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Page 1: Determinação do Teor de Taninos na Casca de Coco Verde ... · Determinação do Teor de Taninos na ... se o teor de taninos pelo método de ... que possuem capacidade de se associar

Proc. Interamer. Soc. Trop. Hort. 47:25-27. Ornamentals/Ornamentales - October 2003

Determinação do Teor de Taninos na Casca de Coco Verde (Cocos nucifera)

Ana Iraidy Santa Brígida e Morsyleide de Freitas Rosa, Embrapa Agroindústria Tropical, CP 3761, 60.511-110, Fortaleza,Ce, Brasil Resumo. Considerando a produção mundial de taninoscomerciais, observa-se que 90% desta é constituída por taninoscondensáveis. A aplicação industrial desta substância vai desdesua tradicional utilização no curtimento de couro, até a produçãode resinas, corantes, produtos farmacêuticos e adesivos paramadeira e derivados. O objetivo deste trabalho foi avaliar oconteúdo em taninos condensáveis da casca de coco verdevisando a sua potencialidade para exploração comercial. Para tal,a casca de coco verde foi, inicialmente, triturada e moída,desidratada e, posteriormente, classificada a fim de se obter umafração composta de pó mais fibras. Após a classificação empeneiras, o material foi homogeneizado em frações ponderadasde pó e fibras. A amostra foi submetida à extração em águaquente, em condensador de refluxo. Posteriormente, determinou-se o teor de taninos pelo método de Stiasny. Os resultadosmostraram que o teor de extrativos totais em água foi de,aproximadamente, 72,17%, o número de Stiasny de 0,095 e o teorde taninos em base seca de, aproximadamente, 6,03%. Aviabilidade técnica do processo de extração de taninos a partir dacasca de coco verde surge como uma alternativa que contribuipara minimizar os impactos ambientais relacionados a grandegeração desse resíduo sólido.

Abstract. Considering the world production of commercialtannins, it is observed that 90% of it is associated with condensedtannins. This substance is used in a range of products such astanning, resin, dies, pharmaceuticals and adhesives for wood. Theobjective of this work was to evaluate the content of condensabletannins present in the husk of green coconut and itscommercialization potential. Initially, the husk of green coconutwas chopped, grounded, dehydrated and classified in order toobtain a coir and fiber fraction. After sieve classification, thematerial was homogenized in pondered fractions composed bycoir and fibers. The sample was submitted to extraction in hotwater, under reflux. Afterwards, it was determined the tanninscontents using the Stiasny method. The results shows that thetotal extract content in water is approximately 72,17%, theStiasny number is 0,095 and the content of tannins isapproximately 6,03% (dry basis). The technical viability ofextracting tannins from the husk of green coconut contributes toreducing the environmental impacts related with the greatgeneration of this solid waste.

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Taninos vegetais são compostos de unidades monoméricas flavonóides (polifenólicos) polimerizadosem vários graus de concentração apresentando pesos moleculares compreendidos entre 500 e 3000. Elespodem ser classificados como hidrolisáveis e condensados, sendo o último dotado de grande poder de ligação(Pizzi, 1993). Segundo Trugillho et al (1997), os taninos vegetais ou naturais são, por definição, substânciasque possuem capacidade de se associar e de se combinar com proteínas e com certos polióis, atuando comoagentes coagulantes naturais.

O tanino é extraído dos vegetais por diversos solventes tais como água, acetona, etanol ou porsoluções aquosas com alguns sais como sulfito de sódio, carbonato de sódio, entre outros, sendo a afinidadedefinida de acordo com as organizações moleculares espelhadas pelas classes. Caracterizações químicas emdiversas cascas de árvores têm mostrado que a quantidade de tanino pode atingir até 40% em massa seca(Gupta, 1981).

A classe de maior uso tem sido os taninos condensáveis, os quais representam 90% da produçãomundial de taninos comerciais (Guangcheng et al, 1991). O Brasil atualmente conta com a maior unidade deprodução de extratos vegetais tanuantes do mundo, a Tanac, onde o tanino corresponde a 30% dofaturamento da empresa, sendo 30% (total de 30 mil toneladas por ano) de sua produção destinados aomercado interno e os outros 70% embarcados para mais de 70 países (Paz, 2003). Dentre seus empregosencontram-se: curtimento de pele, produção de resinas, corantes, adesivos para madeira e derivados, indústriafarmacêutica, além de seu uso como floculante de certos minerais e como purificadores da gasolina.

O setor de curtumes tem crescido significativamente nos países em desenvolvimento. No Brasil, em2000, as exportações brasileiras de couro atingiram US$ 739 milhões, tendo um incremento de 506%, emUS$, entre 1984 e 2000. Cerca de 58% dessas exportações correspondem ao couro wet blue, ou seja, courocru pré-tratado ao cromo, cujo processo de obtenção é responsável por 85% de todo resíduo ambiental dacadeia produtiva (BNDES, 2001). O uso de curtimento ao cromo, iniciado em meados de 1930, foiincentivado durante a Segunda Guerra Mundial tendo como principal motivo o fato de que o couro curtido aocromo é repelente ao fogo e mais impermeável à umidade. Desde então, o curtimento ao cromo cresceuchegando hoje a representar 80% da produção, aproximadamente. Porém, tendo em vista que o nossomercado interno de couro é direcionado a produção de estofados, decorações, encadernações, bolsas, pastas,carteiras, cintos e outros artefatos que não fazem uso destas qualidades do produto de curtimento ao cromo, érecomendável o incremento do curtimento ao tanino. O processo de curtimento ao tanino não é agressivo aomeio ambiente, além de gerar um maior poder de absorção e maior brilho no acabamento final.

Uma das fontes de taninos mais explorada comercialmente é a acácia negra, sendo o teor de taninosem base seca para sua casca de 27%. O grande uso da acácia negra para extração de taninos diz respeito nãosó a concentração da substância na casca como também a qualidade do tanino extraído. Porém, em média, otempo mínimo para início de exploração dessa espécie é de 5 anos, sendo os melhores rendimentos obtidos apartir do sétimo ano (Silva, 2002). Soma-se a isto, a elevada demanda de área destinada ao plantio destasárvores de grande porte. Neste sentido, pesquisas que busquem matérias-primas alternativas para obtenção detaninos são importantes.

Sob esse aspecto, a casca de coco verde, que vem sendo gerada em conseqüência do aumento doconsumo de coco in natura e da aplicação de tecnologias de processamento e conservação da água de cocoverde, surge como uma fonte alternativa de tanino. Este resíduo vem representando um problema sério,principalmente nos grandes centros urbanos, em razão de sua disposição inadequada em lixões e aterros e doseu grande volume. Portanto, o aproveitamento desse material contribui para aumentar a competitividade dacadeia produtiva do coco verde, em consonância com os princípios e objetivos do desenvolvimentosustentável, tendo em vista que a geração de resíduos pelo homem é um dos fatores que mais contribui para adegradação do meio ambiente, como poluição das reservas hídricas e do solo.

Considerando a demanda crescente pelo tanino, a busca por fontes desta substância e a necessidadede gerar alternativas que dêem destino e/ou adicionem valor agregado à casca de coco verde, o presentetrabalho avaliou o conteúdo em taninos condensáveis da casca de coco verde visando a sua potencialidadepara exploração comercial.

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Material e Métodos

Há várias metodologias para adeterminação de teor de taninos. Nopresente trabalho, utilizou-se uma adaptaçãoda metodologia, que trata da determinaçãodo teor de taninos em base seca, propostapor Trugillho et al (1997).

Coleta e Preparação do MaterialForam coletadas cascas de cocos

verdes em postos de vendas de água decoco. Estes passaram por um processo detrituração e moagem e posteriormente forampostos para secagem em estufa a 65°C atéatingir umidade de equilíbrio. Openeiramento da casca gerou três fraçõesdistintas (pó, pó mais fibras curtas e fibras)que foram quantificadas por pesagem,gerando assim o percentual de cada uma namassa total da casca.

Extração em Água QuentePreparou-se 20g de amostra

composta que foi dividida igualmente emdois erlenmeyers de 500 mL, sendoadicionados 250 mL de água destilada emcada. A amostra foi submetida à extração emágua quente, em chapa aquecedora comcondensador de refluxo com o objetivo depromover a condensação do vapor d’água nointerior de cada erlenmeyer mantendo,assim, o volume inicial de água e evitandoperda excessiva de produtos nos extrativospor volatilização e arraste pelo vapord’água. Foram realizadas duas extrações de2 horas de fervura cada uma. O extratoobtido foi posto em becker de 1000 mL ecoberto com papel alumínio, para evitarcontaminação e perda por volatilização domaterial. Após as extrações, realizou-sesecagem da fração sólida (fibra + pó) emestufa a 65°C até atingir peso constante. Apartir do peso inicial da amostra e do pesoseco após extração foi possível determinar o teor de extrativos totais em água quente.

Determinação do Conteúdo em Taninos CondensadosRetirou-se uma alíquota de 100 mL do extrato total e adicionou-se a ela 10 mL de formaldeído PA e

5 mL de ácido clorídrico concentrado, deixando-a em repouso por 24 horas. Durante este período, oformaldeído reagiu com taninos produzindo uma polimerização, via pontes metilênicas, em posições reativasde moléculas flavonóides, tendo como produto um precipitado polimérico. O precipitado foi filtrado em papelde filtro quantitativo com auxílio de bomba de vácuo, posto para secagem em estufa a 65°C até atingir pesoconstante, e pesado, obtendo-se assim o número de Stiasny. Foram realizadas três repetições para as amostrasde casca de coco verde.

A determinação do teor de sólidos totais presentes no extrato deu-se pela pesagem de umaamostra de 100 mL de extrato e obtenção do peso após secagem. Com base no teor de sólidos totais e nonúmero de Stiasny, foi possível determinar o teor de taninos condensados no extrato. Em seguida, obteve-se oteor de taninos condensados em base seca.

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Resultados e Discussões

Experimentos realizados com amostras compostas pelas três frações obtidas da trituração emoagem da casca de coco verde mostraram que o teor de extrativos totais em água quente foi de 72,17%. Talquantidade é bem superior às encontradas em diversas madeiras estudadas por Trugillho et al (1997) e porGonçalves e Lelis (2001), conforme pode ser observado na figura 1.

A partir do número de Stiasny (0,095g), do teor de sólidos totais (1,14%) e do teor deextrativos totais (72,17%), foi possível obter o teor de taninos condensados presentes no extrato total (8,35%)e o teor de taninos condensados na casca, em base seca (6,03%). O resultado obtido está em conformidadecom a literatura, que cita que os taninos condensados podem atingir uma faixa de 2 a 40% da massa seca dacasca de espécies vegetais (Hergert, 1962). Fazendo uma comparação com resultados obtidos por Trugillho etal (1997), observamos que, apesar da casca de coco verde possuir um teor de taninos inferior a 50% do teorna casca de acácia negra (figura 2), a mesma possui valores maiores que outras espécies vegetais (ex.: Paupereira, Açoita cavalo, Jacarandá branco).

A caracterização química do extrato tanuante da casca de coco verde é fundamental paraavaliar a potencialidade do material para uso industrial. Portanto, com base nos resultados acima e, de acordocom a qualidade desses taninos extraídos, é possível que seu uso seja viável.

Finalmente, o aproveitamento da casca de coco verde como alternativa para obtenção dessesprodutos permitirá dar uma utilização adequada a um resíduo sólido indesejável de quantidade crescente eexistente em todo litoral brasileiro.

Literatura Citada BNDES. 2001. Panorama do Setor de Couro no Brasil. Informe Setorial 18. Gonçalves, C. de A. e Lelis, R. C. C. 2001. Teores de taninos da casca e da madeira de cinco leguminosasarbóreas. Floresta e Ambiente 8:167-173. Guangcheng, Z.; Yunlu, L.; Yazaki, Y. 1991. Extractive yiels, Stiasny values and polyflavonoid content inbarks from six acacia species in Australia. Australian Forestry 54:154-156. Gupta, S.; Singh, S. P.; Gupta, R. C. 1981. Studies on tannin from Indian Wattle (Acacia mearnsii) bark.Indian J. for Eng. 4(1):18-21. Hergert, H. L. 1962. Economic importance of flavonoid compounds: wood and bark. P. 553-595. In: Hergert,H. L. (ed) The chemistry of flavonoid compounds. The Macmillan company. Paz, V. 2003. Tanac exporta tanino certificado pela FDA para tratar água. Gazeta Mercantil C13. Pizzi, A. 1993. Tanin-Based adhesives. p. 177-246. In: Pizzi, A. (ed) Wood adhesives: Chemistry andtechnology. Marcel Dekker. Rosa, M. F.; Bezerra, F. C.; Brígida, A. I. S.; Brígido, A. K. L.; Correia Neto, R. V.; Maia, G. X. 2002.Aproveitamento de resíduos da indústria da água de coco verde como substrato agrícola: 1 – Processo deobtenção do substrato. Seminário Nacional de Resíduos Sólidos 6 (CD-ROM). Silva, H. D. 2002. Tanino sai da casca. Brasil, Globo Rural, Edição 204. http://revistagloborural.globo.com[10/08/2003]. Trugillho, P. F.; Caixeta, R. P.; Lima, J. T.; Mendes, L. M. 1997. Avaliação do conteúdo em taninoscondensados de algumas espécies típicas do cerrado mineiro. CERNE 3(1):001-013.

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