diario bahia 04-05-2012

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Crianças se misturam a porcos e urubus numa verdadeira caçada pela sobrevivência O cotidiano de batalha e sa- crifício enfrentado pelos moradores do lixão, dia- riamente retratado na novela glo- bal Avenida Brasil , é uma realida- de para dezenas de famílias em Itabuna. O Diário Bahia mostra nesta edição como vivem os pais, mães e filhos que disputam com porcos, cachorros e urubus o seu pão de cada dia. Um deles é seu Ramiro Alves da Silva, de 65 anos, que vive no local há sete e, por incrível que pa- reça, encara o cenário que o rodeia como paraíso. Afinal, foi reunindo o que para a maioria das pessoas seria resto que ele montou sua ca- sa. Confira outras histórias seme- lhantes nas Ps. 8 e 9 A dura realidade dos ‘operários’ do lixão Foto: Gerson Teixeira/Diário Bahia ITABUNA-BAHIA, Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 2012 - 2.913 - ANO XII - SITE www.diariobahia.com.br - E-MAIL: [email protected] - R$ 1,00 Numa operação batizada como “Onça Preta”, a Receita Federal, o Ministério Público Federal e a Po- lícia Federal começaram a desar- ticular uma quadrilha acusada de fraudar Declarações do Imposto Sobre a Renda da Pessoa Física/ DIRPF para a obtenção de resti- tuições indevidas. P.6 Encontro mostra ginga das capoeiristas itabunenses P.4 Asfalto e melhoria no abastecimento da Mangabinha P.6 Receita e PF descobrem fraude no Imposto de Renda Com animação das bandas Sin- tonize, Forró Sabinada, Nona Viola e Cabrueira, acontece nesta sexta- feira (4), no salão de eventos da Loja Maçônica 28 de Julho, em Itabuna, a festa em comemoração aos 18 anos das Filhas de Jó. P.10 Filhas de Jó festejam 18 anos Durante sessão realizada quin- ta-feira (3), o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou títulos de fazendeiros em terras ilocalizadas em Camacan, Pau-Brasil e Itaju do Colônia. Com a decisão, as proprie- dades deverão ser devolvidas a ín- dios Pataxó Hã Hã Hãe. P.5 STF decide: terras serão devolvidas a índios Betânia Macedo traz flashs do desfile benefi- cente em prol do GACC (Grupo de Apoio à Crian- ça com Câncer), realizado dia 25 de abril, no Empório Bahia, em Itabuna. Na fo- to, a beleza da modelo Ana Carolina. Ps. 12 e 13 Inside Além de comentar sobre a polêmi- ca decisão do STF, que determina a devolução de terras a índios no Sul da Bahia, Manuela Berbert destaca em sua coluna o aniversá- rio de Dr. Renan Moreira, ex-pro- vedor da Santa Casa de Itabuna. Na foto, ele aparece com o neto, José Renan. P.11 SociALL

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Diario Bahia 04-05-2012

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Page 1: Diario Bahia 04-05-2012

Crianças se misturam a porcos e urubus numa verdadeira caçada pela sobrevivência

O cotidiano de batalha e sa-crifício enfrentado pelos moradores do lixão, dia-

riamente retratado na novela glo-bal Avenida Brasil, é uma realida-

de para dezenas de famílias em Itabuna. O Diário Bahia mostra nesta edição como vivem os pais, mães e filhos que disputam com porcos, cachorros e urubus o seu

pão de cada dia. Um deles é seu Ramiro Alves

da Silva, de 65 anos, que vive no local há sete e, por incrível que pa-reça, encara o cenário que o rodeia

como paraíso. Afinal, foi reunindo o que para a maioria das pessoas seria resto que ele montou sua ca-sa. Confira outras histórias seme-lhantes nas Ps. 8 e 9

A dura realidade dos ‘operários’ do lixão

Foto: Gerson Teixeira/Diário Bahia

ITABUNA-BAHIA, Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 2012 - Nº 2.913 - ANO XII - SITE www.diariobahia.com.br - E-MAIL: [email protected] - R$ 1,00

Numa operação batizada como “Onça Preta”, a Receita Federal, o Ministério Público Federal e a Po-lícia Federal começaram a desar-ticular uma quadrilha acusada de fraudar Declarações do Imposto Sobre a Renda da Pessoa Física/DIRPF para a obtenção de resti-tuições indevidas. P.6

Encontro mostra ginga das capoeiristas itabunenses P.4

Asfalto e melhoria no abastecimento da Mangabinha P.6

Receita e PF descobrem fraude no Imposto de Renda

Com animação das bandas Sin-tonize, Forró Sabinada, Nona Viola e Cabrueira, acontece nesta sexta-feira (4), no salão de eventos da Loja Maçônica 28 de Julho, em Itabuna, a festa em comemoração aos 18 anos das Filhas de Jó. P.10

Filhas de Jó festejam 18 anos

Durante sessão realizada quin-ta-feira (3), o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou títulos de fazendeiros em terras ilocalizadas em Camacan, Pau-Brasil e Itaju do Colônia. Com a decisão, as proprie-dades deverão ser devolvidas a ín-dios Pataxó Hã Hã Hãe. P.5

STF decide: terras serão devolvidas a índios

Betânia Macedo traz flashs do desfile benefi-cente em prol do GACC (Grupo de Apoio à Crian-ça com Câncer), realizado dia 25 de abril, no Empório Bahia, em Itabuna. Na fo-to, a beleza da modelo Ana Carolina. Ps. 12 e 13

InsideAlém de comentar sobre a polêmi-ca decisão do STF, que determina a devolução de terras a índios no Sul da Bahia, Manuela Berbert destaca em sua coluna o aniversá-rio de Dr. Renan Moreira, ex-pro-vedor da Santa Casa de Itabuna. Na foto, ele aparece com o neto, José Renan. P.11

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Crianças se misturam a porcos e urubus numa verdadeira caçada pela sobrevivência

O cotidiano de batalha e sa-crifício enfrentado pelos moradores do lixão, dia-

riamente retratado na novela glo-bal Avenida Brasil, é uma realida-

de para dezenas de famílias em Itabuna. O Diário Bahia mostra nesta edição como vivem os pais, mães e filhos que disputam com porcos, cachorros e urubus o seu

pão de cada dia. Um deles é seu Ramiro Alves

da Silva, de 65 anos, que vive no local há sete e, por incrível que pa-reça, encara o cenário que o rodeia

como paraíso. Afinal, foi reunindo o que para a maioria das pessoas seria resto que ele montou sua ca-sa. Confira outras histórias seme-lhantes nas Ps. 8 e 9

A dura realidade dos ‘operários’ do lixão

Foto: Gerson Teixeira/Diário Bahia

ITABUNA-BAHIA, Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 2012 - Nº 2.913 - ANO XII - SITE www.diariobahia.com.br - E-MAIL: [email protected] - R$ 1,00

Numa operação batizada como “Onça Preta”, a Receita Federal, o Ministério Público Federal e a Po-lícia Federal começaram a desar-ticular uma quadrilha acusada de fraudar Declarações do Imposto Sobre a Renda da Pessoa Física/DIRPF para a obtenção de resti-tuições indevidas. P.6

Encontro mostra ginga das capoeiristas itabunenses P.4

Asfalto e melhoria no abastecimento da Mangabinha P.6

Receita e PF descobrem fraude no Imposto de Renda

Com animação das bandas Sin-tonize, Forró Sabinada, Nona Viola e Cabrueira, acontece nesta sexta-feira (4), no salão de eventos da Loja Maçônica 28 de Julho, em Itabuna, a festa em comemoração aos 18 anos das Filhas de Jó. P.10

Filhas de Jó festejam 18 anos

Durante sessão realizada quin-ta-feira (3), o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou títulos de fazendeiros em terras ilocalizadas em Camacan, Pau-Brasil e Itaju do Colônia. Com a decisão, as proprie-dades deverão ser devolvidas a ín-dios Pataxó Hã Hã Hãe. P.5

STF decide: terras serão devolvidas a índios

Betânia Macedo traz flashs do desfile benefi-cente em prol do GACC (Grupo de Apoio à Crian-ça com Câncer), realizado dia 25 de abril, no Empório Bahia, em Itabuna. Na fo-to, a beleza da modelo Ana Carolina. Ps. 12 e 13

InsideAlém de comentar sobre a polêmi-ca decisão do STF, que determina a devolução de terras a índios no Sul da Bahia, Manuela Berbert destaca em sua coluna o aniversá-rio de Dr. Renan Moreira, ex-pro-vedor da Santa Casa de Itabuna. Na foto, ele aparece com o neto, José Renan. P.11

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Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 2012 | PUBLICIDADE 7

“Muitas pessoas têm vergonha de dizer que trabalham no lixão. Eu tenho orgulho”. Você pode estar se perguntando quem seria capaz de falar isso, vivendo em condições sub-humanas, tendo que disputar espaço com urubus, porcos e ca-chorros, tudo pela sobrevivência. Quem presencia cenas como estas pode até ficar chocado, mas para os componentes desse cenário o

odor fétido do chorume, os restos de animais mortos e o sol escal-dante são quase insignificantes diante da possibilidade de garan-tir o sustento da família.

O autor da frase citada no início da matéria é Ramiro Alves da Silva, de 65 anos, morador do lixão de Itabuna há sete. Ele ficou conhecido ao ser entrevistado por uma equipe de reportagem do Jornal Nacional, que esteve na cidade, recentemente, gravando

para o quadro JN no Ar. “Vivo no paraíso”, foi o que falou o idoso ao repórter Cezar Menezes.

O Diário Bahia foi até lá, não para reprisar a problemática do lixo, mas para conhecer um pou-co da história de quem vive e so-brevive do lixão, que recebe uma média de 80 toneladas de resídu-os por dia e 600 mil toneladas por mês. Chegamos lá numa tarde de terça-feira. A visão do local, situ-ado na chamada “Volta da Cobra”, a aproximadamente um quilôme-tro do Hospital de Base Luís Edu-ardo Magalhães, causou imedia-to impacto. Dezenas de famílias trabalhavam debaixo de um calor causticante.

Um detalhe que nos chamou a atenção foi o fato de essas pessoas não usarem nenhum equipamen-to de proteção, como máscaras e luvas. Mulheres, homens, jovens e até crianças se misturavam em meio aos detritos, à procura de materiais recicláveis para ven-der. E muitos deles confessam: retiram dali também sobras de alimentos, verduras e frutas que são descartadas pelas residências e feiras livres.

Alguns criam porcos para ajudar na renda, como é o caso de seu Ramiro, que apesar da idade, ainda não é aposentado. “Por en-quanto, é o governo que me de-

ve”, disse. O idoso não se faz de rogado e solta, entre um sorriso largo, aquela frase que o tornou tão conhecido. “Vivo no paraíso. E tenho orgulho de dizer isso”. Os animais por ele criados se alimen-tam no próprio lixão.

Liberdadeno lixãoSeu Ramiro já chegou a co-

locar até uma vendinha no lixão, mas o negócio não foi à frente. “Hoje, crio porco, galinha, e tomo conta dos maquinários [equipa-mentos da prefeitura usados no local]. Se eu vivo daqui, por que vou me sentir envergonhado? Se você puxar na internet, no arma-zém que eu comprava as coisas para a venda, está lá: Ramiro Al-ves da Silva. Endereço: Lixão. Eu me sentiria envergonhado se eu andasse errado. Não sou ladrão, não uso droga, não vendo droga, não sou estuprador, não sou assal-tante, não sou fugitivo da polícia e nem da Justiça, por que eu vou ter medo de mostrar minha cara pa-ra o mundo?”, disparou o homem, sempre bem-humorado.

Questionamos a ele se tinha a intenção de algum dia sair dali. Seu Ramiro foi taxativo: “Enquan-to eu tiver vida, eu pretendo ficar aqui”. E ele explica o porquê da sua escolha. “Eu tenho uma casa lá no Manoel Leão, mas dei para meu fi-lho morar. Eu tomei gosto daqui, porque aqui eu estou livre de po-lícia, de político, porque o político só conhece as pessoas na hora da

votação e a polícia quando a pessoa é preta, mas honesta, eles dizem que é bandido”, argumenta.

Lanternas na cabeçaTambém conhecemos lá no li-

xão de Itabuna o ancião Antônio dos Anjos Souza, popularmente chamado de Sergipe. Ao contrá-rio de seu Ramiro, ele não mora no local, mas já faz parte do cenário. Aos 73 anos, o homem vem todos os dias ao local. Ele cata restos de comida para alimentar os animais que cria no quintal de sua casa, no bairro Novo Horizonte. Assim como os demais trabalhadores do lixão, ele não usa nada para se proteger de eventuais doenças provocadas pelo contato com materiais em de-composição. “Até hoje nunca tive nenhuma dor de cabeça”, gaba-se seu Sergipe.

O idoso frequenta o lugar há cinco anos e já conhece a rotina dos moradores. “Até de noite eles trabalham aqui. Não para de che-gar caminhão de lixo. Os catado-res amarram duas lanternas na cabeça e procuram material”, observa.

“Tá bom demais”Há quatro anos morando no

lixão, Reginaldo Santos Carva-lho, de 29 anos, pensa diferente de seu Ramiro e sonha em um dia morar num lugar melhor. “Se eu arrumar um emprego lá na rua, eu vou. Mas enquanto isso, vou

ficando por aqui”. Solitário, o rapaz conta que tra-

balhava numa olaria. “Mas acabou o serviço e eu falei: ‘vou trabalhar lá (lixão) mesmo, não tem outro lugar”, lembra. Reginaldo diz que chega a ganhar entre R$ 300,00 e R$ 400,00 por mês. “Depende do esforço. Para mim que sou sozi-nho, graças a Deus o que eu ganho aqui tá bom demais”.

“Empreendedor individual”Engana-se quem pensa que

no lixão não existe espaço para “crescer” profissionalmente. Re-nisson Moraes Silva que o diga.

De catador a ‘empreendedor’, ele hoje tem até um funcioná-rio. Casado e pai de três filhos, Renisson já morou no local du-rante dois anos. No entanto, foi obrigado a ir embora forçado pelas circunstâncias.

Atualmente, o jovem de 28 anos é evangélico, mas amarga a lembrança de um passado triste, que ele não faz muita questão de lembrar. “Em 2011, forjaram con-tra mim e a polícia encontrou dro-ga nas minhas coisas. Fiquei três meses preso e agora respondo em liberdade. Infelizmente este lugar lá fora é visto ainda como lugar de violência, mas não é nada disso. Aqui é sossegado”, garante.

Renisson diz estar satisfeito com sua renda, comprando ma-terial reciclável das mãos dos ca-tadores. “Um salário na rua é R$ 622,00, aqui se a pessoa pegar se-guro pode ganhar de R$ 600,00 a R$ 800,00 numa quinzena. Sou um empreendedor individual”, orgulha-se.

O material comprado por Re-nisson é repassado para empresas terceirizadas. “Eu tenho quatro compradores certos. Pago o fre-te de R$ 20,00 por cada caminhão que faz o transporte do material pra mim. São seis a sete caminhões por semana. Dá pra fazer aí mais de R$ 1.500,00 por mês. Dá pra viver tranquilo”, calcula.

Se por um lado o lixão de Itabuna proporciona uma renda, ainda que à custa de um gran-de sacrifício por parte de quem trabalha lá, por outro a falta de infraestrutura do lugar conde-na os moradores ao descaso e ao abandono. Sem água tratada, sem rede de esgoto, sem trans-porte e sem educação.

Nesse contexto, conhecemos a história de uma adolescente de 13 anos que, apesar das difi-culdades financeiras, sorri em meio ao cenário de sofrimento e miséria que a cerca. Kailane da Conceição Silva, que catava um batom quando a abordamos, ajuda a mãe a fazer a separação do lixo. Caçula de seis irmãos,

a garota cursa a 7ª série na es-cola do Rotary Clube, no bairro Santo Antonio, e é a única que estuda na casa. Segundo ela, até a 4ª série, as crianças que moram no lixão estudam na fazenda Duas Barras, situada próximo ao local.

Perguntamos à garota co-mo ela faz para se deslocar até o bairro onde estuda. Para nos-sa surpresa, descobrimos que não existe nenhum veículo que faça o transporte de estudan-tes do lixão para o centro da cidade. Ou seja, o percurso de cerca de sete quilômetros é fei-to através de carona nos cami-nhões de lixo ou a pé. No caso de Kailane, o irmão tem uma

motocicleta e a leva para a es-cola todos os dias.

Bonita e desinibida, a ado-lescente garante que não tem problemas em dizer onde mo-ra. Questionamos se já sofreu algum tipo de preconceito. “Di-reto”, responde, sem hesitar, de cabeça baixa. “Me chamam de lixeira. Um dia, contei para o meu irmão e ele foi lá, conversou com a diretora. Mas não teve jeito. Continuam falando. Fico quieta. Não ligo mais”, relata.

O preconceito imposto pela exclusão social, e os obstáculos que desde cedo ela é obrigada a enfrentar, não desanimam Kai-lane, que tem um sonho: “Quero ser médica”.

ESPECIAL | Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 20128 Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 2012 | ESPECIAL 9

Dezenas de famílias moram no local, que recebe por mês uma média de 600 mil toneladas de lixo. Apesar da realidade de miséria e sacrifício, histórias mostram esperança e otimismo

Lixão: catadores disputam espaço com porcos e urubus na luta pela sobrevivência

“Me chamam de lixeira, mas quero ser médica”

Por SIMONE NASCIMENTO

Todos correm para recepcionar o caminhão de lixo, em busca do melhor material

O lixão gera renda também para os chamados atravessadores, pessoas que compram material reciclável na mão dos catadores

Foto: Gerson Teixeira/Diário Bahia

Kailane sonha com um futuro bem diferente da realidade em que vive hoje

Porcos e urubus encontram comida farta em meio ao amontoado de lixo

Crianças crescem em meio a um cenário regido pela misériaSeu Sergipe conta que nunca sentiu sequer uma dor de cabeça, apesar da convivência diária com odor fétido e chorume Seu Ramiro esbanja alegria por ter montado sua casa com o que achou no lixão

Page 8: Diario Bahia 04-05-2012

“Muitas pessoas têm vergonha de dizer que trabalham no lixão. Eu tenho orgulho”. Você pode estar se perguntando quem seria capaz de falar isso, vivendo em condições sub-humanas, tendo que disputar espaço com urubus, porcos e ca-chorros, tudo pela sobrevivência. Quem presencia cenas como estas pode até ficar chocado, mas para os componentes desse cenário o

odor fétido do chorume, os restos de animais mortos e o sol escal-dante são quase insignificantes diante da possibilidade de garan-tir o sustento da família.

O autor da frase citada no início da matéria é Ramiro Alves da Silva, de 65 anos, morador do lixão de Itabuna há sete. Ele ficou conhecido ao ser entrevistado por uma equipe de reportagem do Jornal Nacional, que esteve na cidade, recentemente, gravando

para o quadro JN no Ar. “Vivo no paraíso”, foi o que falou o idoso ao repórter Cezar Menezes.

O Diário Bahia foi até lá, não para reprisar a problemática do lixo, mas para conhecer um pou-co da história de quem vive e so-brevive do lixão, que recebe uma média de 80 toneladas de resídu-os por dia e 600 mil toneladas por mês. Chegamos lá numa tarde de terça-feira. A visão do local, situ-ado na chamada “Volta da Cobra”, a aproximadamente um quilôme-tro do Hospital de Base Luís Edu-ardo Magalhães, causou imedia-to impacto. Dezenas de famílias trabalhavam debaixo de um calor causticante.

Um detalhe que nos chamou a atenção foi o fato de essas pessoas não usarem nenhum equipamen-to de proteção, como máscaras e luvas. Mulheres, homens, jovens e até crianças se misturavam em meio aos detritos, à procura de materiais recicláveis para ven-der. E muitos deles confessam: retiram dali também sobras de alimentos, verduras e frutas que são descartadas pelas residências e feiras livres.

Alguns criam porcos para ajudar na renda, como é o caso de seu Ramiro, que apesar da idade, ainda não é aposentado. “Por en-quanto, é o governo que me de-

ve”, disse. O idoso não se faz de rogado e solta, entre um sorriso largo, aquela frase que o tornou tão conhecido. “Vivo no paraíso. E tenho orgulho de dizer isso”. Os animais por ele criados se alimen-tam no próprio lixão.

Liberdadeno lixãoSeu Ramiro já chegou a co-

locar até uma vendinha no lixão, mas o negócio não foi à frente. “Hoje, crio porco, galinha, e tomo conta dos maquinários [equipa-mentos da prefeitura usados no local]. Se eu vivo daqui, por que vou me sentir envergonhado? Se você puxar na internet, no arma-zém que eu comprava as coisas para a venda, está lá: Ramiro Al-ves da Silva. Endereço: Lixão. Eu me sentiria envergonhado se eu andasse errado. Não sou ladrão, não uso droga, não vendo droga, não sou estuprador, não sou assal-tante, não sou fugitivo da polícia e nem da Justiça, por que eu vou ter medo de mostrar minha cara pa-ra o mundo?”, disparou o homem, sempre bem-humorado.

Questionamos a ele se tinha a intenção de algum dia sair dali. Seu Ramiro foi taxativo: “Enquan-to eu tiver vida, eu pretendo ficar aqui”. E ele explica o porquê da sua escolha. “Eu tenho uma casa lá no Manoel Leão, mas dei para meu fi-lho morar. Eu tomei gosto daqui, porque aqui eu estou livre de po-lícia, de político, porque o político só conhece as pessoas na hora da

votação e a polícia quando a pessoa é preta, mas honesta, eles dizem que é bandido”, argumenta.

Lanternas na cabeçaTambém conhecemos lá no li-

xão de Itabuna o ancião Antônio dos Anjos Souza, popularmente chamado de Sergipe. Ao contrá-rio de seu Ramiro, ele não mora no local, mas já faz parte do cenário. Aos 73 anos, o homem vem todos os dias ao local. Ele cata restos de comida para alimentar os animais que cria no quintal de sua casa, no bairro Novo Horizonte. Assim como os demais trabalhadores do lixão, ele não usa nada para se proteger de eventuais doenças provocadas pelo contato com materiais em de-composição. “Até hoje nunca tive nenhuma dor de cabeça”, gaba-se seu Sergipe.

O idoso frequenta o lugar há cinco anos e já conhece a rotina dos moradores. “Até de noite eles trabalham aqui. Não para de che-gar caminhão de lixo. Os catado-res amarram duas lanternas na cabeça e procuram material”, observa.

“Tá bom demais”Há quatro anos morando no

lixão, Reginaldo Santos Carva-lho, de 29 anos, pensa diferente de seu Ramiro e sonha em um dia morar num lugar melhor. “Se eu arrumar um emprego lá na rua, eu vou. Mas enquanto isso, vou

ficando por aqui”. Solitário, o rapaz conta que tra-

balhava numa olaria. “Mas acabou o serviço e eu falei: ‘vou trabalhar lá (lixão) mesmo, não tem outro lugar”, lembra. Reginaldo diz que chega a ganhar entre R$ 300,00 e R$ 400,00 por mês. “Depende do esforço. Para mim que sou sozi-nho, graças a Deus o que eu ganho aqui tá bom demais”.

“Empreendedor individual”Engana-se quem pensa que

no lixão não existe espaço para “crescer” profissionalmente. Re-nisson Moraes Silva que o diga.

De catador a ‘empreendedor’, ele hoje tem até um funcioná-rio. Casado e pai de três filhos, Renisson já morou no local du-rante dois anos. No entanto, foi obrigado a ir embora forçado pelas circunstâncias.

Atualmente, o jovem de 28 anos é evangélico, mas amarga a lembrança de um passado triste, que ele não faz muita questão de lembrar. “Em 2011, forjaram con-tra mim e a polícia encontrou dro-ga nas minhas coisas. Fiquei três meses preso e agora respondo em liberdade. Infelizmente este lugar lá fora é visto ainda como lugar de violência, mas não é nada disso. Aqui é sossegado”, garante.

Renisson diz estar satisfeito com sua renda, comprando ma-terial reciclável das mãos dos ca-tadores. “Um salário na rua é R$ 622,00, aqui se a pessoa pegar se-guro pode ganhar de R$ 600,00 a R$ 800,00 numa quinzena. Sou um empreendedor individual”, orgulha-se.

O material comprado por Re-nisson é repassado para empresas terceirizadas. “Eu tenho quatro compradores certos. Pago o fre-te de R$ 20,00 por cada caminhão que faz o transporte do material pra mim. São seis a sete caminhões por semana. Dá pra fazer aí mais de R$ 1.500,00 por mês. Dá pra viver tranquilo”, calcula.

Se por um lado o lixão de Itabuna proporciona uma renda, ainda que à custa de um gran-de sacrifício por parte de quem trabalha lá, por outro a falta de infraestrutura do lugar conde-na os moradores ao descaso e ao abandono. Sem água tratada, sem rede de esgoto, sem trans-porte e sem educação.

Nesse contexto, conhecemos a história de uma adolescente de 13 anos que, apesar das difi-culdades financeiras, sorri em meio ao cenário de sofrimento e miséria que a cerca. Kailane da Conceição Silva, que catava um batom quando a abordamos, ajuda a mãe a fazer a separação do lixo. Caçula de seis irmãos,

a garota cursa a 7ª série na es-cola do Rotary Clube, no bairro Santo Antonio, e é a única que estuda na casa. Segundo ela, até a 4ª série, as crianças que moram no lixão estudam na fazenda Duas Barras, situada próximo ao local.

Perguntamos à garota co-mo ela faz para se deslocar até o bairro onde estuda. Para nos-sa surpresa, descobrimos que não existe nenhum veículo que faça o transporte de estudan-tes do lixão para o centro da cidade. Ou seja, o percurso de cerca de sete quilômetros é fei-to através de carona nos cami-nhões de lixo ou a pé. No caso de Kailane, o irmão tem uma

motocicleta e a leva para a es-cola todos os dias.

Bonita e desinibida, a ado-lescente garante que não tem problemas em dizer onde mo-ra. Questionamos se já sofreu algum tipo de preconceito. “Di-reto”, responde, sem hesitar, de cabeça baixa. “Me chamam de lixeira. Um dia, contei para o meu irmão e ele foi lá, conversou com a diretora. Mas não teve jeito. Continuam falando. Fico quieta. Não ligo mais”, relata.

O preconceito imposto pela exclusão social, e os obstáculos que desde cedo ela é obrigada a enfrentar, não desanimam Kai-lane, que tem um sonho: “Quero ser médica”.

ESPECIAL | Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 20128 Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 2012 | ESPECIAL 9

Dezenas de famílias moram no local, que recebe por mês uma média de 600 mil toneladas de lixo. Apesar da realidade de miséria e sacrifício, histórias mostram esperança e otimismo

Lixão: catadores disputam espaço com porcos e urubus na luta pela sobrevivência

“Me chamam de lixeira, mas quero ser médica”

Por SIMONE NASCIMENTO

Todos correm para recepcionar o caminhão de lixo, em busca do melhor material

O lixão gera renda também para os chamados atravessadores, pessoas que compram material reciclável na mão dos catadores

Foto: Gerson Teixeira/Diário Bahia

Kailane sonha com um futuro bem diferente da realidade em que vive hoje

Porcos e urubus encontram comida farta em meio ao amontoado de lixo

Crianças crescem em meio a um cenário regido pela misériaSeu Sergipe conta que nunca sentiu sequer uma dor de cabeça, apesar da convivência diária com odor fétido e chorume Seu Ramiro esbanja alegria por ter montado sua casa com o que achou no lixão

Page 9: Diario Bahia 04-05-2012

“Muitas pessoas têm vergonha de dizer que trabalham no lixão. Eu tenho orgulho”. Você pode estar se perguntando quem seria capaz de falar isso, vivendo em condições sub-humanas, tendo que disputar espaço com urubus, porcos e ca-chorros, tudo pela sobrevivência. Quem presencia cenas como estas pode até ficar chocado, mas para os componentes desse cenário o

odor fétido do chorume, os restos de animais mortos e o sol escal-dante são quase insignificantes diante da possibilidade de garan-tir o sustento da família.

O autor da frase citada no início da matéria é Ramiro Alves da Silva, de 65 anos, morador do lixão de Itabuna há sete. Ele ficou conhecido ao ser entrevistado por uma equipe de reportagem do Jornal Nacional, que esteve na cidade, recentemente, gravando

para o quadro JN no Ar. “Vivo no paraíso”, foi o que falou o idoso ao repórter Cezar Menezes.

O Diário Bahia foi até lá, não para reprisar a problemática do lixo, mas para conhecer um pou-co da história de quem vive e so-brevive do lixão, que recebe uma média de 80 toneladas de resídu-os por dia e 600 mil toneladas por mês. Chegamos lá numa tarde de terça-feira. A visão do local, situ-ado na chamada “Volta da Cobra”, a aproximadamente um quilôme-tro do Hospital de Base Luís Edu-ardo Magalhães, causou imedia-to impacto. Dezenas de famílias trabalhavam debaixo de um calor causticante.

Um detalhe que nos chamou a atenção foi o fato de essas pessoas não usarem nenhum equipamen-to de proteção, como máscaras e luvas. Mulheres, homens, jovens e até crianças se misturavam em meio aos detritos, à procura de materiais recicláveis para ven-der. E muitos deles confessam: retiram dali também sobras de alimentos, verduras e frutas que são descartadas pelas residências e feiras livres.

Alguns criam porcos para ajudar na renda, como é o caso de seu Ramiro, que apesar da idade, ainda não é aposentado. “Por en-quanto, é o governo que me de-

ve”, disse. O idoso não se faz de rogado e solta, entre um sorriso largo, aquela frase que o tornou tão conhecido. “Vivo no paraíso. E tenho orgulho de dizer isso”. Os animais por ele criados se alimen-tam no próprio lixão.

Liberdadeno lixãoSeu Ramiro já chegou a co-

locar até uma vendinha no lixão, mas o negócio não foi à frente. “Hoje, crio porco, galinha, e tomo conta dos maquinários [equipa-mentos da prefeitura usados no local]. Se eu vivo daqui, por que vou me sentir envergonhado? Se você puxar na internet, no arma-zém que eu comprava as coisas para a venda, está lá: Ramiro Al-ves da Silva. Endereço: Lixão. Eu me sentiria envergonhado se eu andasse errado. Não sou ladrão, não uso droga, não vendo droga, não sou estuprador, não sou assal-tante, não sou fugitivo da polícia e nem da Justiça, por que eu vou ter medo de mostrar minha cara pa-ra o mundo?”, disparou o homem, sempre bem-humorado.

Questionamos a ele se tinha a intenção de algum dia sair dali. Seu Ramiro foi taxativo: “Enquan-to eu tiver vida, eu pretendo ficar aqui”. E ele explica o porquê da sua escolha. “Eu tenho uma casa lá no Manoel Leão, mas dei para meu fi-lho morar. Eu tomei gosto daqui, porque aqui eu estou livre de po-lícia, de político, porque o político só conhece as pessoas na hora da

votação e a polícia quando a pessoa é preta, mas honesta, eles dizem que é bandido”, argumenta.

Lanternas na cabeçaTambém conhecemos lá no li-

xão de Itabuna o ancião Antônio dos Anjos Souza, popularmente chamado de Sergipe. Ao contrá-rio de seu Ramiro, ele não mora no local, mas já faz parte do cenário. Aos 73 anos, o homem vem todos os dias ao local. Ele cata restos de comida para alimentar os animais que cria no quintal de sua casa, no bairro Novo Horizonte. Assim como os demais trabalhadores do lixão, ele não usa nada para se proteger de eventuais doenças provocadas pelo contato com materiais em de-composição. “Até hoje nunca tive nenhuma dor de cabeça”, gaba-se seu Sergipe.

O idoso frequenta o lugar há cinco anos e já conhece a rotina dos moradores. “Até de noite eles trabalham aqui. Não para de che-gar caminhão de lixo. Os catado-res amarram duas lanternas na cabeça e procuram material”, observa.

“Tá bom demais”Há quatro anos morando no

lixão, Reginaldo Santos Carva-lho, de 29 anos, pensa diferente de seu Ramiro e sonha em um dia morar num lugar melhor. “Se eu arrumar um emprego lá na rua, eu vou. Mas enquanto isso, vou

ficando por aqui”. Solitário, o rapaz conta que tra-

balhava numa olaria. “Mas acabou o serviço e eu falei: ‘vou trabalhar lá (lixão) mesmo, não tem outro lugar”, lembra. Reginaldo diz que chega a ganhar entre R$ 300,00 e R$ 400,00 por mês. “Depende do esforço. Para mim que sou sozi-nho, graças a Deus o que eu ganho aqui tá bom demais”.

“Empreendedor individual”Engana-se quem pensa que

no lixão não existe espaço para “crescer” profissionalmente. Re-nisson Moraes Silva que o diga.

De catador a ‘empreendedor’, ele hoje tem até um funcioná-rio. Casado e pai de três filhos, Renisson já morou no local du-rante dois anos. No entanto, foi obrigado a ir embora forçado pelas circunstâncias.

Atualmente, o jovem de 28 anos é evangélico, mas amarga a lembrança de um passado triste, que ele não faz muita questão de lembrar. “Em 2011, forjaram con-tra mim e a polícia encontrou dro-ga nas minhas coisas. Fiquei três meses preso e agora respondo em liberdade. Infelizmente este lugar lá fora é visto ainda como lugar de violência, mas não é nada disso. Aqui é sossegado”, garante.

Renisson diz estar satisfeito com sua renda, comprando ma-terial reciclável das mãos dos ca-tadores. “Um salário na rua é R$ 622,00, aqui se a pessoa pegar se-guro pode ganhar de R$ 600,00 a R$ 800,00 numa quinzena. Sou um empreendedor individual”, orgulha-se.

O material comprado por Re-nisson é repassado para empresas terceirizadas. “Eu tenho quatro compradores certos. Pago o fre-te de R$ 20,00 por cada caminhão que faz o transporte do material pra mim. São seis a sete caminhões por semana. Dá pra fazer aí mais de R$ 1.500,00 por mês. Dá pra viver tranquilo”, calcula.

Se por um lado o lixão de Itabuna proporciona uma renda, ainda que à custa de um gran-de sacrifício por parte de quem trabalha lá, por outro a falta de infraestrutura do lugar conde-na os moradores ao descaso e ao abandono. Sem água tratada, sem rede de esgoto, sem trans-porte e sem educação.

Nesse contexto, conhecemos a história de uma adolescente de 13 anos que, apesar das difi-culdades financeiras, sorri em meio ao cenário de sofrimento e miséria que a cerca. Kailane da Conceição Silva, que catava um batom quando a abordamos, ajuda a mãe a fazer a separação do lixo. Caçula de seis irmãos,

a garota cursa a 7ª série na es-cola do Rotary Clube, no bairro Santo Antonio, e é a única que estuda na casa. Segundo ela, até a 4ª série, as crianças que moram no lixão estudam na fazenda Duas Barras, situada próximo ao local.

Perguntamos à garota co-mo ela faz para se deslocar até o bairro onde estuda. Para nos-sa surpresa, descobrimos que não existe nenhum veículo que faça o transporte de estudan-tes do lixão para o centro da cidade. Ou seja, o percurso de cerca de sete quilômetros é fei-to através de carona nos cami-nhões de lixo ou a pé. No caso de Kailane, o irmão tem uma

motocicleta e a leva para a es-cola todos os dias.

Bonita e desinibida, a ado-lescente garante que não tem problemas em dizer onde mo-ra. Questionamos se já sofreu algum tipo de preconceito. “Di-reto”, responde, sem hesitar, de cabeça baixa. “Me chamam de lixeira. Um dia, contei para o meu irmão e ele foi lá, conversou com a diretora. Mas não teve jeito. Continuam falando. Fico quieta. Não ligo mais”, relata.

O preconceito imposto pela exclusão social, e os obstáculos que desde cedo ela é obrigada a enfrentar, não desanimam Kai-lane, que tem um sonho: “Quero ser médica”.

ESPECIAL | Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 20128 Itabuna-BA, 4 a 7 de maio de 2012 | ESPECIAL 9

Dezenas de famílias moram no local, que recebe por mês uma média de 600 mil toneladas de lixo. Apesar da realidade de miséria e sacrifício, histórias mostram esperança e otimismo

Lixão: catadores disputam espaço com porcos e urubus na luta pela sobrevivência

“Me chamam de lixeira, mas quero ser médica”

Por SIMONE NASCIMENTO

Todos correm para recepcionar o caminhão de lixo, em busca do melhor material

O lixão gera renda também para os chamados atravessadores, pessoas que compram material reciclável na mão dos catadores

Foto: Gerson Teixeira/Diário Bahia

Kailane sonha com um futuro bem diferente da realidade em que vive hoje

Porcos e urubus encontram comida farta em meio ao amontoado de lixo

Crianças crescem em meio a um cenário regido pela misériaSeu Sergipe conta que nunca sentiu sequer uma dor de cabeça, apesar da convivência diária com odor fétido e chorume Seu Ramiro esbanja alegria por ter montado sua casa com o que achou no lixão

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Um Chá de Tortas marca, no final da tarde desta sexta-feira (04), o encerramento das comemorações do 18º aniversário das Filhas de Jó de Itabuna, celebrado no último dia 26 de abril. A festa, animada pelas ban-das Sintonize, Forró Sabinada, Nona Viola e Cabrueira, acontece no salão de eventos da Loja Maçônica 28 de Julho.

Os festejos que marcam os 18 anos da criação da Bethel “Laços de União” da Ordem Internacional das Filhas de Jó na cidade, co-meçaram desde o dia 20 de abril, quando as meninas que compõe o grupo, ligado à Maçonaria, participaram de um movimen-to filantrópico. Elas passaram uma tarde inteira em companhia das crianças inter-nadas no hospital Manoel Novaes.

Dando sequência a uma série de come-morações, foi realizado na última sexta-feira (27), a “Pomposa Ritualística”, presidida pela Honorável Rainha, Tâmara Montalvão. Duran-te o cerimonial, ela examinou a proficiência das Filhas de Jó recém-iniciadas, que deverão ocupar cargos como oficiais da Ordem em Itabuna. No final, os participantes puderam desfrutar do bolo de aniversário.

A Ordem Internacional das Filhas de Jó é uma organização para meninas entre 10 e 20 anos de idade, parentes de Maçon. Elas são ensinadas desde cedo a amar a Deus e reverenciar os ensinamentos das sagradas escrituras.

Além disso, o amor à Pátria e o res-peito à bandeira, o amor ao lar e ao próxi-mo através da filantropia, são lições que essas meninas aprendem e carregam ao longo da vida.

As Filhas de Jó participam em proje-tos da comunidade e ajudam nas iniciati-vas filantrópicas da Maçonaria e de outras organizações Para-maçônicas.

A Ordem existe em mais de 40 países, fala 12 idiomas e é constituída por um exér-cito de mais de 350 mil jovens espalhadas por todo o mundo.

Festa dos 18 anos das Filhas de Jó

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