descaso do governo com a educaÇÃo resulta em...

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EDIÇÃO 4 - ANO 2 MAIO/2015 O ano de 2015 vem sendo marcado pela intensificação da luta dos trabalhadores, do setor público e privado, diante do aprofundamento das medidas do ajuste fiscal que têm como objetivo dar respostas à crise do capital. No bojo dessas lu- tas, há um avanço em ações com o conjunto da classe. As greves estaduais e municipais da educação se somam aos movimentos dos trabalhadores, inclusive do setor privado, com destaque para os terceirizados. O ascenso da mobiliza ção combina tanto elementos quantitativos aumento do número de greves, mobilizações e dias de luta , quanto quali tativos, se considerar os movimentos de unificação das lutas, com destaque para o Fórum dos Servidores Públicos Federais e as ações unitárias realizadas em nível nacional. Assim, foi construído no dia 15 de abril, o Dia Nacional de luta contra o PL 4330 e as MP 664 e 665, resultado do chamado das centrais sindicais. Esses processos de resistência respondem ao aprofundamento do neoliberalismo no Brasil, mani - festo na contrarreforma do Es- tado (FHCLulaDilma) incluindo a previdenciária e da educação, A Administração Superior da UFOP colocou em pauta a intenção de exercer maior controle de frequência para docentes e técnicos- administrativos. A diretoria da ADUFOP é contra e apresenta a lei que ampara a categoria. O Jornal ADUFOP reproduz trechos do artigo do professor Jorge Luiz Souto Maior, no qual o autor combate os argumentos que amparam a defesa do projeto de terceirização em tramitação no Legislativo. ADUFOP É CONTRA AMPLIAR CONTROLE DE FREQUÊNCIA NA UFOP ANÁLISE SOBRE CONSEQUÊNCIAS DA TERCEIRIZAÇÃO ENTREVISTA PROFESSORA VÂNIA KOWALCZUK Página 04 Página 03 Página 08 ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO SEÇÃO SINDICAL que retira direitos dos trabalhadores, abrindo espaço para a mercantilização das políticas sociais educação, saúde e previdência e consolida o desmonte do serviço público, na lógica do Estado mínimo para o social e máximo para o capi- tal. Enquanto ação do Estado isso se manifesta nos atos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Ao mesmo tempo em que o Governo Dilma edita as Medidas Provisórias 664 e 665, a Câmara dos Deputados desengaveta o PL 4330 e o Supremo Tribunal julga a Ação Direta de Direta de Inconstitu- cionalidade (ADIN) 1923 e aprova a constitucionalidade das Organizações Sociais. A sanha desenfreada das políti - cas neoliberais em curso vem acom- panhada de práticas antissindicais e de criminalização dos movimentos que se contrapõem a tal projeto e mantêm sua autonomia classista. Assim, o enfretamento dos ataques aos direitos dos trabalhadores se articula com a defesa da liberdade sindical e do direito irrestrito de greve. Nesse contexto, se coloca a defesa do ANDESSN como representante dos docentes. Leia mais nas págs. 6 e 7 DESCASO DO GOVERNO COM A EDUCAÇÃO RESULTA EM MOBILIZAÇÃO NACIONAL A coordenadora do IV Seminário Estado e Educação/ ANDESSN fala sobre os principais pontos que serão discutidos, como a contrarreforma do Estado, a mercantilização da Educação e o produtivismo no meio acadêmico. Reunião de representantes do ANDES com o Ministério do Planejamento não teve resposta efetiva de negociação

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EDIÇÃO 4 - ANO 2

MAIO/2015

O ano de 2015 vem sendo marcado pela intensificação da luta dos trabalhadores, do setor público e privado, diante do aprofundamento das medidas do ajuste fiscal que têm como objetivo dar respostas à crise do capital. No bojo dessas lu-tas, há um avanço em ações com o conjunto da classe. As greves estaduais e municipais da educação se somam aos movimentos dos trabalhadores, inclusive do setor privado, com destaque para os terceirizados. O ascenso da mobiliza­ção combina tanto elementos quantitativos ­ aumento do número de greves, mobilizações e dias de luta ­, quanto quali­tativos, se considerar os movimentos de unificação das lutas, com destaque para o Fórum dos Servidores Públicos Federais e as ações unitárias realizadas em ní vel nacional. Assim, foi cons truído no dia 15 de abril, o Dia Nacional de luta contra o PL 4330 e as MP 664 e 665, resultado do chamado das centrais sindicais.

Esses processos de resistência respondem ao aprofundamento do neoliberalismo no Brasil, mani-festo na contrarreforma do Es-tado (FHC­Lula­Dilma) ­ incluindo a previdenciária e da educação,

A Administração Superior da UFOP colocou em pauta a intenção de exercer maior controle de frequência para docentes e técnicos-administrativos. A diretoria da ADUFOP é contra e apresenta a lei que ampara a categoria.

O Jornal ADUFOP reproduz trechos do artigo do professor Jorge Luiz Souto Maior, no qual o autor combate os argumentos que amparam a defesa do projeto de terceirização em tramitação no Legislativo.

ADUFOP É CONTRA AMPLIAR CONTROLE DE FREQUÊNCIA NA UFOP

ANÁLISE SOBRE CONSEQUÊNCIAS DA TERCEIRIZAÇÃO

ENTREVISTAPROFESSORA VÂNIA KOWALCZUK

Página 04 Página 03 Página 08

ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETOSEÇÃO SINDICAL

que retira direitos dos trabalha dores, abrindo espaço para a mercantilização das políticas sociais ­ educação, saúde e previdência ­ e consolida o desmonte do serviço público, na lógica do Estado mínimo para o social e máximo para o capi-tal. Enquanto ação do Estado isso se manifesta nos atos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Ao mesmo tempo em que o Governo Dilma edita as Medidas Provisórias 664 e 665, a Câmara dos Deputados desengaveta o PL 4330 e o Supremo Tribunal julga a Ação Direta de Direta de Inconstitu-cionalidade (ADIN) 1923 e aprova a constitucionalidade das Organizações Sociais.

A sanha desenfreada das políti-cas neoliberais em curso vem acom-panhada de práticas antissindicais e de criminalização dos movimentos que se contrapõem a tal projeto e mantêm sua autonomia classista. Assim, o enfretamento dos ataques aos direitos dos trabalha dores se articula com a defe sa da liberdade sindical e do direito irrestrito de greve. Nesse contexto, se coloca a defesa do ANDES­SN como represen tante dos docentes.

Leia mais nas págs. 6 e 7

DESCASO DO GOVERNO COM A EDUCAÇÃO RESULTA EM MOBILIZAÇÃO NACIONAL

A coordenadora do IV Seminário Estado e Educação/ANDES­SN fala sobre os principais pontos que serão discutidos, como a contrarreforma do Estado, a mercantilização da Educação e o produtivismo no meio acadêmico.

Reunião de representantes do ANDES com o Ministério do Planejamento não teve resposta efetiva de negociação

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EXPEDIENTEDIRETORIA ADUFOPGESTÃO 2014-2016

Prof. Luís Antônio Rosa SeixasPresidente

Prof. Douglas Ribeiro BarbozaVice-Presidente

Prof. Paulo Ernesto Antonelli1º Secretário

Prof. Aluísio Finazzi Porto2º Secretário (licenciado)

Prof. Ricardo Silvestre da Silva1º Tesoureiro

Prof. Joaquim Batista de Toledo2º Tesoureiro

CONSELHO DE REPRESENTANTES

Escola de FarmáciaProfª Mônica Cristina TeixeiraProfª Vanja Maria VelosoProfª Vanessa Carla Furtado Mosqueira

Escola de MinasProf. Edison TazavaProf. Geraldo Donizette de Paula

ICHSProf. Marcelo Santos de Abreu

Escola de NutriçãoProfª Késia Diego QuintaesProfª Marília Alfenas de OliveiraProf. Marcelo Eustáquio Silva ICEAProf. Wagner Ragi Curi FilhoProf. Thiago Augusto de Oliveira Silva

ICEBProf. Hildeberto Caldas de Souza

CEDUFOPProf. Heber Eustáquio de Paula

CEADProfª Janete Flor de Maio Fonseca

Escola de MedicinaProf. Rodrigo Pastor Alves Pereira

Jornal ADUFOPRedação, edição, diagramação e fotografiaLícia Ribeiro ­ (MTb 08397JP) Projeto gráfico ­ AllType PublicidadeTiragem: 1.000 exemplaresImpressão: Gráfica 101

ADUFOP - Associação dos Docentes da Universidade Federal de Ouro PretoEndereço: Rua Francisco Pignatário, 151, Bauxita ­ Ouro Preto­MG ­ CEP: 35400­000E-mail: [email protected]: (31) 3551­5247Twitter: @adufopsindicalFacebook: www.facebook.com/adufop*Edição fechada em 13/05/15

DOCENTES APROVAM PLANTÃO JURÍDICO NA SEDE DA ADUFOP

A Assessoria Jurídica da ADUFOP realizou seu primeiro atendimento em forma de plantão na sede da entidade no dia 26 de março. Durante todo o dia o assessor jurídico da ADUFOP, Dr. Alessandro Castelo Branco, do Es-critório Aroeira Braga, de Belo Horizonte, recebeu professores sindicaliza-dos que estavam previa-mente agendados para sanar dúvidas sobre os processos em andamen-to. Alguns filiados optaram por enviar as dúvidas por email, que também foi respondido pela Asses-soria Jurídica.

A maior procura foi relativa aos processos dos 3,17%. Em abril, um grupo de professores recebeu o pagamento. A assessoria jurídica esclareceu os entraves que restam para o pagamento da ação aos de-mais grupos de professores.

O atendimento também se esten-deu para dúvidas de professores

aposentados filiados à entidade. O professor aposentado Renato Godi­nho, ex­reitor da UFOP, veio de Belo Horizonte acompanhado de famili ares para a consulta. “Foi uma oportunidade de visitarmos Ouro Preto e tivemos um retorno bastante positivo do trabalho da ADUFOP”, destacou o familiar do professor que o acompanhou.

Assim que tiver a demanda esta-belecida será agendado um novo plantão na sede da entidade.

O advogado Alessandro Castelo Branco recebeu o professor aposentado Renato Godinho, acompanhado de familiares, no plantão jurídico da ADUFOP

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SAIBA MAIS SOBRE O QUE HÁ POR TRÁS DA TERCEIRIZAÇÃOJuiz do trabalho e professor de

Direi to da USP, Jorge Luiz Souto Maior com ba te os argumentos que defen-dem o PL 4430/04. O Jornal ADUFOP reproduz trechos do artigo, publicado em 28/04/2015 no site da CSP­Conlu-tas, no qual o professor desmascara a defesa da terceirização.

• “Modernização” A intermediação de mão­de­obra é

muitas vezes dita como a técnica mo­der na do processo produtivo. O concei to de “subor dinação jurídica” é uma cons­tru ção teórica forjada para superar o obs táculo da formalização de contratos en tre tomadores e prestadores de ser vi -ços, que atribui responsabilidades ju rí di­cas ao capital que efetivamente se va le da exploração final da força de traba lho. O argumento retórico da “moder nidade” nos acompanha há décadas, quando se ani quilou com a estabilidade, em 1967, substituindo pelo FGTS; quando instituíram o trabalho temporário, em 1974; o contrato do vigilante, em 1984; a terceirização, em 1993; as cooperati-vas de trabalho, em 1994; o banco de horas, em 1998; o contrato provisório, em 1998 e o contrato a tempo parcial, em 1999. O que ocorre é que a redução de direitos obviamente não gera o efeito concreto da melhora da economia e, sem a revelação do embuste de que foi vítima a classe trabalhadora, novas rei vindicações de retração de direitos são propostas e, pior, com o mesmo ar-gumento da “necessidade de moderni-zação”.

• “Preserva direitos trabalhistas” Os que defendem que os direitos

previstos na CLT e na le gis lação serão todos garan tidos com o PL 4.330/04 são os mesmos que defendem que os direitos trabalhistas foram outor gados por Vargas sem necessidade, além de serem excessivos e impedirem o de-senvolvimento econômico. A realidade das relações de trabalho no Brasil é a da completa ineficácia da legislação, a qual, só existe no papel. Isso se dá exa­tamente por obra dessas mesmas pes-soas e instituições, que têm se valido de todos os ardis possíveis para negar a aplicação de direitos aos trabalhadores. Seria ingênuo se deixar levar pela promessa de que por conta da terceiri-zação, que fragiliza a classe trabalha­dora, essa realidade seria alterada.

• “Gera empregos”A terceirização não se trata de empre-

go, mas de subemprego ou até trabalho

em condições de semi­escravidão. Não é a forma como se regulam as relações de trabalho que impulsiona a economia, mas a dinâmica da produção e da circu-lação de mercadorias. Com a ampliação da terceirização os atuais empregos se-riam transformados em subempregos, de modo, a favorecer o processo de acumulação do capital e até da evasão de divisas, vez que o grande capital está sob domínio de empresas estrangeiras.

• “Terceirização não precariza” As condições de trabalho dos terceiri-

zados no Brasil tem sido, há mais de 20 anos, a de um elevadíssimo número de acidentes do trabalho, inclusive fatais; trabalho em anos seguidos sem férias; jornadas excessivas; não recebimento de verbas rescisórias; ausência de reco­lhimentos previdenciários e fundiá rios, e ainda, assédio provocado pela discrimi-nação e invisibilidade. É re ve ladora a preocupação do governo, que em vez de ser contrário ao projeto, tentou alterar o PL para evitar prejuízos aos cofres, no que se refere à falta de recolhimen-tos previdenciários, fundiários e fiscais, buscando fazer com que tais obrigações fossem assumidas pelos tomadores de serviços. Essa preocupação, que por enquanto não foi acatada, é uma con-fissão de que terceirização precariza. A tendência de uma empresa contrata­da é a de não ter o mesmo potencial capitalis ta, sofrendo mais facilmente as variações da economia, com conse-quências sobre os trabalhadores.

• “Preocupação com o negócio principal”

Esse argumento diz que a terceiri-zação advém da “ne ces sidade de que a empresa moderna tem de concentrar-se em seu negócio prin cipal”. Ocorre que o objetivo do PL é ampliar a tercei-rização para qualquer ti po de serviço. Assim, a empresa po derá ter apenas terceirizados, e qual se ria, então, seu “negócio principal”? Que ligação di-reta essa empresa possui ria com o seu “produto”? A empresa con tratante passaria a ser administradora de diver-sos tipos de exploração do trabalho, um ente de gestão voltado a organizar as formas de exploração do trabalho, buscando fazer com que cada forma lhe gere lucro. O comércio de gente se constitui ape nas uma face mais visível do modelo de relações capitalistas, ba-seado na exploração de pessoas con-duzidas ao trabalho subordinado pela necessidade e falta de alterna tiva.

• “Dupla garantia para os traba-lhadores”

A ideia é que duas entidades garan­tiriam a efetividade dos direitos: a prestadora (sua empregadora) e a to-madora. O PL permite que a própria prestadora terceirize. Então, esse tra-balhador “quarteirizado” teria ainda mais garantias que o terceirizado, o que já demons tra o absurdo da argu-mentação, pois é evidente que quanto mais o capital se organiza em relações intermediadas, mais as pres tadoras de serviço se fragilizam, fazendo com que se diminua a participação do trabalho na distribuição da riqueza. O que a tomadora pode fa zer é garantir o res-sarcimento econômico de direitos que não foram cumpridos, e o percurso para essa garantia é necessariamente judicial, sendo incerto e demorado. Em suma, com a terceirização, o trabalha­dor verá multiplicar em várias vezes a sua dificuldade de fazer valer seus di-reitos, que, já serão reduzidos.

• Efeito concreto Por fim, de forma mais clara, o que

se almeja com o PL 4.330 e está sendo incentivado por segmentos empresari-ais ligados ao grande capital, não é a melhoria da condição de vida dos tra-balhadores e a efetividade plena dos direitos trabalhistas. O que se pretende é: fragmentar a classe trabalhadora; dificultar a formação da consciência de classe; estimular a concorrência entre trabalha dores; difundir estratégias de gestão baseadas em metas impos-síveis de serem alcançadas, assedi-antes, e de to nadoras da auto­estima; incentivar práticas individualistas e destrutivas da solidariedade; inibir a ca-pacidade de organização coletiva; mi-nar o poder de resistência e de luta dos trabalhadores; aumentar a submissão ou subordinação do trabalhador; facili-tar a mercantilização da mão­de­obra.

• EnfrentamentoEssa característica do âmbito jurídico

faz pressupor que diante da aprovação do PL 4.330/04, por mais trágico que pos sa ser para a classe trabalhadora, mui tas novas tensões advirão, até por­que é minimamente razoável ima gi nar que o projeto cons titucional de jus tiça so cial e a raciona lidade dos Direitos Hu ma nos sejam defendidos de for ma fir me e consis tente pelos profissi o nais li ga dos ao Direito do Trabalho e às di-ver sas á reas do conheci mento que se in terli gam com o mundo do trabalho.

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ADUFOP É CONTRA AMPLIAR O CONTROLE DE FREQUÊNCIAA diretoria da ADUFOP foi procura-

da em março deste ano pela Coor­denadoria de Gestão de Pessoas (CGP/UFOP) no sentido de que es-taria em pauta para a Administração Superior da universidade a ideia de implantar maior controle de frequên-cia aos docentes. Na ocasião, os di-retores da entidade se manifes taram contra ampliar controles dessa na-tureza, particularmente o controle de ponto eletrônico, inclusive com base na lei que disciplina a matéria (mais informações no texto em destaque abaixo).

Mas essa polêmica não é nova. O assunto já foi colocado em adminis-trações superiores pelo país afora. Em setembro de 2014, os docentes da seção sindical do Instituto Fede­ral do Piauí (SINDIFPI/ANDES­ SN) moveram uma ação contra o ponto eletrônico implantado na instituição através de uma portaria da reitoria. Os docentes obtiveram a anulação dessa portaria por meio de sentença em mandado de segurança coletivo. Houve o reconhecimento de que a especificidade e complexidade do trabalho docente, que vai muito além da regência das aulas, não comporta o controle de frequência mediante um instrumento como o ponto eletrônico. Para os docentes do IFPI, a decisão foi importante e acertada. A luta da categoria em resistência ao ato ilegal da reitoria permitiu a revogação da portaria.

O professor Fausto de Camargo Júnior, 2º secretário do ANDES­SN , afirmou que o ponto eletrônico é ile-gal porque a mesma lei que o regula para o serviço público excepciona

algumas categorias da obrigatorie-dade, entre elas a do Magistério Su-perior e Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. “As carreiras do Magis­tério Superior e EBTT são regidas pela mesma norma, logo devem ser submetidas ao mesmo regime de prer rogativas, direitos e atribuições”, ressalta Fausto. Segundo o profes-sor, a orientação é que, caso as ins­tituições tentem implantar o ponto eletrônico para os professores, as seções sindicais devem procurar suas assessorias jurídicas para re-verter a decisão na justiça.

A diretoria da ADUFOP ainda ar-gumentou junto ao coordenador da CGP/UFOP, André Lana, que já existe um acompanhamento multilateral da ativi dade docente que é conhecido dos diversos colegiados da institui-ção. Os departamentos ampliaram o número de entrada de alunos de graduação e pós­graduação, os cur-sos diversificaram suas atividades,

com especialização, mestrado, dou-torado e pós­doutorado, o número de colegiados com participação do-cente também aumentou, cresceram as atividades de extensão e adminis­trativas, os projetos - mesmo den-tro de um universo profundamente competitivo e seletivo ­ têm sido ca-pazes de trazer equipamentos para os labo ratórios. A lista é longa da gama de atividades de competência e reponsabilidade exercidas pelos docentes hoje na universidade. Por-tanto, para o sindicato, a situação realmente preocupante é a de que a instituição esteja à altura de pos-sibilitar as me lhores condições de trabalho, ensino, aprendizagem e produção acadêmica.

Nota da ASSUFOPO sindicato dos técnicos-adminis-

trativos da UFOP também se mani-festou sobre a matéria. Na edição de abril do Jornal da ASSUFOP

a entidade fez um histórico das práticas de controle de frequên-cia vigentes na instituição até

meados dos anos 90. A partir de 1993 foi estabelecido que cada setor decidiria a melhor forma de administrar a questão, tornando assim as relações de trabalho mais democráticas e harmoniza-das com a natureza do trabalho acadêmico. A ASSUFOP conclui posicionando-se contrária à volta do controle de frequência e aponta que outras questões importantes e fundamentais para a gestão acadêmica deveriam ser prioriza-das pela adminis tração superior da UFOP.

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O artigo 1º do Decreto nº 1.867/96, determina que os servidores públicos federais da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundações se submetam ao registro eletrônico de ponto. Ocorre que esse mes-mo dispositivo excepciona aqueles que exercem ativi-dades externas ou aqueles que se enquadrem em uma das hipóteses previstas no parágrafo 7º do artigo 6º do Decreto nº 1.590/95, precisamente o caso dos docentes das carreiras do Magistério Superior. art. 6º (...) § 7º São dispensados do controle de frequên-cia os ocupantes de cargos:

a) de Natureza Especial;b) do Grupo­Direção e Assessoramento Superiores ­ DAS, iguais ou superiores ao nível 4;c) de Direção ­ CD, hierarquicamente iguais ou superi-ores a DAS 4 ou CD­3;d) de Pesquisador e Tecnologista do Plano de Carreira para a área de Ciência e Tecnologia;e) de Professor da Carreira de Magistério Superior do Plano Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos.

(Fonte: ANDES-SN)

O QUE DIZ A LEI SOBRE CONTROLE DE PONTO

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REPORTAGENS INVESTIGAM ENTRADA DE RECURSOS EXTERNOS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Em época de “Operação Lava Jato” chamaram a atenção as maté-rias publicadas em diferentes jornais do país indagando sobre o caminho do dinheiro privado nas universidades públicas. A série de reportagens “Uni-versidades S/A” denunciou a falta de transpa rência na prestação de contas, fraudes em contratos e licitações e di-versos ou tros problemas graves. Os jornalistas investigaram as relações entre fundações de direito privado atuando dentro das universidades, muitas vezes tendo como membros do seu conselho, professores e/ou portadores de cargos administrativos das instituições, em flagrante con-flito de interesses. As reportagens foram publicadas no mês de abril e produzidas em conjunto com os jor-nais O Estado de São Paulo (SP), O Globo (RJ), Zero Hora (RS), Gazeta do Povo (PR) e Diário Catarinense (SC). A iniciativa é inédita e envolveu mais de 20 profissionais na apuração e edição, durante quatro meses de trabalho.

A série trouxe uma radiografia da virtual privatização que avança, com pouca transparência, nas universi-dades. A ine xistência de ferramentas efetivas de controle e fiscalização

estaria transformando a interação en-tre o setor produtivo com as univer-sidades públicas em um campo fér-til para ilegalidades em todo o país. Fundações acadêmicas de direito privado seriam usadas para mediar serviços de cifras milio nárias e que muitas vezes nada têm a ver com os serviços das universidades. Os jornalis tas de O Globo argumentam que “tudo isso ocorre porque brechas em um sistema pouco transparente facilitam o desvio de uma função fun-damental dos convênios: manter a universidade atualizada e evitar que o conhecimento permaneça enclau-surado na academia”.

Levantamento da ONG Contas Aber tas identificou que as fundações privadas receberam de janeiro de 2013 a julho de 2014, R$1,4 bilhão da União. Esses recur-

sos fariam parte de uma verdadeira ‘caixa­preta’ das universidades.

Outra questão apontada na pes-quisa diz respeito à contratação de professores com dedicação exclu-siva que multiplicam seus salários em projetos paralelos e pres tação de serviços para grandes empresas.

A série de reportagens cons tatou que os problemas são amplos e não estão localizados em uma ou outra universidade. “Tem um sistema que está sendo questionado e o gover no federal e os governos também en-volvidos nos estados têm que prestar atenção de forma conjunta também”.

Aos interessados o material mais completo referente a estas reporta-gens está disponível no link estadao.com.br/e/funden.

SEGURANÇA NO TRABALHO PREOCUPA A COMUNIDADE ACADÊMICA

Dia 28 de março é celebrado o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes de Trabalho. A data ga­nhou ainda mais relevância com as medidas em votação no Congresso Nacional que retiram direitos da classe trabalhadora e ampliam a pos-sibilidade de terceirização de mão­de-obra.

Segundo o último anuário do Minis-tério do Trabalho e Emprego, em 2013 foram registrados 717,9 mil aci-dentes de trabalho, com mais de 2,7 mil óbitos e outros 14,8 mil trabalha­dores ficaram incapacitados devido a acidentes do trabalho.

Os acidentes de trajeto da residên-cia até o local de trabalho também são considerados acidentes de tra-balho. Na UFOP, um dos maiores riscos é justamente este devido às constantes viagens de seus campi às cidades vizinhas. A edição de nº20 do informativo on line Notícias ADU-FOP, publicado no último dia 24 de abril, relatou o trágico acidente ocor-rido na MG­129 no dia 22 de abril com o veículo que transportava três diretores e o motorista do Sindicato ASSUFOP para João Monlevade. O trajeto Ouro Preto ­ Belo Horizonte é igualmente perigoso. Docentes que

trafegam nesta via diuturnamente re-latam situações de alta exposição ao risco de acidentes. O uso de trans-portes coletivos nem sempre é pos-sível, de modo que é comum que docentes se utilizem de seus próprios veículos para esses deslocamentos, individualmente ou em companhia de colegas de trabalho.

Entre outras questões de segu-rança que preocupam os docentes destacam-se os protocolos de primei-ros socorros e seguros de vida em viagens curriculares, assim como a prevenção de insalubridade nos lo-cais de trabalho.

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ANÁLISE DE CONJUNTURA DO ANDES ORIENTA MOBILIZAÇÃO Luta geral do funcionalismoDiante do aprofundamento da ofen-

si va neoliberal destaca-se a unidade cons truída no âmbito do fórum de enti­da des sindicais dos SPF. Reunindo mais de 400 participantes em janeiro de 2015, o fórum elaborou a pauta de rei vindicações e uma agenda de mobi­li zações para os primeiros meses do ano. A jornada de lutas realizada em a bril, com manifestações nos estados e em Brasília diante do Ministério do Pla nejamento, levaram o governo a a pre sentar algum tipo de resposta à pau ta de reivindicações do conjunto dos servidores. Assim, na reunião rea li zada em 23 de abril, o governo se com pro meteu a antecipar o inicio da ne go cia ção para o dia 14 de maio, cons tituir me sa de negociação formal-mente es ta belecida em portaria, inclu-in do a me todologia de discussão da pau ta e calendário de reuniões quinze-nais. Entretanto, nas reuniões ocorri-das nos dias 20 de março e 23 de abril, o governo reafirmou a manutenção da po lítica de ajuste fiscal, com o contin-genciamento e pré-contingenciamento dos orçamentos de 2015 e 2016, res­pec tivamente.

Luta específica dos docentesCom relação à pauta específica dos

docentes das Instituições Fede rais de Ensino (IFES) não houve avanço na negociação. O governo não apresen-tou até o momento nenhu ma res posta. Mesmo diante das reiteradas solici-tações de negociação junto ao MEC, completou-se um ano da última reu-nião realizada para tratar das reivin-dicações. Desde 23 de abril de 2014 quando o secretário Paulo Speller, re presentando o MEC, assinou um do cumento de concordância com os pon tos iniciais para a reestruturação da carreira, o ANDES­SN tem pressio­nado o governo pela continuidade da ne gociação. No documento assinado houve acordo nos seguintes pontos: (1) a carreira deve ser estruturada em degraus constantes do início até o fi-nal; percentuais definidos para a valo­rização de cada uma das titulações; relação percentual cons tante entre regimes de trabalho, com valorização da dedicação exclusiva (a combina ção destes três elementos estará integra-da, compondo o vencimento de cada

professor, segundo a sua situação particular quanto ao nível na carreira, a titu lação e o regimento de trabalho); (2) que o piso organizador da malha de vencimentos, estruturada em decor-rência do item anterior, seja o valor fixado para o ní vel inicial da carreira do graduado em regime de 20 horas; (3) reconhecer a autonomia das institui-ções, para que os critérios de desen-volvimento na carreira sejam definidos no âmbito do Plano de Desenvolvi-mento Institucional, resguarda da a su-pervisão pelo MEC.

Em 2015, o ANDES reapresentou a pauta de reinvindicações e reiterou a necessidade de negociação com o MEC. Em 10 de março, o então mi­nis tro da Educação, Cid Gomes, não com pareceu a reunião agendada com o Sindicato Nacional, que aconte ceu com o então secretário executivo, Lu iz Cláudio Costa, que apenas jus­ti fi cou a ausência do ministro, sem dar qualquer resposta à pauta. Ainda que o secretário tenha afirmado a dis-ponibilidade do MEC em estabelecer agenda de reuniões, desde então não houve nova negociação.

Nas IFES está em curso o agrava-mento da precarização das condições de trabalho, com evidências como o atraso de pagamento dos terceiriza-dos e de contas de água e luz, suspen-são de contratos de manutenção e de for necimento de insumos, o corte de bolsa para estu dan tes, de verbas de fomento e de diárias e passagens para participação em eventos científicos, dentre outros. Si tu ação que em 2015 se agravou com os cortes impostos às verbas destinadas aos serviços públi-cos que na Educação representou R$7 bilhões. Isso coloca em cheque a estratégia assumida pelo governo de adotar o lema da “Pátria educadora”. Todavia, o que pode parecer contra-ditório, não o é, posto que, ao tempo que reduzem as verbas para as IFES, garantem verbas públicas para o setor empresarial da educação, a exemplo dos recursos destinados ao FIES. Isso confirma a avaliação que aponta para a ressignificação do conceito de públi-co no campo educacional que está embutida no texto do novo PNE (Plano Nacional da Educação) e no lema “Pá-tria Educadora”. (Fonte: ANDES-SN)

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Professores do estado do Paraná recorrem ao Senado e ao Ministério da PrevidênciaOs docentes da rede estadual de ensino

e das universidades estaduais do Paraná es tiveram em audiência pública na Comis-são de Direitos Humanos do Senado Fe­de ral no último dia 6 de maio. A audiência foi solicitada em decorrência da vi o lenta repressão policial promovida pelas forças do governo estadual contra os ser vidores públicos em manifestação de rua o cor rida no dia 29 de abril. O protesto em fren te à Assembleia Legis lativa foi contra as mu-danças na previdência do funciona lis mo estadual. A altera ção votada no mes mo dia retira dinheiro d a previdência dos ser­vidores estaduais para aumentar o cai xa do go verno. A ação policial resultou em mais de 200 feridos por balas de borracha, bombas, gás de pimenta, ataque de cães, além da prisão de sete manifest a n tes.

A professora Marta Belini, diretora da Seção Sindical da Universidade Estadual de Marin gá (SESDUEM), relembrou o histórico de violência contra docentes. “As tropas do governo cercaram os profes-sores concentrados no Centro Cívico, em ação que se iguala a conduta de manu-ais de guerra, e soltaram bombas sobre os manifestantes. Em 1988, Álvaro Dias jogou cavalos nos professores. Em 2001, um deputado estadual da época jogou uma cadeira. Em 2015, temos uma guer-ra”. A docente ainda conclamou os profes-sores a não se calarem diante da violência que sofrem. “O pior é o ataque aos nossos direitos e ao nosso futuro”, completou.

O professor Antonio Bosi, da Asso-ciação dos Docentes da Universidade do Oeste do Paraná (Adunioeste), reforçou a cobrança aos parlamentares. “Se so-licitamos a intervenção dessa comissão do senado, é porque o que aconteceu lá foi algo absurdo”. O professor questionou o representante do governo, que culpabi-lizou os estudantes e alunos pelo massa-cre alegando a presença de black blocks. “Não é possível aceitar essas informações, porque as gravações provam o contrário. Havia minha filha de seis anos e outras crianças, pois a nossa expectativa não era aquela”, disse Bosi.

Os servidores também se reuniram no Ministério da Previdência Social. Foram esclarecidas as atribuições em relação às mudanças nas regras previdenciárias nos estados e municípios. Até o fechamento desta edição os docentes da rede estadual de ensino continuavam em greve.

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ARROCHO, CRISE E GREVE SÃO PAUTAS DE DISCUSSÃO NAS UNIVERSIDADES

A defesa da carreira única do profes-sor federal permanece como um dos pontos centrais da luta do sindicato nacional, se contrapondo à desestrutu-ração da carreira imposta pelo go ver no, particularmente em 2012. Em 2015 não há nenhuma sinalização por parte do governo sobre a política salarial para os docentes das IFES. A regulamentação das progressões, no âmbito das IFES, tem agravado a pers pectiva produtivis ta e fragmentadora.

Novos elementos da conjuntura es-tão colocados para a carreira docente. A possibilidade de contratação das Organi zações Sociais (OS) no serviço público e, em particular, na Educação e Ciência e Tecnologia, anunciadas pelo presidente da CAPES em 2014, se soma à afirmação da constituciona­lidade das OS a partir do julgamento da ADIN 1923 no STF. Com isso, OS poderão ser ins tituídas para gerenciar setores das IFES, com sérios prejuízos aos traba lhadores. O exemplo vivencia-do no SUS, com uma multiplicidade de OS contratadas para setores e serviços nos níveis federal, estadual e municipal, tem demonstrado seu impacto nefasto, privatizando serviços e retirando direitos dos trabalhadores. A fragmentação dos processos de contratação via OS, im-plicará no fim progressivo do concurso público e do RJU, colocando as carrei-ras do serviço público, incluindo a do-cente, em regime de extinção.

Diante desse contexto, reafirma­se a necessidade de luta pela pauta, apro-vada no 34º Congresso do ANDES­SN, cujos eixos são: a defesa do caráter público de educação e a garantia da função social das IFE em prol da classe trabalhadora; projeto de carreira única do ANDES­SN para o magistério fede­ral, condições de trabalho, salário e luta contra a reforma da previdência (revogando as MPs 664 e 665/2014).

O processo cres-cente de mobiliza ção, expresso no de sen­volvimento das ativi-dades nas Se ções Sindicais e na partici-pação nas reu niões do setor, eviden cia a insatisfação da cate­goria com os ataques do governo e a dispo-sição de luta. Esse pro cesso deve ser inten sificado no âmbi­to das IFES, cons tru­i ndo a greve da cate-goria, com indi cativo de início em maio. Em decorrência desse movimento, a reunião do Setor das Fede­rais, ocorri da em 25 e 26 de abril, construiu um calendário de lutas dos docentes,

articulado à Campanha Salarial dos SPF, na pers pectiva da construção de uma greve unificada. Nessa reunião, foi decidido a realização de rodada de as-sembleias, pautando indicativo de greve dos docentes fede rais, com início no pe-ríodo de 25 a 29 de maio. Nova reunião do Setor acontece nos dias 15 e 16 de maio para avaliar a conjuntura e o resul-tado da rodada de assembleias sobre o indicativo de greve. (Fonte: ANDES)

O Supremo Tribunal Federal votou, no dia 16 de abril, a Ação Direta de Inconstitucionalidade ­ ADIN 1923, contrária às normas que regulamentam as Organizações Sociais (OS). O STF decidiu pela validade da prestação de serviços públicos de ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação ao meio ambiente, cultura e saúde. A ação foi ajuizada há mais de 15 anos e sua votação havia sido suspensa em 2011. O STF conside­rou a validade parcial da Ação no que se refere às leis de licitações, dando interpretação constitucional às normas que dispensam licitação em contratos de gestão firmados entre o poder público e as OS. Segundo a professora Claudia March, secretária geral do ANDES, desde antes da aprovação da Lei 9.637, promulgada em 1998, ela vinha sendo questiona-da e combatida pelos movimentos sindicais, tanto na esfera política quanto jurídica, o que impediu o avanço das OS para todos os setores previstos na Lei. “Esse modelo de gestão

é mais oneroso à União, abre espaço para a corrupção, su-perfaturamento e desvio de verbas. Os exemplos vistos na saúde pública apontam uma piora à assistência ao usuário do serviço público, com fragmentação dos serviços, precari-zação e intensificação do trabalho”.

O julgamento do STF vem meses após a declaração do então presi dente da CAPES, Jorge Almeida Guimarães, da intenção do Executivo Federal em adotar uma organização social para a contratação de docentes sem concurso público. A professora Cláudia March avalia que “isso é muito preocu-pante, pois se dá em um momento em que tanto os direitos garantidos na CLT e RJU estão sendo rasgados, com a vo-tação do PL 4330, e as medidas provisórias 664 e 665. Es-pecificamente no setor público, essa contratação é extrema-mente preocupante em relação à garantia dos direitos dos servidores, mas fundamentalmente à qualidade dos serviços públicos prestados”. (Fonte: ANDES)

STF DECIDE PELA CONSTITUCIONALIDADE DA PRESTAÇAO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS PÚBLICOS VIA ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Sem resposta do governo, ANDES cobra negociação

Em reunião com o ANDES­SN no dia 6 de maio, os repre sentantes da Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SRT/Mpog) não apresentaram resposta alguma à pauta de reivindicações já protocolada pelo Sindicato, embo ra o secretário Sérgio Mendonça tenha afirmado já conhe­cer a pauta dos docentes fe derais. A ausência de retorno foi duramente criticada pelo ANDES, que destacou que o próprio ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, sinalizou que em abril o governo faria um estudo das reivindicações e do limite orçamentário para dar início às negociações em maio. A ausência de representan tes do Ministério da Educação também foi questionada. Sérgio Mendonça reafirmou a intenção do governo em reduzir o percentual da folha de pagamento em relação ao PIB e novamente vinculou a discussão da reestruturação da carreira ao seu impacto financeiro. A previsão para uma nova reunião sobre a pauta específica dos docentes es-tava prevista apenas para o mês de junho, quando terão possibilidade de avaliar o espaço orçamentário.

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ENTREVISTAProfessora Vânia Kowalczuk (SESDUF-RR)

Dentre os temas que serão trata-dos no “IV Seminário Estado e Educação”, a contrarreforma do Estado e os impactos na educação pública é um importante destaque. O que significa essa contrarrefor-ma do Estado?Significa a retirada de direitos dos trabalhadores, a flexibilização da relação público e privado, especial-mente no uso do dinheiro público pelo setor privado, com a perda do papel fundamental do Estado que é o de garantir um serviço público de qualidade para a população.

Como a atual crise econômica e política têm refletido na Educação pública? A crise atual está refletida na contra-dição entre o slogan “Pátria Educa-dora”, lançado pelo atual Governo Federal, e o corte de 30% feito no or-çamento das universidades que vêm prejudicando o funcionamento des-sas em diversos aspectos.

O produtivismo acadêmico é uma realidade no exercício da docên-cia. Quais os efeitos desse produ-tivismo na perspectiva da quali-dade da educação?Os efeitos do produtivismo são vi-síveis no adoecimento dos profes-sores que se sentem responsáveis e obrigados a cada vez produzir mais para não prejudicar a avaliação do curso, especialmente na pós­gradu-ação. Como a produção, na maioria das vezes, é avaliada de forma quan-titativa, a qualidade é preterida per-dendo o próprio sentido da produção.

Como você vê essa ressignificação

do caráter público da educação?A ressignificação apresentada neste Plano Nacional da Educação (PNE) aprovado é nefasta para a educação pública, gratuita, laica e com quali-dade social. O que antes era prática, agora está posto na lei, em que os recursos públicos da educação po-dem ser utilizados para financiar ins­tituições privadas, que em grande parte são de qualidade duvidosa, di-minuindo com isso os recursos para a escola pública.

A educação a distância veio para ficar. O que precisa ser discutido e melhorado nesse contexto?Inicialmente é importante destacar que a educação à distân-cia e o ensino privado es-tão aí porque os governos não optaram por efetivar um financiamento público na educação pública de modo adequado. Se todo o aporte financeiro repas-sado ao ensino privado e ao ensino à distância fosse utilizado em um sis-tema presencial, talvez não fosse necessária a existência deles. De qualquer modo, as uni-versidades têm hoje no ensino à distância, edu-cadores ou tutores sem condições de trabalho, muitas vezes com atraso nos pagamentos e sem nenhuma garantia que permita este trabalhador se sentir mais seguro. Além disso, o financia-mento deste modelo de

ensino é paralelo ao ordinário da uni-versidade e, na maioria das vezes, sem um processo transparente no uso dos recursos.

A internacionalização da educação também será tema do IV Seminário Estado e Educação. Fale um pou-co sobre isso.A internacionalização da educação tem vários vieses a serem debati-dos, mas que podem ser resumidos pela obrigatoriedade cada vez maior que a universidade promova a inter-nacionalização, sendo critério para o aumento do financiamento da matriz orçamentária e, com isso, atacando a autonomia da universidade.

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Doutora em Zoologia, a professora Vânia Graciele Lezan Kowalczuk, além de lecionar na área de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Roraima (UFRR), é diretora atuante na seção sindical SESDUF-RR e vice-presidente da Regional Norte I do ANDES-SN.

É coordenadora do IV Seminário Estado e Educação, que acontece em Santa Catarina, nos dias 29 e 30 de maio. Em entrevista ao Jornal ADUFOP, ela fala sobre os principais pontos que serão discutidos no evento.

Foto: Arquivo pessoal