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1 TESE DE MESTRADO DETERMINANTES DA REALIZAÇÃO DE FLUXOS DE INVESTIMENTO DIRECTO EXTERNO POR EMNs BRASILEIRAS, COM UMA APLICAÇÃO AO CASO PORTUGUÊS. por Lúcio M. Vinhas de Souza MEcA, FE/UNL ORIENTADOR: Prof. Doutor António Nogueira Leite Profº. Associado Faculdade de Economia Universidade Nova de Lisboa Lisboa, Verão de 1994.

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TESE DE MESTRADO

DETERMINANTES DA REALIZAÇÃO DE FLUXOS DE INVESTIMENTO DIRECTO EXTERNO POR EMNs BRASILEIRAS, COM UMA APLICAÇÃO AO CASO

PORTUGUÊS. por Lúcio M. Vinhas de Souza MEcA, FE/UNL

ORIENTADOR: Prof. Doutor António Nogueira Leite Profº. Associado Faculdade de Economia Universidade Nova de Lisboa Lisboa, Verão de 1994.

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"J'y étais déjà avant d'arriver; j'y serai encore aprés en être parti". DIDEROT

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Dedico este trabalho aos meus pais, Rõmulo e Sônia Vinhas de Souza, não apenas porque sem eles este efectivamente não teria sido possível - eu não existiria sobre a face da Terra - mas pelo facto de serem dois seres humanos verdadeiramente excepcionais, que souberam se elevar para acima e para alêm de suas circunstâncias, e tambem por todo amor que tem pela sua inquieta prole. De um filho que muito os ama, apesar de não demonstra-lo com muita frequência, para voçes.

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Agradecimentos: Correndo o habitual risco de ser indelicado com inúmeras pessoas e instituições, gostaria de agradeçer a quatro individualidades que muito ajudaram na feitura deste trabalho (mesmo que em suas próprias opiniões pouco tenham feito, asseguro que foram, em um ou outro sentido, essênciais em momentos específicos de sua elaboração, do meu ponto de vista, que, afinal de contas, é o que conta): -Agradeço ao pessoal do Mestrado de Economia Internacional do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), "for being there", e muito profunda e especialmente, ao Profº. Victor Corado Simões; -Agredeço a uma antiga colega, Adelaide Motta de Lima, pela ajuda extremamente gentil (e inesperada) e absolutamente essencial; -A titulo pessoal, agradeço a Profª. Maria do Carmo Seabra e ao Profº. José Ferreira Machado, da FE/UNL. Não menos habitualmente, todas as conclusões, erros, omissões, deficiências, etc., que este trabalho eventualmente contenha são de minha inteira responsabilidade.

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ÍNDICE: 1 INTRODUÇÃO, pp 1. 2 A CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO: EMNs & IDE NO TEMPO. pp 3. 2.1-EMPRESAS MULTINACIONAIS E INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO, pp 3. 2.2 -UM BREVE HISTÓRICO DAS CORPORAÇÕES MULTINACIONAIS E DOS FLUXOS DE INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO, 1870-1990, pp 4. i: 1870-1914, pp 4. ii: 1918-1938, pp 8. iii: 1939-1960, pp 9. iv: 1960-1978, pp 11. v: 1980-1990, pp 11. 2.3 -AS MULTINACIONAIS HOJE: QUEM SÃO ELAS? SEU PAPEL MACRO, pp 14. 3 AS TEORIAS TRADICIONAIS E SUA INADEQUAÇÃO: AS TEORIAS RECENTES SOBRE EMNs E IDE, pp 16. 3.1-TEORIAS TRADICIONAIS DO COMÉRCIO E DO INVESTIMENTO EXTERNO, pp 17. 3-2.AS NOVAS TEORIAS SOBRE INVESTIMENTO EXTERNO E A VERSÃO INTERNACIONAL DA TEORIA DA FIRMA, pp 20. 3-3.A ESCOLHA DA FORMA DE ENTRADA DA FIRMA NO MERCADO EXTERNO, pp 35. 3-4.O REFERÊNCIAL TEÓRICO BASE : "A TEORIA DOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS", pp 39. 4 MULTINACIONAIS ATÍPICAS E A MULTINACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS DE PAÍSES PERIFÉRICOS, pp 41. 4.1-O QUE É UMA MULTINACIONAL ATÍPICA?, pp 41. 4.1.1:PMEs QUE SÃO EMNs, pp 41. 4.1.2:AS GENERAL TRADING COMPANIES, pp 42. 4.1.3:EMNs DO SECTOR SERVIÇOS, pp 44. 4.1.4:EMNs QUE SÃO EMPRESAS PÚBLICAS, pp 44. 4.1.5:EMNS DE PAÍSES PERIFÉRICOS, pp 45. 5 MULTINACIONAIS BRASILEIRAS, pp 49. 5.1-O PROCESSO DE MULTINACIONALIZAÇÃO DAS GRANDES EMPRESAS BRASILEIRAS, pp 49. 5.1.1 PORTUGAL, CARACTERÍSTICAS E SECTORES ATRAENTES PARA O IDE, pp 60. 5.2 O IDE BRASILEIRO EM PORTUGAL, pp 67. 6 A ESTIMAÇÃO DAS COMPONENTES ESPECÍFICA ÀS EMPRESAS E CONJUNTURAL NA DETERMINAÇÃO DO PROCESSO DE REALIZAÇÃO DE IDE POR EMPRESAS BRASILEIRAS, pp 71. 6.1 - A ESTIMAÇÃO DAS COMPONENTES AGREGADAS E INDIVIDUAIS DAS EMPRESAS DA AMOSTRA, pp 71. 6.1.1 - A COMPONENTE AGREGADA DA AMOSTRA, pp 72. 6.1.2 - A COMPONENTE INDIVIDUAL DA AMOSTRA, pp 74. 6.2 - A ESTIMAÇÃO DA COMPONENTE CONJUNTURAL DO PROCESSO, pp 87. 6.2.1 - OS DETERMINANTES CONJUNTURAIS NO IDE DESTINADO A PORTUGAL, pp 89. 7 - CONCLUSÃO, pp 92. BIBLIOGRAFIA, pp 94. ANEXOS, pp 103. ANEXO I, pp 104. ANEXO II, pp 109. ANEXO III, pp 111. ANEXO IV, pp 114. ANEXO V, pp 116.

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ÍNDICE DE TABELAS TABELA 2.I ESTIMATIVAS DO STOCK DE IDE POR PAÍS DE ORIGEM, pp 6. TABELA 2.II ESTIMATIVAS DO STOCK DE IDE POR PAÍS OU REGIÃO DE DESTINO, pp 7. TABELA 2.III PERCENTEGEM DAS FILIAIS INDUSTRIAIS DE EMNs POR PAÍS DE IMPLANTAÇÃO (TOTAL NUMÉRICO), pp 8. TABELA 2.IV ESTIMATIVAS DO STOCK DE IDE POR PAÍS DE ORIGEM, pp 12. TABELA 2.V ESTIMATIVAS DO STOCK DE IDE POR PAÍS OU REGIÃO DE DESTINO, pp 13. TABELA 2.VI IMPORTÂNCIA MACRO DAS EMNs, pp 14. TABELA 2.VII CRESCIMENTO COMPARATIVO DOS FLUXOS, pp 14. TABELA 3.I VANTAGENS ESPECÍFICAS À FIRMA, pp 29. TABELA 3.II VANTAGENS DE INTERNALIZAÇÃO, pp 30. TABELA 3.III VANTAGENS LOCACIONAIS, pp 30. TABELA 5.I IDE LÍQUIDO, VARIAÇÃO DO PIB E INFLAÇÃO BRASILEIRAS (1971-1992), pp 50. TABELA 5.II FLUXOS DE IDE BRASILEIRO SECTORIALIZADOS (1980-1990), pp 52. TABELA 5.III PERCENTAGEM DOS FLUXOS SECTORIALIZADOS DE IDE BRASILEIROS (1980-1990), pp 52. TABELA 5.IV REMESSAS DE IDE BRASILEIRO POR PAÍS RECEPTOR (1962 - 1992), pp 56. TABELA 5.V MOVIMENTOS DE CAPITAIS PRIVADOS (MÉDIO / LONGO PRAZO, MÉDIAS ANUAIS), pp 60. TABELA 5.VI FLUXOS DE IDE NO CAPITAL DAS EMPRESAS, pp 61. TABELA 5.VII IDE BRASILEIRO DESTINADO A PORTUGAL, pp 67. TABELA A1.I AS 20 MAIORES MULTINACIONAIS NORTE-AMERICANAS (1992), pp 104. TABELA A1.II AS 20 MAIORES MULTINACIONAIS EUROPÉIAS (1992), pp 105. TABELA A1.III AS 20 MAIORES MULTINACIONAIS JAPONESAS (1992), pp 106. TABELA A1.IV MEDIDAS DE LUCRATIVIDADE, pp 107. TABELA A1.V DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE EM ALGUNS PAÍSES DESENVOLVIDOS, pp 108. TABELA A2.I AS 24 MAIORES MULTINACIONAIS DO 3º MUNDO (1992), pp 109. TABELA A2.II MEDIDAS DE LUCRATIVIDADE, pp 110. TABELA A3.I INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO EM PORTUGAL-DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL, pp 111. TABELA A3.II IDE EM IMÓVEIS, pp 112. TABELA A3.III INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO EM PORTUGAL - DISTRIBUIÇÃO POR PAÍS DE ORIGEM, pp 112. TABELA A3.IV IDE AUTORIZADO EM PORTUGAL POR PAÍS DE ORIGEM (1985-1992), pp 113. TABELA A4.I INSTALAÇÃO DE GRANDES EMPRESAS INDUSTRIAIS E DE SERVIÇOS NÃO- FINANCEIROS BRASILEIRAS NO EXTERIOR (1968 - 1992), pp 114. TABELA A5.I DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE BRASILEIRO EM PORTUGAL (1990 a 1992), pp 116.

ÍNDICE DE GRÁFICOS GRÁFICO 3.1 ESQUEMA BASEADO EM RUGMAN et alli (1985) SOBRE A RELAÇÂO ENTRE LIVRE COMÉRCIO INTERNACIONAL E AS EMNs, pp 16. GRÁFICO 3.2 EQUILÍBRIO ENTRE PRODUÇÃO E CONSUMO NUMA ECONOMIA FECHADA, pp 18. GRÁFICO 3.3 EQUILÍBRIO ENTRE PRODUÇÃO E CONSUMO NUMA ECONOMIA ABERTA (PAÍS A), pp 19. GRÁFICO 3.4 BEM ESTAR NA ECONOMIA-MUNDO, pp 20. GRÁFICO 3.5 ESQUEMA BASEADO EM HYMER [1976 (1960)] SOBRE INTERAÇÂO ENTRE ESTRUTURA DE MERCADO E INTERNALIZAÇÃO, pp 25. GRÁFICO 3.6 FLUXOS COMERCIAIS AO LONGO DO CICLO DO PRODUTO, pp 33. GRÁFICO 3.7 O CICLO DO PRODUTO, pp 34. GRÁFICO 3.8 PADRÃO TEMPORAL DOS MODOS DE ENTRADA, pp 37. GRÁFICO 3.9 MODOS DE ENTRADA E LUCRO TOTAL, pp 38. GRÁFICO 5.1 DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE BRASILEIRO (1980-1990), pp 53. GRÁFICO 5.2 DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE BRASILEIRO NÃO-FINANCEIRO (1980-1990), pp 54. GRÁFICO 5.3 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL ( PERCENTUAL ) DO IDE BRASILEIRO (1962-1992), pp 57. GRÁFICO 5.4 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO STOCK DE IDE BRASILEIRO (1963-1992), pp 59. GRÁFICO 5.5 IDE FEITO EM PORTUGAL (1981 - 1992), pp 65. GRÁFICO 5.6 ORIGEM DO IDE FEITO EM PORTUGAL (1981 - 1990), pp 66. GRÁFICO 5.7 DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE FEITO EM PORTUGAL (1981 - 1992), pp 66. GRÁFICO 5.8 IDE BRASILEIRO TOTAL FACE AO IDE BRASILEIRO DESTINADO À PORTUGAL (1983 -1992), pp 68. GRÁFICO 5.9 DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE BRASILEIRO EM PORTUGAL (1989 - 1992), pp 69.

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1) INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho foi investigar o investimento directo estrangeiro (IDE, ou FDI, foreing direct investment, na nomenclatura anglo-saxônica) realizado em Portugal por empresas de origem brasileira. A tendência de globalização dos processos produtivos e de integração sectorial da economia mundial, observada no período posterior à IIª Grande Guerra, aponta a para a necessidade de complementação da tradicional "Teoria do Comércio Internacional", na medida em que os crescentes fluxos de capital substituem, em escala e importância, os fluxos comerciais entre as nações, e mesmo estes passam a dar-se, maioritariamente, no interior de grandes empresas com múltiplas implantações nacionais (que buscam através disto superar as deficiências resultantes de falhas, naturais ou não, dos mercados, internalizando certos mercados de ativos dentro das próprias fronteiras das empresas, gerando assim soluções mais eficientes que as dos próprios mercados, ou meramente se aproveitar do seu poder de mercado) ou entre estas mesmas grandes empresas. A mobilidade internacional dos fatores substitui, em grande medida, o comércio de bens e serviços. Tais Empresas, ditas Empresas Multi ou Transnacionais (EMNs), são, portanto, tanto os agentes quanto os elementos determinantes deste processo de globalização produtiva. Tal tendência à globalização de processos produtivos se manifesta não apenas nas empresas das nações mais desenvolvidas, mas também, e crescentemente, entre as grandes empresas das nações em desenvolvimento mais avançadas (estas EMNs são conhecidas como "multinacionais atípicas"), como a República Federativa do Brasil. Na história da multinacionalização das grandes empresas brasileiras, ditada tanto por razões internas (a desaceleração dos anos 80, a "Década Perdida"), quanto externas (movimentos estratégicos defensivos face a uma possível "Blocalização" da Economia Mundial), quanto ainda pela dinâmica específica de certas empresas/sectores (que já haviam adquirido "massa crítica" suficiente, em termos de tamanho e de tecnologia, e para as quais a escala do mercado interno brasileiro já se revelava inadequada), Portugal, na metade dos anos 80, com sua entrada na UE, é percebido e declarado como tendo um papel específico: seria a "Porta de Entrada" da "Fortaleza Europa" pós-92, o local de aprendizado para incursões posteriores em mercados mais sofisticados, em função de suas ligações históricas e culturais com o Brasil, e pela percepção implícita no comportamento estratégico de várias empresas da existência de nichos de mercado facilmente ocupáveis na incompleta estrutura produtiva portuguesa. A meta deste trabalho, portanto, é analisar os determinantes do movimento de implantação de empresas brasileiras (dentre outros os Grupos Globo, Abril, Cofap, Odebrecht, BBI, Itaú, Pão de Açucar) e da exportação de capitais brasileiros para

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Portugal, desde o período imediatamente anterior à sua entrada na actual União Européia, em 1986, até 1992 (o ano mais recente para o qual dispomos de dados). Para viabilizar a elaboração desta análise, foi necessário o desenvolvimento de duas linhas de esforços, uma teórica (o referêncial teórico da análise) e uma empírica (a coleta dos dados necessários e a construção de um modelo a ser estimado, caracterizando os determinantes da implantação por firma/sector): -do ponto de vista teórico, foi necessária a definição e desenvolvimento de um conjunto de hipóteses teóricas; -do ponto de vista empírico (sem que isto tenha significado uma ruptura com o plano teórico precedente) foi necessária a construção dos modelos econométricos para a análise dos dados coletados em diversas fontes, no Brasil (Bacen, Decex, IBGE) e em Portugal (BdP, ICEP, INE, Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira em Portugal e Clube dos Empresários do Brasil). As informações utilizadas para a análise econométrica constaram-se de panels das firmas brasileiras que efetuaram IDE em vários países, dentre estes Portugal - (as hipotéses de trabalho foram baseadas numa lógica microeconómica, na medida em que o IDE é associado com o comportamento de um tipo específico de firma - a firma multinacional). Tal representa, ao nosso conhecimento, uma das poucas - e dentre estas, a mais extensa - tentativa de quantificação de determinantes de multinacionalização para EMNs brasileiras, e é ainda um esforço numa área teórica ainda hoje pouco desenvolvida: o estudo dos processos de multinacionalização do 3º mundo. Este trabalho foi escrito em Lisboa, Portugal, entre dezembro de 1993 e julho de 1994.

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2 A CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO: EMNs & IDE NO TEMPO. 2.1- EMPRESAS MULTINACIONAIS E INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO. O crescimento do número de empresas ou corporações multinacionais (EMNs), de início maioritariamente norte-americanas, a partir dos anos 501, levou necessariamente à elaboração de diversas teorias que visavam a explicar o surgimento destas EMNs2 e dos fluxos de investimento directo estrangeiro, IDE3,4, que viabilizaram "os processos de produção internacionalizados instituidos pelas EMNs"5.

1Este horizonte temporal explicitamente delimita o processo de multinacionalização pós IIª Grande Guerra dos exemplos de "proto-empresas multinacionais" conhecidas desde o sec. XVI, como a Companhia Britânica das Índias Orientais, fundada em 1600, originárias do processo de expansão europeu durante a "Era das Descobertas", dando-lhe portanto a dimensão de um fenômeno novo, seja qualitativa, seja quantitativamente falando. Entretanto, tal não significa que fluxos de IDE fossem inexistentes antes desse período.Edelstein (1982), com todas as dificuldades relativas à disponibilidade de dados para a época, estima que a Grã-Bretanha tenha sido uma devedora externa líquida durante os séculos XVI e XVII, com capitais europeus (principalmente de origem holandesa) investidos seja em títulos da dívida pública inglesa, seja em participações acçionárias (parte da capitalização da anteriormente referida Companhia das Índias Orientais vinha dos Paises Baixos: Amesterdam era então a mais importante praça financeira da Europa), atingindo um volume de £ 30-35 milhões em 1760, ou seja, 2,5% do total dos ativos britânicos, para algo como £ 10-15 milhões de ativos extenos de propriedade de cidadãos britânicos (portfólio e IDE) no exterior. Tal situação se inverte entre 1760 a 1800, passando-se respectivamente a valores de £ 25-30 milhões e £ 35-40 milhões, tornando-se assim a Grã-Bretanha o maior credor externo líquido global. Entretanto, mesmo nestas quatro décadas, investimento e empréstimos estrangeiros teriam mantido um valor médio de 1% do PNB inglês. 2 Uma Empresa Multinacional será definida, para nossos propósitos, enquanto uma empresa envolvida no controle e na gestão de unidades produtivas em mais de uma nação. Já Rugman et alli (1985), a partir do preceito básico de que a "produção internacional é a essência da multinacionalidade", faz uma listagem das definições possíveis de EMN, começando por aquela por nós utilizada, numa forma "fraca" (uma filial já caracteriza a EMN), e numa "forte" (seis filiais em países diferentes seriam necessárias para caracterizar uma "verdadeira" Transnacional), mas incluindo, dentre outras, a definição via o rácio operações externas sobre operações totais (F/T), fixando um valor arbitrário, normalmente 25-30%, como o limite da multinacionalidade (além da arbitrariedade no valor, um problema comum é a impossibilidade de se distinguir as exportações das vendas das filiais nos dados fornecidos pelas empresas), e ainda o critério do ambiente gerencial da empresa: haveriam três tipos destes ambientes, o etnocéntrico (característico de empresas domésticas), o policéntrico (EMN não-integrada) e o geocéntrico, EMN integrada com planeamento estratégico global.Este último critério é, evidentemente, não quantificável. 3 Investimento Directo Estrangeiro será igualmente definido como os movimentos de capital, seja este humano, corpóreo ou financeiro, ou qualquer combinação dos anteriores, que vise ao controle gerêncial e sobre as receitas de qualquer EMN. Isto implica uma distinção entre IDE e Investimento de Portfólio. Este último é meramente financeiro, não implicando, em princípio, em controle do ativo, o que necessariamente ocorre com o IDE. Por exemplo, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos só caracteriza um investimento externo de empresas americanas como IDE se este atingir mais de 10% do capital de uma corporação estrangeira. 4Dunning (1983) trabalha com uma definição "patamar" que combina EMNs e IDE de forma interessante: uma EMN é uma empresa que se envolve em produção externa financiada por fluxos de IDE. 5McClintock, B.,1988.

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Tal exercício teórico implicou necessariamente numa interrelação entre a Economia Industrial (ou Organização Industrial), a Economia Internacional e a História Económica. Esta última é a especialidade dominante nesta seção. Como já foi dito, o período imediatamente posterior à IIª Grande Guerra assiste a uma aceleração e a uma mudança de natureza, qualitativa e quantitativamente falando, nos fluxos de IDE feitos pelas EMNs, e delas próprias enquanto empresas. Para desenvolver e consubstanciar este ponto, faremos abaixo um breve histórico dos principais movimentos de IDE a partir do último quartel do sec. XIX. 2.2 - UM BREVE HISTÓRICO DAS CORPORAÇÕES MULTINACIONAIS E DOS FLUXOS DE INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO, 1870-19906. i: 1870-1914 Estudos publicados recentemente consideram que o papel das décadas finais do sec. XIX enquanto "anos formativos" das atuais multinacionais têm sido muito subestimado. Estimativas do stock total de investimento externo em 1914 dão um valor de US$ 14.3 Bilhões7, o que representava 35% de todo débito externo internacional de longo prazo naquele momento. Para certos países (investidores e receptores) o IDE tinha já então um papel tão importante quanto viria a ter a partir de 1950, e mais substancial do que o registrado no período entre guerras. Além disso, o espaço territorial para o IDE foi, neste período, mais amplo do que em qualquer outro momento da história antes do início dos anos 90, com a desagregação e posterior abertura das antigas nações de planeamento centralizado: Russía, China e Europa Oriental estavam então integradas no mercado global de capitais. Enquanto que os três primeiros quarteis do século XIX caracterizam uma situação na qual a exportação de capitais compreenderia tipicamente o investimento externo visando a aquisição de posições no capital de firmas já existentes, ou a constituição de novas firmas no país destinatário do investimento8, o último quartel do século observa o nascer do movimento de constituição de filiais no estrangeiro de firmas já existentes nos seus países de origem (filiais que, além disso, conseguiram manter, mesmo com o passar do tempo, uma identidade de firma "estrangeira", não se misturando com firmas locais até o ponto de serem delas indissociáveis, como ocorria até então9), estando este movimento perfeitamente consolidado às vésperas da Iª Grande Guerra.

6Esta seção foi essencialmente baseada em Dunning (1983) e em UNCTC (1988). 7Dunning (1983). Total investido em empresas ou filiais por não-residentes, ou por imigrantes de 1ª geração. 8Um período no qual, característicamente , os empresários "had to migrate with their capital". Edelstein (1983). 9Edelstein, ibid.

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Como pode ser observado pela Tabela I, o Reino Unido foi, neste período, o maior investidor privado internacional (situação que se manteve até as vesperas da 2ª Grande Guerra)10. Entretanto, já então os investimentos externos do 2º colocado nesta fase, os Estados Unidos da América, eram dirigidos a sectores com maior crescimento potencial que aqueles preferidos pelos ingleses, e eram mais caracteristicamente inversões de instalação de filiais de EMN do que a simples participação acionária em empresas locais (mais comum no IDE europeu)11. Deve ainda ser observado que, enquanto os Europeus tinham acumulado um stock de experiência empresarial e administrativa12, para além das suas disponibilidades em termos de capital de risco para inversões, os Norte-Americanos, desprovidos deste tipo de experiência, procuravam constituir uma vantagem competitiva em termos de uma tecnologia gerencial específica (nomeadamente, a gestão de grandes unidades produtivas diversificadas num espaço geográfico heterogêneo, as "Firmas Multi-Divisionais".Ver Chadler, 1977). Adicionalmente, podemos também notar na tabela abaixo o começo de um movimento de investimentos externos russos (que não teve continuidade, face a ruptura da revolução de 1917) e o início da investida japonesa, assim como o início de fluxos de inversões externas oriundas de nações menos desenvolvidas.

10E que se mantinha desde o final do sec. XVIII, reflexo do então extraordinário poderio econômico e comercial do Reino Unido. Ver Edelstein, ibidem. 11As especificidades no tipo de envolvimento externo, extensíveis à maioria das nações européias ocidentais em comparação com os EUA, refletiam tanto as diferentes dotações de fatores (pequenas nações européias carentes de recursos naturais necessitando, portanto, assegurar a sua oferta versus uma economia continental abundante nestes), quanto os diferentes mecanismos de regulação institucional vigentes (diferentes estruturas jurídicas e graus de abertura face ao capital e investimento externo, limitações e "exclusivos metropolitanos", formais e informais, mesmo no final do sec. XIX, no interior dos respectivos impérios coloniais) e os diversos padrões de relacionamento internacional (impérios coloniais versus uma grande nação recentemente independente e sem este tipo de projeção externa coercitiva). 12Embora, ao que parece, relativamente restrita aos respectivos impérios coloniais, o que se torna aparente na segmentação dos fluxos por país emissor e receptor do IDE. Tal teria a ver também, é claro, com limitações legais e informais, e o tratamento preferencial dos fluxos de capital "metropolitanos" em cada espaço colonial. Ver Edelstein (1982).

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TABELA 2.I

Estimativas do Stock de IDE por País de Origem. 1914

U$m % 1938

U$m

% 1960 U$b

%

1971 U$b

%

1978 U$b

%

EUA 2652 18.5 7300 27.7 32.8 49.2 82.8 48.1 162.7 41.4 Canadá 150 1.0 700 2.7 2.5 3.8 6.5 3.8 13.6 3.5 Inglaterra 6500 45.5 10500 39.8 10.8 16.2 23.7 13.8 50.7 12.9 Alemanha 1500 10.5 350 1.3 0.8 1.2 7.3 4.2 28.6 7.3 França 1750 12.2 2500 9.5 4.1 6.1 7.3 4.2 14.9 3.8 Bélgica n.a n.a n.a n.a 1.3 1.9 2.4 1.4 5.4 1.4 Itália n.a. n.a. n.a. n.a. 1.1 1.6 3.0 1.7 5.4 1.4 a)Holanda 7.0 10.5 13.8 8.0 28.4 7.2 b)Suécia *1250 *8.7 *3500 *13.3 0.4 0.6 2.4 1.4 6.0 1.5 c)Suíça 2.0 3.0 9.5 5.5 27.8 7.1 Rússia 300 2.1 450 1.7 n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. Japão 20 0.1 750 2.8 0.5 0.7 4.4 2.6 26.8 6.8 Australásia e África do Sul

180 1.3 300 1.1 1.5 2.2 2.5 1.4 4.8 1.2

Outros n.a. n.a. n.a. n.a. 1.2 1.8 2.5 1.4 5.2 1.3 sub-total 14302 100.0 26350 100.0 66.0 99.0 168.1 97.7 380.3 96.8

-Demais Paises n.a. n.a. n.a. n.a. 0.7 1.0 4.0 2.3 12.5 3.2 TOTAL 14302 100.0 26350 100.0 66.7 100.0 172.1 100.0 392.8 100.0

fonte:Dunning(1983);*= Σa, b, c.

Observando a Tabela 2.II na página seguinte, nota-se que, em 1914, as áreas fora da América do Norte (sem o México) e da Europa Ocidental eram destinatárias de perto de 80% dos fluxos de IDE (o total combinado de recursos destinados à Rússia e a China excedia o total da Europa Ocidental, e se aproximava do destinado à América do Norte). Por ramos de atividade, perto de 55% destes fluxos se destinavam ao Sector Primário (agro-pecuária e extrativismo)13, 20% especialmente para Ferrovias, 10% para o Sector Terciário (atividades comerciais, de distribuição, bancos e public utilities) e apenas 15% para atividades industriais (o Sector Secundário) sendo estas concentradas na Europa (incluindo Rússia), Império Britânico e EUA. Como já foi referido acima, mesmo neste período inicial de caracterização do IDE em sua forma "actual", ficam claras as especificidades geográficas e sectorias dos fluxos de IDE por cada país de origem. Os laços culturais, linguísticos, políticos e geográficos14 tinham uma importância ainda maior que a actual, dadas as limitações de transporte, comunicação e informação então existentes: 72% do IDE americano era feito em outras partes do continente americano (Ver Tabela 2.III na página seguinte). Já as inversões externas inglesas, francesas e belgas apresentam, como seria de se esperar, um forte conteúdo "colonial".

13Este valor revela claramente a importância dos investimentos no Sector Primário neste período, a era das Plantations e dos grandes ranchos de gado. O sector agrícola e extrativo será, na realidade, em muitos países, o primeiro a evidenciar sua integração numa estrutura produtiva internacional, articulado via os novos meios de transporte. Neste sentido, o investimento em ferrovias lhe é complementar. 14É curioso observar como o processo de desagregação dos impérios coloniais europeus e dos regimes totalitários de economia planificada, na segunda metade do século XX, parece haver libertado o comércio e os esforços de integração regional das amarras institucionais, políticas e ideológicas até então existentes, dando uma nova vida a expressão "Geografia é Destino" e fazendo com que relações comerciais se dêem agora com parceiros mais "naturais". Vide UE, NAFTA, APEC e MERCOSUL.

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TABELA 2.II Stock de IDE por País ou Região de Destino.

1914 U$m

% 1938 U$m

%

1960 U$b

%

1971 U$b

%

1978 U$b

%

Países Desenvolvi dos 5325

37.2 8346 34.3

36.7 67.3 108.4 65.2 251.7 69.6

EUA 1450 10.3 1800 7.4 7.6 13.9 13.9 8.4 42.4 11.7 Canadá 800 5.7 2296 9.4 12.9 23.7 27.9 16.8 43.2 11.9 Europa Ocidental 1100 7.8 1800 7.4 12.5 22.9 47.4 28.5 136.2 37.7 -Inglaterra 200 1.4 700 2.9 5.0 9.2 13.4 8.1 32.5 9.0 Resto da Europa 1400 9.9 400 1.6 n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. -Rússia 1000 7.1 n.a. n.a. n.a n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. Japão 35 0.2 100 0.4 0.1 0.2 2.5 1.5 6.0 1.7 Australásia e África do Sul

450 3.2 1950 8.0 3.6 6.6 16.7 10.0 23.9 6.6

-Demais Paises / Regiões

8850 62.8 15969 65.7 17.6 32.3 51.4 30.9 100.4 27.8

América Latina 4600 32.7 7481 30.8 8.5 15.6 29.6 17.8 52.5 14.5 África 900 6.4 1799 7.4 3.0 5.5 8.8 5.3 11.1 3.1 Ásia 2950 20.9 6068 25.0 4.1 7.5 7.8 4.7 25.2 7.0 -China 1100 7.8 1400 5.8 n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. n.a. -Índia e Ceilão 450 3.2 1359 5.6 1.1 2.0 1.5 0.9 2.5 0.7 Europa do Sul *400 *2.8 *621 *2.6 0.5 0.9 1.7 1.0 3.4 0.9 Médio Oriente 1.5 2.8 3.5 2.1 8.2 2.3 Internacional/Não- alocado

n.a. n.a. n.a.

n.a. n.a.

n.a. 6.5 3.9 9.5 2.6

TOTAL 14085 100.0 24315 100.0 54.5 100.0 166.3 100.0 361.6 100.0

fonte:Dunning( 1983 ).

O Reino Unido apresentava o "mix" geográfico mais diversificado de todos, o que, evidentemente, refletia a diversidade geográfica de suas possessões coloniais, com suas inversões industriais maioritariamente direcionadas para o a produção de bens de consumo e equipamento pesado. Já os americanos procuravam concentrar seus investimentos nos novos sectores intensivos em tecnologia e naqueles de bens de consumo com elevada elasticidade renda/procura. Os alemães, por sua vez, lideravam o sector químico.

TABELA 2.III Percentagem de Filiais Industriais por País de Implantação (total numérico)

pré-1914 1920-1938 1946-1961 EMNs

dos EUA.

EMNs do RU.

EMNs do Cont. Euro.

EMNs dos EUA.

EMNs do RU.

EMNs do Cont. Euro.

EMNs dos

EUA.

EMNs do RU.

EMNs do Cont. Euro.

EMNs do

Japão

Países Desenvol vidos

87.7 73.7 81.0 78.0 71.5 74.4 63.2 79.5 65.4 0.7

América do Norte 27.0 15.3 6.6 24.9 12.4 9.7 14.9 15.9 16.0 0.2 -EUA - 3.3 5.4 - 5.0 9.4 - 3.2 10.7 0.2 -Canadá 27.0 12.0 1.2 24.9 7.4 0.3 14.9 12.7 5.3 - Europa 57.5 41.7 73.2 43.2 39.2 61.7 35.9 26.6 41.8 0.5 -Euro. Ocidental 51.7 21.6 61.8 38.4 29.5 47.6 -Europa do Norte 5.8 11.7 5.4 2.2 6.9 5.8 -Europa do Sul 0.0 8.4 6.0 2.6 2.8 8.3 Japão 0.8 3.3 0.0 0.8 - 1.1 2.6 0.3 1.5 - Australá sia 1.6 8.4 0.6 6.2 15.7 1.9 9.8* 36.7* 6.1* 0.0* África do Sul 0.8 5.0 0.6 2.9 4.2 0.0 Paises em Desenvol vimento

12.2 26.3 19.0 22.0 28.5 25.7 36.8 20.5 34.6 99.3

América Latina 8.1 16.2 1.2 17.3 9.2 8.6 30.6 6.4 19.2 32.3 -México 0.0 1.7 0.0 4.2 - 0.6 -Brasil 2.5 1.7 0.0 2.6 1.8 2.8 Médio Oriente 4.1 3.3 15.4 1.5 3.2 11.3 1.4 2.6 3.0 0.6 África 0.0 3.4 0.6 - 5.1 1.9 1.4 4.6 6.6 0.3 Ásia 0.0 3.4 1.8 3.2 11.0 3.0 3.4 6.9 5.8 66.1 -Índia 0.0 1.7 0.0 0.8 6.0 1.1

TOTAL 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0

14

Nº de Filiais 122 60 167 614 217 361 2009 684 609 65

fonte:Dunning(1983).

O padrão das inversões era mais semelhante no que diz respeito ao sector primário, com diferenças dadas pelas diversas dotações de fatores, distâncias dos respectivos mercados e pelos gostos dos consumidores (EMNs norte-americanas predominantemente no cultivo e comércio de frutas tropicais e as inglesas no chá, por exemplo). ii: 1918-1938 A Iª Grande Guerra e os anos subsequentes assistem a grandes mudanças na forma, nível, distribuição e estrutura dos fluxos de IDE.As despesas do conflito, o posterior pagamento de indemnizações de guerra, a destruição dos impérios coloniais Alemão, Austro-Hungaro e Otomano, a Revolução Russa (com a consequente perda das inversões lá realizadas, e a "retirada" da nação russa do mercado das EMNs pelas subsequentes sete décadas) e o resultante clima de instabilidade na Europa Centro-Oriental reduzem fortemente a atividade financeira intra-européia (Ver Tabela 2.I: entre 1914 e 1938 há um claro e forte desinvestimento na Europa Continental tomada como um todo). E mais ainda, mesmo em termos de valor global do stock de IDE, só no início dos anos 30 seu valor superará aquele registrado em 1914 (e isto apesar do crescimento constante do número de filiais de EMNs, ver Tabela 2.III, o que indica uma redução do nível de capitalização médio por filial). Apenas um grande investidor externo, os EUA, permanece intocado pelo conflito e suas consequências directas, e até mesmo este se verá posteriormente afetado pelos efeitos da Grande Depressão de 29 (entretanto, como já foi observado, já que os investimentos industriais norte-americanos se concentravam em sectores de elevada elasticidade renda/procura, mesmo então seus mercados foram relativamente protegidos: sua percentagem do stock de IDE passa de 18.5% em 1914 para 27.7% em1938). Este período registra um grande deslocamento dos fluxos de IDE da Europa Centro-Oriental para o continente americano (com um relativo desinvestimento europeu na América Latina em atividades como ferrovias e public utilities15), para os "Domínios" Ingleses e para a China continental (até pouco antes da invasão japonesa, em 1931). O sector mineral (petróleo incluido) é um dos grandes beneficiados por esta expansão: novos campos petrolíferos são abertos no Golfo do México, no Oriente Médio e na Indonésia; a mineração do cobre, no Chile, de metais preciosos na África do Sul e de não-ferrosos na América do Sul são também favorecidos. Ainda outros sectores extrativos são beneficiados, como as plantações de seringueiras (para a produção de borracha natural, visando abastecer a indústria de automóveis) na

15No início do século XX, redes de telefones, gás, energia elétrica ou mesmo de eléctricos em países latino-americanos como o Brasil ou a Argentina eram de propriedade de capitais ingleses ou canadenses, sendo estes mercados progressivamente ocupados pelos norte-americanos, e, posteriormente, nacionalizados.

15

Amazônia, Malásia, Libéria e Indonésia, ou as plantações de tabaco e de cana-de-açucar em Cuba. iii: 1939-1960 Este sub-período registra claramente duas fases: do quase desaparecimento dos fluxos de IDE entre 39 e 45 ao longo período (quase meio século) de crescimento quase contínuo então iniciado. Na primeira fase assiste-se não apenas a uma interrupção na acumulação dos estoques de IDE e ao seu desinvestimento localizado por parte das potências europeias, como durante a Iª grande Guerra, mas a sua destruição (num sentido muito literal) maciça, em todo continente europeu, Norte da África e Ásia Ocidental (especialmente na China Continental ). Além disto, ao final deste período, entre 45 e 49, mais uma vez regiões substanciais do globo serão subtraídas aos mercados de capitais internacionais e as possibilidades de uma articulação internacional dos processos produtivos: as regiões da Europa Centro-Oriental ocupadas pelos exércitos soviéticos e transformadas em economias planificadas, assim como a Mandchúria e a metade norte da Península Coreana (antigas regiões "coloniais" japonesas, privilegiadas por seus fluxos de IDE) entre 44 e 48;e a China Continental em 49. A primeira parte do período de expansão, 1946-60, é claramente dominada pelos movimentos de capitais norte-americanos, até por volta de 1960, o seu ponto máximo: os EUA são então responsáveis por mais de 49% do stock de IDE realizado, e por 63% do aumento registrado deste stock desde 1938 (Ver Tabela 2.I). O fim da IIª Grande Guerra gerou uma onda de inovação tecnológica (especialmente nos sectores químico e elétrico) que potencializou uma acelerada expansão dos investimentos no pós-guerra. A própria recuperação das economias da Europa Ocidental (que é ajudada pelos fluxos de capital externo, e, posteriormente, irá gerar seus próprios fluxos deste) é surpreendentemente acelerada. Os fluxos de IDE neste período dão continuidade à tendência registrada desde 1914: uma crescente preferência pelas nações desenvolvidas como alvo do investimento (37.2% do total em 1914, 34.3% em 38, uma leve e temporária queda, 67.3% em 1960). Isto em parte refletia o crescimento do IDE "orientado para procura", como uma resposta ao crescimento das barreiras aduaneiras a partir do final do anos 50, resultando num crescimento do IDE industrial face aquele investido nos sectores primário e terciário16(com algumas exceções: as inversões em instalações petrolíferas no Oriente Médio continuaram a crescer no período). Outras tendências observadas são a redução no número de EMNs iniciadas de raiz - greenfield - com o consequente aumento do número daquelas constituidas via

16É o inicio do período das grandes nacionalizações de EMNs por governos de países do 3º mundo "preocupados com sua soberania".

16

compra ou fusão com empresas já existentes, ou pela criação de novas subsidiárias de EMNs já instaladas em determinado mercado (de 67% em 1914 para 48% em 1961), e a redução do número de EMNs cujo capital estivesse total ou maioritariamente sob controle de investidores no país-sede, de 63% para 54% no mesmo período17. iv: 1960-1978 A taxa de crescimento do stock internacional de IDE atinge o seu ponto máximo no final dos anos sessenta, sofre uma redução na primeira metade dos anos 70 (com 1º Choque do Petróleo e a consequente desaceleração no ritmo de atividade económica nas economias centrais), recuperando-se na segunda metade da década e voltando a cair no seu final (agora com 2º Choque do Petróleo e nova desaceleração no crescimento). O período assiste ainda a uma redução na participação norte-americana e inglesa nos fluxos de IDE, e a um aumento da alemã, japonesa e suiça (esta última como um canal para fundos de terceiras nações), e ao surgimento das primeiras inversões externas feitas por EMNs do 3º mundo. No que diz respeito à sua distribuição geográfica, os fundos destinados as nações menos desenvolvidas correspondem no final do período a apenas 26.5% do total, com uma continuidade da redução da importância do sector extrativo, o que é uma indicação da tendência de perda de importância das MNEs baseadas na exploração de recursos naturais, face as que buscam estabelecer uma estrutura produtiva integrada internacional: duas das áreas onde a atividade das EMNs mais cresce no período são nos fluxos dirigidos as "plataformas de exportação" nos NICs ("Newly Industrializing Countries") e nos fluxos comercias horizontais intra-firma nos grandes espaços comerciais integrados. Assiste-se ainda ao crescimento de uma série de "formas não-tipicas" de IDE, como acordos de licenciamento, joint-ventures e a processos de desinvestimento voluntário por parte das EMNs em sectores de tecnologia maduras, reduzidas barreiras à entrada e baixas taxas de lucro. v: 1980-1990 A década de oitenta assiste, em sua fase inicial, a uma continuação da desaceleração iniciada no fim da década anterior, com a performance relativa dos países menos desenvolvidos sendo substancialmente pior que a dos desenvolvidos (de facto, o produto per capita das nações menos desenvolvidas como um todo cai algo como 1% a.a. durante esta década). Observa-se um marcado aumento da instabilidade internacional no início do período18, desencorajando uma produção voltada para as exportações e, portanto, os processos de integração externa das economias nacionais, e a continuada perda de importância dos sectores primários para as EMNs. 17Os dados revelam uma propensão sistematicamente superior da parte das empresas norte-americanas por subsidiárias totalmente ou maioritariamente possuidas pela matriz, em comparação às EMNs não-americanas. 18A instabilidade das taxas de câmbio e das taxas de juro para instrumentos financeiros denominados nestas moedas, posterior à quebra do Sistema de Bretton Woods, agrava-se no decorrer dos anos 80.

17

A tendência ao protecionismo comercial agrava-se, paralela a um processo de liberalização dos mercados financeiros, primeiro domésticos, e depois externos, das economias desenvolvidas (tal integração não apenas não é afetada pela instabilidade, como dela se alimenta). Os fluxos internacionais de recursos sofrem grandes mudanças: os Estados Unidos tornam-se, em 1985, devedores líquidos internacionais pela primeira vez desde a 2ª Grande Guerra (atingindo a posição de maiores devedores líquidos internacionais já no final da década), sendo financiados principalmente pelos superávits em conta corrente japonês e alemão (Ver Tabela 2.IV abaixo).

TABELA 2.IV Estimativas do Stock de IDE por País de Origem.

1980 U$b % 1985 U$b % 1988 U$b %

Países Desenvolvidos 535.7 97.2 693.3 97.2 1108.8 97.2 EUA 220.3 40.0 250.7 35.1 345.4 30.5 Canadá 21.6 3.9 36.5 5.1 50.7 4.4 Alemanha Oc. 43.1 7.8 60.0 8.4 103.4 9.1 Inglaterra 81.4 14.8 104.7 14.7 183.6 16.2 França 20.8 3.8 21.6 3.0 56.2 5.0 Suiça 38.5 7.0 45.3 6.4 44.1 3.9 Holanda 41.9 7.6 43.8 6.1 77.5 6.8 Itália 7.0 1.3 12.4 1.7 39.9 3.5 Japão 36.5 6.6 83.6 11.7 110.8 9.8 Países do 3º Mundo 15.3 2.8 19.2 2.7 31.7 2.8 TOTAL 551.0 100.0 713.5 100.0 1140.5 100.0

fonte:UNCTC(1988).

O crescimento das EMNs, agora principalmente japonesas e de certas nações européias, continua, registrando-se um crescimento no rácio IDE/PNB desta nações (e uma queda no rácio norte-americano), sendo agora os EUA o principal destinatário dos fluxos de IDE19. A própria parcela norte americana no stock internacional de IDE cai velozmente desde seu ponto máximo nos anos 60 (em torno de 50%) para 30% em 1988. O stock de IDE nas nações menos desenvolvidas cai para uma faixa de 21% do total em 1988, com a parcela africana caindo para menos da metade (uma tendência iniciada após as nacionalizações no sector primário nos anos 70), a latino-americana sofrendo uma queda de um terço e a asiática aumentando em quase 100%,em comparação aos dados de 1971 (Ver Tabela 2.V, abaixo). 19Deve-se aqui observar, no entanto, que os fluxos ou estoques de IDE podem seriamente subestimar a extensão do controle das EMNs sobre ativos nas economias nas quais actuam, já que suas filiais podem financiar suas aquisições através de outras formas, como as emissões de acções nos países nos quais estão instaladas ou via acesso directo ao mercado de capitais internacional (isto sem falar nos efeitos das apreciações/depreciações cambiais sobre o valor dos estoques de IDE). Uma avaliação da quota norte-americana de IDE via o rácio dos Ativos das Filiais Externas sobre Ativos Totais das Corporações não indica uma queda do nível da aparente nos estoques de IDE, o que indicaria exatamente o financiamento destas filiais das EMNs norte-americanas por canais alternativos ao IDE. Além disso, há que considerar possibilidades de controle gerencial sem que esteja caracterizada seja a propriedade total ou mesmo majoritária, e mesmo em sua completa ausência, via arranjos de licenciamento de tecnologia ou via subcontratação, que permitem as EMNs acumular rendas de seus ativos específicos.

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TABELA 2.V Estimativas do Stock de IDE por País ou Região de Destino.

1980 U$b % 1985 U$b % 1988 U$b %

Países Desenvolvidos 401.0 75.6 478.2 75.0 959.5 78.7 EUA 137.1 25.9 184.6 29.0 328.9 27.0 Europa Ocidental 159.6 30.1 184.3 28.9 444.5 36.5 Japão 5.0 0.9 6.1 0.5 10.4 0.9 Outros 5.4 1.0 6.6 1.0 175.7 14.4 Países do 3º Mundo 138.4 24.4 159.0 25.0 259.8 21.3 América Latina 73.28 13.8 80.5 12.6 114.9 9.4 África 19.6 3.7 22.3 3.5 30.9 2.5 Ásia 40.1 5.8 49.6 7.8 114.0 9.3 TOTAL 539.4 100.0 637.2 100.0 1219.3 100.0

fonte:UNCTC(1988).

Por outro lado, entre as nações desenvolvidas, a Europa é superada pelos EUA como principal mercado para os fluxos de IDE (atratividade em parte recuperada na 2ª metade da década, quando as empresas tomaram posição face as perspectivas da "Europa 92"): enquanto que em 75 o stock de IDE na Europa Ocidental era quatro vêzes superior ao correspondente nos EUA, em 88 este já lhe era superior, totalizando 6.8% do PNB norte-americano (parcela dezesete vezes superior a japonesa, 0.4%, mas ainda inferior à registrada na Europa Ocidental, 8.4%), tendo crescido sistematicamente em todos estes países. Sectorialmente, a grande tendência a ser observada é a expansão do IDE no Sector Serviços, notadamente na área financeira. Como já observado, o aumento da instabilidade da envolvente internacional eleva não apenas a necessidade mas os ganhos potencias para as EMNs de uma gestão de fluxos de caixa denominados em divisas diferentes. Ainda outro dado curioso é a aparente convergência registrada entre as estruturas dos fluxos de IDE recebidos/fornecidos e de seus rácios entre as economias de mercado desenvolvidas (Ver Dunning, J.,1993). 2.3 - AS MULTINACIONAIS HOJE:QUEM SÃO ELAS? SEU PAPEL MACRO. A importância macro-económica das EMNs fica clara quanda se considera que, de acordo com estimativas da UNCTC (United Nations Centre on Transnational Corporations) , estas representavam 25-30% do PIB das economias de mercado, três quartos do comércio mundial de commodities e quatro quintos do comércio em tecnologia produtiva e gerêncial (Ver Dunning, J.; 1993). Esta importância fica ainda mais clara pelos dados da Tabela 2.VI abaixo.

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TABELA 2.VI Importância Macro das EMNs

Nº de EMNs 17500-20000 Nº Total de Matrizes e Filiais 120-125000

Ativos totais das EMNS U$ 9-10 Trilhões Ativos Totais das Filiais Externas U$ 3 Trilhões

Parcela de Capital Externo U$ 1.1 Trilhão Valor Global de Vendas U$ 13.5 Trilhões

Valor de Vendas das Filiais Externas U$ 4-4.5 Trilhões Emprego Global 50-55 Milhões

Emprego nas Filiais Externas 14-15 Milhões

fonte: Dunning, 1993.

Além disto, desde os anos 60 o crescimento comparativo dos fluxos e dos estoques de IDE superou o crescimento do PIB global - com exceção do período de 80 a 85-, e, desde 1980, também o dos fluxos comerciais (Ver Tabela 2.VII abaixo).

TABELA 2.VII Crescimento Comparativo dos Fluxos

% Stock de IDE ( em "book value")

% dos Fluxos de IDE % PIB Mundial % do Comércio Mundial

1960-67(60=100) 165.7 164.6 142.9 168.8 1967-73(67=100) 188.3 223.2 180.7 270.3 1973-80(73=100) 253.9 204.1 209.4 357.3 1980-85(85=100) 129.3 142.2 131.2 97.8 1985-88(85=100) 155.6 200.7 141.6 146.9

fonte: Dunning, 1993 A importância macro das EMNs para além dos fluxos de IDE fica clara quando observamos a percentagem dos fluxos comerciais internacionais e de capital associados a estas (o que pode fornecer uma dimensão diferente à tradicional questão da substituição do comércio pelo IDE: o processo pode ser simultaneamente de substituição, subordinação - uma dimensão de complementaridade - e de especialização nacional). Um estudo de Hipple (Hipple, F., 1990) - confirmado por UNCTC para um período de tempo diferente (UNCTC, 1988) - conclui que 99.4% do comércio externo norte-americano, portanto importações mais exportações, em 1982 foi realizado por EMNs (um resultado realmente espantoso: praticamente apenas as EMN se aventurariam no comércio externo), sendo que deste total mais de um terço - 34.2% - seria comércio intra-indústria. Dados para o Reino Unido e Japão fornecem valores semelhantes. Além destes, um estudo de Bonturi & Fukasaku (Bonturi & Fukasaku, 1993) confirma os dados de comércio externo intra-indústria para os EUA e Japão - segundo estes, os únicos países da OCDE cujos dados permitiriam a desagrageção necessária para a realização de tal análise - com dados para o primeiro de 33.5% em 89 ( a sua série vai de 1977 a 1989, sendo a percentagem muito estável neste período ) e de 32.7% nas exportações e 28.7% nas importações para o segundo em 1989. Vários estudos (UNCTC, ibid) dão resultados contraditórios para a relação comércio externo / IDE, alguns apontando para uma relação de substituição, outros de complementaridade até certo ponto (durante o período de instalação das filiais), com

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posterior substituição (após o start-up das filiais), outros ainda indicando uma correlação positiva20. E ainda, para além da sua importância como fonte de fluxos comerciais, a internacionalização do sector financeiro implicou numa taxa de crescimento dos mercados de capitais globais substancialmente superior não só a dos fluxos de IDE como a dos fluxos comerciais e numa articulação (e substituição) crescente entre os mercados financeiros nacionais. A sofisticação e rapidez dos mercados financeiros internacionais (transações 24 horas por dia em tempo real, um fluxo contínuo de novos produtos financeiros como os derivatives), a escala das transações (5 trilhões de dólares diários em 1993, quase o valor do PIB norte-americano) tornam estes um desafio para as políticas econômicas nacionais e um fenômeno a ser melhor estudado. A dimensão específica das maiores EMNs industriais das nações desenvolvidas no ano de 1992 pode ser melhor apreendida nas tabelas existentes no Anexo I.

20Especificamente para o Brasil uma regressão entre os fluxos agregados de IDE e as exportações como variável dependente para os anos entre 1970 e 1991 revela esta variável como sendo significativa e tendo um sinal positivo - apesar de o modelo apresentar forte auto-correlação positiva, não totalmente eliminada pelos processos de correção - o que pode ser encarado como um indício de complementaridade, sendo que a introdução de lags - positivos e negativos - não altera significamente este resultado. Eentretanto, qualquer conclusão mais sólida implicaria na disponibilidade dos dados de IDE e exportação por país de destino e para um período temporal mais extenso, eliminando o enviesamento introduzido pelo período de implantação e verificando se a queda dos fluxos comercias para países destinatários de IDE não estaria sendo compensada pela abertura de novos mercados.

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3 AS TEORIAS TRADICIONAIS E SUA INADEQUAÇÃO: AS TEORIAS RECENTES SOBRE EMNs E IDE A partir de agora, passaremos a apresentar de forma resumida as principais novas correntes teóricas de explicação destes dois fenômenos, as EMNs e IDE. Entretanto, como seu desenvolvimento tem por base o argumento da inadequação das teorias tradicionais do comércio e do investimento externo, em contextos nos quais imperfeições de mercado várias estão presentes, faremos antes uma breve exposição destas teorias.

GRÁFICO 3.1

ESQUEMA BASEADO EM RUGMAN et alli ( 1985 ) SOBRE A RELAÇÂO ENTRE LIVRE COMÉRCIO INTERNACIONAL E AS

EMNs.

COMÉRCIO LIVRE

EMNs

Mercados Internos

Eficientes

Mercados

Internacionais

Competitivos

Tarifas, BNTs e Barreiras Governamen-

tais ao Comércio

Imperfeições Naturais nos

Mercados

O objetivo do gráfico acima é demonstrar a simetria existente entre o comércio internacional e as EMNs: numa situação de existência mundial de mercados livres e perfeitos, as relações entre as nações se dariam através de fluxos comerciais e de capitais de curto prazo.As EMNs, portanto, aparecem como uma alternativa eficiente a uma situação de mercados imperfeitos, na qual fluxos de IDE substituem as trocas internacionais de bens e serviços. 3.1- TEORIAS TRADICIONAIS DO COMÉRCIO E DO INVESTIMENTO EXTERNO. As teorias tradicionais sobre comércio internacional tem sua primeira vertente na Teoria Mercantilista, desenvolvida na Europa no século XVII. Muito sucintamente, esta teoria afirmava que a riqueza de uma nação se mediria pela manutenção sistemática de excedentes comerciais face ao resto do globo e pelo consequente

22

aumento de reservas (naquela época quase que exclusivamente denominadas em metais preciosos) nas mãos das autoridades governamentais. O comércio externo era, portanto, percebido como um jogo de soma zero. Entretanto, as primeiras formalizações mais rigorosas de uma Teoria do Comércio Internacional são devidas aos dois grandes economistas clássicos dos séculos dezoito e dezenove, Adam Smith e David Ricardo. O primeiro deles, Smith, desenvolveu uma teoria segundo a qual fluxos de comércio entre nações seriam determinados pela existência de diferenciais absolutos de produtividade no fornecimento de bens entre estas mesmas nações, e estes fluxos possibilitariam elevar o bem-estar nacional, mediante a especialização destes países na produção daqueles bens nos quais detivessem um diferencial positivo de produtividade e o abastecimento mútuo de suas necessidades de consumo: esta é a "Teoria das Vantagens Absolutas". Mesmo numa forma tão simples, tal afirmação tem implicações poderosas. Ricardo, tendo por base as afirmações de Smith, expande e dá maior rigor à teoria, para situações nas quais uma das nações tem vantagens absolutas na produção de todo o leque de bens comercializáveis, demonstrando que, ainda assim, o comércio internacional não apenas é possível, mas continua gerando ganhos potenciais para todos aqueles nele envolvidos: é a "Teoria das Vantagens Comparativas". Os ganhos em termos de bem-estar nacional proporcionados pelo comércio internacional dão-se porque este permite às nações consumirem para além das fronteiras determinadas pela suas Curvas de Possibilidades Técnicas de Produção (CPTP). Numa economia fechada, o consumo e a produção tem de se dar no ponto E*, ponto de tangência entre a CPTP - que define os limites externos das combinações possíveis entre os bens produzidos em dada economia nacional (aqui assumidos como sendo dois, X e Y) a partir da dotação inicial de fatores produtivos, e que tem por inclinação a Taxa Marginal de Transformação de Y em X (TMTyx, crescente) - , a linha de preços relativos dos bens X e Y (Px/Py), a reta negativamente inclinada PP', e a Curva de Indiferença Social (CI) mais elevada possível, CI*CI*' - que reflete as preferências dos consumidores nacionais maximizantes face às suas restrições orçamentárias e aos preços relativos de X e Y (e que tem por inclinação a Taxa Marginal de Substituição de Y por X,TMSyx , decrescente). Neste ponto E*,de equilíbrio estável para a produção e o consumo, onde TMTyx = TMSyx = Px/Py, tanto a eficiência produtiva quanto a utilidade dos consumidores é maximizada (Ver Gráfico 3.2 abaixo).

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GRÁFICO 3.2 EQUILÍBRIO PRODUÇÃO/CONSUMO NUMA ECONOMIA FECHADA

P

P'

BEM Y

0 BEM X

Y*

X*

E*

CI*

CI*'

CPTP

CPTP'

Já numa economia aberta (sendo a economia-mundo constituida de dois países, A e B, com diferentes dotações de fatores e diferentes preços relativos internos), se a reta PwPw', dos preços relativos mundiais, tiver uma inclinação diferente da reta PP'21, a produção doméstica, refletindo os novos preços relativos dados pelo mercado externo, se deslocará para o ponto Epw, enquanto que o consumo se dará num ponto diferente, Ecw, o ponto de tangência entre a nova reta de preços relativos e a CI mais a direita, e portanto mais elevada (Ver Gráfico 3.3 abaixo).

GRÁFICO 3.3 EQUILÍBRIO PRODUÇÃO/CONSUMO EM ECONOMIA ABERTA (PAÍS A)

P

P'

BEM Y

0 BEM X

Y*

X*

E*

CI*

CI*'

CPTP

CPTP'

Pw

Pw'

CIw*

CIw*'Yc

Xc

Yp

Xp

Ecw

Epw

21Assimindo-se que as nações envolvidadas são "pequenas" face a oferta e a procura globais, PwPw' esta entre as retas de preços relativos nacionais.

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As importações viabilizam esta diferença entre produção e consumo nacionais.O país A exporta o bem Y, para poder importar o bem X, e o país B faz o oposto, ou seja, tem-sê que Py (Ya-Yb) = Px (Xb-Xa). Tanto a produção quanto a utilidade continuam sendo maximizadas (TMTwyx = TMSwyx = Pwx/Pwy), em ambos os países, e ambas as sociedades como um todo ganham, ao consumir numa CIw* mais elevada. O equilíbrio entre produção e consumo mantêm-se, agora na economia-mundo (Ver Gráfico 3.4 abaixo). A conclusão básica do modelo, que o comércio aumenta o bem-estar potencial de uma nação como um todo22, é, como dissemos, muito poderosa. No entanto, alguns de seus pressupostos implicam uma certa restrição à sua significância empírica. Destes, dois tem particular importância do ponto de vista da teoria das EMNs: os mercados perfeitos e a imobilidade nacional de fatores23.

GRÁFICO 3.4 BEM ESTAR NA ECONOMIA-MUNDO

0

PAÍS A

Y

CIw

CIw*

CIw

CIw*

Pa

Pa*

Pb

Pb*

PAÍS B X

22Evidentemente, a palavra "potencial" indica qualificações ao modelo geral, quando este é enriquecido pelo acréscimo de factores produtivos adicionais com certo grau de especificidade produtiva (ou locacional): aqueles sectores cujos activos sejam específicos à produção do bem no qual se tem uma desvantagem comparativa são perdedores líquidos no curto prazo, na medida em que o processo de ajuste ou de conversão não é nem imediato nem desprovido de custos, sendo estes sectores, no entanto, passíveis de serem recompensados por suas perdas líquidas a partir de parte dos ganhos líquidos do sector com vantagens comparativas, redistribuidas por um organismo central, o governo. Consequentemente, todos são "ganhadores potenciais". Ver Krugman, P. & Obstfeld, M., 1991. 23Observe-se aqui que existem diversas tentativas, com graus variados de sucesso e de "aderência" ao real, de integrar modelos de equilíbrio geral para o comércio internacional com a existência de EMNs. Em Helpmann (Helpmann, E., 1990), as EMNs são entidades económicas possuidoras de activos específicos à firma numa estrutura industrial caracterizada pela concorrência monopolística, movendo-se num ambiente de barreiras protecionistas à entrada e ao comércio, procurando-se a partir daí prever os padrões de comércio inter-sectorial, intra-industrial e intra-firma. Já em Horstmann & Markusen (1990), EMNs com activos específicos (tecnológicos, gerênciais e de marketing) e custos de transporte e específicos à firma positivos entregam-se a um movimento de expansão horizontal sob a restrição de economias de escala (face aos custos de transporte).

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3-2 - AS NOVAS TEORIAS SOBRE INVESTIMENTO EXTERNO E A VERSÃO INTERNACIONAL DA TEORIA DA FIRMA. Como foi visto no primeiro item deste trabalho, a desagregação dos antigos impérios coloniais europeus, as subsequentes políticas de "industrialização por substituição de importações" desenvolvidas pelas novas nações independentes24, o rápido desenvolvimento tecnológico, a afirmação e a expansão de uma nova potência global, os EUA, todos estes fenômenos conjuntamente contribuem para a expansão do IDE, e, à medida que tal ocorre, maior se revela a incapacidade da teoria tradicional do comércio internacional e da teoria neoclássica tradicional sobre os fluxos de capital, a "teoria da arbitragem dos fluxos de portfólio"25, para explicar estes desenvolvimentos. Tal teoria, além de se basear em pressupostos inadequados à realidade das EMNs (tais como competição perfeita, inexistência de custos de transação, informação perfeita e sem custos, imobilidade de ativos a nível internacional26) não leva em consideração todos os tipos de motivação possíveis para a realização de um IDE27. Novas teorias, tendo como pressuposto que o IDE ocorre num ambiente de mercados imperfeitos e de incerteza, como um substituto ao comércio internacional de bens e serviços nestes mercados , comecam a se desenvolver. A primeira destas escolas, usualmente denominada "Escola da Organização Industrial", é desenvolvida pelo economista canadense Stephen Hymer28 a partir de 1960. Hymer, em seu trabalho seminal29, caracteriza o IDE como uma estratégia pela qual EMNs oligopolísticas procuram exercer e aumentar seu "poder de mercado", eliminando a competição, no espaço internacional, através da criação de barreiras à entrada relacionadas a existência de ativos específicos às empresas30. Estes ativos 24E, ainda mais característicamente, nas nacões independentes da América Latina, resultantes da primeira fase de desagregação dos impérios coloniais espanhol e português, no início do sec. XIX. Nestas, o processo de "industrialização por substituição de importações" data das primeira e segunda décadas do século XX, sendo generalizado pela brutal redução do comercío mundial posterior a "Grande Depressão". Ver Conceição Tavares, M. & Serra, J (1985). 25Especificamente, a "teoria da arbitragem dos fluxos de portfólio" assume que a empresa, enquanto um investidor racional, buscará constituir um "mix" de investimento, nacional e internacional, que, para um dado nível de risco, maximize os retornos esperados, aproveitando-se dos diferencias de taxas de juro registradas entre as economias nacionais, e eliminando-os no processo. 26Pressupostos, alías, de toda "Teoria do Comércio Internacional" de base ricardiana. 27Tais como a eliminação preventiva de concorrência entre empresas, o aproveitamento de activos específicos da parte das firmas, etc. 28Incidentalmente, é algo revelador da psicologia nacional norte-americana, da sua forma de percepção do exterior, o facto de que todos os grandes nomes das "Novas Teorias" serem ou canadianos (Hymer, McManus, Rugman, Casson, Lecraw) ou ingleses (Coase, como referência inicial, Dunning, Buckley). A única exceção é Vernon. 29A famosa, e tardiamente publicada, tese de Hymer pelo MIT:"The International Operations of National Firms: A Study of Foreing Direct Investment", 1976 (1960), MIT Press, Cambridge, MA, USA. 30Estes activos específicos às empresas poderiam ir desde "know-hows" proprietários tecnológicos, produtivos ou gerenciais, à diferenciação de produto via marca, ou ainda o acesso privilegiado a fontes de crédito. Na sua tese, Hymer acentua o aspecto tecnológico; já em textos posteriores (Hymer, 1990), a possibilidade da gestão conjunta de activos financeiros (desintermediação financeira avant la lettre) recebe uma atenção considerável.

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seriam internalizados em "mercados" interiores às estruturas empresariais, permitindo comportamentos "oportunistas" de extracção total do seu rendimento económico por parte das empresas e efetivamente suprimindo o mecanismo de preços enquanto instância alocativa. O adiamento da publicação de sua tese, assim como a morte prematura de seu autor, implicou numa inicialmente muito reduzida divulgação de suas conclusões e que trabalhos baseados nela viessem ao conhecimento do público antes mesmo do original. Alguns dos trabalhos posteriores de Hymer assumem um viés nitidamente marxista31(parte do que pode ser atribuido, em termos gerais, ao clima politica e ideologicamente carregado dos anos 60, e particularmente a uma viagem de estudos a Gana, antiga colónia britânica na África, no final da década, com efeitos verdadeiramente traumatizantes sobre sua percepção do efeito social das EMNs em países "periféricos"), sendo mesmo neles postulada uma "Lei do Desenvolvimento Desigual", pela qual as ações das EMNs através dos IDE levaria a uma articulação de redes de interesses que subordinariam as nações menos desenvolvidas aos objetivos de uma elite nos países mais desenvolvidos. Esta organização hierarquica do globo através das EMNs, resultaria em "pulls and tears at the social and political fabric and erodes the cohesiveness of national states"32. Consequentemente, Hymer reconhece o papel de maximização do bem-estar privado das EMNs, mas encara seu impacto no bem-estar social das nações menos desenvolvidas como negativo33. A sua posição inicial, expressa com clareza na sua tese, privilegia o aspecto de poder monopolístico de mercado das EMNs em processos de expansão horizontal (ou seja, a produção do mesmo leque de bens/serviços pela firma multi-planta em todas as suas diferentes instalações, independente do local), visando a extração de rendimento (o que é evidentemente negativo do ponto de vista do bem-estar agregado), em detrimento dos aspectos de aumento da eficiência ligados à existência de imperfeições naturais de mercado. Maior atenção será dada a este ponto, no entanto, num trabalho posterior. Num seu trabalho menos conhecido (Hymer,1990), escrito em francês em 1968 e "redescoberto" nos anos 80, fica claro que Hymer descreve uma "Teoria da Internalização" num sentido essencialmente "Coaseano"34, como uma explicação geral

31Ou mais especificamente, "marxiano", como diriam aqueles da área. 32Hymer, S."The Multinational Corporation and The Law of Uneven Development", in Economics and The World Order, ed J. Bhagwati, pp 113-140, Macmillan, 1972, London, UK. A citação foi extraida de McClintock, B. (1988). 33Ao ponto de Hymer elaborar propostas de política para as nacões menos desenvolvidas visando o seu isolamento dos fluxos de comércio e investimento globais, e a produção em autarquia sob planeamento centralizado. 34Ou seja, uma firma que funciona em mercados imperfeitos, onde os custos da utilização do mecanismo de preços seria positivo, seria levada a substituir este mecanismo pela alocação "administrativa" dos recursos nos espaços internos à firma, economizando recursos pela redução/eliminação de transacções. Este conceito foi inicialmente elaborado no trabalho de Coase, Ronald H. ;"The Nature of The Firm" (Coase, 1986), escrito em 1937. De acordo com este, a integração é principalmente uma questão administrativa e gerencial, e secundariamente, tecnológica.

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para a existência da firma35, ou seja, havendo imperfeições naturais de mercado, sua internalização pela firma (com a consequente eliminação do papel alocativo do sistema de preços) geraria situações de maior eficiência. Esta seria a explicação para processos de expansão verticais por parte da firma (a articulação espacialmente distribuida das diversas fases de um processo produtivo), aliada a existência de vantagens locacionais, sendo a EMN meramente uma extensão para o espaço internacional destas forças responsáveis pela constituição das firmas, não apenas em acção nas próprias economias nacionais, mas responsáveis pela constitução espacial das próprias economias nacionais, o que fica claro pela citação do trabalho de Chandler36. As EMNs seriam, portanto, apenas casos especiais de uma "Teoria da Firma" coaseana no espaço internacional. Ou, especificando um pouco mais, o caso de uma firma "coaseana" com operações multi-planta para além do espaço nacional. Hymer descreve o que é claramente um processo interativo e dinâmico entre os efeitos da internalização e a estrutura do mercado (ver Gráfico 3.5). A internalização em dado sector industrial determina o n número de empresas neste sector, e, consequentemente, tanto o grau de concentração quanto a estrutura do mercado. Esta, por sua vez, gera um feed-back sobre as possibilidades adicionais de expansão horizontais (sectores altamente concentrados seriam um incentivo à diversificação da firma) e verticais da empresa (sectores nos quais exista concorrência imperfeita induzem distorções de preço a jusante e a montante em processos produtivos multi-fásicos, criando incentivos à empresa para uma integração "para frente e para tràs")37. Nesta mesma linha, o mesmo artigo utiliza também o trabalho desenvolvido por 35Um modelo estável de alocação atomizada via preços relativos (uma descrição possivelmente mais correta do modelo neo-clássico do que "modelo de concorrência perfeita", vide Demsetz (1988)) pode ser caracterizado apenas através de agentes individuais, abstraindo-se totalmente o conceito de "firma". Este tem nele quase que a dimensão de um artifício retórico para a discussão do sistema de preços, funcionando enquanto um "locus" de seleção das quantidades de inputs e outputs que maximizam o lucro, sendo o custo desta maximização zero (o que obviamente indica que o recurso para a maximização, a capacidade empresarial, não é um bem escasso, não possui indivisibilidades nem economias de escala, e mais, dum ponto de vista de equilíbrio de longo prazo, no steady-state, simplesmente não é necessário). Já um sistema económico que se move na vizinhança do equilíbrio, deslocando-se em sua direção mas nunca o atingindo, já que este é continuamente modificado por uma sucessão de choques exôgenos, precisa da capacidade empresarial como um corretor do desequilíbrio: a função do empresário, o gestor da "firma", o inventor de novas combinações maximizantes de inputs produtivos num ambiente de informação com custos, imperfeita e assimétrica, é continuamente ajustar o sistema na direção do equilíbrio. 36O trabalho de Chandler é uma descrição extraordinária, em termos de História Económica, do processo de constituição da grande corporação multidivisional americana, e consequentemente, da própria noção de uma "economia norte-americana", no último quartel do sec. XIX, permitido pelas revoluções nos transportes e nas comunicações (ferrovias e telégrafos). 37O que lhe permite introduzir a questão da integração vertical e horizontal - dentro e fora das fronteiras nacionais - como tecnologicamente determinada em uma série de circunstâncias diferentes: quando permitisse a apropriação de externalidades positivas entre plantas adjacentes - por exemplo, na conservação de calor de alto-fornos de açiarias adjacentes (situação não aplicável a EMNs, evidentemente) - ; em sectores nos quais há uma grande especificidade, ou iliquidez de activos (ou uma rigidez tecnológica à variação dos níveis de produção), sendo estes encarados como "sunk costs", e a integração numa acção visando a redução do risco de instabilidade das receitas, situação particularmente comum em EMNs do sector primário ou muito dependentes de materias-primas deste originárias; como resposta a uma situação de monopólio na produção de bens intermediários, dada a dificuldade de um comportamento perfeitamente discriminador da parte do monopolista em mercados "externos"; quando da existência de significativos ganhos de "transfer-pricing" ou de conhecimento tecnológico proprietário.

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Vernon (apresentado no final da presente secção), que é tentativamente integrado, de forma complementar, à Teoria da Internalização, revelando a continuidade do interesse de Hymer pela componente tecnologicamente dinâmica nas acções das EMNs.

É curioso ainda se observar que Hymer - apesar da ocasional retórica marxiana - utiliza sempre um referencial de análise solidamente neoclássico, com a manipulação sistemática do instrumental marginalista. A segunda escola teórica por nós apresentada possui diversas denominações, sendo alternativamente conhecida como escola dos custos de transação, dos ativos intangíveis ou da internalização, sendo esta última denominação a que iremos adotar, para evidenciar a continuidade face aos trabalhos de Coase e Hymer, e o desenvolvimento da dimensão de aumento da eficiência alocativa presente na existência das EMNs. De enfoque basicamente microeconômico, a "Escola da Internalização38" baseia suas análises e conclusões essencialmente na existência de custos de transação39 e externalidades40 para as firmas , procurando demonstrar que, em mercados imperfeitos - sejam estas imperfeições naturais ou causadas por uma intervenção governamental indevida - uma firma que internalize atividades econômicas, visando minimizar custos de transação, pode gerar resultados mais eficientes que os do próprio mercado (embora estes sejam, evidentemente, inferiores em termos de eficiência aos que seriam obtidos num mercado perfeitamente competitivo, um tipo de "second best").

38Estas novas correntes foram criticadas por McClain (1983) e Kindleberger (1984) (citados por Dunning, (1989) e por McClintock, (1988)) como não introduzindo quaisquer avanços reais face aos trabalhos posteriores (não-marxistas) à tese de doutoramento de Hymer.Kindleberger, que denomina conjuntamente a "Teoria da Internalização" e a "Teoria Eclética", de que trataremos a seguir, de "Escola de Reading", numa referência a universidade inglesa que abrigou alguns dos principais nomes destas correntes, observa que, em Hymer, no seu já citado trabalho de 1968 ("La Grande Corporation Multinationale:Analyse de Certaines Raisons qui Poussent à L'intégration international des Affaires", Revue Economique, 14(6), pp 949-973, traduzido e publicado como Hymer, S."The Large Multinational Corporations:an Analysis of Some Motives for International Integration of Business.With an Introduction by Mark Casson", in "Multinational Corporations", pp 3-31, Casson, M. (org.), Edward Elgar Publishing Limited, UK, 1990), análises com base em "firmas Coeseanas" em mercados imperfeitos, com referências explícitas a obra seminal de Coase (1937), estavam presentes, o que explica as semelhanças (e, portanto, as influências) com o trabalho de Hymer encontradas em McManus (1972) e Williamson (1975), autores que serviram de base às duas correntes. Estas conclusões são apoiadas por trabalhos posteriores como aquele de Horaguchi, H. & Toyne, B. (1990) e pela própria introdução de Casson à nova tradução inglesa do referido artigo de Hymer. 39Diversos tipos de custos percebidos pela firma como impedindo-a de capturar toda a receita económica passível de ser gerada pelos seus activos;"The...cost...of discovering what the relevant prices are", Coase (1937); "the costs of using the price mechanism", McManus (1990). 40Situação na qual decisões individuais de agentes económicos interdependentes impõem custos (ou benefícios) sobre outros agentes económicos.

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GRÁFICO 3.5 ESQUEMA BASEADO EM HYMER[1976(1960)] SOBRE INTERACÇÂO

ENTRE ESTRUTURA DE MERCADO E INTERNALIZAÇÃO

Decisão de

Internalização

Nº de Firmas naIndústria

Não Concentrada? Concentrada?

Expansão

Horizontal

Expansão HorizontalOportunidades DomésticasReduzidas

Distorções de Preços

Integração p/a frente

Integração p/a trásDiversificação

Domés. Ext. Domés. Ext.Domés. Ext. Mesma Ind. Nova Ind. Nova Ind. Ext.(Interna-

cionalização)

"Feedback" à Decisão de Internalização

baseado em: Buckley(1990)

Um artigo seminal de McManus (McManus, 1972), uma das referências chaves desta corrente, trabalho extraordináriamente claro e preciso na colocação de suas questões, foi inicialmente apresentado como o primeiro grande referêncial inicial do tema, numa mistura de desconhecimento e de resistência as posições ideológicas posteriormente assumidas por Hymer. Em McManus, é claramente colocado que a essência do fenômeno da internacionalização é o controle e a coordenação dos ativos de diferentes agentes em diferentes países para maximizar a riqueza por eles gerada, seja esta coordenação via IDE, seja via outro tipo de mecanismo, gerando uma situação funcionalmente análoga a da coordenação de ativos entre regiões de um mesmo país (com níveis de riscos e fatores de instabilidade diferentes, é claro: risco cambial, diferentes sistemas jurídicos, etc): o mecanismo mais geral de controle e coordenação numa economia de mercado é, obviamente, o sistema de preços, assumido-se que este opera sem custos para os agentes independentes, e que estes reajem instantaneamente as informações incorporadas nos preços relativos, o que viabiliza uma alocação eficiente e descentralizada dos seus ativos no processo produtivo.

30

Assumindo-se ainda não haver quaisquer interdependências entre os agentes, não existem, obviamente, ganhos oriundos de um processo de centralização produtiva, e, mesmo que estas interdependências existam, se o mecanismo de preços operar sem custos para os agentes, permitindo que estes possam quantificar os ganhos e perdas marginais de suas ações sobre os demais, ele ainda é o mecanismo alocativo mais eficaz41. Portanto, quando os custos da manutenção de um contrato ou da utilização do mecanismo de preços são muito elevados, ainda outros mecanismos devem ser desenvolvidos. A firma é o principal deles42. Entretanto, em situações nas quais produtores interdependentes não sejam capazes de articular suas decisões alocativas descentralizadas com o processo de maximização conjunta da riqueza (como numa situação de inexistência de direitos de propriedade claros sobre os ativos, criando a possibilidade de um agente maximizar sua utilidade individual as custas daquela dos demais, num "comportamento oportunista"), e quando não seja possível de se corrigir estas situações, repondo um ambiente concorrencial, devem ser encontrados mecanismos alternativos ao mercado, ou que funcionem de forma complementar. Um dos mecanismos possíveis é o mero estabelecimento de contratos legais entre os agentes, que regulam e limitam as possibilidades de que um deles ganhe as custas dos demais. Os custos desta modalidade de regulação são os custos da manutenção e respeito aos termos acordados ("enforcement costs") e os custos da mudança destes: como os contratos dentro de seu período de vigência só podem ser alterados por consentimento comum dos contratantes (o que, assume-se, só ocorrerá se todos os envolvidos disto se beneficiarem), os custos de mudanças alocativas nesta modalidade de regulação são elevados e as mudanças demoradas, não havendo a flexibilidade dada pelos ajustes contínuos e instantâneos do mecanismo de preços. Os mecanismos contratuais e de preços são eliminados dos processos alocativos, que passam a se dar no interior da estrutura da firma43; a alocação passa a se dar por decisão administrativa. Os ganhos distos derivados são a redução das perdas causadas pelos efeitos das ações individuais dos agentes sobre os demais, ou seja, da internalização das externalidades; os custos são as ineficiências resultantes da eliminação das restrições pecuniárias não discricionais sobre o comportamento dos

41As condições de maximização da riqueza para um grupo de agentes interdependentes, em termos de equivalências marginais, são as seguintes: os racio de produtividade marginal dos factores devem ser iguais entre os agentes para factores equivalentes; as taxas de transformação dos bens devem ser iguais;os racios de produtividade marginal dos factores de produção que sejam produtos de agentes do grupo devem equivaler ao custo de oportinidade destes produtos face a outras produções possíveis. 42Evidentemente, mesmo numa alocação via mercado se encorrem em custos de gestão na produção , e consequentemente na aquisição, dos bens. A questão, na realidade, seria existência de economias de escala de cunho gerencial. 43Caso tal supressão não se desse, agentes internos à estrutura da firma continuariam a procurar maximizar a sua utilidade individual, como fariam em "mercados externos": a lógica das unidades ou das filiais não seria a mesma da matriz. Para que tal não ocorra, as restrições pecuniárias de caráter não-discricionário sob as quais a maximização ocorre devem ser modificadas, viabilizando a alocação administrativa.

31

agentes e os gastos inerentes a manutenção da estrutura administrativa ("Governance Costs"44)45. Em princípio distinguimos dois tipos de imperfeições de mercado passiveis de internalização pelas EMNs: - primeiro, a existência de imperfeições estruturais nos mercados que as empresas internalizam com propósitos de extracção de rendimento ("rent-seeking"), em geral causadas pela intervenção governamental; um exemplo disto seriam transferências visando aproveitar as diferentes estruturas tarifárias entre nações46, as regulações e controles cambiais, e as restrições aos movimentos do IDE, ou seja, o problema do"transfer pricing". - segundo, imperfeições ao nivel dos custos de transações ligadas, em grande parte, a informação imperfeita ou assimétrica, a existência de activos intangíveis47, e aos problemas com o estabelecimento correto de preços para bens públicos48. Neste último caso, a firma "internaliza este mercado" visando minimizar os custos de transação impostos pelo mercado, ou para definir "preços óptimos" para dado nível de oferta do bem. Um bom exemplo deste tipo de imperfeição são as característias de "bem público" da tecnologia49. No caso de uma a EMN esta é levada ao EDI , ao invés do licenciamento da tecnologia, a fim de poder explorar completamente seus direitos de

44Definidos enquanto aqueles custos inerentes à utilização da estrutura da firma e aqueles derivados da perda de eficiência pela não-utilização do mercado, por oposição a Custos de Transação, que são os derivados da utilização do mercado. 45A derivação das condições de equilíbrio para a alocação de recursos dentro da firma, qual seja, a definição e quantificação de um "nível mínimo de ineficiência", sujeito à restrição dos custos administrativos, que maximize o valor dos activos afectados pela firma, é um trabalho ainda hoje não realizado a contento. Ver, entre outros, McManus (1972), Demsetz (1988). 46Ou mesmo entre os estados em nações federais com elevado grau de autonomia fiscal estadual, como os Estados Unidos da América ou a República Federativa do Brasil, sendo que, neste caso, obviamente não se trata de IDE. 47Ou activos não-corpóreos, como a tecnologia, a identificação de marca, a experência acumulada pelos funcionários de determinada empresa, etc. 48Define-se um bem público como aquele cujo consumo por dado indivíduo não impede o seu consumo pelos demais, ao contrário do que se dá com os bens privados, como, por exemplo, a defesa nacional (entretanto, bens públicos em dadas circunstâncias podem se comportar como bens privados, devido ao seu congestionamento ou sobre-uso. Tal se dá por que as decisões individuais de consumo impõe um custo ao demais - uma externalidade negativa - a partir de determinado ponto, o que reflete uma sistema de estabelecimento de preços inadequado para estes bens públicos, numa situação de informação imperfeita gerando o com o "problema do carona", ou free-riding). 49Dado o seu caráter de bem público e as consequentes deficiências na definição de um preço adequado (a situação de informação assimétrica potencializa um comportamento oportunista do tipo free-riding), e na ausência de direitos claros de propriedade, o mercado irá fornece-lá numa quantidade inferior à socialmente óptima, já que a firma, não podendo absorver as receitas geradas por este bem, não arcará com os custos relativos à sua produção, levando a EMN (ou qualquer tipo de empresa, na realidade) buscar a internalizar este tipo específico de activo intangível através da criação de mercados internos, visando assim gerar os retornos privados que funcionem como um incentivo à sua "produção" num nível óptimo (tal também pode se dar via a criação de direitos de patente, uma situação na qual a definição de direitos de propriedade claros pelas autoridades governamentais sobre o activo resolve seu problema de "pricing").

32

propriedade (ou seus direitos de patente, caso estes existam) sobre este activo intangível, internalizando este mercado para além das fronteiras nacionais. Resumindo, a Escola da Internalização é essencialmente um modelo de equilíbrio parcial com maximização do bem-estar privado (e de potencial aumento do bem-estar agregado) paralelo a um processo de aumento da eficiência alocativa , extendido ao contexto das EMNs. Uma terceira corrente é a denominada "Escola Eclética", que tem em John Dunning sua figura principal, e que é tão estreitamente relacionada com a escola anterior que Kindleberger denomina-as conjuntamente de "Escola de Reading" (como já foi observado). Seu principal diferencial - e vantagem - face a corrente anterior reside numa tentativa explicita de consolidação da literatura então existente sobre o assunto, utilizando conjuntamente os referências da teoria da organização industrial - via o conceito de FSA (nomenclatura anglo-saxônica para "Firm Specific Advantages", ou seja, as vantagens específicas à firma), ou "vantagens da propriedade", oriundas da gestão conjunta de activos específicos a este empresa, face a outras50, via a utilização do conceito de imperfeição de mercados - o crescimento da firma pela internalização de mercados até o ponto em que a integral dos benefícios da internalização se iguala a integral dos custos associados a essa internalização - , e a teoria locacional. Respectivamente, teriam de ser conjuntamente satisfeitas as seguintes condições para que uma EMN realizasse um IDE: - possuir FSAs, ou vantagens líquidas de propriedade no suprimento de dado produto para dada região face a outras firmas: tal dependeria largamente da existência de activos específicos (tecnologias produtivas ou de gestão, "cultura" específica da empresa) ou de dotações nacionais de factores passíveis de serem internalizadas por empresas/sectores51 (Ver Tabela 3.I, abaixo e na página seguinte); - possuindo pelo menos uma FSA passível de ser aproveitada, deve haver vantagens em sua internalização, como a afirmação do direito de propriedade, a redução da incerteza ou a superação de restrições governamentais, caso contrário a escolha da empresa seria pelo o comércio directo ou pelo licenciamento do produto (Ver Tabela 3.II na próxima página); - com as condições acima satisfeitas, haver vantagens locacionais ou CSA

("Country Specific Advantages", ou vantagens específicas do país), na instalação da filial da EMN em dada região/país, face as alternativas da produção doméstica,

50O que, se interpretamos "internalização" dinâmica e orgânicamente, seria meramente uma dupla contagem. O ato de se internalizar um mercado visando aumentar os lucros de uma empresa é em sí um movimento estratégico, já que confere uma vantagem competitiva à empresa que internaliza este mercado em detrimento das demais (Ver Buckley,P.,1988). 51O que abre inclusive a possibilidade de uma integração de um paradigma de equilíbrio geral como o "Paradigma de Hecksher-Ohlin", de especialização nos fluxos comerciais determinada pelas dotações nacionais de fatores, num paradigma de equilíbrio parcial como este (Ver Dunning, J.; 1988).

33

do fornecimento via exportações, e da produção externa em outros locais (Ver Tabela 3.III abaixo).

- TABELA 3.I

VANTAGENS ESPECÍFICAS À FIRMA

1.Diretos de Propriedade sobre Activos Intangíveis

-inovação do produto, gestão do produto, capacidade inovativa. -sistemas organizacionais e mercadológicos. -conhecimento não-codificável; "banco" de experiência de capital humano, mercadológico, financeiro, de "know-how". -habilidade em buscar, adquirir, utilizar e gerir informação. -capacidade de monitorar a qualidade dos produtos e/ou inputs produtivos. -marcas.

2.Vantagens de Gestão Conjunta

( a )Aquelas Possuidas por Incumbentes sobre Entrantes: -devidas ao tamanho ou posição (economias de gama ou de especialização); poder de monopólio, melhor utilização de recursos. -acesso preferencial a inputs. -acesso favorável a mercados. -acesso favorável a recursos financeiros internos. -economias de oferta conjunta derivadas de aspectos produtivos, mercadológicos, financeiros, de stocks, etc. ( b )As Diretamente Derivadas da Transnacionalidade . -potencialização das vantagens acima pela maior dimensão das oportunidades. -acesso privilegiado aos mercados internacionais de informação, mão-de-obra, finanças. -habilidade utilizar a diversidade geográfica da dotação de factores. -habilidade utilizar a heterogeneidade para a redução de risco. fonte:Dunning, citado por UNCTC ( 1988 ).

TABELA 3.II

VANTAGENS DE INTERNALIZAÇÃO

-aversão ao custos de busca e de negoçiação. -aversão aos custos de afirmação dos direitos de propriedade. -incerteza enquanto consumidor. -impossibilidade de discriminação de preços. -monitoração da qualidade dos bens finais ou intermediários. -compensação da inexistência de mercados futuros. -evitar ou explorar intervenção governamental. -controle dos fornecedores ou das condições de venda dos inputs. -controle da rede de distribuição. -praticas competitivas do tipo subsídiação cruzada, preços predatórios, transfer pricing, etc. fonte:Dunning, citado por UNCTC ( 1988 ).

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TABELA 3.III VANTAGENS LOCACIONAIS

-distribuição espacial de recursos (naturais e artificiais) e de mercados. -qualidade, preço e produtividade dos inputs. -custos de transporte e de comunicação. -incentivos/impedimentos ao investimento. -barreiras artificiais ao comércio. -infra-estruturas. -diferênças culturais. -economias de centralização de coleta e interpretação de informação. -economias de centralização de P & D, produção e comercialização. -tipo da envolvente institucional. fonte:Dunning, citado por UNCTC ( 1988 ).

Ainda uma quarta corrente, identificada como a "Escola Japonesa" tenta incluir na análise micro e de estrutura de mercado das escolas anteriores variáveis macro, incluindo políticas governamentais (isto nas suas versões mais recentes: originalmente, sua abordagem é totalmente em termos de equilíbrio geral e mercados perfeitos). Tendo por base a experiência japonesa do pós-guerra (e, por extensão, de outras nações da região "Ásia-Pacífico", como a Coréia), a versão mais recente desta escola argumenta que o mercado, de per si, é incapaz de lidar com a crescente velocidade das mudanças geradas pela evolução tecnológica. O mercado seria um instrumental capaz de garantir a eficiência na afectação, na forma de uma difusão tecnológica satisfatória, mas seria menos adequado na promoção da "eficiência adaptativa"52 inerentemente necessária ao desenvolvimento continuado das inovações53. A nível normativo, a "Escola Japonesa" propõe a intervenção governamental para maximizar a "eficiência adaptativa". Esta substituição parcial do mercado pelas agências governamentais seria obtida pela socialização parcial dos riscos inerentes à inovação (facilitando a realocação de recursos dos sectores menos competitivos e incentivando aqueles com vantagens potenciais sobre o resto do mundo), combinada com uma política rigorosa de competitividade - intrasectorial e com o resto do mundo54. Seu fundador e exponte maior, Kyoshi Kojima, num artigo seminal em 1973, busca estruturar uma explicação macro, de equilíbrio geral, para a realização do IDE, renovada e sofisticada em trabalhos posteriores em 75, 78 e 82 (Ver Kojima, K.;

52 Definida enquanto a minimização da integral dos custos e perdas resultantes do processo de reorganização dos factores produtivos existentes em novas configurações mais eficazes. 53O mercado seria incapaz de alcancar uma verdadeira "eficiência adaptativa" devido a divergência entre benefícios sociais e privados derivada do uso de nova tecnologia e dos custos sociais e económicos resultantes da mudança dos padrões de troca. 54Este processo, ao menos em sua fase inicial (o que, no caso do Japão, significaria até a metade dos anos 70), implicaria na geração de fluxos de IDE com um forte enviesamento para o comécio, com as empresas gerais de "trading" japonesas, as famosas Soga Shoshas, agindo como intermediárias numa rede de variádas formas de IDE ( joint-ventures, licenciamentos, emprêstimos diretos).

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1982), e fundamentalmente baseada no "Paradigma H-O": os fluxos de IDE seriam realizados pelas empresas/sectores menos competivos das economias nacionais, face as suas dotações específicas de factores, para economias com dotações mais adequadas a estes. Além disso, a confiança no poder alocativo do mercado e a recusa a suas eventuais imperfeições é total. Tal referêncial-base, na realidade, para alêm de uma série de deficiências teóricas e empíricas gravíssimas (o IDE feito por sectores marginais, contra toda evidência em contrário, a movimentação internacional de factores produtivos sem afetar os preços relativos nacionais no final do processo - ou seja, a transferência de bens públicos indústria-específicos, mas a recusa ao mesmo tempo de aceitar-se o componente indústria-específico - ver a crítica demolidora de Peter Buckley in Buckley, P., 1990b) tem um sentido ideológico claro: a afirmação da superioridade de um IDE "tipicamente japonês" versus um IDE "tipicamente americano" (sic), ao qual o anterior seria superior e mais adequado para as nações periféricas, cabendo ao Japão o papel de "tutor" (é a expressão exata, e Kojima recusa abertamente a sugestão de outras denominações menos comprometedoras) no desenvolvimento destas, ou seja, a visão do Japão como "ganso batedor" num modelo de desenvolvimento "asiático" do tipo "formação em vôo de gansos" (uma noção totalmente obsoletizada pela dispersão dos centros de desenvolvimento asiáticos, especialmente a partir da grande expansão chinesa, e pela progressiva conformação do IDE japonês - e da sociedade japonesa - a um padrão mais "tradicional"). Uma outra escola, denominada "Escola Institucionalista", procura ir ainda mais longe, incorporando na análise, além dos factores económicos, uma metodologia de cunho histórico e cultural, analisando os mecanismos de regulação e integração social e suas projeções externas55(McClintock, B.,1988). Finalmente, uma última escola, não ligada as demais, que, dada sua importância, apresentaremos com mais vagar: A "Teoria do Ciclo do Produto" de Raymond Vernon. Tal escola - desenvolvida a partir de um artigo de Vernon publicado em 196656, propunha um modelo para o IDE, modelo este modernizado e ampliado em outros trabalhos seus em 71, 77 e 197957- começa pela proposição de que novos produtos e processos são desenvolvidos para e face a condições específicas prevalecentes em seus mercados iniciais, sendo suas condições de produção inicialmente conhecimento-intensivas, sujeitas a modificações frequentes e a uma escala de produção reduzida (o que implica numa reduzida intensidade capitalística), e sendo a sua procura inicial reduzida e preço-inelástica.

55Tal tipo de análise, inerentemente interdisciplinar, implica numa tal perspectiva holística do real que efectivamente mereceria a denominação de uma "agregação heróica". Notemos, entretanto, o forte apoio dado por Dunning (1989b) a uma linha de estudos de carácter mais interdisciplinar. 56Vernon, R."International Trade and International Investment in The Product Cycle ", Quarterly Journal of Economics, Maio, 1966. 57Vernon,R." The Product Cycle Hypothesis in a New International Environment", Oxford Bulletin of Economics and Statistics, Novembro , 1979, in "Multinational Corporations", Casson, M.(org.), Edward Elgar Publishing Limited, UK, 1990.

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A medida que o tempo passa, o mercado se expande (tanto interna quanto externamente), sendo inicialmente abastecido via exportações. A tecnologia de produção do bem se estabiliza. Mais tarde, com o bem agora já padronizado, começa a produção externa, inicialmente por EMNs oriundas no pais original da inovação. Os processos produtivos estão agora maduros, as escalas de produção são já elevadas e os processos produtivos capital-intensivos. Neste estágio, a produção externa é competitiva face a realizada no país de invenção do produto e os fluxos comerciais se invertem (Ver Gráfico 3.6 abaixo).

GRÁFICO 3.6

FLUXOS COMERCIAIS AO LONGO DO CICLO DO PRODUTO ( BASEADO EM VERNON )

Estados UnidosCanadá, Europae Japão.. Resto do Mundo

t0 t1 t2 t30 t4

Exp. Líquidas

Imp. Líquidas

Começa oComércio.

EUA se torna imp.líquido.

Canadá, Japão eEuropa se tornamexp. líquidos.

EUA começaa ter imp.>exp.

Resto do Mundose torna exp. líquido.

Tempo

baseado em : Rugman et alli ( 1985 ).

A teoria do Ciclo do Produto foi capaz de produzir uma explicação muito sólida, não apenas dos padrões de comércio, mas também dos padrões de IDE das empresas norte-americanas no imediato pós-guerra. Mas a medida que os ciclos tecnológicos dos produtos se aceleraram, e passaram a se originar com mais frequência fora dos EUA, e que a fase de inovação era imediatamente seguida da produção externa do bem em nações mais competitivas em termos de custos, ela perdeu parte de sua funcionalidade. No aspecto do modelo mais ligado aos fluxos de IDE , temos que, no "estágio um", quando o produto é inicialmente desenvolvido, é necessário um grau de contacto muito grande entre os sectores de pesquisa, produção e marketing da firma inovadora, o que implica a produção no país natal da empresa. No "estágio dois", quando os mercados externos já desenvolveram características semelhantes as do país de origem do produto, em termos de procura, começa a exportação. Progressivamente, e levando-se em consideração que a EMN possui vantagens de custo sobre as firmas locais (independentemente da tecnologia produtiva ser proprietária ou não) - na medida em que esta já amortizou os custos de desenvolvimento do produto e esta num ponto diferente, mais favorável, da curva de

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custos de aprendizagem do que as firmas locais, quando estas começarem a produzir - havendo no exterior custos de produção inferiores aos do país natal, a firma começa a produção externa. No "estágio três", com o produto estandartizado e a fatia de mercado da EMN em declínio face as firmas domésticas, havendo as referidas vantagens de custo, a produção doméstica no próprio país natal cessa e a procura então é totalmente abastecida por importações (Ver Gráfico 3.7 abaixo).

GRÁFICO 3.7

PRODUTO

PRODUTO

NOVO

PRODUTO

MADURO

PRODUTO

PADRONIZADO

0 TEMPO

PRODUÇÃODOMÉSTICA

PRODUÇAO EXTERNA

-via filiais

EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO

ESTÁGIO UM ESTÁGIO DOIS ESTÁGIO TRÊS

NOVO MODELO DE VERNON(1979)

INOVAÇÃO OLIGOPÓLIO

MADURO

OLIGOPÓLIO

DECADENTE

ESTÁGIO UM ESTÁGIO DOIS ESTÁGIO TRÊS

-via licenciamento

baseado em: Rugman et alli(1985).

A situação actual, com a redução da influência das EMNs norte-americanas, substituida pela interação de EMNs de vários países, e mais a convergência das diversas preferências nacionais (e mesmo a nível regional dentro de países) dos consumidores, paralela ao processo de convergência dos níveis de vida entre as nações desenvolvidas pós IIª Guerra, limita a geração de inovações causadas por específicidades dos mercados nacionais, o que torna o modelo menos aplicável. Entretanto, a dimensão tecnologicamente dinâmica por ele introduzida na análise dos processos de multinacionalização, com o número, o tipo e a acção dos agentes variando continuamente ao longo do processo, é ainda extremamente valiosa, permitindo, inclusive, diversos tipos de modelização da forma de interação por parte da empresa com o mercado internacional no tempo, que apresentaremos brevemente

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na próxima secção, e havendo inclusive uma adaptação deste referêncial para um "Ciclo de Desenvolvimento do Investimento" externo por Dunning, que é posteriormente extendida para as EMNs do 3º mundo (Ver Dunning, J., 1981), na qual as economias - mais especificamente, algumas empresas destas economias - chegam a um estágio de desenvolvimento no qual a realização do IDE é um processo "natural". 3-3 - A ESCOLHA DA FORMA DE ENTRADA DA FIRMA NO MERCADO EXTERNO. Os modelos de escolha da forma de entrada procuram estabelecer o que levará uma EMN a escolher entre três formas possíveis de se relacionar com o meio económico exterior à nação: a exportação, o IDE e o licenciamento da produção. Na sua forma inicial e mais simples, foram desenvolvidos por Hirsch, num artigo de 1976. Nestes, toda firma é uma monopolista: toda EMN possui alguma FSA que procurará preservar de seus competidores, para poder dela extrair todo o rendimento económico possível (embora as diversas escolhas de forma de entrada impliquem em custos adicionais que tendem a dissipar estes retornos em excesso, em conjunto com os próprios custos adicionais inerentes à organização dos mercados internos58 pelas firmas: estas são provavelmente algumas das razões por não se verificar de forma consistente lucros em excesso nas EMNs nos estudos realizados. Além disso, o verdadeiro ambiente competitivo das EMNs é o de Competição Monopolística, portanto as acções das EMNs rivais também contribuem para eliminar os lucros excessivos. Ver Rugman, 1985). A notação utilizada é a seguinte: -C = custos normais de produção do bem no pais de origem; -C*= custos normais de produção do bem num outro país; -M*= custos de marketing inerentes à exportação (transporte, seguros, tarifas,etc.); -A*= custos adicionais de produção do bem no outro país pela EMN (custos de informação, políticos,culturais, ambientais, etc.); -D*= custos de dissipação da(s) vantagem(ns) específica(s) da EMN assumidos quando da opção pelo licenciamento. Uma vez definidas estas variáveis, tem-se que a opção é: -Exportação, se C + M* < C* + A* e C+ M* < C* + D*; -IDE, se C* + A* < C + M* e C* + A* < C* + D*; -Licenciamento, se C* + D* < C + M* e C* + D* < C* + A*.

58"The visible hand is not a free lunch.", Rugman (1985), pp 136.

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Portante, a EMN escolhera a forma de entrada que, ceteris paribus, minimize os custos a ela associados. Como se assume informação perfeita a respeito de todas as variáveis, esta é uma escolha óptima da parte dos agentes59. Um outro método, diretamente deste derivado, é o do NPV, "Net Present Value" (Valor Líquido Presente, VLP), desenvolvido por Giddy e Rugman (Ver Rugman et alli, 1980)60.O objetivo da firma monopolista não é mais minimizar seus custos, mas sim maximizar a receita líquida atualizada (sendo as receitas por suposição iguais no pais natal e no estrangeiro). A notação utilizada é a seguinte, todas as variáveis assumidas para um dado período t: -R = receitas totais da venda do bem que utiliza uma FSA como input intermediário; -C = custos totais de produção do bem no pais de origem; -C*= custos totais de produção do bem num outro país; -M*= custos inerentes à exportação (transporte, seguros, tarifas,etc.); -A*= custos adicionais de produção e distribuição do bem no outro país pela EMN (custos de informação, políticos,culturais, ambientais, etc.); -D*= custos de dissipação da(s) vantagem(ns) específica(s) da EMNs assumidos quando da opção pelo licenciamento; -i = taxa de atualização assumida. Assume-se, por hipótese que M* < A* < D* (ou seja, a exportação é a alternativa menos custosa das três, o licenciamento a mais), e que R é a mesma em qualquer um dos três casos. As três opções assumidas são as mesmas - exportação, IDE e licenciamento. Como resultado têm-se que:

-eVLP = ( Rt - Ct - Mt * / ( 1+ i )t ), com Mt * = a + btc

t te

t

=� � ,

-fVLP = ( Rt - Ct * - At * / ( 1+ i )t ), com At* = e + ft g

t te

t

=� ,

-lVLP = ( Rt - Ct * - Dt * / ( 1+ i )t ), com Dt * = h + gt p

t te

t

=� ,

com a < e < h e c < g < p. Por sua vez, as escolhas resultantes são: -Exportação, se VLPe > max (VLPf,VLPl); -IDE, se VLPf > max (VLPe,VLPl); 59O modelo pode ser ligeiramente complicado se assumimos que a escolha não visa abastecer os mercados externos, mas sim o doméstico: isto não muda suas conclusões, no entanto, apenas as escolhas, que passam a ser entre produção doméstica, montagem "off-shore" e o licenciamento. 60Citado por Rugman (1985).

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-Licenciamento, seVLPl > max (VLPf,VLPe) . Assumindo uma estratégia dinâmica óptima de maximização da receita / minimização da despeza por parte da EMN, o padrão temporal de internacionalização começaria pelas exportações, passaria pelo IDE propriamente dito e se encerraria com acordos de licenciamento (Ver Gráfico 3.8 na página seguinte).

GRÁFICO 3.8

PADRÃO TEMPORAL DOS MODOS DE ENTRADA

Licenciamento

EDI

Exportação

TEMPOO

L

U

C

R

OS

A B

S1S2

baseado em: Rugman et alli(1985).

Para a EMN com uma única FSA, existe uma área de lucros em excesso medida pelo retângulo VP*ZY (a área OVYQ* são custos normais de produção). Os diferentes modelos de entrada implicam em diversos graus de redução deste lucro excessivo, sejam estes os custos de exportação (VXX1Y), os custos do IDE (VFF1Y) ou do licenciamento (VLL1Y)61. Neste último caso, o lucro líquido da EMN é P*ZL1L (Ver Gráfico 3.9, abaixo). Ainda outras modelizações da decisão de entrada, consideravelmente mais complexas, são possíveis, levando-se em conta formas não-típicas de IDE e as respostas estratégicas das empresas a ações dos governos nacionais. Por exemplo, em Tang & Chwo-Ming (1990), a escolha se dá entre IDE (exportação é considerada como um caso especial de IDE, a este equivalente quando os custos de transporte são zero), licenciamento exclusivo (LE), licenciamento múltiplo (LM), joint-venture (JV), e uma combinação joint-venture e licenciamento (VL).

61O licenciado estaria disposto a pagar um custo pela licença até o ponto em os custo desta fossem equivalentes aos necessários para se gerar uma FSA igual a da EMN. Se o mercado não for grande o suficiente para justificar uma tal escala mínima de atividade, tal custo da licença pode atingir todo o valor do lucro do monopolista.

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GRÁFICO 3.9 MODOS DE ENTRADA E LUCRO TOTAL

MC

ARAC

MR

0 QQ*

V Y

X1X

F F1

L1L

P* Z

baseado em: Rugman et alli(1985).

Adotando um ponto de vista de maximização da receita líquida62, tem-se que: πIDE = πLM > πJVL > πJV > πLE , com π significando os lucros provenientes do modo de entrada escolhido. A receita proveniente do LM equivale a do IDE quando n - número de licenciados - tende ao infinito (num equilíbrio tipo Cournot; num equilíbrio tipo Bertrand n apenas precisa ser igual a 2), simplesmente porque a EMN cobra como taxa de royalty toda a margem de lucro do licenciado. Todas as demais escolhas implicam em rent-sharing entre a matriz e o parceiro ou licenciado local. Entretanto, a acção governamental, buscando a maximização do bem-estar social nacional63, naturalmente prefere o estabelecimento de joint-ventures, levando 62Como foi observado acima, se não se adota como pressuposto a igualdade da receita em todas as modalidades de entrada - o que não é o caso no presente modelo - os resultados comparativos do modo óptimo de entrada são diferentes, dependendo de se assumir uma estratégia de maximização da receita ou de minimização dos custos por parte da empresa. 63Definida neste modelo enquanto o somatório dos excedentes do consumidor e do produtor locais,

sendo o excedente do consumidor �0Q* (P(Q) -P(Q*))dQ, com P como preço do bem, Q como nível de produção e Q* como o produto de equilíbrio para cada uma das diferentes estratégias de entrada, e sendo o excedente do produtor zero para IDE e LM, e (1-α)(c+f)1-θ 1/θ -1(θ/θ-1)-θ, para as demais estratégia de entrada, onde α é percentagem de capital detida pela matriz na filial/licenciada, c é custo de produção local, f é o custo dos royalties, θ é a elaticidade-preço da procura. A relação de bem estar social nacional dai derivada é a seguinte:

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ao estabelecimento de limites legais à participação estrangeira em empresas nacionais ou tetos às remessas de royalties, o que pode implicar na mudança da estratégia óptima, como uma resposta estratégica da empresa à acção governamental. 3.4 - O REFERÊNCIAL TEÓRICO BASE :"A TEORIA DOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS". Tendo sido feita a apresentação dos diversos referênciais teóricos, explicitaremos aqui nosso referencial básico de trabalho: este será a síntese estabelecida entre as correntes derivadas das escolas hymerianas da organização industrial e a escola da internalização - a "Escola Eclética" de Dunning. A junção estabelecida entre estes elementos é também conhecida como "Core Theory of International Business"64. A teoria aplicada as EMNs possui dois axiomas básicos: -i)uma firma irá escolher a localização que implique menores custos para a atividade por ela exercida ( assumindo-se mais uma vez a igualdade das receitas entre o país natal e o estrangeiro); -ii) uma firma cresce internalizando mercados até o ponto no qual os custos de qualquer internalização adicional superam os benefícios dela derivados65. Estas duas proposições, claro, não são independentes entre sí, na medida em que a internalização dos mercados interage com a escolha locacional que minimiza os custos66. A partir destas pressuposições iniciais a teoria é especificada pela imposição de certas restrições67. Este processo de restrição da teoria serve para viabilizar a especificação de pressuposições empiricamente testáveis, ou seja, verificar a

WJV > WIDE = WLM > WJVL > WLE 64Buckley, Peter J., 1990. 65De tal declaração geral de princípios se deduz o famoso "caráter tautológico" da Teoria da Internalização, claramente expresso na famosa citação: "it's a concept in search of a theory" (Buckley,p.;1983), normalmente citada fora de contexto. Concordamos com o próprio Buckley, que, num reparo à sua própria observação , diz que "...is not to deny its power" (Buckley, P.;1988). Tal "acusação" já havia sido também feita ao trabalho seminal de Coase (Coase, 1988c). 66Por exemplo, a internalização permite a EMNs uma manipulação de preços de transferência internacionais que introduz um enviesamento locacional em favor de regiões fiscalmente desagravadas. 67A generalidade da afirmação "localização de menores custos" é eliminada pelo exame de actividades económicas específicas, com seus requerimentos relativos de bens comercializáveis e não-comercializáveis, custos de transporte e de comunicação, localização de mercados finais, as interacções estratégicas com competidores, reais e potenciais, e com o governo. O mesmo se faz com a declaração geral a respeito da internalização de mercados, pela definição cuidadosa de custos e benefícios em mercados , em momentos temporais e espaciais específicos, e pela caracterização dos diferentes estágios e atividades do processo produtivo. Tal é o procedimento é seguido, entre outros, pelo indefectível Michael Porter, nos seus esquemas do "diamante nacional" e da "cadeia de valor" (Porter, 1980).

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sustentabilidade empírica da teoria em casos específicos. Esta seria refutada caso se verificasse: - um padrão aleatório de atividade das EMNs; - um padrão de IDE contrário ao teóricamente previsto; - variáveis explicativas de caráter macro, e não micro; - procedimentos de aversão ao risco e diversificação perfeita nos fluxos de IDE; - um padrão de forma de entrada no mercado contrário ao teóricamente previsto. Como não se verificaram nenhuma destas circunstâncias nos testes já realizados (e não sendo aceita uma contra-prova baseada em outliers, como as EMNs "atípicas"), o veredicto a respeito do nosso referêncial teórico deve ser, consequentemente, "not disproven" 68.

68De acordo com Buckley (1988).

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4 MULTINACIONAIS ATÍPICAS E A MULTINACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS DE PAÍSES PERIFÉRICOS. 4.1- O QUE É UMA MULTINACIONAL ATÍPICA? O conceito de "Multinacionais Atípicas ou Não-Convencionais" é notavelmente desprovido de qualquer consistência ou significado teórico real. Ele foi estabelecido quase que exclusivamente por oposição ao padrão tradicional de uma EMN: grandes empresas oligopolistas em sub-sectores concentrados dos sectores primário e secundário, e cujas matrizes estivessem situadas em paises desenvolvidos. Consequentemente, o conceito é um verdadeiro smorgasbord que inclui desde pequenas empresas que são EMNs, as "General Trading Companies", especialmente japonesas (denominadas de Sogo Shoshas) e coreanas , as EMNs do sector serviços (as que registraram o maior crescimento proporcional na década de 80), EMNs que são empresa públicas, e, finalmente, multinacionais que tem suas matrizes em países do 3º mundo - havendo overlappings claros entre estas categorias. 4.1.1: PMEs QUE SÃO EMNs. Começemos pelas pequenas empresas que são EMNs. A posse de uma ou mais FSA passível de ser internalizada, sejam estas capacidades de gestão, tecnológicas ou de marketing específicas, que viabilizem estratégias específicas para determinados nichos de mercado, (com um elevado grau de agilidade e flexibilidade da parte da PME na implantação de seus know-how e know-why, que teriam de ser facilmente transferíveis, de reduzido componente tecnológico, e que não implicassem em grandes imobilizações de capital, seja este físico ou humano), seria a justificativa mais simples de sua existência69.

69No universo de EMNs brasileiras instaladas em Portugal que são PMEs há exemplos significativos

disto, e que são também overlappings de categorias (PMEs que são NEMNs): primeiro, a cadeia de perfumaria "O Boticário". Partindo de um pequeno laboratório em Curitiba, a capital do estado do Paraná, o sucesso de sua linha de produtos - feitos com ingredientes naturais -, mais o apelo do exótico presente em suas fragrâncias não-usuais, aliado aos reduzidos custos de implantação de filiais, a partir dos anos 70, levou a instalação de uma rede de lojas pos sistema de franchising que cobre, fora do território da República Federativa, Buenos Aires, Lisboa, Miami e Nova York (locais de grande afluência de turistas brasileiros ou nos quais existem consideráveis comunidades de expatriados brasileiros); segundo, a rede de docerias "Amor aos Pedaços", originária de uma doçeria fundada na década de 80 por um grupo de amigas em São Paulo, capital do estado de São Paulo. Procurando se aproveitar do seu know-how na produção de doces típicos brasileiros (e não tão típicos, mas modificados para atender ao gosto por sabores marcados tão característico do paladar brasileiro) e dos reduzidos custos de implantação (embora a monitoração da qualidade do produto se revele problemática algumas vezês), a rede se expande externamente com um padrão similar a de"O Boticário", procurando atingir o mesmo público-alvo.

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Kumar & Steinmann (Kumar & Steinmann, 1989) em seu estudo sobre as PMEs/EMNs alemãs salientam sua flexibilidade organizacional (apresentada como uma característica positiva do ponto de vista institucional e de estratégias de crescimento dos LDCs) e suas deficiênciencias gerências e tecnológicas, que colocariam limites as suas possibilidades de internacionalização, enquanto PMEs. 4.1.2: AS GENERAL TRADING COMPANIES. As "General Trading Companies" apresentam um caso um pouco mais complicado. No sua forma mais paradigmática, a Sogo Shoshas japonesas70, surgidas no último quartel do século XIX, as "tradings" forneciam uma expertise a respeito dos mercados externos que as firmas nacionais simplesmente não dispunham (ao menos num primeiro momento), e essenciais a um processo de desenvolvimento económico export-led, fornecendo redes de distribuição e capitais para a expansão externa em articulação com os zaibatsus (conglomerados financeiros) e com as holdings industriais, e mesmo assumindo o papel de sócios das EMN em suas primeiras implantações no exterior (ou mesmo implantando unidades industriais nas quais elas fossem as sócias maioritárias: uma das primeiras fábricas téxteis japonesas na China foi uma joint-venture entre a Mitsui & Co. - uma das maiores "Tradings" japonesas - e parceiros alemães e ingleses, a Shanghai Cotton Cleaning and Works Co., em 1889. Ver Yasumuro, 1990), como forma de se antecipar as possíveis perdas de mercado pela substituição da importação do produto pela sua produção local (e, claro, de aproveitar oportunidades lucrativas de negócios). Este movimento de implantação no exterior ganha momentum nos anos 30, face ao fechamento dos mercados externos por barreiras tarifárias com a Grande Depressão e as oportunidades geradas pela invasão da China, em 1931: a autoridade de ocupação militar transfere as unidades industrias existentes nos territórios ocupados para a administração de empresas civis71. O novo ciclo de investimento externo japonês iniciado nos anos 50, com a nova ameaça de perda de mercado para as "Tradings" que isto significaria, leva as Sogo Shoshas a mais uma vez se envolverem diretamente nos investimentos externos das EMNs, num movimento que se prolonga até os anos 70, quando o padrão de especialização japonês se modifica, no sentido de produtos tecnológicamente mais sofisticados. A multinacionalização de sectores como o automotivo e o electrónico de consumo exigia um know-how tecnológico, produtivo, gerencial e de controle de qualidade, e um grau de mobilização de capital que as tradings simplesmente não

70Das 20 maiores "Trading Companies" em 1986, 13 eram japonesas, ocupando os 11 primeiros lugares do ranking;das demais, 3 eram coreanas, 1 alemã, 1 inglesa, 1 finlandesa e outra australiana. A maior de todas, a Mitsui & Co. Ltd., tinha uma receita anual equivalente a da maior EMN européia (e 3ª do ranking global), a Royal Dutch-Shell Group (Ver UNCTC, 1988). 71Possivelmente devido a isso, existem divergências violentas entre as estimativas japonesas de estoque de capital japonês no exterior neste período e as da UNCTC: as estimativas japonesas são de um estoque de mais de U$S 50 bilhões no início dos anos 40, sendo 61.1% na Mandchúria, 3.3% na Coréia e 1.2% em Taiwan, as áreas coloniais, e 30.1% no território chinês conquistado, contra uma estimativa da UNCTC de apenas U$S 750 milhões em 1938.

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possuiam. A partir deste momento, seu papel como canal para o IDE japonês começa a decrescer72. Podemos, portanto, caracterizar as "Tradings" como canais provisórios para o IDE, enquanto as empresas locais ainda não disponhem do conhecimento e das redes de distribuição externas necessárias para canalizarem seus investimentos por sí mesmas, sendo isto mais facilmente encontrado em sectores de baixa tecnologia e de grande homogeneidade do produto (portanto, as "Tradings" também seriam um fenômeno anterior ao upgrading tecnológico das empresas)73, que sobrevivem de forma modificada após as EMNs "normais" terem estabelecido suas próprias redes externas. 4.1.3: EMNs DO SECTOR SERVIÇOS Como o observado por Dunning (Dunning, J.,1989a), a existência de EMNs no sector serviços não deve ser encarada como um fenômeno diferente (e, portanto, passível de uma explicação separada) da multinacionalização em termos gerais, qual seja, da internalização e aproveitamento de vantagens específicas à firma. Tal observação constitui uma resposta aos questionamento relativos à internalização de conhecimento, e da não-transferibilidade deste, em certas áreas do sector serviços, questionamentos claramente relativizados pela multinacionalização de empresas das áreas de publicidade, jurídica, consultoria, financeira e projectos, onde especificidades nacionais poderiam ser tão relevantes que inviabilizariam a transferência do know-how/know-why pelas firmas. Note-se que o acontecimento de maior importância neste área foi, indiscutivelmente, a internacionalização do sector financeiro nos anos 80, (em 1985, haviam 4660 filiais externas dos 100 maiores bancos do mundo, um crescimento de 147% face a 1980. Ver UNCTC, 1988). 4.1.4: EMNs QUE SÃO EMPRESAS PÚBLICAS.

72O mesmo processo verifica-se com as "Tradings" coreanas, com uma defasagem temporal de duas décadas. 73O processo de multinacionalização brasileiro também registra uma fase de tradings, nos anos 70, com algumas características ligeiramente diferentes, para além das tradicionais (Ver Carvalho, F., 1983): a "Trading" da holding Petrobrás (empresa responsável pelo monopólio estatal de exploração e refino de petróleo, maior empresa brasileira, e uma grande escola e "padrinho" para algumas das grandes EMNs brasileiras), a Interbrás Petrobrás Com. Int. S.A. - fechada em 1990, no início do 1º programa de privatizações do Governo Collor de Melo - articulava transacções entre países que recebiam bens ou serviços das subsidiárias da Petrobrás ou de outras empresas brasileiras (ou instaladas em território nacional), e que, não possuindo divisas, pagavam em espécie (o que é conhecido como barter ou conter-trade), geralmente com petróleo. A Volkswagen, dentre outras, realizou grandes contratos de exportação de veículos para o Iraque, tendo sido paga em crude, que foi revendido pela "Trading" da Petrobras no spot de Amsterdam. O procedimento de montagem de "tradings"acabou sendo imitado pela NEMNs brasileiras com negócios em África e no Oriente Médio, especialmente pelas grandes construturas, como a Andrade Gutierrez e a CNO (Construtora Norberto Odebrecht).

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A existência de EMNs que são empresas estatais - questão colocada inicialmente pelo grande número de EMNs européias que eram estatais - implica a primeira vista um conflito entre os objectivos de maximização do bem-estar social nacional e o bem-estar privado da companhia (conflito, diga-se de passagem, inerente à condição de uma "Empresa Pública"), mas não a nível de determinantes básicos do processo: a exploração de vantagens específicas à firma é também claramente presente no caso das empresas estatais. A maximização do emprego doméstico (se um dos objectivos da "Empresa Pública"), por exemplo, pode ser colocada em questão pela constituição de filiais externas. Entretanto, como o observado por Boyd (Boyd, C., 1986), mesmo se assumindo a existência deste conflito, existem sectores, como o de minerais energéticos, no qual a internacionalização é na verdade uma imposição do objectivo de maximização do bem estar nacional, como no caso das empresas petrolíferas de países importadores de petróleo (a empresa detentora do monopólio constitucional de extracção e refino de petróleo no Brasil, a Petrobrás, é um destes casos), explorando reservas no exterior de um recurso estratégico que é escasso a nível nacional. Tal tipo de questões, evidentemente, só se coloca face a importância conjuntural assumida pelas empresas estatais na segunda metade do século XX e a gestão "esquizofrênica" que tal condição implica (note-se que, das 20 maiores EMNs americanas, européias e japonesas em 1992, apenas 3 são estatais - o IRI, a Renault e a Elf Aquitaine -, todas européias, e todas com privatização prevista, e, que mesmo entre as EMNs do 3º mundo, a importância do sector estatal entre as maiores empresas decresceu acentuadamente entre 85 e 92, como será visto no próximo sub-item) . 4.1.5: EMNS DE PAÍSES PERIFÉRICOS. O surgimento de empresas multinacionais oriundas de países do 3º mundo não constitui, em princípio, qualquer surpresa. Tomando-se por base o nosso referêncial teórico, as forças que impulsionam o desenvolvimento das EMNs nos mercados internacionais - e que são as mesmas que impulsionam o desenvolvimento das firmas nos mercados nacionais - estão evidentemente presentes em qualquer economia de mercado. É portanto, não apenas natural, mas também virtualmente inevitável que a existência de situações de mercados imperfeitos associadas a vantagens de internalização acabassem gerando estes fenômenos também nestes países (Ver Dunning, J., 1981). Serão, no entanto, as EMNs de países periféricos, ou novas EMNs, NEMNs (Lall, 1991), caracterizadas por alguma diferênça face as EMNs "tradicionais" (Para uma listagem das maiores, Ver Anexo II)?. A primeira vista (Ver Tabela A2.I), tornam-se aparentes algumas diferênças. A primeira delas é uma certa concentração das maiores NEMNs em sectores primário-extractivos, o 2000 (Mineração e Extractivismo, exceto Gás e Petróleo), e principalmente o 2200 (Produção e Refino de Gás e Petróleo), e, algo não aparente na

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tabela, o fato de estes sectores, nestes países, serem em geral dominados por monopólios estatais (e, neste caso, comparando-se as listagens de 1985 com 1992, a importância destes sectores, e especialmente das empresas estatais no geral, decaiu sensívelmente: 12 das 20 em 85, sendo 11 estatais, representando 87.07% das vendas e 97.78% dos activos, dos quais 82.30% e 94.45%, respectivamente, estavam sob o controle de empresas estatais, para 9 empresas em 1992, sendo 5 estatais, representando respectivamente 39.76% e 27.37% das vendas e 51.60% e 39.21% dos activos). Tal concentração, com observado acima, verdadeiramente notável na metade da década passada, decaiu acentuadamente devido, principalmente, a expansão das empresas industriais de origem coreana. As NEMNs de origem coreana, a maioria em nossa lista (11 empresas em 20, com 55.76% das vendas e 49.78% dos activos), apresentam uma distribuição scetorial muito semelhante a das EMNs tradicionais, sendo, para além disso, empresas privadas. Isto, num certo sentido, é natural: Lall (Lall, S.; 1991), num estudo sobre as NEMNs asiáticas, aponta a extremamente concentrada estrutura produtiva coreana (ainda mais concentrada que a japonesa), com seus chaebols, sua articulação entre estado e empresa privada, seus sectores competitivos e tecnológicamente dinâmicos, como a mais próxima de emular aquela encontrada nos países-sede das EMNs tradicionais. As NEMNs coreanas, consequentemente, refletem esta semelhança estrutural (sendo inclusive possível questionar sua classificação como "multinacionais do 3º mundo "). E, é claro, tal situação reflete também a extraordinária dinâmica de crescimento registrada na região da Ásia-Pacífico na última década (outras cinco empresas em nossa listagem são asiáticas, ou seja, no total 16, ou 80% da amostra, com 71.40% das vendas e 63.08% dos activos). Uma outra observação é a dimensão média destas empresas face as EMNs. Elas tem, em termos de vendas, 28% da dimensão de uma EMN americana, 29% de uma européia e 42% de uma japonesa (15%, 25% e 42% em 1985); em termos de activos os valores são 28.5%, 41.5% e 42.6% (28%, 68% e 80% em 85), respectivamente; em termos de receitas líquidas, 18%, 53% e 77% (em dados de 1985); e em termos de número de empregados, os valores são 28.9%, 24.3% e 48.6% (25%, 24% e 60% para 1985). Ainda outras conclusões podem ser tiradas da tabela A2.II: as NEMNs são, em média, mais lucrativas que suas congêneres tradicionais, o seu ROE médio para 1985 era 15.82%, face a um ROE americano de 12.86%, 7.76% para os europeus (o que possivelmente refletia em parte o fato de um grande número de EMNs européias serem então empresas estatais ou participadas por capitais governamentais, e portanto caracterizadas por um comportamento não totalmente maximizante do ponto de vista privado), e 11.32% para os japoneses. Para 1992, tal situação se mantém: os rácios lucros líquidos sobre activos eram de 2.11% para as EMNs do 3º mundo, -1.73% para as americanas (refletindo a recessão da economia norte-americana), 1.79% para as européias e 0.73% para as japonesas (cuja economia estava já então também em desaceleração).

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Outra conclusão possível é que o grau de transparência das NEMNs - especialmente das estatais - é inferior ao de suas congêneres. A maior lucratividade poderia refletir um risco maior (expresso pelo desvio-padrão das ROE) destas empresas, pela sua dependência dos instáveis mercados primários de commodities ou o grau de poder de mercado que lhes é conferido por suas posições monopolísticas nos respectivos mercados nacionais. Entretanto, não são fornecidas informações que permitam este e outros tipos de cálculo. As NEMNs apresentariam características estruturais ou comportamentais que as distinguam das EMNs tradicionais? Começemos pelas motivações da implantação. Pesquisas realizadas apontam as que as motivações mais habitualmente declaradas para a realização do IDE por parte dos gestores das EMNs (evidentemente, tendo-se sempre em conta as possíveis diferenças entre motivações declaradas e reais) são a ameaça aos mercados existentes e a utilização de conhecimento proprietário - tecnológico ou de gestão - internalizado na empresa (não surpreendentemente, estas são as motivações previstas pelas escolas derivadas das teorias da organização industrial e da internalização). As mesmas pesquisas realizadas com gestores de EMNs apontam resultados substancialmente diferentes (Lecraw, 1990). As principais motivações apontadas são a diversificação de risco, a proteção dos mercados existentes, os reduzidos mercados domésticos e a lucratividade dos mercados locais. O IDE como estratégia de conservação do capital face a um meio ambiente instável nos seus países de origem (e, nos anos 80, claramente recessivo) - uma das principais motivações apontadas - coloca a questão do investimento de portfolio como alternativa ao IDE. Ora, a repressão e a restrição dos sistemas financeiros74 era lugar comum nos LDCs ("Less Developed Countries", países menos desenvolvidos) - e também em Portugal75 - até as reformas da década de 80. Consequentemente, os mercados financeiros nos LDCs são, em geral, reduzidos e sem profundidade, além de pouco lucrativos face a alternativa do IDE, que permite, para além da lucratividade do mercado local, a manipulação de transfer-prices e a pura e simples fraude cambial, através de, entre outros mecanismos, a superfaturação de importações e a subfaturação de exportações, como forma de evitar os controles cambias ainda adotados por muitos LDCs.

74Definimos situações de Restrição Financeira como aquelas nas quais , visando facilitar a coleta de um imposto de "senhoriagem" por parte do governo, são estabelecidos certos tipos de restrições a modos de financiamento na economia, e situações de Repressão Financeira como aquelas de distorção de preços financeiros (como taxas de juros administradas), com diversos tipos de efeitos danosos na atividade econômica (como distorções na afectação em três sentidos diferentes: primeiro, é introduzido um enviesamento em favor do consumo corrente e contrário ao consumo futuro; segundo, decisões de investimento de baixa rentabilidade e eficiência seriam potenciadas; por último, tem-se um enviesamento na afectação de recursos, no sentido de uma maior intensidade capitalística. Ver Gurley, J & Shaw, E., 1983). 75Ver Mello, L., Santos, J. & Vinhas de Souza, L., 1993.

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A proteção de mercados existentes assume para as NEMNs uma dimensão diferente da das EMNs. Seus mercados domésticos são de reduzida dimensão, sendo facilmente saturados por um pequeno número de produtores (o que é obviamente agravado se este mercado estão em retração). Mercados deste tipo são ainda facilmente submetidos a situações de cartel, e, consequentemente, a concorrência doméstica é desencorajada, e as alternativas para níveis de produção mais elevados são as exportações ou a multinacionalização. Por outro lado, o reduzido nível tecnológico (ou tecnologias já maduras, licenciadas por EMNs) destas empresas se reflete em produtos de baixo custo, pouco sofisticados e não-diferenciados - facilmente atingíveis por barreiras tarifárias - que dispensam redes de retalhistas e de assistência pós-venda76. Assim, uma NEMN bem-sucedida deve ter procurado reduzir seus custos produtivos ao mínimo, o que significa uma tecnologia produtiva nestes sectores adaptada as reduzidas dimensões do mercado e aos preços relativos dos factores (i.e., reduzidos custos de trabalho), - ao ponto de certos trabalhos registrarem algumas NEMNs como utilizando tecnologias absolutamente eficientes: elas operariam à esquerda da isoquanta de produção, com custos abaixo do custo mínimo teórico (Ver Lecraw, 1990). O domínio destes processos produtivos é uma das vantagens competitivas das NEMNs, no que se refere a expansão para mercados com estas características. Uma outra vantagem é uma "tecnologia empresarial" adaptada a instabilidade e aos procedimentos legais - e nem tanto - e negociais dos outros LDCs, o que faz com que as NEMNs tenham em geral uma flexibilidade maior no lidar com estes mercados (e no aproveitar de suas possibilidades) que as EMNs tradicionais. Um dos resultados disso é a grande variedade de associações possíveis no capital das NEMNs, que demonstram uma disponibilidade muito maior que a de suas congêneres no estabelecimento de joint-ventures e de sociedades de capital minoritário naqueles países aonde se instalam (inclusive como forma de superar suas debilidades a nível de alavancagem financeira e de rede de distribuição locais, para não falar na necessidade de constituição de redes de influência com os governos locais).

76Os apologistas das vantagens produtivas das Multinacionais Brasileiras denominavam isto de "tecnologias tropicais".

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5 MULTINACIONAIS BRASILEIRAS 5.1- O PROCESSO DE MULTINACIONALIZAÇÃO DAS GRANDES EMPRESAS BRASILEIRAS.

A história do processo de multinacionalização das empresas brasileiras tem seu início nos anos 7077, a década de ouro do desenvolvimento brasileiro, com os ciclos expansivos conhecidos como o "Milagre Brasileiro" (1968-1973) e "IIº Plano de Metas" (1974-1979, fase expansiva em contraciclo da economia mundial, com taxas médias de crescimento substânciais mas inferiores as do ciclo imediatamente precedente, e baseado num padrão de financiamento - via o endividamento externo - totalmente distinto). Durante este período de acelerada expansão económica (a rigor, o auge de um ciclo longo de crescimento económico iniciado na década de 30), o intenso processo expansivo verificado cria uma estrutura produtiva quase completa: A República Federativa do Brasil possuia um dos dez maiores PIBs do planeta, sua economia produzia desde matérias-primas básicas a computadores, aviões, foguetes, e componentes para reatores nucleares, se constituindo na inquestionável potência regional da América do Sul. Tal processo de desenvolvimento acelerado haveria inevitavelmente de gerar em seu meio um núcleo de empresas com as capacitações tecnológicas e gerênciais - suas FSAs, portanto -, necessárias a um processo bem sucedido de multinacionalização (para além de quaisquer questões de natureza conjuntural que possam ter eventualmente potencializado este processo, principalmente no decorrer dos anos 80). No começo da década de 70, o fluxo anual de IDE brasileiro tinha um valor inferior a 1 milhão de dólares; no seu final, este valor terá crescido quase 195 vezes, sendo o valor médio do IDE no período US$ 97.2 milhões (Ver Tabela 5.I, na página seguinte).

77Este horizonte temporal exclui portanto, eventuais implantações anteriores - como, por exemplo, do B.B. (Banco do Brasil, maior banco comercial brasileiro, de capitais maioritariamente públicos), que tem filiais externas desde o início do século, visando assim isolar uma fase específica por nós identificada como representativa do "verdadeiro" fenômeno da multinacionalização.

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TABELA 5.I IDE LÍQUIDO78, VARIAÇÃO DO PIB E INFLAÇÃO BRASILEIRAS

(1971-1992)

IDE Líq. PIB INFL.

1971 1 11.3 19.5 1972 19 11.9 15.7 1973 36.8 14 15.5 1974 57.5 8.2 33.8 1975 111.9 5.2 29.4 1976 183 10.3 46.3 1977 146.2 4.9 38.8 1978 125.2 5 40.8 1979 194.2 6.8 77.2 1980 157.132 9.2 110.2 1981 162.509 -4.4 95.2 1982 361.7476 0.6 99.7 1983 44.1603 -3.4 211 1984 61.25 5.3 223.8 1985 79.7777 8 235.1 1986 134.9901 7.5 65 1987 93.3661 3.6 415.8 1988 146.6609 -0.1 1037.6 1989 324.2781 3.2 1782.9 1990 451.4963 -4.6 1476.6 1991 1048.7954 0.9 480.2 1992 83.6067 -1 1158

fonte: Conjuntura Económica, FGV, 1993, & Motta de Lima, A. (1992).

Um dos primeiros grupos a iniciar o processo foi a Petrobrás, a empresa estatal detentora do monopólio constitucional sobre extracção e refino de petróleo, através de uma subsidiária especialmente criada para tal, a Braspetro - Petrobrás Internacional79. Até a década de 70, esta empresa, juntamente com o Banco do Brasil, tinha era resposável pela quase totalidade do stock de IDE brasileiro.

A mesma década assiste, no entanto, a diversificação deste movimento, que passa a abranger, inicialmente, as grandes empresas privadas de construção (civil e pesada), de engenharia de projetos e o sector bancário (estatal e privado).

78A utilização desta variável, as remessas líquidas de IDE registradas junto ao Banco Central brasileiro implica em dois problemas distintos: o primeiro é a inclusão, nestes totais, de remessas feitas a partir de filiais de EMNs instaladas no Brasil; a segunda é o volume da fuga de capitais, evidentemente não registrados nesta rúbrica. Estimativas deste último chegam a um stock de US$ 20 bilhões nos anos 90, quantia várias vezes superior ao stock registrado de IDE (se bem que a reconhecida volatilidade destes totais de capitais "oportunistas" rapidamente obsoletize as melhores estimativas). Além disso, acreditamos que uma abordagem do ponto de vista da "fuga de capitais" é enganosa e panfletária: o capital é necessariamente flúido, respondendo a diferenciais de lucratividade/risco na busca de aplicações óptimas com uma rapidez crescente. A melhoria do clima macro e a redução da excessiva dimensão do estado na República Federativa inverteriam rapidamente uma eventual situação de remessa "oportunista" de divisas para o exterior (o que incidentalmente, já pode ter-se observado na euforia bolsista de 93/94, com o início do programa de privatizações: estima-se que parte destes capitais são capitais brasileiros expatriados). Acreditamos, portanto, que nossos dados constituem-se nos melhores e mais confiáveis disponíveis. 79Note-se que a questão da maximização do bem-estar privado versus a maximização do bem-estar social, inerente à decisão de multinacionalização de empresas públicas, não se coloca necessáriamente nas empresas de inputs básicos de caráter estratégico, como o petróleo: pelo contrário, a maximização do bem-estar social pode inclusive exigi-lá (Ver Collins, P., 1986).

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As actividades da Construção Civil e Pesada e a Engenharia de Projetos se internacionalizam a partir da experiência acumulada nas décadas anteriores - a implantação rápida de uma infra-estrutura produtiva e de transporte em escala continental - aliada aos violentos investimentos feitos em capacidade produtiva visando atender a grande procura por projetos de infra-estrutura até então existente e que precisavam ser rentabilizados face a progressiva desaceleração do mercado doméstico , numa conjuntura externa ainda não afetada pela crises do petróleo (e mesmo depois destas, já que os países produtores do Médio Oriente, um de seus mercados tradicionais, longe de desacelerarem, aumentaram seus investimentos internos).

Já o sector bancário se internacionaliza na busca dos lucros potencias existentes no necessário processo de captação de poupanças externas para financiar a "rolagem" da dívida externa brasileira.

A década seguinte, os anos 80 - conhecidos como "a década perdida" - com uma violenta desaceleração de crescimento económico e extrema instabilidade conjuntural verificados na República Federativa - vários planos sucessivos de estabilização macro-económica mal-sucedidos, várias mudanças de padrão monetário causadas por uma inflação crônica e muito elevada, ciclos curtos intercalados de expansão e recessão, políticas de expansão às exportações com apertos periódicos nos controles do movimento de capitais de e para o exterior (cujo movimento na República Federativa é controlado), aliada a recuperação da economia mundial a partir de 1983, assim como um movimento defensivo prévio face à ameaça de blocalização da economia mundial (do que a União Européia é o exemplo mais óbvio), difundem o movimento de multinacionalização quase que pela generalidade da estrutura produtiva brasileira (como pode ser observado pela listagens de empresas que se internacionalizaram neste período: quase que todas as actividades foram capazes de gerar um "campeão nacional". Ver Anexo IV). Uma análise sectorial deste processo na década de 80 permite uma percepção mais clara deste movimento (Ver Tabelas 5.II, 5.III e Gráfico 5.1 nas páginas seguintes).

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GRÁFICO 5.1 DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE BRASILEIRO

(1980-1990)

0%

20%

40%

60%

80%

100%

SERVIÇOS FINANCEIROS

OUTROS

SERVIÇOS

COMÉRCIO

CONSTRUÇÃO CIVIL

B. DE CONSUMO

B. INTERMEDIÁRIOS

B. DE CAPITAL

Uma característica aparente é a importância (e a instabilidade) dos fluxos associados aos serviços financeiros durante este período (essencialmente, a instalação de filiais de grupos bancários estatais e privados nas grandes praças financeiras internacionais). Dada a extrema sensibilidade destes fluxos a conjuntura, e seu carácter "oportunista", ou seja, sua ligação aos movimentos financiamento da dívida externa brasileira80, optamos por separá-los, concentrando nossa análise nos fluxos de IDE não-financeiros (Ver Gráfico 5.2 na próxima página). Pode-se notar que nos fluxos sectoriais não-financeiros existe uma importância muito elevada do sector de Bens Intermediários, o que por sua vez reflete a importância do sub-sector de mineração, confirmando a manutenção não apenas da Petrobras, como também das grandes empresa mineradoras estatais (e principalmente a CVRD, a Companhia Vale do Rio Doce) como alguns dos mais importantes investidores externos no universo empresarial brasileiro; em um distante segundo lugar em termos de importância neste sector esta outro sub-sector de peso da economia brasileira, o metalúrgico, a época também maioritariamente estatal. O valor máximo de 87% do total de 1985 reflete as dificuldades dos restantes sectores da economia neste ano.

80É um facto pouco conhecido que uma parcela não desprezível da dívida externa brasileira não-oficial (i.e., não devida a governos ou instituições multi-laterais) tem como credores bancos brasileiros através de suas filiais externas.

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GRÁFICO 5.2 DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE BRASILEIRO NÃO-FINANCEIRO

(1980-1990)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

CONSTRUÇÃO CIVIL.

B. DE CAPITAL

SERVIÇOS

OUTROS

COMÉRCIO

B. DE CONSUMO

B.INTERMEDIÁRIOS

O espaço ocupado pelo sector de Bens de Consumo, por sua vez, reflete a importância da Indústria Agro-Alimentar, que busca no período constituir uma rede de entrepostos externos como um suporte aos seus esforços visando o aumento das exportações (assim como a instalação de filiais industrias em certos países vizinhos). Tanto neste sector como no anterior a República Federativa dispõe claramente de importantes vantagens comparativas em termos de dotação de recursos naturais, passíveis de serem internalizadas pelas empresas que neles atuem. No caso do sub-sector de mineração, tal aparece aliado a possibilidade do exercício de poder de mercado, parcialmente viabilizado por uma distorção artificial de mercado: em termos gerais, pela propriedade dos diretos minerais pela União81, e no caso específico da indústria petrolífera, o monopólio constitucional da extracção e do refino. Outro sector de importância é a Construção Civil, revelando uma intensificação da dinâmica de multinacionalização iniciada na década anterior (o IDE deste sub-sector atinge um valor máximo de 70.86% do IDE não-financeiro em 1989). As vantagens desta actividade, já colocadas, advêm da tecnologia desenvolvida, da experiência adquirida e das escalas mínimas atingidas durante o processo de desenvolvimento nacional precedente82. Pontualmente, registram-se saidas substânciais de IDE de certos sub-sectores: Auto-peças, em 1988 (essencialmente, os movimentos de duas empresas, a Metal Leve e a Cofap), Comércio em 1986 (principalmente da parte do Grupo Pão de 81Na República Federativa do Brasil, toda riqueza mineral é de propriedade da União, representação jurídica da Federação. Os titulares de terrenos não detêm direitos sobre o sub-solo de seus imóveis, apenas sobre a superfície. Consequentemente, toda actividade mineira é concessão da União. 82Vantagens não restritas à Indústria da Construção Civil brasileira, mas presentes em outros países em desenvolvimento, como a Coréia do Sul e a Turquia (Ver Kaynak, E. & Dalgic, T., 1989).

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Açucar, mais o estabelecimento de redes de entrepostos por outros grupos), o Químico em 1989/90 (a aquisição da CPB em Portugal pelo Grupo Mariani), Comunicações em 1986 (a Rede Globo em sua primeira - e mal-sucedida - investida européia, a Tele Monte Carlo) e Armamentos83. Os fluxos de IDE destes sub-sectores refletem frequentemente vantagens que não podem ser caracterizadas como do sector ou mesmo do sub-sector, mas unicamente de um grupo de empresas nele instalado, ou mesmo de uma única empresa, por possuirem uma tecnologia ou cultura empresarial específicas, ou posições de liderânça em seus mercados domésticos que lhes permita usufruir de vantagens oligopolistas, ou uma combinação destas. No que se refere à distribuição espacial do IDE brasileiro - ou seja, a verificação das CSAs - , temos que (Ver Tabela 5.IV e Gráfico 5.3, 5.4, 5.5 e nas páginas seguintes), se no início do período, o continente americano respondia por mais de 60% do stock de IDE brasileiro, tal havia se reduzido para 38 % do stock em 1992 (graças, em grande medida, ao crescimento das remessas para tax heavens, que totalizavam quase 50% de todo o stock em 1992).

83Disfarçado entre vários sub-sectores da pauta de exportações brasileiras, de Máquinas e Equipamentos a Veículos de Transporte, inversões oriundas de empresas como a EMBRAER (aviões), Forjas Taurus (revólveres, pistolas e munição), Avibrás (sistemas de míssies terra-ar, sistemas de radar) e a Engesa (veículos blindados ). O Brasil chegou a se constituir num dos dez maiores exportadores de armamentos do planeta, durante a década de 80, graças principalmente ao Oriente Médio. Como as demais Indústrias de Armamentos do globo (e devido a alguns factores específicos, como o esgotamento do modo de financiamento da EMBRAER, o desenvolvimento do tanque "Osório" pela ENGESA por encomenda da Arábia Saudita e o posterior não cumprimento das encomendas por parte desta), tal sector entrou em crise nos anos 90.

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TABELA 5.IV REMESSAS DE IDE BRASILEIRO POR PAÍS RECEPTOR (1962 - 1992)

Em US$ 1.000.000 1962/82 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1963/92 %

TOTAL 1174.521 45.7149 61.25 80.27777 134.9901 93.382 146.6609 324.2781 451.4963 1048.795 83.6067 3644.973 100

EUA 539.9693 17.3931 20.939 75.3196 56.3793 34.2487 54.9712 23.6006 104.0016 74.2393 65.6125 1066.674 29.26

I. CAYMAN 27.542 18.3641 36.0786 0.1344 32.1152 51.8894 45.4727 216.7729 168.5822 902.9631 -10.0068 1489.908 40.88

R.U. 38.8582 2.9848 3.1889 0.3917 1.2904 1.3606 42.3009 3.4342 130.0288 12.128 -0.5515 235.415 6.46

POR. 5.8687 0 0 0.1181 0.5938 0.4477 0.125 63.481 39.799 29.724 -5.069 135.0879 3.71

ARGEN. 71.9535 0.0322 0.15 2.001 0 0.16 0.0155 1.7898 1.0561 7.9 20.569 105.6271 2.90

ANT. HOL. 78.5683 0.36 0 0 0 0 0 0 0 0 6.006 84.9343 2.33

PARAGUAI 57.4051 1.37 0 0 0.192 0 0 0 0.839 1.475 0.0566 61.3377 1.68

R. F. A. 14.947 0.019 0.0987 0.1818 0.2889 2.2194 0.16 0.0686 0 0.1 0.11 18.1934 0.50

URUGUAI 36.1179 0 0 0 0 0.04 0 0.0814 0.153 0 -0.5735 35.8188 0.98

PANAMÁ 22.9987 0.3681 0 1 0.0488 0.145 0.9991 0.01 0.0176 0 0.6037 26.191 0.72

LUX. 17.02 0 0 0 0 0 0 1 3.45 0 -0.6958 20.7742 0.57

SUIÇA 2.155 0 0 0 0 0.0945 0 9.9498 0 0 0.0226 12.2219 0.34

OUTROS 261.1174 4.8236 0.7948 1.13117 44.0817 2.7767 2.6165 4.09 3.5692 20.2662 7.5227 352.79 9.68

fonte: BACEN ( Banco Central da República Federativa do Brasil ).

Existem alguns determinantes claros para esta concentração no continente americano: primeiro, os Estados Unidos, nação americana, são maior e potencialmente mais receptivo mercado consumidor global, além de constituirem o mais importante parceiro comercial brasileiro; segundo, os países da América Latina (não considerando-se os tax heavens, dado que as razões dos "investimentos" nestes são evidentemente outras) - e, mais especificamente ainda, os do Cone Sul (Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai) - são mercados que, além de contarem com as vantagens oriundas da proximidade geográfica, apresentam uma série de semelhanças em termos de condições de mercados, culturas e de gostos passíveis de serem facilmente aproveitadas pelas empresas brasileiras, para além de evidentes complemetaridades ainda hoje pouco exploradas entre as diversas estruturas produtivas (diferentes dotações de recursos naturais, como o gás natural boliviano e o petróleo mexicano e argentino, importantes para um país importador como o Brasil, mais as suas respectivas indústrias petroquímicas, especialmente as de matriz "gás natural", dada a importância da indústria petroquímica de matriz "nafta" na estrutura produtiva brasileira; diferentes condições climaticas, refletindo diferentes vantagens em produtos agrícolas, como no caso do trigo argentino e uruguaio, importados pelo Brasil), e ainda as facilidades de ordem política e diplomática ai existentes para as empresas brasileiras. Além disso, é um comportamento habitual que no início de um processo de multinacionalização haja uma concentração das inversões em poucos mercados próximos e semelhantes ao mercado doméstico: as empresas buscam minimizar os riscos deste "salto no escuro" que é o IDE visando as nações e culturas mais próximas à sua própria.

59

GRÁFICO 5.3 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL (PERCENTUAL) DO IDE BRASILEIRO

(1962-1992)

-20%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

OUTROS

PORTUGAL

TAX HEAVENS

CONE SUL

EUA

Por volta da segunda metade dos anos 80, entretanto, tal distribuição se modifica, com um acréscimo substancial da parcela destinada aos tax heavens e um aumento do item OUTROS, revelando uma diversificação espacial da distribuição do IDE brasileiro - desenvolvimento natural à medida em que as empresas se habituam a trabalhar no estrangeiro. No que diz respeito aos fluxos destinados aos tax heavens (que constituem, evidentemente, apenas um ponto intermediário para o destino final do investimento, ponto final este sobre o qual não é possível se fazer qualquer inferência real), passando de um valor médio de 14% do total para 46% neste período, se se inclui o ano de 1991, quando atinge um ponto máximo de mais de 86% do IDE total (total que, além disso, havia crescido 232% face ao IDE registrado no ano anterior, superando pela primeira vez a barreira do 1 milhar de milhões de dólares), numa reacção das empresas a instabilidade interna gerada pelo desagregação das medidas do Plano Collor (note-se que, na verdade, as remessas para os tax heavens já haviam anteriormente quebrado a barreira dos 70%, em 1989, neste caso face a possibilidade de vitória da esquerda socialista nas eleições presidenciais daquele ano). Observe-se que esta diversificação passa praticamente à margem dos continentes africano e e da maior parte do asiático, concentrando-se no continente europeu. No primeiro caso, para além das razões mais conhecidas (o estado desastroso de várias das economias locais, o clima geral de instabilidade e mesmo de conflitos civis armados em várias nações) têm-se um esgotamento do aproveitamento das vantagens linguístico - culturais oferecidas pelas ex-colônias portuguesas, e uma certa descrença no horizonte de médio prazo destes países (para além do reconhecimento informal de certos empresários de que estas nações constituem um espaço econômico

60

de expansão da União Sul-Africana naqueles mesmos sectores onde a República Federativa detêm vantagens). Já no caso da Ásia, deve-se diferênciar entre o Médio-Oriente, uma região num certo sentido já tradicional do ponto de vista do comércio e do investimento externo brasileiro (da parte de empresas industriais diversas, e especialmente de Projetos, Armamentos e Construção Civil e Pesada) - e que tem perdido parte de sua importância recentemente - e o restante do continente asiático, especialmente a Ásia Oriental , a região mais dinâmica do globo. A reduzida parcela de investimento nesta região revela um aproveitamento inadequado das vantagens brasileiras em certos sectores de insumos básicos e da industria transformadora, assim como o não-aproveitamento da riqueza étnica da República Federativa (a segunda maior colônia japonesa do continente americano encontra-se no Brasil, assim como colônias menores de chineses, taiwaneses e coreanos do sul). No caso da Europa, Portugal, após a sua entrada na União Européia em 1986 é, indiscutívelmente, o país que apresenta a maior taxa de crescimento do IDE brasileiro. A média dos fluxos de IDE para o período que vai de 1986 a 1991 é quase 88 vezes superior aquela registrada no período de 1962 a 1985. Tal movimento de capitais atinge o seu auge em 1989 - ano da vigência do Convênio Interbancário de Investimentos Mútuos Brasil/Portugal84 -, atingindo sempre valores decrescentes desde então, ao ponto de em 1992 se registrar um desinvestimento líquido superior a 5 milhões de dólares. Isto reflete tanto a violenta queda do IDE global (que neste ano atinge menos de 8% do valor do ano anterior, o que é uma redução brutal, mesmo se se considera que a escala dos valores de 1991 refletia meramente uma resposta a instabilidade conjuntural), quanto as dificuldades globais da economia brasileira (neste ano o PIB cai 1%) e, consequentemente, das suas empresas, quanto um progressivo desencanto com as realidades e limitações do mercado português (tal como se deu no caso africano, a percepção da relatividade das semelhanças e o esgotamente das suas vantagens teóricas é relativamente rápido), quanto uma reorientação estratégica das empresas para a América Latina, face ao início da concretização do Mercosul e da percepção de suas vantagens e das potencialidades da integração (claramente perceptível a partir de 1992).

84O Convênio Interbancário de Investimentos Mútuos Brasil/Portugal, assinado em 05.01.89 entre os bancos centrais da República Portuguesa e da República Federativa do Brasil, tinha por objetivo facilitar os fluxos de IDE entre as duas nações. Para tal fim, os dois bancos centrais adiantaram US$ 300 milhões (valor posteriormente aumentado para 400 milhões) nas respectivas moedas nacionais. Durante sua vigência (até 31.12.89), foram utilizados apenas 91.6 milhões (tal cifra não equivale aos valores de IDE fornecidos pelo BACEN para o ano de 1989 devido ao facto de cerca de um terço deste total só ter sido integralizado no primeiro semestre de 1990), correspondendo a 16 projectos de empresas brasileiras (sendo que destes 4 representaram 73% do total de recursos), com a seguinte distribuição sectorial: -Construção e Obras, 42%; -Sector Financeiro, 26%; -Comércio e Distribuição, 22%; -Indústria Química, 10%.

61

No gráfico 5.4 abaixo, vemos a distribuição do stock de IDE brasileiro no final deste período.

GRÁFICO 5.4 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO STOCK DE IDE BRASILEIRO

(1963-1992)

EUA29%

TAX HEAVENS49%

R.U.6%

POR.4%

AM. LATINA9%

OUTROS3%

5.1.1 PORTUGAL, CARACTERÍSTICAS E SECTORES ATRAENTES PARA O IDE. Faremos neste item uma breve descrição histórica do IDE em Portugal em termos gerais, antes de aprofundar nossa análise do IDE brasileiro neste país. Portugal foi um pais fechado ao IDE85 durante a maior parte da 2ª metade do sec. XX - tomando-se como ponto de referência a "Lei de Nacionalização dos Capitais" de 1943 -, e não-prioritário do ponto de vista deste (Ver Tabela 5.VI e 5.VII abaixo), tendo ainda presenciado uma posição governamental muito variável face a

85O facto de Portugal ser um dos países destinatários dos capitais do "Plano Marshall", a partir do 2º ano de aplicação do Plano, em 49/50, não modifica esta situação, devendo ser isto encarado como uma acção de caráter essencialmente político do Regime Salazarista, refletindo a necessidade de rearticulações estratégicas no imediato pós-guerra, juntamente a outras iniciativas como a integração na OECE, em 48, e ao BIS, em 51. O montante dos capitais fornecidos atinge a 1,036,466 contos na modalidade de empréstimos, 782,000 contos como "ajuda imediata", 237,360 contos como "ajuda condicional" e 158,095 contos como grants, num total de 2,213,921 contos até 31/12/55, algo como 77 milhões de Dólares Americanos, distribuidos entre Metrópole e Ultramar. Tais valores, evidentemente, não entram nas rubricas de IDE, sendo operações governo a governo (Ver Barbosa, 1993).

62

este, e fortemente condicionada pela conjuntura político-econômica, especialmente no que diz respeito ao controle de sua entrada. Restringindo nossa análise ao período pós IIª Grande Guerra, adotamos a seguinte periodização86: - a) nacionalismo; - b) abertura ao exterior; - c) pós 25 de abril; - d) anos 80.

TABELA 5.V

MOVIMENTOS DE CAPITAIS PRIVADOS (MÉDIO E LONGO PRAZO, MÉDIAS ANUAIS)

Em Milhões de US$ Dólares

Entradas Saídas Saldo

1950/54 4.1 1.6 2.5

1955/59 3.4 1.6 1.8

1960/64 50 17 33

1965/69 161 96 65

1970/74 314 209 105

1975/79 618 469 149

1980/83 2021 812 1209

fonte:Simões, V. (1985).

TABELA 5.VI FLUXOS DE IDE NO CAPITAL DAS EMPRESAS

(REINVESTIMENTOS E OPERAÇÕES SOBRE IMÓVEIS EXCLUÍDAS). Em Milhões de US$ Dólares

Entradas Saídas Saldo

1964/65 11,994 818 11,176

1966/68 13,534 441 13,093

1969/71 18,094 3,061 15,033

1972/74 50,950 20,659 30,291

1975/77 23,517 3,688 19,829

1978/80 64,008 8,443 55,565

1981/83 97,369 16,063 81,306

fonte:Simões, V. (1985).

a) a importância do investimento externo neste período foi extremamente reduzida87, condicionada tanto pelo reduzido nível de desenvolvimento do país (uma economia pouco desenvolvida, com reduzida dotação de recursos naturais, e uma mão-de-obra, que apesar de abundante e barata, apresentava um nível de qualificação muito deficiente), quanto pelo orientação "nacionalista" - no mau sentido - do regime do "Estado Novo".

86De acordo com Simões, V. (1985 e 1989). 87Atingindo mesmo 0.35% - entradas e saídas - do PIB em 1958.

63

Este, em termos económicos um "regime de mercado mitigado por uma forte intervençâo de estatal aos mais diversos níveis", de caráter essencialmente defensivo, tanto do ponto de vista da concorrência interna, como da externa, quanto do realismo dos preços, tem sua política face ao IDE caracterizada pela "Lei de Nacionalização dos Capitais", nº 1994/43, que estipula que só empresas nacionais88poderiam dedicar-se à exploração de serviços públicos, as actividades em regime de exclusivo e aquelas consideradas " de interesse fundamental para a defesa do Estado e da Nação" (sic), e pelo condicionamento industrial89 - a restrição / eliminação da concorrência interna -, isto numa fase, os anos 50, de intensificação dos investimentos externos na Europa, atraidos pelo processo de reconstrução do pós-guerra. Os reduzidos investimentos realizados nesta fase concentram-se no sector comercial (mais de 40% das empresas instaladas dedicavam-se ao comércio por grosso, beneficiando-se da inexistência do condicionamento neste sector, e das necessidades de bens de capital e intermediários ditadas pelo início da industrialização), no aproveitamento de recursos naturais e no abastecimento do mercado interno. O investimento industrial realizado tem um caráter nitidamente de import-substituition90. b) o início dos anos 60 testemunha uma elevação relativa violentíssima do IDE (a partir de patamares extremamente reduzidos): já em 1961 registra-se uma entrada de capitais superior a de toda a década precedente91. Tal é viabilizado por um conjunto de mudanças, tais como o progressivo desenvolvimento das infra-estruturas internas e de alguns sectores industriais resultantes das políticas de substituição de importações; o início da "Guerra Colonial", com resultante aumento dos gastos governamentais com a defesa e a abertura ao exterior, buscando evitar o isolamento político e gerando uma maior grau de contacto com as realidades externas; e a desagregação do sector agrícola, resultanto em amplos movimentos migratórios para a "Europa", as colônias e as zonas urbanas do país, gerando uma massa de mão-de-obra barata passível de utilização pelo sector industrial, assim como na redução do poder das elites agrárias face as elites urbano-industrias, no Estado e na nação como um todo. A nível da regulação do IDE, foram marcos importantes neste período a assinatura da "Convenção de Estocolmo", que institui a EFTA (European Free Trade Association)92 - apesar das derrogações permitadas a Portugal, no que diz respeito as 88Ou seja, empresas detidas em pelo menos 60% por capitais portuguêses. 89Por outro lado, isto significava que o reduzido investimento externo efectivado beneficiava-se dos sobre lucros permitidos por este regime mono/oligopolísta. 90A intensidade exportadora das EMNs instaladas até 1959 era de apenas 12% em 1980 (Ver Simões, 1984). 91O total de IDE registrado em Portugal em toda a década de 50 foi de 37.5 milhões de dólares. 92A adesão a EFTA em 1959 viabiliza em Portugal a implantação de empresas orientadas para a exportação (em geral , de capital maioritário detido pela matriz), e especialmente a deslocalização de actividades mão-de-obra (pouco qualificada) intensivas, como as empresas dos sub-sectores téxtil e vestuário dos países nórdicos, para o abastecimento dos seus mercados domésticos, e de empresas americanas visando abastecer o mercado inglês; a intensidade exportadora das empresas instaladas entre 1960 e 1974 era de 40%, e de 50% para as constituidas entre 65 e 69, no ano de 1980 (Ver Simões, 1984).

64

suas proteções aduaneiras; a assinatura do Código de Liberalização dos Movimentos de Capitais da OCDE - apesar, igualmente, do mesmo tipo de derrogações e reservas para Portugal; da promulgação do Decreto-Lei nº 44.698, de 17 de fevereiro de 1962, que reduz os controles cambiais, e finalmente, do Decreto-Lei nº 46.312, de 28 de abril de 1965, que toma o lugar da "Lei de Nacionalização dos Capitais", autorizando o IDE num amplo leque de actividades, mas excluindo o comércio, o seguros, a banca, os serviços e bens públicos e as indústrias ligadas à defesa - para não falar de legislação especial condicionando o IDE em outras actividades - e instituindo incentivos fiscais específicos ao IDE e a exportação. Já o acordo assinado com a UE (então CEE) em 1972, dada a sua proximidade temporal com o periodo revolucionário, tem uma interpretação mais difícil, embora provavelmente tenha tido efeitos parecidos com os obtidos pela adesão a EFTA (ou seja, constitui uma continuação da tendência iniciada nos anos 60). Estes desenvolvimentos internos, juntamente a um clima internacional favorável ao IDE, e o crescimento contínuo da economia internacional, permitem que os fluxos de investimentos cresçam 12% a.a. entre 1960 e 1973 em Portugal93. Assiste-se também, em paralelo, principalmente a partir de 1966, a um crescimento acentuado do investimento português no exterior94. c) o imediato pós-25 de abril registra - como seria de se esperar - uma forte deterioração do volume de investimento externo, por razões principalmente internas (a extrema instabilidade institucional e política dos primeiros anos pós-revolução95, a elevação acentuada dos salários reais e o aumento das perdas derivadas da conflitualidade laboral, reduzindo a competitivade relativa de Portugal como locus de investimentos, a independência das colônias africanas, implicando tanto na perda de mercados captivos como de fontes de matérias primas), mas também por razões externas (a recessão que atinge as economias da OCDE depois do 1º choque do petróleo em 73). Como resposta a deterioração do IDE, diversos enquadramentos legais liberalizantes são sucessivamente anunciados pelo governo. Em 1976, surge o primeiro Código de Investimentos Estrangeiros (Decreto-Lei 239/76, de 6 de abril), de

93O somatório saídas e entradas de fluxos atinge 6.5% do PIB em 1973, um crescimento de 1,857% face a 1958. 94Simões (1985) justifica tal situação como uma consequência do desenvolvimento de FSAs pelas empresas portuguesas, e pala redução das vantages locacionais de Portugal. Observe-se ainda que estes fluxos apresentam uma correlação positiva face ao crescimento do PIB registrado no período e a participação minoritária de parceiros externos (uma indicação de complementaridade, até certo nível, entre entradas e saídas de capital), e que são fortemente concentrados, seja sectorial - no sector serviços, especialmente banca e seguros (tendo como objectivo a captação de poupanças das comunidades portuguesas emigrantes) e representações comercias de empresas de produtos tradicionais, industrias ligeiras tradicionais e de transformação de matérias.primas (especialmente nas colônias) - seja espacialmente falando - em colônias, ex-colônias e países com grandes comunidades de imigrantes. Tal sugere o aproveitamento simultâneo de vantagens país-específicas e empresa-específicas. 95Mesmo levando-se em conta que as nacionalizações realizadas em 75 procuraram preservar as empresas com capital externo.

66

a queda de 81 a 83; no segundo, uma nítida quebra em 92, aparentemente continuada em 93 e 94).

GRÁFICO 5.5

IDE FEITO EM PORTUGAL (1981 - 1992)

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 19920

20000

40000

60000

80000

100000

120000

TOTAL GERAL ( Em Milhões de Contos).

fonte: Banco de Portugal, Diário de Notícias.

Em linhas gerais, os anos 80 podem ser divididos em dois períodos: a sua primeira metade - que é um período de recessão/estabilização, marcados pelo 2º programa do FMI e pelas medidas pré-adesão -, e a segunda metade da década - portanto, o período pós-adesão. Concentrando-nos no 2º período, podemos rapidamente caracteriza-lo por: - um crescimento continuado dos valores do IDE, de 1986 até a quebra no ano de 1992; -um acrêscimo das aquisições como forma de entrada; -o reforço da CEE como locus principal de origem do IDE (atingindo mais de 70% a partir de 1988; ver Grafico 5.7 na página seguinte); -a clara preponderância do sector bancário como destino do IDE (chegando a quase 2 terços do total no início dos anos 90)99; -a correspondente fraqueza do IDE na indústria transformadora (que cai abaixo dos 20% no início dos anos 90.Ver Gráfico 5.9 na página seguinte).

99Tem-se registrado uma superestimação deste item, já que o investimento para Holdings é contabilizado como investimento financeiro

67

GRÁFICO 5.6 ORIGEM DO IDE FEITO EM PORTUGAL (1981 - 1990)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Resto do Mundo

Japão

Países Europeus da OCDE( Menos CEE )

CEE

Canadá

EUA

fonte:Relatórios do Banco de Portugal.

GRÁFICO 5.7 DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE FEITO EM PORTUGAL (1981 - 1992)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Atividades Mal-Definidas

Serviços Prestados à Coletividade, Serviços Sociais e ServiçosPessoais

Bancos e Outras Instituições Financeiras, Seguros, Operaçõessobre Imóveis e Serviços Prestados as Empresas

Transportes, Armazenagens e Comunicações

Comércio por Grosso e a Retalho, Restaurantes e Hotéis

Construção e Obras Públicas

Eletricidade, Gás e Água

Indústrias Transformadoras

Indústrias Extrativas

Agricultura, Silvicultura, Caça e Pesca

fonte: Banco de Portugal, Diário de Notícias.

68

5.2 O IDE BRASILEIRO EM PORTUGAL Uma das primeiras questões que se coloca em sua quantificação é a habitual: a qualidade - e, portanto, confiabilidade - dos dados disponíveis. As informações sobre o total de IDE brasileiro fornecidas pelo ICEP (a série mais longa disponível), e pelo BACEN não coincidem (Ver Tabela 5.VII abaixo).

TABELA 5.VII IDE BRASILEIRO DESTINADO A PORTUGAL

em Milhões de Dólares

1962/82 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992

BACEN 5,869, 0 0 118. 594. 448. 125. 63,481, 39,799, 29,724, -5,069,

ICEP - - - 104. 461.450 1,793. 336.562 97,507, 92,210, 56,874, 38,671,

fontes: BACEN, ICEP.

As razões para tal poderiam ser são duas: primeiro, os dados do ICEP são para investimento autorizado, e não para investimento realizado - note-se que, com exceção dos dois primeiros anos da série, a diferença dos dados do ICEP é sempre por excesso - ; segundo, parte dos investimentos podem ter sido financiados via outras fontes (desde tax heavens a capitalização em mercados financeiros internacionais). Outra questão é que, apesar do crescimento exponencial deste fluxos (Ver Gráfico 5.8 na página seguinte), o número e o valor destes investimentos foram, em termos concretos, muito reduzidos (tão reduzidos, de facto, que uma mera segmentação sectorial quase que permite distinguir os investimentos feitos por empresas específicas). Além disto, como pode ser observado pelo mesmo gráfico, tal fluxo parece ter tido uma vida muito breve: atinge o seu auge em 1989 - como já referido, o ano de vigência do Convênio de Investimentos Mútuos, que não chegou a utilizar 23% dos fundos colocados à sua disposição -, dois anos a frente do auge dos fluxos de IDE brasileiros, 1991, e já em 1992 registra-se um desinvestimento líquido superior aos 5 milhões de dólares.

Parte das razões para tal já foram aventadas: uma redução do dinamismo brasileiro - interno e do seu IDE (mas relembre-se que a queda do fluxo destinado a Portugal antecede a queda global em 2 anos: o IDE total continua a crescer, e a taxas mais elevadas, quando este já cai) - quanto um progressivo desencanto com as realidades e limitações do mercado português e a perda do dinamismo deste e do mercado comunitário como um todo, quanto uma reorientação estratégica das empresas para a América Latina - a implantação do Mercosul, quanto ainda o esgotamento dos sectores/empresas que possuem FSAs que potencializam sua internacionalização - em outros termos, os candidatos mais aparentes na estrutura

69

produtiva brasileira ao "salto" para o mercado externo, e mais ainda, para um mercado com as características do português, já o fizeram100.

GRÁFICO 5.8

IDE BRASILEIRO TOTAL FACE AO IDE BRASILEIRO DESTINADO À PORTUGAL (1983-1992)

-200

0

200

400

600

800

1000

1200

1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992

TOTAL

PORTUGAL

fonte: BACEN ( Banco Central da República Federativa do Brasil ).

Da observação da sua distribuição sectorial podemos deduzir que (Ver Anexo IV e Gráfico 5.9 na próxima página, construído a partir dos dados de distribuição sectorial do Convênio Interbancário e dos dados do ICEP de IDE autorizado, na falta de dados melhores) os totais e a distribuição variam grandemente com as inversões de umas poucas de empresas específicas em cada ano, e que sua distribuição sectorial - concentrada em actividades como Comércio e Distribuição, Construção e Obras e Serviços Financeiros - indica como sendo seu objectivo atender à procura interna, tendo portanto uma intensidade exportadora reduzida (para actividades específicas da indústria, como a Química ou a Autopeças, não é este o caso), contrariando a hipótese da realização do IDE em Portugal para atender ao mercado europeu (mas não a intenção declarada por alguns empresários de utilizar o mercado português como uma "plataforma de aprendizado" para as condições concorrênciais, legais e ambientais vigentes em mercados mais sofisticados e desenvolvidos, visando inversões futuras nestes mercados).

100Não se quer com isto dizer que o grupo de empresas passivel de dar este "salto" é invariável: novos candidatos nele se colocam, outros deixam de possuir as condições para tal. O conceito de uma FSA é inerentemente dinâmico, quase conjuntural. Mas em cada dado momento, num dado tecido produtivo, haverá um número limitado de empresas capaz de, de forma efectiva, internalizar vantagens não-dissipáveis e utiliza-lás como um activo específico num processo de internacionalização.

70

GRÁFICO 5.9 DISTRIBUIÇÃO SECTORIAL DO IDE BRASILEIRO EM PORTUGAL

(1989 - 1992)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1989 1990 1991 1992

OUTROS

SETOR FINANCEIRO

COMÉRCIO E DISTRIBUIÇÃO

CONSTRUÇÃO E OBRAS

INDÚSTRIA

SETOR PRIMÁRIO

fontes:Banco de Portugal, ICEP. Colocando em outros termos, o universo de empresas brasileiras instaladas em Portugal - universo evidentemente variável -, que flutua em torno de um número inferior a cinco dezenas (de acordo com listagens fornecidas pela Câmara de Comércio Brasil - Portugal e pelo Consulado Brasileiro) - e, note-se, constituido por empresas privadas101, revelando o grande dinamismo e variedade do scetor privado no processo de internacionalização, contrariando suas raízes "estatais"-, é constituido em grande parte de pequenos escritórios de representação comercial, tradings, firmas de advocacia, uma reduzida faixa intermediária de médias empresas e algo como uma dezena de grandes empresas: é o movimento desta parcela do universo, as grandes empresas, que determina os totais e a distribuição sectorial do IDE brasileiro. Especificamente, a movimentação no sector Comércio e Distribuição reflete em grande parte as ações do Grupo Pão de Açucar (desde 1992 não mais maioritariamente brasileiro, resultado de disputas sucessórias na Famíla Santos Diniz); os fluxos no sector Construção e Obras refletem as principalmente ações da CNO (Construtura Norberto Odebrecht, que em 1989 adquire uma construtora portuguesa em dificuldades, a Bento Pedroso Construções), da Andrade Gutierrez (que no mesmo ano adquire outra construtora em dificuldades, a Zagope), da Montreal e da Wrobel (que entram no mercado através da implantação de filiais, sendo a Montreal mais ligada a área de projectos); os fluxos no sector financeiro refletem maioritariamente as ações do Banco Itaú (segundo maior banco privado brasileiro, e aquele que juntamente com o Banco do Brasil - mas por razões e com objectivos totalmente diferentes deste - encetou uma estratégia de internacionalização 101À exceção do Banco do Brasil, implantado em 1972, com duas agências, uma em Lisboa e outra no Porto.

71

não totalmente ligada ao aproveitamento "oportunista" da rolagem da dívida externa brasileira, mas visando efectivamente constituir uma rede externa, primeiro via a aquisição -através de sua holding, a Itausa - de uma posição no Banco Fonseca e Burnay em 1988, e depois no Banco Português de Investimentos, em 1993, com a fusão destes, culminando com um pedido - concedido em 1994 - ao BdP de instalação uma instituição bancária própria, o Banco Itaú Europa102); os totais de IDE na indústria transformadora refletem grandemente as ações da indústria petroquímica baiana em 89 e 90 (Grupo Mariani na aquisição da CPB, Companhia Petroquímica do Barreiro, quando de sua reprivatização) e do sector metal-mecânico paulista em 91 e 92 (a COFAP, Companhia Fabricante de Autopeças, na implantação de uma filial, a COFAP-Europa, a continuação de seu acompanhamento aos seus clientes Ford e Volkswagen, uma velha relação expandida também para o mercado argentino após a constituição por estes da holding Autolatina - holding que agrupou e racionalizou as unidades industrias de ambos os grupos na América do Sul -, com a aquisição pela COFAP da empresa platina dominante do sector); ainda o item OUTROS refletiria, por sua vêz, a ação pontual de empresas específicas - como o caso da aquisição de 15% da rede de televisão SIC quando de sua implantação em 1992 pela Rede Globo de Televisão.

102O universo das empresas brasileiras em Portugal também inclui uma outra empresa do grupo Itaú que é um dos off-springs da falhada tentativa brasileira de constituir uma indústria independente no sector de informática - com elevados custos para a competitividade geral do tecido produtivo, a ITAUTEC, com certa participação nas áreas de automação bancária e comercial (e uma falhada tentativa de ocupação de uma fatia no mercado de electrônica de consumo).

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6 A ESTIMAÇÃO DAS COMPONENTES ESPECÍFICA ÀS EMPRESAS E CONJUNTURAL NA DETERMINAÇÃO DO PROCESSO DE REALIZAÇÃO DE IDE POR EMPRESAS BRASILEIRAS Neste capítulo de nosso trabalho procuraremos estimar as componentes específicas (agregadas - pooled - e individuais) das empresas de nossa amostra que influenciam a realização de IDE por empresas que já são EMNs, assim como os determinantes conjunturais nos processos de realização do IDE total, a partir de dados específicos por empresa e totais de IDE. 6.1 - A ESTIMAÇÃO DAS COMPONENTES AGREGADAS E INDIVIDUAIS DAS EMPRESAS DA AMOSTRA A tentativa de estimação de componentes agregadas e específicas às empresas coloca a partida o tradicional problema da disponibilidade dos dados. Para se verificar a influência de factores específicos à firma na realização do investimento externo103 precisa-se, evidentemente, de séries de IDE anuais específicos por firma. Tais dados, disponíveis no BACEN e no BdP, não são acessiveis ao público em geral. Procurou-se, portanto, diversas fontes alternativas, viabilizando a construção de uma série de dados para 30 empresas no período 1980 a 1989 (nas actividades Agro-indústria, Celulose, Papel e Papelão, Combustíveis Minerais, Comércio Atacadista e Varejista, Comunicações, Construção Civil, Material Elétrico e de Comunicação, Material de Transporte, Produtos Alimentares, , Mecânica, Metalurgia, Madeira, Produtos Alimentares, Transformação de Minerais Não-Metálicos e Vestuário, Calçados e Artefatos de Tecido), num total de 260 observações utilizáveis. A partir desta série, - a melhor que nos foi possível constituir, e, pelo nosso conhecimento, a mais extensa e detalhada desagregação a este nível já feita com empresas brasileiras, mas reconhecidamente de valor analitico um tanto limitado, dados seus enviesamentos temporal e de escala, já que inclui apenas uma amostra de grandes empresas que são EMNs -, procuraram-se dados que pudessem exprimir características específicas a estas empresas que potencializassem a internacionalização. Para tal, usaram-se os dados da publicação "Conjuntura Econômica - 500 Maiores Empresas " (da FGV - Fundação Getúlio Vargas - do Rio de Janeiro) para o mesmo período em questão. Foram utilizadas as séries de Imobilizado Líquido, Vendas e Lucro Líquido face ao Patrimônio Líquido - respectivamente, para representar a existência de vantagens derivadas do tamanho da empresa e de poder de mercado (é de se esperar um certo grau de multicolinearidade entre as variáveis IL e V) e de diferências substâncias e sustentados de rendibilidade, que revelassem a endogeneização e o aproveitamento de FSAs104. Espera-se que, em princípio, todas estas variáveis influênciem positivamente a realização de IDE. 103Note-se que isto não constitui, na realidade, um teste de determinantes de multinacionalização, na medida em que todas as firmas já são EMNs, mas sim de determinantes de realização de IDE por empresas brasileiras que já são multinacionais. 104Foi também tentada a inclusão de outra variável para medir o mais propriamente poder de mercado, nomeadamente as vendas face ao produto bruto sectorial (uma medida de concentração sectorial,

73

6.1.1 - A COMPONENTE AGREGADA DA AMOSTRA A primeira tentativa de estimação dos determinantes agregados da amostra foi feita através de uma unbalanced panel (já que os períodos temporais de disponibilidade dos dados não são equivalentes para todas as empresas da amostra), na forma

it it it it it it it it itIDE IL V L= + + + +α β χ δ ε ,

onde i = 1, ..., 30; e t = 1, ..., 10, e sendo as variáveis as seguintes105: IL = Imobilizado Líquido V = Vendas L = Lucro Líquido sobre Patrimônio Líquido numa estrutura do tipo pooled, ou seja, onde todos os coeficientes são constantes entre as unidades da amostra, assumindo-se que as diferenças no tempo e entre indivíduos são capturadas pelo resíduo - em termos práticos, uma OLS tradicional, com todos os pressupostos básicos habituais -, tendo como forma geral (Ver Judge at alli,1985)

it kk

K

kit itIDE x= + +=�α β ε

2

e sendo os resultados de tal estimação os seguintes: Nº Observações Utilizáveis: 260; Graus de Liberdade: 237 Média de Y: 2299.455769 Erro-padrão da Regressão: 13047.446673 R2 : 0.130515; R2 ajustado: 0.103969 Teste de Durbin-Watson: 1.970887 Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância IL 0.075564853 0.031217834 2.42057 0.01624909 V 0.002398147 0.009956600 0.24086 0.80987182 L 9.362732142 40.406422833 0.23171 0.81696013

o poder explicativo da regressão é muito reduzido, e apenas a variável Imobilizado Líquido é estatisticamente significativa (embora todas apresentem o sinal positivo inicialmente esperado). Note-se a ausência de autocorrelação.

portanto). Entretanto, a desagregação fornecida pelos Anuários Estatísticos do IBGE não é "fina" o suficiente para permitir uma cobertura adequada aos sub-sectores aos quais as empresas de nossa amostra pertenciam, resultando numa variável carente de significação. 105Note-se que aqui os coeficientes de regressão de cada equação permanecem os mesmos para todo o sistema, reduzindo-se este a uma única equação, e sendo as observações combinações de dados seccionais e temporais. Ver Kmenta, 1988.

74

O teste de outras especificações deste mesmo modelo não modifica substâncialmente este resultados. As especificações envolvendo IL e V, e IL e L apresentam R2 ajustados de 9.5% e 10.37% respectivamente, sendo IL a única variável significativa ( com estatísticas de T de 2.58 e 5.178, para níveis de significância marginal de .0103 e .00000002, com 238 graus de liberdade). V se torna significativa quando em conjunto com L (uma T de 5.195, com nível de significância marginal de .000000044) numa regressão de poder explicativo igualmente muito reduzido (8.1%). Nas regressões com apenas uma variável explicativa todas elas foram significativas, ainda em regressões de poder explicativo muito reduzido (o R2 ajustado da regressão que utiliza L como única variável explicativa chega ao ponto de ser negativo, -.02%, com uma T de 1.386, significativa a 16.6%, com 239 graus de liberdade), com coeficientes mais uma vêz positivos e não se registrando auto-correlação. Os resultados destas modelizações agregadas para a amostra não se apresentaram satisfatórios - apesar de algumas das regressões utilizando varáveis explicativas ligadas ao tamanho da empresa apresentarem resultados positivos106 - possivelmente devido ao fato do pressuposto da homogeneidade dos coeficientes ser excessivamente restritivo. Passaremos, portanto, na seção seguinte, a testar os determinantes individuais das empresas de nossa amostra na realização do IDE numa modelização que permita esta variação individual. 6.1.2 - A COMPONENTE INDIVIDUAL DA AMOSTRA Utilizaremos na estimação da componente específica individual das empresas a técnica desenvolvida por Zellner (Ver Zellner, 1962) para sistemas de equações aparentemente não-relacionadas ("Seemingly Unrelated Regressions"), sistemas SUR. A estimação de de um sistema de equações simultâneas - o que é o caso da nossa estimação - faz sentido a partir do momento que se assume uma influência geral de algum elemento sobre todas as unidades componentes desta amostra. Por exemplo, diferentes equações de oferta para diferentes produtos agrícolas são conjuntamente afetadas pelas condições climáticas. Mais específicamente ao caso em questão, o estado geral da economia - variável em geral não explicitada em estimações da dimensão micro de análise - provavelmente tem efeitos similares sobre as funções de investimento externo das diferentes firmas em nossa amostra, efeito manifesto através de correlação contemporânea entre os resíduos das diferentes equações. Isto significa que se assume a existência de uma correlação entre os resíduos das equações em questão, mas apenas para cada dado momento t (Ver Judge at alli, 1985 e 1988, e Kmenta, 1988). A existência deste tipo de correlação faz com que a estimação

106A modelização realizada por Horst (Horst, T.; 1972), na qual esta em parte se baseia, chega a resultados semelhantes (assim como por Vernon, em Vernon, R., 1971): justificativas para a significância do tamanho como elemento explicativo podem advir tanto da diluição de custos fixos e do risco ligados ao IDE por firmas maiores, quanto do facto deste dado actuar como uma proxie para outras características, como diversidade de linha de produtos, despesas em R&D e em publicidade. Ver Horst, T. 1972 e Vernon, R., 1971.

75

conjunta destas equações seja mais eficiente que uma estimação isolada, na medida em que se utiliza informação adicional no processo. Tal procedimento implica o relaxamento de um dos pressupostos básicos do modelo de regressão linear clássico (OLS, Ordinary Least Squares na terminologia anglo-saxônica), sendo o modelo menos restritivo dai resultante denominado modelo de regressão linear generalizada (GLS, Generalized Least Squares), e sendo formas mais restritivas - como a OLS - encaradas como casos especiais ou limites deste. A especificação geral deste modelo, aplicada à nossa amostra, tem a forma

1

2

30

11 12 1 1 13 1 2 14 1 3 1

21 22 2 1 23 2 2 24 2 3 2

301 302 30 1 303 30 2 24 2 3 30

t

t

t

EMPRESA

EMPRESA

EMPRESA

IDE IL V LIDE IL V L

IDE IL V L

t t t t

t t t t

t t t t

= + + + +

= + + + +

= + + + +

α β χ δ εα β χ δ ε

α β χ δ ε

, , ,

, , ,

, , ,

� � � � � �

onde t = 1,...,10. Usando notação matricial, podemos escrever

εβγ iii+= Χ , onde i = 1,...,M (M=30).

iγ e

iε são matrizes de dimensão (Tx1), iX de dimensão (TxKi) e

iβ de

dimensão (Kix1), ou seja

�����

�����

+

�����

�����

�����

�����

=

�����

�����

Χ

ΧΧ

ε

εε

β

ββ

γ

γγ

MMMM

����

2

1

2

1

2

1

2

1

*

Ou ainda,

γ β ε 2 1708 Tχ(=+ )TjεΕTεθε1 i ε1873121 11.76 12496207.04 ρεεW nεΒTε18.0356 0 0 18.0356 18731006 140.9603 Tµε0 Tχε(Χ)TjεΕTεQεΒTε/TT2 1 Tφε12.0056 0 0 12.0056 312.7206 168.001 TDεε0 Tχε( )Tjε−.8 18 ε−1.5934 TDε( )Tjε−17 309 ε−132794 TDε−0.0020 Tχεon δε

γ ,ε Χ ,

76

i) [ ] 0==Ε ε it

, ou seja, os resíduos tem média zero;

ii)

( ) [ ]( ) [ ]( ) [ ] �

��

==Ε=

==Ε===Ε=

σσεε

σσεεσσεε

3030

2

30

2

3030

22

2

2

2

22

11

2

1

2

11

var

var

var

tt

tt

tt

����,

ou seja, a variância dos resíduos é constante no tempo para cada equação, mas cada equação tem uma variância diferente; iii) ( ) [ ] ,cov σεεεε ijjtitjtit

ar =Ε= onde i, j = 1,..., 30.; ou seja, existe

correlação contemporânea entre os resíduos das equações; iv) ( ) [ ] ,0cov =Ε= εεεε jsitjsit

ar para t ≠ s e i, j = 1,..., 30.; ou seja, não

existe autocorrelação. A matriz de covariância para o vector dos erros é, consequentemente,

[ ] I

III

IIIIII

T

TMMTMTM

TMTT

TMTT

�⊗=

�����

�����

=Ε=Φ

σσσ

σσσσσσ

εε�

����

21

22221

11211

', onde

�����

�����

=�

σσσ

σσσσσσ

MMMM

M

M

����

21

22221

11211

sendo a matriz � simétrica (σij=σji), e assumindo-a não-singular e, portanto, positiva definida. A estimativa para a matriz de coeficientes numa GLS - β - é dada por

( ) ( )[ ] ( )γγβ � ⊗� ⊗ΦΦ −−=−=−−− 11'1' '

11'1

IXXIXXXX

Em termos de comparação, o estimador para os coeficientes numa OLS - b - seria dado por

78

sendo a hipótese nula nula rejeitada para a amostra se λ , que tem uma distribuição

assintótica 2χ com ( ) 21−MM graus de liberdade, tiver um valor superior ao

valor crítico de ( )χ 2

120 para o nível de significância escolhido. O resultado do teste é

( )00632.88

2

120=χ , sendo a hipótese nula rejeitada para um nível de significância de

5%. Igualmente a realização de um teste da imposição de J restrições lineares entre os coeficientes - ou Teste de Wald107 -, na forma

� ( �� )'( � ') ( �� ) ( ),g R r RCR R r

d

J= − − →−β β χ1 2

que possui como hipóteses nula e alternativa respectivamente

0 1 0Η Η: ; :R r Rβ β= ≠

e sendo a hipótese nula rejeitada para valores de �g que excedam o valor crítico da

distribuição ( )J2χ para dado nível de significância para o nosso modelo SUR, com o

resultado de ( )

. . ,4

282 410183 14 8603χ = > para um valor crítico de 0.005%, levou a a

rejeição da hipótese nula de homogeneidade entre os coeficientes, e apoiando mais uma vez a utilização de uma modelização do tipo SUR. Os resultados do procedimento SUR para cada um dos indivíduos de nossa amostra são listados a seguir (o número de observações utilizáveis e de graus de liberdade é o mesmo para todas as regressões seguintes: respectivamente, 10 e 6). Erro-padrão da Regressão: 17780.264466 R2 : 0.813177; R2 ajustado: 0.399307 Teste de Durbin-Watson: 1.890191

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 23021.11547 10121.76170 2.27442 0.02294088 IL 0.02794 0.04617 0.60506 0.54513848 V -0.03470 0.01536 -2.25852 0.02391345 L 1871.35251 456.52396 4.09913 0.00004147

107 A imposição da homogeneidade dos vectores de coeficientes entre as equações, na forma

1Β Β= =� M

, leva-nos a poder verificar se a utilização de dados agregados de nossas unidades de

observação de nível micro - as firmas - induz ou não a um enviesamento derivado da agregação (Ver Zellner, 1962). Em princípio a acreditamos que sim, já que nossa amostra não pode ser considerada como uma amostra aleatória de um universo maior, e já que na realidade estamos interessados na estimação de características específicas a cada um dos indivíduos desta amostra (tratando-se portanto de um problema de inferência condicional).

79

A regressão para a empresa 1, uma empresa estatal da actividade "Combustíveis Minerais", apresenta R2 razoavelmente elevado, com leves indícios de autocorrelação positiva. A variável IL é não-significativa e V apresenta um sinal negativo. Note-se a elevada significância e o valor do coeficiente para L (a análise das motivações do IDE para esta empresa - já que se trata da detentora do monopólio constitucional do sector - implicam igualmente considerações estratégicas e de "segurança nacional") . Erro-padrão da Regressão: 58.730843133 R2: 0.482603; R2 ajustado: 0.425115 Teste de Durbin-Watson: 2.597827

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 205.7455208 42.1742985 4.87846 0.00000107 IL -0.0083636 0.0028272 -2.95822 0.00309423 V 0.0075189 0.0070378 1.06836 0.28535645 L -3.4371270 1.0016724 -3.43139 0.00060050

A regressão para a empresa 2, uma empresa privada da actividade "Celulose, Papel e Papelão", apresenta um R2 razoavel, fortes indícios de autocorrelação negativa (não reduzidos significativamente pela correção para resíduos autoregressivos de 1ª ordem, o procedimento AR1, para qualquer das empresas da amostra108), sendo a variável V não-significativa e apresentando tanto IL quanto V sinais negativos.

Erro-padrão da Regressão: 1778.8804781 R2 : 0.473439; R2 ajustado: 0.409696 Teste de Durbin-Watson: 1.579148

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 3445.771450 1051.629596 3.27660 0.00105064 IL -0.223285 0.077044 -2.89813 0.00375391 V 0.008512 0.040069 0.21242 0.83177644 L -110.321030 26.286210 -4.19692 0.00002706

A empresa nº3, uma empresa privada da actividade "Construção Civil", apresenta um R2 razoavel, fortes indícios de autocorrelação positiva, com a variável vendas não-significativa, e apresentando IL e L sinais negativos, como no caso anterior (isto poderia indicar uma estratégia de IDE ligada a redução da lucratividade

108 A existência de processos autoregressivos nos residúos, sejam estes de 1ª ordem ou de ordens superiores, sendo o primeiro caso expresso pela formula

t t tε ρε µ= − +1

,

faz com que com os estimadores dos minimos quadrados dos coeficientes de regressão sejam consistentes e não-tendenciosos, mas não mais assintoticamente eficientes. Em termos práticos, isto significa que a construção de testes de hipótese e de intervalos de confiança implica regiões de aceitação e intervalos mais amplos ou mais estreitos, dependendo da autocorrelação registrada ser negativa ou positiva (Ver Kmenta, 1988).

80

no mercado doméstico e paralela a uma estratégia de ajuste da capacidade produtiva interna). Erro-padrão da Regressão: 6572.4997919 R2 : 0.358695; R2 ajustado: 0.287439 Teste de Durbin-Watson: 1.512463

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 2104.624095 3333.377231 0.63138 0.52779279 IL 0.465149 0.441130 1.05445 0.29167752 V -0.126369 0.068942 -1.83297 0.06680709 L 198.961413 125.390485 1.58673 0.11257277

A regressão para a empresa 4, uma empresa privada da actividade "Comércio Atacadista e Varejista", apresenta um R2 relativamente baixo, indícios de forte autocorrelação positiva, sendo V a única variável altamente significativa, e possuindo um coeficiente negativo (L, significativo a 88,74%, apresenta um sinal positivo), indicando o IDE como estratégia de fuga à redução do mercado doméstico. Erro-padrão da Regressão: 190.7351131 R2 : 0.999364; R2 ajustado: 0.999288 Teste de Durbin-Watson: 1.340315

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C -502.3699727 120.9941163 -4.15202 0.00003296 IL 0.0097532 0.0049549 1.96838 0.04902426 V 0.0103488 0.0005833 17.74250 0.00000000 L 3.5458503 5.0998921 0.69528 0.48688016

A empresa número 5, a empresa privada líder da actividade "Construção Civil", apresenta um R2 extremamente elevado, fortes indícios de autocorrelação positiva, sendo a variável L não significativa mas positiva. Os coeficientes positivos para as variáveis indicativas de tamanho - IL e V - indicam a potencialização das vantagens dai advindas numa estratégia de internacionalização. Erro-padrão da Regressão: 58.286289642 R2 : 0.608043; R2 ajustado: 0.712118 Teste de Durbin-Watson: 3.286899

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 68.6014337 144.0947019 0.47609 0.63401329 IL -0.0936629 0.0644017 -1.45435 0.14584829 V 0.0241865 0.0082895 2.91772 0.00352600 L -2.5251750 5.0703629 -0.49803 0.61846537

A regressão para a empresa 6, uma empresa privada da actividade "Material de Transporte", apresenta um R2 razoavelmente elevado, fortes indícios de autocorrelação negativa, sendo V significativa e positiva (e sendo IL significativa a 84.416%, e apresentando sinal negativo), o que pode indicar uma estratégia de

81

internacionalização potencializada pela sua posição de mercado, paralela a um certo grau de desinvestimento interno. Erro-padrão da Regressão: 31.782193215 R2 : 0.311168; R2 ajustado: 0.234631 Teste de Durbin-Watson: 1.375690

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 20.46917902 12.89711154 1.58711 0.11248694 IL 0.00266596 0.00603265 0.44192 0.65854534 V -0.00270238 0.00153323 -1.76253 0.07797915 L 0.46375232 0.24082472 1.92568 0.05414383

A empresa número 7, uma empresa privada da actividade "Vestuário, Calçados e Artefatos de Tecido", apresenta um R2 relativamente baixo, com indícios de autocorrelação positiva, sendo V e L significativas, a primeira com sinal negativo e a segunda com sinal positivo (mais uma vêz, IDE como estratégia de fuga à redução do mercado doméstico, paralela a um aumento da lucratividade da empresa). Erro-padrão da Regressão: 732.5317313 R2 : 0.736828; R2 ajustado: 0.664704 Teste de Durbin-Watson: 3.120755

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 2368.155390 624.151830 3.79420 0.00014812 IL -1.639550 0.420716 -3.89705 0.00009737 V 0.170113 0.108377 1.56964 0.11649782 L 55.126392 18.345256 3.00494 0.00265633

A regressão para a empresa 8, uma empresa privada da actividade "Material de Transporte", apresenta um R2 razoável, com fortes indícios de autocorrelação positiva, e tendo IL, L e V significativas (esta última a 88.351%), com o sinal do coeficiente para Il negativo, indicando uma estratégia de realização de IDE potencializada pelo tamanho da empresa e pela sua lucratividade, com desinvestimento no mercado doméstico. Erro-padrão da Regressão: 131.76636896 R2 : 0.348911; R2 ajustado: 0.348911 Teste de Durbin-Watson: 2.741254

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 295.9551894 85.5788693 3.45827 0.00054365 IL -0.6054201 0.2054279 -2.94712 0.00320752 V 0.0298751 0.0115253 2.59213 0.00953828 L -4.5167126 18.345256 -3.81405 0.00013671

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apresentando Il e V sinais negativos (face a redução da lucratividade no mercado interno, a empresa teria optado por uma estratégia de ajuste da capacidade instalada internamente, ligada ao IDE). Erro-padrão da Regressão: 131.76636896 R2 : 0.656012; R2 ajustado: 0.166339 Teste de Durbin-Watson: 1.482202

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 708.297043 1303.215192 0.54350 0.58678580 IL -0.045426 0.022311 -2.03602 0.04174849 V 0.041226 0.063158 0.65275 0.51391660 L 193.831673 70.966505 2.73131 0.00630827

A regressão para a empresa 10, uma estatal da actividade "Comunicações", apresenta um R2 razoável (embora deva-se notar a substancial diferença entre os valores do R2 centrado e não-centrado), e indícios de autocorrelação positiva, tendo IL e L significativas, a primeira com sinal negativo e a segunda positivo (o que poderia indicar um efeito potencializador da lucratividade na internacionalização, paralela a ajuste de capacidade. Note-se que aqui as motivações para o IDE, assim como a noção de "lucratividade", devem ser relativizadas: esta empresa trata-se do monopólio estatal para o sector). Erro-padrão da Regressão: 45824.108261 R2 : 0.639999; R2 ajustado: 0.595682 Teste de Durbin-Watson: 1.576688

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 124212.9536 23597.7241 5.26377 0.00000014 IL -8.2127 3.1068 -2.64347 0.00820606 V -0.3332 0.8320 -0.40042 0.68884496 L -2838.4380 669.9973 -4.23649 0.00002270

A empresa nº 11, uma empresa privada da actividade "Construção Civil", apresenta um R2 razoavelmente elevado, com indícios de autocorrelação positiva, tendo IL e L significativas e negativas, sendo o IDE possívelmente uma estratégia de fuga a redução da lucratividade no mercado doméstico paralela ao ajuste da capacidade instalada. Erro-padrão da Regressão: 2067.0265145 R2 : 0.422611; R2 ajustado: 0.215791 Teste de Durbin-Watson: 1.765947

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 975.4984878 791.4605318 1.23253 0.21775132 IL -0.1030261 0.0314953 -3.27115 0.00107109 V -0.0768398 0.0362378 -2.12043 0.03396994 L 217.2403526 53.9941090 -2.12043 0.00005736

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A regressão para a empresa número 12, uma empresa privado da actividade "Comércio Atacadista e Varejista", apresenta um R2 relativamente reduzido, com certos indícios de autocorrelação positiva, e tendo as variáveis todas significativas (com exceção da constante), sendo IL e V negativas e L positivas, indicando o IDE como sendo potencializado pela lucratividade e como estratégia de "escape" a redução da dimensão do mercado doméstico, paralela a desinvestimento. Erro-padrão da Regressão: 1903.4265846 R2 : 0.396831; R2 ajustado: 0.258487 Teste de Durbin-Watson: 1.736970

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 198.5351601 931.8316703 0.21306 0.83128091 IL -0.0427920 0.1562222 -0.27392 0.78414808 V 0.0021969 0.0409830 0.05361 0.95724969 L 48.2375046 64.0651843 0.75294 0.45148348

A empresa nº 13, mais uma empresa privada da "Construção Civil", apresenta um R2 relativamente reduzido, com indícios de autocorrelação positiva, e tendo todas as variáveis não-significativas. Erro-padrão da Regressão: 58.897489082 R2 : 0.074956; R2 ajustado: -0.027826 Teste de Durbin-Watson: 2.284117

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 17.06437768 31.97985978 0.53360 0.59361994 IL 0.00563498 0.03370095 0.16721 0.86720837 V 0.00281152 0.01380227 0.20370 0.83858824 L -1.92627838 1.68700554 -1.14183 0.25352348

A regressão para a empresa de número 14, uma empresa privada da actividade "Madeira", apresenta R2 um muito reduzido (chegando inclusive o R2 ajustado a ser negativo), certos indícios de autocorrelação negativa, e tendo mais uma vêz todas as variáveis não-significativas. Erro-padrão da Regressão: 47.224992821 R2 : 0.514400; R2 ajustado: 0.460444 Teste de Durbin-Watson: 2.194666

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 47.24369780 17.72039611 2.66606 0.00767452 IL -0.01687826 0.00532767 -3.16804 0.00153472 V -0.00156787 0.00155639 -1.00738 0.31375428 L 4.69939356 0.92552780 5.07753 0.00000038

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A empresa 15, uma empresa privada da actividade "Produtos Alimentares", apresenta um R2 relativamente elevado, com reduzidos sinais de autocorrelação negativa, sendo todas as variáveis, com exceção de V, significativas, apresentando IL um sinal positivo e L negativo, o que indicia o IDE como sendo potencializado pela lucrtatividade e possívelmente paralelo a um certo desinvestimento interno. Erro-padrão da Regressão: 106.80537348 R2 : 0.210837; R2 ajustado: 0.123152 Teste de Durbin-Watson: 1.949624

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 119.8310276 69.6749682 1.71986 0.08545830 IL -0.0382388 0.0437352 -0.87433 0.38194056 V -0.0005179 0.0065021 -0.07965 0.93651698 L 0.4282820 6.0625362 0.07064 0.94368107

E, finalmente, a regressão para a empresa de número 16, igualmente uma empresa privada da actividade "Produtos Alimentares", apresenta um R2 relativamente reduzido, e tem como única variável significativa a sua constante. Dos resultados das regressões anteriores para os sinais e os níveis de significância dos coeficientes estimados podem ser retiradas algumas conclusões gerais: o IDE foi feito pelas empresas da amostra, via de regra, como resposta a uma redução do mercado interno, e isto aconteceu paralelamente a um ajuste da capacidade produtiva doméstica (sendo isto possívelmente mais uma redução ditada pela conjuntura recessiva que uma substituição da produção doméstica pela externa, levando em consideração as restrições à importação vigentes para inúmeros sectores à época), existindo, portanto, mesmo a nível de empresa, um elevado componente conjuntural em sua realização. Já o papel da lucratividade como potencializador ou não do IDE para estas firmas é muito mais difícil de determinar em termos gerais, parecendo estar ligado a especificidades tecnológicas e de regulação de cada actividade e/ou firma. A utilização das duas metodologias anteriores (agregada e específica) para uma sub-amostra de 8 empresas brasileiras que efectivaram IDE em Portugal têm como resultado, para a estimação agregada (com 62 observações utilizáveis e 39 graus de liberdade): Média de Y: 957.9548387 Erro-padrão da Regressão: 3897.1063800 R2 : 0.380691; R2 ajustado: 0.341519 Teste de Durbin-Watson: 2.099664 Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância IL -0.04783958 0.02210252 -2.16444 0.03661372 V 0.01630976 0.00417803 3.90369 0.00036483 L 32.71744321 26.64849365 1.22774 0.22690312

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O poder explicativo da regressão é relativamente reduzido (mas três vezes superior ao da amostra total), não registra-se autocorrelação, e sendo tanto IL como V - especialmente esta última - significativas (até mesmo L é significativa a 81.310%), e sendo o sinal do coeficiente de IL negativo. Tal possívelmente se deve a não existência de empresas estatais nesta sub-amostra (estas possuem imobilizados líquidos muito superiores às médias da indústria transformadora e nem sempre estabelecem estratégias visando a maximização do bem estar privado). Note-se a sobre-representação da actividade "Construção Civil" (50% da sub-amostra). Para a estimação dos componentes específicos - modelização SUR - a sub-amostra reduziu-se a quatro empresa com dados contínuos entre 1980 e 1989, sendo os resultados (com 9 observações utilizáveis e 5 graus de liberdade para todas as equações, tendo sido feita uma correção para autocorrelação de 1ª ordem via o método AR1) os seguintes Erro-padrão da Regressão: 1585.3784047 R2 : 0.721176; R2 ajustado: 0.677668 Teste de Durbin-Watson: 1.775999

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 5895.259176 1198.216334 4.92003 0.00000087 IL -0.359038 0.126217 -2.84461 0.00444660 V 0.035542 0.052511 0.67686 0.49849745 L -276.325294 79.013519 -3.49719 0.00047019

Para a empresa 1, da actividade "Construção Civil", registra-se um R2 razoavelmente elevado e indícios de autocorrelação positiva, sendo IL e L significativos e negativos (IDE como fuga a quebra da lucratividade com desinvestimento interno). Erro-padrão da Regressão: 5494.5531355 R2 : 0.701202; R2 ajustado: 0.658517 Teste de Durbin-Watson: 2.394875

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 170.732449 3974.765846 0.04295 0.96573813 IL 0.400396 0.590933 0.67757 0.49804692 V -0.153319 0.081389 -1.88378 0.05959478 L 646.431807 212.406719 3.04337 0.00233946

Para a empresa 2, da actividade "Comércio Atacadista e Varejista", registra-se igualmente um R2 razoável , autocorrelação negativa, sendo V e L significativas (V com um sinal negativo). Erro-padrão da Regressão: 232.4545757 R2 : 0.999275; R2 ajustado:0.999371 Teste de Durbin-Watson: 1.388229

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C -598.2409975 144.9675598 -4.12672 0.00003680

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IL 0.0123928 0.0054305 2.28207 0.02248494 V 0.0100993 0.0006356 15.88855 0.00000000 L 6.0899737 6.2503122 0.97435 0.32988420

Para a empresa 3, da actividade "Construção Civil", registra-se um elevadíssimo poder explicativo e autocorrelação positiva, sendo IL e V significativos e positivos. Erro-padrão da Regressão: 72.622719922 R2 : 0.554036; R2 ajustado: 0.702055 Teste de Durbin-Watson: 2.492257

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C -165.1305933 196.4322966 -0.84065 0.40054465 IL 0.0597417 0.1104936 0.54068 0.58872801 V 0.0066216 0.0128129 0.51680 0.60529823 L 3.7877479 6.2923980 0.60196 0.54720330

Para a empresa 4, da actividade "Material de Transporte", registra-se um R2 razoável, assim como a existência de autocorrelação negativa, sendo que nenhuma das variáveis explicativas é significativa. Os resultados dos testes para a existência de correlação contemporânea - positivo - e de homogeneidade dos vectores de coeficientes - negativo - mantêm-se para esta sub-amostra, assim como as conclusões relativas aos determinantes do processo de realização do IDE por EMNs brasileiras. 6.2 - A ESTIMAÇÃO DA COMPONENTE CONJUNTURAL DO PROCESSO Nos parece, a partir das conclusões das secções anteriores, que a componente conjuntural (e portanto os elementos macro) na determinação do processo de multinacionalização das empresas da República Federativa do Brasil foi considerável. Fazendo-se uma estimação para o período de 1971 a 1992 do modelo

t BR tG BRI OCDE tG OCDE tI tΥ = + − + + − + − +α β χ φ ε, , ,1 1 1 , onde

Υ =

=

=

=

=

IDE

VAR PIB

INFLAÇÃO

VAR PIB

INFLAÇÃO

BR

BR

OCDE

OCDE

GIGI

.

.

como uma estimação dos efeitos das conjunturas doméstica e externa sobre os fluxos de investimento externo, tem-se como melhor resultado (depois de testados modelos alternativos, com a inclusão ou não de todas as variáveis apresentadas, com e sem

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defasamentos para todas as variáveis e para apenas algumas, e após feitas as correções necessárias para se tentar eliminar a auto-correlação) o seguinte: Nº Observações Utilizáveis: 20; Graus de Liberdade: 15 Média de Y = 194.93500000 Erro-padrão da Regressão = 105.73868972 R2 = 0.880779; R2 ajustado = 0.740678 Estatística de Durbin-Watson = 1.362305 Estatística F = 10.7108

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância

C 159.8385916 113.7954382 1.40461 0.18050486 GBR (-1) -16.3248695 6.0120723 -2.71535 0.01595971

GOCDE (-1) -1.3420092 18.0290672 -0.07444 0.94164718 IBR 0.2022365 0.0575402 3.51470 0.00312775

IOCDE (-1) 7.3190927 9.9099008 0.73856 0.47157090 Uma regressão relativamente robusta. O poder explicativo é elevado, a aderência global do modelo é boa, mas registrando-se ainda auto-correlação positiva, e sendo apenas duas variáveis explicativas claramente estatisticamente significativas - e apresentando os sinais negativos esperados -, ambas relativas à conjuntura interna. Note-se que a inflação tem um efeito imediato sobre os fluxos (como melhor proxie que é da conjuntura interna de curto prazo, e dada a indexação generalizada de preços, salários e mesmo activos na República Federativa do Brasil) enquanto que a taxa de crescimento do PIB atua apenas após um defasamento (os agentes esperam para se certficar se se trata de uma mudânça de tendência ou mera variação conjuntural), e que, entre as demais variáveis, a inflação na OCDE não apresenta o sinal negativo esperado. Os resultados da estimação acima vão de encontro, portanto, aos da seção anterior. A explicação intuitiva para tal concordância parece ser que - mesmo levando-se em consideração todas as ressalvas impostas pelos dados para os nossos resultados - o grau de interrelação entre o desempenho das empresas e o desempenho sectorial e geral da economia (e vice-versa) é muito elevado, sendo a separação de elementos específicos das empresas dos elementos conjunturais e gerais das economias como um todo difícil, dado que estas são elementos constitutivos do processo que conforma o todo - o que é especialmente verdadeiro quando se trata de grandes empresas, o que é caso de nossa amostra -, e que o estado deste todo afeta o de suas componentes individuais; haveria, portanto, um processo de feed-back entre estas duas esferas, mas existindo uma componente conjuntural comum na determinação do processo de realização do IDE pelas grandes empresas brasileiras na década de 80, relativizando de alguma forma a importância dos determinantes firma-específicos neste processo109, mas não suprimindo-os ou superando-os, e sim agindo em conjunção com estes. 109Note-se que esta seria a confirmação de um dos elementos de negação da "Core Theory of International Business" de Dunning, uma explicação macro, e não micro, para o processo, caso não se

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6.2.1 - OS DETERMINANTES CONJUNTURAIS NO IDE DESTINADO A PORTUGAL Repetindo-se o mesmo tipo de modelização110 já feita para o IDE brasileiro para o IDE realizado em Portugal obtêm-se os seguintes resultados, quando se regride o IDE total face a variação do PIB e a inflação portuguesa para o período entre 1981 e 1992 (resultados corrigidos para a ocorrência de auto-correlação negativa, reduzida mas não totalmente eliminada), Nº Observações Utilizáveis: 12; Graus de Liberdade: 9 Média de Y = 47081.747843 Erro-padrão da Regressão = 38896.562854 R2 = 0.829206; R2 ajustado = 0.743687 Estatística de Durbin-Watson = 2.562586 Estatística F = 13.0566

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância C 337583.7170 58143.3882 5.80606 0.00025751

GP -32871.0994 7709.7601 -4.26357 0.00210009 IP -12657.9752 2508.3924 -5.04625 0.00069387

ou seja, a conjuntura interna explicaria em grande medida os fluxos de IDE no período (o valor negativo para o coeficiente da taxa de crescimento do PIB poderia ser explicado por um processo de antecipação da parte dos agentes: o IDE anteciparia ações como a adesão à UE em 86 e a inflexão dos fluxos comunitários em 92 realizando inversões nos períodos de descenço cíclico de 84 e 85 e reduzindo inversões já a parir de 1991. A mera introdução de um defasamento positivo da um sinal positivo ao coeficiente, se bem que tal se de as custas de uma grande redução do R2 ajustado, e que a variável se revele não-significativa). Note-se que a inclusão da integração de Portugal na atual União Européia via uma dummy binária, assim como das taxas de crescimento e de inflação da OCDE (defasada ou não) modifica os resultados aqui obtidos para pior, agravando os sinais de autocorrelação no modelo e reduzindo seu poder explicativo (no caso da dummy de integração, possivelmente porque os agentes antecipam igualmente a sua afetivação; em termos de análise dinâmica, ela deveria ser igualmente introduzida com um defasamento positivo). Além disso, estas variáveis não se revelaram estatisticamente significativas e nem sempre apresentam os sinais experados (o crescimento na OCDE tambêm tem sinal um negativo).

tratassem de NEMNs, ou seja, outliers, nos termos propostos por Dunning. Entretanto, como já observado, a significância do termo "Multinacional Atípica" é, empirica e teoricamente, muito reduzida. 110Taveira, E., 1989, faz uma tentativa de modelização extremamente interessante para o IDE em Portugal, com um grau de sofisticação da análise muito superior; Santos, V., 1991, também propõe uma modelização.

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O não-melhoramento dos resultados pela inclusão de defasamentos para as demais variáveis poderia ser explicado pelo fato de as modificações cíclicas em pequenas economias abertas, muito integradas e dependentes da economia mundial - como é o caso de Portugal - serem refletidas muito mais rapidamente nos fluxos de capital externo do que em grandes economias fechadas, como é o caso do Brasil. Já a pouca importância em termos de poder explicativo da conjuntura da OCDE poderia ser explicada pela posição relativamente marginal de Portugal face aos fluxos de IDE; os capitais na margem destinados a economias periféricas como a portuguesa seriam pouco afetadas pelas variações conjunturais nas grandes economias centrais. Já no que diz respeito aos fluxos de capital brasileiros destinados a Portugal, usando-se como regressores apenas os índices de variação do PIB (dados os graus de liberdade disponíveis, uma modelização parcimoniosa era a mais indicada), sendo a variação do PIB português utilizada com um defasamento positivo (um defasamento negativo para o PIB brasileiro não se revelou significativo), e tendo como resultado Nº Observações Utilizáveis: 11; Graus de Liberdade: 9 Média de Y = 0.2557666667 Somatório dos Resíduos ao Quadrado = 0.0400017007 Erro-padrão da Regressão = 0.1000021258 R2 = 0.873054; R2 ajustado = 0.943469 Estatística de Durbin-Watson = 1.222562 Estatística F = 15.7665

Variável Coeficiente Erro-Padrão Estatística T Significância GP 0.0328386881 0.0077008723 4.26428 0.01300918

GBR 0.0756831766 0.0121759721 6.21578 0.00340968 ou seja, uma regressão de elevado poder explicativo, com indícios de autocorrelação positiva, onde ambos os índices de crescimento são significativos e positivos (o valor positivo do índice do crescimento do PIB brasileiro talvez fosse passível de correção via um número mais elevado de defasamentos negativos, mas tal não foi tentado, igualmente dada a reduzida dimensão temporal dos dados), indicando mais uma vez a importância do elemento conjuntural na determinação dos fluxos de IDE com origem na República Federativa do Brasil durante a década de 80.

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7 - CONCLUSÃO O objectivo deste trabalho foi caracterizar um processo específico de realização de IDE por uma nação periférica, em dados espaços geográfico e temporal: a realização de IDE por empresas multinacionais brasileiras em Portugal na segunda metade dos anos 80. O primeiro passo para isso foi a descrição histórica do fenômeno "multinacionalização" e de sua especificidade, assim como a caracterização de sua importância atual. O segundo foi a escolha de um dado referêncial teórico para explicar o fenômeno, dada a inadequação do referêncial tradicional. A escolha recaiu sobre uma teoria de forte base microeconômica (devido a se encarar o espaço empresa como o núcleo inicial e principal da decisão internacionalizar), baseada na internalização de vantagens não-dissipáveis pelas empresas e na sua utilização numa expansão que eventualmente supera as fronteiras nacionais. O passo seguinte foi a descrição do fenômeno específico (a multinacionalização de empresas brasileiras) no espaço físico-temporal (Portugal nos anos 80) que se pretendeu analisar. O último passo foi a realização de testes e estimações para se comprovar a adequação ou não do referêncial escolhido para a descrição deste fenômeno específico. Os nossos resultados não apoiam claramente a predominância da componente firma-específica na determinação da decisão de realizar um fluxo de Investimento Directo Externo (o que pode ter se dado pela limitação em termos das variáveis disponíveis para a caracterização de elementos firma-específicos passiveis de potencializar a internacionalização), sendo as variáveis mais sistematicamente significativas dentre as testadas aquelas ligadas ao tamanho da firma - resultado compatível com o obtido em estudos anteriores, sendo explicações possiveis para isto o fato do tamanho atuar como um redutor de custos fixos ligados à realização do IDE, do risco da inversão e como uma proxie para outras características da firma - e obtendo-se indicação de um processo de ajuste da capacidade instalada interna paralelo ao IDE, possivelmente mais devido ao processo de desaceleração cíclica então verificado na República Federativa do Brasil que devido a uma substituição da produção doméstica pelas importações. Já o papel da lucratividade no processo parece depender tanto das configuração tecnológica e regulacionais do sector quanto da conjuntura, sendo difícil fazer inferências a seu respeito. Registrou-se também uma considerável componente conjuntural como determinante dos totais agregados de investimento externo realizado naquele período, numa modelização posteriormente testada como alternativa aos determinantes micro do processo (a fuga às condições de instabilidade prevalecentes no mercado doméstico brasileiro no período em questão seria portanto o grande potencilizador deste movimento, sendo a variável mais representativa desta instabilidade a inflação).

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Tais resultados - a nível micro e macro de análise - poderiam se constituir num elemento de negação ao referêncial teórico proposto, ou seja, determinantes macro, e não micro, para o processo , desde que se assuma que as EMNs com sedes em nações do 3º mundo não constituem outliers (e não pareçe haver razão lógica ou empírica que justifique tal ponto de vista), e não se esquecendo o fato de que nossas estimações envolvem apenas firmas que já são EMNs (note-se que uma explicação alternativa a ser aventada para este caso seria a da componente conjuntural como determinante da decisão de realizar o IDE por firmas já EMNs, mas que apenas as firmas com vantagens não-dissipáveis internalizadas seriam capazes de dar o "salto" para o mercado externo, e de utilizá-lo como uma alternativa ao mercado doméstico). Nossas conclusões a respeito do futuro deste movimento específico não são promissoras: como já observado, não apenas o fluxo de IDE líquido brasileiro para Portugal é decrescente desde 1989, como foi negativo em 1992, e, assumindo-se como correta a conclusão a respeito da componente conjuntural sobre o IDE brasileiro, o inevitável processo de ajuste interno brasileiro só irá acentuar a tendência de desvio do IDE, com retornos substânciais do capital brasileiro expatriado, e especialmente considerando-se o fim do efeito "Europa-92" e as novas oportunidades abertas às empresas brasileiras pelo Mercosul. Gostariamos de ressaltar, mesmo dadas as limitações da presente análise, a importância deste estudo, dada a existência de poucos trabalhos nesta área, e de um número ainda menor daqueles que se propõe a uma análise quantitativa dos fenômenos de multinacionalização de empresas do "3º mundo". O banco de dados aqui gerado é, ao nosso conhecimento, virtualmente único nesta área, e, face a isto e dada sua dimensão, abre a possibilidade de estudos mais amplos e mais sofisticados sobre este tema no futuro.

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Códigos dos Países:BRA, Brasil;IND, Índia;KOR, Coréia;MEX, México;MYS, Malásia;TAI, Taiwan;TUR, Turquia;VEN, Venezuela;ZAF, África do Sul. Códigos dos Sectores de Actividade:2000, Mineração e Extractivismo, exceto Gás e Petróleo;2200, Produção e Refino de Gás e Petróleo;3100, Manufatura de Alimentos, Bebidas e Tabaco;3500, Manufatura de Químicos e Produtos Químicos;3700, Indústria Metálica Básica;3800, Manufatura de Máquinas e Equipamentos, exceto Veículos Auto-Motores;3843, Manufatura deVeículos Auto-Motores.

TABELA A2.II

MEDIDAS DE LUCRATIVIDADE PARA UMA AMOSTRA DE EMNs DO 3º MUNDO

EMPRESA ROE médio REO ( s ) EMPRESA REO médio PemexG 0.8 CVRDG 11.7

PetrobrásG 19.2 3.07 Codelco 17.9 Kuwait OilG 47.1 Grupo Industrial

Alfa 12.6

PDV S.A.G 27.7 Gold Star 20.9 Y.P.F.G 23.1 Zimco 11

Koc Holding 44.1 Hyundai Group 22.1 Haci Omar Sahanci

Holding 58.4 Ssangyong Oil

Refining 16.3

Pohang Iron & Steel 5.9 MÉDIA 15.81 Samsung Group 10

fonte: UNCTC (1988); G = Empresa Estatal.

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114 103

ANEXO IV: TABELA A4.I

INSTALAÇÃO DE GRANDES EMPRESAS INDUSTRIAIS E DE SERVIÇOS

NÃO- FINANCEIROS111 BRASILEIRAS NO EXTERIOR ( 1968 - 1992 )

ANO COMPANHIA PAIS ACTIVIDADE

1968 ELUMA ARGENTINA Joint-Venture ( J.V. ) no sector de autopeças.

ELUMA ÁFRICA DO SUL J.V. no sector de autopeças.

1970 PÃO DE AÇUCAR112

PORTUGAL J.V. no sector de supermercados.

1971 ELUMA COLÔMBIA J.V. no sector de autopeças.

ELUMA VENEZUELA J.V. no sector de autopeças.

MARCOPOLO VENEZUELA Montagem de carrocerias de autocarros.

1972 PETROBRÁS IRAQUE 1º Contrato de exploração de petróleo no exterior.

PETROBRÁS COLÔMBIA J.V. para exploração de petróleo.

1973 PÃO DE AÇUCAR ANGOLA Abertura de supermercado.

1974 CALOI BOLÍVIA J.V. na montagem de bicicletas.

GRADIENTE MÉXICO Subsidiária de equipamento stéreo.

MARCOPOLO GANA J.V. na montagem de carrocerias de autocarros.

PETROBRÁS ARGÉLIA Contrato de exploração de petróleo no exterior.

1975 PÃO DE AÇUCAR ESPANHA Franchaise no sector de supermercados.

TENENGE PARAGUAI Subsidiária do sector de engenharia

1976 COPERSUCAR EUA Aquisição de empresa do sector de alimentos.

1977 INEPAR CHILE J.V. na indústria de controles elétricos.

VILLARES CHILE Subsidiária na indústria de elevadores

1978 CALOI COLÔMBIA J.V. na montagem de bicicletas.

COTIA NIGÉRIA J.V. no sector de engenharia civil

INBRAC PARAGUAI J.V. na indústria de cabos.

VILLARES COLÔMBIA Subsidiária na indústria de elevadores

VILLARES URUGUAI Subsidiária na indústria de elevadores

1979 CICA ARGENTINA Subsidiária na indústria de alimentação.

COTIA NIGÉRIA J.V. no sector de autopeças.

CPRM ÁFRICA Prospecção mineral

GRADIENTE INGLATERRA Aquisição de empresa do sector de eletro-eletrónica de consumo.

SECURIL EUA Subsidiária.

1980 CALOI GUIANA Acordo de royalties na montagem de bicicletas.

VILLARES MÉXICO Subsidiária na indústria de elevadores

1982 PETROBRÁS IÉMEN DO SUL Contrato de exploração de petróleo no exterior.

1983 EMBRAER EGITO Contrato de montagem na indústria aeronáutica

111O sector bancário brasileiro contava com 120 filiais no estrangeiro em mesdos de 1993: 41 do BB, 20 do Banco Real, 18 do Banespa ( Banco do Estado de São Paulo ), 35 de outros 13 bancos privados nacionais e 6 de outros bancos estaduais ( Ver Bulhões, M., 1993 ).Dados os determinantes diferênciados no seu processo de multinacionalização, além da dificuldade numa periodização precisa, optou-se por não incluí-lo nesta lista. 112Implantação inicial em 1970, expropriação da empresa pela Revolução dos Cravos em 1974, e retorno a Portugal em 1980, com a restituição da firma.Alienação da posição majoritária no capital da filial portuguesa em 1992.

114 104

PETROBRÁS CHINA Contrato de exploração de petróleo no exterior.

PETROBRÁS ÍNDIA Contrato de exploração de petróleo no exterior.

1984 PETROBRÁS NORUEGA J.V. no sector de serviços à indústria petrolífera.

CPRM ANGOLA Prospecção mineral

CVRD EUA Aquisição parcial de empresa do sector metalúrgico.

PARANAPANEMA GUIANA J.V. em prospecção mineral

1985 BARDELLA EUA Aquisição parcial de empresa do sector de bens de capital.

CACIQUE CHINA J.V. no sector alimentar.

EMBRAER INGLATERRA Contrato de montagem na indústria aeronáutica

GLOBO ITÁLIA Aquisição de estação de televisão

INBRAC EQUADOR J.V. na indústria de cabos.

LABRA PORTUGAL Aquisição de empresa do sector de lápis.

NANSEN COLÔMBIA J.V. na indústria de controles elétricos.

PETROBRÁS ANGOLA Contrato no sector de serviços à indústria petrolífera.

1986 GRENDENE ARGENTINA J.V. na indústria de calçados.

GRENDENE COLÔMBIA J.V. na indústria de calçados.

GRENDENE MÉXICO J.V. na indústria de calçados.

HERING ARGENTINA Acordo de liçenciamento na indústria de confecções de algodão.

VACCHI INGLATERRA Aquisição de empresa do sector de químico.

1987 BRAHMA ARGENTINA J.V. na indústria de bebidas.

PETROBRÁS EUA J.V. na indústria de exploração de petróleo.

1988 METAL LEVE EUA Abertura de centro de pesquisa.

ODEBRECHT PORTUGAL Aquisição de empresa do sector de construção civil.

ANDRADE GUTIERREZ

PORTUGAL Aquisição de empresa do sector de construção civil.

1991 METAL LEVE EUA Subsidiária na indústria de autopeças.

1992 COFAP ARGENTINA Aquisição de empresa da indústria de autopeças.

COFAP PORTUGAL Subsidiária na indústria de autopeças.

GLOBO PORTUGAL Aquisição parcial de empresa do sector televisivo.

fonte: Wells, C. ( 1988 ), modificada e ampliada pelo autor.

114

105

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