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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CURSO DE GEOGRAFIA DESENVOLVIMENTO RURAL E POLÍTICAS PÚBLICAS NA COMUNIDADE BARRA DA ESPINGARDA (ZONA RURAL - CAICÓ/RN) PALOMA MAIARA DE SOUZA CAICÓ 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – CURSO DE GEOGRAFIA

DESENVOLVIMENTO RURAL E POLÍTICAS PÚBLICAS NA

COMUNIDADE BARRA DA ESPINGARDA (ZONA RURAL -

CAICÓ/RN)

PALOMA MAIARA DE SOUZA

CAICÓ

2015

PALOMA MAIARA DE SOUZA

DESENVOLVIMENTO RURAL E POLÍTICAS PÚBLICAS NA

COMUNIDADE BARRA DA ESPINGARDA (ZONA RURAL - CAICÓ/RN)

Monografia apresentada ao Departamento de Geografia

do Centro de Ensino Superior do Seridó da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para

obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Gleydson Pinheiro Albano

CAICÓ

2015

PALOMA MAIARA DE SOUZA

DESENVOLVIMENTO RURAL E POLÍTICAS PÚBLICAS NA

COMUNIDADE BARRA DA ESPINGARDA (ZONA RURAL - CAICÓ/RN)

Monografia apresentada ao Departamento de Geografia

do Centro de Ensino Superior do Seridó da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para

obtenção do título de Bacharel em Geografia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof. Dr. Gleydson Pinheiro Albano – Orientador

UFRN/CERES/DGC

____________________________________________________

Prof.ª Ms. Isabel Cristina dos Santos – Examinadora

UFRN/CERES/DGC

____________________________________________________

Prof.ª Ms. Sandra Priscila Alves – Examinadora

UFRN/CERES/DGC

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado forças e iluminado o meu caminho ao

longo do curso.

Ao professor, orientador e amigo Gleydson Pinheiro Albano, pelas orientações e

conselhos dados.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a todos os professores do curso, que

foram de fundamental relevância para a minha formação acadêmica e pelos ensinamentos que

levarei por toda a vida.

À minha amada mãe, pessoa mais importante da minha vida, obrigado por tudo.

A toda a minha família, em especial à minha irmã Hannah, meus avós Antônio e Luzia,

meus tios Geraldo, Erivaldo, Antônio e Enedina e as minhas primas Simone e Aline.

Em memória a minha avó Cristina Maria da Costa.

Aos meus queridos amigos, que levarei por toda a vida a nossa amizade: Rejane,

Everton e Lillian, assim como, Gislainy, Aristóteles, Josenildo, Ilderlânia e Paulo Sérgio. E

também a Luan Oliveira, Diego, Lucivan e, em especial, a Antônio. Que contribuíram de

alguma forma para a construção desse trabalho e também me dando forças.

Em especial as minhas amadas amigas-irmãs, que levarei por toda a vida a nossa

amizade, Ana Cássia e Dayane Raquel.

A minha turma de graduação, que tornou mais divertida a nossa passagem pela

universidade.

À minha amiga Neusiene Silva pelas orientações extras e essencial ajuda nos momentos

difíceis.

À Alison Réges, pessoa especial e importante na minha vida.

A Talita Luana da Silva, pois sua monografia intitulada: Atividades econômicas

agrícolas e desenvolvimento rural no distrito Palma (zona rural de Caicó – RN) foi em alguns

pontos, norteadora desta.

E finalmente, dedico este trabalho a todos os moradores das zonas rurais e à

Comunidade Barra da Espingarda e a todos que colaboraram de alguma forma para a

construção desse trabalho.

RESUMO

Este trabalho busca analisar o Desenvolvimento Rural e as Políticas Públicas na comunidade

Barra da Espingarda, zona rural do município de Caicó/RN. Nesse contexto, buscamos

identificar as características da população, assim como, alguns itens relacionados à qualidade

de vida dos residentes na área de estudo; identificar as atividades agrícolas e não agrícolas;

discorrer acerca períodos de seca e analisar as políticas públicas implantadas na área de

estudo. Para isso foram realizadas reflexões teóricas que abarcaram os temas: rural,

desenvolvimento e desenvolvimento rural, atividades agropecuárias e não agrícolas, seca e

políticas públicas. Além disso, foram realizadas visitas in loco, para observação, aplicação de

entrevistas semiestruturadas aos residentes da comunidade que faziam parte da amostragem

considerada e registro fotográfico. Após essas etapas, foram feitas a análise e tabulação dos

dados, de forma qualitativa, através da construção de um perfil textual, e quantitativa, através

do software SPHINX 5 e da construção de tabelas e gráficos no software Excel 2010. Nesse

contexto, verificamos que a comunidade apresenta a maioria das condições geradoras de

desenvolvimento rural. Porém, ainda apresenta alguns problemas a serem corrigidos.

Palavras-chaves: Comunidade Barra da Espingarda. Desenvolvimento Rural. Políticas

Públicas.

ABSTRACT

This paper analyzes the Rural Development and Public Politics at Barra da Espingarda

Community, rural area of Caicó/RN city. In this context, we seek to identify the population's

characteristics, as well as some items related to the quality of life for residents in the study

area; to identify agricultural and non-agricultural activities; discoursing about droughts and

analysis public politics implemented in the study area. For this were performed theoretical

reflections that encompassed the themes: rural, development and rural development, farming

activities and non-agricultural, drought and public politics. Moreover, visits were made in

loco, for observation, application of semi-structured interviews with community residents

who were part of the sample considered and photographic record. After these steps have been

made the analysis and tabulation of data, qualitatively, by building a textual profile and

quantitative, through SPHINX 5 software and of the construction of tables and graphs in the

Excel 2010 software. In this context, we find that the community provides most of the

generating conditions of rural development. However, still has some problems to be corrected.

Keywords: Barra da Espingarda Community. Rural Development. Public Politcs.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização da comunidade Barra da Espingarda, Caicó/RN .............................. 58

Figura 2 – Centro de Saúde Mãe Mariquinha ........................................................................ 72

Figura 3 – Escola Isolada Barra da Espingarda ..................................................................... 74

Figura 4 – Escola Municipal Severino Paulino de Souza ...................................................... 75

Figura 5 – Construção da quadra de esportes coletiva da comunidade ................................. 80

Figura 6 – caixas d‟água da Associação (1 e 2); dessalinizador (3); cata-vento (4); cisterna do

SEAPAC (5); cisterna FUNASA (6); cisterna enxurrada (7) e cisterna calçadão (8) ............ 82

Figura 7 – Agricultura de sequeiro na comunidade Barra da Espingarda ..............................86

Figura 8 – Agricultura de vazante na comunidade Barra da Espingarda .............................. 87

Figura 9 – modo de trabalho e de transporte na agricultura na comunidade ......................... 92

Figura 10 – Pomar de uma residência na comunidade Barra da Espingarda ........................ 93

Figura 11 – Unidade de refrigeração de leite ........................................................................ 94

Figura 12 – Capela Nossa Senhora da Conceição da Divina Misericórdia ......................... 103

Figura 13 – Lavanderias comunitárias ................................................................................. 104

Figura 14 – Associação Comunitária da Barra da Espingarda ............................................ 105

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estabelecimentos agropecuários pluriativos e não pluriativos no Brasil e Nordeste

................................................................................................................................................. 39

Tabela 2 – Dados da população e residências dos anos 1998, 2001 e 2005 .......................... 70

Tabela 3 – Principais lavouras agrícolas na comunidade, em 1998 e 2001............................ 90

Tabela 4 – Quantidade de animais e aves na comunidade, em 1998 e 2001 ......................... 90

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Políticas Públicas e suas áreas de atuação ............................................... 54

Quadro 2 – Políticas Públicas que foram evidenciadas na comunidade Barra da Espingarda

................................................................................................................................................ 101

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Faixa etária dos residentes .................................................................................. 64

Gráfico 2 – Estado civil dos residentes .................................................................................. 65

Gráfico 3 – Número de dependentes por família ................................................................... 65

Gráfico 4 – Anos de moradia na comunidade ........................................................................ 67

Gráfico 5 – Obtenção da terra na comunidade ....................................................................... 68

Gráfico 6 – Casas que fizeram parte do projeto SESP/CHAGAS na comunidade ................ 69

Gráfico 7 – tamanho da área das propriedades na comunidade ............................................. 69

Gráfico 8 – Satisfação com a condição de moradia na comunidade ...................................... 71

Gráfico 9 – Local de acesso à educação ................................................................................. 76

Gráfico 10 – Nível de instrução educacional dos residentes .................................................. 77

Gráfico 11 – Destino do lixo na comunidade ......................................................................... 79

Gráfico 12 – Continuação do trabalho agrícola na comunidade ............................................ 86

Gráfico 13 – Consumo e venda de frutas, verduras e legumes produzidos na comunidade .. 88

Gráfico 14 – Uso de mão-de-obra contratada na propriedade ............................................... 88

Gráfico 15 – Benfeitorias e instalações da propriedade ........................................................ 89

Gráfico 16 – Equipamentos e transportes para o uso agropecuário na comunidade ............. 91

Gráfico 17 – Destino dos derivados de origem animal na comunidade ................................ 93

Gráfico 18 – Tempo de participação no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

de Caicó/RN ............................................................................................................................ 95

Gráfico 19 – Assistência Técnica para os residentes ............................................................. 95

Gráfico 20 – Relação dos residentes com DNOCS ............................................................... 96

Gráfico 21 – Prejuízos econômicos ocasionados pela seca na comunidade .......................... 98

Gráfico 22 – Acesso as políticas públicas pelos residentes ................................................. 100

Gráfico 23 – Recebimento de aposentadoria e pensão na comunidade ............................... 101

Gráfico 24 – Bens de consumo duráveis do domicílio ........................................................ 102

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS – Agentes Comunitários de Saúde

ADENE – Agência de Desenvolvimento do Nordeste

ADESE – Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó

ALCECOSA – Algodoeira Seridó Comércio e Indústria S/A

ASA – Articulação do Semiárido

ASB – Assistente de Saúde Bucal

ASG – Auxiliar de Serviços Gerais

BIRD – Banco Interamericano de Desenvolvimento/Banco Mundial

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CNBB – Conferência Nacional de Bispos do Brasil

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

DAP – Declaração de Aptidão ao PRONAF

DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

EJA – Ensino de Jovens e Adultos

EMATER – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte

ESF – Estratégia Saúde da Família

FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

FAPTR – Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural

FAR – Fundo de Arrendamento Residencial

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FNE – Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste

FSESP – Fundação de Serviços de Saúde Pública

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

GTDN – Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

GTI – Grupo de Trabalho Interministerial

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INEC – Instituto Nordeste Cidadania

IOCS – Inspetoria de Obras Contra as Secas

MCidades – Ministério das Cidades

MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MEB – Movimento de Educação de Base

MEC – Ministério da Educação

MI – Ministério da Integração Nacional

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONG – Organização Não-Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

ORNAS – Ocupações Rurais Não Agrícolas

P1+2 – Uma Terra e Duas Águas

P1MC – Um Milhão de Cisternas

PAA – Programa de Aquisição de Alimentos

PAC – Política Agrícola Europeia

PBA – Programa Brasil Alfabetizado

PBF – Programa Bolsa Família

PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola

PDRI – Projetos de Desenvolvimento Rural Integrado

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNCD – Plano Nacional de Combate a Desertificação

PNHR – Programa Nacional de Habitação Rural

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

PSP – Programa Semiárido Potiguar

QV – Qualidade de Vida

RN – Estado do Rio Grande do Norte

SCO – Sociedade Civil Organizada

SEAPAC – Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários

SEMARH – Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos

SESP – Serviço Especial de Saúde Pública

SETHAS – Secretaria de Estado do Trabalho, Habitação e da Assistência Social

SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural

SRA – Secretaria de Reordenamento Agrário

STTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Caicó

SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

SUCAM – Superintendência Nacional de Campanhas

UBS – Unidade Básica de Saúde

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 13

2. DESENVOLVIMENTO RURAL: REFLEXÕES TEÓRICAS ..................................... 15

2.1. RURAL .............................................................................................................................. 15

2.1.1. Alguns aspectos históricos e as perspectivas atuais acerca do rural ........................ 17

2.2. DESENVOLVIMENTO .................................................................................................... 21

2.3. DESENVOLVIMENTO RURAL ..................................................................................... 26

2.4. ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS E NÃO AGRÍCOLAS ........................................... 32

2.4.1. Secas ............................................................................................................................... 39

2.4.2.1. Características gerais ................................................................................................ 39

2.4.2.2. Aspectos históricos .................................................................................................... 41

2.4.2.3. Paradigma atual: a Convivência com o Semiárido ................................................ 44

3. POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................................... 48

4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................ 57

4.1. HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO ........................................................................................ 57

4.2. ELEMENTOS NATURAIS .............................................................................................. 61

5. ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO RURAL E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA

COMUNIDADE BARRA DA ESPINGARDA .................................................................... 63

5.1. CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ....................................................................... 63

5.2. QUALIDADE DE VIDA .................................................................................................. 66

5.2.1. Condições de moradia .................................................................................................. 66

5.2.2. Saúde .............................................................................................................................. 71

5.2.6. Acesso à água ................................................................................................................ 81

5.3. FONTES DE RENDA ....................................................................................................... 83

5.3.1.1. Efeitos agrícolas e sociais ocasionados pela seca..................................................... 97

5.3.4. Aposentadoria e pensão ............................................................................................. 101

5.4. CONSUMO DE BENS E SERVIÇOS ............................................................................ 102

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 107

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 109

APÊNDICE A – ENTREVISTA APLICADA AOS RESIDENTES DA COMUNIDADE

BARRA DA ESPINGARDA ................................................................................................ 117

13

1. INTRODUÇÃO

As concepções acerca do desenvolvimento rural vêm variando ao longo do tempo, se

apresentando como um tema complexo, com múltiplas visões analíticas e ainda em

construção. Apresentando-se ainda com uma relativa ausência de debates acadêmicos e

políticos.

Isso se deu devido à influência de diversos condicionantes do desenvolvimento da

economia e da sociedade, impostas ao meio rural. E, sobretudo, das transformações sociais,

econômicas e ambientais alçadas no âmbito da modernização da agricultura, pautada na

Revolução Verde. O Estado foi por muito tempo o principal agente promotor dos programas

de desenvolvimento rural. Fato esse que passou a mudar nas décadas de 1980 e 1990, com a

abertura comercial e a globalização. Assim, a partir dessas décadas houve a dissociação do

desenvolvimento agrícola, como sinônimo de desenvolvimento rural, passando a ganhar

novos enfoques, como a preocupação com o meio ambiente, a retomada da agricultura

familiar, o foco no desenvolvimento local e na pluriatividade. Portanto, voltado para o

desenvolvimento das zonas rurais e para o bem estar das suas populações, do ponto de vista

social, ambiental, político e econômico.

Na comunidade Barra da Espingarda (zona rural de Caicó/RN), achou-se relevante

realizar uma análise acerca do desenvolvimento rural, devido à mesma apresentar uma

considerável alocação de políticas públicas, recursos e infraestruturas. Características essas

que impulsionaram o desenvolvimento da comunidade.

Em virtude do que foi exposto, o presente trabalho versa acerca do desenvolvimento

rural na comunidade Barra da Espingarda, considerando para isso as Políticas Públicas e as

atividades agropecuárias e não agrícolas e a influência da seca. Para isso buscou-se identificar

as características da população, assim como, alguns itens relacionados à qualidade de vida dos

residentes na área de estudo; identificar as atividades agrícolas e não agrícolas; discorrer

acerca dos períodos de seca e analisar as políticas públicas implantadas na área de estudo.

Quanto aos procedimentos metodológicos considerados na presente pesquisa, em um

primeiro momento foram realizadas pesquisas bibliográficas em acervos de livros,

dissertações, teses, artigos, revistas e sites. Em um momento posterior, se fizeram visitas in

loco com registro fotográfico e entrevistas em um universo amostral abarcado pelos residentes

e alguns atores sociais, como o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN

(EMATER), o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), a Secretaria

Municipal de Agricultura, o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Caicó

14

(STTR) e a Associação Comunitária da Barra da Espingarda. Adotou-se um procedimento

amostral baseado na aplicação de entrevistas semiestruturadas, através da amostragem

aleatória simples, englobando 50% das residências, abertas, da comunidade, ou seja, 44

domicílios, durante o período temporal de agosto e setembro de 2014.

Após essas etapas, foram feitas a análise e tabulação dos dados, de forma qualitativa,

através da construção de um perfil textual, e quantitativa, através do software SPHINX 5 e da

construção de tabelas e gráficos no software Excel 2010.

Para uma maior compreensão deste trabalho dividimo-lo em:

No capítulo, Desenvolvimento Rural: Reflexões Teóricas achou-se relevante as

separações conceituais, para um melhor entendimento em relação aos temas rural,

desenvolvimento e desenvolvimento rural, considerando também as atividades agropecuárias

e não agrícolas e os impactos da seca sobre as mesmas.

No capítulo, Políticas Públicas, faremos algumas considerações conceituais

relacionadas ao referido tema.

No capítulo, Caracterização da Área de Estudo, discutiremos acerca dos principais

aspectos históricos da ocupação da comunidade Barra da Espingarda e, em seguida, os

elementos naturais evidenciados na mesma.

E no capítulo, Análise do Desenvolvimento Rural e das Políticas Públicas na

comunidade Barra da Espingarda, discorreremos sobre os resultados da pesquisa, separando

em diferentes seções e subseções para uma melhor compreensão, como as características da

população, a qualidade de vida, as fontes de renda, o consumo de bens e serviços, os espaços

públicos e particulares de convivência e a sensação de qualidade de vida e desenvolvimento

da população local.

15

2. DESENVOLVIMENTO RURAL: REFLEXÕES TEÓRICAS

Nesta parte do trabalho, iremos nos deter em algumas explanações teóricas, divididas

em três partes: desenvolvimento, rural e por último, o desenvolvimento rural. Achou-se

relevante essas separações conceituais para um melhor entendimento sobre o tema

desenvolvimento rural. Portanto, na seção 2.1, situaremos algumas considerações relacionadas

ao tema rural, na seção 2.2 uma discussão conceitual relativa ao desenvolvimento, na seção

2.3 um apanhado geral acerca do desenvolvimento rural e na seção 2.4. consideraremos as

atividades agropecuárias e não agrícolas, assim como, as influências trazidas pela seca.

2.1. RURAL

A palavra rural é oriunda do latim rurale. Disposto como: “pertencente ou relativo ao,

ou próprio do campo; agrícola.” (FERREIRA; FERREIRA; ANJOS, 2010, p. 1866).

Existem universalmente várias definições sobre meio rural. A definição de meio rural

feita pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO/DAS

(1998, apud ABRAMOVAY, 2003, p. 24), se torna relevante por desfazer certos vícios de

raciocínio.

“Ainda que em muitos casos a agricultura ofereça o essencial das oportunidades de

emprego e geração de renda em áreas rurais, é preferível não defini-las por seu

caráter agrícola. Há crescente evidência de que os domicílios rurais (agrícolas e não-

agrícolas) engajam-se em atividades econômicas múltiplas, mesmo nas regiões

menos desenvolvidas. Além disso, conforme as economias rurais se desenvolvem,

tendem a ser cada vez menos dominadas pela agricultura”.

A característica principal das áreas rurais é a rarefação populacional, mas também a

distância das aglomerações urbanas (VEIGA, 2001). Outras importantes características do

rural é a relação com a natureza e a dependência das atividades econômicas de cidades

próximas ou de centros urbanos mais distantes, onde em países pouco desenvolvidos como o

Brasil, o dinamismo das economias rurais ainda depende essencialmente da relação com os

mercados urbanos (KAGEYAMA, 2004; WANDERLEY, 2001).

O rural é considerado como um território que vem passando por alterações ao longo do

tempo, adaptando-se aos novos contextos e realidades, para garantir sua sobrevivência. Mas,

ao mesmo tempo, é um espaço próprio, diferenciado, específico, tanto em relação ao espaço

16

físico quanto aos modos de vida. É também dinâmico, com particularidades históricas,

sociais, econômicas e culturais (KAGEYAMA, 2004; WANDERLEY, 2001). Embora os

meios rurais apresentem semelhanças entre si, são caracterizados por uma imensa diversidade,

sendo necessário desenvolver tipologias explicativas quanto aos mesmos, que abarquem esta

diversidade (ABRAMOVAY, 2003).

Abramovay (2003), baseando-se na perspectiva de que a ruralidade é um conceito de

natureza territorial e não setorial, citou três principais aspectos da ruralidade, expondo não só

sua importância, como também sua relação com as cidades: a relação com a natureza, a

relativa dispersão populacional e a relação com as cidades.

O primeiro aspecto, diz respeito ao maior contato que as áreas rurais permitem entre

seus habitantes e a natureza, do que nas zonas urbanas. Essa relação se dá tanto pelo fator

ético e afetivo, quanto, atualmente, pela perspectiva de nova fonte de geração de renda rural e

pela demanda por valores de amenidades (ar puro, florestas e relações próximas entre as

pessoas). Nesse contexto, a partir da visão do rural como um valor a ser preservado, vem se

desencadeando políticas e o manejo e exploração sustentáveis, tanto da biodiversidade quanto

das práticas produtivas.

O segundo aspecto aponta para a sua relativa dispersão populacional, onde áreas não

densamente povoadas, como Abramovay (2003) denomina a zona rural, são caracterizadas

pela baixa quantidade de habitantes, assim como, pela certa distância das cidades; o

movimento migratório entre cidade e campo, com a nova tendência de residências rurais e

trabalho urbano; e a busca pelas amenidades do campo.

Por último, mesmo com a relevância que as áreas não densamente povoadas vêm

conquistando, não se pode desconsiderar sua dependência com as cidades, pois depende das

atividades econômicas das mesmas para garantir o seu próprio bem-estar econômico e sua

dinamicidade. Assim, quanto mais próxima de áreas urbanas, mais prósperas e dinâmicas

serão essas áreas.

Nessa perspectiva de variadas definições, Kageyama (2004) estabeleceu um consenso

na literatura acerca do que é rural:

“[...] a) rural não é sinônimo de agrícola e nem tem exclusividade sobre este; b) o

rural é multissetorial (pluriatividade) e multifuncional (funções produtiva,

ambiental, ecológica, social); c) as áreas rurais têm densidade populacional

relativamente baixa; d) não há um isolamento absoluto entre os espaços rurais e as

áreas urbanas. Redes mercantis, sociais e institucionais se estabelecem entre o rural

e as cidades e vilas adjacentes.” (KAGEYAMA, 2004, p. 382).

17

Quanto à diferenciação entre rural e urbano, no Brasil até 1938, não havia nenhum

aparato legal que distinguisse cidade de vila, assim, cidades e vilas poderiam ser elevadas à

condição de sedes de municípios se apresentassem um espaço com ocupação consolidada,

sem obedecer a qualquer outra norma. Foi apenas durante o Estado Novo que se estabeleceu

as regras de divisão territorial e a definição de “cidade”, vigentes até hoje (VEIGA, 2001).

Através do Decreto-Lei 311, de 1938: “[...] que transformou em cidades todas as sedes

municipais existentes, independentemente de suas características estruturais e funcionais.”

(VEIGA, 2001, p. 08).

Assim, no Brasil, utiliza-se a classificação político-administrativa estabelecida pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, para a classificação do rural, como:

“[...] áreas externas aos perímetros urbanos, inclusive nos aglomerados rurais de extensão

urbana, povoados, núcleos e outros aglomerados.” (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2011, p. 19).

Essa classificação administrativa levanta diversos questionamentos na literatura, por

basear-se claramente em uma definição de cidade, ao considerar urbano toda sede de

municípios e distritos, independentemente do tamanho e características socioeconômicas, e

conceber o restante como rural. Mesmo em locais pouco artificializados, com uma diminuta

população e densidade demográfica, mas, que de acordo com estimativas, apresentam alta

taxa de urbanização (KAGEYAMA, 2004; NEY; HOFFMANN, 2008; PONTE, 2004;

VEIGA, 2001).

Porém, para Abramovay (2003), a definição do IBGE, é de natureza residual, devido à

delimitação das cidades serem feitas pelos poderes públicos municipais, segundo os atributos

fiscais e não aos aspectos geográficos em geral; pela atribuição de urbano aos locais que

tenham extensão de serviços urbanos, mesmo com poucas habitações e a definição de rural

ainda ser feita segundo suas carências; cuja emancipação social dos espaços rurais passa

imediatamente a ser vista como “urbanização do campo”.

2.1.1. Alguns aspectos históricos e as perspectivas atuais acerca do rural

Os primeiros assentamentos humanos surgiram no paleolítico (idade da pedra lascada),

de forma temporária, pois ainda existiam as sociedades de caçadores-coletores nômades. Foi

apenas durante o neolítico (idade da pedra polida em torno de 12.000 anos atrás), que as

diversas sociedades humanas, se sedentarizaram, com a construção de moradias duráveis e

18

iniciaram a transição da predação para a agricultura, entre 10.000 e 5.000 anos antes de nossa

Era, chamada de revolução agrícola neolítica. Portanto, o que se sabe é que a agricultura, em

si, nasceu no fim da Pré-história, na época neolítica. A partir da agricultura neolítica se

despontou o crescimento da população humana, que passou de 5 a 50 milhões de habitantes

entre 10.000 e 5.000 anos antes de nossa Era, e assim por diante, fazendo surgir as diversas

civilizações e cidades (MAZOYER; ROUDART, 2010). Foi assim, que o meio urbano passou

a existir e a partir daí ganha vida a diferenciação rural-urbano.

Com isso, até meados do século XVIII o território rural apresentava importância

primária, com uma população maior do que a urbana e uma maior significação produtiva para

a economia. No final desse século, com a Revolução Industrial, houve uma grande alteração

das estruturas econômicas, políticas e sociais, valorizando-se a indústria, ou seja, o progresso.

Fazendo com que o rural e a agricultura perdessem espaço e valorização, devido à

mecanização do campo, ao êxodo rural em massa para as cidades e para servirem de mão-de-

obra nas indústrias (PONTE, 2004).

A partir daí o rural e o urbano assumem uma perspectiva dicotômica; que vem se

perpetuando até os dias atuais. Associando o rural ao atraso, à baixa densidade populacional,

ao isolamento, à falta de infraestrutura e a miséria. E o urbano ao progresso, ao

desenvolvimento, a modernidade, a concentração de serviços, infraestruturas, comércio e

indústria (PONTE, 2004; WANDERLEY, 2001).

Depois da Segunda Guerra Mundial, sob a ação do Estado junto às indústrias

agroalimentares e agricultores empresariais, as áreas rurais e seu setor agrícola, passaram por

uma intensa transformação. Essa transformação na agricultura, considerada um setor arcaico,

tradicional e atrasado, diz respeito a sua inserção no sistema econômico, transformando-o em

um setor moderno que participasse do crescimento econômico nacional; isso se deu através da

Revolução Verde (ALMEIDA, 1997).

No Brasil, até a década de 1950, predominava-se uma agricultura baseada na policultura

alimentar e em sistemas de rotação de culturas, em sua maioria, de forma autônoma. A partir

dos anos 1960 e 1970, com o processo de modernização agrícola pautado na Revolução

Verde, tendo como principal agente indutor, no Brasil, o Estado, a agricultura brasileira

passou por amplas mudanças na sua base técnica e produtiva, com a inserção de um amplo

aparato tecnológico e a inserção na divisão internacional do trabalho, da produção capitalista

no campo, da internacionalização e das multinacionais (produtoras de bens de capital e de

insumos modernos) no país (AGRA; SANTOS, 2001; ALBANO, 2005).

19

O ramo industrial passou a comandar a agricultura no país. Essa modernização tinha um

caráter excludente e parcial, por esta orientada para os latifúndios, excluindo os pequenos

agricultores rurais, e por concentrar-se nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil,

voltada para as monoculturas de exportação, adoção de maquinário agrícola (tratores e

colheitadeiras), sementes e produtos químicos (adubos e defensivos); deixando à margem as

regiões Norte e Nordeste, mais pobres e com predomínio dos pequenos produtores e da

policultura alimentar. Esse modelo de produção, inadequado para a maior parte do país,

trouxe graves problemas ambientais e impactos sociais no campo, onde os pequenos

produtores familiares perderam suas terras e trabalho, expulsando-os do campo para as

cidades (AGRA; SANTOS, 2001; ALBANO, 2005).

Historicamente, no Brasil, desde sua colonização houve o predomínio da grande

propriedade patronal, ou seja, latifúndios, gerando assim espaços vazios, física e socialmente

falando. Essa estrutura fundiária foi a grande responsável pelo não acesso à terra e

perpetuação da pobreza, do isolamento e da submissão política da população rural nordestina,

ainda muito evidenciada nos dias atuais. Inibindo também que o país chegasse à paridade

social. Esses espaços vazios também refletem a saída de grande parte dos agricultores do

campo, devido à falta de condições de trabalho. Assim, um meio rural dinâmico será aquele

onde a população tem oportunidade de boas condições de moradia e de trabalho, e não

somente de investimentos e reserva de valor (WANDERLEY, 2001).

Segundo Conterato (2008, p. 110):

“A partir do momento em que as situações de vulnerabilidade social existentes no

meio rural se coadunam às dinâmicas locais e regionais de desenvolvimento,

particularmente em relação às impossibilidades de acesso ao mercado de trabalho

não-agrícola, as restrições quanto ao crédito rural e o fortalecimento dos

monocultivos, criam-se algumas das condições fundamentais para o estabelecimento

dos fluxos migratórios rurais-urbanos e suas „conseqüências‟ (sic) quanto ao

esvaziamento, envelhecimento e masculinização na agricultura e no meio rural e ao

surgimento dos movimentos sociais de luta pela terra [...]”.

Nesse contexto, as transformações operadas no campo dificultaram uma definição

precisa, acentuada pela noção de “urbanização do campo”1, que considera que todo o

território rural está assumindo feições urbanas, contribuindo assim, para o seu

1 O conceito de continuum rural-urbano, assim como, o de urbanização do campo, expressa o fim do isolamento

entre as cidades e o meio rural. O conceito de continuum rural-urbano apresenta duas vertentes. A primeira

considerando o polo urbano como fonte de progresso, e o rural como fonte de atraso, tenderia a reduzi-lo

segundo a influência do polo urbano, havendo assim uma homogeneização espacial e social, que poria fim as

fronteiras entre ambos e consequentemente aos espaços rurais. E a segunda, considera a relação entre os dois

polos, numa perspectiva de aproximação e integração, mas, cada um com suas particularidades, não

representando o fim do rural (WANDERLEY, 2001).

20

desaparecimento. Ao contrário disso: “Há a constituição de novas ruralidades e não sua

urbanização.” (PONTE, 2004, p. 23). Porém, no Brasil, perpetua-se ainda o mito de que a sua

intensa urbanização dará fim à população rural, transformando-a em uma relíquia.

Considerando essa noção, diminui-se tanto a importância da sociedade rural, que ocorre o

mesmo com as políticas voltadas à sua dinamização (ABRAMOVAY, 2003; VEIGA, 2001).

Mas há autores como Graziano da Silva (1997), que acreditam na ideia da “urbanização

do campo”, expondo que nas últimas décadas o meio rural vem se urbanizando cada vez mais,

como consequência da inserção da indústria na agricultura e das características do mundo

urbano no rural.

“[...] a diferença entre o rural e o urbano é cada vez menos importante. [...] o rural

hoje só pode ser entendido como um „continuum‟ do urbano do ponto de vista

espacial; e do ponto de vista da organização da atividade econômica, as cidades não

podem mais ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem os campos com

a agricultura e a pecuária.” (GRAZIANO DA SILVA, 1997, p. 01).

Wanderley (2001), afirma que com essa relação de aproximação, acesso a bens e

serviços e assimilação dos modos de vida urbanos, surgiu certa homogeneização entre ambos,

mas, com diferenças significativas. Com a Globalização e o pós-fordismo, fortaleceu-se o

processo de revalorização dos espaços locais e de identidade com o lugar. Impulsionando

também os movimentos sociais com lutas e reivindicações, rurais e agrícolas, por direitos e

políticas públicas.

“As diferenças vão se manifestar no plano das „identificações e das reivindicações

na vida cotidiana‟, de forma que o „rural‟ se torna um „ator coletivo‟, constituído a

partir de uma referência espacial e „inserido num campo ampliado de trocas

sociais‟.” (WANDERLEY, 2001, p. 33).

Devido a essas transformações ocorridas no meio rural, no âmbito da modernização

agrícola, muitos estudiosos perderam o interesse em se estudar esse meio, em si. Assim, a

retomada dos estudos rurais se deu a partir da década de 1990, com uma renovação analítica,

baseada no desinteresse das discussões acerca da modernização agrícola, até então

privilegiada nos estudos rurais, e na valorização da sua capacidade de gerar desenvolvimento

rural. Passou-se, então, a se dar ênfase à ruralidade e sua conexão com outros temas como o

uso do espaço rural, que passou a abarcar novos usos além do agropecuário, como, por

exemplo, o turismo rural e a preocupação ambiental, assim como, a volta do interesse em

torno da agricultura familiar (CONTERATO, 2008).

21

Veiga (2001), retratando o rural em uma perspectiva mais quantitativa, acredita que o

meio rural não deve ser definido apenas por suas atividades agropecuárias, pois a economia

rural brasileira é muito maior que o seu setor agropecuário, mesmo sendo ainda sua atividade

principal. Apesar do declínio do papel da agricultura na geração de ocupação e renda, esta

ainda se configura como a atividade mais importante das zonas rurais. (ABRAMOVAY,

2003; CONTERATO, 2008).

Isso ocorreu devido, atualmente, o meio rural assumir novas funções, além das agrícolas

e industriais, como o crescimento das ocupações rurais não agrícolas, a pluriatividade, a

mecanização e industrialização do processo produtivo agropecuário, turismo rural, como local

de moradia e lazer, a instalação de infraestrutura social, como energia elétrica, abastecimento

de água, educação, saúde, a busca pelas relações sociais mais próximas, geração de empregos,

preocupação ambiental, entre várias outras funções. Um lugar de consumo, de comércio, de

demanda de bens e serviços (ABRAMOVAY, 2003; GRAZIANO DA SILVA, 1997;

PONTE, 2004; VEIGA, 2001, WANDERLEY, 2001).

Outras vantagens das zonas rurais no século XXI são a atração de residentes

temporários e permanentes, aposentados, férias familiares, turistas, esportistas, congressistas,

empresas telefônicas (VEIGA, 2001). Com isso, faz-se com que o rural não seja associado

exclusivamente às atividades agropecuárias e garantindo a permanência das pessoas no

campo, mas, essas características ainda não são evidenciadas em todas as localidades.

Considerando as características do novo rural, Conterato (2008, p. 139) reconhece que,

“[...] ao se tornar espaço em que outras atividades além das agrícolas são desenvolvidas e

portador de infraestruturas básicas de bem-estar, não significa que o meio rural se urbanizou e

a agricultura deixou de ter centralidade econômica, social, cultural e produtiva.”

Essas novas características dos espaços rurais, fazem renascer novos questionamentos e

estudos sobre essa temática. Faz-se necessário a criação de políticas públicas e políticas de

desenvolvimento rural, que compreendam adequadamente a realidade e considerem as

peculiaridades e as singularidades do rural.

2.2. DESENVOLVIMENTO

Na literatura há o consenso de que o conceito de desenvolvimento se apresenta em

constante mudança e construção, devido a sua dualidade de significados. Muitos autores ainda

sustentam a tese de que a adjetivação do termo “desenvolvimento” serve apenas para propagar

22

e dar continuação ao mesmo, por exemplo, o desenvolvimento social e o desenvolvimento

econômico.

Portanto, Kageyama (2004) afirma que o desenvolvimento, seja ele econômico, social,

cultural ou político, é um conceito complexo só sendo passível de ser definido através de

simplificações, incluindo a decomposição de alguns dos seus aspectos e aproximação de

outros.

Do século XVIII até a década de 1930, vigorou de forma dominante a noção de

progresso, associada a uma ideia de crescimento pautada numa visão evolucionista, de

ampliação dos conhecimentos, melhoria das condições de vida, liberdade política e bem-estar

econômico; sendo então substituída pelo termo desenvolvimento (ALMEIDA, 1997;

MENEGETTI, 2012).

No século XX, a palavra foi aderida às ciências sociais, principalmente, na economia,

dando surgimento ao termo desenvolvimento econômico, que passou a ser amplamente

utilizado na política para designar a evolução das atividades humanas e econômicas

(AGUIAR, 2011). Porém, a ideia de desenvolvimento ganha força, em especial, depois da

Segunda Guerra Mundial, sobretudo, na civilização ocidental e países periféricos, sendo

imposta universalmente. Assim, o Estado passou a ser considerado como um dos principais

impulsionadores da modernização e, também, do desenvolvimento econômico e técnico.

Portanto, da década de 1950 até meados da década de 1970, o desenvolvimento era tratado

como sinônimo de crescimento econômico e de progresso para as nações (ALMEIDA, 1997;

MENEGETTI, 2012). l

Além de estar envolto ao crescimento econômico, a ideia de desenvolvimento também

abrangia a ideia de modernização, onde o desenvolvimento tem significado de melhoria,

progresso e crescimento2. Se não há a concretização desses termos tem-se o atraso e o

subdesenvolvimento (BÁREA; MIORIN, 2008).

Portanto, os países tiveram que escolher entre seguir o modelo único de

desenvolvimento e serem julgados como desenvolvidos ou subdesenvolvidos. O modelo de

desenvolvimento se deu principalmente a partir da industrialização, assim, os países

“desenvolvidos” eram aqueles de industrialização precoce e os países “subdesenvolvidos”, se

tornaram aqueles do Terceiro Mundo de industrialização tardia (ALMEIDA, 1997;

MENEGETTI, 2012). Como sintetizou Almeida (1997, p. 36, grifo do autor), a lógica era:

2 Almeida (1997, p. 37, grifo do autor) sintetizou as noções de modernização e desenvolvimento: A primeira

indica a capacidade que tem um sistema social de produzir a modernidade; o segundo se refere à vontade dos

diferentes atores sociais (ou políticos) de transformar sua sociedade. A modernização é um processo e o

desenvolvimento uma política.

23

“[...] desenvolvimento técnico-científico => desenvolvimento socioeconômico => progresso e

crescimento.”

Com o passar do tempo percebeu-se que crescimento econômico e desenvolvimento não

são sinônimos. Mas, que mesmo assim, o crescimento é necessário para o desenvolvimento

(BÁREA; MIORIN, 2008).

Fragilizado com a crise financeira mundial dos anos de 1930, a noção de

desenvolvimento entrou em colapso na década de 1970, na civilização industrializada do

ocidente, passando a ser questionada em escala global; quando houve a percepção de que o

“desenvolvimento” não acontecia em todos os países e continentes de forma igualitária, o que

ideologicamente era seu propósito, se restringindo à Europa e Estados Unidos. Portanto, para

os países subdesenvolvidos a ideia de progresso não passou de um mito, isso se evidenciou,

principalmente, na década de 1950, com a crise econômica do “Terceiro Mundo”. Além de

não erradicar a pobreza e a miséria e, sim acentuá-las, gerou uma degradação ambiental nunca

antes evidenciada em tamanhas proporções (ALMEIDA, 1997; VEIGA, 2003).

Esse modelo de desenvolvimento, segundo Menegetti (2012, p. 4):

“Se de um lado ele conseguiu um crescimento econômico rápido, por outro, gerou

desigualdades, pobreza, concentrou renda, degradou os recursos naturais, não

permitiu que as pessoas exercessem o seu direito mais sagrado que é o exercício da

cidadania, das escolhas, o direito de decidir sobre os destinos da própria vida.”

A distinção entre as noções de desenvolvimento e de crescimento econômico só foi

legitimada de forma clara, a partir de 1990, no primeiro Relatório do Desenvolvimento

Humano publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Esse

Relatório também contribuiu com o lançamento do Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH)3, que passou a mostrar claramente as faces dessa distinção (VEIGA, 2003).

Assim, “[...] a noção de crescimento é insuficiente para dar conta das transformações

estruturais dos sistemas socioeconômicos, pois apenas leva em consideração a produção sob o

aspecto quantitativo.” (ALMEIDA, 1997, p. 36, grifo do autor). Já a noção de

desenvolvimento,

“[...] ao contrário, pretende evidenciar todas as dimensões - econômica, social e

cultural - da transformação estrutural da sociedade. [...] o desenvolvimento remete às

estruturas sociais e mentais. [...] a dimensão econômica interage de modo recíproco

com os aspectos socioculturais.” (ALMEIDA, 1997, p. 36).

3 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado pela ONU no início dos anos 1990, pelos economistas

Amartya Sen e Mahbub ul Haq, para definir o nível de desenvolvimento da sociedade, pautado nas variáveis:

renda, educação e longevidade (AGUIAR, 2011).

24

Para Veiga (2003, p. 1) o “[...] crescimento só engendra desenvolvimento se seus frutos

prolongarem a vida e melhorarem o nível educacional das populações desfavorecidas (pelo

menos)”.

Assim sendo, a partir da década de 1960 e, sobretudo, na década de 1970, houve uma

mudança de pensamento, cujos principais responsáveis foram os ambientalistas, onde as

preocupações ambientais adquiriram relevância mundial e a sociedade passou a ter papel ativo

na formulação de estratégias de desenvolvimento. A partir daí foram realizados diversos

fóruns e conferências, com a participação de diversas nações, organismos, instituições e

sociedade, para discussões sobre os caminhos para se atingir um desenvolvimento sustentável

(BÁREA; MIORIN, 2008).

A partir daí ocorreu uma mudança no paradigma do desenvolvimento, quando as ideias

de crescimento econômico sustentável ganham força. Essa mudança estava baseada em se

promover o bem-estar social, atentar para a propriedade finita dos recursos naturais e no

comprometimento com o futuro.

Pautado nesse novo paradigma do desenvolvimento sustentável, surgiu o termo

ecodesenvolvimento, durante a Conferência de Estocolmo, Suécia, em 1972; que mais tarde

foi substituído pelo termo desenvolvimento sustentável, expresso no Relatório Brudtland,

publicado em 1987, conhecido no Brasil pelo título de Nosso Futuro Comum4, e consagrado

durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CNUMAD), em 1992, conhecida como Rio-92. Foi durante a Rio-92 que se difundiu a ideia

de desenvolvimento humano, o uso do IDH e, sobretudo, o desenvolvimento sustentável5

(AGUIAR, 2011; ALMEIDA, 1997; BÁREA; MIORIN, 2008; VEIGA, 2003).

No Brasil, os programas de desenvolvimento, inicialmente, se deram em uma fase

nacionalista, com investimentos do Estado nas infraestruturas para a criação de indústrias de

base, propiciando ao decorrer do tempo o surgimento de diversos outros setores econômicos.

Mais adiante, ocorre parcialmente a integração regional, e o país passa a fazer parte de uma

economia capitalista globalizada, onde se passa a evidenciar as suas diferenças regionais.

4 Segundo Aguiar (2011, p. 63) o documento Nosso Futuro Comum definia desenvolvimento sustentável como:

“[...] aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras

satisfazerem suas próprias necessidades.” Este conceito passaria então a influenciar diversas políticas

apresentadas pelas agências de financiamento para melhorias dos sistemas de produção em regiões consideradas

pobres ou muito pobres.

5 Pautado na “[...] conjugação da tríade: eficiência econômica, eficácia social e ambiental.” (BÁREA; MIORIN,

2008, p. 92), só seria atingido quando essas três variáveis fossem alcançadas de forma sincrônica.

25

Assim, surgem políticas públicas com o objetivo de alavancar o desenvolvimento do país,

assim como, para a ocupação e colonização das regiões Centro-Oeste e Norte, consideradas

estagnadas. Contudo, o que se evidenciou com o tempo, foram as disparidades

socioeconômicas, ou seja, o desenvolvimento desigual, das regiões Nordeste, Centro-Oeste e

Norte em relação às outras regiões (AGUIAR, 2011).

É relevante observar também que o desenvolvimento tem uma faceta geográfica. Essa

faceta esta no conceito de desenvolvimento sócio espacial de Souza M. (2013). De acordo

com Souza M. (2013), anteriormente as teorias e abordagens do termo “desenvolvimento”,

advindas da Economia ou da Sociologia, ora negligenciaram ora valorizaram apenas partes do

espaço geográfico. Reduzindo-o, por exemplo, a espaço econômico ou meio ambiente, entre

outros. A adoção do termo sócio espacial contribui para legitimação da espacialidade como

um aspecto central do problema.

Portanto, o autor supracitado considera “[...] o termo „desenvolvimento‟ como um

cômodo substituto da fórmula transformação social para melhor, propiciadora de melhor

qualidade de vida e maior justiça social.” (SOUZA, M., 2013, p. 264, grifo do autor). A

preocupação com o desenvolvimento sócio espacial se justifica como forma de superação da

ideologia capitalista e eurocêntrica do “desenvolvimento econômico” e da injustiça social e

heteronomia, ou seja, no processo de enfrentamento da heteronomia e conquista da autonomia

(democracia autêntica e radical)6.

Para Souza M. (2013, p. 285, grifo do autor):

“O desenvolvimento „sócio-espacial‟ (sic) é, acima de tudo, o enfrentamento da

heteronomia e a conquista de mais e mais autonomia. E isso não pode ser feito sem

a consideração complexa e densa da dimensão espacial em suas várias facetas:

como „natureza primeira‟; como „natureza segunda‟ material, transformada pela

sociedade em campo de cultivo, estrada, represa hidrelétrica, cidade ...; como

território, espaço delimitado por e a partir de relações de poder; como lugar, espaço

dotado de significado e carga simbólica, espaço vivido em relação ao qual se

desenvolvem identidades „sócio-espaciais‟ (sic), ou, no fundo, imagens espaciais e

sentimentos e afetos especializados; e assim sucessivamente”.

Nesse contexto, o termo desenvolvimento passou por várias significações ao longo do

tempo, seguindo o contexto da época e do adjetivo a ele atribuído. Sendo assim, de forma

6 A heteronomia, ou a imposição da “lei” (no sentido amplo da palavra grega nómos: norma, lei, costume,

convenção) de cima para baixo – por uma elite dominante – e/ou de fora para dentro – por uma potência invasora

–, é aquela situação com a qual a humanidade mais frequentemente se viu confrontada [...]. A autonomia [...] é a

capacidade de um grupo autogerir-se e autogovernar-se, que pressupõe a ausência de assimetrias estruturais de

poder e, nesses marcos, de hierarquias institucionalizadas, bem como da atribuição da legitimidade do poder a

uma fonte extrassocial. [...] precisamente o sentido profundo de dar a si próprio a lei (autós-nómos) (SOUZA,

M., 2013, p. 294, grifo do autor).

26

simplificada, para Bárea e Miorin (2008, p. 105) “[...] desenvolvimento [...] se caracteriza por

metas e por objetivos que visam atingir melhorias.”

2.3. DESENVOLVIMENTO RURAL

O conceito de desenvolvimento rural vem variando ao longo do tempo, devido à

influência de diversos condicionantes do desenvolvimento da economia e da sociedade que se

impõem ao meio rural. Segundo Conterato (2008) no Brasil, porém, ainda se perpetua uma

relativa ausência de debates acadêmicos e políticos acerca do tema.

Há um consenso na literatura de que o conceito de desenvolvimento é complexo, por

apresentar múltiplas visões analíticas, portanto, suas bases teóricas encontram-se ainda em

construção (CONTERATO, 2008).

Internacionalmente a discussão relacionada ao desenvolvimento rural passou a ganhar

mais destaque a partir da percepção generalizada das transformações sociais, econômicas e

ambientais alçadas no âmbito da modernização da agricultura, pautada na Revolução Verde7.

Ellis e Biggs (2001 apud CONTERATO, 2008, p. 47) expõem a trajetória do

desenvolvimento rural:

“[...] na década de 1950, o desenvolvimento rural esteve fortemente associado às

políticas de modernização, com base em modelos dualistas que rotulavam os

agricultores de „modernos‟, em contraposição aos „atrasados‟. Nos anos 60, ganhou

fôlego o debate sobre a modernização da agricultura e a transferência de tecnologia

via Revolução Verde. Nos anos 70, intensificaram-se as políticas agrícolas, com

forte adoção de tecnologias por parte dos agricultores, via proposição de um

desenvolvimento rural integrado com intensa participação das entidades de extensão

rural. Durante os anos 80, com a crise do Estado desenvolvimentista, intensificam-se

as políticas de alívio à pobreza rural, atribuindo ao debate dos anos 90 forte apego às

políticas de redução da pobreza, via „micro-crédito‟ (sic), redes de segurança rural,

como extensão dos recursos previdenciários, etc. A virada do século [...] à

introdução de novas temáticas, como as questões ambientais, de gênero, da

pluriatividade, do empreendedorismo e da inovação, do papel das instituições, das

redes agroalimentares, entre outros focos, permitindo inclusive tratar essas

mudanças no escopo de um novo paradigma de desenvolvimento rural [...]”.

7 A Revolução Verde foi instituída no mundo na década de 1950, com uma participação intensiva do Estado

através de políticas públicas, seja como agente patrocinador, seja como produtor de tecnologias. [...] passa, a

partir de então, a impor transformações no campo, provocando, com sua modernização, um processo de

mudanças na divisão técnica e social do trabalho (ALBANO, 2005, p. 29). Baseada no modelo de produção

fordista, criado no início do século XX; a revolução impôs uma racionalização e industrialização, sob a

coordenação das Empresas Multinacionais gerando um crescimento de produtividade e quantidade das atividades

agrícolas, nunca antes evidenciados, isso se deu, através do uso de tecnologias, tais como tratores agrícolas,

variedade de sementes, técnicas de irrigação, defensivos químicos, os computadores, entre outros (ALBANO,

2005).

27

Na agricultura, o desenvolvimento rural assumiu a forma e o significado de

modernização (MENEGETTI, 2012). A agricultura se baseava no desenvolvimento agrícola,

que se perpetuou no Brasil das décadas de 1960 até a década de 1980 (CONTERATO, 2008).

A noção de desenvolvimento na agricultura teve maior ênfase nas décadas de 1950 e

1960, nos Estados Unidos e na Europa, com a participação do Estado, das indústrias

agroalimentares e de agricultores empresariais. Assim, o setor agrícola passou a adquirir

bastante relevância no sistema econômico, transformando a agricultura, considerada um setor

atrasado e arcaico, em um setor moderno e dinâmico; para fazer parte do crescimento

econômico nacional. Isso se deu a partir do desenvolvimento agrícola e rural. Graças ao

avanço tecnológico que alavancou a agricultura mundial, com aumento de produção e

produtividade e ligação direta com a indústria, sobretudo, a química (ALMEIDA, 1997).

Porém, apesar dessa transformação moderna e dinâmica, antes da industrialização, o

meio rural e a agricultura tradicional, apresentavam uma população maior do que a urbana e

uma maior significação produtiva para a economia; depois da industrialização, a agricultura,

que sempre teve um papel primário, foi relegada a papel secundário à indústria (PONTE,

2004). Assim, o mundo rural foi perdendo gradualmente sua relativa autonomia setorial e

aderiu a uma nova racionalidade produtiva, com a mercantilização, subordinando-se às

cidades (NAVARRO, 1991).

Almeida (1997, p. 39-40, grifo do autor) sintetizou o que a modernização incorporou na

agricultura:

“O conteúdo ideológico da modernidade na agricultura passa então a incorporar

quatro grandes elementos ou noções: (a) a noção de crescimento (ou de fim da

estagnação e do atraso), ou seja, a „idéia‟ (sic) de desenvolvimento econômico e

político; (b) a noção de abertura (ou do fim da autonomia) técnica, econômica e

cultural, com o consequente aumento da heteronomia; (c) a noção de especialização

(ou do fim da polivalência), associada ao triplo movimento de especialização da

produção, da dependência à montante e à jusante da produção agrícola e a „inter-

relação‟ (sic) com a sociedade global; e (d) o aparecimento de um novo tipo de

agricultor, individualista, competitivo e questionando a concepção orgânica de vida

social da mentalidade tradicional”.

Por muito tempo o desenvolvimento rural esteve relacionado ao conjunto de ações do

Estado e dos organismos internacionais, sobretudo, às destinadas às regiões rurais pobres, que

não conseguiam se integrar ao processo de modernização agrícola, por meio da adoção de um

novo modelo de produção. Essas intervenções se deram, principalmente, após a Segunda

Guerra e, sobretudo, a partir da década de 1950 até a de 1970, quando o desenvolvimento

rural passou a ser um dos grandes incentivadores das políticas governamentais e dos

28

interesses sociais, envolto na ideia de modernização e no âmbito da “Revolução Verde”

(NAVARRO, 2001).

Consequentemente, a diversidade e diferenciação das formas de produção foram

consideradas empecilhos para o desenvolvimento e modernização da agricultura.

Ocasionando em miséria, perda de identidade, dependência e no êxodo rural dos pequenos

produtores familiares. E como em outros setores, o desenvolvimento não foi alcançado por

todos de forma igualitária. No setor rural do Terceiro Mundo, a modernização, em quase sua

totalidade, não modificou a estrutura agrária de forma benéfica e, sim acentuou a

concentração fundiária e o desemprego rural (MENEGETTI, 2012).

Portanto, Menegetti (2012, p. 7) afirma que:

“A modernização da agricultura no Brasil, acontece quase da mesma forma que nos

países industrializados, com uma particularidade, aqui ela se dá dentro de uma

aliança entre o capital „agro-industrial‟ (sic), os grandes produtores e o Estado,

excluindo os pequenos produtores, ou relegando-os a um segundo plano. Ela

acontece por vontade e ação consciente do Estado. Também aqui a modernização da

agricultura tem a função de fornecer mão-de-obra barata para o setor urbano,

fornecer matéria-prima para a indústria e ser consumidora de produtos industriais”.

No Brasil, assim como, em outros países na América Latina, no período de Revolução

Verde, as ações de intervenção do Estado no meio rural eram, em geral, de caráter

compensatório, para aqueles agricultores que não conseguiam se modernizar

tecnologicamente nem integrar-se ao conjunto da economia por meio da indústria, comércio e

serviços (SCHNEIDER, 2010). Na década de 1970, sob os governos militares, foram

implementados diversos programas nas regiões mais pobres, sobretudo o Nordeste, baseado

na mudança produtiva da agricultura sobre os padrões tecnológicos da época, que acarretaria

em um aumento da renda familiar e então no desenvolvimento rural (NAVARRO, 2001). No

Nordeste brasileiro foram implantados os Projetos de Desenvolvimento Rural Integrado

(PDRI), no âmbito do conceito de “desenvolvimento rural integrado”, muito utilizado a partir

da década de 1960, na América Latina, em contraposição à reforma agrária; tendo, como

exemplo, as ações de colonização e assentamento humano na Amazônia e as frentes de

trabalho de combate à seca no Nordeste (KAGEYAMA, 2004; SCHNEIDER, 2010).

Consequentemente, o desenvolvimento rural passou a ser fortemente identificado com a

agenda das ações de intervenção do Estado ou das agências de desenvolvimento no meio

rural, sobretudo, as mais pobres, gerando entre os pesquisadores e estudiosos rurais brasileiros

um descontentamento e desinteresse no termo (NAVARRO, 2001).

29

A partir dos anos 80 e 90, a globalização e a abertura comercial romperam com diversas

barreiras, muitas delas protecionistas, do mundo rural, influenciando na redução do poder dos

Estados, que por muito tempo foi seu principal agente implementador de programas de

desenvolvimento rural, retirando-o da pauta das discussões. Mesmo assim, na década de 1980,

surge um novo conceito, o de desenvolvimento rural sustentável8, visando à incorporação da

dimensão ambiental nas estratégias de desenvolvimento rural (NAVARRO, 2001).

Um importante marco mundial para o redescobrimento do paradigma do

desenvolvimento rural, no fim da década de 1980 e início da década de 1990, como uma

alternativa de saída para as limitações do paradigma da modernização, se deu, sobretudo,

através da necessidade de reorientação da Política Agrícola Europeia (PAC), que reconheceu

os problemas criados pela agricultura intensiva e a multifuncionalidade do espaço rural

(KAGEYAMA, 2004).

Assim, a partir da década de 1990 em diante, ocorre o ressurgimento desse tema, com

sua revitalização e geração de novos enfoques, em um âmbito de preocupação com o futuro e

de disputas sociais, em escala global. E também pelas recentes demandas sociais em torno da

agricultura familiar que tem impulsionado as reinvindicações por um desenvolvimento rural

mais voltado para o local, com o papel de fortalecer os processos de desenvolvimento nas

áreas rurais (NAVARRO, 2001). Isso ocorreu quando houve a percepção das limitações do

desenvolvimento agrícola e dos novos debates em torno das atividades não agrícolas e da

pluriatividade, como importantes fatores para o desenvolvimento dessas áreas

(CONTERATO, 2008).

Quanto aos fatores que contribuíram para o resgate do tema desenvolvimento rural no

Brasil: o primeiro fator foi à legitimação da agricultura familiar como categoria política e

incorporação nas políticas públicas, apoiadas pelo movimento sindical dos trabalhadores

rurais, na década de 1990. O segundo fator foi o aumento da influência da ação do Estado no

meio rural, através das políticas para a agricultura familiar, as ações relacionadas à reforma

agrária, segurança alimentar, regularização fundiária, ações de desenvolvimento territorial,

entre outras. Assim como, a criação do PRONAF, em 1996, e do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA), em 1999. Já o terceiro fator está ligado às mudanças

ocorridas no campo político e ideológico. De um lado, as elites agrárias passaram a apoiar,

por exemplo, a questão da reforma agrária, antes contrários a isso; e do outro, passou-se a se

romper o dualismo entre forma familiar (consumo local) e patronal-empresarial (commodities

8 Para mais informações acerca do desenvolvimento rural sustentável consultar Almeida (1997).

30

voltadas principalmente para a exportação); ou seja, o desenvolvimento rural ressurge como

uma alternativa e uma oposição ao agronegócio. E por último, o quarto fator, que se relaciona

com a sustentabilidade ambiental; isso se deu ao descontentamento gerado pelo modelo

agrícola da “Revolução Verde”, a partir da década de 1980, e também pela tentativa de

internacionalização da questão ambiental, com os esforços e contribuição dos estudiosos em

se inserir a questão da sustentabilidade ao desenvolvimento, e assim, ao desenvolvimento

rural, que passou também a trazer o adjetivo sustentável (SCHNEIDER, 2010).

Aguiar (2011) afirma que no Brasil, o desenvolvimento rural sempre foi tratado

separado da cidade, como se todo o processo de desenvolvimento pudesse ser gerado apenas

em um lugar. E que existe ainda um grande problema social no campo, a ser resolvido, que é

o acesso aos instrumentos básicos do desenvolvimento: educação, saneamento, a renda, entre

outros. Como pode ser claramente percebido, a modernização agrícola não gerou o

desenvolvimento das áreas rurais. Porém, no Brasil, ainda grande parte do desenvolvimento

das áreas rurais está fortemente associado às atividades agrícolas.

Conterato (2008) defende que é preciso reconhecer o rural como locos para o seu

próprio desenvolvimento, e não mais, somente, como a base material ou funcional da

agropecuária. Portanto, Conterato (2008, p. 18-19, grifo nosso) afirma que:

“[...] o desenvolvimento rural poderia ser interpretado como um movimento

ininterrupto, alimentado pela construção e consolidação de práticas agrícolas e não-

agrícolas que levam em consideração os atributos e recursos existentes na família e

na unidade de produção e sua complementariedade quando do estabelecimento de

relações de troca com o ambiente social e econômico seja via mercado de produtos e

serviços ou mercado de trabalho”.

Ainda segundo Conterato (2008, p. 52, grifo do autor):

“[...] o desenvolvimento rural é interpretado como um conjunto de práticas que visa

a reduzir a vulnerabilidade dos indivíduos e famílias, reorientando as ações para

menor dependência dos agricultores em relação aos agentes externos, capaz de

resultar em maior autonomia nos processos decisórios e no fortalecimento do leque

(portfólio) de ações e estratégias.”

Para Navarro (2001, p. 88) desenvolvimento rural “[...] trata-se de uma ação

previamente articulada que induz (ou pretende induzir) mudanças em um determinado

ambiente rural.”

Segundo Kageyama (2004), no campo dos estudos rurais, três enfoques podem ser

identificados: o enfoque do desenvolvimento exógeno, onde o desenvolvimento rural é

31

imposto por forças externas e implantado em certas regiões, como por exemplo, a adoção das

políticas de modernização da agricultura. O enfoque do desenvolvimento endógeno, pautado

no desenvolvimento local, predominantemente, gerado e baseado por iniciativas e recursos

locais, onde os atores e as instituições desempenham papel extremamente relevante, como por

exemplo, os modelos dos distritos industriais. E por último, a combinação dos dois, onde o

desenvolvimento rural apresenta uma combinação de forças internas e externas à região, onde

os atores das regiões rurais, simultaneamente, estão envoltos em um complexo de redes locais

e redes externas.

O desenvolvimento rural, além do já exposto, também se refere a uma base territorial,

local ou regional. Diversos autores o consideram como um processo multinível (níveis global,

nacional, regional, local); multiator (multiplicidade de instituições envolvidas); multifacetado

(por abarcar diversas práticas, como conservação da natureza e o turismo rural); multissetorial

(interação com diversos setores, como atividades agrícolas e não agrícolas); e multifuncional

(funções produtivas, ambientais, ecológicas e sociais) (CONTERATO, 2008; KAGEYAMA,

2004).

Portanto, o desenvolvimento rural emerge, sobretudo, em nível local e regional;

possuindo um papel extremamente relevante no novo arranjo espacial do rural. Tendo como

objetivo elevar a renda e o desenvolvimento das comunidades rurais, criar empregos, serviços

e novos mercados, reconstruir a agricultura baseada no respeito ao meio ambiente e na

diversificação, além de valorizar as economias de escopo em detrimento das de escala.

Também valorizando os novos arranjos institucionais e os diversos fatores, como as

características da natureza, do trabalho, da organização e das instituições, próprios de cada

local (CONTERATO, 2008).

Atualmente, face ao novo arranjo espacial do rural, este adquire uma crescente

preocupação, surgindo novas estratégias de desenvolvimento rural. Com a criação de novos

nichos de mercado, através de novas atividades, que incluem produtos agroecológicos,

atividades ligadas ao lazer, moradia, culinária e a pluriatividade. Essas atividades dependem

de iniciativas, sobretudo, de agentes internos do lugar; para o fortalecimento do mercado local

e regional através de associações e recursos, tanto estaduais e federais quanto provenientes de

outras fontes (BÁREA; MIORIN, 2008). Essas estratégias também têm que se basear nas

peculiaridades do rural e sua articulação entre si e com os outros territórios (NEY;

HOFFMANN, 2008).

Para Wanderley (2001) o desenvolvimento rural, deve estar baseado em uma concepção

do meio rural que leve em conta suas especificidades; que constitua um movimento que

32

envolva, em todas as formas, todos os seus habitantes; assegure a cidadania plena dos

habitantes no meio rural; permita a cooperação e o intercâmbio entre o meio rural e o urbano,

da escala local a global, sem anular suas particularidades; e que assegure as políticas voltadas

à agricultura segundo o reconhecimento da importância dos agricultores.

Concluindo, Abramovay (2003) expõe sobre como se “enxergar” o rural, sendo ele

capaz de atender suas necessidades, então pode se aplicar a noção de desenvolvimento, o

mesmo não acontecerá se tratarmos o rural como apenas o remanescente das zonas urbanas.

“[...] se o meio rural for apenas a expressão, sempre minguada, do que vai restando

das concentrações urbanas, ele se credencia, no máximo, a receber políticas sociais

que compensem sua inevitável decadência e pobreza. Se, ao contrário, as regiões

rurais tiverem capacidade de preencher funções necessárias a seus próprios

habitantes e também às cidades – mas que estas próprias não podem produzir –

então a noção de desenvolvimento poderá ser aplicada ao meio rural.”

(ABRAMOVAY, 2003, p. 21, grifo do autor).

Resumindo, para se atingir uma situação ideal de desenvolvimento rural, é preciso que

uma localidade rural apresente alta renda e bem-estar, alta produtividade, pluriatividade,

conservação ambiental, melhoria nas infraestruturas, uma agricultura moderna e dinâmica.

Devendo incluir as variáveis econômicas, sociais e ambientais. E que acima de tudo, ofereça

as condições necessárias para que a população rural permaneça no campo.

Portanto, as perspectivas acerca do Desenvolvimento Rural vêm variando ao longo do

tempo, estando, atualmente, mais voltadas ao meio rural em si e seus habitantes, prezando a

melhoria das condições de vida dos mesmos.

2.4. ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS E NÃO AGRÍCOLAS

Como já foi dito a agricultura surgiu no neolítico (idade da pedra polida por volta de

12.000 anos atrás), com a passagem da predação para a agricultura, onde a sedentarização

ocasionou nos plantios de lavouras de subsistência (revolução agrícola neolítica)

(MAZOYER; ROUDART, 2010). Com o passar do tempo à agricultura foi se desenvolvendo

com a criação e aperfeiçoamento de novas técnicas. Portanto, o meio rural sempre teve uma

importância primária, devido à produção, à economia e o maior contingente populacional, o

que passou a mudar, no século XVIII, com a Revolução Industrial e o desenvolvimento das

cidades (PONTE, 2004). Porém, até a década de 1950, predominava-se uma agricultura

baseada na policultura alimentar e em sistemas de rotação de culturas, em sua maioria, de

33

forma autônoma. Sendo a partir dos anos 1960 e 1970, com o processo de modernização

agrícola pautado na Revolução Verde, que alavancou a mecanização do campo e o êxodo

rural mundialmente, quando passou a predominar as monoculturas comandadas por grandes

multinacionais (AGRA; SANTOS, 2001; ALBANO, 2005).

Quanto à pecuária, a espécie bovina foi trazida ao continente sul americano, durante as

Grandes Navegações. Logo após a descoberta do Brasil, os portugueses começaram a

transportar animais, dentre eles os bovinos. Os primeiros bovinos chegaram ao Brasil em

1533. De modo que no século XVI, no litoral e em todas as capitanias hereditárias, havia

grande abundância de bovinos, fruto do incentivo da Corte para a exportação de gado para o

Brasil. Com o crescimento da economia do litoral e o aumento populacional das capitanias, a

criação de gado foi se estendendo para o interior, sobretudo, durante os séculos XVI e XVII,

com a busca por áreas de mineração e captura dos índios (SILVA; BOAVENTURA;

FIORAVANTI, 2012).

A pecuária era tida como uma atividade secundária à produção açucareira do litoral,

fornecendo carne e couro, porém de extrema importância para o povoamento do interior. Com

o colapso da mineração, a pecuária ganhou destaque, com a implantação de fazendas de

pecuária extensiva. Com a Segunda Guerra Mundial, aumentou-se a demanda de carne

produzida nos países do Terceiro Mundo, e possibilitou a implantação de frigoríficos

estrangeiros no Brasil, culminando no aumento dos rebanhos bovinos, sobretudo, no Centro-

Oeste. Nesse contexto, foram à abertura comercial e a globalização que intensificaram a

modernização da pecuária brasileira (SILVA; BOAVENTURA; FIORAVANTI, 2012).

Na região do Seridó, a ocupação do seu território se concretizou com a introdução dos

rebanhos bovinos, para produzir força animal e alimento para a atividade canavieira no litoral

do estado do Rio Grande do Norte. Com a diminuição da atividade canavieira despontou a

demanda por couro, e assim, a produção de carne seca. Com o tempo, a produção de carne foi

perdendo importância, devido às secas periódicas e desavenças administrativas nas capitanias.

Com o advento do ciclo do algodão passou a direcionar-se ao consórcio agricultura/pecuária.

Com o declínio da cotonicultura no final do século XX a pecuária volta a ganhar importância

econômica na região, passando de corte à produção leiteira, garantindo assim a subsistência e

geração de renda para muitas famílias seridoenses (AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL DO SERIDÓ, 2011).

As atividades primárias estão mais presentes nas zonas rurais, mas, não são mais as

únicas desenvolvidas, pois as atividades secundárias e terciárias, que também não podem ser

consideradas exclusivas das zonas urbanas, vêm se expandindo cada vez mais na zona rural.

34

Portanto, o setor agropecuário tende a se tornar apenas uma de suas fontes de renda (VEIGA,

2001).

Dentre os motivos pelos quais causaram o surgimento das atividades não agrícolas no

meio rural brasileiro, o principal deles seria a abertura comercial (competição com produtos

importados subsidiados) dos anos de 1990, que acentuou a crise no setor agrícola, gerando

uma expressiva queda nas rendas agrícolas e, sobretudo, entre os agricultores familiares. De

forma que o setor agrícola foi exposto ao

“[...] desmantelamento dos instrumentos de política agrícola (garantia de preços

mínimos, estoques reguladores, redução do crédito agropecuário) juntamente com a

significativa queda nos recursos públicos destinados para a agricultura („infra-

estrutura‟ (sic)), pesquisa agropecuária, assistência técnica teve impacto decisivo

sobre as condições de atuação do setor agrícola.” (CONCEIÇÃO, P.; CONCEIÇÃO,

J., 2006, p. 2).

Embora a agricultura ainda continue a ser a base da economia rural, veio perdendo

espaço, com o avanço capitalista no campo, a liberalização e a globalização, buscando se

reinventar, através de diversos mecanismos. Nesse contexto, as Ocupações Rurais Não

Agrícolas (Ornas)9 vêm ganhando espaço recentemente, se constituindo de forma dominante,

onde os agricultores se ocupam mais em tempo parcial, como uma forma de complementação

da renda agrícola (KAGEYAMA, 2004).

Quanto aos fatores que levaram os trabalhadores as Ornas, a tendência da agricultura em

tempo parcial e a pluriatividade, provocaram uma representativa mudança na organização

social e do trabalho no meio rural; consequências da mudança na estrutura familiar, onde já

não se consegue mais sobreviver apenas com a renda proveniente da agricultura, buscando

outras fontes, associadas às atividades não agrícolas, ou através de medidas tais como ajudas

diretas e transferências sociais, como previdência social e aposentadoria rural. Apontando,

portanto, para uma diversificação de estilos de vida no meio rural. Outros fatores residem nas

estruturas dos mercados de trabalho rural e urbanos, que estão cada vez mais similares e com

uma distribuição de emprego menos polarizada e cada vez mais parecida nas áreas urbanas e

rurais, acarretando em uma nova dinâmica populacional, onde a população economicamente

ativa com domicílio rural está cada vez mais presente nos setores do comércio, da indústria e

da prestação de serviços, públicos e privados (CONCEIÇÃO, P.; CONCEIÇÃO, J., 2006).

9 É importante relatar, como aponta Veiga (2001), que os pesquisadores brasileiros preferem chamar esse

fenômeno não, de emprego rural não agrícola, mas, de ocupações rurais não agrícolas (Ornas). E que as “[...]

Ornas costumam ser pouco „frequentes‟ (sic), provisórias e muito precárias em municípios rurais distantes de

aglomerações, centros urbanos e municípios „rurbanos‟.” (VEIGA, 2001, p. 49).

35

Muitos autores comprovaram em suas pesquisas que o número de pessoas ocupadas no

meio rural cresce substancialmente, graças à expansão das Ornas e que nos últimos anos as

rendas não agrícolas são substancialmente maiores que as rendas agrícolas (GRAZIANO DA

SILVA, 1997; VEIGA, 2001).

Para Graziano da Silva (1997, p. 13):

“[...] ganham importância essas „novas atividades rurais‟ altamente intensivas e de

pequena escala, propiciando novas oportunidades para um conjunto de pequenos

produtores que já não se pode chamar de agricultores ou pecuaristas; e que muitas

vezes nem são produtores familiares, uma vez que a maioria dos membros da família

está ocupada em outras atividades não agrícolas e/ou urbanas.”

A expansão das Ornas, atualmente, é um importante componente do desenvolvimento

da economia rural. As atividades não agrícolas podem contribuir, tanto para reduzir a

concentração da renda rural, quanto para aumentá-la, por ser mais concentrada, dependendo

da sua participação na renda total da população rural pobre e rica. Isso ocorre porque as

famílias rurais pobres, sem acesso aos meios, como educação, formação profissional e capital,

ficam restritas a ocupar trabalhos de baixa qualificação e remuneração, sobretudo, na

agricultura de subsistência, mesmo tendo necessidade e vontade de ocupação fora do setor

primário. Já as famílias mais ricas têm acesso à qualificação e recursos financeiros, podendo

exercer atividades mais rentáveis (CONCEIÇÃO, P.; CONCEIÇÃO, J., 2006; NEY;

HOFFMANN, 2008).

Para uma família rural ingressar em alguma atividade não agrícola, dependerá dos

“incentivos e capacidades”. Os incentivos abarcam os fatores de atração, como rentabilidade

mais alta, e os fatores de expulsão, quando ingressam em atividades industriais e de serviços

(REARDON et al., 1998 apud NEY; HOFFMANN, 2008). Outros fatores de impedimento

são a escassez de ativos, como educação; conhecimentos e habilidades; bens ou terras, para

serem usadas como garantia. Mesmo havendo pessoas nas famílias com alguma qualificação,

muitas vezes, não é o suficiente para a substituição das atividades agrícolas. E a economia

local deve ser dinâmica o suficiente para absorver essas pessoas, pois os mercados

consumidores de bens e serviços locais condicionam a geração de empregos e renda. O

inverso acontece quando há um baixo grau de desenvolvimento das localidades, atrelado à

falta ou precariedade de infraestruturas, como rodovias e a falta de recursos (NEY;

HOFFMANN, 2008).

Ney e Hoffmann (2008) também afirmam que os motores do desenvolvimento das

Ornas de uma localidade rural podem ser: endógenos, nas áreas rurais, como a modernização

36

da agricultura ou consumo interno; ou exógenos, localizados nas áreas urbanas, resultantes,

sobretudo, da influência exercida pelas cidades médias ou grandes sobre seu entorno rural,

pelas demandas de bens e serviços produzidos apenas no meio rural, como turismo,

artesanatos, hotéis, pousadas e casas, lazer, férias e serviços domésticos, que geram um

mercado de trabalho para a população rural.

Graziano da Silva (1997) citou como principais atividades não agrícolas, com

importância crescente no meio rural brasileiro: em primeiro lugar, as atividades ligadas à

proliferação de indústrias, sobretudo, das agroindústrias, no meio rural. Em segundo lugar as

atividades ligadas à crescente urbanização do meio rural (como moradia, turismo e lazer) e a

preservação do meio ambiente. E por último, a proliferação dos sítios de recreio ou chácaras.

Atualmente, no campo, além da produção agrícola, o crescimento das atividades não

agrícolas, principalmente, no setor de serviços, passou a oferecer à população urbana

benefícios, como residência e atividades ligadas à natureza. Isso se evidencia mais nas regiões

Sul e Sudeste, embora no Nordeste esse processo também esteja presente, porém, em menor

intensidade, devido à falta de infraestrutura (rede elétrica e saneamento básico). Residências

secundárias e turismo rural, também ligado ao calendário das festividades da região

(WANDERLEY, 2001).

Nesse contexto, Conterato (2008) afirma que para haver economias locais

diversificadas, é preciso que haja mercados de trabalho agrícola e não agrícola, que absorvam

e potencializem endogenamente o excedente econômico gerado. Isso se dá através da

combinação de atividades produtivas e da diversificação das fontes de renda, que vão além de

uma estratégia familiar ou individual, além de variar a economia local, gera um mercado de

trabalho no meio rural que abarca seus moradores e potencializa o desenvolvimento rural de

uma região.

“[...] a combinação de atividade agrícolas e não-agrícolas pelos agricultores ficaria

circunscrita à capacidade das economias locais de absorver o excedente

populacional oriundo do meio rural. Economias locais e regionais pouco dinâmicas

ou setorialmente especializadas, especialmente no setor primário, ofereceriam

poucas oportunidades de trabalho em atividades não-agrícolas ou mesmo estas

ficariam restritas internamente ao próprio setor, caracterizando um tipo de

pluriatividade de base-agrária [...].” (CONTERATO, 2008, p. 138).

Portanto, Conterato (2008, p. 48) aponta que o desenvolvimento das diversas regiões

rurais e o desenvolvimento rural destas, “[...] passa pela importância das atividades não

agrícolas na geração de emprego e renda e seu potencial na mitigação da pobreza rural.”

37

Com isso, observa-se a tendência das políticas públicas estarem se direcionando cada

vez mais para o local:

“[...] os principais motivos que têm influenciado os policy makers a darem cada vez

mais atenção para outras fontes potenciais de geração de emprego e renda nas áreas

rurais são: a persistência da pobreza rural, do desemprego e do subemprego na

agricultura, após mais de duas décadas de ajustes estruturais; a consciência cada vez

mais clara de que a natureza e a performance das ocupações e da renda rural não-

agrícola afetam, positiva ou negativamente, o desempenho da agropecuária. Este

fato cria um novo interesse para um fenômeno constatado desde os anos 60: a

crescente importância das ocupações não-agrícolas para a população rural.”

(REARDON; BERDEGUÉ, 1999 apud CONCEIÇÃO, P.; CONCEIÇÃO, J., 2006,

p. 6-7, grifo do autor).

Quanto ao meio rural nordestino, Wanderley (2001) afirma que sua dinâmica depende

do desempenho e das condições de funcionamento da agricultura. Apesar da agricultura, nas

últimas décadas, ter passado por várias crises em suas principais atividades econômicas,

ocasionadas por secas sucessivas, erradicação da cultura do algodão e a crise no setor

açucareiro regional, mesmo assim, ainda será a atividade principal no Nordeste, em termos de

ocupação e renda. Nesse contexto, a estratégia de desenvolvimento regional tem se pautado na

agricultura e na criação de polos agroindustriais.

2.4.1. Pluriatividade

A pluriatividade se caracteriza como a combinação de atividades agrícolas e não

agrícolas, que “[...] promovem a integração intersetorial (agricultura com comércio e serviços)

e interespacial (rural com urbano).” (CONTERATO, 2008, p. 49). Se configurando como um

dos aspectos mais representativos do novo rural (CONTERATO, 2008; GRAZIANO DA

SILVA, 1997).

Com as transformações sociais e econômicas operadas no meio rural ao longo do

tempo, em contraposição às famílias monoativas surgiram as famílias pluriativas

(CONTERATO, 2008). Portanto, a pluriatividade tem sua origem, sobretudo, como estratégia

das famílias agrícolas. Não deve ser encarado como um processo de abandono da agricultura e

do meio rural, e sim como uma estratégia familiar de geração de renda e de garantia de

permanência no meio rural, assim como, de resgate e conservação do patrimônio familiar

(CONTERATO, 2007; GRAZIANO DA SILVA, 1997; WANDERLEY, 2001). E que a renda

agrícola familiar, sempre foi composta das atividades agropecuárias, mas não só disso, os

38

membros da família sempre exerceram outras atividades, dentro ou fora do setor,

caracterizando a natureza multifacetada da renda familiar. Com a queda da população

economicamente ativa no setor agropecuário, a pluriatividade é responsável por absorver essa

população, garantindo assim, a diminuição da taxa de desemprego no país (VEIGA, 2001).

Uma das tendências da pluriatividade é a combinação pela mesma pessoa de emprego

assalariado com o de conta própria (GRAZIANO DA SILVA, 1997). Segundo Veiga (2001,

p. 43-44): “A pluriatividade é uma tendência mais recorrente entre as famílias conta-própria,

enquanto as ocupações rurais não-agrícolas (Ornas) são muito mais recorrentes entre as

famílias rurais de empregados.”

Segundo o Censo Agropecuário 2006, foram recenseados 5.175.489 estabelecimentos

agropecuários em todo o Brasil em 2006, onde 37% (1.910.131) desses podem ser

considerados pluriativos. Também se classificou esses estabelecimentos como pertencente à

categoria agricultura familiar (84,4% (4.367.902)), onde 51,9% (419.051) são pluriativos; e na

categoria agricultura não familiar (15,6% (807.587)), onde 34,1% (1.491.080) são pluriativos.

Considerando o Nordeste, onde há a maior concentração de agricultores familiares do Brasil,

com 89,1% (2.187.295) do total de estabelecimentos agropecuários, 34,4% (752.040) são

pluriativos; apenas 10,9% (266.711) pertencem à categoria não familiar, sendo 58,3%

(155.449) pluriativos (ver Tabela 1). Assim sendo, o Nordeste está acima da média nacional,

apresentando, portanto, uma maior intensidade na agricultura familiar (INSTITUTO DE

PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2013).

39

Tabela 1 – Estabelecimentos agropecuários pluriativos e não pluriativos no Brasil e Nordeste

Estabelecimentos agropecuários no Brasil: pluriativos e não pluriativos

Não pluriativos Pluriativos Total

Número de

estabelecimentos Proporção (%)

Número de

estabelecimentos Proporção (%)

Número de

estabelecimentos

Proporção

(%)

3.265.358 63,0 1.910.131 37,0 5.175.489 100,0

Estabelecimentos totais e pluriativos no Brasil, na agricultura familiar e não familiar

Variáveis

Agricultura familiar Agricultura não familiar

Número de estabelecimentos Proporção

(%)

Número de

estabelecimentos Proporção (%)

Total 4.367.902 100,0 807.587 100,0

Pluriativos 1.491.080 34,1 419.051 51,9

Estabelecimentos agropecuários na região Nordeste: pluriativos e não pluriativos

Não pluriativos Pluriativos Total

Número de

estabelecimentos Proporção (%)

Número de

estabelecimentos Proporção (%)

Número de

estabelecimentos

Proporção

(%)

1.546.517 63,0 907.489 37,0 2.454.006 100,0

Fonte: Censo Agropecuário, 2006 apud Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2013, p. 26, 27 e 29.

Nota: tabulação especial realizada pelo IBGE e elaboração realizada pelo Ipea e PGDR, 2010-2011.

2.4.1. Secas

Nessa parte sobre as secas abordaremos características do semiárido nordestino, área de

ocorrência das secas no Brasil. Em um segundo momento, sobre alguns aspectos históricos

das secas. Em seguida, sobre o paradigma atual da convivência com a seca e por último sobre

as consequências causadas por elas ao meio ambiente, à população rural e a agropecuária.

2.4.2.1. Características gerais

O Semiárido brasileiro, marcado por períodos de estiagem sucessivos, passou por

diversos problemas ao longo do tempo, não só ocasionados pelas características climáticas,

mas, principalmente, pela estrutura socioeconômica da região Nordeste.

Segundo Silva (2007, p. 468):

40

“As regiões „semi-áridas‟ (sic) são caracterizadas de modo geral, pela aridez do

clima, pela deficiência hídrica com imprevisibilidade das precipitações

pluviométricas e pela presença de solos pobres em matéria orgânica. O prolongado

período seco anual eleva a temperatura local caracterizando a aridez sazonal.”

No Brasil, a definição da área semiárida brasileira, ocorreu com a criação do Polígono

das Secas, no primeiro governo de Getúlio Vargas, como espaço oficial de ocorrência das

secas do Nordeste, sua primeira delimitação foi efetuada de acordo com a Lei 9 n° 175, de 07

de janeiro de 1936, em regulamentação ao Art. 177 da Constituição. Com a instituição do

Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), regulamentado no Art.159,

inciso I, alínea c, da Constituição de 1988, pela Lei de n° 7.827, de 27 de setembro de 1989, a

expressão polígono das secas foi substituída, passando os espaços caracterizados pela

semiaridez do Nordeste a serem chamados de Região Semiárida do FNE. Foi essa norma da

Constituição Brasileira de 1988, que institui o conceito técnico de Semiárido e a aplicação de

50% dos recursos do FNE no mesmo. A Lei 7.827, de 27 de setembro de 1989, define como

Semiárido a região inserida na área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento do

Nordeste (SUDENE), atual Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE), com

precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a 800 mm (BRASIL, 2005; SILVA,

2007).

Essa delimitação baseada na isoieta de 800 mm passou a ser considerada inadequada

para a delimitação da área de abrangência do Semiárido brasileiro, levando o Ministério da

Integração Nacional a propor uma nova delimitação em 2004, feita pelo Grupo de Trabalho

Interministerial (GTI), que passou a se basear em três critérios técnicos: precipitação

pluviométrica média anual (inferior a 800 mm); Índice de Aridez de Thorntwaite, de 1941

(0,21 a 0,50) e déficit hídrico (Risco de Seca superior a 60%) (FILGUERA, 2011).

“Em 10 de março de 2005, o Ministro da Integração Nacional assinou a Portaria que

instituiu a nova delimitação do semiárido brasileiro. Foram incorporados 1.133

municípios, correspondendo a uma área de 969.589,4 km e os 1.133 municípios

integrantes do novo semiárido brasileiro se beneficiarão de bônus de adimplência de

25% dos recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE),

enquanto no restante da Região Nordeste esse percentual é de 15%.” (FILGUERA,

2011, p. 52).

Nesse contexto, o Semiárido nordestino passou a compor quase 90% da área total do

Nordeste, mais a região setentrional de Minas Gerais e uma população de cerca de 21 milhões

de pessoas (11% da população brasileira) (SILVA, 2007).

As principais características climáticas do semiárido brasileiro são a distribuição das

chuvas, marcada pela irregularidade e variabilidade temporal e espacial; a elevada

41

temperatura e a alta taxa de evaporação, assim, há déficit hídrico, que não significa falta de

chuva ou água, se configurando como o Semiárido mais chuvoso do planeta, com uma

pluviosidade média de 750 mm/ano (250 mm/ano-800 mm/ano). A evaporação é de 3.000

mm/ano, três vezes maior do que a precipitação, um dos principais problemas para a

quantidade de água disponível. Definindo também a dependência da sua hidrologia pelo

clima, caracterizando-se com rios intermitentes e riachos temporários. Seu relevo é

constituído, em sua maioria, por rochas cristalinas (70%) com solos rasos e pedregosos,

dificultando a formação de mananciais perenes e a alimentação dos lençóis freáticos e,

consequentemente, a potabilidade da água, em geral, salinizada. Também, se configura como

o Semiárido mais populoso do planeta (MALVEZZI, 2007; SILVA, 2007).

2.4.2.2. Aspectos históricos

A seca no Semiárido brasileiro vem sendo, desde o período colonial e ainda muito

evidenciado nos dias atuais, retratada a partir de um imaginário de paisagens desoladas e uma

população flagelada.

Silva (2007) organizou um histórico sobre as secas no sertão, também pautado nas

ações governamentais. Os primeiros registros de ocorrência de secas no sertão nordestino são

de 1587, através do relato da fuga de índios do sertão para o litoral em busca de alimentos,

feito por Fernão Cardin (ALVES, 1982 apud SILVA, 2007). As secas se configuravam, como

impedimento ao desenvolvimento desses locais, um empecilho à colonização, pelo

aparecimento e constante migração dos flagelados sedentos e famintos.

Mas, foi somente no século XVIII, com a fixação da população branca nos sertões que a

seca passou a ser considerada como um problema efetivo, com o aumento da densidade

demográfica e da pecuária bovina, passando a ser relatada historicamente a partir desse

período, apesar dos relatos enfatizarem apenas as calamidades geradas. Enraizada no

imaginário popular como uma região castigada, onde a seca era a principal geradora dos

problemas, o Nordeste passou assim, a ser alvo das campanhas dos políticos (SILVA, 2007).

Somente a partir da segunda metade do século XIX, as secas no sertão nordestino

passaram a ser alvo efetivo dos estudos científicos, por ameaçar o povoamento e as atividades

econômicas, quando o governo imperial organizou uma Comissão Científica em 1856, que

percorreu o sertão. Esses estudos procuravam explicar as causas naturais desse fenômeno e

42

buscar soluções10

para os problemas causados pela mesma. Porém, o conhecimento parcial

sobre a região semiárida nordestina acabou levando a adoção da estratégia de combate à seca

e aos seus efeitos (SILVA, 2007). O que hoje se sabe que é uma estratégia errônea, pois, não

há como se acabar com os fenômenos naturais, como secas e chuvas (MALVEZZI, 2007).

No final do século XIX e início do século XX, os governos locais passaram a exigir

mais ações emergenciais e ações hídricas para armazenamento de água durante os períodos de

estiagem, foi ai que surgiram as bases das propostas de combate à seca, com a criação de

várias instituições, como: a Comissão de Estudos e Obras Contra os Efeitos das Secas, em

1904; a Superintendência de Estudos e Obras Contra os Efeitos das Secas e a Inspetoria de

Obras Contra as Secas (IOCS), em 1909, hoje, Departamento Nacional de Obras Contra as

Secas (DNOCS)11

(SILVA, 2007).

A partir da segunda metade do século XX, outras visões passaram a ganhar força, com a

desmistificação de que a seca era a única causadora dos flagelos da região, e reconhecimento

de que os maiores culpados seriam os colonizadores, que levaram à concentração de riquezas

e poder político, contribuindo, mais até do que a seca, para a pobreza da população. Também

havendo a desmistificação do mito do combate à seca, pois as ações emergenciais e

estruturais, além de não apresentar resultados eficazes, alimentavam a “indústria da seca”. A

partir da segunda metade do século XX, em 1956, foi criado o Grupo de Trabalho para o

Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), objetivando a realização de estudos socioeconômicos

para o desenvolvimento do Nordeste. Em 1959, com a criação da Superintendência de

10

No século XIX se destacavam quatro soluções aos problemas da seca: “[...] a solução hidráulica (açudagem), a

solução florestal (reflorestamento), a cultura científica do solo (dry-farming) e a abertura de estradas. A principal

delas, a solução hidráulica, pela açudagem e irrigação, era defendida como a capacidade humana de modificar as

condições naturais inóspitas, ou seja, como solução direta dos problemas das secas [...].” (PONPEU

SOBRINHO, 1982 apud SILVA, R., 2007, p. 473, grifo do autor).

11

Inicialmente, foi criado como Inspetoria de Obras Contra as Secas - IOCS através do Decreto 7.619 de 21 de

outubro de 1909, se constituindo como o primeiro órgão, federal, a estudar a problemática do semiárido.

Posteriormente, passou a ser Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS, em 1919, através do Decreto

13.687. Passando a receber sua denominação atual em 1945, através do Decreto-Lei 8.846, de 28/12/1945; se

transformado em autarquia federal, através da Lei n° 4229, de 01/06/1963. Nesse contexto, o DNOCS se

configura como a instituição federal mais antiga com atuação no Nordeste. De 1909 até por volta 1959, se

constituía, praticamente, como a única agência governamental federal executora de obras de engenharia na

região. Com a construção de açudes, estradas, pontes, portos, ferrovias, hospitais e campos de pouso,

implantação de redes de energia elétrica e telegráficas, usinas hidrelétricas. Sendo o único responsável e

socorrista da população flagelada pelas secas na região, até a criação da SUDENE. Promoveram diversos

estudos, topográficos, geológicos, fisiográficos, hidráulicos, hídricos, botânicos e sociológicos, contribuindo para

um grande acervo de conhecimento sobre o semiárido nordestino. Disponível em:

<http://www.dnocs.gov.br/php/comunicacao/registros.php?f_registro=2&>. Acesso em: 29 set. 2014.

43

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)12

, é que há um maior esforço para a mudança nas

ações governamentais do Nordeste. Nas décadas de 1950 e 1960, houve a busca pela

integração regional voltada para o desenvolvimento nacional, com reinvindicações ao

Governo Federal para o desenvolvimento regional do Nordeste. Nesse contexto, as políticas

oficiais passaram a visar pela modernização econômica e tecnológica das atividades

produtivas como solução à seca no Semiárido (SILVA, 2007).

Na década de 1970, a implantação de polos de modernização agrícola e pecuária passou

a permear as políticas governamentais no sertão, com a implantação da agricultura irrigada,

especializada na fruticultura para exportação. Mas, a condição de pobreza ainda se

configurava em calamidade nos períodos de estiagem e a economia continuava tradicional e

estagnada na maior parte do Semiárido. Outra problemática era a ambiental, com a crescente

desertificação e poluição de suas bacias hidrográficas. Assim, a partir da década de 1980, num

âmbito de redemocratização da sociedade brasileira, passou-se a buscar novas alternativas

para o desenvolvimento do Semiárido, através de propostas e projetos formulados de diversos

campos da sociedade, baseadas na noção de que se deve e se pode conviver com a seca na

região semiárida e que o combate à seca já não era uma alternativa, assim, as ações

governamentais passaram também a atuar com o conceito de sustentabilidade (SILVA, 2007).

Nesse contexto, a intervenção governamental no Semiárido, também seguiu um enfoque

fragmentado e reducionista, ao seguir a ideia de que a falta de água provocada pela seca era o

principal problema a ser solucionado, mas na verdade, o que se sabe é que o maior problema

no abastecimento de água, não se dá somente através da falta de chuva, mas, também da má

distribuição ou concentração espacial da água acumulada13

(SILVA, 2007).

12 A SUDENE foi criada em 15 de dezembro de 1959, através da Lei n° 3692, no governo do Presidente

Juscelino Kubitschek, para promover o desenvolvimento nacional, até então concentrado nas Regiões Sudeste e

Sul; representando um marco para o desenvolvimento das Regiões Nordeste e, em seguida, da Amazônia. A

extinção da SUDENE e criação da Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE) se deu através da

Medida Provisória nº 2.146-1 de 04 de maio de 2001, para dar continuação às políticas de desenvolvimento,

iniciada pela antiga pela SUDENE. Disponível em: <http://www.sudene.gov.br/sudene>. Acesso em: 29 set.

2014.

13 Assim, desde o início, as ações governamentais destinadas ao combate à seca e aos seus efeitos foram

apropriadas pelas oligarquias sertanejas; tirando proveito da ajuda aos flagelados Foi o que ocorreu com as

infraestruturas de armazenamento da água de chuva, construída ao longo dos séculos, sobretudo, açudes,

transformando o semiárido brasileiro em uma das regiões mais açudadas do planeta, pelo DNOCS e SUDENE,

não democratizando a água, nem acabando com os problemas da seca, mas, ao menos amenizando os seus

efeitos. Apesar de a açudagem passar por sérios problemas diante do clima semiárido, devido à alta taxa de

evaporação (MALVEZZI, 2007).

44

2.4.2.3. Paradigma atual: a Convivência com o Semiárido

Silva (2007) tentou demonstrar em seu estudo que há relações “[...] entre as concepções

e políticas no „Semi-árido‟ (sic), com paradigmas globais que orientam o debate sobre o

desenvolvimento.” (SILVA, R., 2007, p.468).

A ideia de convivência com o Semiárido, como já foi exposto, surgiu em meados do

século XX, em um contexto de tomada de consciência global, acerca do meio ambiente, ou

seja, no âmbito da busca pela sustentabilidade, portanto, está pautado no desenvolvimento

sustentável14

; elevando, como nunca, as discussões a respeito do Semiárido e a seca,

desfazendo, assim, uma série de mitos, como o da fome, que não é causada unicamente pela

estiagem, mas, se encontra nos sistemas econômicos e sociais. Esse novo paradigma emerge,

não no âmbito governamental, mas no campo de organizações da sociedade civil e órgãos

públicos de pesquisa e extensão, que atuam no semiárido formulando propostas e políticas

públicas na região (SILVA, 2007).

Um dos grandes expoentes da convivência com o Semiárido é a Articulação do

Semiárido (ASA), uma organização não governamental (ONG), atuando na implementação de

ações integradas; na conservação, uso sustentável e recomposição dos recursos naturais; no

acesso a terra, a água e a outros meios de produção para a população menos abastada; e na

difusão de tecnologias apropriadas no Semiárido, para a convivência com o mesmo (SILVA,

2007). Nesse âmbito, surgiu através da ASA, com 40 tecnologias sociais, os projetos “Um

Milhão de Cisternas (P1MC)” e “Uma Terra e Duas Águas (P1+2)” (MALVEZZI, 2007).

Portanto, a convivência com o semiárido, baseia-se em compreender como o clima

funciona e adequar-se a ele, de forma inteligente. Através, sobretudo, da estocagem de bens,

principalmente, a água, nos períodos chuvosos, com a utilização de uma série de tecnologias

sociais, cuja principal delas é a cisterna (MALVEZZI, 2007).

Assim, a ideia de convivência preza a valorização do local, da diversidade cultural e do

resgate das identidades e territórios, cujas soluções têm que partir do lugar. Configura-se,

portanto, como um processo endógeno, que faz parte de uma ação contínua de aprendizagem

que os próprios sertanejos vêm desenvolvendo ao longo dos séculos, mas que veio passando

14 Embasada no desenvolvimento sustentável do Semiárido com geração de políticas públicas apropriadas, que

visem à ruptura da concentração de terra, água, poder e o acesso aos serviços sociais básicos. Articulando as

dimensões social (superação da pobreza e acesso aos bens e serviços públicos), cultural (educação

contextualizada à realidade local), econômica (geração de emprego e renda através de alternativas de produção

sustentáveis e adequadas as condições edafoclimáticas), ambiental (recuperação e conservação dos ecossistemas

da região) e política (fortalecimento da sociedade civil e sua participação na formulação de políticas públicas)

(SILVA, 2007).

45

por sérios obstáculos, como uma agricultura inadequada, péssimas condições de trabalho e de

geração de renda, e assim a perpetuação da pobreza. É preciso então, que com as novas

alternativas que estão sendo geradas, buscassem para a população sertaneja, melhorias nas

condições de vida, tanto nas condições de trabalho quanto de renda.

2.4.2.4. Seca e suas consequências ao meio ambiente, à população rural e à agropecuária

O processo de ocupação do Semiárido ligado à falta de conhecimento sobre o mesmo

levou à adoção de práticas agropecuárias inadequadas, acarretando assim, em sérios danos

ambientais, como a desertificação15

. Apesar dos fenômenos da seca e da desertificação serem

fenômenos distintos, estão comumente associados, pois a seca ocorre frequentemente em

áreas afetadas pela desertificação, agravando ainda mais a mesma (BRASIL, 2005). Nesse

contexto, vale salientar que Caicó, onde se localiza nosso objeto de estudo, segundo o Plano

Nacional de Combate à Desertificação – PNCD, está inserido em área susceptível à

desertificação em categoria Muito Grave (INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO NORTE, 2008;

MASCARENHAS, 2005).

Sendo extremamente relevante deixar claro que a seca abrange, não somente a dimensão

climática, mas, através dos seus efeitos, sobretudo, as dimensões sociais, econômicas e

políticas. Tais efeitos são sentidos notoriamente, em sua maioria, pelos setores mais

vulneráveis da população, especialmente os pequenos produtores e agricultores familiares.

Essa vulnerabilidade advém não somente das irregularidades climáticas do Semiárido

nordestino, mas, sobretudo, dos fatores socioeconômicos e políticos que geram a desigualdade

(MORRISON, 2010).

No período de ocorrência da seca, a vulnerabilidade climática vem à tona.

Historicamente, seus efeitos tomam maiores proporções nas populações rurais mais pobres, a

falta de água era o principal problema tanto para o consumo humano, quanto para a

agropecuária, com sua debilitação ou dizimação. A sobrevivência dos contingentes

15

Além das secas, a degradação das terras nas zonas áridas, “semi-áridas” (sic) e subúmidas secas, chamada de

desertificação, é resultante de vários fatores, incluindo aqueles causados por variações climáticas e atividades

humanas, sendo que esta última diz respeito, principalmente, ao uso inadequado dos recursos naturais, v.g. solo,

água e vegetação. (BRASIL, 2005, p. 03, grifo do autor).

46

populacionais do semiárido dependia ora das políticas oficiais de socorro, ora da emigração

para outras regiões ou áreas urbanas da própria região.

Segundo Duarte (2004), as secas periódicas, só assumem dimensões de calamidade

pública, principalmente, devido à situação de pobreza da maioria dos seus habitantes, que

além dos fatores geográficos, decorre, sobretudo, da grande concentração fundiária, que tem

raízes profundas no Nordeste, além da instabilidade proveniente do trabalho assalariado

temporário. A qualidade dos solos impede o desenvolvimento da agropecuária em pequenas

áreas, não permitindo que as famílias rurais pudessem formar um excedente econômico que as

ajudassem nos períodos de seca. Assim, com uma atitude conformista e de impotência, se

limitavam a esperar a ajuda do governo, como as frentes de trabalho. As secas ocorrem

ciclicamente, mas as medidas oficiais do governo, historicamente, não apresentaram

consistência e continuidade.

Porém, há muito tempo, que não se pode mais atribuir à seca a culpa por todos os

problemas da região, como os baixos índices de desenvolvimento humano. Esses problemas

também se devem a débil economia, a baixa produtividade e a falta de integração com os

mercados. Os períodos de estiagem ou a insuficiência de chuva em determinado local podem

impedir ou limitar o desenvolvimento de culturas agrícolas de subsistência ou a criação dos

rebanhos, assim como, na falta de água para uso e consumo humano. Portanto, as

desigualdades sociais até hoje evidenciadas, são a causa da reprodução secular prolongada da

condição de miséria, que impossibilita a resistência do sertanejo nos períodos de seca.

(SILVA, 2007).

“Por isso, ao longo da história, a pobreza e miséria no „Semi-árido‟ (sic) foram

relacionadas com a ocorrência das secas. As interpretações desse fenômeno natural e

de suas „conseqüências‟ (sic) para a produção e a população local, omitiram os

aspectos estruturais do modo de ocupação do espaço, de exploração dos recursos

naturais e de subordinação da população.” (SILVA, 2007, p. 471).

Do ponto de vista agrícola, a irregularidade da pluviosidade, não significa

necessariamente a falta de chuva, mas sim, a distribuição irregular da chuva durante o período

de cultivação e maturação das lavouras. Portanto, devido a essa irregularidade espacial e

temporal da chuva, tanto será maléfico a escassez de água quanto à superabundância para a

agricultura, gerando assim a perda de safra. Outra face desse fenômeno climático é quando a

quantidade de precipitação é suficiente para florescer a vegetação da caatinga, mas não é

suficiente para garantir boas safras na agricultura, denominando-se essa combinação de seca

47

verde. Porém, a seca verde também pode ocorrer em períodos de boas colheitas, isso se dá

quando as reservas hídricas não são reabastecidas suficientemente (MORRISON, 2010).

Devido o semiárido nordestino ser propenso à secas e chuvas irregulares, fatores estes

que exercem influência na sociedade e na produção agrícola, e com a crise das atividades

econômicas comerciais tradicionais do algodão e da pecuária, como alternativa, sua economia

passou a se caracterizar mais pela produção de subsistência (SILVA, 2007).

Portanto, a seca foi estereotipada como um fenômeno cíclico da natureza, impregnando

a mentalidade dos sertanejos, em que nada poderia ser feito para acabar com os seus efeitos, e

que todos os problemas eram causados por ela. As pessoas desenvolveram habilidades para

lidar com as situações de estiagem. Apesar dos esforços acadêmicos e das ações

governamentais em minimizar os efeitos da seca, através de soluções baseadas na ciência e

tecnologia, ainda não conseguiram chegar à raiz do problema e acabar com a desigualdade,

que é de base sócio espacial. É mais um problema político, com a falta de políticas públicas

adequadas, sobretudo, às destinadas a combater ou minimizar a vulnerabilidade dos pequenos

agricultores (MORRISON, 2010).

“Os impactos sociais provocados pela seca [...] podem ser compreendidos como uma

convergência das irregularidades climáticas do „semi-árido‟ (sic), a persistência de

desigualdades imensas na estrutura socioeconômica, e a deficiência de políticas

públicas adequadas.” (MORRISON, 2010, p. 165).

Apesar do que foi exposto, atualmente, esse quadro de descaso com a população frente

aos períodos de estiagem, vem se modificando e as políticas vêm se voltando mais para esse

quadro, permitindo que a população possa conviver melhor com a seca de um modo mais

tolerável, ao menos do ponto de vista do acesso à água, citando, como exemplo, os programas

P1MC e P1+2.

48

3. POLÍTICAS PÚBLICAS

Há na literatura especializada, o consenso de que o conceito de política pública é

arbitrário e apresenta muitas divergências conceituais. Assim, existe a preferência de se

estudar políticas públicas segundo modelos e abordagens.

O papel do Estado veio sofrendo diversas transformações ao longo do tempo, seu

principal objetivo nos séculos XVIII e XIX, por exemplo, era assegurar a segurança pública e

a defesa externa contra os inimigos. Com o firmamento da democracia, houve a diversificação

das suas funções, cuja principal passou a ser promover o bem-estar da sociedade. Para isso

atua em diferentes áreas, como saúde, educação e meio ambiente, desenvolvendo diversas

ações. O instrumento do governo para garantir o bem-estar social são as Políticas Públicas

(CALDAS, 2008).

Os estudos sobre políticas públicas surgiram na Europa, com estudos e pesquisas

tradicionais que se concentravam especialmente na análise sobre a ação do Estado e,

secundariamente, em suas instituições, sobretudo, o governo. Já Políticas Públicas, enquanto

área de conhecimento e disciplina acadêmica nasce nos Estados Unidos, entre os anos 1960 e

1970, como subárea da Ciência Política, pautada na ação dos governos (SOUZA, C., 2006).

Na área de políticas públicas, Souza C. (2006) considerou como fundadores: H.

Laswell, H. Simon, C. Lindblom e D. Easton.

Nesse contexto, a partir da década de 1960, passou a haver um novo e crescente

interesse pelo estudo das políticas públicas, isso se deu em um âmbito de desenvolvimento do

Estado de Bem Estar Social nos países industrializados e os esforços desenvolvimentistas na

periferia. Essas transformações abarcaram uma série de processos políticos, sociais e

econômicos, que acabaram resultando no advento de um novo campo de investigação social: a

análise de políticas públicas (FLEXOR; LEITE, 2006).

Quanto aos fatores que resultaram no ressurgimento da importância do campo de estudo

das políticas públicas, o primeiro fator foi da adoção de políticas restritivas de gasto, que

deram maior visibilidade tanto as políticas públicas ditas econômicas quanto as sociais, e

passaram a dominar a agenda da maioria dos países, sobretudo, os em desenvolvimento. O

segundo fator, foi a redefinição do papel dos governos, com a substituição das políticas

keynesianas do pós-guerra por políticas restritivas de gasto; que passaram a dominar as

agendas a partir da década de 1980. E o terceiro fator, foi que na maioria dos países,

sobretudo, os em desenvolvimento da América Latina, ainda não havia a formação de

coalizões políticas capazes de programar políticas públicas que impulsionassem o

49

desenvolvimento econômico e promovessem a inclusão social da maioria da sua população

(SOUZA, C., 2006).

Souza C. (2006) define política pública como:

“[...] o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, „colocar o governo em

ação‟ e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor

mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). A formulação de

políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem

seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão

resultados ou mudanças no mundo real.” (SOUZA, C., 2006, p. 26).

Para Caldas (2008, p. 05):

“[...] as Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos

(nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade

e o interesse público. [...] as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou os

tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles entendem

serem as demandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar da sociedade

é sempre definido pelo governo e não pela sociedade.”

Flexor e Leite (2006) explicitam que o termo políticas públicas, nem sempre significa

as políticas do Estado, podem incluir ações públicas oriundas de instituições não

governamentais e movimentos sociais, por exemplo. Um exemplo de políticas públicas não

governamentais seria o Programa Um Milhão de Cisternas, para a construção de cisternas na

região Nordeste, pela ASA, que congrega mais de mil organizações não ligadas ao setor

público, ligadas ao paradigma da convivência com a seca.

Segundo o modelo heurístico das sequências proposto por Jones, um dos modelos mais

conhecidos de compreensão do que vem a ser uma política pública (FLEXOR; LEITE, 2006),

o processo de formulação das Políticas Públicas, passa por cinco fases interligadas: a primeira

fase é a formação da Agenda (Seleção das Prioridades); a segunda é a formulação de Políticas

(Apresentação de Soluções ou Alternativas); a terceira é o processo de tomada de decisão

(Escolha das Ações); a quarta fase é a Implementação (ou Execução das Ações) e a quinta

fase é a Avaliação16

(CALDAS, 2008).

16 A primeira fase é a formação da Agenda (Seleção das Prioridades), caracterizada pela definição da lista dos

principais problemas da sociedade que serão inseridos na Agenda Governamental, envolvendo diversos atores,

mas isso não indica que ela será tratada como prioritária, pois envolve o processo orçamentário. A segunda fase

é a formulação de Políticas (Apresentação de Soluções ou Alternativas), onde se definem as linhas de ação que

serão adotadas para solucionar os problemas inseridos na Agenda; definir qual o objetivo da política, os

programas desenvolvidos e as metas almejadas, havendo assim a rejeição de várias propostas de ação. O

formulador também tem que se reunir com os atores envolvidos na área ou setor onde ela será implantada e ouvir

suas contribuições. A terceira fase é o processo de tomada de decisão (Escolha das Ações), durante todo o ciclo

de Políticas Públicas tomam-se decisões; mas nessa fase se escolhe as alternativas de ação/intervenção aos

50

Ao Governo cabe, majoritariamente, a definição e implementação das políticas públicas,

mas, também conta com a participação da sociedade e grupos de interesse. Sendo

imprescindível a participação da população junto às tomadas de decisão do poder público na

criação dessas políticas (ABREU; MAYORGA, 2010; SOUZA, C., 2006). Assim, “[...] as

Políticas Públicas são o resultado da competição entre os diversos grupos ou segmentos da

sociedade que buscam defender (ou garantir) seus interesses.”17

(CALDAS, 2008, p. 07).

As Políticas Públicas são definidas no Poder Legislativo; do Poder Executivo saem suas

propostas e as ordens de execução. Aos servidores públicos cabem informar nas tomadas de

decisão dos políticos e operacionalizar as Políticas Públicas definidas (CALDAS, 2008).

Segundo Alston et al. (2004 apud FLEXOR; LEITE, 2006, p. 5-6), no Brasil “[...] as

políticas podem ser explicadas pelos padrões de interação entre o Presidente da República, os

membros do Congresso e os demais atores capazes de interferir nesse jogo [...].” Assim,

estabeleceu-se uma hierarquia de acordo com as preferências, onde cada ator envolvido

apresenta algum poder de veto. Contudo, o Presidente, considerando o grau de sucesso das

políticas estratégicas, decidirá quais políticas residuais serão desenvolvidas, ficando sob a

dependência de sua viabilidade orçamentária e da dinâmica legislativa (ALSTON et al., 2004

apud FLEXOR; LEITE, 2006).

“No topo da agenda encontram-se as políticas que contribuam para fortalecer a

estabilidade macroeconômica e o crescimento. Num nível inferior estariam políticas

promovendo oportunidades econômicas e em seguida políticas visando a redução da

pobreza. Os deputados e senadores, [...], tendem a privilegiar políticas (setoriais,

econômicas ou sociais) que trazem recursos para seus eleitores potenciais. Em

função das diversas preferências, os poderes Executivo e Legislativo procuram

problemas definidos na Agenda. Definem-se também os recursos e o prazo temporal de ação da política. Essas

escolhas passam a ser expressas, por exemplo, em leis, decretos, normas, resoluções. Também se planejará como

o processo de tomada de decisões será dado, ou seja, qual o procedimento a se seguir, quais os participantes do

processo e se este será aberto ou fechado. A quarta fase é a Implementação (ou Execução das Ações), é a fase

onde o planejamento e a escolha são transformados em atos. A execução da política é feita pelo corpo

administrativo, cabendo a eles a chamada ação direta, ou seja, a aplicação, o controle e o monitoramento das

medidas. Também podem modificar a política durante essa fase. “Estudiosos apresentam dois modelos de

implementação das Políticas Públicas; o de Cima para Baixo (que é a aplicação descendente [...], do governo

para a população) e o de Baixo para Cima (que é a aplicação ascendente ou da população para o governo).”

(CALDAS, 2008, p. 15). E a quinta fase é a Avaliação, pode e deve ser aplicada durante todo o ciclo, servindo

para apontar erros e sucessos; buscando levar em conta os impactos e as funções realizadas, determinar sua

relevância, analisar a eficiência, eficácia e sustentabilidade das ações desenvolvidas e contribuir para o

aprendizado dos atores públicos (CALDAS, 2008).

17 Os Atores que faram parte da discussão, criação e execução das Políticas Públicas, são do tipo estatal

(provenientes do Governo ou do Estado); ou privado (provenientes da Sociedade Civil). A sociedade cabe

apenas fazer solicitações das suas demandas, através de grupos organizados ou do que se coube chamar de So-

ciedade Civil Organizada (SCO) (sindicatos, entidades de representação empresarial, associação de moradores,

associações patronais e ONGs), para os seus representantes políticos. É através dessas diferentes demandas da

população e dos grupos que se forma o “interesse público”. Ao formulador de políticas públicas cabe o papel de

selecionar as demandas mais relevantes e prioritárias (CALDAS, 2008).

51

estabelecer relações que sejam benéficas a ambos. Assim, o foco do titular do

governo está nas políticas macro (fiscal e monetária) e para alcançá-las pode utilizar

políticas setoriais como moeda de troca no intuito de garantir votos no legislativo.

Uma vez arbitrada essa questão, emergem as políticas de educação e saúde (com

recursos mais ou menos fixos e difíceis de serem alterados) e por último as políticas

„residuais e mais ideológicas‟ como reforma agrária e meio ambiente.” (ALSTON et

al., 2004 apud FLEXOR; LEITE, 2006, p. 5-6).

Após essas explanações em torno das definições sobre políticas públicas, abordaremos

considerações em referência às políticas públicas no meio rural, assim como, algumas

políticas relevantes.

3.1. POLÍTICAS PÚBLICAS NO MEIO RURAL

Flexor e Leite (2006) apontam como uma das principais explicações sobre o caráter

residual das políticas agrícolas e rurais no Brasil, nas agendas governamentais, pelo Poder

Executivo, a pouca preferência nessa área, o baixo nível de conhecimento empírico sobre sua

realidade agrícola e rural e as dificuldades de adaptação organizacional das várias estruturas

administrativas.

Assim, no Brasil, antes da década de 1990, era a política agrícola a mais valorizada,

devido à modernização agrícola e o agronegócio. As políticas públicas voltadas para o meio

rural surgiram com mais eficiência a partir da década de 1990, após a chamada “década

perdida” dos anos 80, e a crise financeira e ambiental, quando o Governo e agências

internacionais de desenvolvimento e de cooperação, passaram a dar mais importância ao meio

rural no mundo, levando em conta, tanto suas características e importância, quanto suas

diferenças e desigualdades, com iniciativas voltadas para programas de desenvolvimento

rural. São as políticas assistencialistas (políticas de fortalecimento da agricultura familiar)

voltadas para as famílias de agricultores, com a abertura do crédito fácil, como o PRONAF

(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), acompanhadas da criação da

moeda REAL, para um fortalecimento da economia nacional (ABREU; MAYORGA, 2010;

AGUIAR, 2011).

Schneider (2010, p. 522) afirma que junto com as políticas públicas como a reforma

agrária, ações de combate à fome (como o Programa Fome Zero) e segurança alimentar,

outras políticas para o novo rural deveriam ser somadas a estas.

52

“Este conjunto de políticas sociais e compensatórias, destinadas a amplos

contingentes da população rural que vivem em condições de pobreza e

vulnerabilidade social (particularmente na região „semi‑árida‟ (sic) do Nordeste),

deveria ser somado às políticas para o novo rural brasileiro, que incluem políticas de

habitação, de turismo rural, valorização das amenidades, de regularização das

relações trabalhistas e de urbanização do rural (serviços, infraestrutura e

planejamento), entre outras. Em seu conjunto, a convergência das políticas para o

„novo‟ rural e para o rural „precário e atrasado‟ comporiam o quadro das ações de

desenvolvimento rural.”

No Brasil, pode se observar um amplo conjunto de programas e políticas voltados para

o rural. A relevância de duas políticas públicas para o meio rural brasileiro, sobretudo, para os

pequenos agricultores familiares, merece destaque, a Previdência Social Rural e o PRONAF:

a) Previdência Social Rural

De acordo com Oliveira et al. (1997, apud BRUMER, 2002, p. 53):

“A previdência social consiste num seguro social, constituído por um programa de

pagamentos, em dinheiro e/ou serviços feitos/prestados ao indivíduo ou a seus

dependentes, como compensação parcial/total da perda de capacidade laborativa,

geralmente mediante um vínculo contributivo.”

Nas décadas de 1930 até a de 1950, as políticas sociais governamentais incluíram quase

todos os trabalhadores urbanos e a maioria dos trabalhadores autônomos, porém deixou de

fora da cobertura algumas categorias profissionais: os trabalhadores rurais, as empregadas

domésticas e os profissionais autônomos. A exclusão dos trabalhadores rurais se deu através

do conformismo rural, que perdurou até meados da segunda metade da década de 1950. Já a

exclusão das outras categorias, se deveu a dificuldade de organização das demandas de

profissionais caracterizados pela fragmentação e dispersão (BRUMER, 2002).

Somente a partir da década de 1960, houve a inserção dos trabalhadores rurais na

cobertura previdenciária. Através da criação do Estatuto do Trabalhador Rural, em 2 de março

de 1963, que regulamentou os sindicatos rurais, instituiu a obrigatoriedade do pagamento do

salário mínimo aos trabalhadores rurais e criou o Fundo de Assistência e Previdência do

Trabalhador Rural - FAPTR, posteriormente denominado de FUNRURAL, em 1969.

Consequentemente, a cobertura previdenciária aos trabalhadores rurais não se concretizou,

pois os recursos para sua efetivação, tanto financeiros quanto administrativos, não foram

previstos na legislação. A Constituição de 1988 passou a abarcar o acesso das mulheres na

previdência social rural, e estabeleceu as idades de recebimento do benefício: 55 anos para as

53

mulheres e 60 anos para os homens (BRUMER, 2002). Essa política foi de extrema

importância para o meio rural, onde o trabalhador rural passou a ser reconhecido e

beneficiado, social e economicamente.

b) Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)

A modernização agrícola no Brasil só se intensificou a partir da criação do Sistema

Nacional de Crédito Rural (SNCR), de 1965, que tinha como objetivo principal, dentre outros,

propiciar aos agricultores e as agroindústrias linhas de crédito acessíveis e baratas, para

viabilizar o investimento e a modernização do setor agrícola. Com o descontentamento

generalizado e com a crise da economia brasileira e mundial na década de 1980, a chamada

“década perdida”, esse modelo desenvolvimentista entra em declínio, e com ele o fim do

crédito rural subsidiado, principal pilar da modernização do setor, pelo Estado. Assim, até a

década de 1990 não havia uma linha de crédito específica para a agricultura familiar, nem

esse termo era empregado. A partir daí, num âmbito de reivindicações na pauta da política

agrícola pelo setor rural e sindicalista, foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (PRONAF), em 28 de junho de 1996, pelo Governo Federal, através do

Decreto Nº. 1.946, como um instrumento para atender as necessidades e a sustentabilidade

das famílias rurais, se propondo a promover o desenvolvimento da agricultura familiar a partir

do oferecimento de crédito rural (MERA; DIDONET, 2010).

De acordo com Flexor e Leite (2006) o PRONAF se configura como uma política

diferenciada de crédito. Segundo Abreu e Mayorga (2010, p. 08) “O PRONAF é a primeira

política pública totalmente voltada em favor dos agricultores familiares brasileiros, que

também pode ser percebida a geração de empregos com tal ajuda do Governo.”

Portanto, a importância do PRONAF consiste na consolidação do termo agricultura

familiar; no acesso fácil a créditos aos pequenos produtores rurais, antes mais restritos aos

grandes produtores com lógica modernizadora; por ser um programa nacional que abrange

todos os municípios brasileiros e por conter diversas modalidades de custeio, investimento e

serviços. Embora também apresente falhas, sobretudo, em seu início, quando poucos foram

beneficiados, dentre estes apenas os agricultores familiares com mais renda e relações

comerciais, sobretudo, os ligados a agroindústria. E por se concentrar mais na região sul,

apesar de ser um programa nacional (MERA; DIDONET, 2010).

Além das políticas públicas citadas, existem outras que atingem diretamente a zona

rural (ver Quadro 1).

54

Quadro 1 – Políticas Públicas e suas áreas de atuação

ÁREA DA

POLÍTICA

NOME DA

POLÍTICA MINISTÉRIO CARACTERÍSTICAS

Educação

Movimento

Brasileiro de

Alfabetização

(MOBRAL)

Ministério da Educação e Cultura

(MEC), atualmente, Ministério da

Educação (MEC)

Criado pela Lei número 5.379, de 15 de

dezembro de 1967, durante o governo

militar, e extinto em 1985. O modo de

ensino era controlado e ditado pelos

militares. Objetivava erradicar o

analfabetismo no Brasil a curto prazo,

através da alfabetização e letramento

para as pessoas acima da idade escolar

convencional.

Programa de

Erradicação do

Trabalho Infantil

(PETI)

Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (MDS)

Criado em 1996, integra hoje o Plano

Brasil Sem Miséria. Objetiva a retirada

de crianças e adolescentes com idade

inferior a 16 anos, do trabalho precoce,

inserindo-os em atividades

socioeducativas. Também compreende a

transferência de renda, prioritariamente

por meio do Programa Bolsa Família, o

acompanhamento familiar e serviços

socioassistenciais.

Programa

Nacional de

Alimentação

Escolar (PNAE)

Ministério da Educação (MEC)

Implantado em 1955, para promover o

acesso à oferta da alimentação escolar e

de ações de educação alimentar e

nutricional. Para os alunos de toda a

educação básica (educação infantil,

ensino fundamental, ensino médio e

educação de jovens e adultos).

Programa Brasil

Alfabetizado

(PBA)

Ministério da Educação (MEC)

Criado em 2003, integra hoje o Plano

Brasil Sem Miséria. Objetiva promover

a alfabetização de jovens a partir de 15

anos, adultos e idosos. Através do apoio

e financiamento dos projetos de

alfabetização. Priorizando as famílias

extremamente pobres e as que são

beneficiárias do Programa Bolsa

Família.

Programa Mais

Educação Ministério da Educação (MEC)

Instituído pela Portaria Interministerial

nº 17/2007; integra o Plano Brasil Sem

Miséria. Com recursos financeiros do

Programa Dinheiro Direto na Escola

(PDDE), repassados pelo Fundo

Nacional de Desenvolvimento da

Educação (FNDE). Promovendo a

educação em tempo integral em escolas

da rede pública, com uma jornada de no

mínimo 7 horas diárias. Priorizando

escolas que possuam mais da metade de

seus alunos como beneficiários do Bolsa

Família.

Programa

Nacional de

Acesso ao Ensino

Técnico e

Emprego

(PRONATEC)

Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (MDS)

Criado em 2011 pelo Governo Federal,

integra o Plano Brasil Sem Miséria.

Objetivando a ampliação da oferta de

cursos de educação profissional e

tecnológica; de forma gratuita.

55

Segurança

alimentar

Programa (Plano)

Fome Zero

ENVOLVE TODOS OS

MINISTÉRIOS

Lançado em 2003. Objetivou a

promoção da segurança alimentar e

retirada das famílias da situação de

extrema pobreza. Abarcando diversos

programas, organizados a partir de

quatro eixos articuladores de proteção e

promoção social: ampliação do acesso

aos alimentos (Programa Bolsa Família

– PBF, Programa Nacional de

Alimentação Escolar – PNAE, Rede de

Equipamentos Públicos de Alimentação

e Nutrição (Restaurantes Populares,

Cozinhas Comunitárias, Bancos de

Alimentos), Cisternas de Água, entre

outros), fortalecimento da agricultura

familiar (Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar

- PRONAF (financiamento e seguro),

Programa de Aquisição de Alimentos),

geração de renda, articulação,

mobilização e controle social.

Programa Bolsa

Família (PBF)

Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (MDS)

Instituído pela Lei 10.836/2004 e

regulamentado pelo Decreto nº

5.209/2004, integra hoje o Plano Brasil

Sem Miséria. Configura-se como um

programa de transferência direta de

renda, beneficiando famílias em

situação de pobreza e de extrema

pobreza em todo o país. Garantindo

uma quantia mensal às famílias

beneficiadas e condicionando na

educação.

Bolsa Estiagem Ministério da Integração Nacional

(MI)

Instituído pela Lei Nº 10. 954, de 29 de

setembro de 2004, configura-se como

um Auxílio Emergencial. Um auxílio

financeiro de quatrocentos reais,

divididos em até cinco parcelas de

oitenta reais, por meio do cartão de

pagamento do Bolsa Família ou do

Cartão Cidadão, para aos agricultores

familiares residentes nos municípios em

situação de emergência ou calamidade

pública reconhecida pelo Governo

Federal.

Habitação

Programa Minha

Casa Minha Vida

(PMCMV)

Ministério das Cidades

(MCidades)

Lançado em 2009, integra o Plano Brasil

Sem Miséria. É operacionalizado pela

CAIXA, com recursos do Fundo de

Arrendamento Residencial (FAR).

Baseia-se, sobretudo, na aquisição e

alienação de imóveis urbanos por

famílias que possuem renda familiar

mensal de até R$ 1.600,00.

Programa

Nacional de

Habitação Rural

(PNHR)

Ministério das Cidades

(MCidades)

Lançado em 2009, foi criado no âmbito

do PMCMV, sendo operacionalizado

pela CAIXA, objetiva subsidiar a

reforma ou construção de habitações

para agricultores familiares e

trabalhadores rurais com renda familiar

bruta anual até 15 mil reais.

Programa de Coordenado pelo Ministério do Instituído pelo artigo 19 da Lei

56

Agricultura

Aquisição de

Alimentos (PAA)

Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS), também

é composto pelo Ministério da

Educação; Ministério do

Desenvolvimento Agrário;

Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento;

Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão; e Ministério

da Fazenda.

10.696/2003, integra hoje o Plano Brasil

Sem Miséria. Atua com quatro

modalidades (Compra Direta, Apoio a

Formação de Estoque, PAA Leite e

Compra com Doação Simultânea).

Tendo como objetivo a aquisição de

alimentos, em grande parte, da

agricultura familiar, disponibilizando

esses alimentos as pessoas em situação

de insegurança alimentar e nutricional

assistidas pela Rede de Proteção e

Promoção Social.

E também a Grupos Populacionais

Específicos (indígenas, quilombolas,

comunidades de terreiros, atingidos por

barragens, acampados aguardando

reforma agrária e pescadores artesanais).

Programa

Nacional de

Fortalecimento da

Agricultura

Familiar

(PRONAF)

Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA)

Criado em 28 de junho de 1996, através

do Decreto Nº. 1.946, pelo Governo

Federal. Objetivando facilitar o acesso

ao crédito aos agricultores familiares,

através de diversas modalidades.

Voltados

para a

estiagem

Programa Um

Milhão de

Cisternas (P1MC)

Em 2001, firmou-se convênio com

o Ministério do Meio Ambiente

(MMA). Em 2003, passou a fazer

parte do Ministério do

Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS)

Uma das ações do Programa de

Formação e Mobilização Social para a

Convivência com o Semiárido da ASA,

iniciou-se em 2001, financiado pelo

Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Em 2003, passou a ser política pública.

Objetivando beneficiar o acesso à água

potável através da construção de

cisternas de placa às famílias que não

tem acesso ao abastecimento de água e

residam permanentemente na zona rural.

Programa Uma

Terra e Duas

Águas (P1+2)

Uma das ações do Programa de

Formação e Mobilização Social

para Convivência com o Semiárido

da ASA em parceria com o

Ministério do Desenvolvimento

Social (MDS)

Surgiu em 2007, objetivando o acesso e

manejo sustentáveis da terra e da água

para produção de alimentos para os

agricultores familiares. Atuando com

sete tipos de tecnologias: cisterna-

calçadão, cisterna-enxurrada, barragem

subterrânea, barreiro-trincheira,

barraginha, tanque de pedra e bomba

d‟água popular.

Programa Água

para Todos

Ministério da Integração Nacional

(MI)

Instituído pelo Decreto nº 7.535, de 26

de julho de 2011; integra o Plano Brasil

Sem Miséria. Objetiva promover o

acesso e uso de água para populações

rurais dispersas ou em situação de

extrema pobreza; que tenham pouco ou

nenhum acesso aos serviços de

abastecimento de água. Através da

instalação de cisternas de consumo;

cisternas de produção; sistemas

coletivos de abastecimento de água; kits

de irrigação e pequenas barragens.

Fonte: ASA BRASIL, 2014; BRASIL, C., 2005; CAIXA, 2014; FNDE, 2014; MDS, 2014; MEC, 2014;

MENEZES; SANTARELLI, 2013.

57

4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Nesta parte do trabalho será realizada uma breve caracterização da área de estudo. Em

um primeiro momento, abordaremos o histórico de ocupação da comunidade Barra da

Espingarda, zona rural do município de Caicó/RN, onde se resgatará os principais aspectos

históricos, como a origem do nome, as condições de moradia, o processo de ocupação, as

principais atividades agropecuárias desenvolvidas e algumas tendências migratórias da

população. E em um segundo momento será ressaltado os elementos naturais que predominam

no município e consequentemente na área de estudo, como o clima, a formação vegetal, o

relevo, a geologia, a geomorfologia e a hidrografia.

4.1. HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO

O município de Caicó está localizado no estado do Rio Grande do Norte, na região

Nordeste do Brasil. Situado na área de abrangência da mesorregião Central Potiguar e na

microrregião do Seridó Ocidental. Nas coordenadas geográficas: 6º 27‟ 30” de latitude Sul e

37º 05‟ 52” de longitude Oeste. Numa altitude de 151 metros. A uma distância de 256 km da

capital Natal. É limitada ao Norte por Jucurutu, Florânia e São Fernando; ao Sul por São João

do Sabugi e o Estado da Paraíba; a Leste por São José do Seridó, Cruzeta, Jardim do Seridó e

Ouro Branco e a Oeste por Timbaúba dos Batistas, São Fernando e Serra Negra do Norte

(INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO

GRANDE DO NORTE, 2008; MASCARENHAS, 2005). Segundo o Censo 2010 a cidade de

Caicó apresenta uma área de unidade territorial de 1.228,583 km2; uma população de 62. 709

habitantes, onde o total da população urbana é de 57.461 e o total da população rural é de

5.248; e uma densidade demográfica de 51,0 hab/km2 (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014). De acordo com o Atlas Brasil (2013) o Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que mede o grau da renda, da longevidade e

da educação, é de 0,710, em 2010, ou seja, o município está situado na faixa de

Desenvolvimento Humano Alto (IDHM entre 0,7 e 0,799).

A comunidade Barra da Espingarda situa-se nas coordenadas geográficas: 6º 32‟ 59” de

latitude Sul e 37º 0‟ 43” de longitude Oeste. Localiza-se a leste na zona rural do município de

Caicó/RN (ver Figura 1), a cerca de 15 Km, a montante do açude Itans. Seu acesso se dá pela

58

BR 427, que liga Caicó a Jardim do Seridó, no Km 83 da BR supracitada. Atualmente a

comunidade apresenta uma população estimada em 260 habitantes.

Figura 1: Localização da comunidade Barra da Espingarda, Caicó/RN

Fonte: Diego Emanoel Moreira da Silva, 2015.

Há duas versões relacionadas à origem do nome da comunidade Barra da Espingarda. A

mais conhecida delas é que antigamente existia muita vegetação e bastantes animais, aonde

hoje vem a ser a comunidade e, assim, havia a prática da caça, muito comum naquela época.

Vinham dois caçadores do lado de cima, não se sabe de que direção, mas, cada um trazia uma

espingarda, caçavam ali por perto do riacho. Um dia um dos caçadores perdeu a espingarda no

59

riacho, procuraram e não encontraram, por isso o nomearam de riacho da Espingarda. Eles

continuaram caçando, mas, a caça no local foi diminuindo progressivamente. Tendo como

ponto de referência o riacho, os caçadores começaram a descer pelas suas margens,

encontraram um ponto onde havia o encontro de “duas águas” (o riacho da Espingarda com o

rio Barra Nova), chamado de barra. Então eles juntaram o nome “barra” com “espingarda”, e

deram o nome à comunidade de Barra da Espingarda, pois naquela época a comunidade era

delimitada, praticamente, do riacho até o rio18

.

A segunda versão, contada pelo último morador mais antigo da comunidade, ainda vivo,

é que havia caboclos que moravam pelas redondezas e caçavam no Serrote do Caboclo,

localizado na comunidade Sobradinho que faz fronteira com a comunidade Barra da

Espingarda. Esse Serrote apresenta várias gravuras na rocha, dentre estas havia uma em forma

de espingarda, então eles deram ao riacho o nome de riacho da espingarda. Descendo por suas

margens encontraram, posteriormente, o encontro do riacho com o rio e deram o nome

daquela localidade de Barra da Espingarda19

.

Não foi possível remontar o início do povoamento na comunidade, sabe-se que já havia

famílias morando nessas terras antes da construção do açude Itans. Nesse contexto, seu

povoamento se intensificou a partir da construção do Açude Itans, construído no período de

uma grande seca, tendo início no dia 23 de abril de 1932 e inauguração em 02 de fevereiro de

193620

, embora, já houvessem moradores, devido às possibilidades de oferta de água, terras

para plantio de subsistência, criação de animais e pescado. E também pela concessão de lotes

de terras pelo DNOCS de Caicó, para os agricultores e suas famílias, transformando-os em

rendeiros. Essa concessão de terras é feita apenas com a comprovação de que são agricultores

(atualmente isso se dá através da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP)21

ou por uma

18

Entrevista realizada com Teresinha Aureliana de Freitas, concedida no dia 17 de dezembro de 2013 e com

Geraldo Araújo de Azevedo, concedida no dia 23 de janeiro de 2014.

19 Entrevista com João Saturnino de Oliveira (chamado João Brejeiro, é o último dos moradores mais antigos

ainda vivo, chegou à comunidade Barra da Espingarda em 1946), concedida no dia 24 de setembro de 2014.

20 Entrevista com Luiz Gonzaga de Araújo (morador da comunidade Barra da Espingarda, seu pai foi

desapropriado das terras do açude, sua avó e sua mãe eram cozinheiras dos trabalhadores que participaram da

construção do açude Itans,) e com Lauro Braz dos Santos (morador da comunidade, nasceu e sempre morou na

comunidade, tendo 68 anos) concedida no dia 23 de setembro de 2014. Os dois entrevistados relataram que o

açude Itans foi construído por muitas pessoas que moravam na comunidade, alguns foram desapropriados e

indenizados. E que o açude foi todo construído de forma braçal, transportando os materiais em jumentos e os

trabalhadores moravam em acampamentos as margens do açude.

21 Segundo informações obtidas no Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do município de Caicó/RN

(EMATER), no dia 24 de setembro de 2014, a DAP foi criada pela Resolução CMN nº 2.191, de 24 de agosto de

1995, se configurando como um cadastro que tem como objetivo a identificação e qualificação do agricultor

familiar, que permite o acesso às operações de crédito do PRONAF.

60

declaração emitida pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Caicó

(STTR)), com a concessão de uma faixa de terra “seca” e uma faixa “úmida” (vazantes na

bacia do açude). Os rendeiros têm um contrato de renda e pagam uma taxa anual equivalente

ao tamanho da propriedade22

. Antes, havia guardas do DNOCS, que fiscalizavam todo o

açude, diariamente, havendo assim uma maior segurança na comunidade. Hoje, não há mais

essa fiscalização.

A comunidade sempre esteve ligada às atividades agropecuárias, sobretudo, com a

construção do açude Itans, que possibilitou o acesso à água e a terras mais férteis, com a

presença de agricultura de sequeiro e de vazante.

Havendo a presença da cultura do algodão, de caráter familiar, se constituía como a

principal fonte de renda monetária para os pequenos agricultores. A lavoura do algodão era

feita em consórcio com as culturas de subsistência e usada como pastagem para o gado, após a

colheita, sendo estreitamente ligada à pecuária e ao consórcio com outras culturas, como

milho e o feijão, voltados para a subsistência. Com a crise do algodão e, consequente fim do

seu cultivo, ocasionada por secas e pela praga do bicudo, por volta do início da década de

1980, além de acarretar um grande prejuízo à renda familiar, passou-se a se dar ênfase as

culturas de subsistência, para o consumo e venda do excedente na feira livre da cidade e a

pecuária, sobretudo, a leiteira23

.

Por volta dessa época de plantação de algodão, também se plantava arroz nas áreas mais

úmidas e de vazantes, cuja colheita e venda se davam anualmente, para compradores ou na

feira livre.

Os relatos de moradores da comunidade expõem que, no passado, havia mais pessoas

morando na comunidade do que nos dias atuais, pois as famílias tinham mais filhos, que

permaneciam na comunidade ao formarem suas famílias.

Quanto às tendências migratórias, por volta dos anos 1960, alguns moradores da

comunidade foram para a Amazônia, em tempos de seca, através do Exército Brasileiro, para

trabalharem nas lavouras em fazendas e a maioria não retornou para a comunidade. Por volta

dos anos 1980, havia a tendência dos filhos irem para São Paulo, em busca de emprego; a

maioria ainda reside em São Paulo e seus pais na comunidade.

22 Entrevista com Eduardo José de Farias (chefe da unidade do DNOCS de Caicó), concedida no dia 15 de julho

de 2014.

23 Entrevista com Julita dos Santos Silva (uma antiga moradora da comunidade), concedida no dia 10 de julho de

2014.

61

Também se verifica a migração para a cidade, tanto em tempos de seca, quanto pelo

envelhecimento e não continuidade do trabalho agrícola.

Em 2001, houve a proposta da realização de um projeto pela Prefeitura para que a

comunidade Barra da Espingarda fosse reconhecida como o terceiro distrito de Caicó, porém

o projeto não foi realizado, pois a comunidade se recusou a se tornar distrito. No entanto, em

uma parte do imaginário popular a comunidade é reconhecida como distrito, e por ser

considerada uma comunidade polo, atrai mais recursos e políticas públicas do que as demais

comunidades.

4.2. ELEMENTOS NATURAIS

Apresentaremos agora as características naturais do município de Caicó/RN,

considerando que a comunidade Barra da Espingarda esta inserida no mesmo, apresenta

características naturais semelhantes ao restante do município.

Nesse contexto, o tipo de clima é semiárido quente e seco. Apresenta um curto período

chuvoso, de fevereiro a maio. Com uma precipitação pluviométrica anual normal de 716,6

mm, observada de 746,8 mm e desvio de 30,2 mm; temperaturas médias anuais de 27,5 °C;

umidade relativa média anual de cerca de 59% e insolação em torno de 2.700 horas

(INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO

GRANDE DO NORTE, 2008; MASCARENHAS, 2005).

A formação vegetal é a Caatinga Subdesértica do Seridó (caatinga hiperxerófila

arbóreo-arbustiva), considerada a vegetação mais seca do Estado, com arbustos e árvores

baixas, ralas e xerofitismo acentuado. As espécies vegetais mais encontradas são o pereiro, o

faveleiro, o facheiro, a macambira, o mandacaru, o xique-xique e a jurema-preta. Segundo o

Plano Nacional de Combate a Desertificação – PNCD, Caicó está inserido em área susceptível

à desertificação em categoria Muito Grave (INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO NORTE, 2008;

MASCARENHAS, 2005). Na comunidade Barra da Espingarda essa vegetação se encontra

em um estado antropofizado, com várias áreas desmatadas.

O solo predominante é o Bruno Não Cálcico Vértico, com fertilidade natural alta,

textura arenosa/argilosa e média/argilosa, moderadamente drenado e relevo suave ondulado. É

apto a culturas de ciclo longo como o algodão arbóreo (INSTITUTO DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO

62

NORTE, 2008; MASCARENHAS, 2005). Na área de estudo, por possuir solos férteis nas

planícies de inundação do rio Barra Nova e Açude Itans, ocorre a prática da agricultura de

vazante e de sequeiro. No rio Barra Nova ocorre a presença do solo neossolo flúvico.

Quanto ao relevo, está inserido na Depressão Sertaneja e no Planalto da Borborema.

Geologicamente abrange o Embasamento Cristalino, composto por rochas do Grupo Caicó,

com idade do Pré-Cambriano Inferior de 2.500 milhões de anos, caracterizados por

migmatitos variados, granitos, gnaisses, anfibolitos e quartzitos. Geomorfologicamente, há

predominância de formas tabulares de relevos, de topo plano, com ordens de grandeza

variadas e de aprofundamento de drenagem, separados, em geral, por vales de fundo plano

(INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO

GRANDE DO NORTE, 2008; MASCARENHAS, 2005).

Hidrologicamente, o município encontra-se totalmente inserido na Bacia Hidrográfica

do Rio Piranhas-Açu. Com três rios principais: Seridó, Sabugi e Barra Nova. Um dos seus

riachos principais é o Riacho da Espingarda. A área de estudo compreende o Riacho da

Espingarda, que deu nome à comunidade, assim como o Rio Barra Nova, barrado pelo Açude

Itans, que apresenta uma capacidade de 81 750 000 m3 (INSTITUTO DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO

NORTE, 2008). A comunidade Barra da Espingarda apresenta uma boa drenagem, composta

por vários cursos de água intermitentes e água subterrânea, em sua maioria salobra.

63

5. ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO RURAL E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA

COMUNIDADE BARRA DA ESPINGARDA

O acesso aos instrumentos básicos do desenvolvimento: educação, saneamento, a renda,

entre outros, ainda é uma questão social a ser resolvida no campo, pois esses instrumentos são

de essencial relevância ao desenvolvimento rural de uma localidade (AGUIAR, 2011). Como

afirma Conterato (2008) o rural deve ser tratado como o locos do seu próprio

desenvolvimento. Uma localidade possuirá um bom desenvolvimento rural quando for capaz

de gerar empregos, serviços e novos mercados, oferecer ambientes de lazer, moradia,

educação, saúde, apresentar uma agricultura mais voltada ao respeito ao meio ambiente e a

prática da pluriatividade, passar a oferecer o turismo rural, entre outros, oferecendo assim as

condições necessárias para manter a população no campo com uma boa qualidade de vida. No

entanto, é necessário à implementação de políticas públicas voltadas ao meio rural para,

assim, viabilizar o desenvolvimento rural do mesmo.

Assim sendo, nessa parte do trabalho abordaremos sobre os resultados das entrevistas

em 44 domicílios da comunidade. Abarcando as características da população (5.1); a

qualidade de vida (5.2), considerando as condições de moradia (5.2.1), a saúde (5.2.2), a

educação (5.2.3), o meio ambiente (5.2.4), o lazer (5.2.5) e o acesso à água (5.2.6). Assim

como, as fontes de renda (5.3), considerando as atividades agropecuárias e extrativas (5.3.1),

os efeitos agrícolas e sociais ocasionados pela seca (5.3.1.2), as atividades não agrícolas

(5.3.2), os programas sociais do Governo e políticas públicas (5.3.3), a aposentadoria e pensão

(5.3.4), o consumo de bens e serviços (5.4), os espaços públicos e privados de convivência

(5.5) e a sensação de qualidade de vida e desenvolvimento da população local (5.6), visando

analisar e constatar o desenvolvimento rural na comunidade em questão.

5.1. CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO

No que se remete ao sexo24

dos residentes na comunidade Barra da Espingarda,

considerando todos os indivíduos da família nas residências abarcadas na amostragem, a

porcentagem praticamente se igualou, porém, a maioria foi do sexo masculino (51%), sendo

do sexo feminino 49%.

24

Considerando o sexo da pessoa entrevistada em cada residência, foram 43 mulheres (98%) e um homem (2%).

64

Considerando a faixa etária25

de todos os indivíduos da família nas residências

envolvidas na amostragem, verificou-se que a maioria dos indivíduos está na faixa etária de

51 a 60 anos (21%). Onde os indivíduos entre as faixas etárias de até 10 anos, de 61 a 70 e dos

que têm mais de 70 anos apresentaram a mesma porcentagem (9%) (ver Gráfico 1). Como em

todas as comunidades rurais, também se verifica o êxodo rural, porém, na área de estudo o

mesmo não é tão intenso, o que ocorre é à saída das pessoas de faixa etária mais jovem para

estudar e/ou morar em Caicó ou outra cidade ou comunidade, devido ao trabalho ou

casamento. Há um evidente envelhecimento da população da comunidade, porém essas

pessoas de idade mais avançada relataram não pretender se mudar para a cidade.

Gráfico 1 – Faixa etária dos residentes

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Considerando os 146 indivíduos das 44 residências da amostragem.

No que tange ao estado civil, considerando todos os indivíduos pesquisados, observa-se

que a maioria é de casados (44%), na igreja e/ou no civil, e a minoria são divorciados (1%).

Amasiados, são pessoas que não são casadas, porém moram juntas (ver Gráfico 2).

25

Considerando a idade dos entrevistados em cada residência (44), a maior porcentagem foi dos que tinham de

51 a 60 anos (34%) e a menor foi dos que tinham de 20 a 30 anos (7%).

9%

15%

12%

12% 13%

21%

9%

9%

Até 10

De 11 a 20

De 21 a 30

De 31 a 40

De 41 a 50

De 51 a 60

De 61 a 70

Mais de 70

65

Gráfico 2 – Estado civil dos residentes

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Considerando os 146 indivíduos das 44 residências da amostragem.

Quanto ao número de dependentes, ou seja, crianças ou pessoas que ainda estão sob a

dependência econômica dos pais ou de algum familiar, verificou-se que na maioria das

famílias há apenas um dependente (45%). Também há uma grande porcentagem de famílias

que não apresentam dependentes (36%) (ver Gráfico 3).

Gráfico 3 – Número de dependentes por família

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Considerando apenas os dependentes de cada residência da amostragem.

Nesse contexto, depois de expor algumas das principais características da população da

área de estudo, nos deteremos na qualidade de vida.

36%

46%

16%

2%

Sem dependentes

1

2

4

38%

44%

1% 4% 13%

Solteiro

Casado

Divorciado

Viúvo

Amasiado

66

5.2. QUALIDADE DE VIDA

Para Herculano (1998, 2000) apud Schneider e Freitas (2013, p. 134) qualidade de vida

pode ser compreendida como:

“[...] a soma das condições econômicas, políticas, ambientais, científicas, culturais

que estão ao alcance dos indivíduos e que, a partir destes recursos, seja possível a

realização dos desejos. Ou seja, a noção de QV não está somente naquilo que as

pessoas podem adquirir, mas no que elas entendem e equacionam como melhoria de

sua vida”.

Não há um consenso em relação à quais indicadores, para o estudo da qualidade de vida,

devem ser usados. Mas, que esses devem ser heterogêneos, multidimensionais e de acordo

com cada realidade e com o tipo de estudo considerado (SCHNEIDER; FREITAS, 2013).

Portanto, procuramos apenas elencar alguns pontos que ocasionam a qualidade de vida de

uma localidade, para isso consideramos as condições de moradia, a saúde, a educação, o meio

ambiente, o lazer e o acesso à água. E no tópico Fontes de Renda, ainda há alguns pontos que

abordam a qualidade de vida. Procurando expor qual a situação da comunidade acerca desses

temas e também a presença de políticas públicas nesses processos.

5.2.1. Condições de moradia

Em 2014 a referida comunidade apresentava 111 casas, sendo 89 casas abertas e 23

casas fechadas (incluindo as casas de lazer)26

.

Do total dos entrevistados, 43% relataram serem naturais da comunidade, alguns tendo

nascido na própria comunidade, e 57% relataram terem vindo de outra localidade, onde a

maioria desses veio de comunidades vizinhas, por que o DNOCS concedia terras, por ter

casado com alguém da comunidade, por achar a comunidade melhor para se morar ou por

gostarem da propriedade que estava à venda.

Com relação ao tempo de moradia, na atual residência, pois alguns haviam morado em

outras residências anteriormente, na própria comunidade, observou-se que a maioria mora na

26

Entrevista com Lenilda Julia dos Santos (moradora da comunidade e Agente Comunitária de Saúde (ACS),

desde 1998), concedida no dia 23 setembro de 2014.

67

comunidade entre 1 a 10 anos (30%). Também sendo alta a porcentagem entre 11 a 20 anos

(25%) e 21 a 30 anos (20%) de moradia. É relevante observar que também é significativa a

quantidade de pessoas que ainda moram na comunidade entre 40 a 60 anos, relatando que não

pretendem mudar-se para a cidade (ver Gráfico 4).

Gráfico 4 – Anos de moradia na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Dados referentes apenas ao indivíduo entrevistado em cada residência.

Em relação aos imóveis, verifica-se que a maioria dos mesmos são próprios (98%) e a

minoria são de posse provisória, ou seja, moradia de favor e compra de parentes (2%), não

havendo imóveis alugados na comunidade. Quanto à obtenção da propriedade, a maioria foi

através de concessões de terra pelo DNOCS (70%), tendo ou não contrato de renda27

.

Atualmente existem 46 rendeiros do DNOCS na comunidade (ver Gráfico 5).

27

Segundo o chefe da unidade do DNOCS de Caicó Eduardo José de Farias a maioria das terras que compõe a

comunidade Barra da Espingarda pertence ao DNOCS e desde a construção do açude Itans, em 1936, o DNOCS

concede contratos de renda aos agricultores fornecendo uma faixa de terra seca e uma faixa de vazante, essas

rendas não deveriam ser vendidas, porém, esse foi um fato observado na comunidade, a venda dessas terras a

outros. Mas, atualmente voltou-se a fiscalizar novamente exigindo que apenas se repasse a renda, porém sem

vendê-la. Com o passar do tempo e a falta de fiscalização as pessoas passaram a morar na comunidade sem ter

contrato de renda. E uma pequena faixa de terra pertence ao Governo Federal por se localizar a BR 427 e uma

faixa intermediária que não pertence nem ao DNOCS e nem ao governo, ou seja, pode ser comprada e vendida

normalmente.

30%

25%

20%

11%

7% 7%

De 1 a 10

De 11 a 20

De 21 a 30

De 31 a 40

De 41 a 50

De 51 a 60

68

Gráfico 5 – Obtenção da terra na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Dados referentes apenas ao indivíduo entrevistado em cada residência.

Até o início da década de 1980 a grande maioria das moradias na comunidade era de

casas de taipa, isso passou a mudar, por volta de 1982 até 1987, com o projeto de construção

de casas de alvenaria do SESP/CHAGAS28

, uma campanha de combate aos barbeiros, com a

construção de aproximadamente 36 casas, pois a maioria das casas na comunidade era de

taipa; hoje há apenas casas de alvenaria na comunidade. Verificou-se que a maioria das casas

participou desse projeto (52%), com o passar do tempo os residentes aumentaram suas

dependências. Porém, ainda é alta a quantidade de residências que não fizeram parte do

projeto (48%) (ver Gráfico 6).

28

Em entrevista com Luiz Gonzaga de Araújo (morador da comunidade Barra da Espingarda) concedida no dia

23 de setembro de 2014. Aproximadamente de 1982 até 1987, o então vereador Chico Grigório, trouxe para a

comunidade o projeto SESP-CHAGAS. O Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) foi fundado em 1942, e em

1969 passou a se chamar Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP), foi criado para atuar inicialmente na

área de saúde pública e saneamento na Amazônia passando posteriormente a atuar em outras regiões do país. Em

1990 foi extinta e incorporada junto com a Superintendência Nacional de Campanhas (SUCAM) em um novo

órgão denominado Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Disponível em:

<http://www.funasa.gov.br/site/museu-da-funasa/cronologia-historica-da-saude-publica/>. Acesso em: 20 out.

2014.

27

2

36

7 2

70

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Herança Compra de

parentes

Compra de

terceiros

Doação Posse

provisória

Doação

DNOCS

Per

centu

al

(%)

69

Gráfico 6 – Casas que fizeram parte do projeto SESP/CHAGAS na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Considerando todas as residências da amostragem.

No ano de 2014, o Programa Nacional de Habitação Rural, em parceria com o Programa

Minha Casa Minha Vida, passou a atuar na comunidade Barra da Espingarda, intermediado

pelo STTR de Caicó e Associação Comunitária, onde a maioria dos residentes se inscreveu no

programa para que suas residências fossem reformadas ou construídas. Os projetos

arquitetônicos de cada residência estão em fase de preparação.

Quanto ao tamanho da propriedade, adotamos como medida de área os hectares,

observando-se que há moradores que não possuem terra, apenas a área da residência (18%),

cedidas pelo Governo ou nas terras dos pais. A menor porcentagem verificada foi daqueles

que tem de 4 a 6 hectares (ver Gráfico 7).

Gráfico 7 – Tamanho da área das propriedades na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Considerando todas as residências da amostragem.

52%

48% Sim

Não

18%

20%

20% 2%

7%

9%

9%

14%

Só a área da casa

Menos de 2 ha

De 2 a 4 ha

De 4 a 6 ha

De 6 a 8 ha

De 8 a 10 ha

De 10 a 12 ha

De 12 a mais ha

70

Analisando alguns dados de 1998, 2001 e 2005, retirados de alguns projetos da

Associação Comunitária da Barra da Espingarda, observamos algumas informações anteriores

acerca do número de habitantes e de moradias, as condições de moradia, a renda e emprego;

podemos perceber que havia mais habitantes na comunidade, 400, do que atualmente, que são

260 (ver Tabela 2).

Tabela 2 – Dados da população e residências dos anos 1998, 2001 e 2005

Ano Habitantes

(nº)

Famílias

(nº)

Casas

(nº)

Pessoas

com

trabalho

permanente

(nº)

Renda

média

(R$)

Casas

com água

encanada

(nº)

Casas

com

privadas

ou fossas

(nº)

Casas

com

energia

elétrica

(nº)

Casas

com

televisor

(nº)

1998 400 89 89 100 80,00 0 89 - 80

2001 400 89 89 12 150,00 15 89 - 68

2005 - 88 88 83 300,00 20 81 88 88

Fonte: Dados trabalhados pela autora, 2014.

Nota: Dados extraídos dos projetos de Abastecimento de água, SEAPAC, em 1998, Criação de ovelhas,

EMATER, 2001, e Bovinocultura, SEAPAC, em 2005; desenvolvidos pela Associação Comunitária da Barra da

Espingarda. O sinal ( - ) indica que não há dado referente a categoria.

Considerando a infraestrutura das residências, 100% das residências entrevistadas

tinham banheiro, cozinha, sala e quarto, e apenas 77% tinha varanda (alpendre). Todas as

residências tinham energia elétrica, que foi implantada na comunidade no começo da década

de 1990.

Foram estabelecidas quatro categorias de resposta quanto à condição de moradia: ruim,

regular, boa e ótima. Não houve respostas na categoria ruim. A maior porcentagem foi na

categoria Boa (66%) (ver Gráfico 8).

71

Gráfico 8 – Satisfação com a condição de moradia na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Dados referentes apenas ao indivíduo entrevistado em cada residência.

5.2.2. Saúde

Anteriormente, para se ter acesso aos serviços de saúde as pessoas tinham que ir para a

cidade, a pé, de jumento ou cavalo, posteriormente, nos caminhões pau-de-arara que as

transportavam para a cidade. Devido à dificuldade de se ir à cidade, muitos partos foram

feitos na própria comunidade através de parteiras e as pessoas se automedicavam com

remédios caseiros feitos de plantas medicinais, retiradas principalmente na própria

comunidade.

Em 1977, foi criado o Mini Posto Mãe Mariquinha, com recursos do BB Mini Posto,

que funcionava em uma residência, passando a haver atendimentos médicos na comunidade,

com a presença de um médico e dois auxiliares de enfermagem. Porém, as pessoas da

comunidade ainda preferiam as rezadeiras e os hospitais na cidade. Em 1980, foi inaugurada a

sede própria do Centro de Saúde Mãe Mariquinha (ver Figura 2), nome dado em homenagem

a uma parteira que já havia prestado diversos serviços à comunidade, que contava com um

médico, enfermeiras, um dentista, vacinação, curativos, palestras e acompanhamentos de

mulheres.

20%

66%

14%

Regular

Boa

Ótima

72

Figura 2: Centro de Saúde Mãe Mariquinha.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

A Unidade Básica de Saúde (UBS) Centro de Saúde Mãe Mariquinha também conta

com o Programa de Saúde da Família (PSF), agora chamado de Estratégia de Saúde da

Família (ESF), implantado na comunidade a partir de 2003. A equipe é composta por um

clínico geral, um técnico em enfermagem, um enfermeiro (a), um dentista e um assistente de

saúde bucal (ASB). A Equipe faz de três a quatro visitas por mês a UBS, trazendo também os

remédios da Secretaria Municipal de Saúde para a comunidade29

. A UBS também conta com

uma ASG e uma técnica em enfermagem própria que moram na comunidade. Atendendo as

pessoas da comunidade e também, em períodos determinados, aos alunos da escola, assim

como, a algumas pessoas de comunidades vizinhas. Recentemente, havia a promessa de

reforma dessa UBS, porém os recursos financeiros foram repassados para a Prefeitura,

contudo, por irresponsabilidade, o projeto não foi feito então os recursos retornaram, não

havendo mais previsão para reforma.

29 Em entrevista com Lenilda Julia dos Santos (moradora da comunidade e Agente Comunitária de Saúde (ACS),

desde 1998), concedida no dia 23 setembro de 2014. O PSF foi implementado pelo Governo Federal em 1994,

como política de atenção primária no Brasil e recentemente está passando a ser chamado de Estratégia de Saúde

da Família (ESF). O PSF em Caicó, inicialmente só abrangia a zona urbana. Na zona rural, atualmente, conta

com três equipes: a I Equipe do PSF no distrito Laginha, a II Equipe do PSF na comunidade Barra da

Espingarda, sendo implantado na comunidade em 2003, tendo como polo o distrito Palma e a III Equipe do PSF

no Sabugi. Essas três equipes também fazem visitas a outras comunidades, dispostas nas áreas desses três polos.

O PSF conta com a parceria entre SEAPAC, associações rurais, agentes de saúde e Sindicato. Os ACS são do

Governo Federal e coordenados pela Prefeitura Municipal de Caicó. Tendo como objetivo fazer visitas às

famílias e orientar e notificar sobre campanhas de saúde, dias de vacinação, dias das visitas da II Equipe do PSF,

entre outros.

73

Todos os entrevistados relataram terem acesso à saúde, tanto na comunidade, quanto na

cidade. Desses, 75% relataram que a família tem mais acesso aos serviços da comunidade e

25% terem mais acesso aos serviços da cidade.

A Pastoral da Criança também foi muito relevante para a comunidade. Implantada na

comunidade no ano de 1995 até 2010. Dos entrevistados, 45% relataram terem feito parte da

Pastoral, ou como líderes comunitários ou que tiveram seus filhos acompanhados pela

Pastoral e 55% relataram não terem feito parte. Dentre os benefícios que a Pastoral trouxe

para a comunidade, está o acompanhamento de saúde, onde as líderes comunitárias da

Pastoral orientavam mensalmente as famílias, em termos da saúde das crianças e da família,

também pesavam, mediam e orientavam sobre a vacinação das crianças até os cinco anos de

idade. Sua importância também se dá no ensinamento de remédios caseiros e no oferecimento

de cursos gratuitos, como o de pintura e lembrancinha de crianças, para gerar renda. E um

projeto de compra de ovelhas, onde cada família tinha direito a comprar seis ovelhas, mais

baratas, muitas famílias que antes não tinham condições passaram a criar ovelhas a partir

desse projeto. Sua importância também reside no fato das pessoas não terem tanta informação

de saúde nessa época, o difícil acesso a médicos e o combate à desnutrição de algumas

crianças30

.

Quanto à prática de exercícios físicos e/ou esportes, 75% dos indivíduos da amostragem

relataram que em suas famílias alguém pratica os mesmos e apenas 25% relataram não

realizarem nenhuma dessas práticas. Dentre os que relataram realizar essas práticas, 41%

afirmaram ter algum membro da família que joga futebol, ou na escola ou em um dos dois

campos de futebol da comunidade e 59% afirmaram não ter nenhuma relação com o futebol.

A maioria dessas pessoas pratica futebol e caminha.

5.2.3. Educação

A referida comunidade contou com o MOBRAL, até por volta da década de 1970,

ensinado por professoras da comunidade em suas casas. Portanto, as crianças e os adultos

estudavam em escolas que funcionavam em residências, assim como, aulas pagas como era o

30

Entrevista com Francineide Azevedo Cunha (uma das responsáveis pela Pastoral da Criança da comunidade),

concedida no dia 10 de setembro de 2014.

74

caso da escola que funcionava na casa de Manoel Batista da Silva. E também contou com o

Movimento de Educação de Base (MEB)31

, por volta da década de 1990.

A primeira escola da comunidade foi a Escola Isolada Barra da Espingarda, construída

com recursos federais, através do DNOCS, para garantir a educação dos rendeiros do açude

Itans. Atendendo do 1º ao 6º ano, funcionando no turno matutino. Também havia as aulas de

reforço no período da tarde. Depois que a Escola Municipal Severino Paulino de Souza foi

fundada, a Escola Isolada foi perdendo importância tendo suas professoras transferidas para a

cidade e seus alunos para a outra escola, passando a atuar apenas com aulas de reforço.

Atualmente, suas dependências encontram-se deterioradas e não há mais funcionamento (ver

Figura 3).

Figura 3: Escola Isolada Barra da Espingarda

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

A segunda escola criada foi a Escola Municipal Severino Paulino de Souza (ver Figura

4), que antes funcionava em uma residência, inaugurou sua sede própria em 1980, junto com a

UBS. O patrono escolhido para nomear a escola, foi o senhor Severino Paulino de Souza, por

ser o morador mais antigo da comunidade e uma pessoa muito prestativa e bondosa.

Inicialmente funcionava do 1º ao 5º ano. A partir de 1993 passou a ter o pré-escolar. Em

2006, foi implantado do 6º ao 9º ano, ampliando-se as dependências da escola. A implantação

desse nível de ensino foi importante, pois, os estudantes que moravam na comunidade tinham

muitas dificuldades ao estudar na cidade, devido às greves dos transportes, dos professores e

os períodos de chuva, quando tinham que caminhar longas distâncias para poder pegar o

transporte, em virtude das cheias do rio. A escola contava com o PETI, desde 2001, sendo

31

Foi criado em 1961 por meio do Decreto 50.370 de 21 de março, pela Igreja Católica através da Conferência

Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). Objetivava a alfabetização de jovens e adultos utilizando as emissoras de

rádio católicas (BRASIL, C., 2005).

75

desativado em 2015 e passando a ter apenas o Programa Mais Educação, implantado em

2013, onde muitos alunos passaram a frequentar os dois turnos. E está já há algum tempo

adequando a infraestrutura e organização da escola para alunos com necessidades especiais.

Também conta com o Programa Nacional de Alimentação Escolar que fornece a merenda da

escola. E sediou os cursos do PRONATEC que vieram para a comunidade.

Figura 4: Escola Municipal Severino Paulino de Souza.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

Considerando a relação com a Escola Municipal Severino Paulino de Souza, 89% dos

entrevistados relataram que tem ou já tiveram relação com a escola, seja através dos seus

estudos ou de seus filhos, de cursos ou de emprego, e 11% responderam que não.

Também houve o Ensino de Jovens e Adultos (EJA), começando por volta de 2002,

ensinado por pessoas da comunidade em suas próprias residências. Atualmente não está

havendo o ensino do EJA na comunidade, mas, há uma possibilidade de ser implantado na

escola da comunidade.

Todas as pessoas entrevistadas tiveram acesso aos serviços de educação, considerando

as oportunidades de estudo. Há a ocorrência de não alfabetizados, porém a maioria dessas

pessoas teve oportunidade de acesso à educação. Considerando todos os indivíduos das

residências entrevistadas, não houve nenhuma ocorrência de todos os familiares terem

estudado apenas na cidade. Assim, podemos inferir que a maior parte da população da

referida comunidade teve mais acesso aos serviços de educação da própria comunidade,

prosseguindo os estudos na cidade (70%) e uma menor porcentagem de pessoas que

estudaram em outra comunidade e prosseguiram os estudos na cidade (2%). Verificou-se

também, na amostragem, onde as pessoas passaram mais tempo estudando: na comunidade

76

(57%), na cidade (9%), na comunidade e cidade (11%), em outra (s) comunidade (s) (18%),

em outra (s) comunidade (s) e comunidade Barra da Espingarda (2%) e outra (s) comunidade

(s) e cidade (2%). Observando-se que quando se cita dois locais é porque essas pessoas

passaram uma quantidade de anos mais ou menos igualada em um e no outro local (ver

Gráfico 9). Isso ocorre porque na comunidade Barra da Espingarda sempre houve maiores

estímulos e infraestrutura para a educação do que nas demais comunidades vizinhas, sendo

relevante destacar que a referida comunidade se configura como um polo de atração de

estudantes das comunidades vizinhas, estimulando as pessoas a seguirem com os estudos.

Como vimos à educação e o oferecimento de infraestrutura de educação em uma localidade

rural é essencial para se promover o desenvolvimento rural, abrangendo todas as variáveis que

envolvem o mesmo em uma localidade (ABRAMOVAY, 2003; AGUIAR, 2011; VEIGA,

2001).

Gráfico 9 – Local de acesso à educação

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Questão fechada de múltipla escolha, com percentuais individuais; considerando os 146 indivíduos das 44

residências da amostragem.

Quanto ao nível de instrução educacional, considerou-se o grau máximo de instrução até

o presente momento. Portanto, observa-se que a maioria dos residentes da amostragem

estudou até o Ensino Fundamental I incompleto (33%), a maioria dos indivíduos que deram

essa resposta são pessoas adultas que na época não tiveram condições de terminar os estudos

por terem que ajudar os pais no trabalho e depois formaram família e não puderam prosseguir

com os estudos. A categoria Ensino superior completo está inserida na categoria pós-

25

70

50

2

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Comunidade Comunidade/Cidade Outra comunidade Outra

comunidade/Cidade

Per

centu

al (

%)

77

graduação, por considerar o grau máximo de instrução até o presente momento (ver Gráfico

10).

Gráfico 10 – Nível de instrução educacional dos residentes

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Questão fechada de múltipla escolha, com percentuais individuais; considerando os 146 indivíduos das 44

residências da amostragem.

Sobre a Escola da comunidade, 100% dos entrevistados afirmaram ser muito bom ter

uma escola na comunidade. Desses, 95% expressaram boas opiniões e apenas 5%

expressaram alguma reclamação. Dentre as boas opiniões estão: a facilidade de acesso em

termos de proximidade das residências; transporte diário; permitir que os alunos passassem

mais tempo em contato com a comunidade e mais perto dos pais; por conter bons professores

e oferecer uma boa educação para os alunos da comunidade e das comunidades vizinhas,

incentivando-os a assistirem todas as aulas; por apresentar uma boa estrutura; não estar sujeita

à greves de professores e transporte, como ocorre com as escolas estaduais da cidade; oferecer

uma maior segurança aos alunos; pelos alunos ficarem mais afastados da influência das

drogas e violência; por oferecer cursos, palestras e festividades e por ter formado muitos

alunos que prosseguiram nos estudos e hoje são graduados ou ingressaram no ensino superior

ou que estão empregados; por ter uma boa equipe de funcionários que dão atenção aos alunos;

e manterem os pais informados quando há algum problema.

6

1

33

10

19

7

1

10

1 1

5

1 4

1

0

5

10

15

20

25

30

35

Per

centu

al (

%)

78

Dentre as reclamações as pessoas relataram que a escola deve ter uma melhor

preparação para receber alunos especiais, que deveria ter mais organização para diminuir as

brigas e pequenos acidentes e pela não permanência prolongada de professores, devido os

professores residirem na cidade e trabalharem na comunidade, não permanecerem após o

encerramento do contrato ou do período probatório.

Quanto a terem feito algum tipo de curso de capacitação ou formação na própria

comunidade e na cidade, 80% dos indivíduos das residências entrevistadas afirmaram que sim

e 20% afirmaram que não. Dentre os cursos que foram oferecidos na própria comunidade,

estão os oferecidos pela Emater, por volta da década de 80 na escola da comunidade, de

hortaliças, de avinicultura, de preparação de peixe e de doces e medicina alternativa; os cursos

oferecidos pela Pastoral da Criança de pintura em tecido e lembrancinhas de bebês; e o

PRONATEC de agricultura familiar e avicultura, o curso de informática básica e os cursos de

pintura em tecido e vagonite na Escola da comunidade. Os residentes também fizeram cursos

de formação e capacitação em outras localidades e na cidade, porém achou-se relevante

relatar apenas os cursos oferecidos na comunidade.

5.2.4. Meio ambiente

Sobre como o meio ambiente se encontra na comunidade, não se verifica uma poluição

dos corpos de água aparente. Quanto à vegetação, apresenta-se degradada em várias áreas,

sobretudo, nos cercados de gado, onde as pessoas ainda utilizam a prática de “limpar” suas

propriedades, retirando grande parte da vegetação, queimando os restos em fogueiras. Essa

vegetação retirada é utilizada tanto para o consumo de casa, com o uso da madeira nos fogões

à lenha, onde 80% das residências da amostragem tem esse tipo de fogão, quanto para fazer

estacas e mourões para serem usados na construção de cercas e de forma mais diminuta para a

venda de madeira.

Considerando o conhecimento das pessoas acerca do meio ambiente, a grande maioria

dos entrevistados apresenta apenas o entendimento de que se deve conservar a natureza,

porém, não tem o conhecimento de por que isso deve ser feito, o que expõe um grave

problema, que na atualidade não deveria mais ser tão evidenciado, que é a falta de informação

em relação ao meio ambiente, tão em pauta nos últimos anos. Nos relatos mais evidenciados,

de por que se deve conservar o meio ambiente, não poluindo os corpos hídricos e desmatando

a vegetação, todos os entrevistados afirmaram que se deve conservar.

79

As respostas mais relevantes acerca de se conservar o meio ambiente é que ele fica mais

protegido; se não conservarmos o mesmo os efeitos da seca são intensificados como a falta de

chuva; porque a água deve ser utilizada para o consumo humano e animal, sobretudo, devido

aos períodos de estiagem; a vegetação permite o sombreamento da área, amenizando a

temperatura e diminuindo a quantidade de vento e poeira; porque a vegetação e os animais são

seres vivos e, como os humanos, têm o direito à vida; melhora a saúde; preservando a

natureza estamos nos preservando; e que a vegetação atrai chuva e porque degradar ocasiona

a erosão do solo. Muitos relataram que não veem problema em se retirar a vegetação e outros

que só devemos retirar o necessário.

Quanto ao destino do lixo, 52% dos indivíduos da amostragem afirmaram queimar o

lixo; 16% depositam no container que a Prefeitura cedeu à comunidade, porém apenas as

pessoas que moram perto do container depositam seu lixo, daí a menor porcentagem; e 32%

doam ou vendem para um morador da comunidade que revende para a reciclagem (ver

Gráfico 11).

Gráfico 11 – Destino do lixo na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Levando-se em conta que essa foi uma questão de múltipla escolha, portanto, apresentando mais de uma

resposta acerca do destino do lixo.

Todas as residências da amostragem têm fossa simples, ou seja, permeáveis, e

depositam os resíduos domésticos direto no solo. Dessas residências apenas 18% depositam

os resíduos domésticos direto nos cursos de água. Isso ocorre por que não há saneamento

básico na comunidade e algumas residências localizam-se próximas a cursos de água.

16%

52%

32% Container

Queima

Reciclagem

80

5.2.5. Lazer

Dos relatos sobre a frequência em que se praticam atividades de lazer, como festas,

passeios e reuniões familiares, 43% relataram pouca frequência e 57% relataram muita

frequência. Quanto às atividades de lazer desempenhadas na comunidade, estão as visitas de

amigos e familiares em suas casas aos fins de semana; banhos no rio e açudes; festas na

comunidade, sobretudo, as festas organizadas pela Escola Municipal Severino Paulino de

Souza, como a festa de São João e a Festa do Ex-aluno, que atraem as pessoas de outras

comunidades e cidades, e também pequenas festas e datas comemorativas; as festividades

organizadas pela Associação Comunitária; as missas na Capela e as novenas realizadas nas

residências; jogos de baralho e jogos de futebol.

O Ministério dos Esportes do Governo Federal em parceria com a CAIXA e com a

Prefeitura Municipal está com um projeto de construção de uma quadra de esportes

comunitária, nesse ano de 2015, em frente à Escola Municipal Severino Paulino de Souza,

incentivando não apenas as atividades físicas como também o lazer na comunidade (ver

Figura 5).

Figura 5: Construção da quadra de esportes coletiva da comunidade.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2015.

81

5.2.6. Acesso à água

Considerando as origens da água para uso e consumo, anteriormente, quando o acesso à

água era limitado, as pessoas iam buscar água em roladeiras (barris de madeira com rodas) e

de jumento, em cacimbas no rio, em barreiros e açudes, como o Itans. Percorrendo grandes

distâncias para isso. O acesso à água foi facilitado com a construção de seis caixas de água

pela Associação Comunitária e encanação em algumas residências; a instalação de um

dessalinizador; a perfuração de poços; a instalação de cata-ventos; o abastecimento por

carros-pipa nos períodos de seca e a construção de uma adutora32

e de cisternas33

(ver Figura

6).

32

As 06 caixas d´água foram instaladas em 1998 através da Associação Comunitária junto com o dessalinizador,

instalado pelo DNOCS; a maioria dos poços são particulares; e a instalação de cata-ventos junto com caixas

d‟água foi feita pela Prefeitura, através do Programa Água de Beber do Governo do Estado; e os carros pipas

enviados pela Prefeitura e pelo Exército Brasileiro. Quanto à construção da adutora, em 2012, o Governo do

Estado autorizou a construção de três adutoras, com uma rede de distribuição para todas as residências, que vão

beneficiar as comunidades de Lajinha, Palma e Barra da Espingarda. Com um investimento de R$ 4,8 milhões e

beneficiando 1.350 pessoas. A adutora da comunidade Barra da Espingarda tem captação de água na Barragem

Passagem das Traíras, município de Jardim do Seridó; com uma extensão de 11,2 quilômetros; um investimento

de R$ 650 mil do Orçamento Geral do Estado e um investimento na ampliação da rede de distribuição de R$ 324

mil, um convênio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH) com o Banco

Mundial (BIRD) através do Programa Semiárido Potiguar (PSP). Disponível em:

<http://www.datanorte.rn.gov.br/content/aplicacao/searh/imprensa/enviados/noticia_imprime.asp?nCodigoNotici

a=31699>. Acesso em: 13 set. 2014.

33 As primeiras cisternas, para o consumo humano, construídas na comunidade foram através do Programa Um

Milhão de Cisternas (P1MC) e Fome Zero em parceria com a Secretaria de Estado do Trabalho, Habitação e da

Assistência Social (SETHAS), MDS e Governo do Estado, com parceria com o SEAPAC, no começo dos anos

2000. No ano de 2014 novas cisternas foram construídas nas residências que ainda não possuíam cisternas para o

consumo humano, através do Programa Água para Todos em parceria com a FUNASA. E cisternas do tipo

calçadão e enxurrada nas residências que já possuíam as cisternas do Programa Fome Zero, através do Programa

Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e Água para Todos em parceria com a ASA, o BNDES e o Governo Federal e

supervisão do SEAPAC; assim como, barreiro trincheira. As residências beneficiadas só podiam escolher um

desses três tipos para a produção, seja de alimentos, através da agroecologia, seja de criação de animais

garantindo a segurança alimentar e nutricional e garantindo uma fonte de renda, onde o SEAPAC ofereceu um

curso de capacitação para os beneficiados.

82

Figura 6: Caixas d‟água da Associação (1 e 2); dessalinizador (3); cata-vento (4); cisterna do SEAPAC (5);

cisterna FUNASA (6); cisterna enxurrada (7) e cisterna calçadão (8).

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

83

As residências entrevistadas relataram utilizar a água das caixas d‟água da Associação,

dos cata-ventos, da adutora, dos barreiros, lagoas e açude Itans, de poços (amazonas e

artesianos); alguns desses poços são particulares e outros comunitários, das cisternas calçadão

e enxurrada e barreiro trincheira para o uso doméstico e para os animais. E do dessalinizador,

das cisternas, abastecidas com água de chuva ou com carros-pipa do Exército Brasileiro e da

Prefeitura durante os períodos de seca, e água mineral comprada. Também há a presença de

duas barragens subterrâneas na comunidade, mas a água retida no solo é utilizada apenas pelo

pomar de uma residência. As formas de tratamento relatadas foram à adição de cloro e o uso

de filtros de água.

5.3. FONTES DE RENDA

As principais fontes de renda dos residentes da comunidade Barra da Espingarda estão

inseridas nas atividades agropecuárias e não agrícolas. Assim como, empréstimos, ajuda

financeira e programas do Governo.

A renda é um fator essencial para o desenvolvimento rural de uma localidade, pois além

de promover o mesmo, melhora a condição e a qualidade de vida das pessoas, fazendo com

que elas permaneçam no campo (AGUIAR, 2011; ABRAMOVAY, 2003; CONCEIÇÃO, P.;

CONCEIÇÃO, J., 2006; CONTERATO, 2008; VEIGA, 2001). A geração de renda no meio

rural também inclui a aposentadoria, pensão, pensão alimentícia, aluguel, mesada ou doação,

renda mínima, seguro-desemprego, entre outros.

5.3.1. Atividades agropecuárias e extrativas

A comunidade sempre esteve ligada às atividades agropecuárias, sobretudo, com a

construção do açude Itans, que possibilitou o acesso à água e às terras mais férteis, com a

presença de agricultura de sequeiro e de vazante 34

.

34

A agricultura de sequeiro é aquela onde a cultura é plantada em uma área sem o uso de irrigação em regiões

onde a precipitação é inferior a 500 mm (QUARANTA, [2010]), ou seja, o plantio é realizado nos períodos

chuvosos, aproveitando-se apenas a chuva como fonte de água. Já a agricultura de vazante se dá com o recuo das

aguás de algum corpo hídrico (açudes, rios e lagos) deixando a amostra solos potencialmente agricultáveis

embebidos de água e enriquecidos com os depósitos de aluviões (MAZOYER; ROUDART, 2010).

84

Historicamente, em relação à produtividade agrícola na comunidade, a mesma se

dividiu entre dois setores: a agricultura de subsistência e o cultivo do algodão.

A prática da cotonicultura no Seridó se tornou evidente no final do século XIX, quando

passou a abastecer a indústria têxtil da Inglaterra, acompanhada por um grande crescimento

econômico que possibilitou o desenvolvimento da elite agrária local. Nesse mesmo contexto,

o cultivo de algodão se tornou uma prática recorrente para a agricultura familiar como fonte

de renda monetária. O algodão mocó (Gossypium hirsutum marie galante Hutch), devido a

sua adaptabilidade ao solo e ao clima semiárido e por causa da qualidade da sua fibra, foi

considerado como um dos melhores do mundo, elevando o Rio Grande do Norte a grande

produtor mundial. Porém, o ciclo algodoeiro no Seridó entrou em decadência a partir da

década de 1970, sendo uns dos principais motivos para essa decadência as secas e a praga do

bicudo (Anthonomus grandis Boheman) que destruiu as plantações (MEDEIROS, 2012).

A grande maioria das famílias residentes na comunidade Barra da Espingarda praticava

o cultivo do algodão mocó, em suas próprias terras, em geral, devido à maioria das terras da

comunidade ter sido concedida aos moradores pelo DNOCS, para os agricultores familiares.

De caráter familiar, onde, em geral, as famílias eram constituídas por grande número de

filhos que ajudavam na plantação e colheita do algodão, se constituía como a principal fonte

de renda monetária para os pequenos agricultores, pois, era estreitamente ligada à pecuária, já

que depois da colheita a área e os restos da plantação eram utilizados como pasto para o gado,

e ao consórcio com outras culturas, como milho e o feijão, voltados para a subsistência. As

safras eram colhidas, geralmente, de julho a setembro, e armazenava-se em casa para ser

vendida a um comprador ou na feira livre da cidade, anualmente, entre novembro a dezembro,

que levava o algodão para a “Algodoeira de Manoel Torres” (Algodoeira Seridó Comércio e

Indústria S/A (ALSECOSA)), em Caicó/RN. Assim, o dinheiro que se ganhava era utilizado,

sobretudo, para a compra de comida e de roupas34

.

O fim do cultivo do algodão acarretou em uma grande defasagem na renda familiar,

apesar de ser uma renda anual, devido à safra só ser vendida uma vez por ano, pois era,

sobretudo, a partir deste, que se tirava o sustento da família. A partir daí, passou-se a cultivar

na área as culturas de batata, feijão, milho e jerimum entre outras, para subsistência e para a

venda na feira, como fonte de renda. Depois da queda do algodão, no final da década de 1980,

provocada por secas sucessivas e pela dizimação provocada pela praga do bicudo nas

lavouras, sobretudo, depois do fechamento da algodoeira, todos os cultivos de algodão da

comunidade foram extintos34

.

85

Depois da queda do algodão, houve o cercamento das antigas áreas de cultivo para a

criação de gado. A partir daí a pecuária leiteira despontou na comunidade como uma atividade

econômica secundária, geradora ou complementadora, da renda, sobretudo, nas pequenas

propriedades. E voltada, principalmente, para o autoconsumo familiar, se tornando uma

atividade rentável, estimulou muitos agricultores a manter os rebanhos e até aumentá-los,

juntamente com as culturas agrícolas, e outros a se dedicarem exclusivamente à atividade

leiteira34

.

Por volta dessa época de plantação de algodão, também se plantava arroz nas áreas mais

úmidas e de vazante no período de chuvas35

, cuja colheita e venda se dava anualmente.

No passado a maioria dos moradores rurais na comunidade Barra da Espingarda eram

agricultores familiares36

, e a atividade agrícola era sua principal fonte de renda, apesar do

declínio dessa categoria, ainda se observa um significativo número de agricultores familiares,

que praticam, sobretudo, a agricultura de subsistência, com culturas, sobretudo, do milho e do

feijão, mas, também batata doce, melancia, tomate, mandioca, jerimum, maxixe, quiabo e

fava, cultivados, principalmente, às margens do rio Barra Nova e do açude Itans, com solos

úmidos e férteis, mas, também às margens de pequenos barreiros e açudes particulares. Assim

como, também há a prática da agricultura de sequeiro (ver Figura 7). Atualmente, observa-se

a tendência da masculinização e envelhecimento nas práticas agrícolas, onde anteriormente,

os filhos ainda se revezavam entre estudar e ajudar seus pais na agricultura. Hoje, em maioria,

apenas o pai trabalha e os filhos estudam e/ou trabalham em outras atividades não agrícolas.

35

Entrevista com Julita dos Santos Silva (uma antiga moradora da comunidade), concedida no dia 10 de julho de

2014.

36 Um termo que se refere a agricultores e suas famílias, os quais praticam a agricultura de subsistência, na

condição de proprietários ou arrendatários da terra, para o próprio consumo, se constituindo por vezes como a

principal ou a única fonte de alimento, e também com a venda do excedente para a geração de renda

(MORRISON, 2010).

86

Figura 7: Agricultura de sequeiro na comunidade Barra da Espingarda

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

Considerando os dados da pesquisa, quanto ao desenvolvimento de atividades agrícolas,

em 70% das residências há indivíduos que trabalham com a agricultura. Nas residências em

que se praticou ou se pratica atividades agrícolas, 66% afirmaram que seus filhos trabalharam

ou trabalham na agricultura e 34% afirmaram que não, isso se dá por não terem filhos, por não

terem terras para plantar, por trabalharem em atividades não agrícolas ou não quererem que

seus filhos façam essas atividades, incentivando-os a praticar atividades não agrícolas. Apenas

4% dos entrevistados relataram desejar que os filhos continuassem a trabalhar na agricultura e

96% relataram que não; 31% relataram que alguém continuará a realizar as atividades

agrícolas quando o indivíduo que pratica atualmente não puder mais realizar essas práticas, e

69% relataram que não (ver Gráfico 12).

Gráfico 12 – Continuação do trabalho agrícola na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Questão fechada de múltipla escolha, com percentuais individuais; considerando as 44 residências da

amostragem.

66

34

4

96

31

69

0

20

40

60

80

100

120

Filhos que

trabalham ou

trabalharam

Filhos já não ou

nunca

trabalharam

Desejar que os

filhos

continuem

trabalhando

Não desejar que

trabalhem

Continuidade

nos trabalhos

Não

continuidade

nos trabalhos

Per

centu

al (

%)

87

Na comunidade pratica-se a agricultura de vazante (ver Figura 8) e de sequeiro, muitos

residentes na comunidade irrigam suas lavouras. Dentre as culturas plantadas, o capim, o

milho, o feijão, a batata doce, o jerimum, a melancia e melão são as mais cultivadas. Todos

que afirmaram ter a pratica da agricultura em suas famílias plantavam culturas alimentícias,

mesmo que no momento atual, em período de seca, não estejam plantando.

Figura 8: Agricultura de vazante na comunidade Barra da Espingarda.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

Dos entrevistados que afirmaram produzir frutas, verduras e legumes, 97% afirmaram

apenas consumir e apenas 3% afirmaram consumir e vender a produção, na feira livre da

cidade (ver Gráfico 13). As culturas agrícolas expostas são vulneráveis a qualquer

instabilidade climática, portanto, causando também instabilidade para a população. Como em

nossa região há apenas duas estações, o verão (estação seca) e o inverno (estação chuvosa),

aproveita-se o “inverno” para o cultivo agrícola. Como essas estações são interdependentes, a

capacidade do agricultor de enfrentar a estação seca, depende da qualidade da estação

chuvosa.

88

Gráfico 13 – Consumo e venda de frutas, verduras e legumes produzidos na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Dados referentes apenas às residências que afirmaram produzir frutas, legumes e verduras.

Alguns residentes são trabalhadores contratados na agricultura e plantam nas terras do

patrão, também fazendo usos para si próprios. Em relação à contratação de mão-de-obra para

ajudar nos trabalhos da propriedade, 61% dos indivíduos da amostragem relataram não

contratar ninguém, 5% contratam mão-de-obra permanente e 34% contratam mão-de-obra

temporária (ver Gráfico 14).

Gráfico 14 – Uso de mão-de-obra contratada na propriedade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Levando-se em consideração as benfeitorias e/ou instalações na propriedade, o maior

percentual foi das residências que possuíam galinheiro (89%), observando-se a tendência da

criação de galinhas na maioria das propriedades, onde em muitos casos há a venda de galinhas

para a complementação da renda. A menor porcentagem foi das propriedades que possuíam

97%

3%

Consumo

Venda

61%

5%

34%

Não contratam mão-de-obra

Contratam mão-de-obra permanente

Contratam mão-de-obra temporária

89

casa de empregado (2%) e barreiro trincheira (2%). Dentre a categoria outros, estão em sua

maioria, barreiros, açude, cata-ventos comunitários e barragens subterrâneas (ver Gráfico 15).

Gráfico 15 – Benfeitorias e instalações da propriedade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Questão fechada de múltipla escolha, com percentuais individuais, considerando apenas os mais citados,

abarcando as 44 residências da amostragem. Cisternas SEAPAC e FUNASA por que foram construídas através

dessas instituições.

Observando alguns dados anteriores, de 1998 e 2001, verificam-se as principais

lavouras e a área plantada das mesmas. A principal era a plantação de capim, podendo inferir

que sua importância se dá pela tendência de se prezar mais pela pecuária do que pelas culturas

alimentícias, em geral, para o autoconsumo familiar. E também os animais e aves da

comunidade, quando podemos perceber claramente a preferência pela pecuária (ver Tabela 3 e

4).

1

15

2

23

8 8 8 9

16

1 3

1

8

0

5

10

15

20

25

Per

centu

al (

%)

90

Tabela 3 – Principais lavouras agrícolas na comunidade, em 1998 e 2001

Ano Principais lavouras Área plantada (hectare)

1998

Capim 20

Feijão 15

Milho 15

Melão 8

Batata doce 6

Jerimum 2

Cana-de-açúcar 2

2001

Capim 50

Feijão 15

Milho 15

Melão 8

Batata doce 6

Jerimum 2

Cana-de-açúcar -

Fonte: Dados trabalhados pela autora, 2014.

Nota: Dados extraídos dos projetos de Abastecimento de água, de 1998, feito pelo SEAPAC, e Ovinicultura, de

2001, feito pela EMATER, ambos da Associação Comunitária Barra da Espingarda. O sinal ( - ) significa que

não há dados referentes a tal lavoura naquele ano.

Tabela 4 – Quantidade de animais e aves na comunidade, em 1998 e 2001

Ano Pecuária Cabeças (nº)

1998

Bovinos 900

Ovinos 300

Suínos 30

Galinhas 350

2001

Bovinos 900

Ovinos 300

Suínos 50

Galinhas e outras aves 900

Fonte: Dados trabalhados pela autora, 2014.

Nota: Dados extraídos dos projetos de Abastecimento de água, de 1998, feito pelo SEAPAC, e Ovinicultura, de

2001, feito pela EMATER, ambos da Associação Comunitária Barra da Espingarda.

Quanto à utilização de equipamentos de uso agropecuário, 75% dos indivíduos da

amostragem afirmaram utilizar. Desses, os maiores percentuais ainda se concentram no uso de

enxada, facão e carroça. Apesar da tendência atual de se transportar o capim em carros e

motos, também observado na comunidade, a amostragem só abarcou o uso de 1% dessa

tendência (ver Gráfico 16; ver Figura 9). Dentre as formas relatadas de se preparar o solo para

o plantio, está o uso do trator através da Secretaria Municipal de Agricultura do município de

Caicó ou de forma paga, a aração da terra através de capinadeira de tração animal, o uso de

enxada para cavar e limpar a área, o uso de roçadeiras rústicas manuais para retirar a

vegetação e de roçadeiras mecânicas manuais para se cortar o capim, substituindo, assim, o

91

uso do facão e de outros instrumentos tradicionais; o uso de sementes próprias e as que são

distribuídas pela Emater37, como milho e feijão, o uso de adubo natural e de ureia e a

pulverização.

Gráfico 16 – Equipamentos e transportes para o uso agropecuário na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Questão fechada de múltipla escolha, com percentuais individuais; considerando as 44 residências da

amostragem.

37

Acerca do recebimento de sementes selecionadas do Governo do Estado, distribuídas pela Emater, 66% dos

indivíduos entrevistados relataram já ter recebido ou ainda receberem sementes da Emater e 34% nunca recebeu;

ou por não serem agricultores ou por não querer fazer o cadastro de recebimento.

7

9 8

13

6

8 7

9

15

13

4

1 1

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Per

centu

al (

%)

92

Figura 9: Modo de trabalho e de transporte na agricultura na comunidade.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

Dos membros da família que desenvolvem atividades não agrícolas e há a prática de

atividades agrícolas na propriedade, 78% dos indivíduos entrevistados afirmaram que

fornecem algum tipo de ajuda nas atividades agrícolas e 28% não fornecem nenhuma ajuda.

Em relação a possuir horta e/ou pomar, 50% dos indivíduos da amostragem relataram

que possuíam horta e 50% relataram que não. Dentre os relatos estão plantas medicinais,

coentro, cebolinha, pimenta, pimentão, tomate e alface. Muitos relataram que irão plantar

utilizando a água das cisternas calçadão e enxurrada. Todos os entrevistados relataram apenas

o consumo e não a venda. Quanto ao pomar, ou seja, uma quantidade significativa de plantas

frutíferas, na residência (ver Figura 10), com frutas como cajarana, acerola, manga, limão,

siriguela, coco, romã, groselha, pinha, caju, goiaba, tangerina e graviola. A maioria relatou

apenas o consumo próprio e a minoria a venda na feira livre de Caicó.

93

Figura 10: Pomar de uma residência na comunidade Barra da Espingarda.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

Em relação à pecuária, em 50% das residências alguém trabalha nessa prática. Voltada

para a criação e produção de leite, a venda só se dá quando necessário, por necessitar de

dinheiro, em períodos de seca ou quando há uma quantidade que o proprietário não pode

manter. A venda se dá por meio de compradores da comunidade e fora dela ou para o

matadouro, com a licença da Emater.

Quanto aos derivados de origem animal, como leite, queijo, manteiga e ovos, 91% das

residências da amostragem responderam que produzem algum tipo de derivado. Dos que

produzem derivados, 34% relataram apenas o consumo próprio e 66% relataram o consumo e

a venda dos mesmos (ver Gráfico 17). Vende-se para os residentes da própria comunidade, na

feira livre da cidade ou por encomenda, para mercearias, queijeiras e quitandas. Foi

construída na comunidade uma unidade de refrigeração de leite (ver Figura 11), em 2011,

através da Associação Comunitária, da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó

(ADESE) e da Emater, o prédio foi construído e há os equipamentos, mas falta à refrigeração,

nunca entrou em funcionamento, até o ano de 2015 onde estão planejando seu funcionamento.

Gráfico 17 – Destino dos derivados de origem animal na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

34%

66%

Consumo próprio

Consumo e venda

94

Figura 11: Unidade de refrigeração de leite.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

Quanto a ter outras atividades produtivas, anteriormente, na propriedade, 23% dos

entrevistados responderam que sim e 77% responderam que não. Dentre essas atividades estão

a criação de bovinos, o cultivo de algodão, do arroz e de frutas e verduras para vender a

compradores e na feira livre da cidade, como também a venda de leite, a produção de queijos

e a venda de peixes.

Considerando a participação em cooperativas, 20% dos entrevistados afirmaram que

alguém da família é ou já fez parte de uma cooperativa. As cooperativas mencionadas foram a

COACAL (Cooperativa Agropecuária de Caicó LTDA) e a CERPIL (Cooperativa de Energia

e Desenvolvimento Rural do Piranhas).

Considerou-se também a participação dos residentes no Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais de Caicó, por amparar os agricultores familiares desde 1963 e assim

promover o desenvolvimento rural das comunidades rurais. Apenas 14% dos indivíduos da

amostragem não são sócios. Quanto à quantidade de membros na residência: um membro

(14%), dois membros (66%), três membros (17%) e cinco membros (3%), onde todos da

residência eram membros. Todos os residentes que afirmaram ser sócios relataram utilizar os

serviços de aposentadoria, desses 73% utilizaram os serviços odontológicos e 16% utilizaram

a assistência jurídica. Considerou-se também o tempo em que se é sócio do Sindicato, onde o

maior percentual se deu entre 6 a 10 anos (25%) e o menor entre 21 e 25 anos (8%) (ver o

Gráfico 18).

95

Gráfico 18 – Tempo de participação no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

de Caicó/RN

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Em relação à assistência técnica, 16% dos indivíduos da amostragem responderam que

já receberam e 84% relataram que não (ver Gráfico 19). Dentre as quais, técnicos da Emater

para vacinação do gado e inseminação artificial, técnicos do DNOCS para medir vazantes,

fiscalizar plantações e pulverizar as lavouras.

Gráfico 19 – Assistência Técnica para os residentes

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Considerando a relação com o DNOCS, 23% não tem nenhuma ligação com o mesmo,

por estarem localizados em terras particulares; 18% apenas têm suas residências nas terras do

DNOCS e não possuem terra; e 59% tem contrato de renda, com concessão de terras (ver

Gráfico 20).

11%

25%

19% 11%

8%

9%

17% Menos de 1 a 5 anos

De 6 a 10 anos

De 11 a 15 anos

De 16 a 20 anos

De 21 a 25 anos

De 26 a 30 anos

De 31 a 35 anos

16%

84%

Recebimento de

assistência técnica

Não recebimento

96

Gráfico 20 – Relação dos residentes com DNOCS

Fonte: Dados pesquisa, 2014.

Dos indivíduos da amostragem 52% têm a Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP),

havendo famílias onde mais de uma pessoa tem, e 48% não tem, ou por falta de conhecimento

ou por não serem agricultores. Quanto ao uso de empréstimos ao banco, 79% dos indivíduos

entrevistados afirmaram já terem feito algum tipo de empréstimo, dentre eles o PRONAF (B,

C e Mulher) e Agroamigo38

. Os propósitos mais citados foram para a compra de bovinos,

ovinos e galinhas, de arame para fazer cercas, compra de capim e ração de armazém para os

animais, contratação de trator para arar as lavouras, construção e reparos de barreiros e um

poço amazonas.

Quanto às atividades extrativas, as estratégias de geração de renda são o aproveitamento

de materiais naturalmente encontradas na Caatinga, como a venda de areia (do rio) para ser

utilizada como material de construção nas áreas urbanas, porém também é utilizada nas

construções da própria comunidade, sem custos; e a extração de argila, voltadas para a venda.

A prática de venda de argila e areia, não apareceu em nenhuma das residências da

amostragem, mas é muito presente na comunidade. E retirada e venda de madeira para

cerâmicas e padarias. Assim, em 43% das residências da amostragem tem alguém que pratica

a extração desse material. A madeira é utilizada para o consumo próprio. Na amostragem

foram identificados apenas dois moradores que trabalham com a venda de madeira, para a

construção de cercas e para utilizar nos fogões de lenha, para os residentes da comunidade e

38 O Agroamigo é o Programa de Microfinança Rural do Banco do Nordeste, criado em 2005, é operacionalizado

em parceria com o Instituto Nordeste Cidadania (INEC) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA); se

tornando o maior programa de microfinança rural da América do Sul. Fornecendo crédito aos agricultores

familiares enquadrados no (PRONAF), com exceção dos grupos A e A/C. Disponível em:

<http://www.bnb.gov.br/agroamigo>. Acesso em: 13 set. 2014.

23%

18% 59%

Sem relação

Apenas a residência

Contrato de Renda

97

para olarias da região. Alguns proprietários de terra às vezes vendem a madeira da sua

propriedade, apesar dessa prática só ter sido relatada em uma propriedade da amostragem.

5.3.1.1. Efeitos agrícolas e sociais ocasionados pela seca

A irregularidade pluviométrica influencia diretamente, tanto na disponibilidade da

quantidade de água para uso e consumo quanto na produtividade agrícola. Na comunidade

não se verificou mais nenhuma família que dependa da agricultura de subsistência para

sobreviver.

Nos anos de pluviosidade irregular há redução substancial das provisões alimentares,

tanto humanas quanto para os animais, resultando em perda nas safras, que já não gera

significativas dívidas e nem problemas com o pagamento de crédito.

O açude Itans, nesse presente ano, se encontra quase seco, ameaçando

significativamente a capacidade de abastecimento de água para a população da cidade e das

comunidades que se encontram às suas margens, como a comunidade Barra da Espingarda

que utiliza sua água para uso e consumo humano e animal e também para o plantio.

Anteriormente, em períodos de estiagem prolongada, as opções de trabalho e de geração

de renda, eram escassas, assim o governo tomava medidas de emergência. A solução mais

emblemática em tempos como esses eram os Programas de Emergência39; 59% afirmaram que

algum membro da família já fez parte e 41% afirmaram que não. A maioria não lembra o ano

que fez parte, mas, alguns relataram os anos de 1982, 1983, 1993 e 1994, anos de seca.

Através do recebimento de dinheiro e de alimentos, de trabalhos como construção e reparos

de açudes, barreiros e estradas, perfuração de poços e cacimbas, construção de casas,

plantação de hortaliças, cuidadoras de crianças, limpeza das áreas de lavoura, cujas atividades

eram desenvolvidas por homens e mulheres.

Quanto ao questionamento se a seca prejudicou de alguma forma, a situação econômica

da família, 61% afirmaram que sim e 39% afirmaram que não (ver Gráfico 21). Isso se deu

devido aos gastos com água mineral, com compra de capim e ração de armazém para os

animais e às vezes com gastos com carro-pipa para o abastecimento. E também com a morte

de animais e venda dos mesmos, diminuição no volume do leite, entre outros.

39

Historicamente, durante as secas periódicas no semiárido nordestino a principal política pública era as frentes

produtivas de socorro aos flagelados; uma das modalidades de política emergencial.

98

Gráfico 21 – Prejuízos econômicos ocasionados pela seca na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Quanto à questão do acesso à água, a população da comunidade não teve maiores

problemas, pois no decorrer do ano de 2014 entrou em funcionamento a adutora, com água

encanada em todas as residências, e foram construídas cisternas para reservar água potável,

em todas as casas que faltavam. E também diversas residências foram beneficiadas com

cisternas de produção, do tipo calçadão e enxurrada e barreiro trincheira, facilitando com isso,

o acesso à água em todas as residências. Todos ficaram satisfeitos com as medidas tomadas

para promover o acesso à água, expressando que deveriam perfurar poços tubulares e

fornecerem manutenção das estruturas e instalações existentes.

Para os agricultores, devido à seca, em 16% das residências entrevistadas, a família

recebeu o Garantia Safra40

e 84% afirmaram que não, dentre as razões para nunca ter recebido

estão: por não serem agricultores, por nunca terem se cadastrado ou por que se cadastraram,

mas nunca receberam.

Algumas famílias beneficiárias do Bolsa Família receberam o Bolsa Estiagem, devido o

período de seca, aumentando assim a renda da família.

5.3.2. Atividades não agrícolas

40

O Fundo de Garantia Safra foi criado em 2002, pela Lei 10.420 de 10 de abril de 2002, vinculado ao MDA.

Objetiva oferecer um benefício no valor de 850,00R$ dividido em 5 parcelas para os agricultores familiares que

comprovaram a perda de 50% da sua safra nos munícipios situados na área de atuação da SUDENE e que

decretaram situação de emergência devido a estiagem prolongada, que se inscreveram e deram uma contrapartida

ao Fundo. Disponível em: <https://www.seagri.ba.gov.br/content/programa-garantia-safra-

0&ei=vtty_iGO&lc=pt-BR&s=1>. Acesso em: 10 nov. 2014.

61%

39% Sim

Não

99

Ao abordar sobre as atividades não agrícolas expomos acerca dos empregos

desempenhados pelos residentes, que caracterizam uma das principais fontes de renda. E

outras complementares, assim como, de empréstimos e ajuda de parentes, que são algumas

fontes de renda usadas em situação de emergência.

As atividades rurais não agrícolas quando constituem a principal fonte de renda das

famílias, acarretará nas transformações de divisão do trabalho, na relação familiar e na

disposição da agricultura familiar. Quanto maior sua disposição, menor a participação da

renda proveniente da agropecuária (NEY; HOFFMANN, 2008).

Em relação aos tipos de emprego dos residentes, podemos elencar os seguintes: Auxiliar

de Serviços Gerais (ASG) e Técnica em Enfermagem no Centro de Saúde Mãe Mariquinha,

Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), ASG na escola da comunidade, diretora de escola,

merendeira, bibliotecária da escola, motorista de transporte escolar, cabeleireira, pescadores e

pedreiros. Dos empregos desempenhados na cidade, representando um movimento pendular

dos residentes, está o de ASG, Auxiliares de Limpezas Públicas, Moto-táxi, ajudante de

mecânico, presidente de entidade, técnico em informática, ajudantes em armazém de

supermercado, secretárias do lar, motorista de uma distribuidora de bebidas e cuidadora de

criança. E também há pessoas que moram na cidade e trabalham na referida comunidade

como: professores e ASGs na escola e a equipe do ESF na UBS. Há também famílias onde

ninguém tem emprego, apenas são donas de casa e agricultores que tiram seu sustento de

aposentadorias, pensões ou de trabalhos contratados na agricultura.

Caracterizando um movimento pendular, onde há moradores que têm suas residências

na comunidade e trabalham na cidade e outros residentes da cidade que trabalham na

comunidade.

Dentre os entrevistados que afirmaram possuir outros rendimentos, 18% afirmaram que

sim e 82% afirmaram que não. Portanto, outras fontes geradoras de renda, sobretudo de forma

complementar, são a confecção de bordados, croché, costuras, pintura em panos de prato e

toalhas, vestidos de festa junina e fabricação de bolos para o consumo da família ou por

encomendas na comunidade e na cidade, na feira livre.

Falando de empréstimos, 21% dos indivíduos afirmaram que a família nunca fez

empréstimos e 79% que a família já fez algum tipo de empréstimo, desses 9% afirmaram

terem tido dificuldades para pagar e 70% afirmaram que não tiveram dificuldade.

Considerando os tipos de empréstimos, foi citado o Crediamigo, empréstimo consignado e

empréstimo através da Prefeitura descontando no salário do funcionário público municipal.

Alguns propósitos foram reparos na residência e ajudar na compra de moto e carro.

100

Dentre as pessoas que relataram receber ajuda financeira de parentes de fora, 27%

afirmaram que sim e 73% afirmaram que não. Essa ajuda financeira vem, em geral, de filhos

ou de irmãos.

5.3.3. Programas Sociais do Governo e Políticas Públicas

Quanto ao acesso às políticas públicas, a maioria dos entrevistados afirmou ser bom

(61%) e a menor porcentagem foi dos que relataram um acesso ruim (5%) (ver Gráfico 22).

Gráfico 22 – Acesso às políticas públicas pelos residentes

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Considerando apenas a resposta do entrevistado em cada residência.

Tratando-se dos indivíduos que foram ou ainda são beneficiados por programas sociais

do Governo (75%), foram citados em sua maioria o Bolsa Família; assim como, programas

antigos como a Bolsa Escola, o Cartão Alimentação e o Vale Gás41

, que não computados. A

seguir veremos as políticas observadas na comunidade segundo a amostragem (ver Quadro 2).

41 Bolsa Escola, criado em 1997, fornecia as famílias beneficiadas com crianças de 6 a 15 anos, com renda

abaixo de 90 reais, um benefício mensal que variava dependendo do número de crianças na família. Bolsa

Alimentação ou Programa de Renda Mínima vinculada à Saúde, criado em 2001, através do fornecimento de um

benefício mensal para gestantes ou mães amamentando, crianças de 6 meses a 6 anos e 11 meses de idade,

pertencentes a famílias com renda abaixo de meio salário mínimo, ou para mães portadoras de vírus HIV.

Programa de Auxílio Gás, criado em 2002, um benefício a cada dois meses para ajudar a comprar o gás, para

famílias com uma renda menor do que meio salário mínimo cadastradas no Programa Bolsa Escola ou no

Cadastro Único dos Programas Sociais (SUPLICY, 2003).

5%

23%

61%

11%

Ruim

Regular

Bom

Ótimo

101

Quadro 2 - Políticas Públicas que foram evidenciadas na comunidade Barra da Espingarda

EDUCAÇÃO SAÚDE ÁGUA AGRICULTURA HABITAÇÃO SEGURANÇA

ALIMENTAR

MOBRAL

ESF

Adutora PRONAF PMCMV Fome Zero

MEB P1MC Bolsa Estiagem PNHR Bolsa Família

PETI P1+2 Programa de

Sementes

Selecionadas do

Governo do Estado

Projeto

SESP/CHAGAS Bolsa Estiagem

PNAE Água Para

Todos EJA

Arca das Letras42

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

5.3.4. Aposentadoria e pensão

Quanto ao recebimento de aposentadoria e pensão, 61% relataram que recebem e 39%

que não (ver Gráfico 23). Desses, 95% são aposentadorias, ou por idade ou por problemas de

saúde (invalidez), e apenas 5% são pensões.

Gráfico 23 – Recebimento de aposentadoria e pensão na comunidade

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Das famílias com aposentados, 50% tem apenas um beneficiado, 46% têm dois e 4%

tem três beneficiados.

42

Programa de Bibliotecas Rurais Arca das Letras do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e

iniciativa da Secretaria de Reordenamento Agrário do MDA (SRA), com o apoio do Banco do Brasil e programa

Fome Zero; foi criado em 2003, objetivando o incentivo da leitura no meio rural e, assim, contribuir para a

melhoria educacional dos moradores, através da implantação de bibliotecas, formação de agentes de leitura e

distribuição de acervos em comunidades de assentados da reforma agrária, beneficiários do Programa Nacional

de Crédito Fundiário, comunidades ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, indígenas e pescadores.

61%

39% Sim

Não

102

5.4. CONSUMO DE BENS E SERVIÇOS

O consumo de bens e serviços no meio rural tem crescido significativamente nesses

últimos anos, atestando a modernidade no meio rural, fazendo com que este ofereça meios

para que a população permaneça no campo e dependa menos das cidades (GRAZIANO DA

SILVA, 1997). Portanto, o que se evidencia já há algum tempo é o aumento de poder de

compra dos residentes nas áreas rurais e a imitação dos modos de vida urbanos. Assim, os

meios de transporte agora são carros e motos, a comunicação já não se dá mais de vizinho

para vizinho, há a internet e televisão, já não se fazem mais trabalhos manuais e sim com o

uso de eletrodomésticos.

Quanto aos bens de consumo, todas as residências apresentam fogão a gás, ferro

elétrico, televisor e rádio (100%). A menor porcentagem foi de residências que possuíam

micro-ondas (25%) (ver Gráfico 24).

Gráfico 24 – Bens de consumo duráveis do domicílio

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Nota: Questão fechada de múltipla escolha, com percentuais individuais; considerando as 44 residências da

amostragem.

Em relação ao acesso a serviços, na referida comunidade, podemos citar a circulação de

transportes, sobretudo, aos sábados, transportando os residentes para fazer a feira na cidade. A

própria comunidade também oferece o acesso à compra de alimentos, pela presença de duas

pequenas vendas (bodegas); e de botijões de gás e água mineral. E também um maior acesso

aos serviços da cidade devido à proximidade, em média 10 a 15 minutos de distância.

36

64 55

45

98

57

100

80

25

98

45

100 100 93 89

100 89 95

43

27

0

20

40

60

80

100

120

Per

centu

al (

%)

103

5.5. ESPAÇOS PÚBLICOS E PARTICULARES DE CONVIVÊNCIA

Quanto à disposição de espaços públicos e particulares existentes, a comunidade Barra

da Espingarda conta com uma casa de festas, o Campal da Barra, atraindo pessoas de várias

partes da região, que passou a realizar festas a partir de 1991 e voltou a funcionar em 2015.

Há dois campos de futebol, com jogos aos fins de semana e feriados, atraindo pessoas

de comunidades vizinhas e até da cidade para jogar, havendo também campeonatos locais. E a

Prefeitura está construindo uma quadra de esportes na comunidade, em frente à escola.

Uma capela, chamada de Capela Nossa Senhora da Conceição da Divina Misericórdia

(ver Figura 12) da paróquia de Santo Estevão, construída em 2000, que realiza missas

semanalmente e em datas religiosas, batizados e casamentos. Quanto à participação social dos

residentes, 93% dos entrevistados relataram ter alguma relação com a Capela, à maioria

participando das missas e outros participando da organização dos eventos da mesma, e 7%

relataram não fazer parte, pois eram evangélicos. Na comunidade também há aulas de

Primeira Comunhão e Eucaristia. Durante os meses de outubro a dezembro há novenas e

leilões em diversas residências espalhadas pela comunidade e até em comunidades vizinhas,

para a arrecadação de dinheiro para a Capela. Havendo também, até 2012, festividades com

animações que atraíam pessoas de várias localidades. Anteriormente à construção da capela,

não havia missas na comunidade, as pessoas tinham que se deslocar até a cidade; havendo

também terços nas residências, o que era considerado a diversão das famílias. Depois passou a

ter uma missa por mês na escola e só com a criação da capela, que as missas passaram a ser

frequentes.

Figura 12: Capela Nossa Senhora da Conceição da Divina Misericórdia.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

104

Outros espaços públicos são o Centro de Saúde Mãe Mariquinha e a Escola Municipal

Severino Paulino de Souza, que funciona do Ensino Infantil ao Ensino Fundamental II,

funcionando em dois turnos (matutino e vespertino), atende a própria comunidade e as que

são vizinhas. Também realizando festividades em datas comemorativas, como a festa de São

João, para a arrecadação de dinheiro para a escola, que atrai pessoas de diversas localidades e

a festa dos ex-alunos.

Uma quadra de esportes comunitária, em frente à escola, onde se realiza as atividades de

esporte e lazer.

A comunidade conta com duas lavanderias comunitárias (ver Figura 13), que se

configuram também como espaços públicos, conseguidas através da Associação Comunitária.

Apesar de apenas uma se encontrar em funcionamento, acaba facilitando a tarefa de lavagem

de roupas, que antes era feita no rio, riacho e barreiros ou transportando água em jumentos ou

carroças para as residências.

Figura 13: Lavanderias comunitárias.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

A Associação Comunitária da Barra da Espingarda (ver Figura 14), fundada em 1993,

com sede própria, e em fase de reforma das suas dependências. Sempre buscou o

desenvolvimento rural da comunidade, através de diversos projetos e parcerias com entidades.

Realiza reuniões mensais com sorteio de presentes para os participantes e também distribui

alimentos; abriga os encontros do GES (Grupo de Estudo Sindical) pelo STTR, implantado

em 2014, onde se realizam reuniões e orientações sobre vários temas, sendo o primeiro grupo

instalado na zona rural do município, pois a comunidade Barra da Espingarda é considerada

uma comunidade polo.

105

Figura 14: Associação Comunitária da Barra da Espingarda.

Fonte: Paloma Maiara de Souza, 2014.

Há também um bar, que também atrai pessoas de outras localidades e às vezes realiza

festas e dois parques de vaquejada, para treinamento.

5.6. SENSAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO DA

POPULAÇÃO LOCAL

Considerando o que as entidades como Emater, Prefeitura, Sindicato, Associação e

DNOCS, fizeram pela comunidade, promovendo o desenvolvimento rural da mesma, 20%

acharam regular, 66% acharam bom e 14% acharam ótimo. Não houve respostas para a

categoria ruim.

Quando pedimos que o entrevistado, considerando as comunidades rurais que ele tinha

conhecimento, relatasse sua opinião em relação à comunidade Barra da Espingarda ter um

desenvolvimento mais acentuado do que as outras comunidades, a grande maioria relatou que

a comunidade é mais desenvolvida. Apenas um dos entrevistados afirmou já ter morado em

uma comunidade com um desenvolvimento mais acentuado do que a Barra da Espingarda. Os

relatos mais significativos para essas afirmações foram: a proximidade em relação à cidade; a

alocação de recursos, programas e projetos; infraestruturas como escola, capela e UBS; a

facilidade de acesso aos serviços de saúde, educação e transporte; uma Associação

Comunitária participativa, que sempre buscou o desenvolvimento da comunidade; acesso a

cursos, onde os moradores sempre buscam se capacitar; acesso à água; festividades; e por ser

mais povoada. Muitos relataram que a comunidade tem um acesso mais rápido a variadas

coisas do que as outras comunidades.

106

É uma comunidade onde não se evidencia muitos casos de criminalidade, porém, um

dos casos mais graves de violência foi uma chacina que ocorreu em 2001, que ainda

permanece na memória da comunidade. A escola também solicitou rondas escolares feitas

pela Polícia Militar e há um residente na comunidade que é policial, garantindo assim, um

pouco mais de segurança. Quanto às reclamações, a mais relevante foi à falta de

oportunidades de emprego dentro da comunidade. A maioria dos entrevistados afirmou gostar

de morar na comunidade devido à relação com a natureza e os vizinhos, a tranquilidade e os

menores gastos em relação à cidade.

Atualmente a Associação Comunitária também está buscando a vinda de uma urna

eletrônica para a que as pessoas possam votar na própria comunidade.

A respeito do grau de satisfação com a comunidade: 32% afirmaram estar muito

satisfeitos, 68% afirmaram estar satisfeitos e nenhum entrevistado afirmou estar insatisfeito.

Em relação a se mudar para a cidade, 95% afirmaram que não pretendem e apenas 5%

afirmaram pretender. Isso demonstra um bom grau de satisfação com a comunidade.

107

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Desenvolvimento Rural de uma localidade, não está ligado apenas às atividades

econômicas desenvolvidas, mas, também a melhoria da qualidade de vida das populações

rurais, em termos de atividades agropecuárias e não agrícolas desenvolvidas, uma boa

condição de moradia, o acesso a bens e serviços, a educação, a saúde, ao crédito, ao lazer,

dentre outros.

Para Abramovay (2003, p. 21, grifo do autor) se “as regiões rurais tiverem capacidade

de preencher funções necessárias a seus próprios habitantes e também às cidades – mas que

estas próprias não podem produzir – então a noção de desenvolvimento poderá ser aplicada ao

meio rural.”

O presente trabalho buscou realizar uma análise do Desenvolvimento Rural e das

Políticas Públicas na comunidade Barra da Espingarda, município de Caicó/RN. Para isso

utilizamos uma amostragem de 50% dos domicílios abertos existentes, portanto, 44

domicílios foram considerados.

Quanto aos resultados da pesquisa, considerando a qualidade de vida na comunidade,

vimos que esta apresenta boas condições de moradia, 98% das residências são próprias e

muitas se inscreveram no PNHR para a reforma e também construção, o que aumentará o

número de residências na comunidade, isso também decorrerá da melhoria do acesso á água.

Porém um fator negativo é que a comunidade já chegou a ter cerca de 400 habitantes e hoje

conta apenas com 260.

Considerando a saúde, a comunidade desde a década de 1980, conta com uma UBS, e

com o decorrer dos anos fez com que a população utilizasse mais os serviços de saúde da

comunidade do que da cidade, porém, a UBS necessita de uma reforma para melhor atender

os moradores. Em 75% das famílias tem alguém que pratica atividades físicas, a mais

evidenciada foi a caminhada, mostrando que as pessoas têm uma consciência de práticas de

exercícios para melhorar a saúde. Quanto à educação, desde por volta da década de 1970, a

comunidade vem oferecendo diversos meios de acesso à educação, onde se evidenciou que

70% estudaram na comunidade e prosseguiram os estudos na cidade, e também vem

oferecendo cursos de capacitação ou formação, como o PRONATEC.

Em consideração ao meio ambiente, não há poluição aparente nos corpos hídricos e as

pessoas estão se conscientizando cada vez mais que não se deve queimar, e sim, reciclar ou

depositar no container de lixo; ainda se verifica a degradação da vegetação e falta

conhecimento sobre o que é o meio ambiente e a importância de se conservá-lo, sendo

108

necessário, portanto uma campanha de conscientização em locais como a capela, a associação

dos moradores, a UBS e a escola. Outro problema a ser sanado é a falta de saneamento básico.

Quanto ao lazer na comunidade, ainda é carente de pontos de lazer, contudo, a quadra de

esportes que está sendo construída melhorará esta questão. Todas as residências da

comunidade apresentam vários tipos de acesso à água, assim como, todas têm água encanada

e há o abastecimento por carro-pipa, contudo, a qualidade da água deve ser melhorada.

Quanto às fontes de renda, a comunidade sempre esteve ligada às atividades

agropecuárias e extrativas, passando por bons momentos, atualmente devido às crises

econômicas e aos períodos de seca, assim como a modernidade, essas práticas diminuíram e

ficaram restritas à agricultura familiar e em sua maioria, masculinizada e restrita aos pais de

família. Quanto aos efeitos agrícolas e sociais ocasionados pela seca, não houve grandes

problemas relacionados ao acesso à água para o consumo humano, porém faltou água para os

animais e plantações, causando prejuízos econômicos para os agricultores.

As atividades não agrícolas na comunidade são hoje uma das principais fontes de

geração de renda. A geração de empregos na comunidade está em sua maioria na escola e

também há as pessoas que trabalham na cidade e moram na comunidade, caracterizando um

movimento pendular. No entanto, necessita-se aumentar a geração de emprego na

comunidade. Os programas sociais do Governo e as políticas públicas evidenciadas

melhoraram consideravelmente a qualidade de vida dos residentes. A aposentadoria e pensão

são outras fontes importantes de renda que permitem a permanência na comunidade. Há um

considerável consumo de bens e serviços, modernizando o modo de vida no campo e

garantindo o conforto necessário sem sair da comunidade.

A comunidade apresenta uma boa gama de espaços públicos e privados de convivência,

a maioria desses espaços está passando por reformas. E por fim, quanto à sensação de

qualidade de vida e desenvolvimento da população local, a maioria da população expressou

um alto grau de satisfação com a comunidade, expressando também que consideram a

comunidade com um desenvolvimento mais acentuado e aparente do que as demais

comunidades do entorno e das que eles têm conhecimento.

Nesse contexto, a comunidade Barra da Espingarda oferece grande parte das condições

que geram o desenvolvimento rural. Espera-se que, como esse trabalho, vários outros venham

a ser desenvolvidos e que tratem do desenvolvimento rural em comunidades rurais. Buscando

também levar essas informações para a população da área de estudo; ampliar o conhecimento

sobre a mesma e abrir novos horizontes para ampliar esse desenvolvimento.

109

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2013.

117

APÊNDICE A – ENTREVISTA APLICADA AOS RESIDENTES DA COMUNIDADE

BARRA DA ESPINGARDA

Período de realização das entrevistas: agosto e setembro de 2014.

DATA: ___/___/___

NOME (S) DO ENTREVISTADO (A): ___________________________________________

1) Natural da região: ( ) Sim ( ) Não. Se não, de onde e por que veio?

2) Desde quando o senhor (a) e sua família moram nesta propriedade?

3) O senhor (a) já ouviu algum relato de alguém que tenha morado na Barra da

Espingarda antes da construção do açude Itans ou mesmo depois da sua construção, sobre

como era à comunidade?

4) Composição familiar:

Gênero

(fem./mas.)

Relação com o

chefe (a)

Idade Tipo de trabalho Estado

civil

Escolaridade

CONDIÇÕES DE MORADIA:

5) Tipo de imóvel? ( ) de favor ( ) próprio ( ) alugado

6) Essa casa foi construída pelo SESP-CHAGAS: ( ) Sim ( ) Não

7) Como a propriedade ou terra foi obtida (herança, compra de parentes, compra de

terceiros, doação, doação DNOCS, posse provisória, atribuição)?

8) Qual é a área da sua propriedade?

9) Infraestrutura da moradia: ( ) Banheiro ( ) Cozinha ( ) Sala ( ) Quarto ( ) Varanda

10) A residência tem energia elétrica? ( ) Sim ( ) Não

11) Quais as benfeitorias ou instalações da propriedade?

( ) Casas de empregados

( ) Currais de gado

( ) Estábulo

( ) Galinheiro

( ) Galpões/armazéns

( ) Pocilgas/chiqueiro

( ) Poços artesianos

( ) Cisterna

Outros (especificar):

12) Bens de consumo:

( ) Automóvel ( ) Batedeira

( ) Moto ( ) Ferro elétrico

( ) Bicicleta ( ) Televisor

( ) Freezer ( ) Aparelho de DVD

( ) Geladeira ( ) Aparelho de som

( ) Máquina de lavar roupa ( ) Rádio

( ) Fogão a gás ( ) Parabólica

118

( ) Fogão à lenha ( ) Telefone fixo

( ) Micro-ondas ( ) Celular

( ) Liquidificador

13) O senhor (a) considera ter qual condição de moradia, em termos de abastecimento de

água, energia elétrica e bens de consumo?

Ruim Regular Boa Ótima

EDUCAÇÃO:

14) As pessoas dessa casa têm ou tiveram acesso aos serviços de educação? Da própria

localidade ou da cidade?

15) Qual sua opinião sobre a educação oferecida e a escola (as) na comunidade e na cidade

mais próxima?

16) Os residentes fizeram cursos de capacitação/formação? Quais? Onde?

SAÚDE:

17) Os membros da família têm ou tiveram acesso aos serviços de saúde? Da própria

localidade ou da cidade?

18) Os membros da família praticam esportes e atividades físicas? Quais?

19) De onde vem à água para o uso e consumo? Qual a forma de tratamento da água?

20) Qual o destino do lixo? ( ) Queima ( ) Container ( ) Reciclagem

21) Qual o destino dos dejetos humanos (fossa simples, fossa séptica, direto no solo, direto

nos cursos de água)?

MEIO AMBIENTE:

22) O senhor (a) acredita ser necessário conservar os corpos de água e a vegetação da sua

propriedade e da comunidade? Por quê?

LAZER:

23) Aonde o senhor (a) e sua família praticam atividades de lazer? Com que frequência?

ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS E EXTRATIVAS:

24) Em sua propriedade há:

( ) Agricultura ( ) Pecuária ( ) Atividades extrativas (madeira, areia, mel, plantas medicinais)

Especificar: ________________________________________________________________

25) Seus filhos trabalharam ou trabalham nessas atividades? O senhor (a) deseja que seus

filhos continuem a trabalhar na agricultura? Alguém continuará a trabalhar na propriedade

quando o senhor (a) não puder mais?

26) O senhor (a) contrata mão-de-obra (permanente ou temporária) para ajudar na

propriedade?

27) O senhor (a) possui ou usa máquinas ou equipamentos para uso agrícola (Capinadeira

de tração animal; Arado de tração animal; Arado de tração mecânica; Trator; Roçadeira

manual e roçadeira mecânica manual; Enxada, facão, Carroça; Forrageiras; Pulverizador

costal manual; Ordenhadeira; Resfriador de leite; Motor-bomba; Bomba de água)?

28) Como vocês preparam o solo para o cultivo (adubo, semente selecionadas, etc.)?

119

ATIVIDADES NÃO AGRÍCOLAS:

29) Quais as atividades não agrícolas desempenhadas pelos residentes?

30) Qual a principal razão que levou os membros da família a trabalhar nas atividades não

agrícolas?

31) Os membros de sua família que trabalham em atividades não agrícolas (fora ou dentro

da propriedade) fornecem algum tipo de ajuda nas atividades agrícolas da propriedade?

FONTES DE RENDA:

32) Quais são os animais que o senhor (a) possui nesta propriedade? São voltados para: ( )

criação ( ) venda. Para quem vende?

33) O senhor (a) produz produtos derivados (leite, queijo, ovos)? Quais? Para o consumo

ou venda? Para quem vende?

34) A propriedade possui horta ou pomar? Quais as frutas e verduras produzidas? Para o

consumo ou venda?

35) Há outros produtos fabricados ou beneficiados na propriedade (artesanato, roupas,

etc.)? São para o consumo ou venda? Para quem vende?

36) Já tiveram outras atividades produtivas nesta propriedade? ( ) Sim ( ) Não. Quais?

37) Recebeu ou recebe alguma ajuda de programas do Governo? Quais?

38) Alguém da casa recebe aposentadoria ou pensão?

39) A família do senhor (a) já recebeu ou recebe remessas de dinheiro enviadas por

parentes?

40) Possuem outros rendimentos? Quais?

41) Como o senhor (a) considera a situação da sua renda familiar para viver em boas

condições?

Ruim Regular Boa Ótima

42) Alguém da residência já fez empréstimos ao banco? ( ) Sim ( ) Não. Em caso de sim,

que tipo de empréstimo? Por que optou pelo empréstimo? Tiveram dificuldade para quitar a

dívida?

SECA:

43) Quais os problemas que a seca trás para o senhor (a)? A situação econômica da família

piorou com a seca?

44) Recebe ou já recebeu Garantia Safra?

45) O senhor (a) ou algum membro da família já foram cadastrados nos programas de

emergência? De que modo?

46) As medidas tomadas em relação à seca na comunidade, ao longo desses anos, tem

agradado o senhor (a)? ( ) Sim ( ) Não, Por quê?

47) O que poderia ser feito para resolver o problema da seca na comunidade?

PARTICIPAÇÃO SOCIAL:

48) Participação social da família:

( ) Associação Comunitária da Barra da Espingarda. Quantos membros da família fazem

parte? Desde quando? Quais os benefícios que a Associação trouxe para a sua família?

( ) Cooperativa. Qual (s)?

120

( ) Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Caicó (STTR). Quantos membros

da família são sócios? Desde quando? Quais os serviços oferecidos pelo Sindicato que a sua

família utiliza ou utilizou (aposentadoria, assistência jurídica, serviços odontológicos)?

( ) Pastoral da criança. Desde quando? Quais os benefícios que trouxe para a sua família?

( ) Igreja

( ) Time de futebol

( ) Escola Municipal Severino Paulino de Souza

( ) Outras entidades

49) Considerando a participação social, os membros da família participam das eleições e

reuniões dessas entidades, ou seja, das decisões sobre a comunidade?

50) Como o senhor (a) considera a presença de entidades (EMATER, associação,

sindicato, prefeitura, entre outros) que favorecem o desenvolvimento rural na comunidade:

Ruim Regular Boa Ótima

51) O senhor (a) recebeu ou recebe assistência técnica (Sindicato, Secretaria Municipal de

Agricultura, EMATER, DNOCS)? Em que? O que achou: ( ) Boa ( ) Ruim

52) O senhor (a) já recebeu ou recebe as sementes selecionadas da EMATER (Instituto de

Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte)?

53) O senhor (a) ou outros membros da casa estão cadastrados no DAP (Declaração de

Aptidão do PRONAF)?

54) O senhor (a) tem ou já teve alguma relação com o DNOCS (Departamento Nacional

de Obras Contra as Secas)? De que tipo (contrato de renda ou vazante)?

55) O senhor (a) compra milho da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)?

Desde quando?

56) O senhor (a) considera o acesso a políticas públicas (como o PRONAF, Bolsa-Família,

entre outras) como:

Ruim Regular Boa Ótima

COMUNIDADE BARRA DA ESPINGARDA:

57) Considerando as comunidades que o senhor (a) conhece e também as que são vizinhas,

o senhor (a) considera a comunidade Barra da Espingarda mais desenvolvida em relação às

outras? Por quê?

58) O que mais o senhor (a) gosta nessa comunidade?

59) Qual o grau de satisfação do senhor (a) em relação à comunidade Barra da Espingarda:

( ) Muito satisfeito

( ) Satisfeito

( ) Insatisfeito

60) O senhor (a) ou alguém da sua família pretende se mudar para a cidade? Por quê?