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DIREITO À VIDA A dignidade da pessoa humana e a indemnização por dano-morte Unidade Curricular: Direito das Pessoas e da Família Professora: Margarida Lima Rego Aluno: Carlos Alberto Batista Correia, aluno n.º 1452 UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA FACULDADE DE DIREITO 2009

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DIREITO À VIDA A dignidade da pessoa humana e a indemnização por dano-morte

Unidade Curricular: Direito das Pessoas e da Família

Professora: Margarida Lima Rego

Aluno: Carlos Alberto Batista Correia, aluno n.º 1452

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

FACULDADE DE DIREITO 2009

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ÍNDICE

Introdução............................................................................................................................ 2

I. Das pessoas ....................................................................................................................... 3

II. Direitos de Personalidade ............................................................................................... 6

2.1. Direito à Vida.............................................................................................................. 7

2.2. Violação do Direito à Vida.......................................................................................... 8

III. Dos danos não patrimoniais .......................................................................................... 9

3.1. Do sofrimento dos familiares....................................................................................... 9

3.2. Do sofrimento do próprio .......................................................................................... 11

3.3. Do dano-morte .......................................................................................................... 11

IV. Da indemnização pelo dano-morte...............................................................................13

4.1. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ............................................................ 17

Conclusão ............................................................................................................................20

Bibliografia .........................................................................................................................21

Anexo...................................................................................................................................23

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2

Introdução A vida humana assume uma posição inigualável na Ordem Jurídica Portuguesa. É

inegável que todas as pessoas humanas merecem ser tratadas com igualdade perante o

Direito. O Princípio da igualdade dispõe que situações iguais devem ser alvo de

tratamento igual e situações distintas devem ser tratadas de forma distinta.

A vida humana é algo de igual importância para todas as pessoas, já que uma vida

humana vale tanto como ela própria e não por comparação com outras vidas humanas. No

decurso do presente trabalho procuramos apurar se os tribunais de 1ª Instância, da Relação

e o Supremo Tribunal de Justiça se têm pautado por critérios de equidade na apreciação de

casos de dano-morte e na fixação de indemnizações por este dano não patrimonial.

Procuraremos ainda perceber se dos Acórdãos proferidos pelo Supremo Tribunal

de Justiça resulta a aplicação de critérios distintos no juízo dos casos e em que medida

podemos estar perante uma violação do princípio da dignidade da pessoa humana.

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I. Das pessoas

Reflexo da evolução do pensamento filosófico, o mundo como o conhecemos não

mais gira em torno de uma divindade. Com efeito desde a Idade Média o Homem tomou o

lugar central na História de tal forma que as sociedades existem para servir o Homem, e o

Direito para servir as sociedades humanas. O direito não rege a conduta da pessoa isolada,

mas as relações entre as pessoas. Assim podemos afirmar que o Direito existe porque o

Homem existe. No entanto, a pessoa humana não foi o primeiro objecto de relações

jurídicas, mas sim a propriedade e as trocas estabelecidas entre as pessoas, porquanto a

pessoa era algo de pressuposto sobre a qual não fazia sentido haver reflexão no mundo

jurídico.

A necessidade de reflexão sobre a pessoa humana foi despoletada com o surgir do

iluminismo, já que esta corrente político-filosófica alertou o mundo para a igualdade entre

todas as pessoas humanas num passado recente marcado pela diferença de tratamento

entre os seres humanos, como aconteceu com a escravatura. Apesar de tarde se ter

reconhecido a igualdade de todas as pessoas humanas perante a lei, o Direito reflecte um

elevado desenvolvimento no reconhecimento dos direitos fundamentais inerentes a toda a

pessoa humana. Para tal contribuíram, entre outros corpos legais, a Declaração Universal

dos Direitos do Homem (DUDH), de 1948, e a Convenção Europeia dos Direitos do

Homem (CEDH), de 1950, bem como a fiscalização e controlo pelos tribunais

internacionais, comunitários e nacionais da legalidade e respeito pelo princípio da

igualdade.

A pessoa pode ser vista de duas perspectivas, como ser humano e como

destinatário de normas, na medida em que é susceptível de ser titular de direitos e de

obrigações. Neste trabalho ocupar-nos-emos da pessoa na segunda perspectiva e nesta

somente das pessoas singulares – as ditas pessoas humanas.

1.1. A pessoa singular – sujeito titular de direitos e de obrigações A pessoa singular surge com a criação da vida, com a concepção biológica de um

ser humano. Até ao momento em que ainda não houve concepção, o Direito considera a

pessoa como concepturo (nascituro não concebido), i.e, a pessoa humana ainda não

concebida, e consiste numa figura jurídica que tem essencialmente relevância para efeitos

de sucessão e de doação. Inversamente, após a concepção e antes do nascimento, o Direito

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considera a pessoa humana como nascituro, figura com relevância em várias situações

jurídicas, dependendo do seu nascimento completo e com vida.

O Direito refere-se ao nascimento das pessoas humanas no Título II, Capítulo I do

Código Civil sob a epígrafe «Pessoas singulares» e no qual consagra as regras legais

gerais relativas às pessoas humanas. Neste, o art. 66.º, n.º 1, faz depender a personalidade

jurídica da pessoa humana de dois requisitos cumulativos, do nascimento completo e com

vida. É com o nascimento com vida do nascituro que este adquire não só personalidade

jurídica, mas também adquire capacidade jurídica de gozo de direitos. Alguns autores

entendem que o nascituro não tem quaisquer direitos pelo facto de não ser autónomo

biologicamente em relação à mãe, no entanto a maioria da doutrina entende que o

nascituro desde o momento da sua concepção é um ser humano que, por mais embrionária

que seja a fase em que se encontra, já goza de certos direitos. A larga maioria da doutrina

refere que a tese pela qual se defende que o nascituro não possui direitos devido à sua

dependência da mãe carece de fundamento, porque também o recém-nascido com vida

continua numa situação de enorme fragilidade, talvez mais do que antes de nascer, e

depende da mãe para quase tudo1. Partilhamos desta última visão, já que igualmente

consideramos que ao nascituro na qualidade de ser humano é merecida toda a dignidade

que é reconhecida à pessoa humana, razão pela qual consideramos que é titular de certos

direitos. O nascituro não goza somente de uma protecção jurídica objectiva, porque se

assim fosse apenas seria visto como um objecto aos olhos do Direito. O nascituro não é

um objecto do Direito, porque é uma pessoa humana e disto depende a sua personalidade

jurídica. Assim consideramos que as pessoas singulares adquirem a personalidade jurídica

ainda antes do seu nascimento completo e com vida e não como dispõe o Código Civil no

seu art. 66, n.º 1, devendo entender-se que a referência à personalidade jurídica significa

que a mesma já existe, mas será retroactivamente desconsiderada se não houver

nascimento completo e com vida2.

Como vimos a Ordem Jurídica portuguesa, de acordo com a redacção do art. 66.º,

n.º 1 do CC, parece não considerar que a personalidade jurídica surja com o momento da

concepção, logo não considerando o nascituro como sujeito de direito. Contudo confere-

lhe protecção jurídica, reconhecendo que pode ser destinatário de doações3 ou de

1 Pedro Pais de Vasconcelos, Direito de Personalidade, Almedina, Coimbra, 2006, p. 105. 2 Idem, p. 109. 3 Cf. n.º 1 do art. 952.º do CC.

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sucessões4, o que a meu ver parece ser uma contradição, já que confere a uma pessoa

humana em fase embrionária a faculdade de por exemplo poder ser donatário num contrato

de doação e depois faz depender a personalidade jurídica do nascimento completo e com

vida. A meu ver, e como consideram alguns autores5, o nascituro adquire personalidade

jurídica desde o momento da sua concepção, já que a pessoa humana é considerada para o

direito como uma pessoa em relação com outras pessoas. Ora como já anteriormente

referi, o direito surge em sociedade para reger as relações entre as pessoas, razão pela qual

se atribui a cada pessoa personalidade jurídica e capacidade de gozo de direitos resultantes

das relações que cada individuo é susceptível de tecer com os demais, então o nascituro

também ele próprio possui personalidade jurídica, porquanto estabelece relações quer com

a mãe, quer com o mundo exterior, quando, por exemplo, é parte num contrato de doação,

ainda que por intermédio dos progenitores, estabelecendo-se uma expectativa jurídica, que

em princípio culminará num direito subjectivo quando o nascituro, pelo seu nascimento

completo e com vida, adquira capacidade de gozo.

O nascituro além dos direitos acima referidos possui ainda outros direitos inerentes

à sua qualidade de pessoa humana, designadamente os direitos de personalidade, como por

exemplo o direito à vida e à integridade física6. No entanto, poder-se-á colocar a questão

de saber como a lei se compatibiliza com as situações em que o nascituro nasce sem vida.

Nestas situações a lei consagra que os direitos reconhecidos ao nascituro dependem do seu

nascimento completo e com vida7. Isto significa que os direitos de personalidade

reconhecidos ao nascituro extinguem-se com a extinção da personalidade e com esta

também se extinguem retroactivamente os direitos patrimoniais que o nascituro possa ter

adquirido.

No tocante à pessoa humana já nascida com vida, a mesma possui um estatuto

jurídico que se vai alterando com o decurso do tempo, dependendo da sua idade e estado

de saúde física e psíquica. A pessoa humana adquire capacidade jurídica de gozo

(genérica) que estava dependente do seu nascimento com vida e ainda capacidade jurídica

4 Cf. n.º 1 do art. 2033.º quanto à sucessão legal, e n.º 2 quanto à sucessão testamentária, ambos do CC. 5 Pedro Pais de Vasconcelos, Op. cit., p. 108. 6 Quanto ao direito à vida do nascituro o Código Penal no seu art. 140.º pune, para além das excepções legais, quem cometer o crime de aborto, consagrando o diploma molduras penais diferentes consoante haja ou não consentimento da mulher grávida. Ainda que não seja objecto deste trabalho, julgo necessário o reparo de que talvez a norma penal não devesse considerar de forma distinta a morte de pessoa já nascida e a morte de pessoa não nascida, ou a nascer ou ainda logo após o nascimento. Contudo este olhar sobre a lei levar-nos-ia a questões que como já referi não são o âmbito deste trabalho. Serve somente a alusão para referir que mesmo em fase embrionária a lei confere direitos ao nascituro, neste caso o direito a nascer com vida. 7 Cf. n.º 2 do art. 66.º do CC.

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de exercício, que, em regra, atingem a sua plenitude com a maioridade ou emancipação da

pessoa8.

II. Direitos de Personalidade

Em breves traços vimos como o direito considera a vida humana desde a sua

concepção e como lhe reconhece personalidade jurídica. Este desiderato conduz-nos ao

princípio da dignidade da pessoa humana, donde emanam vários corolários para o nosso

sistema jurídico, como, por exemplo, a proibição da tortura, a proibição da escravatura e a

proibição de pena de morte, i.e., o reconhecimento do direito à integridade física e o

direito à vida.

Para efeitos do presente trabalho debrucemo-nos somente no direito à vida, como

espaço de liberdade concedido à pessoa humana para regular a sua vida e nela tomar as

decisões que se lhe aprouver, desde que em respeito pelos direitos dos demais sujeitos, e

não se ver privado da sua vida. O direito à vida consiste num direito de personalidade

absoluto, mas não tão absoluto a ponto de ao seu titular ser legítimo atentar contra a sua

própria vida.

O Código Civil consagra os direitos de personalidade nos artigos 70.º e seguintes,

onde começa por estabelecer uma tutela geral dos direitos de personalidade referindo que

«A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua

personalidade física ou moral»9. Esta disposição não confere por si só um direito geral,

mas somente uma protecção geral ao conjunto de bens da personalidade, onde se insere o

direito à vida. Por conseguinte, não podemos extrair deste preceito legal um direito

subjectivo, porque seria demasiado indefinido, afastando-se a possibilidade de aplicação

do regime próprio dos direitos subjectivos10. Todavia o artigo 70.º do Código Civil

permite que pela sua tutela surjam vários direitos, os direitos subjectivos de personalidade,

onde já destacámos o direito à vida, que adiante analisaremos.

Com a vida cessa igualmente a personalidade jurídica, contudo alguns direitos do

falecido subsistem, designadamente direitos de personalidade11.

8 Cf. arts. 130.º a 133.º do CC. 9 Cf. n.º 1 do art. 70.º do CC. 10 Neste sentido, vide António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, I Parte Geral, Tomo III, Pessoas, 2.ª Edição, Almedina, Coimbra, 2007, p. 101. 11 Cf. n.º 1 do art. 71.º do CC.

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2.1. Direito à Vida

O direito à vida é um direito de personalidade que não está regulado em especial no

Código Civil, i.e., não encontra neste articulado legal um regime próprio. No entanto,

encontramo-lo consagrado no artigo 24.º da Constituição da República Portuguesa (CRP)

que declara que «a vida humana é inviolável» e que «em caso algum haverá pena de

morte»12.

O direito à vida não é discutido na sua acepção típica, já que a ninguém é licito

ofender a vida de outrem, salvo as excepções legais devidamente consagradas na lei penal.

Os casos onde a discussão sobre o direito à vida apresenta maior dificuldade de consenso

resultam, em regra, de situações limite da vida das pessoas, como é o caso da eutanásia e

do suicídio, ou do auxílio ou incitamento a este, e ainda os casos de interrupção voluntária

da gravidez. Das situações referidas o suicídio consiste no único caso em que, embora não

sendo lícito, não é punível, o que não é difícil de compreender, porquanto daí não adviria

prevenção nem redenção prováveis. Muito provavelmente o sujeito, sabendo que seria

punido, poderia atentar novamente contra a sua vida.

A leitura que devemos retirar do articulado da CRP deve ser mais profunda, porque

não só a norma constitucional consagra o direito à vida, como fá-lo no primeiro artigo

relativo aos direitos, liberdades e garantias pessoais, assumindo assim uma posição

cimeira relativamente aos restantes direitos fundamentais elencados na CRP. Com esta

disposição o legislador constituinte quis dar a conhecer que num Estado de Direito

Democrático o direito à vida adquire uma posição de supremacia face aos demais direitos,

e assim confere uma elevada dignidade à pessoa humana, porquanto todos os restantes

direitos, sejam eles direitos, liberdades e garantias ou somente direitos fundamentais

devem ceder perante a inviolabilidade da vida humana.

Também o Código Penal reconhece a mais elevada importância à vida humana,

porquanto considera a ofensa a esta como um crime de extrema gravidade e como tal

punindo-o com a mais pesada pena, em moldura abstracta, no primeiro artigo e seguintes

da Parte Especial do seu articulado13.

A mesma importância à preservação da vida humana é conferida por vários

diplomas ao nível supraestadual, como é o caso, entre outros, da DUDH14, da CEDH, bem

como da Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia.

12 Cf. n.ºs 1 e 2 do referido artigo. 13 Cf. art. 131.º do CP. 14 Cf. art. 3.º da DUDH; art. 2.º da CEDH e art. 2.º da CDFUE, de 12 de Fevereiro de 2000.

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Não obstante o grau de protecção conferida ao direito à vida humana, situações há

que podem violar este direito, o que pode resultar de uma actuação dolosa ou negligente e

ilícita ou lícita. Em regra as actuações dolosas e negligentes são ilícitas, sendo esta

ilicitude e a medida da culpa que determinam a necessidade de se punir ao nível penal e

que faz o agente incorrer na obrigação de indemnizar. Há, no entanto, casos em que a

conduta dolosa não acarreta sanção penal, nem responsabilidade civil, pelo facto de a

conduta não ser ilícita, como, por exemplo, a actuação em legítima defesa. Por

conseguinte, cingir-nos-emos às situações sobre as quais é possível um juízo de ilicitude e

de culpa para a partir daí extrairmos os efeitos jurídicos da violação do direito à vida.

2.2. Violação do Direito à Vida As violações do Direito à vida são em princípio ilícitas, salvo quando se provar que

o agente da violação actuou no exercício de um direito ou no cumprimento de um dever. O

juízo de ilicitude, além de apurar a existência de um destes dois requisitos, tem igualmente

de ponderar os direitos em conflito no caso concreto. Isto significa que o exercício de um

direito só poderá prevalecer sobre o Direito à vida de outrem em circunstâncias

verdadeiramente excepcionais, como, por exemplo, no exercício do direito à legítima

defesa própria ou de terceiros. Também o cumprimento de um dever só em casos muito

excepcionais poderá prevalecer sobre o Direito à vida de outrem, como, por exemplo,

quando um elemento policial dispara sobre um sujeito, provocando-lhe a morte, em

legítima defesa de terceiro cuja vida também estava em perigo. Por conseguinte,

constatamos que o juízo de ilicitude consiste numa ponderação das circunstâncias,

designadamente a actuação do lesante, a actuação do lesado e a necessidade de conduta

lesiva. Apenas quando a lesão for necessária para afastar o perigo para a vida de outrem é

que ela pode ter lugar.

Na apreciação de uma conduta lesante é igualmente necessário um juízo de culpa,

que releva nos casos em que a ilicitude não é afastada, em que é essencial verificar se

existem causas de exclusão da culpa e, em caso contrário, graduar a culpa, i.e., apurar a

medida da culpa do lesante no caso concreto.

Estabelecido o juízo sobre a conduta do lesante e apurando-se que a mesma foi

ilícita e culposa, a título de dolo ou mera culpa, haverá lugar à responsabilidade civil por

factos ilícitos15, tendo o lesante obrigação de indemnizar consoante o consagrado nos

artigos 495.º e 496.º do CC que analisaremos de seguida.

15 Cf. n.º 1 do art. 483.º do CC.

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III. Dos danos não patrimoniais O Código Civil na Secção V, Capitulo I, e Título I do Livro II, alude à obrigação

de indemnização em caso de morte ou lesão corporal no artigo 495.º e à obrigação de

indemnizar pelos danos não patrimoniais no artigo 496.º.

Enquanto que a indemnização consagrada no âmbito do artigo 495.º CC é relativa

aos danos patrimoniais relacionados com a lesão que provocou a morte ou a ofensa

corporal, a indemnização consagrada no âmbito do artigo 496.º CC é restrita aos danos não

patrimoniais sofridos pela vítima e aos seus herdeiros, nestes se considerando as pessoas

das suas relações jurídicas familiares16. Como pretendemos unicamente tratar da violação

do Direito à vida e das repercussões não patrimoniais de semelhante violação deter-nos-

emos pelo art. 496.º CC.

Os danos não patrimoniais – danos morais – consistem em danos que pese embora

possam ter uma lesão física, como nos casos de amputação do membro de alguém em

consequência de um acidente, não são danos no património da pessoa, i.e., no seu acervo

de bens físicos com expressão económica e de que o seu titular pode livremente dispor.

Pelo contrário quanto aos direitos eminentemente pessoais o seu titular não é livre de

dispor deles, já que em certas circunstâncias até mesmo a simples limitação voluntária ao

exercício de direitos de personalidade configura um acto nulo17.

Como os danos morais não pertencem unicamente ao de cuius, mas prevêem-se

igualmente danos morais para os seus herdeiros, importa identificar quem segundo a lei é

susceptível de ser indemnizado e a que título.

3.1. Do sofrimento dos familiares A morte de uma pessoa é um acontecimento normalmente sentido pelas pessoas

das relações mais próximas do falecido, e indiscutivelmente é um momento de enorme

dor, apenas verdadeiramente compreendido por quem já a sentiu, sendo tanto mais forte

quanto maior for a angústia de ver alguém falecer que ainda não havia atingido o apogeu

da vida, sobretudo se a morte resultar de uma atitude negligente ou de um acto cruel de

outrem.

Segundo esta linha de pensamento, o legislador considerou que, aparte outros

danos, também algumas pessoas das relações jurídicas familiares do de cuius devem ser 16 Por relações jurídicas familiares queremos referirmos ao casamento, ao parentesco, à afinidade e à adopção (cf. art. 1576.º do CC). 17 Cf. n.º 1, art. 81 do CC.

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indemnizadas pelos danos morais sofridos pela morte do seu ente querido. Assim a 2.ª

parte do n.º 3 do artigo 496.º CC dispõe que em caso de morte podem ser atendidos os

danos sofridos pelas pessoas referidas no número anterior, a saber: o cônjuge não separado

judicialmente de pessoas e bens e os filhos e outros descendentes, os pais ou outros

ascendentes, como, por exemplo, os avós, bem como os irmãos ou descendência destes. A

lei consagra a estas pessoas o direito à indemnização pelos danos morais sofridos, melhor

dito pelo sofrimento tido com a privação de alguém próximo.

Embora alguns autores entendam que o direito à indemnização dependerá da ordem

estabelecida no n.º 2 do art. 496.º CC, isso não parece fazer muito sentido, porque por

exemplo um irmão pode sofrer muito mais com a morte do seu irmão do que por exemplo

um neto do seu avô. Não somos de considerar, aliás somos mesmo de desconsiderar a

posição que defenda a possibilidade de accionamento da indemnização consoante a ordem

estabelecida naquele n.º 2, já que como referimos a dor sentida por ter perdido alguém não

consiste em algo que o direito possa predeterminar e graduar em função do grau de

parentesco. Quer isto dizer que cada uma das pessoas aí referidas tem a possibilidade de,

independentemente das demais, accionar o pedido de indemnização pelos danos morais

sofridos em consequência da morte de um seu parente com o qual mantenham a relação

estabelecida no n.º 2 do supracitado artigo. Por conseguinte, as pessoas ali referidas têm

um direito próprio a serem indemnizadas pelo dano sofrido.

Questão diversa, embora relacionada com o anteriormente exposto, consiste em

saber se o elenco de pessoas referido naquele n.º 2 é taxativo, ou pelo contrário é apenas

enunciativo, permitindo a inserção de outras pessoas. Em bom rigor, do elemento literal da

norma parece não haver lugar a que outras pessoas para além das já referidas possam

accionar o pedido de indemnização civil por sofrimento próprio com a morte de alguém

próximo. Ora a teleologia da norma tem que ver com conceder às pessoas das relações

jurídicas familiares próximas do falecido um direito subjectivo de indemnização civil para

serem compensadas pelo mal suportado, logo não parece descabido que alguém do

relacionamento muito próximo do de cuius, como por exemplo o companheiro de união de

facto em comum de habitação há pelo menos dois anos não possa igualmente ter direito ao

pedido de indemnização civil. Somos de considerar que nas situações de união de facto

agora descritas haja lugar a um interpretação extensiva do n.º 2 do artigo 496.º CC quando

este se refere ao cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens, já que mediante

esta disposição é de admitir que o cônjuge apenas separado judicialmente de bens possa

pedir a indemnização pelo sofrimento obtido com a morte do outro cônjuge. Se assim é,

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então na prática não se vê qualquer distinção entre os cônjuges casados com separação de

bens e os companheiros unidos de facto com um mínimo de comunhão de habitação.

Assim defendemos a interpretação extensiva do n.º 2 do artigo 496.º CC aos casos de

união de facto.

Somos de ir mais além e considerar que haverá lugar à analogia nas situações de

união de facto entre pessoas no mesmo sexo nas condições de comunhão já referidas,

porquanto a CRP reconhece o direito a todos de constituir família18, e esta segundo

entendemos não é o mesmo que casar, mas sim constituir um núcleo coeso com

intrincadas relações de afectuosidade interdependentes.

3.2. Do sofrimento do próprio Os danos não patrimoniais sofridos pelo lesado antes da sua morte conferem-lhe o

direito de indemnização civil conforme o consagrado na 2.ª parte do n.º 3 do artigo 496.º

CC, mas para tal a vítima tem de ter sofrido antes da sua morte, sendo que a causa que

levou ao sofrimento levou igualmente à morte.

Nesta situação não há relevante dissidência na doutrina, contudo alguns autores

levantam questões relacionadas com a hereditariedade do direito a indemnização, já que na

generalidade das situações mais graves em que o falecido padece antes da sua morte a

indemnização não é accionada de imediato pelo próprio, por não se encontrar capacitado

para tal. Assim, na impossibilidade de exercer o seu direito este é transmitido, as mais das

vezes, por herança, já que sendo um direito que integrava o património do falecido é

objecto de sucessão, desde que o falecido não tenha renunciado ao direito.

Do exposto resulta que não haverá lugar à indemnização por danos não

patrimoniais nas situações em que a morte ocorre no momento da lesão e de forma que

não é possível determinar um período de tempo em que se possa com plausível certeza

afirmar que o de cuius sofreu antes de morrer.

3.3. Do dano-morte A lesão da vida humana, como já vimos, conduz ao sofrimento dos familiares e em

algumas situações ao sofrimento do próprio. Na verdade nem só os familiares sofrem com

a morte de um ente, mas também os amigos com maior ou menor intensidade consoante

sejam mais ou menos chegados. Contudo, quanto a estes o direito não lhes reconhece

relevância jurídica no seu sofrimento.

18 Cf. n.º 1, art. 36.º da CRP.

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A morte de uma pessoa é um acontecimento que não passa despercebido na

sociedade. Não que seja conhecida de toda a sociedade, mas apenas que quem dela

conhece nutre respeito pela pessoa falecida. Somos de considerar que nestas ocasiões, a

sociedade reconhece a dignidade da pessoa humana, ainda que na sua última condição, a

de cadáver. Assim não podemos aceitar que o momento em que a morte, porque

provocada, ocupa o lugar da vida não deva ser objecto de ponderação pelo Direito, i.e.,

parece-nos inconcebível que o legislador não tenha pensado uma previsão e uma

estatuição legais para a violação da vida humana.

A este respeito a doutrina não é uníssona, já que alguns autores19 entendem que o

artigo 496.º CC não prevê no seu articulado as situações de indemnização pelo dano-

morte, mas somente as indemnizações decorrentes do sofrimento do próprio e dos

familiares. Outros autores consideram haver previsão legal do dano-morte no articulado

deste artigo, porém divergem quanto à constituição do direito, designadamente se o direito

à indemnização se constitui na esfera jurídica do falecido e é transmitido por via

sucessória às pessoas enunciadas no n.º 2 daquele artigo ou, pelo contrário, estas adquirem

um direito próprio com a morte do de cuius20.

Os argumentos esgrimidos na doutrina, quanto a saber se há um direito próprio dos

familiares a serem indemnizados pela morte do falecido ou se adquirem esse direito por

transmissão sucessória, vão no sentido de aceitar ou não a possibilidade de o falecido

adquirir um direito à indemnização pela sua morte. A maioria refuta por completo a

possibilidade de o falecido adquirir o direito e transmiti-lo, porque não será de aceitar

como plausível que o direito se tenha constituído.

Da ponderação que encetamos, somos de considerar que o direito à indemnização

em função do dano-morte, e contrariamente ao sofrimento obtido pelo falecido ainda em

vida, não poderá em caso algum constituir-se na sua esfera jurídica e depois ser

transmitido por via sucessória aos seus herdeiros. Em termos pragmáticos, não é possível

que o direito de alguém à indemnização pela sua morte se constitua em vida, porque ainda

não há direito e nem em morte porque cessa a personalidade jurídica do próprio21.

Autores há que, em prol da constituição do direito no falecido, defendem que tal

constituição é possível, porque depois do acto lesivo da vida e antes de ocorrer a morte

19 Quanto a esse entendimento vide Oliveira Ascenção, «Direito das Sucessões», in Delfim Maya de Lucena, Danos Não Patrimoniais, O Dano da Morte, Almedina, Coimbra, 2006, pp. 38-40. O Professor refere que a morte não pode ser um facto aquisitivo de um direito, desde logo porque se extinguiu a personalidade jurídica. 20 Num e noutro sentido vide Leite Campos, «A Indemnização do Dano da Morte», et Antunes Varela, «Direito das Obrigações em Geral», in Delfim Maya de Lucena, Op. Cit, pp. 49-53. 21 Cf. n.º 1, art. 68.º do CC.

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existe uma fracção temporal em que há lugar à constituição do direito à indemnização no

de cuius. Somos de discordar por completo desta opinião, já que entendemos que mesmo

por atómicas fracções de tempo tal constituição do direito não é possível, porque segundo

o estado da arte médica depois do último suspiro de vida apenas há a morte. A questão

ainda se poderia colocar para as situações em que há morte cerebral e o corpo mantém as

funções por se encontrar ligado à máquina de suporte de vida. Todavia, mesmo nestas

situações a medicina identifica a morte cerebral com a morte física da pessoa, logo

jurídica.

O elemento literal do n.º 2 do art. 496.º CC ao utilizar a expressão «cabe» reforça a

ideia de que o legislador pretendeu afastar uma ideia de sucessão, porque de contrário

utilizaria uma expressão que implicasse uma transferência do direito, pelo que reforçando

o que atrás se disse existe um direito próprio das pessoas enunciadas naquele n.º 2 e não a

transmissão de um direito do falecido.

IV. Da indemnização pelo dano-morte

A ideia subjacente à obrigação de indemnizar tem que ver com a necessidade de

reparar um dano, de forma a reconstituir a situação que existiria se não tivesse ocorrido o

acto lesivo, sendo que para tal é necessário que os danos sofridos pelo lesado resultem da

lesão, exigindo-se assim um nexo de causalidade entre a conduta lesiva e a produção do

dano22.

A lesão que culmina com a morte de outrem é, por razões óbvias, de tal forma

irreversível que o Código Civil no art. 566.º prevê que nos casos em que haja

impossibilidade da reconstituição da situação tal qual se não tivesse ocorrido a lesão há

lugar à indemnização em dinheiro. Problema será o de determinar o montante que os seus

herdeiros têm direito pela violação do Direito à vida. Se nos casos de lesão de danos

patrimoniais nunca se afiguram problemas de maior no cálculo da indemnização, o mesmo

não acontecia nos casos de lesão de danos não patrimoniais, já que não existia valor

económico atribuído à vida, à integridade física ou à integridade psíquica. Com efeito,

actualmente vigora no nosso ordenamento jurídico a Portaria n.º 377/2008, de 26 de

22 Cf. arts. 562.º e 563.º do CC.

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Maio23, que fixa os critérios e valores orientadores para efeitos de apresentação aos

lesados por acidente automóvel de proposta que o diploma designa «razoável» para

indemnização do dano corporal. Esta norma legal prevê na alínea a) do seu art. 2.º a

indemnização pela violação do direito à vida nos termos do art. 496.º CC e no seu art. 5.º

consagra a «Proposta razoável para danos não patrimoniais em caso de morte» no qual

refere que as indemnizações por violação do direito à vida são calculadas no quadro

constante do anexo II daquela Portaria. Antes de nos debruçarmos nas quantias que o

legislador considera «Proposta razoável»¸ pretendemos fixar um pressuposto: o de que a

violação do direito à vida deve ser alvo das mais pesadas consequências jurídicas, quer ao

nível penal, quer ao nível civil – indemnizatório. Não podemos conceber que, num mundo

que gira em torno do Homem e do valor natural da pessoa humana e no qual as sociedades

ocidentais se alicerçam, se renegue à pesada punição da violação do direito à vida de

outrem. No nosso ordenamento jurídico, quem viola a vida de outrem é sancionado nos

casos de crime com a mais elevada sanção penal da nossa ordem jurídica. Mas há

situações em que mesmo com ofensa à vida de outrem podemos não estar na presença de

crime, como por exemplo quando um inimputável em razão da idade comete um facto

qualificado na lei como crime24 – que pode ser o homicídio – e admitamos que até foi por

negligência. Neste caso o direito penal de pouco serve, porque em razão da

inimputabilidade o menor pode enfrentar sanções legais menos pesadas, até porque pode

nem haver necessidade de prevenção especial ou reeducação do menor face ao direito,

porque o acto cometido tem desvalor no resultado, mas não na acção.

É nossa convicção que os casos de obrigação de indemnização têm, tal como as

sanções penais, uma componente punitiva do lesante pelo dano produzido. Entendemos

que o direito à indemnização pelo dano-morte não visa apenas compensar o dano

provocado, mas também, e por ventura principalmente, sancionar o comportamento lesivo,

já que a primeira parte do n.º 3 do art. 496.º CC em conjugação com o art. 494.º CC

permite fixar o montante da indemnização não apenas segundo a gravidade do dano

provocado, mas igualmente exige a ponderação, entre outras, do grau de culpabilidade do

agente, podendo reduzir o montante indemnizatório. Afigura-se-nos que esta disposição

legal tem alguma natureza sancionatória perante o comportamento do lesante, porque se

assim não fosse não nivelaria a indemnização pelo seu grau de culpa.

23 O diploma veio fixar os critérios e valores de indemnização para a proposta razoável de indemnização de dano corporal prevista no Decreto-lei n.º 291/2007, de 21 de Agosto, que transpôs a Directiva Comunitária 2005/14/CE, de 11 de Maio (cf. Jornal Oficial n.º L 149 de 11/06/2005, pp. 14 a 21). 24 Vide Lei n.º 166/99, de 14 de Setembro, que aprova a Lei Tutelar Educativa.

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Para que o tribunal fixe o montante da indemnização é necessário que tenha

ocorrido um dano não patrimonial, que o lesante tenha agido com dolo ou negligência e de

forma ilícita e ainda que exista um nexo de causalidade entre o acto lesivo e os danos

provocados25. Feito este percurso, o tribunal procurará fixar equitativamente o montante

da indemnização26.

Já dissemos que é pelo n.º 3 do art. 496.º CC que o juiz fixa equitativamente o

montante da indemnização a pagar, mas ainda não verificamos o alcance prático desta

disposição.

Se nos fixarmos na jurisprudência mais recente retratada no quadro em anexo ao

presente trabalho e nos Acórdãos referidos na bibliografia podemos constatar algumas

tendências nas decisões judiciais, mormente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Tendo

por base o referido quadro em anexo, verificamos que em casos raros o valor

indemnizatório pela perda da vida ultrapassa os 50 000,00 € nas instâncias a quo. Todavia,

nos casos em que os montantes são superiores (STJ - 07B3715, 18/12/2007; STJ -

08B2860, 25/092008) o STJ reduziu o montante da indemnização pelo dano-morte para 50

000,00 em ambos os casos. Estes não são casos únicos, já que, tomando outro Acórdão

(STJ – 08P1616, 21/05/2008) cuja situação tem que ver com o atropelamento do um

menor de sete anos de idade do qual resultou a morte, o STJ profere que «…constata-se

que o infeliz menor se insere nos padrões normais de uma criança da sua idade (alegre,

feliz e saudável) pelo que o ressarcimento do “dano morte” deve ser fixado, em abstracto

e no âmbito da habitualidade, em € 45.000,00.» reduzindo desta forma o montante da

indemnização em 10 000,00 €. Refere ainda o douto Acórdão que «Ao fixar-se em €

55.000,00 esse mesmo dano o Acórdão recorrido fez uma errada interpretação das

normas dos artigos 483º, 496º, nº3, 562º e 566º do Código Civil as quais deveriam ter sido

interpretadas no sentido de que, de acordo com a matéria de facto apurada e os “padrões

usuais” da jurisprudência, tal dano deveria ser valorado nos referidos € 45. 000,00.»27.

Esta afirmação não é única na jurisprudência. Vários outros Acórdãos tecem este tipo de

conclusões28, o que nos permite afirmar com alguma segurança que a fixação equitativa

pelos tribunais a quo do montante da indemnização tem sido mais suportada numa linha

de posição do STJ do que propriamente pela equidade do caso concreto. Contudo também

25 Cf. art. 483.º do CC. 26 Cf. n.º 3, art. 496.º do CC. 27 Vide ponto 20.º do Acórdão. 28 Ainda quanto a outros Acórdãos que declaram a existência de «padrões usuais» da jurisprudência vide STJ – 08P2860, 25/09/2009, no ponto XXVI do seu sumário e STJ – 08P1413, 27/11/2008, no ponto VII do seu sumário.

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esta posição adoptada pelo STJ, e consequentemente pelos tribunais de 1.ª Instância e

pelos da Relação, tem por fundamento algumas das práticas estabelecidas ao nível das

apólices de seguro de vida e de responsabilidade civil das Seguradoras e dos Bancos. Após

consulta de algumas apólices de seguro, podemos constatar que as coberturas de seguro

para o caso de morte fixam-se, na esmagadora maioria das apólices, em valores que não

ultrapassam os 50 000,00 €29. Ainda quanto à fixação de valores de indemnização civil

estabelecidos para os casos de morte, a Portaria n.º 377/2008, a que já nos referimos,

procura uniformizar a atribuição de «Compensações devidas em caso de morte …», onde

no quadro C do seu anexo II, discrimina montantes indemnizatórios consoante a idade da

vítima, sendo o valor da indemnização a atribuir tanto menor quanto maior for a idade da

vítima30. Com isto não pretendemos afirmar que as decisões judiciais aos vários níveis se

balizam quer naqueles documentos das seguradoras, quer nesta recente Portaria, mas

provavelmente proporcionam uma posição muito cómoda e segura para fixarem valores

indemnizatórios nos casos de dano-morte. Apreciadas estas situações, não podemos com

total certeza afirmar que as práticas comerciais delineadas pelas Seguradoras tenham

influenciado as decisões judicias, já que não nos foi possível recolher dados concretos que

comprovem essa influência, mas somos de considerar que existe essa forte possibilidade,

tanto mais que antes de o mercado das Seguradoras se expandir os valores indemnizatórios

eram muito inferiores31 aos actuais. Assim consideramos que as práticas comerciais das

Seguradoras arrastaram consigo as decisões dos tribunais na fixação de indemnizações até

à actual prática e não o contrário, porque não só o tribunal não teria suporte para tal como

ainda hoje podemos verificar que existe alguma distinção na fixação equitativa das

indemnizações pelo dano-morte. Se nos debruçarmos sobre as decisões judiciais proferidas

constantes do quadro em anexo, podemos verificar que os Acórdãos que se reportam a

situações de homicídio doloso, em regra, fixam montantes indemnizatórios inferiores em

cerca de metade quando comparados com as situações de acidente de viação, onde

amiudadas vezes impera a negligência. Ora isto parece ser contrário ao consagrado no art.

494.º CC, onde que possibilita que se atenda, entre outras situações, ao grau de

culpabilidade do agente para fixação equitativa pelo tribunal do montante da

29 No que concerne às apólices de seguro vide na bibliografia as hiperligações estabelecidas para os sítios da Internet. 30 A referida Portaria estabelece que até aos 25 anos de idade a compensação a atribuir tem como máximo os 60 000,00€; entre os 25 e os 49 anos de idade a compensação tem o máximo de 50 000,00€; entre os 45 e os 70 anos de idade a compensação tem por máximo os 40 000,00 € e pela idade superior a 70 anos o montante indemnizatório nunca poderá exceder os 30 000,00€. 31 Cf. STJ de 13/05/1986 in STJ – 08P2860, 25/09/2008, onde se estabeleceu o valor indemnizatório de 150.000$00 pela morte de uma pessoa de 22 anos de idade.

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indemnização. A leitura que se nos afigura possível daqueles doutos Acórdãos é de que

enquanto nos casos de homicídio ali retratados a indemnização terá de ser suportada em

primeira linha pelo lesante do bem vida, nos casos de acidente de viação as indemnizações

são em primeira linha asseguradas pelas companhias de seguro a coberto das respectivas

apólices, pelo que os tribunais permitem-se fixar indemnizações mais elevadas, o que tem

sustentabilidade no art. 494.º CC.

Apurados os padrões habituais da fixação da indemnização pelos tribunais,

debruçar-nos-emos na sua equidade face ao princípio da dignidade da pessoa humana.

4.1. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana O princípio da dignidade da pessoa humana consiste no elevar da pessoa a um fim

supremo do Estado e do Direito32. Isto significa que a pessoa humana não pode ser

instrumentalizada nem conduzida a outra dimensão aquém daquela que ocupa, a de valor

supremo que deve iluminar o mundo jurídico, sendo inclusive invocável como fonte

directa de direitos fundamentais.

A CRP logo no seu art. 1.º consagra que «Portugal é uma República soberana,

baseada, na dignidade da pessoa humana …». Desta disposição podemos concluir que a

pessoa humana em toda a sua dignidade ocupa um lugar central na nossa Ordem Jurídica,

porquanto a CRP faz dela a coesão da República Portuguesa e, por conseguinte, núcleo

atómico de todos os princípios e valores a que CRP alude. Por esta mesma razão, somos

de considerar que a CRP apenas se limita a constatar a existência e relevo do princípio da

dignidade da pessoa humana, não tendo sequer a faculdade de reconhecer da sua

existência, já que, inversamente, também poderia negar-lhe esse reconhecimento. Quer

isto dizer que o princípio da dignidade da pessoa humana vale por si e não porque uma

norma lhe reconhece ou atribui esse valor. Qualquer disposição que lhe seja contrária é

inválida senão mesmo inconstitucional. Ora neste pressuposto detenhamo-nos no seguinte.

É ponto assente na doutrina e na jurisprudência que a vida é o bem supremo e por

contraposição a morte é prejuízo supremo33. A morte de uma pessoa pode implicar a

indemnização do lesado, melhor dito dos familiares, já que é um direito que se ficciona

nas suas esferas jurídicas. São vários os Acórdãos que estabelecem esta linha de

32 Neste sentido vide Jorge Bacelar Gouveia, Manual de Direito Constitucional, vol. II, Almedina, Coimbra, 2005, p. 785. 33 Em todos os Acórdãos constantes da bibliografia do presente trabalho alude-se ao valor do bem vida e nos quais podemos encontrar referências à doutrina.

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pensamento, defendendo que a compensação34 pela violação da vida apura-se por critérios

de equidade.

São vários os Acórdãos que se referem à necessidade de o tribunal fixar a

indemnização segundo a equidade, pelo que nestas circunstâncias deve o aplicador da

norma julgar o caso concreto com maior acuidade, para que assim se afaste a

arbitrariedade na apreciação de cada caso. A este respeito o Acórdão STJ – 08P2860, de

25/09/2008, refere no ponto XXVI que «No que respeita à determinação do direito à vida,

a jurisprudência, sem nunca ter caído na arbitrariedade, tem feito apelo à regra da

equidade …»35, contudo alguns doutos Acórdãos precedentes estabelecem critérios

distintos para fixação das indemnizações segundo a regra da equidade, a saber: o Acórdão

STJ – 06A1464, de 08/06/2006, refere que «Sendo a vida um valor absoluto, o seu valor

ficcionado não depende da idade, condição sócio-cultural ou estado de saúde da vítima.

Estes factores podem, apenas ser ponderados para apurar o “quantum” indemnizatório

do dano não patrimonial próprio da vítima, consistente no sofrimento e angústia …»36;

muito pelo contrário o Acórdão STJ – 06B2520, de 12/10/2006, profere no seu ponto 1.01

alusivo à indemnização pelo direito à vida que «Ainda que o bem da vida, por força do

princípio da igualdade … possa em abstracto ser valorado uniformemente, existem

factores concretos que devem determinar o estabelecimento de diferentes compensações

pecuniárias, desde logo atendendo aos juízos de equidade … A equidade é, pois, a

expressão da justiça no caso concreto. Os factores envolventes que … deverão ser

tomados em consideração serão, desde logo, a idade da vítima …»37. Do exposto resulta

que não só existe alguma arbitrariedade, muito para além da equidade e do que a norma

legal permite, como a própria jurisprudência não está atenta a esse facto. Note-se que

estamos em primeira ratio a tratar do princípio da dignidade da pessoa humana, logo não

pode haver lugar à arbitrariedade na apreciação do caso concreto, sob pena de um mesmo

caso ser apreciado segundo critérios completamente distintos dependendo de quem os

aprecia.

34 Já nos referimos que a compensação pela violação da vida tem uma natureza mais sancionatória do que compensatória, porque já não é possível compensar a vítima e porque a compensação aos familiares (pelo sofrimentos destes) pela morte do seu ente é um dano não patrimonial autónomo. Isto significa que consideramos que, por exemplo, quando o cônjuge sobrevivo é indemnizado pelo seu sofrimento e pela perda da vida do seu cônjuge não está a receber duas compensações pelo mesmo dano, já que considero que a morte compreende o sofrimento, mas está sim a receber uma indemnização compensatória e uma indemnização que serve de sanção ao comportamento ilícito do lesante. 35 Sublinhado nosso. 36 Idem. No mesmo sentido o Acórdão STJ – 06A1476, de 20/06/2006. 37 Id. No mesmo sentido o Acórdão STJ – 08P1413, de 27/11/2008.

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Tomando ainda como referência o facto idade da vítima, o Acórdão STJ –

08P1413, de 27/11/2008, referindo-se a uma quantia de 50 000,00 € estabelece que «Não é

certamente a mesma coisa perder a vida aos 17 anos ou aos 40, 50 ou 60 anos, sendo

certo que têm sido fixadas indemnizações pela perda do direito à vida no montante acima

indicado em casos em que a morte deriva de lesão provocada por facto ilícito ocorre em

idade muito mais avançada que a vítima neste caso (17 anos) que estamos a tratar.». Com

esta linha de pensamento o STJ pretende concluir que na fixação da indemnização pela

perda da vida deve atender-se à idade da vítima, o que já aconteceu anteriormente. Ora isto

não nos é estranho já que no decurso deste trabalho nos reportamos a algumas situações

em que há distinção do valor da vida consoante a idade da vítima. Não nos é estranho, mas

surpreende-nos que assim seja, na medida em que a CRP consagra que «Todos os

cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei»38, consagrando no n.º 2

do art. 13.º uma série de circunstâncias pelas quais ninguém pode ter um tratamento

distinto perante a lei. Ora quando se considera haver lugar a uma indemnização

diferenciada devido à idade da vítima, estamos perante uma violação do princípio da

igualdade, já que embora o articulado não aluda à idade consideramo-lo apenas

enunciativo e que não se esgota nas circunstâncias ali previstas. Mais, considerar que a

vida de uma pessoa vale mais quando comparada com outras pessoas consoante tenha

mais ou menos anos de idade é estar a ferir o princípio da dignidade da pessoa humana,

porque este tem os seus alicerces na vida humana que vale só por si, já que como muito

bem referem alguns Acórdãos a vida é o bem supremo. O bem supremo não pode ser

instrumentalizado, o seu valor não pode ser aferido por outros valores ou princípios, nem

muito menos por uma condição biológica como a idade.

A dignidade da pessoa humana impede que se possa atribuir valor económico a

bens que não são disponíveis para o mercado económico, e os valores económicos de

referência na economia de mercado são estabelecidos para produtos comercializáveis e

não para bens e direitos eminentemente pessoais, como o é a vida de uma pessoa. Ainda

assim as companhias de seguros tendem a fixar valores de mercado para o bem jurídico

vida ou para a integridade física, o que apesar de não vincular o juiz do caso concreto a

fixar-se nesses valores deixar-lhe-á na prática uma posição cómoda para arbitrar a quantia

indemnizatória.

Se por um lado gostaríamos de defender que qualquer valor atribuído a título de

indemnização pelo dano-morte é atentatório da dignidade da pessoa humana, por outro não

38 Cf. n.º 1 do art. 13.º CRP.

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permitir que haja lugar a essa indemnização parece-nos ainda mais atentatório. Assim

somos de considerar que a indemnização pelo dano-morte deve ser traçada segundo

critérios mais objectivos, e já que se ficciona um valor para a vida humana por que não

ficcionar um valor para qualquer vida humana, independentemente da idade, estado de

saúde, condição social, religião, de qualquer discriminação, e apenas valorado no grau de

culpa do agente.

Conclusão

Como já anteriormente referimos, entendemos que a indemnização não serve

apenas para reparação ou compensação do dano provocado, mas também como forma de

punição, razão pela qual suportamos a ideia de uma indemnização não a título

compensatório, mas a título sancionatório pela violação do direito à vida. Ao

considerarmos que a obrigação de indemnização surge ao nível sancionatório entendemos

que não deve haver distinção no montante a pagar, independentemente do que seja

invocado, porque não se trata de uma compensação, mas sim de uma sanção e de um

reconhecimento de que a vida humana vale por si só e não por imposição normativa, já

que somos de considerar que a norma para efeito da consagração do direito à vida apenas

constata existir o direito mas não tem a capacidade de o reconhecer. Conceder-se a

possibilidade de reconhecer a existência do direito à vida seria o mesmo que afirmar que a

norma poderia, inversamente, não reconhecer esse direito.

A vida humana é o bem supremo e não lhe pode ser reconhecido um maior ou

menor valor económico consoante os anos já vívidos. A ser ficcionado um valor deve o

mesmo valer para todos os estádios da vida, só podendo haver lugar à redução de um

cálculo indemnizatório devido à graduação da culpa do agente.

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Bibliografia CORDEIRO, António Menezes, Tratado de Direito Civil Português, I Parte Geral, Tomo

III, Pessoas, 2.ª Edição, Almedina, Coimbra, 2007. GOUVEIA, Jorge Bacelar, Manual de Direito Constitucional, Vol. II, Almedina,

Coimbra, 2005, p. 785. LUCENA, Delfim Maya de, Danos Não Patrimoniais, O Dano da Morte, Almedina,

Coimbra, 2006. VASCONCELOS, Pedro Pais de, Direito de Personalidade, Almedina, Coimbra, 2006. Jurisprudência: STJ 06A1464, 08/06/2006.

STJ 06A1476, 20/06/2006.

STJ 06B2520, 12/10/2006.

STJ 06P2775, 17/10/2006.

STJ 06A3021, 24/10/2006.

STJ 06P4594, 21/02/2007.

STJ 06B3261, 29/03/2007.

STJ 07B2737, 27/09/2007.

STJ 07B1359, 24/05/2007.

STJ 07B3715, 18/12/2007.

STJ 07P2075, 09/01/2008.

STJ 07A3014, 29/01/2008.

STJ 08B726, 08/05/2008.

STJ 08P1616, 21/05/2008.

STJ 08A1177, 05/06/2008.

STJ 08A1853, 10/07/2008.

STJ 08P2860, 25/09/2008.

STJ 07P1567, 20/11/2008.

STJ 08P1413, 27/11/2008.

STJ 07B4125, 12/02/2009.

STJ 08P3181, 05/022009.

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Legislação:

Código Civil.

Código Penal.

Constituição da República Portuguesa.

Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Carta da Direitos Fundamentais da União Europeia.

Lei n.º 166/99, de 14 de Setembro, que aprova a Lei Tutelar Educativa.

Directiva Comunitária 2005/14/CE, de 11 de Maio (Jornal Oficial n.º L 149 de

11/06/2005, pp. 14 a 21).

Decreto-lei n.º 291/2007, de 21 de Agosto.

Páginas da Internet:

http://www.bancopopular.pt/NR/rdonlyres/EE3E38A5-E2EE-42AC-AFEB-

160ED4588784/0/PropostadeSeguro_SolucoesAdesaoFacil.pdf

http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.doc? http://www.eurovida.pt/edPortal/eurovida/desenvArtigos.asp?a=701&cat=591 http://www.millenniumbcp.pt/site/conteudos/83/8302/protectvida/index.jhtml#8

http://www.barclays.pt/particulares/seguros/seguros_acidentespessoais_plus.htm?menuid=

1 http://particulares.allianz.pt/produtos/universalltotal/coberturas.html http://particulares.allianz.pt/produtos/motorall/coberturas.html http://www.bancobpi.pt/pagina.asp?s=1&a=145&p=103&f=2325&opt=f

http://www.tranquilidade.pt/CSTInter/cms.aspx?srv=500&hpmain_miid=3&tg=main&tgu

rl=%2fCSTInter%2fcms.aspx%3fsrv%3d1100%26stp%3d1%26miid%3d603

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Anexo

Montante indemnizatório Processo Situação Idade

da vítima

Grau de Culpa do réu

1.ª Instância

Relação STJ

STJ 06A1464

08/06/2006

Acidente de

viação

43

100%

14963,94

49879,79

49879,79

STJ 06A1476

20/06/2006

Acidente de

viação

24

100%

27433,88

27433,88

27433,88

STJ 06B2520

12/10/2006

Acidente de

viação

40

100%

50000,00

50000,00

50000,00

STJ 06P2775

17/10/2006

Acidente de

viação

?

100%

50000,00

50000,00

50000,00

STJ 06A3021

24/10/2006

Acidente de

viação

21

100%

40000,00

40000,00

49879,79

STJ 07B3715

18/12/2007

Acidente de

viação

17 e 11

100%

60000, 00

x2

50000,00

x2

50000,00

x2

STJ 06P4594

21/02/2007

Homicídio doloso

qualificado

74

100%

20000,00

20000,00

20000,00

STJ 06B3261

29/03/2007

Acidente de

viação

31

100%

Erro no

enquadramento

Não altera

Não altera

STJ 07B2737

27/09/2007

Acidente de

viação

52

100% ?

50000,00

50000,00

STJ 07P2075

09/01/2007

Homicídio

doloso

21

100% 50000,00

?

25000,00

STJ 07A3014

29/01/2008

Acidente de

viação

21

60% 49500,00

50000,00

50000,00

Page 25: DIREITO À VIDA - Faculdade de Direito da UNL · onde já destacámos o direito à vida, que adiante analisaremos. Com a vida cessa igualmente a personalidade jurídica, contudo alguns

24

STJ 08P1616

21/05/2008

Acidente de

viação

7

100%

33000,00

55000,00

45000,00

STJ 08A117

05/06/2008

Acidente de

viação

51

100%

40000,00

49879,79

49879,79

STJ 08A1853

10/07/2008

Acidente de

viação

67

100%

?

30000,00

50000,00

STJ 08B2860

25/092008

Acidente de

viação

43

100%

?

60000,00

50000,00

STJ 07P1567

20/11/2008

Ofensa à integridade

física agravada

pelo resultado (morte)

?

100%

(co-autoria)

?

?

35000,00 (totalidade dos danos morais)

STJ 08P3181

05/02/2009

Homicídio por

negligência grosseira

?

80%

?

30000,00

24000,00

STJ 07B4125

12/02/2009

Acidente de

viação

42

100%

50000,00

50000,00

50000,00