di as m e l h o re s cap Í t ul o 05 m e g ap … — tem que ser forte, pam. e eu vou te ajudar,...

DIAS MELHORES CAPÍTULO 05 MEGAPRO

Dias Melhores CAPÍTULO 05

NOVELA DE

VITOR ABOU

DIREÇÃO DE

LUCAS LUCIANO

WESLLEY VITORITTI

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO

BELA JADER TATO

BETE LAURO TECA

CLEISON LEOCÁDIA TIAGO

DÉBORA LUMA TÚLIO

GIOVANE MEIRE VALTER

HENRY MIRNA VICENTE

IEDA SOL VITÓRIO

IRACI TAÍS VIVIAN

Esta é uma obra de ficção baseada na livre criação artística e sem compromissos com a realidade. Todos direitos reservados ao autor.

CENA 01/ HOSPITAL/ RECEPÇÃO/ NOITE/ INT.

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CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR. RUI, PÂMELA E LÍGIA EM FRENTE AO MÉDICO, TODOS EM PÉ.

MÉDICO — Como eu disse, o impacto foi muito forte e isso acabou deixando a Lígia paraplégica.

PÂMELA — (incrédula) Que?

ISADORA, PÂMELA E RUI SURPRESOS. ISADORA E PÂMELA SE ABRAÇAM E COMEÇAM A CHORAR.

PÂMELA — Ai, Isa.

ISADORA — Fica calma, amiga.

PÂMELA — Ela vai ser uma inválida.

ISADORA — Não, claro que não.

MÉDICO — Não é bem assim, não. Claro, a rotina dela vai mudar muito, mas muitas coisas ela vai poder continuar fazendo.

PÂMELA — (chorando) A gente tinha que ter levado ela pra outro hospital. Culpa minha!

ISADORA — Não se culpe, Pâmela. Não faça isso com você mesma. Essa dor da culpa é cruel. Você não tinha o que fazer.

PÂMELA — Eu me afastei dela. Se a gente ainda tivesse junta/

ISADORA — Esquece ‘‘se isso’’, ‘‘se aquilo’’. Vamos focar no que tá acontecendo, tá?

PÂMELA — (cabisbaixa) Vou tentar.

MÉDICO — Infelizmente, não queria estar dando essa notícia para vocês, mas foi o que aconteceu. Ela teve uma lesão grave na medula espinhal. Tentamos de tudo, mas não tinha mais o que se fazer.

PÂMELA — Então ela não vai mais poder andar, doutor?

MÉDICO — Isso é uma coisa complicada. Ela perdeu o movimento dos membros inferiores, sim, mas a fisioterapia tem resultados ótimos em alguns pacientes.

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ISADORA — Além disso, como tá a Lígia? Ela tá com outro problema?

CLOSES ALTERNADOS ENTRE ISADORA, PÂMELA E O MÉDICO, TODOS TENSOS. CORTA PARA/

CENA 02/ CASA DOS SIQUEIRA/ SALA DE ESTAR/ NOITE/ INT.

HENRY SENTADO NO SOFÁ, ASSISTINDO À TELEVISÃO. LAURO, AO LADO, MEXENDO EM SEU CELULAR.

LAURO — E aí, seu Henry, como foi a peça do Elói? Queria tanto ter ido…

HENRY — Você e Vivian perderam. Foi muito bom.

LAURO — E como o Elói tava?

HENRY — Ele fez a árvore. E fez muito bem. Ele tem talento. Me lembrei da vó dele, a Elinalva.

LAURO — Eu não cheguei a conhecer ela. Mas a Vivian já falou sobre ela. Era atriz, né?

HENRY — Sim, Elinalva Camareli, uma das maiores atrizes do teatro brasileiro.

LAURO — O senhor ainda sente falta dela?

HENRY — Impossível não sentir. Mas meu coração agora é de Gracimara.

LAURO — Mas voltando a falar da peça, seu Henry, o Elói não ficou chateado da gente não ter ido não?

HENRY — Ficou um pouco, eu acho. Os amiguinhos todos estavam com os pais lá. Mas eu achei estranho também que ele pediu pra gente sair logo, não ir falar com os meninos.

LAURO — Eu tô achando que ele tá tendo algum problema com uns garotos da turma.

HENRY — Fiquei com essa impressão também.

LAURO — Vou falar com a Vivian pra gente conversar com a

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professora dele.

HENRY — Faz bem. Vou puxar esse assunto com ele também.

LAURO — Obrigado, seu Henry.

LAURO VOLTA A MEXER NO CELULAR. CAM VAI SE AFASTANDO. CORTA PARA/

CENA 03/ HOSPITAL/ RECEPÇÃO/ NOITE/ INT.

CONTINUAÇÃO DA CENA 01. ISADORA E PÂMELA ENCARANDO O MÉDICO, NERVOSAS.

MÉDICO — A princípio, não, mas é importante a gente continuar observando, porque alguns problemas demoram a aparecer.

ISADORA — Entendi. Ela tá consciente?

MÉDICO — Devido aos remédios, ela ainda está um pouco sonolenta. Quando ela acordar, iremos verificar se houve perda de memória ou algo semelhante.

PÂMELA — Obrigada, doutor. Minha irmã é muito importante pra mim.

RUI — (baixo) Até parece. Cagou pra ele durante anos..

PÂMELA — Cala a boca, Rui. Eu amo a Lígia, mesmo longe dela durante esse tempo todo.

RUI — Tá bom. Não falo mais.

ISADORA — Mas quando a gente vai poder ver ela, doutor?

MÉDICO — Assim que ela acordar, vamos fazer algumas perguntas para ela, como eu disse, depois disso, vocês poderão falar com ela.

ISADORA — Ah, sim. Obrigada.

MÉDICO — Agora, vocês me deem licença, porque eu preciso atender os outros pacientes, enquanto a Lígia está dormindo ainda.

PÂMELA — Tudo bem. Desculpa, doutor. E obrigada, de novo.

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MÉDICO — Eu entendo. Até mais. Licença.

O MÉDICO SAI.

ISADORA — Rui, tem como cê pegar um café pra gente?

RUI — Tem. Vou lá.

RUI SAI. ISADORA E PÂMELA, ABRAÇADAS, SENTAM-SE NOS ACENTOS. PÂMELA AINDA CHORANDO, ABALADA. CORTA PARA/

CENA 04/ CASA DE TECA/ SALA/ NOITE/ INT.

PETERSON DEITADO NO SOFÁ, COM A MÃO DENTRO DO SHORT. GRACILENE ENTRA, ENJOADA.

PETERSON — Que cara é essa, Gracilene? Tá passando mal?

GRACILENE — Ai, eu tô cansada e enjoada também.

PETERSON — Ih, enjoada… Pode ser gravidez…

GRACILENE — Vira essa boca podre pra lá, Peterson. E tira essa mão daí. Coisa nojenta.

PETERSON — Tudo bem, mãe.

GRACILENE — Ai, vou pro meu quarto. Tia Leocádia já chegou?

PETERSON — Ainda não. Por quê?

GRACILENE — Queria falar com ela. Não tem mais ninguém aqui não?

PETERSON — Não. Vovó tá rodando. Os nossos velhos tão vendendo salgado na saída do culto.

GRACILENE — Gracimara tá no namoradinho ainda?

PETERSON — Parece que sim, né.

GRACILENE — Tá. Vou subir.

GRACILENE SOBE AS ESCADAS. PETERSON AINDA DEITADO NO SOFÁ. CORTA PARA/

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CENA 05/ HOSPITAL/ QUARTO/ DIA/ INT.

PÂMELA E ISADORA EM PÉ, DIANTE DE LÍGIA, DEITADA, COM TUBOS E FIOS MÉDICOS. ELA ABRE OS OLHOS, LENTAMENTE. ISADORA E PÂMELA SURPREENDEM-SE E SE APROXIMAM DA CAMA.

PÂMELA — Lígia, Lígia.

LÍGIA — (sonolenta) Oi. Onde eu tô?

PÂMELA — (emocionada) Ai, Lígia, que bom que cê acordou. A gente tá no hospital.

LÍGIA — Hospital? O que aconteceu?

ISADORA — Oi, Lígia. Você se machucou.

LÍGIA — Isadora! Quanto tempo!

ISADORA — Sim. Saudades das nossas brincadeiras na rua.

LÍGIA — Também. Nós três, Taís, Heitor,...

ISADORA — Também sinto saudades. Demais até.

LÍGIA, INQUIETA, COMEÇA A MEXER SEUS BRAÇOS. ELA TOCA O PRÓPRIO ROSTO E SENTE OS CURATIVOS. ELA OLHA PARA AS PERNAS E COMEÇA A SE DESESPERAR.

LÍGIA — (desesperada) Pâmela! Pâmela! Minhas pernas… as minhas pernas… elas não tão mexendo. (chora)

PÂMELA — Tenta se acalmar, Lígia.

LÍGIA — Me acalmar? Eu não mexo as minhas pernas!

PÂMELA — (chorando) Lígia, por favor.

LÍGIA — (grita) EU TÔ PARAPLÉGICA?!

PÂMELA — (chorando) Minha irmã, sim.

LÍGIA — (incrédula/chorando) Não! Não! Não!

LÍGIA COMEÇA A SE BATER. OS APARELHOS COMEÇAM A APITAR.

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PÂMELA — (p/ Isadora) Chama uma enfermeira.

ISADORA SAI.

PÂMELA — Lígia, você tá viva. Pensa por esse lado.

LÍGIA — Pra você, é fácil. Não é você que não tá mexendo as pernas.

ISADORA E UMA ENFERMEIRA ENTRAM, CORRENDO. CORTA RÁPIDO PARA/

CENA 06/ HOSPITAL/ CORREDOR/ NOITE/ INT.

ISADORA E PÂMELA EM PÉ. PÂMELA CHORANDO.

PÂMELA — Ai, amiga, eu não sei o que fazer.

ISADORA — Tem que ser forte, Pam. E eu vou te ajudar, assim como você e a Lígia me ajudaram quando meus pais me expulsaram de casa.

PÂMELA — Obrigada. Mas o que eu faço MESMO? Os tratamentos de fisioterapia costumam ser caríssimos. E eu não tenho tanto dinheiro assim.

ISADORA — Você e o Rui tão vivendo do quê?

PÂMELA — De reserva mesmo e de uns aluguéis. Mas não é grande coisa.

ISADORA — Por que cê não volta a trabalhar?

PÂMELA — Trabalhar com o quê, Isa?

ISADORA — Você fez administração, Pâmela. Tem tanta coisa.

PÂMELA — Mas você sabe que eu não sou chegada em trabalho.

ISADORA — Eu sei. Mas não tá precisando?

PÂMELA — (cabisbaixa) Tô.

ISADORA — Então é a hora de ir atrás. Eu posso ver lá na livraria.

PÂMELA — Naquela onde cê trabalha?

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ISADORA — Isso. Vou perguntar pra Leocádia amanhã. Pode ser?

PÂMELA — Pode. Obrigada pela força.

ISADORA — Não precisa agradecer. Amiga serve pra isso, mesmo tanto tempo separada.

PÂMELA E ISADORA SE ABRAÇAM. CORTA PARA/

CENA 07/ CASA DE TAÍS/ SALA/ NOITE/ INT.

GIOVANE SAINDO. TAÍS FECHA A PORTA.

MIRNA — Já foi tarde.

VICENTE — Coitado do garoto, Mirna.

MIRNA — Ah, Vicente, não venha defender esse cafajestezinho aqui não, hein.

VICENTE — Tá bom. Não tá mais aqui quem falou.

TAÍS — Parece que a situação da Lígia piorou. Isadora só mandou uma mensagem falando que depois falava comigo.

MIRNA — Dessa eu tenho pena. A Lígia sempre foi uma fofa. Vou pedir para minha Nossa Senhora. Até amanhã, filha. Boa noite.

TAÍS — Vou dormir também. Bença, mãe.

MIRNA — Deus te abençoe.

TAÍS ABRAÇA MIRNA. CAM VAI SE AFASTANDO. CORTA PARA/

CENA 08/ MUNIZ EDITORIAL/ SALA DE VITÓRIO/ NOITE/ INT.

VITÓRIO SOZINHO, SENTADO, LENDO ALGUNS PAPÉIS. IEDA ENTRA.

VITÓRIO — Podia ter batido na porta.

IEDA — Ai, Vitório, sem essas bobagens. Pelo amor! Eu já tô indo embora.

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VITÓRIO — Tiago vai ficar mais um pouco?

IEDA — Tiago já foi.

VITÓRIO — Realmente, ele trabalha muito, hein.

IEDA — Também acho. Tiago, pelo menos, não ferra a empresa da família, né.

SILÊNCIO.

VITÓRIO — (cabisbaixo) Vou daqui a pouco.

IEDA — Tá. E outra coisa: desocupa essa sala logo.

VITÓRIO — (sem entender) Que? Desocupar?

IEDA — Isso mesmo. Essa sala é minha. A sua vai ser lá no fim do corredor.

VITÓRIO — Mas não tem sala vaga lá.

IEDA — O antigo depósito. Mandei o faxineiro dar uma limpadinha, colocar mesa e cadeiras. Dá pro gasto.

VITÓRIO — Não acredito numa coisa dessas.

IEDA — Pois pode ir se acostumando. Você tem que dar graças a Deus e a mim por ainda ter esse emprego.

VITÓRIO — Ai, como você consegue ser tão baixa?

IEDA — Aprendi com você, filhote. Até mais.

IEDA SAI, RINDO. VITÓRIO, IRRITADO, DÁ UM SOCO NA MESA. CAM VAI SE AFASTANDO. CORTA PARA/


HENRY E LAURO SENTADOS NO SOFÁ. VIVIAN CHEGA.

HENRY — Boa noite, filha. Tudo bom?

VIVIAN DÁ UM BEIJO EM LAURO E ABRAÇA HENRY.

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VIVIAN — Tudo bom, paizinho.

LAURO — Calma, amor. Você não pediu demissão, não?

VIVIAN — Não.

LAURO — Ué, mudou de ideia?

VIVIAN — Sim! Eu tive uma ideia pro livro.

HENRY — Que bom, minha filha. É sobre o quê?

VIVIAN — Vai ser tipo um diário de uma moça jovem, simples, mãe solteira.

HENRY — Legal. Já mostrou pro Vitório?

VIVIAN — Já. Mas teve mó confusão lá hoje.

LAURO — Confusão? Como assim?

VIVIAN — O Vitório foi afastado da direção.

HENRY — Que? Quem fez isso?

VIVIAN — A dona Ieda, mãe dele. Ela ficou sabendo da crise da editora e surtou lá, dizendo que não confia mais nele.

LAURO — Ela demitiu o filho?

VIVIAN — Não, só tirou da direção por um tempo. Ela vai assumir por enquanto.

HENRY — Que loucura, hein, Vivian. Tudo isso hoje?

VIVIAN — Sim. Ela ainda falou que vai ter corte de pessoal por causa de despesa.

LAURO — O clima lá deve estar péssimo, né.

VIVIAN — Sim, ainda mais porque todo mundo morre de medo dela.

HENRY — Eu e Ieda já fomos grandes amigos.

VIVIAN — Até demais, né, papai.

HENRY — Eu nunca tive nada com ela, Vivian.

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VIVIAN — Ah, tá. E eu me chamo Xuxa Meneghel. (ri)

HENRY SÉRIO. ELÓI ENTRA SALTITANDO, SEGURANDO UM TABLET.

VIVIAN — Que isso, Elói? É o Bambi?

HENRY E LAURO OLHAM, IMEDIATAMENTE, PARA VIVIAN, ENCARANDO-A, SÉRIOS. CORTA PARA/

ABERTURA


CONTINUAÇÃO DA CENA 09. LAURO E HENRY ENCARANDO VIVIAN. ELÓI PARALISADO.

HENRY — VIVIAN!

VIVIAN — Que foi, pai?

HENRY — Não fala assim com o Elói.

VIVIAN — Ah? Ele que não pode ficar saltitando que nem um Bambi, uma bicha. Já não basta ficar fugindo do futebol pra assistir aula de dança. Deus me livre ter filho viado, hein. Já corto logo. Não sou obrigada.

ELÓI, EM CHOQUE. ELE SAI, CHORANDO.

LAURO — Vivian, ele não tem oito anos. Pelo amor de Deus! Que coisa ridícula que cê fez.

LAURO SAI, ATRÁS DE ELÓI.

VIVIAN — Ridículo é apoiar viado. Não fiquei com ele nove meses na barriga pra ser gay não. É filho meu e vai ter que me obedecer.

HENRY — Onde você aprendeu isso? Eu não te eduquei assim, filha.

VIVIAN — O mundo ensina isso, papai, porque não quero daqui a uns anos ver meu filho morto ou com o corpo sumido por aí por ter levado porrada na rua.

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HENRY — Mas pra evitar isso você vai reprimir o menino?

VIVIAN — Não é reprimir, é ensinar a se comportar. (T) Ah, cansei disso. Vou pro meu quarto. Boa noite!

VIVIAN SAI, IRRITADO. HENRY NO SOFÁ, INCONFORMADO. CORTA PARA/

CENA 11/ HOSPITAL/ CORREDOR/ NOITE/ INT.

ISADORA EM PÉ, MEXENDO EM SEU CELULAR. ALGUMAS PESSOAS PASSANDO. ELA FAZ UMA LIGAÇÃO.

ISADORA — Oi, Taís.

TAÍS (OFF) — Oi, amiga. Tudo bem aí?

ISADORA — Então, as notícias não são das melhores.

TAÍS (OFF) — O que foi? A Lígia morr/

ISADORA — (corta) Não, não. Mas ela perdeu o movimento das pernas.

TAÍS (OFF) — Ah, coitada, Isa. Ela tá bem?

ISADORA — Ela ficou bem mal depois de saber que tá paraplégica.

TAÍS (OFF) — Tadinha, né. Sempre gostou de fazer corrida, maratona, tudo isso.

ISADORA — Pois é. Mas os médicos estão com esperança que ela vai conseguir se recuperar.

TAÍS (OFF) — Tomara. Mas, Isa, você vai ficar aí?

ISADORA — Vou sim, Tatá. Tem como vocês cuidarem da Belinha?

TAÍS (OFF) — Claro.

ISADORA — Ah, mas e amanhã?

TAÍS (OFF) — Vou ver aqui com meus pais. Fica tranquila. Amanhã a gente se vê direto na livraria, então?

ISADORA — Isso. Brigada, miga. Beijo.

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TAÍS (OFF) — De nada. Até amanhã. Manda um beijo pra Pâmela.

ISADORA — Pode deixar. Tchau.

ISADORA DESLIGA O TELEFONE. CORTA PARA/

CENA 12/ STOCK SHOTS/ RIO DE JANEIRO/ DIA/ EXT.

SONOPLASTIA: AMBIENTE - J BALVIN

AMANHECE. IMAGENS AÉREAS DO NASCER DO SOL, NO RIO DE JANEIRO. CAM SOBREVOA AS PRINCIPAIS PRAIAS. VAI SE APROXIMANDO DE UMA ÁREA DE PRÉDIOS ALTOS E LUXUOSOS. CORTA PARA/

CENA 13/ HOSPITAL/ QUARTO/ DIA/ INT.

LÍGIA DEITADA NA CAMA, DORMINDO. ISADORA E PÂMELA SENTADAS EM POLTRONAS AO LADO DA CAMA. SONOPLASTIA CESSA.

ISADORA — Ai, já tá na minha hora, amiga.

PÂMELA — Você vai pra livraria agora?

ISADORA — Vou.

PÂMELA — Vê com a gerente a vaga pra mim, então, Isa.

ISADORA — Vai querer mesmo?

PÂMELA — Vou. Não tenho tanta escolha. Esses tratamentos da Lígia são caros.

ISADORA — Tá, pode deixar. Vou conversar com a Leocádia.

PÂMELA — Obrigada por tudo. Você reapareceu no momento certo.

ISADORA — (ri) Pois é. Mas deixa eu ir. Depois a gente se fala.

PÂMELA — Tá certo. Obrigada de novo.

ISADORA PEGA SUA BOLSA E SAI. PÂMELA CONTINUA SENTADA, PENSATIVA. CORTA PARA/

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CENA 14/ MUNIZ EDITORIAL/ SALA DE VIVIAN/ DIA/ INT.

VIVIAN SENTADA, MEXENDO NO COMPUTADOR. BATIDAS NA PORTA.

ERON (OFF) — Sou eu, Eron.

VIVIAN — Pode entrar.

ERON ENTRA.

ERON — Vim saber se você quer alguma ajuda com o livro, já que vou ser o revisor, né.

VIVIAN — Ajuda sempre é bom, né.

VIVIAN LEVANTA-SE E, SEM QUE ERON VEJA, ABRE O ZÍPER LATERAL DE SEU VESTIDO. ELA SE SENTA NA MESA, PERTO DE ERON.

VIVIAN — Agora mesmo tô precisando da sua ajuda, Eron, pra fechar esse zíper.

ERON TROCA OLHARES COM VIVIAN. ELE FECHA LENTAMENTE O ZÍPER DO VESTIDO DELA.

ERON — Quer mais alguma ajuda?

VIVIAN LEVANTA-SE DA MESA E VOLTA PARA SUA CADEIRA.

VIVIAN — Não, só isso mesmo.

ERON — E sobre o livro?

VIVIAN — Te chamo depois. Pode ser?

ERON — Claro. Vou ficar esperando.

VIVIAN — (baixo) Assim que eu gosto.

ERON — Como? Não entendi.

VIVIAN — Eu disse: Fica tranquilo.

ERON — Ah, tá. Até mais então.

VIVIAN — Até.

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ERON SAI. VIVIAN SE ABANANDO COM UMA DAS MÃOS.

VIVIAN — Ui. Esse Eron…

CAM VAI SE AFASTANDO. CORTA PARA/

CENA 15/ MUNIZ EDITORIAL/ NOVA SALA DE VITÓRIO/ DIA/ INT.

SALA PEQUENA, COM POUCA ILUMINAÇÃO. NO CENTRO, UMA MESA DE MADEIRA COM UM COMPUTADOR E ALGUNS PAPÉIS, AO LADO DE UMA CADEIRA PRETA. EM UMA DAS PAREDES, DUAS POLTRONAS ANTIGAS E UM PEQUENO ARMÁRIO DE MADEIRA. MEIRE E VITÓRIO ENTRAM E ACENDEM TODAS AS LUZES.

MEIRE — É aqui, seu Vitório, sua nova sala!

VITÓRIO — Esse era o depósito, não era?

MEIRE — Sim. Cleison e os rapazes da manutenção fizeram um milagre nisso aqui.

VITÓRIO — Mas tá com um cheiro de mofo que, olha…

MEIRE — Tem razão, seu Vitório.

VITÓRIO — Não tem outra sala vaga não, né, Meire?

MEIRE — Não. Tinha a daqui do lado, mas o está com o seu irmão agora.

VITÓRIO — Ah, onde já se viu, né? Eu com uma sala dessa e o Tiago, que não faz NADA, com aquela lá, cheia de equipamento novo.

MEIRE — Pois é, seu Vitório. Com todo o respeito, mas a dona Ieda deu uma surtada, né.

VITÓRIO — Também acho. Fez tempestade em copo d’água.

MEIRE — Sim. O senhor me desculpe, mas eu tenho que voltar pra minha mesa. Qualquer coisa, pode ligar.

VITÓRIO OLHA PARA OS LADOS, PROCURANDO POR ALGO.

VITÓRIO — Mas não tem telefone aqui.

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MEIRE — Vixi. Então grita. (ri)

VITÓRIO — É o que vai restar. Obrigado, Meire. Pode ir.

MEIRE — Com licença.

MEIRE SAI. VITÓRIO SENTA-SE NA CADEIRA, DESCONFORTÁVEL. ELE FICA OLHANDO AO REDOR DA SALA, ENQUANTO BALANÇA A CABEÇA PARA OS LADOS. CORTA PARA/

CENA 16/ CASA DE TAÍS/ COZINHA/ DIA/ INT.

MIRNA COLOCANDO CAFÉ EM UMA XÍCARA. TAÍS TOMANDO CAFÉ E COMENDO UM PÃO, COM PRESSA. VICENTE CHEGA, CARREGANDO UM JORNAL.

MIRNA — Come devagar, minha filha.

TAÍS — É que eu já tô atrasada, mãe.

VICENTE — E a Bela? Vai ficar aonde? Cê não folga hoje não, né, amor?

MIRNA E TAÍS OLHAM FIXAMENTE PARA VICENTE.

VICENTE — Pera. Comigo? Eu tenho trabalho.

TAÍS — Eu também, paizinho.

MIRNA — E eu também. Você pode deixar ela lá na banca, num cantinho.

VICENTE — Mas banca de jornal não é lugar pra uma menina de 3 anos, né.

MIRNA — Também acho, mas a Isa não tem com quem deixar. Vamos ajudar até ela arrumar alguém.

VICENTE — Essa criança já não tá em idade de creche, não?

TAÍS — Só é obrigatório com 4.

VICENTE — Ah, mas você começou cedo, lembra, Mirna?

MIRNA — Lembro. Mas, de qualquer forma, Vicente, quebra esse galho, hein.

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VICENTE — Tá. É bom que a Gracilene gosta de criança…

TAÍS — Pronto! Resolvido! Agora tô indo. Beijo. Amo vocês.

TAÍS SAI, APRESSADA.

VICENTE — Quanta pressa. E o Maicon, amor? Melhorou?

MIRNA — Acho que sim. Falei pra ele ir pra aula hoje.

VICENTE — Certo. Vou tomar um banho. Até mais tarde.

MIRNA E VICENTE SE BEIJAM. CORTA PARA/

CENA 17/ LIVRARIA LIVRONÁTICOS/ DIA/ INT.

LOJA AINDA ESCURA. ISADORA ABRINDO. ELA ENTRA E ACENDE AS LUZES. ELA ANDA, DEVAGAR, ATÉ O BALCÃO, ONDE VÊ VÁRIOS PANFLETOS.

ISADORA — Ah, da editora Muniz aqui...

ZOOM NO PANFLETO: TÍTULO ‘‘MUNIZ EDITORIAL NA LIVRANÁTICOS!’’, ABAIXO, UMA FOTO DE VITÓRIO, COM A LEGENDA ‘‘DIRETOR DA MUNIZ EM BATE-PAPO COM LEITORES’’.

ISADORA — Que gato!

CLOSE EM ISADORA, ADMIRANDO A FOTO DE VITÓRIO. CORTA PARA/

CENA 18/ MUNIZ EDITORIAL/ SALA DE VIVIAN/ DIA/ INT.

VIVIAN MEXENDO NO COMPUTADOR. BATIDAS NA PORTA.

MEIRE (OFF) — Sou eu, a mulher mais gata dessa editora.

VIVIAN — Entrada, tucana.

MEIRE ENTRA.

MEIRE — Olha, dona Vivian, não gosto dessa de tucana, hein.

VIVIAN — Ah, não. Mimimi aqui não.

MEIRE — Tá bom. Eu vim avisar que a dona Ieda vai fazer uma reunião daqui a pouco com algumas pessoas da empresa e pediu

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pra te falar.

VIVIAN — Reunião sobre o quê?

MEIRE — Parece que é sobre algumas novidades aí e aquele evento de divulgação nas livrarias.

VIVIAN — Ah, já tinha esquecido disso.

MEIRE — Eu não tô aguentando a dona Ieda.

VIVIAN — Já tá arregando, Meire?

MEIRE — Não, mas ela é um porre. E tá me explorando também. Mandou eu ir na reunião também.

VIVIAN — Será que ela já mandou alguém pra rua? Porque ontem ela disse que ia rolar demissão, lembra?

MEIRE — Nem me fala nisso, dona Vivian. Eu mal consegui dormir por causa disso. Fiquei com caganeira e tudo.

VIVIAN — (rindo) Que? Caganeira?

MEIRE — É. Não ri. Foi trágico. O banheiro então…

VIVIAN — Você explodiu o banheiro porque ficou nervosa, mulher?

MEIRE — Respeita minhas emoções.

VIVIAN — Respeito, desde que suas emoções não resolvam sair aqui no meio da minha sala.

MEIRE — Ai, isso me deu uma ideia!

VIVIAN — Que ideia?

MEIRE — Depois eu conto. Deixa eu ir lá.

VIVIAN — Ah, que medo.

MEIRE SAI, APRESSADA. CORTA PARA/


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ISADORA SENTADA, PRÓXIMA AO BALCÃO. LEOCÁDIA CHEGA E SE APROXIMA DE ISADORA.

LEOCÁDIA — Oi, Isadora. Bom dia.

ISADORA — Bom dia. Tudo bom com você?

LEOCÁDIA — Tudo. E com você? E a sua amiga?

ISADORA — (cabisbaixa) Ela tá paraplégica. O acidente foi bem grave mesmo.

LEOCÁDIA — Ela tá em coma ou não?

ISADORA — Não, não. Tá acordada, mas ainda não sabe da morte do Heitor, o marido dela.

LEOCÁDIA — Poxa, que situação triste…

ISADORA — Demais. Mas falando nisso, eu tenho um pedido pra te fazer.

LEOCÁDIA — Olha, te liberar eu não posso mais, até pelo evento/

ISADORA — (corta) Não, não é isso. É que a irmã dela, que é mais amiga minha, vai precisar trabalhar pra pagar os tratamentos e tudo mais.

LEOCÁDIA — E…

ISADORA — E eu queria saber se tem vaga pra ela aqui.

LEOCÁDIA — Mas ela não é rica?

ISADORA — Ela tem uma situação boa, mas essa reabilitação é muito cara. A Pâmela é de confiança, Leocádia. Ela é empenhada, esforçada.

LEOCÁDIA — Olha, Isadora, cê sabe que não sou eu que decido se tem vaga ou não, mas vou conversar com o Mário e te falo.

ISADORA — Ain, sério? Brigada. Muito obrigada.

ISADORA ABRAÇA LEOCÁDIA FORTE.

LEOCÁDIA — (baixo) Pode largar já.

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ISADORA LARGA LEOCÁDIA. CORTA PARA/

CENA 20/ BANCA DE VICENTE/ DIA/ INT.

VICENTE EM PÉ, ATRÁS DO BALCÃO. GRACILENE DO LADO DELE, BRINCANDO COM BELA, SENTADA EM UMA CADEIRA.

VICENTE — Gracinha, você gosta mesmo de criança, né.

GRACILENE — Claro. Sempre quis ser mãe.

VICENTE — Fala baixo.

GRACILENE — Por que? Que que tem?

VICENTE — (baixo) Criança é fogo.

GRACILENE — (baixo) Não viaja, Vicente.

BELA LEVANTA-SE DA CADEIRA E ANDA PELA BANCA. ELA VÊ UMA REVISTA COM A CAPA DE UMA MULHER QUASE NUA, NA PRIMEIRA PRATELEIRA E PEGA. ELA VOLTA PARA O LADO DE GRACILENE, COM A REVISTA.

BELA — Que que isso?

BELA FOLHEANDO A REVISTA. GRACILENE OLHA PARA ELA.

GRACILENE — Ai, meu Deus!

GRACILENE PUXA A REVISTA DA MÃO DE BELA.

BELA — (grita) Não! Eu quelo!

GRACILENE — Isso aqui não é pra você não.

VICENTE — Que isso, Bela?! Não pode sair pegando as coisas não.

BELA — Eu quelo!

GRACILENE PEGA UMA REVISTA INFANTIL E ENTREGA PARA BELA.

GRACILENE — Toma essa, Belinha.

BELA PEGA A REVISTA E SE SENTA NOVAMENTE. CLOSE EM GRACILENE, RINDO. CORTA PARA/

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CENA 21/ MUNIZ EDITORIAL/ SALA DE REUNIÕES/ DIA/ INT.

SALA GRANDE, COM UMA MESA COMPRIDA NO CENTRO, COM VÁRIAS CADEIRAS. IEDA SENTADA NA CABECEIRA. VITÓRIO E VIVIAN MAIS PRÓXIMOS DELA, DEPOIS TIAGO E ERON E, MAIS AFASTADA DA CABECEIRA, ESTÁ MEIRE.

IEDA — Então, vamos começar essa reunião, que, na verdade, é mais pra dar alguns avisos. O primeiro assunto é o evento na livraria Livronáticos, parceira há anos da Muniz. Essa semana nós vamos ter esse evento. Amanhã, Vitório vai participar de um bate-papo sobre gerenciamento e mercado literário.

VITÓRIO — Mas agora eu não sou mais o diretor geral.

IEDA — Não importa. Sua participação tá mantida. A minha será depois de amanhã, com contação de histórias infantis. E no dia seguinte, o Eron vai falar do livro policial dele. É isso, né, Meire?

MEIRE — Isso, dona Ieda. No dia anterior, quem for falar precisa ir até a livraria pra checar o espaço, som e tudo mais.

VITÓRIO — Então eu tenho que ir lá hoje?

MEIRE — Isso, seu Vitório.

IEDA — Nesses dias, além de quem for falar, quero outras pessoas daqui lá. Amanhã, Meire vai. Ok?

MEIRE — Ok, dona Ieda.

IEDA — No meu dia, o Tiago vai me acompanhar e, no dia do Eron, vai a Vivian junto. Todos entendidos?

TODOS — Sim.

IEDA — Maravilha. A Livronáticos tem crescido bastante no Rio de Janeiro. Em São Paulo, ela tem várias lojas espalhadas pelo estado todo e essa parceria pode ser ótima para esse nosso momento.

VIVIAN — Com certeza. A aproximação com os leitores é muito

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importante.

IEDA — Exatamente. Outra coisa importante é em relação ao lançamento dos próximos livros. O seu livro, Vivian, será lançado daqui a seis meses. Aumentei um pouco o tempo, porque não dá pra fazer de qualquer jeito. Eu quero um novo ‘‘Na calada da noite’’, um sucesso. Nada parecido com aqueles seus últimos, todos péssimos.

TIAGO — (baixo) Mãe!

IEDA — Tem que falar sim, porque, se eu não falo, ninguém vai falar aqui. Alguém tem que ser sincera e esse alguém sou eu.

VIVIAN — Tudo bem, dona Ieda.

IEDA — Continuando, o Tiago é o novo coordenador do setor de artes.

VITÓRIO — (inconformado) Que?

CLOSE EM VITÓRIO, INCRÉDULO, OLHANDO PARA IEDA, SORRIDENTE. CORTA PARA/


LEOCÁDIA SENTADA PRÓXIMA AO BALCÃO. ISADORA ARRUMANDO AS PRATELEIRAS. TAÍS CHEGA.

TAÍS — (p/ Isadora) Oi, amiga. Tudo bom?

ISADORA — Tudo, Tatá. E Bela?

TAÍS — Foi pra banca com papai e a Gracilene.

ISADORA — Ai, nem tenho como agradecer vocês.

ISADORA ABRAÇA TAÍS. AS DUAS APROXIMAM-SE DO BALCÃO.

LEOCÁDIA — Bom dia, Taís.

TAÍS — Oi, Leocádia. Tudo bom?

LEOCÁDIA — Tudo. Meninas, a gente precisa arrumar a livraria pro evento

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que vamos ter com a editora Muniz.

TAÍS — Leocádia, me desculpa, mas até agora eu não entendi nada desse evento.

LEOCÁDIA — A editora Muniz tem uma parceria conosco e vai promover alguns encontros aqui na livraria. O primeiro é uma conversa com o diretor da empresa, Vitório. Ele vai falar sobre administração e gerenciamento. Também vai ter uma sessão de contação de história com a Ieda Muniz.

TAÍS — Ah, ela eu conheço. Dos livros infantis, né?

LEOCÁDIA — Isso. Esse com ela será depois de amanhã. Amanhã será com o Vitório. Então, a gente precisa arrumar aqui direito. Afastar as estantes do centro pra colocar uns puffs e tapetes que eles vão mandar.

ISADORA — Isso vai ser ótimo pra livraria também, né.

LEOCÁDIA — Com certeza.

ISADORA — Vitório é o bonitão do panfleto, Leocádia?

LEOCÁDIA — (ri) É, sim. Aliás, hoje ele vem aqui pra saber se tá tudo certo, conferir o espaço.

TAÍS — Aí, Isadora. (ri)

ISADORA — Vou nem olhar vai que né…

LEOCÁDIA — Então, meninas, bora arrumar isso aqui pra mais tarde já estar tudo pronto.

ISADORA, LEOCÁDIA E TAÍS COMEÇAM A ARRUMAR A LIVRARIA, MEXENDO AS ESTANTES DE LUGAR. CORTA PARA/

CENA 23/ MUNIZ EDITORIAL/ SALA DE REUNIÕES/ DIA/ INT.

CONTINUAÇÃO DA CENA 21. VITÓRIO ENCARANDO IEDA.

VITÓRIO — Como assim? E o Matias?

IEDA — Matias foi mandado embora.

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VITÓRIO — Por quê? Ele estava com a gente há anos.

IEDA — Por isso mesmo. Já tava velho aqui, acomodado e ultrapassado nas artes. Eu quero é tecnologia, inovação. Nada de arte feita em editor de celular.

VITÓRIO — (baixo) Isso é uma piada.

IEDA — (alto) Piada é o que você fez com a editora.

VITÓRIO ABAIXA A CABEÇA.

IEDA — Então, como eu estava falando, toda a parte artística precisa passar pelas mãos do Tiago. Os autores devem passar suas dicas para ele. Entendido?

TODOS — Sim.

IEDA — Já que eu falei do Matias, aviso logo que ele foi o primeiro, mas não vai ser o último. Até amanhã, vou chamar algumas pessoas na minha sala para uma conversinha.

VIVIAN — Pra demitir?

IEDA — Isso aí. Não podemos ficar mantendo centenas de funcionários não.

CLOSES ALTERNADOS. CLOSE FINAL EM MEIRE, PREOCUPADA. CORTA RÁPIDO PARA/

CENA 24/ MUNIZ EDITORIAL/ COPA/ DIA/ INT.

MEIRE E CLEISON EM PÉ, PREOCUPADOS.

CLEISON — Como assim, Meire? Ferrar Lumão?

MEIRE — É, Cleison. A dona Ieda vai mandar um pessoal pra rua, mas a gente precisa se garantir. E aí vai ser na sobrevivência, cada um por si.

CLEISON — E qual foi a sua grande ideia?

MEIRE — Então, a dona Ieda já viu a Lumão dormindo durante o trabalho e ficou uma fera. A minha grande ideia foi ferrar a

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Lumão e ferrar junto a dona Ieda.

CLEISON — Explica direito.

MEIRE — A Lumão vai servir daqui a pouco o chá da dona Ieda. Imagina se a dona Ieda tem uma crise de prega solta depois do chá?

CLEISON — (rindo) Crise de quê?

MEIRE — Prega solta. Vai soltar tudinho, Cleison.

CLEISON — Ah, é laxante?

MEIRE — Isso. Comprei um ótimo, é tiro e queda. No caso, bebe e libera geral.

CLEISON — E isso ainda vai sobrar pra mim, né.

MEIRE — Por quê?

CLEISON — Porque vou ter que limpar o banheiro todo sujo.

MEIRE — Ah, não tinha pensado nisso.

CLEISON — E como a dona Ieda vai saber que quem fez isso foi a Lumão, supostamente?

MEIRE — Se esse vidrinho aqui aparecer nas coisas da cola velcro.

MEIRE TIRA DO BOLSO UM VIDRO DE REMÉDIO E MOSTRA PARA CLEISON.

MEIRE — Chegou a hora, Cleison!

MEIRE ABRE O VIDRO E DERRAMA UM POUCO DO CONTEÚDO DENTRO DO BULE DE CHÁ QUE ESTÁ EM CIMA DA MESA. MEIRE GUARDA O VIDRO NO BOLSO. LUMA CHEGA, ASSOBIANDO.

LUMA — E aí, Meirinha. Vamos de forró hoje?

MEIRE — Sai pra lá, Lumão. Vai colar seu velcro em outra pessoa.

LUMA — Ih, acordou virada hoje?

MEIRE — Antes fosse.

CLEISON — Ô, Lumão, cê não tem que levar o chá da dona Ieda não?

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LUMA — Tô indo. Quando eu voltar, a gente conversa, Meirinha.

MEIRE — Tá bom.

LUMA PEGA A BANDEJA COM O BULE E XÍCARAS DE CHÁ. ELA SAI. CLEISON E MEIRE TROCANDO OLHARES, RINDO. CORTA PARA/

CENA 25/ HOSPITAL/ LANCHONETE/ DIA/ INT.

ESPAÇO PEQUENO, COM ALGUMAS CADEIRAS E MESAS. PÂMELA E RUI SENTADOS, BEBENDO SUCO.

RUI — Mas, Pâmela, não tem necessidade de cê trabalhar de vendedora em loja.

PÂMELA — E eu vou trabalhar com o quê, amor?

RUI — Consultoria, gerência… Você fez faculdade de administração.

PÂMELA — Você fala como se estivesse fácil conseguir emprego, mesmo tendo faculdade.

RUI — Mas se rebaixar à vendedora?

PÂMELA — Ser vendedora é digno, tá?

RUI — Eu não falei que não é. Eu só acho que você merece coisa melhor.

PÂMELA — Vou procurar outras coisas, mas pelo menos garantindo essa vaga já ajuda.

RUI — Eu vou enviar currículo pra algumas empresas.

PÂMELA — A gente tem é que ficar junto, amor, nesse momento difícil pra minha irmã.

RUI — Com certeza.

RUI E PÂMELA SE BEIJAM. CORTA PARA/

CENA 26/ MUNIZ EDITORIAL/ SALA DE IEDA/ DIA/ INT.

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IEDA E TIAGO SENTADOS, FRENTE A FRENTE.

IEDA — Então é isso, meu filho, o Vitório só volta quando eu perceber que ele tá pronto para cuidar da editora, porque eu achava que ele tava, mas acabei me decepcionando.

TIAGO — E a Vivian, mãe? O que cê acha dela?

IEDA — Acho ela perigosa, falsa. Se faz de boazinha, mas sei muito bem que aquela ali é muito espertinha.

TIAGO — E por que cê não manda ela embora?

IEDA — Porque esse tipo de gente é bom a gente deixar, mas tem que tomar cuidado, porque, se não controla, a cobra cria asa rapidinho.

BATIDAS NA PORTA.

LUMA (OFF) — Sou eu, Luma.

IEDA — (baixo) Ah, lá vem a dorminhoca. (T) Pode entrar!

LUMA ENTRA, CARREGANDO UMA BANDEJA COM O BULE E XÍCARAS.

LUMA — Com licença. Trouxe o chá.

IEDA — Obrigada. Pode nos servir.

LUMA APOIA A BANDEJA NA MESA E SERVE AS DUAS XÍCARAS, QUE ELA ENTREGA A IEDA E TIAGO.

IEDA — Obrigada. Agora pode ir.

LUMA — Licença.

LUMA SAI E BATE A PORTA COM FORÇA.

IEDA — (grita) Tem geladeira em casa não?

LUMA VOLTA, SURGE COM SOMENTE O ROSTO, PELA PORTA.

LUMA — Opa. Desculpa.

IEDA — Tá bom. Agora vaza!

LUMA FECHA A PORTA. CLOSES ALTERNADOS EM IEDA E TIAGO, BEBENDO O

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CHÁ. CORTA PARA/

CENA 27/ STOCK SHOTS/ RIO DE JANEIRO/ DIA/ EXT.

SONOPLASTIA: HYPNOTISED - COLDPLAY

CAM PERCORRE ÁREAS COM PRÉDIOS E VAI SE APROXIMANDO DA ORLA. VÁRIAS PESSOAS NA PRAIA. SOL FORTE. CAM VOLTA A SE APROXIMAR DOS PRÉDIOS. CORTA PARA/

CENA 28/ MUNIZ EDITORIAL/ SALA DE IEDA/ DIA/ INT.

SONOPLASTIA CESSA. IEDA E TIAGO SENTADOS. AS XÍCARAS DE CHÁ ESTÃO EM CIMA DA MESA.

IEDA — Tiago, meu filho, tô sentindo uma coisa estranha.

TIAGO — Ai, eu também. Minha barriga!

IEDA ABANANDO AS MÃOS PERTO DO ROSTO.

IEDA — Foi você, Tiago?

TIAGO — Desculpa, mãe. Foi.

BARULHO DE PUM.

TIAGO — Agora não fui eu.

IEDA — Ai, fui eu. Não consigo me controlar.

TIAGO — Também não.

IEDA — Que que será que foi isso?

TIAGO — Será que foi algo que a gente comeu?

IEDA OLHANDO PELA SALA. ELA PARA O OLHAR DIANTE DAS XÍCARAS.

IEDA — Ai… o chá! Só pode ser o chá. (levanta-se apressada, em direção ao banheiro) Eu vou acabar com a Luma! (dá uma corridinha) Dá licença, meu filho!

IEDA SAI. TIAGO SENTADO, CONTORCENDO-SE, COM DORES NA BARRIGA.

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CORTA PARA/

CENA 29/ MUNIZ EDITORIAL/ SECRETARIA/ DIA/ INT.

MEIRE SENTADA. CLEISON EM PÉ, AO SEU LADO.

CLEISON — E aí, Meire? Será que os efeitos do laxante já apareceram?

MEIRE — Pela hora, já eram pra ter aparecido.

CLEISON — Será que vai dar certo?

MEIRE — Pensamento positivo, Cleison.

IEDA SAINDO DA SUA SALA, CORRENDO, COM PRESSA, EM DIREÇÃO AO BANHEIRO.

CLEISON — (rindo) Deu certo.

MEIRE — (rindo) Depois boa sorte pra limpar o banheiro. Mas bate aí, Cleison.

CLEISON E MEIRE SE CUMPRIMENTAM COM UM ‘‘SOQUINHO’’. CORTA PARA/


ESPAÇO DECORADO COM BALÕES. NO CENTRO, UM GRANDE TAPETE E PUFFS NA FRENTE DE UMA TELEVISÃO. AS ESTANTES ESTÃO AFASTADAS DO CENTRO, NAS LATERAIS. ISADORA ORGANIZANDO OS PUFFS. TAÍS PERTO DELA. VITÓRIO CHEGA E FICA OBSERVANDO TUDO, LENTAMENTE. ELE VAI INDO EM DIREÇÃO AO CENTRO. ISADORA O PERCEBE.

ISADORA — Oi. Você que é o Vitório, certo?

VITÓRIO — Isso. E você é a…

ISADORA — Isadora. Prazer.

VITÓRIO — O prazer é todo meu.

VITÓRIO E ISADORA SE CUMPRIMENTAM COM AS MÃOS. ELES TROCAM OLHARES, FIXA E INTENSAMENTE. CLOSE EM ISADORA.

EFEITO FINAL: Palavras escritas à mão invadem a tela.

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FIM DO CAPÍTULO

Créditos sobem ao som de

ALIANÇA — TRIBALISTAS

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di as m e l h o re s cap Í t ul o 05 m e g ap … — tem que ser forte, pam. e eu vou te ajudar,...

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