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1 DESCENTRALIZAÇÃO ORÇAMENTÁRIA NAS SECRETARIAS REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO DO GOVERNO DE SANTA CATARINA: FATO OU MITO? Juliana Souza- Economista pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)- E-mail: [email protected]; Silvio Antonio Ferraz Cario Prof. do Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) E-mail: [email protected] Ivoneti Ramos Profa. do Departamento de Administração Pública da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) E-mail: [email protected] Resumo A governança pública e a descentralização são temas pontuais na Administração Pública desde a Constituição Federal de 1988. Há um esforço integrado entre os gestores públicos das três esferas federativas, União, Estados e Municípios, no sentido de concretizar a democratização das políticas e da distribuição dos recursos orçamentários. No Estado de Santa Catarina, a partir de 2003, um grande passo foi dado na direção da governança e da descentralização com reestruturação administrativa, através da criação das SDRs. O modelo da nova estrutura foi pautado pela regionalização do planejamento e da execução orçamentária. A questão central deste estudo é se de fato ocorreu a descentralização orçamentária na direção das SDRs. Para isso, foi realizada pesquisa documental, onde foram analisados dados dos recursos do Orçamento Geral do Estado orçados e executados para o período de 2003-2012 obtidos na Secretaria de Estado da Fazenda. Os resultados apontaram que nos 10 anos em análise não houve descentralização orçamentária na direção das SDRs, contrariando o previsto na legislação que fundamentou esta nova estrutura administrativa em Santa Catarina e na proposição teórica da governança pública que permeia os novos modelos administrativos do setor público. Palavras-chaves: Governança Pública. Descentralização. Orçamento. 1. Introdução

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Page 1: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

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DESCENTRALIZAÇÃO ORÇAMENTÁRIA NAS SECRETARIAS REGIONAIS DE

DESENVOLVIMENTO DO GOVERNO DE SANTA CATARINA: FATO OU MITO?

Juliana Souza- Economista pela Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC)- E-mail: [email protected];

Silvio Antonio Ferraz Cario – Prof. do Departamento de

Ciências Econômicas e Relações Internacionais da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – E-mail:

[email protected]

Ivoneti Ramos – Profa. do Departamento de

Administração Pública da Universidade do Estado de

Santa Catarina (UDESC) – E-mail:

[email protected]

Resumo

A governança pública e a descentralização são temas pontuais na Administração Pública

desde a Constituição Federal de 1988. Há um esforço integrado entre os gestores

públicos das três esferas federativas, União, Estados e Municípios, no sentido de

concretizar a democratização das políticas e da distribuição dos recursos orçamentários.

No Estado de Santa Catarina, a partir de 2003, um grande passo foi dado na direção da

governança e da descentralização com reestruturação administrativa, através da criação

das SDRs. O modelo da nova estrutura foi pautado pela regionalização do planejamento

e da execução orçamentária. A questão central deste estudo é se de fato ocorreu a

descentralização orçamentária na direção das SDRs. Para isso, foi realizada pesquisa

documental, onde foram analisados dados dos recursos do Orçamento Geral do Estado

orçados e executados para o período de 2003-2012 obtidos na Secretaria de Estado da

Fazenda. Os resultados apontaram que nos 10 anos em análise não houve

descentralização orçamentária na direção das SDRs, contrariando o previsto na

legislação que fundamentou esta nova estrutura administrativa em Santa Catarina e na

proposição teórica da governança pública que permeia os novos modelos

administrativos do setor público.

Palavras-chaves: Governança Pública. Descentralização. Orçamento.

1. Introdução

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O desenvolvimento econômico de uma nação ocorre quando dois estão

comprometidos e interligados na soma dos esforços para elevar os padrões de vida da

sociedade, sendo de um lado a própria nação e da outra o estado-politico. E se efetivará

através de um planejamento de estratégia nacional de desenvolvimento (PEREIRA,

2005). Ou, para determinados casos, uma estratégia regional de desenvolvimento. Este é

o caso da reforma administrativa do Estado de Santa Catarina que será objeto de estudo

nesta pesquisa.

A administração pública precisa constantemente de revisão, acompanhamento e

controle, em função de que se trata da administração de recursos financeiros do público,

ou seja, existe uma prestação de contas a ser feita para a sociedade. Em 2003, no Estado

de Santa Catarina, uma iniciativa de reforma administrativa tomou forma em um

modelo de Descentralização Administrativa, cujo aspecto mais relevante foi a criação

das Secretarias Regionais de Desenvolvimento (SDRs), formalizada na Lei

Complementar nº 243, de 30 de janeiro de 2003 (LC 43/2003), que versa ainda sobre

questões do planejamento. De acordo com esta lei, “a execução das atividades da

administração estadual será descentralizada e desconcentrada e se dará

preponderantemente pelas Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional e por

outros órgãos de atuação regional” (SANTA CATARINA, 2003).

Uma das premissas na nova estrutura baseou-se na descentralização do

orçamento, sendo que a divisão orçamentária atenderia principalmente às regiões com

menor Índice de desenvolvimento humano (IDH). Esta iniciativa da descentralização

administrativa e orçamentária do Estado de Santa Catarina mostra-se pro-ativa em

termos de planejamento público na busca de uma distribuição mais igualitária entre as

regiões do Estado, corroborando no processo de governança pública que permeia o

paradigma da administração pública contemporânea. Porém, alguns estudos apontam

fragilidades na gestão desta nova estrutura, como a concentração de recursos em regiões

mais desenvolvidas (Butzke e Goularti, 2012). Uma outra fragilidade, que será testada

neste estudo, é se de fato o orçamento foi descentralizado, ou seja, se os recursos estão

efetivamente sendo canalizados para serem gerenciados pelas SDRs. Assim, este estudo

objetiva analisar o comportamento da distribuição orçamentária entre as unidades

Orçamentárias do Estado de Santa Catarina, no período de 2003 à 2012, com foco no

acompanhamento dos valores destinados às SDRs. Justifica-se a pesquisa pelo impacto

social e econômico que a descentralização dos recursos, em vista do desenvolvimento

regional, deve proporcionar aos municípios e ao Estado como um todo.

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Na primeira seção apresenta-se brevemente o tema, enquanto que a segunda

seção aborda aspectos teóricos acerca da governança pública e da descentralização

administrativa e orçamentária. Na terceira seção tem-se um relato dos procedimentos

metodológicos, na quarta seção busca-se demonstrar os dados da execução orçamentária

e concentração/descentralização dos recursos em prol das SDRs para o período de 2003

a 2012 e na quinta seção explanam-se as considerações finais.

2. Tratamento teórico-analítico

Esta seção aborda aspectos da governança pública e da descentralização

orçamentária e descreve brevemente a nova estrutura administrativa do Estado de Santa

Catarina, implementada a partir de 2003.

2.1 Governança Pública – conceito e características

A Governança Pública surge no intuito de sugerir o encaixe, o complemento,

entre a “administração pública burocrática e a administração pública gerencialista, em

conjunto com a combinação entre mecanismos da democracia tanto direta quanto

indireta para fazer frente a ideia inovadora do modelo, que é a maior participação da

sociedade” (DIAS, 2012, p. 42). Nesta perspectiva realça o vínculo da política com a

técnica em demonstração que a administração pública funciona influenciada pela

política, e não há como separar esses dois elementos que se complementam.

O modo de gestão denominado de Governança Pública expressa caráter mais

participativo da sociedade, e, consequentemente, torna mais madura a relação entre

Estado e sociedade. Nestes termos, a administração pública expressa-se menos

burocrática e mais participativa, em direção a um projeto de desenvolvimento posto

além do crescimento econômico. São agregados valores sociais nos processos de

formulação, implementação e de resultado das políticas públicas.

No sentido de aumentar a participação dos agentes nas decisões, e nessa

abordagem da sociedade cobrar sua maior participação nas decisões de interesse

público, a Governança Pública se caracteriza como sendo “um movimento que surge da

necessidade de se juntar as forças vindas de interesses diversos e da mudança de postura

da sociedade junto à administração pública” (DIAS, 2012, p. 36). Traz à tona relações

consensuais e conturbadas, pois é marcada por convergências e divergências e permeada

por vários aceites e conflitos pelo fato de que sua gestão pressupõe participação de

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diversos atores da sociedade, gerando decisões de forma participativa e, nesse modo

decidir as coisas, com vários agentes envolvidos, há uma série de conflitos (RONCONI,

2008 apud RAQUEL, 2012, p. 90).

Há um “deslocamento do poder do Estado para esferas menores (...) e emerge

também novos anseios sociais no final do século passado que trazem à Administração

Pública novos desafios ao governar” (JESSOP, 2004 apud DIAS, 2012, p.108) que se

diferencia dos modos anteriores. Nesta perspectiva, expressa a ideia de que a sociedade

deve envolver-se mais na criação das políticas públicas, dando base a uma

administração pública mais democrática, incluindo a sociedade civil também nesse

processo (DIAS, 2012, p.109).

O movimento da Governança Pública, desde final do século XX, tem

mostrado uma diferente e nova forma do relacionamento entre o cidadão e a sociedade,

fazendo “uma junção da política e da administração, e dá estímulo ao governo

coordenar suas ações de forma eficiente, enfatizando a cooperação em sinergia com a

maior participação dos agentes nas decisões públicas” (DENHARDT, 2011, p. 120).

Este movimento traz a tona uma disposição baseada em teorias democráticas da Ciência

Política e em teorias organizacionais da Administração, e, “por ter como alicerce a

efetividade das funções desempenhadas pelo Estado relacionado a um projeto que visa o

desenvolvimento, também pertence ao campo das Ciências Econômicas” (DIAS, 2012,

p. 38).

Os pressupostos do modelo de Governança Pública mudam a atuação da

administração pública em algumas áreas, como da ideia do Estado estratégico, que passa

da função de “serviço e produtor do bem público para o Estado que garante a produção

do bem público”; passa do Estado “ativo e provedor solidário para um Estado ativador e

coordenador das relações dos atores para que produzam com ele; e, de um Estado gestor

para um Estado cooperativo, onde o bem público é produzido em conjunto” (KISSLER,

2006; HEIDEMANN, 2006 apud DIAS, 2012). Mostra-se claramente neste modelo, que

muda a configuração do Estado em algumas funções, que ele torna a gestão pública

mais democrática, pois aumenta a participação dos atores sociais.

O termo Governança traz consigo vários significados, sendo segundo Secchi

(2009, p. 349) um “modelo relacional porque oferece uma abordagem diferenciada de

conexão entre o sistema governamental e o ambiente que circunda o governo.”

(SECCHI, 2009, p.349). Nesta perspectiva, está presente a relação que firma entre

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atores público e privado no processo de elaboração e acompanhamento do desempenho

de políticas públicas.

Ainda conceituando Governança Pública, para Ronconi (2008, p. 68 apud

RAQUEL, 2012, p. 81) pode ser descrita como um “arranjo ou formato institucional

governamental que, pautado em um projeto democrático, põe ênfase na gestão

compartilhada, na geração de uma cultura participativa e no aprofundamento e

consolidação da democracia.”.

De acordo com Pierri e Peters (1998 apud RAQUEL, 2012, p. 83) a governança

“consiste na capacidade do Estado em desenvolver políticas, a partir de formas

institucionais colaborativas, visando atender a interesses coletivos”. Em complemento

apontam que a governança pública promove o surgimento de “centros múltiplos, nos

níveis local, regional, nacional ou internacional, para o desenvolvimento de políticas

públicas”, transferindo ao Estado “seu papel de implementador de políticas para o de

coordenação e controle, visando o alcance de interesses coletivos”.

Para Kooiman (2003 apud RAQUEL, 2012, p. 85) governança pública “consiste

num processo de interação que ocorre a partir do envolvimento de diferentes atores,

tanto públicos como privados” e “da dependência crescente entre eles como palco para

uma sociedade sustentável” (DIAS, 2012, p. 116). Para o autor, o alicerce da

Governança Pública encontra-se na interação entre mercados, Estado e sociedade civil

que “não dispõem das mesmas características, pois cada esfera possui forças e papeis

diferentes” (DIAS, 2012, p. 116). Nesse espaço interativo, os atores sociais “possuem

espaços de intervenção nas relações entre governantes e governados, entre atores

públicos e privados, e entre instituições e forças sociais que elas regulam” (KOOIMAN,

2003 apud DIAS, 2012, p. 124).

Rhodes (1996 apud RAQUEL, 2012, p. 86) conceitua governança como sendo

“um arranjo constituído por uma rede de atores, que se inter-relacionam e que se auto-

organizam, visando o desenvolvimento de políticas públicas” e, são essas redes que

“conciliam e coordenam os esforços dos atores na tomada de decisão e na

implementação das políticas públicas” (RHODES, 1997 apud DIAS, 2012, p. 109).

O termo governança, para Bevir (2010 apud RAQUEL, 2012, p. 87) denota que

“a efetividade das instituições políticas depende da incorporação de diversos atores

interessados dentro dos processos de decisão” fazendo com que a relação Estado e

sociedade tenha mais diálogo. Nestes termos, o sistema de governança permite uma

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maior participação dos atores da sociedade, expressa através de “uma gestão

deliberativa dos processos decisórios”. Com isso a governança pública torna-se mais

eficiente do que os modelos proporcionados pelas hierárquicas, ao permitir o diálogo e

formação de consenso no propósito de dar legitimidade política para as ações de

Governo.

Conforme demonstrado, parece consensual entre os autores o fato da governança

não possuir um conceito universal, visto que a mesma é estudada a partir diferentes

áreas de conhecimento, cada qual com as suas especificidades. Entretanto, mesmo o

ainda não tendo um conceito que se enquadre no termo governança, “há um grande

envolvimento de vários atores no regime de Governança Pública, e o conceito de vários

autores sobre o tema sempre perpassa pela participação” (RAQUEL, 2012, p. 90).

Neste sentido, as características gerais da Governança Pública podem ser

descritas como: a) coexistência entre Estado, mercado e sociedade civil; b) Estado

ativador e coordenador de redes e formas colaborativas de gestão com a finalidade de

co-produzir o bem público; c) estrutura institucional baseada em formas colaborativas

de gestão e estratégias de cooperação; d) existência de funções administrativas na

concepção da governança pública; e) controle social na perspectiva da accountability; f)

espaços deliberativos de gestão; g) eficiência administrativa; h) operacionalização da

gestão de políticas públicas por meio de parcerias, redes, acordos, contratos de gestão e

controle no entorno do ciclo total da política pública; i) gestão que aproxima aspectos

administrativos de aspectos políticos (RAQUEL, 2012).

2.2 Governança Pública e Finanças Públicas: aspectos relacionados

A partir da Constituição Federal de 1988, considerada a Constituição Cidadã,

Estados e Municípios passaram a ter maior autonomia política, administrativa,

financeira e legislativa. Foi um primeiro passo no movimento de descentralização1 pós

período do Regime Militar. Essa nova forma de atuação, dentre outras coisas, objetivou

aproximar os gestores públicos da base social para o reconhecimento de prioridades e

1 O tema “descentralização” é recorrente na história brasileira, alternando-se com a Era Vargas, que

inaugurou um processo ainda preliminar de descentralização pós Primeira República, e a Constituição de

1988, pós Período do Regime Militar (LIMANA, 1999).

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urgências na demanda por serviços públicos e é considerada como “governança

democrática” no texto de Santos Junior (2000, p. 27):

Desde então, verifica-se um crescente e generalizado processo de

fortalecimento da esfera local de governo, centrado na descentralização e na

municipalização das políticas públicas. Tal processo tem ensejado mudanças na

organização e no funcionamento dos governos locais, que têm sido

incorporadas de forma diferenciada segundo as diretrizes adotadas e o grau de

instituição tanto de canais de gestão democrática como de instrumentos

redistributivos da renda e da riqueza produzidas nas cidades.

Assim, a partir da década de 1990, o setor público foi marcado pela

regulamentação da gestão descentralizada das políticas públicas em diversas áreas

sociais (saúde, educação, assistência social, etc), com a inserção da participação da

sociedade civil, via Conselhos Gestores, na sua formulação e controle, inaugurando um

novo espaço para a interação entre governo e sociedade na esfera local e a gestão de

políticas públicas (SANTOS JUNIOR, 2001).

Destaca-se também que a descentralização vincula-se ao processo de

regionalização, que busca dinamizar a gestão publica. “Nesse contexto, a democracia, a

participação, a descentralização e o fortalecimento do poder local se tornaram

conceitos-chave” (THEIS e BUTSKE, 2012, grifos nossos).

Com isto posto, há que se acrescentar que o Estado de Santa Catarina, a partir de

2003, deu um passo no movimento da governança pública e da descentralização ao

realizar a reestruturação administrativa direcionada aos municípios, cujos aspectos

administrativos mais específicos serão tratados na seção 2.3. A título de discussão neste

artigo, no quesito da descentralização, o foco é no acompanhamento das finanças

públicas, uma vez que a nova estrutura administrativa traz, como uma das premissas do

modelo, a descentralização orçamentária.

Cabe destacar que o orçamento público é uma peça anual de planejamento e

pode ser conceituado como sendo “o ato que contém a aprovação prévia das receitas e

despesas públicas, para um período determinado”, sendo que no orçamento são

contemplados os “planos, programas, projetos e atividades de trabalho” do governo para

um espaço de tempo (MATIAS-PEREIRA, 1999, p. 37). Para Willoughby (apud

GIACOMONI 1999, p.54) o orçamento pode ser conceituado como sendo “algo mais

que uma simples previsão da receita ou estimativa de despesa, pois é, ao mesmo tempo,

um relatório, uma estimativa e uma proposta, sendo o documento que expõe a situação

do tesouro público no momento”, mostrando assim a importância de se ter um

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orçamento. O orçamento público é instrumento da administração pública, que “auxilia o

Executivo na várias etapas do processo administrativo, que podem ser descritas como

programação, execução e controle” (GIACOMONI, 1999, p. 57). Para Manvel (apud

GIACOMONI, 1999, p.58), o orçamento pode ser definido como “um plano que

expressa em termos de dinheiro, para um período de tempo definido, o programa de

operações do governo e os meios de financiamento desse programa”.

No caso da nova estrutura administrativa o orçamento Geral do Estado passou a

ter um agente a mais para participar da distribuição – as SDRs. Assim, dos 100% dos

valores orçados para o Estado de Santa Catarina a partir de 2003, a distribuição passou a

ser dividida entre as seguintes Unidades Orçamentárias: Poderes (executivo, legislativo

e judiciário); Secretarias Setoriais (Saúde, Educação, Segurança, Planejamento,

Fazenda, etc.) e as Secretarias de Desenvolvimento Regionais.

2.3 Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs)

A partir da Lei Complementar nº 243, de 30 de janeiro de 2003 (LC 43/2003)

uma nova estrutura administrativa passou a vigorar em Santa Catarina. A organização e

o planejamento regional passaram a ser concebidos através e com o auxílio das

Secretarias de Desenvolvimento Regionais (SDRs). Na figura 2 tem-se a estrutura atual

da divisão administrativa, sobre a qual tece-se esta seção.

Figura 2 – Mapa das Secretarias de Desenvolvimento Regional de SC

Fonte: Secretaria Estado Planejamento de Santa Catarina apud DIAS, 2012.

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No ano de 2002, ano de eleição para governadores dos Estados, deputados

estaduais e federais, senadores e presidente, foi eleito em segundo turno o candidato a

governador do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) Luiz Henrique

da Silveira. O PMDB tinha como plataforma de campanha o chamado Plano 15, que é

de onde surgiram as Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDR). O Plano 15

defendia a ideia de uma forte reestruturação do Estado, com a implementação de novas

práticas administrativas, preconizando a descentralização e o uso de tecnologias digitais

voltadas para maior agilidade da máquina pública” (DARIO, 2004), e, dentro do Plano

15 estava a proposta de descentralização do Estado de Santa Catarina.De acordo com o

artigo 54 da LC 43/2003, que aborda as responsabilidades das SDR’s, estas são

responsáveis:

I - pela regionalização do planejamento e da execução orçamentária; II - pela

articulação que resulte no engajamento, integração e participação das

comunidades, com vistas ao atendimento das demandas atinentes as suas áreas

de atuação; e III - pelo acompanhamento das audiências do Orçamento Estadual

Regionalizado previsto na Lei Complementar nº 157, de 09 de setembro de

1997 e pela mobilização das comunidades para participação nas audiências.

(SANTA CATARINA, 2003)

Com o advento das SDR’s, como se pode observar pelas responsabilidades

designadas a estas no artigo acima, percebe-se que há o esforço, pelo menos no que

tange a lei, de que haja maior integração entre os atores regionais envolvidos no

processo de planejamento, para que assim este processo seja mais democrático e chegue

a todas as regiões catarinenses, através da estrutura da SDR.

Ainda no artigo 54 da LC 43/2003 que alterou a estrutura organizacional do

Estado de Santa Catarina e criou as SDR’s, estão descritas como as SDR’s atuarão,

exposto a seguir:

I - motivadoras do desenvolvimento econômico e social, com ênfase para o

planejamento, fomento e indução à geração de emprego e renda na região; II -

executoras de atividades, ações, programas e projetos das Secretarias de Estado

Centrais; III - apoiadoras dos municípios na execução de atividades, ações,

programas e projetos; IV - apoiadoras da comunidade organizada, por

intermédio de convênio ou de acordo; V - gerenciadoras, avaliadoras e

controladoras das ações governamentais na região; e VI - articuladoras da

integração com os demais organismos governamentais. Como pode ser visto no modo de atuação das SDR, estas são estruturas que

interligam vários agentes, pois elas devem atuar como apoiadoras dos municípios e

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também da comunidade organizada, mostrando a sinergia que deve haver entre a SDR,

municípios e comunidade para que os projetos atendam as necessidades da região.

Segundo o Relatório do Ena (2010, p.28) nos anos de 2005 e 2007 a reforma

administrativa teve prosseguimento nos anos seguintes com a edição de duas novas leis

complementares, como resultado do amadurecimento da concepção de modelo

desejado”, sendo elas a lei complementar estadual número 284/2005 que:

definiu os fundamentos conceituais da estrutura organizacional, do

modelo de gestão e da cultura organizacional de toda a administração

pública estadual, inclusive das SDRs, além de ter estabelecido nova e

importante competência para as SDRs – a elaboração do plano de

desenvolvimento regional (art. 72, II); a lei também ampliou para 30 o

número de SDRs.

E também, fazendo parte do processo de mudanças nas SDR, surge a lei

complementar estadual nº 381/2007, que traz alterações no número de SDR, passando

de 30 para 36 que é o número atual de SDR no Estado de Santa Catarina (conforme

Figura 2). A lei complementar de nº 381/2007, dentre outras contribuições, aprimorou a

competência das Secretarias de Estado e das SDR, pautada em dois níveis, sendo eles:

a) o nível Setorial, compreendendo as Secretarias Setoriais e suas entidades

vinculadas, que terão o papel de planejar e normatizar as políticas públicas do

Estado, voltadas para o desenvolvimento regional, específicas de suas áreas de

atuação, exercendo, com relação a elas, a supervisão, a coordenação, a

orientação e o controle, de forma articulada com as Secretarias de Estado de

Desenvolvimento Regional; e b) o nível Regional, compreendendo as

Secretarias de Estado de Desenvolvimento Regional, atuando como agências de

desenvolvimento, que terão o papel de executar as políticas públicas do Estado,

nas suas respectivas regiões, cabendo-lhes a supervisão, a coordenação, a

orientação e o controle, de forma articulada com as Secretarias de Estado

Setoriais e as estruturas descentralizadas da Administração Indireta do Estado.

(SANTA CATARINA, 2007)

Esse novo modo de organizar as competências das Secretarias setoriais e das

Secretarias regionais traz à estrutura estadual mais clareza para que não haja confusões

em relação à atuação de cada esfera, e, para que tanto o nível setorial quanto o nível

regional faça a sua parte.

A partir desta nova divisão político-geográfica tem-se mais um ponto a ser

destacado nesta pesquisa, a partilha dos recursos orçamentários, em função de que,

como anteriormente posto, no Art 54 LC 243/2003, dentre as responsabilidades das

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SDRs, encontra-se a “regionalização do planejamento e da execução orçamentária”

(SANTA CATARINA, 2003).

Para estudar as prioridades dos gastos públicos e a respectiva alocação

orçamentária, cada SDR conta com o Conselho de Desenvolvimento Regional (CDR),

que tem o papel de discutir e analisar os projetos que chegam às SDR e aprovar ou não

os projetos. O CDR composto pelo Secretário de Estado de Desenvolvimento Regional,

pelos prefeitos e presidentes das câmaras de vereadores da região de abrangência de

cada SDR e por dois representantes da sociedade civil organizada por município de

abrangência de cada SDR.

Em cada CDR há ainda os Comitês Temáticos (CT), que servem para assessorar

tecnicamente os projetos e a tomada de decisão quanto a aprovar ou rejeitar os projetos

submetidos aos CDR, pois, os membros destes “devido à diversidade de ocupações,

níveis de escolaridade e formação profissional dos conselheiros, os integrantes dos CDR

necessitam de um embasamento técnico e político para tomar decisões” (RUDNICK,

2010, p.49). Os integrantes de cada CT devem ser compostos por “profissionais de

reconhecida competência nas suas áreas de atuação, exercendo atividades em entidades

públicas ou privadas, em instituições universitárias, órgãos do governo ou em entidades

empresariais” (ENA, 2012). Os CT’s, como órgão de assessoramento do CDR’s é um

importante instrumento que fornece base às tomadas de decisões em temas mais

complexos tecnicamente (ENA, 2012).

Mas, uma grande questão se coloca neste , se de fato os recursos são gerenciados com

autonomia pelas SDRs. Na quarta seção serão apresentados argumentos acerca desta questão.

3. Aspectos Metodológicos

Para cumprir o objetivo do artigo, foi realizada uma pesquisa documental

objetivando o levantamento da distribuição dos recursos do Estado de Santa Catarina no

período de 2003 a 2012 para verificar o comportamento do orçamento público do

Estado e a divisão dos recursos para cada unidade orçamentária. Estes dados foram

coletados na Secretaria de Estado da Fazenda de Santa Catarina.

A análise considerou os valores orçados e executados no período 2003-2012,

observando os diferencias entre as aplicações previstas e as que de fato foram realizadas

no período. Os diferencias foram calculados a partir dos dados relativos de participação

de cada unidade orçamentária no Orçamento Geral do Estado.

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Os valores orçamentários foram deflacionados com o Índice Geral de Preços-

Disposição Interna (IGP-DI) com base no ano de 2012, com a finalidade de comparar os

valores analisados.

Cabe destacar que as unidades orçamentárias são compostas pelos poderes, as

secretarias setoriais e as secretarias regionais, porém, existem outras formas de leitura

orçamentária, como por exemplo, a distribuição dos recursos por função. Mas no

tocante a esta pesquisa, que visa verificar se houve no período a migração do orçamento

às SDRs, o relatório mais adequado é por unidades orçamentárias.

4. Descentralização orçamentária nas SDRs: fato ou mito?

As Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina (SDRs),

segundo seus anseios iniciais de criação, se tornam importantes a partir do momento

que promovem o diálogo entre os agentes públicos da esfera municipal e estadual, e da

sociedade civil, com a finalidade de “dar voz” aos projetos demandados nas regiões,

mas, para isso, também é necessário ter autonomia orçamentária.

No quadro 1 apresenta-se os valores absolutos orçados para o Estado de Santa

Catarina e distribuídos entre os Poderes, as Secretarias Setoriais e as SDRs.

Quadro 1: Participação relativa das unidades orçamentárias no Orçamento

Geral do Estado.

Unidade Orçamentária Dotação Inicial Participação Relativa no

Orçamento

Poderes R$ 15.737.633.544,22 11,43%

Secretarias Setoriais R$ 117.505.968.827,87 85,40%

Secretarias Regionais R$ 4.357.094.154,10 3,17%

Orçamento Geral do Estado R$ 137.600.696.526,19 100,00%

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Secretaria da Fazenda (2012).

Percebe-se no acumulado do período equivalente a uma década que 85,4% dos

recursos orçamentários ficaram concentrados nas Secretarias Setoriais, em torno de

11,0% foram previstos para aplicação nos Poderes, em contraposição com pouco mais

de 3,0% de dotação orçamentária para as SDRs.

Page 13: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

13

A figura 1, composta pelo gráficos A e B, permite a visualização tanto da

participação em valores absolutos quando a participação relativa das unidades

orçamentárias na dotação inicial do Orçamento Geral do Estado.

Figura 1: Distribuição da dotacão inicial do orçamento geral do Estado de

Santa Catarina no período acumulado de 2003 a 2012

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Secretaria da Fazenda (2012).

O gráfico A, que apresenta a participação das unidades orçamentárias em valores

absolutos, mostra que em uma década foi previsto às SDRs a quantia aproximada de R$

4,3 bilhões, ou seja, 27 vezes menor que a quantia orçada para as Secretarias Setoriais,

que ficou em torno de R$ 117,5 bilhões. Aos Poderes foi prevista uma aplicação de 15,7

bilhões no período observado. O gráfico B traz os valores relativos da distribuição dos

recursos nas unidades orçamentárias e demonstra que, se somadas, as Secretarias

Setoriais e os Poderes alcançam uma participação relativa de mais de 96,0% do

Orçamento do Estado.

Outros dados que corroboram na observação do comportamento da partilha

orçamentária ao longo do tempo são os percentuais que representam a participação no

orçamento do Estado ano a ano, conforme exposto nos quadros 2 e 3 e nos gráficos 1 a

3 a seguir.

A - Participação em valores absolutos

Page 14: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

14

Quadro 2: Dotação orçamentária inicial distribuída entre os poderes, secretarias setoriais

e SDRs (2003-2012).

Unidade

Orçamentária

Dotação Inicial (valores relativos ao Orçamento Geral do Estado)

2003* 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 MÉDIA

Poderes 7,0% 9,5% 9,8% 11,6% 12,3% 13,0% 12,0% 12,4% 13,3% 13,3% 11,4%

Secretarias

Setorias 93,0% 87,1% 86,9% 84,7% 84,0% 83,0% 83,2% 84,0% 83,0% 84,5% 85,4%

Secretarias

Regionais 0,0% 3,4% 3,3% 3,7% 3,7% 4,0% 4,8% 3,6% 3,7% 2,2% 3,2%

Orcamento

Geral do

Estado

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Elaborado pelo autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

* Ano de implementação das SDRs, não houve previsão de verbas orçamentárias.

Analisando os percentuais no quadro 2, pode-se observar que no transcorrer dos

10 anos estudados os recursos orçamentários concentraram-se nas Secretarias Setoriais,

reafirmando a previsão média 85,4% dos recursos. Na partilha, os Poderes ficaram

com uma média próxima de 11,0%, sendo que pela evolução demonstrada no quadro

acima, os valores ascendem ano a ano, saindo de um patamar de 7,0% em 2003 para

13,3% em 2012. Enquanto que no mesmo período a previsão média dos valores para as

SDRs giraram em torno de 3,0% a 5,0%, com queda para 2,2% em 2012. Ainda, pode-

se verificar que houve descentralização nos recursos das Secretarias Setoriais, que

passaram de 93,0% para 84,5% de participação no orçamento, porém, foi na direção dos

Poderes e não na aplicação das Secretarias Regionais.

O gráfico 1 auxilia nesta visualização, a linha mostra o movimento constante

entre os anos de 2004 e 2009, com inicio de queda de 2010 para 2012. Observa-se que

os valores da variação percentual dos Poderes e das SDRs não ultrapassam 20% de

participação no orçamento em nenhum dos anos analisados, e no caso das SDRs (linha

verde) está bastante abaixo deste percentual. Acompanhando a evolução dos percentuais

de evolução das Secretarias Setoriais (linha vermelha), observa-se a descentralização ao

longo do período analisado, porém, acompanhando a evolução dos recursos que foram

canalizados para os Poderes (linha azul), percebe-se que estes foram beneficiários destes

recursos.

Page 15: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

15

Grafico 1: Evolução da variação percentual das Dotações orçamentárias

iniciais por unidades orçamentárias no período 2003-2012

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

Olhando pelo aspecto da descentralização, estes primeiros números apresentados

apresentam uma centralização do recurso ainda nas Secretarias Setoriais, o que pode ser

um obstáculo à promessa de desenvolvimento regional posta pela reestruturação

administrativa do Estado.

Os próximos dados a serem apresentados estão relacionados aos valores orçados

versus os valores realmente executados nas Unidades Orçamentárias do Estado de Santa

Catarina para o período analisado. Para tornar clara a explanação, se faz necessário uma

breve consideração sobre previsão orçamentária.

A previsão orçamentária, como o próprio nome qualifica, é uma perspectiva de

entrada de recursos financeiros em determinado ano, nos cofres públicos. Por se tratar

de previsão, ao final de um exercício poderá ocorrer o desencontro entre os valores

inicialmente orçados e os valores de fato realizados, isto por que a receita realizada

pode apresentar valores diferentes da receita prevista.

Um estudo no Município de Urussanga mostrou que em termos de receita

corrente nos anos de 2006 e 2008, “as metas previstas na lei do orçamento, foram

superadas, ultrapassando em cerca de 3% o relatado nessa lei. Já nos anos de 2007 e

2009, obtiveram-se índices muito próximos aos 100% desejados, ultrapassando a casa

dos 90%” (CARDOSO, 2010, p. 87). Ou seja, o valor originalmente orçado é uma base,

um ponto de partida para o valor que será realizado, que poderá ser acrescido ou sofrer

cortes durante a execução orçamentária. De toda forma, como a projeção orçamentária

Page 16: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

16

parte de critérios consistentes2, quer se crer que as diferenças não serão, de fato, muito

acentuadas. Cabe destacar que, no caso da receita realizada se apresentar maior que a

receita prevista, o orçamento deverá ser ajustado para o caso destas receitas serem

executadas, uma vez que todo gasto público deverá ser realizado com o prévio empenho

e o empenho de uma despesa pública se dá pela disponibilidade orçamentária.

Nesta perspectiva, dados agravantes ainda podem ser observados quando se

contrasta o que foi orçado versus realizado no período. Os resultados podem ser visto no

quadro 3.

Quadro 3: Resultado da execução orçamentária nas unidades Poderes, Secretarias

Setoriais e Secretarias Regionais de SC (2003-2012)

EXECUTADO 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 MÉDIA

Poderes 10,3% 10,4% 10,3% 12,7% 13,0% 13,5% 11,6% 11,9% 12,8% 12,2% 11,9%

Secretarias

Setorias 89,5% 88,0% 86,7% 83,5% 83,5% 81,5% 85,6% 85,2% 84,7% 85,5% 85,3%

Secretarias

Regionais 0,2% 1,6% 2,9% 3,8% 3,5% 5,0% 2,8% 2,9% 2,5% 2,3% 2,8%

Orcamento

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Elaborado pelo autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

Após a apuração dos valores executados, percebe-se que a relação percentual

continua muito próxima das posições previstas no orçamento, porém com decréscimos

médios nas Secretarias Setoriais de 0,1%, redução média de 0,4% nas SDRs em prol do

aumento médio de aproximadamente 0,5% na execução orçamentária dos Poderes (ver

quadro 2).

Salienta-se que, em função dos orçamentos serem aprovados sempre no ano

anterior ao que será executado, a dotação inicial para as SDRs para 2003 aparece zerada

(ver quadro 2). Porém, a implementação das estruturas destas secretarias ocorreu em

2003, assim, no quadro 3, referente aos valores executados, aparece 0,2% do orçamento

aplicado nas SDRs, oriundos de realocação orçamentária em 2003.

A seguir, o gráfico 2 mostra a evolução dos valores orçados ao longo do período

de 10 anos para todas as unidades orçamentárias e para o Orçamento Geral do Estado.

2 Os critérios para a previsão orçamentária estão previstos no artigo 12 da Lei de Responsabilidade

Fiscal: variação percentual do Produto Interno Bruto somados à inflação do período e à possíveis alterações de legislação indicada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (CRUZ, 2006)

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Gráfico 2: Evolução dos valores orçados no Estado de Santa Catarina no período

de 2003 a 2012 - em R$

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

Acompanhando a linha verde no gráfico 2 percebe-se a concentração dos

recursos orçamentários orçados nas Secretarias Setoriais.

O gráfico 3, por sua vez, mostra a evolução dos valores executados ao longo do

período de 10 anos para todas as unidades orçamentárias e para o orçamento geral do

Estado.

Page 18: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

18

Gráfico 3: Evolução dos valores executados no Estado de Santa Catarina no

período de 2003 a 2012 - em R$

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

Através da observação do gráfico fica bastante visível a concentração dos

recursos nas Secretarias Setoriais (linha vermelha). Enquanto os Poderes (linha azul) e

as SDRs (linha verde) aparecem muito próximos, concorrendo a uma parcela de

recursos abaixo da linha de R$ 2 bilhões anuais. No caso das SDRs especificamente,

abaixo da linha de R$ 1 bilhão anual.

Diante deste contexto e buscando os diferenciais de aplicação nas unidades

orçamentárias do Estado para verificar o impacto da execução orçamentária nas SDRs,

tem-se na sequência os quadros de 4 a 8.

Inicialmente, no quadro 4, apresenta-se os diferenciais na execução do

Orçamento Geral do Estado.

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19

Quadro 4: Diferenciais entre os valores orçados e executados no Orçamento Geral

do Estado de Santa Catarina (2003-2012)

Orçamento Geral do

Estado 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

EXECUTADO (1) 0,69 0,83 0,94 0,87 0,90 0,97 0,94 0,95 1,00 0,83

ORÇADO (2) 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

(1) - (2) -0,31 -0,17 -0,06 -0,13 -0,10 -0,03 -0,06 -0,05 0,00 -0,17

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

Pode-se verificar que durante os 10 anos observados os valores apontam para

restrições orçamentárias, salvo em 2011 que os valores ficaram dentro da previsão. Uma

vez ocorrendo reduções nas perspectivas orçamentárias do Estado, haverá um reflexo e

uma reorganização nas rubricas orçamentárias das unidades Poderes, Secretarias

Setoriais e SDRs.

O quadro 5 mostra o comportamento do orçamento na unidade orçamentária

Poderes.

Quadro 5: Diferenciais entre os valores orçados e executados nas SDRs (2003-

2012)

Poderes 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 SOMA

Executado 10,3% 10,4% 10,3% 12,7% 13,0% 13,5% 11,6% 11,9% 12,8% 12,2% 118,8%

Orçado 7,0% 9,5% 9,8% 11,6% 12,3% 13,0% 12,0% 12,4% 13,3% 13,3% 114,2%

Diferenciais 3,3% 0,9% 0,5% 1,1% 0,7% 0,5% -0,4% -0,5% -0,5% -1,1% 4,6%

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

Apesar dos diferenciais terem sido negativos em 2009, 2010, 2011 e 2012, os

Poderes apresentaram 4,6% de incremento sobre as expectativas orçamentárias em

função dos superávits dos demais anos analisados, ou seja, os poderes tiveram mais

ganhos do que perdas orçamentárias no período.

No tocante às SDRs, o quadro 6 mostra o comportamento do orçamento frente

aos valores executados.

Page 20: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

20

Quadro 6: Diferenciais entre os valores orçados e executados nas SDRs (2003-

2012)

Secretarias

Regionais 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 SOMA

Executado 0,2% 1,6% 2,9% 3,8% 3,5% 5,0% 2,8% 2,9% 2,5% 2,3% 27,6%

Orçado 0,0% 3,4% 3,3% 3,7% 3,7% 4,0% 4,8% 3,6% 3,7% 2,2% 32,3%

Diferenciais 0,2% -1,8% -0,4% 0,1% -0,2% 1,0% -2,0% -0,7% -1,2% 0,1% - 4,6%

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

No quadro 6 observa-se que para os anos de 2004, 2005, 2007, 2009, 2010 e

2011, os orçamento das SDRs, que já são bastante baixos relativamente ao total dos

recursos do Estado, foram reduzidos em aproximadamente 6,0% durante o processo da

execução orçamentária, sendo amenizado ao término do período pelos superávits dos

demais anos. Porém, ao final, o impacto foi de 4,6% de perdas no valor acumulado no

período.

O quadro 7 mostra o comportamento do orçamento na unidade orçamentária

Secretarias Setoriais.

Quadro 7: Diferenciais entre os valores orçados e executados nas Secretarias

Setoriais (2003-2012)

Secretarias

Setorias 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

SOM

A

Executado

89,5

%

88,0

%

86,7

%

83,5

%

83,5

%

81,5

%

85,6

%

85,2

%

84,7

%

85,5

%

853,3

%

Orçado

93,0

%

87,1

%

86,9

%

84,7

%

84,0

%

83,0

%

83,2

%

84,0

%

83,0

%

84,5

%

853,3

%

Diferenciai

s -3,5% 0,9% -0,2% -1,2% -0,5% -1,5% 2,4% 1,2% 1,7% 1,0% 0,0%

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

Através dos dados do quadro 7 observa-se que também para as Secretarias

Setoriais a execução deixou a desejar em função de que nos anos de 2003, 2005, 2006,

2007, e 2008 houve uma redução cumulativa em torno de 7%, porém, os superávits dos

demais anos suavizaram essas perdas, totalizando ao final uma soma zero, ou seja, não

houve perdas relacionadas ao total previsto no período de 10 anos.

No quadro 8 tem-se uma síntese das perdas e ganhos do período:

Page 21: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

21

Quadro 8: Síntese do impacto dos diferenciais entre as dotações iniciais e a

execução orçamentária no período 2003-2012

Unidades Orçamentárias

Impacto dos Diferenciais entre as Dotações

Iniciais e a Execução Orçamentária

Poderes >4,6%

Secretarias Setoriais 0%

Secretarias Regionais <4,6%

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria da Fazenda (2012).

De acordo com o quadro síntese, os 4,6% dos recursos que foram canalizados

aos poderes e foram em detrimento dos orçamentos das SDRs.

5. Considerações finais

Neste artigo, revisitamos parte da história da administração pública catarinense

para estudar o planejamento e execução orçamentária implantado nesse estado durante

toda a década que presenciou a aprovação de uma legislação que caracteriza uma

reforma administrativa que vem sendo objeto de muitos estudos desde o início da sua

implantação em 2003: a descentralização administrativa e a associada criação das

Secretarias de Desenvolvimento Regional. Para compreender o tratamento dado à

distribuição orçamentária entre os dois níveis criados pelo modelo – o nível setorial e o

nível regional - descrevemos o marco institucional-legal da criação do modelo objeto do

presente estudo e analisamos os dados coletados junto à Secretaria de Estado da

Fazendo do Governo de Santa Catarina.

Evidenciamos que, durante toda a primeira década de implantação do modelo de

gestão descentralizada, o orçamento se manteve significativamente concentrado no nível

setorial da estrutura administrativa, conflitando com a proposta conceitual do modelo

que aponta no sentido de descentralização administrativa associada à descentralização

do orçamento. A análise dos dados denota que muito ainda há que ser feito em termos

de administração do orçamento público no estado de Santa Catarina de forma que essa

parte da administração catarinense possa se reconhecer convergindo com a proposta de

descentralização administrativa e desenvolvimento de cada região. Como os dados

coletados evidenciaram, passada uma década desde o início da implantação do modelo,

o orçamento continua concentrado nas Secretarias Setoriais, repetindo a dinâmica que

Page 22: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

22

existia antes da criação das SDRs. Os números demonstram que não houve evolução no

sentido de transferir o orçamento para as Secretarias Regionais.

A distribuição de recursos planejada e executada durante todo esse tempo em

que o modelo vem sendo implantado, analisada à luz dos dados fornecidos pela

Secretaria de Estado da Fazenda, permite um importante alerta: a função do

planejamento público em Santa Catarina está longe de se caracterizar coerente com a

proposta conceitual do modelo de descentralização administrativa implantado no

referido estado. As SDRs, ao planejarem e deliberarem as prioridades, se quer

conhecem o quanto dispõem para a sua execução. Além disso, grande parte dos

recursos orçamentários continua centralizada nos órgãos setoriais e isso pode explicar as

razões que levam à aprovação de todos os projetos colocados em pauta nas reuniões dos

Conselhos de Desenvolvimento Regional. Afinal, ao fim e ao cabo, é o órgão setorial

que define como se dará a redistribuição do orçamento público para cada SDR e quais

projetos deverão receber investimento. Assim, não foi possível concluir que exista uma

evolução nessa descentralização, colocando a prática adotada no governo de Santa

Catarina de encontro ao ideal de autonomia das regiões.

Uma administração pública que tem a bandeira da descentralização e do

desenvolvimento regional como princípios norteadores das suas ações, diminuir, ao

longo de toda uma década, apenas de 93,0% para 84,5% a concentração orçamentária no

nível setorial sugere uma contradição entre a proposta conceitual e o que é executado.

Uma possível explicação para essa decisão de não descentralizar o orçamento pode estar

na imaturidade da implantação do modelo mas a pesquisa não permitiu avançar em

busca dessa resposta, que pode ser objeto de outra investigação, ou seja, o que leva o

governo catarinense a não descentralizar o orçamento para seu nível regional. O

possível argumento de que o controle tem que se manter com o governo central

contradiria o previsto no arcabouço legal e não justifica a realidade encontrada.

Diante disso, fica uma pergunta: até que ponto o modelo de administração

pública que criou as Secretarias de Desenvolvimento Regional em Santa Catarina vem

realmente permitindo que regiões e municípios com indicadores de desenvolvimento

mais baixos possam atingir melhor situação e se aproximar dos patamares que se

encontram as regiões mais desenvolvidas nesse estado Esta e outras questões merecem

reflexão, assim como destacam a latente necessidade de avançar teórica e

Page 23: Descentralização orçamentária nas Secretarias de Desenvolvimento Regional de Santa Catarina: Fato ou Mito?

23

empiricamente em relação a casos de administrações públicas que optam pela

descentralização como uma forma de promoção de desenvolvimento com critérios de

equidade. Afinal, que tratamento é dado à função planejamento e orçamento nas

administrações públicas que, como a de Santa Catarina, optaram desde algum tempo à

gestão descentralizada?

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