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Diadema e o Grande ABC: expansão industrial na economia de São Paulo Silmara Cristiane Fonseca o Início da Industrialização em São Paulo e ABC No final do século XIX muitas mudanças ocorreram na sociedade Brasi- leira caracterizada principalmente pelo desenvolvimentoe crise da econo- mia cafeeira. O café era o principal produto de exportação na primeira metade do séculoXX, promovendo na economia um grande acúmulo de capital para o país, sobretudo ampliando o desenvolvimento nas relações capitalistas e favorecendo o nascimentoda indústria. "O processo de industrializaçãona regiãode SãoPaulo foi resultado da economia cafeeiraque a partir do seu desenvolvimentogerou a procura da produção industrial, como também custeougrandepar- te dasdespesas gerais, econômicas e sociais, necessárias a tornar pro- veitosas a manufatura nacional"I. A cidade de São Paulo, em meados do século XIX deu início ao processo modernizado r, que até então permanecera reservado às nações desenvolvi- das de paísesocidentais, liderando a corrida ao "progresso", através da conci- liação política da sociedade civil vigiada, e a aristocracia cafeeira, controlan- do a mudança social. "O país estava desenvolvendo-se sinônimo de ocidentalização ou europeização, industrialização, revolução passiva, via prus- siana, revolução do alto, revolução de dentro. Na modernização não se se- gue o trilho da "lei natural", mas se procura moldar, sobre o país, pela ideologia ou pela coação, a uma certa política de mudança, chegando à sociedade por meio de um grupo condutor, que se privilegiando, privilegia- va os setores dominantes." Acreditava-se que a Estrada de Ferro e o impulso urbanizador trariam o progresso ao país, porém o que se conseguiu foi uma superficial moderniza-

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Diadema e o Grande ABC: expansãoindustrial na economia de São Paulo

Silmara Cristiane Fonseca

o Início da Industrialização em São Paulo e ABC

No final do século XIX muitas mudanças ocorreram na sociedade Brasi-leira caracterizada principalmente pelo desenvolvimento e crise da econo-mia cafeeira. O café era o principal produto de exportação na primeirametade do século XX, promovendo na economia um grande acúmulo decapital para o país, sobretudo ampliando o desenvolvimento nas relaçõescapitalistas e favorecendo o nascimento da indústria.

"O processo de industrialização na região de São Paulo foi resultadoda economia cafeeira que a partir do seu desenvolvimento gerou aprocura da produção industrial, como também custeou grande par-te das despesas gerais, econômicas e sociais, necessárias a tornar pro-veitosas a manufatura nacional"I.

A cidade de São Paulo, em meados do século XIX deu início ao processo

modernizado r, que até então permanecera reservado às nações desenvolvi-

das de países ocidentais, liderando a corrida ao "progresso", através da conci-

liação política da sociedade civil vigiada, e a aristocracia cafeeira, controlan-

do a mudança social. "O país estava desenvolvendo-se sinônimo de

ocidentalização ou europeização, industrialização, revolução passiva, via prus-

siana, revolução do alto, revolução de dentro. Na modernização não se se-

gue o trilho da "lei natural", mas se procura moldar, sobre o país, pela

ideologia ou pela coação, a uma certa política de mudança, chegando à

sociedade por meio de um grupo condutor, que se privilegiando, privilegia-

va os setores dominantes."

Acreditava-se que a Estrada de Ferro e o impulso urbanizador trariam o

progresso ao país, porém o que se conseguiu foi uma superficial moderniza-

Oiadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectivo do Cidade Vermelho

ção pré-industrial. Num segundo momento do processo modernizado r, amudança se deu pelo desenvolvimento da ciência, que renovando o mun-do, incluiu o Brasil. A chave para o desenvolvimento capaz de resolver to-dos os problemas, principalmente os econômicos. era a ciência como salva-ção, retomando-se, nas elites que a promoviam, os elos visíveis das reformaspombalinas"2. O desenvolvimento do país se fez através da ciência, pro-movida pelos intelectuais da elite dirigente, favorecendo coridições para onascimento das academias militares, na Escola Politécnica e nas Faculdadesde Medicina. O desenvolvimento implantou-se através do milagre da in-dustrialização rápida e da módernização urbanística.

"Contra barreiras econômicas e políticas, muitas vezes escalandomuros sem derrubá-Ios, uma indústria moderna estava em nasci-mento. Mais tarde, ela se aliará às classes altas, num consórcio entreos burgueses, o fazendeiro e o banqueiro".

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As primeiras fábricas surgiram no Brasil no século XIX, contudo apenasno século XX intensificou-se a instalação de fábricas em nosso país. Asprincipais atividades geradas no primeiro movimento industrial foram des-tinadas à transformação de recursos agrícolas e minerais como fábricas delatas de carnes, curtumes, moinhos de milho e de mandioca, olarias, cerâ-micas, serrarias, carvoarias, vidraçarias e fornos para tijolos. O carvão e alenha eram utilizados como fontes de energia nos estabelecimentos de pro-dução manufatureira e eram largamente empregados para uso doméstico,assim como a utilização de tijolos e cimento na construção civil.

As instalaçõesdas indústrias cola-boraram para ocrescimento da ci-dade de São Paulo ede suas imediações.Os ramos de ativi-dades industriais e acomerciali-zação ex-pandiram a econo-mia e influenciaram

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decisivamente no processo de urbanização. A capital paulista, cuja área até1850, foi ocupada quase que completamente por chácaras, teve sua regiãocentral urbanizada no século passado devido à presença do centro comerci-al que administrava as vendas do café produzidos no interior do Estado.

A passagem do Estado escravista para a República do trabalho assalaria-do redimensionou o espaço e as relações econômicas e sociais da cidade.Surgiram regiões específicas e separadas para cada grupo social. "As zonaspopulares, que englobaram de operários fabris ao "setor degradado" (carre-gadores, lixeiros etc.), eram, em sua maioria, núcleos avançados de urbani-zação à margem das ferrovias"3. O trem atravessava uma vasta região, deáreas de várzeas, pantanosas e inundáveis, nascendo naqueles espaços novasvilas cujas habitações foram morada para a maior parte da população pobreda cidade. Do porto de Santos até o Planalto paulista, a ferrovia trazia consigomercadorias e trabalhadores. "Os novos trabalhadores passaram a pagar alu-guel por uma moradia separada geograficamente do patrão e geralmentepróxima ao local de trabalho: regiões específicas para cada social foi a novida-de da virada do século".

Aos poucos a cidade paulista e municípios vizinhos alteraram seus aspec-tos. Na periferia ao lado das fábricas vemos surgir bairros e vilas. A instala-ção das fábricas, próximas a ferrovia, favoreceram a formação dos bairrosoperários, como Brás, Mooca, Ipiranga, Belenzinho, Cambuci, Bela Vista,Santo André e São Caetano do Sul.

O estabelecimento da ferrovia promoveu muitas mudanças nos bairros ecidades ao longo da estrada, permitindo a rápida urbanização dessas localida-des, visando acomodar as pessoas que ali se fixavam.

A região central da capital paulista, conhecida atualmente como "centrovelho", teve a concentração de casas de exportação, agências bancárias ecasas comerciais. Considerada região estratégica, por conter investimentosurbanos, acumula vantagens, pois é o local onde se centra a rede de transpor-tes, local de grande atividades rentáveis.

Os prQprietários das antigas chácaras decidiram lotearseus terrenos paraa construção de fábricas e casas. Assim o governo estabeleceu o modelo decidade e cidadão, promovendo a modernização urbanística, que por sua vezpromoveu a chamada "ordem".

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'~ cidadela é um "bairro" completo: casas, escola, creche, armazém,praça, campo de futebol, igreja, gerido pelo proprietário da indús-tria para seus operários,""Em 1900, a Esta~o do Alto da Serra era um edifício luxuoso derequintado gosto artístico, elegante e construído em parte de ma-deiras, toda envernizada, um excelente botequim e armazéns",.

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Os núcleos urbanos receberam obras públicas como abastecimento deágua, esgotos, iluminação, calçamento, construção de avenidas e viadutosredesenhando os setores da cidade. As ruas antes de terra, tiveram seu calça-mento tomados por paralelepípedos, modernizando as avenidas de acesso àestação ferroviária e as linhas de bonde. Essas intervenções urbanísticas ocor-ridas principalmente nas áreas centrais promoveram uma redistribuição dapropriedade urbana e ações de especulação imobiliária, representando capita-lização da renda do solo e a transferência da população pobre para as zonas

populares.O limite foi estabelecido pelo poder urbano e é claramente identificado

nas áreas mais altas, em locais arborizados, onde as habitações se fechamentre os muros, ruas e avenidas iluminadas e asfaltadas, por onde passamcarros luxuosos.

A expansão física da cidade de São Paulo e das cidades vizinhas colabo-rou para intensificar o ritmo da construção civil, motivando o crescimentodas atividades extrativas - madeira, caulim, pedra e barro, atraindo traba-

lhadores e a fixação de populações. O número de olarias na região do ABCDcresceu e, "segundo Langenbuch, até 1967, as olarias tinham expressão emoutros "subúrbios rurais" de São Paulo - Mairiporã contava com 500 destes

estabelecimentos e Ribeirão Pires com aproximadamente 150. Em Diadema,nesse mesmo ano, havia somente 22 0Iarias"5.

Entre 1914-1919, veremos a ampliação de diversos setores industriais,principalmente o setor de bens de consumo duráveis e alguns bens de pro-dução. Durante a Primeira Guerra Mundial com a expansão da atividadeindustrial, muitas tecelagens investiram e equiparam sua linha de produçãocom maquinários para tecer lã, além do algodão ou juta, ou para fazer ser-viços de estamparia, uma vez que o aumento na produtividade visava abas-tecer o mercado externo e também a.c: nova.~ nece.c:.~id:lrle.c: rio n:l(.c:

Surgiram pequenos e médios estabelecimentos, muitos deles produzin-do cerâmica, chapéus, calçados, móveis e moinhos de farinha. A maioriados produtos seria destinada para exportação e também para atender o au-mento do consumo local.

"O consumo, no Brasil, de dentifrícios e produtos similares... estavacrescendo continuamente. A importação já era considerável, comtendência para aumenrar(...). Uma lista de sessenta e cinco firmasimportadoras, tiradas de anuátios comerciais e anúncios em jornaisdos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial contém., pelomenos, ttinta e sete se empenharam em atividades manufatureirasou nelas investiram capitais."

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Os tipos de indústrias variaram segundo as características e necessidadesde cada momento do processo da industrialização em São Paulo e em suasregiões. A passagem da economia agrária-exportadora para uma economiaem vias de industrialização germinou nos primeiros trinta anos do séculoXX, criando condições para a ampliação econômica do Estado, o desenvol-vimento do transporte ferroviário, a chegada dos imigrantes europeus e osurgimento e expansão de empreendimentos fabris.

Alguns produtores de café, senhores fazendeiros, investiram na forma-ção industrial, porque era economicamente rentável, pois os custos dasimportações para os bens de consumo se tornavam cada vez mais altos, astaxas e impostos cobrados pelas manufaturas foram se elevando, sendo as-sim, apesar de certa resistência por parte da população, em aceitar a manu-fatura nacional, iniciou-se o processo em pequenas escalas, primeiramentequem mais consumiu os produtos foi a população de baixa renda.

Em meados da década de 20, São Paulo assumiu a posição de centroindustrial do país, produzindo artigos volumosos e de valor intrinsecamen-te baixo, utilizando matérias-primas locais ou materiais importados. Den-tre as principais atividades que se desenvolveram estavam os importadores eindustriais convertidos em manufatores, como: manufatura têxtil, da moa-gem, do engarrafamento de cerveja e de bebidas, da manufatura de ferra-gens, da forja do aço e do latão, da laminação de metais, da estampagem doalumínio, da esmaltagem do ferro fundido, do fabrico de papel, da refina-ção de óleos vegetais e de máquinas feitas de encomenda - elevadores, ca-deiras, fornos, bombas, balanças e equipamentos de moagem.

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Neste quadro de crescimento da economia nacional e metropolitana, oABC transformou-se em área industrial e residencial para população maispobre. Depois de São Paulo, os municípios que apresentavam maiores valo-res referentes à atividade industrial foram São Bernardo, São Caetano doSul e Santo André.

Penteado, quando, em 1953, trata dos subúrbios industriais do ABC,considera-os como o "trecho mais tipicamente industrial de toda a áreasuburbana da Capital paulista. Sobretudo em São Caetano do Sul e SantoAndré, existe, na realidade, um dos mais expressivos exemplos de paisagemindustrial, com uma continuidade espacial só comparável com a registradaem certos bairros da cidade de São Paulo, como a Mooca e o Ipiranga.".6

O crescimento do setor esteve limitado à produção de bens de consumo,vinculado em grande parte, ao fato de que, realmente não havia um mercadoconsumidor amplo para ensejar a instalação de estabelecimentos voltados paraa produção de bens de consumo duradouro, material de transporte, eletrici-dade, borracha e construção civil. Os setores que tiveram um acelerado cres-cimento foram o da indústria metalúrgica, de papéis e de tecido.

Segundo Langenbuch Santo André, entre 1915 a 1940 foi o principalcentro industrial suburbano, cortado pela ferrovia, abrigando diversos esta-belecimentos industriais e de operários. Já São Bernardo, localizado fora dodomínio da ferroviário, abrigava um número menor de estabelecimentosindustriais, voltados para fabricação de móveis.

Até o final da década de 30, as principais indústrias brasileiras eram as detecido e roupa, de móveis, alimentícias, metalúrgicas, gráficas e químicas.A indústria nacional enfrentou grande concorrência com os produtos im-portados, sendo que os produtos tornaram-se marginalizados, frente aocomércio exportador. Os empresários produziam, no princípio, bens deconsumo mais simples e baratos, que substituíam os importados. A conse-qüência dessa estratégia foi uma associação inevitável, por parte do consu-midor, entre os artigos de má qualidade e a manufatura nacional.

A ferrovia e a industrialização

As medidas que incentivatam profundamente a industrialização e a ur-banização foram à construção da ferrovia, a instalacão de sistemas urbanos

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de energia hidrelétrica, organizadas por cafeicultores e, construídas por

empresas européias e norte-americanas, símbolo da modernidade e do pro-gresso, representando a incorporação de avanços técnicos. "(...) O Estadofavorecia estes empreendimentos incentivando com garantia de juros, pra-zos de uso e privilégios fiscais"?

Os investidores - fazendeiros, comissários do café e estrangeiros, investi-

ram capital em novas frentes, resultando na extensão da ferrovia para ointerior do Estado de São Paulo, sendo que, a aplicação maior restringiu-sea São Paulo Raiway Co. Ltd. A ferrovia era propriedade de ingleses queforneceram material e equipamento necessários para sua construção e o seufuncionamento.

A Estrada de Ferro aproximou os centros de produção e comercialização,assim como, incetivou a expansão do trabalho assalariado e da urbanização.Inaugurada em 1867, conhecida como São Paulo Railway, fazia a conexãoentre o Porto de Santos e o Planalto Paulista, abrindo novas rotas e aproxi-mando a região de São Paulo e suas imediações, com o movimento de esco-amento de carga e passageiros.

Ao longo da ferrovia construiu-se novas estações e armazéns de alvena-ria, que recebiam e enviavam carga. A estação de São Bernardo, que atual-mente é a estação de Santo André, originou este vilarejo, cujo desenvQlvi-mento estava vinculado ao caminho da ferrovia.

A formação das Vilas ao longo da ferrovia trouxe um grande número detrabalhadores, que se ocupavam das atividades de extração de madeira,caulim, pedra e barro. A fixação de populações nestas imediações estavaligado à produção de café e, também, a não cobrança de taxas nas docas deSantos. A necessidade de fazer o transporte para o Porto de Santos desvioua rota que antes era via Rio de Janeiro - São Paulo, e consequentemente a

transferência das filiais do Rio para capital paulista, principalmente a im-plantação de estabelecimentos de maior porte nas novas áreas industriais,que constituem a área da periferia paulista.

A instalação de fábricas nestas regiões está condicionada às facilidades deacesso as estradas e ferrovias, além de abrigar um grande número de operá-rios. "Os espaços da cidade são política e socialmente diferenciados de acordocom os grupos sociais que nela habitam, de tal modo a definir territóriosdistintos. Grosso Modo, os pobres amontoam-se em bairros precários e os~

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ricos espalham-se em espaços monumentais"8. Os bairros operários esta-vam localizados geralmente em terrenos de várzea e, em alguns casos, pró-ximos as ferrovias.

A Vila de Santo André no início do século era considerada o principalcentro industrial da periferia paulista. Sua localização favoreceu e estimu-lou a instalação de fábricas, na maior parte estabelecimento industriais vol-tados para os setores de marcenaria, olaria, cerâmica, fornos de tijolos, subs-tância química, metalúrgica e tecelagens.

'~ indústria Kowarick e Companhia, fundada em 1901, fabricavacasemiras e localizava-se junto à porteira da estação de Santo André,na Avenida Cardoso," "(",)Em 1919, instala-se em Santo André, aRhodia para fabricar produtos químicos, e a Lidgerwood, no ramometalúrgico," "(",) Em 1923 foi à vez da Fichet, a primeira indústriaa ser construída na Avenida Industrial, produtora de estruturas me-tálicas, e a Pirelli, voltada à fabricação de pneus e cabos elétricos"9,

As fábricas empregavam uma grande massa de trabalhadores, a maioriadeles imigrantes italianos, que se ocuparam de atividades urbanas. Oleiros,sapateiros, comerciantes, metalúrgicos, tecelões e proprietários de peque-nas manufaturas, muitos deles vieram para o Brasil, a fim de trabalhar naslavouras cafeeiras e nas fábricas e, aqueles que tinham capitais montaramseu próprio comércio ou locais de produção. Os imigrantes empregavam-senas tecelagens, pois possuíam formação ou experiência industrial, haviamuita procura de mão-de-obra qualificada, especialmente em São Paulo ena região do ABC.

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"Em 1907, essas tecelagens e outras empresas menores do ABC jáempregavam pelo menos 1.000 operários, numa população local de10.000 habitantes, garantindo assim o status do ABC como o maisimportante subúrbio industrial de São Paulo"lo.

Os imigrantes italianos fundaram a "Societá Italiana di Mutuo Soccorso",cuja sede foi erguida em 1903. Como suas congêneres fundadas em outrascidades, propunha-se fornecer ao trabalhador e sua família auxíliospecuniários e de saúde, forma de proteção necessária em uma sociedadeainda desprovida de qualquer mecanismo de segurança social. Atualmentetem o nome de Sociedade Cultural ttalo-Brasileira e seu caráter é agremiativo.

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'~ primeira paralisação de importância ocorreu em 1906 na maiorfábrica do ABC, a tecelagem Ipiranguinha de Santo André, que em-pregava 500 operários. A paralisação da Ipiranguinha foi característi-ca da onda de greves que ocorreram na Grande São Paulo após 1901 "11.

Nos anos trinta, a Vila de Santo André e São Caetano do Sul, foramconsiderados agrupamentos urbanos de grande porte, com uma grandepopulação, atraída pelas oportunidades de trabalho. E entre os empregado-res dos metalúrgicos do ABC estavam empresas estrangeiras e nacionais,tais como General Motors e a Pirelli. Estas localidades tiveram seu desen-volvimento marcado por características econômicas, pois estavam voltadaspara o abastecimento econô~ico. A Vila de São Bernardo era uma pequenacomunidade, afastada da estrada de ferro, que empregava cerca de 14% damão-de-obra, em oficinas de marcenaria e alguns ramos metalúrgicos.

Alguns núcleos urbanos mantiveram características marcadamente ru-rais, até o final dos anos 40, como os bairros da Penha, Freguesia do Ó,Santo Amaro, Oiadema; dedicavam-se a produção de cultura de subsistên-cia ou então voltada para o abastecimento da cidade.

Um antigo morador descreve o cotidiano na vila de Diadema: "(...) as

pessoas trabalhavam; plantavam, criavam animais como porco, vaca, gali-nha, cabrito. Plantávamos milho, feijão, batata, batata-doce, taioba, hortade verdura, cana, ...havia muita fartura, ...0 falecido meu pai saia com a

carroça para vender, corria a cidade, até vender tudo"12.A vila de Santo Amaro, pequena propriedade de chacareiros e sitiantes,

dedicava à produção para a venda, sendo considerada "celeiro" de São Pau-lo, abastecia a cidade de gêneros alimentícios - mandioca, milho, feijão,

arroz, batata e COJIl a criação de gado e aves domésticas, de combustível emateriais de construção - madeira, lenha, carvão e pedra de cantaria 13.

Aos poucos a cidade paulista e as cidades vizinhas passaram a refletir asociedade que as construiu, em conseqüência a organização da população noespaço urbano evidenciava as diferenças sociais e culturais. O crescimentourbano caracterizou-se por apresentar diversos tipos de ocupação do seu espa-ço: áreas residenciais de ricos e pobres, áreas de comércio, áreas industriais.

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"Naquele tempo existiam muitos sítios em Diadema.O sítio do meufalecido pai, o sítio do falecido Joaquim Quaresma, o sítio do falecidoAntonio 0011 de Moraes, o do Sr. João Hanegraff... Da Vila Mariana

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para cá era tudo campo. O meu pai ia para cidade com a carroçavender carvão no Largo São Joaquim e Largo do Arouche."

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Do começo do seculo XX até os anos trinta, as primeiras fábricas foramacionadas por motores a vapor, movidos por carvão ou lenha, material queprovinha da importação como também das cidades ao longo da ferrovia,como na Vila de São Bernardo, de Santo André, de São Caetano do Sul e

Oiadema, entre outras.A primeira companhia elétrica foi criada a pedido dos cafeicultores para

beneficiar o serviço público e industrial, instalando a capacidade térmica ehidrelétrica em São Paulo e nas demais regiões próximas a ela. Em 1934 aferrovia teve em sua linha a tração a diesel-elétrica, iniciando os serviços deeletrificação. Em 1946, a estrada de ferro foi encapada pala União, com onome de Estrada de Ferro Santos- Jundiaí, antiga São Paulo Raiway Co. Ltd,

propriedade inglesa.O setor de construção civil cresceu, contribuindo também para o desen-

volvimento industrial e urbano. O governo promoveu ações que concede-ram proteção e financiamento para empreendimentos industriais, dandocrédito e prazos mais longos para os investimentos. Incentivando o apareci-mento de pequenas empresas, inúmeras fábricas de cimento, produção de

papel e de material elétrico.Na década de 20, a Escola Politécnica de São Paulo, garantiu a aplicação

prática da tecnologia rodoviária, favorecendo a construção de estradas noEstado. Em 1925, o trecho da antiga serra do mar, serra que liga São Pauloa Santos foi pavimentado com concreto. A maior parte das construçõesrodoviárias, era caminhos de terra e somente depois da Segundo GuerraMundial passaram a sofrer grandes modificações, pois até então, eramconstruídas com equipamento rudimentar. Muitos desses equipamentoseram das empreiteiras que empregavam mão-de-obra não especializada eutilizavam ainda carrocinhas puxadas por burros.

'~ escavação era feita com pá e picareta, sendo raros os desmontes derocha por meio de dinamite; o transporte e lançamento de aterroseram feito por meio de carrocinhas de burro, pertencentes a grupos,de capatazes e trabalhadores braçais que recebem por tarefa."

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A partir dos anos 30, começam a ser abertas e pavimentadas as estradas,avenidas e ruas, forma-se um sistema de transporte eficiente e econômico,além de ser capacitado a competir com o sistema ferroviário, que demostravasinais de estagnação, pois os estabelecimentos industriais haviam crescido ese alastrado pelo subúrbio, afastando-se dos troncos das linhas de trem. Oslocais onde a ferrovia não chegava, tiveram o sistema de rodagem implanta-dos para que a grande massa de trabalhadores pudesse utilizar este sistemaeconômico de transporte coletivo, o ônibus.

Naquela época foram abertas inúmeras avenidas e ruas, tornando acessí-veis locais que os bondes não atingiam, mediante ligação de pontos rarefeitosde habitantes aos centros de emprego. "Assim, a maioria daqueles que leva-vam adiante as engrenagens produtivas, ao ter seus salários mantidos a níveismuito baixos, e tendo em conta o aumento do preço da terra e dos aluguéis,só puderam residir em áreas desprovidas de infra-estrutura urbanal5.

Pós-30, o Estado voltou-se mais para a industrialização e, portanto, paraos problemas nos grandes centros urbanos foram se complexificando. OEstado passou a mediar os conflitos entre capital e trabalho, estabelecendouma nova legislação que visava controlar e eqüalizar os padrões de reprodu-ção da força de trabalho. Estabeleceu-se um Estado burocrático'16 que visa-va dominar as classes populares e industrializar o país sem que os industriaistivessem voz absoluta no projeto. "(...) os operários conquistam, pelo me-nos formalmente, certos direitos como salário mínimo, jornada de 8 horas,regulamentação do trabalho infantil, feminino e noturno, mas o movimen-to sindical permanece atrelado aos aparelhos estatais".

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A crise dos anos 30 e o Estado Novo

o contexto político e econômico dos anos 30 iniciou-se de forma turbu-lenta. O país atravessava uma crise econômica e o colapso internacionalafetou e quase paralisou as industrias de São Paulo, e em conseqüênciamuitas fábricas suspenderam suas atividades. Muitas empresas faliram emuitos operários ficaram sem seus empregos. Estimativas calculam que nacapital o número de desempregados era de 100.000 em novembro de 193017.

A produção cafeeira que havia fornecido demandas iniciais para os fabri-cantes paulistas - sacarias, implementos agrícolas etc, - tornou-se cada vez

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menos importante para o crescimento da indústria, pois esta passou a cami-

nhar pelas próprias pernas. Com a crise de 1929, agravou-se o problema da

economia cafeeira, com a desvalorização total do produto e a franca decadên-

cia da lavoura cafeeira, levando as exportações brasileiras de café a estagnação.

Para burguesia industrial nascente, a base do apoio para o início da acu-

mulação não foi à pequena indústria, mas o comércio, em particular o grande

comércio, cujo centro estava na atividade de exportação e importação. Do

mesmo modo que na exportação, a importação era controlada, em parte,

por empresas estrangeiras. Graças às origens sociais, o burguês imigrante

encontrou facilmente um lugar no grande comércio. Tornou-se representante

de firmas e marcas estrangeiras e encarregou-se da distribuição de produtos

importados pelo interior do país. O desenvolvimento gerou a criação de

novas relações entre os grupos sociais, de modo a viabilizar a produção

fabril, favoreceu o surgimento de novas categorias sociais, a burguesia indus-

trial e o operariado.

Era impossível sobreviver à crise mantendo a economia brasileira e ali-

mentar a vida do país dentro de seu antigo sistema produtivo nacional. O

Brasil precisava industrializar-se rapidamente, para promover o progresso

de economia. O governo passou a ditar medidas de estimulo à produção

interna e sua diversificação (tarifas alfandegárias, fomento oficial da produ-

ção e restrições cambiais), tanto nos setores agropecuário como industrial,

visando atender ao consumo nacional.

No governo de Getúlio Vargas estruturou-se um Estado em que a indús-

tria era politicamente representada especialmente pelos subsídios às impor-

tações de máquinas e equipamentos e deste modo, o controle da classe

operária para evitar movimentos paredistas e dinamizar a produção passou

a ser urgente para o desenvolvimento do sistema econômico. Deste modo,

o governo adotou medidas políticas que solucionassem a crise, contendo

suas próprias despesas e aumentado as rendas. Muitas medidas foram defi-

nidas no sentido de proibir importações e fiscalizar a produção industrial,

provocando descontentamento. O intervencionismo visava controlar a in-

dústria brasileira, pois buscava-se salvar um sistema exportador ao mes-

mo tempo em que se fazia necessário manter sem acelerar o processo de

indusrrializacão.

"Até 1930, há total subordinação da indústria ao sistema, que é ooligárquico: em momento nenhum aparece insubordinação ao do-mínio rural e o que existe é atitude defensiva frente às suas críticas.Após 1933, quando a indústria começa a se recuperar, ela começaaparentar posição de desprendimento e superioridade frente à agri-cultura e, um exemplo entre outros, Roberto C. Simonsen preconi-za o auxílio governamental aos lavradores."18

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Durante a depressão mundial dos anos 30, devido à queda da Bolsa deNova York, a economia brasileira no setor industrial, teve sua produçãovoltada para o mercado interno, substituindo as importações, formulandomedidas de estímulo ao comércio exterior, com forte apoio do governo, sobforma de proteção tarifária, controle cambial e através da fixação dos pre-ços. Apesar da crise econômica alguns setores como a indústria metalúrgica,de papéis e de tecidos, obtiveram índices de crescimento.

A sustentação política do novo regime teve que ser modificada, desen-volvendo uma política específica de intervencionismo do governo. Mas essaintervenção não se propunha acelerar o processo de industrialização. Ocontrole imposto à economia era feito por medidas que visavam mais salvarum sistema existente do que a tentar criar um novol9.

O papel do Estado pós-3O, voltou-se ao desenvolvimento de uma políti-ca específica para o setor social. Vargas precisava legitimar o poder político,que passou a deter a partir da Revolução de 3O, formulando uma estruturade poder a fim de legitimar seu intervencionismo na economia e nos diver-sos aspectos da reprodução da força de trabalho.

O governo introduziu um sistema de aliança, estabelecendo um com-promisso, principalmente com as massas populares, desta forma garantin-do sua legitimidade. "Surge assim na história brasileira um novo persona-gem: as massas populares urbanas que passam a garantir a legitimidade aonovo Estado brasileiro".

A modernização viria através do desenvolvimento econômico industrial,controlado pelo Estado. Numa espécie de paternalismo decretou medidascomo a criação dos sindicatos oficiais, implantou Institutos de Aposenta-doria e Previdência, legislação trabalhista, fixação do salário mínimo etc,além da criação institutos e organizações que promoviam a intervenção eofereciam suporte de legitimação.

Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectivo do Cidade Vermelho

Adotando medidas e dinamizando o setor industrial, promoveu açõesque concederam proteção e financiamento para empreendimentos indus-triais, dando crédito e prazos mais longos. Incentivando o aparecimento depequenas empresas, como inúmeras fábricas de cimento e de produção de

papel e papelão, entre outras.Através das restrições fiscais e das taxas, o governo tentava equilibrar as

finanças e estimular a produção de consumo interna, pois com a bruscaqueda nas exportações e importações, assim como a redução de investimen-tos de capitais estrangeiros em atividades privadas, o que levaria o país ao

colapso econômico.Entre 1939-1945, a produção industrial voltou a crescer, ampliando

setores da indústria metalúrgica, têxtil, de calçados, de bebidas, de fumo,mecânica e material elétrico. É importante mencionar que este crescimentoesteve relacionado à redução das importações e, também devido a 11 GuerraMundial, proporcionando o aumento nas exportações.

O governo investiu em uma série de projeto voltados para exportação,como no caso dos minérios (ferro, manganês, petróleo entre outros) criou-se neste clima nacionalista diversas empresas estatais como: a CompanhiaSiderúrgica Nacional, em Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, e aCompanhia do Vale do Rio Doce. Acreditava-se que o Brasil pudesse serfornecedor para os grande mercados internacionais. A proposta era enri-quecer o Vale do Paraíba e dar um impulso a industria paulista. A justifica-ção freqüente era de cunho nacionalista: a emancipação das nossas indústrias.

Durante a 11Guerra Mundial, aindústria aumentouas exportações, tra-zendo um equilíbrioprovisório, contudoesse aumento não re-presentou um au-mento nas forças pro-dutivas, ao contrárioa população pagoumais uma vez através

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Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

de sacrifícios. Com o aumento nas exportações, o mercado não teve umaoferta suficiente a oferecer, resUltando em restrições alimentares e no encare-cimentos do custo de vida, apesar de ter crescido a produção de açúcar. algo-dão. óleos vegetais. lã. carne, carvão mineral. borracha etc.

"Havia muitas filas e tudo era racionado, sal, açúcar, farinha de tri-go, não havia pão de trigo, somente pão de centeio. Depois das21:00 horas dava o toque de recolher e ninguém podia mais andarnas ruas. O salário mínimo dava para viver, eu recebia cerca de 200mil réis por mês. Não podia falar nada contra o governo, quemfalasse era preso. Não podia conversar na esquina, bater papo, se apolícia visse mandava sair, circular. Me lembro que um cantor derádio falou mal do governo durante um pr::.grama e foi preso, era aOitadura"}O

121

Surgiu entre 1945 e 1947 uma série de ações de protestos contra as con-dições de vida da população, a participação popular demostrou o anseio demobilização política. Com o fim da guerra os problemas vieram à tona,refletindo com grande repercussão na vida política e social do País.

Na região do grande ABC, a periferia de Santo André destacou-se, con-solidando seu desenvolvimento industrial e urbano. "Ao longo da ferrovialocalizavam-se fábricas de grande importância em diferentes setores, comoa Laminação Nacional de Metais - cujo grupo proprietário, Pignatari, che-

gou a ensaiar a produção de aviões na companhia Aeronáutica Paulista,situada em Utinga -, o Fanucchi e o Santista, dois moinhos, a Firestone e a

Eletrocloro"21.Em 1943, os movimentos autonomistas discutiam a passagem de Santo

André e São Caetano, de distritos para municípios de São Paulo. Até ocomeço dos anos 50 toda a região do ABCDRM havia se emancipado,formando um conjunto de seis municípios da capital paulista.

o milagre da Industrialização e o ABCO

No começo dos anos 50 a indústria ganhou um novo impulso, e vimospela primeira vez um crescimento vertiginoso, impulsionado que canalizourecursos para este setor econômico.

Diadema nasceu no Grande ASC: História Retrospectivo da Cidade Vermelha

122

A sociedade brasileira estava no áuge do processo desenvolvimentista, ou

seja, vinha obtendo altos índices de crescimento econômico, fornecendo

requisitos aos empreendimentos industriais, com projetos de avanço

tecnológico, incentivo a micro-empresas nacionais e à abertura a investi-

mentos estrangeiros. O investimento estrangeiro estava submetido a uma

política interna de controle nacional, que também favoreceu o processo de

industrialização com a instalação de multinacionais. A obtenção de recur-

sos externos aliados a integrar a economia do Brasil com o mundo ociden-

tal marcou a ideologia da política desenvolvimentista.

A industrialização ocorrida nos anos 50 trouxe consigo a modernização.

"Alterando a sociedade, o homem, transformando as pessoas e suas vidas, a

paisagem das cidades, sua arquitetura e, principalmente a forma do homem

pensar, modificando seus hábitos e costumes, tornando-o urbano e essenci-

almente consumistas"22.

A política de intervenção do Estado ocorrida na década anterior criou

condições favoráveis a industrialização. O fortalecimento da infra-estrutu-

ra econômica proporcionou o investimento e desenvolvimento em novos

setores como: de infra-estrutura energética, de transportes e da indústria

pesada. Essas medidas proporcionaram a instalação de indústrias abertas à

economia externa visando a exportação. Passou-se a encarar a necessidade

da produção interna e daí incentivou a capacidade inventiva possibilitando

novas fórmulas e mudanças técnicas.

Nesta fase as indústrias passaram a ocupar os espaços às margens da via

Anchieta, eixo rodoviário, que interligava São Paulo, áreas do Vale do Paral'ba,

a Baixada Santista e o interior da capital. "Esse tipo de localização industri-

al reflete uma determinada

orientação da economia, ba-

seada na prioridade ao trans-

porte rodoviário"23.

Muitas empresas do setor

mecânico instalaram-se na

região do Grande ABCD,

próximas as estradas de ro-

dagem. Empresas como a

Mercedez Bens, Ford passou

Diadema nasceu no Grande ABC: História_~et!~~i~a da Cidade Vermelha

a atuar na produção de automóveis, dinamizando o setor metalúrgico emecânico, atraindo diversos investimentos, principalmente no setor de

autopeças.O município de São Bernardo teve um crescimento extraordinário da

atividade industrial, um grande número de investimentos nos setores me-cânico, metalúrgico, transporte, elétrico, químico e principalmente a con-centração de indústrias voltadas para o setor automobilístico. O desenvol-vimento do Setor automobilístico na década de 50 esteve relacionado com amudança da capital, do Rio de Janeiro, para o planalto central, construçãode extensa rede rodoviária interligando, através de Brasília, as várias regiõesdo país, além da construção de outras estradas - Via Anchieta - que fariam

a ligação entre São Paulo e as demais regiões.A partir dos anos 50, a Indústria mostrou o esforço de renovação e, ao

mesmo tempo, maior unidade entre a categoria empresarial. Os industriaispassaram a reivindicar seus direitos, formulando suas aspirações através damobilização de sua classe. "Pela primeira vez a indústria e o comércio reali-zam congressos públicos, passando dos tímidos pedidos individuais à pres-são coletivà'24. Os congressos, as conferências e uma série de outras formasde reivindicações empresariais, demostram a composição dessa classe quetoma forças, promovendo importantes formulações "que passam da ordemeconômica geral à questões agrícolas e florestais, da energia, combustíveis etransporte à produção industrial e mineral, do problema dos investimentosà política tributária, da questão do povoamento a problemas esparsos"25.

Com o fim do Estado Novo e da ditadura varguista (1937-1945), oprocesso de democratização e a transnacionalização econômica do país,implicou numa nova perspectiva, favoreceu a industrialização ao incentivaras formas modernas de existência, quando a sociedade busca melhores con-dições de vida na cidade. Em 1946, veremos também o crescimento doprocesso de mobilização popular, demostrando a capacidade dos operáriospara uma ação coletiva, embora de forma restrita e subordinada. As condi-ções de vida dos trabalhadores pioraram muito com a guerra - restrições,

escassez e falta de produtos de toda espécie, aumento do custo de vida, alémdo congelamento dos salários, levando a inúmeros protestos e mobiliza-ções, contra as condições de vida urbana.

123

A expansão industrial e opós-guerra intensificaram omovimento de migraçãointerna no país, atraindoinúmeras pessoas, vindas dointerior do estado e dasregiões norte e nordeste dopaís para o sudeste. Fugindoda seca e da fome vinhampara os centros urbanos em ~_..~..

busca de trabalho, ondeeram rapidamente absorvidos, pois a indústria necessitava de mão-de-obra.Esse movimento promoveu um grande aumento populacional nos centrosurbanos, e foi estimulado pela alta demanda de mão-de-obra e as vantagensda vida na metrópole.

'~ explosão democrática havia feito desaparecer grande parte do pas-sado repressivo, ao mesmo tempo em que prometia uma ordem radi-calmente nova. À medida que a nova república começou a tomarforma, as classes populares urbanas passaram a desfrutar de uma li-berdade de expressão e de organização cuja amplitude e vigor nãotinha precedentes na história do país. A conseqüente revolta populargeneralizada, simbolizada pelo getulismo popular e pela greve, fezcom que, assim que ultrapassada a turbulenta crise da sucessão, hou-vesse um empenho em impor restrições a essas novas forças"26,

124

A proposta do desenvolvimentismo estava vinculada à postura populistado governo em cujo discurso propugnava pela eliminação das diferenças deinteresse e aspirações dos grupos ou classes sociais, "mudar dentro da or-dem para garantir a ordem". O progresso e o desenvolvimento eram tudo,passando a serem vistos como objetivos nacionais, ou seja, unindo em tor-no do projeto de desenvolvimento da "vontade coletivà', governantes eempresários. O país buscava desenvolver-se e manteve seus objetivos nosplanejamentos voltados para a industrialização. As propostas visavam, des-ta forma, superar a dependência econômica e eliminar o rótulo de paísatrasado, adentrando-se para a nova modernização27.

A cidade de São Paulo, na década de 50, reforçou sua posição de maiorp610 industrial do país e da mesma forma a região do Grande ABC, desen-volveu-se como p610 periférico industrial. O crescimento industrial passoua exigir sua expansão física e em conseqüência a transferência e criação demuitas fábricas em cidades como São Bernardo, Maúa, Ribeirão Pires eDiadema, que passaram a refletir o novo perfil da industrialização.

Do final de 1950 a meados de 1964, a política econômica governamen-tal estimulou e favoreceu o setor de investimentos na área industrial, prote:'gendo as indústrias instaladas no país. Além de criar incentivos, visava atra-ir capital estrangeiro, favorecendo maiores investimentos internos.

A fim de alcançar as metas da industrialização o governo dava proteçãoao sistema de crédito, financiando a longo prazo fundos necessários para ainstalação de indústrias e à modernização da infra-estrutura. Promoveu aabertura para investimentos estrangeiros e nacionais, como demostram osprojetos da Petrobrás e da Eletrobrás, entre outros.

O Sr. Goswin Milz, imigrante alemão, nos contou sobre sua vinda para oBrasil na década de 50, através de seu depoimento conseguimos perceber os

anseios e a mentalidade que fez parte do processo de modernização: 125

"(...) Eu cheguei ao Brasil em janeiro de 1950, para trabalhar naPetrobrás, no Rio de Janeiro, contratados pela embaixada do Peru.Contudo quando aqui cheguei, as obras de construção da Petrobrásestavam no começo e não precisavam do meu trabalho, e então, vimpara São Paulo. Atrumei emprego na fábrica de Latas Americanas,chamada de Produtos Químicos Guarani. Eu tinha outros ideais,queria meu próprio negócio e nas horas vagas que me restavam,

dediquei-me a diversosprojetos, o que deu certofoi o de fabricar atruelas,anéis elásticos. Eu conheciamuito bem o processo dasmáquinas, pois estávamosdesenvolvendo na fábricade Latas Americanas algu-mas máquinas automáticas

I ~ . d Ii~ entao pensei em esenvo-~ ver um projeto que desse

dinheiro direto. Então';,!~.

Diadema nasceu no Grande ASC: História Retrospectiva da Cidade Vermelho

num belo dia um dos consultores perguntou: - Aqui não tem anéis

elásticos? E, eu respondi: Não, só importados. A partir desse momentocomecei a pensar e, então nasceu a idéia de projetar esses elementosde construção. No primeiro momento Projetamos e produzimos emanel tipo LS para MAX, uma fábrica de bicicletas, situada na ViaAnchieta. Produzimos também para Lambreta e Metal Leve,precisavam de anéis quadrangulares para segurar os pinos dentro dospistões.(...) " ".

126

Como já abordamos, os investimentos no setor industrial foramfavorecidas pela mão-de-obra barata, garantias políticas grandes potencialmercadológico, promovendo a internacionalização da economia e, propor-cionando a criação Q'; pequenos e médios empreendimentos, como no casodo Sr. Milz e outros, que resultaram na expansão da área industrial a sudo-este do aglomerado paulista, principalmente nos setores de autopeças, ele-

trônica e da eletroeletrônica.Nesta fase da industrialização veremos a ocupação dos espaços às mar-

gens das rodovias, como no caso do município de São Bernardo e no finaldos anos 50 o município de Oiadema, que foi referência para o estudo eanalise do desenvolvimento industrial nas décadas de 60,70 e 80.

Os anos de 19 50 foram palco de muitas transformações e evidenciarammudanças profundas no comportamento e valores sociais que marcaram osanos 60 e 70. A popularização do consumo, incentivada pelos meios decomunicação como a televisão, jornal, rádio entre outros, tomaram contado sentido simbólico das populações urbanas, promovendo o consumo emmassa e alterando os hábitos e costumes, fenômeno conhecido como amodernização massificadora.

A prosperidade do país estaria atrelada ao desenvolvimento industrial efoi modelo e sinônimo de modernidade nas décadas de 60, 70 e 80. Nosanos 60, o processo de internacionalização da economia consolidou a bur-guesia multinacional e a burguesia nacional associadas ao projetomodernizador. A população cresceu e foi empurrada para os subúrbios, semter onde morar e em busca de uma saída para sua crise econômica, queatingiu altos índices inflacionários, depois da crise do mil~gre.

Diadema nasceu na Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

Diadema e a industrialização

o crescimento da cidade de Diadema esteve ligado a evolução industrialda região do Grande ABC, principalmente da cidade de São Bernardo doCampo e São Caetano do Sul, que na década de 50 atingiu grandes propor-ções de crescimento industrial. Em princípio era um bairro que fazia cone-xão entre São Paulo e as demais regiões e bairros - Santo Amaro, Jabaquara,

Vila Mariana, São Bernardo e Santo André, com a sua emancipação e ar-ranque econômico passou a compor o centro industrial ABCO.

Bairro periférico da região de São Bernardo do Campo teve sua evoluçãomarcada pela industrialização e por ser uma área residencial para uma po-pulação de baixa renda. Os moradores mais antigos dedicavam-se a ativida-des agrícolas ou trabalhavam em São Paulo ou nas áreas próximas ondeexistiam ocupações em atividades manufatureiras. Havia inúmeras olariasque praticavam esta atividade, fabricando tijolos e telhas.

Segundo depoimento de antigos moradores de Oiadema, entre estes odo Sr. Agenor de Oliveira, era uma área constituída de vários sítios e cháca-ras e praticavam atividades agrícolas e manufatureiras:

127

"Me lembro que naquele tempo, existiam somente sítios e chácaras,tinha o sítio do meu pai, o sítio do Joaquim Quaresma, do Antônio0011 de Moraes, João Hanegraff e do Antônio Martins. Era umtempo que todos trabalhavam, plantavam, criavam animais comogalinha, porco, cabrito, cavalo e viviam disso"28.

Sua população até 1950 era de 3.023 habitantes passando para 12.303,em 1960. Este crescimento foi ponto favorável para a criação do Municípiode Diadema em 1959, desmembrando-se de São Bernardo29.

É interessante notar a determinação da industrialização de outras cida-des e da ferrovia num primeiro momento garantindo a continuidade doprocesso de desenvolvimento industrial em Diadema e como este processoresultou em novas formas de expansão, determinando um novo espaço paraa economia e também para concentração populacional.

O avanço da concentração industrial em São Paulo correspondeu a essanova orientação da economia nacional e foi marcado pela participação cres-cente dos municípios periféricos. Em 1950 o valor da produção industrial

Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

do município de São Paulo correspondia a 24,1 % do valor da produção daindústria nacional; a Grande São Paulo participava com 29,5%3°,

A implantação de indústrias de grande porte, principalmente as auto-mobilísticas em São Bernardo, determinou a criação de amplos espaços daperiferia do aglomerado paulistano e a localização dos novos empreendi-mentos. Inúmeras fábricas localizadas em bairros da cidade de São Paulomudaram-se para região de Diadema, como relata o empresário GoswinMilz, que se mudou para Oiadema devido às facilidades proporcionadaspara a implantação e desenvolvimento de sua atividade industrial.

"Em 1955 a fábrica mudou-se de Santo Amaro para o bairro doJabaqu..~.:" na Rua Mucuri, 117. Em princípio, a fabricação das pe-ças era inteiramente artesanal, desde a produção das ferramentas atéa fase final do produto. A fábrica começou com cinco funcionáriose em 1956 funcionava com um contingente de vinte operários. Asinstalações da fábrica foram divididas em dois galpões. Inicialmentea fábrica produzia um número pequeno de peças, até mesmo porser manual, no entanto era uma das poucas fábricas que produziaestes anéis elásticos, sem grande concorrência, o que possibilitou eexigiu o aumento na produtividade e conseqüentemente expansãoda fábrica. Com o aumento na produtividade surgiu a necessidadede comprar novas máquinas, auto matizando em partes a linha deprodução. O crescimento desse empreendimento se deu pelo lucroobtido no início de suas atividades e incentivou sua expansão"31".'~ pequena fábrica instalada no Jabaquara precisava ampliar aindamais seu espaço físico, pois com o aumento dos pedido, precisoucontratar mais operários e, em 1961, os dois sócios Milz e Breuerresolveram ampliar seu empreendimento comprando um terrenoem Oiadema, na estrada do Taboão, 230, iniciando as obras de cons-trução da nova fábrica"32.

128

Aos poucos Oiadema teve sua paisagem alterada, área que anteriormenteestava restrita a estabelecimentos rurais, transformou-se numa área indus-trial e residencial para uma população de baixa renda. As novas relações quesurgiram entre a implantação da indústria e o estabelecimento de novasformas de uso do solo são importantes e tornaram-se necessárias para inter-pretarmos a construção em Diadema do novo espaço - paisagem; econô-

mico, social e cultural. Assim, um primeiro aspecto a se buscar foi estabeIe-

cer um olhar diferenciado em relação à paisagem: vê-Ia como algo a ser lido,interpretado e problematizado. Ver em Oiadema um documento a ser estu-dado buscando construir os processos nos quais ela se constituiu no desen-volvimento industrial33.

O processo de industrialização da cidade não pode ser estudado apenaspor pesquisas e levantamentos de índices, tabelas e qualificações numéricas,mas também a visão de um espaço-paisagem que foi constituído, cujossentidos e valores sobre o seu presente estariam no passado/memória, con-siderando o sujeito que o construiu e o local edificado.

A cidade foi se edificando e tomando forma, as fábricas, casas, ruas eavenidas foram construídas para suprir a necessidade do momento, semqualquer planejamento. O crescimento da população e o cotidiano no tra-balho, promoveram a ligação entre os bairros e as fábricas, refletindo asreivindicações do mundo do trabalho com aquelas que dizem respeito àsmelhorias urbanas, como os meios de transporte, loteamentos clandesti-nos, favelas, cortiços, creches, ruas asfaltadas, iluminação, segurança, lazeretc. No relato de um morador, o Sr. Paulo Barbosa de Oliveira, fala daslutas e dificuldades enfrentadas:

129

"(...) Cheguei em Oiadema em 1969, vim do Piauí, não tinha nadae tudo era muito difícil. Fui trabalhar na Mercedez-Benz, pegavaônibus e descia no ponto do Barateiro, não tinha luz e a noite não seexergava nada, quando chovia era como quiabo (liso), pois não ti-nha asfalto. Passei a participar do conselho popular e fui eleito comorepresentante pela população. Cada região tem seu conselho popu-lar. Nós íamos a prefeitura reivindicar e lutavamos pelas necessida-des dos bairros e da população, como guias, sargetas, asfalto ou qual-

quer outra coisa. (...) Trabalheina Mercedez Benz durante 9anos e quando tinha greve erao primeiro a sair e o último avoltar"34.

o município de Oiademalocalizado na sub-regiãosudeste da Grande São Paulodestaca-se pela importância

Diadema nasceu na Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha--

da atividade industrial juntamente com outros municípios da região doABC. Depois de São Paulo é considerado o maior em número deestabelecimentos e em valor da produção. Diadema e São Bernardoapresentaram na década de 60 os maiores índices de crescimento relativo à

atividade industrial.Ao analisarmos sua evolução entre o período de 60 até 80, perceberemos

o rápido crescimento de estabelecimentos industriais nacionais e multina-cionais dos diversos setores como: metalúrgico; mecânico, material elétri-co, comunicação e transporte; químico e borracha; papel e papelão; madei-ra e mobiliário; têxtil; e diversos. Muitas empresas que se localizavam emSão Paulo, transferiram-se da periferia paulistana para Diadema, buscandofacilidades do trânsito e o acesso aos principais eixos rodoviários que abran-gem o Vale do Paraíba, a Baixada Santista e o interior do Estado, ligandoSão Paulo e as demais regiões ao Porto de Santos, além de buscar um maiorespaço físico para exercer suas atividades.

A medida que foi se consolidando o espaço industrial, criaram-se condi-ções para a instalação de indústrias nascidas no próprio local. Muitas empre-sas tiveram sua razão social alteradas para produzir bens de consumo durá-veis, atendendo a demanda da indústria automobilística, situada no ABC.

130

'~firma ROBERTO L. GORDON, transferiu-se do bairro do Brásem São Paulo, para Diadema, porque havia necessidade de espaçopara expansão. O proprietário possuía o terreno em Diadema, anti-ga chácara para recreio, tendo construído um prédio de aproxima-damente 2.000 m2 onde instalou a fábrica em 1955/56. Esta indús-tria produziu, até 1960/61, acessórios para eletrodomésticos e bijute-rias. Nessa época, passou a fabricar acessórios para automóveis tendoentão alterado sua razão social para METALGAL - INDÚSTRIADE COMPONENTES AUTOMOBILfTICOS LIMITADA"35.

A empresa Reno também mudou o ramo de atividades como constamnos livros de registros e relatos mencionados por ele próprio. No final de1951 até meados de 1952, o senhor Milz criou seu segundo empreendi-mento que consistia em um projeto de fogões a querosene, chamado deSIGAZ, que significava "gás aqui mesmo". A empresa foi fundada oficial-mente em 09/05/1955 com a razão social de TÉCNICO MECANICARHENO - LTOA, com sede no bairro de Santo Amaro em São Paulo. Em

Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

131

17/10/1955, mudam-se para o bairro do Jabaquara, à Rua Mucuri, 117,

produzindo arruelas e elementos de fixação, tendo novamente sua razão soci-

al alterada para Seeger Reno. Com a necessidade de ampliação das instalaçõesda fábrica compram um terreno em Diadema, na antiga Estrada do T aboão -230, atual Avendida Prestes Maia, mudando-se no início de 1963"36.

As maioria das empresas estavam innstaladas ao longo da rodovia Anchieta

e rodovia dos Imigrantes no final dos anos 70, margeando um pequeno

trecho do Bairro de Piraporinha, atravessado pela avenida Fagundes de Oli-

veira que se estende paralelamente ao Ribeirão dos Couros e a Via Anchieta,

e onde se localizam algumas das indústrias mais antigas de Diadema37.

As leis de zoneamento para o uso do solo em Diadema reforçaram e

regulamentaram o espaço destinado para as unidades produtivas do setor

industrial e também para a habitação popular. "O caráter multiplicador da

indústria automobilística aliado, de um lado a localização de Diadema jun-

to aos dois municípios que concentram, desde meados da década de 1950,a produção automobilística brasileira - São Bernardo do Campo e São

Caetano do Sul, e de outro a época em que Diadema se definiu como área

industrial- a década de 60 -, sugere a busca das relações entre a implanta-

ção industrial nesse município e a proximidade das grandes indústrias ter-

minais do setor automobilístico"38.

A cidade que antes servia de dormitório aos trabalhadores da região, tem

seu cotidiano alterado, o crescimento da população no município de

Diadema, entre 1960 e 1970, intensificou-se, sendo considerado uma das

conseqüências do desenvolvimento industrial. Posteriormente o crescimento

populacional significou para indústria, em facilidades para absorção de mão-

de-obra. '~ comparação dos índices de crescimento da população de

Diadema e de sua mão-de-obra industrial confirma tal consideração. Entre

1960 e 1970 a população passa de 12.308 habitantes para 79.316, registran-

do-se um aumento de 544%; o pessoal ocupado na indústria passa de 632

para 9.622, com um aumento de 1.422,%. Assim, embora o crescimento da

população se intensifique no período em que Diadema se transformava em

área industrial, o da mão-de-obra é relativamente muito superior"39.

Dados extraídos da pesquisa realizada na empresa Seeger Reno, em 1994,

permite traçar uma comparação. Em 1955 a empresa começou suas ativi-

dades com apenas 5 (cinco) funcionários no bairro do Jabaquara, no ano

Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

132

1960 a empresa contava com 99 funcionários, no final do ano de 1964 já

estabelecida em sua sede no município de Oiadema, tinha 155 funcionári-

os e no final da década de 60 tinha 270 funcionários. Apesar da grande

rotatividade de funcionários percebemos que a empresa teve um aumento

relevante para o período, confirmando o exposto anteriormente4o.

O crescimento industrial de Oiadema esteve aliado a uma complexa engre-

nagem produtiva, intrinsecamente ligada até o final dos anos 70, ao processo de

substituição de importações, tendo como características a baixa qualificação da

mão-de-obra, grande heterogeneidade tecnológica, gerencial e financeira e, for-

te protecionismo externo e intervencionismo interno do Estad041.

O investimento de capital estrangeiro na indústria, principalmente no

setor de bens de consumo durável, destinado ao mercado interno incenti-

vou e permitiu o dinamismo da industrialização na década de 60 e 70.

Assim, o processo de internacionalização do mercado brasileiro presenciou

a queda do poder econômico e polftico dos setores ligados ao capital nacio-

nal, que se tornou parceiro menor na sua associação com os grupos

multinacionais e o Estad042.

A medida que cresceram as instalações de indústrias nas áreas periféricas,

aliou-se a grande riqueza à grande pobreza na paisagem da cidade de

Oiadema. A cidade suburbana foii se edificando ao poucos com a constru-

ção das principais avenidas fazendo o acesso a outros bairros periféricos da

cidade de São Paulo e da região do Grande ABC, interligando os pólos

industriais, as áreas de moradia e as rotas comerciais, levando e trazendo os

trabalhadores de suas casas para o trabalho. O relato de um antigo funcio-

nário da empresa Reno permite perceber a dimensão das contradições ur-

banas que surgiram durante o processo de industrialização.

'~ instalações do prédio da fábrica em princípio eram precárias,não existindo água encanada, somente um poço do qual era retira-do água para os funcionários beberem e lavarem-se. Não havia fo-gão e as marmitas a princípio eram esquentadas em uma fogueiraimprovisada. Depois, com o adiantamento das obras, o refeitóriofoi construido e os funcionários passaram a aquecer suas marmitasna cozinha do refeitório. O acesso à empresa era dificultoSQ, devidovias serem de terra, existindo apenas um único meio de transportecoletivo na região, um ônibus que vinha de São Bernardo que passa-~

Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha-

va por Diadema. Com o decorrer do desenvolvimento do municí-pio, os meios de transporte coletivos foram se ampliando na região.Para os funcionários antigos, os que vieram do Jabaquara, havia umcaminhão que os trazia até a empresa, porém para os funcionáriosque foram contratados depois da transferência, não podiam fazeruso deste transporte."43

133

A rápida industrialização dos anos 70 e 80 desencadeou um processo deassentamento urbano, as ruas e antigas estradas com o leito pavimentado,algumas vezes sem esta melhoria sequer, transformaram-se gradativamenteem avenidas equipadas com asfalto, guias, sarjetas e iluminação pública.Algumas delas são, com o tempo, alargadas se transformaram em rota prin-cipal para tráfego de ônibus, como a linha do troleiuus, fazendo conexãoentre São Paulo e a região do ABCD.

Abrigando cada vez mais contigentes populacionais, na maioria traba-lhadores, iniciou-se um processo de expansão de moradias, reservando asáreas centrais, melhor equipadas, para as camadas de médio e alto poderaquisitivo e segregando a classe trabalhadora nas múltiplas, longínquas erarefeitas periferias44, localizados em torno dos troncos ferroviários e rodo-viários. Diadema num curto espaço de tempo modificou suas feições, deuma área rural e voltada para o lazer corresponde a nova lógica redimensio-nando o uso do solo, constitui-se um novo espaço de áreas residenciais paraa força do trabalho e para a estrutura industrial.

Apesar do crescimento industrial ter se processado através de setores di-nâmicos transnacionalizados, as formas de exploração do trabalho apoia-ram-se na contenção salarial, na extensão da jornada e nas precárias condi-ções de trabalho, mas estendem-se a todos aqueles itens da cesta de consumoque determinam o valor da forçá de trabalho. Neste particular, desponta aimportância dos bens de consumo coletivo que o meio urbano deveria ofêre-cer através da mediação do Estado: transportes, saneamento, saúde, segu-

rança, educação e moradia45.A repercussão dos movimentos dos trabalhadores do grande ABC em

sua base territorial permitiu explicar as lutas coletivas, condiçõesdeorgani-zação e unificação em torno dos problemas, interesses e reivindicações quese desenvolvem naquele período. Outro dado importante analisado na pes-quisa, a CIPA - Comissão Interna para Prevenção de Acidentes - da em-

Oiadema nasceu na Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

presa Seeger Reno será abordado para podermos compreender as dimen-sões proporcionadas pela rápida industrialização interferindo nas relaçõesde trabalho dentro da fábrica e no meio social. A CIPA foi instituída naempresa Seeger Reno, em 26/07/61, de acordo com o registro do livro deAta, quando a mesma encontrava-se ainda no Jabaquara. A formação deum grupo que representasse esta comissão está vinculada a obrigatoriedadeda lei, pois as empresas que possuíssem funcionários regidos pela CLT, de-veriam ser representados nos diversos setores da empresa. Essa comissãodeveria ser formada por empregados e empregador, os quais deveriam sereleitos. Através da leitura e análise dos documentos e depoimentos nota-seque a comissão tinha função de registrar os acidentes e adotar medidas quenão comprometessem a empresa. Nos anos que vão de 1961 à 1966, amédia anual dos acidentes varia entre 54 pessoas ao ano (vide tabela 1),uma taxa bastante alta, verificando-se que média de funcionários no perío-do foi de 158 ao ano (Vide tabela 2). Nos registros encontrados nas atas dereunião da Comissão de Acidentes, a maioria deles teve como causa princi-pal a falta de instrução e treinamento dos funcionários no uso dos instru-mentos ou máquinas, pois eram contratadas sem qualquer qualificação parao cargo, a falta de proteção nos maquinários especificamente às prensasonde o número de acidentes era maior e a longa jornada de trabalho.

134

TABELA 1

Tabela dos acidentes do ano de 1961 a 1970

ANn 1961 ~ 19~~ '1963 11964 1196.~ 11966 j 1967 11968 I 1969 j 1970

HQmem 35 51 28 2g 27 54 28 "I) 30 o

i Mulher 23 32 15 1.4 8 4 o

I TOTAL GERAL 83 43 4' 6258 35 32 35 39 o

Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectivo do Cidade Vermelho

TABELA 2

Tabela da número de funclanárias de 1959 a 1970

I MÉO-;;;:-~

32.6

75.0

. Mês/AM ! 01 I o~ 10,1 ,~ 105 I 06 I 1>7 losI

09 110 I ,~ 117~959 1960

1961

1962~

1963

~ 964 1965

1966

1967

~~11970

,-I

52

108

65

121

,r, 65

156

145 i-179 i

78 77 92 105 99

107 123 131

154

155

1St

143.0

156.9164 I~R 164 \ 155 ~~I\6\\32

146

157176 m~ 1S'J 185169-151

157 ~ 157 123

177134

163

176

1361 158 148 1581 158 163 137

126

155.3

160

174

170

184

168 ~ 152 1351 136 149.0

1791 196 ~ 2091'11i 190 194 ~ 166 155

IS7

182.6

164.0170

1711

\81 ~ \55 172' 165 ~ 162 149 156

217

318,

349

158

241

179

167

258

314

\71 1841 189 ~ 2m "1'1 234 ~ 234 199.8

269.227R 296 I 307 305 ~ 314 I 320 311

'SI;

175 176 m316 337 I ~3S 311 ~ 3561 361 362 353 363 342.7

135

"Naquela época (1961 à 1970) haviam bastante acidentes, por cau-sa das máquinas ou por desatenção dos funcionários. Foram contra-tados muitos rapazes jovens que não conheciam a máquina direito.Recebiam pouca instrução sobre a manipulação das mesmas, geral-mente era o encarregado que ensinava o serviço.(...) Havia um ra-paz que trabalhou até as 11 :55, quando ele viu que faltava somente5 minutos da hora de terminar o serviço, voltou a trabalhar e per-deu dois dedos. Não havia segurança."46"Não havia material de proteção suficiente para todos os funcioná-rios. Você usava uma luva de proteção, quando a luva gastava umlado da mão, virava-se do avesso, passando a utilizar o lado de den-tro da luva, para que você pudesse continuar usando a mesma luva.Houve um dia que ele mandou (Sr. Milz), pega o rolo, e pode traba-lhar sem luva. Contudo era tão quente que saia até fumaça. Osfuncionários chamaram o Sr. Milz até a fábrica e mandaram que elepegasse o material sem as luvas. Ele disse: - É, realmente não dá

para pegar."47

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Ao analisarmos as duas tabelas percebemos que o número de acidentesera muito alta, sendo a média dos dez anos de 43 pessoas. A mutilaçãodevido a falta de equipamento de segurança no local de trabalho ocorriacom freqüência, sem falar na falta preparação do funcionário em manusearo maquinário e as próprias ferramentas. Ouvi nos depoimentos dos funci-onários relatando que muitos dos acidentes aconteciam devido a falta deconhecimento, á longa horas na jornada de trabalho e ao não preparo parautilizar os equipamentos e ferramentas, pois muitos eram contratados semqualquer qualificação, além da troca de emprego que era muito constanteneste período. Na entrevista de José Pires pude perceber que:

"Havía a CIPA., um organísmo que regísrrava os acídentes no lívro.A CIPA era só para mostrar que exístía, eles elegíam os representan-tes, escolhíam as pessoas, e no día de mostrar no síndícato, na justí-ça do trabalho, vínham com o lívro para que todos assínassem. Nãohavía eleíção para a representação na CIPA, escolhíam e pedíampara que assínassem a ata".

136A maioria desses trabalhadores começava a trabalhar muito cedo nas li-

nhas de produção de uma fábrica, na sua maioria com idade de 12 a 14anos de idade. De acordo com os relatos podemos perceber e confirmar oprocesso de perda da qualidade de vida da classe trabalhadora. Muitos di-reitos foram eliminados como o do direito de greve, o fim de qualquergarantia de estabilidade no emprego, a inexistência de contratos coletivosde trabalho. Estes são alguns dos fatores que explicam o fortalecimento dasposturas autoritárias, mantendo a disciplina e a produtividade na fábrica,ocultando as exaustivas e humilhantes condições de trabalho.

As conseqüências das modificações na política salarial introduzidas entre1964 e 1968 pelo regime militar, fixaram os salários bem abaixo do aumen-to do custo de vida, proporcionando uma queda de 23 % no salário real.Somente na segunda metade da década de 60 que a categoria teve seu índi-ce alterado com um aumento de 6%, devido a introdução do coeficiente decorreção inflacionária, contudo não repôs as perdas do período anterior. Asperdas salariais verificadas na década de 70 foram ainda maiores e fizeramcom que trabalhadores das grandes empresas montadoras de veículosautomotores perdessem seus privilégios como clubes, assistência médica,restaurante etc.

137

Contudo, o silêncio da classe trabalhadora foi quebrado por inúmerosmovimentos de greve, no final dos anos 70. O ABCD que desenvolvera oprincipal setor do país, a indústria automobilística e os inúmeros setorescoligados a ela, sentiram o início da crise do sistema político e econômico,marcado pelo arrocho salarial, rotatividade de emprego, intervenção gover-namental, crise social e um conjunto de aspectos que levaram ao processodas greves.

A greve representava um símbolo unificador de luta da classe trabalha-dora contra todas as condições de injustiça e a exigência dos direitos detrabalhadores, cidadãos e até mesmo seres humanos48. Na eclosão da greveem 1978, se deu pela proposta unificada de exigência de direitos como: osalário correspondente às necessidades e à quantidade de trabalho dispendidaao respeito pessoal, além de outras melhorias e garantias.

O movimento recuperou algo que estava escondido, a dignidade dostrabalhadores, que ap6s longos anos de dispersão e fragmentação, foramcapazes de unificarem-se numa ação coletiva, promovendo modificaçõessubstanciais no cotidiano desses trabalhadores.

A maior parte das empresas que situavam-se no ABCD e em São Pauloentraram em greve e a empresa Seeger Reno, localizada em Diadema, teve ade-são efetiva da maioria dos funcionários, como relatam em seus depoimentos.

Os anos 80, a crise mundial e do país afetou todos os setores ligados aexportação, mas principalmente o setor automobilístico. O governo ado-tou uma política de recessão e o setor empresarial apesar de crescer impôsmedidas de contenção, demitindo inúmeros trabalhadores deste setor.

Muitas das fábricas foram vendidas ou fechadas, algumas foram compra-das por grupos multinacionais e passam a implantar novas filosofias detrabalho - A Qualidade Total.

Essa nova perspectiva de trabalho visava qualificar o empregado introdu-zindo políticas de melhoria no setor produtivo, passou a exigir a qualifica-ção técnica dos funcionários através de cursos. A reestruturação produtivaconsistiu em um processo que compatibiliza mudanças institucionais eorganizacionais nas relações de produção e de trabalho, bem comoredefinições de papéis dos estados nacionais e das instituições financeiras,visando a atender às necessidades de garantia de lucratividade.49

Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

o movimento sindical ampliou sua área de atuação e passou a participardas discussões sobre a política de reestruturação, muito embora a classeempresarial se mantivesse marcada por práticas profundamente autoritári-as. A intervenção sindical nas fábricas principalmente no setor de auto-peças ocorreu de forma esporádica e muitas vezes desarticuladas, devido afraca implantação dos sindicatos nos locais de trabalho.

Os programas de qualidade enfatizaram a importância da ação em gru-po, daí a preocupação com o treinamento em técnicas para o desenvolvi-mento, visando garantir a lealdade dos trabalhadores, tendo em vista obte-rem uma maior produtividade e eficiência em troca de uma participaçãomínima. Os benefícios aos trabalhadores constituíam em preocupação se-cundária, em geral é suposto que eles devem ser intrínsecos (Satisfação eOrgulho) e não materiais. Os benefícios são restritos, apenas alguns comovale transporte, cesta básica, vale-refeição, assistência médica, servem a es-tratégias que buscam competitividade, redefinindo as formas de controledo processo de trabalho.

O controle e a disciplina nas fabricas buscam hoje inserir o país no mercadointernacional, no qual essa é uma das regras para melhoria da qualidade e dacompetitividade dos serviços produtivos. Com este novo modo de engenhariaindustrial, alterou-se a estrutura dos postos de trabalho e devido ao fenômenoda terceirização, as unidades produtivas foram fragmentadas, separando osoperários em unidades pequenas ou mesmo levando o trabalho produtivo paraos espaços domésticos. Os sindicatos e os movimentos sociais sofreram pro-fundas alterações e o desemprego passou a ser a marca dos fins da década de1990. Estes fenômenos jogaram os direitos dos trabalhadores ao começo doséculo XX, encerrando o milênio com indagações que ainda não podem serrespondidas, devido aos impasses do devir. A cidade de Diadema que se trans-formou ao longo da década de 1980 na cidade da cidadania, luta hoje com oselevados índices de violência e com o retomo da infância negada.

138

Notas

IDEAN, Warren. A Industrialização de São Paulo (1880-1945), São Paulo:

DIFEL. 1971. p.14.

Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelh..

139

2 ESTUDOS AVANÇADOS 69140, 1992 IN Antônio Paim. História das

idéias filosóficas no Brasil. Rio de Janeiro, 3a ed., 1984; Jeovah Motta.Formação do oficial do Exército. Rio, 1976.3 ROLNIK, Raquel. São Paulo, início da industrialização: o espaço e a po-

lítica. 1994, 2a ed.,P. 97.4 Jornal do Comércio, 30 de março. 1900. IN: Minami, 1983.

5 ANDRADE, Margarida Maria. Diadema uma área de expansão da Indús-

triana Metrópole Paulistana, 1979. IN LANGENBUCH,J.R.. Estruturaçãoda Grande São Paulo, Fundação IBGE, Rio de Janeiro, 1971. Para atenderas necessidades de crescimento de São Paulo, as cidades a sudoeste do aglo-

meradopassam a receber unidades produtivas e as ol::'iias continuaram a sero setor dominante até 1960.6 PENTEADO, Antônio Rocha. Os subúrbios de São Paulo e suas funções,

IN a cidade de São Paulo, Vol. IV, AGB-SRSP, Cia. Editora Nacional, 1958,

p.12.7 DEAN, W. Op. Cito P. 99.

8 ROLNIK, Raquel. São Paulo, início da industrialização: o espaço e a políti-

ca, IN As lutas sociais e a cidade. São Paulo: Passado e Presente., 1994, P. 97.9 Santo André Cidade e Imagens, Prefeitura do Município de Santo André,

1992,P. 51.10 FRENCH, John. O ABC dos Operários - conflitos e alianças de classe

em São Paulo (1900-1950), 1995, São Caetano do Sul, P. 19-20.I1 FRENCH, J. Op. Cito P.19-20.

12 Entrevista concedida pelo Sr. Agenor de Oliveira, Centro de Memória, 1996.

13 BERNARDI, Maria Helena Petrillo. Santo Amaro, P. 86-87.

14 MOTOYAMA, Shozo (org.). Indústria da construção e a tecnologia no

BrasillN tecnologia e Industrialização no Brasil, Capo I, 1994, p. 29.15 STIEL, 1978; BONDUKI, 1980. IN L. KOVARICK E--C. ANJ. Cem

anos de promiscuidade: o cortiço na cidade de São Paulo,1994, P. 8Õ~16 Burocracia: Adminstração da coisa públLca p<?r funcionários, sujeitos ahierarquia e regulamentos rígidos. - - -- --- - - -' .

17 O Estado de São Paulo - 04 de abril-e 10 e 19 de illlhn ~p l<)~O

Diadema nasceu na Grande ASC: História RetrosDectiva da Cidade Vermelha

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18 CARONE, Edgard. O Pensamento Industrial no Brasil (1880-1945),

OIFEL, 1977, P.15.19 OEAN, w: Op.Cit. p.219-220.

20 Entrevista concedida por Antônio Martins em 20/01/99.

21 Santo André Cidade e Imagens. Op.Cit. P. 52.

22 WEFFORT, F. Op. Cito pp. ?

23 ANDRADE, M. M. Op. Cito P. 32.

24 CARONE, Edgard. A Terceira República (1937-1945), São Paulo - Rio

de Janeiro, 1976, P. 316-328.25 CARONE, E. Op. Cito Pp. 316-328.

26 FRENCH, J.O. Op. Cito pp 177.

27 FAORO, R. Existe um pensamento político brasileiro?, 1994, pp. 102-

115. "O desenvolvimento do país se daria com o milagre da industrializa-ção rápida, e sob a vigilância de uma república ditatorial, criar-se-ia, fo-mentar-se-ia, estimular-se-ia uma classe de empresários, sempre tutelados.(...) foi uma industrialização em que os industriais não tiveram voz no pro-jeto - eles se transformaram, em escala sem precedentes na história nacio-

nal, e, concessionários de favores oficiais."28 Entrevista concedida pelo Sr. Agenor de Oliveira, em 1996 - Centro de

Memória de Oiadema.29 Recenseamento do IBGE do ano de 1960 à 1970.

30 CANO, Wilson, Raízes da Concentração Industrial em São Paulo, Difel,

Rio de Janeiro-São Paulo, 1977,p. 15.31 Entrevista concedida pelo Sr. Goswin Milz, em 20/03/93, Ind. E com.

Seeger Reno.32 Entrevista concedida pelo Sr. Goswin Milz em 29/03/93. Arquivo da

Empresa Seeger Reno, Oiadema - São Paulo.

33 SAMUEL, Raphael. "História local e história oral", in Revista Brasileira

de História, n° 19, set. 89/fev.90 e VARUSSA, Rinaldo José. "Pensando apaisagem como documento para a história local", in Bolando aula de His-tória, n° 8, out. 98.

Diadema nasceu no Grande ASC: História Retrospectivo do Cidade Vermelho

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34 Depoimento do senhor Paulo Barbosa de Oliveira ao Centro de Mem6-

ria de Diadema em 08/02/1995.35 ANDRADE, Margarida Maria de. "Oiadema - uma área de expansão da

indústria na metr6pole paulistanà'. São Paulo, 1979, pago 26.36 Dados extraídos de entrevista concedida pelo Sr. Goswin Milz, em 20/

03/93, Ind. Com. Seeger Reno e livros de ata do acervo da empresa.37 ANO RAO E, Margarida Maria de. "Diadema - uma área de expansão da

indústria na metr6pole paulistanà', São Paulo, 1979, pago 32.38 Ibid, pago 28.

39 Ibid, pago 121.

40 Hist6ria da Seeger Reno, pesquisa realizada pela estagiária Silmara Cristiane

Fonseca em 1994. Fontes e documentos encontram-se nos arquivos parti-culares da empresa.41 Lúcio Kovarick e Milton A Campanário. "As lutas sociais e a cidade - São

Paulo: Passado e Presente, pago 53, 1994.42 EVANS, 1979; CARDOSO E FALETTO, 1979.

43 Entrevista concedida em 07/03/94, pelo Sr. Mauro Gonçalves, funcioná-

rio da Seeger Reno.44 KOVARICH E CAMPANARIO, S.P.: Metr6pole do subdesenvolvimen-

to industrializado, 1994, pg. 61.45 Ibid, pago 61.

46 Entrevista concedida em 07/03/94, com Sr. Mauro Gonçalvez, funcioná-

rio da Seeger Reno.47 Entrevista concedida em 22/03/94, pelo Sr. José Pires, funcionário da

Seeger Reno.48 WEIL, Simone. A condição operária e outros estudos sobre a opressão.

Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.49 CORRM, Maria Baumgarten. Reestruturação Produtiva e Industrial-

Trabalho e Tecnologia. Editora da Universidade e Editora Vozes, 1997, pp.202-205.