ação de impugnação do mandato eleitoral (AIME) é mais restrita e se restringe a abuso do poder econômico. OBS: O tempo de inelegibilidade se aplica a eleição que concorreu e para os 8 anos subsequentes (vide súmula n° 19 do TSE) [Logo, se a condenação acontecer 8 anos após a eleição, a decisão retroagirá à data da eleição, e como o tempo já passou, a decisão fica ineficaz. Como atualmente basta a decisão de colegiado, não necessitando mais do trânsito em julgado, é mais difícil acontecer isso, mas é juridicamente possível].

3) Prática de captação ilícita de sufrágio, captação ou gasto ilícito de recursos em campanhas eleitorais e conduta vedada em campanhas eleitorais: (artigo 1, I, j e, respectivamente, art. 41-A, 30-A e art. 73 a 77 todos da Lei n° 9.504/97). Essas condutas estão previstos na art. 1º, I, j da LC nº 64/90 e o pedido será a cassação ou do registro ou diploma.

4) Decorrente de condenação criminal: (art. 1º, I, e da LC nº 64/90) Não basta a condenação criminal, devendo ser preenchidos dois requisitos: (i) condenação de órgão colegiado ou trânsito em julgado por um dos crimes especificados em lei; [condenação de juiz de primeiro grau não significa nada] e (ii) não tenha havido suspensão cautelar da inelegibilidade (c/c art. 26-C da LC nº 64/90). Atenção 1: Crimes que não geram inelegibilidade: A inelegibilidade não se aplica aos crimes culposos, aos crimes de menor potencial ofensivo e aos crimes de ação penal privada (art. 1º, §4º da LC nº 64/90). Atenção 2: A decisão do conteúdo da moralidade é aferida pelo juiz no caso concreto ou está reservado à lei essa definição? Anotações criminais, inquéritos criminais em curso ou processo criminal em tramitação podem ser consideradas como vida pregressa e imoralidade para fins de elegibilidade? Existe discussão doutrinária sobre a abrangência da expressão “vida pregressa” constante do art. 14, §9º da CRFB. Marcos Ramayana e o Min. Ayres Brito entendem ser norma autoaplicável e caberá ao Judiciário valorar os fatos para verificar a satisfação do requisito moralidade para fins de elegibilidade. A outro turno, o entendimento do STF e da súmula nº 13 do TSE é no sentido de que o art. 14, §9º da CRFB não é autoaplicável. Nesse sentido, o princípio da moralidade não é autoaplicável, ou seja, faz-se necessária a produção legislativa para explicitar quais casos que ensejam imoralidade para fins de elegibilidade. Entendimento consagrado na ADPF 144 do STF.

Observe a diferença da inelegibilidade do art. 1º, I, e da LC nº 64/90 para a suspensão dos direitos políticos decorrente de condenação criminal:

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5) Rejeição das contas: (art. 1º, I, g da LC nº 64/90). A irregularidade decorre de ato doloso de improbidade, somada a decisão irrecorrível do órgão competente para julgar as contas. Quem julga as contas? Regra: O Chefe do Executivo terá as contas julgadas pelo Poder Legislativo, pois atuam como executores do orçamento. O papel do Tribunal de Contas será emitir parecer prévio (art. 71, I e art. 85, VI ambos da CRFB). Exceção: O Tribunal de Contas da União que julga as contas dos prefeitos, que versam sobre aplicação de verba federal [e não o legislativo], salvo quando incorporadas ao patrimônio do município, conforme súmula nº 208 e 209 do STJ. As contas dos demais administradores públicos são julgadas pelo Tribunal de Contas. Não se trata de responsabilidade política pela execução do orçamento, e sim, responsabilidade técnica pela ordenação de despesas. A quem cabe verificar se o ato constitui ato doloso improbidade? José Jairo Gomes atribui a Justiça Eleitoral a valoração os fatos e confirmar a ocorrência de ato doloso de improbidade, não precisando haver ação de improbidade em curso. [é um requisito da lei eleitoral, então cabe ao juiz eleitoral valorar]. Qual o efeito da ação judicial desconstitutiva de rejeição das contas? Ela suspende a inelegibilidade, desde que preenchidos dois requisitos: i) a ação desconstitutiva deve ser ajuizada antes da ação impugnação de registro de candidato - súmula n° 1 do TSE e ii) deferimento de liminar que suspenda rejeição das contas.

Questões de prova:

Conceituar inelegibilidades constitucionais. Citar as principais inelegiblidades constitucionais. Há diferença entre condições de elegibilidade e inelegibilidades? Quais as principais inovações trazidas pela LC 135/2010. Discussão no STF acerca da lei da ficha limpa. Quem é competente pra julgar o RCED. Principais inovações trazidas pela mini reforma eleitoral.

Fale sobre desincompatibilização. Filho de governando que já é Deputado Estadual, tem

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alguma restrição para candidatar-se a deputado federal?

Crimes da LC 64/90 que geram inelegibilidade. (drogas, eleitorais, adm. pública...)

PONTO EXTRA:

Texto do Santo Graal 27 sobre o debate acerca da constitucionalidade e aplicação da LC 135/2010. A questão jurídica de maior repercussão pertinente à LC 135 diz respeito ao debate em torno da constitucionalidade da chamada “Lei da Ficha Limpa”, ou dos “Ficha Suja” como pretendem alguns. Para os detratores da Lei, impondo-lhe a pecha de inconstitucional, o regime das inexigibilidade representa um regramento de conteúdo sancionatório, identificando as inexigibilidades previstas na LC 64/90 como verdadeiras reprimenda, a condenar o cidadão no acutilamento da dimensão passiva de seus Direitos Políticos. Deste modo, deveria a LC 135 ser aplicada apenas nos casos em que a inelegibilidade teria sido “Imposta” após a vigência da Lei, não podendo, portanto, retroagir para casos anteriores à sua vigência, como previsto. Ademais, a LC 135 incorreria ainda em outra inconstitucionalidade, na medida em que representaria estatuto carente de razoabilidade, em face da imputação de sanções extremamente pesadas (ex. Inelegibilidade por 8 anos após o cumprimento da pena) que determinariam, em variados números de casos a imputação de “penalidades” virtualmente perpétuas (imagine o caso de um cidadão condenado a 30 anos de prisão, a inelegibilidade perduraria por 38 anos).

Uma segunda corrente (por fim encampada pelo STF), negando o caráter sancionatório, identifica nas inelegibilidades determinadas características, que agregadas ao status jurídico-político do cidadão[18]. Trata-se de elemento personalíssimo que, realizando uma distinção do eleitor diante das características por ele encampadas, determina o afastamento do cidadão do processo de escolha popular, mediante sufrágio, limitando a dimensão passiva de seus direitos políticos, segundo regras e princípios jurídicos preestabelecidos na Constituição e legislação complementar de regência. Trata-se, consoante doutrina de escol, guiada pela lição do Ex-Ministro Moreira Alves, de um “requisito negativo” para o registro da candidatura ou diplomação do eleito, compondo em conjunto com as condições de elegibilidade, qualificadas como “requisitos positivos”, o estatuto jurídico que tutela o exercício da dimensão passiva dos Direitos Políticos.

Sobre o tema, é valioso registrar trecho da obra do Emérito Ministro: Pressupostos de elegibilidade são requisitos que se devem preencher para que se possa concorrer a eleições. Assim, estar no gozo de direitos políticos, ser alistado como eleitor, estar filiado a partido político, ter sido escolhido como candidato no partido a que se acha filiado, haver sido registrado, pela justiça eleitoral, como candidato por este partido. Já as inelegibilidades são impedimentos que, se não afastados por quem preenche os pressupostos de elegibilidade, lhe obstam concorrer às eleições ou – se supervenientes ao registro ou se de natureza constitucional – servem de fundamento à impugnação de sua diplomação, se eleito. (…) Portanto, para que alguém possa ser eleito, precisa de

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preencher pressupostos de elegibilidade (requisito positivo) e não incidir em impedimentos (requisito negativo). Quem não reunir estas duas espécies de requisitos – o positivo (preenchimentos de pressupostos) e o negativo (não incidência em impedimentos) – não pode concorrer ao cargo eletivo. Tendo em vista, porém, que o resultado da inocorrência de qualquer desses dois requisitos é o mesmo – a não elegibilidade – o substantivo inelegibilidade (e o mesmo sucede com o adjetivo inelegível) é geralmente empregado para significar tantos os casos de ausência dos pressupostos de elegibilidade quanto os impedimentos que obstam à elegibilidade. (ALVES, José Carlos Moreira. Pressupostos de elegibilidade e inelegibilidades, in: Estudos de direito público em homenagem a Aliomar Baleeiro. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1976).

Cite-se ainda no trilhar desta lição autores como Joel José Cândido, Antônio Carlos Mendes, Marcos Ramayana e Pedro Henrique Távora Niess, entre outros.

Esta doutrina determina explicação coerente para o fato de que uma pessoa possa ser considerada inelegível, mesmo sem o cometimento de qualquer ilegalidade, mas em razão de suas características pessoais, tal como ocorre no caso das inelegibilidade decorrentes do vínculo de parentesco, em que, em homenagem ao Princípio Republicano, à Moralidade e à Impessoalidade, o cidadão é afastado de concorrer a determinados cargos eletivos; outro exemplo elucidativo é referente à inelegibilidade que afeta os membros do Ministério Público e da Magistratura, em que, inobstante não haver o cometimento de qualquer ilicitude, é vedada a candidatura a cargo eletivo.

Deveras, para a imposição de ônus admoestatório o Direito exige, sempre, ou a realização de um ato ilícito, ou, ao menos, a ocorrência de um dano imputável, observados no contexto de um processo em que sejam garantidos o contraditório e a ampla defesa; tal, porém, não ocorre de modo necessário para a configuração de hipótese de Inelegibilidade. Cite-se, de modo meramente exemplificativo, a inelegibilidade decorrente do parentesco com titular da chefia do Executivo, dentro da respectiva circunscrição administrativa; a inelegibilidade para o período subsequente, para o mesmo cargo executivo, após dois mandatos consecutivos, dentre outros vários exemplos. Nos aludidos casos exemplificativos não se percebe a ocorrência de qualquer ilicitude a ser sancionada, tampouco se exige qualquer decisão judicial para a declaração (ou “condenação”, acaso correta estivesse a primeira corrente) de inelegibilidade, operando-se o instituto ipso facto. Não é de se ignorar o fato de a legislação eleitoral conter expressões tais como “sanção de inelegibilidade” ou referir-se à “condenação” em inelegibilidade, mas após o julgamento da ADI 4578, resta evidente tratar-se de lamentável atecnia legislativa.

De fato, alguns casos de inelegibilidade decorrem de uma condenação, mas é preciso distinguir a condenação em si, dos efeitos jurídicos irradiados a partir dela. De fato, a inelegibilidade não se confunde com a condenação, mas pode ser dela efeito decorrente, conforme aquilatado pela legislação eleitoral específica.

Veja a exemplo uma hipotética condenação em uma AIJE baseada no art. 41-A ou art. 73, da Lei 9.504/97: Da leitura dos artigos transcritos, verifica-se que uma condenação importaria em “pena de multa de mil a cinquenta mil UFIR, e cassação do registro ou do diploma”, no caso do art. 41-A, além “multa no valor de cinco a cem mil UFIR” e

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“cassação do registro ou do diploma para os casos do art. 73”. É de se registrar que inelegibilidade não é uma sanção prevista pelos arts. 41-A e 73 da Lei 9.504/97, normas invocadas para condenar o Recorrente na AIJE de 2004, mas tão somente a multa e a cassação do registro de candidatura, o que foi feito naquele processo. A inelegibilidade é um efeito decorrente desta condenação pelos arts. 41-A e 73 e não uma espécie de sanção prevista neles, efeito imputado de forma taxativa pela LC 64/90.

Assim, seja diante de uma relação de parentesco, de um cargo público já titularizado, seja ainda diante dos efeitos projetados por uma condenação decorrente de ato ilícito, a legislação eleitoral, segundo uma ordem de valores estabelecida, passa a considerar esse fatos na definição do status civitatis do cidadão brasileiro. Dessa maneira, essas características, encampadas por aqueles que pretendem concorrer a cargo eletivo, referentes às condições de elegibilidade (requisito positivo) e às causas de inelegibilidade (requisitos negativos), devem ser confrontadas com as regras de Direito vigente a cada eleição, segundo o que determina o art. 11, §10 da Lei nº 9.504/97.

É justamente neste contexto, que os defensores da constitucionalidade da LC 135/2010 sustentavam a tese de que a Lei poderia ser aplicada mesmo às hipóteses de inelegibilidade verificadas antes da vigência da Lei da Ficha Limpa, porém ainda no período de inelegibilidade estabelecido na nova lei, uma vez que foram introduzidas no Regime Jurídico Eleitoral inovações, perante as quais caberia aos interessados em concorrer às eleições aderir e adequar-se as regras em agora em vigor, sejam elas favoráveis ou contrárias aos seus interesses políticos particulares, considerando por fim a inexistência de Direito Adquirido a Regime Jurídico.

Essas questões foram postas pelo plenário do STF, em sede do julgamento conjunto das ADC 29 e 30, e ADI 4578, onde restou afirmada a plena constitucionalidade da LC 135/2010, inclusive no que diz respeito às alegações de ofensa à razoabilidade.

Para o Supremo a constatação de causas de inelegibilidade, segundo os critérios estabelecidos pela LC 135/2010, considerando eventos ocorridos antes de sua vigência, não encontra barreiras nas garantias previstas no Art. 5º, XXXVI, da Constituição da República, porquanto não ofende direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada, tampouco estaria havendo aplicação retroativa da Lei.

O que foi afirmado pelo STF é a capacidade da nova Lei Complementar, que alterou o regime jurídico das eleições, examinar fatos passados em retrospectiva, projetando, porém, efeitos futuros, sem jamais retroagir para invadir relações jurídicas passadas já convalidadas, segundo a égide do Direito vigentes à época.

No julgamento conjuntos das aludidas ações de controle, o Min. Luiz Fux, relator dos processos, citando a obra de Canotilho, apresenta distinção entre retroatividade autêntica e inautêntica, afirmando a possibilidade de aplicação da lei em retrospectividade, tendo inclusive exemplo recente em nosso ordenamento, nos seguintes termos: O mestre de Coimbra, sob a influência do direito alemão, faz a distinção entre: (i) a retroatividade autêntica: a norma possui eficácia ex tunc, gerando efeitos sobre situação pretéritas, ou, apesar de pretensamente possuir eficácia meramente ex nunc atinge, na verdade, situações,

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direitos e ou relações jurídicas estabelecidas no passado; e (ii) A retroatividade inautêntica (ou retrospectividade): a norma jurídica atribui efeitos futuros a situações ou relações jurídicas já existentes, tendo-se, como exemplos clássicos, as modificações dos estatutos funcionais ou de regras de previdência dos servidores públicos (v. ADI 3105 e 3128, Rel. para o acórdão Min. Cezar Peluso).

Neste trilhar de ideias o STF entendeu que a LC 135/2010 não teria o condão de retroagir, afetando relações pretéritas (ex. Registro de candidatura das eleições de 2008 ou 2010), mas sendo capaz de projetar efeitos jurídicos futuros (eleições 2012), levando em consideração fatos pretéritos, sob um enfoque retrospectivo. É de se notar, portanto, que a LC 135/2010 não altera qualquer relação jurídica ocorrida antes da sua entrada em vigência, não sendo ademais aplicável às eleições 2010, em razão do princípio da anualidade, tampouco pretendeu imiscuir-se nas regras que tutelaram as eleições de 2008.

Assim, a LC 135/2010 foi capaz de produzir efeitos imediatos e gerais (respeitando a anualidade), alterando o regime jurídico eleitoral, a fim de reger as eleições após sua entra em vigor, mesmo que considerando aspectos pessoais do eleitor que busque candidatar-se a cargo eletivo ocorridos antes mesmo da entrada em vigor da Lei, descabendo assim falar de retroatividade, conforme explicitado pelo STF na ADI 4578.

Considerando, outrossim, que o regime das inelegibilidades, consiste, sobretudo, na adequação do indivíduo, consoante suas características pessoais, ao regime jurídico vigente a cada eleição, segundo as normas emanadas da Constituição e da Legislação Complementar, não é possível ao cidadão invocar a proteção ao direito adquirido.

Deveras, o fato do cidadão, em determinado momento, não se encontrar sujeito ao limites impostos pelo regime de inelegibilidade, não passa a integrar seu patrimônio jurídico de modo perpétuo, na qualidade de direito subjetivo público, oponível até mesmo a eventuais mudanças na legislação de regência. Como já é assente na jurisprudência nacional, sobretudo no STF, não há direito adquirido a regime jurídico, cabendo, portanto, ao cidadão tão somente curvar-se e se adequar às novas regras que tutelam o regime jurídico das inelegibilidades.

É valioso lembrar que o TSE, por ocasião da Consulta nº 1147, já teve a oportunidade de se pronunciar sobre o tema, afirmando categoricamente não haver “direito adquirido às causas de inelegibilidade anteriormente previstas”.

No que diz respeito à autoridade da Coisa Julgada, fortemente invocada pelos opositores da aplicação imediata da LC 135/2010, de igual forma não consiste em barreira para sua aplicação, uma vez que não se está criando nova sanção, ou ressuscitando sanção já devidamente cumprida, decorrente de fato já julgado, mas tão somente avaliando a adequação do eleitor que pretenda candidatar-se ao novo regime jurídico eleitoral, diante das características pessoais por ele encampadas.

Não é determinada qualquer invasão aos processos já julgados, o que a nova lei faz é considerar se o cidadão sofreu condenação nesses moldes, e, caso tenha sofrido, passa a considerar que a inelegibilidade perdurará por 8 anos; não havendo qualquer ofensa às

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proteções consagradas no art. 5º, XXXVI da CR/88.

Por fim é de se registar a ementa dos julgados, acima citados, a fim de melhor ilustrar o que se vem afirmando: Ação Direta De Inconstitucionalidade 4.578 Distrito Federal. Relator: Min. Luiz Fux. Reqte.(S): Confederação Nacional Das Profissões liberais-CNPL. Intdo. (A/S): Congresso Nacional. Intdo.(A/S): Presidente Da República.

EMENTA: Ações Declaratórias de Constitucionalidade e Ação Direta de Inconstitucionalidade em Julgamento Conjunto. Lei complementar nº 135/10. Hipóteses de inelegibilidade. Art. 14, § 9º, da constituição federal. Moralidade para o exercício de mandatos eletivos. Inexistência de afronta à irretroatividade das leis: agravamento do regime jurídico eleitoral. Ilegitimidade da expectativa do indivíduo enquadrado nas hipóteses legais de inelegibilidade. Presunção de inocência (art. 5º, LVII, da Constituição Federal): exegese análoga à redução teleológica, para limitar sua aplicabilidade aos efeitos da condenação penal. Atendimento dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Observância do princípio democrático: fidelidade política aos cidadãos. Vida pregressa: conceito jurídico indeterminado. Prestígio da solução legislativa no preenchimento do conceito. Constitucionalidade da lei. Afastamento de sua incidência para as eleições já ocorridas em 2010 e as anteriores, bem como e para os mandatos em curso.

1. A elegibilidade é a adequação do indivíduo ao regime jurídico – constitucional e legal complementar – do processo eleitoral, razão pela qual a aplicação da Lei Complementar nº 135/10 com a consideração de fatos anteriores não pode ser capitulada na retroatividade vedada pelo art. 5º, XXXV, da Constituição, mercê de incabível a invocação de direito adquirido ou de autoridade da coisa julgada (que opera sob o pálio da cláusula rebus sic stantibus) anteriormente ao pleito em oposição ao diploma legal retromencionado; subjaz a mera adequação ao sistema normativo pretérito (expectativa de direito).

2. A razoabilidade da expectativa de um indivíduo de concorrer a cargo público eletivo, à luz da exigência constitucional de moralidade para o exercício do mandato (art. 14, § 9º), resta afastada em face da condenação prolatada em segunda instância ou por um colegiado no exercício da competência de foro por prerrogativa de função, da rejeição de contas públicas, da perda de cargo público ou do impedimento do exercício de profissão por violação de dever ético-profissional.

3. A presunção de inocência consagrada no art. 5º, LVII, da Constituição Federal deve ser reconhecida como uma regra e interpretada com o recurso da metodologia análoga a uma redução teleológica, que reaproxime o enunciado normativo da sua própria literalidade, de modo a reconduzi-la aos efeitos próprios da condenação criminal (que podem incluir a perda ou a suspensão de direitos políticos, mas não a inelegibilidade), sob pena de frustrar o propósito moralizante do art. 14, § 9º, da Constituição Federal.

4. Não é violado pela Lei Complementar nº 135/10 não viola o princípio constitucional da vedação de retrocesso, posto não vislumbrado o pressuposto de sua aplicabilidade concernente na existência de consenso básico, que tenha inserido na consciência jurídica geral a extensão da presunção de inocência para o âmbito eleitoral.

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5. O direito político passivo (ius honorum) é possível de ser restringido pela lei, nas hipóteses que, in casu, não podem ser consideradas arbitrárias, porquanto se adequam à exigência constitucional da razoabilidade, revelando elevadíssima carga de reprovabilidade social, sob os enfoques da violação à moralidade ou denotativos de improbidade, de abuso de poder econômico ou de poder político.

6. O princípio da proporcionalidade resta prestigiado pela Lei Complementar nº 135/10, na medida em que: (i) atende aos fins moralizadores a que se destina; (ii) estabelece requisitos qualificados de inelegibilidade e (iii) impõe sacrifício à liberdade individual de candidatar-se a cargo público eletivo que não supera os benefícios socialmente desejados em termos de moralidade e probidade para o exercício de referido munus publico.

7. O exercício do ius honorum (direito de concorrer a cargos eletivos), em um juízo de ponderação no caso das inelegibilidades previstas na Lei Complementar nº 135/10, opõe-se à própria democracia, que pressupõe a fidelidade política da atuação dos representantes populares.

8. A Lei Complementar nº 135/10 também não fere o núcleo essencial dos direitos políticos, na medida em que estabelece restrições temporárias aos direitos políticos passivos, sem prejuízo das situações políticas ativas.

9. O cognominado desacordo moral razoável impõe o prestígio da manifestação legítima do legislador democraticamente eleito acerca do conceito jurídico indeterminado de vida pregressa, constante do art. 14, § 9.º, da Constituição Federal.

10. O abuso de direito à renúncia é gerador de inelegibilidade dos detentores de mandato eletivo que renunciarem aos seus cargos, posto hipótese em perfeita compatibilidade com a repressão, constante do ordenamento jurídico brasileiro (v.g., o art. 53, § 6º, da Constituição Federal e o art. 187 do Código Civil), ao exercício de direito em manifesta transposição dos limites da boa-fé.

11. A inelegibilidade tem as suas causas previstas nos §§ 4º a 9º do art. 14 da Carta Magna de 1988, que se traduzem em condições objetivas cuja verificação impede o indivíduo de concorrer a cargos eletivos ou, acaso eleito, de os exercer, e não se confunde com a suspensão ou perda dos direitos políticos, cujas hipóteses são previstas no art. 15 da Constituição da República, e que importa restrição não apenas ao direito de concorrer a cargos eletivos (ius honorum), mas também ao direito de voto (ius sufragii). Por essa razão, não há inconstitucionalidade na cumulação entre a inelegibilidade e a suspensão de direitos políticos.

12. A extensão da inelegibilidade por oito anos após o cumprimento da pena, admissível à luz da disciplina legal anterior, viola a proporcionalidade numa sistemática em que a interdição política se põe já antes do trânsito em julgado, cumprindo, mediante interpretação conforme a Constituição, deduzir do prazo posterior ao cumprimento da pena o período de inelegibilidade decorrido entre a condenação e o trânsito em julgado.

13. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga improcedente. Ações

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declaratórias de constitucionalidade cujos pedidos se julgam procedentes, mediante a declaração de constitucionalidade das hipóteses de inelegibilidade instituídas pelas alíneas “c”, “d”, “f”, “g”, “h”, “j”, “m”, “n”, “o”, “p” e “q” do art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 64/90, introduzidas pela Lei Complementar nº 135/10, vencido o Relator em parte mínima, naquilo em que, em interpretação conforme a Constituição, admitia a subtração, do prazo de 8 (oito) anos de inelegibilidade posteriores ao cumprimento da pena, do prazo de inelegibilidade decorrido entre a condenação e o seu trânsito em julgado.

14. Inaplicabilidade das hipóteses de inelegibilidade às eleições de 2010 e anteriores, bem como para os mandatos em curso, à luz do disposto no art. 16 da Constituição. Precedente: RE 633.703, Rel. Min. GILMAR MENDES (repercussão geral).

A C Ó R D Ã O: Vistos, relatados e discutidos este autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do Senhor Ministro Cezar Peluso, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, por maioria de votos, em julgar improcedente a ação direta. Brasília, 16 de fevereiro de 2012. LUIZ FUX – Relator.

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Ponto 5.b. Propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Direito de resposta. Pesquisas e testes pré-eleitorais.

Obras consultadas: Santo Graal 27º. Gomes, José Jairo. Curso de Direito Eleitoral, 7ª. Edição, 2011. Ramayana, Marcos. Legislação Eleitoral Brasileira, 6ª. Edição. www.tse.gov.br

Legislação: Lei nº 9.504/97. Lei 12.891/13.

1. Propaganda eleitoral no rádio e na televisão: (a) vedado propaganda paga (compensação fiscal); (b) foram suspensas, por liminar em ADI, as disposições das “normas do inciso II e da segunda parte do inciso III, ambos do art. 45, bem como, por arrastamento, dos §§ 4º e 5º do mesmo artigo, todos da Lei 9.504/97”, admitindo-se a veiculação de programas humorísticos, mesmo que satirizem o candidato, após 1º de julho do ano das eleições: “Dando-se que o exercício concreto dessa liberdade em plenitude assegura ao jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero, contundente, sarcástico, irônico ou irreverente, especialmente contra as autoridades e aparelhos de Estado. Respondendo, penal e civilmente, pelos abusos que cometer, e sujeitando-se ao direito de resposta a que se refere a Constituição em seu art. 5º, inciso V”. (STF. ADI 4451 MC-REF/ DF -. Relator(a): Min. AYRES BRITTO . Julgamento: 02/09/2010). Por outro lado, caso a conduta será vedada se houver intuito de favorecer determinado candidato. (c) busca-se privilegiar a isonomia e o equilíbrio entre os candidatos no acesso à TV e ao rádio. (d) confecção e definição do conteúdo do programa são de responsabilidade do candidato.

Rádio e TV: é restrita ao horário eleitoral gratuito. Ocorre nos 45 dias anteriores à eleição. Rádio: segunda a sábado, de 7h às 7h30 e de 12h às 12h30. TV: segunda a sábado, de 13h às 13h30 e de 20h30 às 21h. Distribuição do tempo: a) um terço igualitariamente; b) dois terços proporcionalmente ao nº de representantes na Câmara dos Deputados, considerado, no caso de coligação, o resultado da soma de todos os partidos que a integram. OBS: O STF, em recente julgamento (ADI n. 4430), declarou a inconstitucionalidade da expressão “e representação na Câmara dos Deputados”, contida no § 2º do art. 47, da Lei n. 9540/97 e deu interpretação conforme a Constituição ao inciso II do § 2º do art. 47, com o fim de assegurar aos partidos novos, criados após a realização de eleições para a Câmara dos Deputados, o direito de acesso proporcional aos 2/3 do tempo destinado à propaganda eleitoral no rádio e na televisão, considerada a representação dos deputados federais que migrarem diretamente dos partidos pelos quais tiverem sido eleitos para a nova legenda na sua criação. 2º turno: se houve segundo turno nas eleições majoritárias o tempo será distribuído igualmente. Serão dois períodos diários de 20 minutos a ser divididos entre os candidatos.

Gravações externas, montagens ou trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais: Foram permitidos pela Lei 12.891/13. Atenção. Antes, a lei 9.504 proibia tais condutas no artigo 51, IV. Agora o referido artigo tem a seguinte redação, a

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qual está suprimida a parte que proibia: na veiculação das inserções, é vedada a divulgação de mensagens que possam degradar ou ridicularizar candidato, partido ou coligação, aplicando-se-lhes, ainda, todas as demais regras aplicadas ao horário de propaganda eleitoral, previstas no art. 47.

Veiculações idênticas: É vedada a veiculação de inserções idênticas no mesmo intervalo de programação, exceto se o número de inserções de que dispuser o partido exceder os intervalos disponíveis, sendo vedada a transmissão em sequência para o mesmo partido político. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)

Propaganda eleitoral gratuita desblocada: as emissoras de TV e rádio têm que destinar 30 minutos diários em inserções de até 60 segundos de propaganda eleitoral, a critério do partido ou coligação, distribuídos ao longo do dia entre 8h e 24h. Condutas vedadas às emissoras de TV e rádio: transmitir, ainda que sob a forma de entrevista jornalística, imagens de realização de pesquisa ou qualquer outro tipo de consulta popular de natureza eleitoral em que seja possível identificar o entrevistado ou em que haja manipulação de dados; usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degrade ou ridicularize candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito; veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação ou seus órgãos ou representantes; dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação; veicular ou divulgar filmes, no velas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido, mesmo que dissimuladamente, exceto programas jornalísticos ou de debates políticos e; divulgar nome de programa que se refira a candidato escolhido em convenção, ainda quando preexistente, inclusive se coincidente com nome do candidato ou com a variação nominal por ele adotada. Sendo o nome do programa o mesmo que o do candidato, fica proibida a sua divulgação, sob pena de cancelamento do respectivo registro. Candidato que é apresentador de TV ou rádio: a partir do resultado da convenção, é vedado às emissoras de rádio e TV transmitirem programas apresentados ou comentados por candidatos escolhidos em convenção.

OBS: A Justiça Eleitoral pode suspender a programação normal de uma emissora por infração à legislação eleitoral? Sim. Pode determinar a suspensão por 24h de programação normal da emissora que deixar de cumprir as disposições legais eleitorais sobre propaganda, duplicado tal período em cada reiteração de conduta ilícita.

OBS: Responsabilidade pelo pagamento de multas: artigo 6º, §5º, Lei 9. 504/97: A responsabilidade pelo pagamento de multas decorrentes de propaganda eleitoral é solidária entre os candidatos e os respectivos partidos, não alcançando outros partidos mesmo quando integrantes de uma mesma coligação. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013).

Propaganda de candidatura diversa: Art. 53-A: É vedado aos partidos políticos e às coligações incluir no horário destinado aos candidatos às eleições proporcionais propaganda das candidaturas a eleições majoritárias ou vice-versa, ressalvada a utilização, durante a exibição do programa, de legendas com referência aos candidatos majoritários ou, ao fundo, de cartazes ou fotografias desses candidatos, ficando autorizada a menção ao nome e ao número de qualquer candidato do partido ou da coligação. Sanção: A

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inobservância do disposto neste artigo sujeita o partido ou coligação à perda de tempo equivalente ao dobro do usado na prática do ilícito, no período do horário gratuito subsequente, dobrada a cada reincidência, devendo o tempo correspondente ser veiculado após o programa dos demais candidatos com a informação de que a não veiculação do programa resulta de infração da lei eleitoral [antes se usava o próprio horário do infrator]. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013). Comentário GENAFE: As partes sublinhadas são inovações da lei.

Propaganda pelo TSE: Art. 93-A: O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no período compreendido entre 1o de março e 30 de junho dos anos eleitorais, em tempo igual ao disposto no art. 93 desta Lei, poderá promover propaganda institucional, em rádio e televisão, destinada a incentivar a igualdade de gênero e a participação feminina na política. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013). [Art. 93. O Tribunal Superior Eleitoral poderá requisitar, das emissoras de rádio e televisão, no período compreendido entre 31 de julho e o dia do pleito, até dez minutos diários, contínuos ou não, que poderão ser somados e usados em dias espaçados, para a divulgação de seus comunicados, boletins e instruções ao eleitorado.]

DEBATES: podem ser realizados nas campanhas majoritárias ou proporcionais, sendo obrigatório o convite daqueles partidos que tenham representação na Câmara dos Deputados. As emissora não são obrigadas a realizar debates. São obrigatoriamente gratuitos. Somente após 06/07 e fora do horário gratuito de propaganda eleitoral. As regras são estabelecidas por acordo entre os partidos e a emissora, dando ciência à Justiça Eleitoral. Para os debates do 1º turno, considera-se aprovado o acordo que tiver a concordância de 2/3 dos partidos ou coligações com candidatos aptos ao debate. Somente candidatos podem participar dos debates, e tem que ser candidato ao mesmo cargo e na mesma circunscrição. É permitido vários entrevistadores. É obrigatório o convite de todos os partidos ou coligações que tenham representação na Câmara dos Deputados e que possuam candidatos no prazo mínimo de 72 horas de antecedência. É facultado ao candidato ir ou não. A emissora que descumprir as regras fica sujeita à sanção de retirada da programação normal por 24 horas.

ENTREVISTAS: é admissível a realização de entrevistas na forma que a emissora entender conveniente (TSE, AgRgAC 2787/PA). “O art. 36-A da Lei n° 9.504/97 estabelece que não será considerada propaganda eleitoral antecipada a participação de filiados a partidos políticos ou de pré-candidatos em entrevistas, programas, encontros ou debates no rádio, na televisão e na internet, inclusive com a exposição de plataformas e projetos políticos, observado pelas emissoras de rádio e de televisão o dever de conferir tratamento isonômico”[Atualizei aqui a redação do texto pela alteração ocorrida em 2013]. AgR-REspe - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 532581 - joão pessoa/PB Acórdão de 04/08/2011. Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI. CENSURA PRÉVIA – proíbe-se a censura prévia. INVASÃO DE HORÁRIO – não é permitido que candidato majoritário faça inclusão no horário da propaganda das eleições proporcionais e vice-versa, sob pena de perda do horário equivalente do candidato beneficiado. “A regra do art. 53-A não contempla a "invasão" de candidatos majoritários em espaço de propaganda majoritária. Protege apenas a ocupação pelos majoritários dos espaços destinados aos

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proporcionais e vice-versa”. Rp - Representação nº 254673 – brasília/DF. Acórdão de 31/08/2010 Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA. PARTICIPAÇÃO DE FILIADOS A OUTRO PARTIDO: os candidatos filiados a partidos diversos não podem se manifestar em programas de rádio e televisão do outro, só se admitindo que o uso na “propaganda regional da ‘imagem e da voz de candidato ou militante de partido político que integre a sua coligação no âmbito nacional’” (GOMES, 2010, 345). TIPOS: propaganda em rede – é a propaganda fixa, com período determinado, transmitidas de segunda a sábado, distribuído o horário entre os candidatos com representação na Câmara dos Deputados; propaganda em inserção – veiculadas diariamente, inclusive aos domingos, levadas ao ar entre 8h e 24h, assegurando-se participação de todos os candidatos.

RETRANSMISSÃO: estações repetidoras ou retransmissoras não necessitam gerar programas eleitorais específicos para os municípios onde se situam (devem bloquear a transmissão de programas de municípios diversos, substituindo por uma imagem estática com os dizeres: horário destinado à propaganda eleitoral gratuita). TSE Pet 2860/DF – 2008).

2. DIREITO DE RESPOSTA: Constitui corolário do princípio da informação e da veracidade que norteia a propaganda eleitoral. DEFINIÇÃO: consiste em demanda na qual se postula o direito de resposta. LEGITIMAÇÃO ATIVA: candidato, partido ou coligação atingidos de forma direita ou indireta. Atenção: é a única ação eleitoral que o MPF ao tem legitimidade ativa, porém é obrigatória sua oitiva como fiscal da lei. O direito de resposta também poderia ser pedido por qualquer ofendido, seja pessoa física ou jurídica, mas seria de competência da justiça eleitoral o julgamento do pedido do direito de resposta se a ofensa fosse veiculada na propaganda eleitoral gratuita. OBS: É assegurado direito de resposta a terceiro? A Resolução 21575, TSE estabelece a legitimidade de terceiro para buscar o direito de resposta. CABIMENTO: cabível somente a partir da escolha de candidatos em convenção, se for veiculada propaganda, por qualquer meio de comunicação social, contendo imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica. PRAZO: a ação em busca do direito de resposta tem que ser interposta nos seguintes prazos, sob pena de decadência: 24h para horário eleitoral gratuito, 48h para programação de rádio e TV e 72h para órgão de imprensa escrita. PROCEDIMENTO: notificação imediata para defesa que deverá ocorrer em 24 horas. Com ou sem defesa o MPE deve ser ouvido como custus legis. No máximo em 72 horas do pedido tem que haver decisão judicial. Caso a decisão não seja prolatada em 72 (setenta e duas) horas da data da formulação do pedido, a Justiça Eleitoral, de ofício, providenciará a alocação de Juiz auxiliar [Regra incluída pela Lei 12.891/13]. Cabe recurso em 24 horas, com contrarrazões em igual prazo. Atenção: o pedido de direito de resposta e as representações por propaganda irregular em rádio, televisão e internet tramitarão preferencialmente em relação aos demais processos. CUSTOS: os custos do direito de resposta correrão por conta do ofensor. PEDIDO PREJUDICADO: após as eleições, os pedidos do direito de resposta ainda não apreciados estarão prejudicados, já que se destinam ao equilíbrio da disputa eleitoral.

OBS: O procedimento do direito de resposta está na resolução http://www.eleitoralbrasil.

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com.br/imagens/textos/files/Resolucao%20TSE%2023367%20-%20Representacoes,%20 reclamacoes%20e%20pedido%20de%20resposta.pdf

3. PESQUISAS E TESTES PRÉ-ELEITORAIS: Definição: pesquisas e testes pré-eleitorais não são espécie de propaganda eleitoral. Consiste no “levantamento e a interpretação de dados atinentes à opinião ou preferência do eleitorado quanto aos candidatos que disputam as eleições” (GOMES, 2010, p. 292). Tipos: interna (circunscrita as instâncias do partido) e externa (submetida à divulgação e disciplinada pelo direito eleitoral). Critérios: veracidade e confiabilidade. Obrigatoriedade do registro: é obrigatório o registro na justiça eleitoral 5 dias antes da divulgação. Juízo de registro: eleições municipais: juiz eleitoral; eleições estaduais e federais: TRE; eleições presidenciais: TSE. MOMENTO DA DIVULGAÇÃO: podem ser divulgadas a qualquer tempo, até mesmo no dia da eleição, desde a empresa responsável pela pesquisa ou teste pré-eleitoral a registre na Justiça eleitoral com 5 dias de antecedência de sua publicação. Porém, a pesquisa realizada no dia da eleição somente poderá ser divulgada após as 17h do dia do pleito. OBS: A justiça eleitoral pode proibir a divulgação de pesquisa eleitoral? Não. O registro da pesquisa não está sujeito a deferimento ou indeferimento. Se houver irregularidade no prazo de 5 dias, a justiça eleitoral poderá aplicar multa, apenas.

OBS: Nota fiscal de pesquisa: A Lei 12. 891/12 determina que haja nota fiscal com nome de qual pagou a realização da pesquisa. [texto da lei: art. 33, VII: nome de quem pagou pela realização do trabalho e cópia da respectiva nota fiscal.].

ENQUETE ou SONDAGEM: Atenção!! Foi vedado totalmente a realização de enquete no período de campanha eleitoral pela Lei 12. 891/12.

[Como era: consiste em pesquisa menos rigorosa quanto à abrangência e ao método, NÃO SENDO NECESSÁRIO REGISTRO NA JE. “Consoante o art. 21 da Res.-TSE nº 23.190/2009, na divulgação de resultado de enquete, deverá constar informação de que não se trata de pesquisa eleitoral, mas de mero levantamento de opinião, sem controle de amostra, o qual não utiliza método científico para sua realização e depende somente da participação espontânea do interessado”. TSE. 1296-85.2010.615.0000. 2011]. Texto tachado para que você memorize visualmente que essa regra não tem validade atualmente.

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Ponto 5.c. Registro de candidaturas. Impugnação. Legitimidade.

Obras consultadas: Santo Graal 27º. Gomes, José Jairo. Curso de Direito Eleitoral, 7ª. Edição, 2011. Ramayana, Marcos. Legislação Eleitoral Brasileira, 6ª. Edição. www.tse.gov.br

Legislação: Lei nº 9.504/97.

Situando o ponto na matéria: O processo eleitoral se desenvolve em etapas. Segundo Joel José Cândido, as fases do processo eleitoral são as seguintes: i) preparatória; ii) fase de votação; iii) apuração e; iv) diplomação.

A fase preparatória se subdivide em outras três: convenções partidárias, registro de candidatos e medidas preliminares à votação.

OBS: Até onde vai a competência da Justiça Eleitoral? Os autores, de modo geral, afirmam que a competência da Justiça eleitoral vai até a fase da diplomação, entretanto, imagine-se que uma impugnação da apuração, proposta antes da diplomação, venha a ser julgada após a diplomação. Nesse caso, ainda assim, a competência será da Justiça eleitoral. Também existem impugnações eleitorais propostas após a diplomação que são de competência da Justiça eleitoral [recurso contra a diplomação e ação de impugnação ao mandato eletivo, que são propostas após a diplomação]. A posse e o exercício dos candidatos não são de competência da Justiça eleitoral [é das casas respectivas]. Nesse aspecto, a competência vai até a diplomação, mas prossegue em relação às impugnações.

Convenções partidárias: ocorrerá após o alistamento eleitoral se o partido político entender necessário. É ato solene para se realizar a escolha de candidatos e para deliberar sobre eventuais coligações. Outros assuntos também podem ser tratados, como o limite de gastos dos candidatos, a definição do número com os quais irão concorrer. É ato interna corporis, devendo ser previsto no Estatuto. Pode ser convenção municipal, estadual ou nacional. Podem ser feitas no período de 12 a 30 de junho do ano das eleições [OBS: Alteração legislativa recente: A escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre coligações deverão ser feitas no período de 12 a 30 de junho do ano em que se realizarem as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto, rubricado pela Justiça Eleitoral, publicada em 24 (vinte e quatro) horas em qualquer meio de comunicação. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013)]. É permitido o uso de prédio público. A utilização gratuita de prédio público é direito subjetivo da agremiação partidária. Basta comunicar ao agente público com a antecedência mínima de 72 horas. O partido é responsável por eventuais danos ao patrimônio público. Em caso de mais de uma agremiação solicitar o local para o mesmo dia e hora, será observada a ordem de protocolo. Para ser escolhido o candidato deverá estar filiado há pelo menos um ano antes das eleições ao partido e, por igual prazo, possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição [havendo fusão ou incorporação de

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partidos há menos de um ano das eleições, é considerado a data de filiação ao partido de origem. É permitido a propaganda no âmbito interno do partido [propaganda intrapartidária] pelo pré-candidato no período de 15 dias que antecederem a convenção. É vedado o uso de rádio, outdoor e TV para a propaganda intrapartidária. OBS: Regras: A convenção deve se realizar com a observância de regras disciplinadas no Estatuto dos partidos, pois dizem respeito à autonomia partidária. São assuntos interna corporis e, portanto, insuscetíveis de intervenção estatal. Ex: Regras sobre presidência da convenção, forma de escolha dos candidatos, quorum de votação, formação de coligações eleitorais, dentre outras. Diante da omissão do Estatuto, a lei estabelece que caberá ao diretório nacional do próprio partido fixar as regras até 180 dias antes das eleições. Essas regras vinculam as convenções em todos os níveis.

Coligações: como dito acima, as convenções partidárias podem deliberar sobre coligações. Conceito: Coligação é a aliança entre dois ou mais partido políticos, dentro de uma mesma circunscrição, com o objetivo comum de, conjuntamente, escolherem seus candidatos para disputarem as eleições a se realizarem, seja para eleições proporcionais ou majoritárias, podendo formar mais de uma colocação para o pleito proporcional entre os partidos que integrarem a coligação par o pleito majoritário. Natureza jurídica: as coligações não são dotadas de personalidade jurídica, mas atuam como uma entidade jurídica autônoma dotada de direitos e deveres similares à agremiação partidária. Funcionam perante a Justiça Eleitoral como se um único partido fosse. Ela que deterá a legitimidade ativa e passiva nas ações judiciais eleitorais. Pode ter qualquer nome, exceto referência a nome de candidato ou pedido de voto (ex: coligação voto no 11; Coligação agora é a vez de Fulano). Verticalização: em 2002 o TSE impôs por Resolução a obrigatoriedade de se reproduzir alianças ou coligações partidárias no âmbito nacional e regional. Porém, em 2006 o Congresso Nacional alterou o artigo 17 da CF, pondo fim à verticalização nas eleições brasileiras.

Regras para as coligações: É facultado aos partidos políticos, dentro da mesma circunscrição, celebrar coligações para eleição majoritária, proporcional, ou para ambas, podendo, neste último caso, formar-se mais de uma coligação para a eleição proporcional dentre os partidos que integram a coligação para o pleito majoritário. [Atenção: se tiver coligação para a majoritária, os partidos podem concorrer na proporcional sozinho ou coligar para a proporcional APENAS com os partidos que participaram da coligação majoritária [em coligação fechada ou coligação casada], seja lá em qual combinação de partidos for, podendo gerar várias subcoligações [coligação casada], pois não poderá coligar com nenhum partido que não tenha participado da coligação majoritária]. A coligação terá denominação própria, que poderá ser a junção de todas as siglas dos partidos que a integram, sendo a ela atribuídas as prerrogativas e obrigações de partido político no que se refere ao processo eleitoral, e devendo funcionar como um só partido no relacionamento com a Justiça Eleitoral e no trato dos interesses interpartidários. A denominação da coligação não poderá coincidir, incluir ou fazer referência a nome ou número de candidato, nem conter pedido de voto para partido político. Na propaganda para eleição majoritária, a coligação usará, obrigatoriamente, sob sua denominação, as legendas

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de todos os partidos que a integram; na propaganda para eleição proporcional, cada partido usará apenas sua legenda sob o nome da coligação. Na formação de coligações, devem ser observadas, ainda, as seguintes normas: na chapa da coligação, podem inscrever-se candidatos filiados a qualquer partido político dela integrante; o pedido de registro dos candidatos deve ser subscrito pelos presidentes dos partidos coligados, por seus delegados, pela maioria dos membros dos respectivos órgãos executivos de direção ou por representante da coligação; os partidos integrantes da coligação devem designar um representante, que terá atribuições equivalentes às de presidente de partido político, no trato dos interesses e na representação da coligação, no que se refere ao processo eleitoral; a coligação será representada perante a Justiça Eleitoral pela pessoa designada na forma do inciso III ou por delegados indicados pelos partidos que a compõem, podendo nomear até: a) três delegados perante o Juízo Eleitoral; b) quatro delegados perante o Tribunal Regional Eleitoral; c) cinco delegados perante o Tribunal Superior Eleitoral. OBS: O partido político coligado somente possui legitimidade para atuar de forma isolada no processo eleitoral quando questionar a validade da própria coligação, durante o período compreendido entre a data da convenção e o termo final do prazo para a impugnação do registro de candidatos. OBS: A responsabilidade pelo pagamento de multas decorrentes de propaganda eleitoral é solidária entre os candidatos e os respectivos partidos, não alcançando outros partidos mesmo quando integrantes de uma mesma coligação.

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Registro de candidatura (RCAN): é o procedimento de formalização da candidatura, em regra iniciado por pedido de partido ou coligação, na qual são aferidas as condições de elegibilidade, as causas de inelegibilidade e as “condições de registrabilidade” (Ex. propostas defendidas pelo candidato – Lei 12.034/2009, somente para os cargos do executivo).

A condição de candidato e a candidatura só surgem com o registro. Antes disso, aquele que foi indicado em convenção partidária goza do status de pré-candidato.

Só em dois casos o pedido de registro de candidatura pode ser feito sem prévia escolha em convenção partidária: i) substituição de candidato (art.13, LE) e ii) indicação suplementar das vagas remanescentes (art. 10, §5° da LE), hipóteses em que a escolha do pré-candidato será feita pelo órgão de direção do partido. Tais hipóteses não se confundem com a “candidatura nata”, privilégio de pedir o registro sem passar pelo crivo das convenções partidárias concedido de candidatos à reeleição nas eleições proporcionais. (eficácia suspensa em virtude de liminar ADI 2.530-9, ajuizada pelo PGR).

Natureza jurídica do RCAN: três posições: a) natureza administrativa (Rodrigo L. Zílio), b) natureza jurisdicional / jurisdição voluntária (Adriano Soares da Costa) e c) natureza mista. O STF já assentou a natureza administrativa do RCAN (QO na Ação ordinária 510/1998). Importante é saber que não há lide, não há conflito, de modo que cabe ao juiz examinar de ofício todas as condições do registro, salvo a inelegibilidade decretada em ação específica, que pode ser conhecida de ofício pelo juiz eleitoral no exame do RCAN.

Aferição das condições: As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade (art. 11, §10 da LE).

Momento de aferição ≠ Momento de perfeição: As condições devem ser aferidas no momento de registro, mas tendo em vista data da eleição, quando deverão estar presentes (exceção: idade mínima, cujo exame deve ter em vista a data da posse, nos termos do art. 11, §2° da LE). Caso determinada condição possa ser preenchida até a eleição pelo advento de simples termo, evento futuro e certo, o RCAN não deve ser indeferido. Há ainda um processo geral ou raiz, que tem por objetivo analisar a regularidade da agremiação e dos atos por ela praticados com vistas à disputa eleitoral. (Gomes, p. 237).

OBS: se houver anulação da eleição majoritária ocorrerá renovação das eleições, sendo possível a candidatura daqueles que, ao pleito anulado, tiveram seu registro indeferido por ausência de desincompatibilização, desde que obedeçam os prazos estabelecidos na regulamentação da nova eleição. (TSE, consulta 1.707/DF)

Procedimento: pedido de registro de candidatura (até 5 de julho, às 19:00)→ publicação de edital com lista de candidatos (pedido suplementar de RCAN pelo pré-candidato preterido pelo partido/coligação, em até 48 h e impugnação via AIRC, em até 5 dias) → diligências (72h) → decisão (3 dias) → recurso ao TRE (3 dias) → recurso ao TSE (3 dias) → recurso ao STF (3 dias). O processo é desdobrado em duas vertentes: processo geral, que objetiva

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analisar a regularidade do partido/coligação, e processo individual, que examina o pedido de cada postulante em particular. Novidade da Lei 12.034/2009. “A questão nova, alusiva à quitação eleitoral, diz respeito à condição de elegibilidade, que não deve ser examinada em prestação de contas, mas em eventual processo de registro de candidatura, momento em que poderá ser discutida a aplicação do disposto no § 7º do art. 11 da Lei nº 9.504/97, acrescido pela Lei nº 12.034/2009. TSE. 1310-86.2010.600.0000. 2011”.

Competência: a) Juízes Eleitorais: candidatos a Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores; b) Tribunais Regionais Eleitorais: candidatos a Governador, Vice-governador, Senadores, Deputados Federais e Deputados Estaduais; c) Tribunal Superior Eleitoral: candidatos e Presidente e Vice-Presidente.

Prazo: Os partidos e coligações devem solicitar à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até as 19h do dia 05 de julho do ano das eleições. Se esses se omitirem, os pré-candidatos poderão fazê-lo até 48h depois da publicação da lista de candidatos. (art. 11, §4º, LE). Depois desse prazo, ainda será possível a substituição de candidatos (art. 13 da LE).

Pedido de registro: iniciativa: a) partido/coligação; b) pré-candidatos preteridos pelos partidos/coligações, até 48h depois da publicação da lista de candidatos (art. 11, §4º, LE). O pedido deve ser acompanhado dos documentos indicados no art. 11, § 1° da LE. Verificando vício sanável, o juiz é obrigado a conceder oportunidade de saneamento, em até 72h (art. 11, § 3° da LE. Não concedido o prazo de saneamento, o documento poderá ser juntado na fase recursal (Súmula 03 do TSE). Nas eleições majoritárias, deve-se registrar a chapa completa (unicidade da chapa). Candidatos a titular do Poder Executivo devem registrar suas propostas (novidade da Lei 12.034/09). Princípio da unicidade do registro: só é admissível um registro por candidato, independentemente do cargo ou da circunscrição (art. 88 do CE). Princípio da celeridade: até 45 dias antes das eleições, todos os RCAN devem estar julgados em todas as instâncias (art. 16, § 1° da LE). Reserva de sexo: Cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo (art. 10 da LE). OBS 1: Cálculo com base no número de candidatos “efetivamente lançados pelo partido ou coligação, não se levando em conta os limites estabelecidos no art. 10, caput e § 1º, da Lei nº 9.504/97”. TSE. REspE 78432. 2010.

Cota de gênero: A lei 12.034/09 inovou com a cota de gênero, que permite um aumento da participação feminina no processo eleitoral. Serão destinadas, no mínimo, 30% (trinta por cento) e, no máximo, 70% (setenta por cento) das vagas para candidatura de cada sexo (art. 10, §3º, Lei 9.504/97). Atenção: Houve discussão acerca da base de cálculo da cota de gênero. O TSE firmou orientação no sentido de que a base de cálculo deve observar o número de candidaturas efetivamente requeridas e, não, o número abstratamente previsto em lei (vide REsp 78432). OBS: se o partido ou coligação não observar o percentual mínimo de 30% para um dos sexos o pedido de registro coletivo do partido ou da coligação deverá ser indeferido pela Justiça Eleitoral, após concessão de prazo para que seja sanado o problema. (TSE, nov. 2012, REspE 2939). OBS: Há Resolução do TSE que já regulou essa cota de gênero, prevendo a solução para hipótese em que o resultado percentual for fração, equivalendo a um inteiro, arredondando para cima (Art. 20, §§ 4º e 5º, Resolução nº

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22.156/06).

Quantidade de candidatos: Eleição proporcional: Limites estabelecidos no art. 10, caput e § 1º, da Lei nº 9.504/97: de 150% (partido) e 200% (coligação) para registro. Ex 1: partido isolado: 36 vagas 150% de 36 = (36 + 18) = 54 candidatos. Ex 2: Coligação: 36 vagas 200% de 36 = (36 + 36) = 72 candidatos. Exceção: Há exceção prevista na lei, em relação à eleição proporcional, que é a dos estados em que a população elege até 20 (vinte) deputados federais. Nesse caso, cada partido poderá registrar até o dobro do número de vagas a preencher e a coligação, além do dobro, mais 50% (cinquenta por cento) daquele número de vagas. Eleição majoritária: não há distinção entre partido e coligação. Para chefe do executivo, cada partido ou coligação poderá registrar um titular e um vice. Para senador, cada partido ou coligação poderá registrar até um titular e dois suplentes. Em relação ao senador, se houver renovação de dois terços do Senado (art. 46, §2º, CRFB/88), cada partido ou coligação poderá registrar dois titulares e quatro suplentes, sendo dois para cada titular.

Vagas remanescentes: As vagas remanescentes representam a diferença entre o número de candidaturas que foram efetivamente requeridas e aquelas que poderiam ser requeridas abstratamente. Essas vagas podem ser preenchidas posteriormente pelo órgão de direção do partido, até 60 dias antes da eleição, dispensada nova escolha em convenção partidária (art. 10, §5º, lei 9.504). [Art. 10, §5º - No caso de as convenções para a escolha de candidatos não indicarem o número máximo de candidatos previsto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo, os órgãos de direção dos partidos respectivos poderão preencher as vagas remanescentes até sessenta dias antes do pleito].

Substituição de candidatos: é facultado ao partido ou coligação substituir o candidato que for considerado inelegível, renunciar ou falecer após o termo final do prazo de registro ou, ainda, tiver seu registro indeferido (procedência de AIRC) ou cancelado (em virtude expulsão do candidato do respectivo partido político, art. 14 da LE). A escolha do substituto será feita pelo órgão de direção do partido do substituído, não em nova convenção. Nas eleições majoritárias: se houver coligação, a escolha do substituído será feita pelo voto da maioria absoluta dos órgãos de direção dos partidos coligados, podendo o substituto ser filiado a qualquer partido dela integrante, desde que o partido ao qual pertencia o substituído renuncie ao direito de preferência. Se for candidato de partido não coligado, incumbirá à própria agremiação partidária indicar o nome do substituto. O pedido de substituição deve ser feito até 10 dias do fato ou da notificação da decisão judicial que deu origem à substituição. Se esse prazo vencer depois da eleição, o termo final ocorrerá na véspera da mesma. Se a urna já tiver sido preparada, o substituto concorrerá com nome, número e foto do substituído e todos os votos dados ao candidato anterior serão computados em favor do substituto. Entre o 1° e o 2° turno das eleições, não é possível a substituição do titular da chapa, por força do art. 77, §4° da CRFB (convoca-se, entre os remanescentes, o de maior votação). O TSE, porém, admite a substituição do vice (AC 24340/94). Ex: se em uma eleição majoritária o mais votado no 1º turno falece, o 2º turno será entre o 2º e 3º mais votados, não podendo o partido ou coligação fazer a substituição. Porém, se for o vice que morre entre o 1º e o 2º turno, pode ser substituído. Eleições proporcionais: prazo de 10 dias do fato ou da notificação.

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Prazo para substituição: Tanto nas eleições majoritárias como nas proporcionais, a substituição só se efetivará se o novo pedido for apresentado até 20 (vinte) dias antes do pleito, exceto em caso de falecimento de candidato, quando a substituição poderá ser efetivada após esse prazo. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013).

Cancelamento do registro: o candidato que, até a data das eleições, for expulso do partido, observado devido processo legal, terá o registro de sua candidatura cancelada por solicitação do partido à justiça eleitoral.

Candidatura nata: O art. 8º, §1º da lei 9.504/97 trata da candidatura nata, que é o direito de se obter o registro da candidatura para a reeleição no mesmo cargo. O STF suspendeu a aplicação deste artigo, por entender que todos os candidatos devem ser escolhidos, inclusive os que já exercem o cargo (vide ADI 2530-9).

Ação de impugnação de registro de candidatura (AIRC): ação que tem por finalidade obter o indeferimento do pedido de registro de candidatura, em virtude da ausência de condições de elegibilidade, da incidência de causas de inelegibilidade ou da falta de condições formais de registro (“condições de registrabilidade”). A AIRC constitui incidente no procedimento de RCAN, que é principal em relação a ela. Daí porque RCAN e AIRC devem ser decididos na mesma sentença. Rito: ordinário, art. 2° a 16 da LC 64/90.

Prazo: até 5 dias após a publicação do edital com lista dos registros pedidos. Prazos contínuos, peremptórios, correm em cartório e, a partir do fim do prazo de registro, não se suspendem aos sábados, domingos e feriados (art. 16 da LC 64/90). Pela especialidade, esta regra vale também para o MP, constituindo exceção à regra que garante a intimação pessoal, com vista dos autos (art. 18, II, “h” da LC75/93 e art. 236, §2° do CPC). Competência: a mesma do RCAN, art. 2° da LC 64/90.

Legitimidade:

1) Legitimidade ativa: São legitimados concorrentemente: a) MP, impedido o membro que tiver exercido atividade partidária ou disputado eleição nos últimos 2 anos; b) Partido Político, desde que não coligado (art. 6°, §4° da LE); c) Coligação e d) Candidato. A legitimidade do candidato independe do cargo disputado, podendo, eg, candidato a vereador impugnar registro de candidato a prefeito (neste sentido, J. Jairo e R.L. Zílio, contra, A. Soares da Costa). “Candidato” que teve o RCAN indeferido ou ainda não deferido também tem legitimidade ativa para impugnar RCAN dos demais candidatos. O TSE admite a legitimidade do “pré-candidato” derrotado na convenção para impugnar o RCAN do candidato escolhido, com base em vícios da convenção. Candidatos de outros partidos também têm legitimidade para impugnar o RCAN de seus adversários, vedada, porém, a invocação de matéria interna corporis do outro partido (eg, vícios da convenção). É possível o litisconsórcio facultativo ativo. A ação proposta pelo partido, candidato ou coligação não impede atuação do MPE. Partido político não pode propor AIRC contra seus próprios filiados. Quanto à fase recursal, dispõe a súmula 11 do TSE que partido político que não tenha impugnado o RCAN não tem legitimidade para recorrer da sentença que o

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deferiu, salvo se se cuidar de matéria constitucional. Esta súmula não se aplica ao MP. Por fim, frise-se que o cidadão não tem legitimidade, podendo apenas apresentar “notícia” aos órgãos legitimados para agir (o art. 97, §3° do CE foi revogado pelo art. 3° da LC 64/90).

2) Legitimidade passiva: pré-candidato, ou seja, aquele que pede o RCAN. Não há litisconsórcio passivo necessário entre pré-candidato e seu partido/coligação. A lei não impõe e nem há unidade de relação jurídica material. Admite-se a assistência simples do partido/coligação (interesse jurídico). Nas eleições majoritárias, não há litisconsórcio passivo necessário entre titular e vice ou suplente, pois as condições de elegibilidade e causas de inelegibilidade têm caráter personalíssimo. Ademais, é possível pedir a substituição do titular ou do vice que tiver seu RCAN indeferido (art. 13 da LE).

Competência: TSE: Presidente e vice; TRE: Governador, vice, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital. Juiz Eleitoral: Prefeito, vice e Vereador.

Capacidade postulatória: a) eleições municipais: AIRC dispensa advogado, salvo em grau recursal; b) eleições estaduais, federais e presidencial: exige-se advogado desde o início, pois a AIRC será proposta diretamente perante tribunal. Neste sentido, J. Jairo e TSE.

Causa de pedir: ausência de condições de elegibilidade, incidência de causas de inelegibilidade ou falta condições formais de registro (“condições de registrabilidade”). Atenção: a AIRC não se presta à decretação de inelegibilidade por abuso de poder. A AIRC só pode ter como causa de pedir a inelegibilidade originária ou a inelegibilidade cominada já reconhecida em processo específico anterior.

Preclusão: as inelegibilidade devem ser arguídas na primeira oportunidade possível, sob pena de preclusão (art. 259, CE). Não alegadas na AIRC, só não precluem as inelegibilidades constitucionais e as supervenientes (legais ou constitucionais), que poderão ser posteriormente invocadas em recurso contra a expedição de diploma.

Antecipação de tutela: não tem cabimento em sede de AIRC (permite-se a continuidade da campanha por conta e risco do candidato impugnado). Admite-se, por outro lado, julgamento antecipado da lide.

Procedimento: (a) são 07 dias para contestar (b) são no máximo 06 testemunhas (c) 05 dias para o juiz diligenciar e mais 05 dias para as alegações finais em prazo comum para as partes (d) são 03 dias para sentenciar, para recorrer e para contrarrazoar.

Recurso: "No processo de registro de candidatos, o partido que não o impugnou não tem legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de matéria constitucional" (Súmula 11 – TSE). Exige-se a representação de advogado para recurso (AC 23668/2004). Prazo: 3 dias.

OBS: Entendimento superado: Apesar de a súmula falar apenas em “partido” que não impugnou o registro, o TSE aplicava esse entendimento também para o Ministério Público. Assim, o TSE afirmava que “a parte que não impugnou o registro de candidatura, seja ela candidato, partido político, coligação ou o Ministério Público Eleitoral, não tem

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legitimidade para recorrer da decisão que o deferiu, salvo em casos que envolvem matéria constitucional”. O STF muda esse entendimento, olhe:

STF, 2013: O Plenário do STF reconheceu que o Ministério Público Eleitoral possui legitimidade para recorrer de decisão que deferiu registro de candidatura, mesmo que não tenha apresentado impugnação ao pedido inicial desse registro. O relator do caso, Min. Ricardo Lewandowski, sustentou que o art. 127 da CF/88, ao incumbir o Ministério Público de defender a ordem pública e o regime democrático, outorga a ele a possibilidade de recorrer, como custos legis (fiscal da lei), contra o deferimento de registros, mesmo que não tenha impugnado o pleito original, por se tratar de matéria de ordem pública. O STF, com essa decisão, modifica a posição até então dominante no TSE. Vale ressaltar, no entanto, que esse novo entendimento manifestado pelo STF foi modulado e só valerá a partir das eleições de 2014. Assim, nos recursos que tratam sobre o tema, referentes ao pleito de 2012, deverá continuar sendo aplicado o entendimento do TSE que estendia ao MP a regra da Súmula 11-TSE. [STF. Plenário. ARE 728188/RJ. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/12/2013 (Info 733)].

Da decisão da AIRC cabe recurso: 1) Sentença de Juiz Eleitoral: cabe recurso inominado para o TRE. 2) Acórdão de TRE: Cabe Recurso Ordinário Eleitoral (ROE quando versar sobre inelegibilidade) ou Recurso Especial Eleitoral (REspE quando versar sobre condições de elegibilidade), ambos para o TSE.

O que é “teoria da própria conta e risco” e “teoria dos votos engavetados”? O candidato que não tem seu registro deferido pode prosseguir na campanha eleitoral, sendo apto para fazer propaganda eleitoral, participar de comícios, debates, mas por sua conta e risco (teoria da conta e risco), ou seja, se no dia da votação ele não tiver registro, seus votos serão considerados nulos. Assim, o candidato que tiver seu registro indeferido poderá recorrer da decisão e prosseguir por sua conta e risco, enquanto estiver sub judice, em sua campanha e ter seu nome mantido na urna eletrônica, ficando a validade de seus votos condicionada ao deferimento de seu registro por instância superior. Isso porque, “transitada em julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado o registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido” (art. 15 da LC 64/90). Em fase de recurso, este não será substituído; todavia, se a decisão recorrida se confirmar pela instância superior (leia-se TSE, e não STF, ou seja, não precisa de trânsito em julgado) e o candidato vencer as eleições, os votos atribuídos a ele serão nulos (teoria dos votos engavetados), regras válidas para as eleições majoritárias e proporcionais. A Lei n. 12.034/2009, em seu art. 16-A, cria a possibilidade de um candidato concorrer mesmo que seu registro esteja sub judice, ou seja, sem decisão final favorável do TSE. Ele poderá fazer a campanha normalmente enquanto estiver nessa condição, inclusive no rádio e na TV. Trata-se da adoção da teoria da conta e risco, aplicada pelo TSE em várias eleições, ou seja, efeito suspensivo do indeferimento de registro (art. 15 da LC 64/90). Assim, caso a decisão não tenha sido apreciada pelo TSE, em sede de Embargos de Declaração em REspe, até a eleição, seu nome também deverá figurar na urna eletrônica. Todavia, os votos recebidos por ele só serão válidos se o pedido de registro for aceito definitivamente pelo TSE, o que se denominou de “teoria dos votos engavetados” (após a eleição, o efeito do recurso não será mais suspensivo, e os votos são nulos, para todos os efeitos, enquanto o

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TSE não decidir o tema — art. 257 do CE). Uma vez indeferido o registro, o candidato não mais poderá assumir seu cargo, caso vença as eleições, devendo, nesse caso, assumir o 2º colocado (no caso de eleição majoritária), e não o Vice, uma vez que, indeferido o registro do candidato a titular, não pode ser deferido o do Vice, já que a chapa é “única e indivisível”. Caso a nulidade resultante da teoria dos votos engavetados, leia-se dos votos atribuídos aos candidatos (e não os chamados votos apolíticos, isto é, aquele em que o eleitor digita número inexistente na urna eletrônica e confirma), ultrapasse 50% + 1 dos votos, o TSE entendeu que devem ser realizadas novas eleições, nos termos do art. 224 do CE que se aplica para AIRC (cf. Consulta n. 1.657/2008), sendo eleições diretas, se estiverem nos 2 primeiros anos do mandato, e eleições indiretas (no Legislativo), se estiverem nos 2 últimos anos do mandato. Se o TSE não acolher a decisão que impugnar o registro de candidatura, deferindo-o, os votos que estavam “engavetados” são tornados válidos, e, como tal, o candidato assume o cargo, caso tenha vencido a eleição, independentemente de outros recursos no próprio TSE ou no STF.

No caso de eleição proporcional, assume o próximo que conseguir atingir o quociente eleitoral e partidário, ou seja, os votos não vão para a legenda, como determina o art. 175, § 4º, do CE, pois, do contrário, bastaria colocar “candidato inelegível” que este teria o seu registro impugnado, mas “daria votos à legenda dele”. Por isso, foi criada a teoria dos votos engavetados. Assim, o partido ou coligação, quando percebe uma decisão judicial que INDEFERE o registro de candidatura, pode manter seu candidato, pela teoria da conta e risco, e aguardar até a decisão do TSE, o que poderá ocorrer ou, não querendo assumir o risco do que possa ocorrer, poderá substituir o candidato, na forma e nas regras do art. 13 da Lei Eleitoral.

OBS: Explicação de porque não há efeito suspensivo para a teoria dos votos engavetados: Não há efeito suspensivo do recurso contra decisão que indeferir o registro de candidatura, pois, após as eleições, aplica-se a teoria dos votos engavetados, ou seja, os votos são considerados nulos para todos os efeitos até decisão final do TSE. Assim, somente se aplica a teoria dos votos engavetados se houver alguma decisão judicial que indefira o registro, pois, enquanto estiver deferido, ainda que sub judice, não se aplica tal teoria, e sim assume o vencedor até decisão final do TSE, inclusive podendo diplomar e tomar posse até tal

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decisão.

Os processos que cuidam dos candidatos a cargo majoritário (por exemplo: Prefeito/Vice-Prefeito) deverão ser julgados conjuntamente, e o registro da chapa majoritária somente será deferido se ambos os candidatos forem considerados aptos, não podendo este ser deferido sob condição. Se o juiz (eleição municipal), TRE (eleição geral) ou TSE (eleição presidencial) indeferir o registro da chapa, deverá especificar qual dos candidatos, ou ambos, não preenchem as exigências legais e deverá apontar o óbice existente, podendo o partido político ou a coligação, por sua conta e risco, recorrer da decisão ou, desde logo, indicar substituto ao candidato que não for considerado apto, na forma do art. 13 da Lei n. 9.504/97.

[Importante inclusão legislativa na lei no final de 2013: Coloco os artigos aqui apenas para leitura, pois eles não alteram o dito acima. Art. 16-A. O candidato cujo registro esteja sub judice poderá efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão e ter seu nome mantido na urna eletrônica enquanto estiver sob essa condição, ficando a validade dos votos a ele atribuídos condicionada ao deferimento de seu registro por instância superior. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009). Parágrafo único. O cômputo, para o respectivo partido ou coligação, dos votos atribuídos ao candidato cujo registro esteja sub judice no dia da eleição fica condicionado ao deferimento do registro do candidato. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009). Art. 16-B. O disposto no art. 16-A quanto ao direito de participar da campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito, aplica-se igualmente ao candidato cujo pedido de registro tenha sido protocolado no prazo legal e ainda não tenha sido apreciado pela Justiça Eleitoral. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)]

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Ponto 6.a. Propaganda eleitoral em geral. Início. Bens públicos e bens particulares. Símbolos e imagens semelhantes às de órgãos do governo.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 6ª Edição. Ed. Atlas. Rodrigo López Zílio. Direito Eleitoral. 2ª Ed. Ed. Verbo Jurídico. Adriano Soares da Costa. Instituições de Direito Eleitoral, 8a Ed. Lumen Juris, 2009.

Legislação básica: Lei n. 9.504/97 (Lei das Eleições).

1. Propaganda eleitoral em geral:

O vocábulo propaganda traduz procedimentos de comunicação em massa, pelos quais se difundem ideias, informações e crenças com vistas a obter-se a adesão dos destinatários.

Propaganda política: A propaganda política é o gênero, constituído pelas espécies: propaganda eleitoral, propaganda partidária e propaganda intrapartidária.

Propaganda eleitoral Divulgação de propostas por candidatos, partidos políticos e coligações com o intuito de obter o voto do eleitor; Realizada a partir de 6 de julho do ano eleitoral; Diversas modalidades , tais como rádio, jornal, TV, faixas, cartazes, comícios, etc. É vedado outdoor.

Propaganda Intrapartidária Propaganda interna dos filiados próximos da realização das convenções com o afã de serem nelas escolhidos como futuros candidatos, após o deferimento do pedido de registro perante a Justiça Eleitoral; Realizada nos quinze dias que antecedem a concenção partidária; Não se admite o uso de rádio, TV e outdoor.

Propaganda partidária Propaganda do próprio partido político no rádio e na TV, não vinculada a qualquer eleição e com o objetivo de propagar, dentre outros temas, o programa e a ideologia político-partidária e,assim, receber da população adeptos, simpatizantes e novos filiados; Realizada entre as 19h30 e 22h; Não pode ser veiculada no segundo semestre do anos eleitoral; Não pode servir

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de palanque para o futuro candidato.

Visão geral das regras:

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A) Propaganda eleitoral:

A propaganda eleitoral é disciplinada na Lei 9.504/97 e supletivamente pelo CE.

Conceito: Segundo J. Jairo, propaganda eleitoral é a elaborada por partidos políticos e candidatos com a finalidade de captar votos do eleitorado para investidura em cargo público-eletivo.

Princípios:

a) princípio da legalidade: uma vez que é regulada por lei. Início: A propaganda eleitoral somente é permitida após o dia 05 de julho do ano da eleição (art. 36 da Lei 9.504/97), podendo se realizada, inclusive, por candidato que estiver com o registro sub judice (art. 16-A da Lei 9504/97). OBS 1: A propaganda eleitoral realizada antes desta data será considerada propaganda antecipada e, nesta medida, considerada irregular, sujeitando o responsável pela divulgação da propaganda, e também o seu beneficiário quando for comprovado o seu prévio conhecimento, e multa (art. 36, §3º, da Lei n. 9.504/97). Segundo o TSE, o pedido de voto não é requisito essencial para a configuração da propaganda antecipada, desde que haja alusão à circunstância associada à candidatura (AgRg no Ag nº 5.120, Rel. Min. Gilmar Mendes), ainda que de forma subliminar. OBS 2: não será considerada propaganda antecipada a do artigo 36-A da lei 9.504/07. A propaganda eleitoral ilícita é dividida em duas espécies: a) ilícita criminal: é a que configura crime eleitoral. Ex: uso de símbolos de órgão governamentais em propaganda, realizar calúnia, injúria ou difamação; b) irregular (ilícito civil-eleitoral): é a que, por ausência de previsão legal, não configura crime, mas enseja a aplicação de multa ou outra penalidade prevista em lei. Ex: uso na imprensa escrita de espaço superior ao permitido, propaganda na TV ou rádio fora do horário eleitoral gratuito, propaganda extemporânea (fora do prazo legal).

b) princípio da liberdade: é livre a manifestação de pensamento na propaganda política, ou seja, toda e qualquer propaganda é permitida, com ressalva das restrições legais (art. 39, caput, da Lei das Eleições e art. 248 do Código Eleitoral). Quanto à liberdade a propaganda eleitoral é classificada em permitida, vedada e não-regulamentada. OBS: É admitido censura na propaganda eleitoral? Não é admitido cortes instantâneos ou qualquer tipo de censura prévia nos programas eleitorais gratuitos.

Competência da Justiça Eleitoral: Art. 57-D. É livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato durante a campanha eleitoral, por meio da rede mundial de computadores - internet, assegurado o direito de resposta, nos termos das alíneas a, b e c do inciso IV do § 3o do art. 58 e do 58-A, e por outros meios de comunicação interpessoal mediante mensagem eletrônica. § 3o Sem prejuízo das sanções civis e criminais aplicáveis ao responsável, a Justiça Eleitoral poderá determinar, por solicitação do ofendido, a retirada de publicações que contenham agressões ou ataques a candidatos em sítios da internet, inclusive redes sociais. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013).

c) princípio da responsabilidade: Não obstante a livre manifestação do pensamento, abusos, ilícitos ou excessos cometido na propaganda política será alvo de responsabilidade civil, penal e administrativa. O art. 241 do Código Eleitoral impôs a responsabilidade solidária

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aos partidos e candidatos pelos excessos cometidos.

d) controle judicial: O MPE, partidos políticos, coligações e candidatos têm legitimidade ativa para propor demanda junto à Justiça Eleitoral contra propaganda política viciada. Em todas as demandas o MPE atuará como custos legis, sob pena de nulidade processual.

e) informação: pois os eleitores possuem o direito de serem informados de todas as qualidades – positivas ou negativas – dos candidatos;

f) veracidade: os atos e informações veiculados devem corresponder à veracidade (vide art. 45, II, da Lei n. 9504/97).

Início: após o dia 5 de julho, ou a partir do dia 6 de julho do ano eleitoral. Antes disso será considerada propaganda antecipada.

Não caracteriza propaganda antecipada ou extemporânea: O art. 36-A listou condutas que não serão consideradas propaganda antecipada e poderão ter cobertura dos meios de comunicação social, inclusive via internet, quais sejam: I - a participação de filiados a partidos políticos ou de pré-candidatos em entrevistas, programas, encontros ou debates no rádio, na televisão e na internet, inclusive com a exposição de plataformas e projetos políticos, observado pelas emissoras de rádio e de televisão o dever de conferir tratamento isonômico; II - a realização de encontros, seminários ou congressos, em ambiente fechado e a expensas dos partidos políticos, para tratar da organização dos processos eleitorais, discussão de políticas públicas, planos de governo ou alianças partidárias visando às eleições, podendo tais atividades ser divulgadas pelos instrumentos de comunicação intrapartidária; III - a realização de prévias partidárias e sua divulgação pelos instrumentos de comunicação intrapartidária e pelas redes sociais; IV - a divulgação de atos de parlamentares e debates legislativos, desde que não se faça pedido de votos; V - a manifestação e o posicionamento pessoal sobre questões políticas nas redes sociais. Parágrafo único. É vedada a transmissão ao vivo por emissoras de rádio e de televisão das prévias partidárias. (Atenção: artigo alterado pela Lei nº 12.891, de 2013 ). Comentários do GENAFE: as partes sublinhadas no artigo acima são as alterações que foram feitas. O Grupo de estudos do MPF entende que houve uma maior amplitude à disseminação da candidatura, tanto que foi suprimida a expressão “desde que não se mencione a possível candidatura” da anterior redação do artigo. Também foi suprimida a expressão “desde que não haja pedido de votos”. Ou seja: houve uma ampla liberação dos atos de pré-campanha.

OBS: A lei não fixa um marco a partir do qual a propaganda eleitoral é considerada antecipada, já tendo o TSE entendido ser irrelevante a distância temporal entre o ato impugnado e a data das eleições (RRp nº 1.406/DF, 2010, Min. JOELSON COSTA DIAS). OBS: quando o Presidente da República enaltece feitos de sua administração em discurso ou em propaganda de rádio ou TV faz prestação de contas de sua administração não caracteriza propaganda antecipada [TSE AgRgRg 914/2006].

Caracteriza propaganda antecipada ou extemporânea: Será considerada propaganda eleitoral antecipada a convocação, por parte do Presidente da República, dos Presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal, de redes de

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radiodifusão para divulgação de atos que denotem propaganda política ou ataques a partidos políticos e seus filiados ou instituições Parágrafo único. Nos casos permitidos de convocação das redes de radiodifusão, é vedada a utilização de símbolos ou imagens, exceto aqueles previstos no § 1o do art. 13 da Constituição Federal. (Atenção: artigo 36-B foi i ncluído pela Lei nº 12.891, de 2013 ).

Meios de veiculação da propaganda eleitoral: 1) Outdoor: é vedado pela lei 11.300/06. Para responsabilizar o candidato é preciso demonstrar seu prévio conhecimento. Será considerado responsável o candidato que intimado da existência da propaganda irregular não providenciar sua retirada ou regularização em 48 horas, e, ainda, o que consideradas as circunstâncias do caso e suas peculiaridades ficar revelado a impossibilidade de o beneficiário não ter tido conhecimento da propaganda. Atenção: é vedado o uso de faixa ou pintura em muro particular em dimensões de outdoor. O tamanho máximo permitido é de 4m2. 2) Imprensa escrita: é permitido até 10 anúncio por veículo, em datas diversas, a partir de 06/07 até a antevéspera das eleições, desde que não ultrapasse 1/8 de página de jornal ou 1/4 de página de revista ou tabloide. É modalidade de propaganda paga. É obrigatório constar de forma visível o valor pago, bem como quem foi o responsável pela inserção. 3) Rádio e TV: é restrita ao horário eleitoral gratuito. Ocorre nos 45 dias anteriores à eleição. Rádio: segunda a sábado, de 7h às 7h30 e de 12h às 12h30. TV: segunda a sábado, de 13h às 13h30 e de 20h30 às 21h. Distribuição do tempo: a) um terço igualitariamente; b) dois terços proporcionalmente ao nº de representantes na Câmara dos Deputados, considerado, no caso de coligação, o resultado da soma de todos os partidos que a integram. OBS: O STF, em recente julgamento (ADI n. 4430), declarou a inconstitucionalidade da expressão “e representação na Câmara dos Deputados”, contida no § 2º do art. 47, da Lei n. 9540/97 e deu interpretação conforme a Constituição ao inciso II do § 2º do art. 47, com o fim de assegurar aos partidos novos, criados após a realização de eleições para a Câmara dos Deputados, o direito de acesso proporcional aos 2/3 do tempo destinado à propaganda eleitoral no rádio e na televisão, considerada a representação dos deputados federais que migrarem diretamente dos partidos pelos quais tiverem sido eleitos para a nova legenda na sua criação. 2º turno: se houve segundo turno nas eleições majoritárias o tempo será distribuído igualmente. Serão dois períodos diários de 20 minutos a ser divididos entre os candidatos.

Propaganda eleitoral gratuita desblocada: as emissoras de TV e rádio têm que destinar 30 minutos diários em inserções de até 60 segundos de propaganda eleitoral, a critério do partido ou coligação, distribuídos ao longo do dia entre 8h e 24h. Condutas vedadas às emissoras de TV e rádio: transmitir, ainda que sob a forma de entrevista jornalística, imagens de realização de pesquisa ou qualquer outro tipo de consulta popular de natureza eleitoral em que seja possível identificar o entrevistado ou em que haja manipulação de dados; usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degrade ou ridicularize candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito; veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação ou seus órgãos ou representantes; dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação; veicular ou divulgar filmes, no velas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido, mesmo que dissimuladamente, exceto programas jornalísticos ou de debates políticos e;

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divulgar nome de programa que se refira a candidato escolhido em convenção, ainda quando preexistente, inclusive se coincidente com nome do candidato ou com a variação nominal por ele adotada. Sendo o nome do programa o mesmo que o do candidato, fica proibida a sua divulgação, sob pena de cancelamento do respectivo registro. Candidato que é apresentador de TV ou rádio: a partir do resultado da convenção, é vedado às emissoras de rádio e TV transmitirem programas apresentados ou comentados por candidatos escolhidos em convenção.

OBS: A Justiça Eleitoral pode suspender a programação normal de uma emissora por infração à legislação eleitoral? Sim. Pode determinar a suspensão por 24h de programação normal da emissora que deixar de cumprir as disposições legais eleitorais sobre propaganda, duplicado tal período em cada reiteração de conduta ilícita.

OBS: Responsabilidade pelo pagamento de multas: artigo 6º, §5º, Lei 9. 504/97: A responsabilidade pelo pagamento de multas decorrentes de propaganda eleitoral é solidária entre os candidatos e os respectivos partidos, não alcançando outros partidos mesmo quando integrantes de uma mesma coligação. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013).

Propaganda cruzada: Art. 53-A: É vedado aos partidos políticos e às coligações incluir no horário destinado aos candidatos às eleições proporcionais propaganda das candidaturas a eleições majoritárias ou vice-versa, ressalvada a utilização, durante a exibição do programa, de legendas com referência aos candidatos majoritários ou, ao fundo, de cartazes ou fotografias desses candidatos, ficando autorizada a menção ao nome e ao número de qualquer candidato do partido ou da coligação. Sanção: A inobservância do disposto neste artigo sujeita o partido ou coligação à perda de tempo equivalente ao dobro do usado na prática do ilícito, no período do horário gratuito subsequente, dobrada a cada reincidência, devendo o tempo correspondente ser veiculado após o programa dos demais candidatos com a informação de que a não veiculação do programa resulta de infração da lei eleitoral. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013).

B) Propaganda partidária:

Não está vinculada a nenhuma eleição em específico. Tem o objetivo de difundir, entre outros temas, o programa e a ideologia político-partidária e, assim, receber da população adeptos, simpatizantes e novos filiados. A propaganda partidária não pode ser veiculada no segundo semestre de ano de eleição. Não pode servir de palanque para futuro candidato. Deve obrigatoriamente ser enter 19h30 e 22h.

Direito de antena: a propaganda eleitoral e a propaganda partidária, veiculadas por rádio e TV, é a forma de exteriorização do que se chama de direito de antena, pois o partido tem por lei o direito ao acesso sem ônus aos veículos de comunicação de massa.

Obrigatoriamente gratuito: é vedado o uso de TV ou rádio de forma paga, sendo restrito aos horários gratuitos disciplinados por lei. As empresas de comunicação têm direito a compensação fiscal.

Havia duas espécies: os artigos 48 e 49 da lei 9.096/97 previam a propaganda partidária

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semestral e regular. A propaganda partidária regular seria destinada apenas aos partidos políticos que tivessem funcionamento parlamentar. A propaganda partidária semestral seria destinada a partido políticos que não tivessem funcionamento parlamentar. O STF declarou inconstitucional os artigos 48 e 49 da referida lei, também declarando inconstitucional o artigo 13 que estabelecia a “cláusula de barreira ou cláusula de desempenho” [ADI 1351 e 1354]. Passou a vigorar em caráter definitivo as regras de transição constantes no artigo 56, III e IV e artigo 57 da lei 9.096/97, os quais estabelecem uma “cláusula de barreira flexível”. OBS: a cláusula de barreira ia além da divisão do tempo de propaganda partidária, pois os partidos deveriam preencher o percentual mínimo de votos para também ter acesso à estrutura de liderança de bancada, a indicar parlamentar seu para atuar em comissão mista no Congresso Nacional, de CPI ou para participar de Mesa diretora da casa legislativa.

Cláusula de barreira flexível: as regras de transição são as seguintes:

Partidos políticos Tempo de propaganda partidária

Partidos com funcionamento parlamentar de acordo com o artigo 57 da LOPP:

a) um programa partidário por semestre, em cadeia nacional, com duração de 10 minutos;

b) inserções de 30 segundos a 1 minuto, no máximo, por semestre, em cadeia nacional e cadeiras regionais com duração total de 20 minutos.

Partidos com funcionamento parlamentar de acordo com o artigo 56, III da LOPP:

a) um programa partidário anual, em cadeia nacional, com duração de 10 minutos;

b) não há direito de inserções.

Partido com funcionamento parlamentar de acordo com o artigo 56, IV da LOPP

a) um programa partidário anual, em cadeira nacional, com duração de 5 minutos;

b) não há direito de inserções.

OBS: O material de áudio e vídeo com os programas em bloco ou as inserções será entregue às emissoras com antecedência mínima de 12 (doze) horas da transmissão, podendo as inserções de rádio ser enviadas por meio de correspondência eletrônica. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013)

Finalidades: difundir os programas partidários; transmitir a mensagem aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos eventos com este relacionados e das atividades congressuais do partido; divulgar a posição do partido em relação a temas político-comunitários; promover e difundir a participação feminina, dedicando às mulheres o tempo que Serpa fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 10%.

Vedações: são vedadas na propaganda partidária a participação de pessoa filiada a partido que não o responsável pelo programa; a divulgação de propaganda de candidato a cargos eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos; a utilização de imagens ou

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cenas incorretas ou incompletas, efeitos ou quaisquer outros recursos que distorçam ou falseiem os fatos ou a sua comunicação.

OBS: É vedada a veiculação de inserções idênticas no mesmo intervalo de programação, exceto se o número de inserções de que dispuser o partido exceder os intervalos disponíveis, sendo vedada a transmissão em sequência para o mesmo partido político. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)

Sanções: se houver desobediência à legislação eleitoral que disciplina a propaganda partidária, a Justiça Eleitoral aplicará as seguintes sanções: a) quando a infração ocorrer nas transmissões em bloco: haverá cassação do direito de transmissão no semestre seguinte; b) quando a infração ocorrer nas transmissões em inserções: aplica a sanção equivalente a cassação de tempo equivalente a 5 vezes ao da inserção ilícita, no semestre seguinte.

Legitimidade para propor ação contra a propaganda irregular: Partidos políticos, e MPE. OBS: a lei 9.096/97 somente atribui legitimidade a partido político, porém, o MP encontra sua legitimidade na CF. STF, 2013: ADI 4617: O Ministério Público possui legitimidade para representar contra a propaganda partidária irregular.

Competência: TSE: para programas em bloco ou inserções nacionais. TER: para programas em bloco ou inserções nos respectivos Estados.

C) Propaganda intrapartidária:

Se refere ao postulante a cargo eletivo. É permitida a realização de propaganda na quinzena anterior à convenção partidária. É vedado o uso de rádio, TV e outdoor, pois se trata de propaganda interna corporis. É vedada sua utilização como meio de propaganda eleitoral, pois vai configurar propaganda extemporânea. A penalidade será aplicada ao responsável pela divulgação da propaganda e ao beneficiário, de forma individualizada, desde que seja provado seu prévio conhecimento.

2. Bens públicos: O art. 37, caput, da Lei n. 9504/97 veda a realização de propaganda eleitoral nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do Poder Público (bancas de jornal, ônibus, táxi), ou que a ele pertençam (hospitais, unidades de ensino, delegacias, museus, bibliotecas), e nos de uso comum (no Direito eleitoral seu significado é mais extenso do que no direito civil, pois compreende os bens privados que a população em geral tem acesso, tais como cinemas, clubes, lojas, centros comerciais, templos, ginásios, estádios, nos termos do art. 37, §4°, da Lei n. 9504/97), inclusive postes de iluminação pública, passarelas, viadutos, pontes, paradas de ônibus, cinemas, clubes, lojas, templos, estádios, ainda que de propriedade privada.

O parágrafo quinto do art. 37, da Lei n. 9504/97, veda, ainda, a publicidade nas árvores e nos jardins localizados em áreas públicas, bem como em muros, cercas e tapumes divisórios, mesmo que não lhes cause dano.

É permitida a colocação de cavaletes, bonecos, cartazes, etc. ao longo das vias públicas desde que tais objetos sejam móveis, não prejudiquem o trânsito e sejam retirados entre as

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22 horas e às 06h da manhã (art. 37, §§6° e 7°).

Nas dependências do poder legislativo: a propaganda eleitoral, a critério da mesa diretora, poderá vir a ser permitida ou vedada (Lei das Eleições, art. 37, §3º)

3. Bens particulares: É permitido, mas depende apenas do consentimento do proprietário ou possuidor, sendo desnecessária a obtenção de licença municipal ou autorização da Justiça Eleitoral (art. 37, §2, da Lei n. 9504/97). O consentimento deve ser espontâneo e a cessão gratuita (art. 37, § 8º, da Lei n. 9504/97). A veiculação de propaganda fica limitada a quatro metros quadrados, independentemente da forma (pintura, placa, cartaz, etc.), obstaculizando, portanto, que por via transversa se realize propaganda por meio de outdoor (art. 37, §2, da Lei n. 9504/97). Os infratores ficam sujeitos à restauração do bem, e, somente em caso de não cumprimento, lhe imputam multa (art. 37, §1°).

4. Símbolos e Imagens: É vedado o uso de símbolos, frases ou imagens associadas ou semelhantes às empregadas por órgãos de governo, empresas públicas ou sociedades de economia mista, sendo que tal, conduta, acaso verificada, configurará crime, punível com detenção de 06 meses a 1 ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, além do pagamento de multa (art. 40, da Lei n. 9504/97).

Manifestação silenciosa e individual de eleitor: é plenamente permitida, inclusive no dia das eleições, a manifestação individual e silenciosa da preferência do eleitor por partido político, coligação ou candidato, revelada exclusivamente pelo uso de bandeiras, broches dísticos e adesivos. Proíbe-se no dia da eleição: até o término do horário de votação é proibida a aglomeração de pessoas portando vestuário padronizado, bem como instrumentos de propaganda de modo a caracterizar manifestação coletiva, com ou sem utilização de veículos.

Questões de prova:

O que é propaganda eleitoral? Quando inicia? Pode em bens públicos? E bens particulares? E os símbolos?

Propaganda eleitoral. Conceito. A partir de que momento pode ser realizada?

Indique algumas condutas proibidas de serem feitas na propaganda.

Fale de propaganda eleitoral em língua estrangeira, militar, showmício, em bens públicos, etc.

Propaganda intrapartidária: pode se feita em qualquer lugar?

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Ponto 6.b. Condições de elegibilidade.

Principais obras consultadas: Santo graal 27º; José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 6ª Edição. Ed. Atlas. Adriano Soares da Costa. Instituições de Direito Eleitoral, 8a Ed. Lumen Juris, 2009.

Legislação básica: arts. 14, §3o, da CF.

Considerações iniciais: Elegibilidade é a aptidão para o exercício da capacidade eleitoral passiva. É o direito público subjetivo atribuído ao cidadão de disputar cargos eletivos. Há pessoas que são inelegíveis. Ex: Estrangeiros, conscritos e analfabetos. A elegibilidade se faz por etapas, não sendo adquirida em um único momento. Então, é possível que uma pessoa tenha elegibilidade, mas não a tenha em sua forma plena, sendo uma elegibilidade parcial. Ex: uma pessoa de 18 anos tem elegibilidade para ser vereador, mas não a possui para ser Presidente da República. Portanto, a elegibilidade plena somente é adquirida aos 35 anos.. Portanto, para ser eleito tem que preencher as condições de elegibilidade e não incorrer em nenhuma das hipóteses de inelegibilidade previstas na lei.

Condições de elegibilidade: Segundo J. Jairo, condições de elegibilidade são exigências ou requisitos positivos que devem, necessariamente, ser preenchidos por quem queira registrar candidatura e receber votos validamente, exercendo a capacidade eleitoral passiva, ou seja, são pressupostos necessários para o exercício da capacidade eleitoral passiva. As condições de elegibilidade estão taxativamente previstas no art. 14, §3° da CRFB e podem ser reguladas por lei ordinária (reserva legal simples). A doutrina divide essas condições em duas espécies: 1) Condições próprias ou expressas: são aquelas previstas diretamente na Constituição (art. 14, §3º). 2) Condições impróprias: são aquelas que, embora não previstas na Constituição, também configuram pressupostos ou requisitos para o exercício do mandato. As condições impróprias de elegibilidade podem ser previstas em legislação ordinária, não sendo reservadas à lei complementar (art. 14, §9º, CF), saliente-se, porém, que a lei ordinária não pode criar novas condições. [Atenção: as condições de inelegibilidade somente podem ser previstas em lei complementar. Porém, condições de inelegibilidade é diferente de condições de elegibilidade, as quais podem ser previstas tanto em lei complementar quanto em lei ordinária].

Condições próprias de elegibilidade:

a) Nacionalidade brasileira: Por nacionalidade entende-se o vínculo jurídico-político que liga o indivíduo a determinado Estado. Apenas o nacional detém capacidade eleitoral passiva. Os portugueses equiparados configuram exceção a esta condição, pois, independentemente de naturalização, podem gozar de direitos políticos no Brasil. Portanto, Presidente da república e vice são cargos privativos de brasileiro nato. Os demais cargos eletivos podem ser presididos por brasileiros natos ou naturalizados e por português equiparado [há outras vedações, mas não são cargos eletivos].

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b) Pleno exercício dos direitos políticos: Denotam a capacidade de votar e ser votado e são adquiridos com o alistamento. A suspensão e a perda de direitos políticos afeta a elegibilidade (art. 15 da CRFB).

c) Alistamento eleitoral: Através do alistamento eleitoral que se adquire a cidadania. A prova de alistado é feita pelo título eleitoral.

d) Domicílio eleitoral na circunscrição: No mínimo, um ano antes da eleição (art. 9, Lei n. 9504/97). Domicílio eleitoral é o local da residência ou moradia e, havendo mais de uma, o de qualquer delas (art. 42, p.u. Código Eleitoral). Domicílio eleitoral não se confunde com domicílio civil: Domicílio civil é o local no qual a pessoa estabelece residência com ânimo definitivo. A residência é onde a pessoa se estabelece permanentemente. Moradia é o local onde a pessoa se estabelece episodicamente. O conceito de domicílio eleitoral está no art. 42, parágrafo único do Código Eleitoral e é um conceito bem elástico, porque alcança o domicílio e a residência. Atenção: O TSE elasteceu ainda mais o conceito de domicílio eleitoral. Segundo o TSE, a configuração do domicílio eleitoral requer a comprovação de pelo menos um dos seguintes vínculos: patrimonial, laborativo ou social. Observe que com o requisito patrimonial a pessoa não precisa ter domicílio na circunscrição, nem residência, bastando ter um patrimônio no local. Já com o vínculo social fica mais amplo ainda, pois o que é vínculo social? É a sogra morar lá? Logo, difícil é uma pessoa não ter domicílio eleitoral onde ela quiser. Para que seja analisada a circunscrição, o vínculo deve ser comprovado em diversos âmbitos, dependendo da abrangência da eleição e poderá ser nacional, regional ou municipal. Portanto: A legislação eleitoral exige período mínimo de 1 (um) ano de domicílio eleitoral na circunscrição, segundo art. 9º da Lei nº 9.504/97.

e) Filiação partidária: A CRFB adotou democracia partidária, inexistindo candidatura avulsa. Como regra geral, tempo mínimo de um ano antes da eleição (art. 9, LE). Estatutos partidários podem exigir tempo maior, o qual não poderá ser alterado em ano de eleição (arts. 18 e 20 Lei dos Partidos Políticos, lei n. 9.096/1995). OBS: Suspensão de direitos políticos: a filiação não é cancelada, mas só suspensa, sendo possível o aproveitamento do tempo anterior à suspensão para fim de comprovação do prazo mínimo de filiação. A filiação pode ser provada por qualquer meio, não só pelas listas enviadas à justiça eleitoral (súmula 20 do TSE). OBS: a candidatura nata era prevista na Lei das Eleições. Ela garantia direito àqueles que já eram titulares a cargos eletivos a estarem indicados a concorrer à reeleição. O STF declarou a inconstitucionalidade desse artigo. Ficou assentada a orientação que mesmo aqueles detentores de cargos devem ser escolhidos em convenção, sob o fundamento de que o cargo pertence ao partido que o elegeu, e não ao filiado. OBS: O registro da candidatura será realizada pelo próprio partido, ocorrerá até 5 de julho do ano eleitoral, e se o partido for omisso, caberá ao candidato fazê-lo em 48 (quarenta e oito) horas. OBS: A comprovação da filiação partidária se dará por comunicação dos próprios partidos que devem remeter ao juiz eleitoral a relação de nomes dos seus filiados, conforme art. 19 da Lei nº 9.096/95. Em caso de omissão do partido, é facultado ao prejudicado requerer diretamente a justiça eleitoral a inclusão do seu nome na lista. Segundo o TSE, havendo omissão do partido, a prova da filiação poderá ser feita por outros meios (vide súmula nº 20 do TSE). Ex: cópia do formulário de filiação, protocolo do requerimento de filiação. OBS: Membros do MP, magistrados e membros de Tribunais de Contas: filiação,

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no mínimo, seis meses antes do pleito, quando deve ocorrer a desincompatibilização (LC nº 64/90, arts. 1º, II, a, 8, 14 e j). Militares: não é exigida a filiação partidária do militar da ativa, bastando o alistamento e o registro de candidatura. O militar da reserva pode se filiar.

OBS: pluralidade de filiação: Havendo coexistência de filiações partidárias, prevalecerá a mais recente, devendo a Justiça Eleitoral determinar o cancelamento das demais. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 11/12/2013).

[Atenção: não existe mais a regra de dupla filiação!!! Como a alteração é muito recente deixo o texto que atualizei com o livro de 2013 para comparação: no caso de dupla filiação as duas serão nulas; no caso de tripla filiação ocorre a nulidade das duas primeiras, tornando a terceira filiação lícita. Portanto. O sujeito está filiado ao partido em que ocorrer a terceira filiação [TSE, REspE nº16.477].

f) Idade mínima: 35 anos (Presidente, Vice e Senador), 30 anos (Governador e Vice), 21 anos (Deputado Federal ou Estadual, Prefeito e Vice e juiz de paz) e 18 anos (Vereador). OBS: Idade mínima exigida constitucionalmente deve ser atingida na data da posse. Assim, segundo corrente majoritária o menor com 17 (dezessete) anos pode concorrer a eleição para vereador, desde que complete 18 (dezoito) anos até a data da posse. OBS: A CRFB exigiu apenas idade mínima. Inexiste idade máxima para concorrer a cargo político, pelo princípio da não restrição dos direitos políticos. Pela mesma razão, não há aposentaria compulsória aos 70 (setenta) anos. OBS: O substituto não precisa ter a mesma idade do substituído. Ex: É possível alguém ser Presidente da República com idade inferior a 35 (trinta e cinco) anos, desde que seja deputado federal presidente da câmara e venha a substituir oPresiente.

Momento de aferição: A prova da satisfação das condições de elegibilidade se dará, em regra, no registro da candidatura. Porém, as condições de elegibilidade do domicílio eleitoral e da filiação partidária se auferem na data da eleição, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade (art. 11, §10 da Lei n. 9504/97). O juiz realiza uma análise prospectiva. OBS: O TSE entende que fato superveniente “aquele que ocorre depois da propositura da demanda, sobre o qual não se tinha controle, tampouco conhecimento de sua existência, como acontece nos casos em que se obtêm liminares ou antecipações de tutela que afastem provisoriamente a condenação ou o fato, ou mesmo decisão definitiva que acarrete a extinção da causa geradora da inelegibilidade, não constituindo alteração fática ou jurídica superveniente o eventual transcurso de prazo de inelegibilidade antes da data de realização das eleições” (Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral nº 380-59/PR, rel. Min. Arnaldo Versiani, em 6.11.2012). Ressalva-se que a análise da idade mínima, deve ter em vista a data da posse, nos termos do art. 11, §2° da Lei n. 9504/97.

Questões de prova:

O que são condições de elegibilidade? Qual forma da norma necessária para regulamentar as condições de elegibilidade?

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Inelegibilidades (requisitos negativos) e condições de elegibilidade (requisitos positivos).

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Ponto 6.c: Abuso do Poder Econômico, Político e dos Meios de Comunicação Social. Ação de investigação judicial eleitoral.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 6ª Edição. Ed. Atlas. Adriano Soares da Costa. Instituições de Direito Eleitoral, 8a Ed. Lumen Juris, 2009.

Legislação básica: arts. 22 da LC 64/90.

1) Abuso de poder:

O combate aos chamados “abusos” tem fundamento constitucional (art.14, §§ 9º e 10º) e hoje se encontra sistematizado basicamente no âmbito da LC 64/90, com as achegas do CE, arts. 237, 222 e 262, IV.

Conceito. Abuso de poder pode ser conceituado como sendo o uso indevido ou exorbitante da aptidão para a prática de um ato, que pode apresentar-se inicialmente em conformidade ou desde a origem destoar do ordenamento jurídico. Trata-se de conceito fluido, indeterminado, que, na realidade fenomênica, pode assumir contornos diversos, desequilibrando indevidamente a eleição e mitigando a igualdade de chances. Para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.

Há três espécies de abuso de poder: econômico, político e dos meios de comunicação.

1) Abuso de poder econômico. Refere-se à utilização excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral, de recursos materiais ou humanos que representem valor econômico, buscando beneficiar candidato, partido ou coligação, dada ou ofertada a uma coletividade de eleitores, indeterminada ou determinável. Casuística: utilização indevida de transporte nas eleições; o recebimento e a utilização de recursos vedados, ou superiores ao permitido em lei; a realização de gastos eleitorais em montante superior ao declarado; a utilização de numerários e serviços, a exemplo de serviços gráficos, do próprio candidato, sem incluí-los no montante de gastos eleitorais.

O Abuso do poder econômico é combatido por AIJE, que pode ter as seguintes sanções: cassação do registro ou do diploma, se já houver sido outorgado, + multa, + inelegibilidade por 8 anos (lei da ficha limpa). Cópia dos autos da AIJE devem ser enviados para o MPE apurar eventuais infrações penais. A decisão que julgar procedente tem efeitos imediatos. Eventual recurso tem efeito devolutivo, salvo se o recorrente obtiver medida cautelar suspensiva perante instância superior. OBS: a agremiação partidária que violar ou descumprir normas referentes à arrecadação e aplicação de recursos receberá como sanção a perda do direito de recebimento da quota do fundo partidário no ano seguinte (sem prejuízo do candidato beneficiado responder por abuso de poder econômico).

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Link: captação ilícita de sufrágio: olhar o ponto 7c.

2) Abuso de poder político. É o uso indevido de cargo ou função pública, com a finalidade de obter votos para determinado candidato ou coligação ou partido. Caracteriza-se, dessa forma, como desvio de finalidade do uso do cargo, para atender a anseios pessoais. Adriano Soares da Costa entende que é uma atividade ímproba do administrador, com a finalidade de influenciar no pleito eleitoral de modo ilícito, desequilibrando a disputa. Sem improbidade não há abuso de poder político. Ex: uso de verbas públicas, de servidores públicos ou de bens públicos em campanhas eleitorais. Segundo decisão do TSE: “na apuração de abuso de poder, não se indaga se houve responsabilidade, participação ou anuência do candidato, mas sim se o fato o beneficiou” (Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 3888128, DJE 07/04/2011).

O Abuso do poder político é combatido por AIJE, que pode ter as seguintes sanções: cassação do registro ou do diploma, se já houver sido outorgado, + multa, + inelegibilidade por 8 anos (lei da ficha limpa). Cópia dos autos da AIJE devem ser enviados para o MPE apurar eventuais infrações penais. A decisão que julgar procedente tem efeitos imediatos. Eventual recurso tem efeito devolutivo, salvo se o recorrente obtiver medida cautelar suspensiva perante instância superior. OBS: a agremiação partidária que violar ou descumprir normas referentes à arrecadação e aplicação de recursos receberá como sanção a perda do direito de recebimento da quota do fundo partidário no ano seguinte (sem prejuízo do candidato beneficiado responder por abuso de poder econômico).

Abuso de poder político-econômico. Em uma mesma circunstância fática, podem estar presentes o abuso do poder político e o econômico, embora não seja obrigatório. Nesse sentido: “o abuso de poder econômico entrelaçado com o abuso de poder político pode ser objeto de AIME, porquanto abusa do poder econômico o candidato que despende recursos patrimoniais públicos ou privados, dos quais detém o controle ou a gestão em contexto revelador de desbordamento ou excesso no emprego desses recursos em seu favorecimento eleitoral” (TSE – AAI nº 11.708/MG, 2010).

3) Abuso dos meios de comunicação social. Ocorre quando há utilização indevida, excessiva ou deturpada dos meios de comunicação social no processo eleitoral. A legislação eleitoral sofreu alterações recentes para obstar a utilização indevida dos meios de comunicação pública, com a finalidade de permitir o uso sadio e igualitário dos meios de comunicação, permitindo que os eleitores conheçam os candidatos, partidos e coligações e que esses mostrem suas plataformas. Exemplos: divulgação, na televisão ou no rádio, oferecendo tratamento privilegiado a algum candidato, mesmo que em uma tentativa discreta em matéria jornalística; uso indevido de propaganda eleitoral; desobediência às restrições para a propaganda institucional.

Atenção: não se deve confundir qualquer violação às regras da propaganda eleitoral ou o simples uso indevido da mídia com o abuso de poder no uso dos meios de comunicação social. Para a caracterização do abuso do poder no uso dos meios de comunicação é indispensável a comprovação da gravidade da conduta lesiva comprometedora da normalidade e da legitimidade do pleito. Ausente esta, haverá de ser aplicada apenas a sanção pela divulgação da propaganda irregular. Porém, para a configuração do ato abusivo

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não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado das eleições, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam [art. 22, XVI, LC 64/90].

A AIJE pode resultar em: para a empresa de comunicação, em procedimento aferido pela Lei de Eleições, artigo 16, multa e suspensão por 24h da TV, rádio ou site que realizaram o abuso. Se caracterizar abuso de poder político ou econômico, além de multa, pode levar À cassação do registro ou do diploma e tornar o infrator inelegível por 8 anos, em procedimento do artigo 22, LC 64/90.

2. Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE).

Previsão: arts. 19 e ss. da LC 64/90 (procedimento sumário).

a) Finalidade: A AIJE é medida de caráter jurisdicional destinada a apurar e punir a prática de desvio ou abuso do poder econômico ou político, a utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social ou a fraude no pleito eleitoral, em benefício de candidato ou de partido político. Visa proteger a regularidade do pleito e a higidez da disputa

b) Prazo: A lei não fixa termo inicial ou final. Foi consagrado o entendimento que a AIJE pode ser intentada após o pedido de registro de candidato, mesmo que pendente de recurso, até a data da diplomação dos eleitos. Após essa data, deve ser extinto, eis que presente a decadência. OBS: segundo posição majoritária, a AIJE pode apurar atos anteriores ao período de início. Nesse sentido, TSE: “admite-se a AIJE fundada no art. 22 da LC 64/90 que tenha como objeto abuso ocorrido antes da escolha e registro do candidato” (RO nº 722/PR, 2004). OBS: a AIJE para apurar a prática de conduta vedada (artigo 73, da Lei da Eleições) seve ser proposta até a data das eleições (REspE 25.935/SC). OBS 3: Há possibilidade de propor AIJE após a diplomação? Sim. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 dias da datada diplomação, relatando fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas das eleições, relativas à arrecadação e gatos de recursos.

c) Legitimados ativos: partidos políticos que não formaram coligações, coligações, candidato, pré-candidato (foi escolhido na convenção, mas ainda não teve o pedido de registro deferido pela Justiça Eleitoral) e Ministério Público Eleitoral.

d) Legitimados passivos: candidato, pré-candidato e qualquer pessoa que haja contribuído para a prática abusiva, inclusive autoridades públicas. Frisa-se que partido, coligação ou pessoa jurídica não podem figurar no polo passivo da AIJE, já que não podem sofrer as consequências próprias da ação (inelegibilidade e cassação), conforme entendimento do TSE (Rp nコ 373, 2005). OBS 1: O TSE, alterando seu posicionamento, passou a entender que nas ações eleitorais que possam implicar perda do registro ou diploma, há litisconsócio passivo necessário entre titular e vice da chapa majoritária (Ac. de 29.4.2010 no AgR-REspe nº 35.762, rel. Min. Arnaldo Versiani). OBS 2: Os partidos políticos não são litisconsortes passivos necessários em processos que visem à perda de diploma ou de

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mandato, podendo atuar voluntariamente como assistentes, segundo entendimento do TSE (Ac. de 29.9.2009 no RO n コ 2.349, rel. Min. Fernando Gonçalves

e Ac. nº 3.255, de 7.5.2002, rel. Min. Fernando Neves.)

e) Litispendência: Não há litispendência entre as ações eleitorais, ainda que fundadas nos mesmos fatos, por serem ações autônomas, com causa de pedir própria e consequências distintas, o que impede que o julgamento favorável ou desfavorável de alguma delas tenha influência sobre as outras, segundo entendimento do TSE (Recurso Contra Expedição de Diploma nº 696, Acórdão de 04/02/2010, Relator(a) Min. ENRIQUE RICARDO LEWANDOWSKI, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Volume -, Tomo 62, Data 05/04/2010, Página 207).

f) Desistência: Em caso de desistência do autor da AIJE, o Ministério Público deve assumir a titularidade da ação, em decorrência do interesse público existente. Precedente TSE: Recurso Contra Expedição de Diploma nº 661, Acórdão de 21/09/2010, Relator(a) Min. ALDIR GUIMARÃES PASSARINHO JUNIOR, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 033, Data 16/02/2011, Página 49);

g) Competência: a competência para conhecer e julgar a ação está ligada à natureza das eleições. No caso do TRE e do TSE a AIJE é direcionada ao corregedor.

h) Rito: previsto no artigo 22, LC 64/90. É ação de natureza cognitiva desconstitutiva ou constitutiva declaratória. A petição inicial deve indicar as provas e o rol de testemunhas (máximo 6). 05 dias para apresentar defesa, também máximo de 6 testemunhas. MPE, se não for autor, deve atuar obrigatoriamente como custus legis. Se for relevante o fundamento e se o resultado da medida se mostrar ineficiente se julgado procedente, desde já o juiz eleitoral ou o corregedor determinará que se suspensa o ato que deu motivo à representação. 3 dias para todas as diligências. 2 dias para as alegações finais. Recurso em 3 dias para o TRE (decisões de juiz eleitora) ou TSE (decisões de TRE).

i) Antecipação de tutela: entende-se que esse instituto não é cabível.

j) Medida Cautelar: encontra previsão no art. 22, I, “b”, da LC 64/90: “determinará que se suspenda o ato que deu motivo à representação, quando for relevante o fundamento e do ato impugnado puder resultar a ineficiência da medida, caso seja julgada procedente”.

k) Efeitos: julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal,ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar.

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l) Causa de pedir: a causa de pedir da AIJE pode ser: a utilização indevida, o desvio ou o abuso do poder econômico; o uso indevido, o desvio ou o abuso do poder político ou de autoridade; a utilização indevida dos meios de comunicação; o uso indevido dos veículos de transporte [lei nº 6.091/74].

m) Prioridade: os processos de desvio ou abuso de poder econômico ou poder de autoridade até que sejam julgados terão prioridade sobre quaisquer outros, ressalvados HC e MS. Membro do MP e magistrados obrigatoriamente têm que cumprir os prazos previstos na lei de inelegibilidades. Não podem alegar acúmulo de trabalho. Receita federal, estadual ou municipal, tribunais e órgãos de contas, banco central, COAF e polícia civil e federal auxiliarão a Justiça Eleitoral e o MPS na apuração dos delitos eleitorais com prioridade sobre as atribuições regulares. CNJ e CNMP e corregedorias eleitorais devem verificar descumprimentos de prazos e, se for o caso, promover a responsabilização de quem lhe der causa.

Questões de prova:

AIJE e conceito de poder econômico. O que é o abuso?

É necessária alguma outra ação após a AIJE para reconhecer que o candidato praticou ilícito, tudo isto após as eleições ou se basta a AIJE?

Distinção entre abuso de poder econômico e político. Consequências da AIJE. Como era antes e como é depois da ficha limpa. Acabou pulando para o RCED, falando da mudança da lei no fim de 2013.

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Ponto 7.a. Propaganda eleitoral na imprensa, na internet e mediante outdoors. Comícios. Alto-falantes e distribuição de material de propaganda política. Distribuição proporcional de horários gratuitos pelos meios de comunicação audiovisuais.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 6ª Edição. Ed. Atlas. Rodrigo López Zílio. Direito Eleitoral. 2ª Ed. Ed. Verbo Jurídico. Adriano Soares da Costa. Instituições de Direito Eleitoral, 8a Ed. Lumen Juris, 2009.

Legislação básica: arts. 43 a 58 da Lei 9.504/97 (Lei das Eleições).

Propaganda eleitoral na imprensa escrita: A propaganda eleitoral na imprensa escrita (jornais, periódicos e a reprodução na internet do jornal impresso) é autorizada, limitando-se a até 10 anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas diversas. Tal veículo de comunicação pode ser utilizado até a antevéspera das eleições. Cada edição não pode ultrapassar 1/8 (um oitavo) de página de jornal padrão ou ¼ (um quarto) de página de revista ou tabloide para cada candidato, partido ou coligação. A inobservância da prescrição legal sujeita os responsáveis pelos veículos de divulgação e os partidos, coligações ou candidatos ao pagamento de multa ou equivalente ao da divulgação da propaganda paga, se este for maior.

Trata-se de modalidade de propaganda eleitoral paga, devendo constar no anúncio o valor da inserção e de quem o financiou (Lei n. 43, §1 º, 9.504/97).

Propaganda eleitoral na internet: A Lei 12.034/09 acresceu os arts. 57-A a 57-I à Lei de Eleições (Lei n. 9.504/97), traçando regras específicas para o uso da internet nas eleições.

Na internet, é permitido realizar propaganda eleitoral:

a) em sítio do candidato, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de internet estabelecido no País;

b) em sítio do partido ou da coligação, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de internet estabelecido no País;

c) por meio de mensagem eletrônica para endereços cadastrados gratuitamente pelo candidato, partido ou coligação. As mensagens eletrônicas, enviadas por qualquer meio, deverão dispor de mecanismo que permita seu descadastramento pelo destinatário, obrigando o remetente a providenciá-lo no prazo de quarenta e oito horas. Caso seja enviada mensagem após o término do prazo, os responsáveis ficam sujeitos ao pagamento de multa por mensagem.

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d) por meio de blogs, redes sociais, sítios de mensagens instantâneas e assemelhados, cujo conteúdo seja gerado ou editado por candidatos, partidos ou coligações ou de iniciativa de qualquer pessoa natural.

O TSE entende que o “twitter se insere no conceito de ‘sítios de mensagens instantâneas e assemelhados’, previsto no art. 57-B da Lei 9.504/97, e é alcançado pela referência a ‘qualquer veículo de comunicação social’ contida no art. 58 da Lei das Eleições” (Representação nº 361895, Acórdão de 29/10/2010, Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 29/10/2010), por isso “é meio apto à divulgação de propaganda eleitoral extemporânea, eis que amplamente utilizado para a divulgação de ideias e informações ao conhecimento geral, além de permitir interação com outros serviços e redes sociais da internet” (Recurso em Representação nº 182524, Acórdão de 15/03/2012, Relator(a) Min. ALDIR GUIMARÃES PASSARINHO JUNIOR, Relator(a) designado(a) Min. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 094, Data 21/05/2012, Página 101/102 ).

De outro vértice, veda-se:

a) Qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na internet;

b) Propaganda eleitoral, ainda que gratuita, veiculada em site de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos;

c) Propaganda eleitoral veiculada em sites oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

A Justiça Eleitoral pode suspender por 24 horas (duplicada a cada reiteração) o acesso a todo o conteúdo informativo de sites que deixarem de cumprir as disposições da lei eleitoral. Deverá ser informado que o site encontra-se temporariamente inoperante por determinação da Justiça Eleitoral.

O provedor de conteúdo e de serviços multimídia que hospeda a divulgação da propaganda eleitoral de candidato, de partido ou de coligação pode sofrer penalidade, se, no prazo determinado pela Justiça Eleitoral, contado a partir da notificação de decisão sobre a existência de propaganda irregular, não tomar providências para a cessação dessa divulgação. O provedor de conteúdo ou de serviços multimídia só será considerado responsável pela divulgação da propaganda se a publicação do material for comprovadamente de seu prévio conhecimento.

É livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato durante a campanha eleitoral na internet. É assegurado o direito de resposta, inclusive por meios de comunicação interpessoal mediante mensagem eletrônica.

A utilização, doação, cessão ou venda de cadastro eletrônico (lista de emails) é vedada a partido e candidato.

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Propaganda eleitoral em outdoors: já foi permitida a realização de propaganda eleitoral em outdoor. Tratava-se de modalidade paga, de custo elevado e de acesso restrito a poucos. A Lei n. 11.300/2006, que alterou a Lei n. 9504/97, vedou expressamente a realização de propaganda eleitoral em outdoors (art. 39, §8º). É vedada a propaganda eleitoral mediante outdoors, inclusive eletrônicos [outdoor eletrônico proibido pela lei Lei nº 12.891, mas atenção que a jurisprudência já proibia]. O descumprimento impõe a retirada imediata e sujeita à empresa responsável, os partidos políticos, as coligações e os candidatos ao pagamento de multa. A legislação eleitoral também veda usar uma faixa ou uma pintura em muro particular com as dimensões de um outdoor. A Lei n. 9.504/97, em seu artigo 37, §1º, autoriza a afixação, em bens particulares, de faixas, placas, cartazes, pinturas ou inscrições, desde que não excedam a 4m2 (quatro metros quadrados).

Propaganda na TV: Gravações externas, montagens ou trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais: Foram permitidos pela Lei 12.891/13. Atenção. Antes, a lei 9.504 proibia tais condutas no artigo 51, IV. Agora o referido artigo tem a seguinte redação, a qual está suprimida a parte que proibia: na veiculação das inserções, é vedada a divulgação de mensagens que possam degradar ou ridicularizar candidato, partido ou coligação, aplicando-se-lhes, ainda, todas as demais regras aplicadas ao horário de propaganda eleitoral, previstas no art. 47.

Veiculações idênticas: É vedada a veiculação de inserções idênticas no mesmo intervalo de programação, exceto se o número de inserções de que dispuser o partido exceder os intervalos disponíveis, sendo vedada a transmissão em sequência para o mesmo partido político. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013).

Comícios. Alto-falantes e distribuição de material de propaganda política :

Carretas e passeatas: é permitido até as 22h do dia em que antecede as eleições. É preciso comunicar com 24h de antecedência a autoridade policial para que haja segurança e evite transtornos ao trânsito. Não é necessário comunicar à Justiça Eleitoral.

Mesas e bandeiras móveis: são permitidos, desde que sejam móveis e não dificultem o bom andamento do trânsito e das pessoas. Também é permitida a distribuição de bandeirinhas para colocar em carro particular. Atenção: A Lei 12.891/13 proibiu o uso de cavaletes, bonecos e cartazes ao longo de vias públicas.

Homem-cartaz: inexiste vedação aos cartazes carregados por pessoas na rua, desde que não atrapalhem o trânsito (Resolução TSE 21.610 , art. 14).

Independe da obtenção de licença municipal e de autorização da Justiça Eleitoral: a veiculação de propaganda eleitoral pela distribuição de folhetos, adesivos, volantes e outros impressos, os quais devem ser editados sob a responsabilidade do partido, coligação ou candidato, independe de obtenção de licença municipal ou de autorização da Justiça Eleitoral.

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Adesivo: Os adesivos poderão ter a dimensão máxima de 50 (cinquenta) centímetros por 40 (quarenta) centímetros. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)

Veículos: É proibido colar propaganda eleitoral em veículos, exceto adesivos microperfurados até a extensão total do para-brisa traseiro e, em outras posições, adesivos até a dimensão máxima de 50 (cinquenta) centímetros por 40 (quarenta) centímetros. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013).

Adesivos podem ser afixados em veículos particulares.

Comícios: Os comícios são permitidos entre 06/07 e dois dias antes das eleições, desde que não haja distribuição de brindes, sorteio de bens ou realização de shows artísticos. A realização de comícios e a utilização de aparelhagens de sonorização fixas são permitidas no horário compreendido entre as 8 (oito) e as 24 (vinte e quatro) horas, com exceção do comício de encerramento da campanha, que poderá ser prorrogado por mais 2 (duas) horas [prorrogação de horário estabelecido pela Lei nº 12.891]. Vale ressaltar que é crime realizar comício no dia das eleições (art. 39, §5º, da Lei das Eleições). A realização de comício deve ser comunicada à autoridade policial com antecedência mínima de 24 horas, mas não precisa de autorização da Justiça Eleitoral. A utilização de trio elétrico é permitida somente para sonorizar o evento [pois a utilização de trio em si é vedada].

Alto-falantes: Os amplificadores de som móveis são permitidos, desde que observados alguns parâmetros: (a) devem ser instalados em veículo do partido, da coligação ou do candidato; (b) utilizado entre as 8 e 22 horas, até a véspera das eleições, sendo que em comícios podem ser usados até as 24h; (c) não podem ser utilizados a menos de 200 metros de hospitais, escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros (quando em funcionamento), de quartéis e das sedes de repartições dos três poderes.

Carros de som e minitrios: É permitida a circulação de carros de som e minitrios como meio de propaganda eleitoral, desde que observado o limite de 80 (oitenta) decibéis de nível de pressão sonora, medido a 7 (sete) metros de distância do veículo, e respeitados os limites de adesivagem para o veículo. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013. Comentário GENAFE: A lei nova disciplinou com critérios objetivos o uso do carro de som, determinando a necessidade de utilização de aparelho de decibelímetro pela fiscalização).

Limite de gastos: Artigo 26, Parágrafo único, Lei 9.504/97: São estabelecidos os seguintes limites com relação ao total do gasto da campanha: I - alimentação do pessoal que presta serviços às candidaturas ou aos comitês eleitorais: 10% (dez por cento); II - aluguel de veículos automotores: 20% (vinte por cento). (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)

Constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de cinco mil a quinze mil UFIR, o uso de alto-falantes e amplificadores de som.

Distribuição de material de propaganda política: A propaganda impressa (santinhos) pode ser utilizada, desde que não seja apócrifa. Deve constar o CPF/CNPJ do responsável por sua elaboração, quem contratou sua confecção e a correspondente tiragem. Somente podem

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ser utilizados até às 22 horas da véspera das eleições.

Propagandas vedadas: Não se pode elaborar, em hipótese alguma, qualquer material que possa proporcionar vantagem ao eleitor (bonés, canetas, chaveiros, brindes, etc.).

Resumindo: é vedado qualquer propaganda paga no rádio ou na TV; é vedado o uso de outdoor; é vedado showmício; é vedado propaganda em outro idioma; é vedado boca de urna; é vedado aglomeração de pessoas no dia da eleição, portando bandeiras, camisas ou qualquer instrumento de propaganda; é vedado a propaganda em postes, árvores, cercas, tapumes ou qualquer área pública; é vedado ao candidato comparecer a inauguração de obra pública nos três meses que antecedem o pleito; é vedado utilizar cavaletes, bonecos e cartazes ao longo de vias públicas.

Cabos eleitorais: A Lei 12.891/2013 fixou critérios objetivos para a contratação, remunerada de cabos eleitorais com o novel artigo 100-A. Agora, os contratantes são obrigados a indicar o nome e o CPF dos contratados na prestação de contas. Criou também mais uma modalidade de corrupção eleitoral no seu §5º, a qual será estudada no ponto próprio do edital. Comentários do GENAFE: Para o MPF a inovação legislativa abre margem para burla das regras que ela mesma criou, pois em seu §6º exclui do cômputo do limite de contratação a militância não remunerada, pessoal contratado para apoio administrativo e operacional, fiscais e delegados credenciados para trabalhar nas eleições e os advogados dos candidatos ou dos partidos e coligações [traduzindo: político dá com uma mão e tira com as duas].

Distribuição proporcional de horários gratuitos pelos meios de comunicação audiovisuais: As emissoras de rádio e TV reservarão, nos 45 dias anteriores à antevéspera das eleições, horários destinados à propaganda eleitoral gratuita.

Os horários reservados à propaganda de cada eleição serão distribuídos entre todos os partidos e coligações que tenham candidato e representação na Câmara dos Deputados, observados os seguintes critérios, segundo o art. 47, §2o, da Lei n. 9504/97: I - um terço, igualitariamente; e dois terços, proporcionalmente ao número de representantes na Câmara dos Deputados, considerado, no caso de coligação, o resultado da soma do número de representantes de todos os partidos que a integram.

OBS: O STF, em recente julgamento (ADI n. 4430), declarou a inconstitucionalidade da expressão “e representação na Câmara dos Deputados”, contida no § 2º do art. 47, da Lei n. 9540/97 e deu interpretação conforme a Constituição ao inciso II do § 2º do art. 47, com o fim de assegurar aos partidos novos, criados após a realização de eleições para a Câmara dos Deputados, o direito de acesso proporcional aos 2/3 do tempo destinado à propaganda eleitoral no rádio e na televisão, considerada a representação dos deputados federais que migrarem diretamente dos partidos pelos quais tiverem sido eleitos para a nova legenda na sua criação.

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No segundo turno das eleições majoritárias, o tempo há de ser distribuído igualmente entre os dois candidatos remanescentes, pouco importando a representação na Câmara dos Deputados: cada candidato fica com 50% do tempo.

Obrigatoriedade de divulgação de gastos: Art. 28, §4º, Lei 9.504/74: Os partidos políticos, as coligações e os candidatos são obrigados, durante a campanha eleitoral, a divulgar, pela rede mundial de computadores (internet), nos dias 8 de agosto e 8 de setembro, relatório discriminando os recursos em dinheiro ou estimáveis em dinheiro que tenham recebido para financiamento da campanha eleitoral e os gastos que realizarem, em sítio criado pela Justiça Eleitoral para esse fim, exigindo-se a indicação dos nomes dos doadores e os respectivos valores doados somente na prestação de contas final de que tratam os incisos III e IV do art. 29 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013).

Questões de prova:

É admitida a propaganda eleitoral paga na imprensa escrita? (Sim, mas há limites).

Propaganda na internet, pode ser feita pelo candidato? Pode ser feita por qualquer pessoa?

Distribuição de panfletos, pode ser feita na rua? (Sim, mas há limites).

O candidato pode entrar numa universidade, escola, e distribuir santinhos? (Discutível, mas dizer que não, luta do MPE).

Pode em estabelecimentos comerciais? Onde o público tenha livre acesso? E em prédios públicos?

Perguntou sobre a recente alteração na mini reforma eleitoral que explicitou, ainda mais, a proibição dos outdoors. Pediu para eu explicar como funciona a repartição do horário na TV? De que modo as TVs são ressarcidas pela Administração Pública? É em dinheiro ou por benefícios? Quais benefícios? Como é feita a propaganda pela internet? Em que é permitida? Vedações?

Propaganda eleitoral: como é feita a distribuição de horários na TV e no rádio? A distribuição nas eleições pra vereador tinham por base a representação na Câmara?

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Ponto 7.b. Recurso contra a Diplomação. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo.

Principais obras consultadas: Resumo dos Grupos do 25º e 26o CPR; José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 6ª Edição. Ed. Atlas. Adriano Soares da Costa. Instituições de Direito Eleitoral, 8a Ed. Lumen Juris, 2009.

Legislação básica: arts. 258 a 262 do Código Eleitoral e 14, §§ 10 e 11 da CF.

[Antes de entrar no ponto, vamos entender sobre o que o ponto fala]

Diplomação:

Conceito: é o ato pelo qual a justiça eleitoral atesta quem são, efetivamente, os eleitos e os suplentes com a entrega do diploma devidamente assinado. Não é decisão judicial. É ato administrativo certificatório e declaratório. A diplomação é a última fase do processo eleitoral.

Natureza jurídica: É ato administrativo certificatório e declaratório do resultado eleitoral.

Prazo: até dia 19 de dezembro do ano das eleições.

Competência para diplomar: TSE: presidente e vice; TRE: Governador, vice, deputados e senador; Juiz Eleitoral: Prefeito, vice e vereador.

Prerrogativas e vedações a partir da diplomação: Prerrogativas: todas as prerrogativas do artigo 53, CF se dão a partir da diplomação, quais sejam: foro privilegiado; impossibilidade de prisão, salvo por flagrante delito de crime inafiançável; sustação de processo penal para crimes ocorridos após a diplomação; facultatividade de testemunhar sobre informações obtidas ou prestas em razão do exercício do mandato; impossibilidade de serem incorporados às forças armadas, salvo licença prévia da casa. Vedações: firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público; aceitar ou exercer cargo, função ou emprego público remunerado.

Perda do diploma: poderá ser declarada a perda do diploma pela Justiça Eleitoral, por decisão definitiva, quando: cassar definitivamente o registro de candidatura. Der provimento a recurso contra expedição de diploma ou acolher pedido contido em ação de impugnação de mandato eletivo.

1) Recurso contra a Diplomação (RCD):

Linhas gerais: previsto no artigo 262, CE. Trata-se de instrumento jurídico-legal destinado

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à arguição de inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato diplomado. Deve ser manejado no prazo de 03 (três) dias, contados da realização da sessão de diplomação.

Natureza jurídica: A despeito de ser denominado como recurso e ter recebido tal tratamento pelo Código Eleitoral, tal instrumento não tem natureza recursal, pois a diplomação não é decisão judicial e sim ato administrativo certificatório e declaratório. Prevalece que se trata de ação eleitoral de cunho impugnativo à diplomação.

Destaque-se, a propósito, que a diplomação não é decisão judicial, mas sim ato administrativo declaratório da conclusão da última fase do processo eleitoral.

Legitimidade ativa: Podem ajuizar os candidatos, os partidos políticos que não tiverem formado coligação, coligações, suplentes e o Ministério Público Eleitoral. A propositura de RCD por outro legitimado, não impede a atuação do MP.

Legitimidade passiva: Deve ser proposta em face do candidato eleito e diplomado.

O TSE, alterando seu posicionamento, passou a entender que nas ações eleitorais que possam implicar perda do registro ou diploma, há litisconsórcio passivo necessário entre titular e vice da chapa majoritária (Ac. de 29.4.2010 no AgR-REspe nº 35.762, rel. Min. Arnaldo Versiani). Assim como entre senador e suplente.

OBS: Os partidos políticos não são litisconsortes passivos necessários em processos que visem à perda de diploma ou de mandato, podendo atuar voluntariamente como assistentes, segundo entendimento do TSE (Ac. de 29.9.2009 no RO nº 2.349, rel. Min. Fernando Gonçalves e Ac. nºgraph-definition> 3.255, de 7.5.2002, rel. Min. Fernando Neves.)

Cabimento: O art. 262 do Código Eleitoral enumera taxativamente as hipóteses de cabimento:

I - inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato. Somente pode ser alegada inelegibilidade infraconstitucional superveniente ao deferimento do registro da candidatura ou inelegibilidade constitucional, nos termos do art. 259 do Código Eleitoral e do entendimento do TSE (Recurso Contra Expedição de Diploma nº 1384, Acórdão de 06/03/2012, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 70, Data 16/04/2012, Página 25-26).

II - errônea interpretação da lei quanto à aplicação do sistema de representação proporcional;

III - erro de direito ou de fato na apuração final, quanto à determinação do quociente eleitoral ou partidário, contagem de votos e classificação de candidato, ou a sua contemplação sob determinada legenda (de pouca utilização prática atualmente, em razão da totalização eletrônica dos votos);

IV - concessão ou denegação do diploma em manifesta contradição com a prova dos autos.

Anota-se que os casos descritos nos incisos II e III encontram-se praticamente em desuso,

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tendo em vista o sistema eletrônico de apuração e votação que minimiza as discussões acerca dos temas.

Competência: O RCD sempre será julgado na instância superior.

O TRE é competente no que se refere à diplomação realizada pela Junta Eleitoral. O ajuizamento é feito na primeira instância perante o juiz eleitoral, devendo ser endereçado ao juiz que presidir a Junta Eleitoral. Após as contrarrazões em 3 dias e vista ao autor acerca de novos documentos em 48 horas, o Juiz Eleitoral deve remeter os autos para o TRE.

O TSE é competente no que se refere à diplomação realizada pelos TREs. O ajuizamento é feito perante o TRE. Após as contrarrazões em 3 dias e vista ao autor acerca de novos documentos, o relator deve remeter os autos para o TSE em 48 horas.

Há polêmica no que toca as eleições presidenciais, pois não houve previsão legal de RCD de Presidente da República, existindo várias correntes: a) competência do STF; b) manejo do mandado de segurança; c) cabimento de recurso extraordinário, desde que preenchidos os requisitos de admissibilidade; d) não ser cabível RCD ou recurso extraordinário contra a expedição de diploma nas eleições presidenciais, por ausência de previsão constitucional; e) competência do próprio TSE. [não há posição majoritária].

Hipóteses de cabimento: O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos casos de inelegibilidade superveniente ou de natureza constitucional e de falta de condição de elegibilidade. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 11/12/2013)

Desnecessidade de prova pré-constituída: O TSE firmou o entendimento “... pela possibilidade de produção, no Recurso contra Expedição de Diploma, de todos os meios lícitos de provas, desde que indicados na petição inicial, não havendo o requisito da prova pré-constituída. (Recurso Contra Expedição de Diploma nº 745, Acórdão de 24/06/2010, DJE 24/08/2010).

Eficácia: A eficácia do julgamento do RCD só ocorre após o trânsito em julgado da decisão, pois o candidato eleito e diplomado tem o direito líquido e certo ao pleno exercício do mandato eletivo (art. 216 do CE).

2) Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME):

Linhas gerais: Trata-se de ação civil-eleitoral de natureza constitucional destinada a impugnar mandato eletivo obtido com abuso de poder econômico, corrupção ou fraude.

Abuso de poder econômico: Refere-se à utilização excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral, de recursos materiais ou humanos que representem valor econômico, buscando beneficiar candidato, partido ou coligação, dada ou ofertada a uma coletividade de eleitores, indeterminada ou determinável. Segundo o TSE, “o abuso de poder político com viés econômico pode ser objeto de Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME)”.

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(Recurso Especial Eleitoral nº 1322564, Acórdão de 15/05/2012, Relator(a) Min. GILSON LANGARO DIPP, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 113, Data 18/06/2012, Página 30).

Corrupção: consiste no oferecimento de vantagens ao eleitor, viciando a sua liberdade.

Fraude: Segundo o TSE, “a fraude eleitoral a ser apurada na ação de impugnação de mandato eletivo não se deve restringir àquela sucedida no exato momento da votação ou da apuração dos votos, podendo-se configurar, também, por qualquer artifício ou ardil que induza o eleitor a erro, com possibilidade de influenciar sua vontade no momento do voto, favorecendo candidato ou prejudicando seu adversário”. (AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 4661, Acórdão nº 4661 de 15/06/2004, Relator(a) Min. FERNANDO NEVES DA SILVA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 06/08/2004, Página 162 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 15, Tomo 3, Página 248).

Está prevista no art. 14, §§ 10 e 11 da CF, dispositivos que ainda não receberam regulamentação infraconstitucional.

Consumação: A consumação da infração é de natureza formal, não sendo necessário que o resultado seja alcançado.

Prazo: até 15 dias após a diplomação. Trata-se de prazo decadencial, que não se suspende, tampouco se interrompe. O TSE entende que: “o prazo para a propositura da AIME, conquanto tenha natureza decadencial, submete-se à regra do art. 184, § 1º, do CPC, segundo a qual se prorroga para o primeiro dia útil seguinte se o termo final cair em feriado ou dia em que não haja expediente normal no Tribunal”. (Agravo Regimental em Ação Cautelar nº 428581, Acórdão de 15/02/2011, Relator(a) Min. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 14/03/2011, Página 13/14).

Legitimidade ativa: Pode ser proposta pelo Ministério Público, por partido político que não tiver formado coligação, por coligação ou por candidato. Se o MP não for o ator, deve atuar obrigatoriamente como custos legis. O TSE entende que o eleitor não tem legitimidade.

Legitimidade passiva: Devem figurar como réus os diplomados que cometeram o abuso do poder econômico, político, fraude ou corrupção ou foram por eles beneficiado.

OBS: há litisconsórcio passivo necessário com os suplentes do diplomado senador e os vice de presidente, governador ou prefeito, sob pena de indeferimento da inicial.

OBS: partido político não é litisconsorte passivo necessário.

Portanto, a posição atual do TSE é: Tanto em RCD, AIME, AIJE ou Representações a ação deve ser promovida com formação de litisconsórcio passivo necessário entre o titular e vice ou entre senador e suplente.

Competência: é fixada pelo parágrafo único do art. 2º da LC 64/90 (Inelegibilidades): TSE,

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se o diplomado for o Presidente ou Vice-Presidente da República; TRE, se o diplomado for Governador e Vice-Governador, Senador, Deputado Federal ou Deputado Distrital; Juízes Eleitorais, se o diplomado for Prefeito, Vice-Prefeito ou Vereador.

Procedimento: Segundo o TSE, deve tramitar segundo o procedimento da ação de impugnação do pedido de registro de candidaturas encartado na Lei Complementar 64/90 (Resolução nº 21634/2004)

Não são cabíveis a antecipação dos efeitos da tutela e a concessão de medida cautelar preparatória.

Deve tramitar sob segredo de justiça. O julgamento, no entanto, deve ser público.

O autor responde, na forma da lei, se a ação for temerária ou de manifesta má-fé.

Não há cobrança de custas ou honorários advocatícios, salvo comprovada litigância de má-fé.

A AIME não pressupõe o ajuizamento da AIJE. A AIME é ação autônoma.

Eficácia: Aplicando-se o art. 257 do Código Eleitoral, a decisão tem eficácia imediata, aguardando-se apenas a publicação, no entendimento do TSE (AGRAVO REGIMENTAL EM MEDIDA CAUTELAR nº 1833, Acórdão de 28/06/2006, Relator(a) Min. JOSÉ GERARDO GROSSI, Publicação: DJ - Diário de justiça, Data 22/08/2006, Página 115). Eventual efeito suspensivo, através de medida cautelar imediata, somente será concedida em casos excepcionais, cabendo ao recorrente comprovar, de plano, os vícios da decisão recorrida.

Sanções: Além da responsabilidade penal, temos as seguintes sanções: Multa + cassação do registro ou diploma + inelegibilidade por 8 anos.

Questões de prova:

Comparar o recurso contra a diplomação e AIME? Qual o prazo, a sua natureza jurídica e as consequências que decorre da natureza jurídica da AIME? Qual o rito dessa última? Se em ambas as ações é necessária a prova pré-constituída? Diferenças, aspectos processuais?

Cotejar RCD e AIME. Competência: partiu da primeira instância e seguiu até TSE. Explicar porque para as eleições presidenciais a competência para o RCD e AIME coincide no TSE.

Recurso contra diplomação, inelegibilidade superveniente de governador, qual órgão julga? (TSE)

Condutas vedadas e abuso de poder político, qual a diferença? Representação por conduta vedada x AIJE por abuso de poder politico. (questiona atos anteriores, mas precisa de

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gravidade)

Quais as mudanças trazidas pela LC 135. Os crimes que estão previstos como condenação nesta lei, são dolosos e culposos, ou só dolosos? Quais as inelegibilidade constitucionais?

PONTO EXTRA:

Como no edital os instrumentos processuais eleitorais estão espalhados pelos pontos, isso não nos permite ter uma visão panorâmica sobre seu desenrolar no tempo durante o processo eleitoral. O Thales Tácito tem uma parte excelente sobre isso e que nos permite ter essa visão global, situando cada coisa no seu devido lugar. Por este motivo, crio o ponto extra com considerações do livro dele.

O TSE entende que, dos 10 instrumentos jurídicos citados, apenas cinco servem para declarar a inelegibilidade: AIJE, AIME, RCD, Ação Rescisória Eleitoral e recursos desses quatro citados.

O primeiro instrumento é administrativo-eleitoral para o TSE, função preventiva tão somente.

A AIRC serve para declarar a existência ou não de condição de elegibilidade.

E, finalmente, as representações pelos arts. 30-A, 41-A e 73/77 são, para o TSE, “sanções eleitorais” e, para estes autores, “condição de elegibilidade implícita”.

Os prazos de ações eleitorais são os seguintes:

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(1) AIRC: prazo de 5 dias de ajuizamento, a contar da publicação dos editais no cartório eleitoral (eleições municipais) ou no Diário Oficial (eleições gerais ou presidencial).

(2) AIJE: prazo de ajuizamento: a partir do pedido de registro de candidatura até a sessão de diplomação (veicula abuso — art. 22 da LC 64/90).

Nota: O Ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar no Habeas Corpus (HC) 107.869, para suspender o depoimento pessoal do deputado federal Filipe Pereira (PSC-RJ) perante o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). A oitiva do parlamentar, suspensa pela decisão, estava marcada para o dia 5 de abril em processo de investigação judicial eleitoral que tramita naquela corte.

Ao conceder a liminar, o ministro se baseou em precedente firmado no julgamento do HC 85.029. De acordo com esse entendimento, as autoridades citadas pelo Código de Processo Civil (art. 411) têm a prerrogativa de designar o local e a data de seu depoimento, seja como parte do processo, seja como testemunha. Ainda de acordo com o precedente, a disciplina legal da investigação judicial (art. 22 da LC 64/90) não contém a previsão de depoimento pessoal do investigado.

(3) R. 30-A: prazo de ajuizamento: a partir da diplomação até 15 dias dessa (exclui o dia da diplomação). Entendemos que é possível a representação pelo art. 30-A desde o registro até 15 dias da diplomação (posição doutrinária — conferir o motivo quando do estudo do art. 30-A na obra Reformas Eleitorais Comentadas). Portanto, pela Lei n. 12.034/2009, a R. 30-A é uma ação contra candidato-vencedor, sendo que, para estes autores, é para candidato (a lei fala em “negar diploma”).

(4) R. 41-A: prazo de ajuizamento: a partir do pedido de registro de candidatura até a diplomação.

(5) R. 73/77: prazo de ajuizamento: a partir do pedido de registro de candidatura até a diplomação.

(6) AIME: prazo de ajuizamento: 15 dias a contar da diplomação (exclui o dia da diplomação).

(7) RCD: prazo de ajuizamento: 3 dias a contar da diplomação (exclui o dia da diplomação)

Nota: Litisconsórcio necessário passivo em todas ações eleitorais: No RCD n. 703/SC1 (“Caso Luiz Henrique — Governador de SC”), o TSE entendeu que existe litisconsórcio necessário passivo (art. 47 do CPC) entre titular e Vice; portanto, sugerimos ser isso observado nas ações eleitorais similares (AIJE e AIME, bem como nas Representações n. 30-A, n. 41-A e ns. 73/77), sob pena de nulidade, pois, sendo a chapa una e indivisível (art. 91 do CE), os efeitos da coisa julgada atingem o Vice (art. 472 do CPC), razão pela qual ele deve ser citado para se defender.

O TSE entendeu, ao julgar o RCD n. 703 (julgado em 21.2.2008), que era necessária a citação do Vice e permitiu, somente nesse caso, em face da inversão da jurisprudência

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dominante, que fosse feita a citação do Vice. Porém, em obter dictum (dito ao final) do RCD n. 703/2008, o TSE manifestou que, daquele julgado em diante, em todas as ações eleitorais nas quais poderia haver perda do mandato (AIJE, AIME, representações pelos arts. 30-A, 41-A e 73/77 da LE), seria obrigatória a citação do Vice, sob pena de “decadência eleitoral”.

Da mesma forma, após essa decisão do TSE, no caso de Senador, Deputado ou Vereador, seria necessário citar o suplente.

Assim, após o RCD n. 703/2008, há litisconsórcio necessário entre o chefe do Poder Executivo e seu Vice em todas as ações cujas decisões possam acarretar a perda do mandato, devendo o Vice necessariamente ser citado para integrá-las.2

Como a AIRC também tem “potencialidade de perda de mandato”, caso julgada após a eleição pelo TSE (em competência originária ou competência recursal), por força do art. 16-A da LE (teoria dos votos engavetados), recomendamos a citação do Vice na AIRC em litisconsórcio necessário passivo, uma vez que, apesar de a Lei n. 12.034/2009 ter fixado prazo de 45 dias para julgamento de todos os registros de candidatura, inclusive os sub judice (art. 16, § 1º, da LE), pode acontecer de o julgamento ultrapassar as eleições e a decisão final do TSE (“trânsito em julgado eleitoral”)3 importar a cassação do diploma e perda do mandato, razão pela qual entendemos a citação do Vice ser obrigatória, também, em sede de AIRC.

Portanto, o TSE, na ocasião do julgamento do RCD n. 703/2008, estabeleceu que as ações ajuizadas antes daquela data sem a citação do Vice seriam aceitas, porquanto ajuizadas com base no entendimento anterior. No entanto, dali em diante, a presença do Vice na lide seria obrigatória.

Da mesma forma, após essa decisão do TSE, no caso de Senador, Deputado ou Vereador, faz-se necessário citar o suplente.

Concluindo, muitas ações referentes às eleições de 2008 foram ajuizadas sem a citação do candidato a Vice. No mês de outubro de 2009, o TSE começou a julgar essas ações ao firmar o seguinte entendimento no REspe 35.292/2009:

RECURSOS ESPECIAIS ELEITORAIS. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI N. 9.504/97. ABUSO DE PODER ECONÔMICO. ART. 22 DA LC N. 64/90. VICE-PREFEITO. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. PROVIMENTO.

1. Há litisconsórcio necessário entre o chefe do Poder Executivo e seu vice nas ações cujas decisões possam acarretar a perda do mandato, devendo o vice necessariamente ser citado para integrá-las. Precedentes:

AC n. 3.063/RO Min. Arnaldo Versiani, DJE de 8.12.2008; REspe n. 25.478/RO Min.

2. A eficácia da sentença prevista no art. 47 do Código de Processo Civil é de ordem pública, motivo pelo qual faz-se mister a presença, antes do julgamento, de todas as partes em relação às quais o juiz decidirá a lide de modo uniforme. Precedente: ED-RO n. 1.497/PB, Rel. Min. Eros Grau, DJE de 24.3.2009.

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3. No caso dos autos, o vice-prefeito não foi citado para integrar a lide, tendo ingressado na relação processual apenas com a interposição de recurso especial eleitoral, quando já cassado o diploma dos recorrentes. Ademais, da moldura fática do v. acórdão regional, extrai-se que a captação ilícita de sufrágio teria sido praticada diretamente pelo vice-prefeito que, frise-se, não foi citado para integrar a lide.

4. Recursos especiais eleitorais providos.

Portanto, as ações nas quais o candidato a Vice não foi citado em eleições pretéritas serão extintas sem julgamento do mérito, e a Justiça Eleitoral poderá fazê-lo de ofício, mesmo que a parte prejudicada não tenha alegado a “decadência eleitoral”, uma vez que se trata de matéria de ordem pública. Os Ministros entendem que a citação posterior do Vice somente seria possível se o prazo para ajuizamento da ação ainda estivesse em aberto (por exemplo: AIME — até 15 dias da diplomação); caso contrário, o feito será arquivado, ou seja, a falta de citação do Vice não pode ser sanada.

Já para novas ações eleitorais referentes às eleições de 2010 em diante, é importante destacar que a Justiça Eleitoral (por seu órgão competente) pode aplicar a chamada intervenção iussu iudice (art. 47 do CPC) e determinar a citação do Vice de ofício, por se tratar de litisconsórcio necessário passivo, devendo assim agir desde que o prazo da ação em particular não tenha sido escoado, sob pena de extinção do processo sem julgamento do mérito por “decadência eleitoral”.

(8) Ação Rescisória Eleitoral: prazo de ajuizamento: 120 dias do trânsito em julgado de decisão somente do TSE (em competência originária ou recursal) e somente em matéria de inelegibilidade.

Nota: Ação Rescisória Eleitoral: O art. 22, I, j, do CE determina como competência originária do TSE a ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada dentro do prazo de 120 dias de decisão irrecorrível, possibilitando-se o “exercício do mandato eletivo até o seu trânsito em julgado”. Essa alínea (j) foi acrescida pelo art. 1º da LC 86/96. Porém, o Ac.-STF, de 17.3.1999, na ADI 1.459, declarou inconstitucionais o trecho destacado em negrito e itálico citado e a expressão “aplicando-se, inclusive, às decisões havidas até cento e vinte dias anteriores à sua vigência”, constante do art. 2º da LC 86/96. Conforme os Acórdãos do TSE n. 106/2000 e n. 89/2001, o TRE não é competente para o julgamento de ação rescisória. A LC 86/96, ao introduzir a ação rescisória no âmbito da Justiça Eleitoral, incumbiu somente ao TSE seu processo e julgamento, originariamente, contra seus próprios julgados. Já, no Acórdão n. 124/2001, há cabimento de ação rescisória contra decisão monocrática de juiz do TSE, e, nos Acórdãos n. 19.617/2002 e n. 19.618/2002, há cabimento de ação rescisória de julgado de TRE em matéria não eleitoral, aplicando-se a legislação processual civil, e não a eleitoral.

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Ponto 7.c. Condutas vedadas aos agentes públicos nas campanhas eleitorais. Captação ilícita de sufrágio.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; José Jairo Gomes. Direito Eleitoral. 6ª Edição. Ed. Atlas. Adriano Soares da Costa. Instituições de Direito Eleitoral, 8ª Ed. Lumen Juris, 2009.

Legislação básica: arts. 41-A, 73 a 78 da Lei 9.504/97 (Lei das Eleições).

1. Condutas vedadas aos agentes públicos:

Linhas gerais: Diversas condutas dos agentes públicos são vedadas com a finalidade de evitar a ocorrência de abuso de poder político, especificamente a utilização de bens ou recursos públicos em benefício de candidatos ou partidos ou coligações próximas ao Governo. O conjunto destas condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais encontra-se previsto nos art. 73 a 78 da Lei de Eleições.

Agente público: O art. 73, §1º, Lei n. 9.504/97 define agente público como aquele que “exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou entidades da administração pública direta, indireta ou fundacional”. Como se vê, é um conceito amplo, abrangendo os detentores de mandato eletivo.

Rol de condutas vedadas:

- Ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária. OBS: Segundo o TSE, essa conduta pode configurar-se como conduta vedada mesmo antes do pedido de registro de candidatura (Recurso Ordinário nº 643257, Acórdão de 22/03/2012, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 81, Data 02/05/2012, Página 129);

- Usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram. OBS: Segundo o TSE, essa conduta pode configurar-se como conduta vedada mesmo antes do pedido de registro de candidatura (Recurso Ordinário nº 643257, Acórdão de 22/03/2012, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 81, Data 02/05/2012, Página 129);

- Ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de expediente

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normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado;

- Fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo Poder Público;

- Realizar despesas com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a média dos gastos nos últimos três anos que antecedem o pleito ou do último ano anterior à eleição;

- Distribuir gratuitamente bens, valores ou benefícios por parte da administração pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.

Rol de conduta vedada a partir de abril do ano eleitoral:

- Fazer, na circunscrição do pleito, aumento real ou revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do período destinado para as convenções partidárias até a posse dos eleitos. OBS: é permitida a recomposição de perdas. OBS: Roberto Almeida afirma que é vedado é a revisão geral, apenas, sendo possível que a revisão alcance apenas uma parte dos servidores, como dar aumento para os professores (2013, p. 560). OBS: a proibição se refere à circunscrição, logo durante uma eleição municipal é possível se fazer revisão geral de servidores federais.

Rol de conduta vedada nos três meses que antecedem o prélio eleitoral até a posse dos eleitos:

- Nomear, contratar, demitir, remover ex officio, transferir ex officio, exonerar ex officio servidores públicos ou por outros meios impedir o exercício funcional, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecede e até a posse dos eleitos. . OBS: as vedações se aplicam apenas no âmbito da circunscrição na qual se realizam eleições. OBS: Estão excluídas da vedação: i) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e a designação ou dispensa de funções de confiança; ii) a nomeação para cargos do Ministério Público, Judiciário, tribunais de contas e órgãos da Presidência da República; iii) nomeação de aprovados em concursos públicos homologados até o início do prazo de três meses; iv) nomeação necessária ao funcionamento inadiável de serviços públicos essenciais, desde que expressamente e previamente autorizadas pelo chefe do Executivo; e v) transferência ou remoção de militares, policiais civis e agentes penitenciários

- Realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e Municípios, e dos Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados os recursos destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situações de emergência e de calamidade pública;

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- Autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência no mercado, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral;

- Fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário eleitoral gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, relevante e característica das funções de governo;

- Contratar shows artísticos pagos com recursos públicos na realização de inaugurações;

- Participar de inauguração de obras públicas. OBS: a vedação se dá no âmbito da circunscrição da eleição, logo um candidato a prefeito na cidade X pode participar de inauguração de obra pública em outra cidade [TSE, REspe 24.122, 2004].

OBS: Um mesmo fato pode caracterizar propaganda extemporânea e conduta vedada, não podendo se falar em bis in idem, pois o mesmo fato pode ser analisado e sancionado por fundamentos diferentes.

OBS: A configuração de conduta vedada ocorre com a mera prática do ato, independente da potencialidade lesiva de influenciar o resultado do pleito, havendo presunção de que a conduta tende a afetar a igualdade de oportunidades [Info TSE 11/2012].

Sanções: a) suspensão imediata da conduta vedada; b) multa, a ser imposta aos agentes públicos responsáveis pelas condutas vedadas e aos partidos, coligações e candidatos que delas se beneficiarem; e c) cassação do registro ou do diploma do candidato beneficiado, agente público ou não.

As multas eleitorais compõem receita para o fundo partidário. Contudo, o partido político que deu origem a multa decorrente das condutas vedadas não se beneficiará dessa receita, ficando excluído do rateio (art. 73, §9º da Lei n. 9504/97).

O TSE “já firmou entendimento no sentido de que, quanto às condutas vedadas do art. 73 da Lei nº 9.504/97, a sanção de cassação somente deve ser imposta em casos mais graves, cabendo ser aplicado o princípio da proporcionalidade da sanção em relação à conduta”. (Agravo Regimental em Recurso Ordinário nº 890235, Acórdão de 14/06/2012, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 160, Data 21/08/2012, Página 38).

Ato de improbidade administrativa: o parágrafo sétimo do art. 73 da Lei n. 9504/97 qualifica como ato de improbidade administrativa as condutas vedadas aos agentes públicos, submetendo-as também às sanções previstas na Lei n. 8429/92.

Visão panorâmica:

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Atenção: Os esquemas acima foram tirados do livro esquematizado do Thales Tácito. As notas foram mantidas na imagem para marcar o que é um neologismo do autor. Pode ser que a banca se utilize dessas expressões. Eu acho difícil que eles façam isso, mas é bom saber tendo em vista a envergadura e respeito pelo referido autor.

2. Captação ilícita de sufrágio:

Linhas gerais: Considera-se captação ilícita de sufrágio, nos termos do art. 41-A da Lei 9.504/97, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou qualquer vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição. Também caracteriza a captação ilícita de sufrágio a prática de atos de violência ou grave ameaça a pessoa, com o fim de obter-lhe o voto. OBS: a conduta também constitui crime previsto no artigo 229 do CE.

A definição da captação ilícita de sufrágio foi fruto de projeto de iniciativa popular.

A captação ilícita de sufrágio é hipótese específica de abuso de poder econômico.

Sob a ótica eleitoral somente é relevante se praticado entre a formalização do pedido de registro de candidatura e o dia da eleição, inclusive. [Quanto à aferição do ilícito previsto no art. 41-A, o termo inicial é o pedido do registro da candidatura].

Caracterização: Para a caracterização de tais condutas não é preciso o pedido explícito de votos, sendo suficiente que o oferecimento de vantagem tenha especial fim de agir, qual seja: captação de votos. Para a incidência da norma basta a promessa ou o oferecimento de

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vantagem de qualquer natureza, não sendo necessária a obtenção, de fato, de vantagem pessoal. O oferecimento de vantagem deve ser feito a eleitores determinados. Basta o oferecimento de vantagem a um único eleitor para caracterização do fato.

Portanto, há 4 requisitos cumulativos para caracterizar a captação ilícita de sufrágio: 1) Prática da conduta punível: é preciso dar, oferecer, prometer ou entregar bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública a eleitor, sendo desnecessário o pedido explícito de voto, bastando a evidência do dolo no especial fim de agir; 2) A legitimidade da conduta: tem que ser o candidato ou terceiro a mando dele, bastando a ciência do candidato. E o beneficiário tem que ser eleitor; 3) A finalidade: tem que ter o dolo de obter o voto; 4) Lapso temporal: tem que ser após o registro de candidatura até o dia das eleições, inclusive.

Prazo: a ação por captação ilícita de sufrágio poderá ser ajuizada, até a data de diplomação, observando o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990.

Participação do candidato: Não se exige a participação direta do candidato para a caracterização da captação ilícita de sufrágio. Basta o consentimento, a anuência, o conhecimento ou a ciência dos fatos que resultaram na prática do ilícito eleitoral, consoante entendimento do TSE: “Resta caracterizada a captação de sufrágio prevista no art. 41-A da Lei n° 9.504/97, quando o candidato praticar, participar ou mesmo anuir explicitamente às condutas abusivas e ilícitas capituladas naquele artigo” (RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 19566, Acórdão nº 19566 de 18/12/2001, Relator(a) Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 26/04/2002, Página 185 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 13, Tomo 2, Página 278 ).

Legitimados passivos: O TSE, alterando seu posicionamento, passou a entender que nas ações eleitorais que possam implicar perda do registro ou diploma, há litisconsórcio passivo necessário entre titular e vice da chapa majoritária (Ac. de 29.4.2010 no AgR-REspe nº 35.762, rel. Min. Arnaldo Versiani).

OBS: Os partidos políticos não são litisconsortes passivos necessários em processos que visem à perda de diploma ou de mandato, podendo atuar voluntariamente como assistentes, segundo entendimento do TSE (Ac. de 29.9.2009 no RO nº 2.349, rel. Min. Fernando Gonçalves Ac. nºgraph-definition> 3.255, de 7.5.2002, rel. Min. Fernando Neves.)

Sanções: As consequências da captação ilícita de sufrágio são a aplicação de multa e a cassação do registro ou do diploma. A aplicação da sanção tem eficácia imediata, ou seja, eventual recurso não terá efeito suspensivo. É praxe, no entanto, o uso de medida cautelar inominada para se obter o efeito suspensivo.

Questão de prova:

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O que é captação ilícita para sufrágio? O que ela combate?

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Ponto 8.a. Partidos Políticos. Princípios constitucionais a serem observados na sua criação. Vedações. Fusão e incorporação.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Roberto Almeida 2013; Caderno Ênfase 2013.

Legislação básica: CR/88 (Tít II, Cap. V – Partidos Políticos); Lei n.º 9.096/95 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos – LOPP); Código Civil (Art. 44, V e § 3º, 2.031, parágrafo único); Lei n.º 9.504/97 (Lei das Eleições – LE); Lei n.º 12.016/09 (art. 1º, §1º); Resoluções n.º 20.034/97 e 22.610/07 do TSE .

1. Partidos Políticos: Trata-se de pessoa jurídica de direito privado, formada por uma organização de pessoas reunidas em torno de um mesmo programa político com a finalidade de assumir o poder e mantê-lo ou, ao menos, de influenciar na gestão da coisa pública através de críticas e oposição, pondo em prática uma determinada ideologia político-administrativa.

José Jairo Gomes menciona que os partidos políticos são canais legítimos de atuação política e social, peças essenciais para o funcionamento do complexo mecanismo democrático. Segundo o autor, eventuais querelas existentes entre um partido e uma pessoa natural ou jurídica, entre dois partidos, entre órgãos do mesmo partido ou entre partido e seus filiados devem ser ajuizadas na Justiça Comum Estadual, não sendo competente a Justiça Eleitoral, exceto se a controvérsia provocar relevante influência em processo eleitoral já em curso (GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 7ª edição. Ed. Atlas., pp. 83 e 85).

MS contra representantes ou órgãos de partido político: Importante destacar que a Lei n.º 12.016/09 equiparou às autoridades os “representantes ou órgãos de partidos políticos” (art. 1º, § 1º), de modo que é possível impetrar mandado de segurança contra eles.

OBS: Os recursos do Fundo Partidário não estão sujeitos ao regime da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, tendo os partidos políticos autonomia para contratar e realizar despesas. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013).

Finalidade: Os partido políticos se destinam a assegurar, segundo SOS ditames do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo, a postular pela defesa dos direitos fundamentais encartados na CF. bem assim, assumir e permanecer no poder ou, pelo menos, influenciar suas decisões e pôr em prática uma determinada ideologia político-administrativa.

Sistemas partidários: a doutrina elenca três sistemas partidários: monopartidarismo, bipartidarismo e pluripartidarismo. 1) Monopartidarismo: admite apenas um partido. Está em extinção no mundo. Ainda tem no oriente médio; 2) Bipartidarismo: admite a existência de dois partidos. No período da ditadura militar o Brasil tinha apenas dois partidos, a Arena

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e o MDB; 3) Pluripartidarismo: admite a presença de tantos partidos quanto forem as correntes de opinião existentes. Adotado atualmente pelo Brasil.

2. Princípios constitucionais a serem observados na sua criação: A CF adotou o princípio da liberdade de organização, de forma que, consoante o disposto em seu art. 17, os partidos políticos, enquanto protagonistas do jogo democrático, podem ser livremente criados, fundidos, incorporados e extintos, desde que sejam resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana.

Limites à liberdade partidária: Tendo em vista as limitações à liberdade partidária, determina a Constituição que tais agremiações devem observar os seguintes preceitos [ou seja: a liberdade partidária não é absoluta]: a) Caráter nacional: é vedada a criação de partidos políticos regionais, estaduais ou municipais, sob pena de não ser deferido o pedido de registro do estatuto do Partido no TSE; b) Proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes: o escopo da norma é a proteção do interesse nacional; c) Prestação de contas à Justiça Eleitoral: 1) contas partidárias: os partidos devem manter, a partir de seus órgãos nacionais, regionais e municipais, escrituração contábil, de modo que se possa conhecer a origem de suas receitas e destinação de suas despesas. 2) contas de campanha: determina-se, inclusive, que até 180 dias após a diplomação, os candidatos ou partidos devem conservar a documentação referente a suas contas (LE, art. 32); d) Funcionamento parlamentar de acordo com a lei: tal funcionamento vem disciplinado por meio da LOPP.

Nos termos do art. 4º da LOPP, aos filiados é assegurada igualdade de direitos e deveres.

3. Vedações: Além das proibições referidas nos itens “a” e “b” do tópico anterior, os partidos políticos não podem ministrar instrução militar ou paramilitar, utilizar-se de organização da mesma natureza e adotar uniforme para seus membros (art. 17, § 4º, CF e art. 6º, LOPP). Um partido com tal desenho representaria evidente ameaça ao regime democrático, pois levantaria perigosamente a bandeira de regimes totalitários, além de lhes avocar a memória (GOMES, op. cit., p. 88).

Ademais, conforme o art. 7º, § 2º, da LOPP, o partido que não tenha registrado seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral não pode participar do processo eleitoral, receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao rádio e à televisão.

Finalmente, nos termos do art. 31 da LOPP, é vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de qualquer espécie, procedente de:

i - entidade ou governo estrangeiros (idem art. 17, II, CF) – atenção ao artigo 24 da LE, que veda algumas doações a partido e candidato para campanhas eleitorais;

ii - autoridade ou órgãos públicos, ressalvadas as dotações referidas no art. 38;

iii - autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de

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economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram órgãos ou entidades governamentais – Ac.-TSE, de 9.2.2006, no REspe n° 25.559: “O que se contém no inciso III do art. 31 da Lei n° 9.096/1995, quanto às fundações, há de ser observado consideradas as fundações de natureza pública.”;

iv - entidade de classe ou sindical.

4. Fusão e incorporação: Na fusão, dois partidos se juntam, extinguindo-se, para formar um novo partido; na incorporação, um partido deixa de existir, passando a fazer parte de outro.

Para que possa ocorrer a fusão, é preciso que sejam observadas as exigências do art. 29, § 1º, LOPP. Nessa hipótese, a existência legal do novo partido tem início com o registro, no Ofício Civil competente da Capital Federal, do estatuto e do programa (art. 29, § 4º, LOPP). O novo partido passa a ser reconhecido, com toda as prerrogativas legais, antes mesmo da averbação de seu estatuto no TSE, sendo desnecessária a comprovação do “apoiamento mínimo” exigido na criação de novos partidos políticos.

Já a incorporação pressupõe a observância dos requisitos previstos nos §§ 2º, 3º e 5º do art. 29 da LOPP. Importante destacar que os votos obtidos, na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, pelos partidos políticos fundidos ou incorporados, devem ser somados para efeito do funcionamento parlamentar, da distribuição dos recursos do Fundo Partidário e do acesso gratuito ao rádio e à televisão (art. 29, § 6º, LOPP). Nos termos da Res.-TSE n° 22.592/2007, o partido incorporador tem direito à percepção das cotas do Fundo Partidário devidas ao partido incorporado, anteriores à averbação do registro no TSE. De acordo com o § 7º do art. 29, o novo estatuto ou instrumento de incorporação deve ser levado a registro e averbado, respectivamente, no Ofício Civil e no Tribunal Superior Eleitoral.

OBS: (1) No caso de fusão ou incorporação: os prazos de filiação serão mantidos para os fins do artigo 19 da Lei 9.096/95. Agora, se o partido for extinto há menos de um ano da eleição, seus filiados ficarão impedidos de concorrer a esse pleito (Res. 22089/2010). (2) A permissão para se desfiliar de partido político em caso de incorporação, levando o parlamentar o mandato, só se justifica quando ele pertença ao partido político incorporado, e não ao incorporador (Res. 22885/08).

Questão de prova:

O que são partidos políticos?

Como se dá a constituição dos partidos políticos?

Por que a CF prevê tantas normas sobre partidos políticos? Qual a relação disso com a sistemática da CF anterior sobre partidos políticos?

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Fale sobre a legitimidade ativa do partido político quando ele está coligado.

Segundo a Lei Geral das Eleições, os partidos políticos que estejam coligados perdem sua legitimidade ativa para estar em juízo, transferindo-a à coligação formada. A única ressalva ocorre quando o partido político coligado deseja questionar a validade da própria coligação formada, durante o período compreendido entre a data da convenção e o termo final do prazo para impugnação dos registros de candidatura.

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Ponto 8.b. Personalidade jurídica dos Partidos Políticos. Registro e funcionamento. Estatutos. Fundo Partidário. Propaganda partidária.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Roberto Almeida, 2013, Caderno Ênfase 2013.

Legislação básica: idem ao ponto 8.a. Res.-TSE n° 23.086/2009

I. Personalidade jurídica dos Partidos Políticos: Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado (art. 1º da LOPP e art. 44, V e § 3º, CC) que se constituem mediante a observância dos requisitos previstos no art. 8º da LOPP (requerimento de registro dirigido a cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, subscrito pelos seus fundadores – pelo menos 101 –, com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados; registro pelo Oficial no livro competente).

Adquirida a personalidade, o partido promove a obtenção do apoiamento mínimo de eleitores (0,5% dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de 0,1% do eleitorado que haja votado em cada um deles) e realiza os atos necessários para a constituição definitiva de seus órgãos e designação dos dirigentes, na forma de seu estatuto (art. 8º, § 3º, LOPP). O apoiamento mínimo comprova o caráter nacional do partido, que é requisito fixado na CF e condição para o registro do estatuto no TSE (art. 7º, § 1º, LOPP).

Portanto, após adquirir a personalidade jurídica termos da lei civil, o partido político deverá registrar seu estatuto perante o TSE.

O STF, ao verificar a natureza do registro dos estatutos perante o TSE, decidiu que tal ato é meramente administrativo e destinado a verificar a obediência ou não da agremiação partidária interessada aos requisitos constitucionais e legais. [logo, sua natureza jurídico-administrativa impede que a decisão do registro seja impugnada via recursal extraordinária].

II. Registro e funcionamento: O registro do partido junto ao TSE deve ser realizado após a sua constituição e a designação de seus dirigentes, na forma de seu estatuto (art. 17, § 2º, CF e art. 9º, LOPP). Somente os partidos com registro podem: a) credenciar os delegados a que se refere o art. 11 da LOPP; b) participar do processo eleitoral, receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao rádio e à televisão (art. 7º, § 2º, LOPP); c) ter exclusividade sobre sua denominação, sigla e símbolos, de modo a se vedar a utilização, por outros partidos, de variações que venham a induzir a erro ou confusão (art. 7º, § 3º, LOPP).

Nos termos do art. 12 da LOPP, o partido político funciona, nas Casas Legislativas, por meio de uma bancada, que deve constituir suas lideranças conforme o respectivo estatuto,

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as disposições regimentais da Casa e as regras da LOPP. O art. 13 dessa lei foi declarado inconstitucional pelo STF (ADIs 1.351-3 e 1.354-8).

Portanto: a existência (ou personalidade jurídica) do partido político se dá com o registro de seu Estatuto no cartório de registro civil de pessoas jurídicas (art. 45 do CC). Aí nasce juridicamente o partido, conforme o Texto Constitucional determina. O registro do partido no cartório de registro civil deve seguir toda a disciplina do art. 7º da Lei n. 9.096/95, ou seja, após adquirir personalidade jurídica na forma da Lei Civil, deve registrar seu Estatuto no TSE para que possa participar do processo eleitoral, receber verbas do Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao rádio e à televisão, além de ter exclusividade da sua denominação, sigla e símbolos, vedada a utilização, por outros partidos, de variações que venham a induzir a erro ou confusão.

OBS: o que um partido político necessita fazer para participar de uma eleição? Dois são os requisitos para que uma agremiação partidária participe de uma eleição: 1) que tenha o estatuto registrado junto ao TSE há pelo menos um ano antes da eleição; 2) que haja constituído e anotado o órgão de direção nacional nas eleições presidenciais (perante o TSE), o órgão de direção estadual (perante o TRE) ou o órgão de direção municipal (perante o juiz eleitoral) até a data da convenção para a escolha de candidatos.

III. Estatutos: Em atenção ao princípio da liberdade de organização previsto no art. 17 da CF, o art. 14 da LOPP determina que, observadas as disposições constitucionais e as desta lei, o partido é livre para estabelecer, em seu estatuto, a sua estrutura interna, organização e funcionamento.

O art. 15 prevê um conteúdo mínimo obrigatório para os estatutos (I - nome, denominação abreviada e sede na Capital Federal; II - filiação e desligamento de seus membros; III - direitos e deveres dos filiados; IV - modo de organização e administração; V - fidelidade e disciplina partidárias; VI - condições e forma de escolha de seus candidatos a cargos e funções eletivas; VII - finanças e contabilidade (anualmente, o partido envia o balanço contábil até 30 de abri. No ano eleitoral, é mensal durante os 4 meses anteriores e 2 meses posteriores ao pleito); VIII - critérios de distribuição dos recursos do Fundo Partidário entre os órgãos de nível municipal, estadual e nacional que compõem o partido; IX - procedimento de reforma do programa e do estatuto.). O art. 15-A, a regra sobre responsabilidade, inclusive civil e trabalhista, por atos ilícitos.

IV. Fundo Partidário: O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário) é previsto no art. 17, § 3º, da CF e, consoante o art. 38 da LOPP,

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constitui-se de: I – multas e penalidades pecuniárias; II – recursos financeiros que lhe forem destinados por lei , em caráter permanente ou eventual; III – doações de pessoa física ou jurídica , efetuadas por intermédio de depósitos bancários diretamente na conta do Fundo Partidário; e IV – dotações orçamentárias da União. [OBS: Conforme a Res.-TSE n° 23.086/2009, “o partido pode receber doações de pessoas físicas ou jurídicas para financiar a propaganda intrapartidária, bem como para a realização das prévias partidárias”].

Os recursos do Fundo Partidário deverão ser aplicados (art. 44, LOPP):

i – na manutenção das sedes e serviços do partido, permitido o pagamento de pessoal até o limite de 50% do total recebido [Ac.-TSE, de 30.3.2010, na Pet n° 1.831: não inclusão do pagamento de juros e multas entre as despesas autorizadas por este inciso]; [Ac.-TSE, de 30.3.2010, no AgR-RMS n° 712: “o não cumprimento dessa regra, por si só, não implica automática rejeição das contas de agremiação político-partidária, ainda mais quando demonstrada a inocorrência da má-fé e desídia”];

ii – na propaganda doutrinária e política;

iii – no alistamento e campanhas eleitorais;

iv – na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política (mínimo 20%) – Res.-TSE n° 22.226/2006: “As fundações criadas devem ter a forma de pessoa jurídica de direito privado (art. 1° da Res.-TSE n° 22.121, de 9.12.2005)”; a execução dos programas de divulgação da linha programática partidária é matéria interna corporis dos partidos políticos; OBS: No exercício financeiro em que a fundação ou instituto de pesquisa não despender a totalidade dos recursos que lhe forem assinalados, a eventual sobra poderá ser revertida para outras atividades partidárias, conforme previstas no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)

v – na criação e manutenção de programas de promoção da participação política das mulheres (mínimo de 5%).

Nos termos do art. 7º, § 2º, da LOPP, somente os partidos registrados no TSE podem ter acesso a recursos do Fundo Partidário. Cabe ao TSE fazer a distribuição aos órgãos nacionais dos partidos os recursos do fundo partidário.

Atenção: Os recursos do Fundo Partidário não estão sujeitos ao regime da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, tendo os partidos políticos autonomia para contratar e realizar despesas. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013)

V. Propaganda partidária: Não está vinculada a nenhuma eleição em específico. Tem o objetivo de difundir, entre outros temas, o programa e a ideologia político-partidária e, assim, receber da população adeptos, simpatizantes e novos filiados. A propaganda partidária não pode ser veiculada no segundo semestre de ano de eleição. Não pode servir de palanque para futuro candidato. Deve obrigatoriamente ser enter 19h30 e 22h.

Direito de antena: a propaganda eleitoral e a propaganda partidária, veiculadas por rádio e

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TV, é a forma de exteriorização do que se chama de direito de antena, pois o partido tem por lei o direito ao acesso sem ônus aos veículos de comunicação de massa.

Obrigatoriamente gratuito: é vedado o uso de TV ou rádio de forma paga, sendo restrito aos horários gratuitos disciplinados por lei. As empresas de comunicação têm direito a compensação fiscal.

Havia duas espécies: os artigos 48 e 49 da lei 9.096/97 previam a propaganda partidária semestral e regular. A propaganda partidária regular seria destinada apenas aos partidos políticos que tivessem funcionamento parlamentar. A propaganda partidária semestral seria destinada a partido políticos que não tivessem funcionamento parlamentar. O STF declarou inconstitucional os artigos 48 e 49 da referida lei, também declarando inconstitucional o artigo 13 que estabelecia a “cláusula de barreira ou cláusula de desempenho” [ADI 1351 e 1354]. Passou a vigorar em caráter definitivo as regras de transição constantes no artigo 56, III e IV e artigo 57 da lei 9.096/97, os quais estabelecem uma “cláusula de barreira flexível”. OBS: a cláusula de barreira ia além da divisão do tempo de propaganda partidária, pois os partidos deveriam preencher o percentual mínimo de votos para também ter acesso à estrutura de liderança de bancada, a indicar parlamentar seu para atuar em comissão mista no Congresso Nacional, de CPI ou para participar de Mesa diretora da casa legislativa.

Cláusula de barreira flexível: as regras de transição são as seguintes:

Partidos políticos Tempo de propaganda partidária

Partidos com funcionamento parlamentar de acordo com o artigo 57 da LOPP:

a) um programa partidário por semestre, em cadeia nacional, com duração de 10 minutos;

b) inserções de 30 segundos a 1 minuto, no máximo, por semestre, em cadeia nacional e cadeiras regionais com duração total de 20 minutos.

Partidos com funcionamento parlamentar de acordo com o artigo 56, III da LOPP:

a) um programa partidário anual, em cadeia nacional, com duração de 10 minutos;

b) não há direito de inserções.

Partido com funcionamento parlamentar de acordo com o artigo 56, IV da LOPP

a) um programa partidário anual, em cadeira nacional, com duração de 5 minutos;

b) não há direito de inserções.

OBS: O material de áudio e vídeo com os programas em bloco ou as inserções será entregue às emissoras com antecedência mínima de 12 (doze) horas da transmissão, podendo as inserções de rádio ser enviadas por meio de correspondência eletrônica. (Redação dada pela Lei nº 12.891, de 2013)

Finalidades: difundir os programas partidários; transmitir a mensagem aos filiados sobre a

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execução do programa partidário, dos eventos com este relacionados e das atividades congressuais do partido; divulgar a posição do partido em relação a temas político-comunitários; promover e difundir a participação feminina, dedicando às mulheres o tempo que Serpa fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 10%.

Vedações: são vedadas na propaganda partidária a participação de pessoa filiada a partido que não o responsável pelo programa; a divulgação de propaganda de candidato a cargos eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos; a utilização de imagens ou cenas incorretas ou incompletas, efeitos ou quaisquer outros recursos que distorçam ou falseiem os fatos ou a sua comunicação.

OBS: É vedada a veiculação de inserções idênticas no mesmo intervalo de programação, exceto se o número de inserções de que dispuser o partido exceder os intervalos disponíveis, sendo vedada a transmissão em sequência para o mesmo partido político. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)

Sanções: se houver desobediência à legislação eleitoral que disciplina a propaganda partidária, a Justiça Eleitoral aplicará as seguintes sanções: a) quando a infração ocorrer nas transmissões em bloco: haverá cassação do direito de transmissão no semestre seguinte; b) quando a infração ocorrer nas transmissões em inserções: aplica a sanção equivalente a cassação de tempo equivalente a 5 vezes ao da inserção ilícita, no semestre seguinte.

Legitimidade para propor ação contra a propaganda irregular: Partidos políticos, e MPE. OBS: a lei 9.096/97 somente atribui legitimidade a partido político, porém, o MP encontra sua legitimidade na CF.

Competência: TSE: para programas em bloco ou inserções nacionais. TER: para programas em bloco ou inserções nos respectivos Estados.

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Ponto 8.c. Autonomia dos Partidos Políticos. Normas de fidelidade e disciplina partidárias.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Roberto Almeida, 2013, Caderno Ênfase 2013.

Legislação básica: CR/88; LOPP; Res.-TSE nº 22.610/2007

I. Autonomia dos Partidos Políticos: A Constituição assegurou aos partidos políticos autonomia (art. 17), adotando o princípio da liberdade de organização partidária, que consiste na autonomia para a agremiação configurar: a) estrutura interna; b) organização; c) funcionamento; d) liberdade para criação, fusão, incorporação e extinção. OBS: Cabe ao partido adotar os critério de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional , estadual, distrital ou municipal. Incumbe ao estatuto partidário, dentre outros assuntos, estabelecer normas de fidelidade e disciplina partidária, eis que a ideologia partidária é matérias interna corporis e, portanto, excluída de qualquer interferência estatal. OBS: As limitações à autonomia são as seguintes: 1) soberania nacional; 2) necessidade de observância do regime democrático; 3) pluripartidarismo; 4) direitos fundamentais da pessoa humana; 5) vedação ao recebimento de recursos de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; 6) vedação a qualquer conotação paramilitar (uniformes, doutrina, organização).

II. Normas de fidelidade e disciplina partidárias: De acordo com o § 1º do art. 17 da CR/88, é assegurada aos partidos políticos autonomia para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.

No mesmo sentido, o art. 15, V, da LOPP determina que o Estatuto do partido deve conter, entre outras, normas sobre fidelidade e disciplina partidárias, processo para apuração das infrações e aplicação das penalidades, assegurado amplo direito de defesa. Ainda, o artigo 25 da mesma lei estabelece a possibilidade de o Estatuto estabelecer, além das medidas disciplinares básicas de caráter partidário, normas sobre penalidades, inclusive com desligamento temporário da bancada, suspensão do direito de voto nas reuniões internas ou perda de todas as prerrogativas, cargos e funções que exerça em decorrência da representação e da proporção partidária, na respectiva Casa Legislativa, ao parlamentar que se opuser, pela atitude ou pelo voto, às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos partidários.

A LOPP também proíbe que seja imposta medida disciplinar ou punição a filiado por conduta que não esteja tipificada no estatuto do partido político (art. 23, § 1º), assegura ao acusado amplo direito de defesa (art. 23, § 2º) e impõe ao integrante da bancada de partido o dever de, na Casa Legislativa, subordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários e programáticos e às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de direção

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partidários, na forma do estatuto (art. 24).

Note-se que a lei e a Constituição não instituem diretamente normas de fidelidade partidária; apenas atribuem ao estatuto do partido político a obrigação do estabelecimento de tais normas.

Entendimento anterior: Como não existe previsão legal para a perda de mandato decorrente de infidelidade partidária, durante muito tempo prevaleceu o entendimento de que o princípio da fidelidade partidária restringia-se ao campo administrativo, interno, regulando apenas as relações entre filiado e partido. Por isso, admitia-se que o mandatário contrariasse a orientação do partido e até mesmo o abandonasse, sem que isso implicasse a perda do mandato. Tal entendimento deu ensejo à tese do mandato livre, adotada pelo STF no julgamento do MS nº 20.927-5 (DJ 15/4/94).

Entendimento atual: No entanto, como observa José Jairo Gomes, tal interpretação não mais subsiste (GOMES, op.cit., p. 89). Isso porque o TSE fixou o entendimento segundo o qual “os Partidos Políticos e as coligações conservam direito à vaga obtida pelo sistema proporcional, quando houver pedido de cancelamento de filiação ou de transferência do candidato eleito por um partido para outra legenda” (Consulta n.º 1.398, respondida em 27/3/2007) 1. Superou-se, pois, a ideia de que o mandato pertenceria ao indivíduo eleito.

A Corte assentou também a necessidade de observância da fidelidade partidária pelos detentores de mandato majoritário, de modo que “uma arbitrária desfiliação partidária implica renúncia tácita do mandato, a legitimar, portanto, a reivindicação da vaga pelos partidos” (Consulta n.º 1.407/2007, respondida em 16/10/2007).

Portanto: atualmente o mandato eletivo pertence ao partido político, sendo que a troca de legenda, após o pleito, sem uma justificativa plausível, é considerada infidelidade partidária a sujeitar o infrator, seja ele ocupante de mandato eletivo proporcional ou majoritário ao perdimento do próprio cargo para o qual foi eleito ]Resolução TSE 22610]. OBS: Essa resolução foi objeto da ADI n.º 4.086 e o STF disse que é constitucional até que o Congresso disponha de modo contrário.

A exegese do TSE foi mantida pelo STF, que reviu sua posição a respeito do assunto. Entendeu-se que a mudança de agremiação sem uma razão legítima viola o sistema proporcional das eleições, determinado no art. 45 da CF, desfalcando a representação dos partidos e fraudando a vontade do eleitor.

A fim de disciplinar o processo de perda de cargo eletivo, bem como de justificação de desfiliação partidária, o TSE editou a Resolução n.º 22.610 (publicada no DJ de 30/10/07).

Legitimidade ativa e prazo: Segundo ela, o detentor de mandato eletivo tem o prazo decadencial de 30 dias para propor o processo administrativo para a perda do mandato junto à Justiça Eleitoral. Ultrapassado esse prazo, o MP ou quem tiver interesse jurídico [vice e suplentes] (após, em novo prazo de 30 dias) pode pleitear na Justiça Eleitoral a “decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa”, em legitimidade supletiva ou concorrente. OBS: somente aquele que poderá vir a ocupar a vaga

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tem legitimidade ativa como interesse jurídico. Logo, terceiro suplente filiado a partido diverso daquele que poderia ocupar a vaga não tem legitimidade [TSE, RO 2201, 2009].

A seu turno, o mandatário pode requerer à Justiça Eleitoral “a declaração de existência de justa causa” para o seu desligamento da organização partidária.

Competência: A competência para conhecer e julgar o pedido é do TSE (mandatos federais) ou dos TREs (mandatos estaduais e municipais). OBS: jamais um Juiz Eleitoral terá competência para ação de decretação de perda de mandato eletivo por infidelidade partidária.

Se perder o mandato, quem deve ocupar o cargo? Curial salientar que, consoante a orientação firmada recentemente pelo Pretório Excelso, a vaga decorrente da vacância de mandato parlamentar deve ser ocupada pelos suplentes da coligação (MS n.º 30.272/MG e MS n.º 30.260/DF, ambos julgado na sessão plenária de 27/4/11).

É possível tutela antecipada? Não. Não obstante previsão na Resolução 22610, o TSE não admite a tutela antecipada na ação de perda de cargo por infidelidade partidária.

Hipóteses de justa causa: A Resolução 22610/97 estabeleceu um rol taxativo de hipóteses justificadoras de desfiliação partidária, quais sejam: I) incorporação ou fusão do partido; II) criação de novo partido; III) mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário; IV) grave discriminação pessoal.

Portanto, estando o agente político enquadrado em qualquer dessa hipóteses, não será decretada a perda do respectivo mandato eletivo, pois não há caracterização de infidelidade partidária. OBS: no caso da criação de um novo partido, o TSE entende que a mudança de partido deve ocorrer em até 30 dias após a data de registro do estatuto pelo TSE [consulta 75535, 2011]. OBS: o ajuizamento de ação declaratória de justa causa para desfiliação partidária na Justiça Eleitoral não pode ser considerado pelo partido como pedido implícito de desfiliação. Trata-se de livre acesso ao poder judiciário. OBS: resolução do partido determinando a expulsão ou determinação de pedido de desligamento, sob pena de expulsão configura justa causa, não podendo o partido entrar com ação para reivindicar o cargo por infidelidade partidária. OBS: o acordo entre os partido para que ocorra a troca de legendas não tem o condão de afastar a Resolução 22610, constituindo infidelidade partidária.

MP e ação de perda de mandato eletivo por infidelidade partidária: o MP pode atuar como parte autora ou como fiscal da lei. A legitimidade do MP como autor da ação é supletiva ou concorrencial, pois cabe ao partido político interessado ingressar com a ação nos primeiros 30 dias.

E o promotor eleitoral? Como a competência é originária de Tribunal, caso o promotor tome conhecimento de desfiliação partidária no âmbito da ZE que atua, deve comunicar o fato ao procurador regional eleitoral para as providências que entender cabíveis.

Procedimento: há dois procedimentos administrativos: 1) procedimento administrativo

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eleitoral para a perda do mandato eletivo por infidelidade partidária: ao requerente cabe provar. Tem natureza jurídico desconstitutiva ou constitutiva negativa. 2) processo administrativo de justificação de abandono de sigla: o requerente tem que provar a justa causa. Tem natureza declaratória.

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Ponto 9.a. Crimes eleitorais. Jurisdição e competência.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; Roberto Almeida, 2013, Caderno Ênfase 2013.

Legislação básica: CR/88, CPP (arts. 77 a 79)

I. Crimes eleitorais: crime eleitoral é um delito que está tipificado no Código Eleitoral e nas leis eleitorais extravagantes e que pode ser praticado por qualquer pessoa. Em que pese bastante discutida a natureza jurídica dos crimes eleitorais, pacificou-se, junto ao Supremo Tribunal Federal, o entendimento de que se trata de espécie de crime comum e não como crime de responsabilidade.

De acordo com o art. 121, caput, da Constituição Federal, a competência da Justiça Eleitoral, inclusive criminal, deveria estar definida por lei complementar federal. Ocorre, contudo, que tal lei ainda não foi editada. Não obstante tal omissão, pacificou-se, jurisprudencialmente, o entendimento de que é da competência da Justiça Eleitoral o julgamento dos crimes eleitorais e dos crimes comuns que lhe são conexos.

Os crimes eleitorais serão apurados pela polícia federal. contudo, no município em que não houver polícia federal, admite-se a atuação suplementar da polícia civil.

II. Jurisdição e competência: A competência da Justiça Eleitoral possui natureza MATERIAL. A delineação constitucional não deixa margem a dúvidas: são da competência da Justiça Eleitoral os crimes definidos em lei como crimes eleitorais, não sendo necessário, porém, que tais delitos estejam previstos exclusivamente no Código Eleitoral.

Portanto, salvo as exceções previstas na lei ou na CF, os crimes eleitorais devem ser processados e julgados perante a Justiça Eleitoral de 1º grau do lugar da prática delitiva.

Quais são as exceções?

1) foro privilegiado por prerrogativa de função: a depender da autoridade a competência será do STF, STJ ou TRE.

[i) Supremo Tribunal Federal: processamento e julgamento originário dos crimes eleitorais praticados pelas seguintes pessoas (art. 102, I, “b” e “c”, CR/88): o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros, o Procurador-Geral da República, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente. ii) Superior Tribunal de Justiça: processamento e julgamento originário dos crimes eleitorais praticados pelas seguintes pessoas (art. 105, I, “a”, CR/88): os

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Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais. iii) Tribunal Superior Eleitoral: A competência originária do TSE para o julgamento de crimes eleitorais restou esvaziada desde o advento da CR/88, que, ao contrário do disposto no Código Eleitoral, determinou que, pelo cometimento de crimes eleitorais, os Ministros do TSE sejam julgados pelo STF e os membros dos Tribunais Regionais Eleitorais, pelo STJ. iv) Tribunais Regionais Eleitorais: processamento e julgamento das infrações penais eleitorais, praticadas pelas seguintes autoridades: juízes eleitorais de sua área de jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho (art. 108, I, “a” da CF); membros do Ministério Público da União, ressalvados aqueles que têm exercício funcional perante Tribunais (art. 108, I, “a” da CF); juízes estaduais e do Distrito Federal e dos Territórios (art. 96, III da CF), membros do Ministério Público dos Estados, inclusive aqueles que tenham atuação perante o Tribunal de Justiça (art. 96, III da CF); Deputados Estaduais e Distritais; prefeitos municipais e juízes eleitorais].

OBS: O TSE não possui competência penal originária [a parte do CE que diz que tem não foi recepcionada]. As Juntas Eleitorais não têm competência penal.

Portanto: Os juízes eleitorais têm, portanto, competência penal residual, pois a eles cabe processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, exceto os casos acima.

2) prática de crime eleitoral por menor de 18ª: crime eleitoral praticado por adolescente – por mais que, originariamente, identifique-se como crime eleitoral, essa conduta, será processada e julgada perante a Justiça Estadual (Vara de Infância e da Juventude), já que, em razão do autor da infração, formalmente, possui natureza de ato infracional (competência absoluta);

3) cometimento de crime doloso contra a vida conexo com crime eleitoral: os processos devem ser separados, cabendo ao Júri o julgamento do ato doloso contra a vida e à Justiça Eleitoral o julgamento do crime eleitoral.

Existe crime eleitoral de menor potencial ofensivo? Aos crimes eleitorais de menor potencial ofensivo, diante da inexistência de Juizados Especiais Eleitorais, mesmo sendo julgados perante a Justiça Especializada, aplica-se a Lei 9.099/95, pois, nas palavras de Pacelli, “o que realmente importa em tema de jurisdição penal é, pelo menos, a realização da igualdade de tratamento perante os jurisdicionados.”

Regras de conexão e continência: Em relação aos crimes conexos ou em continência com os crimes eleitorais vale a regra da competência eleitoral prevalente, segundo a qual a Justiça Eleitoral atrai para a sua competência o crime eleitoral e o crime não eleitoral, exceto se for competência do Júri.

Portanto, a competência da Justiça Eleitoral estende-se ao julgamento de outras infrações

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penais conexas a crimes eleitorais, pois, no concurso entre jurisdição comum e a especial, prevalecerá a desta última (art. 78, IV, CPP). Jurisdição comum é a da Justiça Estadual e da Justiça Federal, enquanto jurisdição especial é a da Justiça Eleitoral e a da Justiça Militar (obs.: não haverá reunião de processos da competência da Justiça Militar com os de qualquer outra jurisdição, diante da absoluta especialização e especialidade daquela - art. 79, I, CPP - Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;).

Observe-se que tanto a Justiça Federal quanto a Justiça Eleitoral têm a sua competência expressamente assegurada na CF. Assim, o artigo 78, IV, do CPP, afasta fonte de competência constitucional (art. 109, CR/88), dado preferência ao foro eleitoral.

Segundo Pacelli, apenas na hipótese de continência (art. 77 do CPP), em que ocorre unidade de conduta, a reclamar unidade de resposta penal estatal, é que se poderá cogitar da prevalência da Justiça Eleitoral para o processo e julgamento do crime eleitoral, e do crime comum. Quando o concurso for decorrente de conexão, em que a reunião de processos presta-se mais a tutelar o proveito probatório do que exigir a unidade da jurisdição, para Pacelli, a melhor solução será a separação dos processos (comum e eleitoral), de modo a se preservar o juiz natural.

Embora o critério de distinção manejado (conexão, destinada a preservar a qualidade probatória, e continência, visando a coerência e unidade das decisões das decisões judiciais sobre o mesmo fato), possa parecer por demais rigoroso, as questões e, sobretudo, as finalidades que ali se colocam são mesmo diferentes. Se houver concurso, por conexão ou por continência, entre a competência do Tribunal do Júri e a da Justiça Eleitoral, segundo Pacelli a solução mais adequada será a separação de processos, diante das características inteiramente distintas da constituição do Júri e mesmo da natureza dos crimes a ele submetidos.

Panorâmica:

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Logo, nos crimes dolosos contra a vida a competência será assim:

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Questão de prova:

Qual a diferença entre a prática de crimes e prática de ato de improbidade administrativa no que se refere à suspensão dos direitos políticos?

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Ponto 9.b. Natureza e tipicidade dos crimes eleitorais. Bem jurídico protegido. Código Eleitoral e legislação esparsa.

Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1958; GOMES, Suzana de Camargo, Crimes Eleitorais, Ed. RT, 2000

Legislação básica: Lei nº 12.891/2013. Código Eleitoral - CE (arts. 283 a 364). LC 64/90 (arts. 20 e 25). Lei 9.504/97 (arts. 33, 34, 40 e 41-A). Lei 6.091/74 (art. 11)

I. Natureza e tipicidade dos crimes eleitorais: Para o STF o crime eleitoral é espécie de crime comum.

Atenção: Apesar de alguns autores mencionam que os crimes eleitorais derivam dos crimes políticos, sendo pois uma subdivisão dos mesmos, para efeitos de estabelecer a competência eles são tratados como crimes comuns, segundo remansosa jurisprudência do STF. Por isso não se pode dizer que cabe aplicação do art. 102, II, b da CF.

Conceito: Crimes eleitorais consistem nas violações às normas de que disciplinam as diversas fases e operações eleitorais e resguardam valores ínsitos à liberdade do exercício do direito de sufrágio e autenticidade do processo eleitoral, em relação às quais a lei prevê a imposição de sanções de natureza penal / São crimes eleitorais as infrações penalmente sancionadas, que dizem respeito às várias e diversas fases da formação do eleitorado e processo eleitoral / São condutas tipificadas em razão do processo eleitoral e, portanto, puníveis em decorrência de serem praticadas por ocasião do período em que se preparam e realizam as eleições e ainda porque visam a um fim eleitoral.

II. Bem jurídico protegido : Ordem política do Estado.

Liberdade de exercício dos direitos políticos e autenticidade das eleições:A objetividade jurídica, em se tratando de crimes eleitorais, está expressa no interesse público de proteger a liberdade e a legitimidade do sufrágio, o exercício em suma dos direitos políticos, de modo a que os pleitos eleitorais sejam realizados dentro da mais completa regularidade e lisura (SUZANA DE CAMARGO GOMES).

Importante mencionar que não há previsão de qualquer tipo penal eleitoral na modalidade culposa, mas apenas dolosa.

III. Código eleitoral e legislação esparsa: Tanto o código eleitoral quanto a legislação esparsa trazem tipos penais (LC 64/90, arts. 20 e 25; lei 9.504/97, arts. 33, 34, 40; lei 6.091/74, art. 11).

Fávila Ribeiro propõe classificação atentando para aos bens lesados ou colocados em perigo: I) lesivos à autenticidade do processo eleitoral (fraude eleitoral, corrupção eleitoral,

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falsidade de documentos para fins eleitorais); II) lesivos ao funcionamento do serviço eleitoral; III) lesivos à liberdade individual; IV) lesivos aos padrões éticos ou igualitários nas atividades eleitorais

O Direito Eleitoral tem legislação criminal própria, bem como procedimento criminal específico, deslocados do direito penal/processual comum, constante dos artigos 283 a 364 do Código Eleitoral. Tais dispositivos podem ser divididos em três partes distintas: a) normas gerais de direito penal (arts. 283-288); b) tipos incriminadores (arts. 289-354); e c) normas processuais (arts. 355-364).

Além destes dispositivos, há outras figuras típicas criminais espalhadas pelo Código Eleitoral e em outras leis eleitorais extravagantes, quais sejam: a) Lei n° 6091/74 (Fornecimento gratuito de transporte no dia das eleições, a eleitores residentes nas áreas rurais e dá outras providências); b) Lei n° 6996/82 (Processamento eletrônico de dados nos serviços eleitorais); c) Lei n° 7021/82 (Estabelece o modelo de cédula oficial); d) Lei Complementar n° 64/90 (Estabelece, de acordo com a CF/88, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e outras providências); e) Lei n° 9504/97 (Lei das Eleições).

V. Código eleitoral e legislação esparsa:

a) Disposições gerais penais: São apenas três tipos de normas penais gerais previstas: i) relativas ao conceito de funcionário público; ii) a aplicação das penalidades, iii) um dispositivo específico relativo a aplicação das normas do CE quando aos delitos praticados por meio de imprensa. Dessa forma, nos termos dispostos no art. 287, deve-se dar ampla aplicação das normas da Parte Geral do Código Penal no que não houver disposição especial.

Art. 283. Para os efeitos penais são considerados membros e funcionários da Justiça Eleitoral: I - os magistrados que, mesmo não exercendo funções eleitorais, estejam presidindo Juntas Apuradoras ou se encontrem no exercício de outra função por designação de Tribunal Eleitoral; II - Os cidadãos que temporariamente integram órgãos da Justiça Eleitoral; III - Os cidadãos que hajam sido nomeados para as mesas receptoras ou Juntas Apuradoras; IV - Os funcionários requisitados pela Justiça Eleitoral. § 1º Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, além dos indicados no presente artigo, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 2º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal ou em sociedade de economia mista.

O conceito de funcionário público previsto no art. 327 do CP não é aplicável , em vista da existência de conceituação especial. O “caput” do artigo menciona “membros e funcionários”. Membros são os do inciso I, II, e III, e funcionários os do inciso IV. Tal distinção, todavia, não tem nenhuma relevância prática. É importante mencionar também que o conceito aqui previsto é mais restrito que o do CP.

Art. 284. Sempre que este Código não indicar o grau mínimo, entende-se que será ele de quinze dias para a pena de detenção e de um ano para a de reclusão. Art. 285. Quando a lei determina a agravação ou atenuação da pena sem mencionar o "quantum", deve o juiz

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fixá-lo entre um quinto e um terço, guardados os limites da pena cominada ao crime.

Art. 286. A pena de multa consiste no pagamento ao Tesouro Nacional, de uma soma de dinheiro, que é fixada em dias-multa. Seu montante é, no mínimo, 1 (um) dia-multa e, no máximo, 300 (trezentos) dias-multa. § 1º O montante do dia-multa é fixado segundo o prudente arbítrio do juiz, devendo êste ter em conta as condições pessoais e econômicas do condenado, mas não pode ser inferior ao salário-mínimo diário da região, nem superior ao valor de um salário-mínimo mensal. § 2º A multa pode ser aumentada até o triplo, embora não possa exceder o máximo genérico (caput), se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do condenado, é ineficaz a cominada, ainda que no máximo, ao crime de que se trate.

As disposições gerais dos arts. 284 a 286 do CE são bastante diferentes em relação ao que está disposto sobre o mesmo assunto no Direito Penal comum. Aqui, a pena mínima privativa de liberdade é definida com o mesmo tempo de duração – de detenção, 15 dias; de reclusão, 1 ano – a todos os crimes eleitorais. No direito comum, a definição das penas mínimas e máximas vêm somente na Parte Especial e difere de um crime para o outro, mesmo cominada uma espécie de pena, detenção ou reclusão. No direito eleitoral, ainda, há agravação ou atenuação da pena em quantum fixo nas regas gerais, uniforme para todos os casos. No direito comum não há um quantum uniforme para os casos especiais de aumento e diminuição que estão, diferenciadamente, na Parte Especial somente. Também não são iguais as disposições relativas à pena de multa.

Ainda com relação as penas cabe mencionar que os crimes eleitorais são punidos também com a perda do registro ou diploma eleitoral, e ainda a suspensão das atividades eleitorais. A pena de cassação do registro esta prevista no tipo do art. 334 do CE. O crime tipificado no art. 11 da Lei nº 6.091/74 prevê cumulativamente a pena do cancelamento do registro, se candidato, ou do diploma, se já eleito, ao infrator desse tipo criminal eleitoral.

Art. 287. Aplicam-se aos fatos incriminados nesta lei as regras gerais do Código Penal. Art. 288. Nos crimes eleitorais cometidos por meio da imprensa, do rádio ou da televisão, aplicam-se exclusivamente as normas deste Código e as remissões a outra lei nele contempladas.

Nos crimes eleitorais cometidos por meio de imprensa, rádio e televisão, aplicar-se-á, apenas, o Código Penal, além do CE. A Lei de Imprensa (não recepciona, segundo o STF) nunca foi aplicada nos crimes eleitorais contra honra praticados através de meios de informação e divulgação.

b) Crimes Eleitorais em Espécie: Deve-se destacar aqui que a mera leitura dos tipos penais basta para seu conhecimento. Aliás, os autores que comentam direito eleitoral nada mais fazem do que repetir os tipos com outras palavras. Dessa forma, apenas algumas menções importantes serão feitas.

Importante ressaltar que além dos tipos previstos no art. 289 à 354 , em outros dispositivos esparsos também há normas incriminadoras. Por fim serão transcritos os tipos existentes em leis esparsas.

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Classificação dos crimes eleitorais: Classificação de Joel Cândido, conforme a objetividade jurídica das normas legais (há classificações diferentes de outros autores):

a) Crimes contra a Organização Administrativa da Justiça Eleitoral (arts. 305, 306, 310, 311, 318 e 340, todos do Código Eleitoral);

b) Crimes contra o Serviço da Justiça Eleitoral (arts. 289 a 293, 296, 303, 304, 341 a 347; art. 11 da Lei n° 6091/74; arts 45, §§ 9° e 11; 47, § 4°; 68, § 2°; 71, § 3°; 114, parágrafo único e 120, § 5°, todos do Código Eleitoral).

c) Crimes contra a Fé Pública Eleitoral (arts. 313 a 316, 348 a 354; art.15 da Lei n° 6996/82 e art 174, § 3° , do Código Eleitoral);

d) Crimes contra a Propaganda Eleitoral (arts 323 a 327; 330 a 332 e 334 a 337, todos do Código Eleitoral);

e) Crimes contra o Sigilo e o Exercício de Voto (arts. 295, 297 a 302, 307 a 309, 312, 317, 339, art. 5° da Lei n° 7021/82; arts. 129, parágrafo único e 135, § 5°, do Código Eleitoral);

f) Crimes contra os partidos políticos (arts. 319 a 321 e 338 do Código Eleitoral e art. 25 da Lei Complementar 64/90).

c) Crimes que merecem destaque:

i) Art. 289 – Inscrição Fraudulenta de Eleitor. Objetividade jurídica: veracidade dos registros pertinentes aos eleitores. É delito formal: consuma-se independentemente do deferimento da inscrição. A transferência fraudulenta (quando a pessoa nada tem a ver com a cidade), sendo modalidade de inscrição, configura o crime. TSE - “O pedido fraudulento de transferência compreende-se no tipo do art. 289 do CE”.

ii) Art. 290 – Induzir alguém a inscrever-se fraudulentamente (com infração a qualquer dispositivo do CE). É crime formal, consumando-se com o mero induzimento, independentemente do deferimento da inscrição, que é mero exaurimento.

iii) Art. 291 – Inscrição fraudulenta efetuada pelo juiz (crime próprio).

iv) Art. 299 – Corrupção Eleitoral (Pode ser ativa ou passiva) – Crime comum. A promessa deve ser a pessoa determinada. Promessas genéricas não constituem o crime. A promessa deve, ainda, vincular o voto. Distribuição de brindes (camisetas, canetas, etc.) não caracteriza o crime, via de regra, apesar de não constituírem gastos lícitos da campanha (Mônica: acho que essa distribuição é ilícita. O que diferencia é o dolo específico de corromper – ver com os colegas). Porém, em determinadas circunstâncias pode configurar, se exercer profunda influência no voto (art. 26, III, CE).

Atenção: Nova tipificação penal: A Lei 12.891/13 estabeleceu no artigo 100-A limites para contratação de cabos eleitorais, determinando no seu §5º que o descumprimento enseja em corrupção eleitoral, criando nova conduta que se amolda ao tipo incriminador. [§ 5o O descumprimento dos limites previstos nesta Lei sujeitará o candidato às penas previstas no

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art. 299 da Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)].

v) Art 41-A da Lei das Eleições vs. Art. 299 do CE (importante!): "A compra de votos por pré-candidato no ano de eleição para prefeito torna irrelevante o fato do denunciado já ter sido, ou não, escolhido como candidato em convenção partidária para efeito da tipificação do crime de corrupção eleitoral previsto no artigo 299 do Código Eleitoral." Inq 2197. Contudo, para a representação por captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da LE) o elemento normativo “candidato” é essencial ("constitui captação de sufrágio o candidato doar...").

Nesse sentido, JJ Gomes (2011, p. 495): "Claro está no texto do artigo 41-A da LE que a conduta só se torna juridicamente relevante se ocorrer no curso do processo eleitoral, isto é, entre a data designada para a formulação do pedido de registro de candidaturas (5 de julho do ano eleitoral) e as eleições. Com efeito, a captação é de "sufrágio", sendo realizada por "candidato" em relação a "eleitor".

“Ação penal (contra deputado federal) e esterilização cirúrgica irregular. Prevaleceu o voto do Min. Dias Toffoli, relator, que, de início, rejeitou tese defensiva no sentido da atipicidade da conduta prevista no crime de corrupção eleitoral (Código Eleitoral, art. 299) se perpetrada em data anterior ao registro oficial da candidatura ao pleito eletivo. Exigir a condição especial de ´candidato´ para a ocorrência dessa infração tornaria inócua a norma penal tipificadora do delito de corrupção eleitoral, de modo a possibilitar, antes do registro das candidaturas, toda sorte de irregularidades por parte dos pretendentes a cargos eletivos. (STF, Informativo nº 639).”

Conclusão: Só se aplica o art. 41-A à captação ilícita ocorrida após o requerimento de registro de candidatura apresentado à Justiça Eleitoral. Antes disso, a conduta poderá caracterizar o crime eleitoral previsto no art. 299, do CE, ou mesmo abuso do poder econômico. Não importa a data em que o requerimento de registro foi apreciado e deferido pela Justiça Eleitoral. Desde o requerimento da candidatura já se pode questionar a conduta como caracterizadora da infração administrativa do art. 41-A.

vi) Art. 300 – Coação Eleitoral: crime próprio – só o servidor público, membro ou funcionário da Justiça Eleitoral pode ser sujeito ativo. Ex. Anular o voto ou votar em branco, em razão de coação, caracteriza o crime.

vii) Art. 301 – Aliciamento violento de eleitores: Crime comum.

viii) Art.. 302 – Transporte irregular de eleitor: Exige-se o fim de embaraçar ou fraudar o voto. Obs.: Lei. 6091, art. 11, III - é mais aplicada quanto à condução irregular de eleitores. Não se pode transportar eleitor gratuitamente no dia anterior ou no dia da eleição. Jurisprudencialmente tem-se exigido o dolo específico da finalidade de aliciamento eleitoral.

ix) Art. 317 – Violação de urna: Crime comum. Resguarda a lei o sigilo do voto. Há previsão do tipo de “violar ou tentar violar”, do que se verifica uma quebra da regra ao art. 14 do CP que adota da teoria objetiva na punição da tentativa (enfoque na lesão do bem jurídico). Aqui também importa o elemento subjetivo (enfoque na intenção do agente),

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tendo-se adotado, neste caso a teoria objetivo-subjetivo. O mesmo ocorre nos delitos do art. 309 e 312.

x) Art. 339 – Destruição de urna : Crime comum.

xi) Art. 342 – Omissão do Ministério Público: crime próprio. Trata-se de omissão do promotor de justiça eleitoral na prática de dever funcional.

xii) Arts. 324 a 326 – Crimes contra a Honra: Injúria Calúnia ou Difamação. Exige-se o elemento subjetivo específico de influenciar ou incutir no leitorado uma impressão negativa do candidato. Mesmo que contra a honra, a ação penal é pública incondicionada. Art. 327: estabelece causas de aumento de pena (são as mesmas previstas no CP). Ressalta-se que somente será competência da Justiça Eleitoral se existir o dolo específico da finalidade eleitoral, do contrário será da Justiça comum.

Segundo Joel Cândido “Correspondem exatamente, a delitos iguais, com mesma objetividade jurídica, do Código Penal, no art. 138 e §1º, art. 139, ‘caput’ e art. 140, respectivamente. A pena privativa de liberdade também é a mesma. Em Direito Eleitoral não se pune a calúnia contra os mortos. Chama atenção, apenas, que o que caracteriza estes crimes como especiais é o componente eleitoral de seu tipo, consistente na expressão “...na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda...”, constantes de todos eles. Com o uso da palavra “propaganda”, por duas vezes, de modo diferente, o legislador indicou que eles podem ocorrer tanto no ano eleitoral, no período de propaganda lícita (das convenções às eleições), o que equivale a ser “na propaganda eleitoral”, como em anos e épocas não-eleitorais, na propaganda político partidária, o que equivale à expressão “visando a fins de propaganda”. Tudo o mais nesses delitos é igual a seus análogos do direito comum, inclusive no que concerne à exceção de verdade (...), ao perdão judicial (...) e às hipóteses especiais de aumento de pena...”

xiii) Arts. 348 a 356 – Crimes de falsidade: em regra, possuem correspondente com o CP, diferenciando-se em relação à finalidade.

xiv) Arts. 347 – desobediência e resistência eleitoral: Condutas vedadas pela lei eleitoral que não prevêem sanção. Ex. carro com som transitando em local ou horário proibido. Se configura quando a ordem é específica e dirigida a pessoas determinadas. A ordem obviamente que deve ser legítima e dada por autoridade competente.

xv) Art. 39, da Lei n° 9504/97: Crimes que são cometidos só no dia da eleição: comício, carreata, distribuição de propaganda eleitoral, uso de alto-falantes, dentre outras práticas.

Obs.: Segundo Suzana de Camargo Gomes (op.cit., pág. 152), “na atualidade, não constituem mais crimes as condutas antes descritas nos arts. 322, 328, 329 e 333 do Cód. Eleitoral, dado que na nova ordem vigente, tais comportamentos podem caracterizar, tão-somente, infrações de natureza administrativa. É que a Lei n° 9.504/97, expressamente em seu art. 107, revogou esses dispositivos do Código Eleitoral, pelo que, nesse particular, ocorreu a abolitio criminis, restando somente aplicáveis as penalidades administrativas previstas nesse mesmo diploma legal. Desta forma, o delito que era tipificado no art. 322

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do CE e que consistia na conduta de fazer propaganda eleitoral por meio de alto-falantes nas sedes partidárias, em qualquer outra dependência do partido ou em veículos fora do período autorizado ou, nesse período, em horários não autorizados, passou a ser disciplinado no art. 39 da Lei n° 9504/97, sendo que somente será considerado delito se ocorrer a utilização no dia da eleição”.

xvi) Art. 57-H, §1º, da Lei 9504/97: Nova tipificação penal criada pela Lei 12.891/13. § 1o Constitui crime a contratação direta ou indireta de grupo de pessoas com a finalidade específica de emitir mensagens ou comentários na internet para ofender a honra ou denegrir a imagem de candidato, partido ou coligação, punível com detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013).

xvii) Art. 57-H, §1º, da Lei 9504/97: Nova tipificação penal criada pela Lei 12.891/13. § 2o Igualmente incorrem em crime, punível com detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, com alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), as pessoas contratadas na forma do § 1o. (Incluído pela Lei nº 12.891, de 2013)

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Ponto 9.c. Ação penal. Propositura. Titularidade. Processo e julgamento. Recursos.

Principais obras consultadas: Santo graal 27º. Ênfase 2013. Roberto Almeida 2013..

Legislação básica: CR/88 (art. 102). Código Eleitoral (a partir do art. 355).

I. Ação Penal: Todos os crimes eleitorais são de ação penal pública incondicionada (art. 355 do CE). Assim, qualquer pessoa que tomar conhecimento da prática de crime eleitoral, poderá, verbalmente ou por escrito, comunicar o fato ao Juiz Eleitoral local, o qual remeterá a notícia-crime ao Ministério Público ou, se entender necessário, à polícia judiciária eleitoral, requisitando a instauração de inquérito policial ou, se o crime for de menor potencial ofensivo, de termo circunstanciado de ocorrência (art. 356 do CE).

Importante destacar que se admite, no âmbito doutrinário e jurisprudencial, a ação penal privada subsidiária da pública, nos casos de inércia do MPE.

Princípios: 1) obrigatoriedade: estando presentes os requisitos, o MPe é obrigado a propor a ação penal pública. OBS: é possível transação penal por prática de crime eleitoral? Sim, mesmo não havendo previsão de juizado especial criminal no âmbito da Justiça Eleitoral, se o acusado preencher os requisitos da Lei 9.099/95 deverá ser concedido a ele os benefícios da transação penal e da suspensão condicional do processo. 2) indisponibilidade: também chamda de indesistibilidade, pois, uma vez iniciada a ação penal o MPD dela não poderá desistir. 3) indivisibilidade: a ação penal deve ser proposta em face de todos os infratores. Se algum infrator não for, por algum motivo, processado, caberá o aditamento da denuncia a qualquer tempo. 4) oficialidade: a persecução penal de crime eleitoral é feita por órgãos oficiais: MPE, polícia federal e juiz eleitoral.

II. Propositura. Titularidade: A ação penal eleitoral, em sintonia com o sistema estabelecido pela CR/88, por se tratarem de ações penais públicas incondicionadas, é, em princípio, em razão do princípio da Oficialidade da ação penal, atividade privativa do Ministério Público (art. 129, I, CR/88, e art. 6º, V, LC 75/93). Entretanto, abre-se a possibilidade de propositura a qualquer pessoa, em razão da possibilidade de ação penal subsidiária da pública em caso de inércia do MPR.

A denuncia deve ser apresentada em 10 dias, estando o réu preso ou solto (artigo 357, §3º e 4º, CE). Na inércia do MPE cabe queixa-crime em ação penal subsidiária da pública.

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III. Processo e julgamento: O procedimento processual penal eleitoral está disciplinado no próprio Código Eleitoral (arts. 357 a 368), mas a ele se aplica, subsidiariamente o Código de Processo Penal.

Verificada a infração penal, o Ministério Público Eleitoral oferecerá a denúncia dentro do prazo de dez dias ou requererá o arquivamento da comunicação. Os requisitos gerais da ação penal eleitoral foram estabelecidos, genericamente, no art. 357, §2º do Código Eleitoral: “a denúncia conterá a exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”.

Se a denuncia não for recebida cabe RESE.

Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para o depoimento pessoal do acusado, ordenando a citação deste e notificação do Ministério Público. O réu terá o prazo de dez dias para oferecer alegações escritas e arrolar testemunhas. Realizada a instrução do processo, abrir-se-á o prazo de cinco dias a cada uma das partes – acusação e defesa – para alegações finais. Decorrido este prazo e conclusos o os autos para o juiz, dentro de quarenta e oito horas, terá o mesmo prazo de dez dias para proferir a sentença.

Das decisões finais de condenação ou absolvição, cabe recurso ao TRE, a ser interposto no prazo de dez dias (apelação).

Atenção: o rito acima é de antes da reforma do CPP!!! Penso que isso está ultrapassado. O livro não fala nada. Tem que pesquisar mais.

OBS: Prevalece hoje o entendimento no sentido da aplicação da transação penal aos crimes eleitorais com pena máxima de dois anos, bem como da possibilidade de aplicação da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95), mantida a competência da Justiça Eleitoral.

IV. Recursos:

ASPECTOS GERAIS:

Recurso ≠ Impugnação ≠ representação: Os recursos, entendidos como meios de impugnação de decisões judiciais, voluntários, internos à relação jurídica processual em que se forma o ato judicial atacado, aptos a obter deste a anulação, a reforma ou o aprimoramento, evitando-se a preclusão ou a coisa julgada, distinguem-se das impugnações, por estas serem manifestações da irresignação fora do contencioso eleitoral, antes ou depois de tomada uma decisão, exaurindo-se no instante em que é apresentada, diversamente do que ocorre com os recursos. Por sua vez, a representação, no processo eleitoral, aproxima-se da correição parcial, na Justiça Comum, e pode ser usada para colmatar omissões injustificadas de juízes e tribunais, ou quando do ato, da resolução ou do despacho não couber recurso algum, como ressuma de diversas prescrições constantes do

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CE, destacando-se, dentre elas, as regras substanciadas nos seus arts. 22, I, i, 29, I, g e 121 (Tito Costa).

Pressupostos: A respeito dos seus pressupostos, quanto ao cabimento, vige o princípio da taxatividade, podendo ser interpostos os recursos que têm previsão na CF/88, no Código Eleitoral (CE) e na legislação eleitoral extravagante (v.g LC 64/90), aplicando-se subsidiariamente o CPC e o CPP. Além do mais, a decisão tem que ser recorrível [As decisões interlocutórias proferidas pela Justiça Eleitoral são irrecorríveis. As decisões do TSE também são irrecorríveis, salvo se contrariar a CF (cabe RE) ou se denegarem MS ou HC julgados em única instância (cabe ROC)]; quanto à legitimidade recursal predomina que se restringe ao candidato, coligação, partidos políticos e MP (TSE), excluído o eleitor, nada obstante exista doutrina em sentido contrário; quanto a tempestividade a regra é 3 dias, salvo disposição em contrário (art. 258, CE) [Atenção: Não há prazo diferenciado para o MPE. Porém, a defensoria pública tem prazo em dobro]; e quanto ao preparo há isenção, nos termos do art. 373 do CE [Não há pagamento de custas e honorários advocatícios na Justiça Eleitoral].

Efeitos: Na Justiça Eleitoral a regra é que os recursos eleitorais não têm efeito suspensivo. Porém, a parte poderá requerer, através de medida cautelar inominada, a concessão de efeito suspensivo, a fim de impedir a ocorrência de dano grave e de difícil reparação (art. 257, CE). Quando recebido apenas em seu efeito devolutivo, a parte vencedora pode executar provisoriamente a decisão. Atenção: existe um recurso eleitoral que possui efeito devolutivo e suspensivo. Trata-se da apelação criminal ou recurso eleitoral criminal. Atenção: Quando a AIJE é julgada procedente por juiz eleitoral, o recurso obsta os efeitos da inelegibilidade, suspensão do registro ou nulidade do diploma (art. 15, LC 64/90).

Quanto ao efeito preclusivo, vale salientar que, embora ocorra preclusão das matérias não impugnadas, o efeito preclusivo não incide sobre matérias constitucionais, as quais poderão ser objeto de novo recurso, em momento posterior (art. 259, CE).

É permitido o efeito extensivo, pois se apenas um dos litigantes interpuser o recurso o resultado poderá beneficiar os litisconsortes.

O efeito regressivo é cabível no recurso inominado e no recurso em sentido estrito, pois cabe o juízo de retratação em ambos.

O efeito translativo ocorre quando o juízo ad quem puder examinar questões não suscitadas nas razões recursais, ou mesmo não apreciadas pelo juízo a quo. Ex: questões de ordem pública, como condições da ação e pressupostos processuais. Ex 2: no processo penal eleitoral o recurso eleitoral criminal (apelação criminal), além do efeito devolutivo e suspensivo, também possui o efeito translativo quando interposta pelo réu, pois o TRE pode apreciar qualquer matéria em favor do apelante, mesmo que não formulada na sua peça recursal (pois a liberdade de ir e vir é um direito indisponível).

O efeito substitutivo ocorre, pois o acórdão do TRE substitui e prevalece sobre a sentença do juiz eleitoral.

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Princípios: os mesmos do CPC.

Desistência do recurso: MP: vedado pelo princípio da indisponibilidade. Parte: em regra, pode desistir do recurso e não precisa da anuência da parte ex adversa. Porém, se o recurso eleitoral abordar matéria de interesse público, a parte recorrente não poderá desistir do recurso. Isso é uma peculiaridade única do processo eleitoral [há vários precedentes do TSE nesse sentido].

Classificação: 1) Quanto ao objeto tutelado: a) Recursos ordinários ou normais: visam a reapreciação da decisão. Basta a sucumbência para serem admitidos; b) Recursos extraordinários e especiais: além da sucumbência, exigem outros pressupostos especiais para sua admissibilidade. 2) Quanto ao fim pretendido: a) Reforma; b) Invalidação; c) Esclarecimento ou integração. 3) Quanto à extensão da matéria: a) Parcial: apenas a matéria impugnada será apreciada. As outras estão preclusas [exceto se for matéria constitucional]; b) Total. 4) Quanto à fundamentação: a) Recurso de fundamentação livre: todo e qualquer fundamento pode ser utilizado; b) Recurso de fundamentação vinculada: o recurso somente é admitido se a fundamentação exigida em lei for demonstrada. Ex: em um embargo de declaração é obrigatório demonstrar o fundamento que e a omissão, obscuridade ou contradição. 5) Quanto à fonte: a) Constitucionais; b) Legais; c) Regimentais.

RECURSOS CONTRA DECISÕES DOS JUÍZES ELEITORAIS.

São quatro recursos cabíveis:

1) Apelação criminal ou Recurso eleitoral criminal (REC): Art. 262, CE. Julgada pelo TER. Prazo: 10 dias a partir da publicação da decisão. Legitimidade: Candidato, eleitor, não-eleitor (com o objetivo de mudar a fundamentação) ou MPE (independente se atuou como parte ou como custos legis). OBS: no caso de competência originária do TRE não cabe REC para o TSE. Caberá REsp ou HC, apenas. Efeitos: devolutivo, suspensivo e, se interposto pelo réu, translativo. OBS: se o réu estiver preso, a decisão absolutória somente terá efeito devolutivo, devendo o réu ser solto imediatamente.

2) RESE: Art. 364, CPP. Deve ser interposto mediante petição para o juiz de 1º grau, mas com razões dirigidas ao TRE. Julgado pelo TRE. Hipóteses: artigo 581, CPP. Efeitos: devolutivo, mas permite o juízo de retratação (efeito regressivo). Prazo: 3 dias [Atenção: prevalece o prazo de 3 dias previsto no 258, CE sobre o prazo de 5 dias previsto no CPP. Cuidado, pois em prova eles colocam o prazo do CPP e está errado]. Contrarrazões em 3 dias. OBS: o RESE não será encaminhado para o TRE se houver retratação da decisão.

3) Recurso eleitoral inominado: Art. 265, CE. Julgado pelo TRE. Cabimento: É cabível o recurso eleitoral inominado contra todos os atos, resoluções e despachos de juízes eleitorais ou juntas eleitorais, desde que não relativos a matéria criminal e desde que não haja recurso específico. Ex: contra despacho de juiz eleitoral que deferir ou indeferir inscrição eleitoral, decisão que indeferir ou deferir a transferência eleitoral, decisão que acolher impedimento de mesário etc. Efeitos: devolutivo. Prazo: 3 dias.

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4) Embargos de declaração: É julgado pelo próprio juiz eleitoral. Prazo: 3 dias.

OBS: Agravo de instrumento: Predomina o entendimento jurisprudencial de não ser cabível o recurso de agravo contra decisão interlocutória no processo eleitoral, em que pese a crítica da doutrina (Tito Costa). Registre-se alguns poucos precedentes do TSE no sentido de admitir a interposição do agravo na modalidade retida.

RECURSO CONTRA A DECISÃO DAS JUNTAS ELEITORAIS:

São quatro recursos cabíveis:

1) Recurso Parcial: É cabível contra decisão de Junta eleitoral (ou de TRE) sobre matéria concernente à contagem e apuração de votos (está em desuso, pois hoje o sistema é eletrônico). Legitimidade: Candidato, partido político, ocligação, delegado ou fiscal de partido ou de coligação. Prazo: deve ser interposto de imediato. Forma: pode ser interposto verbalmente ou por escrito, porém, as razões recursais devem ser interpostas por escrito.

2) Recurso inominado: igual para decisão de juiz eleitoral.

3) Recurso contra a diplomação (RCD): é ação e não um recurso. Será estudado junto com as ações.

4) Embargos de declaração: igual para decisão de juiz eleitoral.

RECURSOS CONTRA DECISÕES NOS TER:

São nove recursos cabíveis:

1) Recuso Parcial: É dirigido ao TSE. Mesmas regras acima.

2) Recurso contra diplomação (RCD): é ação e não um recurso. Será estudado junto com as ações.

3) Recurso inominado eleitoral: Art. 264, CE. É oponível contra atos, resoluções ou despachos do presidente do TRE, quando não cabível recurso específico.

4) Embargos de declaração:. Cabimento: Apesar de previstos pelo CE apenas contra acórdãos (art. 275, CE), à semelhança do que ocorre no processo civil e penal, admite-se a oposição de embargos também contra decisão interlocutória monocrática e sentença. No primeiro caso, há jurisprudência que entende pelo recebimento dos embargos como agravo regimental. Não é cabível em sede de consulta (TSE). Cabível em hipóteses de obscuridade, contradição, dúvida e omissão. Não é admitido quando houver simples dúvida de interpretação do julgado, tendo em vista seu caráter estritamente subjetivo [TSE RO 912/06] Prazo: O prazo, em regra, é de 3 dias, tendo a lei 12.034/09 expressamente

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consignado esse prazo nas representações (rectius: ações) previstas na lei 9.504/97, superando, portanto, antiga jurisprudência do TSE que entendia pelo prazo de 24 h, com fundamento no artigo 96 da Lei das Eleições (Atenção: o prazo de 3 dias na 9.504 é só nas representações do 41-A, por isso aplicam o prazo de 24 horas no caso das representações do art. 96). Efeitos: Apesar de o art. 275, § 4º, CE, textualmente prescrever que “os embargos de declaração suspendem o prazo para a interposição de outros recursos, salvo se manifestamente protelatórios e assim declarados na decisão que os rejeitar”, a jurisprudência do TSE assevera que ocorre interrupção do prazo, salvo se manifestamente protelatórios.

5) Revisão criminal: Não é recurso. É ação rescisória no âmbito criminal direcionada ao próprio TRE, que pode ser utilizada a qualquer tempo, com exclusividade em favor da defesa. Será estudo junto com as ações.

6) Agravo regimental ou Agravo interno: É para o próprio TRE. Previsto no regimento interno. Prazo: 3 dias (se for direito de resposta é de 24 horas). Cabimento: seve para agravar decisão monocrática de membro do TRE. O mérito é julgado pelo pleno.

7) Agravo de instrumento eleitoral ou Agravo: Cabimento: é cabível sempre que o presidente do TRE negar seguimento ao REspE ou quando o presidente do TSE negar seguimento ao RE. Efeito: devolutivo. É possível obter o efeito suspensivo na instância superior mediante o uso de ação cautelar inominada nos casos de lesão grave e difícil reparação. Prazo: 3 dias, contados da intimação da denegatória de seguimento (ou 24 horas se for direito de resposta ou representação por propaganda irregular). Igual prazo para as contrarrazões. Atenção: em nenhuma hipótese, o presidente do TRE ou TSE poderá negar seguimento a agravo, mesmo que ele tenha sido interposto fora do prazo legal.

8) Recurso ordinário eleitoral (ROE): Cabimento: Cabível contra acórdão do TRE que (i) versa sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; (ii) anula diploma ou decreta a perda de mandato eletivo federal ou estadual; (iii) denega habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção (art. 121, § 4º, inc. III a V, CF c.c art. 276, II, CE); (iv) infidelidade partidária (Resolução TSE 22.610), (v) Prestação de contas partidárias (Lei 9.504/97, art. 37). Atenção: não cabe ROE contra matéria estritamente administrativa (REspe 21.587/MA). Prazo: O prazo é de 3 dias. Efeito: meramente devolutivo. Porém, é possível obter o efeito suspensivo por meio de cautelar inominada perante o TSE. OBS: Não há juízo de admissibilidade, apenas o oferecimento de razões e contrarrazões, devendo o recurso subir em seguida. Igualmente aplicável o disposto no art. 270, CE, que dispõe: “se o recurso versar sobre coação, fraude, uso de meios de que trata o art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei dependente de prova indicada pelas partes ao interpô-lo ou ao impugná-lo, o Relator no Tribunal Regional deferi-la-á em vinte e quatro horas da conclusão, realizando-se ele no prazo improrrogável de cinco dias”. OBS: Não exige o pré-questionamento. OBS: como é recurso ordinário, a parte recorrente poderá fundamentá-lo em fatos e, se quiser, fazer juntar documentos novos, para reexame fático probatório pelo TSE.

9) Recurso especial eleitoral (REspE): Cabimento: Cabível contra acórdão de TRE que (i)

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contraria disposição expressa da CF ou lei federal; e (ii) diverge (dissídio pretoriano) na interpretação de lei com outro(s) tribunal(is) eleitoral(is) (art. 121, § 4º, I e II CF c.c art. 276, I, CE). Prazo: O prazo é de 3 dias (se for direito de resposta ou propaganda eleitoral irregular é de 24 horas). Após o oferecimento de razões e contrarrazões, ocorre o juízo de admissibilidade em 48 horas, uma vez admitido, abre-se 3 dias para as contrarrazões. Requisitos: o REspE tem que preencher dois requisitos (o RE contra decisão do TSE também tem que preencher esses mesmos requisitos): pré-questionamento e não rediscutir ou reexaminar matéria fático probatória. Efeito: meramente devolutivo (pode ser concedido efeito suspensivo mediante manejo de ação cautelar inominada para tal fim). Se negado seguimento ao REspE, cabe agravo para o TSE no prazo de 3 dias.

4. RECURSOS CONTRA DECISÕES DO TSE:

Cabem sete recursos contra decisões do TSE:

1) Recurso inominado eleitoral: Art. 264, CE. É oponível contra atos, resoluções ou despachos do presidente do TSE, quando não cabível recurso específico.

2) Agravo de instrumento ou agravo: Cabimento: serve para fazer subir para o STF o RE que teve seu seguimento negado pelo presidente do TSE. Prazo: 3 dias. OBS: Com a nova redação do art. 544, CPC (alterado pela lei 12.322/10), agora, o processamento do agravo é realizado nos mesmos autos, não se formando instrumento, o que é inteiramente aplicável ao processo eleitoral (TSE).

3) Embargos de declaração:

4) Agravo regimental ou Agravo interno: É para o próprio TSE. Previsto no regimento interno. Prazo: 3 dias (se for direito de resposta é de 24 horas). Cabimento: seve para agravar decisão monocrática de membro do TSE, levando a decisão impugnada ao Colegiado. O mérito é julgado pelo pleno.

5) Revisão criminal: Não é recurso. Será estudado junto com as ações.

6) Recurso ordinário constitucional (ROC): Cabimento: É cabível em decisões de única instância que denegar HC, MS, HD ou MI. Efeito: meramente devolutivo. É possível ao STF atribuir efeito suspensivo. Prazo: 3 dias. OBS: Pode reexaminar fatos e provas.

7) Recuso extraordinário (RE): Cabimento: Cabível nas hipóteses do art. 102, III, a, b, c e d, CF . O prazo é de 3 dias, conforme súmula 728, STF. Não é cabível contra acórdão dos TRE’s. É o que se extrai do disposto no art. 121, caput, e seu § 4º, I, da CF de 1988, e nos arts. 22, II, e 276, I e II, do CE (STF). Jurisprudência: CF/88, art. 102, II, a, e III: cabimento de recurso ordinário e extraordinário; e art. 121, § 3º: irrecorribilidade das decisões do TSE. Após o oferecimento de razões, ocorre o juízo de admissibilidade, de forma idêntica aos recursos extraordinários não eleitorais. Prazo: 3 dias [Súmula STF nº 728/2003: "É de três dias o prazo para a interposição de recurso extraordinário contra

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decisão do Tribunal Superior Eleitoral, contado, quando for o caso, a partir da publicação do acórdão, na própria sessão de julgamento, nos termos do art. 12 da Lei nº 6.055/1974, que não foi revogado pela Lei nº 8.950/1994]. Efeito: meramente devolutivo. Cabe medida cautelar inominada em busca do efeito suspensivo. Requisitos: tem que preencher dois requisitos: pré-questionamento e não rediscutir ou reexaminar matéria fático probatória. OBS: Exige repercussão geral das questões constitucionais.

Observações finais:

(1) Lei 9.096/95, artigo 37, § 4º: Da decisão que desaprovar total ou parcialmente a prestação de contas dos órgãos partidários caberá recurso para os Tribunais Regionais Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme o caso, o qual deverá ser recebido com efeito suspensivo.

(2) § 5º. As prestações de contas desaprovadas pelos Tribunais Regionais e pelo Tribunal Superior poderão ser revistas para fins de aplicação proporcional da sanção aplicada, mediante requerimento ofertado nos autos da prestação de contas.

(3) Lei 9.096/95, artigo 45, § 5º. Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais que julgarem procedente representação (por propaganda partidária irregular), cassando o direito de transmissão de propaganda partidária, caberá recurso para o Tribunal Superior Eleitoral, que será recebido com efeito suspensivo.

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Ponto 10.a. A função eleitoral do Ministério Público Federal. Procuradoria Regional Eleitoral. Ministério Público Estadual.

Principais Obras consultadas: Santo Graal 27º. José Jairo Gomes. Direito eleitoral. 7ª Ed., 2011, Editora Atlas; Roberto Moreira de Almeida. Curso de direito eleitoral. 5ª Ed., 2011, Editora Juspodivm; Vera Maria Nunes Michels. Direito eleitoral. 5ª Ed., 2006, Editora Livraria do Advogado; Joel J. Cândido. Direito eleitoral brasileiro. 10ª Ed., 2003, Editora Edipro; Fávila Ribeiro. Direito eleitoral. 5ª Ed., 1998, Editora Forense; Adaptação do Resumo do 26º MPF

1. A função eleitoral do Ministério Público Federal: A CF/88, ao contrário da CF/34 (art. 98) e da CF/46 (art. 125), não contém dispositivo expresso que contemple um Ministério Público Eleitoral, próprio, com carreira específica, com quadro institucional distinto. Todavia, conforme explica Fávila Ribeiro, a omissão, absolutamente, não coloca em dúvida a existência do Ministério Público Eleitoral, nem é de molde a suscitar questionamento sobre o seu caráter federal, porquanto a total responsabilidade pelas atividades eleitorais vem encaixada na exclusiva esfera da União Federal (p. 169).

Na medida em que o Ministério Público recebeu do legislador constitucional a missão de velar por valores fundamentais, torna-se imprescindível a existência de um Ministério Público Eleitoral, representando a sociedade e defendendo a ordem jurídica. Ademais, a presença do órgão do Ministério Público onde houver exercício de atividade jurisdicional é indispensável, em razão dos interesses públicos polarizados nas duas instituições (Michels, p. 61).

A previsão de funcionamento do Ministério Público Eleitoral encontra-se disciplinada preponderantemente na Lei Complementar n. 75/93 e residualmente no Código Eleitoral. Um dos princípios que norteiam a função eleitoral do Ministério Público é o da federalização, previsto no art. 37, I e art. 72 da LOMPU, significa que pertence ao Ministério Público Federal, a princípio, a atribuição de oficiar junto à Justiça Eleitoral, em todas as fases do processo eleitoral. (Cândido, p. 54).

Dessa forma, “compete ao Ministério Público Federal exercer, no que couber, junto à Justiça Eleitoral, as funções do Ministério Público, atuando em todas as fases e instâncias do processo eleitoral.” (art. 72, LOMPU).

Princípio da delegação: Ocorre que, ante a desproporção entre a quantidade de zonas eleitorais no Sistema Eleitoral Brasileiro e a quantidade de membros do Ministério Público Federal, torna-se impossível o pleno cumprimento do princípio da federalização, motivo pelo qual surge o princípio da delegação (art. 78 da LC n. 75/93), de acordo com o qual se delega aos membros dos Ministérios Públicos Estaduais (promotores de justiça) a atribuição de oficiar junto aos juízos eleitorais de primeira instância e juntas eleitorais [são indicados pelo Procurador Geral de Justiça e nomeados pelo Procurador Regional Eleitoral]. Esse principio não é aplicado no âmbito do TSE e TRE, pois nos tribunais o

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MPF atua com exclusividade (TSE, TRE’s).

O Procurador-Geral Eleitoral (PGE) é o Procurador-Geral da República (art. 73 da LOMPU), o qual designará, para atuar como vice-Procurador-Geral Eleitoral, um dentre os Subprocuradores-Gerais da República, com a função de substituí-lo em seus impedimentos e exercer o cargo em caso de vacância, até o provimento definitivo. O PGE atuará nas causas de competência do TSE, podendo designar, por necessidade de serviço, e desde que haja sua aprovação, membros do MPF para oficiarem perante o TSE, além do vice-PGE. O artigo 24 do Código Eleitoral traz um rol de atribuições do PGE, enquanto chefe do Ministério Público Eleitoral.

2. Procuradoria Regional Eleitoral: Os Procuradores Regionais Eleitorais (PRE’s) e respectivos substitutos, ao seu turno, são escolhidos pelo PGR dentre os Procuradores Regionais da República, quando o Estado for sede de Tribunal Regional Federal, ou de um Procurador da República vitalício.

A designação ocorre para um mandato de dois anos, podendo ser reconduzido uma vez e destituído, antes do término do mandato, por iniciativa do Procurador-Geral Eleitoral, anuindo a maioria absoluta do Conselho Superior do Ministério Público Federal (arts. 75 e 76 da LOMPU).

O caráter temporário dos mandatos guarda simetria com o regramento constitucional dos juízes que integram os TRE’s. O art. 27, § 3º c/c art. 357, § 1º, ambos do Código Eleitoral, estabelecem que o PRE, no âmbito do Estado em que oficiar, exercerá atribuições semelhantes às que são cometidas ao PGE.

Da mesma forma que o PGE tem a atribuição de transmitir instruções aos PRE’s, a fim de que haja uniformidade na atuação e na adoção de providências para a fiel observância da lei eleitoral, os PRE’s cumprem o mesmo papel quanto aos Promotores Eleitorais. Assim, nesse particular, os Promotores Eleitorais encontram-se funcionalmente (não administrativamente!) subordinados a ele, e não ao Procurador-Geral de Justiça (Gomes, p. 78).

É oportuno lembrar, ainda, que em se tratando de designação de membros do Ministério Público para atuar perante a primeira e segunda instâncias da Justiça Eleitoral, não há falar no Princípio da Inamovibilidade (CF, art. 128, § 5º, b). Trata-se de função, e não de cargo. A designação funda-se, exclusivamente, na confiança do chefe da Instituição respectiva, podendo ocorrer dispensa imotivada. Todavia, é de se elogiar a parte final do art. 76, § 2º, da LC nº 75/1993, e recomendar às leis orgânicas estaduais a adoção de disposição igual, a fim de melhor preservar os supremos interesses da Instituição (Cândido, p. 63).

Caso haja eventual ato constritivo da liberdade imputado ao PRE, a competência para apreciação do HC será do TSE, por interpretação analógica do art. 105, I, ‘a’ e ‘c’, da CF, em face da simetria entre os órgãos judiciários (TSE, HC nº 545).

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3. Ministério Público Estadual: Em razão do princípio da delegação, os membros do Ministério Público Estadual terão a atribuição de oficiar perante os juízes e juntas eleitorais, primeira instância da Justiça Eleitoral. O Promotor Eleitoral é um Promotor de Justiça que cumula a função federal eleitoral. Essa atuação é permanente, engloba todas as fases do processo eleitoral e é exclusiva dessas instituições.

A escolha dos membros dos Ministérios Públicos Estaduais que atuarão como promotor eleitoral foi regulamentada pelo Conselho Nacional do Ministério Público por meio da Resolução nº 30 de 2008.

Verifica-se a que a escolha do Promotor Eleitoral é um ato complexo, pois a designação do Promotor Eleitoral é feita pelo Procurador Regional Eleitoral, com base em indicação do Chefe do Ministério Público local. Em sentido diverso, José Jairo Gomes entende que o ato de designação tem natureza de ato administrativo simples, pois resultante da vontade de um único órgão, qual seja, do PRE, o qual poderá, inclusive, deixar de designar o Promotor Eleitoral indicado pelo PGJ, desde que haja motivos razoáveis (p. 80).

Por meio desta Resolução determina-se, igualmente, a realização de um rodízio entre os Promotores para exercer a função eleitoral, sendo a designação feita pelo prazo ininterrupto de dois anos, admitindo-se a recondução apenas quando houver um único membro na circunscrição da zona eleitoral [caso em que o exercício da função eleitoral será por prazo indeterminado].

Além dos arts. 78 e 79 da LOMPU, a Lei nº 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) dispõe sobre a questão no artigo 32, III – elenca que se inclui na esfera de atribuições dos Promotores de Justiça oficiar perante a Justiça Eleitoral de 1ª instância.

Já o artigo 10, IX, h, da Lei nº 8.625/1993, ao prever a competência do Procurador-Geral da Justiça para a designação de Promotor visando oficiar junto ao PRE, quanto por este solicitado, conflita com as disposições dos artigos 77, parágrafo único e 79, ambos da LOMPU, eis que tais dispositivos registram a possibilidade de designação, por necessidade de serviço, de membros do MPF, e não do Parquet Estadual.

Embora não haja previsão normativa quanto à destituição do Promotor Eleitoral, em razão da lógica do sistema, o PRE poderá destituir o representante do ministério público eleitoral antes de expirar o biênio, desde que haja ato fundamentado pautado no estrito interesse do serviço eleitoral (Gomes, p. 80).

Questão de prova:

Quem exercia a função de Procurador Eleitoral nos TREs? Por quanto tempo? Se o PGE tinha algum impedimento, algum motivo para ser afastado da função. Se o PGR podia ser destituído do cargo.

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Ponto 10.b. A atuação do Ministério Público Eleitoral junto à Justiça Eleitoral. Fiscalização, processos, ações e recursos. Legitimidade.

Principais Obras consultadas: idem a 10.a.

1 . Atuação do Ministério Público Eleitoral junto à Justiça Eleitoral: Como defensor da ordem jurídica e do regime democrático, o MP possui ampla atuação na JE em todos os graus de jurisdição e em todas as fases do processo eleitoral – alistamento eleitoral, preparatória, de eleição, de apuração ou escrutínio e de diplomação e posteriormente a essa fase, na fase de aprovação de contas de campanha.

A natureza dessas lides e a qualidade das partes nelas envolvidas justificam, de per si, a presença e a atuação efetivas do Ministério Público em todo o processo eleitoral (CPC, arts. 82, 83 e 499, § 2º). Não existe, em Direito Eleitoral, ato algum – quer de jurisdição voluntária, quer da jurisdição contenciosa – que não seja de Direito Público, não se admitindo, por conseguinte, seja ele realizado longe do alcance processual do Ministério Público (Cândido, p. 61).

Quando não atuar como parte, oficiará como custos legis, com a mesma legitimidade assegurada aos partidos políticos, coligações e candidatos. Perante o TSE, oficia o Procurador-Geral Eleitoral e o Vice-PGE; no TRE, oficia o Procurador Regional Eleitoral; na primeira instância, oficiam os membros do parquet estadual.

2. Fiscalização, processos, ações e recursos: Todos os feitos concernentes ao processo eleitoral são submetidos à apreciação do parquet, no desempenho das funções consultiva, instrutiva, administrativa e contenciosa da JE.

Fiscaliza o pleito na fase pré-eleitoral, nas propagandas, no dia da eleição, além de verificar a prestação de contas dos candidatos.

O art. 24 do Código Eleitoral já enseja uma variada gama de intervenção do Ministério Público Eleitoral, em processos eleitorais. Exemplos dessas atribuições, junto ao primeiro grau de jurisdição, podem ser enumerados tendo-se como ponto de partida o período em que eles poderão surgir, a saber:

1) Em época sem eleição: A atuação do MPE é reduzida, mas não menos importante. Deve, ordinariamente, o Promotor Eleitoral, na primeira instância, entre outras funções:

Acompanhar os pedidos de alistamento de eleitores e os pedidos de transferência de títulos, bem como os cancelamentos de inscrição, obtendo ou pedindo vista dos processos que apresentarem alguma particularidade, principalmente em casos do art. 45, § 2º, do Código

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Eleitoral, requerendo, representando, recorrendo e contra-arrazoando, se for o caso (art. 45, § 7º, do CE), tudo como se assegura aos partidos políticos (arts. 57, § 2º; 66 e seus incisos e no art. 71, § 1º, do CE).

Instaurar e acompanhar todos os processos de aplicação de multas eleitorais promovendo as respectivas execuções. [consoante entendimento do TSE é a PFN quem executa as multas eleitorais]

Acompanhar a fiscalização da Justiça Eleitoral de primeira instância na escrituração contábil e na prestação de contas dos partidos e das campanhas eleitorais, requerendo o que entender de direito (art. 34, caput, da Lei nº 9.096/1995).

Velar pela correta observância e aplicação da lei eleitoral, tomando as providências necessárias nos casos de transgressão.

Exercer todas as atribuições previstas para a instauração e andamento das ações penais eleitorais, inclusive da legislação criminal eleitoral extravagante, desde o recebimento de eventual notícia-crime, representação ou peças informativas, diretamente ou através do Juiz Eleitoral, até a execução das respectivas sentenças e acórdãos (art. 356, §§ 1º e 2º e art. 363, parágrafo único, do CE).

Acompanhar, juntamente com o Ministério Público incumbido da Execução penal comum, as execuções relativas aos processos criminais eleitorais, aplicando o art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 7.210, de 11.7.1984 (Lei de Execução Penal) e art. 38, VII, da LMPU.

Proceder o exame a que se refere o art. 35, parágrafo único, da Lei nº 9.096/1995, quando a prestação de contas ocorrer perante os juízes eleitorais.

Requerer, no juízo eleitoral, a suspensão dos direitos políticos, principalmente em decorrência da condenação criminal definitiva, promovendo a sua execução e restauração.

2) Em época de eleição: [e de eleição municipal já que os exemplos se referem à atividade do Ministério Público na primeira instância] além desse elenco normal de atividades, já enumeradas, que também ocorre em ano de eleição, acrescenta-se mais o seguinte quadro exemplificativo de atribuições próprias dos Promotores Eleitorais:

Na fase Preparatória do Pleito:

Opinar, em vista que lhe deve ser pessoalmente concedida – e se não for deve ser requerida – em todos os processos de pedidos de registro de candidaturas de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, haja ou não impugnação de terceiros, atuando como fiscal da lei eleitoral, podendo, inclusive, requerer diligências imprescindíveis antes da análise de mérito.

Impugnar pedido de registro de candidatura, na forma do art. 3º e seguintes da Lei das Inelegibilidades, atuando como parte e, quando não o for, como custos legis.

Fiscalizar amplamente o exercício do direito de propaganda dos partidos políticos, zelando pelo cumprimento da lei eleitoral e providenciando contra as irregularidades e seus autores

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as medidas necessárias (CE, art. 245, º 3º). Ingressar com o pedido de Investigação Judicial Eleitoral, quando for o caso, na forma do art. 19 e seguintes da Lei Complementar nº 64/1990.

Acompanhar o processo de nomeação de mesários, escrutinadores e auxiliares, oficiando nos pedidos de dispensa e recusa dos serviços eleitorais (arts. 39 e 120, § 4º, do CE), exercendo direito de impugnação motivada, na forma dos arts. 36, § 2º e 121, caput, do Código Eleitoral.

Acompanhar a nomeação dos membros das Juntas Eleitorais, exercendo o direito de representar à Procuradoria Regional Eleitoral, sempre que for caso de impugnação dos nomeados (art. 36, §§ 1º e 2º, do CE).

Zelar pela boa execução dos demais atos preparatórios do pleito, mormente os relativos às seções eleitorais, mesas receptoras e suas localizações (CE, art. 135, § 7º).

Na Fase da Eleição: Fundamental e ordinariamente, é de custos legis a atuação do Ministério Público Eleitoral no dia das eleições. Deve o Promotor Eleitoral ficar à disposição dos assuntos eleitorais, com exclusividade, e acompanhar a marcha da votação, na sede da sua Zona Eleitoral, durante todo o dia do pleito.

Normalmente, junto com o Juiz Eleitoral – cuja presença física na Zona Eleitoral, de plantão, é também imprescindível – fiscalizam, de ofício ou quando solicitados, as mesas eleitorais, no mínimo por amostragem. Nesse trabalho, tem oportunidade de prestar esclarecimentos a mesários, fiscais e eleitores; isso sempre contribui – quando não decide – para um regular e satisfatório desenvolvimento do pleito. Não se compreenderia a ausência do Ministério Público Eleitoral e do Juiz Eleitoral em caso de eventual crime eleitoral de repercussão, com prisão em flagrante. A própria imprensa, muitas vezes, presta bons serviços à Justiça Eleitoral, denunciando irregularidades em mesas eleitorais, incidentes que de pronto poderão ser solucionados com a intervenção sumária e segura dessas autoridades e dos funcionários autorizados do cartório eleitoral. Deve ainda:

Opinar, oralmente ou por escrito, em todos os casos surgidos nesse dia, em sua esfera de atribuição, inclusive em matéria criminal (representação de prisão preventiva, parecer em pedido de liberdade provisória, etc.).

Impugnar a atuação de mesário, fiscal ou delegado de partido político, requerendo a sua destituição toda vez que sua atuação contrariar a lei eleitoral, mormente no que se refere à ilegal composição da mesa receptora de votos, bem como exercer, se for o caso, o direito de impugnação à identidade do eleitor (CE, art. 220, I e art. 147, § 1º).

Fiscalizar a entrega das urnas certificando-se que todas as seções encerraram o recebimento de votos no horário legal, observando eventual caso de violação e tomando as providências necessárias (CE, art. 165, § 1º, I a V).

Requerer, quando não determinado de ofício pelo Juiz Eleitoral, designação de policiamento para guardar as urnas, em prédio seguro, desde a votação até a apuração (CE,

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art. 155, §§ 1º e 2º).

Fiscalizar a correção e a expedição do boletim de contagem a que se refere o art. 156 do Código Eleitoral, pelo Juiz Eleitoral ao TER (CE, art. 156, § 3º).

Eventualmente, iniciar suas atividades relativas ao escrutínio que, em algumas eleições e em algumas zonas, poderá começar no mesmo dia da eleição (CE, arts. 188 a 196).

Na Fase de Apuração: Neste período, a enumeração exemplificativa das principais atribuições do Ministério Público Eleitoral de primeiro grau é a seguinte:

Fiscalizar a instalação da Junta Eleitoral e a regularidade de seu eventual desmembramento em turmas (CE, art. 160).

Acompanhar, pessoalmente, o escrutínio, requerendo as providências necessárias para coibir ilegalidades da parte dos escrutinadores e auxiliares, candidatos, fiscais e delegados. Zelar pela concessão de direito de ampla fiscalização aos partidos políticos.

Impugnar fiscal ou delegado de partido político cuja credenciação, ou atuação, contrariarem a lei eleitoral.

Apresentar impugnações, interpor recursos, arrazoar e contra-arrazoar, tudo na forma do art. 169 e seguintes, combinados com o art. 24, IV, do Código Eleitoral.

Manifestar-se, em parecer, oralmente ou por escrito, de forma sumária, antes da decisão da Junta Eleitoral sobre as impugnações de votos formuladas por terceiros, atuando como custos legis (CE, art. 24, IV).

Receber, conferir e assinar boletins, mapas e atas eleitorais emitidos pela Junta Eleitoral, requerendo o que entender necessário para coibir ou corrigir as eventuais ilegalidades (CE, art. 179, § 4º).

Finalmente, na Diplomação, Quarta e Última Fase do Processo Eleitoral, Compete ao Promotor Eleitoral:

Fiscalizar a expedição de diplomas eleitorais, zelando pela coincidência de seus dados (art. 215, parágrafo único, do CE) com os resultados da totalização definitiva do pleito, expedidos pela Junta Eleitoral.

Assistir à sessão de diplomação realizada pela Junta Eleitoral, com assento à direita de seu presidente, sendo dela previamente notificado. (Lei nº 8.625/1993, art. 41, IV e XI).

Ajuizar Ação de Impugnação de Mandato Eletivo ou interpor Recurso contra Diplomação, quando for o caso (CF, art. 14, § 10 e CE, art. 262).

Nas eleições municipais a atuação do Promotor Eleitoral abrange todos os atos de todas as fases do processo eleitoral; nas eleições gerais e presidenciais, atuará a instituição em parte da fase preparatória (com exceção dos registros, formação das Juntas e alguns casos de

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propaganda), na totalidade dos atos relativos às fases de eleição e da apuração e não atuará na fase de diplomação (Cândido, p. 66-70).

3. Legitimidade: É ampla legitimidade do Ministério Público para atuar, ora como parte, ora como fiscal da lei, em todo o processo eleitoral, ainda que a legislação eleitoral muitas vezes não o tenha elencado.

Não existe a figura do Ministério Público como substituto processual em matéria eleitoral.

Desde o alistamento e seus eventuais incidentes, à diplomação dos eleitos, e às ações e aos recursos que daí podem decorrer, é imprescindível a atuação do Ministério Público Eleitoral nesses feitos (Cândido, p. 63).

A LC nº 75/1993, ao dispor sobre a legitimidade do Ministério Público em matéria eleitoral, o fez de modo correto, deixando de elencar a gama de funções a ser exercida, o que sempre é numeração incompleta. Assim, sua legitimidade é extraída do texto constitucional, conjugado com as atribuições disciplinadas na legislação infraconstitucional comum. A exceção à regra de ampla legitimidade do MP se observa na execução das multas eleitorais, que se dá pela PFN com o ajuizamento de execução fiscal perante a justiça eleitoral (TSE, AAG nº 7464).

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Ponto 10.c. Financiamento de campanhas. Fiscalização. Ações.

Principais Obras consultadas: Santo graal 27º. Minirreforma eleitoral [Lei 12.891/13]. ADI 4650.

1. Financiamento de campanhas:

São os recursos financeiros em dinheiro ou estimáveis em dinheiro arrecadados por partidos políticos ou candidatos com o objetivo de serem aplicados em gastos de campanha eleitoral. Esta, por seu turno, pode ser conceituada como o complexo de atos e procedimentos técnicos empregados por candidato e agremiação política com vistas a obter o voto dos eleitores e logra êxito na disputa de cargo público-eletivo (Gomes, p. 283).

As regras do financiamento objetivam a igualdade de oportunidades entre os candidatos na disputa eleitoral, a moralidade, transparência e a impessoalidade no exercício dos mandatos públicos e na administração da coisa pública, obstando a influência do poder econômico que tenda a desequilibrar o princípio igualitário.

Outro princípio em voga neste tema é o da legalidade, pois as regras da lei eleitoral servirão de orientação segura para o entendimento da abrangência da dicotomia abusividade/regularidade, justamente por serem regras cogentes, de ordem pública, e por isso indisponíveis e de incidência erga omnes. Assim, aquilo que estiver normatizado como possível na lei eleitoral, servirá como orientação segura do que é lícito e ilícito nas campanhas eleitorais. Portanto, a participação do poder econômico nas campanhas eleitorais, que se qualifique como lícita, também será valida, eficaz e aceita quanto à sua origem (Michels, p. 190).

As regras legais estão estipuladas na Lei nº 9.504/97, nos arts. 17 a 27, 81 e 99. Embora tais regras devam ser observadas pelos partidos políticos e candidatos participantes do pleito eleitoral (princípio da responsabilidade financeira solidária – art. 17 da Lei nº 9.504/97), a Lei dos Partidos Políticos também prevê algumas regras nesse sentido, voltadas especificamente às agremiações partidárias (Lei 9.096/95, arts. 31; 38 a 44), uma vez que podem ser feitas doações financeiras aos partidos políticos em época não eleitoral, que podem ser aplicadas em campanhas eleitorais (Lei 9.096/95, art. 39, § 5º).

Há previsão de que a lei, a cada eleição e até o dia 10 de julho do ano eleitoral, fixará o limite de gastos dos partidos políticos com a campanha eleitoral. Ausente referida lei, ficará a cargo de o próprio partido político fixar o limite de gastos (art. 17-A da Lei nº 9.504/97). Também haverá a estipulação de valores máximos por cargo eletivo, informado pelo partido quando do registro de candidatura. Eventual gasto que ultrapasse tais limites, ensejará a aplicação de multa incidente sobre o valor em excesso (art. 18 da Lei nº 9.504/97), além de possível ocorrência de abuso do poder econômico, a desaguar em eventual impugnação do mandato eletivo.

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O TSE admite a retificação do limite de gastos já registrado na JE, desde que haja demonstração de fato superveniente e imprevisível que tenha causado impacto sobre o financiamento da campanha, em ordem a inviabilizar o limite fixado anteriormente (Res. nº 23.217/2010, art. 2º, § 6º).

ATENÇÃO: ADI 4650. O Supremo Tribunal Federal (STF) está realizando o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em que são questionadas regras relativas a doações privadas para campanhas eleitorais e partidos políticos. Na ADI, são atacados dispositivos da Lei das Eleições (Lei 9.504/1997) e Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995), que tratam de contribuições de pessoas jurídicas e pessoas físicas para campanhas. A votação atualmente está em 6 a 1 por proibir a doação eleitoral de empresas, sendo que faltam 4 votos, ou seja: a proibição já ocorreu por voto da maioria. Então, temos que aguardar o fim do julgamento para saber se haverá modulação dos efeitos. Com a decisão, candidatos precisarão financiar suas campanhas com doações de pessoas físicas e com verbas do fundo partidário, de origem pública.

Como era o financiamento de campanha antes da ADI 4650: O financiamento das campanhas eleitorais no Brasil era misto, ou seja, poderia existir recursos tanto da via pública como da via privada. Pela via pública, ocorre mediante: 1) Fundo Partidário, cuja constituição legalmente prevista descreve subvenção de verbas públicas (Lei 9.096/95, arts. 38, I, II e IV; e 40), na forma dos valores recolhidos pelo erário a título de aplicação de multas e penalidades pecuniárias eleitorais e partidárias, de eventuais recursos financeiros destinados por lei e, ainda, de dotações orçamentárias anuais específicas; 2) custeio da propaganda partidária gratuita, no rádio e na televisão, pois às emissoras é assegurado direito à compensação fiscal pela cessão do horário (art. 45 c.c. 52, § único, ambos da Lei nº 9.096/95 - Decreto 7.791, de 17.08.2012); 3) custeio da propaganda eleitoral gratuita mediante o horário obrigatoriamente reservado e cedido pelas emissoras de rádio e televisão (essa cessão compulsória de horário é custeada pela compensação fiscal garantida pelo poder público às citadas emissoras (Lei 9.504/97 - art. 99); 4) renúncia fiscal, em virtude da imunidade prevista no art. 150, VI, ‘c’, da CF, pois é vedado a instituição de imposto sobre o patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos e suas fundações. Já o financiamento privado, que se assentava no princípio da transparência, dava-se pela possibilidade de doações financeiras de origem privada a partidos políticos (no caso dos partidos, inclusive por meio de doações ao Fundo Partidário) ou candidatos, tanto por pessoas físicas como jurídicas, além da utilização de recursos próprios dos candidatos, doações oriundas do comitê financeiro ou do partido e recursos provenientes da comercialização de bens ou realização de eventos com o fim próprio de aplicação em campanha eleitoral.

Limite do financiamento por pessoa física: O limite do financiamento privado é de até 10% dos rendimentos auferidos por pessoas físicas no ano anterior ao da eleição. Quanto às pessoas jurídicas, o limite é de até 2% de seu faturamento bruto no ano anterior ao da eleição. No caso de utilização de recursos próprios dos candidatos, o limite é o valor máximo de gastos estabelecido pela lei ou, na ausência desta, pelo seu próprio partido.

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OBS: Alteração da Lei nº 12.891: As doações feitas por pessoas físicas a candidato específico, comitê ou partido, que sejam estimáveis em dinheiro, deverão ser feitas mediante recibo, assinado pelo doador, exceto nas seguintes hipóteses, nas quais estão dispensadas de comprovação na prestação de contas: I - a cessão de bens móveis, limitada ao valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) por pessoa cedente; II - doações estimáveis em dinheiro entre candidatos, partidos ou comitês financeiros, decorrentes do uso comum tanto de sedes quanto de materiais de propaganda eleitoral, cujo gasto deverá ser registrado na prestação de contas do responsável pelo pagamento da despesa. [art. 23, §2º c/c art. 28, §6º]. Comentário do GENAFE: restringiu-se a emissão de recebo eleitoral. Exigia-se para toda doação, agora somente para doações estimáveis em dinheiro, com assinatura do doador. Por outro lado, a Resolução TSE sobre prestação de contas para as eleições de 2014 (Res. 23.406/14) estabelece a obrigatoriedade e apresentação de recibos, inclusive para doações estimáveis em dinheiro (art. 10).

Sobras de recursos financeiros: Alteração da Lei nº 12.891: Se, ao final da campanha, ocorrer sobra de recursos financeiros, esta deve ser declarada na prestação de contas e, após julgados todos os recursos, transferida ao partido, obedecendo aos seguintes critérios: I - no caso de candidato a Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador, esses recursos deverão ser transferidos para o órgão diretivo municipal do partido na cidade onde ocorreu a eleição, o qual será responsável exclusivo pela identificação desses recursos, sua utilização, contabilização e respectiva prestação de contas perante o juízo eleitoral correspondente; II - no caso de candidato a Governador, Vice-Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual ou Distrital, esses recursos deverão ser transferidos para o órgão diretivo regional do partido no Estado onde ocorreu a eleição ou no Distrito Federal, se for o caso, o qual será responsável exclusivo pela identificação desses recursos, sua utilização, contabilização e respectiva prestação de contas perante o Tribunal Regional Eleitoral correspondente; III - no caso de candidato a Presidente e Vice-Presidente da República, esses recursos deverão ser transferidos para o órgão diretivo nacional do partido, o qual será responsável exclusivo pela identificação desses recursos, sua utilização, contabilização e respectiva prestação de contas perante o Tribunal Superior Eleitoral; IV - o órgão diretivo nacional do partido não poderá ser responsabilizado nem penalizado pelo descumprimento do disposto neste artigo por parte dos órgãos diretivos municipais e regionais. Parágrafo único. As sobras de recursos financeiros de campanha serão utilizadas pelos partidos políticos, devendo tais valores ser declarados em suas prestações de contas perante a Justiça Eleitoral, com a identificação dos candidatos.

2. Fiscalização:

A fiscalização dá-se mediante a fiscalização contábil exercida pela Justiça Eleitoral, por meio das seguintes regras.

1) Movimentação financeira exclusiva em contas bancárias específicas para fins eleitorais, abertas pelos comitês financeiros e pelos candidatos antes de quaisquer ocorrências de

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arrecadação e aplicação dos recursos financeiros eleitorais (art. 22 da Lei nº 9.504/97). É através dela que se processará o movimento financeiro da campanha. Há casos que excepcionam a obrigatoriedade de abertura da conta bancária (§ 2º). A Lei nº 9.096/95, no art. 35, prevê a possibilidade de quebra do sigilo bancário dessas contas. A origem dos recursos financeiros é de extrema valia, tanto que o legislador eleitoral previu um rol das chamadas fontes vedadas (art. 24 da L. 9504/97), as quais não poderão ser utilizadas em campanha, sendo transferidas ao Tesouro Nacional. Por outro lado, a lei eleitoral também elenca em rol exemplificativo os gastos eleitorais sujeitos a registro (artigo 26).

Atenção: O artigo 26 foi alterado pela Lei 12.891/13, a qual acrescentou ao artigo o seguinte parágrafo único:

Art. 26: Parágrafo único. São estabelecidos os seguintes limites com relação ao total do gasto da campanha:

I - alimentação do pessoal que presta serviços às candidaturas ou aos comitês eleitorais: 10% (dez por cento);

II - aluguel de veículos automotores: 20% (vinte por cento).

2) Constituição e registro de comitês financeiros, órgãos partidários temporários e de constituição obrigatória, que não possuem personalidade jurídica própria, responsáveis pela arrecadação e aplicação desses recursos em campanhas eleitorais, as quais serão administradas pelo próprio candidato ou por terceiro designado (arts. 19 e 20 da Lei nº 9.504/97). Aludido órgão é sempre vinculado a partido, não sendo admitido comitê financeiro de coligação (Gomes, p. 288). Embora a lei tenha fixado data certa para sua criação (até 10 dias úteis após a convenção partidária de escolha de candidatos), não há quanto à extinção. Há quem advogue que o termo final seja no momento da aprovação da prestação de contas pela JE (Michels, p. 191).

3) Inscrição de candidatos e comitês financeiros em Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) antes de quaisquer ocorrências de arrecadação e aplicação dos recursos financeiros eleitorais. Tais inscrições são temporárias, sendo canceladas ex officio pela Receita Federal do Brasil.

4) Comprovação de doações a candidatos ou partidos mediante emissão de recibos eleitorais correspondentes aos valores doados, sendo documentos oficiais e obrigatórios, pois viabilizam e legitimam a captação de recursos para a campanha. Sua não emissão acarreta irregularidade insanável, por conseguinte, desaprovação das contas.

OBS: Alteração da Lei nº 12.891: As doações feitas por pessoas físicas a candidato específico, comitê ou partido, que sejam estimáveis em dinheiro, deverão ser feitas mediante recibo, assinado pelo doador, exceto nas seguintes hipóteses, nas quais estão dispensadas de comprovação na prestação de contas: I - a cessão de bens móveis, limitada ao valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) por pessoa cedente; II - doações estimáveis em dinheiro entre candidatos, partidos ou comitês financeiros, decorrentes do uso comum tanto de sedes quanto de materiais de propaganda eleitoral, cujo gasto deverá ser registrado na

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prestação de contas do responsável pelo pagamento da despesa. [art. 23, §2º c/c art. 28, §6º]. Comentário do GENAFE: restringiu-se a emissão de recebo eleitoral. Exigia-se para toda doação, agora somente para doações estimáveis em dinheiro, com assinatura do doador. Por outro lado, a Resolução TSE sobre prestação de contas para as eleições de 2014 (Res. 23.406/14) estabelece a obrigatoriedade e apresentação de recibos, inclusive para doações estimáveis em dinheiro (art. 10).

5) Prestação de contas eleitorais por partidos e candidatos e prestação de contas anuais partidárias (arts. 28 a 32 da Lei nº 9.504/97). Visa conferir maior transparência e legitimidade às eleições, porquanto possibilita aferir e cercear o abuso de poder econômico.

Em eleições majoritárias, a prestação de contas dar-se-á obrigatoriamente por meio do comitê financeiro. Já nas eleições proporcionais, há a legitimidade do próprio candidato, além do comitê financeiro.

Os §§ 3º e 4º do art. 22 da Lei nº 9.504/97 disciplinam que o efeito da rejeição da prestação de contas não se encerra no próprio ato de desaprovação. Isso porque a não aprovação das contas, por si só, não impede a diplomação. Assim, caso haja comprovação do abuso de poder econômico, ensejará o cancelamento do registro da candidatura ou cassado o diploma, se já outorgado. Sendo inviáveis tais medidas, as quais poderiam ser levadas a efeito através de ajuizamento de ação de impugnação do mandato eletivo ou recurso contra a expedição de diploma, ao menos possibilitará a remessa ao MPE para fins de AIJE (art. 22 da LC nº 64/90), o que permitirá eventual inelegibilidade do investigado nos 08 anos seguintes ao da eleição em que ocorreu a fraude na prestação das contas.

OBS: A PGR ajuizou a ADIN 4899 com pedido de MEDIDA CAUTELAR, para que o e. Supremo Tribunal Federal dê interpretação conforme a Constituição Federal ao § parágrafo 7º artigo 11 da Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, para que a expressão "apresentação das contas", que integra o conceito de quitação eleitoral, presente no referido dispositivo legal, seja entendida em seu sentido substancial, em consonância com a ordem constitucional, e não apenas literal, devendo a certidão de quitação eleitoral abranger, a apresentação regular das contas de campanha.

OBS: Alteração da Lei nº 12.891: Agora a data para a apresentação de contas parciais é dia 8 de agosto e de setembro. [texto da lei: art. 28, §4º: Os partidos políticos, as coligações e os candidatos são obrigados, durante a campanha eleitoral, a divulgar, pela rede mundial de computadores (internet), nos dias 8 de agosto e 8 de setembro, relatório discriminando os recursos em dinheiro ou estimáveis em dinheiro que tenham recebido para financiamento da campanha eleitoral e os gastos que realizarem, em sítio criado pela Justiça Eleitoral para esse fim, exigindo-se a indicação dos nomes dos doadores e os respectivos valores doados somente na prestação de contas final de que tratam os incisos III e IV do art. 29 desta Lei].

OBS: Alteração da Lei nº 12.891: Incluiu o §6º no art. 28 [texto da lei: Ficam também dispensadas de comprovação na prestação de contas: I - a cessão de bens móveis, limitada ao valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) por pessoa cedente; II - doações estimáveis em dinheiro entre candidatos, partidos ou comitês financeiros, decorrentes do uso comum tanto de sedes quanto de materiais de propaganda eleitoral, cujo gasto deverá ser registrado na

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prestação de contas do responsável pelo pagamento da despesa]. Comentário do GENAFE: o §6º poderá trazer dificuldades para exame das contas, já que o valor do bem móvel cedido poderá ser estimado pelo próprio candidato, além de não limitar a quantidade de pessoas cedentes. Por outro lado, a Resolução TSE sobre prestação de contas para as eleições de 2014 (Res. 23.406/2014) estabelece a obrigatoriedade de apresentação de recibos para todas as arrecadações (Art. 10).

3. Ações:

O art. 30-A da Lei das Eleições prevê que qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 dias da diplomação, relatando os fatos e indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar as condutas em desacordo com as normas referentes à arrecadação e gastos dos recursos.

Trata-se de instrumento que objetiva impedir a influência do abuso do poder econômico e do poder político, a fim de que a vontade livre do eleitorado represente legitimamente a soberania popular. Embora o dispositivo legal não contemple expressamente, Gomes entende que o MPE e os candidatos também ostentam legitimidade ativa (p. 304). Importante registrar que não se veicula nova hipótese de inelegibilidade, mas negação ou cassação de diplomação (ato administrativo declaratório do resultado das eleições).

Registre-se por fim, que após a edição da Lei nº 12.034/2009, os processos de prestação de contas de campanha têm natureza judicial, com possibilidade de interposição de recursos, conforme o disposto nos §§ 5º, 6º e 7º do art. 30 da Lei das Eleições, o que implica a necessidade de estrita observância das disposições previstas na legislação eleitoral, não havendo possibilidade de mitigação da coisa julgada com base nos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. (Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 834-14/MG, Relator: Ministro Arnaldo Versiani. DJE em 8.2.2012)

Questão de prova:

Como é o sistema de financiamento de campanha brasileiro?

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PONTO EXTRA: Minirreforma eleitoral.

As principais alterações da minirreforma eleitoral estão no texto do Santo Graal. Porém, como o GENAFE (Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral) realizou um quadro comparativo e distribuiu para seus membros, achei bom bem criar este ponto extra para estudo mais detido e sistematizado do tema. Você deve imprimir o material e anexar ao seu Santo Graal, pois o arquivo não permite ser copiado e não faz sentido redigitar 27 folhas de tabela.

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