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Desenvolvendo a Prestação de Serviços Financeiros e Melhorando a Eficiência do Sector Bancário em Angola Submetido por: The Services Group, Inc. e Nathan Associates Submetido à: Agência dos Estados Unidos de Desenvolvimento Internacional / África Sul Janeiro de 2008 Contrato da USAID Nº 690-M-00-04-00309-00 (GS 10F-0277P) P.O. Box 602090 Unit 4, Lot 40 Gaborone Commerce Park Gaborone, Botswana Phone (267) 390 0884 Fax (267) 390 1027 Email: [email protected]

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Desenvolvendo a Prestação de Serviços Financeiros e Melhorando a

Eficiência do Sector Bancário em Angola

Submetido por: The Services Group, Inc. e Nathan Associates

Submetido à: Agência dos Estados Unidos de Desenvolvimento Internacional /

África Sul

Janeiro de 2008

Contrato da USAID Nº 690-M-00-04-00309-00 (GS 10F-0277P)

P.O. Box 602090 ▲Unit 4, Lot 40 ▲ Gaborone Commerce Park ▲ Gaborone, Botswana ▲ Phone (267) 390 0884 ▲ Fax (267) 390 1027

Email: [email protected]

Sumário Executivo

Este relatório foi preparado pelo Southern Africa Global Competitiveness Trade Hub com o objectivo de facultar ao Banco Nacional de Angola (BNA) uma análise crítica dos principais constrangimentos que se colocam à melhoria da eficiência do sector bancário e ao desenvolvimento de um sector financeiro eficiente em Angola. O relatório aborda cinco elementos específicos da Matriz de Políticas do BNA para a Expansão do Acesso ao Crédito: a melhoria da concessão de financiamento a prazo; a expansão do acesso ao crédito para as pequenas e médias empresas (PMEs); a redução do custo do crédito; estabelecimento de taxas de juro de referência visando orientar a definição de preços dos produtos do crédito; e análise da possibilidade de introduzir o seguro de depósitos em Angola. O relatório toma em consideração as condições especiais prevalecentes em Angola e também recorre às lições tiradas da experiência internacional.

Com base nesta análise, o relatório apresenta mais de 80 recomendações para serem consideradas pelo BNA, Governo de Angola (GA) e outros intervenientes com vista a melhorar a prestação de serviços financeiros e a eficiência do sector bancário. A Tabela 1, no fim deste Sumário, contém uma compilação das recomendações e sublinha as prioridades sugeridas. O Apêndice do capítulo 3 do relatório principal apresenta 11 recomendações para o fortalecimento das capacidades da instituição de vanguarda do governo para o desenvolvimento de PMEs (INAPEM) visando o apoio à prestação de serviços de desenvolvimento empresarial para as PMEs. Este constitui um outro elemento essencial de uma estratégia coerente visando a expansão do acesso ao crédito. Muitas das recomendações aqui apresentadas subscrevem ou enfatizam questões que já estão a ser consideradas pelas autoridades, mas muitas outras implicam novas medidas que carecem de atenção.

ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO SECTOR FINANCEIRO A função principal de um sistema financeiro é de captar poupanças e afectar fundos de uma forma eficiente às empresas, particulares e governos. As transacções financeiras são singulares na medida em que o principal produto é um compromisso de reembolso de fundos no futuro sob termos e condições especificados. Tratando-se de um mercado de promessas, o sistema financeiro é guiado pela informação sobre a fiabilidade e a solvência da parte que se compromete a efectuar o reembolso. São igualmente necessárias bases legais e judiciais sólidas como forma de garantir a execução contratual e os direitos de propriedade, bem como definir as regras e os regulamentos que regem as instituições financeiras.

Os bancos comerciais dominam o panorama financeiro em Angola. Um sistema bancário sólido constitui um bem público vital em que os agentes económicos confiam num sistema bancário estável e fiável para facilitar as transacções, proteger os saldos de caixa e as operações financeiras. As práticas bancárias imprudentes muitas vezes provocam crises que impõem custos pesados à economia em geral. Os bancos têm a obrigação básica de proteger os fundos obtidos dos seus depositantes. Eles devem, portanto, gerir os riscos com cuidado e evitar a exposição desnecessária a possíveis prejuízos, ao mesmo tempo que procuram um retorno atractivo para os accionistas. Para além de uma governação corporativa sólida, um sistema bancário sólido

também necessita de uma supervisão efectiva e de regulamentos sensatos como segunda linha de defesa contra a instabilidade financeira.

Porém, os bancos podem ser sólidos e inovadores, particularmente no desenvolvimento de novos serviços financeiros e na prestação de serviços a clientes não tradicionais. Para facilitar a inovação, o governo e a comunidade doadora podem ser os catalisadores da mudança. A motivação para a intervenção resulta das imperfeições do mercado, que fazem com que as instituições financeiras invistam por defeito nas inovações que podem beneficiar o desenvolvimento económico. As imperfeições incluem a falta de informação de ambos os lados do mercado. Deste modo, a maior parte dos bancos carece de informação sobre técnicas adequadas para servir novos mercados de forma lucrativa, enquanto que a maior parte das pequenas e médias empresas não entende as obrigações dos credores e não tem a capacidade de providenciar os dados contabilísticos e os planos de negócio necessários. As intervenções cuidadosamente elaboradas podem, por isso, ajudar as instituições financeiras a testarem novos mercados e serviços e contribuir para que as empresas locais se tornem mais “bancáveis” através de uma melhor gestão e controlo financeiros.

DESAFIOS QUE A ANGOLA DE HOJE ENFRENTA A análise contida em cada capítulo do relatório enquadra-se no contexto das condições prevalecentes hoje em Angola. Contudo, é útil logo à partida sublinhar alguns dos principais desafios que influenciam o desenvolvimento de um sistema financeiro. Um desafio básico resulta do facto de Angola estar ainda a recuperar de um longo período de conflito que terminou em 2002. As guerras deixam uma herança caracterizada por uma fraca governação; redução de rendimentos (juntamente com grandes expectativas); infra-estrutura e sistemas do serviço público degradados; altos níveis de inflação e de incerteza; problemas críticos com a segurança física e os direitos de propriedade; níveis de desemprego excepcionalmente elevados, em especial entre os jovens e os ex-combatentes; e uma grave escassez de capacidade humana e institucional. Apesar destes obstáculos, até 2007, Angola conseguiu um rápido crescimento guiado pelo ‘boom’ petrolífero, aliado a um programa de reconstrução agressivo. Para além destes factores, a situação política estabilizou, as condições de segurança são favoráveis e as políticas macro-económicas melhoraram imenso. Em suma, Angola passou os testes críticos iniciais de recuperação pós-conflito.

Também no sector financeiro, Angola ultrapassou as exigências iniciais pós-conflito e confronta-se agora com a questão mais profunda de estabelecer um sistema financeiro sólido e eficiente de apoio ao crescimento de base ampla e à criação rápida de postos de trabalho. Isto leva tempo porque requer o desenvolvimento de habilidades no sistema financeiro, assim como a confiança pública nos bancos, um sistema legal e judicial favorável e melhorias no ambiente de negócios. Concentrando-se no ambiente de negócios, o governo enfrenta uma série de desafios que afectam as empresas financeiras locais, nomeadamente a infra-estrutura de má qualidade, um quadro institucional desfavorável e desequilíbrios macro-económicos persistentes.

Um problema que se coloca é que os elevados gastos na reconstrução estão a ter um efeito contrário ao objectivo de redução da inflação. Confrontado com enormes injecções de liquidez através das operações do Tesouro, o banco central encontra-se na difícil posição de ter que

aplicar travões monetários emitindo a dívida interna ou vendendo moeda estrangeira. A combinação do estímulo fiscal e da restrição monetária criou uma situação em que a inflação se mantém teimosamente nos dois dígitos, as taxas de juro sobre os empréstimos em kwanzas não estão em linha com as taxas dos empréstimos em dólares e o kwanza forte pode prejudicar um crescimento de base ampla na indústria e agricultura. A melhor solução é modificar o equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária; mas a restrição fiscal é difícil de aceitar no contexto das grandes expectativas, do amplo acesso ao financiamento, de uma cultura de proteccionismo e de eleições nacionais previstas para 2008 e 2009.

Um outro desafio crítico que se coloca à expansão do crédito é o regime legal e regulador. Na sua avaliação do Doing Business (Fazer Negócio) referente a 2008, o Banco Mundial classifica Angola como tendo um dos ambientes menos favoráveis do mundo para o investimento privado.

Para ultrapassar estes desafios, é necessário um empenho político firme. Porém, certos interesses poderiam estar na origem da falta de coerência política. Por exemplo, tal como já se assinalou, o desejo de se conseguir uma rápida reconstrução possui um efeito adverso na estabilidade macro-económica, que é essencial para o desenvolvimento do sector financeiro. Muito embora o governo reconheça que o sector privado é o principal motor do crescimento, existe a tendência de se favorecerem intervenções populistas que poderão prejudicar as perspectivas de sucesso. Um exemplo gritante é a tendência de ver o sistema financeiro como uma via para subsidiar sectores favorecidos através de crédito barato. Estes esquemas são normalmente capturados por interesses especiais, à custa do objectivo de desenvolvimento.

Estão sempre em jogo considerações de ordem política. A questão importante é que os responsáveis pela tomada de decisões entendem os benefícios de incentivarem um sistema financeiro sólido e eficiente e o verdadeiro custo das intervenções que impedem estes desenvolvimentos. A nossa esperança é que o presente estudo faculte não apenas recomendações com vista à expansão da prestação de serviços financeiros e a eficiência do sector bancário em Angola, mas também uma justificação para a adopção de medidas adequadas no interesse do desenvolvimento económico nacional.

MELHORANDO A CONCESSÃO DE FINANCIAMENTO A PRAZO Até recentemente, o crédito a prazo em Angola limitava-se a um grupo seleccionado de clientes ricos dos bancos. Porém, o sistema financeiro deste país está a evoluir rapidamente. Tanto a base de depósitos como o volume de crédito do sector privado registam um rápido crescimento e os bancos estão a conceder cada vez mais empréstimos a médio e curto prazos. As autoridades têm vindo a promover este processo aumentando a concorrência através do licenciamento de novos bancos e introduzindo reformas com vista a desenvolver o sistema financeiro, nomeadamente a criação de uma nova bolsa de valores (BVDA), uma autoridade reguladora para os mercados de capital (CMC) e um novo Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA).

Não obstante, a maior parte dos bancos limita o seu financiamento a prazo a um grupo seleccionado de clientes que conhecem e em quem confiam, e a maior parte das empresas e particulares continuam a não ter acesso ao financiamento para o investimento. Isto deve-se ao facto de os bancos enfrentarem ainda obstáculos gigantescos à expansão do mercado para o

crédito a prazo. Alguns dos constrangimentos são a falta de fontes de financiamento a médio e longo prazos; um ambiente institucional desfavorável para garantir a execução dos contratos de crédito; uma oferta limitada de projectos de investimento bancáveis; a inexistência de uma fonte central de informação sobre crédito para avaliar os riscos do crédito; e instituições de má qualidade para o registo de propriedade, facto que mina a disponibilidade de colateral para garantir os empréstimos a prazo. Para além disso, os bancos têm que considerar todos os empréstimos em termos da sua necessidade de gerir cuidadosamente os riscos.

Para as empresas mais pequenas, o acesso ao crédito a prazo é também limitado pelo custo muito elevado do registo das empresas. Embora os requisitos em termos de procedimentos tenham sido imensamente simplificados no guiché único recentemente criado em Luanda, a burocracia continua gigantesca noutros cantos do país. Existem igualmente graves problemas no que diz respeito à capacidade de a maior parte dos empresários locais apresentar um plano de negócios credível ou demonstrar uma gestão financeira eficaz. Os problemas ligados ao ambiente de negócios, nomeadamente a contínua inflação de dois dígitos, a infra-estrutura de má qualidade e a corrupção generalizada, prejudicam ainda mais o âmbito do financiamento a prazo para o investimento. Para além disso, um kwanza forte praticamente elimina a possibilidade de crédito a prazo para o investimento nas actividades de exportação que não sejam o petróleo e os minerais, e pode estar a minar a competitividade de muitos potenciais produtores na agricultura e na indústria. Um constrangimento que é menos problemático do que se esperava é a cobertura física do sistema bancário. O investimento recente em novos balcões criou uma rede suficientemente bem distribuída para tornar o crédito a prazo disponível a empresas (viáveis) em grande parte do país.

Tendo em conta todos estes constrangimentos, é impressionante ver que os bancos estão cada vez mais envolvidos no financiamento a prazo, incluindo créditos com uma maturidade de até 15 anos. Os bancos estão evidentemente confortáveis com a situação financeira de muitos mutuários e acharam formas de controlar o risco através de canais que não sejam a acção judicial. Não obstante, existe a necessidade de se prestar uma atenção concertada aos problemas institucionais que ainda limitam o financiamento a prazo ao investimento.

Como instrumento importante para ultrapassar estes problemas, o governo criou o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) em Junho de 2006 com o objectivo de promover o investimento nacional e de apoiar a implementação do plano de desenvolvimento nacional. O BDA irá gerir um Fundo de Desenvolvimento que recebe 5% das receitas fiscais do governo provenientes da indústria do petróleo e 2% das receitas da indústria diamantífera. Os anteriores programas de financiamento ao desenvolvimento geridos pelo governo em Angola terminaram num fracasso dispendioso, mas o BDA propõe-se evitar este resultado introduzindo uma cultura de avaliação cuidada do crédito e de gestão diligente do risco. O BDA irá financiar directamente os projectos com um valor igual ou superior a US$5 milhões e conceder linhas de crédito a bancos comerciais parceiros para projectos de menor dimensão. O BDA irá ainda efectuar investimentos de capital, oferecer financiamento a longo prazo aos bancos comerciais, conceder doações a serviços de desenvolvimento empresarial e facultar garantias de risco de até 90% aos bancos comerciais. Numa fase inicial, o BDA concentra-se no financiamento das cadeias de valor em quatro sectores prioritários: milho, feijão, algodão e materiais de construção.

As instituições financeiras para o desenvolvimento do Estado (IFDs) da maior parte dos países em desenvolvimento fracassaram devido a padrões de crédito pouco rigorosos, interferência política nas decisões de crédito e uma abordagem proteccionista em relação ao quadro do pessoal. Porém, existem casos notáveis de sucesso em que as IFDs observam as normas do crédito comercial e atraem pessoal de alta qualidade, como é o caso do Brasil, Peru e África do Sul. Neste aspecto, o plano do BDA seguem as melhores práticas. Mesmo assim, o BDA enfrentará o problema do âmbito limitado do crédito a prazo viável devido ao ambiente de negócios desfavorável existente em Angola. Também enfrentará dificuldades de conseguir obter uma carteira diversificada para mitigar os riscos e economias de escala para manter os custos baixos. Se o BDA conseguir apenas um número limitado de mutuários que satisfaçam os seus padrões de avaliação rigorosos, então surgirão tensões entre o seu empenho em controlar o risco e o interesse do governo de movimentar dinheiro tendo em vista as eleições de 2008 e 2009. O BDA pode minimizar este risco usando uma porção maior dos recursos do Fundo do Desenvolvimento para conceder crédito aos bancos comerciais ou para disponibilizar financiamento a longo prazo para os próprios bancos.

O BDA prevê cobrar uma taxa de juro fixa de 8% sobre os seus empréstimos, incluindo os canalizados através dos seus bancos parceiros. Isto pode limitar o interesse do banco comercial em trabalhar com o BDA e também impossibilitar o crédito às PMEs, que envolve custos unitários mais elevados. Para além disso, a definição de uma taxa de juro real, que é negativa em termos do kwanza, permite que as propostas de investimento passem o teste de viabilidade financeira mesmo quando não são economicamente viáveis. Esta situação convida a uma afectação indevida de recursos do Fundo de Desenvolvimento e reduz o impacto do crescimento das operações do BDA. Este problema pode ser evitado através de uma maior flexibilidade na definição das taxas de juro.

As principais corporações em Angola em breve terão uma nova opção para o financiamento a prazo através da recém-criada Bolsa de Valores de Angola (BVDA). Embora os mercados de valores imobiliários constituam uma fonte natural de financiamento a médio e longo prazo, a experiência de outros países de África sugere que o mercado de capitais não será uma fonte importante de financiamento directo ao investimento, uma vez que é provável que poucas empresas queiram testar as águas fazendo flutuar as obrigações. Se os bancos comerciais se encontrarem entre os primeiros participantes, então o mercado de capitais pode ainda ter um impacto indirecto generalizado através da canalização de poupanças a longo prazo para o financiamento a prazo pelos bancos. Em qualquer dos casos, o governo terá de fazer arrancar o mercado através da venda pública de acções e obrigações do Tesouro nas empresas para-estatais. O lado da procura parece mais promissor devido à grave escassez de outros veículos de investimento para além do sector imobiliário e o rápido crescimento da poupança a longo prazo em fundos de pensões e de seguros.

A divulgação das formalidades constitui um grande constrangimento para muitos potenciais mutuários. Algumas bolsas africanas tentam resolver este problema através de um mercado de segundo nível com regulamentos e uma prestação de contas menos rigorosos. Embora as obrigações emitidas neste mercado sejam mais arriscadas, os riscos podem ser avaliados de forma a darem um produto atractivo. Resta saber se este programa será prático em Angola. Uma outra preocupação é de que a BVDA está a seguir uma abordagem de custo elevado que

irá provavelmente exigir subsídios do governo durante muitos anos. Sempre que for possível, a nova bolsa deve optar por métodos de funcionamento eficazes em termos de custos.

Duas outras fontes de financiamento a prazo merecem atenção – o leasing (locação) e o capital de risco. O leasing é uma forma simples e conveniente de crédito usando o valor do activo financiado como colateral. A nova Lei das Instituições Financeiras de 2005 autoriza o leasing em Angola, mas neste momento não está disponível devido à inexistência de uma estrutura reguladora. Mesmo quando os regulamentos forem publicados, o mercado poderá estar limitado devido à inexistência de um mercado secundário para liquidar muitos tipos de activos. Uma outra fonte de finanças para o investimento potencialmente importante é o capital de risco. Ao longo dos próximos 5 a 10 anos, a oferta de capital de risco para África irá provavelmente apresentar um tremendo crescimento. Todavia, neste momento, poucas empresas angolanas possuem a capacidade técnica, as habilidades de gestão e o potencial de mercado para atrair esta forma de financiamento. Uma maneira de facilitar o financiamento do capital de risco seria prestar assistência técnica às empresas de grande potencial para que estas se possam qualificar para o financiamento.

Por último, o financiamento ao investimento não pode ser separado da mobilização de poupança a longo prazo. O desenvolvimento mais promissor nesta matéria é o rápido crescimento dos fundos de pensões e de seguros. Actualmente, o programa nacional de pensões opera num regime pré-pago. Este método é apropriado para cobrir a invalidez e garantir um rendimento mínimo aos reformados e aos membros sobreviventes das famílias. Porém, um programa financiado obteria muito melhores resultados na captação de poupança a longo prazo para satisfazer as necessidades dos futuros reformados, ao mesmo tempo que estimula um desenvolvimento mais rápido do mercado de capitais. Converter para um sistema financiado constitui uma tarefa complexa que exige uma planificação detalhada, um quadro legal e regulador sólido, uma gestão altamente capaz e uma barreira para prevenir o uso indevido de fundos para fins políticos. Um aspecto muito importante é que um sistema financiado exige uma estratégia sólida que permita investimentos diversificados para proteger o crescente pool de capital e conceder uma taxa de retorno suficiente para garantir benefícios aos pensionistas no futuro. Mas a melhor altura para introduzir um programa financiado é quando a força laboral é jovem e os actuais passivos são reduzidos, como é o caso de Angola.

Com base nesta análise, o relatório apresenta 28 recomendações sobre as medidas que devem ser tomadas com vista a melhorar a oferta de financiamento a prazo às empresas nacionais em Angola. (Vide a Tabela 1).

MELHORANDO O ACESSO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (PMEs) AO FINANCIAMENTO Um problema central que se coloca ao desenvolvimento do sector financeiro em Angola é a necessidade de expandir o acesso ao financiamento às pequenas e médias empresas (PMEs). Tradicionalmente, os bancos têm servido as grandes empresas, mas as PMEs também têm um papel importante a desempenhar na geração do crescimento de base ampla, na criação de postos de trabalho e numa distribuição mais equitativa dos rendimentos e da riqueza. Estudos realizados demonstram que a falta de acesso ao financiamento constitui um constrangimento importante ao desenvolvimento das PMEs. As causas prendem-se com problemas em relação

ao ambiente de negócios, com os bancos e com as capacidades das próprias PMEs. Este último factor requer uma análise da prestação de serviços de desenvolvimento empresarial, para além das acções viradas para o sector financeiro .

Muito embora as PMEs possam ser agentes chave do progresso económico e social, não é fácil desenhar intervenções efectivas para o seu desenvolvimento. Foram amplamente testadas duas abordagens – (i) apoio directo através da formação, subsídios, assistência técnica e rede de contactos; e (ii) fortalecimento do ambiente de mercados para o desenvolvimento das PMEs, incluindo a estabilidade macro-económica, infra-estrutura melhorada e eliminação das barreiras burocráticas ao negócio. Tendo em consideração os resultados frustrantes dos programas de apoio directo às PMEs, a tendência internacional nos últimos anos é de favorecer a segunda abordagem.

Não existe uma definição padrão de “PMEs” em Angola nem dados recentes sobre a composição ou características do sector das PMEs. A informação limitada disponível sugere que existem dezenas de milhar de PMEs registadas, havendo muitas mais a operarem no sector informal. Devido à inexistência de uma definição padrão, os bancos usam critérios idiossincráticos para classificarem as PMEs; nesta base, oito bancos indicaram à equipa do estudo que 20-30% da sua carteira de crédito ao sector privado é constituída por empréstimo às PME. Porém, a maior parte deste crédito destina-se às empresas que não seriam classificadas como PMEs noutros países em desenvolvimento. Em qualquer dos casos, o crédito ao sector privado totalizou apenas 6,8% do PIB (2006), facto que sugere que o credito às PMEs totaliza não mais do que 2% do PIB. Um estudo recente realizado pelo BNA e o PNUD indica que apenas 0,4% das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) obtiveram crédito bancário.

O ambiente de negócios pouco favorável que se vive em Angola constitui um constrangimento importante às perspectivas de negócio das PMEs e, consequentemente, ao seu acesso ao financiamento. Algumas preocupações particulares são os procedimentos de registo complexos e onerosos; as dificuldades com os direitos de propriedade e de uso da terra; a inexistência de um sistema eficiente e abrangente de referência do crédito; e mecanismos ineficazes de execução contratual. Um outro constrangimento básico é a infra-estrutura deficiente dos transportes, energia e comunicações. Alguns problemas de ordem macro-económica são a contínua inflação e apreciação da taxa de câmbio real, facto que pode minar as perspectivas de crescimento das PMEs que produzem bens comercializáveis.

Do lado da oferta da equação financeira, a maior parte dos bancos mostra-se cautelosa em relação ao mercado das PMEs devido aos custos elevados inerentes à administração de pequenos empréstimos às PMEs e aos elevados riscos percebidos. A maior parte dos bancos angolanos também não possui o ‘know-how’ nem os quadros necessários para avaliar a viabilidade do crédito aos clientes das PMEs. Porém, existem técnicas bem testadas para ultrapassar estes constrangimentos e tornar as PMEs lucrativas, as quais foram aplicadas, com sucesso, em países de vários cantos do mundo, tais como o Bangladesh, a Indonésia, o Peru, as Filipinas, a Bolívia e o Uganda. Em particular, os bancos podem conceder créditos de uma forma lucrativa e segura às PMEs através da adopção de “técnicas micro-financeiras” para esta classe de clientes de modo a gerar uma “base dupla” de retorno comercial e de desenvolvimento. A colaboração com bancos ou agências estrangeiros especializados no

crédito às PMEs pode constituir uma fonte de assistência útil. Para além disso, assim que regulamentos apropriados tenham sido implementados, o leasing pode ser uma alternativa viável ao crédito bancário normal para o financiamento da compra de viaturas e equipamento pelas PMEs. Os riscos do crédito podem também ser reduzidos aliando-o à cobertura do seguro, embora o custo do seguro possa limitar o seu uso para o financiamento às PMEs. O acesso físico aos bancos não constitui um grande problema, uma vez que a cobertura geográfica tem estado a expandir-se rapidamente, com mais de 60 novos balcões abertos só em 2006 (mais de metade em Luanda), e pelo menos 3 balcões em todas as capitais provinciais.

A experiência internacional sugere que o sector público pode apoiar melhor a expansão dos serviços financeiros às PMEs criando uma base institucional e política sólida. A promoção de um mercado financeiro competitivo pode ser o papel mais importante a ser desempenhado pelas autoridades públicas com vista a contribuir para que as PMEs tenham acesso ao crédito porque a competitividade alimenta práticas de crédito inovadoras. Uma outra área de acção crucial é o estabelecimento de um cadastro ou bureau de crédito visando melhorar a qualidade da informação sobre o crédito e facultar incentivos para que as pequenas empresas adoptem práticas de gestão financeira sólidas. Esta constitui uma grande prioridade para Angola.

Pelo contrário, os programas de crédito dirigidos pelo governo para as PMEs tendem a retardar o desenvolvimento da capacidade de avaliação do crédito e de gestão do risco das PMEs e distorcem a distribuição dos recursos financeiros. Uma abordagem alternativa é oferecer garantias para o crédito bancário às PMEs como substituto parcial do colateral. A ideia é ajudar os credores a aprenderem a lidar com novos produtos de crédito e com os clientes não tradicionais de uma forma competitiva e sustentável. Todavia, as garantias de crédito também aumentam os custos de transacção dos bancos e podem estimular o crédito mal parado devido ao perigo moral se a garantia cobrir uma grande fracção do risco. As garantias são também muitas vezes usadas como um subsídio disfarçado para apoiar actividades que não são fundamentalmente viáveis. Não obstante, as garantias parciais bem estruturadas podem constituir uma ferramenta eficaz de mitigação dos riscos e de ultrapassar os problemas de informação que impedem a concessão de crédito aos clientes não tradicionais.

Do lado da procura, as PMEs em Angola enfrentam problemas graves de obtenção de crédito bancário devido à fraca capacidade de gestão e técnica, baixas qualificações académicas e experiência empresarial limitada, acesso limitado à mão-de-obra qualificada, ao capital e à tecnologia; e falta de conhecimentos sobre como usar os serviços bancários. Daí que a disponibilização de serviços de apoio ao desenvolvimento empresarial (ADE) possa ser um instrumento vital par melhorar o acesso das PMEs ao crédito. Actualmente, a disponibilização de ADE é escassa, com poucos provedores e serviços de baixa qualidade. Os provedores mais activos são o Programa Empresarial de Angola (PEA) e o Centro de Apoio Empresarial (CAE), estando este último a apoiar as PMEs ligadas à indústria petrolífera. Uma nova iniciativa do Centro de Incubação de Negócios de Cabinda (N’kondo) encontra-se na sua primeira fase de desenvolvimento. O Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) está ainda a explorar a possibilidade de apoiar os provedores de ADE para que ajudem os que solicitam empréstimos a satisfazer as suas normas de avaliação. A procura de ADE está concentrada na assistência à prestação de contas na área fiscal e tributária, bem como a realização de estudos de viabilidade e planos de negócios para aceder ao financiamento bancário. Todavia, a maior

parte das PMEs não tem conhecimento da existência de serviços de ADE nem do seu valor para melhorar os resultados da empresa. Existe igualmente uma desconfiança generalizada quando se trata de partilhar informação da empresa com estranhos.

A experiência internacional sugere que os governos são melhor sucedidos na promoção do desenvolvimento das PMEs quando: (i) existe uma população alvo de PMEs claramente definida; (ii) se reduz a duplicação de esforços através da designação de uma instituição correctamente gerida para a promoção das PMEs; (iii) as instituições de promoção das PMEs são avaliadas regularmente com base em indicadores do desempenho claros que abarcam as actividades e o impacto; e (iv) o custo dos serviços de ADE é partilhado com os beneficiários. As instituições de promoção das PMEs podem desempenhar um papel chave como ponte que estabelece a ligação em termos de informação entre os provedores de serviços de ADE e as PMEs. Um objectivo central deve ser encorajar a prestação de serviços de ADE guiados pelo mercado através de provedores qualificados do sector privado. Para além disso, uma instituição de promoção das PMEs pode apoiar directamente as actividades de ADE com características de bens públicos, tais como os programas de informação pública e formação de formadores.

A Administração das Pequenas Empresas (SBA) dos Estados Unidos foi pioneira de muitas destas práticas, nomeadamente as garantias bancárias e o apoio para os serviços de ADE através do estabelecimento de parcerias com o sector privado, instituições educacionais e outras agências. Para além desta instituição, os Centros de Desenvolvimento das Pequenas Empresas (SBDCs), que são autónomos, recebem apoio através da Instituição Financeira Nacional de Informação aos Centros de Desenvolvimento das Pequenas Empresas (SBDCNET), que dissemina a pesquisa das PMEs, as melhores práticas, a formação no trabalho e o ensino à distância. A SBA coordena os vários programas e recolhe dados sobre o seu desempenho e impacto.

Em Angola, o Instituto Nacional de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (INAPEM) foi criado em 1992 como instituição do governo para a promoção das PMEs angolanas. Neste momento, o INAPEM enfrenta problemas em termos de recursos humanos, incentivos de trabalho, gestão e supervisão, mas o seu papel pode ser fortalecido como uma instituição de promoção dos serviços de ADE, possivelmente seguindo o modelo da SBA. Esta medida exigirá a reorientação da missão do INAPEM no que diz respeito à promoção do empreendedorismo e implicará acção em quatro áreas: fortalecimento da capacidade institucional do INAPEM; melhoria e apoio à prestação de serviços de ADE guiados pela procura; a transformação do INAPEM numa organização apex para a coordenação e advocacia do ADE; e o estabelecimento de um sistema nacional de monitoria e avaliação. O texto do presente relatório inclui uma análise SWOT (Análise dos Pontos Fortes, Fracos, Oportunidades e Ameaças) para o INAPEM, incluindo estratégias visando ultrapassar as insuficiências e ameaças.

Com base nesta análise, o relatório oferece 22 recomendações cujo objectivo é melhorar o acesso ao financiamento por parte das PMEs (vide a Tabela 1). O relatório apresenta ainda um esboço de Plano de Acção para o INAPEM que integra 11 propostas de actividades e 38 sub-actividades com o objectivo de fazer face aos desafios anteriormente mencionados (vide o Apêndice do Capítulo 3 do relatório principal).

REDUZINDO O CUSTO DO FINANCIAMENTO O crédito e os depósitos bancários cresceram muito rapidamente ao longo dos últimos dois anos em Angola mas, mesmo assim, o crédito ao sector privado totalizava apenas 7,2% do PIB em meados de 2007. Os saldos dos depósitos totalizaram apenas 15,7% do PIB; e os bancos estavam a ser usados por apenas um número estimado em 6% da população. O valor elevado das taxas de juro e das outras despesas bancárias constitui um factor significativo que impede um maior acesso aos serviços financeiros?

As taxas de juro desempenham uma função importante na triagem do uso ineficaz de fundos. Se os mercados financeiros forem competitivos, então estas taxas reflectem o custo de oportunidade dos recursos financeiros, mais o custo de administrar as operações bancárias. Então, a questão básica que se coloca é se as taxas de juro em Angola ultrapassam o que seria de esperar em condições de competitividade e também se os custos de operação estão em conformidade com as referências internacionais.

Considerando a inexistência de instituições efectivas para controlarem o registo do crédito, fazerem o registo de propriedade, garantirem o colateral e a execução dos acordos de crédito, as taxas de juro para os clientes do segmento alto em Angola (em Setembro de 2007) foram espantosamente baixas, com os empréstimos em dólares a começarem em 7% e os empréstimos em kwanzas em 8% (muitas vezes indexados ao dólar). Comparativamente, o prime rate nos Estados Unidos era de 7,75% e na África do Sul 13,5%. O prime rate do crédito em kwanzas era também muito baixo relativamente à taxa de inflação, cerca de 12%.

As taxas de juro são compreensivelmente mais elevadas para os pequenos empréstimos e os clientes de maior risco. Estes factores explicam facilmente as taxas de até 12% sobre os empréstimos em dólares e justificam, de forma plausível, as taxas de até 25% sobre os empréstimos em Kwanzas. Contudo, no caso do micro-crédito, a taxa de juro pode chegar aos 60%, reflectindo custos de transacção muito elevados em relação aos valores em causa, e talvez uma falta de concorrência neste segmento do mercado. Em qualquer dos casos, é provável que estas taxas venham a baixar com a intensificação da concorrência e com a redução dos constrangimentos que se colocam à concessão de crédito, tal como foi anteriormente analisado.

Porque razão os prime rates do crédito são baixos? Como é que os bancos podem cobrar tão pouco? Um factor chave é que os bancos gozam de taxas de juro adicionais atractivas, apesar do prime rate baixo pagando muito pouco pelos fundos de depósito. Os dados do BNA mostram taxas de juro adicionais de 10,1 pontos percentuais em 2006, essencialmente porque dois terços de todos os depósitos são em contas domiciliadas, a maior parte das quais à taxa zero. Igualmente importante é o facto de os bancos terem tido muita liquidez; com o crédito bancário a totalizar apenas 52% dos depósitos em meados de 2007, os bancos têm poucos incentivos para oferecer taxas de depósitos mais elevadas. Com efeito, as taxas de juro baixas dos empréstimos são à custa dos que têm poupanças. O ponto de vista generalizado de que os angolanos “não têm cultura de poupança” nunca foi comprovado porque não existem grandes incentivos para poupar através dos bancos. Os únicos instrumentos directos do BNA para influenciar o spread das taxas de juro seria reduzir a taxa das reservas obrigatórias, que é bastante elevada (15% dos depósitos), ou então permitir que as reservas obrigatórias sejam remuneradas.

Um segundo factor que reduz a taxa de juro do crédito é que os bancos angolanos obtêm uma grande parte das receitas das comissões – 46% no primeiro semestre de 2007. Este valor está em conformidade com os instrumentos de comparação internacionais e a estrutura das comissões normalmente situa-se a meio das referências internacionais. Porém, um problema básico é a falta de transparência da estrutura das comissões. Esta situação aponta para a necessidade de adopção de requisitos mais rigorosos de divulgação pública em formato standard. É claro que as comissões explícitas são apenas uma parte do custo das transacções que os clientes dos bancos enfrenta. Existem também custos associados à documentação, de deslocação até ao banco e de tratar das transacções. A experiência dos outros países sugere que os custos dos inconvenientes são muitas vezes um aspecto que impede uma utilização mais generalizada dos serviços bancários. Estas considerações merecem um estudo mais cuidado e um maior diálogo sobre as novas tecnologias visando alargar os serviços aos clientes e regiões não servidos pelos bancos.

O spread das taxas de juro em si é a diferença por unidade entre os empréstimos e os depósitos. Mas as receitas líquidas da margem financeira dependem também do volume e o rendimento dos outros activos. A margem financeira é a diferença entre os juros pagos e os juros recebidos como percentagem do total dos activos remunerados. Em 2006, apesar de um spread elevado da taxa de juro, a margem financeira em Angola não era particularmente elevada, situando-se em 4,3%. Isto sugere que o fraco rácio de transformação dos bancos (empréstimos / depósitos), bem como o fraco rendimento dos activos alternativos, têm sido os principais factores determinantes do spread elevado entre as taxas de crédito e de depósito. A eficiência do funcionamento do sistema bancário parece ser razoável em termos do rácio dos custos por activo, o rácio dos custos por receitas e a média dos activos por empregado. Ainda assim, existem muitos factores em Angola que contribuem para aumentar os custos bancários, pelo que os baixos rácios são provavelmente uma indicação de uma grande concentração em clientes do segmento alto. À medida que os bancos forem alargando o seu envolvimento noutros segmentos de mercado, é provável que estes custos venham a subir. Do mesmo modo, os custos do crédito mal parado, medidos pelo rácio dos empréstimos cujos pagamentos estão muito atrasados, por total de empréstimos não suscita motivo de alarme, mas o rápido crescimento do crédito nos últimos anos pode ser um sinal de aviso de que sérios problemas poderão surgir.

Um outro factor determinante das taxas de juro de crédito é a margem de lucro. O sistema bancário em Angola tem vindo certamente a gerar retornos sobre o capital para os accionistas, até acima da norma para a África, em que os accionistas mostram a tendência de exigir um retorno elevado para compensá-los pelos riscos. As grandes margens de lucro são, portanto, um factor significativo que explica os spreads e as comissões. Mas estes retornos também atraíram pessoas novas para a indústria, facto que deveria corroer as margens de lucro e originar uma melhor definição de preços dos serviços no futuro para os clientes dos bancos.

Por último, a nossa investigação revela que o imposto do selo sobre os empréstimos bancários não constitui um factor de custo relevante que impede o crédito. Mas estes impostos praticamente não geram quaisquer receitas para o Tesouro e criam um peso desnecessário aos mutuários, os quais enfrentam problemas de numerário. As melhores práticas para a tributação nos países em desenvolvimento são inequivocamente a favor da eliminação destes impostos como parte de um programa de reforma fiscal.

Em resumo, os custos bancários impedem o acesso aos serviços financeiros dos clientes não privilegiados, os quais estão sujeitos a taxas de juro elevadas nos empréstimos, baixas taxas de juro nos depósitos e encargos bancários elevados. Seria aconselhável, pois, que o BNA considerasse medidas que possam facilitar uma redução dos custos bancários. A Tabela 1 apresenta 12 recomendações resultantes da análise contida neste capítulo do relatório.

DEFINIÇÃO DE TAXAS DE REFERÊNCIA PARA OS PREÇOS DOS PRODUTOS DO CRÉDITO Na sua Matriz de Políticas para a Expansão do Acesso ao Crédito, o BNA reconhece que existe a necessidade de definir taxas de referência baseadas no mercado para as obrigações do governo e do banco central de modo a providenciar ao sector financeiro uma referência adequada para os preços dos produtos do crédito, em particular os estabelecidos em moeda nacional. No geral, os bancos comerciais definem o prime rate do crédito com base no custo marginal de fundos no mercado em moeda nacional. A diferença entre a taxa de referência e o prime rate do crédito é determinada pelos custos de operação, riscos de crédito e condições competitivas no mercado dos créditos prime. Por sua vez, a taxa de juro dos outros créditos é estabelecida tomando em consideração os riscos e custos adicionais inerentes às operações com clientes com menor credibilidade em relação à banca. No que diz respeito ao crédito em dólares, os bancos usam quase que universalmente o London Inter-bank Offer Rate (LIBOR) como seu ponto de referência; por agora, não existe nenhuma alternativa prática à LIBOR para este efeito.

Em Angola, os bancos determinam as suas taxas de juro de crédito de acordo com estas normas internacionais. O preço do crédito em dólares americanos é normalmente definido em relação ao LIBOR, enquanto que o crédito em kwanzas é em referência à emissão dos títulos do banco central (TBCs). O problema com este último é que a taxa dos TBCs não é um sinal de preços determinados pelo mercado porque o BNA administra os rendimentos em “leilões” semanais. Um problema relacionado é que o mercado primário dos TBCs é dominado por um punhado de grandes actores, uma vez que só os bancos comerciais estão autorizados a licitar. Aumentar a concorrência permitindo a participação de outros licitadores no leilão produziria taxas de referência mais eficientes para o estabelecimento de preços do crédito em Kwanzas se o BNA permitir que o mercado dê o seu contributo na definição dos TBCs – o que se justifica se o BNA pretender usar o seu controlo da base monetária como objectivo intermédio principal da política monetária.

O preço dos produtos do crédito mais a longo prazo é normalmente determinado com base na taxa de juro prevalecente para a dívida do Estado de maturidade ou “tenor” equivalente. Em países com mercados de capital bem desenvolvidos, os governos emitem dívidas regularmente com várias maturidades e o comércio do mercado secundário é suficientemente profundo para facultar dados regulares sobre os rendimentos “sem risco”. A relação entre os rendimentos e a maturidade nestes instrumentos em qualquer altura chama-se curva de rendimentos. O Governo já emite Obrigações do Tesouro (OTs) para financiar certos requisitos, com maturidades até aos 12 anos. Contudo, o Tesouro define as taxas de juro administrativamente. Embora o Tesouro tenha que avaliar as condições do mercado para vender as obrigações, está claro que os rendimentos das OTs, como os dos TBCs, não dão sinais de preços guiados pelo

mercado para se aplicarem preços às outras obrigações. Com efeito, a taxa de juro das acções em Kwanzas tem estado muito abaixo da taxa de inflação, deixando os investidores com retornos reais muito negativos.

Os bancos de Angola estão rapidamente a expandir a sua carteira de financiamento a prazo e a nova bolsa de valores (BVDA) em breve estará operacional. A existência de taxas de juro determinadas pelo mercado para a dívida do governo com várias maturidades deixa o mercado sem pontos de referência claros para estabelecer os preços destes produtos. A definição de uma curva de rendimentos para a dívida do governo facilitaria o desenvolvimento destes mercados. Para tal, o BNA (como banqueiro do governo) e o Tesouro devem elaborar um plano detalhado com vista a introduzir a definição de preços do mercado pelo menos para um subconjunto de emissões de OTs através do BNA a curto prazo, e da BVDA, logo que esta entre em funcionamento.

Na falta de taxas de referência guiadas pelo mercado, o crédito e as obrigações em Kwanzas podem ser avaliadas em referência a dois aspectos fundamentais do mercado: a Paridade da Taxa do Juro (PTJ); e a necessidade de taxas de juro reais (TJR) positivas para equilibrar o mercado. A PTJ é uma relação de equilíbrio entre as taxas de juro em kwanzas e em dólares; sendo as taxas de juro em dólares determinadas por um factor externo objectivo como a LIBOR, a PTJ pode ser usada para definir um ponto de referência para as taxas em kwanza com base em pressupostos razoáveis sobre a mudança prevista na taxa de câmbio nominal. Se, em média, os participantes do mercado esperam que o kwanza continue a fortalecer-se contra o dólar, então a taxa de juro do crédito em kwanzas para um determinado mutuário deve ser mais baixa do que a taxa em dólares para esse mesmo mutuário. Do mesmo modo, se os participantes do mercado prevêem que a taxa de câmbio nominal estará estável, então as duas taxas devem ser iguais. Se os bancos e outros agentes financeiros importantes puderem transferir os fundos entre estas duas moedas, então devem prevalecer estas relações entre as taxas de juro.

O problema é que a inflação do kwanza ainda é elevada. Consequentemente, a PTJ é inconsistente com a manutenção de TJR positivas nos créditos prime. Esta inconsistência resulta do facto de o rápido crescimento de Angola ser alimentado pelas receitas do petróleo, o que faz com que o Kwanza se fortaleça, ao mesmo tempo que alimenta a inflação nacional. Enquanto esta situação persistir, as autoridades monetárias enfrentam um dilema. O BNA pode gerir os rendimentos do kwanza nos TBCs de modo a obter taxas de juro reais positivas, ou então deixar que o mercado determine as taxas dos TBCs e enfrentar a possibilidade de a concorrência conduzir a taxas de juro reais negativas, facto que convida a uma maior ineficiência na afectação dos recursos financeiros. O desequilíbrio básico pode ser resolvido reduzindo a inflação através de uma melhor coordenação das políticas fiscal e monetária, ou alterando a gestão das reservas em moeda estrangeira de modo a permitir que o kwanza deprecie em linha com o diferencial da inflação.

Com base nesta análise, o relatório apresenta 8 recomendações sobre as medidas que podem ser tomadas para definir taxas de referência mais significativas para os preços dos produtos do crédito em Angola (vide a Tabela 1).

SEGURO DE DEPÓSITOS PARA ANGOLA? Com apenas 6% dos agregados familiares com conta bancária, o governo de Angola está interessado em explorar a possibilidade de introduzir o seguro de depósitos com vista a aumentar a confiança do público nos bancos e atrair mais fundos para o sistema financeiro. Não é óbvio que o seguro de depósitos faça uma grande diferença tendo em conta os outros constrangimentos com que os depositantes se confrontam, tais como as taxas de juro reais negativas, comissões e encargos sobre as contas bancárias e uma falta de conhecimento generalizada sobre os serviços oferecidos pela banca. Não obstante, existem certos casos em que o seguro de depósitos teve um efeito positivo claro. Por exemplo, na Rússia, a introdução do seguro de depósitos aumentou o número de depósitos em 15%.

Em suma, o seguro de depósitos protege os saldos dos depositantes na eventualidade de o banco em que o dinheiro se encontra falir. Este depósito complementa salvaguardas mais fundamentais, nomeadamente as normas do licenciamento bancário; os sistemas de supervisão bancária; os requisitos de divulgação de dados; e as operações de credor de último recurso do banco central. O seguro de depósitos só entra em acção quando estas outras válvulas de segurança falham. O seguro de depósitos é explícito, na medida em que existe um programa claramente definido, ou implícito, na medida em que os depositantes esperam que o governo reembolse os seus prejuízos devido à falência dos bancos. Os programas explícitos permitem ao governo delimitar as condições e a dimensão da cobertura. Eles também auto-financiam, pelo menos em parte, caso sejam cobrados prémios.

Existe um consenso cada vez maior de que o seguro de depósitos pode contribuir para o crescimento e a estabilidade do sistema financeiro se for implementado num contexto em que a supervisão bancária seja rigorosa e os contratos de dívida sejam executados. Caso contrário, o seguro pode encorajar os bancos a concederem créditos de forma imprudente, facto que poderia aumentar o risco de uma crise do sector bancário. Os países em desenvolvimento poderão não ter a capacidade de gerir, de forma credível, um programa de seguro de depósitos e, nesse caso, não teria valor como garantia para os depositantes. Mesmo assim, o número de países com programas explícitos aumentou de cerca de 10 em 1970 para mais de 80 em 2003. Porém, apenas 5 países africanos têm seguro explícito, estando outros 2 em processo de implementação.

Um objectivo universal do seguro de depósitos é aumentar a confiança nos bancos, dando aos depositantes garantias de que o seu dinheiro está protegido até um certo limite. Historicamente, um motivo importante era evitar o surgimento de uma crise resultante de “corridas aos bancos” quando uma falta de confiança generalizada ameaçasse um colapso do sistema. Nos casos em que os bancos são predominantemente propriedade de grupos bancários multinacionais de envergadura e estáveis, com mecanismos de controlo sólidos e uma supervisão efectiva, como é o caso do Botswana, então este motivo é menos importante.

A elaboração de um programa de seguro de depósitos requer uma planificação cuidada com vista a determinar as características institucionais e técnicas adequadas para Angola. Existem muitas opções a tomar em consideração. O seguro de depósitos pode ser voluntário ou obrigatório para as instituições depositárias. Globalmente, 91% destes programas são obrigatórios, sendo que 100% se encontram em África. Recomenda-se esta medida para o caso de Angola, para que os melhores bancos não optem por ficar de fora como forma de

evitar o custo do prémio. Uma vez que um grande número de bancos em Angola pertence a estrangeiros, deve haver um entendimento claro sobre a responsabilidade das sedes dos bancos na eventualidade da falência de uma subsidiária.

A maior parte dos programas de seguro de depósitos cobre um valor limitado por cada conta (ou cada pessoa segurada) e excluem contas que pertencem aos que têm ligações com o próprio banco. Na maior parte dos países, o limite é relativamente baixo e, por essa razão, é coberta apenas uma pequena fracção dos saldos dos depósitos. A maior parte dos programas cobre depósitos em moeda estrangeira. A cobertura de depósitos interbancários é menos comum.

A cobrança de um prémio pelo seguro ajuda a pagar os custos na eventualidade da falência de um banco, mas também acrescenta um novo elemento de custo aos preços dos serviços bancários. O co-seguro dos depositantes, que se assemelha aos pagamentos conjuntos do seguro médico, pode também ser usado com vista a reduzir o custo ao Tesouro. Uma outra questão técnica é se se deve variar os prémios com base no perfil de risco da instituição segurada. Todavia, as abordagens que impõem outras exigências administrativas não se adequam à situação de Angola.

A maior parte dos programas de seguro são financiados antecipadamente, mas alguns países apenas recolhem o pagamento dos bancos segurados depois de um ter falido. Um programa pré-financiado é mais credível porque o fundo está imediatamente disponível para ser usado na eventualidade de uma crise. Mas isto levanta a questão de onde os fundos dos prémios devem ser investidos e por quem. Este é um aspecto especialmente problemático em países como Angola com mercados financeiros subdesenvolvidos. É mais simples deixar que a organização seguradora invista os fundos em instrumentos a curto prazo, incluindo investimentos internacionais, fazendo-se o outsourcing da gestão a uma empresa externa do ramo. Uma outra variável importante de decisão é a definição de um aparelho institucional para administrar o seguro de depósitos. Diferentes instituições, públicas ou privadas, podem cuidar dos diferentes aspectos técnicos e administrativos.

Para além dos parâmetros técnicos, o programa de seguro de depósitos deve ser devidamente gerido e trabalhar em estreita colaboração com a autoridade de supervisão bancária. Com efeito, o supervisor bancário normalmente assume a responsabilidade de decidir o que fazer com os bancos falidos, em consulta com outras instituições chave. É crucial instituir mecanismos eficazes de pagamento atempado das dívidas a receber para manter a credibilidade do programa. Do mesmo modo, devem ser instituídos procedimentos para lidar com activos bancários após a insolvência de acordo com as leis da falência.

Fazendo um balanço, é pertinente introduzir um programa de seguro de depósitos em Angola, em particular se se tomar em consideração as vulnerabilidades criadas pela abertura de novos bancos de pequena dimensão e os riscos associados ao rápido crescimento no crédito bancário. Quer o seguro atraia ou não mais fundos para o sistema bancário, há mérito em clarificar os limites do que será coberto e do que não será coberto em caso de insolvência bancária. Para além disso, um programa explícito irá pelo menos dar garantias de que os pequenos depositantes não serão vítimas de uma possível falência bancária e definir procedimentos e critérios para administrar esta garantia, caso seja necessário.

Mais especificamente, o relatório apresenta 10 recomendações sobre medidas que podem ser tomadas para desenhar e implementar um programa adequado de seguro de depósitos para Angola (vide a Tabela 1).

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Em resumo, existem muitos constrangimentos graves que o sistema financeiro enfrenta hoje em Angola, mas também existem muitas formas de resolver esses constrangimentos através de medidas e programas apropriados que irão facilitar o desenvolvimento de mercados financeiros sólidos e eficientes. Existem também algumas melhorias que já foram introduzidas, com reformas nas políticas e desenvolvimentos no sector financeiro que já estão a ser guiados pela concorrência, que é cada vez maior. A Tabela 1 a seguir apresenta um resumo de mais de 80 recomendações que abarcam tópicos analisados no presente estudo. Tanto a análise como as recomendações aqui apresentadas representam os pontos de vista da equipa de consultoria e são contributos que devem ser analisados pelo BNA e pelo Governo nos seus esforços com vista a desenvolver a prestação de serviços financeiros e de melhorar a eficiência do sector bancário em Angola.

TABELA 1. Recomendações para o Desenvolvimento da Prestação de Serviços Financeiros e para Melhorar a Eficiência do Sistema Bancário em Angola

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

O BNA deve desempenhar um papel de vanguarda no apoio aos ministérios e outras agências para que entendam as ligações existentes entre as reformas legais, institucionais e reguladoras e o desenvolvimento do sistema financeiro. Para realizar este objectivo, o BNA deve convocar uma conferência nacional para debater estas questões.

BNA Máxima

Acelerar o desenvolvimento do novo sistema de informação sobre o crédito.

BNA Máxima

Introduzir cadastros informatizados sobre o património imóvel e móvel.

GA Grande

Acelerar as medidas de simplificação dos procedimentos de registo das empresas por todo o país e de redução do custo da formalização de uma empresa.

GA Grande

Definir formalmente como alvo uma melhoria significativa do rating de Angola na avaliação do “Doing Business” do Banco Mundial como objectivo em matéria de políticas.

GA Grande

Realizar ou patrocinar estudos para fazer com que os bancos entendam se o Kwanza forte está a afectar a competitividade de vários factores e as perspectivas do financiamento a prazo nesses mesmos sectores.

BNA ou GA

Secundária

Acesso ao crédito a prazo

Manter um grande enfoque da política macro-económica na redução da inflação para um dígito. Isto exige uma política fiscal favorável de modo a não colocar todo o peso da estabilização nas políticas monetária e cambial.

Tesouro e BNA

Máxima

O BDA deve enfatizar o financiamento de segundo nível através dos bancos comerciais e o financiamento intermediário (quasi-equity) a prazo dos bancos comerciais, como primeira opção do Fundo de Desenvolvimento, com vista a minimizar a concorrência com os bancos comerciais e o risco de interferência política nas decisões sobre o crédito.

BDA Grande Banco de Desenvolvimento

Enfoque do BDA no financiamento a prazo de 5 a 15 anos, ao invés de 2 a 9 anos conforme o previsto, de novo visando minimizar a concorrência directa com os bancos comerciais.

BDA Grande

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

Autorizar que o BDA use o Fundo de Desenvolvimento para o financiamento à infra-estrutura para que o BDA possa alocar efectivamente o Fundo em rápido crescimento sem comprometer os padrões de crédito.

BDA e Governo

Grande

Autorizar que o BDA participe no financiamento aos consórcios regionais em colaboração com o DBSA ou outras instituições pelas mesmas razões que as apresentadas anteriormente.

BDA e Governo

Secundária

O BDA deve adoptar uma política de taxas de juro flexível que irá reflectir os custos reais da administração do crédito aos clientes mais pequenos e de maior risco. Caso contrário, a taxa de juro fixa pode fazer com que os bancos parceiros evitem conceder crédito às PMEs.

BDA Grande

O BDA deve considerar a possibilidade de definir a taxa de juro pelo menos dois a três pontos acima da taxa de inflação para que o próprio mecanismo de preços ajude a fazer a triagem dos projectos que são esbanjadores.

BDA Grande

O BDA deve avaliar as taxas de retorno económico e financeiro no processo de triagem do crédito como forma de garantir que o financiamento do BDA seja usado em investimentos eficientes. Este aspecto é particularmente importante se a taxa de juro real aplicada aos empréstimos em kwanzas for negativa.

BDA Grande

Preparar ofertas públicas de acções nas principais empresas estatais como forma de contribuir para o arranque da bolsa de valores.

Tesouro Grande

Canalizar pelo menos uma parte das novas emissões de Obrigações do Tesouro através da BVDA em kwanzas e aos preços do mercado como forma de estimular o desenvolvimento do mercado de obrigações e estabelecer taxas de referência para o preço das outras obrigações (vide o capítulo 5).

Tesouro Máxima

Considerar a possibilidade de negociar um acordo com a Bolsa de Valores de Joanesburgo para permitir uma cotação conjunta das obrigações angolanas.

CMC e BVDA

Secundária

Mercados de Capital

Definir as comissões da compra e venda a um nível que não prejudique o desenvolvimento do mercado, embora tal exija um forte subsídio do Tesouro durante os

BVDA. CMC e

Grande

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

próximos anos. Tesouro

Sempre que for possível, procurar opções de baixo custo para o desenvolvimento do mercado de modo a minimizar o subsídio necessário.

BVDA e GA

Secundária

Acelerar a elaboração e aprovação do regulamento de leasing de modo a desbloquear uma nova via importante para o financiamento a prazo. Ao preparar os regulamentos, o BNA deve consultar os bancos e outros intervenientes.

BNA Grande

Solicitar a opinião de peritos visando garantir que as leis fiscais não criem uma desvantagem em termos de custos para as transacções do leasing.

BNA Grande

Explorar formas inovadoras de resolver o constrangimento do mercado secundário ao crédito baseado nos activos.

BNA, ABANC, Sector privado

Secundária

Outras Opções de Financiamento a Prazo

Estabelecer um programa de demonstração do apoio técnico para ajudar as empresas locais a qualificarem-se para o financiamento do capital de risco, concedido pelo governo ou por um doador.

GA, doadores

Grande

Autorizar que as companhias de seguro qualificadas e os programas de pensões participem no mercado primário de TBCs e OTs.

BNA, Tesouro

Grande

Eliminar o imposto do selo nos serviços de seguros visando remover um factor de custo adicional que é desnecessário e passível de distorção (vide o capítulo 4 referente ao imposto do selo nos serviços bancários).

Tesouro Grande

Considerar com seriedade uma reforma fundamental do sistema nacional de pensões que substituta a estrutura do pagamento prévio por um sistema de contas pessoais consolidadas, ao mesmo tempo que se retêm os benefícios de rede de segurança do actual sistema.

Tesouro Grande

Encorajar a concorrência na indústria seguradora com vista a promover a inovação e uma definição de preços eficiente, ao mesmo tempo que se adere a padrões prudenciais rigorosos como forma de garantir que as seguradoras sejam financeiramente sólidas e geridas de uma forma profissional.

INSS, GA Grande

Poupança a Prazo: Seguro e Pensões

Acima de tudo, continuar a adoptar um leque completo de reformas de apoio ao mercado e medidas de reconstrução

GA, BNA Grande

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

com vista a melhorar o ambiente de negócios em geral. Enquanto o crescimento do sector privado for limitado por um ambiente de investimento desfavorável, também o impacto de quaisquer iniciativas visando melhorar o acesso ao financiamento a prazo será limitado.

O BNA deve manter o seu empenho em relação ao desenvolvimento do sistema bancário liderado pelo sector privado e incentivar a concorrência através do licenciamento de bancos qualificados.

BNA Grande

O BNA deve acelerar o trabalho de criação de um quadro para o financiamento alternativo de produtos como o leasing e o factoring e encorajar a entrada de NBFIs nestas linhas de negócios.

BNA Grande

O BNA deve procurar estabelecer um diálogo com os bancos internacionais que tenham uma folha de serviços sólida de crédito bem sucedido às PMEs e discutir a possibilidade destes entrarem em Angola e prestarem apoio técnico aos bancos angolanos interessados envolvidos na área das PMEs.

BNA Secundária

O BNA e o Governo devem continuar a procurar o desenvolvimento dos mercados de capital com vista a melhorar a concorrência do sector financeiro e a criar formas alternativas de financiamento às empresas.

GA, BNA Grande

O BNA deve encorajar as parcerias de financiamento às PMEs discutindo activamente a questão com os bancos.

BNA e Instituto de Formação Bancária

Secundária

O BNA pode contribuir para a educação dos bancos em boas práticas internacionais e perspectivas de crédito às PMEs em Angola através da organização de uma conferência sobre este tópico em conjunto com a ABANC.

BNA e ABANC

Máxima

O BNA deve patrocinar um estudo sistemático com o fim de documentar as razões da rejeição dos pedidos de crédito às PMEs pelos bancos e sugerir mudanças nos procedimentos, nos critérios de concessão do crédito ou na formação dos quadros com o objectivo de ultrapassar obstáculos desnecessários que se colocam ao crédito.

BNA Grande

Acesso das PMEs ao Financiamento

Logo que se consiga um nível de interesse suficiente da parte dos bancos, nessa altura o Instituto de Formação Bancária deve procurar assistência internacional para introduzir módulos de formação e formar formadores sobre as melhores práticas internacionais no crédito às PMEs.

BNA e Instituto de Formação Bancária

Grande

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

O BNA deve dar grande prioridade à aceleração da criação de um sistema de informação sobre o crédito com vista a reduzir as assimetrias de informação e facilitar o crédito em geral, e o crédito às PMEs em particular.

• A participação no sistema de informação do crédito deve ser obrigatória para todos os bancos e instituições financeiras.

• O bureau do crédito no BNA poderá começar apenas por informação básica sobre o cadastro de pagamento de empréstimos mas, em última instância, deve aderir aos padrões indicados pelos seis critérios usados pelo Banco Mundial na avaliação dos sistemas de informação sobre o crédito para os relatórios do Doing Business

• No contexto angolano, um cadastro público seria efectivamente a opção mais viável, mais rápida e mais consensual a curto prazo. Porém, é correcto que o BNA esteja a pensar em mudar o sistema para um operador do sector privado a médio prazo.

BNA, bancos comerciais

Máxima

O BNA deve acelerar o seu plano de publicar um quadro regulador apropriado para o leasing com vista a desbloquear uma nova via importante para o financiamento às PMEs.

• Ao preparar os regulamentos sobre o leasing, o BNA deve consultar os bancos e outros intervenientes com vista a evitar restrições desnecessárias.

• O BNA deve encorajar a entrada de empresas especializadas em leasing que sejam independentes dos bancos comerciais para que promovam a utilização do leasing pelas PMEs e melhorar a concorrência financeira em geral.

• O BNA deve consultar o MF sobre as leis fiscais com vista a garantir que o leasing não seja colocado em desvantagem em comparação com as outras formas de financiamento.

BNA, ABANC, sector privado

Grande

Encorajar sinergias entre a banca e os seguros através do diálogo entre as instituições de supervisão (BNA e ISS), os bancos e as companhias de seguro e através de módulos de formação no IFBA sobre a utilização do seguro para reduzir o risco do crédito.

BNA, ISS, IFBA

Secundária

Encorajar a concorrência na indústria seguradora por forma a promover a inovação e preços competitivos – ao mesmo tempo que se adere a padrões prudenciais rigorosos com vista a garantir que as companhias de seguro sejam financeiramente sólidas e correctamente geridas.

BNA, ISS Grande

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

Explorar a opção de aderir à rede da Africa Trade Insurance (ATI) para providenciar seguro ao crédito comercial como um instrumento para expandir o acesso ao crédito aos exportadores angolanos.

GA, ISS Secundária

O MF, o BDA e o BNA devem examinar cuidadosamente a viabilidade de afectar uma parte do Fundo de Desenvolvimento a um Programa de Garantia de Crédito para as PMEs pelos bancos comerciais.

MF, BDA, BNA

Grande

Qualquer fundo de garantia de crédito deve ser desenhado com cuidado com base nas melhores práticas internacionais visando desenvolver uma capacidade sustentável para o crédito bancário às PMEs, ao mesmo tempo que se minimiza o risco de encorajar más praticas de crédito através do risco moral.

MF, BDA, BNA

Grande

Garantias de Crédito

Para este fim, um grupo de trabalho do MF, BNA e ABANC deve consultar os bancos, as PMEs, os doadores, potenciais parceiros corporativos e outros intervenientes sobre o melhor desenho técnico e estrutura administrativa antes de introduzir qualquer fundo de garantia ao crédito. O grupo de trabalho deve:

⎯ Identificar fontes de financiamento. ⎯ Definir o grupo alvo de PMEs elegíveis. ⎯ Definir os parâmetros para a garantia parcial. ⎯ Definir critérios de elegibilidade para os bancos

comerciais participantes; inclui a vontade de introduzir as melhores práticas para a metodologia do crédito às PMEs.

⎯ Elaborar procedimentos padrão e requisitos de prestação de contas que regem o fundo e a sua relação com os bancos comerciais, incluindo regras claras para tratar da dívida mal parada.

⎯ Vender programas de garantias aos bancos e ao público.

MF, BNA, ABANC, sector privado, doadores, outros

Grande

Serviços de Desenvolvimento Empresarial das PMEs

Vide o Apêndice do Capítulo 3 do relatório principal o qual contém um esboço do Plano de Acção para o INAPEM.

GA, INAPEM

Máxima–

Custos da Banca Ter paciência e deixar que as forças do mercado cumpram o seu papel! A política actual do BNA de aprovar a entrada de novos bancos sólidos está a intensificar a concorrência e a criar incentivos para uma maior eficiência, custos mais baixos e melhor definição de preços dos serviços. O impacto sobre os custos, os lucros e o estabelecimento de preços pode ser gradual, mas está a acontecer.

BNA, GA Grande

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

É essencial uma supervisão prudencial sólida e efectiva por parte do BNA com vista a minimizar o risco dos posteriores problemas que poderão surgir em resultado do rápido aumento do crédito bancário e da entrada de novos bancos com sistemas de controlo do risco menos sofisticados.

BNA Grande

Melhorar a transparência na definição dos preços dos serviços bancários básicos. O BNA pode fazer mais no sentido de garantir que esta informação importante esteja prontamente disponível aos clientes bancários. Algumas opções:

• Introduzir requisitos reguladores mais rigorosos da divulgação das comissões e encargos bancários.

• Trabalhar com a ABANC na publicação anual ou trimestral de tabelas que demonstrem comparações dos preços básicos num formato simples e padronizado.

• Encorajar as empresas de consultoria locais para que incluam uma análise dos custos nos seus estudos bancários e colaborar na disponibilização de informação.

• Introduzir regulamentos mais sólidos de transparência no processo de concessão de créditos, exigindo que os bancos comerciais e outros credores divulguem a taxa percentual anual (TPA) efectiva aplicada aos empréstimos em conformidade com as práticas internacionais estabelecidas.

BNA Máxima

Manter um enfoque intenso da política monetária na redução da inflação de modo a reduzir os riscos macro-económicos que afectam as taxas do crédito, melhorar a taxa de juro real dos depósitos e minimizar a pressão sobre os custos de operação resultante da subida dos salários e da apreciação da taxa de juro real.

BNA, Tesouro

Máxima

Reduzir o requisito de reserva obrigatória – como e quando as condições macro-económicas o permitirem. Logo que a inflação tenha estabilizado na variação pretendida (abaixo dos 10%), o BNA que pode avançar em direcção à reserva com encargos como forma de reduzir esta “comissão” sobre a intermediação / margem financeira.

BNA Secundária

Reavaliar os requisitos de dados impostos aos bancos pelo BNA com vista a identificar possibilidades de eliminar a duplicação e a simplificar os sistemas de prestação de contas, ao mesmo tempo que se satisfazem todos os requisitos de informação legítima impostos pelo banco central.

BNA, ABANC

Secundária

Revogar o imposto do selo nos serviços financeiros. Obviamente que esta tarefa não é da responsabilidade do banco central, mas o BNA pode e deve iniciar um diálogo

Tesouro, BNA

Grande

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

com o Ministério das Finanças com o objectivo de convencer este ministério a eliminar estes impostos ineficientes.

Realizar um estudo com objectivo específico sobre as PMEs e particulares com vista a obter dados sobre os custos de transacção referentes à abertura e manutenção de uma conta depósitos e à obtenção de um empréstimo bancário. Esta informação pode dar uma imagem muito mais precisa dos custos reais de acesso aos serviços bancários, bem como o impacto dos custos na utilização dos serviços bancários.

BNA, ABANC

Secundária

O BNA deve continuar a manter taxas de juro reais positivas sobre os rendimentos dos TBC através da sua gestão do leilão primário desde que o mercado seja afectado por um desequilíbrio acentuado devido às tendências compensatórias na taxa de câmbios e na inflação. Contudo, é possível focalizar as intervenções nas maturidades de curto prazo dos TBCs (14 ou 28 dias), enquanto se testam os preços do mercado relativos a outras maturidades com base em questões previamente anunciadas e que sejam consistentes com os objectivos de gestão da liquidez.

BNA e o Governo

Grande

O BNA deve definir uma agenda com o objectivo de se afastar da administração da taxa de juro nos leilões dos TBCs a favor de uma definição de preços baseados no mercado logo que o desequilíbrio do mercado tenha sido resolvido através de uma inflação mais baixa ou da depreciação gradual do kwanza em conformidade com o diferencial da inflação.

BNA Grande

Aumentar a concorrência no mercado primário de TBCs abrindo a participação a mais licitadores. Esta medida irá aprofundar o mercado, reduzir a influência dominante dos grandes bancos comerciais e melhorar a qualidade dos sinais do mercado.

BNA Grande

Desenvolver o mercado secundário de TBCs, exigir que os operadores do comércio licenciados publiquem os spreads e desenvolver uma campanha de informação com vista a educar o público sobre a poupança através dos TBCs.

BNA Grande

Tratar do problema ocasional das taxas de referência LIBOR, o BNA poderia introduzir a exigência da reserva diferencial nos depósitos em dólar versus kwanzas.

BNA Secundária

Taxas de Referência

Para desenvolver uma curva de rendimentos, o BNA deve procurar manter discussões com o Tesouro sobre um

BNA, Máxima

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

plano com vista a introduzir a definição de preços do mercado e pelo menos um subconjunto de emissões de OTs em Kwanzas, juntamente com um programa que vise estimular um mercado secundário nestes instrumentos.

Tesouro

Para criar uma base sólida para a definição de preços das OTs, o Governo deve procurar a apreciação de uma agência internacional de renome depois de concluir as suas negociações com o Clube de Paris.

Tesouro Grande

O Governo e o BNA devem melhorar a coordenação das políticas fiscal e monetária com vista a reduzir a inflação e considerar a possibilidade de alterar as reservas em moeda estrangeira de modo a permitir que o kwanza se ajuste em conformidade com o diferencial de inflação. Esta medida ira resolver o desequilíbrio existente no mercado financeiro, conforme descrito no texto, e evitar uma apreciação real contínua que possa impedir o desenvolvimento de actividades produtivas fora do sector mineral.

MF e BNA Máxima

Seguro de depósitos

Em resumo, recomendamos que se avance na análise cuidada de um programa de seguro de depósitos para Angola.

• Se o Governo seguir esta direcção, a primeira etapa é criar um grupo de trabalho com a tarefa de estudar com cuidado os muitos aspectos técnicos identificados no texto.

• O Governo de Angola e o BNA devem procurar obter assistência técnica na avaliação dos parâmetros para um possível programa de seguro de depósitos. A Federal Corporation on Deposit Insurance Corporation dos Estados Unidos é uma instituição de vanguarda com experiência na prestação de assistência técnica internacional (a USAID pode facilitar este contacto). Uma outra opção é a International Association of Deposit Insurers no Bank for International Settlements em Basel.

• O processo de avaliação deve incluir igualmente consultas com os intervenientes e visitas de estudo a outros países para aprender da sua experiência, em particular países como o Quénia e a Nigéria, onde foram enfrentadas sérias dificuldades.

• Se a mobilização de depósitos for uma razão importante a favor de um programa de seguros, então o GA ou o BNA devem encomendar um estudo sobre particulares e pequenas empresas com vista a determinar até que ponto a falta de confiança nos bancos inibe a utilização dos depósitos como um veículo de poupança.

• Sugerimos um limite de cobertura por depósito de

GA e BNA Secundária

Questão Recomendação Instituição Prioridade Proposta

cerca de $16.000 para 2008, com base na tendência central em África e noutros países em desenvolvimento de definir o limite em cerca de 3 vezes o nível do PIB per capita. Este é um ponto de referência razoável para Angola, embora bastante arbitrário.

• A simplicidade é uma virtude ao decidir a cobertura das contas em moeda estrangeira, das contas interbancárias e das contas de partes associadas, pois as exclusões poderão criar custos administrativos consideráveis e atrasos na eventualidade de falência de um banco.

• É necessário também tomar decisões sobre as responsabilidades das sedes dos bancos estrangeiros quanto à cobertura das contas depósito nas suas subsidiárias em Angola em caso de falência.

• O programa de seguro de depósitos deve encontrar-se no BNA, mas deve ser operado por uma entidade legal independente que trabalhe em estreita colaboração com os supervisores bancários. A entidade dos seguros deve desempenhar um papel relativamente limitado no que diz respeito à insolvência, como por exemplo monitorar possíveis necessidades de desembolso.

• O agente do seguro de depósitos deve definir procedimentos de outsourcing das funções operacionais em caso de falência de um banco, ao invés de manter um grande quadro de pessoal permanente para tratar de actividades como o pagamento de indemnizações e realizações do activo.

• O fundo do seguro de depósitos deve ser previamente financiado através de uma pequena taxa premium aplicada aos depósitos cobertos, mas ainda necessitará de capital inicial do Tesouro para efeitos de credibilidade aos olhos dos beneficiários pretendidos: os depositantes.