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NATAN BATISTA
Resumo e Questões 6º Semestre
DireitoFacilitado.com.br
Direito Constitucional
IV
Sumário:
Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1
1. Da Separação dos Poderes Página 1
1.1. Introdução Página 1
1.2. Do Equilíbrio entre os Poderes Página 1
1.3. Das Funções dos Poderes Página 2
1.4. Princípio da Indelegabilidade das Funções Página 2
2. Poder Executivo Página 3
2.1. Origem Página 3
2.2. Introdução Página 3
2.3. Presidencialismo x Parlamentarismo Página 3
2.4. Modelo Brasileiro e Princípio da Simetria Página 5
2.5. Do Presidente da República Página 5
2.5.1. Das Eleições Página 5
2.5.2. Requisitos para ocupar o cargo Página 6
2.5.3. Vacância, Impedimento e Sucessão Presidencial Página 6
2.5.3.1. Não ocorrência da posse Página 6
2.5.3.2. Da Vacância Página 6
2.5.3.3. Do Impedimento Página 7
2.5.3.4. Sucessão Página 7
2.5.3.5. Anulação do Pleito Página 8
2.5.3.6. Recall Presidencial Página 9
2.5.4. Responsabilidade do Presidente da República Página 9
2.5.4.1. Introdução Página 9
2.5.4.2. Princípio da Anterioridade e Legalidade Página 10
2.5.4.3. Dos Crimes de Reponsabilidade Página 10
2.5.4.3.1. Sujeitos Ativos Página 10
2.5.4.3.2. Procedimento Página 10
2.5.4.3.2.1. Da denúncia Página 11
2.5.4.3.2.2. Da acusação Página 11
2.5.4.3.2.3. Do julgamento Página 12
2.5.4.3.2.4. Juízo de acusação Página 12
2.5.4.3.2.5. Juízo de pronúncia Página 13
2.5.4.3.2.6. Judicium causae (julgamento propriamente dito) Página 13
2.5.4.3.3. Consequências do impeachment Página 13
2.5.4.4. Dos Crimes Comuns Página 16
2.5.4.4.1. Introdução e conceito Página 16
2.5.4.4.2. Legislação Página 16
2.5.4.4.3. Competência Página 16
2.5.4.4.4. Procedimento Página 16
2.5.4.4.5. Demais chefes do executivo Página 17
2.5.5. Das Funções do Presidente da República Página 18
2.6. Dos Ministros de Estado Página 18
2.6.1. Legislação Página 18
2.6.2. Foro de prerrogativa de função Página 18
2.6.3. Funções Página 18
2.6.4. Escolha Página 19
3. Poder Legislativo Página 19
3.1. Introdução Página 19
3.2. Disposição Página 19
3.3. Órgãos Legislativos Página 20
3.3.1. Congresso Nacional Página 20
3.3.1.1. Composição Página 20
3.3.1.2. Atribuições Página 20
3.3.2. Câmara dos Deputados Página 20
3.3.2.1. Composição Página 20
3.3.2.2. Eleição Página 20
3.3.2.3. Mandato Página 21
3.3.2.4. Competência Página 21
3.3.3. Senado Federal Página 21
3.3.3.1. Composição Página 21
3.3.3.2. Eleição Página 21
3.3.3.3. Mandato Página 21
3.3.3.4. Competência Página 21
3.3.4. Assembleia Legislativa Página 22
3.3.4.1. Composição Página 22
3.3.4.2. Eleição Página 22
3.3.4.3. Mandato Página 22
3.3.4.4. Competência Página 23
3.3.5. Câmara de Vereadores Página 23
3.3.5.1. Composição Página 23
3.3.5.2. Eleição Página 23
3.3.5.3. Mandato Página 23
3.3.5.4. Competência Página 23
3.4. Imunidades Parlamentares Página 24
3.4.1. Introdução Página 24
3.4.2. Espécies Página 24
3.4.2.1. Imunidade parlamentar material Página 24
3.4.2.2. Imunidade parlamentar formal Página 25
3.4.2.2.1. Foro por prerrogativa de função (§1º) Página 25
3.4.2.2.2. Imunidade para prisão (§2º) Página 26
3.4.2.2.3. Procedimento para investigação (§§ 3º a 5º) Página 27
3.4.3. Dos crimes praticados anterior ou posteriormente ao mandato
Página 27
3.4.4. Imunidade dos suplentes Página 28
3.4.5. Imunidades parlamentares dos deputados estaduais e vereadores
Página 28
3.4.6. Perda do mandato Página 28
3.4.7. Ocasiões que não ensejam a perda do mandato Página 30
3.5. CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito Página 30
3.5.1. Previsão Página 30
3.5.2. Conceito Página 30
3.5.3. Criação Página 30
3.5.4. Objeto Página 31
3.5.5. Prazo Página 31
3.5.6. Poderes Página 31
3.5.7. Conclusão Página 33
3.6. Processo legislativo/legiferante Página 33
3.6.1. Introdução Página 33
3.6.2. Lei ordinária e lei complementar Página 34
3.6.2.1. Introdução Página 34
3.6.2.2. Iniciativa Página 34
3.6.2.3. Discussão Página 37
3.6.2.4. Votação Página 38
3.6.2.5. Aprovação/sanção Página 39
3.6.2.6. Promulgação Página 40
3.6.2.7. Publicação Página 40
3.6.3. Emendas à Constituição Página 41
3.6.3.1. Introdução Página 41
3.6.3.2. Legislação Página 41
3.6.3.3. Iniciativa Página 41
3.6.3.4. Discussão e votação Página 42
3.6.3.5. Aprovação Página 43
3.6.3.6. Promulgação e publicação Página 43
3.6.3.7. Limitações ao poder de emenda Página 43
3.6.3.7.1. Limitações expressas ou explícitas Página 44
3.6.3.7.2. Limitação temporal Página 44
3.6.3.7.3. Limitações implícitas Página 45
3.6.4. Medidas provisórias Página 45
3.6.4.1. Introdução Página 45
3.6.4.2. Procedimento Página 46
3.6.4.2.1. Criação Página 46
3.6.4.2.2. Apreciação pelo Congresso Nacional Página 46
3.6.4.2.2.1. Apreciação das Casas Página 46
3.6.4.2.2.2. Aprovação Página 47
3.6.4.2.2.3. Rejeição Página 47
3.6.4.3. Princípio da tributação inominada Página 48
3.6.4.4. Vedações Página 48
3.6.5. Lei delegada Página 49
3.6.5.1. Introdução Página 49
3.6.5.2. Procedimento Página 49
3.6.5.3. Vedações Página 50
3.6.6. Decretos e resoluções legislativas Página 50
4. Poder Judiciário Página 51
4.1. Introdução Página 51
4.2. Características Página 52
4.3. Estrutura do Poder Judiciário Página 55
4.3.1. Ingresso na carreira Página 56
4.3.2. Segunda instância Página 56
4.3.3. Tribunais Superiores Página 57
4.3.3.1. Superior Tribunal de Justiça Página 57
4.3.3.2. Tribunal Superior Eleitoral Página 57
4.3.3.3. Tribunal Superior do Trabalho Página 58
4.3.3.4. Superior Tribunal Militar Página 58
4.3.3.5. Supremo Tribunal Federal Página 59
4.4. Garantias do Poder Judiciário Página 59
4.4.1. Garantias institucionais Página 60
4.4.1.1. Autonomia financeira Página 61
4.4.1.2. Autonomia orgânico-administrativa Página 61
4.4.2. Garantias funcionais Página 61
4.4.2.1. Vitaliciedade Página 61
4.4.2.2. Inamovibilidade Página 62
4.4.2.3. Irredutibilidade dos subsídios Página 62
4.5. Vedações ao magistrado Página 63
4.6. Conselho Nacional de Justiça Página 64
4.6.1. Criação Página 64
4.6.2. Composição Página 64
4.6.3. Funções Página 64
4.6.4. Competência disciplinar Página 65
4.7. Funções essenciais à justiça Página 65
4.7.1. Ministério Público Página 66
4.7.1.1. Criação Página 66
4.7.1.2. Legislação Página 66
4.7.1.3. Conceito Página 66
4.7.1.4. Princípios funcionais Página 66
4.7.1.5. Estrutura Página 67
4.7.1.6. Chefe Página 67
4.7.1.7. Garantias e vedações Página 68
4.7.1.8. Funções institucionais Página 69
4.7.1.9. Conselho Nacional do Ministério Público Página 69
4.7.2. Advocacia Pública Página 70
4.7.2.1. Legislação Página 70
4.7.2.2. Composição Página 71
4.7.2.3. Chefia Página 72
4.7.2.4. Natureza e função Página 72
4.7.2.5. Advogado comissionado x Advogado concursado Página 72
4.7.3. Advocacia Privada Página 72
4.7.3.1. Legislação Página 72
4.7.3.2. Princípios Página 73
4.7.3.2.1. Princípio da indispensabilidade do advogado Página 73
4.7.3.2.2. Princípio da imunidade do advogado Página 75
4.7.4. Defensoria Pública Página 76
4.7.4.1. Legislação Página 76
4.7.4.2. Função Página 77
4.7.4.3. Princípios Página 78
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Capítulo 1 – Dos Poderes
1. Da Separação dos Poderes 1.1. Introdução
O princípio da separação dos poderes não apresenta formação próxima, mas é
resultado da evolução da uma série de elementos e pensamentos adotados pelos
governos, que resultou, hoje, na divisão como a conhecemos.
De início, não se pensava na existência de três órgãos cujas funções eram
distintas, mas na existência de três funções essenciais ao governo, as quais seriam
englobadas por um só indivíduo, o rei/soberano. Tal pensamento é de origem
aristotélica, inspirando a formação do governo absolutista. À título de exemplo, segundo
menção de Pedro Lenza, é a frase marcante de Luís XIV, o rei sol: “L’État c’est moi”, isto
é, “O Estado sou eu”. Tal frase, como se observa, indica claramente a concentração dos
poderes na mão do rei, visto que todas as funções incumbidas ao Estado, quais sejam, a
(1) edição de normas; (2) aplicação das normas; (3) julgamento das mesmas, eram a
ele atribuídas.
Posteriormente, tem-se como principal expoente da separação como hoje é
estabelecida Montesquieu, segundo os ditos de seu livro O Espírito das Leis. Segundo tal
livro, os poderes destacados nas teorias passadas não deveriam se concentrar nas mãos
de um único indivíduo, visto que a existência de um poder absoluto tende a corromper
a si próprio, mas era necessário que houvesse a criação de órgãos e entidades para as
quais seria incumbido cada poder.
O pensamento de Montesquieu foi uma das inspirações para as Revoluções
Americana e Francesa, principalmente a segunda. Na França, o Terceiro Estado
(aproximadamente 95% da população) era submisso às decisões do Primeiro (nobreza)
e Segundo (clero) Estados, visto que cada um deles, quando da ocorrência de votações,
possuía o mesmo poder de decisão. Uma vez que havia acordo entre o Primeiro e
Segundo Estados, as decisões sempre eram tomadas de acordo com as suas vontades,
visto que a decisão era tomada de acordo com a “maioria” votante. Ou seja, Primeiro e
Segundo Estados (5% da população) concentravam os poderes em suas mãos, impondo
seus desejos em detrimento dos demais indivíduos.
1.2. Do Equilíbrio entre os Poderes
Nesse sentido, para que não mais houvesse desequilíbrio quanto às decisões
estatais, era necessário que os poderes possuíssem independência e harmonia entre si,
de modo que suas funções não fossem interceptadas pelos demais. Desta forma, cada
função seria executada de forma mais justa/equânime. A tal entendimento se dá o nome
de Teoria da Soma Zero – entende-se que a soma das funções/incumbências atribuídas
a cada um dos poderes, se somadas, devem se anular, resultando em zero. É assim
entendido, pois com a divisão dos poderes, atribui-se a cada um deles a tarefa de
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controlar os demais, de modo que não haja excessos. Ou seja, criam-se freios e
contrapesos com o intuito de trazer à luz todas as ações por eles executada, não
havendo, portanto, qualquer poder oculto.
Segundo Pedro Lenza, “Do ponto de vista teórico, isso significa que na base da
separação dos poderes encontra-se a tese da existência de nexo causal entre a divisão
do poder e a liberdade individual.”
Hoje, o Princípio da Separação dos Poderes organiza os poderes de qualquer
país democrático. Tal elemento se funda em dois subprincípios, quais sejam: (1)
independência e (2) harmonia. Diz-se independente, pois não há o que se falar em
sobrepujamento quanto às funções a cada poder designadas. Por outro lado, entende-
se por harmônica, visto que cada poder deverá se relacionar com os demais de modo
amistoso, ou seja, é necessário que as atividades sejam coordenadas entre si, tendendo,
sempre, ao bem maior, qual seja, a sociedade e seus direitos.
Contudo, um outro ponto a se considerar é que cada poder age de acordo com
as funções que a Constituição lhe destina. Havendo transgressão quanto aos preceitos
constitucionais, haverá violação de poderes.
Nesse sentido é a redação do art. 2º da Constituição Federal, cujo teor nos indica
que “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário.”
1.3. Das Funções dos Poderes
Ainda que a teoria nos indique a equânime divisão das atividades entre os
poderes, convém informarmos acerca da existência de funções típicas e atípicas.
Segundo Pedro Lenza, “A teoria da ‘tripartição de Poderes’, exposta por Montesquieu,
foi adotada por grande parte dos Estados modernos, só que de maneira abrandada. Isso
porque, diante das realidades sociais e históricas, passou-se a permitir uma maior
interpenetração entre os Poderes, atenuando a teoria que pregava a separação pura e
absoluta entre eles.”
Nessa toada, tem-se por típicas as funções para as quais os Poderes de fato
foram criados, ou seja, são suas funções predominantes. Por outro lado, atípicas são as
funções extrínsecas ao objetivo primeiro de cada Poder, mas que este também exerce.
É por esse motivo que, por exemplo, o Poder Judiciário, apesar de ter sido criado
com o objetivo primeiro de julgar, isto é, exercer a função jurisdicional, apresenta
funções legislativas e executivas como atípicas. Da mesma forma é com o Poder
Executivo, apresentando funções legislativas e judiciárias, bem como o Poder
Legislativo, que apresenta funções judiciárias e executivas.
1.4. Princípio da Indelegabilidade das Funções
Como dissemos anteriormente, a relação entre os Poderes será de
independência e harmonia entre si. Por conta disso criou-se o Princípio da
Indelegabilidade das Funções. Segundo tal princípio, não há o que se falar em delegação
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das funções primeiras de cada um dos Poderes aos outros. Ou seja, não é possível que
seja delegado ao Poder Executivo a função jurisdicional. Da mesma forma, não cabe ao
Poder Judiciário a criação de leis, isto é, a função legislativa.
Tal indelegabilidade somente apresente exceção diante das já mencionadas
funções atípicas. Nesse caso, porém, há previsão legal específica anterior.
2. Poder Executivo 2.1. Origem
O Poder Executivo teve sua origem na Constituição Federal de 1824, segundo
disposição do art. 10 da mesma: “Os Poderes Políticos reconhecidos pela Constituição
do Império do Brazil são quatro: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder
Executivo e o Poder Judicial.”
2.2. Introdução
Como vimos anteriormente, cada poder possui funções típicas e atípicas. Ao
Poder Executivo cabe a chefia de estado, chefia de governo e atos de administração.
Nesse anota Gilmar Mendes, afirmando que “a designação Poder Executivo
acaba por descrever, de forma acanhada, as funções desempenhadas, que, por óbvio,
transcendem a mera execução da lei. Daí anota Konrad Hesse que a expressão Poder
Executivo acabou por transformar-se numa referência geral daquilo que não está
compreendido nas atividades do Poder Legislativo e do Poder Judiciário. A ideia abrange
funções de governo e administração.”
A atual composição do Poder Executivo fora escolhida pelo povo, através do
plebiscito que ocorreu 7 de setembro de 19931. Como bem sabemos, nessa
oportunidade foram escolhidos a forma republicana e o sistema presidencialista.
2.3. Presidencialismo X Parlamentarismo
Ambos os sistemas de governo são divididos entre chefia de estado e chefia de
governo. Contudo, cada qual possui uma composição própria quanto a estes elementos.
Antes de demonstrarmos a diferença entre cada sistema de governo, convém
que conceituemos cada um desses elementos:
Entende-se por chefia de estado a “função de mera representação diplomática,
sem caráter governamental, exercida por um Chefe do Estado perante outros Estados.”
Portanto, é responsável por representar a nação em missões ou assuntos oficiais
internacionais, não estando ligado a assuntos de caráter interno do país. Por outro lado,
entende-se por chefia de governo a “função consistente em exercer, de forma efetiva,
1 ADCT: art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País.
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o poder governamental, enfim, administrar.” Nesse caso, tratar-se de função na qual
haverá cuidado quanto a assuntos de gestão ou administração interna do país.
São as divergências:
PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO
CHEFIA DE ESTADO É exercida pelo Presidente
da República
É exercida pelo Presidente da República
(parlamentarismo republicano) ou monarca
(parlamentarismo monarquista)
CHEFIA DE GOVERNO É exercida pelo Presidente
da República É exercida pelo Primeiro
Ministro
MANDATO Mandatos fixos Mandatos voláteis quanto
ao Chefe de Governo
Nota-se, portanto, que enquanto no presidencialismo as funções de Chefe de
Estado e Chefe de Governo são cumuladas em um único indivíduo, o Presidente da
República, no parlamentarismo tais funções são exercidas por indivíduos distintos.
Outra diferença notável é o fato de que no presidencialismo os mandatos do
Presidente da República são fixos. No Brasil, a titulo de exemplo, os mandatos são de
quatro anos, sendo possível a reeleição. No parlamentarismo, contudo, há tenuidade
quanto ao mandato do Chefe de Governo. O Primeiro Ministro é escolhido pelo
parlamento, vinculando-o ao povo caso seja aprovado. Contudo, é possível que o
mesmo parlamento venha a destituí-lo por meio de voto ou moção de desconfiança,
quando entender que a execução do plano de governo não está satisfatória2.
Diante de tais apontamos, pergunta-se: é possível que haja a alteração quanto
ao sistema de governo adotado pela Constituição?
A resposta não é tão simples. Primeiramente, é possível sim que haja alteração
do sistema de governo, mudando-o de presidencialista para parlamentarista. Contudo,
não é possível que o façamos por meio de emenda constitucional, ainda que sejam
conhecidas várias PECs nesse sentido (ex.: PEC 32/2015, PEC 105/2015 e PEC 9/2016).
Segundo Aline C. Nobile, no artigo intitulado Mudança no sistema de governo
brasileiro é possível3, há um argumento importante sobre a inconstitucionalidade das
PECs que visam à mudança do sistema de governo atual para o parlamentarismo, qual
seja: “o legislador constituinte originário impôs a ocorrência de plebiscito cinco anos
após a promulgação da Constituição para que a população definisse a forma (república
ou monarquia constitucional) e sistema de governo (presidencialismo ou
parlamentarismo) no artigo 2º do ADCT. Ocorrido o plebiscito e vencido o
2 Texto disponível em: <https://www.grancursospresencial.com.br/novo/upload/sdg.pdf> 3 Texto disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-mai-11/aline-nobile-mudanca-sistema-sistema-governo-possivel>
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presidencialismo, a referida norma constitucional teve sua eficácia exaurida, e,
portanto, não possuindo mais aplicabilidade fática.”
2.4. Modelo Brasileiro e Princípio da Simetria
Como já vimos, o modelo adotado pelo Brasil é o presidencialismo. Nesse sentido
é a disposição do art. 76 da Constituição Federal: “O Poder Executivo é exercido pelo
Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.”
Portanto, na esfera federal, além do Presidente da República, serão nomeados
Ministros de Estado para acompanhar as atividades do Chefe de Estado/Governo. Aqui,
convém destacarmos a fragilidade da função de Ministro, visto que é direito do
Presidente da República destituí-los ad nutum, isto é, pelo simples juízo do mesmo.
Na esfera estadual e municipal, serão nomeados Secretários para acompanhar
os atos do Chefe do Executivo Estadual e Municipal, quais sejam, respectivamente, o
Governador e o Prefeito.
Tal disposição ocorre de acordo com o Princípio da Simetria, segundo o qual se
exige dos Estados, Distrito Federal e Municípios a adoção, sempre que possível, em suas
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, bem como em suas ações lato sensu, os
princípios fundamentais e as regras de organização existentes na Constituição da
República – principalmente relacionadas a estrutura do governo, forma de aquisição e
exercício do poder, organização de seus órgãos e limites de sua própria atuação4
(Marcílio Guedes Drummond).
2.5. Do Presidente da República
2.5.1. Das Eleições
Inicialmente, dispõe o caput do art. 77 da Constituição Federal: “A eleição do
Presidente da República e do Vice-Presidente da República realizar-se-á,
simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último
domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do
mandato presidencial vigente.”
Para tanto, “A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente
com ele registrado” (§1º), formando, portanto, chapa única. Posteriormente ao pleito,
“Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político,
obtiver a maioria de votos, não computados os em branco e os nulos.” (§2º)
Contudo, “Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação,
far-se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo
os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria
dos votos válidos.” (§3º)
4 Texto disponível em: <https://marciliodrummond.jusbrasil.com.br/artigos/211108087/o-tao-falado-principio-da-simetria>
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Por fim, “O mandato do Presidente da República é quatro anos e terá início em
primeiro de janeiro do ano seguinte ao da sua eleição.” (art. 82 da Constituição Federal)
2.5.2. Requisitos para ocupar o cargo
Para que concorra à Presidência, é necessário que o indivíduo cumule os
seguintes requisitos (art. 14, §§ 3º, 4º e 7º, da Constituição Federal):
1) Ser brasileiro nato;
2) Estar em pleno exercício dos direitos políticos;
3) Possuir alistamento eleitoral;
4) Possuir domicílio eleitoral na devida circunscrição;
5) Possuir filiação partidária;
6) Ter idade mínima de 35 anos, comprovados na data da posse;
7) Não ser inalistável nem analfabeto;
8) Não ser inelegível.
2.5.3. Vacância, Impedimento e Sucessão Presidencial
Vacância, nesse caso, dar-se-á quando o cargo de Presidente da República ou
Vice-Presidente forem desocupados permanentemente de forma atípica. Ocorrerá
diante de impeachment, renúncia ou morte. Por outro lado, impedimento é a
desocupação do cargo de Presidente ou Vice-Presidente por tempo determinado ou
indeterminado, uma vez que haja previsão de que aquele que o ocupava voltará, em
regra, a ocupá-lo (caráter temporário). Virá a ocorrer, por exemplo, diante de doença,
férias ou viagem internacional.
2.5.3.1. Não ocorrência da posse
Quando eleitos, segundo disposição do art. 78 da Constituição Federal, “O
Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do Congresso
Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição,
observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a
integridade e a independência do Brasil.”
Contudo, “Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o
Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, ele será
declarado nulo.”
Nesse caso, ocorrerão novas eleições, em respeito ao disposto no art. 81, caput,
da Constituição Federal (abaixo transcrito).
2.5.3.2. Da Vacância
Posteriormente à posse e diante da vacância de ambos os cargos, respeitar-se-á
o disposto no art. 81, caput, da Constituição: “Vagando os cargos de Presidente e Vice-
Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.”
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Caso a vacância venha a ocorrer nos últimos dois anos do mandato presidencial,
tal eleição ocorrerá trinta dias após a vacância da última vaga, sendo feita pelo
Congresso Nacional (§1º).
Ainda que vague nos dois últimos anos ou em período anterior, os novos
Presidentes e Vice-Presidente eleitos somente permanecerão no cargo até o final do
mandato.
Por fim, convém mencionar que quando da vacância somente do Presidente da
República, não há o que se falar em novas eleições. Nesse caso, assumirá o Vice-
Presidente. Por outro lado, vagando somente o cargo de Vice-Presidente, não há o que
se falar em substituição, permanecendo o cargo vago.
2.5.3.3. Do Impedimento
Como dito anteriormente, o impedimento somente ocorrerá quando se tiver
expectativa acerca do retorno daquele que ocupava o cargo. É, portanto, uma “vacância
temporária”. Nesses casos, respeitar-se-á a sucessão presidencial.
2.5.3.4. Sucessão
Segundo disposição do art. 80 da Constituição, é a linha sucessória do Presidente
da República:
1) Presidente da República;
2) Vice-presidente da República;
3) Presidente da Câmara dos Deputados;
4) Presidente do Senado Federal;
5) Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Convém informar, porém, que, segundo entendimento fixado pela ADPF 402,
não é possível que réus em ação penal perante o Supremo Tribunal Federal venham a
substituir o Presidente da República.
Como já vimos anteriormente, vigora no Ordenamento Jurídico brasileiro o
Princípio da Simetria. Nesse sentido, é a linha sucessória no âmbito estadual:
1) Governador;
2) Vice-governador;
3) Presidente da Assembleia Legislativa;
4) Presidente do Tribunal de Justiça.
Da mesma forma, é a sucessão no âmbito municipal:
1) Prefeito;
2) Vice-prefeito;
3) Presidente da Câmara Municipal;
4) Cargo vago: nesse sentido é a jurisprudência:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – ART. 75, §2º, DA
CONSTITUIÇÃO DE GOIÁS – DUPLA VACÂNCIA DOS CARGOS DE PREFEITO E
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VICE-PREFEITO – COMPETÊNCIA LEGISLATIVA MUNICIPAL – DOMÍNIO
NORMATIVO DA LEI ORGÂNICA – AFRONTA AOS ARTS. 1º E 29 DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
1. O poder constituinte dos Estados-membros está limitado pelos
princípios da Constituição da República, que lhes assegura autonomia com
condicionantes, entre as quais se tem o respeito à organização autônoma dos
Municípios, também assegurada constitucionalmente.
2. O art. 30, inc. I, da Constituição da República outorga aos Municípios
a atribuição de legislar sobre assuntos de interesse local. A vocação sucessória
dos cargos de prefeito e vice-prefeito põem-se no âmbito da autonomia
política local, em caso de dupla vacância.
[...]
2.5.3.5. Anulação do Pleito
Conforme prevê o art. 224 do Código Eleitoral: “Se a nulidade atingir mais da
metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e
estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais
votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40
(quarenta) dias.”
Aqui, convém informar que pairou dúvida acerca do termo nulidade. Dividiu-se
o entendimento do termo entre votos nulos (equiparando-se a estes os brancos) ou
votos irregulares, acometidos por ilicitude. No entanto, segundo posicionamento do
Tribunal Superior Eleitoral, fixou-se entendimento no sentido de que somente serão
consideradas nulas as eleições, nos ditames do art. 224 do Código Eleitoral, uma vez que
mais de 50% dos votos apresentam irregularidade (anuláveis).
Tais anulações estão dispostas nos arts. 221 e 222 do Código Eleitoral, sendo o
teor:
Art. 221 do Código Eleitoral. É anulável a votação:
I – quando houver extravio de documento reputado essencial;
II – quando for negado ou sofrer restrição o direito de fiscalizar, e o
fato constar da ata ou de protesto interposto, por escrito, no momento;
III – quando votar, sem as cautelas do art. 147, §2º;
a) eleitor excluído por sentença não cumprida por ocasião da remessa
das filhas individuais de votação à mesa, desde que haja oportuna reclamação
de partido;
b) eleitor de outra seção, salvo hipótese do art. 145;
c) alguém com falsa identidade em lugar do eleitor chamado.
Art. 222 do Código Eleitoral. É também anulável a votação, quando
viciada de falsidade, fraude, coação, uso de meios de que trata o art. 237, ou
emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por
lei.
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2.5.3.6. Recall Presidencial
Recall, segundo o Dicionário Jurídico Acquaviva, é o “meio de pedir o
afastamento de políticos ou servidores públicos a pedido de um percentual de
cidadãos.” Tratando-se, porém, de recall presidencial, será o afastamento do Presidente
da República diante do pedido de um percentual de cidadãos.
Ocorre que tal instituto não é abrangido pelo Ordenamento Jurídico brasileiro.
Contudo, tal artifício é objeto de inúmeras discussões. Aqui, cabe citar a PEC nº 21/2015,
a qual tem como pretensão incorporar este elemento à Constituição Federal. Segundo
a explicação da ementa da mesma, “acrescenta incisos e parágrafo ao art. 14 da
Constituição Federal, para determinar que a soberania popular será exercida, nos
termos da lei, mediante veto popular e direito de revogação de mandato de membros
dos poderes Executivo e Legislativo, estabelecendo que poderão ter seus mandatos
revogados após o transcurso de dois anos da data da posse5.”
2.5.4. Responsabilidade do Presidente da República
2.5.4.1. Introdução
O Presidente da República será responsabilizado pelos crimes comuns ou de
responsabilidade.
Segundo disposição do art. 85 da Constituição Federal: “São crimes de
responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição
Federal e, especialmente, contra: I – a existência da União; II – o livre exercício do Poder
Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das
unidades da Federação; III – o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV –
a segurança interna do País; V – a probidade da administração; VI – a lei orçamentária;
VII – o cumprimento das leis e das decisões judiciais.”
Conforme dita o parágrafo único deste artigo: “Esses crimes serão definidos em
lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.”
Por esse motivo, além destes crimes, também serão considerados crimes de
responsabilidade praticados pelo Presidente da República aqueles dispostos na Lei nº
1.079/50.
Crimes comuns, por outro lado, são quaisquer dos crimes dispostos no
Ordenamento Jurídico brasileiro que podem ser cometidos por qualquer indivíduo.
Diante de tais crimes, é possível que seja realizada acusação contra o Presidente
da República. Nesse caso, a acusação será recebida pela Câmara dos Deputados, onde
será votada a sua admissão.
Segundo o art. 86, caput, da Constituição Federal, “Admitida a acusação contra
o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele
5 Texto disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/120006>
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submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais
comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.”
Tal fato se dá em decorrência do foro de prerrogativa de função. Trata-se de
instituto que tem como objetivo dar maior proteção a determinados indivíduos quanto
à visibilidade de seus atos ilícitos, visto ocuparem cargos de elevada importância.
2.5.4.2. Princípio da Anterioridade e Legalidade
Convém destacar que qualquer alteração que venha a ocorrer nos artigos e leis
que dispõem acerca dos crimes de responsabilidade não atingirão os Presidentes cujo
mandato coincida com a mudança legal.
Nesse caso, somente passarão a valer em relação ao mandato posterior.
Esse entendimento é fixado pelos Princípio da Anterioridade e Legalidade,
segundo os quais: “não há crime sem lei anterior que defina, nem pena sem prévia
cominação legal” (art. 5º, XXXIX, CF).
Quanto à criação das normas e julgamento das mesmas, é a disposição da
Súmula Vinculante nº 46: “A definição dos crimes de responsabilidade e o
estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são de competência
legislativas privativa da União.”
2.5.4.3. Dos Crimes de Responsabilidade
Conforme dispomos anteriormente, crimes de responsabilidade são aqueles
cometidos em função do exercício da função. Nesse caso, não se tratarão de infrações
penais, mas administrativas.
2.5.4.3.1. Sujeitos Ativos
Ainda que comum a ligação entre crime de responsabilidade e o Presidente da
República, convém informar que tais infrações poderão ser cometidas por outros
indivíduos. Segue o rol:
(1) Presidente da República, (2) Vice-Presidente da República, (3) Ministros,
desde que em crimes conexos com o do Presidente da República, (4) Ministros do
Supremo Tribunal Federal, (5) membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), (6) Procurador-Geral da República,
(7) Advogado-Geral da União, (8) Governadores e (9) Prefeitos.
2.5.4.3.2. Procedimento
Como dito anteriormente, quando da disposição da Súmula Vinculante nº 46, é
de competência privativa da União a criação de normas referentes ao processo e
julgamento dos crimes de responsabilidade.
Nesse sentido, criou-se polêmica, vez que o procedimento para a votação do
pedido de impeachment diante de crime de responsabilidade constava do Regimento
Interno da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
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Essa situação chegou ao Supremo Tribunal Federal, segundo o qual, a partir do
acórdão emitido no julgamento da ADPF nº 378, “a aplicação subsidiária do Regime
Interno da Câmara dos Deputados e do Senado Federal ao processamento e julgamento
do impeachment não viola a reserva de lei especial imposta pelo art. 85, parágrafo único,
da Constituição, desde que as normas regimentais sejam compatíveis com os preceitos
legais e constitucionais pertinentes, limitando-se a disciplinar questões interna
corporis.”
Passada a polêmica, é o procedimento, segundo disposição da Lei 1.079/50:
2.5.4.3.2.1. Da denúncia
De acordo com o art. 14 da Lei em questão: “É permitido a qualquer cidadão
denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado, por crime de
responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.”
Portanto, não há qualquer limitação quando da denúncia dos crimes de
reponsabilidade pelos sujeitos ativos acima dispostos cometidos, sendo possível que a
acusação seja feita por qualquer dos cidadãos.
2.5.4.3.2.2. Da acusação
“Recebida a denúncia, será lida no expediente da sessão seguinte e despachada
a uma comissão especial eleita, da qual participem, observada a respectiva proporção,
representantes de todos os partidos para opinar sobre a mesma.”
Aqui, recebida a denúncia, caberá ao Presidente da Câmara realizar análise
meramente formal, averiguando se estão presentes os requisitos necessários. Nesse
sentido, afirma o Mandado de Segurança nº 20.941/DF, segundo o qual é de
competência do Presidente da Câmara dos Deputados proceder a “... exame preliminar
da idoneidade da denúncia popular, ‘que não se reduz à verificação das formalidades
extrínsecas e da legitimidade de denunciantes e denunciados, mas se pode estender (...)
à rejeição da acusação patentemente inepta ou despida de justa causa, sujeitando-se ao
controle do Plenário da Casa, mediante recurso.”
Encaminhada à Comissão Especial, será votada a denúncia, sendo feito relatório/
parecer sobre o caso. Nesse sentido é o art. 20, caput, da Lei 1.079/50: “A comissão a
que alude o artigo anterior se reunirá dentro de 48 horas e, depois de eleger seu
Presidente e relator, emitirá parecer, dentro do prazo de dez dias, sobre se a denúncia
deve ser ou não julgada objeto de deliberação. Dentro desse período poderá a comissão
proceder às diligências que julgar necessárias ao esclarecimento da denúncia.”
Nesse período, será notificado o acusado pelos crimes de responsabilidade,
devendo apresentar defesa, se assim o querer, em até 10 sessões.
Se o entendimento for no sentido de acolher a acusação, a mesma é remetida ao
Plano da Câmara, onde será novamente votada, dependendo a sua aprovação do voto
de 2/3 dos membros da mesma. É a disposição do art. 51, I, da Constituição Federal:
“Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I – autorizar, por dois terços de seus
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membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da
República e os Ministros de Estado.”
Tal votação, segundo decisão proferida pelo STF quando do julgamento da ADPF
nº 378, somente autorizará a instauração do processo. Ou seja, não compete à Câmara
dos Deputados a condenação do acusado.
Nesse sentido, aprovada a instauração do processo, será remetido, em forme de
resolução, ao Senado Federal, o qual tem competência para julgar, de fato, a denúncia
e condenar o acusado.
2.5.4.3.2.3. Do julgamento
Como dita o art. 52, I, da Constituição Federal: “Compete privativamente ao
Senado Federal: I – processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com
aqueles.”
O procedimento quando no Senado Federal será trifásico, compreendendo-se
por: (1) juízo de acusação, (2) juízo de pronúncia e (3) judicium causae (julgamento
propriamente dito.
2.5.4.3.2.4. Juízo de acusação
Recebida a resolução da Câmara dos Deputados, será discutida pelo Pleno do
Senado Federal, dependo o prosseguimento da votação positiva da maioria simples.
“Se o Senado resolver que a denúncia não deve constituir objeto de deliberação,
serão os papeis arquivados” (art. 48 da Lei nº 1.079/50). Por outro lado, se aprovado por
maioria simples será considerada objeto de deliberação.
Quando da aprovação, considera-se instaurado o processo perante o Senado
Federal, sendo presidido, segundo disposição do art. 52, parágrafo único, da
Constituição Federal, pelo Presidente do STF.
Para tanto, deverá o denunciado estar exercendo o cargo quando da denúncia.
Se não mais o exercer não há o que se falar em acolhimento da denúncia por parte do
Senado Federal. Contudo, segundo decisão do STF (MS 21.689-1), a destituição deverá
ocorrer anteriormente ao início do processo. Se o desligamento com o cargo for feito
posteriormente ao início do processo, não há o que se falar em extinção.
Nesse caso, deverá o Presidente da República ficar afastado de suas funções por
prazo de até 180 dias, conforme indica o art. 86, §1º, II, da Constituição: “§1º. O
Presidente ficará suspenso de suas funções: [...] II – nos crimes de responsabilidade,
após a instauração do processo pelo Senado Federal.”
Diante do afastamento do Presidente da República assumirá interinamente o
Vice-Presidente.
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Decorridos os 180 dias, caso o processo não tenha sido concluído o denunciado
retornará ao seu cargo normalmente (§2º).
2.5.4.3.2.5. Juízo de pronúncia
Aceita a denúncia, cria-se Comissão Especial que deverá desenvolver relatório/
parecer. Para tanto, inicia-se fase de instrução probatória.
Ao final, feito o relatório, o mesmo será submetido ao pleno, sendo aprovado
pela votação positiva da maioria simples. Recusado o relatório, arquivam-se os autos.
2.5.4.3.2.6. Judicium causae (julgamento propriamente dito)
Aprovado o relatório, há, de fato, o julgamento do acusado.
Nesse sentido, é a disposição do art. 52, parágrafo único, da Constituição
Federal: “Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do
Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por
dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito
anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais
cabíveis.”
Portanto, em sessão presidida pelo Presidente do STF, votar-se-á acerca da
condenação do acusado, sendo a mesma aprovada por 2/3 dos membros do Pleno.
2.5.4.3.3. Consequências do impeachment
São duas as penas: (1) perda do cargo e (2) inabilitação para o exercício de
função pública por 8 anos.
Pergunta-se: as penas são cumuladas ou autônomas?
Para responder a tal pergunta, convém que sejamos remetidos ao julgamento do
MS 21.689/DF, impetrado pelo ex-Presidente Fernando Affonso Collor de Melo.
É a ementa:
Constitucional. «Impeachment», Controle Judicial. «Impeachment»
do Presidente da República. Pena de Inabilitação para o exercício de função
pública. CF, art. 52, parágrafo único. Lei nº 27, de 7-1-1892; Lei nº 30, de 8-
1-1892. Lei nº 1.079, de 1950.
I – Controle judicial do «Impeachment»: possibilidade, desde que se
alegue lesão ou ameaça a direito. CF, art. 5º, XXXV. Precedentes do STF: MS
nº 20.941-DF (RTJ 142/88); MS nº 21.564-DF e MS nº 21.626-DF.
II – O «Impeachment», no Brasil, a partir da Constituição de 1891,
segundo o modelo americano, mas com características que o distinguem
deste: no Brasil, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, lei ordinária
definirá os crimes de responsabilidade, disciplinará a acusação e
estabelecerá o processo e o julgamento.
III – Alteração do direito positivo brasileiro: a Lei nº 27, de 1892, art.
3º, estabelecia: a) o processo de «Impeachment» somente poderia ser
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intentado durante o período presidencial; b) intentado, cessaria quando o
Presidente, por qualquer motivo, deixasse definitivamente o exercício do
cargo. A Lei nº 1.079, de 1950, estabelece, apenas, no seu art. 15, que a
denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por
qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo.
IV – No sistema do direito anterior à Lei nº 1.079, de 1950, isto é, no
sistema das Leis nos 27 e 30, de 1892, era possível a aplicação tão-somente
da pena de perda do cargo, podendo esta ser agravada com a pena de
inabilitação para exercer qualquer outro cargo (Constituição Federal de
1891, art. 33, §3º; Lei nº 30, de 1892, art. 2º), emprestando-se à pena de
inabilitação o caráter de acessoriedade (CF, 1934, art. 58, §7º; CF, 1946, art.
62, §3º; CF, 1967, art. 44, parág. único; EC nº 1/69, art. 42, parág. único; CF,
1988, art. 52, parágrafo único; Lei nº 1.079, de 1950, artigos 2º, 31, 33 e 34).
V – A existência, no «Impeachment» brasileiro, segundo a
Constituição e o direito comum (CF, art. 52, parág. único; Lei nº 1.079, de
1950, artigos 2º, 33 e 34), de duas penas: a) perda do cargo; b) inabilitação,
por oito anos, para o exercício de função pública.
VI – A renúncia ao cargo, apresentada na sessão de julgamento,
quando já iniciado este, não paralisa o processo de «Impeachment».
VII – Os princípios constitucionais de impessoalidade e da
moralidade administrativa (CF, art. 37).
VIII – A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal relativamente
aos crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, na forma do
Decreto-Lei nº 201, de 27-2-1967. Apresentada a denúncia, estando o
Prefeito no exercício do cargo, prosseguirá a ação penal, mesmo após o
término do mandato, ou deixando o Prefeito, por qualquer motivo, o
exercício do cargo.
IX – Mandado de segurança indeferido.
Vê-se, portanto, que o Mandado de Segurança impetrado tinha como objetivo
extinguir a pena referente à inabilitação, por oito anos, para o exercício da função
pública, visto ter o impetrante, anteriormente à condenação, renunciado ao cargo.
Segundo este pedido, entender-se-ia que os pedidos seriam cumulativos,
somente podendo o segundo ser aplicado em decorrência da aplicação do primeiro.
Contudo, foi a decisão deste MS, representada aqui pelo voto do Min. José
Dantas:
Identificado o objeto do impeachment, tanto quanto o diga a distinção
ontológica da diversificada apenação prevista – a perda do cargo, com
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública (CF, art. 52, par.
único) –, certo entender-se que a renúncia do cargo não interfere com a
subsistência do objeto do processo instaurado. Este, constitucionalmente
bipolarizado em afastar definitivamente do cargo o titular acusado, e impedi-
lo de voltar à função pública por algum tempo, restou por consumar-se nesse
último intuito. E com essa bipolarização objetiva consta de preceito
constitucional explícito, legítimo nesse plano se oferece a norma legal que
silencia o encerramento do processo, pela boa lógica de que a renúncia, ao
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frustrar a realização material da primeira reprimenda política visada, não tem
justificação, material ou formal, para alcançar aquela segunda,
materialmente possível como formal e oportunamente instrumentada pelo
devido processo de direito.
Por sua vez, com a devida vênia das doutas sustentações em contrário,
não alcanço o porquê da afetação jurisdicional que resultaria do fato de
escapar o denunciado à pena de perda do cargo pela renúncia dirigida.
Desinvestido o titular do cargo marcante da jurisdição do Senado Federal,
mas restando ao respectivo processo coator aquela segunda reprimenda
teleologicamente preventiva, e que se escusa à impossibilidade material
padecida pela primeira, de caráter repressivo, não se concebe, d.m.v., que o
incidente fulmine a jurisdição, deixando-a incompleta no seu duplo
desiderato de fazer cessar a de prevenir a prática de abusos e desmandos dos
governantes regularmente acusados.”
[...]
Em suma, vencido o questionamento de tão improvável
acessoriedade, volte-se ao tema da jurisdição.
Mutatis mutandis, dando-se o que é seu à jurisdição e à competência,
nos distintos componentes conceituais, a hipótese dos autos lembra a
sumulada orientação deste Pretório Excelso, sobre que a perda do cargo não
altera a competência suprema para os crimes comuns praticados por aqueles
mesmos governantes (Súmula 394); como também, no exato propósito da
perpetuatio jurisdictionis concernente aos crimes de responsabilidade dos
prefeitos municipais – quanto aos quais o DL nº 201/67 inovou a jurisdição,
bipartindo-a entre a Câmara de Vereadores e o Judiciário –, lembra a
orientação pretoriana de que, deixando o cargo, a ação penal antes intentada
contra o prefeito deve prosseguir; só não se lhe admitindo a instauração por
denúncia recebida após aquele afastamento definitivo (RHC 65.207-GO, Rel.
Min. Moreira Alves, in RTJ 123/518).”
Resumidamente, afastou-se o caráter cumulativo das consequências, dando-as
caráter autônomo. Nesse sentido, a renúncia, quando ocorrida posteriormente ao
recebimento da denúncia, não enseja a extinção do processo e, muito menos, a não
aplicação da pena de inabilitação, por oito anos, para exercer funções públicas. Aplica-
se o chamado perpetuatio jurisdictionis.
Até então essa era a regra. Contudo, remetemo-nos a um caso mais recente,
referente ao impeachment da ex-Presidente Dilma Rousseff. Nessa situação, tomou-se
procedimento anômalo, no sentido de que as consequências pela condenação da
aprovação do processo (perda do cargo e inabilitação) foram votadas em separado,
culminando na perda do cargo, porém na não inabilitação para exercer funções públicas.
Segundo comentário de Pedro Lenza: “Dizer que não é acessória não significa,
em nosso entender, determinar o fatiamento do modo de votação. A literalidade da
Constituição é implacável ao afirmar, no parágrafo único do art. 52, que a condenação
limita-se à perda do cargo COM inabilitação por 8 anos para o exercício de função
pública. Nesse sentido, também a regra contida no caput do art. 68 da Lei n. 1.079/50.”
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Hoje, ainda que haja posicionamento doutrinário em contrário, entende-se ser a
regra a possibilidade do fracionamento das consequências. Diante do art. 52, parágrafo
único, da Constituição Federal, onde há “com”, leia-se “ou”.
Por fim, pergunta-se: é possível que o STF analise judicialmente a aprovação do
impeachment? Não! Não há cabimento a revisão judicial da decisão que aprovou o
impeachment, pois a Constituição é clara no sentido de incumbir privativamente ao
Senado Federal o processo e julgamento do Presidente da República.
Contudo, diante do impeachment, é possível que o STF venha a analisar questão
de interpretação e aplicação da lei.
2.5.4.4. Dos Crimes Comuns
2.5.4.4.1. Introdução e conceito
Além dos crimes de responsabilidade, é possível, como já dito, que o Presidente
da República seja condenado por crimes comuns. Entende-se por crime comum aquele
que pode ser cometido por qualquer indivíduo, não sendo exigido para tanto, portanto,
qualidade específica.
2.5.4.4.2. Legislação
As definições e procedimentos dos crimes comuns cometidos pelo Presidente da
República estão dispostos na Lei nº 8.038/90, além dos artigos da Constituição Federal
já referidos e que, ao longo, da explicação voltarão a ser citados.
2.5.4.4.3. Competência
Diferentemente da análise do processo de impeachment, compete
privativamente ao Supremo Tribunal Federal, em decorrência do foro de prerrogativa
de função que recai sobre o Presidente da República, julgar os casos de crimes comuns
por ele cometidos.
Nesse sentido é o art. 102, I, b, da Constituição Federal: “Compete ao Supremo
Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I – processar
e julgar, originariamente: b) nas infrações comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-
Geral da República.”
Além da competência para julgamento, pergunta-se: quem é competente para
oferecer denúncia contra o Presidente da República? Compete ao Procurador-Geral da
República oferecer denúncia contra o Presidente da República.
2.5.4.4.4. Procedimento
Oferecida a denúncia, a mesma será remetida à Câmara dos Deputados, o qual
deverá realizar juízo de admissibilidade da mesma.
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Segundo o Dicionário Jurídico Acquaviva, entende-se por juízo de
admissibilidade: “Análise prévia, por tribunal, do cabimento de recurso, bem como do
cumprimento de todos os pressupostos exigidos pela lei, para sua regular interposição.”
Nesse caso, portanto, caberia à Câmara dos Deputados averiguar a observância
da denúncia quanto aos pressupostos processuais necessárias para tanto.
A aprovação da denúncia se dará mediante aceitação de 2/3 dos membros da
Câmara, sendo remetido, quando aceito, ao Supremo Tribunal Federal para que seja
julgado. Nesse sentido é o art. 86, caput, primeira parte, da Constituição Federal:
“Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas
infrações penais comuns...”
Quando da aprovação da denúncia, será o Presidente da República afastado por
180 dias, conforme disposição do §1º, I, deste artigo, segundo o qual: “O Presidente
ficará suspenso de suas funções: I – nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia
ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal.”
Tal afastamento tem como objetivo evitar que o Presidente, quanto na função,
exerça influência sob quais quer dos elementos do processo crimine.
Aqui, contudo, convém que informemos acerca da existência da imunidade
presidencial ou irresponsabilidade penal relativa, segundo a qual: “O Presidente da
República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos
estranhos ao exercício de suas funções.”
Portanto, somente poderá ocorrer o seu afastamento diante de crime comum
cometido em razão da função que exerce enquanto Presidente da República. Diante de
crime comum não interligado à função, ainda que cometido anteriormente à posse,
suspende-se o processo até que o mandato se encerre, momento no qual correrá
normalmente perante a justiça comum.
Importante, ainda, o comentário de Pedro Lenza: “No tocante às infrações de
natureza civil, política (crimes de responsabilidade), administrativa, fiscal ou tributária,
poderá o Presidente da República ser responsabilizado, pois a imunidade
(irresponsabilidade penal relativa) restringe-se apenas à persecutio criminis por ilícitos
penais que não tenham sido cometidos in officio ou propter officium, como vimos.”
Quando do julgamento, aplicar-se-á o disposto no §3º, segundo o qual:
“Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da
República não estará sujeito a prisão.” Diante de tal disposição, estende-se a
impossibilidade de prisão inclusive em relação às prisões cautelares.
2.5.4.4.5. Demais chefes do executivo
Pergunta-se: tal procedimento será utilizado diante dos ilícitos comuns
cometidos pelos demais Chefes do Poder Executivo?
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Primeiramente, convém destacar que todos os chefes do executivo, em
decorrência do Princípio da Simetria, possuem foro de prerrogativa de função, o que faz
com que seus julgamentos não ocorram, enquanto no exercício de suas funções, na
justiça comum.
Nesse sentido, o Presidente da República será julgado perante o Supremo
Tribunal Federal, os Governadores perante o Superior Tribunal de Justiça e os Prefeitos
perante o respectivo Tribunal de Justiça.
Quanto à pergunta anteriormente feita, proferiu-se acórdão (ADI 5.540) no
sentido de que não ocorrerá o afastamento automático quando do recebimento da
denúncia. Da mesma forma, não há o que se falar em irresponsabilidade penal relativa
quando se tratar dos Chefes do Poder Executivo Estadual e Municipal.
Portanto, não. Não se utiliza o mesmo procedimento diante dos ilícitos comuns
praticados pelos Chefes do Poder Executivo Estadual e Municipal.
2.5.5. Das Funções do Presidente da República
Estão dispostas no art. 84 da Constituição Federal.
2.6. Dos Ministros de Estado
2.6.1. Legislação
Tal cargo está disposto nos arts. 87 e 88 da Constituição Federal.
2.6.2. Foro de prerrogativa de função
De acordo com disposição do art. 52, I, e 102, I, b, da Constituição Federal,
possuem sim foro de prerrogativa de função.
2.6.3. Funções
Segundo disposição do art. 87, parágrafo único, da Constituição: “Compete ao
Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei:
I – exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da
administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos
assinados pelo Presidente da República; II – expedir instruções para a execução das leis,
decretos e regulamentos; III – apresentar ao Presidente da República relatório anual de
sua gestão no Ministério; IV – praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem
outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.”
Além disso, é possível que o Presidente da República lhes atribua funções de
acordo com a área em que atuam.
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2.6.4. Escolha
Conforme destaca o caput do artigo anteriormente descrito: “Os Ministros de
Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício
dos direitos políticos.”6
Portanto, compete ao Presidente da República a escolha quanto aos indivíduos
que ocuparão o cargo de Ministro de Estado. Por esse motivo, configuram longa manus,
isto é, são indivíduos da confiança do Presidente da República.
Convém destacar que, tratando-se de parlamentar designado ao cargo de
Ministro, não há o que se falar em necessidade de renúncia àquele. Nesse caso, é
possível que se licencie do cargo de parlamentar, passando a exercer função de Ministro.
Ao final de suas atividades, voltará normalmente ao cargo parlamentar.
Por outro lado, assim como são designados pelo Presidente sem prévia
justificativa, poderão, da mesma forma (ad nutum), ser destituídos dos cargos.
Cabe ao Presidente, inclusive, estabelecer o número de Ministros que comporão
o seu Governo.
3. Poder Legislativo 3.1. Introdução
O Poder Legislativo caracteriza-se pelo Poder cuja proximidade com a população
se mostra mais acentuada. Assim o é, vez que tem por função decidir e legislar acerca
dos assuntos que pairam sobre a esfera nacional.
Nesse sentido é o art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal: “Todo poder
emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição.”
Além da função legislativa em si, incumbe ao Poder Legislativo a fiscalização dos
atos do Poder Executivo, por meio do Tribunal de Contas.
3.2. Disposição
Segue a tabela:
MUNICIPAL ESTADUAL DISTRITAL FEDERAL
Unicameral – Câmara dos Vereadores
Unicameral – Assembleia Legislativa
Unicameral – Câmara Distrital
Bicameral – Câmara dos Deputados e
Senado Federal (Congresso Nacional)
6 Art. 12, §3º, da Constituição Federal. São privativos de brasileiro nato os cargos: [...] VII – de Ministro de Estado da Defesa.
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Passemos a estudar especificamente os órgãos:
3.3. Órgãos Legislativos
3.3.1. Congresso Nacional
3.3.1.1. Composição
O Congresso Nacional compõe-se pela junção dos órgãos do Poder Legislativo de
âmbito federal, ou seja, compõe-se pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.
Posteriormente veremos cada um dos órgãos individualmente.
3.3.1.2. Atribuições
Suas atribuições estão dispostas nos arts. 48 a 50 da Constituição Federal.
3.3.2. Câmara dos Deputados
3.3.2.1. Composição
Segundo disposição do art. 45 da Constituição Federal: “A Câmara dos Deputados
compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada
Estado, em cada Território e no Distrito Federal.”
Nesse sentido é a Lei Complementar nº 78, em sua totalidade:
Art. 1º. Proporcional à população dos Estados e do Distrito Federal, o
número de deputados federais não ultrapassará quinhentos e treze
representantes, fornecida, pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, no ano anterior às eleições, a atualização estatística demográfica
das unidades da Federação.
Parágrafo único. Feitos os cálculos da representação dos Estados e do
Distrito Federal, o Tribunal Superior Eleitoral fornecerá aos Tribunais
Regionais Eleitorais e aos partidos políticos o número de vagas a serem
disputadas.
Art. 2º. Nenhum dos Estados membros da Federação terá menos de
oito deputados federais.
Parágrafo único. Cada Território Federal será representado por quatro
deputados federais.
Art. 3º. O Estado mais populoso será representado por setenta
deputados federais.
Art. 4º. Esta Lei Complementar entre em vigor na data de sua
publicação.
Art. 5º. Revogam-se as disposições em contrário.
3.3.2.2. Eleição
A eleição dos deputados se dará através de princípio proporcional, isto é, o
número, como dito na Lei Complementar acima disposta, respeitará a população do
Brasil, proporcionalmente.
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3.3.2.3. Mandato
O mandato dos deputados federais será de quatro anos, sendo possível a
reeleição.
3.3.2.4. Competência
Conforme designação do art. 51 da Constituição Federal: “Compete
privativamente à Câmara dos Deputados: I – autorizar, por dois terços de seus membros,
a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado; II – proceder à tomada de contas do Presidente da República,
quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a
abertura da sessão legislativa; III – elaborar seu regimento interno; IV – dispor sobre sua
organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos,
empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva
remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias; V – eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89,
VII.”
3.3.3. Senado Federal
3.3.3.1. Composição
Segundo disposição do art. 46 da Constituição Federal: “O Senado Federal
compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o
princípio majoritário.”
Ao todo serão 81 senadores, três de cada Estado e o Distrito Federal.
Há quem entenda que tal disposição é desproporcional, visto que determinados
Estados possuem população maior que outros, motivo pelo qual defendem a utilização
de critério proporcional quanto ao número de senadores por Estado.
3.3.3.2. Eleição
Como destacado anteriormente, obedecerá a princípio majoritário, ou seja, por
Estado, serão eleitos os três mais votados.
3.3.3.3. Mandato
O mandato será de 8 anos, renovando-se à medida 1-2/3, ou seja, alterna-se
entre as eleições o número de senadores modificados. Em uma eleição se alterará um
único senador, enquanto na próxima se alterará dois.
3.3.3.4. Competência
As competências do Senado Federal estão dispostas no art. 52 da Constituição
Federal.
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3.3.4. Assembleia Legislativa
3.3.4.1. Composição
Segundo disposição do art. 27, caput, da Constituição Federal: “O número de
Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado
na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos
quantos forem os Deputados Federais acima de doze.”
Nesse sentido, a composição obedecerá a seguinte tabela (Pedro Lenza):
CÂMARA DOS DEPUTADOS (x)
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA (y)
FÓRMULA
8 247 O triplo
9 27 O triplo
10 30 O triplo
11 33 O triplo
12 36 O triplo
13 37 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24
14 38 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24
(...) (...) (...)
68 92 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24
69 93 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24
70 948 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24
3.3.4.2. Eleição
Serão eleitos tantos quantos forem os deputados de cada Estado, respeitando-
se a maioria de votos. No Estado de São Paulo, por exemplo, sendo 94 deputados
estaduais, elegeram-se os 94 mais votados.
3.3.4.3. Mandato
O mandato será de quatro anos, sendo possível a reeleição. Nesse sentido é o
art. 27, §1º, da Constituição Federal: “Será de quatro anos o mandato dos Deputados
Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitora,
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e
incorporação às Forças Armadas.”
7 Número mínimo de Deputados Estaduais. 8 Número máximo de Deputados Estaduais.
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3.3.4.4. Competência
É a disposição do §3º: “Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu
regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os
respectivos cargos.”
3.3.5. Câmara de Vereadores
3.3.5.1. Composição
Levar-se-á em consideração o art. 29, IV, da Constituição Federal, segundo o
qual:
NÚMERO DE HABITANTES NÚMERO DE VEREADORES
𝑥 < 15.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 9
15.000 < 𝑥 ≤ 30.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 11
30.000 < 𝑥 ≤ 50.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 13
50.000 < 𝑥 ≤ 80.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 15
80.000 < 𝑥 ≤ 120.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 17
120.000 < 𝑥 ≤ 160.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 19
160.000 < 𝑥 ≤ 300.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 21
300.000 < 𝑥 ≤ 450.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 23
450.000 < 𝑥 ≤ 600.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 25
600.000 < 𝑥 ≤ 750.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 27
750.000 < 𝑥 ≤ 900.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 29
900.000 < 𝑥 ≤ 1.050.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 31
1.050.000 < 𝑥 ≤ 1.200.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 33
1.200.000 < 𝑥 ≤ 1.350.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 35
1.350.000 < 𝑥 ≤ 1.500.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 37
1.500.000 < 𝑥 ≤ 1.800.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 39
1.800.000 < 𝑥 ≤ 2.400.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 41
2.400.000 < 𝑥 ≤ 3.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 43
3.000.000 < 𝑥 ≤ 4.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 45
4.000.000 < 𝑥 ≤ 5.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 47
5.000.000 < 𝑥 ≤ 6.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 49
6.000.000 < 𝑥 ≤ 7.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 51
7.000.000 < 𝑥 ≤ 8.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 53
𝑥 > 8.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 55
3.3.5.2. Eleição
Levará em consideração critério majoritário. Eleito estarão os que receber maior
número de votos.
3.3.5.3. Mandato
O mandato será de quatro anos, sendo possível a reeleição.
3.3.5.4. Competência
A competência está disposta no art 29 da Constituição Federal.
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3.4. Imunidades Parlamentares
3.4.1. Introdução
Segundo Pedro Lenza, as imunidades parlamentares são “prerrogativas
inerentes à função parlamentar, garantidoras do exercício do mandato, com plena
liberdade. Não se trata de direito pessoal ou subjetivo do Parlamentar, na medida em
que, como se disse, decorre do efetivo exercício da função parlamentar. Assim, não
podemos confundir prerrogativa com privilégio.”
Nesse sentido, entendem-se as imunidades parlamentares como proteções ao
livre exercício da função parlamentar, inerentes ao cargo, ou seja, inerentes à função
parlamentar, e não à pessoa do parlamentar.
3.4.2. Espécies
São duas as espécies de imunidades parlamentares, quais sejam: (1) imunidade
parlamentar material, real ou substantiva e (2) imunidade parlamentar processual,
formal ou adjetiva.
Vejamos:
3.4.2.1. Imunidade parlamentar material
Disposta no art. 53, caput, da Constituição Federal, afirma: “Os Deputados e
Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras
e votos.”
Tal alegação tem pretensões democráticas, no sentido de que dá ao parlamentar
liberdade para que exerça suas funções sem qualquer restrição, protegendo-o de
quaisquer acusações ou procedimentos civis, penais, administrativos ou políticos que
possam vir a recair sobre ele.
Contudo, é importante que delimitemos tal imunidade, vez que, como dito
quando da introdução deste assunto, tratam-se de imunidades inerentes ao cargo, e não
à pessoa do parlamentar.
Por esse motivo, protegido estará o parlamentar quando emitir opiniões em
razão do cargo, diante da execução de suas funções enquanto parlamentar, ainda que
não esteja no local comum de seu trabalho, ou seja, ainda que não esteja no Congresso
Nacional.
Nesse sentido, por óbvio, não possui imunidade o parlamentar em relação às
opiniões que profere enquanto fora das atividades que exerce em sua função. Do
mesmo modo, não estarão acobertadas as opiniões dadas, ainda que em razão do cargo,
quando estas violarem preceitos constitucionais.
Na mesma toada é o comentário de Pedro Lenza: “E que fique claro: sustentamos
que a imunidade parlamentar não é absoluta, assim como nenhum direito fundamental
é absoluto. Em nosso entender, portanto, em situações excepcionalíssimas, determinas
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opiniões, palavras e votos proferidos podem até caracterizar a prática de crime, já que
o direito não tolera o denominado hate speech.”
3.4.2.2. Imunidade parlamentar formal
Tais imunidades estão dispostas nos §§ 1º a 5º do artigo anteriormente referido.
Aqui, trata-se da imunidade referente ao foro por prerrogativa de função. Nesse
sentido, diz-se que quando do cometimento de crimes atrelados à função parlamentar
serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal. Além disso, também dizem respeito à
prisão dos parlamentares.
Vamos por partes.
Primeiramente, convém que estabeleçamos o que é a diplomação, marco
fundamental para o início de tais imunidades, como possível ver diante da leitura dos
artigos referentes a tais imunidades.
Segundo disposição do art. 215 do Código Eleitoral Brasileiro: “Os candidatos
eleitos, assim como os suplentes, receberão diploma assinado pelo Presidente do
Tribunal Regional ou da Junta Eleitoral, conforme o caso.”
Conforme adita o próprio Tribunal Superior Eleitoral9: “Diplomação é o ato pelo
qual a Justiça Eleitoral atesta que o candidato foi efetivamente eleito pelo povo e, por
isso, está apto a tomar posse no cargo. Nessa ocasião, ocorre a entrega dos diplomas,
que são assinados, conforme o caso, pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ou da junta eleitoral.”
Tal diplomação ocorrerá 45 dias após as eleições.
Iniciando anteriormente à posse efetiva, tem como objetivo antecipar a proteção
aos parlamentares, visto que após as eleições já se iniciam as movimentações como
parlamentares, principalmente no que se refere às expectativas da população.
Agora que sabemos o que a diplomação, partamos à análise de cada uma das
imunidades processuais:
3.4.2.2.1. Foro por prerrogativa de função (§1º)
Segundo disposição do §1º do art. 53 da Constituição Federal: “Os Deputados e
Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o
Supremo Tribunal Federal.”
Nesse sentido, o cometimento de crimes inerentes à função parlamentar será
julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Pergunta-se: diante do fim do mandato o foro por prerrogativa de função
permanecerá? Aqui é importante que nos atentemos a alguns elementos.
9 Texto disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/processo-eleitoral-brasileiro/diplomacao-dos-eleitos/diplomacao-dos-candidatos-eleitos>
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Em regra, a existência de processo que corre no Supremo Tribunal Federal e o
posterior término do mandato, seguido da não reeleição do parlamentar, enseja a
remessa dos autos ao juízo comum (foro natural), visto a cessação do foro por
prerrogativa de função.
Contudo, há situações cuja remessa não será possível, continuando competente
o STF.
Quando do julgamento da Ação Penal nº 470, denominado caso mensalão,
deparou-se com a seguinte situação: determinado investigado, diante da iminente
condenação, renunciou ao cargo parlamentar, ensejando a remessa dos autos ao juízo
natural. Tal atitude fez com que o processo cessasse, vez que é comum que diante da
alteração de juízo novas diligências sejam feitas com o objetivo de esclarecer os fatos
aos novos julgadores.
Por conta disso, ficou estabelecido que a renúncia do parlamentar com o intuito
de retardar a sentença, aditando o processo, configura fraude. Nesses casos, ainda que
haja a renúncia, reina o Princípio da perpetuatio jurisdictionis, segundo o qual há a
perpetuação da jurisdição, qual seja, do STF, ainda que o indivíduo não mais exerça
função parlamentar.
Existe uma segunda exceção.
Visando a aplicação da Justiça e evitando a impunidade, fixou-se entendimento
no sentido de que findo o processo, isto é, já realizado o julgamento, somente restando
o proferimento de sentença, não há o que se falar em remessa ao juízo comum, ainda
que diante do fim do mandato, seguido da não reeleição.
Chegamos a uma conclusão, portanto. Somente haverá remessa para o juízo
comum/natural em dois casos: (1) diante do fim do mandato e posterior não reeleição,
vez que não tenha ocorrido o término do julgamento perante o STF e (2) quando a
renúncia ao cargo não visar retardar ou aditar o processo, isto é, quando a renúncia não
configurar fraude processual.
3.4.2.2.2. Imunidade para prisão (§2º)
Conforme dita o referido parágrafo: “Desde a expedição do diploma, os
membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.”
Portanto, em regra, não há o que se falar em prisão dos parlamentares, salvo
diante de flagrante de crime inafiançável.
Ainda que seja preso nesse caso, os autos são remetidos à Casa respectiva,
votando os parlamentares pela continuidade ou não da prisão. Trata-se de garantia pela
qual se protege a atividade parlamentar.
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Pergunta-se: diante de condenação do parlamentar é possível que haja sua
prisão? Segundo o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal, sim. Havendo
condenação transitada em julgado será o parlamentar preso normalmente.
Contudo, a perda do cargo não é automática. Apesar de o art. 52, VI, da
Constituição10 assim afirmar, entende o STF que a perda do mandato está atrelada à
votação feita pela Casa legislativa da qual faz parte.
3.4.2.2.3. Procedimento para investigação (§§ 3º a 5º)
É a disposição destes parágrafos:
Art. 53 da Constituição Federal. [...]
[...]
§3º. Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo
voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação.
§4º. O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no
prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa
Diretora.
§5º. A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o
mandato.
Pergunta-se: o processamento de parlamentar depende da autorização da Casa
Legislativa, bem como é o processamento do Presidente da República? À princípio, a
Constituição Federal dispunha nesse sentido. Contudo, posteriormente à publicação da
Emenda à Constituição nº 35/2001 não mais é necessário que haja autorização da Casa
Legislativa para o processamento de ação contra parlamentar.
Contudo, juntamente com a exclusão de tal regra a Emenda nº 35 adicionou os
parágrafos acima referidos, dando à Casa Legislativa a competência para, por meio do
voto positivo da metade desta, sustar o processo, suspendendo-se a prescrição, até que
o mandato termine.
Nesse caso, somente processar-se-á o parlamentar posteriormente ao término
do seu mandato.
3.4.3. Dos crimes praticados anterior ou posteriormente ao mandato
Com bastante clareza estabelece a Constituição no sentido de que as imunidades
somente constarão posteriormente à diplomação, encerrando-se com o término do
mandato.
10 Art. 55 da Constituição Federal. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: [...] VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
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Nesse sentido, não há o que se falar em imunidade em relação aos crimes
praticados anteriormente à diplomação, bem como posteriormente ao término do
mandato, pois, como vimos anteriormente, as imunidades estão atreladas ao cargo, e
não à pessoa do parlamentar.
3.4.4. Imunidade dos suplentes
Repetindo: as imunidades estão atreladas à função parlamentar, e não à pessoa
que a exerce. Por conta disso, quanto aos suplentes, somente recairão sobre eles as
imunidades quando titulares do cargo.
Caso contrário não há o que se falar em imunidades aos suplentes.
Da mesma forma ocorrerá quando o parlamentar se desligar do cargo com o
intuito de exercer função de outros cargos que ocupa, como Ministro de Estado11, por
exemplo. Nesse caso, enquanto no exercício das funções de Ministro de Estado, não
possuirá as imunidades parlamentares, somente as tendo quando do exercício das
funções parlamentares.
3.4.5. Imunidades parlamentares dos deputados estaduais e vereadores
As imunidades parlamentares, de certo modo, comunicar-se-ão aos deputados
estaduais e vereadores. Contudo, convém nos atentarmos a alguns elementos.
Quanto aos deputados estaduais, comunicar-se-ão as imunidades parlamentares
em sua totalidade, ou seja, gozarão das imunidades materiais e formais, bem como os
Deputados Federais12.
Os vereadores, contudo, somente possuirão as imunidades materiais13. Assim se
estabelece, visto que há entendimento no sentido de que não seria possível que a
Câmara dos Vereadores, enquanto parte da esfera municipal, viesse a suspender
processo que tramita em âmbito estadual. Entende-se ser desproporcional, portanto.
3.4.6. Perda do mandato
É a disposição do art. 55¸ caput, da Constituição Federal:
Art. 55, caput, da Constituição Federal. Perderá o mandato o
Deputado ou Senador:
I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo
anterior14;
11 Art. 56 da Constituição Federal. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador: I – investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Territórios, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou de chefe de missão diplomática temporária. 12 Art. 27, §1º, da Constituição Federal. Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. 13 Art. 29, VIII, da Constituição Federal. Inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município. 14 Art. 54 da Constituição Federal. Os Deputados e Senadores não poderão:
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II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro
parlamentar;
III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça
parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão
por esta autorizada;
IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta
Constituição;
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em
julgado.
Em alguns casos, como dito anteriormente, ainda que diante de condenação do
parlamentar, a perda do seu mandato somente ocorrerá posteriormente à votação da
Casa Legislativa respectiva.
A votação, nesse caso, deverá ser aberta, conforme estabelecer a Emenda à
Constituição nº 76/2013 (Emenda do Voto Aberto), em respeito ao Princípio da
Transparência. Nesse sentido é o art. 55, §2º, da Constituição Federal: “Nos casos dos
incisos I, II, e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo
Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de
partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.”
Além dos casos destacados na Constituição Federal, há um outro elemento
anômalo capaz de ensejar a perda do cargo, qual seja: “Perderá o mandato o detentor
de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito” (art.
22-A da Lei 9.096/95).
Nesse sentido, a própria lei estabelece quais são as ocasiões em que as
desfiliações ocorrem por justa causa, sendo elas: (1) mudança substancial ou desvio
reiterado do programa partidário; (2) grave discriminação política pessoal e; (3)
mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de
filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término
do mandato vigente.
I - desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior; II - desde a posse: a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas no inciso I, "a"; c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, "a"; d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.
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3.4.7. Ocasiões que não ensejam a perda do mandato
Segundo disposição do art. 56 da Constituição Federal, não configuram causas
de perda do mandato o Deputado ou Senador: (1) investido no cargo de Ministro de
Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de
Território, de Prefeitura da Capital ou chefe de missão diplomática temporária e (2)
licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração,
de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e
vinte dias por sessão legislativa.
3.5. CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito
3.5.1. Previsão
Tem como previsão o art. 58, §3º, da Constituição Federal, as Leis nos 1.579/52 e
10.001/2000, a Lei Complementar nº 105/2001, além das disposições contidas nos
Regimentos Internos de cada Casa Legislativa.
Nesse sentido, é a disposição do art. 58, §3º, da Constituição Federal: “As
comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas,
serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou
separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a
apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou
criminal dos infratores.”
3.5.2. Conceito
Entende-se por Comissão Parlamentar de Inquérito aquelas criadas
temporariamente, pelo Congresso Nacional, em conjunto, ou individualmente por cada
Casa, com o intuito de investigar fato certo e determinado de interesse nacional que se
entende ser ilegítimo, ilegal.
Vê-se materializada uma das funções do Poder Legislativo que mencionamos na
introdução de seu estudo, qual seja: a fiscalização e controle dos atos da Administração,
ou seja, do Poder Executivo.
Tanto o é que dispõe o art. 70, caput, da Constituição Federal: “A fiscalização
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades
da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,
aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional,
mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.”
3.5.3. Criação
São três os elementos que deverão ser observados quando da criação da CPI:
1) Aprovação por 1/3 dos membros da Casa;
2) Indicação de fato certo e determinado;
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3) Indicação de prazo certo.
Conforme aditou o art. 58, §3º, da Constituição Federal, acima referido, a
Comissão Parlamentar de Inquérito será criada a partir da votação positiva de 1/3 da
Casa ou do Congresso (a depender da espécie de CPI).
Quando das comissões em conjunto (mista ou simultânea), não se levará em
consideração o contingente total, sendo necessária a anuência de 1/3 de ambas as
Casas, separadamente. Ou seja, ainda que se trate de Comissão Conjunta, é necessário
que seja aprovada por 1/3 da Câmara dos Deputados e 1/3 do Senado Federal.
Convém informar, por fim, que é possível a criação de duas CPIs, uma em cada
Casas Legislativa.
3.5.4. Objeto
Como dito, é necessário que o prazo seja certo e determinado.
Nesse sentido, convém que transcrevamos o disposto no art. 35, §1º, do
Regimento Interno da Câmara dos Deputados: “Considera-se fato determinado o
acontecimento de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional,
legal, econômica e social do País, que estiver devidamente caracterizado no
requerimento de constituição da Comissão.”
Portanto, entende-se por certo e determinado o fato de relevante interesse
social, seja ele referente à vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e
social do País.
3.5.5. Prazo
É a disposição do art. 35, §3º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados:
“A Comissão, que poderá atuar também durante o recesso parlamentar, terá o prazo de
cento e vinte dias, prorrogável por até metade, mediante deliberação do Plenário, para
conclusão de seus trabalhos.”
Portanto, o prazo limite para a Comissão Parlamentar de Inquérito é 120 dias,
prorrogáveis por mais 60, com o intuito de concluir seus trabalhos.
3.5.6. Poderes
Conforme indicou o art. 58, §3º, da Constituição Federal, as Comissões
Parlamentares de Inquérito terão poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais.
Aqui, convém a observação do disposto no art. 36 do Regimento Interno da
Câmara dos Deputados:
Art. 36 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. A Comissão
Parlamentar de Inquérito poderá, observada a legislação específica:
I – requisitar funcionários dos serviços administrativos da Câmara,
bem como, em caráter transitório, os de qualquer órgão ou entidade da
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administração pública direta, indireta e funcional, ou do Poder Judiciário,
necessários aos seus trabalhos;
II – determinar diligências, ouvir indiciados, inquirir testemunhas sob
compromisso, requisitar de órgãos e entidades da administração pública
informações e documentos, requerer a audiência de Deputados e Ministros
de Estado, tomar depoimentos de autoridades federais, estaduais e
municipais, e requisitar os serviços de quaisquer autoridades, inclusive
policiais;
III – incumbir qualquer de seus membros, ou funcionários requisitados
dos serviços administrativos da Câmaras, da realização de sindicâncias ou
diligências necessárias aos seus trabalhos, dando conhecimento prévio à
Mesa;
IV – deslocar-se a qualquer ponto do território nacional para a
realização de investigações e audiências públicas;
V – estipular prazo para o atendimento de qualquer providência ou
realização de diligência sob as penas da lei, exceto quando da alçada de
autoridade judiciária;
VI – se forem diversos os fatos inter-relacionados objeto do inquérito,
dizer em separado sobre cada um, mesmo antes de finda a investigação dos
demais.
Parágrafo único. As Comissões Parlamentares de Inquérito valer-se-
ão, subsidiariamente, das normas contidas no Código de Processo Penal.
É possível, inclusive, que as CPIs solicitem informações de caráter sigiloso. Nesse
sentido é o art. 4º, §1º, da Lei Complementar nº 105/2001: “As comissões parlamentares
de inquérito, no exercício de sua competência constitucional e legal de ampla
investigação, obterão as informações e documentos sigilosos de que necessitarem,
diretamente das instituições financeiras, ou por intermédio do Banco Central do Brasil
ou da Comissão de Valores Mobiliários.”
Convém destacar, contudo, que há elementos cuja obtenção não poderá ocorre
mediante as CPIs, em decorrência do respeito ao postulado de reserva constitucional de
jurisdição. Este elemento indica que os poderes da CPIs não são absolutos, não podendo
transgredir e atingir atos de competência dos demais poderes, principalmente do Poder
Judiciário. Nesse sentido, são as palavras do Min. Celso de Mello, citado por Pedro
Lenza: “o postulado da reserva constitucional de jurisdição importa em submeter, à
esfera única de decisão dos magistrados, a prática de determinados atos cuja realização,
por efeito de explícita determinação constante do próprio texto da Carta Política,
somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive daqueles a quem se haja
eventualmente atribuído o exercício de ‘poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais’.” (MS 23.452)
Por isso, não é possível que as CPIs, por si só, realizem (1) diligências de busca
domiciliar, (2) quebra de sigilo das comunicações telefônicas (interceptação telefônica),
(3) deem ordem de prisão, salvo diante de flagrante delito, por falso testemunho, por
exemplo.
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3.5.7. Conclusão
Findas as investigações, criar-se-á relatório, o qual será enviado às autoridades
competentes para ajuizar ação. Portanto, finalizadas as investigações, enviar-se-á o
relatório ao Ministério Público que, avaliando os elementos constantes, ajuizará ação
contra os investigados.
3.6. Processo legislativo/legiferante
3.6.1. Introdução
Segundo Pedro Lenza, o processo legislativo consiste nas regras procedimentais,
constitucionalmente previstas, para a elaboração das espécies normativas, regras estas
a serem criteriosamente observadas pelos “atores” envolvidos no processo.
É a disposição do art. 59 da Constituição Federal:
Art. 59 da Constituição Federal. O processo legislativo compreende a
elaboração de:
I – emendas à Constituição;
II – leis complementares;
III – leis ordinárias;
IV – leis delegadas;
V – medidas provisórias;
VI – decretos legislativos;
VII – resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,
redação, alteração e consolidação das leis.
Trata-se da série de regras segundo as quais, como dito, os legisladores deverão
crias as normas que incorporam o Ordenamento Jurídico. Mostra-se importante, pois
caracteriza-se pelo primeiro meio de controle de constitucionalidade realizado, qual
seja, o controle preventivo feito pelo Poder Legislativo, sem o qual a norma é
considerada formalmente inconstitucional.
Antes de nos profundarmos no processo legislativo, convém mencionar que cada
objeto normativo possui o seu próprio procedimento de criação, o qual será por nós
minuciado.
Numa visão geral, são as fases do procedimento legislativo:
1) Iniciativa;
2) Discussão;
3) Deliberação;
4) Aprovação/sanção;
5) Promulgação;
6) Publicação.
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De início, trataremos da criação das leis ordinárias e complementares, haja vista
incorporarem todas as fases do processo legislativo. Sendo o estudo inicial, traremos
informações minuciosas acerca de cada fase. Por isso, as demais disposições normativas
possuirão explicação menos aprofundada, somente se levando em consideração os
principais pontos.
3.6.2. Lei ordinária e lei complementar
3.6.2.1. Introdução
Inicialmente, convém que diferenciemos estar duas modalidades normativas
que compõem o Ordenamento Jurídico.
A Lei Complementar, conforme aduz Gilmar Mendes, apenas se estende àquelas
situações para as quais a própria Constituição exigiu – de modo expresso e inequívoco
– a edição dessa qualificada espécie de caráter legislativo.”
O próprio artigo que elenca os documentos normativos é um exemplo disso
quando indica em seu parágrafo único: “Lei complementar disporá sobre a elaboração,
redação, alteração e consolidação das leis.”
A Lei Ordinária, por outro lado, deverá ser criada justamente no caso contrário,
isto é, quando a Constituição determinada que o assunto dever ser especificado em lei,
porém não determina ser ela complementar. Nesses casos, tratar-se-á de lei ordinária.
É exemplo o art. 7º, IV, segundo o qual: “São direitos dos trabalhadores urbanos
e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] IV – salário
mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,
vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim.”
● ● ● ●
Outra diferença que podemos notar é em relação ao quórum para aprovar a lei.
Enquanto na Lei Complementar se exige a aprovação por maioria absoluta, as Leis
Ordinárias serão aprovadas pelo voto positivo da maioria simples.
Em decorrência disso, inclusive, há posicionamento doutrinário no sentido de
designar estas leis como sendo divergentes hierarquicamente. Esse entendimento,
contudo, é errôneo, posto que ambas ocupam a mesma posição diante da pirâmide de
Kelsen do Ordenamento Jurídico brasileiro.
3.6.2.2. Iniciativa
Entende-se por iniciativa, segundo conceituação do Dicionário Jurídico
Acquaviva: “Ato que inaugura o processo legislativo, sendo prerrogativa dos órgãos
competentes, nos termos da Constituição Federal.”
Partindo desse pressuposto, convém que identifiquemos a quem pertence a
prerrogativa de propor a criação de Lei Complementar e Lei Ordinária.
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Nesse sentido, é a disposição do art. 61, caput, da Constituição Federal:
Art. 61, caput, da Constituição Federal. A iniciativa das leis
complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao
Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais
Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos
casos previstos nesta Constituição.
São, portanto, os competentes para intentar na criação de Lei Ordinária e Lei
Complementar, levando-se em consideração alguns comentários precisos sobre cada
legitimado:
1) Qualquer membro ou Comissão da:
a. Câmara dos Deputados;
b. Senado Federal;
c. Congresso Nacional.
2) Presidente da República:
Quanto ao Presidente da República, importante destacar o referido no §1º do
art. 61 da Constituição Federal:
Art. 61, §1º, da Constituição Federal. São de iniciativa privativa do
Presidente da República as leis que:
I – fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II – disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração
direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e
orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios;
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico,
provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União,
bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da
Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI;
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de
cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para
a reserva.
3) Supremo Tribunal Federal;
4) Tribunais Superiores;
5) Procurador-Geral da República;
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6) Cidadãos:
Aqui, importante tratarmos do que dispõe a lei quando cita: “na forma e nos
casos previstos nesta Constituição.”
Faz-se referência à denominada iniciativa popular, um dos elementos segundo
os quais a população exibe a soberania estabelecida no art. 1º, parágrafo único, da
Constituição Federal, segundo o qual: “Todo poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Nesse sentido, estabelece o art. 14 da Constituição Federal:
Art. 14 da Constituição Federal. A soberania popular será exercida
pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para
todos, e, nos termos da lei, mediante:
[...]
III – iniciativa popular.
Quanto às regras segundo as quais a iniciativa popular deverá ocorrer, afirma o
art. 61, §2º, da Constituição Federal:
Art. 61, §2º, da Constituição Federal. A iniciativa popular pode ser
exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei
subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído
pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos
eleitores de cada um deles.
Portanto, são as regras da iniciativa popular:
a) Apresentação à Câmara dos Deputados;
b) Projeto subscrito por, no mínimo:
i. 1% do eleitorado nacional;
ii. Distribuído por, pelo menos, cinco Estados;
iii. Referente a, no mínimo, 3/10% (0,3%) do eleitorado de cada Estado em
que houve assinaturas.
Lembrando, por fim, que tais regras condizem com a iniciativa popular de Lei
Federal. Tratando-se de Lei Estadual ou Municipal, observar-se-á o disposto nos arts. 27,
§4º15, e 29, XIII, da Constituição Federal16.
● ● ● ●
15 Art. 27, §4º, da Constituição Federal. A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. 16 Art. 29 da Constituição Federal. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, a aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: [...] XIII – iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado.
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A iniciativa, em regra, deverá ser apresentada diante da Câmara dos Deputados,
somente não se procedendo desta forma, caso a iniciativa parta de (1) Senador, (2)
Poder Judiciário ou (3) Procuradoria-Geral da República, ocasião em que deverá ser
apresentada ao Senado Federal.
De qualquer modo, a Casa na qual iniciar o projeto de lei será denominada de
casa iniciadora, enquanto a outra, local em que será realizada parte da discussão do
projeto, como veremos, será denominada casa revisora.
3.6.2.3. Discussão
Como o próprio nome revela, trata-se da fase na qual o projeto apresentado
quando da iniciativa é discutido entre os parlamentares, mais precisamente diante das
Comissões Legislativas.
As Comissões Legislativas poderão ser criadas com o intuito de discutir lei
específica ou podem constituir turmas fixas no Congresso Nacional.
Segundo disposição da própria Câmara dos Deputados:
O Congresso Nacional é composto de duas Casas: Câmaras dos
Deputados e Senado Federal. Cada uma dessas casas possui Comissões
Parlamentares, Permanentes ou Temporárias, com funções legislativas e
fiscalizadoras, na forma definida na Constituição Federal e nos seus
Regimentos Internos. No cumprimento dessas duas funções básicas, de
elaboração das leis e de acompanhamento das ações administrativas, no
âmbito do Poder Executivo, as Comissões promovem, também, debates e
discussões com a participação da sociedade em geral, sobre todos os temas e
assuntos de seu interesse.
São exemplos de Comissão Parlamentar a Comissão de Constituição e Justiça e
de Cidadania, Comissão de Direitos Humanos e Minorias, Comissão de Educação etc. Ao
todo são 22 comissões permanentes na Câmara dos Deputados e 12 no Senado Federal.
Nada impede, contudo, que se formem Comissões Mistas, isto é, formadas, ao mesmo
tempo, por Deputados e Senadores.
Segundo Pedro Lenza:
Basicamente, o projeto deverá ser visto, em primeiro lugar, por uma
comissão temática, que analisará a matéria da proposição, e, em seguida,
pela Comissão de Constituição e Justiça, que examinará, dentre outros
aspectos, a sua constitucionalidade (cf., por exemplo, a previsão dessa ordem
nos termos do art. 53 do RICD17).
17 Art. 53 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Antes da deliberação do Plenário, ou quando esta for dispensada, as proposições, exceto os requerimentos, serão apreciadas: I – pelas Comissões de mérito a que a matéria estiver afeta; II – pela Comissão de Finanças e Tributação, para o exame dos aspectos financeiro e orçamentário públicos, quanto à sua compatibilidade ou adequação com o plano plurianual, a lei de diretrizes orçamentárias e o orçamento anual, e para o exame do mérito, quando for o caso;
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Enfim, trata-se da fase mais morosa do procedimento legislativo, visto que tem
como objetivo o aperfeiçoamento do projeto, bem como a correção de possíveis erros
ou vícios contidos em seu teor.
Revisemos: em que Casa iniciará o projeto? Em regra, na Câmara dos Deputados,
salvo quando o projeto for proposto por Senador, Poder Judiciário ou Procurador-Geral
da República.
Nessa etapa, a casa iniciadora realiza suas discussões, enviando o projeto para a
casa revisora. Diante da casa revisora é possível a aceitação do teor projeto na íntegra,
bem como é possível a supressão, adição ou modificação de dispositivos por meio de
emenda.
Havendo emendas, é necessário que o projeto retorne à casa iniciadora, pois é
imprescindível que ambas as Casas aprovem o projeto de lei na mesma condição.
Retornando à casa iniciadora são iguais os possíveis posicionamentos, isto é,
aprovação, supressão, adição ou modificação por meio de emendas. Novamente,
havendo emendas, deverá o projeto ser remetido a outra casa e assim por diante.
3.6.2.4. Votação
Entende-se por votação o momento em que o projeto de lei previamente
aprovado pelas Comissões Legislativas é apresentado ao Pleno de cada Casa, devendo
cada parlamentar manifestar-se acerca da aceitação ou não do prosseguimento do
processo legislativo.
Como dito quando da introdução dessas leis, informamos que aqui há uma
divergência entre Lei Complementar e Lei Ordinária, haja vista possuírem quórum de
aprovação diverso.
Em se tratando de Lei Complementar o quórum de aprovação deve ser a maioria
absoluta; entretanto, em se tratando de Lei Ordinária o quórum de aprovação é a
maioria simples.
Havendo a rejeição do projeto o mesmo será arquivado, somente sendo possível
nova votação na sessão legislativa seguinte. Conforme dispõe o Senado Federal: “A
sessão legislativa ordinária é o período de atividade normal do Congresso a cada ano,
de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.”
III – pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, para o exame dos aspectos de constitucionalidade, legalidade, juridicidade, regimentalidade e de técnica legislativa, e, juntamente com as comissões temáticas, para pronunciar-se sobre o seu mérito, quando for o caso; IV – pela Comissão Especial a que se refere o art. 34, inciso II, da pronunciar-se quanto à admissibilidade jurídica e legislativa e, quando for o caso, a compatibilidade orçamentária da proposição, e sobre o mérito, aplicando-se em relação à mesma o disposto no artigo seguinte.
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3.6.2.5. Aprovação/sanção
Afirma o art. 66, caput, da Constituição Federal: “A Casa na qual tenhas sido
concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que,
aquiescendo, o sancionará.
Portanto, aprovado nas Casas do Congresso Nacional, o projeto de lei será
remetido ao Presidente da República, o qual terá as seguintes opções: (1) sancionar ou
(2) vetar o projeto de lei.
A sanção poderá ocorrer de duas formas, quais sejam: (1) expressa ou (2) tácita.
Recebido o projeto de lei, terá o Presidente da República 15 dias úteis para se
manifestar. Manifestando-se e sancionando a lei nesse período estaremos diante da
sanção expressa. Contudo, transcorridos os 15 dias sem a manifestação do Presidente
da República, considerar-se-á a lei sancionada tacitamente. Na mesma toada é o art. 66,
§3º, da Constituição Federal: “Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente
da República importará sanção.”
Pergunta-se: a sanção presidencial é capaz de corrigir vício de iniciativa? Por
exemplo, em se tratando de assunto de competência privativa do Presidente da
República, caso a iniciativa parta de Deputado, por exemplo, a sanção do mesmo é
suficiente para afastar o vício? A resposta é não! A sanção presidencial não apresenta
força para afastas vício de projeto de lei. Nessa ocasião, tratar-se-ia de projeto
natimorto.
Por outro lado, poderá o Presidente da República vetar o projeto de lei. Nesse
sentido, convém elencarmos os §§ 1º e 2º da Constituição Federal:
Art. 66 da Constituição Federal. [...]
§1º. Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em
parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente
do Senado Federal os motivos do veto.
§2º. O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de
parágrafo, de inciso ou de alínea.
Portanto, o veto deverá ser sempre expresso, podendo abranger o projeto de lei
total ou parcialmente. Sendo parcial, somente poderá englobar o texto completo de
determinado artigo, parágrafo, inciso ou alínea, ou seja, não poderá haver veto de
trechos ou de palavras isoladas.
São duas as espécies de veto, a depender da justificativa, quais sejam: (1) veto
político ou (2) veto jurídico.
O veto político se refere ao não interesse público quanto à matéria contida no
projeto de lei. Por outro lado, o veto jurídico destaca a existência de
inconstitucionalidade, seja formal ou material, do projeto de lei.
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Convém informar que necessariamente o Presidente da República deverá indicar
os motivos pelos quais vetou o projeto de lei, parcial ou totalmente. O veto desmotivado
acarreta na inexistência do mesmo, ocasião na qual será considerada a ocorrência da
sanção tácita.
Feito o veto, deverá o Presidente da República, em até 48h, remeter ao
Presidente do Senado Federal os motivos pelos quais vetou o projeto de lei. Aqui, deverá
ocorrer sessão conjunta do Congresso Nacional em até 30 dias a contar do recebimento
do veto, ocasião na qual será votada a manutenção ou a derrubada do veto.
Mantendo-se o veto, o projeto de lei será arquivado. Do contrário, ou seja,
derrubando-se o veto, situação que ocorre com o voto da maioria absoluta, sancionada
estará a lei, partindo para a promulgação e publicação, que deverão ocorrer em até 48
horas.
Importante ressaltar o momento no qual será feita a votação para derrubada ou
manutenção do veto, qual seja, 30 dias do recebimento do veto. Transcorrido o prazo
sem que haja a deliberação, deverá o veto ser votado na sessão imediata, prorrogados
os demais assuntos em pauta.
É a disposição dos §§ 4º a 6º da Constituição Federal:
Art. 66 da Constituição Federal. [...]
[...]
§4º. O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a
contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria
absoluta dos Deputados e Senadores.
§5º. Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para
promulgação, ao Presidente da República.
§6º. Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no §4º, o veto
será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais
proposições, até sua votação final.
3.6.2.6. Promulgação
De acordo com o Dicionário Jurídico Acquaviva: “Etapa da elaboração da lei que
atesta, oficialmente, a existência desta. A promulgação patenteia a existência da lei, com
a ordem de seu cumprimento.”
Trata-se, portanto, do nascimento da lei, segundo o qual deixa de ser projeto de
lei para se tornar, efetivamente, Lei.
3.6.2.7. Publicação
Segundo o mesmo Dicionário: “Meio oficial estabelecido para possibilitar o
conhecimento da lei por todos. Publicada, a obediência a seus ditames torna-se
obrigatória para a comunidade, pois ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando
seu desconhecimento (LINDB: arts, 1º, caput, e 3º).”
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Pergunta-se: de que forma a lei será publicada a ponto de passar a ser conhecida
por todos? Por óbvio, impossível que a lei passe a ser conhecida por todos, de modo que
a sua publicação é feita por meio ficto, qual seja, a pública por meio do Diário Oficial da
União.
Por fim, compete a nós informar que a lei somente entrará em vigor na data de
sua publicação se assim determinado em seu próprio texto. Contudo, é comum que as
leis de maior impacto na sociedade apresentem a denominada vacatio legis, período no
qual ainda não surte efeitos. Ex.: o Código Civil de 2002, em que pese publicado no dia
10 de janeiro de 2002, somente veio a gerar efeitos um ano depois, em virtude do
disposto em seu art. 2.044.
3.6.3. Emendas à Constituição
3.6.3.1. Introdução
Como já vimos em resumos passados, a Constituição é, nas palavras de Sieyès,
produto do poder constituinte originário, que gera e organiza os poderes do Estado (os
poderes constituídos), sendo, até por isso, superior a eles.
Nesse sentido, a alteração do texto constitucional (e somente parcela dele,
vedada a alteração das denominadas cláusulas pétreas, como veremos adiante)
somente se dará através do denominado Poder Constituinte Derivado. Tal poder é
justamente o responsável pelas alterações e adequações do texto constitucional.
Sendo derivado, importante notarmos algumas divergências entre eles:
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO PODER CONSTITUINTE DERIVADO
Inicial – atrelado à origem do ordenamento jurídico, caracterizando o ponto inicial da constituição do direito
Derivado – decorre da própria Constituição e, anteriormente, do Poder
Constituinte Originário
Autônomo – uma vez que está atrelado à origem do Direito, não está limitado por barreira alguma, sendo livre para a
criação de normas de qualquer natureza
Não autônomo – sendo derivado, deve respeitar o produzido pelo Poder
Constituinte Originário, não sendo possível que realize qualquer alteração
no texto constitucional
Incondicionado – não está atrelado a nada, possuindo, como visto, autonomia
para criar
Condicionado – está atrelado ao já existente texto constitucional, não sendo
possível que o desrespeite
3.6.3.2. Legislação
As disposições referentes às emendas à Constituição estão dispostas no art. 60
da Carta Magna.
3.6.3.3. Iniciativa
É a disposição do art. 60, caput, da Constituição Federal:
Art. 60, caput, da Constituição Federal. A Constituição poderá ser
emendada mediante proposta:
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I – de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados
ou do Senado Federal;
II – do Presidente da República;
III – de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da
Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.
Portanto, são competentes para proporem alterações ao texto constitucional:
a) Um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal;
b) Presidente da República;
c) Mais da metade das Assembleias Legislativas Estaduais (manifestação da
maioria relativa de seus membros).
3.6.3.4. Discussão e votação
Estipula o art. 60, §2º, da Constituição Federal: “A proposta será discutida e
votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada
se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.”
Seguir-se-á o mesmo procedimento de discussão já explicado por nós (vide
tópico 3.6.2.3).
Quanto à votação, deverá ocorrer por duas vezes nas duas Casas (Câmara dos
Deputados e Senado Federal), dependendo a aprovação do voto positivo de, no mínimo,
2/3 dos parlamentares, em cada votação. É o famoso: “dois terços, nas duas Casas, por
3/5 dos votos”.
Nota-se diante da votação e aprovação da Emenda à Constituição o caráter rígido
de nossa Constituição, haja vista a incorporação de procedimento extremamente
complexo e complicado para que se altere o texto constitucional.
Pergunta-se: é possível que o projeto de emenda à constituição (PEC) seja
emendado pelos parlamentares quando da discussão? Segundo Pedro Lenza: “O
entendimento é que sim, desde que respeitado o quorum constitucional, ou seja, desde
que a emenda apresentada tenha sido subscrita por no mínimo 1/3 dos parlamentares
e não incida nas vedações constitucionais (nesse sentido, cf. art. 202, §3º, do RICD18 e
art. 356, parágrafo único, do RISF19).”
18 Art. 202, §3º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Somente perante a Comissão Especial poderão ser apresentadas emendas, com o mesmo quorum mínimo de assinaturas de Deputados e nas condições referidas no inciso II do artigo anterior, nas primeiras dez sessões do prazo que lhe está destinado para emitir parecer. 19 Art. 356, parágrafo único, do Regimento Interno do Senado Federal. O parecer da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania que concluir pela apresentação de emenda deverá conter assinaturas de Senadores que, complementando as dos membros da Comissão, compreendam, no mínimo, um terço dos membros do Senado.
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3.6.3.5. Aprovação
Como dissemos quando da introdução do estudo do processo legislativo,
informamos que há elementos normativos cujo procedimento é reduzido, isto é, não
apresente determinada etapa do procedimento completo.
É o que ocorre aqui. Aprovada pelas Casas do Congresso Nacional, o Projeto de
Emenda à Constituição não passará pelo crivo do Presidente da República, partindo
diretamente para a promulgação e publicação.
Tal raciocínio se constituiu, tendo em vista que o procedimento complexo pelo
qual a alteração do texto constitucional passa não poderia ser barrado pela mera
decisão do Presidente da República.
3.6.3.6. Promulgação e publicação
Ocorrerão em conformidade com o já explicado – vide tópicos 3.6.2.6 e 3.6.2.7.
Importante, contudo, mencionar o disposto no §3º do art. 60 da Constituição
Federal, segundo o qual: “A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.”
3.6.3.7. Limitações ao poder de emenda
São três as limitações ao poder de emenda, sendo o esquema que precederá a
explicação:
Limitações
Expressas ou explícitas
Formais ou procedimentais
Circunstanciais
Materiais
Temporais Art. 174 da CF/1824
Implícitas
Vedação à alteração do estipulado pelo
PCO
Impossibilidade de alteração do titular
do PCO
Impossibilidade de alteração do titular
do PCDR
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3.6.3.7.1. Limitações expressas ou explícitas
As limitações expressas ou explícitas se dividem em três elementos, quais sejam:
(1) elementos formais ou procedimentais; (2) circunstâncias; (3) elementos materiais.
a) Elementos formais ou procedimentais:
Por óbvio, não é possível a promulgação e publicação de emenda à Constituição
que desrespeite o procedimento legislativo acima exposto.
b) Circunstâncias:
Segundo disposição do art. 60, §1º, da Constituição Federal: “A Constituição não
poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de
estado de sítio.”
c) Elementos materiais:
Caracterizam-se pelas denominadas cláusulas pétreas, presentes através do art.
60, §4º, da Constituição Federal:
Art. 60, §4º, da Constituição Federal. Não será objeto de deliberação
a proposta de emenda tendente a abolir:
I – a forma federativa de Estado;
II – o voto direto, secreto, universal e periódico;
III – a separação dos Poderes;
IV – os direitos e garantias individuais.
Recomendo a leitura do título Cláusulas Pétreas, disposto no primeiro resumo
de Direito Constitucional.
Importante esclarecer que o Poder Constituinte Originário estipulou tais
vedações com o intuito de preservar os fundamentos segundo os quais a Constituição
Federal é moldada.
3.6.3.7.2. Limitação temporal
Entende-se por limitação temporal a vedação de alteração do texto legal por
determinado período. Curioso é que a atual Constituição não apresenta qualquer
disposição nesse sentido, somente estipulando, através do art. 3º da ADCT20, a
realização de revisão constitucional 5 anos após a promulgação da Constituição,
tratando-se, portanto, de norma de eficácia exaurida.
A única disposição expressa desta limitação esteve presente na Constituição
Imperial de 1824, aduzindo o seu art. 174: “Se passados quatro annos, depois de jurada
a Constituição do Brazil, se conhecer, que algum dos seus artigos merece roforma, se
20 Art. 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.
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fará a proposição por escripto, a qual deve ter origem na Camara dos Deputados, e ser
apoiada pela terça parte delles.”
3.6.3.7.3. Limitações implícitas
São três as limitações implícitas às emendas à Constituição: (1) vedação à
alteração do estipulado pelo Poder Constituinte Originário; (2) impossibilidade de
alteração do titular do Poder Constituinte Originário; (3) impossibilidade de alteração
do titular do Poder Constituinte Derivado Reformador.
a) Vedação à alteração do estipulado pelo Poder Constituinte Originário:
Discute-se aqui a possibilidade da denominada dupla revisão, defendida pelo
doutrinador Jorge Miranda. Segundo doutrinador, bastaria que houvesse emenda à
Constituição que alterasse o disposto no art. 60, §4º, da Constituição Federal, acabando
com as cláusulas pétreas, e numa segunda emenda, alterar-se-ia o elemento
pretendido.
A grande maioria dos doutrinadores, no entanto, entende que tal teoria é
inviável, justamente em decorrência da existência das limitações implícitas.
b) Impossibilidade de alteração do titular do Poder Constituinte Originário:
Não é possível que emenda à Constituição estipule que o Poder Constituinte
Originário passará a ser exercido por entidades diversas, ou seja, não é possível que haja
emenda à Constituição no sentido de transferir ao Poder Legislativo, por exemplo, o
poder referente à criação/alteração dos preceitos fundamentais da Constituição
Federal.
c) Impossibilidade de alteração do titular do Poder Constituinte Derivado
Reformador:
Da mesma forma que o anteriormente explicado ocorrerá em relação ao Poder
Constituinte Derivado Reformador, responsável pela revisão do texto constitucional
através das emendas à Constituição.
3.6.4. Medidas provisórias
3.6.4.1. Introdução
As medidas provisórias resumem-se por atos normativos criados pelo Presidente
da República como meio eficaz e veloz de aplicar providências temporalmente
imprescindíveis, sem que, contudo, seja necessária a execução do procedimento
legislativo comum.
Dessa forma, importante ressaltar que não se trata de lei, haja vista ser ato
normativo excepcional criado exclusivamente pelo Presidente da República, não
passando, portanto, pelo crivo do Poder Legislativo.
Não transpassando pelo procedimento legiferante, produzem efeitos imediatos
à sua promulgação e publicação.
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Segundo Gilmar Mendes, são dois os grandes efeitos da medida provisória:
A medida provisória produz, ao ser editada, dois efeitos básicos: inova
a ordem jurídica imediatamente e provoca o Congresso Nacional a deliberar
sobre o assunto.
Uma vez publicada a medida provisória, entende-se ser demonstrada a
importância da matéria, incentivando o Poder Legislativo a se mobilizar no sentido de
criar disposição legal no mesmo sentido.
3.6.4.2. Procedimento
3.6.4.2.1. Criação
Como dito, as medidas provisórias não passam pelo procedimento legiferante
comum, haja vista serem atos normativos criados e editados exclusivamente pelo
Presidente da República21.
Ainda assim, há regras segundo as quais a medida provisória deve passar. Nesse
sentido, é a disposição do art. 62, caput, da Constituição Federal:
Art. 62, caput, da Constituição Federal. Em caso de relevância e
urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com
força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
Portanto, são os pressupostos: (1) relevância e (2) urgência. Convém
informarmos que existe um terceiro pressuposto implícito, (3) a constitucionalidade da
matéria contida na medida provisória.
3.6.4.2.2. Apreciação pelo Congresso Nacional
3.6.4.2.2.1. Apreciação das Casas
Editada a medida provisória, deverá o Presidente da República enviá-la ao
Congresso Nacional, o qual deverá analisá-la em até 60 dias, sendo possível que a
converta em lei. Logo, o prazo de vigência da medida provisória, inicialmente, é de 60
dias.
A análise deverá ser feita em comissão mista do Congresso Nacional22, da qual
resultará na emissão de um parecer. O parecer é levado ao pleno de cada uma das Casas,
sendo a sua aprovação, e conversão em lei, ou prorrogação do prazo confirmadas pelo
voto positivo da maioria simples de cada Casa.
Portanto, diante da análise do Congresso, é possível que a vigência da mesma
seja estendida por mais 60 dias, totalizando uma vigência de 120 dias.
21 Art. 84 da Constituição Federal. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] XXVI – editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62. 22 Art. 62, §9º, da Constituição Federal. Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional.
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Nesse sentido é o §7º do art. 62 da Constituição, segundo o qual: “Prorrogar-se-
á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de
sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas
Casas do Congresso Nacional.”
Convém informar que alcançado o 45º dia da publicação da medida provisória e
não tendo ocorrido a análise perante o Congresso Nacional, a mesma entrará no
denominado regime de urgência. Diante de tal regime, a discussão da medida provisória
torna-se prioridade, prorrogando-se a análise dos demais projetos.
3.6.4.2.2.2. Aprovação
O Congresso Nacional poderá aprovar a medida provisória com ou sem alteração
de seu texto.
Aprovada sem alterações, será remetida ao Presidente da República para que a
promulgue e a publique.
Por outro lado, aprovada a medida com alterações, deverá o Congresso Nacional
criar projeto de lei referente à mesma. Nesse caso, a medida provisória permanecerá
vigente até que a lei seja sancionada ou vetada pelo Presidente da República, salvo em
relação aos dispositivos alterados. Esses, segundo disposição do §3º (infra), perderão
seus efeitos.
Nesse sentido é o §12 do art. 62 da Constituição Federal: “Aprovado o projeto
de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á
integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.”
3.6.4.2.2.3. Rejeição
São duas as possíveis rejeições do Congresso Nacional, quais sejam: (1) rejeição
tácita – ocasião em que se transcorrerá o prazo sem a apreciação da medida – ou (2)
rejeição expressa – quando a rejeição se der mediante votação das Casas.
Convém informar que a não apreciação nos primeiros 60 dias enseja a
prorrogação automática por mais 60 dias. Não apreciado nesse período (120 dias) será
considerada rejeitada tacitamente.
Diante da rejeição da medida provisória (expressa) ou da perda de seus efeitos
(tácita), deverá o Congresso Nacional criar instrumento normativo com o intuito de
regular o período em que se manteve vigente, revertendo-o ao status quo ante.
É a disposição do §§ 3º e 11 do art. 62 da Constituição Federal:
Art. 62 da Constituição Federal. [...]
[...]
§3º. As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12
perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo
de sessenta dias, prorrogável, nos termos do §7º, uma vez por igual período,
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devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações
jurídicas dela decorrentes.
[...]
§11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o §3º até
sessenta dias após a rejeição ou perda da eficácia de medida provisória, as
relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua
vigência conservar-se-ão por ela regidas.
Por fim, se rejeitada, não é possível nova proposta da mesma medida diante da
mesma sessão legislativa. Contudo, nada impede que seja proposta nova medida de teor
idêntico na próxima sessão legislativa.
É o teor do §10 do art. 62 da Constituição: “É vedada a reedição, na mesma
sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido
sua eficácia por decurso de prazo.”
3.6.4.3. Princípio da tributação inominada
É concretizado através do art. 62, §2º, da Constituição Federal, segundo o qual:
“Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto dos
previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro
seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.”
Portanto, tratando-se de medida provisória cuja matéria seja tributária, somente
entrará em vigor no exercício financeiro seguinte, se convertida em lei.
3.6.4.4. Vedações
Afirma o art. 62, §1º, da Constituição Federal:
Art. 62, §1º, da Constituição Federal. É vedada a edição de medidas
provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e
direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e
a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos
adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, §3º;
II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular
ou qualquer outro ativo financeiro;
III – reservada a lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso
Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
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3.6.5. Lei delegada
3.6.5.1. Introdução
Quando introduzimos este resumo, citamos o denominado princípio da
indelegabilidade das funções, segundo o qual fica vedado que elementos referentes às
funções típicas de cada poder sejam delegados a outro Poder. Estamos diante de uma
exceção a esta regra, haja vista que a lei delegada é elemento normativo originalmente
de competência do Poder Legislativo, porém é criada pelo Presidente da República, após
prévia solicitação deste àquele, havendo, por óbvio, a aprovação pelo Congresso
Nacional.
Nesse sentido, é a disposição do art. 68, caput, da Constituição Federal: “As leis
delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a
delegação ao Congresso Nacional.”
3.6.5.2. Procedimento
Como dito, deverá o Presidente da República solicitar ao Congresso Nacional
autorização para que edite lei sobre determinada matéria de competência do Poder
Legislativo. Nesse sentido, não é obrigado o Congresso Nacional a aceitar tal solicitação,
vez que, originalmente, o Presidente da República não é competente para tanto.
Contudo, para que aceite o pedido, deverá observar o disposto no §2º do art. 68
da Constituição, segundo o qual: “A delegação ao Presidente da República terá a forma
de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu
exercício.”
Importante ressalvar que a apreciação do Congresso Nacional quanto ao teor da
lei é facultativa, haja vista que deve constar da resolução a opção do Congresso em
analisá-la ou não. Nesse sentido é o §3º: “Se a resolução determinar a apreciação do
projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer
emenda.”
Por esse motivo, há de se reconhecer duas espécies de delegação, quais sejam:
(1) delegação típica – na qual o Congresso Nacional não realiza qualquer averiguação
em relação à lei – e (2) delegação atípica – em que o Congresso Nacional analisa o
projeto de lei, fazendo-o em votação única, não sendo possível, contudo, que crie
emendas.
Por fim, importante o comentário de Pedro Lenza:
Havendo exorbitância nos limites da delegação legislativa (ou seja,
caso o Presidente da República elabore a lei delegada além do limite fixado
na resolução congressual), caberá ao Congresso Nacional sustar o aludido ato
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normativo, por meio de decreto legislativo, realizando, desta feita, controle
repressivo de constitucionalidade (art. 49, V23).
3.6.5.3. Vedações
Dispõe o art. 68, §1º, da Constituição Federal:
Art. 68, §1º, da Constituição Federal. Não serão objeto de delegação
os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência
privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria
reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
I – organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira
e a garantia de seus membros;
II – nacionalidade, cidadania, diretos individuais, políticos e eleitorais;
III – planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
3.6.6. Decretos e resoluções legislativas
Conforme é a disposição dos arts. 108 e 109, II e III, do Regimento Interno da
Câmara dos Deputados:
Art. 108 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. A Câmara
dos Deputados exerce sua função legislativa por via de projeto de lei ordinária
ou complementar, de decreto legislativo ou de resolução, além da proposta
de emenda à Constituição.
Art. 109 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Destinam-
se os projetos:
[...]
II – de decreto legislativo a regular as matérias de exclusiva
competência do Poder Legislativo, sem a sanção do Presidente da República;
III – de resolução a regular, com eficácia de lei ordinária, matérias da
competência privativa da Câmara dos Deputados, de caráter político,
processual, legislativo ou administrativo, ou quando deva a Câmara
pronunciar-se em casos concretos como:
a) perda de mandato de Deputado;
b) criação de Comissão Parlamentar de Inquérito;
c) conclusões de Comissão Parlamentar de Inquérito;
d) conclusões de Comissão Permanente sobre proposta de fiscalização
e controle;
e) conclusões sobre as petições, representações ou reclamações da
sociedade civil;
f) matéria de natureza regimental;
23 Art. 49 da Constituição Federal. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: [...] V – sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa.
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g) assuntos de sua economia interna e dos serviços administrativos.
Resumidamente, é a distinção entre os atos normativos:
Em se tratando de decretos legislativos, configura-se por instrumento normativo
por meio do qual se disporá as matérias referentes à competência exclusiva do
Congresso Nacional, sem que, para tanto, seja necessária a sanção presidencial. Convém
informar que tratarão de assuntos predominantes externos, isto é, que envolvam
determinada interação com os demais poderes. Além disso, como visto quando do
estudo das medidas provisórios, será por meio de decreto legislativo que o Congresso
Nacional fará retornar ao status quo ante a situação alterada durante a vigência das
medidas provisórias rejeitadas.
Por outro lado, tratando-se de resolução legislativa, incorporarão matérias de
competência privativa da Câmara, do Senado ou do Congresso Nacional, sem que, da
mesma forma, seja necessária a sanção presidencial. Contudo, diferentemente do ato
normativo acima exposto, tratarão, em sua maioria, de assuntos internos de cada Casa
ou do Congresso Nacional.
4. Poder Judiciário 4.1. Introdução
O Poder Judiciário, diferentemente dos demais Poderes, apresenta maior
autonomia e poder de decisão, tendo em vista que aquilo que por ele é proferido não
pode ser transpassado e considerado nulo pelos demais Poderes. Isso, contudo, vem
acarretando no surgimento da denominada supremocracia, entendendo-se assim a
atividade exercida pelo Judiciário, principalmente pelo Supremo Tribunal Federal, no
sentido de proferir acórdãos que, em tese, violariam a Autonomia dos Poderes.
Segundo Oscar Vilhena Vieira no artigo intitulado supremocracia:
Sob esta perspectiva, seria adequado afirmar que, se, por um lado, a
liberdade com que o Supremo vem resolvendo sobre matérias tão relevantes
demonstra a grande fortaleza que esta instituição adquiriu nas duas décadas,
contribuindo para o fortalecimento do Estado de Direito e do próprio
constitucionalismo, por outro, é sintoma da fragilidade do sistema
representativo em responder as expectativas sobre ele colocadas. Em um
sistema em que os “poderes políticos parecem ter perdido a cerimônia com
a Constituição”, nada pode parecer mais positivo do que o seu legítimo
guardião exercer a sua função precípua de preservá-la. Porém, ainda que isso
possa a ser visto como desejável, sabemos todos que esta é uma tarefa cheia
de percalços. Não há consenso entre os juristas sobre como melhor
interpretar a Constituição, nem tampouco em como solucionar as inúmeras
colisões entre seus princípios. O que não significa que a tarefa não deva ser
feita da forma mais racional e controlável possível, como nos sugere Hesse.
Há, no entanto, dificuldades que transcendem os problemas estritamente
hermenêuticos derivados da aplicação de uma Constituição. Estas
dificuldades referem-se à própria dimensão da autoridade que se entende
adequada a ser exercida por um tribunal dentro de um regime que se
pretenda democrático. Como aponta o próprio Ministro Celso de Mello, em
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uma república, nenhuma esfera de poder pode ficar imune a controles. Assim,
há que se lutar pela “[...] progressiva redução e eliminação dos círculos de
imunidade do poder [...]”. Evidente que não pretendo aqui propor controle
de ordem eleitoral para o Supremo, mas, sim, uma racionalização de sua
jurisdição e uma lapidação de seu processo deliberativo, de forma a restringir
as tensões políticas inerentes ao exercício de uma jurisdição constitucional
como a brasileira.
Ainda assim, importante frisar que o Poder Judiciário se baseia em alguns
princípios constitucionais, dentre eles o Princípio da Proteção Judicial Efetiva, Princípio
do Juiz Natural e Princípio do Devido Processo Legal, fixados de acordo com os incisos
que seguem:
Art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. A lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Art. 5º, XXXVII, da Constituição Federal. Não haverá juízo ou tribunal
de exceção.
Art. 5º, LIII, da Constituição Federal. Ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente.
Art. 5º, LV, da Constituição Federal. Aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e os recursos a ela inerentes.
Partamos para suas características:
4.2. Características e princípios
As características do Poder Judiciário estão constantes do art. 93 da Constituição
Federal, segundo o qual:
Art. 93 da Constituição Federal. Lei complementar, de iniciativa do
Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios:
I – ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto,
mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem
dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em
direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas
nomeações, à ordem de classificação;
II – a promoção de entrância para entrância, alternadamente, por
antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas:
a) é obrigatória a promoção do juiz que figura por três vezes
consecutiva ou cinco alternadas em lista de merecimento;
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na
respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de
antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o
lugar vago.
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelo critérios
objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela
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frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de
aperfeiçoamento;
d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o
juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros,
conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a
votação até fixar-se a indicação;
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em
seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o
devido despacho ou decisão;
III – o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e
merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância;
IV – previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e
promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de
vitaliciamento e participação em curso oficial ou reconhecido por escola
nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados;
V – o subsídio dos Ministros do Tribunais Superiores corresponderá a
noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do
Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão
fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as
respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a
diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco
por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos
Ministros dos Tribunais Superiores;
VI – a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes
observarão o disposto no art. 40;
VII – o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização
judicial;
VIII – o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
defesa;
VIII-A – a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de comarca
de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas alíneas a, b, c e
e do inciso II;
IX – todos os julgamento dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito
à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação;
X – as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em
sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta
de seus membros;
XI – nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores,
poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de
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vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e
jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se
metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal
pleno;
XII – a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias
coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em
que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente;
XIII – o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à
efetiva demanda judicial e à respectiva população;
XIV – os servidores receberão delegação para a prática de atos de
administração e atos de mero expediente sem caráter decisório;
XV – a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de
jurisdição.
Deste artigo podemos retirar, entre outros, os seguintes princípios e
características:
a) Subsidiariedade ou secundariedade:
Como bem sabemos, houve um crescente muito grande no número de casos
apreciados pelo Poder Judiciário, o que acarretou na vagarosidade com a qual tais
processos eram apreciados, gerando o seu acúmulo.
Em decorrência disso, a Constituição, principalmente através do Conselho
Nacional de Justiça, com a Resolução nº 125/2010, vem incentivando e criando
mecanismos de modo a resolver a lide sem que seja preciso a apreciação do Poder
Judiciário, mas de modo consensual. Dá-se pela aplicação dos denominados Meios
Alternativos de Solução de Conflito – MASCs, caracterizados pela conciliação, mediação
e arbitragem.
A partir disso, entende-se que o Poder Judiciário somente deve ser acionado
quando configurar o último e único meio pelo qual a lide seja resolvida. É, na verdade,
a caracterização do elemento necessidade, referente ao interesse de agir diante do
ajuizamento de uma ação.
b) Imparcialidade:
Trata-se de elemento constante no Princípio do Devido Processo Legal, segundo
o qual é direito das partes serem julgadas por um juiz investido na carreira por meio de
concurso público (juiz natural), observando-se as ações exegetas do magistrado, isto é,
aplicando a lei ao caso concreto sem que haja qualquer juízo prévio em relação a
qualquer uma delas.
c) Substitutividade:
Como dito anteriormente, o Poder Judiciário vem dando preferência à resolução
da lide proposta pelas próprias partes. Contudo, uma vez que a lide venha a ser
apreciada pelo Poder Judiciário, efetivamente, este substitui a vontade daqueles, não
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havendo o que se falar em recusa quanto à sentença proferida, em respeito ao Princípio
da Inafastabilidade da Jurisdição.
d) Inércia:
Ainda que a lei não possa excluir a lesão ou ameaça ao direito da apreciação do
Poder Judiciário, esse somente poderá agir posteriormente à provocação das partes, ou
seja, não poderá agir de ofício.
Nesse sentido é o art. 2º do CPC, segundo o qual: “O processo começa por
iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em
lei.”
Continuando o raciocínio, conforme aplicação do Princípio da Oficiosidade, uma
vez provocado, cabe ao Poder Judiciário movimentar a máquina estatal, de modo a
proferir sentença para a lide, não podendo se eximir de tal incumbência.
e) Definitividade:
Proferida a sentença e sobrevindo o trânsito em julgado entende-se o processo
como definitivo, constituindo coisa julgada, somente sendo possível sua reversão
mediante ação anulatória.
f) Unidade:
Apesar da divisão do Poder Judiciário em segmentos, trata-se de instituição uma.
A divisão se dá por motivos meramente organizacionais, torando eficiente a execução
da jurisdição, em respeito ao Princípio da Eficiência e Celeridade Processual.
4.3. Estrutura do Poder Judiciário
STF
STJ
TJ
Justiça Estadual
Juntas Recursais
Juízados especiais
TRF
Justiça Federal
TSE
TRE
Justiça Eleitoral
Juntas Eleitorais
TST
TRT
Justiça do Trabalho
STM
TJM
Juiz Auditor Militar
Auditor Militar
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Como dito anteriormente, apesar de ser uno o Poder Judiciário é segmentado
em instâncias e repartições, de modo a tornar o exercício da jurisdição mais efetivo e
eficiente.
Além da divisão feita entre Justiças, quais sejam: (1) Justiça Comum; (2) Justiça
Federal; (3) Justiça Militar; (4) Justiça do Trabalho; (5) Justiça Eleitoral, faz-se uma
divisão em instâncias, respeitando, em tese, o Princípio do Duplo Grau de Jurisdição
previsto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Partamos à explicação de cada uma delas:
4.3.1. Ingresso na carreira
Como dito anteriormente, refletindo o disposto no art. 93, I, da Constituição
Federal, o ingresso do bacharel em direito como magistrado de primeira instância se
dará mediante aprovação em concurso de provas e títulos, sendo necessário para tanto
a comprovação de experiência jurídica por, no mínimo, três anos.
Todas as primeiras instâncias são assim definidas, com exceção da Justiça
Eleitoral. Por se tratar de justiça sazonal, seus juízes são escolhidos dentre juízes federais
de primeira instância.
Pode surgir uma pergunta: mas isso não desrespeita o Princípio do Juiz Natural?
Não, tendo em vista a existência do Princípio da Delegação de Competência, segundo o
qual é possível a transferência de competência a subordinados, indicando a autoridade
delegante, a autoridade delegada e as atribuições objeto da delegação. É uma maneira
de descentralização. Trata-se de transferência facultativa e transitória, obedecendo a
oportunidade e conveniência.
Nesse caso, o “mandato” do juiz eleitoral durará dois anos, sendo possível sua
recondução uma única vez, pelo mesmo período.
4.3.2. Segunda instância
Antes de iniciarmos a explicação, convém mencionar que os cargos aqui serão
ocupados respeitando o denominado quinto constitucional, previsto no art. 94 da
Constituição Federal, segundo o qual:
Art. 94 da Constituição Federal. Um quinto dos lugares dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e
Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de
dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação
ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em
lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista
tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subsequentes,
escolherá um de seus integrantes para nomeação.
A composição dos tribunais de segunda instância é mista, observando os critérios
que seguem:
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a) Compor-se-ão, em 4/5, por magistrados selecionados de acordo com a (1)
antiguidade e (2) merecimento, em respeito ao art. 93, II, da Constituição Federal:
b) Os demais cargos serão preenchidos mediante nomeação, observando-se lista
confeccionada pelos órgãos de representação das respectivas classes
i. Membros do Ministério Público com mais de dez anos de carreira;
ii. Advogados de notório saber jurídico e reputação ilibada com mais de dez
anos de efetiva atividade profissional.
4.3.3. Tribunais superiores
4.3.3.1. Superior Tribunal de Justiça
Será composto por 33 indivíduos nomeados pelo Presidente da República
dentre:
a) Brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos;
b) Notável saber jurídico;
c) Reputação ilibada;
d) Aprovação do Senado Federal (sabatina).
Além disso, observar-se-á os critérios que seguem:
a) Compor-se-á de 1/3 dentre juízes dos TRFs (Tribunais Regionais Federais);
b) Compor-se-á de 1/3 dentre desembargadores dos TJs (Tribunais de Justiça);
c) Compor-se-á de 1/3 dentre advogados e membros do Ministério Público.
Configura exceção à regra, tendo em vista que não segue o disposto no quinto
constitucional, mas respeita o fixado pelo art. 104 da Constituição Federal:
Art. 104 da Constituição Federal. O Superior Tribunal de Justiça
compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros.
Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão
nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de
trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e
reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
Senado Federal, sendo:
I – um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço
dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice
elaborada pelo próprio Tribunal;
II – um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do
Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios,
alternadamente, indicados na forma do art. 94.
4.3.3.2. Tribunal Superior Eleitoral
Será composto por, no mínimo, sete juízes, sendo os critérios:
a) Nomeação do Presidente da República:
i. Dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade
moral, indicados pelo STF.
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b) Mediante eleição, por voto secreto:
i. Três juízes dentre os Ministros do STF;
ii. Dois juízes dentre os Ministros do STJ.
Novamente, configura exceção ao quinto constitucional, sendo a disposição do
art. 119 da Constituição Federal:
Art. 119 da Constituição Federal. O Tribunal Superior Eleitoral
compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos:
I – mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II – por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo
Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente
e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o
Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
4.3.3.3. Tribunal Superior do Trabalho
Composto por vinte e sete Ministros escolhidos entre:
a) Brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos;
b) Notável saber jurídico;
c) Reputação ilibada;
d) Aprovação do Senado Federal (sabatina).
Serão nomeados pelo Presidente da República, observando-se o que segue:
a) Compor-se-á de 1/5 dentre advogados com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional e membros do Ministério Público com mais de dez anos de
efetivo exercício;
b) Compor-se-á de 4/5 dentre juízes dos TRTs (Tribunais Regionais do Trabalho),
oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.
4.3.3.4. Superior Tribunal Militar
É composto por 15 Ministros nomeados pelo Presidente da República,
observando-se os critérios que seguem:
a) Três dentre oficiais-generais da Marina;
b) Quatro dentre oficiais-generais do Exército;
c) Três dentre oficiais-generais da Aeronáutica.
Trata-se de mais uma exceção à regra do quinto constitucional, observando o
disposto no art. 123 da Constituição Federal:
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Art. 123 da Constituição Federal. O Superior Tribunal Militar compor-
se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República,
depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre
oficiais-generais da Marina, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três
dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais
elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente
da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:
I – três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada,
com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;
II – dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do
Ministério Público da Justiça Militar.
4.3.3.5. Supremo Tribunal Federal
Composto por 11 Ministros nomeados pelo Presidente da República, dentre:
a) Brasileiros natos com mais de 35 e menos de 65 anos de idade;
b) Cidadãos que estejam em pleno gozo dos direitos políticos;
c) Notável saber jurídico;
d) Reputação ilibada;
e) Aprovação pelo Senado Federal (sabatina).
Trata-se de um caso especial, tendo em vista que não segue o denominado no
art. 94 da Constituição Federal, ou seja, não observa o quinto constitucional, mas o
disposto no art. 101 da Constituição Federal:
Art. 101 da Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal
compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta
e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico
e reputação ilibada.
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão
nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela
maioria absoluta do Senado Federal.
4.4. Garantias do Poder Judiciário
Segundo adita Pedro Lenza, as garantias do Poder Judiciário assumem
importantíssimo papel no cenário da repartição dos Poderes, tendo em vista que
corrobora para que o Poder Judiciário se imponha, de fato, como um Poder autônomo,
independente.
Tais garantias, como veremos estão atreladas tanto às instituições, dando
autonomia aos órgãos propriamente ditos, bem como aos funcionários, beneficiando
diretamente os magistrados e demais servidores públicos do Poder Judiciário.
De modo geral, as garantias estão previstas nos arts. 95, 96 e 99 da Constituição
Federa, conforme veremos a seguir:
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4.4.1. Garantias institucionais
Como visto, as garantias institucionais dizem respeito à estruturação e
administração dos órgãos internos do Poder Judiciário, ou seja, ao Poder Judiciário
propriamente dito, não havendo qualquer ligação quanto aos funcionários.
Estão previstos nos arts. 9624 e 9925 da Constituição Federal, sendo as garantias:
24 Art. 96 da Constituição Federal. Compete privativamente: I – aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva; c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva jurisdição; d) propor a criação de novas varas judiciárias; e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei; f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente vinculados. II – ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169; a) a alteração do número de membros dos tribunais superiores; b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus servidores auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; d) a alteração da organização e da divisão judiciárias; III – aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. 25 Art. 99 da Constituição Federal. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. §1º. Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. §2º. O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: I – no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais; II – no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais. §3º. Se os órgãos referidos no §2º não encaminharem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do §1º deste artigo. §4º. Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do §1º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. §5º. Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.
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4.4.1.1. Autonomia financeira
Prevista no art. 99 da Constituição, reserva ao próprio Poder Judiciário
competência para propor suas diretrizes orçamentárias, elaborando-as juntamente aos
limites estipulados na Constituição e em acordo com os demais Poderes.
Estipulada a diretriz, compete ao Poder Judiciário administrar as verbas
destinadas ao seu bom funcionamento, não havendo o que se falar em interferência dos
demais poderes.
4.4.1.2. Autonomia orgânico-administrativa
Prevista no art. 96, refere-se à autonomia dada aos órgãos do Poder Judiciário
para organizarem e estruturarem seus órgãos diretivos, sendo responsáveis pela criação
de seus próprios regimentos internos.
Tem por objetivo, portanto, dar autonomia para que os órgãos do Poder
Judiciário se direcionem sem que haja qualquer interferência dos demais Poderes.
4.4.2. Garantias funcionais
Como dito anteriormente, as garantias funcionais são aquelas que recaem nas
pessoas dos magistrados, aos indivíduos, e não às instituições.
As garantias funcionais estão dispostas no art. 95 da Constituição Federal:
Art. 95 da Constituição Federal. Os juízes gozam das seguintes
garantias:
I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois
anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de
deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de
sentença transitada em julgado:
II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma
do art. 93, VIII;
III – irredutibilidade salarial, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI,
39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §2º, I.
4.4.2.1. Vitaliciedade
Uma vez investidos no cargo de juízes de primeira instância, os magistrados
possuirão vitaliciedade a partir do segundo ano de exercício do cargo, tendo em vista
que passa por período de prova anteriormente à efetivação de tal garantia.
Durante os dois primeiros anos, como diz o artigo, o magistrado recém investido
será submetido a período de prova e somente poderá perder o cargo por deliberação
do tribunal a que estiver vinculado.
Adquirida a vitaliciedade, somente perderá o cargo em três situações, quais
sejam: (1) perante sentença transitada em julgado que assim o condene; (2) morte; (3)
juízo próprio.
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4.4.2.2. Inamovibilidade
Tal garantia afirma que não poderá o magistrado ser realocado do local em que
exerce a sua jurisdição sem o seu consentimento. Essa garantia, contudo, não é
absoluta, encontrando limite no art. 93, VIII, da Constituição Federal, segundo o qual:
Art. 93 da Constituição Federal. Lei complementar, de iniciativa do
Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios:
[...]
VIII – o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada a ampla
defesa.
Portanto, em que pese a garantia, poderá o magistrado ser realocado do local
em que exerce a jurisdição sem o seu consentimento diante da prevalência do interesse
público, representado pelo voto positivo da maioria absoluta do Tribunal ao qual está
vinculado ou do Conselho Nacional de Justiça – CNJ.
Por fim, cabe uma pergunta: a inamovibilidade também recai sobre os juízes
substitutos? Conforme fixou o MS 21.958/2012 do STF, a garantia se estende sim aos
juízes substitutos.
Conforme adita Pedro Lenza, ... desde a posse, o juiz substituto deve ter a
garantia de não ser removido para fora da unidade judiciária em que está formalmente
lotado. Trata-se de unidade de competência judicante, adstrita a uma base territorial
geograficamente determinada e predefinida.
Dessa forma, muito embora o “papel” do juiz substituto seja o de substituir,
deverá exercer a sua função dentro da sua circunscrição judiciária, definida, no âmbito
estadual, pelo Código Judiciário de cada unidade federativa.
4.4.2.3. Irredutibilidade dos subsídios
Não poderá a remuneração dos magistrados ser reduzida, salvo por motivo
tributário, devendo tal elemento ser fixado em parcela única, conforme o estipulado
pelos artigos citados no inc. III do art. 95 da Constituição Federal.
É a redação desses artigos:
Art. 37 da Constituição Federal. A administração pública direta e
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
[...]
X – a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o
§4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica,
observada a iniciativa privada em cada caso, assegurada revisão geral anual,
sempre na mesma data e sem distinção de índices;
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XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e
empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos
membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes
políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos
Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o
subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos
Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio
dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e
vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário,
aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
aos Defensores Públicos.
[...]
Art. 39, §4º, da Constituição Federal. O membro de Poder, o detentor
de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e
Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em
parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono,
prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido,
em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
[...]
Art. 150 da Constituição Federal. Sem prejuízo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
[...]
II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem
em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação
profissional ou função por eles exercida, independentemente da
denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.
[...]
Art. 153 da Constituição Federal. Compete à União instituir impostos
sobre:
[...]
III – renda e proventos de qualquer natureza.
4.5. Vedações ao magistrado
As vedações aos magistrados estão dispostas no parágrafo único do art. 95 da
Constituição Federal, segundo o qual:
Art. 95, parágrafo único, da Constituição Federal. Aos juízes é vedado:
I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo
uma de magistério;
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II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em
processo;
III – dedicar-se à atividade político-partidária;
IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições
de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções
previstas em lei;
V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes
de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração.
4.6. Conselho Nacional de Justiça
4.6.1. Criação
Foi incorporado ao Ordenamento Jurídico na Constituição Federal de 1967, sob
a nomenclatura Conselho Nacional da Magistratura. Contudo, é estrutura como hoje o
conhecemos em decorrência da Emenda à Constituição nº 45/2004, segundo a qual foi
incorporado ao texto da Constituição o art. 103-B.
4.6.2. Composição
De acordo com o art. 103-B, caput, o Conselho Nacional de Justiça é composto
por 15 membros com mandato de dois anos, sendo admitida recondução única. É a
composição:
a) Presidente do Supremo Tribunal Federal;
b) Um Ministro do Superior Tribunal de Justiça – indicado pelo próprio Tribunal;
c) Um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho – indicado pelo próprio Tribunal;
d) Um desembargador de Tribunal de Justiça – indicado pelo STF;
e) Um juiz estadual – indicado pelo STF;
f) Um juiz federal – indicado pelo STJ;
g) Um juiz de Tribunal Regional do Trabalho – indicado pelo TST;
h) Um juiz do trabalho – indicado pelo TST;
i) Um membro do Ministério Público da União – indicado pelo PGR;
j) Um membro do Ministério Público estadual – indicado pelo PGR, dentre os
nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;
k) Dois advogados – indicados pelo Conselho Federal da OAB;
l) Dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada – indicados pela
Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.
4.6.3. Funções
As funções do CNJ estão atribuídas no art. 103-B, §4º, da Constituição Federal:
Art. 103-B, §4º, da Constituição Federal. Compete ao Conselho o
controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras
atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
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I – zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do
Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito
de sua competência, ou recomendar providências;
II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante
provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros
ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar
prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento
da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;
III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos
do Poder Judiciário, inclusive, contra seus serviços auxiliares, serventias e
órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuam por
delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência
disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos
disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar
outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
IV – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a
administração público ou de abuso de autoridade;
V – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares
de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;
VI – elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e
sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do
Poder Judiciário;
VII – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar
necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do
Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal
Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da
sessão legislativa.
Convém fazermos um comentário acerca das funções exercidas pelo Conselho
Nacional de Justiça. Em que pese ser órgão do Poder Judiciário competente para
fiscalizar e analisar as atividades exercidas pelos magistrados, não apresenta função
judicante, ou seja, não tem competência para julgá-los, somente podendo realizar
elementos administrativos.
4.6.4. Competência disciplinar
Surge uma pergunta: quem tem competência para analisar falta funcional? A
competência é conjunta do CNJ e da Corregedoria. Contudo, uma vez aberto o
procedimento de averiguação por parte do primeiro, suspenso estará eventual
procedimento instaurado pelo segundo.
4.7. Funções essenciais à justiça
São quatro as funções essenciais à Justiça, quais sejam:
a) Ministério Público;
b) Advocacia Pública ou Geral;
c) Advocacia Privada;
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d) Defensoria Pública.
Vamos ao estudo de cada uma delas.
4.7.1. Ministério Público
4.7.1.1. Criação
Apesar das referências históricas acerca do Ministério Público, vindo, segundo
concorda a maioria da doutrina, do Ordenamento Jurídico Napoleônico, somente temos
uma menção propriamente dita do Ministério Público perante a Constituição de 1946,
na qual recebeu título especial próprio, não estando atrelado a nenhum outro Poder.
4.7.1.2. Legislação
Na Constituição Federal de 1988, o Ministério Público está disposto na Seção I
do Capítulo IV – Das Funções Essenciais da Justiça –, do Título IV – Da Organização dos
Poderes, correspondente aos arts. 127 a 130-A.
4.7.1.3. Conceito
A própria Constituição nos dá o conceito de Ministério Público, sendo, segundo
disposição do art. 127, caput: “O Ministério Público é instituição permanente, essencial
à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”
4.7.1.4. Princípios funcionais
Têm previsão no §1º do artigo acima referido, sendo: “São princípios
institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência
funcional.”
A fundamentação aqui é mais ou menos a mesma se comparado aos princípios
que regem o Poder Judiciário.
Diz-se uno, tendo em vista que, apesar da divisão em estados e territórios,
corresponde a um órgão unificado. A divisão, portanto, é meramente funcional e abarca
por objetivo a maior eficiência e organização de tal órgão.
Por outro lado, considera-se indivisível justamente em decorrência do princípio
acima explicado. Nesse caso, afirma que é possível que seus membros sejam alterados
sem que, na prática, haja alteração nas atividades exercidas pelo Ministério Público, haja
vista que cada membro age em nome da instituição e não em nome próprio.
Por fim, a Constituição atribui ao Ministério Público a independência funcional
caracterizada pela autonomia em relação aos demais Poderes, não havendo ligação
quanto a nenhum deles. Como bem lembra Pedro Lenza, constitui crime de
responsabilidade, conforme estipulado no art. 85, II, da Constituição Federal, atentar
contra o livre exercício do Ministério Público.
● ● ● ●
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Além do disposto no §1º, importante ressaltar que o §2º do art. 127 assegura ao
Ministério Público a autonomia funcional e administrativa, sendo competente para criar
e extinguir os cargos e serviços auxiliares a eles relacionados, sendo responsável pela
organizar dos concursos públicos de provas e títulos pelos quais os indivíduos
ingressarão no mesmo, bem como pela política remuneratória e planos de carreira.
4.7.1.5. Estrutura
Segue a estrutura do Ministério Público:
Nesse sentido é o conteúdo do art. 128, caput, da Constituição Federal:
Art. 128, caput, da Constituição Federal. O Ministério Público
abrange:
I – o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II – os Ministérios Públicos dos Estados.
4.7.1.6. Chefe
Dispõe o art. 128, §1º, da Constituição Federal: “O Ministério Público da União
tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República
dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu
nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois
anos, permitida a recondução.”
Ministério Público da União
Procurador-Geral da República
Ministério Público Federal
Ministério Público do Trabalho
Ministério Público Militar
Secretaria do MPU
Auditoria Interna MPU
Escola Superior do MPU
Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios
Conselho de Assessoramento
Superior do Ministério Público da
União
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Portanto, em âmbito federal, quanto ao Ministério Público da União, o chefe é o
Procurador-Geral da República. Será nomeado pelo Presidente da República dentre os
membros do MP com mais de trinta e cinco anos a mandato de dois anos.
Em âmbito estadual o chefe do Ministério Público é o Procurador-Geral do
Estado, escolhido dentre lista tríplice formada pelo Ministério Público do respectivo
Estado. Igualmente ao Chefe em âmbito federal, o mandato será de dois anos, sendo
possível a recondução (§3º26).
Diante das instâncias inferiores, são os representantes do Ministério Público os
Promotores de Justiça, em âmbito estadual, e os Procuradores da República, em âmbito
federal. Na segunda instância, são representantes do Ministério Público os Procuradores
de Justiça.
4.7.1.7. Garantias e vedações
As garantias funcionais do Ministério Público estão dispostas no art. 128, §5º, da
Constituição Federal, sendo:
Art. 128, §5º, da Constituição Federal. Leis complementares da União
e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais,
estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, observadas, relativamente a seus membros:
I – as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o
cargo senão por sentença judicial transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante
decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da
maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, §4º, e
ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, §2º, I.
II – as seguintes vedações:
a) receber, a qualquer título e qualquer pretexto, honorários,
percentagens ou custas processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função
pública, salvo uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária;
26 Art. 128, §3º, da Constituição Federal. Os Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida a recondução.
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f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios de pessoas físicas,
entidades públicas ou provadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.
Quanto às garantias, tratam-se das mesmas atribuídas aos magistrados.
Portanto, vide tópico 4.4.2, supra.
4.7.1.8. Funções institucionais
As funções institucionais do Ministério Público estão dispostas no art. 129 da
Constituição Federal, sendo:
Art. 129 da Constituição Federal. São funções institucionais do
Ministério Público:
I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo
as medidas necessárias a sua garantia;
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos;
IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para
fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta
Constituição;
V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações
indígenas;
VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua
competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na
forma da lei complementar respectiva;
VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei
complementar mencionada no artigo anterior;
VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações
processuais;
IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e
a consultoria jurídica de entidades públicas.
4.7.1.9. Conselho Nacional do Ministério Público
Trata-se de órgão do Ministério Público responsável pelo controle da atuação
administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres
funcionais de seus membros.
Conforme estabelece o art. 130-A, §2º, da Constituição Federal, são suas
incumbências:
a) Zelar pela autonomia funcional e administrativa;
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b) Zelar pelo respeito aos princípios da Administração Pública direta e indireta
(art. 37);
c) Receber e conhecer reclamações contra membros ou órgãos do Ministério
Público da União ou dos Estados;
d) Rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de
membros do Ministério Público;
e) Elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias.
A composição está prevista no caput deste artigo, sendo:
Art. 130-A da Constituição Federal. O Conselho Nacional do Ministério
Público compõe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da
República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta de Senado
Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:
I – o Procurador-Geral da República, que o preside;
II – quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a
representação de cada uma de suas carreiras;
III – três membros do Ministério Público dos Estados;
IV – dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro
pelo Superior Tribunal de Justiça;
V – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil;
VI – dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada,
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
4.7.2. Advocacia Pública
4.7.2.1. Legislação
Está fixada nos arts. 131 e 132 da Constituição, sendo o seu teor:
Art. 131 da Constituição Federal. A Advocacia-Geral da União é a
instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a
União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei
complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as
atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.
§1º. A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da
União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos
maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
§2º. O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que
trata este artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos.
§3º. Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a
representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,
observado o disposto em lei.
Art. 132 da Constituição Federal. Os Procuradores dos Estados e do
Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de
concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos
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Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação
judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.
Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada
estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de
desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das
corregedorias.
Como é possível ver, o constituinte não deu a devida atenção aos membros da
Advocacia Pública, motivo pelo qual a sua organização ficou destinada à legislação
infraconstitucional.
Por esse motivo, além das disposições Constitucionais, é necessário a
observância quanto ao disposto na Lei Orgânica de cada carreira dessa função essencial
à Justiça.
Vejamos.
4.7.2.2. Composição
Como prevê a Constituição Federal, o ingresso nas classes iniciais das carreiras
desta instituição, tanto em âmbito federal, como estadual, se dará por meio de concurso
público de provas e títulos, sendo necessário, para tanto, ser bacharel no curso de
Direito.
Aprovado, o indivíduo será empossado como Procurador.
São os cargos de Advogado Público e a sua composição:
Advocacia Pública
Advogado-Geral da União
Advogados da União
Procuradores da Fazenda Nacional
Procuradores Federais
Procuradores do Banco Central
do Brasil
Procuradores do Distrito Federal
Procuradores do Estado
Procuradores dos Municípios
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Nota-se, portanto, que compõe a Procuradoria Federal (Advocacia-Geral da
União), além dos Procuradores Federais, a Procuradoria do Banco Central do Brasil, a
Procuradoria da Fazenda Nacional. Além disso, podemos incluir, também, a
Procuradoria do INSS, a Procuradoria do IBAMA etc.
Por fim, há de se notar que a legislação constitucional não menciona os
procuradores municipais. Por esse motivo, há divergência doutrinária acerca da
necessidade ou não de realização de concurso público. Em decorrência da divergência,
entende-se que é possível a sua livre nomeação.
4.7.2.3. Chefia
A partir da composição acima destacada é possível que identifiquemos os chefes
da Advocacia Pública.
No âmbito da União, é chefe o Advogado-Geral da União. Tal função é escolhida
livremente pelo Presidente da República dentre cidadãos com mais de trinta e cinco
anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada.
No âmbito estadual, é chefe o Advogado-Geral do respectivo Estado; enquanto
no âmbito municipal, é chefe o Advogado-Geral do Município.
4.7.2.4. Natureza e função
A natureza e a função estão destacadas nos caputs dos artigos anteriormente
citados. Em suma, são órgãos que prestam serviços públicos, porém não estão ligados à
Administração Pública. Têm como objetivo exercer a representação judicial e a
consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo (Federal) e das respectivas
unidades federadas (Estadual).
4.7.2.5. Advogado comissionado x Advogado concursado
São duas as principais diferenças entre essas funções. Enquanto o advogado
concursado possui garantias previstas em lei, sendo uma delas a estabilidade, o
advogado comissionado não possui garantias, podendo ser demitido ad nutum, ou seja,
sem motivo específico.
4.7.3. Advocacia Privada
4.7.3.1. Legislação
A Constituição somente cita a Advocacia Privada em um artigo, deixando para
que Lei específica o organize:
Art. 133 da Constituição Federal. O advogado é indispensável à
administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no
exercício da profissão, nos limites da lei.
Ainda assim, a presença da advocacia privada e da OAB é prevista em vários
momentos. Vejamos:
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Art. 5º, LXIII, da Constituição Federal. O preso será informado de seus
direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado.
Art. 93, I, da Constituição Federal. Ingresso na carreira, cujo cargo
inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos,
com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases,
exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica
e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação.
Art. 94 da Constituição Federal. Um quinto dos lugares dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e
Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de
dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação
ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em
lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.
Entre outros...
Além da Constituição, a advocacia privada é organizada e legislada por meio do
Estatuto da Advocacia, referente à Lei nº 8.9006/94.
4.7.3.2. Princípios
Da leitura do art. 133 da Constituição é possível que retiremos dois princípios
pelos quais a advocacia privada é regida, quais sejam:
4.7.3.2.1. Princípio da indispensabilidade do advogado
Tendo em vista a necessidade da capacidade postulatória para o ingresso de uma
ação em juízo, a participação do advogado é indispensável para tanto, uma vez que
possui tal capacidade. É o denominado ius postulandi.
É a disposição do art. 2º, caput e §§2º e 3º, do Estatuto da Advocacia:
Art. 2º do Estatuto da Advocacia. O advogado é indispensável à
administração da justiça.
§1º. No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e
exerce função social.
§2º. No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de
decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus
atos constituem múnus público.
Ainda assim, há algumas exceções cuja presença do advogado é dispensável.
Vejamos:
a) Habeas corpus:
É a disposição do art. 654, caput, do Código de Processo Penal:
Art. 654, caput, do Código de Processo Penal. O habeas corpus poderá
ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como
pelo Ministério Público.
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b) Juizados especiais:
Fixam os arts. 9º, caput, da Lei 9.099/95 e 10, caput, da Lei 10.259/01:
Art. 9º, caput, da Lei dos Juizados Especiais Estaduais. Nas causas de
valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente,
podendo ser assistidas por advogado, nas de valor superior, a assistência é
obrigatória.
● ● ● ●
Art. 10, caput, da Lei dos Juizados Especiais Federais. As partes
poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não.
c) Justiça do trabalho:
Determina o art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho:
Art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho. Os empregados e os
empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho
e acompanhar as suas reclamações até o final.
§1º. Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão
fazer-se representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou
provisionando, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.
§2º. Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência
por advogado.
§3º. A constituição de procurador com poderes para o foro em geral
poderá ser efetivada, mediante simples registro em ata de audiência, a
requerimento verbal do advogado interessado, com anuência da parte
representada.
d) Revisão criminal:
Aduz o art. 623 do Código de Processo Penal:
Art. 623 do Código de Processo Penal. A revisão poderá ser pedida
pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de
morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
e) Direto de petição:
É a disposição do art. 5º, XXXIV, da Constituição Federal:
Art. 5º, XXXIV, da Constituição Federal. São a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou
contra ilegalidade ou abuso de poder.
f) Defesa de tomada de contas:
Assim estabeleceu o Mandado de Segurança nº 24.961/STF:
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL DE CONTAS.
TOMADA DE CONTAS ESPECIAL: CONCEITO. DIREITO DE DEFESA:
PARTICIPAÇÃO DE ADVOGADO. I. - A Tomada de Contas Especial não constitui
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procedimento administrativo disciplinar. Ela tem por escopo a defesa da coisa
pública. Busca a Corte de Contas, com tal medida, o ressarcimento pela lesão
causada ao Erário. A Tomada de Contas é procedimento administrativo, certo
que a extensão da garantia do contraditório (C.F., art. 5º, LV) aos
procedimentos administrativos não exige a adoção da normatividade própria
do processo judicial, em que é indispensável a atuação do advogado: AI
207.197-AgR/PR, Ministro Octavio Gallotti, "DJ" de 05.6.98; RE 244.027-
AgR/SP, Ministra Ellen Gracie, "DJ" de 28.6.2002. II. - Desnecessidade de
intimação pessoal para a sessão de julgamento, intimados os interessados
pela publicação no órgão oficial. Aplicação subsidiária do disposto no art. 236,
CPC. Ademais, a publicidade dos atos administrativos dá-se mediante a sua
veiculação no órgão oficial. III. - Mandado de Segurança indeferido. (STF - MS:
24961 DF, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 24/11/2004,
Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 04-03-2005 PP-00012 EMENT VOL-
02182-02 PP-00332 RT v. 94, n. 836, 2005, p. 96-103 LEXSTF v. 27, n. 316,
2005, p. 217-232 RTJ VOL-00193-01 PP-00347)
g) Defesa de parlamentar em processo de perda de mandato:
Por fim, designou o Mandado de Segurança nº 21.360/STF:
AMPLA DEFESA - PARLAMENTAR - PERDA DE MANDATO -
REPRESENTAÇÃO POR ADVOGADO NO ÂMBITO DA CÂMARA DOS
DEPUTADOS OU DO SENADO FEDERAL - SUSTENTAÇÃO DA TRIBUNA. A
EXPRESSAO "AMPLA DEFESA" CONTIDA NO PAR.2. DO ARTIGO 55 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO ENCERRA, NECESSARIAMENTE, A
REPRESENTAÇÃO DO PARLAMENTAR POR PROFISSIONAL DA ADVOCACIA, A
PONTO DE IMPOR, A QUALQUER DAS CASAS DO LEGISLATIVO, A ADMISSAO
DESTE NA TRIBUNA. O PROCESSO DE PERDA DE MANDATO NÃO E
ADMINISTRATIVO, NEM JUDICIAL, MAS POLÍTICO, SENDO REGIDO POR
NORMAS INTERNA CORPORIS. MESMO NO CAMPO JURISDICIONAL, EM QUE
SE TEM O ADVOGADO COMO INDISPENSAVEL A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
- ARTIGO 133, CAPITULO III - "DO PODER JUDICIARIO" - DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, E POSSIVEL ENCONTRAR RECURSOS QUE NÃO ENSEJAM A
SUSTENTAÇÃO DA TRIBUNA, SEM QUE, COM ISTO, A NORMA RESTRITIVA
POSSA SER TIDA COMO MERECEDORA DA PECHA DE INCONSTITUCIONAL.
TANTO QUANTO POSSIVEL, DEVE SER PRESERVADA A DISCIPLINA DO
FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS DOS PODERES DA UNIÃO, BUSCANDO-SE,
DESSA FORMA, A EFICACIA DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL QUE LHE E
INERENTE - DA HARMONIA E INDEPENDÊNCIA. A SOLUÇÃO EMPRESTADA AO
PROCESSO POLÍTICO DE PERDA DE MANDATO NÃO OBSTACULIZA O ACESSO
AO JUDICIARIO, CUJA ATUAÇÃO SE FAZ, SOB O ANGULO DA LEGALIDADE,
COM A INESTIMAVEL COLABORAÇÃO DO PROFISSIONAL DA ADVOCACIA. (STF
- MS: 21360 DF, Relator: Min. NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento:
12/03/1992, TRIBUNAL PLENO, Data de Publicação: DJ 23-04-1993 PP-06922
EMENT VOL-01700-04 PP-00630 RTJ VOL-00146-01 PP-00153)
4.7.3.2.2. Princípio da imunidade do advogado
Igualmente aos parlamentares, estudados diante da análise do Poder Legislativo,
os advogados possuem imunidades diante do exercício da sua profissão. Importante
destacar que somente terão tal imunidade diante do efetivo exercício das atividades
advocatícias, não havendo o que se falar em proteção além desta.
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Da mesma forma, não se trata de imunidade absoluta, sendo necessário que se
observe os limites estabelecidos no Estatuto da Advocacia.
São alguns exemplos:
Art. 7º do Estatuto da Advocacia. São direitos do advogado:
[...]
X – usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal,
mediante intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida
em relação a fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento,
bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem feitas;
XI – reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo,
tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei,
regulamento ou regimento;
XII – falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de
deliberação coletiva da Administração Público ou do Poder Legislativo.
Por fim, na mesma toada é o art. 2º, §3º, do Estatuto da Advocacia:
Art. 2º, §3º, do Estatuto da Advocacia. No exercício da profissão, o
advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei.
4.7.4. Defensoria Pública
4.7.4.1. Legislação
É o que dispõe a Constituição Federal:
Art. 134 da Constituição Federal. A Defensoria Pública é instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,
como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente,
a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos
os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta
Constituição Federal.
§1º. Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do
Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua
organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial,
mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes
a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das
atribuições institucionais.
§2º. Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia
funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro
dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao
disposto no art. 99, §2º27.
27 Art. 99, §2º, da Constituição Federal. O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: I – no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais;
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§3º. Aplica-se o disposto no §2º às Defensorias Públicas da União e do
Distrito Federal.
§4º. São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que
couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição
Federal.
4.7.4.2. Função
Anteriormente à explicação da função da Defensoria Pública, compete a nós
explicarmos de onde surgiu. O seu surgimento ocorre em decorrência das denominadas
ondas renovatórias.
Já explicamos tal conceito diante do Resumo de Conciliação, Mediação e
Arbitragem. Portanto, segue a explicação:
Ondas renovatórias do acesso à justiça28. O movimento de acesso à justiça
ganhou destaque na década de 1970, quando estudiosos do Direito, e de várias outras
áreas, concretizaram um projeto específico, levando em consideração diversas
realidades mundiais. O conjunto desse trabalho é conhecido como “Projeto Florença” e
os principais resultados foram expostos na obra Acesso à Justiça, de autoria de Mauro
Cappellutti e Bryant Garth, que dividiram em três ondas os principais movimentos
renovatórios do acesso à justiça.
São as ondas:
1ª Onda: Assistência judiciária aos pobres: tal onde tinha como objetivo garantir
aos menos favorecidos economicamente o acesso à justiça. Segundo os autores acima
referidos, tal artifício seria incorporado através de dois elementos, quais sejam, (1) o
sistema judicare e a (2) advocacia gratuita (defensoria pública). Aquela tinha como
objetivo proporcionar aos litigantes de baixa renda a mesma representação que teriam
se pudessem pagar um advogado; enquanto esta, além da representação judicial, de
fato, teria como objetivo a criação de escritórios populares, responsáveis pela
assistência jurídica prévia, bem como qualquer função informativa aos indivíduos.
2ª Onda: Representação dos interesses difusos: difusos são os direitos
transindividuais, isto é, que transcendem a esfera individual, atingindo a esfera coletivo,
indivisíveis, pertencentes a todos, porém, ao mesmo tempo, não possuindo proprietário
absoluto, e de titularidade indeterminada ou que interligam os indivíduos por
circunstâncias de fato.
Diante do direito processual tradicional, individualista, tais objetos não eram
devidamente abrangidos, visto que este não era capaz de atender às demandas que
II – no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais. 28 Vide texto disponível em: <https://www.emagis.com.br/area-gratuita/que-negocio-e-esse/ondas-renovatorias-de-acesso-a-justica/>.
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surgiam. Por esse motivo, foi necessário a ocorrência de uma transformação processual,
passando este a possuir como principais elementos a função social e coletiva.
Em decorrência desta mudança, podemos citar alguns reflexos no Ordenamento
Jurídico Brasileiros: (1) ação popular; (2) ação cível pública; (3) mandado de segurança
coletivo; (4) Código de Defesa do Consumidor etc.
3ª Onda: Acesso à representação em juízo, a uma concepção mais ampla de
acesso à justiça e um novo enfoque de acesso à justiça: tal onda foi criada, uma vez que
os dois anteriores não eram suficientes para que se chegasse à verdadeira extinção da
demanda referente às lides. A apreciação processual somente era capaz de lhes fornecer
encerramento formal, não havendo, como dito, a cessação da lide em questão. Para
tanto, criou-se os métodos alternativos de solução de conflito, como a mediação, a
conciliação, a arbitragem, os juizados especiais etc.
● ● ● ●
Como é possível de se notar, a advocacia gratuita e, em decorrência, a Defensoria
Pública, surge diante do primeiro momento, ou seja, diante da primeira onda
renovatória que buscou facilitar o acesso dos hipossuficientes à Justiça.
Tem por função, portanto, defender os interesses dos cidadãos que não tem
possibilidade de contratar serviços advocatícios privados. Nota-se, portanto, uma
função social de extrema importância a exercida pela Defensoria Pública, estendendo o
acesso à Justiça aos hipossuficientes.
4.7.4.3. Princípios
Conforme estabelece o texto constitucional, são três os princípios institucionais
da Defensoria Pública, quais sejam: (1) Princípio da Unidade; (2) Princípio da
Indivisibilidade e (3) Princípio da Independência Funcional, idênticos aos princípios
funcionais do Ministério Público – vide tópico 4.7.1.4.