design e seus arquétipos

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INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA CAMPUS FLORIANÓPOLIS CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE PRODUTO SEMIÓTICA PROFª. LURDETE MÓDULO III DANIELLA MACEDO SGROTT GABRIELA ANTUNES NATHANYE GODINHO SEMINÁRIO: O DESIGN E SEUS ARQUÉTIPOS Arquétipo: É um conceito da psicologia que se refere aos símbolos presentes em nosso inconsciente coletivo, que são comuns a toda a humanidade. A teoria do inconsciente coletivo criada pelo psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875- 1961) afirma que todo ser humano nasce com um conhecimento que é resultado de experiências já vividas pela espécie. Jung formulou essa teoria após constatar que alguns de seus pacientes tinham alucinações com mitos que desconheciam. Dessas constatações, Jung desenvolveu e definiu a idéia dos arquétipos, que são os elementos principais na formação das mitologias de um povo e compõem os temas e personagens mitológicos recorrentes em lendas das mais diversas culturas e épocas. A crença na existência de um ser superior e onipotente, por exemplo, é compartilhada pela maioria das pessoas. “O comportamento religioso e a imagem de Deus são representações arquetípicas”, diz a psicóloga junguiana Denise Ramos, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Outro exemplo de um arquétipo muito comum à humanidade é o mito do herói, que já foi representado pelos guerreiros espartanos e hoje é simbolizado pelos ídolos do esporte. Dentre os inúmeros objetos existentes, se há algo, além de uma cadeira, em que todo designer deseja colocar o próprio nome no mínimo uma vez em sua carreira é numa luminária articulada. Isso ocorre devido ao fato deste produto oferecer muitas variáveis com que se trabalhar. Fazer uma luminária articulada corretamente exige talento técnico e ambição artística, tecnologia e invenção. Além disso, luminárias de sucesso permanecem muito tempo em produção, diferentemente dos celulares, por exemplo, que são superados a cada seis meses. A primeira lâmpada articulada, a Anglepoise, continua em

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Resumo da apresentação do seminário

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Page 1: Design e seus arquétipos

INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA

CAMPUS FLORIANÓPOLIS

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE PRODUTO

SEMIÓTICA – PROFª. LURDETE – MÓDULO III

DANIELLA MACEDO SGROTT

GABRIELA ANTUNES

NATHANYE GODINHO

SEMINÁRIO: O DESIGN E SEUS ARQUÉTIPOS

Arquétipo: É um conceito da psicologia que se refere aos símbolos presentes em nosso

inconsciente coletivo, que são comuns a toda a humanidade. A teoria do inconsciente coletivo

– criada pelo psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875- 1961) – afirma que todo ser

humano nasce com um conhecimento que é resultado de experiências já vividas pela espécie.

Jung formulou essa teoria após constatar que alguns de seus pacientes tinham alucinações

com mitos que desconheciam. Dessas constatações, Jung desenvolveu e definiu a idéia dos

arquétipos, que são os elementos principais na formação das mitologias de um povo e

compõem os temas e personagens mitológicos recorrentes em lendas das mais diversas

culturas e épocas. A crença na existência de um ser superior e onipotente, por exemplo, é

compartilhada pela maioria das pessoas. “O comportamento religioso e a imagem de Deus são

representações arquetípicas”, diz a psicóloga junguiana Denise Ramos, da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo. Outro exemplo de um arquétipo muito comum à

humanidade é o mito do herói, que já foi representado pelos guerreiros espartanos e hoje é

simbolizado pelos ídolos do esporte.

Dentre os inúmeros objetos existentes, se há algo, além de uma cadeira,

em que todo designer deseja colocar o próprio nome no mínimo uma vez em

sua carreira é numa luminária articulada. Isso ocorre devido ao fato deste

produto oferecer muitas variáveis com que se trabalhar. Fazer uma luminária

articulada corretamente exige talento técnico e ambição artística, tecnologia e

invenção. Além disso, luminárias de sucesso permanecem muito tempo em

produção, diferentemente dos celulares, por exemplo, que são superados a

cada seis meses. A primeira lâmpada articulada, a Anglepoise, continua em

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produção depois de 75 anos, sendo sua última versão muito parecida com a

original.

Percebe-se com isso, que a história do design é medida por um

número desproporcional de cadeiras e luminárias. O que dá a estes objetos um

interesse especial para o designer talvez seja o fato de ser uma oportunidade

de modificar um arquétipo, possivelmente criando um novo.

Surge então, a seguinte dúvida: por que a Anglepoise faz tanto sucesso?

Ela é um objeto modesto que executa uma tarefa prática, é escultural e

atraente que não possui uma única forma – o modo como se usa um objeto é

um aspecto estético do design tão importante quanto o visual. É funcional e

oferece a promessa de um envolvimento emocional para seus usuários, pois

sua presença sobre uma mesa transmite a idéia de concentração e esforço

criativo. Conclui-se com isso, que os objetos não existem no vácuo, eles fazem

parte de uma complexa coreografia de intenções. Os objetos, em suas diversas

formas determinam a maneira como nos relacionamos, como comemos, como

nos sentamos e como olhamos uns para os outros.

As características compreendidas numa Anglepoise podem ser

manipuladas por um designer para formar percepções de quase qualquer

objeto, que pode ser desenhado de modo a sugerir uma personalidade, de

fornecer pistas de como usá-los e tirar o melhor de seu potencial tátil. Todos

eles, porém, dependem do modo como a decoração, a cor, a forma, por

exemplo, são manipulados. A criação de um arquétipo, entretanto, não

depende só de seu aspecto visual, e sim de uma forma capaz de

transmitir rapidamente o que ele faz e como funciona. Desta forma, ele

nunca será um arquétipo se tiver um longo manual de instruções. Seguindo

isso, depois de o objeto ter tomado forma, é comum surgir a impressão de ser

algo óbvio, entretanto, este óbvio nunca havia sido feito antes.

Alguns arquétipos têm histórias milenares, com geração após geração

produzindo suas interpretações particulares de um determinado produto. Esses

são arquétipos que, de tão universais, se tornaram invisíveis, cada versão

avançando a partir das precedentes para renovar os parâmetros básicos.

Apesar disso, certamente há outros arquétipos que sobrevivem há séculos: o

mostrador de relógio, a torneira e a chave, por exemplo. A Anglepoise, como

arquétipo é relativamente novata. Ela não tem a mesma ressonância cultural

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universal da garrafa de vinho francês tradicional, por exemplo, que teve séculos

para penetrar na consciência mundial com profundidade.

Inúmeros objetos com finalidades muito diferentes usam sua forma, não

só sua cor, como por exemplo, a pistola, que é capaz de sugerir potência e

poder. Usando um gatilho, mesmo fazendo parte de algo que não seja mais

letal do que uma pistola de cola ou um cano de aspirador, o usuário pode

adquirir a idéia de estar no comando de algo que transmite autoridade e exige

respeito. É um artifício que comunica sua finalidade sem necessidade de

explicar-s com mais detalhes.

Os arquétipos podem proporcionar associações assim como o gatilho

faz. Mas também podem oferecer o conforto menos específico de uma

lembrança, e as complexas atrações de uma idéia de familiaridade.

Trabalhando dentro de uma estrutura de arquétipos, é possível também levar

alguma profundidade psicológica e emocional para o design de objetos. Mesmo

que se substituam continuamente os objetos do dia a dia, os “designs” que

evocam arquétipos dão uma idéia de continuidade.

O design tem envolvido continuamente a criação e a organização de

arquétipos para novas categorias de objetos. Juntos, eles vêm a ser a base de

uma nova lexicografia de objetos para o mundo moderno. A obra de um

designer quase sempre se baseia na exploração e na manipulação de

arquétipos existentes. Foi isso que o grupo de arquitetos e designers que

definiu o conceito de pós modernismo nos anos 1980 começou a explorar, pois

achavam que a modernidade não podia simplesmente abolir a história e a

memória.

Atualmente, há um grupo de designers que acham que a invenção

constante de formas novas é uma distração quando há tantas formas antigas

poderosas ainda com tanta vida. Eles preferem dar aplicabilidade

contemporânea aos arquétipos, aperfeiçoando-a. Mas apesar disso, há outras

categorias de objetos para as quais está para ser criado um arquétipo.

O elemento de diversão pode certamente ser um aspecto de um

arquétipo. Muitos brinquedos tentam apresentar a visão de mundo de uma

criança como uma série de arquétipos: a casa é reduzida a um desenho, ou

carros e canhões ficam reduzidos a diagramas. Outros usos de qualidade

lúdica em objetos concebidos para adultos vêm do encanto de uma escala

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miniaturizada. Trata-se de uma atração que bem pode ter origens

antropomórficas, do mesmo modo que somos geneticamente programados

para reagir a bebês, que não são simplesmente adultos em escala menor, mas

também tem proporções diferentes. O rosto e os olhos são muito maiores,

relação de proporção que maximiza o envolvimento emocional do contato

visual, de que adultos – presumivelmente mais aptos a cuidar de si mesmos –

não necessitam tanto. Temos como exemplo a Apple, que tratou o primeiro

iBook como um brinquedo para adultos. Usando linhas suaves, fizeram um

equipamento profissional parecer divertido através do uso propositalmente

surrealista de uma linguagem visual inesperada. Tais produtos precisam

oferecer pelo menos a possibilidade de um nível de interação lúdica, como por

exemplo, interruptores que piscam quando acionados para cima ou para baixo.

Essas relíquias, porém, da era mecânica já estão passando, elas tem seus

equivalentes no mundo da tela. À medida que as máquinas usam menos peças

móveis e desenvolvem menos sistemas operacionais mecânicos, esses antigos

aspectos dos objetos são introduzidos de maneiras novas e diferentes.

O design é considerado uma linguagem principalmente visual. Usa-se a

cor para sugerir brincadeira e o formato para envolver os usuários nas funções

ou informá-los a respeito delas. Mas o design é muito mais que isso: o design

usa todos os sentidos. O cheiro de couro, madeira ou tinta transforma nossas

reações a um carro, a um interior ou a um livro recém-saído da gráfica. As

fragrâncias são preparadas com habilidade de gerações de especialistas para

transmitir um amplo leque de mensagens, contando com mensagens baseadas

na memória. O toque suave do tecido ou a frieza do metal, por exemplo,

também começaram a adquirir características simbólicas que são avaliadas e

manipuladas como qualquer signo visual. Preparar comida e fazer vinho

geralmente não são considerados design, mas tem muita relação com isso. E

nosso sentido do paladar determina nossas respostas a muitos objetos.

Os “designs” mais brilhantes são os que usam simultaneamente todas

essas características e fazem isso “conscientes” do que podem fazer.

REFERÊNCIA:

SUDJIC, Deyan. A linguagem das coisas. Tradução: Adalgisa Campos da

Silva. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.