desertificação nordeste

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Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao

Desertificao e Mudanas Climticas no Semirido BrasileiroEditoresRicardo da Cunha Correia Lima Arnbio de Mendona Barreto Cavalcante Perez Aldrin Martin Perez Marin

Instituto Nacional do Semirido INSA Campina Grande 2011

Governo do BrasilPresidncia da Repblica Dilma Vana Rousseff Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao Aloizio Mercadante Oliva Instituto Nacional do Semirido Ignacio Hernn Salcedo - Diretor Editorao Eletrnica Marluce Hernio Arago CapaWedscley Melo

Reviso de Texto Nsia Luciano Leo (Portugus) Impresso Global Print Editora Grfica Ltda Editora Instituto Nacional do Semirido Campina Grande, PBD451 Desertificao e mudanas climticas no semirido brasileiro / Editores, Ricardo da Cunha Correia Lima, Arnbio de Mendona Barreto Cavalcante, Aldrin Martin Perez-Marin.- Campina Grande: INSA-PB, 2011. 209p. : il. ISBN: 978-85-64265-02-8 1. Desertificao semirido - Brasil. 2. Mudanas climticas e desertificao. 3. Conservao e manejo. 4. Brasil - Educao Ambiental. I. Lima, Ricardo da Cunha Correia. II. Cavalcante, Arnbio de Mendona Barreto. III. Marin, Aldrin Martin Perez. I. Instituto Nacional do Semirido. CDU: 551.577.38

UFPB/BC

Os captulos desse livro resultaram das palestras apresentadas durante o II Simpsio sobre Mudanas Climticas e Desertificao no Semirido Brasileiro, realizado em Campina Grande, PB, no perodo de 26 a 29 de maio de 2009. Os temas, dados e conceitos aqui emitidos so de exclusiva responsabilidade dos respectivos autores. A eventual citao de produtos e marcas comerciais no significa recomendao de utilizao por parte dos autores/editores. A reproduo permitida desde que seja citada a fonte.

Apresentao

A desertificao e as mudanas climticas no semirido brasileiro so problemas interligados de dimenses globais que devem ser discutidos conjuntamente a fim de obter solues para mitigao e adaptao aos mesmos. A busca dessas solues implica influir no comportamento social, econmico e poltico da sociedade e, desenvolver aes dirigidas para preveno e controle. Para isso, se faz necessrio uma ao coerente e coordenada que articule o saber, os meios e os conhecimentos prticos de todos os atores envolvidos. Este esforo inclui compromissos governamentais e no governamentais nas esferas federal, estadual e municipal para uma ao concreta em escala local, regional e nacional. Preocupado com essas questes e visando tornar mais decisivo o papel da Cincia, Tecnologia e Inovao para o desenvolvimento sustentvel do Semirido Brasileiro, o Instituto Nacional do Semirido (INSA/MCTI), vm promovendo a estruturao e dinamizao da Rede de combate desertificao e mudanas climticas do semirido brasileiro, como mecanismo de articulao desses diferentes atores. Assim, o INSA, em parceria com a Embrapa/Semirido (CPATSA) e outras instituies sediadas na regio com apoio financeiro do CNPq, MMA, BNB, Embrapa e do prprio Instituto , promoveu dois simpsios regionais o primeiro realizado em Petrolina/PE, em abril de 2008 e o segundo, em Campina Grande/PB, em maio de 2009, envolvendo cerca de 300 participantes das mais diversas instituies de todos os estados da regio nordeste e de outras regies do pas. Em Petrolina, apontou-se para a necessidade da construo de caminhos que conduzissem a uma efetiva articulao interinstitucional regional e em Campina Grande foi criada a Rede Desertificao do Semirido Brasileiro, iniciando-se as reflexes sobre abrangncia, objetivos e temticas prioritrias da Rede, dentre outros pontos importantes para sua caracterizao. Em seqncia, foi realizada uma Oficina de Trabalho, na cidade de Natal/RN, em outubro de 2009, com a finalidade de avanar-se na estruturao da Rede, bem como para ampliao do nmero de seus integrantes. Todo esse processo culminou, com a institucionalizao da Rede sobre Desertificao no Semirido Brasileiro, atravs da publicao da portaria interministerial MCT/MMA 92-A de 30 de maro de 2010.

Este livro, que agora apresento, intitulado Desertificao e Mudanas Climticas no Semirido Brasileiro, mais um resultado desse esforo coletivo que vem sendo promovido pelo INSA, como ente articulador da problemtica na regio. Contamos com a parceria de membros efetivos da Rede, alm de outros colaboradores extremamente significativos para os cenrios polticos, ambiental e social da regio. A publicao apresenta textos que tratam dos mais diversos desafios que o tema desertificao e mudanas climticas exige dos atores de Cincia, Tecnologia e Inovao que pensam o semirido brasileiro. Esperamos que esta iniciativa contribua para um melhor entendimento das questes relacionadas ao combate da desertificao e adaptao as mudanas climticas no semirido brasileiro e que atravs dele, o tema venha a ser discutido em novos cenrios e dentro de uma perspectiva de clareza e de bom senso. Ignacio Hernn Salcedo Diretor do Instituto Nacional do Semirido

Prefcio

Essas expresses, Desertificao e Mudanas Climticas, transcenderam ao longo das ltimas dcadas o mundo tcnico-cientfico e invadiram substancialmente os meios de comunicao. Jornais, rdios, revistas e a televiso tratam desses fenmenos de forma corriqueira e sempre como algo importante para o bem-estar humano e a sobrevivncia de vrias espcies. No Brasil, o espao geogrfico mais vulnervel aos efeitos da desertificao e das mudanas climticas a regio Semirida. Essa regio, compreendendo 969.589,4 km ou 11% do territrio nacional, caracterizada pelas elevadas mdias anuais de temperatura (27 C) e evaporao (2.000 mm), com precipitaes pluviomtricas de at 800 mm ao ano, concentradas em trs a cincos meses e irregularmente distribudas no tempo e no espao. No geral, o solo raso, com localizados afloramentos de rocha e cho pedregoso. Decorre da combinao desses elementos um balano hdrico negativo em grande parte do ano, presena de rios e riachos intermitentes e ocorrncia de secas peridicas e avassaladoras. Revestindo como um manto a quase totalidade desse espao geogrfico, encontramos a Caatinga. Na regio Semirida vivem aproximadamente 25 milhes de brasileiros. Essas questes despertam preocupao em todo o planeta faz j alguns anos, perodo em que a compreenso cientfica cresceu muito, alguns problemas foram combatidos em vrios nveis e outros novos puderam ser detectados. Assim, o presente livro uma feliz iniciativa de reunir informaes recentes visando contribuir para o avano no entendimento desses fenmenos na regio Semirida brasileira. dirigido a um pblico diverso abrangendo tcnicos de instituies governamentais e de organizaes no governamentais, interessados na temtica, estudantes, gestores e formuladores de polticas pblicas. No livro so apontadas direes para capacitar o Brasil para o convvio e o enfrentamento das conseqncias das mudanas climticas e desertificao, bem como aborda o apoio financeiro do Banco do Nordeste - BNB para as questes ambientais e o papel de redes temticas para construir solues. Destaca ainda a educao e tecnologias educacionais e sociais para a convivncia com o Semirido, traz a experincia de combate desertificao em Mendoza Argentina, dentre outros assuntos relevantes e atrativos.

O Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao por meio do Instituto Nacional do Semirido apia esta publicao de forma a poder divulg-la amplamente para o pblico. A mais importante concluso dessa publicao talvez seja o fato da Desertificao e Mudanas Climticas serem fenmenos reais e correntes no Semirido brasileiro, e que h uma necessidade premente em se estudar e desenhar atitudes de adaptao aos efeitos desses fenmenos e de mitigao de suas causas nessa regio. Os Editores

Agradecimentos

O Instituto Nacional do Semirido agradece o apoio e a participao da Embrapa Semirido, Banco do Nordeste do Brasil, Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, Ministrio do Meio Ambiente e demais instituies que direta ou indiretamente colaboraram para a realizao do II Simpsio sobre Mudanas Climtica e Desertificao no Semirido Brasileiro e para a publicao desse livro. Agradecemos tambm a especial dedicao de todos os autores que, alm de colaborarem com as discusses nas mesas redondas e plenrias durante o evento, empenharam valoroso esforo na redao dos captulos dessa obra. Por fim, agradecemos o empenho da equipe de pesquisadores e colaboradores do INSA na rdua tarefa de reviso tcnica dos textos, contribuindo assim para uma comunicao mais direta e eficaz com o pblico alvo dessa publicao. Os Editores

AutoresEdneida Rabelo Cavalcanti Graduada em Geografia. Doutoranda em Engenharia Civil - rea Tecnologia Ambiental e Recursos Hdricos pela Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente pesquisadora da Fundao Joaquim Nabuco e integrante do Ncleo de Gesto Ambiental da Faculdade de Cincias da Administrao de Pernambuco. Experincia na rea de Geografia, com nfase em Meio Ambiente, atuando principalmente nos seguintes temas: meio ambiente, gesto ambiental, desenvolvimento sustentvel, desertificao e educao ambiental. Elena Mara Abraham Profesora y Licenciada en Geografa, Universidad Nacional de Cuyo, especialista en Formacin Ambiental. Actualmente es Investigadora Independiente del CONICET (Consejo Nacional de Investigaciones Cientficas y Tcnicas), Profesora Titular de la Ctedra de Ordenamiento Ambiental, Universidad de Congreso, Directora del IADIZA - CONICET (Instituto Argentino de Investigaciones de las Zonas ridas) y del LADYOT (Laboratorio de Desertificacin y Ordenamiento Territorial). Lidera un grupo interdisciplinario de investigacin ordenamiento y gestin de las tierras secas afectadas por desertificacin. Francislene Angelotti Graduada em Agronomia. Doutora em Agronomia pela Universidade Estadual de Maring. Atualmente pesquisadora da Embrapa Semirido, atuando na rea de Mudanas Climticas Globais, principalmente com monitoramento, avaliao, mitigao e adaptao dos impactos nos sistemas naturais e agrcolas. Experincia na rea de Agronomia, com nfase em Proteo de Plantas. Jmison Mattos dos Santos Graduado em Geografia. Mestrado em Geoqumica e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente Professor Assistente da Universidade Estadual de Feira de Santana e Professor da Fundao Vinconde de Cair. Experincia na rea de Geocincias, com nfase em estudos ambientais e geoprocessamento, atuando principalmente nos seguintes temas: geomorfologia, planejamento e gesto ambiental, dinmica fluvial e recursos hdricos, anlise e dinmica ambiental, avalio de impactos scio-ambientais, educao ambiental, responsabilidade social e sustentabilidade ambiental, qualidade ambiental e de vida. Jos Maria Marques de Carvalho Engenheiro Agrnomo, Economista, Especialista em Agribusiness, Irrigao e Drenagem e Desenvolvimento Econmico. Atualmente Gerente Executivo do Banco do Nordeste do Brasil. Jos Narciso Sobrinho Engenheiro Agrnomo. Mestre em Cincia Animal e Pastagens. Atualmente Gerente de Ambiente do Banco do Nordeste do Brasil. Josemar da Silva Martins (Pinzoh) Graduado em Pedagogia. Doutor em Educao pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia. Experincia na rea de Educao, Comunicao e Cultura, com nfase em Educao de Adultos,

Educao do Campo, Currculo, Gesto Educacional, Educao e Comunicao, Tecnologias da Informao e Comunicao e Mdia e Cultura. Mrcio dos Santos Pedreira Graduado em Zootecnia. Doutor em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho. Atualmente Professor Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Experincia na rea de avaliao de alimentos para ruminantes, atuando principalmente nos aspectos relacionados composio qumica de alimentos, produo de forragem e uso de minerais e aditivos para bovinos e ovinos em busca de menores impactos da atividade sobre o ambiente. Mario Alberto Salomn SirolesI Graduado en Geografa. Magister en Planificacin y Manejo de Cuencas Hidrogrficas por la Universidad Nacional del Comahue. Actualmente es Investigador Asociado del Laboratorio de Desertificacin y Ordenamiento Territorial(IADIZA) y Gerente General Primera Zona Ro Mendoza (ASIC) . Tiene experiencia el rea de agua, tierras y degradacin ambiental, con enfasis en los siguientes temas: planificacin y manejo de sistemas hdricos, procesos de desertificacin y desarrollo local estratgico. Odo Primavesi Graduado em Engenharia Agronmica. Doutor em Solos e Nutrio de Plantas pela ESALQ/Universidade de So Paulo (1985). Experincia na rea de Agronomia, com nfase em Fisiologia de Plantas Cultivadas e conservao de solos, atuando principalmente nos seguintes temas: aveia forrageira, produo vegetal, nutrio mineral, adubao nitrogenada, produo de forragem, indicadores de qualidade ambiental, medio de metano ruminal a campo e educao ambiental sobre boas praticas de manejo ambiental. Paulo Nobre Graduado em Meteorologia. Doutor em Meteorologia pela University of Maryland. Ps-Doutor pela Columbia University. Atualmente pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Experincia na rea de Geocincias, com nfase em Meteorologia, atuando principalmente nos seguintes temas: modelagem acoplada oceano-atmosfera, variabilidade temperatura da superfcie do mar, previso de temperatura da superfcie do mar, oceanografia do Atlntico Tropical e previso e monitoramento climtico. Silvio Jos Rossi Graduado em Engenharia de Alimentos. Doutor em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente Professor Associado III da Universidade Federal da Paraba. Experincia na rea de Cincia e Tecnologia de Alimentos, com nfase em Engenharia de Alimentos, atuando principalmente nos seguintes temas: armazenamento de alimentos, secagem de alimentos, propriedades fsicas de produtos agropecurios, desenvolvimento de processos e produtos e pr-processamento de produtos agrcolas. Experincia, tambm, em gesto acadmica do ensino superior, em educao a distncia, em gesto institucional e em construo de redes temticas colaborativas interinstitucionais. Vanderlise Giongo Graduada em Engenharia Agronmica. Doutora em Cincias do Solo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente pesquisadora da Embrapa Semirido. Experincia na rea de Agronomia, com nfase em Cincia do solo, atuando principalmente nos seguintes temas: manejo e conservao do solo, sistemas de preparo de solo e sistemas de culturas.

Fotos da Capa

Fonte: Marx Prestes Barbosa (fotos tomadas em trabalhos de campo com orientandos do Doutorado em Recursos Naturais da UFCG)

Foto 1 rea degradada, Coxixola, PB, 2008. Remanescente da caatinga em risco de degradao pelo avano do processo de desertificao severo, devido ausncia de prticas de combate eroso do solo. Embora esta imagem tenha sido tomada em outubro de 2008 (perodo seco), a vegetao densa da rea remanescente conserva a umidade do solo, o que permite observar algumas espcies ainda verdes. Foto 2 Queimada na Caatinga, Picu, PB, 2003. Inicialmente, toda a lenha do terreno cortada, vendida com matriz energtica ou transformada em carvo, deixando-se no terreno os galhos e folhas. A seguir, o que restou queimado para limpar o terreno das gramneas e herbceas. Posteriormente, faz-se o destoco das razes. Por fim, planta-se capim para a formao do pasto. A queimada uma pratica altamente degradadora, pois a alta temperatura do fogo destri os microorganismos responsveis pela manuteno da fertilidade orgnica dos solos. Foto 3 Processo de desertificao severo, So Joo do Cariri, PB, 2008. Apesar da imagem ser do perodo chuvoso, a falta de fertilidade do solo, inteiramente erodido, no permite o nascimento de gramneas e herbceas. Um fato digno de nota a recuperao natural da caatinga, que se mostra um bioma forte, e no frgil, explica a presena dos pereiros, rvores adultas, embora raquticas, que lutam como espcie pioneira para que a caatinga retome seu territrio. Foto 4 xodo da populao, So Joo do Cariri, PB, 2008. Um dos efeitos do processo de desertificao severo a migrao e abandono das casas e das terras exauridas pela super explorao.

SumrioMdulo 1

Polticas pblicas

1

Mudanas Climticas e desertificao: os desafios para o Estado BrasileiroIntroduo -------------------------------------------------------------------------------Aes governamentais e o clima no Brasil------------------------------------------Das mudanas climticas globais ----------------------------------------------------O enfrentamento das mudanas climticas --------------------------------------Desafios do Brasil frente as mudanas climticas globais ------------------------Programa de adaptao s mudanas climticas ---------------------------------Concluses ------------------------------------------------------------------------------Agradecimentos -------------------------------------------------------------------------Referncias ------------------------------------------------------------------------------25 27 28 29 31 31 32 34 34

2

Salvaguardas ambientais nos financiamentos do Banco do Nordeste no semiridoIntroduo -------------------------------------------------------------------------------Financiamento s operaes de crdito e cincia e tecnologia ---------------Dispositivos legais e os normativos internos do BNB ------------------------------reas de preservao permanente ---------------------------------------------reas de reserva legal ------------------------------------------------------------Averbao no registro de imveis ----------------------------------------------Recomposio e complementao da reserva legal -------------------------Unidades de conservao -------------------------------------------------------37 38 42 42 43 43 44 44

Manejo florestal -------------------------------------------------------------------Plano de manejo florestal sustentvel ------------------------------------------Uso alternativo do solo -----------------------------------------------------------Florestas pblicas -----------------------------------------------------------------Explorao de florestas e demais vegetaes --------------------------------------Regime de manejo florestal sustentvel ----------------------------------------Regime de supresso (Desmatamento) ----------------------------------------rgos ambientais competentes -----------------------------------------------Dispensa de autorizao para desmatamento --------------------------------Vedao ao desmatamento -----------------------------------------------------Uso de queimadas em prticas agropastoris e florestais --------------------Vegetao prxima a aglomerados urbanos ----------------------------------Explorao de cana-de-acar -------------------------------------------------Concesso florestal ---------------------------------------------------------------Penalidades ------------------------------------------------------------------------------Educao ambiental -------------------------------------------------------------------Consideraes finais -------------------------------------------------------------------Bibliografia consultada -----------------------------------------------------------------

45 45 45 45 45 46 46 46 47 47 48 48 48 48 49 50 50 50

3

Identificar redes para construir solues interinstitucionais: Diagnstico de arranjos institucionais colaborativos em regies ridas e semiridas no Brasil e no exteriorResumo -----------------------------------------------------------------------------------Introduo -------------------------------------------------------------------------------As Redes e o terceiro setor -------------------------------------------------------Redes Temticas -------------------------------------------------------------------Estudos sobre redes temticas promovidos pelo CGEE e INSA ------------Objetivos---------------------------------------------------------------------------------Geral --------------------------------------------------------------------------------Especfico ---------------------------------------------------------------------------Insumos ----------------------------------------------------------------------------------Metodologia -----------------------------------------------------------------------------Resultados -------------------------------------------------------------------------------Comentrios e Concluses------------------------------------------------------------Referncias Bibliogrficas -------------------------------------------------------------51 52 54 55 55 59 59 60 60 61 62 62 66

Mdulo 2

Educao Ambiental

4

Educao ambiental e educao contextualizada com base na convivncia com o semiridoIntroduo -------------------------------------------------------------------------------Educao ambiental -------------------------------------------------------------------Educao contextualizada -------------------------------------------------------------O foco no contexto ---------------------------------------------------------------A perspectiva da convivncia ---------------------------------------------------------Um semirido dinmico, diverso e complexo --------------------------------------Consideraes finais -------------------------------------------------------------------Bibliografia ------------------------------------------------------------------------------79 80 83 83 85 86 87 88

5 Tecnologias educacionais: Metodologias para capacitaoe difuso de informao para a rede de ensinoIntroduo -------------------------------------------------------------------------------- 91 Sobre tcnica e tecnologia ------------------------------------------------------------- 92 Tcnica ------------------------------------------------------------------------------------ 93 Tecnologia -------------------------------------------------------------------------------- 95 Tecnologias e metodologias educacionais ------------------------------------------- 97 Requalificar a escola para cumprir sua funo de letramento ------------------- 101 Requalificar a escola como espao de socializao mais amplo --------------- 103 Contextualizar a escola, seus materiais e discursos ------------------------------- 106 Bibliografia ------------------------------------------------------------------------------ 111

Mdulo 3

Pesquisa cientfica

6

Balano de carbono no semirido brasileiro: Perspectivas e DesafiosPerspectivas ------------------------------------------------------------------------------ 115

Mudanas climticas e sustentabilidade -------------------------------------------- 117 Carbono no semirido - solo-planta-atmosfera ----------------------------------- 120 Desafios para pesquisa ---------------------------------------------------------------- 125 Referncias ------------------------------------------------------------------------------ 126

7

Quantificao das emisses e nutrio para reduo da produo de metano por bovinosIntroduo ------------------------------------------------------------------------------- 131 Estimativas da produo de metano de origem ruminal-------------------------- 132 Aspectos microbiolgicos e bioqumicos da produo de metano ------------- 134 Fatores que influenciam a fermentao ruminal e a produo de metano ---- 135 Fatores de manejo afetando a produo de metano ----------------------------- 137 Consideraes finais ------------------------------------------------------------------- 143 Literatura consultada ------------------------------------------------------------------- 144

8

Mudanas climticas e problemas fitossanitriosMudanas no clima e a agricultura -------------------------------------------------- 148 O ambiente e a ocorrncia de problemas fitossanitrios ------------------------- 149 A concentrao de CO2 na ocorrncia de doenas ------------------------------ 155 Distribuio geogrfica e temporal de doenas ----------------------------------- 156 Mudanas climticas x controle de doenas --------------------------------------- 156 Concluses ------------------------------------------------------------------------------ 157 Referncias bibliogrficas ------------------------------------------------------------- 157

Mdulo

4

Conservao e manejo

9

Estratgias de convivncia para a conservao dos recursos naturais e mitigao dos efeitos da desertificao no semiridoAlumiando as idias sobre a questo de convivncia com o semirido ------- 165 O monitoramento e os indicadores de desertificao ---------------------------- 166 Semirido: Desertificao e alternativas de convivncias ------------------------ 170 Estratgias de convivncia com o semirido --------------------------------------- 176 Consideraes finais ------------------------------------------------------------------- 181

Referncias bibliogrficas ------------------------------------------------------------- 182 Agradecimentos ------------------------------------------------------------------------- 184

10 Experiencias de combate a la desertificacin enMendoza - ArgentinaResumen --------------------------------------------------------------------------------- 185 Introduccin ----------------------------------------------------------------------------- 186 La provincia de Mendoza: causas y consecuencias de la desertificacin ------ 188 Diagnstico de la desertificacin en la provincia de Mendoza ------------------ 196 Lucha contra la desertificacin en la provincia de Mendoza --------------------- 200 Consideraciones finales --------------------------------------------------------------- 204 Referencias bibliogrficas ------------------------------------------------------------- 208

Lista de figurasMudanas Climticas e desertificao: os desafios para o Estado BrasileiroFigura 1 Srie temporal de temperatura mxima diria para a estao climatolgica do Instituto de Pesquisa Agropecuria de Pernambuco IPA, em Araripina, PE. O valor mdio de 30,5 C corresponde mdia aritmtica de todo o perodo, de janeiro de 1953 a dezembro de 2009. Dados: cortesia de F . F Lacerda (2010) ...................................................................... 26 . Figura 2 Mapa das sedes das dez sub-redes temticas da Rede de Pesquisas sobre Mudanas Climticas Globais Rede CLIMA ................................ 30

Quantificao das emisses e nutrio para reduo da produo de metano por bovinosFigura 1 Fontes antrpicas globais de metano -------------------------------133 Figura 2 Esquema de produo de AGV no rmen -------------------------- 136

Mudanas climticas e problemas fitossanitriosFigura 1 Esquema dos impactos das mudanas climticas sobre problemas fitossanitrios ------------------------------------------------------------150 Figura 2 Ciclo de infeco de patgenos ------------------------------------- 152 Figura 3 Cmara de crescimento: (A e B) Mudas de videira para estudos sobre efeito das mudanas climticas em problemas fitossanitrios; (C) Sistema de iluminao e umidificao; (D) Painel para regulao das condies ambientais --------------------------------------------------154

Estratgias de convivncia para a conservao dos recursos naturais e mitigao dos efeitos da desertificao no semiridoFigura 1 (a) Solos degradados por efeito da salinizao devido irrigao malconduzida por inundao, no municpio de Sobradinho-BA. (b) Espelho dgua com nvel muito baixo em razo do perodo de seca, intensificando a poluio e a contaminao das guas --------- 173 Figura 2 (a) Terra sendo preparada para o plantio irrigado de Cebola e, em segundo plano, mais reas plantadas com cebola com uso intensivo de agrotxicos, na faixa de proteo do lago da Barragem de Sobradinho. (b) Plantio de cebola e aplicao indiscriminada de agrotxicos, rea distante 200m do lago da Barragem de Sobradinho ------------- 174 Figura 3 Extensas reas de solo exposto (improdutivo) em setores elevados e mais rebaixados da comunidade de Morro de Dentro Guanambi, BA, devido ao manejo inadequado do solo (desmatamento, coivara, plantio morro abaixo e uso de agrotxicos) ------------------------ 175 Figura 4 Algumas tecnologias sociais na Fazenda Induema, Povoado de Barra, Municpio de Remanso, BA: (a) Mandala, (b) Cisterna de Enxurrada e (c) Barreiro --------------------------------------------------------------- 179

Experiencias de combate a la desertificacin en Mendoza - ArgentinaFigura 1 Tierras Secas de la Repblica Argentina ---------------------------Figura 2 Mendoza: Situacin en el pas y la regin -------------------------Figura 3 Localizacin de la provincia de Mendoza -------------------------Figura 4 Mapa climatolgico de la provincia de Mendoza ----------------Figura 5 Zonas de aridez en Mendoza ----------------------------------------Figura 6 Unidades geomorfolgicas de Mendoza --------------------------Figura 7 Localizacin de los oasis provincia de Mendoza -----------------Figura 8 Fragilidad de los Ecosistemas ----------------------------------------Figura 9 Presin Humana sobre los Ecosistemas ----------------------------Figura 10 Peligro de desertificacin ---------------------------------------------186 188 189 190 191 192 195 197 198 199

Lista de tabelasSalvaguardas ambientais nos financiamentos do Banco do Nordeste no semiridoTabela 1 Documentos lanados pelo BNB voltados para o meio ambiente .. 39 Tabela 2 Eventos apoiados pelo BNB-ETENE ............................................. 40 Tabela 3 Resultados da pr-seleo dos projetos do aviso sobre Conservao e Recuperao Ambiental ........................................................... 41

Quantificao das emisses e nutrio para reduo da produo de metano por bovinosTabela 1 Gases trao atmosfricos, fontes e contribuio para o aumento do efeito estufa ---------------------------------------------------------------- 132 Tabela 2 Fatores de emisso de metano originado da fermentao entrica -- 134 Tabela 3 Estimativa da produo de metano em funo da variao dos ndices produtivos ---------------------------------------------------- 139 Tabela 4 Tecnologias aplicadas na bovinocultura ------------------------------- 139 Tabela 5 Perdas de metano por gado de leite no vero ----------------------- 140 Tabela 6 Perdas de metano por gado leiteiro no outono ---------------------- 141

Mudanas climticas e problemas fitossanitriosTabela 1 Influncia climtica e as fases do ciclo das doenas ---------------- 151

Experiencias de combate a la desertificacin en Mendoza - ArgentinaTabela 1 Situacin de la desertificacin ------------------------------------------ 201 Tabela 2 Polticas y acciones en la lucha contra la desertificacin en Mendoza ------------------------------------------------------------------- 202

Lista de apndiceIdentificar redes para construir solues interinstitucionais: Diagnstico de arranjos institucionais colaborativos em regies ridas e semiridas no brasil e no exteriorApndice 1 Redes nacionais selecionadas e correspondncias com as prioridades estratgicas do INSA e redes propostas --------------------------- 69 Apndice 2 Entidades internacionais selecionadas e correspondncias com as prioridades estratgicas do INSA e redes propostas --------- 73

Lista de quadrosEstratgias de convivncia para a conservao dos recursos naturais e mitigao dos efeitos da desertificao no semiridoQuadro 1 Principais problemas ambientais no semirido baiano: Polo de Guanambi, 2009 ------------------------------------------- 175 Quadro 2 Principais tecnologias sociais implantadas no Semirido Brasileiro 2010 ----------------------------------------------------- 177

Mdulo Mdulo

1

1

Polticas pblicas

Mudanas climticas e desertificao: os desafios para o Estado Brasileiro

1Mudanas climticas e desertificao: os desafios para o Estado BrasileiroPaulo Nobre

IntroduoAs mudanas climticas globais decorrentes do acmulo de gases de efeito estufa (GEF) na atmosfera, dentre os quais se destacam o dixido de carbono CO2, metano CH4 e os xidos nitrosos NOx, representam um desafio sem precedentes para a humanidade. Tal caracterstica se deve a dois fatores principais: pela velocidade com que se esto processando e por suas consequncias para as atividades humanas - globalmente. O quarto relatrio do IPCC (IPCC-AR4) conclui que o aumento de temperatura mdia da Terra observada durante os ltimos cem anos devido, inequivocamente, a atividades antropognicas relacionadas principalmente queima de combustveis fsseis e de florestas tropicais (SOLOMON et al., 2007). Tanto pela magnitude j atingida (em dezembro de 2008) da concentrao dos GEF, cujos registros atuais no encontram paralelo em testemunhos de gelo dos ltimos quatrocentos mil anos (TRENBERTH et al., 2007), quanto pelo acelerado aumento anual da concentrao de GEF, que hoje ultrapassam os cenrios mais pessimistas do IPCC AR4, h uma necessidade premente em se estudar e desenhar atitudes de adaptao aos efeitos das mudanas climticas (PARRY et al., 2007) e de mitigao de suas causas (METZ et al., 2007). Estudos de avaliao dos impactos das mudanas climticas sobre a estabilidade dos biomas predominantes no Brasil (OYAMA; NOBRE, 2003), indicam que o bioma Caatinga est entre os mais vulnerveis num cenrio de aumento das temperaturas globais, o que coloca a Regio Nordeste do Brasil em estado especial de alerta, uma vez que a vulnerabilidade do bioma Caatinga aos efeitos das mudanas climticas representa um forte fator de presso para a desertificao na regio. Associadas a este fator, atividades antrpicas de remoo da vegetao de Caatinga para a produo de carvo vegetal (e.g. na chapada do Araripe, PE)

25

Paulo Nobre

aumentam a presso de aridificao em rea de clima semirido do Nordeste. Esses dois fatores, locais de origem antrpica de uso do solo e globais devido aos efeitos das mudanas climticas, se somam, fazendo do Nordeste uma regio factvel de experimentar um acelerado processo de desertificao. Estudo de deteco de mudanas climticas sobre Pernambuco (LACERDA; NOBRE, 2010, comunicao pessoal), revela aumento de 4 C na temperatura mxima diria no perodo de 1961 a 2009, na estao meteorolgica de Araripina (Figura 1) e diminuio mdia de 275 mm (correspondendo a 57%) dos totais pluviomtricos anuais em conjunto de oito postos pluviomtricos com dados no mesmo perodo, no vale do rio Paje, em Pernambuco. Em particular, a diminuio anual das chuvas esteve acompanhada do aumento dos perodos mximos de estiagem que passaram de 20 para 35 dias, e do aumento da frequncia de eventos de precipitao intensa (i.e. superior a 50 mm em 24 horas), que passou de cinco para nove ocorrncias por ano. Tais sinais constituem evidncia de que processos de aridificao esto em curso nas reas estudadas no interior de Pernambuco. Nota-se que a diminuio dos totais pluviomtricos anuais observada globalmente nas regies tropicais entre 10S e 10N, assim como o aumento da frequncia da ocorrncia de precipitaes episdicas intensas associadas s mudanas climticas globais (TRENBERTH et al., 2007).

Figura 1 Srie temporal de temperatura mxima diria para a estao climatolgica do Instituto de Pesquisa Agropecuria de Pernambuco IPA, em Araripina, PE. O valor mdio de 30,5 C corresponde mdia aritmtica de todo o perodo, de janeiro de 1953 a dezembro de 2009. Dados: cortesia de F. F Lacerda (2010) .

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Aes governamentais e o clima no BrasilHistoricamente, a variabilidade climtica intrnseca ao clima semirido do Nordeste foi tomada como fator de desvantagem regional. A primeira manifestao desta viso do climaflagelo atribuda ao monarca Pedro II, aps a grande seca de 1875, quando teria declarado sua inteno de vender as jias da Coroa para erradicar o problema da seca no Nordeste. Mais tarde, Euclides da Cunha viria a eternizar o conceito da seca-flagelo em sua consagrada obra Os Sertes. Assim, a seca foi elevada condio de vil de oportunidade, principal causa impeditiva para o desenvolvimento regional. A viso da seca como flagelo tambm influenciou a criao e atuao de alguns rgos federais que visavam ao desenvolvimento regional, tais como o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e a Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Do ponto de vista tcnico, tais agncias trouxeram um aumento expressivo na densidade da rede observacional meteorolgica sobre a Regio, e realizaram inmeras obras visando aumentar a armazenagem hdrica no Nordeste. Ao final da dcada de 1960, a SUDENE contava com uma rede observacional com milhares de pluvimetros convencionais espalhados sobre toda a sua rea de atuao. No obstante o significativo aumento da densidade de informaes pretritas sobre a pluviosidade no Nordeste, os problemas sociais associados s secas, permaneceram. Tambm se citam algumas tentativas isoladas de modificao do clima sobre o Nordeste, durante a dcada de 1980, cuja maior expresso se deu atravs da Fundao Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais FUNCEME que, oportunamente, seria renomeada para Fundao Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos. Aps mais de uma dcada de atividades rotineiras de nucleao artificial de nuvens, com resultados inconclusivos, no reportados na literatura especializada, tambm esta iniciativa foi abandonada. Chegava-se, por esta poca, concluso de que o conhecimento antecipado da ocorrncia de secas poderia auxiliar o bem-estar social no Nordeste, particularmente em suas reas de serto. Em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE, em 1989 a FUNCEME passou a utilizar informaes detalhadas de monitoramento atmosfrico e ocenico globais para elaborar e fornecer previses climticas sazonais para o Governo do Estado do Cear. Este, por sua vez, de forma inovadora, passou a utilizar tais informaes para o planejamento de aes de governo, como a distribuio de sementes e estratgias para o fornecimento de gua potvel para abastecimento urbano. O caso mais notvel no aspecto de fornecimento de gua para consumo humano, foi a construo do Canal do Trabalhador, no Cear, em 1993, com 98 km de extenso, em tempo recorde, interligando o rio Jaguaribe e o aude Ors ao aude Pacajus, que abastece Fortaleza, a capital do estado. A deciso para sua construo foi tomada com base na previso climtica sazonal ento j realizada de forma

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sistemtica pela FUNCEME e o INPE, de que a regio enfrentaria uma grande seca em 1993. De fato, a previso se verificou e as obras de construo do canal evitaram que a cidade entrasse em completo colapso de fornecimento de gua. Com a seca de 1998 o Canal voltaria a ser utilizado para o bombeamento de gua para abastecimento de Fortaleza. Em 1991, o Ministrio da Cincia e Tecnologia MCT criou, em parceria com os estados da Regio Nordeste, o Programa Nordeste, com a finalidade de capacitar os estados da regio para monitorar e prever a variabilidade de tempo, clima e dos recursos hdricos sobre o Nordeste. Na poca foram criados Centros Estaduais de Meteorologia e Recursos Hdricos CMRH, em cada estado nordestino. Os CMRH contaram com equipamentos computacionais e estaes receptoras de imagens de satlite meteorolgico. O Programa tambm arregimentou um grande contingente de mestres em meteorologia, hidrologia e analistas de sistemas, os quais foram alocados em cada CMRH com recursos de bolsas de desenvolvimento tecnolgico do CNPq. O INPE fornecia o suporte tcnico-cientfico aos Centros Estaduais, seguindo uma frmula de grande sucesso at ento experimentada na parceria entre o INPE e a FUNCEME. Com o tempo, o programa foi estendido para as demais Regies do Brasil, passando a se chamar Programa de Monitoramento de Tempo, Clima e Recursos Hdricos PMTCRH. Os CMRH se desenvolveram a taxas variadas e gradativamente passaram a atuar de maneira autnoma, estabelecendo suas prprias redes de coleta de dados, muitas delas contando com sistemas automticos de coleta de dados com transmisso via satlite, assim como gerando produtos de previso de tempo e clima. Extinto enquanto ao do Planejamento Plurianual (PPA) do Governo Federal o PMTCRH, deixou um legado na atuao dos CMRH nos estados, que introduziram a previso de tempo e clima nos processos de tomada de deciso dos governos estaduais e municipais. Tambm a forma de financiamento da pesquisa realizada pelos CMRHs mudou, passando a ocorrer atravs de editais pblicos de financiamento de pesquisa em rede com Universidades e Institutos de Pesquisa e para o estabelecimento de redes automticas de observao hidrometeorolgica estaduais.

Das mudanas climticas globaisResultado do acmulo de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, o aquecimento global traz, em seu bojo, riscos e oportunidades. Riscos, na medida em que o aquecimento gradual da atmosfera implica na alterao de ciclos delicados de balano climtico com os quais as civilizaes se desenvolveram ao longo de milnios. Tais ciclos do clima incluem processos de retroalimentao positiva como, por exemplo, a alterao do albedo planetrio atravs do derretimento das geleiras continentais e da diminuio da cobertura do gelo marinho os quais, por sua vez e atravs da diminuio do albedo, ocasionam maior absoro da

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radiao solar superfcie, que retroalimenta o aumento da temperatura do ar. Uma atmosfera mais aquecida permite, igualmente, maior quantidade de gua na forma de vapor. Sendo o vapor dgua ele prprio um potente GEF, seu aumento retroalimenta o aumento da temperatura que por sua vez permite que um volume ainda maior de vapor seja dissolvido no ar. Por outro lado, uma atmosfera mais mida ocasiona alterao no ciclo hidrolgico com precipitaes pluviomtricas mais intensas, maior escoamento superficial e eroso do solo, assoreamento das calhas dos rios e reservatrios, com consequente aumento da frequncia de enchentes e inundaes. O aumento da temperatura tambm tem o efeito de diminuir a umidade do solo atravs da evaporao direta e pelo aumento da evapotranspirao das plantas. Desta forma, atividades agrcolas de sequeiro sobre o semirido, que em condies passadas j representavam uma incidncia significativa de perda em virtude da variabilidade interanual do perodo chuvoso, num estado futuro de aquecimento global devero tornar-se cada vez menos viveis, at a total inviabilidade de culturas que dependam exclusivamente da ocorrncia de chuvas. Isto tem impactos na sociedade nordestina, particularmente para aquele estrato social que vive de culturas de subsistncia no semirido, num primeiro momento, mas para toda a sociedade com o tempo.

O enfrentamento das mudanas climticasAps o reconhecimento crescente da forma profunda como as mudanas climticas j esto atingindo as sociedades ao redor do globo e que viro a atingir no futuro em escala de algumas dcadas, governos nacionais e estaduais/municipais em vrios pases esto se preparando para lidar com as alteraes climticas em curso. No Brasil tal articulao tem envolvido os Governos Federal e Estaduais, com a criao de polticas nacional e estaduais de mudanas climticas; alm dessas, de modo a gerar e disseminar o conhecimento necessrio para o Brasil responder aos desafios representados pelas mudanas climticas globais e seus efeitos na economia, meio ambiente e sociedade, o MCT criou a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanas Climticas Globais (Rede CLIMA) ao final de 2007, e o Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia em Mudanas Climticas INCT-MC. A abrangncia da Rede CLIMA nacional, envolvendo dezenas de grupos de pesquisa em universidades e institutos de pesquisa; seu foco cientfico cobre as questes relevantes das mudanas climticas, notadamente: A base cientfica das mudanas climticas: deteco e atribuio de causas, entendimento da variabilidade natural versus aquela induzida por atividades antropognicas; ciclo hidrolgico e ciclos biogeoqumicos globais e aerossis; modelagem do sistema climtico.

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Estudos de impactos e adaptao para sistemas e setores relevantes: agricultura e silvicultura, recursos hdricos, biodiversidade e ecossistemas, zonas costeiras, cidades, economia, energias renovveis e sade. Desenvolvimento de conhecimento e tecnologias para a mitigao das mudanas climticas. A rede CLIMA coordenada pelo Centro de Cincias do Sistema Terrestre CCST do INPE, vinculado ao MCT, e constituda de dez sub-redes, a saber: Agricultura, Biodiversidade e Ecossistemas, Cidades, Desenvolvimento Regional, Economia das Mudanas Climticas, Energias Renovveis, Modelagem Climtica, Recursos Hdricos, Sade e Zonas Costeiras. A Figura 2 mostra a distribuio espacial dos centros de coordenao de cada sub-rede listada acima. Um dos primeiros produtos colaborativos da Rede CLIMA ser a criao do modelo brasileiro do sistema climtico global MBSCG, com o qual sero elaboradas previses de variaes climticas sobre o Brasil em escalas de alguns anos at vrias dcadas. Tais previses faro parte dos relatrios de anlises sobre o estado de conhecimento das mudanas climticas no Brasil, nos moldes dos relatrios do IPCC, porm com anlises setoriais especficas para a formulao de polticas pblicas nacionais e de relaes exteriores.

Figura 2 Mapa das sedes das dez sub-redes temticas da Rede de Pesquisas sobre Mudanas Climticas Globais Rede CLIMA

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Desafios do Brasil frente s mudanas climticas globaisEnquanto o conjunto de pases se revolve em torno da questo das mudanas climticas e seus efeitos nas economias locais, no meio ambiente e na prpria longevidade das estruturas polticas sociais existentes, lentamente cresce o conhecimento cientfico sobre suas causas e efeitos mitigatrios. Um desses efeitos o das florestas tropicais na estabilizao do clima (NOBRE et al., 2009). Uma forma extremamente efetiva para a mitigao dos efeitos das mudanas climticas o aumento da cobertura vegetal, tanto atravs do replantio de extensas coberturas florestais com o fim de remover CO2 atmosfrico, quanto pelo efeito das florestas no ciclo hidrolgico. Neste campo, o Brasil tem grande potencial por sua natureza tropical e rea territorial. Com o emergente comrcio de crditos de carbono no mercado mundial, j inmeros empreendimentos se tm beneficiado atravs do reflorestamento de largas reas e nas margens de represas para a gerao de energia hidroeltrica. Embora o comrcio de crdito de carbono seja denunciado por alguns como forma ineficaz para a mitigao das emisses de CO2 globalmente, na medida em que alguns pagam para continuar poluindo, representa uma forma interessante de transio para uma economia com matriz energtica limpa, principalmente para pases como o Brasil, com extensas reas cobertas por florestas tropicais. Assim, passa a ser economicamente mais vantajosa a preservao das florestas intocadas do que seu corte para explorao seletiva de madeira-de-lei ou implantao de empreendimentos agropecurios de retorno imediato. No somente no campo mas tambm nas cidades, o replantio de rvores representa uma ao que contribui para a mitigao das causas das mudanas climticas. A arborizao das vias, praas e reas pblicas colabora para aumentar o sombreamento e a evapotranspirao levada a efeito durante a fotossntese, contribuindo diretamente para reduzir o acentuado aumento de temperatura do ar registrado em centros urbanos.

Programa de adaptao s mudanas climticasEm paralelo s aes de mitigao s emisses de gases de efeito estufa e das aes de adaptao s mudanas climticas, tais como o aumento da capacidade de realizar previses climticas sazonais, um enfrentamento s mudanas climticas deve, obrigatoriamente, capacitar os indivduos para as novas realidades econmicas, naturais e sociais que se desenvolvem no bojo das aes de mitigao e adaptao em curso, em escala nacional e mundial. Para tanto, h de existir um programa massivo de investimento em educao integral de todas

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as crianas e jovens no Pas. Aes neste sentido j ocorrem em vrios nveis no Brasil, tanto federal como estadual e municipal, mas devem ser tornadas um programa nacional, com recursos comparveis queles da explorao de petrleo no Pas. A escola integral, e no somente a educao ambiental como em alguns fruns costuma-se sugerir, pilar indispensvel na preparao das futuras geraes do Brasil a conviverem de forma harmnica, entre si e com o meio ambiente, assim como participarem em condies competitivas da economia mundial globalizada. Em paralelo aos efeitos danosos do acmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, devido majoritariamente queima de combustveis fsseis para a gerao de energia e produo de alimentos, o surpreendente desenvolvimento de tecnologias computacionais e de telecomunicaes est alterando sociedades e governos, globalmente. Hoje, com uso de um computador e acesso rede mundial de comunicao internet, provedores e consumidores de servios podem estar separados por milhares de quilmetros, mares e montanhas, pases, sistemas polticos e religiosos efetuando, no obstante, relaes comerciais lucrativas para todas as partes envolvidas. Tal tipo de atividade econmica j utilizada em grande escala por conglomerados comerciais que terceirizam servios de suporte e atendimento ao consumidor, literalmente, para companhias do outro lado do planeta. No obstante ser promissor, a entrada em tal mercado de trabalho requer a existncia de um sistema de ensino competente e inclusivo, que capacite os adultos de amanh a participarem do mundo globalizado, aquecido, superpopulado, que est sendo preparado e lhes ser entregue como herana das decises possveis, tomadas por geraes passadas e a atual.

ConclusesEste ensaio abordou, de forma no exaustiva, a questo do clima no Nordeste do Brasil e aes a nvel Federal sendo tomadas no Brasil para o enfrentamento das Mudanas Climticas. Tratou-se, tangencialmente, da questo da desertificao, estrito-senso, por se entender que, apesar de sua gravidade para as dimenses sociais e naturais do Pas, decorrncia de uma viso fundamentada no conceito de que os recursos ambientais, a entendidos o ar, a gua, o solo, as coberturas vegetais nativas so infindveis. Desta forma, optou-se por uma viso holstica dos fatores causais de desertificao, particularmente relacionados s mudanas climticas globais, assim como de medidas estruturantes a nvel de Estado, em curso no Pas. O Brasil se beneficia, hoje, dos frutos de investimentos continuados, realizados ao longo de vrias dcadas pelo Governo Federal, com o estabelecimento de um sistema universitrio e de pesquisa abrangente para o enfrentamento das mudanas climticas. O Pas conta com

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comunidade acadmica de qualidade equiparvel de pases industrializados, no que tange s mudanas climticas e aos seus impactos na sociedade. Tal maturidade cientfica permitiu o estabelecimento de redes de pesquisa dentre as quais a Rede Brasileira de Pesquisa das Mudanas Climticas Globais Rede CLIMA, o Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia em Mudanas Climticas INCT-MC e a Rede FAPESP de pesquisas em mudanas climticas globais RFPMCG. Associado excelncia acadmica, o Brasil tambm mantm redes de estaes de observaes ambientais desde o incio do sculo XX, cujas sries temporais so fundamentais para a deteco de alteraes dos padres climatolgicos sobre o Pas. Tais sries temporais histricas de parmetros necessitam ser disponibilizadas para substanciarem a pesquisa e o estabelecimento de polticas pblicas assim como para testar modelos matemticos do sistema climtico a serem utilizados para gerar os cenrios de mudanas climticas sobre o Brasil para os prximos anos e dcadas. Nesta rea o sistema de supercomputao adquirido pelo Ministrio da Cincia e Tecnologia e a FAPESP instalado no INPE, est entre os sistemas de , supercomputao mais velozes do mundo na rea de previso e estudos do clima, e permitir que sejam gerados cenrios detalhados das mudanas climticas em curso e previstas para o futuro, sobre o Brasil. Alm das redes de pesquisa e capacidade supercomputacional disponveis, o Brasil conta, ainda, com centros de meteorologia e recursos hdricos na quase totalidade dos estados, os quais ainda em estado embrionrio em muitos casos, representam um caminho promissor para o detalhamento e aplicao dos conhecimentos gerados a nvel nacional para as realidades de seus estados. Assim, os cenrios de mudanas climticas gerados pelo INPE no mbito da Rede CLIMA para o Brasil contaro com grande capilaridade nos estados, para que as informaes sobre alteraes do clima sejam traduzidas para a sociedade, como um todo, minimizando os efeitos adversos das mudanas climticas e criando oportunidades de novos desenvolvimentos, aplicaes e formas sustentadas de atividades econmicas no Pas. Em tempo, este trabalho aponta algumas direes de grandes programas de governo que, na opinio do autor, necessitam ser adotadas e ampliadas a nveis federal, estadual e municipal, para capacitar o Brasil para o convvio e o enfrentamento das consequncias das mudanas climticas em curso, a saber: desenvolvimento de programas educacionais integrais de alta qualidade, inclusivos, com a participao de todo o contingente de crianas e jovens residentes no Brasil, alm de programas pblicos de capacitao de adultos em incluso digital e de responsabilidade ambiental. Em paralelo, tendo em vista o enorme potencial florestal brasileiro, desenvolver um programa massivo de reflorestamento nacional, envolvendo dos biomas Amaznico ao Pampa, incluindo a Caatinga, Cerrado e Mata Atlntica, do campo e das cidades representa um enorme potencial no realizado de crescimento nacional, distribuio de renda e mitigao s mudanas climticas globais.

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Em conjunto, a revoluo educacional e ambiental sugeridas neste ensaio, calcadas nos slidos fundamentos da democracia, cincia & tecnologia e economia da sociedade brasileira na erradicao da misria e promoo do desenvolvimento solidrio, sustentvel, de respeito e prosperidade, haver de edificar um Brasil lder numa nova e necessria ordem mundial. Antes de tudo, ensejar, s geraes futuras, olhar em retrospectiva para os dias atuais como o momento de transio de uma sociedade-suicida; que exauria os recursos naturais, conspurcava a gua e o ar, extinguia espcies animais e vegetais sequer conhecidas, impunha escravido s legies de indivduos, condenados excluso social; para uma sociedade prspera, alegre, em paz consigo mesma e com todo o ambiente que a hospeda.

AgradecimentosO autor deste trabalho externa seu agradecimento Sra. Francinete Francis Lacerda, pelos comentrios em verso preliminar deste documento e fornecimento de sries histricas de dados meteorolgicos sobre Pernambuco.

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Salvaguardas ambientais nos financiamentos do Banco do Nordeste no semirido

2Salvaguardas ambientais nos financiamentos do Banco do Nordeste no semiridoJos Maria Marques de Carvalho Jos Narciso Sobrinho

IntroduoOs Bancos Pblicos exercem importante papel como colaboradores no cumprimento da legislao ambiental. Como lder das aplicaes de recursos de longo prazo voltados para a atividade produtiva em sua rea de atuao, compreendendo a Regio Nordeste, norte de Minas Gerais e norte do Esprito Santo, o Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB) responsvel por mais de 60% da concesso de recursos financeiros em prol do desenvolvimento regional. Na concesso desses financiamentos o BNB aplica os dispositivos legais emanados do Governo Federal voltados para o meio ambiente e exige o cumprimento das normas de proteo e preservao dos recursos naturais, em sua rea de atuao. No obstante, por meio do Fundo de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (FUNDECI), administrado pelo Escritrio Tcnico de Estudos Econmicos do Nordeste (ETENE), foram realizados investimentos em 131 projetos de P&D e de difuso de tecnologias na temtica meio ambiente, que totalizaram cerca de 17,5 milhes de reais. O objetivo deste trabalho divulgar, junto sociedade, o apoio do BNB na preservao e conservao do meio ambiente, atravs da aplicao da legislao em vigor como prrequisito concesso das operaes de crdito, na promoo de projetos de P&D e na difuso de tecnologias para o desenvolvimento econmico sustentvel.

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Financiamento s Operaes de Crdito e Cincia e TecnologiaPara tanto, o BNB, como banco de desenvolvimento regional, entende que decisivo o papel dos bancos pblicos no Semirido, no tocante s salvaguardas ambientais, pois faz cumprir, na prtica, o respeito Poltica Nacional do Meio Ambiente ao exigir, nos financiamentos, o cumprimento de: - Poltica Nacional do Meio Ambiente: Lei 6.938/81 e Decreto 99.274/90; - Exigncia s normas do Sistema Nacional de Meio Ambiente-SISNAMA; - Requisito em seus financiamentos, o Licenciamento Ambiental (Licena Prvia-LP Licen, a de Implantao LI e Licena de Operao-LO); - Averiguao do impacto ambiental atravs dos instrumentos de avaliao: EIA/RIMA, PCA, EVA, ECA etc.; - Exigncia do cumprimento da Resoluo CONAMA 237/97; - Exigncia do Cumprimento da Lei n 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). A temtica ambiental permeia todas as atividades vinculadas ao desenvolvimento econmico, merecendo ateno do BNB no planejamento de suas aes direcionadas ao apoio financeiro das atividades produtivas em sua rea de atuao. No Brasil preocupante o desmatamento indiscriminado de florestas em desobedincia s normas ambientais vigentes. Tal prtica contribui para o aquecimento global, desertificao e chuva cida, dentre outros eventos de natureza climtica, cada vez mais frequentes e intimamente ligados ao antrpica sobre os recursos naturais, fato que compromete a qualidade de vida no planeta para as atuais e futuras geraes. O cuidado com o meio ambiente deixou de ser temtica demaggica para ser prioridade de Governo responsvel e comprometido com o futuro do planeta. Para tanto, o BNB criou um programa, no mbito do FNE, para atender s demandas do setor produtivo envolvido com a temtica ambiental, permitindo consolidar aes de proteo e conservao ambiental. Para fortalecer o acompanhamento interno e externo e aperfeioar o planejamento vinculado s aes de meio ambiente o BNB criou, em sua estrutura administrativa da Direo Geral, o Ambiente de Responsabilidade Scioambiental. Como instituio preocupada com o desenvolvimento sustentvel em sua rea de atuao, o BNB considera quatro eixos imprescindveis para ampliar a conscincia ambiental junto s organizaes, a saber:

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- Apoio socializao do conhecimento; - Apoio pesquisa e difuso de tecnologias; - Exigncia, nos financiamentos, do cumprimento das normas ambientais; - Educao ambiental. O BNB entende que a forma de atuao mais efetiva para conservao e preservao do meio ambiente se d atravs do conhecimento e da busca do desenvolvimento econmico sustentvel. Com este entendimento, o BNB tem apoiado a realizao de eventos, estudos e pesquisas e a coedio de publicaes, dentre outras aes. Na listagem abaixo apresentamos uma sntese do apoio do BNB s aes voltadas para a temtica ambiental. Tabela 1 Documentos lanados pelo BNB voltados para o meio ambienteTEMA/ENTIDADE Agenda 21: perguntas e respostas/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado da Bahia/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado da Paraba/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado de Alagoas/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado de Pernambuco/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado de Sergipe/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado do Cear/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado do Maranho/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado do Piau/BNB Agenda 21 brasileira: documento de relatoria do debate do Estado do Rio Grande do Norte/BNB Seminrio de Tropicologia, 1990, Recife; Anais...: trpico e meio ambiente (Srie Cursos e Conferncias)/Massangana-BNB Congresso Brasileiro de Unidades de Conservao, 3., 2002, Fortaleza. Anais.../BNB Aspectos Ambientais do Sistema de Elaborao e Anlise de Projetos (SEAP): procedimentos bsicos para a insero dos aspectos ambientais no processo de crdito do Banco do Nordeste/BNB Caderno de orientaes ambientais: procedimentos bsicos para a insero dos aspectos ambientais no processo de crdito do Banco do Nordeste/BNB Comrcio de materiais de construo (BNB.Srie Guia de Prticas para o Meio Ambiente, v. 5)/BNB Fabricao de artigos de couro (BNB.Srie Guia de Prticas para o Meio Ambiente, v. 12)/BNB Guia do meio ambiente para o produtor rural/BNB Homem, mulher e meio ambiente: os desafios no terceiro milnio/BNB Manual de impactos ambientais: orientaes bsicas sobre aspectos ambientais de atividades produtivas. 2. ed/BNB Meio Ambiente: manual do professor/ BNB-SENAR-CE O Meio ambiente e o produtor rural: acompanhe os assuntos dessa cartilha no Programa de Capacitao Rdio Nordeste... (BNB.Srie Programa de Capacitao Rdio Nordeste, 1)/BNB Plano Nacional de Recursos Hdricos: documento de introduo; iniciando um processo de debate nacional/ Ministrio do Meio Ambiente-BNB ANO 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2002 2002 1999 1999 2002 2002 1999 2000 2008 2003 2001 2004

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Jos Maria Marques de Carvalho - Jos Narciso SobrinhoTEMA/ENTIDADE Proposta de dimensionamento do semirido brasileiro/BNB Os Roteiros do turismo sustentvel: Nordeste, Minas Gerais e Esprito Santo (BNB.Srie Programa de Capacitao Rdio Nordeste, 6)/BNB Tecnologia agrcola e de conservao ambiental para o topo da Chapada do Araripe: relatrio tcnico fev/1999/ACEP-BNB Tecnologia agrcola e de conservao ambiental para o topo da Chapada do Araripe: relatrio tcnico final/ACEP-BNB Tecnologia agrcola e de conservao ambiental para o topo da Chapada do Araripe: relatrio tcnico final; abr/1999/ACEP-BNB Tecnologia agrcola e de conservao ambiental para o topo da Chapada do Araripe: relatrio tcnico preliminar/ACEP-BNB O Turismo e o desenvolvimento sustentvel: acompanhe os assuntos dessa cartilha no Programa de Capacitao Rdio Nordeste... (BNB.Srie Programa de Capacitao Rdio Nordeste, 3)/BNB The UNESCO Araripe Geopark: a short story of the evolution of life, rocks and continents/UECE Unidades de conservao: atualidades e tendncias/Fundao O Boticrio-BNB ANO 2005 2002 1999 1999 1999 1998 2001 2008 2002

Outras formas importantes de socializao do conhecimento so os eventos, atravs dos quais so difundidos novos conhecimentos, novas tecnologias e experincias exitosas, que podero ser replicadas ou adaptadas em outros locais. A Tabela 2 registra alguns eventos cujos conhecimentos gerados podem contribuir positivamente para melhoria da ao do homem sobre o meio ambiente. Tabela 2 Eventos apoiados pelo BNB-ETENEEVENTO I Seminrio Internacional de Reservas da Biosfera das Regies ridas e Semiridas Conferncia Internacional em saneamento ecolgico: busca pela segurana alimentar e hdrica na Amrica Latina I Workshop Internacional de Inovao Tecnolgica na Irrigao & I Ciclo de Palestras sobre o Semirido Brasileiro IV Encontro Estadual de Formao de biodiversidade - Semente da paixo: plantando e colhendo riquezas e solidariedade no semirido I Congresso Brasileiro de Energia Solar Congresso Internacional de Agroenergia e Biocombustveis VI Congresso Internacional de Palma e Cochonilha XXI Congresso Brasileiro de Entomologia VII Congresso Brasileiro de Sistemas de Produo Congresso Internacional de Agroenergia e Biocombustveis Seminrio da participao da agricultura familiar do Nordeste no mercado nacional e internacional de produtos orgnicos, sustentveis e solidrios IV Congresso Nordestino de Produo Animal IA-RBCAAT UFC CENTEC - Sobral Ao Social Diocesana de Patos Associao Brasileira de Energia Solar-ABENS FADETEC UFPB UFRPE Sociedade Brasileira de Sistemas de Produo-(SBSP) FADETEC Fundao Konrad Adenauer SNPA ENTIDADE

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Outro aspecto significativo valorizado pelo BNB por intermdio do ETENE, para realizar aes de apoio a estudos, pesquisas e difuso tecnolgica, o FUNDECI, com recursos no reembolsveis. Criado em 1971 e regulamentado em 1972, j foram apoiados 1.383 projetos correspondendo a 86,2 milhes de reais. Para ampliar suas aes na rea ambiental o BNB-ETENE lanou, em 2008, edital especfico para P&D e difuso de tecnologias de conservao e recuperao ambiental, no valor de R$700.000,00 (setecentos mil reais). Tal ao foi realizada em parceria com o Ambiente de Responsabilidade Scioambiental. Neste edital foram recebidos 88 projetos, no valor de R$4,8 milhes de reais, de cujo total foram aprovados 15 projetos, correspondendo ao valor de R$741.112,31 reais, envolvendo 10 estados da rea de atuao do BNB. Nesta seleo foram aprovados vrios projetos voltados para regio semirida, direcionados conservao e recuperao de reas degradadas que visem preveno, mitigao, recuperao e compensao de impactos ambientais negativos, decorrentes de: - Extrao de lenha e produo de carvo vegetal; - Extrao de gipsita e produo de gesso; - Extrao de argila e produo de cermica; - Produo vegetal com uso intensivo de defensivos agrcolas e fertilizantes qumicos; - Produo de gros no cerrado nordestino; - Bovinocultura e ovinocaprinocultura no semirido. Com relao aos recursos disponibilizados, a demanda insatisfeita girou em torno de 85% dos recursos solicitados. Este dado revela o interesse que o tema meio ambiente tem junto s instituies de pesquisa e difuso tecnolgica da rea de atuao do BNB. Na Tabela 3 esto apresentados os 15 projetos selecionados no AVISO ETENE/FUNDECI - 05 /2008 Apoio Pesquisa ou Difuso de Tecnologias de Conservao e Recuperao Ambiental. Tabela 3 Resultados da pr-seleo dos projetos do aviso sobre Conservao e Recuperao AmbientalTTULO DO PROJETO Produo e eficincia de biofertilizante - bioprotetor com quitosana na uva orgnica Aproveitamento residual da madeira do cajueiro proveniente da substituio de copas Efeito do parcelamento da lmina de lixiviao na recuperao na recuperao de solos salinizados decorrentes do intenso uso de fertilizantes Povoamentos agroflorestais em reas de assentamentos para consumo e sustentabilidade energtica diminuindo a supresso florestal da Caatinga Implantao de um sistema de produo de baixo impacto no controle de pragas do algodoeiro colorido no semirido UFPE Embrapa Agroindstria Tropical UFES UFSE UFRPE EXECUTORA

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Jos Maria Marques de Carvalho - Jos Narciso SobrinhoTTULO DO PROJETO Integrao Lavoura-Pecuria para recuperao de pastagens degradadas de depresso sertaneja no Vale do So Francisco Sensibilizao de agricultores para o uso de fogo solar como alternativa energtica extrao e uso domiciliar de lenha e carvo vegetal em assentamentos do Cariri Paraibano Morango orgnico no semirido: manejo cultural e controle de podrides ps-colheita Efeito da biomassa carbonizada e adubao verde sobre a qualidade do solo e a produtividade do milho e do feijo caupi, no leste maranhense Reduo do impacto ambiental da caprinovinocultura pelo aumento do suporte forrageiro Captura de CO2 & produo florestal em rea salinizada no semirido potiguar Dinmica do carbono orgnico e qualidade fsica de solos sob diferentes usos no plat de Irec, BA, visando mitigao da degradao ambiental Utilizao de feno de manioba na alimentao de caprinos e ovinos como meio de conservar a biodiversidade do semirido de Alagoas Produo de banana orgnica como alternativa para a agricultura familiar Produo e eficincia de biofertilizante - bioprotetor com quitosana na uva orgnica Embrapa Solos UFCG EPAMIG Embrapa Meio Norte Embrapa Meio Norte EMPARN Embrapa Mandioca e Fruticultura UFAL EPAMIG UFRPE EXECUTORA

Dispositivos Legais e os Normativos Internos do BNBPara cumprir a legislao dos rgos Ambientais o BNB inclui, em seus normativos internos, os dispositivos legais observados pelas agncias, por ocasio da concesso do crdito. So apresentados, a seguir, os diversos itens que fazem parte dos normativos internos do BNB.

reas de preservao permanenteSo consideradas reas de preservao permanente, no podendo ser desmatadas, as reas de florestas e demais formas de vegetao natural situadas como indicado a seguir: - Ao longo dos rios ou de outro qualquer curso dgua, desde o seu nvel mais alto, em faixa marginal cuja largura mnima seja: De 30 m para os cursos dgua de menos de 10 m de largura; De 50 m para os cursos dgua que tenham de 10 a 50 m de largura; De 100 m para os cursos dgua que tenham de 50 a 200 m de largura; De 200 m para os cursos dgua que tenham de 200 a 600 m de largura; De 500 m para os cursos dgua que tenham largura superior a 600 m;

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- Ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios dgua naturais ou artificiais; - Nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos dgua, qualquer que seja a sua situao topogrfica, num raio mnimo de 50 m de largura; - No topo de morros, montes, montanhas e serras; - Nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45, equivalente a 100% na linha de maior declive; - Nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; - Nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 m em projees horizontais;

reas de reserva legalConsidera-se reserva florestal legal a rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservao permanente, necessria ao uso sustentado dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo de fauna e flora nativas, representada por, no mnimo, o que se segue: - 80%, na propriedade situada em rea de floresta, localizada na regio do Estado do Maranho compreendida na Amaznia Legal; - 35%, na propriedade situada em rea de cerrado, localizada na regio do Estado do Maranho compreendida na Amaznia Legal; - 20%, na propriedade rural situada em rea de floresta e outras formas de vegetao nativa, localizada em outros Estados e na parte do Estado do Maranho no-integrante da Amaznia Legal (art. 16, 2, da Lei n 4.771 de 15/09/65, includo pela Lei n 7.803 de 18/07/89; art. 17 da Portaria IBAMA n 113 de 29/12/95); - 20%, na propriedade rural situada em rea de campos gerais, localizada em qualquer regio do Pas. As reas de reserva legal e de preservao permanente no podero ser utilizadas para fins de explorao econmica nos projetos financiados pelo BNB.

Averbao no registro de imveis reserva legal mnima de 80%, 35% ou 20%, conforme o caso, de que trata o item anterior, aplica-se o que se segue:

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- Sua localizao ser aprovada pelo rgo ambiental estadual competente ou, mediante convnio, pelo rgo ambiental municipal ou outra instituio devidamente habilitada, e; - Tem de estar averbada margem da inscrio da matrcula do imvel no cartrio de registro de imveis competente, sendo vedada a alterao de sua destinao nos casos de transmisso de propriedade do imvel, a qualquer ttulo, de desmembramento ou de retificao da rea.

Recomposio e complementao da reserva legalSe j no h, no imvel, a cobertura vegetal integrante da reserva legal ou sendo esta inferior aos limites mnimos exigidos (80%, 35% ou 20%, conforme o caso), o proprietrio rural ou possuidor fica obrigado a adotar as seguintes alternativas, isoladas ou conjuntamente: - Plantar, em cada ano e a partir de 1992, inclusive, pelo menos 1/30 (um trinta avos), ou seja, 1/10 (um dcimo) a cada 3 anos, da rea total necessria sua complementao, com espcies nativas, para recompor ou complementar a referida reserva florestal legal, de acordo com critrios estabelecidos pelo rgo ambiental estadual competente; - Conduzir a regenerao natural da reserva legal, autorizada pelo rgo ambiental estadual competente; - Compensar a reserva legal por outra rea equivalente em importncia ecolgica e extenso, desde que pertena ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia, conforme critrio a ser definido por regulamento do Poder Executivo Federal e aprovao do rgo ambiental estadual competente. Caso a recomposio no venha sendo efetuada ano a ano, conforme previsto em lei, o proprietrio ou possuidor ter de recompor, de uma s vez, a rea correspondente ao somatrio do que deveria ter sido recomposto nos anos de 1992 at o ano de obteno do financiamento, conforme o seguinte exemplo: para um financiamento concedido em 1999, o proprietrio ter de recompor 8/30 (oito trinta avos) do total da rea de reserva legal.

Unidades de conservaoEntende-se por Unidade de Conservao o espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, com objetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial de administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo, e se dividem nos seguintes grupos:

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- Unidades de Proteo Integral, nas quais no financivel nenhum empreendimento, sendo classificadas em: estao ecolgica, reserva biolgica, parque nacional, monumento natural e refgio de vida silvestre; - Unidades de Uso Sustentvel, classificadas em: rea de proteo ambiental (APA), rea de interesse ecolgico relevante, floresta nacional, reserva extrativista, reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentvel e reserva particular do patrimnio natural.

Manejo florestalManejo florestal sustentvel a administrao da floresta para a obteno de benefcios econmicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentao do ecossistema objeto do manejo e se considerando, cumulativa ou alternativamente, a utilizao de mltiplas espcies madeireiras, de mltiplos produtos e subprodutos no-madeireiros, tal como a utilizao de outros bens e servios de natureza florestal.

Plano de Manejo Florestal SustentvelO Plano de Manejo Florestal Sustentvel (PMFS) o documento tcnico bsico que contm as diretrizes e procedimentos para a administrao da floresta, visando obteno de benefcios econmicos, sociais e ambientais.

Uso alternativo do soloEntende-se por uso alternativo do solo a substituio de florestas e formaes sucessoras por outras coberturas do solo, tais como projetos de assentamento para reforma agrria, agropecurios, industriais, de gerao e transmisso de energia, de minerao e de transporte.

Florestas pblicasFlorestas pblicas so as florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos diversos biomas brasileiros, em bens sob o domnio da Unio, dos Estados, dos municpios, do Distrito Federal ou das respectivas entidades da administrao indireta.

Explorao de florestas e demais vegetaesA explorao de florestas e de formaes sucessoras compreende os seguintes regimes:

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- Regime de manejo florestal sustentvel; - Regime de supresso de florestas e formaes sucessoras para o uso alternativo do solo.

Regime de Manejo Florestal SustentvelA explorao de florestas e formaes sucessoras sob regime de manejo florestal sustentvel, tanto de domnio pblico como de domnio privado, depender de prvia aprovao do plano de manejo florestal sustentvel (PMFS) pelo rgo ambiental competente, observado o que se segue: - Fica isento de apresentao do PMFS o manejo de florestas plantadas localizadas fora de reas de reserva legal; - A aprovao do PMFS pelo rgo ambiental competente confere, ao seu detentor, a licena ambiental para a prtica do manejo florestal sustentvel. O PMFS aprovado pelo rgo ambiental competente ser apresentado ao BNB previamente formalizao do financiamento.

Regime de Supresso (Desmatamento)A explorao de florestas e formaes sucessoras que implique na supresso, a corte raso, de vegetao arbrea natural, somente permitida mediante autorizao de supresso para uso alternativo do solo, expedida pelo rgo ambiental competente, no se exigindo, neste caso, a apresentao de PMFS. A autorizao de supresso (desmatamento) emitida pelo rgo ambiental competente ser apresentada ao BNB previamente formalizao do financiamento.

rgos Ambientais CompetentesOs rgos ambientais competentes que deliberam sobre a explorao de florestas e formaes sucessoras, tanto no regime de manejo florestal sustentvel como no regime de supresso (desmatamento) so os seguintes: - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (IBAMA): Nas florestas pblicas de domnio da Unio; Nas unidades de conservao criadas pela Unio;

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Nos empreendimentos potencialmente causadores de impacto ambiental nacional ou regional, a seguir definidos: Explorao de florestas e formaes sucessoras que envolvam manejo ou supresso de espcies ameaadas de extino; Explorao de florestas e formaes sucessoras que envolvam manejo ou supresso de florestas e formaes sucessoras em imveis rurais que abranjam dois ou mais Estados; Supresso de florestas e outras formas de vegetao nativa em rea maior que 2.000 ha em imveis rurais localizados na Amaznia Legal e 1.000 ha em imveis rurais localizados nas demais regies do Pas; Supresso de florestas e formaes sucessoras em obras ou atividades potencialmente poluidoras licenciadas pelo IBAMA; Manejo florestal em rea superior a 50.000 ha; - rgo ambiental municipal: Nas florestas pblicas de domnio do municpio; Nas unidades de conservao criadas pelo municpio; Nos casos que lhe forem delegados por convnio ou outro instrumento admissvel. - rgo ambiental estadual Em todos os demais casos, inclusive quando se tratar da vegetao primria e secundria do Bioma Mata Atlntica, abrangendo reas urbanas e regies metropolitanas.

Dispensa de Autorizao para DesmatamentoFicam dispensadas da autorizao de desmatamento as operaes de limpeza de pastagens, de limpeza de restos de cultura agrcola e de corte do bambu (Bambusa vulgaris). A agncia no solicitar apresentao da autorizao para desmatamento no caso de financiamento para a aquisio isolada de mquinas e equipamentos. (Informao 642/2003s/n, de 24/11/2003, da rea de Polticas de Desenvolvimento, aprovada pela Diretoria)

Vedao ao DesmatamentoNo permitida a converso de florestas ou outra forma de vegetao nativa para uso alternativo do solo, ou seja, no ser autorizado o desmatamento na propriedade rural que

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possui rea desmatada, quando for verificado que a referida rea se encontra abandonada, subutilizada ou utilizada de forma inadequada, assim conceituada na Lei n 8629/93.

Uso de Queimadas em Prticas Agropastoris e Florestais vedado o emprego do fogo nas florestas e demais formas de vegetao, exceto em prticas agropastoris e florestais mediante queima controlada. Considera-se queima controlada o emprego do fogo como fator de produo e manejo em atividades agropastoris ou florestais, inclusive extrativismo vegetal, assim como para fins de pesquisa cientfica e tecnolgica, em reas com limites fsicos previamente definidos. O emprego do fogo mediante a queima controlada de que tratam os itens anteriores, depende de prvia autorizao do IBAMA ou de rgo por ele autorizado, e poder ser dada ao interessado ou a entidades s quais esteja associado (sindicato, associao, cooperativa ou outra), cabendo ao proponente apresentar ao BNB a autorizao para queima controlada, previamente formalizao do financiamento.

Vegetao prxima a aglomerados urbanosDesde 09/07/2003 est proibido o uso do fogo, mesmo mediante queima controlada, em vegetao situada numa faixa de mil metros de aglomerado urbano de qualquer porte, delimitado a partir do seu centro urbanizado ou de 500 metros a partir do seu permetro urbano

Explorao de Cana-de-acarO emprego do fogo como mtodo despalhador e facilitador do corte de cana-de-acar em reas superiores a 150 hectares, passveis de mecanizao da colheita, fundadas em cada propriedade, ser eliminado de forma gradativa na base de, no mnimo, da rea mecanizvel, a cada perodo de cinco anos (art. 16 do Decreto n 2.661/98). A autorizao do IBAMA para queima controlada de lavoura de cana-de-acar ser exigida pela agncia somente no incio da poca da colheita, como condio prvia ao desembolso da parcela do crdito referente colheita.

Concesso FlorestalAs florestas de domnio pblico federal, estadual ou municipal e das entidades da administrao indireta, podem ser objeto de concesso, mediante licitao e assinatura de contrato

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em que so estabelecidos os direitos, obrigaes e condies de explorao de produtos e servios florestais, pelo concessionrio. O pedido de financiamento destinado explorao de produtos e servios florestais pelo concessionrio, ser acompanhado dos seguintes documentos: a) Cpia do contrato de concesso; b) Plano de manejo florestal sustentvel (PMFS) devidamente aprovado pelo rgo ambiental competente, e; c) Licena de operao (LO) fornecida pelo rgo ambiental competente. vedada a subconcesso, ou seja, o BNB no aceitar, para fins de deferimento de crdito, nenhum contrato em que o concessionrio tenha transferido a outra pessoa, fsica ou jurdica, a concesso florestal que lhe foi outorgada pelo Poder Pblico. O BNB no aceitar, para fins de deferimento de crdito, contrato de concesso se for constatado que, durante sua vigncia, houve mudana do controle societrio do concessionrio sem a prvia anuncia do Poder Pblico concedente.

PenalidadesAs pessoas fsicas e jurdicas que praticarem crimes contra a flora ou com eles contriburem, direta ou indiretamente, ficam sujeitas s penalidades previstas na legislao em vigor, especialmente na Lei n 9.605 de 12/02/98, denominada Lei de Crimes Ambientais, cujo art. 2 tem o seguinte teor: Quem, de qualquer forma, concorre para a prtica dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a este cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de rgo tcnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatrio de pessoa jurdica que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prtica quando podia agir para evit-la. Tambm podero ser suspensas, parcial ou totalmente, as atividades do empreendimento, quando tais atividades no estiverem obedecendo s prescries legais (art. 11 da Lei n 9.605 de 12/02/98). As penalidades sero observadas e cumpridas no s pelos clientes que solicitem financiamentos mas tambm pelas empresas e profissionais responsveis pela elaborao e acompanhamento de projetos, como tambm pelo BNB, na pessoa dos seus gestores e tcnicos, nas suas diferentes funes.

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Educao AmbientalPara ampliar a conscincia ambiental no planeta necessrio que o tema meio ambiente seja trabalhado nas escolas, na perspectiva de se formar cidados conscientes com esta temtica. De maneira geral, o BNB vem apoiando eventos que tratam da temtica ambiental, capacitando gestores pblicos e de organizaes no governamentais a fim de que a discusso sobre educao ambiental no fique restrita apenas s escolas, passando a ser tratada tambm junto populao, visando despertar o interesse e o envolvimento da comunidade, de maneira mais abrangente.

Consideraes Finais imperativo, em todas as instncias do BNB, o rigor no atendimento dos dispositivos legais, requisitos indispensveis s concesses de recursos do Fundo Constitucional do Nordeste FNE, s operaes de crdito. Em termos de P&D, o FUNDECI/ETENE continuar na promoo de Editais com linhas especficas para preservao e conservao ambiental para todos os estados inseridos na sua rea de atuao. Destaca-se que o BNB, como banco de desenvolvimento regional, vem cumprindo seu papel no que se refere s Salvaguardas Ambientais, tendo em vista a promoo do desenvolvimento sustentvel em sua rea de atuao.

Bibliografia consultadaManual Bsico de Operaes de Crdito. Ambiente de Produtos de Crdito Especializado e Comercial. Banco do Nordeste do Brasil S/A. Acesso de 10 de maio de 2009. Manual Auxiliar de Operaes de Crdito. Ambiente de Produtos de Crdito Especializado e Comercial. Banco do Nordeste do Brasil S/A. Acesso de 10 de maio de 2009.

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Identificar redes para construir solues interinstitucionais: Diagnstico de arranjos institucionais colaborativos em regies ridas e semiridas no Brasil e no exterior

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Identificar redes para construir solues interinstitucionais: Diagnstico de arranjos institucionais colaborativos em regies ridas e semiridas no Brasil e no exterior1Silvio Jos Rossi

ResumoO presente trabalho se insere no contexto de uma ao mais ampla, promovida e apoiada pelo Centro de Gesto e Estudos Estratgicos CGEE, implementada para contribuir com o Instituto Nacional do Semirido INSA no cumprimento das suas funes institucionais, conforme estabelecidas em seu Plano Diretor 2008-2011. Este estudo, voltado especialmente a contribuir para o cumprimento da funo institucional articulao do INSA, identificou e selecionou, no perodo de outubro de 2008 a maro de 2009, 91 redes temticas nacionais e 90 entidades internacionais que desenvolvem, em regies ridas e/ou semiridas do Pas e/ ou do exterior, atividades direta ou indiretamente relacionadas s aes do Instituto. So apresentadas correspondncias das aes desenvolvidas pelas redes e entidades selecionadas com as cinco Prioridades Estratgicas (PE) e com as aes do INSA para as quais, no referido Plano Diretor, h indicao de realizao de trabalhos em rede. Mesmo se analisando um universo (181 redes/entidades) certamente inferior quele que poder ser identificado e selecionado com a continuidade da pesquisa, j se pode inferir que, para o cumprimento da sua funo institucional de articulao, o INSA dispe de um conjunto significativo de potenciais parceiros (pblicos ou privados, nacionais ou internacionais), em todas as reas de conhecimento associadas s prioridades estratgicas e aes institucionais acima referidas. O estudo, ainda,1 Extrado do Estudo Estruturao das bases para a formao de redes temticas com foco no desenvolvimento sustentvel do Semi-rido brasileiro, realizado no perodo de outubro de 2008 a maro de 2009 com apoio do Centro de Gesto e Estudos Estratgicos (CGEE/MCT) e do Instituto Nacional do Semi-rido (INSA/MCT) ROSSI (2009b).

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Silvio Jos Rossi

prope ao INSA atividades para a continuidade e aperfeioamento da pesquisa at aqui realizada e apresenta possveis estratgias no contexto do cenrio analisado, para a atuao do Instituto em redes temticas voltadas ao desenvolvimento sustentvel do Semirido brasileiro.

IntroduoUma das caractersticas reveladoras da natureza humana o individualismo, conceito que exprime a afirmao do indivduo ante a sociedade e o Estado e cuja tnica a trade: liberdade, propriedade privada e limitao do poder do Estado. H tendncia em se vincular ou relacionar capitalismo e individualismo, bem como socialismo e coletivismo (DAMASCENO, 2009; PRAXEDES, 2008). Outra caracterstica a capacidade de tais indivduos e as instituies de que fazem parte naturalmente buscarem formas de cooperao em momentos de crise sejam eles de natureza familiar, social, ambiental, poltico, econmico, de amplitude local, regional, mundial ou quando incentivados a faz-lo, desde que vislumbrem aumento das possibilidades de terem satisfeitas suas necessidades individuais, bem como, porm nem sempre, dos grupos sociais de que fazem parte. A Histria da humanidade est repleta de passagens marcantes, ilustrativas dessas caractersticas, e a Sociologia e a Psicologia modernas permanecem constantemente estudando os fundamentos psicossociais relacionados e buscando explicaes para tais fatos. Segundo Silva (2009b, p. 25),Caos, crises, mudanas, fracassos e esperanas so as marcas registradas da realidade global