diagnóstico da ocorrência de doenças em hortaliças com certificação orgânica na região...

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    DIAGNSTICO DA OCORRNCIA DE DOENAS EM HORTALIAS COM

    CERTIFICAO ORGNICA NA REGIO SUDOESTE DO PARAN

    K. Pazolini*, I. dos Santos**, C.A Piva-Guginski*** e P. de O. Piacentini*

    *Agronomia/UTFPR, Pato Branco, Brasil

    **COAGR/UTFPR, Pato Branco, Brasil

    ***PPGAG/UTFPR, Pato Branco, Brasil

    e-mail: [email protected]

    Resumo

    Embora a produo orgnica possua grande

    potencial, os agricultores ainda encontram

    dificuldades para produzir alimentos sem

    pesticidas e para a certificao orgnica. O

    objetivo desse trabalho foi auxiliar os

    produtores na obteno do certificado e,

    tambm, realizar um levantamento das

    principais doenas que afetam esse sistema de

    produo. No perodo do projeto foram

    certificadas nove propriedades e foram

    identificadas as principais doenas afim de

    realizar estudos posteriores de controle

    alternativo, auxiliando esse mtodo de cultivo.

    Palavras-chave: identificao de doenas;

    produo orgnica; consultoria.

    Abstract

    Although organic farming has great potential,

    farmers still find it difficult to grow food

    without pesticides and organic certification.

    The aim of this study was to assist farmers in

    obtaining the certificate and also to survey the

    major diseases that affect the production

    system. During the project were certified nine

    properties and identified the major diseases in

    order to carry out further studies of alternative

    control, supporting this method of cultivation.

    Keywords: identification of diseases, organic

    production, consultancy.

    Introduo

    A agricultura est freqentemente buscando

    ganhos de produtividade com a finalidade de

    atender a demanda da sociedade no

    abastecimento de alimentos. Conhecidamente,

    essa busca pelo aumento da produo est

    intimamente vinculada utilizao sistmica

    de pesticidas. Entretanto, a utilizao

    excessiva de agrotxicos, a tempos, vem

    gerando uma srie de danos ao meio ambiente

    e para a sade dos produtores e consumidores

    [1]. Os dados divulgados pelo Sistema

    Nacional de Informaes Txico

    Farmacolgicas, em 2008 [2], demonstraram

    que em 2006 houveram 15.783 casos de

    intoxicao por agrotxicos no Brasil, dos

    quais 6.297 foram por produtos de uso

    agrcola.

    Atualmente, a produo orgnica um dos

    segmentos de mercado que mais cresce na rea

    de alimentos [3]. Essa prtica demonstra que

    possvel aliar a produo de alimentos com a

    preservao ambiental. Entre as razes para o

  • 2/7

    crescimento do mercado de produtos orgnicos

    est a preocupao com a contaminao da

    gua, do meio ambiente e a prpria exigncia

    por parte dos consumidores, preocupados com

    a ingesto de alimentos que contenham

    resduos de agrotxicos [4].

    O Brasil est entre os cinco pases com

    maior rea em produo orgnica, cerca de 1,7

    milhes de hectares [5]. Segundo os dados do

    Censo Agropecurio 2009, o nmero de

    produtores orgnicos representa 1,8% (ou

    90.497) do total de estabelecimentos

    agropecurios no pas, sendo que os quatro

    principais Estados em nmero de

    estabelecimentos que fazem uso da agricultura

    orgnica so Bahia (15.194), Minas Gerais

    (12.910), Rio Grande do Sul (8.532) e Paran

    (7.527) [6].

    De acordo com um levantamento realizado

    pela SEAB/DERAL e EMATER [7], na safra

    2008/2009, o Paran produziu cerca de 138

    mil toneladas de produtos orgnicos e o

    nmero de produtores de aproximadamente

    4.751, sendo, em sua maioria, pequenas

    propriedades de carter familiar.

    Segundo Campanhola [4], a agricultura

    orgnica uma opo vivel para a insero

    dos pequenos agricultores no mercado, pois,

    embora utilize mais mo-de-obra e apresentem

    menor produtividade que os sistemas

    convencionais, mostra um desempenho

    econmico melhor. Alm disso, atende um

    segmento restrito e seleto de consumidores,

    facilitando a adequao dos produtos

    conforme as exigncias do mercado e

    diversifica a produo da propriedade

    proporcionando estabilidade da renda e

    diminui a dependncia de insumos.

    Alm de existir um conjunto de tcnicas a

    ser seguida pelos agricultores orgnicos, eles

    devem seguir uma tica orgnica

    reconhecendo o solo como fonte de vida, a

    importncia de alimentar mais o solo do que a

    planta, a utilizao de sistemas diversificados

    de produo, a independncia do agricultor, o

    respeito sade e natureza [8]. As

    propriedades orgnicas buscam diversificar e

    integrar a produo de espcies vegetais e

    animais com o objetivo de criar ecossistemas

    mais equilibrados e que ajudem a manter a

    biodiversidade [9].

    Embora os benefcios da produo orgnica

    sejam evidentes e importantes, os agricultores

    podem encontrar algumas dificuldades na

    realizao das tcnicas de manejo do cultivo,

    do valor comercial dos produtos, e da falta de

    conhecimento para adequao a instruo

    normativa (IN) 64 do MAPA para obteno da

    certificao dos produtos, bem como os custos

    para obteno da certificao.

    No que se refere s dificuldades tcnicas, o

    desafio principal produzir os alimentos sem

    aplicar pesticidas. O principal motivo da

    utilizao de produtos qumicos sintticos

    para controlar as doenas das plantas causadas

    por microorganismos. Haja vista que o manejo

    diferenciado certamente induzir doenas mais

    especficas no cultivo de hortalias orgnicas,

  • 3/7

    h necessidade que se faa um levantamento

    das principais doenas.

    Em relao valorizao comercial,

    fundamental que haja certificao que

    represente uma garantia aos consumidores,

    pois esses produtos apresentam qualidades que

    dificilmente podem ser verificadas no produto

    final [10]. A certificao um documento que

    avaliza a fiscaliza toda a trajetria dos

    produtos agrcolas, desde a fonte de produo

    at o destino final, que a venda ao

    consumidor. As certificaes realizadas pelo

    Instituto de Tecnologia do Paran (TECPAR)

    teve incio em 2004, com o objetivo de atender

    principalmente os pequenos agricultores e

    garantir ao consumidor a oferta de produtos

    cultivados organicamente, preservando o meio

    ambiente, o trabalhador e a qualidade do

    alimento de acordo com as normas e prticas

    da agricultura orgnica.

    O objetivo geral deste trabalho foi a

    certificao gratuita de propriedades

    juntamente com os auditores do TECPAR,

    alm de identificar as principais doenas

    encontradas no sistema de produo orgnica

    da regio Sudoeste do Paran.

    Materiais e Mtodos

    Juntamente com a equipe de certificao de

    produtos orgnicos, financiada pela SETI, foi

    realizado, nos anos de 2011 e 2012, um

    levantamento dos produtores da regio

    Sudoeste do Paran, interessados na

    certificao de seus produtos.

    Foram realizados estudos de caso em cada

    propriedade visitada e aplicados questionrios

    aos agricultores para posterior verificao das

    respostas. Em seguida, os diagnsticos foram

    enviados ao TECPAR, o qual o rgo

    responsvel pela avaliao dos produtores

    interessados no programa de certificao.

    As propriedades selecionadas pelo projeto

    foram periodicamente visitadas para a

    consultoria para o processo de produo e

    transformao dentro das normas de produo

    orgnica para receberem a aprovao dos

    auditores do TECPAR. Os produtores eram

    orientados para a adequao das no-

    conformidades e ao final do perodo de

    converso e auditorias, caso atendidas as

    adequaes, era emitido o certificado anual.

    Alm do acompanhamento da certificao,

    foi realizado o levantamento das principais

    doenas que afetam o sistema de produo

    orgnica. Para isso, foram efetuadas

    amostragens de material vegetal para

    identificao dos patgenos em diversas

    propriedades de produo orgnica da regio

    Sudoeste do estado. As culturas avaliadas

    foram: Alface (Lactuca sativa), Beterraba

    (Beta vulgaris), Couve-flor (Brassica oleracea

    var. botrytis) e Repolho (Brassica oleracea var.

    Capitata).

    Materiais visualmente infectados por

    patgenos foram coletados, levados para o

    Laboratrio de Fitopatologia da UTFPR, e

  • 4/7

    analisados para posterior classificao da

    doena e seu agente patolgico. Aps o exame

    visual do quadro sintomatolgico, foram

    preparadas lminas de cortes histolgicos para

    observao de estruturas dos patgenos, por

    microscopia ptica. Sempre que necessrio, foi

    realizada a identificao dos agentes causais

    das doenas por meio do isolamento em meio

    de cultura. O material vegetal era coletado e

    levado em cmara mida para o laboratrio de

    Microbiologia da UTFPR.

    Resultados

    Durante o perodo do projeto foram

    visitadas diversas propriedades com interesse

    na certificao, porm, apenas nove

    concluram o processo de converso e

    receberam os selos de propriedade certificada

    pelo TECPAR. As propriedades esto

    localizadas na regio Sudoeste do Paran

    (Tabela 1).

    Tabela 01: Produtores certificados

    Produtor Cidade

    Alberi da Silva So Joo

    Amarildo Secco Chopinzinho

    Anselmo Rauschkolb Sulina

    Breno Kirsch Palmas

    Haydan Klein Clevelndia

    Itelvino Canzi Bela Vista da Caroba

    Marlene Graaw Capanema

    Rosinei Rodrigues Saudade do Iguac

    Yoshio Nakano Palmas

    Alm disso, atravs das amostragens

    realizadas, e tambm conversas com os

    prprios produtores, foram diagnosticadas as

    doenas de maior ocorrncia nesse sistema de

    produo (Tabela 2). Os resultados revelaram

    a ocorrncia de um nmero significativo de

    doenas nas hortalias, dando destaque para

    Cercosporiose na beterraba e Septoriose e

    Mancha Bacteriana na alface.

    Tabela 02: Principais doenas nas culturas mais utilizadas no sistema de produo orgnico.

    Cultura Doena Patgeno

    Alface

    Mancha Bacteriana Pseudomonas cichorii

    Septoriose Septoria lactucae

    Cercosporiose Cercospora longissima

    Mldio Bremia lactucae

    Podrido mole Pectobacterium carotovorum

    Beterraba Cercosporiose Cercospora beticola

    Couve-

    flor

    Podrido Negra das crucferas Xanthomonas campestris

    Mldio Peronospora panasitica

    Oidio das Crucferas Erysiphe polygonie

    Repolho Podrido negra das crucferas Xanthomonas campestris

  • 5/7

    Discusso

    Os produtores certificados receberam selos,

    que so a forma de identificao de produtos

    certificados. A importncia desse selo se d

    por fornecer ao consumidor, alm da certeza

    de um produto isento de contaminao

    qumica, que est consumindo um produto

    resultante de uma agricultura que no degrada

    o ambiente.

    Esse sistema de produo adota tcnicas

    especficas para aperfeioar a utilizao dos

    recursos naturais, visando o emprego de

    mtodos culturais, biolgicos e mecnicos em

    substituio aos produtos qumicos [11]. Por

    esses, e outros motivos, a produo orgnica

    considerada uma forma de manejo sustentvel.

    Segundo Schimaichel [12], a qualidade

    ambiental do solo, das guas e das plantas, a

    produo de alimentos saudveis, a diminuio

    da perda da produo e a prpria segurana do

    trabalhador so os principais objetivos desse

    sistema.

    Alm do mais, a crescente modernizao da

    agricultura com utilizao da mecanizao

    intensiva, insumos caros e inovaes

    tecnolgicas acabou por elevar o nvel de

    excluso social. Uma tecnologia com baixo

    uso de recursos externos, como a produo

    orgnica, pode fortalecer a agricultura familiar

    [10]. No Paran, 81,63% dos estabelecimentos

    agropecurios se enquadram na categoria

    agricultura familiar. Se esse nmero de

    propriedades for associado agregao de

    valor dos produtos orgnicos certificados, esse

    sistema de cultivo demonstrar um grande

    potencial econmico.

    Outro grande desafio para os produtores

    orgnicos cultivar sem a utilizao de

    produtos qumicos no combate as pragas.

    Nesse sentido, o diagnstico das doenas

    realizado nesse trabalho serviu como um

    parmetro para se analisar o nvel de

    dificuldades relacionadas s doenas. Os

    resultados revelaram a ocorrncia de um

    nmero significativo de doenas nas

    hortalias. Embora a incidncia dessas doenas

    seja baixa, segundo Goulart [13], em

    levantamentos de doenas fngicas em

    hortalias, constatou que mesmo em uma

    incidncia baixa, a presena de doenas exige

    medidas de controle, tais como a utilizao de

    sementes sadias e rotao de culturas.

    Contudo, como alguns agricultores orgnicos

    relatam, a intensidade das doenas nas plantas

    tende a decrescer com a estabilizao desse

    sistema, pois alcana um equilbrio natural.

    Apesar de a produo orgnica ser uma

    prtica crescente, existem poucos estudos

    relacionados s doenas. Portanto, a

    identificao dos patgenos causadores dessas

    molstias de fundamental importncia para

    que se estabelea um programa de manejo

    fitossanitrio alternativo. Visto que a

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    agricultura orgnica parte do princpio de que

    no possvel controlar totalmente as doenas.

    O desejvel que estas estejam abaixo do

    nvel de dano econmico. Portanto,

    recomenda-se um manejo integrado,

    trabalhando com diversas prticas que iro

    diminuir os danos causados s culturas,

    evitando maiores danos econmicos.

    Concluso

    A certificao das nove propriedades

    proporcionou a melhoria da qualidade de vida

    dessas famlias, alimentos mais saudveis aos

    consumidores e diminuio de danos

    ambientais pela utilizao de defensivos

    qumicos.

    A diagnose das principais doenas do

    sistema orgnico do Sudoeste do Paran um

    banco de dados de grande importncia para

    futuros estudos de controle e manejo de

    fitopatgenos relacionados ao sistema de

    produo orgnica.

    Referncias

    [1] Ehlers, E. Agricultura sustentvel: origens

    e perspectivas de um novo paradigma. 2.

    ed. Guaba: Agropecuria, 157 p. 1999.

    [2] Sistema nacional de informaes txico-

    farmacolgicas (SINITOX). 2008.

    Disponvel em: www.fiocruz.br. Acesso

    em: dez 2011.

    [3] Neves, M.C.; Neves J.F. Certificao de

    Produtos Agrcolas - Diferenas e

    Semelhanas entre Agricultura Orgnica e

    Produo Integrada. Embrapa

    Agrobiologia, RJ. 2009.

    [4] Campanhola, C. & Valarini, P. A

    agricultura orgnica e seu potencial para o

    pequeno agricultor. Cadernos de Cincia &

    Tecnologia, Braslia, v. 18, n. 3, 2001.

    [5] Willer, H. & Kilcher, L. The World of

    Organic Agriculture - Statistics and

    Emerging Trends 2010. IFOAM, Bonn,

    and FiBL, Frick. 2010.

    [6] Salvador, C.A. Anlise da conjuntura

    agropecuria - safra 2011/12 - Agricultura

    Orgnica. Secretaria da agricultura e do

    abastecimento (SEAB). Outubro de 2011.

    Disponvel em: www.agricultura.pr.gov.br.

    Acesso em: Junho 2012.

    [7] Lunardon, M.T. Anlise da conjuntura

    agropecuria na safra 2008/2009. SEAB,

    2008. Disponvel em: www.seab.pr.gov.br.

    Acesso: Junho 2011.

    [8] Darolt, M.R. Agricultura orgnica:

    Inventando o futuro. Londrina: IAPAR,

    250p. 2002.

  • 7/7

    [9] MAPA. Artigos de poltica agrcola.

    Disponvel em: www.agricultura.gov.br.

    Acesso em: Junho de 2012.

    [10] Ferraz, L. C. L.; Souza, N. L.;

    Ambrosano, E. J.; Rossi, F. Patgenos de

    plantas dentro de um sistema orgnico de

    cultivo tropical. In: Wilmar Corio Luz -

    EMBRAPA. (Org.). Passo Fundo: Reviso

    Anual de Patologia de Plantas, v. 14, p.

    181-218. 2006.

    [11] Schimaichel, G.L.; Resende, J.T.V. A

    Importncia da Certificao de

    Produtos Orgnicos no Mercado

    Internacional. Revista Eletrnica Lato

    Sensu, 2007.

    [12] Goulart, A.C.P. Levantamento de doenas

    fngicas em hortalias na regio norte de

    Minas Gerais. Fitopatologia. Brasileira,

    15(1) :110-111. 1990.