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2 «Conversa no Palácio de S. Cosme»Transcrição de um relatório enviado à SRNOM, no lugar do habitualeditorial de Miguel Leão

Política de Saúde 4 «O grande objectivo é flexibilizar a gestão»

Isabel Ramos, nova directora do Hospital de S. João 10 «Contas equilibradas dentro de três anos»

Sollari Allegro, novo director do Hospital de Santo António

Opinião16 A nova receita médica

Prof. António Gentil Martins19 Uma greve patriótica

Maria João Pestana20 Os líderes como agentes de mudança

Prof. Manuel Cardoso de Oliveira

Notícias24 I Feira do Livro Médico

Certame promovido pela SRNOM foi um êxito26 Prémio Corino de Andrade

Fundação Calouste Gulbenkian homenageada27 Protocolo com Núcleo de Medicina

Cooperação SRNOM - Escola de Ciências da Saúde UM

Cultura28 História médica portuense – XI

A. S. Maia Gonçalves32 A Liturgia do tempo – Parte IV

Pintura e poesia de Sejo Vieira36 3 discos & 3 livros

As sugestões do Prof. Nuno Grande38 Jantares literários no Porto

Protocolo de colaboração da SRNOM com a Vinitur

Lazer40 Pelas curvas do Marão...

Uma proposta de fim de semana

Informação Institucional44 Actividades desenvolvidas pela SRNOM62 Temporada musical da SRNOM63 Agenda do Centro de Cultura e Congressos

REVISTA DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS / JANEIRO - MARÇO 2003 / ANO 5 - Nº 1

http://nortemedico.pt

Director Miguel LeãoEditor Miguel Guimarães

Conselho EditorialAlfredo SoaresAna AntunesÂngelo AzenhaAntónio NetoFátima CarvalhoFátima OliveiraHernâni VilaçaJosé Afonso DominguesJosé Pedro Moreira da SilvaMachado LopesMarlene LemosNelson PereiraOlímpia CarmoPedro SilvaTorres da Costa

Secretário José Maria Moreira

Propriedade e administraçãoSecção Regional do Norte daOrdem dos MédicosRua Delfim Maia, 405 – 4200-256 PortoTelefone 225070100 • Telefax 225502547

Registo Instituto da Comunicação Social, nº 123481Depósito-Legal nº 145698/03Periodicidade TrimestralTiragem 12.000 exemplares

Redacção, composição e montagemMEDISA - Edições e Divulgações Científicas, LdaRua Gonçalo Cristóvão, 347 - s/2174000-270 PortoTelefone 222001479 • Telefax [email protected] 3NImpressão INOVA - artes gráficas

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Miguel LeãoPresidente da SRNOM

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nortemédico

“Ex.mo Senhor Presidente do Conselho Regional do Norte:

Envio-lhe o relatório de um encontro no Palácio de S. Cos-me.

Os melhores cumprimentos.

XXX.

Duríssimo Barroso recebia neste dia Luís das Pêras. Este che-gou atarefado e atrasado. Duríssimo Barroso cumprimentou-o, estranhou a sua tez amorenada e perguntou: – Então vocênão sabe que eu não tolero atrasos?Luís das Pêras torceu o ombro e respondeu: – Tive um pro-blema automóvel S.A..– S.A. Dr. Pêras!? Em algum dos automóveis em segundamão que você comprou para os novos hospitais?– Saiba Vossa Ex.ª que não, respondeu, impante, Luís dasPêras. Os novos hospitais S.A. só tem automóveis em tercei-ra mão porque o dinheiro que sobra é para pagar aos gestores

NOTA: O EDITORIAL DESTA REVISTA É SUBSTITUÍDO POR

UM RELATÓRIO DENOMINADO «CONVERSA NO PALÁCIO

DE S. COSME».

POR DIFICULDADE DE ESPAÇO, ESTE NÚMERO DA REVISTA

NORTEMÉDICO NÃO TEM EDITORIAL. HOUVE QUE OPTAR

ENTRE TRANSCREVER UM RELATÓRIO ENVIADO A ESTA SEC-ÇÃO REGIONAL E UM EDITORIAL ONDE SE IMPORIA A ABOR-DAGEM DE ASSUNTOS RELACIONADOS COM A SAÚDE E COM

OS MÉDICOS. INFELIZMENTE, AS MINHA OBRIGAÇÕES

INSTITUCIONAIS IMPORIAM UM COMENTÁRIO SOBRE A AC-TUAÇÃO DO MINISTRO DA SAÚDE, LUÍS FILIPE PEREIRA,MAS NÃO PERMITEM UMA ANÁLISE (QUE SERIA BEM MAIS

AGRADÁVEL) À VISÃO ESTRATÉGICA INTERNACIONAL DE

DURÃO BARROSO, À HONESTIDADE INTELECTUAL DE MA-NUELA FERREIRA LEITE OU À CAPACIDADE REFORMADORA

E HUMANISTA DE ANTÓNIO BAGÃO FÉLIX. NESTE CON-TEXTO, E PORQUE O JÁ CITADO RELATÓRIO TRATA DE AS-SUNTOS DA SAÚDE, OPTOU-SE PELA SUA DIVULGAÇÃO.

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nortemédico

meus amigos que são às centenas. O problema queeu tive foi um automóvel Sem Arranque. Mas issonão interessa. O que interessa é vender mais gené-ricos, fazer mais consultas e mais cirurgias.A resposta interessou Duríssimo Barroso que, pre-ocupado com uma greve recente, interpelou:– Ouça lá, mas sem os médicos e com a Manuelados Leites a apertar-me o cinto como é que vocêfaz isso?Luís das Pêras, ilustre profissional gestor, lembrou-se rapidamente das suas lições de estratégia e re-torquiu: – Então Vossa Ex.ª não sabe que, comodizia o Sun-Tzu, uma mentira mil vezes repetidase torna uma verdade, que o que interessa é ven-der mais genéricos, fazer mais consultas e fazer maiscirurgias, e que os doentes são burros?Duríssimo Barroso começou a ficar preocupado ecorrigiu: – Dr. Pêras; nem os doentes são burros equem disse isso foi o Mao.– Tanto faz – respondeu Luís das Pêras. – Mas Vos-sa Ex.ª não me deixou acabar a minha exposição.O meu patrão, o José Mel, é que me ensinou isso apartir da experiência do Hospital dos Amadores deCinto. E a solução é simples. Os doentes o quequerem é um tipo com uma bata à frente. Umabata transforma qualquer um. E até já pensei arti-cular este programa de gestão com um programade ajuda humanitária ao Iraque.Duríssimo Barroso esbugalhou os olhos, recostou-se na cadeira e esperou. Luís das Pêras continuava:– Não viu Vossa Ex.ª que os hospitais do Iraquecontinuam a funcionar em pleno? Não têm água,nem medicamentos, nem médicos, mas continu-am a chamar-se hospitais porque tem lá uns tiposde turbante branco. Ora é este o meu modelo dehospital e de centro de saúde. Podemos simples-mente contratar os Guardas Republicanos desapa-recidos, dar-lhes uma bata e pô-los a fazer consul-tas nos centros de saúde, nas urgênciasprofissionalizadas e nos Hospitais S.A.. Mas issonão é importante. O que interessa é vender genéri-cos, fazer mais consultas e fazer mais cirurgias.Neste momento da conversa entrou no gabinetede Duríssimo Barroso, Manuela dos Leites. Vinhadesgrenhada e aos gritos.– Dr. Duríssimo Barroso, isto já passa dos limites.O país está na penúria e eu vou ter de arranjar unsmilhões para pagar aos novos gestores dos centrosde saúde e dos hospitais que são às centenas. O Dr.Luís das Pêras não tem máquina de calcular?Luís da Pêras não esperou e retorquiu: – A Dr.ªManuela não percebe nada de finanças. E eu tam-bém já resolvi esse problema. Fiz um acordo como Dr. Cordeirinho, da Associação dos Boticários,que vai permitir que, se nós não cumprirmos oacordo, lhe vamos pagar mais juros.Enquanto Duríssimo Barroso balbuciava, atónito,que os acordos com a Associação dos Boticários sótinham contribuído para o aumento dos défices,Manuela dos Leites, desmaiou. Luís das Pêras bemtentou reanimá-la com um genérico em spray queo Dr. Cordeirinho lhe tinha oferecido, a troco de

uma viagem às Bahamas. Perante o insucesso dogenérico, Luís das Pêras apressou-se a sair, expli-cando a Duríssimo Barroso: – Queira Vossa Ex.ªdesculpar mas recuperei a memória. Lembrei-meque tenho de ouvir aqueles chatos dos sindicatos elembrei-me que ainda tenho de passar pela Casados Pianos para trazer uns papéis que lá deixei hávários anos depois de um discurso.Enquanto Manuela dos Leites recuperava a consci-ência, Duríssimo Barroso meditava em silêncio queninguém gramava o Luís das Pêras. Nem os médi-cos, nem o Luís Barbas, nem o Paulo Tento, nem oMalvado Gonelha, nem a Manuela dos Anjos, nemo Arlindo Sobreiro, nem a Maria Bela Roseira.Amigos dele só mesmo o Vitelinha Moreira e o Cor-reia dos Tansos e, agora, o Cordeirinho que até lheoferecia genéricos. E ainda por cima, cogitavaDuríssimo Barroso, porque que é que o Luís dasPêras não tinha aproveitado a ideia do Tino dasMorais e do Valentão Azinheira? No fim de contasresolvia o problema de uma vez só.Já acordada, Manuela dos Leites perguntou: – Dr.Duríssimo Barroso, o Luís das Pêras está estranho.Aquela tez morena, a ignorância da realidade, sem-pre a repetir o mesmo... Será doença?Duríssimo Barroso deu um salto e gritou apavora-do: – Já sei! Aquela repetição de vender mais gené-ricos, fazer mais consultas e fazer mais cirurgiasera estilo de delegado de propaganda...– E daí? – perguntou Manuela dos Leites. – Entãovocê não sabe que o Ministro da Propaganda doSaddam andava desaparecido?E Duríssimo Barroso desatou a correr, chamando asegurança. Tarde de mais. A segurança já tinha dei-xado sair um homem parecido com o Luís das Pê-ras. Só acharam estranho que ele usasse um panobranco à volta da cabeça”.

PS: Nesta Revista, a propósito de uma reunião inter-nacional a realizar em Cuba, reproduz-se, a pedidoda respectiva Comissão Organizadora, um texto emque se criticam as posições do Presidente do Conse-lho Regional do Sul da Ordem dos Médicos. A condu-ta editorial desta Revista impõe um espaço de liber-dade onde cada um é livre de emitir as suas opiniões,sem que tal vincule a posição do CRN. No entanto, enão obstante divergências de opinião pontuais masdemocraticamente salutares, devo aqui enaltecer asqualidades de dirigente da Ordem dos Médicos quecaracterizam o Dr. Pedro Nunes. Sou testemunha queas tem evidenciado como Presidente do Conselho Re-gional do Sul, como dirigente nacional da Ordem ecomo responsável pelas Relações Internacionais. Nesteúltimo campo, só aquelas qualidades permitiram que,através dele próprio, Portugal assumisse a primeiraVice-Presidência da Comité Permanente dos Médicosda União Europeia e tivesse sido dos primeiros paísesa contestar, com eficácia, a política de atribuição decréditos com vista à recertificação dos médicos. Aquificam registados os parabéns e votos de sucesso aoDr. Pedro Nunes.

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POLÍTICA DE SAÚDE4

NOVA DIRECTORA DO HOSPITAL DE S. JOÃO, ISABELRAMOS, EM ENTREVISTA À «NORTEMÉDICO»

«O GRANDE OBJECTIVO ÉFLEXIBILIZAR A GESTÃO»

O TRABALHO DE ISABEL RAMOS É FEITO DIA-A-DIA, “PARA

TENTAR MELHORAR O HOSPITAL” QUE SENTE QUASE COMO

SUA CASA. A NOVA DIRECTORA DO S. JOÃO ORGULHA-SE DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELA INSTITUIÇÃO, LEM-BRANDO, POR EXEMPLO, QUE “NÃO EXISTE LISTA DE ES-PERA EM DOENTES ONCOLÓGICOS”. APESAR DISSO, RE-CONHECE A EXISTÊNCIA DE PROBLEMAS E UMA DAS SUAS

GRANDES PRIORIDADES PASSA POR IMPLEMENTAR “UMA

GESTÃO MODERNIZADA E FLEXÍVEL”. QUANDO FOI NO-MEADA, FICOU A IDEIA DE QUE O «LOBBY» DA FACULDA-DE DE MEDICINA TINHA GANHO, MAS QUANDO CON-FRONTADA COM ESTA ANÁLISE RESPONDE: “SE ME PER-GUNTAR EM QUE PERCENTAGEM SOU HOSPITALAR E EM

QUE PERCENTAGEM SOU DA FACULDADE, NÃO SEI. SOU,ACIMA DE TUDO, UMA MÉDICA”.

Isabel Ramos assumiu, durante o passado mês de Janei-ro, a direcção do Hospital de S. João, substituindo assimJaime Duarte. A sua vida profissional esteve praticamentesempre ligada a esta instituição, onde passou como alu-na da Faculdade de Medicina da Universidade do Portoe onde também realizou o seu internato em Radiologia.Durante breves anos esteve no Hospital Distrital de Ma-tosinhos, primeiro como radiologista, depois como di-rectora daquele serviço, e daí seguiu para os EstadosUnidos onde trabalhou e realizou a tese de doutoramentona sua área da especialidade. Finalmente, em 1993 vol-tou ao S. João, assumindo imediatamente as funções dedirectora do Serviço de Radiologia. Presidiu ainda àComissão de Acreditação do hospital, um cargo que,como admitiu, “a ajudou a ter uma visão global sobre asituação da instituição”. Professora assumida na Facul-dade de Medicina a “100 por cento”, Isabel Ramos foihá um ano eleita Presidente do Conselho Científico, car-go que agora acumula com o de Directora do Hospital.Em entrevista à «nortemédico», fala do novo projectoque tem em mãos.

O que a levou a aceitar o desafio de ser direc-tora do Hospital de S. João?Há muitas coisas que estiveram sempre nos horizontesda minha vida profissional, mas, de certeza, esta não foiuma delas. Quando me falaram na possibilidade de vir aocupar este cargo, a minha primeira posição foi nitida-mente a de dizer que não, pois não era o que queriafazer. Mas depois apercebi-me que durante o tempo quelevo nesta casa fui por vezes muito crítica das pessoasque estiveram neste lugar, achando que muitas vezespoderiam ter feito mais e melhor. E tendo sempre ematenção a relação entre o hospital e a faculdade, acheiimportante que quem aqui estivesse percebesse o que éque se passava nas duas instituições. De facto nem sem-pre existiu esta sinergia de trabalho. Sendo eu presiden-te do Conselho Científico e tendo sido tão crítica do quemuitas vezes era feito nesta casa, achei que não tinha odireito de dizer que não. Porém, aceitei sem nenhumsacrifício. O que faço, faço-o com gosto, com muita von-tade de mudar um pouco que seja esta casa, e no dia emque o deixar de fazer por gosto vou-me embora.

Quais os seus principais objectivos, em ter-mos de projectos para o Hospital de S. João?Os objectivos foram mudando, com o conhecimento quevenho a ter da realidade desta casa. O facto de estar nes-ta instituição desde sempre – apesar de ter feito alguns

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intervalos e ter trabalhado no Hospital Distrital de Matosi-nhos e alguns anos nos Estados Unidos –, fazia-me crer queconhecia muito bem o S. João. Provavelmente conhecia a ver-tente da clínica, da radiologia, mas não conhecia tão bem comojulgava a gestão desta casa. Por isso, quando comecei a pensarno que iria fazer, ainda antes de tomar posse, tinha um deter-minado plano que foi sendo alterado quando contactei comesta nova realidade. Actualmente, o meu primeiro e grandeprojecto é fazer um plano de gestão para este hospital. Preci-samos de uma gestão moderna e flexível, mas tambémhumanizada. Esta é a minha primeira prioridade.

Mas esse plano de gestão passa exactamente porque passos?Em primeiro lugar, por ter um Plano Director. Este hospitaltinha um Plano Director aprovado pelo anterior Conselho deAdministração, mas que ainda não tinha sido aprovado pelatutela. Por isso, pedimos ao senhor Secretário de Estado quenos permitisse revê-lo antes de ser aprovado. Pretendemosfazer algumas alterações que são muito mais fruto da evolu-ção do hospital do que de qualquer outra razão. É bom, masprecisa de ser adaptado.

REESTRUTURAR AS ZONAS COMUNS

E que alterações são já necessárias introduzir?Actualmente, a organização de muitos dos Serviços é já dife-rente da que constava desse Plano Director. Algumas Comis-sões já não são necessárias, mas, em contrapartida, são preci-sas outras que nos parecem importantes. Precisamos muitodo Plano Director, como, a outros níveis, precisamos de umplano estruturante de informática, e de um plano para areestruturação dos recursos humanos. Em resumo, necessita-mos de uma série de ferramentas de gestão que, nesta altura,ou são ténues ou simplesmente não existem. Precisamos, tam-bém por exemplo, de chefias intermédias. Uma das priorida-des é pois rever toda esta organização, a par de outras medi-das que terão de ser deixadas para mais tarde. Sem ter estasferramentas de gestão, tudo o resto não será possível.

O que é que quer dizer com “tudo o resto”?Estamos a falar de um hospital velho, uma vez que foi inau-gurado em 1959. Desde essa altura até hoje nunca sofreu alte-rações na sua estrutura, no sentido de permitir renovar as suasáreas, nomeadamente os espaços comuns. Acho que precisa-mos de humanizar esta casa, de melhorar todas as estruturas,desde a arquitectura de interiores até às instalações eléctricasde modo a poder ter condições para receber bem os nossosdoentes, os seus familiares e as suas visitas. Esta é outra dasprioridades: reestruturar as zonas comuns do hospital e a suaenvolvência.

Mas para isso seriam necessárias obras. Vão ser reali-zadas?Vão ser feitas sobretudo obras de recuperação. Pontualmente,tentaremos fazer algumas outras obras que são necessárias,porque há zonas que não obedecem às normas legais e, porisso, impõe-se que sejam reestruturadas. Mas o que queremosmuito é fazer a manutenção deste hospital que tem as suas

paredes exteriores sujas e os seus corredores em mauestado de conservação. Procuraremos ainda reestruturaralguns serviços clínicos. Outro aspecto que me pareceimportante é a criação de centros de custos e responsa-bilizar as chefias intermédias, nomeadamente os Direc-tores de Serviço dando-lhes, por outro lado, alguma au-tonomia para dirigir os seus Serviços. Não temos dúvi-das de que temos serviços que não sendo prioritáriospara a missão do hospital podem ser reduzidos, mas va-mos ter de investir muito naqueles que consideramosserem centros de excelência. Nós queremos que, antesde mais, este seja um hospital de cuidados diferencia-dos, de excelência em algumas áreas, sem, no entanto,esquecer que somos também um hospital distrital parauma parte da população e somos também, sem que sejustifique, um grande centro de saúde do País.

REPENSAR O HOSPITAL PARA OS PRÓXIMOS 10ANOS

Quem visita este hospital tem a noção de quetodos os espaços são utilizados e rentabiliza-dos o mais possível. Debatem-se com o pro-blema da falta espaço?É evidente que esta instituição mudou muito ao longodos anos, tendo-se criado novos Serviços, devido às ac-tuais exigências da saúde. Nesta perspectiva, é verdadeque começa a haver alguma “guerra” de espaços. Masisto é também devido a não se ter previsto com antece-dência o que estrategicamente deveria mudar. Pesa aquitambém o facto de este ser um Hospital que não temsido alvo de investimentos significativos nos últimosanos.

Mas esta situação pode colocar alguns proble-mas nas condições de trabalho e funcionamen-to do Hospital.Este Hospital tem três funções: assistência (que é paranós prioritária), ensino e investigação. Quando quere-mos englobar estas três funções num mesmo espaço podeser complicado, sobretudo nas áreas clínicas e naquelasque têm protocolo com a Faculdade, pois muitas vezesnão há espaços que nos permitam ter esta tripla função.Esta situação justifica que o hospital seja repensado eesse trabalho já está a ser feito por uma equipa de arqui-tectos, de forma a definir qual é o Hospital que quere-mos para os próximos 10 anos. Se não o fizermos, esta-remos sempre a remendar aqui e acolá e não teremosuma visão estratégica global do Hospital.

Dentro de um ano, o Norte do País vai recebervários jogos no âmbito do Campeonato Euro-peu de Futebol de 2004. O S. João está prepa-rado para responder à solicitação que for ne-cessária?Do S. João espera-se que responda adequadamente emtodas as situações de emergência no Norte do País. So-mos o Hospital de “fim de linha” e, portanto, também

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no âmbito do Euro 2004 faremos tudo para poder respondera qualquer situação que eventualmente surja. Não escondo,no entanto, que para que isso possa ser feito com alguma se-gurança precisávamos de fazer alguns investimentos nesteHospital. Isto aplica-se ao Euro 2004, às ameaças debioterrorismo, e mesmo das pneumonias atípicas, que justifi-cam sempre algumas adaptações do Hospital. Estes cenáriosobriga-nos a ter os meios apropriados, mas nós contamos coma tutela, para podermos responder de modo adequado a estassituações que vão acontecendo no dia-a-dia e que vão fazen-do mudar a estrutura. Toda a adaptação tem de ser apoiadapela tutela. Em relação ao bioterrorismo, por exemplo, esta-mos a falar em unidades caríssimas e que o País tem de poli-ticamente decidir se lhe interessa ou não ter.

Quando é que se podem começar a sentir os resul-tados práticos daquilo que está actualmente a serpensado?Vai demorar algum tempo. Primeiro vamos ter de fazer osplanos e depois vamos ter de os colocar em acção. A situaçãoeconómica do País não é boa e a do Ministério da Saúde tam-bém não… Lutamos com muitas dificuldades e, portanto, tudoquanto temos de fazer tem de ser feito com o dinheiro dispo-nível e que não abunda no Hospital.

Qual é a actual situação financeira da instituição?A situação financeira do Hospital de S. João é, provavelmen-te, idêntica, ou talvez um pouco pior, à das outras grandesestruturas hospitalares do País. Vivemos com um défice signi-ficativo que nos preocupa, sobretudo porque sabemos quenão estamos a ser pagos de acordo com aquilo que fazemos.Sei que esta é uma das prioridades do Sr. Ministro – váriasvezes o disse publicamente –, e para nós é também um pontode grande importância. Estou convencida de que se formospagos de acordo com a nossa produtividade, o nosso déficevai ser bastante menor.

DIMINUIR OS DESPERDÍCIOS

Dadas as dificuldades que o País atravessa, já lheforam dadas directivas no sentido de economizar?Tenho tido algumas directivas do Ministério para diminuir odesperdício. Estranharia que não fosse assim. O Governo e,neste caso, o Ministro da Saúde tem como função, entre ou-

tras, rentabilizar os recursos que são de todos. Estra-nharia que o ministro não se preocupasse com isso. Aqui-lo que vamos procurar fazer aqui, e nunca me foi pedi-do que não fosse assim, é compatibilizar a redução dosgastos inúteis com a manutenção da qualidade dos cui-dados prestados. O dinheiro é de todos e vamos ter de orentabilizar. Mas este assunto leva-me a falar-lhe de umoutro que tem a ver com a qualidade. Este Hospital está,há cerca de um ano, a trabalhar na acreditação e na me-lhoria contínua da qualidade. Esta é, na realidade, outradas prioridades desta instituição. Não duvidamos queapesar das dimensões do nosso Hospital, é possível asua acreditação e a manutenção de um bom programade garantia de qualidade.

Quanto tempo é que pensa que os seus pro-jectos vão demorar a concretizar-se?Tenho um mandato de três anos e, por isso, espero queao fim desse tempo pelo menos se possa dizer que detodas estas prioridades, pelo menos algumas delas fo-ram implementadas. Não funciono muito com metas,trabalho mais diariamente para tentar melhorar o Hos-pital que tenho quase como minha casa.

Está a ser concluída a Unidade de Queima-dos, quando estará pronta?Prevemos que o projecto esteja finalizado no Verão des-te ano.

Quando terminar a construção dessa unida-de, está prevista a criação de outras?A Unidade de Queimados está a ser construída assimcomo uma nova unidade de recobro, que é uma das áre-as em défice do nosso hospital. Precisamos muito deinvestir em Unidades de Cuidados Intensivos e Inter-médios. Nesta altura temos já a aprovação de uma outraUnidade de Cuidados Intermédios ligada à Cirurgia, paraalém da de Cuidados Intensivos que se constrói ao mes-mo tempo que a Unidade de Queimados. Temos tam-bém urgência em fazer outro tipo de intervenções emalgumas unidades. Temos uma Unidade de Hemodiáliseque não está nas condições ideais de funcionamento evai ter de ser alterada. O mesmo acontece com o serviçode Cirurgia Cardiotorácica deste Hospital, nomeadamen-te com o seu bloco operatório. Há aqui uma série deintervenções que vamos ter de fazer. Também temos al-guns doentes com patologias que exigem isolamento epor isso torna-se necessário investir na criação de zonasque permitam esta situação.

Pode dizer-se que um dos objectivos vai seroptimizar os recursos existentes?Apesar do trabalho muito razoável que se faz no Hospi-tal, a verdade é que há desperdícios em todas as áreas.Há desperdício em recursos humanos, que nem sempreestão colocados onde são necessários, há desperdíciosde equipamentos que não estão a funcionar o tempoque deviam, há desperdícios de materiais que ficam ca-ríssimos ao Hospital e, portanto, vamos também ter decontabilizar tudo isto. De qualquer maneira, o desper-dício também não é tão elevado quanto se diz. Ele exis-te, tem de ser combatido, mas não interferindo, comodissemos, com a qualidade. O desperdício é para sercombatido, a qualidade é para ser melhorada e os recur-sos humanos para serem rentabilizados.

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Nessa perspectiva, pelo tempo que assumiu fun-ções já se apercebeu se há ou não excesso de médi-cos?Não tenho a menor dúvida de que há alguns médicos quepodem ser dispensados nalgumas áreas, como há escassez demédicos noutras. Nesta atura, ainda estamos a fazer um le-vantamento dos funcionários existentes, quer de médicos, querde enfermeiros, técnicos e administrativos. Vamos ter de veri-ficar quem temos e o que fazem.

“PRIVADO OU PÚBLICO NÃO INTERESSA”

Se o Hospital tivesse sido transformado numa So-ciedade Anónima, tal como aconteceu com outrasinstituições, poderia obter benefícios?Qualquer decisão destas é sobretudo uma decisão política,mas julgo que para o S. João tal não é muito importante. Oque precisamos é poder flexibilizar a gestão do Hospital. Ofacto de ser ou não uma Sociedade Anónima não é fulcral. Oponto fundamental é que seja possível contratar, fazer com-pras, etc. com flexibilidade e autonomia. Ou seja, precisamosde poder fazer os contratos quando necessitamos das pesso-as, comprar e fazer concursos sem ter de esperar um ou doisanos para que estejam finalizados, fazer os pagamentos emtempos muito curtos, para podermos ter melhores contratos,etc.. Se for possível flexibilizar tudo isto sem sermos uma so-ciedade anónima, então não precisamos de o ser.

De qualquer forma, um dos objectivos das Socie-dades Anónimas (SA) é exactamente flexibilizar agestão. Já existem indicações por parte do Minis-tério da Saúde no sentido da criação de mecanis-mos que permitam proceder às alterações de fun-cionamento sem que seja necessário a transforma-ção em SA?O Sr. Ministro é uma pessoa muito bem informada e sabe queeste é um Hospital complexo, do mesmo modo que são todosos outros Hospitais Universitários de grandes dimensões. Nelesé preciso “caminhar” com grande cuidado. Não sou uma gran-de adepta da privatização dos Hospitais Universitários, por-que considero que a sua gestão é complexa e há muitos aspec-tos que têm de ser avaliados. O facto dos Hospitais serempúblicos não quer dizer que não possam funcionar bem. Tan-to há hospitais privados como públicos a funcionar bem. Oque é necessário é que se disponha a curto prazo de legislaçãoprópria para a sua gestão.

O que é que pensa acerca do projecto sobre o esta-tuto de hospitais públicos não transformados emSA?Acho que também aqui o Ministro percebeu e bem que erapreciso fazer algumas mudanças. Claro que em qualquer pro-cesso de reforma não é sempre possível prever todos os pro-blemas com que nos iremos deparar pelo que poderá ser ne-cessário proceder a alguns ajustes pontuais num caso ou ou-tro. Não vejo com bons olhos que um Presidente do Conse-lho de Administração não médico possa gerir um hospitaldestas ou de outras dimensões, mesmo que coadjuvado por

um competente director clínico e um enfermeiro direc-tor. Quando se tem à frente do Hospital um Directormédico, como é o caso desta instituição, tudo se simpli-fica. Nesta altura, a minha condição de médica permite-me prever que não vai haver grandes dificuldades empôr esta Lei de Gestão Hospitalar a funcionar. É eviden-te que tudo vai depender muito do decreto regulamen-tar, cuja versão final ainda não conhecemos.

SINERGIAS ENTRE HOSPITAL E FACULDADE

A sua nomeação como directora do Hospitalfoi encarada como a vitória do «lobby» da Fa-culdade. Concorda com esta leitura?Há cerca de um ano fui eleita presidente do ConselhoCientífico da Faculdade de Medicina e, nessa altura, fuiacusada de ser uma “hospitalar”. Não me revejo em ne-nhuma destas definições. Se me perguntar em que per-centagem sou hospitalar e em que percentagem sou dafaculdade, a minha resposta só poderá ser que não seimas que me considero acima de tudo uma médica. Aminha primeira escolha profissional foi na área da medi-cina e, só mais tarde, achei que o ensino era uma com-ponente importante no meu trabalho e comecei a traba-lhar na Faculdade de Medicina. De qualquer forma, nãosou nem mais hospitalar, nem mais da faculdade, sou afavor da qualidade dos cuidados assistenciais aos doen-tes e, para isso, é preciso investir no ensino e na investi-gação.

Mas o facto de ser simultaneamente presiden-te do Conselho Científico da Faculdade de Me-dicina e Directora do Hospital de S. João vaipermitir que exista um aumento das sinergias?Nunca senti muito o alegado confronto entre Hospital eFaculdade. Nunca perguntei a nenhum colega meu seera hospitalar, ou da faculdade. Considero que somospessoas que trabalham diariamente para o mesmo fim,numa casa que tem o privilégio de conjugar as três fun-ções que referi anteriormente num mesmo edifício.

Então, considera que não existiram problemaspelo facto do anterior Director não ser um “ho-mem da faculdade”?Quando se trabalha há tanto tempo nesta casa, comoaconteceu com o presidente anterior, é inevitável que seseja sensível aos problemas da Faculdade. Para quem seforma nesta casa – e o Director anterior sempre foi ummédico desta instituição –, não se pode deixar de serinfluenciado pela presença da Faculdade de Medicina.

Mas, actualmente, há mais condições para queos projectos possam avançar de forma comum?Temos a certeza que sim. Nesta matéria tudo está facili-tado, pois não necessitamos de perder muito tempo anegociar. É que não estamos a falar apenas da circuns-tância da Directora do Hospital ser presidente do Con-selho Científico da Faculdade. O Director Clínico é tam-

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bém o Presidente da Assembleia de Representantes da Facul-dade. Gostaria no entanto de salientar que isto não significaque as regras de cada uma das instituições não sejam cumpri-das integralmente em sede própria, tendo de reconhecer queo trabalho se encontra facilitado.

camas. Estamos portanto a falar de uma população enor-me que recorre a este Hospital e claro que existem sem-pre problemas pontuais, problemas que infelizmente sãosempre aqueles que chegam às televisões e aos jornais.Por vezes esquece-se toda uma equipa que trabalha aqui,duramente, para que as coisas corram bem, e as históri-as de sucesso. O Hospital orgulha-se, por exemplo, depoder dizer que não tem uma lista de espera em doentesoncológicos. E temos outras situações que são muitoagradáveis. Temos, por exemplo, uma "Clínica de umdia" que permite ter uma porta aberta para as doentescom patologia mamária. As utentes podem vir a este Hos-pital e, no mesmo dia, são observadas por um cirurgião,fazem os exames radiológicos, e se necessário fazem bi-ópsias e o resultado da anatomia patológica é tambémfornecido de imediato. No final, ainda é feita uma cartapara o médico com os achados obtidos e a doente vaiembora com o seu estudo completo. Acho que este é otipo de situações que vamos tentar reproduzir noutrosServiços, e que correspondem a áreas de excelência noHospital.

Mas também existem outros problemas. Quaissão os sectores mais problemáticos?Temos algumas especialidades em que, por uma razãoou por outra, as consultas estão marcadas com prazosmaiores do que aqueles que gostaríamos. Sem quererindividualizar, até por causa do bom trabalho que esteServiço está a fazer, a Dermatologia tem listas de esperana consulta de alguns meses, pese embora o esforço quetem vindo a ser feito para alterar a situação. No entanto,isto deve-se ao facto dos doentes com problemas de pelesimples nos serem enviados dos Centros de Saúde e ou-tros Hospitais que não têm esta especialidade. Reconhe-ço o esforço enorme do novo director do Serviço deDermatologia que, apesar de estar há muito pouco tem-po em funções, tem tentado inverter esta situação. Masmais uma vez refiro que não temos listas de espera on-cológicas.

Já existe um programa para acabar com essalista de espera?As listas de espera da consulta são complicadas, porquemuitas vezes não dependem só da resposta que o Hos-pital pode dar. O que acontece é que, muitas vezes, sãoos Centros de Saúde que não tendo as condições quelhes permitam resolver os problemas, são obrigados aenviar-nos os seus doentes. Durante este mandato ten-taremos melhorar as relações entre o Hospital e os Cen-tros de Saúde, tentando ter consultores para os Centrosde Saúde, trabalhando com telemedicina, para poder-mos ter um contacto mais fácil, sobretudo com os Cen-tros que estão mais próximos e que nos têm como áreade referência. O objectivo é podermos resolver algunsproblemas sem termos de deslocar esses doentes à Con-sulta do Hospital.

FALTAM MÉDICOS EMERGENCISTAS

Está em curso o projecto de profissionalizaçãodo Serviço de Urgência do hospital de S. Joãoque, aliás, já teve várias datas para arrancar.Como é que está o processo?O que estava previsto era que o Serviço de Urgência ti-

DOENTES MAIS GRAVES SEM LISTA DE ESPERA

Como já disse, a formação tem um relevo especialneste hospital. O preço a pagar por isso é alto?Nenhum hospital pode funcionar se o País não investir naformação dos médicos. Isto é, o ensino dos alunos da Facul-dade de Medicina tem de ser uma prioridade do Ministério daSaúde. Depois, temos ainda de considerar a formação pós-graduada que, a meu ver, tem duas componentes: uma quedeve ser da responsabilidade da Faculdade Medicina e a outrada responsabilidade dos Hospitais, nomeadamente no que dizrespeito aos Internatos Médicos. Esta formação tem um pre-ço... Mas é um preço que o País tem de pagar para poder nofuturo prestar boa assistência à sua população. Na negociaçãoentre o Hospital e a Faculdade os custos tem de sercontabilizados e pagos pelos dois ministérios. Temos de con-tabilizar os gastos. Mas se é certo que as contas nunca foramrigorosamente feitas, tenho para mim que estamos a fazer umprojecto que é útil para o País e, por isso, os custos devem sercontabilizados e imputados às duas estruturas. Se por um ladoé verdade que os nossos alunos podem ocupar algum tempodo trabalho dos médicos do hospital, também é verdade queo Hospital não tem de pagar a 100 por cento os vencimentosdos Professores da Faculdade que assumem na totalidade asfunções assistenciais e de chefia.

Em termos de respostas aos utentes, qual é o diag-nóstico que faz da situação actual neste Hospital,nomeadamente no que concerne ao problema daslistas de espera?Na minha opinião, o Hospital de S. João tem-se debatido coma dificuldade de dar a conhecer à população o belíssimo tra-balho que os seus profissionais fazem no dia-a-dia. Existemproblemas em todo o lado, mas é preciso não esquecer queeste Hospital recebe diariamente cerca de 700 doentes no Ser-viço de Urgência, mais de mil na consulta e tem cerca de 1200

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nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

vesse um conjunto de médicos e enfermeiros que aí traba-lhassem em exclusividade. Tenho de confessar que tivemosalgumas dificuldades de percurso, sobretudo porque não ti-nha havido uma avaliação correcta do número deemergencistas existentes no País. Estávamos à espera de teruma forte adesão de médicos a este projecto, o que não veio aacontecer e, por isso, temos vindo a fazer contratos com osmédicos que vão querendo aderir, a um ritmo mais lento. Estasituação justificou alguns ajustes ao programa inicial, nomea-damente no que diz respeito a calendarização das alterações aintroduzir. Aliás, este processo foi sempre projectado para serimplementado num prazo relativamente longo. As Urgênciasdos Hospitais são sempre zonas muito sensíveis e ainda maisem instituições desta dimensão. Qualquer transformação temde ser feita com passos muito seguros, para que não haja pre-juízos para os doentes. É isso que temos vindo a fazer. Temosum número ainda pequeno de médicos a trabalhar em tempointegral no Serviço de Urgência e esperamos continuar a tra-balhar neste sentido.

Quantos médicos é que já estão a trabalhar exclu-sivamente na Urgência?Nesta altura, temos 13 médicos em «full time» na Urgência.Este facto já fez com que pudéssemos ter resolvido algunsproblemas ao nível da presença dos internos neste serviço,para além das horas que eram devidas à sua preparação. Atéao final do mês os internos serão dispensados do trabalho quenão esteja previsto no seu programa curricular. Estamos ago-ra a começar a preparar as alterações de organização do Servi-ço de Urgência. Têm de ser feitas com bom senso, no sentidode fazer convergir o projecto que estava pensado, à realidadedo Hospital de S. João.

Mas existe algum «timing» para dizer que aprofissionalização das Urgências estará concluí-da?Em medicina os «timings» são sempre muito complicados,até porque dependem de vários factores como a da prepara-ção das pessoas que têm a possibilidade de vir a trabalharneste tipo de projecto.

Dizia-se que um dos objectivos era ter 50 médicosexclusivamente dedicados à Urgência.O projecto inicial previa esse número de médicos, mas tudoisto hoje está em revisão e, portanto, vamos ver o que pode-mos fazer. Os concursos continuam abertos e sempre que exis-tam no mercado médicos com esta formação e interessadosem vir trabalhar connosco, eles serão contratados.

Até que ponto este modelo vai beneficiar o Serviçode Urgência?Sempre que temos uma melhor organização e pessoas capa-zes de resolver os problemas que se levantam, estamos a be-neficiar os Serviços. Procuramos poder dar à nossa populaçãomelhores cuidados e com menor tempo de espera, mas osdoentes que recorrem ao Serviço de Urgência são cada vez emmaior número e com patologias mais graves, exigindo maio-res cuidados.

DEPARTAMENTO MATERNO-INFANTIL NO S.JOÃO E NO SANTO ANTÓNIO

Nos últimos tempos tem havido alguma dis-cussão quanto à construção do novo CentroMaterno-Infantil do Norte. Já chegou a sercolocada a hipótese de ser instalado aqui noS. João. Qual seria a mais-valia desta locali-zação?O problema da localização do Centro Materno Infantilpassa por uma decisão política e técnica. Sobre a decisãopolítica não nos pronunciamos. Quanto à vertente téc-nica há duas situações que têm de ser equacionadas. Aprimeira tem a ver com o facto de se saber se se justificaou não fazer um Centro Materno-Infantil isolado. Nãosou especialista nesta área, mas daquilo que tenho lido eouvido de pessoas que estão muito bem informadas,parece-me poder-se concluir que não se justifica a cria-ção de um Centro Materno-Infantil de raiz. A ser assim,levanta-se a segunda questão que tem a ver com a sualocalização. Optando-se pela sua localização próxima deum hospital geral, surgem três hipóteses: o S. João, oSanto António ou o Centro Hospitalar de Gaia. O que atutela até hoje nos perguntou foi se tínhamos condiçõespara receber um Centro Materno-Infantil com estas ca-racterísticas. O Hospital de S. João há muitos anos quetem bons departamentos de Ginecologia/Obstetrícia ePediatria. Para podermos responder afirmativamente, oque precisávamos era apenas de aumentar algumas dasinstalações. Para podermos realizar cerca de cinco milpartos/ano, torna-se necessário proceder a algumas adap-tações. Estamos convencidos de que o S. João tem boascondições de acessibilidade, instalações e recursos parapoder suportar uma estrutura deste tipo. Provavelmen-te, o Santo António também dirá que tem boas condi-ções para o mesmo fim. Cada um defende o seu Hospi-tal e é lícito que assim seja. Lembramos, no entanto, quenão entramos nesta discussão por iniciativa própria, res-pondemos a um pedido da tutela. Na minha opinião,acho que se poderia ainda equacionar a hipótese de seinvestir em dois bons departamentos materno-infantis,colocados em pontos diferentes da cidade do Porto (noS. João e no Santo António, por exemplo), para que apopulação pudesse escolher a localização que mais lheconviesse.

Mas não haveria aí alguma dispersão de mei-os?Essa dispersão já existe e de modo mais acentuado. Ac-tualmente, existe um departamento aqui no hospital quecuida de um número significativo de grávidas e de cri-anças. Além disso a Urgência de Pediatria está a funcio-nar no S. João, embora seja uma Urgência da Área Me-tropolitana. Existem também serviços nos Hospitais deSto. António, Maria Pia, Vila Nova de Gaia e na Materni-dade Júlio Dinis, e portanto a dispersão presentemente émaior.

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RECENTEMENTE TRANSFORMADO EM SOCIEDADE

ANÓNIMA, O HOSPITAL DE SANTO ANTÓNIO VIVE

UM PERÍODO DE TRANSFORMAÇÃO. SEGUNDO O

DIRECTOR, FERNANDO SOLLARI ALLEGRO, AS MU-DANÇAS PASSAM BASICAMENTE POR REDUZIR OS

CUSTOS, OPTIMIZANDO OS RECURSOS EXISTENTES

E, DESTA FORMA, DAR UMA MELHOR RESPOSTA AOS

UTENTES. TRANSFORMADA EM EMPRESA, A INSTI-TUIÇÃO VÊ-SE AGORA OBRIGADA A AVALIAR RESUL-TADOS, PARA DEPOIS DETECTAR E ATACAR OS PRO-BLEMAS. POR ISSO MESMO, OS GRUPOS PROFISSI-ONAIS, NOMEADAMENTE OS MÉDICOS, JÁ COME-ÇARAM SER AVALIADOS AO NÍVEL DA PRODUÇÃO

INDIVIDUAL MENSAL. ESTA PODE SER UMA FORMA

DE PERCEBER O PORQUÊ DAS LISTAS DE ESPERA…

Fernando Sollari Allegro assumiu, desde Agosto do ano pas-sado, a direcção do Hospital de Santo António, depois dequase três anos a exercer o cargo de director clínico da ins-tituição. Aos 56 anos de idade, o gastrenterologista mostra-se empenhado no exercício das novas funções, pois, comoreconheceu, é um entusiasta da organização. “Sou médico,mas tenho alguma formação na área da gestão hospitalar eaquilo que me entusiasma é o desafio de partir de uma cri-se que é institucional e decompor os problemas, projectan-do soluções”, explica.Quando tomou posse, anunciou que um dos seus princi-pais objectivos era “reequilibrar financeiramente” o SantoAntónio, uma instituição que, no âmbito da nova Lei deGestão Hospitalar, se tornou, entretanto, uma SociedadeAnónima, com capitais exclusivamente públicos. Em en-trevista à «nortemédico», Sollari Allegro explica quais asvantagens e transformações à vista, perante um novo en-quadramento.

O Santo António foi um dos hospitais transformadospelo Estado em Sociedade Anónima. Já se começam anotar as diferenças ao nível do funcionamento?As principais diferenças estão relacionadas com as relaçõeslaborais, embora, percentualmente, a curto prazo o núme-ro de funcionários em contrato individual de trabalho nãová ser muito grande. Tenho muitas dificuldades em acredi-tar que alguém passe de uma relação laboral definitiva, parauma relação mais precária. No entanto, à medida que otempo passar as pessoas admitidas pelo contrato individu-al de trabalho vão progressivamente aumentar. Dentro dealguns anos, toda a gente estará nessa situação.Mas então estamos a falar de uma maior precaridadede trabalho…

10 POLÍTICA DE SAÚDE

DIRECTOR DO HOSPITAL DE SANTO ANTÓNIO, SOLLARIALLEGRO, FALA DOS OBJECTIVOS PARA A INSTITUIÇÃO

«CONTAS EQUILIBRADAS DENTRODE TRÊS ANOS»

Os contratos individuais de trabalho são positivos, por-que dão alguma flexibilidade adicional. Um trabalha-dor normal, consciente e responsável, não vê alteradonada com esse tipo de vínculo. Mas, infelizmente, te-mos um pequeno grupo de pessoas que falta, sem qual-quer tipo de razão, alguns deles estão de atestado etrabalham noutros locais. A lei da Função Pública tor-na extremamente difícil apanhar essas pessoas. Temosa esperança de que a flexibilização de trabalho as per-mita punir. É evidente que o trabalhador normal ecumpridor do seu dever não experimenta com issoqualquer precaridade. Não queremos despedir pesso-as, queremos é flexibilizar, para nos permitir separaro trigo do joio. O que estou a dizer vale para os admi-nistradores hospitalares, até aos operários. Em todosos grupos profissionais, noutros mais, noutros menos,existem pessoas que não são cumpridoras.

E que outras mudanças se vão começar a sentir?Uma das grandes mudanças que vai ocorrer é numsector muito importante para a instituição: as aquisi-ções. A possibilidade de adquirir e negociar directa-mente com os nossos fornecedores vai permitir, certa-mente, poupanças substanciais pelo simples acto daconcorrência. Até agora, tínhamos de fazer um con-curso público com uma tramitação definida na lei quenão permitia a negociação directa com o fornecedorna tentativa de obter vantagens adicionais. O facto deser uma Sociedade Anónima já está a permitir fazer-mos o concurso e, a seguir, fazermos um acto negocialcom os fornecedores. O objectivo é diminuir ou obtervantagens adicionais. Em termos de poupança, estaalteração vai ser muito significativo.

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fundamentais, pois, caso contrário, não conseguimostratar doentes. Obviamente que sei que o Estado e oMinistério da Saúde, muitas vezes e até inconsciente-mente, atirou para as instituições despesas que, emsituação normal, não eram dos hospitais. Um doentecrónico, por exemplo, recebe um medicamento quecusta às vezes centenas de contos por mês. Quem pagaa despesa é o hospital. A lógica é que deveria ser aSegurança Social a pagá-la. O hospital está a tirar dodinheiro do tratamento dos seus doentes para tratardoentes que têm patologias crónicas. Numa empresajá não faz lógica nenhuma sermos nós a pagar. A nos-sa função é pagar o tratamento de doentes em faseaguda.

Mas para isso é necessário haver uma coordena-ção entre as diversas entidades estatais para quetudo funcione. Já existe?Não. Mas nada acontece por milagre. Isto não é umalâmpada de Aladino que esfregamos e aparece tudofeito. Isto demora o seu tempo. Este aspecto já nos foiprometido pelo ministério. O aspecto da formação é,por exemplo, outros dos casos que precisa de ser es-tudado. Num quadro de 390 médicos, existirem mais360 em formação tem um peso orçamental enorme.

E como é que se dá a volta a essa situação?Ou o ministério nos compensa dessa função, em ter-mos orçamentais, ou teremos de a reduzir às nossasnecessidades. Ou seja, formamos os médicos que pre-cisamos para a instituição. Mas vamos aguardar cal-mamente por estas alterações. O Ministério da Saúdesabe perfeitamente do problema, já discutiu connoscovárias vezes e, portanto, quando sentir que chegou aaltura fará o que tem a fazer. Até porque este primeiroano de Sociedade Anónima é experimental e estamosa acertar agulhas com o ministério. Mas há vários ca-sos em que as situações têm de ser revistas. Pagamos,por exemplo, as pensões dos antigos funcionários daMisericórdia. Numa lógica do hospital público estácorrecto, pois foi um acordo que resultou da integra-ção deste hospital no Serviço Nacional de Saúde. Numalógica de empresa, não cabe na cabeça de ninguém. Aempresa não tem nada que pagar a reforma dos funci-onários da Misericórdia, uma vez que representa cer-ca de cinco milhões de euros por ano. A verdade é quenão há milagres e nada resolve por si o problema, mastodo este conjunto de coisas irá, com certeza, permitiro equilíbrio financeiro.

É essa articulação entre as várias entidades esta-tais que vão servir para equilibrar financeiramen-te a instituição?Exactamente. Não podemos trabalhar num só senti-do. Estamos a trabalhar ao nível do aprovisionamen-to, das compras, dos concursos com uma empresa, aonível pessoal e estamos em contacto com as chamadasestrutura de missão que o Ministério da Saúde crioupara este conjunto de problemas ser resolvido pela

O OBJECTIVO NÃO É O LUCRO

Quando se fala em Sociedade Anónima fala-se tambémem economizar e poupar. A existência de alguma pres-são por parte do accionista, neste caso o Estado, nãopode levantar questões do ponto de vista teórico?É evidente que é sempre possível que isso aconteça. Mas pen-so que o Estado é uma pessoa de bem e nas Sociedades Anó-nimas não vai proceder de uma maneira diferente da dos hos-pitais públicos. Isso é irracional. Naturalmente, do ponto devista teórico isso podia acontecer, pois verificamos que nassociedades em que a medicina é privada há, da parte dos acci-onistas, pressões no sentido de diminuir alguma qualidadepara obter poupanças adicionais. Penso que conseguimos vi-ver bem com essa tensão, mas esse não é o objectivo do Mi-nistério da Saúde, nem do Estado. Além disso, cabe ao direc-tor do hospital, aos directores clínico e de enfermagem asse-gurar que os procedimentos de qualidade se mantêm.

Já sentiu alguma pressão por parte do Estado?Não. Não é essa a intenção do Ministério.

Que situação financeira encontrou na instituição quan-do tomou posse?A situação desta instituição era de um desequilíbrio de cercade 24 por cento de défice anual. É preciso reencontrar o equi-líbrio, o que se faz em duas grandes áreas: no pessoal (querepresenta cerca de 50 por cento da despesa) e nos forneci-mentos, medicamentos e material de consumo clínico (querepresenta cerca de 30 por cento da despesa). Temos de tentarencontrar nas grandes rubricas a área de poupança que per-mita encontrar o equilíbrio financeiro. É claro que não acredi-to que o reequilíbrio financeiro se encontra só através do cor-te da despesa, também tem de se encontrar pelo aumento daprodutividade. Isso é uma coisa que iremos fazer nos próxi-mos anos.

É legítimo dizer que um hospital deve dar lucro?Não temos como objectivo o lucro. Um dos nossos objectivosé o equilíbrio financeiro a três anos. Não ter prejuízo não sig-nifica ter lucro. A actividade da saúde pode existir para darlucro no sector privado, numa sociedade que pertence ao Es-tado e à comunidade não faz qualquer sentido estar a dar lu-cro. Mas, também, não precisa dar 35 milhões de euros deprejuízo.

HOSPITAL TEM DE SER COMPENSADO PELA FORMAÇÃO

A antiga gestão do hospital foi, na sua opinião, desas-trosa?Não faço críticas à gestão anterior, pois cada gestão tem osseus problemas específicos. Quando o pagamento à institui-ção é feito por orçamento histórico, o objectivo de obter umrigor nas finanças perde-se, porque o que importa é tentarmeter a despesa no orçamento. Quando temos uma sociedadeque tem de viver equilibrada e tem a certeza que, no fim doano, o accionista não vem cá meter mais não sei quantos mi-lhões de contos, os objectivos de reequilíbrio financeiro são

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tutela. Deste bolo todo, estou certo que resultará o equilí-brio financeiro.

“REDUÇÃO DE PESSOAL NÃO SIGNIFICA DESPEDIMENTOS”

Quando os sindicatos criticam e apontam para aprecaridade de emprego, estão a levantar uma falsaquestão?Acho que os sindicatos têm de existir, porque os trabalha-dores precisam de ser defendidos por alguém. Todo o pa-trão muitas vezes é injusto e alguém tem de defender aspessoas. Penso que o progresso nasce desta dialéctica, des-ta discussão entre os interesses das instituições e dos funci-onários. Neste caso, penso que não estão a ser justos por-que se estão a esquecer que 60 a 70 por cento dos portu-gueses tem contrato individual de trabalho e não deixamde dormir por causa disso. Grande parte do País vive emcontratos individuais de trabalho e isso não precarizou oemprego.

Mas pode provocar uma certa instabilidade na vidadas pessoas…Acho que não provoca instabilidade, as pessoas é que sesentem instáveis, o que é uma coisa completamente dife-rente. Quem tem vínculo definitivo passa a ter um vínculoque é precário durante alguns anos, e sente alguma instabi-lidade. Penso que é um falso problema, mas isso sou euque, neste momento, sou representante do patrão. Pessoal-mente, passaria sem dificuldade nenhuma para contratoindividual de trabalho, porque acho que quem trabalha etem mérito não precisa de ter esse problema. É evidenteque vai haver sempre patrões que não são justos, não pro-cedem correctamente, mas também há muitos outros tra-balhadores que não agem bem.

Vai haver redução de pessoal?A redução de pessoal pode não significar despedimento.Com a alteração da lei do trabalho, um grupo substancialde pessoas pediu a reforma antecipada, por isso, basta ten-tar não as substituir. Além disso, quando se pretende subs-tituir alguém é preciso fazer muito bem o julgamento dasua necessidade e, por isso, quando admitimos novas pes-soas temos de exigir que quem é responsável por elas nos

diga, com rigor, o porquê da contratualização. Temosde verificar se eles cumprem os objectivos.

Actualmente, qual é a realidade do Santo Antó-nio em termos de profissionais médicos?O Hospital tem algumas situações paradoxais. Temquase 400 médicos no quadro, mas depois tem ou-tros 300 em formação. Isto tem um peso financeiro eum desgaste enorme. Por um lado, faz com que osmédicos do quadro percam tempo a ensiná-los, o quediminui a rentabilidade; por outro lado, um médicoem formação nunca produz o mesmo que os outros,sobretudo nos primeiros anos. Claro que nos últimosdois anos do seu Internato de Especialidade a maioriados médicos já produz em quantidades razoáveis.Nesta perspectiva, penso que não faltam médicos. In-clusivamente, haverá algumas especialidades commédicos a mais. Em oftalmologia, por exemplo, te-mos um quadro excessivamente grande, mas estamoslimitados pelas regras da Função Pública. Mas tam-bém existem outras especialidades em que temos fal-ta, como na ginecologia/obstetrícia, em que podíamoster mais três médicos. Além disto, temos um númeromuito alto de horas extraordinárias. Antigamente, eranormal contratar médicos para fazer serviço de ur-gência, mas de há uns anos para cá não é isso quetemos feito. Temos tendência, cada vez mais, para con-tratar pessoas à tarefa, de forma a não ocupar médicosdo quadro que têm de estar a produzir actos médicos,consultas e cirurgias e ver doentes no internamento.

E em termos de pessoal de enfermagem?Nesta área precisávamos de implementar a distribui-ção de equipas por graus de dependência. A distri-buição por média de ocupação e número de camascria uma grande desigualdade no trabalho deste gru-po profissional, porque há serviços que têm enfermei-ros a mais e outros a menos. O grau de dependêncianão é igual em todos os serviços o que faz com quetenhamos, na minha opinião, um excesso de enfer-meiros no hospital. O enfermeiro director está a tra-balhar no sentido de alterarmos esta realidade, paraque nos próximos meses possamos implementar umnovo modelo. Para isso, estamos também a desenvol-ver um programa informático sobre o trabalho de en-fermagem que vai obrigar a uma nova maneira de dis-tribuir os profissionais. Por outro lado, algumas tare-fas da enfermagem podiam ser distribuídas por pes-soas menos diferenciadas. Ou seja, os enfermeiros fa-zem tarefas que podiam ser facilmente realizadas poroutras pessoas, desde que tivessem uma integraçãoadequada, porque não é preciso uma formação supe-rior para as fazer. Isto libertaria não só os enfermeirospara outras tarefas, como permitiria diminuir o nú-mero de profissionais de enfermagem. Um ordenadode um auxiliar é muito mais baixo do que o de umenfermeiro. Nesta perspectiva, também poderíamosobter poupanças adicionais.

Portanto, estamos aqui a falar de várias altera-ções à macro-estrutura da instituição…Estamos a trabalhar nessas alterações consoante os gru-pos profissionais, para tentar encontrar a melhor so-lução. Por exemplo, tenho aqui o número das horasextraordinárias dos médicos. A partir delas, temos de

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avaliar horários, a produção, para tentarmos encontrar amelhor solução para optimizar o trabalho de cada grupoprofissional.

PRODUTIVIDADE DOS MÉDICOS AVALIADA

Já falou, por diversas vezes, em optimizar os recur-sos. Qual é a situação das listas de espera no SantoAntónio?O problema das listas de espera tem alguma gravidade. Émesmo preocupante porque tem vindo a aumentar. Até àconstituição da sociedade também não fazíamos o controlosistemático da produção por médico, mas actualmente es-tamos a avaliar a produção individual mensal.

Mas porque é que as listas têm vindo a aumentar?É isso que vou ter de analisar com o director clínico.

Em que especialidades existem mais problemas?Os maiores problemas são em oftalmologia e ortopedia.Provavelmente teremos de fazer uma intervenção mais ri-gorosa nesses serviços, porque realmente têm uma lista deespera muito grande e tem continuamente aumentado.

Mas ainda há pouco referiu que oftalmologia era umadas especialidades com excesso de médicos…Pode ser paradoxal, mas também pode ser falta de bloco e,por isso, seja necessário reafectar blocos a oftalmologia. Mastenho de falar com o director clínico para analisar os nú-meros. Este é o segundo mês em que tenho estes dados, seesta tendência se mantiver vou ter de reunir com os médi-cos e definir estratégias para alterar esta situação.

Os dados recolhidos vão então ajudar a compreenderqual é o cerne do problema?Exactamente. Penso que os números em si não têm gravi-dade, o que tem gravidade é não analisarmos as causas enão tentarmos resolvê-las. É este tipo de estratégica quetem de ser definida.

FALTAM BLOCOS CIRÚRGICOS

Já trabalha no Santo António há bastante tempo, nãotem já uma ideia do porquê do contínuo crescimentodas listas de espera?Penso que, sobretudo nos serviços em que as listas sãomaiores, faltam condições infra-estruturais, como os blo-cos cirúrgicos. Além disso, existe um grupo profissional quefaz muita falta que são os anestesistas. Apesar de termosmuitos, não temos o suficiente para todas as actividades dohospital. Penso que o grande problema não está nas especi-alidades que operam, mas no número de blocos e aneste-sistas. Outra coisa que passamos a fazer passa por ter aces-so às taxas de ocupação de blocos mensalmente. Isso aju-da-nos a perceber quem é que aproveita ou não os blocos.No caso de oftalmologia, por exemplo, a sua taxa de ocu-pação é de quase 100 por cento, o que significa que estão aaproveitar todo o tempo de bloco que têm. Se calhar temos

de lhes oferecer mais condições para eles possam au-mentar a produção.

Portanto, não há, em certas áreas, resposta paratanta procura…Sim, acontece. Quando estamos a raciocinar em ter-mos de problemas humanos vemos que isto não é umafábrica, com uma linha de produção que fica sempreigual. Vai sofrendo oscilações ao longo do tempo.Como há uma deficiência de resposta no sistema, secomeçarmos a responder muito bem numa área háum efeito clientela: começam a chegar doentes de ou-tras instituições, que se inscreveram noutras listas eque vêm aqui tentar resolver esse problema. Nós te-mos muito esse efeito clientela em oftalmologia. Te-mos uma unidade que trabalha em colaboração com aclínica geral que faz marcações «on-line», por sistemainformático, das primeiras consultas. Isso represen-tou um acréscimo enorme das consultas aqui no hos-pital nesta especialidade. A carga na cirurgia tambémaumentou. Uma das vantagens de uma SociedadeAnónima é também podermos adaptarmo-nos a essesmovimentos da comunidade.

“ENFERMEIROS FAZEM MELHOR PRÉ-TRIAGEM”

O Protocolo de Manchester começou a ser apli-cado em Outubro de 2000. Que resultados temtido até agora?O Protocolo de Manchester não faz diagnóstico de do-enças, mas estabelece prioridades. Faz uma pré-tria-gem dos doentes, diz-nos qual o doente que é vistoem primeiro. A triagem de prioridades começa na IIGuerra Mundial e tem mais de 50 anos. Não foram osportugueses, nem os ingleses a inventar. Além disso,o Protocolo de Manchester está testado na Austrália,no Canadá, na Inglaterra, na Nova Zelândia e emmuitos outros países. Portanto, aquele protocolo já foitestado centenas de milhões de vezes e, se for cumpri-do com rigor, acerta na esmagadora maioria dos do-entes. Fazemos todos os meses, desde Outubro de2000, uma revisão aleatória dos protocolos efectua-dos para termos a certeza de que não há erros.

Mas de que forma é que veio melhorar o sistemade urgência?Veio disciplinar a urgência. O problema da urgência éque entravam 500 doentes por dia. Agora tambémcontinuam a entrar. Mas, antigamente, entravam to-dos, mais as famílias de papel na mão e os médicosque estavam de serviço estavam constantemente a serinterrompidos pelas pessoas. Esta situação era altamen-te perturbadora no funcionamento do serviço. Agora,temos doentes graves e emergentes que são logo aten-didos. Depois temos os doentes laranja, que são osdoentes graves que têm de ser vistos até 10 minutos eestamos permanentemente a monitorizar os temposalvos.

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E esse tempo está a ser cumprido?Nos doentes graves conseguimos cumprir. Não consegui-mos cumprir nos amarelos, que precisam de ser vistos naurgência mas não são graves. O cidadão sente-se doente eestá aflito, mas não quer dizer que a doença que tenha sejagrave e que lhe ponha a vida em risco. As pessoas não têmessa noção, mas nós procuramos explicar-lhes. É evidenteque não vou dizer que ninguém errou. É evidente quehavemos de errar muitas vezes, mas legitimamente esta-mos preocupados com os doentes que estão em situaçãoaguda e grave. Os outros doentes são para atender quandofor possível. Das duas uma: ou temos equipas monstruosasnos serviços de urgência, ou é impossível atender, 400 ou500 doentes por dia com essa postura dos 10 minutos. Nãofazemos nós e não faz ninguém em nenhuma parte domundo.

Os enfermeiros são os profissionais mais indicadospara realizar a triagem dos doentes?Como fazemos permanentemente a avaliação da triagem,verificamos que os enfermeiros fazem melhor pré-triagemdo que os médicos, porque eles não estão preocupados como diagnóstico, mas sim em cumprir o fluxo. Os médicos,instintivamente, porque é uma questão de formação, co-meçam imediatamente a diagnosticar, o que demora mais eleva a erros. O Protocolo de Manchester tem de ser cumpri-do com rigor. A experiência que temos é que os enfermei-ros fazem melhor pré-triagem do que os médicos.

Mas o que é que acontece em termos de responsabili-dade no caso de um doente ser mal triado?A responsabilidade é da instituição. Não se pode atribuirao pessoal de enfermagem a responsabilidade de um erroem que a culpa da organização é nossa.

INFORMATIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO EM CURSO

O fluxo de pessoas na urgência continua a ser umproblema. Como é que vê a ideia de profissionalizaras urgências, como vai acontecer no Hospital de S.João?A profissionalização das urgências não vai resolver o pro-blema do fluxo. Esse problema resolve-se na medicina fa-miliar, não se resolve no hospital.

Mas o que pensa do programa da profissionalizaçãodas urgências?É um projecto extremamente atraente. Aqui no Santo Antó-nio também estamos a tentar fazer uma profissionalizaçãoparcial, mas não vamos conseguir. Não existem no mercadomédicos em número suficiente e com qualidade para subs-tituir os profissionais da casa. Vou ter de continuar, durantealguns anos, a utilizar parcialmente o pessoal da casa paraassegurar o processo inicial de triagem da urgência.

Qual foi a resposta ao concurso que lançaram paracontratar médicos exclusivamente para a urgência?Tivemos algumas respostas. A maioria é de médicos estran-geiros, nomeadamente espanhóis. Também temos algunsmédicos portugueses e penso que vamos constituir umapequena equipa de triagem de 10 médicos que vai permitirter dois ou três médicos contratados, profissionais só daurgência, para o primeiro embate neste serviço que é a tri-agem médica e triagem cirúrgica.

Acha que a medida não vai conseguir vingar noS. João?Já existe essa experiência na Feira, que tem uma equi-pa profissionalizada. Por isso, penso que não há qual-quer razão para que não corra bem. Eu é que tenhoalgumas dúvidas de que existam no mercado médicosde qualidade e em número suficiente para constituirexclusivamente equipas profissionalizadas para as ur-gências.

Está em curso a informatização da urgência?Estamos a avançar com a informatização em váriasáreas simultaneamente. Fizemos um contrato com umaempresa que nos desenvolveu um programa para oserviço de urgência que vai permitir localizar os do-entes, registar todos os actos praticados e fazer todo oseu processo individual no sistema informático. Esta-mos mergulhados na informática e, até ao final do ano,a instituição vai estar uma fase completamente dife-rente. Vai ter mais dados, mais possibilidade de con-trolo e de verificação permanente do que estamos afazer.

MATERNO-INFANTIL NO SANTO ANTÓNIO

Já assumiu que gostaria de ver o Hospital Joa-quim Urbano, o Centro Materno-Infantil e a Ma-ternidade Júlio Dinis concentrados no SantoAntónio. Há espaço para todos os serviços?Eu acho que há. O que não existe é espaço para oCentro Materno-Infantil nos termos em que estavaprevisto. O Centro Materno Infantil tinha excesso deoferta em termos de camas. Além disso, penso queninguém de bom senso pode defender, no momentoactual, a existência de uma maternidade isolada. Se aUnião Europeia e o Colégio de Especialidade de Obs-tetrícia/Ginecologia, se os profissionais dizem issomesmo, como é que vou duvidar…

Mas porquê todos esses serviços concentradosaqui na instituição?A transferência da Maternidade Júlio Dinis e do Hos-pital Maria Pia significa um aumento de mais mil pes-soas no Santo António. Estou a comprar um proble-ma. Mas raciocinando como médico e como cidadão,as grávidas beneficiam claramente ao estar num am-biente de hospital central. As pessoas têm de enten-der que há 20 anos que não morre uma grávida, porproblemas resultantes do parto, aqui dentro. O Hos-pital Maria Pia tem um problema de instalações. Estánuma situação extremamente degradada e o Ministé-rio da Saúde tem de resolver aquele problema huma-no e profissional. Existem ali más condições de traba-lho, apesar de o ambiente profissional ser excelente.Se há um problema, se há um incêndio… Eles têmuma unidade de cuidados intensivos colocada no só-tão. As pessoas têm de entender isso e o Hospital MariaPia necessita de novas instalações.

Mas uma das alternativas não podia passar pelaconstrução de um edifício de raiz?É mais lógico fazer a pediatria junto a um hospitalcentral, porque recebem sinergias das outras especia-lidades e é possível criar sinergias em termos de apro-

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visionamento e meios complementares de diagnóstico. Alémdisso, o investimento seria mais baixo. Penso que os pró-prios especialistas do Maria Pia querem vir para um ambi-ente de um hospital polivalente, porque eles também sesentem pior isolados. Eles também gostam deste contacto.

E porquê a transferência do Joaquim Urbano?Penso que não faz sentido gastar dinheiro a fazer um novohospital. Eles internam 800 doentes por ano. Qualquer ser-viço de medicina nosso interna esse número. Fazer umhospital novo para o Joaquim Urbano é dizer que se vaicriar um hipopótamo branco, porque do ponto de vistafinanceiro é inviável. A pneumologia e a infecciologia fun-cionam melhor num ambiente de hospital central, perdemem estar isoladas.

MINISTRO TOMOU ALGUMAS OPÇÕES CORRECTÍS-SIMAS

Ao concentrar todos estes serviços não se corre umrisco de haver uma saturação do Santo António?É evidente que causa alguns problemas ao nível do pessoal,mas penso que temos de viver com isso. Na pior das hipó-teses iremos ter 750 a 800 camas. Já tivemos 720 camas eera só este edifício. Sou a favor da construção de um novoedifício. Portanto, não estamos a falar de mais serviços e amesma área. O S. João tem mais de 1100 camas, o SantaMaria tem 1300 camas… É preciso ter noção de que a di-mensão também não é a gigantesca.

A criação de um edifício de raiz seria para a instala-ção do Centro Materno-Infantil do Norte.Se criarmos aqui um departamento de medicina materno-infantil, constrói-se um edifício de raiz para a pediatria,porque as crianças merecem. No CICAP, na Rua D. Manuel

II, temos uma área enorme que fica a menos de 100metros do edifício central.

Considera que o número de camas previsto parao novo Centro Materno-Infantil é demasiado ele-vado. Mas a verdade é que as maternidades doPorto estão saturadas.Mas essa situação tem a ver com dificuldades pontu-ais de outros hospitais, como o de Santo Tirso e doVale do Sousa que têm lacunas ao nível do pessoal.Como não têm pessoal mandam para aqui as grávi-das. Isso tem de ser resolvido onde os problemas exis-tem. Não podemos fazer à portuguesa e dizer que to-dos os problemas que existem são para os hospitaiscentrais resolverem.

O Centro Materno-Infantil está previsto serconstruído há cerca de 20 anos e até hoje nãosaiu do papel. Em que aspectos é que esta situa-ção tem prejudicado o Norte do País?Não tem prejudicado nada. Agora, o facto de não ter-mos uma maternidade de maior dimensão dentro deum hospital central tem, seguramente, prejudicado aspessoas, no aspecto da qualidade técnica com quepodem ser atendidas.

O ministro da Saúde tomou posse há pouco maisde um ano. Não devia haver já uma decisão defi-nitiva sobre o Centro Materno-Infantil?O sr. ministro está lá há um ano e encontrou proble-mas imensos no seu ministério. Tomou algumas op-ções que, quanto a mim, são correctíssimas em áreasessenciais. Penso que os responsáveis são aqueles Go-vernos que durante 20 anos arrastaram o problema enão o resolveram. Este ministro, se lhe derem tempo,vai fazer o centro Materno-Infantil e, nas próximassemanas, acredito que anunciará uma decisão. Casoavance no Santo António, dentro de três anos, ou seja,até ao fim do mandato deste Governo teremos as no-vas instalações construídas.

No panorama do Grande Porto, o Santo Antónioe S. João estão a dar as respostas necessárias?Se as respostas fossem necessárias não havia listas deespera. Por isso, obviamente as respostas não têm sidocompletamente as necessárias e as administrações têmde ir no sentido da melhoria da qualidade. Temos defazer com que os doentes tenham acesso garantido eisso é uma das grandes batalhas dos Conselhos deAdministração: garantir a acessibilidade. Do ponto devista técnico, tenho a certeza que ambas cumpremcabalmente. Fazemos o que se faz lá fora em termosde qualidade técnica. A saúde avalia-se por resultadose não por casos pontuais.

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nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

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16 OPINIÃO

A NOVA RECEITA MÉDICA

Professor Doutor António Gentil MartinsEx-Bastonário da Ordem dos Médicos

OPINIÃO DO PROF. DOUTOR ANTÓNIO GENTIL MARTINS EM CARTA DIRIGIDA AO PRE-

SIDENTE DA ORDEM DOS MÉDICOS E AOS PRESIDENTES DOS CONSELHOS REGIONAIS

Ex.mo. Senhor Dr. José Germano Rego de SousaPresidente da Ordem dos Médicos

Assunto: Receituário comparticipado

Lisboa, 22 de Janeiro de 2003

Caro Presidente,

Esperava ver uma posição mais firme e clara, ebem publicitada junto da Classe, já que continuoa acreditar que só a Ordem pode mobilizar todosos Médicos.Quando universalmente se defende a simplifica-ção administrativa e a diminuição da burocraciadispensável e paralizante, não poderá existir con-tradição mais flagrante do que o novo modelo dereceituário!Apenas o muito respeito pelos interesses dos do-entes (pois de outro modo não teriam direito a com-participação nos medicamentos de que necessitas-sem, a não ser que fossem aos Centros de Saúde

para pedir aos Médicos que lhes refizessem as recei-tas...!), me faz aceitar o novo receituário, e sobre-tudo a forma da sua implementação. Poucas ve-zes se terá visto uma desrespeito tão baixo e mes-quinho feito a Profissionais idóneos, sobretudo faceaos Médicos que exercem Medicina Liberal.Se a intenção não terá sido achincalhar e rebai-xar a Classe Médica perante os subitamente "ilu-minados burocratas" do País, dificilmente sepoderia ter feito mais e melhor.Vejamos:As receitas são despersonalizadas e injustifi-cadamente burocratizadas, levando a um tempode preenchimento excessivo e completamenteinútil, tempo que entra em conflito com o disponí-vel para a colheita da história e a observação clíni-ca, contradizendo, objectivamente, a rentabiliza-ção que se afirma pretender. Assim, menos doen-tes observados para um mesmo tempo progra-mado e global de Consulta!O mesmo se pode dizer quando as novas receitassó permitem incluir 4 medicamentos em vez de6, com isso podendo duplicar “escritas, papéis etempo inutilmente perdido”.E para quê os telefones de Médicos e Doentes(que nem sequer ficam com a receita), a indicaçãoda Especialidade e a repetição do nome do Mé-dico, que já consta da vinheta?Dada a composição dos impressos, para evitar even-tuais fraudes (substituição indevida da medicaçãoprescrita), o Médico, apesar de já ter assinado aproibição de substituição, terá sempre que se pre-ocupar em inutilizar a “zona de autorização”, nãose vá dar o caso de alguém que não ele vir apreenchê-la, e assim poder passar a ser feita uma“substituição” indevida..!As Receitas só se podem obter na ARS, em Lis-boa na Av. dos EUA 75 (informação telefónica) enão em qualquer outras Instituições ou Serviços doSNS (ex.: Centros de Saúde), levando os Médicosa ter de permanecer várias horas em bichas!... eisso para obter receitas “racionadas” (primeiro a100 e depois a 200 por Médico!). Se quiserem maisterão de voltar a ir para a bicha...As receitas são pagas pelo médico (4 cêntimoscada), para benefício do Ministério e dos Doentes(sem falar já no valor do tempo perdido, e que oseconomistas bem conhecem).As vinhetas também têm de ser compradas.As requisições têm de ser preenchidas 3 vezes, jáque são necessários 3 exemplares e não existe quí-mico!

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«COMO COMBATER AFRAUDE NO NOVO MODE-

LO DE RECEITA MÉDICA»

1 – Foi publicado no passado dia 2 de Dezembroo Decreto-Lei 271/2002 onde se prevê a prescri-ção por Denominação Comum Internacional (DCI)para os medicamentos para os quais existam ge-néricos disponíveis. O mesmo decreto contemplaainda que, no caso do médico prescritor entenderindicar o nome de marca do medicamento ou otitular da autorização de introdução no mercado,no caso dos medicamentos genéricos, deverá obri-gatoriamente informar o utente da existência demedicamentos genéricos comparticipados peloSNS e sobre aquele que tem o preço mais baixo.2 – A mesma legislação, e aquela que define o novomodelo de receita médica, prevê que o médico pos-sa autorizar (ou não) o fornecimento ou a dispen-sa de um medicamento genérico através do preen-chimento de uma quadrícula. O não preenchimen-to de qualquer das quadrículas ou seu preenchi-mento simultâneo implica aceitar a substituição daprescrição.3 – O modelo de receita acima referido permiteuma utilização abusiva da receita médica que podeser adulterada em qualquer momento mediante aaposição de uma cruz no espaço reservado ao cam-po “autorizo o fornecimento ou a dispensa de ummedicamento genérico”. Dito de outro modo, deacordo com o modelo anexo e exemplificando comum exemplo prático, o médico pode assinalar queautoriza a dispensa de um medicamento genéricopara a prescrição 1 e que não a autoriza para asprescrições 2, 3 e 4 assinando a receita em confor-midade. Ora, como já apôs a sua assinatura para aprescrição 1, qualquer pessoa (designadamente ofarmacêutico ou um seu colaborador devidamen-te habilitado – seja o que for que isto significa –)pode, com uma simples esferográfica, acrescentaruma simples cruz nas quadrículas 2, 3 e 4. Vistoque a lei prevê que quando as quadrículas estejamassinaladas em simultâneo há lugar à substituiçãoda prescrição, fica demonstrada com que facilida-de qualquer receita médica pode ser adulterada efalseada.4 – Neste contexto e considerando que:– nos termos da lei, o médico, ao prescrever,está obrigado a discutir com o seu doente asopções terapêuticas disponíveis;– os médicos não podem aceitar, em circuns-tância alguma, a adulteração da prescrição queestabeleceram com o consentimento informa-do dos seus doentes;

Nas requisições, a referência é... pagamento em es-cudos!?É preciso apresentar não só o original do Bilhetede Identidade bem como o original do Cartão daOrdem dos Médicos, não servindo fotocópias (istopara requisitar receitas nominativas, o que só osmédicos podem ter interesse em adquirir).Como se isso não bastasse... para o explicar e secompreender melhor... vêm as declarações da eco-nomista, Sra. Dra. Margarida Theias, adjunta doSenhor Ministro, publicadas no Tempo Medicinapela jornalista Ana Saianda: “esse adicional que,eventualmente, se irá pagar aos directores e coor-denadores dos Centros de Saúde será compensadopela redução das horas extraordinárias e pelo con-trolo da prescrição” referindo ainda que “há deter-minados protocolos clínicos que se podem pôr emprática pelo director do Centro de Saúde”...Afinal para quê a liberdade de prescrição?. Santaingenuidade e desconhecimento do que é bemexercer a Medicina, prevenindo, tratando, reabili-tando e defendendo os doentes!E talvez valha a pena lembrar a frase célebre: atéquando, ó Catilina, abusarás tu da nossa paciência!Será que tais “gestores” estarão convencidos queaumentar o trabalho de receitar fará com que oMédico deixe de o fazer e não receite o que deve?Será que já terão ouvido falar de Ética Médica?Será que, por “formação de base”, os preocupammais os orçamentos e os números do que a Saúdedos Doentes?Penso neste momento não ser necessário dizer maise fico a aguardar a posição da nossa Ordem. Comcumprimentos e os desejos de êxitos num activo2003.

a) António Gentil Martins O.M. 7442CC/ Presidentes dos Conselhos Regionais

NOTA DO EDITOR:O CONSELHO REGIONAL DO NORTECONCORDA EM ABSOLUTO COM A POSI-ÇÃO EXPRESSA PELO PROF. DOUTOR AN-TÓNIO GENTIL MARTINS.POR ESTE MOTIVO, ANEXA-SE A POSIÇÃODO CRN, TORNADA PÚBLICA EM CONFE-RÊNCIA DE IMPRENSA DE 20 DE JANEIRO,QUANTO À FORMA DE COMBATER A FRAU-DE NO NOVO MODELO DE RECEITA MÉDI-CA.

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– os médicos não podem tolerar que ajudantesde farmácia substituam a sua prescrição por-que não aceitam entregar a saúde dos doentesa quem não possui qualificação para prescre-ver.

O CONSELHO REGIONAL DO NORTE RE-COMENDA FORMALMENTE A TODOS OSMÉDICOS QUE ASSINALEM NAS NOVAS RE-CEITAS TODAS AS QUADRÍCULAS (1, 2, 3,4) NO CAMPO “NÃO AUTORIZO O FORNE-CIMENTO OU A DISPENSA DE UM MEDI-CAMENTO GENÉRICO”.AO FAZÊ-LO, OS MÉDICOS DEVEM CUM-PRIR A OBRIGAÇÃO ÉTICA DE INFORMAROS DOENTES, PROTEGENDO-OS DE FALSASPRESCRIÇÕES, E EVITARÃO SEREM RES-PONSABILIZADOS POR QUALQUER PRES-CRIÇÃO QUE, EFECTIVAMENTE, NÃO RE-ALIZARAM.

5 – O CRN informa ainda que, no seu conjun-to, a recente legislação referente a medicamen-tos tem aspectos obscuros no que se refere aoâmbito de aplicação da obrigatoriedade de pres-crição por DCI, da utilização do novo modelode receita e da comparticipação por preços dereferência. Estes aspectos, que exigem clarifi-cação jurídica, podem ser politicamente con-traditórios com as intenções aparentes do Se-nhor Ministro da Saúde no que se refere à polí-tica do medicamento. Por isso, o CRN irá soli-citar um parecer à Procuradoria Geral daRepublica, cujo conteúdo será divulgado logoapós o seu envio àquela entidade.

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos MédicosPorto, 20 de Janeiro de 2003

Miguel Leão

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UMA GREVE PATRIÓTICAA Medicina Geral e Familiar foi pensada pelo Dr.Paulo Mendo, e construída ao longo das últimas dé-cadas com muito trabalho e dedicação pelos actuaismédicos de Família.Esta carreira veio mudar significativamente a vida dosPortugueses que passaram a ter cuidados médicosgratuitos de qualidade, com a vantagem de serem per-sonalizados como na medicina privada.A qualidade do serviço recebido pelos utentes por-tugueses foi reconhecida internacionalmente tendolevado a que Portugal obtivesse o 12º lugar a nívelmundial no Serviço Nacional de Saúde (enquanto quea Inglaterra, por exemplo, obteve, salvo erro, o 24º).Durante este período, a expectativa de vida tem vin-do a aumentar e as taxas de mortalidade materno-infantil e de vacinação encontram-se actualmente aosmelhores níveis da Europa.É todo este esforço conjunto que o Dr. Paulo Mendo,os utentes em geral e os médicos em particular tãobem conhecem, que se receia ver desfeito em poucotempo. Para os médicos é a carreira de Medicina Ge-ral e Familiar que poderá estar condenada à extinção.Para os doentes é a entrega do serviço a médicos comqualificação variável, contratados e controlados poralguém não médico, na óptica do custo mínimo.Para o público em geral, ainda não dependente decuidados médicos frequentes, é perturbadora a pers-pectiva de ser atendido por médicos “a despachar”dirigidos por gestores financeiros que controlam ostempos e a produção como se se tratasse duma em-presa de artigos de série. Os utentes e os doentes fi-carão assim à mercê de interesses lucrativos. Serámuito grave que o Estado entregue o Serviço Nacio-nal de Saúde como quem entrega um banco ou umaempresa, a grupos económicos, para os quais nãoperder dinheiro é essencial e ganhar o máximo é oobjectivo normal.Ao reconhecer a sua incapacidade para gerir institui-ções ou serviços, o Estado demite-se entregando aqui-lo que acha que nas mãos de outros passará a negó-cio. Isto pode ser uma boa prática em relação a em-presas comerciais ou industriais mas é inadmissívelem actividades sociais tão importantes para a felici-dade e bem estar da população como é a Saúde.As actividades sociais são a essência do papel do Es-tado. Pensar-se-á também em privatizar a Polícia ouo Exército?Na sua febre economicista, o próprio Estado transfe-re para terceiros os seus deveres em relação à preven-ção da doença e ao cuidado dos doentes. Os utentese doentes sentirão a breve prazo as consequênciasdesta transformação se ela for levada a cabo.Perante a perspectiva de ver destruir dum golpe aquiloque levou tanto tempo a construir e que se afigurasusceptível de aperfeiçoamento para resolução dosproblemas existentes e perfeitamente identificados,a Classe teve que assumir uma atitude extrema que éa greve.Os médicos, pela oportunidade que possuem de pre-ver as consequências, têm a grave responsabilidade

Maria João PestanaEspecialista em Medicina Geral e Familiar.Membro Consultivo do Distrito Médico do

Porto da OM

de não pactuarem com este tipo de política destrutiva.A última greve dos médicos nos Centros de Saúdefoi a maior de sempre. O motivo da greve foi aglutinara classe e alertar o Governo e o público para a gravi-dade da situação. Não foi uma greve reivindicativa.Foi uma greve patriótica.Os médicos estiveram unidos, não por questões sa-lariais, mas na defesa de uma carreira que têm vindoa prestigiar, e na defesa da qualidade dos cuidados aprestar aos utentes e doentes. A destruição desta car-reira é inevitável quando os médicos forem confron-tados com terem de assinar contratos individuais detrabalho com regras feitas por quem não percebe oque é a Medicina Familiar. Serão provavelmente obri-gados a cumprir objectivos económicos gravementelesivos da boa prática médica, caindo sobre eles aresponsabilidade dessa mesma prática. Caso os mé-dicos se recusem a assinar os “tais contratos”, passa-rão a um quadro de excedentários que deixará depertencer ao Centro de Saúde onde estão mas sim àARS dessa zona, que os poderá, a qualquer momen-to, deslocar para muito longe da sua casa e da suafamília.É sem dúvida necessário procurar formas de mode-rar os gastos na Saúde. No entanto, isso terá que pas-sar por protocolos bem definidos e usados internaci-onalmente, e pelas condições que permitam umamaior confiança do utente no seu médico, passandonecessariamente por este ter tempo para ouvir e ob-servar convenientemente o doente, evitando assim orecurso tantas vezes desnecessário a dispendiososmeios auxiliares de diagnóstico.Com a melhoria dos cuidados prestados, foi natural-mente aumentando a procura aos cuidados assisten-ciais nos Centros de Saúde.O contrário também poderá acontecer. Se os cuida-dos prestados piorarem nos próximos anos, a procu-ra diminuirá e reduzir-se-ão os gastos na saúde.Será esta a maneira como se pretende fazer conten-ção de gastos? Não cremos, mas pode bem aconte-cer, se voltarmos ao “médico da Caixa”.Poderá ser difícil encontrar soluções ideais para a faltade médicos de Clínica Geral. Estes são poucos e têmvindo a diminuir por falta de incentivos e por exces-so de trabalho. No entanto, existem várias soluções.Mas nenhuma pode funcionar se se basear num pro-jecto ao qual se opõem todos os que nele deverãoparticipar.Os médicos lamentam ter tido de recorrer a uma gre-ve. Foram eles que ficaram sem ordenado, e serãoeles a resolver com esforço acrescido as consultas queficaram por fazer.Da parte do Sr. Ministro, bastaria apenas que se dis-pusesse a dialogar com os representantes dos médi-cos para que a greve tivesse sido desconvocada. Sequiser, ainda vai a tempo.Mas depois de se ter destruído o edifício tão laborio-samente construído quantos anos serão necessáriospara voltar a por a casa de pé?

nortemédico

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20 OPINIÃO

OS LÍDERES COMOAGENTES DE MUDANÇA

Professor Doutor Manuel Cardoso de OliveiraDirector do Serviço de Cirurgia B do H. S. João • Professor da Faculdade de Medicina do Porto

Há andorinhas que se atrasam no anúncio da Primavera.Quando chegam já é Verão. Há até as que só chegam paraanunciar o Outono do descontentamento. O fim dos bons tem-pos. Não têm ansiedades nem consciência da culpa. Para es-tas andorinhas gordas, o que importa é estarem seja com quemfor, desde que lhes ofereçam alimento. Não se preocupam sechegam tarde e, menos ainda, que não sejam originais. Têm,apesar de tudo, uma utilidade: quando se agitam e inquie-tam, é sinal de que o pior se consumou, já nada pode inter-romper a fase final do percurso até à fatalidade.... Defendem hoje o que criticaram ontem e têm até o especialtalento de criticar agora o que acabaram de fazer ontem mes-mo.... Andorinhas gordas, como se pode ver, há muitas. Se sou-bermos de que ninho nascem, será possível controlar as suasmigrações, antecipar a sua trajectória, descrever-lhes os há-bitos. Conhecê-las é a melhor defesa contra o seu vício.

Joaquim Aguiar

Na Medicina estão a processar-se mudanças que lem-bram as que ocorreram na Revolução Industrial há150 anos. Efectivamente (como lembra Lawrence W.Way), unidades de produção pequenas e indepen-dentes estão a ser amalgamadas em organizações demaior dimensão e mais eficientes com estritas cone-xões nas suas interfaces. O trabalho que era feitoanteriormente com as mãos é cada vez mais frequen-temente feito por máquinas. Estas profundas altera-ções tendem a ter no futuro maior importância, nãosendo possível travar este processo, ainda que de-vam ter um enquadramento ético que defenda, so-bretudo, o interesse dos doentes. Obviamente queestas explosivas transformações tecnológicas, paraalém de progressos de natureza científica, teriam derepercutir-se no ensino e treino das especialidadescirúrgicas. Para melhor documentar o que vimos di-zendo, é oportuno lembrar os avanços nos conheci-mentos da fisiologia e da fisiopatologia (nutrição,intensivismo, imunologia, angiogénese, controle deinfecções), na tecnologia cirúrgica (cirurgia mini-in-vasiva, endoscopia, anastomoses microvasculares,suturas automáticas, materiais biocompatíveis), nastecnologias de apoio ao diagnóstico e terapêutica (ra-diologia de intervenção, quimioterapia, novos anti-bióticos) e na organização dos cuidados cirúrgicos(evolução dos centros terciários, trauma, ensaios ran-domizados, incremento da cirurgia ambulatória).O ritmo de mudança é vertiginoso e alguns vaticíni-os para ulteriores avanços tecnológicos estão defini-dos (melhor tecnologia, manipulações genéticas, te-rapêuticas apoiadas na biologia molecular, sofistica-ção na imagiologia, outros avanços terapêuticos, sis-temas de realidade virtual). É pois totalmente previ-sível que o ensino e o treino de Cirurgia Geral, mes-mo com as alterações já processadas, venha a neces-sitar de muitos outros e profundos ajustamentos,como seja uma redefinição da relação da CirurgiaGeral com as Especialidades Cirúrgicas, a interven-ção da Cirurgia nos planos de estudo das Faculda-des de Medicina, o tipo de hospitalização, a consti-tuição de equipas multidisciplinares (já há quem faleem “boutiques” de órgãos), avanços da medicina edesenvolvimento de programas informáticos. Tam-bém o que passa a ser prioritário como investigaçãoem Cirurgia muda de modo sensível, pois não só ainvestigação tecnológica e os resultados da sua apli-cação, como uma investigação centrada nos doentes

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e nos programas de ensino e treino das especialidadespassam a ter um maior protagonismo.Este admirável mundo novo instalou-se insidiosamentenestes últimos anos e os médicos portugueses, uma vezmais, nem sempre puderam dispor do apoio que, pelomenos alguns centros de excelência, bem justificavam. Édoloroso reconhecer, por exemplo, que tendo nós portu-gueses aderido a um programa de treino para cirurgiõesinspirado no que Halsted instalou nos Estados Unidos hámuitas dezenas de anos e que depois se estendeu a todo omundo, nos mantemos presentemente, no essencial, namesma situação que existia anteriormente, com a agra-vante de não sermos uma cópia fiel daquela revolução dehá muitos anos.Dado que o ritmo vertiginoso da mudança não vai abran-dar, haverá que encurtar distâncias, adaptando-nos aosnovos tempos sem os constrangimentos que durante tan-tos anos nos sufocaram. Os desafios que se nos deparamsão, pois, muitos e variados, exigindo de todos uma claranoção do que está em causa. Bom será que não transfira-mos para as gerações futuras a resolução de problemasque deixámos acumular e, muito menos, seria admissívelnão admitir aos mais novos uma influência efectiva nasdecisões que urgem. É pois fundamental não assobiar-mos para o ar como se nada estivesse a acontecer. Já al-guém disse que “quando quem deve garantir o regularfuncionamento das instituições democráticas tambémembarca na jangada dos cúmplices não há quem possaevitar a autofagia e o naufrágio”. Na mesma linha de pen-samento, o mesmo autor (Joaquim Aguiar) lembra que“as grandes mudanças nas trajectórias das sociedades,aquelas mudanças que distinguem com nitidez a tradiçãoe a modernidade, podem ser surpreendentes e inespera-das, mas não nascem do vazio. Têm autores e agentes,têm protagonistas, personagens e vítimas, têm vencedo-res e vencidos, têm uma origem, uma genealogia, umadescrição e uma interpretação. Raras vezes são o resulta-do de uma vontade. As grandes mudanças são geradaspor movimentos colectivos de grande amplitude, queconduzem à destruição dos dispositivos instalados e dosequilíbrios organizados em anteriores condições históri-cas. Gostar ou não gostar dessas grandes mudanças é in-diferente. Elas não decorrem dos valores (que podem serdefendidos ou rejeitados), elas decorrem das necessida-des (onde a questão central é o tempo e qualidade daadaptação)”.A um líder de um departamento de Cirurgia em hospitaiscom ensino põem-se, por isso, consideráveis dilemas. Atéagora esperava-se que ele fosse um professor carismáticoa quem os alunos dedicassem um alto apreço, um exce-lente cirurgião com uma liderança consistente e algumasaptidões organizacionais e até administrativas, um cien-tista com bom relacionamento com os centros mais avan-çados de investigação e que a apoiasse entusiasticamente.Daqui para diante, segundo J. L. Grosfeld, vai ter que li-dar com um cenário onde se espera que o dinheiro nãoofusque o raciocínio, participe em numerosas comissões,

seja um estratega no planeamento e gestão de váriosrecursos e um comunicador hábil, além de um duronegociador, assumindo a defesa dos interesses dosdoentes, dos alunos, dos colaboradores e das insti-tuições que serve. Para isso é preciso ter ideias e umpassado que dê garantias para atrair jovens talentosque possam acautelar o futuro, pois nenhuma em-presa que deseja ter sucesso se arrisca a apostar empersonalidades sem mérito. Como já alguém disse,alguns protagonistas carregarão para sempre na cons-ciência o peso da culpa, pois quem pactuou, avalizoue foi fiador não pode aspirar a renascer, puro e ino-cente, pedindo uma confiança que desmereceu.Efectivamente os tempos que correm – os temposdo controlo da qualidade, da eficácia com menoscusto, da reengenharia, do downsizing e das audito-rias – são tempos de grande exigência em qualquerempresa. No caso da saúde juntam-se os imperati-vos éticos, as dificuldades de treino (no caso da ci-rurgia), as pressões da sociedade, os constrangimen-tos financeiros e teremos o cenário completo ondenos temos de mover com uma grande determina-ção, mas muita prudência e excepcional flexibilida-de. É sabido que em todas estas situações tem sidoapontada a importância do trabalho que os seus lí-deres desempenham. A um líder exige-se que não promova a mediocri-dade como modo de contrariar as exigências dacompetitividade, nem estabeleça a igualdade pelosvalores mínimos. Um verdadeiro líder não pode teruma relação perversa com a verdade, não pode dei-xar-se enredar por estímulos de ressentimento e devingança, não deve permitir a erupção de privilégiosindevidos e muito menos deve criar dificuldades àstentativas sérias para que as instituições funcionembem. A renovação permanente que se deseja não sepode fazer contra quem ousa pensar, antes se faz comideias, projectos transparentes e causas promissoras.Na actuação do dia a dia ver-se-á quem tem umavisão das instituições assente na demonologia quenunca combateram. Um verdadeiro líder não podeagradar a gregos e troianos, nem celebrar tratadosde paz com os inimigos da renovação, pois, doutromodo, inviabiliza qualquer projecto de futuro. Oexercício do poder deve ter tanto de firmeza comode sensatez e coerência, não havendo lugar para ar-rogâncias ignorantes, compadrios, caciquismo oupromessas indevidas. Na realidade as regras de con-vivência cívica num grupo de trabalho têm de sermuito claras pois qualquer desvio da orientação cor-recta faz perder muitas oportunidades e tem efeitosdeletérios nas instituições por muitos anos.A Cirurgia Geral, como especialidade, atravessa mo-mentos de grande expectativa e muitas ameaças. Ape-sar da sua expansão nestes últimos anos, a verdade éque tem havido uma redução do número dos que aprocuram, as exigências do público aumentaram, as

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remunerações têm vindo a diminuir, as questões éti-cas estão na ordem do dia, e a falta de coesão naespecialidade é preocupante. As exigências sobrequem tem de dirigir não param de aumentar e estadispersão afasta muitos responsáveis de áreas im-portantes, pelo que a cuidadosa delegação de pode-res está na ordem do dia. Aliviar os efeitos nocivosde hierarquias supersaturadas e motivar os outrospara desempenhos além das suas expectativas, des-pertando a sua auto-estima e sensação de auto-con-fiança, são orientações muito correctas. Aqui, umavez mais, se revela a necessidade de grupos homo-géneos que, sem perder a sua individualidade, pos-sam integrar-se harmoniosamente e defender o inte-resse global, de modo a que o todo seja superior àsoma das partes.Nos hospitais com ensino a menorização das Facul-dades é um fenómeno universal. Porém o não reco-nhecimento, pelos Hospitais, da mais valia que é terassociada uma Faculdade de Medicina, enfraqueceambos, quando tudo aconselhava que cultivassemsinergias. Os escassos financiamentos e a burocraciaa sobrepor-se ao profissionalismo são outras fragili-dades que importa combater. A tendência inevitávelpara a subespecialização sem que haja uma fragmen-tação excessiva da especialidade obriga a criação deequipas multidisciplinares cuja coordenação tem deser acautelada. Em resumo, para que não haja umadirecção ineficaz toma-se indispensável uma gestãode recursos (humanos e de outros) muito adequada.Estes cenários de mudanças, porém, são de umagrande exigência em termos de competência, leal-dade e elevado sentido da importância das relaçõesinterpessoais. Por isso quando as personalidades, en-volvidas nestes tempos de esperança, não demons-tram possuir aquelas qualidades, tudo se conjugapara que o fracasso aconteça ou, pelo menos, se optepor transformações cosméticas que, no essencial,deixam tudo na mesma. Toma-se pois indispensáveldistinguir aquilo que é essencial (onde uma hierar-quia efectiva e não virtual deve funcionar) do que ésecundário (onde por vezes se manifestam pulsõesautoritárias sem sentido) com a certeza de que o tem-po será o juiz implacável dos diversos comportamen-tos. E se estimularam expectativas falsas ou insus-tentáveis ou até se cometeram erros que, por insinu-ações maldosas, se procuraram projectar nos outros,

espera-se que ninguém fique imune à punição peloserros cometidos. Não é subvertendo as propostassérias que são responsavelmente apresentadas quese consegue branquear insuficiências várias e atitu-des incoerentes que em muito lesam a paz funda-mental para que as instituições possam viver e so-bretudo modernizarem-se.Os sistemas integrados de cuidados assistenciais exi-gem que os médicos com funções de liderança trans-cendam as suas unidades e participem activamentena sua gestão global. A aplicação do downsizing, docontrolo da qualidade total e da reengenharia servi-ram para revitalizar a economia, mas até há poucotempo estes princípios não foram aplicados na saú-de, nomeadamente nos Hospitais com ensino, cujasespecificidades não se podem ignorar. O que entãoera um refúgio e um privilégio, agora é uma lutapela sobrevivência (Jonson Ku).Para responder à necessidade destas alterações toma-se indispensável possuir conhecimentos sobre estra-tégia em que a dissonância (exige luta), a inflexão(quando a dinâmica exige mudança) e o reconheci-mento (a mudança é reconhecida sendo necessárioresponder-lhe) são conceitos a ter em conta. Em boaverdade o que para uns é a necessidade de consen-so, para outros significa ausência de liderança estra-tégica. Por isso muita coisa tem de ser reinventada, aalteração cultural tem de acontecer, a resistência àmudança terá de ser ultrapassada e as lideranças rí-gidas podem causar bloqueios indesejáveis. Por to-das estas razões a identificação e o treino dos líderesé uma alta prioridade não sendo possível que alguémaspire a ser líder por razões erradas.Esta fase de um novo principiar nunca acaba. Oslíderes têm de possuir um sentido de previsão mui-to apurado (prever áreas de expansão) e uma capa-cidade de articular e implementar as mudanças in-dispensáveis ao sucesso das suas instituições. Paraalém destes atributos e de uma fervorosa paixão peloque estão a fazer, os líderes, como traços da sua per-sonalidade (em combinações variadas), devem tercarisma, coragem, segurança, flexibilidade, integri-dade, discernimento e respeito pelos outros. Embo-ra muitos considerem que os líderes nascem e não osão pelo treino, é do mero senso comum que o de-senvolvimento de uma liderança é análogo ao ama-durecimento pessoal: uma mistura única de treino enatureza, de ambiente e genética (Schwartz e Pogge).Os líderes devem ainda ter noções de tacticismo demodo a contornar obstáculos, clarificar o que se pre-tende, reunir com os interessados e progredir parauma cultura que se autosustente. Têm de apreciar opotencial e as expectativas dos seus colaboradores.Inerente ao desenvolvimento da liderança está o con-ceito da autoridade ganha, o que significa que aoslíderes deve ser dado o tempo e o espaço necessári-os para se afirmarem. Os líderes crescem, não sãofeitos (C. Handy).Há quem diga que um bom gestor não é necessaria-mente um bom líder. Li algures que "managers dothings right, but leaders do the right thing". O pri-meiro trata de recursos, o segundo inspira novas di-recções. Porém, Allan Cox diz que bons gestores fa-

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zem bons líderes, desde que cultivem a gestão dosvalores institucionais e desenvolvam um rumo paraa instituição que servem, promovendo o trabalho emgrupo. Este mesmo autor considera vitais qualida-des como o entusiasmo, a ousadia e a confiança, alémde aptidões para mostrar o caminho e dirigir, coo-perar e ser leal e perseverar até a tarefa estar conclu-ída (o que, em boa verdade, nunca deve ser consi-derado). Ben Zander, maestro da orquestra filarmó-nica de Boston (citado por Schwartz e Pogge) diz: “omaestro não produz um som. O poder do maestrodepende da sua capacidade de fazer os outros pode-rosos”. É fácil concluir que se não houver entendi-mento fácil e liderança que se não possa exercer, amudança não surge. É também óbvia a necessidadede uma clara rotura com o passado.Paralelamente às qualidades de liderança (e numainterpretação que se defende) os responsáveis degrandes unidades de Medicina necessitam de acau-telar os aspectos ligados ao profissionalismo: confi-dência, equanimidade, abertura a diferentes opini-ões correctamente emitidas, curiosidade, senso de"fair play" e "hard worker" que lide facilmente coma incerteza, tenha aptidões psico-motoras, cuide bemdos doentes e seja respeitador e responsável. O mo-delo de desenvolvimento de altos desempenhos passapela efectividade da comunicação interpessoal, fle-xibilidade e adaptabilidade, pensamento criativo, ca-pacidade organizacional e técnica.Bishop, num magnífico trabalho sobre estas matéri-as, aconselha a dividir o trabalho em unidadesorganizacionais controláveis, onde a distinção entreo essencial e o acessório é fundamental. Por aquipassa, como já se salientou, a delegação de poderes,a capacidade de decisão, a resolução de conflitos, omodo de ultrapassar as resistências (alterações gra-duais, explicar o que se está a fazer, ser sensível àsnossas limitações e reconhecer as dos outros, flexi-bilidade e uma enorme disponibilidade para a exce-lência do poder de comunicar). Um líder deve sercapaz de reconhecer que não sabe tudo e de fomen-tar a coesão do grupo mediante uma actuação trans-parente, justa e civilizada. Deve estar aberto à trocade ideias (com quem as tenha, obviamente) e ensi-nar pelo exemplo (papel de modelo).Para facilitar a criação de cursos de gestão e lideran-ça em Cirurgia as Faculdades de Medicina deviam,no mesmo sentido, estimular a preparação dos estu-dantes. Temas como contabilidade, gestão, compor-tamento organizacional, prestações do sistema desaúde, liderança, resolução de conflitos, trabalho degrupo, controle da qualidade, auditorias, conferên-cias da mortalidade e mobilidade são temas muitoactuais mas infelizmente negligenciados em muitoscentros. Como disse Schwartz: "it is my belief thatin the future only the physician leader withappropriate training in finance and management can

assure that patient care will be delivered in a timelyand quality manner".Vale ainda salientar que os líderes formais têm auto-ridade numa organização tradicional enquanto os in-formais aceitam lideranças por razões variadas e dãooutro impulso à sua acção. As equipas de elevadasperformances são caracterizadas por mútua confi-ança entre os seus membros. Mas, como se sabe dasrelações pessoais, a confiança é muitas vezes frágil.Demora um longo tempo a construir, mas pode serfacilmente destruída e é difícil de reconquistar. Dadoque a confiança gera confiança e a desconfiança geradesconfiança, manter a confiança entre as pessoas éuma prioridade da gestão dos recursos humanos. Emtodo este cenário, uma vez mais, perpassa a impor-tância dos líderes.Nicholas Lang encoraja-nos a dar passos para a com-petência e a melhoria de qualidade do nosso traba-lho. A exploração de ideias de outras áreas, a adop-ção de novos métodos de ensino, o investimento nainvestigação, o privilegiar a importância fundamen-tal dos cuidados com os doentes e uma aposta clarana sintonia afectiva durante o trabalho, são indica-ções a ter em conta.Estas extensas citações dão-nos uma ideia precisa domuito que temos de nos aperfeiçoar estruturalmen-te de modo a ultrapassarmos o bloqueio com quedeparamos e assim darmos aos nossos jovens cola-boradores esperanças em melhores dias. Wells, quan-do entrevista candidatos a uma carreira em Cirurgia,diz-lhes que aposta muito no seu recrutamento, poisdisso depende o sucesso futuro do grupo de traba-lho.No global, a evidência é ainda fragmentária, mas àmedida que a cirurgia se tomou mais complexa, opapel central do sistema – quer dizer as equipas, atecnologia e a infra-estrutura – tomou-se crescen-temente óbvio. Há razão para acreditar que o avan-ço nas performances do sistema representa a próxi-ma grande fronteira em melhorar resultados nos do-entes de cirurgia (A.A. Gavande).Alguns dos que procuram opor-se à força destas idei-as, mais do que as discutir, preferem o recurso aosbloqueios que todos identificam e, infelizmente, nemsempre o fazem com elegância cavalheiresca. Masesta arrogância autoritária do vazio não pode sobre-por-se aos superiores interesses dos doentes, dos es-pecialistas, dos estudantes e das instituições em queaceitamos trabalhar livremente. Em geral, disseAgustina, aqueles que muito duvidam, ignoram qua-se tudo, acrescentando que a dúvida é uma ignorân-cia civilizada. Será?

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I FEIRA DO LIVRO MÉDICOFOI UM ÊXITO

O Centro de Cultura e Congressos da Secção Regi-onal do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM)abriu as portas aos livros e a quem se interessa poreles. Durante quatro dias, o tempo foi repartidoentre tertúlias literárias, conferências, sessões deautógrafos e até exposições de arte.A «I Feira do Livro Médico» decorreu durante omês de Fevereiro e foi um “êxito”, dada a adesãodo público. “A iniciativa teve um eco espantoso etive colegas de outros pontos do País que tiverampena de não terem vindo até à feira, apenas porterem tido conhecimento da iniciativa muito emcima da hora”, sublinhou o elemento do CRNOMresponsável pela organização, Hernâni Vilaça.O certame reuniu não só mais de 1500 obras téc-nicas e não técnicas escritas por médicos, desde omais recente romance de António Lobo Antunes,até às mais raras e antigas obras, como algumasprimeiras edições de escritores médicos portugue-ses. Nem mesmo a beleza de algumas encaderna-ções faltou à exposição. “Já era altura de a Ordemdos Médicos se preocupar com a expansão dos li-

CERTAME PROMOVIDO PELA SRNOM ESPERA TERCONTINUIDADE NO PRÓXIMO ANO

vros de medicina e não só, porque há médicos queescrevem sobre ficção, poesia, que pintam e escul-pem. É importante preocuparmo-nos com a cultu-ra”, elogiou o bastonário Germano de Sousa, du-rante a abertura oficial da feira, esperando ver ainiciativa promovida pela SRNOM repetida. Ashonras da casa foram também feitas pelo presiden-te da Secção Regional do Norte, Miguel Leão, queassim deu as boas-vindas aos visitantes.

AUTÓGRAFOS CONCORRIDOS

Não tendo as vendas como o principal objectivo, a«I Feira do Livro» teve como função, segundo ex-plicou à «nortemédico» Hernâni Vilaça, o conví-vio e a reflexão. Por isso mesmo, foram convida-dos diversos autores – tais como Daniel Sampaio eArmando Moreno –, para sessões de tertúlia e di-versas conferências. Nem mesmo faltou uma ses-são de autógrafos protagonizada pelo médico DanielSampaio, por sinal muito concorrida.Mas a temática em torno da «I Feira do Livro Mé-

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nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

dico» culminou, este ano, numa questão: “Será queo livro de texto continuará a ser um elementoformativo e informativo no ensino da medicina?”.O mote estava lançado para realização de três con-ferências: «As novas tecnologias em pedagogia –ensino multimédia», protagonizada pelo professorRolando Moisão, recaiu sobre o que era e a históriado ensino médico antes do aparecimento das no-vas tecnologias; «A biblioteca médica virtual net emedline», com o conferencista Jorge Guimarães,acabou por estabelecer a transição do ensino ante-rior ao multimédia para o actual; e a «Teleme-dicina», apresentada pelo Grupo de Dermatologiado Hospital Pedro Hispano, deu a conhecer comoé possível aprender medicina através da transmis-são de imagens e, assim, sem qualquer contactodirecto com o doente. “Foram debates e conversasinteressantíssimas, muitas vezes animadas, devidoà participação do público”, explicou Hernâni Vilaça.

PINTURA

Já nos expositores, não faltou a participação de di-versos livreiros, tais como a Leitura, a Britânica, aAlmedina, o Instituto Piaget, bem como da biblio-teca da Faculdade de Medicina da Universidadedo Porto. Perto dos livros, os quadros. Para com-por ainda mais o cenário do Centro de Cultura eCongressos, Hernâni Vilaça decidiu convidar umamédica para expor as suas obras de arte. Os qua-dros de Olga Noronha não passaram despercebi-dos e apesar de não estarem para venda, não faltouquem os elogiasse.O certame culminou ainda com o lançamento eedição do primeiro «Catálogo de obras de médicosportugueses» – distribuído aos visitantes –, orga-nizado por áreas temáticas, da autoria de Arman-do Moreno e financiado pela SRNOM. De cincoem cinco anos será actualizado, mas a «Feira doLivro Médico» promete voltar já para o ano. "Pen-so que será uma iniciativa para continuar", admi-tiu Hernâni Vilaça.

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nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

A Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos(SRNOM) instituiu o Prémio Corino de Andrade que visagalardoar, anualmente, uma figura ou uma instituição quese tenha distinguido na área da Medicina. E, em 2003, aentidade escolhida, e assim homenageada, foi a FundaçãoCalouste Gulbenkian. Para o presidente da SRNOM, MiguelLeão, “foi muito fácil atribuir o galardão” – uma esculturada autoria de José Rodrigues –, dado tratar-se de uma ins-tituição com grande influência "na investigação e na saú-de, através da atribuição de auxílios à ciência médica".Um trabalho que também foi reconhecido pelo presidenteda Ordem, Germano de Sousa, ao lembrar a «carreira» daCalouste Gulbenkian. “Antes a Fundação desempenhavao papel de Estado na área da Saúde. O panorama mudou.O País investe na saúde e só por uma má gestão poderá aFundação ser novamente chamada a comprar um ecógrafo,ou um aparelho de raio-X" realçou.A instituição foi, durante grande parte do século XX, aprincipal responsável pelas melhorias da saúde em Portu-gal. A tal ponto que o presidente da Gulbenkian, Rui Vilar,arriscou mesmo dizer que “não deverá haver um hospitalno País que não tenha sido ajudado pela Fundação”. Umtrabalho que se traduziu no financiamento equipamentosde muitas unidades hospitalares – como foi o caso do San-to António, no Porto –, na introdução de novas tecnologi-as cirúrgicas e na atribuição de diversas bolsas de estudo.No sentido do trabalho continuar a desenvolver-se, MiguelLeão não deixou de apelar a Rui Vilar, no sentido de aGulbenkian manter o apoio “ao parente pobre da medici-na”, ou seja, “à investigação médica”. Um repto que obte-ve resposta, pois, como adiantou o presidente daquela ins-tituição, 11 por cento (10 milhões de euros) do orçamen-to deste ano da instituição vai exactamente para o sectorda saúde.

ETERNIZAR CORINO DE ANDRADE

Mas no mesmo dia em que se pretendeu distinguir a Fun-dação Calouste Gulbenkian, não se podia esquecer o mé-dico que dá nome ao prémio e que esteve sempre intima-mente ligado com a Fundação, ou não tivesse aquela ins-tituição financiado os estudos de Mário Corino da CostaAndrade, no âmbito da paramiloidose, mais conhecidacomo a «doença dos pezinhos».Actualmente com 93 anos de idade, muitos dos quais de-dicados à investigação, a SRNOM quis homenagear o seutrabalho e, também, “lembrar anualmente um dos maio-res neurocientistas nacionais”, enalteceu Miguel Leão.

SRNOM INSTITUI PRÉMIOANUAL CORINO DE ANDRADE

FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN HOMENAGEADA

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Com a presença do Presidente do Conselho Regionaldo Norte, Dr. Miguel Leão, do Reitor da Universida-de do Minho, Prof. Doutor Guimarães Rodrigues, doPresidente da Comissão Instaladora da Escola de Ci-ências da Saúde da Universidade do Minho, Prof.Doutor Machado dos Santos, do Presidente do Con-selho Distrital de Braga, Dr. Angelo Azenha, do Pre-sidente da Comissão Científica da Escola de Ciênciasda Saúde da Universidade do Minho, Prof. DoutorPinto Machado e do Presidente do Núcleo de Estu-dantes de Medicina da Escola de Ciências da Saúdeda Universidade do Minho, Pedro Ricardo Morgadodecorreu no dia 19 de Dezembro de 2002, a assina-tura de Protocolo de Cooperação entre esta estruturaassociativa de estudantes de Medicina e a Ordem dosMédicos (ver texto integral deste protocolo na pági-na 59).

PROTOCOLO COM O NÚCLEO DE MEDICINADA ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNI-VERSIDADE DO MINHO

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DR. A. S. MAIA GONÇALVES

PARA UMA HISTÓRIAMÉDICA PORTUENSE - XI

Quem, como eu, vinha habituado a consultar os“Relatório e Contas” dos sucessivos CorposGerentes da Secção Regional do Porto da Ordemdos Médicos (SRPOM) que, todos os anos,regularmente, se publicavam, quando procura odo ano de 1971, fica surpreso, porque nãoencontra o respectivo “Relatório e Contas”.E não o encontra porque, simplesmente, não há,nunca existiu, nunca alguém o elaborou. Orelatório que existe, imediatamente a seguir aoúltimo ano do mandato de José da Silva Meireles(1970) diz, no frontispício, ser referente ao períodode Março de 1972 até Dezembro de 1973. Porquê?!Até que ficasse a compreender tal aberração, tãodilatado vazio, tive que dar muitas voltas, muitasmais do que aquelas a que me habituara.Com isto quero dizer que, de todas as passagensde testemunho que até agora tive que relatar,nenhuma foi tão atribulada e difícil de deslindar eexpor como a de 1971, correspondente ao fim domandato de José da Silva Meireles e começo doseu sucessor Rogério Gonzaga.Devo acrescentar que a confusão então gerada emtal sucessão não foi fenómeno exclusivamenteparoquial, não aconteceu somente no ConselhoRegional (CR) do Porto.Nesta minha tarefa de rever o maior númeropossível de textos que ao longo dos sucessivos anosforam escritos sobre esta matéria, desde sempre li,e arautos não escassearam a anunciar, que amedicina e a classe médica se encontravam,permanentemente, em crise.Só que a crise “tão falada”, desta vez instalou-sede verdade, e teve o seu epicentro em Lisboa, onde,durante o ano de 1970, isto é, ainda durante oúltimo ano do mandato anterior, já haviamdespoletado fortes divergências entre os diferentescorpos gerentes, com a resignação de alguns dosseus mais altos cargos, como por exemplo ademissão do Presidente da Assembleia Regional,em Março, e em Abril, a demissão do Vice-Presidente, e a decisão de retirada dos seusDelegados ao Conselho Geral. Uma lástima.À auspiciosa primavera do começo do mandatode Miller Guerra, começaram a chegar nuvensnegras, a anunciar tempestades.O teor de uma Comunicação do Conselho Geral

(CG) a toda a classe médica, com a data de 1 deAgosto de 1970, é um fiel e sintomático retrato areflectir a atmosfera que se respirava no momento.Ao vir a público “afastar-se resolutamente dosprocessos usados pelo “grupo de pressão” parainfluenciar os acontecimentos e os colegas, oqual, na sua opinião, não reflecte o desejo nemserve os interesses da grande maioria” eterminar “pedindo a todos os colegas que tomemparte activa nas Assembleias Regionais e emquaisquer outras formas de intervenção na vidaassociativa, contribuindo para a formação decorrentes de opinião verdadeiramente represen-tativas da nossa Classe”, mais que um simplescomunicado, é um verdadeiro grito de indignaçãoe um desesperado primeiro apelo à participaçãoda “maioria silenciosa”.Nos Conselhos Regionais tanto do Porto como deLisboa, os anos de 1969 e 1970 foram anos deintensa azáfama, após a constituição de múltiplasComissões de Estudo e de Trabalho.Resumindo, poderemos dizer que havia, então, 5grandes e fulcrais temas que eram objectos do laborassociativo, no sentido de os rever e actualizar.Eram eles:1 - A crónica e urgente revisão dos Estatutos daOrdem, unanimemente considerados ultrapas-sados e, pior, factor de obstrução e ineficáciaoperacional da Corporação. Nestes Grupos deTrabalho pontificavam alguns activos elementosque, contra a crónica inoperância corporativa,defendiam a mudança radical para um organismode natureza sindical, como a única saída do atoleiroem que a OM se havia afundado;2 - A também arrastada, e tão complexa quantomelindrosa questão da Previdência dos médicos;3 - A indispensável e premente necessidade daInformação e Comunicação entre todos os colegas;4 - As Carreiras Médicas e o Sistema Nacional deSaúde; e, por fim,5 - No sentido de uma “comparticipação activa epermanente de todos os médicos portugueses noestudo, deliberação e execução dos interesses,assuntos ou iniciativas que melhor sirvam osmédicos portugueses e a população portuguesa”a ambicionada realização de um Congresso MédicoNacional.

CULTURA

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Estatuto da Ordem dos Médicos, e assinado pelosseguintes médicos, que assim ficaram para ahistória: Adalberto Paulo da Fonseca Mendo;António Marques Santos Júnior; AntónioRogério Luís Gonzaga; Carlos Cidrais Rodri-gues; Eugénio Saraiva Corte-Real; JoaquimGermano Pinto Machado Correia da Silva; JoséFernando de Barros Castro Correia; José RebeloValente Pereira Cabral; José da Silva Meireles;Virgílio Simões Moreira; Wilhelm LudwigOsswald.Em chegando a Dezembro de 1970, procedeu-se,no dia 15, às previstas e normais eleições dosCorpos Gerentes para o triénio 1971/1973, nas 3Secções Regionais: Lisboa, Coimbra e Porto.Como facilmente se imagina, tais eleições, queforam excepcionalmente concorridas e partici-padas, decorreram sob uma atmosfera de grandetensão e desafio.Nas eleições do Porto, saiu vencedora a listacomposta pelos seguintes médicos:Para a Assembleia Regional (AR): Paulo SarmentoCardoso de Carvalho, a Presidente; ManuelTeixeira Amarante Júnior, a Vice-presidente, ecomo Secretários, António Manuel Bessa PaisCardoso e Cassiano Pena de Abreu e Lima.Para o Conselho Regional (CR): António MarquesSantos Júnior, António Rogério Luís Gonzaga;Armando Franchini Corregedor da Fonseca,Miguel Monteiro Martins de Matos, Pedro MendesCorreia Magalhães Basto, Serafim António FrançaParanhos Gomes e Virgílio Simões Moreira.Como Vogais do Conselho Geral (CG): AdalbertoPaulo da Fonseca Mendo e José Maria Rodriguesde Carvalho.Como Delegados à Assembleia Geral (AG): AbelJosé Sampaio da Costa Tavares; António Martinsda Costa Maia (Maia); Augusto Carlos Bianchi deAguiar; Armando Barbosa de Araújo Cotta; CamiloLopes de Freitas (V. N. Famalicão); Camilo deMatos Silva de Araújo Correia (Régua); CarlosManuel Teixeira Soares de Sousa; Fernando deCastro Pires de Lima; Francisco Augusto da SilvaAlmeida; Joaquim Alberto Correia dos Santos;Joaquim Maria Pacheco Neves (Vila do Conde);José Antero Campos de Freitas (Guimarães); JoséAntónio Alves de Carvalho Barrias; José AugustoMartins; José de Barros e Vasconcelos (Fafe); JoséFernando de Barros Castro Correia; José RebeloValente Pereira Cabral; José da Silva Meireles; LuísAntónio da Mota Prego Cunha Soares de MouraPereira Leite e Manuel Bento Soares da SilvaAraújo.Inopinadamente, em Lisboa, um grupo de 3médicos resolveu contestar e requerer a anulaçãodo acto eleitoral, alegando não terem sido

De todos estes temas, o da Revisão dos Estatutos,para além de ser o há mais tempo agendado, eestar na base dos bloqueios, que era urgentedesmantelar, foi também o que teve uma maiorparticipação e visibilidade.As Secções Regionais de Lisboa e Porto empen-haram-se a fundo para encontrar o caminho paraa solução do problema.No Porto, vários membros da Comissão Regionalpara o Congresso Nacional dos Médicos, reunidoscom membros do CR e outros médicos interes-sados, formaram uma comissão conjunta “ad hoc”e assentaram nas “Bases de um novo Estatuto”.Ainda em 7 de Maio de 1970, com o fim de discutiressas “Bases” antes de serem submetidas àapreciação da Assembleia Regional, teve lugar umareunião preparatória a que, infelizmente, apenasassistiram um número de médicos muito aquémdo que seria de esperar, se considerarmos aimportância do assunto a discutir.Na reunião, o Presidente do CR deu a conhecer oprojecto elaborado pela Comissão do Estatuto doCR do Porto a qual, entretanto concluíra os seustrabalhos. Logo se notou que os dois projectos,posto que independentes, apresentavam doutrinae matéria muito semelhantes, de modo a justificaruma tentativa de fusão. Dessa fusão resultou umprojecto, em 14 pontos, contendo as Bases para o

ROGÉRIO GONZAGA

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preenchidos todos os preceitos legais então emvigor (alterações introduzidas em 1969, e que,segundo Miller Guerra, quase nenhum médicoconhecia), o que teve um imediato efeitosuspensivo de todo o processo.Foi o cabo dos trabalhos e começo da confusão.Na Secção Regional do Porto, a situação agravou-se ainda mais porque, em Fevereiro de 1971, numaAssembleia Regional, pretendendo solidarizarem-se com os “eleitos mas contestados” colegas deLisboa, deliberou-se (por maioria, com 11abstenções...) “não tomarem posse enquanto nãofossem homologados os resultados eleitorais deLisboa”.Se a situação já estava má, ficou pior, pois, poressa via, caiu-se numa total “afuncionalidade”,verdadeiro nó-cego de ciclos viciosos acerca daslegalidades invocadas por cada grupo, autênticoquebra-cabeças para qualquer serviço de conten-cioso jurídico, por mais experiente que fosse.Em Lisboa, em novas e concorridas eleições quese repetiram em 13 de Novembro de 1971,regressaram à normalidade, elegendo praticamenteos mesmos Corpos Gerentes, os quais prontamentetomaram posse em cerimónia que decorreu em 25do mesmo mês de Novembro de 1971. Mesmoassim, feitas as contas, tal embaraço aindacorrespondeu a quase um ano de interregno,durante o qual, praticamente, apenas funcionaramos expedientes.No Porto, o interregno ainda foi mais longo porquea desinteligência se arrastou, mesmo para alémdesta última data da tomada de posse dos CorposGerentes de Lisboa, que havia sido, no começo, oimpedimento para a não tomada de posse doscorpos gerentes do Porto. Haviam findado ascausas, mas não findaram os efeitos.Mas, por mais incrível que pareça, em AR deFevereiro de 1972, conseguiram apertar ainda maiso nó-cego, com resultados fáceis de antever, poisdeliberaram transformar em definitivo aqueleimpedimento condicional.Depois de mais reuniões e da continuação doimpasse, a resolução só chegou após a intervençãodo Director Geral do Trabalho e Corporações que,através de um ofício de Março de 1972, intimou atomada de posse aos Corpos Gerentes eleitos namencionada AR de 15 de Dezembro de 1970.Tal cerimónia ocorreu, de facto no dia 22 daquelemês de Março de 1972, mas, porque a discórdiase instalara no seio da própria equipa vencedora,dos 11 elementos que deveriam tomar posse (4 daAR e 7 do CR) só compareceram 5: AntónioManuel Bessa Pais Cardoso, da AR e os restantes4 do CR: A. M. Santos Júnior, A. RogérioGonzaga, Miguel M. Matos e Pedro MagalhãesBasto.Só então compreendi porquê aquele relatório,único, existente e respeitante ao triénio domandato da equipa de Rogério Gonzaga, se diziareferente ao período desde Março de 1972 atéDezembro de 1973.

Assim, um mandato que deveria ser de 3 anos ficoureduzido a pouco mais de metade (um ano e novemeses) e com menos de metade do elenco inicial,ainda que eleito em condições perfeitamente legais,no longínquo mês de Dezembro de 1970.Para ajudar à compreensão do clima efervescenteque então se viveria em todo o país, e não apenasentre a classe médica, vale a pena recordarmos que,por coincidência, para agravar ainda mais a tensão,foi nesse mesmo ano de 1971 que os Internos do2º ano do Internato Geral de Lisboa e do Porto, aculminar anteriores discordâncias quanto ao futuroprofissional que se lhes oferecia, (tais como umnúmero reduzido de vagas, 50%, no InternatoComplementar, e a não extensão das Carreiras aosHospitais Distritais) tomaram a histórica resoluçãode se recusarem a participar no teste de saída doInternato Geral, em 15 de Novembro.A uma tão inédita confrontação, o Governo reagiuferozmente, e de imediato, nesse mesmo dia, coma exoneração (despacho do Secretário de Estadoda Saúde) de 380 Internos e a proibição de osmesmos entrarem nos Hospitais, a partir do diaseguinte.Com tais medidas, e outras igualmente destem-peradas que, ainda durante o mesmo mês, se lhesseguiram (como, por exemplo, a ocupação dosHospitais por militares, ou um comunicadotelevisivo, em termos vexatórios para com osmédicos), o Governo provocou uma gigantescaonda de revolta e indignação em toda a classe, anível nacional, e da própria Ordem dos Médicos,onde o Bastonário, Miller Guerra, que, recordo,também era deputado à Assembleia Nacional,depois do seu veemente e público repúdio por taismedidas governamentais, acabou por apresentara sua demissão, em 29 de Novembro de 1971. Aanálise da quase sobreposi-ção das datas destesdiferentes eventos ajudará também a aquilatar daefervescência gerada, quase dia-a-dia.A exoneração dos Internos acabou por ser anulada,mas a normalização no seio da Corporação nãovoltou, em especial no Porto.Mesmo duplamente amputado, o CR de RogérioGonzaga, confessando ter alguma quota parte deresponsabilidade na situação criada, prosseguiuprocurando “actuar com serenidade, e manter-se independente das paixões desencadeadas,evitando, de toda a maneira, contribuir paraexacerbar ou mesmo manter o clima de tensãoemocional, e nessa linha de acção, a que seobrigou, aceitou pesados sacrifícios pessoais,de que não se lamentou” ... nem se lamenta, comoainda há poucos dias Rogério Gonzaga me repetiude viva voz, quando acedeu receber-me em suacasa para conversarmos sobre esta sua passagempelo CRPOM.Rogério Gonzaga é natural do Porto, freguesia deCedofeita, onde nasceu em 15 de Janeiro de 1923.Licenciou-se na Faculdade de Medicina do Portono ano de 1946 e começando por ter uma formaçãode Anatomo-Patologista (foi discípulo e Assistente

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de A. Tavares, na Faculdade de Medicina) obteve,mais tarde, a categoria de Especialista de PatologiaClínica pela Ordem dos Médicos, tendo montado,em sociedade com outro colega, o seu próprioLaboratório privado.Rogério Gonzaga trabalhou sempre no CentroSanatorial D. Manuel II, em Vila Nova de Gaia,em cujo Laboratório, de que era Director,introduziu melhoramentos e capacidades técnicasque fizeram dele um dos melhores Laboratóriosdo Norte do país.Em Dezembro de 1970, Rogério Gonzaga, quandose apresentou nas eleições para o CRPOM, tinha47 anos de idade, completaria 48 no mês seguinte,pelo que foi um dos mais novos Presidentes doCR do Porto, ao longo de toda a sua história.De entre os assuntos mencionados no seu relatório,destaco, como sempre tenho feito, a AcçãoCultural. E com a maior simpatia o faço, pois opresidente da dita Comissão Cultural era, nemmais nem menos, o colega já por nós enaltecido,quando registámos a criação do CADEM, em Vianado Castelo, em 1969: José Maria Rodrigues deCarvalho, “talentoso e experimentado organiza-dor” cujos reconhecidos méritos conduziram-noa ser agraciado pelo Presidente da República como grau de Oficial da Ordem da Benemerência.Durante o ano de 1973, foram organizadas sessõescientífico-culturais (ou Escolas Móveis deMedicina, para usar a feliz expressão da autoriado médico João Araújo Correia) em Vidago,Macedo de Cavaleiros, Régua-Lamego.Em Vidago, no dia 2 de Junho, no Palace Hotel,uma equipa de médicos constituída por AmadeuCampos Costa, Waldemar Cardoso, IsolettAmaral e Manuel Macedo Pinto conferenciaram,perante oito dezenas de colegas, sobre Uso Clínicode Isótopos Radioactivos.Duas semanas depois, nos Paços do Concelho deMacedo de Cavaleiros, no dia 16 de Junho,Amândio Sampaio Tavares, com a colaboraçãode José Lopes dos Santos, Lino Ferreira e JorgeCandeias, dissertaram sobre o interesse daGenética Médica na Prática Clínica. A exposiçãofoi seguida com o mais vivo interesse por mais de80 médicos que, dos diferentes Concelhos de Trás-os -Montes, se deslocaram aos Paços do Concelhode Macedo de Cavaleiros. Seguiu-se o jantar naEstalagem do Caçador e o animado diálogo sóterminou pelas 3 horas da madrugada.Outros 15 dias depois, em 30 de Junho, no Salãoda Biblioteca dos Bombeiros Voluntários de Peso-da-Régua, José Garrett, Walter Osswald e Falcãode Freitas coloquiaram sobre Critérios deEscolha de Antibióticos e suas Aplicações naPrática Clínica.

Nesta cidade da Régua, por vários e honrososmotivos, mas principalmente pela excelenteformação humanística de Rodrigues de Carvalho,que soube não se esquecer, o encontro ganhoucontornos de festividade e homenagens.Terra natal do prestigiado médico portuense, eemérito historiador da Medicina Portuguesa,Maximiano de Lemos, Peso-da-Régua foi tambémberço de outro médico e escritor inesquecível, Joãode Araújo Correia, considerado um dos melhorescontistas e dos que melhor cultiva a pureza dalíngua pátria, pai de Camilo de Araújo Correia,também médico, e também escritor, que naqualidade de Sub-Director do Hospital local (D.Luís I) foi o anfitrião da comitiva portuense. Comose não bastasse, na assistência encontrava-se odecano de todos os médicos presentes, MárioNavarro de Meneses, que, oriundo de Lamego,cedo trocou as terras da Beira-Douro pelas alturasdo Barroso, onde, em Ribeira de Pena, fez quasetoda a sua vida clínica. Pela sua longa e exemplarvida de João-Semana, e pela valiosa obra deescritor, Mário Navarro Meneses era merecedor dasimpatia, admiração e apreço de todos os presentes.Após a sessão científica, houve jantar de confra-ternização na Estalagem de Lamego, terminandoo encontro com a discussão de assuntos deinteresse sócio-profissional dirigido pelo Presidentedo CR, Rogério Gonzaga.Se bem fiz as contas, o Conselho Regional deRogério Gonzaga, no seu curto mandato, aindaarranjou espaço e tempo para se debruçar sobretrês outros aspectos importantes da prática médica,para os quais, numa óptica de auscultar asdiferentes opiniões de todos os colegas, elaborououtros tantos inquéritos que fez distribuir pelosseus “associados”:- um sobre aquilo a que chamou de Poluição daClasse e Responsabilidade Civil dos Médicos.- um segundo sobre as reais condições em queestavam a decorrer as preparações, assim como osexames, das diferentes especialidades médico-cirúrgicas,- e um terceiro acerca da difícil e complexaPrevidência dos Médicos.O resultado de tanto esforço foi que, de umuniverso de 2 mil e seiscentos médicos, a quemforam distribuídos tais inquéritos, apenasresponderam 181, isto é, nem 7% se deram àmaçada de retribuir. Simplesmente... desolador.

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nortemédico

Mário Navarro de Meneses

João de Araújo Correia

Maximiano Lemos

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32 CULTURA

A LITURGIA DO TEMPONascido em Lisboa há 60 anos, Sejo Vieira publicou os primeiros desenhos surrealistas ainda na adolescência, no jornal “Diário de Lisboa”. Viveuem França mais de 30 anos, onde aprendeu a fazer sandálias e a imprimir jornais, tirou o Curso de Psicologia e leccionou na Universidade deVincennes. Foi actor, dançarino e encenador, passou por Londres e Nova Iorque e tornou-se escritor, coreógrafo e director de comédias musi-cais. Traduziu Fernando Pessoa, publicou livros e editou um jornal satírico. Agora é essencialmente um pintor – já expôs na Casa do Médico – mastambém escreve (“toda a minha vida escrevi poemas”, como afirmou à nortemédico nº 6). Na continuação dos números anteriores, aqui ficammais quadros e poemas deste artista surrealista.

PALAVRAS

Como amo as palavrasFiéis coinpanheirasNa estrada do conhecimentoBóias milagrosasNa espuma louca do meu pensamentoBrancasNegrasEm liberdadeQuando soltas ao ventoOu acorrentadasAo longo de calhasSem elas não haveria mais esperançaNão haveria mais batalhas

LÁ EM BAIXO

Lá em baixoLonge da multidãoPerto da catedralCorre o SenaSem ter penaDo meu coração

Lá em baixoDesgasto pelo tempoO sena vagueia vagueiaSob o céu lilásA venta negra e feiaQuase irrealEle anda atrásDos náufragos do amor

Lá em baixoNa noite recém-nascidaCorrem todos os senasCruéisVigilantesE com eles corre a alma perdidaDaqueles que viveram apenasPara serem amantes

FLORES

FlorCheia de graçaFormosaNa manhã meninaNasce o pensamentoCresce a dor

FlorVentre poéticoLambido por línguasÁvidas de brisaÉs a minha almaNa noite quente e calma

FlorMinha casa inabitadaConfusaNo meu desassossegoAs tuas janelasSão o meu segredo

FlorMinha arma desarmadaNas planícies onde se batalhaSobrevives louca de raivaEntre as pregas da minha mortalha

FlorVermelha do sangueDos vencidosVermelha do sangueDos esquecidosVermelho do sangueDos atraiçoadosVermelhaMil vezes vermelha

FlorPerfumadaPelas paixõesNo altar das recordaçõesDevoras-meMinha amadaImpiedosa carnívoraMinha esfomeada

([email protected]) • (sejo–[email protected]) PARTE IVPOR Sejo Vieira

Lanço-as como sementesNo coração dos homensImprimo-asEm tudo o que viveE até na velha ardósia do TempoDesenhadasEsculpidasAcasaladasDesmedidas

Trago-as ao pescoçoPenduradas como amuletosOu cruzes benzidasTraço-as como sinaisRedentoresMisteriososNo chão das cidadesNas pedras dos curraisNas falhas das leisE sobretudo nos palácios dos reis

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NAUFRÁGIO

Já não há barcos a navegarPerto da costaNem ao longe no horizonteJá não há gaivotasA pairarPor cima das nossas cabeçasÀ nossa voltaEmpurrada pelo ventoA Morte observa-nosVestida de branco

SedutoraMaternalAbre o enorme mantoFeito de algas e de espumaAgita os braços tentacularesE ri-se do nosso espanto

Lá no altoPor detrásDas sombras crepuscularesO céu enche-se de luzE afasta-seIndiferente

Uma música infernalCacofónicaMajestosaVem do fundo do marMisturada com os versosQue me cantasteNa noite das nossas núpciasÉ a marcha dos náufragos

Num turbilhão de babaE de sangueRodopiamos sem pararNuma última valsaA minha língua corre pela tua pele

MONÓLOGOS DO ABSURDO

PRIMEIRO

Tenho um só olho artificialEscondo-o na vizinhançaDas minhas visõesUm olho descomunalPróprio para enxergarEm primeira mãoA inteligência fecalDa gentalha que nos governaExtraio-o antes de ir para a camaE com muita atençãoLimpo-o da impureza quotidianaDou-lhe lustroCom um pano para mangasAté ele brilhar na escuridãoDo meu quartoDurante a noite fecho-o a sete chavesMisturado com outras bugigangasQue a turpitude impõe à sociedadeAh o adeus à realidadeNas malhas do TempoO desfilar de múltiplas sensaçõesNo fundo de um olhar que vê sementravesOs artifícios desta vidaVivida aos trambolhões

SEGUNDO

Ao princípio havia um cheiroA caos organizadoO homem aparecera por acasoNum cantinho da desordem aparenteTinha aterradoApós uma longa viagemNo útero da evoluçãoNum sítio propícioÀ sua transformaçãoPerto deleUma velhota insignificanteQue por negligência perdera a almaEstava sentadaMuito calmaO cu em cima de um alfinete

Como amo as palavrasHumildesVaidosasJustasCruéisSempre fecundas e generosasElas trazem com elasAs falas tristes e alegres do amorCantam-me canções de embalarContam-me históriasQue não são para acreditar

Entreabrem-me portas mais largasQue as largas portas dos vossos coraçõesVivem em mim em segredoSão a minha única riquezaSem elas morreria de medoOu morreria de tristeza

E nos cantos mais íntimosDepõe fragmentos da minha almaOs peixes nas minhas costasFazem bolhas com as tuas rimasO meu coração de homemPenetra o teu sexoEm busca de algo que já não vive

Vem meu amor vemNão ouves os sinosEla leva-nos vencidosDá-me as tuas mãosAgarra-meEsconde-me no teu ventreAma-me ainda ainda mais

O rosto redondo e anónimo da MorteMais brilhante que uma lua cheiaReflecte-se nas águas paradasA tua sombra e a minhaCaminham agoraFora da vidaE o mar vorazSenhor dos abismosParece baixar a cabeçaDiante do infinito soberano

Como é estranhoVê-lo assimDo outro lado do TempoAmansadoSonolentoComo alguém que adormece ou agoniza

Numa praiaLonge de todos os maresNas margens do UniversoGuiados por estrelas de um céu irrealOs dois cadáveres de mão dadaContinuam a sua viagemÀ procuraDe um simples leito nupcial

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Dirigindo-se aos porcosE aos pigmeusDeclarouUso com elegânciaUma serpente nas calçasE outra à volta do pescoçoPara me aquecerNas frias noites de invemoNo entanto desde há muitoQue não enguloCobras nem lagartosAinda que as suas dentadurasCresçam menosQue os cornos das cabras

TERCEIRO

Tenho fome dessas palavras honestasQue morrem sempreNa véspera de todos os víciosEstou no patamar inferiorDe um mundo de festasE de suplíciosDe orgias da pançaE de ventres esfomeadosDe sons de música

No alcatrão dos cruzamentosNas vielasQue viveram vida de genteNos bairros onde ecoouA alegria da infânciaEspalham-se como sementesOs mortos das guerras santas

À entrada do meu abrigoHá uma enxergaEsventradaCom um cadáver lá dentroDistingo-o indirectamenteÀ luz das minhas noites de insónia

Posso isolar-meDe vez em quandoTomar os meus instantes mais opacosMas não posso deixar de lado a ideiaQue se tem de um corpo que viveu

Abro a janela de onde só posso ver-meA mim mesmoEla dá para as ruasDe todas as cidades iluminadasCheias de esgotos e de marcas humanasE deito o cadáver para o passeioEm seguida volto ao princípio da minha história

Com um único olho artificialContemplo o marE não vejo senãoLama desolaçãoEt restos de uma humanidade inconscienteCom o meu olho descomunalDe péNo coração de um mundo impossívelSó uma ínfima parte da vidaMe parece compreensível

E de berros de desesperadosDe promessas de mudançaE de adiamentos sem fimNão se espantemSe alguém for capazDe deitar para trásA vontade de chorarE correndo pela carne do mundoDesatar a matar a matarOs algozes da nossa esperança

QUARTO

EspalhoA conta gotasAs minhas obsessõesTão agradáveisOs meus gostos requintadosNos sorrisos fingidos

Dos integristas contemplativosEles fazem escalaAo largo de largas mesasNem quadradas nem redondasEntre dois armários cheios de livrosE de peixes com um ar vermelho e profundo

Espalho as minhas convicçõesTão desagradáveisNas ventas dos pregoeiros de boas novasQue se sentam à direitaDe todos os consagradosEles vivem ao largo dos nossos direitosDistraídos ou ausentesA alma de carniceirosBem agasalhadaNa redingote de trapaceiros

ÚLTIMO

No meio dos escombrosÀ sombra de atiradores furtivosEm paredes ainda de péCartazes com fotografiasDas cidades destruídasRelembram as alegriasE o esplendorDe antigamente

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3 DISCOS & 3 LIVROSAS SUGESTÕES DO PROF. NUNO GRANDE

NUNO GRANDE QUASE DISPENSA APRESENTAÇÕES. FIGURA EMBLEMÁTICA DO INSTITUTO DE

CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR (ICBAS), E MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO EUROPEIA DE

EDUCAÇÃO MÉDICA, ENTRE TANTAS OUTRAS REFERÊNCIAS, ACEITOU O REPTO LANÇADO PELA

«NORTEMÉDICO» E DEIXA AQUI AS SUAS SUGESTÕES, NA ÁREA DA LITERATURA E DA MÚSICA.“TODAS ESTAS OBRAS SÃO REFERÊNCIAS ESTÉTICAS E EMOCIONAIS DA MINHA HISTÓRIA DE

VIDA”, ESCREVEU O ILUSTRE MÉDICO E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO.

36 CULTURA

VERDI: AÍDA

Verdi nasceu no dia 10 de Outubro de 1813, emRoncole, cidade próxima a Busseto, na Itália. Foialfabetizado por um padre da cidade quando já ti-nha quase 10 anos de idade e foi nessa mesma épo-ca que se iniciou na música, com o organista PietroBaistrocchi. Apaixonado por Margherita, a filha docomerciante que sustentava os seus estudos, foi paraMilão apresentar-se no conservatório, com o objec-tivo de conseguir uma vaga e impressionar a ama-da. Apesar de ter sido rejeitado, pois os seus conhe-cimentos foram considerados insuficientes, acaboupor permanecer em Milão, trabalhando como pro-fessor de música. Anos depois retorna a Busseto econsegue o cargo de maestro da capela e a mão deMargherita, com quem se casa em 1836. Três anosdepois, com a ajuda da famosa soprano GiuseppinaStrepponi, convence um empresário a montar suaprimeira ópera, «Oberto», no Scala de Milão e foi oinício do sucesso de Verdi, apesar de ter assistido àmorte do filho e, um ano depois, à da mulher. Aconsagração aparecer com «Nabucco». Da sua gran-diosa obra, as três mais conhecidas talvez sejam asdo final de sua trajectória: «Aída» (composta porencomenda do governo egípcio para a abertura docanal de Suez), «Otello» e «Falstaf».

Música

EDVARD GRIEG: PEER GYNT

Edvard Grieg é o mais importante compositor norue-guês do século XIX, exactamente no período em que cres-cia a consciência nacional na Noruega. Nasceu em 1843e, enquanto criança, foi encorajado pelo violinista OleBull, um amigo dos pais, a interessar-se pela música. Porisso, acabou por estudar no Conservatório de Lpezing,por sugestão do violinista. Depois de um período emcasa, na Noruega, mudou-se para Copenhaga, onde co-nheceu o jovem compositor Rikard Nordraak, um entu-siasta da música norueguesa e que teve uma influênciadecisiva no compositor Edvard Grieg. As suas actuações,muitas vezes acompanhadas pela sua mulher, a cantoraNina Hagerup, levaram-no a ser uma das figuras de refe-rência no seu país de origem. Posteriormente, começa-ram a surgir colaborações no teatro, nomeadamente como dramaturgo Bjornson e com Ibsen, exactamente com«Peer Gynt». Até à data da sua morte, em 1907, EdvardGrieg dividiu o seu tempo entre a composição e os con-certos.

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JOSÉ SARAMAGO: JANGADA DE PEDRA

O livro foi publicado pela primeira vez em 1986 e,até agora, vendeu cerca de 127 mil exemplares,distribuídos por 20 países. Neste romance, JoséSaramago imaginou que a Península Ibérica se des-prendia da Europa e iniciava uma viagem rumo aodesconhecido. Cientistas, políticos, filósofos... Nin-guém conseguia perceber o porquê do fenómenoque chegou um dia, sem ter dado sinais de aviso.Apenas cinco pessoas adivinharam o que estavapara acontecer, por algumas alterações da norma-lidade: um tremer de terra, um bando de estorni-nhos, um risco que não se apagava no chão, umapedra atirada longe demais, um fio de lã que nãoacaba. São estes os motivos que levam estas perso-nagens, a quem se junta um cão, a encontrarem-see a procurarem, dentro e fora de si, a origem dofenómeno. No que concerne a estratégias de umamundividência, de certo modo, universalista, a es-trutura de «Jangada de Pedra» assenta na comuni-cação com uma entidade que em rigor arquetipiza,compreendendo-o, o leitor das páginas do roman-ce. Com este livro, o Nobel da Literatura chegoumesmo a inspirar o holandês George Sluizer paraa realização do filme, numa co-produção entre Por-tugal, Espanha e Alemanha, que estreou este ano.

LUDWIG VAN BEETHOVEN: 9ª SINFONIA

A «9ª Sinfonia» é um hino à humanidade, tendosido escrita entre 1822 e 1824. De todas as obrasde Ludwig van Beethoven é a que tem a históriamais longa e complexa, ocupando um lugar ex-cepcional na vida e na obra do compositor. As novesinfonias de Beethoven estão intimamente ligadascom as nove Esferas da Árvore da Vida da CabalaHebraica. Neste caso concreto, a «9ª Sinfonia»,chamada «A Coral», pelas suas partes de coros,canta a «Ode à Alegria» do grande poeta alemãoSchiller, exaltando os logros que se colhem na NonaEsfera ou o Yesod da Cabala. Além disso, cada umadas sinfonias foi idealizada para agir nas estrutu-ras psicológicas mais íntimas do ser humano,enaltecendo os valores intrínsecos superlativos dohomem. Esta é a da «Sublimação», pois motiva-nos a escalar os degraus dos sentimentos místicos,de espiritualidade e da devoção. Afinal de contas,não é arte para se expressar em palavras, mas simpara ouvir com o coração.

Livros

DANIEL QUINN: ISMAEL, COMO O MUNDO VEIO ASER O QUE ERA

Podendo estar de acordo, ou em desacordo, com as ideiasexpressas por Daniel Quinn em «Ismael», a verdade é queeste livro coloca o leitor a pensar. Um dos seus mais fascinan-tes tópicos prende-se com o facto de lidar com vários aspec-tos dos dogmas humanos, nomeadamente com a necessidadeque tanta gente parece ter, não só actualmente, como no pas-sado, em saber e pensar no que é correcto perante os outros.É assim que o encontramos o principal tema de «Ismael»: opensar, antes de agir. Daniel Quinn considera que devemoster em linha de conta as repercussões das nossas acções nãosó a curto e médio prazo, como também as suas consequênci-as eternas. «Ismael» é um romance, onde se faz uma verda-deira análise da condição e consciência humana, ou não fosseo narrador do livro um homem em busca da verdade. Umaobra realmente intemporal.

GUERRA JUNQUEIRO: PÁTRIA

“Maior do que nós, sim-ples mortais, este gigan-te foi da glória dumpovo o semideus radian-te. Cavaleiro e pastor, la-vrador e soldado, seutorrão dilatou, inóspitomontado, numa pátria...E que pátria!”. Assim es-crevia Guerra Junqueiro,um dos poetas que maisbrilhou na segunda me-tade do século XIX, ten-do provocado muitascríticas desencontradas àvolta da sua obra. «Pá-tria» surge em 1896,onze anos depois do se-gundo livro e 22 anos depois do primeiro. E essas três obrasnão devem ser encaradas como três temáticas diferentes, masuma só: a Nação, escalpelizada em suas gradações sociais, ou,se quiser, o rosto de um povo historicamente degradado porforças políticas e religiosas, consentidas e aceites por uma po-pulação conformada, e passiva. Sob o ponto de vista formal,Junqueiro é de uma rebeldia gritante. Nele encontramos pro-postas do Antes, do Durante, do Depois. Uma libertinagem,que terá a ver com o seu temperamento impetuoso, mas queparece explicar-se melhor com uma intenção estética, em quea expressão é pertinência, pedida pela flutuação do conteúdo.Esta diversidade, que atinge toda a sua obra poética, acabapor ser uma característica inconfundível de Junqueiro.

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves

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38 CULTURA

PROTOCOLO DECOLABORAÇÃO

DA SRNOM COMA VINITUR

Depois do Jantar com o escritor Francisco José Viegas,no passado dia 27 de Março, a propósito do seu romance“Lourenço Marques” e do Jantar, a 11 de Abril, em redordo romance de um menino napolitano que começa a serhomem, explorando os sabores e os odores de uma Ná-poles popular, antiga e secreta, que Erri De Luca, umdos mais prestigiados escritores italianos de hoje, des-creve como ninguém, ainda vai a tempo de aproveitar:

15 MAI 2003, 20H00, GRANDE HOTEL DO PORTO

José Viale Moutinho, autor do Porto, nascido noFunchal, elege as tripas e as costelas cozidas como po-deroso jantar dos tripeiros que podem tornar imensauma noite de Maio. Conversará sobre a sua vasta obraliterária cujo último livro editado na Campo das Letrasé “Apenas uma estátua equestre na Praça da Liberdade”.Convidado da Campo das Letras: José Viale Moutinho.

12 JUN 2003, 20H00, NO PORTO

Jantar literário com Rosa Lobato Faria no lançamentodo seu novo romance “O sétimo véu”. A ementa dojantar terá a ver com alusões gastronómicas retiradasda própria obra. Convidado das Edições Asa: RosaLobato Faria.

26 SET 2003, 20H00, NO PORTO

Os mais jovens também têm direito a jantar com osescritores (e ilustradores) que trabalham expressamentecom eles... e a ouvi-los falar das histórias que inventame dos desenhos que dão asas aos sonhos. Neste jantarestarão presentes os escritores José Jorge Letria, MariaAlberta Menéres e Nuno Higino, e os ilustradoresAndré Letria, Rui Truta e Joana Quental. ConvidadosAmbar: José Jorge Letria e André Letria (ilustrador).Convidados Edições Asa: Maria Alberta Menéres e RuiTruta (ilustrador). Convidados Campo das Letras: NunoHigino e Joana Quental (ilustradora).

LIVROS COM AROMAS, AUTORES AO VIVO COM SABO-RES DISTINTOS, RECEITAS E VINHOS COM VERDADEIRO

SENTIDO LITER RIO , ANIMAR O JANTARES NA CIDADE

DO PORTO DURANTE TODO O ANO DE 2003. A

PROPOSTA DA VINITUR, AMBAR, EDI ˝ES ASA E CAM-PO DAS LETRAS. UMA PROPOSTA A QUE N O FICARE-MOS INDIFERENTES.ESTE PORTO DE SABORES FORTES E VINHOS PROFUN-DOS ACOLHER UMA ORIGINAL FORMA DE CONHECER

A LITERATURA E DESCOBRIR A GASTRONOMIA: COM

PLENO USO DOS CINCO SENTIDOS! DA VIS O E AUDI-O , NO CONVŒVIO E CONVERSA COM GRANDES NO-

MES DA LITERATURA PORTUGUESA E ESTRANGEIRA. DO

GOSTO E DO OLFACTO, NA TRANQUILA GARFADA E

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PELA LEITURA. DO TACTO, ENFIM, PELO PRAZER NI -CO DE SENTIR E FOLHEAR O LIVRO, ESSE NOSSO

INSEPAR VEL PARCEIRO.PELO CONVIVO E PELO PRAZER DE LER E COMER COM

MAIS SENTIDO, ESPERAMOS POR SI.

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CONDIÇÕES DE INSCRIÇÃO

Data limite de inscrição: até 6 dias antes da datado jantar.• Modalidade A: por Correio, devendo transmitir/

preencher os dados abaixo indicados no boletimda inscrição e anexar cheque para pagamento.

• Modalidade B: por telefone (229 399 410, a/cSandrine Coutinho), email ([email protected])ou fax (229 399 427), devendo transmitir osdados indicados no boletim de inscrição eefectuar o pagamento por transferência bancária.

Aceitação de inscrições:• A inscrição é válida quando acompanhada pelo

meio de pagamento respectivo;• As inscrições serão aceites por ordem de chegada

e até à ocupação dos lugares disponíveis;• No caso dos lugares disponíveis estarem

totalmente ocupados, tal será comunicado aointeressado pela Vinitur.

Cancelamento de inscrições:• A Vinitur devolverá 100% do valor da inscrição

para os cancelamentos efectuados até 6 dias antesdo jantar.

• Não será devolvido o valor de inscrição paracancelamentos efectuados a partir do 6º diaanterior ao jantar.

BOLETIM DE INSCRIÇÃO (destacar/fotocopiar e enviar)

Nota: Este programa está sujeito a eventuaisalterações por motivo de força maior, pelo que, paraactualização da informação, sugerimos contacto comVinitur, a/C Sandrine Coutinho, tel. 229 399 419,ou consulta a www.vinitur.com/agenda. A cadaparticipante será oferecido um livro do autor.

23 OUT 2003, 20H00, NO PORTO

Jantar envolto nas cores da seda da penínsulaindostânica, Karachi, hoje: o amor é audaz emove montanhas. Uzma Khan, escritorapaquistanesa, é uma das grandes revelaçõesliterárias internacionais de 2003. Convidadoda Ambar: Uzma Khan, autora do livro“Transgressão”.

20 NOV 2003, 20H00, NO PORTO

Em “Mortal e Rosa”, uma terna elegia dainfância, Francisco Umbral evoca a mortedo seu filho. Um longo monólogo em que umpesadelo humano se converte numa forçalibertadora. Nas palavras de um crítico, o livroé “uma cantata de beleza e originalidademáxima”. Para o autor “O filho é umrelâmpago de futuro que nos deslumbra”.Francisco Umbral, Prémio Cervantes 2000, éhoje um dos mais lidos autores espanhóis daactualidade. Convidado da Campo das Letras:Francisco Umbral, autor do livro “Mortal eRosa”.

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A Serra do Marão afirma-se pelos factores culturaisem que o isolamento e as condições geográficas mar-caram profundamente as populações. Distribuídapelo território dos distritos do Porto e Vila Real, faz aseparação entre o Douro Litoral e Trás-os-Montes oque acabou por constituir, durante muitos anos, umabarreira difícil de transpor. Aliás, uma dificuldadeque muito condicionou a mobilidade dos que mora-vam «para lá do Marão».Actualmente, a mobilidade está facilitada, uma vezque é rasgada, de poente para nascente, pelo IP 4que, assim, a aproxima do litoral português e deEspanha. É aí que começamos a nossa viagem e querfaça muito frio, ou muito calor, a verdade é que éimpossível conseguir dizer qual a melhor altura doano para a visitar. Enquanto que no início da Prima-vera predominam a diversidade das cores, no Inver-no a neve e o nevoeiro que se faz sentir mais no alto,atribuem-lhe um ar misterioso.A serra é a identidade geomorfológica, onde se des-taca o Parque Natural do Alvão e o Douro Patrimó-nio da Humanidade, com o seu produto mais co-nhecido: o Vinho do Porto. Tem uma oferta variada,mas o Douro, a visitar em qualquer meio, é uma opor-tunidade para conhecer o envolvimento natural e apaisagem que o Homem duriense, ao longo dos sé-culos, construiu no respeito da natureza para tirardela o melhor partido. O «acidente» orográfico mais

PELAS CURVAS DOMARÃO…

REGIÃO MONTANHOSA, O NORDESTE DO PAÍS

É UM ALTERNATIVA TURÍSTICA DE GRANDE ATRAC-TIVO, PELA SUA PAISAGEM, INCRUSTADA ENTRE

OS RIOS DOURO E MINHO, E PELA SUA RIQUE-ZA MONUMENTAL E GASTRONÓMICA. A SERRA

DO MARÃO ESTABELECE LIGAÇÃO À REGIÃO DA

COSTA VERDE E À CIDADE DO PORTO, E POR

ENTRE OS SEUS CAMINHOS VAMOS ENCONTRAN-DO POVOAÇÕES QUE NOS CONTAM MUITAS HIS-TÓRIAS. ACEITE MAIS UM CONVITE DA «NOR-TEMÉDICO» E VENHA CONHECER ESTA TERRA PRE-ENCHIDA POR VARANDAS ROCHOSAS, ABEIRA-DAS SOBRE VALES E PARQUES DE VARIADAS CO-RES, POR ENTRE OS QUAIS CURSOS DE ÁGUA

LADEIAM SECULARES CASARIOS GRANÍTICOS.

“A vida é feita de nadas:de grandes serras paradasà espera de movimento”Miguel Torga

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imponente nesta área é disso prova inequívoca.A Região de Turismo da Serra do Marão abrange umterritório muito vasto e diversificado e dentro das suasfronteiras podem encontrar-se paisagens próprias doMinho, do Douro e de Trás-os-Montes. As paisagensminhotas, que correspondem às chamadas Terras deBasto, são verdes e alegres, com excepção no topodas montanhas, onde parece aflorar a rudeza de Trás-os-Montes. Um bom cliché para definir estas ima-gens, como foi utilizado por alguns dos que a visita-ram, seria “uma videira enforcada, enrolada no tron-co de um choupo, na borda de um milharal com aserra por fundo”. Já as paisagens transmontanas ca-racterizam-se pela sua grandeza e por uma certa so-lenidade austera. São muitas vezes pedregosas, comoacontece na Serra do Alvão, em que inúmeros blocosde granito parecem ter sido colocados a capricho.

1419 METROS DE ALTITUDE

Para chegarmos ao pico da Serra do Marão temos depercorrer exactamente 1419 metros de altitude. É aíque encontramos a Capela de Nossa Senhora da Ser-ra, onde se faz uma das grandes romarias da região.Mas os caminhos não são fáceis. Temos de passar poruma formação montanhosa de origem xistosa egranítica, com muitas formas abruptas. E há muitopor onde andar, uma vez que estamos a falar de umaárea com aproximadamente vinte mil hectares, dosquais 75 por cento constitui terreno baldio.Mas passear pela serra, é também conhecer algumadaquela que é a identidade portuguesa, pois integran-do a cadeia montanhosa que se prolonga pelo Alvão,o Marão «espalha-se» pelos concelhos de Amarante,Baião, Vila Real, Mesão Frio, Santa Marta dePenaguião e Régua.Apesar das tentativas em preservar esta beleza natu-ral, a verdade é que já nada é o que era. O aforismopopular costuma dizer que “bem alto é o Marão enão dá palha nem grão”, mas, no entanto, a serra eraum local de enorme riqueza florestal, que acabou porser, em boa parte, dizimada por um violento incên-dio ocorrido em Setembro de 1985. Nessa altura,arderam três mil hectares de floresta e mato, numa

área que é equivalente a 300 campos de futebol…Mas o que o Homem destrói, o Homem tenta recons-truir e, por isso, em 1988 e 1989, o Marão começoua renascer, através do Plano de Acção Florestal quefoi posto em prática e no qual foram gastos de 355mil contos. Com a conclusão do último dos projec-tos, em 1993, a Serra do Marão recebeu 4,5 milhõesde árvores novas, segundo concepções inovadoras edepois de serem ponderados factores como a nature-za dos solos, a altitude ou a penetração dos ventos. Amaioria delas são folhosas como o carvalho e ocastanheiro, embora as resinosas, casos dos pinhei-ros bravo ou larício (conforme a altitude) tenhamtambém uma presença significativa. Mesmo assim, eapesar deste esforço, é inegável que até que as árvo-res plantadas atinjam a idade adulta vão passar-semuitos e muitos anos. Só para se ter uma ideia, bastadizer que o corte final, no que se refere a pinhal, estáprevisto para o ano de 2039 e o de soutos para2139…

POPULAÇÕES SUBSISTEM

Como seria de esperar, nos terrenos mais altos doMarão a fixação da população não conseguiu vingar.No entanto, nos seus sopés cresceram muitas aldei-as, cujos habitantes procuravam, “nas alturas” e numaagricultura de minifúndio, a sua subsistência. Sãocaracterísticas, aliás, que têm perdurado ao longo dostempos, quer por razões de sobrevivência, quer pororgulho e identidade.Por toda esta realidade herdada, que teima em man-ter-se ao longo dos séculos, a Serra do Marão temmuito mais de rural do que de citadino e, por isso, éum local óptimo para passar um fim-de-semana tran-quilo, longe da azáfama quotidiana e do stress dasgrandes cidades. Aliás, quem por lá passa dificilmenteesquecerá o seu perfil de meseta, pois para além dodescanso, é possível fazer várias visitas que lhe vãopermitir assistir a poentes magníficos (dependendoda nebulosidade e da época do ano).Nas povoações que vamos poder encontrar, ainda quede um forma escassa e concentradas, predominamos solares, muitas vezes rodeados de sebes de buxoque os defendem de olhares alheios. Mas a espécievegetal que marca os seus jardins é outra, mais deli-cada: a japoneira ou a camélia, uma árvore vistosa edelicada que se desentranha em flores e perfume noseu tempo. A serra proporcionava ainda pasto a imen-sos rebanhos e dos baldios traziam as populaçõesmadeiras e lenhas. Uma boa imagem para recordaroutras épocas…

SINAIS DOS TEMPOS

E quando falamos em identidade, temos necessaria-mente que recordar as raízes desta região que mostrasinais de ter sido habitada desde a pré-história. Nelapodemos encontrar vestígios do Período Neolítico,através de menhires e alinhamentos, sobretudo antasdo tipo mamoa, bem como de inscrições, pinturasem grutas e outros sinais da presença humana.

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ONDE COMER:

Alijó: Restaurante Rabelo (tel: 254732456).Amarante: Restaurante Amaranto (tel: 255422006).Baião: Restaurante Almocreve (tel: 255437068)Cabeceiras de Basto: Restuarante O Caneiro(tel: 253661602)Celorico de Basto: Restaurante Quinta do Forno(tel: 255322255)Marco de Canaveses: Restaurante D. Carlos(tel: 255536032)Mondim de Basto: Restaurante Casa do Lago(tel: 255382269)Murça: Restaurante Borges (tel: 259511302)Sabrosa: Restaurante Papa Léguas (tel: 259930123)Vila Real: Adega regional Passos Perdidos (tel:259347322); Restaurante Amaral (tel: 259331251);Museu dos Presuntos (tel: 259326017); Quinta do Paço(tel: 259340790).

ONDE FICAR:

Casa das Cardonas (tel: 259331487)Casa da Cruz (tel: 259979422)Casa de Canêdo (tel: 255361293)Casa de S. Pedro (tel: 254882114)Quinta de Carcavelos (tel: 255734426)Casa da Pedra (tel: 255423534)

A cultura castreja, de tempos pré-romanos, está tambémdocumentada, em numerosos castros e através das povoa-ções geralmente fortificadas que foram, nessa altura, cons-truídas no cimo dos montes, uma vez que oferecia boascondições de defesa natural. Provavelmente dessa épocasão certas esculturas zoomórficas, representando vagamen-te berrões, isto é, porcos inteiros, possivelmente parte deum remoto culto de fertilidade. O exemplar mais conhe-cido é a célebre Porca de Murça, que constituiu motivo deorgulho para os naturais e um local de passagem quaseobrigatório.Também dessa época é outra escultura existente em Cabe-ceiras de Basto, representando um guerreiro, a que o povochama «O Basto» e acredita representar o fundador davila. Muito dos castros foram romanizados no século I danossa era, e esse é um dos períodos mais significativos dahistória da região, pelo que trouxe de progresso e de apa-ziguamento das tribos nativas.Os romanos vieram para ficar. Os motivos eram diversos evariados, e o seu instinto não lhes deixava escapar as vir-tudes desta terra, fosse o ouro abundante, as águas ter-mais ou os esplêndidos vinhos. E, por isso, não é de estra-nhar que da sua presença tenham ficado imensos teste-munhos. Desde pontes e calçadas, passando pelas minasde ouro de Jales e Três Minas, e, sobretudo, um monu-mental e enigmático santuário em Panóias. A visita ani-ma-se…

DIETAS CAMPESINAS…

Mas nem só a sua visão vai ficar regalada. O estômagotambém lhe vai agradecer uma visita, ou não fosse agastronomia da Região de Turismo da Serra do Marão umadas suas mais tentadores propostas. Mas cuidado! Não con-vém abusar… É que a sua origem nas dietas campesinasrevela-se no facto de ser uma comida substancial, própriade quem lidava na lavoura, enquanto, através da ciênciados tempos, começaram também a ser introduzidas as er-vas de cheiros e sabores intensos. Por isso, espere umarefeição suculenta e apurada.Os pratos mais tradicionais baseiam-se na carne. Na zonaocidental da região de Vila Real a atenção está voltada paraa vitela maronesa, uma raça autóctone com imensas qua-lidades de sabor e textura. As Terras de Basto servem umprato bem rural: os milhos, que podem ser “pobres”, istoé, sem carne, mas são quase sempre ricos de carne de por-co, aves ou vitela. Na parte oriental da região surgem oscozidos à portuguesa, de sabor especial devido às carnes ehortaliças utilizadas na confecção.No peixe, a oferta também é abrangente e onde há riostruteiros, as trutas marcam posição na gastronomia local,bem como o sável e a lampreia. Um dos pontos fortes dagastronomia de Marco de Canaveses, por exemplo, é jus-tamente a lampreia, pescada no Douro e no Tâmega. Etambém o bacalhau conhece nestas terras utilizações cria-tivas e deliciosas.

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Não podemos também esquecer os caldos sempremuito consubstanciais, enriquecidos com todo o tipode hortaliças, batata, feijão, massa, etc. Alguns delesfogem a este padrão e são verdadeiramente típicos,como o caldo de castanhas de Terras de Basto. Assimcomo não devemos esquecer os enchidos – alheiras,mouras, linguiças, salpicões – e ainda as bolas decarne.Neste panorama geral de comidas fortes surge, porvezes, as doçarias. Também aqui a variedade é enor-me… E deliciosa. A origem conventual de muitasdelas é garantia de sabor e genuinidade. O leite cre-me, o arroz doce e o pão-de-ló são propostas comunsem muitos lugares, que todavia superam os que seservem em outras regiões… O segredo é a alma donegócio. Há outras possibilidades mais agarradas àregião como o toucinho-do-céu e as queijadas deMurça, as cavacas de Sabrosa, os doces de ovos deAmarante, todos com nomes sugestivos (lérias, bri-sas, foguetes, papos-de-anjo…), os quinzinhos e opudim de amêndoas de Alijó, o doce de Teixeira e odoce da prima de Baião, as falachas de Mesão Frio, omanjar farto de Santa Marta de Penaguião, entremuitos outros.Quanto a vinhos, nesta região de condições ímparespara vitivinicultura, encontra-se um pouco de tudo,a começar nos vinhos de mesa, verdes e maduros, atévinhos generosos, moscatéis, aperitivos e até espu-mantes.

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves ¥ Fotografia António Pinto

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Doc. 9X JORNADA MÉDICA LUSO-CUBANA DE MEDICINA

FAMILIARLA PREVENCIÓN CARDIOCEREBROVASCULAR Y LA

ATENCIÓN PRIMÁRIA

Presidentes da Comissão OrganizadoraProf. Dr. Roberto Alvarez Sintes, Prof. Dr. Lorenzo Llerena Rojas

Comissão Organizadora CubanaProf. Dr. Alfredo Dueñas Herrera, Dra. Alina Pérez Martínez, Dra.Ana Margarita Toledo, Prof. Dra. Aurora Barriuso Andino, Prof. Dr.Cosme Ordoñez Carceller, Prof. Dra. Cristina Martínez, Dra. GiselleDebs Pérez, Prof. Dr. José E. Fernández Brito, Dr. Luis A. CéspedesLantigua, Prof. Dra. Milvia Ramírez, Dra. Miriam de los Reyes Ur.,Prof. Dr. Roberto Alvarez Sintes,Dra. Silvia Elena Turcios Tristá

Presidente da Comissão Científica PortuguesaDra. Aurora Aroso

Comissão Científica PortuguesaDra. Aurora Aroso, Dra. Graça Almeida, Dr. Pedro Marques da Silva,Dr. Pedro de Moura Reis, Dr. Raimundo Martins

Havana, 11, 12 e 13 de Junho de 2003

Ex.mo. SenhorPresidente da Ordem dos MédicosProf. Doutor J. Germano de Sousa

Porto, 21 de Janeiro de 2003

CARTA RESPOSTA AO PRESIDENTE DA ORDEM SOBRE O PARE-CER DO CNAF E DO COLÉGIO DE MGF SOBRE O PROGRAMACIENTÍFICO DA X JORNADA MÉDICA LUSO-CUBANA DE MEDI-CINA FAMILIAR

Ex.mo. Sr. Presidente da Ordem dos Médicos

Os membros da Comissão Científica Portuguesa, representadospela signatária, das Jornadas Internacionais de Medicina Familiarsobre Prevenção Cardiocerebrovascular nos Cuidados Primários,a realizar em Havana, em Junho de 2003, exprimem, antes de mais,um protesto pelo não cumprimento por parte do Conselho Naci-onal para a Avaliação da Formação (CNAF), do prazo máximo esti-pulado pela Ordem dos Médicos de 60 dias para a emissão deparecer sobre concessão de Patrocínio Científico, e vêm por ou-tro lado, e por esta forma, sem prejuízo de uma reunião que orasolicitamos a V. Ex.a., apresentar os esclarecimentos que se lhesafigura impor face ao parecer emitido pelo CNAF e pela Direcçãodo Colégio de Medicina Geral e Familiar (MGF).

Com efeito, nesse parecer do CNAF e da Direcção do Colégio deMGF refere-se que "não se justifica a deslocação (dos médicos àsJornadas) principalmente porque a experiência cubana é baseadaem policlínicos e enfermeiras, como se verifica pela citada IX ses-são, ponto n.º 3" (sic).

1. Nestas jornadas não participam médicos policlínicos cubanosquer como oradores, quer como participantes, mas sim médicosespecialistas em Medicina Geral e Familiar, muitos dos quais dereputado mérito e renome no contexto Ibero-americano, confor-me está expresso na listagem de oradores da Comissão Organiza-dora Cubana que o Colégio de MGF e o CNAF tiveram acesso paraaquela apreciação.

2. Sucede que em Cuba não existe a categoria profissional de "mé-dico policlínico", ao contrário do que existiu em Portugal nos anos70 e 80.

3. O referido parecer reconhecendo justamente a "pertinência dosTemas" (sic) do programa científico das jornadas, apenas questio-na entre as 13 sessões científicas, o ponto 3 da 9ª sessão. Esta 9ªsessão reveste-se de um carácter prático, destinando-se a propor-cionar uma visita de trabalho aos principais Centros de MedicinaFamiliar em Havana, para, no terreno, se poder dar a conhecer aactuação na prevenção em Medicina Familiar e no intercâmbioentre os serviços de saúde.

4. O parecer não questionando a 9ª sessão, mas questio-nando apenas o seu ponto 3 intitulado "El Policlínico y elConsultorio del Médico y la Enfermera de la Familia" extraiuda leitura, deste título, a seguinte interpretação: "a experi-ência cubana é baseada em policlínicos e enfermeiras" (sic).

5. Ora, consideramos que esta última citação contida noparecer, resulta de um equívoco na interpretação e na tra-dução do articulado que constitui o ponto 3.

6. Com efeito aqueles três conceitos "El Policlínico", "elConsultorio del Médico", e "la Enfermera de la Familia", têmcomo significado:

a. "El Policlínico" - Significa Centro de cuidados primáriosde saúde, a que pertencem os consultórios dos médicos defamília. Cumpre funções de medicina ambulatória e é a suaunidade básica de ambulatório. Presta serviços a uma de-terminada população residente numa extensão territorialdefinida. Pode realizar actividades de investigação edocência.

b. "El Consultório" – significa consultório ou gabinete indi-vidual do médico de família, trabalhando, neste caso, isola-do de outros profissionais de saúde e transmitindo essa ex-periência, que na realidade sucede em alguns centros demedicina familiar menos equipados ou menos providos derecursos humanos.

c. "La enfermera de familia" – significa o trabalho da enfer-magem nos cuidados primários, nos centros de medicinafamiliar testemunhando a interdisciplinaridade imprescin-dível entre os médicos de família e a enfermagem especi-alizada na promoção dos cuidados de saúde familiar.

7. Perante os esclarecimentos referidos solicita-se a revisãodo parecer no que se refere às razões para "não justificar adeslocação" (sic) de médicos portugueses, baseadas no queconsideramos ser um equívoco ou um mal entendido daCNAF e da Direcção do Colégio de MGF, na interpretaçãoou tradução e um desconhecimento da terminologia cuba-na empregue no articulado do ponto 3 da 9ª sessão científi-ca.

8. Factor menos importante, neste contexto, face ao que atrásse refere, mas ainda assim com relevo, é o parecer criticarapenas um subtema de uma sessão, entre as 13 sessões ci-entíficas, sendo que todos os outros temas e sessões sãonão só inquestionados naquele parecer, como são aindalouvados ao terem sido considerados como "temas perti-nentes" (sic)

9. Reconhecidos que estão nesse parecer:

– A idoneidade da Comissão Científica

– A competência dos prelectores

– A pertinência de todos os temas, à excepção do ponto 3da 9ª sessão

acreditamos pela leitura do parecer, o qual na sua quasetotalidade é positivo no que respeita à idoneidade científi-ca e à pertinência do evento, que com o presente esclareci-mento estarão reunidas todas as condições para que o Con-selho Nacional Executivo e o Presidente da Ordem dosMédicos reconsiderem dando o solicitado Patrocínio Cien-tífico.

Com os meus melhores cumprimentos,

Aurora Aroso

Presidente da Comissão Científica Portuguesa

NOTA DO EDITOR: LAMENTANDO A POLÉMICA PÚBLICAENTRE MÉDICOS GERADA POR ESTA QUESTÃO, ENTENDE-SE COMO ÚTIL REAFIRMAR QUE O CONSELHO REGIONALDO NORTE CONSIDERA QUE O LOCAL DA REALIZAÇÃODE REUNIÕES MÉDICAS NÃO É CRITÉRIO AFERIDOR DARESPECTIVA QUALIDADE CIENTÍFICA.

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Doc. 10PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO ENTRE A SRNOM E O NÚCLEO

DE ESTUDANTES DE MEDICINA DA ESCOLA DE CIÊNCIAS DASAÚDE DA UNIVERSIDADE DO MINHO

Primeiro Outorgante – Ordem dos Médicos, pessoa colectiva n.º 500984492– Secção Regional do Norte, com sede na Rua Delfim Maia, n.º 405, nacidade do Porto, representada pelo seu presidente, Dr. Miguel Jorge San-tos Oliveira Leão e Secção Distrital de Braga, com sede na Rua do Raio,181, 1º Piso, na Cidade Braga, representada pelo seu presidente, Dr. Ânge-lo Acílio Moreira da Silva Azenha.

Segundo Outorgante – Núcleo de Estudantes de Medicina da Escola deSaúde da Universidade do Minho, pessoa colectiva n.º 506192202, comsede no Campus de Gualtar – Complexo Pedagógico II – Escola de Ciênci-as da Saúde da Universidade do Minho, na cidade de Braga, adiante de-signado por NEMUM, representado por Pedro Ricardo Luís Morgado, naqualidade de presidente da sua direcção.

Entre os outorgantes acima designados é celebrado o seguinte protocolo,que ambos aceitam e se comprometem a cumprir nos termos dos artigosseguintes:

Artigo 1º – A Ordem dos Médicos – Secção Regional do Norte comprome-te-se a distribuir regularmente a revista "Nortemédico" a todos os alunosdo curso de Medicina da Escola de Ciências da Saúde da Universidade doMinho, mediante lista fornecida e actualizada anualmente pelo NEMUM.

Artigo 2º – A Ordem dos Médicos – Secção Distrital de Braga disponibilizaráas instalações da sua sede aos alunos do curso de Medicina da Escola deCiências da Saúde da Universidade do Minho, para estudo e consulta, nohorário de funcionamento regular, mediante apresentação do cartão deestudante.

Artigo 3° – A Ordem dos Médicos disponibilizará as áreas de auditório edemais salas de reuniões aos alunos do curso de Medicina da Escola deCiências da Saúde da Universidade do Minho para actividades de fim com-patível com o predestinado às áreas referidas, sempre que não exista qual-quer impedimento e de acordo com marcação prévia.

Artigo 4º – A Ordem dos Médicos disponibilizará as suas instalações des-portivas aos alunos do curso de Medicina da Escola de Ciências da Saúdeda Universidade do Minho, que se submeterão ao regulamento que ori-ente o funcionamento das infra - estruturas em apreço.

Artigo 5° – Os alunos do curso de Medicina da Escola de Ciências da Saú-de da Universidade do Minho ficam com autorização para frequentar asinstalações hoteleiras ( Restaurante e Casa do Médico) da Secção Regio-nal do Norte da Ordem dos Médicos, sujeitos ao regulamento que orien-te o funcionamento das infra-estruturas em apreço.

Artigo 6º – O NEMUM disponibilizará os seus meios para promover asactividades da Ordem dos Médicos junto dos estudantes de Medicina daEscola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho.

Artigo 7° – O NEMUM compromete-se a apreciar as posições da Ordemdos Médicos com o objectivo de apoiar a sua concretização.

Artigo 8° – A Ordem dos Médicos compromete-se a apreciar as posiçõesda NEMUM com o objectivo de apoiar a sua concretização.

Artigo 9° – A Ordem dos Médicos dispõe-se a patrocinar actividades denatureza científica, cultural e pedagógica realizadas pelo NEMUM.

Artigo 10° – No âmbito do presente protocolo, os outorgantes compro-metem-se a:a) – Formar um grupo de trabalho conjunto no âmbito da formação médi-ca.b) – Desenvolver todas as acções necessárias para o estreitamento dasrelações que sejam mutuamente vantajosas.c) – Estudar e concretizar vias de comunicação privilegiadas.d) – Divulgar, por todas as formas ao seu alcance, o presente protocolo.e) – Estudar formas de aprofundar o âmbito de cooperação e a actualizar opresente protocolo no prazo de três anos.

Braga, 19 de Dezembro de 2002

Doc. 11 (21/01/03)ESTUDO DE AVALIAÇÃO DO INEM PROMOVIDO EM

COLABORAÇÃO COM A DECO– POSIÇÃO DO CNE DA ORDEM DOS MÉDICOS –

O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos,reunido em Lisboa analisou as informações disponíveis so-bre a auditoria financiada pela Comunidade Europeia e rea-lizada com a colaboração da DECO sobre o INEM (InstitutoNacional de Emergência Médica).

A Ordem dos Médicos não pode deixar de lamentar os in-faustos acontecimentos ocorridos mas tem como obrigaçãoalertar a opinião pública para um desvio da interpretaçãoque parece estar a processar-se.

Assim é claro para esta Ordem que a auditoria realizada, atra-vés da emissão de "falsos" pedidos de socorro, é um méto-do comum, e adequado que meramente mimetiza situaçõespossíveis de ocorrer no dia a dia do serviço de emergênciae com carácter real. Acresce que tal metodologia foi aprova-da pelas várias entidades envolvidas nomeadamente estru-turas do Ministério da Saúde.

Quando perante a emissão de um "falso" pedido de socor-ro, integrado num estudo programado, os serviçosclaudicam e doentes morrem por falta de assistência a cul-pa não é do estudo mas do serviço que assim expõe de for-ma tão dramática as suas insuficiências.

O INEM necessita de dotação de meios humanos e financei-ros e prioridade em temos de saúde, não necessita que es-condam as suas insuficiências culpabilizando os avaliadores.

A Ordem dos Médicos lamenta que o Presidente indigitadopara o mencionado Instituto, ainda antes mesmo da toma-da de posse, produza afirmações de desresponsabilização ede tentativa de mistificação atribuindo culpas a quem, pelocontrário, mais uma vez presta um bom serviço aos portu-gueses – A DECO.

O Conselho Nacional Executivo

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XXIII CONGRESSO NACIONAL DE GASTRENTE-ROLOGIAAlf ndega do Porto, 4 a 7 de Junho de 2003

4º CONGRESSO NACIONAL DA APIH - ASSOCIA-ÇÃO PORTUGUESA DE IMUNOHEMOTERAPIACoimbra, Audit rio dos Hospitais da Universidade de Coimbra.13 a 15 de Novembro de 2003

Secretariado: Skyros-Congressos Lda.Av. Antunes Guimar es, 5544100-074 PortoTel. 22 6165450 ¥ Fax 22 6189539e-mail: [email protected]

CONGRESSO LATINOAMERICANO DE GERIATRIA EGERONTOLOGIA«REPTO À INDEPENDÊNCIA DO IDOSO»Santiago do Chile, Hotel Crown Plaza, 3 a 6 de Setembro de 2003Presidente do Congresso: Prof. Doutor Pedro Paulo Mar n (Chile)Organiza o: Sociedade de Geriatria e Gerontologia do Chile ¥ Comi-t Latinoamericano de Geriatria - COMLAT (Presidente: Dr. OsvaldoPrieto - Cuba) ¥ Associa o Mundial de Gerontologia - IAG (Presiden-te: Dra. Gl ria Gutman - Canad ; Presidente eleito: Dr. Norton Sayeg -Brasil)

Programa Cient fico (destaques):

¥ Curso de epidemiologia cl nica (3 a 6 Set / 8 - 9h)¥ Nutri o cardiovascular OPS-OMS (4 Set / 9 - 11h)¥ Dermatologia, Sexualidade, Dem ncia (5 Set / 9 - 11h)¥ Artrose, Antioxidantes, Perturba es do Sono (6 Set / 9 - 11h)¥ Osteoporose, Quedas, Educa o do Idoso (4 Set / 11.30 - 13h)¥ Dem ncia - Tratamento, Sa de P blica, Hipertens o (5 Set / 11.30 - 13h)¥ Geriatria baseada na evid ncia (4 Set / 15.00 - 16.30h)¥ tica, Infec es, Educa o M dica (5 Set / 15.00 - 16.30h)¥ Diabetes, Depress o, Apoio Domicili rio (4 Set / 17.00 - 20.00h)¥ Servi os Comunit rios, Climat rio, Antiinflamat rios (5 Set / 17.00 -

20.00h)Simp sios sat lites, confer ncias plen rias, reuni es de sociedades.

Para mais informa es:Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia ¥ Av. Jo o XXI, 64 -3… Dt…, 1000-304 LisboaTel. 21 7951153 ¥ Fax 21 7951118.

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11 DE ABRIL DE 2003, 21H30,RECITAL DE MÚSICA

... constituído por duas partes distintas. Na primeira,apresentar-se-á um Duo de Flauta Transversa e Guitar-ra, constituído por João Luís de Freitas e RicardoAbreu; serão interpretadas as obras: Sonata em lá menor,HWV 362 de G. F. Haendel (1685 - 1759), Gymnopédiesde Erik Satie (1866 - 1925), Entr’e Acte de Jacques Ibert(1890 - 1962), Pavane pour une infante défunte de MauriceRavel (1875 -1937), História do Tango de Astor Piazzolla(1921 - 1992), Pé de moleque (samba choro) e Paçoca (cho-ro) de Celso Machado (1953 - ... ).Na segunda metade do recital apresentar-se-ão JoséAntónio Miranda (Canto) e Raquel Duarte (Piano).Interpretarão conjuntamente as seguintes obras : de JeanPaul Martini - Plaisir d’amour, de Gabriel Fauré ––Seulee Au bord de l’eau, de Claude Debussy - Claire de lune,Wolfgang Amadeus Mozart - Non píu andrai farfalloneamoroso, de Giuseppe Verdi - Di Provenza il mar il sol,de Astor Piazzola - Chiquilín de Bachín.

TEMPORAD A MUSICAL DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTEDA ORDEM DOS MÉDICOS

Concertos MédicosPorque mais do que técnicos capazes, os mé-dicos são também capazes de outras Artes.

A Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos apre-senta-lhe um ciclo de concertos cuja característica comum éterem como principais protagonistas médicos das mais vari-adas formações, escolas e proveniências.Trata-se de uma tentativa de enraizar a Ordem dos Médi-cos como mais um centro dinamizador de acções culturaisna Cidade do Porto e Região Norte.Espelha a vontade da SRNOM de afirmar a capacidademultifacetada do Médico enquanto ser humano atento,abrangente e plural.Aproveita-se o ensejo para encorajar os colegas a quem estetipo de iniciativas da SRNOM não chegou ainda com umaproposta de intervenção nestes Concertos, para participa-rem no ciclo musical que decorrerá entre Outubro e Dezem-bro de 2003 e de se envolveram na programação já emestruturação para o ano de 2004.

José António Miranda, Barítono, natural de Macau, é licen-ciado em Medicina pela Universidade do Porto e AssistenteEventual de Cirurgia Cardio-Torácica no Centro Hospitalarde Vila Nova de Gaia. Frequentou o curso complementar decanto, na classe do Professor Mário Mateus, no Conservató-rio Regional de Gaia. Iniciou sua actividade musical comocoralista no Coro da Faculdade de Psicologia e Ciências deEducação da Universidade do Porto, dirigido pelo Prof. Pau-lo Oliveira e posteriormente integrou o Coro da Sé Catedraldo Porto, dirigido pelo Cónego Ferreira dos Santos, ondeparticipou em inúmeros concertos corais sinfónicos ou acapella em Portugal, executando fundamentalmente reper-tório polifónico, barroco e clássico. Classificou-se em 2º lu-gar, no I Concurso de Canto da Fundação do ConservatórioRegional de Gaia Integra presentemente o Coro da Fundaçãodo Conservatório Regional de Gaia. Como solista participouem diversos concertos e audições, nomeadamente fez de baixosolista na Missa da Coroação de Mozart. Em Ópera, partici-pou no Maestro di Musica de Pergolesi. Pertenceu ainda aocorpo de actores durante 2 temporadas no Teatro Universi-tário do Porto.

Raquel Duarte, nascida no Porto. Licenciada em Medicina,É Assistente Hospitalar de Pneumologia no Centro Hospita-lar de Vila Nova de Gaia. Estudou piano com a Prof. TeresaMatos no Curso de Música Silva Monteiro e posteriormentecom a Prof. Teresa Xavier no Conservatório de Música doPorto que frequentou até ao antigo 9º ano. Interrompeu aactividade musical de 1990 a 2000 por motivos profissionais

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e familiares. Reiniciou-a em sistema de curso livre com oProf. Vitali e posteriormente com a Prof. Glória Moreira noConservatório Regional de Vila Nova de Gaia. Tem participa-do em diversos espectáculos a solo, acompanhamento de re-citais e dança.

João Luís de Freitas, licenciou-se em Medicina no Institutode Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Portoe é médico especialista em Psiquiatria. Exerce as suas fun-ções como Assistente Hospitalar de Psiquiatria no HospitalMagalhães Lemos no Porto. Iniciou os seus estudos musicaisaos 12 anos, na Academia de Amadores de Música em Lis-boa, tendo concluído o 8º grau de Flauta transversal em 1990no Conservatório de Música do Porto. Estudou Flauta trans-versal com Carlos Franco, História da Música com Rui VieiraNery e António Vitorino de Almeida, Composição com F.Lopes-Graça, Fernando Lapa e Fernando Valente, e canto comRui Taveira.

Ricardo Abreu, ingressou no Curso de Guitarra do Conser-vatório de Música do Porto em 1987 sob orientação do pro-fessor Mário Carreira. Em 1995, ingressa na Escola Superiorde Música e Artes do Espectáculo do Porto, na classe do pro-fessor José Pina, tendo concluído a licenciatura em Guitarraem 2001. Realizou desde então vários cursos de aperfeiçoa-mento com importantes guitarristas como AlexandreRodrigues (Suíça), Leo Brower (Cuba), Roberto Aussel (Ar-gentina), Robert Brightmore (Inglaterra), Alberto Ponce (Fran-ça) e José Pina (Portugal).

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CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOSAGENDA

ACONTECEU...

REUNIÕES CIENTÍFICAS

9 Jan – Reunião da Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da Sida.10, 11, 17 e 18 Jan – 1.º Curso de Quimitoterapia Anti-Infecciosa.10, 11, 17, 18, 24, 25 e 31 Jan – Curso de Master in Business Strategy –Internacional Execut [Escuela de Negócios de Vigo].11 Jan –Reunião da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.14 Jan –Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvolvimen-to Cardiovascular da Universidade do Porto.31 Jan e 1 Fev – Reunião Anual da Academia Portuguesa de Medicina Oral.1, 7, 8, 14, 15, 21 e 22 Fev – Curso de Master in Business Strategy –Internacional Execut [Escuela de Negócios de Vigo].11 Fev – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvolvimen-to Cardiovascular da Universidade do Porto.15 Fev – Reunião do SMIC - Serviço Médico de Imagem Computadorizada.

11 Mar – Reunião Científica da Unidade de Investigação eDesenvolvimento Cardiovascular da Universidade do Por-to.14, 15, 21, 22, 28 e 29 Mar – Curso de Master in BusinessStrategy – Internacional Execut [Escuela de Negócios deVigo].15 e 16 Mar – Reunião do Grupo de Trabalho da DoençaInflamatória Intestinal da ESPEHAN.17 Mar – Reunião da Associação Portuguesa dos MédicosPatologistas – APOMEP.21 Mar – Conferência da Associação dos Funcionários deInvestigação Criminal da Polícia Judiciária.28 Mar – Reunião Inter-Hospitalar do Norte (Pediatria).

REUNIÕES ORGANIZADAS PELO CRNOM

15 Jan – Atribuição do Prémio Corino de Andrade.23 Jan – Reunião do Conselho Regional do Norte com osDelegados da Ordem dos Médicos nos Locais de Trabalho.

16 DE MAIO DE 2003, 21H30, O PERETA DEFRANZ LEHÁR , “A VIÚVA ALEGRE”,

... em versão cénica reduzida acompanhada de noneto de cor-das, um maestro, oito cantores, um narrador, coro com cercade vinte elementos, seis grisettes e um pianista. Esta operetaserá interpretada pela Ópera de Câmara do Real Theatro deQueluz sob a Direcção do Maestro Ivo Cruz.

20 DE JUNHO DE 2003, 21H30, CONCERT O PELOGRUPO ALMAS BOÉMIAS

Actualmente constituído por onze elementos, caracteriza-se porser um grupo eminentemente vocal que se faz acompanhar deinstrumentos acústicos (guitarra clássica, bandolim, flauta trans-versal, violoncelo, piano e percussão). Integram este grupo vá-rios médicos dos Hospitais de Famalicão, Guimarães, H. Geralde Santo António, H. de São João e Centro Hospitalar de Vila

Nova de Gaia, alunos de Medicina e de Letras e umMédico Veterinário. Os Almas Boémias iniciaram asua actividade musical em Maio de 1997. Inicial-mente constituído por alunos do Instituto de Ci-ências Biomédicas de Abel Salazar, rapidamentedecidiu abrir a porta a novos elementos, novos ins-trumentos, com a consequente expansão das suassonoridades. O grupo passou então a actuar emvários eventos como convidado, tocando em vári-as cidades portuguesas e deslocando-se a França eTailândia. Em Junho de 2001 organizou, na Casado Médico, um espectáculo intitulado “Alma doDouro”, dedicado à cidade do Porto, no qual parti-cipou o grupo de música latino-americana PortoLatino. Desde então tem trabalhado novos temas,originais e arranjos de outros músicos portugue-ses, tendo em vista a gravação do seu primeiro CD.Para este ano está a ser preparada uma série de con-certos em várias cidades do país, assim como umacolaboração na banda sonora de uma CurtaMetragem.O seu repertório é composto, na sua maioria, portemas originais, incluindo, ainda, arranjos de mú-sicas de artistas portugueses de renome, de que sãoexemplo Jorge Palma, Luís Represas, Vozes da Rá-dio, Rui Veloso e Trovante.

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AUDITÓRIO DO CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOS DASRNOM • ABRIL-JUNHO DE 2003

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CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOSAGENDA

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24, 25 e 31 Jan – Curso de Pós-Graduação “Gestão para Médicos”[Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].1, 7, 8, 14, 15, 21, 22 e 28 Fev – Curso de Pós-Graduação “Gestãopara Médicos” [Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].21 e 22 Fev – Curso de Formação para Orientadores dos Interna-tos Médicos.28 Fev – Reunião de Médicos Candidatos a Vagas Carenciadas.1, 7, 8, 14, 15, 21, 22, 28 e 29 Mar – Curso de Pós-Graduação “Ges-tão para Médicos” [Univ. Católica/Ordem dos Médicos, SRN].8 Mar – Seminário de Integração Profissional para Médicos Inter-nos Gerais.11 Mar – Reunião com Directores de Serviços Hospitalares.12 Mar – Reunião com Médicos Internos Complementares.14, 15, 28 e 29 Mar – Curso de Formação para Orientadores dosInternatos Médicos.26 Mar – Reunião/Debate com Estudantes de Medicina da Faculda-de de Medicina do Porto e do Instituto de Ciências Biomédicas AbelSalazar.4, 5, 11 e 12 Abr – Curso de Master in Business Strategy – Inter-nacional Execut [Escuela de Negócios de Vigo].8 Abr – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvol-vimento Cardiovascular da Universidade do Porto.10, 11 e 12 Abr – Curso de Actualização em Venereologia eDermatologia.11 Abr – Reunião da Associação Portuguesa de Deficientes.4, 5, 11 e 12 Abr – Curso de Formação para Orientadores dos In-ternatos Médicos.4, 5 e 12 Abr – Curso de Pós-Graduação em Gestão para Médicos.5 Abr – Debate sobre o Estatuto dos Hospitais Universitários.

ACTIVIDADES DE CULTURA E LAZER

8 Fev – Espaço T – Leilão de Beneficência.20, 21, 22 e 23 Fev – I Feira do Livro Médico da SRNOM.26 Fev – Almoço Comemorativo do Dia da Faculdade de Medicinada Universidade do Porto.

Exposições de Pintura

De 4 Nov 2002 a 7 Fev de 2003 – Exposição de Pintura de FilintoViana e Tapeçaria de Conceição Ruivo.De 7 Nov 2002 a 7 Jan 2003 – Exposição de Pintura de Rosa Amarale Florentina Resende.De 7 Jan 2003 a 7 Abr 2003 – Exposição de Pintura de Graça Marto.De 7 Janeiro 2003 a 7 Abr 2003 – Exposição de Pintura de JorgeRodrigues.

VAI ACONTECER...REUNIÕES CIENTÍFICAS

9, 10, 16, 17, 23, 24, 30 e 31 Mai – Curso de Master in BusinessStrategy – Internacional Execut [Escuela de Negócios de Vigo].

13 Mai – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvol-vimento Cardiovascular da Universidade do Porto.

15 e 16 Mai – 2ªs Jornadas de Medicina no Trabalho.

22, 23 e 24 Maio – III Jornadas de Prótese Dentária.

30 Mai – Reunião Inter-Hospitalar do Norte (Pediatria).

31 Mai – 5º Aniversário da Associação de Familiares e Amigos dosDoentes Anorécticos e Bulímicos.

6 e 7 Jun – I Congresso Internacional de Acupunctura Médica emPortugal – Sociedade Portuguesa de Acupunctura Médica.

10 Jun – Reunião Científica da Unidade de Investigação e Desenvol-vimento Cardiovascular da Universidade do Porto.

13 e 14 Jun – Curso de Master in Business Strategy – Internacio-nal Execut [Escuela de Negócios de Vigo].

26, 27 e 28 Jun – 2º Congresso Galaico-Duriense – AssociaçãoMedinterna.

27 de Junho – Reunião Inter-Hospitalar do Norte (Pediatria).

REUNIÕES CIENTÍFICAS

2, 3, 9, 10, 16, 17, 23, 24, 30 e 31 Mai – Curso de Pós-Graduação emGestão para Médicos.6, 7, 13, 14, 20, 21, 27 e 28 Jun – Curso de Pós-Graduação emGestão para Médicos.18 Jun – Dia do Médico e Atribuição do Prémio “Daniel Serrão” doano 2003.

ACTIVIDADES DE CULTURA E LAZER

9 Mai – Baile de Gala de Medicina da Queima das Fitas da Univer-sidade do Porto.12, 13, 14 e 15 Jun – I Exposição de Arte Médica da SRNOM.

CONCERTOS

16 Maio – Ópera de Câmara do Real Theatro de Queluz – ”A ViúvaAlegre” de Franz Lehár – Direcção Musical e Piano pelo Maestro Ar-mando Vidal. 20 de Junho – Concerto pelo Grupo Almas Boémias(ver destaque nas páginas 62 - 63).

Concertos

14 Fev– Ópera de Câmara do Real Theatro de Queluz – “La Bohème”,de Giacomo Puccini – Direcção Musical e Piano pelo Maestro Arman-do Vidal.28 Mar – Concerto "Casablanca – Os Êxitos da Broadway"- DirecçãoMusical e Piano pelo Maestro Armando Vidal.11 Abr – Recital pelo Dr. João Luís Freitas e José António Miranda.