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Direito de Empresa Fonte: André Santa Cruz 1. Aspectos Históricos do Direito Empresarial - Fases: 2. Teoria Geral - Código Civil: 3. EIRELI: 4. Sociedades Cooperativas: 5. Capacidade para exercer atividade de empresário: 6. Empresário Casado: 7. Jurisprudência sobre o tema: 0

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Page 1: Direito de Empresa - Conteúdos PGE · 2020. 6. 3. · também existiam Tribunais e Juízes próprios para eles. Exatamente por isso, é uma fase chamada de subjetiva, ou seja, leva

Direito de Empresa

Fonte: André Santa Cruz

1. Aspectos Históricos do Direito Empresarial - Fases:

2. Teoria Geral - Código Civil:

3. EIRELI:

4. Sociedades Cooperativas:

5. Capacidade para exercer atividade de empresário:

6. Empresário Casado:

7. Jurisprudência sobre o tema:

0

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Aspectos Históricos do Direito Empresarial:

É importante salientar que a prática empresarial existe a muito tempo em

nosso planeta, sendo que vamos destacar apenas as fases mais importantes e

cobradas em concursos públicos.

1a Fase -> Corporações de ofício: Tendo em vista estarmos diante de

ausência de normas estatais, o direito aqui era tratado muito mais por meio dos

costumes dos feudos.

Assim, os comerciantes se associavam em corporações de ofícios

(associações privadas), elaborando o seu próprio direito. Importante ressaltar que

também existiam Tribunais e Juízes próprios para eles.

Exatamente por isso, é uma fase chamada de subjetiva, ou seja, leva em

consideração a pessoa, para ser aplicada as regras do direito empresarial.

2a Fase -> Atos de Comércio: Com origem no Direito Francês,

precisamente na era napoleônica, houve uma objetificação do direito empresarial,

considerando como empresário aquele que praticava os atos de comércio definidos

na lei.

Houve, portanto, uma objetificação (definida pelo objeto - atos de comércio),

em contraposição ao aspecto subjetivo que reinava na primeira fase, como vimos

acima. Foi adotado no Brasil no Código Comercial de 1850.

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A definição do que seria atos de comércio era dada na Lei. No Brasil, existiu

o regulamento 737, que tratava do tema, sem prejuízo de decisões judiciais sobre o

tema.

3a Fase -> Em 1942, na Itália, foi elaborado um novo código e assim

começou a teoria da empresa. Importante! Não houve conceituação no próprio

código do que seria empresa.

A construção do que seria empresa ficou a cargo da doutrina, principalmente

a teoria do fenômeno econômico poliédrico de Alberto Asquini sobre os quatro perfis

desse instituto jurídico, quais sejam, o objetivo, o subjetivo, o funcional e o

corporativo/institucional.

Em resumo, o aspecto objetivo tem como foco os bens empregados na

atividade empresarial, sejam eles corpóreos ou incorpóreos, estudado de forma

mais detalhada na teoria do estabelecimento empresarial.

Por outro lado, o perfil funcional se refere à dinâmico da atividade

desenvolvida pelo empresário, com todo complexo de atos que compõe o meio

empresarial.

Ademais, o enfoque corporativo/institucional possui como análise os

colaboradores necessários para o exercício da atividade empresarial em conjunto

com o empresário que, no direito brasileiro, é pormenorizado no direito trabalhista.

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Por último, o perfil subjetivo compreende o estudo da pessoa física ou

jurídica que exerce a atividade empresarial.

A Teoria da empresa é adotada também pelo Brasil (Código Civil de 2002),

que tratou do tema no Livro II, título I, do Direito de Empresa. O Brasil abandona a

nomenclatura de comerciante a passa a adotar a de empresário, conforme veremos

a seguir:

Vejamos o gráfico utilizado pelo Professor Santa Cruz que resume o tema:

1a Fase 1. Idade Média: Ressurgimento das cidades e mercantil;

2. Monopólio da jurisdição em favor das corporações de ofício;

3. Aplicação dos usos e costumes; 4. Caráter subjetivista;

2a Fase 1. Idade Moderna: Formação dos Estados Nacionais Monárquicos;

2. Monopólio da Jurisdição a cargo dos Estados;

3. Codificação Napoleônica; 4. Objetificação do Direito

Comercial.

3 a fase 1. Código Civil Italiano de 1942; 2. Unificação Formal do Direito

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Privado; 3. Teoria da Empresa como

delimitador da incidência do regime empresarial;

4. Empresa como atividade econômica organizada.

Teoria Geral - Código Civil:

É certo que o CC/02 não definiu o conceito de empresa, mas apenas o

conceito de empresário que, por consequência, pode-se extrair uma definição para

o instituto empresa. Desse modo, entendeu o STJ:

(…) 2. O novo Código Civil Brasileiro, em que pese não ter

definido expressamente a figura da empresa, conceituou no

art. 966 o empresário como “quem exerce profissionalmente

atividade econômica organizada para a produção ou a

circulação de bens ou de serviços” e, ao assim proceder,

propiciou ao intérprete inferir o conceito jurídico de empresa

como sendo “o exercício organizado ou profissional de

atividade econômica para a produção ou a circulação de

bens ou de serviços”. 3. Por exercício profissional da

atividade econômica, elemento que integra o núcleo do

conceito de empresa, há que se entender a exploração de

atividade com finalidade lucrativa. (…) (STJ, REsp

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623.367/RJ, 2.ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ

09.08.2004, p. 245).

Sobre o tema ensina André Santa Cruz:

Empresa é, portanto, atividade, algo abstrato. Empresário,

por sua vez, é quem exerce empresa.

Assim, a empresa não é sujeito de direito. Quem é sujeito de

direito é o titular da empresa. Melhor dizendo, sujeito de direito

é quem exerce empresa, ou seja, o empresário, que pode ser

pessoa física (empresário individual) ou pessoa jurídica

(sociedade empresária ou EIRELI). A grande dificuldade em

compreender o conceito de empresa para aqueles que iniciam

o estudo do direito empresarial está no fato de que a

expressão é comumente utilizada de forma atécnica, até

mesmo pelo legislador, conforme já explicitamos acima.

Empresa é, na verdade, um conceito abstrato, que

corresponde, como visto, a uma atividade econômica

organizada, destinada à produção ou à circulação de bens ou

de serviços. Não se deve confundir, pois, empresa com

sociedade empresária.

Esta, na verdade, é uma pessoa jurídica que exerce empresa,

ou seja, que exerce uma atividade econômica organizada.

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Empresa e empresário são noções, portanto, que se

relacionam, mas não se confundem.

Feita a diferença entre empresa e empresário, é importante destacarmos que

o CC-02 adotou a teoria da empresa, em substituição a teoria dos atos de comércio.

Para caracterização de empresário é preciso o profissionalismo, a atividade

econômica, a organização e a produção de bens ou serviços. Vejamos:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce

profissionalmente atividade econômica organizada para a

produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce

profissão intelectual, de natureza científica, literária ou

artística, ainda com o concurso de auxiliares ou

colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir

elemento de empresa.

No caso, o parágrafo único acima não considera empresário, o profissional

liberal atuando sozinho, assim como em conjunto com outros profissionais liberais

formando, assim, uma sociedade simples, as quais podem se transformar em

empresa, caso o exercício da profissão constitua elemento de empresa.

A título de exemplo, há de acrescentar que o art. 16 do Estatuto da OAB veda

o registro de escritório de advocacia como sociedade empresária, devendo ser

necessariamente uma sociedade simples.

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Obs. o termo "sociedade civil" não existe mais no ordenamento jurídico

brasileiro. Desse modo, quando se deparar com o vocábulo "sociedade civil",

deve-se remeter à expressão "sociedade simples".

Importante ressaltamos que existe o empresário individual e a sociedade

empresária. A sociedade, via de regra, confere uma maior proteção aos seus

sócios, que não terão seus bens alcançados senão depois de serem executados os

bens sociais.

Assim, enquanto a responsabilidade do empresário individual é direta e

ilimitada, a responsabilidade do sócio da sociedade empresária é subsidiária e

limitada.

Desse modo, é necessário esclarecer que empresário é um gênero cujas

espécies são a sociedade empresarial, a EIRELI e o empresário individual. Sendo

as duas primeiras pessoas jurídicas e a última pessoa natural.

No que tange ao empresário rural, há dispositivo específico no CC/02, tendo

ele registro favorecido e facultativo. Vejamos:

Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e

simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário,

quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes.

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Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua

principal profissão, pode, observadas as formalidades de que

tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no

Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede,

caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos

os efeitos, ao empresário sujeito a registro.

Neste sentido: TJ-PR Juiz 2019: “Equipara-se a pessoa empresária um

empresário rural cuja principal atividade seja a agricultura e que esteja devidamente

inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis”.

Apesar de não ser comum no plano fático, o CC/02 no seu art. 967 afirma ser

obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis

(Junta comercial) da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Já o art. 968

traz os requisitos para o requerimento da inscrição, sendo eles:

I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se

casado, o regime de bens;

II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá

ser substituída pela assinatura autenticada com certificação

digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade,

ressalvado o disposto no inciso I do § 1º do art. 4º da Lei

Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 ;

(Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014)

III - o capital;

IV - o objeto e a sede da empresa.

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É necessário pontuar que o mesmo art. 968 traz disposições específicas para

a inscrição e registro das microempresas, empresas de pequeno porte e do

microempreendedor individual, incluída a ressalva do inciso II já citado:

§4º O processo de abertura, registro, alteração e baixa do

microempreendedor individual de que trata o art. 18-A da Lei

Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 , bem

como qualquer exigência para o início de seu funcionamento

deverão ter trâmite especial e simplificado, preferentemente

eletrônico, opcional para o empreendedor, na forma a ser

disciplinada pelo Comitê para Gestão da Rede Nacional para a

Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e

Negócios - CGSIM, de que trata o inciso III do art. 2º da

mesma Lei . (Incluído pela Lei nº 12.470, de 2011)

§5º Para fins do disposto no § 4 o , poderão ser dispensados o

uso da firma, com a respectiva assinatura autógrafa, o capital,

requerimentos, demais assinaturas, informações relativas à

nacionalidade, estado civil e regime de bens, bem como

remessa de documentos, na forma estabelecida pelo CGSIM.

(Incluído pela Lei nº 12.470, de 2011)

Art. 4º, § 1º LC 123/06 - O processo de abertura, registro,

alteração e baixa da microempresa e empresa de pequeno

porte, bem como qualquer exigência para o início de seu

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funcionamento, deverão ter trâmite especial e simplificado,

preferencialmente eletrônico, opcional para o

empreendedor, observado o seguinte: (Redação dada

pela Lei Complementar nº 147, de 2014)

I - poderão ser dispensados o uso da firma, com a respectiva

assinatura autógrafa, o capital, requerimentos, demais

assinaturas, informações relativas ao estado civil e regime de

bens, bem como remessa de documentos, na forma

estabelecida pelo CGSIM; e

O art. 969 CC/02, por sua vez, estabelece que no caso de abertura de filial,

sucursal ou agência, deve o empresário fazer outro registro na Junta Comercial

(Registro Público de Empresas Mercantis) do local do novo estabelecimento com

prova da inscrição da sede originária. Além do mais, deve ser essa nova inscrição

averbada na Junta Comercial da respectiva sede.

I. EIRELI:

Trata-se de um novo tipo criado pelo legislador, onde foi criada uma nova

espécie de pessoa jurídica de direito privado. Sobre ela, importante ressaltar que

necessita de capital mínimo de 100 salários-mínimos; somente pode ser constituída

por uma pessoa titular da totalidade do capital social.

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Obs.: o empresário individual possui CNPJ para ter o mesmo tratamento

tributário da pessoa jurídica. Porém, não é pessoa jurídica, mas pessoa natural, que

exerce uma atividade empresarial. A EIRELI, por sua vez, é pessoa jurídica.

A EIRELI poderá adotar firma ou denominação. Bem como é importante que

saibamos que a MP da Liberdade Econômica, posteriormente transformada na Lei

13.874/2019, acrescentou mais um parágrafo ao marco legal da mesma. Vejamos:

§ 7º Somente o patrimônio social da empresa responderá

pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade

limitada, hipótese em que não se confundirá, em qualquer

situação, com o patrimônio do titular que a constitui,

ressalvados os casos de fraude.

Neste sentido: Cartórios-MG: “A pessoa natural que constituir

empresa individual de responsabilidade limitada poderá figurar

em no máximo 3 (três) empresas dessa modalidade”. Falso!

Somente pode figurar em um tipo, conforme menciona o Artigo

980-A.

Cartórios - São Paulo: “A empresa individual de responsabilidade limitada

será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social,

devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior

salário-mínimo vigente no país”.

Em geral, as questões sobre EIRELI são mera reprodução do Código Civil,

motivo pelo qual remeto a uma leitura atenta do mesmo.

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II. Sociedades Cooperativas:

Em relação as cooperativas, não se utilizam os critérios previstos no Código

Civil para caracterizá-las ou não como empresárias. O próprio regulamento dispõe o

seguinte:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se

empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de

atividade própria de empresário sujeito a registro ( art. 967 ); e,

simples, as demais.

Parágrafo único - Independentemente do seu objeto,

considera-se empresária a sociedade por ações e, simples, a

cooperativa.

Ou seja, a sociedade cooperativa será sempre simples, independentemente

de exercer atividade empresarial de forma organizada e com finalidade lucrativa.

Importante: De acordo com o Professor André Santa Cruz:

As sociedades cooperativas, por serem sociedades simples,

independentemente do seu objeto social (art. 982, parágrafo

único, do Código Civil), não podem requerer recuperação

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judicial/extrajudicial nem ter sua falência requerida ou

decretada.

Em caso de insolvência, a cooperativa passará por um

procedimento de liquidação extrajudicial (art. 75 da Lei

5.764/1971). A propósito, confiram-se alguns julgados do

Superior Tribunal de Justiça:

(…) As sociedades cooperativas não se sujeitam à falência,

dada a sua natureza civil e atividade não empresária, devendo

prevalecer a forma de liquidação extrajudicial prevista na Lei

5.764/71, (…). 2. A Lei de Falências vigente à época –

Decreto-lei nº 7.661/45 – em seu artigo 1º, considerava como

sujeito passivo da falência o comerciante, assim como a atual

Lei 11.101/05, que a revogou, atribui essa condição ao

empresário e à sociedade empresária, no que foi secundada

pelo Código Civil de 2002 no seu artigo 982, § único c/c artigo

1.093, corroborando a natureza civil das referidas sociedades,

e, a fortiori, configurando a inaplicabilidade dos preceitos da

Lei de Quebras às cooperativas. (…) (AgRg no REsp

999.134/PR, Rel. Min. LUIZ FUX, 1.ª Turma, j. 18.08.2009, DJe

21.09.2009)

III. Capacidade para exercer atividade de empresário:

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De acordo com o Código Civil: “Podem exercer a atividade de empresário os

que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente

impedidos”.

Já em relação à administração da sociedade, a regra é um pouco mais

dificultosa. Vejamos:

Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no

exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo

homem ativo e probo costuma empregar na administração de

seus próprios negócios.

§ 1o Não podem ser administradores, além das pessoas

impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede,

ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou

por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno,

concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o

sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da

concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a

propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.

É importante também ressaltarmos o teor do Artigo 973, muito cobrado em

provas objetivas:

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Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade

própria de empresário, se a exercer, responderá pelas

obrigações contraídas.

O código civil permite que o incapaz apenas continue o exercício da

empresa. A regra trata de atividade enquanto empresário individual, bem como não

é possível o início da atividade, mas apenas sua continuação. Vejamos:

Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou

devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por

ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.

Vale ressaltar que é necessário a autorização judicial, bem como a lei civil

estabelece uma série de restrições, visando resguardar o interesse do incapaz, são

elas:

§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o

incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição,

desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos

constar do alvará que conceder a autorização.

§ 3o O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das

Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações

contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde

que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos:

(Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)

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I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da

sociedade;

II – o capital social deve ser totalmente integralizado;

III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o

absolutamente incapaz deve ser representado por seus

representantes legais.

Vejamos como foi cobrado na prova da AGU-2016: “O incapaz não pode ser

autorizado a iniciar o exercício de uma atividade empresarial individual, mas,

excepcionalmente, poderá ele ser autorizado a dar continuidade a atividade

preexistente”. Gabarito Correto!

Vale ressaltar que esse tema é quando ele exerce a atividade empresarial

individualmente, não quando entra como sócio. Quando o mesmo for sócio, incidirá

o parágrafo terceiro mencionado mais acima.

Já os arts. 975 e 976 CC/02 tratam sobre o representante ou assistente do

incapaz, bem como hipótese de sua emancipação:

Art. 975. Se o representante ou assistente do incapaz for

pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade

de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais

gerentes.

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§1º Do mesmo modo será nomeado gerente em todos os

casos em que o juiz entender ser conveniente.

§2º A aprovação do juiz não exime o representante ou

assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos

atos dos gerentes nomeados.

Art. 976. A prova da emancipação e da autorização do incapaz,

nos casos do art. 974 , e a de eventual revogação desta, serão

inscritas ou averbadas no Registro Público de Empresas

Mercantis.

Parágrafo único. O uso da nova firma caberá, conforme o caso,

ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a este, quando

puder ser autorizado.

Veja como o tema foi cobrado na prova subjetiva do MP-PR/2018: Quais os

requisitos da capacidade para o exercício da empresa? o menor de idade pode ser

representado ou assistido e, assim, exercer atividade de empresário? o ato de

empresa praticado por pessoa impedida de exercer atividade própria de empresário

é inválido?

IV: Empresário Casado:

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O código civil também dispõe sobre o empresário casado. Vejamos:

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si

ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime

da comunhão universal de bens, ou no da separação

obrigatória.

Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de

outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar

os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los

de ônus real.

Ou seja, retirando os regimes de comunhão universal e separação

obrigatória, os cônjuges poderão contrair sociedade entre si. Importante enunciado

doutrinário faz referência ao Artigo 978 mencionado acima:

Enunciado 58, CJF: “O empresário individual casado é o

destinatário da norma do Artigo 978 e não depende da outorga

conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado

no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação

de autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio

empresarial no cartório de registro de imóveis, com a

consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no

registro público de empresas mercantis”.

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Sobre o tema, ainda temos dois artigos importantes, que tratam um pouco

mais do empresário casado. O artigo 979 dispõe sobre a obrigatoriedade de

arquivamento e averbação no Registro de Empresas Mercantis dos pactos e

declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de

bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade.

Por outro lado, o Artigo 980 dispõe que a sentença que decretar ou

homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não podem

ser opostos a terceiros, antes de arquivados e averbados no Registro Público de

Empresas Mercantis.

Jurisprudência sobre o tema:

Agora, vejamos alguns julgados que consideramos importantes retirados

diretamente do site Dizer o Direito:

1) A extinção da pessoa jurídica se equipara à morte da pessoa natural (art. 110

do CPC/2015), atraindo a sucessão material e processual com os

temperamentos próprios do tipo societário e da gradação da responsabilidade

pessoal dos sócios. Em sociedades de responsabilidade limitada, após

integralizado o capital social, os sócios não respondem com seu patrimônio

pessoal pelas dívidas titularizadas pela sociedade, de modo que o

deferimento da sucessão dependerá intrinsecamente da demonstração de

existência de patrimônio líquido positivo e de sua efetiva distribuição entre

seus sócios. A demonstração da existência de fundamento jurídico para a

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sucessão da empresa extinta pelos seus sócios poderá ser objeto de

controvérsia a ser apurada no procedimento de habilitação, que é previsto no

art. 687 do CPC/2015, aplicável por analogia à extinção de empresas no

curso de processo judicial. A desconsideração da personalidade jurídica não

é, portanto, via cabível para promover a inclusão dos sócios em demanda

judicial, da qual a sociedade era parte legítima, sendo medida excepcional

para os casos em que verificada a utilização abusiva da pessoa jurídica. STJ.

3ª Turma. REsp 1.784.032-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em

02/04/2019 (Info 646).

2) Na hipótese de cessão de quotas sociais, a responsabilidade do cedente pelo

prazo de até 2 anos após a averbação da respectiva modificação contratual

restringe-se às obrigações sociais contraídas no período em que ele ainda

ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da sua retirada da sociedade.

Ex: o sócio João retira-se da sociedade e a averbação dessa alteração social

é levada à Junta Comercial em 18/02/2014. Dessa última data conta-se o

prazo de 2 anos para que os credores ou a sociedade o acionem pelas

obrigações contraídas até 18/02/2014. Essa é a interpretação dos arts. 1.003,

parágrafo único, 1.032 e 1.057, parágrafo único, do Código Civil. STJ. 3ª

Turma. REsp 1537521/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em

05/02/2019.

3) O herdeiro necessário não possui legitimidade ativa para propositura de ação

de dissolução parcial de sociedade em que se busca o pagamento de quotas

sociais integrantes do acervo hereditário quando não for em defesa de

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interesse do espólio. STJ. 3ª Turma. REsp 1645672-SP, Rel. Min. Marco

Aurélio Bellizze, julgado em 22/8/2017 (Info 611).

4) A dissolução parcial de sociedade limitada por perda da affectio societatis

pode ser requerida pelo sócio retirante, limitada a apuração de haveres às

suas quotas livres de ônus reais. STJ. 4ª Turma.REsp 1332766-SP, Rel. Min.

Luis Felipe Salomão, julgado em 1/6/2017 (Info 608).

5) Na hipótese em que o sócio de sociedade limitada constituída por tempo

indeterminado exerce o direito de retirada por meio de inequívoca e

incontroversa notificação aos demais sócios, a data-base para apuração de

haveres é o termo final do prazo de 60 dias, estabelecido pelo art. 1.029 do

CC/02. STJ. 3ª Turma. REsp 1602.240-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,

julgado em 6/12/2016 (Info 595).

6) É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não

formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a

despeito de não atingir seu fim – consubstanciado no auferimento de lucros e

na distribuição de dividendos aos acionistas –, restar configurada a

viabilidade da continuação dos negócios da companhia. STJ. 3ª Turma. REsp

1321263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 6/12/2016 (Info 595).

7) É de 3 anos o prazo decadencial para que o sócio minoritário de sociedade

limitada de administração coletiva exerça o direito à anulação da deliberação

societária que o tenha excluído da sociedade, ainda que o contrato social

preveja a regência supletiva pelas normas da sociedade anônima. STJ. 4ª

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Turma. REsp 1459190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em

15/12/2015 (Info 575).

Bons Estudos!

Equipe Conteúdos PGE

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