dignidade e vocação da mulher 1

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Helton Douglas Silva Dignidade e Vocação da Mulher

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Trabalho apresentado como exigência do curso de Bacharel em Teologia, na disciplina de Dignidade e Vocação da Mulher

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O Lugar da Mulher no Islam

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Helton Douglas Silva

Dignidade e Vocao da Mulher

Goinia

2008

Helton Douglas Silva

Dignidade e Vocao da Mulher

Trabalho apresentado como exigncia do curso de Bacharel em Teologia, na disciplina de Dignidade e Vocao da Mulher ministrada pela professora Maria Ruth. No VII perodo Turma sabatina

Faculdade de Teologia Evanglica da Igreja de Deus

Goinia

2008

Sumrio

Sumrio

Introduo4

1. O Lugar da Mulher no Islan5

1.1. A Concepo do Verdadeiro Tratamento Dado a Mulher7

2. O Lugar da Mulher no Judasmo12

2.1. Que no me fizeste mulher...................................................................13

2.2. A "propriedade" e as "prioridades" do tempo da mulher15

2.3. Por respeito congregao .................................................................16

2.4. Novas interpretaes............................................................................17

2.5. Mulheres Rabinas.................................................................................18

3. Mulher no Ministrio ..................................................................................... 19

3.1. O Novo Testamento contra que mulheres exeram ofcios na Igreja?...........................................................................................................20

3.2. Mulheres no ministrio de Jesus Cristo ................................................21

3.3. Mulheres no ofcio apostlico................................................................22

3.4. Mulheres na Igreja nascente.................................................................23

3.5. Mulheres nas Comunidades Paulinas...................................................25

5. Concluso .....................................................................................................28

6. Biografia.........................................................................................................29

Introduo

Para entender o lugar da mulher na sociedade, tanto na antiguidade quanto nos dias atuais, h de se percorrer e conhecer a histria da mulher, entendendo a formao de sua identidade, de seus grupos sociais, e principalmente seu posicionamento no contexto familiar .

Uma das formas de se entende o lugar da mulher na sociedade conhecendo a relao afetiva que esta estabelece com seus pares (companheiro, filho(s) e familiares).

Compreender a construo de sua sexualidade ao longo da histria e o que perpassa no seu imaginrio em relao ao companheiro escolhido, traz uma compreenso de sua realidade atual e da evoluo que ela vivenciou at ento.

O Lugar da Mulher no Islam

A mulher no esteve em nenhuma poca da histria antiga na posio que lhe era devida. As naes diferiram no grau de negligncia e de violao aos seus direitos. O ltimo exemplo de tal atitude foi o da Nao rabe antes do Islam. Pois meninas eram enterradas vivas por temer-se a desonra e para evitar-se seu sustento e isto um ato excessivamente cruel. O pai, deliberadamente, enterrava sua filha viva. Ela perecia sob a areia pelas mos de seu parente mais prximo.

Deus o todo-Poderoso disse sobre isso: "Quando a algum anunciado o nascimento de uma filha, seu semblante permanece sombrio e fica angustiado. Oculta-se do povo pela ruindade que lhe foi anunciada; deix-la- viver, envergonhado, ou a enterrar viva? Que mal o que julgam!"

Deus enviou Muhammad com seu sublime comunicado reformador que ps fim srie de injustias enfrentadas pelas mulheres, e delimitou-lhes o lugar natural. Ele anunciou que ela e o homem so iguais de acordo com a religio de Deus. Deus revelou-lhe o Seu Livro Sagrado o Alcoro, que afirma claramente e em mais de uma passagem, esse claro conceito

O Islam manteve a dignidade da mulher e protegeu a sua honra da forma mais perfeita pela qual pode ser protegida.

Deus Todo-Poderoso disse a respeito dos caluniadores de mulheres honestas: "E queles que acusarem (de adultrio) as mulheres castas e depois no apresentarem quatro testemunhas, infligi-lhes oitenta vergastadas e nunca mais aceiteis seus testemunhos e estes so os difamadores."

O Todo-Poderoso ordenou trs penalidades ao acusador, a saber, o chicoteamento, em seguida a recusa de seu testemunho e a no aceitao futura de seu testemunho, e finalmente, ser considerado um homem desobediente, o que um dos mais detestveis e repugnantes atributos.

O Todo-Poderoso diz tambm nos seguintes versculos: ''Aqueles que difamam as mulheres castas, inocentes e crentes, sero malditos neste mundo e no outro e sofrero severo castigo. Dia vir em que sero acusados por suas lnguas, suas mos e seus ps pelo que houverem cometido. Nesse dia Deus lhes destinar o que lhes for de direito dentro da submisso a Deus e entro reconhecero que Deus a verdade evidente."

O Islam tambm deu liberdade mulher em dois casos; so eles os mais importantes da vida dela: o casamento e a propriedade.

Ningum tem o direito de obrig-la a casar-se com quem ela no goste. Ela tambm tem o direito de recusar quem no aprova.

O Mensageiro de Deus chamou a ateno para isso dizendo: "No se case com uma viva sem o seu consentimento, nem com uma virgem sem sua permisso."

O Profeta anulou, certa vez, um casamento, no qual urna virgem foi forada a casar-se com o seu primo, sob presso de seu pai, para seu prprio benefcio.

Uma mulher tem tambm absoluta liberdade com respeito sua propriedade, sem qualquer interferncia ou controle.

Durante a era pr-lslmica, o parente mais prximo do rabe morto, que tinha o direito de ser seu herdeiro, colocava o seu manto sobre a esposa do morto e dizia: "Ela minha". Deste modo, se ele quisesse, poderia casar-se com ela, ou deixar que ela se casasse com outro, mas ficaria com o seu dote; ou poderia coagi-la de maneira que ela seria obrigada a resgatar-se, pagando a ele o que herdara do marido. Veio o Islam e proibiu isso, tratou-a com justia e deu-lhe liberdade.

O Todo-Poderoso disse: " crentes, no vos permitido tomar as mulheres (de parentes) como herana contra a vontade delas.." (

Portanto tomou-se proibido que um homem mantivesse uma mulher contra a sua prpria vontade e por insistncia dele, e foi considerado como uma espcie de compulso for-la a resgatar-se com seu dote, exceto se ela fosse culpada de adultrio flagrante, porque em tal caso no teria direito a pedir ou fazer concesses.

A Concepo do Verdadeiro Tratamento Dado a Mulher

Um discurso sobre o Islam, exemplificando detalhadamente o papel da mulher e dando-lhe uma posio mais apropriada, infindvel. Isso no pode ser ignorado por aqueles que tm a menor compreenso do Livro do Todo-Poderoso o Alcoro Sagrado e da tradio de seu Mensageiro; Muhammad

Isto ser em considerao religio de Deus que encerra todas as virtudes, e como um incentivo a nossos filhos e netos para que tenham f na sua religio e sintam-se orgulhosos de serem seus seguidores e de serem capazes de defende-la. Pois o Islam acolhe a mulher com bondade no comeo de sua vida e protege a sua existncia atravs de suas diversas fases. O Islam acolhe-a desde o comeo de sua vida quando ainda um beb, no momento em que censurou e proibiu o enterro de meninas vivas nas palavras do Todo-Poderoso: "So perdedores aqueles que mataram seus filhos nscia e estupidamente na sua cega ignorncia, e se descartam do que Deus agraciou, falando mentiras a respeito de Deus. J esto perdidos e jamais seriam encaminhados."

Quando Kais Al Minkary estava contando, na presena do Profeta sobre as filhas que enterrou vivas (suas vtimas foram em nmero de doze), o Profeta Muhammad disse: "Quem no tem piedade no se clemenciado."

E ordenou-lhe que libertasse uma serva crente como restituio para cada criana.

Os rabes desprezavam o pai que brincava com sua filha ou que permitia que ela brincasse em sua presena, mas o Mensageiro de Deus brincava com as suas prprias filhas e com as de seus companheiros. Al Bukhari contou a histria de Abi Katadah que disse: "O Profeta saiu carregando a filha de Abi al-Aass, foi rezar; ento, quando ele ajoelhou-se, colocou-a no cho e quando ergueu-se, levantou-a novamente."

Aysha, (que Deus esteja satisfeito com ela) disse: Uma mulher veio a mim com suas duas filhas pedindo caridade.

Encontrei apenas urna tmara seca e dei-lhe. Ela dividiu-a em duas metades entre as duas filhas e depois saiu. Quando o Profeta Muhammad entrou, eu contei-lhe o que tinha acontecido. Ele disse: "A pessoa que testada por aquelas meninas, encontrar nelas proteo contra o Fogo do Inferno." Ele disse tambm de sua filha Ftima (que Deus esteja satisfeito com ela): "Ftima parte de mim; o que a fere, fere-me, e o que a agrada, agrada-me."

O Todo- Poderoso disse: "E entre Seus sinais est o de haver-vos criado de vs mesmos esposas para que com elas convivais; e. vos vinculou pelo amor e pela piedade. Por certo que nisto h sinais para os sensatos."

Ele tambm esclareceu a natureza do relacionamento entre o homem e a mulher quando falou: "E convivei com elas em harmonia...'' (O Profeta Muhammad(que a Paz e a Bno de Deus estejam sobre ele) disse: "O melhor entre vs o melhor para com a sua famlia e eu sou o melhor para com a minha famlia."

O Criador Todo-Poderoso regularizou o relacionamento entre o marido e a esposa na Sua fala: ''convivei com elas em harmonia; pois menosprezando-as podereis estar desprezando algo em que Deus deposita muito Bem."

Esta versculo, podem ver, ilustra claramente o esplndido modelo que contem as realidades de marido e mulher no Islam, o exemplo ao qual os dois deveriam ser conformes; e a percepo de que o amor somente no a nica justificativa para a continuao do casamento.

O Islam cuidou da mulher como me. O Glorioso Alcoro juntou os direitos do Todo-Poderoso com os dos pais, nesta palavras: ''Agradece a Mim e a teus pais, o retorno ser a Mim.'' E diz tambm: ''E aos pais dispensai bom tratamento.''

O Glorioso Alcoro tambm mencionou que o homem e a mulher so da mesma condio humana. Isto demonstrado nos seguintes dizeres do Todo-Poderoso:

"E seu Senhor lhes respondeu: Eu no desmereo o trabalho do trabalhador dentre vs, seja homem ou mulher, procedes uns dos outros."

Quando o apelo para essa suposta igualdade toma a forma de completa ignorncia das diferenas bvias existentes entre os dois sexos, em estatura, formao fsica, habilidade mental e carter, , neste caso, um claro engano e uma afirmao contestada. Pois Deus Todo-Poderoso conhece a sua criao melhor do que as suas criaturas a conhecem.

Deus mantm a igualdade entre eles em sua crena contanto que eles a devotem a Deus. Ele tambm igualou a recompensa por suas boas aes no caso deles serem iguais na obedincia a Deus e em sua f para com Ele.

Embora Deus Todo-Poderoso tenha dotado cada sexo com certas caractersticas e poderes que ningum a no ser Ele pode dotar para povoar o Universo e para cumprir os seus decretos para com a Sua Criao como Ele desejou e deseja.

Com seu conhecimento global, que tudo abrange, Ele criou os homens e dotou-os com o que melhor se adapta ao seu papel na vida; e criou as mulheres e dotou-as com o que melhor se adapta aos seus prprios desempenhos na vida.

Ambos os desempenhos esto promovendo a humanidade atravs do seu progresso num arranjo maravilhosamente planejado. A vida da humanidade no progrediria sem o reconheci- mento da sabedoria bvia inerente em tudo o que os olhos podem ver das criaturas de Deus sejam elas seres humanos, animais ou objetos inanimados:

Realmente, Ele conhece o que criou antes e depois de ter criado. Ele conhece o que criou e tambm os meios de sua subsistncia. Ele conhece mesmo os seus mais ntimos pensamentos.

Os que afirmam que a igualdade deve ser aplicada a ambos os sexos em todos os aspectos da vida mesmo quando se trata de habilidades e de trabalhos, esto apenas dizendo palavras que no podem ser provadas nem atravs da formao de qualidades, inatas, nem da experincia das naes, nem atravs da observao ou da intuio. Pelo contrrio a prova se baseia naquilo que a refuta.

Quando as naes ignoravam a diferena entre os dois sexos, de fato ignoravam a natureza. E aqueles que ignoravam a natureza eram obrigados a admitir as suas verdades posteriormente, mesmo que eles as reconhecessem apenas para avaliar a diviso do trabalho entre os dois sexos, que no foram criados diferentemente em vo.

Depois de passados milhares de anos de se supor que o passar do tempo, com a evoluo das condies sociais seja a causa da especializao de cada um dos sexos numa funo que no seja do outro, especialmente nos atributos especficos para a vida ecolgica.

Pois a passagem do tempo no elimina as diferenas, pelo contrrio, as aumenta e faz com que cada uma delas ressalte. H incontveis exemplos: o homem mantm a sua capacidade de procriar enquanto o seu corpo estiver em boas condies at s ltimas fases de sua vida, porm no assim com as mulheres, raramente encontramos uma mulher capaz de reproduzir depois dos 50 anos.

No significa dizer que a essncia do homem preferida da mulher, pois eles so gmeos descendentes de uma s alma. unia preferncia que no subestima humanidade da mulher, porque origina-se de uma diferena orgnica entre o homem e a mulher e no de urna diferena de essncia ou substncia.

Uma distino como essa no deve ser razo para mgoa, porque ser favorito de Deus est intimamente ligado com a purificao das almas e no com uma diferena orgnica, ordenada pela sabedoria de Deus para garantir a continuidade e integridade da vida dos seres humanos.

Esta benevolncia divina originada na sabedoria de Deus (que talvez seja desconhecida de muitos) leva a subestimar os que se tenham sobressado em preparativos, quando encontrarem Deus, se eles comportarem-se devotadamente para com Ele?

A mulher tambm realiza atos e tarefas que Deus destinou para ela. H alguma coisa melhor ou mais enaltecedora do que o papel da mulher de cuidar de seus filhos que sero a juventude de amanh e os homens de depois de amanh?

Se eles no encontram, a seu lado, uma me que tenha compaixo deles o que lhes preencha as suas necessidades de carinho, proteo e cuidado, podero tomar-se bonecos e seus hbitos e naturezas, sero afastadas de seus coraes que pulsam por seu amor e movem-se sua moldura. No verdade que a causa das condies inviveis em que a juventude de hoje vive em toda a parte, que esses jovens passaram as suas vidas longe do cuidado materno e de seus coraes cheios de amor?

Eles passaram as suas vidas em creches ou aos cuidados de enfermeiras que trabalham para outros com a finalidade de receber seus pagamentos sem sentirem qualquer prazer no que fazem. Perguntamos: "As necessidades das crianas restringem-se apenas a receber roupas e alimentao?" Ser isso suficiente para a criana ser normal e ter sentimentos estveis? Encontro uma resposta clara na diferena de comportamento entre crianas criadas por sua mes e pais, compartilhando de seu carinho e amor, e outras privadas dessa bno. No difcil notar-se os seus sentimentos agitados e as suas excentricidades.

A funo da mulher construir uma famlia e dirigir a casa, com a finalidade de morar com a sua famlia numa atmosfera relaxante e confortvel, que promova a atividade necessria para a continuao da vida.

Isto no a impede de fazer um trabalho que satisfaa uma necessidade ou um desejo, em campos onde ela possa desempenhar funes sem violar a sua natureza e o seu carter, desempenhando-as deste modo com sucesso, de acordo com as suas habilidades.

Qualquer violao em nossa natureza criada por Deus e pela qual somos responsveis, considerada uma obstruo Sabedoria de Deus na Criao, uma causa de muita dor fsica e psicolgica; e levar certamente a vrios problemas.

O Lugar da Mulher no Judasmo

O lugar da mulher no Judasmo variou segundo o contexto histrico, social, poltico e religioso. Ele se expressa em todos os campos da vida cotidiana, desde as diferentes rezas da liturgia at a diviso das tarefas no mbito pblico e particular, passando pela liberao da obrigao do cumprimento de alguns preceitos, o que determina - segundo a tradio estabelecida por homens -, as prioridades a que as mulheres deveriam dedicar o seu tempo.

Acompanhando as mudanas do papel da mulher na sociedade em geral, os movimentos religiosos liberais judaicos permitem a participao igualitria da mulher judia em todos os nveis, inclusive a ordenao de mulheres rabinas. Vrias j esto servindo na Amrica do Sul, sendo o Brasil um dos pases pioneiros, tanto na formao de rabinas como na contratao de tais profissionais.

O lugar da mulher dentro do Judasmo deve ser analisado luz do contexto histrico em que se desenvolveu. Na poca bblica, as mulheres dos Patriarcas eram as Matriarcas, mulheres ouvidas, respeitadas e admiradas. Havia mulheres profetisas e juzas. As mulheres estavam presentes no Monte Sinai no momento em que Deus firmou o Seu Pacto com o povo de Israel. Participavam ativamente das celebraes religiosas e sociais, dos atos polticos.

Atuavam no plano econmico. Tinham voz, tanto no campo privado como no pblico.

Com o decorrer do tempo e por fora das influncias estrangeiras, especialmente a grega, foram excludas de toda atividade pblica e passaram a ficar relegadas ao lar. Essa situao das prticas cotidianas daquela poca foi expressa nas leis judaicas ento estabelecidas e permanece a mesma at hoje.

As revolues sociais e a evoluo do papel da mulher que se processaram ao longo do sculo XX levaram a mulher judia a exigir igualdade entre os gneros em todas as fases da correntes religiosas judaicas, nem a sociedade em geral, ainda esto prontas para isso.

1. "Que no me fizeste mulher"

Comear cada dia escutando os homens disserem "Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo que no me fizeste mulher" no agradvel para mulher alguma que, por sua vez, deve proferir com "resignao" as palavras "Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo, que me fizeste segundo Tua vontade".

Essas bnos fazem parte da liturgia tradicional judaica dentro do conjunto de "agradecimentos a Deus" conhecido como "Bnos matinais" e que so recitadas toda manh ao despertar.

Essas bnos no so consideradas problemticas apenas para a nossa gerao, posterior "revoluo feminina", mas incomodaram tambm as geraes que nos precederam. E as explicaes ou "solues" tentadas em diferentes pocas no foram suficientemente convincentes.

A histria dessas bnos - e as reaes que geraram em mulheres e homens judeus - poderia servir de roteiro do lugar das mulheres dentro do Judasmo em diferentes momentos histricos.

No Talmud de Babilnia - Tratado "Menachot" 43 B est escrito: O Rabi Meir disse: O homem deve recitar trs bnos cada dia, e elas so: Que me fizeste (do povo de) Israel; que no me fizeste mulher; que no me fizeste ignorante

Segundo o rabino contemporneo Joel H. Kahan1, essa bno se originou do dito helnico popular, citado por Plato e Scrates, que diz: H trs bnos para agradecer o destino: A primeira - que nasci ser humano e no animal;

A segunda - que nasci homem e no mulher; A terceira - que nasci grego e no brbaro.

Mesmo que a ordem no seja exatamente a mesma - e os gregos agradeciam ao destino e os judeus, a Deus -, a semelhana flagrante: o agradecimento grego pelo fato de "ser humano" tem seu paralelo judaico em "no ser ignorante"; "no ser brbaro" era para os gregos to importante quanto para os judeus agradecer por ser parte do povo de Israel; e "ser homem e no mulher" era central em ambas as culturas, onde a mulher ocupava um lugar secundrio, especialmente na vida pblica.

Apesar de, na poca bblica, a mulher participar ativamente de todas as manifestaes da vida social2, poltica, econmica e religiosa, ela desaparece do cenrio pblico no perodo talmdico (sculo III a sculo VI da Era Comum).

Essa concepo do lugar da mulher na sociedade judaica na poca do Talmud3 - poca na qual foram estabelecidas as regras do dia-a-dia judaico, baseadas na interpretao e anlise dos textos bblicos pelos rabinos (exclusivamente homens) -, recebe influncia direta da antiga sociedade grega em que estava inserida4. Nela, a mulher praticamente no tinha vida social, j que estava afastada dos lugares e acontecimentos pblicos, entre eles, os religiosos.

2. A "propriedade" e as "prioridades" do tempo da mulher

Os Sbios do Talmud interpretaram o versculo "Toda a glria da filha do rei na sua casa" (Salmo 45:14), ensinando que a honra de uma mulher exige que ela fique na sua casa, cumprindo sua funo essencial de ter filhos e de facilitar ao seu marido o cumprimento dos preceitos.

Seguindo essa lgica, as mulheres eram definidas pelo aspecto biolgico, como mes procriadoras; do ponto de vista sociolgico, eram dependentes, primeiro do pai e depois do marido; e, sob o prisma psicolgico, eram incapazes de dedicar-se a temas tidos srios ouimportantes, exclusivos dos homens.

Portanto, a presena de uma mulher num lugar pblico - na rua, no mercado, nos Tribunais, nas casas de estudo, nos eventos pblicos ou nos cultos religiosos -, era considerada uma ofensa sua dignidade de mulher.

A priorizao das tarefas femininas voltadas para o lar - tomar conta da casa, das crianas e do marido - ter como conseqncia direta a limitao da funo religiosa; portanto, a mulher fica liberada da obrigao do cumprimento de determinados preceitos judaicos que tm um momento especifico para serem cumpridos.

Em uma tradio onde a obrigao de cumprir os preceitos divinos considerada uma grande honra, prova da escolha e do amor divinos, a iseno da mulher de certas obrigaes se cobre de outros significados.

Determinar o que fazer com o tempo smbolo de liberdade que o homem pode usar conforme seu entendimento. O homem livre para escolher dedicar seu tempo a Deus, a mulher no livre de faz-lo (na prtica, mulheres e escravos tm as mesmas obrigaes e cumprem os mesmos preceitos).

Dentro desse conceito, a deciso de liberar as mulheres do cumprimento dos preceitos de hora marcada uma demonstrao da grandiosidade do mesmo Deus que cede aos homens o seu privilgio de ser o dono do tempo das mulheres.

Elas ficam liberadas de cumprir os preceitos divinos, mas permanecem subordinadas em tempo e aes - ao marido, o lar, as crianas.

Elas so donas da casa, eles so donos delas. De fato, at em hebraico a palavra "marido" baal, que significa "dono, patro, proprietrio e donos do mundo..

3. "Por respeito congregao"

Contrariando a excluso vigente e popularmente conhecida dentro da tradio judaica, a Halach - lei judaica - permite explicitamente s mulheres (e menores de idade), serem convidadas para participar da leitura pblica da Tor (primeiros cinco livros da Bblia) durante as rezas do Shabat (sbado).

Mas a seguinte contrapartida consta do Talmud - Tratado Meguil 23-A: Ensinaram nossos Rabinos: Todos podem fazer parte da contagem dos sete

(que so chamados para ler a Tor no Shabat), at um menor de idade e at

uma mulher. Mas disseram os Sbios: Uma mulher no vai ler a Tor por

respeito ao pblico.

O respeito ao pblico, argumento muitas vezes substitudo pela expresso "a honra da congregao", adquire, no contexto daquela poca, o seguinte significado: Ler a Tor no marco do servio religioso requer conhecimento e estudo especiais, pois alm de ser em hebraico, a leitura feita com uma entonao especfica que exige uma preparao prvia.

Antigamente, a pessoa que ia ser convidada para ler a Tor em pblico durante o servio religioso do Shabat, era avisada com antecedncia para ter a possibilidade de preparar a leitura. Como em geral quem tinha acesso ao estudo, facilidade e tempo para se preparareram os homens, o convite a uma mulher seria interpretado como se naquela congregao no houvesse sete homens aptos a ler a Tora, o que seria uma vergonha para a mesma (isto , para os homens).

Assim, se a mulher j estava "liberada" de alguns preceitos, essa segunda razo - evitar a desonra da congregao - a impedia de cumprir aqueles preceitos que, mesmo sem ser obrigada, ela poderia - se assim o desejasse - escolher cumprir.

4. Novas interpretaes

A palavra hebraica que define o conjunto de leis judaicas "Halach", que vem da raiz do verbo "lalechet", que significa "andar".

O estabelecimento da lei judaica um processo dinmico que exige - e sempre teve!-, com o decorrer do tempo, mudanas e adaptaes.

Como foi descrito at aqui, as regras que tm a ver com o papel da mulher no Judasmo receberam diferentes influncias - sociais e religiosas - da poca e do lugar em que foram analisadas e determinadas.

Baseados no conceito de fazer mudanas conforme os avanos do mundo e as exigncias da sociedade, mas sem perder a essncia da tradio judaica milenar, os movimentos religiosos judaicos mais liberais - movimentos Conservadores, Reformista, e Reconstrucionista, tiveram a coragem de aceitar o desafio e tomaram a iniciativa de voltar a estudar as fontes em busca de respostas.

Essas, na verdade, j existiam h muito tempo, mas, por razes subjetivas ou circunstncias determinantes, foram deixadas de lado. Era s uma questo de reviv-las. Foi o que fizeram homens e mulheres que procuram uma vida judaica plena e significativa dentro da sociedade moderna em que vivem.

Como conseqncia desses estudos, por exemplo, muitos livros de oraes substituram as bnos cotidianas "que no me fizeste mulher", - recitadas pelos homens -, e "que me fizeste segundo Tua vontade" -, proferidas pelas mulheres -, por uma bno nica pronunciada por ambos os gneros: "Bendito Sejas Tu, nosso Deus, Rei do Universo que me fizeste Tua imagem". Essa bno est baseada no conceito bblico que mulheres e

homens foram todos criados "imagem e semelhana de Deus."

Por outro lado, quando foram analisadas as fontes dos preceitos que tm um horrio determinado para serem cumpridos, foi sublinhado o fato que a mulher est "liberada" de cumpri-los, mas no "proibida", como interpretado por Rabinos mais radicais. Portanto, a condio de "liberada" significa que, embora no tenha determinadas obrigaes, a mulher tem a liberdade de assumir aes e compromisso de que foi liberada, se assim o desejar.

E se so revistas as prioridades a que a mulher "deve" dedicar seu tempo, verifica-se hoje que as tarefas do lar so compartilhadas por mulheres e homens de maneira igualitria.

mister mencionar, tambm, a vasta gama de inventos e facilidades que proporcionam mulher moderna a possibilidade de se organizar de forma a manejar os seus tempos como o preferir. Alm de poder contar com a ajuda de outras pessoas, ampliando assim a sua liberdade.

Finalmente, a mulher conseguiu tantos avanos na sociedade atual que praticamente no existem tarefas, profisses ou atividades de que no participe.

Portanto, se a mulher conquistou ttulos acadmicos ou exerce altos cargos e funes em empresas pblicas e privadas; se a mulher tem importante participao em todos os segmentos da sociedade ao lado dos homens, no h mais porque ningum se envergonhar quando isso acontece tambm na sinagoga. O contrrio que deveria ser considerado um desrespeito congregao pelo fato de recusar s mulheres o direito igualdade de participao tambm dentro da religio.

5. Mulheres Rabinas

Seguindo a lgica de que a mulher judia pode assumir obrigaes religiosas mesmo onde estaria isenta, e que - assim como acontece em todos os campos da sociedade atual - almeja participao igualitria nos campos rituais e religiosos, muitas mulheres judias reclamaram o direito de estudar nos mais altos nveis acadmicos religiosos a fim de se formar como rabinas e desempenhar as aes de lderes religiosas e comunitrias.

Os movimentos ortodoxos, segmentos mais tradicionalistas do Judasmo, no admitem a formao de mulheres como rabinas, baseando-se na crena de que a Halach (o conjunto de leis judaicas) imutvel, e que, como no houve rabinas no passado, no deveria haver no presente ou no futuro. E, embora haja mulheres ortodoxas que anseiam por uma ao mais participativa no seio da religio, esbarram nas proibies dos seus rabinos que citam fontes cuja interpretao desemboca na proibio.

Os movimentos mais liberais por sua vez, - que acreditam no dinamismo da lei judaica -, analisaram essas mesmas fontes e chegaram concluso de que no h objees diretas para ensinar e formar mulheres como rabinas. Foi justamente desses movimentos que surgiram as primeiras mulheres com qualificao para desenhar os rumos de uma nova carreira e desempenhar todas as tarefas do sacerdcio.

Mesmo assim, avanos prticos e progressos na interpretao de uma tradio religiosa to antiga como a judaica, no foram - nem so - facilmente assimilveis pela maioria dos membros do povo judeu. A repetio de costumes herdados de gerao em gerao, que desconhece a essncia ou o significado original dos mesmos, acaba tendo fora de lei.

Muitas pessoas no tm interesse em conhecer o processo histrico, social e o embasamento lgico pelo qual essas leis ou costumes passaram at adquirir a forma com que chegaram at ns, e todos ns samos perdendo com esta falta de vontade de aprender, porque o conhecimento de antecedentes e mutaes ajudaria sem dvidas a compreender o quanto a lei judaica dinmica. Prepararia as pessoas a melhor aceitar as mudanas que permitem a adaptao do Judasmo milenar ao mundo moderno, o que , simplesmente, a continuidade do processo "tradicional" judaico de dar respostas s novas perguntas suscitadas por cada gerao.

MULHERES NO MINISTRIO

O que o Novo Testamento tem realmente a dizer?

Muito se tem dito dentro de nossa Igreja sobre a questo da ordenao de mulheres para os cargos de ofcio (presbiterato e diaconato) . Como no poderia deixar de ser, as diferentes tendncias buscam, uma mais, outras menos, argumentos bblicos que justifiquem seus pressupostos, suas teses e seu ponto de vista.

Dentro deste quadro, uns mais entusiasmados e, por vezes, totalmente tomados pelo que julgam ser a verdade, considerando que, por pressuposto, a Bblia expe, por si, esta verdade, acabam dizendo de modo peremptrio aquilo que a Bblia no diz.

Outros h que, ainda, neste mesmo esquema argumentativo e de defesa da verdade, procurando demonstrar a seus ouvintes e/ou leitores que o ponto de vista que esposam confere com a verdade bblica e confessional da Igreja, apelam para a autoridade interpretativa mxima dentro da Igreja, em matria de Escrituras Sagradas e, por isso, de f, a saber: a Confisso de F de Westminster e seus Catecismos.

O leitor e/ou ouvinte atento deste debate acaba por ter a impresso de que os diferentes grupos, alguns deles antagonicamente colocados, arvoram-se em donos, de tal modo, destes dois smbolos de f (A Palavra de Deus e a sua fiel interpretao, a Confisso de F) de nossa querida Igreja, que certamente, atnito, fica a pensar que h bblias e confisses de f diferentes dentro da comunidade presbiteriana.

Assim sendo, cabe a pergunta perplexa e que deve ser respondida sem qualquer tipo de partidarismo, buscando verdadeiramente uma soluo para o problema: Ordenao Feminina: O que o Novo Testamento tem REALMENTE a dizer?

Qual no ser a surpresa do perplexo e atento inquiridor quando, ao aproximar-se, sem preconceitos e idias preordenadas, do Novo Testamento, descobrir verdades admirveis e solues realmente significativas para esta questo.

1. O Novo Testamento contra que mulheres exeram ofcios na Igreja?

A esta pergunta deve-se dizer que em todo o Novo Testamento no existe nenhuma afirmativa ou negao desta matria. Ou seja, o Novo Testamento no diz: somente homens podem e devem ser ordenados, ou, ainda, mulheres no podem ser ordenadas para qualquer ofcio dentro da Igreja ou idia semelhante a estas.

Assim, deve-se afirmar, sem medo de errar, que ordenao de mulheres para ofcios na Igreja no uma questo de f. Isso torna-se importante para a discusso do tema, visto existir uma tendncia radical de delimitar o estudo desta questo ao mbito de uma regra de f (matria exclusiva, dentro da tradio reformada, das Escrituras Sagradas). Como o assunto envolve o modo como se organiza a Igreja, deve-se, pois, no esquecer que a matria , por isso, uma questo de ordem para a f reformada que baseia-se na Confisso de F e, por seu intermdio, na Escritura Sagrada, a santa Palavra de Deus, nossa nica regra de f e prtica.

2. Mulheres no ministrio de Jesus Cristo

Mulheres esto presentes no ministrio pblico de Jesus, sendo elementos de fundamental importncia no mesmo, visto que estas lhe prestavam assistncia com seus bens (Lc. 8: 1 - 3), estiveram presentes crucificao do Senhor (Mc. 15:40), ao Seu sepultamento (Mc. 15:47) e na manh da Pscoa (Mc. 16:1).

Mulheres no eram somente acompanhantes de Jesus e de seu ministrio, mas faziam parte integrante deste ministrio, sendo elas mesmas as primeiras pregadoras vocacionadas pelo Cristo Ressurreto a anunciar as boas-novas do Evangelho: a ressurreio de Jesus Cristo! (Mt. 28: 5 10; Mc. 16: 9 11; Lc. 24: 4 - 11).

Mulheres foram as testemunhas do tmulo vazio, foram os primeiros ouvidos a receberem a mensagem dos anjos sobre Cristo, foram as primeiras testemunhas oculares do Cristo Ressurreto, foram as primeiras proclamadoras da nova f em Jesus Cristo (mesmo antes dos apstolos que ouviram os seus relatos e duvidaram). Neste caso, destaca-se que os homens, especialmente o grupo dos doze discpulos, permaneceram incrdulos nesta questo: ouviram, pela primeira vez, a boa-nova da ressurreio e no creram, ao passo que as mulheres, sim.

Destaca-se, deste fato, que intimamente ligada ao significado fundamental da Pscoa est a funo perene de apstolo. Tem-se utilizado o fato de no haver mulheres na lista dos doze apstolos, como justificativa para a no-ordenao feminina. Mas o colgio apostlico estendeu-se bem alm do crculo dos doze (cf. I Co. 15:5 e 15:7). Se no h mulheres no grupo dos doze, h mulheres no grupo apostlico, como atesta o Livro dos Atos dos Apstolos (1:13). A antiga tradio da Igreja de Jerusalm, ainda que mulheres fossem desconsideradas, destaca e guarda a verdade de que elas foram as primeiras testemunhas, as primeiras pregadoras (anunciadoras, proclamadoras) da mensagem central do Novo Testamento: Cristo Ressuscitou!

3. Mulheres no ofcio apostlico

Paulo conhecia apstolas, como o caso de Jnia (Rm. 17:6). Tal fato revela que o conceito de apstolo no s era superior ao grupo dos doze, mas que mulheres exerciam este ministrio eclesial, que foi temporal e especfico, delimitado queles que viram o Senhor Ressuscitado. Mesmo a referncia a uma Maria que muito trabalhou por vs (Rm. 16:16 o verbo aqui traduzido por trabalhar o mesmo que Paulo usa para referir-se atividade apostlica), revela que outras mulheres, que no as referidas na cena do Sepulcro Vazio, foram testemunhas do Cristo Ressurreto, como lembra o apstolo Paulo (I Co. 15: 3 7), repetindo o que recebera da Igreja como tradio.

Registro deste fato, ou seja, de que as mulheres compunham o corpo apostlico, mesmo que no tenham sido chamadas para o grupo dos 12 apstolos, o registro de que mulheres atuaram na ao missionria primitiva (Fl. 4:3), com empenho, por vezes, maior que o dos homens. Este trabalho missionrio primitivo relaciona-se funo de apstolos. Veja-se que, por exemplo, o autor dos Atos dos Apstolos nunca se refere a Paulo como um Apstolo, ainda que Paulo tenha lutado em todo o tempo para ser assim visto pela Igreja nascente, mas, quando refere-se funo que ele realiza, em companhia de Barnab, por ocasio de sua primeira viagem missionria, trata-os por esta alcunha: apstolos (At. 14: 4 e 14). Isso corrobora a idia de que o exerccio missionrio, dentro da Igreja nascente, est ligado funo de apstolo.

Destaque-se, por isso, o casal Priscila e quila, que atuou em Roma, Corinto e feso, nesta mesma funo que Paulo. Note-se nesta referncia o modo estranho da mesma: primeiro vem a mulher (no sendo esta a praxe de tal referncia, conforme At. 18:2, ou I Co. 16:19). Paulo deve muito a este casal, que o acolheu para fazer tendas em sua residncia, quando a Igreja de Corinto no o sustentou. Mas toda a Igreja era devedora deste casal (Rm. 16:4). Conformando estas referncias com a titulao dada a Paulo e Barnab, apstolos, mais uma vez deve-se entender que o referido casal missionrio Priscila e quila, eram, por isso mesmo, apstolos, neste sentido restrito do conceito: enviados para um determinado fim, no caso, o missionrio.

Ao comentar-se sobre o lugar das mulheres nas comunidades que vo nascendo e crescendo pelo ministrio apostlico de Paulo e de seus colaboradores e de suas colaboradoras, ver-se-, no testemunho do autor dos Atos dos Apstolos, que esta perspectiva iniciada por Jesus e desenvolvida no ministrio apostlico em relao mulher foi mantida e preservada.

4. Mulheres na Igreja nascente

Mulheres estavam no Pentecostes e receberam o Esprito (At. 2:17), o que significa dizer que as mesmas foram habilitadas por Deus para o ministrio proftico. A uno proftica deixou de ser, na Igreja, apangio de um dos sexos e de uma classe, para ser de todos. Esprito Santo e profetismo esto umbilicalmente ligados, conforme a tradio antiga que reconhecia as profetisas (cf. Lc. 2: 36). Filipe tinha quatro filhas que profetizavam (At. 21: 9), ou seja, falavam ao povo exortando, consolando e edificando (cf. I Co. 14:3).

Alm disso mulheres trabalharam como diaconisas, no socorro e no servio, como o caso de Febe (Rm. 16: 1), que era diaconisa da Igreja de Cencria. At mesmo a Carta Pastoral que mais restries coloca mulher dentro de uma comunidade (comentar-se- esta questo mais adiante, separadamente), reconhece que as mesmas devem exercer este ministrio dentro da Igreja (I Tm 3: 8 13). Neste caso do ofcio diaconal, at mesmo aqueles que defendem no somente a idia de que mulheres no podem ser presbteras e pastoras, mas que devem estar debaixo da autoridade masculina (o que muito mais do que uma mera questo de ordenao, visto no limitar-se a tese mera questo eclesial, mas descer s consideraes familiares e sociais) admitem que neste caso do ofcio diaconal o Novo Testamento no pode ser estudado neste prisma.

A Igreja Primitiva, de modo geral, firmou-se na perspectiva que lanou o Seu Senhor, com relao integrao plena da mulher na vida da comunidade nascente.

Os apstolos no somente incluram as mulheres na doutrina da salvao, quando afirmavam que Cristo morreu por todos ns, mas viam como conseqncia natural desta incluso salvfica a participao no ministrio eclesial. No somente a mensagem salvfica deixava de ser androcntrica (s homens participam da salvao), mas a prpria eclesiologia (o modo de organizar a Igreja).

Logo aps a ascenso do Senhor v-se que perseveravam em orao, com as mulheres, entre elas Maria, me de Jesus (At. 1:14). Desde o incio mulheres participam da vida eclesial, preparando-se, assim, para o Pentecostes, quando o dom do Esprito desceria sobre homens e mulheres de todas as faixas etrias e de toda condio social: sobre meus servos e sobre as minhas servas derramarei do Meu Esprito (At. 2:18 e Jl. 2: 28 - 32).

A Primitiva Igreja era to radical nesse ponto que, mesmo onde as profecias do AT falam de promessas exclusivas para homens, a mesma inclui tambm as mulheres. Por exemplo: Vs sereis para mim filhos e filhas (II Co. 6: 18, cf. II Sm. 7:14 que s fala em filho). Atos dos Apstolos claro em indicar que, desde o incio, mulheres e homens eram chamados, separados e integrados na vida comunitria: Crescia mais e mais a multido de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor (At. 5:14). Na casa de Maria, me de Joo Marcos, funcionava uma Igreja (12:12), visto que mulheres assumiam responsabilidades dentro da comunidade nascente.

No sem motivo que Lucas indica a converso, no somente de homens, mas de mulheres ilustres e influentes (At. 17:17), sendo mesmo que em Filipo somente mulheres assistiram a pregao de Paulo, sendo esta uma comunidade preponderantemente feminina (At. 16:13 e 17:4). De todas estas destaca Lucas a Ldia, uma comerciante de prpura, a quem o Senhor abriu o corao (At. 16:14), sendo ela uma forte liderana em sua cidade e dentro da comunidade de f, amparando com seus bens e sua casa a obra missionria (16:15). Por isso em Jope existia uma discpula (9:36) de nome Tabita ou Dorcas, operosa e dedicada obra, razo porque Pedro a ressuscita. Tal fato registra que a presena de mulheres era importante, no somente na comunidade marcadamente gentlica, cuja orientao pastoral era feita por Paulo, mas at mesmo naquelas comunidades da regio da Palestina, sob a forte influncia do grupo dos doze e, provavelmente, de um meio social construdo sob os preconceitos do judasmo com relao s mulheres. Este registro, do autor de Atos dos Apstolos atesta, pois, o modo como a f crist na primitiva Igreja, indistintamente, at mesmo em regies de influncia notadamente patriarcalista procurou, e certamente no sem dificuldade ou custo, estender s mulheres o mesmo tratamento que lhe deu o Senhor da Igreja.

5. Mulheres nas Comunidades Paulinas

A Igreja nunca foi e nem pode ser um clube de homens ou de mulheres, mas ela a comunidade redimida por Cristo por ser a comunidade das pessoas que Ele redimiu, chamou e integrou nesta vida de comunho.

As cartas do Apstolo Paulo so os melhores testemunhos do Novo Testamento de que, na nascente Igreja de Cristo, homem e mulher, sem discriminao, so verdadeiramente novas criaturas em Cristo (II Co. 5:17). Esta uma renovao, feita em Cristo, que configura uma nova valorao: ambos tem o mesmo valor e a mesma dignidade. A nfase de Paulo tal que chega mesmo a dizer que tudo se fez novo, ou seja, nada permanece como no tempo antigo, antes de Cristo, segundo a antiga aliana (Pacto da Lei) que marca a antiga criao. Por isso afirma que: Destarte no pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vs sois um em Jesus Cristo (Gl. 3: 28).

O raciocnio teolgico de Paulo v tudo isso pelo prisma do batismo: por ele todos foram incorporados a Cristo e passam a fazer parte do Seu Corpo, a Igreja. Mas Paulo entende que a Igreja o incio da nova criao, o comeo no novo mundo, o plano piloto de Deus que aponta para as novas relaes do Reino de Deus, a futura sociedade, onde Deus ser tudo em todos (I Co. 15: 28). No Corpo de Cristo, segundo Paulo, h muitas funes expressas nos diferentes dons. Assim, a expresso todos vs sois um no representa nivelamento das necessrias alteridades, mas a sua complementao. Paulo no nega as diferenas caractersticas de cada gnero em nome de uma ideologia uniforme e abstrata.

Ao dizer, por exemplo, que no h judeu nem grego, Paulo no queria dizer que as nacionalidades no existiam, mas que tornaram-se secundrias na dimenso salvfica e, conseqentemente, na eclesiolgica . A salvao no mais direito exclusivo de uma nao, mas de todas as naes e, por isso, a Igreja (eclesiologia) se faz de pessoas sem distino de raa, tribo, lngua ou nao. De igual modo ao dizer no h escravo nem liberto, no estaria a dizer que as distines sociais deixaram de existir, mas que elas tornaram-se tambm secundrias na nova criao e, doravante, na Igreja, ningum ser mais discriminado por causa da sua condio social, pois todos so iguais na Igreja, visto serem iguais diante de Deus.

Ao falar sobre homem e mulher, Paulo aponta diretamente para os textos da criao (Gn. 1:27), onde se diz que a Imagem de Deus homem e mulher. Limitar esta questo a uma nomenclatura meramente igualitarista ou diferencialista , no entender o prprio sentido das Escrituras e tornar a questo meramente dualista. Superam-se diferenas da criao na Nova Criao (que para Paulo a Igreja) no implica, necessariamente, em superao de distines. Seria, tal raciocnio, o mesmo que dizer que as mulheres viraram homens e vice-versa. Tal raciocnio, ao prismar-se pelo dualismo da questo, torna-se, em si mesmo, esdrxulo. Deus fez Sua imagem refletir-se na criao do ser humano: a imagem de Deus no masculina, nem feminina, tampouco, mas est expressa em homem e mulher. Por serem estas duas realidades complementares, unidas, copulativas, integradas, marcadas de diferenas que se harmonizam que refletem, conjuntamente, a Imago Dei.

As diferenas todas, mesmo as oriundas da criao, esto secundarizadas em Cristo, razo por que, diz Paulo, a Igreja a nova criao. Pode-se mesmo inferir deste contexto refletido por Paulo que, em Cristo, ou seja, na Igreja (e, por isso, nas questes eclesiolgicas) Deus resolveu restaurar novamente a Sua santa e boa imagem nesta nova criao (a Igreja). Em todos os aspectos da vida da Igreja deve haver este mesmo reflexo: homem e mulher. Negar isto Igreja negar a imagem divina na mesma, por Ele desejada, marc-la somente da imagem do homem.

Ficam, pois, por causa da nova criao, invalidadas as penalidades oriundas da queda na antiga criao. Em Cristo (e, por isso, na Igreja) tudo novo! O trabalho, antes castigo imposto ao homem para com o suor do rosto ganhar o po, passa a ser beno ; as dores do parto, onde ainda permanecem (hoje, j at superadas no chamado parto sem dor), so vistas como possibilidades de gerao dos novos filhos do Pacto da Graa. Esta a razo porque Paulo, ao usar o termo ardente expectativa da criao aguarda a revelao dos filhos de Deus, usa o mesmo termo da mulher no parto: a nova criao que, por hora, envolve somente a Igreja, h de revelar-se e vir luz. Esta expectativa alegre e ansiosa: alegre por causa da nova criao que j est vindo luz por meio da Igreja; ansiosa por causa do desejo profundo de que tal fato logo se concretize. No , pois, diferente com a mulher crist no parto de seu filho. E, finalmente, a pena eterna, destino final da antiga criao no Pacto da Lei, foi superada em Cristo, no Pacto da Graa. Chega mesmo a beirar s raias da blasfmia dizer que Jesus Cristo era to impotente e fraco que poderia somente resolver nossas questes atemporais, ps-tmulo, ou, se for prefervel, espirituais. A vida, mensagem e a obra de Cristo tm srias conseqncias para a sociedade, e estas conseqncias iniciam-se na pequena sociedade chamada Igreja (nova criao), estendendo-se, desde j, sociedade humana como um todo, visto que o objeto de Deus a redeno no meramente dos seres humanos, mas de todo o cosmo. Por esta razo a Reforma, especialmente a calvinista, teve como alvo no um grupo de pessoas dentro da sociedade, mas toda a sociedade .

Homem e mulher no so iguais somente diante de Deus. Isso tem conseqncias srias em Cristo, ou seja, na Igreja: os antagonismos, as discriminaes e os papis forados socialmente com base em sexismo, foram superados. Esta a diferena que deixa de existir, as demais permanecem: maternidade / paternidade, feminino / masculino e tudo o que se deriva como efeito desta causa primordial. Porm, em Cristo, ou seja, na Igreja, isso deixa de ter valor. Pode-se organizar a Igreja em moldes diferentes quer da sociedade, quer da antiga criao. Especialmente vendo-se que no existe nenhuma recomendao ou determinao de somente ocuparem cargos de ofcios homens, nem negativa explcita de mulheres ocuparem os mesmos: em Cristo, tudo se fez novo.

Concluso

Paulo defende a tese de que mulheres tm autoridade dentro da Igreja. Mesmo nas comunidades onde a mulher socialmente encontra-se em relao de submisso, como o caso de Corinto, o que difere, por exemplo, da Igreja de Filipo, onde Ldia est na liderana da mesma. Na comunidade de Corinto, ainda que a mulher esteja socialmente, por mera questo cultural, em posio diferente do homem, ela pode e deve profetizar, devendo ter a sua cabea coberta com vu, sendo este o sinal de autoridade (I Co. 11:10), para orar ou profetizar em pblico. O fato social da relao entre homem e mulher fica superado na Igreja, podendo a mulher, naquele caso de Corinto, tomar a palavra em pblico e falar em nome do Senhor consolando, exortando e edificando o povo, o que funo de um ofcio na primitiva Igreja, desde que tenha o sinal de sua autoridade para tal.

O que se est afirmando que nesta questo estamos na rea da prtica. No correto, nem coerente, nem cristo, afirmar-se de um ou outro lado da discusso que a parte divergente herege e est pecando contra algo de fundamental para a f. Este dualismo deve ser evitado, sob pena de dizer-se o que no dizem, nem a Bblia, nem a Confisso de F, nem o depsito histrico das diferentes prticas eclesiais dos reformados no mundo.

Bibliografia

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- AUGUSTUS, N. op. cit., p. 61: Abordo especialmente a ordenao para o pastorado e presbiterato. Existem aspectos da diaconia que merecem um estudo particular, que no ser feito aqui.

- Esse reducionismo da questo em dois polos maniquesmo injustificado, que mais parece ter sido inventado para confundir o centro da questo no Novo Testamento: o fato de Deus tratar a todos igualmente no elimina as necessrias, justas e insuperveis diferenas, no somente entre homens e mulheres, pois diferena no mera questo de gnero, mas apangio dos seres humanos, visto haver diferenas no somente entre sexos, mas entre pessoas do mesmo sexo, razo porque os dons, capacidades e aptides so diferentes nos seres humanos. Este reducionismo , realmente, ideolgico, pois ao apelar para a questo da natureza, apontando na direo da Criao, afirmando que liderana masculina questo de natureza relativa sexualidade, o que se est fazendo buscar justificativa axiomtica onde no h axioma.

- NICODEMUS, A. op. cit., p. 59

- Esta tem sido a forma tradicional da teologia reformada entender o trabalho. Trat-lo como maldio ou mesmo castigo negar a teologia mais clara e ntida da Reforma e, especialmente da Igreja reformada, calvinista e presbiteriana. parte integrante da tica calvinista a valorizao do trabalho como instrumento divino, dado por Deus, para que o crente construa a sua vida de modo digno. Mais adiante falaremos sobre a teologia do trabalho e sua verdadeira razo bblica e, por isso, reformada.

- BILER, A. O Pensamento Econmico e Social de Calvino trad. W. C. Luz, CEP, So Paulo, 1990;