dez olhares sobre o interior - universidade de coimbra · 2017. 12. 14. · sobre o interior o...

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09-11-2017 -José Reis é doutorado em Economia (1989) pela Faculdade de Economia da Universidade de Coim- bra, com a tese "Os Espaços da Indústria: a regula- ção económica e a mediação local numa sociedade semiperiférica". Obteve a Agregação em 1998. Licenciou-se em Economia em 1978. - Presidente da Comissão de Coordenação da Re- gião Centro (1996-1999). - Secretário de Estado do Ensino Superior (1999-- 2001). - Presidente do Conselho Científico (1992-1994 e 2000 - 2004) e diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (2009 - 2015). - É professor catedrático de Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investi- gador do Centro de Estudos Sociais. - E, desde 2005, membro do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e coorde- nador do programa de Doutoramento em Governa- ção, Conhecimento e Inovação. -Tem desenvolvido investigação em três grandes áreas: a organização e a evolução dos sistemas eco- nómicos, tendo em conta as dinâmicas produtivas, o trabalho e os sistemas de emprego e a provisão; os processos de globalização e as formas de relaciona- mento no quadro supranacional; a governação e as instituições da economia. Nestes temas tem tomado com referência principal o estudo da economia portu- guesa e da economia europeia, da organização re- gional e territorial e dos sistemas produtivos locais e dos modos de estruturação da economia, em vista da inclusão pelo trabalho e pelo emprego, da criação de valor, das relações internacionais, da justiça redistri- butiva e da consolidação institucional. O REERGUER DA ESPERANÇA. INICIATIVA JORNAL DO FUNDÃO Dez olhares sobre o Interior O JORNAL do Fundão iniciou, na edição da últi- ma semana, uma série de iniciativas em tomo do território. De um território que é vivido ao perto e ao longe, por tantos que sentem estas geografias erodidas por décadas de esvaziamento demográ- fico; facto que não é mais do que a derradeira cau- sa de muitas decisões e, sobretudo, de tantas omis- sões em torno daquilo que se convencionou cha- mar de "Interior". Um "Interior" que é uma enti- dade abstrata, sem fronteiras físicas, sem geogra- fia definível por régua e esquadro. Mede-se e sen- te-se, sim, por conter nesses territórios - que não são naturalmente repulsivos - indicadores sociais e económicos que poderiam e deveriam ser outros pelas potencialidades e vontades que ainda aqui residem e que permitiriam viver uma realidade mais equilibrada, funcional e produtiva. O Jornal do Fundão vai ser, nas próximas semanas, terreno de livre debate e discussão marcado pela presen- ça da análise de protagonistas que geralmente não ocupam as páginas deste semanário e que também irão partilhar uma relevante e respeitada visão so- bre o Interior. O primeiro convidado pelo Jornal do Fundão é o professor catedrático José Reis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, ex-secretário de Estado do Ensino Su- perior e ex-presidente da CC DR Centro.

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Page 1: Dez olhares sobre o Interior - Universidade de Coimbra · 2017. 12. 14. · sobre o Interior O JORNAL do Fundão iniciou, na edição da últi-ma semana, uma série de iniciativas

09-11-2017

-José Reis é doutorado em Economia (1989) pela Faculdade de Economia da Universidade de Coim-bra, com a tese "Os Espaços da Indústria: a regula-ção económica e a mediação local numa sociedade semiperiférica". Obteve a Agregação em 1998. Licenciou-se em Economia em 1978. - Presidente da Comissão de Coordenação da Re-gião Centro (1996-1999). - Secretário de Estado do Ensino Superior (1999-- 2001). - Presidente do Conselho Científico (1992-1994 e 2000 - 2004) e diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (2009 - 2015). - É professor catedrático de Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investi-gador do Centro de Estudos Sociais. - E, desde 2005, membro do Conselho Nacional do

Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e coorde-nador do programa de Doutoramento em Governa-ção, Conhecimento e Inovação. -Tem desenvolvido investigação em três grandes áreas: a organização e a evolução dos sistemas eco-nómicos, tendo em conta as dinâmicas produtivas, o trabalho e os sistemas de emprego e a provisão; os processos de globalização e as formas de relaciona-mento no quadro supranacional; a governação e as instituições da economia. Nestes temas tem tomado com referência principal o estudo da economia portu-guesa e da economia europeia, da organização re-gional e territorial e dos sistemas produtivos locais e dos modos de estruturação da economia, em vista da inclusão pelo trabalho e pelo emprego, da criação de valor, das relações internacionais, da justiça redistri-butiva e da consolidação institucional.

O REERGUER DA ESPERANÇA.

INICIATIVA JORNAL DO FUNDÃO

Dez olhares sobre o Interior O JORNAL do Fundão iniciou, na edição da últi-ma semana, uma série de iniciativas em tomo do território. De um território que é vivido ao perto e ao longe, por tantos que sentem estas geografias erodidas por décadas de esvaziamento demográ-fico; facto que não é mais do que a derradeira cau-sa de muitas decisões e, sobretudo, de tantas omis-sões em torno daquilo que se convencionou cha-mar de "Interior". Um "Interior" que é uma enti-dade abstrata, sem fronteiras físicas, sem geogra-fia definível por régua e esquadro. Mede-se e sen-te-se, sim, por conter nesses territórios - que não são naturalmente repulsivos - indicadores sociais e económicos que poderiam e deveriam ser outros

pelas potencialidades e vontades que ainda aqui residem e que permitiriam viver uma realidade mais equilibrada, funcional e produtiva. O Jornal do Fundão vai ser, nas próximas semanas, terreno de livre debate e discussão marcado pela presen-ça da análise de protagonistas que geralmente não ocupam as páginas deste semanário e que também irão partilhar uma relevante e respeitada visão so-bre o Interior. O primeiro convidado pelo Jornal do Fundão é o professor catedrático José Reis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, ex-secretário de Estado do Ensino Su-perior e ex-presidente da CC DR Centro.

Page 2: Dez olhares sobre o Interior - Universidade de Coimbra · 2017. 12. 14. · sobre o Interior O JORNAL do Fundão iniciou, na edição da últi-ma semana, uma série de iniciativas

DEZ NOMES, DEZ VISÕES SOBRE O INTERIOR

JOSÉ REIS + ANÁLISE

Pensar um país inteiro: A fragilidade do território e a justiça territorial

JF/JOÀO PEDRO JESUS

PORTUGAL é hoje um país terri-torialmente deslaçado. Muitos dos seus espaços regionais encontram-se profundamente fragilizados eco-nómica, social e demograficamen-te. Estão abaixo dos limiares míni-mos que lhes permitiriam manter condições de vida e de atividade económica razoáveis e conservar uma relação positiva com o conjun-to nacional. Têm pouca população, incorrem na tendência geral de de-sestruturação do sistema produtivo nacional, especialmente da indús-tria, da agricultura e da floresta, e as suas capacidades urbanas estão di-minuídas. A administração pública desligou-se deles e ficou só o poder local. Isto acontece mais dramati-camente no interior e em pequenos meios mas generalizou-se a grande parte do território, incluindo à sua principal ossatura urbana. O proble-ma principal consiste no facto de es-tarem sob uma tendência pesada que não os inclui e, sobretudo, os desa-possa. A devastação nunca vista provocada pelos incêndios deste ano é a imagem cruel deste país ex-tensamente enfraquecido.

Portugal, apesar das graiide de-sigualdades territoriais que sempre o caraterizaram, nunca, nos nossos dias, teve tal fragilidade. Foi sem-pre minimamente polinucleado. Ao longo de décadas, assistimos ao desenvolvimento, numa base local e regional, de novas indústrias ou a formas diversas de dinamização de especializações proclútivas con-solidadas. Qualificaram-se as ci-dades. O território era uma fonte de capacidades que se conjugaVam com a forma geral de nos organi-zarmos. Foi isso que permitiu que a profunda crise industrial e labo-ral do final dos anos 70 e princípios de 80, em Lisboa e na sua cintura industrial, não tenha passado de um fenómeno localizado. O que de mais positivo se passava no resto do país permitiu compensar estes problemas e não houve uma crise social generalizada. Hoje, isso não acontece. Pelo contrário, drena-se o território e tudo conflui num úni-

co ponto. Portugal apresenta um modelo de desenvolvimento uni-polar, centrado em Lisboa, e pro-move uma intensa deslocação de recursos para ali, a começar pelos humanos. E, ainda por cima, é para usar de forma precária e mal remu-nerada uma boa parte deles. Isto é absolutamente original na nossa contemporaneidade.

A urgência da reconstituição do território, de uma justiça territorial abalada, tem estado silenciada. Os anos de chumbo da austeridade aceleraram drasticamente os pro-blemas que referi, deram-lhe uma forma que nunca tiveram e gera-ram ainda o viés adicional de, ao tentar-se uma recuperação, nos ter-mos concentrado noutras urgên-cias, mais visíveis. A tragédia que nos tocou a todos, tem de obrigar a pensar. Isso bastará para mudar as cabeças?

Portugal tem de ser pensado como um país inteiro. Para isso,

não bastam as capacidades locais dispersas, as iniciativas singulares, o esforço deste ou daquele, aqui ou ali. Não basta sequer a descentra-lização, pois esta pode ter apenas à sua espera sujeitos frágeis e em perda. Ela pode funcionar bem quando há um contexto geral es-truturado que a viabiliza e poten-cia. Não funciona bem como últi-mo recurso.

Um país inteiro pensa-se estru-turalmente e organiza-se com ação

, e vontade política nacionais. E tem de ter como matéria principal aqui-lo que se fixa em cada território e no conjunto dos territórios: as ba-ses produtivas, a começar pela in-dústria, as cidades, as finas econo-mias de proximidade com que es-tas incluem solidariamente os meios rurais e os centros urbanos mais pequenos que lhes está ao pé.

O interior, motivo sistemático das nossas reflexões sobre a justi-ça territorial e um mínimo de equi-

líbrio nacional, é parte muito par-ticular desta discussão e o seu fu-turo depende dela. Nas últimas dé-cadas, o que de mais vistoso o país ofereceu ao interior foram autoes-tradas para se tomar rapidamente o caminho para Lisboa. E o interior agradeceu. Mas nem sequer se pen-sou em ligar devidamente os terri-tórios regionais que lhe podiam dar sustentação solidária.

Precisamos, pois, de retomar as-suntos antigos: garantir que se pos-sa ficar a viver e a trabalhar em eco-nomias que o próprio território or-ganiza e desenvolve; fortalecer a malha urbana; olhar para os espa-ços que habitualmente designamos rurais como lugares onde se pode desenvolver a produção e a valori-zação dos seus recursos; assumir a importância de haver interlocuto-res políticos de escala regional e não apenas municipal ou intermu-nicipal; reconfigurar a administra-ção pública para que ela própria

Drena-se o territó- rio e tudo confluí

num único ponto. Portugal apresenta um modelo de desen-volvimento unipolar, centrado em Lisboa, e promove uma intensa deslocação de recur-sos para ali, a come-çar pelos humanos. E, ainda por cima, é para usar de forma precária e mal remu-nerada uma boa parte deles. Isto é absolutamente origi-nal na nossa con-temporaneidade

exista para o território e para agir em nome dele. Chama-se a isto, desde há muito, desenvolvimento integrado.

Se reparamos bem, tudo isto fi-cou enfraquecido nas últimas dé-cadas. As políticas públicas dirigi-ram-se para o que é geral e não cui-daram do que é específico. Puse-ram-se capitais a circular, oferece-ram-se oportunidades, apontou-se para o curto prazo, importaram-se para aqui objetivos iguais em toda a Europa, tratou-se bem quem po-dia por cá passar mas esqueceu-se quem de cá é. A política deixou de ser o meio de organizar, estimular e fazer avançar o que forma os nos-sos sistemas produtivos, desde os nacionais ao locais, para ser uma forma de impor condições. A ad-ministração pública desligou-se do território e dedicou-se às mesmas tarefas gerais. Quando assim é, be-neficiam os que já são mais fortes, definham os que são mais fracos.

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HABITAÇÃO

Preço das casas na Beira Interior abaixo da média nacional

■ Guarda, Co\ ilhã, Castelo Branco, Sertã e Fundão são, na região, os concelhos onde precos me( lios por metro quadrado são mais elevados, mas. nenhum che‹,za -)01.-) eu ro- 3.tGRIÂ 5

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5~41911/11NIONINNISHI"

'11(),IP/AID41 FUNDADOR ~ND PAULOURO DIRETOR INTERINO NUNQ1.FRANCISCO SUAANÁRIO ANO 72.° • N.° 3717 • 9 DE NOVEMBRO DE 2017. € 0,80 INCLUINDO IVA

j„)2re,€.51ta, chu

nr ou A ; IDA DF

Tel. 275 471 070 - Fax 275 471 072

6250 - 161 Carvalhal Formoso - Belmonte

[email protected]

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devostaça la provocada elos incêndios é a imagem cruel este país extensamente enfraquecido"

JF dá início, nesta edição, ao especial "Dez nomes dez visões sobre o Interior". A primeira reflexão e assinada porJosé Reis, ex-secretário de Estado do Ensino Su rior

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REGIÃO PAG 4

Um terço das crianças tem excesso de peso 'j1;4~S.W4X,~;4;>41r44,:4;4;4x—.

AMBIENTE rÁs.s Movimento denuncia morte de peixes no rio Tejo

ECONOMIA PÁGINA 7

Central de biomassa do Fundão em pleno funcionamento em 2019

COVI LHA À P GIRA 12

Adjudicada a obra de requalificação do Teatro Municipal

FUNDA° PÁG.11

Palace vai ser hotel sénior Unidade hoteleira muda de estratégia e já abriu as inscrições

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