desenvolvimento e meio ambiente 2001-curso de gestao urbana e de cidades

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CURSO DE GESTAO URBANA E DE CIDADES EG/FJP WBI LILP ESAF IPEA

CD ROOM

MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

Arlete Moysés Rodrigues Belo Horizonte – Brasil – 14 a 25 de maio de 2001 _____________________________________________________________________________

Escola de Governo da Fundação João Pinheiro – Curso de Gestão Urbana e de Cidades.

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Tratar deste tema possibilita várias abordagens e enfoques. Apresentamos apenas

aspectos da complexa problemática ambiental, comentários sobre as noções de natureza,

de tempo e de espaço, de ciência/técnica vinculados a apropriação da natureza que

tornam o tema sustentabilidade tão importante na atualidade.

A problemática ambiental tem sido tratada como ‘moda’ para pensar desafios para

o desenvolvimento. Faz parte de agendas e debates nacionais, mundiais e locais. O tema

ambiental não é uma moda porque moda é o oposto da crítica, é apenas a aparência dos

processos e, a problemática ambiental torna visível como tem ocorrido a apropriação e a

depredação da natureza.

Transformações no conceito de natureza .

Conceitos de natureza são construções sociais e alteram-se no tempo e no

espaço. Consideramos a natureza como um enigma. O homem é natureza, dela faz

parte, ao mesmo tempo que dela se distância no processo de socialização e do avanço da

ciência e da técnica. Abstrai-se, em geral, que os seres humanos são também parte

importante da natureza, pois se a sociedade humana não tivesse se constituído a

“natureza”, a paisagem seria muito diferente do que temos na atualidade.

Desde o processo de hominização e da socialização mudaram as formas de

relacionamento com a natureza que, apesar do avanço científico e tecnológico, continua

a ser um enigma que pede para ser decifrada para não nos devorar. Uma forma que se

acha viável de decifrar o enigma é tratar do tema em todos os debates e agendas, como

se houvesse consenso sobre concepções, noções e conceito.

Uma questão importante é que a natureza não tem fronteiras, pois estas são

construções sociais. A natureza tem leis próprias que podemos transgredir e até mesmo

destruir. Os homens, em sociedade, descobrem as suas especificidades, suas leis, suas

características e dela retiram elementos para sua sobrevivência e para o lucro,

principalmente após a implantação do modo de produção capitalista, que se dá tanto

pela apropriação de dos elementos da natureza como pela demarcação de propriedade

em territórios e espaços.

A natureza suporte da vida e dos meios de produção, transforma-se

historicamente. Seus elementos passam a serem mercadorias denominadas de recursos

1 Profa.Livre Docente- UNICAMP- IFCH- e-mail : [email protected]

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naturais. O valor dos elementos naturais transforma-se em preço. Esta passagem de

valor para preço não é nova. Novidade é a descoberta de esgotamento de vários

elementos da natureza e mesmo da paisagem ´natural´ de vários lugares pela exploração

de um outro mito do desenvolvimento: o turismo 2.

O que se chama natureza, pode ter vários significados dependendo dos diferentes

grupos sociais, mas sempre é um conceito abstrato. Uma das formas de minimizar a

abstração é compreender que a natureza e seus elementos são territorializados. Um

parêntese para lembrar que também ao se falar de sociedade, de meio ambiente, de

desenvolvimento, de desenvolvimento sustentável faz-se abstrações. Ignora-se que as

sociedades são constituídas de classes e camadas sociais e que esta diferença é

fundamental para tentar compreender a complexidade do atual processo de criação de

Agendas de Desenvolvimento Sustentável.

Nas cidades, a natureza e seus elementos, estão ocultos pelo processo de

urbanização. Os citadinos tem do campo e das matas, uma visão idealizada da natureza

tanto em relação à brutalidade – do trabalho, da cultura e da ‘selva’ - como de lugar para

o ‘descanso’.

Incorporando a ‘natureza’, os lugares, territórios e paisagem passam a ser

‘vendidos’ como amenidades, quando na realidade, é apenas contemplação fugaz da

natureza, ou seja ela é ‘vendida’ como paisagem para o turismo.

Um dos temas que mais aparecem nas agendas sobre desenvolvimento sustentável

é o turismo, seja de agendas locais, regionais, nacionais e mundiais, Trata-se da tentativa

de territorializar com a idéia de promover o desenvolvimento sustentável. Cabe destacar

que as chamadas agendas 21 locais focalizam em grande parte os problemas das e nas

cidades e investem na idéia de desenvolvimento pelo turismo em lugares exóticos.

Utiliza-se elementos da natureza, força de trabalho, conhecimento científico

tecnológico, para transformá-la, produzi-la ou reproduzi-la visando o chamado

desenvolvimento em geral confundido com progresso e tornado consenso com a idéia de

desenvolvimento sustentável. A apropriação e transformação dos elementos na natureza

é sua dilapidação diretamente pela exploração e indiretamente como depósito de

inservíveis. Após o uso de elementos da natureza principalmente na atualidade para

2 utilizamos elementos da natureza para mostrar o significado do seu valor, já os recursos naturais parecer significar apenas preço de uma mercadoria que pode ser comprada e vendida no mercado in natura ou transformada.

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fabricar embalagens são depositadas como resíduos sólidos, que como afirma Silva

“embora o recipiente possa virar lixo é bom lembrar que a imagem (do produto

embalado) não vira lixo”. Embora as embalagens possam ser amassadas, sujas,

rasgadas, recicladas ou não, este lixo não contamina a imagem projetada para o

consumo que é o elemento – as embalagens- que mais dilapidam a natureza e que

aumenta e modifica os resíduos sólidos.

Há quem ainda pense que a natureza é INFINITA, embora ela seja finita.

Inclusive mudaram as categorias dos recursos. Os não renováveis estão em processo de

esgotamento. Os renováveis passaram a ser também não renováveis como a água,

abundante e renovável, tornou-se escassa pela poluição e com limites de renovabilidade.

A água superficial, tinha um tempo de renovação natural de 15 a 20 dias, contudo, a

intensificar do uso direto e como depósito de inservíveis hoje necessita de, pelo menos

meio século, para renovar-se, isto se nela forem aplicadas novas tecnologias e se não

mais forem objeto de contaminação.

A dilapidação dos elementos da natureza é decorrente da incompreensão dos

tempos (geológico e sideral), da concepção abstrata da natureza e da sociedade. O

avanço das técnicas aprisionou o tempo, o ritmo e o espaço com a desenvolvimento do

mundo virtual.

A sacralização da ciência e da técnica tem impedido a visão da complexidade do

mundo e da vida. No processo atual é impossível falar da produção social do espaço e

das relações sociais sem levar em conta as formas de apropriação da natureza. Desde a

revolução industrial - advento do período moderno- podemos denominar a produção

em destrutiva ou em criação destruidora em ritmos cada vez mais avassaladores.

A incompreensão da criação destruidora vincula-se à separação entre a sociedade

e a ciência/técnica/tecnologia. Vincula-se também a separação das ciências da natureza

das da sociedade. Fragmenta-se a realidade pelo modo como se analisa a vida e o

mundo. A complexidade, porém, deveria ser o fundamento da ciência, como afirma

Edgar Morin que a complexidade é inerente à constituição do pensamento científico -

mesmo quando o objetivo é relevar leis simples.

Quando o objetivo é ocultar leis (mesmo as mais simples), a natureza e a

sociedade aparecem como enigmas e fetiches. Na sociedade atual um aspecto do fetiche

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é culpabilizar os ‘consumidores’ pobres pelos malefícios causados à natureza,

ocultando-se as responsabilidades tanto do processo produtivo como do tecnológico.

Pensar a relação da sociedade com a natureza nos remete a tentar pensar a

complexidade. A ciência produz a técnica, transforma a sociedade, mas também a

sociedade tecnologizada ( dos dias atuais) transforma a própria ciência.

A compreensão da interação pode ser chave para compreender porque temos hoje

necessidade de intervir – ainda que de forma parcial - na depredação dos elementos da

natureza, que comprometem a qualidade de vida e procurar formas alternativas de

limitar a depredação social e natural. Ter em conta a complexidade é tentar verificar de

onde vem e para onde vão os elementos da natureza transformados e ou dilapidados.

Um exemplo simples: de onde vêm o cigarro, o fósforo ou o isqueiro: das plantações de

tabaco (retira-se energia do solo), das máquinas prensadoras (que para serem

construídas utilizaram recursos naturais e trabalho) dos trabalhadores que plantam,

colhem, transformam o tabaco em cigarro, de onde vem o filtro ( para minimizar os

problemas), de onde vem o papel que enrola e o que embala os pacotes, etc. Para a

gestão ambiental é preciso tentar ir além da simplificação.

Tempo/espaço, ciência e técnica, e formas de apropriação da natureza

O período moderno é marcado pelo desenvolvimento da ciência e tecnologia,

pelo ideário de domínio da natureza e da sua produção, enfatiza-se o ‘tempo’ como

possibilidade de resolução de todos problemas, pois permitirá o avanço da ciência e da

técnica que resolverá amanhã os problemas que são colocados hoje.

A ciência/ técnica/ tecnologia/ informação é sacralizada como portadora do ‘bem’

e a ‘sociedade’ principalmente quando não se encontra o modelo projetado (de países,

regiões, classes sociais) é portadora do mal. Assim, para uns se atribui o progresso, o

desenvolvimento e para a maioria se atribui os problemas, o subdesenvolvimento, a

pobreza, a sujeira e a dilapidação da natureza.

As categorias de análises, no período moderno, dividiram o mundo em:

selvagens e civilizados, império e colônias, desenvolvidos e subdesenvolvidos,

primeiro, segundo e terceiros mundos, industrializados e em processo de

industrialização, financiadores e financiados, alta e baixa tecnologia, mundo atrasado,

pobres e ricos, instruídos e analfabetos, etc., etc. As diferenças sociais e territoriais

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catalogam o mundo no qual uns estão à espera do desenvolvimento, da riqueza pessoal,

da instrução que seriam resolvidos com o tempo. Recentemente, espera-se atingir o

desenvolvimento sustentável que se tornou ‘senso comum’, consenso, sem que ninguém

saiba exatamente ao que se refere ou qual é o seu significado.

Desenvolvimento é sempre uma meta a ser atingida. - confundida com progresso

material, com produção de mercadorias, com acúmulo de capitais, de tecnologia, etc.

A natureza era o obstáculo a ser superado, dominado, utilizado como uma forma de

progredir. Como diz Altvater : Os homens utilizam as reservas naturais (no âmbito do

sistema econômico em expansão) progressivamente, como fonte e depósito para os

produtos indesejados.

Neste processo de esgotamento das reservas – com o uso – e como depósito,

muitas espécies, muitos elementos da natureza foram reprimidos e até eliminados. A

sociedade industrial reduz a multiplicidade das espécies naturais pelo tipo de espécies

que tenham maior rentabilidade. Para manter um ‘mercado’ em expansão de

determinados produtos das corporações multinacionais as diversidades estão sendo

eliminadas. Hoje com a chamada globalização verifica-se um alisamento das

rugosidades sociais e espaciais e naturalmente as naturais. No mundo inteiro são as

mesmas mercadorias que circulam tentando eliminar as diferenças sociais.

Estamos diante do processo de criação destrutiva. Nunca na história da

humanidade pode-se ver com clareza este processo como neste início de século e

milênio. As rápidas transformações do modo industrial de produção de mercadorias

aceleram o progresso e a própria destruição do modelo de progresso pela dilapidação

dos recursos sociais e naturais.

A compreensão é possível pelo conhecimento da destruição ambiental e pelas

lutas pela preservação ambiental e social. Os movimentos ambientalistas – qualquer que

seja sua denominação, e o objeto de sua luta-, demonstram com clareza que o modelo

de desenvolvimento baseado no progresso material tem seus limites e necessita ser

remodelado, repensado e transformado.

O conhecimento do território, das paisagens naturais, no processo de

desenvolvimento , na passagem do virtual ao efetivo, pode ser analisado como o faz

Paul Virilio (1996), através dos motores. Este autor afirma que o período moderno se

modifica cultural e socialmente e aponta grandes transformações através dos motores

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desenvolvidos historicamente. Muda-se com a ‘evolução’ o padrão de vida local,

regional, nacional e mundial.

Mas, se os motores mudaram a história, o conhecimento dos problemas

relacionados ao desenvolvimento é proveniente de transformações do conhecimento

societário. Os diferentes movimentos sociais alteram o ideário de padrão para a de

qualidade de vida.

Padrão de vida é medido e mediado pelas quantidades e pelo econômico.

Qualidade de vida é medida não pela quantidade econômica mas exatamente pelo seu

oposto. Pelo reconhecimento do SER social. Padrão de vida significa medir a doença,

enquanto qualidade de vida significa não medir, porque o indivíduo são não procura os

equipamentos de tratamento de doenças. Padrão de vida pode ser medido pelo consumo

enquanto qualidade de vida deve ser considerada como bem estar individual e social.

Complexidade da problemática ambiental

Os elementos da natureza, como já dito, passam a ser denominados de recursos

naturais e são mercadorias trocadas no mercado mundializado. O valor passa a ser

mediado pelo preço. A raridade de um elemento da natureza aumenta o seu preço.

A natureza não têm fronteiras: o ar, água, os pássaros circulam livremente. As fronteiras

classificatórias muito utilizadas para classificar países, regiões, campo e cidade,

mostram que o conhecimento é socialmente construído. Assim, os problemas ambientais

deixaram de ser considerados como locais e passaram para a órbita do mundial, embora

possam muitos deles serem gerados localmente.

Os setores da sociedade que tomam consciência dos sérios problemas da

existência humana se ampliaram, nas últimas décadas do século XX. Aos problemas já

conhecidos de classes sociais, de gênero, de falta de meios e equipamentos de consumo

coletivo, de falta de escolaridade, de emprego, de aumento da violência, agregam-se os

ambientais, a dilapidação do valor da natureza indispensável à vida de todas as classes

sociais. A problemática ambiental perpassa todas as classes e extratos de classes sociais.

É um problema mundial .

Procuram-se novas tecnologias para resolver os problemas causados pelo

próprio avanço tecnológico. Cria-se um novo termo: desenvolvimento sustentável, que

veste com novas roupas o mesmo processo: um padrão de vida adequado ao mundo

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contemporâneo cuja premissa básica é a continuidade do modo industrial de produzir

mercadorias tecnologicamente melhores e mais adequadas a atualidade;

Um processo de produção é a miniaturização dos objetos procurando retardar o

esgotamento dos recursos. Outra ‘forma’ é a competitividade ecológica com selos de

garantia. Contraditoriamente, porém, são sempre lançados novos produtos no mercado,

cada vez mais sofisticados, com embalagens cada vez mais ‘especiais’. Duram pouco

quando comparados aos seus similares de outras décadas e atendem a um mercado

restrito. Produtos novos, rapidamente substituídos, são lançados como resíduos: no ar,

na água e no solo.

O ideário do desenvolvimento sustentável é também medido pela produção,

mediado pela ciência/ técnica/tecnologia. É insustentável, qualquer que seja a

terminologia utilizada: capacidade de suporte, sustentabilidade, sustentabilidade

ampliada, competitividade ecológica, etc.

A agregação das duas palavras – desenvolvimento e sustentável -, constitui um

paradoxo. O desenvolvimento não tem limites - a cada ponto se pode ainda avançar.

Sustentável - significa manutenção das condições. Pensando em termos do modo de

produção de mercadorias - o sustentável seria a manutenção destas condições e para isso

dever-se-ia pelo menos diminuir a depredação dos recursos, relacionando-o à produção

e não apenas ao consumo.

Em quase todas as definições sobre desenvolvimento sustentável e/ou

sustentabilidade aparece a necessidade de ‘preservar’ recursos, garantir qualidade de

vida saudável para as gerações presentes e futuras3. Mas se as gerações presentes não

estão sendo atendidas em suas necessidades mínimas e muito menos ouvidas, o que

dizer das futuras que sequer estão fisicamente presentes para fazer qualquer solicitação?

Pensar nas gerações futuras mantendo as condições da presente é, contraditoriamente,

negar a possibilidade de desenvolvimento ilimitado, negar a crença na tecnologia como

uma forma de resolver os problemas presentes e futuros.

3 Apesar da vasta bibliografia sobre desenvolvimento sustentável, sustentabilidade, capacidade de suporte, indicamos a leitura da Agenda 21 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1996) e CNUMAD Comissão Mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento - Nosso Futuro Comum 1991.

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Definições e algumas medições de sustentabilidade

O termo Desenvolvimento Sustentável foi transformando-se em noções que

buscam encontrar caminhos, fala-se em sustentabilidade social, econômica e política ,

acrescida da necessária articulação com o espaço.

Foladori (1999)4, faz importante apresentação da evolução do conceito de

desenvolvimento sustentável para sustentabilidade social e de suas formas de medição

mostrando como se constituem agendas relativas ao meio ambiente.

O conceito de sustentabilidade tenta tornar-se operativo, mas apesar dos avanços

em formas de medições para verificar se determinados lugares, países conseguiram

construir agendas viáveis, as contradições sociais estão, na maioria das propostas de

medições, ausentes. Também está ausente o território, espaço, lugar, sem o qual

nenhuma proposta pode ser concretizada. A questão ambiental só pode ser

compreendida em sua territorialidade.

Argumenta Foladori que quando se fala neste conceito há duas grandes concepções :

a) aquela que analisa o desenvolvimento econômico, social e ecológico. Eu acrescento

que estas também podem analisar a territorialidade para darem conta de tentar

minimizar problemas ambientais.

b) Outras que pensam apenas sobre a administração ótima dos recursos sem que

classes sociais o território sejam analisados.

Apresentamos algumas das principais propostas de realizar medições que

procuram verificar ações que minimizem as depredações ecológicas.

Medições Econômicas : atribui preços aos recursos naturais ou a elementos da natureza.

Há pelo menos duas formas:

1-Quando os recurso naturais crescem mais do que seu uso ou depreciação – ex.

Incremento de bosques – a diferença se agrega as contas nacionais. Mas pelo contrário

quando aumentam taxas de poluição, etc., são descontados nas contas nacionais. Não

leva em conta as relações sociais e é de difícil medição e além disso como, já dito, a

natureza não tem fronteiras que possam ser quantificáveis em apenas um local ou

mesmo numa nação.

4 Utilizamos o texto de Foladori apenas como referencia inicial.

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2-Consideram o grau em que um país está invertendo em recomposição do meio natural

– a idéia básica é a produção da natureza. – É de medição difícil porque depende

inclusive do tamanho da nação e dos seu grau de desenvolvimento e da possibilidade de

importação de elementos naturais para uso de suas indústrias em outros países. Fala-se

em sustentabilidade desde que se invistam nas áreas degradas. Um dos autores, desta

proposta, argumenta que muitas vezes o aumento do consumo é devido às exportações

e assim deve-se investir a renda obtida na recomposição. Mas este autor não considera o

que ocorre em sua complexidade na importação/exportação. Não levam em conta as

relações sociais porque as medições são gerais e simplificadas.

De qualquer modo as medições econômicas priorizam a análise do preço e não

do valor - veja-se a água tem valor independente do preço. Também não definem

diretamente as responsabilidades – pela depredação-, apenas atribuem preço ou valor ao

processo de depredação ou de recomposição.

Medições sociopolíticas : Procuram adequar um índice de sustentabilidade com uma

economia de bem estar social utilizando indicadores de progressos mais recentes e

mais consistentes do que o anterior extremamente genérico que era o PIB. Um avanço

neste sentido são as medições e qualificações do IDH - índice de Desenvolvimento

Humano - que além das medidas de renda per capita etc., adiciona os índices de grau de

escolaridade, longevidade. 5

Estão baseadas, também, em ajuste das contas nacionais, agregando valor por exemplo

ao trabalho doméstico, a depredação das contas nacionais. É importante considerar que

as formas de trabalho tradicional ao qual não se atribuía preço ou valor passam a ser

considerados como importantes para qualificar a sociedade.

Consideram-se, assim, algumas relações sociais como perda de tempo,

desemprego , etc. o que mostra que o processo de construção de indicadores poderá

permitir avaliar se há possibilidades de pensar-se efetivamente em sustentabilidade

ampliada. Mas, mantém-se o problema de não se definirem as responsabilidades

sobre a degradação ambiental , permanece portanto ainda uma forma de medição e de

conceito abstrato.

Medições ecológicas : apresentam alguns elementos de territorialidade. Entre elas

destacamos a utilização do termo Capacidade de suporte: que tem como idéia básica a

5 - Tenho limites para falar do IDH-M desenvolvido pela Fundação João Pinheiro que é um dos indicadores mais precisos para pensar nas agendas locais sobre meio ambiente.

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capacidade de suporte – ou de carga – , ou seja , o tamanho máximo de população que

uma determinada área pode suportar. Provém da biologia e resulta em analisar uma

dada área como se as trocas não existissem e os problemas estivessem concentrados

apenas num dado lugar. Desse modo não consideram também as relações sociais e a

globalização da economia e mesmo das trocas regionais, locais e nacionais. As ausência

das fronteiras naturais também são ignoradas

Nos últimos anos também tem se utilizado como medição a Pegada Ecológica

que compara as demandas de consumo humanos de um território pensando que tais

demandas não podem ser consideradas restritas dentro de um mesmo território. Por

exemplo o consumo de energia. A sustentabilidade estaria dada pela possibilidade de

satisfazer demandas dentro de um dado território. O termo surgiu das análises de

capacidade de suporte e do metabolismo que apresentam as cidades, realizando um

exercício de balanço energético entre o que elas produzem e consomem . Exemplo:

Metrópoles como México, São Paulo, Calcutá e Nova Iorque são tidas como usinas de

consumo de energia e de produção intensiva de resíduos de toda ordem, buscando cada

vez mais longe os insumos de que necessitam e estendendo em escala global suas

pegadas ecológicas.

Além dos problemas de selecionar um indicador para pedir dados muito mais

complexos, este instrumento falha também por não recomendar políticas detalhadas e

nem estabelecer previsões sobre demandas, mesmo que restritas a um indicador e um

território. Também não leva em conta as relações sociais porque as medições são dadas

por um indicador que não é distribuído socialmente nem mesmo no interior de uma

cidade ou seja classes sociais consomem diferentemente dada sua capacidade de pagar.

Ambiente e Espaço – Propõe-se a medir a quantidade do uso de recursos em relação ao

uso mundial . Aplicado, por exemplo, a um pais verifica-se quanto deve ser a redução

média de emissões de CO2 para equiparar-se a média mundial. Mas não especifica

taxas de uso máximas e mínimas . A seleção dos recursos é arbitrária e não agrega

diferentes elementos. Também não se consideram as relações sociais e o espaço é

categoria abstrata de análise. Trata-se de tentativa de equacionar o que tem sido

debatido em termos de emissão de CO2 e mesmo com relação as mudanças climáticas.

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A debilidade destas propostas está radicada no fato da sociedade ser considerada

como um bloco, sem classes sociais, sem diferenças culturais, etc. O espaço, território,

lugar, região, são considerados sem rugosidades, sem diferenças da composição dos

elementos da natureza. Embora algumas delas tenham a preocupação social estão

desligadas das próprias relações sociais e da produção social do espaço.

Deve-se partir do princípio que a sociedade não se relaciona como um bloco com a

natureza e assim as relações sociais passam a ser priorizadas nas análises.

- as classes sociais não se relacionam igualmente com o ambiente – desse modo as

responsabilidades pela degradação não é a mesma.

- as desigualdades sociais dependem da distribuição dos meios de produção –

incluindo-se aí o espaço social e o território das nações.

De certa forma a idéia de desenvolvimento sustentável aparece em todas as

agendas como um mito, lembrando que os mitos aparecem de diversas formas sempre

como meio de resolver problemas no futuro.

Podemos assim considerar que a sustentabilidade profeticamente promoveria a

resolução de problemas econômicos de determinados lugares, locais, espaços, regiões,

países, etc., configurando, a nosso ver, uma espécie de mito do eterno retorno do

desenvolvimento.

Cabe ressaltar que as montanhas de sucata, de lixo, os rios poluídos, a devastação

das matas, significam a vitória do modo de produção de mercadorias, com todos os

seus elementos constitutivos. Há uma face oculta de parte das análises que consideram

que é a ausência de tecnologia, de desenvolvimento que ocasiona os problemas

ambientais.

O progresso, o desenvolvimento, têm como meta a produção para o mercado.

Novas mercadorias são sempre criadas para qualificar a marca, o produto. Os

problemas ambientais não são simples mas é desafiante tentar compreender sua

complexidade como forma de interagir socialmente para a transformação do modelo de

desenvolvimento, seja qual for o seu qualificativo.

Muitos são os desafios para tentar minimizar a problemática ambiental é

analisar imbricadamente a produção e o consumo para propor novas formas de gestão

territorial. As análises, em geral, detêm-se sobre o ‘consumo’, não se leva em conta o

processo produtivo.

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Devemos procurar analisar a coerência interna do circuito da produção e do

consumo, ou seja, as responsabilidades pela geração dos resíduos e como as indústrias

que produzem as embalagens ‘Montanhas de sucata’ representam o desperdício de

uma sociedade que joga fora o que ‘produz’, que precisa encontrar lugares para servir de

recipientes aos inservíveis, aos rejeitos, ao lixo.

O desperdício recebe, na sociedade moderna, função positiva, já que é no

consumo do supérfluo que o indivíduo se sente não só sobrevivendo mas,

principalmente, existindo e afirmando o próprio valor, a diferença social e o status.

Evidencia-se a preocupação da sociedade do TER em detrimento do SER social.

Pode-se pensar na sustentabilidade do uso dos recursos de forma menos

‘irracional’? Não deveríamos também pensar na degradação que tem sido realizada

nas relações de trabalho e do trabalhador? Qual será a sustentabilidade requerida para

se atingir toda a sociedade - alterando a insustentabilidade com que a sociedade

descartável tem sido tratada?

Penso não ser necessário para falar em sociedade descartável fornecer dados

sobre a pobreza, miséria, desemprego, subemprego, falta de saúde, falta de

escolaridade, aumento da violência porque eles já são muito conhecidos.

Para não concluir penso que não podemos pensar o desenvolvimento e o meio

ambiente apenas como fonte de ‘rentabilidade econômica’. É preciso produzir novas

formas de compreender a reflexividade do desenvolvimento no ambiente social e

natural. Pode ser possível pensar nas novas formas que aparecem em várias localidades

como agenda 21 local que tem como promotor o poder local mais próximo do cidadão e

que em muitos municípios tem procurado minimizar os problemas de inserção social

através da aplicação de alguns das idéias contidas na sustentabilidade ampliada.

Proponho pensar na utopia da sociedade sustentável. Utopia não quer dizer

construir um eldorado, um sonho, uma fantasia, mas sim de trazer para o centro o que

está nas margens6. No caso o que tem estado nas margens é a sociedade em sua

plenitude. Porém, entendo que o principal atributo do ser humano é a capacidade de

pensar . Desenvolver esta capacidade é ilimitada e a sociedade podendo ‘pensar’,

poderá imaginar, criar outras formas de vida quotidiana.

6 Veja-se sobre a questão da Utopia - como a apresentada aqui : Boaventura de Souza Santos - 1995 - pela Mão de Alice.

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Entendo, ainda, que o pensamento não ocupa espaço, não precisa destruir o

ambiente e que para desenvolver a capacidade de pensar precisa de pouco - Precisa de

SER e não apenas TER. Precisa-se pensar a sociedade como de IGUAIS, porque ‘só

IGUAIS ‘ podem ser DIFERENTES. Os desiguais não são diferentes são desiguais.

Então penso que os termos sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, capacidade

de suporte, educação ambiental, precisam ser melhor compreendidos para que possamos

ter condições de evoluir e desenvolver para a sociedade sustentável.7

Bibliografia Altvater, Edmar - 1995 - O preço da Riqueza - Editora da UneESP Debord, Guy - 1997 – A sociedade do Espetáculo – Contraponto – Rio de Janeiro Harvey, David – 1992 – A condição pós moderna – Edições Loyola – SP Foladori, Guilhermo – Sustentabilidad ambiental y contradicciones sociales In Revista Ambiente e Sociedade – Ano II n.5- 1999 – NEPAM-Unicamp Jappe, Anselm – 1999 - Guy Debord - Editora Vozes- Rio de Janeiro Morin , Edgar – 1996 – Ciência com Consciência – Editora Bertrand Brasil – RJ Rodrigues, Arlete Moysés – 1998 – Produção e consumo do e no espaço- Problemática Ambiental Urbana – Editora Hucitec – SP – SP Santos, Boaventura de Souza - 1995 - Pela Mão de Alice - Editora Cortez Silva, Lucas Frazão – 2001 - O gosto da Embalagem –Tese de Doutoramento- UNICAMP-IFCH Santos, Milton - 1996 – A natureza do Espaço – Razão e Emoção-Edit.Hucitec Virilio, Paul - 1996 A arte do motor – Estação Liberdade - SP

7 Veja-se Arlete Moysés Rodrigues - 1998(a) A utopia da sociedade sustentável