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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
DIREITO EMPRESARIAL: Responsabilidade tributária empresarial
Por: ANDRESSA SARA NEVES CORREIA LIMA
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
DIREITO EMPRESARIAL: Responsabilidade tributária empresarial
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Direito Publico e Tributário.
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AGRADECIMENTOS
O caminho da vida pode ser árduo e imprevisível, se vivemos sob o
signo do “deixa a vida me levar”, mas prefiro crer que a vida é uma construção
sublime e cheia de conquistas. Parece que foi ontem, tão perto, que iniciei
essa jornada. O conhecimento é uma trilha pela qual se percorre apenas um
trecho, sempre. O sonho de uma formação superior nos uniu para
concretizarmos esse sonho juntos. Ao longo dessa caminhada, muitos foram
os obstáculos que enfrentamos, os problemas que tivemos, os desânimos que
nos bateram à porta. No entanto, chegamos, e percorremos esse caminho na
certeza de que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, como dizia o
poeta.
O momento é de agradecer, portanto, a Deus sobretudo, fonte de
vida e razão maior de nossa existência. Em seguida, agradecer aos meus
familiares, sem os quais não estaria aqui, pois a força e o incentivo, o carinho e
a esperança deles me alimentaram na realização desse projeto de vida.
Agradeço, também, aos amigos de sala, pela convivência, pela
cumplicidade, pela solidariedade, acolhimento e pelo valor maior que
aprendemos: o trabalho em equipe sempre nos enriquece. Agradeço de igual
forma aos amigos que me acompanharam e me ajudaram, de uma maneira ou
de outra, com incentivo, força, conselhos e opiniões valiosos que me
permitiram deixar sempre vivo o desejo de mudança que a educação é capaz
de propiciar ao ser humano. Agradeço aos professores que, ante o tumulto das
horas, souberam dar o melhor de si para que nos tornássemos profissionais
competentes para um mercado que exige cada vez mais de nós.
Desejo honrar minha profissão, valorizar o que aprendi, ser fiel aos preceitos
que aqui edifiquei e, dentro de meus limites e possibilidades, contribuir para
uma sociedade mais justa e, conseqüentemente, para um mundo mais
igualitário.
4
DEDICATÓRIA
Dedico meu trabalho aos
meus pais do qual sempre me
incentivaram e colaboraram para
o meu crescimento, e à minha
filha que me inspira a querer ser
sempre melhor.
5
“O homem com um novo conhecimento é
Um homem transformado” .
Álvaro Vieira Pinto
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RESUMO
As altas cargas tributárias contribuem negativamente para o
crescimento as empresas nacionais, que é um país reconhecidamente
dotado de belezas naturais e que poderia encontrar neste setor um escopo
para a criação de mais frentes de empregos. Alterando a legislação fiscal,
traduz-se um real incentivo implementando uma mova política para
investimentos, melhorando a qualidade dos serviços prestados e tornando o
setor competitivo internacionalmente, pois somos prestadores de serviços, e
não circuladores de mercadorias. Nesta perspectiva, se finaliza apontando
que o decréscimo das tributações estimularia o crescimento os
empreendedores poderiam investir mais em infra-estrutura, melhorar os
serviços prestados e contratar mais mão-de-obra e atrair mais empresas
transnacionais para o Brasil, o que é de indubitável importância para a
economia brasileira.
Palavras-chaves: Cargas tributárias- Tributos- Legislação Fiscal
7
ABSTRACT
The high tax rates contribute negatively to growth domestic companies,
which admittedly is a country endowed with natural beauty and that this sector
could find a scope for creating more jobs fronts. Changing the tax laws,
translates into a real incentive, implementing a policy to move investments,
improving the quality of services and making the sector internationally
competitive, since we are providers of services, not goods circulators. From this
perspective, it concludes by stating that the decrease of the tax increase growth
entrepreneurs could invest more in infrastructure, improve services and hire
more manpower and attract more multinational companies to Brazil, which is of
undoubted importance for the Brazilian economy
Keywords: Freight Tax-Taxes-Tax Law
8
METODOLOGIA
Os métodos que levam ao problema proposto, como leitura de livros,
jornais, revistas, questionários... e a resposta, após coleta de dados, pesquisa
bibliográfica, pesquisa de campo, observação do objeto de estudo, as
entrevistas, os questionários, etc. Contar passo a passo o processo de
produção da monografia. É importante incluir os créditos às instituições que
cederam o material ou que foram o objeto de observação e estudo.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPITULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÒRICA 11
1.1 O SISTEMA TRIBUTÁRIO 11
1.2 A TRIBUTAÇÃO 12
1.3 DEFINIÇÃO DE TRIBUTO 14
1.4 CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS 15
1.5 ESPÉCIES DE TRIBUTOS 18
1.6 PRINCÍPIOS GERAIS DA TRIBUTAÇÃO 22
1.7 OS PRINCÍPIOS JURÍDICOS DA TRIBUTAÇÃO 23
CAPITULO II -A RESPONSABILIDADE CIVIL 27
2. TRIBUTAÇÃO DE PRODUTOS 31
CONCLUSÃO 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40
10
INTRODUÇÃO
Este presente estudo analisará o tema Responsabilidade Tributária
Empresarial. Muitos doutrinadores nas últimas décadas definem o sistema
tributário brasileiro como caro, complexo, e, em muitos aspectos, regressivo e
ineficiente. Um fato a ser considerado é a sua boa arrecadação e o fato de a
carga tributária brasileira ser a maior da América Latina - próxima de 30% do
PIB.
Há várias espécies tributárias: impostos, contribuições sociais,
contribuições econômicas, taxas e contribuições de melhoria. As três esferas
de governo: União, estados e municípios, possuem competência impositiva
para cobrar tributos.
Por muitos anos as principais críticas ao sistema tributário nacional
são o seu alto custo, tanto direto (do Fisco) quanto indireto (dos contribuintes);
seu elevado grau de complexidade que tem uma relação direta com o alto
custo; e seus espaços, que permitem o planejamento tributário e a sonegação,
o que desfaz, pelo menos parcialmente, a sua progressividade formal. Além
disso, o sistema reduz a eficiência econômica, principalmente por ter elevado
número de alíquotas de IPI e de ICMS.
11
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÒRICA
1.1 O sistema tributário
Conforme TORRES (2008), um sistema tributário pode ser entendido
com sendo o conjunto de elementos normativos, dotados de unidade interna,
coerência lógica, ordem, ausência de contradições que organizam e
sistematizam a instituição e a cobrança dos tributos. Ele é composto de vários
subsistemas, que englobam os tributos cobrados especificamente no território
nacional e os incidentes sobre a riqueza internacional partilhados por Estados
soberanos1.
No entanto, há de se registrar que o regime de exação vigente em
um determinado momento é um produto histórico, fruto de um processo de
evolução contínuo no tempo. Para BALEEIRO (2008, p. 233) ele “integra-se
com os vários impostos que cada país adota, segundo o seu gênero de
produção, a sua natureza geográfica, a sua forma política, as suas
necessidades e ainda as suas tradições”2.
Dessa forma, “não é possível estabelecer-se cientificamente um
sistema tributário padrão ou ideal para todos os países, nem para qualquer
deles. Não se pode apagar o passado nem desprezar fatores políticos, morais,
psicológicos e até religiosos”, conclui aquele autor (BALEEIRO, 2008, p. 233)3.
Em relação das dificuldades de se implementar um regime ideal,
1 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário, Rio de Janeiro, Renovar, 2008, p.353-366. 2 BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualização Mizabel Derzi, IOF,SP, 2008.
12
pode-se imaginar características que um bom sistema deverá ter. Dentro das
quatro regras fundamentais estabelecidas por Adam Smith, ou seja, justiça,
certeza, comodidade e economia, BALEEIRO (2008) ressalta que, de modo
geral, são requisitos para um bom sistema a produtividade, a elasticidade, a
compatibilidade com a estrutura econômica, de modo que promova o
desenvolvimento, ser conforme com as idéias morais do povo, a simplicidade,
a ausência de pluritributação e não ser regressivo4.
O sistema tributário brasileiro passou por profunda reforma na
década de 60. Desde então, com exceção da reforma realizada no âmbito da
Assembléia Nacional Constituinte, em 1987/1988, ele evoluiu continuamente
sem alterações significativas em sua estrutura básica. Embora a Carta Política
de 1988 tenha eliminado alguns tributos, e introduzido modificações nas
características de outros, reforma de então teve como resultado principal a
descentralização dos recursos públicos, ampliando o grau de autonomia fiscal
dos estados-membros e dos municípios (VARSANO, 2008)5.
1.2 A tributação
AMED e NEGREIROS (2008) relacionam o aparecimento do tributo,
tal como é concebido hoje, ao surgimento do próprio Estado. Segundo eles, a
tributação em modelos próximos aos dos tempos atuais só pode ser concebida
dentro de uma estrutura de poder coercitivo. Então, parte da riqueza produzida
pela população poderia ser transferida para um soberano ou um agente
público, mesmo quando essa transferência tinha como justificativa para
legitimá-la o caráter divino do poder exercido sobre os súditos, ou a proteção a
3 ibidem. 4 ibidem 5 VARSANO apud REZENDE, F. A metamorfose do estado. São Paulo: Edições Abag, 2008.
13
ser-lhes dada em caso de conflitos6.
Dessa forma, nas sociedades primitivas, anteriores ao surgimento
das Cidades-Estados, onde inexistia o instituto da propriedade privada, não
havia espaço para a instituição dos tributos, pois os bens eram coletivos e a
riqueza, advinda do trabalho, era compartilhada por todos.
O dízimo foi a forma de tributo mais conhecida das cidades antigas,
cuja origem remonta à Lei Mosaica dos hebreus e o Egito dos tempos dos
Faraós. A questão tributária, no entanto, será notabilizada no mundo antigo
com o advento do Império Romano. Será inclusive nesta civilização que o
termo tributo será cunhado, dentro da acepção que carrega até os dias atuais:
(...) a palavra tributo vem do latim tributum, -i, cujo verbo tributo, -ere
significa ‘dar, conceder, fazer elogios, presentear’. Designava primitivamente
as exigências em bens ou serviços que as tribos vencedoras faziam às tribos
vencidas. Posteriormente, essas exigências passaram a ser feitas à própria
sociedade. (FRANCO, 2005, p. 18)7.
Com o desmoronamento do Império Romano e o surgimento do
feudalismo as práticas tributárias foram severamente transformadas. De fato,
em cada feudo vigia uma ordem tributária que regia as relações entre o servo
da gleba e o senhor feudal. É a época em que vigoravam os conhecidos
direitos feudais, dentro de uma completa descentralização político-
administrativa do Estado. Dentre as principais obrigações devidas ao senhor,
existiam a corvéia – trabalhos forçados nas terras do senhor e as redevances –
retribuições pagas em produtos ou dinheiro pelo Servo ao dono do feudo. O
6 AMED, Fernando José. NEGREIROS, Plínio José Labriola de Campos. História dos Tributos no
Brasil, São Paulo, 2008, Editora Nobel.
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fim do feudalismo marca o surgimento dos estados nacionais na Europa
Ocidental, a partir do século IV. Percebe-se uma gradativa centralização do
poder nas mãos do monarca, a despeito da gradativa perda de autonomia dos
feudos. Com isso, o rei, enquanto representante do Estado, passa a ser o
responsável pela cobrança dos tributos, indispensáveis para a manutenção da
máquina administrativa e os gastos da coroa, bem como os empreendimentos
necessários à expansão do capital (AMED; NEGREIROS, 2008) 8.
1.3 Definição de Tributo
FALCÃO (2008) destaca que o conceito de tributo tem estado, na
maioria das vezes, relacionado intrinsecamente ao direito positivo. Segundo
ele, tal fato tem acarretado grandes inconvenientes na medida que retira a
conotação universal que é peculiar a todo conceito e tende a apresentar a
realidade apenas parcialmente.
FALCÃO (2005) acosta-se na definição de Rubens Gomes de Sousa
para o instituto, tendo em vista o aceno que o conceito faz para a natureza de
não-restituibilidade daquelas exações. Dessa forma, tributo é a receita
derivada que o Estado arrecada mediante o emprego da sua soberania. Essa
receita que se destina ao custeio da máquina governamental, deve estar
previamente fixada em lei e não carece de contraprestação diretamente
equivalente.
No Brasil, a definição de tributo foi expressamente dada pelo Código
Tributário Nacional (CTN). Nos termos do art. 3o daquele diploma legal:
7 FRANCO, G . A inserção externa e o desenvolvimento. Revista de Economia Política, 18(3):121-147, Julho.2005
15
“Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.
(BRASIL, Código Tributário Nacional, art.3o)
Partindo da definição dada pelo CTN, pode-se definir tributo como o
meio pelo qual o Estado estabelece uma relação obrigacional que é satisfeita
mediante uma prestação pecuniária. No entanto, a afetação do patrimônio do
particular, expresso em moeda corrente ou outra modalidade de pagamento
previsto no art. 162 do código, não decorre de pena imputada ao contribuinte
em face da prática de ato ilícito.
É salutar destacar da definição dada pela legislação ordinária o
comentário de MACHADO (2008, p.54), segundo o qual “tributo como
conceituado no art. 3o do CTN, é um gênero, do qual o art. 5o do mesmo
Código indica como espécies os impostos, as taxas e as contribuições de
melhoria”.
1.4 Classificações dos Tributos
Vários são os esforços despendidos no sentido de se desenvolver
uma classificação que contemple todos as nuanças que cerca a natureza do
tributo. De fato, nenhuma sistematização, por extensiva ou criteriosa que se
tenha obtido, é acatada sem ressalvas pela doutrina dominante. A fronteira que
delimita as espécies é tênue, nem sempre aplicável universalmente. No
entanto, como assinala CARRAZZA (2009), sendo as classificações
instrumento de trabalho intelectual, não existindo certas ou erradas, senão
mais úteis ou menos úteis, para facilitar a abordagem do tema ora em estudo,
8 AMED, Fernando José. NEGREIROS, Plínio José Labriola de Campos. História dos Tributos no Brasil, São Paulo, Editora Nobel. 2008.
16
serão apresentadas as classificações que se tornaram clássicas no meio
acadêmico.
DALTON (2003), em sua obra Princípios de Finanças Públicas,
tomando a espécie imposto, pelo gênero tributo, apresenta várias
classificações. A primeira, e mais comum, é a que distingue os tributos em
diretos e indiretos. A base dessa distinção consiste em saber sobre quem recai
a obrigação de recolher e pagar o imposto.
O tributo direto é aquele pago pela pessoa sobre quem recai a
obrigação legal do imposto. Já os tributos indiretos são aqueles cuja obrigação
atinge uma pessoa, mais quem efetivamente paga é outra. Nesse caso, o ônus
da exação pode ser transferido total ou parcialmente para outras pessoas.
Geralmente, o imposto sobre a renda é classificado no primeiro grupo,
enquanto os tributos sobre o consumo são tidos como indiretos.
RIANI (2007) caracteriza os tributos diretos como sendo aqueles que
incidem sobre os rendimentos dos indivíduos; enquanto os tributos indiretos
aqueles que oneram os bens e serviços transacionados nas relações
comerciais. Nessa abordagem fica evidente o fato de que nos tributos indiretos
pode ser objeto de repercussão do contribuinte legal para o de fato,
transferência que se torna mais difícil nos tributos diretos.
Outra diferenciação apresentada é entre os tributos que incidem
sobre a propriedade e os que incidem sobre mercadorias. SILVA (2006)
apresenta uma classificação semelhante a essa, ao categorizar os tributos,
conforme a base econômica sobre a qual incidem, em três grandes grupos:
sobre a riqueza (patrimônio), sobre a renda e sobre venda de mercadorias ou
serviços. No primeiro grupo a base de incidência é o estoque de capital
acumulado. No segundo grupo a exação incide sobre o fluxo de rendimentos, e
no terceiro tem como fato econômico motivador do tributo as transações de
compra e venda de mercadorias. No que tange as bases econômicas que
17
oneram, DALTON (2003) distingue os tributos em dois grupos, isto é,
incidentes sobre a renda ou sobre o capital.
Dentro de uma abordagem mais moderna da função dos tributos,
MACHADO (2008) os distingue conforme os fins e objetivos com eles visados.
Dessa forma, eles poderão ter natureza fiscal, extrafiscal ou parafiscal. Diz-se
que um tributo é fiscal quando visa proporcionar recursos ao Estado, só
exigindo o interesse monetário. Em sua arrecadação a preocupação social,
política ou de intervenção econômica é secundária, ou inexistente. Já o tributo
extrafiscal se concretiza no instante em que se junta a sua cobrança outros
interesses que não o da simples arrecadação de recursos financeiros,
configurando a intervenção do Estado no domínio econômico ou social. Esses
tributos estão diretamente relacionados com as funções de ajustamento da
distribuição da riqueza e da renda e com a garantia de estabilização
econômica do Estado.
O tributo parafiscal é aquele que visa proporcionar recursos para
custear encargos paralelos ao da administração pública direta. Este tipo de
tributo é instituído por uma determinada pessoa política, todavia, sua
arrecadação, fiscalização, administração e uso de verbas são cometidos à
outra pessoa jurídica de direito público. Essa classificação dificilmente poderá
afirmar que um tributo é estritamente fiscal ou extrafiscal, senão
predominantemente. Uma classificação qualitativa, que leva em conta a
vinculação da atividade estatal decorrente da exação, distingue os tributos em
vinculados e não vinculados.
Consideram-se vinculados os tributos que necessitam de uma
contraprestação estatal, como é o caso das taxas e das contribuições de
melhoria. Já os tributos não vinculados são aqueles que para sua cobrança
não se exige qualquer contraprestação por parte do Estado. Os impostos são
18
tributos não vinculados por excelência9. Em estados de estrutura federativa, os
tributos, de acordo com a competência impositiva, poderão ser classificados
em federais, estaduais ou municipais, tendo em vista o ente político a que
incube instituí-los.
Os tributos podem, ainda, ser classificados quanto às espécies
existentes. CARAZZA (2009) destaca que essa classificação é de especial
relevância nos países de estrutura federal, onde a questão da competência
tributária é de fundamental importância para se precisar a quem cabe a
instituição da exação.
O CTN, em seu artigo 4º dispõe:
“Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo
fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la:
I- a denominação e demais características formais adotadas pela
lei;
II- a destinação legal do produto da sua arrecadação”.
1.5 Espécies de Tributos
CARAZZA (2009) destaca que no Brasil a Constituição Federal, além
de efetuar uma classificação estrita das espécies tributárias, apontou os
respectivos regimes jurídicos, de modo que a distinção entre elas não é
apenas nominal, senão conceitual. Diante disso, o arquétipo genérico de cada
tributo está traçado no Texto Maior, de modo que o legislador
infraconstitucional não pode dele se afastar. O autor ressalta que essa
classificação jurídica dos tributos, relaciona-se diretamente com a natureza
privativa das competências tributárias dos entes políticos. Diante disso, esse
estudo só se justifica em países cuja aptidão para instituir tributos é partilhada
9 Torres, 2008
19
pelas diversas esferas de governo. No caso brasileiro, a competência é
dividida entre União, estados-membros e Distrito Federal e os municípios.
A Carta Política atual cita expressamente três espécies de tributos:
os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria. Porém, seu texto
normatiza mais duas outras espécies, as “contribuições” e os empréstimos
compulsórios. À parte as discussões doutrinárias quanto à natureza tributária
ou não dessas últimas espécies10, ocorre que através deles o Estado, por meio
do seu jus imperius, impõe aos cidadãos exações em nada diferente dos
impostos, taxas ou contribuições de melhoria.
CARAZZA (2009) define imposto como sendo a modalidade de
tributo que tem por hipótese de incidência um fato qualquer, não consistente
numa atuação estatal. Já o artigo 16 do CTN define como: “Art. 16. Imposto é
o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independentemente
de qualquer atividade específica, relativa ao contribuinte”. As taxas são tributos
vinculados a uma contraprestação estatal específica ao contribuinte. Elas têm
como fato gerador o exercício regular do Poder de Polícia ou a utilização,
efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição.
Sua definição consta nos 77 e 78 do CTN e tem como fato gerador o
exercício regular do poder de polícia ou a utilização efetiva ou potencial de
serviço público, específico e divisível, prestado ou colocado à disposição do
contribuinte (art. 77). O poder de polícia é a atividade da administração pública
que limita e disciplina direito, interesse ou liberdade em razão do interesse
público, concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção, do mercado, à tranqüilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos (art. 78).
10 Entende que os empréstimos compulsórios não são tributos, Machado (2008, p. 56). São de
opinião contrária, Carraza (2009, p. 379).
20
Segundo para CARAZZA (2009), ela é uma obrigação ex lege que
nasce da realização de uma atividade estatal relacionada, de modo específico,
ao contribuinte, embora muitas vezes por ele não requerida ou, até mesmo,
sendo para ele desvantajosa. Existem, portanto, basicamente dois tipos de
taxas: as taxas de fiscalização (ou de poder de polícia) e as de serviço. A
primeira tem como fato gerador o poder de polícia, que é o poder disciplinador
através do qual o Estado pode intervir nas atividades dos cidadãos para
garantir a ordem e a segurança. As taxas de serviço têm como fato gerador à
utilização efetiva ou potencial de serviço público específico e divisível. A
tributação por meio de taxa deve ser cobrada tendo por base de cálculo o
custo da atuação do Poder Público, não podendo, portanto, ser estipulado
valor arbitrário e nem ser cobrada de qualquer pessoa. Deve-se procurar uma
maior aproximação do custo, tanto do serviço, quanto das ações, que levam
aos atos de polícia.
A contribuição de melhoria é um tributo vinculado a uma
contraprestação específica de obra pública da qual decorra valorização
imobiliária. Para MACHADO (2008), o teto máximo é o custo total da obra a ser
rateado por todos os beneficiários, porém só até o limite do real benefício que
resultar para o determinado imóvel.
Sua definição também está nos artigos 81 e 82 do CTN:
“Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos
Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas
respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas
de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa
realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar
cada imóvel beneficiado.
21
Art. 82. A lei relativa à contribuição de melhoria observa os seguintes
requisitos mínimos:
I - publicação prévia dos seguintes elementos:
a. memorial descritivo do projeto;
b. orçamento do custo da obra;
c. determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela
contribuição;
d. delimitação da zona beneficiada;
e. determinação do fator de absorção do beneficio da valorização
para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas;
II – fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação,
pelos interessados, (...);
III – regulamentação do processo administrativo de instrução e
julgamento da impugnação (...), em prejuízo da sua apreciação judicial”.
O ordenamento jurídico brasileiro prevê ainda as contribuições
sociais, que para muitos tributaristas11 constituem verdadeiros tributos,
qualificados pela finalidade que devam alcançar. Os recursos advindos da
cobrança dessas exações ficam vinculados ao custeio de determinados fins,
previamente estabelecidos.
Para MACHADO (2008) elas constituem uma espécie do gênero
tributo, da qual existem três subespécies: a) contribuições de intervenção no
domínio econômico (CIDE); b) contribuições de interesse de categorias
11 Carrazza (2009, p. 389)
22
profissionais ou econômicas; c) contribuições de seguridade social.
As duas primeiras espécies têm fundamento no art. 149 e parágrafos
da CF de 1988, enquanto as destinadas ao custeio da seguridade social
possuem bases jurídicas no art. 195, incisos I, II e III, e seu §6o; nos art. 165,
§5o e art. 194, incisos VII.
São contribuições sociais instituídas pelo art. 195 da CF de 1988:
a. para o empregador, ela incide sobre a folha de salários (INSS –
Lei nº 8.212/91), sobre o faturamento (COFINS – Lei Complementar nº 70/91 e
PIS – Lei Complementar nº 7/70) e sobre o lucro (CSLL – Lei nº 7.689/88).
b. para o trabalhador, sua contribuição em como contrapartida a
garantia da Seguridade Social (assistência médico-hospitalar, aposentadoria).
Há, então, um serviço público ou efetivamente prestado ou colocado à sua
disposição.
1.6 Princípios Gerais da Tributação
Para SILVA (2001) a teoria da tributação possui dois princípios
fundamentais: neutralidade e eqüidade. Pelo princípio da neutralidade a
tributação não deve interferir nas decisões de alocação dos recursos tomadas
com base nas leis de mercado. Dessa forma, o governo ao instituir um tributo
deverá fazê-lo de modo que a sua cobrança não implique na modificação dos
preços relativos dos bens e serviços, do contrário a tributação estará
contribuindo para que as decisões econômicas se tornem menos eficientes.
O segundo princípio está relacionado com a justiça fiscal promovida
pelo regime de tributação adotado. Nesse sentido, ela preceitua uma
distribuição eqüitativa do ônus tributário pelos indivíduos. A eqüidade da
tributação pode ser avaliada sobre dois prismas distintos. A tributação é justa
23
se o ônus for repartido entre os indivíduos, de acordo com o benefício que
cada um obtém do provimento de bens e serviços pelo governo – princípio do
benefício. Sob outro prisma, haverá eqüidade se a repartição se realizar
conforme a capacidade contributiva de cada indivíduo – princípio da
capacidade contributiva. (SILVA, F., 2001).
Esse último preceito Riani (1997) denomina de princípio da
habilidade de pagamento, segundo o qual o ônus tributário deverá recair sobre
os indivíduos de acordo com as respectivas rendas e riquezas.
Dalton (1960) acrescenta ainda um terceiro prisma sob o qual o
princípio da eqüidade pode ser avaliado: o custo, para o governo, de serviços
prestados a determinados contribuintes. Embora reconheça, de modo geral, a
pouca aplicação do preceito, ele ilustra uma situação em que ele seria factível:
o custo do serviço da dívida pública. Para o autor “seria eqüitativo fazer cada
portador de apólices da dívida pública pagar, mediante uma contribuição
especial, sua participação nessa despesa”. (DALTON, 1960, p. 78)
1.7 Os Princípios Jurídicos da Tributação
Além dos princípios gerais da tributação, de enfoque eminentemente
econômico, tributaristas vislumbram preceitos jurídicos fundamentais,
emanados do texto constitucional, aos quais deverão subordinar as decisões
de política tributária do governo.
No sentido que ora é posto, Carrazza (1999) informa que o termo
princípio vem do latim “principium”, “principii”, que se refere a idéia de começo,
origem, base. Eles são fundamentos basilares de um ordenamento jurídico,
pois exercem a função de sustentação, interpretação e integração da ordem
constituída. Muitas vezes, dão guarida a direitos e garantias individuais. Dessa
forma, asseguram o respeito ao cidadão-contribuinte, fazendo com que o
24
Estado não extrapole, nem abuse, da sua competência de exigir e arrecadar
tributos.
Machado (1999) destaca, dentre os inúmeros princípios existentes,
os considerandos universais, ou seja, que são comuns a todos os sistemas
jurídicos:
a) Princípio da legalidade ou da reserva legal. Nos termos do
dispositivo acima, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. (BRASIL,
Constituição Federal, art. 150, inc. I).
Esse princípio limita a atuação do poder tributante em prol da justiça
e da segurança jurídica dos contribuintes;
b) Princípio da capacidade contributiva:
Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à
administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses
objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o
patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.
(BRASIL, Constituição Federal, art. 145, §1o).
Como explica Machado (1999), atualmente tal preceito vem
cristalizado no corpo das constituições de um número muito grande de países,
de modo que se tornou consciência universal que o princípio, independente de
previsão constitucional, é norma de justiça e de tal modo deve ser seguido
pelos intérpretes das legislações tributárias;
c) Princípio da anterioridade. Conforme esse princípio, é vedado aos
entes tributantes cobrar tributo no mesmo exercício financeiro em que haja
sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Também se vê aqui o desejo
de se estabelecer a segurança jurídica na relação tributária. O Estado vê-se
25
obrigado a aguardar o início do próximo exercício financeiro, para iniciar a
cobrança do tributo criado ou aumentado. Esse princípio comporta exceções,
quanto ao II, IE, IPI e IOF, impostos extraordinários de guerra e o empréstimo
compulsório. Eles podem ser cobrados no mesmo exercício financeiro em que
foram instituídos ou aumentados;
d) Princípio da irretroatividade. Não se pode cobrar tributo relativo a
situações ocorridas antes do início da vigência da lei que as tenha definido.
Dessa forma, a lei sempre se aplicará a fatos geradores ocorridos após o início
da sua vigência. A regra geral é da irretroatividade da lei, sendo exceção a
ocorrência de leis retroativas, tais como as leis interpretativas, a lei penal mais
benigna, etc;
e) Princípio da igualdade ou isonomia tributária. A igualdade jurídica
dos cidadãos é proclamada no art. 5º, I da CF, que afirma "todos são iguais
perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza [...]". Decorre desse
dispositivo que a isonomia ou igualdade tributária nada mais é que a
confirmação do princípio constitucional básico: todos são iguais perante a lei.
Os poderes tributantes não poderão tratar os iguais de forma desigual,
independentemente do nome que tenham os rendimentos, títulos ou direitos
dos indivíduos. A lei tributária não poderá ser imposta de forma diferenciada
em função de ocupação profissional ou função exercida;
f) Princípio da vedação de confisco. O Estado não pode criar tributo
que seja utilizado com efeito de confisco, ou seja, o tributo não pode ser tão
gravoso que atinja de forma exacerbada o patrimônio do contribuinte;
g) Princípio da liberdade de tráfego. Segundo Machado (1999), a CF
garante a todos os indivíduos a liberdade de locomoção dentro do território
nacional. O artigo 150 inciso V confirma tal liberdade, ao assegurar que não se
pode limitar o tráfego de pessoas ou bens através da criação de tributos
interestaduais ou intermunicipais, exceto pela cobrança de pedágio, em vias
26
conservadas pelo Poder Público;
h) Princípio da uniformidade geográfica da tributação. Esse princípio
é citado por Carvalho (2002) e preceitua que a União não pode criar tributos
que impliquem em distinção ou preferência por um estado, Distrito Federal ou
município, em relação aos demais. Os incentivos fiscais, concedidos através
de leis, que visam a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-
econômico entre as diferentes regiões, são exceções a este princípio.
27
CAPÍTULO II
A RESPONSABILIDADE CIVIL
O homem, como ser vivo inserido na sociedade, ao exercer sua
atividade, provoca uma alteração no meio que pode ter diversas
conseqüências, seja sobre si mesmo, sobre terceiros ou sobre bens próprios
ou alheios.
Assim, o homem como “ser no mundo” é responsável. A
responsabilidade está estreitamente conectada com a liberdade, pois obrigado
a ela o homem pode optar e esta eleição (livre arbítrio) que é o que permite
responsabilizá-lo por seus atos, já que o ser humano pode eleger entre
provocar um dano ou não o provocar. Em síntese: é responsável aquele que a
lei chama a “responder” frente a um dano causado a outra pessoa ou a seu
patrimônio. A responsabilidade é um conceito universal, não há sociedade sem
responsabilidade, pois a convivência não seria possível. A norma jurídica
supõe a existência de alguém responsável por seus atos.
Juridicamente, o termo “dano” é todo detrimento, prejuízo,
menoscabo patrimonial e inclusive não patrimonial (por exemplo, dano moral
ou dano psicológico) que sofre um indivíduo.
É um dos elementos que moldam a responsabilidade civil, junto com
a antijuridicidade e a culpabilidade. Para que o dano seja susceptível de
reparação deve reunir os seguintes requisitos:
- Deve ser verdadeiro: isto é, deve ser real e efetivo, não pode ser
um dano hipotético.
28
- Deve ser subsistente: isto é, deve existir, não pode ter
desaparecido ou se desvirtuado.
- Deve ser próprio: isto é, deve ser pessoal do reclamante, ou ter
legitimação jurídica para reclamá-lo.
- Deve afetar um interesse legítimo: ou um bem juridicamente
protegido, por exemplo, a vida ou a saúde.
- Deve guardar relação de causalidade com o fazer antijurídica: o
dano deve ser conseqüência direta do fazer antijurídico de seu
autor;
- Deve ser significativo: deve ter entidade suficiente, isto é, ter certa
importância jurídica ou econômica.
Sua classificação se dá da seguinte forma:
- DANO MATERIAL: é o causado no patrimônio e que pode
quantificar-se economicamente, isto é, são susceptíveis de valoração
econômica;
- DANO MORAL: é o causado no foro íntimo das pessoas e que
não têm valoração econômica, no entanto, os juízes põem um
valor econômico para poder consertar-se. Ressalta-se que de
acordo com a Constituição de 1988, a proteção à integridade
moral da pessoa, a proteção da integridade moral da pessoa,
neste sentido inserido a intimidade, a vida privada, a honra, a
imagem, sob pena de indenização sob o dano moral ou material
decorrente de sua violação (CF, artigo, 5o , inciso X).
29
Quando o fato danoso se produz, gera diversas conseqüências, das
quais o autor do dano deve responder pelas conseqüências imediatas. Em
alguns casos responderá pelas conseqüências imediatas somente quando
poderia prevê-las e evitá-las, raramente responderá pelas conseqüências
casuais (somente naqueles casos em que o autor do fato as previu), e nunca
pelas conseqüências remotas.
Reale (2005) classifica o dano moral em duas espécies, o dano
moral objetivo e o dano moral subjetivo, o primeiro atingindo a dimensão moral
da pessoa no meio social em que vive, envolvendo o dano de sua imagem, já o
dano moral subjetivo, se correlaciona com o mal sofrido pela pessoa em sua
subjetividade, em sua intimidade psíquica, sujeita à dor ou sofrimento
intransferíveis porque ligados a valores de seu ser subjetivo, que o ilícito veio
penosamente subverter, exigindo inequívoca reparação.
Existem danos diretos e indiretos, ou puros e reflexos, consoante se
manifestem como conseqüências imediatas ou mediatas do fato lesivo. São
puros os danos que se exaurem nas lesões a certos aspectos da
personalidade, enquanto os reflexos constituem extrapolações de atentados ao
patrimônio ou aos demais elementos materiais do acervo jurídico lesado. Por
fim, o citado mestre ensina que se dizem subjetivos ou objetivos os danos
morais, quando se circunscrevem à esfera íntima ou valorativa do lesado, ou
se projetam no círculo de seu relacionamento familiar ou social. Por outras
palavras, conforme se atinja a esfera subjetiva ou de relações do interessado.
(BITTAR,2006)
A culpabilidade como noção básica em nosso sistema jurídico
instaura o alicerce subjetivo da responsabilidade. Apresenta-se em duas
versões tradicionais: a culpa e o dolo.
A culpabilidade pesquisa a relação entre a vontade do agente
produtor do dano e seu ato. Dita vontade é qualificada como reprovável
30
quando o sujeito deseja cometer o ato e pode prever suas conseqüências
danosas, isso é dolo. Também sua conduta é reprovável quando o sujeito que
comete o dano não adota as medidas necessárias para preveni-las nem as
tem em vista, isto é a culpa.
A responsabilidade civil é em essência subjetiva, pelo que a
presença de culpa é geralmente indispensável (há exceções a este princípio,
que ocorrem quando a lei em certos casos específicos atribui responsabilidade
objetiva, isto é, sem culpa; por exemplo, quando se utilizam coisas perigosas
como os automóveis ou os elevadores, seus donos respondem sempre que
essas coisas produzam dano, independentemente de que tenham ou não
culpa).
A diferença entre a culpa e o dolo está dada pela intenção de querer
provocar o dano, ainda que ambas as condutas em definitiva sejam
reprováveis, a culpa se considera de menor gravidade e por essa razão, os
delitos culposos têm menores penas do que os dolosos.
As três formas clássicas em que se exterioriza a culpa são:
• Negligência: quando o sujeito omite a realização de um ato que
teria evitado o resultado danoso;
• Imprudência: o sujeito ao fazer precipitadamente não prevê as
conseqüências danosas que produz sua conduta;
• Imperícia: consiste na incapacidade técnica para o exercício de
uma função, profissão ou arte determinada;
• Inobservância: dos deveres e regulamentos de um cargo.
Precisa-se também atuar com moderação, sem excessos, sem
temeridade e sem soberba, isto é com prudência. O atuar com pressa, sem
tomar as previsões que o caso requer constitui a imprudência.
31
2. A tributação de produtos
De acordo com o PORTAL TRIBUTÁRIO (2010) o imposto sobre
produtos industrializados (IPI) incide sobre produtos industrializados, nacionais
e estrangeiros. Suas disposições estão regulamentadas pelo Decreto
7.212/2010 (RIPI/2010). O campo de incidência do imposto abrange todos os
produtos com alíquota, ainda que zero, relacionados na Tabela de Incidência
do IPI (TIPI), observadas as disposições contidas nas respectivas notas
complementares, excluídos aqueles a que corresponde a notação "NT" (não-
tributado).
Ressalta-se que o produto industrializado pode ser conceituado como
o resultante de qualquer operação definida no RIPI como industrialização,
mesmo incompleta, parcial ou intermediária e a industrialização caracterizam-
se por qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o
acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para
consumo, tal como (PORTAL TRIBUTÁRIO, 2010):
I – a que, exercida sobre matéria-prima ou produto
intermediário, importe na obtenção de espécie nova
(transformação);
II – a que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de
qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o
acabamento ou a aparência do produto (beneficiamento);
III – a que consista na reunião de produtos, peças ou
partes e de que resulte um novo produto ou unidade
autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal
(montagem);
32
IV – a que importe em alterar a apresentação do produto,
pela colocação da embalagem, ainda que em
substituição da original, salvo quando a embalagem
colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria
(acondicionamento ou reacondicionamento);
V – a que, exercida sobre produto usado ou parte
remanescente de produto deteriorado ou inutilizado,
renove ou restaure o produto para utilização (renovação
ou recondicionamento).
Não se considera industrialização:
I – o preparo de produtos alimentares, não
acondicionados em embalagem de apresentação:
a) na residência do preparador ou em restaurantes,
bares, sorveterias, confeitarias, padarias, quitandas e
semelhantes, desde que os produtos se destinem a
venda direta a consumidor;
b) em cozinhas industriais, quando destinados a venda
direta a corporações, empresas e outras entidades, para
consumo de seus funcionários, empregados ou
dirigentes;
II – o preparo de refrigerantes, à base de extrato
concentrado, por meio de máquinas, automáticas ou não,
em restaurantes, bares e estabelecimentos similares,
para venda direta a consumidor;
III – a confecção ou preparo de produto de artesanato.
IV - confecção de vestuário, por encomenda direta do
33
consumidor ou usuário, em oficina ou na residência do
confeccionador;
V – o preparo de produto, por encomenda direta do
consumidor ou usuário, na residência do preparador ou
em oficina, desde que, em qualquer caso, seja
preponderante o trabalho profissional;
VI – a manipulação em farmácia, para venda direta a
consumidor, de medicamentos oficinais e magistrais,
mediante receita médica;
VII – a moagem de café torrado, realizada por
comerciante varejista como atividade acessória;
VIII - a operação efetuada fora do estabelecimento
industrial, consistente na reunião de produtos, peças ou
partes e de que resulte:
a) edificação (casas, edifícios, pontes, hangares, galpões
e semelhantes, e suas coberturas);
b) instalação de oleodutos, usinas hidrelétricas, torres de
refrigeração, estações e centrais telefônicas ou outros
sistemas de telecomunicação e telefonia, estações,
usinas e redes de distribuição de energia elétrica e
semelhantes;
c) fixação de unidades ou complexos industriais ao solo;
Nota: O disposto neste item não exclui a incidência do
imposto sobre os produtos, partes ou peças utilizados
nas operações nele referidas.
34
IX – a montagem de óculos, mediante receita médica;
X – o acondicionamento de produtos classificados nos
Capítulos 16 a 22 da TIPI, adquiridos de terceiros, em
embalagens confeccionadas sob a forma de cestas de
natal e semelhantes;
XI – o conserto, a restauração e o recondicionamento de
produtos usados, nos casos em que se destinem ao uso
da própria empresa executora ou quando essas
operações sejam executadas por encomenda de
terceiros não estabelecidos com o comércio de tais
produtos, bem assim o preparo, pelo consertador,
restaurador ou recondicionador, de partes ou peças
empregadas exclusiva e especificamente naquelas
operações;
XII – o reparo de produtos com defeito de fabricação,
inclusive mediante substituição de partes e peças,
quando a operação for executada gratuitamente, ainda
que por concessionários ou representantes, em virtude
de garantia dada pelo fabricante;
XIII – a restauração de sacos usados, executada por
processo rudimentar, ainda que com emprego de
máquinas de costura;
XIV – a mistura de tintas entre si, ou com concentrados
de pigmentos, sob encomenda do consumidor ou
usuário, realizada em estabelecimento varejista, efetuada
por máquina automática ou manual, desde que fabricante
e varejista não sejam empresas interdependentes,
controladora, controlada ou coligadas.
35
Também por força do artigo 12 da Lei 11.051/2004, não
se considera industrialização a operação de que resultem
os produtos relacionados nos códigos 2401.10.20,
2401.10.30, 2401.10.40 e na subposição 2401.20 da
TIPI, quando exercida por produtor rural pessoa física.
De acordo com HARADA (2007) na tributação por fora, o valor do
tributo não integra o preço da mercadoria ou do serviço. O valor do imposto
incidente sobre a mercadoria ou o serviço é separado do preço respectivo. O
imposto não pertence ao comerciante ou ao prestador de serviço. Seu
destaque no documento fiscal significa que o vendedor da mercadoria ou o
prestador do serviço fica na condição de depositário daquele valor pertencente
ao fisco. É o critério utilizado, dentre outros, pelos Estados Unidos e pelo
Japão. Pode-se dizer que tal critério trará problemas relacionados com trocos,
quando o preço for pago em dinheiro, mas, além de espelhar um critério
transparente, ele inibe a sonegação. Quem deixa de recolher o dinheiro de que
é depositário comete crime.
A maioria das empresas no Brasil não utiliza a tributação por fora:
36
Figura: HARADA, 2007
De acordo com HARADA (2007) na tributação por dentro, o valor do
imposto é embutido no preço da mercadoria ou do serviço. A alíquota do
imposto é aplicada sobre o preço reajustado pelo montante do imposto, isto é,
o imposto incide sobre si próprio. Por isso, a alíquota nominal do ICMS, por
exemplo, de 18% equivalerá a uma alíquota real de 21,38%. A alíquota
nominal de 25%, que incide sobre o consumo de energia elétrica, equivalerá a
uma alíquota real de 33,35%.
Essa questão foi levada aos tribunais, mas a jurisprudência consagrou
a constitucionalidade do imposto de cálculo por dentro, que não permite ao
consumidor visualizar o preço da mercadoria antes da incidência do imposto, a
não ser no caso de tributação do consumo de energia elétrica. Efetivamente,
neste caso, a conta de energia elétrica apresenta de forma discriminada o
valor da energia consumida, a alíquota de 25% e o preço final da energia
consumida. Essa transparência, fez com que os consumidores batessem à
porta do Judiciário, alegando majoração da alíquota de 25% para 33,35%.
Nas vendas de mercadorias não há essa transparência; o valor do
imposto acha-se embutido e enrustido no preço, por isso ninguém foi a juízo
alegando a majoração indevida da alíquota de 18% para 21,38%.
Uma coisa é o valor do ICMS destacado na nota fiscal, para fins de
registro contábil, com o objetivo de tornar efetivo o princípio da não
cumulatividade do imposto; outra coisa bem diversa é o valor do ICMS que
integra o valor da operação de circulação de mercadoria, vale dizer, o preço da
mercadoria no qual, obviamente, estão incluídos não apenas o valor do ICMS,
mas também outros encargos que compõem o custo da mercadoria (salários,
aluguéis, outros tributos etc).
Ressalta-se que a PEC 233/2008 regulamenta o cálculo por dentro.
Vamos citar um exemplo de como ficou a tributação depois da nova
37
regulamentação. Suponha as alíquotas de 5% (IPI), 10% (IVA-F) e 18%
(ICMS). O preço final pago pelo consumidor será R$ 149,25. O IPI recolhido
seria de R$ 7,46 (que equivale a 5% de R$ 149,24). O IVA-F de R$ 14,92 (que
equivale a 10% de R$ 149,25) e o ICMS de R$ 26,87 (18% de R$ 149,25). Em
suma, o consumidor recolherá R$ 49,25 em tributos e as alíquotas efetivas
serão de 7,46% (IPI), 14,92% (IVA-F) e 26,87% (ICMS)
No caso da incidência por fora, os tributos recolhidos seriam: R$ 5,00
de IPI; R$ 10,00 de IVA-F e R$ 18,00 de ICMS, totalizando R$ 33,00.
Ressalta-se que assim, a incidência eleva os tributos recolhidos em
quase 50%. Nesta vertente, o total das alíquotas efetivas é de 49,25%
enquanto o total das alíquotas nominais, anunciadas ao consumidor, é de 33%.
38
Figura: HARADA (2007)
CONCLUSÃO
Logo, observou-se que as altas cargas tributárias contribuem
negativamente para o crescimento as empresas nacionais, que é um país
reconhecidamente dotado de belezas naturais e que poderia encontrar neste
setor um escopo para a criação de mais frentes de empregos.
Salienta-se ainda que a elevada carga tributária representa grande
obstáculo ao desenvolvimento das empresas nacionais brasileiras, atingindo
diretamente a sociedade. De acordo com estudo realizado pelo Senado
Federal, a alíquota modal de ICMS cobrada no Brasil é 13 vezes maior do que
nos Estados Unidos, quase 6 vezes do Canadá, mais de 4 vezes a da Itália e
2,5 a da Alemanha.
E que se comparado outro países em desenvolvimento, o quadro
também é desfavorável, como o caso do México e da Colômbia, onde a carga
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tributária incidente é mais de duas vezes inferior à brasileira.
Alterando a legislação fiscal, traduz-se um real incentivo
implementando uma mova política para investimentos, melhorando a qualidade
dos serviços prestados e tornando o setor competitivo internacionalmente, pois
somos prestadores de serviços, e não circuladores de mercadorias.
Nesta perspectiva, finaliza-se apontando que o decréscimo das
tributações no setor, estimularia o crescimento do mesmo, e os seus
empreendedores poderiam investir mais em infra-estrutura, melhorar os
serviços prestados e contratar mais mão-de-obra e atrair mais empresas
transnacionais para o Brasil, o que é de indubitável importância para a
economia brasileira.
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