diferentes abordagens terapeuticas em caes com parvovirose

Upload: thaysa-torres

Post on 16-Oct-2015

130 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    Faculdade de Medicina Veterinria

    DIFERENTES ABORDAGENS TERAPUTICAS EM CES COM PARVOVIROSE CARACTERIZAO DO USO DE ANTIBITICOS

    MARIANA ORNELAS FERREIRA

    CONSTITUIO DO JRI Presidente Doutor Virglio da Silva Almeida

    ORIENTADORA Doutora Maria Manuela Grave Rodeia Espada Niza

    Vogais Doutora Maria Manuela Grave Rodeia Espada Niza Doutora Berta Maria Fernandes Ferreira So Braz

    2011

    LISBOA

  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    Faculdade de Medicina Veterinria

    DIFERENTES ABORDAGENS TERAPUTICAS EM CES COM PARVOVIROSE CARACTERIZAO DO USO DE ANTIBITICOS

    MARIANA ORNELAS FERREIRA

    DISSERTAO DE MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA VETERINRIA

    CONSTITUIO DO JRI Presidente Doutor Virglio da Silva Almeida

    ORIENTADORA Doutora Maria Manuela Grave Rodeia Espada Niza

    Vogais Doutora Maria Manuela Grave Rodeia Espada Niza Doutora Berta Maria Fernandes Ferreira So Braz

    2011

    LISBOA

  • i

    Aos meus pais e a todos os

    que me acompanharam nesta levada.

    As pessoas se esquecem do que ouvem,

    lembram do que lem, porm, s aprendem,

    de fato, aquilo que fazem

    Ado Roberto da Silva

  • ii

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    PROFESSORA DOUTORA MANUELA RODEIA POR ME TER ACEITADO NA FAMLIA AZEVET, ONDE

    CRESCI PESSOALMENTE E PROFISSIONALMENTE. PELA PACINCIA, INCENTIVO E SABEDORIA

    TRANSMITIDA AO LONGO DOS LTIMOS ANOS, E POR ACREDITAR NO MEU TRABALHO.

    DR. HELENA GUERREIRO, PELOS ENSINAMENTOS, MAS TAMBM PELA AMIZADE E

    PREOCUPAO DEMONSTRADA, PELO BOM HUMOR QUE NOS ALEGRA, E POR ACREDITAR NO

    NOSSO SUCESSO.

    DR. IVANA COIMBRA, PELA AMIZADE E COMPANHIA, PELA PARTILHA DE CONHECIMENTOS E

    AJUDA. ADMIRO MUITO A SUA POSTURA CALMA E SEGURA, PRESENTE MESMO NAS SITUAES

    MAIS COMPLICADAS.

    AO DR. RUI LEMOS FERREIRA, POR TODOS OS ENSINAMENTOS QUE TRANSMITIU PACIENTEMENTE,

    POR NOS INCUTIR O GOSTO PELA ECOGRAFIA E MOTIVAR A IR MAIS LONGE.

    PAULA PEREIRA, PELA PACINCIA, E SLVIA LUS, PELA BOA DISPOSIO CONTAGIANTE,

    VERDADEIRAS MES ADOPTIVAS QUE MUITO ME ENSINARAM, TANTO PROFISSIONALMENTE COMO

    PELO EXEMPLO DE MULHERES QUE SO E QUE ADMIRO.

    RITA FERRETE, AMIGA PRESENTE NOS MOMENTOS BONS E NOS MENOS FCEIS, PELA

    COMPANHIA E APOIO, PELAS GARGALHADAS E BRINCADEIRAS.

    DR. RAFAELA LALANDA, PELOS CONSELHOS E PELA GENTILEZA EM CEDER AS FOTOGRAFIAS

    DE ESTGIO.

    AO DR. LUS BORGES FERREIRA, PELA DISPONIBILIDADE E AJUDA.

    AO PAQUINHO, POR ANIMAR OS NOSSOS DIAS E POR NOS FAZER RIR COM AS SUAS PERIPCIAS, E

    FLY, POR CONTINUAR ESSE RDUO TRABALHO.

    PROFESSORA DOUTORA CRISTINA VILELA, PELAS OPORTUNIDADES CONCEDIDAS E INCENTIVO

    NA CONCRETIZAO DAS MESMAS.

    D. ELISA DA BIBLIOTECA, PELA SIMPATIA E DISPONIBILIDADE PARA AJUDAR.

    AO DIOGO BAPTISTA, PELA SUA PRECIOSA AJUDA E SEUS CONSELHOS, SEM OS QUAIS NO TERIA

    CONSEGUIDO TERMINAR ESTE TRABALHO.

    DULCE, POR SERES UMA AMIGA COM QUEM SEMPRE PUDE CONTAR, PELA GENEROSIDADE E

    BOA DISPOSIO QUE ME ACOMPANHAM DESDE OS TEMPOS DE ANATOMIA.

    GISELA, POR ME TERES ACOLHIDO COMO UMA IRM EM TUA CASA E PELAS INMERAS

    SITUAES QUE ME APOIASTE E OUVISTE OS MEUS DESABAFOS, UMA DAS MELHORES AMIGAS

    QUE J ENCONTREI.

    MAN, PELA AMIZADE E PACINCIA PARA AS MINHAS PERGUNTAS INTERMINVEIS E NOS

    TRABALHOS DE GRUPO, SEMPRE DISPOSTA A DAR SEM SE PREOCUPAR EM RECEBER.

    MARGARIDA, PELA COMPANHIA AMIGA EM MUITAS PERIPCIAS, POR PARTILHARES O LADO

    POSITIVO DA VIDA. O JOLIN NO PODIA TER ENCONTRADO MELHOR FAMLIA PARA SER FELIZ E

    MIMADO.

    MARTA, PELO TEU BOM HUMOR E PELA AMIZADE PACIENTE, COM QUEM APRENDI MUITO.

  • iv

    SOFIA, PELA AMIZADE E COMPANHIA DIVERTIDA NO ESTGIO.

    AOS MEUS AMIGOS LOURDES, TRINI, ELENA, CARLOS, AIRN E JUAN, E AOS PROFESSORES DA

    UNIVERSIDADE CARDENAL HERRERA - CEU, PELA HOSPITALIDADE E PARTILHA DE

    CONHECIMENTOS.

    TATHI, AO RICARDO, AOS COLEGAS, RESIDENTES, ENFERMEIROS E PROFESSORES DA UNESP,

    PELA AMIZADE E SABEDORIA TRANSMITIDA.

    A TODOS OS MEUS AMIGOS, PELOS BONS MOMENTOS QUE RECORDO COM CARINHO.

    MINHA PRIMA JOANA, MINHA MENTORA A TEMPO INTEIRO, SEMPRE PRESENTE AO LONGO

    DESTES ANOS QUE NOS APROXIMOU COMO IRMS. PELA PACINCIA, PELA ORIENTAO E PELAS

    PALAVRAS SBIAS E TRANQUILIZANTES QUANDO PRECISEI. POR TUDO O QUE FIZESTE POR MIM,

    DESDE SESSES DE REIKI NAS VSPERAS DE EXAMES A LER UMA DISSERTAO SOBRE

    PARVOVIROSE.

    AOS MEUS PAIS, MAY E Z, PELA CONFIANA QUE DEPOSITAM EM MIM E POR ESTAREM SEMPRE

    PRESENTES, LONGE DA VISTA MAS PERTO DO CORAO. POR TODA A EDUCAO E FILOSOFIA DE

    VIDA QUE ME TRANSMITIRAM E QUE TANTO ME ORGULHO.

    AO MEU IRMO ANDR, PELA AMIZADE E CUMPLICIDADE, PELO APOIO EM MUITOS MOMENTOS, E

    POR TANTO ME ENSINAR NOS GRANDES COMO NOS PEQUENOS GESTOS.

    MINHA AV CELESTE, PELO MUITO QUE ME ENSINOU E PELO ORGULHO DEMONSTRADO.

    MINHA TIA LENA, PELA CUMPLICIDADE E CARINHO, PELA MOTIVAO E CONFIANA.

    MINHA FAMLIA, PELO SUPORTE E PREOCUPAO CONSTANTE, SEM ESQUECER A FAMLIA

    BARRETO, QUE CARINHOSAMENTE ME ADOPTOU E APOIOU AO LONGO DO MEU PERCURSO

    ACADMICO.

    FAMLIA GASPAR, POR ME TER ACOLHIDO E ME FAZER SENTIR EM FAMLIA.

    AO SR. WALTER E SUA FAMLIA, PELO ACOLHIMENTO E ATENO DEMONSTRADA, PELOS

    SBIOS CONSELHOS E ACOMPANHAMENTO.

    FAMLIA BONADIO PELO CARINHO E HOSPITALIDADE, POR NOS FAZER SENTIR EM FAMLIA

    QUANDO ESTAMOS LONGE DA NOSSA.

    AO TOBIAS, MIA, PIAF, FARRUSCA, MILU, TUCHA E OUTROS AMIGOS FELPUDOS, PELA ALEGRIA

    QUE NOS CONTAGIA E POR NOS ENSINAREM A APRECIAR A SIMPLICIDADE DA VIDA. AO

    HOBBINHOS E FAJOCA, PELA COMPANHIA QUE FAZEM LENA E POR A AJUDAREM NAS

    TRADUES PARA A SOBRINHA.

  • v

    DIFERENTES ABORDAGENS TERAPUTICAS EM CES COM PARVOVIROSE CARACTERIZAO DO USO DE ANTIBITICOS

    RESUMO

    A PARVOVIROSE CANINA UMA IMPORTANTE CAUSA DE MORBILIDADE E MORTALIDADE EM

    MEDICINA VETERINRIA. EMBORA O TRATAMENTO ADEQUADO SEJA FREQUENTEMENTE BEM-

    SUCEDIDO, A TAXA DE SUCESSO TEM PERMANECIDO PRATICAMENTE INALTERADA AO LONGO DOS

    ANOS, REFLECTINDO UMA CLARA NECESSIDADE DE TERAPUTICAS MAIS EFICAZES QUE DIMINUAM

    A MORBILIDADE E O TEMPO DE HOSPITALIZAO, QUE AUMENTEM A TAXA DE SOBREVIVNCIA E

    QUE REDUZAM O CUSTO DO TRATAMENTO, TORNANDO-O ECONOMICAMENTE MAIS VIVEL TANTO

    PARA OS PROPRIETRIOS COMO PARA AS INSTITUIES PROTECTORAS.

    A UTILIZAO DE DIFERENTES PROTOCOLOS DE ANTIBIOTERAPIA EM CES INTERNADOS COM

    PARVOVIROSE FOI OBJECTO DE ESTUDO NO PRESENTE TRABALHO. FORAM ANALISADOS OS

    DADOS REFERENTES A 240 CANDEOS INTERNADOS NA CLNICA VETERINRIA AZEVET, ENTRE

    2000 E 2008. OS ANIMAIS FORAM DIVIDIDOS EM DIFERENTES GRUPOS DE ACORDO COM O

    PROTOCOLO DE ANTIBIOTERAPIA INSTITUDO.

    NO PRESENTE ESTUDO, NO FOI EVIDENCIADO O EFEITO DO GNERO, DA RAA, DA IDADE OU DO

    MS DE OCORRNCIA DA DOENA, NA TAXA DE SOBREVIVNCIA DOS ANIMAIS AFECTADOS. OS

    GRUPOS MAIS REPRESENTATIVOS FORAM COMPARADOS RELATIVAMENTE TAXA DE

    SOBREVIVNCIA E DURAO DO INTERNAMENTO. O GRUPO QUE RECEBEU AMOXICILINA E

    GENTAMICINA (AG) REGISTOU A TAXA DE SOBREVIVNCIA MAIS ELEVADA (95,5%), SEGUIDO PELO

    GRUPO QUE RECEBEU ENROFLOXACINA (E, 90%). OS GRUPOS QUE RECEBERAM AMOXICILINA (A)

    E CEFOXITINA E METRONIDAZOL (CM) REGISTARAM AS TAXAS DE SOBREVIVNCIA MAIS BAIXAS

    (76,9% E 75%, RESPECTIVAMENTE). A ANLISE ESTATSTICA REVELA UMA DIFERENA

    SIGNIFICATIVA (P=0,006) ENTRE ESTES GRUPOS. EM RELAO AO TEMPO DE INTERNAMENTO, A

    DIFERENA ENCONTRADA ENTRE AS MEDIANAS DOS NMEROS DE DIAS DE HOSPITALIZAO NO

    SIGNIFICATIVA (P=0,785).

    OS RESULTADOS OBTIDOS PERMITIRAM CONCLUIR QUE EXISTE DIFERENA ENTRE OS

    PROTOCOLOS DE ANTIBIOTERAPIA EM CES COM PARVOVIROSE RELATIVAMENTE TAXA DE

    SOBREVIVNCIA. A AVALIAO DA EFICCIA DOS DIFERENTES PROTOCOLOS DENTRO DE CADA

    ABORDAGEM TERAPUTICA RECOMENDADA NO TRATAMENTO DA PARVOVIROSE CANINA DEVE SER

    OBJECTO DE NOVOS ESTUDOS.

    Palavras-chave: ANTIBIOTERAPIA; TAXA DE SOBREVIVNCIA; HOSPITALIZAO; PARVOVIROSE;

    CO.

  • vi

  • vii

    DIFFERENT THERAPEUTIC APPROACHES IN DOGS WITH PARVOVIRAL ENTERITIS -

    CHARACTERIZATION OF THE USE OF ANTIBIOTICS

    ABSTRACT

    THE CANINE PARVOVIRUS ENTERITIS REMAINS A MAJOR CAUSE OF MORBIDITY AND MORTALITY IN

    VETERINARY MEDICINE. ALTHOUGH THE APPROPRIATE TREATMENT IS OFTEN SUCCESSFUL, THE

    SURVIVAL RATE HAS REMAINED ESSENTIALLY UNCHANGED OVER THE YEARS, REFLECTING A NEED

    FOR MORE EFFECTIVE THERAPIES THAT REDUCE THE MORBIDITY AND HOSPITALIZATION TIME,

    INCREASE SURVIVAL RATE AND AT THE SAME TIME MAY ALSO REDUCE THE COST OF TREATMENT,

    MAKING IT MORE ECONOMICALLY PROFITABLE FOR OWNERS AND SHELTERS.

    THE USE OF DIFFERENT PROTOCOLS OF ANTIBIOTICS IN HOSPITALIZED DOGS WITH PARVOVIRUS

    ENTERITIS HAS BEEN OBJECT OF INVESTIGATION IN THIS STUDY. MEDICAL RECORDS OF 240

    HOSPITALIZED DOGS WITH CANINE PARVOVIRUS ENTERITIS THAT WERE ADMITTED TO AZEVET, A

    LOCAL VETERINARY HOSPITAL, BETWEEN 2000 AND 2008 WERE ANALYZED. THE ANIMALS WERE

    DIVIDED INTO DIFFERENT GROUPS ACCORDING TO THE PROTOCOL OF THE ANTIBIOTIC

    ADMINISTERED.

    NO EVIDENCE OF THE EFFECT OF GENDER, BREED, AGE, OR MONTH OF OCCURRENCE ON THE

    SURVIVAL RATE WAS FOUND IN THE SAMPLE CHARACTERIZATION. THE MOST REPRESENTATIVE

    GROUPS WERE COMPARED ON THEIR SURVIVAL RATE AND DURATION OF HOSPITALIZATION. THE

    GROUP THAT RECEIVED AMOXICILLIN AND GENTAMICIN (AG) RECORDED THE HIGHEST SURVIVAL

    RATE (95.5%), FOLLOWED BY THE GROUP THAT RECEIVED ENROFLOXACIN (E, 90%). THE

    GROUPS THAT RECEIVED AMOXICILLIN (A) AND CEFOXITIN AND METRONIDAZOLE (CM) RECORDED

    THE LOWEST SURVIVAL RATES (76.9% AND 75% RESPECTIVELY). STATISTICAL ANALYSIS

    SHOWED A SIGNIFICANT DIFFERENCE (P=0.006) BETWEEN THESE GROUPS. REGARDING THE

    DURATION OF HOSPITALIZATION, THE DIFFERENCE BETWEEN THE MEDIAN NUMBERS OF DAYS OF

    HOSPITALIZATION WAS NOT SIGNIFICANT (P=0.785).

    THE RESULTS SHOWED THAT THERE ARE DIFFERENCES BETWEEN THE PROTOCOLS OF

    ANTIBIOTICS IN DOGS WITH PARVOVIRAL ENTERITIS ON THE SURVIVAL RATE. FURTHER

    INVESTIGATION IS WARRANTED IN ORDER TO EVALUATE THE EFFECTIVENESS OF THE VARIOUS

    PROTOCOLS OF THE DIFFERENT THERAPEUTIC APPROACHES RECOMMENDED IN THE TREATMENT

    OF CANINE PARVOVIRAL ENTERITIS.

    Keywords: ANTIBIOTIC THERAPY; SURVIVAL RATE; HOSPITALIZATION; PARVOVIRUS ENTERITIS;

    DOGS.

  • viii

  • ix

    NDICE GERAL

    NDICE DE TABELAS ................................................................................................................. x NDICE DE FIGURAS .................................................................................................................. x NDICE DE GRFICOS .............................................................................................................. xi LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS .................................................................................... xii I. INTRODUO ................................................................................................................... 1 II. PARVOVIROSE CANINA .................................................................................................. 3

    A. Etiologia e epidemiologia .............................................................................................. 3 1. Propriedades e evoluo do parvovrus canino ........................................................ 3 2. Distribuio e frequncia da parvovirose .................................................................. 4 3. Factores relacionados com a doena ....................................................................... 5 4. Preveno ................................................................................................................ 6

    B. Fisiopatologia e diagnstico .......................................................................................... 7

    1. Patognese .............................................................................................................. 7 2. Anamnese .............................................................................................................. 10 3. Apresentao clnica .............................................................................................. 11 4. Diagnsticos diferenciais e plano de diagnstico .................................................... 12

    4.1. Exames complementares .................................................................................. 12 4.2. Diagnstico viral e deteco de anticorpos ........................................................ 15 4.3. Diagnstico post mortem ................................................................................... 16

    5. Definio de spsis e outras complicaes associadas .......................................... 17 C. Prognstico e teraputica ............................................................................................ 18

    1. Avaliao e comunicao do prognstico ............................................................... 18 2. Estratgia teraputica ............................................................................................. 19

    2.1. Restaurao hemodinmica e electroltica ........................................................ 19 2.1.1. Volemia e equilbrio electroltico ................................................................... 20 2.1.2. Suporte onctico e oxigenao tecidular ...................................................... 23 2.1.3. Preveno da hipocalemia ........................................................................... 25 2.1.4. Controlo da glicemia..................................................................................... 26 2.1.5. Abordagem inicial contra a hipotenso refractria fluidoterapia ................. 26

    2.2. Proteco antibacteriana ................................................................................... 27 2.2.1. Antibiticos beta-lactmicos ......................................................................... 29 2.2.2. Aminoglicosdeos ......................................................................................... 32 2.2.3. Fluoroquinolonas .......................................................................................... 33 2.2.4. Nitroimidazis............................................................................................... 34 2.2.5. Durao da antibioterapia ............................................................................ 35 2.2.6. Outras opes antibacterianas ..................................................................... 35

    2.3. Recuperao da integridade gastrointestinal ..................................................... 36 2.3.1. Teraputica nutricional ................................................................................. 36 2.3.2. Controlo do vmito ....................................................................................... 39 2.3.3. Proteco da mucosa esofgica e gastrointestinal ....................................... 41

    2.4. Teraputicas complementares ........................................................................... 42 2.4.1. Desparasitao ............................................................................................ 42 2.4.2. Maneio da dor .............................................................................................. 42 2.4.3. Imunoterapia ................................................................................................ 43 2.4.4. Corticoterapia ............................................................................................... 45 2.4.5. Heparinizao .............................................................................................. 46 2.4.6. Oxigenoterapia ............................................................................................. 47 2.4.7. Outras consideraes teraputicas .............................................................. 47

    2.5. Monitorizao da doena e da teraputica ........................................................ 47

  • x

    III. CARACTERIZAO DO USO DE ANTIBITICOS EM CES COM PARVOVIROSE .. 50 A. Objectivos ................................................................................................................... 50 B. Material e mtodos ...................................................................................................... 50 C. Resultados .................................................................................................................. 51

    1. Caracterizao da amostra em estudo ................................................................... 51 2. Caracterizao do uso de antibiticos em ces internados com parvovirose .......... 54

    D. Discusso ................................................................................................................... 57 E. Concluses ................................................................................................................. 63

    IV. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 65 V. ANEXOS ......................................................................................................................... 81

    A. Anexos da dissertao e estudo. ................................................................................. 81 1. Resumo da fluidoterapia e nutrio ........................................................................ 81 2. Resumo da medicao referida no presente trabalho ............................................. 82 3. Estimativa do custo dirio de medicao referida no presente trabalho .................. 83 4. Monitorizao de animais internados com parvovirose ........................................... 84 5. Imagens de casos de parvovirose da clnica Azevet ............................................... 85

    B. Anexos referentes ao perodo de estgio .................................................................... 87 1. Descrio das actividades realizadas e relatrio da casustica observada durante o estgio curricular ........................................................................................................ 87

    NDICE DE TABELAS Tabela 1 Critrios utilizados nas definies de infeco, spsis, inflamao e insuficincia orgnica em ces com parvovirose ...................................................................................... 17 Tabela 2 Parmetros de perfuso e objectivos teraputicos em caso de choque ............. 20 Tabela 3 Parmetros clnicos utilizados na avaliao do grau de desidratao (%) ......... 22 Tabela 4 Frmulas teis na fluidoterapia .......................................................................... 22 Tabela 5 Indicaes para o suplemento de potssio na fluidoterapia ............................... 26 Tabela 6 Associao entre a contagem de neutrfilos e o risco de infeco oportunista .. 29 Tabela 7 Frmulas para a nutrio parentrica perifrica (cateter intravenoso perifrico) e total (cateter intravenoso central) ......................................................................................... 39 Tabela 8 Organizao em grupos conforme o protocolo de antibioterapia adoptado ........ 51 Tabela 9 Distribuio de gneros dos casos de estudo face ao desfecho ........................ 51 Tabela 10 Distribuio dos casos por idades (meses) face ao desfecho .......................... 52 Tabela 11 Distribuio dos casos por raas (por ordem de frequncia) face ao desfecho 52 Tabela 12 Distribuio dos casos de estudo ao longo dos meses do ano, conforme o desfecho .............................................................................................................................. 52 Tabela 13 Resumo do estudo relativamente a caracterizao da amostra ....................... 53 Tabela 14 Distribuio dos ces nos grupos de antibioterapia, consoante o desfecho e a durao da hospitalizao ................................................................................................... 54 Tabela 15 Comparaes entre 4 dos grupos estudados (A, AG, CM e E) ........................ 54 Tabela 16 Distribuio dos casos de grupo consoante o ano e a sobrevivncia ............... 55 Tabela 17 Comparao entre os grupos de antibioterapia (A, AG, CM e E) relativamente durao da hospitalizao ................................................................................................... 57 Tabela 18 Relao entre os resultados obtidos e o custo dos protocolos de antibioterapia. ............................................................................................................................................ 57

    NDICE DE FIGURAS Figura 1 Localizaes anatmicas para o acesso intra-sseo .......................................... 21 Figura 2 Representao esquemtica da patognese da infeco da E. coli enterotoxignica (A) e da enteropatognica (B) no co........................................................ 28 Figura 3 Principais relaes farmacocinticos-farmacodinmicos dos antimicrobianos .... 29

  • xi

    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 1 Distribuio dos casos de estudo ao longo dos anos (2001-2008), conforme o desfecho .............................................................................................................................. 53 Grfico 2 Frequncia da utilizao dos antibiticos mais utilizados em ces com parvovirose ao longo dos anos de estudo ............................................................................ 55 Grfico 3 Distribuio dos 240 casos de parvovirose canina pelo nmero dias de internamento, de acordo com o desfecho ............................................................................ 56 Grfico 4 Distribuio dos casos pelo nmero de dias em que ficaram internados. ......... 56 Grfico 5 Frequncias relativas das espcies animais observadas durante o estgio ..... 87 Grfico 6 Distribuio das consultas assistidas segundo a especialidade e a espcie animal (frequncia relativa) .................................................................................................. 88 Grfico 7 Distribuio das cirugias consoante o tipo de interveno e a espcie animal . 88

    NDICE DE CASOS Caso 1 Cachorro com parvovirose e parasitismo intestinal (A e B) ................................... 85 Caso 2 Vmito (A) e diarreia sanguinolenta (B e C) numa cadela Labrador Retriever ...... 85 Caso 3 Hematemese num candeo adulto com parvovirose (A e B) ................................. 86 Caso 4 Cachorro com quadro ligeiro de parvovirose ........................................................ 86 Caso 5 Tumor mamrio ulcerado numa gata .................................................................... 89 Caso 6 Massa com aspecto de histiocitoma numa cadela de raa Cocker ....................... 89 Caso 7 Ndulo na terceira plpebra de um Rafeiro Alentejano ........................................ 89 Caso 8 Reaco alrgica num Labrador Retriever (A) e em pormenor (B) ....................... 89 Caso 9 Exoftalmia num co antes (A) e aps (B) resoluo cirrgica ............................... 90 Caso 10 Edema sublingual numa gata ............................................................................. 90 Caso 11 Dermatite alrgica picada da pulga num Pastor Alemo (A, B e C) ................. 90 Caso 12 Diarreia de cor esverdeada num co intoxicado com metaldedo (moluscicida) . 90 Caso 13 Cadela com ttano, aspecto de cavalo-de-pau ou postura de cavalete (A e B) .. 91 Caso 14 Boxer com baixo ndice corporal e ascite ........................................................... 91 Caso 15 Co com aumento do volume abdominal devido ao hiperadrenocorticismo........ 91 Caso 16 Gato com fractura em ramo verde do rdio e da ulna ......................................... 91 Caso 17 Candeo em mau estado geral (A) e com fractura exposta da tbia (B e C) ........ 92 Caso 18 Eviscerao traumtica numa cadela Cocker (A e B) ......................................... 92 Caso 19 Amputao do membro anterior esquerdo de um Labrador Retriever (A, B, C e D) ............................................................................................................................................ 92 Caso 20 Aspecto radiogrfico de fractura completa do mero direito num cachorro de 3 meses (A), sua reduo cirgica (B e C), aspecto radiogrfico ps-operatrio (D) e recobro do animal (E) ....................................................................................................................... 93 Caso 21 Caudectomia num gato (A, B e C) ...................................................................... 93 Caso 22 Co adulto (A) com apresentao de vmito bilioso (B), devido obstruo intestinal alta, e posterior enteretomia para remoo do corpo estranho (C e D) ................. 93 Caso 23 Plipo vaginal numa cadela (A), episiotomia para remoo do mesmo (B) e posterior deiscncia dos pontos (C) ..................................................................................... 94 Caso 24 Arara vermelha com alterao do comportamento ............................................. 94 Caso 25 Parafimose numa chinchila macho (A) e em pormenor (B) ................................. 94 Caso 26 Suspeita de dermatofitose em humano .............................................................. 94

  • xii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS% percentagem

    < menor

    = igual

    > maior

    diferente marca registada

    euro A amoxicilina

    Ac anticorpo

    ADN cido desoxirribonucleico

    ALT alanina aminotransferase

    ARN cido ribonucleico

    AT antitrombina

    bpm batimentos por minuto

    C cefoxitina

    CID coagulao intravascular disseminada

    cm centmetro

    CMI concentrao mnima inibitria

    CMV Canine minute virus

    CPV Canine parvovirus (parvovrus canino)

    CTZ chemoreceptor trigger zone (zona quimiorreceptora de gatilho)

    dl decilitro

    E enrofloxacina

    E.U.A. Estados Unidos da Amrica

    ELISA enzyme linked immunosorbent assay

    FC frequncia cardaca

    FR frequncia respiratria

    FPV Feline panleukopenia virus (vrus da panleucopenia felina)

    g grama

    G gentamicina

    Ga Gauge

    gtt gotas

    h hora

    H0 hiptese nula

    H20 gua

    Ha hiptese alternativa

    HEA hidroxietilamido

    ICQ imunocitoqumica

    IgG imunoglobulina G

    IM intramuscular

    INF. infeco

    IO intra-ssea

    IV intravenosa

    kcal quilocalorias

    KCl cloreto de potssio

    kDa quilo Dalton

    kg quilogramas

    l litro

    M metronidazol

    Mx. mximo

    mEq miliequivalente

    mg miligrama

    min minuto

    mn. mnimo

    ml mililitro

    mm Hg milmetros de mercrio

    mmol milimole

    mOsm miliosmole

    mU milhes de unidades

    NaCl cloreto de sdio

    NAC novos animais de companhia

    ND no disponvel

    NER necessidades energticas em repouso

    NF no fraccionada

    N. nmero

    NS morreram

    C graus Celsius

    P peso

    p valor de prova

    PAM presso arterial mdia

    PCR polymerase chain reaction

    PDF produtos de degradao da fibrina

    pg picograma

    pH potencial de hidrognio

    PO per os (oral)

    PVC Presso venosa central

    q. quaque (a cada)

    rcG-CSF

    recombinant canine granulocyte colony-stimulating factor (factor estimulante de colnias granulocticas recombinante canino)

    rhG-CSF

    recombinant human granulocyte colony-stimulating factor (factor estimulante de colnias granulocticas recombinante humano)

    rpm respiraes por minuto

    S sobreviveram

    SC subcutnea

    s segundo

    SIMS sndrome de insuficincia multiorgnica sistmica

    SNC sistema nervoso central

    SRIS sndrome de resposta inflamatria sistmica

    T Temperatura

    TNF tumor necrosis factor (factor de necrose tumoral)

    TP tempo de protrombina

    TRC tempo de repleo capilar

    TTPa tempo de tromboplastina parcial activada

    Tx taxa

    UI unidade internacional

    alfa beta m nanmetro g micrograma l microlitro mol micromole

    2 Qui-quadrado

  • 1

    I. INTRODUO

    A PARVOVIROSE CANINA CONTINUA A SER UMA IMPORTANTE CAUSA DE MORBILIDADE EM

    MEDICINA VETERINRIA, APESAR DA DISPONIBILIDADE DE VACINAS EFICAZES. O TRATAMENTO

    ADEQUADO PODE RESULTAR NUMA ELEVADA TAXA DE SOBREVIVNCIA ENQUANTO QUE A SUA

    AUSNCIA FREQUENTEMENTE FATAL (SAVIGNY, 2008). PRETENDE-SE COM O PRESENTE

    TRABALHO ESTUDAR AS DIFERENTES ABORDAGENS TERAPUTICAS RECOMENDADAS NO

    TRATAMENTO INTRA-HOSPITALAR DE CES AFECTADOS POR PARVOVIROSE.

    O PARVOVRUS CANINO UM VRUS EMERGENTE, EM CONTNUA EVOLUO, ORIGINANDO NOVOS

    TIPOS ANTIGNICOS QUE SE PROPAGAM PELA POPULAO CANINA. AS DIFERENTES VARIANTES

    FORAM PROVAVELMENTE SELECCIONADAS EM CONSEQUNCIA DO APERFEIOAMENTO DA

    LIGAO DA CPSIDE VIRAL AOS RECEPTORES DE TRANSFERRINA E CAPACIDADE DE INFECTAR

    HOSPEDEIROS QUE, PARA OS MAIS RECENTES TIPOS ANTIGNICOS, INCLUI ESPCIES CANINAS E

    FELINAS, TANTO DOMSTICAS COMO SELVAGENS (TRUYEN, 2006).

    O VRUS INFECTA AS CLULAS QUE SE DIVIDEM RAPIDAMENTE, ESPECIALMENTE CLULAS

    PROGENITORAS MIELIDES DA MEDULA SSEA E CLULAS DO EPITLIO INTESTINAL, O QUE

    RESULTA NA SUA DESTRUIO, CAUSANDO UM QUADRO CLNICO CARACTERIZADO POR VMITO,

    DIARREIA HEMORRGICA, DESIDRATAO E LEUCOPENIA. OS CACHORROS AT AOS 6 MESES DE

    IDADE SO OS MAIS FREQUENTEMENTE AFECTADOS. A CONSCINCIA DA IMPORTNCIA DA

    SINTOMATOLOGIA E DA HISTRIA PREGRESSA NA PARVOVIROSE CANINA FACILITA O

    ENQUADRAMENTO DOS DIAGNSTICOS MAIS PROVVEIS DE MODO A EXECUTAR UM PLANO DE

    EXAMES ADEQUADO AO ANIMAL DOENTE, NO SE PODENDO SER COMPLACENTE NA ANAMNESE E

    NA TOMADA DE DECISES (PRITTIE, 2004). A DESIDRATAO GRAVE, A PERDA DE PROTENA, AS

    DOENAS CONCOMITANTES E A INCAPACIDADE DE PRODUZIR UMA RESPOSTA IMUNOLGICA

    EFICAZ, PODEM EVOLUIR RAPIDAMENTE E RESULTAR EM CHOQUE E MORTE (MCCAW & HOSKINS,

    2006).

    SEMPRE QUE POSSVEL, O PROGNSTICO DEVE SER COMUNICADO DE FORMA A SER

    COMPREENDIDO, E O TRATAMENTO ACESSVEL AO PROPRIETRIO (SMITH, 2006). SE POR UM

    LADO, A TAXA DE SOBREVIVNCIA ELEVADA QUANDO SE PODE OPTAR POR TERAPUTICAS

    AGRESSIVAS, POR OUTRO, AS RESTRIES FINANCEIRAS LEVAM A QUE SEJAM ADOPTADOS

    TRATAMENTOS COM MENOR PROBABILIDADE DE SUCESSO, OU QUE SE DECIDA PELA EUTANSIA

    (MANN, BOON, WAGNER-MANN, RUBEN & HARRINGTON, 1998). ASSIM, EXISTE UMA CLARA

    NECESSIDADE DE TERAPUTICAS EFICAZES QUE DIMINUAM A MORBILIDADE E A HOSPITALIZAO,

    AUMENTEM A SOBREVIVNCIA E REDUZAM O CUSTO DO TRATAMENTO, TORNANDO-O

    ECONOMICAMENTE MAIS VIVEL TANTO PARA OS PROPRIETRIOS COMO PARA AS INSTITUIES

    QUE ABRIGAM ANIMAIS (SAVIGNY, 2008; MANN ET AL., 1998).

    O PRINCIPAL OBJECTIVO DO TRATAMENTO DA PARVOVIROSE CANINA PROVIDENCIAR AS

    CONDIES NECESSRIAS PARA A REPARAO DA MUCOSA AFECTADA E IMPEDIR O

    DESENVOLVIMENTO DE DOENA SISTMICA, ATRAVS DE MEDIDAS QUE PERMITAM A

  • 2

    RESTAURAO DA PRESSO SANGUNEA E DA HIDRATAO (FLUIDOTERAPIA, VASOPRESSORES E

    ANTIEMTICOS), A PROTECO ANTIBACTERIANA (ANTIBIOTERAPIA) E O SUPORTE LOCAL

    (NUTRIO, INIBIDORES DA SECREO GSTRICA E CITOPROTECTORES). OUTRAS ABORDAGENS

    TM SIDO ESTUDADAS, MAS OS RESULTADOS APRESENTADOS SO VARIVEIS OU

    DECEPCIONANTES (PRITTIE, 2004; SAVIGNY & MACINTIRE, 2010).

    A antibioterapia um aspecto teraputico imprescindvel no tratamento desta doena, e a

    limitada margem para erro obriga cobertura dos agentes mais provavelmente envolvidos

    (Willard, 2009). Que se tenha conhecimento no existe nenhum estudo sobre a influncia da

    antibioterapia no processo clnico da parvovirose canina. Assim, este trabalho teve o

    objectivo de comparar a taxa de sobrevivncia e a durao da hospitalizao entre os

    diferentes protocolos de antibioterapia em 240 ces com parvovirose.

  • 3

    II. PARVOVIROSE CANINA

    A. ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA

    1. Propriedades e evoluo do parvovrus canino

    A famlia Parvoviridae caracteriza-se por no possuir envelope e apresentar dimenses

    muito reduzidas (com 18 a 26 m de dimetro). O genoma, constitudo por uma molcula

    linear de ADN simples, engloba aproximadamente 5000 bases (Berns & Parrish, 2007).

    A maioria dos parvovrus autnoma, no requerendo a co-infeco com um vrus auxiliar

    para resultar numa infeco produtiva. Contudo, para ocorrer replicao viral, necessita da

    clula hospedeira na fase S da mitose, aquando da replicao do ADN, infectando clulas

    em diviso rpida presentes em tecidos com ndices mitticos elevados (Smith-Carr,

    Macintire & Swango, 1997; Murphy, Gibbs, Horzinek & Studdert, 1999).

    Os sintomas tpicos da parvovirose canina foram reportados pela primeira vez em 1977, no

    Texas, E.U.A. (Eugster & Nairn, 1977 citado por Mech & Goyal, 1995). Mas foi s em 1978

    que uma pandemia, caracterizada por casos de miocardite fatal nos neonatos e

    gastroenterite hemorrgica nos mais velhos, se abateu sobre a populao canina mundial e

    matou milhares de ces (Appel, Cooper, Greisen & Carmichael, 1978; Kelly, 1978).

    O agente patognico identificado foi denominado parvovrus canino tipo 2 (Canine

    parvovirus type 2, CPV-2), para diferenciar do parvovrus canino tipo 1 (Canine parvovirus

    type 1, CPV-1), isolado em 1967 na Alemanha a partir de fezes de ces militares saudveis

    (Binn, Lazar, Eddy & Kajima, 1970; Lamm & Rezabeck, 2008). O CPV-1, oficialmente

    reconhecido como Canine minute virus (CMV), tem sido identificado como causa pouco

    frequente de infeces gastrointestinais e respiratrias em cachorros (International

    Committee on Taxonomy of Viruses, 2009; McCaw & Hoskins, 2006).

    Embora o CPV-2 (ou CPV) e o CMV pertenam ambos subfamlia Parvovirinae, exibem

    caractersticas genticas e antignicas diferentes. Actualmente, o CPV no considerado

    uma espcie, mas sim um subgrupo da espcie Feline panleukopenia virus (FPV, vrus da

    panleucopenia felina), pertencente ao gnero Parvovirus. Por outro lado, o CMV uma

    espcie do gnero Bocavirus, filogeneticamente mais prximo do parvovrus bovino (E.

    Lefkowitz, comunicao pessoal, Novembro 19, 2009; Berns & Parrish, 2007).

    Analisando o relgio molecular, Shackelton e seus colegas estimam que o vrus CPV-2

    tenha emergido pelo menos 10 anos antes de ter sido descrito pela primeira vez em 1978,

    mantendo-se na populao canina por muitos anos e acumulando mutaes benficas sob

    forte seleco positiva (Shackelton, Parrish, Truyen & Holmes, 2005).

    Entre 1979 e 1981, o vrus original CPV-2 foi substitudo por um novo tipo antignico,

    denominado por CPV-2a, e alguns anos mais tarde, entre 1983 e 1984, uma nova mutao

    deu lugar a outra variante, CPV-2b, que rapidamente se disseminou pelo mundo (Parrish et

    al., 1991). Uma variante antignica identificada em Itlia no ano 2001, mas em circulao na

    Alemanha desde 1996, tem sido reconhecida como CPV-2c (Buonavoglia et al., 2001;

  • 4

    Decaro et al., 2007a; Martella et al., 2004; Prez et al., 2007; Cavalli et al., 2008; Moon et

    al., 2008; Decaro et al., 2009b).

    A protena viral VP2, a principal constituinte da cpside do CPV, induz a produo de

    anticorpos (Ac) no hospedeiro (Doki et al., 2006). Apesar de apresentar o genoma com

    ADN, o CPV possui uma elevada taxa de substituio de nucletidos, semelhante

    observada nos vrus ARN, e a forte presso de seleco sobre o gene responsvel pela VP2

    favorece a contnua evoluo do vrus (Decaro et al., 2007a; Decaro et al., 2009a). Os novos

    tipos antignicos foram provavelmente seleccionados devido ao aperfeioamento da adeso

    da cpside aos receptores transferrina, uma vez que exibem adeses mais eficazes que o

    vrus original (Hueffer & Parrish, 2003; Truyen, 2006).

    Na ordem Carnivora, membros de seis famlias so susceptveis infeco pelas variantes

    do CPV: Canidae (co, lobo e raposas), Felidae (gato, tigre siberiano e chita), Mustelidae

    (fuinha e vison), Ursidae (urso-pardo e panda), Procyonidae (guaxinim) e Viverridae (gineta)

    (Marsilio et al., 1997; Steinel, Munson, van Vuuren & Truyen, 2000; Steinel, Parrish, Bloom &

    Truyen, 2001; Frlich et al., 2005; Loeffler et al., 2007; Santos, Almendra & Tavares, 2009).

    O co (Canis lupus familiaris) parece ser o principal hospedeiro, mas as variantes 2a, 2b e

    2c do CPV adquiriram a capacidade de infectar o gato (Felis silvestris catus), vantagem que

    a estirpe original (CPV-2) no possua, e de provocar doena clnica com sintomatologia

    semelhante causada pelo FPV (Truyen, Evermann, Vieler & Parrish, 1996).

    Na fauna selvagem, a mortalidade provocada pelo CPV pode ter como consequncia a

    diminuio da competio pelo alimento, reduzindo o nmero de mortes por outras causas,

    como fome e conflitos internos. No entanto, as populaes susceptveis podem ver o seu

    nmero de indivduos reduzir por aco do CPV (Mech, Goyal, Paul & Newton, 2008).

    A variedade de hospedeiros do CPV parece estar naturalmente limitada aos carnvoros,

    embora os receptores de transferrina humanos possam ser usados pelo CPV para infectar

    clulas humanas, mas no h provas de que os humanos sejam infectados por este vrus;

    provvel que muitos outros factores impeam a infeco do CPV de forma eficiente (Parker,

    Murphy, Wang & Parrish, 2001).

    2. Distribuio e frequncia da parvovirose

    O agente da parvovirose canina ubquo e apresenta uma distribuio mundial. Embora o

    vrus original (CPV-2) tenha desaparecido na populao canina, ainda utilizado nas

    vacinas comerciais (Cavalli et al., 2008). As variantes ulteriores (2a, 2b e 2c) apresentam

    uma distribuio mundial muito varivel, no cabendo neste estudo a sua anlise em

    detalhe (Decaro et al., 2007; Kapil et al., 2007; Meers, Kyaw-Tanner, Bensink &

    Zwijnenberg, 2007; Calderon et al., 2009).

    Uma anlise da dinmica populacional actual do CPV revelou, escala global, populaes

    virais subdivididas no espao, de tamanho constante e com pouca movimentao entre os

  • 5

    pases. Esta migrao limitada contrasta com a disseminao global do vrus observada na

    fase inicial da pandemia do CPV-2, mas corresponde natureza mais endmica das

    infeces actuais (Hoelzer, Shackelton, Parrish & Holmes, 2008).

    As doenas como a parvovirose canina, com um curso agudo, tm uma incidncia

    geralmente superior prevalncia (Evermann, Sellon & Sykes, 2006). Estima-se que, s nos

    E.U.A., mais de um milho de ces seja afectado anualmente pela parvovirose (Otto,

    Jackson, Rogell, Prior & Ammons, 2001).

    3. Factores relacionados com a doena

    No que diz respeito ao hospedeiro, os factores mais crticos so a idade e o estado

    imunitrio, j que a maioria dos animais adultos apresenta imunidade devido infeco

    natural ou vacinao. Quando a infeco ocorre em ces adultos, muitas vezes

    subclnica. Por outro lado, os cachorros com menos de 6 meses so a populao de maior

    risco (Smith-Carr et al., 1997).

    Existem vrios factores predisponentes para a infeco por parvovrus em cachorros,

    nomeadamente a falta de imunidade protectora, o parasitismo intestinal, as condies

    ambientais insalubres e o factor stress (Smith-Carr et al., 1997). Como a replicao do CPV

    ocorre selectivamente em clulas em diviso, qualquer agente (parasitas, bactrias ou vrus)

    que provoque a leso das vilosidades intestinais, estimula a mitose dos tecidos e facilita a

    replicao do CPV, causando consequentemente uma forma mais grave da doena (Appel,

    1988). A incidncia da doena aumenta por altura do desmame (4-8 semanas de vida).

    Nesta idade, os entercitos das criptas intestinais tm maior ndice mittico devido a

    alteraes da flora bacteriana e da dieta, sendo consequentemente mais propensos a

    leses causadas pelo vrus (Houston, Ribble & Head, 1996; Hoskins, 2001).

    O ttulo de Ac maternos apresentado pelo neonato varia com a quantidade de colostro

    ingerido nas primeiras 72 horas de vida, com o ttulo srico da cadela no parto, uma vez que

    o ttulo de Ac do colostro corresponde a 50% do ttulo da progenitora, e com o tamanho da

    ninhada (Pollock & Carmichael, 1982; Smith-Carr et al., 1997). Normalmente entre as 10 e

    as 14 semanas de idade, os Ac maternos diminuem para nveis no protectores, embora

    ainda bloqueiem a resposta imunolgica vacina (Greene & Schultz, 2006).

    Determinadas raas parecem ser mais susceptveis infeco e ao desenvolvimento da

    doena, particularmente o Rottweiler e o Dobermann Pinscher (Gilckman, Domanski,

    Patronek & Visintainer, 1985; Houston et al., 1996; Nemzek, Agrodnia & Hauptman, 2007).

    A altura mais provvel para a admisso hospitalar de ces com parvovirose parece ser

    durante os meses de Vero. nesta poca do ano que os canis recolhem mais animais

    abandonados e, por outro lado, o clima ameno convida os donos a passear os ces em

    espaos pblicos com maior risco. A combinao destes factores pode favorecer a

    disseminao do vrus (Houston et al., 1996; Rosenthal, 2009).

  • 6

    O contgio resulta normalmente do contacto com fezes contaminadas no ambiente,

    ocorrendo a transmisso por via oro-nasal. A persistncia do CPV no meio ambiente

    atribuda sua resistncia e sua disseminao por animais durante o perodo de

    incubao, isto , entre os 4 e os 14 dias aps a infeco, ou pelos subclinicamente

    infectados, em que a excreo viral normalmente se inicia no 3 dia, e dura no mximo 14

    dias (Smith-Carr et al., 1997; Savigny, 2008). Esta capacidade do vrus propicia o encontro

    de hospedeiros susceptveis, o que tpico de agentes altamente infecciosos, capazes de

    induzir uma forte resposta imunitria e que precisam de um nmero constante de

    hospedeiros para garantir o sucesso da replicao (Evermann et al., 2006).

    Pessoas, animais e fmites podem contribuir para a propagao do vrus. Este pode

    percorrer grandes distncias no plo do animal infectado; o comrcio de animais favorece a

    disseminao entre os continentes (Rosenthal, 2009).

    4. Preveno

    Um co com uma histria sugestiva de parvovirose deve ser isolado de outros ces e gatos,

    e as superfcies contaminadas devem ser desinfectadas, de modo a evitar a propagao da

    doena (Macintire & Smith-Carr, 1997). Os parvovrus so extremamente estveis e

    resistentes s influncias ambientais adversas durante meses ou at anos, suportando uma

    ampla variedade de pH, temperaturas e desinfectantes, podendo ser inactivados por

    hipoclorito de sdio, formalina e luz solar (Kennedy, Mellon, Caldwell & Potgieter, 1995;

    Smith-Carr et al., 1997). No entanto, mais importante que uma boa higienizao para

    prevenir a infeco pelo vrus, assegurar uma imunizao individual e eficaz (Prittie, 2004).

    A vacinao adequada da me essencial para proteger a ninhada, mas tambm a

    principal causa de insucesso na vacinao dos cachorros, conforme j referido

    anteriormente. A forma mais eficaz para contornar o efeito dos Ac maternos a utilizao de

    vacinas com vrus vivo modificado (CPV-2 ou CPV-2b), ttulo elevado (entre 103 e 107,5) e

    baixo nmero de passagens (Greene & Schultz, 2006; Day, Horzinek & Schultz, 2010).

    A utilizao de vacinas atenuadas, com o vrus vivo modificado, em cachorros com menos

    de 5 semanas pode provocar leses nas clulas em diviso rpida, como as do miocrdio.

    Estas vacinas tambm no so recomendadas em imunodeprimidos e em cadelas

    gestantes, na medida em que a doena pode desenvolver-se nos primeiros e provocar

    aborto ou malformaes fetais nas ltimas (Greene & Schultz, 2006).

    O calendrio de vacinao actualmente recomendado comea a partir da 8-9 semana de

    idade, com reforos a cada 3 a 4 semanas, at s 14-16 semanas (Day et al., 2010). Os

    ces com mais de 16 semanas devem receber duas doses, com um intervalo de 3 a 4

    semanas. A revacinao deve ser efectuada um ano aps o final da primovacinao, e as

    seguintes devem ser administradas de 3 em 3 anos, ou consoante os ttulos serolgicos

    (Day et al., 2010).

  • 7

    O CPV vacinal excretado no causa doena em cachorros susceptveis com mais de 4

    semanas, uma vez que a estirpe vacinal muito estvel, podendo at imuniz-los. Contudo,

    pode causar miocardite em animais mais jovens (Day et al., 2010). Apesar de nunca se ter

    demonstrado a reverso da virulncia da estirpe vacinal, recentemente foi testemunhada a

    sua recombinao com uma variante natural (Mochizuki, Ohsima, Une & Yachi, 2008).

    Embora as vacinas com CPV-2 ainda sejam eficazes na proteco contra as variantes, tm

    sido reportadas falhas na imunizao de ces adultos. Tal situao pode explicar-se pelo

    declnio fisiolgico da imunidade protectora, ou pelo aumento da virulncia ou do tropismo

    inerente de algumas estirpes (Decaro et al., 2008; Larson & Schultz, 2008).

    A utilizao profiltica de imunoglobulinas pode ser benfica em neonatos sem acesso a

    colostro. Porm, as reaces alrgicas e o atraso da resposta imunitria vacinao so

    alguns inconvenientes provveis desta prtica (Greene & Schultz, 2006).

    B. FISIOPATOLOGIA E DIAGNSTICO

    1. Patognese

    A informao disponvel sobre a patologia da parvovirose canina baseia-se em trabalhos

    iniciais com o CPV-2 original. No entanto, os resultados de alguns estudos mais recentes

    indicam que as variantes antignicas posteriores apresentam uma maior virulncia e so

    capazes de provocar doena mais grave (Truyen, 2006; Decaro et al., 2005). A ligao do

    parvovrus ao receptor da transferrina, presente nas clulas em diviso activa, ajuda a

    compreender o mecanismo particular da infeco pelo parvovrus. Este pode causar

    infeces agudas, persistentes ou latentes, conforme a imunocompetncia e a fase de

    desenvolvimento do hospedeiro (Hueffer et al., 2003; Truyen, 2006).

    Aps a exposio, o vrus inicia a sua replicao no tecido linfide da orofaringe, sendo

    depois transportado pela circulao sangunea at ao timo e aos linfonodos mesentricos

    (McCaw & Hoskins, 2006). O vrus ento conduzido para outros tecidos com ndices

    elevados de mitose, onde se multiplica. Os animais podem manifestar anorexia e febre

    ligeira durante a viremia, que normalmente ocorre entre o 1 e o 5 dia ps-infeco, mas

    recuperam desta breve fase antes de progredir para a doena clnica que surge entre 4 e 14

    dias aps a exposio (Cohn et al., 1999; McCaw & Hoskins, 2006).

    Tropismo tecidular

    Aps a infeco, o parvovrus pode ser encontrado no miocrdio, no epitlio intestinal, na

    medula ssea e no tecido linfide, sobretudo linfonodos, timo e bao. Pode tambm ser

    detectado nos pulmes, fgado, rins e pele, embora com menos frequncia (McCaw &

    Hoskins, 2006). A taxa de renovao celular dos tecidos linfides e intestinal parece ser o

    principal factor que determina a gravidade da doena causada pelo CPV (Smith-Carr et al.,

    1997).

  • 8

    No gato, semelhana do FPV, o CPV apresenta tropismo para o cerebelo e pode causar

    hipoplasia cerebelar (Url, Truyen, Rebel-Bauder, Weissenbck & Schmidt, 2003). O

    envolvimento do sistema nervoso central (SNC) ainda no foi esclarecido no co; estudos

    recentes detectaram o genoma e o ARN mensageiro do CPV no SNC (Decaro et al., 2007b;

    Elia et al., 2007). A parvovirose canina pode ter repercues no SNC indirectamente,

    atravs da presena de hipoglicemia e do desequilbrio electroltico. Tambm o consumo de

    factores da coagulao, em consequncia da hemorragia gastrointestinal e da coagulao

    intravascular disseminada (CID), pode causar hemorragias ao nvel do SNC (McCaw &

    Hoskins, 2006).

    Forma Cardaca

    A insuficincia cardaca desenvolve-se em cachorros infectados no tero, quando as

    progenitoras apresentam nveis insuficientes de Ac, ou em cachorros com menos de 8

    semanas privados de colostro. A exposio ao vrus pode ser causa de infertilidade

    infecciosa na cadela, por resultar em aborto ou nascimento de nados-mortos (McCaw &

    Hoskins, 2006).

    No co, a diviso rpida dos cardiomicitos persiste durante as 2 primeiras semanas de

    vida, ocorrendo hipertrofia celular no desenvolvimento posterior do corao, embora a

    sntese de ADN e a cintica nuclear persistam at s 8 semanas (Bishop & Hine, 1975). Os

    sinais de insuficincia cardaca manifestam-se mais tarde, acabando os animais por morrer

    subitamente ou devido ao desenvolvimento de edema pulmonar. Por vezes, a nica

    evidncia de doena cardaca encontrada na necropsia. Graas eficcia da vacinao

    das mes, esta forma clnica reduziu drasticamente (Macintire & Smith-Carr, 1997).

    Forma entrica

    O epitlio das criptas intestinais, responsvel pela regenerao e diferenciao celular das

    vilosidades, destrudo aquando da viremia e no devido aco directa do vrus no lmen

    intestinal. A atrofia e a necrose das vilosidades causam a inevitvel perda da capacidade de

    absoro e alteram a impermeabilidade intestinal, resultando em diarreia. Como a

    renovao celular rpida, apenas 1 a 3 dias, h evidncias de regenerao intestinal,

    mesmo nos casos fatais. A doena pode ter um desenvolvimento mais rpido e grave em

    animais que apresentam a barreira intestinal comprometida por aco de outros agentes

    (Savigny, 2008).

    O aumento da permeabilidade resulta na perda de protenas, electrlitos e clulas de

    defesa, e propicia a passagem de bactrias do lmen intestinal para a corrente sangunea,

    principalmente de bactrias Gram-negativas e anaerbias (McCaw & Hoskins, 2006).

  • 9

    A estimulao do nervo vago e dos aferentes simpticos viscerais, induzida pela inflamao

    e distenso gastrointestinal, e a libertao de mediadores associados endotoxina e s

    citocinas, contribuem para a activao local e central do vmito (Mantione & Otto, 2005).

    Aco na medula ssea

    A imunodeficincia relativa, secundria destruio dos precursores medulares dos

    leuccitos, facilita a invaso viral do tracto gastrointestinal. Curiosamente, o CPV poupa os

    precursores hematopoiticos para destruir nas fases posteriores. A leso da medula ssea,

    que tambm pode ocorrer aps a spsis, caracterizada por graves alteraes

    degenerativas nas clulas precursoras hematopoticas e por reas multifocais de necrose

    (Savigny, 2008; Bonagura & Twedt, 2009).

    Produo de Anticorpos

    A resposta humoral local, embora detectvel, no considerada protectora. a resposta

    humoral sistmica que inactiva o vrus na circulao sangunea e confere proteco

    imunitria. Quando os sinais clnicos surgem, os Ac sistmicos so geralmente detectveis.

    A celeridade da resposta imunitria pode limitar a magnitude e a durao da viremia, e

    resultar em quadros clnicos simples e com recuperao rpida. A imunidade duradoura e

    completa, provavelmente para toda a vida do animal (Savigny, 2008; Day et al., 2010).

    A ligao local dos Ac ao vrus til na medida que diminui a excreo do vrus nas fezes

    (Savigny, 2008; McCaw & Hoskins, 2006). A microscopia electrnica pode revelar

    complexos imunes aps a fase de excreo, resultantes da ligao entre os Ac e o vrus,

    cujo potencial infeccioso ainda no foi estudado (Smith-Carr et al., 1997).

    Invaginao como complicao da parvovirose

    Uma possvel consequncia da parvovirose canina a invaginao que consiste na

    introduo de um segmento intestinal no lmen do segmento adjacente relaxado, na

    sequncia da alterao da motilidade intestinal. Qualquer segmento pode ser atingido,

    embora a juno ileocecoclica seja a mais frequentemente afectada. A obstruo

    progressiva conduz desvitalizao intestinal e contaminao da cavidade abdominal. Em

    75% dos casos de invaginao, os animais afectados tm menos de 1 ano, devendo-se

    suspeitar de invaginao quando os cachorros apresentam melena ou hematoquesia,

    episdios de vmito refractrios teraputica, dor abdominal e uma massa palpvel

    cilndrica (relatada em 53% dos casos). A gravidade dos sinais clnicos depende da

    localizao, do grau de ocluso (parcial ou total), da integridade vascular e da durao da

    obstruo intestinal (Barreau, 2008).

  • 10

    Complicaes sistmicas da parvovirose

    A morbilidade e a mortalidade associadas parvovirose no so necessariamente causadas

    pela gastroenterite viral. A translocao bacteriana, a absoro de toxinas, e as

    consequentes resposta inflamatria sistmica e insuficincia multiorgnica sistmica,

    contribuem significativamente para a patognese da parvovirose canina (Prittie, 2004). Os

    sinais clnicos ligeiros apresentados por ces gnotobiticos infectados com CPV e as leses

    pulmonares, hepticas e cardacas causadas por bactrias entricas em ces com

    parvovirose corroboram a importncia da aco bacteriana. O agente mais documentado a

    Escherichia coli, mas outras bactrias tm tambm sido implicadas: Clostridium perfringens,

    Campylobacter spp., Klebsiella spp, Enterobacter spp. e Bacteroides spp. (Krakowka, Olsen,

    Axthelm, Rice & Winters, 1982; Isogai et al., 1989; Turk et al., 1990; Turk et al., 1992;

    Sandstedt & Wierup, 1981; Kreeger, Jeraj & Manning, 1984).

    A bacteriemia no necessria para o desenvolvimento da spsis. A endotoxemia

    resultante da destruio de bactrias Gram-negativas induz a libertao de citocinas pr-

    inflamatrias na circulao, o que resulta em vasodilatao perifrica, aumento da

    permeabilidade capilar, depresso da funo cardaca e activao da cascata de

    coagulao. Os ces com parvovirose tm valores de endotoxina mensurveis em

    circulao (Otto, Drobatz & Soter, 1997; Bellhorn & Macintire, 2004). A hipovolemia causada

    pela diarreia, vmito e anorexia, e a spsis associada ao CPV, bactrias e endotoxina,

    podem resultar em choque, culminando com a morte do animal (Prittie, 2004).

    A coagulao intravascular disseminada (CID) outra complicao possvel na parvovirose

    canina. A formao difusa de microtrombos, resultante da coagulao intravascular

    excessiva, pode conduzir inactivao e ao consumo excessivo de plaquetas e factores de

    coagulao. Paradoxalmente, podem ocorrer hemorragias numa fase posterior. A leso

    endotelial vascular (devido ao cateterismo venoso), as alteraes do fluxo sanguneo

    (resultantes da hipovolemia e da hipotenso) e a hipercoagulabilidade (enteropatia com

    perda de protena, nomeadamente a antitrombina [AT]) so factores que predispem ao

    desenvolvimento da CID (Otto, Rieser, Brooks & Russel, 2000; Macintire, 2008a).

    2. Anamnese

    Ainda que os sinais clnicos da parvovirose canina possam ser frequentemente ligeiros e

    autolimitantes, o desenvolvimento de doena fulminante e morte ocorre em muitos

    cachorros infectados (Prittie, 2004). Uma anlise histrica cuidadosa permite identificar

    factores de risco, como a idade (a parvovirose afecta cachorros principalmente entre 6

    semanas e 6 meses), o incumprimento do calendrio de vacinao e da desparasitao

    adequada, os hbitos dirios (como frequentar jardins pblicos), e a possvel exposio ao

    vrus (contacto com outro animal diagnosticado com parvovirose) (Marks, 2008).

  • 11

    O interrogatrio permite obter a descrio qualitativa e quantitativa dos sintomas e a

    evoluo do quadro clnico. Um exemplo que prova a importncia da anamnese o clculo

    da desidratao, pois um animal pode estar desidratado sem que o exame fsico o detecte,

    uma vez que a perda aguda de fluidos pode no dar tempo para que ocorram mudanas

    fsicas no compartimento intersticial (Tonozzi, Rudloff & Kirby, 2009).

    A anorexia, a depresso, a letargia e a febre (possivelmente devido viremia ou

    instalao da doena) so os primeiros sintomas da parvovirose, que nem sempre so

    detectados pelo proprietrio. Os sinais gastrointestinais desenvolvem-se rapidamente nas

    24 a 48 horas seguintes. O vmito, acompanhado ou no de diarreia (apenas 60% dos ces

    exibe diarreia antes da primeira consulta), constitui o principal estmulo iatrotrpico. A

    diarreia pode ser de natureza mucide ou hemorrgica, e apresenta um odor prfido

    caracterstico. A hematemese tambm pode surgir com aspecto de borras de caf

    (Savigny & Macintire, 2007; Castillo & Ramos, 2009). A perda de peso, praticamente

    inevitvel, pode ser reportada pelo proprietrio no momento da consulta, dependendo da

    durao do quadro clnico (Chan, 2005).

    3. Apresentao clnica

    Na consulta, o animal pode apresentar alterao do estado mental, desde a depresso a

    coma, dependendo da gravidade da doena; a diminuio do nvel de conscincia pode

    sugerir envolvimento cerebral e estar associada a um pior prognstico (Rivera, 2003).

    Podem ser observadas tentativas de deglutir, devido nusea. O perneo e a cauda podem

    apresentar indcios de diarreia recente e fornecer informaes quanto sua natureza

    (Savigny & Macintire, 2007).

    O exame fsico deve averiguar a presena de febre ou hipotermia, desidratao, fraqueza,

    letargia e edemas (Savigny & Macintire, 2007; Marks, 2008). importante caracterizar o

    pulso arterial, uma vez que a taquisfigmia num pulso fraco indica hipotenso. As mucosas

    podem apresentar palidez, indicativo de anemia, ou hiperemia, devido a vasodilatao

    perifrica resultante da spsis, e tambm diminuio da humidade que um sinal de

    desidratao. O tempo de repleo capilar pode estar aumentado em consequncia da

    hipovolemia ou diminudo devido spsis (DeClue, 2010).

    Podem ser encontrados diferentes graus de desidratao em funo da gravidade da

    gastroenterite (Castillo & Ramos, 2009). O rcio elevado entre a rea de superfcie e o

    volume corporal, a maior percentagem de fluido extracelular e a baixa capacidade da pele

    em conservar gua, predispem os animais mais jovens para a desidratao (Hoskins,

    2001). A incapacidade em concentrar a urina, devido imaturidade renal presente at s 12

    semanas, aproximadamente, pode agravar a desidratao (Macintire, 2008b). Nos animais

    ligeiramente desidratados, isto , com menos de 4-5%, a desidratao pode ser difcil de

  • 12

    detectar. Por outro lado, os animais com nusea podem apresentar mucosas orais hmidas,

    apesar da desidratao (Devey, 2010).

    Na auscultao possvel detectar taquicardia e sopro cardaco sistlico, devido

    hipovolemia. Nos animais infectados at s 8 semanas, a insuficincia cardaca congestiva

    desenvolve-se muitas vezes de forma silenciosa, e termina com a morte sbita dos

    cachorros, semanas ou meses aps a infeco. Os sinais de insuficincia cardaca podem

    ser acompanhados ou no por sinais entricos (McCaw & Hoskins, 2006). A observao de

    sinais respiratrios, como taquipneia e dispneia pode indicar dor, edema pulmonar,

    hipoxemia devido hipoperfuso, ou simplesmente medo ou excitao (McCaw & Hoskins,

    2006; Savigny & Macintire, 2007).

    Deve efectuar-se uma palpao cuidadosa de modo a detectar a presena de dor abdominal

    e/ou de massa intestinal que pode indicar invaginao (Marks, 2008).

    4. Diagnsticos diferenciais e plano de diagnstico

    Outras causas de gastroenterite devem ser descartadas, porque os sinais no so

    exclusivos de parvovirose e podem ocorrer outras doenas concomitantemente. A ingesto

    de xenobiticos, a presena de corpo estranho gastrointestinal, a invaginao e a presena

    de parasitas intestinais so diagnsticos diferenciais que devem ser investigados, mas que

    no invalidam a coexistncia com a parvovirose (Savigny & Macintire, 2007).

    Quando um cachorro vem consulta com histria e sinais clnicos sugestivos de

    parvovirose, deve efectuar-se um teste rpido para a deteco de antignio fecal (Macintire

    & Smith-Carr, 1997). Outros exames complementares devem ser realizados de modo a

    auxiliar no diagnstico, avaliar a gravidade da doena, indicar um prognstico e direccionar

    a teraputica. O painel mnimo deve incluir um hemograma completo e a anlise de alguns

    parmetros bioqumicos (Savigny & Macintire, 2007).

    4.1. Exames complementares

    Hemograma

    Sendo a leucopenia caracterstica da parvovirose, so frequentemente encontrados valores

    entre 500 e 2000 clulas/l no pico da doena, embora possam atingir-se os 100 clulas/l

    (Appel et al., 1978). A reduo mais significativa ocorre na fraco de neutrfilos, precedida

    pela linfopenia devido necrose de tecido linfide (Savigny & Macintire, 2007). A

    neutropenia resulta da aco directa do vrus nos precursores medulares e indirecta atravs

    da perda intestinal. A baixa contagem de neutrfilos coincide com a gravidade da

    sintomatologia, aproximadamente 7-8 dias ps-infeco. A elevao do nmero de

    neutrfilos e a recuperao clnica so normalmente simultneas (8-12 dias ps-infeco)

    (Cohn et al., 1999; Savigny, 2008).

  • 13

    Os animais peditricos apresentam baixos valores de hematcrito, situando-se entre 28% e

    40% em cachorros com menos de 6 meses de idade. O hemograma pode revelar anemia,

    consequncia da perda gastrointestinal, da leso medular e da anorexia (Savigny &

    Macintire, 2007). A policitemia ou os valores normais por vezes encontrados, podem ocultar

    a anemia presente; os valores das protenas totais e dos electrlitos devem ser verificados

    para detectar possvel hemoconcentrao (Castillo & Ramos, 2009). O parasitismo intestinal

    pode agravar a anemia existente (Macintire & Smith-Carr, 1997). Na CID, os filamentos de

    fibrina na microcirculao podem fragmentar os eritrcitos e originar esquizcitos. Na

    parvovirose canina tambm pode ocorrer trombocitopenia (Savigny & Macintire, 2007).

    Anlise bioqumica sangunea

    As reservas limitadas de glicognio, os sistemas enzimticos imaturos e as exigncias

    metablicas elevadas restringem a euglicemia nos animais jovens; se a estes factores

    somarmos a anorexia, o vmito e a diarreia, o risco de hipoglicemia aumenta

    consideravelmente (Savigny & Macintire, 2007). A hipoglicemia encontra-se ainda

    directamente relacionada com o desenvolvimento de spsis (Prittie, 2004).

    A hipoglicemia pode explicar alguns sintomas observados no exame fsico, como a fraqueza

    muscular, a alterao do estado mental e a incapacidade de manter a temperatura corporal

    (Macintire, 2006). O aumento da concentrao de glucagon e a libertao de corpos

    cetnicos, que so substncias nauseantes, associados aos efeitos directos da hipoglicemia

    a nvel cerebral, incluindo no centro do vmito, induzem o vmito, fomentando um ciclo

    vicioso (D. Campion, comunicao pessoal, Outubro 21, 2009; DiBartola, 2010).

    A hipoproteinemia, em particular a hipoalbuminemia, resulta da perda intestinal, da anorexia,

    do catabolismo proteico e da produo de protenas de fase aguda. Os intervalos de

    referncia para ces com menos de 6 meses de idade so: protenas totais 3,8-5,3 g/dl;

    albumina 2,2-3,5 g/dl; globulinas 2,0-5,0 g/dl (Savigny & Macintire, 2007). Quando o valor

    das protenas totais ou da albumina inferior a 3,5 g/dl ou a 1,5 g/dl, respectivamente, pode

    ocorrer o desenvolvimento de edemas (Macintire, 2006).

    Os nveis elevados de ureia e creatinina so indicativos de insuficincia pr-renal, causada

    pela hipoperfuso. A elevada actividade das enzimas hepticas, fosfatase alcalina srica e

    alanina transaminase, tambm pode ocorrer na sequncia da hipovolemia (Macintire &

    Smith-Carr, 1997; Savigny & Macintire, 2007).

    Ionograma

    A hipocalemia, em consequncia da perda gastrointestinal e da diminuio da ingesto,

    pode causar fraqueza muscular, arritmias cardacas e leus paraltico. Quando a

    concentrao do potssio plasmtico inferior a 2-3 mEq/l, o animal pode desenvolver leso

    muscular ou mesmo rabdomilise. A hipocalemia diminui ainda a resposta renal aco da

  • 14

    hormona anti-diurtica, o que promove a poliria e agrava a desidratao (DiBartola & de

    Morais, 2006; Feldman, 2010). A concentrao de potssio plasmtico nem sempre reflecte

    o nvel de potssio total no organismo. Os ces com parvovirose podem apresentar

    hipercalemia, devido redistribuio do potssio causada pela acidose metablica, pela

    desidratao e/ou pela destruio celular (Benitah, 2010). Tambm podem ocorrer a

    hiponatremia e a hipocloremia, devendo as mesmas ser monitorizadas (Macintire & Smith-

    Carr, 1997).

    Urianlise

    A urianlise permite avaliar a capacidade de concentrar a urina, principalmente em animais

    com menos de 12 semanas e/ou na presena de hipocalemia. Uma densidade urinria

    superior a 1,035 indica hipoperfuso renal, que pode comprometer o funcionamento renal

    futuro (Savigny & Macintire, 2007). Koutinas et al. (1998) observaram que cachorros com

    parvovirose apresentavam maior risco de desenvolverem bacteriria assintomtica,

    provavelmente por contaminao por via ascendente, embora a bacteriemia no possa ser

    excluda. As infeces subclnicas no tratadas do tracto urinrio podem conduzir a

    infeces crnicas.

    Provas de coagulao

    O diagnstico precoce de CID pode ser um desafio por no se encontrar estabelecido um

    exame definitivo. Contudo, os resultados de vrias provas podem ser avaliados em conjunto,

    de modo a determinar se um doente em risco apresenta hipercoagulabilidade, fase inicial da

    CID, ou hipocoagulabilidade, fase tardia. O nmero de plaquetas vai diminuindo

    progressivamente, assim como os nveis de AT. Existe risco elevado de trombose quando a

    actividade da AT inferior a 75%. Os valores de fibrinognio, muitas vezes aumentados na

    fase inicial, diminuem com o desenvolvimento da CID (Macintire, 2008a).

    Por conveno, a evidncia de CID deve apresentar trs das seguintes alteraes: aumento

    do tempo de protrombina (TP), aumento do tempo de tromboplastina parcial activada

    (TTPa), trombocitopenia, diminuio do fibrinognio, aumento dos produtos de degradao

    da fibrina (PDF) e dos dmeros-D, sendo estes ltimos fragmentos especficos da rede de

    fibrina que circulam no sangue durante alguns dias. Estas alteraes traduzem o aumento

    do tempo de coagulao e a tendncia para hemorragias (Macintire, 2008a). A

    tromboelastografia revelou o estado de hipercoagulabilidade em ces com parvovirose, que

    tambm apresentaram aumento do TPPa, hiperfibrinogenemia e diminuio da AT (Otto et

    al., 2000).

  • 15

    Gasometria arterial

    A acidose metablica pode resultar da perda intestinal de bicarbonato e da acumulao de

    lactato resultante da hipoperfuso. Num estudo concluiu-se que a acidose metablica nos

    ces com parvovirose facilmente compensada (compensao respiratria) ou corrigida.

    Contudo, os autores admitem que a desidratao grave, tributria para a acidose metablica

    na fisiopatologia da diarreia, no foi encontrada em nenhum dos doentes (Nappert, Dunphy,

    Ruben & Mann, 2002). As perdas gstricas de cloro e hidrognio causadas pelo vmito

    contrapem a perda intestinal de bicarbonato (Brown & Otto, 2008).

    Ecografia e radiografia

    A principal utilidade destes exames complementares no diagnstico de invaginao e de

    corpos estranhos que podem mimetizar o quadro clnico de parvovirose. Na ecografia

    abdominal, a invaginao muitas vezes reconhecida quando se visualiza a duplicao da

    parede intestinal, ao contrrio da simples enterite que, apesar do espessamento da parede,

    mantm as camadas normais. A radiografia abdominal pode indicar sinais de gastroenterite,

    como distenso das ansas intestinais com contedo lquido ou gasoso; uma dilatao

    significativa pode ser sugestiva de invaginao (Savigny & Macintire, 2007).

    4.2. Diagnstico viral e deteco de anticorpos

    A deteco viral nas fezes, recorrendo a testes baseados na tcnica de ELISA (enzyme

    linked immunosorbent assay), permite a rpida adopo de medidas preventivas e

    teraputicas, e tem normalmente um custo acessvel para o proprietrio (McCaw & Hoskins,

    2006). A interpretao dos resultados obtidos deve ser crtica, j que a especificidade

    elevada (92 100%) no impede que ocorram resultados falso-positivos em animais

    vacinados nos 12 dias anteriores realizao do teste. Por outro lado, cachorros com

    resultados positivos, enquanto cumprem o calendrio de vacinao, no devem ser

    excludos dada a possibilidade de imunizao insuficiente (McCaw & Hoskins, 2006;

    Schmitz, Coenen, Knig, Thiel & Neiger, 2009). Os resultados falso-negativos traduzem a

    baixa sensibilidade (16 a 26%) dos testes rpidos, podendo ocorrer numa fase inicial da

    doena, da excreo do vrus no intestino, ou numa fase avanada, devido aco dos Ac.

    Se os sinais clnicos forem consistentes com o diagnstico de parvovirose, o tratamento

    deve ser institudo e o teste pode ser novamente realizado 24 a 48 horas depois (Savigny &

    Macintire, 2007; Schmitz et al., 2009). A capacidade dos testes rpidos na deteco das

    variantes mais recentes (CPV-2c) tem sido questionada. Decaro et al. (2009a)

    demonstraram que a deteco do CPV-2c no significativamente diferente da das outras

    variantes, CPV-2a e CPV-2b.

  • 16

    Os testes desenvolvidos com base em PCR (polymerase chain reaction) so mtodos

    promissores, que associam rapidez, elevada sensibilidade e diferenciao das variantes. O

    isolamento do vrus, a microscopia electrnica e a imunocitoqumica (ICQ) no so viveis

    na rotina clnica (McCaw & Hoskins, 2006; Radford, 2008).

    Actualmente, a deteco de Ac usada na avaliao da proteco vacinal, sobretudo em

    raas susceptveis. Os laboratrios de diagnstico utilizam a inibio da hemaglutinao, a

    seroneutralizao ou o mtodo ELISA para a deteco de Ac contra o CPV (McCaw &

    Hoskins, 2006; Radford, 2008). A ausncia de Ac no incio da infeco (fase de latncia

    durante 3 a 4 dias), a durao da resposta humoral e a indiferenciao entre os Ac vacinais

    e os maternos so factores a considerar (McCaw & Hoskins, 2006; Radford, 2008).

    A distino entre o diagnstico da doena e a deteco da infeco outra forma de

    abordar o diagnstico. O resultado de um teste pode ser positivo para infeco, mas ser

    falso para a doena, como nos testes PCR. Inversamente, a deteco do vrus nas fezes

    pelo mtodo ELISA uma boa forma de detectar a doena, mas no suficientemente

    sensvel para detectar o vrus num portador assintomtico (McCaw & Hoskins, 2006).

    4.3. Diagnstico post mortem

    Ao contrrio das leses macroscpicas no especficas da parvovirose, o exame histolgico

    muitas vezes definitivo. A imunofluorescncia ou a ICQ podem auxiliar na identificao do

    vrus nos tecidos (Macintire & Smith-Carr, 1997; McCaw & Hoskins, 2006). A lngua, por ser

    menos sensvel que o intestino s alteraes ps-morte, constitui um excelente local para a

    recolha de amostras (McKnight, Maes, Wise & Kiupel, 2007).

    As leses caractersticas de enterite hemorrgica difusa surgem primeiro no duodeno distal,

    atingindo o jejuno numa fase posterior. A serosa intestinal pode apresentar hemorragias, e o

    lmen pode reter contedo aquoso e hemorrgico. A nvel microscpico, podem ser

    observadas incluses intranucleares basfilas e atrofia das vilosidades. Geralmente h

    evidncia de regenerao intestinal, mesmo nos casos mais graves (Macintire & Smith-Carr,

    1997; McCaw & Hoskins, 2006).

    Os linfonodos normalmente esto aumentados e edemaciados, apresentando por vezes

    petquias no crtex. Nos cachorros, pode ser observada a atrofia do timo e a necrose dos

    tecidos linfides (placas de Peyer, linfonodos e bao). A medula ssea apresenta hipoplasia

    mielide e eritride, e depleo dos megacaricitos, mas possvel observar hiperplasia

    celular na recuperao (Macintire & Smith-Carr, 1997; McCaw & Hoskins, 2006). A

    miocardite no supurativa pode ser encontrada em animais muito jovens, com infiltraes

    celulares, edema e hemorragias, e tambm podem ser observadas incluses intranucleares

    nos cardiomicitos. O pulmo pode apresentar edema pulmonar, em consequncia da

    infeco cardaca ou da hipoproteinemia (McCaw & Hoskins, 2006; Lamm & Rezabeck,

    2008; Bonagura & Twedt, 2009).

  • 17

    5. Definio de spsis e outras complicaes associadas

    A fisiopatologia da spsis, uma reconhecida causa de mortalidade e morbilidade, ainda no

    claramente compreendida, pelo que a sua definio continua em evoluo,

    comprometendo a reprodutibilidade dos resultados nos estudos (Otto, 2007). Yilmaz &

    Senturk (2007) basearam-se em determinados critrios (tabela 1) para classificar os ces

    com parvovirose. A definio de spsis implica a presena de uma infeco acompanhada

    de sndrome da resposta inflamatria sistmica (SRIS) definida como a presena de duas ou

    mais das variveis gerais e inflamatrias. A spsis grave implica a presena de spsis e de,

    pelo menos, trs alteraes orgnicas (sndrome da insuficincia multiorgnica sistmica

    [SIMS]) (Yilmaz & Senturk, 2007). O choque sptico resulta da spsis grave com hipotenso

    refractria fluidoterapia e requer teraputica vasopressora (DeLaforcade, 2010).

    Tabela 1 Critrios utilizados nas definies de infeco, spsis, inflamao e insuficincia orgnica em ces com parvovirose

    Critrios Definio

    1. Agentes I N F

    S P S I S

    S P S I S

    G R A V E

    Parvovrus canino (CPV)

    2. Variveis gerais

    S R I S

    Temperatura

    Hipotermia (< 37 C) ou

    Febre (> 39,3 C)

    Taquicardia (> 160 bpm)

    Taquipneia (> 30 rpm)

    Alterao do estado mental (depresso)

    3. Variveis inflamatrias

    Leucograma

    Leucopenia (< 5500 clulas/l) ou

    Leucocitose (> 12500 clulas /l)

    Neutropenia (< 3000 clulas/l)

    Plaquetas

    Trombocitopenia (< 170 plaquetas/l)

    TNF- plasmtico (> 40 pg/ml)

    4. Variveis hemodinmicas

    S I

    M S

    Hipotenso (PAM < 70 mm Hg)*

    Tempo de repleo capilar (> 2s)

    Pulso perifrico fraco

    5. Variveis de insuficincia orgnica

    Heptica

    ALT > 50 UI/l

    Cardaca

    Isoenzima cardaca da creatinina cinase > 150 UI/l

    Renal

    Ureia > 15 mmol/l

    Creatinina > 140 mol/l

    INF infeco; TNF tumor necrosis factor (factor de necrose tumoral); PAM presso arterial mdia (*por mtodo no invasivo); ALT alanina transaminase; bpm batimentos cardacos por minutos; rpm respiraes por minuto. Adaptado de Yilmaz & Senturk, 2007.

  • 18

    C. PROGNSTICO E TERAPUTICA

    1. Avaliao e comunicao do prognstico

    O prognstico uma previso da evoluo de uma doena, com ou sem tratamento,

    devendo ser transmitido ao proprietrio as probabilidades de uma evoluo desfavorvel,

    bem como favorvel. Ao comunicar o prognstico, o mdico veterinrio deve fornecer factos

    e nmeros que ajudem o cliente a decidir, incluindo as opes teraputicas disponveis, os

    tempos de referncia, os riscos de reaces indesejveis relacionados com o tratamento, a

    natureza do benefcio alcanvel e o custo (Smith, 2006).

    Na parvovirose canina, a ausncia de teraputica ou a teraputica desadequada e/ou

    insuficiente pode corresponder a baixas taxas de sobrevivncia (9% ou inferior, modelo

    experimental) (Njenga, Nyaga, Buoro & Gathumbi, 1990 citado por Otto et al., 2001; Martin

    et al., 2002). No entanto, estes valores podem aumentar significativamente para 64-100%,

    se for instituda uma teraputica adequada (Glickman et al., 1985; Rewerts, McCaw, Cohn,

    Wagner-Mann & Harrington, 1998; Yilmaz & Senturk, 2007; Savigny, 2008). Os cuidados

    prestados em hospitais universitrios podem ser associados a taxas de sobrevivncia de 79-

    100% (Mann et al., 1998; Otto et al., 2001; Rewerts et al., 1998), contrastando com as taxas

    de 67-82% em pequenas clnicas locais (Otto et al., 2001; DeMari, Maynard, Eun & Lebreux,

    2003). A diferena parece resultar da vigilncia permanente (24 horas) nos hospitais

    escolares, bem como a possibilidade de teraputicas mais intensivas, tais como a

    transfuso de plasma ou a fluidoterapia com colides (Otto et al., 2001). Assim, os

    resultados presenciados em centros de referncia podem no representar os observados na

    clnica privada (Smith, 2006).

    Embora a teraputica da parvovirose seja frequentemente bem-sucedida, a taxa de sucesso

    tem permanecido praticamente inalterada ao longo dos anos, e muitos ces continuam a

    morrer de complicaes ou a serem submetidos a eutansia devido aos custos financeiros

    previstos (Otto et al., 2001). Um estudo da Universidade de Missouri, Columbia (E.U.A),

    encontrou uma taxa de mortalidade de 21%, sem incluir os ces vtimas de eutansia (Mann

    et al., 1998).

    A idade, a ausncia de vmitos, a leucopenia acompanhada de linfopenia e eosinopenia, os

    nveis elevados de cortisol e diminudos de tiroxina, as concentraes baixas de colesterol

    total e de lipoprotenas de alta densidade e os nveis elevados de lactato, podem prever uma

    evoluo desfavorvel na parvovirose canina, sem considerar o desenvolvimento de spsis

    e de CID (McCaw, Harrington & Jones, 1996; Frazo, 2008; Goddard, Leisewitz,

    Christopher, Duncan & Becker, 2008; Schoeman, Goddard & Herrtage, 2007; Yilmaz &

    Senturk, 2007; Stevenson et al., 2007).

  • 19

    Embora no tenham sido estudados indicadores do perodo de recuperao, a presena de

    sinais clnicos ligeiros (como diarreia no copiosa e no sanguinolenta), a recuperao do

    apetite e uma contagem de neutrfilos normal, reflectem a recuperao da doena (Savigny

    & Macintire, 2007). A gravidade e a durao dos sinais clnicos variam individualmente. Os

    cachorros que sobrevivem aos primeiros 3 ou 4 dias normalmente recuperam rapidamente,

    geralmente numa 1 semana, nos casos simples. Os casos mais graves podem requerer

    hospitalizao mais prolongada, devido ao desenvolvimento de spsis ou de outras

    complicaes (McCaw & Hoskins, 2006).

    2. Estratgia teraputica

    Dada a ausncia de teraputica antiviral eficaz, o tratamento da gastroenterite por CPV o

    mesmo de uma enterite infecciosa aguda sem causa especfica. O plano teraputico visa o

    restabelecimento do volume sanguneo circulante e do equilbrio electroltico, a preveno

    ou minimizao de infeces bacterianas secundrias, e o alvio de sintomas

    gastrointestinais (Willard, 2009). Estratgias incorrectas podem comprometer a

    sobrevivncia do animal. A fluidoterapia inadequada (a sobrecarga de volume to

    prejudicial como a carncia), o no reconhecimento de spsis ou de choque e a presena de

    doena concomitante no identificada, como parasitismo ou invaginao, so alguns dos

    erros mais comuns (Willard, 2009). A escolha da via de administrao deve ter em

    considerao a frequncia do vmito e as alteraes inerentes doena, como o tempo de

    esvaziamento gstrico e a presena de vasoconstrio em animais desidratados, sendo de

    evitar na maioria dos casos, a via oral (per os [PO]) e a subcutnea (SC) (Prittie, 2004).

    2.1. Restaurao hemodinmica e electroltica

    A fluidoterapia um dos aspectos mais importantes da interveno mdica, sendo

    fundamental saber reconhecer se o dfice de fluidos compromete: o transporte de sangue

    para os tecidos (perfuso) ou o suporte do tecido e os processos intracelulares (hidratao)

    ou ambos, uma vez que os dfices de perfuso tm um carcter mais urgente que os de

    desidratao. Aps a avaliao dos parmetros que reflectem o estado hemodinmico do

    animal (tabela 2), deve ser delineado um plano, estabelecendo metas e prazos a cumprir,

    seleccionando as caractersticas, a via e a velocidade da fluidoterapia, e adoptando medidas

    de controlo (Tonozzi et al., 2009). A velocidade provavelmente mais relevante que o tipo

    de fluido a ministrar (Devey, 2010).

  • 20

    Tabela 2 Parmetros de perfuso e objectivos teraputicos em caso de choque

    Normal Choque

    (fase inicial) Choque

    (fase intermdia) Choque

    (fase avanada) Objectivos

    teraputicos

    Nvel de conscincia Alerta Alerta Ligeira depresso Depresso marcada

    a coma Alerta

    Cor das mucosa Rosada Normal,

    plida ou hipermica

    Plidas Muito plida Rosadas

    TRC s 1 - 2 < 1 > 2 > 2 < 2

    Classificao do pulso Forte Forte Fraco Muito fraco ou ausente

    Restabelecer pulso

    FC bpm 60 - 120 Normal ou 60-160

    FR rpm 12 - 36 Normal ou 20-40

    Temperatura rectal C 37,5 39,2 N ou Normal ou

    T rectal - T digital C 3 - 6 N 4

    PAM mm Hg 80 - 100 N ou Normal ou 80-100

    PVC cm H20 0 - 2 N ou 5-8

    Dbito urinrio ml/kg/h 1 -2 N ou 1-2

    Lactato mmol/dl < 2 N ou Normal ou < 2.5

    TRC tempo de repleo capilar; FC frequncia cardaca; FR frequncia respiratria; T temperatura; PAM presso arterial mdia; PVC presso venosa central. Adaptado de Tonozzi et al., 2009; Hammond & Holm, 2009; Devey, 2010; Boller & Otto, 2010.

    2.1.1. Volemia e equilbrio electroltico

    a. Caractersticas e vias de administrao das solues cristalides

    As solues equilibradas de electrlitos so as mais indicadas no restabelecimento da

    volemia, j que mimetizam as concentraes sanguneas de electrlitos, so isotnicas e, se

    necessrio, podem ser administradas rapidamente de modo a substituir as perdas hdricas

    agudas. Os animais com diarreia profusa podem beneficiar de solues de substituio

    alcalinizantes, dada a possibilidade de acidose metablica. O lactato de Ringer rene ambas

    as condies, ao contrrio da soluo salina a 0,9% desprovida de potssio (Macintire &

    Smith-Carr, 1997; Tams, 2007). Alguns dos cristalides comercializados, com gluconato ou

    acetato, tm a vantagem de no sobrecarregarem o metabolismo heptico e no

    contriburem para o aumento dos nveis de lactato (Tams, 2007).

    As solues hipertnicas, como NaCl 7,5%, no so aconselhadas em animais desidratados

    (Macintire & Smith-Carr, 1997). O rpido consumo da dextrose presente nas solues de

    manuteno diminui a tonicidade, tornando estas solues inadequadas no tratamento da

    parvovirose, sob risco de causar edemas (Devey, 2010).

    O acesso vascular essencial para a administrao de grandes volumes de fluidos, sendo

    prefervel cateteres intravenosos (IV) curtos e com o maior calibre possvel (18 a 20 Ga para

    animais de pequeno porte). Deve ser colocado pelo menos um cateter numa veia perifrica

    (ceflica ou safena lateral), por ser mais rapidamente exequvel; um cateter central pode ser

    colocado na veia jugular externa (Silverstein, 2003).

    A via intra-ssea (IO) deve ser considerada em animais peditricos, ou perante colapso

    circulatrio (figura 1). A fossa trocantrica do fmur o local normalmente escolhido para a

    colocao temporria de uma agulha ou um cateter (3,8 cm e 20 Ga), devendo este acesso

    ser substitudo por uma via intravenosa o mais breve possvel (Savigny & Macintire, 2007).

  • 21

    Crista tibial

    Figura 1 Localizaes anatmicas para o acesso intra-sseo

    Adaptado de Bateman, Buffington & Holloway, 2006.

    Os inconvenientes da hipodermclise (SC) que podem agravar o quadro dos animais

    doentes so a ineficcia na restaurao da perfuso em tempo til, o desenvolvimento de

    infeces locais e a induo de hipotermia (Prittie, 2004; Savigny & Macintire, 2007). No

    entanto, esta via pode ser praticada em casos clnicos ligeiros (Prittie 2004).

    b. Volume e velocidade de administrao

    Nos ces em choque, deve ser instituda uma fluidoterapia agressiva; a dose mxima de

    choque (90 ml/kg/h) pode ser dividida em vrios bolus endovenosos ou administrada em

    infuso contnua (Savigny & Macintire, 2007; Boller & Otto, 2010). O primeiro bolus pode

    variar entre 22,5 e 30 ml/kg (um tero a um quarto da dose mxima de choque) e ser

    administrado durante 5 a 15 minutos. Uma alternativa para os animais peditricos a

    administrao de um bolus de 30 ml/kg, durante 5-10 minutos, seguido da dose 80-120

    ml/kg/dia (Macintire, 2008b).

    A reavaliao do animal aps cada administrao permite determinar a eficcia da

    fluidoterapia na resoluo da hipoperfuso, e decidir se so necessrios bolus adicionais.

    Se o animal reagir favoravelmente, a desidratao deve ento ser corrigida (Savigny &

    Macintire, 2007). Os ces desidratados, mas sem sinais de hipoperfuso, necessitam repor

    e manter o equilbrio hdrico. O dfice hdrico deve ser calculado com base na estimativa do

    grau de desidratao (tabela 3), e corrigido num curto espao de tempo, entre 2 a 6 horas, o

    mais tardar em 12 a 24 horas (Prittie, 2004; Savigny & Macintire, 2007).

    Fossa trocantrica

  • 22

    Tabela 3 Parmetros clnicos utilizados na avaliao do grau de desidratao (%)

    4 - 6% 6 - 8% 8 - 10% 10 - 12% > 12%

    Mucosas secas

    Perda de humidade da pele

    Persistncia da prega de pele

    Aumento do hematcrito e protenas totais

    Retraco do globo ocular (hipoperfuso ligeira)

    Opacidade da crnea (hipoperfuso moderada)

    Sinais de hipoperfuso

    Adaptado de Tonozzi et al., 2009 e Brown & Otto, 2008.

    Tradicionalmente, considera-se que 40 a 60 ml/kg/dia ou 2 ml/kg/h restauram as perdas

    hdricas fisiolgicas, sem considerar a idade ou o tamanho do animal. No entanto, estes

    clculos subestimam o volume adequado em animais de pequenos porte e sobrestimam nos

    maiores. A aplicao de uma frmula no clculo do volume de manuteno permite uma

    abordagem mais correcta. Como os cachorros tm necessidades hdricas superiores, de

    120 a 200 ml/kg/dia, recomenda-se a duplicao da dose de adulto (Devey, 2010).

    Durante a reidratao, a fluidoterapia deve ser reajustada preferencialmente de hora a hora

    (Savigny & Macintire, 2007). A fluidoterapia deficiente, frequente na prtica clnica, constitui

    uma das causas de insucesso teraputico na parvovirose, sendo a omisso das perdas em

    curso um dos erros mais comuns. A simples pesagem dos resguardos permite controlar

    algumas das perdas associadas ao vmito e diarreia; a febre outra das causas que pode

    aumentar as necessidades hdricas (Tams, 2007; Devey, 2010).

    O volume total administrado deve abranger o dfice de hidratao, as necessidades de