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Agricultura e Desenvolvimento Rural Cultura e Educação Desenvolvimento Regional Transportes e Turismo DIRECçãO-GERAL DE POLíTICAS INTERNAS DEPARTAMENTO TEMÁTICO POLÍTICAS ESTRUTURAIS E DE COESÃO B Pescas

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Agricultura e Desenvolvimento Rural

Cultura e Educação

Pescas

Desenvolvimento Regional

Transportes e Turismo

Direcção-Geral De Políticas internas

Departamento temático políticas estruturais e De coesão

MissãoOs Departamentos Temáticos são unidades que prestam assessoriaespecializada às comissões, às delegações interparlamentares e a outros órgãosparlamentares.

PolíticasAgricultura e Desenvolvimento RuralCultura e EducaçãoPescasDesenvolvimento RegionalTransportes e Turismo

DocumentosVisite o sítio web do Parlamento Europeu: http://www.europarl.europa.eu /studies

B Departamento temático políticas estruturais e De coesão

Imagem cedIda por: iStock International Inc., photodisk, phovoir

B Direcção-Geral De Políticas internas

Transportes e Turismo

Desenvolvimento Regional

Pescas

Cultura e Educação

Agricultura e Desenvolvimento Rural

DIRECÇÃO-GERAL DAS POLÍTICAS INTERNAS DA UNIÃO

DEPARTAMENTO TEMÁTICO B: POLÍTICAS ESTRUTURAIS E DE COESÃO

PESCAS

A PEQUENA FROTA COSTEIRA NA REFORMA DA

POLÍTICA COMUM DAS PESCAS

NOTA

O presente documento foi solicitado pela Comissão das Pescas do Parlamento Europeu. AUTOR(ES) Jesús Iborra Martín Departamento Temático de Políticas Estruturais e de Coesão Parlamento Europeu E-mail: [email protected] ASSISTÊNCIA EDITORIAL Virginija Kelmelytė VERSÕES LINGUÍSTICAS Original: ES Traduções: DE, EN, FR, IT, PL, PT SOBRE O RESPONSÁVEL PELA EDIÇÃO Para contactar o Departamento Temático ou para assinar o seu boletim informativo mensal, escrever, por favor, para: [email protected] Documento concluído em maio de 2012. Bruxelas, © Parlamento Europeu, 2012. O presente estudo pode ser consultado na Internet: http://www.europarl.europa.eu/studies

DECLARAÇÃO DE EXONERAÇÃO DE RESPONSABILIDADE

As opiniões expressas no presente documento são da exclusiva responsabilidade dos seus autores e não refletem necessariamente a posição oficial do Parlamento Europeu. Reprodução e tradução autorizadas, exceto para fins comerciais, mediante referência da fonte, informação prévia do editor e envio de um exemplar a este último.

DIRECÇÃO-GERAL DAS POLÍTICAS INTERNAS DA UNIÃO

DEPARTAMENTO TEMÁTICO B: POLÍTICAS ESTRUTURAIS E DE COESÃO

PESCAS

A PEQUENA FROTA COSTEIRA NA REFORMA DA

POLÍTICA COMUM DAS PESCAS

NOTA

Conteúdo A presente nota analisa a definição utilizada para a pequena frota costeira nas propostas de reforma da PCP. Estuda o seu impacto nas diferentes regiões. Também são exploradas as possibilidades da aplicação de critérios adicionais. Por último, são descritos os conteúdos do regime específico proposto para a pequena frota costeira.

IP/B/PECH/NT/2012_08 09/05/2012 PE 474.545 PT

A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

ÍNDICE 1. SÍNTESE 9

2. INTRODUÇÃO 11

3. RAZÕES PARA A CRIAÇÃO DE UM REGIME ESPECÍFICO PARA A PEQUENA PESCA COSTEIRA 13

4. POSSÍVEIS CRITÉRIOS A UTILIZAR NA DEFINIÇÃO DE PEQUENA FROTA COSTEIRA 15

5. DEFINIÇÃO DE «PEQUENA FROTA COSTEIRA» 21

5.1 O comprimento 21

5.2 As artes de pesca 27

6. CONTEÚDO DA PROPOSTA PARA O REGIME ESPECÍFICO APLICÁVEL À «PEQUENA FROTA COSTEIRA» 37

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ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1: Possíveis indicadores para a definição da pequena frota costeira 17

Quadro 2: Dificuldades na utilização do quadro comunitário para a recolha, gestão e utilização dos dados para a definição da pequena pesca costeira 18

Quadro 3: Hipóteses de limiares de comprimentos para a pequena frota UE 27 22

Quadro 4: Percentagem do número de navios abaixo dos diferentes limiares de comprimento por Estado-Membro 23

Quadro 5: Percentagem da arqueação bruta abaixo dos diferentes limiares de comprimento por Estado-Membro 24

Quadro 6: Artes potencialmente excluídas da pequena frota 28

ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1: Distribuição do número de navios e da arqueação por segmentos de comprimento (2011 UE 27) 21

Gráfico 2: Distribuição da arqueação das frotas de menos de 12 metros e da pequena frota 30

Gráfico 3: Pequena pesca costeira: Impacto da definição proposta pela Comissão 31

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

ÍNDICE DE MAPAS Mapa 1: Distribuição geográfica (NUTS 3) da arqueação da frota de navios com comprimentos inferiores a 12 metros (GT) 25

Mapa 2: Proporção da arqueação da frota de navios de comprimentos inferiores a 12 metros na arqueação total da frota da região (%, NUTS 3) 26

Mapa 3: Percentagem da arqueação da frota de comprimentos inferiores a 12 metros excluída da categoria de pequena frota costeira devido à utilização de artes rebocadas (em %, NUTS 3) 33

Mapa 4: Número de navios de comprimento inferior a 12 metros que utilizam redes de alar para a praia excluídas da categoria da pequena frota por regiões 35

Mapa 5: Número de navios de comprimento inferior a 12 metros que utilizam redes de alar para a praia excluídas da categoria da pequena frota por regiões 36

ÍNDICE DAS FIGURAS Ilustração 1: Comparação de artes potencialmente excluídas da pequena frota 34

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

GLOSSÁRIO

CEE Comunidade Económica Europeia

CFR Community Fishing Fleet Register (Ficheiro da Frota de Pesca Comunitária)

CPT Concessões de Pesca Transferíveis

DCF Data Collection Framework, anteriormente DCR (Data Collection Regime)

FEMP Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e da Pesca

Flota <12 m Frota de navios de pesca de comprimento inferior a 12 metros

GT Arqueação Bruta (Gross Tonnage)

NUTS Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais Estatísticas

PCP Política Comum das Pescas

POP Programa de Orientação Plurianual

RCF Ficheiro da Frota de Pesca Comunitária

RES Regime de Entrada - Saída

SSF Pequena Pesca (Small-Scale Fisheries)

TAC Totais admissíveis de captura

TFUE Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia

TAB Tonelagem Bruta Registada

UE União Europeia

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

1. SÍNTESE Nos últimos cinco anos, as frotas de comprimentos inferiores a 12 metros têm revelado uma maior resistência às atuais circunstâncias adversas, registando perdas menores do que as demais frotas na maioria dos Estados-Membros. Este facto demonstra que elas possuem uma maior resistência às circunstâncias adversas por que o setor da pesca está a passar. A pequena frota costeira é constituída por empresas familiares, caracterizando-se por recorrer pouco, ou não recorrer, a mão-de-obra externa, pelo seu reduzido consumo de combustíveis, pela comercialização da produção em mercados de pequena dimensão e, amiúde, a nível local. De forma geral, os navios desta frota pescam a pouca distância do seu porto de base, utilizando de preferência artes estáticas. No contexto de reforma da PCP, a Comissão elaborou várias propostas respeitantes à pequena frota costeira, sem antes descrever o respetivo papel, nem definir os objetivos que a PCP deverá alcançar no que diz respeito a esta frota. Estas propostas são independentes e abrangem diversos aspetos, apresentando graus de coerência diferentes entre si. O regime específico previsto para a pequena pesca costeira na proposta da Comissão articula-se em torno de três medidas e de um papel que serve de parâmetro na distribuição do apoio financeiro do FEMP nas ações de gestão partilhada. As medidas consistem na possibilidade de a deixar à margem do regime das concessões de pesca transferíveis, na eventualidade de disponibilizar apoios à diversificação da atividade de pesca e na hipótese de fomentar a comercialização direta dos produtos da pesca por parte dos pescadores dedicados à pequena pesca costeira. A definição proposta pela Comissão combina dois elementos: comprimento e artes de pesca. A «pequena frota costeira» seria a constituída pelos navios de pesca de comprimento inferior a 12 metros que pescam com artes que não sejam de arrasto. Parece razoável definir a pequena frota costeira utilizando o comprimento e a arte principal, se o papel desempenhado por esta categoria na PCP vai ser tão reduzido como aquele que é proposto pela Comissão. Contudo, e tendo em conta os objetivos ambiciosos fixados pela Comissão em matéria de conservação dos recursos haliêuticos, seria conveniente rever a definição dos segmentos utilizando a noção de «métier». Na maioria dos Estados-Membros, a fixação do limiar do comprimento em 12 metros parece adequada. Se o limiar do comprimento se situasse nos 15 metros, o grau de inclusão de navios na pequena frota na Polónia aumentaria mais do que na média. Se o limiar se situasse nos 10 metros, o grau de inclusão de navios nas pequenas frotas do Reino Unido ou Irlanda ficaria abaixo da média. A maior parte dos navios excluídos da pequena frota costeira utiliza artes rebocadas, mas não utiliza artes de arrasto. No entanto, a maior parte da arqueação e da potência diz respeito aos arrastões, que são de maior dimensão. A exclusão relativamente à utilização de certas artes pode ser mais questionável do ponto de vista ambiental. É esse o caso das redes de praia na Grécia ou das dragas de mão em Portugal e, em menor grau, no Reino Unido.

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2. INTRODUÇÃO A proposta de regulamento de base da PCP elaborada pela Comissão, com um regime específico à «pequena frota costeira», colocou esta no centro dos debates. A utilização de uma categoria específica para a pequena pesca costeira suscita três questões diferentes. A primeira tem a ver com as razões e objetivos políticos da criação de um regime específico para esta ou outra categoria ou segmento de frota. Das razões existentes para a sua criação deveria resultar a definição da categoria e as modalidades de funcionamento do regime específico. Uma segunda questão tem a ver com a definição da pequena frota e da pequena pesca costeira, bem como dos critérios utilizados na mesma. De estas duas questões surge a terceira, que consiste nos meios a utilizar para cumprir os objetivos fixados. Em primeiro lugar, é necessário descrever a razão e a finalidade da criação desta categoria. Seguidamente, poderia definir-se o papel que a pequena frota costeira deve desempenhar, bem como as condições em que o deve fazer. Posteriormente, poderia proceder-se à conceção das modalidades, através das quais a regulamentação comunitária poderia satisfazer as necessidades específicas detetadas para a pequena frota costeira. Contudo, a Comissão seguiu uma metodologia diferente. Foram elaboradas várias propostas independentes sobre diferentes aspetos, sem descrever os objetivos que a PCP deveria cumprir no tocante à pequena pesca costeira. Estas propostas apresentam graus de coerência diferentes entre si.

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3. RAZÕES PARA A CRIAÇÃO DE UM REGIME ESPECÍFICO PARA A PEQUENA PESCA COSTEIRA

Na proposta da Comissão, são descritos os efeitos positivos da pequena pesca costeira em inúmeras regiões que dependem desta atividade. No entanto, não se descrevem as razões da criação de um regime específico. Este facto cria dificuldades na definição de frota e à pequena pesca costeira. Também não são descritos os pontos fracos e os pontos fortes da pequena pesca costeira, o que dificulta a conceção dos conteúdos do regime específico que poderia ser-lhe aplicado. Uma vez que a Comissão não explica as razões da criação de um regime específico, nem expõe as suas necessidades, convém analisar a situação daquilo que poderia ser a «pequena frota costeira». Entre 2006 e 2011, o número de embarcações da frota comunitária registou um decréscimo de 8 % mas, na frota dos navios de comprimento inferior a 12 metros, a redução foi de apenas 6 %. No mesmo período, a redução da arqueação total foi de 14 % mas, na frota dos navios de comprimento inferior a 12 metros, a redução foi de apenas 6 %. A frota de comprimento inferior a 12 metros registou uma redução superior à da média de países como Itália ou Espanha, onde desempenha um papel significativo. Contudo, em países como a Irlanda, a Roménia, a Eslovénia, os Países Baixos, o Chipre ou a Finlândia, esta frota aumentou, quer em termos de número de embarcações, quer de arqueação. Além disso, em Portugal e na Polónia, a arqueação desta frota aumentou, ao mesmo tempo que diminuiu o número de embarcações. Ou seja, as embarcações que saem da frota são substituídas por outras de tamanho maior, ainda abaixo dos 12 metros. Resumidamente, as reduções correspondentes às frotas de comprimentos inferiores a doze metros foram inferiores à redução geral ou às reduções noutras categorias de comprimentos e, acima de tudo, muito inferior às dos navios de média dimensão. Assim, é necessário concluir que a frota de comprimentos inferiores a 12 metros está a demonstrar uma maior resistência às atuais circunstâncias adversas. A classe de comprimentos inferiores a 12 metros é constituída por empresas familiares, que se caracterizam por pouco ou nenhum recurso à mão-de-obra externa, reduzido consumo de combustíveis, comercialização da produção em circuitos curtos e, frequentemente, locais. De forma geral, estes navios pescam a pouca distância do seu porto de base e costumam utilizar artes estáticas, utilizando com menor frequência artes móveis e, só em algumas zonas, utilizam artes rebocadas. A experiência recente tem demonstrado que dispõe de uma resistência considerável às circunstâncias adversas que o setor da pesca está a atravessar. A Comissão seguiu uma metodologia especial. Não foram descritos os objetivos a cumprir pela PCP no que diz respeito à pequena pesca costeira, tendo contudo sido elaboradas algumas propostas com graus de coerência variáveis. Na ausência de uma exposição dos motivos sobre a criação de um regime específico para a pequena frota costeira, podem examinar-se os principais elementos do regime proposto pela Comissão. O regime específico previsto para a pequena pesca costeira na proposta da Comissão articula-se em torno de três medidas e de um papel como parâmetro na distribuição do apoio financeiro do FEMP nas ações de gestão partilhada:

Os Estados-Membros podem deixá-la à margem do regime das concessões de pesca transferíveis.

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Está previsto o apoio à adaptação de navios da pequena frota costeira para dedicá-los a atividades alheias ao setor da pesca.

Pretende facilitar-se a comercialização direta de produtos da pesca por pescadores dedicados à pequena pesca costeira;

A distribuição financeira das ações de gestão partilhada do FEMP realizar-se-á, entre outros fatores, em função da parte que a pequena frota costeira representa no conjunto da frota de pesca.

Não é possível obter, através destas medidas, uma descrição completa e coerente das características e necessidades específicas da pequena frota costeira. De acordo com a proposta, a pequena frota costeira é importante, e a sua participação na frota deve reger a distribuição do apoio financeiro do FEMP. Pode, contudo, surgir uma contradição uma vez que, por um lado, pretende-se protegê-la da erosão das possibilidades de pesca, ao mesmo tempo que, por outro, se estimula o abandono da atividade da pesca. Por último, é difícil retirar conclusões sobre o papel comercial da pequena frota costeira e os problemas específicos que a afetam. Das medidas propostas, não é possível extrair um conjunto coerente de motivações e objetivos do esquema aplicável à pequena frota costeira. Na ausência de uma descrição estruturada das motivações da criação de um regime específico, há duas questões importantes que carecem de um quadro claro para a sua conceção, discussão e análise. A primeira é a própria definição da «pequena frota costeira», sendo a segunda os conteúdos do regime específico que está a ser criado para a mesma. Ou seja, se se considera que a proposta da Comissão satisfaz as necessidades da pequena frota costeira definida nesses termos.

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4. POSSÍVEIS CRITÉRIOS A UTILIZAR NA DEFINIÇÃO DE PEQUENA FROTA COSTEIRA

Uma primeira questão consiste na definição da pequena frota costeira. É possível considerar a alternativa de aplicar uma definição única ou definições regionais. Em princípio, quando se define uma categoria à qual se vai aplicar um regime específico numa política comum, seria preferível utilizar uma definição comum. A utilização de definições regionais só poderia justificar-se em casos muito especiais. Em primeiro lugar, o regime aplicável à pequena frota costeira deveria ser apelativo e, para já, não parece ser esse o caso. Poderia considerar-se uma diferenciação regional quando uma definição excluísse do regime as frotas que cumprem numa região a mesma função desempenhada noutras regiões por frotas que ficassem incluídas no regime, mas seria necessário definir o critério ambiental, social ou económico. Em primeiro lugar, as propostas não se traduzem em vantagens essenciais. Além disso, não é possível avaliar a necessidade de diferenciação da definição face à inexistência de uma enumeração dos objetivos a cumprir pela PCP no que diz respeito à pequena pesca costeira. Em segundo lugar, há que considerar a natureza dos indicadores que poderiam ser utilizados na definição. Em princípio, os critérios a utilizar deveriam ser função das características e conteúdos do regime específico que se pretenda aplicar à pequena frota costeira. Qualquer que seja a natureza dos indicadores utilizados, seria obrigatória a existência de informação sobre os mesmos para todas as embarcações da frota de pesca da União Europeia e que essa informação fosse homogénea em todos os Estados-Membros. Em teoria, seria possível considerar critérios económicos, sociais ou relativos às pescas, ou então relativos ao navio ou às artes de pesca utilizadas. Em terceiro lugar, existe uma questão de proporcionalidade. A recolha e o tratamento da informação têm um custo. Convém ter em conta que a frota de pesca comunitária conta com cerca de 82 500 navios, dos quais pouco mais de 70 000 têm comprimentos inferiores a 12 metros. Os navios de menor dimensão operam muitas vezes a partir de pontos de desembarque que não dispõem de uma estrutura administrativa e, por esse motivo, a recolha de informações relativamente aos navios de menor dimensão é mais dispendiosa. Além disso, por diversas razões, entre as quais se conta a própria natureza da pequena frota, há uma maior falta de rigor em certas informações. É isso o que sucede relativamente à potência das embarcações ou à atividade de pesca. Consequentemente, a obtenção da informação é dispendiosa, e ainda mais cara é a informação relativa à pequena frota costeira. Assim, há que equilibrar o custo da informação a utilizar com os conteúdos da regulamentação a que se destinam. Os conteúdos das propostas da Comissão para a reforma da PCP relativos à pequena frota costeira são muito escassos: a exoneração do regime das CPT, a possibilidade de solicitar ajudas para a diversificação da atividade pesqueira e para a comercialização direta e a utilização como parâmetro na distribuição do apoio financeiro de certas linhas do FEMP. Além disso, a não ser que a conjuntura económica se altere radicalmente, as ações de gestão partilhada do FEMP ficarão muito limitadas pelas disponibilidades orçamentos dos Estados-Membros para o seu cofinanciamento. Por este motivo, seria pouco razoável estabelecer uma definição complicada que requeira informações sofisticadas e dispendiosas para regular um regime que conta apenas com conteúdos muito limitados. A Comissão propõe a utilização de uma definição já existente e utilizada no ficheiro relativo à frota. Esta definição utiliza apenas dois elementos, comprimentos inferiores a

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ 12 metros e utilização de artes não rebocadas. Ambas as informações estão disponíveis individualizadamente para cada um dos navios das frotas de pesca comunitárias. Existem outros modelos de segmentação das frotas que também utilizam os critérios do comprimento e das artes de pesca. Por exemplo, a Comissão Geral de Pesca do Mediterrâneo (CGPM) estabeleceu uma segmentação da frota que opera no seu espaço através de uma combinação de comprimentos e artes de pesca. Para segmentar ou definir qualquer categoria na frota de pesca comunitária, existem apenas duas fontes potencialmente úteis, o ficheiro da frota de pesca comunitária e o quadro comunitário para a recolha e a gestão dos dados essenciais à condução da política comum da pesca. O ficheiro da frota de pesca comunitária1 contém informação detalhada sobre cada um dos navios. Por outro lado, o quadro comunitário para a recolha e a gestão dos dados essenciais à condução da política comum da pesca2 criou informação sobre a atividade da pesca, que é essencialmente de caráter económico. Na tabela em anexo indicam-se as principais informações existentes em ambas as fontes de informação. Estão assinaladas a vermelho as informações utilizadas para definir a pequena frota costeira. No caso do ficheiro da frota de pesca comunitária existem, além disso, informações relativas aos proprietários dos navios. Contudo, estas informações não são publicadas por serem de caráter pessoal.

1 Regulamento (CE) Nº 26/2004 da Comissão, de 30 de dezembro de 2003, relativo ao ficheiro comunitário dos

navios de pesca JO L 5 de 9.1.2004, pp. 25-35. 2 Regulamento (CE) n.º 199/2008 do Conselho, de 25 de fevereiro de 2008, relativo ao estabelecimento de um

quadro comunitário para a recolha, gestão e utilização de dados no setor das pescas e para o apoio ao aconselhamento científico relacionado com a política comum das pescas. JO L 60, de 5.3.2008, pp. 1-12 e Decisão da Comissão 2010/93/, de 18 de dezembro de 2009, que adota um programa comunitário plurianual para a recolha, gestão e utilização de dados no setor das pescas, para o período de 2011-2013. JO L 41 de 16.2.2010, pp. 8-71.

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

Quadro 1: Possíveis indicadores para a definição da pequena frota costeira Ficheiro da

frota de pesca comunitária

Quadro comunitário para a recolha, gestão e utilização dos dados

País de registo Valor bruto dos desembarques Rendimentos derivados do arrendamento de quotas ou outros direitos de pesca

Identificação do navio

Subsídios diretos Rendimentos

Outras receitas Arte de pesca principal: Salários e vencimentos da tripulação Custos com o

pessoal Valor imputado do trabalho não remunerado Arte de pesca secundária: Custos de energia

Custos com reparação e manutenção Comprimento máximo (LOA) Custos variáveis

Custos fixos Outras despesas de exploração Pagamentos de arrendamentos / aluguer de quotas ou outros direitos

de pesca

Comprimento entre perpendiculares (LOA) Custos de capital Amortização anual Tonelagem GT Valor do capital físico: valor do capital amortizado

Valor do capital físico: valor histórico amortizado Potência principal

Valor do capital Valor das quotas e outros direitos de pesca

Investimento investimentos em capital físico Potência auxiliar Situação financeira Rácio dívida / ativo

Tripulação contratada Material do casco ETI nacional Emprego

ETI harmonizado Ano de entrada ao serviço Número Segmento LOA médio

Tonelagem média dos navios Potência média dos navios

Frota

Média de idades Dias no mar Esforço Utilização de energia

Número de empresas/unidades de pesca Valor dos desembarques por espécies

Valor da produção por espécies Preço médio por espécies

Fonte: Ficheiro da frota de pesca comunitária e Decisão da Comissão 2010/93/ As informações do quadro comunitário para a recolha, gestão e utilização dos dados provêm de amostragens, com diferentes graus de precisão, não são individualizadas para cada navio e a sua apresentação contém diferenças significativas em termos quantitativos e qualitativos entre Estados-Membros. Consequentemente, esta informação é útil para fins descritivos com um grau de fiabilidade estatística razoável na maior parte dos Estados-Membros. Contudo, não estão disponíveis informações individualizadas sobre todas as variáveis relativamente a todos e cada um dos navios da frota comunitária. Por este motivo, estas informações não são adequadas para definir uma categoria de frota à qual se pretende aplicar um regime específico. Apesar disso, no quadro anexo é analisado o resultado da análise de várias informações solicitadas numa pergunta escrita por eurodeputados de cinco grupos políticos3. As informações solicitadas na pergunta escrita foram completadas com a arqueação da frota de comprimento inferior a 12 metros e artes não rebocadas. Foi calculada uma série de índices como a arqueação média, a percentagem dos desembarques realizados pela pequena frota relativamente ao total e à frota de comprimento inferior a 12 metros. Foi também calculado o número médio de desembarques por navio e por GT em quantidade e

3 E-002653/2012. Informações sobre as frotas, as capturas totais e o valor das capturas desembarcadas nos

Estados-Membros. João Ferreira (GUE/NGL), Ana Miranda (VERTS/ALE), Guido Milana (S&D), Pat the Cope Gallagher (ALDE) e Alain Cadec (PPE).

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ valor. Em cada coluna existe um esquema de cores, em que o verde representa o valor máximo e o vermelho o valor mínimo. Quadro 2: Dificuldades na utilização do quadro comunitário para a recolha,

gestão e utilização dos dados para a definição da pequena pesca costeira

DESCARGAS <12m , artes não rebocadas Frota <12m ,

artes não rebocadas

% Descargas <12m , passivo

/ Total

% Descargas <12m , passivo

/ <12m Descargas / navio

Descargas / GT

Navios GT

GT / navio

Tm Valor Tm Valor Tm Valor Tm Valor BEL 0 0 0% 0% BGR 2.199 3.560 1,6 28 % 28 % 100 % 100 % 0,8 308 0,5 190 CYP 964 2.356 2,4 70 % 51 % 100 % 100 % 0,8 5.802 0,3 2.375 DEU 7.096 10.702 1,5 8 % 9 % 83 % 94 % 1,4 2.329 0,9 1.544 DNK 2.008 4.593 2,3 2 % 11 % 40 % 84 % 5,9 23.151 2,6 10.122 ESP 7.668 14.894 1,9 5 % 14 % 87 % 95 % 3,3 47.389 1,7 24.397 EST 745 1.110 1,5 16 % 24 % 100 % 100 % 18,8 9.556 12,6 6.414 FIN 3.240 7.479 2,3 8 % 58 % 100 % 100 % 2,9 8.062 1,3 3.492 FRA 4.979 13.482 2,7 17 % 24 % 62 % 69 % 10,7 72.492 3,9 26.771 GBR 4.228 13.645 3,2 6 % 14 % 72 % 73 % 8,5 44.425 2,6 13.765 GRC 15.542 29.445 1,9 IRL 1.176 2.934 2,5 2 % 4 % 84 % 76 % 3,3 5.051 1,3 2.024 ITA 8.340 14.688 1,8 16 % 16 % 94 % 95 % 4,6 36.418 2,6 20.678 LTU 121 212 1,8 0 % 1 % 100 % 100 % 0,8 735 0,4 420 LVA 680 954 1,4 3 % 8 % 100 % 100 % 4 2.597 2,8 1.851 MLT 985 2.245 2,3 24 % 16 % 81 % 89 % 0,3 1.851 0,1 812 NLD 206 451 2,2 0 % 3 % 100 % 100 % 5,9 49.882 2,7 22.784 ANI 521 2.133 4,1 9 % 39 % 100 % 100 % 22,1 52.784 5,4 12.891 PRT 7.096 10.702 1,5 12 % 28 % 71 % 84 % 2,9 20.707 2 13.730 ROM 445 482 1,1 100 % 96 % 100 % 100 % 0,5 1.103 0,4 1.018 SVN 153 294 1,9 32 % 20 % 100 % 100 % 0,3 2.698 0,2 1.406 SWE 1.029 3.808 3,7 3 % 21 % 81 % 89 % 6,5 27.434 1,8 7.412 UE 27 69.421 140.171 2 Fonte: Elaboração própria a partir da pergunta escrita E-002653/2012 e ficheiro da frota comunitária de pesca

Em primeiro lugar, há a registar a ausência de informações sobre as capturas e as descargas realizadas pela frota grega. Este facto, por si só, desaconselha a utilização destas informações, que não estão disponíveis para a frota grega, que representa 22 % dos navios e 21 % da arqueação da frota com comprimentos inferiores a 12 metros. Por outro lado, as enormes diferenças existentes em alguns dos índices considerados suscitam duas questões. A primeira são as diferenças existentes nas informações económicas fornecidas pelos Estados-Membros. Por outro lado, as grandes diferenças refletem por vezes realidades económicas diferentes, cuja utilização não é pertinente para a definição da pequena frota costeira. As descargas médias por navio ou por unidade de arqueação da pequena frota costeira mostram grandes diferenças que, por vezes, são difíceis de explicar. Poderia pensar-se que as diferenças se devem a diferentes dimensões médias dos navios. Contudo, as diferenças são ainda maiores em termos relativos quando se consideram as descargas médias por unidade de arqueação. Em certos casos, estas diferenças surgem entre frotas de Estados vizinhos com características semelhantes e que exploram os mesmos recursos. Surgem ainda diferenças mais acentuadas quando se consideram os valores médios das descargas. No entanto, neste caso existem diferenças que podem ser atribuídas às especificidades dos mercados dos produtos da pesca ou às diferenças no poder de aquisição dos consumidores. Assim sendo, surge outro problema, que é o de que poderiam ser introduzidos fatores externos à atividade pesqueira na definição de uma categoria da frota.

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

Consequentemente, é necessário concluir que as informações do quadro comunitário para a recolha, gestão e utilização dos dados necessários para o funcionamento da política de pescas comum, no seu estado atual, não podem ser utilizadas para determinar a pertença, ou não, de um navio à pequena frota costeira ou a qualquer outra categoria da frota pesqueira. Na proposta da Comissão, utilizam-se apenas dois dos elementos disponíveis no ficheiro da frota de pesca comunitária (FFC), o comprimento e a arte principal. A utilização destes dois critérios e os limites estabelecidos são analisados nos dois próximos capítulos. Por outro lado, poderia considerar-se a possibilidade de utilizar critérios adicionais entre as informações do FFC. Um primeiro grupo de elementos que poderiam ser utilizados como critérios adicionais diz respeito às características do navio, arqueação, potência principal e auxiliar, material do casco e idade do navio. A consideração da arqueação bruta não conferiria um valor acrescentado significativo, uma vez que, para os navios de comprimento inferior a 15 metros, o cálculo é efetuado com base numa estimativa do volume do casco feita a partir do comprimento, boca e pontal 4. A consideração da potência também não iria conferir qualquer valor acrescentado, pelo menos a médio prazo. Não seria demasiado realista estabelecer uma distinção entre navios com ou sem motor e, além disso, ainda há a questão dos motores fora de borda em certos navios que, em teoria, não utilizam motor. Acresce que o sistema de medição e de certificação da potência motriz é pouco fiável. Em 2009 foram introduzidas certas melhorias na certificação da potência motriz5, mas só entraram em vigor em 2012 e 2013. Convém ter em conta que só se chegou a um grau satisfatório e homogéneo na estimativa da arqueação dez anos após a entrada em vigor do regulamento que estabelecia o novo sistema6. Estas melhorias não afetam a potência auxiliar, que continua numa situação de indefinição, considerando igualmente utilizações que afetam a capacidade de pesca, como outras utilizações relacionadas com a vida a bordo. De qualquer forma, em geral, a potência auxiliar é muito pouco significativa no que diz respeito à capacidade pesqueira da pequena frota costeira. Outra possibilidade seria utilizar o material do casco e a idade do navio. Em geral, há uma forte correlação entre estes dois elementos. Nos navios de pequena dimensão mais antigos, predomina o casco de madeira, enquanto nos navios mais modernos utilizam-se, com mais frequência, outros materiais, como a fibra de vidro. Além disso, há outros fatores que entram em jogo na renovação das embarcações, como os resultados económicos, as perspetivas de continuidade da atividade, a existência de uma renovação geracional, a existência de atividades alternativas à pesca ou o grau de atividade a tempo parcial. Em diferentes zonas poderão ocorrer diferentes combinações destas circunstâncias que tenham como resultado estruturas semelhantes na antiguidade dos navios ou no material do casco predominante. Neste caso, chega-se a uma decisão que depende do projeto político que se pretenda aplicar à pequena pesca costeira. Nas propostas de reforma da PCP não está bem

4 GT = V x ( 0,2 + 0,02 log10 V ), em que:

V = a1 x Loa x B x T; a1 = Valor maior entre ( 0,5194 + 0,0145 x Loa ) e 0,60; Loa = Comprimento, de acordo com a definição do artigo 2.º do Regulamento 2930/86; B = Boca, de acordo com a definição da Convenção de Londres; T = Pontal, segundo a definição da Convenção de Londres.

5 Regulamento (CE) n.º 1224/2009 do Conselho, de 20 de novembro de 2009, que institui um regime comunitário de controlo a fim de assegurar o cumprimento das regras da política comum das pescas. JO L 343 de 22.12.2009, pp. 1-50

6 Regulamento (CE) n.º 3259/94 do Conselho, de 22 de dezembro de 1994, que altera o Regulamento (CEE) n.º 2930/86 que define as características dos navios de pesca. JO L 339 de 29.12.1994, pp. 11-13

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ claro se se pretende modernizar a pequena frota costeira, ou se a prioridade consiste na diversificação para atividades que não a pesca. Contudo, dada a diversidade de circunstâncias que podem provocar, ou não, a renovação dos navios, estes elementos não podem desempenhar um papel determinante na PCP. Além disso, há que ter em conta que existe um bom número de embarcações que declaram utilizar um casco de «outros materiais», sem mais especificações. Por último, existem dois elementos que poderiam ser considerados, o segmento e as artes secundárias. Após a reforma da PCP de 2002, o segmento passou a constituir uma informação irrelevante, com exceção da frota das regiões ultraperiféricas. Nestas, o segmento ainda oferece alguma informação. Contudo, nas frotas do continente, o segmento só distingue entre a frota pesqueira e a frota dedicada à aquicultura. Consequentemente, no estado atual da questão, o segmento seria irrelevante. Poderia contudo ser útil caso houvesse uma nova definição dos segmentos, orientando-os no sentido da utilização do conceito de «métier». Regra geral, a pequena frota costeira utiliza um número muito reduzido de artes. Já na arte principal constata-se que 39 % das embarcações de comprimento inferior a 12 metros utilizam redes de emalhar fundeadas. Existem outros três tipos de artes que representam entre 13 % e 18 % destas embarcações. Estas três artes são os palangres fundeados, os tresmalhos e as nassas. As restantes artes são muito menos relevantes. A mesma situação repete-se no que diz respeito às artes secundárias. Se forem consideradas as combinações de artes principais e secundárias, verifica-se que a maioria das embarcações de comprimento inferior a 12 metros utiliza combinações destes quatro tipos de artes. Consequentemente, tomar em consideração a arte secundária não criaria um valor acrescentado significativo. Em suma, seria desejável que, numa política comum, fossem utilizadas definições comuns e seria difícil e pouco útil estabelecer definições regionais. Os critérios a utilizar deveriam ser função das características e conteúdos do regime específico que se pretenda aplicar à pequena frota costeira. Os indicadores a utilizar devem estar disponíveis para cada navio da frota pesqueira da União Europeia, e essa informação deve ser homogénea em todos os Estados-Membros. Há que equilibrar o custo da informação com os conteúdos da regulamentação a que se destinam. Os conteúdos das propostas da Comissão para a reforma da PCP relativos à pequena frota costeira são muito escassos e seria pouco razoável estabelecer uma definição complicada que exigisse informações sofisticadas e dispendiosas. Não é possível utilizar as informações de caráter económico provenientes do quadro comunitário para a recolha e gestão de dados porque são individualizadas relativamente a todos os navios, a informação fornecida pelos Estados-Membros não é homogénea nem em termos de quantidade, nem de qualidade, e haveria a possibilidade de serem introduzidos fatores alheios à atividade pesqueira. As possibilidades de introduzir elementos adicionais provenientes do ficheiro comunitário da frota pesqueira são muito escassas. Só poderia ser introduzida informação sobre os segmentos, mas seria necessária uma redefinição dos mesmos recorrendo ao conceito de «métier», o que não é exequível a curto prazo. Consequentemente, parece razoável definir a pequena frota costeira utilizando o comprimento e a arte principal, se o papel desempenhado por esta categoria na PCP vai ser tão reduzido como o proposto pela Comissão. Contudo, e tendo em conta os objetivos ambiciosos fixados pela Comissão em matéria de conservação dos recursos haliêuticos, seria conveniente rever a definição dos segmentos utilizando a noção de «métier».

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

5. DEFINIÇÃO DE «PEQUENA FROTA COSTEIRA» A definição proposta pela Comissão combina dois elementos: comprimento e artes de pesca. A «pequena frota costeira» seria a constituída pelos navios de pesca de comprimento inferior a 12 metros que pescam com artes que não as de arrasto7. Já em 1986 se estabeleceu o critério de comprimentos inferiores a 12 metros, excluindo a prática do arrasto. Este critério foi incluído no Regulamento para estabelecer o ficheiro da frota de pesca comunitária. Vinte cinco anos mais tarde, e apesar dos avanços técnicos verificados, este critério está presente nas propostas de reforma da PPC.

5.1 O comprimento Regra geral, pressupõe-se que a pequena pesca costeira é praticada por navios de pequena dimensão. Estes são os que existem em maior número, salvo certas exceções, como a frota belga, em que são praticamente inexistentes. Dada a sua reduzida dimensão, representam uma elevada percentagem do número de navios, apesar de a sua quota em termos da arqueação total ser muito mais reduzida. Na curva de distribuição do número de navios aparece um ponto de inflexão por volta dos 6 metros de comprimento, e atinge-se os 90% nos 15 metros de comprimento. Contudo, a curva correspondente à arqueação bruta é quase linear nesses segmentos de comprimentos, e só atinge os 15 % nos 15 metros de comprimento. Gráfico 1: Distribuição do número de navios e da arqueação por segmentos de

comprimento (2011 UE 27)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

% Flota UE 27

Eslora (metros)

Buques Arqueo

Fonte: Elaboração própria a partir do Ficheiro da frota de pesca comunitária O limiar de comprimento para considerar que um navio pertence à «pequena frota costeira» poderia divergir entre Estados-Membros ou, inclusivamente, entre regiões. Uma questão interessante é o fato de, no quadro comunitário para a recolha de dados, se

7 O Regulamento (CE) n.º 26/2004 da Comissão, de 30 de dezembro de 2003, classifica as artes de pesca em

três categorias, estáticas, móveis e de arrasto (remorqués, FR; towed, EN). A utilização do termo «arrasto» para definir uma categoria presta-se a confusão em algumas línguas, como é o caso do espanhol, uma vez que na categoria de «arrasto» se encontram quer as artes de arrasto (chaluts, FR; trawls, EN) como as redes envolventes-arrastantes ou as dragas. Por este motivo, adiante neste documento utilizar-se-á o termo «rebocadas».

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ utilizar uma segmentação de comprimentos diferente para mares diferentes. No caso dos navios de comprimento inferior a 12 metros que pescam no Mar Mediterrâneo e no Mar Negro, as categorias de comprimento são de 0 a 6 metros, e de 6 a 12 metros. Estas categorias de comprimento correspondem à segmentação estabelecida pela Comissão Geral de Pesca do Mediterrâneo (CGPM). Em todas as restantes regiões, as categorias de comprimento utilizadas são de 0 a 10 e de 10 a 12 metros. Se o limiar de comprimentos para a pequena frota costeira fosse fixado nos 6 metros, a percentagem de frota incluída na categoria reduzir-se-ia consideravelmente mas, acima de tudo, o âmbito geográfico da pequena frota costeira ficaria muito limitado. Em certos países há a tendência de se pressupor que a pequena pesca costeira é efetuada por navios de comprimento inferior a 10 metros, enquanto noutros, este limiar se situa nos 12 metros, e noutros, nos 15 metros. A progressão em termos de percentagem do número de navios abaixo do limiar do comprimento aumenta rapidamente, passando de 79 % nos 10 metros de comprimento para 90 % nos 15 metros, integrando mais 11 % no número de navios. No entanto, no caso da arqueação bruta, a percentagem relativamente ao total só passa dos 8 % para os 15 %, com um aumento de 7 % na integração. Quadro 3: Hipóteses de limiares de comprimentos para a pequena frota UE 27

Limite de comprimento para a pequena frota

Percentagem relativamente ao número de navios

Percentagem relativamente à arqueação bruta total

6 metros 41 % 2 %

10 metros 79 % 8 %

12 metros 85 % 11 %

15 metros 90 % 15 % Fonte: Elaboração própria a partir do Ficheiro da frota de pesca comunitária

Não é possível avaliar a conveniência de um limiar se não for tida em conta a utilização que vai ser dada à categoria da pequena pesca. Se o objetivo é proteger esta frota contra uma eventual erosão das suas possibilidades de pesca, conviria incluir nesta categoria um número máximo de embarcações. Contudo, é necessário limitar a arqueação, na medida do possível, de modo a evitar que um excesso de capacidade pesqueira fique isento de medidas de limitação no quadro da gestão da frota ou dos recursos haliêuticos. A distribuição por comprimentos varia muito de um Estado-Membro para outro. Consequentemente, na ausência de critérios adicionais, os efeitos de um determinado valor do limiar para a inclusão na pequena frota também serão diferentes em cada Estado-Membro. No quadro anexo é apresentada a percentagem no número de navios de pesca que ficariam incluídos na categoria de pequena frota para diferentes limiares de comprimento. Incluem-se igualmente os valores para o conjunto da União Europeia. As células são coloridas de acordo com uma gama que vai desde o vermelho para os mínimos de cada coluna, ao verde que se aplica aos máximos.

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

Quadro 4: Percentagem do número de navios abaixo dos diferentes limiares de

comprimento por Estado-Membro Comprimento (metros) 20111

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 BEL 2% 5% 6% 7% BGR 1% 8% 24% 50% 78% 88% 91% 93% 95% 96% 96% 97% 98% CYP 4% 33% 44% 56% 74% 87% 94% 96% 97% 98% 98% 99% DEU 7% 32% 49% 56% 65% 70% 74% 77% 79% 79% 80% 83% DNK 1% 7% 28% 47% 56% 66% 73% 79% 81% 84% 86% 88% 90% ESP 0% 7% 27% 41% 50% 57% 63% 68% 71% 74% 77% 79% 81% EST 0% 25% 42% 53% 60% 69% 84% 86% 87% 94% 95% 96% 96% FIN 0% 12% 43% 59% 68% 81% 89% 95% 97% 98% 98% 98% 99% FRA 0% 0% 1% 5% 22% 41% 58% 68% 75% 80% 86% 88% 88% 90% GBR 0% 0% 3% 17% 35% 48% 59% 66% 79% 82% 85% 87% 88% 89% GRC 0% 10% 28% 45% 61% 78% 87% 91% 93% 94% 95% 96% 96% IRL 0% 1% 15% 40% 52% 62% 69% 76% 83% 87% 88% 89% 90% ITA 0% 5% 14% 31% 46% 54% 59% 63% 67% 72% 78% 83% 87% LTU 1% 10% 32% 50% 54% 59% 62% 64% 68% 70% 70% 70% 71% LVA 3% 31% 55% 74% 78% 81% 86% 87% 88% 89% 89% 89% 89% MLT 0% 11% 38% 55% 70% 80% 85% 88% 91% 92% 93% 94% 95% NLD 0% 2% 5% 13% 16% 22% 27% 31% 34% 35% 36% 38% 39% 40% ANI 0% 2% 5% 13% 24% 43% 55% 64% 68% 76% 77% 79% 82% PRT 0% 0% 6% 17% 37% 57% 76% 81% 86% 88% 90% 92% 93% 93% 94% ROM 1% 8% 29% 80% 89% 90% 91% 98% 99% 99% 99% 99% SVN 1% 15% 39% 55% 67% 75% 80% 83% 88% 91% 92% 95% 96% SWE 0% 7% 25% 37% 51% 62% 73% 80% 87% 88% 90% 91%

UE 0% 0% 1% 8% 24%

41%

55%

66%

74%

79%

82%

85%

87%

89%

90%

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária Existem dez Estados-Membros nos quais a maioria da frota pesqueira ficaria incluída na categoria da pequena frota qualquer que fosse o limiar de comprimento considerado. Esses países são a Bulgária, o Chipre, a Estónia, a Finlândia, a Grécia, a Letónia, Malta, Portugal, a Roménia e a Eslovénia. Entre os países com frotas pesqueiras mais relevantes, nos Países Baixos, em Espanha, na Polónia e na Lituânia, a percentagem de embarcações abaixo do limiar é inferior à do conjunto da União Europeia, mas a Polónia aproxima-se dos valores do conjunto a partir dos 15 metros de comprimento. A frota dos Países Baixos continua muito distanciada dos níveis da União Europeia, qualquer que seja o limiar adotado. A Alemanha só supera o nível médio da UE em comprimentos inferiores a 8 metros e, em geral, também fica abaixo dos limiares mais prováveis para o estabelecimento do limiar. Os casos de França e Itália são peculiares, pois apresentam valores inferiores aos do conjunto da União Europeia até aos 12 metros, mas aproximam-se deles acima deste comprimento. O mesmo acontece nas frotas do Reino Unido e da Irlanda abaixo dos 10 metros de comprimento. No que diz respeito à arqueação, registam-se certas diferenças no tocante à distribuição no número de navios. Em primeiro lugar, observa-se uma maior heterogeneidade, sendo as diferenças mais acentuadas do que no caso do número de navios. Para uma mesma classe de comprimento, surgem diferenças substanciais na arqueação média em diferentes Estados-Membros.

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ A Letónia e a Alemanha vêm juntar-se aos Países Baixos, à Espanha, à Polónia e à Lituânia no grupo de países em que a percentagem da arqueação total fica abaixo dos valores relativos ao conjunto da União Europeia. Nos Países Baixos, na Lituânia e na Letónia, a percentagem relativa à arqueação fica muito abaixo do valor da União Europeia. Na Espanha e na Alemanha, os valores também são inferiores às médias da UE. Na Irlanda e no Reino Unido, as pequenas frotas seriam mais reduzidas do que as da UE abaixo dos 10 metros. Por seu lado, em Itália e França, a percentagem da arqueação incluída na pequena frota ficaria sempre acima dos valores correspondentes à União Europeia para os valores mais prováveis para os umbrais. Quadro 5: Percentagem da arqueação bruta abaixo dos diferentes limiares de

comprimento por Estado-Membro Comprimento (metros) 20111

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 BEL 0% 0% 1% 1% BGR 0% 1% 5% 13% 27% 35% 39% 42% 49% 52% 53% 57% 61% CYP 1% 8% 12% 18% 31% 44% 55% 59% 62% 63% 65% 67% DEU 0% 1% 1% 2% 2% 3% 4% 4% 5% 5% 6% 7% DNK 0% 0% 1% 2% 3% 4% 6% 8% 9% 11% 13% 14% 17% ESP 0% 0% 0% 1% 1% 2% 2% 3% 4% 4% 5% 6% 7% EST 0% 1% 1% 2% 3% 5% 8% 8% 9% 12% 13% 13% 13% FIN 0% 1% 7% 12% 16% 25% 34% 43% 47% 50% 51% 52% 53% FRA 0% 0% 0% 0% 1% 3% 5% 7% 9% 11% 15% 16% 17% 20% GBR 0% 0% 0% 0% 1% 2% 4% 5% 9% 10% 12% 13% 14% 16% GRC 0% 1% 3% 7% 12% 21% 29% 33% 36% 38% 41% 43% 45% IRL 0% 0% 0% 2% 2% 3% 5% 7% 9% 11% 12% 12% 13% ITA 0% 0% 1% 2% 4% 5% 6% 8% 9% 12% 18% 23% 28% LTU 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% LVA 0% 0% 1% 1% 1% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2% MLT 0% 1% 5% 8% 13% 18% 21% 23% 27% 29% 31% 33% 35% NLD 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 1% ANI 0% 0% 0% 0% 1% 3% 4% 6% 7% 9% 10% 11% 13% PRT 0% 0% 0% 1% 2% 4% 6% 7% 9% 10% 11% 13% 15% 16% 18% ROM 0% 3% 11% 34% 40% 42% 46% 59% 61% 61% 62% 64% SVN 0% 2% 6% 10% 16% 20% 25% 28% 36% 42% 46% 52% 53% SWE 0% 0% 1% 2% 4% 7% 11% 14% 19% 20% 22% 25%

UE 0% 0% 0% 0% 1% 2% 3% 5% 6% 8% 9% 11%

12%

14% 15%

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária Em suma, nos Países Baixos, na Espanha, na Lituânia, na Letónia e na Alemanha haveria um grau de inclusão na pequena frota inferior à média da UE para qualquer limiar de comprimento. O nível de inclusão da Polónia melhoraria se o limiar se situasse nos 15 metros. O ponto de inflexão situa-se nos 12 metros para a França e Itália, e nos 10 metros para o Reino Unido e Irlanda. No entanto, a definição do limiar de comprimentos para a «pequena frota costeira» numa ou outra posição teria apenas efeitos diferenciais em alguns Estados-Membros. Se o limiar do comprimento se situasse nos 15 metros, o grau de inclusão de navios na pequena frota na Polónia aumentaria mais do que na média. Se o limiar se situasse nos 10 metros, os efeitos no grau de inclusão na pequena frota do Reino Unido ou Irlanda seriam menos notórios do que na média. Como consequência, o estabelecimento do limiar dos comprimentos nos 12 metros parece uma opção razoável. Apesar de poderem ocorrer alterações caso o limiar fosse fixado a

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um nível diferente, o efeito da exclusão da utilização de umas ou outras artes seria superior ao efeito resultante do aumento ou redução do limiar num par de metros. Mapa 1: Distribuição geográfica (NUTS 3) da arqueação da frota de navios com

comprimentos inferiores a 12 metros (GT)

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária Apesar de existirem embarcações de comprimentos inferiores a 12 metros na maior parte das zonas costeiras, a sua capacidade pesqueira concentra-se num número reduzido de regiões. No Mar Negro, a maior concentração da arqueação ocorre na região de Burgas, na Bulgária. No Mediterrâneo, a capacidade pesqueira da frota de comprimentos inferiores a 12 metros está concentrada em maior grau em Attiki, Dodekanisos, Kyklades e Evvoia, na Grécia e no Chipre. Também existem outras regiões com uma capacidade pesqueira notável. Na fachada atlântica, a capacidade pesqueira está concentrada nas regiões que ocupam as extremidades, tais como Algarve e Península de Setúbal em Portugal, Pontevedra e La Coruña em Espanha, Finisterra e Cotes-D'Armor em França, e Cornualha e Ilhas de Scilly e Lochaber, Skye and Locash and Argyll and the Islands no Reino Unido. Além disso, na Irlanda, e apesar de não se registarem concentrações elevadas numa só região, a maior parte da ilha conta com uma frota de pequenos navios que representam uma capacidade pesqueira considerável. No Mar do Norte, a capacidade pesqueira desta frota está concentrada em Västra Götalands Län, na Suécia, e em Vestjylland, na Dinamarca, enquanto que no Báltico está

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ concentrada em Varsinais-Suomi e Pohjanmaa, na Finlândia. Por último, também há uma elevada concentração de capacidade pesqueira de pequenos navios em algumas regiões ultraperiféricas, como Guadalupe e os Açores. Dentro do reduzido papel que a frota de pequenos navios pode ser chamada a desempenhar, inclui-se a fixação das modalidades de financiamento em certas ações do FEMP em função da importância da pequena frota relativamente ao total da frota. Convém notar que a distribuição geográfica da importância relativa da frota de pequenos navios é substancialmente diferente da distribuição regional da sua atividade pesqueira. Mapa 2: Proporção da arqueação da frota de navios de comprimentos inferiores

a 12 metros na arqueação total da frota da região (%, NUTS 3)

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária As duas distribuições não são apenas diferentes, como também na maior parte das regiões, quando ocorre uma concentração elevada da capacidade da frota de comprimentos inferiores a 12 metros, esta coincide com a presença de grandes navios e a sua importância relativa diminui. Existem poucas exceções às diferenças entre a distribuição geográfica da capacidade pesqueira da frota de menos de 12 metros e da sua importância relativa, sendo a mais significativa o Algarve, em Portugal. Este facto é relevante por vários motivos. Em primeiro lugar, mostra que não existe necessariamente uma contraposição entre a pequena frota costeira e as frotas de navios de maior dimensão. Por outro lado, a coexistência de ambas as frotas mostra a importância das atividades associadas ao setor pesqueiro para o bom andamento da pequena frota costeira. Para que a frota costeira possa desenvolver uma atividade

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

sustentável, deve contar com possibilidades de pesca razoáveis. Acima de tudo, é necessário que a atividade pesqueira tenha alcançado uma massa crítica na região, de modo a favorecer a criação das infraestruturas necessárias à exploração dos recursos e à sua adequada comercialização. Na conceção da futura PCP, também seria conveniente ter em conta aquilo que poderia designar-se como o ecossistema económico e empresarial. A análise da distribuição regional da frota de comprimento inferior a 12 metros e da sua participação na frota de cada região poderia contribuir para a reflexão sobre as orientações propostas pela Comissão para o FEMP. Convém ter em conta que, caso fossem estabelecidas condições mais favoráveis para as regiões com uma maior percentagem de navios de pequena dimensão, estar-se-ia a discriminar algumas das regiões mais dependentes da pesca.

5.2 As artes de pesca A proposta da Comissão vem acrescentar um segundo critério relativamente à inclusão na categoria da pequena frota costeira. Para além de ter comprimentos inferiores a 12 metros, devem utilizar artes de pesca que não as de arrasto. Contudo, a proposta não enumera as artes de pesca que se considerariam incluídas na categoria do arrasto. De momento, a única enumeração das artes de arrasto é a que consta da codificação das artes de pesca (quadro 3) do Regulamento relativo ao ficheiro da frota de pesca comunitária8 (FFC). Também não se explica qual a razão da exclusão de certas artes de pesca da categoria da pequena pesca costeira. Este problema resulta da falta de definição dos motivos para a criação de uma categoria e da identificação dos seus problemas e necessidades específicos. Poderiam ser considerados quer os aspetos ambientais, quer os económicos. Se for considerado o impacto ambiental, deveria ser contemplada a exclusão de artes como o arrasto. Contudo, se a razão do regime específico de apoio é a viabilidade económica, o arrasto, com um consumo intensivo de combustível, mereceria uma proteção. Em contrapartida, as redes de emalhar fundeadas de grande dimensão entrariam na definição proposta pela Comissão, ainda que o seu impacto ambiental possa ser intenso em determinadas condições. Contudo, o seu consumo de combustível é relativamente reduzido, sendo menos sensível aos seus aumentos de preço do que outras artes de pesca. Consequentemente, seria necessário saber quais os melhores critérios para excluir, ou não, a utilização de certas artes da categoria da pequena pesca costeira. Isto implica decidir quais os critérios, ambientais ou económicos, ou qual a combinação destes que é a mais correta para alcançar os fins pretendidos pela PCP em geral, e pela categoria da pequena frota costeira, em particular. No entanto, e uma vez que a Comissão já elaborou a sua proposta, é necessário começar por analisar a definição proposta pela Comissão. Surge igualmente uma questão de hierarquia normativa, uma vez que o regulamento de base da PCP, um regulamento do Conselho e do Parlamento Europeu, adotado mediante o procedimento legislativo ordinário, deveria utilizar um conceito definido num regulamento da Comissão. Em segundo lugar, surge o problema da utilização de uma regulamentação para objetivos diferentes daqueles para que foi promulgada. Contudo, esta possível dificuldade já foi colmatada através do Regulamento do Fundo Europeu das Pescas9. Este regulamento do Conselho remetia para a definição constante do regulamento relativo ao ficheiro da frota de pesca comunitária. 8 Regulamento (CE) n.º 26/2004 da Comissão, de 30 de dezembro de 2003. JO L 5 de 9/1/2004, p. 25. 9 Regulamento (CE) n.º 1198/2006 do Conselho, de 27 de julho de 2006, relativo ao Fundo Europeu das Pescas.

JO L 223 de 15.08.2006, p. 1.

27

Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ Este regulamento classifica as artes de pesca em função dos seus tipos e do modo de funcionamento, e não contempla nem a sua capacidade pesqueira, nem o seu impacto sobre o ambiente. Deste modo, poderão surgir problemas se o regulamento de base da PCP utilizar informações meramente descritivas para a gestão da frota ou para a gestão dos recursos haliêuticos. Consequentemente, seria conveniente que, no regulamento de base, fosse incluída uma definição de «pequena pesca costeira» ajustada ao papel que se lhe pretende conferir na política comum das pescas reformada. A exclusão das artes «rebocadas» da categoria da pequena pesca afetaria 2 % dos navios, 25 % da arqueação e 18 % da potência total da frota de navios de comprimentos inferiores a 12 metros, designados adiante como «frota < 12 m». Quadro 6: Artes potencialmente excluídas da pequena frota

Categoria da arte

Arte Código Pelágica (P) ou

demersal (D)

Percentagem na frota de comprimento

inferior a 12 metros

Redes de alar para a praia SB D/P 93 % dos navios; 76%

da arqueação

Redes de cerco dinamarquesas SDN D/P 48 % dos navios; 5% da

arqueação

Redes escocesas SSC D/P 56 % dos navios; 1% da

arqueação

Redes envolventes - -arrastantes

Redes envolventes-arrastantes de parelha

SPR D/P 17 % dos navios; 0% da

arqueação

Redes de arrasto de vara TBB D 24 % dos navios; 2% da

arqueação Redes de arrasto pelo fundo com portas

OTB D 25 % dos navios; 3% da

arqueação Redes de arrasto pelo fundo para a pesca em parelha

PTB D 29 % dos navios; 36%

da arqueação

Redes de arrasto pelágico com portas OTM D/P 26 % dos navios; 0% da

arqueação

Redes de arrasto pelágico de parelha PTM D/P 18 % dos navios; 1% da

arqueação

Redes de arrasto

Redes de arrasto geminadas com portas

OTT D/P 39 % dos navios; 4% da

arqueação

Dragas rebocadas por navio DRB D 57 % dos navios; 14%

da arqueação Dragas de mão utilizadas a bordo do navio

DRH D 84 % dos navios; 7% da

arqueação Dragas

Dragas mecanizadas, incluindo as dragas hidráulicas

HMD D 66 % dos navios; 13%

da arqueação Fonte: Elaboração própria a partir do Regulamento (CE) n.º 26/2004 e ficheiro da frota de pesca comunitária.

Apesar de todas estas artes estarem incluídas na categoria de «rebocadas» no regulamento relativo ao ficheiro da frota, existem diferenças enormes entre elas. Por exemplo, não se pode comparar o impacto ecológico de uma draga de mão operada a partir de uma embarcação de dois metros com o de uma draga hidráulica num navio de menos de doze metros. Também não se pode comparar uma rede envolvente-arrastante com um arrastão de vara de comprimento inferior a doze metros, mas equipado com um motor potente. Por outro lado, o regulamento relativo ao ficheiro da frota estabelece a codificação das artes de pesca para definir a arte principal, ou então a arte secundária. Contudo, a

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

proposta elaborada pela Comissão para o regulamento de base da PCP não especifica se a exclusão da categoria da frota artesanal se concretizaria quando as artes classificadas na categoria de arrasto são utilizadas como arte principal ou se, alternativamente, como arte principal ou secundária. Para as estimativas realizadas neste capítulo, optou-se por considerar que a exclusão da categoria da pequena frota se verifica quando as artes da categoria «rebocadas» são utilizadas como arte principal. Dada a típica polivalência da maior parte dos navios das frotas pesqueiras da União Europeia, a falta de precisão da proposta da Comissão pode criar problemas e provocar alterações nas declarações de artes principais e secundárias. Por exemplo, os arrastões pelo fundo mostram claras diferenças na arte secundária em função do seu tamanho. Os arrastões de maior dimensão ou são especializados, ou utilizam artes rebocadas como arte secundária. Contudo, os arrastões de menor dimensão, que utilizam artes não rebocadas como arte secundária, poderiam modificar a sua declaração de artes em função das características dos navios, da composição das suas capturas e dos potenciais benefícios que o regime da pequena pesca costeira poderia apresentar. Outra dificuldade resulta da evolução das declarações nos diferentes Estados-Membros após a passagem dos Programas de Orientação Plurianuais (POP) para o sistema de entrada e saída. Quando a legislação aplicável aos POP deixou de estar em vigor, a aplicação da codificação existente no regulamento relativo ao ficheiro da frota ficou difusa e surgiram diferenças entre Estados-Membros (Ver Error! Reference source not found.). Enquanto alguns países declaram um número cada vez maior de artes, outros evoluíram para um sistema que diferencia artes maiores e artes menores. Uma vez que as artes menores são frequentemente utilizadas como arte secundária, geralmente só são registadas como tal nos países que aplicaram este enfoque. Assim, surgem certas assimetrias entre Estados-Membros, e estas assimetrias podem ter consequências na aplicação do regulamento de base. A definição de pequena frota costeira proposta terá um impacto diferente nos diversos Estados-Membros e regiões. Daí que seja conveniente prestar atenção à proporção da «frota < 12 m» no conjunto da frota. Por outro lado, dentro da «frota < 12 m» é necessário estabelecer a diferenciação entre os que utilizam artes «rebocadas» e aqueles que utilizam outro tipo de artes. Ainda dentro da «frota < 12 m» surgem diferenças substanciais que são função do comprimento. Por este motivo, a análise desta frota utilizando exclusivamente o número de navios não produz resultados satisfatórios. Por outro lado, aos problemas de natureza geral inerentes à estimativa da potência do motor são acrescentadas complicações adicionais. Na «frota < 12 m» existe um número considerável de navios sem motor e também uma determinada quantidade de embarcações com motor fora de borda, cuja potência não é contabilizada. Assim sendo, torna-se razoável utilizar a arqueação para analisar esta frota.

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ Gráfico 2: Distribuição da arqueação das frotas de menos de 12 metros e da

pequena frota

0 0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

0

10

20

30

40

50

60

70

%

<12: Frota de comprimento inferior a 12 metros SSF: Frota de comprimento inferior a 12 metros que não utiliza artes rebocadas

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária Na Grécia estão concentrados 18 % da arqueação da «frota < 12 m» comunitária. Há outro grupo de países constituído por França, Reino Unido e Itália, que representam entre 14 e 12 % da arqueação total deste tipo de navios. Um terceiro grupo, no qual se encontram Espanha e Portugal, regista uma percentagem que oscila entre os 10 e os 7% da arqueação da «frota < 12 m». Estes seis países representam 74 % da arqueação da «frota < 12 m» comunitária. Nenhum outro Estado-Membro representa uma proporção na arqueação total superior a 4 %. Entre os seis países do topo, a percentagem de «frota < 12 m» excluída da qualificação de frota artesanal é superior à média comunitária em França, no Reino Unido e em Itália. Entre os países com uma menor proporção da frota «frota < 12 m», existem alguns, como a Dinamarca, Irlanda, Suécia, Polónia, Estónia ou Holanda em que uma parte considerável da frota de menores dimensões pode ficar excluída da categoria da pequena pesca. Malta fica numa posição intermédia entre os países em que os pequenos navios estão em maioria e aqueles em que estão em minoria. Em qualquer caso, em Malta, muito poucos navios pequenos ficariam excluídos da categoria da pequena pesca. A definição de pequena pesca costeira proposta pela Comissão tem três classes de impactos relevantes que podem ser medidos em termos do grau de exclusão:

da frota de comprimento inferior a 12 metros de um Estado-Membro, da frota de comprimento inferior a 12 metros da UE, e de certas artes de pesca com uma importância regional.

Também existem exclusões desta categoria em outros Estados-Membros, mas carecem de relevância, quer a âmbito estatal, quer a âmbito comunitário devido ao seu volume. No gráfico em anexo são indicadas as percentagens excluídas relativamente ao número de navios e a arqueação da frota de comprimento inferior a 12 metros para pescar com artes

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

rebocadas em cada Estado-Membro. O diâmetro dos círculos é proporcional à participação de cada Estado-Membro na frota comunitária de comprimento inferior a 12 metros. Há seis Estados-Membros nos quais se regista um elevado grau de exclusão de navios de comprimento inferior a 12 metros devido à utilização de artes rebocadas. Em três deles, Reino Unido, Irlanda e Países Baixos, a exclusão afeta navios de arqueação inferior à média dos navios excluídos por pescarem com artes rebocadas. Noutros três Estados-Membros, França, Dinamarca e Itália, os navios objeto de exclusão da categoria da pequena pesca são de tamanho inferior à média. Gráfico 3: Pequena pesca costeira: Impacto da definição proposta pela Comissão

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

‐5% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45%

% Arqueo <12 m

 excluidos

% N° buques <12 m excluidos

NLD

IRLFRA

GBR

DNKITA

EST

SWE

POL

SVN

DEU

PRT

ESP

LTU

GRC

ROM

FIN

LVA

CYPBGR

MLT

UE 27

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária

A maior percentagem de exclusão de navios de menos de 12 metros verifica-se na Irlanda e nos Países Baixos. Na Irlanda, verifica-se um maior grau de exclusão pela utilização de dragas rebocadas por embarcação, com 440 embarcações e, em muito menor medida, de redes de arrasto pelágico com portas, com 105 navios. A utilização das dragas rebocadas por embarcação está bastante generalizada, apesar de se registar alguma concentração em Galway e noutros portos da costa ocidental, enquanto que o arrasto pelágico está distribuído de modo bastante uniforme. Pela sua parte, no Países Baixos a maior parte das exclusões deve-se à prática do arrasto pelo fundo, quer com redes de arrasto de vara (20 navios), quer com redes de arrasto pelo fundo com portas (30 navios). Um terço destes navios está registado no porto de Texel. A exclusão em França e no Reino Unido é relevante, quer pelo número de navios com artes rebocadas, quer pela dimensão da sua «frota < 12 m». Em ambos os países, a maior parte das exclusões fica a dever-se à utilização de redes de arrasto pelo fundo com portas. Em França, 448 navios são excluídos pela utilização desta arte, e concentram-se maioritariamente nos portos de Saint-Brieuc (Côtes-d'Armor, Bretanha), Saint-Nazaire (Loire-Atlantique, Pays de la Loire), Caen (Calvados, Baixa Normandia) ou Les Sables d'Ologne (Vendée, Pays de la Loire), apesar de também haver navios de comprimento

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ inferior a 12 metros que utilizam esta arte noutros portos. Em França, também há 276 navios que estão excluídos da categoria de pequena pesca por utilizarem dragas rebocadas por embarcação, e estão concentrados especialmente nos portos da Bretanha, como Brest, Paimpol ou Saint-Brieuc, e, menor grau, em portos do Mediterrâneo, como Toulon (Var, Provence-Alpes-Côte d'Azur) ou Séte (Hérault, Languedoc-Roussillon). No Reino Unido, 744 navios estão excluídos da categoria da pequena pesca por utilizarem redes de arrasto pelo fundo com portas, dos quais cerca de 40 % se concentram em Guernsey e Jersey. Também ficam excluídos 171 navios que utilizam dragas mecanizadas ou dragas hidráulicas, que estão concentrados em maior grau em Portsmouth (Portsmouth, Hampshire & Isle of Wight) e Poole (Bournemouth & Poole, Dorset & Somerset). Por outro lado, também há uma centena de navios excluídos devido à utilização de redes de arrasto de varas, dos quais uma boa parte se encontra registada em Kings Lynn (Norfolk, East Anglia) e meia centena de embarcações excluídas por utilizarem dragas arrastadas por embarcação, com alguma concentração em Lerwick (Shetland Islands, Highlands and Islands). As redes de arrasto pelo fundo com portas também são responsáveis pela maior parte das exclusões da categoria da pequena pesca na Dinamarca e Itália, apesar de em Itália um número considerável de exclusões se dever à utilização de dragas rebocadas por embarcação. Em Itália, há cerca de 400 navios excluídos devido à utilização de redes de arrasto pelo fundo com portas. Estes navios estão distribuídos por diversas regiões, apesar de uma quarta parte deles se concentrar em Emilia-Romagna. Outros 145 navios utilizam dragas rebocadas por embarcação e estão distribuídos por dez regiões, apesar de haver uma maior concentração em Veneto, Abruzzo e Puglia. Na Dinamarca, há 99 navios excluídos da pequena pesca por utilizarem redes de arrasto pelo fundo com portas e que estão distribuídos de modo quase uniforme por praticamente todas as regiões do país.

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

Mapa 3: Percentagem da arqueação da frota de comprimentos inferiores a 12 metros excluída da categoria de pequena frota costeira devido à utilização de artes rebocadas (em %, NUTS 3)

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária

Há que ter em conta outros três Estados-Membros que, apesar de não registarem uma elevada percentagem de exclusão de navios proporcionalmente à sua frota de comprimento inferior a 12 metros, são contudo relevantes em termos da sua percentagem de navios excluídos a nível comunitário. Este fenómeno ocorre em países como Portugal, Espanha ou Grécia, devido à importância da sua frota de embarcações de pequena dimensão. Em Espanha, a dimensão média das embarcações excluídas da categoria da pequena pesca costeira é ligeiramente superior à das de Portugal ou da Grécia. Contudo, regista-se em Portugal um maior grau de exclusão. As exclusões da categoria de pequena pesca em Portugal registam-se relativamente a embarcações que pescam com dragas rebocadas por embarcação no estuário do Tejo, a partir do porto de Lisboa. Também fica excluído um certo número de navios que têm a sua base na Figueira da Foz e que utilizam redes de arrasto pelo fundo com portas. Em Espanha, os 26 navios excluídos também pescam com redes de arrasto pelo fundo com portas e estão registados em portos da Catalunha e, em menor grau, na Andaluzia, sobretudo nos portos do Mediterrâneo, apesar de haver alguns nos portos de Cádiz ou Huelva. O impacto específico sobre as artes de pesca com importância regional regista-se de forma cruzada com o impacto global, quer a nível estatal, quer a nível comunitário. Por exemplo,

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ na Grécia, ficam excluídas 305 embarcações que utilizam redes de alar para a praia, que estão distribuídas por todas as regiões. O caso da Grécia é especial, dado que é o único país que regista um número considerável de casos de exclusão por redes de alar para a praia. Ilustração 1: Comparação de artes potencialmente excluídas da pequena frota

A: Dragas de mão B: Dragas hidráulicas C: Redes envolventes-arrastantes de praia Dadas as especificidades do regime aplicável à pequena pesca, a consideração da categoria de «rebocadas» é determinante, uma vez que podem ficar excluídas artes que são de natureza intrinsecamente artesanal. Por exemplo, seria este o caso das dragas de mão operadas a partir de uma embarcação «A» ou de certas redes envolventes-arrastantes de praia «C», cujo impacto no ecossistema não é comparável, por exemplo, ao das dragas hidráulicas, «B» (ver Ilustração). Enquanto nas artes de arrasto stricto sensu, 25 % das embarcações têm comprimentos inferiores a 12 metros, representando 2 % da arqueação que utiliza este tipo de artes. A situação é muito diferente nas embarcações que utilizam artes envolventes-arrastantes, uma vez que 81 % das mesmas medem menos de 12 metros e representam 18 % da arqueação. Pela sua parte, no caso das dragas, os navios com menos de 12 metros representam 60 % do total das unidades, com 13 % da arqueação. Consequentemente, surge um problema nas artes envolventes-arrastantes e nas dragas de mão operadas a partir de uma embarcação que, em princípio, não parecem ter um impacto ambiental comparável ao de outras artes rebocadas. O impacto ambiental só é comparável ao do arrasto stricto sensu no caso das dragas utilizadas a bordo de um navio, das dragas mecanizadas e das dragas hidráulicas. Considerando exclusivamente as redes envolventes-arrastantes e as dragas de mão utilizadas a bordo no navio, a sua exclusão afetaria 723 embarcações de comprimento inferior a 12 metros de um total de 887 navios que utilizam estas artes.

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

Mapa 4: Número de navios de comprimento inferior a 12 metros que utilizam redes de alar para a praia excluídas da categoria da pequena frota por regiões

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária

O maior problema de exclusão aparece nas redes de alar para a praia, e manifesta-se num número considerável de regiões da Grécia. No entanto, uma parte da frota grega de comprimento inferior a 12 metros que utiliza redes de emalhar fundeadas, alega que as redes de alar para a praia capturam uma percentagem excessiva de juvenis. A exclusão devido à utilização desta arte verifica-se em maior medida em Attiki, Dodekanisos, Kyklades, Evvoia, Lefkada, Argolida, Lesvos, Fokida e Kerkyra. Fora da Grécia, a exclusão por utilização de redes de alar para a praia só é apreciável em Portugal, sobretudo nas regiões do Baixo Vouga, e, em menor grau, na Península de Setúbal e no Oeste. Além disso, alguns navios são afetados pela exclusão da pequena frota costeira nos departamentos franceses do ultramar e em alguns países ribeirinhos do Báltico ou do Mar Negro. A exclusão das dragas de mão apresenta problemas em Portugal e, em menor grau, no Reino Unido. Em Portugal, as regiões mais afetadas pela exclusão das dragas de mão também são o Baixo Vouga e o Oeste. No Reino Unido, o problema manifesta-se no sudoeste e noroeste da Escócia. As redes de cerco dinamarquesas constituem um problema residual em algumas regiões da Estónia.

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________ Mapa 5: Número de navios de comprimento inferior a 12 metros que utilizam

redes de alar para a praia excluídas da categoria da pequena frota por regiões

Fonte: Elaboração própria a partir do ficheiro da frota de pesca comunitária

Em geral, a maior parte dos navios excluídos da pequena pesca utiliza artes classificadas na categoria de «rebocados», mas não pesca com artes de arrasto, apesar de a maior parte da arqueação e da potência dizer respeito aos arrastões.

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A frota costeira artesanal na reforma da PPC ________________________________________________________________________

6. CONTEÚDO DA PROPOSTA PARA O REGIME ESPECÍFICO APLICÁVEL À «PEQUENA FROTA COSTEIRA»

Os contornos do regime específico relativo à «pequena frota costeira» não estão bem definidos, sobretudo no que diz respeito ao possível apoio por parte de ações estruturais. Há outro aspeto que afeta a gestão da frota e da capacidade pesqueira. Este regime específico afeta as concessões de pesca transferíveis e a aplicação do regime de entradas e saídas. A Comissão propõe gerir a capacidade pesqueira segundo um sistema dual. Este sistema poderia ter por base quer um sistema de concessões de pesca transferíveis, quer o regime de entrada e saída, podendo evoluir no sentido de dois sistemas diferenciados dentro de uma política comum. Num grupo de países, só seria possível aplica a gestão da frota, enquanto noutro haveria a possibilidade de aplicar um método alternativo de concessões de pesca transferíveis. A dualidade formada pela gestão da frota e a gestão dos direitos de pesca é uma demonstração da ampla margem que as propostas da Comissão conferem aos Estados-Membros no que diz respeito às medidas de execução. Os Estados-Membros teriam a possibilidade de deixar a pequena frota costeira à margem do sistema das concessões de pesca transferíveis. Supõe-se que esta medida visa proteger a pequena frota costeira contra uma potencial erosão das possibilidades de pesca. O artigo 27.º da proposta de regulamento de base para a reforma da PCP estabelece a obrigatoriedade da instauração de um sistema de concessões de pesca transferíveis (CPT) em cada Estado-Membro para os navios de pesca de comprimento igual ou superior a 12 metros, e para os navios de comprimentos inferiores a 12 metros que pesquem com artes «rebocadas». Contudo, os Estados-Membros poderiam alargar a aplicação do sistema à pequena frota costeira. Se os Estados-Membros não utilizassem esta possibilidade, a pequena frota costeira ficaria numa posição particular no que diz respeito à gestão dos recursos pesqueiros, uma vez que ficariam à margem do sistema geral. A proposta da Comissão não diz muito mais sobre a aplicação das CPT à pequena frota pesqueira. Existem duas possibilidades, quer as CPT se apliquem, ou não, à pequena frota costeira. Em princípio, as CPT aplicar-se-ão a todas as populações de peixes relativamente às quais tenham sido atribuídas possibilidades de pesca, com exceção das resultantes dos acordos de pesca com países terceiros. Há duas fontes principais de possibilidades de pesca, as populações cuja exploração se reja por TAC, e as possibilidades de pesca derivadas das medidas adotadas no quadro da regionalização. Como não poderia ser de outra maneira, é de supor que as possibilidades postas à disposição da pequena frota costeira serão descontadas das quotas atribuídas aos Estados-Membros. Se as CPT fossem aplicadas à pequena frota costeira, também lhe seria aplicável o regime geral de transferibilidade nas condições e modalidades decididas por cada Estado-Membro. Além disso, a sua capacidade pesqueira ficaria excluída do cálculo no regime de entrada e saída. Subentende-se que uma eventual exoneração da aplicação das CPT à pequena frota costeira teria por objetivo protegê-la de uma eventual erosão das possibilidades de pesca que lhe foram atribuídas inicialmente. Se um Estado-Membro decidisse não aplicar as CPT à pequena frota costeira, seria necessário considerar diferentes consequências. Por exemplo, o armador de um navio pertencente à pequena frota costeira não poderia adquirir

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Departamento Temático B: Políticas Estruturais e de Coesão _________________________________________________________________

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direitos de pesca para além dos atribuídos inicialmente. Por outro lado, se o armador de um navio da pequena frota costeira decidisse ou fosse obrigado a abandonar a atividade, não poderia vender os seus direitos de pesca e deveria reintegrá-los na reserva estatal. Deste modo, os pescadores que abandonassem a atividade ver-se-iam privados de uma fonte de financiamento. Em consequência, se o que se pretende é proteger a pequena frota costeira, talvez fosse preferível adotar medidas específicas em vez de as deixar à margem do sistema das CPT. O artigo 35.º da proposta de regulamento de base estabelece que os Estados-Membros possam solicitar à Comissão que os navios sujeitos a um sistema de concessões de pesca transferíveis sejam excluídos da aplicação dos limites máximos de capacidade de pesca. Nesse caso, os limites máximos da capacidade de pesca seriam recalculados por forma a terem em conta os navios de pesca que não estão sujeitos a um sistema de concessões de pesca transferíveis. Num caso limite, poderia chegar-se à situação de a gestão da frota só se aplicar à pequena frota costeira. Por outro lado, no caso da pequena pesca costeira, podem ocorrer mudanças na utilização das artes ou alternância entre artes principais e secundárias, tão frequentes nas frotas polivalentes. Na proposta do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e da Pesca (FEMP), existem vários aspetos orientados sobretudo para a pequena frota costeira. A sua segunda prioridade centra-se no estímulo a um setor de pesca inovador, competitivo e assente no conhecimento, e dentro dela, distingue-se o objetivo de fomentar a competitividade e a viabilidade da pesca, nomeadamente da pequena pesca costeira, bem como de melhorar as condições de segurança e de trabalho. Outras das ações do FEMP visa promover a qualidade dos produtos de pesca, facilitando a sua comercialização direta por parte dos pescados que se dedicam à pequena pesca costeira. Esta medida exigiria um maior desenvolvimento, uma vez que, em geral, a comercialização através de circuitos curtos é uma das características da pequena pesca artesanal. Deste modo, a proposta do FEMP prevê várias ações destinadas especificamente à pequena frota costeira. Por exemplo, prevê-se o apoio à adaptação de navios dedicados à pequena pesca costeira para dedicá-los a atividades alheias ao setor da pesca. Neste caso, à definição geral utilizada para a pequena pesca costeira são acrescentadas algumas restrições adicionais. Os navios devem estar registados como navio em atividade e devem ter desenvolvido atividades de pesca no mar pelo menos durante sessenta dias nos dois anos anteriores à data de apresentação do pedido. Nestes casos, a licença de pesca associada ao navio será retirada com caráter definitivo. Por outro lado, a pequena frota costeira está a ser chamada a servir de parâmetro importante na conceção de vários aspetos financeiros do FEMP. A distribuição financeira no quadro da gestão partilhada será feita, entre outros fatores, em função da proporção que a pequena frota costeira representa no conjunto da frota de pesca. A concentração da capacidade de pesca da pequena frota coincide, na maior parte das regiões, com outras frotas de maior dimensão e a sua importância relativa dilui-se. Por este motivo, se fossem estabelecidas condições mais favoráveis para as regiões com maior percentagem de navios de pequena dimensão estar-se-ia a discriminar algumas das regiões mais dependentes da pesca.

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