direito constitucional ivdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...direito...

86
NATAN BATISTA Resumo e Questões 6º Semestre DireitoFacilitado.com.br Direito Constitucional IV

Upload: others

Post on 26-Jul-2020

45 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

NATAN BATISTA

Resumo e Questões 6º Semestre

DireitoFacilitado.com.br

Direito Constitucional

IV

Page 2: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação
Page 3: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Sumário:

Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1

1. Da Separação dos Poderes Página 1

1.1. Introdução Página 1

1.2. Do Equilíbrio entre os Poderes Página 1

1.3. Das Funções dos Poderes Página 2

1.4. Princípio da Indelegabilidade das Funções Página 2

2. Poder Executivo Página 3

2.1. Origem Página 3

2.2. Introdução Página 3

2.3. Presidencialismo x Parlamentarismo Página 3

2.4. Modelo Brasileiro e Princípio da Simetria Página 5

2.5. Do Presidente da República Página 5

2.5.1. Das Eleições Página 5

2.5.2. Requisitos para ocupar o cargo Página 6

2.5.3. Vacância, Impedimento e Sucessão Presidencial Página 6

2.5.3.1. Não ocorrência da posse Página 6

2.5.3.2. Da Vacância Página 6

2.5.3.3. Do Impedimento Página 7

2.5.3.4. Sucessão Página 7

2.5.3.5. Anulação do Pleito Página 8

2.5.3.6. Recall Presidencial Página 9

2.5.4. Responsabilidade do Presidente da República Página 9

2.5.4.1. Introdução Página 9

2.5.4.2. Princípio da Anterioridade e Legalidade Página 10

2.5.4.3. Dos Crimes de Reponsabilidade Página 10

2.5.4.3.1. Sujeitos Ativos Página 10

2.5.4.3.2. Procedimento Página 10

2.5.4.3.2.1. Da denúncia Página 11

2.5.4.3.2.2. Da acusação Página 11

2.5.4.3.2.3. Do julgamento Página 12

2.5.4.3.2.4. Juízo de acusação Página 12

2.5.4.3.2.5. Juízo de pronúncia Página 13

2.5.4.3.2.6. Judicium causae (julgamento propriamente dito) Página 13

2.5.4.3.3. Consequências do impeachment Página 13

2.5.4.4. Dos Crimes Comuns Página 16

2.5.4.4.1. Introdução e conceito Página 16

2.5.4.4.2. Legislação Página 16

2.5.4.4.3. Competência Página 16

2.5.4.4.4. Procedimento Página 16

2.5.4.4.5. Demais chefes do executivo Página 17

Page 4: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

2.5.5. Das Funções do Presidente da República Página 18

2.6. Dos Ministros de Estado Página 18

2.6.1. Legislação Página 18

2.6.2. Foro de prerrogativa de função Página 18

2.6.3. Funções Página 18

2.6.4. Escolha Página 19

3. Poder Legislativo Página 19

3.1. Introdução Página 19

3.2. Disposição Página 19

3.3. Órgãos Legislativos Página 20

3.3.1. Congresso Nacional Página 20

3.3.1.1. Composição Página 20

3.3.1.2. Atribuições Página 20

3.3.2. Câmara dos Deputados Página 20

3.3.2.1. Composição Página 20

3.3.2.2. Eleição Página 20

3.3.2.3. Mandato Página 21

3.3.2.4. Competência Página 21

3.3.3. Senado Federal Página 21

3.3.3.1. Composição Página 21

3.3.3.2. Eleição Página 21

3.3.3.3. Mandato Página 21

3.3.3.4. Competência Página 21

3.3.4. Assembleia Legislativa Página 22

3.3.4.1. Composição Página 22

3.3.4.2. Eleição Página 22

3.3.4.3. Mandato Página 22

3.3.4.4. Competência Página 23

3.3.5. Câmara de Vereadores Página 23

3.3.5.1. Composição Página 23

3.3.5.2. Eleição Página 23

3.3.5.3. Mandato Página 23

3.3.5.4. Competência Página 23

3.4. Imunidades Parlamentares Página 24

3.4.1. Introdução Página 24

3.4.2. Espécies Página 24

3.4.2.1. Imunidade parlamentar material Página 24

3.4.2.2. Imunidade parlamentar formal Página 25

3.4.2.2.1. Foro por prerrogativa de função (§1º) Página 25

3.4.2.2.2. Imunidade para prisão (§2º) Página 26

3.4.2.2.3. Procedimento para investigação (§§ 3º a 5º) Página 27

3.4.3. Dos crimes praticados anterior ou posteriormente ao mandato

Página 27

Page 5: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

3.4.4. Imunidade dos suplentes Página 28

3.4.5. Imunidades parlamentares dos deputados estaduais e vereadores

Página 28

3.4.6. Perda do mandato Página 28

3.4.7. Ocasiões que não ensejam a perda do mandato Página 30

3.5. CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito Página 30

3.5.1. Previsão Página 30

3.5.2. Conceito Página 30

3.5.3. Criação Página 30

3.5.4. Objeto Página 31

3.5.5. Prazo Página 31

3.5.6. Poderes Página 31

3.5.7. Conclusão Página 33

3.6. Processo legislativo/legiferante Página 33

3.6.1. Introdução Página 33

3.6.2. Lei ordinária e lei complementar Página 34

3.6.2.1. Introdução Página 34

3.6.2.2. Iniciativa Página 34

3.6.2.3. Discussão Página 37

3.6.2.4. Votação Página 38

3.6.2.5. Aprovação/sanção Página 39

3.6.2.6. Promulgação Página 40

3.6.2.7. Publicação Página 40

3.6.3. Emendas à Constituição Página 41

3.6.3.1. Introdução Página 41

3.6.3.2. Legislação Página 41

3.6.3.3. Iniciativa Página 41

3.6.3.4. Discussão e votação Página 42

3.6.3.5. Aprovação Página 43

3.6.3.6. Promulgação e publicação Página 43

3.6.3.7. Limitações ao poder de emenda Página 43

3.6.3.7.1. Limitações expressas ou explícitas Página 44

3.6.3.7.2. Limitação temporal Página 44

3.6.3.7.3. Limitações implícitas Página 45

3.6.4. Medidas provisórias Página 45

3.6.4.1. Introdução Página 45

3.6.4.2. Procedimento Página 46

3.6.4.2.1. Criação Página 46

3.6.4.2.2. Apreciação pelo Congresso Nacional Página 46

3.6.4.2.2.1. Apreciação das Casas Página 46

3.6.4.2.2.2. Aprovação Página 47

3.6.4.2.2.3. Rejeição Página 47

3.6.4.3. Princípio da tributação inominada Página 48

Page 6: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

3.6.4.4. Vedações Página 48

3.6.5. Lei delegada Página 49

3.6.5.1. Introdução Página 49

3.6.5.2. Procedimento Página 49

3.6.5.3. Vedações Página 50

3.6.6. Decretos e resoluções legislativas Página 50

4. Poder Judiciário Página 51

4.1. Introdução Página 51

4.2. Características Página 52

4.3. Estrutura do Poder Judiciário Página 55

4.3.1. Ingresso na carreira Página 56

4.3.2. Segunda instância Página 56

4.3.3. Tribunais Superiores Página 57

4.3.3.1. Superior Tribunal de Justiça Página 57

4.3.3.2. Tribunal Superior Eleitoral Página 57

4.3.3.3. Tribunal Superior do Trabalho Página 58

4.3.3.4. Superior Tribunal Militar Página 58

4.3.3.5. Supremo Tribunal Federal Página 59

4.4. Garantias do Poder Judiciário Página 59

4.4.1. Garantias institucionais Página 60

4.4.1.1. Autonomia financeira Página 61

4.4.1.2. Autonomia orgânico-administrativa Página 61

4.4.2. Garantias funcionais Página 61

4.4.2.1. Vitaliciedade Página 61

4.4.2.2. Inamovibilidade Página 62

4.4.2.3. Irredutibilidade dos subsídios Página 62

4.5. Vedações ao magistrado Página 63

4.6. Conselho Nacional de Justiça Página 64

4.6.1. Criação Página 64

4.6.2. Composição Página 64

4.6.3. Funções Página 64

4.6.4. Competência disciplinar Página 65

4.7. Funções essenciais à justiça Página 65

4.7.1. Ministério Público Página 66

4.7.1.1. Criação Página 66

4.7.1.2. Legislação Página 66

4.7.1.3. Conceito Página 66

4.7.1.4. Princípios funcionais Página 66

4.7.1.5. Estrutura Página 67

4.7.1.6. Chefe Página 67

4.7.1.7. Garantias e vedações Página 68

4.7.1.8. Funções institucionais Página 69

4.7.1.9. Conselho Nacional do Ministério Público Página 69

Page 7: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

4.7.2. Advocacia Pública Página 70

4.7.2.1. Legislação Página 70

4.7.2.2. Composição Página 71

4.7.2.3. Chefia Página 72

4.7.2.4. Natureza e função Página 72

4.7.2.5. Advogado comissionado x Advogado concursado Página 72

4.7.3. Advocacia Privada Página 72

4.7.3.1. Legislação Página 72

4.7.3.2. Princípios Página 73

4.7.3.2.1. Princípio da indispensabilidade do advogado Página 73

4.7.3.2.2. Princípio da imunidade do advogado Página 75

4.7.4. Defensoria Pública Página 76

4.7.4.1. Legislação Página 76

4.7.4.2. Função Página 77

4.7.4.3. Princípios Página 78

Page 8: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação
Page 9: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

1

Capítulo 1 – Dos Poderes

1. Da Separação dos Poderes 1.1. Introdução

O princípio da separação dos poderes não apresenta formação próxima, mas é

resultado da evolução da uma série de elementos e pensamentos adotados pelos

governos, que resultou, hoje, na divisão como a conhecemos.

De início, não se pensava na existência de três órgãos cujas funções eram

distintas, mas na existência de três funções essenciais ao governo, as quais seriam

englobadas por um só indivíduo, o rei/soberano. Tal pensamento é de origem

aristotélica, inspirando a formação do governo absolutista. À título de exemplo, segundo

menção de Pedro Lenza, é a frase marcante de Luís XIV, o rei sol: “L’État c’est moi”, isto

é, “O Estado sou eu”. Tal frase, como se observa, indica claramente a concentração dos

poderes na mão do rei, visto que todas as funções incumbidas ao Estado, quais sejam, a

(1) edição de normas; (2) aplicação das normas; (3) julgamento das mesmas, eram a

ele atribuídas.

Posteriormente, tem-se como principal expoente da separação como hoje é

estabelecida Montesquieu, segundo os ditos de seu livro O Espírito das Leis. Segundo tal

livro, os poderes destacados nas teorias passadas não deveriam se concentrar nas mãos

de um único indivíduo, visto que a existência de um poder absoluto tende a corromper

a si próprio, mas era necessário que houvesse a criação de órgãos e entidades para as

quais seria incumbido cada poder.

O pensamento de Montesquieu foi uma das inspirações para as Revoluções

Americana e Francesa, principalmente a segunda. Na França, o Terceiro Estado

(aproximadamente 95% da população) era submisso às decisões do Primeiro (nobreza)

e Segundo (clero) Estados, visto que cada um deles, quando da ocorrência de votações,

possuía o mesmo poder de decisão. Uma vez que havia acordo entre o Primeiro e

Segundo Estados, as decisões sempre eram tomadas de acordo com as suas vontades,

visto que a decisão era tomada de acordo com a “maioria” votante. Ou seja, Primeiro e

Segundo Estados (5% da população) concentravam os poderes em suas mãos, impondo

seus desejos em detrimento dos demais indivíduos.

1.2. Do Equilíbrio entre os Poderes

Nesse sentido, para que não mais houvesse desequilíbrio quanto às decisões

estatais, era necessário que os poderes possuíssem independência e harmonia entre si,

de modo que suas funções não fossem interceptadas pelos demais. Desta forma, cada

função seria executada de forma mais justa/equânime. A tal entendimento se dá o nome

de Teoria da Soma Zero – entende-se que a soma das funções/incumbências atribuídas

a cada um dos poderes, se somadas, devem se anular, resultando em zero. É assim

entendido, pois com a divisão dos poderes, atribui-se a cada um deles a tarefa de

Page 10: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

2

controlar os demais, de modo que não haja excessos. Ou seja, criam-se freios e

contrapesos com o intuito de trazer à luz todas as ações por eles executada, não

havendo, portanto, qualquer poder oculto.

Segundo Pedro Lenza, “Do ponto de vista teórico, isso significa que na base da

separação dos poderes encontra-se a tese da existência de nexo causal entre a divisão

do poder e a liberdade individual.”

Hoje, o Princípio da Separação dos Poderes organiza os poderes de qualquer

país democrático. Tal elemento se funda em dois subprincípios, quais sejam: (1)

independência e (2) harmonia. Diz-se independente, pois não há o que se falar em

sobrepujamento quanto às funções a cada poder designadas. Por outro lado, entende-

se por harmônica, visto que cada poder deverá se relacionar com os demais de modo

amistoso, ou seja, é necessário que as atividades sejam coordenadas entre si, tendendo,

sempre, ao bem maior, qual seja, a sociedade e seus direitos.

Contudo, um outro ponto a se considerar é que cada poder age de acordo com

as funções que a Constituição lhe destina. Havendo transgressão quanto aos preceitos

constitucionais, haverá violação de poderes.

Nesse sentido é a redação do art. 2º da Constituição Federal, cujo teor nos indica

que “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o

Executivo e o Judiciário.”

1.3. Das Funções dos Poderes

Ainda que a teoria nos indique a equânime divisão das atividades entre os

poderes, convém informarmos acerca da existência de funções típicas e atípicas.

Segundo Pedro Lenza, “A teoria da ‘tripartição de Poderes’, exposta por Montesquieu,

foi adotada por grande parte dos Estados modernos, só que de maneira abrandada. Isso

porque, diante das realidades sociais e históricas, passou-se a permitir uma maior

interpenetração entre os Poderes, atenuando a teoria que pregava a separação pura e

absoluta entre eles.”

Nessa toada, tem-se por típicas as funções para as quais os Poderes de fato

foram criados, ou seja, são suas funções predominantes. Por outro lado, atípicas são as

funções extrínsecas ao objetivo primeiro de cada Poder, mas que este também exerce.

É por esse motivo que, por exemplo, o Poder Judiciário, apesar de ter sido criado

com o objetivo primeiro de julgar, isto é, exercer a função jurisdicional, apresenta

funções legislativas e executivas como atípicas. Da mesma forma é com o Poder

Executivo, apresentando funções legislativas e judiciárias, bem como o Poder

Legislativo, que apresenta funções judiciárias e executivas.

1.4. Princípio da Indelegabilidade das Funções

Como dissemos anteriormente, a relação entre os Poderes será de

independência e harmonia entre si. Por conta disso criou-se o Princípio da

Indelegabilidade das Funções. Segundo tal princípio, não há o que se falar em delegação

Page 11: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

3

das funções primeiras de cada um dos Poderes aos outros. Ou seja, não é possível que

seja delegado ao Poder Executivo a função jurisdicional. Da mesma forma, não cabe ao

Poder Judiciário a criação de leis, isto é, a função legislativa.

Tal indelegabilidade somente apresente exceção diante das já mencionadas

funções atípicas. Nesse caso, porém, há previsão legal específica anterior.

2. Poder Executivo 2.1. Origem

O Poder Executivo teve sua origem na Constituição Federal de 1824, segundo

disposição do art. 10 da mesma: “Os Poderes Políticos reconhecidos pela Constituição

do Império do Brazil são quatro: o Poder Legislativo, o Poder Moderador, o Poder

Executivo e o Poder Judicial.”

2.2. Introdução

Como vimos anteriormente, cada poder possui funções típicas e atípicas. Ao

Poder Executivo cabe a chefia de estado, chefia de governo e atos de administração.

Nesse anota Gilmar Mendes, afirmando que “a designação Poder Executivo

acaba por descrever, de forma acanhada, as funções desempenhadas, que, por óbvio,

transcendem a mera execução da lei. Daí anota Konrad Hesse que a expressão Poder

Executivo acabou por transformar-se numa referência geral daquilo que não está

compreendido nas atividades do Poder Legislativo e do Poder Judiciário. A ideia abrange

funções de governo e administração.”

A atual composição do Poder Executivo fora escolhida pelo povo, através do

plebiscito que ocorreu 7 de setembro de 19931. Como bem sabemos, nessa

oportunidade foram escolhidos a forma republicana e o sistema presidencialista.

2.3. Presidencialismo X Parlamentarismo

Ambos os sistemas de governo são divididos entre chefia de estado e chefia de

governo. Contudo, cada qual possui uma composição própria quanto a estes elementos.

Antes de demonstrarmos a diferença entre cada sistema de governo, convém

que conceituemos cada um desses elementos:

Entende-se por chefia de estado a “função de mera representação diplomática,

sem caráter governamental, exercida por um Chefe do Estado perante outros Estados.”

Portanto, é responsável por representar a nação em missões ou assuntos oficiais

internacionais, não estando ligado a assuntos de caráter interno do país. Por outro lado,

entende-se por chefia de governo a “função consistente em exercer, de forma efetiva,

1 ADCT: art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País.

Page 12: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

4

o poder governamental, enfim, administrar.” Nesse caso, tratar-se de função na qual

haverá cuidado quanto a assuntos de gestão ou administração interna do país.

São as divergências:

PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO

CHEFIA DE ESTADO É exercida pelo Presidente

da República

É exercida pelo Presidente da República

(parlamentarismo republicano) ou monarca

(parlamentarismo monarquista)

CHEFIA DE GOVERNO É exercida pelo Presidente

da República É exercida pelo Primeiro

Ministro

MANDATO Mandatos fixos Mandatos voláteis quanto

ao Chefe de Governo

Nota-se, portanto, que enquanto no presidencialismo as funções de Chefe de

Estado e Chefe de Governo são cumuladas em um único indivíduo, o Presidente da

República, no parlamentarismo tais funções são exercidas por indivíduos distintos.

Outra diferença notável é o fato de que no presidencialismo os mandatos do

Presidente da República são fixos. No Brasil, a titulo de exemplo, os mandatos são de

quatro anos, sendo possível a reeleição. No parlamentarismo, contudo, há tenuidade

quanto ao mandato do Chefe de Governo. O Primeiro Ministro é escolhido pelo

parlamento, vinculando-o ao povo caso seja aprovado. Contudo, é possível que o

mesmo parlamento venha a destituí-lo por meio de voto ou moção de desconfiança,

quando entender que a execução do plano de governo não está satisfatória2.

Diante de tais apontamos, pergunta-se: é possível que haja a alteração quanto

ao sistema de governo adotado pela Constituição?

A resposta não é tão simples. Primeiramente, é possível sim que haja alteração

do sistema de governo, mudando-o de presidencialista para parlamentarista. Contudo,

não é possível que o façamos por meio de emenda constitucional, ainda que sejam

conhecidas várias PECs nesse sentido (ex.: PEC 32/2015, PEC 105/2015 e PEC 9/2016).

Segundo Aline C. Nobile, no artigo intitulado Mudança no sistema de governo

brasileiro é possível3, há um argumento importante sobre a inconstitucionalidade das

PECs que visam à mudança do sistema de governo atual para o parlamentarismo, qual

seja: “o legislador constituinte originário impôs a ocorrência de plebiscito cinco anos

após a promulgação da Constituição para que a população definisse a forma (república

ou monarquia constitucional) e sistema de governo (presidencialismo ou

parlamentarismo) no artigo 2º do ADCT. Ocorrido o plebiscito e vencido o

2 Texto disponível em: <https://www.grancursospresencial.com.br/novo/upload/sdg.pdf> 3 Texto disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-mai-11/aline-nobile-mudanca-sistema-sistema-governo-possivel>

Page 13: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

5

presidencialismo, a referida norma constitucional teve sua eficácia exaurida, e,

portanto, não possuindo mais aplicabilidade fática.”

2.4. Modelo Brasileiro e Princípio da Simetria

Como já vimos, o modelo adotado pelo Brasil é o presidencialismo. Nesse sentido

é a disposição do art. 76 da Constituição Federal: “O Poder Executivo é exercido pelo

Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.”

Portanto, na esfera federal, além do Presidente da República, serão nomeados

Ministros de Estado para acompanhar as atividades do Chefe de Estado/Governo. Aqui,

convém destacarmos a fragilidade da função de Ministro, visto que é direito do

Presidente da República destituí-los ad nutum, isto é, pelo simples juízo do mesmo.

Na esfera estadual e municipal, serão nomeados Secretários para acompanhar

os atos do Chefe do Executivo Estadual e Municipal, quais sejam, respectivamente, o

Governador e o Prefeito.

Tal disposição ocorre de acordo com o Princípio da Simetria, segundo o qual se

exige dos Estados, Distrito Federal e Municípios a adoção, sempre que possível, em suas

respectivas Constituições e Leis Orgânicas, bem como em suas ações lato sensu, os

princípios fundamentais e as regras de organização existentes na Constituição da

República – principalmente relacionadas a estrutura do governo, forma de aquisição e

exercício do poder, organização de seus órgãos e limites de sua própria atuação4

(Marcílio Guedes Drummond).

2.5. Do Presidente da República

2.5.1. Das Eleições

Inicialmente, dispõe o caput do art. 77 da Constituição Federal: “A eleição do

Presidente da República e do Vice-Presidente da República realizar-se-á,

simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último

domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do

mandato presidencial vigente.”

Para tanto, “A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente

com ele registrado” (§1º), formando, portanto, chapa única. Posteriormente ao pleito,

“Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político,

obtiver a maioria de votos, não computados os em branco e os nulos.” (§2º)

Contudo, “Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação,

far-se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo

os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria

dos votos válidos.” (§3º)

4 Texto disponível em: <https://marciliodrummond.jusbrasil.com.br/artigos/211108087/o-tao-falado-principio-da-simetria>

Page 14: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

6

Por fim, “O mandato do Presidente da República é quatro anos e terá início em

primeiro de janeiro do ano seguinte ao da sua eleição.” (art. 82 da Constituição Federal)

2.5.2. Requisitos para ocupar o cargo

Para que concorra à Presidência, é necessário que o indivíduo cumule os

seguintes requisitos (art. 14, §§ 3º, 4º e 7º, da Constituição Federal):

1) Ser brasileiro nato;

2) Estar em pleno exercício dos direitos políticos;

3) Possuir alistamento eleitoral;

4) Possuir domicílio eleitoral na devida circunscrição;

5) Possuir filiação partidária;

6) Ter idade mínima de 35 anos, comprovados na data da posse;

7) Não ser inalistável nem analfabeto;

8) Não ser inelegível.

2.5.3. Vacância, Impedimento e Sucessão Presidencial

Vacância, nesse caso, dar-se-á quando o cargo de Presidente da República ou

Vice-Presidente forem desocupados permanentemente de forma atípica. Ocorrerá

diante de impeachment, renúncia ou morte. Por outro lado, impedimento é a

desocupação do cargo de Presidente ou Vice-Presidente por tempo determinado ou

indeterminado, uma vez que haja previsão de que aquele que o ocupava voltará, em

regra, a ocupá-lo (caráter temporário). Virá a ocorrer, por exemplo, diante de doença,

férias ou viagem internacional.

2.5.3.1. Não ocorrência da posse

Quando eleitos, segundo disposição do art. 78 da Constituição Federal, “O

Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do Congresso

Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição,

observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a

integridade e a independência do Brasil.”

Contudo, “Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o

Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, ele será

declarado nulo.”

Nesse caso, ocorrerão novas eleições, em respeito ao disposto no art. 81, caput,

da Constituição Federal (abaixo transcrito).

2.5.3.2. Da Vacância

Posteriormente à posse e diante da vacância de ambos os cargos, respeitar-se-á

o disposto no art. 81, caput, da Constituição: “Vagando os cargos de Presidente e Vice-

Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.”

Page 15: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

7

Caso a vacância venha a ocorrer nos últimos dois anos do mandato presidencial,

tal eleição ocorrerá trinta dias após a vacância da última vaga, sendo feita pelo

Congresso Nacional (§1º).

Ainda que vague nos dois últimos anos ou em período anterior, os novos

Presidentes e Vice-Presidente eleitos somente permanecerão no cargo até o final do

mandato.

Por fim, convém mencionar que quando da vacância somente do Presidente da

República, não há o que se falar em novas eleições. Nesse caso, assumirá o Vice-

Presidente. Por outro lado, vagando somente o cargo de Vice-Presidente, não há o que

se falar em substituição, permanecendo o cargo vago.

2.5.3.3. Do Impedimento

Como dito anteriormente, o impedimento somente ocorrerá quando se tiver

expectativa acerca do retorno daquele que ocupava o cargo. É, portanto, uma “vacância

temporária”. Nesses casos, respeitar-se-á a sucessão presidencial.

2.5.3.4. Sucessão

Segundo disposição do art. 80 da Constituição, é a linha sucessória do Presidente

da República:

1) Presidente da República;

2) Vice-presidente da República;

3) Presidente da Câmara dos Deputados;

4) Presidente do Senado Federal;

5) Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Convém informar, porém, que, segundo entendimento fixado pela ADPF 402,

não é possível que réus em ação penal perante o Supremo Tribunal Federal venham a

substituir o Presidente da República.

Como já vimos anteriormente, vigora no Ordenamento Jurídico brasileiro o

Princípio da Simetria. Nesse sentido, é a linha sucessória no âmbito estadual:

1) Governador;

2) Vice-governador;

3) Presidente da Assembleia Legislativa;

4) Presidente do Tribunal de Justiça.

Da mesma forma, é a sucessão no âmbito municipal:

1) Prefeito;

2) Vice-prefeito;

3) Presidente da Câmara Municipal;

4) Cargo vago: nesse sentido é a jurisprudência:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – ART. 75, §2º, DA

CONSTITUIÇÃO DE GOIÁS – DUPLA VACÂNCIA DOS CARGOS DE PREFEITO E

Page 16: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

8

VICE-PREFEITO – COMPETÊNCIA LEGISLATIVA MUNICIPAL – DOMÍNIO

NORMATIVO DA LEI ORGÂNICA – AFRONTA AOS ARTS. 1º E 29 DA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.

1. O poder constituinte dos Estados-membros está limitado pelos

princípios da Constituição da República, que lhes assegura autonomia com

condicionantes, entre as quais se tem o respeito à organização autônoma dos

Municípios, também assegurada constitucionalmente.

2. O art. 30, inc. I, da Constituição da República outorga aos Municípios

a atribuição de legislar sobre assuntos de interesse local. A vocação sucessória

dos cargos de prefeito e vice-prefeito põem-se no âmbito da autonomia

política local, em caso de dupla vacância.

[...]

2.5.3.5. Anulação do Pleito

Conforme prevê o art. 224 do Código Eleitoral: “Se a nulidade atingir mais da

metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e

estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais

votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40

(quarenta) dias.”

Aqui, convém informar que pairou dúvida acerca do termo nulidade. Dividiu-se

o entendimento do termo entre votos nulos (equiparando-se a estes os brancos) ou

votos irregulares, acometidos por ilicitude. No entanto, segundo posicionamento do

Tribunal Superior Eleitoral, fixou-se entendimento no sentido de que somente serão

consideradas nulas as eleições, nos ditames do art. 224 do Código Eleitoral, uma vez que

mais de 50% dos votos apresentam irregularidade (anuláveis).

Tais anulações estão dispostas nos arts. 221 e 222 do Código Eleitoral, sendo o

teor:

Art. 221 do Código Eleitoral. É anulável a votação:

I – quando houver extravio de documento reputado essencial;

II – quando for negado ou sofrer restrição o direito de fiscalizar, e o

fato constar da ata ou de protesto interposto, por escrito, no momento;

III – quando votar, sem as cautelas do art. 147, §2º;

a) eleitor excluído por sentença não cumprida por ocasião da remessa

das filhas individuais de votação à mesa, desde que haja oportuna reclamação

de partido;

b) eleitor de outra seção, salvo hipótese do art. 145;

c) alguém com falsa identidade em lugar do eleitor chamado.

Art. 222 do Código Eleitoral. É também anulável a votação, quando

viciada de falsidade, fraude, coação, uso de meios de que trata o art. 237, ou

emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por

lei.

Page 17: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

9

2.5.3.6. Recall Presidencial

Recall, segundo o Dicionário Jurídico Acquaviva, é o “meio de pedir o

afastamento de políticos ou servidores públicos a pedido de um percentual de

cidadãos.” Tratando-se, porém, de recall presidencial, será o afastamento do Presidente

da República diante do pedido de um percentual de cidadãos.

Ocorre que tal instituto não é abrangido pelo Ordenamento Jurídico brasileiro.

Contudo, tal artifício é objeto de inúmeras discussões. Aqui, cabe citar a PEC nº 21/2015,

a qual tem como pretensão incorporar este elemento à Constituição Federal. Segundo

a explicação da ementa da mesma, “acrescenta incisos e parágrafo ao art. 14 da

Constituição Federal, para determinar que a soberania popular será exercida, nos

termos da lei, mediante veto popular e direito de revogação de mandato de membros

dos poderes Executivo e Legislativo, estabelecendo que poderão ter seus mandatos

revogados após o transcurso de dois anos da data da posse5.”

2.5.4. Responsabilidade do Presidente da República

2.5.4.1. Introdução

O Presidente da República será responsabilizado pelos crimes comuns ou de

responsabilidade.

Segundo disposição do art. 85 da Constituição Federal: “São crimes de

responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição

Federal e, especialmente, contra: I – a existência da União; II – o livre exercício do Poder

Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das

unidades da Federação; III – o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV –

a segurança interna do País; V – a probidade da administração; VI – a lei orçamentária;

VII – o cumprimento das leis e das decisões judiciais.”

Conforme dita o parágrafo único deste artigo: “Esses crimes serão definidos em

lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.”

Por esse motivo, além destes crimes, também serão considerados crimes de

responsabilidade praticados pelo Presidente da República aqueles dispostos na Lei nº

1.079/50.

Crimes comuns, por outro lado, são quaisquer dos crimes dispostos no

Ordenamento Jurídico brasileiro que podem ser cometidos por qualquer indivíduo.

Diante de tais crimes, é possível que seja realizada acusação contra o Presidente

da República. Nesse caso, a acusação será recebida pela Câmara dos Deputados, onde

será votada a sua admissão.

Segundo o art. 86, caput, da Constituição Federal, “Admitida a acusação contra

o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele

5 Texto disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/120006>

Page 18: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

10

submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais

comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.”

Tal fato se dá em decorrência do foro de prerrogativa de função. Trata-se de

instituto que tem como objetivo dar maior proteção a determinados indivíduos quanto

à visibilidade de seus atos ilícitos, visto ocuparem cargos de elevada importância.

2.5.4.2. Princípio da Anterioridade e Legalidade

Convém destacar que qualquer alteração que venha a ocorrer nos artigos e leis

que dispõem acerca dos crimes de responsabilidade não atingirão os Presidentes cujo

mandato coincida com a mudança legal.

Nesse caso, somente passarão a valer em relação ao mandato posterior.

Esse entendimento é fixado pelos Princípio da Anterioridade e Legalidade,

segundo os quais: “não há crime sem lei anterior que defina, nem pena sem prévia

cominação legal” (art. 5º, XXXIX, CF).

Quanto à criação das normas e julgamento das mesmas, é a disposição da

Súmula Vinculante nº 46: “A definição dos crimes de responsabilidade e o

estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são de competência

legislativas privativa da União.”

2.5.4.3. Dos Crimes de Responsabilidade

Conforme dispomos anteriormente, crimes de responsabilidade são aqueles

cometidos em função do exercício da função. Nesse caso, não se tratarão de infrações

penais, mas administrativas.

2.5.4.3.1. Sujeitos Ativos

Ainda que comum a ligação entre crime de responsabilidade e o Presidente da

República, convém informar que tais infrações poderão ser cometidas por outros

indivíduos. Segue o rol:

(1) Presidente da República, (2) Vice-Presidente da República, (3) Ministros,

desde que em crimes conexos com o do Presidente da República, (4) Ministros do

Supremo Tribunal Federal, (5) membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do

Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), (6) Procurador-Geral da República,

(7) Advogado-Geral da União, (8) Governadores e (9) Prefeitos.

2.5.4.3.2. Procedimento

Como dito anteriormente, quando da disposição da Súmula Vinculante nº 46, é

de competência privativa da União a criação de normas referentes ao processo e

julgamento dos crimes de responsabilidade.

Nesse sentido, criou-se polêmica, vez que o procedimento para a votação do

pedido de impeachment diante de crime de responsabilidade constava do Regimento

Interno da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Page 19: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

11

Essa situação chegou ao Supremo Tribunal Federal, segundo o qual, a partir do

acórdão emitido no julgamento da ADPF nº 378, “a aplicação subsidiária do Regime

Interno da Câmara dos Deputados e do Senado Federal ao processamento e julgamento

do impeachment não viola a reserva de lei especial imposta pelo art. 85, parágrafo único,

da Constituição, desde que as normas regimentais sejam compatíveis com os preceitos

legais e constitucionais pertinentes, limitando-se a disciplinar questões interna

corporis.”

Passada a polêmica, é o procedimento, segundo disposição da Lei 1.079/50:

2.5.4.3.2.1. Da denúncia

De acordo com o art. 14 da Lei em questão: “É permitido a qualquer cidadão

denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado, por crime de

responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.”

Portanto, não há qualquer limitação quando da denúncia dos crimes de

reponsabilidade pelos sujeitos ativos acima dispostos cometidos, sendo possível que a

acusação seja feita por qualquer dos cidadãos.

2.5.4.3.2.2. Da acusação

“Recebida a denúncia, será lida no expediente da sessão seguinte e despachada

a uma comissão especial eleita, da qual participem, observada a respectiva proporção,

representantes de todos os partidos para opinar sobre a mesma.”

Aqui, recebida a denúncia, caberá ao Presidente da Câmara realizar análise

meramente formal, averiguando se estão presentes os requisitos necessários. Nesse

sentido, afirma o Mandado de Segurança nº 20.941/DF, segundo o qual é de

competência do Presidente da Câmara dos Deputados proceder a “... exame preliminar

da idoneidade da denúncia popular, ‘que não se reduz à verificação das formalidades

extrínsecas e da legitimidade de denunciantes e denunciados, mas se pode estender (...)

à rejeição da acusação patentemente inepta ou despida de justa causa, sujeitando-se ao

controle do Plenário da Casa, mediante recurso.”

Encaminhada à Comissão Especial, será votada a denúncia, sendo feito relatório/

parecer sobre o caso. Nesse sentido é o art. 20, caput, da Lei 1.079/50: “A comissão a

que alude o artigo anterior se reunirá dentro de 48 horas e, depois de eleger seu

Presidente e relator, emitirá parecer, dentro do prazo de dez dias, sobre se a denúncia

deve ser ou não julgada objeto de deliberação. Dentro desse período poderá a comissão

proceder às diligências que julgar necessárias ao esclarecimento da denúncia.”

Nesse período, será notificado o acusado pelos crimes de responsabilidade,

devendo apresentar defesa, se assim o querer, em até 10 sessões.

Se o entendimento for no sentido de acolher a acusação, a mesma é remetida ao

Plano da Câmara, onde será novamente votada, dependendo a sua aprovação do voto

de 2/3 dos membros da mesma. É a disposição do art. 51, I, da Constituição Federal:

“Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I – autorizar, por dois terços de seus

Page 20: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

12

membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da

República e os Ministros de Estado.”

Tal votação, segundo decisão proferida pelo STF quando do julgamento da ADPF

nº 378, somente autorizará a instauração do processo. Ou seja, não compete à Câmara

dos Deputados a condenação do acusado.

Nesse sentido, aprovada a instauração do processo, será remetido, em forme de

resolução, ao Senado Federal, o qual tem competência para julgar, de fato, a denúncia

e condenar o acusado.

2.5.4.3.2.3. Do julgamento

Como dita o art. 52, I, da Constituição Federal: “Compete privativamente ao

Senado Federal: I – processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos

crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da

Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com

aqueles.”

O procedimento quando no Senado Federal será trifásico, compreendendo-se

por: (1) juízo de acusação, (2) juízo de pronúncia e (3) judicium causae (julgamento

propriamente dito.

2.5.4.3.2.4. Juízo de acusação

Recebida a resolução da Câmara dos Deputados, será discutida pelo Pleno do

Senado Federal, dependo o prosseguimento da votação positiva da maioria simples.

“Se o Senado resolver que a denúncia não deve constituir objeto de deliberação,

serão os papeis arquivados” (art. 48 da Lei nº 1.079/50). Por outro lado, se aprovado por

maioria simples será considerada objeto de deliberação.

Quando da aprovação, considera-se instaurado o processo perante o Senado

Federal, sendo presidido, segundo disposição do art. 52, parágrafo único, da

Constituição Federal, pelo Presidente do STF.

Para tanto, deverá o denunciado estar exercendo o cargo quando da denúncia.

Se não mais o exercer não há o que se falar em acolhimento da denúncia por parte do

Senado Federal. Contudo, segundo decisão do STF (MS 21.689-1), a destituição deverá

ocorrer anteriormente ao início do processo. Se o desligamento com o cargo for feito

posteriormente ao início do processo, não há o que se falar em extinção.

Nesse caso, deverá o Presidente da República ficar afastado de suas funções por

prazo de até 180 dias, conforme indica o art. 86, §1º, II, da Constituição: “§1º. O

Presidente ficará suspenso de suas funções: [...] II – nos crimes de responsabilidade,

após a instauração do processo pelo Senado Federal.”

Diante do afastamento do Presidente da República assumirá interinamente o

Vice-Presidente.

Page 21: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

13

Decorridos os 180 dias, caso o processo não tenha sido concluído o denunciado

retornará ao seu cargo normalmente (§2º).

2.5.4.3.2.5. Juízo de pronúncia

Aceita a denúncia, cria-se Comissão Especial que deverá desenvolver relatório/

parecer. Para tanto, inicia-se fase de instrução probatória.

Ao final, feito o relatório, o mesmo será submetido ao pleno, sendo aprovado

pela votação positiva da maioria simples. Recusado o relatório, arquivam-se os autos.

2.5.4.3.2.6. Judicium causae (julgamento propriamente dito)

Aprovado o relatório, há, de fato, o julgamento do acusado.

Nesse sentido, é a disposição do art. 52, parágrafo único, da Constituição

Federal: “Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do

Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por

dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito

anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais

cabíveis.”

Portanto, em sessão presidida pelo Presidente do STF, votar-se-á acerca da

condenação do acusado, sendo a mesma aprovada por 2/3 dos membros do Pleno.

2.5.4.3.3. Consequências do impeachment

São duas as penas: (1) perda do cargo e (2) inabilitação para o exercício de

função pública por 8 anos.

Pergunta-se: as penas são cumuladas ou autônomas?

Para responder a tal pergunta, convém que sejamos remetidos ao julgamento do

MS 21.689/DF, impetrado pelo ex-Presidente Fernando Affonso Collor de Melo.

É a ementa:

Constitucional. «Impeachment», Controle Judicial. «Impeachment»

do Presidente da República. Pena de Inabilitação para o exercício de função

pública. CF, art. 52, parágrafo único. Lei nº 27, de 7-1-1892; Lei nº 30, de 8-

1-1892. Lei nº 1.079, de 1950.

I – Controle judicial do «Impeachment»: possibilidade, desde que se

alegue lesão ou ameaça a direito. CF, art. 5º, XXXV. Precedentes do STF: MS

nº 20.941-DF (RTJ 142/88); MS nº 21.564-DF e MS nº 21.626-DF.

II – O «Impeachment», no Brasil, a partir da Constituição de 1891,

segundo o modelo americano, mas com características que o distinguem

deste: no Brasil, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, lei ordinária

definirá os crimes de responsabilidade, disciplinará a acusação e

estabelecerá o processo e o julgamento.

III – Alteração do direito positivo brasileiro: a Lei nº 27, de 1892, art.

3º, estabelecia: a) o processo de «Impeachment» somente poderia ser

Page 22: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

14

intentado durante o período presidencial; b) intentado, cessaria quando o

Presidente, por qualquer motivo, deixasse definitivamente o exercício do

cargo. A Lei nº 1.079, de 1950, estabelece, apenas, no seu art. 15, que a

denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por

qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo.

IV – No sistema do direito anterior à Lei nº 1.079, de 1950, isto é, no

sistema das Leis nos 27 e 30, de 1892, era possível a aplicação tão-somente

da pena de perda do cargo, podendo esta ser agravada com a pena de

inabilitação para exercer qualquer outro cargo (Constituição Federal de

1891, art. 33, §3º; Lei nº 30, de 1892, art. 2º), emprestando-se à pena de

inabilitação o caráter de acessoriedade (CF, 1934, art. 58, §7º; CF, 1946, art.

62, §3º; CF, 1967, art. 44, parág. único; EC nº 1/69, art. 42, parág. único; CF,

1988, art. 52, parágrafo único; Lei nº 1.079, de 1950, artigos 2º, 31, 33 e 34).

V – A existência, no «Impeachment» brasileiro, segundo a

Constituição e o direito comum (CF, art. 52, parág. único; Lei nº 1.079, de

1950, artigos 2º, 33 e 34), de duas penas: a) perda do cargo; b) inabilitação,

por oito anos, para o exercício de função pública.

VI – A renúncia ao cargo, apresentada na sessão de julgamento,

quando já iniciado este, não paralisa o processo de «Impeachment».

VII – Os princípios constitucionais de impessoalidade e da

moralidade administrativa (CF, art. 37).

VIII – A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal relativamente

aos crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, na forma do

Decreto-Lei nº 201, de 27-2-1967. Apresentada a denúncia, estando o

Prefeito no exercício do cargo, prosseguirá a ação penal, mesmo após o

término do mandato, ou deixando o Prefeito, por qualquer motivo, o

exercício do cargo.

IX – Mandado de segurança indeferido.

Vê-se, portanto, que o Mandado de Segurança impetrado tinha como objetivo

extinguir a pena referente à inabilitação, por oito anos, para o exercício da função

pública, visto ter o impetrante, anteriormente à condenação, renunciado ao cargo.

Segundo este pedido, entender-se-ia que os pedidos seriam cumulativos,

somente podendo o segundo ser aplicado em decorrência da aplicação do primeiro.

Contudo, foi a decisão deste MS, representada aqui pelo voto do Min. José

Dantas:

Identificado o objeto do impeachment, tanto quanto o diga a distinção

ontológica da diversificada apenação prevista – a perda do cargo, com

inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública (CF, art. 52, par.

único) –, certo entender-se que a renúncia do cargo não interfere com a

subsistência do objeto do processo instaurado. Este, constitucionalmente

bipolarizado em afastar definitivamente do cargo o titular acusado, e impedi-

lo de voltar à função pública por algum tempo, restou por consumar-se nesse

último intuito. E com essa bipolarização objetiva consta de preceito

constitucional explícito, legítimo nesse plano se oferece a norma legal que

silencia o encerramento do processo, pela boa lógica de que a renúncia, ao

Page 23: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

15

frustrar a realização material da primeira reprimenda política visada, não tem

justificação, material ou formal, para alcançar aquela segunda,

materialmente possível como formal e oportunamente instrumentada pelo

devido processo de direito.

Por sua vez, com a devida vênia das doutas sustentações em contrário,

não alcanço o porquê da afetação jurisdicional que resultaria do fato de

escapar o denunciado à pena de perda do cargo pela renúncia dirigida.

Desinvestido o titular do cargo marcante da jurisdição do Senado Federal,

mas restando ao respectivo processo coator aquela segunda reprimenda

teleologicamente preventiva, e que se escusa à impossibilidade material

padecida pela primeira, de caráter repressivo, não se concebe, d.m.v., que o

incidente fulmine a jurisdição, deixando-a incompleta no seu duplo

desiderato de fazer cessar a de prevenir a prática de abusos e desmandos dos

governantes regularmente acusados.”

[...]

Em suma, vencido o questionamento de tão improvável

acessoriedade, volte-se ao tema da jurisdição.

Mutatis mutandis, dando-se o que é seu à jurisdição e à competência,

nos distintos componentes conceituais, a hipótese dos autos lembra a

sumulada orientação deste Pretório Excelso, sobre que a perda do cargo não

altera a competência suprema para os crimes comuns praticados por aqueles

mesmos governantes (Súmula 394); como também, no exato propósito da

perpetuatio jurisdictionis concernente aos crimes de responsabilidade dos

prefeitos municipais – quanto aos quais o DL nº 201/67 inovou a jurisdição,

bipartindo-a entre a Câmara de Vereadores e o Judiciário –, lembra a

orientação pretoriana de que, deixando o cargo, a ação penal antes intentada

contra o prefeito deve prosseguir; só não se lhe admitindo a instauração por

denúncia recebida após aquele afastamento definitivo (RHC 65.207-GO, Rel.

Min. Moreira Alves, in RTJ 123/518).”

Resumidamente, afastou-se o caráter cumulativo das consequências, dando-as

caráter autônomo. Nesse sentido, a renúncia, quando ocorrida posteriormente ao

recebimento da denúncia, não enseja a extinção do processo e, muito menos, a não

aplicação da pena de inabilitação, por oito anos, para exercer funções públicas. Aplica-

se o chamado perpetuatio jurisdictionis.

Até então essa era a regra. Contudo, remetemo-nos a um caso mais recente,

referente ao impeachment da ex-Presidente Dilma Rousseff. Nessa situação, tomou-se

procedimento anômalo, no sentido de que as consequências pela condenação da

aprovação do processo (perda do cargo e inabilitação) foram votadas em separado,

culminando na perda do cargo, porém na não inabilitação para exercer funções públicas.

Segundo comentário de Pedro Lenza: “Dizer que não é acessória não significa,

em nosso entender, determinar o fatiamento do modo de votação. A literalidade da

Constituição é implacável ao afirmar, no parágrafo único do art. 52, que a condenação

limita-se à perda do cargo COM inabilitação por 8 anos para o exercício de função

pública. Nesse sentido, também a regra contida no caput do art. 68 da Lei n. 1.079/50.”

Page 24: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

16

Hoje, ainda que haja posicionamento doutrinário em contrário, entende-se ser a

regra a possibilidade do fracionamento das consequências. Diante do art. 52, parágrafo

único, da Constituição Federal, onde há “com”, leia-se “ou”.

Por fim, pergunta-se: é possível que o STF analise judicialmente a aprovação do

impeachment? Não! Não há cabimento a revisão judicial da decisão que aprovou o

impeachment, pois a Constituição é clara no sentido de incumbir privativamente ao

Senado Federal o processo e julgamento do Presidente da República.

Contudo, diante do impeachment, é possível que o STF venha a analisar questão

de interpretação e aplicação da lei.

2.5.4.4. Dos Crimes Comuns

2.5.4.4.1. Introdução e conceito

Além dos crimes de responsabilidade, é possível, como já dito, que o Presidente

da República seja condenado por crimes comuns. Entende-se por crime comum aquele

que pode ser cometido por qualquer indivíduo, não sendo exigido para tanto, portanto,

qualidade específica.

2.5.4.4.2. Legislação

As definições e procedimentos dos crimes comuns cometidos pelo Presidente da

República estão dispostos na Lei nº 8.038/90, além dos artigos da Constituição Federal

já referidos e que, ao longo, da explicação voltarão a ser citados.

2.5.4.4.3. Competência

Diferentemente da análise do processo de impeachment, compete

privativamente ao Supremo Tribunal Federal, em decorrência do foro de prerrogativa

de função que recai sobre o Presidente da República, julgar os casos de crimes comuns

por ele cometidos.

Nesse sentido é o art. 102, I, b, da Constituição Federal: “Compete ao Supremo

Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I – processar

e julgar, originariamente: b) nas infrações comuns, o Presidente da República, o Vice-

Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-

Geral da República.”

Além da competência para julgamento, pergunta-se: quem é competente para

oferecer denúncia contra o Presidente da República? Compete ao Procurador-Geral da

República oferecer denúncia contra o Presidente da República.

2.5.4.4.4. Procedimento

Oferecida a denúncia, a mesma será remetida à Câmara dos Deputados, o qual

deverá realizar juízo de admissibilidade da mesma.

Page 25: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

17

Segundo o Dicionário Jurídico Acquaviva, entende-se por juízo de

admissibilidade: “Análise prévia, por tribunal, do cabimento de recurso, bem como do

cumprimento de todos os pressupostos exigidos pela lei, para sua regular interposição.”

Nesse caso, portanto, caberia à Câmara dos Deputados averiguar a observância

da denúncia quanto aos pressupostos processuais necessárias para tanto.

A aprovação da denúncia se dará mediante aceitação de 2/3 dos membros da

Câmara, sendo remetido, quando aceito, ao Supremo Tribunal Federal para que seja

julgado. Nesse sentido é o art. 86, caput, primeira parte, da Constituição Federal:

“Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos

Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas

infrações penais comuns...”

Quando da aprovação da denúncia, será o Presidente da República afastado por

180 dias, conforme disposição do §1º, I, deste artigo, segundo o qual: “O Presidente

ficará suspenso de suas funções: I – nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia

ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal.”

Tal afastamento tem como objetivo evitar que o Presidente, quanto na função,

exerça influência sob quais quer dos elementos do processo crimine.

Aqui, contudo, convém que informemos acerca da existência da imunidade

presidencial ou irresponsabilidade penal relativa, segundo a qual: “O Presidente da

República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos

estranhos ao exercício de suas funções.”

Portanto, somente poderá ocorrer o seu afastamento diante de crime comum

cometido em razão da função que exerce enquanto Presidente da República. Diante de

crime comum não interligado à função, ainda que cometido anteriormente à posse,

suspende-se o processo até que o mandato se encerre, momento no qual correrá

normalmente perante a justiça comum.

Importante, ainda, o comentário de Pedro Lenza: “No tocante às infrações de

natureza civil, política (crimes de responsabilidade), administrativa, fiscal ou tributária,

poderá o Presidente da República ser responsabilizado, pois a imunidade

(irresponsabilidade penal relativa) restringe-se apenas à persecutio criminis por ilícitos

penais que não tenham sido cometidos in officio ou propter officium, como vimos.”

Quando do julgamento, aplicar-se-á o disposto no §3º, segundo o qual:

“Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da

República não estará sujeito a prisão.” Diante de tal disposição, estende-se a

impossibilidade de prisão inclusive em relação às prisões cautelares.

2.5.4.4.5. Demais chefes do executivo

Pergunta-se: tal procedimento será utilizado diante dos ilícitos comuns

cometidos pelos demais Chefes do Poder Executivo?

Page 26: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

18

Primeiramente, convém destacar que todos os chefes do executivo, em

decorrência do Princípio da Simetria, possuem foro de prerrogativa de função, o que faz

com que seus julgamentos não ocorram, enquanto no exercício de suas funções, na

justiça comum.

Nesse sentido, o Presidente da República será julgado perante o Supremo

Tribunal Federal, os Governadores perante o Superior Tribunal de Justiça e os Prefeitos

perante o respectivo Tribunal de Justiça.

Quanto à pergunta anteriormente feita, proferiu-se acórdão (ADI 5.540) no

sentido de que não ocorrerá o afastamento automático quando do recebimento da

denúncia. Da mesma forma, não há o que se falar em irresponsabilidade penal relativa

quando se tratar dos Chefes do Poder Executivo Estadual e Municipal.

Portanto, não. Não se utiliza o mesmo procedimento diante dos ilícitos comuns

praticados pelos Chefes do Poder Executivo Estadual e Municipal.

2.5.5. Das Funções do Presidente da República

Estão dispostas no art. 84 da Constituição Federal.

2.6. Dos Ministros de Estado

2.6.1. Legislação

Tal cargo está disposto nos arts. 87 e 88 da Constituição Federal.

2.6.2. Foro de prerrogativa de função

De acordo com disposição do art. 52, I, e 102, I, b, da Constituição Federal,

possuem sim foro de prerrogativa de função.

2.6.3. Funções

Segundo disposição do art. 87, parágrafo único, da Constituição: “Compete ao

Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei:

I – exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da

administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos

assinados pelo Presidente da República; II – expedir instruções para a execução das leis,

decretos e regulamentos; III – apresentar ao Presidente da República relatório anual de

sua gestão no Ministério; IV – praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem

outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.”

Além disso, é possível que o Presidente da República lhes atribua funções de

acordo com a área em que atuam.

Page 27: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

19

2.6.4. Escolha

Conforme destaca o caput do artigo anteriormente descrito: “Os Ministros de

Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício

dos direitos políticos.”6

Portanto, compete ao Presidente da República a escolha quanto aos indivíduos

que ocuparão o cargo de Ministro de Estado. Por esse motivo, configuram longa manus,

isto é, são indivíduos da confiança do Presidente da República.

Convém destacar que, tratando-se de parlamentar designado ao cargo de

Ministro, não há o que se falar em necessidade de renúncia àquele. Nesse caso, é

possível que se licencie do cargo de parlamentar, passando a exercer função de Ministro.

Ao final de suas atividades, voltará normalmente ao cargo parlamentar.

Por outro lado, assim como são designados pelo Presidente sem prévia

justificativa, poderão, da mesma forma (ad nutum), ser destituídos dos cargos.

Cabe ao Presidente, inclusive, estabelecer o número de Ministros que comporão

o seu Governo.

3. Poder Legislativo 3.1. Introdução

O Poder Legislativo caracteriza-se pelo Poder cuja proximidade com a população

se mostra mais acentuada. Assim o é, vez que tem por função decidir e legislar acerca

dos assuntos que pairam sobre a esfera nacional.

Nesse sentido é o art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal: “Todo poder

emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente,

nos termos desta Constituição.”

Além da função legislativa em si, incumbe ao Poder Legislativo a fiscalização dos

atos do Poder Executivo, por meio do Tribunal de Contas.

3.2. Disposição

Segue a tabela:

MUNICIPAL ESTADUAL DISTRITAL FEDERAL

Unicameral – Câmara dos Vereadores

Unicameral – Assembleia Legislativa

Unicameral – Câmara Distrital

Bicameral – Câmara dos Deputados e

Senado Federal (Congresso Nacional)

6 Art. 12, §3º, da Constituição Federal. São privativos de brasileiro nato os cargos: [...] VII – de Ministro de Estado da Defesa.

Page 28: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

20

Passemos a estudar especificamente os órgãos:

3.3. Órgãos Legislativos

3.3.1. Congresso Nacional

3.3.1.1. Composição

O Congresso Nacional compõe-se pela junção dos órgãos do Poder Legislativo de

âmbito federal, ou seja, compõe-se pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.

Posteriormente veremos cada um dos órgãos individualmente.

3.3.1.2. Atribuições

Suas atribuições estão dispostas nos arts. 48 a 50 da Constituição Federal.

3.3.2. Câmara dos Deputados

3.3.2.1. Composição

Segundo disposição do art. 45 da Constituição Federal: “A Câmara dos Deputados

compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada

Estado, em cada Território e no Distrito Federal.”

Nesse sentido é a Lei Complementar nº 78, em sua totalidade:

Art. 1º. Proporcional à população dos Estados e do Distrito Federal, o

número de deputados federais não ultrapassará quinhentos e treze

representantes, fornecida, pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, no ano anterior às eleições, a atualização estatística demográfica

das unidades da Federação.

Parágrafo único. Feitos os cálculos da representação dos Estados e do

Distrito Federal, o Tribunal Superior Eleitoral fornecerá aos Tribunais

Regionais Eleitorais e aos partidos políticos o número de vagas a serem

disputadas.

Art. 2º. Nenhum dos Estados membros da Federação terá menos de

oito deputados federais.

Parágrafo único. Cada Território Federal será representado por quatro

deputados federais.

Art. 3º. O Estado mais populoso será representado por setenta

deputados federais.

Art. 4º. Esta Lei Complementar entre em vigor na data de sua

publicação.

Art. 5º. Revogam-se as disposições em contrário.

3.3.2.2. Eleição

A eleição dos deputados se dará através de princípio proporcional, isto é, o

número, como dito na Lei Complementar acima disposta, respeitará a população do

Brasil, proporcionalmente.

Page 29: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

21

3.3.2.3. Mandato

O mandato dos deputados federais será de quatro anos, sendo possível a

reeleição.

3.3.2.4. Competência

Conforme designação do art. 51 da Constituição Federal: “Compete

privativamente à Câmara dos Deputados: I – autorizar, por dois terços de seus membros,

a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os

Ministros de Estado; II – proceder à tomada de contas do Presidente da República,

quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a

abertura da sessão legislativa; III – elaborar seu regimento interno; IV – dispor sobre sua

organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos,

empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva

remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes

orçamentárias; V – eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89,

VII.”

3.3.3. Senado Federal

3.3.3.1. Composição

Segundo disposição do art. 46 da Constituição Federal: “O Senado Federal

compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o

princípio majoritário.”

Ao todo serão 81 senadores, três de cada Estado e o Distrito Federal.

Há quem entenda que tal disposição é desproporcional, visto que determinados

Estados possuem população maior que outros, motivo pelo qual defendem a utilização

de critério proporcional quanto ao número de senadores por Estado.

3.3.3.2. Eleição

Como destacado anteriormente, obedecerá a princípio majoritário, ou seja, por

Estado, serão eleitos os três mais votados.

3.3.3.3. Mandato

O mandato será de 8 anos, renovando-se à medida 1-2/3, ou seja, alterna-se

entre as eleições o número de senadores modificados. Em uma eleição se alterará um

único senador, enquanto na próxima se alterará dois.

3.3.3.4. Competência

As competências do Senado Federal estão dispostas no art. 52 da Constituição

Federal.

Page 30: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

22

3.3.4. Assembleia Legislativa

3.3.4.1. Composição

Segundo disposição do art. 27, caput, da Constituição Federal: “O número de

Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado

na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos

quantos forem os Deputados Federais acima de doze.”

Nesse sentido, a composição obedecerá a seguinte tabela (Pedro Lenza):

CÂMARA DOS DEPUTADOS (x)

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA (y)

FÓRMULA

8 247 O triplo

9 27 O triplo

10 30 O triplo

11 33 O triplo

12 36 O triplo

13 37 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24

14 38 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24

(...) (...) (...)

68 92 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24

69 93 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24

70 948 𝑦 = (𝑥 − 12) + 36 ou 𝑦 = 𝑥 + 24

3.3.4.2. Eleição

Serão eleitos tantos quantos forem os deputados de cada Estado, respeitando-

se a maioria de votos. No Estado de São Paulo, por exemplo, sendo 94 deputados

estaduais, elegeram-se os 94 mais votados.

3.3.4.3. Mandato

O mandato será de quatro anos, sendo possível a reeleição. Nesse sentido é o

art. 27, §1º, da Constituição Federal: “Será de quatro anos o mandato dos Deputados

Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitora,

inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e

incorporação às Forças Armadas.”

7 Número mínimo de Deputados Estaduais. 8 Número máximo de Deputados Estaduais.

Page 31: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

23

3.3.4.4. Competência

É a disposição do §3º: “Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu

regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os

respectivos cargos.”

3.3.5. Câmara de Vereadores

3.3.5.1. Composição

Levar-se-á em consideração o art. 29, IV, da Constituição Federal, segundo o

qual:

NÚMERO DE HABITANTES NÚMERO DE VEREADORES

𝑥 < 15.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 9

15.000 < 𝑥 ≤ 30.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 11

30.000 < 𝑥 ≤ 50.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 13

50.000 < 𝑥 ≤ 80.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 15

80.000 < 𝑥 ≤ 120.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 17

120.000 < 𝑥 ≤ 160.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 19

160.000 < 𝑥 ≤ 300.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 21

300.000 < 𝑥 ≤ 450.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 23

450.000 < 𝑥 ≤ 600.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 25

600.000 < 𝑥 ≤ 750.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 27

750.000 < 𝑥 ≤ 900.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 29

900.000 < 𝑥 ≤ 1.050.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 31

1.050.000 < 𝑥 ≤ 1.200.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 33

1.200.000 < 𝑥 ≤ 1.350.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 35

1.350.000 < 𝑥 ≤ 1.500.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 37

1.500.000 < 𝑥 ≤ 1.800.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 39

1.800.000 < 𝑥 ≤ 2.400.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 41

2.400.000 < 𝑥 ≤ 3.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 43

3.000.000 < 𝑥 ≤ 4.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 45

4.000.000 < 𝑥 ≤ 5.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 47

5.000.000 < 𝑥 ≤ 6.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 49

6.000.000 < 𝑥 ≤ 7.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 51

7.000.000 < 𝑥 ≤ 8.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 53

𝑥 > 8.000.000 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 55

3.3.5.2. Eleição

Levará em consideração critério majoritário. Eleito estarão os que receber maior

número de votos.

3.3.5.3. Mandato

O mandato será de quatro anos, sendo possível a reeleição.

3.3.5.4. Competência

A competência está disposta no art 29 da Constituição Federal.

Page 32: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

24

3.4. Imunidades Parlamentares

3.4.1. Introdução

Segundo Pedro Lenza, as imunidades parlamentares são “prerrogativas

inerentes à função parlamentar, garantidoras do exercício do mandato, com plena

liberdade. Não se trata de direito pessoal ou subjetivo do Parlamentar, na medida em

que, como se disse, decorre do efetivo exercício da função parlamentar. Assim, não

podemos confundir prerrogativa com privilégio.”

Nesse sentido, entendem-se as imunidades parlamentares como proteções ao

livre exercício da função parlamentar, inerentes ao cargo, ou seja, inerentes à função

parlamentar, e não à pessoa do parlamentar.

3.4.2. Espécies

São duas as espécies de imunidades parlamentares, quais sejam: (1) imunidade

parlamentar material, real ou substantiva e (2) imunidade parlamentar processual,

formal ou adjetiva.

Vejamos:

3.4.2.1. Imunidade parlamentar material

Disposta no art. 53, caput, da Constituição Federal, afirma: “Os Deputados e

Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras

e votos.”

Tal alegação tem pretensões democráticas, no sentido de que dá ao parlamentar

liberdade para que exerça suas funções sem qualquer restrição, protegendo-o de

quaisquer acusações ou procedimentos civis, penais, administrativos ou políticos que

possam vir a recair sobre ele.

Contudo, é importante que delimitemos tal imunidade, vez que, como dito

quando da introdução deste assunto, tratam-se de imunidades inerentes ao cargo, e não

à pessoa do parlamentar.

Por esse motivo, protegido estará o parlamentar quando emitir opiniões em

razão do cargo, diante da execução de suas funções enquanto parlamentar, ainda que

não esteja no local comum de seu trabalho, ou seja, ainda que não esteja no Congresso

Nacional.

Nesse sentido, por óbvio, não possui imunidade o parlamentar em relação às

opiniões que profere enquanto fora das atividades que exerce em sua função. Do

mesmo modo, não estarão acobertadas as opiniões dadas, ainda que em razão do cargo,

quando estas violarem preceitos constitucionais.

Na mesma toada é o comentário de Pedro Lenza: “E que fique claro: sustentamos

que a imunidade parlamentar não é absoluta, assim como nenhum direito fundamental

é absoluto. Em nosso entender, portanto, em situações excepcionalíssimas, determinas

Page 33: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

25

opiniões, palavras e votos proferidos podem até caracterizar a prática de crime, já que

o direito não tolera o denominado hate speech.”

3.4.2.2. Imunidade parlamentar formal

Tais imunidades estão dispostas nos §§ 1º a 5º do artigo anteriormente referido.

Aqui, trata-se da imunidade referente ao foro por prerrogativa de função. Nesse

sentido, diz-se que quando do cometimento de crimes atrelados à função parlamentar

serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal. Além disso, também dizem respeito à

prisão dos parlamentares.

Vamos por partes.

Primeiramente, convém que estabeleçamos o que é a diplomação, marco

fundamental para o início de tais imunidades, como possível ver diante da leitura dos

artigos referentes a tais imunidades.

Segundo disposição do art. 215 do Código Eleitoral Brasileiro: “Os candidatos

eleitos, assim como os suplentes, receberão diploma assinado pelo Presidente do

Tribunal Regional ou da Junta Eleitoral, conforme o caso.”

Conforme adita o próprio Tribunal Superior Eleitoral9: “Diplomação é o ato pelo

qual a Justiça Eleitoral atesta que o candidato foi efetivamente eleito pelo povo e, por

isso, está apto a tomar posse no cargo. Nessa ocasião, ocorre a entrega dos diplomas,

que são assinados, conforme o caso, pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),

do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ou da junta eleitoral.”

Tal diplomação ocorrerá 45 dias após as eleições.

Iniciando anteriormente à posse efetiva, tem como objetivo antecipar a proteção

aos parlamentares, visto que após as eleições já se iniciam as movimentações como

parlamentares, principalmente no que se refere às expectativas da população.

Agora que sabemos o que a diplomação, partamos à análise de cada uma das

imunidades processuais:

3.4.2.2.1. Foro por prerrogativa de função (§1º)

Segundo disposição do §1º do art. 53 da Constituição Federal: “Os Deputados e

Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o

Supremo Tribunal Federal.”

Nesse sentido, o cometimento de crimes inerentes à função parlamentar será

julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

Pergunta-se: diante do fim do mandato o foro por prerrogativa de função

permanecerá? Aqui é importante que nos atentemos a alguns elementos.

9 Texto disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/processo-eleitoral-brasileiro/diplomacao-dos-eleitos/diplomacao-dos-candidatos-eleitos>

Page 34: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

26

Em regra, a existência de processo que corre no Supremo Tribunal Federal e o

posterior término do mandato, seguido da não reeleição do parlamentar, enseja a

remessa dos autos ao juízo comum (foro natural), visto a cessação do foro por

prerrogativa de função.

Contudo, há situações cuja remessa não será possível, continuando competente

o STF.

Quando do julgamento da Ação Penal nº 470, denominado caso mensalão,

deparou-se com a seguinte situação: determinado investigado, diante da iminente

condenação, renunciou ao cargo parlamentar, ensejando a remessa dos autos ao juízo

natural. Tal atitude fez com que o processo cessasse, vez que é comum que diante da

alteração de juízo novas diligências sejam feitas com o objetivo de esclarecer os fatos

aos novos julgadores.

Por conta disso, ficou estabelecido que a renúncia do parlamentar com o intuito

de retardar a sentença, aditando o processo, configura fraude. Nesses casos, ainda que

haja a renúncia, reina o Princípio da perpetuatio jurisdictionis, segundo o qual há a

perpetuação da jurisdição, qual seja, do STF, ainda que o indivíduo não mais exerça

função parlamentar.

Existe uma segunda exceção.

Visando a aplicação da Justiça e evitando a impunidade, fixou-se entendimento

no sentido de que findo o processo, isto é, já realizado o julgamento, somente restando

o proferimento de sentença, não há o que se falar em remessa ao juízo comum, ainda

que diante do fim do mandato, seguido da não reeleição.

Chegamos a uma conclusão, portanto. Somente haverá remessa para o juízo

comum/natural em dois casos: (1) diante do fim do mandato e posterior não reeleição,

vez que não tenha ocorrido o término do julgamento perante o STF e (2) quando a

renúncia ao cargo não visar retardar ou aditar o processo, isto é, quando a renúncia não

configurar fraude processual.

3.4.2.2.2. Imunidade para prisão (§2º)

Conforme dita o referido parágrafo: “Desde a expedição do diploma, os

membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime

inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa

respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.”

Portanto, em regra, não há o que se falar em prisão dos parlamentares, salvo

diante de flagrante de crime inafiançável.

Ainda que seja preso nesse caso, os autos são remetidos à Casa respectiva,

votando os parlamentares pela continuidade ou não da prisão. Trata-se de garantia pela

qual se protege a atividade parlamentar.

Page 35: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

27

Pergunta-se: diante de condenação do parlamentar é possível que haja sua

prisão? Segundo o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal, sim. Havendo

condenação transitada em julgado será o parlamentar preso normalmente.

Contudo, a perda do cargo não é automática. Apesar de o art. 52, VI, da

Constituição10 assim afirmar, entende o STF que a perda do mandato está atrelada à

votação feita pela Casa legislativa da qual faz parte.

3.4.2.2.3. Procedimento para investigação (§§ 3º a 5º)

É a disposição destes parágrafos:

Art. 53 da Constituição Federal. [...]

[...]

§3º. Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime

ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa

respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo

voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o

andamento da ação.

§4º. O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no

prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa

Diretora.

§5º. A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o

mandato.

Pergunta-se: o processamento de parlamentar depende da autorização da Casa

Legislativa, bem como é o processamento do Presidente da República? À princípio, a

Constituição Federal dispunha nesse sentido. Contudo, posteriormente à publicação da

Emenda à Constituição nº 35/2001 não mais é necessário que haja autorização da Casa

Legislativa para o processamento de ação contra parlamentar.

Contudo, juntamente com a exclusão de tal regra a Emenda nº 35 adicionou os

parágrafos acima referidos, dando à Casa Legislativa a competência para, por meio do

voto positivo da metade desta, sustar o processo, suspendendo-se a prescrição, até que

o mandato termine.

Nesse caso, somente processar-se-á o parlamentar posteriormente ao término

do seu mandato.

3.4.3. Dos crimes praticados anterior ou posteriormente ao mandato

Com bastante clareza estabelece a Constituição no sentido de que as imunidades

somente constarão posteriormente à diplomação, encerrando-se com o término do

mandato.

10 Art. 55 da Constituição Federal. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: [...] VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

Page 36: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

28

Nesse sentido, não há o que se falar em imunidade em relação aos crimes

praticados anteriormente à diplomação, bem como posteriormente ao término do

mandato, pois, como vimos anteriormente, as imunidades estão atreladas ao cargo, e

não à pessoa do parlamentar.

3.4.4. Imunidade dos suplentes

Repetindo: as imunidades estão atreladas à função parlamentar, e não à pessoa

que a exerce. Por conta disso, quanto aos suplentes, somente recairão sobre eles as

imunidades quando titulares do cargo.

Caso contrário não há o que se falar em imunidades aos suplentes.

Da mesma forma ocorrerá quando o parlamentar se desligar do cargo com o

intuito de exercer função de outros cargos que ocupa, como Ministro de Estado11, por

exemplo. Nesse caso, enquanto no exercício das funções de Ministro de Estado, não

possuirá as imunidades parlamentares, somente as tendo quando do exercício das

funções parlamentares.

3.4.5. Imunidades parlamentares dos deputados estaduais e vereadores

As imunidades parlamentares, de certo modo, comunicar-se-ão aos deputados

estaduais e vereadores. Contudo, convém nos atentarmos a alguns elementos.

Quanto aos deputados estaduais, comunicar-se-ão as imunidades parlamentares

em sua totalidade, ou seja, gozarão das imunidades materiais e formais, bem como os

Deputados Federais12.

Os vereadores, contudo, somente possuirão as imunidades materiais13. Assim se

estabelece, visto que há entendimento no sentido de que não seria possível que a

Câmara dos Vereadores, enquanto parte da esfera municipal, viesse a suspender

processo que tramita em âmbito estadual. Entende-se ser desproporcional, portanto.

3.4.6. Perda do mandato

É a disposição do art. 55¸ caput, da Constituição Federal:

Art. 55, caput, da Constituição Federal. Perderá o mandato o

Deputado ou Senador:

I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo

anterior14;

11 Art. 56 da Constituição Federal. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador: I – investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Territórios, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou de chefe de missão diplomática temporária. 12 Art. 27, §1º, da Constituição Federal. Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. 13 Art. 29, VIII, da Constituição Federal. Inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município. 14 Art. 54 da Constituição Federal. Os Deputados e Senadores não poderão:

Page 37: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

29

II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro

parlamentar;

III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça

parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão

por esta autorizada;

IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta

Constituição;

VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em

julgado.

Em alguns casos, como dito anteriormente, ainda que diante de condenação do

parlamentar, a perda do seu mandato somente ocorrerá posteriormente à votação da

Casa Legislativa respectiva.

A votação, nesse caso, deverá ser aberta, conforme estabelecer a Emenda à

Constituição nº 76/2013 (Emenda do Voto Aberto), em respeito ao Princípio da

Transparência. Nesse sentido é o art. 55, §2º, da Constituição Federal: “Nos casos dos

incisos I, II, e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo

Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de

partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.”

Além dos casos destacados na Constituição Federal, há um outro elemento

anômalo capaz de ensejar a perda do cargo, qual seja: “Perderá o mandato o detentor

de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito” (art.

22-A da Lei 9.096/95).

Nesse sentido, a própria lei estabelece quais são as ocasiões em que as

desfiliações ocorrem por justa causa, sendo elas: (1) mudança substancial ou desvio

reiterado do programa partidário; (2) grave discriminação política pessoal e; (3)

mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de

filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término

do mandato vigente.

I - desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior; II - desde a posse: a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas no inciso I, "a"; c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, "a"; d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

Page 38: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

30

3.4.7. Ocasiões que não ensejam a perda do mandato

Segundo disposição do art. 56 da Constituição Federal, não configuram causas

de perda do mandato o Deputado ou Senador: (1) investido no cargo de Ministro de

Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de

Território, de Prefeitura da Capital ou chefe de missão diplomática temporária e (2)

licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração,

de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e

vinte dias por sessão legislativa.

3.5. CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

3.5.1. Previsão

Tem como previsão o art. 58, §3º, da Constituição Federal, as Leis nos 1.579/52 e

10.001/2000, a Lei Complementar nº 105/2001, além das disposições contidas nos

Regimentos Internos de cada Casa Legislativa.

Nesse sentido, é a disposição do art. 58, §3º, da Constituição Federal: “As

comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das

autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas,

serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou

separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a

apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,

encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou

criminal dos infratores.”

3.5.2. Conceito

Entende-se por Comissão Parlamentar de Inquérito aquelas criadas

temporariamente, pelo Congresso Nacional, em conjunto, ou individualmente por cada

Casa, com o intuito de investigar fato certo e determinado de interesse nacional que se

entende ser ilegítimo, ilegal.

Vê-se materializada uma das funções do Poder Legislativo que mencionamos na

introdução de seu estudo, qual seja: a fiscalização e controle dos atos da Administração,

ou seja, do Poder Executivo.

Tanto o é que dispõe o art. 70, caput, da Constituição Federal: “A fiscalização

contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades

da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,

aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional,

mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.”

3.5.3. Criação

São três os elementos que deverão ser observados quando da criação da CPI:

1) Aprovação por 1/3 dos membros da Casa;

2) Indicação de fato certo e determinado;

Page 39: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

31

3) Indicação de prazo certo.

Conforme aditou o art. 58, §3º, da Constituição Federal, acima referido, a

Comissão Parlamentar de Inquérito será criada a partir da votação positiva de 1/3 da

Casa ou do Congresso (a depender da espécie de CPI).

Quando das comissões em conjunto (mista ou simultânea), não se levará em

consideração o contingente total, sendo necessária a anuência de 1/3 de ambas as

Casas, separadamente. Ou seja, ainda que se trate de Comissão Conjunta, é necessário

que seja aprovada por 1/3 da Câmara dos Deputados e 1/3 do Senado Federal.

Convém informar, por fim, que é possível a criação de duas CPIs, uma em cada

Casas Legislativa.

3.5.4. Objeto

Como dito, é necessário que o prazo seja certo e determinado.

Nesse sentido, convém que transcrevamos o disposto no art. 35, §1º, do

Regimento Interno da Câmara dos Deputados: “Considera-se fato determinado o

acontecimento de relevante interesse para a vida pública e a ordem constitucional,

legal, econômica e social do País, que estiver devidamente caracterizado no

requerimento de constituição da Comissão.”

Portanto, entende-se por certo e determinado o fato de relevante interesse

social, seja ele referente à vida pública e a ordem constitucional, legal, econômica e

social do País.

3.5.5. Prazo

É a disposição do art. 35, §3º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados:

“A Comissão, que poderá atuar também durante o recesso parlamentar, terá o prazo de

cento e vinte dias, prorrogável por até metade, mediante deliberação do Plenário, para

conclusão de seus trabalhos.”

Portanto, o prazo limite para a Comissão Parlamentar de Inquérito é 120 dias,

prorrogáveis por mais 60, com o intuito de concluir seus trabalhos.

3.5.6. Poderes

Conforme indicou o art. 58, §3º, da Constituição Federal, as Comissões

Parlamentares de Inquérito terão poderes de investigação próprios das autoridades

judiciais.

Aqui, convém a observação do disposto no art. 36 do Regimento Interno da

Câmara dos Deputados:

Art. 36 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. A Comissão

Parlamentar de Inquérito poderá, observada a legislação específica:

I – requisitar funcionários dos serviços administrativos da Câmara,

bem como, em caráter transitório, os de qualquer órgão ou entidade da

Page 40: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

32

administração pública direta, indireta e funcional, ou do Poder Judiciário,

necessários aos seus trabalhos;

II – determinar diligências, ouvir indiciados, inquirir testemunhas sob

compromisso, requisitar de órgãos e entidades da administração pública

informações e documentos, requerer a audiência de Deputados e Ministros

de Estado, tomar depoimentos de autoridades federais, estaduais e

municipais, e requisitar os serviços de quaisquer autoridades, inclusive

policiais;

III – incumbir qualquer de seus membros, ou funcionários requisitados

dos serviços administrativos da Câmaras, da realização de sindicâncias ou

diligências necessárias aos seus trabalhos, dando conhecimento prévio à

Mesa;

IV – deslocar-se a qualquer ponto do território nacional para a

realização de investigações e audiências públicas;

V – estipular prazo para o atendimento de qualquer providência ou

realização de diligência sob as penas da lei, exceto quando da alçada de

autoridade judiciária;

VI – se forem diversos os fatos inter-relacionados objeto do inquérito,

dizer em separado sobre cada um, mesmo antes de finda a investigação dos

demais.

Parágrafo único. As Comissões Parlamentares de Inquérito valer-se-

ão, subsidiariamente, das normas contidas no Código de Processo Penal.

É possível, inclusive, que as CPIs solicitem informações de caráter sigiloso. Nesse

sentido é o art. 4º, §1º, da Lei Complementar nº 105/2001: “As comissões parlamentares

de inquérito, no exercício de sua competência constitucional e legal de ampla

investigação, obterão as informações e documentos sigilosos de que necessitarem,

diretamente das instituições financeiras, ou por intermédio do Banco Central do Brasil

ou da Comissão de Valores Mobiliários.”

Convém destacar, contudo, que há elementos cuja obtenção não poderá ocorre

mediante as CPIs, em decorrência do respeito ao postulado de reserva constitucional de

jurisdição. Este elemento indica que os poderes da CPIs não são absolutos, não podendo

transgredir e atingir atos de competência dos demais poderes, principalmente do Poder

Judiciário. Nesse sentido, são as palavras do Min. Celso de Mello, citado por Pedro

Lenza: “o postulado da reserva constitucional de jurisdição importa em submeter, à

esfera única de decisão dos magistrados, a prática de determinados atos cuja realização,

por efeito de explícita determinação constante do próprio texto da Carta Política,

somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive daqueles a quem se haja

eventualmente atribuído o exercício de ‘poderes de investigação próprios das

autoridades judiciais’.” (MS 23.452)

Por isso, não é possível que as CPIs, por si só, realizem (1) diligências de busca

domiciliar, (2) quebra de sigilo das comunicações telefônicas (interceptação telefônica),

(3) deem ordem de prisão, salvo diante de flagrante delito, por falso testemunho, por

exemplo.

Page 41: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

33

3.5.7. Conclusão

Findas as investigações, criar-se-á relatório, o qual será enviado às autoridades

competentes para ajuizar ação. Portanto, finalizadas as investigações, enviar-se-á o

relatório ao Ministério Público que, avaliando os elementos constantes, ajuizará ação

contra os investigados.

3.6. Processo legislativo/legiferante

3.6.1. Introdução

Segundo Pedro Lenza, o processo legislativo consiste nas regras procedimentais,

constitucionalmente previstas, para a elaboração das espécies normativas, regras estas

a serem criteriosamente observadas pelos “atores” envolvidos no processo.

É a disposição do art. 59 da Constituição Federal:

Art. 59 da Constituição Federal. O processo legislativo compreende a

elaboração de:

I – emendas à Constituição;

II – leis complementares;

III – leis ordinárias;

IV – leis delegadas;

V – medidas provisórias;

VI – decretos legislativos;

VII – resoluções.

Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,

redação, alteração e consolidação das leis.

Trata-se da série de regras segundo as quais, como dito, os legisladores deverão

crias as normas que incorporam o Ordenamento Jurídico. Mostra-se importante, pois

caracteriza-se pelo primeiro meio de controle de constitucionalidade realizado, qual

seja, o controle preventivo feito pelo Poder Legislativo, sem o qual a norma é

considerada formalmente inconstitucional.

Antes de nos profundarmos no processo legislativo, convém mencionar que cada

objeto normativo possui o seu próprio procedimento de criação, o qual será por nós

minuciado.

Numa visão geral, são as fases do procedimento legislativo:

1) Iniciativa;

2) Discussão;

3) Deliberação;

4) Aprovação/sanção;

5) Promulgação;

6) Publicação.

Page 42: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

34

De início, trataremos da criação das leis ordinárias e complementares, haja vista

incorporarem todas as fases do processo legislativo. Sendo o estudo inicial, traremos

informações minuciosas acerca de cada fase. Por isso, as demais disposições normativas

possuirão explicação menos aprofundada, somente se levando em consideração os

principais pontos.

3.6.2. Lei ordinária e lei complementar

3.6.2.1. Introdução

Inicialmente, convém que diferenciemos estar duas modalidades normativas

que compõem o Ordenamento Jurídico.

A Lei Complementar, conforme aduz Gilmar Mendes, apenas se estende àquelas

situações para as quais a própria Constituição exigiu – de modo expresso e inequívoco

– a edição dessa qualificada espécie de caráter legislativo.”

O próprio artigo que elenca os documentos normativos é um exemplo disso

quando indica em seu parágrafo único: “Lei complementar disporá sobre a elaboração,

redação, alteração e consolidação das leis.”

A Lei Ordinária, por outro lado, deverá ser criada justamente no caso contrário,

isto é, quando a Constituição determinada que o assunto dever ser especificado em lei,

porém não determina ser ela complementar. Nesses casos, tratar-se-á de lei ordinária.

É exemplo o art. 7º, IV, segundo o qual: “São direitos dos trabalhadores urbanos

e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] IV – salário

mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades

vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer,

vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe

preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim.”

● ● ● ●

Outra diferença que podemos notar é em relação ao quórum para aprovar a lei.

Enquanto na Lei Complementar se exige a aprovação por maioria absoluta, as Leis

Ordinárias serão aprovadas pelo voto positivo da maioria simples.

Em decorrência disso, inclusive, há posicionamento doutrinário no sentido de

designar estas leis como sendo divergentes hierarquicamente. Esse entendimento,

contudo, é errôneo, posto que ambas ocupam a mesma posição diante da pirâmide de

Kelsen do Ordenamento Jurídico brasileiro.

3.6.2.2. Iniciativa

Entende-se por iniciativa, segundo conceituação do Dicionário Jurídico

Acquaviva: “Ato que inaugura o processo legislativo, sendo prerrogativa dos órgãos

competentes, nos termos da Constituição Federal.”

Partindo desse pressuposto, convém que identifiquemos a quem pertence a

prerrogativa de propor a criação de Lei Complementar e Lei Ordinária.

Page 43: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

35

Nesse sentido, é a disposição do art. 61, caput, da Constituição Federal:

Art. 61, caput, da Constituição Federal. A iniciativa das leis

complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da

Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao

Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais

Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos

casos previstos nesta Constituição.

São, portanto, os competentes para intentar na criação de Lei Ordinária e Lei

Complementar, levando-se em consideração alguns comentários precisos sobre cada

legitimado:

1) Qualquer membro ou Comissão da:

a. Câmara dos Deputados;

b. Senado Federal;

c. Congresso Nacional.

2) Presidente da República:

Quanto ao Presidente da República, importante destacar o referido no §1º do

art. 61 da Constituição Federal:

Art. 61, §1º, da Constituição Federal. São de iniciativa privativa do

Presidente da República as leis que:

I – fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;

II – disponham sobre:

a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração

direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;

b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e

orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios;

c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico,

provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;

d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União,

bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da

Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;

e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,

observado o disposto no art. 84, VI;

f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de

cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para

a reserva.

3) Supremo Tribunal Federal;

4) Tribunais Superiores;

5) Procurador-Geral da República;

Page 44: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

36

6) Cidadãos:

Aqui, importante tratarmos do que dispõe a lei quando cita: “na forma e nos

casos previstos nesta Constituição.”

Faz-se referência à denominada iniciativa popular, um dos elementos segundo

os quais a população exibe a soberania estabelecida no art. 1º, parágrafo único, da

Constituição Federal, segundo o qual: “Todo poder emana do povo, que o exerce por

meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

Nesse sentido, estabelece o art. 14 da Constituição Federal:

Art. 14 da Constituição Federal. A soberania popular será exercida

pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para

todos, e, nos termos da lei, mediante:

[...]

III – iniciativa popular.

Quanto às regras segundo as quais a iniciativa popular deverá ocorrer, afirma o

art. 61, §2º, da Constituição Federal:

Art. 61, §2º, da Constituição Federal. A iniciativa popular pode ser

exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei

subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído

pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos

eleitores de cada um deles.

Portanto, são as regras da iniciativa popular:

a) Apresentação à Câmara dos Deputados;

b) Projeto subscrito por, no mínimo:

i. 1% do eleitorado nacional;

ii. Distribuído por, pelo menos, cinco Estados;

iii. Referente a, no mínimo, 3/10% (0,3%) do eleitorado de cada Estado em

que houve assinaturas.

Lembrando, por fim, que tais regras condizem com a iniciativa popular de Lei

Federal. Tratando-se de Lei Estadual ou Municipal, observar-se-á o disposto nos arts. 27,

§4º15, e 29, XIII, da Constituição Federal16.

● ● ● ●

15 Art. 27, §4º, da Constituição Federal. A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. 16 Art. 29 da Constituição Federal. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, a aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: [...] XIII – iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado.

Page 45: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

37

A iniciativa, em regra, deverá ser apresentada diante da Câmara dos Deputados,

somente não se procedendo desta forma, caso a iniciativa parta de (1) Senador, (2)

Poder Judiciário ou (3) Procuradoria-Geral da República, ocasião em que deverá ser

apresentada ao Senado Federal.

De qualquer modo, a Casa na qual iniciar o projeto de lei será denominada de

casa iniciadora, enquanto a outra, local em que será realizada parte da discussão do

projeto, como veremos, será denominada casa revisora.

3.6.2.3. Discussão

Como o próprio nome revela, trata-se da fase na qual o projeto apresentado

quando da iniciativa é discutido entre os parlamentares, mais precisamente diante das

Comissões Legislativas.

As Comissões Legislativas poderão ser criadas com o intuito de discutir lei

específica ou podem constituir turmas fixas no Congresso Nacional.

Segundo disposição da própria Câmara dos Deputados:

O Congresso Nacional é composto de duas Casas: Câmaras dos

Deputados e Senado Federal. Cada uma dessas casas possui Comissões

Parlamentares, Permanentes ou Temporárias, com funções legislativas e

fiscalizadoras, na forma definida na Constituição Federal e nos seus

Regimentos Internos. No cumprimento dessas duas funções básicas, de

elaboração das leis e de acompanhamento das ações administrativas, no

âmbito do Poder Executivo, as Comissões promovem, também, debates e

discussões com a participação da sociedade em geral, sobre todos os temas e

assuntos de seu interesse.

São exemplos de Comissão Parlamentar a Comissão de Constituição e Justiça e

de Cidadania, Comissão de Direitos Humanos e Minorias, Comissão de Educação etc. Ao

todo são 22 comissões permanentes na Câmara dos Deputados e 12 no Senado Federal.

Nada impede, contudo, que se formem Comissões Mistas, isto é, formadas, ao mesmo

tempo, por Deputados e Senadores.

Segundo Pedro Lenza:

Basicamente, o projeto deverá ser visto, em primeiro lugar, por uma

comissão temática, que analisará a matéria da proposição, e, em seguida,

pela Comissão de Constituição e Justiça, que examinará, dentre outros

aspectos, a sua constitucionalidade (cf., por exemplo, a previsão dessa ordem

nos termos do art. 53 do RICD17).

17 Art. 53 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Antes da deliberação do Plenário, ou quando esta for dispensada, as proposições, exceto os requerimentos, serão apreciadas: I – pelas Comissões de mérito a que a matéria estiver afeta; II – pela Comissão de Finanças e Tributação, para o exame dos aspectos financeiro e orçamentário públicos, quanto à sua compatibilidade ou adequação com o plano plurianual, a lei de diretrizes orçamentárias e o orçamento anual, e para o exame do mérito, quando for o caso;

Page 46: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

38

Enfim, trata-se da fase mais morosa do procedimento legislativo, visto que tem

como objetivo o aperfeiçoamento do projeto, bem como a correção de possíveis erros

ou vícios contidos em seu teor.

Revisemos: em que Casa iniciará o projeto? Em regra, na Câmara dos Deputados,

salvo quando o projeto for proposto por Senador, Poder Judiciário ou Procurador-Geral

da República.

Nessa etapa, a casa iniciadora realiza suas discussões, enviando o projeto para a

casa revisora. Diante da casa revisora é possível a aceitação do teor projeto na íntegra,

bem como é possível a supressão, adição ou modificação de dispositivos por meio de

emenda.

Havendo emendas, é necessário que o projeto retorne à casa iniciadora, pois é

imprescindível que ambas as Casas aprovem o projeto de lei na mesma condição.

Retornando à casa iniciadora são iguais os possíveis posicionamentos, isto é,

aprovação, supressão, adição ou modificação por meio de emendas. Novamente,

havendo emendas, deverá o projeto ser remetido a outra casa e assim por diante.

3.6.2.4. Votação

Entende-se por votação o momento em que o projeto de lei previamente

aprovado pelas Comissões Legislativas é apresentado ao Pleno de cada Casa, devendo

cada parlamentar manifestar-se acerca da aceitação ou não do prosseguimento do

processo legislativo.

Como dito quando da introdução dessas leis, informamos que aqui há uma

divergência entre Lei Complementar e Lei Ordinária, haja vista possuírem quórum de

aprovação diverso.

Em se tratando de Lei Complementar o quórum de aprovação deve ser a maioria

absoluta; entretanto, em se tratando de Lei Ordinária o quórum de aprovação é a

maioria simples.

Havendo a rejeição do projeto o mesmo será arquivado, somente sendo possível

nova votação na sessão legislativa seguinte. Conforme dispõe o Senado Federal: “A

sessão legislativa ordinária é o período de atividade normal do Congresso a cada ano,

de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.”

III – pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, para o exame dos aspectos de constitucionalidade, legalidade, juridicidade, regimentalidade e de técnica legislativa, e, juntamente com as comissões temáticas, para pronunciar-se sobre o seu mérito, quando for o caso; IV – pela Comissão Especial a que se refere o art. 34, inciso II, da pronunciar-se quanto à admissibilidade jurídica e legislativa e, quando for o caso, a compatibilidade orçamentária da proposição, e sobre o mérito, aplicando-se em relação à mesma o disposto no artigo seguinte.

Page 47: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

39

3.6.2.5. Aprovação/sanção

Afirma o art. 66, caput, da Constituição Federal: “A Casa na qual tenhas sido

concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que,

aquiescendo, o sancionará.

Portanto, aprovado nas Casas do Congresso Nacional, o projeto de lei será

remetido ao Presidente da República, o qual terá as seguintes opções: (1) sancionar ou

(2) vetar o projeto de lei.

A sanção poderá ocorrer de duas formas, quais sejam: (1) expressa ou (2) tácita.

Recebido o projeto de lei, terá o Presidente da República 15 dias úteis para se

manifestar. Manifestando-se e sancionando a lei nesse período estaremos diante da

sanção expressa. Contudo, transcorridos os 15 dias sem a manifestação do Presidente

da República, considerar-se-á a lei sancionada tacitamente. Na mesma toada é o art. 66,

§3º, da Constituição Federal: “Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente

da República importará sanção.”

Pergunta-se: a sanção presidencial é capaz de corrigir vício de iniciativa? Por

exemplo, em se tratando de assunto de competência privativa do Presidente da

República, caso a iniciativa parta de Deputado, por exemplo, a sanção do mesmo é

suficiente para afastar o vício? A resposta é não! A sanção presidencial não apresenta

força para afastas vício de projeto de lei. Nessa ocasião, tratar-se-ia de projeto

natimorto.

Por outro lado, poderá o Presidente da República vetar o projeto de lei. Nesse

sentido, convém elencarmos os §§ 1º e 2º da Constituição Federal:

Art. 66 da Constituição Federal. [...]

§1º. Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em

parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou

parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do

recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente

do Senado Federal os motivos do veto.

§2º. O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de

parágrafo, de inciso ou de alínea.

Portanto, o veto deverá ser sempre expresso, podendo abranger o projeto de lei

total ou parcialmente. Sendo parcial, somente poderá englobar o texto completo de

determinado artigo, parágrafo, inciso ou alínea, ou seja, não poderá haver veto de

trechos ou de palavras isoladas.

São duas as espécies de veto, a depender da justificativa, quais sejam: (1) veto

político ou (2) veto jurídico.

O veto político se refere ao não interesse público quanto à matéria contida no

projeto de lei. Por outro lado, o veto jurídico destaca a existência de

inconstitucionalidade, seja formal ou material, do projeto de lei.

Page 48: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

40

Convém informar que necessariamente o Presidente da República deverá indicar

os motivos pelos quais vetou o projeto de lei, parcial ou totalmente. O veto desmotivado

acarreta na inexistência do mesmo, ocasião na qual será considerada a ocorrência da

sanção tácita.

Feito o veto, deverá o Presidente da República, em até 48h, remeter ao

Presidente do Senado Federal os motivos pelos quais vetou o projeto de lei. Aqui, deverá

ocorrer sessão conjunta do Congresso Nacional em até 30 dias a contar do recebimento

do veto, ocasião na qual será votada a manutenção ou a derrubada do veto.

Mantendo-se o veto, o projeto de lei será arquivado. Do contrário, ou seja,

derrubando-se o veto, situação que ocorre com o voto da maioria absoluta, sancionada

estará a lei, partindo para a promulgação e publicação, que deverão ocorrer em até 48

horas.

Importante ressaltar o momento no qual será feita a votação para derrubada ou

manutenção do veto, qual seja, 30 dias do recebimento do veto. Transcorrido o prazo

sem que haja a deliberação, deverá o veto ser votado na sessão imediata, prorrogados

os demais assuntos em pauta.

É a disposição dos §§ 4º a 6º da Constituição Federal:

Art. 66 da Constituição Federal. [...]

[...]

§4º. O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a

contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria

absoluta dos Deputados e Senadores.

§5º. Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para

promulgação, ao Presidente da República.

§6º. Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no §4º, o veto

será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais

proposições, até sua votação final.

3.6.2.6. Promulgação

De acordo com o Dicionário Jurídico Acquaviva: “Etapa da elaboração da lei que

atesta, oficialmente, a existência desta. A promulgação patenteia a existência da lei, com

a ordem de seu cumprimento.”

Trata-se, portanto, do nascimento da lei, segundo o qual deixa de ser projeto de

lei para se tornar, efetivamente, Lei.

3.6.2.7. Publicação

Segundo o mesmo Dicionário: “Meio oficial estabelecido para possibilitar o

conhecimento da lei por todos. Publicada, a obediência a seus ditames torna-se

obrigatória para a comunidade, pois ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando

seu desconhecimento (LINDB: arts, 1º, caput, e 3º).”

Page 49: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

41

Pergunta-se: de que forma a lei será publicada a ponto de passar a ser conhecida

por todos? Por óbvio, impossível que a lei passe a ser conhecida por todos, de modo que

a sua publicação é feita por meio ficto, qual seja, a pública por meio do Diário Oficial da

União.

Por fim, compete a nós informar que a lei somente entrará em vigor na data de

sua publicação se assim determinado em seu próprio texto. Contudo, é comum que as

leis de maior impacto na sociedade apresentem a denominada vacatio legis, período no

qual ainda não surte efeitos. Ex.: o Código Civil de 2002, em que pese publicado no dia

10 de janeiro de 2002, somente veio a gerar efeitos um ano depois, em virtude do

disposto em seu art. 2.044.

3.6.3. Emendas à Constituição

3.6.3.1. Introdução

Como já vimos em resumos passados, a Constituição é, nas palavras de Sieyès,

produto do poder constituinte originário, que gera e organiza os poderes do Estado (os

poderes constituídos), sendo, até por isso, superior a eles.

Nesse sentido, a alteração do texto constitucional (e somente parcela dele,

vedada a alteração das denominadas cláusulas pétreas, como veremos adiante)

somente se dará através do denominado Poder Constituinte Derivado. Tal poder é

justamente o responsável pelas alterações e adequações do texto constitucional.

Sendo derivado, importante notarmos algumas divergências entre eles:

PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO PODER CONSTITUINTE DERIVADO

Inicial – atrelado à origem do ordenamento jurídico, caracterizando o ponto inicial da constituição do direito

Derivado – decorre da própria Constituição e, anteriormente, do Poder

Constituinte Originário

Autônomo – uma vez que está atrelado à origem do Direito, não está limitado por barreira alguma, sendo livre para a

criação de normas de qualquer natureza

Não autônomo – sendo derivado, deve respeitar o produzido pelo Poder

Constituinte Originário, não sendo possível que realize qualquer alteração

no texto constitucional

Incondicionado – não está atrelado a nada, possuindo, como visto, autonomia

para criar

Condicionado – está atrelado ao já existente texto constitucional, não sendo

possível que o desrespeite

3.6.3.2. Legislação

As disposições referentes às emendas à Constituição estão dispostas no art. 60

da Carta Magna.

3.6.3.3. Iniciativa

É a disposição do art. 60, caput, da Constituição Federal:

Art. 60, caput, da Constituição Federal. A Constituição poderá ser

emendada mediante proposta:

Page 50: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

42

I – de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados

ou do Senado Federal;

II – do Presidente da República;

III – de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da

Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus

membros.

Portanto, são competentes para proporem alterações ao texto constitucional:

a) Um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado

Federal;

b) Presidente da República;

c) Mais da metade das Assembleias Legislativas Estaduais (manifestação da

maioria relativa de seus membros).

3.6.3.4. Discussão e votação

Estipula o art. 60, §2º, da Constituição Federal: “A proposta será discutida e

votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada

se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.”

Seguir-se-á o mesmo procedimento de discussão já explicado por nós (vide

tópico 3.6.2.3).

Quanto à votação, deverá ocorrer por duas vezes nas duas Casas (Câmara dos

Deputados e Senado Federal), dependendo a aprovação do voto positivo de, no mínimo,

2/3 dos parlamentares, em cada votação. É o famoso: “dois terços, nas duas Casas, por

3/5 dos votos”.

Nota-se diante da votação e aprovação da Emenda à Constituição o caráter rígido

de nossa Constituição, haja vista a incorporação de procedimento extremamente

complexo e complicado para que se altere o texto constitucional.

Pergunta-se: é possível que o projeto de emenda à constituição (PEC) seja

emendado pelos parlamentares quando da discussão? Segundo Pedro Lenza: “O

entendimento é que sim, desde que respeitado o quorum constitucional, ou seja, desde

que a emenda apresentada tenha sido subscrita por no mínimo 1/3 dos parlamentares

e não incida nas vedações constitucionais (nesse sentido, cf. art. 202, §3º, do RICD18 e

art. 356, parágrafo único, do RISF19).”

18 Art. 202, §3º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Somente perante a Comissão Especial poderão ser apresentadas emendas, com o mesmo quorum mínimo de assinaturas de Deputados e nas condições referidas no inciso II do artigo anterior, nas primeiras dez sessões do prazo que lhe está destinado para emitir parecer. 19 Art. 356, parágrafo único, do Regimento Interno do Senado Federal. O parecer da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania que concluir pela apresentação de emenda deverá conter assinaturas de Senadores que, complementando as dos membros da Comissão, compreendam, no mínimo, um terço dos membros do Senado.

Page 51: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

43

3.6.3.5. Aprovação

Como dissemos quando da introdução do estudo do processo legislativo,

informamos que há elementos normativos cujo procedimento é reduzido, isto é, não

apresente determinada etapa do procedimento completo.

É o que ocorre aqui. Aprovada pelas Casas do Congresso Nacional, o Projeto de

Emenda à Constituição não passará pelo crivo do Presidente da República, partindo

diretamente para a promulgação e publicação.

Tal raciocínio se constituiu, tendo em vista que o procedimento complexo pelo

qual a alteração do texto constitucional passa não poderia ser barrado pela mera

decisão do Presidente da República.

3.6.3.6. Promulgação e publicação

Ocorrerão em conformidade com o já explicado – vide tópicos 3.6.2.6 e 3.6.2.7.

Importante, contudo, mencionar o disposto no §3º do art. 60 da Constituição

Federal, segundo o qual: “A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da

Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.”

3.6.3.7. Limitações ao poder de emenda

São três as limitações ao poder de emenda, sendo o esquema que precederá a

explicação:

Limitações

Expressas ou explícitas

Formais ou procedimentais

Circunstanciais

Materiais

Temporais Art. 174 da CF/1824

Implícitas

Vedação à alteração do estipulado pelo

PCO

Impossibilidade de alteração do titular

do PCO

Impossibilidade de alteração do titular

do PCDR

Page 52: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

44

3.6.3.7.1. Limitações expressas ou explícitas

As limitações expressas ou explícitas se dividem em três elementos, quais sejam:

(1) elementos formais ou procedimentais; (2) circunstâncias; (3) elementos materiais.

a) Elementos formais ou procedimentais:

Por óbvio, não é possível a promulgação e publicação de emenda à Constituição

que desrespeite o procedimento legislativo acima exposto.

b) Circunstâncias:

Segundo disposição do art. 60, §1º, da Constituição Federal: “A Constituição não

poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de

estado de sítio.”

c) Elementos materiais:

Caracterizam-se pelas denominadas cláusulas pétreas, presentes através do art.

60, §4º, da Constituição Federal:

Art. 60, §4º, da Constituição Federal. Não será objeto de deliberação

a proposta de emenda tendente a abolir:

I – a forma federativa de Estado;

II – o voto direto, secreto, universal e periódico;

III – a separação dos Poderes;

IV – os direitos e garantias individuais.

Recomendo a leitura do título Cláusulas Pétreas, disposto no primeiro resumo

de Direito Constitucional.

Importante esclarecer que o Poder Constituinte Originário estipulou tais

vedações com o intuito de preservar os fundamentos segundo os quais a Constituição

Federal é moldada.

3.6.3.7.2. Limitação temporal

Entende-se por limitação temporal a vedação de alteração do texto legal por

determinado período. Curioso é que a atual Constituição não apresenta qualquer

disposição nesse sentido, somente estipulando, através do art. 3º da ADCT20, a

realização de revisão constitucional 5 anos após a promulgação da Constituição,

tratando-se, portanto, de norma de eficácia exaurida.

A única disposição expressa desta limitação esteve presente na Constituição

Imperial de 1824, aduzindo o seu art. 174: “Se passados quatro annos, depois de jurada

a Constituição do Brazil, se conhecer, que algum dos seus artigos merece roforma, se

20 Art. 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.

Page 53: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

45

fará a proposição por escripto, a qual deve ter origem na Camara dos Deputados, e ser

apoiada pela terça parte delles.”

3.6.3.7.3. Limitações implícitas

São três as limitações implícitas às emendas à Constituição: (1) vedação à

alteração do estipulado pelo Poder Constituinte Originário; (2) impossibilidade de

alteração do titular do Poder Constituinte Originário; (3) impossibilidade de alteração

do titular do Poder Constituinte Derivado Reformador.

a) Vedação à alteração do estipulado pelo Poder Constituinte Originário:

Discute-se aqui a possibilidade da denominada dupla revisão, defendida pelo

doutrinador Jorge Miranda. Segundo doutrinador, bastaria que houvesse emenda à

Constituição que alterasse o disposto no art. 60, §4º, da Constituição Federal, acabando

com as cláusulas pétreas, e numa segunda emenda, alterar-se-ia o elemento

pretendido.

A grande maioria dos doutrinadores, no entanto, entende que tal teoria é

inviável, justamente em decorrência da existência das limitações implícitas.

b) Impossibilidade de alteração do titular do Poder Constituinte Originário:

Não é possível que emenda à Constituição estipule que o Poder Constituinte

Originário passará a ser exercido por entidades diversas, ou seja, não é possível que haja

emenda à Constituição no sentido de transferir ao Poder Legislativo, por exemplo, o

poder referente à criação/alteração dos preceitos fundamentais da Constituição

Federal.

c) Impossibilidade de alteração do titular do Poder Constituinte Derivado

Reformador:

Da mesma forma que o anteriormente explicado ocorrerá em relação ao Poder

Constituinte Derivado Reformador, responsável pela revisão do texto constitucional

através das emendas à Constituição.

3.6.4. Medidas provisórias

3.6.4.1. Introdução

As medidas provisórias resumem-se por atos normativos criados pelo Presidente

da República como meio eficaz e veloz de aplicar providências temporalmente

imprescindíveis, sem que, contudo, seja necessária a execução do procedimento

legislativo comum.

Dessa forma, importante ressaltar que não se trata de lei, haja vista ser ato

normativo excepcional criado exclusivamente pelo Presidente da República, não

passando, portanto, pelo crivo do Poder Legislativo.

Não transpassando pelo procedimento legiferante, produzem efeitos imediatos

à sua promulgação e publicação.

Page 54: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

46

Segundo Gilmar Mendes, são dois os grandes efeitos da medida provisória:

A medida provisória produz, ao ser editada, dois efeitos básicos: inova

a ordem jurídica imediatamente e provoca o Congresso Nacional a deliberar

sobre o assunto.

Uma vez publicada a medida provisória, entende-se ser demonstrada a

importância da matéria, incentivando o Poder Legislativo a se mobilizar no sentido de

criar disposição legal no mesmo sentido.

3.6.4.2. Procedimento

3.6.4.2.1. Criação

Como dito, as medidas provisórias não passam pelo procedimento legiferante

comum, haja vista serem atos normativos criados e editados exclusivamente pelo

Presidente da República21.

Ainda assim, há regras segundo as quais a medida provisória deve passar. Nesse

sentido, é a disposição do art. 62, caput, da Constituição Federal:

Art. 62, caput, da Constituição Federal. Em caso de relevância e

urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com

força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

Portanto, são os pressupostos: (1) relevância e (2) urgência. Convém

informarmos que existe um terceiro pressuposto implícito, (3) a constitucionalidade da

matéria contida na medida provisória.

3.6.4.2.2. Apreciação pelo Congresso Nacional

3.6.4.2.2.1. Apreciação das Casas

Editada a medida provisória, deverá o Presidente da República enviá-la ao

Congresso Nacional, o qual deverá analisá-la em até 60 dias, sendo possível que a

converta em lei. Logo, o prazo de vigência da medida provisória, inicialmente, é de 60

dias.

A análise deverá ser feita em comissão mista do Congresso Nacional22, da qual

resultará na emissão de um parecer. O parecer é levado ao pleno de cada uma das Casas,

sendo a sua aprovação, e conversão em lei, ou prorrogação do prazo confirmadas pelo

voto positivo da maioria simples de cada Casa.

Portanto, diante da análise do Congresso, é possível que a vigência da mesma

seja estendida por mais 60 dias, totalizando uma vigência de 120 dias.

21 Art. 84 da Constituição Federal. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] XXVI – editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62. 22 Art. 62, §9º, da Constituição Federal. Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional.

Page 55: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

47

Nesse sentido é o §7º do art. 62 da Constituição, segundo o qual: “Prorrogar-se-

á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de

sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas

Casas do Congresso Nacional.”

Convém informar que alcançado o 45º dia da publicação da medida provisória e

não tendo ocorrido a análise perante o Congresso Nacional, a mesma entrará no

denominado regime de urgência. Diante de tal regime, a discussão da medida provisória

torna-se prioridade, prorrogando-se a análise dos demais projetos.

3.6.4.2.2.2. Aprovação

O Congresso Nacional poderá aprovar a medida provisória com ou sem alteração

de seu texto.

Aprovada sem alterações, será remetida ao Presidente da República para que a

promulgue e a publique.

Por outro lado, aprovada a medida com alterações, deverá o Congresso Nacional

criar projeto de lei referente à mesma. Nesse caso, a medida provisória permanecerá

vigente até que a lei seja sancionada ou vetada pelo Presidente da República, salvo em

relação aos dispositivos alterados. Esses, segundo disposição do §3º (infra), perderão

seus efeitos.

Nesse sentido é o §12 do art. 62 da Constituição Federal: “Aprovado o projeto

de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á

integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.”

3.6.4.2.2.3. Rejeição

São duas as possíveis rejeições do Congresso Nacional, quais sejam: (1) rejeição

tácita – ocasião em que se transcorrerá o prazo sem a apreciação da medida – ou (2)

rejeição expressa – quando a rejeição se der mediante votação das Casas.

Convém informar que a não apreciação nos primeiros 60 dias enseja a

prorrogação automática por mais 60 dias. Não apreciado nesse período (120 dias) será

considerada rejeitada tacitamente.

Diante da rejeição da medida provisória (expressa) ou da perda de seus efeitos

(tácita), deverá o Congresso Nacional criar instrumento normativo com o intuito de

regular o período em que se manteve vigente, revertendo-o ao status quo ante.

É a disposição do §§ 3º e 11 do art. 62 da Constituição Federal:

Art. 62 da Constituição Federal. [...]

[...]

§3º. As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12

perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo

de sessenta dias, prorrogável, nos termos do §7º, uma vez por igual período,

Page 56: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

48

devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações

jurídicas dela decorrentes.

[...]

§11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o §3º até

sessenta dias após a rejeição ou perda da eficácia de medida provisória, as

relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua

vigência conservar-se-ão por ela regidas.

Por fim, se rejeitada, não é possível nova proposta da mesma medida diante da

mesma sessão legislativa. Contudo, nada impede que seja proposta nova medida de teor

idêntico na próxima sessão legislativa.

É o teor do §10 do art. 62 da Constituição: “É vedada a reedição, na mesma

sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido

sua eficácia por decurso de prazo.”

3.6.4.3. Princípio da tributação inominada

É concretizado através do art. 62, §2º, da Constituição Federal, segundo o qual:

“Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto dos

previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro

seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.”

Portanto, tratando-se de medida provisória cuja matéria seja tributária, somente

entrará em vigor no exercício financeiro seguinte, se convertida em lei.

3.6.4.4. Vedações

Afirma o art. 62, §1º, da Constituição Federal:

Art. 62, §1º, da Constituição Federal. É vedada a edição de medidas

provisórias sobre matéria:

I – relativa a:

a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e

direito eleitoral;

b) direito penal, processual penal e processual civil;

c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e

a garantia de seus membros;

d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos

adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, §3º;

II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular

ou qualquer outro ativo financeiro;

III – reservada a lei complementar;

IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso

Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.

Page 57: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

49

3.6.5. Lei delegada

3.6.5.1. Introdução

Quando introduzimos este resumo, citamos o denominado princípio da

indelegabilidade das funções, segundo o qual fica vedado que elementos referentes às

funções típicas de cada poder sejam delegados a outro Poder. Estamos diante de uma

exceção a esta regra, haja vista que a lei delegada é elemento normativo originalmente

de competência do Poder Legislativo, porém é criada pelo Presidente da República, após

prévia solicitação deste àquele, havendo, por óbvio, a aprovação pelo Congresso

Nacional.

Nesse sentido, é a disposição do art. 68, caput, da Constituição Federal: “As leis

delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a

delegação ao Congresso Nacional.”

3.6.5.2. Procedimento

Como dito, deverá o Presidente da República solicitar ao Congresso Nacional

autorização para que edite lei sobre determinada matéria de competência do Poder

Legislativo. Nesse sentido, não é obrigado o Congresso Nacional a aceitar tal solicitação,

vez que, originalmente, o Presidente da República não é competente para tanto.

Contudo, para que aceite o pedido, deverá observar o disposto no §2º do art. 68

da Constituição, segundo o qual: “A delegação ao Presidente da República terá a forma

de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu

exercício.”

Importante ressalvar que a apreciação do Congresso Nacional quanto ao teor da

lei é facultativa, haja vista que deve constar da resolução a opção do Congresso em

analisá-la ou não. Nesse sentido é o §3º: “Se a resolução determinar a apreciação do

projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer

emenda.”

Por esse motivo, há de se reconhecer duas espécies de delegação, quais sejam:

(1) delegação típica – na qual o Congresso Nacional não realiza qualquer averiguação

em relação à lei – e (2) delegação atípica – em que o Congresso Nacional analisa o

projeto de lei, fazendo-o em votação única, não sendo possível, contudo, que crie

emendas.

Por fim, importante o comentário de Pedro Lenza:

Havendo exorbitância nos limites da delegação legislativa (ou seja,

caso o Presidente da República elabore a lei delegada além do limite fixado

na resolução congressual), caberá ao Congresso Nacional sustar o aludido ato

Page 58: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

50

normativo, por meio de decreto legislativo, realizando, desta feita, controle

repressivo de constitucionalidade (art. 49, V23).

3.6.5.3. Vedações

Dispõe o art. 68, §1º, da Constituição Federal:

Art. 68, §1º, da Constituição Federal. Não serão objeto de delegação

os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência

privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria

reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:

I – organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira

e a garantia de seus membros;

II – nacionalidade, cidadania, diretos individuais, políticos e eleitorais;

III – planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.

3.6.6. Decretos e resoluções legislativas

Conforme é a disposição dos arts. 108 e 109, II e III, do Regimento Interno da

Câmara dos Deputados:

Art. 108 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. A Câmara

dos Deputados exerce sua função legislativa por via de projeto de lei ordinária

ou complementar, de decreto legislativo ou de resolução, além da proposta

de emenda à Constituição.

Art. 109 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Destinam-

se os projetos:

[...]

II – de decreto legislativo a regular as matérias de exclusiva

competência do Poder Legislativo, sem a sanção do Presidente da República;

III – de resolução a regular, com eficácia de lei ordinária, matérias da

competência privativa da Câmara dos Deputados, de caráter político,

processual, legislativo ou administrativo, ou quando deva a Câmara

pronunciar-se em casos concretos como:

a) perda de mandato de Deputado;

b) criação de Comissão Parlamentar de Inquérito;

c) conclusões de Comissão Parlamentar de Inquérito;

d) conclusões de Comissão Permanente sobre proposta de fiscalização

e controle;

e) conclusões sobre as petições, representações ou reclamações da

sociedade civil;

f) matéria de natureza regimental;

23 Art. 49 da Constituição Federal. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: [...] V – sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa.

Page 59: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

51

g) assuntos de sua economia interna e dos serviços administrativos.

Resumidamente, é a distinção entre os atos normativos:

Em se tratando de decretos legislativos, configura-se por instrumento normativo

por meio do qual se disporá as matérias referentes à competência exclusiva do

Congresso Nacional, sem que, para tanto, seja necessária a sanção presidencial. Convém

informar que tratarão de assuntos predominantes externos, isto é, que envolvam

determinada interação com os demais poderes. Além disso, como visto quando do

estudo das medidas provisórios, será por meio de decreto legislativo que o Congresso

Nacional fará retornar ao status quo ante a situação alterada durante a vigência das

medidas provisórias rejeitadas.

Por outro lado, tratando-se de resolução legislativa, incorporarão matérias de

competência privativa da Câmara, do Senado ou do Congresso Nacional, sem que, da

mesma forma, seja necessária a sanção presidencial. Contudo, diferentemente do ato

normativo acima exposto, tratarão, em sua maioria, de assuntos internos de cada Casa

ou do Congresso Nacional.

4. Poder Judiciário 4.1. Introdução

O Poder Judiciário, diferentemente dos demais Poderes, apresenta maior

autonomia e poder de decisão, tendo em vista que aquilo que por ele é proferido não

pode ser transpassado e considerado nulo pelos demais Poderes. Isso, contudo, vem

acarretando no surgimento da denominada supremocracia, entendendo-se assim a

atividade exercida pelo Judiciário, principalmente pelo Supremo Tribunal Federal, no

sentido de proferir acórdãos que, em tese, violariam a Autonomia dos Poderes.

Segundo Oscar Vilhena Vieira no artigo intitulado supremocracia:

Sob esta perspectiva, seria adequado afirmar que, se, por um lado, a

liberdade com que o Supremo vem resolvendo sobre matérias tão relevantes

demonstra a grande fortaleza que esta instituição adquiriu nas duas décadas,

contribuindo para o fortalecimento do Estado de Direito e do próprio

constitucionalismo, por outro, é sintoma da fragilidade do sistema

representativo em responder as expectativas sobre ele colocadas. Em um

sistema em que os “poderes políticos parecem ter perdido a cerimônia com

a Constituição”, nada pode parecer mais positivo do que o seu legítimo

guardião exercer a sua função precípua de preservá-la. Porém, ainda que isso

possa a ser visto como desejável, sabemos todos que esta é uma tarefa cheia

de percalços. Não há consenso entre os juristas sobre como melhor

interpretar a Constituição, nem tampouco em como solucionar as inúmeras

colisões entre seus princípios. O que não significa que a tarefa não deva ser

feita da forma mais racional e controlável possível, como nos sugere Hesse.

Há, no entanto, dificuldades que transcendem os problemas estritamente

hermenêuticos derivados da aplicação de uma Constituição. Estas

dificuldades referem-se à própria dimensão da autoridade que se entende

adequada a ser exercida por um tribunal dentro de um regime que se

pretenda democrático. Como aponta o próprio Ministro Celso de Mello, em

Page 60: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

52

uma república, nenhuma esfera de poder pode ficar imune a controles. Assim,

há que se lutar pela “[...] progressiva redução e eliminação dos círculos de

imunidade do poder [...]”. Evidente que não pretendo aqui propor controle

de ordem eleitoral para o Supremo, mas, sim, uma racionalização de sua

jurisdição e uma lapidação de seu processo deliberativo, de forma a restringir

as tensões políticas inerentes ao exercício de uma jurisdição constitucional

como a brasileira.

Ainda assim, importante frisar que o Poder Judiciário se baseia em alguns

princípios constitucionais, dentre eles o Princípio da Proteção Judicial Efetiva, Princípio

do Juiz Natural e Princípio do Devido Processo Legal, fixados de acordo com os incisos

que seguem:

Art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. A lei não excluirá da

apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

Art. 5º, XXXVII, da Constituição Federal. Não haverá juízo ou tribunal

de exceção.

Art. 5º, LIII, da Constituição Federal. Ninguém será processado nem

sentenciado senão pela autoridade competente.

Art. 5º, LV, da Constituição Federal. Aos litigantes, em processo

judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o

contraditório e a ampla defesa, com os meios e os recursos a ela inerentes.

Partamos para suas características:

4.2. Características e princípios

As características do Poder Judiciário estão constantes do art. 93 da Constituição

Federal, segundo o qual:

Art. 93 da Constituição Federal. Lei complementar, de iniciativa do

Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,

observados os seguintes princípios:

I – ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto,

mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem

dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em

direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas

nomeações, à ordem de classificação;

II – a promoção de entrância para entrância, alternadamente, por

antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas:

a) é obrigatória a promoção do juiz que figura por três vezes

consecutiva ou cinco alternadas em lista de merecimento;

b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na

respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de

antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o

lugar vago.

c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelo critérios

objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela

Page 61: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

53

frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de

aperfeiçoamento;

d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o

juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros,

conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a

votação até fixar-se a indicação;

e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em

seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o

devido despacho ou decisão;

III – o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e

merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância;

IV – previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e

promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de

vitaliciamento e participação em curso oficial ou reconhecido por escola

nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados;

V – o subsídio dos Ministros do Tribunais Superiores corresponderá a

noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do

Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão

fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as

respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a

diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco

por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos

Ministros dos Tribunais Superiores;

VI – a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes

observarão o disposto no art. 40;

VII – o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização

judicial;

VIII – o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por

interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do

respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla

defesa;

VIII-A – a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de comarca

de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas alíneas a, b, c e

e do inciso II;

IX – todos os julgamento dos órgãos do Poder Judiciário serão

públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo

a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus

advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito

à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à

informação;

X – as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em

sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta

de seus membros;

XI – nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores,

poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de

Page 62: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

54

vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e

jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se

metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal

pleno;

XII – a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias

coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em

que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente;

XIII – o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à

efetiva demanda judicial e à respectiva população;

XIV – os servidores receberão delegação para a prática de atos de

administração e atos de mero expediente sem caráter decisório;

XV – a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de

jurisdição.

Deste artigo podemos retirar, entre outros, os seguintes princípios e

características:

a) Subsidiariedade ou secundariedade:

Como bem sabemos, houve um crescente muito grande no número de casos

apreciados pelo Poder Judiciário, o que acarretou na vagarosidade com a qual tais

processos eram apreciados, gerando o seu acúmulo.

Em decorrência disso, a Constituição, principalmente através do Conselho

Nacional de Justiça, com a Resolução nº 125/2010, vem incentivando e criando

mecanismos de modo a resolver a lide sem que seja preciso a apreciação do Poder

Judiciário, mas de modo consensual. Dá-se pela aplicação dos denominados Meios

Alternativos de Solução de Conflito – MASCs, caracterizados pela conciliação, mediação

e arbitragem.

A partir disso, entende-se que o Poder Judiciário somente deve ser acionado

quando configurar o último e único meio pelo qual a lide seja resolvida. É, na verdade,

a caracterização do elemento necessidade, referente ao interesse de agir diante do

ajuizamento de uma ação.

b) Imparcialidade:

Trata-se de elemento constante no Princípio do Devido Processo Legal, segundo

o qual é direito das partes serem julgadas por um juiz investido na carreira por meio de

concurso público (juiz natural), observando-se as ações exegetas do magistrado, isto é,

aplicando a lei ao caso concreto sem que haja qualquer juízo prévio em relação a

qualquer uma delas.

c) Substitutividade:

Como dito anteriormente, o Poder Judiciário vem dando preferência à resolução

da lide proposta pelas próprias partes. Contudo, uma vez que a lide venha a ser

apreciada pelo Poder Judiciário, efetivamente, este substitui a vontade daqueles, não

Page 63: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

55

havendo o que se falar em recusa quanto à sentença proferida, em respeito ao Princípio

da Inafastabilidade da Jurisdição.

d) Inércia:

Ainda que a lei não possa excluir a lesão ou ameaça ao direito da apreciação do

Poder Judiciário, esse somente poderá agir posteriormente à provocação das partes, ou

seja, não poderá agir de ofício.

Nesse sentido é o art. 2º do CPC, segundo o qual: “O processo começa por

iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em

lei.”

Continuando o raciocínio, conforme aplicação do Princípio da Oficiosidade, uma

vez provocado, cabe ao Poder Judiciário movimentar a máquina estatal, de modo a

proferir sentença para a lide, não podendo se eximir de tal incumbência.

e) Definitividade:

Proferida a sentença e sobrevindo o trânsito em julgado entende-se o processo

como definitivo, constituindo coisa julgada, somente sendo possível sua reversão

mediante ação anulatória.

f) Unidade:

Apesar da divisão do Poder Judiciário em segmentos, trata-se de instituição uma.

A divisão se dá por motivos meramente organizacionais, torando eficiente a execução

da jurisdição, em respeito ao Princípio da Eficiência e Celeridade Processual.

4.3. Estrutura do Poder Judiciário

STF

STJ

TJ

Justiça Estadual

Juntas Recursais

Juízados especiais

TRF

Justiça Federal

TSE

TRE

Justiça Eleitoral

Juntas Eleitorais

TST

TRT

Justiça do Trabalho

STM

TJM

Juiz Auditor Militar

Auditor Militar

Page 64: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

56

Como dito anteriormente, apesar de ser uno o Poder Judiciário é segmentado

em instâncias e repartições, de modo a tornar o exercício da jurisdição mais efetivo e

eficiente.

Além da divisão feita entre Justiças, quais sejam: (1) Justiça Comum; (2) Justiça

Federal; (3) Justiça Militar; (4) Justiça do Trabalho; (5) Justiça Eleitoral, faz-se uma

divisão em instâncias, respeitando, em tese, o Princípio do Duplo Grau de Jurisdição

previsto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Partamos à explicação de cada uma delas:

4.3.1. Ingresso na carreira

Como dito anteriormente, refletindo o disposto no art. 93, I, da Constituição

Federal, o ingresso do bacharel em direito como magistrado de primeira instância se

dará mediante aprovação em concurso de provas e títulos, sendo necessário para tanto

a comprovação de experiência jurídica por, no mínimo, três anos.

Todas as primeiras instâncias são assim definidas, com exceção da Justiça

Eleitoral. Por se tratar de justiça sazonal, seus juízes são escolhidos dentre juízes federais

de primeira instância.

Pode surgir uma pergunta: mas isso não desrespeita o Princípio do Juiz Natural?

Não, tendo em vista a existência do Princípio da Delegação de Competência, segundo o

qual é possível a transferência de competência a subordinados, indicando a autoridade

delegante, a autoridade delegada e as atribuições objeto da delegação. É uma maneira

de descentralização. Trata-se de transferência facultativa e transitória, obedecendo a

oportunidade e conveniência.

Nesse caso, o “mandato” do juiz eleitoral durará dois anos, sendo possível sua

recondução uma única vez, pelo mesmo período.

4.3.2. Segunda instância

Antes de iniciarmos a explicação, convém mencionar que os cargos aqui serão

ocupados respeitando o denominado quinto constitucional, previsto no art. 94 da

Constituição Federal, segundo o qual:

Art. 94 da Constituição Federal. Um quinto dos lugares dos Tribunais

Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e

Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de

dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação

ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em

lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.

Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista

tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subsequentes,

escolherá um de seus integrantes para nomeação.

A composição dos tribunais de segunda instância é mista, observando os critérios

que seguem:

Page 65: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

57

a) Compor-se-ão, em 4/5, por magistrados selecionados de acordo com a (1)

antiguidade e (2) merecimento, em respeito ao art. 93, II, da Constituição Federal:

b) Os demais cargos serão preenchidos mediante nomeação, observando-se lista

confeccionada pelos órgãos de representação das respectivas classes

i. Membros do Ministério Público com mais de dez anos de carreira;

ii. Advogados de notório saber jurídico e reputação ilibada com mais de dez

anos de efetiva atividade profissional.

4.3.3. Tribunais superiores

4.3.3.1. Superior Tribunal de Justiça

Será composto por 33 indivíduos nomeados pelo Presidente da República

dentre:

a) Brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos;

b) Notável saber jurídico;

c) Reputação ilibada;

d) Aprovação do Senado Federal (sabatina).

Além disso, observar-se-á os critérios que seguem:

a) Compor-se-á de 1/3 dentre juízes dos TRFs (Tribunais Regionais Federais);

b) Compor-se-á de 1/3 dentre desembargadores dos TJs (Tribunais de Justiça);

c) Compor-se-á de 1/3 dentre advogados e membros do Ministério Público.

Configura exceção à regra, tendo em vista que não segue o disposto no quinto

constitucional, mas respeita o fixado pelo art. 104 da Constituição Federal:

Art. 104 da Constituição Federal. O Superior Tribunal de Justiça

compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros.

Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão

nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de

trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e

reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do

Senado Federal, sendo:

I – um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço

dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice

elaborada pelo próprio Tribunal;

II – um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do

Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios,

alternadamente, indicados na forma do art. 94.

4.3.3.2. Tribunal Superior Eleitoral

Será composto por, no mínimo, sete juízes, sendo os critérios:

a) Nomeação do Presidente da República:

i. Dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade

moral, indicados pelo STF.

Page 66: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

58

b) Mediante eleição, por voto secreto:

i. Três juízes dentre os Ministros do STF;

ii. Dois juízes dentre os Ministros do STJ.

Novamente, configura exceção ao quinto constitucional, sendo a disposição do

art. 119 da Constituição Federal:

Art. 119 da Constituição Federal. O Tribunal Superior Eleitoral

compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos:

I – mediante eleição, pelo voto secreto:

a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;

b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;

II – por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis

advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo

Supremo Tribunal Federal.

Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente

e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o

Corregedor Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.

4.3.3.3. Tribunal Superior do Trabalho

Composto por vinte e sete Ministros escolhidos entre:

a) Brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos;

b) Notável saber jurídico;

c) Reputação ilibada;

d) Aprovação do Senado Federal (sabatina).

Serão nomeados pelo Presidente da República, observando-se o que segue:

a) Compor-se-á de 1/5 dentre advogados com mais de dez anos de efetiva

atividade profissional e membros do Ministério Público com mais de dez anos de

efetivo exercício;

b) Compor-se-á de 4/5 dentre juízes dos TRTs (Tribunais Regionais do Trabalho),

oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.

4.3.3.4. Superior Tribunal Militar

É composto por 15 Ministros nomeados pelo Presidente da República,

observando-se os critérios que seguem:

a) Três dentre oficiais-generais da Marina;

b) Quatro dentre oficiais-generais do Exército;

c) Três dentre oficiais-generais da Aeronáutica.

Trata-se de mais uma exceção à regra do quinto constitucional, observando o

disposto no art. 123 da Constituição Federal:

Page 67: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

59

Art. 123 da Constituição Federal. O Superior Tribunal Militar compor-

se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República,

depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre

oficiais-generais da Marina, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três

dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais

elevado da carreira, e cinco dentre civis.

Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente

da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:

I – três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada,

com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;

II – dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do

Ministério Público da Justiça Militar.

4.3.3.5. Supremo Tribunal Federal

Composto por 11 Ministros nomeados pelo Presidente da República, dentre:

a) Brasileiros natos com mais de 35 e menos de 65 anos de idade;

b) Cidadãos que estejam em pleno gozo dos direitos políticos;

c) Notável saber jurídico;

d) Reputação ilibada;

e) Aprovação pelo Senado Federal (sabatina).

Trata-se de um caso especial, tendo em vista que não segue o denominado no

art. 94 da Constituição Federal, ou seja, não observa o quinto constitucional, mas o

disposto no art. 101 da Constituição Federal:

Art. 101 da Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal

compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta

e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico

e reputação ilibada.

Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão

nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela

maioria absoluta do Senado Federal.

4.4. Garantias do Poder Judiciário

Segundo adita Pedro Lenza, as garantias do Poder Judiciário assumem

importantíssimo papel no cenário da repartição dos Poderes, tendo em vista que

corrobora para que o Poder Judiciário se imponha, de fato, como um Poder autônomo,

independente.

Tais garantias, como veremos estão atreladas tanto às instituições, dando

autonomia aos órgãos propriamente ditos, bem como aos funcionários, beneficiando

diretamente os magistrados e demais servidores públicos do Poder Judiciário.

De modo geral, as garantias estão previstas nos arts. 95, 96 e 99 da Constituição

Federa, conforme veremos a seguir:

Page 68: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

60

4.4.1. Garantias institucionais

Como visto, as garantias institucionais dizem respeito à estruturação e

administração dos órgãos internos do Poder Judiciário, ou seja, ao Poder Judiciário

propriamente dito, não havendo qualquer ligação quanto aos funcionários.

Estão previstos nos arts. 9624 e 9925 da Constituição Federal, sendo as garantias:

24 Art. 96 da Constituição Federal. Compete privativamente: I – aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva; c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva jurisdição; d) propor a criação de novas varas judiciárias; e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei; f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente vinculados. II – ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169; a) a alteração do número de membros dos tribunais superiores; b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus servidores auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; d) a alteração da organização e da divisão judiciárias; III – aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. 25 Art. 99 da Constituição Federal. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. §1º. Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. §2º. O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: I – no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais; II – no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais. §3º. Se os órgãos referidos no §2º não encaminharem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do §1º deste artigo. §4º. Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do §1º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. §5º. Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.

Page 69: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

61

4.4.1.1. Autonomia financeira

Prevista no art. 99 da Constituição, reserva ao próprio Poder Judiciário

competência para propor suas diretrizes orçamentárias, elaborando-as juntamente aos

limites estipulados na Constituição e em acordo com os demais Poderes.

Estipulada a diretriz, compete ao Poder Judiciário administrar as verbas

destinadas ao seu bom funcionamento, não havendo o que se falar em interferência dos

demais poderes.

4.4.1.2. Autonomia orgânico-administrativa

Prevista no art. 96, refere-se à autonomia dada aos órgãos do Poder Judiciário

para organizarem e estruturarem seus órgãos diretivos, sendo responsáveis pela criação

de seus próprios regimentos internos.

Tem por objetivo, portanto, dar autonomia para que os órgãos do Poder

Judiciário se direcionem sem que haja qualquer interferência dos demais Poderes.

4.4.2. Garantias funcionais

Como dito anteriormente, as garantias funcionais são aquelas que recaem nas

pessoas dos magistrados, aos indivíduos, e não às instituições.

As garantias funcionais estão dispostas no art. 95 da Constituição Federal:

Art. 95 da Constituição Federal. Os juízes gozam das seguintes

garantias:

I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois

anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de

deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de

sentença transitada em julgado:

II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma

do art. 93, VIII;

III – irredutibilidade salarial, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI,

39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §2º, I.

4.4.2.1. Vitaliciedade

Uma vez investidos no cargo de juízes de primeira instância, os magistrados

possuirão vitaliciedade a partir do segundo ano de exercício do cargo, tendo em vista

que passa por período de prova anteriormente à efetivação de tal garantia.

Durante os dois primeiros anos, como diz o artigo, o magistrado recém investido

será submetido a período de prova e somente poderá perder o cargo por deliberação

do tribunal a que estiver vinculado.

Adquirida a vitaliciedade, somente perderá o cargo em três situações, quais

sejam: (1) perante sentença transitada em julgado que assim o condene; (2) morte; (3)

juízo próprio.

Page 70: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

62

4.4.2.2. Inamovibilidade

Tal garantia afirma que não poderá o magistrado ser realocado do local em que

exerce a sua jurisdição sem o seu consentimento. Essa garantia, contudo, não é

absoluta, encontrando limite no art. 93, VIII, da Constituição Federal, segundo o qual:

Art. 93 da Constituição Federal. Lei complementar, de iniciativa do

Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,

observados os seguintes princípios:

[...]

VIII – o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por

interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do

respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada a ampla

defesa.

Portanto, em que pese a garantia, poderá o magistrado ser realocado do local

em que exerce a jurisdição sem o seu consentimento diante da prevalência do interesse

público, representado pelo voto positivo da maioria absoluta do Tribunal ao qual está

vinculado ou do Conselho Nacional de Justiça – CNJ.

Por fim, cabe uma pergunta: a inamovibilidade também recai sobre os juízes

substitutos? Conforme fixou o MS 21.958/2012 do STF, a garantia se estende sim aos

juízes substitutos.

Conforme adita Pedro Lenza, ... desde a posse, o juiz substituto deve ter a

garantia de não ser removido para fora da unidade judiciária em que está formalmente

lotado. Trata-se de unidade de competência judicante, adstrita a uma base territorial

geograficamente determinada e predefinida.

Dessa forma, muito embora o “papel” do juiz substituto seja o de substituir,

deverá exercer a sua função dentro da sua circunscrição judiciária, definida, no âmbito

estadual, pelo Código Judiciário de cada unidade federativa.

4.4.2.3. Irredutibilidade dos subsídios

Não poderá a remuneração dos magistrados ser reduzida, salvo por motivo

tributário, devendo tal elemento ser fixado em parcela única, conforme o estipulado

pelos artigos citados no inc. III do art. 95 da Constituição Federal.

É a redação desses artigos:

Art. 37 da Constituição Federal. A administração pública direta e

indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

[...]

X – a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o

§4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica,

observada a iniciativa privada em cada caso, assegurada revisão geral anual,

sempre na mesma data e sem distinção de índices;

Page 71: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

63

XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e

empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos

membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes

políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos

cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer

outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos

Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos

Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o

subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos

Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio

dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e

vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos

Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário,

aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e

aos Defensores Públicos.

[...]

Art. 39, §4º, da Constituição Federal. O membro de Poder, o detentor

de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e

Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em

parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono,

prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido,

em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

[...]

Art. 150 da Constituição Federal. Sem prejuízo de outras garantias

asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

[...]

II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem

em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação

profissional ou função por eles exercida, independentemente da

denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.

[...]

Art. 153 da Constituição Federal. Compete à União instituir impostos

sobre:

[...]

III – renda e proventos de qualquer natureza.

4.5. Vedações ao magistrado

As vedações aos magistrados estão dispostas no parágrafo único do art. 95 da

Constituição Federal, segundo o qual:

Art. 95, parágrafo único, da Constituição Federal. Aos juízes é vedado:

I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo

uma de magistério;

Page 72: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

64

II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em

processo;

III – dedicar-se à atividade político-partidária;

IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições

de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções

previstas em lei;

V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes

de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou

exoneração.

4.6. Conselho Nacional de Justiça

4.6.1. Criação

Foi incorporado ao Ordenamento Jurídico na Constituição Federal de 1967, sob

a nomenclatura Conselho Nacional da Magistratura. Contudo, é estrutura como hoje o

conhecemos em decorrência da Emenda à Constituição nº 45/2004, segundo a qual foi

incorporado ao texto da Constituição o art. 103-B.

4.6.2. Composição

De acordo com o art. 103-B, caput, o Conselho Nacional de Justiça é composto

por 15 membros com mandato de dois anos, sendo admitida recondução única. É a

composição:

a) Presidente do Supremo Tribunal Federal;

b) Um Ministro do Superior Tribunal de Justiça – indicado pelo próprio Tribunal;

c) Um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho – indicado pelo próprio Tribunal;

d) Um desembargador de Tribunal de Justiça – indicado pelo STF;

e) Um juiz estadual – indicado pelo STF;

f) Um juiz federal – indicado pelo STJ;

g) Um juiz de Tribunal Regional do Trabalho – indicado pelo TST;

h) Um juiz do trabalho – indicado pelo TST;

i) Um membro do Ministério Público da União – indicado pelo PGR;

j) Um membro do Ministério Público estadual – indicado pelo PGR, dentre os

nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;

k) Dois advogados – indicados pelo Conselho Federal da OAB;

l) Dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada – indicados pela

Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.

4.6.3. Funções

As funções do CNJ estão atribuídas no art. 103-B, §4º, da Constituição Federal:

Art. 103-B, §4º, da Constituição Federal. Compete ao Conselho o

controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do

cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras

atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:

Page 73: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

65

I – zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do

Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito

de sua competência, ou recomendar providências;

II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante

provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros

ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar

prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento

da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;

III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos

do Poder Judiciário, inclusive, contra seus serviços auxiliares, serventias e

órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuam por

delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência

disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos

disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar

outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

IV – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a

administração público ou de abuso de autoridade;

V – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares

de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;

VI – elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e

sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do

Poder Judiciário;

VII – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar

necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do

Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal

Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da

sessão legislativa.

Convém fazermos um comentário acerca das funções exercidas pelo Conselho

Nacional de Justiça. Em que pese ser órgão do Poder Judiciário competente para

fiscalizar e analisar as atividades exercidas pelos magistrados, não apresenta função

judicante, ou seja, não tem competência para julgá-los, somente podendo realizar

elementos administrativos.

4.6.4. Competência disciplinar

Surge uma pergunta: quem tem competência para analisar falta funcional? A

competência é conjunta do CNJ e da Corregedoria. Contudo, uma vez aberto o

procedimento de averiguação por parte do primeiro, suspenso estará eventual

procedimento instaurado pelo segundo.

4.7. Funções essenciais à justiça

São quatro as funções essenciais à Justiça, quais sejam:

a) Ministério Público;

b) Advocacia Pública ou Geral;

c) Advocacia Privada;

Page 74: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

66

d) Defensoria Pública.

Vamos ao estudo de cada uma delas.

4.7.1. Ministério Público

4.7.1.1. Criação

Apesar das referências históricas acerca do Ministério Público, vindo, segundo

concorda a maioria da doutrina, do Ordenamento Jurídico Napoleônico, somente temos

uma menção propriamente dita do Ministério Público perante a Constituição de 1946,

na qual recebeu título especial próprio, não estando atrelado a nenhum outro Poder.

4.7.1.2. Legislação

Na Constituição Federal de 1988, o Ministério Público está disposto na Seção I

do Capítulo IV – Das Funções Essenciais da Justiça –, do Título IV – Da Organização dos

Poderes, correspondente aos arts. 127 a 130-A.

4.7.1.3. Conceito

A própria Constituição nos dá o conceito de Ministério Público, sendo, segundo

disposição do art. 127, caput: “O Ministério Público é instituição permanente, essencial

à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”

4.7.1.4. Princípios funcionais

Têm previsão no §1º do artigo acima referido, sendo: “São princípios

institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência

funcional.”

A fundamentação aqui é mais ou menos a mesma se comparado aos princípios

que regem o Poder Judiciário.

Diz-se uno, tendo em vista que, apesar da divisão em estados e territórios,

corresponde a um órgão unificado. A divisão, portanto, é meramente funcional e abarca

por objetivo a maior eficiência e organização de tal órgão.

Por outro lado, considera-se indivisível justamente em decorrência do princípio

acima explicado. Nesse caso, afirma que é possível que seus membros sejam alterados

sem que, na prática, haja alteração nas atividades exercidas pelo Ministério Público, haja

vista que cada membro age em nome da instituição e não em nome próprio.

Por fim, a Constituição atribui ao Ministério Público a independência funcional

caracterizada pela autonomia em relação aos demais Poderes, não havendo ligação

quanto a nenhum deles. Como bem lembra Pedro Lenza, constitui crime de

responsabilidade, conforme estipulado no art. 85, II, da Constituição Federal, atentar

contra o livre exercício do Ministério Público.

● ● ● ●

Page 75: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

67

Além do disposto no §1º, importante ressaltar que o §2º do art. 127 assegura ao

Ministério Público a autonomia funcional e administrativa, sendo competente para criar

e extinguir os cargos e serviços auxiliares a eles relacionados, sendo responsável pela

organizar dos concursos públicos de provas e títulos pelos quais os indivíduos

ingressarão no mesmo, bem como pela política remuneratória e planos de carreira.

4.7.1.5. Estrutura

Segue a estrutura do Ministério Público:

Nesse sentido é o conteúdo do art. 128, caput, da Constituição Federal:

Art. 128, caput, da Constituição Federal. O Ministério Público

abrange:

I – o Ministério Público da União, que compreende:

a) o Ministério Público Federal;

b) o Ministério Público do Trabalho;

c) o Ministério Público Militar;

d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;

II – os Ministérios Públicos dos Estados.

4.7.1.6. Chefe

Dispõe o art. 128, §1º, da Constituição Federal: “O Ministério Público da União

tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República

dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu

nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois

anos, permitida a recondução.”

Ministério Público da União

Procurador-Geral da República

Ministério Público Federal

Ministério Público do Trabalho

Ministério Público Militar

Secretaria do MPU

Auditoria Interna MPU

Escola Superior do MPU

Ministério Público do Distrito Federal e

Territórios

Conselho de Assessoramento

Superior do Ministério Público da

União

Page 76: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

68

Portanto, em âmbito federal, quanto ao Ministério Público da União, o chefe é o

Procurador-Geral da República. Será nomeado pelo Presidente da República dentre os

membros do MP com mais de trinta e cinco anos a mandato de dois anos.

Em âmbito estadual o chefe do Ministério Público é o Procurador-Geral do

Estado, escolhido dentre lista tríplice formada pelo Ministério Público do respectivo

Estado. Igualmente ao Chefe em âmbito federal, o mandato será de dois anos, sendo

possível a recondução (§3º26).

Diante das instâncias inferiores, são os representantes do Ministério Público os

Promotores de Justiça, em âmbito estadual, e os Procuradores da República, em âmbito

federal. Na segunda instância, são representantes do Ministério Público os Procuradores

de Justiça.

4.7.1.7. Garantias e vedações

As garantias funcionais do Ministério Público estão dispostas no art. 128, §5º, da

Constituição Federal, sendo:

Art. 128, §5º, da Constituição Federal. Leis complementares da União

e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais,

estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério

Público, observadas, relativamente a seus membros:

I – as seguintes garantias:

a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o

cargo senão por sentença judicial transitada em julgado;

b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante

decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da

maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;

c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, §4º, e

ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, §2º, I.

II – as seguintes vedações:

a) receber, a qualquer título e qualquer pretexto, honorários,

percentagens ou custas processuais;

b) exercer a advocacia;

c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;

d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função

pública, salvo uma de magistério;

e) exercer atividade político-partidária;

26 Art. 128, §3º, da Constituição Federal. Os Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida a recondução.

Page 77: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

69

f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios de pessoas físicas,

entidades públicas ou provadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.

Quanto às garantias, tratam-se das mesmas atribuídas aos magistrados.

Portanto, vide tópico 4.4.2, supra.

4.7.1.8. Funções institucionais

As funções institucionais do Ministério Público estão dispostas no art. 129 da

Constituição Federal, sendo:

Art. 129 da Constituição Federal. São funções institucionais do

Ministério Público:

I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de

relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo

as medidas necessárias a sua garantia;

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção

do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses

difusos e coletivos;

IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para

fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta

Constituição;

V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações

indígenas;

VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua

competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na

forma da lei complementar respectiva;

VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei

complementar mencionada no artigo anterior;

VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito

policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações

processuais;

IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que

compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e

a consultoria jurídica de entidades públicas.

4.7.1.9. Conselho Nacional do Ministério Público

Trata-se de órgão do Ministério Público responsável pelo controle da atuação

administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres

funcionais de seus membros.

Conforme estabelece o art. 130-A, §2º, da Constituição Federal, são suas

incumbências:

a) Zelar pela autonomia funcional e administrativa;

Page 78: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

70

b) Zelar pelo respeito aos princípios da Administração Pública direta e indireta

(art. 37);

c) Receber e conhecer reclamações contra membros ou órgãos do Ministério

Público da União ou dos Estados;

d) Rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de

membros do Ministério Público;

e) Elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias.

A composição está prevista no caput deste artigo, sendo:

Art. 130-A da Constituição Federal. O Conselho Nacional do Ministério

Público compõe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da

República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta de Senado

Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:

I – o Procurador-Geral da República, que o preside;

II – quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a

representação de cada uma de suas carreiras;

III – três membros do Ministério Público dos Estados;

IV – dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro

pelo Superior Tribunal de Justiça;

V – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos

Advogados do Brasil;

VI – dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada,

indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

4.7.2. Advocacia Pública

4.7.2.1. Legislação

Está fixada nos arts. 131 e 132 da Constituição, sendo o seu teor:

Art. 131 da Constituição Federal. A Advocacia-Geral da União é a

instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a

União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei

complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as

atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.

§1º. A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da

União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos

maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

§2º. O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que

trata este artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos.

§3º. Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a

representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,

observado o disposto em lei.

Art. 132 da Constituição Federal. Os Procuradores dos Estados e do

Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de

concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos

Page 79: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

71

Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação

judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.

Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada

estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de

desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das

corregedorias.

Como é possível ver, o constituinte não deu a devida atenção aos membros da

Advocacia Pública, motivo pelo qual a sua organização ficou destinada à legislação

infraconstitucional.

Por esse motivo, além das disposições Constitucionais, é necessário a

observância quanto ao disposto na Lei Orgânica de cada carreira dessa função essencial

à Justiça.

Vejamos.

4.7.2.2. Composição

Como prevê a Constituição Federal, o ingresso nas classes iniciais das carreiras

desta instituição, tanto em âmbito federal, como estadual, se dará por meio de concurso

público de provas e títulos, sendo necessário, para tanto, ser bacharel no curso de

Direito.

Aprovado, o indivíduo será empossado como Procurador.

São os cargos de Advogado Público e a sua composição:

Advocacia Pública

Advogado-Geral da União

Advogados da União

Procuradores da Fazenda Nacional

Procuradores Federais

Procuradores do Banco Central

do Brasil

Procuradores do Distrito Federal

Procuradores do Estado

Procuradores dos Municípios

Page 80: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

72

Nota-se, portanto, que compõe a Procuradoria Federal (Advocacia-Geral da

União), além dos Procuradores Federais, a Procuradoria do Banco Central do Brasil, a

Procuradoria da Fazenda Nacional. Além disso, podemos incluir, também, a

Procuradoria do INSS, a Procuradoria do IBAMA etc.

Por fim, há de se notar que a legislação constitucional não menciona os

procuradores municipais. Por esse motivo, há divergência doutrinária acerca da

necessidade ou não de realização de concurso público. Em decorrência da divergência,

entende-se que é possível a sua livre nomeação.

4.7.2.3. Chefia

A partir da composição acima destacada é possível que identifiquemos os chefes

da Advocacia Pública.

No âmbito da União, é chefe o Advogado-Geral da União. Tal função é escolhida

livremente pelo Presidente da República dentre cidadãos com mais de trinta e cinco

anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada.

No âmbito estadual, é chefe o Advogado-Geral do respectivo Estado; enquanto

no âmbito municipal, é chefe o Advogado-Geral do Município.

4.7.2.4. Natureza e função

A natureza e a função estão destacadas nos caputs dos artigos anteriormente

citados. Em suma, são órgãos que prestam serviços públicos, porém não estão ligados à

Administração Pública. Têm como objetivo exercer a representação judicial e a

consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo (Federal) e das respectivas

unidades federadas (Estadual).

4.7.2.5. Advogado comissionado x Advogado concursado

São duas as principais diferenças entre essas funções. Enquanto o advogado

concursado possui garantias previstas em lei, sendo uma delas a estabilidade, o

advogado comissionado não possui garantias, podendo ser demitido ad nutum, ou seja,

sem motivo específico.

4.7.3. Advocacia Privada

4.7.3.1. Legislação

A Constituição somente cita a Advocacia Privada em um artigo, deixando para

que Lei específica o organize:

Art. 133 da Constituição Federal. O advogado é indispensável à

administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no

exercício da profissão, nos limites da lei.

Ainda assim, a presença da advocacia privada e da OAB é prevista em vários

momentos. Vejamos:

Page 81: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

73

Art. 5º, LXIII, da Constituição Federal. O preso será informado de seus

direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a

assistência da família e de advogado.

Art. 93, I, da Constituição Federal. Ingresso na carreira, cujo cargo

inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos,

com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases,

exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica

e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação.

Art. 94 da Constituição Federal. Um quinto dos lugares dos Tribunais

Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e

Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de

dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação

ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em

lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.

Entre outros...

Além da Constituição, a advocacia privada é organizada e legislada por meio do

Estatuto da Advocacia, referente à Lei nº 8.9006/94.

4.7.3.2. Princípios

Da leitura do art. 133 da Constituição é possível que retiremos dois princípios

pelos quais a advocacia privada é regida, quais sejam:

4.7.3.2.1. Princípio da indispensabilidade do advogado

Tendo em vista a necessidade da capacidade postulatória para o ingresso de uma

ação em juízo, a participação do advogado é indispensável para tanto, uma vez que

possui tal capacidade. É o denominado ius postulandi.

É a disposição do art. 2º, caput e §§2º e 3º, do Estatuto da Advocacia:

Art. 2º do Estatuto da Advocacia. O advogado é indispensável à

administração da justiça.

§1º. No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e

exerce função social.

§2º. No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de

decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus

atos constituem múnus público.

Ainda assim, há algumas exceções cuja presença do advogado é dispensável.

Vejamos:

a) Habeas corpus:

É a disposição do art. 654, caput, do Código de Processo Penal:

Art. 654, caput, do Código de Processo Penal. O habeas corpus poderá

ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como

pelo Ministério Público.

Page 82: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

74

b) Juizados especiais:

Fixam os arts. 9º, caput, da Lei 9.099/95 e 10, caput, da Lei 10.259/01:

Art. 9º, caput, da Lei dos Juizados Especiais Estaduais. Nas causas de

valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente,

podendo ser assistidas por advogado, nas de valor superior, a assistência é

obrigatória.

● ● ● ●

Art. 10, caput, da Lei dos Juizados Especiais Federais. As partes

poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não.

c) Justiça do trabalho:

Determina o art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho:

Art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho. Os empregados e os

empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho

e acompanhar as suas reclamações até o final.

§1º. Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão

fazer-se representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou

provisionando, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.

§2º. Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência

por advogado.

§3º. A constituição de procurador com poderes para o foro em geral

poderá ser efetivada, mediante simples registro em ata de audiência, a

requerimento verbal do advogado interessado, com anuência da parte

representada.

d) Revisão criminal:

Aduz o art. 623 do Código de Processo Penal:

Art. 623 do Código de Processo Penal. A revisão poderá ser pedida

pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de

morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

e) Direto de petição:

É a disposição do art. 5º, XXXIV, da Constituição Federal:

Art. 5º, XXXIV, da Constituição Federal. São a todos assegurados,

independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou

contra ilegalidade ou abuso de poder.

f) Defesa de tomada de contas:

Assim estabeleceu o Mandado de Segurança nº 24.961/STF:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL DE CONTAS.

TOMADA DE CONTAS ESPECIAL: CONCEITO. DIREITO DE DEFESA:

PARTICIPAÇÃO DE ADVOGADO. I. - A Tomada de Contas Especial não constitui

Page 83: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

75

procedimento administrativo disciplinar. Ela tem por escopo a defesa da coisa

pública. Busca a Corte de Contas, com tal medida, o ressarcimento pela lesão

causada ao Erário. A Tomada de Contas é procedimento administrativo, certo

que a extensão da garantia do contraditório (C.F., art. 5º, LV) aos

procedimentos administrativos não exige a adoção da normatividade própria

do processo judicial, em que é indispensável a atuação do advogado: AI

207.197-AgR/PR, Ministro Octavio Gallotti, "DJ" de 05.6.98; RE 244.027-

AgR/SP, Ministra Ellen Gracie, "DJ" de 28.6.2002. II. - Desnecessidade de

intimação pessoal para a sessão de julgamento, intimados os interessados

pela publicação no órgão oficial. Aplicação subsidiária do disposto no art. 236,

CPC. Ademais, a publicidade dos atos administrativos dá-se mediante a sua

veiculação no órgão oficial. III. - Mandado de Segurança indeferido. (STF - MS:

24961 DF, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 24/11/2004,

Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 04-03-2005 PP-00012 EMENT VOL-

02182-02 PP-00332 RT v. 94, n. 836, 2005, p. 96-103 LEXSTF v. 27, n. 316,

2005, p. 217-232 RTJ VOL-00193-01 PP-00347)

g) Defesa de parlamentar em processo de perda de mandato:

Por fim, designou o Mandado de Segurança nº 21.360/STF:

AMPLA DEFESA - PARLAMENTAR - PERDA DE MANDATO -

REPRESENTAÇÃO POR ADVOGADO NO ÂMBITO DA CÂMARA DOS

DEPUTADOS OU DO SENADO FEDERAL - SUSTENTAÇÃO DA TRIBUNA. A

EXPRESSAO "AMPLA DEFESA" CONTIDA NO PAR.2. DO ARTIGO 55 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO ENCERRA, NECESSARIAMENTE, A

REPRESENTAÇÃO DO PARLAMENTAR POR PROFISSIONAL DA ADVOCACIA, A

PONTO DE IMPOR, A QUALQUER DAS CASAS DO LEGISLATIVO, A ADMISSAO

DESTE NA TRIBUNA. O PROCESSO DE PERDA DE MANDATO NÃO E

ADMINISTRATIVO, NEM JUDICIAL, MAS POLÍTICO, SENDO REGIDO POR

NORMAS INTERNA CORPORIS. MESMO NO CAMPO JURISDICIONAL, EM QUE

SE TEM O ADVOGADO COMO INDISPENSAVEL A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

- ARTIGO 133, CAPITULO III - "DO PODER JUDICIARIO" - DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL, E POSSIVEL ENCONTRAR RECURSOS QUE NÃO ENSEJAM A

SUSTENTAÇÃO DA TRIBUNA, SEM QUE, COM ISTO, A NORMA RESTRITIVA

POSSA SER TIDA COMO MERECEDORA DA PECHA DE INCONSTITUCIONAL.

TANTO QUANTO POSSIVEL, DEVE SER PRESERVADA A DISCIPLINA DO

FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS DOS PODERES DA UNIÃO, BUSCANDO-SE,

DESSA FORMA, A EFICACIA DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL QUE LHE E

INERENTE - DA HARMONIA E INDEPENDÊNCIA. A SOLUÇÃO EMPRESTADA AO

PROCESSO POLÍTICO DE PERDA DE MANDATO NÃO OBSTACULIZA O ACESSO

AO JUDICIARIO, CUJA ATUAÇÃO SE FAZ, SOB O ANGULO DA LEGALIDADE,

COM A INESTIMAVEL COLABORAÇÃO DO PROFISSIONAL DA ADVOCACIA. (STF

- MS: 21360 DF, Relator: Min. NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento:

12/03/1992, TRIBUNAL PLENO, Data de Publicação: DJ 23-04-1993 PP-06922

EMENT VOL-01700-04 PP-00630 RTJ VOL-00146-01 PP-00153)

4.7.3.2.2. Princípio da imunidade do advogado

Igualmente aos parlamentares, estudados diante da análise do Poder Legislativo,

os advogados possuem imunidades diante do exercício da sua profissão. Importante

destacar que somente terão tal imunidade diante do efetivo exercício das atividades

advocatícias, não havendo o que se falar em proteção além desta.

Page 84: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

76

Da mesma forma, não se trata de imunidade absoluta, sendo necessário que se

observe os limites estabelecidos no Estatuto da Advocacia.

São alguns exemplos:

Art. 7º do Estatuto da Advocacia. São direitos do advogado:

[...]

X – usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal,

mediante intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida

em relação a fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento,

bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem feitas;

XI – reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo,

tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei,

regulamento ou regimento;

XII – falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de

deliberação coletiva da Administração Público ou do Poder Legislativo.

Por fim, na mesma toada é o art. 2º, §3º, do Estatuto da Advocacia:

Art. 2º, §3º, do Estatuto da Advocacia. No exercício da profissão, o

advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei.

4.7.4. Defensoria Pública

4.7.4.1. Legislação

É o que dispõe a Constituição Federal:

Art. 134 da Constituição Federal. A Defensoria Pública é instituição

permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,

como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente,

a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos

os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma

integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta

Constituição Federal.

§1º. Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do

Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua

organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial,

mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes

a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das

atribuições institucionais.

§2º. Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia

funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro

dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao

disposto no art. 99, §2º27.

27 Art. 99, §2º, da Constituição Federal. O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: I – no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais;

Page 85: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

77

§3º. Aplica-se o disposto no §2º às Defensorias Públicas da União e do

Distrito Federal.

§4º. São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a

indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que

couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição

Federal.

4.7.4.2. Função

Anteriormente à explicação da função da Defensoria Pública, compete a nós

explicarmos de onde surgiu. O seu surgimento ocorre em decorrência das denominadas

ondas renovatórias.

Já explicamos tal conceito diante do Resumo de Conciliação, Mediação e

Arbitragem. Portanto, segue a explicação:

Ondas renovatórias do acesso à justiça28. O movimento de acesso à justiça

ganhou destaque na década de 1970, quando estudiosos do Direito, e de várias outras

áreas, concretizaram um projeto específico, levando em consideração diversas

realidades mundiais. O conjunto desse trabalho é conhecido como “Projeto Florença” e

os principais resultados foram expostos na obra Acesso à Justiça, de autoria de Mauro

Cappellutti e Bryant Garth, que dividiram em três ondas os principais movimentos

renovatórios do acesso à justiça.

São as ondas:

1ª Onda: Assistência judiciária aos pobres: tal onde tinha como objetivo garantir

aos menos favorecidos economicamente o acesso à justiça. Segundo os autores acima

referidos, tal artifício seria incorporado através de dois elementos, quais sejam, (1) o

sistema judicare e a (2) advocacia gratuita (defensoria pública). Aquela tinha como

objetivo proporcionar aos litigantes de baixa renda a mesma representação que teriam

se pudessem pagar um advogado; enquanto esta, além da representação judicial, de

fato, teria como objetivo a criação de escritórios populares, responsáveis pela

assistência jurídica prévia, bem como qualquer função informativa aos indivíduos.

2ª Onda: Representação dos interesses difusos: difusos são os direitos

transindividuais, isto é, que transcendem a esfera individual, atingindo a esfera coletivo,

indivisíveis, pertencentes a todos, porém, ao mesmo tempo, não possuindo proprietário

absoluto, e de titularidade indeterminada ou que interligam os indivíduos por

circunstâncias de fato.

Diante do direito processual tradicional, individualista, tais objetos não eram

devidamente abrangidos, visto que este não era capaz de atender às demandas que

II – no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais. 28 Vide texto disponível em: <https://www.emagis.com.br/area-gratuita/que-negocio-e-esse/ondas-renovatorias-de-acesso-a-justica/>.

Page 86: Direito Constitucional IVdireitofacilitado.com.br/wp-content/uploads/2020/01/...Direito Constitucional IV Sumário: Capítulo 1 – Dos Poderes Página 1 1. Página 1Da Separação

Diretório Acadêmico Dr. Nelson Hungria – Gestão 2020 DireitoFacilitado.com.br

78

surgiam. Por esse motivo, foi necessário a ocorrência de uma transformação processual,

passando este a possuir como principais elementos a função social e coletiva.

Em decorrência desta mudança, podemos citar alguns reflexos no Ordenamento

Jurídico Brasileiros: (1) ação popular; (2) ação cível pública; (3) mandado de segurança

coletivo; (4) Código de Defesa do Consumidor etc.

3ª Onda: Acesso à representação em juízo, a uma concepção mais ampla de

acesso à justiça e um novo enfoque de acesso à justiça: tal onda foi criada, uma vez que

os dois anteriores não eram suficientes para que se chegasse à verdadeira extinção da

demanda referente às lides. A apreciação processual somente era capaz de lhes fornecer

encerramento formal, não havendo, como dito, a cessação da lide em questão. Para

tanto, criou-se os métodos alternativos de solução de conflito, como a mediação, a

conciliação, a arbitragem, os juizados especiais etc.

● ● ● ●

Como é possível de se notar, a advocacia gratuita e, em decorrência, a Defensoria

Pública, surge diante do primeiro momento, ou seja, diante da primeira onda

renovatória que buscou facilitar o acesso dos hipossuficientes à Justiça.

Tem por função, portanto, defender os interesses dos cidadãos que não tem

possibilidade de contratar serviços advocatícios privados. Nota-se, portanto, uma

função social de extrema importância a exercida pela Defensoria Pública, estendendo o

acesso à Justiça aos hipossuficientes.

4.7.4.3. Princípios

Conforme estabelece o texto constitucional, são três os princípios institucionais

da Defensoria Pública, quais sejam: (1) Princípio da Unidade; (2) Princípio da

Indivisibilidade e (3) Princípio da Independência Funcional, idênticos aos princípios

funcionais do Ministério Público – vide tópico 4.7.1.4.