diplomata canadiano a seis meses da saída renamo está ... · cooperação comercial entre canadá...

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o Pág. 2 P P Renamo está frustrada Diplomata canadiano a seis meses da saída Moçambicanos refugiados no Malawi embaraçam Nyusi Centrais

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Page 1: Diplomata canadiano a seis meses da saída Renamo está ... · cooperação comercial entre Canadá e Moçambique. ... um papel muito importante junta- ... os moçambicanos conheçam

o

Pág. 2PPRenamo está frustradaDiplomata canadiano a seis meses da saída

Moçambicanos refugiados no Malawi embaraçam Nyusi

Centrais

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TEMA DA SEMANA2 Savana 05-02-2016

A menos de seis meses

para o fim da sua missão

em Moçambique, o alto-

-comissário do Canadá,

Shawn Barber, abriu as portas do

seu gabinete, em Maputo, última

terça-feira, para 60 minutos de en-

trevista com o SAVANA. Apesar

de cauteloso no discurso, o diplo-

mata não escondeu, nas entreli-

nhas, a sua preocupação devido à

corrupção que disse ser um mal que

urge extirpar dados os seus efeitos

perniciosos para o país. “Gostarí-

amos de ver mais assuntos concre-

tos do que compromissos retóri-

cos”, afirmou Shawn Barber para

quem reformar a gestão e finanças

públicas é fundamental para que

Moçambique ganhe confiança da

comunidade internacional, prin-

cipalmente, num momento em

que os seus principais produtos

de exportação, como carvão e gás,

começam a declinar. A dado passo,

apontou a nebulosa Empresa Mo-

çambicana de Atum (EMATUM)

como um verdadeiro fardo para as

finanças. O que também não con-

seguiu esconder é a sua simpatia

pelo presidente Filipe Nyusi e, em

contrapartida, disse não perceber

muito bem o que o presidente da

Renamo, Afonso Dhlakama, quer.

Admitiu, contudo, que a Rena-

mo esteja frustrada, mas indicou

o diálogo como a melhor saída,

condenando assim a pretensão de

governar o centro e norte a partir

de Março. Mas também confes-

sou estar preocupado com ata-

ques contra figuras de direcção do

maior partido da oposição, afir-

mando que tolerância de ideias é

um dos elementos chaves para le-

var Moçambique para frente.

Como caracteriza o actual estágio

das relações entre Moçambique e

Canada?

Existe até agora uma relação peque-

na, mas crescente. Moçambique é

um dos países onde temos os níveis

de exportação a crescer para cereais

como trigo e tenho tentado con-

vencer os canadianos para investir

em Moçambique, razão pela qual já

existem, por exemplo, negociações

para a assinatura de um acordo de

cooperação comercial entre Canadá

e Moçambique. Canadá é um dos

maiores países mundiais com in-

vestimento em África, actualmente

contando com mais de 25 biliões de

investimento em África e principal-

mente no sector mineiro e é objectivo

do Canadá que tal investimento passe

a fluir em Moçambique para que as

empresas canadianas também tomem

parte das oportunidades e possam

contribuir para o crescimento econó-

mico de Moçambique e criar empre-

go para os moçambicanos.

Para além do Orçamento do Es-

tado, o Canadá presta apoio para

áreas como saúde e educação. Ora,

quais são as vossas prioridades em

Moçambique?

Canadá tem três prioridades em Mo-

Alto-comissário do Canadá em Moçambique fala do combate à corrupção

É preciso ir além da retóricaPor Armando Nhantumbo

çambique. Primeiro é contribuir para

o crescimento económico e desenvol-

vimento, através da contribuição para

os sectores da educação e saúde, bem

como para o Orçamento do Estado.

Para além disso, existe também um

programa de cooperação bilateral,

trabalhando exactamente nos mes-

mos sectores, a educação e a saúde, e

um dos sectores agora em enfoque é o

crescimento sustentável que consiste

em ajudar o sector privado e os pró-

prios moçambicanos a criar emprego.

A segunda prioridade são as relações

comerciais e de investimento. O fu-

turo de Moçambique vai residir, se-

guramente, no desenvolvimento eco-

nómico. É verdade que a assistência

ao desenvolvimento pode ajudar, mas

será sobretudo no sector privado que

Moçambique poderá melhorar a sua

situação económica.

A terceira prioridade está focada no

apoio e na advocacia pelos direitos

humanos, paz, segurança e também

no processo da democratização. E

deixem-me realçar a existência de

uma ligação directa entre democra-

cia, paz e crescimento económico. Só

em Países onde há democracia, paz e

segurança é que o crescimento eco-

nómico realiza-se em níveis relativa-

mente rápidos. Portanto, todas essas

prioridades estão interligadas e têm

como objectivo ajudar Moçambique

a avançar.

Mais adiante falaremos, particu-

larmente, desta terceira prioridade,

para já, que marco de que Canadá se

orgulha de ter feito em prol de Mo-

çambique e dos moçambicanos?

Primeiro aspecto é a assistência do

Canadá ao sector da saúde, particu-

larmente a saúde materno-infantil

em que Moçambique já fez muitos

progressos na redução da mortalida-

de infantil e Canadá desempenhou

um papel muito importante junta-

mente com o Governo de Moçam-

bique e outros parceiros, para realizar

este grande feito. Por outro lado, exis-

te o sector da educação onde o Cana-

dá fez uma grande contribuição. Por

exemplo, Canadá foi fundamental em

possibilitar que as crianças pudessem

ter livro escolar. Foi possível fazer

com que 17 milhões de livros fossem

distribuídos, principalmente, nas zo-

nas rurais. Portanto, estou orgulho-

so pela forma como o Canadá tem

contribuído para o desenvolvimento

social e económico de Moçambique.

Gostaríamos de fazer maior contri-

buição com maior enfoque na cria-

ção de emprego e a despesa econó-

mica. Todos os anos, 300 mil jovens

disponibilizam-se para o mercado

de emprego. Apesar do crescimento

relativamente maior, não existe ainda

maior capacidade de absorção desta

mão-de-obra e nós gostaríamos de

desempenhar maior papel para ex-

pandir o sector privado em Moçam-

bique para que esse sector privado

crie essas oportunidades.

Sabemos que a 18 de Fevereiro cor-

rente, realizar-se-á, em Maputo um

fórum de negócios Moçambique-

-Canadá. O que se pretende com o

evento?

O grande objectivo é expor ao sector

privado ou empresarial canadiano

a Moçambique, bem como o sector

empresarial moçambicano ao cana-

diano. Fazer com que o sector em-

presarial canadiano conheça as opor-

tunidades existentes e fazer com que

os moçambicanos conheçam as capa-

cidades e as oportunidades existentes

no Canadá e que podemos oferecer.EMATUM, um verdadeiro

Agora sim, na terceira prioridade,

falava, por exemplo, de democra-

tização, um processo que envolve

questões como a boa governação, a

transparência, o combate à corrup-

ção. Como é que situa Moçambique

em termos de democratização?

Tal como os demais membros do

G19, acreditamos que muita coisa

melhorou, mas ainda existem outras

coisas que precisam ser feitas para

tornar Moçambique um País favo-

rável para o investimento. Se olhar-

mos para o ranking Doing Business do Banco Mundial, Moçambique

não fez grandes mudanças nos últi-

mos anos. Portanto, existe um con-

junto de burocracia que precisa ser

reduzida para possibilitar que novas

companhias venham a Moçambique

investir. Os processos são lentos, mas

Moçambique precisa de entender

que está em competição quando o

assunto é o investimento estrangeiro.

Coreia do Sul, Singapura, Botswana,

Namíbia, são entre os competidores.

No passado tivemos a questão da

EMATUM que foi uma grande sur-

presa tanto para a comunidade inter-

nacional em geral, tanto para o G19

e que agora é de facto um verdadeiro

fardo às finanças moçambicanas. A

reforma da gestão e finanças públi-

cas é fundamental para Moçambique

ganhar confiança da comunidade

internacional, principalmente num

momento em que os seus principais

produtos de exportação como carvão

e gás começam a declinar. Ou seja,

criar um ambiente propício para in-

vestimento estrangeiro, combater a

corrupção ou demonstrar claramente

que o governo está comprometido

em combater a corrupção, é funda-

mental para que Moçambique possa

progredir em relação ao desenvolvi-

mento económico.

Sente que algo está sendo feito para

reduzir ou acabar a corrupção em

Moçambique?

A corrupção continua a ser uma pre-

ocupação não só para Canadá, como

também para G19. Todavia, sei que

há um plano de acção de combate à

corrupção que é resultado das discus-

sões entre G19 e o Governo e acredi-

to que há muito ainda que pode ser

feito. Existe um sentimento genera-

lizado de que o Governo poderia ter

feito mais para estancar a corrupção a

todos os níveis. Vimos alguns sinais

do Governo moçambicano em querer

estancar a corrupção, em alguns sec-

tores da polícia, administração públi-

ca, porém, existem outras áreas onde

o trabalho ainda tem de ser feito.

Que áreas?

Por exemplo, a questão da contra-

tação pública. Quando se oferece

contrato sem concursos públicos, no

geral não é uma boa prática ao nível

da gestão das finanças públicas e nós

sabemos que o Governo está a fazer

esforços para reduzir a percentagem

dos contratos que são adjudicados

sem contrato público, mas nós tam-

bém gostaríamos de ver mais assuntos

concretos do que compromissos retó-

ricos e isto é bom para tirar proveito

de cada metical ou dólar que se inves-

te. E tal como os restantes países que

estão a contribuir para o Orçamento

do Estado, o Canadá julga que esta é

uma questão legítima a ser levantada

na sua relação e continuarão de forma

efectiva a engajar-se no diálogo com

o Governo sobre este assunto.

Ano passado, alguns países mem-

bros do G19 abandonaram o apoio

directo ao Orçamento do Estado

moçambicano, alegando questões

ligadas à transparência e falta de

evolução na luta contra a corrup-

ção. Entretanto, o Canadá continua

a apoiar directamente o Orçamento.

O que pesou para a vossa perma-

nência nessa modalidade?

Canadá vai agora entrar, ainda este

ano, num período de reflexão em re-

lação ao apoio ao Orçamento do Es-

tado. O programa actual chega ao fim

no próximo ano e a renovação destes

compromissos vai depender também

da reflexão que faremos internamen-

te, ponderados os prós e os contras.

Mas o que estará na mesa da refle-

xão?

Trata-se de um conjunto de facto-

res, entre os quais, a relevância desta

modalidade de apoio, os recursos dis-

poníveis e se esta é a melhor forma

de usar os recursos e em que medi-

da o apoio directo orçamental está

a atingir os objectivos, por exemplo,

na gestão da finanças públicas e na

transparência.

Ainda no ano passado, o alto-co-

missário do Canadá saudou o que

chamou de compromisso do Pre-

sidente Filipe Nyusi e do ministro

da Economia e Finanças, Adriano

Maleiane, para o fortalecimento

da transparência fiscal e reforço da

gestão das finanças públicas como

elementos-chave da parceria entre o

Governo de Moçambique e o grupo

dos Parceiros Programáticos.

Um ano depois, o que se ofere-

ce dizer?

Nós saudamos o discurso do

“Retornar à guerra seria uma infelicidade para Moçambique” - Shawn Barber

- Shawn Barber diz, por outro lado, que a Renamo está frustrada e recomenda diálogo

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TEMA DA SEMANA 3Savana 05-02-2016 TEMA DA SEMANA

Os sinais de retoma do diálogo político

entre o governo e a Renamo, para se

ultrapassar a tensão político-militar

no país, estão cada vez mais longe,

dada a troca de acusações entre as partes.

Enquanto o chefe de Estado, Filipe Nyusi, diz

que a falta de clareza na estrutura hierárquica

da Renamo dificulta o reatamento do diálogo,

o maior partido da oposição acusa Nyusi de

falta de seriedade e capacidade de liderança,

uma vez que os seus antecessores conseguiram

negociar com o movimento, mesmo desco-

nhecendo a sequência da sua estrutura hierár-

quica.

Numa altura em que já iniciou a contagem de-

crescente para Março, mês em que o líder da

Renamo, Afonso Dhlakama, diz que vai co-

meçar a governar as seis províncias onde recla-

ma vitória eleitoral, o rumo do país mostra-se

cada vez mais incerto.

Enquanto Dhlakama estica a corda, o Presi-

dente da República vai dando tiros a vários

alvos, numa acção que pode ser vista como

tentativa de fragilizar os intervenientes do di-

álogo político.

No ano passado, Filipe Nyusi falou da existên-

cia de oportunistas que, do nada, pretendiam

integrar o processo negocial, como mediado-

res, sem nenhuma experiência na área.

Depois atacou os observadores que, além de os

ter chamado oportunistas, também os acusou

de não transmitirem fielmente as mensagens

às partes pelo protagonismo que pretendiam

tirar do processo.

Esta semana virou os canos para a sua con-

traparte do diálogo e disse estar a enfrentar

dificuldades para reatar o diálogo por falta de

clareza na hierarquia da segunda maior força

política nacional.

Isto porque, como Dhlakama não é visto pu-

blicamente desde 9 de Outubro de 2015, não

sabe com quem dialogar, uma vez que a se-

quência do partido não permite saber quem

segue a quem.

Esta terça-feira, o SAVANA contactou o por-

ta-voz da Renamo, António Muchanga, que,

prontamente, deplorou as acusações do chefe

de Estado, tendo de seguida o acusado de falta

de seriedade e capacidade de liderança.

Muchanga diz não perceber porque é que

Nyusi levanta a questão da hierarquia da

Renamo, uma vez que os seus antecessores,

Joaquim Chissano e Armando Guebuza, en-

traram em negociações com a “perdiz”, que

resultaram no Acordo Geral de Paz e enten-

dimento sobre a cessação das hostilidades mi-

litares, respectivamente.

Refere o deputado que, em ambos os proces-

sos, ninguém procurou saber da estrutura hie-

rárquica da Renamo, nem quem era o número

dois ou três.

Prosseguindo, disse que, no ano passado, o seu

partido enviou uma correspondência à Presi-

dência da República, solicitando o reatamento

do diálogo e uma nova composição da equipa

de mediação, que integraria bispos católicos e

Jacob Zuma, Presidente sul-africano, mas, até ao momento, a Renamo diz que ainda obteve nenhuma resposta. Muchanga diz não perceber o sentido das de-clarações de Filipe Nyusi, numa altura em que o mais importante é o estabelecimento da paz no país e não a posição dos membros do seu partido. Lamentou o facto de o chefe de Estado fazer referência à hierarquia no principal partido da oposição, sem se ter pronunciado sobre os atentados contra Afonso Dhlakama e Manuel Bissopo. Devido a estes atentados, a Renamo, adiantou António Muchanga, descarta por enquanto a possibilidade da realização de um encon-tro entre Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama e aponta como saída a utilização de emissários, tal como fizeram os antigos presidentes da re-pública. No entanto, o porta-voz da Renamo acusa Nyusi de falta de liderança, referindo que, en-quanto presidente da Frelimo diz uma coisa e a comissão política, juntamente com os pri-meiros secretários, quer provinciais ou distri-tais fazem o contrário, desmentindo as suas

declarações.

António Muchanga, Porta-voz da Renamo

Nyusi foi infelizPor Argunaldo Nhampossa

presidente em relação ao seu compro-

misso pela transparência na gestão de

finanças públicas. Acredito que o

presidente Nyusi tem a noção dos

efeitos perniciosos da má gestão da

coisa pública para o desenvolvimento

do País. Como disse anteriormente,

Moçambique está em competição.

Se eu for um empresário com um

milhão de dólares para investir, um

dos elementos que tomarei em con-

ta será a corrupção. Altos níveis de

corrupção aumentam o risco de in-

vestimentos. O investimento estran-

geiro, normalmente, olha para onde

existem baixos índices de corrupção.

Portanto, quanto menor forem os

níveis de corrupção em Moçambi-

que, maior serão as possibilidades de

investimento estrangeiro. Por causa

disso, saudamos o compromisso do

presidente Nyusi. Não é que tal possa

ser possível reverter em um ano, mas

o mais importante são actos tangíveis

e passos concretos para abordar este

aspecto. Portanto, voltando a vossa

questão, julgo que é muito cedo para

dizer algo.

A comunidade internacional desde

logo mostrou-se preocupada com a

forma como foi criada, em 2013, a

EMATUM, até porque o G19 che-

gou a condicionar o desembolso do

orçamento para 2014, à “regulariza-

ção fiscal” da empresa sobre a qual

o Governo de Maputo avalizou um

empréstimo de 850 milhões de dó-

lares (cerca de 612 milhões de eu-

ros). Foram esclarecidos? E se a res-

posta for sim, estão satisfeitos com

o esclarecimento?

Deixe-me clarificar que não foi ape-

nas o G19, como também o FMI

(Fundo Monetário Internacional) e

nos últimos dois anos as transacções

da EMATUM começaram a ficar

cada vez mais claras. Independente-

mente de ser ou não boa a ideia de

investir na indústria de Atum – esta

é uma decisão que caberia a Moçam-

bique - o que constituiu surpresa para

nós foi a inexistência de uma consulta

antecipada em relação ao assunto e,

subsequentemente, os pagamentos

a dívida da EMATUM são um ver-

dadeiro fardo às finanças moçambi-

canas. Agora que sabemos, devemos

congratular o ministro Maleiane pela

sua transparência em trabalhar com

os doadores em relação aos passos a

seguir e acreditamos que houve algu-

ma lição aprendida em relação a este

negócio.

Em Janeiro de 2015, tomou pos-

se um novo presidente e um novo

Governo. Um presidente e um Go-

verno que encontram um país e um

povo que, para alguns analistas, ti-

nha mesmo parado de sonhar. Era

um país mergulhado numa tensão

política, um país abalado por rap-

tos, um país com elevados índices

de dívida. O que acha que foi este

primeiro ano de Governação da

equipa de Nyusi, tendo em conta o

Moçambique que herdou?

A dívida de Moçambique é uma

questão que o presidente Nyusi her-

dou do governo anterior e ele está

a lidar com este aspecto. Quanto à

questão militar, temos de ver dos

dois lados para ver melhor o que está

a acontecer. Porém, lamentamos a

decisão de ambas as partes de terem

recorrido à violência como forma de

resolver o conflito. Eu apelei nos dias

passados a que o Governo e a Rena-

mo se engajassem num diálogo, toda-

via, estou desapontado pelo facto de

a Renamo ter decidido não se enga-

jar nesse diálogo. Ao mesmo tempo

também estamos muito preocupados

com os ataques perpetrados contra

figuras de direcção da Renamo. Não

é uma boa coisa para a imagem de

Moçambique a nível internacional e

sabemos que todos os moçambicanos

não estão interessados em regressar

ao conflito. E saudamos o interesse

do presidente Nyusi em melhorar o

diálogo e um diálogo directo com o

senhor Dhlakama. Estaríamos mui-

to satisfeitos se antes de a Renamo

dar o próximo passo em relação à

governação das áreas identificadas,

existisse um encontro directo entre

o Presidente Nyusi e o Presidente

Dhlakama.

Em Março de 2015, à saída

de uma audiência com

o presidente Nyusi, terá

descrito como normal a

situação política de Moçambi-

que, afirmando que “não há ne-

nhuma guerra de palavra, é uma

situação normal entre o governo

e partidos da oposição”. Então,

onde acha que a situação mudou,

já que hoje fala de violência?

O que mudou foi a decisão da Re-

namo de abandonar as negociações

e anunciar a governação em zonas

identificadas. Também, nós vimos

propostas da Renamo derrotadas

em sede do parlamento e enten-

demos que eles estejam frustrados,

todavia, qualquer que seja a frus-

tração, a melhor solução é sempre

buscar essas soluções por via do

diálogo, por via do engajamento

público e não necessariamente a

recorrência à violência.

Mas o Presidente da Renamo diz

que já foi a vários diálogos com os

presidentes da República, todos

eles da Frelimo e que, muitos de-

les, de substancial nada produzi-

ram. Diz Afonso Dhlakama que

já não quer ir a encontro só para

sair na foto…

Pessoalmente, não percebo muito

bem o que o presidente da Rena-

mo quer ou que está interessado,

mas estou resolutamente convicto

de que é sempre preferível o diá-

logo, falar do que levantar armas.

Moçambique está neste momento

num ponto sem retorno, onde as

multinacionais estão já preparadas

para fazer os seus investimentos

multimilionários. O FMI estima

que, entre 2025 a 2045, Moçambi-

que terá um investimento avaliado

em 500 trilhões de dólares, pelo

que seria um retrocesso enorme se

o Governo e a Renamo decidissem

voltar ao conflito. Seria na verdade,

uma infelicidade para o desenvol-

vimento de Moçambique.

Mas quando tomou posse, o Pre-

sidente Nyusi prometeu de viva

voz que o país não regressaria

mais à guerra. Disse que devia ser

inabalável a certeza de que jamais

os moçambicanos voltariam a se

confrontar. Contudo, a verdade

em um ano mostra que não es-

tamos tranquilos, que não esta-

mos em paz efectiva para pensar

no desenvolvimento do país.

Tem alguma receita para que ele,

como Chefe de Estado, possa, de

uma vez por todas, devolver a paz

a Moçambique e aos moçambica-

nos?

O futuro de Moçambique perten-

ce aos moçambicanos e não cabe

aos diplomatas andarem a dar con-

selhos do que devia ser feito pelo

Governo. Todavia, o Canadá sau-

dou bastante o discurso inaugural

do presidente Nyusi pelo seu com-

promisso em melhorar a questão

dos direitos humanos, a sua visão

de um Estado não partidário e um

serviço público.

Como é que tem acompanha-

do assassinatos ou tentativas de

assassinatos que, coincidente-

mente, sempre vitimam pessoas

ligadas à oposição ou então que

tomam posições incómodas ao

Governo da Frelimo?

Gostaria de repetir que o Go-

verno de Moçambique tem nos

próximos 10 anos a oportunidade

de investir muito dinheiro para o

benefício das suas populações. E

uma das vantagens de nós estar-

mos no G19 é que podemos de

uma forma transparente e direc-

ta discutir vários assuntos com o

Governo moçambicano desde a

gestão das finanças públicas, paz

e segurança, a corrupção. Também

somos parceiros fiscais do Go-

verno de Moçambique e por essa

via estamos interessados em ver

como essa gestão acontece. Nada

disso vai acontecer sem a paz. Por

isso que essas discussões directas

entre o Governo e a Renamo são

para o Canadá muito importantes.

Portanto, tolerância de ideias e de

visões é um dos elementos impor-

tantes. Acreditamos que as pala-

vras que o presidente Nyusi profe-

riu durante a sua tomada de posse

sejam acolhidas por partes de tal

forma que se reactive o diálogo e

continuarmos a levar Moçambi-

que para frente num clima de paz.

Consta-nos que está no fim do

seu mandato como alto-comis-

sário em Moçambique. Sai satis-

feito?

A minha missão termina em Julho

próximo. Vim a Moçambique há

25 anos, havia guerra e voava pelos

aviões do PMA por Sussundenga,

Beira e Vilankulo. Neste momen-

to estou feliz por poder viajar pelo

país e ver o que vejo. Todavia há

muito que deve ser feito em Mo-

çambique. Fora de Maputo os ní-

veis de pobreza continuam altos, os

níveis de educação são muito bai-

xos, o acesso aos cuidados de saúde

ainda permanecem problemáticos.

Eu acredito que o crescimento

económico só fará sentido quando

entre homens e mulheres houver

igualdade e as mulheres tiverem

o controlo do seu próprio destino.

Em termos gerais, estou satisfeito

com o progresso de Moçambique,

todavia, existe muito que deve ser

feito. Acredito que com boa vonta-

de e num clima de paz, os moçam-

bicanos podem alcançar os anseios

que pretendem.

“A Renamo está frustrada”

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TEMA DA SEMANA4 Savana 05-02-2016PUBLICIDADE

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TEMA DA SEMANA 5Savana 05-02-2016 PUBLICIDADE

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6 Savana 05-02-2016PUBLICIDADE

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7Savana 05-02-2016 PUBLICIDADE

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8 Savana 05-02-2016PUBLICIDADE

Eni East Africa S.p.A. invites interested companies to submit expressions of interest for purchasing of drilling material owned by the company and currently stock in Pemba. Detailed list of materials will be provided to entities who re-ply to this request for expression of interest.In summary the material to be sold are the following:

1) Casings:

available please reply to this public announcement [email protected]) the

-tacted.

Expression of Interest shall be fully born by companies who shall have no recourse to eni east africa in this respect.

through our website is set at 12th February 2015.

REQUEST FOR EXPRESSION OF INTEREST SALES OF MATERIAL OF ENI EAST AFRICA SpA

A Eni East Africa S.p.A. convida as empresas interessadas em sub-meter a Sua Manifestação de Interesse para a compra de material de

Pemba.

que responderem positivamente a este pedido de manifestação de interesse.

-didos:

-

-

através do seguinte endereço de email: os detalhes de contacto da pessoa que deve ser contactada.Quaisquer custos incorridos pelas empresas interessadas na prepa-ração da Manifestação de Interesse serão da total responsabilidade

website indicado acima termina no dia 12 de Fevereiro de 2016.

PEDIDO DE MANIFESTAÇÃO DE INTERESSEVENDA DE MATERIAL DA ENI EAST AFRICA S.p.A

Eni East Africa S.p.A. invites interested companies to submit expressions of interest for purchasing of scrap material owned by the company and currently stock in Pemba.

-gistic base located in Pemba.Detailed list of materials will be provided to entities who reply to this request for expression of interest.

available please reply to this public announcement pro-

be contacted.

the Expression of Interest shall be fully born by compa-

respect.

through our website is set at 12th February 2015

REQUEST FOR EXPRESSION OF INTEREST SALES OF SCRAP MATERIAL OF ENI EAST AFRICA SpA

A Eni east Africa S.p.A. convida as empresas interessadas em submeter a Sua Manifestação de Interesse para a compra de

Pemba.

-dades que responderem positivamente a este pedido de mani-festação de interesse.

fornecendo através do seguinte endereço de email: eea.procu--

vel.Quaisquer custos incorridos pelas empresas interessadas na preparação da Manifestação de Interesse serão da total respon-

do website indicado acima termina no dia 12 de Fevereiro de 2016.

PEDIDO DE MANIFESTAÇAO DE INTERESSEVENDA DE MATERIAL OBSOLETO DA ENI EAST AFRICA SpA

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9Savana 05-02-2016 SOCIEDADEPUBLICIDADE

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10 Savana 05-02-2016SOCIEDADESOCIEDADE

O Porto de Maputo registou em 2015 uma queda de 19,17%

no manuseamento de carga, que caiu para 15,6 milhões

de toneladas face a 19,3 milhões de toneladas em 2014,

apontando a redução dos preços das matérias-primas

como a causa da contracção do movimento registado naquela infra-

-estrutura.

“A queda registada prende-se com as difíceis condições vividas nos

mercados internacionais, com uma descida acentuada dos preços

das commodities em comparação com anos anteriores. As maiores

perdas de volumes registaram-se no carvão e magnetite mas tam-

bém no terminal de viaturas e no açúcar”, refere um comunicado da

Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC), que

gere o empreendimento.

Para reverter esta conjuntura desfavorável, prossegue a nota de im-

prensa, a MPDC colocou em marcha, em meados de 2015, uma

estratégia de diversificação dos seus mercados e manteve o nível de

investimento no seu programa de expansão portuária, que tem mar-

cado os últimos anos.

“O objectivo de alcançar uma capacidade de movimentação de 40

milhões de toneladas até ao final da concessão (em 2043) mantém-

-se”, afirmou o director-executivo da MPDC, Osório Lucas, citado

na nota de imprensa.

Segundo Lucas, os pilares que vão sustentar a expansão da activida-

de do porto continuam inalterados e os objectivos da empresa serão

perseguidos de forma lógica.

“Tal não irá acontecer do dia para a noite, mas tudo o que pode ser

accionado está a ser accionado”, acrescentou o director-executivo da

MPDC.

Em linha com as perspectivas de crescimento da actividade do por-

to, 2015 foi marcado pela entrada em funcionamento da nova estra-

da portuária, expansão da banca de ferro-crómio, início da expansão

do terminal de contentores e a aquisição de dois guindastes móveis

são alguns dos marcos de 2015.

Para 2016, embora a tendência decrescente nos mercados interna-

cionais se mantenha, a MPDC mantém em curso os investimentos

previstos no âmbito do Plano-Director traçado para o Porto de Ma-

puto.

Carga manuseada em 2015 caiu 19,17%

Porto de Maputo

O multimilionário britânico

de origem sudanesa, Mo

Ibrahim, juntou-se em

consórcio com o grupo

português Sonae, do empresário

Belmiro Azevedo, para adquirir a

cadeia moçambicana de supermer-

cados Extra, do Grupo ADC, da

Africom Limited e Delta Trading

& Companhia, revelou esta semana

o jornal electrónico Zitamar News.

Citando a Fundação Mo Ibrahim,

de que o empresário sudanês é pa-

trono, Zitamar News dá conta de

que a entrada do magnata na Extra

será feita através da S2 Africa, uma

entidade de retalho criada em 2014

pela Satya Capital, fundo privado

criado pela fundação Mo Ibrahim

para investimentos em África e di-

rigido pelo seu patrono.

O Grupo Sonae irá realizar a sua

participação na Extra através da

Sonae Distribution, detentora da

cadeia de hipermercados Conti-

nente em Portugal.

Em 2015, o Grupo Sonae falhou

uma parceria com a empresária an-

golana Isabel dos Santos, filha do

Presidente José Eduardo dos San-

tos, para a abertura de uma cadeia

de supermercados em Angola.

A cadeia de supermercados Ex-

tra pertenceu antes ao grupo

sul-africano Pick n Pay, que o

vendeu aos grupos Africom Li-

mited e à Delta Trading & Com-

panhia em 2013 por considerar

que o negócio não era rentável.

Mo Ibrahim, nascido no Sudão

mas que ostenta igualmente a na-

cionalidade inglesa, fez a sua fortu-

na no sector de telecomunicações

e é patrono do prémio que leva o

seu nome, criado para o reconheci-

mento de antigos chefes de Estado

africanos que deixaram voluntaria-

mente o poder.

Várias fontes estimam em pouco

mais de um bilião de dólares a ri-

queza de Ibrahim, maioritariamen-

te acumulada através da firma de

telecomunicações Celtel, de que é

fundador.

O ex-chefe de Estado moçambica-

no Joaquim Chissano, que dirigiu o

país durante 18 anos, entre 1986 e

2005, foi o primeiro laureado com

o Prémio Mo Ibrahim.

Mo Ibrahim compra cadeia de supermercados Extra

“Estamos aqui, como é do co-nhecimento de todos, para celebrar a vitória, aquela vi-tória que foi concebida pelos

heróis que aqui estão representa-dos”. Foi com estas palavras que o presidente da República, Filipe Nyusi, dirigiu-se à nação, última quarta-feira, a partir da praça dos Heróis Moçambicanos, em Ma-puto, por ocasião da passagem de mais um três de Fevereiro.

Um Dia dos Heróis que volta a

ser celebrado com uma lágrima no

canto do olho. Na verdade, a vi-

tória a que o presidente se referiu

tem um sabor amargo pelo menos

para a maioria dos moçambicanos

que, há cerca de três longos anos,

vivem na incerteza, sem saber o que

o amanhã lhes reserva, com o es-

pectro de guerra a lhes perseguir no

dia-a-dia.

Não é por acaso que discursos pela

paz tenham marcado as celebrações

da data que, este ano, coincide com

a passagem de 47 anos da morte

de Eduardo Chivambo Mondlane,

declarado pela história oficial como

arquitecto da unidade nacional e

descrito pela crítica actual como

um maquiavélico que, à última

hora, arrancou protagonismo na

Formação da Frente de Libertação

de Moçambique e, consequente-

mente, a liderança do movimento

que resultara da fusão da MANU,

UNAMI e UDENAMO.

Para a presidente da Assembleia da

Republica, Verónica Macamo, três

de Fevereiro de 2015 é hora para

tornar Moçambique um País para

se viver bem, o que passa necessa-

riamente por preservar a paz.

“Queremos uma paz perene”, exi-

giu Verónica Macamo para quem,

a par da preservação da paz, urge

atacar energicamente o subdesen-

volvimento.

“Temos de combater a pobreza

com todas as forcas, com toda a

energia, mas também com todo o

entusiasmo”, disse Macamo.

Quem também elegeu a paz como

o principal desafio do momento é

o antigo presidente moçambicano,

Armando Guebuza, que entende

que é preciso coragem para enfren-

tar esta luta.

“O difícil deve ser vencido pelos

corajosos”, afirmou o negociador-

-chefe do Acordo Geral de Paz, em

Roma, a 04 de Outubro de 1992 e

signatário do Acordo de Cessação

das Hostilidades Militares, a 05 de

Setembro de 2014.

Para o antigo secretário executivo

da Comunidade para o Desenvol-

vimento da África Austral (SADC)

Tomaz Salomão, três de Fevereiro é

uma data de estímulo e de referên-

cia para a longa marcha pelo desen-

volvimento de Moçambique.

Questionado pelo SAVANA sobre

o significado de celebrar o Dia dos

Heróis moçambicanos, em meio à

instabilidade, o membro sénior da

Frelimo defendeu a necessidade de

“manter a cabeça fria e continuar a

trabalhar”.

Por seu turno, a antiga primeira-

-ministra, Luísa Diogo, disse ao

nosso hebdomadário que celebrar

o três de Fevereiro num clima de

tensão significa um desafio perma-

nente em relação a paz.

“O legado de Mondlane é unida-

de nacional, a paz e o progresso e

nós sentimos que o desafio da paz

continua presente e que temos de

continuar a trabalhar para preser-

var”, disse a respeitada mulher na

Frelimo.

Na mesma linha, o antigo secretá-

rio-geral da Frelimo, Filipe Paún-

de, apontou como grande desafio

a unidade nacional, por ser, na sua

óptica, a solução para todos os obs-

táculos que o País enfrenta.

“Temos de continuar a consolidar a

unidade nacional porque é a partir

dela que vamos vencer todas as ba-

talhas que temos pela frente, nome-

adamente, essa questão de tumultos

que existe, a pobreza que existe no

nosso País. Só podemos vencer isto

quando estivermos todos os unidos”

disse o homem das virgulas, ape-

lando a todos moçambicanos, in-

dependentemente da cor política, a

engajarem-se na busca de soluções

pelo que chamou de situações de

inquietação político-militar.

De resto, para além de celebrar a

vitória, o presidente Filipe Nyusi

disse que o três de Fevereiro é so-

bretudo um momento de reflexão e

de compromisso para o desenvolvi-

mento de Moçambique.

“Os heróis bateram-se contra o co-

lonialismo português e todas suas

tendências, mas o objectivo não era

só para a libertação e passarmos a

governar Moçambique, mas era ver

Moçambique independente em to-

dos os aspectos, políticos e econó-

micos” disse o presidente.

Um objectivo que, afinal, Nyusi

reconhece estar longe de ser alcan-

çado.

“Enquanto continuar o povo sem

água, sem energia, sem escolas su-

ficientes, sem hospitais, ainda não

teremos cumprido a missão pela

qual os nossos heróis tombaram,

mas não só aqueles que tombaram,

também os heróis vivos espalhados

ao longo do nosso País”, disse o es-

tadista.

Dia dos heróis ensombrado pela crise político-militarPor Armando Nhantumbo

Verónica Macamo

A Praça dos Heróis, em Maputo, foi o palco das cerimónias centrais do 3 de Fevereiro

Page 11: Diplomata canadiano a seis meses da saída Renamo está ... · cooperação comercial entre Canadá e Moçambique. ... um papel muito importante junta- ... os moçambicanos conheçam

11Savana 05-02-2016 SOCIEDADEPUBLICIDADE

Page 12: Diplomata canadiano a seis meses da saída Renamo está ... · cooperação comercial entre Canadá e Moçambique. ... um papel muito importante junta- ... os moçambicanos conheçam

12 Savana 05-02-2016SOCIEDADESOCIEDADE

Município da Matola celebra 44 anos Por Raul Senda e Argunaldo Nhampossa

Em tempos foi conhecida como reserva industrial da região do grande Mapu-to, não era apetecível para

habitação e as poucas pessoas que lá viviam concebiam a autarquia como um simples dormitório. Hoje, o cenário mudou completamente e todos querem viver ou ter casa na Matola e as autoridades municipais têm de encontrar saídas para res-ponder à demanda. Os números falam por si. Até 2008,

os 373 quilómetros quadrados que

perfazem o município eram ha-

bitados por apenas 600 mil e hoje

Matola conta com 1.2 milhão de

habitantes.

Cada dia que passa novos bairros

estão a surgir e as autoridades são

chamadas a disponibilizar infra-

-estruturas sociais.

É uma pressão acima de pressão,

mas que Calisto Cossa, edil da

Matola, diz que, a partir do mo-

mento que o seu elenco assumiu

o compromisso com os autarcas,

deve encontrar formas de respon-

der aos desafios.

Em entrevista concedida ao SA-

VANA, por ocasião dos 44 anos

da cidade da Matola, o edil local

reconhece que os munícipes da

Matola ainda passam por muitas

privações, mas a sua equipa elegeu

algumas prioridades com maior

enfoque para as vias de acesso e

transporte público.

Na mesma entrevista, Cossa abor-

da outra questão do dia-a-dia do

município. Fala da gestão dos resí-

duos sólidos, dos conflitos de ter-

ra, capitalizar as receitas e outros

itens.

Há dois anos, o munícipe Calisto

Cossa tomava posse como edil da

Matola com muitas promessas pela

frente. Passados 24 meses como é

que olha para a sua governação ba-

lançando com as condições de vida

dos autarcas?

Quando iniciámos o nosso projecto

de governação, olhamos em primei-

ro lugar para o estágio em que estava

a cidade e definimos prioridades.

Começamos por dar continuida-

de ao que já havia sido feito e, ob-

viamente, temos de dar mérito aos

nossos antecessores, porque traba-

lharam.

Depois estabelecemos aquilo que

nós pensamos que deveria ser a ci-

dade. Passados dois anos e, a avaliar

pela apreciação que os munícipes

têm feito do trabalho, podemos di-

zer que estamos num bom caminho.

Porém, isso não nos deixa tranquilos

na medida em que ainda queremos

mais, porque ainda não atingimos

aquilo que nós queremos que seja a

nossa cidade. Os desafios são enor-

mes e as dificuldades persistem.

Pode indicar-nos alguns desses de-

safios?

São vários, principalmente no que

toca às vias de acesso, que são uma

das nossas grandes prioridades.

Decidimos que queremos colocar a

Matola como uma cidade onde os

- “Todos querem viver ou ter casa na Matola e nós, como gestores do solo urbano, temos de dar vazão à procura acom-

panhado de serviços sociais”, Calisto Cossa

munícipes não têm dificuldades de

circular. Isto é, para quem está nos

bairros como Kongolote, Dhlavela

ou Zona Verde e pretende ir ao cen-

tro da cidade da Matola, por sinal

onde está situado o edifício sede do

município, não precisa de ir antes

para a cidade de Maputo e cruzar a

Brigada Montada para depois voltar

à Matola.

Os nossos bairros devem estar inter-

-ligados. Devemos ter alternativas

que nos fazem gastar menos tempo.

É preciso ter estradas de qualidade

que facilitem a mobilidade de pes-

soas e bens e que dêem mais tempo

de vida às viaturas.

Dessa forma apostamos no melho-

ramento das vias de acesso, cons-

truindo algumas de raiz e interven-

cionando as degradadas.

Este objectivo continua e vai acom-

panhar-nos até ao final do mandato,

porque sabemos que ainda não te-

remos toda a Matola com níveis de

circulação que nós definimos.

O edil diz que o seu executivo está

engajado na melhoria das vias do

acesso e está a lograr sucessos.

Contudo, sabemos que mais da

metade da população da Mato-

la trabalha na cidade de Maputo

e para os munícipes ligarem as

duas cidades nas horas de ponta é

um martírio. Uma distância de 20

quilómetros chega a ser percorri-

da em duas horas ou mais. O que

está sendo feito para se contornar

o congestionamento na Portagem?

A questão da Portagem de Maputo

é muita séria, mas é grande demais

para o nosso nível. É preciso inves-

timento.

O que defendo para redução do

tráfego passa pelo investimento nas

vias alternativas que ligam as duas

cidades deixando de lado a Porta-

gem. A outra saída passa pelo inves-

timento em transportes públicos de

qualidade e incutir também no pú-

blico as vantagens do uso de trans-

porte público de qualidade.

É ao nível do município. O que

está a ser feito?

Estamos à busca de soluções. Uma

das coisas que temos de fazer é criar

condições para o fornecimento de

certos serviços que Maputo tem e

Matola não possui.

A procura dos referidos serviços faz

com que os matolenses se deslo-

quem à capital.

Mil terrenos para mais de três mil pedidos Matola é uma das cidades moçam-

bicanas que mais cresceu nos últi-

mos anos. Como é que a edilidade

gere a demanda? Será que a oferta

satisfaz a procura?

Felizmente ou infelizmente, Matola

tem sido atenção de todos. Toda a

gente quer viver ou ter casa na Ma-

tola e nós, como servidores públicos

e gestores do solo urbano, temos de

dar vazão a essa procura.

Em 2008, Matola tinha cerca de

600 mil habitantes e hoje já con-

tamos com cerca de 1.2 milhão de

habitantes e a tendência é crescente.

Anualmente parcelamos entre 600 a

mil talhões, mas a procura por vezes

chega aos três mil pedidos.

Também estamos no processo de

regularização dos Direitos de Uso e

Aproveitamento de Terra (DUAT)

daqueles munícipes que de uma e

doutra forma não tinham a situação

regularizada.

Neste momento temos 35 mil

DUAT´s por entregar aos muní-

cipes.

Regra geral onde a procura é maior

há também maior vulnerabilidade

aos conflitos... qual é a realidade

da Matola?

Já tivemos situações complexas, mas

estamos a controlar.

Quando iniciámos o mandato tí-

nhamos quatro mil conflitos e hoje

estamos com cerca de 300 casos.

Isso foi feito em dois anos de man-

dato.

Como é que isso foi feito?

Uma das formas de lidar com os

munícipes foi abrir portas para aus-

cultação naquilo que chamamos de

“presidência sem paredes”. Íamos ao

encontro dos munícipes para nos di-

zerem o que é que efectivamente es-

tava a acontecer. A maior parte das

preocupações tinha a ver com a terra

e fomos respondendo. A campanha

massiva que lançamos de regulariza-

ção dos DUAT´s visava responder a

esta situação e os conflitos foram re-

duzidos. Existem outros que já estão

nos tribunais.

Mil toneladas de lixo por dia Um dos problemas que afecta as

grandes cidades moçambicanas,

e que Matola não é excepção, é a

gestão de resíduos sólidos. Como é

que Matola gere esta situação?

Matola está a receber muita pressão

e é onde se aglomera muita gente e

o volume dos resíduos sólidos tam-

bém aumenta.

Há um esforço enorme de terciali-

zar a recolha. Estamos a transferir

essa tarefa para o sector privado e

nós exigimos contas.

Há dificuldades, mas o nosso muní-

cipe nunca se ressentiu dos proble-

mas de recolha de lixo.

Para além das empresas que colabo-

ram connosco na recolha de lixo, o

Conselho Municipal adquiriu meios

e colocou nos três postos adminis-

trativos para melhorar o processo da

recolha dos resíduos sólidos.

Matola é uma das cidades que co-

bra a taxa de lixo. O valor cobrado

chega para custear todas as despe-

sas da recolha de lixo? Quanto é

que o município ganha anualmen-

te?

Recebemos da empresa Electricida-

de de Moçambique (EDM) cerca

de quatro milhões de meticais por

mês. Achamos que esse valor não

relata a realidade porque é o mes-

mo há mais de 10 anos e de lá a esta

parte surgiram muitos bairros com

novos contratos com a EDM.

Estamos a trabalhar com a EDM

no sentido de actualizar estes da-

dos porque os quatro milhões de

meticais que recebemos mensal-

mente são exíguos para responder à

demanda. A cada dia a pressão au-

menta e o dinheiro não. Deve haver

compatibilidade entre o número de

ligações e o valor arrecadado.

O sucesso das vossas actividades

depende, em parte, da forte ca-

pacidade de cobrança de receitas.

Quanto é que o município arre-

cada anualmente em termos de

receitas?

De 2014 a esta parte há uma su-

bida significativa de receitas. Ano

passado arrecadamos cerca de 400

milhões de meticais apesar de vá-

rios factores adversos como é o caso

da desvalorização do metical. Isso é

muito positivo para um município

cujo orçamento anual gira à volta

dos 500 milhões de meticais.

Mesmo assim não estamos satisfei-

tos. Queremos alargar ainda mais

a nossa base tributária porque ain-

da há muitas fontes de receitas que

ainda não estão a ser devidamente

aproveitadas.

Acreditámos nós que as pessoas que

pagam o IPRA estão muito além do

ideal. É nossa intenção fazer um le-

vantamento de número de imóveis

existentes no nosso município para

que todos paguem o IPRA.

Também sabemos que há muitos se-

nhorios que arrendam seus imóveis

e o município nada ganha com isso.

Nos próximos tempos teremos de

ver isso e de lá tirar algum proveito.

Qual é o sector que mais contribui

para as receitas da edilidade?

O sector das Finanças em primeiro

lugar através de impostos e taxas,

depois segue o sector das activida-

des económicas e através das multas

aplicadas por falta de cumprimento

das posturas municipais.

O município da Matola completa

44 anos hoje. Qual é o marco?

Muita coisa foi feita ao longo desse

tempo. Matola cresceu bastante e,

devido aos seus índices de desen-

volvimento, toda a gente quer viver

nesta cidade.

Ao nível institucional é bom lem-

brar que dentro em breve o municí-

pio terá uma nova sede. Um edifício

moderno, amplo e que congrega to-

das as repartições da edilidade.

Para resolver seus problemas, o mu-

nícipe não precisará de andar muito.

No mesmo edifício vai encontrar

todos os serviços. Os funcionários

municipais também terão melhores

condições de trabalho e como com-

pensação deverão oferecer serviços

de qualidade.

Decidimos construir novo edifício

porque actualmente o Conselho

Municipal funciona duma forma

dispersa.

Matola tem 10 vereações e cada

uma funciona fora da sede do mu-

nicípio. O que nós pensamos é que

não há gestão possível numa insti-

tuição desta natureza com as suas

repartições dispersas.

Achamos nós que, para uma boa or-

ganização e melhor controlo, é ne-

cessário que todos os serviços este-

Ilec

Vila

ncul

os

Estamos satisfeitos e queremos mais porque ainda não atingimos aquilo que queremos que seja a nossa cidade

Page 13: Diplomata canadiano a seis meses da saída Renamo está ... · cooperação comercial entre Canadá e Moçambique. ... um papel muito importante junta- ... os moçambicanos conheçam

13Savana 05-02-2016 SOCIEDADESOCIEDADE

debaixo de pressão jam juntos. Queremos agregar todas

as instituições para dentro. É nessa

percepção que decidimos avançar

com a nova sede.

Qual é o custo?

O custo das obras será tornado pú-

blico no final das obras. Porém, a

partir dos seus representantes na

Assembleia Municipal, os muníci-

pes sabem quanto é que o municí-

pio disponibiliza anualmente do seu

orçamento para as obras. As obras

estão a ser erguidas com a anuência

da Assembleia municipal.

Transporte Público uma “dor de cabeça” Um dos problemas que inquieta a

vida dos munícipes é a mobilidade.

As pessoas são transportadas em

condições precárias. Recentemen-

te foram criadas empresas munici-

pais de transportes públicos, mas

nada mudou. O que está a acon-

tecer na realidade para mudar este

cenário?

Iniciamos esta governação com um

lema que é: “Pela Matola que que-

remos”. Para materializar este lema

é preciso ter paixão ambição, rigor e

competência.

Neste nosso raciocínio chegamos

à conclusão de que um dos proble-

mas que afecta os nossos munícipes

são as vias de acessos e os meios de

transporte. Isso acontece numa altu-

ra em que o Governo central está a

descentralizar os serviços dos trans-

portes públicos para os municípios.

Tivemos muito apoio da Empresa

Transportes Públicos de Maputo

em meios circulantes e recursos hu-

manos.

Fizemos algum esforço e conse-

guimos adquirir 10 autocarros. A

pressão era enorme que tivemos

de voltar ao mercado e adquirimos

mais 10 autocarros. Também vimos

que adquirir autocarros apenas não

era solução. Era preciso investir na

componente manutenção para ga-

rantir maior durabilidade dos nos-

sos investimentos.

Assim, em coordenação com o Go-

verno central estamos em processo

de privatização da área de manuten-

ção de autocarros, porque chegamos

à conclusão de que não é fácil, nós

como município provermos o trans-

porte e também cuidarmos da com-

ponente manutenção.

Neste momento foi lançado um

concurso para aquisição de mais 20

autocarros. É um esforço visando

melhorar a situação de transporte

na nossa autarquia. Não é do nos-

so agrado ver os munícipes a serem

transportados em carrinha de caixa

aberta, vulgo my love.

O senhor presidente diz que há

um esforço enorme para melhoria

do transporte público e, para tal,

também está-se a investir nas vias

de acesso.

Porém, a realidade mostra que, na

maioria dos bairros, os arranjos

que estão a ser feitos nas estradas

não são duradouros, são apenas

para minimizar a transitabilidade.

Como é que esses autocarros vão

chegar a essas pessoas sem estradas

em condições?

Antes de fazer uma estrada sen-

támos e planificámos. Avaliámos

o seu impacto nos munícipes. Por

exemplo, Tsalala é um dos bairros

mais populosos da nossa autarquia.

A via que parte da Estrada Nacional

número 4 (EN4) o bairro da Ma-

chava Socimol, num troço de 4.5

quilómetros, passa por Tsalala. Qual

é o objectivo desta via. Esta estra-

da faz parte de um projecto muni-

cipal visando ligar a EN4 a EN1,

abrangendo os bairros de Tsalala,

Machava Socimol, Nkobe, Mathe-

mele, Mapandane e Kongolote.

Outro exemplo é da estrada que sai

do bairro T3 até Boquiço num troço

de 18 quilómetros. Trata-se de uma

estrada que vai passar por 11 bair-

ros, incluindo o mais populoso que é

Ndhlavela com mais de 100 mil ha-

bitantes. Neste momento já fizemos

sete quilómetros. Todas as estradas

são de raiz. Veja que a estrada que

liga a EN4 e EN1 cruza-se com

esta que parte de T3 para Boquiço.

Por essas vias todas vamos meter

autocarros para transportar pessoas.

Isso para dizer que a questão de

transporte está ligada ao investi-

mento nas vias de acesso.

O Millennium BIM con-

seguiu um lucro no valor

de 84,2 milhões de euros

em 2015, aumentando

0.2% o seu resultado líquido em

comparação com 2014, ano em

que embolsou 84,1 milhões de eu-

ros, referem os resultados apresen-

tados pelo português Millennium

bcp, detentora da maioria do capi-

tal do banco moçambicano.

Segundo os dados da actividade do

Millennium bcp do ano passado,

o BIM conheceu um aumento de

13,9% no seu produto bancário,

uma subida da margem financeira,

das comissões e dos resultados em

operações cambiais.

Os recursos de clientes do banco

moçambicano subiram de 1.528

milhões de euros, em 2014, para

1.744 milhões de euros, em 2015,

um aumento de 14,1%, os custos

operacionais subiram 12,8% e o

rácio de capital 19,8% no final de

2015.

“A margem financeira na activi-

dade internacional, excluindo o

efeito cambial, aumentou 1,2% em

2015, totalizando 595,9 milhões

de euros, impulsionada pelo incre-

mento dos volumes de crédito e de

depósitos a clientes registado pelas

operações em Angola e Moçambi-

que” .

O crédito a clientes também co-

nheceu um incremento no exer-

cício que temos vindo a fazer re-

ferência. Subiu de 1.171 milhões

de euros, em 2014, para 1.378 mi-

lhões, em 2015, um aumento em

17.6%. O Millennium bcp também ob-teve bons resultados em Angola, com a sua filial neste país a saltar de um resultado líquido de 50,4% em 2014 para 75,7% em 2015, um incremento na ordem de 50,1%.No total, o resultado líquido do Millennium bcp ascendeu a 235,3 milhões de euros em 2015, evi-denciando uma evolução favorável face ao prejuízo de 226,6 milhões de euros apurado em 2014.“O desempenho do resultado lí-quido em 2015 foi determinado pelo menor nível de dotações para perdas de imparidades e provisões, bem como pelas evoluções favorá-veis da margem financeira e dos resultados em operações financei-

ras”, indica uma nota do Millen-

nium bcp.

A taxa de margem financeira em

2015 situou-se em 1,91%, compa-

rando com 1,56% em 2014, adian-

ta o comunicado.

Lucros do BIM conhecem um

ligeiro aumento

Page 14: Diplomata canadiano a seis meses da saída Renamo está ... · cooperação comercial entre Canadá e Moçambique. ... um papel muito importante junta- ... os moçambicanos conheçam

14 Savana 05-02-2016Savana 05-02-2016 15NO CENTRO DO FURACÃO

Milhares de cabanas de pau-a-pique e outras centenas tendas brancas do ACNUR, num cam-

po aberto no cimo de um conjunto

de montanhas a sudeste da vila de

Mwanza, distrito fronteiriço do Ma-

lawi, denunciam a dimensão da vaga

de refugiados moçambicanos no país

vizinho, que fogem ao refluxo das con-

frontações militares entre o Governo

e a Renamo, em povoados do distrito

de Moatize, província de Tete, uma

situação que Maputo prefere ignorar

e Lilongwe alerta para o risco de uma

catástrofe a continuar, com o aumento

do fluxo de refugiados nos próximos

meses.

Na cadeia de montanhas, um pátio

gigante de argila – a cerca de 45 qui-

lómetros da vila de Mwanza, que se

fazem por uma acidentada estrada de

terra batida - alberga homens, mulhe-

res e crianças em Kapise, um campo

de refugiados, o maior, e que tem rece-

bido milhares de moçambicanos, que,

alegadamente, fogem do seu próprio

Governo.

Após fugir das atrocidades militares

em Moçambique, os refugiados têm de

encarar uma vida miserável, com res-

trições no número de refeições diárias,

fome, saneamento, água potável, frio

e mau tempo em cabanas desavisadas

para suportar temporais, próprias da

altitude do terreno de seus novos lares,

além da negação, pelo Governo, da sua

existência.

No drama, que inclui percorrer a pé

mais de 70 quilómetros das zonas

de confrontos – Ndande, Mazibaue,

Nhanje, Macolongwe, Kabango,

Ndinde, Nagulo e Guingue – à pro-

cura de segurança em Kapise, muitos

Refugiados moçambicanos no Malawi relatam atrocidades na origem e fome na chegada

Os deixados para trásPor André Catueira, nosso enviado a Kapise

são obrigados a dormir no chão, sem

cobertores, para escapar de frio insu-

portável e os húmidos nevoeiros roti-

neiros à noite.

Apesar de o governo de Moçambique

tentar evitar a terminologia refugiados,

esta semana, o Alto Comissariado das

Nações Unidas para os Refugiados

(ACNUR), organismo que já está a

intervir junto dos moçambicanos que

fogem para o outro lado da fronteira,

alertou para a subida do número de

pessoas em situação de crise, afirman-

do que nos últimos 15 dias  de Janeiro

chegaram 1.297 pessoas ao campo de

refugiados de Kapise, com um cumu-

lativo de 3.900 pessoas desde Julho de

2015, quando eclodiu o fenómeno.

Só de 20 a 27 de Janeiro chegaram a

Kapise 632 pessoas. O número total de

refugiados agora em Kapise é mais que

o dobro do total da população da vila,

estimada em 1.500 habitantes.

Nos corredores serpenteados das ten-

das, milhares de mulheres circulam

com peito nu – o tronco apenas tapado

com uma capulana ou manta, que ser-

ve de cobertor à noite - e as “janelas”

nas traseiras dos calções de centenas

de rapazes, denunciam a complexidade

da situação, sustentando os relatos de

tudo ter sido “queimado por camara-

das”.

A organização Médicos Sem Frontei-

ra, que tinha uma clínica móvel quatro

vezes por semana em Kapise, passou a

funcionar todos os dias desde a sema-

na passada, estando a enfrentar com

frequência a malária e má nutrição,

sobretudo nas crianças.

A entidade, com a ajuda de uma outra

organização, está a construir um com-

boio de latrinas para evitar a eclosão da

cólera nesta época chuvosa e desenco-

rajar o fecalismo a céu aberto, que era

chegou com oito filhos ao campo de

refugiados a 8 de Janeiro.

A camponesa, que garante ter sobrevi-

vido pela sua experiência militar, como

Destacamento Feminino da Frelimo,

admite ter escapado por quatro vezes

em aldeias diferentes, primeiro em

Ndande, e depois em Macongwa e, na

terceira vez, em Kadjia, antes de deci-

dir em refugiar-se para o Malawi.

“Eu vi blindados dos militares do go-

verno a entrar, então eu pensei que

um dia vai criar problema e um dia

podiam-me matar”, explicou Fátima

Niquisse, em Chichewa, a língua do

Malawi, falada por milhares de refu-

giados, acrescentando que na primeira

vez que fugiu, apanhou, no regresso

seu cão morto e atirado dentro de casa.

Admite que sobrevive em Kapise de

peditórios de farinha e verduras, para

garantir única refeição servida ao dia

para os filhos, adiantando ter ficado vi-

úva há alguns anos, mas não da guerra.

“Estamos a sofrer com fome. Há

crianças que às vezes vão pedir comida

nas casas (na vila de Mwanza)”, con-

ta Fátima Niquisse, que olha para as

nuvens escuras a norte da sua palho-

ta como o anúncio para repetir “uma

noite debaixo da chuva”, por ainda não

ter tenda. Ela dorme numa pequena

cabana coberta com sacos de sisal na

companhia dos filhos.

Também Rogério Conselho, outro

camponês de 57 anos, relata que so-

breviveu milagrosamente depois de

incendiada a sua casa por forças go-

vernamentais a 9 Setembro passado,

tendo nesta ocasião fugido de Nkon-

dezi para Ceta.

“Os homens da Renamo vieram e

acamparam. A Frelimo (As FDS na

linguagem governamental) veio tam-

bém ocupar um lugar próximo e co-

meçou a vingar, queimar casas e matar

pessoas”, contou ao SAVANA, o ho-

mem, pálido e de lábios rasgados pela

fome.

Com sete filhos e uma esposa no cen-

tro de refugiados de Kapise, onde che-

gou a 7 de Dezembro, Conselho exibe

cicatrizes nos pés provocadas por pe-

dras e galhos de árvores no percurso

para chegar a Kapise e emociona-se

pela “desgraça que a guerra me trouxe”,

lembrando ter deixado seu gado, que

inclui porcos e cabritos.

Numa sala de triagem improvisada,

dois jovens malawianos ao serviço da

ACNUR entrevistam cuidadosamente

um a um os recém chegados, enquan-

to outros sentados em chão do pátio,

entre gargalhadas e murmúrios, aguar-

dam pela sua vez.

Muitos chegam a Kapise sem iden-

tificação, e nem precisam passar pela

fronteira oficial para alcançar o centro

de refugiados depois de as autorida-

des locais terem decidido simplificar o

trânsito para quem procura abrigo no

campo.

Aliás, durante as entrevistas no cam-

po de refugiados o jornalista do SA-

VANA foi escoltado por dois milita-

res malawianos, sugerindo que entre

os refugiados pode haver militares e

outros elementos ligados ao aparelho

securitário.

“Eu vivia próximo da estrada, num

cruzamento onde todos os dias passa-

vam. Era comerciante, e um dia come-

çaram os tiros. Depois dos confrontos,

a FIR começou a queimar casas, neste

dia oito casas foram queimadas. A mi-

nha roupa, produtos e uma mota foram

queimados. Eu tinha fugido. Quando

voltei a casa para recuperar umas coi-

sas, havia um homem morto no meu

quintal, com um saco branco amarra-

do na cara”, relatou outro refugiado,

Waisson Scinala, 49 anos, sete filhos,

que a 7 de Janeiro chegou a Kapise.

Os testemunhos seguem-se, sempre

com a garantia de que “nós nunca vi-

mos um soldado da Renamo. Nós não

somos Renamo”.

Viúvas de tirosO conflito político-militar entre a

Renamo e o Governo, além de estar a

causar a vaga de refugiados, tem pro-

vocado a desestruturação de famílias,

com dezenas de viúvas e órfãos, com

um futuro marginalizado, admitindo

a falta de assistência, sobretudo

para educação das crianças.

“Estava em Ndande quando

comum entre os refugiados.

As autoridades malawianas, segundo

Bestone Chisamile, do ministério dos

Assuntos Internos do país, citado pelo

diário malawiano de The Nation, edi-

ção de 27 de Janeiro, ponderam reabrir

o campo de refugiados de Luwani, que

acolheu os refugiados da guerra civil

durante os 16 anos.

Fugas e chegadasOs refugiados no Malawi relataram ao

SAVANA que as forças estatais quan-

do chegam às aldeias, além de ataques

armados e sexuais, tortura físicas, in-

cendeiam as casas e celeiros, alegando

que a população alberga apoiantes da

Renamo de Afonso Dhlakama.

“Os camaradas das fademos (Forças

Armadas) dispararam lá em casa (ficou

num fogo cruzado) e queimaram todas

as trouxas”, conta Fátima Niquisse, 45

anos, uma camponesa de Ndande que

Tenda improvisada de sala de aulas e palestras para as crianças

Barracas dos recém-chegados

Campo de refugiados

Zobue Mwanza

Rogerio Conselho, Refugiado

Page 15: Diplomata canadiano a seis meses da saída Renamo está ... · cooperação comercial entre Canadá e Moçambique. ... um papel muito importante junta- ... os moçambicanos conheçam

16 Savana 05-02-2016INTERNACIONAL

tudo começou em Julho de 2015. Começou a guerra, lu-tavam a Frelimo e Renamo. Um dia dispararam perto da

minha casa, conseguimos fugir, já no mato vimos a casa arder”, conta Lídia José, uma camponesa de 24 anos, com duas filhas em Kapise, que ficou viúva.A mulher conta que depois que cessaram os confrontos fizeram-se à rua para caminhar “mas a FIR vi-ria a encontrar-nos pelo caminho, e eu estava a frente com as crianças e meu marido atrás. Pegaram meu marido e eu consegui fugir”.“Três dias depois voltei para casa em busca de notícias do meu ma-rido que desapareceu na ocasião, e só encontrei roupa dele com san-gue, não tinha sinais de balas e nem faca. Fui remeter a preocupação na sede do distrito de Moatize e dis-seram para esperar ele vai voltar, mas até agora  não disseram nada e pessoas vieram-me dizer que já morreu”, conta a mulher, que não se despega do celular – que opera com sinal de uma operadora moçambi-cana – para receber do Governo a informação oficial.Ao contrário da sua vizinha de ten-da, Belarmina Fungai relata que o

seu marido desapareceu durante os confrontos em Ndande e pode estar no grupo de homens, detidos pelas forças estatais e queimados vivos no interior de uma cabana.“Desde aquele dia nunca mais o vi”, precisou Belarmina Fungai, que se entristece com as notícias de novos confrontos que chegam pelo celu-lar de seu tio, que ainda tem ami-gos em zonas próximas e ainda não muito atingidas pelo conflito.

Regresso recusado Quando a nossa reportagem se des-locava a Mwanza, poucos minutos após deixar a sede distrital de Mo-atize, a quase três quilómetros de Nhanssossa (provocador em Nyún-guè, a língua de Tete) cruzámos com uma camioneta Toyota Dina lotada das forças de Unidade de Intervenção Rápida (UIR), supos-tamente a caminho de Nkondezi.Num relato carregado de emoções, Luciano Laitoni, um camponês de 60 anos, contou ao SAVANA que “podíamos ter sido mortos pelos soldados do Governo” se não ti-véssemos recorrido às matas por alguns dias, afiançando que “não existem condições para voltar en-

NO CENTRO DO FURACAO

As autoridades malawianas admitem que

a situação dos refugiados moçambicanos

naquele país passou do nível de preo-

cupante para alerta máximo, devido à

avalanche de novas chegadas, alertando que a con-

tinuar assim, nos próximos seis meses, será uma

catástrofe. Igualmente acusam o Governo de Mo-

çambique de não ser ágil em socorro aos refugia-

dos e de fazer vista grossa à situação, sustentando

que acima de tudo “a solução está com o Governo

(moçambicano)”.O SAVANA reproduz na íntegra a entrevista con-cedida por Gift Rapozo, comissário do distrito de Mwanza, no Malawi.Esta situação está a ficar verdadeiramente mal. As chegadas começaram em Julho, com pessoas e famílias que se diziam vítimas de perseguição e a agressão por forças governamentais.A situação deteriorou-se a partir do início de Dezem-bro de 2015, com a chegada substancial de mais uns milhares de pessoas. Eram 600 pessoas e temos agora registadas 3.900, mas os números não são reais porque desde o início do ano chegou muito mais gente.Há várias razões, mas os recentes têm a ver com o facto de terem sido aconselhados pela oposição (Renamo) a saírem por eventuais futuros confrontos. Se no início de toda a situação, em Julho, as autoridades negavam e diziam, que não havia problema, agora recomendam que as pessoas regressem, porque lhes garante seguran-ça.Quando as autoridades moçambicanas pediram no início às pessoas para regressarem, elas sabiam que nas suas zonas de origem não estavam em segurança. En-tretanto, as autoridades ficaram de regressar, mas não o fizeram.As comunidades do Malawi tinham capacidade de acolher os que iam chegando, mas a capacidade esgo-tou-se e os campos passaram a ser a única solução.Na verdade não estamos  a conseguir preparar-nos, estamos apenas a reagir. A situação está a agravar--se, sem previsão nem capacidade de se perceber e an-tecipar e limitámo-nos a tentar reagir às situações, quer em número, quer devido à forma como o fazem, porque implica um percurso das zonas de origem até aqui chegarem.Há dois tipos de grupos, os do Malawi que viviam em Moçambique e estão a regressar, pelos mesmos moti-vos, e vão reagrupar-se às suas famílias, Esses não são registados e não são motivo de preocupação. O motivo de preocupação são os moçambicanos e que não têm es-trutura familiar no Malawi e são esses que estamos a registar e, mesmo que não tragam identificação, esta-mos a proceder usando outras formas.

À beira da catástrofe, Governo Malawi

O presidente do MDM, Da-

viz Simango, alertou nesta

terça-feira que a recusa

do Governo em reconhe-

cer os refugiados moçambicanos no

Malawi pode “prejudicar a vida e se-

gurança e apoio público” às vítimas

da crise político-militar entre o Go-

verno e a oposição Renamo.“Confundir os termos refugiados e emigrantes pode gerar certas con-sequências na vida e segurança dos refugiados (moçambicanos no Ma-lawi)”, declarou Daviz Simango, presidente do Movimento Demo-crático de Moçambique (MDM), que enviou semana passada uma co-missão de trabalho para os campos abertos de refugiados em Kapise, Malawi, que recebem milhares de refugiados moçambicanos.“Misturá-los (aos emigrantes) des-via a atenção de salvaguardas legais, específicas a que os refugiados têm direito (os refugiados). A confusão também prejudica o apoio público aos refugiados, no momento em que mais necessitam desta protecção”, disse Daviz Simango, em alusão à persistência do Governo em não re-conhecer a existência de refugiados em campos abertos no país vizinho.Alguns membros da Comissão Po-lítica Nacional do MDM desloca-ram-se de 29 a 31 de Janeiro para o distrito de Mwanza, no Malawi, à “procura de uma versão genuína”, da situação que está a forçar a fuga de populares no distrito de Moati-ze, em Tete, que faz fronteira com o Malawi.O também autarca da Beira clarifi-cou que a equipa constatou que além dos refugiados estarem agrupados em campos abertos, em condições humanitárias deploráveis, com des-maios constantes devido à fome, quase todos estão em “esquemas de protecção temporária” pelas organi-zações internacionais e das autorida-des malawianas.“Pelo nível de intervenção no terre-no pode-se dizer que os moçambi-canos estão na situação de esquemas de protecção temporária, que é uma classificação para dar resposta ao fluxo de emergência de refugiados”,

precisou Daviz Simango em confe-rência de imprensa na Beira, Sofala centro de Moçambique, insistindo que actualmente aos moçambicanos não são concedidos todos os direitos oficiais de refugiados.O responsável disse que actualmen-te as agências das Nações Unidas (ONU) e as autoridades malawianas é que “tudo fazem para mitigar a si-tuação triste” em que se encontram os moçambicanos em campos de re-fugiados no Malawi.As autoridades moçambicanas clas-sificam os refugiados de “campone-ses emigrantes” que procuram terras aráveis para agricultura no Malawi. Os administradores de Chifunde, Tsangano e Macanga, não muito afectados pela crise política, citados pelo semanário de conotação gover-namental, Domingo, de 31 de Janei-ro, sugerem que “a alegada vaga de refugiados moçambicanos no Ma-lawi, pretensamente devido à crise político-militar, não passa de uma atitude oportunista de diferentes proveniências, incluindo da Rena-mo, para fins claramente políticos”.Contudo, o líder do MDM apelou às autoridades moçambicanas a ac-cionarem instituições locais vocacio-nadas a assistir “vítimas de violência e instabilidade políticas” e enviem com urgência os apoios necessários aos campos de refugiados no Mala-wi, no sentido de dar resposta à crise humanitária.Igualmente, que o Governo crie condições para o regresso dos mo-çambicanos refugiados no Malawi, além de as partes desavindas cessa-rem acções militares e pautarem por respeito pelas instituições democrá-ticas, e que “encontremos caminhos de paz para salvar vidas, e proporcio-nar o bem-estar das populações”.Às opiniões díspares sobre a atribui-ção ou não do estatuto de refugiado aos moçambicanos a viverem em si-tuação precária no Malawi, juntou--se o presidente Jacinto Nyusi, que, a partir de Addis-Abeba, disse que era necessário haver maior precisão sobre a situação dos compatriotas que procuram abrigo e protecção no país vizinho.

MDM apela ao Governo a ir assistir refugiados

tudo, junto das autoridades moçambicanas para ajudar e ser parte da solução e que esta situação de confrontação não aconteça. Porque queremos ajudar Moçambique.Até agora a situação está sob controlo, distribuição de água e instalações sanitárias, mas claro que temos pro-blemas. A maioria das crianças traz problemas de má--nutrição e têm algumas doenças.Em relação a saúde, temos tido apoio dos Médicos Sem Fronteiras, que inicialmente iam quatro vezes por se-mana com uma clínica móvel, mas devido ao aumento do número de pessoas passaram a sete dias por semana e foi uma ajuda preciosa.Estamos preocupados que as condições sanitárias se pos-sam agravar e não haja capacidade de resposta a apa-reçam casos de doenças como cólera e estamos a evitar este cenário.Este sofrimento de se estar num campo de refugiados, que já aconteceu no passado, está muito presente. Quan-do voltamos a ver a mesma situação há uma sensação de que não queremos voltar atrás, até porque Moçambique tem recursos para o evitar.É algo que não gostaria de não ser mal interpreta-do, mas o Malawi não tem capacidade de terra para acomodar estas pessoas que estão a chegar. O Governo central do Malawi estava a evitar chamar a atenção desta situação e a usar os corredores diplomáticas para resolver a situação a alto nível e não do terreno. Mas com o agravamento da situação começamos a ser visitados por organizações internacionais, e começa a ser difícil evitar que a situação não seja conhecida. É evidente que acredito que a situação deve estar a ser discutida a alto nível, sobretudo, na área da defesa e segurança, mas as discussões não são partilhadas com o nível operacional.Talvez num alto nível haja um trabalho conjunto, uma definição de tempo e de passos, mas na perspectiva do terreno se a situação se mantiver por mais seis meses estaremos perante uma catástrofe. 

Só há duas semanas o alto comissário de Moçambique no Malawi visitou o campo. Isto foi visto como algo posi-tivo porque viram um rosto e compromisso do Governo e como se sentiam ameaçados pelo governo foi bem recebi-do. Mas não é suficiente.Mas tenho a noção de que as autoridades dos dois países não estão a falar a mesma linguagem e o mesmo com parceiros internacionais. Querem saber dados, querem saber números, se prevêem quanto tempo as pessoas vão ficar e não há capacidade de o saber porque não se trata de um conflito declarado.Tenho o receio de que as ne-gociações entre Governo e Renamo, caso não haja en-tendimento, seja uma con-frontação prolongada e o Malawi está a fazer tudo por

VENDE-SEEmpresa de Serigrafia e Bordados

Localizada no centro de Maputo a funcionar há mais de 10 anos.Compreende todas as áreas de produção, equi-

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quanto não cessar a guerra e haver nova paz em Moatize”.Recentemente o alto comissário de Moçambique no Malawi, Jorge Gune, visitou os campos de refu-giados e apelou para que regressas-sem às zonas de origem, uma situ-ação que provocou uma convulsão que precisou de uma intervenção

dos militares malawianos, que ga-rantem segurança no local.Igualmente, Vicente Manuel, outro refugiado que caminhou dois dias, para chegar ao centro de refugiados de Kapise à procura de segurança, assegura que o “retorno para o país não deve ser um simples passo de regresso, mas a garantia de que o

sossego foi devolvido”.A crise foi provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resulta-dos das eleições gerais de Outubro de 2014, alegando fraude, e da sua ameaça em governar à força nas seis províncias onde reivindica vitória.O líder do maior partido de oposi-ção, Afonso Dhlakama, não é visto

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17Savana 05-02-2016 SOCIEDADEPUBLICIDADE

Eni East Africa S.p.A. invites interested companies to submit Expressions of Interest

A. The scope shall include :

-

-bles and other items

-

Companies interested in this invitation may submit their Expression of Interest by -

tion:

2. Documented proof of at least 3 previous similar activities of this invitation

-

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-cation

-bico

-

specify :

documentation, Companies interested in this Expression of Interest may receive from

-

tenders for the scope of service described above.

of their legal structure, management, experience, resources and overall capability to perform the service.

-ces, management and all the capability to act in order to achieve the required targets

This enquiry shall not be considered an invitation to bid and therefore it does not re-present or constitute any promise, obligation or commitment of any kind on the part

company participating in this pre-enquiry.Consequently all data and information provided by you shall not be construed as a commitment on the part of Eni East Africa to enter into any agreement or arrangement

Africa.

companies except Eni East Africa.

at 19th February 2015.Any cost incurred by interested companies in preparing the Expression of Interest

respect.

REQUEST FOR EXPRESSION OF INTERESTPROVISION OF CLEANING & OFFICE SERVICES IN MAPUTO

A Eni East Africa S.p.A. convida as empresas interessadas a submeterem a sua Mani-

Pemba e Maputo.O âmbito do trabalho deverá incluir:

-vagem de carros, outros serviços de limpeza nas instalações da empresa em Pemba,

D. Fornecimento de equipamento e material, incluindo produtos de limpeza, consumí-

E. Fornecimento de café, chá, açúcar, biscoitos, água mineral e respectivos consumíveis

-

As empresas interessadas neste convite, deverão submeter a sua Manifestação de In--

cessária:

2. Prova documentada de pelo menos 3 actividades anteriores similares a este convite

5. Documentação contendo a estrutura accionista da Empresa com detalhes sobre os

As empresas interessadas neste convite deverão submeter a sua Manifestação de In-

https: -cationhttps: -bico

-

Manifestação de Interesse e do cumprimento com toda a docu-mentação acima indicada, as empresas interessadas poderão receber da Eni East Africa

considerados para potencias concursos no âmbito do serviço acima descrito. -

para executar o serviço.

-

Este inquérito não deverá ser considerado um convite para concurso e portanto, não representa nem constitui nenhuma promessa, obrigação ou compromisso de qualquer tipo da parte da Eni East Africa em celebrar contratos ou acordos com qualquer empre-sa que participe do presente pré-inquérito. Consequentemente, todos os dados e informações fornecidos pela empresa não deve-rão ser considerados como um compromisso por parte da Eni East Africa em celebrar um contrato ou acordo com a empresa, nem deverá possibilitar que a empresa reivin-dique qualquer indeminização da parte da Eni East Africa. Todos os dados e informações fornecidos no âmbito deste inquérito serão tratados

empresas não autorizadas, com excepção da Eni East Africa.

acima termina no dia 19 de Fevereiro de 2016.-

tação de Interesse serão da total responsabilidade das empresas, as quais não terão direito a qualquer reembolso por parte da Eni East Africa a este respeito.

PEDIDO DE MANIFESTAÇÃO DE INTERESSEFORNECIMENTO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA E DE ESCRITÓRIO EM PEMBA

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18 Savana 05-02-2016OPINIÃO

Registado sob número 007/RRA/DNI/93NUIT: 400109001

Propriedade da

Maputo-República de Moçambique

KOk NAMDirector Emérito

Conselho de Administração:Fernando B. de Lima (presidente)

e Naita UsseneDirecção, Redacção e Administração:

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Naita Ussene (editor) e Ilec Vilanculos

Colaboradores Permanentes: Machado da Graça, Fernando Lima,

António Cabrita, Carlos Serra, Ivone Soares, Luis Guevane, João Mosca,

Paulo Mubalo (Desporto).Colaboradores:

André Catueira (Manica)Aunício Silva (Nampula)

Eugénio Arão (Inhambane)António Munaíta (Zambézia)

Maquetização: Auscêncio Machavane e Hermenegildo Timana.

RevisãoGervásio Nhalicale

Publicidade Benvinda Tamele (823282870)

([email protected])Distribuição:

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(824576190 / 840135281)([email protected])

(incluindo via e-mail e PDF)Fax: +258 21302402 (Redacção)

82 3051790 (Publicidade/Directo)Delegação da Beira

Prédio Aruanga, nº 32 – 1º andar, ATelefone: (+258) 825 847050821

[email protected]ção

[email protected]ção

www.savana.co.mz

CartoonEDITORIAL

Diariamente chegam ao campo de Kapise, no Malawi, cen-

tenas de homens e mulheres exaustas e segurando crianças

apáticas e exauridas. Mais de metade dos refugiados são

crianças. Caminham dia e noite das aldeias da província de

Tete, trazendo apenas a roupa do corpo.

Chegam desesperados e vulneráveis, fugindo do conflito político-

-militar que lavra na região de Tete, sobretudo, no distrito de Tsan-

gano e parte norte de Moatize. As cenas de sofrimento humano, que

volta e meia vão gerando um debate emotivo e politicamente carre-

gado, são bem documentadas pelo nosso jornal, na longa e exaustiva

reportagem do nosso colaborador André Catueira, que publicamos

nesta edição.

Os primeiros nacionais, provenientes de Tete, chegaram a Kapi-

se, em Junho de 2015. Contudo a agência da ONU para os refu-

giados, o ACNUR, faz notar que o fluxo de refugiados tem vin-

do a crescer e prevê que o número possa aumentar de 3500 para

5000 nos próximos dias, ultrapassando a capacidade dos cen-

tros de acolhimento. É simplesmente assustador e arrepiante.

Mas estamos perante refugiados de guerra ou simples emigrantes?

A partir de Addis Abeba (Etiópia), onde participava em mais uma

cimeira da União Africana, o Presidente Filipe Nyusi, atabalhoada-

mente, tentou dissipar equívocos e afastar fantasmas. Colocou em

causa a autenticidade dos refugiados, quando questionado sobre in-

formações postas a circular sobre a presença de moçambicanos em

campos de acolhimento precários no vizinho Malawi. Disse que o

assunto deveria merecer uma abordagem mais ampla e minuciosa.

Socorreu-se da geografia e da história. Precisou que a linha de fron-

teira entre Moçambique e Malawi não é clara em determinadas re-

giões e que muitos cidadãos assumem a nacionalidade moçambica-

na ou malawiana em função das suas conveniências de momento.

Nyusi prosseguiu. Afirmou que o mais alto representante diplomá-

tico de Moçambique no Malawi está a acompanhar a evolução dos

acontecimentos, “porque não queremos ter o problema de chamar de

refugiados a um movimento migratório que é regular”. Disse ainda,

que existe um movimento ao longo da fronteira que é desencadeado

por uma série de factores, tais como seca e distribuição de fertili-

zantes.

Mas o que dizem as Nações Unidas? Um emigrante é aquele que

busca condições melhores de vida noutro país, enquanto que um re-

fugiado é alguém que foge de perseguição, conflito ou guerra.

Quanto a nós, é simplesmente falso falar de emigrantes moçambi-

canos em Kapise, enquanto há um claro conflito político-militar em

curso no país, que está a atingir níveis preocupantes em Tete.

Claro que reconhecer a existência de refugiados é embaraçoso para

o Governo. É tão embaraçoso como reconhecer que lavra um con-

flito de baixa intensidade em Gaza, em Inhambane, em Sofala, na

Zambézia e em Tete com mortes frequentes escondidas do público

devido a razões políticas.

Nestas circunstâncias, os moçambicanos dos campos do Malawi são

um embaraço para o governo e por isso são, para já, tratados como um

mero expediente político. Bem sabemos que, cinicamente, o gover-

no gostaria que o foco das atenções fossem as populações afectadas

pela seca no sul do país, para ver se acorrem ao país as tradicionais

ajudas internacionais e para depois, no fim do ano, se justificarem

incumprimentos de programas e metas por culpa da falta de chuva

ou precipitação pluviométrica a mais.

Pessoas que fogem de um conflito merecem apoios e quando os ape-

lidamos de emigrantes e não refugiados, estamos a desprovê-los e

privá-los de apoios que merecem. Do nosso ponto de vista é simples

e evidente: estamos perante refugiados de guerra que precisam de

uma abordagem diferente e séria.

Apesar das excepções já registadas, as organizações humanitárias,

de direitos humanos, nacionais e internacionais, a comunidade dos

países e os organismos das Nações Unidas por pressão, ou por “soli-

dariedade” com o governo de Moçambique não podem continuar a

ignorar que há milhares de moçambicanos em situação de necessida-

de do outro lado da fronteira com o Malawi.

O país Moçambique, os seus governantes, a sua sociedade civil não

lhes podem virar as costas.

Como parece estar a acontecer actualmente.

Os refugiados malditos

O dia 5 de Fevereiro da SCC

da Frelimo tem sido analisa-

do em Moçambique, naqui-

lo que muito forçosamente

chamaríamos de espaço público, em

termos de fim ou de permanência,

mas muito pouco se faz uma análise

cerrada sobre aquilo que é a econo-

mia e sociologia política do funcio-

namento da Frelimo.

Não poderei neste pequeno texto pre-

tender fazer isso, mas tentarei colocar

algumas ideias daquilo que penso so-

bre a economia política da Frelimo.

Em 1925 Robert Michel publicava

uma obra seminal da sociologia po-

lítica moderna, sociologie du parti dans la démocratie moderne. Nesta obra de mais de 800 páginas

interessa-me para este texto o quin-

to capítulo que se preocupa com a

etiologia do fenómeno dirigente,

pois ele permite analisar aquilo que

são as propriedades constitutivas

dos dirigentes. Depois da morte de

Samora, a Frelimo transformou-se

gradual e depois radicalmente numa

organização semelhante a uma em-

presa privada onde diferentes grupos,

indivíduos têm acções e podem fazer

investimentos, acumular capitais, for-

mar coalizões económicas. Ou seja, a

Frelimo transforma-se numa verda-

deira bolsa de valores onde presta-se

mais atenção às dinâmicas diárias

da evolução da economia que, não

se limitando apenas às questões pe-

cuniárias, estende-se a economia de

ocupação de posições que permitem

alargar o horizonte dos investimentos

e de ascensão social.

Desta forma, não é a política como

projecto de sociedade que está no

centro, mas política como instrumen-

to que permita que processos de acu-

mulação primitiva do capital sejam

possíveis. Como podemos deduzir,

não é a questão das ideias políticas,

percepções de projecto de sociedade,

orientação do projecto de desenvolvi-

mento que está em causa, mas a base

A empresa Frelimo?Por Régio Conrado

infra-estrutural (Marx, Lukács,G.

Achcar) dos membros que alimenta

e guia quase todas as lutas internas da

Frelimo actual.

Se pensarmos com alguma atenção

depois de Chissano, Guebuza e hoje

Filipe Nyusi, o debate interno da Fre-

limo tem sido miserável em termos

de projectos societais, mas rico em

termos de quem é que ocupa este ou

aquele posto, mas não são os postos

em si que preocupam mas que tipo

de acessos económicos isso dá ( J.K.

Galbraith). A nomeação do governo

não é em função do projecto polí-

tico, mas em termos de distribuição

de favores, acomodação, fortificação

de alianças, consolidação de posições,

abertura de novas filiais de investi-

mento, etc (Daniel Bach).

O governo e a direcção do partido

vai, assim, reflectir a economia políti-

ca da distribuição interna dos recur-

sos, distribuição essa que tem orien-

tado a fidelidade dos que participam

dela como classe privilegiada. Se

pensarmos nestes termos, não penso

que devíamos debater em termos de

fim do tal «guebuzismo» ou de sua

continuidade, mas das dinâmicas in-

ternas de rupturas de contratos, con-

tinuidades dos investimentos e con-

solidação do valor das acções de uns

em relação aos outros. Não podemos

deixar de dizer que se há uma coisa

que permite que a Frelimo continue

«unida» é sobretudo o mecanismo do

seu funcionamento, isto é, ela como

um lugar privilegiado de acumula-

ção de capital económico e social e

menos porque são unidos ou porque

há laços de amizades indestrutíveis.

Não é a Frelimo enquanto ideias e

projecto de sociedade que está no

centro, porque não me parece que

ainda exista. Nos últimos 20 anos os

manifestos e programas da Frelimo

são maioritariamente repetições sem

grandes evoluções, mas isso não sig-

nifica não movimento interno porque

o processo de consolidação de gran-

des, pequenos e médios accionistas,

funcionários sem acções tem sido um

elemento presente e dominante.

O dia 5 não deveria ser visto apenas

como ponto de ruptura ou continui-

dade porque há os que podem ser

retirados dos seus postos porém isso

não significa perca do seu lugar como

empresário na empresa Frelimo. Pen-

so que nos últimos anos vimos que a

mudança de um posto não significa

mudança das dinâmicas internas da

Frelimo. A obsessão pelas mudanças

formais das análises que se fazem ne-

gligenciam os aspectos dos mecanis-

mos internos de funcionamento que

permitem e perpetuam grande parte

dos nossos problemas como país já

que a morte da Frelimo como empre-

sa ou lugar de acumulação parece-me

ser o grande problema para os seus

accionistas.

Uma grande parte, senão todos, dos

membros da Frelimo são dependentes

dessa máquina para a sua reprodução

económica, social. A protecção dos

interesses privados e de grupo tem

ultrapassado todas as possíveis rup-

turas internas. Exemplos sobre isso

não faltam. Basta recordar os últimos

episódios da eleição de Filipe Nyusi

como candidato à presidência da Re-

pública. Ademais, aceitar que a Rena-

mo governe ou não não tem nada que

ver, em minha opinião, com questões

ligadas às ideias mas, sobretudo, a ne-

cessidade da máquina estatal para dis-

tribuir postos, posições que permitem

acumulação e fidelização. Perder seis

províncias significa igualmente perca

de possibilidade de nomear, de acu-

mulação e criação de fracturas entre

os grandes accionistas e pequenos/

médios accionistas e funcionários sem

acções mas dependentes dessa máqui-

na. A questão é profundamente séria.

É a sobrevivência da Frelimo que está

em causa. Sabemos que nesse pro-

cesso de acumulação, o Estado ocupa

esse lugar privilegiado da estruturação

da Frelimo como empresa.

“Prepara-me o helicóptero, verei agora se de facto o céu é o limite...

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19Savana 05-02-2016 OPINIÃO

462

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Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com

RELATIVIZANDOPor Ericino de Salema

Na conferência de impren-

sa que concedeu no último

domingo, 31 de Janeiro, aos

jornalistas que o acompa-

nharam a Adis Abeba, Etiópia, para

onde se deslocara para participar em

mais uma cimeira da União Africa-

na (UA), o Presidente da República

(PR), Filipe Nyusi, pronunciou-se

sobre o excessivamente prolongado

impasse negocial entre o Governo de

que ele é chefe e a Renamo, o maior

partido da oposição em Moçambi-

que, liderado por Afonso Dhlakama.

Disse o PR, basicamente, o seguin-

te: que está difícil chegar à fala com

Dhlakama; que, na ausência deste

[Dhlakama], não se sabia quem era

número dois, número três, na Re-

namo, o que tudo complicava; que a

única coisa clara é o facto de o núme-

ro um ser Dhlakama.

Poderíamos nos ater na discussão

da veracidade ou não do que o PR

Da lamentação e omissão de Nyusidisse, mas tal não nos parece ser o

mais importante neste momento. Se,

num contexto clara e declaradamen-

te de guerra (a que decorreu por 16

anos, entre 1976 e 1992), foi possí-

vel negociar com a Renamo até que

se assinasse, a 4 de Outubro de 1992,

em Roma, o Acordo Geral de Paz

(AGP), será que, na actual situação,

tal é mesmo uma tarefa quase que

impossível, ou extremamente difícil?

Antes mesmo, talvez devamos ques-

tionar: depois que Dhlakama se fez,

novamente, às matas da Gorongosa,

após escapar ao segundo de dois ata-

ques à sua comitiva, em Setembro de

2015, o que terá concorrido para que

o líder da Renamo, uma vez saído das

matas e se estabelecido na sua resi-

dência, na cidade da Beira, tivesse que

se decidir, outra vez, em se refazer à

‘parte incerta’? Será que o desarma-

mento compulsivo a que a sua guarda

foi sujeita, na manhã imediatamente

a seguir à noite da sua chegada, não

terá concorrido para que ele, se sen-

tindo, como dizem, publicamente,

influentes círculos renamistas, se de-

cidisse nesse sentido?

Nyusi se pronunciou em torno da

alegada desorganização da Renamo

alguns dias depois do secretário-geral

daquele partido, Manuel Bissopo, ter

sido vítima de um atentado contra a

sua vida, na cidade da Beira, estan-

do neste momento a beneficiar de

relevante assistência médica numa

clínica algures na vizinha África do

Sul. Já agora, nos parece até verídi-

co que se não sabe quem é o número

três, quatro, na Renamo, depois de

Dhlakama, indiscutivelmente núme-

ro um, e de Bissopo, formalmente

número dois. E na Frelimo? Sabe-se

quem é o número três? Formalmen-

te, o presidente e o secretário-geral

são, respectivamente, números um

e dois. A dimensão material pode

ser controvertida nos dois principais

partidos políticos do país, talvez se

exceptuando nisso Dhlakama, cuja li-

derança partidária não encerra dúvi-

das, mesmo para o próprio PR. Aliás,

no próprio Governo, se os números

um e dois são, respectivamente, o PR

e o Primeiro-Ministro (PM), qual

era o posicionamento hierárquico de

Armando Guebuza, na altura minis-

tro dos Transportes e Comunicações,

quando funcionou negociador-chefe

da equipa governamental? E de José

Pacheco, ministro da Agricultura [e

Segurança Alimentar], mais recen-

temente?

Se dúvidas ainda houvesse, já que

houve quem festejasse o desarma-

mento compulsivo de parte da guar-

da de Dhlakama, o que foi por alguns

confundido como o desarmamento

da Renamo como um todo, há agora

clareza quanto ao impacto negativo

que tal está a ter sobre o processo de

diálogo, que vinha decorrendo em

moldes, há que confessar, insusten-

táveis e até nocivos ao próprio Esta-

do de Direito Democrático, já que o

Parlamento, pelo menos para o que

fosse consensualizado ali, não passava

de uma espécie de ‘cartório notarial’.

Sendo Nyusi comandante-chefe das

Forças de Defesa e Segurança (FDS),

conforme estabelecido pela Consti-

tuição da República de Moçambique

(CRM), e não tendo, até hoje, conde-

nado os dois ataques de que Dhlaka-

ma foi vítima em Setembro de 2015,

tendo sucedido o mesmo quanto ao

desarmamento compulsivo de parte

da guarda do líder da Renamo, ao

aparecer, agora, a afirmar, sem reser-

vas, que o facto de Dhlakama se achar

neste momento em ‘parte incerta’ di-

ficulta o restabelecimento efectivo da

paz, o PR está, até prova em contrá-

rio, a admitir que, naturalmente sem

querer, cremos, está, ele próprio, a

contribuir para que cada passo sig-

nifique coisa outra e não avanço. A

única coisa que Nyusi fez foi apelar

aos comandos das FDS para que pri-

massem pela ponderação, como se ele

fosse um mero analista. E, nos últi-

mos dias, há notícias, quase que diá-

rias, de ocorrência de confrontos, ali

e acolá, com o que se estão a perder

vidas e se está a recuar ainda mais.

Achamos nós que talvez se deva,

mesmo, relativizar esse posiciona-

mento de Nyusi, segundo o qual o

facto de Dhlakama estar em ‘parte

incerta’, esteja a dificultar tudo. Terá, alguma vez, o Governo endereçado uma correspondência ao gabinete de Dhlakama, não tendo, a mesma, sido respondida? Até onde estamos informados, não. Por outro lado, sa-bemos, de fontes da Renamo e do próprio partido no poder, que Jacob Zuma, presidente da África do Sul, já se manifestou, designadamente em Novembro do ano passado, disponí-vel a mediar, mas que a solicitação, à luz do Direito Internacional, deve ser feita pelo Estado moçambicano e não por um partido político, neste caso a Renamo. O que Nyusi tem a dizer quanto a este aspecto? Sabe-se que a carta-resposta de Zuma chegou ao gabinete de Dhlakama por via da Embaixada de Moçambique em Pre-tória!A falta de confiança entre as partes, que existe desde os primórdios da nossa democracia, há-de estar, por estes dias, naturalmente mais agu-dizada, sobretudo depois dos dois ataques à comitiva de Dhlakama, do assalto oficial à residência deste e do atentado contra a vida de Bissopo, este último há duas semanas. Mas o PR não deve desfalecer, não deve nos transmitir cansaço, não deve se limi-tar a lamentações. Diferentemente de Guebuza, antecessor de Nyusi, que dizia que Dhlakama não tem palavra,

o PR parece estar a esbarrar-se com

algo mais grave ainda.

Se a mediação interna já não se mos-

trar efectiva, julgamos nós que, pela

paz, amigos e irmãos de fora nos

podem apoiar. Ou se crê mesmo que

pela via militar é possível resolver-se

o diferendo? Bem, nós nos inclina-

mos, de forma inequívoca, aos que

apregoam o diálogo como o princípio

e o fim. Aliás, a história dos conflitos

assim ensina!

Enquanto eu encontro o meu refúgio no vinho, nos li-vros e na música, a minha mulher tem o seu oásis na

igreja, nas peregrinações anuais, nas deposições de flores e nas vi-sitas aos idosos abandonados em enfermarias. De entremeio, culti-va uma paixão incondicional por tudo o que é programa televisivo ou radiofónico onde a mensagem seja essencialmente baseada em valores como honestidade, frater-nidade, solidariedade.Estamos a escassos 2 anos de ce-lebrar as nossas bodas de ouro e, como acontece frequentemente nesta fase da vida, enfrentamos muitas vezes a situação de nos ver-mos os dois sós nesta casa imensa, visto que os filhos estão criados e na diáspora, os netos na peugada dos pais e a maior parte dos nossos amigos ou morreram ou não têm pachorra para andar a fazer visitas de cortesia.De tal modo que, num certo do-mingo, ela convenceu-me a ver um desses programas. Começava pelas 19 e acabava um pouco an-tes do telejornal. O mentor desse programa era um tal Reverendo Manja. Sentei-me e preparei-me psicologicamente para enfrentar o martírio de ver alguém a perorar sobre honestidade, fraternidade e coisas que tais. Apareceu-me um setentão barbudo, de aspecto res-peitável, careca. Mas antes mesmo de ele começar a falar, fiquei side-rado: aquele Manja que me apa-recia pela frente no televisor não era nem mais, nem menos do que o Humberto Gregório Manja.O Humberto Manja tinha sido meu amigo de infância em Xi-navane, onde os dois nascemos e

crescemos. Ele era o quinto e último filho dos seus pais. Para além de ser o último, tinha a particularidade de ser o único rapaz. Tudo isto, aliado ao facto de ter um aspecto franzino e um pouco amolecido, fez com que ele ti-vesse tido todos os cuidados possíveis. Era o que, na altura, chamávamos um menino mimado e chorão. Eram cui-dados por parte da mãe, do pai e das quatro irmãs mais velhas.Ele não era particularmente brilhan-te, em termos de inteligência, nem particularmente dotado fisicamente. Mas era um menino bem-educado. De sorte que, aos onze anos, para além de frequentar a quarta classe, era sacristão na Paróquia de Xinava-ne. Esta era, na altura, uma vila onde o principal motor económico e social era a açucareira. O seu pai era guarda--livros nesta companhia e a sua mãe professora.Aconteceu que num desses domin-gos, depois do ofertório, o menino Humberto se lembrou de meter a mãozinha no saco de sarja onde os fiéis depositavam os seus contribu-tos. Era infalível – e tanto ele como o pároco sabiam – que dentre as mo-edas de 1 escudo, 50 centavos ou 5 escudos avultasse uma maior, que era o ofertório do Eng.º Lucas Gomes, da açucareira: era uma moeda de 20 escudos. Quando, nesse Domingo, o Humberto Manja meteu a mão pelo saco, facilmente entrou em contacto com a moeda e ficou de posse dela.O padre, que não era nenhum par-vo, achou estranho que naquele dia a moeda lá não estivesse. Não podia, por razões morais, violentar o miúdo apalpando-lhe os bolsos ou obrigan-do-o a confessar que tinha roubado o dinheiro. E o Humberto sabia perfei-tamente disso. Resistiu ao interroga-tório do padre estoicamente e jurou a

pés juntos que nunca tinha metido a mão no saco. Sei disto de forma certa não só porque o Humberto me contou mais tarde, como tam-bém porque compartilhei com ele o festim que fez com aqueles 20 escudos, uma semana mais tarde, numa tarde folgada de domingo. Foi bonito: nunca bebi tanta limo-nada na minha vida.Mas o vírus tinha ficado. Anos mais tarde, a caminho dos 30 anos, o Humberto tinha emprego como recepcionista num hotel de primei-ra, já em Maputo. Em cumplici-dade com o contabilista do hotel, cultivou um sofisticado esquema de desvio de parte significativa das re-ceitas dos hóspedes. Quando a sua conta bancária já estava muitíssimo acima da média e uma vez que o patronato já começava a desconfiar do facto de os lucros não corres-ponderem à rotação dos hóspedes, Humberto Gregório Manja deu às de Vila Diogo. Foi parar à África do Sul e desapareceu do meu radar durante muitos anos.Fiquei escandalizado quando na-quele domingo, com a minha mu-lher, perante o televisor, vi aquele mesmo Humberto Manja, com so-taina de reverendo, a dar lições de moral sobre o valor da honestidade, da sinceridade e da fraternidade, e sobre a importância que temos de dar a nós próprios, comportando--nos de forma a não merecermos nunca o reparo de ninguém. Di-zia ele, a encerrar o seu programa: “Nunca devemos dar o flanco ao Diabo.”Quando deram o programa por terminado, ela perguntou-me: “Gostaste, Cesinando?”De joelhos, na pia, vomitei copio-samente.

O Reverendo Manja

Uma tese: quanto maior

for a desigualdade so-

cial maior será o coefi-

ciente de crime existen-

te. As sociedades que puderam

distribuir melhor a riqueza so-

cial são aquelas com um menor

coeficiente criminal. O crimino-

so não é um fenómeno natural,

mas social.

Temos o hábito de fazer das

consequências das relações so-

ciais as suas causas.  Bem mais

complicado é aceitar como

causas as condições sociais que

geram os comportamentos que

transformamos em consequên-

cias, aceitar que a violência é

iminentemente social e não na-

tural.

A terminar, permitam-me dar-

-vos conta da seguinte citação:

“O fortalecimento penal do Es-

tado não diminui a insegurança

social, uma vez que actua dire-

tamente contra os criminosos e

não contra as causas do crime.”

(Débora Regina Pastana, “Cul-

tura do medo, Reflexões sobre a

violência criminal, controle so-

cial e cidadania no Brasil”. São

Paulo, IBCCRIM, 2003, p. 89).

Crime e concepções

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20 Savana 05-02-2016OPINIÃO

A TALHE DE FOICE

SACO AZUL Por Luís Guevane

Por Machado da GraçaAAAAAAPPPPPP

O 3 de Fevereiro, como já se previa,

“enfadonhou-se” no seu conheci-

do ritual focalizado na exaltação

de dirigentes e guerrilheiros ba-

fejados pela “sorte” de não serem esque-

cidos. A data em si tem o seu conteúdo.

Mas, continua a ser uma espécie de peca-

do questionar os feitos deste ou daquele

considerado oficialmente como herói ou

heroína. Um tabu psicologicamente assu-

mido como tal. Não basta dizer que heróis

somos todos nós que acordamos e bata-

lhamos pela sobrevivência nas macham-

bas, nas empresas, nos “my love”, e por aí

em diante. A heroicidade cabe aos heróis,

o que significa que o tempo encarrega-se

(sempre) de ajustar as contas com heróis

de base administrativa. Alguns preferem

mesmo dizer que “há heróis e heróis”.

Em tempo: “Olá Paz!” Sim, como dizia, houve exaltação deste e da-

quele herói, mais de uns que de outros, o que

é perfeitamente compreensível, mas a tónica

dos discursos e entrevistas estiveram inequi-

vocamente virados para a questão da paz e

concórdia nacional. Quando há bem pouco

tempo o “Olá Paz!” atingiu o seu pico alto

conseguindo “tirar” A. Dhlakama da suposta

“parte incerta” para a cidade da Beira prati-

camente todos aplaudimos. Entretanto, este

grande ganho depressa se transformou, uma

vez mais, no reforço da desconfiança entre o

Governo e a Renamo. Assistiu-se depois a

uma espécie de abrandamento da marcha re-

lativamente ao interesse num encontro entre

o PR e o Líder da Renamo motivado pelo

atentado a Dhlakama.

Enquanto os repetidos bombardeamentos

radiofónicos iam dando a ideia de uma to-

tal abertura, por parte do PR, num encontro

com Dhlakama eis que surge mais um aten-

tado no rol de uma série de outros. M. Bis-sopo, considerado segundo homem forte da Renamo, escapa por um triz. Retoma-se en-tão com mais pujança o discurso de abertura ao diálogo no final de Janeiro e princípios de Fevereiro (1ª semana). A ideia básica é apre-sentar em palco quem não está interessado no diálogo, o que cria muitas dúvidas, porque o árbitro destaca-se como jogador que sempre foi. O “árbitro” diz que a Renamo é um partido “totalmente desorganizado e sem estrutura” mas sabe-se que em vinte anos (tempo de Chissano) conseguiu contribuir para a ma-

nutenção da paz em Moçambique. Isto faz

lembrar a ideia segundo a qual “quando o ini-

migo/adversário te elogia é porque algo não

está bem”.

O “Olá paz!” não vincou, mas ainda não

está a um nível assumidamente disfuncio-

nal. Este acenar, esta saudação parece não

ter sido chancelada como palavra de or-dem tendente a pôr de lado as nossas di-vergências e a comungarmos um ideal de entendimento rumo ao desenvolvimento de Moçambique. Só com coragem é que podemos alcançar a paz, é verdade. Mas de que coragem é que uns e outros falam?Cá entre nós: o som do batuque endurece a maçaroca e espanta a perdiz. Diz-se que esta ave prefere produzir o seu próprio som a par-tir do seu próprio batuque. Estes adversários esqueceram-se de trocar elogios entre si. Não queremos ser o capim que vai sofrer com as batucadas nessa forte sessão de dança que pe-rigosamente se aproxima (ou que parece ter--se iniciado).

No momento em que

o SAVANA sair à

rua estará reunido,

na Matola, o Comité

Central do partido Frelimo.

Pelas salas e corredores do

edifício da Escola daquele

partido estarão a circular ho-

mens e mulheres sorridentes,

estarão a estalar pancadinhas

amistosas nas costas, cantar-

-se-ão, possivelmente, ve-

lhas canções da luta armada.

Sempre com o tratamento

de “camarada” na ponta das

línguas.

Como tem sido sempre. Pelo

menos perante os órgãos de

informação e a opinião pú-

blica.

Mas também como tem sido

quase sempre, nas caves do

edifício afiam-se punhais po-

líticos e destilam-se venenos

de oratória para os combates

que vão decorrer à porta fe-

chada.

Frente a frente deverão estar

duas linhas diferentes, em

grande parte opostas: as da

renovação, encabeçadas por

Filipe Nyusi, e as da conti-

nuidade, conduzidas (aberta-

mente ou dos bastidores) por

Armando Guebuza.

Como ruídos de fundo nesta

encenação, chegam os ecos

de tiros disparados no cen-

tro e sul do país. E gritos de

agonia.

O resultado das desavenças

e alianças, dos conluios e das

traições, dos convencimentos

e da compra de votos é im-

previsível.

Na anterior reunião do Co-

mité Central Armando Gue-

buza entrou eufórico e triun-

falista para sair, poucos dias

depois, humilhado e ofendi-

do, pela porta das traseiras.

Mas aí pode-se pensar que

ele foi apanhado de surpresa

e só sentiu os punhais a en-

trarem-lhe nas costas quan-

do já não havia nada a fazer.

Desta vez estará mais cons-

ciente e terá, imagina-se,

movimentado as suas pode-

rosas peças no tabuleiro do

jogo. E as suas peças não po-

dem ser desprezadas.

De qualquer forma se, para

os jogadores na Matola, a

questão é saber quem vai

controlar os destinos do país

daqui para a frente e, portan-

to, o acesso aos recursos de

todo o tipo de que Moçam-

bique é rico, para os vinte e

tal milhões de outros mo-

çambicanos o significado de

vencerem uns ou vencerem

outros pode traduzir-se na

Paz ou na Guerra, no bem-

-estar ou na pobreza miserá-

vel para a maioria.

Pode ainda acontecer, como

no futebol, haver um empate

técnico. E ser necessário um

prolongamento até próximo

encontro do Comité Cen-

tral ou ir a penáltis com um

Congresso extraordinário.

Mas a situação político-mili-

tar, muito agravada, e a eco-

nomia, em queda livre, não

me parecem aconselhar nem

uma coisa nem outra.

A ver vamos...

Matola

Execuções sumárias, raptos, violações, agressões, assolam Bu-jumbura, ameaçando o retorno às guerras entre hutus e tutsis que devastaram o Burundi desde os anos 1970 até ao início deste século. A candidatura a um terceiro mandato presidencial de cinco anos do hutu Pierre Nkurunziza degenerou num conflito po-lítico que está a assumir rapidamente contornos de ajuste de contas étnico.Contam-se cerca de meio milhar de mortes desde Abril de 2015, mas no confronto  entre apoiantes e opositores de Nku-runziza sobressai agora a retórica governamental  de defesa dos interesses dos patriotas hutus contra os inimigos do Burundi em que, ignominiosamente, predominam tutsis.                             Um país abandonado à sua sorte  A cimeira da União Africana em Addis Ababa recuou este fim-de-semana na intenção, anunciada em Dezembro, de en-viar um contigente de 5 mil militares para o Burundi.O artigo 4.º da Carta da UA permite uma intervenção sem consentimento do governo legalmente reconhecido em caso de “crimes de guerra, genocídio ou crimes contra a humanidade”.    Bujumbura ameaçara resistir pela força à entrada de tropas es-trangeiras e, na ausência de acordo maioritário entre os demais 53 Estados, a UA abandonou a ideia de uma acção militar sem precedentes desde a fundação da organização em 2002.O Conselho de Segurança da ONU constatou, por sua vez, em Novembro, não dispor de meios para estancar a violência crescente no Burundi. Na formulação fatalista da presidente do CS, a norte-america-na Samantha Power, o Burundi “está a caminho do Inferno”.   A instrumentalização políticaApós quatro dos sete juízes do tribunal constitucional terem aceitado em Maio a candidatura de Nkurunziza, o antigo chefe de Estado-maior do Exército, o hutu Godefroid Niyimbare, lançou um golpe de Estado, tendo o fracasso da rebelião gera-do as primeiras vagas de repressão na capital.Os protestos organizados por partidos hutus e tutsis culmina-ram no boicote pela oposição da eleição presidencial em Julho e, apesar de dissensões entre dirigentes do partido governa-mental hutu, Conseil National Pour la Défense de la Démo-cratie-Forces pour la Défense de la Démocratie, a maioria dos militantes alinhou com Nkurunziza.Na sequência de atentados contra figuras proeminentes do partido do presidente e oposicionistas a 11 de Dezembro fo-ram atacadas bases militares e uma escola do exército em Bu-jumbura.A reactivação de milícias do tempo da guerra civil e a inter-venção de diversos bandos armados agudizaram a atmosfera de violência, tendo as retaliações governamentais centrado-se sobretudo em bairros de maioria tutsi da capital onde a contes-tação ao presidente tem sido mais virulenta.Censura e perseguição de jornalistas e observadores estrangei-ros não obstaram a que tenham sido identificados centenas de mortos e assinaladas valas comuns, numa altura em que mais de 230 mil dos 9 milhões de habitantes já fugiram para Congo, Ruanda e Tanzânia.

Indícios de uma purga nas forças armadas, onde cerca de 60% dos oficiais são hutus, proclamações de combate contra ini-migos da nação e do Estado, denotam a instrumentalização de filiações étnicas por parte da elite associada ao Presidente.       Oficiais dissentes, como o tenente-coronel, Edouard Nshimi-rimana, anunciaram, entretanto, a formação de frentes milita-res como a Force Républicane do Burundi, para combaterem o Presidente que conta com forte apoio na zonas rurais de maioria hutu. Paz precária, guerra latente A partilha equitativa de poder entre hutus (85% da população) e tutsis (14%, contando-se, ainda, 1% de pigmeus caçadores Twa) aceite nos acordos de paz mediados pela Tanzânia, Áfri-ca do Sul e Estados Unidos, esteve na base da pacificação do Burundi a partir de 2005. Desde a independência da Bélgica, em 1962, o Burundi re-gistou mais de 250 mil mortes em conflitos armados e dois genocídios - em 1972, vitimando em particular hutus, e 1993, dizimando essencialmente tutsis -, nos termos da definição de tentativa de destruição da totalidade ou parte de grupo étnico (Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Geno-cídio, 1948).A guerra civil que se prolongou por mais de uma década a par-tir de Outubro de 1993 provocou, posteriormente, para cima de 300 mil mortos no quadro das convulsões que assolaram toda a Região dos Grandes Lagos.Para o homem-forte do Ruanda, Paul Kagame, é intolerável uma repetição de chacinas de tutsis por parte de radicais hutus no país vizinho o que ameaça a rápida internacionalização do conflito. À espera do piorA ameaça de recusa de vistos de entrada, o congelamento de contas bancárias e o arresto de bens em países como a África do Sul ou o Quénia podem revelar-se eficazes contra alguns apoiantes influentes de Nkurunziza, mas a aplicação de san-ções dificilmente irá alterar a dinâmica do conflito.Impor a retirada dos 5.432 militares que o Burundi mobilizou para a Missão da União Africana na Somália, fazendo mossa nos soldos do exército, contribuiria para maior desestabiliza-ção.Impotência internacional para pressionar as partes em confli-to, em particular o governo e o exército, ausência de diálogo político sob mediação do Vaticano, ONU ou UA, e ameaça de intervenção do Ruanda caracterizam o impasse. O controlo da administração estatal é a chave para negócios, influência e poder num país agrícola dependente do rendimen-to das exportações de café, com fortíssima densidade popula-cional - a segunda maior da África Continental a seguir ao Ruanda. Sem saídas no mercado de trabalho para uma população mui-to jovem, cerca de 40% dos habitantes têm 15 anos ou menos, qualquer confronto político no Burundi corre o risco de acen-tuar clivagens étnicas em que muito contam memórias de actos de extrema violência. 

Uma matança indiscreta Por João Carlos Barradas

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21Savana 05-02-2016 PUBLICIDADE

Em conformidade com o disposto no número dois do Artigo Décimo Terceiro e do artigo Décimo Quar-to ambos dos Estatutos da Sociedade, é convocada a Assembleia Geral Extraordinária da Sociedade Empresa Moçambicana de Seguros, SA, matricula-da nos livros do Registo Comercial, sob o número onze mil setecentos e quarenta e sete, a folhas cento e trinta e três verso do livro C traço vinte e oito, a ter lugar no dia 01 de Março de 2016, pelas 10 horas, na Sala de Reuniões da EMOSE, sita na Av. Vinte e cinco de Setembro, nº. 1383, 1º Andar, Cidade de Maputo, com a seguinte Ordem de Trabalhos:

1. Aprovação da agenda;2. Apreciação e Deliberação sobre a proposta de Es-

tatutos;3. Apreciação e Deliberação sobre o Manual de Go-

vernação;4. Informação sobre a distribuição de dividendos;5. Órgãos Sociais.

Apenas, poderão estar presentes ou fazer-se repre-sentar na reunião da Assembleia Geral, os Accionis-tas que tiverem depositado na EMOSE – Empresa Moçambicana de Seguros, SA, sita na Avenida 25 de Setembro, nº 1383, 1º andar – Gabinete do Presi-dente do Conselho de Administração, na Cidade de

das Acções, emitidos pelos Bancos onde se encon-tram registadas, até ao dia 15 de Fevereiro de 2016.

Tendo sido depositados pelo Accionista os respec--

tando este impossibilitado de participar na reunião, poderá fazer-se representar por um mandatário.

Só têm direito a voto, os Accionistas que possuam, pelo menos, dez mil Acções averbadas em seu nome e pelo menos quinze dias antes do dia da reunião. Os possuidores de número inferior a dez mil Ac-ções, poderão agrupar-se de forma a completarem esse número, devendo, neste caso, fazer-se repre-sentar por um Accionista cujo nome será indicado em carta dirigida ao Presidente da Mesa, até uma hora antes do início da sessão, contendo assinaturas

de todos os Accionistas representados devidamente reconhecidas por notário. Os Accionistas possuidores de, pelo menos, dez mil acções averbadas em seu nome, poderão fazer-se representar por meio de outros que tenham o mes-mo direito, bastando para prova do mandato, que este conste de simples carta dirigida ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, ou procuração, que deverão ser entregues com a antecedência mínima de três dias, antes do dia da reunião, na sede da So-ciedade, sita na Avenida 25 de Setembro, nº 1383, 1º Andar – Gabinete do Presidente do Conselho de Adminis-tração, na Cidade de Maputo.

Os Accionistas que forem pessoas colectivas deve-rão fazer-se representar por um único indivíduo munido de poderes bastantes para o efeito.

Nenhum Accionista poderá representar mais do que dois outros, salvo na hipótese de agrupamento de possuidores de acções de número inferior a dez mil.

Não é permitido dividir acções por procuradores diversos.

Os incapazes serão representados pelas pessoas a quem legalmente couber a respectiva representação.

Os documentos desta sessão, encontrar-se-ão dispo-níveis e poderão ser consultados na Sede da Socie-dade, sita na Av. 25 de Setembro, n.º 1383, 1.º andar, Porta n.º 103 Cidade de Maputo, a partir do dia 15 de Fevereiro de 2016.

Maputo, 28 de Janeiro de 2016 O Presidente da Mesa da Assembleia Geral

Mariano de Araújo Matsinha

[email protected] 21356349 ou 21356300Cell.: 843982080

Av. 25 de Setembro, 1383 Caixa Postal 696 Moçambique-Maputo

CONVOCATÓRIA

Assembleia Geral Extraordinária

Empresa Moçambicana de Seguros, SA

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22 Savana 05-02-2016DESPORTO

Os campeonatos nacionais de natação de verão, que decorreram, em Maputo, na semana finda, conta-

ram com a presença, pela primeira

vez, da província de Inhambane.

A “Terra da Boa Gente”, como é

vulgarmente conhecida, foi repre-

sentada pela equipa de Nenos Pe-

quenos, um projecto desenvolvido

pela Megafauna, uma organização

que vela pela fauna marinha.

Por ocasião da realização desta

competição, o SAVANA aproxi-

mou-se dos fazedores da natação

em Inhambane para se inteirar da

movimentação desta modalidade

naquela parcela do país.

Gabriel Marime, coordenador do

Projecto, afirma que a natação, na-

quela província, está numa fase em-

brional, tudo devido à falta de apoio,

desde o sector público ao privado.

“Não temos piscina. Ensinamos

as crianças a nadar em piscinas de

meia-lua, onde os mergulhos são di-

fíceis, já que a profundidade é maior.

Treinamos no mar!”, revela a fonte,

garantindo que “se tivéssemos pisci-

nas, teríamos campeões em Inham-

bane”.

“Inhambane seria referência na

natação, porque temos uma dupla

vantagem. A primeira é que temos

a baía de Inhambane e a segunda

é que teríamos a piscina. É preciso

que o governo reabilite as piscinas

existentes para depois construir ou-

tras de raiz”, clama.

A Piscina que deve ser reabilitada,

urgentemente, segundo Marime,

é da Escola Secundária Eduardo

Mondlane (25 metros), para poste-

riormente construir-se outra de raiz

na zona do Tofo, de onde a colecti-

vidade parte.

Gabriel Marime fala do estágio da natação em Inhambane:

“Falta-nos piscina para sermos referência nacional”Por Abílio Maolela

“Temos várias piscinas, mas estão

degradadas. Pedimos ao Governo

para que nos ajude e que olhe para

esta modalidade como das mais im-

portantes, pois com ela podemos

promover o turismo na província”,

considera.

O projecto Nenos Pequeno, recor-

da Marime, arrancou há 14 anos

(2002), como resposta ao elevado

índice de afogamentos, que se regis-

tavam na Praia de Tofo.

“Primeiro, capacitamos instrutores

de natação e já contamos com dois

instrutores qualificados. Este mês

levaremos mais quatro para África

do Sul”, disse, acrescentando que o

Projecto conta, actualmente, com

200 crianças.

“Anualmente, entram entre 30 a 35

crianças para o nosso programa, com

idades compreendidas entre os 12 e

16 anos”, anota.

Das 200 crianças que fazem parte do

projecto, apenas cinco é que estive-

ram nos campeonatos nacionais de

verão deste ano e a falta de dinheiro

é apontada como a razão principal

desta redução drástica da equipa.

“Dependemos de doações de parcei-

ros. Participamos neste campeonato

nacional graças à ajuda do Governo

de Inhambane e da Federação, que

está a apostar muito em nós”, decla-

ra.

Aliás, a falta de dinheiro é a razão

principal do “anonimato” de Inham-

bane nesta modalidade.

“Começamos o Projecto em 2002,

mas só neste ano é que participamos

nos campeonatos nacionais. A falta

de dinheiro é que nos fez estarmos

aqui tardiamente. A província de

Inhambane acarreta de desportos

náuticos”, frisa.

Estreando-se na prova e com apenas

cinco nadadores, em duas provas, a

equipa de Inhambane conquistou o

segundo lugar, no campeonato do

segundo escalão, resultado que ani-

ma o timoneiro da equipa:

“O balanço é positivo, porque não

estávamos em Maputo para com-

petir, mas para mostrarmos o nosso

talento”, diz a fonte, realçando as di-

ficuldades que sentiram na Piscina

Olímpica do Zimpeto:

“Primeiro tivemos dificuldades por-

que na água salgada o corpo é muito

leve, enquanto na piscina é um pou-

co pesado. Mas, acabamos ultrapas-

sando e estamos felizes com o que

nos aconteceu. As crianças mostra-

ram-se suficientemente fortes para

furarem as águas”, afirma.

Apesar das dificuldades que a mo-

dalidade enfrenta na “Terra da Boa

Gente”, Gabriel Marime conclui

que a natação no país “está de boa

saúde”, porque “se participamos nos

campeonatos nacionais, significa

que algo está a acontecer. Mas, a na-

tação merece uma atenção especial,

porque é um desporto saudável”.

“A natação não depende da pis-cina”, Fernando MiguelPara o Presidente da Federação

Moçambicana de Natação (FMN),

Fernando Miguel, a presença de

Inhambane nos campeonatos na-

cionais deste verão representa “um

marco importante na história” da

modalidade e significa que “a na-

tação não depende, exclusivamente,

da piscina”.

“Temos uma vasta costa que precisa

ser aproveitada e Inhambane está a

fazer isso. Por natureza, somos um

povo nadador (nos rios, lagoas, lagos

e no oceano), por isso não depende-

mos apenas das piscinas”, diz.

Apesar de não dependermos de

piscinas para a prática da natação,

a nossa reportagem quis saber do

timoneiro da FMN, para quando

é que aquela província teria aquele

tipo de infra-estrutura desportiva,

ao que respondeu:

“Teremos o mais breve possível,

quando reabilitarmos a piscina da

Escola Secundária Eduardo Mon-

dlane. Mas, primeiro temos de criar

um Núcleo provincial que será res-

ponsável pela reabilitação e gestão

da piscina”, garantiu.

-canhar de Aquiles”, Ana Flávia de AzinheiraPor sua vez, a vice-ministra da Ju-ventude e Desportos, Ana Flávia Azinheira, presente na abertura e encerramento da competição, con-frontada pelo SAVANA em relação à falta de piscina na província de Inhambane, respondeu que cons-titui preocupação do seu pelouro, mas “o financiamento, que é nosso calcanhar de Aquiles, não deve ser apenas para a natação, mas para o desporto no geral”.“É preciso termos uma visão estra-tégica para o desporto, assim como prioridades. Estamos cientes de que é preciso desenvolvermos a natação em todas as províncias e não é só Inhambane que não tem piscina. Gaza também. Gostávamos que cada província tivesse uma piscina”, disse, acrescentando que o foco do seu ministério é o “investimento no desporto”, mas sem revelar em que sectores.Referir que a falta de piscinas é uma realidade nacional e continua a hipotecar a natação, considerada como desporto saudável. A realida-de de Inhambane não é a única. Tete e Nampula também atravessam os mesmos problemas e, em Tete, os atletas chegam a percorrer cerca de 130 km até a vila de Songo para treinar numa piscina de 25 metros (pertencente à União Desportiva, ex-HCB), pois na capital da provín-cia treina-se em piscinas irregulares e curtas (15 a 20 metros), como nos revelou o presidente da Associação Provincial local.Porém, piscinas não faltam, mas sim alguém que as coloque em funcio-namento.

Nenos Pequenos representa Inhambane, pela primeira vez, nos campeonatos nacionais de natação

Os nadadores Igor Mogne e Jéssica Cossa estão a cen-tésimos de atingir os mí-nimos olímpicos exigidos

para a sua participação no torneio

de natação dos Jogos Olímpicos

deste ano, a decorrer no Rio de

Janeiro, Brasil, em Agosto próxi-

mo. Igor Mogne encontra-se a 69

centésimos da qualificação, com o

tempo de 23:74 segundos contra os

23:05 segundos exigidos pela Fe-

deração Internacional de Natação,

para a prova masculina dos 50 me-

tros livres, do nível B.

Por sua vez, Jéssica Cossa está a 64

centésimos de carimbar o passa-

porte para o Brasil com o tempo de

26:81 segundos, inferior aos 26:17

exigidos pela mesma entidade e para

a mesma prova, em feminino.

Quem encontra-se distante de

atingir a meta são os nadadores

Denílson da Costa e Jannah Son-

nenschein. Para a mesma categoria,

Denílson e Sonnenschein estão a

Igor Mogne e Jéssica Cossa próximos dos Jogos OlímpicosPor Abílio Maolela

01:16 e 01:62 segundos, respecti-

vamente com os tempos de 24:21 e

27:79 segundos.

Igor Mogne acredita na qualifica-

ção, mas sublinha que é preciso que

as coisas decorram da melhor forma,

pois, “há coisas que queria fazer, mas

que não fiz”, porém não revela quais.

Mesma convicção é do presiden-

te da Federação Moçambicana de

Natação (FMN), Fernando Miguel,

que afirma: “Se continuar com este

ritmo, acreditamos que poderá qua-

lificar-se aos Jogos Olímpicos”.

Esta convicção foi manifestada à

margem do encerramento dos cam-

peonatos nacionais de verão, onde o

atleta bateu três recordes absolutos e

a sua equipa, Golfinhos, conquistou

a prova com 1413 pontos contra 560

dos Tubarões e 516 do Ferroviário

da Beira.

Na hora do balanço, Fernando Mi-

guel avaliou positivamente o even-

to, destacando a quebra de recordes

(12), a participação de Inhambane e

o uso da Piscina Olímpica do Zim-

peto, embora sublinhe os negativos:

“Tivemos alguns problemas de or-

dem organizacional, devido à ins-

crição tardia das equipas. Algumas

equipas trouxeram um número su-

perior de atletas ao programado, o

que dificultou também a calenda-

rização das competições”, destacou.

A Piscina Olímpica do Zimpeto

acolheu os nacionais, três anos de-

pois, o que deixa o timoneiro da

natação feliz, pois, para este, aquele

empreendimento fazia falta à nata-

ção moçambicana.

“Há muito que chorávamos por este

empreendimento, porque não pode

ser usufruído apenas pela Cidade de

Maputo”, sublinhou.

Há muito que aquela infra-estrutu-

ra era solicitada pelos fazedores da

natação, alegando que esta permite

termos marcas reiais dos atletas, de-

vido as suas dimensões (50 metros)

e ao seu sistema de registo, que é

automático.

Entretanto, durante a última jor-

nada, o SAVANA constatou que o

marcador electrónico estava defi-

ciente, chegando a registar marcas

falsas, o que gerava alguma contes-

tação por parte dos clubes. Era nor-

mal, um atleta chegar em segundo

lugar e o registo automático referir

que ficou em último.

Confrontado com esta situação, o

presidente da FMN tranquilizou a

nossa reportagem, afirmando que a

“questão da verdade desportiva está

acautelada”.

“Não é um grande problema por-

que também temos cronometristas

manuais. As regras internacionais

determinam que o registo deve ser

em paralelo (automático e manual)

e para cada pista temos entre três a

cinco juízes cronometristas capazes

de homologar os resultados”, garan-

tiu.

O facto é que tem sido várias as

reclamações dos clubes acerca da

falsificação de marcas dos atletas,

principalmente quando se aproxi-

mam provas internacionais, como os

Jogos Olímpicos, só para permitir

a participação de um determinado

atleta em detrimento do outro.

Outro aspecto que divide, cons-

tantemente, a FMN e os clubes é

a organização de dois campeonatos

numa única fase.

O facto é que a direcção de Fernan-

do Miguel organiza os campeonatos

de iniciação (nível 2) e os de alta

competição (nível 1), no mesmo

período, o que quebra o ritmo das

provas.

Miguel reconhece o problema, mas

afirma que o seu elenco procede

desta forma porque não tem capa-

cidades financeiras de organizar as

provas, separadamente.

“Organizar as provas, separadamen-

te, implica duplicação de custos e a

Federação não tem essa capacida-

de”, avança a fonte, apontando, en-

tretanto, uma solução:

“Para os próximos anos, pensamos

em iniciar os campeonatos do nível

2 com antecedência, para de seguida

concentrarmo-nos na alta competi-

ção”, concluiu.

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24 Savana 05-02-2016CULTURA

Por Luís Carlos Patraquim

80

A saída do Comboio da Marrabenta da estação dos Caminhos de Ferro de Moçambique, na baixa da cida-de de Maputo, no passado dia 2 de

Fevereiro corrente, marcou o arranque da

nona edição do Festival Marrabenta, rumo a

Gwaza Muthini, para um concerto gratuito

na vila de Marracuene. “Os músicos inicia-

ram o seu espectáculo neste comboio. Em

Maputo realizamos também um concerto no

Centro Cultural Franco-Moçambicano. O

público aderiu em massa para ver as lendas

que fazem parte deste evento e verificamos

que muitas pessoas ficaram de fora do re-

cinto devido à lotação. Isso mostra que este

evento, principalmente esta nona edição, já é

uma marca em termos culturais desta época

na capital do país”, explica o produtor, Litho

Sithoe.

A classe dos artistas que participaram nesta

nona edição serviu de mais um catalisador

para a adesão do público. “Conseguimos jun-

tar artistas que são admirados pelos vários

públicos da capital do país. Só nos eventos

realizados na cidade de Maputo o público

aderiu de uma forma que superou as expec-

tactivas da organização. Para nós isso é bom,

pois ajuda-nos a melhorar mais o evento, a

torná-lo mais atractivo. Só à chegada do

Comboio da Marrabenta em Marracuene os

artistas foram recebidos de uma forma extra-

ordinária pelo público e o espectáculo con-

tinuou de uma forma brilhante. Esperamos

que na comemoração do décimo ano deste

evento o espectáculo seja memorável.”, enal-

tece o produtor.

Celebrando nove anos de existência, a direc-

ção do Festival Marrabenta compreende que

tem estado a contribuir para a preservação

deste género musical enquanto ritmo presen-

te em diversos momentos da história de Mo-

çambique. Aliás, o Festival Marrabenta tem

Ao som da Marrabentadespertado a consciência de vários segmentos

da sociedade sobre a capitalização do poder

da marrabenta na mobilização popular, bem

como na promoção da cidadania.

O Festival Marrabenta apresentou como

convidado especial: Jimmy Dludlu, um astro

de alto renome em Moçambique e na diás-

pora para homenagear o malogrado músi-

co Nanando. O Festival Marrabenta esteve

também entusiasmado por receber de volta

aos palcos, Os Mozpipa, Orquestra Djam-

bo, Dilon Djindji, Stewart Sukuma e Banda

Nkuvu, Gabriel Chiau, Alberto Mutcheka,

Xidiminguana, Galtones e o grupo Mozpipa.

A organização do Festival Marrabenta in-

cluiu mais dois nomes importantes da mú-

sica popular moçambicana na lista dos con-

vidados de honra do evento. “Trata-se dos

conceituados Gabar Mabote e Daniel Langa.

A inclusão destes artistas no naipe dos con-

vidados para o festival representa uma das

mais nobres vontades do projecto, que se re-

sume na preservação e exaltação do patrimó-

nio musical assente na discografia de Gabar

Mabote e Daniel Langa. Gabar Mabote, um

nome que se evidenciou e bastante na história

da música popular moçambicana interpre-

tando canções cuja essência teve e continua

a persistir na realidade típica e profunda de

todos moçambicanos. Daniel Langa, irmão

mais novo do exímio guitarrista, intérprete e

vocalista Alexandre Langa, ergueu-se no pa-

norama musical por mérito próprio, instando

a sociedade para melhores comportamentos

e elevando valores cruciais de cidadania. O

Festival Marrabenta orgulha-se por juntar

Gabar Mabote e Daniel Langa aos músicos

convidados para a 9ª Edição do evento e

acredita no seu contributo para a valorização

das obras destes e outros artistas nacionais”,

finaliza. A.S

Stewart Sukuma tem inovado a performance da Marrabenta actual

O Centro Cultural Franco-Moçam-bicano acolhe, sexta-feira, 5 de Fevereiro corrente, às 20:30h, o concerto do lançamento oficial do

primeiro álbum do agrupamento moçam-

bicano Gran´Mah. o grupo é composto por

cinco elementos: Regina como vocalista,

Migz Wilson na bateria, Miguel Marques

nos teclados, Luy na guitarra e Leo na viola

baixo.

Gran´ Mah é uma banda Moçambicana de

World Music/Reggae Fusion que começou

Gran Mah lança disco no CCFMa tocar numa garagem em 2009. Gran´ Mah

são conhecidos em Moçambique desde os

últimos dois anos, altura em que a banda

consolidou-se em termos de membros e já

participaram em vários festivais e eventos

musicais pelo país.

Estrearam-se no estrangeiro em 2013, levan-

do o nome de Moçambique a dois festivais:

We Love Dub e Park Acoustics na África do

Sul, e participaram no Route 40 Music Fes-

tival, para além de ter partilhado palco em

Moçambique com a banda Freshlyground.

Em 2012 a banda ganhou no concurso mu-

sical MMA (Mozambique Music Awards)

na categoria de videoclip mais votado. Em

2014, Gran´Mah ganhou o prémio MMA

da melhor música alternativa. Este primeiro álbum dos Gran´ Mah conta com 10 temas originais e com participação de artistas mo-çambicanos como Milton Gulli e Pedro da Silva Pinto dos 340ML. A sensacional arte da capa do CD foi criada por Pedro Louro, que já havia trabalhado com a banda no pas-sado. O album está disponível em formato digital no Amazon, iTunes, Google Play e em formato físico no Café Bar Gil Vicente, Premier Spar Mica, Backline Maputo. A.S

O Grupo Gran´Mah é uma das referências da música jovem nacional

Apresentou-se como um herói. Eu

já tinha visto heróis nos filmes e

lido algumas narrativas sobre o

assunto. A sua figura jovial não

correspondia à imagem que costumamos

construir em torno de tão raras quanto

contagiantes figuras. As que se destacam

porque há as outras, anónimas, a que

também costumamos chamar heróicas,

os mais líricos, embora mancas de nar-

rativas que as exaltem. As que suportam

a marreca invisível do anonimato nos au-

tomatismos da sobrevivência quotidiana.

Rememoro nesta tarde chuvosa alguns

dos casos que o tempo acrescentou a um

convívio de décadas, aventureiro e jubilo-

so, delirante e trágico também.

O Joe acenou ao maralhal e sentou-se.

Os pratinhos de carapau empilhavam-se

a um canto da mesa, junto à parede onde

havia cartazes de mobilização. E era o

que estávamos a implementar. Sobre o

tampo, com o oleado sujo e encapelado

de vapores e espuma, a suruba dos copos

era ululante.

Alguém estendeu a água choca ao Joe. É

que estávamos ali há horas, o calor era

estarrecedor e aquela a nossa reserva do

barril assim logo despejada para mesa. Só

havia uma palavra de ordem, abater os

copos ao efectivo. Chamar àquilo copos

era favor: garrafas de bazooka cortadas

ao meio com picos no rebordo irregu-

lar, canecas amolgadas de latão, fundos

abaulados, cores em esquírolas vítreas,

lembrando-nos o pó da nossa condição.

Por acaso, falávamos de fuzilamentos.

Alguns tipos tinham baicado. Reconhe-

ço que a conversa era mais agradável do

que estar para ali a discutir as metas da

produção.

O Joe sorriu e, sobrepondo-se à vozearia

geral, começou a descrever como é que

um gajo morre. Inclina-se para a frente

ou para trás? Cai sobre as pernas, des-

caindo para o lado onde a morte pesa

mais? O vento tem algum papel nessa

coreografia que só é em slow motin nos

filmes?

O Joe explicou-nos. Que já tinha feito

parte de um pelotão. Mais do que um,

precisou. Que aquilo até implicava um

cerimonial nice, as fardas a rigor, a voz

de comando, os condenados até razoavel-

mente compostos na sua vestimenta que

é para não destoar do conjunto, a reco-

lha célere dos corpos enquanto o pelo-

tão executa aqueles gestos todos que os

militares sabem fazer tão bem. E que tais

ocorrências acontecem quando é preciso.

Ninguém se atirava ao ar, como os guar-

da-redes, aterrando depois com elegância

e determinação? A pergunta, disparada

pelo Dino, causou uma gargalhada geral

e desanuviou os vapores.

O Joe ficou sério e fuzilou-nos com olhar,

como se costuma dizer. Pegou num copo

a que já não tinha direito e beberricou

em silêncio, levemente debruçado sobre

o tampo. Parecia que estava a tomar uma

decisão. Olhámos para o estendal sobre a

mesa e contámos uns cinco ou seis ainda

cheios. Mas ninguém se atreveu a tocar-

-lhes.

A Palmira a grasnar lá do canto dela, era

sempre aquilo depois de ultrapassar a

dose, não ajudava nada. Que tinha sido

da vida mas só com cavalheiros como se

não fossemos todos da vida, agora que

ela se estava a simplificar com o rechaçar

dessas diferenciações de classe.

O Joe parecia não ouvir até que se virou

lentamente para trás e encarou a mulher.

Pensámos o pior.

- É maluca. A voz do Dino tremia.

- Nunca fuzilei mulheres, mesmo essas,

resmungou o Joe, encarando-nos fixa-

mente.

- Com vocês não teria nenhum proble-

ma. Um herói não hesita.

Aquilo já não tinha piada. Houve quem

se quisesse levantar mas um gesto firme

do Joe travou tais ímpetos.

Recordo o alívio que sentimos quan-

do nos disse que lhe podíamos chamar

Joe Beer e que sempre que voltasse das

suas tarefas queria a sua dose de cerveja.

Como prémio, é evidente. Percebemos

bem. E que houvesse sempre gente por-

que não gostava de beber sozinho.

Foi assim que nos começámos a revezar

para que a mesa estivesse sempre ocupa-

da. O barman, orgulhoso de ser o anfi-

trião de um herói, ainda que intermitente

nas aparições, encheu-se de brios. Mes-

mo sem a presença do Joe deliciámo-nos

com pratinhos de camarão, chamussas,

sandes de ovo, milagres do tempo em que

os heróis se sentavam à mesa connosco.

Lamento é não saber o que foi feito do

Joe, o Joe Beer, conversador nato.

Joe Beer

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SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1152 DE FEVEREIRO DE 2016

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SUPLEMENTO2 3Savana 05-02-2016Savana 05-02-2016

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27Savana 05-02-2016 OPINIÃO

Abdul Sulemane (Texto)

Ilec Vilanculo (Fotos)

A tensão pós-eleitoral que o país vive desde Outubro do ano passado conti-nua a preocupar todos os moçambicanos. Os políticos trocam acusações e o povo é que sofre as consequências. Esperávamos que a celebração de mais um 3 de Fevereiro, dia em que tombou o arquitecto da unidade

nacional, servisse de fonte de inspiração. Mas não, na prática os seus ideais es-tão sendo engavetados apesar do maquiavelismo político que se cria. Como a esperança é a última a morrer, todos esperamos que esta situação termine o mais rápido possível.

Recentemente o Comandante Geral da Polícia, Jorge Khalau, apareceu numa

conferência de imprensa a dizer que a PRM tem conhecimento da localização

de todos os homens armados da Renano e que tudo está sob controlo. Mostrou

que não vale a pena aproximar desses sítios para não criar mais problemas dos

que existem.

Nesta primeira imagem, temos o Ministro da Agricultura e Segurança Alimen-

tar, José Pacheco, numa cavaqueira com o Comandante Geral da Polícia, Jorge

Khalau. O sorriso rasgado de ambos mostra que tem uma amizade de longa data.

Pacheco foi Ministro de Interior durante o primeiro mandato de Guebuza e pelo

semblante deve estar a congratular-se pela sua saída daquele ministério, pois, com

os raptos, confrontações armadas com os homens armados da Renamo estaria

noite a fio sem dormir.

Na imagem seguinte estão dois homens que se conhecem muito bem no mundo

empresarial. Trata-se do Ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mes-

quita, e Salimo Abdula. O assunto do dia não é do business, mas sim o aumento

da frota de autocarros para o transporte público na capital do país e espera-se que

reduza os My Love. O momento serviu também para uma pré-análise da intro-

dução das faixas exclusivas para circulação dos transportes públicos, que só não

incomodam os que vivem no centro da cidade.

Essa coisa de ser primeira-dama do país faz com que as esposas dos presiden-

tes tenham algumas responsabilidades. Têm de desempenhar alguns papéis como

forma de ajudar no desempenho dos seus esposos, por sinal presidentes. Quando

deixam de ser, dão uma disposição de alívio. É o que se vê pela conversa entre

as duas antigas Primeiras-damas do país, Maria da Luz Guebuza e Marcelina

Chissano. Mas nesta foto, Maria da Luz deve estar a lamentar o facto de ter

acompanhado o seu esposo em diversas frentes durante os 10 anos de governação,

mas agora criou um website onde exalta os seus feitos apenas, deixando os dela

a mercê.

Hoje na Matola arranca a segunda sessão do Comité Central da Frelimo que pelo

cardápio deverá terminar com facas longas. É facto que muitas cabeças vão rolar,

como se diz na gíria popular, apesar de Eliseu Machava, actual Secretário-geral,

afirmar de pés juntos que continuará. Edson Macuácua, Secretário para Área de

Formação e Quadros, é uma das cabeças que vai rolar. E num momento como

este, Manuel Tomé e Osvaldo Petersburgo aproveitaram a oportunidade para se

despedir do camarada que passará a estar com eles como simples membro do

Comité Central. Com os sorrisos disfarçam a preocupação da vassourada que se

avizinha.

Por isso o olhar acompanhado de um comentário do embaixador da Palestina em

Moçambique, Fayez Abdu Jawad, sobre o que vai acontecer na reunião do Comité

Central da Frelimo, faz com que o também antigo primeiro secretário da Frelimo

na cidade de Maputo, Hermenegildo Infante, fique com olhar e audição aguçados

como forma de tentar vislumbrar o que vai acontecer no encontro dos camaradas.

Chegou a hora de sair.

É a tua vez

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IMAGEM DA SEMANA

À HORA DO FECHOwww.savana.co.mz o 1152

Diz-se... Diz-se

A companhia mineira irlan-desa Kenmare registou em 2015 uma queda de 19% na produção de metais

brutos em Moma, para 27.532.000 toneladas e anunciou ter entrado em incumprimento perante os seus cre-dores, escreve a comunicação social irlandesa.

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Kenmare em queda em Moma anuncia incumprimento

As sucatas do Tribunal Administrativo, mesmo junto à presidência e na zona nobre da cidade

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my loves

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Em voz baixa

boss

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Savana 05-02-2016EVENTOS

1

o 1152

EVENTOS

A sociedade civil portuguesa doou quarta-feira passa-da, 27 de Janeiro, na ci-dade de Maputo, cerca de

15 toneladas de material escolar. A entrega do material foi efectuada pelo Embaixador de Portugal em Moçambique, José Augusto Duar-te, e testemunhado pelo Fundo Bi-bliográfico da Língua Portuguesa.

Composto na sua maioria por li-

vros escolares, didácticos e de lite-

ratura, o material será distribuído

a dez instituições de vários níveis

de ensino no país pelo Fundo Bi-

bliográfico da Língua Portuguesa.

Segundo José Augusto Duarte, a

iniciativa representa um contribu-

to da sociedade civil portuguesa

ao desenvolvimento do ensino em

Moçambique.

“É um contributo da sociedade ci-

vil, não tem nada a ver com o go-

verno português. É uma iniciativa

de um antigo cooperante militar

português que esteve na escola de

sargento, ao abrigo do acordo téc-

Sociedade civil portuguesa doa material escolarnico-militar entre Portugal e Mo-

çambique, e teve esta iniciativa jun-

to de várias entidades da sociedade

civil portuguesa. Portanto, o Estado

Português só se pode congratular

quando iniciativas desta por parte

da sociedade civil portuguesa mos-

tram o seu afecto e empenho em

ajudar os irmãos moçambicanos”,

disse o diplomata.

Já o Presidente do Fundo Biblio-

gráfico da Língua Portuguesa,

Nataniel Ngomane, referiu que

com aquela oferta reduz-se as difi-

culdades de acesso ao livro, princi-

palmente aos mais carenciados, no

que concerne a falta de informação,

e que os mesmos irão impulsionar

os programas da sua instituição,

no sentido de disponibilizá-los às

bibliotecas, associações, centros e

feiras de livro, de forma mais ampla

e barata.

De referir que o material foi dispo-

nibilizado por oito organizações da

sociedade sociedade civil lusa e cus-

tou pouco de mais de 10 mil euros.

Jeque de Sousa

A Presidente da Auto-

ridade Tributária de

Moçambique (AT),

Amélia Nakhare,

reconheceu que a JUE-Janela

Única Electrónica trouxe

avanços significativos que

permitiram o cumprimento

dos objectivos fundamentais

da instituição, incluindo a

facilitação do comércio, co-

brança de receitas, segurança

nas transacções e compila-

ções de estatísticas de infor-

mação sobre o comércio ex-

terno.

A nova boss da AT fez este

pronunciamento num en-

contro com quadros da sua

instituição, agentes econó-

micos, entre outras entida-

“JUE trouxe avanços significativos” - Amélia Nakharedes, ocorrido na cidade portuária

de Nacala, província de Nampula,

por ocasião das celebrações do Dia

Mundial das Alfândegas, que se

assinala a 26 de Janeiro.

A expansão e operacionalização

da JUE em todos os terminais de

carga marítima, aérea, rodoviária,

bem como nas principais fron-

teiras do País, segundo sustentou

Amélia Nakhare, constituem o

grande desafio do momento para

a sua instituição, no âmbito da re-

forma e modernização dos servi-

ços que presta, visando a melhoria

na colecta de receitas.

“É nesta perspectiva que a AT

continua a levar a cabo acções de

sensibilização com vista à promo-

ção da integridade dos seus funcio-

nários e outros que visam a forma-

ção para oferecer-lhes igualmente

orientação estratégica e exemplos

de boas práticas, aspirando melhor

actuação e desempenho institucio-

nal”, indicou.

Para a presidente da AT, a opera-

cionalização da JUE constitui um

instrumento de referência no que

respeita à adopção de tecnologias

de informação e comunicação

para a gestão dos processos relati-

vos ao desembaraço aduaneiro de

mercadorias, no âmbito da facili-

tação do comércio.

“A Janela Única Electrónica cons-

titui actualmente uma plataforma

que interliga o sistema e coopera

em 99.9 por cento de qualidade

de informação processada 24 ho-

ras por dia, tendo já atingido um

milhão de registos de declarações

aduaneiras”, finalizou Amélia

Nakhare.

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Savana 05-02-2016EVENTOS2

A Escola Comunitária Luís Cabral- ECLC informa aos alu-nos, pais, encarregados de educação e ao público em geral, que ainda tem vagas para matricular alunos das 6ª, 7ª, 8ª, 9ª, 10ª, 11ª e 12ª classes por 350,00 meticais. Podendo obter mais informações na secretaria daquela escola sita na sede do bairro Luís Cabral, entrada a partir da Junta ou Maqui-nague ou pelo telefone: 847700298, 82 6864465 e 871232355.

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Pela licitação mínima de 490.000,00 Mt. vende-se car-rinha Ford Ranger DC, 2.5, diesel, com cinco anos de serviço.

Os interessados deverão con-tactar o telefone 84-810-7460

Chamo-me Matias Bassiano Mulessiua, natural de Mutu-áli-Malema, Província de Nampula, logo, de nacionalidade Moçambicana, Professor Primário desde Setembro de 1954, Instrutor para Formação de Professores Primários a partir de Novembro de 1995, Inspector Provincial de Educação, de 1983 a 1998, ano em que me desliguei das funções, por aposentação, tudo na Província de Nampula. Convidado a concorrer para a vaga aberta, do cargo de Director do Projecto NISOMÉ – Fundo para Bolsas de Estudo, na Pro-

minhas funções em 16 de Novembro de 1999, coadjuvado por sr. António Jorge Correia Simões, co-director. Pressio-

previsto e sem observância dos procedimentos disciplina-res, desabonatórios, vim a cessar, compulsivamente das minhas funções em Março do ano 2000, desencadeando--se daí a acção da minha impugnação, pelo despedimento sem justa causa, processo esse que gastou muita tinta, nas distintas instituições judiciais, de hierarquia gradualmente crescentes, até ao Conselho Constitucional, Órgão Máximo de Justiça. Não tendo conseguido falar com Sua Ex.cia o Sr. Presidente da República ou seu Director do Gabinete, em audiência requerida em 18 de Janeiro corrente, na in-sistência da requerida em 5 de Maio de 2015, sem sucesso, sobre o Processo n° 33/2000 do Tribunal Judicial de Nam-pula, devido à observância das regras protocolares, (impe-dimento), optei por usar este meio para endereçar o meu conformismo e ao mesmo tempo, os meus agradecimentos pela recepção da resposta alusiva à minha exposição de 5 de Maio/2015, produzida em 30 de Junho do mesmo ano, que esclarece as causas de não interferência do Chefe do Estado, no concernente à interdependência dos Poderes do Estado, ao abrigo do Artigo 134 da Constituição da Repú-blica, conforme N.Refa/PR/878/2015 de 30 de Junho de 2015, pese embora, para obter esta resposta ter eu que me deslocar de novo, de Nampula a Maputo, preocupado pelo silêncio, quando previamente tivesse deixado os contactos por telemóveis, que me foram solicitados. Aproveito esta oportunidade para saudar a Sua Ex.cia Sr. Presidente da República pelos esforços que tem empreendido na busca da Paz e pelo Desenvolvimento do País. Muito obrigado.

Maputo, 20/01/16 – M.B.M.

MATIAS BASSIANO MULESSIUAAGRADECIMENTO

A Escola Superior de Jorna-lismo, em parceria com a Cátedra de Comunicação da Universidade Autóno-

ma de Barcelona, Espanha, reali-zou na Cidade de Maputo, de 01 a 02 de Fevereiro, a 2ª Conferência Conjunta, sob lema “A Liberdade de expressão e de imprensa e seus desafios em Moçambique”.

Durante os dois dias, especialistas

em comunicação social, com des-

taque para os jornalistas Tomás

Vieira Mário e Eduardo Nambure-

te, docentes universitários das duas

instituições de ensino superior, e

estudantes, juntaram-se para re-

flectir sobre os desafios da liber-

dade de expressão e de imprensa

Espanha e Moçambique debatem Liberdade de Expressão

em Moçambique, especificamente,

identificar os principais desafios e

constrangimentos enfrentados pela

média e os cidadãos em geral no

exercício da liberdade de expressão

e de imprensa.

Apesar da Espanha ter avançado

muito no que se refere ao exer-

cício de liberdade de expressão e

de imprensa, o país ainda regista

constrangimentos nesta matéria.

Segundo os especialistas espanhóis,

ainda existem casos que são into-

cáveis, com destaque para assuntos

ligados à monarquia, que são pouco

discutidos na imprensa espanhola.

Destacaram ainda o surgimento

dos diários, como os principais con-

tributos à liberdade de expressão e

de imprensa, naquele país ibérico.

Já os jornalistas Tomás Vieira Má-

rio e Eduardo Namburete destaca-

ram a lei de imprensa e de acesso

à informação, como um grande ga-

nho para a liberdade de expressão e

de imprensa no nosso país. Contu-

do, lamentam a não observância da

mesma, sublinhando a pressão po-

lítica, e a fraca condição financeira

dos órgãos de comunicação social

privados, como principais entraves

ao exercício da liberdade de expres-

são em Moçambique.

De referir que a primeira confe-

rência realizou-se na Espanha em

2014 e acontece no âmbito do in-

tercâmbio de pesquisa em Ciências

de Comunicação e de Informação,

entre Moçambique e Espanha, ini-

ciado em 2012. Jeque de Sousa

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Savana 05-02-2016EVENTOS

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de Fevereiro para os seguintes cursos médios: Administração Pública; Contabilidade e Gestão/Auditoria; Sistemas Eléctricos; Técnico Aduaneiro; Técnicas

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A Toyota manteve em 2015 a liderança do mercado automóvel em Moçambi-que, consolidando a sua

posição face ao ano anterior, apesar do abrandamento da economia no segundo semestre.

Segundo Jorge Caetano, Director

Comercial da Toyota Moçambique,

o ano transacto foi bastante posi-

tivo, seguindo a tendência de lide-

rança da marca a nível mundial.

“2015 foi um ano positivo para a

Toyota. Estamos bastante satisfei-

tos com o nosso desempenho, quer

pela consolidação da liderança de

mercado, quer pelo trabalho desen-

volvido na área da responsabilidade

social”, disse o gestor. Acrescentou

que 2016 espera que seja um marco

na melhoria dos serviços, moderni-

zação e alargamento da cobertura

Toyota lidera mercado automóvel nacional

nacional da Toyota, com destaque

para a remodelação e melhoria das

suas instalações em Palma, na pro-

víncia de Pemba.

A par deste crescimento, a marca

japonesa desenvolve vários projec-

tos de responsabilidade social, com

destaque para a formação em con-

dução defensiva para os seus clien-

tes a nível nacional, no âmbito do

seu programa de condução segura,

lançado na última edição do Mo-

zambique Fashion Week. Apoiou

e desenvolveu projectos a nível na-

cional nas áreas da educação, cultu-

ra e ambiente, revelando-se atenta

e preocupada com o país e com

as pessoas, segundo uma nota do

Grupo Entreposto.

Para o presente ano, está previsto

ainda sem data o lançamento do

novo modelo Toyota Hilux.

Jeque de Sousa

O Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social mandou encerrar 41 centros de formação

profissional privados em todo o país. A informação foi prestada pelo Vice-Ministro do MITESS, Osvaldo Petersburgo, durante uma visita aos centros de formação profissional, iniciada quarta-feira passada 27, na cidade de Maputo.

Segundo o governante, a falta de

condições das infra-estruturas, fun-

cionamento ilegal, sobretudo por

falta de alvará, aliado à atribuição

de diplomas, sem a certificação das

entidades competentes, ditaram

o encerramento daqueles centros.

Osvaldo Petersburgo apelou aos

centros de formação profissional

em situação ilegal, para regularizar

as suas actividades, tendo afirmado

que o seu ministério não vai tole-

rar os que funcionam ilegalmente.

Apelou ainda aos que pretendem

frequentar cursos nos centros de

MITESS fecha 41 centros de formação profissional

formação a estarem vigilantes,

principalmente em relação aos cer-

tificados que não tenham validade.

Na mesma ocasião, o ministro

anunciou a abertura de dois centros

de formação profissional, no distri-

to de Malema e Katembe, nas pro-

víncias de Nampula e Maputo, res-

pectivamente. O centro de Malema

irá leccionar principalmente cursos

ligados à agricultura, como forma

de aproveitar o potencial agrícola

deste distrito, segundo o dirigente.

O da Katembe, a entrada em fun-

cionamento está prevista para o fi-

nal do ano em curso, estando neste

momento na fase de acabamento e

apetrechamento das infraestrutu-

ras.

De referir que foram visitados cin-

co centros de formação profissional,

entre privados e públicos, na cidade

de Maputo, e acontece em paralelo

com as actividades de fiscalização

e inspecção que decorre em todo o

país. Jeque de Sousa

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Savana 05-02-2016EVENTOS4

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