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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇAO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO DE COLETA E DISPOSIÇÃO DE LODO DE FOSSA E DE TANQUE SÉPTICO EM CUIABÁ-MT LEDIANE LÉSLIE CAMPOS RAMOS PROF. DR. LUIZ AIRTON GOMES Orientador Cuiabá, MT Fevereiro - 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

    PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇAO EM ENGENHARIA DE EDIFICAÇÕES E AMBIENTAL

    DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO DE COLETA E DISPOSIÇÃO DE LODO DE FOSSA E DE TANQUE

    SÉPTICO EM CUIABÁ-MT

    LEDIANE LÉSLIE CAMPOS RAMOS

    PROF. DR. LUIZ AIRTON GOMES Orientador

    Cuiabá, MT Fevereiro - 2014

  • LEDIANE LÉSLIE CAMPOS RAMOS

    DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO DE COLETA E DISPOSIÇÃO DE LODO DE FOSSA E DE TANQUE

    SÉPTICO EM CUIABÁ-MT

    Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para a obtenção do título de Mestre.

    PROF. DR. LUIZ AIRTON GOMES Orientador

    Cuiabá, MT Fevereiro - 2014

  • i

  • ii

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a DEUS, pela vida, pela coragem e perseverança que me fez chegar

    até aqui e pelas bênçãos que recebo todos os dias e que faço de tudo para poder merece

    – las.

    Agradeço a minha família pelo apoio, incentivo e por compreender a minha

    ausência nos momentos de alegrias e por algumas vezes nos momentos de tristeza, sem

    nenhum questionamento. Em especial ao meu marido Josafat de Oliveira Ramos Junior

    pelo incentivo, dedicação e apoio durante todo o tempo, pelas palavras de conforto nos

    momentos mais difíceis, sempre acreditando e me incentivando. A você amor da minha

    vida, meu muito OBRIGADO.

    Agradeço ao meu orientador professor Luiz Airton Gomes pela paciência e

    compreensão, que com carinho aceitou a tarefa de me orientar.

    Agradeço ao técnico de laboratório e amigo Jonas dos Santos por ter me

    acompanhado durante todas as coletas e ajudado na realização das análises, peça chave

    para a conclusão deste trabalho.

    Agradeço as minhas amigas Letícia Ceron pela ajuda na realização das

    entrevistas e por estar sempre presente nos momentos que precisei de apoio e incentivo

    para continuar com o trabalho e a Gabrielly Cristhiane de Oliveira e Silva pela ajuda na

    correção da dissertação e por estar sempre disponível sempre que precisei.

    Ao meu aluno e amigo Pedro Luciano Camargo por ter aberto as portas da sua

    empresa e me ajudado com os outros empresários.

    E, por todos aqueles que torceram por mim e que não foram citados, o meu

    muito OBRIGADO.

  • iv

    SUMÁRIO

    SUMÁRIO................................................................................................. iv

    LISTAS DE ABREVIATURAS................................................................ vi

    LISTA DE FIGURAS................................................................................ vii

    LISTA DE TABELAS............................................................................... ix

    RESUMO................................................................................................... x

    ABSTRACT............................................................................................... xi

    1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 1

    2. OBJETIVOS.............................................................................................. 4

    3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................... 5

    3.1. COMPOSIÇÃO DO ESGOTO DOMÉSTICO.......................................... 5

    3.1.1. Esgoto Industrial.......................................................................... 5

    3.1.2. Águas de Infiltração..................................................................... 6

    3.1.3. Esgoto Doméstico........................................................................ 6

    3.2. IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO DE ESGOTO............................. 8

    3.3. SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO NO BRASIL............. 9

    3.4. PROCESSOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO................................... 12

    3.5. TIPOS DE SISTEMAS INDIVIDUAIS DE TRATAMENTO................. 13

    3.5.1. Fossa Seca.................................................................................... 14

    3.5.2. Fossa Estanque............................................................................. 15

    3.5.3. Fossa de Fermentação.................................................................. 16

    3.5.4. Fossa Química.............................................................................. 17

    3.5.5. Fossa ou Poço Absorvente........................................................... 17

    3.5.6. Tanque Séptico............................................................................. 18

    3.6. UTILIZAÇÃO DE FOSSAS E TANQUES SÉPTICOS NO BRASIL..... 21

    3.7. COMPOSIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO LODO PROVENIENTE DE SISTEMAS INDIVIDUAIS................................................................ 22

    3.8. FORMAS DE TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL DO LODO DE FOSSAS E TANQUES SÉPTICOS....................................... 25

    3.9. GESTÃO DO LODO DE FOSSAS E TANQUES SÉPTICOS................. 29

    3.9.1. Legislação...................................................................................... 34

    4. MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................... 36

    4.1 LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DO SISTEMA PÚBLICO QUE RECEBE O LODO SÉPTICO DOS CAMINHÕES LIMPA-FOSSAS 36

  • v

    DE CUIABÁ..............................................................................................

    4.2 IDENTIFICAÇÃO DAS EMPRESAS ‘LIMPA-FOSSAS”.................... 40

    4.3 MÉTODOS................................................................................................. 41

    4.3.1 Características do lodo de caminhões “limpa-fossas”.................... 41

    5. RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................ 44

    5.1 LEVANTAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DAS EMPRESAS “LIMPA- FOSSAS”................................................................................................... 44

    5.1.1 Números de empresas atuantes em Cuiabá.................................. 44

    5.1.2 Quantidade de frota e preços cobrados pelo serviço.................... 45

    5.1.3 Números de funcionários empregados nas empresas................... 46

    5.1.4 Fidelização dos clientes e frequência de bairros atendidos......... 47

    5.1.5 Locais e quantidade de lançamentos dos efluentes de caminhões limpa fossa................................................................ 48

    5.1.6 Estimativa do volume de lodo depositado diariamente na ete tijucal........................................................................................... 48

    5.1.7 A ETE tijucal na visão dos empresários...................................... 50

    5.2 RESULTADOS DAS ANÁLISES FÍSICO – QUÍMICO........................ 51

    5.2.1 PH, alcalinidade e temperatura.................................................... 51

    5.2.2 Demanda Bioquímica de Oxigênio e Demanda Química de Oxigênio (DBO e DQO)............................................................. 54

    5.2.3 Fósforo......................................................................................... 58

    5.2.4 Óleos e Graxas............................................................................. 60

    5.2.5 Nitrogênio Total Kjeldahl........................................................... 62

    5.2.6 Série de Sólidos............................................................................ 63

    6. DISCUSSÕES E COMENTÁRIOS.......................................................... 70

    7. CONCLUSÕES......................................................................................... 72

    8. RECOMENDAÇÕES................................................................................ 74

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 76

    APÊNDICE

  • vi

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

    DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

    DQO Demanda Química de Oxigênio

    ETE Estação de Tratamento de Esgoto

    FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

    FUNASA Fundação Nacional de Saúde

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    LAB Lodo Ativado por Batelada

    NBR Norma Brasileira

    NTK Nitrogênio Total Kjeldahl

    PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

    PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

    PROSAB Programa de Pesquisa em Saneamento Básico

    SINAENCO Sindicato da Arquitetura e da Engenharia

    SNIS Sistema Nacional de Informação Sobre Saneamento

    SST Sólidos Suspensos Totais

    ST Sólidos Totais

    SF Sólidos Fixos

    SV Sólidos Voláteis

    Ssed Sólidos Sedimentáveis

    TDH Tempo de Detenção Hidráulico

    UASB Upflow Anaerobic Sludge Blanket (Sistema Anaeróbico de Fluxo

    Ascendente)

    UFPA Universidade Federal do Pará

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 01 Composição dos esgotos domésticos. 7

    FIGURA 02 Representação espacial do índice de atendimento total de coleta de esgotos. 11

    FIGURA 03 Privada com fossa seca. 14

    FIGURA 04 Privada com fossa estanque. 15

    FIGURA 05 Privada com fossa de fermentação enterrada no solo. 16

    FIGURA 06 Privada com fossa de fermentação apoiada na superfície do solo. 16

    FIGURA 07 Esquema de fossa absorvente evitando contaminação da água de poço. 18

    FIGURA 08 Funcionamento geral de um tanque séptico. 18

    FIGURA 09 Tanque séptico de câmara úmida. 19

    FIGURA 10 Tanque séptico de câmara em série. 19

    FIGURA 11 Tanque séptico de câmara sobreposta. 20

    FIGURA 12 Tipologia do esgotamento sanitário na área urbana. 22

    FIGURA 13 Alternativas para as etapas da gestão de lodo de fossa/tanque séptico. 31

    FIGURA 14 Localização da estação de tratamento de esgoto. 37

    FIGURA 15 Fluxograma simplificado da ETE Tijucal (sem reator). 38

    FIGURA 16 Fluxograma simplificado da ETE Tijucal com reator 38

    FIGURA 17 Lançamento de lodo de caminhão limpa-fossa na ETE Tijucal. 39

    FIGURA 18 Trabalho de revitalização das lagoas (Aspectos da célula facultativa da ETE Tijucal, totalmente assoreada, atualmente passando por processo de recuperação/revitalização). 40

    FIGURA 19 Números de empresas encontradas e empresas concorrentes. 44

    FIGURA 20 Capacidade dos caminhões “limpa fossas” das empresas de Cuiabá. 45

    FIGURA 21 Quantidade média de funcionários nas empresas “limpa-fossas”. 46

    FIGURA 22 Quantidade média de atendimento diário pelas empresas. 47

  • viii

    FIGURA 23 Estimativa da quantidade de caminhões, por capacidade de carga, que chega à estação de tratamento diariamente. 49

    FIGURA 24 Visão dos empresários sobre as condições do atual local de despejo do lodo. 50

    FIGURA 25 Valores de pH encontrados nas amostras do ponto 1 e 2 51

    FIGURA 26 Alcalinidade do lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 52

    FIGURA 27 Temperatura do lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 53

    FIGURA 28 Valores de DBO5 encontrados no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 55

    FIGURA 29 Valores de DQO encontrados no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 56

    FIGURA 30 Valores encontrados para fósforo no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 59

    FIGURA 31 Valores de óleos e graxas encontrados no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 60

    FIGURA 32 Valores de NTK encontrados no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia. 62

    FIGURA 33 Fluxograma das divisões dos sólidos 64

    FIGURA 34 Valores de sólidos totais encontrados no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 65

    FIGURA 35 Valores de sólidos fixos encontrados no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 67

    FIGURA 36 Valores de sólidos voláteis encontrados no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia. 67

    FIGURA 37 Valores de sólidos sedimentáveis encontrados no lodo de caminhões limpa fossa e efluente da lagoa anaeróbia 69

  • ix

    LISTAS DE TABELAS

    TABELA 01 Composição físico-química de um esgoto doméstico típico 8

    TABELA 02 Estimativa da população atendida por tanques sépticos e fossas nas áreas urbana e rural. 21

    TABELA 03 Caracterização de resíduos de fossa/tanque séptico no Brasil.

    24

    TABELA 04 Variação do custo dos serviços de remoção e transporte de lodo de fossa/tanque séptico. 29

    TABELA 05 Ações para gestão do lodo provenientes de sistemas individuais de disposição de esgoto. 32

    TABELA 06 Legislação por estados brasileiros. 34

    TABELA 07 Estatística Descritiva do pH, alcalinidade e temperatura nos pontos 1 e 2 53

    TABELA 08 Estatística Descritiva da DBO e DQO nos pontos 1 e 2 56

    TABELA 09 Índice de Biodegradabilidade 57

    TABELA 10 Estatística descritiva para fósforo 59

    TABELA 11 Estatística descritiva para óleos e graxas 61

    TABELA 12 Estatística Descritiva para NTK 63

    TABELA 13 Estatística descritiva para sólidos totais 66

    TABELA 14 Estatística descritiva para sólidos fixos e voláteis 68

    TABELA 15 Estatística descritiva para sólidos sedimentáveis 69

  • x

    RESUMO

    RAMOS, L. L. C. Diagnóstico e avaliação de coleta e disposição de lodo de fossa e de tanque séptico em Cuiabá-MT. Cuiabá-MT, 2014. 97 p. Defesa (Mestrado). Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia. Universidade Federal de Mato Grosso. Devido a precariedade e a falta de rede pública coletora de esgoto na cidade de Cuiabá é grande a procura por serviços das empresas de limpa fossa, o que torna-se um problema, dado que o lodo gerado pelos sistemas de fossas sépticas comporta concentrações expressivas de nutrientes, matéria orgânica, poluentes inorgânicos e organismos patogênicos. O presente estudo tem como objetivo o diagnostico e avaliação da destinação final do lodo de fossa e de tanque séptico em Cuiabá/MT, e propor medidas de adequação de tratamento. Para isso, foram realizadas entrevistas junto às empresas prestadoras deste serviço, e levantamentos junto à Estação de Tratamento de Esgoto Tijucal (ETE Tijucal). A estação é composta por tratamento preliminar (caixa de areia, gradeamento e calha Parshall), dois reatores UASB, uma lagoa anaeróbia, seguida por duas lagoas facultativas em paralelo, e uma lagoa de maturação. Sua capacidade atual de tratamento é de 50 L/s, mas recebe uma vazão diária de 56,23 L/s. Levantamentos realizados neste trabalho indica que a vazão recebida diariamente pode ser maior que a apresentada pela Empresa responsável pela administração da ETE. Além da quantificação do volume de lodo lançado diariamente foi realizado a caracterização com determinação dos seguintes parâmetros: pH, Temperatura, Alcalinidade, Sólidos totais, Sólidos voláteis totais, Sólidos fixos, Sólidos sedimentáveis, Óleos e graxas, DBO, DQO, Fósforo total, Nitrogênio Kjeldahl. De acordo com o resultado da caracterização e comparação com estudos realizados nesta linha de pesquisa identificou-se um possível sistema de tratamento para o lodo de fossas e tanques sépticos.

    Palavras-chave: lodo séptico, fossa séptica, caminhões limpa-fossa.

  • xi

    ABSTRACT

    RAMOS, L. L. C. Diagnosis and evaluation of collection and disposal of sludge and septic tank septic tank in Cuiabá-MT. Cuiabá-MT, 2014. 97 p. Defense (Master's degree). Faculty of Architecture, Engineering and Technology. Federal University of Mato Grosso.

    Due to insecurity and lack of public collector sewer in the city of Cuiabá is great demand for the services of clean fossa companies, which becomes a problem, since the sludge generated by septic tank systems entails significant concentrations of nutrients, organic matter, inorganic pollutants and pathogenic organisms. The present study aims at the diagnosis and evaluation of the final destination of the sludge pit and septic tank in Cuiabá / MT, and proposes measures of adequacy of treatment. For this survey interviews were held with the companies providing this service, and with the Tijucal Sewage Treatment Station (ETE Tijucal). The station consists of preliminary treatment (sandbox, railing and Parshall), two UASB, anaerobic pond, facultative pond followed by two in parallel, and a maturation pond. Your current treatment capacity is 50 L / s, but receives a daily flow of 56.23 L / s. Surveys conducted in this paper indicates that the daily flow received may be higher than that presented by the company responsible for the management of ETE. Besides quantifying the volume of sludge released daily characterization was carried out by determining the following parameters: pH, temperature, alkalinity, total Total solids, volatile solids, fixed solids, settleable solids, oils and grease, BOD, COD, Total Phosphorus, Nitrogen Kjeldahl. According to the results of the characterization and comparison with studies conducted in this research identified a possible treatment system for the sludge pits and septic tanks. Keywords: septic sludge, septic tank, cesspool trucks.

  • 1

    1. INTRODUÇÃO

    Em decorrência do crescimento populacional e consequentemente da grande

    urbanização das cidades, as necessidades de ações de infraestrutura em saneamento

    básico também aumentaram. A oferta de saneamento, em especial a coleta e tratamento

    de esgoto, é fundamental para a preservação do meio ambiente e da saúde pública, pois

    isto está intimamente ligado ao controle e redução das doenças de veiculação hídrica.

    Dados do Ministério da Saúde indicam que cerca de 70% das internações

    hospitalares da rede pública estão relacionadas com doenças de veiculação hídrica, que

    por sua vez estão diretamente ligadas à ausência de coleta, tratamento e correta

    disposição dos esgotos domésticos.

    A falta de serviços públicos para a coleta e tratamento de esgoto sanitário nas

    áreas urbanas e rurais exige a instalação de algum meio local de disposição dos esgotos,

    de modo a evitar a contaminação por dejetos humanos, do solo e da água. Infelizmente

    no Brasil o aumento populacional e a crescente urbanização do país não são

    devidamente acompanhados pela implantação de serviços públicos de saneamento

    básico, permitindo uma previsão de que as soluções individuais para a destinação dos

    esgotos continuarão sendo adotadas por um longo período de tempo (JORDÃO;

    PESSÔA, 2005).

    O problema é que a falta de investimento neste setor faz com que grande parte

    da população urbana não seja beneficiada com o sistema de rede coletora de esgoto, o

    que contribui significativamente com o aumento de sistemas individuais de tratamento

    de esgoto.

    Normalmente, tanto no Brasil como em outros países do mundo, o sistema de

    tratamento individual através de fossas/tanques sépticas, tem sua utilização

    recomendada para zonas rurais, e áreas de populações dispersas, isto porque são

    caracterizados por não requerer altos investimentos. As fossas sépticas são unidades de

    tratamento primário de esgoto doméstico nas quais são feitas a separação e

    transformação da matéria sólida contida no esgoto. Embora seja muito utilizado, o

    sistema não apresenta alta eficiência quando se refere à matéria orgânica,

    principalmente na remoção de microrganismos patogênicos. Estudos realizados

    mostram que este tipo de tratamento primário de esgotos, não atinge eficiências maiores

    que 50% de redução de sólidos em suspensão e DBO de 30%, potencializando aumentar

  • 2

    o risco de contaminação do lençol freático (GERBA, 1984). Em geral, esta solução

    necessita de um sistema de pós-tratamento para garantir a qualidade ambiental e de

    vida.

    Segundo Amorim et al. (2005) este tipo de sistema de tratamento consiste em

    câmaras adequadamente construídas para reter os despejos domésticos, por um período

    de tempo pré-estabelecido, de modo a permitir sedimentação dos sólidos e retenção do

    material contido nos esgotos, transformando-os, bioquimicamente, em substâncias e

    compostos mais simples e estáveis.

    Embora a operação e manutenção desse tipo de tratamento seja muito simples,

    consistindo basicamente na retirada do lodo e da escuma, é o tratamento e a destinação

    final desses resíduos e a disposição do efluente líquido, que causam grande

    preocupação, pois se lançados de maneira incorreta, acarretarão consequências

    negativas para a saúde pública, além de ocasionar graves danos aos corpos da água tanto

    superficiais como aos lençóis subterrâneos. Consequentemente, esta prática também

    contribui com a deterioração dos mananciais, prejudicando enormemente o

    abastecimento de água da população, pelo aumento da complexidade e dos custos de

    tratamento da água.

    Segundo Borges (2009), observam-se no país, a grande utilização de fossas e de

    tanques sépticos, porém, devido à falta e/ou precário monitoramento dos mesmos e do

    lodo gerado, as condições operacionais e o destino do lodo são geralmente

    problemáticos. O lodo retido no interior das fossas e dos tanques sépticos deve ser

    retirado periodicamente, tendo em vista a eficiência do sistema, de maneira quase

    generalizada, sendo que a limpeza dessas unidades processa-se de forma desordenada.

    Estes lodos quando disposto de forma inadequada e insalubre compromete

    diretamente na qualidade do solo e dos recursos hídricos, uma vez que o lodo gerado

    pelos sistemas de fossas sépticas comporta concentrações expressivas de nutrientes,

    matéria orgânica, poluentes inorgânicos e organismos patogênicos. Estas poluições,

    além de contaminar o solo e as águas, tornam os locais apropriados para a proliferação

    de vetores e consequentemente disseminação de doenças (HARTMANN, 2009).

    Para Rios (2010), o destino final do lodo proveniente de fossa/tanque séptico

    consiste em ações com possibilidades de várias soluções onde há o envolvimento

    financeiro da população que necessita do serviço e a indefinição da responsabilidade das

  • 3

    empresas prestadoras. Apesar da existência de poucos estudos sobre o tema, alguns

    trabalhos foram realizados através de programas de pós-graduação e projetos de

    pesquisas desenvolvidos pelo Programa de Pesquisa em Saneamento Básico

    (PROSAB), visando o desenvolvimento e aperfeiçoamento de tecnologias de fácil

    aplicabilidade, baixo custo de implantação, operação e manutenção.

    Em Cuiabá (MT) a falta de investimento em saneamento básico faz com que

    grande parte da população não seja contemplada com a rede coletora de esgoto. De

    acordo com o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento - SNIS (2009),

    apenas 38% do esgoto gerado na capital é coletado. Isto significa que quase dois terços

    dos efluentes produzidos, têm como solução para sua destinação final, o uso de fossas

    sépticas, gerando um mercado para inúmeras empresas de limpa fossas que realizam o

    trabalho de disposição final da matéria sólida retida. Outro problema está relacionado ao

    tratamento deste efluente, pois de todo o esgoto coletado em Cuiabá apenas 22% dele é

    submetido a tratamento, o que significa que quase 80% do restante são lançados

    diretamente nos corpos de água, o que vem causando diversos problemas ao meio

    ambiente e, aos serviços de tratamento de água para abastecimento público, ou mesmo

    tornando-a imprópria para o consumo.

    Diante do exposto, fica claro a importância de pesquisas relacionada às fossas

    sépticas é a disposição inadequada do lodo produzido pelo mesmo, envolvendo questões

    de ordem sanitárias, ambiental e principalmente econômicos, uma vez que a população

    é responsável pela contratação das empresas conhecidas como “limpa fossas” que

    realiza o serviço de coleta e destinação do lodo. No entanto, grande parte das empresas

    neste ramo não possui seu próprio sistema de tratamento, lançando o lodo diretamente

    nos rios, no solo ou em estações de tratamento de esgoto, neste caso podendo afetar a

    operacionalidade das estações, visto a variabilidade da qualidade deste tipo de efluente,

    principalmente quando não existe uma gestão para o lançamento do lodo no local. Para

    isso é necessário que mais estudos sobre os lodos de fossa e tanque séptico fossem

    realizados.

    Neste contexto, o presente trabalho buscou fazer um levantamento de dados

    sobre as empresas de “limpa fossas” que atuam na coleta do lodo séptico em Cuiabá,

    bem como a realização de análises para a caracterização do mesmo.

  • 4

    2. OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Diagnosticar e avaliar a destinação final do lodo de fossa e de tanque séptico em

    Cuiabá/MT, e propor medidas de adequação de tratamento.

    2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

    Classificar as empresas prestadoras de serviços de “limpa fossa”;

    Caracterizar o lodo de fossa e de tanque séptico lançado na ETE Tijucal quanto

    aos parâmetros físicos e químicos;

    Avaliar o volume de lodo disposto pelas prestadoras na ETE;

    Identificar o potencial poluidor do lodo de fossa em Cuiabá;

    Verificar as interferências da disposição do lodo na operação e eficiência das

    ETES;

    Identificar sistemas de tratamento para o lodo de fossa e tanque séptico

    proveniente de caminhões “limpa fossa”.

  • 5

    3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    3.1 COMPOSIÇÃO DE ESGOTO SANITÁRIO

    Segundo definição da norma brasileira NBR 9648 (ABNT, 1986), esgoto

    sanitário é o despejo líquido constituído de esgotos doméstico e industrial, água de

    infiltração e a contribuição pluvial parasitária.

    A norma supracitada define ainda que esgoto doméstico é o despejo líquido

    resultante do uso da água para higiene e necessidades fisiológicas humanas; esgoto

    industrial é o despejo líquido resultante dos processos industriais, respeitados os

    padrões de lançamento estabelecidos; água de infiltração é toda água proveniente do

    subsolo, indesejável ao sistema separador e que penetra nas canalizações; contribuição

    pluvial parasitária é a parcela do deflúvio superficial inevitavelmente absorvida pela

    rede de esgoto sanitário.

    De acordo com (JORDÃO e PESSÔA, 2005), o termo esgoto era utilizado

    inicialmente para definir além da tubulação condutora das águas servidas o próprio

    líquido que flui por estas canalizações. Hoje, basicamente é utilizado apenas para a

    caracterização dos despejos originários das diferentes modalidades do uso e da origem

    das águas. Braga et al (2005), concordou com a definição e acrescenta ainda os esgotos

    sanitários são os despejos líquidos constituídos de esgotos domésticos e industriais

    lançados na rede pública e águas de infiltração.

    3.1.1 Esgoto Industrial

    Segundo Braga et al. (2005) é o esgoto resultante dos processos industriais.

    Dependendo do tipo de indústria, ele possui características muito específicas; por esta

    razão a necessidade de se estudar, com o objetivo de tratamento e disposição, cada tipo

    de despejo isoladamente. Esgotos industriais lançados na rede pública são resíduos

    líquidos industriais devidamente condicionados de modo a respeitar os padrões de

    lançamento estabelecidos.

    Os esgotos industriais além da matéria orgânica podem acarrear substâncias

    químicas tóxicas ao homem e outros animais. Este tipo de esgoto quando gerado em

    indústrias de grande porte, ou ainda, quando a contribuição for significativa, em relação

    à quantidade ou qualidade, a indústria costuma ter sua própria unidade de tratamento ou

  • 6

    dispõe de sistemas de pré-tratamento antes de fazer o lançamento em redes públicas.

    (JORDÃO e PESSÔA, 2005).

    3.1.2 Águas de Infiltração As águas de infiltração são águas subterrâneas que originam no subsolo o qual

    penetram indesejavelmente nas canalizações de rede coletora de esgotos por diversos

    meios: pelas paredes das tubulações, pelas juntas mal executadas, pelas tubulações

    defeituosas, pelas estruturas dos poços de visitas e das estações elevatórias, entre outros.

    (HANAI e CAMPOS, 1997).

    Para Aguiar (2012) a quantidade de infiltração que contribui ao sistema de

    esgoto está ligada a qualidade e o tipo de construção das tubulações e das juntas e

    também das características referentes ao meio como nível de água do lençol freático,

    clima, composição do solo, permeabilidade, vegetação, entre outros.

    3.1.3 Esgoto Doméstico - ED Conforme a Fundação Nacional de Saúde – FUNASA (2006), esgoto doméstico

    é aquele que provem principalmente de residências, estabelecimentos comerciais,

    instituições ou quaisquer edificações que dispõe de instalações de banheiros,

    lavanderias e cozinhas. Compõem-se essencialmente da água de banho, excretas, papel

    higiênico, restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem.

    Segundo Braga et al. (2005) o ED é a parcela mais significativa dos esgotos

    sanitários e que apesar de variarem em função dos costumes e condições

    socioeconômicas das populações, os esgotos domésticos têm características bem

    definidas.

    Na composição do esgoto doméstico, 99,9% é água e apenas 0,1% constituem-se

    de sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, assim como

    microrganismos. Sendo justamente estes 0,1% a real necessidade de tratar os esgotos.

    Estes são caracterizados em função dos usos que a água foi submetida, desta forma

    podendo variar em decorrência do clima, situação social e econômica, e hábitos da

    população (VON SPERLING, 1996).

    O esgoto doméstico compõe-se basicamente, das águas de banho, urina, fezes,

    restos de comida, sabões, detergentes e águas de lavagem. Na Figura 01 é apresentada a

  • 7

    composição dos esgotos domésticos em relação às frações orgânicas e inorgânicas dos

    efluentes.

    Figura 01 – Composição dos esgotos domésticos. Fonte: Mendonça, 1990.

    De acordo com Braga et al. (2005), o líquido em si nada mais é do que um meio

    de transporte de inúmeras substâncias orgânicas, inorgânicas e microrganismos

    eliminados pelo homem diariamente. Os sólidos são responsáveis pela deterioração da

    qualidade do corpo de água que recebe os esgotos e, portanto, sua caracterização revela-

    se muito importante para o conhecimento de qualquer sistema de tratamento de esgotos.

    Mesmo que a maior parte do esgoto doméstico seja constituída praticamente por água,

    ainda assim devem ser tratados para evitar consequências indesejáveis.

    Além dos componentes orgânicos e inorgânicos dos esgotos, mostrado na Figura

    01, também pode-se caracterizá-los de acordo com os seus constituintes físico-químicos

    típicos dos esgotos brutos domésticos, que classifica o mesmo de acordo com a

    concentração entre forte, médio e fraco (METCALF E EDDY, 2003), apresentado na

    Tabela 01.

  • 8

    TABELA 01 - Composição físico-química de um esgoto doméstico típico.

    Constituinte Esgoto Forte mg/L

    Esgoto Médio mg/L

    Esgoto Fraco mg/L

    Sólidos Totais Sólidos Dissolvidos Totais Sólidos Dissolvidos Fixos

    1200 850 525

    700 580 300

    350 250 145

    Sólidos Dissolvidos Voláteis Sólidos em Suspensão Sólidos em Suspensão não Voláteis

    325 350 75

    200 200 50

    105 100 30

    Sólidos em Suspensão Voláteis Sólidos Sedimentáveis (mL/L) DBO5, 20°C

    275 20

    300

    150 10

    200

    70 5

    100

    Carbono Orgânico Total (COT) DQO Nitrogênio Total

    300 1000

    85

    200 500 40

    100 250 20

    Nitrogênio Orgânico Nitrogênio Amoniacal Livre Fósforo Total

    5 50 20

    3 25 10

    2 12 6

    Fósforo Orgânico Fósforo Inorgânico Cloretos

    5 15

    100

    3 7

    50

    2 4

    30 Alcalinidade em CaCO3 Graxa, Gordura

    200 150

    100 100

    50 50

    Fonte: Metcalf e Eddy (1991).

    3.2 IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO DE ESGOTO

    De acordo com van Haandel e Lettinga (1994), o tratamento de esgoto tem como

    objetivo principal a correção das características indesejáveis de maneira que o seu uso

    ou a sua disposição final possa ocorrer de acordo com os critérios apresentados na

    legislação e definidos pelas autoridades regulamentadoras, incluindo no tratamento a

    redução da concentração de pelo menos uma das categorias poluentes mais importantes

    do esgoto como a matéria orgânica biodegradável, sólidos em suspensão, nutrientes

    (nitrogênio e fósforo) e patogênicos.

    Segundo Braga et al. (2005), muitas infecções podem ser transmitidas de uma

    pessoa doente para outra sadia por diferentes caminhos, envolvendo excreções humanas.

    Na qual pode contaminar, de acordo com o mesmo autor, além das águas, os alimentos,

    utensílios domésticos, as mãos, o solo ou serem transportados por vetores, provocando

  • 9

    novas infecções. A disposição inadequada dos esgotos pode transmitir doenças como,

    febre tifóide, diarréias e disenterias bacterianas, a poliomielite, a hepatite tipo A, entre

    outras. As crianças, devido a sua vulnerabilidade, são as principais vítimas, uma vez que

    a associação dessas doenças a subnutrição é geralmente fatal.

    Outro fator importante para o tratamento são as degradações causadas ao meio

    ambiente. Segundo Braga et al. (2005), as substâncias presentes nos esgotos exercem

    ação deletéria nos corpos de água, onde a matéria orgânica pode ocasionar a exaustão

    do oxigênio dissolvido, causando a morte dos peixes e outros organismos aquáticos, e

    aparecimento de maus odores. O excesso de nutrientes na água provoca o crescimento

    acelerado de algas que conferem odor e gosto desagradáveis, agravando o problema da

    escassez de água de boa qualidade e em consequência disso o aumento na disseminação

    de doenças de veiculação hídrica, desequilíbrio ecológico, entre outros.

    O tratamento de esgoto é a forma de minimizar o impacto ambiental que poderia

    ser causado, se estes efluentes fossem lançados diretamente no meio ambiente sem

    nenhum tratamento.

    De acordo com Pimenta et al. (2002): Não há setor que interfira mais diretamente na saúde da população de um país do que o do saneamento. A falta de um sistema de esgotamento sanitário reflete diretamente nos setores econômicos, políticos e sociais. A saúde e o saneamento estão bastante associados, onde existem adequados sistemas de saneamento, há saúde, onde as condições de saneamento são precárias, proliferam doenças. Como prevenção de doenças, crônicas ou agudas, o investimento público em infraestrutura de saneamento tem influência não menor do que a das vacinações em massa, contra endemias ou epidemias. Portanto, a coleta, o tratamento e a disposição ambientalmente adequada do esgoto sanitário são fundamentais para a melhoria do quadro de saúde.

    A estação de tratamento de esgotos deve ser entendida como uma indústria,

    transformando matéria-prima (esgoto bruto) em um produto final (esgoto tratado).

    3.3 SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO NO BRASIL

    O Brasil apresenta um déficit muito alto em relação ao saneamento básico,

    principalmente em se tratando de esgotamento sanitário, isto porque, uma parcela

    significativa da sua população não tem acesso à rede coletora de esgoto. Este é um dos

    motivos pela qual as políticas de saneamento vêm sendo identificadas como prioridade.

  • 10

    De acordo com dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de

    Domicílios - PNAD (IBGE, 2009), entre os serviços de saneamento básico, o

    esgotamento sanitário é o que tem menor presença nos municípios brasileiros. Isto

    porque os dados da PNAD, considerando apenas a população urbana, mostraram que o

    índice médio nacional é de 93% em relação ao atendimento pelos serviços de água,

    enquanto que na coleta de esgoto esse índice foi de apenas 58,9%. Isso significa que o

    restante de esgoto produzido e não coletado é lançado diretamente no solo, ou

    inadequadamente em corpos d’água. No Quadro 1 são apresentados os valores médios

    dos índices de atendimento para todo o conjunto de prestadores de serviços

    participantes do SNIS em 2010, distribuídos segundo as regiões geográficas, o qual

    apresenta valores inferiores aos apresentados a PNAD 2009.

    QUADRO 1 - Níveis de atendimento com água e esgotos dos prestadores de serviços participantes do SNIS em 2010, segundo região geográfica e Brasil.

    Fonte: Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento, SNIS 2010.

    Nota-se que a Região Sudeste tem o melhor índice em atendimento urbano com

    rede coletora de esgoto, seguida pela Região Centro-Oeste com 76,9% e 50,5%,

    respectivamente. No entanto a região Centro-Oeste é que apresenta o maior índice em

    relação ao tratamento dos esgotos gerados com 43,1%, acima da média nacional que é

    de 37,9%. A Região Norte seguida pela Nordeste foram as que apresentaram os piores

    índices, tanto no atendimento com rede coletora (10% e 26,1%), quanto no índice de

    tratamento (22,4% e 32,0%) respectivamente, ficando abaixo das médias nacionais.

  • 11

    Por outro lado, os números favoráveis à Região Centro Oeste devem ser

    analisados com cuidado, considerando-se que a presença do Distrito Federal e,

    principalmente a cidade de Brasília, neste contexto regional eleva todos os indicadores

    desta região, uma vez que a capital brasileira está muito próxima de universalizar todos

    os serviços de saneamento básico.

    Em se tratando de cobertura por rede coletora de esgoto em relação aos Estados

    brasileiros, observa-se na Figura 02 um panorama da situação.

    Figura 02 - Representação espacial do índice de atendimento total de coleta de esgotos. Fonte: Malha municipal digital do Brasil, base de informações municipais 4. IBGE, 2003 apud SNIS, 2010.

    De acordo com o SNIS (2010), quase todos os Estados mantiveram-se na mesma

    faixa de atendimento em relação ao ano de 2009, com exceção do Acre que desceu de

    posição, enquanto Amazonas subiu. De qualquer forma, ambos permaneceram nos

    limites superiores e inferiores, respectivamente, de cada faixa, de maneira que pouco

    variou de um ano para o outro.

    O Estado de Mato Grosso apresenta índice entre 20,1 a 40% de atendimento.

    Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB (IBGE, 2008), em relação

  • 12

    aos domicílios atendidos por rede total de esgoto, Mato Grosso apresenta o pior índice

    da região Centro-Oeste, com apenas 5,4% de atendimento, muito abaixo da média

    nacional que é de 44%.

    Na capital do Estado, conforme a SINAENCO (2008), o índice de atendimento é

    inferior a 50%. Isto é preocupante, pois a cidade recebeu vultosos recursos do Governo

    Federal, para o setor de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto sanitário,

    ainda no primeiro Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, que infelizmente

    não chegaram a ser aplicados devido a determinação judicial, sob alegação de gestão

    fraudulenta das verbas federais, no que ficou conhecido por Operação PACENAS,

    amplamente divulgada pela imprensa nacional. Do milionário recurso que coube a

    Cuiabá, apenas uma pequeníssima parcela foi aplicada, sendo o restante devolvido

    posteriormente aos cofres do Governo Federal, sob a alegação de que a empresa gestora

    do saneamento na capital do Estado deixou de ser pública e concedeu estes serviços à

    uma empresa privada.

    3.4 PROCESSOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO

    Existem inúmeros processos para o tratamento de esgoto, podendo estes ser

    individuais (solução no local, individual ou para poucas residências) ou coletivos

    (solução com afastamento dos esgotos da área servida), (VON SPERLING, 2004). Deve

    ser considerado para a escolha do processo a ser empregado, principalmente, a

    qualidade do curso d´água receptor (estudo de autodepuração e os limites definidos pela

    legislação ambiental) e da característica do esgoto bruto gerado. Faz-se necessário a

    certificação da eficiência de cada processo unitário e de seu custo, além da

    disponibilidade de área (IMHOFF e IMHOFF, 1996).

    Os sistemas de tratamento dos esgotos são formados por uma série de processos

    e operações unitárias que são empregadas a fim de remover substâncias indesejáveis, ou

    para transformação destas substâncias em outras de forma aceitável.

    A remoção dos poluentes no tratamento, é realizado para adequar o lançamento a

    uma qualidade desejada ou ao padrão de qualidade estabelecido pela legislação vigente

    para lançamento no corpo receptor, está associada aos conceitos de nível e eficiência de

    tratamento.

    Segundo Von Sperling (1996), os aspectos importantes para a seleção de um

    sistema de tratamento de esgotos são: eficiência, confiabilidade, disposição do lodo,

  • 13

    requisitos de área, impactos ambientais, custos de operação, custos de implantação,

    sustentabilidade e simplicidade. Cada sistema deve ser analisado individualmente, no

    qual adota-se o tratamento a ser utilizado através da melhor alternativa técnica e

    economicamente viável.

    O tratamento de esgoto é habitualmente classificado através de alguns níveis

    como o tratamento preliminar onde ocorre apenas a remoção de sólidos grosseiros que

    são retidos nas grades, tratamento primário em que visa à remoção de sólidos

    sedimentáveis e parte da matéria orgânica, predominando os mecanismos físicos;

    tratamento secundário onde predominam mecanismos biológicos, com objetivo

    principal de remoção de matéria orgânica e de nutrientes (nitrogênio e fósforo) e o

    tratamento terciário que objetiva a remoção de poluentes específicos (usualmente

    tóxicos ou compostos não biodegradáveis) ou ainda, a remoção complementar de

    poluentes não suficientemente removidos no tratamento secundário.

    Além da classificação apresentada, existe também a classificação dos processos

    de tratamento em físico, químico e biológico.

    Dos processos de tratamento de esgoto geram-se duas fases, uma que é o esgoto

    líquido tratado e outra que são os sólidos restantes do processo, os quais são

    denominados de lodo. Desta forma pode-se dividir o tratamento de esgoto sanitário em

    duas fases, a fase líquida e a fase sólida, (GEYER, 2001).

    3.5 TIPOS DE SISTEMAS INDIVIDUAIS DE TRATAMENTO DE ESGOTO

    Os sistemas individuais são muito utilizados no Brasil, isto porque o

    atendimento a população com redes coletoras é baixo.

    Von Sperling define estes sistemas como: Os sistemas individuais pressupõe a solução no local, sendo, portanto, usualmente adotados para atendimento unifamiliar, embora possam também atender a certo número de residências próximas entre si. Consistem no lançamento de excretas (em privadas higiênicas, solução unifamiliar) ou dos esgotos (em fossas) gerados em uma ou poucas unidade(s) habitacional (is), usualmente envolvendo infiltração no solo. Esta solução pode funcionar satisfatória e economicamente se a densidade de ocupação for baixa (grandes lotes com elevada porcentagem de área livre e/ou no meio rural) e se o solo apresentar boas condições de infiltração. É necessário ainda que o nível da água subterrânea se encontre a uma profundidade adequada, de forma a evitar o risco de sua contaminação, principalmente por microrganismos patogênicos. (VON SPERLING, 2005).

    Segundo o mesmo autor, o sistema de tratamento individual pode ser

    classificado como:

  • 14

    Sistema sem transporte hídrico: trata-se de um sistema estático, com a

    disposição local das excretas (em casos que não se utiliza água). São

    exemplos deste tipo de sistema, a fossa seca de buraco (simples ou

    ventilada), a fossa seca tubular, a fossa estanque, as fossas de

    fermentação e a fossa química.

    Sistema com transporte hídrico: trata-se de um sistema para a disposição

    e tratamento de esgotos. São exemplos deste sistema a fossa ou o poço

    absorvente e o tanque séptico.

    No Brasil muitas cidades utilizam estes tipos de sistemas individuais, devido aos

    serviços de coleta de esgoto serem precários e/ou não atenderem toda a população.

    3.5.1 Fossa Seca De acordo com a FUNASA (2006), a fossa seca compreende a casinha e a fossa

    seca escavada no solo apresentada na Figura 03, a receber somente as excretas, neste

    caso não dispõe de veiculação hídrica. As fezes retidas no interior se decompõem ao

    longo do tempo pelo processo de digestão anaeróbia.

    (a) (b) Figura 03: (a) Privada convencional com fossa seca, (b) Privada com fossa seca ventilada. Fonte: FUNASA, 2006. Observa-se na Figura 3b, que a fossa possui um tubo de ventilação para saída de

    odores, onde a mesma recebe uma tela de proteção na saída para evitar a presença de

    insetos.

  • 15

    Nestes tipos de fossas os dejetos são formados praticamente por excretas, sendo

    depositados diretamente na fossa. Cuidados especiais devem ser tomados com este tipo

    de fossas, que devem estar em lugares livres de enchentes, acessíveis aos usuários e

    distantes de poços e fontes, a fim de evitar a contaminação do mesmo. Além do mais,

    deve-se adotar uma distância mínima de segurança, estimada em 15 metros.

    3.5.2 Fossa Estanque

    A fossa estanque consta de um tanque destinado a receber os dejetos,

    diretamente, sem descarga de água, e em condições idênticas a privada de fossa seca,

    conforme Figura 4. Este tipo de fossa é indicado como solução para regiões com lençol

    freático muito superficial, terrenos rochosos ou facilmente desmoronáveis e para lotes

    de pequenas proporções, onde há perigo de poluição de poços de suprimento de água.

    (RIOS, 2010). O tanque deve ser construído de concreto ou alvenaria, e totalmente

    impermeável.

    Figura 4: Privada com fossa estanque. Fonte: FUNASA, 2006.

  • 16

    3.5.3 Fossa de Fermentação

    Este tipo de fossa consta essencialmente de duas câmaras (tanques) contíguas e

    independentes destinadas a receber os dejetos, tal qual nas privadas de fossa seca,

    Figuras 5 e 6. Inicia-se utilizando a câmara I, até que seja esgotada a sua capacidade.

    Quando isto ocorrer isola-se a câmara I, o material que ficou acumulado sofrerá

    fermentação natural, após este processo deverá ser removido de modo a disponibilizá-la

    novamente para uso. Enquanto isso se utiliza a câmara II até esgotar a sua capacidade,

    durante o período pelo qual o material da câmara I, já terá sido mineralizado. De acordo

    com o tipo de solo, as privadas de fermentação poderão ter tanques enterrados, semi-

    enterrados, ou totalmente construídos na superfície do terreno.

    Figura 5: Privada com fossa de fermentação enterrada no solo. Fonte: FUNASA, 2006.

    Figura 6: Privada com fossa de fermentação apoiada na superfície do solo. Fonte: FUNASA, 2006.

  • 17

    3.5.4 Fossa Química

    A fossa química nada mais é que uma fossa estanque em que se adiciona um

    produto químico para realizar a desinfecção dos dejetos. Normalmente, são muito

    utilizadas em situações na qual exigem diversos gabinetes sanitários para utilização

    temporária, como grandes festas e outros eventos que aglomeram muita gente. São

    também aplicadas em meios de transporte, como aviões e ônibus. Atualmente, outros

    produtos químicos têm substituído a soda caustica com desinfetante mais usual.

    3.5.5 Fossa ou Poço Absorvente A fossa ou poço absorvente é uma escavação que se assemelha a um poço, no

    qual são lançados os esgotos, podendo ou não ter paredes de sustentação (ANDREOLI

    et al, 2009).

    A fossa ou poço absorvente é bastante utilizado na maioria das cidades

    brasileiras, consiste em uma escavação semelhante a um poço, no qual se dispõem os

    esgotos. Dentre as fossas absorventes, encontram-se desde as mais rudimentares, que

    são simples buraco no solo, até construções mais elaboradas, com paredes de

    sustentação em alvenaria de tijolos ou anéis de concreto, sempre com aberturas e fendas

    que permitem a infiltração dos esgotos, e devidamente cobertas, usualmente com laje de

    concreto (ANDREOLI et al, 2009).

    Ainda de acordo com o autor supracitado, as fossas absorventes podem ser

    construídas de formas retangulares, mas usualmente são cilíndricas e as paredes de

    sustentação mais utilizada são em alvenaria de tijolos. Geralmente este tipo de fossa não

    tem revestimento de fundo, para permitir a infiltração da água, mas em algumas há uma

    camada de brita que constitui a base de fundo.

    A fossa absorvente apresentada na Figura 7 consiste em uma unidade de

    disposição de esgoto que associa, em um único dispositivo, os mecanismos que ocorrem

    nos tanques sépticos e nos sumidouros (HELLER e CHERNICHARO, 1996). Com o

    uso diário, o solo das fossas absorventes tende a colmatação e não propicia a infiltração

    dos esgotos, transformando-se em fossa seca ou estanque mesmo não tendo sido

    construída com este propósito (RIOS, 2010).

  • 18

    Figura 7: Esquema de poço absorvente, indicando possibilidade de contaminação do lençol freático. Fonte: Site Rede Terra.

    3.5.6 Tanque Séptico

    Os tanques sépticos são unidades que tratam o esgoto por processos de

    sedimentação, flotação e digestão (Figura 8), constituídos câmaras fechadas com a

    finalidade de deter os despejos domésticos, por um período de tempo estabelecido, de

    modo a permitir a decantação dos sólidos e retenção do material graxo contido nos

    esgotos transformando-os bioquimicamente, em substâncias e compostos mais simples e

    estáveis (FUNASA, 2006). O tanque séptico é também conhecido pela denominação de

    dispositivo decanto-digestor.

    No tanque séptico tanto o lodo como a escuma são digeridas pelas bactérias

    anaeróbias, provocando uma destruição total ou parcial de organismos patogênicos.

    Figura 8: Esquema de funcionamento geral de um tanque séptico. Fonte: ABNT – NBR 7229/1993.

  • 19

    Segundo Andrade Netto (1997), os tanques sépticos são de fácil execução e

    operação sendo empregados amplamente em diversas regiões habitadas.

    O tanque séptico pode ser construído na forma cilíndrica ou prismática

    retangular de fluxo horizontal. Este sistema pode ser de câmara única (Figura 9), de

    câmaras em séries (Figura 10) ou de câmaras sobrepostas (Figura 11).

    Em seu dimensionamento deve ser considerado o numero de pessoas e unidades

    contribuintes.

    Figura 9: Tanque séptico de câmara única. Fonte: Andrade Neto (1997)

    Figura 10: Tanque séptico de câmara em série. Fonte: Andrade Neto (1997)

  • 20

    Figura 11: Tanque séptico de câmara sobreposta. Fonte: Andrade Neto (1997) .

    Conforme Andrade Neto et al. (1999), a eficiência dos tanques sépticos está

    situada entre 40% e 70% para a remoção de DQO ou DBO, para os SST a remoção fica

    entre 50% a 80%. A eficiência deste sistema depende de alguns fatores, como: carga

    orgânica volumétrica, carga hidráulica, geometria, arranjo das câmaras, temperatura e

    condições de operação. De acordo com o autor supracitado, os tanques de câmara em

    série têm maior eficiência comparada ao de câmara única, sendo que ambos apresentam

    as mesmas facilidades de construção e operação. No que diz respeito ao tanque de

    câmara sobreposta, o tanque de câmara em série apresenta maior simplicidade na

    construção e requer menor profundidade.

    Os dispositivos de entrada e saída (tês, septos, chicanas ou cortinas) tem grande

    importância para este tipo de tratamento, pois influenciam na eficiência do mesmo. O

    dispositivo de entrada diminui a área de turbulência, favorecendo o processo de

    decantação e o de saída ajuda na retenção dos sólidos no reator, permitindo a tomada do

    efluente no nível em que o líquido é mais clarificado, retendo também a gordura.

    (HARTMANN et al., 2009).

    Este tratamento de esgoto não apresenta alta eficiência principalmente em se

    tratando na remoção de patogênicos e de substancias dissolvidas, mas produz efluente

    de qualidade razoável em sistemas isolados, o qual pode ser encaminhado a um pós-

    tratamento complementar, de preferência aquele que remove matéria orgânica

    dissolvida (AVILA, 2005).

  • 21

    As grandes vantagens dos tanques sépticos, comparado a outros reatores

    anaeróbios, e com todas as opções de tratamento de esgotos, estão na construção muito

    simples, na operação extremamente simples e eventual e nos custos. Para vazões

    pequenas e medias os custos e a simplicidade construtiva e operacional são

    incomparáveis (ANDRADE NETO et al. 1999).

    3.6 Utilização de Fossas e Tanques Sépticos no Brasil No Brasil o uso das fossas absorventes foi trazido pelos portugueses na

    colonização, mas essa pratica só foi difundida no século XVIII com o advento das vilas

    e cidades mais populosas. Igualmente, não se sabe quando se iniciou a utilização das

    fossas químicas, mas sem duvidas esta e uma alternativa bem mais moderna do que as

    fossas absorventes, e provavelmente só se popularizou na segunda metade do século

    XX.

    Quanto ao tanque séptico, há registros históricos bem precisos. (ANDREOLI et

    al 2009). De acordo com o autor supracitado no Brasil a primeira aplicação parecida

    com um grande tanque foi construída em Campinas (SP) em 1892 para o tratamento de

    esgoto urbano. Mas somente na década de 1930 os tanques sépticos começaram a ser

    difundidos amplamente.

    De acordo com o levantamento realizado pelo IBGE (2007), o percentual de

    domicílios brasileiros que utilizam fossas e tanques sépticos como alternativas de

    tratamento de seus efluentes é de 42%, destes aproximadamente 23% são tanques

    sépticos e 19% de fossas rudimentares, o que corresponde a uma população servida de

    aproximadamente 79 milhões de pessoas, como apresenta a Tabela 2.

    Tabela 2: Estimativa da população atendida por tanques sépticos e fossas nas áreas

    urbanas e rurais.

    Local População (x 1000) Tanques Sépticos

    População Atendida

    Por Tanques Sépticos

    Fossas Rudimentares

    População Atendida Por

    Fossas rudimentares

    População Atendida Por

    Tanques Sépticos +

    Fossas Rudimentares

    Tanque Séptico +

    Rudimentar

    Urbana 158.453 23,57% 37.347.372 14,11% 22.357.728 59.705.090 37,68% Rural 31368 18,40% 5.771.712 45,32% 14.215.978 19.987.690 63,72% Brasil 189.820 22,72% 43.119.084 19,27% 36.573.696 79.692.780 41,99%

    Fonte: Adaptado de IBGE (2007) apud PROSAB (2009).

  • 22

    Os dados da Tabela 2 estão mais detalhados na Figura 12, a qual apresenta

    outros meios de destinação para o esgoto gerado em áreas urbanas.

    Figura 12:Tipologia do esgotamento sanitário na área urbana. Fonte: Adaptado de IBGE (2007) apud PROSAB (2009).

    Conforme Silva (2011), embora as fossas e tanques sépticos sejam formas de

    tratamento de esgoto doméstico, há uma grande preocupação em relação à disposição

    final do lodo gerado. Ainda de acordo com o autor “este resíduo deve ser

    periodicamente removido e disposto em locais apropriados, uma vez que suas

    características inorgânicas, orgânicas e patogênicas impedem a sua disposição direta em

    cursos d’água”.

    A utilização destes sistemas segundo Hartmann et al. (2009), representa um

    potencial de geração da ordem de 7 milhões de metros cúbicos de lodo séptico digerido

    por ano no Brasil.

    3.7 COMPOSIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO LODO PROVENIENTES DE SISTEMAS INDIVIDUAIS

    Os tratamentos de esgoto através de fossas e tanques sépticos geram lodo, assim

    como outros processos biológicos, sendo que a produção e estabilização deste lodo

    ocorrem em meio líquido, o que resulta em um produto com alto teor de umidade,

    habitualmente superior a 96%, onde se encontra ainda elevados teores de nutrientes e

    patógenos, o que o torna altamente poluente e contaminante (ANDREOLI, 2001).

  • 23

    O lodo séptico é definido pela ABNT, 1993 - NBR 7229 como material

    acumulado na zona de digestão de fossa e tanque séptico, por sedimentação de

    partículas sólidas suspensas no esgoto.

    A composição do lodo séptico é compreendida na maior parte, por água, esgoto,

    material inorgânico (areia) e material orgânico fecal (LEITE, INGUZA, ANDREOLI,

    2006). A heterogeneidade em sua composição é uma propriedade marcante, isto se deve

    a alguns fatores como frequência de limpeza, características do efluente e misturas nos

    caminhões de coleta “limpa fossas”. Pesquisas apresentam que o lodo coletado por essas

    empresas apresentam variações desde a composição semelhante a esgoto sanitário a

    aquela típica de lodo (GONÇALVES, 2008).

    Para a USEPA (1999) apud Cordeiro (2010), o lodo de fossa séptica é bastante

    variável, o qual depende de diferentes fatores como, a falta de caixa separadora de

    gordura antes da fossa séptica, hábitos e atividades de limpeza dos usuários. Além de

    ser influenciada pela frequência de limpeza da fossa, pelo clima local, dimensão, entre

    outros detalhes do projeto da fossa.

    Segundo Machado Junior et al. (2008), os resíduos que são originados de fossas

    e tanques sépticos possuem odor e aspectos desprezíveis, podem formar escumas

    quando submetidos a agitação. Devido à agitação sofrida durante o transporte do local

    da coleta até o local de tratamento. Estes resíduos apresentam resistência à

    sedimentação e à desidratação. São caracterizados por serem pontos disseminadores de

    microrganismos como vírus, bactérias e parasitas, resultando, portanto, em cuidados

    especiais em seu manuseio e tratamento.

    Embora os resíduos de fossas e tanques sépticos sejam causadores de

    importantes impactos ambientais, o mesmo é pouco estudado, não sendo alvo habitual

    de pesquisas no âmbito do saneamento básico. Outro fato importante é que estes

    resíduos são coletados por caminhões de empresa “limpa fossas” que causam enormes

    problemas ambientais e sanitários, por não terem uma definição específica (INGUNZA

    et al 2009).

    Nas literaturas existentes sobre o assunto, o mesmo pode ser tratado com formas

    bem diferentes de nomenclatura, ora como esgoto e em outros como lodos, além de ser

    encontrado também como lodos fecais, pela sua origem ser tipicamente doméstica, em

  • 24

    literatura internacional, o que dificulta muito à revisão de dados em relação a

    nomenclatura incerta.

    Os estudos realizados sobre a caracterização do lodo por pesquisadores

    brasileiros apresentam grande divergências entre os resultados, conforme observa-se na

    Tabela 3.

    Tabela 3 - Caracterização de resíduos de fossa/tanque séptico no Brasil

    Parâmetros Meneses et al (2001) Cassini (2003)

    Rocha e Sant'anna

    (2005)

    Leite et al (2006)

    Tachini, Belli Filho e Pinheiro

    (2006)

    Belli Filho et al (2007)

    Sólidos totais (mg/L) 12.880 9.550 1.631 9.267 49.593 7.186

    (2.280 - 39.238)

    (516 - 33.292) (9 - 8.160) (745 - 44.472) (655 - 162.660)

    Sólidos totais Voláteis (mg/L) 3.518 6.172 ---------- 4.868 29.685 3.413

    (1.710 - 11.828)

    (224 - 18.454) ---------- (304 - 21.445) (300 - 106.960)

    Sólidos sUSP/ EESCensos totais

    (mg/L) 7.091 6.896 492 ---------- 37.731 2.064

    (1.240 - 17.350) (145 -

    27.500) (2 - 1.750) ---------- (215 - 134.000)

    Sólidos sUSP/ EESCensos voláteis

    (mg/L) 2.246 5.019 ---------- ---------- ---------- 1.087

    (1.030 - 8.160) (79 - 18.000) ---------- ---------- ----------

    DBO (mg/L) 2.434 2.808 2.829 1.863 11.424 1.890

    (1020 - 4.800) ---------- (60 - 8.600) (499 - 4.104) (230 - 47.200)

    DQO(mg/L) 6.895 10.383 7.912 9.419 23.835 6.199

    (2.400 - 16.000)

    (528 - 29.704)

    (144 - 19.830) (1.363 - 25.488) (474 - 56.000)

    NTK(mg/L) 120 ---------- ---------- ---------- ---------- ----------

    (55 - 180) ---------- ---------- ---------- ----------

    Amônia(mg/L) 89 116 768 ---------- ---------- 58

    (38 - 149) (36 - 278) (65 - 3.280) ---------- ---------- Fósforo total(mg/L) 18 45 112 ---------- ---------- 90

    (6 - 67) (7 - 216) (2 - 445) ---------- ---------- Óleos e graxas

    (mg/L) 531 1.588 971 588 ---------- 327

    (6 - 8.533) (18 - 6.982) (58 - 3.235) (24 - 3.639) ----------

    Fonte: Adaptado de PROSAB (2009).

  • 25

    No Brasil, como pode ser visto na Tabela 3, há poucos estudos referentes ao

    lodo de fossa. Em algumas cidades como Natal (RN), Curitiba (PR) e Belém (PA) já

    foram realizadas, por estudiosos, análises para caracterização do lodo de fossas. Nestas

    cidades os caminhões “limpa fossas” prestam o serviço de esgotamento.

    3.8 FORMAS DE TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL DO LODO DE FOSSAS E TANQUES SÉPTICOS

    Conforme definições anteriores, o lodo séptico é composto pelo lodo de fundo,

    pela escuma e pelo líquido que são removidos de unidades como fossas e tanque séptico

    entre outros sistemas semelhantes, os quais recebem apenas esgoto doméstico. Estes

    lodos podem conter concentrações elevadas de organismos patogênicos e matéria

    orgânica dissolvida, por isso é proibido o seu lançamento em corpos da água sem que

    haja um tratamento complementar. O não cumprimento pode causar danos ao meio

    ambiente e a saúde humana.

    Contudo, no Brasil, a disposição final destes lodos são as estações de

    tratamentos de esgotos, que como mencionado anteriormente, nem sempre foram

    projetadas para receberem este tipo de efluente, pois podem interferir na eficiência da

    mesma.

    Medeiros (2009) citou que devido ao fato dessas unidades de fossas e tanques

    sépticos não serem capazes de realizar um tratamento eficiente para o esgoto disposto

    na mesma, é necessário que os efluentes sejam destinados a um sistema de tratamento,

    para adequação aos padrões de qualidade do corpo receptor. Evitando a ocorrência de

    possível degradação ambiental.

    A ABNT, 1997 - NBR 13969 recomenda como tratamento complementar dos

    efluentes de tanques sépticos a utilização de filtro anaeróbio de leito fixo com fluxo

    ascendente, filtro aeróbio submerso, valas de filtração e filtros de areia, lodo ativado por

    batelada (LAB) e lagoa com plantas aquáticas.

    Estudos de determinados autores apresentam diferentes formas de tratamento

    para o lodo séptico, alguns com propostas inéditas. A principal preocupação é em

    relação à viabilidade do sistema operacional.

    Gonçalves (2008) em seu estudo analisou o desempenho do reator anaeróbio de

    fluxo ascendente e manta de lodo (UASB) no tratamento de esgoto sanitário juntamente

  • 26

    com o lançamento de lodo derivados de tanque séptico. Na pesquisa foi estipulado o

    tempo médio de detenção hidráulica (TDH) de 8 horas, com vazão afluente e velocidade

    ascensional médias de 2,35 m³. h-1 e 0,6 m.h-1, respectivamente. A coleta do lodo foi

    realizada com auxílio de caminhões “limpa fossa”, em que as fossas eram previamente

    selecionadas. O lodo era descarregado em um reservatório de poliéster com capacidade

    para 15 m³.

    Para o autor a combinação entre o lançamento de lodo de fossas/tanque sépticos

    em reator UASB apresentou uma alternativa operacional viável para o tratamento

    complementar de lodos sépticos. Apesar dos problemas encontrados, no entanto

    solucionados na operação do sistema durante a pesquisa.

    Borges (2009) propôs para o tratamento de lodo de tanques sépticos um

    tratamento primário e a flotação, com base em conceitos aplicados a esgoto sanitário,

    adaptando-se a lodos sépticos. O tratamento primário, na pesquisa, utilizou-se somente

    duas unidades de operação e equipamento, o gradeamento e os desarenadores. O lodo

    utilizado foi coletado de caminhões “limpa-fossas” e através de coletas in situ utilizando

    amostrador específico conhecido como Draga de concha. O lodo coletado de ambas as

    formas, foi descarregado em um tanque com capacidade de 15 m³. Para Borges (2009),

    apesar de o sistema ter atendido aos objetivos, podendo ser utilizado como referência

    em projetos de larga escala, ainda é necessário estudos mais aprofundados em relação

    ao sistema de introdução de ar, visando a otimização das condições operacionais.

    Para Medeiros (2009), o processo de tratamento através de lagoas de

    estabilização é uma ótima opção para o tratamento de lodos sépticos no Brasil, pois este

    tratamento é indicado para locais com disponibilidade de área e temperaturas elevadas,

    além de ter operação simples, pouca necessidade de equipamento e redução no custo

    final.

    O autor supracitado, em seu estudo, avaliou o sistema de lagoas de estabilização

    para tratamento de lodo. Para isto, firmou parceria com uma empresa de “limpa fossas”,

    a qual possuía seu próprio tratamento, através de lagoas. O sistema de tratamento

    utilizado na pesquisa era composto por tratamento primário (gradeamento e

    desarenadores simplificados), formado por um conjunto de quatro lagoas, consistindo

    em duas anaeróbias em série, seguidas de uma facultativa secundária e uma lagoa de

    maturação, utilizando ainda cloro para desinfecção. Apesar das más condições de

  • 27

    operação que se encontrava no sistema de tratamento, Medeiros (2009), afirma que as

    lagoas de estabilização são indicadas para o tratamento de lodos de tanques sépticos.

    Assim como Medeiros (2009), Araújo et al (2005), também realizaram estudos

    sobre a eficiência das lagoas de estabilização em relação ao tratamento do lodo séptico.

    O sistema dispunha de duas lagoas anaeróbias, uma facultativa e uma de maturação, e

    ainda um tanque de desinfecção. Em que obtiveram valores de eficiência satisfatórios

    para DBO, BQO e coliformes termotolerantes.

    Para Lupatini et al. (2005), as lagoas em série podem representar uma boa

    alternativa para o tratamento de lodo de fossas sépticas. De acordo com a autora

    supracitada:

    Sua capacidade de absorver choques de carga diminui o impacto dos lançamentos quase instantâneos dos caminhões limpa-fossa, e seus longos tempos de detenção hidráulica favorecem a decantação dos sólidos sedimentáveis e a degradação da matéria orgânica. É importante que o sistema apresente um tratamento preliminar suficiente e áreas de disposição e secagem de lodos compatíveis com as características dos resíduos esgotados que, bem mais concentrados que o esgoto doméstico, tendem a se acumular mais rapidamente, exigindo maior freqüência de limpeza.

    Outro estudo sobre a eficiência deste mesmo processo de tratamento foi

    realizado por Naval e Santos (2000), utilizando tanto lodos de fossas sépticas, como os

    esgotos domésticos provindos de redes públicas coletoras. Os autores observaram na

    maioria das coletas realizadas uma redução de 70% em relação à carga orgânica, sendo

    para estes um valor significativo, após um ano de funcionamento do sistema. Para

    coliformes fecais, segundo os autores, 83% das análises realizadas na saída do sistema

    apresentaram valores abaixo do máximo estabelecido pelo CONAMA e uma média de

    97,7% para remoção de coliformes no sistema. Vale ressaltar que o sistema utilizado

    para estudos pelos autores era composto por três lagoas, sendo a primeira anaeróbia, a

    segunda facultativa e a terceira de maturação.

    Observa-se entre os autores citados que a utilização de lagoas de estabilização

    para tratamentos de lodos sépticos representa uma boa alternativa para este fim, pois a

    mesma apresenta eficiência apropriada e viabilidade em sua operação. É importante

    salientar que para cada estudo realizado, foi avaliada uma configuração diferente de

    sistema de lagoas de estabilização.

    Mais uma tecnologia frequentemente utilizada para a retirada da umidade de

    lodos de esgoto originários de estações de tratamento são os leitos de secagem. De

  • 28

    acordo com Lupatini et al. (2009), essas unidades são compostas por estruturas

    retangulares de alvenaria preenchidas em seu interior com materiais que permitem a

    drenagem da água presente no lodo. A perda de água ao longo da secagem do lodo

    também ocorre por meio da evaporação natural. Neste caso também há influência do

    clima local e disposição de área, que não seria problema na maioria das regiões

    Brasileiras. Além disso, esta tecnologia está associada a algumas vantagens como: baixo

    valor de investimento, simplicidade operacional, baixo consumo de energia e de

    produtos químicos.

    Esta técnica é difundida para o tratamento do lodo de estações de tratamento,

    contudo, segundo a autora supracitada, em caso de desaguamento de lodo de

    fossas/tanques sépticos, a utilização deste método necessita de avaliação específica das

    características do solo, neste caso, pode haver a necessidade de trabalhar em conjunto

    com outros tipos de processos de tratamento, para que não ocorra o comprometimento

    da eficiência do processo.

    Pode-se notar por meio da literatura que em grande parte dos municípios

    brasileiros não há um local específico e principalmente adequado para disposição e

    tratamento de lodo séptico. Esta situação requer solução de emergência, pois o lodo é

    disposto em sua forma bruta, o que impede qualquer medida para redução do seu

    volume e posterior acondicionamento, tratamento e disposição final (PEREIRA et al,

    2009).

    A maioria das empresas de “limpa fossas” que são contratadas pelos usuários

    para fazer a coleta deste material, não dispõe de nenhum tipo de sistema de tratamento,

    nestes casos, os lodos são normalmente lançados em sistema público de tratamento. No

    caso de Cuiabá (MT), os caminhões lançam os dejetos na lagoa de estabilização da ETE

    Tijucal.

    Vale ressaltar que grande parte dos sistemas municipais de tratamento de

    esgotos, não foram planejados para receber lodo de fossa/tanque séptico, nestes casos

    segundo Pereira et al (2009), a falta de controle dos dejetos lançados pode provocar

    transtornos na rotina operacional do sistema de esgotamento sanitário, o que, em alguns

    casos, pode ocasionar a paralisação de unidades de tratamento do esgoto.

    Observa-se ainda que a população paga a estas empresas para realizar a coleta,

    mas grande parte delas não possui seu próprio sistema de tratamento, lançando os

  • 29

    dejetos em sistema de tratamento público sem precisar contribuir com as despesas de

    manutenção do sistema. Na Tabela 4 são apresentados os valores cobrados pelas

    empresas para cada região brasileira.

    Tabela 4 - Variação do custo dos serviços de remoção e transporte de lodo de

    fossa/tanque séptico.

    REGIÃO FAIXA DE CUSTO DOS SERVIÇOS DE COLETA E TRANSPORTE DE LODO

    NORTE R$ 80,00 a R$ 150,00

    NORDESTE R$ 140,00 a R$ 350,00

    CENTRO-OESTE R$ 120,00 a R$ 130,00

    SUDESTE R$ 150,00 a R$ 300,00

    SUL R$ 150,00 a R$ 250,00 Fonte: UFPA apud PROSAB (2009).

    Em algumas cidades os lodos são lançados em aterros sanitários, aterros

    controlados e lixões a céu aberto. Segundo Andreoli et al. (2007), “o recebimento de

    resíduos de saneamento em aterros sanitários pode ser uma alternativa efetiva quando a

    aplicação no solo não e adequada, seja por situações de contaminação por metais

    pesados ou restrições de caráter ambiental”.

    Esta prática para a disposição de lodo é reconhecida no mundo todo como uma

    prática não sustentável para o seu gerenciamento, devido ao aumento de custos

    relacionados ao seu transporte, uma vez que as distâncias são bem maiores e o

    atendimento ás diversas restrições ambientais são crescentes (ANDREOLI;

    SPERLING; FERNANDES; 2001).

    3.9 GESTÃO DE LODO DE FOSSAS E TANQUES SÉPTICOS

    A gestão dos lodos provenientes de fossas/tanques sépticos abrange desde a sua

    origem e geração até o processo de limpeza das fossas/tanques, bem como o transporte

    dos lodos, o seu tratamento e a disposição final no meio ambiente. Nesse percurso,

    podem ocorrer riscos de impactos e riscos diretos tanto ao meio ambiente como a saúde

    publica (SOUZA; CORDEIRO; SILVA; 2009). Desta forma, torna-se imprescindível a

  • 30

    gestão do lodo nos municípios brasileiros. Lembrando que estes lodos apresentam

    características diversificadas com altas concentrações de sólidos, matéria orgânica e

    microrganismos, assim exigindo alternativas diferenciadas, a fim de preservar o meio

    ambiente e a saúde pública. Por razões de segurança ambiental e sanitária é importante

    que seja realizado um manejo adequado dos lodos gerados na fossa, independentemente

    do tipo de disposição que será utilizada, ressaltando-se que nestes casos, atualmente

    cabe ao próprio usuário o seu planejamento, execução e operação do sistema.

    Quando não há uma tecnologia apropriada para o tratamento do efluente gerado

    que diminuam os impactos e riscos ao meio ambiente, faz-se necessário optar por uma

    alternativa para o funcionamento de gestão do lodo séptico, o qual deve levar em

    consideração a necessidade local e regional.

    Nos casos em que o tratamento de esgoto utilizado é por meio de sistema

    individual, são os próprios moradores os responsáveis pela implementação, operação e

    manutenção das fossa/tanque sépticos, devendo disponibilizar uma área de seu imóvel

    para a sua construção, além de arcar com todas as despesas referentes a este tipo de

    solução para o tratamento de seus efluentes. Normalmente este sistema é feito de forma

    inadequado em relação aos requisitos econômicos, ambientais e principalmente em

    termos técnicos (PEREIRA et al 2009).

    É também de responsabilidade dos residentes da casa a despesa gerada com a

    limpeza da fossa/tanque séptico, bem como de suas instalações complementares. Desta

    forma, para tentar minimizar os custos, é normal o próprio morador ou outra pessoa

    (que não tem qualificação para este serviço) contratada pelo mesmo, realizar a execução

    do serviço, sendo comum a coleta, transporte e disposição final de lodo de fossa séptica

    em locais indevidos como, corpos d’água, em terrenos abandonados e lixões (PEREIRA

    et al 2009).

    Para Rios (2010), há dois grandes desafios para que a gestão do lodo oriundo dos

    esgotos possa melhorar: o primeiro diz respeito a garantia de um transporte seguro, bem

    como um tratamento adequado levando em consideração as condições local. O segundo

    é conseguir que o produto originado do tratamento possa ser comercializado.

    Andreoli et al (2001), propõe uma avaliação nas alternativas de gestão do lodo,

    através da minimização na geração do mesmo, selecionando os processos ou técnicas de

    tratamento que produzam menor quantidade de lodo. Posteriormente, busca-se a

  • 31

    produção de lodo com as características desejadas para a sua decorrente aplicação. E por

    último, deve-se aproveitar a maior quantidade de lodo possível, por meio de alternativas

    como o uso agrícola ou em recuperação de áreas degradadas. Ou seja, reduzir,

    reaproveitar e reciclar o lodo são possibilidades que devem ser consideradas na escolha

    da melhor alternativa para gestão do lodo de fossa/tanque séptico (PEREIRA et al

    2009).

    Para o reaproveitamento do lodo é necessário que o mesmo passe por processo

    de desidratação, a fim de reduzir o teor de água e melhorar as condições de manejo. De

    acordo com Spellman (1997), este processo pode ser dividido em métodos naturais em

    que a umidade é removida através da evaporação e por gravidade, onde destacam-se: as

    lagoas de secagem, leitos de secagem e disposição do lodo no solo. Ou pelo método

    mecânico em que a desidratação é realizada por prensa desaguadora, filtro prensa e

    centrífuga. O lodo desidratado poderá ser utilizado como matéria prima na fabricação de

    cerâmicas vermelhas e substratos para produção vegetal.

    Na Figura 13 são apresentadas alternativas para a gestão do lodo séptico.

    Figura 13: Alternativas para as etapas da gestão de lodo de fossa/tanque séptico. Fonte: UFPA apud PROSAB (2009).

    Faz-se necessário a elaboração de planos de ação para a implantação ou

    melhoramento da gestão de lodo proveniente dos sistemas individuais. A começar por

    legislações e instrumentos legais apropriados para a regulamentação da gestão do lodo

    séptico, com procedimentos de controle e fiscalização, garantindo a sua aplicabilidade.

    Além da utilização de ferramentas como os sistemas de informações georreferenciadas,

    possibilitando o acompanhamento, a espacialização e o estabelecimento de indicadores

    de desempenho do gerenciamento. Desta forma seria possível a quantificação de

  • 32

    fossas/tanques sépticos em cada município, a fim de determinar um sistema de gestão, o

    mais próximo da realidade local.

    Algumas ações positivas e negativas foram abordadas por Strauss, Koné e

    Saywell (2006) e adaptado por Rios (2010), apresentado na Tabela 5.

    Tabela 5 – Ações para gestão do lodo provenientes de sistemas individuais de

    disposição de esgoto.

    AÇÕES POSITIVAS AÇÕES NEGATIVAS Vontade política e das sensibilizações das autoridades governamentais Falta de marcos regulatório.

    Privatização do setor de coleta de lodo sanitário

    Complexidade dos marcos regulatórios existentes (Excesso de exigências).

    Iniciativas do setor privado permitem estreito contato com clientes

    Falta de estratégia de governo para subsidiar a gestão do lodo sanitário.

    Existência de uma comissão de gestão de lodo sanitário de modo a intervir todos os interventores.

    Necessidade de pagamento para que as empresas de limpa fossa possa despejar o lodo no local adequado para o tratamento.

    Financiamento com base em mecanismos de incentivos e sanções

    Cobrança de elevadas taxas para esvaziamento do sistema.

    Existência de estações de tratamento com base em uma boa tecnologia. Uso de ETEs fora dos padrões de projeto.

    Tradição na reutilização de lodo de esgoto na agricultura.

    Perigo do uso indevido do lodo sem preocupação sanitária.

    Fonte: Strauss, Koné e Saywell (2006) adaptado por Rios (2010).

    Nos estudos realizados por Pereira et al. (2009), foi feito levantamentos sobre

    experiências municipais em relação a gestão do lodo de fossa/tanque séptico. Dentre as

    cidades foram citadas:

    Curitiba (PR): as empresas de limpa-fossas são cadastradas pela

    companhia de saneamento para que possam desaguar o lodo séptico em

    algumas ETE mediante pagamento de uma taxa. Na entrada da ETE é

    coletada uma amostra da carga transportada e, após realização de análises

    laboratoriais (pH e temperatura) o caminhão é liberado para o despejo do

    lodo, sendo este tratado de maneira combinada com o esgoto doméstico.

  • 33

    Campinas (SP): os caminhões limpa-fossas são cadastrados pelo órgão

    que responde pelo gerenciamento do lodo, estes fazem o lançamento em

    centrais de controle implantadas de acordo com a área territorial de

    controle. É verificada a cada descarga, o estado físico dos caminhões e

    medida a temperatura e o pH do lodo antes da descarga. Caso ocorra

    irregularidades a empresa é alertada inicialmente e em caso de

    reincidência a mesma pode ser descredenciada.

    Rio das Ostras (RJ): o lodo coletado pelos caminhões é encaminhado

    para duas unidades de contenção e desaguamento de lodo, onde o mesmo

    passa pelo tanque de equalização, em seguida é recalcado diretamente

    para disposição, desaguamento e armazenamento em bags.

    Distrito Federal: A CAESB é responsável por cadastrar e autorizar as

    empresas limpa-fossa a lançar o lodo séptico em diversos pontos de

    descarga do sistema, como interceptores de grande diâmetro ou na

    entrada de ETE.

    Belém (PA): o lodo removido deve ser disposto em locais determinados

    pelo órgão municipal competente, de acordo com a lei Municipal 7.940,

    de 19 de janeiro de 1999. Desta forma o lodo transportado pelos

    caminhões deve ser lançado nos leitos de secagem do aterro sanitário de

    Aurá, onde o volume será reduzido e a disposição nas células do aterro,

    sendo a Secretaria de Saneamento do Município de Belém (SESAN) a

    responsável pela operação. Ainda assim, como os leitos de secagem não

    possuíam capacidade para o atendimento de todo o lodo gerado foi

    implantado 26.736 tanques sépticos no projeto de recuperação da Bacia

    do Una, devido ao grande aumento na produção de lodo no município de

    Belém, a fim de diminuir a destinação final clandestina nos canais de

    drenagem e rios da região.

    Natal (RN): as empresas de limpa-fossas têm obrigação de

    encaminharem os dejetos para sistemas de tratamento próprio, segundo a

    Lei Municipal 4.867, de 27 de agosto de 1997. Mas, das nove empresas

    de limpa-fossa em operação, apenas três realizam o tratamento do lodo.

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    3.9.1 Legislação Apesar do lodo séptico ter sido reconhecido como um grande problema no

    Brasil, principalmente pela quantidade gerada, não existe nenhuma lei nacional que

    regulamente a coleta, tratamento e disposição final destes lodos. Neste caso são os

    órgãos de meio ambiente de cada município os responsáveis por determinar os

    procedimentos para as etapas de gestão do lodo séptico, exceção para alguns Estados

    que já dispõe de legislação para este assunto, como mostra a Tabela 6.

    Tabela 6 - Legislação por estados brasileiros

    REGIÃO ESTADO/DF LEGISLAÇÃO/ LEI DATA ENFOQUE

    CENTRO-OESTE DISTRITO FEDERAL 3.581 12 de abril de

    2005

    Define lodo, determina o gerenciamento do tratamento e da disposição final de lodo de esgoto

    NORTE

    PARÁ 5.887 09 de maio de 1995

    Dispõe sobre o uso de fossa séptica e determina responsabilidades no gerenciamento de lodo de fossa séptica do estado

    AMAPÁ PROJETO DE LEI 0027/92 1992

    Obrigam as empresa limpa-fossas a determinarem, quando do pedido de concessão do alvará de funcionamento, o local onde os dejetos recolhidos serão despejados.

    SUDESTE RIO DE JANEIRO 4.191 30 de setembro

    de 2003

    A política nacional de resíduos sólidos define como resíduos o lodo proveniente de ETA, gerados em instalações de controle de poluição bem como os líquidos cujas características tornem inviável o seu lançamento em rede pública de esgotos ou corpos da água

    Fonte: UFPA apud PROSAB (2009).

    Para P