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RECOMENDADO POR

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ORGANIZADORAS

Sarita Amaro Claudia Sandra Krmpotic

Dicionário Internacional de Serviço Social no Ca~npo Sociojurídico

Rio de Janeiro, 2016

Page 3: Dicionário Internacional Sociojurídico - rua.ua.es · Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D549 Dicionário internacional de serviço social no campo sociojurídico

Copyright © Sarita Amaro, 2016.

Dicionário internacional de Serviço Social no campo sociojurídico

AMARo, Sarita C org.)

KRMPOTIC, Claudia Sandra C org.)

REVISÃO GERAL: Sarita Amaro

REVISÃO E FORMATAÇÃO DOS TEXTOS: Smima Cavalheiro

CAPA E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA: Guilherme Peres

CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO: Dra. Alicia González Saibene- Universidad Nacional de Rosario (Argentina)

Dra.Annamaria Campanini- Università degli Studi di Milano-Bicocca (Itália)

Dra. Cristina Martins -Federação Internacional de Trabalhadores Sociais I Europa (Portugal)

Dr. Evaristo Colmán Duarte- Universidade Estadual de Londrina (Brasil)

Dr. Francisco Gómez Gómez- Universidad Complutense de Madrid (Espanha)

Dra. Gloria E dei Mendicoa- Universidad de Buenos Aires y de La Matanza (Argentina)

Dr. José Luís D'Almeida- Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal)

Dra. Josefa Femández i Barrera- Universidad de Barcelona (Espanha)

Dr. Juan Jesús Viscarret Garro- Universidad Pública de Navarra (Espanha)

Dra. Madalena Sofia Oliveira- Universidade do Porto (Portugal)

Dra. Maria Alexandra Mustafá- Universidade Federal de Pernambuco (Brasil)

Dra. Maria Carmelita Yasbek- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil)

Dra. Maria Lúcia Martinelli- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil)

Dr. Raúl Soto Esteban- Universidad Complutense de Madrid (Espanha)

Dr. Reinaldo Nobre Pontes- Universidade Federal do Pará (Brasil)

Dra. Silvana Martinez- Federação Internacional de Trabalhadores Sociais I Região América Latina e Caribe (Argentina)

Dra. TeresaMatus- Universidad de Chile (Chile)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

D549 Dicionário internacional de serviço social no campo sociojurídico I organizadoras Sarita Amaro, Claudia Sandra Krmpotic; prefácio Pilar Ruiz,

Silvia Alapanian. -Rio de Janeiro: Autografia, 2016.

64op

ISBN 978-8s-5526-8S7-1

1. Serviço social. 2. Questão social. 3· Fundamentos do trabalho profissional.

4· Direitos sociais. 5· Ciências forenses. I. Amaro, Sarita II. Krmpotic, Claudia

Sandra. III. Ruiz, Pilar. IV. Alapanian, Sílvia.

Editora Autografia Edição e Comunicação Ltda.

Rua Buenos Aires, 168-4° andar, Centro

RIO DE JANEIRO, RJ - CEP: 20070-022

www.autografia.com.br

Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem

prévia autorização do autor e da Editora Autografia.

CDD 23. ed. 361

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ......................................................................................... 9 Pilar Ruiz

PREFÁCIO ........................................................................................ 14 Sílvia Alapanian

APRESENTAÇÃO ......................................................... .

-- Parte 1: A QUESTÃO SOCIAL NO TRABALHO PROFISSIONAL

ÉTICA, DIVERSIDADE E DIREITOS HUMANOS: Algumas considerações sobre a realidade brasileira contemporânea à luz do serviço social ...

Maria de Fátima Gomes de Lucena

MIGRAÇÕES, REFÚGIO E TRÁFICO DE PESSOAS:

. ................. 18

. ................. 24

Os (não) direitos nas políticas sociais ........................ . . .......................... 36

Estela Márcia Rondina Scandola

MULHERES EM RISCO: Histórias de violência,

opressão e morte no contexto de relações amorosas .......................................... 65 Véronique Durand

A QUESTÃO DAS CRIANÇAS NA JUSTIÇA:

Tendências no debate internacional ...

Elda Ivonne Allen e Osvaldo Agustín Marcón

. .................................................. 90

O ADOLESCENTE, O ATO INFRACIONAL E A PRIVAÇÃO DE LIBERDADE ............... 108

Adriana Assis Santos

JUSTIÇA JUVENIL:

Indicadores internacionais.

Valeria Nepomuceno Teles de Mendonça

. ................................. 137

A FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE:

Reflexões para a atuação profissional no campo sociojurídico

Ana Paula Mafia Policarpo Pereira

........................... 165

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FÁBRICA DE MEMÓRIAS: Divórcio e alienação parental. ................................... 186

Samara Peres e Michele Aguette Rodrigues

A QUESTÃO DA TERRA: Reflexões a partir da experiência

colombiana com a implementação da Lei 1.448 de 2011

(Lei de vítimas e restituição de terras) ........................................................ 203

Aura González Sema, Daniel Alejandro Grisales González e Mônica Castafieda Gômez

-- Parte 2: FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

SERVIÇO SOCIAL FORENSE: Conceitos fundamentais ...................................... 220

TinaMaschi

O SERVIÇO SOCIAL FORENSE NO HEMISFERIO IBEROAMERICANO:

Tradições, matizes e bases epistemologicas ....................... . . .................. 242 Ángela María Quintero Velásquez

UM OLHAR SOBRE AS JUSTIÇAS:

Reflexões pendentes entre operadores do sistema judicial. ................................. 261 Mônica De Martino

O SERVIÇO SOCIAL NO CAMPO DA AÇÃO FORENSE ....................................... 277

Rubén Darío Garzôn Mufioz

DEVERES E INTEGRIDADE PROFISSIONAIS ............................................... 289

Damián Salcedo Megales

A REALIZAÇÃO DE VISITAS DOMICILIARES NO CAMPO SOCIOJURÍDICO:

Considerações críticas .......................................................................... 310

Sarita Amaro

-- Parte 3: PROCESSOS DE TRABALHO COMENTADOS

SERVIÇO SOCIAL E INTERVENÇÃO SOCIOJURÍDICA NA ARGENTINA .................. 348

Claudia Sandra Krmpotic e Andrés Ponce de León

DESENVOLVIMENTO E TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL FORENSE

EM PORTO RICO: Uma visão reflexiva Ana María Lôpez Beltrán

................ 369

SERVIÇO SOCIAL SOCIOJURÍDICO NO CONTEXTO JUDICIAL CHILENO ................ 393 Sara Salum Alvarado

O SERVIÇO SOCIAL NAS VARAS DE FAMÍLIA:

Principais demandas e processos de trabalho ................................................ 411

Vanessa Dorada Mikoski

GUARDA COMPARTILHADA VERSUS GUARDA MONOPARENTAL:

Análise da validade preditiva de um instrumento

de avaliação no contexto judicial .............................................................. 426 Rafael Alcázar Ruiz e Raúl Ruiz Callado

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REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS

NAS VARAS DA INFÂNCIA E JUVENTUDE JUNTO AOS SERVIÇOS

DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E FAMILIAR .......................................... 450

Ecléa Correa de Lacerda Silva, Ivandra Carla Carneiro e Lúcia Pereira dos Santos Martarelli

AVALIAÇÃO DE SEQUELAS E LESÕES SOCIAIS DE VÍTIMAS ADULTAS

DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO CONTEXTO DO SERVIÇO SOCIAL FORENSE: Dimensões e indicadores

Marta Simón Gil

......................................................... 477

A TRANSIÇÃO DO PARADIGMA TUTELAR AO DA DOUTRINA DE PROTEÇÃO

INTEGRAL À INFÂNCIA E À ADOLESCÊNCIA: Perspectivas a partir

do serviço social jurídico de El Salvador ................ . . ............................... 516

Maria Aracely Linares Palacios

O SERVIÇO SOCIAL FORENSE EM ATENÇÃO AO ABUSO SEXUAL INFANTO-JUVENIL EM PORTO RICO: Uma análise crítica

a partir da perspectiva dos direitos humanos

Iván De Jesús-Rosa e Freeda Jusino-Sierra

(RE)PENSANDO A INTERDIÇÃO: Dispositivos legais

de proteção à cidadania do interditando e contribuições

.................. 530

do serviço social nas ações de interdição civil ................................................ 557 Janary José dos Santos

O SERVIÇO SOCIAL NO MINISTÉRIO PÚBLICO NO MUNICÍPIO

DE FOZ DO IGUAÇU: Desafios da atuação profissional

na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai .... Adriéli Volpato Craveiro

DILEMAS ÉTICOS DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO CONTEXTO

DA INTERVENÇÃO NO CAMPO SOCIOJURÍDICO:

Uma reflexão a partir da realidade do Peru ....

Raquel Cuentas Ramírez

OS ASSISTENTES SOCIAIS COMO PERITOS FORENSES:

. .................... ~86

. ..................... 609

Atuação a partir do exercício liberal da profissão ............................................ 632

Ana Hernández Escobar

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GUARDA COMPARTILHADA VERSUS GUARDA MONOPARENTAL: Análise da validade preditiva de um instrumento de avaliação no contexto judicial1

1. Introdução

Rafael Alcázar Ruiz 2

Raúl Ruiz Callado3

P ara a tomada de decisões, a Administração conta com órgãos de consul­

ta. Nesses se enquadra a função de assessoria que disciplinas como a so­

ciologia, a psicologia ou o serviço social costumam realizar. No âmbito da

Administração da Justiça, o órgão consultivo de assessoria do tribunal é confor­

mado pela equipe técnica. Por outra parte, na disciplina do serviço social e da so­

ciologia os fenômenos a serem estudados são os sociais, submetidos sempre às

mudanças. Nos Tribunais de Família e de Violência contra a Mulher, a família é

a unidade de observação e o tribunal é demandado sobre ela acerca de diversas

questões, uma destas é a denominada guarda compartilhada.

Traduzido do original Custodia compartida versus custodia monoparental: análisis de la validez pre­

dictiva de un instrumento de evaluación en el contexto judicial, por Lídia Barroso.

2 Diplomado em Trabalho Social por la Universidad Complutense de Madrid. Licenciado em So­

ciologia pela Universidade de Alicante. Mestre em Drogodependencias pela Universidad Católica de

Valencia. Presta serviço como trabalhador social adscrito aos Juizados de Família e de Violência sobre

a Mulher, de Alicante. Professor Associado do Departamento de Sociologia I, da Universidad de Ali­

cante. E-mail: [email protected]

Doutor em Sociologia pela Universidad de Alicante (2005), com prêmio extraordinário de dou­

torado e de licenciatura (1995-1999). Hoje, atua como professor no Departamento de Sociologia I, da

Facultad de Ciencias Económicas y Empresariales de la Universidad de Alicante; com quatro triênios

de docência e um sexênio de investigação. Ao mesmo tempo, é investigador associado do Centre de

Recherche en Immigration, Ethnicité et Citoyenneté (CRIEC), da Université du Québec à Montré­

al (UQÀM) e membro titular da Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO), Espana.

E-mail: [email protected]

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,.

O estudo de cada família é finalizado com a redação de um relatório pericial

sociofamiliar que é ratificado e desenvolvido durante o juízo. Nos Tribunais de

Família e de Violência sobre a Mulher, o referido relatório versa sobre alternati­

vas de guarda possíveis em casos de ruptura familiar ou de proteção de menores

(VÁZQUEZ, 2005). Os técnicos, seja qual for o âmbito de sua intervenção, neces­

sitam de instrumentos validados cientificamente. Para a validação desses instru­

mentos é necessário realizar pesquisa social aplicada, sendo esta, atualmente,

uma das carências do Serviço Social (GAITÁN, 2009; ZAMANILLO, 2009 ), e que

se transforma numa diligente necessidade no âmbito do Serviço Social Forense

(RUIZ RODRÍGUEZ 2009), uma vez que a apresentação de provas objetivas é ne­

cessária no juízo e sobre as quais são colocadas as avaliações do profissional que

resulta na emissão do relatório pericial. Quando se fala em assuntos que afetam

a instituição familiar, sempre aparecem as questões ideológicas (CEA D'ANCO­

NA2007).

O debate ideológico surgiu em 1981, quando foi aprovada a Lei do Divórcio4

e voltou a emergir com a nova legislação sobre guarda compartilhada. Esse con­

texto é muito favorável à análise subjetiva, parcial e distorcida da realidade, mui­

to distante da necessidade dos técnicos encarregados do assessoramento judi­

cial, dos quais é exigida a mais objetiva análise possível. Por esse motivo, o fato de

adquirir instrumentos objetivos, com validade científica e que possam apresen­

tar em juízo como parte integrante de seu relatório é um resultado especialmen­

te relevante.

Ao mesmo tempo, existe uma dificuldade acrescentada ao estudo da guarda

compartilhada que deriva do próprio conceito. O termo "guarda compartilhada"

é polissêmico e se refere às situações difíceis de serem concretizadas em uma

única categoria (IBÁNEZ, 2004; RAMÍREZ, 2003; SIMÓN, 2009). Assim, as ex­

pressões "guarda exclusiva", "guarda partida", "guarda repartida" ou "guarda

4 A Lei 30/1981, de 7 de julho, deu início à possibilidade de divórcio na Espanha depois da ditadura.

A lei anterior foi modificada pela Lei n° 15/2005, de 8 de julho, que permite o divórcio direto, sem trâ­

mite prévio da separação. Também, é estabelecido o conceito de guarda compartilhada.

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conjunta", são tipos de guarda possíveis que poderiam se encaixar dentro do con­

ceito geral de guarda compartilhada. A própria legislação valenciana não se refe­

re ao termo guarda compartilhada, mas o que define como regime de convivên­

cia compartilhada.

Seja qual for o conteúdo desses conceitos, o ponto de partida da definição

deste termo de "guarda compartilhada" faz referência ao fato de que ambos os

progenitores participem responsavelmente no processo de criação de seus filhos

e ambos tenham a possibilidade tanto de cuidar de seus filhos de maneira equili­

brada nos tempos de permanência Com eles como a de representá-los legalmen­

te (SIMÓN, 2009).

Partindo dessa definição, e após uma revisão da literatura científica publicada

sobre critérios de atribuição da guarda compartilhada (CATALÁN, 2011; CONDE­

-PUMPIDO, 2011; GUILARTE, 2010; IBÁNEZ, 2004; RAMÍREZ, 2003), foiproje­

tado um instrumento de avaliação da guarda compartilhada. O resultado da apli­

cação deste inventário a uma amostra de famílias avaliadas no contexto forense

constitui o estudo empírico que é apresentado neste artigo.

Um instrumento de medição é considerado válido, quando mede- o que pre­

tende medir. Tal validação parte sempre da pesquisa empírica. Dito de outro

modo, antes de serem confiáveis, os indicadores devem ser válidos (CEA D'AN­

CONA, 1998). Ou seja, têm de proporcionar uma representação adequada do

conceito teórico que medem. Enquanto a confiabilidade se refere à precisão do

instrumento, a validez faz referência à relação que existirá entre o conceito teó­

rico e o indicador empírico. Para o estudo da validez do instrumento, o pesquisa­

dor tem de comprovar se os indicadores escolhidos realmente "indicam" o que se

pretende que indiquem; se "medem" corretamente o significado aplicado ao con­

ceito teórico em questão.

Existem três modalidades de validade: validade de critério ou preditiva, vali­

dade de conteúdo e validade de referência teórica. O estudo que aqui é apresen­

tado é uma prova da validade preditiva do instrumento de avaliação da guarda

compartilhada. O objetivo da validade preditiva é demonstrar que a nova medi­

da classifica as famílias em função das variáveis preditas. No tratamento estatís-

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Page 10: Dicionário Internacional Sociojurídico - rua.ua.es · Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D549 Dicionário internacional de serviço social no campo sociojurídico

tico da validade preditiva os procedimentos de regressão resultam de grande uti­

lidade porque permitem estudar relações múltiplas entre mais de duas variáveis.

A pesquisa, cujos resultados são apresentados, tem como objetivo principal

conhecer as variáveis que são levadas em consideração pelos tribunais espanhóis

na atribuição da guarda compartilhada dos menores. Uma vez identificadas essas

variáveis e apresentadas em forma de escala, foi realizada uma análise multivariá­

vel com a finalidade de conhecer aquelas variáveis que maior valor preditivo têm

na atribuição da guarda compartilhada, segundo os critérios reais aplicados pelos

especialistas. Finalmente, conhecidas as variáveis com maior valor preditivo, ob­

teve-se uma equação de regressão logística que permite estimar, com margens de

erro aceitáveis, a probabilidade de uma família de assumir ou não um modelo de

guarda compartilhada em função de seu comportamento nas variáveis preditas.

Entre as perguntas com resposta nesta pesquisa, encontram-se duas: 1. Por

que os tribunais de família não atribuem a guarda compartilhada na mesma proporção

que a guarda única a favor de um progenitor, normalmente as mães? 2. Quais variáveis

influenciam para que existam essas diferenças na atribuição da guarda?

A hipótese da qual se parte é que, nos últimos anos, houve um aumento progres­

sivo no percentual de casos que a guarda compartilhada foi assumida5 (10,5% em

2010; 12,3% em 2011; e 14,6% em 2013). Sem dúvida, ainda existe uma diferença im­

portante a respeito da atribuição da guarda materna (83,2% em 2011; 81,7% em 2012;

e 75,1% em 2013). Essa diferença percentual se deve à existência de variáveis psicos­

sociais que se pretende identificar neste trabalho. O comportamento dessas variá­

veis psicossociais é a manifestação de uma estrutura social desigual na divisão das

funções educativas e domésticas, atualmente em processo de mudança. As decisões

judiciais são, por sua vez, o reflexo de uma estrutura social em fase de mudança.

2. Referencial teórico

Nos últimos anos, assistimos a uma série de mudanças estruturais profundas que

tem afetado a vida econômica, social, laboral e cultural dos indivíduos. A expli-

Fonte: Instituto Nacional de Estatística (INE).

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cação dessas mudanças tem sido debatida por diferentes autores e recebeu dife­

rentes denominações: segunda modernidade (BECK; BECK-GERNSHEIM, 2003);

modernidade líquida (BAUMAN, 2004); modernização reflexiva (BECK et al.,

1997), ou rede social (CASTELLS, 2006). Falar de modernidade é fazer referên­

cia a um conjunto de teorias que tratam de dar conta da complexidade da mudan­

ça social e seu impacto em diferentes âmbitos da vida cotidiana em geral e da fa­

mília em particular.

A família é uma instituição social muito permeável a essas transformações es­

truturais, pois é um espaço onde reflete a marca dessa transformação social, devi­

do à enorme capacidade de adaptação das famílias às mudanças na estrutura eco­

nômica e social. O estudo da guarda compartilhada pode ser considerado como

uma expressão de mudança social e reflete, de um modo muito claro, o trânsito

de um modelo de sociedade a outro que se forma na crise do modelo de família

patriarcal (CASTELLS, 2003), marcando o trânsito ao modelo de família negocia-

-dora (MEIL, 1999).

A teoria da segunda transição demográfica (LESTHAEGHE, 1994; VAN DE

KAA, 2002), trata de descobrir as mudanças na formação das famílias; a disso­

lução das uniões e os padrões de reconstrução familiar que são produzidos nas

nações ocidentais como, por exemplo, os baixos níveis de fecundidade e de

nupcialidade; atraso do calendário matrimonial; aumento dos divórcios e o apa­

recimento de novas formas familiares são indicadores demográficos que dão con­

ta desta mudança social. A evolução das decisões judiciais, em questão de atri­

buição de guarda dos filhos, poderia ser considerada também como um indicador

claro do modo como a mudança social, a que assistimos, afeta a estrutura e a or­

ganização familiar.

Se a teoria da segunda transição demográfica nos mostra indicadores demo.:.

gráficos globais de mudança social, a teoria da mudança no sistema de valores

propugna uma explicação a estes comportamentos (BECK; BECK-GERNSHEIM,

2003). Esta teoria defende que os novos comportamentos demográficos são re­

flexo de uma mudança de valores de longo percurso nas sociedades ocidentais

(MARTÍNEZ PASTOR, 2008). Segundo os defensores dessa teoria, a mudança

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r

no sistema de valores é produzida por um processo de secularização da socieda­

de, entendida como fé decrescente nos esquemas religiosos tradicionais e por um

processo de individualização, que é definido como uma desintegração de formas

sociais anteriormente existentes, que fazem com que as biografias pessoais já não

sejam prescritas pela sociedade, mas por pessoas que constroem suas próprias

biografias com maior autonomia. Na primeira modernidade, as pessoas estavam

limitadas pelas regras e pelas convenções informais ligadas à classe, ao gênero e à

etnia, e atualmente isso acontece cada vez menos. A individualização vem acom­

panhada de maior liberdade, mas também de maior pressão psicológica nas pes­

soas, uma vez que necessitam tomar decisões sobre suas vidas (BECK; BECK­

-GERNSHEIM, 2003).

A individualização descreve um processo de transformação dos mecanismos

de controle social e a correspondente ganância de autonomia individual nos pro­

jetos de vida dos indivíduos (BECK; BECK-GERNSHEIM, 2001), e se traduz em

menor pressão social normativa e em maior liberdade, que faz com que os indiví­

duos possam escolher diferentes opções de vida. Entre essas escolhas, encontra­

-se a resposta para como e quando formar uma família. As trajetórias de vida indi­

viduais deixam de estar prescritas pela norma e pelo costume e é produzida uma

progressiva debilidade da regulação institucional das trajetórias individuais atra­

vés de normas coletivas com interesse de maior liberdade individual.

A teoria da individualização é especialmente aplicável aos processos de mu­

dança que afetam a família. Boa parte dos estudos sobre o impacto da mudança

social na estrutura e dinâmica das famílias na Espanha partem desta teoria (AL­

BERDIET et al., 1994; ALBERDI, 1999; CEA D'ANCONA, 2007; JURADO, 2005;

MEIL, 1999).

Meil (1999) sintetiza as mudanças que o processo de individualização implica

na família do seguinte modo: mudança na função social das mulheres. A função

social da mulher já não é definida somente em torno das funções domésticas e fa­

miliares como, por exemplo, donas de casa, mães e cuidadoras de familiares, mas

abarca também o trabalho remunerado. Do modelo de família tradicional caracte­

rizado por uma divisão restrita das funções, segundo a idade e o sexo, e no que ao

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homem correspondia a responsabilidade de prover os recursos monetários para

sua família, passou-se a um modelo em que ambos os membros do casal devem

se corresponsabilizar tanto ao trabalho fora como dentro do espaço doméstico.

Do mesmo modo, produz-se um progressivo desaparecimento da família pa­

triarcal em favor do aparecimento e proliferação da família negociadora. As deci­

sões sobre a organização da vida familiar; a relação entre os cônjuges e as relações

entre as gerações já não ocorrem como na família patriarcal. Também assistimos

a uma pluralização das formas de vida e a emergência de novas formas familiares.

A ganância por autonomia dos indivíduos na definição de seus projetos de vida

familiar tem sido traduzida pela extensão de formas de convivência alternativas.

O estudo dos efeitos que o processo de individualização tem sobre a estrutura

familiar permite que seja identificado um perfil do que é uma família pós-moderna,

em contraste com a família tradicional, cujo traço mais característico era uma es­

trutura patriarcal e uma segregação de funções (CASTELLS, 2003). Abordar a aná­

lise da guarda compartilhada supõe, em suma, examinar as famílias num momen­

to histórico e concreto, que se caracteriza por ser uma fase de transição das famílias

de um modelo de sociedade a outro que é modelado, também, na coexistência de

um modelo de família tradicional com outros novos modelos de família. A identifi­

cação dos traços diferenciadores de um modelo de família tradicional e de família

pós-moderna pode nos ajudar a alcançar o objetivo central da pesquisa, que é o de

esclarecer o conceito de guarda compartilhada a partir dos fatores que a definem.

3. Metodologia

3 .1. Participantes

A amostra utilizada neste estudo consiste em 247 famílias residentes em cidades

da Espanha que foram selecionadas para sua inclusão por parte das equipes técni­

cas encarregadas de avaliar a idoneidade da guarda compartilhada. As cidades nas

quais foi aplicada a avaliação são Alicante, Badajoz, Castellón de la Plana, Fuen­

labrada, Logrofío, Madri, Valência e Vitória. O tamanho da amostra é suficiente­

mente adequado para a realização de uma análise de regressão logística2•

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r

3.2. Procedimento

Para o recolhimento da informação, o instrumento de avaliação foi exposto no re­

positório da rede acadêmica I ris para assistentes sociais3• Sendo o relatório es­

crito e apresentado em juízo, os técnicos, por sua vez, atendiam o cumprimen­

to da escala, que lhes era enviada por e-mail, indicando a finalidade. Durante os

primeiros cinco meses, a aplicação da escala esteve em fase de experimento (fase

de pré-teste). No período de junho de 2012 a junho de 2013, foram recolhidos os

questionários preenchidos.

Para a análise de dados, foi utilizado o método de análise multivariável de re­

gressão logística. Escolheu-se este modelo estatístico porque a análise se apro­

ximava da realidade social tal e como é avaliada pelos técnicos, ou seja, o estudo

de uma variável dicotômica (guarda compartilhada ou guarda única), analisada

em função de uma série de variáveis independentes que definem o termo guarda

compartilhada, segundo a literatura científica consultada.

O modelo de regressão logística permite identificar aquelas variáveis psicos­

sociais que mais discriminam entre a população que acede ter guarda comparti­

lhada ou guarda única. A análise estatística proporciona informação para poder

ponderar o peso de cada variável no estudo da guarda compartilhada ou no grupo

de guarda única em função das pontuações obtidas nas variáveis independentes.

O tratamento dos dados foi realizado com o software SPSS 21.

3.3. Instrumentos

O instrumento de recolhimento de informação foi a escala de avaliação da guarda

compartilhada no contexto judicial, elaborada a partir do Departamento de So­

ciologia I da Universidade de Alicante6• A seleção dos itens do instrumento par­

tiu de uma revisão bibliográfica exaustiva encontrada nas principais fontes e ba-

6 A escala foi apresentada em forma de comunicação na IV Jornada de Professores de Sociologia

de Empresa e Organizações, realizada na Universidade Jaume I de Castellón de la Plana, na Espanha,

entre os dias 8 e 9 de junho de 2012. Está disponível na Rede Iris de assistentes sociais forenses e pu­

blicada em: El cambiante mundo de las organizaciones: teoria, metodología e investigación, eds. Amparo Fa­

braGalofre e Ana Giménez Adelantado, 47-78. Castellón de la Plana: Universitat Jaume I.

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ses de dados acerca dos fatores que afetam os critérios de atribuição da guarda

compartilhada. Realizou-se uma síntese de todas as variáveis e foram identifica­

dos onze indicadores que agrupavam o conjunto de variáveis que definem a base

teórica da "guarda compartilhada". Os indicadores foram avaliados como favorá­

veis, desfavoráveis e de risco.

Toda a informação obtida em cada caso concreto, através das entrevistas e

questionários, fica agrupada em onze fatores. A Tabela 1 nos mostra a planilha

para a valorização da guarda compartilhada. Cada fator contém outras variáveis

relevantes para o estudo das alternativas de guarda. Os onze fatores são avaliados

pelo técnico numa escala de o a 3, em que o indica que o fator é muito desfavo­

rável para o exercício da guarda compartilhada, 2 indica que o fator é muito favo­

rável e 1, por sua vez, concorrem elementos positivos e negativos. O formato de

resposta aos itens foi adaptado a uma escala de três dimensões para a avaliação

dos indicadores favoráveis ou desfavoráveis. A alternativa de utilização de três di­

mensões é prática em sua aplicação ao poder avaliar se determinada condição se

cumpre completamente (pontuação 2), se cumpre parcialmente em alguma de

suas características (pontuação 1), ou se não cumpre (pontuação o). A confecção

de uma escala com mais dimensões em cada variável enriquece a informação, mas

seu grau de complexidade implica o risco de fazê-la inviável. Por outra parte, na

literatura científica consultada existem escalas que seguem este sistema de me­

dição que permitem a elaboração da análise estatística multi variável de regressão

logística (ARRUABARRENA, 1994; MARTÍNEZ et al., 2007).

Tabela 1: Planilha para a avaliação da guarda compartilhada

Indicador Pontuação

1. Predisposição para o diálogo construtivo sobre questões médicas, edu- o 1 2

cativas.

2. Modelo educativo comum. Pautas educativas concordantes.

3· Valorização do grau de conflito. Tipo de comunicação e percepção do

outro progenitor.

- 434-

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,..

4· Implicação na criação dos filhos. Participação em função educativa e assistencial.

5· Proximidade dos domicílios.

6. Meios materiais suficientes.

7· Idade dos menores. Sistema de alternância previsível.

8. Vontade dos menores.

9· Figuras de apego. Enraizamento social, escolar, familiar.

10. Disponibilidade de tempo. Possibilidades de conciliação da vida fami-

liar com a vida laboral.

11. Plano de atenção viável.

Fonte: Elaboração própria a partir da bibliografia relacionada

aos critérios de atribuição da guarda compartilhada: Conde

Pumpido (2011); Guilarte (201o);Martín Corral (1993); Ramírez

González (2003); Simón Gil (2009) e Vifias (2012).

Junto a esses indicadores avaliados como favoráveis ou desfavoráveis existem

outros fatores de risco, cuja presença resulta incompatível com o exercício de um

modelo de guarda compartilhada. Os indicadores de risco não precisavam de uma

escala de três dimensões, já que sua existência ou não, em forma dicotômica, re­

sultava suficiente para sua avaliação. Os fatores de exclusão de guarda compar­

tilhada que aqui são expostos estão definidos a partir da existência de indicado­

res de desproteção infantil e pela presença de indicadores de avaliação de guarda

compartilhada. Esses indicadores são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1: Indicadores de risco na avaliação da guarda compartilhada

Indicador Risco

1. Progenitor abusivo ou negligente. sim não

2. Consumo de drogas. Não está em tratamento, ou em tratamento de desintoxica-

ção e desabituação inacabada.

3· Problemas de saúde mental. Problemas de saúde física (invalidez em grau seve-

ro ), que afetem a capacidade parenta! para atender as necessidades dos filhos.

- 435-

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4· Violência familiar em qualquer uma de suas formas: violência de gênero ou via-

lência intrafamiliar.

S· Alto conflito parental.

6. Ausência de comunicação entre os pais. Críticas frequentes. Comunicação atra-

vés dos filhos.

7· Estilos educativos divergentes. Questionamento mútuo de figuras de autoridade.

8. Distância física dos lares.

9. Características especiais dos menores. Problemas emocionais ou de conduta. Pa-

tologias físicas graves.

Fonte: Elaboração própria a partir de indicadores de desproteção infantil

(ARRUABARRENA, 1994; Martínez et al., 2007) e pela presença de indicadores

de avaliação de guarda compartilhada desfavoráveis num grau extremo.

Uma vez avaliadas todas as variáveis expostas, o técnico redata um relató­

rio explicando como se comportam cada um desses fatores em cada família estu­

dada. O referido relatório é exposto no julgamento. Junto com a redação deste,

prossegue-se com o cumprimento da escala e recomenda-se uma atuação ao ór­

gão judicial. O tipo de medida proposta pode ser: guarda compartilhada; guarda

única a favor do pai; guarda única a favor da mãe ou outra opção especial.

4. Resultados

A amostra selecionada foi realizada com 247 famílias. Dos casos analisados, em

34,4% foi recomendado um regime de guarda compartilhada, a frente de 65,6 %

que obteve uma guarda individual. Em 59,1% dos casos foi favorável a um regi­

me de guarda única a favor da mãe, enquanto 5,67% dos casos foi por uma guar­

da única a favor do pai.

A análise de regressão logística das variáveis com duas categorias se recodifi­

cam a valores o e 1. Este é o caso da variável independente "Plano de atenção". O

resto das variáveis independentes são variáveis qualitativas que apresentam três

categorias (o, 1, 2), em que o indica que o fator é muito desfavorável, 2 indica que

o fator é muito favorável e 1 no qual concorrem, por sua vez, elementos positivos

e negativos. Para sua codificação são geradas tantas variáveis como o total de ca-

- 436 -

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tegorias menos um. Cada nova variável recebe valor 1 para determinada categoria

e o no resto, de tal forma que os indivíduos numa mesma categoria recebem valor

1 numa mesma variável e o no restante. A categoria não considerada, ou categoria

de referência, está representada pelo valor o em todas as novas variáveis (FER­

RAN, 2001, MARTÍN MARTÍNET et al., 2008).

A Tabela 2, "Variáveis na equação", representa a análise de regressão logística.

O modelo vai incorporando, em sucessivas etapas, as variáveis que formam parte

da equação. As variáveis plano de atenção viável; predisposição para o diálogo; vonta­

de dos menores e disponibilidade de tempo são, nesta esta ordem, as variáveis que se

incorporam à equação de regressão por não cumprir com os requisitos estatísti­

cos que as convertam em variáveis preditas.

Tabela 2: Variáveis na equação

PASSO VARIÁVEL B(a) ET(b) Wald(c) Gl(d) Sig.(e) Exp B(f)

1 PLANO DE ATENÇÃO (1) -3,679 ,413 79,251 1 ,o o o ,025

Constante 1,130 ,251 20,262 1 ,ooo 3,095

2 PREDISPOSIÇÃO DIÁ- 23,140 2 ,ooo

LOGO

P. Diálogo (1) 3,277 ,697 22,105 1 ,o o o ,038

P. Diálogo (2) -,518 ,523 ,982 1 ,322 ,596

PLANO DE ATENÇÃO (1) -3,669 ,484 57,430 1 ,ooo ,026

Constante 2,099 A34 23,397 1 ,ooo 8,162

3 PREDISPOSIÇÃO DIÁ- 14,403 2 ,001

LOGO

P. Diálogo (1) 3,044 8o6 14,277 1 ,ooo ,048

P. Diálogo ( 2) -,521 ,548 ,905 1 ,341 ,594

VONTADE DO MENOR 14,639 2 ,001

Vontade (1) 2,694 ,717 14,ll1 1 ,ooo ,o68

Vontade (2) 1,151 568 4,108 1 ,043 ,316

PLANO DE ATENÇÃO (1) -3,962 ,552 51,444 1 ,ooo ,019

Constante 3,115 ,590 27,905 1 ,ooo 22,534

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4 PREDISPOSIÇÃO DIÁ- 15,203 2 ,ooo

LOGO

P. Diálogo (1) -3,170 ,823 14,841 1 ,ooo ,042

P. Diálogo ( 2) -,324 ,565 ,330 1 ,566 ,723

VONTADE DO MENOR 14,645 2 ,001

Vontade (1) -2,693 ,726 13,744 1 ,o o o ,o68

Vontade (2) -1,320 ,589 5,017 1 ,025 ,267

DISPON. TEMPO 5,283 2 ,071

D. Tempo (1) -2,177 1,133 3,691 1 ,055 ,113

D. Tempo (2) -,996 ,611 2,657 1 ,103 ,369

PLANO DE ATENÇÃO (1) 3,418 ,578 34,971 1 ,ooo ,033

Constante 3,286 ,603 29,745 1 ,o o o 26,749

(a) Os coeficientes de inclinação B indicam incremento (sinal positivo) ou di­

minuição (sinal negativo) no logaritmo da razão de razão de probabilidades.

(b) A coluna ET mostra o erro típico.

(c) O estatístico de Wald mede o significado de cada coeficiente. É o quocien-

te do quadrado do coeficiente de regressão e o quadrado de seu erro típico.

( d) A coluna indica os graus de liberdade

(e)A coluna Sig mostra o significado associado ao estatístico.

(f) Os Expoentes (B) expressam a mudança na razão de probabilidades.

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na amostra.

A estatística de Wald é o coeficiente de regressão logística estimado (B) di­

vidido pelo quadrado do erro típico do quociente estimado (CEA D 'ÁNCONA,

2002, p. 151). Para qualquer variável independente Xj selecionada, se Bj é o parâ­

metro associado a Xj na equação de regressão logística, a estatística de Wald per­

mite contrastá-la hipótese nula: Ho: Bj=o, de que o coeficiente é zero. Ou seja,

que a variável independente não tem nenhum efeito na predição da variável de­

pendente. A interpretação da referida hipótese é que a informação que se perde­

ria ao eliminar a variável Xj no seguinte passo não é significativa. Se o p-valor as­

sociado à estatística de Wald é menor que alfa, rechaçar-se-á a hipótese nula ao

nível de significação alfa. Deste modo, em cada etapa do processo de seleção de

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Page 20: Dicionário Internacional Sociojurídico - rua.ua.es · Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D549 Dicionário internacional de serviço social no campo sociojurídico

, variáveis, a candidata a ser eliminada será a que apresente o máximo p-valor asso­

ciado à estatística de Wald. Será eliminada se tal máximo é maior que o valor crí­

tico 0,1 (FERRAN, 2001, p. 239; MARTÍN MARTÍN et al., 2007, p. 275).

Uma vez conhecidas as variáveis que passam a formar parte da equação, rea­

liza-se a estimativa dos parâmetros e escreve-se o modelo de regressão em forma

de equação. A estimativa dos parâmetros (coeficientes) é obtida mediante o mé­

todo da função de máxima verossimilhança.

Os coeficientes B indicam incremento (sinal+), ou diminuição no logaritmo

da razão de probabilidades de ter guarda compartilhada a não tê-la ante o aumen­

to de uma unidade no valor da variável independente, não variando o valor das

demais variáveis independentes (CEA D 'ANCONA, 2002). A coluna ET represen­

ta o erro-padrão na estimativa dos coeficientes.

A coluna dos Exp (B) expressa a mudança na razão de probabilidade de per­

tencer ao grupo de guarda compartilhada em sua relação com seu oposto. Um va­

lor superior à unidade significa que aumenta a probabilidade. Valores abaixo da

unidade, como é o caso, mostram que a presença desse fator reduz proporcional­

mente a probabilidade de pertencimento ao grupo dos que formam a guarda com­

partilhada. Com as colunas dos coeficientes B e a dos Exp (B) formamos a equa­

ção de regressão logística:

Z = (3,28) - 3,17(predisp.1) - o,32(predisp.2) - 2,7(vontade1) - 1,3(vontade

2 )-2,2( disponib.1 )-0,1 ( disponib2 )-3,4(planm).

Com esta equação obtida com os coeficientes B, obtemos a probabilidade

de que um indivíduo pertença ao grupo dos que obtêm a guarda compartilhada.

Também podemos projetar a equação do seguinte modo, mais acessível a sua lei­

tura em termos de probabilidade. Utilizamos, neste caso, dados da coluna coefi­

cientes Exp (B):

P/Q=26,749*0,042(predisp.1)*0,723(predisp.2)*o,o68(vontade.1)*o,267(vonta­

de.2 )* 0,113 ( disponib.1) *0,369 ( dispon.2 )*0,033(plano.1).

Nas potências seriam colocados os valores o ou 1 obtidos para cada variável

independente e o resultado obtido se divide pelo mesmo número dividido pela

unidade R=R/R-1, e será interpretado como a probabilidade de pertencer ao gru-

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po de guarda compartilhada em oposição ao grupo de guarda única. Assim, por

exemplo, uma família que obteve no fator predisposição uma pontuação 2; no fa­

tor vontade dos menores uma pontuação o; no fator disponibilidade de tempo

pontuação 1 e no plano de atenção pontuação 2, obtém-se o seguinte resultado:

(0,042) 0 * (0,723) 0 * (o,o68) 1 * (0,267)0 * (0,113)0 * (0,369) 1 * (0,033) 0 * (26,7)=

o,6717. 67,17,/68,17=0,9853·

O percentual98,53% é expressão da probabilidade representada em porcenta­

gem de que a família obtenha a guarda em oposição a não obtê-la em função das

variáveis preditas descritas. Uma vez obtida a equação de regressão, é preciso co­

nhecer a bondade de ajuste do modelo. Comprovar a bondade de ajuste é anali­

sar quão prováveis são os resultados amostrais a partir do modelo estimado (pela

máxima verossimilhança). Para este ajuste, é utilizada a estatística -2 Logaritmo

da verossimilhança. Seus valores serão baixos quanto maior seja a verossimilhan­

ça; terão o quando a verossimilhança for máxima.

No quarto e último passo realizado na análise de regressão logística o R qua­

drado de N agelkerke é de o, 751, o que poderia ser interpretado que o modelo de

regressão logística explica o comportamento da variável dependente "guarda

compartilhada" a 75,1%. Uma vez obtida a estatística de Nagelkerke, é procedida

a comprovação do ajuste do modelo, observando em que medida: aumenta o per­

centual de casos corretamente classificados ao ir introduzindo a informação das

distintas variáveis. A classificação dos indivíduos em um ou outro grupo é rea­

lizada a partir da probabilidade com estimativa de pertencer ao segundo grupo

(p;:::o.5), ou ao primeiro grupo (p=:;o.5). O percentual de casos corretamente clas­

sificados é um índice da efetividade do modelo (FERRÁN, 2001, p. 249; MARTÍN

MARTÍNET et al., 2007, p. 283).

A Tabela 3 mostra o resumo dos resultados da classificação, tanto para os ca­

sos que formam parte da amostra selecionada aleatoriamente como para os que

não formam parte. A respeito dos casos selecionados, o percentual dos casos cor­

retamente classificados no primeiro grupo é igual a 89,3%, enquanto no segun­

do é igual a 78,3%. Ao início do processo, antes de considerar a informação de

qualquer das variáveis independentes, ou o que é equivalente, considerando uni-

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Page 22: Dicionário Internacional Sociojurídico - rua.ua.es · Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D549 Dicionário internacional de serviço social no campo sociojurídico

camente a relacionada com o número de casos em cada grupo, o percentual de

casos corretamente classificados era 66,5% nos casos selecionados e 56,5% nos

casos não selecionados. À medida que variáveis são introduzidas, aumenta-se o

percentual dos casos corretamente classificados. Esse percentual é estabilizado

em torno de 89% e 78,3%, respectivamente, em cada um dos grupos. Esses da­

dos configuram o bom ajuste do modelo, já que o conhecimento das variáveis in­

dependentes reduz, de modo ostensivo, o erro na estimativa da probabilidade de

que uma família possa ou não obter um sistema de guarda compartilhada.

Tabela 3: Classificação dos indivíduos

Passo Percentual correto em casos Percentual correto em casos

selecionados não selecionados

o 66,s s6,s

1 86,2 82,6

2 90,2 73,9

3 90,6 78,3

4 89,3 78,3

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na amostra.

5. Discussão

Nesta pesquisa foram identificadas as variáveis que definem o termo "guarda

compartilhada"; foi construída uma escala e mostrou-se o resultado de uma aná­

lise de regressão logística que nos permite identificar as variáveis que são dife­

rentes entre um modelo de guarda e outro. Com a informação obtida, chegou-se

a uma equação de regressão a partir da qual se pode estimar a probabilidade de

que a uma família possa ser atribuído judicialmente um regime de guarda com­

partilhada segundo os critérios objetivos e com margens de erro aceitáveis cien­

tificamente.

O resultado da análise de regressão logística mostra que as variáveis que esta­

belecem diferenças entre aquelas famílias nas quais é recomendado um regime de

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guarda compartilhada e, a respeito daquelas outras para as quais é recomendado

um regime de convivência única são: o fato de contar com um plano de coparen­

talidade sólido e coerente; a disponibilidade de tempo real; a comunicação entre

os progenitores e o desejo dos filhos são os fatores que mais se identificam com

um modelo de guarda compartilhada. Portanto, a hipótese de trabalho se vê con­

firmada, já que nem todas as variáveis identificadas na avaliação da guarda dispu­

tada têm o mesmo valor preditivo. Todas as variáveis são levadas em considera­

ção no estudo dos casos, mas nem todos têm o mesmo valor discriminante.

De todos esses fatores, o de contar com um plano de coparentalidade se

transforma em condição necessária, ainda que não seja suficiente, para obter um

regime de guarda compartilhada. Se esse fator não é pontuado de modo favorável

(pontuação 1 ou pontuação 2), uma família não pode assumir um regime de con­

vivência compartilhada segundo o resultado da análise empírica.

Relacionado com este fator aparece também a variável disponível de tempo

real, que também aparece como variável predita. Ou seja, não basta que o plano

de coparentalidade seja realista, mas que a possibilidade de que o progenitor as­

suma, de modo ativo, a atenção aos filhos, seja também avaliada sem que estares­

ponsabilidade seja delegada a terceiros, a outros membros da família extensa, ou

a casais, principalmente, de famílias reconstituídas.

Outro fator que é incluído na equação de regressão é a predisposição para o

diálogo. Os dados nos mostram que não é necessário que, quando os casais rom­

pam com a relação, mantenham uma comunicação fluida. Esses dados concor­

dam com a maioria dos estudos sobre avaliação de guarda (ARCH, 2010; RAMÍ­

REZ GONZÁLEZ, 2003). Na realidade, a maioria dos casais opta por uma ruptura

em que cada um faz sua vida por conta própria, mas sem tratar de obstaculizar a

relação com os filhos; ademais, são capazes de reconhecer alguma qualidade po­

sitiva no outro progenitor.

A escala diferencia três tipos de família em virtude de seu comportamento

nesta variável. Assim, aquelas famílias que obtêm uma pontuação 2 se correspon­

dem com famílias com um alto nível de comunicação. Nessas famílias, existem

discrepâncias em torno de algumas questões como é o fato de decidir sobre a

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guarda única ou a compartilhada, mas são casais que mantêm comunicação de­

pois da ruptura. As demais famílias, com pontuação 1 na escala, correspondem

aos casais que optam por uma vida individual, mas sem interferências mútuas.

Ou seja, são casais que têm dificuldades para chegar a acordos, mas são capazes

de manter algum tipo de comunicação que versa sobre os filhos e existe entre am­

bos um respeito que se configura na não intromissão na relação paterna ou ma­

terno-filial e no reconhecimento de alguma qualidade positiva no outro progeni­

tor. As demais famílias que não têm habilidade para se comunicar, ou o fazem em

virtude de denúncia, obtêm zero na pontuação da escala. Os casos mais graves,

nos quais esta comunicação afeta negativamente os menores, apareceram pon­

tuados na escala como indicador de risco.

Não é estranho o resultado desta análise, já que até a reforma da legislação so­

bre guarda compartilhada em 2011, a via para o acesso à guarda compartilhada era

quase exclusivamente o mútuo acordo (RUIZ BECERRIL, 1999, 2013), o que com­

porta altos níveis de comunicação entre o casal e transforma esse fator em con­

dição necessária para que se tenha acesso a um regime de guarda compartilhada.

O resultado obtido mostra que esta variável continua a ter peso na avaliação da

guarda, mas deixou de ser uma condição necessária.

O desejo dos menores é outro fator importante na avaliação da guarda com­

partilhada e com valor preditivo na equação de regressão. Contar com o dese­

jo explícito dos filhos, ou pelo menos sem contar com sua oposição quando es­

ses mostram um desejo maduro, justificado, livre e não mediatizado pelo conflito

familiar, resulta um fator relevante. O desejo dos menores não é avaliado de um

modo favorável para a atribuição de um regime de um modelo de guarda com­

partilhada se os menores não forem capazes de expressar livremente suas opi­

niões e desejos; tiverem problemas de relação com seus progenitores; receberem

uma informação distorcida sobre o conflito familiar ou sobre seus progenitores;

e apresentarem problemas importantes de adaptação pessoal, familiar, escolar

ou social.

O conjunto desses fatores nos proporciona uma equação de regressão logísti­

ca, em virtude da qual, sabendo a pontuação que se tem obtido em cada fator da

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escala, pode-se estimar a conveniência de que seja aplicado o regime de convi­

vência compartilhada.

O resto das variáveis estão incluídas na escala, mas ficaram excluídas da equa­

ção de regressão (modelo educativo comum; nível de conflito; implicação na cria­

ção dos menores; proximidade dos domicílios; meios materiais; idade dos meno­

res ou formas de apego). Esses fatores são importantes para o técnico que estuda

e avalia a família e podem ter um peso fundamental na avaliação de um caso sin­

gular, são variáveis que aparecem tanto nas famílias em que é recomendada a

guarda compartilhada como nas que é recomendada a guarda única; em conse­

quência, não têm um valor discriminante. Este é, precisamente, um dos limites

mais importantes que o estudo aqui apresentado mostra, uma vez que o fato de

excluir esses elementos na adequação de regressão poderia reduzir sua importân­

cia real na avaliação. Daí a necessidade de realizar novas investigações que aju­

dem a ponderar, de modo adequado, o peso de cada fator na avaliação da guarda

compartilhada.

O instrumento projetado para a avaliação da guarda exige a submissão às pro­

vas de confiabilidade e validade. A análise de regressão logística permite realizar

uma avaliação da validade preditiva do instrumento, mas esta análise é somente

um passo a mais no processo de validade do instrumento. A investigação empíri­

ca é indispensável para o estudo da validade de conteúdo e da base teórica, assim

como um exame de sua confiabilidade. Também a investigação é necessária para

a elaboração de questionários mais específicos que avaliem variáveis integradas

na escala. A análise de regressão mostra aqueles fatores que carecem de priorida­

de no projeto e na melhoria de questionários, permitindo, assim, o recolhimento

de informações mais elaboradas e precisas.

Outra limitação do estudo está relacionada com o fato de não apresentar in­

formação sobre os resultados satisfatórios ou não da opção pelo regime de guar­

da compartilhada em determinadas famílias. Esse tipo de informação exige uma

pesquisa psicossocial longitudinal e não transversal, como é o estudo que tem

sido proposto. Com os resultados aqui expostos, pode-se afirmar que, segundo

o critério geral dos técnicos, e não de um critério pessoal e subjetivo, pode ser

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, aconselhável um regime de convivência compartilhada exposto em termos de

probabilidade. Não saberemos, seguramente, se o regime proposto funcionará ou

não, já que não é esta a questão que, realmente, mede a escala, mas, pelo menos,

pode-se fundamentar a análise do caso em critérios objetivos.

Se o instrumento aqui apresentado tem suas limitações, também tem importan­

tes qualidades. Por uma parte, permite a organização e a síntese da informação que

os técnicos recolhem ao longo do estudo das famílias e facilita a elaboração do re­

latório pericial em sua seção de considerações. Além disso, permite sua medição,

uma vez que a aplicação da equação de regressão nos informa sobre a distância que

uma determinada família se encontra de obter um regime de guarda compartilhada,

de acordo com o seu comportamento nas variáveis preditas. Por outra parte, a in­

vestigação pretende responder à necessidade apontada por Ruiz Rodríguez ( 2003)

relacionada com a carência de instrumentos específicos elaborados pelos próprios

profissionais do serviço social no âmbito forense. A análise aqui exposta não con­

clui a validação científica da escala, que exige a submissão a outras provas de con­

fiabilidade e validade. Contudo, é um passo adiante na validação da mesma.

Por outra parte, os resultados apresentados orientam as razões que explicam

que as decisões dos tribunais continuam sendo, em sua maioria, guardas únicas a

favor da mãe. O número de decisões judiciais favoráveis à guarda compartilhada

tem aumentado ostensivamente, mas não tanto como para equiparar-se aos per­

centuais de guarda única (RUIZ BECERRIL, 2013). Nesse sentido, fazem-se ne­

cessárias novas pesquisas que aprofundem o conhecimento dos fatores estrutu­

rais que estão influenciando para manter essas diferenças na atribuição da guarda

por parte dos tribunais. Ao final e ao cabo das decisões judiciais, são um reflexo

de uma realidade social.

Os resultados da pesquisa são úteis para os técnicos forenses avaliadores da

guarda disputada, já que mesmo com as dificuldades que estes têm para conver­

ter sua análise de casos em pesquisa social empírica (âmbitos regionais diferen­

tes, legislação diferente), a escala de avaliação de guarda compartilhada oferece

aos assistentes sociais que prestam serviços nos Tribunais de Família uma ferra­

menta para analisar a realidade social com garantias científicas.

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Do mesmo modo, consegue unir a ação e a pesquisa. De um lado, a ação coti­

diana e o exercício profissional habitual do assistente social oferece uma fonte de

dados de primeira ordem à pesquisa; por outra parte, a investigação social devol­

ve à ação uma ferramenta para analisar e interpretar essa realidade de um modo

objetivo. Por último, a investigação manifesta a utilidade da sociologia empírica

em âmbitos organizativos da administração como é o âmbito forense.

Referências

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