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DESENVOLVIMENTO CURRICULAR EM COORDENAÇÃO COM O ENSINO BÁSICO

MELHORIA DA QUALIDADE DAS APRENDIZAGENS

FUNDAMENTAÇÃO DAS OPÇÕES EDUCATIVAS

Divisão da Educação Pré-Escolar e Ensino Básico

Ficha Técnica

Título:

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

Edição:

Região Autónoma dos Açores

Secretaria Regional da Educação e Ciência

Direcção Regional da Educação

Design e Ilustração:

Gonçalo Cabaça

Impressão:

Tipografia Moderna

Depósito Legal

1500 exemplares

Abril 2006

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

3

Princípios Orientadorespara uma Educação deQualidade

A educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação

ao longo da vida, sendo complementar da acção educativa da família, com a qual deve estabelecer

estreita relação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista

a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário.

As Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar na Região Autónoma dos Açores,

aprovadas pela Portaria nº 1/2002, de 3 de Janeiro, destinam-se à organização da componente

educativa que se desenvolve no âmbito do Projecto Educativo e do Plano Anual de Actividades da

Unidade Orgânica/Instituição onde a valência de Jardim de Infância se insere.

Constituem uma referência comum para todos os educadores das redes pública, privada,

cooperativa e solidária.

Organizam-se em áreas de conteúdo como âmbitos do saber, com uma estrutura própria

e com pertinência sócio-cultural, que incluem diferentes tipos de aprendizagem, não apenas

conhecimentos mas também atitudes e saber fazer, pretendendo contribuir para promover uma

melhoria da qualidade da Educação Pré-Escolar em coordenação com o currículo adoptado para

o Ensino Básico.

Na Educação Pré-Escolar, o educador de infância deve conceber e desenvolver um projecto

curricular, com vista à construção de aprendizagens integradas, através da planificação, organização

e avaliação do ambiente educativo. Para isso, deve mobilizar o conhecimento e as competências

necessárias ao desenvolvimento de um currículo integrado.

NotaIntrodutória

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

4

Na sequência da aprovação da Lei nº 5/97, de 10 de Fevereiro, Lei Quadro da Educação

Pré-Escolar, e do Decreto Legislativo Regional nº 14/98/A, de 4 de Agosto, foi aprovado pelo Decreto

Regulamentar Regional nº 17/2001/A, de 29 de Novembro, o Estatuto dos Estabelecimentos de

Educação Pré-Escolar. Com a aprovação daquele regulamento, ficou criado um novo enquadramento

jurídico para a educação pré-escolar na Região Autónoma dos Açores.

Nesse contexto, interessa dar execução ao estabelecido por aquele Estatuto, fixando as

orientações curriculares e as aquisições básicas que devem ser seguidas na componente educativa,

bem como a respectiva avaliação, criando assim condições para uma mais completa harmonização

da actividade educativa dos jardins de infância, qualquer que seja a rede em que se insiram.

Tendo em conta que as escolas dos Açores, e os seus profissionais, participaram na ampla

discussão que precedeu a elaboração do Despacho nº 5220/97 (DR, 2ª série), de 4 de Agosto, e que

a experiência resultante da sua aplicação tem sido globalmente positiva, opta-se por aplicar na

generalidade aquele documento, criando condições para, no âmbito da reorganização curricular em

curso no sistema educativo dos Açores, se proceder posteriormente a uma avaliação global do

funcionamento da educação pré-escolar, realizando, então, caso se considere necessário, uma revisão

global do funcionamento da sua componente educativa.

Assim, em execução do disposto no nº 2 do artigo 22º do Decreto Regulamentar Regional

nº 17/2001/A, de 29 de Novembro, manda o Governo Regional, pelo Secretário Regional da Educação

e Cultura, o seguinte:

1. São aprovadas as orientações curriculares e as aquisições básicas que devem ser seguidas

na componente educativa da educação pré-escolar, e respectiva avaliação, cujos princípios gerais

constam do anexo à presente portaria, da qual faz parte integrante.

Aprova asOrientaçõesCurriculares daEducação Pré--Escolar

Portaria nº 1/2002,de 3 de Janeiro

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

5

2. O disposto na presente portaria aplica-se a todas as redes que integram a rede regional

de educação pré-escolar, incluindo os estabelecimentos que pertençam a instituições particulares

de solidariedade social.

3. Compete ao educador, a quem esteja atribuída a sala, proceder à avaliação contínua do

desenvolvimento da criança e das aprendizagens concretizadas, registando as suas observações em

suporte documental adequado.

4. Pelo menos uma vez em cada trimestre, o educador comunica ao encarregado de educação

de cada uma das crianças a seu cargo uma súmula das observações feitas.

5. Nos estabelecimentos de educação pré-escolar integrados na rede pública, a comunicação

a que se refere o número anterior é feita em simultâneo com a da avaliação do 1º ciclo do ensino

básico, sendo aplicável, com as devidas adaptações, o que para tal está estabelecido para aquele ciclo.

6. Do processo individual da criança, a transferir para o estabelecimento em que venha a

frequentar o 1º ciclo do ensino básico, devem constar os registos elaborados ao longo do seu

percurso na educação pré-escolar.

7. O director regional de educação, por despacho, poderá estabelecer o modelo do suporte

documental a utilizar na comunicação da informação ao encarregado de educação.

8. É revogado o Despacho Normativo nº 1/2000, de 6 de Janeiro.

17 de Dezembro de 2001

O Secretário Regional da Educação e Cultura

José Gabriel do Álamo de Meneses.

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

6

A Lei Quadro da Educação Pré-Escolar foi regulamentada na Região Autónoma dos Açores

pelo Decreto Legislativo Regional nº 14/98/A, de 4 de Agosto, ficando aí estabelecido que o Governo

Regional, por decreto regulamentar regional, aprovaria o Estatuto dos Estabelecimentos de Educação

Pré-Escolar, revogando, com a sua entrada em vigor, o anterior enquadramento jurídico daqueles

estabelecimentos de educação. Tal veio a acontecer com a publicação do Decreto Regulamentar

Regional nº 17/2001/A, de 29 de Novembro, tendo sido então criadas as condições para uma efectiva

harmonização de toda a rede regional de estabelecimentos de educação pré-escolar, os quais,

qualquer que seja a sua titularidade, ficaram obrigados ao cumprimento de um conjunto de regras

comuns em matéria de gestão pedagógica, segurança das instalações e obrigatoriedade de seguirem

um projecto educativo claro.

O mesmo diploma estabelece também, no seu artigo 22º, que as orientações curriculares

que devem estar subjacentes ao projecto educativo são fixadas por portaria do Governo Regional.

Assim, e considerando que a discussão que levou à elaboração das orientações para a educação

pré--escolar, actualmente em vigor, foi também amplamente participada nos Açores, adoptam-se,

na íntegra, aquelas orientações, aguardando-se que a avaliação posterior da sua aplicação, e o

necessário debate, venham a determinar as eventuais alterações a introduzir.

As orientações curriculares que ora se publicam constituem uma referência comum para

todos os educadores integrados na rede regional de educação pré-escolar, qualquer que seja o

sector a que pertençam, e destinam-se a apoiar a organização da componente educativa a seguir

nos jardins de infância.

Princípios Gerais

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

7

Considerando a flexibilidade curricular que se deseja introduzir em todo o sistema educativo,

as presentes orientações não pretendem ser um programa, antes assumem uma perspectiva

orientadora e não prescritiva das aprendizagens a realizar pelas crianças. Diferenciam-se também

das concepções mais correntes de currículo, por serem mais gerais e abrangentes, criando a

possibilidade de fundamentar diversas opções educativas e, portanto, vários currículos, em função

do projecto educativo e do plano anual de actividades da instituição, conforme estabelecido nos

nºs 3 e 4 do artigo 22º do Estatuto dos Estabelecimentos de Educação Pré-Escolar, aprovado pelo

Decreto Regulamentar Regional nº 17/2001/A, de 29 de Novembro.

As orientações curriculares constituem, assim, um conjunto de princípios para apoiar o

educador nas decisões sobre a prática educativa a seguir, ou seja, sobre a forma de condução do

processo educativo a desenvolver com as crianças. Pretende-se, com elas, contribuir para a melhoria

da qualidade da educação pré-escolar através da criação de um quadro de referência único,

coordenado com o adoptado para o ensino básico.

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

8

O desenvolvimento e a

aprend i z agem como

vertentes indissociáveis.

O reconhecimento da

criança como sujeito do

processo educativo, o

que significa partir do

que a criança já sabe e

valorizar os seus saberes

como fundamento de

novas aprendizagens.

A construção articulada do

saber, o que implica que as

diferentes áreas a contemplar

não deverão ser vistas como

compartimentos estanques,

mas abordadas de uma forma

globalizante e integrada.

PRINCÍPIOSGERAIS

A exigência de resposta a todas as crianças,

o que pressupõe uma pedagogia

diferenciada, centrada na cooperação, em

que cada criança beneficia do processo

educativo desenvolvido com o grupo.

Fundamentos dasOrientações Curriculares

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

9

Com suporte nestes fundamentos, o desenvolvimento curricular, da responsabilidade do

educador, no cumprimento do projecto educativo e do plano anual de actividades do jardim de

infância, terá em conta:

Os objectivos gerais, a considerar como intenções que devem orientar a prática profissional

dos educadores, e que são os enunciados nos seguintes diplomas:

Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 46/86, de 14 de Outubro);

Lei Quadro da Educação Pré-Escolar (Lei nº 5/97, de 10 de Fevereiro);

Os objectivos específicos da instituição onde o jardim de infância se insere, fixados com

base nos seus preceitos estatutários ou na legislação enquadradora, com respeito pelas normas

aprovadas pelos órgãos de gestão e administração e pelos órgãos de coordenação pedagógica.

O projecto educativo do jardim de infância e o seu plano anual de actividades, aprovados

pelos competentes órgãos de gestão administrativa e pedagógica.

DesenvolvimentoCurricular

ObjectivosGerais

ObjectivosEspecíficos

ProjectoEducativo

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

10

A organização do ambiente educativo, como suporte do trabalho curricular e da sua

intencionalidade, comportando os seguintes níveis de interacção:AmbienteEducativo

Organizaçãodo grupo

Organização doespaço e do tempo

Organizaçãodo estabelecimentoeducativo

Relação com os pais ecom os outrosparceiros educativos

AmbienteEducativo

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

11

Expressão musical

Expressão plástica

Expressão dramática

Expressão motora

Área de estudo e

conhecimento do meioÁrea de expressão

e comunicação

Área de formação

pessoal e social

Áreas de Conteúdo

Áreas deConteúdo

As áreas de conteúdo, constituindo as referências gerais a considerar no planeamento e

avaliação das situações e oportunidades de aprendizagem, nomeadamente:

Domínio da

matemática

Domínio da linguagem e

abordagem da escritaDomínio das

expressões

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

12

ContinuidadeEducativa

A continuidade educativa, como processo que parte do que as crianças já sabem e aprenderam,

criando condições para o sucesso nas aprendizagens seguintes.

Observação AvaliaçãoAcçãoPlaneamento

IntencionalidadeEducativa

Acções desenvolvidas pelo educador, de forma aadequar a sua prática às necessidades das crianças.

A intencionalidade educativa decorre doprocesso reflexivo de:

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

13

b)

a)

c)

d)

e)

f)

g)

h)

i)

Objectivos Pedagógicos

ObjectivosPedagógicosGerais

Promover o desenvolvimento pessoal da criança com base em experiência de vida

democrática numa perspectiva de educação para a cidadania;

Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela pluralidade

das culturas, favorecendo uma progressiva consciência como membro da sociedade;

Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o sucesso da

aprendizagem;

Estimular o desenvolvimento global da criança no respeito pelas suas características individuais,

incutindo comportamentos que favoreçam aprendizagens significativas e diferenciadas;

Desenvolver a expressão e a comunicação através de linguagens múltiplas como meios

de relação, de informação, de sensibilização estética e de compreensão do mundo;

Despertar a curiosidade e o pensamento crítico;

Proporcionar à criança ocasiões de bem-estar e de segurança, nomeadamente, no âmbito

da saúde individual e colectiva;

Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidade e promover a

melhor orientação e encaminhamento da criança;

Incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de

efectiva colaboração com a comunidade.

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

14

Os princípios gerais e os objectivos pedagógicos enunciados na Lei Quadro da Educação

Pré-Escolar, bem como a sua regulamentação regional, constituem os fundamentos das orientações

curriculares para a educação pré-escolar. Assim, as diferentes afirmações contidas no princípio geral

da Lei Quadro, destacadas no texto, relacionam-se com os objectivos gerais, para explicitar a sua

tradução nas orientações curriculares: "A educação pré-escolar é a primeira etapa da educação

básica no processo de educação ao longo da vida".

Aquela afirmação implica que, durante esta etapa, se criem as condições necessárias para

as crianças continuarem a aprender, dela decorrendo também o objectivo geral: "Contribuir para

a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o sucesso das aprendizagens.�

Não se pretende que a educação pré-escolar se organize exclusivamente em função de

uma preparação para a escolaridade obrigatória, mas antes que se perspective no sentido da

educação ao longo da vida, devendo, contudo, proporcionar à criança condições para abordar com

sucesso a etapa seguinte.

A educação pré-escolar é um possível momento de insucesso escolar precoce em que

algumas crianças descobrem que são diferentes. Conclusões da investigação sociológica demonstraram,

também, que o insucesso escolar recai maioritariamente em crianças cuja cultura familiar está mais

distante da cultura escolar. Para que a educação pré-escolar possa contribuir para uma maior

igualdade de oportunidades, as orientações curriculares acentuam a importância de uma pedagogia

estruturada, o que implica uma organização intencional e sistemática do processo pedagógico,

exigindo que o educador planeie o seu trabalho e avalie o processo e os seus efeitos no

desenvolvimento e na aprendizagem das crianças.

Igualdade deOportunidades

ObjectivosPedagógicos:Lei Quadroda EducaçãoPré-Escolar

Fundamentos eOrganização dasOrientações Curriculares

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

15

Adoptar uma pedagogia organizada e estruturada não significa introduzir na educação pré-

-escolar certas práticas "tradicionais'', sem sentido para as crianças, nem menosprezar o carácter

lúdico de que se revestem muitas aprendizagens, pois o prazer de aprender e de dominar determinadas

competências exige também esforço, concentração e investimento pessoal.

A educação pré-escolar cria condições para o sucesso da aprendizagem de todas as crianças,

na medida em que promove a sua auto-estima e autoconfiança, e desenvolve competências que

permitem que cada criança reconheça as suas possibilidades e progressos. Os diversos contextos

de educação pré-escolar são, assim, espaços em que se constroem aprendizagens, de forma a

"favorecer a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança".

Esta afirmação do princípio geral fundamenta o objectivo de "estimular o desenvolvimento

global da criança, no respeito pelas suas características individuais, desenvolvimento que implica

favorecer aprendizagens significativas e diferenciadas".

Aquele objectivo aponta, assim, para a interligação entre desenvolvimento e aprendizagem,

considerando que o ser humano se desenvolve num processo de interacção social. Nesta perspectiva,

a criança desempenha um papel activo na sua interacção com o meio que, por seu turno, lhe deverá

fornecer condições favoráveis para que se desenvolva e aprenda.

Admitir que a criança desempenha um papel activo na construção do seu desenvolvimento

e aprendizagem supõe encará-la como sujeito e não como objecto do processo educativo. Neste

sentido, acentua-se a importância de a educação pré-escolar partir do que as crianças sabem, da

sua cultura e dos seus saberes próprios. Respeitar e valorizar as características individuais da criança,

a sua diferença, constitui a base de novas aprendizagens.

Competências eAprendizagens

DesenvolvimentoGlobal daCriança

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

16

A oportunidade de usufruir de experiências educativas, num contexto facilitador de

interacções sociais alargadas com outras crianças e adultos, permite que cada criança, ao construir

o seu desenvolvimento e aprendizagem, vá contribuindo para o desenvolvimento e aprendizagem

dos outros.

O respeito pela diferença inclui as crianças que se afastam dos padrões mais comuns,

cabendo à educação pré-escolar dar resposta a todas e a cada uma delas. Nesta perspectiva de

"escola inclusiva", a educação pré-escolar deverá adoptar a prática de uma pedagogia diferenciada,

centrada na cooperação, que inclua todas as crianças, aceite as diferenças, apoie a aprendizagem e

responda às necessidades individuais.

O conceito de "escola inclusiva" supõe que o planeamento seja realizado tendo em conta

o grupo. Cada plano é adaptado e diferenciado de acordo com as características individuais, de

modo a oferecer a cada criança condições estimulantes para o seu desenvolvimento e aprendizagem.

Pela sua referência ao grupo, vai mais longe que a perspectiva de integração que admitia a necessidade

de planos individuais e específicos para as crianças "diferentes". Assim, mesmo as crianças diagnosticadas

como tendo necessidades educativas especiais são incluídas no grupo e beneficiam das oportunidades

educativas que são proporcionadas a todos.

As condições que se consideram necessárias para a existência de uma "escola inclusiva",

tais como o bom funcionamento do estabelecimento educativo, o envolvimento de todos os

intervenientes - profissionais, crianças, pais e comunidade - e a planificação em equipa são aspectos

a ter em conta no processo educativo a desenvolver na educação pré-escolar.

EscolaInclusiva

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

17

b) Fomentar a inserção da criança em

grupos sociais diversos, no respeito pela

pluralidade das culturas sócio-familiares,

favorecendo uma progressiva consciência

como membro da sociedade.

a) Promover o desenvolvimento pessoal

e social da criança com base em

experiências de vida democrática numa

perspectiva de educação para a cidadania;

A resposta que a educação pré-escolar deve dar a todas as crianças organiza-se "tendo em

vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário". Esta última afirmação

do princípio geral que orienta a educação pré-escolar concretiza-se directamente nos seguintes

objectivos:

Objectivosa ter em conta

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

18

No sentido da educação para a cidadania, as orientações curriculares dão particular

importância à organização do ambiente educativo como um contexto de vida democrática em que

as crianças participam e onde contactam e aprendem a respeitar diferentes culturas. É nesta vivência

que se inscreve a área de formação pessoal e social, considerada como área integradora de todo

o processo de educação pré-escolar.

É também objectivo da educação pré-escolar "proporcionar ocasiões de bem-estar e de

segurança, nomeadamente no âmbito da saúde individual e colectiva". O bem-estar e segurança

dependem também do ambiente educativo em que a criança se sente acolhida, escutada e valorizada,

o que contribui para aumentar a sua auto-estima e o desejo de aprender. Em suma, um ambiente

em que a criança se sinta bem porque são atendidas as suas necessidades psicológicas e físicas.

Neste contexto, o bem-estar relacionado com a saúde individual e colectiva é também ocasião de

uma educação para a saúde, componente educativa que faz parte integrante da formação do cidadão.

Mas a educação da criança, tendo em vista a plena inserção na sociedade como ser autónomo,

livre e solidário, implica também outras formas de desenvolvimento e aprendizagem, a que se refere

o objectivo de "desenvolver a expressão e a comunicação através de linguagens múltiplas como

meios de relação, de informação, de sensibilização estética e de compreensão do mundo".

Este objectivo é contemplado nas áreas "expressões e comunicação", e "conhecimento do

meio", englobando a primeira diferentes formas de linguagem, distribuídas por três domínios:

. domínio das expressões

. domínio da linguagem e abordagem da escrita

. domínio da matemática

Sendo importante, em si mesmo, o domínio destas linguagens, elas também são meios de

relação, de sensibilização estética e de obtenção de informação.

Inserção naSociedade

Educaçãopara aSaúde

Educaçãopara aCidadania

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

19

c) Domínio da matemática, considerado

como uma outra forma de linguagem,

faz também parte da área de expressão

e comunicação.

b) Domínio da linguagem e abordagem

da escrita, que inclui outras linguagens,

como a informática e a audiovisual, e

ainda a possibilidade de sensibilização

a uma língua estrangeira

a) Domínio das expressões, com as

vertentes de expressão motora,

expressão dramática, expressão plástica

e expressão musical;

ÁREA DA EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

20

Deste modo, a área de expressão e comunicação constitui uma área básica que contribui

simultaneamente para a formação pessoal e social e para o conhecimento do meio. Por seu turno,

a área do conhecimento do meio permite articular as outras duas, pois é através das relações com

os outros que se vai construindo a identidade pessoal e se vai tomando posição perante o "mundo"

social e físico".

Dar sentido a esse "mundo" passa pela utilização de sistemas simbólico-culturais.

Não se considerando estas diferentes áreas como compartimentos estanques, acentua-se

a importância de interligar os conteúdos e de os contextualizar num determinado ambiente educativo.

Assim, a organização do ambiente educativo na relação com o meio envolvente constitui o suporte

do desenvolvimento curricular. Só este processo articulado permite atingir um outro objectivo que

deverá atravessar toda a educação pré-escolar: "Despertar a curiosidade e o espírito crítico." Este

objectivo concretiza-se nas diferentes áreas de conteúdo que se articulam numa formação global,

que será o fundamento do processo de educação ao longo da vida.

Uma outra afirmação do princípio geral da Lei Quadro considera a educação pré-escolar

como "complemento da acção educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita relação".

Esta afirmação, que acentua a importância da relação com a família, traduz-se no objectivo de

"incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de efectiva

colaboração com a comunidade".

Participaçãodas Famílias

Organizaçãodo AmbienteEducativo

FormaçãoPessoal eSocial eConhecimentodo Meio

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

21

Os pais ou encarregados de educação são os responsáveis pela criança e também os seus

primeiros e principais educadores. Estando hoje, de certo modo, ultrapassada a tónica colocada numa

função compensatória, pensa-se que os efeitos da educação pré-escolar estão intimamente relacionados

com a articulação com as famílias. Já não se procura compensar o meio familiar, mas partir dele e

ter em conta a cultura sócio-familiar da qual as crianças são oriundas, para que a educação pré-

escolar se possa tornar mediadora entre a cultura de origem das crianças e a cultura de que terão

de se apropriar para terem uma aprendizagem com sucesso.

Sendo a educação pré-escolar complementar da acção educativa da família, haverá que

assegurar a articulação entre esta e o estabelecimento educativo, no sentido de encontrar, num

determinado contexto social, as respostas mais adequadas para as crianças, cabendo aos pais participar

na elaboração do projecto educativo do estabelecimento.

Para além da família, também o meio social em que a criança vive influencia a sua educação,

beneficiando a escola da conjugação dos esforços e dos recursos da comunidade para a educação

das crianças. Assim, tanto os pais como os outros membros da comunidade poderão colaborar no

desenvolvimento do projecto educativo do estabelecimento. O processo de colaboração com os

pais e com a comunidade tem efeitos na educação das crianças e ainda consequência no desenvolvimento

e na aprendizagem dos adultos que desempenham funções na sua educação.

Articulaçãoentre aFamília e oEstabelecimentoEducativo

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

22

A intencionalidade do processo educativo que caracteriza a intervenção profissional do

educador passa por diferentes etapas interligadas, que se vão sucedendo e aprofundando, o que

pressupõe:

1. Observar cada criança e o grupo, para conhecer as suas capacidades, interesses e

dificuldades, e para recolher as informações sobre o contexto familiar e o meio em que as crianças

vivem. Estas práticas são necessárias para compreender melhor as características das crianças e

adequar o processo educativo às suas necessidades. O conhecimento da criança e da sua evolução

constitui o fundamento da diferenciação pedagógica, que parte do que esta sabe e é capaz de fazer,

para alargar os seus interesses e desenvolver as suas potencialidades. Este conhecimento resulta

de uma observação contínua e supõe a necessidade de referências, tais como trabalhos produzidos

pelas crianças e diferentes formas de registo das observações. Trata-se, fundamentalmente, de dispor

de elementos que possam ser periodicamente analisados, de modo a compreender o processo

desenvolvido, constituindo, deste modo, a base do planeamento e da avaliação, e servindo de suporte

à intencionalidade do processo educativo.

2. Planear o processo educativo de acordo com o que o educador sabe do grupo, de cada

criança e do seu contexto familiar e social. Tal é condição para que a educação pré-escolar possa

proporcionar um ambiente estimulante de desenvolvimento e promova aprendizagens significativas

e diferenciadas que contribuam para uma maior igualdade de oportunidades. Planear implica que

o educador reflicta sobre as suas intenções educativas e a forma de as adequar ao grupo, prevendo

situações e experiências de aprendizagem, organizando os recursos humanos e materiais necessários

à sua realização. O planeamento do ambiente educativo permite às crianças explorar e utilizar

espaços, materiais e instrumentos colocados à sua disposição, proporcionando-lhes interacções

diversificadas com todo o grupo, em pequenos grupos e entre pares, e também a possibilidade de

interagir com outros adultos.

Planeamentodo ProcessoEducativo

Observaçãoe Conhecimentode cada Criançae do Grupo

Orientações Globaispara o educador

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

23

Este planeamento terá em conta as diferentes áreas de conteúdo e a sua articulação, bem

como a previsão de várias possibilidades que se concretizam ou modificam, de acordo com as

situações e as propostas das crianças. Cabe, assim, ao educador planear situações de aprendizagem

que sejam suficientemente desafiadoras, de modo a interessar e a estimular cada criança, apoiando-a

para que atinja a níveis de realização a que não chegaria por si mesma, mas acautelando situações

de excessiva exigência das quais possam resultar desencorajamento e diminuição de auto-estima.

O planeamento realizado com a participação das crianças permite ao grupo beneficiar da sua

diversidade e das capacidades e competências de cada criança, num processo de partilha, facilitador

da aprendizagem e do desenvolvimento de todas e de cada uma.

3. Concretizar na acção as suas intenções educativas, adaptando-as às propostas das crianças

e tirando partido das situações e oportunidades imprevistas. A participação de outros adultos - pessoal

auxiliar de apoio, pais, outros membros da comunidade - na realização das oportunidades educativas,

planeadas pelo educador, é uma forma de alargar as interacções das crianças e de enriquecer o

processo educativo.

4. Avaliar o processo e os seus efeitos. Tal implica tomar consciência da acção e dos seus

resultados, para adequar o processo educativo às necessidades de cada uma das crianças e do grupo,

bem como a sua evolução. A avaliação realizada com as crianças é uma actividade educativa,

constituindo, também, uma base de avaliação para o educador. Pela sua reflexão, a partir dos efeitos

que vai observando, o educador pode estabelecer a progressão das aprendizagens a desenvolver

com cada criança. Neste sentido, a avaliação é o suporte básico do planeamento.

5. Comunicar o conhecimento que o educador adquire sobre a criança e sobre o modo

como esta evolui. Tal comunicação enriquece a acção do educador através da partilha de conhecimentos

e estratégias com outros adultos que também tenham responsabilidades na educação da criança,

nomeadamente os pais, os colegas e o pessoal não docente. Se o trabalho de profissionais em equipa

constitui um meio de auto-formação, com claros benefícios para o processo educativo, a troca de

opiniões com os pais permite um melhor conhecimento da criança e de outros contextos que

influenciam a sua educação, nomeadamente a família e a comunidade onde ela se insere.

6. Promover a continuidade educativa durante todo o percurso na educação pré-escolar

e durante a transição para escolaridade obrigatória. A relação estabelecida com os pais facilita a

comunicação entre eles e o educador, favorecendo a própria adaptação da criança. É também função

do educador proporcionar condições para que cada criança tenha uma aprendizagem com sucesso,

na fase seguinte, competindo-lhe, em colaboração com os pais e em articulação com os colegas do

1º ciclo do ensino básico, facilitar a transição da criança para a escolaridade obrigatória.

Avaliação

AcçãoEducativa

Promoção daContinuidadeEducativa

Comunicaçãodasaprendizagensaos pais /Encarregadosde Educação

Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar

24

Em cada ano lectivo, o educador de infância deve elaborar um projecto curricular, por forma a

orientar todo o trabalho, tendo em conta o seu grupo de crianças da sala de Jardim de Infância.

Do Projecto Curricular deverá constar:

Introdução;

Caracterização do meio;

Caracterização da escola/jardim de infância;

Organização da sala e das rotinas;

Características do grupo de crianças;

Intenções de trabalho para o ano lectivo;

Objectivos gerais da educação pré-escolar;

Objectivos gerais para o ano lectivo;

Articulação entre as áreas/domínios e conteúdos;

Justificação dos conteúdos seleccionados;

Decisões estratégicas de ordem geral;

Decisões estratégicas relativas à operacionalização do trabalho;

Previsão de procedimentos de avaliação.

Projecto Curricular

DESENVOLVIMENTO CURRICULAR EM COORDENAÇÃO COM O ENSINO BÁSICOMELHORIA DA QUALIDADE DAS APRENDIZAGENSFUNDAMENTAÇÃO DAS OPÇÕES EDUCATIVASDivisão da Educação Pré-Escolar e Ensino Básico