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DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS ANALISTA LEGISLATIVO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS MATERIAL DE APOIO E EXERCÍCIOS Pontos do edital enfrentados neste material: 1.1 Princípios fundamentais (arts. 1º a 4º). 2 Aplicabilidade das normas constitucionais. 2.1 Normas de eficácia plena, contida e limitada. 2.2 Normas programáticas. Considerações doutrinárias sobre princípios fundamentais (arts. 1º a 4º da CF/88) Os princípios constituem a base do ordenamento jurídico de um Estado e influenciam a formação, a interpretação e a integração das demais normas jurídicas. Para além dessas funções normogenética, interpretativa e integradora, os princípios desempenham um papel sistemático, por meio do qual dão coerência interna a todo o sistema normativo. São características dos princípios jurídicos: a) o alto grau de generalidade, abstração e indeterminação; b) a força normativa (as normas jurídicas dividem-se em regras e princípios, sendo que ambos impõem obrigações legais); Na aplicação aos casos concretos, os princípios não se submetem à lógica do tudo ou nada, característica das regras, pela qual, presentes os seus pressupostos fáticos, ou a regra é integralmente aplicada ao caso que lhe é submetido, caso válida, ou não é aplicada por ser considerada inválida, à luz dos critérios cronológico, hierárquico e da especialidade. O princípio possui uma dimensão de peso e pode não ser aplicado num caso concreto, apesar de válido e pertinente, em razão da incidência de outros princípios igualmente aplicáveis. Daí que os princípios são considerados como mandados de otimização e devem ser aplicados na medida do possível e a depender das circunstâncias do caso concreto. No caso de colisão de princípios, deverá ser feita uma ponderação de interesses, com a utilização do princípio da proporcionalidade, que resulte na solução mais justa ao caso concreto 1 . Os princípios constitucionais, por estarem no topo do ordenamento jurídico, dão coerência e unidade de sentido a todo o sistema normativo. A doutrina reconhece a existência de princípios constitucionais positivados e não positivados. O principal exemplo de princípio não positivado na CF88 é o princípio da proporcionalidade, deduzido do seu art. 5.º, LIV. Princípio do Estado Democrático de Direito O princípio do Estado Democrático de Direito (CF, art. 1.º) representa uma evolução da concepção inicial do Estado Liberal de Direito. É importante que tenhamos uma noção da evolução desses paradigmas. 1.º) Estado Liberal de Direito surgiu com as revoluções liberais burguesas do final do século XVIII e exigia: a submissão ao império da lei (inclusive que o Estado fosse limitado pelas normas jurídicas escritas e elaboradas pelos representantes do povo); a adoção do princípio da separação de poderes; e a previsão de direitos fundamentais, principalmente do direito de liberdade individual (direito de 1.ª geração). 2.º) Estado Social de Direito (também chamado de Estado do bem-estar social, Welfare State ou Estado-providência) originou-se dos movimentos operários e sociais do final do século XIX que criticavam a inércia do Estado Liberal de Direito. O qualificativo social teve a intenção de corrigir o individualismo e o abstencionismo do Estado Liberal, além de exigir uma atuação mais forte do Estado e a garantia dos chamados direitos sociais (exs.: saúde, educação, moradia, trabalho, previdência social, etc. direitos de 2.ª geração), a fim de realizar a justiça social. Ocorre que os ideais de um Estado intervencionista, sob a pretensa justificativa de promover a justiça social, desvirtuaram-se na forma de Estados totalitários, evidenciando que o 1 Entendida como aquela que melhor realize o princípio da dignidade da pessoa humana e onde a restrição a cada princípio em jogo seja a mínima indispensável à sobrevivência do outro.

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DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS

ANALISTA LEGISLATIVO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

MATERIAL DE APOIO E EXERCÍCIOS

Pontos do edital enfrentados neste material: 1.1 Princípios fundamentais (arts. 1º a 4º). 2

Aplicabilidade das normas constitucionais. 2.1 Normas de eficácia plena, contida e limitada. 2.2 Normas

programáticas.

Considerações doutrinárias sobre princípios fundamentais (arts. 1º a 4º da CF/88)

Os princípios constituem a base do ordenamento jurídico de um Estado e influenciam a

formação, a interpretação e a integração das demais normas jurídicas. Para além dessas funções

normogenética, interpretativa e integradora, os princípios desempenham um papel sistemático,

por meio do qual dão coerência interna a todo o sistema normativo.

São características dos princípios jurídicos:

a) o alto grau de generalidade, abstração e indeterminação;

b) a força normativa (as normas jurídicas dividem-se em regras e princípios, sendo que

ambos impõem obrigações legais);

Na aplicação aos casos concretos, os princípios não se submetem à lógica do tudo ou

nada, característica das regras, pela qual, presentes os seus pressupostos fáticos, ou a regra é

integralmente aplicada ao caso que lhe é submetido, caso válida, ou não é aplicada por ser

considerada inválida, à luz dos critérios cronológico, hierárquico e da especialidade.

O princípio possui uma dimensão de peso e pode não ser aplicado num caso concreto,

apesar de válido e pertinente, em razão da incidência de outros princípios igualmente aplicáveis.

Daí que os princípios são considerados como mandados de otimização e devem ser aplicados

na medida do possível e a depender das circunstâncias do caso concreto.

No caso de colisão de princípios, deverá ser feita uma ponderação de interesses, com a

utilização do princípio da proporcionalidade, que resulte na solução mais justa ao caso

concreto1.

Os princípios constitucionais, por estarem no topo do ordenamento jurídico, dão

coerência e unidade de sentido a todo o sistema normativo.

A doutrina reconhece a existência de princípios constitucionais positivados e não

positivados. O principal exemplo de princípio não positivado na CF88 é o princípio da

proporcionalidade, deduzido do seu art. 5.º, LIV.

Princípio do Estado Democrático de Direito O princípio do Estado Democrático de Direito (CF, art. 1.º) representa uma evolução da

concepção inicial do Estado Liberal de Direito. É importante que tenhamos uma noção da

evolução desses paradigmas.

1.º) Estado Liberal de Direito – surgiu com as revoluções liberais burguesas do final

do século XVIII e exigia: a submissão ao império da lei (inclusive que o Estado fosse limitado

pelas normas jurídicas escritas e elaboradas pelos representantes do povo); a adoção do

princípio da separação de poderes; e a previsão de direitos fundamentais, principalmente do

direito de liberdade individual (direito de 1.ª geração).

2.º) Estado Social de Direito (também chamado de Estado do bem-estar social, Welfare

State ou Estado-providência) – originou-se dos movimentos operários e sociais do final do

século XIX que criticavam a inércia do Estado Liberal de Direito.

O qualificativo social teve a intenção de corrigir o individualismo e o abstencionismo

do Estado Liberal, além de exigir uma atuação mais forte do Estado e a garantia dos chamados

direitos sociais (exs.: saúde, educação, moradia, trabalho, previdência social, etc. – direitos de

2.ª geração), a fim de realizar a justiça social.

Ocorre que os ideais de um Estado intervencionista, sob a pretensa justificativa de

promover a justiça social, desvirtuaram-se na forma de Estados totalitários, evidenciando que o

1 Entendida como aquela que melhor realize o princípio da dignidade da pessoa humana e onde a restrição a cada

princípio em jogo seja a mínima indispensável à sobrevivência do outro.

qualificativo social não garantiu o surgimento de um efetivo Estado promotor do bem-estar

geral!

Surge, enfim, a concepção do Estado Democrático de Direito (após a 2.ª guerra

mundial), o qual, sem abandonar os ideais de justiça social (daí também ser chamado de Estado

da social-democracia), incorpora os princípios democráticos da soberania popular, da

participação do povo na gestão da coisa pública e do pluralismo político, como garantias de que

os direitos fundamentais sejam respeitados e a justiça social, implementada.

Na lição da doutrina, o Estado Democrático de Direito representa mais do que a simples

reunião do Estado de Direito com o Estado Democrático. Nesse sentido, ele estabelece um

conceito novo que incorpora um (terceiro) componente revolucionário de transformação do

status quo.

Ressalte-se que o Brasil adotou o modelo semidireto de democracia, pelo qual o povo

exerce o poder por meios de representantes eleitos (democracia indireta ou representativa),

ou diretamente pela participação em plebiscitos, referendos, iniciativa popular de lei, além do

ajuizamento de ação popular (mecanismos de democracia direta).

Formas de governo

A forma de governo diz respeito a como o poder político é adquirido e exercido na

comunidade. Dito de outra forma, a forma de governo refere-se a como se dá a relação entre

governantes e governados.

De acordo com a classificação de Nicolau Maquiavel, existem duas formas de governo:

a república e a monarquia.

São características da república:

a) o poder político é adquirido por meio de eleições e exercido de maneira temporária

(poder eletivo e temporário);

b) os governantes são representantes do povo e exercem o poder em seu nome;

c) é prevista a responsabilização dos governantes que gerenciem mal a coisa pública (res

publica, coisa do povo) e há o dever de prestação de contas (princípio da publicidade).

Já a monarquia é caracterizada pelo:

a) poder político adquirido pela hereditariedade e exercido de forma vitalícia (poder

hereditário e vitalício);

b) os governantes não são representantes eleitos do povo;

c) não há previsão de responsabilização do monarca ou de prestação de contas.

Formas de Estado

A forma de estado revela como o poder político se encontra distribuído em função do

território. Se tivermos um poder político concentrado no espaço territorial, teremos o Estado

simples ou unitário.

Se tivermos um poder político repartido em função do território, o que resulta em uma

pluralidade de entidades governamentais (ex.: União, estados-membros, DF e municípios),

teremos o Estado composto ou complexo.

As duas principais formas de estado composto ou complexo são:

a) A confederação: união de Estados soberanos que, por meio de um tratado (vínculo

contratual), associam-se para determinados fins (ex.: defesa e paz externas). Na confederação,

os Estados mantêm as suas soberanias, sendo possível qualquer deles desligar-se da

Confederação (direito de secessão). Ex.: Confederação dos Estados Unidos, de 1781 a 1787.

b) A federação: união de dois ou mais Estados que, por meio de uma Constituição

(vínculo constitucional), formam uma nova organização estatal. Na Federação, o Estado

Federal é o único dotado de soberania, enquanto os estados-membros possuem autonomia

administrativa e política. Aqui, não há o direito de secessão. Exs.: Brasil, Argentina, EUA e

México.

Considerações gerais sobre o federalismo e sobre a versão brasileira

A forma federativa de Estado é adotada no Brasil desde o Decreto n.º 1, de 15/11/1889

(o qual instituiu também a forma republicana de governo) e consolidada na Constituição de

1891.

A Federação foi mantida nas Constituições brasileiras posteriores, com a ressalva das

CFs de 1937, 1967 e de sua EC n.º 1/69, as quais mantiveram apenas um federalismo de

fachada ou nominal. A CF/88 gravou a federação como cláusula pétrea no seu art. 60, § 4.º, I.

O Estado Federal consiste em espécie de Estado composto, o qual é caracterizado pela

divisão espacial do poder, i.e., o poder político encontra-se dividido em relação ao

território. Assim, no Estado Federal existe uma pluralidade de entidades governamentais (no

Brasil: a União, os estados-membros, o DF e os municípios) e de ordenamentos jurídicos, a

saber:

a) o ordenamento jurídico nacional ou total, que obriga todas as entidades da Federação

(daí a expressão leis nacionais, como é o caso da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – Lei n.º 9.394/96); e

b) os ordenamentos jurídicos parciais, que são: o federal, os estaduais, o distrital e os

municipais, os quais vinculam respectivamente a União (ex.: Lei n.º 8.112/90), os estados, o

DF e os municípios.

No Estado Federal, portanto, sobre um mesmo território e população, convivem uma

pluralidade de entidades governamentais e de ordenamentos jurídicos, no intuito de

conciliar a unidade necessária às atividades de interesse nacional e comum (ex.: defesa externa)

com o respeito às diferenças regionais.

A Federação caracteriza-se por ser a reunião de entidades federativas dotadas de

autonomia (e não soberania, a qual é privativa do Estado Federal), unidas em torno de uma

Constituição rígida, que organiza a Federação e distribui as tarefas estatais entre as entidades

(trazendo o chamado pacto federativo), numa concepção maior de descentralização político-

administrativa do poder do Estado.

Podemos resumir da seguinte forma as características comuns a um Estado Federal:

a) Existe uma Constituição Federal rígida, que organiza o Estado Federativo.

b) A Federação caracteriza-se por uma descentralização político-administrativa e por

uma divisão espacial do poder, que geram uma pluralidade de entidades governamentais e de

ordenamentos jurídicos dentro de um mesmo território estatal.

c) O Estado Federal (a República Federativa do Brasil) é o único dotado de

soberania, entendida esta como o poder de autodeterminação plena, não condicionado a

nenhum outro poder, externo ou interno.

d) As entidades federativas (União, estados, DF e municípios) são dotadas apenas de

autonomia, concebida como a capacidade de autodeterminação (financeira, administrativa,

legislativa, orçamentária e política – FALOP), dentro dos limites previstos na CF/88.

e) É inadmissível o direito de secessão (os entes federativos não possuem o direito de

se separar do Estado Federal – princípio da indissolubilidade federativa). No Brasil,

qualquer movimento separatista resultará na decretação de intervenção federal (CF, art. 34, I).

f) Não existe hierarquia entre os entes da Federação (a União não é hierarquicamente

superior aos estados nem estes aos municípios).

g) Há repartição de competências entre os entes (no pacto federativo, serão repartidas

as tarefas estatais entre as entidades e se assegurará exatamente a autonomia necessária para o

cumprimento das atribuições de cada um).

h) As entidades federativas participam na formação da vontade nacional (por meio

do Senado Federal, constituído de representantes dos estados-membros e do DF).

i) É previsto um controle de constitucionalidade para evitar a invasão de

competências entre os entes da Federação.

j) Existe um guardião da Constituição (no Brasil, o STF).

Importante para concursos!

- O Estado brasileiro (a República Federativa do Brasil) é o único dotado de soberania (ampla

liberdade externa e interna). A União, os estados-membros, o DF e os municípios são dotados

apenas de autonomia (liberdade político-administrativa nos limites da CF).

- Na Federação, não existe o direito de secessão, valendo o princípio da indissolubilidade

federativa.

Já as características da federação brasileira são as seguintes:

a) Trata-se de uma federação de formação centrífuga (movimento do centro para as

extremidades), uma vez que foi o Estado unitário brasileiro (o ―Império do Brazil‖) que decidiu

se dividir em 1889; diferentemente da federação norte-americana, a qual surgiu quando os

Estados Americanos confederados, dotados de soberania, resolveram se unir sob a forma

federativa (federação de formação centrípeta).

b) Pela mesma razão, o federalismo brasileiro é classificado como um federalismo por

desagregação ou por segregação (o Estado unitário soberano decidiu dividir-se em Estados-

membros autônomos ainda não existentes), enquanto o federalismo dos EUA é tido como um

federalismo por agregação (vários Estados soberanos decidiram unir-se, formando um único

Estado Federativo). Essa, inclusive, é a razão pela qual os Estados-membros norte-americanos

possuem uma autonomia muito superior à concedida aos estados-membros brasileiros.

c) A CF/88 tenta implementar um federalismo de equilíbrio (entre o poder central e os

poderes regionais e locais), mas, na prática, ainda constata-se no Brasil um federalismo

centrípeto (com a concentração maior de poder no ente central).

d) O federalismo brasileiro é tridimensional, tricotômico, trino, tríplice ou

tripartido, por reconhecer 3 esferas governamentais: a central da União, a regional dos estados

e a local dos municípios (o DF acumula as esferas: regional e local, tendo a principal função de

abrigar a Capital da República, Brasília, e os Poderes da União).

Nesse ponto, o Brasil não seguiu o federalismo norte-americano, denominado de

clássico ou dual, que conhece duas esferas de poder: o central da União e o regional dos

estados-membros.

e) Apesar de manter o federalismo homogêneo ou simétrico, em que cada ente

federativo é dotado da mesma parcela de poder, a CF/88 faz concessões ao federalismo

assimétrico ou heterogêneo, pelo qual se reconhece uma situação de desigualdade entre os

entes e propõe-se o tratamento diferenciado, a fim de promover o equilíbrio federativo (ex.:CF,

arts. 45, § 1.º, e 43, § 2.º).

f) A CF/88 contempla mecanismos do federalismo cooperativo, pelo qual as entidades

da Federação auxiliam-se mutuamente, por meio de subsídios, transferência de receitas, etc., a

fim de garantir que as competências federativas sejam cumpridas por cada ente da maneira mais

eficiente possível (ex.: CF, arts. 157 a 162 e 23, § único).

g) O federalismo dual ou clássico (norte-americano) adota a repartição horizontal de

competências, em que há uma atuação separada e independente entre as entidades federadas

(sem competências comuns ou concorrentes). A CF/88 abraça a repartição horizontal de

competências em seus arts. 21, 22, 25, § 1.º, e 30.

Já nos seus arts. 23 e 24, a CF/88 adota a repartição vertical de competências, típica

do federalismo cooperativo, em que há uma atuação conjunta e coordenada entre os entes

federativos (em níveis distintos, como na competência concorrente do art. 24, ou em pé de

igualdade, como na competência comum do art. 23).

Sistemas de governo O sistema de governo dispõe sobre a relação entre o Poder Executivo e o Legislativo

no exercício de suas funções. Uma maior independência entre esses Poderes revela o sistema

presidencialista. Uma maior interdependência e colaboração entre o Legislativo e o Executivo

geram o sistema parlamentarista.

São características do sistema de governo presidencialista:

a) o presidente da República acumula as funções de chefe de Estado e de chefe de

Governo (o Poder Executivo é, portanto, monocrático, concentrado na figura do

presidente da República);

b) Os ministros de Estado são meros auxiliares do presidente da República, de livre

nomeação e exoneração;

c) O presidente da República é eleito para um mandato fixo e autônomo e não necessita

da confiança do Legislativo para permanecer no poder;

d) O Legislativo não está sujeito à dissolução, pois os seus membros são eleitos para um

mandato fixo e pré-determinado.

e) Relação entre Executivo e Legislativo é mais rígida, vigorando o princípio da

separação dos poderes, independentes e harmônicos entre si;

f) É típico das repúblicas.

Por outro lado, são características do sistema de governo parlamentarista:

a) O Poder Executivo encontra-se dividido em duas figuras (Executivo dual): o

primeiro-ministro (chefe de Governo) e o monarca ou presidente da República

(chefe de Estado);

b) O Legislativo (chamado aqui de Parlamento) assume funções políticas e

governamentais, pois o gabinete de ministros (cujo chefe é o primeiro-ministro) é

formado por membros do Parlamento;

c) Há uma interdependência entre o Legislativo e o Executivo, que gera, não uma

independência, mas uma colaboração entre esses poderes. Como consequencia, o

governo pode ser responsabilizado perante o Parlamento, por meio do voto ou da

moção de desconfiança, que resulta na destituição do gabinete e do primeiro-ministro

(o qual, portanto, não possui mandato fixo e pré-estabelecido); e o Parlamento pode ser

dissolvido pelo chefe de Estado, o que resulta na convocação de novas eleições

parlamentares;

d) O parlamentarismo é típico das monarquias, mas é adotado também pelas repúblicas

européias (exs.: França, Alemanha, Portugal e Itália).

Ressalte-se que o Brasil adotou, na CF88, a forma de governo republicana, a forma de

Estado federativa e o sistema de governo presidencialista.

A Constituição, no seu art. 60, § 4.º, gravou a forma federativa de Estado como

cláusula pétrea. Já a forma de governo republicana não é cláusula pétrea da CF88, mas um

princípio constitucional sensível da Carta Republicana (art. 34, VII), que enseja a intervenção

federal no estado-membro que a desrespeitar.

Princípio da separação dos poderes

Consagrado na obra do Barão de Montesquieu ―O espírito das leis‖, o princípio da

separação dos poderes propõe que as funções do Estado (legislativa, executiva e judiciária)

sejam exercidas por órgãos distintos e autônomos, sem qualquer ingerência de um órgão sobre o

outro.

Esse princípio busca a limitação do poder do Estado por meio de uma fiscalização

recíproca entre os órgãos (denominados impropriamente de Poderes), a fim de evitar o arbítrio e

o abuso do poder estatal.

Ocorre que o princípio da separação entre os Poderes não é mais concebido em sua

concepção rígida, que imperou nas revoluções francesa e americana. Atualmente, prevalece

uma concepção flexível, com as seguintes características:

a) Separação não absoluta entre os poderes – a distribuição das funções estatais entre

os poderes não ocorre com exclusividade absoluta. Exemplos: o Poder Executivo edita medidas

provisórias (CF, art. 62), enquanto o Poder Legislativo possui a função de julgar o impeachment

do presidente da República (CF, art. 52, I).

b) Sistema de freios e contrapesos (checks and balances) – os poderes devem interferir

uns nos outros para que haja a limitação e a fiscalização do exercício das funções estatais.

Exemplos: o presidente da República veta os projetos de lei do Legislativo (CF, art. 66); o

Poder Judiciário declara a inconstitucionalidade das leis elaboradas pelo Legislativo (CF, art.

102, I, a).

Resumo de José Afonso da Silva (JAS) sobre princípios fundamentais

1. Na aplicação aos casos concretos, os princípios não se submetem à lógica do tudo ou

nada, característica das regras (ou a regra é aplicada, caso válida, ou não é aplicada, pelos

critérios cronológico, hierárquico e da especialidade; conflito entre regras gera antinomia). Já os

princípios possuem uma dimensão de peso, de importância (valor), são aplicados na medida

do possível (são mandados de otimização) e o conflito entre eles não gera antinomia (pois os

princípios convivem). Na colisão de princípios, faz-se a ponderação de interesses, com a

utilização do princípio da proporcionalidade.

2. J.J. Gomes Canotilho divide a Constituição em um sistema aberto de princípios e

regras. Ronald Dworkin divide a CF em regras, princípios e diretrizes políticas. José Afonso

da Silva (JAS) divide-a em normas e princípios, enquanto a palavra regra é mais ampla.

3. Para JAS, princípio é o núcleo de condensação no qual conflui valores e bens

constitucionais e, quando positivados, transformam-se em normas-princípio.

4. Princípios jurídico-constitucionais: são princípios constitucionais gerais informadores

da ordem jurídica nacional, não raro são desdobramentos dos princípios fundamentais (princípio

da constitucionalidade – desdobramento da supremacia da CF -, da legalidade, da proibição do

excesso, da imparcialidade, da isonomia, da autonomia individual – desdobramentos da

declaração de direitos). Princípios político-constitucionais: são os princípios constitucionais

fundamentais, as decisões políticas fundamentais de Carl Schmitt (arts. 1º a 5º da CF).

Princípios institucionais ou regionais: regem e modelam o sistema normativo das instituições

constitucionais, como os princípios da Administração Pública, do processo legislativo, do

sistema tributário e orçamentário, da ordem econômica, da independência da magistratura e os

princípios-garantias (nullum crimen sine lege, nulla poena sine lege, devido processo legal, juiz

natural, ampla defesa e contraditório).

5. Princípios constitucionais fundamentais: estão positivados na CF (Título I),

traduzindo-se em normas fundamentais, normas-síntese ou normas-matrizes que contêm as

decisões políticas fundamentais. Alguns deles são normas-sínteses ou normas-matrizes (ex:

separação de poderes, soberania popular, República Federativa do Brasil, Estado Democrático

de Direito), que possuem aplicabilidade direta e imediata. Princípios gerais do direito

constitucional: formam temas de uma teoria geral do Direito Constitucional, de um direito

constitucional geral (ex.: princípios da supremacia da CF, rigidez constitucional, classificação

das constituições, poder constituinte).

6. Disposições programáticas: são as normas de eficácia limitada de princípio

programático, de aplicabilidade mediata/indireta/diferida/reduzida.

7. Fundamentos da R.F.B.: SO – DI – CI – VA – PLU. RFB: regra que traz a forma de

governo e a forma de Estado (a CF/88 apenas perenizou a república e a federação já instaladas

no Brasil desde 1889) e Estado Democr. Dir.: regra que traz o tipo de Estado e o regime

político/regime de governo adotado.

7.1. Soberania: desnecessário, pois inerente ao conceito de Estado; é também princípio da

ordem econômica; significa poder político supremo (não limitado por nenhum outro na ordem

interna – soberania interna) e independente (está em pé de igualdade e não deve se submeter a

qualquer ordem que não seja voluntariamente aceita na ordem internacional – soberania

externa); a independência nacional também está nos arts. 3.º, I, e 4.º, I, da CF/88.

7.2. Cidadania: a cidadania é tributária da soberania popular, cidadão como o nacional

dotado de direitos políticos de votar e ser votado (oposta à ideia de vassalagem). Cidadão no

sentido amplo: todos os nacionais; no sentido restrito: nacional titular de direitos políticos. A

nova dimensão da cidadania decorre da ―Constituição dirigente‖ com a previsão de direitos

sociais mais ou menos eficazes (evolução dos direitos fundamentais do ser humano). JAS:

cidadania é mais do que titular de direitos políticos, é participante da vida do Estado, integrado

na sociedade estatal, com o Estado submetido à vontade popular.

7.3. Dignidade da pessoa humana: os seres racionais (pessoas) são um fim em si mesmo,

devem ser objeto de respeito e não podem ser tratados como meios, ao contrário das coisas

(Kant). Coisas têm preço, pessoas têm dignidade. A CF/88 não o criou, apenas o reconheceu

como valor supremo (não só da ordem jurídica, mas também da política, econômica, social e

cultural) que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem (inclusive sociais,

culturais e econômicos). A CF não protegeu a dignidade como dignidade de natureza espiritual,

intelectual, social ou moral, mas a dignidade inerente a qualquer pessoa humana, independente

de como se comporte (nem mesmo um comportamento indigno priva a pessoa de seus direitos

fundamentais), daí que a CF não traz a pena de morte generalizada ou permite a tortura em

casos de crimes hediondos. A dignidade humana baseia-se na autonomia (liberdade) do homem

e exige condições mínimas de existência digna conforme os ditames da justiça social.

7.4. Valores sociais do trabalho (livre escolha do trabalho, direito a condições equitativas

e de igualdade de tratamento, além de remuneração digna) e da livre iniciativa (liberdade para

regular suas relações comerciais, exercer livremente a atividade escolhida, etc.). São também

princípios da ordem econômica. Os valores da livre iniciativa estão subordinados à função

social da empresa e ao dever de propiciar melhores condições de vida aos trabalhadores, daí que

a CF/88 não valoriza o lucro pelo lucro.

7.5. Pluralismo político: a CF/88 opta pela sociedade pluralista, que respeite a pessoa

humana e a liberdade, em lugar da sociedade monista, dos regimes coletivistas, monolíticos e de

poder fechado.

8. A Democracia não é um valor em si, mas meio de realização de valores essenciais de

convivência, que são os direitos fundamentais. Não é um processo estático, pois evolui com o

processo de afirmação do povo e de seus direitos. A CF/88 combina representação (democracia

representativa – participação popular indireta, periódica e formal) e participação direta

(democracia participativa – participação direta e pessoal da cidadania na formação dos atos de

governo), tendendo para a democracia participativa. Instrumentos da CF/88 de democracia

semidireta: iniciativa popular, referendo, plebiscito, arts. 10, 11, 31, § 3º, 74, § 2º, 194, VII, 206,

VI, 216, § 1º. Democracia é regime político (ou regime constitucional ou regime de governo),

sendo o regime político o complexo estrutural de instituições, princípios e forças políticas que

configuram determinada concepção de Estado e de sociedade, e que inspiram ser ordenamento

jurídico. Os regimes políticos são a democracia (organizados de baixo pra cima, soberania

popular, respeito aos direitos fundamentais) e a autocracia (de cima para baixo, princípio do

chefe, soberania do governante, privação de direitos fundamentais). Todo o poder emana do

povo, mas o poder do povo submete-se à Constituição. No E.D.D., não se abandona o ideal de

justiça social do Estado Social de Direito nem os princípios da legalidade, da separação e

poderes e dos direitos fundamentais do Estado Liberal. Mas a eles se agrega um 3º componente

revolucionário ou de transformação do status quo. A lei no E.D.D. não deve ser apenas geral e

abstrata, mas promover intervenções que promovam a justiça social (ex.: ações afirmativas).

9. Princípio da divisão de Poderes: esteve sempre presente em nosso Estado. No Império,

prevaleceu a separação quadripartida com a inclusão do Poder Moderador (Benjamin Constant),

a partir de 1891, prevaleceu a separação tripartida de Montesquieu. Esse princípio não se

contrapõe as características fundamentais do poder político: unidade, indivisibilidade e

indelegabilidade, sendo, na verdade, impróprio falar em divisão ou delegação de Poderes. Não

se deve confundir distinção de funções do poder (especialização das tarefas estatais, sem

considerar se os órgãos que a exercem são concentrados ou separados) com divisão de poderes

(que consiste na técnica de confiar cada uma dessas funções a órgãos diferentes – Legislativo,

Executivo e Judiciário). A divisão de poderes fundamenta-se em dois elementos: especialização

funcional e independência orgânica (i.e., ausência de subordinação entre eles). No

parlamentarismo, há colaboração de poderes. No presidencialismo, há independência orgânica

(a investidura, o exercício e a permanência no poder não depende da confiança, da vontade ou

da autorização dos outros Poderes) e harmonia (cortesia no trato e respeito às prerrogativas e

imunidades) dos Poderes. Exemplos de mecanismos de freios e contrapesos: iniciativa

legislativa privativa do Poder Executivo (art. 61, § 1º), sanção/veto (art. 66), pedido de urgência

constitucional (art. 64, §§ 1º a 4º), declaração judicial de inconstitucionalidade das leis,

nomeação dos ministros dos tribunais superiores pelo Executivo com sabatina do Senado (arts.

101, 104, etc.), congressistas podem exercer funções de Ministro de Estado sem perder o

mandato (art. 56, I), convocação de ministros para depor perante o Parlamento (art. 50) e a

edição de medidas provisórias e leis delegadas pelo presidente da República (arts. 62 e 68).

Jurisprudência: norma inserida, por emenda parlamentar, em projeto de iniciativa exclusiva do

Chefe do Poder Executivo, que acarreta aumento de despesa pública – Ofensa aos princípios da

independência e harmonia entre os Poderes (STF, ADI/MC 873/RS). A função executiva

divide-se em função de governo, com atribuições políticas, co-legislativas e de decisão

(exercida pelo órgãos supremos ou constitucionais, que formam o governo), e função

administrativa (exercida pelos órgãos dependentes ou administrativos, que formam a

Administração Pública), com as missões de intervenção, fomento e serviço público.

10. Objetivos fundamentais da R.F.B. (art. 3º): CO – RE – ER – PROMO – GA. Não

são objetivos de governo, mas do Estado. Só na aparência têm sentido programático. São

normas dirigentes ou teleológicas, que apontam fins positivos a serem alcançados pela aplicação

de outras normas da CF/88. O art. 3º traz os fins a que se subordina o Estado constitucional

brasileiro, o qual se encontra constitucionalmente vinculado quanto aos meios e quanto aos fins.

Garantia do desenvolvimento nacional: na CF/67, era apenas um princípio da ordem econômica

(a Ditadura buscava o crescimento/desenvolvimento econômico); na CF/88, o desenvolvimento

é nacional em todas as dimensões, daí que não se quer simples crescimento econômico sem

justiça social! O direito ao desenvolvimento é direito fundamental de 3ª geração voltado para a

melhoria da qualidade de vida das pessoas.

11. Princípios da R.F.B. em suas relações internacionais: são de eficácia plena,

aplicabilidade imediata e observância obrigatória, ainda que alguns contenham enunciados

abertos, mas que são determináveis pela doutrina. Relações internacionais é mais amplo que

relações externas ou exteriores, porque abrange não só as relações com Estados, mas também

com organismos internacionais e comunitários. A independência nacional reafirma o caráter

externo da soberania, mas não é pura redundância, ao inadmitir qualquer laço de união ou

federação que se oponha à independência. Autodeterminação dos povos provém do princípio

das nacionalidades, segundo o qual é direito de uma nação escolher seu próprio governo, mas o

Brasil repele qualquer autodeterminação que desrespeite os direitos fundamentais, daí que o

princípio não pode dar margem à formação de regimes autoritários e ditatoriais. A paz (direito

fundamental de 3ª geração) defendida pela CF é a ausência de conflitos armados, ainda que sem

a declaração formal de guerra. Guerra e paz são celebrados pelo presidente da República com a

autorização ou referendo do Congresso nacional (CF, art. 84, XX). O Brasil não pode entrar em

guerra de conquista, direta ou indiretamente, por si ou em aliança com terceiro. Asilo político:

compreende dois institutos inconfundíveis: asilo diplomático (depende de acordos

internacionais e propõe-se a abrigar o indivíduo na repartição diplomática) e asilo territorial

(instituto de Direito interno, que se propõe a receber indivíduo no território, sem os requisitos

normais de ingresso, a seu pedido, para evitar perseguição por delito de natureza política ou

ideológica). O asilo político não pode ser invocado em caso de perseguição legítima pela prática

de crimes comuns ou por atos contrários aos princípios da ONU. O asilado fica sujeito às

normas de Direito interno do Brasil e não pode sair do país sem autorização do governo

brasileiro, sob pena de renúncia ao asilo e impedimento de reingresso nessa condição.

12. Forma de governo: maneira como se dá a instituição do poder e a relação entre

governantes e governados (quem e como se exerce o poder). República e monarquia (Nicolau

Maquiavel; Aristóteles: monarquia e tirania, aristocracia e oligarquia, república/democracia e

demagogia). A república na CF/88 é mais do que contraposição à forma de governo

monárquica. É afirmar a ―coisa do povo‖, contra qualquer forma de tirania. Características da

república: poder eletivo e temporário, princípio da representatividade, publicidade,

transparência, igualdade, ausência de privilégios, responsabilização dos governantes, prestação

de contas. Forma de estado: como o poder político se encontra distribuído em função do

território. Estados simples ou unitários e Estados compostos ou complexos (federação – estados

dotados de autonomia política e administrativa reunidos por uma Constituição rígida, sem

direito de secessão; confederação: reunião de estados soberanos por tratado internacional, há

direito de secessão). O movimento descentralizador nos estados unitários dá origem a estados

unitários com descentralização do tipo autárquica (administrativa, mas não política) ou até a

formas intermediárias de Estado (semifederais): o Estado Regional (Itália) e o Estado

Autonômico (Espanha). Sistema de governo: Sistema de governo: relação entre o Poder

Executivo e Legislativo. No sistema presidencialista, o Executivo é monocrático, os ministros

são meros auxiliares e de livre nomeação e exoneração e há independência e harmonia entre os

Poderes (no parlamentarismo, há colaboração entre os poderes e o Legislativo pode ser

dissolvido pelo chefe de Estado e o chefe de governo pode ser derrubado pelo parlamento). Na

CF/88, a federação é cláusula pétrea expressa (art. 60, § 4º) e a república é princípio

constitucional sensível (art. 34, VII).

Jurisprudências do STF sobre os princípios fundamentais dos arts. 1º a 4º da CF/88

Art. 1.º da CF/88

- ―O pacto federativo, sustentando-se na harmonia que deve presidir as relações institucionais entre as

comunidades políticas que compõem o Estado Federal, legitima as restrições de ordem constitucional que

afetam o exercício, pelos Estados-membros e Distrito Federal, de sua competência normativa em tema de

exoneração tributária pertinente ao ICMS.‖ (ADI 1.247‑MC)

- ―Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade

judicial. Mais: é dever de cidadania opor -se à ordem ilegal; caso contrário, nega -se o Estado de Direito.‖

(HC 73.454)

- ―Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à

integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por

escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da

prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado‖ (Súmula

Vinculante 11). No julgamento que deu origem a essa Súmula Vinculante, o STF decidiu que não se

harmoniza com o princípio da dignidade da pessoa humana (além de influenciar negativamente a decisão

dos jurados) manter o réu algemado durante o julgamento perante o Tribunal do Júri, sem que haja

demonstração de sua periculosidade (HC 91.952).

- ―A cláusula da reserva do possível – que não pode ser invocada, pelo Poder Público, com o propósito de

fraudar, de frustrar e de inviabilizar a implementação de políticas públicas definidas na própria

Constituição – encontra insuperável limitação na garantia constitucional do mínimo existencial, que

representa, no contexto de nosso ordenamento positivo, emanação direta do postulado da essencial

dignidade da pessoa humana. (...) A noção de ‗mínimo existencial‘, que resulta, por implicitude, de

determinados preceitos constitucionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um complexo de

prerrogativas cuja concretização revela -se capaz de garantir condições adequadas de existência digna, em

ordem a assegurar, à pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, também, a prestações positivas

originárias do Estado, viabilizadoras da plena fruição de direitos sociais básicos, tais como o direito à

educação, o direito à proteção integral da criança e do adolescente, o direito à saúde, o direito à

assistência social, o direito à moradia, o direito à alimentação e o direito à segurança‖ (ARE 639.337‑AgR)

- ―A mera instauração de inquérito, quando evidente a atipicidade da conduta, constitui meio hábil a

impor violação aos direitos fundamentais, em especial ao princípio da dignidade humana‖ (HC 82.969).

- O STF entende que o suposto pai não pode ser obrigado a se submeter ao exame de DNA, pois tal

medida afrontaria a dignidade humana, a intimidade, a intangibilidade do corpo humano e o disposto no

art. 5.º, LXIII, da CF/88, razão pela qual não se admite decisão judicial, em ação civil de investigação de

paternidade, que implique determinação no sentido de o réu ser conduzido ao laboratório, ―debaixo de

vara‖, para coleta compulsória do material indispensável à feitura do exame DNA. Considera-se que, na

ação investigatória, a recusa do suposto pai em submeter-se ao exame de DNA induz presunção ―juris

tantum‖ de sua paternidade (vide ainda Súmula 301 do STJ) (HC 71.373)

- ―O direito ao nome insere-se no conceito de dignidade da pessoa humana, princípio alçado a

fundamento da República Federativa do Brasil (CF, art. 1º, III)‖ (RE 248.869)

- O STF declarou a inconstitucionalidade do art. 44 da Lei 11.343/2006, no ponto em que trazia a vedação

abstrata da concessão da liberdade provisória para os presos em flagrante pelo crime de tráfico de drogas.

Entendeu-se que da previsão do art. 5.º, XLIII, da CF/88, no sentido de serem inafiançáveis os

crimes de tráfico de drogas, não resulta a proibição de liberdade provisória e a imposição de uma

prisão “ex lege”, a impedir que o juiz analise em cada caso a necessidade da prisão cautelar, sob pena de

antecipação da pena criminal e de violação aos princípios da presunção de inocência, do devido processo

legal e da dignidade humana (HC 104339/SP).

- Acusações genéricas violam a ampla defesa: o processo penal de tipo acusatório repele, por ofensivas a

garantia da plenitude de defesa, quaisquer imputações que se mostrem indeterminadas, vagas,

contraditórias, omissas ou ambíguas. A denúncia – peça inaugural da ação penal – deve conter a

exposição do fato delituoso, em toda a sua essência e com todas as suas circunstancias, sob pena de

nulidade processual absoluta. Essa narração, ainda que sucinta, impõe-se ao acusador como exigência

derivada do postulado constitucional que assegura ao réu o exercício, em plenitude, do direito de defesa

(HC 70.763/DF). Ressalte-se que nos chamados crimes societários, isto é, nos crimes de autoria coletiva

praticados pelos sócios de determinada sociedade contra a ordem tributária (Lei n.º 8.137/90), ordem

financeira (Lei n.º 7.492/86) e previdência social (Lei n.º 9.983/00), houve mudança na orientação

jurisprudencial do STF que entendia ser apta a denúncia que não individualizasse as condutas de cada

indiciado, bastando a indicação de que os acusados fossem de algum modo responsáveis pela condução

da sociedade comercial sob a qual foram supostamente praticados os delitos. Com a mudança de

entendimento, o STF passou a exigir a individualização das condutas criminosas, i.e., a descrição, ainda

que mínima, da participação de cada um dos acusados nos crimes societários, a fim de possibilitar o

adequado exercício do direito de defesa e o respeito à dignidade humana (HC 86.362/SP).

- ECT e monopólio das atividades postais: O STF julgou improcedente ADPF que pedia a não recepção

de lei federal anterior à CF/88 que instituíra o monopólio das atividades postais pela Empresa Brasileira

de Correios e Telégrafos - ECT. Prevaleceu o entendimento pelo qual o serviço postal constitui serviço

público, portanto, não atividade econômica em sentido estrito, daí a não aplicação dos princípios da

livre iniciativa e da livre concorrência (STF, ADPF 46/DF).

- ―A fixação de horário de funcionamento de estabelecimento comercial é matéria de competência

municipal, considerando improcedentes as alegações de ofensa aos princípios constitucionais da

isonomia, da livre iniciativa, da livre concorrência, da liberdade de trabalho, da busca do pleno emprego e

da proteção ao consumidor‖ (AI 481.886‑AgR).

- ―Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do princípio da livre

concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das desigualdades sociais, em conformidade

com os ditames da justiça social, pode o Estado, por via legislativa, regular a política de preços de

bens e de serviços, abusivo que é o poder econômico que visa ao aumento arbitrário dos lucros‖ (ADI

319‑QO).

- O STF julgou improcedente ADI contra lei estadual que assegura aos estudantes o pagamento de meia-

entrada do valor cobrado para o ingresso em eventos esportivos, culturais e de lazer. Considerou-se que,

se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina ao Estado a adoção de

providências tendentes a garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto (ADI

1950/SP).

- Inconstitucionalidade da cláusula de barreira: O STF declarou a inconstitucionalidade de alguns

artigos da Lei 9.096/95 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos) que condicionavam o funcionamento

parlamentar a determinado desempenho eleitoral (o que se conhece como ―cláusula de barreira ou de

desempenho‖), reduzindo, ainda, substancialmente o tempo de propaganda partidária gratuita (―direito de

antena‖) e a participação no rateio do Fundo Partidário, conforme alcançados, ou não, os patamares de

desempenho impostos para o funcionamento parlamentar. Entendeu-se que os dispositivos impugnados

violam o art. 1º, V (pluralismo político); o art. 17 (liberdade partidária) e o art. 58, § 1º (participação dos

partidos na constituição das mesas e comissões parlamentares), todos da CF/88. Considerou-se, ainda, que

o art. 17, IV, da CF/88 (funcionamento parlamentar de acordo com a lei) não autoriza o legislador

ordinário a esvaziar princípios constitucionais como o pluripartidarismo, nem inviabilizar, por completo,

esse funcionamento parlamentar, reduzindo a participação no Fundo Partidário e o tempo disponível para

a propaganda partidária, além de impedir a participação dos partidos minoritários na constituição das

mesas e comissões parlamentares (ADI 1.351/DF e ADI 1.354/DF).

- O STF decidiu que o princípio da insignificância penal não pode ser aplicado ao art. 290 do Código

Penal Militar (posse de substância entorpecente em lugar sujeito à administração castrense)

independentemente da quantidade da droga envolvida, não havendo que se cogitar de violação ao

princípio da dignidade humana nesse entendimento. Considerou-se que tal conduta ofende as instituições

militares, a operacionalidade das Forças Armadas, e os princípios da hierarquia e da disciplina (HC

94685/CE).

- O STF entendeu que o fato de o estrangeiro não possuir domicílio no território brasileiro não afasta, por

si só, o benefício penal da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito.

Entendimento contrário estaria baseado em indevida interpretação literal do art. 5º, ―caput‖, da CF/88,

pela qual os estrangeiros não residentes no País não seriam titulares de direitos fundamentais. Apesar de

os estrangeiros não serem titulares de todos os direitos fundamentais previstos na CF/88 (a exemplo dos

direitos políticos, privativos dos cidadãos brasileiros), o STF não admitiu o tratamento distintivo no caso

concreto (HC 94.477).

- O STF entendeu cabível impetração de ―habeas corpus‖ para assegurar a detento em estabelecimento

prisional o direito de receber visitas de seus filhos e enteados, por entender que tal privação agrava e

intensifica a restrição à liberdade de locomoção do réu. Lembrou-se, nesse julgamento, que a

possibilidade de impetração de ―habeas corpus‖ exige uma lesão ou ameaça, real ou ao menos potencial, à

liberdade de locomoção, o que foi reconhecido no presente caso e em outras situações, contra instauração

de inquérito criminal para tomada de depoimento, indiciamento policial, recebimento de denúncia,

sentença de pronúncia no âmbito do processo do Júri e decisão condenatória, entre outras (HC 107.701).

- A condenação por crime hediondo não enseja, por si só, uma proibição objetiva e incondicional à

concessão de prisão domiciliar, tendo em vista o princípio da dignidade da pessoa humana (HC 83.358).

Art. 2.º da CF/88

- ―É inconstitucional a criação, por Constituição estadual, de órgão de controle administrativo do Poder

Judiciário do qual participem representantes de outros Poderes ou entidades‖ (Súmula 649).

- O STF entendeu que as normas infraconstitucionais, aí incluída a lei federal, e as normas estaduais

(inclusive a constituição do estado) não podem criar novas interferências de um Poder na órbita de

outro que não derive explícita ou implicitamente de regra ou princípio da Constituição Federal. No

caso concreto, o STF declarou a inconstitucionalidade de norma de constituição estadual que autorizava a

qualquer parlamentar, individualmente, realizar o poder de fiscalização sobre a atuação administrativa do

Poder Executivo. Ocorre que tal poder, pela CF/88, é outorgado aos órgãos coletivos de cada câmara do

Congresso Nacional, no plano federal, e da Assembleia Legislativa, no âmbito dos Estados; nunca, aos

seus membros individualmente, salvo, é claro, quando atuem em representação (ou presentação) de sua

Casa ou comissão (ADI 3.046).

- O STF já decidiu que, no sistema ―belga‖ ou da ―contenciosidade limitada‖, adotado no Brasil, o STF

limita-se a examinar os requisitos legais de ordem formal para a concessão da extradição passiva (i.e.,

aquela que é solicitada ao Brasil), a exemplo: a) do compromisso do estado requerente de não aplicar

pena de morte não admitida no Brasil ou pena de caráter perpétuo (cuja execução supere 30 anos – art. 75

do Código Penal); e b) da existência de tratado internacional de extradição ou compromisso de

reciprocidade com o Brasil, nos termos dos arts. 76 e ss. da Lei n.º 6.815/80, sem adentrar no mérito da

acusação penal ou no contexto probatório em que a extradição se apoia. Apesar disso, a jurisprudência do

STF (Ext 1.082/Uruguai) excepcionalmente admite, no âmbito do processo de extradição passiva (CF, art.

102, I, ―g‖), a análise de alguns aspectos de mérito que envolvem o processo criminal no exterior, a

exemplo: a) da não ocorrência de prescrição penal (no Brasil ou no exterior); b) da observância do

princípio da dupla tipicidade (o fato deve ser considerado crime no Brasil e no ordenamento jurídico do

Estado requerente, sendo desnecessário que os crimes tenham a mesma designação formal); c) da não

configuração de extradição política ou de opinião (CF, art. 5.º, LII); d) da não observância, no processo

criminal estrangeiro, dos parâmetros do devido processo legal, do Estado de Direito e do direitos básicos

do réu, como a ampla defesa, a igualdade das partes e o juiz natural, em um ―fair trial‖ (Ext

897/República Tcheca e Ext 986/Bolívia).

- Afirmada a ilegalidade do processo extradicional pelo STF, tal decisão vincula o presidente da

República, que está proibido de dar sequência à extradição do indivíduo. Por outro lado, entendendo a

Suprema Corte ser cabível a extradição, o processo é encaminhado ao presidente da República, o

qual não se vincula a essa decisão do STF e pode decidir discricionariamente se extradita ou não o

indivíduo (CF, art. 84, VII) (Ext 1085/Itália). Assim, o princípio da separação dos Poderes indica não

competir ao STF rever o mérito de decisão do presidente da República acerca da efetivação ou não

da extradição (i.e., trata-se de medida insindicável pelo STF), vez que a extradição não é ato de um

dos Poderes do Estado, mas ato de soberania da República Federativa do Brasil, na figura do seu chefe

supremo, a quem cabe privativamente a função de representação externa do país (Rcl 11.243/DF).

- O fato de o estrangeiro possuir família brasileira (esposa/companheira e/ou filhos) que vive sob

sua dependência econômica e que esteja sob sua guarda (no caso de filho) impede a expulsão do

estrangeiro (art. 75 da Lei n.º 6.815/80), mas não a sua extradição. Nesse sentido, conferir a seguinte

decisão: ―A família é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado. O impetrante é casado com

brasileira e tem filho brasileiro, que vivem sob sua dependência econômica. Expulsá-lo seria destruir sua

família e desamparar mulher e filho brasileiros‖ (STJ, MS 3.399/DF). Vide ainda enunciado n.º 421 da

Súmula do STF: ―Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando casado com brasileira ou

ter filho brasileiro‖.

- Constitucionalidade da especialização de varas judiciárias por resolução de tribunal e os

princípios da reserva legal (ou reserva da lei em sentido estrito) e princípio da legalidade (ou

reserva da norma): O STF decidiu que resolução de tribunal que disponha sobre a especialização de

varas e a redistribuição de processos judiciais não viola o princípio do juiz natural, considerando

que o tema da organização judiciária pode ser regulado por resolução de tribunal e que, no caso,

não foi criado um juízo de exceção, mas houve simples especialização de vara, visando a uma melhor

prestação da tutela jurisdicional (HC 88.660/CE). Em outro julgado, o STF afirmou que: ―Especializar

varas e atribuir competência por natureza de feitos não é matéria alcançada pela reserva da lei em

sentido estrito, porém apenas pelo princípio da legalidade afirmado no art. 5º, II, da CB, ou seja,

pela reserva da norma. No enunciado do preceito – ‗ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer

alguma coisa senão em virtude de lei‘– há visível distinção entre as seguintes situações: (i) vinculação às

definições da lei e (ii) vinculação às definições ‗decorrentes‘ – isto é, fixadas em virtude dela – de lei. No

primeiro caso estamos diante da „reserva da lei‟; no segundo, em face da „reserva da norma‟ (norma

que pode ser tanto legal quanto regulamentar ou regimental). Na segunda situação, ainda quando as

definições em pauta se operem em atos normativos não da espécie legislativa – mas decorrentes de

previsão implícita ou explícita em lei – o princípio estará sendo devidamente acatado. No caso concreto, o

princípio da legalidade expressa „reserva de lei em termos relativos‟ (= „reserva da norma‟) não

impede a atribuição, explícita ou implícita, ao Executivo e ao Judiciário, para, no exercício da função

normativa, definir obrigação de fazer ou não fazer que se imponha aos particulares – e os vincule. Se há

matérias que não podem ser reguladas senão pela lei (...) das excluídas a essa exigência podem tratar,

sobre elas dispondo, o Poder Executivo e o Judiciário, em regulamentos e regimentos. Quanto à definição

do que está incluído nas matérias de reserva de lei, há de ser colhida no texto constitucional; quanto a

essas matérias não cabem regulamentos e regimentos. [...] A legalidade da Resolução 20 do presidente do

TRF 4ª Região é evidente. Não há delegação de competência legislativa na hipótese e, pois,

inconstitucionalidade. Quando o Executivo e o Judiciário expedem atos normativos de caráter não

legislativo – regulamentos e regimentos, respectivamente –, não o fazem no exercício da função

legislativa, mas no desenvolvimento de ‗função normativa‘. O exercício da função regulamentar e da

função regimental não decorrem de delegação de função legislativa; não envolvem, portanto, derrogação

do princípio da divisão dos Poderes‖ (HC 85.060).

- O STF declarou a nulidade de norma de constituição estadual que previa a possibilidade de

reexame, pelo Tribunal de Contas estadual, das decisões fazendárias de última instância contrárias

ao erário, por entender que não cabe ao Poder Legislativo apreciar recursos interpostos contra decisões

tomadas pelo Executivo em processos administrativos nos quais se discuta questão tributária, sob pena de

violação ao art. 2º e ao art. 70 da CF/88 (ADI 523).

- ―Norma que subordina convênios, acordos, contratos e atos de Secretários de Estado à aprovação da

Assembleia Legislativa: inconstitucionalidade, porque ofensiva ao princípio da independência e harmonia

dos Poderes‖ (ADI 676).

- O STF declarou a inconstitucionalidade de norma de constituição estadual que possibilitava à

assembleia legislativa convocar o presidente do Tribunal de Justiça para prestar, pessoalmente,

informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a

ausência injustificada desse chefe de Poder. Entendeu-se que houve desrespeito ao princípio da

separação de Poderes, pois a constituição estadual não seguiu o paradigma da CF (art. 50), extrapolando

as fronteiras do esquema de freios e contrapesos – cuja aplicabilidade é sempre estrita ou materialmente

inelástica (ADI 2.911/ES).

- O STF decidiu que CPI estadual tem poderes para quebrar sigilo de dados bancários, pois, ainda

que omissa a Lei Complementar 105/01, tal poder encontra respaldo no parâmetro da CPI federal,

previsto no art. 58, § 3.º, da CF/88 (ACO 730).

- ―Embora resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e

executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder Judiciário, determinar, ainda que em

bases excepcionais, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição,

sejam estas implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão – por importar em

descumprimento dos encargos político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório – mostra -

se apta a comprometer a eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura

constitucional‖ (RE 436.996‑AgR).

- ―Afronta os princípios constitucionais da harmonia e independência entre os Poderes e da

liberdade de locomoção norma estadual que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para

que o governador e o vice-governador possam ausentar-se do País por qualquer prazo. Espécie de

autorização que, segundo o modelo federal, somente se justifica quando o afastamento exceder a quinze

dias. Aplicação do princípio da simetria‖ (ADI 738).

- ―Atuação do Judiciário como legislador positivo. Inadmissibilidade. Recurso improvido. (...) A

exigência constitucional de lei em sentido formal para a veiculação ordinária de isenções tributárias

impede que o Judiciário estenda semelhante benefício a quem, por razões impregnadas de

legitimidade jurídica, não foi contemplado com esse favor legis. A extensão dos benefícios

isencionais, por via jurisdicional, encontra limitação absoluta no dogma da separação de poderes.

Os magistrados e tribunais, que não dispõem de função legislativa – considerado o princípio da divisão

funcional do poder –, não podem conceder, ainda que sob fundamento de isonomia, isenção tributária em

favor daqueles a quem o legislador, com apoio em critérios impessoais, racionais e objetivos, não quis

contemplar com a vantagem desse benefício de ordem legal. Em tema de controle de constitucionalidade

de atos estatais, o Poder Judiciário só deve atuar como legislador negativo‖ (AI 360.461‑AgR).

- Impossibilidade de submissão da escolha de diretores de empresas estatais à prévia aprovação do

Poder Legislativo: ―Separação e independência dos poderes: submissão à Assembleia Legislativa, por lei

estadual, da escolha de diretores e membros do conselho de administração de autarquias, fundações

públicas e empresas estatais: jurisprudência do Supremo Tribunal. À vista da cláusula final de abertura do

art. 52, III, f, da Constituição Federal, consolidou-se a jurisprudência do STF no sentido da validade de

normas locais que subordinam a nomeação dos dirigentes de autarquias ou fundações públicas à prévia

aprovação da Assembleia Legislativa. Diversamente, contudo, atento ao art. 173 da Constituição,

propende o Tribunal a reputar ilegítima a mesma intervenção parlamentar no processo de

provimento da direção das entidades privadas, empresas públicas ou sociedades de economia mista da administração indireta dos Estados‖ (STF, ADI 2.225/SC-MC).

- ―Orientação assentada no STF no sentido de que, não sendo dado ao presidente da República retirar da

apreciação do Congresso Nacional medida provisória que tiver editado, é-lhe, no entanto, possível ab-

rogá-la por meio de nova medida provisória, valendo tal ato pela simples suspensão dos efeitos da

primeira, efeitos esses que, todavia, o Congresso poderá ver estabelecidos, mediante a rejeição da medida

ab-rogatória‖ (ADI 1.315‑MC).

- ―É plausível, em face do ordenamento constitucional brasileiro, o reconhecimento da

admissibilidade das leis interpretativas, que configuram instrumento juridicamente idôneo de

veiculação da denominada interpretação autêntica. As leis interpretativas – desde que reconhecida a

sua existência em nosso sistema de direito positivo – não traduzem usurpação das atribuições

institucionais do Judiciário e, em consequência, não ofendem o postulado fundamental da divisão

funcional do poder. Mesmo as leis interpretativas expõem -se ao exame e à interpretação dos juízes e

tribunais‖ (ADI 605‑MC).

- Infidelidade partidária e vacância de mandato: Considerando a essencialidade dos partidos políticos

no regime democrático, a importância do postulado da fidelidade partidária e as relações de recíproca

dependência entre o eleitor, o partido político e o representante eleito, o STF decidiu que a desfiliação

partidária sem justa causa resulta na perda do mandato político, seja dos cargos eleitos pelo

sistema majoritário (presidente da República, governadores, prefeitos e senadores), seja dos eleitos pelo

sistema proporcional (deputados federais, estaduais e vereadores). Entendeu-se não se tratar de

imposição, ao parlamentar infiel, de sanção de perda de mandato, por mudança de partido, a qual não

configuraria ato ilícito, não incidindo, por isso, o art. 55 da CF, mas de reconhecimento de inexistência de

direito subjetivo autônomo à manutenção pessoal do cargo, como efeito de seu ato de infidelidade

partidária, entendido como incompatível com a função representativa do ideário político em cujo nome o

parlamentar foi eleito. Nesse julgamento, o STF declarou a constitucionalidade, até que o Congresso

Nacional disponha sobre a matéria, da Resolução n.º 22.610/2007 do TSE (ADI 3.999/DF).

- O STF declarou a constitucionalidade do art. 1º da Lei Federal n.º 9.494/1997, por entender que as leis

restritivas ao poder geral de cautela do juiz, desde que fundadas no critério da razoabilidade, não

violam o princípio do livre acesso ao Judiciário (CF, art. 5º, XXXV) (ADC 4/DF).

- ―Conforme entendimento consolidado da Corte, os requisitos constitucionais legitimadores da edição de

medidas provisórias, vertidos nos conceitos jurídicos indeterminados de ‗relevância‘ e ‗urgência‘ (art. 62

da CF), apenas em caráter excepcional se submetem ao crivo do Poder Judiciário, por força da regra da

separação de poderes (art. 2.º da CF)‖ (ADC 11‑MC).

- Por afronta aos princípios da Federação e da separação dos Poderes, é inconstitucional lei de estado-

membro que estabelece vinculação automática de reajuste da remuneração dos servidores estaduais

a índices federais de atualização monetária (AO 366).

- O STF declarou a inconstitucionalidade de artigos de lei estadual que se originaram de emenda

parlamentar que aumentou a remuneração de servidores públicos e, consequentemente, a despesa

originalmente prevista em projeto de lei de iniciativa privativa do chefe do Executivo e de outros

artigos igualmente oriundos de emenda parlamentar, a qual dispôs sobre perdão a servidores por

falta ao trabalho (i.e., regime jurídico dos servidores). Entendeu o STF que foram violados os seguintes

artigos da CF/88: art. 2.º (separação de poderes), art. 61, § 1.º, II, ―a‖ (iniciativa legislativa privativa do

chefe do Executivo para as leis que disponham sobre regime jurídico dos servidores públicos) e art. 63, I

(vedação de emenda parlamentar que aumente despesa no projeto de lei de iniciativa privativa do chefe

do Executivo) (ADI 13/SC).

- Por violação ao princípio da separação dos Poderes, o STF declarou a inconstitucionalidade de lei

estadual que outorgava à assembleia legislativa o poder de destituição dos conselheiros de agência

reguladora autárquica, antes do final do período da sua nomeação a termo. Ora, a nomeação a termo

pressupõe um mandato com tempo pré-fixado, o que impede a demissão ―ad nutum‖ pelo Poder

Executivo e, pelas mesmas razões, não deve admitir uma destituição antecipada por decisão da

assembleia legislativa (ADI 1.949‑MC).

Art. 3.º da CF/88

- ―Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do princípio da livre

concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das desigualdades sociais, em conformidade

com os ditames da justiça social, pode o Estado, por via legislativa, regular a política de preços de

bens e de serviços, abusivo que é o poder econômico que visa ao aumento arbitrário dos lucros‖ (ADI

319‑QO).

- ―IPI. Alíquota regionalizada incidente sobre o açúcar. Alegada ofensa ao disposto nos arts. 150, I, II

e § 3º, e 151, I, da CB. Constitucionalidade. O Decreto 420/1992 estabeleceu alíquotas diferenciadas

– incentivo fiscal – visando dar concreção ao preceito veiculado pelo art. 3.º da Constituição, ao

objetivo da redução das desigualdades regionais e de desenvolvimento nacional. Autoriza-o o art.

151, I, da Constituição. [...] A concessão do benefício da isenção fiscal é ato discricionário, fundado em

juízo de conveniência e oportunidade do Poder Público, cujo controle é vedado ao Judiciário‖ (AI

630.997‑AgR).

Art. 4.º da CF/88

- O STF decidiu que os atos delituosos caracterizados como terrorismo não se confundem com os crimes

políticos, cuja extradição é vedada pelo art. 5º, LI, da CF/88. Ponderou-se que a CF repudia o terrorismo,

tratando-o como um crime comum equiparável aos delitos hediondos, inafiançável e insuscetível de graça

ou anistia (art. 4º, VIII, e art. 5º, XLIII); enquanto dispensa tratamento benigno para os autores de crimes

políticos ou de opinião, os quais não serão extraditados pelo Estado brasileiro, uma vez acusados de

crimes que revelam meras perseguições políticas ou a rebelião legítima contra regimes autoritários e a

luta pelo restabelecimento de regimes políticos democráticos (Ext 855).

- Considerando que a divisão dos seres humanos em raças resulta de um processo de conteúdo meramente

político-social, o STF decidiu que se enquadra no crime de racismo, nos termos da Lei Federal n.º

7.716/89, quaisquer discriminações injustificadas com base em critérios de raça, cor, credo, descendência

ou origem nacional ou étnica, inspiradas na pretensa superioridade de um povo sobre outro, de que são

exemplos a xenofobia, negrofobia, islamafobia e o antissemitismo (HC 82.424/RS).

- ―Negativa, pelo presidente da República, de entrega do extraditando ao país requerente. (...) O Tratado

de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República Italiana, no seu art. III, 1, f, permite a

não entrega do cidadão da parte requerente quando ‗a parte requerida tiver razões ponderáveis para supor

que a pessoa reclamada será submetida a atos de perseguição‘. (...) Deveras, antes de deliberar sobre a

existência de poderes discricionários do presidente da República em matéria de extradição, ou mesmo se

essa autoridade se manteve nos lindes da decisão proferida pelo Colegiado anteriormente, é necessário

definir se o ato do chefe de Estado é sindicável pelo Judiciário, em abstrato. O art. 1º da Constituição

assenta como um dos fundamentos do Estado brasileiro a sua soberania – que significa o poder

político supremo dentro do território, e, no plano internacional, no tocante às relações da República

Federativa do Brasil com outros Estados soberanos, nos termos do art. 4º, I, da Carta Magna. A

soberania nacional no plano transnacional funda-se no princípio da independência nacional,

efetivada pelo presidente da República, consoante suas atribuições previstas no art. 84, VII e VIII,

da Lei Maior. A soberania, dicotomizada em interna e externa, tem na primeira a exteriorização da

vontade popular (art. 14 da CRFB) através dos representantes do povo no parlamento e no governo; na

segunda, a sua expressão no plano internacional, por meio do presidente da República. No campo da

soberania, relativamente à extradição, é assente que o ato de entrega do extraditando é exclusivo, da

competência indeclinável do presidente da República, conforme consagrado na Constituição, nas Leis,

nos Tratados e na própria decisão do Egrégio STF na Ext 1.085. O descumprimento do Tratado, em

tese, gera uma lide entre Estados soberanos, cuja resolução não compete ao STF, que não exerce

soberania internacional, máxime para impor a vontade da República italiana ao chefe de Estado

brasileiro, cogitando -se de mediação da Corte Internacional de Haia, nos termos do art. 92 da Carta das

Nações Unidas de 1945‖ (Rcl 11.243).

- Extradição e refúgio: O STF declarou a constitucionalidade do art. 33 da Lei 9.474/1997 (Estatuto do

Refugiado), pelo qual o reconhecimento da condição de refugiado obsta o seguimento do pedido de

extradição baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio. Com base nesse

entendimento, o STF considera que o reconhecimento administrativo da condição de refugiado, enquanto

dure, impede o deferimento de extradição que possua pertinência temática com os motivos da concessão

do refúgio (Ext 1.008/Colômbia).

- Extradição e asilo político: Por outro lado (em nossa humilde opinião, uma decisão não harmônica com

os fundamentos morais e jurídicos expostos no julgado anterior), o STF entendeu que não há

incompatibilidade absoluta entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva, na exata

medida em que o STF não está vinculado ao juízo formulado pelo Poder Executivo na concessão

administrativa desse benefício, razão pela qual a condição jurídica de asilado político não suprime, só

por si, a possibilidade de o Estado brasileiro conceder a extradição que lhe haja sido requerida. O

estrangeiro asilado no Brasil só não será passível de extradição quando o fato ensejador do pedido

assumir a qualificação de crime político ou de opinião (Ext 524/Paraguai).

- A norma de conteúdo meramente programático do art. 4.º, parágrafo único, da CF não tem o condão de

dispensar os mecanismos tradicionais de incorporação dos tratados internacionais ao Direito brasileiro (a

saber: decreto legislativo do Congresso Nacional e decreto do presidente da República), quanto aos

tratados de integração no âmbito do Mercosul (CR 8.279‑AgR).

Princípios fundamentais (arts. 1º a 4º da CF/88)

1. (CESPE.Analista.Infraestrutura.MPOG.2012) Por ser um país regido, em suas relações internacionais,

pelo princípio da concessão de asilo político, o Brasil é impedido de extraditar estrangeiros.

2. (CESPE.Analista. Infraestrutura.MPOG.2012) A Federação brasileira — formada, de acordo com o

disposto na CF, pela união indissolúvel da União, dos estados-membros, do Distrito Federal e dos

municípios — é um federalismo do tipo assimétrico, em razão da falta de homogeneidade entre os entes

federativos.

3. (CESPE.Diplomata.IRB.2012) No Brasil, a não intervenção e a não ingerência em assuntos internos de

outras nações estão incorporadas à CF como normas que impedem o país de, sem prévia declaração de

guerra, empregar suas Forças Armadas fora do território nacional.

4. (CESPE.Diplomata.IRB.2012) O compromisso da República Federativa do Brasil com a manutenção

da paz e com a não beligerância é enfatizado por referências textuais da Lei Maior à solução pacífica de

controvérsias na ordem internacional.

5. (CESPE.Analista.Adm.STJ.2012) A não intervenção, um dos fundamentos da República Federativa do

Brasil, expressa, assim como outros fundamentos, o poder supremo e independente do país.

6. (CESPE.Ténico.MPU.2010) A Constituição Federal de 1988 apresenta os chamados princípios

fundamentais da República Federativa do Brasil, que incluem referências a sua forma de Estado, forma de

governo e regime político. Deduz-se do texto constitucional que a República Federativa do Brasil é um

Estado de Direito, o que limita o próprio poder do Estado e garante os direitos fundamentais dos

particulares.

7. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) Como decorrência do princípio da simetria e do princípio da

separação dos poderes, as hipóteses de iniciativa reservada ao presidente da República, previstas na

Constituição Federal, não podem ser estendidas aos governadores.

8. (CESPE.Analista.MPU.2010) A dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos da República

Federativa do Brasil, apresenta-se como direito de proteção individual em relação ao Estado e aos demais

indivíduos e como dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes.

9. (CESPE.Analista de Infraestrutura.MPOG.2010) A dignidade da pessoa humana, os valores sociais do

trabalho e da livre iniciativa, bem como a construção de sociedade livre, justa e solidária, figuram entre os

fundamentos da República Federativa do Brasil.

10. (CESPE.Analista de Infraestrutura.MPOG.2010) Em suas relações internacionais, a República

federativa do Brasil rege-se, entre outros princípios, pelo da igualdade entre os estados, da não

intervenção e da vedação à concessão de asilo político.

11. (CESPE.Analista.SERPRO.2010) De acordo com a CF, a forma de governo republicana no Brasil é

considerada cláusula pétrea e não pode ser modificada por emenda constitucional.

12. (CESPE.Analista.INCA.2010) A livre iniciativa está entre os fundamentos da República Federativa

do Brasil inseridos na CF, o que denota a opção do constituinte originário por uma economia de mercado

capitalista.

13. (CESPE.Técnico.ANEEL.2010) Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, a construção de

uma sociedade livre justa e solidária e a garantias do desenvolvimento nacional constituem fundamentos

da República Federativa do Brasil.

14. (CESPE.Analista.Adm.MP.PI.2011) O princípio federativo estabelece a forma de governo de um

Estado.

15. (CESPE.Analista.Adm.MP.PI.2011) A democracia representativa é exercida pelo povo, individual ou

coletivamente, a partir dos instrumentos constitucionais que possibilitam interferir diretamente nas

decisões políticas do Estado.

16. (CESPE.Analista Judiciário.Área Administrativa.TRE/ES.2011) Constituem fundamentos da

República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana, a independência nacional e a igualdade

entre as nações.

17. (CESPE.Analista Judiciário.Área Judiciária.STM.2011) No exercício de sua autonomia política, os

estados podem adotar o regime parlamentar de governo.

18. (CESPE - 2011 - PC-ES - Perito Criminal) Não viola o princípio constitucional da separação dos

poderes a apreciação, pelo Poder Judiciário, do ato administrativo discricionário tido por ilegal e abusivo.

19. (CESPE.Assistente em Administração.MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/FUB.2011) Os objetivos

fundamentais da República brasileira incluem a garantia do desenvolvimento nacional, a erradicação da

pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de

todos, sem quaisquer preconceitos ou outras formas de discriminação.

20. (CESPE.Assistente em Administração.MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/FUB.2011) O Brasil, como

signatário de tratados e convenções internacionais, repudia a igualdade entre os Estados, já que os países

menos desenvolvidos recebem ajuda financeira e humanitária dos países mais ricos como forma de

cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.

21. (CESPE.Auxiliar de Pericia Médico-Legal.PC/ES.2011) Os objetivos da República Federativa do

Brasil incluem a erradicação da pobreza, a independência nacional e os valores sociais do trabalho.

22. (CESPE.Auxiliar de Pericia Médico-Legal.PC/ES.2011) A República Federativa do Brasil, formada

pela união indissolúvel dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, constitui Estado democrático de

direito e tem por fundamentos, entre outros, a soberania, o pluralismo político, a prevalência dos direitos

humanos e a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

23. (CESPE - 2011 - TJ-ES - Analista Judiciário - Área Administrativa) O princípio da dignidade da

pessoa humana possui um caráter absoluto, sendo um princípio primordial presente na Constituição

Federal de 1988.

24. (CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Análise de Sistemas) No âmbito das relações

internacionais, a República Federativa do Brasil adotou expressamente como princípio o repúdio ao

terrorismo e ao racismo.

25. (CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Análise de Sistemas) Os fundamentos da República

Federativa do Brasil incluem o pluralismo político e a cidadania.

26. (CESPE - 2011 - IFB - Professor – Direito) A execução de determinação judicial, proferida nos autos

de ação de investigação de paternidade, com o objetivo de conduzir coercitivamente o réu ao laboratório

para coleta do material indispensável à feitura do exame DNA não viola o princípio da dignidade humana.

27. (CESPE - 2011 - IFB - Professor – Direito) A utilização de idioma estrangeiro em atos processuais no

país não ofende a soberania como fundamento da República Federativa do Brasil.

28. (CESPE - 2011 - PC-ES - Perito Papiloscópico) O dever que possuem os governantes de prestar

contas de suas gestões decorre do princípio federativo.

Gabarito: 1 – E; 2 – C; 3 – E; 4 – C; 5 – E; 6 – C; 7 – E; 8 – C; 9 – E; 10 – E; 11 – E; 12 – C; 13 – E; 14

– E; 15 – E; 16 – E; 17 – E; 18 – C; 19 – C; 20 – E; 21 – E; 22 – E; 23 – E; 24 – C; 25 – C; 26 – E; 27 –

E; 28 – E.

Considerações doutrinárias sobre aplicabilidade das normas constitucionais

As normas jurídicas possuem duas espécies de eficácia: a eficácia social ou

efetividade, relacionada com a real observância da norma no meio social, e a eficácia jurídica,

que diz respeito à aplicabilidade e exigibilidade da norma, i.e., sua capacidade para produzir os

efeitos próprios das normas jurídicas.

Todas as normas constitucionais possuem eficácia jurídica, i.e., são aptas a produzir

os efeitos próprios das normas jurídicas. Já em relação à eficácia social, José Afonso da Silva

classifica as normas constitucionais em normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e

normas de eficácia limitada. Vejamos cada uma delas:

a) Normas constitucionais de eficácia plena – são aquelas que, desde a entrada em

vigor da Constituição, produzem ou têm possibilidade de produzir todos os efeitos essenciais,

relativamente aos interesses que o legislador constituinte quis regular, porquanto já dotadas de

normatividade suficiente. Possuem aplicabilidade imediata, direta e integral e eficácia social

plena. São exemplos: arts. 1.º, 4.º, 5.º, caput, IV, XXXV e XXXVI, 15, 17, §4.º, 21, 30, 44, 69,

76, 145, 153 e 230, §2.º, todos da CF/88.

b) Normas constitucionais de eficácia contida (redutível ou restringível) – são

normas igualmente dotadas de força normativa suficiente para produzir todos os seus efeitos

essenciais.

Porém, diferentemente das normas de eficácia plena, o próprio texto da norma de

eficácia contida deixa margem a que sua incidência venha a ser restringida posteriormente, nos

termos em que o legislador infraconstitucional estabelecer ou diante de conceitos gerais nela

enunciados. A restrição dessas normas ainda pode ocorrer por força de outras normas

constitucionais.

Portanto, na lição de J. Afonso da Silva, a norma de eficácia contida pode ser

restringida:

a) por ―conceitos gerais e abstratos‖ nela enunciados (denominados de conceitos ético-

jurídicos), tais como: ordem pública, segurança nacional, bons costumes, necessidade ou

utilidade pública, etc., resultando em limitação da eficácia do seu conteúdo quando de sua

aplicação no caso concreto (ex.: CF, art. 136, art. 34, I, e art. 144);

b) por obra do legislador infraconstitucional (ex.: CF, art. 5.º, VIII e XIII, e art. 37, I);

c) por obra de outras normas constitucionais (ex.: o direito de reunião e o sigilo de

correspondência podem ser restringidos em caso de decretação de estado de defesa – CF, art.

136, § 1.º, III; assim como o art. 5.º, XXII, restringido pelos incisos XXIII a XXV do art. 5.º).

As normas constitucionais de eficácia contida possuem aplicabilidade imediata e

direta, mas possivelmente não integral; e eficácia social contida ou redutível.

c) Normas constitucionais de eficácia limitada – são aquelas que apresentam

aplicabilidade mediata ou indireta (também chamada de reduzida ou diferida), porque

somente incidem totalmente sobre os interesses que regulam após uma legislação ulterior que

lhes desenvolva a aplicabilidade. Temos como exemplos o art. 7.º, incisos XX e XXVII, art.

192, art. 215, art. 218, todos da CF/88.

Para José Afonso da Silva, as normas de eficácia limitada subdividem-se em normas

constitucionais de princípio institutivo e normas constitucionais de princípio programático.

Normas constitucionais de princípio institutivo são aquelas que traçam esquemas gerais

de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que o legislador ordinário

os estruture em definitivo, mediante lei. De acordo com José Afonso, as normas de princípio

institutivo podem facultar a elaboração de uma legislação integrativa (facultativas ou

permissivas – ex.: arts. 22, § único, 125, §3.º, 125,§ 6.º) ou obrigar o legislador à emissão

dessa legislação (impositivas ou peremptórias – exs.: arts. 20, §2.º, 33, 88, art. 109, VI, e 121).

Por sua vez, as normas constitucionais de princípio programático ou, simplesmente,

normas programáticas explicitam verdadeiros ―comandos-valores‖, programas de atuação

futura, fins a serem perseguidos pelo Estado. Exs.: arts. 3.º, 7.º, XI, XX, XXVII, 173, § 4.º, 216,

§3.º, 184, 193, 215, 217, 218, todos da CF/88. Os direitos sociais, em regra, vêm previstos na

forma de ―normas programáticas‖.

Essas normas costumam ser muito cobradas em concursos públicos, em razão da nossa

CF/88 ser uma ―constituição-dirigente‖, repleta de normas-programa. Essas normas

caracterizam-se por prescrever finalidades, programas de governo para o Estado (ex: promover

o desenvolvimento científico, dar saúde, educação, direitos culturais, etc.), sem especificar os

meios de sua realização. Apesar de uma parcela da doutrina negar a força jurídica dessas

normas, a doutrina majoritária (seguida pela jurisprudência do STF – RE 271286 AgR/RS) já

pacificou que as normas programáticas obrigam todos os poderes públicos, condicionando a

atividade do Executivo, do Legislativo e do Judiciário às finalidades nelas contidas.

Para dar efetividade às normas constitucionais limitadas, carentes de complementação

legislativa, a CF/88 previu os institutos da ADI por omissão e do mandado de injunção, a serem

estudados em momento oportuno.

Embora menos cobrada em concursos, destacamos a classificação de normas

constitucionais quanto à sua eficácia social da professora Maria Helena Diniz:

1) normas supereficazes ou com eficácia absoluta (caracterizadas pela intangibilidade,

não podendo o poder constituinte derivado restringi-las indevidamente – são as cláusulas

pétreas previstas no art. 60, § 4.º, da CF);

2) normas com eficácia plena (equivalem às normas de eficácia plena da classificação

proposta por José Afonso da Silva);

3) normas com eficácia relativa restringível (correspondem às normas de eficácia

contida);

4) normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação

legislativa (correspondem às normas de eficácia limitada).

Aplicabilidade das normas constitucionais

1. (VUNESP.Proc. Munic.São Carlos.SP.09) Sobre a eficácia das normas constitucionais, assinale a

alternativa incorreta.

(A) A entrada em vigor de uma norma constitucional programática implica a proibição de que sejam

produzidas normas ulteriores que contrariem o programa por ela estabelecido.

(B) As normas de eficácia contida são de aplicabilidade indireta e mediata, já que o direito nelas previsto

é imediatamente exercitável, desde a promulgação da Constituição.

(C) As normas definidoras de princípio institutivo são as que traçam esquemas gerais de estruturação e

atribuições de órgãos, entidades ou institutos.

(D) As normas constitucionais de princípio programático são as que traçam princípios a serem cumpridos

pelos órgãos do Estado.

(E) A entrada em vigor de uma norma constitucional programática implica a revogação de todas as

disposições em sentido contrário aos seus comandos.

2. (CESPE.Técnico.MPU.2010) As normas de eficácia plena não exigem a elaboração de novas normas

legislativas que lhes completem o alcance e o sentido ou lhes fixem o conteúdo; por isso, sua

aplicabilidade é direta, ainda que não integral.

3. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) As normas de eficácia contida permanecem inaplicáveis

enquanto não advier normatividade para viabilizar o exercício do direito ou benefício que consagram; por

isso, são normas de aplicação indireta, mediata ou diferida.

4. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) As normas constitucionais de eficácia limitada são

desprovidas de normatividade, razão pela qual não surtem efeitos nem podem servir de parâmetro para a

declaração de inconstitucionalidade.

5. (CESPE.Analista.MPU.2010) O livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que

atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, é norma constitucional de eficácia contida;

portanto, o legislador ordinário atua para tornar exercitável o direito nela previsto.

6. (CESPE.Analista de Infraestrutura.MPOG.2010) O dispositivo constitucional que estabelece ser livre o

exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais instituídas em

lei, constitui exemplo de norma de eficácia limitada.

7. (CESPE.Analista de Infraestrutura.MPOG.2010) Constitui exemplo de norma de eficácia plena o

preceito constitucional que garante aos maiores de 65 anos de idade a gratuidade dos transportes coletivos

urbanos.

8. (CESPE.Procurador.AGU.2010) De acordo com entendimento do STF, configura exemplo de norma

constitucional programática o preceito constitucional segundo o qual a política agrícola deve ser

planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo tanto

produtores e trabalhadores rurais, como setores de comercialização, de armazenamento e de transportes.

9. (CESPE.Analista.INCA.2010) O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias não possui a mesma

natureza jurídica das normas constitucionais inseridas na Constituição Federal de 1988 (CF), razão pela

qual é de hierarquia inferior a estas.

10. (CESPE.Analista.Judiciário.TRE.BA.2010) No tocante à aplicabilidade, de acordo com a tradicional

classificação das normas constitucionais, são de eficácia limitada aquelas em que o legislador constituinte

regula suficientemente os interesses concernentes a determinada matéria, mas deixa margem à atuação

restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos em que a lei estabelecer ou

na forma dos conceitos gerais nela previstos.

11. (CESPE Analista Téc-Adm MS 2010) Para que se possa identificar uma norma constitucional de

eficácia limitada, é suficiente observar a expressão ―nos termos da lei‖, prevista no texto constitucional.

12. (CESPE Analista Téc-Adm MS 2010) A distinção hierárquica entre normas constitucionais é

inadmissível perante a Constituição.

13. (CESPE.Defensor Público.DPU.2010) Os direitos sociais previstos na Constituição, por estarem

submetidos ao princípio da reserva do possível, não podem ser caracterizados como verdadeiros direitos

subjetivos, mas, sim, como normas programáticas. Dessa forma, esses direitos devem ser tutelados pelo

poder público, quando este, em sua análise discricionária, julgar favoráveis as condições econômicas e

administrativas.

14. (CESPE.Analista.INCA.2010) Normas constitucionais de aplicabilidade reduzida ou de eficácia

limitada são aquelas normas que necessitam da promulgação de uma lei infraconstitucional para produzir

os seus efeitos, podendo ser classificadas em normas constitucionais de princípio institutivo e normas

constitucionais de princípio programático.

15. (VUNESP.Advogado.CRM/SP.2011) Analise as seguintes disposições da Constituição Federal:

I. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

II. É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais

que a lei estabelecer.

III. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação

tecnológicas.

IV. Conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou

coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

Considerando a doutrina clássica brasileira sobre a eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais,

pode-se afirmar que as disposições acima reproduzidas são classificadas, respectivamente, como normas

de eficácia

(A) contida, plena, programática e plena.

(B) plena, limitada, plena e contida.

(C) limitada, plena, plena e contida.

(D) plena, plena, contida e programática.

(E) plena, contida, limitada e plena.

16. (CESPE - 2011 - EBC - Analista – Advocacia) As normas previstas no Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias possuem natureza de norma constitucional.

17. (CESPE - 2011 - EBC - Analista – Advocacia) O preâmbulo da Constituição Federal não faz parte do

texto constitucional propriamente dito e não possui valor normativo.

18. (CESPE - 2011 - ECB – Analista – Advocacia) Constitui exemplo de norma programática o

dispositivo segundo o qual o Estado deve garantir a todos pleno exercício dos direitos culturais e acesso

às fontes da cultura nacional, além de apoio e incentivo a iniciativas de valorização e difusão das

manifestações culturais.

19. (CESPE - 2011 - IFB - Professor – Direito) Entre as normas constitucionais de eficácia exaurida,

incluem- se dispositivos constantes das disposições constitucionais transitórias.

20. (CESPE - 2011 - IFB - Professor – Direito) As normas constitucionais de eficácia plena podem, em

regra geral, ser revistas pelo poder reformador.

21. (CESPE - 2011 - IFB - Professor – Direito) Enquanto, nas normas de eficácia contida, as leis podem

restringir-lhes o alcance, nas normas de eficácia limitada, o seu alcance poderá ser ampliado.

22. (CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Execução de Mandados) Consideram-se normas de

eficácia absoluta os preceitos constitucionais intangíveis, que são inalteráveis mesmo por meio de

propostas de emendas constitucionais.

23. (Cespe.Juiz.TJ.PB.2010) Acerca dos princípios constitucionais e da classificação e interpretação das

normas constitucionais, assinale a opção correta.

A É prevalecente, na doutrina constitucional brasileira, o entendimento de que as normas que consagram

as cláusulas pétreas estão em nível hierárquico superior às demais normas constitucionais.

B Entre as modalidades de eficácia dos princípios constitucionais inclui-se a eficácia negativa, que

implica a paralisação de qualquer norma ou ato jurídico que contrarie um princípio.

C No que concerne à forma de aplicação, os princípios operam por via do enquadramento do fato no

relato normativo, ainda que, tanto quanto as regras, eles comportem a subsunção.

D As normas constitucionais programáticas cingem-se a estipular princípios ou programas que devem ser

perseguidos pelos poderes públicos, não possuindo eficácia vinculante nem sendo capazes de gerar

direitos subjetivos na sua versão positiva ou negativa, embora impeçam a produção de normas que

contrariem o direito nelas inserido.

E As normas institutivas, que traçam esquemas gerais de organização e estruturação de órgãos, entidades

ou instituições do Estado, são dotadas de eficácia plena e aplicabilidade imediata, visto que possuem

todos os elementos necessários à sua executoriedade direta e integral.

24. (CESPE.Juiz.TJ.ES.2011) Acerca da aplicabilidade das normas constitucionais, assinale a opção

correta.

A O dispositivo constitucional que estabelece que lei federal disporá sobre a utilização, pelo governo do

DF, das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros militar constitui exemplo de norma de eficácia

limitada.

B Inexiste hierarquia entre normas constitucionais, salvo no que diz respeito às cláusulas pétreas e aos

direitos fundamentais, que representam o núcleo essencial da CF e envolvem diretamente a noção de

dignidade da pessoa humana.

C As normas constitucionais de eficácia contida são de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida,

havendo necessidade de lei integrativa infraconstitucional para produzir todos os seus efeitos.

D As normas de eficácia limitada são desprovidas de normatividade, incapazes de produzir quaisquer

efeitos e de servir de parâmetro para a declaração de inconstitucionalidade.

25. (CESPE.Analista.Adm.MP.PI.2011) O dispositivo constitucional que afirma que ―ninguém será

obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei‖ é uma norma constitucional de

eficácia contida.

26. (CESPE.Analista.Adm.MP.PI.2011) A gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos maiores de

sessenta e cinco anos é uma norma constitucional de eficácia plena e aplicabilidade imediata.

27. (CESPE.Analista.Adm.MP.PI.2011) O texto constitucional contempla norma de eficácia plena que

garante ao servidor público civil e militar o direito à livre associação sindical.

28. (CESPE.Defensor.DPE.Maranhão.2012) O parágrafo único do art. 170 da CF, que assegura a todos o

livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos,

salvo nos casos previstos em lei, traduz norma de eficácia

A contida.

B limitada.

C reduzida.

D plena.

E programática.

Gabarito: 1 – B; 2 – E; 3 – E; 4 – E; 5 – E; 6 – E; 7 – C; 8 – C; 9 – E; 10 – E; 11 – E; 12 – C; 13 – E; 14

– C; 15 –E; 16 – C; 17 – C; 18 – C; 19 – C; 20 – C; 21 – C; 22 – C;.23 – B; 24 – A; 25 – E; 26 – C; 27 –

E; 28 – A.