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DESENVOLVIMENTO
SOCIOECONOMICO E ENERGIA
ELÉTRICA - UMA ANÁLISE NA
COMUNIDADE RURAL DO MUNICÍPIO
CAREIRO DA VÁRZEA NO ESTADO DO
AMAZONAS
FRANCISCO BARBOSA DE SOUZA
(CIESA)
RUBIA SILENE ALEGRE FERREIRA
(CIESA)
Valéria Silva Melo de Souza
(CIESA)
Resumo O acesso à energia elétrica é indispensável para o desenvolvimento
das atividades humanas e melhorias na qualidade de vida de uma
sociedade. Comunidades isoladas no interior dos estados brasileiros,
principalmente na região norte, encontramm dificuldade em obter esse
acesso em virtude de suas disposições geográficas descentralizadas e
de difícil acesso. O presente artigo objetiva identificar os impactos
socioeconômicos ocorridos na Comunidade Curarizinho, localizada no
Município Careiro da Várzea - Estado do Amazonas, após a
implantação de rede de energia elétrica. Nesse processo a comunidade
sofreu diversas transformações, as quais puderam ser registradas por
meio de pesquisa de campo realizada no ano de 2010, onde foram
constatados impactos sociais e econômicos.
Palavras-chaves: elétrica; comunidade; desenvolvimento
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
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1. INTRODUÇÃO
O processo de desenvolvimento humano decorre desde que o homem teve noção de
espaço e passou a transformar sua geografia. Adaptando-se às intempéries do cotidiano o
homem busca desenvolver, de maneira eficiente, o aprimoramento de suas atividades a fim de
promover melhorias no seu modo de vida.
Considerando o fato de que é indispensável, no atual contexto global, o acesso a
energia elétrica, configura com a necessidade básica dos indivíduos, por isso é relevante
pesquisar os impactos socioeconômicos ocorridos na Comunidade Curarizinho, localizada no
Município Careiro da Várzea – AM.
Após a implantação de rede de distribuição elétrica na comunidade, por meio do
programa Luz Para Todos, a localidade de Curarizinho e tem experimentado um surto de
desenvolvimento humano considerável, dadas as inúmeras transformações ocorridas em seu
ambiente geográfico, entre as quais: melhorias nos processos de produção, pelo aumento da
capacidade produtiva nas mais diversas áreas; extensão do acesso à educação, pelo
surgimento de vagas nas escolas no período noturno; pela melhoria na alimentação, quanto ao
armazenamento de alimentos em ambiente refrigerado, anteriormente aplicada a técnica de
“salga”; e ainda pelo acesso à informação, por meio da utilização de aparelhos celulares,
televisores, os quais, permitiram maior facilidade quanto ao acesso à informações e
acontecimentos, não só referentes ao município, mas ao mundo como um todo.
A transformação de Curarizinho tem ocorrido de maneira progressiva e alcançado aos
moradores, nos mais diversos níveis, desde a tenra idade até aos anciãos da comunidade,
todos têm sido impactados sócio e economicamente pela promoção à energia elétrica.
Com o intuito de verificar as mudanças ocorridas na referida, bem como, as possíveis
transformações vindouras, foi realizada uma pesquisa de campo e aplicado questionário
socioeconômico para que se auferissem dados acerca da atual situação da comunidade com
vistas em seu desenvolvimento futuro.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
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O advento da energia elétrica, para fins comerciais, em meados do século XIX, foi
extremamente importante para o processo de desenvolvimento das mais diversas atividades
humanas, as quais, indubitavelmente acompanhadas da produção de novas tecnologias,
favorecendo assim tanto o progresso econômico quanto social. Nesse ínterim humanidade
experimentou mudanças consistentes com vistas ao atendimento de suas demandas cada vez
crescentes.
Souza (2001), afirma que o homem sempre buscou de algum modo, melhorar sua
qualidade de vida, por isso a energia foi de fundamental importância em seu processo
evolutivo. A energia começou a apresentar utilidade quando o homem passou a manipular o
fogo, na Idade Média. Para fins náuticos, explorou-se a energia proporcionada pelo vento,
com a Revolução industrial, surge uma nova possibilidade de manipulação da energia. O
carvão tornou-se a matéria-prima utilizada nas máquinas a vapor, que, por conseguinte foi
substituído pelo petróleo, este último é a principal fonte de energia do mundo contemporâneo.
Com os estudos sobre o eletromagnetismo, surge a possibilidade de conversão entre a energia
mecânica pela elétrica, a qual passou a ser comercialmente utilizada a partir do século XIX.
Decorrido esse processo, a energia, por meio da eletricidade, possibilitou, de forma prática e
vantajosa, a facilitação à vida das pessoas. Considerando ainda outras fontes existentes de
energia, como o gás natural, observa-se a busca incessante do homem em descobrir novas
fontes de energia, a fim de se alcançar melhor qualidade de vida.
Num contexto mais atual, Braga et al (2005), afirma que o homem utiliza a energia
para desenvolver diversas atividades, tais como, processo industriais transporte e etc.
Classifica os recursos energéticos como: os renováveis, os que provêm das marés, do sol,
biogás, biocombustível líquido, e por fim, o gás hidrogênio; e os não renováveis, os
combustíveis fósseis, derivativos de combustíveis fósseis, derivados sintéticos, gás natural
não convencional, combustíveis nucleares, fusão nuclear e os depósitos geométricos
confinados. Assim com o intuito de modificar e melhorar os padrões de vida da coletividade,
o homem utiliza a tecnologia energética para viver mais e melhor.
Relacionando a ferramenta energia elétrica com o processo de desenvolvimento
econômico. Nascimento e Giannini apud Gusmão et al (2002, p. 2) afirma “o acesso à energia
elétrica interfere na vida do homem [...], tanto no aspecto de eficiência microeconômica
quanto nos termos de sua integração social”.
Pereira et al (2005), defende que, para que um cidadão alcance bem estar social e para
que seu país se desenvolva economicamente, é importante que este seja abastecido
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perfeitamente com energia elétrica. Aponta as diferenças socioeconômicas existentes em
comunidades mais afastadas, ou seja, em comunidades rurais, como conseqüência da
ineficiência ao acesso de energia, que permite a segregação social. Lembra que é comum
observar em comunidades rurais fontes de energia ultrapassadas, tais como a lenha, a
biomassa, e que isso é fator crucial para impedir o progresso produtivo no campo. Considera
essas sociedades menos desenvolvidas, em virtude do acesso à energia apenas para fins
básicos, como iluminação e comunicação, e que este ainda é bastante seletivo.
A questão do acesso à rede de distribuição de energia elétrica em comunidades
isoladas no Brasil é assunto de extrema relevância, considerando a dificuldade no atendimento
a estas. No interior da Amazônia, principalmente, observa-se a dificuldade de se alcançar
determinadas localidades, devido às barreiras naturais que impedem o acesso ao Sistema
Integrado Nacional (SIN), por isso, muitos estudos e projetos tem sido feitos para solucionar a
questão. Velásquez et al (2006) sustentam, como fator primordial, a valorização do homem e
do meio ambiente para que ocorra o processo de desenvolvimento econômico sustentável.
Ressaltam que a falta de acesso à energia elétrica contribui, significativamente, para
ocorrência de inúmeras intempéries sociais, principalmente migração e pobreza.
No caso de migração o processo ocorre devido à necessidade dos jovens quanto ao
interesse pelos estudos e trabalho, com o propósito de promoverem melhorias nos padrões de
vida de suas famílias e a fim de atenderem suas necessidades básicas. A pobreza, por sua vez,
se dá pelo desemprego, quanto à impossibilidade de desenvolvimento de atividades
produtivas, pois estas dependem prioritariamente de energia elétrica para sua organização e
potencialidade. Por isso é fundamental que comunidades isoladas no Brasil sejam atendidas
com energia elétrica, para que haja melhorias nas condições de vida das populações residentes
em tais comunidades, e que isto seja demonstrado de forma positiva nos resultados do Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH).
2.2 DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Akerman (2005) afirma que o local é visto como pertencente a um território,
comarca ou comunidade, um município ou parte desse município, desde que, tenha
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influência de outros locais, como uma região, do nacional e do global. Portanto, o
lugar é onde as pessoas interagem umas com as outras.
As questões levantadas à cerca do desenvolvimento regional são cada vez mais
freqüentes, ganhando relevância a preocupação de favorecer algum tipo de
desenvolvimento econômico sustentável, voltado para a região capaz de suprir as
necessidades, despertar ou descobrir vocações, expandir potencialidades e aumentar a
interação com outras regiões aproveitando-se das vantagens locais.
Boisier et al (1989) recomenda que para entender o processo de
desenvolvimento regional se deve atentar especialmente para: um conjunto de
elementos que delimitem o âmbito do planejamento do desenvolvimento regional em
termos de organização econômica, de estilos de desenvolvimento e dos conceitos
hoje dominantes sobre o desenvolvimento econômico.
Piacenti & Lima (2002) descrevem que o desenvolvimento regional refere -se
à elevação do nível de vida da população. Salienta ainda que, essa ascensão seja
observada com aumento do nível de renda que deve ser superior ao crescimento
demográfico. No entanto, a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per capta não se
traduz necessariamente numa melhoria da distribuição de renda e nem em garantias
para um crescimento futuro da produção. Por isso, é importante um crescimento auto -
sustentado. Significa que, o processo de crescimento e desenvolvimento, uma vez
desencadeado, apresentaria uma seqüência de fases e cada uma criando as condições
necessárias para a fase seguinte.
A teoria a respeito do desenvolvimento regional remete a idéia de uma força
motriz de aspecto endógeno, capaz de influenciar por meio de seqüência, outras
atividades econômicas. Em outras palavras, é o modelo conhecido como “centro-
abaixo” se deve pelo fato da presença de forças impulsoras vindas de regiões
centrais. Ferreira, (2001), esclarece endógeno como algo que se origina do interior
do organismo, ou por fatores internos.
Portanto, nesta perspectiva o desenvolvimento endógeno, refere-se as
atribuições positivas de natureza benevolente, população com aspiração positiva,
trabalho, renda e educação podem ser a fórmula para o desencadeamento do
desenvolvimento local.
Jones, (2006), pondera que o modelo de crescimento econômico endógeno é um
modelo alternativo e fácil de construir, e tem como base mudanças permanentes nas
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políticas dos governos, gerando mudanças permanentes na taxa de crescimento
econômico. Porém ao longo prazo esse modelo não se enquadra como sendo verdadeiro.
Comenta ainda que o crescimento endógeno numa economia de longo prazo não
poderia ser entendido como verdadeiro, pelo fato do formador de política econômica
manipulá-lo. Porém, o autor, acrescenta que o crescimento econômico é o resultado
do crescimento endógeno, pelo fato dos indivíduos buscarem lucros sobre seus
serviços, nos quais visam retorno dos seus esforços por meio de novas idéias.
Para Oliveira (2002) o desenvolvimento local se materializa quando ocorre um
lucos de integração de cidadãos, recuperando a iniciativa e a autonomia, resultando
na gestão do bem comum. Este autor sugere um governo ao alcance de todos. De
conformidade Calame (2004) concordam que o desenvolvimento local é um processo
que move energias, recursos, talentos de pessoas e organizações com o intuito de
melhorar as condições de vida das pessoas em uma determinada região.
Nesse intuito, Akerman apud Astudillo (2005) descreve que a dimensão de
local não deve ser entendido isoladamente em termos geográficos, administrativo -
político de governos, mas como uma sociedade local com identidade coletiva que
expressem por meio de seus representantes valores, normas, incluindo os processos
de geração de bens e serviços. Objetivando o desenvolvimento local integrado e
sustentável, com capacidade de articular pessoas e organizações fundamentadas em
bases éticas.
Baseado na perspectiva de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável
(Dlis), De Franco (2004) comenta o que lhe parece ser uma estratégia para estimular
o desenvolvimento local integrado e sustentável, os quais dariam suportes para
soluções de problemas locais:
Criatividade e inovação;
Empreendedorismo individual e coletivo;
Captação e multiplicação de recursos endógenos;
Horizontalizar as relações entre grupos, pessoas e organizações;
Estimular o aparecimento de rede de atores sociais;
Inaugurar instituições por meio de processos participativos;
Democratizar decisões e procedimentos;
Ampliar e incluir novos atores da esfera pública;
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Estimular a inteligência coletiva das comunidades.
Com base nesse conjunto de questões estratégicas do Dlis, sendo estes
aplicados de forma sistemática podem desencadear estratégias para beneficiar tanto
ações coletivas como individuais. Muitas dessas questões já são desenvolvidas para
dar suporte no âmbito da saúde pública.
As experiências de desenvolvimento local começaram a ser disseminadas a
partir da década de 1990, por meio da globalização econômica, nesse sentido, foram
muitas as experiências e com inúmeras heterogeneidades.
Oliveira (2002) comenta que a difusão do desenvolvimento local, levou várias
instituições a desenvolverem iniciativas de desenvolvimento na ótica da gestão
pública e cidadania, voltadas para níveis governamentais e organizações indígenistas,
sendo tais informações armazenadas em banco de dados da Fundação Getúlio Vargas
de São Paulo. Porém, o autor argumenta que essa difusão parte do empirismo local e,
no entanto, passível de análises mais críticas, mas com bases consistentes é possível
entusiasmar políticas de desenvolvimento local.
A criação de programas de desenvolvimento local partiu do entendimento
global de que muitas regiões de países em desenvolvimento, enfrentam a
problemática do desenvolvimento local, os quais vêm buscando estrategicamente
formas de se desenvolverem. Portanto, pressupõem um desenvolvimento endógeno,
que tem em seu escopo estratégias de desenvolvimento baseado na vocação, na
afinidade, na divisão do trabalho, o qual desencadeia a divisão técnica do trabalho e
a divisão territorial do trabalho inserida nas políticas do governo local para cada
espaço geográfico.
3. METODOLOGIA
Nesta pesquisa foi empregado o método de pesquisa indutivo, de modo que se possa
compreender melhor a realidade da Comunidade Curarizinho. Com o propósito de auferir
dados verídicos acerca da Comunidade, foi necessária a realização de uma pesquisa de campo,
pois a partir dos dados coletados dos moradores, houve a possibilidade de comprovar os
fenômenos ocorridos na comunidade. No questionário socioeconômico aplicado, constam
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questões que refletem a natureza da Comunidade Curarizinho, por isso o método qualitativo
foi abordado.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
A pesquisa de campo teve como corpo amostral, dezessete chefes de família da
comunidade Curarizinho, dos quais 53% estão representados por mulheres (figura 1), o que
não quer dizer que a maioria dos chefes de família da comunidade seja do sexo feminino, mas
que no momento da pesquisa os homens não estavam presentes.
Quanto à escolaridade, apenas 12% haviam concluído o ensino fundamental, e os que
entram na opção outros, são aqueles que estão entre o analfabetismo e o ensino fundamental
incompleto, com verificado na figura 2.
No âmbito da educação as transformações se deram de maneira mais incisiva, pois
76% dos moradores caracterizaram como ótimo a chegada da energia elétrica, principalmente
em decorrência da possibilidade de estudar no período da noite, uma vez que a maioria dos
moradores da comunidade, (por exercerem algum tipo de atividade rural durante o dia),
ficavam impedidos de estudar. A nova opção foi, então, extremamente importante para se
reduzir o índice de analfabetismo tão comum na comunidade.
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Nas figuras 5 e 6, observamos as transformações decorrentes do antes e após o acesso
a energia. Deve-se frisar que as dificuldades com relação ao acesso à educação não se
encerram apenas quando na solução da questão energética. As externalidades do ambiente
geográfico também são fatores cruciais para a crescente de evasão escolar.
Por se tratar de uma comunidade que sofre com a várzea, no período de seca o acesso
às escolas é complicado. As crianças têm que caminhar horas em sol a pino, dada a
inexistência de transporte terrestre. À noite por sua vez, torna-se no mínimo perigoso
caminhar pela mata e estar sujeito ao ataque dos animais, como cobras, jacarés, etc. Na época
da cheia a prefeitura do município Careiro da Várzea disponibiliza barcos que transportam os
alunos à escola com mais segurança. Essa é uma das razões pelas quais o calendário escolar
da comunidade é diferenciado, a fim de atender a demanda da comunidade.
Dos respondentes quanto a melhorias na qualidade de vida, 41% caracterizaram-na
como regular antes do acesso a energia, principalmente pelas dificuldades encontradas no dia
a dia para realização de tarefas simples. Reflitamos que em pleno século XXI o ser humano
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não possui acesso a água na torneira, algo impensável pelas sociedades urbanas, pois quando
ocorre o sinistro de apenas um dia sem acesso a água os transtornos são inúmeros.
Observou-se que 76% dos entrevistados classificaram como ótimo o acesso à energia,
em resposta às melhorias na qualidade de vida de suas famílias, não apenas pela possibilidade
de acesso a água na torneira, mediado pela utilização de bombeadores movidos a energia, mas
pela possibilidade de conservação dos alimentos. Esse item reflete diretamente na saúde dos
moradores, uma vez que antes os mesmos utilizavam a técnica de “salga” para conservar seus
alimentos.
Quanto às atividades de trabalho, as figuras 9 e 10 apontam as transformações
decorrentes da distribuição energética: 26% dos entrevistados afirmaram que, antes do acesso
à energia, exercer algum tipo de atividade de trabalho era bastante desgastante, pois a maioria
dos serviços era realizada de maneira braçal. Trabalhadores do ramo de marcenaria, por
exemplo, reclamaram do dispêndio que era realizar seus serviços. No entanto, após o acesso à
energia a produtividade cresceu e houve aperfeiçoamento considerável na realização dos
trabalhos.
Pode-se mencionar ainda o surgimento de novos comércios de estivas e serviços. A
comunidade é produtora de leite e derivados. Nesse sentido, o acesso à energia elétrica
representou beneficiamento desses produtos, os quais puderam ser armazenados de maneira
menos onerosa, substituindo a aquisição de gelo. A refrigeração, a partir de então se dá pela
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utilização de freezers, o que reduziu custos nessa atividade. Essas melhorias refletem no novo
conceito dado aos moradores, os quais, 76% caracterizaram como ótimo os benefícios
trazidos pela energia elétrica.
Quando questionados sobre possível aumento da renda familiar decorrente do acesso a
energia elétrica, (figura 11), 65% dos pesquisados afirmaram que ocorreu aumento da renda
familiar, decorrente da redução de custos e do aperfeiçoamento de suas atividades de trabalho.
Desse percentual 53% declararam que esse aumento permitiu a aquisição de bens duráveis,
como produtos eletroeletrônicos, da linha branca, etc.
Os 35% restantes, informaram que não ocorreu aumento em suas rendas, quando no
acesso à energia. Isso pode ser explicado pelo fato de que parte dos moradores da
comunidade, principalmente os anciãos, vive de assistencialismo, aposentadoria ou algum tipo
de beneficio cedido pelos Governos Estadual ou Federal.
Com relação ao acesso à informação, os dados dispostos na figura 12, demonstram que
100% dos entrevistados estão satisfeitos com os benefícios da energia elétrica nesse setor. A
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comunicação na comunidade melhorou bastante. Possibilitou o uso de equipamentos
eletroeletrônicos, bem como elevou as chances de entretenimento e informação.
Como último questionamento levantado aos chefes de família, (figura 13), foi
verificado que a maioria da população considera satisfatório o acesso possibilitado (65%). A
proporção de 29% representa insatisfação em função das falhas na distribuição (como quedas
de transmissão). Mencionaram que em certas ocasiões a interrupção se dava por vários dias
consecutivos e que isso prejudicava suas atividades cotidianas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os inúmeros desafios existentes nas sociedades atuais, bem como suas demandas
crescentes, têm sido constantemente combatidos pelos Estados Nacionais. No Brasil, o
processo de desenvolvimento tem sido difundido e planejado de modo significativo, e as
respostas desse desempenho têm alcançado às mais distantes comunidades rurais espalhadas
pelo território nacional.
Um espelho disso são as transformações ocorridas na comunidade pesquisada,
decorrentes do acesso a rede de distribuição energética, algo fundamental para a manutenção
e progresso da vida humana. Os dados demonstrados no presente artigo descreveram, de
maneira sucinta, os impactos socioeconômicos ocorridos na comunidade Curarizinho, bem
como, as alterações no modo de vida daquela população. Apesar de inquestionáveis os
benefícios trazidos a comunidade, pelo acesso a fundamental ferramenta que é a energia,
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ainda existem muitas necessidades a serem supridas nesta, tais como, tratamento de água,
acesso a posto de saúde, etc.
Considera-se indispensável, portanto, que as benesses do processo de desenvolvimento
econômico sejam difundidas em toda a Nação. O Brasil, um país tão rico por sua
biodiversidade e vasto território, deve ser dirigido por governantes atentos a satisfação das
necessidades básicas de sua população. Deve atender às demandas de todas as classes sociais,
principalmente as mais pobres, ultrapassando as barreiras dos preconceitos regionais, tão
presentes neste país. Políticas públicas direcionadas ao atendimento de necessidades básicas,
como o acesso à energia, devem ser prioridade para que num futuro próximo possamos
alcançar de fato o grau de desenvolvimento que almejamos para a sociedade brasileira como
um todo.
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