dimensÕes e magnetorresistÊncia em multicamadas …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA Tese de Doutorado DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS MAGNÉTICAS Saulo Cordeiro Lima Porto Alegre 2015

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Page 1: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM FIacuteSICA

Tese de Doutorado

DIMENSOtildeES E MAGNETORRESISTEcircNCIA

EM MULTICAMADAS MAGNEacuteTICAS

Saulo Cordeiro Lima

Porto Alegre

2015

SAULO CORDEIRO LIMA

DIMENSOtildeES E MAGNETORRESISTEcircNCIA

EM MULTICAMADAS MAGNEacuteTICAS

Tese realizada sob a orientaccedilatildeo do Prof Dr Mario

Noberto Baibich apresentado ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Fiacutesica da UFRGS como requisito

parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em

Ciecircncias

Porto Alegre 2015

AGRADECIMENTOS

Durante toda a labuta com um trabalho de doutorado eacute imprescindiacutevel contar com a

ajuda e colaboraccedilatildeo de varias pessoas Seja do ponto de vista estritamente relacionado ao

desenvolvimento do tema ou num aspecto mais pessoal sempre houve algueacutem que na

medida (ou natildeo) de suas capacidades eu pude contar Antes de cometer a injusticcedila de natildeo

mencionar o nome de algueacutem peccedilo desculpas e compreensatildeo (se eacute que algueacutem leraacute isso

aqui) pois no momento em que escrevo estas linhas meus olhos estatildeo pesados e minha

cogniccedilatildeo esvanecendo-se Todavia cito alguns nomes que agora me vem na mente

agradecendo-os pelo que de um modo ou de outro foram importantes durante esses anos

Ao meu orientador o professor Mario N Baibich por toda a sua dedicaccedilatildeo pelas

discussotildees sobre fiacutesica ensinamentos paciecircncia (e que paciecircncia) que se fez presente

durante o curso de doutorado

Ao Mauro Fin do setor de eletrocircnica por sempre contribuir de modo determinante

com relaccedilatildeo agraves questotildeesproblemas teacutecnicos que vez ou outra surgem

Ao professor Henri Boudinov do Laboraacutetorio de Microeletrocircnica que contribuiu

muito para a realizaccedilatildeo do processo de litografia aleacutem das limpezas de substratos

que foram muitos

Ao Fiacutesico Juacutelio Schoffen e ao Professor Antocircnio Marcos Helgueira (Teco) do LCN

onde as amostras foram depositadas

Aos Professores Antocircnio Domingues dos Santos (USP) e Andreacute Avelino Pasa

(UFSC) que em diferentes momentos em que o trabalho estava travado cederam

espaccedilo em seus laboratoacuterios para ajudar no prosseguimento

Ao professor Dante Homero Mosca Jr (UFPR) por disponibilizar o PPMS de seu

laboratoacuterio para a execuccedilatildeo de algumas medidas

Agrave galera com quem dividi apartamento durante todo esse tempo que como eacute de se

esperar sempre propicia momentos de diversatildeo (ou de tensatildeo) Rafael Otoniel

(Careca ou Goiano) Rafael Cichelero (Cica) Rangel Baldasso (Sassaacute) Rovan

(Rovani) e Lutiene Foram muitos viu

Ao pessoal dos laboratoacuterios (em ordem absolutamente aleatoacuteria) Rafael Otoniel

Paula Azambuja Ramon Ferreira Fabiano Mesquita Luciano Berchon Jorge

Pimentel Graziela Farinela Moiseacutes de Almeida Alessandra Sternberg Rovan

Lopes Lutiene Lopes Baacuterbara Canto e por aiacute vai

Agrave minha namorada Izabel Milena que sempre tentava me confortar nas situaccedilotildees

em que eu me encrontrava chateado e desesperanccediloso

Agrave minha amiga Andrea Caacutessia que embora passemos meses sem conversar nada

muda e a alegria do reencontro eacute a mesma

Aos meus pais Guilherme Cerqueira Lima e Izabel Cordeiro Lima que se

preocupavam e jaacute ansiavam faz muito tempo com o fim do doutorado e sempre me

davam todo apoio bem como meus irmatildeos Ivan e Alan

Este trabalho foi parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Lista de Siacutembolos

Resumo

Abstract

1 - Introduccedilatildeo 15

2 - Aspectos Teoacutericos 18

21 ndash Magnetismo da mateacuteria 18

212 ndash Anisotropia Magneacutetica 19

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas 21

22 ndash Magnetorresistecircncia 23

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria 23

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica 23

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante 25

23 ndashEfeito Hall 29

231 Efeito Hall Planar (PHE) 30

3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema 32

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas 32

32 ndash Multicamadas de CoCu 34

321 ndash Composiccedilatildeo 34

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica 35

323 - Espessura da Camada Magneacutetica 36

324 - Camada de Buffer 37

325 - Nuacutemero de Bicamadas 38

326 - Camada de Cobertura 38

33 - Estruturas para Estudo 39

4 ndash Aspectos Experimentais 40

41 - Confecccedilatildeo das Amostras 40

411 Limpeza 40

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering 41

413 Conformaccedilatildeo da amostra 43

42 - Caracterizaccedilotildees 46

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X 46

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada 48

423 Magnetotransporte 50

43 ndash Tratamento Teacutermico 53

5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I 55

51 ndash Reflectometria de raios X 55

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X 57

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo 59

54 ndash Efeitos do Recozimento 62

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas 66

6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II 72

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia 74

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo 76

63 ndash Formato das Curvas de MR 78

7 ndash Conclusotildees e Perspectivas 88

Referecircncias 90

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado

(b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese 20

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao

acoplamento Orange-peel 22

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno

do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento

relativo aos orbitais[18] 24

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada

magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees

magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da

GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores 26

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente

perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP 27

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe

Figura adaptada de [23] 28

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall 30

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra

Figura adaptada de [34] 33

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo

da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39] 35

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da

arquitetura do sistema utilizado[49] 42

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da

soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo 44

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes

deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo

sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do

fotorresiste 44

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para

medidas eleacutetricas 46

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de

Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na

interface 48

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada

(AGFM) [55] 49

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia 52

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall 52

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho 52

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento 54

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo

de taxa de deposiccedilatildeo 56

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51 57

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico

central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de

espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas 58

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14

Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no

plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave

corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada 60

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50

Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da

amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo

arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute

mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de

MR 61

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das

multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 2: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

SAULO CORDEIRO LIMA

DIMENSOtildeES E MAGNETORRESISTEcircNCIA

EM MULTICAMADAS MAGNEacuteTICAS

Tese realizada sob a orientaccedilatildeo do Prof Dr Mario

Noberto Baibich apresentado ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Fiacutesica da UFRGS como requisito

parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em

Ciecircncias

Porto Alegre 2015

AGRADECIMENTOS

Durante toda a labuta com um trabalho de doutorado eacute imprescindiacutevel contar com a

ajuda e colaboraccedilatildeo de varias pessoas Seja do ponto de vista estritamente relacionado ao

desenvolvimento do tema ou num aspecto mais pessoal sempre houve algueacutem que na

medida (ou natildeo) de suas capacidades eu pude contar Antes de cometer a injusticcedila de natildeo

mencionar o nome de algueacutem peccedilo desculpas e compreensatildeo (se eacute que algueacutem leraacute isso

aqui) pois no momento em que escrevo estas linhas meus olhos estatildeo pesados e minha

cogniccedilatildeo esvanecendo-se Todavia cito alguns nomes que agora me vem na mente

agradecendo-os pelo que de um modo ou de outro foram importantes durante esses anos

Ao meu orientador o professor Mario N Baibich por toda a sua dedicaccedilatildeo pelas

discussotildees sobre fiacutesica ensinamentos paciecircncia (e que paciecircncia) que se fez presente

durante o curso de doutorado

Ao Mauro Fin do setor de eletrocircnica por sempre contribuir de modo determinante

com relaccedilatildeo agraves questotildeesproblemas teacutecnicos que vez ou outra surgem

Ao professor Henri Boudinov do Laboraacutetorio de Microeletrocircnica que contribuiu

muito para a realizaccedilatildeo do processo de litografia aleacutem das limpezas de substratos

que foram muitos

Ao Fiacutesico Juacutelio Schoffen e ao Professor Antocircnio Marcos Helgueira (Teco) do LCN

onde as amostras foram depositadas

Aos Professores Antocircnio Domingues dos Santos (USP) e Andreacute Avelino Pasa

(UFSC) que em diferentes momentos em que o trabalho estava travado cederam

espaccedilo em seus laboratoacuterios para ajudar no prosseguimento

Ao professor Dante Homero Mosca Jr (UFPR) por disponibilizar o PPMS de seu

laboratoacuterio para a execuccedilatildeo de algumas medidas

Agrave galera com quem dividi apartamento durante todo esse tempo que como eacute de se

esperar sempre propicia momentos de diversatildeo (ou de tensatildeo) Rafael Otoniel

(Careca ou Goiano) Rafael Cichelero (Cica) Rangel Baldasso (Sassaacute) Rovan

(Rovani) e Lutiene Foram muitos viu

Ao pessoal dos laboratoacuterios (em ordem absolutamente aleatoacuteria) Rafael Otoniel

Paula Azambuja Ramon Ferreira Fabiano Mesquita Luciano Berchon Jorge

Pimentel Graziela Farinela Moiseacutes de Almeida Alessandra Sternberg Rovan

Lopes Lutiene Lopes Baacuterbara Canto e por aiacute vai

Agrave minha namorada Izabel Milena que sempre tentava me confortar nas situaccedilotildees

em que eu me encrontrava chateado e desesperanccediloso

Agrave minha amiga Andrea Caacutessia que embora passemos meses sem conversar nada

muda e a alegria do reencontro eacute a mesma

Aos meus pais Guilherme Cerqueira Lima e Izabel Cordeiro Lima que se

preocupavam e jaacute ansiavam faz muito tempo com o fim do doutorado e sempre me

davam todo apoio bem como meus irmatildeos Ivan e Alan

Este trabalho foi parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Lista de Siacutembolos

Resumo

Abstract

1 - Introduccedilatildeo 15

2 - Aspectos Teoacutericos 18

21 ndash Magnetismo da mateacuteria 18

212 ndash Anisotropia Magneacutetica 19

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas 21

22 ndash Magnetorresistecircncia 23

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria 23

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica 23

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante 25

23 ndashEfeito Hall 29

231 Efeito Hall Planar (PHE) 30

3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema 32

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas 32

32 ndash Multicamadas de CoCu 34

321 ndash Composiccedilatildeo 34

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica 35

323 - Espessura da Camada Magneacutetica 36

324 - Camada de Buffer 37

325 - Nuacutemero de Bicamadas 38

326 - Camada de Cobertura 38

33 - Estruturas para Estudo 39

4 ndash Aspectos Experimentais 40

41 - Confecccedilatildeo das Amostras 40

411 Limpeza 40

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering 41

413 Conformaccedilatildeo da amostra 43

42 - Caracterizaccedilotildees 46

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X 46

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada 48

423 Magnetotransporte 50

43 ndash Tratamento Teacutermico 53

5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I 55

51 ndash Reflectometria de raios X 55

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X 57

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo 59

54 ndash Efeitos do Recozimento 62

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas 66

6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II 72

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia 74

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo 76

63 ndash Formato das Curvas de MR 78

7 ndash Conclusotildees e Perspectivas 88

Referecircncias 90

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado

(b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese 20

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao

acoplamento Orange-peel 22

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno

do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento

relativo aos orbitais[18] 24

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada

magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees

magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da

GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores 26

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente

perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP 27

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe

Figura adaptada de [23] 28

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall 30

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra

Figura adaptada de [34] 33

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo

da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39] 35

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da

arquitetura do sistema utilizado[49] 42

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da

soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo 44

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes

deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo

sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do

fotorresiste 44

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para

medidas eleacutetricas 46

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de

Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na

interface 48

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada

(AGFM) [55] 49

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia 52

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall 52

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho 52

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento 54

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo

de taxa de deposiccedilatildeo 56

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51 57

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico

central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de

espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas 58

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14

Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no

plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave

corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada 60

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50

Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da

amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo

arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute

mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de

MR 61

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das

multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

REFEREcircNCIAS

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 3: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

AGRADECIMENTOS

Durante toda a labuta com um trabalho de doutorado eacute imprescindiacutevel contar com a

ajuda e colaboraccedilatildeo de varias pessoas Seja do ponto de vista estritamente relacionado ao

desenvolvimento do tema ou num aspecto mais pessoal sempre houve algueacutem que na

medida (ou natildeo) de suas capacidades eu pude contar Antes de cometer a injusticcedila de natildeo

mencionar o nome de algueacutem peccedilo desculpas e compreensatildeo (se eacute que algueacutem leraacute isso

aqui) pois no momento em que escrevo estas linhas meus olhos estatildeo pesados e minha

cogniccedilatildeo esvanecendo-se Todavia cito alguns nomes que agora me vem na mente

agradecendo-os pelo que de um modo ou de outro foram importantes durante esses anos

Ao meu orientador o professor Mario N Baibich por toda a sua dedicaccedilatildeo pelas

discussotildees sobre fiacutesica ensinamentos paciecircncia (e que paciecircncia) que se fez presente

durante o curso de doutorado

Ao Mauro Fin do setor de eletrocircnica por sempre contribuir de modo determinante

com relaccedilatildeo agraves questotildeesproblemas teacutecnicos que vez ou outra surgem

Ao professor Henri Boudinov do Laboraacutetorio de Microeletrocircnica que contribuiu

muito para a realizaccedilatildeo do processo de litografia aleacutem das limpezas de substratos

que foram muitos

Ao Fiacutesico Juacutelio Schoffen e ao Professor Antocircnio Marcos Helgueira (Teco) do LCN

onde as amostras foram depositadas

Aos Professores Antocircnio Domingues dos Santos (USP) e Andreacute Avelino Pasa

(UFSC) que em diferentes momentos em que o trabalho estava travado cederam

espaccedilo em seus laboratoacuterios para ajudar no prosseguimento

Ao professor Dante Homero Mosca Jr (UFPR) por disponibilizar o PPMS de seu

laboratoacuterio para a execuccedilatildeo de algumas medidas

Agrave galera com quem dividi apartamento durante todo esse tempo que como eacute de se

esperar sempre propicia momentos de diversatildeo (ou de tensatildeo) Rafael Otoniel

(Careca ou Goiano) Rafael Cichelero (Cica) Rangel Baldasso (Sassaacute) Rovan

(Rovani) e Lutiene Foram muitos viu

Ao pessoal dos laboratoacuterios (em ordem absolutamente aleatoacuteria) Rafael Otoniel

Paula Azambuja Ramon Ferreira Fabiano Mesquita Luciano Berchon Jorge

Pimentel Graziela Farinela Moiseacutes de Almeida Alessandra Sternberg Rovan

Lopes Lutiene Lopes Baacuterbara Canto e por aiacute vai

Agrave minha namorada Izabel Milena que sempre tentava me confortar nas situaccedilotildees

em que eu me encrontrava chateado e desesperanccediloso

Agrave minha amiga Andrea Caacutessia que embora passemos meses sem conversar nada

muda e a alegria do reencontro eacute a mesma

Aos meus pais Guilherme Cerqueira Lima e Izabel Cordeiro Lima que se

preocupavam e jaacute ansiavam faz muito tempo com o fim do doutorado e sempre me

davam todo apoio bem como meus irmatildeos Ivan e Alan

Este trabalho foi parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Lista de Siacutembolos

Resumo

Abstract

1 - Introduccedilatildeo 15

2 - Aspectos Teoacutericos 18

21 ndash Magnetismo da mateacuteria 18

212 ndash Anisotropia Magneacutetica 19

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas 21

22 ndash Magnetorresistecircncia 23

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria 23

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica 23

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante 25

23 ndashEfeito Hall 29

231 Efeito Hall Planar (PHE) 30

3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema 32

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas 32

32 ndash Multicamadas de CoCu 34

321 ndash Composiccedilatildeo 34

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica 35

323 - Espessura da Camada Magneacutetica 36

324 - Camada de Buffer 37

325 - Nuacutemero de Bicamadas 38

326 - Camada de Cobertura 38

33 - Estruturas para Estudo 39

4 ndash Aspectos Experimentais 40

41 - Confecccedilatildeo das Amostras 40

411 Limpeza 40

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering 41

413 Conformaccedilatildeo da amostra 43

42 - Caracterizaccedilotildees 46

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X 46

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada 48

423 Magnetotransporte 50

43 ndash Tratamento Teacutermico 53

5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I 55

51 ndash Reflectometria de raios X 55

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X 57

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo 59

54 ndash Efeitos do Recozimento 62

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas 66

6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II 72

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia 74

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo 76

63 ndash Formato das Curvas de MR 78

7 ndash Conclusotildees e Perspectivas 88

Referecircncias 90

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado

(b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese 20

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao

acoplamento Orange-peel 22

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno

do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento

relativo aos orbitais[18] 24

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada

magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees

magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da

GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores 26

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente

perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP 27

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe

Figura adaptada de [23] 28

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall 30

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra

Figura adaptada de [34] 33

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo

da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39] 35

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da

arquitetura do sistema utilizado[49] 42

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da

soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo 44

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes

deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo

sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do

fotorresiste 44

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para

medidas eleacutetricas 46

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de

Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na

interface 48

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada

(AGFM) [55] 49

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia 52

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall 52

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho 52

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento 54

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo

de taxa de deposiccedilatildeo 56

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51 57

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico

central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de

espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas 58

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14

Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no

plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave

corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada 60

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50

Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da

amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo

arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute

mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de

MR 61

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das

multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 4: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

Ao professor Dante Homero Mosca Jr (UFPR) por disponibilizar o PPMS de seu

laboratoacuterio para a execuccedilatildeo de algumas medidas

Agrave galera com quem dividi apartamento durante todo esse tempo que como eacute de se

esperar sempre propicia momentos de diversatildeo (ou de tensatildeo) Rafael Otoniel

(Careca ou Goiano) Rafael Cichelero (Cica) Rangel Baldasso (Sassaacute) Rovan

(Rovani) e Lutiene Foram muitos viu

Ao pessoal dos laboratoacuterios (em ordem absolutamente aleatoacuteria) Rafael Otoniel

Paula Azambuja Ramon Ferreira Fabiano Mesquita Luciano Berchon Jorge

Pimentel Graziela Farinela Moiseacutes de Almeida Alessandra Sternberg Rovan

Lopes Lutiene Lopes Baacuterbara Canto e por aiacute vai

Agrave minha namorada Izabel Milena que sempre tentava me confortar nas situaccedilotildees

em que eu me encrontrava chateado e desesperanccediloso

Agrave minha amiga Andrea Caacutessia que embora passemos meses sem conversar nada

muda e a alegria do reencontro eacute a mesma

Aos meus pais Guilherme Cerqueira Lima e Izabel Cordeiro Lima que se

preocupavam e jaacute ansiavam faz muito tempo com o fim do doutorado e sempre me

davam todo apoio bem como meus irmatildeos Ivan e Alan

Este trabalho foi parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Lista de Siacutembolos

Resumo

Abstract

1 - Introduccedilatildeo 15

2 - Aspectos Teoacutericos 18

21 ndash Magnetismo da mateacuteria 18

212 ndash Anisotropia Magneacutetica 19

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas 21

22 ndash Magnetorresistecircncia 23

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria 23

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica 23

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante 25

23 ndashEfeito Hall 29

231 Efeito Hall Planar (PHE) 30

3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema 32

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas 32

32 ndash Multicamadas de CoCu 34

321 ndash Composiccedilatildeo 34

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica 35

323 - Espessura da Camada Magneacutetica 36

324 - Camada de Buffer 37

325 - Nuacutemero de Bicamadas 38

326 - Camada de Cobertura 38

33 - Estruturas para Estudo 39

4 ndash Aspectos Experimentais 40

41 - Confecccedilatildeo das Amostras 40

411 Limpeza 40

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering 41

413 Conformaccedilatildeo da amostra 43

42 - Caracterizaccedilotildees 46

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X 46

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada 48

423 Magnetotransporte 50

43 ndash Tratamento Teacutermico 53

5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I 55

51 ndash Reflectometria de raios X 55

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X 57

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo 59

54 ndash Efeitos do Recozimento 62

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas 66

6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II 72

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia 74

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo 76

63 ndash Formato das Curvas de MR 78

7 ndash Conclusotildees e Perspectivas 88

Referecircncias 90

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado

(b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese 20

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao

acoplamento Orange-peel 22

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno

do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento

relativo aos orbitais[18] 24

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada

magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees

magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da

GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores 26

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente

perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP 27

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe

Figura adaptada de [23] 28

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall 30

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra

Figura adaptada de [34] 33

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo

da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39] 35

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da

arquitetura do sistema utilizado[49] 42

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da

soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo 44

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes

deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo

sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do

fotorresiste 44

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para

medidas eleacutetricas 46

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de

Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na

interface 48

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada

(AGFM) [55] 49

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia 52

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall 52

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho 52

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento 54

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo

de taxa de deposiccedilatildeo 56

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51 57

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico

central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de

espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas 58

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14

Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no

plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave

corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada 60

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50

Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da

amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo

arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute

mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de

MR 61

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das

multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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[81] S Langridge et al ldquoA neutron study of magnetic domain correlations in

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 5: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

SUMAacuteRIO

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Lista de Siacutembolos

Resumo

Abstract

1 - Introduccedilatildeo 15

2 - Aspectos Teoacutericos 18

21 ndash Magnetismo da mateacuteria 18

212 ndash Anisotropia Magneacutetica 19

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas 21

22 ndash Magnetorresistecircncia 23

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria 23

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica 23

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante 25

23 ndashEfeito Hall 29

231 Efeito Hall Planar (PHE) 30

3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema 32

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas 32

32 ndash Multicamadas de CoCu 34

321 ndash Composiccedilatildeo 34

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica 35

323 - Espessura da Camada Magneacutetica 36

324 - Camada de Buffer 37

325 - Nuacutemero de Bicamadas 38

326 - Camada de Cobertura 38

33 - Estruturas para Estudo 39

4 ndash Aspectos Experimentais 40

41 - Confecccedilatildeo das Amostras 40

411 Limpeza 40

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering 41

413 Conformaccedilatildeo da amostra 43

42 - Caracterizaccedilotildees 46

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X 46

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada 48

423 Magnetotransporte 50

43 ndash Tratamento Teacutermico 53

5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I 55

51 ndash Reflectometria de raios X 55

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X 57

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo 59

54 ndash Efeitos do Recozimento 62

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas 66

6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II 72

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia 74

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo 76

63 ndash Formato das Curvas de MR 78

7 ndash Conclusotildees e Perspectivas 88

Referecircncias 90

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado

(b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese 20

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao

acoplamento Orange-peel 22

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno

do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento

relativo aos orbitais[18] 24

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada

magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees

magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da

GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores 26

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente

perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP 27

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe

Figura adaptada de [23] 28

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall 30

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra

Figura adaptada de [34] 33

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo

da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39] 35

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da

arquitetura do sistema utilizado[49] 42

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da

soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo 44

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes

deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo

sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do

fotorresiste 44

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para

medidas eleacutetricas 46

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de

Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na

interface 48

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada

(AGFM) [55] 49

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia 52

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall 52

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho 52

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento 54

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo

de taxa de deposiccedilatildeo 56

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51 57

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico

central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de

espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas 58

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14

Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no

plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave

corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada 60

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50

Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da

amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo

arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute

mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de

MR 61

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das

multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 6: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

326 - Camada de Cobertura 38

33 - Estruturas para Estudo 39

4 ndash Aspectos Experimentais 40

41 - Confecccedilatildeo das Amostras 40

411 Limpeza 40

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering 41

413 Conformaccedilatildeo da amostra 43

42 - Caracterizaccedilotildees 46

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X 46

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada 48

423 Magnetotransporte 50

43 ndash Tratamento Teacutermico 53

5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I 55

51 ndash Reflectometria de raios X 55

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X 57

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo 59

54 ndash Efeitos do Recozimento 62

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas 66

6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II 72

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia 74

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo 76

63 ndash Formato das Curvas de MR 78

7 ndash Conclusotildees e Perspectivas 88

Referecircncias 90

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado

(b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese 20

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao

acoplamento Orange-peel 22

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno

do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento

relativo aos orbitais[18] 24

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada

magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees

magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da

GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores 26

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente

perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP 27

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe

Figura adaptada de [23] 28

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall 30

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra

Figura adaptada de [34] 33

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo

da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39] 35

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da

arquitetura do sistema utilizado[49] 42

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da

soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo 44

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes

deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo

sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do

fotorresiste 44

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para

medidas eleacutetricas 46

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de

Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na

interface 48

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada

(AGFM) [55] 49

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia 52

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall 52

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho 52

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento 54

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo

de taxa de deposiccedilatildeo 56

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51 57

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico

central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de

espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas 58

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14

Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no

plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave

corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada 60

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50

Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da

amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo

arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute

mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de

MR 61

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das

multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 7: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

LISTA DE FIGURAS

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado

(b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese 20

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao

acoplamento Orange-peel 22

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno

do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento

relativo aos orbitais[18] 24

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada

magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees

magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da

GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores 26

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente

perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP 27

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe

Figura adaptada de [23] 28

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall 30

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra

Figura adaptada de [34] 33

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo

da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39] 35

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da

arquitetura do sistema utilizado[49] 42

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da

soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo 44

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes

deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo

sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do

fotorresiste 44

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para

medidas eleacutetricas 46

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de

Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na

interface 48

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada

(AGFM) [55] 49

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia 52

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall 52

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho 52

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento 54

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo

de taxa de deposiccedilatildeo 56

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51 57

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico

central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de

espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas 58

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14

Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no

plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave

corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada 60

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50

Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da

amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo

arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute

mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de

MR 61

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das

multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 8: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para

medidas eleacutetricas 46

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de

Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na

interface 48

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada

(AGFM) [55] 49

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia 52

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall 52

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho 52

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento 54

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo

de taxa de deposiccedilatildeo 56

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51 57

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico

central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de

espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas 58

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14

Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no

plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave

corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada 60

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50

Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da

amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo

arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute

mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de

MR 61

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das

multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 9: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e

recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada 64

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20

Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas67

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura

Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo 68

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da

magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da

razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo 71

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da

amostrais w eacute a largura da amostra 72

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados

perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada

amostra 73

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b)

Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra 75

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em

uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a

dependecircncia direta de HC vs w 76

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio

magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a)

Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo

que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as

larguras satildeo proacuteximas 77

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos

ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e

perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou

eixo faacutecil) 79

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 10: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas

magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno =

0 e (b) para um H diferente deste 80

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia

hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da

PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o

campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR 82

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos

entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH

tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As

linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos 84

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a)

Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da

interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo

energeacuteticamente mais favoraacutevel 87

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 11: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

LISTA DE TABELAS

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos40 Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo45

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
Page 12: DIMENSÕES E MAGNETORRESISTÊNCIA EM MULTICAMADAS …

LISTA DE SIacuteMBOLOS

AF Antiferromagneacutetico

AMR Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

CIP Corrente no Plano

CPP Corrente Perpendicular ao Plano

EHE Efeito Hall Extraorndinaacuterio

FIB Feixe de Iacuteons Focalizados

FM Ferromagneacutetico

GMR Magnetorresistecircncia Gigante

LANSEN Laboratoacuterio de Nanoestruturas para Sensores (UFPR)

LCN Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (UFRGS)

L E Laboratoacuterio de Microeletrocircnica (UFRGS)

MR Magnetorresistecircncia

MT Movimento de Tesoura

OMR Magnetorresisecircntcia Ordinaacuteria

PHE Efeito Hall Planar

PPMS Sistema de Medida de Propriedades Fiacutesicas

RKKY Interaccedilatildeo Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida

RESUMO

Neste trabalho satildeo apresentados resultados que concernem ao estudo da

magnetorresistecircncia gigante (GMR) em amostras de multicamadas de CoCu com larguras

de ordem micromeacutetricas Para isto filmes com largura macroscoacutepica foram depositados por

sputtering e empregou-se teacutecnica de litografia oacutetica associada agrave corrosatildeo uacutemida para se

proceder com o processo de conformaccedilatildeo da estrutura Foram mantidos constantes o

comprimento e a espessura da amostra enquanto que a largura foi variada dentro de uma

faixa de 2 a 30 m

Com o objetivo de identificar a ocorrecircncia de possiacuteveis modificaccedilotildees estruturais

devidas ao aquecimento da amostra durante o processo de litografia uma anaacutelise preacutevia da

estabilidade teacutermica da estrutura se fez necessaacuteria Para isso um sistema de tratamento

teacutermico com monitoramento in situ de sua resistecircncia eleacutetrica foi operacionalizado Foi

constatado que eacute improvaacutevel que as temperaturas empregadas durante a conformaccedilatildeo da

amostra promovam alguma modificaccedilatildeo perceptiacutevel na amostra

Pudemos observar efeitos sobre a curva de magnetorresistecircncia (MR) decorrente

do valor da largura da amostra e isso foi associado a possiacuteveis mudanccedilas no processo de

magnetizaccedilatildeo Para tanto relacionamos as medidas MR e de efeito Hall planar (PHE)

estabelecendo que com a diminuiccedilatildeo da largura (w) houve uma maior tendecircncia de que as

magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas realizassem um tipo de ldquomovimento de tesourardquo

durante suas rotaccedilotildees o que progressivamente leva a um perfil mais simeacutetrico (em torno do

campo coercivo) da curva de magnetorresistecircncia

Interpretamos que isso se deve a uma melhor correlaccedilatildeo entre as camadas (ou

mesmo domiacutenios) vizinhas impelidos pela aproximaccedilatildeo de um estado de monodomiacutenio

induzido pela diminuiccedilatildeo de w Aleacutem disso uma contribuiccedilatildeo adicional ao acoplamento

antiferromagneacutetico preacute-existente pode ter se originado a partir da interaccedilatildeo magnetostaacutetica

entre as bordas de camadas adjacentes

ABSTRACT

This thesis presents results that concern the study of giant magnetoresistance

(GMR) in Co Cu multilayers bearing widths (w) of micrometer dimensions For this

macroscopic width films were deposited by sputtering and optical lithography associated

with wet etching were employed to proceed with the changes to the structures We kept

constant both length and thickness of the sample while the width was varied in the range 2

to 30 micrometers In order to identify possible spurious effects from sample heating during

the lithography process a preliminary analysis of the thermal stability of the structure was

performed

For this purpose a heat treatment system with in situ monitoring of the samplersquos

electrical resistance was used We found that it is unlikely that the temperatures employed

during the lithographic process produce any noticeable change in the samples

We have observed effects on the magnetoresistance curve (MR) due to the sample

width value and this was associated with possible changes in the magnetization process To

do so we used both the MR and Planar Hall effect (PHE) measurements establishing that

with decreasing w there was a greater tendency that the magnetization of neighboring layers

perform a kind of ldquoscissors movementrdquo during their rotations which gradually leads to a

symmetric plot (around the coercive field) of the magnetoresistance

We interpret that this is due to a better correlation between the adjacent layers (or

even domains) prompted by the approach of a monodomain state induced by the decrease in

w Furthermore an additional contribution to the pre-existing antiferromagnetic coupling

may have originated from the magnetostatic interaction between the edges of adjacent

layers

15

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Uma das descobertas mais fascinantes na fiacutesica do estado soacutelido no final do seacuteculo

XX foi a da Magnetorresistecircncia Gigante (Magnetorresistecircncia Gigante) Este efeito

consiste de uma mudanccedila relativamente grande da resistecircncia de uma multicamada metaacutelica

quando submetida a um campo magneacutetico [1]

Estruturas que exibem o efeito da Magnetorresistecircncia Gigante foram intensamente

estudadas e desenvolvidas e amplamente empregada tecnologicamente nos anos seguintes

como por exemplo na fabricaccedilatildeo de leitores de discos riacutegidos memorias natildeo volaacuteteis etc

[2]

O efeito foi obtido pela primeira vez pelos grupos liderados por Albert Fert e Peter

Gruumlnberg (laureados com o Precircmio Nobel de Fiacutesica em 2007) quando estudavam estruturas

nanoscoacutepicas (composta de camadas magneacuteticas intercaladas com natildeo magneticas com

espessuras que chegavam ao limite inferior de cerca de trecircs camadas atocircmicas) Isso foi

possiacutevel graccedilas aos avanccedilos na capacidade de obtenccedilatildeo de pressotildees da ordem de 10-9 mbar

associados a meacutetodos de deposiccedilatildeo com controle preciso que permitiram a produccedilatildeo de

amostras extremamente finas

Eacute preciso ter em mente que as espessuras de ordem nanomeacutetrica das camadas eacute o

ponto chave para o surgimento deste efeito e de tantos outros descobertos posteriormente

Assim de modo geral o entendimento do comportamento da mateacuteria tem sido alavancado

pelo estudo de sistemas nanoestruturados onde os efeitos quacircnticos por exemplo

assumem um importante papel

Quando tratamos de transporte eletrocircnico uma questatildeo que se faz presente eacute quanto

ao tipo de conduccedilatildeo que estaacute presente no sistema se as dimensotildees satildeo menores que o livre

caminho meacutedio dos eleacutetrons de conduccedilatildeo veremos o surgimento de fenocircmenos como

transporte baliacutestico e resistecircncias de nanocontatos entre tantas

Do ponto de vista do magnetismo sistemas com dimensotildees reduzidas apresentam

comportamentos peculiares os quais natildeo satildeo observados em amostras em volume (bulk) de

composiccedilatildeo similar o que traz outras informaccedilotildees a respeito das propriedades magneacuteticas

16

Ao tratar de sistemas nanoscoacutepicos uma pergunta da maior importacircncia se impotildee

quatildeo pequeno precisa ser o sistema para apresentar propriedades tiacutepicas das dimensotildees

nanoscoacutepicas E quando este sistema cresce em tamanho a partir de onde comeccedila o

regime volumeacutetrico (bulk)

Em particular para sistemas magneacuteticos sabemos que se as dimensotildees satildeo

suficientemente extensas estes procuram dividir-se em domiacutenios magneacuteticos para reduzir

sua energia total Caso estejamos abaixo do limite onde a anisotropia de forma domina

poderemos ter a formaccedilatildeo por exemplo de monodomiacutenios e voacutertices fato este que

interfere nas propriedades magneacuteticas de um sistema [34]

Amostras que apresentam GMR natildeo escapam a isto uma vez que este efeito

depende da orientaccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas eacute de se esperar que no limite

em que os monodomiacutenios tendem a se formar se presencie um aumento na magnitude do

efeito

Alguns trabalhos buscaram entender a influecircncia da dimensatildeo lateral em sistemas

que apresentavam GMR (vaacutelvulas de spin ou pseudo-vaacutelvulas de spin) poreacutem como

estavam estimulados pela perspectiva de aplicaccedilotildees centraram-se principalmente na

variaccedilatildeo da magnitude do efeito sem dar muita atenccedilatildeo agrave mudanccedila na resposta magneacutetica

[5-7]

Um aspecto interessante eacute que se por um lado o efeito de magnetorresistecircncia

gigante como dito depende da orientaccedilatildeo entre magnetizaccedilotildees das camadas por outro a

proacutepria GMR pode ser usada como um meio de detectar alteraccedilotildees na estrutura magneacutetica da

amostra tornando-se uma alternativa para o estudo da evoluccedilatildeo dos processos de

magnetizaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos meacutetodos convencionais mais utilizados tais como a

magnetizaccedilatildeo (por SQUID AGFM ou VSM) ou microscopia de forccedila magneacutetica (MFM)

por exemplo [8]

Aleacutem disso a medida PHE eacute tambeacutem uma ferramenta uacutetil para investigar o processo

de magnetizaccedilatildeo uma vez que depende da direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em cada camada

magneacutetica [910] Esta eacute a informaccedilatildeo que natildeo pode ser obtida diretamente a partir da GMR

uma vez que esta depende da orientaccedilatildeo relativa entre magnetizaccedilotildees das camadas vizinhas

Nesta tese foi investigada a influecircncia da largura de multicamadas magneacuteticas de

CoCu mas natildeo focando na intensidade do efeito e sim na tentativa de identificar e

compreender a origem das modificaccedilotildees magneacuteticas Para tanto fizemos uso dos efeitos de

PHE e GMR

17

A abordagem empregada neste trabalho segue aproximadamente a linha de

raciociacutenio esquematizada abaixo

Obtenccedilatildeo de amostras que apresentem GMR com controle de suas propriedades

Estudo de suas propriedades e o efeito de tratamentos teacutermicos

Uma vez obtida a amostra ldquomodelordquo reduziu-se as dimensotildees laterais por meio de

litografia

Estudo das propriedades desta amostra apoacutes a reduccedilatildeo das dimensotildees

Compreensatildeo das razotildees fiacutesicas que levam agrave modificaccedilatildeo destas propriedades

18

2 - ASPECTOS TEOacuteRICOS

21 ndash Magnetismo da mateacuteria

Diamagnetismo Origina-se na variaccedilatildeo do momento angular orbital atocircmico

induzida pela interaatildeo dos eleacutetrons com o campo magneacutetico aplicado e estaacute associado agrave lei

de Lenz Caracteriza-se por uma suscetibilidade negativa e pequena e estaacute presente em

qualquer substacircncia Quando a componente diamagneacutetica do material eacute dominante este eacute

chamado diamagneacutetico e como resultado eacute ligeiramente repelido na presenccedila de campos

magneacuteticos intensos

Ferromagnetismo Este tipo de magnetismo eacute caracterizado pela presenccedila de um

alinhamento paralelo entre os momentos magneacuteticos atocircmicos que ocorre espontaneamente

Entretanto esta ordem desaparece acima de uma dada temperatura (temperatura de Curie

TC) por conta da desordem promovida pela energia teacutermica Os exemplos claacutessicos de

materiais ferromagneacuteticos satildeo o Fe (TC = 1043 K) Co (TC = 1388 K) e Ni (TC = 627 K)

Embora o alinhamento entre os momentos magneacuteticos seja de longo alcance este

pode natildeo se estender por toda a dimensatildeo do material Ao inveacutes disso eacute energicamente

favoraacutevel agrave formaccedilatildeo de diversas regiotildees com diferentes orientaccedilotildees da magnetizaccedilatildeo Essas

regiotildees satildeo os denominados domiacutenios magneacuteticos e as regiotildees de transiccedilatildeo entre esses

domiacutenios satildeo chamadas de paredes de domiacutenios

Antiferromagnetismo Eacute o magnetismo associado ao caso em que os momentos

magneacuteticos estatildeo alinhados na mesma direccedilatildeo mas estando estes intercalados em sentidos

opostos resultando numa magnetizaccedilatildeo nula Quando um material antiferromagneacutetico eacute

submetido a um campo magneacutetico seus momentos magneacuteticos tendem a se alinhar com este

fazendo com que o alinhamento antiparalelo seja perdido Assim como no ferromagnetismo

a formaccedilatildeo de domiacutenios magneacuteticos pode ser identificada num material antiferromagneacutetico e

estes desaparecem acima da chamada de temperatura de Neacuteel (TN)

Paramagnetismo acima da temperatura criacutetica (TC ou TN) a energia teacutermica eacute maior

que a energia de acoplamento dos momentos magneacuteticos atocircmicos mesmo na presenccedila de

19

um campo magneacutetico Este estado se caracteriza por uma suscetibilidade positiva cujo

inverso varia linearmente com a temperatura (Lei de Curie-Weiss)

Existem tipos de magnetismo associados a outras formas de disposiccedilatildeo dos

momentos magneacuteticos Alguns exemplos satildeo o ferrimagnetismo superparamagnetismo

speromagnetismo vidros de spin etc Natildeo trataremos aqui destes arranjos visto que nosso

interesse estaacute focado nas multicamadas magneacuteticas mais simples que estudamos para

entender os limites da aplicabilidade dos modelos existentes para descrever estas amostras

Diversos modelos satildeo utilizados para explicar a existecircncia dos vaacuterios estados

magneacuteticos Para o caso do ferromagnetismo por exemplo o problema pode ser tratado a

partir de interaccedilotildees de caraacuteter magneacutetico descritos por exemplo pela hipoacutetese de campo

meacutedio de Weiss e considerando o magnetismo de banda Entretanto um importante tipo de

interaccedilatildeo indireta eacute a denominada RKKY (Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) [11]

Esta consiste numa interaccedilatildeo de origem quacircntica entre os momentos magneacuteticos dos

eleacutetrons mais internos com os eleacutetrons de conduccedilatildeo O gaacutes de eleacutetron eacute o responsaacutevel pela

interaccedilatildeo ente dois spins localizados e o tipo de acoplamento (FM ou AF) entre estes

depende (de forma oscilatoacuteria) da distacircncia entre ambos Atraveacutes deste mecanismo de

interaccedilatildeo entre entes magneacuteticos e sua dependecircncia com a distacircncia se explicam os

ordenamentos ferro- ou antiferromagneacuteticos em muitos materiais como eacute o caso dos metais

de transiccedilatildeo e suas ligas como por exemplo o Mn (metal antiferromagneacutetico) pode se

ordenar ferromagneticamente numa liga de Heusler[12]

212 ndash Anisotropia Magneacutetica

Em certos materiais existe a situaccedilatildeo em que a magnetizaccedilatildeo orienta-se

preferencialmente em determinadas direccedilotildees Nestes casos dizemos que o material eacute

magneticamente anisotroacutepico ou que eacute dotado de algum tipo de anisotropia magneacutetica Isso

implica que pode existir alguma direccedilatildeo (chamada de eixo faacutecil) ao longo do qual a energia

magneacutetica do material eacute minimizada

Dentre vaacuterios tipos de anisotropia que existentes que podem ter origem na estrutura

cristalina no stress em que o material estaacute submetido dentre outras[13] tratamos apenas da

anisotropia magneacutetica de forma jaacute que esta eacute a mais relevante para este trabalho

20

2121 ndash Anisotropia Magneacutetica de Forma

Quando uma amostra eacute magnetizada satildeo formados em suas extremidades ldquopolos

magneacuteticosrdquo descompensados Estes polos satildeo capazes de formar um campo magneacutetico

descrito por linhas que os ligam que podem situar-se tanto no interior quanto no exterior do

material O campo gerado dentro do material tem como efeito a tendecircncia de desmagnetizar

a amostra como mostrado na figura 21 e por isso eacute chamado de campo desmagnetizante

HD

A magnitude deste campo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra e eacute dada por = (22)

onde ND eacute o fator desmagnetizante Se as trecircs dimensotildees da amostra natildeo forem iguais esse

fator assumiraacute um valor distinto para cada direccedilatildeo em que o campo externo eacute aplicado Na

figura 21 HDX lt HD

Y

Tal efeito consiste na anisotropia de forma e estaacute associado agrave diferenccedila na quantidade

destes polos magneacuteticos natildeo compensados existentes nas diferentes superfiacutecies da amostra

Como resultado a curva de magnetizaccedilatildeo tambeacutem eacute modificada conforme a direccedilatildeo de

aplicaccedilatildeo do campo como mostrado na figura 21(b)

Figura 21 (a) Campo desmagnetizante gerado em um material magneticamente polarizado (b) Efeito do campo desmagnetizante na curva de histerese

21

213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas

As propriedades fiacutesicas de um material dependem de suas dimensotildees Com respeito

agraves propriedades magneacuteticas sabe-se por exemplo que a temperatura de Curie e a curva de

magnetizaccedilatildeo de um filme ferromagneacutetico possuem forte dependecircncia com sua espessura

Tais efeitos podem surgir de diversos fatores tais como a quebra de simetria de translaccedilatildeo

(que resulta por exemplo na maior proporccedilatildeo de aacutetomos superficiais) modificaccedilatildeo da

densidade de estados eletrocircnicos bem como o fato de que a espessura do filme pode

apresentar dimensatildeo comparaacutevel a comprimentos caracteriacutesticos (por exemplo tamanho dos

domiacutenios magneacuteticos)[14]

Devido agrave quebra de simetria de translaccedilatildeo existe uma contribuiccedilatildeo agrave anisotropia em

filmes finos chamada de anisotropia de superfiacutecie ou de interface Em certos casos esta

anisotropia eacute responsaacutevel pela ocorrecircncia de magnetizaccedilatildeo espontacircnea perpendicular ao

plano do filme Entretanto com o aumento da espessura os efeitos da anisotropia de forma

tendem a dominar fazendo com que a magnetizaccedilatildeo espontacircnea mantenha-se paralela ao

plano do filme

Quando dois materiais magneacuteticos compartilham uma interface ou mesmo quando

existe uma camada natildeo magneacutetica intermediaacuteria as energias de acoplamento intercamadas

devem ser levadas em consideraccedilatildeo para compreender as propriedades magneacuteticas destas

estruturas Alguns mecanismos que promovem acoplamento satildeo descritos a seguir

2131 Acoplamento Tipo RKKY entre Camadas

Existe um mecanismo de interaccedilatildeo que eacute observado entre camadas magneacuteticas de

uma multicamada magneacutetica que se daacute atraveacutes da camada separadora (natildeo magneacutetica)

Como o nome sugere este acoplamento remete-se agrave extensatildeo da interaccedilatildeo magneacutetica RKKY

observada entre iacuteons magneacuteticos em uma matriz metaacutelica [15] onde haacute participaccedilatildeo dos

eleacutetrons de conduccedilatildeo no estabelecimento da ordem magneacutetica observada O acoplamento

resultante depende da espessura da camada separadora podendo assumir caraacuteter

ferromagneacutetico (FM) ou antiferromagneacutetico (AF) ou seja as magnetizaccedilotildees oscilam entre

os estados paralelo e antiparalelo para camadas magneacuteticas adjacentes conforme a camada

natildeo magneacutetica tem sua espessura variada

22

A energia deste acoplamento tende a diminuir com o aumento da espessura da

camada separadora sendo que um modo simples de medir a constante de acoplamento de

uma multicamada com acoplamento AF eacute dado por

= (23)

onde HS eacute o campo de saturaccedilatildeo determinado MS eacute a magnetizaccedilatildeo e tM eacute a espessura dos

filmes ferromagneacuteticos (considerados iguais) Este modelo supotildee que a interaccedilatildeo entre as

camadas magneacuteticas provoca um ordenamento simeacutetrico e eacute descrita por uma funccedilatildeo linear

para a magnetizaccedilatildeo em funccedilatildeo do campo aplicado ateacute que se alcance a saturaccedilatildeo num valor

denominado campo de saturaccedilatildeo (HS)

2132 Acoplamento Orange-Peel

O acoplamento ldquoOrange-peelrdquo (casca de laranja) tambeacutem conhecido como

acoplamento Neacuteel eacute uma forma de acoplamento ferromagneacutetico que eacute oriundo da interaccedilatildeo

magnetostaacutetica e se origina da topografia das interfaces[16] Dois filmes que compartilham

uma mesma interface geralmente tecircm suas rugosidades e topografias correlacionadas

levando agrave formaccedilatildeo de dipolos magneacuteticos tais como ilustrado na figura 22 Dessa forma

essas interaccedilotildees dipolares datildeo origem a um acoplamento ferromagneacutetico

Figura 22 Esquema da topologia da interface e interaccedilatildeo dos dipolos dando origem ao acoplamento Orange-peel

23

Considerando que a camada espaccediladora tem espessura t sua topografia possui

comprimento e amplitude da onda dados respectivamente por λ e h tem-se que a energia

deste acoplamento [17]

= radic ℎ minus radic (23)

22 ndash Magnetorresistecircncia

O efeito de magnetorresistecircncia em materiais refere-se genericamente agrave propriedade

de mudar sua resistecircncia eleacutetrica quando submetidos a um campo magneacutetico Neste toacutepico

tratamos brevemente das magnetorresistecircncias ordinaacuteria e anisotroacutepica e em mais detalhe

da magnetorresistecircncia gigante

221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria

A Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria (OMR) surge da interaccedilatildeo (via forccedila de Lorentz)

dos eleacutetrons de conduccedilatildeo (principalmente na superfiacutecie de Fermi) com o campo magneacutetico

aplicado Quanto mais intenso este campo mais afetadas seratildeo as oacuterbitas desses eleacutetrons de

modo que a resistividade do material sempre aumenta (independente da direccedilatildeo relativa

entre a corrente e o campo) Este efeito tambeacutem estaacute presente em materiais ferromagneacuteticos

no entanto torna-se inexpressivo frente a outros tipos de magnetorresistecircncia mais intensos

ou seja ela eacute principalmente observada em materiais natildeo magneacuteticos

222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica

A Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica (AMR) tem sua origem fiacutesica associada ao

acoplamento spin-oacuterbita [18] Quando um campo magneacutetico eacute aplicado sobre o material a

24

nuvem de eleacutetrons em torno do nuacutecleo eacute ligeiramente deformada pela magnetizaccedilatildeo

executando uma precessatildeo Esta deformaccedilatildeo promove uma alteraccedilatildeo no espalhamento

sofrido pelos eleacutetrons de conduccedilatildeo isto eacute haacute uma modificaccedilatildeo na seccedilatildeo de choque de

espalhamento destes eleacutetrons Desta forma se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo

estiverem orientados paralelamente agrave corrente as oacuterbitas eletrocircnicas estaratildeo perpendiculares

agrave corrente de modo a aumentar a seccedilatildeo de choque e consequentemente mudando a

resistecircncia do material Por outro lado se o campo magneacutetico e a magnetizaccedilatildeo estiverem

perpendiculares agrave direccedilatildeo da corrente resultaraacute uma resistecircncia baixa uma vez que as

orbitas eletrocircnicas estaratildeo no plano da corrente promovendo uma seccedilatildeo de choque menor do

que no caso anterior A figura 22 representa as situaccedilotildees discutidas

Figura 23 Diagrama esquemaacutetico mostrando a origem fiacutesica da AMR O disco em torno do vetor de magnetizaccedilatildeo representa a seccedilatildeo de choque de espalhamento relativo aos orbitais[18]

Dizemos entatildeo que a resistividade que determinado material ferromagneacutetico

apresenta estaacute relacionada ao seu estado magneacutetico (que leva em conta por exemplo a

distribuiccedilatildeo de seus domiacutenios magneacuteticos) e tambeacutem da orientaccedilatildeo relativa entre a

magnetizaccedilatildeo e a corrente eleacutetrica Uma forma simplificada da AMR pode ser descrita pela

equaccedilatildeo 24 [19]

= perp + ∥ minus perp (24)

25

onde ρperp e ρ∥ representam as resistividades nas orientaccedilotildees perpendicular e paralela

respectivamente e α o acircngulo entre a corrente e o vetor de magnetizaccedilatildeo A resistividade

tem tambeacutem uma dependecircncia quadraacutetica com o valor da magnetizaccedilatildeo [20]

223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante

A Magnetorresistecircncia Gigante (GMR) foi descoberta por Baibich et al em 1988 ao

estudarem multicamadas de FeCr [1] O fenocircmeno caracteriza-se por uma grande variaccedilatildeo

(negativa) na resistecircncia eleacutetrica da amostra quando submetida a um campo magneacutetico O

principio da GMR pode ser entendido a partir do modelo de duas correntes de Mott [21 22]

que consiste basicamente na suposiccedilatildeo de dois canais de conduccedilatildeo eletrocircnica distintos

cada um associado a um tipo de spin (up e down) A probabilidade de transiccedilatildeo entre os

estados de spin eacute em primeira aproximaccedilatildeo considerada nula Neste modelo a resistecircncia

total eacute expressa como a combinaccedilatildeo em paralelo das resistecircncias destes dois canais Isto

significa que se um dos canais for sensivelmente menos resistivo que o outro a

condutividade do material seraacute dominada pelo canal mais condutor

A figura 24(a) mostra de forma diagramaacutetica o comportamento dos eleacutetrons de spins

up e down em uma multicamada magneacutetica supondo uma corrente eleacutetrica atravessando

duas camadas ferromagneacuteticas separadas por uma camada natildeo magneacutetica (condutora)

Supondo que os sentidos de magnetizaccedilatildeo das camadas magneacuteticas FM1 e FM2

sejam paralelos (condiccedilatildeo da figura agrave esquerda) com magnetizaccedilotildees definidas pelos

portadores majoritaacuterios de spin (up) tem-se um forte espalhamento dos eleacutetrons de spin para

baixo (down) nas duas camadas ferromagneacuteticas pois os canais de conduccedilatildeo ρdarr satildeo mais

resistivos nesta configuraccedilatildeo Por outro lado os eleacutetrons de spin para cima (up) que

representam os portadores majoritaacuterios para essa configuraccedilatildeo satildeo pouco espalhados

Acaba entatildeo ocorrendo um efeito de ldquocurto-circuitordquo para este canal de conduccedilatildeo

26

Figura 24 (a) Esquema da conduccedilatildeo eleacutetrica dependente do spin numa bicamada magneacutetica separada por uma camada natildeo magneacutetica com orientaccedilotildees magneacuteticas de forma paralela e antiparalela (b) Representaccedilatildeo esquemaacutetica da GMR utilizando um esquema de associaccedilatildeo de resistores

Numa configuraccedilatildeo antiparalela entre os momentos magneacuteticos das camadas FM

(conforme a condiccedilatildeo agrave direita) temos que os eleacutetrons de spin down satildeo fortemente

espalhados na camada FM1 onde estes satildeo minoritaacuterios enquanto na camada FM2 estes satildeo

pouco espalhados Os eleacutetrons de spin up apresentam um comportamento semelhante mas

em camadas diferentes Desta forma a resistividade da multicamada na configuraccedilatildeo

paralela eacute menor do que na configuraccedilatildeo antiparalela e estas podem ser expressas como

= uarrdarruarr + darr (25a)

= uarr+darr (25b)

Tomando essas expressotildees e supondo a aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico

suficiente para inverter a orientaccedilatildeo de uma das camadas temos que a magnetorresistecircncia

pode ser escrita como

27

∆ = minus = darrminusuarruarrdarr (26)

Desta forma temos que a GMR estaacute associada agrave orientaccedilatildeo relativa entre as

magnetizaccedilotildees das camadas ferromagneacuteticas A amostra tem a menor resistecircncia quando as

magnetizaccedilotildees estatildeo mutualmente paralelas e a maacutexima resistecircncia quando estatildeo

antiparalelas Pode-se entatildeo representar genericamente a resistecircncia da amostra por meio

da equaccedilatildeo

= + ∆ () (27)

onde eacute o acircngulo entre as magnetizaccedilotildees das camadas adjacentes

Embora o esquema representado na figura 24 esteja associado agrave geometria CPP

(current perpendicular to plane) onde os terminais de corrente e tensatildeo posicionam-se em

diferentes lados da tricamada ou multicamada [figura 25(a)] as consideraccedilotildees feitas satildeo

ainda vaacutelidas para a geometria CIP (current in plane) pois existem espalhamentos que

inevitavelmente induzem os eleacutetrons a adotarem trajetoacuterias que atravessam as interfaces

entre as camadas submetendo-se assim aos criteacuterios de seleccedilatildeo de spin

Figura 25 Diferentes geometrias de medida de magnetorresistecircncia (a) Corrente perpendicular ao plano - CPP (b) Corrente no plano - CIP

28

Existia uma discussatildeo quanto agrave localizaccedilatildeo do espalhamento dependente de spin ou

seja se este era proveniente das interfaces ou de todo o volume da estrutura Um trabalho

realizado por Parkin [23] que consistiu em inserir uma segunda camada ferromagneacutetica de

cobalto muito fina (~ 3Aring) entre as interfaces originais de uma amostra tipo sanduiacuteche

(tricamada) composta por Cu e Py (Permalloy) constatou uma grande variaccedilatildeo no valor da

Magnetorresistecircncia Gigante que se aproxima do valor obtido quando a camada

ferromagneacutetica eacute composta apenas por cobalto (ver figura 26)

Observou-se que a GMR da estrutura com Py [figura 26(a)] eacute menor que a metade

obtida para a estrutura que tem o Co como camada magneacutetica [figura 26(b)] Entretanto ao

adicionar o que corresponde a aproximadamente uma monocamada de cobalto entre a

interface PyCu o valor da magnetorresistecircncia eacute praticamente recuperado [figura 26(c)]

Tem-se ainda que a largura da curva permanece dependente da propriedade da camada

magneacutetica mais volumosa

O que aparentemente acontece eacute que a assimetria de spin na estrutura de bandas eacute

necessaacuteria mas natildeo uma condiccedilatildeo suficiente para obter alta GMR [24] O valor alto na

GMR estaria associado agrave combinaccedilatildeo das estruturas de bandas nas interfaces [25]

Diversos modelos foram propostos para descrever o fenocircmeno como por exemplo o

apresentado por Camley-Barnas [26] que utilizaram um tratamento semiclaacutessico baseado na

Figura 26 Efeito da inserccedilatildeo de uma fina camada magneacutetica de Co na interface CuNiFe Figura adaptada de [23]

29

equaccedilatildeo de transporte de Boltzmann estendendo a teoria de Fuchs-Sondheimer ao introduzir

a dependecircncia de spin ao problema

Tambeacutem foram desenvolvidos modelos quacircnticos [27] para entender o fenocircmeno

Estes partem do formalismo de Kubo para calcular a condutividade dos sistemas FeCr

CoRu e CoCu por exemplo tomando como base uma multicamada composta por infinitas

camadas onde os eleacutetrons estatildeo sujeitos a potenciais de espalhamento Estes potenciais satildeo

originados de defeitos estruturais impurezas no interior das camadas e de rugosidade nas

interfaces

Zhang et al [28] fizeram uma comparaccedilatildeo entre as diversas abordagens

(semiclaacutessicas e quacircnticas) para a determinaccedilatildeo da condutividade deste tipo de multicamada

A conclusatildeo eacute de que existe um bom acordo entre os resultados destes modelos Desta

forma o tratamento semiclaacutessico tem certa vantagem por apresentar uma maior

simplicidade

23 ndashEfeito Hall

O efeito Hall convencional estaacute associado agrave forccedila de Lorentz oriunda de um campo

de induccedilatildeo magneacutetica sobre a amostra que promove a curvatura das trajetoacuterias dos

portadores de carga gerando uma diferenccedila de potencial transversal ao fluxo de corrente

[29] A figura 26 eacute uma representaccedilatildeo esquemaacutetica do experimento para a medida Hall

Nota-se que o campo eacute aplicado perpendicular ao plano da amostra A voltagem Hall eacute

proporcional agrave corrente que atravessa o material e estas grandezas satildeo relacionadas pela

denominada resistecircncia Hall que pode ser descrita como funccedilatildeo de uma resistividade Hall

(ρH) e paracircmetros geomeacutetricos da amostra

Tal medida eacute muito utilizada para identificaccedilatildeo do sinal e densidade dos portadores

de carga em semicondutores Este efeito tambeacutem eacute de grande utilidade na detecccedilatildeo de

campo magneacutetico onde neste caso empregam-se semicondutores como sensores

30

Figura 27 Esquema representativo da configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall

Em materiais magneacuteticos existe uma contribuiccedilatildeo adicional agrave resistividade Hall

advinda do denominado efeito Hall extraordinaacuterio (EHE) ou efeito Hall anocircmalo A

resistividade Hall eacute entatildeo comumente descrita a partir de uma expressatildeo fenomenoloacutegica

definida pela equaccedilatildeo 28 [31] onde R0 eacute o coeficiente Hall ordinaacuterio B eacute o campo de

induccedilatildeo magneacutetica Re eacute o coeficiente Hall extraordinaacuterio e M a magnetizaccedilatildeo do material

= + (28)

O primeiro termo da equaccedilatildeo estaacute propriamente relacionado agrave forccedila de Lorentz

enquanto que o segundo eacute atribuiacutedo ao efeito Hall extraordinaacuterio Este efeito se origina da

polarizaccedilatildeo de spin que induz uma quebra de simetria esquerda-direita durante o

espalhamento spin-oacuterbita do eleacutetron resultando numa diferenccedila de potencial adicional

Como esse termo eacute proporcional agrave magnetizaccedilatildeo em alguns casos a voltagem Hall serve

como uma medida da magnetizaccedilatildeo do material

231 Efeito Hall Planar (PHE)

Eacute necessaacuterio salientar antes de discutir sobre o Efeito Hall Planar que este natildeo

consiste rigorosamente em um efeito Hall Ou seja no PHE o campo magneacutetico eacute aplicado

no plano da amostra (e natildeo perpendicular a esta) e a diferenccedila de potencial gerada natildeo eacute

31

originada de uma modificaccedilatildeo na trajetoacuteria dos eleacutetrons (devida a uma interaccedilatildeo de origem

magneacutetica) Apesar disto este efeito galvacircnico recebe este nome por ser medido utilizando-

se a mesma configuraccedilatildeo de contatos usada para medir o efeito Hall

Este efeito origina-se da magnetorresistecircncia anisotroacutepica [31] Uma vez que a

amostra apresenta anisotropia morfoloacutegica eou magneacutetica resultando numa dependecircncia

direcional da resistecircncia ocorre que as superfiacutecies equipotenciais podem natildeo ser

perpendiculares ao fluxo de corrente e assim tecircm-se duas componentes de campo eleacutetrico

uma na direccedilatildeo da corrente (que estaacute associada agrave medida AMR) e outra perpendicular

gerando uma diferenccedila de potencial associada ao PHE

Para um filme fino no caso em que a magnetizaccedilatildeo situa-se no plano essa ddp

(chamada de Voltagem Hall Planar) pode ser fenomenologicamente escrita como[32]

= sin (29)

onde P eacute um paracircmetro que depende tanto da geometria do filme como das propriedades do

material j eacute a densidade de corrente M a magnetizaccedilatildeo e α eacute o acircngulo entre a corrente e o

vetor de magnetizaccedilatildeo

O efeito Hall planar eacute tido como uma ferramenta poderosa para analisar os processos

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo pois o efeito eacute bastante sensiacutevel agrave direccedilatildeo do vetor M O PHE

pode ser usado por exemplo para avaliaccedilatildeo da presenccedila de ruiacutedo Barkhausen nos ciclos de

magnetizaccedilatildeo em vaacutelvulas de spin [33]

32

3 ndash APRESENTACcedilAtildeO DO PROBLEMA

31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas

Ao pensar na reduccedilatildeo das dimensotildees laterais deste tipo de sistema consideraccedilotildees

quanto aos aspectos magneacuteticos e de transporte eletrocircnico devem ser levadas em conta

Sabe-se que em amostras de multicamadas magneacuteticas usualmente obtidas em

laboratoacuterio a magnetizaccedilatildeo nunca atinge alinhamentos totalmente paralelos (ou

antiparalelos) devido agraves estruturas dos domiacutenios no plano das camadas A fabricaccedilatildeo de

ldquofiosrdquo (multicamadas magneacuteticas com larguras micromeacutetricas ou menores) induz forte

anisotropia de forma de maneira que a formaccedilatildeo de domiacutenios eacute virtualmente suprimida

resultando em um estado de domiacutenio uacutenico longitudinal [3]

Consequentemente os alinhamentos paralelos ou antiparalelos deveriam

corresponder melhor ao modelo idealizado nas vaacuterias camadas dos ldquofiosrdquo e portanto

deveria ser observado um aumento na magnetorresistecircncia com relaccedilatildeo agrave multicamada de

grandes dimensotildees laterais

Por outro lado um estudo da Magnetorresistecircncia Gigante para multicamadas

confinadas lateralmente realizado por Majumdar et al [34] fazendo o uso da equaccedilatildeo de

Boltzmann em geometria de corrente paralela ao plano (CIP) obteve que a

Magnetorresistecircncia Gigante tende a diminuir com a diminuiccedilatildeo da largura do filme Isto se

deve segundo os autores agrave reduccedilatildeo do livre caminho meacutedio efetivo nas camadas devido ao

espalhamento nas laterais Essa diminuiccedilatildeo torna-se evidente no caso de multicamadas

baseadas em cobalto com largura abaixo de 30 Aring como pode ser visto na figura 31

33

Existem entatildeo ao confinar a dimensatildeo lateral a escalas sub-micromeacutetricas

tendecircncias opostas para o comportamento da GMR quando satildeo levadas em conta as

prediccedilotildees do comportamento magneacutetico ou de transporte eletrocircnico Entretanto espera-se

que ao atingir dimensotildees nanoscoacutepicas com larguras da ordem de algumas dezenas ou

centenas de nanometros o efeito da forte anisotropia das camadas magneacuteticas prevaleccedila e

proporcione um aumento da magnetorresistecircncia Ateacute o momento e dentro do que foi por

noacutes pesquisado na literatura natildeo existe nenhum tratamento teoacuterico que leve em

consideraccedilatildeo estas duas contribuiccedilotildees nesta faixa de tamanhos

Alguns grupos [6 7 35] realizaram experimentos na tentativa de investigar esta

dependecircncia do valor da GMR com a largura do filme Para moldar as estruturas nas

dimensotildees sub-micromeacutetrica foi utilizada uma combinaccedilatildeo de teacutecnicas de litografia (oacuteptica

ou por feixes de eleacutetrons) e de ion milling Os resultados entretanto natildeo foram como

esperado ou seja houve uma diminuiccedilatildeo da magnetorresistecircncia ao reduzir a dimensatildeo

lateral do filme

Os autores supotildeem que tal desacordo eacute resultado de degradaccedilotildees que ocorreram

durante o processo de fabricaccedilatildeo da amostra tais como o recozimento que ocorre durante o

processo de cura do poliacutemero usado no processo de litografia (chegando ateacute 170 degC) e pelo

aquecimento das bordas dos fios enquanto eacute feito o bombardeio de iacuteons de argocircnio na etapa

de desbaste Aleacutem disto a possiacutevel ocorrecircncia de desbastes nas laterais dos fios (ao estilo da

Figura 31 Magnetorresistecircncia de sanduiacuteches CoCuCo em funccedilatildeo da largura da amostra Figura adaptada de [34]

34

cavitaccedilatildeo) natildeo eacute descartada [35] o que acarretaria grande espalhamento nestas bordas

aumentando a proporccedilatildeo de espalhamentos independentes de spin O comportamento

esperado foi observado apenas quando a reduccedilatildeo desta espessura limitou-se agrave largura de

aproximadamente 1 microm [36 37] De fato natildeo foi encontrado nenhum estudo que variasse as

larguras a partir de algumas dezenas de micrometros ateacute a escala de nanometros

32 ndash Multicamadas de CoCu

Trataremos neste toacutepico aspectos importantes que influem nas caracteriacutesticas

magneacuteticas e de (magneto) transporte do sistema utilizado e que devem ser considerados

para a determinaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para estudo

321 ndash Composiccedilatildeo

Apesar do fenocircmeno da Magnetorresistecircncia Gigante ter sido primeiramente

observado em multicamadas de FeCr diversas outras estruturas exibem o efeito como por

exemplo CoAg NiAg NiCu Ni80Fe20Cu CoCu

Os experimentos realizados com esta uacuteltima estrutura resultaram nas maiores

variaccedilotildees da resistecircncia quando submetidos a um campo magneacutetico ou seja as

multicamadas baseadas na estrutura CoCu depositadas por sputtering apresentam

expressivos valores de Magnetorresistecircncia Gigante mesmo em temperatura ambiente [38]

tornando-se assim a estrutura mais estudada nesta aacuterea

A rica bibliografia acerca desta estrutura a torna atrativa para explorar as novas

propriedades que queriacuteamos investigar A seguir satildeo apresentados aspectos importantes que

consideramos ao definir as amostras que foram utilizadas em nosso estudo

35

322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica

Em multicamadas de CoCu Mosca et al [39] foram os primeiros a observar e

estudar a dependecircncia da GMR em funccedilatildeo da espessura da camada separadora A figura 32

exibe a variaccedilatildeo da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de

cobre

Figura 32 Magnetorresistecircncia Gigante de uma serie de multicamadas CoCu em funccedilatildeo da espessura do espaccedilador de cobre obtidas em temperatura ambiente [39]

Percebe-se a existecircncia de grandes valores de GMR em torno de espessuras de cobre

bem definidas Estes picos estatildeo relacionados agrave presenccedila de acoplamento

antiferromagneacutetico (AF) via interaccedilatildeo tipo RKKY O primeiro posiciona-se em

aproximadamente 10 Aring o segundo perto de 20 Aring e o terceiro em torno de 31 Aring Nestas

configuraccedilotildees e na ausecircncia de campo magneacutetico as camadas adjacentes de cobalto estatildeo

com seus momentos magneacuteticos dispostos antiparalelamente resultando numa resistecircncia

alta Quando aplicado o campo essas camadas tendem a alinhar-se reduzindo assim a

resistecircncia

36

Para espessuras intermediaacuterias agraves citadas tem-se acoplamento ferromagneacutetico onde

as orientaccedilotildees relativas entre as magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto natildeo mudam

significantemente resultando numa variaccedilatildeo pequena ou praticamente nula da

resistividade

Caso a espessura da camada natildeo magneacutetica seja demasiado grande ocorre o

desacoplamento das camadas de cobalto e assim a ocorrecircncia do fenocircmeno da

Magnetorresistecircncia Gigante fica mascarada pelo ldquocurto-circuitordquo estabelecido pela espessa

camada de cobre

Em muitos casos eacute observado que a utilizaccedilatildeo de camadas muito finas de Cu propicia

o surgimento de um tipo de defeito chamado de pinhole Isto consiste numa falha (buraco)

no recobrimento de uma camada ferromagneacutetica de modo a promover um acoplamento de

troca direta entre as camadas ferromagneacuteticas contiacuteguas Como resultado eacute observado que

as duas camadas atuam como se fossem uma uacutenica [40]

323 - Espessura da Camada Magneacutetica

Em experiecircncias que avaliaram a influecircncia da espessura da camada ferromagneacutetica

em multicamadas [41 42] foi observado que existe uma faixa de espessuras ldquoidealrdquo para a

obtenccedilatildeo das maiores variaccedilotildees na magnetorresistecircncia Para espessuras acima deste valor

o decreacutescimo se daacute por conta do aumento relativo da proporccedilatildeo de corrente que flui nas

camadas espessas reduzindo a importacircncia do espalhamento nas interfaces

Por outro lado em espessuras da camada magneacutetica que tendem a ser menores que

o livre caminho meacutedio associado aos spins up e down os espalhamentos mais relevantes

tendem a acontecer nas regiotildees externas (camadas de buffer e de cobertura) que natildeo satildeo

dependentes de spin

No experimento realizado por Sakrani et al [42] que usaram justamente uma

multicamada de CoCu obtiveram que esta espessura ldquoidealrdquo de Co eacute de aproximadamente

5 nm Estas espessuras no entanto limitariam as amostras a um nuacutemero reduzido de

bicamadas

O melhor compromisso entre os diversos fatores apontados seria limitar a espessura

das camadas magneacuteticas a um maacuteximo de cerca de 2 a 25 nm permitindo assim aumentar

37

o nuacutemero de bicamadas o que aumenta a magnetorresistecircncia do conjunto Isto significa

maior sensibilidade aos efeitos da reduccedilatildeo de dimensotildees aqui proposta

Em nossas tentativas preliminares de obtenccedilatildeo de amostras encontramos que

camadas de 14 nm de cobalto resultaram em melhores valores de magnetorresistecircncia do

que as confeccionadas com 2 nm o que significa ter mais sensibilidade para as mudanccedilas

induzidas por variaccedilotildees nas dimensotildees Para compreender todos os fatores que levam a este

resultado seria necessaacuterio um maior estudo nesta direccedilatildeo que natildeo eacute o vieacutes deste trabalho

Assim adotamos a espessura que nos forneceu o maior percentual de Magnetorresistecircncia

Gigante dentro dos limites por noacutes estabelecidos

324 - Camada de Buffer

A influecircncia da adiccedilatildeo de camadas de acomodaccedilatildeo da estrutura (buffer) tambeacutem foi

um tema de muita investigaccedilatildeo [43 44] A inclusatildeo deste tipo de camada pode promover a

melhora da qualidade cristalina texturizaccedilatildeo ou mesmo induzir o crescimento de fases

cristalograacuteficas das camadas seguintes O tacircntalo caracteriza-se talvez como o melhor

metal ldquonatildeo magneacuteticordquo a ser utilizado para este fim proporcionando tambeacutem uma melhora

do valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Em nossas primeiras experiecircncias adotamos uma camada de 5 nm de tacircntalo como

buffer Poreacutem quando adicionamos sobre o tacircntalo uma camada de 2 nm de cobre

percebemos um aumento significativo no valor da Magnetorresistecircncia Gigante

Tendo em vista que o cobre natildeo representa em geral uma boa camada de buffer

para o cobalto a explicaccedilatildeo deve estar relacionada ao fato de que o cobre e o cobalto

possuem estruturas cristalinas semelhantes se as camadas de cobalto satildeo suficientemente

finas (inclusive com paracircmetros de rede quase idecircnticos) como parece ser nosso caso

Provavelmente isso propicia um maior grau de coerecircncia estrutural nos primeiros

empilhamentos das multicamadas Por fim adotou-se esta camada de acomodaccedilatildeo

composta por tacircntalo e cobre com espessura total de 7 nm pois adotamos camadas de

cobalto de pequena espessura

38

325 - Nuacutemero de Bicamadas

O aumento que se observa da Magnetorresistecircncia Gigante em funccedilatildeo do nuacutemero de

bicamadas eacute principalmente atribuiacutedo agrave modificaccedilatildeo das interfaces entre as camadas Na

literatura eacute encontrada a utilizaccedilatildeo de sistemas com ateacute 50 bicamadas [38 45] promovendo

grandes magnetorresistecircncias

Paul et al [46] investigaram a correlaccedilatildeo entre o nuacutemero de bicamadas e as

propriedades de magnetotransporte em multicamadas de CoCu Seus resultados indicam

que haacute um grande aumento na Magnetorresistecircncia Gigante quando se varia de 2 ateacute 10

bicamadas A partir de entatildeo embora ainda ocorra um aumento este eacute mais lento e tende a

saturar a partir de 20 bicamadas Este resultado natildeo deve ser visto como geral uma vez que

a variaccedilatildeo dos paracircmetros de deposiccedilatildeo pode resultar em diferentes mecanismos de

crescimento

De toda forma adotamos um total de 10 bicamadas em nossa estrutura que aleacutem de

fornecer uma boa razatildeo para a Magnetorresistecircncia Gigante resulta numa altura da pilha

que natildeo eacute demasiadamente grande ficando o total desta em cerca de 44 nm

326 - Camada de Cobertura

Esta eacute a camada que finaliza a estrutura sendo importante na prevenccedilatildeo de oxidaccedilatildeo

e consequente degradaccedilatildeo da amostra A espessura desta camada tambeacutem eacute um ponto

importante pois caso seja muito delgada natildeo seraacute eficiente no seu papel protetor e sendo

demasiadamente espessa se tornaria a camada de conduccedilatildeo preferencial reduzindo o efeito

de interesse

Utilizamos entatildeo uma camada de 5 nm de cobre que se mostrou suficiente uma vez

que mesmo deixando a amostra exposta agrave atmosfera natildeo houve variaccedilatildeo dos valores de

resistecircncia e magnetorresistecircncia ao longo de meses

39

33 ndash Estruturas para Estudo

Levando em conta todos os fatores citados para obter boas propriedades de

magnetorresistecircncia chegamos agrave escolha das estruturas que serviram de padratildeo em nosso

trabalho

As amostras satildeo entatildeo compostas da uma camada de acomodaccedilatildeo constituiacuteda por 5

nm de tacircntalo e mais 2 nm de cobre Sobre esta camada satildeo depositadas as 10 bicamadas de

cobalto e cobre e por fim a camada adicional de cobre para proteccedilatildeo Estes filmes satildeo

depositados sobre substratos de siliacutecio (100) oxidado termicamente Abaixo estaacute

esquematizada a composiccedilatildeo final da estrutura

SiSiO2Ta(5 nm)Cu(2 nm)[Co(14 nm)Cu(2 nm)]x10Cu(3 nm)

Na tentativa de proceder com a reduccedilatildeo da largura da multicamada inicialmente foi

pensado em utilizar a teacutecnica de litografia por FIB (focused ion beam) entretanto nossos

resultados preliminares demonstraram que tal metodologia eacute inviaacutevel Ao realizar o

desbaste das bordas da amostra infelizmente ocorre tambeacutem a sua degradaccedilatildeo

Por fim para reduccedilatildeo da largura das amostras utilizamos o processo de litografia

oacutetica que eacute melhor detalhado no proacuteximo capiacutetulo Isso acabou por limitar a faixa de

larguras inicialmente pretendida ou seja natildeo foi possiacutevel utilizar amostras com larguras

sub-micromeacutetricas

40

4 ndash ASPECTOS EXPERIMENTAIS

41 - Confecccedilatildeo das Amostras

Trataremos neste toacutepico as questotildees pertinentes agrave confecccedilatildeo das amostras que

consiste numa breve explanaccedilatildeo da teacutecnica de deposiccedilatildeo utilizada (sputtering) bem como

do processo de limpeza dos substratos Tambeacutem eacute tratada a metodologia empregada na

etapa de reduccedilatildeo das dimensotildees laterais dos filmes

411 Limpeza

Os substratos utilizados para a deposiccedilatildeo foram Si(100) termicamente oxidado

(camada de oacutexido de aproximadamente 1 microm)

Para uma boa deposiccedilatildeo do filme garantindo a sua aderecircncia no substrato bem como

a ausecircncia de impurezas que podem eventualmente prejudicar sua integridade foi seguida

uma receita de limpeza RCA[47] que envolve alguns passos descritos na tabela 41

Tabela 41 Rotina de limpeza dos substratos Soluccedilotildees Proporccedilatildeo Temperatura Objetivo

H2SO4 + H2O2 (4 1) 120 degC Remoccedilatildeo de compostos orgacircnicos

H2O (DI) + NH4OH + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de metais e materiais orgacircnicos

H2O (DI) + Hl + H2O2 (4 1 1) 80 degC Remoccedilatildeo de compostos alcalinos e iacuteons

metaacutelicos

A saber a limpeza RCA completa abarca ainda a utilizaccedilatildeo de HF para a remoccedilatildeo

de oacutexidos Entretanto este passo natildeo foi implementado haja vista que eacute de nosso interesse a

manutenccedilatildeo da camada de SiO2 que serve para evitar que a conduccedilatildeo eletrocircnica se decirc

41

tambeacutem pelo wafer de siliacutecio Entre cada passo especificado na tabela os substratos satildeo

lavados por cinco minutos em aacutegua deionizada corrente a fim de remover totalmente a

uacuteltima soluccedilatildeo empregada Apoacutes o uacuteltimo passo os substratos satildeo secados utilizando jato

de nitrogecircnio seco

Depois de limpas as amostras satildeo posicionadas sobre o porta amostras e fixadas

com o auxiacutelio de uma fita adesiva especial para vaacutecuo Entatildeo satildeo inseridas no interior das

cacircmaras de deposiccedilatildeo seguindo o procedimento padratildeo de cada modelo

412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering

O fenocircmeno de sputtering consiste na ejeccedilatildeo dos aacutetomos (ou aglomerados ndash

clusters) da superfiacutecie de um soacutelido (o alvo) por meio de um bombardeamento de iacuteons

acelerados fazendo com que estes sejam arrancados do alvo ou seja remete-se agrave

transferecircncia de momentum e energia entre essas partiacuteculas aleacutem da natural emissatildeo de

eleacutetrons secundaacuterios Para isso eacute necessaacuterio que a energia destes iacuteons seja maior ou igual agrave

energia de ligaccedilatildeo do aacutetomo na superfiacutecie (energia de sublimaccedilatildeo)

A energia tiacutepica desses iacuteons (tipicamente argocircnio Ar+) utilizados no processo de

deposiccedilatildeo de filmes variam entre dezenas de eV a alguns keV Esta energia eacute obtida ao

submeter os iacuteons a uma diferenccedila de potencial (DC ou RF) entre o caacutetodo (alvo) e o anodo

(onde o substrato eacute fixado) Por outro lado a energia da partiacutecula ejetada estaacute na faixa de 1

- 10 eV (de fato cerca de 90 da energia da partiacuteculas incidentes eacute perdida sob a forma de

calor para o aquecimento do alvo) [48]

O filme eacute entatildeo formado quando os aacutetomos (ou clusters) ejetados atingem o

substrato localizado a certa distancia do alvo e condensam consolidando o material

(durante este processo parte da energia desses aacutetomos promove o aquecimento do

substrato) Um diagrama do processo estaacute esquematizado na figura 41

Dentre diversos fatores que influenciam na deposiccedilatildeo do filme e

subsequentemente em sua microestrutura o livre caminho meacutedio da partiacutecula ejetada eacute

muito importante pois estaacute estreitamente relacionado com a taxa de deposiccedilatildeo do filme

bem como com a energia com que esta atinge o substrato O livre caminho meacutedio eacute

42

controlado principalmente pela pressatildeo do gaacutes dentro da cacircmara que eacute mantida na ordem

de 10-3 Torr numa condiccedilatildeo em que tambeacutem eacute possiacutevel a manutenccedilatildeo de uma descarga

autossustentaacutevel

Figura 41 Diagrama esquemaacutetico do processo de deposiccedilatildeo por sputtering e detalhes da arquitetura do sistema utilizado[49]

Como eacute interessante aumentar a taxa de sputtering e consequentemente a

velocidade de deposiccedilatildeo utiliza-se a teacutecnica chamada de magnetron sputtering que

consiste na aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico nas imediaccedilotildees do alvo (por meio da

instalaccedilatildeo de iacutematildes apropriados proacuteximos a estes) com o objetivo de confinar o plasma

proacuteximo agrave superfiacutecie do alvo Deste modo os eleacutetrons que estatildeo proacuteximos ao alvo satildeo

submetidos a uma forccedila magneacutetica que induz trajetoacuterias helicoidais em torno das linhas de

campo magneacutetico e assim a probabilidade de que ocorram colisotildees com os aacutetomos de

argocircnio com subsequente ionizaccedilatildeo eacute elevada propiciando um aumento na eficiecircncia do

desbaste

Para a deposiccedilatildeo das amostras neste trabalho foi utilizado o sistema de sputtering

AJA Orion-8 UHV instalado no Laboratoacuterio de Conformaccedilatildeo Nanomeacutetrica (LCN) do IF-

UFRGS Este sistema de operaccedilatildeo automaacutetica possui uma geometria de deposiccedilatildeo

confocal onde os canhotildees satildeo posicionados em acircngulo com o porta substrato que por sua

43

vez gira com velocidade ajustaacutevel (maacuteximo de 80 r p m) propiciando uma deposiccedilatildeo de

filmes com espessura mais uniforme

413 Conformaccedilatildeo da amostra

O processo de litografia oacutetica foi a teacutecnica adotada para reduzir o tamanho das

amostras estabelecendo a estrutura desejada A seguir satildeo descritas as etapas seguidas

durante este processo

Utilizamos um processo que dispensa o uso de maacutescaras (maskless lithography) ou

seja natildeo foi utilizado o meacutetodo convencional que consiste na transferecircncia do padratildeo a

partir de uma maacutescara Ao inveacutes disso um feixe estreito de radiaccedilatildeo ultravioleta varre a

amostra coberta com fotorresiste seguindo o layout programado via software sensibilizando

localmente o mesmo e formando a estrutura preacute-estabelecida

O equipamento utilizado nesta etapa eacute a denominada laser writer modelo microPG 101

construiacutedo pela Heidelberg Instruments [50] instalado no Laboratoacuterio de Microeletrocircnica

(LmicroE) da UFRGS onde foram realizadas todas as etapas concernentes ao processo de

litografia

Utilizamos o fotorresiste positivo AR-P 3120 [51] que se caracteriza por sua alta

fotossensibilidade alta resoluccedilatildeo e boa adesatildeo a metais O resiste foi depositado sobre o

filme utilizando o meacutetodo de spin coating que consiste em imprimir alta velocidade de

rotaccedilatildeo ao substrato inicialmente recoberto pela soluccedilatildeo ainda liacutequida do fotorresiste

Durante essa rotaccedilatildeo a soluccedilatildeo polimeacuterica eacute espalhada uniformemente sobre a

superfiacutecie do substrato resultando num filme fino A espessura desse filme depende de

diversos fatores tais como a diluiccedilatildeo da soluccedilatildeo a velocidade e o tempo de rotaccedilatildeo

Apoacutes a deposiccedilatildeo a amostra eacute aquecida a 100 degC sobre um ldquoprato quenterdquo para que o

solvente seja evaporado O processo de deposiccedilatildeo do fotorresiste estaacute esboccedilado na figura

42 onde satildeo especificados os paracircmetros utilizados

Apoacutes a deposiccedilatildeo do fotorresiste a amostra assim coberta eacute inserida na laserwriter

para se proceder com a etapa de exposiccedilatildeo Haacute uma seacuterie de paracircmetros que interferem na

qualidade da litografia como intensidade do laser foco etc e estes foram previamente

estabelecidos em testes preliminares

44

A figura 43 ilustra o processo completo de litografia Apoacutes a deposiccedilatildeo e exposiccedilatildeo

do fotoresiste agrave radiaccedilatildeo UV o substrato eacute mergulhado no solvente para revelaccedilatildeo ou seja

remove-se o fotorresiste sensibilizado desprotegendo o filme metaacutelico sob aquela regiatildeo

Segue-se entatildeo a etapa de corrosatildeo quiacutemica por aacutecido (wet-etching) Foi necessaacuterio

um estudo preacutevio para que fossem determinados os aacutecidos a serem usados (aacutecido niacutetrico e

Figura 43 Representaccedilatildeo do processo de litografia (a) Estrutura inicial (b) Apoacutes deposiccedilatildeo do fotorresiste (c) Depois da exposiccedilatildeo agrave radiaccedilatildeo UV (d) Regiatildeo sensibilizada removida (e) Apoacutes corrosatildeo efetuada (f) Remoccedilatildeo do restante do fotorresiste

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

Figura 42 Esquema mostrando os passos do processo de spin coating (a) Deposiccedilatildeo da soluccedilatildeo (b) Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo da soluccedilatildeo

Rotaccedilatildeo do substrato (c) Evaporaccedilatildeo do substrato

45

aacutecido fluoriacutedrico) bem como a concentraccedilatildeo empregada e o tempo de corrosatildeo Verificamos

que o melhor resultado no que se refere agrave qualidade da corrosatildeo consiste numa receita que

difere do padratildeo Na tabela 42 estatildeo especificadas as soluccedilotildees e concentraccedilotildees efetivamente

utilizadas

Tabela 42 Formulaccedilatildeo utilizada na execuccedilatildeo do processo de corrosatildeo

Soluccedilatildeo Proporccedilatildeo Tempo Objetivo

HNO3 + H2O (DI) ( 1 100) 40 s Corrosatildeo de Cu e de Co

HF + H2O (DI) (2 5) 3 min Corrosatildeo de Ta

Por fim o fotorresiste eacute totalmente removido utilizando-se acetona e aacutelcool

isopropiacutelico A ldquobolachardquo de siliacutecio eacute recortada em torno de cada pedaccedilo que compotildee uma

amostra e eacute finalmente limpa com aacutegua deionizada

O esquema de uma amostra eacute apresentado na figura 44 onde temos a visatildeo global da

amostra e no detalhe (inset) a estrutura mais interna da amostra onde temos os contatos

separados por uma distacircncia de 10 m Tambeacutem eacute possiacutevel ver contatos dispostos em

configuraccedilatildeo para medida de efeito Hall As amostras variam quanto agrave largura (w) do canal

de corrente tendo os valores de 30 e 2 m as larguras maacuteximas e miacutenimas respectivamente

Como as medidas de transporte satildeo realizadas com a teacutecnica de quatro pontas o fato

de que os contatos satildeo constituiacutedos de multicamada natildeo deve influenciar na medida

Figura 44 Esquema da amostra com largura reduzida exibindo tambeacutem os contatos para medidas eleacutetricas

46

42 ndash Caracterizaccedilotildees

421 Caracterizaccedilatildeo por raios X

As propriedades estruturais da mateacuteria podem ser amplamente investigadas por

meio de raios X Isto se faz possiacutevel porque em boa parte dos soacutelidos existe algum tipo de

ordenamento estrutural cujas dimensotildees satildeo da mesma ordem de grandeza dos

comprimentos de onda dos raios X Mesmo no caso de amorfos haacute analises possiacuteveis visto

que o espalhamento de raios X se daacute se houver um par de aacutetomos disponiacutevel No caso dos

amorfos o que se consegue estabelecer eacute uma funccedilatildeo distribuiccedilatildeo de pares ou sua

transformada o fator de estrutura No caso de policristais como nossas multicamadas pode

ser estudada a estrutura de cada camada ou ateacute a superestrutura formada pela repeticcedilatildeo das

bicamadas

A teacutecnica consiste no uso de um feixe monocromaacutetico de raios X tipicamente a

linha Kα do cobre ( ~ 154 Aring) incidindo sobre a amostra Uma fraccedilatildeo desta radiaccedilatildeo eacute

refletida ou difratada e entatildeo coletada pelo detector que se posiciona no acircngulo

equivalente relativo agrave amostra em que se faz a incidecircncia ( - 2) Por meio da anaacutelise deste

sinal diversas propriedades referentes agrave estrutura cristalina ou morfologia do material

podem ser determinadas

O difratograma completo de raios X pode ser dividido em regiotildees distintas sendo

que a reflectometria (XRR) corresponde a incidecircncias entre 0 e 5ordm e a difratometria (XRD)

para acircngulos maiores

4211 Difraccedilatildeo de raios X

Atraveacutes da difraccedilatildeo de raios X (XRD) eacute possiacutevel obter informaccedilotildees sobre a

composiccedilatildeo estrutura cristalina grau de cristalinidade e tamanho de gratildeo a partir das

posiccedilotildees intensidades e larguras dos picos de difraccedilatildeo

No caso de filmes finos observa-se frequentemente a intensificaccedilatildeo de alguns

picos devido a orientaccedilotildees cristalinas preferenciais (textura) Tal teacutecnica eacute amplamente

47

conhecida e um oacutetimos compecircndios sobre esta podem ser encontrado na literatura [por

exemplo 52]

No caso de uma multicamada magneacutetica aleacutem da periodicidade inerente agraves redes

cristalinas dos materiais tem-se que o padratildeo de repeticcedilatildeo das camadas resulta numa rede

artificial que eacute responsaacutevel pelo surgimento de picos extras no difratograma do filme

chamados entatildeo de pico sateacutelites por situarem-se em torno de um pico de Bragg tanto agrave

esquerda como agrave direita

4212 Refletometria de raios X

A reflectometria de raios X (XRR) eacute uma teacutecnica natildeo destrutiva que permite a

obtenccedilatildeo da espessura de filmes (cristalinos ou amorfos) entre 2 e 200 nm com precisatildeo de

cerca de 1 - 3 Aring Aleacutem disto a teacutecnica tambeacutem eacute empregada na determinaccedilatildeo da densidade

e rugosidade de filmes e multicamadas

A reflexatildeo na superfiacutecie externa e interfaces eacute devida agrave diferenccedila de densidade

eletrocircnica nas diferentes camadas correspondendo a diferentes iacutendices de refraccedilatildeo da oacutetica

claacutessica [52 53] A figura 45 ilustra uma simulaccedilatildeo de medidas de reflectometria de raios

X [54]

Para acircngulos de incidecircncia abaixo de um valor criacutetico θC ocorre reflexatildeo externa

total resultando em um sinal muito intenso A densidade do material da superfiacutecie pode

assim ser obtida atraveacutes de θC Para valores acima deste acircngulo a intensidade cai

abruptamente e comeccedilam a surgir os picos oriundos da interferecircncia construtiva dos raios

espalhados por interfaces distintas

Considerando um filme uacutenico como ilustrado na figura 45 surgem as chamadas

franjas de Kiessig que estatildeo diretamente relacionadas com a espessura da camada Esta

pode ser determinada via

asymp ΔKiessig (41)

onde Kiessig eacute a distacircncia n entre dois maacuteximos de interferecircncia

48

A amplitude das franjas de Kiessig depende do contraste de densidade (oacuteptica na

faixa de comprimentos de onda dos raios X) entre as camadas e da rugosidade da superfiacutecie

e interfaces Quando existe uma superfiacutecie lisa e uma interface rugosa como na figura 45

(b) ocorre um decreacutescimo na amplitude das franjas devido ao espalhamento mais difuso na

interface

Por outro lado quando se tem uma superfiacutecie rugosa e uma interface lisa ocorre o

contraacuterio uma vez que a superfiacutecie rugosa tem uma transmissividade maior [52]

Se a superfiacutecie e as interfaces satildeo rugosas a intensidade refletida cai drasticamente

com o acircngulo de incidecircncia e as franjas satildeo fortemente atenuadas Para uma superfiacutecie

rugosa a transmissividade eacute maior do que para superfiacutecies lisas e assim a intensidade das

franjas de interferecircncia eacute aumentada

422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada

A caracterizaccedilatildeo magneacutetica eacute realizada em um magnetocircmetro de gradiente de

forccedila alternado (AGFM) que se baseia na medida da forccedila em uma determinada direccedilatildeo

(Fmz) que uma amostra magnetizada sofre quando submetida a um gradiente de campo

magneacutetico (dHdz) Esta forccedila eacute dada por

Figura 45 Refletividades calculadas para (a) Camada de Cu de 30 nm sobre substrato de Si (b) Camada de Cu de 30nm sobre substrato de Si com rugosidade na interface [54]

49

= (42)

onde M eacute a magnetizaccedilatildeo da amostra Desta forma para um dado valor fixo do gradiente

temos que a forccedila magneacutetica gerada eacute proporcional ao valor da magnetizaccedilatildeo Um

diagrama esquemaacutetico da teacutecnica de AGFM eacute apresentado na figura 46

Inicialmente a amostra (3) eacute fixada numa haste de vidro (2) (natildeo magneacutetica) e

posteriormente posicionada entre os polos de um eletroiacutematilde (5) que eacute responsaacutevel pela

magnetizaccedilatildeo da amostra a partir da aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico constante H0z

Um arranjo de bobinas (4) produz um gradiente de campo magneacutetico dHdz cuja

magnitude oscila com o tempo Assim a amostra sofre uma forccedila alternada proporcional agrave

magnetizaccedilatildeo que iraacute defletir a haste (2) e entatildeo seraacute transformada em sinal eleacutetrico

oscilatoacuterio devido agrave compressatildeo exercida sobre um material piezeleacutetrico (1) fixado ao

corpo do magnetocircmetro

Com o objetivo de obter a maior relaccedilatildeo sinalruiacutedo antes da medida em si eacute

determinada a frequecircncia de ressonacircncia do sistema amostrahastepiezeleacutetrico (usualmente

Figura 46 Diagrama esquemaacutetico do magnetocircmetro por gradiente de forccedila alternada (AGFM) [55]

50

cerca de 20 Hz no sistema utilizado) e entatildeo esta frequecircncia eacute usada na alimentaccedilatildeo das

bobinas de gradiente promovendo uma grande deflexatildeo da haste e gerando portanto um

sinal de saiacuteda maior

Atraveacutes de um amplificador sensiacutevel agrave fase (Lock-In Amplifier) compara-se o

sinal proveniente do experimento com o sinal de referecircncia gerando uma diferenccedila de

potencial proporcional agrave magnetizaccedilatildeo da amostra (a teacutecnica natildeo fornece uma medida

absoluta da magnetizaccedilatildeo) o que permite a obtenccedilatildeo de curvas de histerese magneacutetica

variando-se o campo externo gerado pelo eletroiacutematilde

423 Magnetotransporte

As caracterizaccedilotildees por magnetotransporte foram realizadas atraveacutes da tiacutepica medida

de quatro pontas na configuraccedilatildeo CIP (corrente no plano da amostra) utilizando um

sistema de detecccedilatildeo siacutencrona Isto permite a obtenccedilatildeo da magnetorresistecircncia em funccedilatildeo do

campo magneacutetico aplicado sobre a amostra

Medidas em temperatura ambiente foram realizadas utilizando-se um sistema

montado especialmente para este fim em nosso laboratoacuterio O esquema esta representado na

figura 47 e eacute composto por

Um porta amostras com suporte modular embutido para permitir a raacutepida troca

de orientaccedilatildeo da amostra em relaccedilatildeo ao Campo Magneacutetico contendo um sensor

Hall (tipo AD22151) com sensibilidade melhor que 01 Gauss (veja figura 48)

Um Resistocircmetro Diferencial RD2 [56] que permite medir as variaccedilotildees da

resistecircncia eleacutetrica da amostra com sensibilidade ateacute uma parte em 105

Um solenoide onde eacute posicionada a amostra a ser medida (o maacuteximo Campo

Magneacutetico possiacutevel por curto periacuteodo de tempo de cerca de plusmn1 kG com

refrigeraccedilatildeo para evitar sobreaquecimento)

Uma fonte de corrente para alimentar a bobina geradora do Campo Magneacutetico

controlada por sinal externo controlado por computador ou com um gerador de

rampa Uma chave de inversatildeo eacute necessaacuteria para inverter a polaridade

Um gerador de rampa com taxa variaacutevel a varredura completa pode ir de 30 s a

15 min na configuraccedilatildeo atual

51

Um gaussiacutemetro com precisatildeo melhor que 01 Gauss com saiacuteda analoacutegica

proporcional construiacutedo no Setor de Eletrocircnica do IF para a realizaccedilatildeo deste

trabalho (veja figura 49)

Dois multiacutemetros HP 34401A (precisatildeo de ateacute 6frac12 diacutegitos e leitura GP-

IBIEEE488)

Computador com placa de aquisiccedilatildeo GP-IB e programa HP-VEE instalado

O solenoide eacute alimentado pela fonte de potecircncia com corrente controlada pelo

gerador de rampa Assim a magnitude da corrente que circula no solenoide e o campo

magneacutetico no seu interior satildeo proporcionais ao sinal instantacircneo provido pelo gerador de

rampa A velocidade de varredura do campo magneacutetico aplicado eacute controlada assim por

este gerador de rampa

Durante a varredura contiacutenua do campo magneacutetico satildeo feitas paralelamente a

medida da resistecircncia eleacutetrica pelo Resistocircmetro Diferencial e a medida do campo

magneacutetico pelo gaussiacutemetro Estas medidas foram lidas pelos multiacutemetros e a aquisiccedilatildeo de

todos os dados no computador eacute feita atraveacutes das interfaces GP-IB (IEEE-488) Foi tambeacutem

desenvolvido um programa em linguagem HP-VEE para mediar a comunicaccedilatildeo entre o

usuaacuterio e o equipamento

Figura 47 Diagrama esquemaacutetico do sistema para medida de magnetorresistecircncia

52

Algumas medidas em baixa temperatura foram realizadas e para isso foi utilizada

uma plataforma para medidas de propriedades fiacutesicas PPMS (Physical Property

Measurement System) modelo Evercool II produzido pela Quantum Design instalada no

LANSENUFPR O equipamento possui uma bobina supercondutora que permite a

aplicaccedilatildeo de campos magneacuteticos entre 0 e plusmn 9 T na amostra que eacute instalada num suporte

apropriado (puck) O sistema possui criogenia agrave base de heacutelio liacutequido com ciclo fechado

Figura 48 Porta amostra (a) e suporte tubular (b) onde estaacute instalado o sensor Hall

Figura 49 Gaussiacutemetro construiacutedo para a execuccedilatildeo deste trabalho

53

permitindo medidas em temperaturas entre 19 e 400 K A figura 410 exibe o referido

sistema bem como alguns detalhes de sua estrutura interna

43 ndash Tratamento Teacutermico

Para a realizaccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos das amostras (recozimentos) foi

utilizado um sistema que consiste basicamente de um forno resistivo tubular convencional

no qual eacute inserido um tubo de Vycorreg cuja extremidade estaacute conectada a vaacutelvulas que

permitem bombear o interior do mesmo ateacute pressotildees da ordem de 10-5 Torr intercalado por

lavagens com argocircnio e por fim mantido agrave pressatildeo de 05 atm deste gaacutes

Dentro deste tubo posiciona-se a amostra sobre uma mesa (moldada em alumina

sinterizada produzida no Laboratoacuterio de Altas Pressotildees do Instituto de Fiacutesica UFRGS)

sustentada por uma haste em accedilo inox atraveacutes de quatro contatos de pressatildeo feitos tambeacutem

em accedilo inox que ao mesmo tempo fazem o papel dos contatos eleacutetricos

Para monitorar a temperatura da amostra utilizamos um termocircmetro de platina

(sensor resistivo Pt100) que eacute fixado na face inferior da mesa Os fios de contatos tanto

Figura 410 Plataforma de medidas PPMS (a) Fotografia do sistema utilizado (b)

Esquema da parte interna do equipamento

54

para a amostra como para o sensor Pt100 satildeo de prata e isolados por capilares de Vycorreg

que estatildeo inseridos na haste de accedilo inox e levados ateacute os conectores na outra extremidade

que eacute vedada

A resistecircncia do sensor Pt100 eacute medida diretamente pelo multiacutemetro em

configuraccedilatildeo de quatro pontas enquanto que a resistecircncia da amostra eacute obtida com o auxilio

do Resistocircmetro Diferencial Durante as medidas foi usada uma corrente alternada (onda

quadrada) de 50 microA o que resulta numa densidade de corrente da ordem de 102 Acm2

suficientemente baixa como para garantir que natildeo haveraacute auto-aquecimento A figura 411

mostra um esboccedilo da montagem do sistema

Com isto eacute possivel monitorar a variaccedilatildeo da resistecircncia da amostra em funccedilatildeo da

temperatura e do tempo e assim acompanhar in-situ as modificaccedilotildees na amostra Esta

mudanccedila na resistividade das amostras deve vir para aleacutem das mudanccedilas naturalmente

induzidas pelo aumento da temperatura em metais principalmente das modificaccedilotildees nas

interfaces que mudam devido ao movimento atocircmico (difusatildeo) propiciado pela

temperatura como resultado da segregaccedilatildeo entre cobalto e cobre

Figura 411 Diagrama esquemaacutetico do sistema para realizaccedilatildeo do tratamento

55

5 ndash RESULTADOS E DISCUSSOtildeES - PARTE I

51 ndash Reflectometria de raios X

Para estabelecer as espessuras desejadas na composiccedilatildeo estrutural da multicamada

utilizamos a teacutecnica de reflectometria de raios X (XRR) Basicamente antes da deposiccedilatildeo da

estrutura de interesse filmes dos materiais que compotildee a estrutura da amostra foram

depositados e analisados pela teacutecnica a partir das espessuras estabelecidas e dos tempos de

deposiccedilatildeo determinam-se as taxas de deposiccedilatildeo que foram utilizadas na confecccedilatildeo da

multicamada

Para que se determine a espessura de um filme (em nosso caso os filmes de

calibraccedilatildeo) a partir da curva de reflectometria utiliza-se programas como WinGixa[57] e

Suprex[58] para a execuccedilatildeo de um ajuste que tambeacutem proporciona a medida da densidade

do filme Entretanto as curvas de reflectometria obtidas para esta tarefa natildeo abrangiam

infelizmente a faixa angular de mais baixos acircngulos onde se encontra o chamado acircngulo

criacutetico (comparar figura 45 com a figura 51) Por conta disto natildeo eacute recomendaacutevel que se

proceda com o ajuste utilizando a equaccedilatildeo 41 costumeiramente empregada para o caacutelculo

da espessura

0 1 2 3 4 501

1

10

100

1000

10000

100000

Inte

nsi

dad

e (u

a)

(graus)

Figura 51 Curva de reflectometria de raios X de um filme cobalto utilizado para calibraccedilatildeo de taxa de deposiccedilatildeo

56

Embora tal caacutelculo baseado apenas na separaccedilatildeo entre os picos de Kiessig seja

interessante por conta de sua simplicidade a espessura obtida eacute apenas uma aproximaccedilatildeo da

real Para casos em que um valor mais preciso da espessura natildeo eacute um ponto primordial tal

aproximaccedilatildeo eacute suficiente mas natildeo eacute nosso caso

Uma vez que a GMR alterna-se entre valores grandes e quase nulos em uma pequena

variaccedilatildeo da espessura da camada de cobre como podemos ver na figura 25 a acuraacutecia da

medida eacute essencial

Em nossas primeiras tentativas de construccedilatildeo das amostras as multicamadas

depositadas natildeo apresentaram GMR apreciaacutevel fato este que associamos ao possiacutevel erro na

determinaccedilatildeo da taxa de deposiccedilatildeo do filme de cobre repercutindo em uma espessura real

menor do que a preacute-estabelecida (baseada na taxa de deposiccedilatildeo determinada usando a eq

41)

Apresentamos aqui a metodologia aplicada para obtenccedilatildeo de uma melhor estimativa

da espessura do filme onde ao inveacutes da equaccedilatildeo 51 utilizamos uma forma mais exata dada

por [53] = + + frasl ( ) (51)

onde θm eacute o acircngulo correspondente ao pico da reflexatildeo de ordem m θC eacute o acircngulo criacutetico λ eacute

o comprimento de onda do raio X incidente e d eacute a espessura do filme O termo frac12 presente

na equaccedilatildeo eacute devido agrave mudanccedila de fase da onda uma vez que o substrato eacute opticamente

menos denso que o filme

Assim para determinar a espessura do filme plotamos um graacutefico das posiccedilotildees dos

picos em funccedilatildeo de seus iacutendices Eacute necessaacuterio certo cuidado na indexaccedilatildeo dos picos

entretanto o desvio do caraacuteter linear do graacutefico indica que esta deve ser refeita

Podemos perceber que o coeficiente linear do ajuste representa o quadrado do acircngulo

criacutetico enquanto que atraveacutes do coeficiente angular podemos calcular a espessura do filme

No caso especiacutefico das figuras 51 e 52 obtivemos uma espessura de 105 Aring sendo este

valor menor (cerca de 9) que o estimado pela equaccedilatildeo 41 levando a uma taxa de

deposiccedilatildeo mais confiaacutevel

57

0 10 20 30 40 50 6000

50x10-4

10x10-3

15x10-3

20x10-3

25x10-3

30x10-3

35x10-3

d = 105 Aring

m

2 (ra

d2 )

(m + 12)2

(C)2 = 2041 x 10-4 rad2

(2d)2 = 0538 x 10-4

Figura 52 Ajuste dos pontos de maacutexima intensidade da curva de XRR por meio da

equaccedilatildeo 51

52 ndash Difraccedilatildeo de raios X

A confirmaccedilatildeo da existecircncia de uma multicamada como anteriormente dito pode ser

obtida atraveacutes da anaacutelise por difraccedilatildeo de raios X uma vez que a periodicidade da rede

artificial promove o aparecimento de picos sateacutelites ao redor de um pico estrutural

(formaccedilatildeo de uma superrede) A figura 53 apresenta o resultado da medida de XRD para a

multicamada em estudo

Cabe observar que as amplitudes dos picos sateacutelites satildeo muito menores que a do pico

central (correspondendo a menos de 3) Um fato que poderia ser associado a tal resultado

seria uma possiacutevel interdifusatildeo entre as diferentes camadas o que resultaria em interfaces

rugosas causando uma degradaccedilatildeo na modulaccedilatildeo quiacutemica que por fim tenderia a suprimir

os picos sateacutelites Esta interdifusatildeo poderia ocorrer durante o processo de deposiccedilatildeo jaacute que

os aacutetomos que chegam sobre a superfiacutecie das amostras possuem energia suficiente para

penetraacute-la por alguns poucos angstrons entretanto esta condiccedilatildeo natildeo deve evoluir apoacutes esta

etapa uma vez que em temperatura ambiente os elementos Cu e Co satildeo imisciacuteveis

58

Figura 53 Difratograma da multicamada com composiccedilatildeo nominal SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] Acima de cada pico tem-se a indexaccedilatildeo do pico central e dois sateacutelites No inset eacute apresentado o ajuste dos vetores de espalhamento em funccedilatildeo das respectivas ordens harmocircnicas

A explicaccedilatildeo para esses picos pouco intensos tambeacutem estaacute associada ao pequeno

contraste oacuteptico (para comprimentos de onda na faixa de raios X) entre os elementos em

consideraccedilatildeo o que resulta numa reflexatildeo mais fraca nas interfaces Aleacutem disso como as

camadas existentes satildeo muito finas existem poucos planos cristalinos em cada camada o

que leva a uma pequena intensidade dos picos sateacutelites

Natildeo obstante agrave utilizaccedilatildeo da escala logariacutetmica eacute possiacutevel notar claramente a

presenccedila dos dois primeiros picos sateacutelites e consequentemente confirma-se que a amostra

possui uma estrutura de multicamada bem definida Os iacutendices m associados aos picos

representam a ordem harmocircnica com relaccedilatildeo ao pico central

No detalhe (inset) da figura 53 eacute possiacutevel verificar a dependecircncia linear dos valores

dos vetores de espalhamento q = 4πsen(θ)λ com relaccedilatildeo ao iacutendice m Dado o ajuste da

curva a intersecccedilatildeo em m = 0 resulta na medida do vetor de espalhamento meacutedio Este

valor em nosso caso eacute qM 304 Aring-1 o que corresponde a uma distacircncia interplanar meacutedia

= frasl asymp 7 Å Podemos considerar entatildeo que o pico central que estamos tratando

estaacute associado agraves contribuiccedilotildees dos espalhamentos nos planos (111) do cobre cfc e cobalto

cfc

36 40 44 48 52

10

100

1000

10000

-1 0 128

29

30

31

32

33

q (

Aring-1)

m

m = 0

m = 1

Inte

nsi

dad

e (u

a)

2 (graus)

m = -1

59

O coeficiente linear da reta da figura 53 trata-se do vetor de espalhamento (QMult) da

superrede que corresponde agrave multicamada Obtemos entatildeo que o periacuteodo da multicamada de

CoCu eacute DMult = 2πQMult 344 Aring Este valor tem oacutetima concordacircncia com o periacuteodo

nominal (34 Aring) excedendo pouco mais de 1 deste Assim embora natildeo tenha sido possiacutevel

determinar os valores individuais das espessuras das camadas de cobalto e de cobre (apenas

a soma das espessuras de ambas) constatamos que a amostra apresenta estrutura em

multicamada com periacuteodo bem definido e muito proacuteximo do valor nominal

53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo

Os graacuteficos de magnetorresistecircncia satildeo mostrados apoacutes realizarmos a conversatildeo dos

valores absolutos de resistecircncia para a medida de sua variaccedilatildeo percentual segundo a

equaccedilatildeo

= minus (52)

onde R(H) eacute a resistecircncia para um dado campo H e RS eacute a resistecircncia de saturaccedilatildeo obtida no

campo de saturaccedilatildeo Na praacutetica nem sempre alcanccedilamos a saturaccedilatildeo magneacutetica da amostra

mas ainda assim utilizamos a equaccedilatildeo 52 substituindo RS pela miacutenima resistecircncia medida

Na figura 54 satildeo apresentadas as curvas de magnetorresistecircncia da multicamada As

medidas foram realizadas em temperatura ambiente sendo o campo magneacutetico aplicado nas

direccedilotildees paralela (linha preta) e perpendicular (linha vermelha) com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

fluxo da corrente sempre no plano da amostra Estas curvas correspondem agrave amostra como

depositada e com grande largura (3 mm)

Percebemos um tiacutepico resultado para uma multicamada de CoCu no segundo pico de

acoplamento AF ou seja existem dois picos de igual formato e tamanho que se posicionam

de forma equidistante com relaccedilatildeo ao campo nulo Aleacutem disso o valor da

magnetorresistecircncia eacute maior para medida feita com H perp J (499 ) do que para H J (450

) Entretanto como podemos observar no inset da figura 53 em que ambas as curvas satildeo

60

normalizadas percebe-se uma oacutetima sobreposiccedilatildeo o que indica natildeo existir anisotropia

magneacutetica significativa que propiciaria sensiacuteveis alteraccedilotildees na resposta magneacutetica a

depender da direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado A diferenccedila no valor de MR pode estar

associada agrave presenccedila da magnetorresistecircncia anisotroacutepica (AMR) somada agrave

magnetorresistecircncia gigante (GMR)

-1000 -500 0 500 1000

0

1

2

3

4

5

-600 -300 0 300 600

00

05

10

MR

Norm

aliz

ad

a

H (Oe)

MR

(

)

H (Oe)

H J H J

Figura 54 Curvas de magnetorresistecircncia da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtidas em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) agrave corrente No inset eacute apresentada a medida normalizada

61

Figura 55 Curva de magnetizaccedilatildeo da multicamada SiSiO2[Cu (20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] obtida em temperatura ambiente com o campo aplicado no plano da amostra e paralelo (linha preta) ou perpendicular (linha vermelha) a um eixo arbitraacuterio (orientaccedilatildeo em que a corrente fluiacutea na medida de MR) No inset eacute mostrada a curva de histerese em campos mais baixos juntamente com a de MR

A curva de magnetizaccedilatildeo obtida no AGFM tambeacutem em temperatura ambiente eacute

apresentada na figura 55 Novamente natildeo satildeo perceptiacuteveis grandes alteraccedilotildees entre medidas

realizadas com o campo magneacutetico aplicado em diferentes eixos arbitraacuterios da amostra (por

convenccedilatildeo foram escolhidas as mesmas direccedilotildees da corrente na medida de MR) O valor da

magnetizaccedilatildeo eacute dado em fraccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo (normalizado)

Os ramos ascendentes e descendentes das curvas de magnetizaccedilatildeo coincidem a partir

de aproximadamente 460 Oe o que embora seja menor estaacute proacuteximo do correspondente na

curva de magnetorresistecircncia (~ 530 Oe) Por outro lado podemos constatar a partir do

inset da figura 55 uma oacutetima correspondecircncia entre a posiccedilatildeo da mais alta resistecircncia com o

cruzamento da curva de magnetizaccedilatildeo com o eixo x ou seja a maacutexima resistecircncia daacute-se no

campo coercivo

Este resultado natildeo surpreende uma vez que no campo coercivo eacute esperado que as

magnetizaccedilotildees das camadas de cobalto adjacentes estejam em meacutedia antiparalelas entre si

resultando numa magnetizaccedilatildeo nula e tambeacutem numa resistecircncia eleacutetrica mais elevada

-600 -300 0 300 600

-10

-05

00

05

10

-150 -100 -50 0 50 100 150

-1

0

1

MM

S

H(Oe)

0

2

4

6

MR

(

)

H J HJ

MM

S

H (Oe)

62

Assim costuma-se identificar a posiccedilatildeo do pico da magnetorresistecircncia como o valor do

campo coercivo

54 ndash Efeitos do Recozimento

Haja vista que durante o processo de reduccedilatildeo da largura por litografia as amostras

satildeo inevitavelmente submetidas a processos que promovem seu aquecimento seja para a

cura e evaporaccedilatildeo do filme de ldquoresisterdquo ou mesmo por aquecimento da superfiacutecie por conta

da incidecircncia do laser eacute importante conhecermos que tipo de modificaccedilatildeo nas curvas de

magnetorresistecircncia eacute induzido por um processo de recozimento

Os resultados obtidos na literatura mostram-se contraditoacuterios quanto agrave mudanccedila do

valor da GMR Ou seja existem trabalhos que obtecircm um decreacutescimo no valor da GMR em

amostras no segundo acoplamento AFM quando recozida em 523 K [28] mas tambeacutem eacute

possiacutevel a verificaccedilatildeo de resultados onde natildeo eacute observada alteraccedilatildeo significativa ou mesmo

um aumento da GMR [59] Mudanccedilas tambeacutem satildeo percebidas no perfil da curva de MR (e

histerese) onde se podem alterar os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo

Sabe-se que eacute preciso considerar que os resultados do recozimento dependem da

rotina utilizada no estudo onde se pode variar por exemplo as temperaturas e tempos de

tratamento

Outro fator importante remete-se agrave composiccedilatildeo da multicamada (que depende dos

elementos em questatildeo espessuras presenccedila de buffer etc) e tambeacutem de sua microestrutura

no qual estatildeo agregados paracircmetros como a interdifusatildeo inicial entre as camadas fases

cristalograacuteficas presentes tamanho de gratildeo etc

Assim eacute interessante conhecer as possiacuteveis influecircncias do efeito de recozimento

(annealing) nas medidas de magnetorresistecircncia em nossas estruturas em especifico a fim de

natildeo interpretarmos mudanccedilas que poderiam ser induzidas durante o processo de reduccedilatildeo da

dimensatildeo da amostra com efeitos realmente relativos ao tamanho

Na coluna ldquoIrdquo da figura 56 estatildeo apresentadas as evoluccedilotildees das resistecircncias das

amostras (todas com a mesma composiccedilatildeo e depositadas simultaneamente) em funccedilatildeo da

temperatura A saber o processo utilizado consiste numa elevaccedilatildeo da temperatura numa taxa

constante (tratamento isocrocircnico) ateacute determinado valor e posteriormente esfriada ateacute

63

retornar agrave temperatura ambiente (as setas em vermelho indicam os sentidos de aquecimento

e resfriamento da curva) Durante este processo a resistecircncia eacute monitorada in situ

Inicialmente a resistecircncia cresce linearmente com a temperatura (comportamento

claacutessico de metais) entretanto a depender da temperatura alcanccedilada tal comportamento eacute

perdido indicando que algum tipo de transformaccedilatildeo estaacute ocorrendo As escalas das figuras

satildeo as mesmas para todos os tratamentos para uma melhor comparaccedilatildeo

Tambeacutem satildeo apresentadas na figura 56 coluna ldquoIIrdquo as medidas de

magnetorresistecircncia para as amostras antes do recozimento (como depositada CD)

sobrepostas com as medidas das multicamadas recozidas segundo a rotina representada

graficamente agrave esquerda No inset tem-se a mesma curva normalizada

Na figura 56-I(a) temos o recozimento realizado ateacute a mais baixa temperatura (363

K) dentre todos Percebe-se que a curva R x T na subida e descida satildeo praticamente

indistinguiacuteveis o que indica que ocorreu apenas aquecimento na amostra sem qualquer tipo

de alteraccedilatildeo decorrente disso Isto eacute corroborado pelas curvas de magnetorresistecircncia [figura

56-II(a)] que natildeo apresentam qualquer modificaccedilatildeo

No segundo recozimento [figura 56-I(b)] onde aumentamos a temperatura final em

cerca de 100 K com relaccedilatildeo agrave anterior jaacute verificamos alguma mudanccedila Quando proacuteximo de

420 K a inclinaccedilatildeo da curva R x T tende a diminuir sinalizando a ocorrecircncia de alguma

evoluccedilatildeo na estrutura da multicamada A linha de resfriamento fica abaixo da de

aquecimento e a resistecircncia final em temperatura ambiente fica em torno de 92 da inicial

A este fato deve estar associado o pequeno aumento no valor da magnetorresistecircncia

ou seja a variaccedilatildeo na GMR deu-se pela pequena queda na resistecircncia global da amostra No

entanto a resposta com o campo sofreu uma pequena alteraccedilatildeo como pode ser visto no inset

da figura 56-II(b) onde as curvas natildeo satildeo totalmente coincidentes

64

Figura 56 (I) Variaccedilatildeo da resistecircncia em campo nulo durante o recozimento das multicamadas normalizada pela resistecircncia inicial (II) Curvas de magnetorresistecircncia das multicamadas como depositada (CD) em preto e recozida em vermelho No inset tem-se a curva de MR normalizada

No terceiro tratamento [figura 56-I(c)] a temperatura elevou-se aleacutem da regiatildeo em que

dRdT recomeccedila a aumentar indo ateacute 517 K A curva de retorno agrave temperatura ambiente

passa a ocorrer em valores acima da curva de subida Observando as curvas de

magnetorresistecircncia correspondentes vemos que a esta diminuiu o que pode ser reflexo do

valor da resistecircncia final que eacute levemente superior ao da amostra como depositada O perfil

da curva sofreu uma alteraccedilatildeo maior que no caso anterior e constatamos que o cruzamento

entre as curvas em campo nulo estaacute mais proacuteximo ao valor de maacutexima resistecircncia

65

Avanccedilando no valor da temperatura maacutexima obtemos mais uma inflexatildeo na

dependecircncia da resistecircncia com a temperatura Desta vez existe uma forte tendecircncia de

diminuiccedilatildeo no valor da resistecircncia e a curva de resfriamento estaacute bem abaixo da curva de

aquecimento levando a uma draacutestica reduccedilatildeo da resistecircncia poacutes-recozimento ficando em

torno de 72 da resistecircncia inicial

A curva de magnetorresistecircncia apresenta-se muito diferente da inicial onde vemos

que aumentou um pouco mais o valor relativo do cruzamento em campo nulo dos ramos da

curva de GMR Aleacutem disso as curvas coincidem (em H ne 0) em valores de campo menores

que nos casos anteriores e aleacutem disso a curva natildeo parece totalmente saturada ateacute o campo

maacuteximo aplicado

Em suma a multicamada parece natildeo evoluir ateacute temperaturas proacuteximas de 413 ndash 423

K e a partir daiacute existe uma primeira inflexatildeo na curva R x T proporcionando uma reduccedilatildeo

na resistecircncia da amostra e tambeacutem pequeno aumento da GMR Quando a temperatura

chega proacutexima de 453 ndash 473 K o comportamento muda e aumenta o valor da resistecircncia

induzindo a diminuiccedilatildeo da GMR Tambeacutem constata-se mais facilmente a modificaccedilatildeo no

perfil da resposta magneacutetica da multicamada

Elevando a temperatura acima de 670 K ocorre uma diminuiccedilatildeo da resistecircncia de

modo mais intenso mas desta vez ao inveacutes de aumentar a magnetorresistecircncia ocorre o

contraacuterio e aparece um perfil diferente para a GMR

O aspecto mais importante a ser retirado dessa anaacutelise eacute que as multicamadas em

estudo satildeo relativamente estaacuteveis em relaccedilatildeo a processos teacutermicos em temperaturas

moderadas De acordo com o que foi dito a amostra natildeo eacute modificada significativamente se

submetida a temperaturas menores que 450 K (~ 180 degC) desde que em intervalos de tempo

natildeo muito longos Ademais se observa que exceto para o caso em que a temperatura

chegou acima de 670 K natildeo houve modificaccedilatildeo significante no valor do campo coercivo

(obtido a partir da curva de MR) paracircmetro muito importante em nossas anaacutelises

Diversos tipos de mudanccedilas estruturais nas multicamadas podem estar associados agraves

alteraccedilotildees descritas nas curvas de GMR tais como mudanccedila no stress e texturizaccedilatildeo dos

filmes segregaccedilatildeo ou interdifusatildeo dos aacutetomos nas interfaces CoCu alteraccedilatildeo no tamanho

de gratildeo mudanccedila de fase estrutural fragmentaccedilatildeo das camadas etc [54 60] Para distinguir

quais mecanismos estatildeo presentes nas diversas etapas do recozimento seria necessaacuterio um

estudo mais minucioso onde o emprego de teacutecnicas como microscopia de transmissatildeo e

medidas de XRD e XRR de melhor estatiacutestica e precisatildeo dentre outras seriam vitais

66

Constatamos por fim que nossas amostras satildeo estaacuteveis em temperaturas natildeo muito

elevadas o que nos informa que o processo de litografia (T ~ 380 K) muito provavelmente

natildeo promoveu artefatos que poderiam comprometer nossos estudos

55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas

O plano inicial do nosso trabalho considerava a utilizaccedilatildeo de medidas em baixas

temperaturas como modo de minimizar os efeitos teacutermicos nas respostas magneacuteticas e de

transporte assim promovendo um melhor entendimento dos efeitos inerentes agrave mudanccedila na

largura das amostras Infelizmente natildeo foi possiacutevel realizar um estudo sistemaacutetico neste

sentido pois durante todo o periacuteodo de desenvolvimento deste trabalho nosso laboratoacuterio

natildeo contou com suprimento regular de heacutelio liacutequido para utilizaccedilatildeo do PPMS SQUID ou

outros criostatos Houve tentativa de utilizar um refrigerador criogecircnico para este fim

entretanto o valor de campo maacuteximo possiacutevel natildeo era grande o suficiente para saturar as

amostras

Na tentativa contornar este problema foram realizadas medidas em laboratoacuterio

externo (LANSEN - UFPR) mas ainda assim natildeo foi o suficiente para proceder com

anaacutelises mais detalhadas Na figura 57 apresentamos resultados para medidas de

magnetorresistecircncia de uma amostra de 30 m de largura para quatro temperaturas

diferentes

67

0

10

20

0

10

20

0

10

20

-3 -2 -1 0 1 2 30

10

20

300 K

200 K

100 KMR

(

)

H (kOe)

42 K

Figura 57 Medidas de magnetorresistecircncia da amostra de composiccedilatildeo SiSiO2[Cu(20 Aring)Co(14 Aring)Cu (50 Aring)] e com largura de 30 m em diferentes temperaturas

Claramente se veem as mudanccedilas que decorrem das diferentes temperaturas em

questatildeo seja na amplitude do efeito ou nos valores dos campos coercivos (HC) e de

saturaccedilatildeo (HS) que crescem progressivamente com a diminuiccedilatildeo da temperatura Na figura

58 satildeo mostradas as dependecircncias teacutermicas de HC e HS

Os valores do campo coercivo e de saturaccedilatildeo satildeo dentre diversos outros paracircmetros

tambeacutem determinados pela competiccedilatildeo entre a energia de pinning e a energia teacutermica da

amostra Assim em temperaturas elevadas os domiacutenios magneacuteticos podem evoluir com

maior facilidade do que em baixas temperaturas resultando no comportamento medido

68

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 3000

1

2

3

4

5

HC (

Oe

)

Positivo Negativo

HS (

KO

e)

Temperatura (K)

Figura 58 Variaccedilatildeo dos campos coercivos (a) e de saturaccedilatildeo (b) com a temperatura Observa-se que as curvas natildeo satildeo simeacutetricas com relaccedilatildeo ao campo nulo

Um efeito interessante eacute a perda da simetria entre os picos como destacado na figura

58 Em temperatura mais alta os picos apresentam a mesma magnitude e perfil mas ao

reduzir a temperatura um dos picos fica mais elevado que o outro estabelecendo uma

discrepacircncia entre os valores positivos e negativos dos campos coercivos e de saturaccedilatildeo A

priori natildeo seria esperada tal disparidade mas este efeito pode estar relacionado agrave histoacuteria

magneacutetica da amostra

O procedimento de medida das amostras consiste em aplicar inicialmente um campo

suficiente para saturar a amostra (campo maacuteximo HM = 6 kOe em nosso caso) quando entatildeo

se inicia a aquisiccedilatildeo de dados e o campo eacute variado ateacute que o campo negativo maacuteximo (ndashHM)

seja atingido voltando a seguir para HM Por fim retorna-se ao campo nulo e a temperatura eacute

modificada reiniciando o ciclo e as medidas O ponto chave da explicaccedilatildeo para a diferenccedila

entre os picos eacute que apoacutes o retorno a H = 0 a amostra reteacutem alguma memoacuteria do estado de

saturaccedilatildeo na direccedilatildeo positiva do campo que permanece com a reduccedilatildeo da temperatura

69

Assim enquanto que para temperaturas elevadas a energia teacutermica favorece a

movimentaccedilatildeo dos domiacutenios magneacuteticos a memoacuteria eacute ldquoperdidardquo ou ldquoapagadardquo quando a

amostra eacute submetida a campos negativos Por outro lado em temperaturas mais baixas os

diversos mecanismos que geram os pinning mais ldquoenergeacuteticosrdquo presentes principalmente

nas camadas mais externas por apresentarem maior rugosidade natildeo satildeo vencidos pela

energia teacutermica de modo que devido ao estado remanente surge uma anisotropia da

resposta magneacutetica quanto ao sentido do campo Isto implica que se o campo for aplicado

no sentido positivo os domiacutenios em cada camada (ou a magnetizaccedilatildeo total) tendam a se

alinhar a este mais facilmente do que no sentido contraacuterio Como resultado verificam-se as

modificaccedilotildees no campo coercivo e de saturaccedilatildeo na figura 58

A diferenccedila das alturas dos picos de MR tambeacutem pode ser explicada nesses termos

Uma vez que cada camada possui uma certa coercividade e que pelas razotildees justificadas nos

paraacutegrafos anteriores estas coercividades tendem a ter uma distribuiccedilatildeo de valores mais

larga para o campo aplicado no sentido negativo ocorre que enquanto um dado par de

camadas de cobalto encontra-se no seu melhor alinhamento antiparalelo os pares seguintes

poderatildeo estar distantes dessa condiccedilatildeo diminuindo assim o antiparalelismo global entre as

camadas da amostra reduzindo o valor da maacutexima resistecircncia No sentido positivo acontece

o mesmo mas como as coercividades das camadas satildeo mais parecidas (por terem sido

orientadas na primeira magnetizaccedilatildeo) o pico de MR eacute superior ao do sentido negativo

Neste ponto eacute interessante traccedilar alguns comentaacuterios Poderia-se alegar que devido agrave

forma como a medida foi realizada o ldquoverdadeirordquo perfil da curva de MR eacute mascarado e

que se fosse aplicado campo intenso o suficiente de modo a saturar ldquototalmenterdquo a

multicamada as curvas deveriam tender agrave simetrizaccedilatildeo De fato este resultado poderia

ocorrer entretanto observariacuteamos os dois picos semelhantes ao pico da esquerda e isto

esconderia as diferenccedilas na amplitude da GMR provocadas pela presenccedila de pinning

Apesar de se saber a importacircncia da coerecircncia entre as orientaccedilotildees das camadas

magneacuteticas ao longo de toda estrutura no valor da GMR [61 62] ateacute onde sabemos natildeo

existe na literatura trabalho que discuta tal aspecto induzido por pinning em baixa

temperatura Um estudo que vise melhor investigar este problema seria pertinente mas estaacute

fora do escopo deste trabalho

A despeito da divergecircncia das alturas dos picos em mais baixa temperatura

observamos que tambeacutem haacute uma grande mudanccedila neste valor dependendo da temperatura

da medida Levando em conta a equaccedilatildeo 52 definimos a magnetorresistecircncia como sendo a

70

razatildeo entre a variaccedilatildeo maacutexima da resistecircncia [ΔRMAX = R(HC) - R(HS)] e a resistecircncia

miacutenima obtida no estado de saturaccedilatildeo da amostra [RMIN = R(HS)] Assim sua variaccedilatildeo com a

temperatura origina-se da combinaccedilatildeo da variaccedilatildeo desses dois fatores Uma maneira

conveniente de analisar a dependecircncia teacutermica eacute toma-la com referecircncia agrave medida em

temperatura ambiente definindo um paracircmetro de razatildeo de magnetorresistecircncia (RMR)

expressa pela equaccedilatildeo 53

= = [ ] [ ∆ ∆ ] (53)

O primeiro termo entre colchetes remete-se agrave influecircncia da resistecircncia no campo de

saturaccedilatildeo com a temperatura e estaacute relacionada agrave contribuiccedilotildees de resistividade que natildeo

dependem de spin No segundo colchete estatildeo as contribuiccedilotildees que dependem do estado

magneacutetico abrangendo mudanccedilas nos valores e assimetria das resistividades dos canais de

conduccedilatildeo (modelo de duas correntes) alteraccedilatildeo no efeito de mistura de spins relacionado a

espalhamentos eleacutetron-magnon etc [63] Aleacutem disso como foi discutido acima os efeitos de

pinning tambeacutem estatildeo associados a este segundo termo Na figura 59 estatildeo plotados os

valores obtidos para os termos da equaccedilatildeo 53 e da razatildeo R(300K)R(T) em funccedilatildeo da

temperatura

Os pontos em preto e vermelho referem-se respectivamente aos picos da direita e

esquerda Embora tenhamos um nuacutemero limitado de temperaturas sugere-se que os valores

da magnetorresistecircncia dos picos agrave direita crescem linearmente com a reduccedilatildeo da

temperatura enquanto que os picos da esquerda aleacutem de serem menores natildeo seguem o

mesmo comportamento A resistecircncia na saturaccedilatildeo apresenta uma dependecircncia

aproximadamente linear semelhante agrave medida em campo nulo (curva em azul) e a diferenccedila

entre ambas deve estar associada a uma dependecircncia magneacutetica da resistividade no estado de

remanecircncia

71

0 100 200 300

10

12

14

16

18

20

22

Razatilde

o

Temperatura (K)

RMR (D) RMR (E) R

MAX(T) R

MAX(300K) (D)

RMAX

(T) RMAX

(300K) (E)

RMIN

(300K) RMIN

(T)

RH=0

(300K) RH=0

(T)

Figura 59 Variaccedilatildeo dos fatores da equaccedilatildeo 53 (dos quais dependem o valor da magnetorresistecircncia) com a temperatura Tambeacutem esta inclusa a variaccedilatildeo da razatildeo entre as resistecircncias em campo nulo

A influecircncia de cada fator no valor final da magnetorresistecircncia representados pelos

siacutembolos vazados mostra que a elevaccedilatildeo da MR com a diminuiccedilatildeo da temperatura eacute em

geral principalmente dependente da variaccedilatildeo da resposta magneacutetica Percebe-se poreacutem que

enquanto no lado direito da curva esta resposta continua crescendo o mesmo natildeo ocorre

para o lado esquerdo onde esta resposta aparenta tender a ficar constante com a reduccedilatildeo da

temperatura Assim eacute visto que para o pico da esquerda em 42 K haacute uma inversatildeo na

relaccedilatildeo de importacircncia entre os fatores sendo o termo independente de spin superior ao

dependente ou seja a elevaccedilatildeo na MR se daacute principalmente por conta da diminuiccedilatildeo dos

espalhamentos tipo eleacutetron-focircnon ao inveacutes de ser resultado do aumento da dependecircncia

magneacutetica da resistividade Novamente associamos tal comportamento agrave memoacuteria

magneacutetica e agrave presenccedila de pinning como jaacute discutido

72

6 ndash RESULTADOS E DISCUSSAtildeO - PARTE II

Neste capitulo apresentamos os resultados que concernem agraves amostras com larguras

reduzidas O design das amostras estaacute representado na figura 61 e foi obtido via processo

de litografia oacutetica como explicado no capiacutetulo 4 (Experimental) Foram utilizadas cinco

larguras (w) distintas que variam de 30 a 2 m onde podemos observar alteraccedilotildees nos

graacuteficos de magnetorresistecircncia Todas as medidas foram realizadas em temperatura

ambiente

Figura 61 Design utilizado para a conformaccedilatildeo das multicamadas exibindo as conexotildees

para as medidas de MR e PHE O inset eacute uma ampliaccedilatildeo da regiatildeo ativa da amostrais w eacute a largura da amostra

Infelizmente os esforccedilos no sentido de reduzir ainda mais estas larguras foram

frustrados A tentativa de reduccedilatildeo direta atraveacutes da litografia falhou por conta da

necessidade de trabalhar o limite de resoluccedilatildeo da LaserWriter e devido ao emprego de

corrosatildeo uacutemida (wet etching) isto natildeo permitiu uma conformaccedilatildeo precisa e controlada

abaixo dos 2 microm Os testes com FIB (Focused Ions Beam) tampouco deram bons resultados

pois a dose necessaacuteria para ldquocortarrdquo a multicamada eacute demasiadamente alta e assim mesmo

fora da linha de corte estipulada existe uma fluecircncia consideraacutevel sobre a aacuterea uacutetil da

amostra o que promove a implantaccedilatildeo de Ga (ou reimplantaccedilatildeo das espeacutecies desbastadas)

formaccedilatildeo de defeitos amorfizaccedilatildeo etc [64] De fato embora tenhamos conseguido reduzir a

73

largura perdemos qualquer sinal da presenccedila de GMR Existem formas de contornar o

problema mas estas exigem grande investimento em recursos e tempos de preparaccedilatildeo o que

nos desencorajou a trilhar esse tipo de soluccedilatildeo

Na figura 62 satildeo apresentados os graacuteficos de magnetorresistecircncia para amostras com

diferentes larguras sendo que a direccedilatildeo do campo magneacutetico eacute perpendicular ou paralelo ao

maior eixo da amostra (que coincide com a direccedilatildeo do fluxo de corrente como representado

na figura 61) e estaacute sempre no plano da amostra Uma vez que na maior parte deste capiacutetulo

estaremos concentrados na discussatildeo quanto agrave mudanccedila na resposta magneacutetica as curvas

foram normalizadas para auxiliar a comparaccedilatildeo

Figura 62 Magnetorresistecircncia em temperatura ambiente para os campos aplicados perpendiculares ou paralelos ao fluxo de corrente w eacute a largura de cada amostra

74

Nas amostras com 30 m de largura constata-se um perfil que eacute semelhante ao da

amostra com largura milimeacutetrica (como exibido no detalhe da figura 44) isto eacute as curvas se

sobrepotildeem quase que perfeitamente em quase todos os valores de campo inclusive no

campo coercivo indicando que ateacute este estaacutegio natildeo haacute efeito apreciaacutevel No entanto quando

w eacute mais reduzido ainda veem-se alteraccedilotildees na dependecircncia em campo da MR elevando-se

os valores dos campos coercivo e de saturaccedilatildeo Isto eacute mais notaacutevel nas medidas em que H eacute

perpendicular ao eixo faacutecil sendo que as curvas nas duas orientaccedilotildees tambeacutem ficam cada

vez mais diferentes entre si Os toacutepicos seguintes trataram separadamente das mudanccedilas

relacionadas ao efeito da largura

61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia

Num primeiro momento foquemos a atenccedilatildeo no valor da resistecircncia das amostras em

campo nulo Na figura 63 satildeo apresentados os valores das resistecircncias das amostras em H =

0 onde observamos que os pontos experimentais natildeo seguem uma dependecircncia linear com o

inverso da largura da amostra o que indicaria uma mudanccedila na restistividade

Entretanto eacute inerente ao processo de litografia a formaccedilatildeo de estruturas com bordas

irregulares que pode ser oriunda da imperfeiccedilatildeo da cobertura da camada de resiste corrosatildeo

natildeo homogecircnea etc Assim se consideramos que existe uma borda ldquomortardquo ou seja uma

fatia muito defeituosa junto agrave borda poderiacuteamos desconsiderar a conduccedilatildeo eleacutetrica por esta

(resistecircncia infinita) diminuindo a largura efetiva da amostra Dizemos entatildeo que se estas

regiotildees irregulares natildeo contribuiacutessem em nada para a conduccedilatildeo a resistecircncia da amostra

seria equivalente a

= minus (61)

onde RM e RC seriam as resistecircncias medida e calculada w eacute a largura da amostra e δ eacute a

largura ldquomortardquo de cada borda O graacutefico 63(b) mostra uma melhor dependecircncia com 1w

para resistecircncia corrigida segundo a equaccedilatildeo 61 Neste caso foi constatado que o melhor

ajuste eacute feito considerando δ = 1λ8 nm

75

Considerando que a espessura total da amostra eacute de 44 nm e que temos uma corrosatildeo

uniforme durante o procedimento de litografia o valor de δ aparenta ser exagerado (cerca de

cinco vezes maior) poreacutem eacute provaacutevel que o tempo de corrosatildeo empregado tenha sido maior

que o necessaacuterio Tambeacutem eacute possiacutevel que a corrosatildeo tenha se dado de maneira mais efetiva

lateralmente do que em profundidade criando regiotildees caracterizadas por cavitaccedilatildeo e

oxidaccedilatildeo preferencial nas cavidades formadas

Figura 63 Dependecircncia da resistecircncia da amostra com 1w (a) Valores medidos (b) Valores corrigidos considerando fatias ldquomortasrdquo junto agrave borda da amostra

76

62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo

A figura 64 mostra o graacutefico do campo coercitivo em funccedilatildeo da largura da amostra

com o campo magneacutetico aplicado paralelo ou perpendicular ao eixo faacutecil Mais uma vez as

diferenccedilas observadas para cada orientaccedilatildeo satildeo mais pronunciadas quando as amostras se

tornam mais estreitas

Figura 64 Campo coercivo (HC) em funccedilatildeo do inverso da largura w (as linhas consiste em uma regressatildeo linear sobre os quatro primeiros pontos) O inset exibe a dependecircncia direta de HC vs w

O ciclo de histerese magneacutetica para filmes ferromagneacuteticos depende de vaacuterios

fatores tais como a rugosidade o stress a espessura anisotropias etc [13] Para as amostras

de largura reduzida satildeo esperadas mudanccedilas em sua resposta magneacutetica natildeo apenas porque

o campo desmagnetizante (HD) tende a ser muito mais significativo mas tambeacutem devido a

outros fatores tais como a proximidade entre o tamanho da largura com paracircmetros

magneacuteticos como tamanhos de domiacutenio ou o comprimento das paredes de domiacutenios [65]

Como pode ser visto na figura 64 as amostras mais largas seguem uma tendecircncia

linear entre o campo coercivo e 1w similar ao que eacute visto em outros trabalhos em que tal

comportamento estaacute associado agrave influecircncia do campo desmagnetizante [66 67] No entanto

este natildeo parece um fator significante aqui uma vez que a largura das amostras eacute muito maior

77

que a espessura de modo que a fator desmagnetizante no plano da amostra eacute muito pequeno

(menor que 10-4) Aleacutem disso para w = 2 m (1w = 05 m-1) esta dependecircncia natildeo eacute

observada de modo que se observa um campo coercivo significativamente abaixo da linha

extrapolada do ajuste Mais do que isso o mesmo comportamento eacute visto nos nossos

resultados tanto para o campo aplicado perpendicularmente como tambeacutem paralelo ao eixo

faacutecil

Tambeacutem eacute de se esperar que o efeito de pinning nas bordas da amostra (devido

principalmente agraves irregulares inerentes ao processo de fabricaccedilatildeo como jaacute discutido no

toacutepico anterior) contribua fortemente para o aumento do campo coercivo [68 69] Ambos os

efeitos mencionados tendem a aumentar o campo coercivo mas estes natildeo parecem ser os

uacutenicos que aqui operam mais uma vez o campo coercivo medido eacute significativamente

menor do que a extrapolaccedilatildeo para larguras menores

A aacuterea superficial das terminaccedilotildees de contato em nossas amostras pode ser um dos

culpados desta discrepacircncia nas estruturas mais largas a nucleaccedilatildeo dos domiacutenios pode

ocorrer com a mesma facilidade (ou dificuldade) na regiatildeo que agrega os terminais de tensatildeo

e na regiatildeo entre estes tornando a presenccedila destes terminais negligenciaveis para a evoluccedilatildeo

magneacutetica No entanto o papel das terminaccedilotildees passa a ser vital nas estruturas mais estreitas

como pode ser observado na figura 65

Figura 65 Comparativo entre as aacutereas disponiacuteveis para nucleaccedilatildeo de paredes de dominio magneacutetico na regiatildeo em que existem contatos e na regiatildeo entre os contatos (a) Configuraccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo em que o canal de corrente eacute muito mais largo que as terminaccedilotildees dos contatos de tensatildeo (b) Configuraccedilatildeo em que as larguras satildeo proacuteximas

Quando isso acontece a formaccedilatildeo de paredes de domiacutenio nas intersecccedilotildees entre as

terminaccedilotildees e o canal de corrente se daacute mais facilmente do que na regiatildeo entre os terminais

78

promovendo a propagaccedilatildeo das paredes de domiacutenio desta aacuterea maior para a regiatildeo em que a

MR eacute medida [67] produzindo resultados bastante diferentes

Aleacutem dos fatores acima citados qualquer tipo de alteraccedilatildeo no acoplamento entre

camadas tambeacutem pode contribuir para este comportamento

63 ndash Formato das Curvas de MR

Um aspecto mais interessante para explorar nestas amostras eacute a mudanccedila do perfil

dos graacuteficos de MR com a largura das amostras Se tomarmos um sentido de varredura de

campo como por exemplo partindo do campo de saturaccedilatildeo negativo para o positivo uma

clara assimetria do pico de MR em torno do campo coercivo eacute visto para as amostras mais

largas ou seja a resistecircncia varia mais raacutepido antes de chegar a HC do que apoacutes a passagem

por este

Esta observaccedilatildeo pode ser constatada observando a figura 65 em que um ramo

ascendente do graacutefico de MR eacute apresentado com o lado agrave esquerda de HC refletido para a

direita de modo a evidenciar a diferenccedila entre os dois lados do ponto de resistecircncia maacutexima

Com a reduccedilatildeo da largura da amostra uma tendecircncia para simetrizaccedilatildeo eacute observada

isto eacute a resistecircncia tende a ser mesma se tomarmos dois campos equidistantes (em lados

diferentes) do campo coercivo Isto eacute visto pelo espaccedilamento decrescente entre os ramos

crescentes e decrescentes da variaccedilatildeo da resistecircncia com H Para a amostra mais estreita e

com o campo aplicado perpendicularmente ao eixo faacutecil isso se torna mais claro o perfil

estaacute mais perto de uma curva em forma de sino (centrada no campo coercivo) e sugere que

as camadas estatildeo melhor acopladas [70]

79

Figura 66 Comparaccedilatildeo dos lados positivo e negativo com relaccedilatildeo ao campo coercivo dos ramos ascendentes e descendentes da MR na direccedilatildeo paralela (a) e perpendicular (b) do campo magneacutetico com relaccedilatildeo ao fluxo de corrente (ou eixo faacutecil)

De acordo com uma descriccedilatildeo semiclaacutessica a curva de GMR estaacute diretamente

relacionada ao processo de magnetizaccedilatildeo das camadas [71] e em alguns casos pode ser

fenomenologicamente descrita por uma equaccedilatildeo tal que ∆ frasl = minus minus 4 onde = frasl ldquobrdquo representa uma medida do fator de acoplamento bilinear-AF e ldquocrdquo eacute uma

medida do acoplamento biquadraacutetico [72] Deste modo eacute aceitaacutevel que as alteraccedilotildees nas

curvas de GMR estejam ligadas a uma mudanccedila no mecanismo de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo

quando a largura da amostra eacute reduzida

Apesar disto natildeo eacute possiacutevel inferir a partir da curva de GMR a orientaccedilatildeo das

magnetizaccedilotildees das camadas com respeito a alguma direccedilatildeo arbitraacuteria como por exemplo a

do fluxo de corrente jaacute que a GMR depende da direccedilatildeo relativa entre as camadas magneacuteticas

vizinhas

O efeito Hall Planar (PHE) no entanto se estabelece como uma ferramenta muito

uacutetil neste caso uma vez que ele responde muito bem agrave mudanccedila de orientaccedilatildeo da

80

magnetizaccedilatildeo da amostra com relaccedilatildeo a uma direccedilatildeo conhecida que eacute exatamente a do fluxo

de corrente [73 74]

Para ilustrar a potencialidade do PHE na determinaccedilatildeo da orientaccedilatildeo da

magnetizaccedilatildeo faremos um ldquoexperimento mentalrdquo inicialmente consideremos duas camadas

magneacuteticas de mesmo material e espessura muito bem acopladas antiferromagneticamente

de modo que a magnetizaccedilatildeo liacutequida do conjunto seja nula na ausecircncia de campo Ao

aplicarmos um campo magneacutetico no intuito de saturar o sistema na direccedilatildeo do campo os

vetores de magnetizaccedilatildeo saem da orientaccedilatildeo antiparalela e comeccedilam a apontar

progressivamente para o sentido do campo

Entretanto esta rotaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees natildeo se daacute de qualquer maneira mas deve

ser na forma que mantenha a energia magneacutetica do sistema (geralmente escrita a partir da

equaccedilatildeo de Stoner-Wohlfarth [74]) minimizada para todos os valores de H Neste caso a

soluccedilatildeo eacute tal que os acircngulos de cada vetor magnetizaccedilatildeo de camada individual satildeo

simeacutetricos entre si com relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo de saturaccedilatildeo [61 75] Como resultado temos o que

chamamos de ldquomovimento de tesourardquo (MT) das magnetizaccedilotildees como de fato eacute relatado na

literatura [75 76] Esta situaccedilatildeo eacute esboccedilada na figura 66

Figura 67 Representaccedilatildeo do ldquomovimento de tesourardquo entre as magnetizaccedilotildees das camadas magneacuteticas com acoplamento AF exibindo as configuraccedilotildees onde (a) Hexterno = 0 e (b) para um H diferente deste

Levando em consideraccedilatildeo a equaccedilatildeo 29 o valor do efeito Hall Planar pode ser

descrito pela equaccedilatildeo 62 onde consideramos a contribuiccedilatildeo das duas camadas

ferromagneacuteticas e = minus

81

prop [ minus ] + [ minus ] (62)

Na equaccedilatildeo 62 MS eacute a magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo α eacute o acircngulo entre o campo

aplicado e a direccedilatildeo da corrente θ1 e θ2 satildeo os acircngulos entre o vetor de magnetizaccedilatildeo de

cada camada e a direccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo de saturaccedilatildeo e satildeo funccedilotildees de H que atendem ao

criteacuterio de minimizaccedilatildeo de energia

De modo semelhante a partir da equaccedilatildeo 24 a magnetorresistecircncia anisotroacutepica

(AMR) eacute dada por

prop [ minus ] + [ minus ] (63)

Por outro lado uma vez que a GMR depende da orientaccedilatildeo relativa entre os vetores de

magnetizaccedilatildeo das camadas fenomenologicamente ela pode ser escrita na forma da equaccedilatildeo

64 (maneira alternativa agrave equaccedilatildeo 27) onde RS representa a resistecircncia de saturaccedilatildeo e RM o

termo dependente de spin

= + minus cos [ minus ] (64)

No caso em que estamos tratando ou seja em um movimento de tesoura tem-se que = minus = o que transforma as equaccedilotildees 62 63 e 64 respectivamente

em

prop [ ] [ ] (65)

prop [ minus ] + [ + ] (66)

= + minus cos [ ] (67)

82

Podemos entatildeo comparar as respostas do efeito Hall Planar com a MR sendo esta

ultima uma sobreposiccedilatildeo dos dois efeitos poreacutem dominada pela GMR Na figura 67(a)

representamos uma funccedilatildeo arbitraacuteria θ(H) de modo que a orientaccedilatildeo dos vetores de

magnetizaccedilatildeo variassem 180deg ou seja o sistema sai de uma condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo para a

outra Jaacute em 67(a) e (b) expressamos as respostas dos efeitos PHE e MR Enquanto que a

partir da medida de MR natildeo se podem distinguir as orientaccedilotildees das magnetizaccedilotildees o PHE

passa a ser muito sensiacutevel agrave direccedilatildeo em que o campo eacute aplicado Aleacutem disto um desvio do

MT seria percebido na medida de PHE por conta do aparecimento de um sinal natildeo nulo em

α = 0 ou 90deg diferentemente da medida de MR

Figura 68 (a) Variaccedilatildeo da orientaccedilatildeo das magnetizaccedilotildees a partir de uma dependecircncia hipoteacutetica θ(H) As setas esboccedilam o ldquomovimento de tesourardquo (b) Resposta da PHE a uma evoluccedilatildeo do tipo MT para acircngulos diferentes entre a corrente e o campo magneacutetico aplicado (c) Resposta da MR

Um outro fator a ser citado eacute a relaccedilatildeo entre a derivada da equaccedilatildeo 63 com relaccedilatildeo ao

campo magneacutetico pois obtemos uma expressatildeo que manteacutem uma relaccedilatildeo com a equaccedilatildeo

62

83

prop [ ( minus )] + [ minus ] (68) prop +

Isto daacute a ideia de que os graacuteficos do PHE e d(AMR)dH devem guardar alguma

semelhanccedila entre si

Na figura 68 mostramos os ramos ascendentes do PHE e da derivada da

magnetorresistecircncia dMRdH para a amostra com largura de 5 m Utilizamos diferentes

acircngulos (α) entre o campo magneacutetico e a corrente

Como pode ser visto na figura 68(a) para H J a tensatildeo associada ao PHE

permanece proacutexima de zero desde o campo de saturaccedilatildeo negativo ateacute o ponto lsquoArsquo Isto eacute

compatiacutevel com um processo em que os vetores de magnetizaccedilatildeo de camadas adjacentes

giram em sentidos opostos com mudanccedila angular equivalente em relaccedilatildeo agrave direccedilatildeo do

campo no que jaacute chamamos de movimento de tesoura Como discutido acima isto pode ser

decorrente de que as multicamadas estatildeo bem acopladas antiferromagneticamente como eacute

de se esperar para a amostra com espaccedilador de 20 Aring de cobre e camadas magneacuteticas

ldquoidecircnticasrdquo o que seria uma aproximaccedilatildeo razoaacutevel agrave nossa amostra uma vez que temos um

nuacutemero par de camadas ferromagneacuteticas de mesmo material e espessura Esta condiccedilatildeo de

fato satisfaz uma condiccedilatildeo de PHE nula quando α = 0deg (ou 90deg)

Poreacutem apoacutes o ponto lsquoArsquo a tensatildeo cresce repentinamente (pico no ponto lsquoBrsquo) e depois

volta para lsquoCrsquo Deste ponto em diante a tensatildeo volta gradualmente ao valor de saturaccedilatildeo

juntando-se ao outro ramo em lsquoDrsquo completando a curva de PHE Isto significa que para

valores de campo entre lsquoArsquo e lsquoDrsquo a magnetizaccedilatildeo liacutequida natildeo segue a mesma direccedilatildeo do

campo aplicado (que eacute mesma direccedilatildeo da corrente) Isto significa que o movimento de

tesoura natildeo estaacute mais presente indicando que algumas camadas tecircm suas magnetizaccedilotildees

variando mais raacutepido que outras

Para a medida com α = 45 deg (Fig 68(b)) quando a amostra eacute saturada as camadas

magneacuteticas estatildeo alinhadas ao campo aplicado satisfazendo a condiccedilatildeo de maacuteximo PHE

Em seguida com a diminuiccedilatildeo do campo o ldquomovimento de tesourardquo (abrindo) comeccedila

reduzindo a magnetizaccedilatildeo total sem mudanccedila de direccedilatildeo (como para H J) e

consequentemente uma diminuiccedilatildeo monotocircnica da voltagem PHE ateacute ao ponto lsquoArsquo eacute

84

observada Apoacutes o ponto lsquoArsquo a curva mostra as caracteriacutesticas inerentes agrave descontinuaccedilatildeo do

ldquomovimento de tesourardquo ocorrendo na mesma faixa de campo em que sucedeu para α = 0 deg

isto eacute o aparecimento de um pico abrupto entre o ponto lsquoArsquo e os pontos lsquoBrsquo aleacutem de outro

mais largo que inclui os pontos lsquoCrsquo e lsquoDrsquo

Figura 69 Medida de PHE para a amostra com largura de 5 m com diferentes acircngulos entre campo magneacutetico aplicado e fluxo de corrente O graacutefico de dMRdH tambeacutem eacute traccedilado para mostrar a correlaccedilatildeo entre as duas quantidades As linhas azuis satildeo apenas guias para os olhos

A despeito da diferenccedila das curvas de PHE inerente agrave orientaccedilatildeo em que o campo

magneacutetico eacute aplicado com relaccedilatildeo agrave corrente representada (no experimento hipoteacutetico) pela

figura 68(b) inferimos que o modo em que as magnetizaccedilotildees evoluem eacute semelhante em

85

ambos os casos ou seja as curvas de PHE para esses acircngulos apresentam picos em regiotildees

equivalentes da medida

Associado a este desequiliacutebrio entre as direccedilotildees de magnetizaccedilatildeo para diferentes

camadas responsaacutevel pelo valor de PHE (principalmente o pico agudo) eacute de esperar uma

mudanccedila correspondente em dMRdH Isto pode ter origem na GMR (a partir que uma

mudanccedila raacutepida no alinhamento relativo entre magnetizaccedilotildees de camadas adjacentes) ou na

AMR (devido a uma mudanccedila brusca da orientaccedilatildeo da magnetizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao fluxo de

corrente como suposto na equaccedilatildeo 68)

No entanto as fraccedilotildees relativas de cada uma das contribuiccedilotildees da GMR e AMR natildeo

podem ser a priori determinadas A curva dMRdH mostra dois picos (um positivo um

negativo) cuja diferenccedila estaacute diretamente associada agrave assimetria da curva de MR

(apresentada na figura 65) Estes picos estatildeo ligados ao graacutefico do PHE especialmente o

pico agudo visto no intervalo entre o ponto lsquoArsquo e a regiatildeo proacutexima a lsquoBrsquo

Para H J [α = 90ordm figura 68(c)] a condiccedilatildeo de voltagem PHE nula eacute novamente

constatada proacuteximo do campo de saturaccedilatildeo Aleacutem disto o valor da voltagem PHE eacute baixo

(comparado aos valores das outras orientaccedilotildees) para todos os valores de campo e sem

mudanccedilas bruscas como mencionado anteriormente para a faixa de lsquoArsquo ateacute lsquoBrsquo

Como resultado tambeacutem natildeo satildeo vistas alteraccedilotildees bruscas na inclinaccedilatildeo da MR (como

visto no inset da figura 68 o graacutefico dMRdH mostra um pico menor para α = 90 deg do que

para α = 0 deg) Neste caso uma evoluccedilatildeo mais simples da magnetizaccedilatildeo pode estar presente

sem variaccedilatildeo suacutebita do estado magneacutetico O comportamento do PHE de lsquoCrsquo para lsquoDrsquo sugere

um pequeno desequiliacutebrio entre a direccedilatildeo eou magnitude das magnetizaccedilotildees de camadas

alternadas entretanto este efeito eacute fraco em comparaccedilatildeo com outras orientaccedilotildees

Em resumo a mudanccedila na (anti)simetria de dMRdH com relaccedilatildeo a HC estaacute por oacutebvio

relacionada agrave mudanccedila mencionada no perfil da curva de MR Aleacutem disso picos abruptos no

graacutefico dMRdH estaacute associado tambeacutem a picos equivalentes na curva de PHE nos mesmos

valores de campo (como eacute observado para a medida realizadas com campo paralelo ao eixo

faacutecil da amostra) Poreacutem quando medimos na condiccedilatildeo em que o campo estaacute sendo aplicado

na dirrccedilatildeo perpendicular agrave corrente surge uma curva menos abrupta na derivada e o pico no

graacutefico do PHE desaparece tendo um comportamento mais suave e de menor amplitude

Nota-se que ao reduzir a largura da amostra existe uma tendecircncia de que as curvas de MR

tenham perfis mais simeacutetricos principalmente para H J levando segundo nossas

observaccedilotildees a um efeito PHE praticamente nulo

86

Para explicar esses resultados devemos considerar que haacute uma mudanccedila no processo

de reversatildeo da magnetizaccedilatildeo Estes resultados pode ser relacionados com os obtidos por

Aitchison et al[77] onde por meio de microscopia eletrocircnica (magneacutetica) de Lorentz

observaram uma mudanccedila brusca na direccedilatildeo de magnetizaccedilatildeo em certas regiotildees de

multicamadas de CoCu que apresentavam grande assimetria na curva de MR enquanto que

natildeo foram observadas tais mudanccedilas abruptas da magnetizaccedilatildeo em amostras que tecircm o

graacutefico de MR simeacutetrico em torno de HC A assimetria foi atribuiacuteda agrave presenccedila de diferente

distribuiccedilatildeo das orientaccedilotildees dos domiacutenios magneacuteticos nas diferentes camadas da amostra ou

seja natildeo haveria uma boa correlaccedilatildeo entre os domiacutenios correspondentes em camadas de

cobalto vizinhas

A partir das consideraccedilotildees relatadas acima as curvas de MR mais simeacutetricas devem

referir-se agraves situaccedilotildees em que a magnetizaccedilatildeo em cada domiacutenio de uma camada estaacute

correlacionada com um domiacutenio de suas camadas vizinhas evoluindo por rotaccedilatildeo coerente

entre magnetizaccedilotildees e sem perceptiacutevel ldquodepinningrdquo individual de domiacutenios especiacuteficos Esta

correlaccedilatildeo pode ser melhorada com o aumento da energia de interaccedilatildeo AF

De fato verificamos a elevaccedilatildeo do cruzamento entre os trechos ascendentes e

descentes em H = 0 das curvas de MR quando a largura w eacute reduzida (ver figura 62) e isto

eacute um indicativo de que as camadas magneacuteticas (ou os seus domiacutenios) tornaram-se mais

acopladascorrelacionadas [78] Isto pode ser compreendido considerando que se o

cruzamento ocorresse no valor de resistecircncia miacutenima isto significaria que as camadas

estariam desacopladas e por consequecircncia seria reproduzido o efeito tipo pseudo-vaacutelvula de

spin Por outro lado se o cruzamento ocorresse no valor maacuteximo de resistecircncia isto seria

caracteriacutestico de camadas muito bem acopladas AF e por consequecircncia teriacuteamos um uacutenico

pico (os dois trechos coincidiriam para todos os valores de campo)

Uma condiccedilatildeo de boa correlaccedilatildeo entre as camadas (ou domiacutenios) poderia ser

alcanccedilada por exemplo atraveacutes da intensificaccedilatildeo do acoplamento tipo RKKY como

geralmente visto em amostras com camadas de Cu com espessura correspondente ao

primeiro (e mais intenso) pico de acoplamento (t ~ 10 Aring) Nestes casos aparecem curvas em

forma de sino ao redor H = 0 Aleacutem disso o aumento do nuacutemero de bicamadas (ateacute no

maacuteximo 20 - 30) pode aumentar a fraccedilatildeo da aacuterea total da multicamada de CoCu acoplada

antiferromagneticamente [79]

No entanto nossos resultados mostram que o acoplamento parece ser afetado com a

reduccedilatildeo da largura das multicamadas Este efeito parece estar relacionado com a semelhanccedila

87

entre a largura das amostras e os tamanhos de domiacutenio magneacutetico nas camadas de cobalto

(geralmente entre 05 e 15 m em filmes de CoCu com larguras macroscoacutepicas [8081])

Quando a largura da amostra eacute reduzida o crescimento e a orientaccedilatildeo dos domiacutenios

magneacuteticos satildeo limitados pelas bordas Isto implica necessariamente em mudanccedilas na

evoluccedilatildeo magneacutetica pela aproximaccedilatildeo a um estado de monodomiacutenio aumentando

consequentemente a correlaccedilatildeo intercamadas

Outro aspecto importante a ser considerado eacute o aumento relativo da contribuiccedilatildeo

magnetostaacutetica Os ldquopoacutelos magneacuteticos natildeo balanceadosrdquo associados aos domiacutenios

magneacuteticos junto das bordas da amostra interagem com os poacutelos das bordas das camadas

vizinhas A condiccedilatildeo que minimiza a energia dessa interaccedilatildeo tende a promover o

acoplamento AF entre esses domiacutenios mais externos (proacuteximos das bordas) Ver figura 610

Figura 610 Esquema da ampliaccedilatildeo da regiatildeo da borda evidenciando a rugosidade (a) Condiccedilatildeo que resultaria em um acoplamento FM eacute desfavoravel por conta da interaccedilatildeo magnetostaacutetica (b) O acoplamento AF eacute a configuraccedilatildeo energeacuteticamente mais favoraacutevel

Em amostras estreitas o tamanho das bordar torna-se significantes de modo que a

fraccedilatildeo de domiacutenios proacuteximos destas torna-se maior (frente ao nuacutemero total) e mais

importante para a configuraccedilatildeo magneacutetica global Isto leva a um aumento do acoplamento

AF total da amostra que por sua vez promove os efeitos observados na MR e no PHE

88

7 ndash CONCLUSOtildeES E PERSPECTIVAS

Neste trabalho buscamos compreender modificaccedilotildees na resposta magneacutetica e

eleacutetrica de multicamada magneacutetica de CoCu com acoplamento antiferromagneacutetico ao ter

sua largura reduzida

Para isso as amostras foram depositadas utilizando a teacutecnica de magnetron

sputtering e posteriormente estas foram conformadas quanto agrave largura empregando-se o

processo de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida Seguem alguns pontos que no acircmbito

desta tese merecem destaque

As multicamadas de CoCu foram produzidas com sucesso

A caracterizaccedilatildeo estrutural foi obtida por medida de XRD que demonstrou a

presenccedila de uma super-rede associada agrave multicamada

Os tratamentos teacutermicos indicaram que as multicamadas produzidas eram

estaacuteveis ateacute em temperaturas acima das utilizadas no processo de litografia

Assim pudemos inferir que as alteraccedilotildees vistas em amostras de larguras

diferentes natildeo carregam artefatos oriundos de aquecimento

Produzimos a partir de litografia oacutetica com corrosatildeo uacutemida amostras de

diversas larguras

Constatamos que as curvas de MR dependem claramente da largura da

amostra e que a presenccedila das terminaccedilotildees que fazem os contatos eleacutetricos se

faz importante nas amostras mais estreitas

Sugerimos que as curvas de MR que apresentam melhor simetria em torno do

campo coercivo estatildeo associadas a rotaccedilotildees coerentes entre camadas

adjacentes (ou domiacutenios nas mesmas) o que indica que estas devem ter um

acoplamento AF mais intenso

Ao diminuir a largura da multicamada as camadas adjacentes de cobalto satildeo

forccediladas a ficar mais bem correlacionadas entre si suprimindo eventuais

desalinhamentos entre magnetizaccedilatildeo (total) da amostra e o campo aplicado

Essa correlaccedilatildeo pode ser resultado natildeo apenas da limitaccedilatildeo das possibilidades

89

de orientaccedilotildees a que os domiacutenios estatildeo sujeitos por conta da reduccedilatildeo da

largura da amostra mas tambeacutem devido ao aumento da relevacircncia das

interaccedilotildees magnetostaacuteticas nas bordas Infelizmente natildeo eacute possiacutevel

determinar qual desses fatores eacute o dominante

Alguns outros aspectos poderiam ser investigados Aleacutem de realizar as medidas em

baixa temperatura e em amostras com largura submicromeacutetricas (neste caso o

procedimento de preparaccedilatildeo da amostra deve ser outro) medidas em funccedilatildeo da frequecircncia a

fim de estudar a dinacircmica de paredes de domiacutenio Seria uacutetil tambeacutem o emprego de teacutecnicas

mais sofisticadas para imageamento dos domiacutenios tais como meacutetodos magneto-oacutepticos

Algumas modificaccedilotildees na estrutura da amostra poderiam ser interessantes para

ampliar o conhecimento em torno do tema tais como

Utilizar outras espessuras da camada de cobre para que se inicie o estudo de

uma condiccedilatildeo acoplamento diferente

Utilizar um nuacutemero impar de multicamadas ou intercalar camadas de

cobalto de espessuras diferentes de modo que natildeo fosse satisfeita a condiccedilatildeo

de voltagem nula no PHE

Empregar vaacutelvulas ou pseudo-vaacutelvulas de spin etc

90

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  • Agradecimentos
  • Lista de Figuras
  • Lista de Tabelas
  • Lista de Siacutembolos
  • Resumo
  • Abstract
  • 1 - Introduccedilatildeo
  • 2 - Aspectos Teoacutericos
    • 21 ndash Magnetismo da mateacuteria
      • 212 ndash Anisotropia Magneacutetica
      • 213 ndash Magnetismo de Filmes Finos e Multicamadas
        • 22 ndash Magnetorresistecircncia
          • 221 ndash Magnetorresistecircncia Ordinaacuteria
          • 222 ndash Magnetorresistecircncia Anisotroacutepica
          • 223 ndash Magnetorresistecircncia Gigante
            • 23 ndashEfeito Hall
              • 231 Efeito Hall Planar (PHE)
                  • 3 ndash Apresentaccedilatildeo do Problema
                    • 31 ndash Confinamento Lateral das Multicamadas
                    • 32 ndash Multicamadas de CoCu
                      • 321 ndash Composiccedilatildeo
                      • 322 - Espessura da Camada natildeo Magneacutetica
                      • 323 - Espessura da Camada Magneacutetica
                      • 324 - Camada de Buffer
                      • 325 - Nuacutemero de Bicamadas
                      • 326 - Camada de Cobertura
                        • 33 ndash Estruturas para Estudo
                          • 4 ndash Aspectos Experimentais
                            • 41 - Confecccedilatildeo das Amostras
                              • 411 Limpeza
                              • 412 Pulverizaccedilatildeo Catoacutedica ou Sputtering
                              • 413 Conformaccedilatildeo da amostra
                                • 42 ndash Caracterizaccedilotildees
                                  • 421 Caracterizaccedilatildeo por raios X
                                  • 422 Magnetometria de Gradiente de Forccedila Alternada
                                  • 423 Magnetotransporte
                                    • 43 ndash Tratamento Teacutermico
                                      • 5 ndash Resultados e Discussotildees - Parte I
                                        • 51 ndash Reflectometria de raios X
                                        • 52 ndash Difraccedilatildeo de raios X
                                        • 53 ndash Magnetorresistecircncia e Magnetizaccedilatildeo
                                        • 54 ndash Efeitos do Recozimento
                                        • 55 ndash Medidas em Baixas Temperaturas
                                          • 6 ndash Resultados e Discussatildeo - Parte II
                                            • 61 ndash Dependecircncia da Resistecircncia
                                            • 62 ndash Dependecircncia do Campo Coercivo
                                            • 63 ndash Formato das Curvas de MR
                                              • 7 ndash Conclusotildees e Perspectivas
                                              • Referecircncias
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