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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DETERMINANTES DO DESEMPENHO ACADÊMICO DOS
ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA UFBA
JOÃO OLIVEIRA BATISTA
RODRIGO FERRER DE ARGÔLO
JOSÉ ALBERTINO DE CARVALHO LORDÊLO
SALVADOR
2017
RESUMO
Este trabalho buscou aquilatar dados sobre as diferenças de desempenho acadêmico
entre os estudantes cotistas e não cotistas do curso superior de Psicologia da Universidade
Federal da Bahia. Foram considerados três indicadores: escore no vestibular, nota na
disciplina Introdução à Estatística e o coeficiente de rendimento. O banco investigado
contemplou com os dados de 234 estudantes da universidade que ingressaram desde 2005
e formaram até 2012. O software utilizado para a realização das análises foi o IBM SPSS
22 (Statistical Package for the Social Sciences). As principais conclusões encontradas
reforçaram para o desempenho inferior dos cotistas para todos os indicadores analisados.
As maiores diferenças entre os grupos foram encontradas quanto ao escore no vestibular e
à nota em Introdução à Estatística. A investigação das razões para as diferenças entre os
grupos revelou que, dentro do grupo de alunos cotistas, notou-se especificidades de
histórico escolar e renda que influíram nas variações do desempenho. A idade dos alunos e
a faixa de renda foram os principais influenciadores destas diferenças notadas. Apesar das
limitações no número casos e da falta de alguns dados do processo de graduação dos alunos,
as conclusões do artigo devem incitar produções científicas similares para contribuir na
investigação das diferenças étnicas, sociais ou acadêmicas entre os estudantes.
Palavras-chave: Desempenho Acadêmico; Avaliação do Ensino Superior; Avaliação
da Qualidade Escolar.
3
1 INTRODUÇÃO
O desempenho acadêmico é o principal termo utilizado na área da avaliação
institucional para descrever o rendimento do estudante num processo de ensino. Múltiplos
fatores estão envolvidos na aprendizagem e podem ajudar a determiná-la, devendo ser
citados como exemplos o grau de qualificação do corpo docente, a estrutura da instituição
e os fatores sociodemográficos associados aos contextos familiar e escolar como o nível de
escolaridade dos pais, o tamanho da família, a renda da família e a trajetória escolar do
aluno. Os debates na sociedade quanto à democratização de acesso aos direitos dos grupos
minoritários e a recente abertura de cotas de vagas nas Instituições Federais de Ensino
Superior (IFES) incitaram o aumento do interesse pelo estudo dos determinantes de
desempenho nesta etapa de ensino.
No Brasil e no mundo, recentemente, houve um crescente incremento aos setores da
educação, levando à ampliação da quantidade de instituições, cursos e da elaboração de
políticas de incentivo à escolarização e qualificação da população. Neste processo, o
Governo Federal tomou algumas medidas que visavam aumentar o acesso dos setores da
população mais afastados às escolas de ensino superior. Entre as medidas se destacavam as
políticas de ações afirmativas que culminaram, dentre outras coisas, na abertura de vagas
nas IFES reservadas aos segmentos sociais sub-representados no ensino superior e levou a
uma gradual mudança do perfil dos alunos ingressantes nos cursos de graduação nas
universidades.
A existência de um perfil mais heterogêneo de estudante e a necessidade de aferir
sobre a trajetória e desenvolvimento deste novo alunado levaram a elaboração de estudos
mais recentes na área da avaliação institucional que investigaram os grupos de estudantes
de contextos socioeconômicos distintos e consequentemente históricos familiares, escolares
e individuais dessemelhantes.
Os trabalhos acadêmicos nacionais sobre o desempenho estudantil no ensino
superior abordaram as disparidades entre os cotistas e os não cotistas e analisaram os
motivos associados. Alguns trabalhos apontaram para o desempenho inferior dos cotistas
na maior parte dos cursos e áreas de conhecimento (LAGO, 2013; PEIXOTO et al., 2013),
enquanto outros trabalhos apontaram a similaridade ou pouca diferença dos desempenhos
gerais entre os grupos (MATTOS, 2010; SANTOS & QUEIROZ, 2006; VELLOSO, 2009).
4
O atual trabalho consiste numa pesquisa empírica que averigua, através de análises
estatísticas, acerca das diferenças de desempenho acadêmico entre os estudantes cotistas e
não cotistas numa instituição de ensino superior. Pretende estudar sobre as políticas de cotas
e apurar a qualidade institucional. Propõe-se responder à questão: como os determinantes
sociodemográficos se associam às diferenças de desempenho entre os cotistas e os não
cotistas num curso superior de alta concorrência da área de Ciências Humanas?
Para isto, foram utilizados dados dos estudantes do curso de Psicologia da
Universidade Federal da Bahia. A escolha deste curso se baseou na alta demanda social que
tem, fato que resulta em alta concorrência e o ingresso de estudantes com altos rendimentos
ou os melhores alunos. Por conta do alto prestígio do curso, pressupõe-se que o egresso da
escola de ensino médio de pior qualidade (medida pelo Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica [Ideb] do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira [Inep]) encontre maiores desafios durante a graduação.
Os estudantes foram divididos em dois grupos: (1) cotistas, que ingressaram na
universidade através do sistema de reserva de vagas e, (2) não cotistas, que ingressaram
pelo sistema de seleção universal. Três indicadores foram utilizados para aferir sobre o
desempenho estudantil, neste trabalho: (i) o escore no vestibular, (ii) o coeficiente
rendimento do aluno na graduação e (iii) o rendimento do aluno na disciplina Introdução à
Estatística.
O atual trabalho dá ênfase aos resultados empíricos produzidos, não se voltando à
explanação das definições e conceitos acerca de tópicos da qualidade educacional, eficácia
e equidade. Desta forma, a revisão de literatura, próxima sessão, se estrutura numa breve
apresentação de pontos sobre a implantação da reserva de vagas no Ensino Superior na
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e uma caracterização do curso superior de
Psicologia, objeto investigado nas análises. As discussões conceituais supracitadas podem
ser encontradas no artigo intitulado “Determinantes e Indicadores Relacionados às Políticas
de Inclusão no Ensino Superior” (ARGÔLO, BATISTA & LORDÊLO, 2016), produzido
pelos mesmos pesquisadores.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
Inclusão e acesso nas Instituições de Ensino Superior brasileiras
Seguindo a tendência de inclusão e fomento à mão de obra qualificada a partir dos
anos 2000, algumas universidades do Brasil passaram a adotar as ações afirmativas para
garantir o acesso aos grupos desfavorecidos. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) iniciaram sua política
(conjunta) de reserva de vagas conforme a Lei Estadual Nº 3708, de 09 de novembro 2001
(RIO DE JANEIRO, 2001), começando a funcionar a partir de 2002.
Outras universidades seguiram o modelo e iniciaram suas políticas: a Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) em 2003, a Universidade Estadual da Bahia
(UNEB) em 2003, a Universidade de Brasília (UnB) em 2004 e a UFBA, em 2005. No
momento, as políticas eram geridas a nível estadual e correspondiam à reserva de
percentuais de vagas ao público local, egressos do ensino médio público e às etnias/raças
para as quais notaram-se as maiores disparidades, de acordo com os dados regionais.
No contexto da Universidade Federal da Bahia, a implantação do Programa de Ação
Afirmativa consistiu na reserva de 45% das vagas para alunos da escola pública, negros,
pardos, índios e outros grupos étnicos. O sistema de reserva de vagas (ou sistema de cotas)
instaurado na UFBA foi aprovado em 2004, baseado na Resolução nº 01/04 do Conselho de
Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) e passou a oferecer percentuais de vagas
destinadas aos grupos excluídos a partir de 2005.
Algumas pesquisas produzidas no contexto da UFBA fizeram uso das bases de
dados contendo as características dos estudantes e investigaram acerca das políticas de
ações afirmativas implantadas na universidade (ALMEIDA FILHO et al., 2005;
GUIMARÃES, COSTA & ALMEIDA FILHO, 2011; SANTO & SANTOS, 2013). A
maioria dos trabalhos concluiu que, no geral, o desempenho médio do estudante cotista é
inferior, em relação ao não cotista (CAVALCANTI, 2015; COSTA et al., 2010; PEIXOTO
et al., 2013), embora também há pesquisas que não encontraram diferenças significativas
no desempenho geral entre os dois grupos (SANTOS & QUEIROZ, 2006).
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As conclusões dos estudos mostraram também que as diferenças entre estes
estudantes são mais gritantes em algumas áreas ou cursos específicos. A disparidade entre
o desempenho dos dois grupos é maior na área 1 (CAVALCANTI, 2015; PEIXOTO et al.,
2013). Peixoto e cols. (2013) encontraram, ainda, que os cotistas tiveram desempenho
superior apenas nos cursos da área 3 (Ciências Humanas) de média e baixa concorrência
para o acesso e da área 5 (Artes), enquanto Lago e colaboradores, no ano seguinte (2014),
notaram o desempenho maior dos cotistas somente nas áreas 4 (Letras) e 5 (Artes).
Evidências sugerem que o déficit da formação básica é o principal fator explicativo
das disparidades de aprendizagem entre os grupos de estudantes, visto que as cotas visavam
principalmente a adesão dos egressos do ensino médio público, não se limitando às questões
raciais/étnicas. Por isto, autores propõem como principais fatores de influência para estas
diferenças no desempenho (1) a demanda social dos cursos (medida pela concorrência no
vestibular) e (2) as dificuldades na formação básica dos estudantes, especialmente no
domínio de matemática (CAVALCANTI, 2015; PEIXOTO et al., 2013).
O curso de Psicologia
As análises do atual trabalho foram realizadas com os dados dos estudantes de um
curso de alta concorrência da Universidade Federal da Bahia: o curso de Psicologia. Este
curso de graduação possui alto valor social -seguindo a tendência de valorização da própria
profissão-, havendo uma grande demanda por ingresso. Por conta das características do
curso, pressupõe-se que o egresso das escolas de ensino médio de pior qualidade encontre
maiores desafios de acesso, desempenho e permanência nele.
A profissão de psicólogo existe no Brasil desde antes do Século XX, sendo
regulamentada através da Lei Nº 4.119 de 27 de agosto de 1962 (BRASIL, 1962), que
também determinou sobre os cursos de formação em Psicologia. No contexto da UFBA, o
curso de graduação em Psicologia foi criado em 1961 e teve a sua primeira turma de
estudantes inaugurada em 1969. (UFBA)
Conforme a definição de Queiroz (2003), Psicologia é um dos cursos de maior
prestígio social. A definição desta autora se sustenta em pesquisa feita por empresas de
recursos humanos tendo como base a remuneração da área e a concorrência no exame do
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vestibular. Nesta visão, a Psicologia é uma carreira de alto prestígio social assim como
Medicina, Direito, Odontologia, Administração, Ciências da Computação, Engenharia
Elétrica, Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Arquitetura e Urbanismo e Comunicação
Social/Jornalismo. (QUEIROZ, 2003).
O atual trabalho tem como objetivo explicar as variações no desempenho entre os
estudantes cotistas e os estudantes não cotistas do curso superior de Psicologia e analisar os
fatores sociodemográficos que se associam às diferenças.
3 METODOLOGIA
Fonte de dados, amostra e recorte
O atual trabalho se configurou numa pesquisa baseada na abordagem metodológica
de survey (BABBIE, 1999), tendo como fonte de dados os arquivos do Sistema Acadêmico
(SIAC) da Universidade Federal da Bahia. A pesquisa não contou com cálculos amostrais,
aplicação de instrumentos ou coleta em campo. Utilizou-se apenas o curso de graduação em
Psicologia.
Na base de dados, cada aluno possuía informações referentes às suas caraterísticas
socioeconômicas. Estes dados foram coletados pela universidade no momento da inscrição
do vestibular, num questionário sociodemográfico preenchido obrigatoriamente. As
informações que compuseram a base foram disponibilizadas pela Pró-Reitoria de Ensino e
Graduação (PROGRAD) e coletados no Sistema Acadêmico (SIAC) pelo Centro de
Processamento de Dados (CPD), da UFBA, sendo fornecidos para fins de pesquisa. As
medidas de inferência de desempenho (variáveis dependentes) ou medidas do rendimento
acadêmico, como o escore no vestibular, o coeficiente de rendimento (CR) e a nota em
Introdução à Estatística, foram coletadas pelo sistema da UFBA quando o aluno já cursava
a universidade.
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Definições e variáveis
As investigações se basearam nos indicadores de desempenho do aluno frente aos
estímulos educacionais. As variáveis utilizadas denotariam o desenvolvimento do estudante
ao longo do processo educacional, ou sua aprendizagem, correspondendo à transportação
do resultado do processo educacional a escalas numéricas.
As variáveis, baseadas nos indicadores, são utilizadas na pesquisa como medidas
educacionais que averiguam a aprendizagem do aluno. Eles permitem categorizar, para fins
comparativos, as respostas do aluno aos estímulos da aprendizagem, de aula, de contato
com o corpo docente e com a estrutura escolar. Deve se observar que o desempenho possui
limitações, estando suscetível a erros variados.
O desempenho estudantil foi investigado através de três indicadores: (a) o escore
obtido pelos estudantes na prova de acesso à graduação, (b) o coeficiente de rendimento
geral dos alunos na conclusão do curso e (c) a nota dos alunos na disciplina Introdução à
Estatística.
A disciplina Introdução à Estatística é original da matemática aplicada e seus
conhecimentos se aproximam à área 1, das Ciências Exatas e da Natureza e se afastam da
área III, de Ciências Humanas, área do curso de Psicologia.
O domínio da matemática é um quesito interessante a ser estudado, por se tratar de
um conhecimento cumulativo. No sistema escolar, a matemática é aprendida
sucessivamente ao longo dos anos letivos, de maneira que o desconhecimento de conteúdos
iniciais dificulta ou mesmo impossibilita a compreensão de conteúdos posteriores, mais
avançados. Por conta disto, o domínio do estudante universitário nesta área pode estar
fortemente associado à qualidade do ensino básico cursado.
Assim, a análise do rendimento do aluno nesta disciplina visa entender melhor o
percurso escolar do aluno e amplia as perspectivas investigativas dos outros indicadores
trabalhados: o desempenho acadêmico e o escore no vestibular.
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Procedimentos operacionais de análise
Os estudantes foram divididos em dois grupos: (1) alunos cotistas, que ingressaram
na UFBA através do sistema de cotas e (2) alunos não cotistas, que ingressaram através do
processo seletivo universal. A amostra do estudo consistiu nos alunos concluintes do curso
de Psicologia que cursaram a universidade no período compreendido do primeiro semestre
de 2005 (2005.1) ao segundo semestre de 2012 (2012.2).
Foi necessário que os alunos investigados já tivessem se graduado no curso. Assim,
os indicadores de rendimento representariam notas finais, indicando o desenvolvimento do
aluno durante a universidade. Desta maneira, qualquer aluno que não havia concluído o
curso foi desconsiderado nas análises.
As análises foram realizadas a partir da utilização do software IBM SPSS 22
(Statistical Package for the Social Sciences). O desempenho dos alunos foi pesquisado
através de análises de variância das médias dos estudantes e da aplicação de testes de
significância estatística. Os dados dos alunos foram analisados de forma agregada, sem
fazer, portanto, a identificação dos casos de forma individual.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
As análises da pesquisa foram elaboradas com os dados de 234 estudantes de
graduação do curso de Psicologia que ingressaram na universidade nos anos de 2005 até o
segundo semestre de 2009 (2009.2) e que concluíram o curso até o segundo semestre do
ano de 2012 (2012.2).
A tabela 1, apresentada nas páginas posteriores, exibe os dados sociodemográficos
dos estudantes analisados, expondo as informações de cotistas e não cotistas para as
varáveis gênero, benefício de reserva de vagas (cotas), cor/raça/etnia, renda da família do
aluno e nível de instrução da mãe do aluno.
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Dentro do total de estudantes pesquisados, a maioria era do gênero feminino
(74,36%), perfil comum nos cursos de Psicologia. Quanto ao benefício das cotas ou reserva
de vagas, observou-se que 58,12% dos alunos ingressaram através do sistema universal de
entrada, sendo, portanto, caracterizados como estudantes não cotistas, e 41,88% ingressou
através do sistema de reserva de vagas, sendo chamados neste trabalho de cotistas.
Quanto à variável nível de instrução da mãe, os dados mostraram que o maior
número de casos de mães que frequentaram o ensino superior foi do grupo de não cotistas,
representando 40,2%. Apenas 6,86% das mães com formação superior era do grupo de
cotistas. Em relação ao nível básico de escolaridade, o ensino primário, a diferença de
instrução das mães das duas categorias se inverteu: enquanto 3,43% dos casos não eram
cotistas, 13,24%, cotistas. Isso mostra a divergência do nível de escolaridade das mães entre
os estudantes não cotistas, que tem mães com nível de escolaridade mais elevada, e os
cotistas, que tem mães com níveis mais baixos de contato com a de escolaridade formal.
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Tabela 1 - Informações sociodemográficas dos alunos de Psicologia estudados
Não cotista Cotista
N % N % Total %
Sexo do aluno
Feminino 103 44,02 71 30,34 174 74,36
Masculino 33 14,10 27 11,54 60 25,64
Total 136 58,12 98 41,88 234 100
Cor/etnia/raça
Branca 38 18,10 8 3,81 46 21,90
Parda 73 34,76 55 26,19 128 60,95
Preta 7 3,33 16 7,62 23 10,95
Amarela 3 1,43 2 0,95 5 2,38
Indígena 3 1,43 5 2,38 8 3,81
Total 124 59,05 86 40,95 210 100
Faixa de renda total da família
Até 3 salários mínimos 8 3,77 37 17,45 45 21,23
Entre 3 e 5 salários mínimos 15 7,08 24 11,32 39 18,40
Entre 5 e 10 salários mínimos 48 22,64 15 7,08 63 29,72
Acima de 10 salários mínimos 55 25,94 10 4,72 65 30,66
Total 126 59,43 86 40,57 212 100
Nível de instrução da mãe do aluno
Nunca frequentou a escola 0 0 4 1,96 4 1,96
Frequentou o ensino básico 7 3,43 27 13,24 34 16,67
Frequentou o ensino médio 31 15,20 36 17,65 67 32,84
Frequentou o ensino superior 82 40,20 14 6,86 96 47,06
Não sabe 3 1,47 0 0 3 1,47
Total 123 60,29 81 39,71 204 100
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da UFBA.
A análise do desempenho dos estudantes foi realizada através de uma comparação
de médias (tabela 2), tomando-se o escore no vestibular, o coeficiente de rendimento e a
nota na disciplina de Estatística. A hipótese nula foi verificada para cada indicador de
desempenho através de ANOVA (analysis of variance), ou análises de variância.
Os dados analisados indicaram que o escore do vestibular dos estudantes de
Psicologia que ingressaram pelo sistema de cotas foi menor do que os estudantes que
ingressaram pelo sistema universal de adesão à universidade. A média geral para o curso de
Psicologia foi de 14661. Dividindo os grupos pelo benefício da reserva de vagas, os
estudantes cotistas tiveram média de 13484,1 pontos de escore no vestibular, enquanto os
não cotistas tiveram em média 15509,1 pontos. Um teste da análise de variância para este
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indicador revelou que a diferença das médias entre os dois grupos foi estatisticamente
significativa: F(1,232) = 416,989, p < 0,001.
A diferença entre o escore do vestibular dos cotistas e não cotistas é esperada, posto
que há discrepância nos históricos escolares dos grupos. Os cotistas, com piores escores
médios, ingressaram nas vagas reservadas a despeito do seu rendimento inferior, em relação
aos não cotistas. Isto é parte da proposta do sistema de reserva de vagas. Na análise, é
notável a influência das diferentes experiências escolares nos escores, compreendido que o
grupo de cotistas (que frequentou a escola da rede pública) obteve pior desempenho geral.
A disparidade pode ser constatada nos valores mínimos e máximos para os dois grupos: o
escore mínimo dos cotistas foi 10951,7 e máximo de 15845,8, enquanto os não cotistas
tiveram mínimo de 14424,3 e máximo de 17909,5.
Quanto ao coeficiente de rendimento dos alunos, observou-se uma sutil diferença
entre os valores das médias obtidas pelos grupos. Enquanto a média geral de todos os alunos
estudados foi de 8,76, o CR médio do grupo de cotistas foi 8,58 e os não cotistas tiveram
média de 8,9. Uma ANOVA indicou que houve efeito significativo das cotas no coeficiente
de rendimento dos estudantes com um valor de p<0,05 para as duas condições: F(1,232) =
21,349 p < 0,001.
Os desvios-padrão das médias do grupo de cotistas (M = 8,58, DP = 0,62) foram
maiores que os desvios para os não cotistas (M = 8,9, DP = 0,42), indicando que os CR do
primeiro grupo tenderam a variar mais, em relação à média, do que os CR do outro grupo.
Os cotistas tiveram indivíduos com notas mais heterogêneas.
A diferença das médias de CR entre os grupos de não cotistas e cotistas foi de apenas
0,32 ponto. Levando em conta que os alunos tiveram históricos escolares distintos, esta
distância entre os seus resultados foi pequena.
Muitos motivos podem influenciar nos valores de CR encontrados. Em primeiro
lugar, entende-se que as experiências da escolaridade média influenciam no desempenho
acadêmico, mas as experiências que o aluno obtém no curso de graduação podem também
impactar neste indicador. Assim, devem ser conhecidos mais detalhes acerca do percurso
do aluno dentro da universidade para que se identifique fatores ou acontecimentos que
influíram nas variações do desempenho estudantil.
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Em segundo lugar, outra explicação plausível para a pouca diferença entre o CR dos
alunos repousa na ideia de que dentro do grupo de alunos cotistas existem subgrupos, ou
indivíduos com histórico escolar diferente entre si, apesar de serem todos advindos de
escolas públicas. A reserva de vagas se pautou na inclusão de indivíduos da escola pública,
não havendo distinção da natureza desta escola média: se a escola era estadual, municipal
ou federal. Assim, não houve distinção sobre a natureza da escola e o banco de dados
utilizado na pesquisa foi criado considerando todos os alunos cotistas como pertencentes ao
mesmo grupo.
Outro ponto a ser elucidado diz respeito aos próprios resultados dos alunos de
Psicologia em si e aos critérios avaliativos tomados neste curso. Tem se notado na literatura
que as disparidades entre cotistas e não cotistas são mais gritantes na área 1, das Ciências
Físicas, Matemática e Tecnologia, ao mesmo tempo que se observa a redução das
disparidades nos cursos da área 3, de Ciências Humanas e Filosofia (LAGO et al., 2014;
PEIXOTO et al., 2013).
Isto se deve, em parte, às dificuldades dos alunos no ensino médio, mais recorrentes
nas disciplinas que fazem largo uso de teorias matemáticas. Pode se observar também que
os critérios avaliativos da área 3 são mais brandos em relação aos critérios da área 1,
priorizando as apresentações de trabalhos e produção textual em detrimento dos exames
escritos (ANDRADE & LORDÊLO, 2016).
Isto leva a uma variação menor dos CR dos alunos dos cursos da área de Ciências
Humanas, em relação à variação dos CR na área 1, das Ciências Exatas, ou 2, das Ciências
Biológicas e da Saúde. O curso de Psicologia faz parte das Ciências Humanas, área 3.
A última análise das médias de desempenho se baseou na nota do alunado em uma
disciplina do curso de Psicologia voltada aos conhecimentos oriundos da matemática
(Introdução à Estatística). Lecionada por docentes do Instituto de Matemática da UFBA, a
disciplina possuía temas associados à matemática e seguia aos critérios avaliativos desta
área, ainda que com ressalvas - tendo em vista que as turmas eram formadas por estudantes
de Psicologia.
Para analisar estes dados foi necessário trabalhar com os casos de alunos que tiraram
nota diferente de zero nesta disciplina, tendo em vista que o banco de dados não revelava
as motivações possíveis para o abandono desistência do aluno e seria impossível saber se o
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zero era referente à desistência ou se de fato foi a nota ao longo das aulas e avaliações. logo,
todos os casos de nota zero em Introdução à Estatística foram desconsiderados.
A média geral dos estudantes de Psicologia na disciplina Introdução à Estatística foi
de 8,19. Separando-se os grupos, identificou-se que os cotistas tiveram média de 7,85 e os
não cotistas tiveram 8,41 de média. Uma ANOVA foi realizada e encontrou que as diferenças
entre grupos eram significativas, produzindo F(1,203) = 14,410, p = 0,002.
A diferença entre as notas do grupo de não cotistas e cotistas foi de 0,56 ponto,
levemente maior que a diferença para o CR. Apesar de pequena, a diferença torna claro que
há disparidade no conhecimento da matemática, onde se apresentam conteúdos lecionados
no ensino médio e que se afastam da área de Humanas.
Um ponto interessante é que a variabilidade de resultados para o CR é mais branda
do que para a nota na disciplina de Estatística, tanto para os cotistas, quanto para os não
cotistas. Isto pode indicar o que já foi dito anteriormente, quanto aos critérios de avaliação
da área de Psicologia, que valoriza a produção textual, apresentações em grupo e mesmo
provas em grupo ou com consultas. Este fato deve influir na menor variabilidade dos
resultados observada para o CR, em relação à variabilidade da nota em Introdução à
Estatística.
Os dados comparados dos três indicadores de desempenho estiveram em
consonância com parte da literatura e corresponderam ao esperado: os estudantes cotistas,
egressos das escolas públicas, obtiveram menor desempenho quando considerou-se o
escore, o CR e a nota em Estatística. A disparidade entre o desempenho destes dois grupos
fundamenta-se, possivelmente, nas diferenças da formação de ensino básico dos indivíduos
e o seu background sociodemográfico.
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Tabela 2 - Diferenças de desempenho entre estudantes cotistas e não cotistas do curso de
Psicologia
N Média Desvio-
padrão
Erro
padrão
Intervalo de confiança de 95%
para média Mínimo Máximo
Limite inferior Limite superior
Escore no
vestibular*
Não
cotista 136 15509,1 671,9795 57,62176 15395,13 15623,04 14424,3 17909,5
Cotista 98 13484,1 843,3419 85,1904 13314,98 13653,14 10951,7 15845,8
Total 234 14661 1249,06 81,6536 14500,12 14821,87 10951,7 17909,5
Coeficiente de
rendimento*
Não
cotista 136 8,90 0,4199 0,036 8,824 8,966 6,0 9,6
Cotista 98 8,58 0,6202 0,0627 8,456 8,705 5,9 9,5
Total 234 8,76 0,5352 0,035 8,694 8,832 5,9 9,6
Nota na
disciplina
Estatística*
Não
cotista 124 8,41 0,9293 0,0834 8,247 8,577 5,7 10,0
Cotista 81 7,85 1,1749 0,1305 7,592 8,112 5,0 10,0
Total 205 8,19 1,0665 0,0745 8,044 8,338 5,0 10,0
*p < 0,01 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da UFBA.
A investigação da influência da renda da família do estudante no escore no vestibular
foi realizada através de uma análise comparativa entre os resultados dos alunos do curso de
Psicologia divididos em cotistas e não cotistas. Conforme apresentado na tabela 3 e na
figura 1, a renda impactou de maneira distinta no escore entre os estudantes.
Quanto aos não cotistas, uma análise da variância identificou que a variabilidade de
escore não acompanhou as mudanças nas faixas de renda - não foi a renda que explicou as
variações, devendo haver outros fatores para explicar as diferenças de escore (F[1,204] =
0,153, p > 0,05). A influência da renda pôde ser vista, no entanto, para o grupo de cotistas,
em que a mudança do escore acompanhou as faixas de renda, de certa forma: indivíduos de
faixas mais pobres possuíram menores escores e indivíduos das faixas mais altas possuíram
maiores escores (F[1,204] = 4,644, p = 0,004).
A magnitude da diferença foi pequena apenas entre os cotistas com renda familiar
entre três e cinco salários mínimos (M = 13553) e os cotistas com renda de cinco a 10
salários mínimos (M = 13579,8). A maior distância foi notada entre os escores dos
indivíduos cotistas de até três salários mínimos (M = 13265,9) e os indivíduos com renda
acima de 10 salários (M = 14264,4). Isto leva à noção de que há especificidades de histórico
escolar e acadêmico destes alunos que induziram a esta diferenciação em relação aos outros
cotistas, quanto ao escore no vestibular.
16
Tabela 3 - Diferenças entre as médias de escore no vestibular dos cotistas e não cotistas de
acordo com as faixas de renda da família
Categorias de estudantes Média Desvio
Padrão N
Não cotista* Até 3 salários mínimos 15573,8 563,1 8 Entre 3 e 5 salários mínimos 15400,0 594,1 15 Entre 5 e 10 salários mínimos 15529,5 650,4 48 Acima de 10 salários mínimos 15539,2 776,3 55 Total 15521,1 691,9 126
Cotista** Até 3 salários mínimos 13265,9 950,6 37 Entre 3 e 5 salários mínimos 13553,4 703,4 24 Entre 5 e 10 salários mínimos 13579,8 681,2 15 Acima de 10 salários mínimos 14264,4 901,7 10 Total 13517,0 879,4 86
Total Até 3 salários mínimos 13676,2 1259,4 45 Entre 3 e 5 salários mínimos 14263,6 1121,5 39 Entre 5 e 10 salários mínimos 15065,3 1061,2 63 Acima de 10 salários mínimos 15343,0 915,2 65
Total 14708,1 1252,3 212
*p > 0,05 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da UFBA.
**p < 0,01
Figura 1 - Diferenças entre as médias de escore no vestibular dos cotistas e não cotistas de
acordo com as faixas de renda da família
Fonte: elaboração própria dos autores com uso do software IBM SPSS 22.
17
Em seguida foi realizada uma análise de variância de dois fatores para identificar
sobre a interação entre as diferentes faixas de renda em que se encontravam as famílias dos
estudantes cotistas e o escore dos mesmos na prova do vestibular (tabela 4). A análise
permitiu inferir diferença estatisticamente significativa entre o escore do grupo com renda
familiar acima de 10 salários mínimos em relação a todos os outros grupos separados por
renda, com F(3,82) = 3,793, p = 0,013.
Entretanto, comparações post hoc utilizando o procedimento de Bonferroni
indicaram que apenas o escore médio para o grupo com renda acima de 10 salários mínimos
(M = 15343, DP = 915,2) foi significativamente diferente do escore médio para o grupo
com renda até três salários mínimos (M = 13676,2, DP = 1259,4), com p=0,008. De acordo
com os resultados deste procedimento, o escore médio do primeiro grupo não diferiu
significativamente (p>0,05) dos escores do grupo com renda entre três e cinco salários
mínimos (M = 14263,6, DP = 1121,5), e do grupo com renda entre cinco e 10 salários
mínimos (M = 15343, DP = 1061,2).
Tabela 4 - Diferenças entre as médias de escore no vestibular dos cotistas com renda familiar
acima de 10 salários mínimos em relação às outras faixas de renda
Faixas de renda da família do
estudante
Diferença
entre
médias
Erro
padrão p
Intervalo de 95% de
Confiança para
Diferença
Limite
inferior
Limite
superior
Acima de
10 salários
mínimos
Até 3 salários mínimos 998,54 270,267 0 465,666 1531,414
Entre 3 e 5 salários
mínimos 711,04 285,416 0,014 148,297 1273,783
Entre 5 e 10 salários
mínimos 684,6 309,577 0,028 74,219 1294,981
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da UFBA.
Uma investigação do background sociodemográfico dos cotistas com renda familiar
acima de 10 salários mínimos e cotistas com renda até três salários mínimos analisou sobre
as possíveis diferenças entre estes alunos.
Observa-se que, em geral, as faixas de renda das famílias dos estudantes cotistas são
mais baixas do que as faixas de renda em que se inserem os não cotistas, sendo este um dos
motivos para o estabelecimento da política. De acordo com o modelo de reserva de vagas
adotado na UFBA, os cotistas deveriam estudar pelo menos dois anos do ensino superior
18
em escola pública. Eventualmente, um estudante da escola pública brasileira é aquele que
possui baixa renda, não tendo condições de matricular-se em instituições privadas de ensino,
com elevadas taxas de mensalidade.
Assim, dentro dos casos de cotistas, é interessante notar casos de estudantes que
possuem renda acima de 10 salários mínimos por família. Esta faixa de renda é mais
comumente encontrada para os estudantes não cotistas, com rendas mais altas, e indica
condições mais abastadas. Logo, o cotista com renda acima de 10 salários deve possuir um
histórico de vida e escolar distinto dos outros, que possuem renda inferior – e, em especial,
bem distinto do cotista com renda até três salários, faixa mais baixa considerada no estudo.
A partir de uma ANOVA com as informações individuais contidas no banco de
dados, observou-se uma diferença estatisticamente significativa entre as médias de idade
dos cotistas de acordo com as faixas de renda: F(3,82) = 3,896, p = 0,012.
Como pode ser visto na tabela 5, apresentada na página posterior, os cotistas com
renda superior a 10 salários mínimos tinham, em média, 30 anos quando ingressaram no
curso (M = 30,2, DP = 15,339). Os cotistas com renda inferior a três salários mínimos
tinham em média 21 anos (M = 21,32, DP = 6,245), os cotistas de renda entre três e cinco
salários mínimos tinham média de 24 anos de idade (M = 24, DP = 8,118) e os casos com
renda entre cinco e 10 salários mínimos tinham em média 28 anos (M = 28,8, DP = 11,63).
Os indivíduos situados nas faixas de renda mais elevadas eram mais velhos, neste grupo
estudado.
Os valores de desvios-padrão foram menores para o grupo de até três salários
mínimos e aumentaram gradativamente a cada faixa de renda. Isto apontou que os cotistas
com até três salários mínimos eram os mais jovens, tendo idades que variaram pouco em
relação ao seu valor médio. Nos outros grupos, as variações foram mais largas, o que
indicou que as idades foram mais distantes das médias.
No grupo acima de 10 salários mínimos notou-se o desvio-padrão de 15,339,
expondo que as maiores diferenças entre as idades se encontraram neste grupo. O grupo
teve como valor máximo a idade de 57 anos e, considerando um intervalo de confiança de
95%, teve como limite inferior a idade de 19,21 anos e limite superior a idade de 41,1 anos.
Ou seja, buscando-se aleatoriamente pelos alunos cotistas nessa faixa de renda, havia uma
grande chance de que eles tivessem entre 19 e 41 anos de idade.
19
O grupo com renda familiar acima de 10 salários mínimos diferiu em relação aos
outros grupos dentro dos cotistas, se afastando principalmente do grupo com renda até três
salários mínimos. Os cotistas com renda acima de 10 foram os indivíduos mais velhos
investigados. Estes alunos provavelmente possuíam alguma formação anterior ou já se
inseriam no mercado de trabalho antes da entrada na graduação em Psicologia. A idade mais
elevada e o nível de renda da família, considerando ser um grupo de cotistas, indicaram que
provavelmente o aluno não foi sustentado pelos seus familiares, sendo um dos possíveis
principais provedores da renda familiar. Estes alunos estudaram nas escolas públicas,
possivelmente, numa época em que este ensino possuía melhor qualidade.
Notou-se que os estudantes cotistas mais jovens e mais pobres tiveram os piores
resultados no vestibular. Estes cotistas cursaram o sistema de ensino público em períodos
mais recentes, quando a qualidade deste ensino já se fazia precária. O fato dos estudantes
cotistas mais pobres e mais jovens do curso de Psicologia possuírem escores
consideravelmente mais baixos que os cotistas mais ricos e mais velhos indica que há
disparidade entre os níveis de escolarização destes alunos: o egresso do sistema público de
ensino básico oferecido em períodos mais recentes possui desempenho inferior no
vestibular do que o egresso do ensino público de períodos anteriores (que concluiu o ensino
básico no mínimo 10 anos antes do que os alunos do outro grupo).
Tabela 5 - Diferenças entre as médias de idade entre os estudantes cotistas de acordo com as
faixas de renda da família
N Média Desvio-
padrão Erro-padrão
Intervalo de confiança de 95%
para a média Mínimo Máximo
Limite
inferior
Limite
superior
Até 3 salários mínimos 37 21,32 6,245 1,027 19,24 23,41 17 54
Entre 3 e 5 salários
mínimos 24 24,08 8,118 1,657 20,66 27,51 18 46
Entre 5 e 10 salários
mínimos 15 28,87 11,63 3,003 22,43 35,31 17 52
Acima de 10 salários
mínimos 10 30,2 15,339 4,851 19,23 41,17 18 57
Total 86 24,44 9,652 1,041 22,37 26,51 17 57
p < 0,01 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da UFBA.
20
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo buscou explicar as diferenças de desempenho acadêmico entre os
estudantes cotistas e não cotistas da UFBA no curso superior de graduação em Psicologia
compreendendo dados dos alunos matriculados nos períodos de 2005.1 a 2009.2 e que
concluíram o curso. Utilizou-se as informações sociodemográficas e os resultados dos
alunos na realização das análises.
As conclusões obtidas indicaram para diferenças entre os estudantes cotistas e não
cotistas em todos os três indicadores estudados: escore no vestibular, nota em Introdução à
Estatística e o coeficiente de rendimento. As maiores diferenças foram encontradas no
escore no vestibular e na nota de Introdução à Estatística, disciplina cuja metodologia
avaliativa se aproximava à cultura da área 1. Apesar da diferença entre as médias dos
estudantes cotistas e não cotistas ter sido pequena, observou-se que o CR dos cotistas tendeu
a ser mais heterogêneo do que o do outro grupo, indicando que tiveram resultados mais
afastados entre si.
Os dados encontrados reiteram que se deve enxergar com grande cautela o estudante
cotista, que tem maiores dificuldades estudantis e que possui, dentro do próprio grupo,
indivíduos com perfil social e proficiências acadêmicas dessemelhantes, geralmente
associados à escolaridade básica e às características de renda da família. Este tipo de
desigualdade não foi constatado dentro do grupo de estudantes não cotistas.
Deve se reforçar para importância dos resultados no entendimento das diferenças
entre os alunos, ainda que se considere as limitações da pesquisa. Primeiramente, os
resultados, ainda que não devam ficar restritos à amostra considerada, são referentes a um
grupo específico de estudantes. Em segundo, observa-se que o banco contemplou de poucos
dados acerca do processo de graduação dos alunos, informações que poderiam revelar
detalhes impactantes sobre seu desenvolvimento acadêmico.
Considerando as limitações técnicas e teóricas da atual pesquisa, recomenda-se que
sejam elaborados mais trabalhos que investiguem o desempenho estudantil no ensino
superior, dada a importância desta etapa do ensino, em vias do aprofundamento do
entendimento sobre as diferenças étnicas, sociais e acadêmicas dos alunos.
21
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22
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