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DIREITO CONSTITUCIONAL Prof. Giuliano Tamagno AULA 1

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Prof. Giuliano Tamagno

AULA 1

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Direito Constitucional

AULA 1

Então tá pessoal do EaD sejam bem vindos, pessoal do presencial, boa noite!

É um prazer estar aqui e como falei, essa é minha primeira aula e a única de Direito Constitucional que vou trabalhar com vocês. Meu nome é Giuliano Tamagno, conheço alguns de vocês aí. Sou professor aqui da Casa já faz um tempo, desde 2014, fui professor de Civil e Processo Civil até 2016, depois fui dar aula em tudo quanto é lugar e hoje é a primeira aula que voltei a ser exclusivo da Casa, do grupo UOL agora.

Acontece que eu fiz minha Especialização em Direito Público e a parte que me compete de Constitucional foi justamente o tema da Especialização. Gosto de Direito Constitucional, principalmente a parte de organização do Estado.

Delimitando nosso conteúdo, vamos trabalhar a parte da Constituição do artigo 18 ao artigo 33. Não vamos falar de intervenção porque historicamente nos concursos não cai intervenção, então não se precisa falar sobre (em que pese ser um assunto relevante e que está na mídia, mas acho que não viria algo nesse sentido).

A aula de hoje, na última prova, representou CINCO questões.

A gente começa nossa aula dando uma ideia de que pra aprender isso é mais fácil pra quem nunca viu sobre Direito Constitucional. Até porque o Dir. Constitucional que se vê na rua não tem nada a ver com o livrinho que a gente estuda, né?

A ideia de Organização Político-Administrativa, que é sinônimo de Organização do Estado, se vocês verem no enunciado da prova tais questões que vão versar sobre Organização Político Administrativa, significa que estamos falando de Organização do Estado. E o que é a Organização do Estado?

Organização do Estado é um capítulo dentro da Constituição, bem pequenininho que ela reservou para determinar o que cada um pode. O que o estado pode fazer, o que a União pode fazer, o que o DF pode fazer e o que os municípios podem fazer. Basicamente, se preocupou em regular essa atividade desses quatro entes. Então a gente vai trabalhar aqui, basicamente, com distribuição de competências. Mas do art 18 ao 33 ele se preocupa só com isso? Não. Se a gente for pegar a última prova, por exemplo, tem uma questão sobre bens da União, que está dentro dessa parte. O artigo 20 vai trabalhar com bens da União. Então como a gente tem tempo, a noite inteira pra falar sobre isso, vamos falar sobre tudo o que a gente pode, do artigo 18 até o artigo 33, está bem? Não precisa ficar folheando a apostila de vocês porque o que vamos ver na aula está no powerpoint. Quem está no Ead, já está disponibilizado, já enviei para o pessoal daqui, e vocês depois tem acesso ao material.

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A divisão da aula vai ser assim: começamos falando sobre conceitos iniciais, origem do fede-ralismo, federalismo no Brasil e características do federalismo. Depois vamos falar sobre cada um dos entes da Federação e aqui vamos nos deter um pouco mais na questão de competência e de bens porque dessas questões que eu falei para vocês da última prova eram questões de bens e questões de competências. Nada impede que uma questão cobre essa parte inicial da nossa aula, porque a gente vai agora mais uns 40 minutos falando de conceito histórico, evolu-ção histórica dessa parte do Direito Constitucional e é muito fácil de cobrar isso em prova, por-que a história não vai mudar, então é uma questão fácil de fazer, que não vai dar recurso, então é bem possível que se coloque em uma prova, ainda mais provas da CESPE.

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A gente começa a fazer uma distinção entre três grandes grupos : o que vem a ser Sistema de Governo, o que vem a ser Forma de Governo e o que vem a ser Forma de Estado. Já antecipo para vocês que o que a gente vai estudar efetivamente na nossa aula é Forma de Estado. Hoje a gente tem essas três formas de Estado: Unitário, Confederação e Federação.

Primeiro a gente precisa entender essa ideia de o que é um Sistema de Governo e qual o Brasil adota. Por que é importante a gente conhecer esses conceitos iniciais? Porque uma prova vai dizer pra vocês: “O Brasil adota o Sistema de Governo Federalista”. NÃO! Sistema de Governo é Presidencialista ou Parlamentarista. O Sistema de Governo é a forma que o chefe de máximo do poder executivo se relaciona com entes estrangeiros. Falando assim para um pouco ‘juridiquês’ demais.

Quando eu digo que o Brasil é um Sistema de Governo Presidencialista, estou dizendo que o mesmo cara assume duas funções, o chefe do Poder Executivo assume duas funções: Chefe de Estado e Chefe de Governo. Ou seja, tem a prerrogativa de se relacionar com entes estrangeiros e também a prerrogativa de se organizar e administrar as pecinhas do tabuleiro dele dentro do Brasil. Não é essa a ideia? O Temer não está volta e meia viajando, conversando com qualquer presidente de algum país? Sim, toda hora viajando e se relacionando com entes estrangeiros, buscando auxílio e apoio estrangeiro. Quando ele faz isso, faz a função de Chefe de Estado, está se relacionando com entes estrangeiros. Se o Brasil não fosse um sistema Presidencialista e fosse Parlamentarista, quem faria a função de se relacionar com entes estrangeiros? O Primeiro Ministro. Essa é a distinção que vamos ter do Presidencialismo e do Parlamentarismo. No presidencialismo temos um acúmulo de funções do presidente, que faz as funções de chefe de Estado e chefe de Governo. Já no Parlamentarismo (que a gente pode pegar vários exemplos aí: Inglaterra, Itália, Alemanha) eu tenho uma pessoa que é o chefe de Estado e outra pessoa que é o chefe de Governo. Normalmente o chefe de Estado é o Primeiro Ministro.

Até aqui tudo bem? Sistema de Governo o Brasil adota o Presidencialismo, A gente nunca vai errar numa prova dizendo que o Sistema de Governo brasileiro é a Federação, certo? Federação é outra pegada, é Forma de Estado.

Forma de Governo é a forma em que o povo , o território, é dividido e a gente teria ou uma República ou uma Monarquia. A Forma de Governo adotada no mundo, em qualquer país pode ser República ou Monarquia. Há bem pouco tempo atrás falávamos muito de Monarquia, do casamento Real. Em uma Monarquia, tenho um Monarca, obviamente e em uma República a coisa é pública.

Qual a principal diferença entre uma e outra? A forma de transmissão de poder. Por que o príncipe do casamento real vai ser príncipe? Por causa da sucessão hereditária. Em uma monarquia, se transmite o poder pelo sangue. Em uma república, se transmite o poder através das eleições, do voto. Essa é a principal diferença, num universo imenso entre elas, que poderíamos citar. Em uma Monarquia temos uma cadeia sucessória de herdeiros, sempre sabemos quem vai ser o próximo e em uma República não sei que é o próximo, pois vai depender de eleições.

Há pouco tempo atrás caiu uma questão muito legal num concurso que dizia assim. Vocês sabem que não foi sempre na história do país que teve reeleições, sim? As reeleições foram criadas em 1994. Antigamente se candidatava a um cargo, cumpria aquele tempo, terminava e tchau e benção. Em 1994, FHC criou a reeleição. Aí a questão dizia assim: ‘A reeleição é uma das principais causas que ferem o princípio republicano’. Vocês concordam comigo que está certo isso porque o princípio da República não é a ideia de alternância no poder? E a reeleição não é

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uma ideia de manutenção do poder? E fazer uma reeleição é muito fácil porque o cara que está candidato ele está usando a máquina pública em favor dele. É muito comum reeleição porque o cara está na mídia e consegue utilizar a máquina pública em seu favor, em que pese não seja a coisa mais legal do mundo. É bem interessante a questão por que a reeleição fere a cláusula de República.

Por último tenho essa Forma de Estado que é a forma de organização política de um Estado. Temos, basicamente no mundo, três Formas de Estado: o Unitário, Confederação e a Federação. Pra contar a história desses três e pra gente nunca errar uma questão, vou contar um caso para vocês, ok?

Era uma vez, há um tempo atrás, em 1777, eu tinha uma colônia que fazia parte de uma Coroa, a Coroa Britânica. Ou seja, eram explorados pela Coroa Britânica. Essa Coroa entrou em guerra e começou a explorar cada vez mais essa colônia. A colônia, furiosa com tudo isso, disse: ‘Não quero mais, não me serve mais, não quero ser colonizado por essa Coroa’. E resolveu fazer uma guerra para declarar sua independência. Então eu tinha 13 colônias, todas elas vizinhas umas das outras, que trabalhavam duro para Coroa Britânica; a Coroa começou a apertar eles e eles disseram: ‘não serve mais, vamos fazer uma guerra para pôr fim a esse abuso’. Em 1787 eles declararam essa guerra da independência.

Então eles pensaram que deveriam organizar de alguma maneira o Estado. Precisaria de uma forma de Estado clara. Cada colônia tinham na época o que chamavam de delegado, que era uma pessoa responsável por cada. Então pensaram ‘e aí, vamos nos reunir de que jeito? De que forma seremos organizados? Então resolveram se unir por algo chamado Confederação. O que é uma Confederação? Eles tinham feito guerra para serem independentes, logo, a partir de agora cada colônia seria um país autônomo e soberano. Faz sentido para vocês? Não fariam uma guerra para serem dependentes de alguém, então se tornaram 13 países autônomos e soberanos, e quando digo isso, eu digo que cada um tinha sua bandeira, cada um tem suas leis, cada um tem seus brasões, sua língua...

Quando digo que fazem parte de uma Confederação, eu disse que se formaram por meio da Confederação dos Estados Americanos, tinha um “administrador”, e esse “administrador” dizia assim: Estado X, você deve me mandar munição. Estado Y, você deve me mandar armamento, e assim vai. Teve uma prova que utilizou a seguinte expressão: “Em uma forma de Estado chamada Confederação, o que liga esses Estados, que eles tenham respeito mútuo, o que faz com que eles, em que pese sejam Estados soberanos e autônomos, tenham interesses respeitados?”. A prova usou a expressão “qual cimento jurídico que ligava eles?”. Se a gente for pensar em cimento jurídico dentro do Brasil, o que faz com o que o estados se respeitem dentro do país? A Constituição Federal, pelo menos é o que distribui as competências, diz quem pode e outro não pode. O cimento jurídico de uma Confederação é o que chamamos de Tratado Internacional. Todos foram signatários e se subordinam a esse Tratado.

Uma das características da confederação é a soberania. Se uma delas é a soberania, significa que se eu sou soberano, tenho direito de sair dessa Confederação a hora que eu quiser? Quem é que manda em mim, se eu fiz uma guerra pra eu mesmo poder mandar em mim? A partir do momento que alguém disser que o “administrador” não está servindo mais, e quiser sair da Confederação, pode? Pode!

Na Confederação existe uma coisa que é impensável para nós, que é o direito de retirada. Direito de Secessão. Quando não está bom para mim, vou embora. Quem nunca ouviu o famoso exemplo ‘o sul é meu país’. Já viram os adesivos nos carros? Qual a ideia dos caras que usam

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esse adesivo? Os caras acham que o sul é a melhor parte do país e querem separar do resto do Brasil para fazer o novo país. Dentro de uma Federação, não é possível. O Direito de Retirada, de Secessão, que é perfeitamente autorizado numa Confederação, é expressamente vedado em uma Federação. Pode até incluir como característica da Federação, a vedação ao direito de retirada.

Mas e se tiver uma emenda à Constituição e a gente deixar de ser uma Federação e virar Confederação? Aí vai existir o direito de retirada. Só que não. A Federação é uma das cláusulas pétreas da Constituição Federal, está lá no artigo 64.

Perceberam que falei que o Direito de Secessão ou de Retirada ele só é autorizado em uma Confederação porque os caras são soberanos, são donos dos próprios narizes. Em uma Federação eu não tenho soberania dos estados, logo, não são os estados donos dos próprios narizes. Cada estado do Brasil é autônomo. Autonomia é uma das características da Federação.

Com a criação da Confederação dos Estados Americanos, com poderes soberanos onde antes eram colônias, começaram a se digladiar internamente. Dez anos após a criação da Confederação, sentaram os treze representantes (doze, na verdade. O estado de Rhode Island não foi) e decidiram mudar a forma de Estado pois não estava dando certo. Precisavam criar algo novo, que não existisse. Então criaram uma Forma de Estado que se reuniram as Treze Colônias, treze Estados soberanos, abriram mão da soberania e criaram um Estado único, a união dos Estados, os Estados Unidos da América. Então se alguma prova perguntar pra vocês a origem do Federalismo, foi nessa época.

Mas e o Brasil, sempre foi uma Federação? Não. O Brasil já foi um Estado Unitário, e agora vou explicar um pouco do Estado Unitário. É plenamente possível de cair na prova de vocês e aposto bastante nisso. Um Estado Unitário, como próprio nome diz, imaginem o Brasil que é um país de dimensões continentais, como Estado Unitário. Aqui tenho apenas um órgão centralizador de decisões e a partir desse órgão, todas as decisões são executadas ao longo das suas confrontações, ao longo de todo o país. Então a decisão que valia no órgão central valia para qualquer lugar, de norte a sul do Estado. Existia apenas um regramento para tudo e um órgão centralizador de decisões. Essa é a ideia de Estado Unitário, um órgão centralizador/executor de ideias. O Brasil era assim, na época da Monarquia, tínhamos um Monarca que dele emanavam todas as ordens, até surgir a primeira Constituição Republicana. A primeira Constituição republicana é a Constituição de 1891. Então podemos dizer que o Federalismo existe no Brasil desde 1891, com a promulgação da primeira Constituição Republicana.

O que Marechal Deodoro da Fonseca fez no dia 15 de novembro de 1891? Proclamou a República. O Brasil se transformou em uma República e em um Estado Federado. Deixava de ser uma Monarquia (com a fuga de Dom Pedro para Portugal) e passava a ser Federação. A Constituição de 1891 mudou pouca coisa, somente a forma de Estado e a Forma de Governo, ‘só’ isso.

Um Estado Unitário então tem um órgão centralizador e não é necessário que para ser um Estado Unitário, seja uma Monarquia. Não existe essa relação. Não é porque ele é Unitário que vai ser uma Monarquia. Pensem no Paraguai ou Uruguai. O Uruguai não é Monarquia, é uma República mas ele é um Estado Unitário. Ele não tem essa divisão de estados que temos aqui no Brasil, é tudo uma coisa só.

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Em 1891, o Brasil já existia e era um Estado Unitário. Quando surgiu a ideia de federalismo no mundo lá, bastante tempo antes lá nos Estados Unidos, eu tinha um bloco concreto de países? Não, eu tinha treze países separados

Vídeo 02

Olha só. Lá nos Estados Unidos eu tinha 13 países soberanos, que precisavam (aí vem a frase mais bonita do Direito) abrir mão da sua liberdade, da sua soberania, para criar apenas um país. No Brasil eu tinha apenas um Estado Unitário que precisava se dividir. Porque uma das principais características do Federalismo, quando passo do Unitário para o Federalismo, é uma divisão política. No estado Unitário existe divisão política? Não. É tudo centralizado. Em um Federalismo existe uma divisão política. Eu descentralizo as decisões políticas. Aí vocês vão dizer ‘Giuliano, aqui no Brasil não são descentralizadas as decisões políticas’. Oxi, como não? A gente não tem um chefe do Executivo municipal? A gente não tem um chefe do Executivo no estado? Na União? Sim. A gente não tem um Legislativo no estado, um no município, um na União? Sim. Quer uma descentralização maior do que essa? Essa forma é a maior do mundo, nenhum outro país no mundo entrega essa liberdade de legislar os municípios.

A maioria dos países federados não entrega autonomia legislativa aos municípios, porque daria muita divisão política, concorda comigo? É por isso que temos tanta lei, mas olha como vai fazer sentido. Quando veio a ideia de federalismo, a raiz, se precisava pegar treze países separados e transformar em um unificado (essa é um federalismo por agregação). Já no Brasil, era preciso separar o país. Perceberam que é completamente diferente essa ideia de criação do federalismo nos Estados Unidos do Brasil? Por isso que no Brasil se teve o que se chama de federalismo por desagregação, ou descentralização. Há quem chame de federalismo centrífugo.

Mas o que eu quero dizer é o seguinte: Por que lá, em determinados estados, tem pena de morte e outros não tem pena de morte? Por que uns pode andar armado e outros não pode? Porque quando foi criado o federalismo lá, os estados já existiam e eles já tinham regras e leis próprias, aí quando criaram em 1787 (com Tommas Hobbes, eles disseram ‘vamos nos reunir por meio do federalismo? Vamos’. Teve uma reunião famosa chamada ‘Convenção da Filadélfia’, e lá decidiram se juntar, sem abrir mão das coisas que já tinham conquistado até agora), já possuindo leis nos países, a partir daquele momento tudo o que fosse legislado valeria, mas as leis antigas dos países também eram válidas. No Brasil, quando feita a divisão de competência, começou do zero. Por isso que aqui quando não pode dirigir com dezesseis anos no Rio Grande do Sul, também não pode no Ceará. Se não pode ter arma aqui, não pode no Maranhão, porque as competências para legislar foram entregues todas juntas, então quando foram entregues foi definido que ninguém poderia legislar sobre armamento, trânsito e transporte entre outros que não seja a União. Se puder, todos vão poder. Se não puder, ninguém vai poder. Por isso que essa divisão de competências no Brasil é muito mais clara e mais uniforme do que nos EUA. Faz sentido?

Eu disse pra vocês que a principal diferença entre soberania e autonomia era que, em uma soberania, eu tenho a capacidade de me relacionar com entes estrangeiros e uma autonomia eu tenho capacidade de me organizar internamente. O estado do Rio Grande do Sul é soberano ou autônomo? Autônomo. Ele pode criar suas próprias leis? Pode. Ele pode eleger o seu próprio governador? Pode. Pode se auto administrar? Pode. Então eu posso dizer pra vocês que autonomia é o poder de auto governar, auto legislar e auto administrar.

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E quem é soberano? A República Federativa do Brasil. Olha só que legal: Quando o Temer, que é o chefe do Poder Executivo da União, vai se relacionar com entes estrangeiros no exterior, ele está representando a União ou a República federativa do Brasil? Exatamente, ele veste a cara-puça de chefe de Estado e representa a República Federativa do Brasil. A única coincidência é que é o mesmo cara.

Algumas características da Federação são bem importantes que se conheça, mesmo que de for-ma superficial, mas é importante que estejamos familiarizados com essa nomenclatura.

1) Descentralização política: que é o contrário do estado unitário, onde tem a centralização política.

2) Constituição rígida como base jurídica: Toda federação tem que ter uma Constituição rígi-da, que não pode ser facilmente alterada. Somente via emenda constitucional;

3) Inexistência do Direito de Secessão: em uma federação, a partir do momento em que eu faço parte dela, eu não posso mais sair, sob pena de intervenção. Lembra quando o RS quis sair do Brasil, a Revolução Farroupilha foi isso. Aumento no preço do charque e o Rio Grande do Sul disse ‘pra mim deu’. A República Federativa do Brasil disse ‘não vai dar’ e se iniciou a intervenção. Essa é a ideia, tentou secessão, intervenção. A intervenção serve pra outras coisas, por exemplo, colocar fim a um grave conflito social (que está acontecendo no Rio de Janeiro).

4) Soberania do Estado Federal: somente o Estado é soberano, os municípios e estados são autônomos. A União é autônoma. A República Federativa do Brasil é soberana.

5) Auto organização dos estados membros: Todos os estados podem se auto organizar, se au-tolegislar, auto administrar.

6) Forma representativa dos estados membros: em uma federação tenho lá no congresso na-cional uma representação dos estados. Sabem por que temos duas ‘casas’ no Congresso Nacional (uma pra cima e outra para baixo)? Tenho lá a câmara dos deputados e outra é o senado federal. Porque a boca que está para baixo representa o Senado Federal, que são os representantes dos estados e a que está para cima é a voz do povo, é a Câmara dos Depu-tados Federais, um congresso bicameral. No Senado são três por estado. Deputados depois a gente vê porque é uma zona aqui, muda toda hora. Vai estar no artigo 27, quem quiser anotar para depois ver como funciona o número de Deputados Federais.

7) Guardião da Constituição: a gente tem alguém que é responsável pela interpretação da Constituição Federal, que é o STF.

Trouxe aqui pra vocês uma notícia que já é até antiga, que sempre estão tentando mudar siste-ma de governo mas antes disso vou fazer um macete que é bem mangolão mas que serve pra vocês.

• Sistema de Governo – SiGo o presidente

• Forma de Governo – FoGo na República

• Forma de Estado – FE deração

Isso é importante pra que não se confundam as classificações, Forma de Governo com Sistema de Governo etc.

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Então a gente falou da origem do federalismo, do federalismo no Brasil, falou de competências e das características.

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Deem uma olhada rápida e se em um minuto conseguem resolver essa questão aqui

Resposta certa é C.

Vamos analisar as afirmativas:

a) ‘será incompatível com a Constituição da República, por ofensa ao princípio constitucional da separação de poderes’. O que é a ideia de separação dos poderes: Legislativo, executivo e judiciário, não tem nada a ver com separação de estados.

b) ‘deverá ser objeto de proposta de emenda à Constituição’… nem precisa continuar lendo né?

c) ‘será incompatível com a Constituição da República, uma vez que a federação brasileira é formada pela união indissolúvel de Estados, Municípios e Distrito Federal.’ Perfeito.

d) ‘deverá ser precedido de aprovação’… já paramos aqui.

e) ‘deverá ser autorizado por lei estadual’… muito menos.

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Mais uma aqui pra resolução.

Sobre federalismo tá?

a) ‘As noções de Federalismo surgiram no Brasil’, não, surgiram no Tio Sam.

b) ‘Pelo processo de formação da ordem federal no Brasil, é possível afirmar que o federalismo no Brasil é considerado de agregação’. Não, quem é por agregação eram os caras que precisavam se juntar.

c) ‘A principal característica em comum das Confederações e da Federação é a vedação ao direito de secessão.’ Não porque na Confederação é autorizado e na Federação não.

d) ‘No Federalismo tem-se a soberania dos Estados membros’ no federalismo não tem soberania dos estados.

e) ‘O Federalismo é uma forma de estado em que a existência de um governo central não impede que sejam divididas responsabilidades e competências entre ele, os Estados-membros e os Municípios’. Perfeita afirmação, é essa a resposta.

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Então aqui a gente tem os entes da federação, que estão no art. 18 da CF. Os entes são quatro: União, Estados, Municípios e Distrito Federal.

Aí vem uma questão dessa e diz pra vocês: São considerados entes da Federação a União, Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios. Não! Territórios não são considerados entes da federação. Não existe território no Brasil, mas se vier a existir né, pertencerá à União. Se nesse território tiver que colocar um governador, por exemplo, quem vai indicar é a União, porque ele pertence à União, não é mesmo? O último território existente no Brasil, até 1988 era Fernando de Noronha. Com a CF em 1988, a ilha deixou de ser um território. Quando era território, eu estive lá há dois anos e perguntei pro pessoal o que acharam da ideia de ter mudado de ser um território para um distrito de Recife. Eles disseram que foi bem legal pois pertencia à União, que é rica, mandavam dinheiro pra cá de caminhão e agora fazemos parte de um estado que é um dos mais pobres da Federação então nós temos que mandar dinheiro pra lá. Agora a gente ta bem ralado e foi bem legal, ninguém nos perguntou nada sobre isso. Pode acontecer isso? Pode, porque pertenciam à União. É prova sim e prova também eles perguntam se territórios são parte dos entes da Federação. Está lá no artigo 18, parágrafo 2º. Legal lembrar que a capital Brasília não é Distrito Federal, está no parágrafo 1º do mesmo artigo.

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

§ 1º Brasília é a Capital Federal.

§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.

§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei

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estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de con-sulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.

Brasília é município? Não, é a capital federal, não é município.

Aí, no mesmo artigo 18 tenho parágrafo 3º e 4º.

O par. 3º vai discorrer sobre a possibilidade de criação, de transformação de novos estados e o parágrafo 4º vai falar sobre a possibilidade de criação, de transformação de integração de novos municípios. Para a criação de novos estados, existem algumas regras, que são diferentes das regras de criação dos municípios. Por exemplo: para se criar ou dividir um estado, é preciso que a primeira coisa que se faça é um plebiscito. Pra criação de um município a primeira coisa que faço é um estudo de viabilidade e depois eu consulto a população por meio de plebiscito. Nos dois casos, é importantíssimo que se lembre, não é referendo, é plebiscito! A diferença entre um e outro é que o plebiscito é anterior ao projeto, enquanto o referendo é para aprovar ou rejeitar algo que já está pronto, por exemplo o estatuto do desarmamento. O ‘pré-biscito’, como dia meu avô, é antes. É uma consulta prévia.

O §4º diz que pra criação de novos municípios. A CF diz que pra criação é necessária uma lei complementar federal determinando o período que isso deve ocorrer. Pra criação de municípios deve ser respeitado o intervalo mínimo de 90 dias entre o início do ano e sei lá o que (eu não sei o que porque essa lei não existe). É impossível, hoje, ser criado novo município porque o artigo 18, §4º da CF diz que vai depender de Lei Complementar Federal que determine o período que vai acontecer. O estado do RS quer criar um novo município como faz? Não faz, não pode. E até hoje essa Lei Complementar não veio. Aí trouxe uma notícia pra vocês que é de 2015, que o Senado aprova, pela 3ª vez, texto com regras para criação de municípios, mas até agora não foi aprovada ainda.

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Aí um aluno nosso esses dias tava na aula e disse assim: ‘Giuliano, deixa eu te falar uma coisa? Não é querer me meter mas assim, eu nasci em um município que foi criado em 1994 e a CF é de 1988 então tua tese não está certa.’ Sabe o que acontece? Esse §4º do artigo 18 da CF ele foi incluído na CF por meio da Emenda Constitucional número 15 de 1996. Então até 1996 era possível a criação de município, pode ser que algum de vocês tenha nascido em um município que foi criado até 96, mas quando a EC colocou o §4º na CF aí não rolou mais. Não é porque a CF é de 88 que todos os artigos são de 88.

Pra fazer a próxima questão vocês tem que saber o artigo 19 da CF. Ele é o artigo mais fácil de todos que vamos trabalhar até hoje e volta e meia tem questão dele quando a banca pensa ‘bah sacaneei a galera na matéria de português, vou dar uma aliviada no Constitucional’, coloca o artigo 19. Se vocês verem esse artigo na prova já pensem: o resto tá foda. Porque essa é pra dar uma equilibrada pra ninguém zerar. Por que? Porque ele fala de vedações constitucionais. Se preocupa em dizer o que é proibido pra todos os entes da federação. Veja:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

II – recusar fé aos documentos públicos;

III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

Se o documento foi expedido pela União, ele é um documento portador de fé pública. Pode chegar na Prefeitura com um documento expedido pela União e dizer pro prefeito que a feira do livro vai sair da praça porque a União cedeu o espaço. O documento tem fé pública, é válido e sua recusa é uma vedação constitucional.

Eu não posso na função de administrador seja de estados, DF, municípios ajudar ou prejudicar, da forma que for, qualquer tipo de igreja, culto e religião. Não importa o tipo, o Estado não pode embaraçar o funcionamento, dar ajuda financeira, favorecer um e desfavorecer outro, porque o Brasil é um Estado Laico.

O terceiro inciso fala sobre o princípio da isonomia, não posso criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. Não fala em estrangeiro, aí vem a questão. Posso criar distinções entre brasileiros e estrangeiros? Posso. Por exemplo, pra ser Ministro da Defesa, pode ser brasileiro? pode. Pode ser estrangeiro? Não pode. É privativo.

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Olha que legal isso aqui. Eu estava dando aula esses dias sobre isso e um aluno disse ‘olha, muito legal essa história do Brasil ser um estado laico, não favorecer nenhum tipo de religião, mas sabe que no dia 02 de fevereiro tem a procissão de Navegantes ou Iemanjá. Só que aí o que sempre se vê? Viatura da polícia escoltando, ajudando, viatura da guarda de trânsito multando, e o estado de alguma forma ajudando aquela procissão. Pode? Pode. O estado tá de alguma forma se metendo na procissão? Não. Ele está de alguma forma defendendo e garantindo o interesse público essa é a ideia. Ele pode garantir o interesse público.

O próprio art 19 faz essa ressalva, de não pode ajudar de alguma forma, ressalvado o interesse público.

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Letra b, vamos lá. ‘É vedado ao DF e à União manter com representantes de igrejas relações de dependência ou aliança ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público’. Aí muita gente vem e diz: ‘Ah, Giuliano, mas está faltando dar os municípios’, mas aí é questão de interpretação. Muita gente erra porque não interpretou direito a questão. Ele não está dizendo que é vedado somente ao DF e à União, se tivesse dito, estaria errado. Se eu fosse o cara da banca ia ser mais sacana com o aluno, eu iria colocar ‘é vedado ao DF’, só.

Letra c. ‘É permitido à União recusar fé aos documentos públicos’, não.

Letra d: ‘Garantido aos Estados, nos termos da lei, criar distinções entre brasileiros’, não.

Letra e: ‘Permitido aos municípios, nos termos da lei estadual, subvencionar (dar dinheiro) ou estabelecer cultos religiosos ou igrejas ou embaraçar-lhes o funcionamento’, também não.

Questão bem fácil, bem tranquila.

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Bens da União

Seguimos com os Bens da União, uma capitulação da Constituição que vai se preocupar em regular quais bens pertencem à União, quais pertencem aos estados e quais pertencem aos municípios.

É preciso que a gente leia os bens da União que estão lá no artigo 20 da CF, junto com o artigo 26. O artigo 20 fala de bens da União e o artigo 26 fala de bens dos estados.

CAPÍTULO IIDA UNIÃO

Art. 20. São bens da União:

I – os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;

II – as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;

III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;

IV – as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;

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V – os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;

VI – o mar territorial;

VII – os terrenos de marinha e seus acrescidos;

VIII – os potenciais de energia hidráulica;

IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

X – as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;

XI – as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.

§ 2º A faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.

A CF se preocupou em reservar alguns artigo, não muitos, pra explicar o que vai pertencer à União e o que vai pertencer aos estados. E se dedicou no artigo 20 a isso. Começa dizendo que pertencem à União os bens que atualmente lhe pertençam. Aí diz assim: ‘são bens da União as terras devolutas e indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental’. Terras devolutas são aquelas que ninguém tem título de dono, de propriedade. Era muito comum na época do Império que se dessem terras, com títulos que veio a dar ideia de propriedade, mas muitas terras no Brasil como ilhas e grandes pedaços de terra não tem dono.

CF, Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;

II – as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;

III – as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;

IV – as terras devolutas não compreendidas entre as da União.

O artigo 26 vai falar dos bens dos estados e diz assim: ‘incluem-se entre os bens dos estados’ e no inciso IV ele diz ‘as terras devolutas não compreendidas entre as da União’.

Regra geral, as terras devolutas pertencem aos estados, e pertencerão à União somente nos casos que apresenta o artigo 20 da CF.

Imaginem que essa grande área de terra que eu deixei de herança pra ninguém (herança vacante), porque não tenho herdeiros é uma fazenda situada exatamente na divisa do Rs e Argentina. É uma área de terra indispensável à defesa das fronteiras. Vai pertencer a quem? União. Se for uma área de terra no Lami, vai pertencer ao estado.

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Esse desenho agora é pra que a gente entenda a questão das águas.

Pensem comigo em corrente d’água, não importa se é lago, rio, cachoeira. Quando eu tenho uma corrente que está no MS, passa no PR, desce em SC e desemboca no RS, a quem pertence essa corrente d’água? União. Por que? porque cruzou fronteiras, banhou mais de um estado.

Imaginem que eu tenha uma corrente que nasceu na Argentina e desaguou no RS, não passou por nenhum outro estado. A quem pertence? União. Cruzou fronteira, é da União.

Sempre que vocês pensarem em corrente d’água, que cruzou fronteira, é da União.

Um rio que começa na região noroeste do RS e desaguou na região sul do RS, vai pertencer ao RS. Se nascente e foz forem no estado, pertence ao estado.

Pode existir um caso em que determinada corrente d’água vai estar só dentro do estado e vai pertencer à União? Tem. Quando a água em depósito for descoberta por uma obra da União. Se a União estiver executando uma obra e descobrir um lençol freático, vai ser da União.

Art. 20, III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;

No inciso IV vamos ter uma parte bem interessante:

Art 20, IV – as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;

Art 26, II – as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;

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Se tem uma ilha seja ela de rio ou lago se está em limite com outro país e as praias do mar, vão pertencer à União, assim como as ilhas litorâneas e costeiras. Existem algumas ilhas que tem título de propriedade e podem ser comercializadas.

Quando elas não vão pertencer à União? Quando forem sede do município, aí será o bem do município, seu próprio território. A ilha de Florianópolis, Vitória no ES é uma ilha, são dos municípios.

Essa figura serve para ilustrar as zonas econômicas exclusivas da União.

Do RN ao RS, pela costa, temos somente oceano, o que faz com que o Brasil seja o país com maior extensão de costa marítima do mundo, é a chamada ‘Amazônia Azul’.

Nas 12 milhas adentro ao oceano, nenhum navio estrangeiro pode cruzar sem aviso, pois é território da União.

Após as 12 milhas, começa a zona exclusiva, que é onde estão explorando o pré-sal, por exemplo. O Rj fez uma movimentação para receber royalties relativos à exploração do petróleo na área. Sendo o território da União, ela pode escolher se quer distribuir ou não pagamentos relativos à exploração.

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Os terrenos de marinha e seus acrescidos, são 33 metros a contar da linha base.

Os recursos minerais. Então por exemplo se estamos na nossa casa cavocando e achamos petróleo, pertencem à União. Até vou ser indenizado, mas vai pertencer, o petróleo, à União.

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As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

É genial né? Qual as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios? Quase tudo, não?

Os potenciais de energia hidráulica e cavidades naturais e subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos.

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Teve um cara que em uma fazenda no interior do RS achou um sítio arqueológico e alertou todo mundo que tinha achado. Desapropriaram a fazenda dele, virou área da União e ele recebeu uma indenização grande.

E por último diz que a faixa de 150 km de largura ao longo das fronteiras terrestres, designadas faixa de fronteira é considerada fundamental para defesa do território.

Esse canhão na ilustração é porque quando se teve ideia da faixa de fronteira, equivaleria ao alcance de um tiro de canhão, aproximadamente 150 km.

Olha essa questão aqui então:

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Se alguém teve dúvida, é da União.

Seguindo, vamos analisar as competências administrativas da União, localizadas nos artigos 21 e 23 da CF.

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Competências Administrativas

Competências é uma das partes mais importantes da matéria. Ela vai estar dividida basicamente em quatro artigo. Art 21, 22, 23 e 24. Vejamos.

Art. 21. Compete à União:

I – manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;

II – declarar a guerra e celebrar a paz;

III – assegurar a defesa nacional;

IV – permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;

V – decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;

VI – autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;

VII – emitir moeda;

VIII – administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;

IX – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;

X – manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;

XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:

a) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens;

b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;

d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;

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e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;

f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;

XIII – organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios;

XIV – organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;

XV – organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;

XVI – exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;

XVII – conceder anistia;

XVIII – planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;

XIX – instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;

XX – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;

XXI – estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;

XXII – executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

XXIII – explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;

b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;

c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;

XXIV – organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;

XXV – estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

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II – desapropriação;

III – requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;

IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

V – serviço postal;

VI – sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;

VII – política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;

VIII – comércio exterior e interestadual;

IX – diretrizes da política nacional de transportes;

X – regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;

XI – trânsito e transporte;

XII – jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

XIII – nacionalidade, cidadania e naturalização;

XIV – populações indígenas;

XV – emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;

XVI – organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões;

XVII – organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes;

XVIII – sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;

XIX – sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;

XX – sistemas de consórcios e sorteios;

XXI – normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;

XXII – competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;

XXIII – seguridade social;

XXIV – diretrizes e bases da educação nacional;

XXV – registros públicos;

XXVI – atividades nucleares de qualquer natureza;

XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III;

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XXVIII – defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;

XXIX – propaganda comercial.

Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;

II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;

III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;

V – proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação;

VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII – preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;

X – combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;

XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;

XII – estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

II – orçamento;

III – juntas comerciais;

IV – custas dos serviços forenses;

V – produção e consumo;

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VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IX – educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;

X – criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;

XI – procedimentos em matéria processual;

XII – previdência social, proteção e defesa da saúde;

XIII – assistência jurídica e defensoria pública;

XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;

XV – proteção à infância e à juventude;

XVI – organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Primeira coisa que temos que saber quando a CF falou sobre competências é a seguinte: A CF vai trazer nesses quatros artigos uma divisão. Dois vão criar competência para organizar o Estado, administrar o Estado e outros dois serão competências para legislar.

Então no artigo 21 ele começa com uma competência administrativa, que ninguém legisla sobre nada nessa parte do art. 21. É uma competência administrativa. Tanto que ele vai dizer no caput do artigo ‘Compete à União’. Ele traz várias competências que são ações que a União deve fazer para bem administrar seu território. Então eu posso dizer que essa competência do art. 21 é exclusiva da União.

Todos os incisos trazem casos em que a União deve administrar o seu território. Então, por exemplo, inciso I, ‘manter relações com entes estrangeiros’ é algo de gestão. Ele não está dizendo ‘legislar’ sobre relações internacionais. São ações, coisas que se deve fazer.

O inciso II é uma ação. ‘Declarar a guerra ou celebrar a paz’.

O III: ‘Assegurar a defesa nacional’.

Todos esses são atos de gestão, ações. Se são ações, são verbo.

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Em nenhuma hipótese essas competências podem ser delegadas a outras pessoas. Ou seja, são indelegáveis.

Aqui vai um macete. competência Exclusiva (com vogal) é Indelegável (outra vogal).

Diferente, no artigo 22 temos a competência legislativa. Aqui a CF entregou à União a compe-tência para legislar. Então ele diz no art. 22: ‘Compete privativamente à União legislar sobre’ e traz uma série de matérias. Direito civil, penal, comercial, eleitoral, enfim, uma série de coisas.

Tudo o que está no artigo 22 compete à União legislar. É privativa da União, significa dizer que é só dela.

Acontece que no artigo 22 existe a possibilidade de delegação. Posso entregar para outra pes-soa fazer. Ela é, portanto, delegável. Está no § Único.

A União pode delegar aos estados que legislem sobre questões específicas sobre desapropria-ção, por exemplo.

Porém é necessário ter dois requisitos: formal e material.

Requisito formal é a forma da delegabilidade. A forma é uma lei complementar.

Requisito material são questões específicas.

Então eu posso delegar desde que sejam questões específicas aos estados.

CUIDADO: Aqui essa delegabilidade não é extensiva aos municípios, não pode delegar a eles.

A competência Privativa (consoante) é Delegável (outra consoante)

No artigo 23 eu tenho a chamada competência COMUN, que é administrativa. Ali o M não tem uma perninha que é um macete. MUN é de município, COm o MUNicípio. É o único caso onde faz parte.

Aqui ele traz uma série de competências que são extensivas ao entes da federação. Por exem-plo, zelar pelas florestas, fauna e flora.

Essa ideia do art 23 são bem mais próximas de nós, que são extensíveis até a nós. Se ela é co-mum, é a todos os entes da federação.

Ninguém legisla sobre nada, são atos de gestão. Começam por verbos porque são ações.

A prova vai pegar ações do art 21 e dizer que são do art 23 e vice versa. É isso que ela vai fazer.

Por último, no artigo 24 eu tenho a competência concorrente.

Outro macete: Qual o menor ente da federação? Município. Na competência conCORRENTE o município não tem força pra empurrar a corrente.

Ela é de competência da União, dos estados e do DF, município fora.

A ideia de concorrência é ideia de liberdade.

Quando se viu que poderia causar problemas essa concorrência, o legislador, Constituinte Ori-ginário, colocou quatros parágrafos:

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§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suple-mentar dos Estados.

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário

Portanto, ficou decidido que a União faria Norma Geral referente às leis acima citadas. Os estados irão complementar a lei.

Por exemplo, art 24, III. A União criou uma lei com norma geral de como funciona e como que se disciplinam as juntas comerciais. Tem que ter um presidente da junta, tem que ser assim, tem que ser assado. Aí vem os estados e de acordo com suas peculiaridades (porque não adianta ter uma norma geral que valha para todo o Brasil, não faz sentido. Eu preciso ter uma norma geral que é uma base e cada estado, de acordo com suas necessidades, complementam essa norma geral. Se o estado do RS resolver que vai ter um posto avançado da junta comercial dentro de um shopping, por exemplo, ele está exercendo a complementação da lei, se ele quiser decidir horários inclusive). Percebam que a União criou a norma geral, o esqueleto, e os estados vão e complementam esse esqueleto com carne para que se torne algo real. Entendido?

Então, o artigo 24 quando ele falou em competência concorrente ele disse: ‘União, no âmbito da competência concorrente , tu cria a norma geral e ponto’. E aí ele disse: ‘Estados, vocês vão e, quando existir a norma geral, complementem essa norma’.

Mas e se a União não criar uma norma geral? Imaginem se tem algum estado com problema referente ao orçamento. Aí ele precisa de uma lei que regule a questão do orçamento e a União não faz a bendita da lei. O legislador então pensou em uma saída para essa questão.

Na ausência de norma geral, o estado pode criar a norma geral. O estado vai ter uma com-petência legislativa plena. Imagina que a CF disse que no âmbito da legislatura concorrente a União deve criar norma geral. Mas o sr. Temer está ocupado com outras coisas e não criou uma norma geral sobre orçamento e o estado precisa resolver e regular essa questão do orçamento público.

Quando não existir regra geral, o §3º do art 24 esclarece e diz que o estado vai poder criar a norma geral e a partir daí vou ter a regulação daquela matéria. Então a partir de agora existe a norma geral sobre o orçamento, que o estado do RS criou.

Pensem então: estamos vivendo sob o manto da norma geral que o estado do RS criou e vem a União e pensa que precisa criar uma lei sobre isso. Se o estado já criou uma norma geral, a união pode criar uma norma geral sobre o mesmo assunto? Pode, afinal de contas a competên-cia é dela, o estado só está quebrando um galho aqui.

O que acontece com a norma geral do estado? 90% das pessoas (isso é estatística minha) res-ponde que a lei do estado deveria ser revogada, porque essa é a ideia que vem na nossa cabe-ça. Ora, a União criou a norma geral, está resolvido o problema e essa norma geral que tinha sido criada pelo estado vai ser revogada. ERRADO!

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Pensem comigo: O estado tem um trabalho gigante pra fazer a norma geral. Fez a norma geral, aprovou, tudo certo… vem a União e cria nova norma geral.

Não faz mais sentido que a norma do estado seja só suspensa? Por que caso dê algum proble-ma com a norma da União, a gente tem a do estado como reserva? Imaginem se a norma geral da União sofre uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, e a norma geral do estado foi revo-gada… Fica sem nada, perde-se todo o trabalho feito. Então a suspensão da norma geral criada pelo estado é melhor do que a revogação.

Eu poderia dizer para vocês: ‘o pessoal, são quatro artigos, cada um com uma quantidade signi-ficativa de incisos, basta vocês memorizarem esses quatro que vão bem na questão de compe-tência’. Só que não, né? É muita coisa pra memorizar.

E qual foi a fórmula que eu achei para isso? Pra gente resolver esse problema? Eu falei pra vo-cês que 100% das provas pegam uma competência do 21 e dizem que é do 23, ou pega uma do 22 e dizem que é do 24. Pega uma privativa e diz que é concorrente, etc.

Então o que eu pensei: ‘Não preciso memorizar os quatro artigos. Se eu eliminar dois, por eli-minação os outros dois não serão’. Se eu memorizar as do 21, não preciso memorizar as do 23, concordam comigo?

Por que se eu li uma competência que eu sei que era do 21, não vai adiantar me dizer que é comum.

Acompanharam esse raciocínio comigo? Parece simples mas não é. Qual dos dois eu vou me-morizar? Preciso escolher entre o 21, 22, 23 e 24.

Olha só, vamos começar com competências administrativas que são as do 21 e as do 23. As ou-tras são legislativas, as do 22 e 24.

Então a gente tem no art. 21 a competência exclusiva da União, que ela é indelegável, são atos de gestão, algo político administrativo, que a gente viu ali emitir moeda e etc.

A gente tem a competência do art. 23 que é uma competência comum, que é da União, dos estados, do DF e dos Municípios. A gente viu que ambas são atos de gestão então é muito fácil confundir uma com a outra. Em que pese no art. 23 por ser competência mais comum, é algo mais próximo de nós, mas ainda assim pode gerar um pouco de dúvida alguns artigos. Então o que a gente precisa ver? No art 21 tenho 25 incisos, enquanto que no 23 tenho 12 incisos. En-tão pra memorizar, melhor o art. 23.

Então vamos olhar os incisos do art. 23 e quando tiver qualquer questão de prova sobre isso a gente já vai saber que se falar de uma competência administrativa mas eu nunca ouvi falar disso, não é comum.

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O art. 23 (é importante estarem com a Constituição aberta):

No inciso I vai dizer o que é competência da União, dos estados, do DF e dos Municípios a guar-da da CF e a conserva do patrimônio público;

No inciso II, a proteção da pessoa com deficiência;

No inciso III, proteger os documentos, as obras, os monumentos, as paisagens e os sítios arque-ológicos;

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No inciso IV, fala sobre impedir a evasão, destruição, e descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico;

No V, proporcionar os meios de acesso à cultura, educação, ciência e pesquisa e inovação (Pes-quisa e inovação foi incluída na CF faz um ano apenas, fiquem atentos que a banca pode cobrar o que é novo);

No VI, proteger o meio ambiente, combater a poluição;

VII, preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII, aumentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

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IX, promover programas de construção de moradias e condições habitacionais e saneamento básico (teve um questão muito grande, com enunciado grande sobre o programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal e dizia que era de competência exclusiva da União. Não deixa de ser competência da União, mas é uma competência comum);

X, combater as causas da pobreza, os fatores de marginalização, promovendo a integração so-cial de setores desfavorecidos;

XI, registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de re-cursos hídricos e minerais;

XII, estabelecer e reforçar política de educação e segurança no trânsito.

Olha só, educação e segurança no trânsito não é legislar sobre trânsito. Legislar sobre trânsito e transporte é uma competência lá do art. 22. Aqui é promover programas de educação no trânsito, por exemplo, polícia ir às escolas orientar as pessoas, essa é a ideia.

São só esses os incisos das competências comuns. Se a gente tem que memorizar alguma coisa, são esses 12, porque todo resto que vier dizendo ser competência administrativa, vai estar no art. 21.

Dá uma olhada nessa questão aqui:

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Vou deixar pra vocês essa.

Barbada né, letra A.

A gente tem que pensar que tipo de competência é, se é legislativa ou administrativa. “Cuidar” não tem como ser legislativa. Assim sendo ela não pode ser privativa e não pode ser concorren-te. COncordam? Se ela é administrativa, não pode ser privativa ou concorrente.

Quando tu lê concorrente tu já sabe que é de legislar.

Poderia ser assim: Concorrente da União, dos estados e do Distrito Federal e retirar os municí-pios e mesmo assim tu saberia que não estaria certo porque competência pra administrar não é concorrente.

A competência de cuidar, administrar, atos de gestão em si nunca vai ser concorrente.

Outra questão:

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No enunciado a gente percebe que se trata do art. 23, competência comum.

A gente viu em algum dos nossos desenhos sobre anistia? não.

Zelar pela guarda da CF, das leis e instituições democráticas, ok?

Planejar e promover a defesa, vimos nos desenhos? não.

Organizar e manter e executar inspeções do trabalho vimos? não.

Legislar sobre desapropriação? também não.

Competência comum de legislar sobre desapropriação? não dá né…

Letra B então.

Até aqui essa parte, tudo bem?

Vou deixar o quadro então sobre os artigos:

ART 21 ART 22 ART 23 ART 24

ADMINISTRATIVA LEGISLATIVA ADMINISTRATIVA LEGISLATIVA

EXCLUSIVA PRIVATIVA COMUN CONCORRENTE

INDELEGÁVEL DELEGÁVEL

GESTÃO U, DF, E, M U, DF, E

AÇÃO

VERBO

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Estamos na metade do caminho, precisamos evoluir um pouco, mas já entendemos a dinâmica do negócio.

No artigo 22 e no artigo 24, eu tenho as chamadas competências legislativas.

A competência do artigo 22 é privativa da União, se é privativa, pode ser delegável aos Estados, é matéria legislativa e traz praticamente todos os direitos que a gente tem na Constituição e tem 29 incisos.

Já o artigo 24 é uma competência concorrente (lembrando que o município não tem força pra empurrar corrente) então é dos Estados/DF e União. E aí segue o que a gente viu: Norma Geral, Suplementar e Competência Legislativa plena e ela tem só 16 incisos. Onde vamos focar? na competência concorrente.

Vamos dar uma olhada nos incisos do art. 24 pra ver se é tão difícil assim mesmo?

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Esqueçam atos de gestão porque agora vamos falar sobre competência de criar lei!

Eu falei pra vocês que lá no art. 22 estão praticamente todos os direitos. Então la no inciso I fala sobre direito civil, penal, eleitoral, espacial, do trabalho, comercial, agrário, marítimo, aeronáutico… só esses da figura que não estão. Então quando uma prova disser pra vocês que compete de forma concorrente legislar sobre direito… (aí tem que ver se é um desses daí).

Quando eu comecei a viajar pra ensinar um modo de memorizar isso pra vocês, eu pensei em duas avenidas que tem em Porto Alegre: A Assis Brasil e a Sertório. Nessas avenidas tem muitas lojas de automóveis, uma ao lado da outra. Não sei como elas vendem carro, porque é muita concorrência. É muito grande! Se eu quiser vender meu carro, vou querer que alguma dessas lojas me pague o valor da tabela FIPE, vocês não acham?

Então na hora da venda, na concorrência tu entrega o T E U pela Fi Pe. Tributário, Econômico, Urbanístico, Financeiro e Penitenciário.

Lembra: falou em concorrência lembrou das lojas de carro, falou em concorrência tu entrega o TEU pela FiPe. São só esses direitos aqui. Qualquer outro que não seja o TEU FiPe é privativo.

Os outros incisos bem tranquilos, prestem atenção no VI. Ele se repete! Floresta, caça, pesca, fauna… Quando eu digo isso vocês já memorizaram pela competência comum. Olha só: A competência para legislar sobre caça, pesca, fauna, flora ela é concorrente. Assim como a competência pra cuidar é comum. Por isso coloquei que se repete. É tanto comum quanto concorrente, mas qual a diferença? na comum ninguém legisla sobre ela. Se eu digo que vão fazer uma lei sobre fauna e flora, eu estou dizendo que estão utilizando qual tipo de competência? a do art. 24. Agora, se eu digo que o município de Porto Alegre está fazendo algo para preservar as árvores de uma determinada região, ele está utilizando a competência comum. Faz sentido quando digo que ele se repete?

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Olha o VII, patrimônio histórico, cultural e artístico. A gente já não viu isso? Se repete. Ele é competência comum e também é competência concorrente. Significa dizer que assim como eles devem cuidar, devem legislar, nos moldes já visto de União com norma geral e etc.

Olha o IX, educação, ciência, tecnologia, pesquisa. Novamente se repete!

Agora prestem atenção no inciso X. Ele diz assim: criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas. Nós que somos civilizados falamos Juizado Especial Cível né? A CF é antiga, de 88. Quando a prova falar Juizado Especial Cível, lembrem que a competência é concorrente, ou seja, a União cria a norma geral (no caso a Lei 9.099/95) e os Estados criam as normas específicas.

No caso do JEC, a União criou a norma dizendo como funcionaria. Só que não falou se a contagem dos prazos seriam em dias úteis ou dias corridos. Aqui no RS, alguns juízes aplicam dias corridos, em SC alguns aplicam dias úteis, outros no PR contam em úteis. Então tem vários processos espalhados no Brasil e o advogado tem que ficar se lembrando em qual estado se aplica o dia útil, qual o dia corrido, uma bagunça. São especificidades de cada estado porque a União criou somente a norma geral, deixando pros estados criarem as outras normas.

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Duas coisas que me preocupam no art. 24: o do JEC e o inciso XI.

No art. 22, ele diz que é competência privativa da União legislar sobre direito processual. Aí no inciso XI vem algo e diz que compete de forma concorrente legislar sobre procedimentos em matéria processual.

Olha como é diferente. Legislar sobre DIREITO PROCESSUAL, é competência da União. Legislar sobre PROCEDIMENTOS em matéria processual, competência concorrente.

Há bem pouco tempo atrás entrou em vigor a lei 13.105 que é o Novo Código de Processo Civil e quem fez esse NCPC? A União. Porque é uma lei federal. Versa sobre Direito Processual Civil.

Agora, se terão três ou quatro varas cíveis, se terão seis varas crime e seis varas de família, por exemplo, quem vai dizer são os Estados, porque cabe a eles legislar sobre procedimentos em matéria processual. Ficou claro?

Prestem atenção no XIII, de novo a repetição de deficiência.

O inciso XVI cai bastante em prova, organização da Polícia Civil é competência concorrente.

Essa questão é de uma prova de analista, só antes deixa eu dizer. Vocês viram eu falar alguma vez sobre competência do município legislar? Não né. Não acharam estranho? Além desses quatro artigos, o 21, 22, 23 e 24, tenho que achar em algum lugar na Constituição onde diz que o município pode criar lei.

Lá no artigo 30, inciso I e II ele diz que o município pode criar leis sobre direito local e ele também pode complementar a lei estadual e federal no que lhe couber. Vejamos:

Art. 30. Compete aos Municípios:

I – legislar sobre assuntos de interesse local;

II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

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Aí vocês vão me perguntar: ‘Giuliano, entendi, mas me dá um exemplo de direito local.’ É difícil né? Várias vezes o município se intromete demais e cria uma lei sobre alguma coisa porque ele não sabe exatamente o que é direito local, é muito subjetivo. Aí alguém entra com uma Ação de Inconstitucionalidade (ADIN) questionando por ser uma lei regional ou de interesse nacio-nal. Vai para o STF decidir o que é ou não direito local. Pra vocês terem noção, lei do tempo de espera em fila de banco o STF entendeu como competência do município e é de interesse local.

Olhem só, a CF é o ‘cimento jurídico’ que liga os estados da Federação. A União tem a CF para regulá-la. Os estados tem a Constituição Estadual, o DF tem lei orgânica e os municípios tem lei orgânica. A lei orgânica está para o município assim como a CF está para a União.

Os municípios então tem essa competência de legislar sobre competência local complementar leis estadual e federal de acordo com o que lhe couber. Aí o legislador pensou o seguinte: ‘Falei sobre praticamente todas as competências legislativas mas vamos supor que eu tenha esque-cido alguma matéria e que ela deva ser objeto de lei. Se não está na CF determinada matéria, a quem compete legislar? Os estados’. O nome dessa competência é competência residual, ou seja, tudo o que tenha sido esquecido de colocar na CF, os estados vão legislar. Quando falarem pra vocês sobre competência residual, é sobre isso.

Desapropriação é uma questão interessante porque legislar sobre desapropriação é uma com-petência privativa da União, mas executar a desapropriação pode ser de todos os entes, vai depender se é algo de competência do município ou não. É uma questão mais jurisprudencial, mas não é interessante a gente se apegar nisso.

Eu falei pra vocês que a União tem uma competência pra chamar de só dela, não tem? Que é a exclusiva, que ela não vai delegar a ninguém. O estado tem alguma competência pra chamar de dele? Sim, tem. Serviço de gás canalizado é uma competência exclusiva do estado. Explorar o serviço só o estado pode, nem concessão pode. Está lá no artigo 25 da CF.

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.

§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Consti-tuição.

§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995)

§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglome-rações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Criar regiões metropolitanas ou microrregiões ou aglomerações urbanas também é uma com-petência do estado. Só isso.

Perguntas? Vamos lá, como o DF legisla?

O DF é uma coisa completamente estranha. A gente chama ele de ente anômalo, porque ele é completamente estranho. Primeiro porque ele não pode se dividir em municípios. Ele existe ali mas não pode se dividir em municípios do DF. Eu falei que Brasília não é um município porque é proibido que o DF se divida em municípios. Então significa dizer que a população que mora no DF necessita se ver legislada sobre assunto de interesse local. Aí o DF legisla sobre assuntos de

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interesse local, em substituição ao município. Ele tem as mesmas competências legislativas dos estados e dos municípios.

Pra acabar.

Lá no art. 22 falei que a competência é delegável. Ela é delegável a quem? Quando a CF lá no art. 22 foi omissa ao se referir ao DF, ela foi omissa de propósito, porque ela não precisa ficar dizendo que ‘pode ser delegada aos estados e ao DF’ , porque quando ela diz ‘aos estados’ ela está incluindo o DF. A competência legislativa dos estados é a mesma que o DF tem. Também chamada de híbrida.

Críticas, dúvidas? Nada?

Então gostaria de agradecer, as questões que ficaram sobrando façam ali na apostila.

Foi um prazer, uma honra e até a próxima!

Valeu!!