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Dinamica de Sistem Carbono

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ADMINISTRAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO

    Simone Leticia Raimundini Sanches

    MODELO BASEADO EM DINMICA DE SISTEMAS PARA DEMANDA DE CRDITOS DE CARBONO

    Porto Alegre 2013

  • Simone Leticia Raimundini Sanches

    MODELO BASEADO EM DINMICA DE SISTEMAS PARA DEMANDA DE CRDITOS DE CARBONO

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Doutora em Administrao.

    Orientador: Prof. Denis Borenstein

    Porto Alegre 2013

  • Simone Leticia Raimundini Sanches

    MODELO BASEADO EM DINMICA DE SISTEMAS PARA DEMANDA DE CRDITOS DE CARBONO

    Conceito Final:

    Aprovada em:

    BANCA EXAMINADORA:

    _____________________________________

    Prof. Dr. Lus Felipe Machado do Nascimento - UFRGS

    _____________________________________

    Prof. Dr. Guilherme Lus Roehe Vaccaro - UNISINOS

    _____________________________________

    Prof. Dr. Antnio Artur de Souza - UFMG

    _____________________________________

    Orientador: Prof. Dr. Denis Borenstein - UFRGS

  • Ao meu esposo Altevir. Aos meus pais Nelson e Amlia.

    Aos meus irmos Rogrio e Sandro (in memorian). Aos meus sobrinhos Ana Isadora e Davi.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus.

    A toda minha famlia.

    Aos professores do PPGA, em especial ao Professor Denis.

    Aos amigos Joo Marcos, Jnia, Kerla, Marcelo, Lusa, Mrcia, Marguit e Niro.

    Aos colegas de doutorado.

    Aos colegas da UFRGS e da UEM.

  • RESUMO

    O Protocolo de Quioto institucionalizou polticas de metas de reduo das emisses de gases de efeito estufa (GEE) aos pases signatrios que fazem parte do Anexo I. Para efetivar essas polticas foram estabelecidos trs mecanismos de flexibilizao: implementao conjunta (IC), mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) e comrcio internacional de emisses (CIE). Os pases com economia em desenvolvimento contribuem atravs do MDL, ao desenvolver projetos que geram crditos de carbono. A Unio Europeia criou o Esquema de Comrcio de Emisses (EU ETS) para comercializar esses crditos, tornando-se o principal ambiente mundial do mercado de crditos de carbono. Desde a criao do EU ETS, o volume de negcios tem crescido anualmente. Entretanto, at final de 2012 havia a incerteza sobre a continuidade do Protocolo de Quioto, quando na Conferncia de Doha (COP-18) foi decidido que esse acordo continuar at o ano de 2020 e um novo acordo mundial ser negociado a partir de 2013. Sobre esse novo acordo h discusses sobre quais pases devem ter metas de emisses de GEE, quais setores e metodologias so elegveis para os projetos de MDL e como devem funcionar. Ainda, discute se haver demanda pelos crditos de carbono provenientes de projetos de MDL. Neste contexto, esta tese teve como objetivo analisar as polticas do mercado de crditos de carbono, considerando a demanda desses crditos pela Europa para o perodo de 2013 a 2020 e a contribuio do Brasil para a compensao das emisses excedentes de GEE, a partir de um modelo baseado em dinmica de sistemas. A hiptese dinmica do modelo sugere um comportamento de equilbrio entre as emisses de GEE na Europa e os crditos de carbono provenientes dos projetos de MDL. A hiptese dinmica tambm sugeriu cinco pressupostos, cujos resultados foram: i) o produto interno bruto da Europa no o nico fator causal das emisses de GEE; ii) a Europa tem condies de atingir suas metas de reduo de emisses de GEE at o ano de 2020; iii) o aumento do preo dos crditos de carbono no tem relao causal direta com o aumento das emisses de GEE; iv) o preo dos crditos de carbono no tem relao de causa-efeito com a quantidade de projetos de MDL desenvolvidos no Brasil e; v) nfima a contribuio do Brasil para a compensao das emisses de GEE na Europa. As anlises das polticas vigentes no mercado de crditos de carbono indicam que at 2020: i) a emisso de GEE pela Europa no ter grandes variaes, reforando que as metas de reduo destas emisses sero atingidas; ii) o Brasil, como pas hospedeiro de projetos de MDL, reduzir ainda mais a sua participao neste mercado confirmando expectativas da Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima e; iii) no esperado um aumento na taxa de sucesso na captao de GEE pelos projetos de MDL desenvolvidos no Brasil. As principais concluses so: o comportamento de equilbrio do modelo congruente ao propsito do Protocolo de Quioto; a Europa tem papel dominante no mercado de carbono que, no longo prazo, pode preponderar sobre as polticas a serem traadas para o novo acordo mundial e; se as polticas brasileiras de apoio aos projetos de MDL forem mantidas, a participao do Brasil no mercado de carbono tende ser cada vez menor e atingir o patamar de economia limpa e sustentvel.

    Palavras-chave: Dinmica de sistemas. Mercado de crditos de carbono. Projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Demanda. Brasil.

  • ABSTRACT

    The Kyoto Protocol established policies of targets for reducing greenhouse gas (GHG) emissions by countries that are parties to Annex I. In order to put these policies in practice, three flexible mechanisms have been set: Joint Implementation (JI), Clean Development Mechanism (CDM) and Emissions Trading (CIE). Countries with developing economies contribute through CDM, by developing projects that generate carbon credits. The European Union has created the Emissions Trading Scheme (EU ETS) to trade these credits, making it the main platform of the worldwide carbon credit market. Since the creation of the EU ETS, turnover has increased annually. However, until late 2012 there was uncertainty about the continuity of the Kyoto Protocol. It was decided in the Doha Conference (COP-18) that the agreement will continue until 2020. The COP-18 also decided that a new worldwide agreement will be negotiated starting in 2013. There have been discussions about this new agreement over which countries should have GHG emissions targets, which sectors and methodologies are eligible for CDM projects and their scope. Moreover, it is unknown whether there will be demand for carbon credits generated by CDM projects. In this context, this thesis aims to analyze the policies of the carbon credit market, considering demand for these credits in Europe between 2013 and 2020, and Brazils contribution to offset excess GHC emissions, using a model based on system dynamics. The dynamic hypothesis of the model suggests equilibrium between GHG emissions in Europe and carbon credits originating from CDM projects. It also suggests five assumptions, and the results were: i) the gross domestic product od Europe is not the only causal factor of GHG emissions, ii) Europe is able to meet its targets to reduce GHG emissions by 2020; iii) the higher price of carbon credits has no cause-effect relationship with the increase in GHG emissions; iv) the price of carbon credits has no cause-effect relationship with the number of CDM projects developed in Brazil, and; v) Brazil's contribution towards offsetting GHG emissions in Europe is minimal. Analyses of the prevailing policies in the carbon market indicate that by 2020: i) GHG emissions in Europe will not vary widely, reinforcing that the targets of reducing these emissions will be achieved, ii) Brazil, as a host country of CDM projects, will further reduce its participation in the carbon market, confirming expectations of the United Nations Framework Convention on Climate Change, and; iii) an increase is not expected in the success rate of capturing GHG by CDM projects developed in Brazil. The main conclusions are: goal-seeking behavior of the model is consistent with the purpose of the Kyoto Protocol, Europe plays a dominant role in the carbon market, which may prevail in the long term over the policies of the new worldwide agreement, and, if Brazilian policies for CDM projects are maintained, Brazil's participation in the carbon market tends to steadily decline and reach a plateau of a clean and sustainable economy.

    Keywords: System Dynamics. Carbon Credit Market. Clean Development Mechanism Projects. Demand. Brazil.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Estrutura do mercado de crditos de carbono ......................................................... 26 Figura 2 - Etapas de um projeto de MDL ................................................................................ 29 Figura 3 - Valor das RCE versus risco de compra .................................................................. 31 Figura 4 - Hiptese dinmica do Modelo de Demanda de Crditos de carbono ...................... 58 Figura 5 - Diagrama de lao causal do Modelo de Demanda de Crditos de carbono ............ 62 Figura 6 - Diagrama de estoque e fluxo do Modelo de Demanda de Crditos de carbono ...... 64 Figura 7 - Relaes causais na emisso total de GEE da Europa ............................................ 67 Figura 8 - Relaes causais na captao de GEE pelos projetos de MDL do Brasil................ 77 Figura 9 - Relaes causais na captao de GEE da Europa pelos projetos de MDL do Brasil88 Figura 10 - Exemplo de diagrama de lao causal .................................................................. 115 Figura 11 - Exemplo de diagrama de estoque e fluxo ........................................................... 116 Figura 12 - Verso preliminar do diagrama do lao causal ................................................... 118 Figura 13 - Gerao de grficos ............................................................................................ 128

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Quantidade negociada de crditos de carbono (em Mt de CO2) ........................... 32 Grfico 2 Preo mdio dos crditos de carbono negociado (em US$ por Mt de CO2) ........ 32 Grfico 3 Projetos de MDL no CEMDL/ONU ..................................................................... 33 Grfico 4 Projetos de MDL do Brasil no CEMDL/ONU ...................................................... 34 Grfico 5 Comportamento das emisses de GEE na Europa e captura de GEE dos projetos

    de MDL do Brasil (em Mt, de dezembro/2005 a dezembro/2012) .................... 56 Grfico 6 Comportamento do total de GEE da Europa (em Mt) Dezembro/2005 a

    Dezembro/2020 .................................................................................................. 67 Grfico 7 Evoluo histrica das emisses de GEE na Europa (em Mt) de 1960 a 2008

    .... 68 Grfico 8 Comportamento do nmero de projetos de MDL do Brasil (Dezembro/2005 a

    Dezembro/2020) ................................................................................................. 70 Grfico 9 Captao de GEE dos projetos de MDL no Brasil (dezembro/2005 a

    dezembro/2020) .................................................................................................. 71 Grfico 10 Comportamento das emisses de GEE pela Europa e captura de GEE pelos

    projetos de MDL no Brasil (em Mt, de dezembro/2005 a dezembro/2020) ...... 72 Grfico 11 Relao entre PIB e emisso de GEE na Europa (dezembro/2005 a

    dezembro/2009) .................................................................................................. 74 Grfico 12 Comportamento do PIB (Milhes US$) e emisso de GEE (Mt) na Europa de

    1960 a 2008 ........................................................................................................ 75 Grfico 13 Relao entre PIB e emisso de GEE na Europa (janeiro/2010 a dezembro/2020)

    ............................................................................................................................. 76 Grfico 14 Meta de reduo de GEE versus emisso de GEE na Europa (dezembro/2005 a

    dezembro/2009) .................................................................................................. 78 Grfico 15 Meta de reduo de GEE versus emisso de GEE na Europa (janeiro/2010 a

    dezembro/2020) .................................................................................................. 79 Grfico 16 Emisso de GEE na Europa versus preo da RCE (dezembro/2005 a

    dezembro/2009) .................................................................................................. 80 Grfico 17 Emisso de GEE na Europa versus preo da RCE (janeiro/2010 a

    dezembro/2020) .................................................................................................. 82 Grfico 18 PIB Europa versus preo da RCE (janeiro/2005 a dezembro/2020) .................. 83 Grfico 19 Preo dos crditos de carbono versus projetos de MDL brasileiros aprovados no

    CEMDL/ONU (dezembro/2005 a dezembro/2012) ........................................... 84 Grfico 20 Preo dos crditos de carbono versus projetos de MDL brasileiros aprovados no

    CEMDL/ONU (janeiro/2013 a dezembro/2020) ................................................ 86 Grfico 21 Histograma da taxa de sucesso na emisso de RCE dos projetos de MDL do

    Brasil .................................................................................................................. 89

  • Grfico 22 Captao de GEE dos projetos de MDL no Brasil versus emisso de GEE na Europa (dezembro/2005 a dezembro/2009) ....................................................... 91

    Grfico 23 Captao de GEE dos projetos de MDL desenvolvidos no Brasil versus emisso de GEE na Europa (janeiro/2010 a dezembro/2020) ......................................... 92

    Grfico 24 Anlise da poltica de produo de GEE pela Europa (janeiro/2010 a dezembro/2020) .................................................................................................. 95

    Grfico 25 Anlise da poltica de total de emisses de GEE pela Europa (janeiro/2010 a dezembro/2020) .................................................................................................. 97

    Grfico 26 Anlise da poltica de captura de GEE pelos projetos de MDL do Brasil (janeiro/2013 a dezembro/2020) ........................................................................ 98

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Fatores determinantes do preo das URE ............................................................. 35 Quadro 2 - Determinantes do preo das URE ......................................................................... 37 Quadro 3 - Fatores que influenciam o mercado de crditos de carbono ................................. 38 Quadro 4 - Limites do Modelo de Demanda de Crditos de carbono ..................................... 59

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Relao entre o PIB e a emisso de GE da Europa (dezembro/2005 a dezembro/2009) .................................................................................................... 74

    Tabela 2 Meta de reduo de GEE na Europa ...................................................................... 77 Tabela 3 Meta de reduo de GEE na Europa (em Mt/ms), de dezembro/2005 a

    dezembro/2009 ..................................................................................................... 78 Tabela 4 Meta de reduo de GEE na Europa (em Mt/ms), de janeiro/2010 a

    dezembro/2020 ..................................................................................................... 79 Tabela 5 Relao entre emisso de GEE na Europa e preo RCE (dezembro/2005 a

    dezembro/2009) .................................................................................................... 81 Tabela 6 Projetos de MDL aprovados e preo das RCE (dezembro/2005 a dezembro/2009) 85 Tabela 7 Distribuio de frequncia da taxa de sucesso na emisso de RCE dos projetos de

    MDL do Brasil ...................................................................................................... 90 Tabela 8 Participao dos projetos de MDL do Brasil na compensao de GEE na Europa

    (2006 a 2009) ........................................................................................................ 91 Tabela 9 Participao dos projetos de MDL do Brasil na compensao de GEE na Europa

    (2010 a 2020) ........................................................................................................ 93

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    AND Autoridade Nacional Designada BM&F Bolsa de Mercadorias e Futuros CCX Chicago Climate Exchange CEMDL/ONU Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da

    Organizao das Naes Unidas CH4 Metano CIE Comrcio Internacional de Emisses CIMGC Comisso Interministerial para Mudana Global do Clima CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CO2 Dixido de carbono COP 13 13a Conferncia das Partes (Bali, Indonsia, 2007) COP 15 15a Conferncia das Partes (Copenhague, Dinamarca, 2009) COP 16 16a Conferncia das Partes (Cancun, Mxico, 2010) COP 17 17a Conferncia das Partes (Durban, frica do Sul, 2011) COP 18 18a Conferncia das Partes (Doha, Qatar, 2012) CQNUMD Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima CVM Comisso de Valores Mobilirios DCP Documento de Concepo do Projeto DEF Diagrama de Estoque e Fluxo DLC Diagrama de Lao Causal ECX European Climate Exchange EOD Entidade Operacional Designada EA European Allowances EU ETS European Union Emissions Trading Scheme EUA Estados Unidos da Amrica FHC Hidrofluorcarbono FREE Feedback-Rich Energy-Economy GEE Gases de Efeito Estufa Gt Giga de toneladas GWh Giba Watt hora IC Implementao Conjunta ICE Italys Carbon Emissions MBRE Mercado Brasileiro de Redues de Emisses

  • MCT Ministrio da Cincia e Tecnologia MDCC Modelo de Demanda de Crditos de carbono MDIC Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Mt Milhes de toneladas MW Mega Watt N2O xido nitroso NAMA Nationally Appropriate Mitigation Action OCDE Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico ONU Organizaes das Naes Unidas PNA Plano Nacional de Alocao PIB Produto Interno Bruto PNMC Poltica Nacional sobre Mudanas do Clima PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente PwC PricewaterhouseCoopers RCE Reduo Certificada de Emisso t Tonelada TGC Tradable Green Certificates UE Unio Europeia UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change URE Unidade de Reduo de Emisses

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 16 1.1 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ................................................................................. 18 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................................ 21 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................................................................ 22 1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 22 1.3.2 Objetivos especficos ..................................................................................................... 23 1.4 DELIMITAO DA PESQUISA ................................................................................. 23 1.5 ORGANIZAO DO TRABALHO ............................................................................. 24 2 MERCADO DE CRDITOS DE CARBONO .......................................................... 26 2.1 MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO ................................................... 28

    2.2 PANORAMA DO MERCADO DE CRDITOS DE CARBONO E PROJETOS DE MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO ................................................... 31

    2.3 ESTUDOS CORRELATOS .......................................................................................... 35 2.3.1 Estudos descritivos ........................................................................................................ 35 2.3.2 Estudos economtricos e estocsticos ........................................................................... 40 2.3.3 Estudos baseados em dinmica de sistemas ............................................................... 42 3 METODOLOGIA DE MODELAGEM BASEADA EM DINMICA DE

    SISTEMAS ................................................................................................................... 45 4 MODELO DE DEMANDA DE CRDITOS DE CARBONO ................................ 56 4.1 MODO DE REFERNCIA E HIPTESE DINMICA ................................................ 56 4.2 DIAGRAMA DE LAO CAUSAL .............................................................................. 59 4.3 DIAGRAMA DE ESTOQUE E FLUXO ....................................................................... 63 4.4 VALORES DOS PARMETROS ................................................................................ 65 4.5 EXECUO DO MODELO ......................................................................................... 66 4.6 ANLISE DE SENSABILIDADE ................................................................................ 73 4.6.1 PIB da Europa est diretamente relacionado emisso de gases de efeito estufa . 73 4.6.2 Metas de reduo de emisses dos gases de efeito estufa definidas pelos pases

    europeus tm sido eficazes ........................................................................................... 77 4.6.3 Aumento das emisses de gases de efeito estufa na Europa tem relao com o

    aumento no preo dos crditos de carbono ................................................................ 80

  • 4.6.4 Aumento no preo dos crditos de carbono tem relao com o aumento na quantidade de projetos de mecanismo de desenvolvimento limpo no Brasil .......... 84

    4.6.5 Captao dos gases de efeito estufa dos projetos de mecanismo de desenvolvimento limpo realizados no Brasil contribui para a compensao da emisso desses gases

    na Europa ...................................................................................................................... 87 4.7 ANLISE DE POLTICAS DO PROTOCOLO DE QUIOTO .................................... 94 5 CONCLUSES .......................................................................................................... 100 5.1 CONTRIBUIO DA PESQUISA ............................................................................. 103 5.2 LIMITAES DA PESQUISA ................................................................................... 104 5.3 SUGESTES PARA PESQUISAS FUTURAS .......................................................... 105 REFERNCIAS .................................................................................................................. 106 APNDICES ........................................................................................................................ 114 APNDICE A MODELAGEM BASEADA EM DINMICA DE SISTEMAS ......... 114 APNDICE B VERSO PRELIMINAR DO DIAGRAMA DE LAO CAUSAL ... 118 APNDICE C EQUAES DO MODELO .................................................................. 119 APNDICE D GERAO DE GRFICOS ................................................................. 128 APNDICE E ROTEIRO DE ENTREVISTAS ............................................................ 129

  • 16

    1 INTRODUO

    As alteraes no meio ambiente so consequncias da ao antrpica e do desenvolvimento econmico dos pases. Por esse motivo e preocupada em minimizar os impactos ambientais negativos, a Organizao das Naes Unidas (ONU) patrocinou, em 1972, a primeira conferncia mundial sobre as mudanas climticas. O resultado desta Conferncia foi a criao do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Em 1992, quando foi realizada a segunda conferncia, criou-se a Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima (CQNUMD), que entrou em vigor em 1994.

    Em 1997, foi assinado o Protocolo de Quioto. Neste acordo as naes industrializadas (pases desenvolvidos) signatrias se comprometeram a atingir metas de reduo de suas emisses de gases de efeito estufa (GEE) at o ano de 2012. Para que isso se efetivasse, foram estabelecidos trs mecanismos de flexibilizao: a Implementao Conjunta (IC), o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e o Comrcio Internacional de Emisses (CIE) (SEIFFERT, 2009). Destes trs mecanismos, destaca-se o MDL pelo fato de constituir-se na forma como os pases com economia em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, pudessem contribuir para o cumprimento das metas de reduo de emisses de GEE (ONU, 2010).

    Em 2002, os pases da Unio Europeia (UE) criaram o Esquema de Comrcio de Emisses da Unio Europeia (European Union Emissions Trading Scheme EU ETS), com vigncia a partir de 2005. Ressalta que o EU ETS j existia antes de 2002, exclusivamente para a Comunidade Europeia, com o mesmo propsito: comercializar as permisses de emisso de GEE, isto , as permisses europeias (European Allownaces - EA) (SABBAG, 2009).

    Em 2007, na Conferncia de Bali (COP-13), foi estabelecido o Plano de Ao de Bali. Este Plano reconheceu que os pases em desenvolvimento deveriam promover aes de mitigao das emisses de GEE com prticas de desenvolvimento sustentvel. Tal obrigao ficou conhecida como Aes Nacionais de Mitigao Apropriada (Nationally Appropriate Mitigation Action NAMA), cujas tecnologias envolvidas poderiam ser financiadas ou

  • 17

    transferidas pelos pases que fazem parte do Anexo I1 do Protocolo de Quioto (UNFCCC, 2011c).

    Na Conferncia de Copenhague (COP-15), realizada em 2009, foi estabelecido o Acordo de Copenhague. Neste acordo os pases desenvolvidos se comprometeriam reduzir, em mdia, 20% das emisses dos GEE at 2020, em comparao com o volume de gases emitido no ano de 1990. Ainda, o Acordo de Copenhague previa o aumento da participao dos pases em desenvolvimento na reduo das emisses de GEE em suas atividades econmicas, reconhecendo a NAMA como meio para isso (BRASIL, 2011c). Ainda, o Acordo de Copenhague definiu que cada pas membro da CQNUMD deveria manifestar, em janeiro de 2010, seu compromisso de reduo at 2020. A UE manifestou o compromisso de reduzir entre 20% e 30% as emisses de GEE, tendo como base o ano de 1990, desde que os demais pases desenvolvidos se comprometessem a promover redues comparveis e que os pases em desenvolvimento tambm promovessem aes de mitigao das suas emisses. Os Estados Unidos da Amrica (EUA) e o Canad estabeleceram a meta de reduzir em 17% as emisses de GEE, comparado ao ano de 2005. O Japo manifestou o compromisso de reduzir em 25% as emisses de GEE, com base no ano de 1990, mas com a condio de que fosse estabelecido um marco internacional com a participao de todas as grandes economias (BRASIL, 2011c; UNFCCC, 2011a).

    O Brasil, como agente voluntrio e pas em desenvolvimento, manifestou o compromisso de reduzir a emisso de GEE com aes de mitigao (NAMA), at 2020, entre 36,1% e 38,9% (ano de referncia: 2005), principalmente em decorrncia do desmatamento e do uso da terra (BRASIL, 2011b; UNFCCC, 2011b). Outros pases em desenvolvimento, conforme o UNFCCC (2011b), tambm fixaram metas para reduzir a emisso de GEE, a partir de aes de mitigao: China, entre 40% e 45%; ndia, entre 20% e 25%; Coreia do Sul e Mxico, 30%; frica do Sul, 34%; e Indonsia, 26% (todos com referncia ao ano de 2005). Assim como o Brasil, os demais pases em desenvolvimento preveem a continuidade dos projetos de MDL.

    Neste contexto, os pases em desenvolvimento percebem a NAMA como em mecanismo encorajador para o desenvolvimento de projetos de MDL, com a participao de dois ou mais pases (o pas hospedeiro do projeto de MDL e o pas que ir transferir ou financiar a tecnologia do projeto). Entretanto, o Acordo de Copenhague reconheceu a NAMA

    1 Anexo I: compreende os pases industrializados e membros da OCDE em 1992 e os pases com economia em

    transio, incluindo a Rssia, os pases Blticos e vrios pases da Europa Central e Oriental. A relao completa dos pases que fazem parte do Anexo I pode ser obtida em: http://unfccc.int/parties_and_observers/items/2704.php.

  • 18

    como forma de aumentar a participao dos pases em desenvolvimento na reduo das emisses de GEE, sem tratar da continuidade dos projetos de MDL aps 2012, o que gerou dvidas sobre o futuro do Protocolo de Quioto (PEREIRA; GUTIERREZ, 2010; SERRA, 2010).

    Tal situao foi tratada na Conferncia de Cancun (COP-16), realizada em 2010, cujas principais decises foram: criao do Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund); implementao de regras para compensar os pases que reduzissem o desmatamento e a degradao de florestas; manuteno das metas de reduo de GEE estabelecidas no Acordo de Copenhague; e reconhecimento da importncia da continuidade do Protocolo de Quioto aps 2012. Porm, as discusses sobre a segunda fase do Protocolo de Quioto foram postergadas para final de 2011, na Conferncia de Durban (COP-17) (BRASIL, 2011b; UNFCCC, 2011d).

    Na COP-17 o principal resultado foi a Plataforma de Durban para uma Ao Reforadora. Nesta Plataforma foi acordada a prorrogao da vigncia do Protocolo de Quioto, aps 2012, com a condio de que, alm dos pases desenvolvidos, os pases em desenvolvimento tambm devem reduzir as suas emisses de GEE. Ainda, na COP-17 foi delineado um plano de trabalho para implementar o Fundo Verde para o Clima, no final de 2012, tendo o Banco Mundial como administrador nos trs primeiros anos (UNFCCC, 2012).

    A ltima conferncia foi realizada em 2012, a Conferncia de Doha (COP-18). Nela foi decidido o novo perodo de vigncia do Protocolo de Quioto: janeiro de 2013 a dezembro de 2020. Outra deciso foi a negociao de um novo acordo mundial a partir de 2013, para ser aprovado em 2015 (UNFCCC, 2013b).

    1.1 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

    Desde a assinatura do Protocolo de Quioto e, principalmente, a partir da criao do EU ETS, o mercado de crditos de carbono tem crescido: em 1998 foram comercializados 18 milhes de toneladas (Mt) de crditos de carbono, movimentando US$ 25 milhes (CAPOOR; AMBROSI, 2003); em 2009 foi comercializado 8.699 Mt de crditos de carbono, gerando negcios em torno de US$ 143,736 milhes (CAPOOR; AMBROSI, 2010). Entre os compradores dos crditos de carbono a UE o principal player, responsvel por,

  • 19

    aproximadamente, 82% do volume negociado, em Mt, em 2009 (CAPOOR; AMBROSI, 2010).

    No stio da European Climate Exchange (ECX, 2010), um clipping indica que o comrcio de mercado de crditos de carbono na Europa continuar existindo aps 2012, independente da continuidade do Protocolo de Quioto, pelo fato de a UE ter institucionalizado o EU ETS. Ainda, Fankhauser e Hepburn (2010b) comentam que este mercado estar plenamente desenvolvido somente a partir do ano de 2030. E, para Braun (2009) a continuidade do mercado de crditos de carbono natural porque est atrelado a planos nacionais de poltica pblica dos pases signatrios do Protocolo de Quioto para a reduo de emisso de GEE.

    Adiciona-se, a necessidade dos governos dos pases em desenvolvimento adotarem polticas e programas que reduzam a emisso de GEE e esses estejam adequados NAMA (FIGUERES; STRECK, 2009). Sobre isto, Pinto e Oliveira (2008) e Pereira e Gutierrez (2009) ressaltam que se a poltica nacional est alinhada poltica internacional so minimizadas as limitaes tcnico-burocrticas para aprovar os projetos de MDL. Os autores tambm mencionam que o Brasil precisa de uma postura mais proativa, alm da Poltica Nacional sobre Mudanas do Clima (PNMC), instituda pela Lei 12.187, de 29 de dezembro de 2009.

    Motta et al. (2000) e Conajero (2006) reforam essa necessidade brasileira ao afirmarem que, embora o Brasil tenha diferenciais positivos para desenvolver projetos de MDL, essa vantagem dependente de um ambiente poltico que viabiliza financiamento e transferncia de tecnologia, conforme prope a NAMA. Atinente a isto, estudo realizado pela Carbon Disclosure Project (2006) sobre Brasil, frica do Sul, ndia e China, aponta que a China o pas que mais concede incentivos para investimentos em energia limpa, com a finalidade de promover a reduo do uso de energia fssil e a segurana energtica.

    Por sua vez, segundo Dechezleprtre, Glachant e Mnire (2009), o Brasil importa 100% da tecnologia empregada para projetos de MDL que destroem xido nitroso (N2O) e recuperao de gases fugitivos, 90% em projetos de biogs, 85% projetos de recuperao de gases em aterros sanitrios, 75% em projetos de energia elica, 20% em projetos de substituio de combustveis fsseis; 11% em projetos de energia hidroeltrica e, apenas 9% em projetos de energia de biomassa, como o bagao de cana de acar. E, conforme dados da UNEP (2012), os projetos de MDL no Brasil so predominantemente da atividade de energia

  • 20

    renovvel (54%), compreendida por energias de origem hidroeltrica, elica e biomassa2. Em seguida, aparecem os projetos de atividades que mitigam o metano (23%) e gases em aterros sanitrios (10%).

    Esses resultados evidenciam que a transferncia de tecnologia pode estar associada aos projetos cuja matriz energtica no a predominante no pas. Adiciona-se a isto, o fato dos pases cuja matriz energtica predominantemente de combustveis fsseis e emitem hidrofluorcarbono (HFC), como a China e a ndia, serem mais atrativos do que pases cuja matriz energtica de fontes renovveis, como o Brasil, porque os projetos tem maior potencialidade de emitir crditos de carbono (ROCHA, 2008).

    Alm destes fatores, conforme pesquisa realizada no primeiro trimestre de 2008 pelo Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC), em conjunto com a PricewaterhouseCoopers (PwC), em 103 empresas brasileiras de diversos setores econmicos (a maioria com faturamento anual superior a R$ 200 milhes), com destaque para o de energia, o de suinocultura, o de papel e celulose e o de aterros sanitrios, outros fatores foram revelados como inibidores para o desenvolvimento de projetos de MDL no Brasil, destacando: elevados custos de registro do projeto (em mdia, US$ 270.000,00); falta de conhecimento tcnico (profissionais especializados) para definir a linha de base do projeto, sua metodologia e adicionalidade3; transparncia e lentido do processo de tramitao do projeto de MDL; falta de divulgao de informaes sobre as oportunidades de desenvolvimento de projetos de MDL e; disponibilidade e acesso linhas de financiamento especficas para projetos de MDL, principalmente aqueles em fase de elaborao. Por outro lado, a mesma pesquisa aponta que: 96% das empresas pesquisadas consideram que os fatores relacionados mudana climtica so estratgicos ou relevantes para o futuro do negcio da empresa; 79% fazem reaproveitamento de resduos ou de subprodutos em seu processo produtivo; 77% tm algum conhecimento ou experincia sobre projetos de MDL; apenas 37% conhecem sobre projetos de MDL programtico4 e; 83% no realizam o inventrio das emisses de GEE na sua atividade.

    2 Dados do Balano Energtico Nacional 2012, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energtica, apontam que,

    aproximadamente, 44% da matriz energtica do Brasil so de fontes renovveis. 3 A adicionalidade de projetos de MDL subdividida em ambiental, financeira e tecnolgica. Adicionalidade

    ambiental a reduo das emisses de GEE e/ou sua remoo. Adicionalidade financeira compreende a ajuda financeira dos pases do Anexo I aos pases hospedeiros dos projetos de MDL. E, a adicionalidade tecnolgica compreende a transferncias de tecnologias e conhecimento dos pases do Anexo I aos pases hospedeiros (LIMIRO, 2009). 4 Modalidade de projetos de MDL de pequena escala, isto , se assemelham aos projetos de grande escala, porm

    com a limitao de tamanho estabelecida em sua metodologia e a subdiviso de uma atividade em vrias de

  • 21

    Alm dos fatores que as empresas consideram favorveis para o desenvolvimento de projetos de MDL, h uma discusso sobre a necessidade de ampliao ou reformulao desses projetos (CAPOOR; AMBROSI, 2010; FANKHAUSER; HEPBURN, 2010b). Entre as discusses est a simplificao de procedimentos para comprovar a adicionalidade de projetos de energia renovvel, com capacidade de at 5 MW, e para projetos de eficincia energtica que visam economia de energia em uma escala no superior a 20 GWh/ano. Outra mudana em discusso de melhorar o processo de registro dos projetos no Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da ONU (CEMDL/ONU), incluindo maior transparncia na anlise dos projetos e melhor comunicao com os participantes e partes interessadas (HEIMDAL, 2010). Essas possveis mudanas interessam ao Brasil.

    Ainda para Heimdal (2010), a maior controvrsia sobre a continuidade do Protocolo de Quioto e dos projetos de MDL a definio de quais pases devem ter metas de emisso de GEE, quais setores e metodologias so elegveis para os projetos de MDL e, como o MDL deve funcionar. Ainda, a autora salienta que o mais importante saber se haver demanda suficiente para os crditos de carbono provenientes de projetos de MDL, com ou sem a continuidade do Protocolo de Quioto.

    Cabe lembrar que as principais regras da terceira fase (de 2013 a 2020) do EU ETS j esto estabelecidas. Embora haja previses de reduo pela demanda pelos crditos de carbono, devido s metas de reduo de emisses de GEE pelos pases da UE, ainda haver necessidade de compra desses crditos. Para isto, a UE incentiva que sejam realizados acordos bilaterais entre investidores e pases hospedeiros para desenvolvimento de projetos de MDL.

    1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

    O cenrio de incerteza sobre o futuro do Protocolo de Quioto torna o mercado de crditos de carbono e os projetos de MDL suscetveis quanto sua continuidade. E, como qualquer mercado, o mercado de crditos de carbono baseia-se na noo de escassez e incerteza sobre a oferta e a demanda.

    pequena escala. Esses projetos, de acordo com Sabbag (2009) e Seiffert (2009), apresentam menores custos de implantao devido simplificao dos requisitos e da validao do Documento de Concepo do Projeto e das metodologias de linha de base e o seu monitoramento. Ainda, uma vez que o projeto de MDL programtico esteja registrado no Conselho Executivo do MDL da ONU o mesmo pode hospedar atividades programticas relacionadas ao projeto no mbito do MDL, aumentando a gerao dos crditos de carbono.

  • 22

    At a realizao da COP-18 havia uma incerteza sobre a continuidade do Protocolo de Quioto, aps 2012. Nesta Conferncia foi decidido que esse acordo continuar vigente at o ano de 2020. Outra incerteza era sobre a articulao de um novo acordo mundial. Isto tambm foi decidido na COP-18: a partir de 2013 iniciam as negociaes de um novo acordo, para que seja aprovado em 2015 e entre em vigncia em 2021. Suprimidas essas incertezas, surgiram novos questionamentos: Quais sero as novas polticas a serem definidas neste novo acordo mundial? Como cada pas signatrio dever aderir a essas polticas? Como os projetos de MDL participaro e contribuiro para essas novas polticas?

    Todas essas questes tem efeito no mercado de crditos de carbono. Ainda mais, ao considerar que a Europa o principal player comprador dos crditos de carbono e que as atuais polticas estabelecidas pela EU preveem que a demanda por esses crditos reduza ao longo do tempo. Conforme Heimdal (2010), o problema saber se haver demanda pelos crditos de carbono e, se houver, quanto deve ser.

    O estudo de Heimdal (2010) indica uma lacuna que deve ser estudada. Assim, o problema de estudo desta pesquisa compreendeu em responder as seguintes questes: Qual a possvel demanda por crditos de carbono pela Europa entre os anos de 2013 e 2020 (perodo de vigncia do Protocolo de Quioto), considerando a atual poltica de reduo de emisses de GEE? Como o Brasil contribui para a compensao das emisses excedentes destes gases?

    Definido o problema de pesquisa, a seo seguinte apresenta o objetivo.

    1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

    1.3.1 Objetivo geral

    Esta tese teve como objetivo analisar as polticas do mercado de crditos de carbono, considerando a demanda desses crditos pela Europa para o perodo de 2013 a 2020 e a contribuio do Brasil para a compensao das emisses excedentes de GEE.

  • 23

    1.3.2 Objetivos especficos

    Para desenvolver o objetivo geral necessrio segreg-lo em objetivos especficos, a saber: a) Descrever o contexto histrico e atual do mercado de crditos de carbono e dos projetos de

    MDL.

    b) Identificar, definir e analisar as variveis concernentes demanda de crditos de carbono pela Europa que intervm nos projetos de MDL no Brasil.

    c) Testar os pressupostos da hiptese dinmica atravs da anlise de sensibilidade das varveis exgenas do mercado de crditos de carbono, com base no modelo de dinmica de sistemas.

    d) Analisar as polticas do Protocolo de Quioto, com base no modelo de dinmica de sistemas.

    1.4 DELIMITAO DA PESQUISA

    Esta pesquisa est delimitada a uma tcnica de modelagem denominada dinmica de sistemas. Modelos baseados em dinmica de sistemas consideram a relao de causalidade entre as variveis e o seu comportamento ao longo do tempo. Isto possibilita identificar o comportamento das variveis, logo do sistema modelado, em um ambiente complexo e dinmico (STERMAN, 2000; FORD, 1999). Por esse motivo foi escolhida esta tcnica de modelagem para desenvolver os objetivos da pesquisa.

    Ainda, o modelo de simulao computacional baseado em dinmica de sistemas, conforme exposto no objetivo desta pesquisa, foi delimitado ao contexto brasileiro por diversos motivos, respaldado em Pinto et al. (2008): a) Cada pas hospedeiro de projetos de MDL tem especificidades quanto s polticas pblicas

    sobre mudanas climticas e de incentivos por investimento e transferncia de tecnologias limpas bem como a composio da matriz energtica e a sua mudana. Por esse motivo, cada pas deve ser tratado unicamente.

    b) As metas de reduo das emisses de GEE entre os pases hospedeiros de projetos de MDL so diferentes. Adiciona-se, a diferena em como atingir as metas de reduo, por

  • 24

    exemplo: o Brasil priorizou diminuir queimadas de florestas, enquanto a China priorizou modificar sua matriz energtica, usando fontes limpas.

    c) Embora os pases hospedeiros de projetos de MDL so considerados economias em desenvolvimento, pases como Brasil, Rssia, ndia e China (denominado de BRIC) so vistos como economias emergentes e devem estar entre as dez principais economias mundiais nos prximos anos. Contudo, no razovel considerar, de modo agregado, todos os pases desenvolvedores de projetos de MDL porque h especificidades entre os pases quanto sua matriz econmica e energtica, bem como nos projetos de MDL desenvolvidos em cada pas.

    d) As caractersticas dos projetos de MDL so distintas entre os pases hospedeiros. Comparando, enquanto o Brasil prioriza projetos de MDL com uso de novas tecnologias limpas, cuja linha de base precisa ser aprovada pelo CEMDL/ONU, aumentando o tempo de aprovao do projeto; a China e ndia usam linhas de base j aprovadas e projetos que promovem a troca de emisses de GEE mais poluentes por menos poluentes ou limpas.

    Por esses motivos verifica que o objetivo desta pesquisa, por conseguinte, o modelo de simulao computacional baseado em dinmica de sistemas, foi circunstanciado ao contexto brasileiro.

    1.5 ORGANIZAO DO TRABALHO

    Para desenvolver o objetivo proposto nesta pesquisa, este trabalho est organizado em cinco captulos, incluindo esta introduo.

    O Captulo 2 descreve o contexto histrico do mercado de crditos de carbono e dos projetos de MDL, bem como apresenta os seus principais aspectos. Ainda, neste captulo apresentada uma coletnea de estudos correlatos sobre os mecanismos de flexibilizao do Protocolo de Quioto que tivessem, em comum, a anlise dos fatores que influenciam o mercado de crditos de carbono. Desse modo, o Captulo 2 compreendeu o desenvolvimento dos objetivos especficos a e b (subseo 1.3.2), ao contribuir para a compreenso do problema de pesquisa e identificao das variveis do modelo proposto e suas relaes.

    O Captulo 3 descreve a estratgia metodolgica que foi utilizada para o desenvolvimento do modelo computacional baseado em dinmica de sistemas, expondo os

  • 25

    procedimentos metodolgicos da pesquisa, em cada etapa do modelo de simulao proposto. Assim, o Captulo 3 importante para respaldar o rigor cientfico desta pesquisa.

    Em seguida, o Captulo 4 apresenta cada etapa do desenvolvimento do modelo computacional baseado em dinmica de sistemas. Em outras palavras, neste captulo apresentado o desenvolvimento do modelo computacional baseado em dinmica de sistemas proposto nesta pesquisa. O desenvolvimento deste modelo foi necessrio para atender os objetivos especficos c e d (subseo 1.3.2).

    No Captulo 5 so apresentadas as concluses desta pesquisa, suas limitaes e contribuies, bem como sugestes para pesquisas futuras.

    E, os Apndices apresentam os conceitos fundamentais sobre a tcnica de modelagem com base dinmica de sistemas (Apndice A), a verso preliminar do diagrama de lao causal do modelo (Apndice B), as equaes do modelo de simulao computacional baseado em dinmica de sistemas (Apndice C), a viso da gerao de grficos do modelo proposto (Apndice D) e o roteiro de entrevistas semiestruturada (Apndice E).

  • 26

    2 MERCADO DE CRDITOS DE CARBONO

    O mercado de crditos de carbono formado pelo mercado regulamentado, no qual so negociadas as permisses e redues registradas na ONU e; pelo mercado voluntrio, onde so negociadas as redues no certificadas pela ONU (Figura 1).

    Figura 1 Estrutura do mercado de crditos de carbono

    Fonte: adaptado de Mero (2008).

    O mercado regulamentado o ambiente do CIE para comercializar os crditos de carbono provenientes de projetos de IC e de projetos de MDL. Os projetos de IC so desenvolvidos, exclusivamente, nos pases que fazem parte do Anexo I do Protocolo de Quioto e, esses projetos geram os crditos de reduo denominados de Unidade de Reduo de Emisso (URE). Por sua vez, os projetos de MDL tambm geram crditos de reduo, porm denominados de Reduo Certificada de Emisso (RCE).

    Para operacionalizar a comercializao dos crditos de carbono (provenientes de projetos de IC e de projetos de MDL) no CIE foi criada em abril de 2005 a European Climate Exchange (ECX). O objetivo da ECX administrar e desenvolver produtos para o mercado de crditos de carbono, padronizando as formas contratuais das negociaes desses crditos. Inicialmente, comeou operando em mercado das URE. Em maro de 2008, iniciou a comercializao da RCE (ECX, 2010).

    Mercado de Crditos de Carbono

    Mercado Regulamentado

    Permisses

    European Allowances

    Crditos Baseados em Projetos

    Unidade de Reduo de

    Emisso

    Reduo Certificada de

    Emisso

    Mercado Voluntrio

    Redues no Certificadas

    Bolsa do Clima de Chicago

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    Ainda, no mercado regulamentado, h o segmento de comercializao das EA, provenientes do cap-and-trade system. Esse sistema est em conformidade com o artigo 6 do Protocolo de Quioto e foi institucionalizado pela Diretiva Europeia 87/2003. Esta Diretiva determina que cada pas-membro da UE deve desenvolver um plano que determina a quantidade mxima de emisso de GEE para as indstrias e as usinas de energia. O pas que atingir a sua meta de reduo de GEE pode conceder EA para os pases que no atingirem a meta (ONU, 2010), usando da EU ETS. Ou seja, as EA so decorrentes de um sistema compulsrio de reduo das emisses de GEE entre os pases europeus.

    Alm da EU ETS, h outros mercados regulamentados na Europa que comercializam as EA: United Kingdom Emission Trading Scheme, New South Wales Certificates, os quais esto interligados ao EU ETS (CAPOOR; AMBROSI, 2003), bem como o New Zealand Emissions Trading Scheme.

    Por outro lado, o mercado voluntrio representado, principalmente, pela Bolsa do Clima de Chicago (Chicago Climate Exchange - CCX), criada em dezembro de 2003. Os crditos de carbono negociados na CCX, diferente da ECX, no precisam ser certificados pela ONU como originrios de projeto de MDL ou projetos de IC. Contudo, o preo desses crditos obtm um valor inferior quele praticado no mercado regulamentado. Tal situao no deixa de ser interessante para os projetos que no obtiveram aprovao pela ONU.

    No Brasil, ainda em fase de consolidao, est sendo criado o Mercado Brasileiro de Redues de Emisses (MBRE). Trata-se de um trabalho conjunto entre a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e o MDIC. A primeira etapa (iniciada em setembro de 2005) consistiu em criar o Banco de Projetos BM&F-BOVESPA, no qual podem ser registrados projetos de MDL validados pela ONU, intenes de projetos que objetivam a condio futura de projetos de MDL validados (Project Idea Notes) e intenes de compra de investidores estrangeiros (Expression of Interest) interessados em adquirir RCE (BMF, 2010; LIMIRO, 2009; SABBAG, 2009). A segunda etapa do MBRE, concluda em 2007, criou o ambiente de leilo eletrnico das RCE, operado no mercado a vista. Desde esta data foram realizados alguns leiles de RCE, destacando os leiles propostos pela Bandeirantes Landfill Gas to Energy Project, cuja titularidade da Prefeitura Municipal de So Paulo. O leilo eletrnico previamente agendado pela instituio, a pedido da parte vendedora. Limiro (2009) sustenta que a experincia da BM&F de comercializar as RCE em leilo eletrnico representa um importante processo de organizao e desenvolvimento do mercado de crditos de carbono no Brasil.

  • 28

    Complementando a iniciativa da BM&F, est em fase conclusiva (anlise na Comisso de Finanas e Tributao) o Projeto de Lei no 493/2007, que dispe sobre a organizao e regulao do mercado de crditos de carbono no Brasil. Este Projeto de Lei define que as RCE possuem natureza jurdica de valor mobilirio para fins de regulao, fiscalizao e sano pela Comisso de Valores Mobilirios (CVM). Prev que, uma vez que a CIMGC aprovar o projeto de MDL, a CVM ficar responsvel pelo registro e validao das EOD, pela padronizao dos contratos e pelo aumento a liquidez das RCE.

    Essas medidas brasileiras permitem que os riscos e as incertezas associadas aos projetos de MDL sejam reduzidos. Isto aumenta a atratividade do pas para o desenvolvimento desse tipo de projeto, ao mesmo tempo em que reduz os custos de emisso e comercializao das RCE.

    Os distintos ambientes de negociao dos crditos de carbono que surgiram em diferentes pases formam um mercado mundial (CARRARO e FAVERO, 2009). Por isto, Lorenzoni Neto (2009) e Chevallier (2010) defendem que os crditos de carbono so uma commodity ambiental, por se tratar da comercializao de um bem no tangvel padronizado, isto , uma quantidade definida de GEE expressa em RCE ou URE. Contudo, para os autores, esse mercado ainda carece de regulamentao legal, para disciplinar as regras e aumentar a segurana jurdica dos players.

    2.1 MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO

    O denominado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) foi institucionalizado pelo artigo 12 do Protocolo de Quioto. Consiste na implantao de um instrumento jurdico e econmico (projetos) que promova a reduo ou captao de emisso de GEE. Para ter validade, todo projeto de MDL deve ser implementado em pases de economia em desenvolvimento (denominados de pases hospedeiros), ser aprovado pela Autoridade Nacional Designada (AND)5 e, ser encaminhado para avaliao e registro no CEMDL/ONU. Para a obteno desse registro, o projeto de MDL deve atender alguns critrios de elegibilidade: a) prever a participao voluntria da(s) parte(s) envolvida(s); b)

    5 No Brasil representada pela Comisso Interministerial de Mudana Global do Clima (CIMGC), composto por

    representante de 11 ministrios, cuja presidncia atribuda ao Ministro da Cincia e Tecnologia e a vice-presidncia ao Ministro do Meio Ambiente.

  • 29

    promover redues de emisses adicionais quelas que ocorreriam na ausncia do projeto; e c) garantir benefcios reais e mensurveis de longo prazo relacionados mitigao da mudana climtica. Uma vez que obtm o registro do projeto no CEMDL/ONU ocorre o monitoramento da captura ou reduo das emisses de GEE, a verificao e certificao dessas emisses e, finalmente, a emisso das RCE para comercializao (Figura 2).

    Figura 2 - Etapas de um projeto de MDL

    Fonte: BM&F (2010)

    A emisso das RCE depende do prazo de validade e certificao dos projetos de MDL. Esse prazo uma opo do proponente do projeto, podendo ser, segundo Limiro (2009): a) para projetos industriais, no mximo de sete anos, renovvel no mximo duas vezes por

    igual perodo, totalizando vinte e um anos, ou no mximo de dez anos, sem opo de renovao;

    b) para projetos florestais, no mximo de vinte anos, renovvel no mximo duas vezes por igual perodo, totalizando sessenta anos, ou no mximo de trinta anos, sem opo de renovao.

    Para cada renovao da certificao, a AND determinar e informar ao CEMDL/ONU que a linha de base original do projeto ainda vlida ou, se for o caso, se foi atualizada de acordo com a existncia de novos dados. Quanto aos participantes, os projetos de MDL podem ser:

  • 30

    a) Unilateral, quando o agente econmico sediado em um pas hospedeiro implementa o projeto de MDL sem qualquer contribuio financeira ou tecnolgica de pases participantes do Anexo I. Todos os custos e riscos referentes ao projeto recaem ao investidor, sediado no pas hospedeiro (JAHN et al., 2004). A negociao com a parte interessada s ocorre quando os crditos de carbono forem ou estiverem na iminncia de serem emitidos. b) Bilateral, quando houver contrato entre um investidor (com sede em algum pas do Anexo I) e o agente econmico sediado em algum pas hospedeiro. Nesta modalidade, parte dos investimentos e da tecnologia necessrios ao desenvolvimento do projeto pode ser transferida ao agente econmico. A propriedade das RCE dever estar prevista no contrato, podendo ser dividida entre as partes envolvidas. Nesta modalidade os investidores buscam pases hospedeiros e projetos de MDL que propiciem menor risco, para aumentar a sua viabilidade financeira (JAHN et al., 2004). c) Multilateral, quando for viabilizado por algum fundo internacional multinacional. Geralmente nesta modalidade o fundo participa, simultaneamente, em mais de um projeto de MDL. As RCE pertencem ao fundo, que vai distribu-las entre os seus participantes, cabendo ao pas hospedeiro apenas os benefcios da atividade do projeto. Os riscos envolvidos em um projeto de MDL so, de acordo com Lorenzoni Neto (2009), Carraro e Favero (2009), Blyth et al. (2009) e Jahn et al. (2004), decorrentes de: a) complexidade e burocracia entre as diferentes esferas e os agentes envolvidos na

    aprovao do projeto e obteno das RCE, cuja tramitao pode demorar mais de um ano; b) custos de registro e de implantao do projeto de MDL, com a possibilidade de no

    atingir as redues estimadas de GEE, prejudicando a expectativa de obteno das RCE; c) incerteza dos preos futuros das RCE, devido s mudanas econmicas, polticas e

    ambientais, transferncia de tecnologias bem como investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e ao mercado em si; e

    d) definio do regime jurdico a ser adotado em cada pas signatrio do Protocolo de Quioto e da harmonizao desses regimes.

    Quanto ao momento da comercializao, as RCE (ou o seu potencial direito) podem ser vendidas em qualquer etapa do projeto. Contudo, quanto mais antecipada ocorrer a venda do crdito de carbono em relao ltima etapa (emisso das RCE), menor o seu preo (Figura 3). O preo reduz devido aos maiores riscos associados ao projeto de MDL e a volatilidade do mercado (LIMIRO, 2009; SABBAG, 2009).

  • 31

    Figura 3 Valor das RCE versus risco de compra

    Fonte: Seiffert (2009, p. 157)

    Como exemplo dessa relao de preo e risco, a tCO2 decorrente de RCE de projetos no registrados teve um preo mdio em 2008 entre 8,00 e 13,00, enquanto que RCE de projetos registrados o preo mdio, para o mesmo perodo, ficou entre 12,00 e 13,00 (CARRARO; FAVERO, 2009).

    2.2 PANORAMA DO MERCADO DE CRDITOS DE CARBONO E PROJETOS DE MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO

    Desde o ano de 1998, quando iniciou a comercializao dos crditos de carbono, os valores e quantidade negociados aumentaram a cada ano, principalmente a partir de 2005 com a criao da EU ETS. Contudo, a partir de 2008, esse mercado apresenta desaquecimento por diversos motivos. Entre os principais motivos assinalam-se a crise econmica mundial de 2008-09 e a incerteza sobre a continuidade do Protocolo de Quioto aps 2012.

  • 32

    Para ilustrar a evoluo do mercado de crditos de carbono ao longo de doze anos (1998 a 2009), o Grfico 1 mostra o comportamento da quantidade negociada de crditos de carbono (em Mt de CO2) e o Grfico 2 mostra o comportamento do preo mdio (em US$ por Mt de CO2).

    Grfico 1 Quantidade negociada de crditos de carbono (em Mt de CO2)

    Fonte: Capoor e Ambrosi (2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010).

    Grfico 2 Preo mdio dos crditos de carbono negociado (em US$ por Mt de CO2)

    Fonte: Capoor e Ambrosi (2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010).

    0

    1.000

    2.000

    3.000

    4.000

    5.000

    6.000

    7.000

    8.000

    9.000

    10.000

    1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

    Total URE RCE

    0,00

    5,00

    10,00

    15,00

    20,00

    25,00

    30,00

    1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

  • 33

    Comparando o comportamento da quantidade negociada de crditos de carbono e o preo mdio por Mt de CO2, verifica-se que o preo apresenta maior oscilao. Ou seja, o preo dos crditos de carbono no depende somente da sua oferta e demanda, h outros fatores que o influenciam, tais como polticas de metas de reduo das emisses de GEE nos pases signatrios do Protocolo de Quioto e a economia mundial.

    Sobre isto, Cunha (2009) comenta que, em momentos de recesso, aumenta a incerteza e a necessidade de liquidez porque ocorre reduo da produo industrial, logo o preo das energias fsseis cai por haver menor consumo. Por conseguinte, reduz emisso de GEE e, tambm, a demanda por RCE. A menor demanda pelos crditos de carbono faz com que o preo se ajuste para menos, como pode ser observado no Grfico 2 para o perodo de 2008-2009.

    Em outra perspectiva, dados da UNFCCC (2013a), atualizados at dezembro de 2012, indicavam 5.171 projetos de MDL registrados no CEMDL/ONU, emitindo RCE. Historicamente verifica uma tendncia de crescimento no nmero de pedido de registro de projetos de MDL e de projetos registrados no CEMDL/ONU, conforme mostra o Grfico 3.

    Grfico 3 Projetos de MDL no CEMDL/ONU

    Fonte: UNFCCC (2013a), dados atualizados at 31de dezembro de 2012.

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    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.200

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    1.600

    dez/

    03ab

    r/04

    ago/0

    4de

    z/04

    abr/0

    5ag

    o/0

    5de

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    A China o pas com a maior quantidade de projetos registrados, so 2.915 projetos (53%), seguida pela ndia, 1.008 projetos (18%) e pelo Brasil com 233 projetos (4%). Entre esses projetos registrados, a China emitiu 61% das RCE, a ndia 14%, a Repblica da Coreia 9% e o Brasil, em quarto lugar, com 7%. Nota-se que a participao de cada pas diferente quando trata de nmero de projetos e a quantidade de RCE emitidas. Essa diferena decorrente da capacidade de cada projeto reduzir ou capturar os GEE, o que implica na quantidade de RCE autorizadas.

    Comportamento tambm de crescimento o nmero de projetos de MDL brasileiros com pedido de registro e registrados no CEMDL/ONU (Grfico 4).

    Grfico 4 Projetos de MDL do Brasil no CEMDL/ONU

    Fonte: UNFCCC (2013a), dados atualizados at 31de dezembro de 2012.

    Observa-se que a quantidade de projetos de MDL com pedido de registro maior que a quantidade de projetos que so registrados. Ainda, h perodos em que no houve aprovao de nenhum projeto de MDL. Ao contrrio disto, aps a COP-18 o nmero de projetos aprovados pelo CEMDL/ONU cresceu acentuadamente, em um nico ms (dezembro de 2012). Muito provavelmente esse crescimento acentuado esteja relacionado com as decises tomadas na COP-18.

    Ainda assim, a UNFCCC (2013a) tem a expectativa que o Brasil participe com 3,5% das emisses de RCE para os prximos anos, considerando as caractersticas dos projetos de MDL propostos pelo pas, que predominantemente de captura ou reduo de dixido de

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    carbono (CO2) e de metano (CH4). Esse ranking menor daquele que se tinha em dezembro de 2012 (quarto lugar, com 7% das emisses de RCE).

    2.3 ESTUDOS CORRELATOS

    Durante a pesquisa sobre estudos que identificam e/ou analisam os fatores que influenciam o mercado de crditos de carbono, foram encontrados alguns estudos descritivos e outros que desenvolveram modelos economtricos ou baseados em dinmica de sistemas. As subsees seguintes descrevem esses estudos.

    2.3.1 Estudos descritivos

    Entre os estudos descritivos, destacam-se Rickels et al. (2007) e Carraro e Favero (2009), que identificaram e analisaram os fatores que determinam o preo das URE.

    Os resultados obtidos por Rickels et al. (2007) esto sumarizados no Quadro 1.

    Quadro 1 Fatores determinantes do preo das URE Fator Efeitoa Expectativa de impacto quando o fator aumenta Oferta

    Alocaes globais Longo prazo Negativo Projetos de MDL e IC Mdio prazo Negativo Concentrao de URE Longo prazo Positivo Emprstimos de URE Longo prazo Negativo

    Demanda Crescimento econmico Mdio prazo Positivo Temperaturas globais Curto prazo Positivo Nveis de chuva e vento Curto prazo Negativo Preo do petrleo, carvo e gs Curto e longo prazo Negativo Preos relativos petrleo/carvo, gs/carvo Curto e longo prazo Positivo Reduo de custos Longo prazo Positivo Informaes sobre as redues das emisses Longo prazo Negativo

    Mercado energtico Mdio prazo Positivo / Negativo Escassez Longo prazo Positivo Excesso Longo prazo Negativo a curto prazo: em poucos dias, mdio prazo: poucos meses e, longo prazo: alguns anos.

    Fonte: Rickels et al. (2007, p. 9).

  • 36

    De acordo com o Quadro 1, os preos das URE so influenciados por trs grupos de fatores: oferta, demanda e relacionados estrutura de mercado, regulao e interveno. Esses fatores, de acordo com Rickels et al. (2007) so inter-relacionados, de modo que a mudana em um desses fatores afetam os demais. No que concerne aos fatores relacionados oferta, os autores comentam que o principal a quantidade de URE que os pases participantes do EU ETS emitem. A oferta de crditos de carbono provenientes de projetos de MDL e de IC tem menor impacto nos preos da URE porque possuem maior incerteza de serem emitidos e so emitidos em pequena quantidade, quando comparado com as EA. Ainda, para os autores outros fatores so a morosidade e os custos elevados para certificao e emisso desses crditos. Sobre os fatores de demanda, Rickels et al. (2007) comentam que o preo das URE determinado, principalmente, pela expectativa de crescimento econmico. Se, por um lado, o crescimento econmico aumenta as emisses de GEE; do outro lado, essas emisses esto limitadas aos Planos Nacionais de Alocao (PNA)6. A expectativa de consumo e a variao de preo de fontes energticas fsseis, principalmente petrleo, carvo e gs, tambm afeta a demanda de URE. O consumo e o preo dessas fontes energticas dependem de fatores climticos, tais como temperaturas elevadas ou baixas. No curto prazo existe um efeito de substituio de uma fonte energtica por outra fonte, mas no longo prazo o efeito ser no preo. O aumento do preo dos combustveis fsseis levar reduo pela demanda dessas fontes energticas e aumento pela demanda por energia renovvel, aumentando o preo das URE. Outros fatores climticos, como o volume de chuvas e a velocidade do vento permitem a gerao de energia renovvel. A gerao de energia renovvel leva menor demanda de RCE, de modo que tem efeito negativo no preo das URE. Ao passo que a diminuio dos custos com o controle de emisso de GEE e o aumento das informaes sobre a reduo dessas emisses apresentam efeitos de, respectivamente, aumentar e diminuir o valor das URE.

    Os fatores relacionados estrutura de mercado, regulao e interveno, conforme Rickels et al. (2007) referem-se a incerteza sobre os preos futuros e as decises polticas

    6 O PNA est previsto na Diretiva 87/2003 da Comunidade Europeia. Cada pas membro da Comunidade

    Europeia deve elaborar um PNA, onde definida a meta de reduo das emisses de GEE do pas, a quantidade de EA que deseja distribuir e como ser a sua distribuio para determinado perodo de tempo. Esse plano deve ser publicado e notificado Comisso e aos outros pases-membro da Comunidade Europeia.

  • 37

    sobre as regras de emisso de GEE; aquisio de crditos de projetos de MDL e de IC e; metodologias de linha de base dos projetos de MDL.

    Outro estudo de Carraro e Favero (2009), cujos resultados esto sumarizados no Quadro 2.

    Quadro 2 Determinantes do preo das URE Natureza

    Efeitoa Econmica Financeira

    Curto Prazo Mudanas climticas Taxa de desconto Polticas domsticas

    Preo dos combustves fsseis (petrleo, gs natural e carvo)

    Possibilidade de substituir fontes energticas

    Longo Prazo

    Demanda e oferta de URE Incerteza sobre as regulamentaes

    futuras sobre as metas de reduo/emisso de GEE e sobre o mercado de crditos de carbono

    Crescimento econmico Recursos financeiros para investimentos Alocao global

    Custo de redues das emisses de GEE Custo de desenvolvimento de tecnologias

    limpas

    a os autores no especificaram o que comprende horizonte de tempo de curto e longo prazos. Fonte: Carraro e Favero (2009, p. 402).

    De acordo com Carraro e Favero (2009), os principais fatores que determinam os preos das URE podem ser divididos em duas macro-categorias: a) poltica e regulao: compreende a incerteza sobre a continuidade do Protocolo de Quioto

    aps 2012 e sobre a poltica interna dos pases de possveis mudanas na regulao das emisses do GEE. Essas incertezas afetam a demanda pelas URE, logo aumentando o preo no longo prazo, e;

    b) fundamentos de mercado: influencia diretamente na emisso de GEE, logo na oferta e demanda por URE. A economia em perodo de crescimento aumenta os nveis de produo, aumentando as emisses de GEE e demanda pelas URE, logo o seu preo. O mesmo acontece se as condies climticas ocasionarem maior consumo de fontes energticas fsseis.

    Uma situao inversa, a recesso econmica, foi verificada por Cunha (2009), usando a teoria de Preferncia pela Liquidez, de Keynes, no mercado de crditos de carbono. Para o autor, a crise financeira de 2008, dada a noo de incerteza e necessidade de liquidez, teve impacto indireto no mercado de crditos de carbono atravs do preo das commodities energticas, principalmente o petrleo. A queda no preo do barril do petrleo no perodo de 2008-2009 reduziu a demanda por URE, iniciando um movimento de venda para aumentar a sua liquidez, diminuindo ainda mais o preo das URE porque houve maior oferta.

  • 38

    Essa relao de causa e efeito entre o preo das commodities energticas e o preo das URE tambm foi destacado por Carraro e Favero (2009) como um fator de natureza financeira de curto prazo bem como por Rickels et al. (2007), ao mencionar o efeito de substituio no curto prazo e elevao do preo das URE no longo prazo.

    Observa-se que os estudos descritivos de Rickels et al. (2007) e Carraro e Favero (2009) se limitam a apresentar e categorizar as variveis que afetam o preo das URE e a cotejar os possveis efeitos que a mudana nestas variveis podem causar. Pode-se observar a aplicao da lei da oferta e demanda no preo das URE.

    Os principais resultados de outros estudos descritivos sobre os fatores que influenciam o mercado de crditos de carbono esto resumidos no Quadro 3.

    Quadro 3 Fatores que influenciam o mercado de crditos de carbono Autores Principais resultados

    UNEP (2007)

    Os fatores que determinam o mercado e o preo dos crditos de carbono so: a) oferta e demanda das URE e RCE; b) a demanda de RCE estimulada pelo aumento da produo que usam fontes de

    energia convencionais e emitem GEE; c) os processos polticos e administrativos dos tratados globais sobre as mudanas

    climticas so macro determinantes nos preos das RCE; d) risco poltico dos pases hospedeiros de projetos de MDL; e) projetos de MDL que geram RCE provenientes de atividades florestais e hidroeltricas

    tem limitao no EU ETS; f) o andamento de registro do projeto de MDL influencia no preo das RCE geradas pelo

    projeto; g) projetos unilaterais apresentam maior risco durante a fase de desenvolvimento; h) o preo do gs, da energia e das URE esto correlacionados, e reflete no preo das

    RCE. O aumento no preo destas fontes energticas ocasiona um aumento no preo das URE e RCE.

    Mansanet-Bataller, Pardo e Valor (2007)

    O preo das URE no longo prazo determinado por: a) fatores micro e macroeconmicos (caractersticas do setor energtico, crescimento do

    Produto Interno Bruto (PIB), aumento das emisses de GEE e as metas de emisses desses gases);

    b) fatores energticos: preo das fontes de energia e; c) fatores climticos: temperatura e condies climticas.

    Pinto et al. (2008)

    O aumento na oferta de RCE depende: a) de melhoria dos instrumentos regulatrios nacionais; b) de incentivos oferecidos pelos rgos governamentais; c) da continuidade do Protocolo de Quioto; d) do comportamento do mercado europeu de permisses; e) da adeso dos EUA ao Protocolo de Quioto; f) da quantidade e do tipo de projeto que iniciam o processo de certificao; g) da obteno de certificao para emisso de RCE; e h) da eficcia esperada para cada projeto em demonstrar e cumprir o fluxo de direitos de

    emisses pleiteado. O aumento na demanda de RCE depende: a) do ritmo de crescimento econmico dos pases com metas estabelecidas de reduo de

    emisso de GEE; b) do ritmo do avano tcnico direcionado modificao da matriz energtica e ao

    aumento da eficincia energtica dos maiores setores emissores de GEE; e c) do comprometimento de novos pases, principalmente dos EUA, com metas de

    emisso. Continua...

  • 39

    Continuao do Quadro 3

    Mero (2008)

    Os preos dos crditos de carbono dependem: a) da volatilidade da oferta e demanda; b) da garantia de entrega das RCE, do valor e viabilidade do projeto de MDL; c) das condies de investimento no pas hospedeiro e apoio do pas hospedeiro; d) do ambiente e dos benefcios sociais; e e) dos custos e riscos envolvidos no projeto.

    Fages (2010)

    O mercado de crditos de carbono mostra duas possveis configuraes: a) quando o preo da gasolina inferior a 40/th. e o preo da URE superior ao do

    combustvel, o preo da URE depende somente do preo da RCE. b) quando o preo da gasolina est acima de 40/th., e o preo da URE est entre o preo da

    RCE e o preo do combustvel, o preo da URE mdia ponderada (cerca de 70% do preo da RCE e 30% do preo do gs).

    Silva Jnior (2011)

    O preo das RCE possui relao com o preo do barril de petrleo. Em perodo de crise econmica, quando os nveis de produo de bens e servios diminuem, diminui o consumo de petrleo e outros combustveis fsseis, portanto, diminui a emisso de GEE. Logo a tendncia de preo das RCE de baixar. Apoio governamental (financiamentos e, principalmente, polticas pblicas de fomento aos projetos de MDL), imprescindvel para o desenvolvimento desta modalidade de projeto. As polticas pblicas de fomento aos projetos de MDL tambm so importantes para incentivar a gerao/transferncia de tecnologias limpas nos pases hospedeiros de projetos de MDL.

    Leo (2011) Motivos que levam as empresas a adotar medidas que combatem as mudanas climticas: a) aes governamentais (poltica e regulaes); b) maior eficincia de processos operacionais e a reduo de custos e de riscos financeiros; e c) gesto da imagem empresarial.

    Fonte: elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa (2013).

    Com base no Quadro 3, os fatores mais recorrentes sobre o mercado de crditos de carbono, inclusive preo dos crditos, so: a) a demanda das URE tem relao com o aumento ou reduo do consumo e preo das

    energias fsseis do crescimento econmico dos pases, das metas de reduo de emisso de GEE pelos pases do Anexo I e dos fatores climticos;

    b) a oferta das URE depende dos tratados globais sobre mudanas climticas e polticas pblicas dos pases sobre mudanas climticas;

    c) o preo das URE depende da sua prpria oferta e demanda bem como do preo das fontes de energia fsseis e emissoras de GEE;

    d) o aumento na demanda das URE tem efeito no aumento da demanda de RCE; e) a oferta de RCE depende dos projetos de MDL e de aes governamentais do pas

    hospedeiro; e f) o preo das RCE dependem do preo das URE e do barril de petrleo, bem como da

    atividade do projeto que d origem ao crdito de carbono, estgio em que o projeto se encontra para a certificao e, dos riscos e custo do projeto de MDL.

    Sumarizando, os resultados dos estudos aqui apresentados demonstram que os principais fatores que influenciam o mercado de crditos de carbono so: o crescimento

  • 40

    econmico; a emisso e metas de reduo de GEE; a oferta e demanda de URE e RCE; o consumo e o preo de fontes de energia fsseis, principalmente carvo, gs e petrleo e; polticas pblicas globais e locais sobre mudanas climticas e de fomento aos projetos de MDL.

    2.3.2 Estudos economtricos e estocsticos

    Os estudos realizados com base em modelos economtricos, em geral, enfatizam o preo e o risco dos crditos gerados por projetos de IC, os quais geram as URE. Entre os modelos economtricos, destaca-se Chevallier (2009, 2010), que, usando o modelo GARCH, mostra como os indicadores macroeconmicos podem influenciar a dinmica de preos dos crditos de carbono no mercado futuro. Os resultados indicam que a volatilidade dos preos futuros dos crditos de carbono aumenta quando o vencimento de um contrato de futuros se aproxima.

    Outros resultados dos estudos deste autor mostram que o preo da energia proveniente de fontes fsseis, a oferta e demanda dos crditos de carbono, o crescimento do PIB, as caractersticas da matriz energtica, o crescimento e metas das emisses de GEE e os fatores climticos so fatores determinantes da variao e do direcionamento dos preos dos crditos de carbono no longo prazo. Por outro lado, a taxa de juros no afeta o preo dos crditos de carbono, por ser um mercado criado recentemente.

    Durand-Lasserve, Pierru e Smeers (2010) revelam, com base em um modelo estocstico, como a incerteza sobre metas de emisses de GEE para o perodo de 20202050 pode afetar os preos da energia e dos crditos de carbono no EU ETS, bem como investimentos tecnolgicos no setor energtico. So considerados dois cenrios possveis: metas de redues mais altas, e metas de redues moderadas. Em ambos cenrios os preos dos crditos tendem a aumentar at 2050, estendendo esse aumento at 2060 para as metas de redues moderadas. Aps esses anos, os preos dos crditos de carbono caem de modo acelerado.

    Pao e Tsai (2010) usam a causalidade de Granger para explicar a relao causal entre crescimento econmico, emisso de poluentes e consumo de energia para Brasil, Rssia, ndia e China (pases que formam o BRIC), no perodo de 19712005. Os principais resultados indicam que h uma relao de equilbrio, no longo prazo, entre as emisses de CO2, consumo

  • 41

    de energia e crescimento econmico para os pases do BRIC. Ainda, mostram que as elasticidades do consumo de energia e do crescimento econmico explicam o crescimento das emisses de CO2 e que a escassez de investimentos em infraestrutura de produo de energia pode limitar o crescimento econmico. A maior elasticidade de longo prazo, tanto para o consumo de energia quanto para o crescimento econmico, mostra efeito de aumento das emisses de CO2 tambm para igual perodo. Pinto et al. (2008) projetam, a partir de modelos econmicos, o comportamento da oferta e da demanda de crditos de carbono, no mbito dos projetos de MDL, para o perodo de 2008 a 2012. Para a projeo, os autores utilizam dados histricos da oferta e demanda das RCE e estimativas de emisses de GEE por unidade do PIB de pases com metas de reduo de emisses. Ainda, consideram que: (a) as quantidades ofertadas e demandadas de crditos de carbono no reagem a variaes de preos no mercado vista de crditos de carbono durante o perodo projetado; e (b) o consumo desses crditos ser efetivado, integralmente, pelos pases do Anexo I do Protocolo de Quioto. Esses autores consideram que a oferta de crditos de carbono depende, entre outros fatores: da quantidade e da atividade do projeto que requer o registro na CEMDL/ONU, do tempo de registro do projeto e da eficcia esperada para cada projeto quanto gerao das RCE. Para a demanda por crditos de carbono, consideram: o ritmo de crescimento econmico dos pases com metas estabelecidas de reduo das emisses de GEE, o ritmo do avano tecnolgico direcionado modificao da matriz energtica, ao aumento da eficincia energtica dos maiores setores emissores de GEE e, o comprometimento dos pases com metas reduo das emisses de GEE. Todos os cenrios para o perodo analisado apresentam demanda maior do que a oferta de crditos de carbono, esta ltima considerada inelstica no curto prazo.

    Analisando esses estudos economtricos observa-se uma semelhana entre os fatores identificados nos estudo descritivos. O preo dos crditos de carbono (URE e RCE) determinado pelo preo e demanda de fontes de energia fsseis e emissoras de GEE e oferta e demanda dos prprios crditos de carbono, pelo crescimento econmico, pelo crescimento e metas de reduo das emisses de GEE e, pelos fatores climticos. Ainda mostram que o aumento do consumo de energia e o crescimento econmico ocasionam aumento nas emisses de GEE, com efeito de longo prazo. E, a demanda pelos crditos de carbono depende do crescimento econmico dos pases com metas de reduo de GEE e da mudana na matriz energtica. Por outro lado, a oferta dos crditos de carbono depende dos projetos de MDL, sendo menor que a demanda.

  • 42

    Os estudos que versam sobre o mercado de crditos de carbono baseados em modelos economtricos, em que pese a sua contribuio, so limitados a avaliar quantitativamente os efeitos das variveis micro e macroeconmicas influenciadas por polticas pblicas. Esses modelos tambm dependem de dados histricos de longos perodos para minimizar erros de heteroestaticidade e multicolinearidade, uma vez que utilizam fortemente ferramental estatstico.

    O fato desses modelos no captarem a dinmica do problema tem como consequncia a extrapolao dos comportamentos das variveis, ao fazer prospeces. Ainda, em sua maioria, esto limitados s variveis econmicas e no mostram como a alterao dessas variveis pode modificar a anlise de polticas, sendo, portanto, estticos. Finalmente, os modelos economtricos, quando precisam de atualizao para projetar novos cenrios dependem da existncia e obteno de novas variveis, porque so modelos factuais.

    2.3.3 Estudos baseados em dinmica de sistemas

    Um dos estudos pioneiros baseado em dinmica de sistemas foi desenvolvido por Fiddaman (1997, 2002), com o propsito de identificar as caractersticas estruturais que apresentam maiores implicaes nas polticas sobre mudanas climticas. O modelo denominado de Feedback-Rich Energy-Economy (FREE) analisou polticas com nfase no preo do crdito de carbono, para um horizonte de tempo que abrange o perodo de 1960 a 2100. Teve como variveis endgenas acopladas: produo econmica, investimento, oferta e demanda de energia, esgotamento e desenvolvimento de tecnologias relacionadas energia. Outras variveis endgenas (ciclo do carbono e do clima) so acopladas aos demais subsistemas do modelo. Ainda, polticas de preo dos crditos de carbono e da energia so variveis endgenas que servem como regras de controle. E, as variveis exgenas que direcionam o comportamento do FREE so: populao; fator de produtividade; melhoria da eficincia energtica; preo do carvo, gs e petrleo no perodo histrico de 1960-1990; emisses de CO2 de fontes no energticas e; outros GEE alm do CO2.

    Os principais resultados do FREE mostram que o esgotamento das fontes de energia como carvo e gs um problema no curto prazo, inclusive para o mercado de crditos de carbono. Ainda, o autor aduz que difcil definir polticas que levem os pases se

  • 43

    comprometerem com metas de reduo das emisses de GEE quando h incerteza sobre a continuidade do Protocolo de Quioto.

    Em outro estudo, Fiddaman (2007) discute a dinmica das polticas quanto s mudanas climticas. O autor compara as diversas polticas possveis. Entre essas polticas, defende que usar um mecanismo de mercado, tal como o mercado de crditos de carbono, a poltica mais eficiente para reduzir as emisses de GEE. Entretanto, salienta que o mercado de crditos de carbono difere do mercado de commodities, porque a oferta de emisses determinada pelas polticas governamentais de reduo das emisses de GEE, com ajuste de longo prazo, enquanto a demanda pela compra dos crditos de carbono tem ajuste no curto prazo. Essa defasagem entre oferta e demanda cria tenses e incertezas que refletem no preo dos crditos de carbono.

    Ainda, segundo este autor, para conciliar a demanda flutuante com a oferta constante dos crditos, necessrio que os ofertantes mantenham estoques de crditos de carbono, para servir como um buffer no mercado de crditos de carbono. Porm, essa medida pode ampliar a incerteza neste mercado, ao invs de reduzi-la, porque manter estoques de crditos de carbono leva a prorrogar seu prazo de validade, logo d condies para criar bolhas no mercado. De outro lado, a potencial volatilidade do mercado de crditos de carbono no curto prazo ocasiona aos pases compradores dos crditos e avessos ao risco, incentivos para estabelecer metas modestas de reduo das emisses de GEE, a fim de evitar a elevao dos preos desses crditos.

    Ford, Vogstad e Flynn (2007) simulam o preo da energia renovvel, baseada na gerao de energia elica no noroeste dos EUA, para o perodo de 2006 a 2020. Os autores denominam o modelo de Tradable Green Certificates (TGC). As principais variveis do modelo para simular as tendncias de preo dos TGC foram: preo da energia renovvel, oferta de energia renovvel pela companhia de gerao, demanda de energia renovvel pela companhia de distribuio, capacidade elica e capacidade elica em construo.

    Os autores concluem que o governo dos EUA deve considerar o mercado de energia elica e de crditos de carbono na definio de suas polticas pblicas sobre energia e mudanas climticas. O modelo tambm mostra que h um aumento na demanda por energia elica, refletindo positivamente no preo desta energia e no preo do TGC, assim que o mercado aberto (2006 a 2010) e, posteriormente o preo sofre uma queda (2011-2020).

    Di Giulio e Migliavacca (2009) desenvolveram um estudo sobre as redues das emisses de GEE no setor de energia, na Itlia. O modelo, denominado de Italys Carbon Emissions (ICE), faz parte de outro modelo mais amplo: o IRED, o qual simula diferentes

  • 44

    cenrios sobre o crescimento econmico, a demanda de energia fssil e renovvel para a Itlia no perodo de 2005 a 2030. O principal resultado do modelo mostra que a Itlia ter necessidade significativa de comprar crditos de carbonos originados de projetos de MDL caso suas polticas sobre mudanas climticas no sejam implementadas plenamente.

    Outro estudo foi realizado por Saysel e Hekimolu (2010), que desenvolveram simulaes sobre polticas pblicas ligadas substituio da matriz energtica da Turquia e emisso de GEE. Os autores consideraram a necessidade de a Turquia assumir metas de reduo das emisses de GEE a partir da substituio da sua matriz energtica.

    O modelo contempla seis variveis que representam diferentes aspectos sobre a produo de energia: investimentos, preo e demanda, alocao da demanda, gerao e transmisso, recursos naturais e financeiro. O horizonte de tempo de 20 anos (2010 a 2030). Os resultados indicam que os elevados custos de produo de energia solar e elica constituem um limite para a reduo das emisses de GEE no pas.

    Finalizando, o estudo realizado por Crdenas, Franco e Dyner (2011) avaliou a possvel consequncia do EU ETS para a estrutura do mercado de energia eltrica e reduo de emisses de GEE no Reino Unido. O horizonte de tempo considerado foi de 2008 a 2020. As variveis endgenas do modelo so: preo das URE, preo da energia, demanda de energia, oferta de energia, margem, capacidade instalada, incentivos para investimento e emisses. E, as variveis exgenas so custo tecnolgico de produo de energia e crescimento econmico. Os principais resultados mostram que os preos baixos das EA no prejudica o atingimento da meta de redues de GEE no Reino Unido.

    Nota-se que os estudos baseados em dinmica de sistemas tiveram seus objetivos focados na anlise de polticas pblicas sobre as mudanas climticas, reduo das emisses de GEE e alterao da matriz energtica. Destaca-se o estudo de Fiddaman (2007), cuja maior contribuio foi apresentar como a dinmica do mercado de crditos de carbono implica na volatilidade do preo desses crditos, no contexto do comrcio de URE. Por sua vez, a contribuio do modelo computacional baseado em dinmica de sistemas proposto nesta pesquisa se d pelo fato de contemplar a anlise da poltica do mercado de crditos de carbono sob a perspectiva da demanda, considerando o contexto brasileiro como agente de oferta. Essa perspectiva no foi alcanada em nenhum dos estudos apresentados nesta seo.

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    3 METODOLOGIA DE MODELAGEM BASEADA EM DINMICA DE SISTEMAS

    Modelagem, de acordo com Pidd (1998), uma simplificao de parte da realidade para algum propsito definido, de modo que seja possvel entender, planejar, gerenciar e controlar a realidade organizacional modelada. Ford (1999) revela que um modelo um substituto para um sistema real (o mundo real), usado para captar algo sobre os sistemas que eles representam. Para Sterman (2000), modelo uma representao de um sistema, um conjunto de elementos interdependentes.

    Com base nestes autores compreende que desenvolver um modelo de simulao computacional um processo iterativo e, geralmente, requer que seja realizado em etapas. Ford (1999) sugere que modelos baseados em dinmica de sistemas7 sejam desenvolvidos em oito etapas: a) familiarizar com o problema a ser modelado; b) definir a dinmica do problema (modo de referncia); c) desenvolver o diagrama de lao causal (DLC); d) desenvolver o diagrama de estoque e fluxo (DEF); e) estimar os valores dos parmetros; f) executar o modelo de simulao computacional; g) analisar a sensibilidade do modelo de simulao computacional e; h) analisar as polticas. Por sua vez, Sterman (2000) sugere cinco etapas: a) definir os limites do modelo (o problema); b) formular a hiptese dinmica; c) executar o modelo de simulao computacional; d) validar o modelo de simulao computacional e; e) analisar polticas. E, Bossel (2007) sugere quatro etapas: a) desenvolver o modelo conceitual; b) desenvolver o modelo de simulao computacional; c) simular o comportamento do modelo desenvolvido e; d) analisar as polticas.

    De modo geral, os mtodos sugeridos apresentam a mesma sequncia de etapas, com a diferena apenas no aspecto de maior ou menor detalhamento do processo de modelagem. Assim, optou-se pela metodologia de modelagem de simulao computacional baseada em dinmica de sistemas sugerida por Ford (1999) por ser mais detalhada, mas as contribuies