deus está guiando o seu povo através de sinais...ao qual estava embaixo estavam pixadas com spray...

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Deus está guiando o Seu povo através de

SINAIS

Carlo Ribas

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Dedicatória

Dedico este livro ao Senhor Jesus, que me ensinou a ver sinais

impressionantes do mundo espiritual nos meus dias. Incontáveis foram as vezes

nas quais eu pude parar e não prosseguir, porque vi um de seus sinais e isso me

livrou da morte.

Dedico este livro ao Espírito Santo, que me entregou a sensibilidade

espiritual necessária para sentir as coisas do mundo invisível. Sensibilidade para

ver o que os olhos humanos não vêem. Sensibilidade para sentir o que o ser

humano não sente.

Dedico este livro ao meu Deus, Jeová, o Deus Todo Poderoso, Criador

dos céus e da terra, o Grande Eu Sou, que me deu um pouco de Si, através do

sopro do Espírito em minhas narinas (tenho o Espírito Santo dentro de mim, como

morada de Seu Templo), e me permitiu ser igual à Jesus, me fazendo um

sacerdote, tipologia do Cordeiro, que dá a Sua Vida pelas ovelhas.

Sem o poder tri-uno do Senhor, criador, salvador e regenerador, eu não

estaria vivo para escrever esta obra, tão importante para mim e, com certeza, para

quem irá ler.

Apóstolo Carlo Ribas

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Agradecimentos

Ao Deus da minha salvação e ao meu Senhor e Salvador Jesus Cristo

de Nazaré, por ser o “Justo que domina” descrito pelo profeta e salmista Davi, nas

suas últimas palavras:

“Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Haverá um

justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus. E será como a

luz da manhã, quando sai o sol, da manhã sem nuvens, quando, pelo seu

resplendor e pela chuva, a erva brota da terra. Ainda que a minha casa não seja

tal para com Deus, contudo estabeleceu comigo um concerto eterno, que em tudo

será ordenado e guardado. Pois toda a minha salvação e todo o meu prazer estão

nele, apesar de que ainda não o faz brotar”.

Tu tens sido como o sol da manhã, e tens feito brotar em mim a mais

linda Erva do Campo, a Tua Palavra. O concerto eterno que o Senhor estabeleceu

com seu servo Davi está sobre nós, hoje, através da Nova Aliança no Seu Sangue

e todo o meu prazer e minha gratidão estão no Senhor.

À minha esposa Francine, que aprendeu a ver os sinais de Deus,

através do Espírito Santo, e tem sido minha fiel companheira de ministério. Louvo

ao Senhor por sua vida e amor derramado sobre mim.

Aos meus filhos Thalles e Matheus, por serem grandes sinais do amor

de Deus por mim!

À Igreja Evangélica Unção e Poder, espalhada pelo mundo e ao rebanho

que Deus me confiou. A cada uma das minhas ovelhas: eu os amo

profundamente.

Às minhas equipes de liderança, intercessão, adoração e libertação,

que aprenderam a ser profetas do avivamento!

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Introdução

Deus tem falado com a humanidade por sinais. Todas as coisas no

mundo espiritual refletem-se no mundo físico de alguma forma. Para isso,

precisamos ficar atentos aos sinais que aparecem no nosso dia a dia, tornando-os

mais perceptíveis aos nossos olhos...

Robert, o detetive particular especialista em casos de satanismo e

ocultismo está de volta, nesta emocionante história sobre como Deus nos

apresenta sinais no dia a dia para que possamos ver e entender as ações do

sobrenatural em nossas vidas.

Este não é apenas um romance, é um livro que nos faz refletir sobre

verdades ocultas e realidades escondidas que não conhecemos.

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Invoca-me, e responderei.

Anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes.

Palavras de Jeová, entregues à Jeremias Ben Hilquias

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CAPÍTULO 01

Sinais...

Aquela manhã estava realmente preguiçosa. O vento frio na grande

cidade, a neblina e a chuva fina que caía completavam o quadro londrino em

pleno estado de São Paulo.

Ele e sua família haviam mudado para lá, fazia pouco tempo. Seu nome

como detetive particular tinha se tornado famoso e, devido ao fluxo de trabalho

ser muito grande em todo o Brasil, resolveu se estabelecer na cidade de São

Paulo, onde poderia se locomover facilmente para qualquer lugar.

Robert se vestiu pesadamente para enfrentar aquela fúria gelada da

natureza, e sair até o seu escritório, quatro quarteirões rua abaixo. Enquanto

descia as escadas de seu prédio, ía cantarolando um hino antigo que lhe veio à

mente. Logo surgiu a memória a frase “Deus habita em meio dos louvores”. Com

um sorriso sutil, porém perceptível, ele disse:

- Espírito Santo, seja benvindo ao meu dia! - E seguiu pela calçada.

As ruas daquele bairro eram limpas e organizadas, com seus canteiros

de flores ao estilo português, porém no bairro onde Robert tinha seu escritório era

de ruas sujas e desorganizadas, com lixos nas calçadas, móveis velhos, animais

infestados de pestes andando para lá e para cá. O contraste era terrívelmente

visível.

Ao chegar a um lugar baixo, na terceira quadra do seu trajeto, ouviu o

Senhor lhe dizer:

- Robert, pare!

O que o detetive obedeceu prontamente.

- O que você sente todos os dias quando passa por aqui? Perguntou o

Senhor em seu coração.

- Sinto uma náusea e um pouco de tontura, mas isso deve ser por

que...

- Não! Você está justificando algo por não ter uma resposta concreta.

Olhe para cima.

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Robert lentamente olhou e pode perceber que na marquise do prédio

ao qual estava embaixo estavam pixadas com spray alguns símbolos satânicos de

demarcação territorial.

- O que é isso Senhor? - Perguntou intrigado o detetive.

- Isto são sinais! O mundo está repleto deles. Você sente esta náusea e

tontura porque é sensível espiritualmente e quando entrou nesta região, passou a

andar em um território dominado por um demônio poderoso, da classe das

potestades, chamado Címerio. Ele está colocando os moradores desta região em

estado de miséria mental, por ser um demônio da área da ciência humana.

Címerio é astuto e faz com que este povo não consiga progredir em suas vidas.

- Mas Senhor, porque não o expulsa daqui?! Tu és Todo-Poderoso,

pode fazer isso a qualquer hora! - Replicou o detetive.

- Claro que sim, meu filho. Mas você esquece do plano da redenção?

Meu servo Isaías profetizou que o renovo seria como a raiz de uma terra seca, que

da raiz de Jessé sairia um renovo e de seu tronco um rebento, Yeshuah, Emanuel,

Jesus de Nazaré, o Ungido, o Cristo, Meu Filho Único e Amado, em quem sempre

me alegrei. Toda a minha autoridade dei à Ele, que mesmo sendo Eu, despojou-se

da Minha Glória enquanto esteve aqui na Terra para cumprir a primeira parte do

plano. Antes de Ele ser elevado ao Céu, de onde saiu, delegou a autoridade que

recebeu de Mim aos seus discípulos, dizendo-lhes: “Toda a autoridade me foi

dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,

batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a

guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos

os dias até à consumação do século.” Eu disse que haveria um justo que domine

sobre os homens, que domine no temor de Deus. E seria como a luz da manhã,

quando sai o sol, da manhã sem nuvens, quando, pelo seu resplendor e pela

chuva, a erva brota da terra. Este justo é Jesus, que lhes outorgou a Sua

autoridade, neste mundo, Robert. Você não foi escolhido. Eu te escolhi e te

designei que dê frutos, e que seus frutos permaneçam, por isso Jesus Cristo

morreu e ressuscitou por você, para que tenha uma autoridade tremenda no

mundo espiritual e, sobrenaturalmente, possas atingir o mundo físico, como os

profetas atingiram, ordenando que as coisas naturais fossem mudadas. Eu Sou o

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mesmo ontem, hoje e eternamente. Eu não mudei! Preciso de profetas nos dias

de hoje, para lutar contra as hostes infernais, contra os principados, as

potestades, os dominadores e as forças do mal, que estão nas regiões celestiais.

Robert estava absorto com as palavras do Senhor naquela manhã. Ele

permanecia ali, naquele gueto, parado, olhando para cima. A chuva fina que caía,

trazida pelo vento, já o tinha molhado todo, mas ele não se importava. Ouvir a voz

de Deus era tão bom, e aquela revelação foi tremenda. Seus olhos foram abertos

para uma realidade que não via antes: os sinais do mundo espiritual aqui, no

nosso mundo físico! Realmente, a partir daquele ponto da rua, o bairro começava

a mudar completamente as características estéticas. As ruas, a partir dali

passavam a serem sujas e mal organizadas. Havia nitidamente uma influência

espiritual naquele lugar, mas... Uma potestade dominando ali? As potestades são

sub-principes do inferno, e estão em altos escalões de autoridade, não dominam

bairros. Robert havia se deparado com uma situação nova, e precisaria

intensamente do auxílio da Palavra de Deus para vencer.

Ao entrar em seu escritório de investigações, a secretária lhe passou os

recados.

- Robert, lhe telefonaram da Secretaria de Segurança do Estado, lhe

parabenizando pelo sucesso no caso do sequestro daquela criança no litoral. Eles

disseram que as suas informações realmente estavam corretas, apesar de que

não haviam acreditado no início. O próprio secretário me falou que não cria nesta

história de satanistas raptando crianças, mas que agora ficará mais atento. -

Disse Rose, a secretária.

- Que bom! - Completou o detetive. - Não podemos ficar de braços

cruzados enquanto crianças estão sendo sacrificadas. Algo mais?

- Não, só o trivial. Contas, anúncios de produtos, informações... ah! Um

telefonema estranho. Uma pessoa que não quis se identificar, dizendo que era

para você ir no... só um pouco, deixe-me ver.. aqui! É para você ir no “local do

sinal”. Ele disse que você sabe onde é e que é um assunto do seu interesse.

Robert gelou naquele momento. “Local do sinal”? Será que era aquele

gueto onde Deus lhe mostrou o sinal de Címerio?

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- Ele disse o horário? - Perguntou o detetive.

- Não - respondeu Rose. - Apenas falou este recado que te passei.

- Bom, neste caso tenho tempo para falar com o “Chefe” e saber o que

está acontecendo, certo? - Sorriu para ela, indo em direção a sua sala.

Seu escritório era uma verdadeira biblioteca. Tinha estantes repletas de

livros em todos os lados, sobrando apenas a porta do banheiro, a parede atrás de

sua mesa e a janela, que dava para a rua, onde havia uma pracinha caindo aos

pedaços, em que as crianças brincavam nos dias ensolarados. A parede atrás da

sua mesa estava crivada de certificados e condecorações. Sobre a mesa, em meio

aos livros, um laptop e uma garrafa de café.

Ele se ajoelhou junto à mesa e orou, pedindo discernimento desta

situação e direcionamento sobre o caso. Não queria errar. Não queria ser movido

por suas emoções. Robert havia aprendido bem a lição que Deus o dera, quando

foi livre de haver morrido, graças a revelação que Deus o entregara. Confiava

profundamente no Deus de Israel e, por mais estranho que parecesse a ordem

recebida Dele, estava sempre disposto a segui-la.

Depois de passar um bom tempo de adoração e glorificação do Nome

do Senhor, disse ele:

- Pai, preciso da Sua divina orientação. Não tenho condições de seguir

sem que o Senhor esteja comigo. Recebi hoje um telefonema que me chama a ir

ao local do sinal. O que é isso, Pai? Será uma cilada? Uma armadilha? Como

Címerio domina esta região, sendo ele uma potestade, um sub-príncipe? Preciso

de respostas, meu Pai, no Nome de Jesus.

Orou e permaneceu em silêncio por um período, aguardando a Doce e

Suave Voz do Senhor lhe falar.

- Robert, a sua resposta está no seu encontro hoje. Você conhecerá

coisas do sobrenatural tremendas. Existem situações notórias no mundo espiritual

que se refletem no quotidiano, que quase todos podem perceber mas, existem as

coisas profundas e ocultas, que somente àqueles que buscam conhecê-las podem

saber. Você clama a Mim, e eu te anunciarei as coisas grandes e ocultas, que não

sabes! Lhe respondeu o Senhor.

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Ele ficou pasmo. Havia anos que orava no sentido de conhecer o oculto,

aquilo que estava além dos olhos humanos e além dos olhos espirituais. Queria

conhecer as coisas grandes, que diz o profeta Jeremias. Robert sabia que algo

muito estranho aconteceria. Ele iria a um encontro com alguém que não conhece

e que não tem hora marcada para se encontrar, mas tinha certeza que a pessoa

misteriosa estaria lá.

Robert trocou a sua jaqueta, que estava enxarcada pela chuva e saiu,

rumo ao desconhecido. Seu coração estava batendo a mil por hora. Seu sangue

corria a uma velocidade espantosa nas veias, que faziam gelar o seu corpo todo.

As pernas, embora precisassem andar rapidamente, não podiam, porque estavam

travadas pela sensação de que algo aconteceria. Era a apenas um quarteirão de

seu escritório, mas parecia um quilômetro.

Ao chegar ao local do sinal, parou. Havia várias pessoas lá. Vendedores

ambulantes, camelôs, pedestres passando agitados pela correria do dia a dia,

desviando-se dos cachorros que insistiam em comer o lixo jogado pelo chão.

Robert deu uma olhada em volta, para ver se encontrava a misteriosa pessoa que

lhe chamou, mas todos pareciam alheios à sua presença. De repente algo lhe

chamou a atenção. No gueto lateral, em meio aos prédios depredados e velhos do

bairro, havia uma parede com pixações artísticas de imagens psicodélicas e

palavras de ordem social, porém uma delas se destacou das demais: “Címerio”. O

detetive quase entrou em parafuso.

- Címerio! A postestade que Deus me falou! Murmurou Robert, andando

para aquela direção.

Ele chegou bem próximo da parede e analisou a imagem. Eram figuras

humanóides horrendas, distorcidas, gritando, sofrendo. Uma imagem dandesca e

diabólica. Mostrava balanças quebradas, moedas espalhadas pelo chão, crianças

chorando e pessoas mortas. Dentre as palavras, coisas como “igualdade social”,

“fim do racismo”, “chega de fome” etc. Robert ficou bem ali, esperando que

alguém viesse encontrá-lo mas ninguém apareceu. Cada pessoa que passava por

ali fazia seu coração acelerar. Começou a pensar que poderia ser um trote, uma

piada de alguém, mas as coisas estavam fazendo sentido! O nome Címerio estava

escrito na parede e as imagens denotavam algo realmente amaldiçoado. Começou

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a investigar o lugar. Havia portas de entradas nos prédios e pequenos comércios

nas fachadas dos edifícios.

Atentamente ele começou a analisar cada loja. Havia antiquários, lojas

de roupas usadas, de vendas de chás e plantas medicinais. Uma que lhe chamou

a atenção foi um sebo que havia ali. O detetive andou até lá, para analisar os

títulos de livros usados que estavam na pequena e empoeirada vitrine. Muitos

livros estavam ali, e uma quantidade enorme de livros de ocultismo e satanismo.

Isso não era um motivo de espanto, levando em conta que as melhores livrarias

do planeta hoje vendem aos montes livros de satanismo livremente, mas um deles

era diferente. Era um livro de capa preta com uma inscrição em verde no meio:

Címerio.

- Sinais! Deus me revelou quais seriam os sinais e eu os estou

seguindo! Disse satisfeito pelas suas descobertas.

- Pois não? Perguntou a atendente, feliz por ver alguém em sua lojinha.

- Quero comprar este livro. Disse Robert apontando para o livro de capa

preta com escrito em verde.

Ela mudou de expressão facial imediatamente. Sua face agora estava

sombria e obscura.

- O que sabe sobre Címerio? Perguntou ao detetive.

- Muito pouco, respondeu Robert. Apenas que aqui é o local do sinal.

Disse ele olhando fixamente nos olhos daquela senhora de meia idade, com

longos cabelos brancos e vestida com um vestido negro e um chale cinza claro,

velho e mal cheiroso.

Os olhos da atendente tremeram. Espantada e nervosa disse:

- Venha por aqui, ele o está esperando.

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CAPÍTULO 02

O sacerdote de Címerio

Robert entrou em uma pequena sala, repleta de imagens de demônios,

com vasos cheios de areia, cobertos de velas acesas sobre eles, e incensos

completavam a emissão de fumaça no local, tornando impossível não ter uma

enxaqueca ali. Logo adiante, havia uma cortina feita de bambu, com uma salinha

logo atrás. A mulher indicou com a mão que Robert deveria ir até lá.

Temerosamente, porém demonstrando segurança, o detetive abriu com a mão

direita a cortina e deparou-se com um homem sentado atrás de uma mesa,

vestido com um manto verde e negro.

- Sente-se detetive Robert. É um grande prazer tê-lo ao meu humilde

escritório. Disse educadamente o homem, com um enorme sorriso no rosto,

enquanto apontava para a cadeira a sua frente, indicando o local que Robert

deveria sentar-se.

- Quem é você e o que quer? Perguntou o detetive sem a mesma

educação com que foi recebido.

- Ora, ora detetive. Eu é que deveria te perguntar isso. Afinal de contas,

você invade o meu território, instala um escritório de investigações contra

ocultismo e ainda me pergunta quem sou eu? Oras... sou Miguel.

- Hummm. O arcanjo Miguel então? Satirisou Robert, para disfarçar o

nervosismo.

- Muito engraçado. Disse Miguel, sorrindo e soltando uma baforada de

fumaça, retirada de seu charuto – Só que eu sou muito mais que um arcanjo, sou

o sacerdote de Címerio, a maior das oito potestades do inferno. Replicou o

feiticeiro.

Robert ficou imóvel por alguns segundos. Seu cérebro começou a

percorrer todas as informações conhecidas sobre Címerio e nada em sua memória

acusava a existência de um sacerdote dele. Qual seria a função de Miguel naquele

lugar? Quais os seus objetivos? Porque o chamara ali? Os poucos segundos em

que ficou olhando para ele, pode perceber uma figura perversa, maligna, devassa

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e até insana em sua frente. Fumava um charuto, soltando grandes bolas de

fumaça no ambiente, que somavam com a fumaça das velas e incensos acessos

naquele lugar macabro. A decoração era tenebrosa. Havia caveiras humanas,

pratos com sacrifícios e objetos ritualísticos. Ao lado esquerdo da sala, uma

imagem em tamanho real de um demônio, com um grande manto verde, capuz

sobre a cabeça e olhos flamejantes.

- Então, este é seu chefe, creio eu? Perguntou Robert, para ganhar

tempo e pensar no que ele iria fazer.

- Sim! Este é Címerio, o demônio da ciência e sabedoria! De todos os

sub-príncipes do inferno, ele é o maior e mais poderoso! Disse o feiticeiro

triunfante, com um certo brilho nos olhos, que o tornavam ainda mais sinistros.

- Sei, os sub-príncipes são as potestades, descrito na Bíblia, em

Efésios. Segundo o satanismo, são oito: Címerio, Belfegor, Behemoth, Asmodevs,

Belam, Azazel, Belzebú e Astaroth.

- Parabéns, mister Robert! Vejo que fez a lição de casa! Sorriu

sarcásticamente Miguel, tragando profundamente seu charuto e infestando o ar da

sala.

- Ok. Vamos ao que interessa. Porque você me chamou aqui?

Perguntou Robert, indo direto ao assunto.

- Bom, acho que você é uma pessoa bem informada e eu sou um

negociador. Negocio almas. E você está atrapalhando o meu negócio. Desde que

você está nesta cidade, tem atraído a atenção de muitas pessoas para o negócio

de... como é que vocês chamam... desmantelamento de seitas de magia negra?

Pois bem, sou o sacerdote da maior organização de magia negra existente no

Brasil, os adoradores de Címerio. Nós atuamos na área da ciência. Médicos,

intelectuais, artistas... Todos adoram a Címerio como seu deus profano. Sei que

somos muito mais fortes do que você, detetive, mas é que para nós hoje, não

seria interessante que você aparecesse morto por aí. Isso poderia chamar uma

atenção negativa para nós, então te proponho um acordo.

- Esqueça, Miguel. Não faço acordos com feiticeiros. E outra coisa, sua

seita não é a maior do Brasil. Já desmantelei várias delas e nunca ouvi falar de

vocês. Disse categóricamente o detetive.

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- Há, claro! Me desculpe a falha. Você não deve der ouvido o nome

porque temos vários nomes, até porque não existem apenas adoradores de

Címerio. As organizações são de cada sub-príncipe e atuamos de acordo com

cada área. Estamos nas maiores emissoras de televisão, nos grandes clubes de

futebol, nas maiores universidades do país e dentro dos maiores fóruns de justiça.

Muitos juizes, promotores, advogados, professores, médicos, políticos, policiais,

profissionais liberais pertencem a nós. Estamos espalhados em todo o Brasil, nos

mesclamos na cultura brasileira, na lei, no esporte, na educação, na política, nas

artes. Quando você compra um shampoo para seu cabelo, está nos financiando,

quando assiste um programa na TV, está nos prestigiando, quando contrata um

psicólogo, está contando seus segredos mais profundos para nós. Estamos

infiltrados em todos os segmentos. Revelou Miguel com um sorriso debochado nos

grossos lábios.

- Eu não sabia que um sub-príncipe precisava de sacerdote aqui em

São Paulo! Desde quando uma potestade domina um bairro? Indagou Robert,

tentando arrancar algum esclarecimento do feiticeiro.

- Dominando um bairro?? Por deus, Robert... onde esteve todo o

tempo, na lua? Olhe para a cidade de São Paulo, é a segunda maior cidade do

mundo! Estamos no centro do universo, e tudo aqui é dominado por nós. As

pessoas estão se esquecendo do seu Deus e procurando o meu deus. Címerio

oferece toda a ciência, sabedoria para viver, para vencer, para ganhar muito

dinheiro, para vencer nas eleições... tenho aqui adeptos famosos! Daqui

controlamos nossa organização em todo o mundo. Respondeu Miguel.

- Ainda que eu tenha toda a ciência, se não tiver amor nada serei!

Disse Robert, recitando as palavras do Apóstolo Paulo, em Coríntios treze – O povo

tem conhecido cada vez mais ao Senhor, Deus de Israel. Não creio que você vá

conseguir alguma coisa com sua organização. Disse Robert se levantando, para

sair – Passe bem!

Foi saindo, quando ouviu Miguel dizer lá de dentro de sua sala:

- Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e

enganarão a muitos. E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de

guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda

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não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e

haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das

dores. Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as

nações, por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar,

trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a

muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos. –

citando o livro de Mateus.

Robert rebateu, saindo pela porta que dá acesso à lojinha de livros

usados, completando o texto declamado por Miguel:

- Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.

E saiu, despedindo-se educadamente da atendente.

Na rua o detetive buscava forças para acreditar no que estava

acontecendo. Satanistas que agora, ao invés de adorar a Satanás, estavam

adorando potestades. Por que estavam se organizando desta maneira? O que isto

estava acontecendo?

- Eles devem estar se reorganizando, devido a expansão do Evangelho!

Pensou o detetive. – Claro! Estamos crescendo a cada dia e eles precisaram se

modernizar para acompanhar o crescimento do povo evangélico e isso os fez

criarem grupos mais definidos e seletos. Conjecturava Robert, enquando

caminhava a passos largos até seu escritório.

Ao chegar lá, ligou para Suzan, sua esposa:

- Amor, estamos em uma nova missão! Convoque agora mesmo seu

grupo de intercessão profética para hoje a noite, na igreja, para que possamos

conversar. Estamos enfrentando uma nova classe de satanistas, adoradores de

potestades.

- Ok, meu bem. Para as oito está bem? Vou ligar agora mesmo e todos

estarão lá, tenho certeza. Quer que eu ligue para o pastor também? Ok. Ligarei.

Completou a esposa, desligando.

Robert desligou o telefone e se ajoelhou. O que Miguel poderia fazer?

Qual era o risco que aquela missão teria? Sua cabeça rodava em meio a tantos e

diferentes pensamentos em uma só vez. Tudo corria bem até agora, mas tinha

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este problema para resolver: uma nova classe de feiticeiros empolgados com o

futuro e que conhecem bem a Bíblia. Orou, profunda e demoradamente, pedindo

ao Senhor que lhe mostrasse o que estava acontecendo.

As oito da noite estavam todos da equipe de intercessão profética de

Robert e Suzan reunidos na igreja. O pastor Samuel estava também, com sua

esposa, pastora Claudia. Robert iniciou a reunião dando o relatório dos fatos:

- Amados, estamos com um problemão nas mãos. Os satanistas estão

se dividindo e criando grupos definidos, comandados pelas potestades.

Provavelmente existirão oito grupos poderosos no Brasil hoje, cada qual

comandado por uma potestade e atuando especificamente em uma área da vida

humana. Isso os deixa mais fortes e organizados e com grandes possibilidades de

se reproduzirem e espalharem. Estão infiltrados em todos os segmentos da mídia

nacional, política, educação, artes etc. Prova disso é este envelope que recebi

ainda hoje, no final da tarde, depois que eu tive uma entrevista com um dos oito

sacerdotes das potestades, Miguel, que comanda a organização de Címerio,

demônio da ciência. Eles são espertos, conhecem os procedimentos dos

evangélicos, conhecem a Bíblia Sagrada decor. São perigosos, estão acobertados

por criminosos que sustentam o tráfico de drogas e me ameaçaram de morte.

O relatório causou um certo desconforto nos intercessores, mas era um

grupo forte e unido, embora recém formado. Faziam apenas sete meses que eles

estavam se reunindo para interceder pelas causas do trabalho do detetive.

O pastor Samuel era um homem sábio e prudente. Esteve calado

durante todo o relato e ouviu atentamente cada palavra de Robert. Enfim se

pronunciou:

- Olhem, estamos em uma situação nova. Não podemos ficar ansiosos

ou nervosos, porque não teremos a mesma clareza de pensamentos se não

mantivermos a calma. Os satanistas têm se mostrado evoluídos e em evolução

constante. Lembro-me do caso das garotas que invadiam o cemitério para roubar

pedaços de pessoas mortas e acabamos por descobrir que eram adolescentes que

frequentavam igrejas evangélicas da região, que os satanistas tomaram por

seduzí-las com o dinheiro. Temos que prestar atenção a cada detalhe deste caso.

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Robert nos disse que eles são perigosos. Nossa luta não é contra carne ou

sangue, por isso devemos ser prudentes. Somos intercessores, e sabemos a

importancia disso no mundo espiritual. Creio que eles entrarão em contato para

nos intimidar com ameaças, mas devemos nos manter firmes.

O ambiente estava nervoso. As pessoas estavam nervosas com a

situação que estavam por enfrentar. Um dos intercessores perguntou:

- Robert, qual será então a estratégia da intercessão?

- Iremos orar e jejuar para que os demônios que cercam as pessoas

que estão na liderança da organização sejam amarrados pelo Poder do Nome de

Jesus e neutralizadas todas as suas forças. Depois desta etapa de intercessão,

pediremos ao Senhor que envie seus anjos para cercar os locais onde a

organização atua, atrapalhando todos os negócios deles e impedindo dos

demônios chegarem. Esta será a nossa primeira estratégia de combate. Se

tivermos graça, não precisaremos travar uma batalha maior. Concluiu o detetive.

Todos se puseram de joelhos e oraram intercedendo por esta batalha,

pois sabiam que não seria fácil lutar. Passaram a madrugada ajoelhados,

clamando e pedindo a Deus que lhes ajudasse. Depois, estando todos de pé,

oraram amarrando os demônios e neutralizando as suas forças e poderes. Todos

voltaram para casa de manhã, no início do dia, felizes por estarem lutando contra

as hostes malígnas.

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CAPÍTULO 03

Retaliações

- Acorda, Robert! - Era Suzan o sacudindo às nove horas da manhã. –

Olha o que colocaram na porta da nossa casa.

Robert abriu os olhos assustados, pegando da mão da esposa um

envelope negro, com um lacre verde. Dentro uma carta, que dizia:

“Você não imagina com quem está brincando... Somos perigosos.

Estamos vigiando sua casa constantemente e sabemos todos os seus horários.

Sei até o que você gosta de comer. Pode se tornar perigoso para você e sua

família morar nesta cidade”.

Robert parou pensativo com o bilhete na mão, sem saber o que

responder a sua mulher. Ela era uma esposa forte e guerreira, mas era mulher,

vaso mais frágil.

- Deve ser uma brincadeira boba de alguém, não ligue para isso.

Ele levantou e foi ao banheiro, pensativo, preocupado. Já havia tido

retaliações antes, mas esta parecia diferente. Eles estavam organizando uma nova

linha de trabalho, com as potestades. Isso traria muitos adeptos ao satanismo,

visto que cada potestade era direcionada a atuar em uma área do conhecimento

humano. Sexo, ciência, alimentação, família, artes... todas as áreas com

demônios sobre elas, para direcioná-las a uma não adoração do Cordeiro de

Deus.

Robert não via o porque de tanto medo por parte dos satanistas de tê-

lo por perto, afinal era apenas um detetive. Resolveu falar com o Senhor, em

oração, para obter mais respostas. Ajoelhou-se no banheiro, e clamou ao Nome

de Jesus Cristo.

- Pai, não vejo explicações pausíveis para este caso... Preciso de

entendimento e visão, discernimento. Preciso saber porque eles estão tão

preocupados com a minha presença neste bairro. Sou apenas um servo Teu e um

detetive particular, não sou pastor e nem um grande profeta, para que possam me

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temer. Preciso de uma resposta, Senhor, porque muita coisa está em jogo. Minha

família está correndo perigo.

Permaneceu um tempo ali, em silêncio, esperando a Voz do Espírito

Santo falar mansa e amorosamente com ele.

- Robert, meu filho. Você é um grande profeta, mas é menor que um

servo Meu em uma igreja pequena. Convém que seja assim. Você está passando

pelo Meu discipulado pessoal, está aprendendo a reconhecer os sinais que o

sobrenatural imprime no mundo visível.

Disse a Voz do Espírito.

- Como assim, Senhor? Pensou Robert. – Como “mundo visível”?

Indagou o detetive, querendo entender o que o Senhor lhe havia dito.

- Os homens, a natureza, a ciência e tudo o que existe Eu criei e

estabeleci no mundo físico, o mundo natural. As milícias angelicais, bem como os

caídos, demônios, estão no mundo invisível, o mundo espiritual. Todos os dois

mundos tem suas atividades e interagem entre si, seja conscientemente e

espontânea ou inconscientemente. A esta interação dos dois mundos, chamo de

sobrenatural, e o sobrenatural imprime seus sinais nos mundos. Quando há, por

exemplo, uma presença muito forte de demônios em uma determinada região, ele

precisa demarcar território no mundo natural, para que seja respeitado no mundo

espiritual. Então esta casta possui a vida de jovens que saem pixando em

paredes, muros e esculturas os símbolos da casta dominadora. São sinais visíveis

da atuação espiritual em determinada região. Mas muitos deles são sutis, quase

imperceptíveis e são estes que quero que você aprenda a ver. Sou um Deus

onipresente, Robert, mas a minha manifestação sobrenatural não está em todos

os lugares, porque não tenho comunhão com as trevas, por isso deixo os sinais

aos homens, para que vejam e saibam o caminho a seguir.

Robert estava anestesiado com as revelações que o Espírito do Senhor

lhe dera. Era realmente algo lógico e não percebido por ele. Sinais no quotidiano.

Agradeceu ao Senhor pelas explicações e saiu para a rua, sem tomar o café.

Durante o trajeto para o escritório ia pensativo e atento a tudo, para ver

se aprendia a perceber os sinais do sobrenatural. Percebeu que havia uma mulher

21

vestida com uma saia azul e uma blusa amarela, uma coisa não muito normal. Na

outra quadra viu um homem com uma calça azul e uma camiseta amarela. Aquilo

lhe chamou a atenção, pois não eram uniformes e sim roupas parecidas que,

antigamente, ele chamaria de coinscidência. Na próxima quadra, percebeu uma

lanchonete, cujas letras do nome eram em azul e amarelo. Sem pensar, parou e

entrou. Sentou-se no balcão e começou a observar tudo e todos. Nada lhe parecia

coerente com o sinal externo. Já estava pensando que aquilo era uma bobeira de

sua cabeça, quando a balconista lhe perguntou se queria algo.

- Uma chícara de café com leite, por favor. Respondeu o detetive.

Quando a moça lhe entregou o café, ele percebeu que no seu pulso

havia uma pulseira de tecido sintético, nas cores azul e amarelo.

- O sinal! Disse ele feliz e assustado.

- Como senhor? Perguntou a balconista.

Robert fitou-a profundamente em seus olhos e lhe disse:

- Garota, Deus quer curar o teu braço agora!

Ela quase caiu sentada. Realmente tinha uma enfermidade no braço

direito que lhe rendia dores insuportáveis durante o dia.

- Como sabe do meu braço? De onde me conheçe? Perguntou ela,

desconfiada.

- O Senhor, o Eterno Deus me revelou através de Seus sinais. Posso

orar por você aqui neste lugar?

Ela balançou a cabeça afirmativamente, esticando o braço na direção

dele. Robert fez uma oração bem objetiva, ordenando que a dor fosse embora e

que o braço voltasse a funcionar normalmente, como Deus o criara. Naquele

instante ela foi curada!

Robert saiu da lanchonete radiante. Ele parecia um garoto de dez anos

de idade quando ganha um brinquedo que tanto esperava. Estava entendendo os

sinais! Sim, eles eram sutis, mas estavam espalhados por aí todos os dias e ele

não os enchergava, devido sua cegueira espiritual. Deus o havia ensinado e ele

estava colocando em prática.

“Não posso exagerar” pensou ele. “Pra não virar neura” concluiu.

22

Chegou ao seu escritório e, como de praxe, sua secretária foi lhe

despejando os recados:

- Chegaram as fotos do caso Wilson, também aquela cliente da criança

desaparecida ligou dizendo que realmente seu filho estava no local indicado, em

carcere privado, preso por traficantes de crianças. A polícia estourou o cativeiro e

resgataram a criança. Ela disse que depositou uma gratificação a mais pra você

em sua conta bancária. Mais o que... deixa eu ver aqui... há, outro bilhete

anônimo, pra você.

Disse ela entregando o envelope igual ao recebido de manhã. Robert

agradeceu e entrou em sua sala, fechou a porta e abriu o envelope. Estava

escrito:

“Robert Henrique Von Haus, nascido em 28 de agosto de 1967, na

Santa Casa de Misericórdia, na cidade de Curitiba, Paraná. Casado com Suzan

Von Haus, nascida em 15 de maio de 1973, na cidade de São Paulo. Tem uma

filha chamada Sara, nascida no dia 01 de outubro de 1995, na cidade de

Curitiba, Paraná. Ela acorda todos os dias às sete e trinta da manhã, toma o seu

café com cereais e leite morno, adoçados com mel. A mãe é professora de artes

no museu de história nacional, mas está afastada para ajudar o marido na

agencia de investigação. Ambos tem o costume de ir dormir depois das onze

horas, mas Robert pega no sono somente depois da meia noite. Suzan dorme

imediatamente e acorda, normalmente, uma vez durante a noite para ir ao

banheiro. Robert gosta de lazanha de frango e Suzan prefere Strogonoff. Sara

prefere hamburgers do McDonalds. Robert não sabe, mas Suzan está lhe

preparando uma surpresa e vai lhe dar um computador novo, daqui a exatos vinte

e três minutos... PODE CONTAR!”

Ele não podia acreditar no que estava lendo. Era uma descrição

detalhada de sua família. Olhou para o relógio e ajustou o cronômetro regressivo

para vinte e três minutos. Após apertar o “start”, ficou lançado aos pensamentos

acerca da seita que adorava Címerio. Eles sabiam até o que Robert gostava de

comer.

O detetive pesquisou no banco de dados de seu computador sobre

Címerio. Pouca coisa dizia ali:

23

“Címerio, demônio da ciência. Da classe das potestades, também

chamado no satanismo de sub-príncipe, atua na área do conhecimento, sabedoria

e ciência humana. Tem a personificação de um homem muito alto, que flutua a

uns vinte centímetros do chão, vestido com um longo manto verde e com um

capuz que deixa sua face oculta nas sombras. Apenas seus olhos podem ser

vistos, como labaredas de fogo”.

“Informações insuficientes”, pensou Robert. Preciso saber sobre seus

adoradores. Acesou a internet e digitou no site de busca: adoradores de Címerio.

Dezenas de sites se abriram, mas nenhum com um contexto abrangente e

explicativo. As informações que dispunha eram: existe uma seita que adora a

Címerio, uma potestade, que são perigosos, armados e que estavam pressionando

Robert a sair da cidade. Quais os riscos? Todos, afinal eles sabiam de detalhes

impressionantes das vidas de sua família. Qual direção tomar? Tentar desmantelar

a seita? Precisaria arranjar provas deles contra as leis brasileiras, como tráfico,

mortes ou qualquer outra coisa. A melhor coisa era tentar algo contra Miguel, para

que todos da seita vissem que seu lider foi preso, poderia assustar os demais.

Robert ainda pensava isso quando seu relógio desparou o alarme do

cronômetro regressivo. Ele desligou o relógio e sua esposa entrou pela porta.

- Robert, você não sabe o que eu comprei pra você, amor! Disse Suzan

feliz, pela surpresa que estava fazendo para o marido.

- Eu sei, querida. Um computador novo. Falou o detetive, desanimado.

- Como soube? E porque a tristeza? Indagou ela impressionada.

Robert estendeu-lhe o bilhete, fazendo uma cara de preocupado. Suzan

leu-o imediatamente e sentou-se, pasma, enquanto a secretária entrou na sala

dizendo:

- Robert, recebi um telefonema dizendo que é pra você ler seus emails.

Ele abriu os emails e encontrou um que dizia no assunto: “Címerio”.

O detetive começou a ler em voz alta:

“Querido Robert, diga a sua esposa - que está sentada atônita em sua

frente - que não se assuste. Sabemos de todos os seus passos e podemos fazer o

que quisermos com qualquer um de vocês, a hora em que bem entendermos. Mas

não queremos o seu mal, embora você queira o nosso. Damos uma grande

24

chance: hoje é terça-feira, até domingo queremos vocês em algum lugar que seja

– pelo menos – a mil quilômetros de distância daqui. Caso contrário utilizaremos

nossas informações para fazer algumas coisas com vocês, como prova de nosso

desagrado. Espero não estar sendo subjetivo em minhas palavras. Sinceramente,

Miguel”.

- Ele é o sacerdote de Címerio, no Brasil, eu acho. Quer que nos

mudemos daqui, mas é claro que não vamos fazer isso, senão seremos fugitivos

de endemoniados pro resto das nossas vidas. - Declarou Robert.

- Então, o que faremos? Perguntou Suzan assustada. – Deixo Sara

continuar a ir ao colégio?

- Fique tranquila, meu bem. Disse Robert se levantando e abraçando-a

carinhosamente. – Deus está no comando e tudo ficará bem. Você poderá me

ajudar orando, e muito, com seu grupo de intercessão. As retalhações virão, mas

cremos na promessa descrita em Lucas 10:19.

25

CAPÍTULO 04

Aprendendo a reconhecer os sinais

Aquela tarde de terça-feira parecia diferente. Robert não conseguia sair

na rua sem ficar olhando tudo e todos em busca de sinais. Seus olhos percorriam

tudo, associando imagens, gestos, cores… Seus ouvidos faziam as relações de

palavras ouvidas e repetidas. Aquilo tudo poderia muito bem virar uma neurose se

ele não estivesse debaixo da Poderosa Mão do Criador.

Sentou-se num banco da pracinha em frente ao escritório e ficou ali,

vendo as coisas ao seu redor. Decidiu analisar o quarteirão, olhando as lojas e

suas fachadas. Começou a perceber as pixações em lugares altos. Cada qual

tentando pixar no lugar mais alto ou mais difícil, para estabelecer o seu domínio

na região.

Logo lhe veio à mente os adoradores de Címerio, o demônio da ciência.

“Verde e preto”, pensou ele, “são as suas cores”. Robert sabia que, de acordo

com a psicologia, os gênios escolhiam o verde, como cor preferida. Poderia ter

alguma relação. O preto, certamente simbolizava as trevas. Passou um jovem com

uma camiseta preta com um desenho verde na frente escrito: “Os aliens estão

entre nós”. Robert sorriu, “era só o que me faltava, ter alienígenas na Terra...”,

pensou ele. De repente parou seus movimentos e começou a raciocinar: “Aliens...

a Nasa ou outras agências de inteligência é que pesquisam vida no espaço. Muita

ciência... muito domínio de Címerio. Não, não, não... a ciência não pertence a

Címerio, é só uma área que ele domina, mas não quer dizer que tudo o que for

científico seja dele. Deus é o dono da ciência... mas essas agências espaciais

tentam mandar o homem ao espaço, a outros planetas... Não... isso é óbvio

demais. Satanás, e consequentemente Címerio, sabem que não existe vida em

outros planetas. A Palavra de Deus nos mostra em Gênesis que todos os corpos e

astros celestes foram criados depois que a terra foi criada, ou seja, Deus criou-os

para a terra. São fruto da criação de Deus para iluminar e embelezar a terra. É

claro que o próprio Plano de Salvação do Senhor, ao enviar Seu Filho Jesus Cristo

para salvar toda criatura já explica isso, pois se houvesse vida inteligente em outro

26

planeta, o Senhor teria que enviar Jesus para lá também...” Robert sorria

enquanto pensava neste assunto, por imaginar como pessoas dedicavam as suas

vidas em busca de algo que, apesar de décadas discutido, nunca foi provado nada

e muito menos apresentado algo para a sociedade científica mundial.

Sua mente perguntava para si mesmo e ele, em um raciocínio muito

rápido, formulava as respostas: “Então porque os países de primeiro mundo

gastam bilhões de dólares em programas espaciais, se nunca tiveram uma única

prova da existência de alienígenas? Deve ser para disfarçar o gastos que eles

fazem com armamento e política de guerra pois seus planos, evidentemente, é

terem um governo mundial único, o que poderemos prever o aparecimento do

anticristo”.

Robert pensava isso porque haviam visto em um noticiário que um

americano milionário havia feito, com recursos próprios, a primeira nave espacial

particular, e com um custo infinitamente mais baixo que as agências espaciais

americanas. “Isso é prova contundente de que o dinheiro é desviado para outros

fins, mas iludem a população com histórias fantásticas de vidas em outros

planetas, para que não percebam isso. Se utilizassem todo este dinheiro com

programas contra propagação de epidemias e contra a fome nos países

subdesenvolvidos, certamente teríamos um mundo melhor”, concluiu Robert o seu

pensamento, dizendo para si mesmo:

- Buscam vida inteligente no espaço... Se fossem eles tão inteligentes

assim, não precisariam buscar no espaço. Encontrariam por aqui mesmo. Se te

remontares como águia e puseres o teu ninho entre as estrelas, de lá te

derribarei, diz o Senhor. - Recitou Obadias capítulo um e verso quatorze, poética e

solenimente.

Robert tinha que pensar rápido, porque a sua vida e de sua família

corriam perigo. Os traficantes, certamente sustentados pela Organização

Adoradores de Címerio estariam sendo acionados a partir do domingo, caso ele e

sua família não fossem embora. Ele já havia passado por muitas provas, mas esta

era realmente grande. Não sabia como agir, apenas sabia que o Senhor lhe

dissera para aprender a reconhecer os sinais. Isso seria vital para ele.

27

Levantou e começou a andar por uma rua paralela àquela praça. Era

um bairro de classe média, mas devido ao domínio daquela potestade e seus

dominadores, passou a ser um bairro feio, pixado, sujo e até mal-cheiroso.

Começou a perceber que haviam casas com vasos brancos em cima de

seus muros. A cada três quarteirões, uma casa de esquina continha os mesmos

vasos postos sobre os muros. Ele rapidamente começou a ligar os fatos e a

raciocinar. Voltou para o escritório correndo e pegou sua máquina fotográfica

digital, um punhado de giz de cera, caderno e canetas.

Voltou até a primeira esquina que havia visto os tais vasos e fez,

discretamente, um “x” na calçada, para marcar aquele lugar. Passou para o outro

lado da rua e fotografou a casa. No seu caderno, anotou o número da casa, o

nome das ruas que faziam o entroncamento e outras informações que lhe eram

coerentes. Passou os três quarteirões e encontrou a próxima casa, com os

mesmos tipos de vasos sobre os muros. Fez o mesmo procedimento que na outra

casa. Assim seguiu para os próximos três quarteirões e, como era de se esperar,

encontrou novamente uma casa de esquina, com os tais vasos em cima do muro.

Tirou as fotos e fez as anotações no caderno e o “x” na calçada. Seguiu andando

mais três quarteirões porém não viu mais nenhuma casa com os vasos, então

resolveu voltar à ultima casa.

“Três casas, em uma linha reta, com espaços de três quadras”, pensou

ele. “Certamente é uma demarcação territorial de alguma seita de magia negra,

mas em linha reta?”, raciocinou o detetive.

- Claro que não! Deve ser um quadrante. Como as casas estão do lado

esquerdo da rua, é só seguir mais três quadras para a esquerda agora! - Sussurou

consigo mesmo, vibrante pela sua conclusão.

Tomou a rua a esquerda da última casa e realmente encontrou uma

casa de esquina com os vasos brancos. Tudo ele ía anotando em seu caderno.

Andou muitos quarteirões demarcando as casas e sinalizando-as com um discreto

sinal na calçada. No caderno anotava todas as informações importantes sobre o

assunto.

Exausto pela caminhada, voltou para o escritório, para calcular suas

informações. Buscou na internet um mapa da cidade de São Paulo,

28

especificamente daquele bairro e imprimiu-o. Depois procurou as ruas e fez um

sinal sobre cada lugar onde havia uma casa com os vasos demarcando o território.

Ele ficou estupefato quando percebeu que as casas criavam um raio de três

fileiras de quadras para todos os lados de onde, exatamente, ficava a loja de livros

usados, utilizada para ser o quartel general de Miguel, o sacerdote de Címerio.

- São três fileiras de seis quadras, exatamente ao redor do Miguel.

Disse o detetive à sua secretária, enquanto escrevia no seu caderno os números

666.

- É isso! Exclamou Robert triunfante. – O número da besta, segundo o

livro do apocalipse. Disse enquanto pegava sua velha Bíblia e procurava a

passagem.

- Aqui está. Disse ele abrindo Apocalipse, capítulo treze, versículo

dezoito.

- “Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o

número da besta, pois é número de homem, Ora, este número é seiscentos e

sessenta e seis”, leu.

Robert reclinou-se na cadeira e começou a pensar. A secretária sabia

que quando ele ficava daquele jeito, era melhor deixá-lo sozinho, pois precisaria

de tempo para colocar todos os seus pensamentos em ordem.

“O número da besta é número de homem”, pensou ele, enquanto

grifava as palavras número e homem e fazia um círculo ao redor da palavra

calcule. “O povo hebreu cria muito no poder dos números. Em toda a Bíblia,

existem números extremamente significativo, como o sete, sete dias Deus usou

para criar e descansar a sua obra; o doze, doze tribos, doze pedras, doze pães na

Tabernáculo, doze discípulos, doze meses no ano... Eles criam que o número dois

era o número da consagração, razão pela qual os nazireus dividiam suas barbas

em duas tranças; o três, por sua vez, era o número do afastamento e maldição,

como os feiticeiros usavam suas barbas divididas em três tranças; Acreditavam

que o quatro era o número da força, que o oito era a representação do infinito, o

sete o número da perfeição e o seis...”.

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- O número do homem! Gritou Robert. – O número da imperfeição, um

número antes do sete, da perfeição. Ao número seis era creditado a

representação do homem, por ser exatamente no sexto dia que o Senhor o criou.

- Três vezes o seis, seis seis seis. O três é o número da maldição, o seis

o número do homem e também da imperfeição. Seis, seis, seis: o número de três

homens impuros ou o número de um homem amaldiçoado? Refletia Robert, com

uma rapidez de raciocínio impressionante.

- Meia, meia, meia, é o número de um homem amaldiçoado, claro! A

besta que emerge da tera, com dois chifres, como a personificação pérfida do

diabo, retirada da figura de Pan, um espírito da floresta que possuía a figura de

homem com as pernas de bode e com dois chifres na cabeça. E Jesus declarou,

no livro de João, capítulo seis, verso setenta, que havia escolhido os discípulos em

número de doze, mas que um deles era diabo. Porém todos eram homens, então

o nome diabo pode ser atribuído aos homens também. “O número da besta é

número de homem”, repetiu Apocalipse.

- Miguel! As três fileiras de seis quadras, demarcadas pelos vasos que,

muito provavelmente obtém em seus interiores oferendas aos demônios, cercam

exatamente o local onde Miguel comanda a Organização. O meia meia meia é

número de homem, Miguel. A besta que emerge da terra tem dois chifres, e

comanda a terra através do comércio, através de uma marca colocada sobre a

mão direita ou sobre a fronte. Isso só é possível através de uma tecnologia de

ponta. Ciência! Címerio é a potestade da ciência!

Robert estava estarrecido com suas conclusões. Miguel estava cercado

pelas casas, que provavelmente eram de membros da Organização, que o

cercavam com seus demônios, para que Miguel estivesse coberto espiritualmente.

- Impressionante a exatidão das coisas dentro da Organização! Disse o

detetive, enquanto arquivava em seu computador todas as informações obtidas

naquela tarde.

A noite Robert e sua família foram a igreja do pastor Samuel, pois tinha

culto de oração. Clamaram muito ao Senhor, pois agora, mais do que nunca,

precisavam do seu auxílio. Em dado momento, o detetive abriu sua Bíblia no texto

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do livro de Jeremias 33:3. “Deus está falando comigo sempre por este texto”,

pensou ele. Robert clamou, implorou à Deus que lhe anunciasse as coisas

grandes e ocultas que ele não sabia. Aquela seria a única maneira de sair com

vida, após o final de semana.

Após o culto, todos foram para a casa, menos Robert, Suzan e a

pequena Sara, que já dormia em um colchão do berçário da igreja. O casal ficou

orando, junto com o Pastor Samuel e a esposa dele. Assim terminou a terça-feira,

e iniciou uma corrida contra o relógio, mas cronometrada por Deus, que estava no

comando de tudo.

31

CAPÍTULO 05

A Organização dos Adoradores de Címerio

Era madrugada de terça para quarta-feira. Mais de trinta pessoas, entre

homens e mulheres estavam reunidos em uma clareira, no morro próximo ao

bairro em que Robert residia. Lá todos estavam em círculo, de mãos dadas,

fazendo suas preces. Há um observador comum, poderia se dizer que era um

grupo de crentes orando no morro, mas ao detetive Robert era muito mais do que

isso.

Ele havia chegado em casa naquela noite, depois de ir à igreja e

encontrou um bilhete que fora lançado por debaixo da porta de seu apartamento,

por um de seus informantes, dizendo que a Organização estaria reunida em

determinado lugar. O detetive se dispôs e foi até lá, escondido para observá-los.

Eles estavam fazendo preces e entoando cânticos que não podiam ser

distinguidos à distância que o detetive estava, observando tudo com seu binóculo

de visão noturna. No centro daquele grupo, havia um hexagrama, estrela de seis

pontas, desenhado com cal, no chão. Em cada ponta da estrela havia uma vela e

uma oferenda.

Devido a sua experiência, Robert já havia visto centenas de rituais e

reuniões de satanistas e esta não era diferente. Todas as pessoas estavam

vestidas de negro e apenas um, Miguel, tinha um longo manto verde, com capuz

sobre a cabeça. O detetive levantou-se vagarosamente e começou a se aproximar,

procurando um lugar melhor para conseguir ouvir o que eles diziam. Chegou bem

próximo, atrás de umas pedras que lhe serviram como ótimo esconderijo. Ao

examinar melhor o local, percebeu que haviam outras pessoas, além daqueles que

estavam no círculo. Eram, possivelmente, traficantes que faziam a segurança do

local. Eles eram inexperientes, pois estavam parados apenas junto ao carreiro que

levava na clareira, esperando que alguém pudesse subir por ali. Robert estava em

total segurança atrás das pedras.

Miguel tomou a palavra e começou a falar:

32

- Irmãos desta preciosa organização dos Adoradores de Címerio, nosso

senhor. Quero aqui esclarecer o propósito e motivo deste ritual extraordinário que

estamos fazendo. Existe um homem, detetive particular, chamado Robert. Ele é

especialista em destruir seitas de magia negra, com métodos naturais e

espirituais. Ele consegue bloquear todas as forças das trevas, através de rezas e

encantamentos que aprendeu a fazer na igreja evangélica que vai.

“Rezas e encantamentos??”, pensou Robert. “São orações e palavras

proféticas, não encantamentos. Eles falam segundo as suas próprias linguagens,

segundo aquilo que estão habituados”, concluiu, enquanto Miguel ainda falava.

- Após conseguir bloquear a ação das trevas, ele entra com a lei

humana, que vê os sacrifícios de amor e poder que fazemos como crime de

assassinato, perversão sexual etc. Se conseguir provas contra as nossas

atividades, correremos o sério risco de sermos presos, com várias acusações. Por

isso, enviei uma mensagem para ele e conversei com o detetive, pedindo-o que vá

embora até domingo de nossa cidade, para um lugar que fique, pelo menos, há

mais de mil quilômetros de distância.

Todos eles riram de satisfação e de admiração pela autoridade de seu

líder. Uns aplaudiram-no e outros ainda, assobiavam em sinal de consoância com

a atitude do sacerdote.

- Por isso organizei um esquema de guerra. Continuou ele. – Vamos nos

dividir, apenas nós deste bairro, em cinco equipes. Cada equipe deverá atacá-lo

em um dia, até o domingo, para que vá embora. O ataque consistirá em “Globos

Azuis” sobre a família toda e em retaliações físicas. A polícia jamais saberá quem

está o atacando, visto que todos aqui são cidadãos muito bem vistos pela

sociedade e cada dia virá ataque de uma equipe diferente, deixando-os totalmente

perdidos em relação a procedência dos mesmos.

Todos aplaudiram e ovacionaram o sacerdote. Muitos diziam que ele

era um gênio, outros que era um grande estrategista. Os elogios salpicavam em

meio aos gritos de felicidade e vitória antecipada que acreditavam.

Robert, em seu esconderijo sentiu um calafrio. Ali certamente estavam

pessoas da polícia, políticos, empresários. Pessoas que poderiam facilmente

acabar com a sua vida, criando mentiras e forjando provas. Pensou logo na sua

33

esposa e na sua filha Sara. Lembrou-se do Caso Filhas da Luz, o qual Deus o

revelou que haveria uma terrível retaliação sobre a sua família, devido uma queda

sua. Bem era verdade que, quando ele recebeu a revelação sobre o caso,

telefonou para a superitendência geral da polícia argentina, delatando os nomes

dos policiais, das pessoas, dos lugares que eram feitos os rituais em Mendoza. A

polícia conferiu se realmente existiam aquelas pessoas e elas existiam, então

afastaram os policiais e prenderam os líderes da irmandade, sob a acusação de

serem assassinos, sequestradores e mandantes de crimes como assassinato,

sequestro e abuso de menores. Mesmo Robert não estando lá, após receber a

revelação de Deus, pode resolver o caso. Mas agora era diferente, ele realmente

estava ali, no meio de uma perigosa organização criminosa, ligada ao satanismo.

Uma nova modalidade de adoração aos demônios, organizações que adoravam as

potestades, como os adoradores de Baaal, de Asserá, de Dagon e tantos outros,

descritos no Velho Testamento da Bíblia Sagrada.

Miguel combinou com todos os membros como seria a reunião para

marcarem os ataques:

- Amanhã, exatamente ao meio-dia, estaremos na nossa sala de bate-

papo, para fazermos a reunião on-line. A senha será “V-P-7” e só poderá entrar na

sala quem tiver a senha. Identifiquem-se com outro nome, para que não

possamos ser descobertos por ninguém. Quando chegar o trigésimo sétimo

membro, o servidor bloqueia o acesso dos demais que queiram entrar

automaticamente. É uma questão de segurança. Vamos embora dormir e amanhã

combinaremos os ataques. Concluiu a reunião ritualística.

Robert esperou todos irem embora para depois descer por onde subiu.

Foi para casa preocupado com o que poderia acontecer mas feliz, porque tinha

um trunfo: sabia que se reuniriam on-line e tinha a senha. Bastava encontrar qual

site de bate-papo teria uma sala criada por um usuário com um nome que

pudesse ser identificado como sendo da Organização. Isso seria uma tarefa difícil,

mas se conseguisse entrar na reunião, saberia quais eram os planos de Miguel,

para a retaliação.

Chegou em casa cansado. Suzan estava acordada esperando o marido,

anciosa.

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- Tudo bem, meu amor?

- Tudo querida. Deus está nos ajudando. Descobri que amanhã, ao

meio dia eles estarão fazendo uma reunião virtual em um site de bate-papo e que

a senha para entrar na reunião é “V-P-7”. Só não sei qual o site, mas vou dar um

jeito. Agora, vou tomar um banho e já vou deitar. Disse o detetive dirigindo-se ao

banheiro.

35

CAPÍTULO 06

Perseguição on-line

Robert acordou cedo. Pegou o telefone e ligou para um amigo seu, que

era especialista em internet e segurança virtual.

- Marcos, bom dia! É o Robert. Cara, preciso de um favor teu. Tenho

uma reunião virtual para rastrear hoje ao meio dia, mas não sei o site. O nome da

organização é Adoradores de Címerio. Eles usam as cores verde e preto, o

sacerdote deles se chama Miguel, só podem entrar trinta e sete pessoas e depois

disso o servidor bloqueia imediatamente a entrada de mais pessoas. Será que tem

como você descobrir para mim qual site ou servidor é o deles?

- Humm, trabalho duro, e ainda mais que é pro meio-dia, mas vou

tentar, ok? É algo muito importante, Robert? Perguntou o amigo, sempre

interessado nos casos em que Robert trabalhava.

- É. Eles vão estar decidindo como me matar até domingo. Respondeu

o detetive.

- Hahahá. Boa piada! Tudo bem, entendo se você não quiser revelar,

para o bem da investigação. Logo logo te ligo, ok? Respondeu Marcos, não

acreditando no que Robert falara e desligando o telefone.

Marcos é um garoto de vinte e seis anos, cursando o último ano de

processamento de dados e tecnologia da informação. Um verdadeiro hacker que

Robert ganhou para Jesus. Hoje ele trabalha com segurança de sites, e ajuda o

detetive nas suas investigações e em tudo o que ele precisa em termos digitais e

virtuais.

Sempre interessado pelos casos nos quais Robert está atuando,

apaixonado por suspense e casos policiais, Marcos seria realmente um excelente

ajudante para o detetive, caso não estivesse concluindo a sua faculdade e isso lhe

roubasse quase todo o seu tempo. Ambos esperavam a formatura, para que

Marcos passasse a trabalhar integralmente com ele.

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Leitor inveterado dos livros de Sir Arthur Conan Doyle, criador de

Sherlock Homes, o detetive da rua Baker, em Londres, no século dezoito,

frequentemente citava situações vividas pelo personagem dos romances policiais,

como se estivesse vivendo com Sherlock Homes e seu amigo Dr. Watson aquelas

aventuras. Esse era o motivo pelo qual inicialmente criou uma grande amizade e

admiração por Robert, pois via nele a personificação do personagem de Conan

Doyle e, consequentemente se sentia um Watson pós moderno.

Robert naquela manhã estava inquieto. Não poderia ser diferente, pois

a vida de sua família estava nas mãos de Deus, porém as atitudes seriam suas e

isso é o que lhe preocupava, pois servia um Deus infalível mas ele, falho humano,

poderia falhar e isso poderia criar um problema para todos. Sentou-se na sua

poltrona em casa para ler a Bíblia. Não permitiu que Sara fosse ao colégio hoje,

para sua segurança. Frequentemente ela faltava, pois muitos eram os casos

perigosos que Robert resolvia e, para evitar qualquer retaliação ele a deixava em

casa. Sim, ele sabia da promessa em Lucas dez, versículo dezenove, porém sabia

também que as atitudes naturais são nossas responsabilidades. Ele sabia por

aprendizado bíblico e por muitas experiências que várias vezes a atitude do

homem alterou o rumo da história e Deus concordou com as decisões tomadas.

Moisés era o homem que Jeová havia escolhido para ser o libertador do povo de

Israel do Egito, mas sua mãe o depositou em um cesto de vime e colocou-o no

Rio Nilo, afim de que se salvasse da matança das crianças. José e Maria, com

Jesus ainda pequeno, tinham a promessa que nada lhes faria mal, pois ali estava

o Salvador da humanidade, porém tiveram que fugir para o Egito, evitando a sua

morte. Robert sabia que as suas atitudes guiadas pelo Espírito Santo e seguidas à

risca seriam cruciais para a segurança de sua família e sua própria.

Abriu sua Biblia e começou a lê-la, em Oséias, capítulo quatorze:

“Volta, ó Israel, para o Senhor, teu Deus, porque, pelos teus pecados,

estás caído. Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao

Senhor; dizei-lhe: Perdoa toda a iniquidade, aceita o que é bom e, em vez de

novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios. A Assíria já não nos salvará, não iremos

montados em cavalos e não mais diremos à obra das nossas mãos: tu és o nosso

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Deus; por ti o órfão alcançará misericórdia. Curarei a sua infidelidade, eu de mim

mesmo os amarei, porque a minha ira se apartou deles. Serei para Israel como

orvalho, ele florescerá como o lírio e lançará as suas raízes como o cedro do

Líbano. Estender-se-ão os seus ramos, o seu esplendor será como o da oliveira, e

a sua fragância, como a do Líbano. Os que se assentam de novo à sua sombra

voltarão; serão vivificados como o cereal e florescerão como a vide; a sua fama

será como a do vinho do Líbano. Ó Efraim, que tenho eu com os ídolos? Eu te

ouvirei e cuidarei de ti; sou como o cipreste verde, de mim procede o teu fruto.

Quem é sábio, que entenda estas coisas; quem é prudente, que as saiba, porque

os caminhos do Senhor são retos, e os justos andarão neles, mas os

transgressores neles cairão”.

O texto caiu como um bálsamo para as suas feridas recém abertas. O

livro do profeta Oséias era intrigante. Israel havia pecado contra Deus, se

prostituído através da adoração a ídolos, eram infiéis, corruptos. Os sacerdotes

estavam deturpados, criavam doutrinas excessivas que não agradavam a Deus. O

povo tinha uma conversão falsa, sem profundidade no relacionamento com o

Criador. Um povo ingrato, que vivia da luxúria, semeava a malícia, não reconhecia

o amor de Deus, como um Pai, mas mesmo assim, o Senhor prometeu restaurá-

los!

Os olhos de Robert encheram-se de lágrimas, ao pensar na proporção

do amor de Deus. “Deus amou o mundo de tal maneira...”, pensou ele. “Agora

posso entender o que significa o ‘tal maneira’ que o Apóstolo João quis dizer no

texto, era algo maior do que a imensidão dos nossos erros e delitos”.

- Porque os caminhos do Senhor são retos, e os justos andarão neles,

mas os transgressores neles cairão. Repetiu o texto de Oséias. Seu corpo tremeu

e ele pode ouvir a Voz do Altíssimo em seu coração perguntando:

- Você é justo, Robert?

- Não sei, Pai. Tu o sabes. Respondeu humildemente o detetive

particular.

- Seja justo, meu filho, e andarás nos Meus Caminhos e não cairás.

Porém aqueles que têm te perseguido estarão andando no mesmo caminho que

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você, para encontrar-te. Este é o Caminho de Deus. Quando eles pisarem neste

caminho, cairão e tu os vencerá! Finalizou o Espírito Santo.

Robert permaneceu imóvel por alguns minutos, num êxtase espiritual.

Quase não se ouvia a sua respiração. Ele não queria pensar agora, não queria

saber o que aquelas palavras significavam. Queria apenas estar ali, sentindo a

presença poderosa do Criador, ficando debaixo de Suas Asas, escondendo-se na

Sombra do Onipotente!

Dez horas da manhã...

O telefone toca e Robert atende, era Marcos chamando-o para ir à sua

casa, pois tinha novidades para lhe contar. Robert pega seu carro e vai até lá

rapidamente, pois o prazo estava se esgotando e cada minuto era precioso.

A casa de Marcos era bonita. Ele morava sozinho, em um bairro vizinho

ao do detetive. Tudo era bem organizado, como se houvesse um toque feminino

ali.

- Bonita casa. Quem arruma isso tudo? Indagou Robert.

- Minha mãe. Ela mora aqui perto e vem todos os dias me ajudar em

alguma coisa. Sabe como é, sou filho único. Respondeu com um sorriso

envergonhado nos lábios.

- Imaginei que tivesse uma mulher na jogada, pra manter isso aqui

deste jeito. Ironizou o detetive, enquanto seguia o amigo até seu escritório, que

era exatamente o oposto do restante da casa.

- Bem, pelo que posso notar, a sua mãe é proibida de entrar aqui

dentro. Aliás, não só ela, como também o ar, a luz do sol... Reclamou Robert.

Marcos simplesmente sorriu. O quarto que ele usava como escritório

era escuro, com uma atmosfera abafada e com um forte cheiro de mofo. Haviam

livros espalhados por todos os cantos, computadores que ficavam constantemente

ligados e pilhas de histórias em quadrinho de Sherlock Homes, conseguidas por

um amigo que mora na Inglaterra. Sem contar os livros do detetive londrino, que

englobavam toda a coleção de Arthur Conan Doyle.

- Quero lhe mostrar umas coisas que fiz para você. Disse o garoto.

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- Mas você descobriu qual é o site da Organização? Replicou

nervosamente o detetive.

- Fiz muito mais do que isso. Achei-o e fiz um clone dele. Respondeu.

- Um clone? Pra que você clonou um site? Robert estava literalmente

perdido em meio aos pensamentos de Marcos.

- Elementar meu caro Robert! Disse triunfante o amigo. – Você me falou

que o servidor bloqueia automáticamente após a entrada da trigésima sétima

pessoa no chat. Quando você conseguir entrar, um deles ficará de fora e o

servidor bloqueará a sua entrada. Imediatamente este que ficará bloqueado ligaria

para um dos trinta e sete reclamando que ficou de fora. Eles contariam quantas

pessoas estão na sala e descobririam rapidamente que um deles é um intruso.

Certamente cancelariam imediatamente a reunião, desconectariam o servidor e

mudariam a sala, as senhas e os horários e nós nunca mais poderíamos achá-los.

Então tomei a liberdade de clonar o chat deles, fazendo um redirecionamento

automático de um deles que acessar o site e, ao invés de entrar na sala correta,

entrará sem saber na sala que eu clonei e pensará que está participando da

reunião. Concluiu cinematográficamente sua magnífica idéia.

- Mas... como ele participará da reunião, se estará em outra sala de

bate-papo? Perguntou confuso o detetive.

- Ah! Sim, esqueci de explicar esta parte. É que estou tão emocionado

com esta invasão ao sistema deles que acabei esquecendo de te explicar e, diga-

se de passagem, eles precisam de uma segurança maior. Você acredita que eu

gastei apenas vinte e oito minutos para entrar no servidor deles? Bom, quando o

“peixe” morder a nossa isca e cair na “rede”, eu estarei transmitindo para o nosso

chat clonado todos os diálogos dos outros para ele, que estará lendo tudo e

achando que está dentro da sala original, mas quando ele responder, a sua

resposta virá apenas para nós aqui e você responde isso na sala verdadeira. Isso o

fará pensar que está dentro da reunião e mais tarde, quando estiver entre os

membros desta sala, pessoalmente, poderá comentar sobre a reunião sem que

eles desconfiem da clonagem que fizemos. Explicou Marcos, usando os termos

policiais que tanto lhe fascinavam.

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- Simplesmente espetacular! Disse Robert, aplaudindo o garoto e dando

uma gargalhada de satisfação. – Tenho certeza que funcionará perfeitamente. Mas

tenho ainda uma dúvida: como faremos para saber o nome do último a entrar?

Porque se colocamos outro nome para nós, as respostas deles certamente citarão

o nosso nome e o nosso “peixe”, como você disse, terá outro nome e aí

desconfiará que algo está errado!

- Claro, mas já pensei nesta possibilidade. Não deixaremos o último

ficar de fora. Vamos rastrear o campo de entrada onde eles digitam seus nicks ou

nomes, como preferir, e então o jogamos na nossa sala clonada e você

imediatamente entra na sala original com o nome que ele havia digitado. Então

quando o último entrar na sala, o servidor a bloqueará e não acusará nenhuma

tentativa de invasão. Perfeito, não? Gabou-se o hacker recém convertido.

- Simplesmente perfeito. Agora precisamos esperar a hora da reunião e

colocar em prática nosso plano. Te garanto que o recompensarei pelos seus

esforços. Prometeu Robert.

- Não precisa se preocupar, irmão. Estou fazendo isso pela nossa

amizade e por você. Finalizou Marcos.

Robert sorriu amigávelmente para ele, que ficava falando ao detetive

sobre suas técnicas de invasão a sistemas de segurança e como resolver as

falhas. Apesar de Robert não entender nada do que ele estava falando, prestava o

máximo de atenção, pois Marcos era especial e isso era importante para ele. Valia

a pena ficar ali, dando-lhe toda atenção possível, fazendo-o sentir-se amado e

respeitado.

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CAPÍTULO 07

O “peixe” cai na rede mundial de computadores

Ao meio dia, Robert e Marcos estavam em frente aos monitores de dois

computadores, respectivamente, um para cada, ambos conectados na internet.

No ínterim entre a sua chegada à casa e o horário da reunião, Robert havia

treinado várias vezes como funcionaria a invasão no chat da Organização. Além do

site de entrada para a sala de bate-papo onde eles iriam se reunir, o detetive

estava conctado em rede com o computador de Marcos, e um programa de

comunicação estava aberto. Quando o “peixe”, ou seja, um dos trinta e sete

membros líderes da organização digitasse o seu nome fictício para entrar e Robert

conseguisse entrar com este nome antes dele, o membro da Organização cairia

automaticamente na sala virtual que Marcos havia clonado e pensaria o tempo

todo que estava dentro da reunião. Tudo o que ele digitasse Marcos receberia e

automaticamente mandaria para Robert, através do programa de comunicação em

rede. O plano era perfeito e o detetive estava confiante que tudo daria certo.

- Marcos, a primeira pessoa já se conectou! Disse Robert nervoso.

- Fica tranquilo, meu irmão. Vai dar tudo certo. Apenas espere que

alguém lento no digitar possa colocar o seu nome na tela inicial que estamos

monitorando, então você digita no site deles antes o nome e aperta a tecla enter,

o mais rápido possível. Explicou Marcos.

Robert olhou para ele, que estava no outro computador a sua frente e

deu uma piscada de olho. O sorriso de Marcos era a certeza de que tudo

funcionaria como eles planejaram.

Mais de dez pessoas já haviam se conectado, mas ninguém lento o

bastante na hora de escrever seu nome no site, para que Robert pudesse copiá-lo

antes da pessoa entrar, até que alguém digitou um nome errado. Ao invés de

escrever “LUZ” ele escreveu “LUS” e apagou o “s” para corrigir e colocar o “z”.

Essa era a chance que Robert esperava! Imediatamente escreveu LUZ na entrada

do chat e apertou a tecla enter. Estava dentro da “sala virtual de reuniões” da

Organização.

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Era uma outra janela que se abria simultâneamente na tela do

computador. Uma música sinistra passava a tocar, certamente um hino de

adoração à Címerio. Robert perguntou a Marcos se o “peixe” havia caído na rede e

ele respondeu afirmamente, eufórico pelo seu plano estar dando certo.

Pouco a pouco os demais membros íam entrando e a lista lateral dos

participantes da reunião estava se completando, até que o trigésimo sétimo

entrou. Seu nome: ARCANJO.

- Este último, com certeza é o Miguel! Disse Robert à Marcos. – Fui eu

que perguntei à ele se era o Arcanjo Miguel e o safado copiou a minha ironia...

Mencionou Robert desconcertado pela idéia que deu ao inimigo. Marcos

novamente sorriu e exclamou um “puxa!”, quando Miguel, ou ARCANJO, começou

a reunião:

- Queridos irmãos, vamos iniciar a nossa reunião agora. Por favor,

ninguém manifeste sua idéia antes de receber a autorização para isso. Temos

apenas poucos minutos para que possamos decidir este assunto tão importante!

Os demais participantes da reunião estavam em silêncio. Robert e

Marcos atentos a qualquer palavra digitada que aparecesse nas telas de seus

computadores. Miguel, na reunião cognominado de “Arcanjo” continuou:

- Hoje é quarta-feira e dei um prazo à Robert para sumir daqui até o

domingo. Por esta razão, temos apenas cinco dias, a começar por hoje, para fazer

pressão sobre ele e sua família, concretizando nossa ameaça. Ele tem sido

perigoso para a Organização no sentido de ser muito bom em destruir seitas. Ele

consegue, não sei como, reunir provas sobre as entidades e entregá-las à justiça.

Bem me lembro de uma casa de adoração à Lúcifer que ele conseguiu provar

através de filmagem e fotos os rituais de sangue que faziam e todos os envolvidos

foram presos por assassinato e formação de quadrilha. Não queremos que ele

atrapalhe nosso negócio, inclusive porque estamos lucrando muito com a

Organização agora. Para estes cinco dias, precisamos elaborar cinco retaliações,

uma para cada dia, fazendo-o ficar assustado conosco e o expulsando daqui, a

pelo menos mil quilômetros de distância. O que acham?

Muitas foram as mensagens pipocando na tela do computador do

detetive, apoiando o plano sinistro de Miguel. Robert mandou a dele também,

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copiando a mensagem que o verdadeiro “Luz” havia mandado da sala clonada em

que ele estava preso.

Miguel continuou:

- Bom, hoje a tarde já colocamos em prática o nosso plano. Quais

serão as táticas?

- Acho interessante encontrar uma maneira de deixá-lo preso, ao

menos uma noite, pois isso desestruturaria bastante o emocional dele. Disse uma

pessoa com o nome “Rimom”.

- Concordo com Rimom! Poderíamos falar com o pessoal da polícia para

entrarem na casa dele e afirmarem que acharam drogas escondidas. Completou

outro.

- Excelente idéia! Mais um entusiasmava-se com o plano.

- Bem, já temos um plano então. Disse Miguel. – Precisamos agora

viabilizá-lo. Como faremos?

- Eu vou falar com o meu pessoal para que entrem na casa dele, sob a

acusação de tráfico de drogas. Peço para alguém dos nossos procure a droga no

banheiro e nós colocaremos atrás do vaso sanitário, escondido. Depois que o

levar-mos ao DP, deixamos ele alí por uma noite, em uma cela perigosa e o

liberamos na manhã seguinte, avisando-o que ele tem o prazo de até domingo

para sumir de São Paulo. Concluiu Rimom o seu plano.

- Perfeito! Disse Miguel aprovando. – Podemos fazer isso quando?

Sábado? Ótimo. Então sábado será o dia da prisão dele. E para hoje? O que

faremos?

- Vamos começar com calma. Não sabemos se ele está levando a sério

ou não a ameaça para sair da cidade. Disse um deles. – Podemos cortar a conta

bancária dele, para que fique sem dinheiro e só no domingo liberar.

- Interessante, até posso fazer o bloqueio do sistema aqui mesmo pela

internet... Respondeu outro, que supostamente poderia ser alguém importante

dentro do banco que Robert tinha sua conta.

- E se ele tiver outra conta bancária que nós não sabemos? Perguntou

Robert através do seu disfarce.

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- Facilmente rastrearemos seus registros e encontraremos em qual

banco ele tem cadastro. Respondeu o membro que havia dado a idéia do bloqueio

bancário.

- Mas... Continuou Robert. – Se ele tiver uma conta paralela, com

algum outro beneficiário?

- Isso é pouco provável. Estes evangélicos são muito corretos. Não

haveria razão para ele ter uma conta secundária, com outra pessoa ou com outro

nome. Isto é fraude e a Bíblia deles proíbe a fraude. Respondeu Miguel, pensando

que estava falando com um membro de sua equipe, ao invés de falar com o

detetive disfarçado.

Robert imediatamente olha por sobre o monitor do computador para

Marcos e fala:

- Rápido! Me passe o número de sua conta bancária.

E fez uma transferência de tudo o que tinha para a conta do amigo.

- Pronto, agora eles não podem bloquear meu dinheiro. Não vou deixar

o “devorador” tomar o que o Senhor me abençoou. Disse ele ao amigo, dando um

sorrizinho de satisfação, por estar funcionando o plano.

Enquanto isso, na reunião virtual:

- Certo então. Falou Miguel. – Bloqueie a conta dele e da esposa. Assim

não terão dinheiro para fazer qualquer coisa. O banco dirá que foi um erro no

sistema e que até o final de semana estará solucionado.

Robert estava atento ao conteúdo da reunião, pois isso dependeria do

sucesso da sua missão. Agora ele não estava mais agindo em modo defensivo. Ele

iria atacar e destruir a Organização. Eles estavam certamente envolvidos com

outras coisas, além do ocultismo, por isso estavam tão interessados em se livrar

dele.

Durante a reunião virtual, Robert pôde anotar os cinco passos que eles

tomariam para retalhar a ele e sua família: bloqueariam suas contas bancárias,

roubariam o seu carro, enviariam uma gangue para espancá-lo na rua, mandariam

a polícia para encontrar drogas escondidas e prendê-lo na sua casa e, por fim,

incendiariam o seu apartamento com um vazamento de gás, para que não

tivessem onde morar.

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O detetive anotava tudo em sua caderneta, com um sorriso nos lábios.

Marcos estava assustado, pois não sabia qual era o teor da reunião e era algo

terrivelmente perigoso. Ao ver Robert com o sorriso nos lábios, logo percebeu que

ele já tinha a solução para os ataques.

- Quero fazer parte. Disse ele para Robert.

- Fazer parte do que? Respondeu o detetive.

- Ainda não sei do que, mas sei que você já tem um plano bolado na

sua cabeça e, seja o que for, eu quero estar dentro! Disse resolutamente o amigo.

Robert sorriu, levantou-se do seu lugar e, colocando a mão gentilmente

sobre o ombro esquerdo do amigo disse:

- Marcos, eu realmente vou precisar de você e seria uma honra para

mim contar com seus préstimos tecnológicos. Apenas não sei ainda o que fazer,

mas vou saber na hora certa, ok?

Um pouco antes da reunião virtual acabar, Marcos liberou o “peixe” da

sala clonada e ele pôde sair do bate-papo sem nunca saber que foi direcionado a

outro lugar.

- “Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire

conhecimento”. Recitou Marcos decor o livro de Provérbios, capítulo três, verso

treze, feliz por ser um verdadeiro expert em tecnologia e com isso estar ajudando

seu amigo detetive particular.

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CAPÍTULO 08

Quinta-Feira: primeira retaliação

Aquela manhã chuvosa jamais seria igual. Robert levantou muito cedo,

pois o sono o deixara sozinho na noite passada, fazendo-o se encontrar com a

solidão, em seu quarto. Um encontro lúngubre e desesperado com a maior amiga

dos insônes, que se não fosse a história real de sua vida, daria um triste e

melancólico blues.

Ele não havia dormido nada, afinal de contas, aquela seria a semana

mais longa de sua vida. Cada dia teria que lutar contra retaliações que, apesar de

saber quais eram, não conhecia as pessoas que as fariam e nem do que elas

seriam capazes.

Dobrou seus joelhos e orou. Orou muito... parecia que as palavras

vinham-lhe a mente de forma desordenada, com uma velocidade impressionante.

Os olhos de Robert estavam lagrimejados. Seu queixo apoiava-se em suas mãos

que deitavam sobre o piso. Sentia seu coração batendo forte e a sua respiração

atrapalhava um sussurro:

- Pai, não sei como agir.

Ele haveria de ter seu carro roubado pela Organização naquele dia.

Apesar de não ser algo perigoso, mas deixaria Suzan abalada. Ele havia decidido

não contar sobre as retaliações à sua família. Isso às deixariam nervosas e mais

vulneráveis aos ataques. Não queria ver sua doce Suzan e a pequena Sara

desesperadas, com medo e tristes pelo que poderia acontecer à elas e a ele

próprio. Pegou sua velha Bíblia nas mãos e disse:

- Pai, me ajude a encontrar uma solução, por favor! Abriu no Evangelho

de Mateus, capítulo vinte e quatro, verso quarenta e três:

“Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o

ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa”.

- Claro! Deus um grito de alegria. – Vigiar! Esta é a palavra correta!

Pegou o telefone e ligou para Marcos. O amigo atendeu do outro lado

da linha com uma voz de quem ainda estava dormindo.

47

- Marcos! Tá me ouvindo? Acorda, meu filho! Tenho um plano tremendo

para nos livrar das retaliações, mas preciso de você integralmente nisso. Pode

ser?

- Claro que sim! Respondeu Marcos. – Estou dentro. No que posso

ajudar? Levando minhas câmeras digitais para sua casa? Ótimo. O que mais? Os

computadores e sensores de movimento? Pode deixar, Robert. Está tudo anotado

aqui. Dentro de uma hora chego na sua casa!

Concluiu o expert em tecnologia, desligando o telefone. Marcos estava

feliz em poder ajudar o detetive, visto sua paixão por contos policiais. Ele tinha um

verdadeiro arsenal de espionagem em casa. Coisas que foi adquirindo com o

passar do tempo, apenas por hobby. Hoje seria o seu grande dia. O dia de usar a

sua parafernalha tecnológica de verdade! Ele estava se sentindo um James Bond

paulistano. Rapidamente acondicionou tudo em bolsas específicas, entrou em seu

carro e rumou até a casa de Robert. Quando chegou, ele estava sentado a mesa,

tomando seu café da manhã.

- Rapaz! Você veio rápido. Como fez, veio voando? Brincou o detetive.

- Que nada... é que não vejo a hora de colocar pra funcionar os meus

brinquedinhos. O que temos aí pra comer? Falou sentando-se em uma cadeira ao

lado de Robert. – Pode falar, Sherlock, seu Watson está aqui para ouvir o plano.

Disse ele usando os nomes dos personagens de Conan Doyle.

- O plano é o seguinte. Disse Miguel aos rapazes que haviam sido

designados para roubar o carro de Robert. – Preciso que vocês roubem o carro

dele quando estiver sem ninguém dentro. Não queremos vítimas, por enquanto, e

muito menos testemunhas. Ele deixa o carro na frente do escritório, todos os dias,

na rua. Ali é um lugar fácil de roubar. Peguem o carro e desapareçam com ele.

Precisaremos dele no domingo, para que possam ir embora daqui. Entendido?

Os garotos eram especialistas em roubo de carros e recebiam uma boa

quantia de dinheiro para realizar eventuais furtos, quando a Organização

necessitava. Decidiram que o melhor período era a tarde, porque o movimento era

maior na rua e ninguém prestaria atenção neles entrando em um carro.

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Após contar o plano para Marcos, os dois se levantaram e seguiram

para o carro. A idéia era colocar câmeras digitais de vídeo em quase todo o carro,

as quais monitorariam as pessoas dentro do veículo, o caminho pelo qual

percorreriam e o lugar em que ficaria estacionado.

Dentro da garagem do prédio, os dois “grampearam” o carro todinho.

Colocaram uma câmera sob o parachoques dianteiro, outra sob o traseiro e uma

dentro, próximo ao painel. Marcos também instalou no retrovisor de dentro do

carro um microfone, para poder gravar as conversas. Tudo monitorado por sinal

telefônico, via celular.

- É a mesma tecnologia que usam para rastreamento de caminhões.

Nós ligamos para o número do celular que comanda o equipamento e por este

celular aqui, conectado ao computador, poderemos receber o sinal. Assim

gravaremos toda a conversa e registraremos as imagens internas e externas.

Concluiu o ex-hacker feliz da vida.

- Simplesmente inacreditável. Disse o detetive. – Preciso de umas

coisas dessas no meu escritório, para as minhas investigações.

- Ano que vem, meu caro. Ano que vem. Falou Marcos, lembrando que

no próximo ano sua faculdade estaria concluída e ambos poderiam trabalhar

juntos.

Tudo terminado, Robert resolveu então testar o equipamento, levando

Marcos até o escritório, onde montou uma “central de inteligência” para a

investigação. Logo após, saiu com o carro enquanto Marcos monitorava tudo.

Quando voltou para lá, puderam ver as imagens, selecionar cenas para imprimir

como fotografias e ouvir o audio.

- Você precisava cantar “Eram cem ovelhas” o tempo todo? Reclamou

Marcos.

- Hehe... Eu tinha que testar se o microfone estava funcionando bem.

Falou plácidamente o detetive, como se fosse um cantor de ópera.

49

Durante o almoço, Robert foi normalmente para casa, enquanto Marcos

ficou no escritório, monitorando tudo o que acontecia com o carro. Robert estava

ansioso e o apetite não vinha. Suzan percebeu que algo estava errado e

perguntou-lhe como estava o caso da Organização e como havia sido a invasão ao

site deles. O detetive respondeu que tudo estava tranquilo e que ele e Marcos

estavam trabalhando no caso e esperavam resolvê-lo até no domingo.

- Robert, fui ao banco hoje cedo e minha conta está bloqueada. O

gerente me disse que pode ser algum problema no sistema e que logo estaria

resolvido. Você acha que isso tem a ver com a Organização? Perguntou a esposa.

- Pode ser... mas se o gerente disse que logo resolveriam, então tudo

bem. Fique tranquila quanto à Organização, pois não passam de uns aficcionados

por histórias de terror e internet. Não há perigo sobre nós, pois o Senhor tem nos

guardado. Vou prendê-los até domingo, te prometo. Falou ele à esposa, enquanto

se levantava da mesa e beijava-lhe a testa. Ela sorriu e disse um “te amo”

carinhoso, porém vago. Suzan conhecia bem o marido e sabia que as coisas não

andavam bem. O único jeito nesta hora era orar para que realmente nada pudesse

acontecer. Lembrou-se de quando era criança, leu sobre Adão e Eva, quando a

mulher fora criada para ser a axiliadora do homem. Suzan estava determinada a

ser a auxiliadora de Robert, não lhe importava o preço a ser pago para isso, ela o

pagaria com seus joelhos.

Nervosamente Robert estacionou seu carro em frente ao escritório de

sua empresa de investigações criminais e seitas. Entrou certo de que estava

sendo observado, mas não olhou para trás. Ele queria que o plano funcionasse,

afinal de contas, se a Organização queria retalhá-lo, ele os retalharia também.

- O que comeu Marcos?

- Pedi uma pizza e uns refrigerantes. Respondeu ele.

- Algum sinal deles? Perguntou ancioso o detetive.

- Sim. Existem dois rapazes que já passaram aqui na frente umas cinco

vezes, olhando cuidadosamente para a visinhança. Creio que são eles. Tomei o

cuidado de fotografá-los daqui da janela. Veja quem são. Os reconhece? Não?

Bom, pelo menos já temos as fotos deles. Precisamos documentar todo o roubo,

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para que possamos levar a polícia até eles. Disse Marcos, passando o relatório

completo.

- Já liguei para o Pereira, na polícia. Falei pra ele que estamos com um

caso quente e que todos os créditos serão dele novamente. Ele me falou pra

procedermos da mesma maneira que das outras vezes, reunindo provas e

preparando o flagrante. Resumiu Robert.

Pereira era um agente da polícia civil que nascera em um lar evangélico

e era muito amigo da família de Suzan, moradores há anos naquele lugar. Com a

vinda da família do detetive particular para São Paulo, ficaram amigos e passaram

a trabalhar juntos, Robert investigando e Pereira prendendo. Ele era realmente um

apoio perfeito, pois em muitas situações era necessário a entrada em locais

perigosos e com pessoas fortemente armadas.

Robert constantemente viajava para outros estados do Brasil,

resolvendo casos difíceis, na maioria das vezes contratado por igrejas, que

percebem mais facilmente o envolvimento das pessoas nesta área. Durante estas

viagens, Pereira o auxiliava se comunicando com policiais evangélicos nas mais

remotas regiões, devido a uma associação que criaram, cadastrando policiais

civis, militares, federais e agentes das forças armadas evangélicos em todo o

Brasil. Isso facilitava em muito o trabalho de investigação criminal nas seitas, pois

muitas vezes o fator principal de um caso é invisível, por tratar-se de seitas

satânicas, mas quando investigadas a fundo, encontram-se sequestros, roubos,

assassinatos, tráfico etc.

Enquanto Marcos e Robert conversavam sobre como proceder após o

roubo do carro, os dois suspeitos chegaram em frente do escritório. Um parou ao

lado do carro de Robert e outro abriu rapidamente a porta do motorista e do

passageiro. Com uma precisão profissional, ligou o carro e ambos saíram, sem

levantar suspeitas da vizinhança.

Toda a ação foi filmada pelos detetives, através de uma janela lateral

do escritório. Após os criminosos levarem o carro, os dois correram para o

computador e passaram a monitorar seus passos. Os dois rapazes estavam

51

tranquilos, como se o carro fosse deles mesmo. Pegaram uma avenida principal e

desceram até um bairro de classe média, onde entraram em uma casa, fechando

a porta da garagem, ocultando assim o veículo roubado.

- Conseguiu pegar o nome da rua e o número da casa? Perguntou

Robert eufórico.

- Não só peguei o nome da rua, o número da casa, como também os

pontos de referência no bairro e... só um segundo, aqui pela internet se pode

descobrir tudo hoje em dia... Ah! Fantástico! Pelo endereço e número da casa,

posso saber até o nome do proprietário. Vamos lá? Perguntou Marcos.

- Claro! Vou ligar para o Pereira. Leve o laptop para podermos provar

nossa acusação. Falou Robert enquanto ligava para Pereira de seu celular. –

Marcos, vamos no seu carro ok? Concluiu sorrindo.

Encontraram-se com Pereira no local indicado. Marcos estava com o

laptop aberto, com as fotos da casa onde estava o carro escondido.

- É esta casa mesmo! Disse o policial.

- Pois é. Tenho aqui até a voz deles gravada, comentando sobre os

detalhes do furto. Quer ver o que tem dentro da garagem? Perguntou Marcos

triunfante, enquanto ligava as câmeras do carro pela conexão com o celular.

- É impressionante como vocês conseguem essas coisas. Eu só via isso

nos filmes do 007. Disse Pereira impressionado.

Robert aproximou-se do portão e apertou a campaínha. Uma senhora

atendeu educadamente:

- Pois não, senhor?

- Boa tarde, senhora. Eu gostaria de falar com seu filho. Explicou ele.

- Sobre qual assunto, o senhor pode me adiantar?

- Sobre o carro que está dentro da sua garagem. Disse Robert,

enquanto estendia o braço direito na direção da garagem e apertava o botão do

alarme do carro, anexo a chave que estava com ele, produzindo um barulho de

buzina.

52

A mulher ficou chocada e correu para dentro. Em questão de segundos

apareceu um senhor de aproximadamente cinquenta e cinco anos, com um olhar

assustado e uma postura genuínamente italiana.

- Pois não? O que querem com o meu filho? Perguntou grotescamente

o homem. Pereira tomou a vez da conversa e, mostrando sua identificação

policial, educadamente falou:

- Senhor, sou o agente Pereira, da polícia civil e temos provas

contundentes que seu filho, acompanhado de um garoto chamado Silvinho, que

segundo nossas informações está dentro de sua casa, acompanhado de seu filho

Mauro, roubou o carro deste senhor aqui há cerca de 30 minutos atrás.

- E o que o faz pensar isso tudo? Gritou o pai do garoto.

- Isto! Disse Marcos, mostrando o laptop com as fotos dos dois

roubando o carro e trazendo até a casa. – E o mais importante, um filme pro

senhor assistir. Concluiu clicando em uma tecla que iniciou a reprodução da

gravação do vídeo que fizeram, desde a hora em que aparece os dois arrombando

o carro como também fazendo uma ligação direta com uma chave falsa. – E, pra

encerrar o espetáculo, o senhor poderá ver a sua garagem por dentro. No laptop

apareciam as imagens internas do carro e da garagem.

O pai do garoto estava absorto! Não havia como negar. Foi até dentro

da casa e trouxe o filho aos arrastos para fora, e com ele o amigo infrator.

- Aqui está o meu filho, policial. Faça com ele o que a lei determina. E

abrindo a garagem, disse para Robert: - Pegue seu carro, amigo. Sinto muito pelo

transtorno que esse delinquente lhe causou. Veja se está faltando algo dentro do

carro e eu lhe restituirei no que for preciso. Nunca imaginei que meu filho fosse

um ladrão, depois da educação que nós demos para ele. Jamais lhe faltou algo

em casa. Disse tristemente o senhor.

Robert colocou seu braço sobre o ombro dele e lhe disse:

- Talvés este seja o problema, nunca ter dito não à ele. As crianças,

quando não aprendem seus limites na sociedade, tendem a ser delinquentes na

adolescência e criminosos na idade adulta.

Pereira já havia algemado os dois rapazes e estava colocando-os na

viatura, quando o pai perguntou ao filho:

53

- Maurinho, porque você fez isso? Está envolvido em drogas?

O garoto somente abaixou a cabeça e murmurou quase que

inadivelmente:

- O senhor nunca poderá saber, papai, é perigoso demais.

54

CAPÍTULO 09

Sensibilidade espiritual aflorada

Era início da noite e Robert sabia que nada além da comunhão com o

Espírito Santo seria suficiente para vencer a batalha contra a Organização. Ele

estava em seu quarto refletindo os anos em que estava trabalhando como detetive

particular e como as suas missões sempre eram direcionadas a casos de

envolvimento com o oculto. Em seus lábios um leve sorriso ao lembrar-se de um

caso, quando foi libertar um homem que estava preso nas mãos de perigosos

traficantes e ao chegar no local, percebeu que a polícia não havia ido. Então orou

e entrou na casa onde estavam os traficantes, todos armados até os dentes, e

ordenou que baixassem as armas. Imediatamente todos largaram as armas e se

colocaram de costas, com as mãos na parede, rendendo-se. Robert não sabia o

que estava acontecendo, mas manteve sua postura séria e decidida. Começou a

recolher as armas e a revistá-los um por um, até que a polícia chegou e encontrou

o detetive, com o refém liberto e nove traficantes de alta periculosidade rendidos e

desarmados. Quando um policial perguntou ao chefe da quadrilha o que o havia

feito render-se a um só homem desarmado, ele bravejou e disse: “Um só? Havia

pelo menos uns duzentos aqui com ele e todos fortemente armados. Não tinha

como resistir”.

- Tu és tremendo, Pai! Sussurrou ele, ainda ajoelhado, enquanto seu

coração tremia de alegria pela sua salvação, e um misto de medo pelo que ainda

viria pela frente. Lembrou-se também de quando o Senhor lhe disse para prestar

atenção aos sinais. Abriu a sua Bíblia em Gênesis nove, verso doze ao dezessete

que diz: “Disse Deus: Este é o sinal da minha aliança que faço entre mim e vós e

entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações: porei

nas nuvens o meu arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra. Sucederá

que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, e nelas aparecer o arco, então, me

lembrarei da minha aliança, firmada entre mim e vós e todos os seres viventes de

toda carne; e as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda carne.

O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus e

55

todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra. Disse Deus a Noé:

Este é o sinal da aliança estabelecida entre mim e toda carne sobre a terra”.

- Pai, preciso aprender a ver os Teus sinais, entendê-los melhor,

percebê-los. Preciso ser consoante com a Sua vontade. Mostra-me os Teus sinais,

Senhor, no Nome de Jesus! Resmungou Robert, em meio as lágrimas e com seu

rosto no chão.

Por alguns minutos ficou assim, imóvel, até que o Senhor lhe falou ao

coração, dizendo:

- Robert, levante-se e saia de casa.

O detetive não entendeu direito a ordem, mas obedeceu. Chegou na

frente do prédio e o Senhor lhe disse:

- Vá até a garagem e pegue o carro.

Ele obedeceu e saiu pela rua, dentro de seu carro, sem rumo

estabelecido, mas sabendo que o Senhor lhe ensinaria alguma coisa.

- Vê aquela rua alí na frente? Entre nela, a esquerda. Disse o Senhor,

em seu coração. Robert obedecia rigorosamente o que o Espírito Santo estava lhe

direcionando e colocando em seu coração. Ele parou no sinal fechado e ficou ali,

quieto, pensando onde deveria ir, quando passou uma criança por ele, na faixa de

pedestre. Imediatamente lhe veio ao coração a palavra: Siga! O detetive ligou a

seta do carro e virou, seguindo-a. O Senhor começou a lhe falar:

- Filho, o que você vê naquela criança?

- Vejo que ela é uma menina de uns doze anos, provavelmente de

classe média, com uma roupa bonita, mas meio adulta pra idade dela. Respondeu

observativo o detetive.

- Isso é o que os teus olhos puderam alcançar, mas quero lhe mostrar

os sinais que a estão envolvendo. Existem a cinco quarteirões daqui uma gangue

de servos de Satanás que estão drogados, sentados em um muro. Quando ela

passar, eles serão direcionados pelos demônios a atacarem esta garotinha e

fatalmente ela será morta. Mas veja, Robert, eu enviei alguns anjos para

mostrarem à ela os sinais de que isso vai acontecer, para que ela seja salva do

atentado. Disse Deus, iniciando o seu discipulado com o detetive.

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Imediatamente os olhos de Robert foram abertos para o mundo

espiritual e ele pôde ver os anjos, três deles, andando próximos da garotinha,

tentando alertá-la. Os anjos conversavam entre si para colocarem em prática os

planos para livrá-la do atentado que a cinco quarteirões a esperava.

- Jeová. Porque o Senhor não a livra efetivamente deste atentado? Tu

és todopoderoso. Perguntou aflito o detetive.

- Eu posso, filho. Posso fazer qualquer coisa, meu amado, mas dei ao

homem o direito de escolher entre a bênção e a maldição, entre a vida e a morte.

Não posso interferir no livre arbítrio dos seres humanos, mesmo sendo meus.

Robert, existem multidões no vale de Josafá, no vale da Decisão, precisando

aprender a decidir, aprender a optar pela bênção e pela vida. Por esta razão envio

meus sinais, para que aqueles a quem não optaram por ter os olhos espirituais

abertos, possam ser livres dos atentados malígnos de Satanás. Concluiu o Senhor,

em seu coração.

A garotinha deu alguns passos e a fivela de seu sapato arrebentou. Ela

parou praguejando contra o sapato. Tentou andar assim mesmo, mas não havia

como. Retirou o par e continuou lentamente descalça. Robert conseguia ver a

ação dos anjos, fazendo com que ela optasse por voltar, mas ela não os podia

enxergar. Na segunda quadra, os anjos fizeram com que ela pisasse em uma

pedra ponteaguda e machucasse o seu pé. Neste exato momento passou um

carro da polícia e pediu para ela se estava tudo bem e se ela queria que eles a

levassem para casa, o que foi recusado.

- Senhor, ela não consegue perceber que Tu estás tentando livrá-la de

algo pior. Desesperou-se Robert.

Deus calou-se e o detetive continuou observando ela, que seguia para a

terceira quadra, duas apenas dos marginais. Robert estava atônito em ver aquilo,

porque várias foram as vezes em que ele mesmo passou por isso, por situações

que o atrasaram para algum compromisso, ou que até mesmo o impediram para

chegar em algum lugar, e ele ficava enfurecido, por não poder fazer o que havia

pré estabelecido. Agora estava vendo com seus próprios olhos que era uma ação

de Deus, um sinal, para que não avançasse. Quantos livramentos ele já havia

passado sem ao menos saber e, muitas das vezes, reclamava com Deus, sendo

57

que deveria agradecê-Lo por tais acontecimentos. Lembrou-se de testemunhos

que leu na internet, sobre a queda das torres do World Trade Center, nos Estados

Unidos. Várias pessoas que trabalhavam naquele edifício não morreram porque

coisas triviais os afastaram da morte: um deles, o seu filho derramou café em sua

camisa e ele teve que se atrasar para trocar de roupa; outro livrou-se da morte

porque usava um sapato novo e lhe saiu um bolha no pé que o fez parar em uma

farmácia para comprar um band-aid. Vários eram os diferentes testemunhos de

um só destino: todos foram livres da morte por que Deus operou através dos

sinais!

Robert não podia conter-se, em meio a agitação de seu espírito ao ver

aquela garotinha ir ao encontro de seus assassinos. Jovens endemoninhados que

estavam se drogando na rua seguinte, e que seriam os autores de mais um crime

voraz, para colorir as páginas dos tablóides sensacionalistas paulistanos. Desceu

do carro e saiu correndo desesperadamente em direção à ela. Não podia lhe

revelar a verdade, porque soaria como uma insanidade, porém poderia evitar o

pior. Deus não o proibira de agir, apenas o mostrou o problema e ele certamente

conseguiria impedir aquilo. Chegou até a garotinha, na esquina da quinta quadra e

segurou o seu braço. Ela o olhou assustada enquanto Robert lhe disse:

- Querida, não se assuste, preciso lhe dizer algo. Imagino que sua mãe

deva lhe advertir para não conversar com estranhos na rua, mas é muito

importante o que tenho para lhe dizer.

E tirando um panfleto bíblico do seu bolso, disse-lhe:

- Jesus tem um plano para a sua vida. Tome este panfleto e vá para a

sua casa. Disse o detetive, enquanto caminhava com ela pela calçada, até chegar

aos marginais sentados no muro, exatamente como Deus lhe dissera. Robert

parou entre eles, mostrou sua credencial de detetive e disse:

- Rapaziada, sou detetive particular e estou trabalhando em parceria

com a polícia em um caso de roubo de carros. O que vocês sabem sobre isso aqui

na rua?

Os garotos começaram a esquivar-se das perguntas, enquanto a

garotinha ía feliz e tranquilamente para casa, pela calçada. Robert distraiu os

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marginais, interrogando-os e anotando o nome e identidade de todos eles, depois

os mandou ir embora, para o lado oposto ao que a garotinha havia ído.

Tendo voltado ao carro, suspirou aliviado e disse:

- Ufa! Essa foi por pouco!

- Você foi o sinal. Disse o Senhor à ele. - Eu usei a sua atitude como

mais um sinal de livramento e proteção para aquela garota. Sabe quem é ela? É a

filha de um pastor evangélico que dirige uma igreja neste bairro. Ele é meu servo e

tenho guardado a sua família. Agora, Robert, quero que você vá ao centro da

cidade.

Durante o trajeto, muitas coisas passavam na cabeça dele. Deus estava

lhe ensinando a reconhecer os sinais, conforme havia lhe pedido. Muitas coisas

que no dia a dia lhe pareciam normais ou até corriqueiras, agora estavam sendo

traduzidas como sinais de Deus no seu quotidiano. As coisas agora realmente

faziam sentido, visto que em sua memória estavam as imagens do passado, de

situações em que não pôde reconhecer as pistas que Deus deixava pelo caminho,

e que agora lhe eram claras.

Chegando ao centro da cidade, estacionou o carro em uma garagem

paga e saiu pela rua. Eram oito horas da noite e as ruas estavam movimentadas.

Ele andou até uma lanchonete que tinha uma grande janela que dava para a rua e

sentou-se lá. Pediu um café e ficou ali, olhando para as pessoas.

Não passou muito até que o detetive percebece algo diferente na rua:

várias pessoas estavam andando para a direita, mas um homem vinha no sentido

contrário. As pessoas que íam à direita estavam vestidas com tons escuros e

opacos, porém o homem vestia uma camisa de seda branca e uma calça creme.

“Ei.... será que isso é um sinal?” pensou Robert, levantando-se e indo

atrás dele. Pensou consigo mesmo: “Se for um sinal, preciso de algo confirmando

isso”. Imediatamente dois carros iguais, da mesma cor, vindos de direções

contrárias, se cruzaram ao seu lado. Robert começou a ficar eufórico, afinal, como

detetive particular ele tinha uma observação bastante apurada e um raciocínio

lógico muito preciso, mas agora estava aprendendo a ver o mundo espiritual

manifestando-se no mundo físico, gerando assim o sobrenatural.

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Seguiu aquele homem de longe, sem que fosse notado e percebeu que

ele estava bastante agitado no seu modo de caminhar, quase não desviando das

pessoas e tropeçando em tudo o que vinha à sua frente. Em dado momento ele

entrou em um restaurante e, pela janela do lado de fora, Robert pode observar

que alguém o aguardava sentado à uma mesa. O detetive ficou espreitando, para

ver quem era o homem que conversava com ele, gesticulando fina e

elegantemente, mas era inútil, porque o mesmo estava de costas para a janela.

- Regra número um: nunca fique de costas para uma janela. Disse

baixinho o detetive, para si mesmo. - Você pode estar sendo observado sem

saber. Concluiu ele o monólogo.

Passado alguns minutos, o cavalheiro se levantou e foi em direção ao

banheiro. “Esta é a minha chance de vê-lo!”, pensou o detetive, mas ao voltar o

misterioso acompanhante do homem de camisa de seda, Robert levou um susto

ao ver que era Miguel, o sacerdote de Címerio.

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CAPÍTULO 10

Confissões em um restaurante

- Você deve saber que estamos a um passo de conseguir o dinheiro...

Iniciou Miguel.

- Claro, mas tenho visto que as coisas não andam bem. Eles

aumentaram a segurança! Não poderemos entrar lá sem sermos notados!

Replicou Rudolph, vestido com uma linda camisa branca de seda pura.

- Meu caro Rudolph, você precisa aprender a ter fé. Ora, a fé é a

certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem. Disse o

feiticeiro, citando Hebreus 11:1.

- Eu sei, mas uma coisa é ter fé e outra coisa é ser preso! Não quero

passar o resto da minha vida na cadeia! Respondeu o amigo quase chorando.

Rudolph era um homem de meia idade, com um semblante melancólico

e desesperado, realmente desanimador. Ele serviu ao exército alemão antes de vir

ao Brasil, no setor de inteligência militar. Era um dos estrategistas da Organização.

- Miguel, precisamos determinar exatamente como entraremos lá. Não

podemos simplesmente bater na porta e dizer “olá”. Replicou o alemão.

- Claro, Rudolph, eu sei disso. Mas temos que esperar o dia correto,

pois caso contrário sairemos no prejuízo. E além do mais, primeiro tiraremos o

Robert de circulação, para depois fazermos nossa vizitinha.

- Ah, claro. O Robert. Se não fosse uma idéia estúpida e desnecessária

a sua de chamá-lo até o seu escritório, para falar da Organização, ele não estaria

na nossa cola.

- Rudolph, Rudolph... Eu estou no controle da situação. Tenho um

demônio que fica exatamente na entrada do gueto onde tenho o meu sebo e ele

viu Robert conversando com Adonai, e ouviu o detetive falar sobre os sinais

pixados na fachada do prédio. Deus lhe dedurou o nosso esconderijo, então me

antecipei e o chamei lá. A melhor defesa é o ataque e desta forma, chamei a sua

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atenção apenas para a seita, tirando-o da nossa “fonte de renda”, entendeu?

Explicou Miguel, com um brilho sinistro em seus olhos.

Ambos ficaram conversando ainda um bom tempo, após o jantar que foi

servido. Havia muitas coisas que eles precisavam acertar, pois tinham planos para

o futuro da Organização e aquela conversa poderia ser decisiva. Miguel prestava

atenção a cada palavra que Rudolph falava, anotando algumas coisas em um

pedaço de papel. As pessoas do restaurante estavam alheias à presença daqueles

dois cavaheiros sentados ali, sem saber que naquela mesa, vidas de pessoas

estavam sendo traçadas e planos sendo definidos. Ali estavam um ex-nazista e o

sacerdote de Címerio, a potestade da ciência, sentados juntos jantando

tranquilamente.

Robert, logo após perceber que era Miguel quem estava no restaurante,

ficou escondido junto a uns arbustos do estacionamento, esperando que saíssem

de lá, para poder identificar qual era o carro de Miguel. Infelizmente não pode

ouvir a conversa deles, pois seria muito arriscado para ele, mas estava alí

aguardando. Em algum tempo, saíram os dois, despediram-se na porta de entrada

e Rudolph seguiu a pé, enquanto Miguel veio ao estacionamento.

Entrou em um carrão importado, ligou-o e saiu. Robert imediatamente

anotou o número da placa e a marca do veículo: uma Mercedes.

“Caramba... vender livros usados deve dar dinheiro, para que ele

compre uma Mercedes!”, pensou o detetive ironicamente, ligando alguns

pensamentos em sua mente e dando um soco no ar, de felicidade.

- Claro!! Como pude ser tão infantil. Ele está metido em outra coisa

bem maior, por esta razão me quer tão longe da cidade e em tão pouco tempo!

Ele está me atacando para que eu não possa ter tempo de raciocinar... Concluiu

ele, indo para o local que deixou seu carro, e em seguida, seguindo para casa,

feliz por estar raciocinando no caso.

Em casa...

- Marcos! Paz do Senhor, meu irmão. Olha só, gostaria que você

pudesse verificar aí pela internet uma placa de um carro: AZT2344, é uma

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Mercedes. Veja o que você pode descobrir sobre este carro e sobre o seu

proprietário, ok? Sim, aguardo a sua resposta, não importa a hora. Ah, já está

tudo pronto para amanhã? Excelente! Concluiu o detetive, desligando o telefone e

indo para o banheiro, a fim de tomar um banho quente.

Logo após a sua saída do banheiro, Robert ficou analisando o plano

para o dia seguinte: a Organização planejara espancá-lo, em frente à seu prédio,

simulando um assalto gerado por trombadinhas. Eles haviam falado com Pereira

para preparar uma equipe da polícia e pegar os infratores antes do crime. Seria

arriscado, pois poderia haver falhas e ele sair machucado, mas era o único jeito.

O telefone tocou e Robert atendeu imediatamente. Era Marcos:

- Adivinha só... o carrão está no nome de Miguel Arcanjo de Souza.

Robert, o nome do safado é Arcanjo mesmo... Hehehehe! Você acertou em cheio!

Bom, tenho aqui o endereço da casa dele, número do seguro social, identidade,

CPF... Hum, deixa eu ver mais o que... Ah! Ele tem uma conta bancária na suíça.

- Como você sabe disso? Espantou-se o detetive.

- Essa foi moleza! Eu inverti o nome dele, procurando nos cadastros de

bancos suíços onde, normalmente os brasileiros guardam dinheiro obtido de forma

ilegal, e descobri que existe um beneficiário brasileiro com o nome Michael Angel.

Bom, podem ter uns trezentos milhões de “Michaels Angels” espalhados pelo

mundo, então tentei digitar uma senha, para ver se a sorte me ajudaria. Digitei o-

r-g-a-n-i-z-a-ç-a-o, mas não deu certo. Como eu só tinha três tentativas, tentei c-i-

m-e-r-i-o, e bingo! Na mosca. Depois o sistema pediu os números dos

documentos dele que eu já tinha obtido pelo sistema de registros nacional e pude

entrar na conta. O nosso homem tem a bagatela de duzentos e trinta mil dólares

depositados lá. Isso não significa que seja a única conta que ele tenha, pois

podem existir outras com outros nomes.

- Meu Deus!! E aí, o que você fez??

- Bom, confesso que pensei em transferir uns cem mil dólares para a

minha conta aqui no Brasil, mas depois desisti porque eles rastreariam a

transferência e me encontrariam... Hehehehe. Ok, foi uma brincadeira. Não sei o

que fazer. Penso em guardar esta carta na manga, caso nós precisemos. Temos

todos os números dos documentos dele e as senhas. Será fácil bloquear a conta.

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- Certo. Valeu Marcos. Tudo pronto para amanhã? Então nos vemos de

manhã bem cedo. Disse o detetive, enquanto ria sozinho, da esperteza e sorte do

amigo.

“Duzentos e trinta mil dólares”, pensou ele. “É muito dinheiro... onde

ele consegue tudo isso?”.

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CAPÍTULO 11

Notícias na TV

“Mais um assalto a banco aconteceu na capital paulista. Desta vez, os

criminosos usaram de técnicas avançadas para invadir o interior da agência

bancária: eles sedaram os seguranças, não se sabe ainda como e qual produto foi

usado, e entraram tranquilamente, pela porta da frente. A polícia local suspeita de

envolvimento da equipe de segurança do banco, por facilitar a entrada dos

assaltantes durante a noite, mas por imagens gravadas no circuito interno, mostra

claramente a hora em que os agentes são atingidos por algum gás invisível, e

começam a cair, um após outro, enquanto os criminosos abrem a porta da

agência com grande facilidade e fecham, para não levantar suspeitas. Eram cinco

pessoas, mas estima-se que a quadrilha seja formada por mais, provavelmente

por pessoal de dentro da própria agência. Este é o décimo assalto em cinco

meses, trazendo terror sobre as agências bancárias. Outro alvo na mira desta

quadrilha são as casas de câmbio. A polícia está no encalço da quadrilha e afirma

já ter efetuado a prisão de suspeitos. Em breve mais notícias!”.

Robert desligou a televisão do quarto e virou-se para o lado, afim de

tentar dormir, mas lhe era impossível. Muitas coisas estavam em sua mente. A

enorme quantia de dinheiro em uma conta de Miguel no exterior, as retaliações,

forçando-o a ir embora de São Paulo o mais rápido possível, a Organização, tantas

coisas e ainda tentando levar uma aparência tranquila em casa, para não

preocupar sua esposa e filha.

- Amor, porque não dorme? Perguntou Suzan, preocupada. - Já são

meia noite e meia.

- Estou sem sono. Este caso que estou trabalhando está me cansando.

Acho que preciso falar com o Chefe um pouquinho. Respondeu ele se levantando

e indo para a sala. Suzan foi também.

- Quero orar junto com você. Quero ser a sua companheira nesta

batalha, ok?

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- Ok querida. Você é a parte principal disso tudo. Sempre que luto, é

para te defender.

Ambos se ajoelharam e oraram ao Senhor. Só assim poderiam obter

vitória. No mundo espiritual os demônios se agitavam. As regiões celestiais

ficavam movimentadas, pois quando um casal se ajoelha para orar juntos, produz

um poder tremendo no sobrenatural. Os anjos aplaudiam e o Todo Poderoso sorria

no seu trono de glória. A família foi o primeiro grande projeto de Deus na Terra.

Era por isso que Satanás intentava tanto destruí-la. Mas quando uma família orava

junta, produzia uma autoridade espiritual fantástica, da mesma maneira em que

se produz quando uma igreja toda ora junta.

O Pai, nos Altos Céus fica apreciando aquela cena. “Ah se todas as

famílias entendessem a razão pela qual escrevi na Minha Santa Palavra: ‘Porque,

onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles’. Por

menor que seja a família, mesmo que não tenham filhos ainda, serão dois orando

juntos, o marido e a mulher, e Eu estarei no meio deles. Quando o primogênito

nascer, serão três orando juntos, por esta razão abençoo sobremaneira a

primogenitura”. Robert e Suzam podiam ouvir estas palavras em seus corações e

louvavam a Deus, pelas Suas misericórdias que se renovavam a cada manhã em

suas vidas. Isso dava certeza à ele que no dia seguinte, ele seria vencedor mais

uma vez.

A madrugada avançou e o casal permaneceu na presença do Senhor,

prostrados, rendidos aos Seus Pés. Robert sabia que teria muitas lutas até o

domingo e Suzan sabia que algo de muito perigoso estava cercando o marido, por

isso precisavam orar. Deus daria a solução e a vitória, como das outras vezes, por

isso eles só glorificavam ao nome do Senhor, sem lhe pedir nada. Após o período

de oração, foram deitar-se para dormir e se preparar. O dia estava iniciando e eles

teriam muito o que fazer. Suzan, cuidando da filha e da casa e Robert,

defendendo, mesmo sem elas saberem, as vidas das duas.

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CAPÍTULO 12

Sexta-feira: segunda retaliação

Estava um lindo dia de outono lá fora. Apesar do sol tímido e preguiçoso

sobre o céu poluído de São Paulo, a temperatura estava amena e o dia claro.

Robert estava cansado por causa da noite mal dormida, mas sentia-se bem,

porque o seu descanso estava no Senhor, e isso lhe bastava. Não demorou muito

para Marcos aparecer no apartamento e quase que instantâneamente Pereira

chegou também.

- Bom, a equipe da SUAT espiritual está aqui. Disse Marcos, com o bom

humor que lhe era inerente da sua personalidade. – O Pereira aqui, é o nosso

criminalista. Robert o investigador e eu, o cérebro de vocês dois.

- Há, há, há... Riu debochadamente o policial. – Eu já acho que você

está mais para o estômago do grupo do que para o cérebro. Rebateu Pereira,

enquanto Marcos servia-se de um pedaço de pão para comer.

- Sentem-se, por favor. Pereira, tome um café conosco. Então, como

estão as coisas? Tudo esquematizado para hoje? Iniciou Robert.

- Sim. Ouça o que planejei. Vou sair com uma equipe após o almoço e,

quando eu estiver chegando perto, vou te ligar no celular. Esta manhã você fica

em casa. Não saia para nada, porque acho que vão estar te vigiando todo o dia.

Quando você sair a tarde, estaremos a paisana, esperando o atentado e

pegaremos os meliantes antes que eles possam encostar um dedo em você.

- Pereira, você realmente é um grande ajudador do meu ministério. Que

Deus lhe recompense, irmão, dez vezes mais. Profetizou o detetive, comovido pela

atenção e dedicação que o policial dispensava sobre sua vida.

- Enquanto isso, eu ficarei aqui na sua casa e vou grampeá-la toda,

para amanhã. Vamos resolver isso tudo de uma vez. Poderemos monitorar a sua

casa inteira, através do nosso sistema pela internet, via celular, e gravaremos as

imagens para termos provas que os policiais vão colocar a droga dentro da sua

casa. Completou a conversa, Marcos, enquanto erguia uma maleta gorda e cheia,

entupida de seus “brinquedinhos” de espionagem.

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- Fechado “007”. Agora então é com você. Pereira, nos vemos a tarde.

Que o Senhor seja com nossas vidas. Afinal, o Marcos já te passou o relatório

sobre o Miguel e sua conta na Suíça? Sim? Bom, sabemos que ele tem alguma

atividade paralela, e vou tirar a manhã para raciocinar em algo. A tarde, daremos

uma busca e vamos ver o que descobrimos. Disse o detetive.

Enquanto Marcos instalava as micro-câmeras digitais no banheiro e em

diversos outros pontos da casa, Robert foi ao seu quarto para orar. Sabia que

dependia desta arma poderosa para vencer a batalha. Muitas vezes venceu

apenas porque tinha crédito nos céus através da oração, do jejum e da

santificação.

Como não podia sair de casa, sentou-se com sua Bíblia nas mãos e

começou a foleá-la, sem parar em um ponto definido, até que um texto lhe

chamou a atenção. Era 1Samuel, capítulo dez, que dizia: “Quando te apartares,

hoje, de mim, acharás dois homens junto ao sepulcro de Raquel, no território de

Benjamim, em Zelza, os quais te dirão: Acharam-se as jumentas que foste

procurar, e eis que teu pai já não pensa no caso delas e se aflige por causa de

vós, dizendo: Que farei eu por meu filho? Quando dali passares adiante e

chegares ao carvalho de Tabor, ali te encontrarão três homens, que vão subindo a

Deus a Betel: um levando três cabritos; outro, três bolos de pão, e o outro, um

odre de vinho. Eles te saudarão e te darão dois pães, que receberás da sua mão.

Então, seguirás a Gibeá-Eloim, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser

que, entrando na cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto,

precedidos de saltérios, e tambores, e flautas, e harpas, e eles estarão

profetizando. O Espírito do SENHOR se apossará de ti, e profetizarás com eles e tu

serás mudado em outro homem. Quando estes sinais te sucederem, faze o que a

ocasião te pedir, porque Deus é contigo”. Robert refletiu um pouco sobre este

texto. “Quando estes sinais te sucederem...”, repetia mentalmente esta parte.

“Quais sinais?” pensou ele. Óbviamente não seria a aparição das pessoas

descritas pelo profeta Samuel, pois estes seriam o cumprimento da revelação.

“Três homens, que vão subindo a Betel, para sacrificar a Deus, provavelmente.

Então os três cabritos eram o holocausto. Os bolos de pães e o odre de vinho

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eram seus alimentos para a viagem. Os três homens deram dois pães para Saul,

de forma que teria o que comer quando voltasse, ele e seu auxiliar. Bom, até aqui

vejo a provisão de Deus na vida deles...”, pensava Robert, tentando entender

onde é que a palavra “sinais” se encaixava melhor neste contexto. “Logo após ele

encontraria um grupo de profetas, que descem do alto. Bom, o primeiro encontro

foi com apenas dois homens, que estavam parados junto a um sepulcro. O

segundo encontro foi com três homens que subiam e o terceiro encontro foi com

um grupo de profetas que desciam. A cada encontro acrescenta mais pessoas e a

situação muda, da inércia à profecia. No primeiro encontro Saul não recebeu

nada, apenas uma informação. No segundo recebeu pães, que servem para

alimentar o corpo e no terceiro encontro, recebeu o Espírito Santo e passou a

profetizar. Interessante a ordem cronológica dos fatos. Apenas após estes fatos

acontecerem é que o Espírito Santo o transformaria em um novo homem e ele

poderia fazer o que lhe fosse necessário, pois Deus estava respaudando-o”,

definiu seu pensamento o detetive. “O sinal é este! A transformação em um novo

homem, precedida de todos os outros acontecimentos. Claro! Primeiro o Senhor

instrui, depois alimenta e prepara e por último, enche com o Seu poder

transformador. Estas retaliações que estou enfrentando é o sinal de que Deus está

me treinando, para que eu seja transformado em um novo homem!”, jubilava

Robert, feliz com o seu discernimento.

- Obrigado, Senhor, porque Tu tens me treinado e feito com que eu

possa crescer na fé, fazendo-me um novo homem. Orou ele antes de ir até onde

estava Marcos e verificar como estava o andamento das instalações.

Logo após o almoço, Robert estava preparado para a segunda

retaliação: a Organização havia contratado alguns marginais para o espancarem

na porta da sua casa, trazendo assim o pânico para dentro de sua família. Como

ele havia interceptado os planos de Miguel, puderam se precaver antes que o

incidente acontecesse. Pereira havia preparado uma emboscada para os bandidos

e, novamente, Robert seria livre dos ataques.

O telefone toca e Robert atende. Era o policial avisando que já estava

do lado de fora, todos a paisana, esperando a ação dos meliantes. Robert toma

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um gole de coragem e sai para fora do prédio. Suzan não sabe de nada, pois o

plano era não contar à ela, evitando um alarde maior do problema.

O coração do detetive parecia saltar pela boca. A adrenalina havia

travado suas pernas e era difícil se movimentar com naturalidade. Quando abriu a

porta, deu uma discreta olhada na rua para ver se encontrava Pereira ou alguém

da polícia, mas todos estavam bem posicionados e “invisíveis” aos olhos comuns

e incautos de um pedestre qualquer. Foi em direção ao carro, que Suzan havia

estacionado na calçada em frente ao prédio. Pode perceber quando um grupo de

cinco jovens virou a esquina e veio em direção dele. Robert sussurou um “Meu

Deus!” acompanhado de um calafrio que lhe percorreu toda a espinha. Naquele

instante lhe veio a mente o medo do plano não dar certo. O que ele faria então?

Como seria a sua reação? Em poucos segundos, os marginais o cercaram e

perguntaram:

- Robert?

Quando ele virou para responder um trêmulo “pois não”, ouviu uma voz

conhecida gritando:

- Parados aí! Polícia! Ninguém se mexa!

Era a voz do Pereira que, preciso como um relógio, abordou os bandidos

antes que eles tocassem no amigo detetive.

- Vocês aí, deitados no chão. Repetia ele, como se não soubesse o que

estava acontecendo, para despistar o seu plano de proteção ao detetive. – Vocês

estão presos por tentativa de assalto a mão armada contra este cidadão aqui.

Disse ele serio e autoritário, após exibir aos demais policiais uma pistola que

retirara de um deles, ao ser revistado.

Robert ficou sem cor. Será que eles iriam matá-lo, era o pensamento

que invadia sua mente. Agora era só preencher a papelada da polícia e ser

liberado. Desta maneira a Organização dos adoradores de Címerio jamais

desconfiaria da sua segurança, e sim achariam que foi tudo uma coinscidência.

Após ser liberado na delegacia, o detetive voltou para casa e contou o

ocorrido à sua esposa. Disse que Pereira sabia que aqueles garotos queriam

assaltá-lo e por isso armou a emboscada. Suzan ficou feliz porque o esposo não

tinha se machucado e porque agora estava tudo bem.

70

A tarde Robert tirou para dar uma olhada nos jornais e na internet, afim

de buscar pistas sobre o que fazia Miguel conseguir tanto dinheiro. Quais eram as

atividades que a Organização era envolvida.

71

CAPÍTULO 13

Visitantes noturnos

Eram três horas da manhã quando o vigia noturno de um banco no

centro da cidade ouviu um barulho próximo à janela lateral, onde havia um bonito

jardim. Ao chegar perto para observar, notou que havia um homem parado em pé,

olhando para ele. Imediatamente sua visão começou a ficar turva e ele passou a

sentir-se muito mal. Não havia como chamar os outros pelo rádio, devido a forte

pressão exercida sobre sua cabeça, fazia com que seus membros se

contorcessem epiléticamente e o jogassem ao chão, desacordado.

O homem que estava na janela passou a andar em direção à porta dos

fundos, onde havia um vigia na guarita. O vigia o viu e, sacando sua arma, pediu

que se identificasse, o que não foi atendido. Então mirando sua arma em direção

a ele, tentou disparar, mas seus dedos não conseguiam se mover.

- Não adianta tentar me balear, oficial. Porque você não quer fazer isso.

O que você quer realmente fazer é desligar o alarme e abrir esta porta trazeira

para eu e meus amigos entrarmos. Precisamos fazer um saque e o caixa

eletrônico não está funcionando.

O vigia, atordoado pelo poder malígno que emanava daquele homem,

começou a ser hipnotizado por ele e persuadido a fazer o que era mandado.

Guardando a arma, foi até a porta e abriu-a para eles entrarem, logo em seguida

desligou o alarme. Uma equipe de cinco pessoas entraram rapidamente no interior

do banco e se dirigiram habilmente até o cofre, onde abriram-no com as senhas

que já haviam trazido consigo.

Em questão de segundos o cofre estava limpo e os vigias desmaiados

no chão, com seus braços e suas pernas contorcidos e seus narizes sangrando.

Haviam tido um ataque epilético, sem causa aparente, mas com efeito arrazador.

Robert acorda assustado em casa. Suzan acende a luz do abajur.

- O que foi, querido? Sonhou com algo ruim?

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- Eu estava em um lugar... era noite e parecia um banco ou algo

parecido. De repente eu olhei para a janela e vi um ser demoníaco, vestido com

um manto verde reluzente, emcapuzado pelo mesmo manto e com dois altos

chifres. O seu rosto estava envolto nas trevas que o capuz produzia, porém eu

podia perfeitamente ver seus olhos, chispando como chamas de fogo. Era

Címerio, Suzan, a potestade da ciência e sabedoria. Ele estendeu uma das mãos

na minha direção e eu comecei a tontear. Havia uma grande pressão na minha

cabeça, parecia que o meu nariz ía explodir, então passei a mão no rosto e

percebi que estava sangrando. Logo, no sonho, meu corpo todo começou a

arrepiar e a tremer, como se eu estivesse convulsionando... Meu Deus! Foi tudo

muito real! Dizia ele espantado com o sonho.

- Calma querido, vamos orar para repreender qualquer mal, ok?

E Suzan orou ao Senhor, abençoando o marido e protegendo-o.

- Senhor, me dirijo a Ti através de Jesus Cristo de Nazaré, meu único

Salvador e Mediador entre Ti e eu, para lhe pedir sabedoria e graça, para

discernir-mos este sonho. Pai, se Tu estás nos revelando algo que venha a

acontecer com o Robert, livra-nos de todo o mal; se o Senhor está nos revelando

algo que venha a acontecer com outra pessoa, não permita, Pai, que venha o mal

a prevalescer! Senhor, unimos nossa oração nesta hora, intercedendo pela pessoa

alvo deste sonho, de forma que, se algum intento não autorizado por Ti esteja

para acontecer, que seja anulado e neutralizado agora, no Nome Poderoso de

Jesus. Amém!

Fizeram esta oração intercessória com muita fé, pedindo à Deus que

lhes desse um restante de noite tranquilo e abençoado e o Senhor concedeu isso

ao casal.

Na manhã de sábado, Robert está sentado à mesa para o café

enquanto assiste o noticiário na TV. A repórter inicia com uma manchete

exclusiva.

“Mais um assalto à banco na capital. Desta vez foi o Banco do Estado

que foi invadido nesta madrugada. Segundo o vigia da noite, um homem vestido

de verde surgiu na janela lateral, que dá para o canteiro de flores do banco e, de

73

algum modo, injetou algum gás alucinógeno e venenoso, pois o fez ver figuras

demoníacas antes de cair no chão totalmente contorcido...”

- Suzan! Rápido, venha ver uma coisa aqui na TV! Gritou o detetive para

a esposa, que chegou rapidamente e conseguiu ouvir o restante da notícia.

“...Havia também um outro vigilante que estava na guarita, localizada

nos fundos do banco e também foi atingido pelo mesmo gás. Especialistas

chegaram ao local agora de manhã mas, por tratar de uma substância de fácil

dissipação no ar, não havia nenhum tipo de evidência do produto usado. Os

vigilântes foram submetidos a uma bateria de exames, mas os resultados só serão

repassados à imprensa depois da análise feita pela perícia técnica da polícia civil.

A assessoria de imprensa do Banco do Estado não revelou a quantia roubada,

mas estima-se que exceda à cem mil reais. Mais informações no jornal do meio

dia”.

- Amor, o vigilante viu um homem, vestido de verde, na janela lateral do

banco que foi assaltado esta madrugada!

- Exatamente como no seu sonho?! Replicou Suzan.

- Sim! Exatamente como no sonho! E eles acham que a tontura e as

convulções foram causadas por algum tipo de gás alucinógeno, que os fizeram ter

visões demoníacas.

- Meu Deus, Robert. O que será que o Senhor quis dizer contigo, te

revelando tudo isso no sonho?

- Eu sei o que é, querida. E agora mesmo estarei tomando uma

providência. Disse o detetive, conclusivo, levantando-se para sair

apressadamente.

No escritório, Robert ligou para sua equipe: Pereira e Marcos. Pediu-

lhes que viessem o mais rápido possível e ambos não demoraram muito e já

estavam lá, reunidos com o detetive.

- Gente! Algo muito sério está acontecendo. Sabem sobre este assalto

no Banco do Estado, nesta madrugada? Pois eu tive um sonho durante a

madrugada, com o assalto, só que no sonho, o vigilante de dentro do banco era

74

eu. E eu vi quem estava do lado de fora da janela: Címerio, a potestade que o

Miguel é o sacerdote.

- Meu Deus! Exclamaram uníssonamente os dois companheiros.

- Sabem o que isso significa? Um sinal de Deus!! Pereira, é o Miguel e

a organização quem estão roubando os bancos! Por isso eles tem os garotos que

roubam os carros, por isso ele tem tanto dinheiro no exterior, por isso as reuniões

deles são pela internet. Existem vários gerentes de bancos que pertencem à

Organização e isso pode ter facilitado em vários assaltos. Precisamos fazer algo!

Declarava nervosamente Robert.

- Calma, Robert. Disse o policial. - Temos uma forte evidência que o

nosso Deus nos entregou, mas para as leis humanas precisamos de provas. Não

podemos simplesmente chegar lá e prender o Miguel, acusando-o de assalto à

banco. E as provas? Precisamos pensar em como obtê-las e aí sim poderemos

trabalhar. Tenho certeza que nosso amigo Marcos poderá nos ajudar muito em

uma idéia que me ocorreu aqui...

- Estou às ordens, “Lestrade”. Disse Marcos, comparando-o ao famoso

investigador da Interpol, personagem dos livros de Conan Doyle, de quem Marcos

era fã de carteirinha.

- Quem?? Perguntou Pereira espantado com a troca de nome.

- Lestrade, irmão. Ele é o ajudante do Sherlock Homes e do Watson,

nos livros de Arthur Conan Doyle. O Robert aqui é o Sherlock, eu sou o Watson e

você, o Lestrade. Vai dizer que nunca leu uma história de Sherlock Homes, o

detetive mais famoso do mundo? Indagou o garoto.

- Não, nunca li. Mas em compensação já li a Bíblia inteira cinco vezes,

e você? Não vai me dizer que nunca leu a Bíblia, o livro mais famoso do mundo?

Rebateu a altura o policial, enquanto todos caíam na gargalhada.

75

CAPÍTULO 14

Sábado – terceira retaliação

Robert havia voltado para casa, após a reunião que tivera com Pareira e

Marcos no escritório. Eles sabiam que hoje era o dia em que a Organização iria

mandar a polícia na casa dele para retalhá-lo, dizendo haver encontrado drogas.

Como sabiam que a vinda deles seria antes do almoço, Pereira foi até o distrito

policial e iniciou o seu plano que, anteriormente, já havia programado. Marcos,

por sua vez, ficou no escritório do detetive, com os seus computadores ligados,

filmando todos os movimentos da casa e registrando tudo. Pelos celulares se

comunicavam de todos os acontecimentos.

Robert sentou-se com Suzan para conversar. Sara ainda estava

dormindo.

- Querida, descobrimos através das nossas investigações que a

Organização que vamos desmantelar está planejando, ainda hoje, trazer a polícia

aqui para nos acusar de tráfico de drogas. Eles intentam colocar drogas

escondidas no nosso banheiro. Por esta razão, o Marcos veio aqui ontem e

“grampeou” a casa toda. Todos os nossos movimentos estão sendo monitorados

por ele.

- Você está brincando... Sério? E o que vamos fazer? Perguntou ela.

- Sinceramente eu ainda não sei, mas o Pereira está no caso conosco e

prometeu uma surprezinha para logo mais. Você está vendo aquele pontinho ali,

em cima do quadro? É uma das câmeras digitais do Marcos. Dá um tchauzinho

pra ele. Falou Robert para deixar a esposa mais tranquila, no que ela prontamente

abanou a mão.

“Vocês estão me ouvindo bem aí?”, uma voz ecoou dentro da casa.

Robert e Suzan se entreolharam espantados e responderam sim. “Hehehe... sou

eu, gente. Instalei também um sistema de comunicação para avisar vocês das

coordenadas. Estou falando através do seu aparelho de som, assim ninguém

nunca vai desconfiar. Mas lembre-se de sempre deixar nesta sintonia FM que

deixei programado ontem, caso contrário não poderão me ouvir”, disse Marcos

76

orgulhoso por ver as faces surpresas do casal, através das muitas câmeras

instaladas na casa.

- Misericórdia, Marcos! Isso aqui tá parecendo o “Big Brother”. Brincou

Robert com ele.

- “Big Brother” não, irmão, “Big Gospel”. Concluiu o garoto com uma

das suas típicas gargalhadas.

O celular do detetive toca. Era Pereira:

- Tudo pronto aí, parceiro? Estamos aqui fora de tocaia, com um

presentinho para você. Fique tranquilo que tudo vai dar certo, eu prometo.

- Estamos confiantes em Deus e que você vai fazer o melhor.

Respondeu ele.

- Pode ter certeza que sim. Você nem imagina o que eu estou

aprontado, irmão. Espere um pouco... eles chegaram. Hajam com naturalidade,

ok? Disse baixinho e desligou.

Neste instante, a campainha do interfone tocou. Robert atendeu e se

identificaram como sendo da polícia. Robert educadamente pediu para que

subissem, abrindo a porta eletrônica do prédio.

- Suzan, prepare-se. A polícia está subindo. Deus nos protegerá.

A campainha do apartamento tocou e ele abriu a porta. Varios agentes

estavam na porta, todos fortemente armados. Um deles, que estava no comando

da operação cumprimentos Robert dizendo:

- Senhor Robert, temos uma denúncia anônima de que o senhor trafica

cocaína e que tem drogas escondidas aqui dentro do seu apartamento. Temos

aqui um mandato de busca.

- Olha, oficial, eu acho que deve ser algum engano, mas como trabalho

em parceria com a lei e a polícia, por favor, podem revistar o apartamento.

Respondeu ele, nervosamente.

- Existe mais alguém no apartamento? Perguntou o oficial.

- Apenas eu, minha esposa e nossa filha pequena que está no seu

quarto.

77

- A senhora pode buscá-la, por favor. Eu gostaria que vocês, para a

nossa segurança, pudessem ficar aqui na sala, sob guarda de um policial.

- Ok, sem problemas. Suzan, busque a Sara e traga-a aqui. Ficaremos

quietos neste sofá. Disse o detetive.

Enquanto estavam sentados, um policial os olhava com raiva,

constantemente apontando a mira de sua metralhadora. Robert pôde perceber

que ele era, possívelmente, um dos membros da Organização. Astutamente, o

detetive olhou para ele e perguntou:

- Amigão, você tem certeza da salvação da sua alma?

O policial o fitou com espanto e ódio ao mesmo tempo, respondendo

asperamente:

- Escuta aqui, cidadão. Não gosto de crente e nem do papo dos

crentes. Só estou aqui fazendo o meu trabalho e é melhor você ficar de boca

fechada porque logo logo estaremos na delegacia tendo uma conversinha com

você.

- Como você sabe que eu sou crente e como tem tanta certeza que vai

me levar para a delegacia? Indagou Robert.

O policial deu um sorriso sinistro e debochado, depois disse:

- Você pensa que é muito esperto, mas mecheu com os caras errados.

A Organização manda lembranças, porco imundo! Sussurrou iradamente para

Robert, que apenas sorriu para ele, com uma tranquilidade e calma tremenda.

De repente, um dos policiais gritou lá do banheiro:

- Chefe! Achei pó aqui. Caramba, deve ter umas setecentas gramas.

O policial que estava mantendo guarda na sala apontou a arma para os

dois, como se eles quisessem fugir. O oficial veio até a sala e perguntou à Robert:

- Como o senhor explica isso, amigo? Vocês estão presos. Por favor,

venham comigo.

Um policial pegou Sara no colo e outros algemavam Suzan e Robert

quanto a porta do apartamento se abriu e uma dúzia de policiais vestidos com

roupas de operação especial invadiram o apartamento, gritando:

- Corregedoria! Todos os policiais abaixem as armas!

78

E foram desarmando um por um, em um tumulto controlado por uma

ação muito bem feita. Por último, entrou um senhor muito bem vestido, com terno

e gravata, ao lado do Pereira, que estava com um sorrisinho nos lábios.

- Atenção todos os policiais que estão aqui... Passou a falar o homem

que entrou com o Pereira, enquanto os outros agentes especiais revistavam os

cômodos do apartamento. - Somos da Corregedoria da Polícia Civil do Estado de

São Paulo e estamos prendendo todos vocês, por acusação de formação de

quadrilha e estorção.

- Só um segundo, senhor. Disse o comandante da operação. - Estamos

aqui sob ordem do nosso superior e com um mandato de busca expedido pelo

juiz. Estamos no exercício de nossa função.

- Ah é? Então como você me explica isso? Disse o corregedor enquanto

Marcos entrava na sala, com o seu famoso laptop nas mãos, mostrando as cenas

do policial retirando um pacote cheio de cocaína e colocando atrás da privada do

banheiro, no quarto do casal. Marcos também soltou o áudio da conversa de

Robert com o policial que estava mantendo a guarda deles na sala.

- Eu não sei o que é isso? Como vocês filmaram? E vocês dois, que

história é essa de “Organização”? Disse ele olhando para os verdadeiros culpados.

- Este cidadão de bem, o senhor Robert é um dos melhores detetives

particulares que existem neste país e recebeu uma denúncia anônima, de alguém

que se diz participar de um grupo de trinta e sete pessoas entituladas

“Organização”, exatamente como este policial falou na gravação, de que a polícia

viria aqui para forjar que haviam achado drogas aqui, estorquindo-o a dar-lhes

dinheiro ou bens. Como temos provas fundamentais sobre este caso, e a

filmagem foi autorizada pelo juiz, dou voz de prisão a vocês. Podem algemar todos

eles! Ordenou o corregedor.

Robert olhou para o policial que havia se auto-denunciado e disse:

- Amigão, você tem certeza da salvação da sua alma? Porque o Deus

que eu sirvo não deixa que pessoas como vocês toquem em mim. E, a propósito,

você acertou em uma coisa: vamos nos ver na delegacia, sim. Só que agora em

papéis invertidos.

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Depois de tudo acertado, Robert foi avisado de que não precisaria

denunciar nada, visto que era uma denúncia da corregedoria da polícia civil.

Pereira ficou com Robert no apartamento.

- Puxa vida, Pereira!! Parecia filme norte americano. Nunca vi tanta

polícia vestidos de preto juntos. Sorria alegremente o detetive, aliviado pelo

livramento.

- É. Você nem imagina como foi que eu consegui trazer o “FBI” aqui,

não é mesmo? Satirizou Pereira.

- Não mesmo, como foi?

- Bom. Não havia uma maneira de barrar a polícia com um mandato,

então abri os arquivos da polícia e descobri que existia um processo em

andamento contra alguns policiais da “Intorpecentes” por extorção. Liguei para a

Corregedoria e disse que tinha provas contundentes e conclusivas da atuação

desses policiais, sugerindo a ele que usasse a prerrogativa de que houve uma

denúncia anônima de alguém ligado a uma tal de Organização. Pedi ao Corregedor

que conseguisse uma autorização judicial para filmar-mos a ação da polícia,

obtendo assim as provas e conseguimos. Pegamos eles!

- Rapaz, você foi fantástico. Deus te deu a sabedoria necessária sobre

tudo isso! Elogiava o detetive.

- É, mas tem mais ainda. Eu e o Marcos vamos trabalhar em um outro

projeto hoje a noite. Até amanhã estamos livres das retaliações. Eu recomendo

que vocês saiam e comam uma pizza, para se livrar do stresse que esta situação

causou. Vão em um lugar com bastante movimento que vocês estarão em

segurança. Amanhã cedo eu e o Marcos viremos aqui para resolver o caso do

incêndio no apê, mas acho que não precisaremos nos preocupar com isso, porque

se o meu plano correr bem, teremos novas surpresas amanhã de manhã. Concluiu

o policial, fazendo nova suspense no caso.

Marcos havia ido com o pessoal da corregedoria para entregar o

material filmado e dar uns testemunhos, enquanto Pereira voltou para sua casa.

No apartamento de Robert, a família se reuniu na sala, a mesma que a horas

atrás estava cheia de policiais os algemando e maltratando, agora de joelhos,

oravam ao Senhor, agradecendo o livramento que lhes havia dado. Logo após a

80

oração, o detetive levou a família para jantar fora, e depois deram um passeio

pela cidade, despreocupadamente.

***

- Como assim ele conseguiu se safar de todas? Gritava Miguel ao

telefone, falando com um membro da Organização dos Adoradores de Címerio. -

Estava tudo muito bem organizado. Como ele soube de tudo?

- Não sei, senhor. Sei apenas que ele se livrou de todas até agora.

Acho que foi pura sorte.

- Sorte não existe, idiota! Esbravejou Miguel. - Algo ou alguém

providenciou a sua proteção e livramento. Oque? Os policiais foram presos e te

avisaram que a corregedoria disse que houve uma denúncia anônima de alguém

de dentro do grupo dos trinta e sete? Será que temos traidores aqui dentro? Isso

é tolice, pois caso houvesse, nosso senhor Címerio nos avisaria. Isso significa que

eles sabem que são retaliações e, levando em conta que descobriram de alguma

forma os nossos planos, provavelmente sabem também dos planos para amanhã.

Convoque uma reunião imediatamente com os sequestradores do nosso grupo.

Pegaremos a filha deles como garantia. Esqueçam o plano de incendiar o

apartamento. Com certeza eles já sabem e estarão preparados para nos barrar.

81

CAPÍTULO 15

Domingo – última retaliação

A manhã do domingo estava nublada e cinza. Robert acordou cedo,

apesar do cansaço e esgotamento físico, tinha que lutar ainda esta vez, para

evitar que tudo desabasse na última hora. Segundo os planos da seita, eles

intentariam incendiar o apartamento através de um vazamento de gás na

tubulação central, exatamente na hora do almoço, quando o gás estaria sendo

usado. Robert, como precaução, pegou Sara e levou-a até a casa do pastor

Samuel, para que ficasse com eles. Suzan foi também e de lá dirigiu-se até a

casa de uma das irmãs de seu grupo de intercessão profética.

O detetive voltou para casa, a fim de encontrar-se com Pereira e

Marcos, mas os dois não estavam lá. Ligou para a casa de Marcos, que atendeu o

telefone com uma voz cansada.

- Marcos, tudo bem? O Pereira está aí com você? Vocês vão vir para a

nossa reunião?

- Olha Robert. Estamos aqui atrás de umas coisinhas para colorir o seu

final de semana e não vamos poder ir agora. Mas acho que em meia hora

concluímos nosso serviço. Trabalhamos a noite toda e não dormimos ainda. Só

vamos tomar um banho e um café reforçado e logo após concluirmos aqui, iremos

até sua casa, ok? Disse Marcos.

- Sem problemas, e obrigado por tudo o que estão fazendo por mim.

Agradeceu desligando o telefone.

Como Robert não tinha o que fazer, deitou-se no sofá da sala, colocou

um hino bem tranquilo e deu uma cochilada. Seu cansaço era tanto que quase

imediatamente adormeceu e sonhou. Em seu sonho ele via sua filha Sara sentada

no canto de um quarto, feito de madeira, choramingando e chamando “papai...

papai”. Ele deu um pulo do sofá assustado, gritando pelo nome da filha. No

mesmo instante o telefone tocou:

- Robert. Bom dia. Espero não ter te acordado, do seu cochilo no sofá

da sala. Era Miguel do outro lado da linha.

82

- Miguel, o que você fez com Sara? Esbravejou Robert.

- Ora, ora, ora... Vejo que você tem os dons de revelação! Ou está

ficando velho, detetive, afinal Jeová prometeu, ao derramar o Espírito Santo que

os velhos teriam sonhos, os jovens teriam visões. Respondeu sarcásticamente,

citando o livro do profeta Joel.

- Onde está a minha filha? Como você a pegou?

- Fique tranquilo, Robert. Ela está bem cuidada e muito, muito bem

guardada. Como peguei? Simples, eu pedi e me entregaram.

- O que você quer com isso, Miguel? Perguntou trêmulo o detetive.

- Quero que você desapareça do país, Robert. Eu queria apenas, e

amigávelmente, que você fosse embora de São Paulo, mas como sempre, preferiu

a luta do que a desistência. Mude-se de país e enviarei a sua filha para você.

Sabe que tenho meus meios para isso. Caso você faça alguma coisa contra mim,

eu mandarei ela em caixas de sapatos, pedaço por pedaço. Ora, veja só! Como

sou bondoso... de qualquer maneira você a terá em casa! Gargalhava

demoníacamente Miguel, com um misterioso eco em sua voz.

- Miguel. Disse Robert ofegantemente - Escute o que vou te dizer. Se

você tocar em um só fio de cabelo da minha filha... eu posso perder a minha vida

toda, mas vou te caçar até te encontrar e quando eu fizer isso...

- Robert, Robert! Cuidado! Irai-vos e não pequeis. Onde está o seu

domínio próprio rapaz? Debochava o feiticeiro.

- Seu macumbeirozinho de uma figa. Você não conhece o Senhor dos

Exércitos que eu sirvo! Eu te digo uma coisa: Hoje ainda minha filha estará de

volta aos meus braços e você estará caído aos meus pés! O Senhor faça justiça

entre eu e você e você verá quem é maior: Címerio ou Jeová! Desligou o telefone

na cara dele e imediatamente ligou para a casa do Pastor Samuel, que atendeu.

- Pastor, onde está Suzan? Disse rapidamente o detetive.

- Está aqui, você já sabe? Perguntou o sacerdote.

- Sim. Deus me revelou aqui em casa. Como a pegaram?

- Ela estava brincando aqui no quintal de casa e simplesmente, num

piscar de olhos desapareceu.

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- Meu Deus, pastor! Ela foi sequestrada pela Organização que estou

lutando contra. Por favor, pastor, traga a Suzan para casa imediatamente e ligue

para a casa do Marcos avisando eles do que aconteceu.

Suzan chegou em minutos e encontrou Robert ajoelhado.

- Robert! Pelo amor de Deus. Vamos na polícia!

- Não adianta amor, eles são da polícia também. Só há um jeito.

Clamar ao Senhor. Respondeu ele, em lágrimas.

- Não sei se consigo. Sara está nas mãos de uma seita satânica. Como

vou conseguir clamar, Robert?

- Eu não sei, mas apenas chore na presença Dele. O Senhor traduzirá

as suas lágrimas. Disse isso à ela e passaram a orar e clamar pela vida de sua

filha.

De repente Robert foi tomado em espírito e teve um arrebatamento de

sentidos. Em uma visão, ele pode ver Miguel sentado em posição de lótus, com as

pernas entrelaçadas, sobre um pentagrama, com velas acesas nas pontas da

estrela, e logo atrás dele, Címerio, a potestade da ciência. Robert via, ao redor

deles, nove demônios grandes, com aparências terríveis, parecendo guerreiros,

com espadas, lanças, redes, escudos nas mãos. Também viu que os anjos de

Deus tentavam entrar naquele círculo onde estavam Miguel e Címerio mas os

demônios guerreiros não permitiam aos anjos chegar até eles. Imediatamente

Robert perguntou ao Senhor, estando ainda ele na sua visão: “Senhor, porque os

anjos não podem tocá-los?”, ao que o Senhor lhe respondeu: “Miguel é um

homem, e sobre ele existe muita proteção em forma de legalidade. Isso fortalece

os demônios em volta deles e os torna poderosos na batalha contra os anjos”.

Deus lhe mostrou também uma grande mansão, situada em um bairro de classe

alta, próximo ao seu, onde Miguel estava realizando aquele ritual e mostrou uma

rua, conhecida por ele, na qual havia uma casa abandonada, de madeira e dentro

dela, estava Sara, no quarto, choramingando assustada. Ao redor da casa

estavam vários demônios, cercando-a para que ninguém chegasse perto.

O detetive voltou a si e olhou, com um sorriso nos lábios, para sua

mulher.

84

- Suzan! Disse ele impressionado. - Deus me mostrou onde Sara está,

porém está intocável, guardada por demônios fortíssimos e poderosos. Não tem

como chegarmos lá porque certamente morreremos e ela também.

- Oh Jesus! Obrigado por revelar o cativeiro! Glorificou ela. - O que

faremos, Robert?

- Não sei ainda, amor, mas vou saber... eram nove demônios

fortíssimos. Nove? Caramba, não consigo associar nada a este número. Deixe-me

pensar no caso desde o início... Deus me tomou aquele dia e me pediu para olhar

para cima... não... falou para prestar atenção aos sinais... Claro! Sinais! São

sinais... mas do que? Nove, nove, nove... Os vasos!! Em volta do Miguel! É Claro!

São três fileiras de seis quadras, porém só existem vasos nas casas de três em

três quadras, ou seja, apenas em nove casas. Cada vaso representa um daqueles

demônios guardiões e óbviamente, contém oferendas nojentas dentro deles, para

criarem a legalidade que o Miguel necessita para fazer a sua proteção espiritual.

- E o que vamos fazer então? Perguntou aflita, Suzan.

- Nós? Continuamos a orar. Mas o Marcos vai quebrar os vasos por nós.

- Pelo amor de Deus! Onde está o Marcos, Robert?

A campainha da porta do apartamente toca.

- Aí está ele. Atenda a porta. Disse o detetive, deleitando-se da sua

comunhão e sensibilidade espiritual que estava num alto estágio naquele

momento, ao ponto de os anjos do Senhor que cercavam o seu apartamento lhe

avisarem de quando o jovem Marcos havia chegado.

- Marcos, escute uma coisa. Preciso lutar contra o Miguel, mas no

mundo espiritual. Eu não sei como fazer isso, mas o Senhor estará me guiando. O

que eu sei é que ele tem nove guardiões. Eu os vi, e são enormes, demônios

terríveis, e cada um deles está associado àqueles vasos brancos de que eu lhe

falei. Lembra deles? Ótimo. Sabe exatamente onde eles estão, não sabe? Então

vamos travar esta batalha. Enquanto Suzan liga para a nossa equipe de

intercessão, para intercederem por mim, criando a minha defesa espiritual, você

vai naquelas casas que contém os vasos e vai quebrá-los, todos, um por um, e no

lugar onde estão, você lançará óleo da unção, declarando o cancelamento de toda

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a maldição e autoridade malígna. Entendeu, Marcos? A vida da Sara e a minha

vida dependem de você, mais uma vez. Explicou Robert.

- Certo! Deixe comigo. Suzan, fique com o celular ligado, para nos

comunicar. Disse Marcos, que saiu correndo com tudo.

- Como está a equipe de intercessão? Perguntou o detetive à esposa.

- Já está de joelhos no chão, intercedendo.

- Então... vamos lá.

Disse isso enquanto se estirava no chão, com a boca no piso,

clamando. No mesmo instante o Senhor o arrebatou em sentidos e Robert pôde

se ver novamente naquele lugar escuro e sinistro onde estavam Miguel e Címerio,

mas desta vez eles o estavam vendo. Miguel arregalou os olhos, assustado por ver

Robert naquela condição. Ao redor do detetive estava uma milícia de anjos. Miguel

olhou para Címerio que, com um movimento de seu braço ordenou aos nove

guardiões que atacassem. De imediato começou a se travar uma batalha no

mundo espiritual. Robert percebeu que estava vestido com uma armadura

reluzente e tinha em sua mão esquerda um escudo e na direita uma espada

afiada. “Oh, Jesus! Obrigado pela armadura de Deus na minha vida” pensou ele,

agradecido. Os demônios avançavam ferozmente contra eles, sendo incrívelmente

difícil vencê-los. Parecia que as investidas do detetive eram inúteis. Os anjos

estavam lutando com todas as suas forças, mas não podiam passar a barreira que

eles criavam.

Marcos corria loucamente pela rua, para chegar à primeira casa de

esquina. Ao chegar, pegou um pedaço de madeira que havia levado e, sem

pensar, deu uma paulada no vaso branco que estava sobre o muro da casa. O

vaso esplodiu com a pancada, lançando sobre ele uma quantidade de víceras

humanas com sangue coagulado. O garoto não suportou e ficou escorado no

muro, vomitando. Lembrou-se da tremenda batalha em que estava travando,

levantou-se então e, ungindo com o óleo, declarou neutralizada a maldição

daquele lugar e saiu em disparada para a próxima casa, três quarteirões a frente.

No mundo espiritual, o espírito de Robert travava uma batalha intensa,

auxiliado pelos anjos, contra os demônios guardiões de Miguel. De repente, um

deles parou de lutar com uma expressão de pavor nos olhos. Um anjo percebeu

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isso e lhe desferiu um golpe de espada que o fez desintegrar completamente. “O

Marcos conseguiu destruir o primeiro vaso!”, gritou Robert, em meio a batalha,

que continuava acirrada. Em outro momento, mais um dos guardiões foi destruído.

Marcos estava conseguindo quebrar os vasos e neutralizar as maldições,

aniquilando assim a legalidade e retirando a força dos demônios guardiões. Um

após outro foram sendo destruídos, porém a medida em que íam sendo vencidos,

Robert percebeu que o intervalo de tempo entre um e o próximo aumentava.

“Deus, o Marcos está cansado. Ele não aguenta mais correr e quebrar os vasos.

Renova, Pai, por favor eu imploro, renova as forças dele agora!”, orou o detetive,

em meio ao arrebatamento espiritual em que estava passando.

No mesmo instante, na rua, Marcos sentiu algo em seu corpo. Parecia

que ele havia recebido uma carga nova de energia e passou a correr sem cansaço

algum. Faltavam apenas quatro vasos para serem quebrados e ele os foi

destruindo um a um e ungindo os lugares com o óleo. As pessoas na rua que o

viam fazer isso, não entendiam nada, mas Deus estava no controle da situação.

Na batalha, Miguel ficou de pé, ao lado de Címerio. Pegou uma espada

negra nas mãos e começou a lutar, para defender-se. Restavam-lhe agora apenas

três guardiões e o feiticeiro via-se ameaçado por Robert. Sua expressão era de

total terror, enquanto lutava contra os anjos do Senhor. Outro guardião foi vencido

e ficaram apenas dois para realizar a defesa. Címerio, majestosamente saiu,

desaparecendo na escuridão. Miguel esbraveja com a potestade mas em vão: ele

o abandonara no momento mais difícil. Apenas um guardião restava agora e um

anjo lutava contra ele.

O celular de Suzan tocou, era Marcos.

- Suzan, como está o Robert?

- Ele está aqui, caído de rosto no chão, como morto, mas existe

pulsação e o corpo está quente, porque?

- Porque vou quebrar agora o último vaso. Cuide dele aí. Disse ele

desligando o celular.

De repente o último guardião abaixa a espada e o anjo o vence,

aniquilando-o completamente. Fica apenas Miguel, contra Robert e uma milícia de

anjos. Robert vai em direção ao feiticeiro e diz: “Aqui eu posso te destruir, Miguel,

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que não estarei pecando”, e desferiu um golpe certeiro no sacerdote de Címerio,

que o fez desintegrar na presença do detetive e dos anjos do Senhor.

Imediatamente o Senhor lhe concedeu novamente a visão do local onde Miguel

estava, caído desacordado e da casa, onde Sara estava cativa, agora não mais

cercada pelos demônios.

- Suzan! Gritou ele, ao voltar da batalha que Deus permitiu que

travasse. - Vencemos, amor. Sara está livre! Disse isso e saiu correndo, para a

garagem do prédio, pegar seu carro. Na rua, Robert ía em grande velocidade,

desviando frenéticamente dos carros, buzinando e gritando pela janela do seu

carro para que as pessoas saíssem da frente.

No local onde foi realizado o ritual, Miguel permanecia caído, com o

nariz sangrando muito e as pernas travadas. Ele sabia que o melhor a fazer era

sair logo dali antes que os demônios voltassem e o pegassem daquele jeito.

Lentamente tentava se recompor da luta que seu corpo físico sentiu ao perder no

mundo espiritual.

Robert estava quase chegando. Só pensava na filha, em sua segurança,

nela sozinha naquele lugar, sem uma pessoa por perto, mas o Senhor certamente

a estaria guardando com seus anjos, para que nada de mal viesse lhe acontecer.

Miguel conseguiu se levantar e lentamente caminhava pela grande sala

de paredes e teto pintados de preto, em direção a porta.

Robert finalmente chegou. Não estacionou o carro, apenas deu um

salto da direção e pulou um muro baixo que fazia o quintal da casa. Entrou pela

porta principal e foi em direção ao quarto.

Miguel, conseguiu lentamente chegar até a porta do local onde eles

destinavam para fazer os rituais da Organização. Uma bonita mansão, acima de

quaisquer suspeitas da vizinhança do bairro. Quando ele abriu a porta,

surpreendeu-se ao encontrar Robert, parado olhando para ele.

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- Robert? Mas... porque não foi resgatar a sua filha? Ela está em outro

lugar, na direção oposta a esta. Balbuciou o feiticeiro.

- Eu sei Miguel, exatamente onde Sara está. Mas ela já está fora de

perigo, por isso não pude deixar de vir atrás de você. Prometi para você que ainda

hoje minha filha estaria em meus braços e você aos meus pés.

Tendo dito isso, Miguel desabou aos pés do detetive. Robert olhou para

ele, mesmo caído no chão e disse:

- Jeová é maior do que qualquer outro deus que possa existir. Não

existe, nunca existiu e nunca existirá um deus maior do que ele. O teu demônio te

abandonou no momento em que você precisava. É sempre assim. O demônio

mente pra você, depois te ilude, então te usa e te joga fora. E outra coisa... Disse

Robert pegando Miguel pelo colarinho do seu casaco e levantando-o. - Prometi

para minha mulher que iria prenter você até domingo.

Robert trouxe o feiticeiro arrastado pela enorme sala da mansão

pertencente a seita, quando as luzes vermelhas e azuis, dos carros da polícia

invadiram os vitrais. Pereira abriu a porta de entrada e se encontrou com o amigo.

- Pereira! Como soube que eu estava aqui? Perguntou atônito o

detetive.

- Marcos e eu passamos a noite toda investigando. Depois que o

pessoal da “Intorpecentes” invadiu a sua casa, fui com o Marcos e li toda a

conversa da reunião que eles tiveram pela internet e que vocês monitoraram...

Miguel apenas deu uma olhada para o detetive, entendendo agora

como eles haviam obtido as informações sobre as retaliações. Robert lhe retribuiu

com um sorriso e disse:

- Vocês usam magia... nós, tecnologia!

Pereira continuou:

- Percebi que um cognominado de “Rimon” mencionou “o meu

pessoal”, referindo-se aos policiais, logo, só poderia ser um delegado.

Pesquisamos pela internet, e afirmo que nunca vi alguém tão preciso como o

Marcos para isso, e descobrimos que o dito “Rimon” era o delegado Oséias,

comandante daquela tropa que invadiu o seu apartamento, pois desde jovem ele

usava este codnome na faculdade. Porém, ao vasculhar a vida toda dele, não

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conseguimos encontrar nada que o incriminasse. Resolvi então dar um pulo no

plantão da delegacia e pude, sorrateiramente, entrar na sala do delegado. Lá,

mexendo em seus arquivos pessoais no computador, pude copiar umas conversar

gravadas inocentemente, nos programas de bate-papo na internet, com membros

da Organização, mencionando fatos importantes sobre todos os assaltos à bancos

e casas de câmbio realizados por eles. Encontrei também, no seu arquivo de

papéis, uma lista de trinta e sete nomes de pessoas, relacionadas sob o título

“Organização” e muitos planos para arrombamentos de cofres. Como ele é

vulnerável! Apartir daí, descobrimos as contas bancárias de todos eles e todos

estão ricos. O Marcos conseguiu acessar um hacker amigo dele que tinha umas

filmagens do circuto interno de um dos bancos assaltados pela Organização e

temos, nada menos do que seis integrantes da seita, inclusive este aqui, filmados.

A partir disso, fui direto até a casa do juiz e expus todo o caso. O mandato de

prisão temporário foi expedido.

- Fantástico! Você conseguiu descobrir tudo. Acho que o “Sherlock

Homes” aqui é você e não eu. Brincou Robert.

Pereira meio corado pelo elogio do amigo detetive, algemou Miguel e

disse:

- Vamos logo porque ainda temos outros trinta e seis para prender hoje.

Antes que saíssem, chegou um carro e parou. Marcos saiu dele,

trazendo Sara nos braços.

- Ei, Robert! Acho que esta garotinha linda aqui é sua.

Robert correu ao encontro deles e tomou-a nos braços, chorando. Ele

mal conseguia falar, mas disse:

- Obrigado Senhor, porque Tu foste fiel comigo e honrou a minha

palavra, a qual profetizei ao Miguel. Eu te amo, Pai!

E olhou para o amigo e perguntou?

- Marcos, como você sabia onde a Sara estava?

- Elementar, meu caro Robert. Esses dias foram muito intensos para

mim. Eu aprendi a ver os sinais!

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- Sério!? Rapaz, que bom! Fico feliz por isso! Como foi? Deus te revelou

o local exato do cativeiro, como fez para mim? Perguntou Robert.

- Bom, mais ou menos. – Ilustrou Marcos. - Logo após eu quebrar o

último vaso, corri até na frente do seu apartamento e peguei meu carro, para ir

tomar um banho, porque tinha muitas coisas estranhas naqueles vasos e eu fiquei

fedendo muito. Rapidinho eu sai novamente com a intensão de ir na tua casa,

saber notícias do que estava acontecendo, pois quando eu peguei o carro, Suzan

havia me dito que você saiu correndo para pegar a Sara. Bom, como a avenida

estava congestionada, resolvi pegar um caminho alternativo para chegar lá, por

aquele bairro pobre que tem ao lado da rodovia e, como não conheço bem o

lugar, fui devagar com o carro, para não errar a rua e acabar caindo dentro de

uma favela. De repente, enquanto estava passando vi a Sara na calçada,

acenando para que eu parasse. Acho que ela me reconheceu. Eu parei e

perguntei de você e ela me disse que não sabia, e me disse que as “coisas” que

estavam impedindo ela de sair da casa velha onde estava, de repente sumiram e

ela saiu correndo de lá, e estava procurando o caminho de volta para casa. Peguei

Sara e liguei para o Pereira, que me disse estar vindo para cá, então... cá estou

eu!

- Marcos... Perguntou Robert sério e desconfiado. - Onde está o sinal

de Deus nesta sua história?

- Ué... eu não disse que era de Deus. Falei que aprendi a ver os sinais.

Quando sua filha fez um sinal com as mãos, eu pude ver. Fantástico, não?

Todos caíram na gargalhada, pela história do garoto, e felizes porque

tudo acabou bem.

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CAPÍTULO 16

Aprendendo os sinais

Era uma linda tarde de domingo. Robert, Suzan e Sara estavam em um

belíssimo parque, passeando. O casal havia se sentado um pouco enquanto Sara

corria pelo parque, pulando na grama, tentando subir nas árvores.

- Puxa amor, já faz um mês que você resolveu o caso da Organização -

disse Suzan.

- É... - respondeu vagamente o detetive. - Parece que foi ontem, né?

- Quantas coisas nós passamos juntos! E aprendemos bastante.

Quando será o julgamento do Miguel?

- Não faço a menor idéia. Do jeito que a justiça brasileira trabalha...

duvido muito que vá a julgamento, antes que um advogado o tire de lá.

De repente, Sara correu em direção ao casal gritando:

- Papai, papai!

Robert se levantou para ver o que estava acontecendo.

- Veja, papai. Aquelas árvores alí estão se movendo com o vento, mas

estas aqui não estão. É um sinal de Deus?

- Minha filha. Perguntou Robert. - O que você entende de sinais?

- Entendo que Deus tem se comunicado com o povo dele através dos

sinais. Por isso eu presto atenção em tudo, porque pode ser Deus querendo que

eu entenda alguma coisa, papai.

Robert e Suzan se entreolharam e sorriram, felizes porque ela entendeu

que Deus está guiando o seu povo através de sinais.

F I M

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APÊNDICE de ESTUDOS

Estudando os sinais no nosso dia-a-dia

“Porventura, o não perguntastes aos que passam pelo caminho e não conheceis

os seus sinais?” (Jó 21:29)

A palavra SINAIS nos diz muito, em relação à sua colocação na língua

portuguesa. Na Bíblia Sagrada, significa além de outras coisas, milagres.

Humildemente, sou um homem acostumado com os milagres de Deus no dia-a-

dia, por onde tenho passado, mas o objetivo de escrever este livro foi muito mais

do que falar de milagres. Eu quis aqui, inspirado pelo Espírito Santo, falar sobre

um sentido próprio da palavra que por muitos foi esquecido: DEUS FALA COM O

SEU POVO ATRAVÉS DE SINAIS! O Criador se comunica conosco através de pistas

no nosso cotidiano.

Tenho me dedicado a este estudo há mais de cinco anos, aonde venho

observando pessoas, situações, casos específicos onde os sinais de Deus foram

nítidos, porém em alguns casos não observados ou menosprezados. Percebo que

o Senhor tem nos cuidado, direcionado, enviado através de pistas exatas que

deixa impressa em nossa vida.

Certa vez eu estava viajando de carro, dentro do estado do Rio de Janeiro,

quando percebemos uma placa enorme escrito: CUIDADO! A 300M CURVA

PERIGOSA! Achei estranho uma placa daquele tamanho na estrada, visto que no

Paraná (onde resido) as placas são menores. Chegando uns cem metros perto da

curva perigosa, existia – EM PLENA RODOVIA! – um redutor eletrônico de

velocidade. Comentei com o irmão que estava comigo: “Puxa, como devem ter

acontecido acidentes aqui nesta curva, para o governo colocar tantos avisos!”.

Naquela hora o Senhor falou comigo, dizendo: “Comigo é assim também. Coloco

meus sinais nas vidas das pessoas. Se cada um aprender a percebê-los e prestar

atenção neles, jamais sofrerá acidentes. Todos eles são evitáveis. Nada é

inevitável debaixo do sol. Aprenda a perceber os sinais”. Passei a meditar mais

93

profundamente sobre isso: se as pessoas prestassem atenção às placas de

trânsito e seguissem o que está expresso nelas, não haveria acidentes. Onde diz

para andarmos a 80 km por hora, normalmente andamos a 110 km. Esquecemos

que uma pessoa preparada para calcular a velocidade limite daquela pista

estipulou que o nível para a segurança rodoviária ali é 80 km/h. A maioria dos

acidentes acontece por imprudência, ou seja, não foram observadas as “regras”

ou “sinais” que estavam delimitando a locomoção dos veículos e estipulando suas

velocidades.

Em nossas vidas é basicamente a mesma coisa, apenas com algumas

alterações. Deus nos apresenta os seus sinais dentro da nossa capacidade de

senti-los ou entendê-los, através de nossos sentidos naturais: olfato, gustação,

audição, visão e tato. Tudo o que vier dos céus, de maneira sobrenatural não se

identifica como um sinal e sim como algo direto de Deus, através do Espírito

Santo.

Quero procurar aqui, neste complemento, criar um parâmetro saudável e

bíblico para entendermos os sinais de Deus em nossas vidas, sem tornar-mos

paranóicos, achando que “tudo é sinal de Deus”. Devemos ser cristãos maduros

para poder compreender esta revelação do Senhor para os nossos dias, porém

que já existe a milhares de anos, descrita nas páginas da Bíblia Sagrada.

A PERCEPÇÃO

Já ouvimos falar muito em “premonição”, “dejavu” e outros termos utilizados

para identificar uma sensação de estar em um lugar pela primeira vez, mas

sentindo que já esteve antes ou sentir que algo vai acontecer e realmente

acontece.

Este assunto não é falado pelos evangélicos porque se tem um medo muito

grande de cair em heresias ou em divagações blasfemas da Palavra. A grande

verdade é que, seja crente ou não, os seres humanos TEM PREMONIÇÕES de

eventos que vão acontecer ou sensações de estarem em um lugar que nunca

estiveram antes, sabendo que lugar é aquele. Eu chamo a isso de percepção

espiritual. Não posso fugir a esta realidade. Muitos pais, quando estão nos seus

trabalhos e seus filhos estão em casa, literalmente SENTEM quando algo acaba

94

de acontecer com as crianças. Assim também entre amigos muito chegados,

conjugues etc. Já me afirmaram que este fenômeno é o Espírito Santo nos

avisando do que aconteceu. Eu não posso acreditar que atribuam ao Senhor

Espírito Santo, nosso Deus tri-uno, o serviço de “garoto de recados”.

Deus dotou o homem de sensibilidade espiritual. Em Jó 4:15-16 lemos algo

interessante: “Então, um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os

cabelos do meu corpo; parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto

estava diante dos meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz”. Nós sabemos que

os espíritos, sejam eles bons ou maus, habitam em uma dimensão espiritual, ou

seja, não habitam na região física que habitamos. Aos anjos do Senhor foram lhes

concedido por Deus, em situações e ocasiões especiais, a materialização e

interação com o mundo físico, mas aos demônios isso lhe foi vetado nas primeiras

cinco dispensações, conforme vemos em todas as situações bíblicas que eles se

apresentaram como espíritos, porém na sexta dispensação, da Graça, Satanás e

seu panteão de PRINCIPADOS (explicarei melhor sobre isso a seguir) receberam

ordem para materializarem-se e transformarem-se oportunamente, segundo o

Apóstolo Paulo nos advertiu em sua segunda carta aos coríntios, no capítulo onze,

verso quatorze: “E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em

anjo de luz”.

No Jardim do Éden, Satanás necessitava persuadir o homem a pecar. O

homem e sua esposa eram seres perfeitos, harmônicos, ligados diretamente ao

Senhor, ao passo de andarem juntos, todas as tardes, pelo jardim, observando as

coisas belas que o Senhor havia criado e tendo comunhão íntima. Mas Satanás

não podia se materializar, não podia aparecer fisicamente, devido ao fato de haver

sido consumido pelo Senhor, depois da queda (Ez. 28:18-19). Ele precisava de

um corpo para poder interagir fisicamente.

Entendamos agora uma coisa: da mesma maneira que nós não podemos ver

os espíritos com nossos olhos físicos, salvo com a permissão de Deus,

semelhantemente os espíritos não podem ver nossos corpos físicos. Há uma

separação entre estes dois mundos, de forma que podemos interagir através do

sobrenatural de Deus. Vou exemplificar: Quando queremos ver a glória de Deus,

em um culto ou ministração, não ficamos quietos, parados de olhos abertos. Pelo

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contrário, fechamos nossos olhos, nos rendemos inteiramente ao Senhor,

choramos, declaramos nossa adoração, expressamos nosso amor, movemos o

sobrenatural de Deus através da nossa fé. Isso abre portas no mundo espiritual

onde podemos provar das coisas espirituais. Da mesma sorte, quando um

demônio quer interagir com o mundo físico, precisa possuir um corpo físico, para

que possa olhar as coisas físicas através dos olhos da pessoa ou animal, possa

provar bebidas ou alimentos e sentir o seu gosto. Nós não precisamos “possuir”

um corpo espiritual para interagirmos espiritualmente porque somos tricotômicos,

ou seja, espírito, alma e corpo, e já possuímos um corpo espiritual. Desta forma,

nos é mais fácil tocar no sobrenatural porque temos um corpo aqui no mundo

físico e outro no mundo espiritual, chamado de “espírito humano” ou “corpo

espiritual”. LEIA: 1 Ts 5:23 – “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o

vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda

de nosso Senhor Jesus Cristo”.

É como uma pessoa que tem um celular brasileiro, que não possui o roaming

internacional. Quando ele viaja aos Estados Unidos, precisa de outro celular,

americano, para poder se comunicar. Assim são os demônios: quando querem se

comunicar no mundo físico, precisam possuir vidas, “incorporar” nas pessoas,

para poder falar, ver, ouvir e sentir fisicamente. Caso a pessoa que viaja aos

Estados Unidos tenha um celular com roaming internacional, basta apenas digitar

o código correto e falar através do mesmo aparelho. Assim somos nós! Deus nos

permitiu, como únicos na criação, termos o contato físico (através do corpo),

espiritual (através do corpo espiritual ou espírito humano) e emocional (através da

alma) de uma só vez. Por esta e outra razão somos tão odiados pelos demônios...

Somos muito melhores do que eles!

Voltemos ao Jardim do Éden. Satanás precisava de um corpo. Encontrou na

serpente um corpo para possuir ou incorporar e poder assim falar com Eva. Eu

vejo aqui a astúcia e inteligência do diabo: a função de Adão era cultivar e cuidar

do Jardim e a função de Eva era cuidar e auxiliar o marido. Ou seja, Adão estava

trabalhando e Eva preparando o alimento para o jantar. Eles juntos não seriam

derrotados. A Bíblia não nos afirma que Eva estava ao lado de Adão naquele

momento. Veja o que diz: “Viu, pois, a mulher que a árvore era boa para comer,

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que era uma delícia para os olhos, e árvore desejável para dar entendimento;

tomou do fruto dela e comeu; deu também a seu marido, e ele comeu” (Gn 3:6).

Perceba que o termo “deu também a seu marido, e ele comeu” vem após uma

pausa no contexto. Não estou falando aqui sobre a pontuação empregada, visto

que o texto original de Gênesis foi escrito no hebraico, que não leva as mesmas

marcas de ortográficas como o português traduzido por nós, mas no contexto do

assunto. Eva comeu o fruto, isso em um primeiro momento; Eva deu deste

mesmo fruto a seu marido Adão, em um segundo momento, que pode ser

separado de horas em relação ao primeiro. Também existe a prerrogativa: Eva deu

o mesmo fruto em que ela havia mordido ou havia tomado outro (sem a fatídica

mordida) e dado ao seu esposo?