desafios pre sal conselho

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     OS DESAFIOS DO PRÉ-SAL Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica 2009

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OS DESAFIOS DO PR-SAL

Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica

2009

Os desafios do Pr-Sal

Mesa da Cmara dos Deputados 53 Legislatura 3 Sesso Legislativa 2009 Presidente Michel Temer 1o Vice-Presidente Marco Maia 2o Vice-Presidente Antnio Carlos Magalhes Neto 1o Secretrio Rafael Guerra 2o Secretrio Inocncio Oliveira 3o Secretrio Odair Cunha 4o Secretrio Nelson Marquezelli Suplentes de Secretrio 1o Suplente Marcelo Ortiz 2o Suplente Giovanni Queiroz 3o Suplente Leandro Sampaio 4o Suplente Manoel Junior Diretor-Geral Srgio Sampaio Contreiras de Almeida Secretrio-Geral da Mesa Mozart Vianna de Paiva

Cmara dos Deputados

Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica

Os desafios do Pr-SalRelatores Deputado Fernando Ferro Deputado Paulo TeixeiraEquipe Tcnica da Consultoria Legislativa Paulo Csar Ribeiro Lima (Coordenador) Alberto Pinheiro de Queiroz Filho Cludio Nazareno Walkyria Menezes Leito Tavares

Centro de Documentao e Informao Edies Cmara

Braslia / 2009

CMARA DOS DEPUTADOSDIRETORIA LEGISLATIVA Diretor: Afrsio Vieira Lima Filho CENTRO DE DOCUMENTAO E INFORMAO Diretor: Adolfo C. A. R. Furtado COORDENAO EDIES CMARA Diretora: Maria Clara Bicudo Cesar

Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica Presidente Deputado Inocncio Oliveira Titulares Fernando Ferro Ariosto Holanda Jos Linhares Flix Mendona Paulo Henrique Lustosa Jaime Martins Mauro Benevides Humberto Souto Paulo Teixeira Professora Raquel Teixeira Rodrigo Rollemberg Suplentes Bilac Pinto Bonifcio de Andrada Colbert Martins Geraldo Resende Jos Genono Jlio Csar Paulo Rubem Santiago Pedro Chaves Severiano Alves Fernando Marroni Waldir Maranho Secretrio Executivo Ricardo Jos Pereira Rodrigues Coordenador de Articulao Institucional Paulo Motta Coodernadora da Secretaria Executiva Jeanne de Brito PereiraConselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica - Caeat Gabinete 566-A / Anexo III Cmara dos Deputados Praa dos Trs Poderes Cep 70160-900 / Braslia DF Tel.: (61) [email protected] www.camara.gov.br/caeat

Cmara dos Deputados Centro de Documentao e Informao Cedi Coordenao Edies Cmara Coedi Anexo II Trreo Praa dos Trs Poderes Braslia (DF) CEP 70160-900 Telefone: (61) 3216-5802; fax: (61) 3216-5810 [email protected] Projeto grfico: Ely Borges Capa: Gustavo Cardoso Diagramao: Daniela Barbosa Impresso e acabamento: Deapa/Cgraf

SRIE Cadernos de altos estudos n. 5Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP) Coordenao de Biblioteca. Seo de Catalogao. Os desafios do Pr-Sal / relatores: Fernando Ferro, Paulo Teixeira. Braslia : Cmara dos Deputados, Edies Cmara, 2009. 78 p. (Srie cadernos de altos estudos ; n. 5) ISBN 978-85-736-5619-0 Ao alto do ttulo: Cmara dos Deputados, Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica. 1. Petrleo submarino, explorao, Brasil. 2. Petrleo, reserva, Brasil. 3. Ferro, Fernando. 4. Teixeira, Paulo. I. Srie. CDU 665.6(81)

ISBN 978-85-736-5619-0 (brochura)

ISBN 978-85-7325-607-7 (livro eletrnico)

Comisso de Minas e Energia da Cmara dos Deputados Presidente Deputado Bernardo Ariston Primeiro Vice-Presidente Deputado Eduardo da Fonte Segundo Vice-Presidente Deputado Luiz Alberto Terceiro Vice-Presidente Deputado Nelson Bornier

Cadernos de Altos Estudos 5 Os desafios do Pr-Sal

Agradecimentos

Ao Presidente da Cmara dos Deputados, Michel Temer, que incondicionalmente tem estimulado iniciativas inovadoras em mbito da Casa, assegurando a todos os meios necessrios para a sua plena realizao. Ao Presidente do Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica, Inocncio Oliveira, e demais parlamentares integrantes do Colegiado, pela determinao, apoio e efetivas contribuies que emprestaram para a consolidao de mais um estudo pioneiro da Cmara dos Deputados. Aos Consultores Legislativos, que no mediram esforos para densificar criticamente o estudo e estimular os debates promovidos em mltiplas instncias do poder pblico, subsdios essenciais qualidade e consolidao do presente trabalho.

Deputado Fernando Ferro Deputado Paulo Teixeira Relatores

Agradecimentos

Apresentao Prefcio 1 Introduo 2 Atual marco legal do setor petrolfero2.1 A Constituio Federal de 1988 e a Emenda n 9 2.2 A Lei n 9.478/1997

11 15 19 2325 27

3 Dados do pr-sal 4 Desafios tcnicos 5 Desafios econmicos5.1 Investimentos da Petrobrs 5.2 Tributao e participao governamental

29 39 4346 47

6 Desafios institucionais 7 Novo marco legal 8 Concluses Referncias ANEXO | Proposio legislativa e justificao

49 55 59 64 67

Sumrio Sumrio

Apresentao

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ApresentaoOs debates em torno da explorao da provncia petrolfera conhecida como PrSal estabeleceram-se como tema obrigatrio da agenda nacional desde que a magnitude das reservas tornou-se conhecida pelo governo e pela opinio pblica. Intensa polmica formou-se em torno das formas de explorao e utilizao do leo de excelente qualidade encontrado nas guas profundas brasileiras. Atento movimentao poltica e ao embate tcnico em torno do assunto, o Conselho de Altos Estudos, com o suporte da Consultoria Legislativa da Cmara dos Deputados, elegeu o tema como prioridade e preparou minucioso e abrangente trabalho, que agora divulgado sob a forma de um novo ttulo da j consagrada srie Cadernos de Altos Estudos. Depois de dois anos de estudos, discusses e anlises, o texto final rene todas as questes relacionadas ao tema e as apresenta ao leitor de forma clara e objetiva, convergindo para uma concluso fortemente compromissada com a defesa dos interesses nacionais. O profundo impacto causado pela coerncia e originalidade da proposio elaborada no mbito do Conselho de Altos Estudos confirma a atitude vigilante da Cmara dos Deputados em relao funo de oferecer ao Pas o que h de mais atual e significativo nos debates acerca das grandes questes nacionais. Esta publicao mais um exemplo da competncia tcnica e da sensibilidade poltica dos trabalhos intelectuais produzidos pelos parlamentares e servidores que os assessoram.

Deputado Michel Temer Presidente da Cmara dos Deputados

Apresentao Apresentao

Prefcio

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PrefcioA explorao racional, lcida e soberana da riqueza gerada pelo petrleo um dos maiores desafios que o Brasil ter pela frente nos prximos anos. A descoberta da enorme reserva localizada no litoral sudeste do Pas trouxe para a agenda nacional a discusso sobre como extrair o petrleo e que destinao deve ser dada aos lucros advindos de sua utilizao. O ingresso no clube dos grandes produtores mundiais de hidrocarbonetos colocou no horizonte prximo a perspectiva de uma rpida e profunda transformao dos padres de desenvolvimento experimentados at hoje pela Nao. Em funo das decises polticas tomadas, poderemos dar um salto qualitativo indito na direo de uma independncia econmica consistente e duradoura, sustentada na ampliao concreta das oportunidades de trabalho e renda para toda a populao. A riqueza do petrleo poder ou no se converter em cidadania plena. E disso que trata esse estudo que o Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica oferece ao pblico. O novo volume dos Cadernos de Altos Estudos contm o resultado de um rduo trabalho de pesquisa, que sintetiza, de forma clara e coerente, as principais questes envolvidas na definio dos critrios que nortearo a explorao das jazidas do Pr-Sal. No parece sensato manter o atual marco legal, baseado exclusivamente no regime de concesso, uma vez que a prvia identificao das reas de explorao elimina os riscos inerentes quela modalidade de contrato. Da perspectiva dos cidados e das geraes futuras, faz mais sentido criar um mecanismo que, semelhana daqueles praticados em diversos pases, estabelea um contrato de partilha da produo capaz de destinar ao Estado brasileiro os maiores benefcios da explorao de uma riqueza que pertence a toda a coletividade. A melhor forma de administrar esse novo contrato a criao de uma pequena empresa pblica, cujo objetivo ser estabelecer condies para que a concorrncia entre as empresas petrolferas se traduza em maiores benefcios para a populao brasileira. Esse trabalho desenvolvido no mbito do Conselho de Altos Estudos prope um novo marco legal que colocar nas mos do Estado a deciso sobre a aplicao da maior parte da riqueza gerada pelo petrleo extrado do Pr-Sal. Em vez de simplesmente transferir essa riqueza para empresas ou acionistas internacionais, os lucros gerados podero financiar grandes investimentos em educao, sade, pesquisa, infraestrutura, saneamento e defesa, sem falar de vastos programas sociais capazes de erradicar de uma vez por toda a misria que aflige parte dos brasileiros e que tanto nos envergonha.

Prefcio

Prefcio

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A transformao em aes de governo da proposio que nasceu do presente estudo poder ser um divisor de guas na trajetria nacional se todo o potencial financeiro contido nas guas profundas que guardam o petrleo for convertido em recursos materiais e humanos para a edificao de uma sociedade prspera e justa com as feies do povo brasileiro. Estamos diante de uma oportunidade histrica, e os leitores desta publicao tm em mos um estudo altura da gigantesca tarefa que se avizinha.

Deputado Inocncio Oliveira Presidente do Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica da Cmara dos Deputados

1 Introduo

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1 | IntroduoEste estudo tem como objetivo analisar os desafios tcnicos, econmicos e institucionais relacionados com a explorao da provncia petrolfera denominada Pr-Sal, apresentar uma descrio do atual marco legal do setor petrolfero e propor alteraes nesse marco. Os dados atuais indicam a ocorrncia de grandes reservatrios de petrleo e gs natural abaixo de uma camada de sal que deve se estender, pelo menos, do litoral do Esprito Santo at o litoral de Santa Catarina. Essa camada tem aproximadamente 800 km de comprimento e, em algumas reas, 200 km de largura; a maior parte dos reservatrios deve estar em lminas de gua superiores a 2.000 m. Estima-se que a rea da provncia do Pr-Sal seja de cerca de 112 mil km2. Desse total, 41 mil km2 j esto sob concesso. Esses reservatrios foramHistria geolgica de 122 milhes de anos, quando Pr-sal formados h cerca existia um ambiente lacustre em uma pequena faixa de mar que se abriu entre a CONFIDENCIAL Amrica e a frica, conforme mostrado na Figura 1.1.

122 Milhes de anos atrs

Figura 1.1 Planeta Terra h 122 milhes de anos Fonte: Hayashi, 2008

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Com a separao das placas americana e africana, comeou intensa entrada de gua do mar que, em um ambiente quente, vaporizava-se e o sal passou a se depositar sobre os sedimentos orgnicos. Com a contnua separao dessas placas, esses sedimentos foram sendo enterrados a grandes produndidades e submetidos a elevada presso e temperatura, o que propiciou a gerao do petrleo e do gs

Introduo

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Introduo

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natural do Pr-Sal. A Figura 1.2 mostra um perfil geolgico esquemtico das camadas geolgicas na provncia do Pr-Sal.1 A descoberta do Pr-Sal resultado de um processo de anos de esforos da Petrobrs e da Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis ANP. At o momento, a Petrobrs a empresa operadora da maioria dos blocos j concedidos. No entanto, outras empresas, como a ExxonMobil e a Anadarko, sero tambm operadoras em campos da provncia do Pr-Sal. Em razo de a provncia do Pr-Sal ser uma grande riqueza natural, o Estado brasileiro est diante de enormes desafios para explor-la de forma coerente e em benefcio de toda a sociedade.

gua do mar

Camadas sedimentares

Camadas de sal

Camadas do pr-sal

Figura 1.2 Perfil geolgico esquemtico da provncia do Pr-Sal Fonte: Petrobrs, 2008

1

Disponvel em http://www2.petrobras.com.br/portal/frame.asp?area=apetrobras&lang=pt&pagina=/Petrobras/portugues/area_tupi.asp1

2 marco legal do Atualsetor petrolfero

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2 | Atual marco legal do setor petrolfero 2.1 | A Constituio Federal de 1988 e a Emenda n 9A Carta Magna de 1988, em seu art. 176, deixou clara a opo pelo regime dominial e pela concesso administrativa para explorao dos recursos minerais, in verbis:Art. 176. As jazidas, em lavra ou no, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidrulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de explorao ou aproveitamento, e pertencem Unio, garantida ao concessionrio a propriedade do produto da lavra.

Destaque-se, contudo, que esse artigo aplica-se explorao de energia hidrulica e aos recursos minerais, excetuados aqueles que so monoplio da Unio. Os Constituintes de 1988 estabeleceram o regime especial de aproveitamento do petrleo, do gs natural e dos minerais nucleares no art. 177, que foi alterado pela Emenda Constitucional n 9, de 9 de novembro de 1995. Antes dessa Emenda, o monoplio da Unio estava submetido s seguintes regras constitucionais:Art. 177. Constituem monoplio da Unio: I a pesquisa e a lavra das jazidas de petrleo e gs natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II a refinao do petrleo nacional ou estrangeiro; III a importao e exportao dos produtos e derivados bsicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV o transporte martimo do petrleo bruto de origem nacional ou de derivados bsicos de petrleo produzidos no Pas, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petrleo bruto, seus derivados e gs natural de qualquer origem; V a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrializao e o comrcio de minrios e minerais nucleares e seus derivados. 1 O monoplio previsto neste artigo inclui os riscos e resultados decorrentes das atividades nele mencionadas, sendo vedado Unio ceder ou conceder qualquer tipo de participao, em espcie ou em valor, na explorao de jazidas de petrleo ou gs natural, ressalvado o disposto no art. 20, 1.

Atual marco legal do setor petrolfero

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Observa-se, ento, que o texto original da Constituio de 1988 impedia qualquer cesso ou concesso por parte da Unio de qualquer atividade do setor petrolfero, exceo das atividades de distribuio. Manteve-se, assim, a possibilidade de a Unio, por meio da Petrobrs, nos termos da Lei n 2.004, de 3 de outubro de 1953, continuar exercendo o monoplio estatal do petrleo. No entanto, na dcada de 90, houve uma alterao do texto constitucional relativo ao setor petrolfero. O esprito dessa mudana, materializado no texto da Emenda Constitucional n 9, foi a flexibilizao do monoplio do petrleo. Essa emenda introduziu a possibilidade de a Unio contratar com empresas estatais ou privadas a explorao e a produo de petrleo e gs natural. Essa emenda deu nova redao ao art. 177, in verbis:Art. 177. Constituem monoplio da Unio: I a pesquisa e a lavra das jazidas de petrleo e gs natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II a refinao do petrleo nacional ou estrangeiro; III a importao e exportao dos produtos e derivados bsicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV o transporte martimo do petrleo bruto de origem nacional ou de derivados bsicos de petrleo produzidos no Pas, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petrleo bruto, seus derivados e gs natural de qualquer origem; V ........................................................................................................................ 1 A Unio poder contratar com empresas estatais ou privadas a realizao das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condies estabelecidas em lei. 2 A lei a que se refere o 1 dispor sobre: I a garantia do fornecimento dos derivados de petrleo em todo o territrio nacional; II as condies de contratao; III a estrutura e atribuies do rgo regulador do monoplio da Unio. 3 ........................................................................................................................

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2.2 | A Lei n 9.478/1997A partir dos novos ditames do art. 177 da Constituio Federal, promulgou-se a Lei n 9.478, de 6 de agosto de 1997, tambm conhecida como Lei do Petrleo. Essa lei instituiu o Conselho Nacional de Poltica Energtica CNPE e a Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis ANP, alm de estabelecer a atual poltica do setor petrolfero nacional. Os arts. 3 ao 5 da Lei n 9.478/1997 dispem sobre o exerccio do monoplio da Unio nos seguintes termos:Art. 3 Pertencem Unio os depsitos de petrleo, gs natural e outros hidrocarbonetos fluidos existentes no territrio nacional, nele compreendidos a parte terrestre, o mar territorial, a plataforma continental e a zona econmica exclusiva. Art. 4 Constituem monoplio da Unio, nos termos do art. 177 da Constituio Federal, as seguintes atividades: I a pesquisa e lavra das jazidas de petrleo e gs natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II a refinao de petrleo nacional ou estrangeiro; III a importao e exportao dos produtos e derivados bsicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV o transporte martimo do petrleo bruto de origem nacional ou de derivados bsicos de petrleo produzidos no Pas, bem como o transporte, por meio de conduto, de petrleo bruto, seus derivados e de gs natural. Art. 5 As atividades econmicas de que trata o artigo anterior sero reguladas e fiscalizadas pela Unio e podero ser exercidas, mediante concesso ou autorizao, por empresas constitudas sob as leis brasileiras, com sede e administrao no Pas.

Observa-se uma diferena entre o art. 177 da Constituio Federal e a Lei n 9.478/1997. Enquanto a Constituio dispe que a Unio poder contratar a pesquisa e a lavra das jazidas, a Lei n 9.478/97, conforme mostrado, estabelece que a pesquisa e a lavra sero reguladas e fiscalizadas pela Unio e podero ser exercidas por empresas mediante concesso ou autorizao. Ressalte-se, no entanto, que o art. 23 dessa mesma lei dispe de modo diferente, tanto do seu art. 5 quanto da Constituio Federal, in verbis:

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Art. 23. As atividades de explorao, desenvolvimento e produo de petrleo e de gs natural sero exercidas mediante contratos de concesso, precedidos de licitao, na forma estabelecida nesta Lei.

O art. 23, em vez de usar a expresso pesquisa e lavra de jazidas, usa a expresso explorao, desenvolvimento e produo e estabelece que essas atividades sero exercidas mediante contratos de concesso. Assim, a expresso A Unio poder contratar, prevista no 1 do art. 177 da Constituio, deixa de ser opcional, uma vez que o art. 23 da Lei n 9.478/97 obriga a Unio a conceder as reas a serem exploradas. Alm disso, o art. 26 da Lei n 9.478/97 dispe que do concessionrio o petrleo ou gs natural extrados, nos seguintes termos:Art. 26. A concesso implica, para o concessionrio, a obrigao de explorar, por sua conta e risco e, em caso de xito, produzir petrleo ou gs natural em determinado bloco, conferindo-lhe a propriedade desses bens, aps extrados, com os encargos relativos ao pagamento dos tributos incidentes e das participaes legais ou contratuais correspondentes.

Depreende-se, ento, que a Lei n 9.478/97 limitou o monoplio da Unio na explorao e produo de petrleo e gs natural. Dessa forma, a Unio, para pesquisar e lavrar esses recursos naturais, fica obrigada a assinar contratos de concesso, e o produto da lavra passa a ser propriedade do concessionrio. Tambm importante ressaltar a lacuna existente na Lei n 9.478/97, em relao unitizao de campos que se estendam de reas concedidas por reas no licitadas. Essa lei prev apenas acordos para individualizao da produo de campos que se estendam por blocos concedidos, nos seguintes termos:Art. 27. Quando se tratar de campos que se estendam por blocos vizinhos, onde atuem concessionrios distintos, devero eles celebrar acordo para a individualizao da produo. Pargrafo nico. No chegando as partes a acordo, em prazo mximo fixado pela ANP, caber a esta determinar, com base em laudo arbitral, como sero equitativamente apropriados os direitos e obrigaes sobre os blocos, com base nos princpios gerais de Direito aplicveis.

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3 do pr-sal Dados

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3 | Dados do pr-salA Figura 3.1 mostra a rea onde podem estar localizados os grandes reservatrios da provncia petrolfera do Pr-Sal e os blocos exploratrios j concedidos, os campos de petrleo e gs em produo na camada ps-sal, os poos perfurados e os poos testados (Nepomuceno, 2008). Segundo a Petrobrs, uma rea chamada de cluster, tambm indicada na Figura 3.1, deve apresentar grandes volumes de petrleo recupervel. A Petrobrs j perfurou dezesseis poos exploratrios no Pr-Sal e todos eles indicaram a presena de leo. No Campo de Jubarte, localizado na rea no norte da Bacia de Campos, a Petrobrs iniciou, em setembro de 2008, um teste de longa durao no poo 1-ESS-103A, que est produzindo 15 mil barris por dia a partir de um reservatrio localizado abaixo das camadas de sal. A Figura 3.2 detalha os blocos j concedidos e os oito poos perfurados na rea do cluster (Nepomuceno, 2008). Mostra-se a seguir alguns dados e resultados do teste relativos ao poo RJS-628: bloco: BM-S-11; tipo: vertical; tipo de reservatrio: carbonato microbial (microbiolito) de alto ndice de produtividade; vazo de leo: 4.900 barris de petrleo por dia; vazo de gs: 150 mil metros cbicos por dia; abertura: 5/8 de polegada; comportamento de presso: estvel.

Dados do pr-sal

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800 km Cluster

Figura 3.1 Desenho esquemtico da provncia petrolfera do Pr-Sal Fonte: Formigli, 2008 (adaptado)

Figura 3.2 Detalhamento da rea do cluster na Bacia de Santos Fonte: Nepomuceno, 2008

A Figura 3.3 detalha ainda mais a rea do cluster2 e mostra os blocos j concedidos e os blocos que foram retirados da Nona Rodada de Licitaes, conforme Resoluo n 6, de 8 de novembro de 2007, do CNPE.

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Mapa da nona rodada de licitaes elaborado pela Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis (com adaptaes).2

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Figura 3.3 Detalhamento dos blocos da rea do cluster Fonte: ANP, 2007

A Petrobrs a empresa operadora de todos os blocos exploratrios da rea do cluster mostrada na Figura 3.3, exceo do Bloco BM-S-22, em uma rea chamada de Azulo, cuja operadora a Exxon Mobil. A Petrobrs estima que Tupi tenha um volume de leo recupervel de 5 a 8 bilhes de barris de petrleo equivalente. No prospecto de Iara, o volume de leo recupervel seria de 3 a 5 bilhes de barris equivalentes de petrleo. Tanto Tupi como Iara esto localizados no Bloco BM-S-11. Outro importante Bloco o BM-S-52, onde a BG divulgou a descoberta no Pr-Sal em uma rea denominada Corcovado. Registre-se que essa rea est fora da rea azul mostrada na Figura 3.1 Depreende-se, ento, que a rea do Pr-Sal concebida pela Petrobrs carece de maior preciso. Esse fato permite imaginar que a rea do Pr-Sal pode ser maior que a rea azul mostrada na Figura 3.1. A Tabela 3.1 mostra a composio acionria dos vencedores da licitao dos blocos do cluster.

Dados do pr-sal

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Tabela 3.1 Composio dos consrcios na rea do clusterBLOCO BM-S-8 BM-S-9 BM-S-10 BM-S-11 BM-S-17 BM-S-21 BM-S-22 BM-S-24 BM-S-42 BM-S-50 BM-S-52 Corcovado Jpiter Caramba NOME ANP Bem-te-vi Carioca Parati Tupi e Iara PARCERIAS BR (66%), SHELL (20%), PETROGAL (14%) BR (45%), BG (30%), REPSOL (25%) BR (65%), BG (25%), PARTEX (10%) BR (65%), BG (25%), PETROGAL (10%) BR (100%) BR (80%), PETROGAL (20%) ESSO (40%), AMERADA (40%), BR (20%) BR (80%), PETROGAL (20%) BR (100%) BR (60%), BG (20%), REPSOL (20%) BR (60%), BG (40%)

Fonte: Formigli, 2007 (adaptado) Fonte: Formigli, 2007 (adaptado)

A Exxon Mobil Esso j perfurou, com sucesso, o primeiro poo exploratrio no Bloco BM-S-22. No entanto, no foi divulgada nenhuma estimativa de petrleo recupervel nesse Bloco. A Petrobrs, com 20% de participao, tambm compe o consrcio que vai explorar Bloco BM-S-22, conforme mostrado na Tabela 3.1. J foram aprovados pela ANP planos de avaliao para as seguintes reas: Parati 1-RJS-617, Tupi 1-RJS-628, Carioca 1-SPS-50, Caramba 1-SPS-51, Guar 1-SPS-55. A rea de Tupi, no Bloco BM-S-11, a que est em fase mais adiantada. Os planos de avaliao das reas de Bem-Te-Vi 1-SPS-52, Jpiter 1-RJS652 e Iara 1-RJS-656 esto em negociao. A Figura 3.4 detalha a rea de Tupi, localizada no Bloco BM-S-11. Como j citado, a Petrobrs estima que nesses campos podem ser recuperados de 5 a 8 bilhes de barris de petrleo equivalente. A rea total do plano de avaliao de Tupi de 1.974 km2. O principal reservatrio do Pr-Sal chamado de sag. Dois outros reservatrios foram encontrados abaixo da camada de sal: rift e coquinas. A rea de Tupi est localizada em guas de cerca de 2.200 m de lmina de gua, com camadas de sal de 2.000 m de espessura. Os poos testados indicam vazes potenciais de 15 a 20 mil barris de leo por dia e as seguintes caractersticas: grau API de 28o a 30o; a viscosidade de 1 cP; a razo gs-leo de cerca de 230 m3/m3

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e presso inicial do reservatrio de 580 kgf/cm2. Ressalte-se ainda a presena de 8% a 12% de CO2 no gs associado e a possibilidade de deposio orgnica nas tubulaes.

Figura 3.4 Detalhamento da rea de Tupi Fonte: Formigli, 2008

Na rea de Tupi Sul, foram iniciados, em maio de 2009, testes de longa durao de dois poos conectados a uma unidade flutuante de produo e armazenamento FPSO. Ser testado um poo de cada vez para investigar o comportamento do reservatrio. Um piloto de produo est programado para dezembro de 2010. Nesse piloto, cinco poos produtores, dois poos injetores de gua e um poo injetor de gs sero conectados a um FPSO com capacidade de 100 mil barris de leo por dia e 4 milhes de metros cbicos de gs por dia. O piloto est programado para iniciar a operao em dezembro de 2010, com injeo de gs natural e gua, e com reinjeo do CO2. O principal objetivo desse piloto investigar esses mecanismos de recuperao secundria. O gs natural produzido ser escoado para o campo de Mexilho. A rea do plano de avaliao do prospecto de Iara, mostrado na Figura 3.5, de 300 km2. Como j mencionado, as estimativas preliminares feitas pela Petrobrs indicam um volume recupervel de 3 a 4 bilhes de barris de petrleo equivalente. A profundidade da gua de 2.230m e o reservatrio est a uma distncia de 6.080m da superfcie do mar. O grau API do leo de 26 a 30.

Dados do pr-sal

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Em apresentao feita no encerramento da Conferncia Rio Oil & Gas 2008, o presidente da Petrobrs declarou que Dadas as informaes que temos hoje, achamos que, provavelmente, em Tupi estaremos contidos dentro do bloco, e em Iara, provavelmente estaremos fora do bloco (Azevedo, 2008). Assim, no caso de Iara, o campo deve se estender da rea licitada por reas no licitadas.

Iara

Figura 3.5 Detalhamento da localizao do prospecto de Iara Fonte: Petrobras, 2008

Relacionamento com Investidores I E-mail: [email protected] / [email protected] Av. Repblica do Chile, 65 - 2202 - B - 20031-912 - Rio de Janeiro, RJ I Tel.: 55 (21) 3224-1510 / 9947 I 0800-282-1540

Outra rea de grande potencial da provncia do Pr-Sal localiza-se no norte da Bacia de Campos, no litoral do Esprito Santo. Uma regio denominada Parque das Baleias, onde est o campo de Jubarte, considerada pela Petrobrs como um novo polo do Pr-Sal. Nessa regio, alm de Jubarte, foram descobertos os campos de Cachalote, Baleia Azul, Baleia Franca e Baleia An. A Figura 3.6 mostra a regio do Parque das Baleias, onde j foram perfurados seis poos que atravessaram a mais informaes:www.petrobras.com.br/ri S. A. PETROBRAS camada de sal. BRASILEIRO Para PETRLEO Segundo estimativas da Petrobrs (Barbassa, 2008), o volume recupervel das descobertas, feitas em reservatrios do Pr-Sal, localizados abaixo dos campos de leo pesado de Baleia Franca, Baleia Azul e Jubarte, de 1,5 a 2 bilhes de barris de petrleo equivalente. As reservas totais do Parque das Baleias, incluindo-se os reservatrios acima da camada de sal, seriam de 3,5 bilhes de barris. A principal vantagem que, nessa regio, a camada de sal menos espessa que no cluster da Bacia de Santos, chegando a ter apenas 200 metros de espessura.

ode conter previses que refletem apenas expectativas dos administradores da Companhia. Os termos antecipa, acredita, espera, prev, pretende, planeja, projeta, , bem como outros termos similares, visam a identificar tais previses, as quais, evidentemente, envolvem riscos ou incertezas previstos ou no pela Companhia. Portanto, ros das operaes da Companhia podem diferir das atuais expectativas, e o leitor no deve se basear exclusivamente nas informaes aqui contidas.

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Alm disso, os reservatrios so menos profundos e mais prximos da costa, cerca de 80 km. Em setembro de 2008, a Petrobrs divulgou a produo do primeiro leo do Pr-Sal, a partir da produo do poo 1-ESS-103A, mostrado na Figura 3.6. O potencial de produo desse poo de 18 mil barris por dia. O leo produzido leve, apresentando cerca de 30 API. Foram investidos aproximadamente US$ 50 milhes em adaptaes na planta de processo da plataforma, na completao do poo e na interligao do poo ao FPSO JK (P-34).

Figura 3.6 Detalhamento do Parque das Baleias Fonte: Nepomuceno, 2008

O teste de longa durao que est sendo feito a partir do poo 1-ESS-103A tem o objetivo de observar e analisar as condies do leo do Pr-Sal, tanto no reservatrio quanto na unidade de processo da plataforma. Esse teste deve durar de seis meses a um ano. Em outubro de 2008, a empresa americana Anadarko anunciou a descoberta de leo abaixo da camada de sal, tambm no norte da Bacia de Campos, por meio do poo 1-APL-1-ESS, perfurado no Bloco BM-C-30. A Figura 3.7 mostra a localizao do Bloco BM-C-30. Esse poo est localizado em lmina de gua de 1.417 metros e a cerca de 40 km a sudeste do campo de Jubarte. A Anadarko a

Dados do pr-sal

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empresa operadora e detm 30% do bloco. As demais participantes do consrcio so a Devon (25%), EnCana Brasil (25%) e SK do Brasil (20%).

Figura 3.7 Localizao do Bloco BM-C-30, cuja operadora a Anadarko Fonte: ANP, 2007

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4 | Desafios tcnicosA provncia do Pr-Sal oferecer desafios tcnicos nunca antes vistos no setor. Para transformar as impressionantes estimativas apresentadas no captulo anterior em riqueza explorada ser necessrio superar diversas barreiras tcnicas em vrias reas que compem, direta e indiretamente, a cadeia de valor da atividade petrolfera. Entre as barreiras, podemos citar a exigncia de equipamentos de explorao que suportem elevadas presses e dutos que suportem altas temperaturas. Alm disso, espessas camadas de sal tero de ser perfuradas. Os desafios logsticos tambm sero grandes, pois as descobertas podem estar localizadas a mais de 300 km de distncia da costa. Com base em informaes divulgadas pela Petrobrs, os desafios que se apresentam para a explorao e o transporte do petrleo e do gs natural do Pr-Sal so:a) na rea de reservatrios: interpretao dos dados ssmicos; caracterizao dos reservatrios; viabilidade tcnica da injeo de gs e gua; geomecnica das rochas adjacentes; b) na engenharia de poos: desvio dos poos na rea do sal; fratura hidrulica em poos horizontais; materiais resistentes alta concentrao de CO2; baixa penetrao no reservatrio; deposio de produtos nas tubulaes longas; c) na logstica associada ao gs: tubulaes de alto dimetro a profundidades acima de 2.200 metros; longas distncias da costa (de at 300 km); novas tecnologias em alto-mar (Liquefied Natural Gas LNG, Compressed Natural Gas CNG, Gas to Liquid GTL e Gas to Wire GTW); d) nas unidades de produo flutuantes: atracamento em guas profundas; controle dos sistemas de nivelamento; novo cenrio de acesso aos poos pelas plataformas;

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e) na engenharia submarina: aperfeioamento na tubulao de subida (riser), considerando as altas presses e concentraes de CO2, devido profundidade da gua de 2.200 m; novas situaes para tubulaes ascendentes com novos materiais rgidos e conformaes tipo catenria em s lazy wave; melhoramentos da isolao trmica das tubulaes considerando a profundidade e tubulaes para injeo de gs a altas presses (Formighi, 2007).

A explorao de petrleo na provncia do Pr-Sal demandar novas plataformas de produo, embarcaes de apoio e sondas de perfurao (Lima, 2008)3. Com relao apenas aos investimentos da principal empresa exploradora de petrleo no pas, esto previstos investimentos muito significativos4. Na rea de embarcaes, as aquisies incluem a contratao de 40 navios-sonda e plataformas de perfurao semissubmersveis, das quais 28 construdas no pas e, ainda, 234 navios, dos quais 70 de grande porte. Como pode se depreender dos nmeros apresentados, a entrega dos equipamentos e unidades ter importncia preponderante para a consecuo do cronograma de explorao, especialmente porque a construo de plataformas e navios ensejam demorados prazos de planejamento e de execuo. Outro fator restritivo o limitado nmero de empresas que operam no setor. Sendo impraticvel a ampliao, no curto prazo, do nmero de empresas de construo naval, podero ter papel de suma importncia os esforos voltados para a formao e qualificao de recursos humanos, a pesquisa e desenvolvimento e a capacitao tecnolgica das empresas existentes no Brasil

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LIMA, Paulo Csar Ribeiro. Pr-sal. Cmara dos Deputados, 2008. Disponvel em: http://intranet2. camara.gov.br/ internet/ fiquePorDentro/Temasatuais/presal/documento-de-referencia-da-consultorialegislativa-1. Acesso em: 17 out. 2008. 4 Informaes apresentadas pelo presidente da Petrobrs na Rio Oil and Gas 2008, o evento mais importante do setor.3

5 econmicos Desafios

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5 | Desafios econmicosNa fase inicial, os custos de extrao de petrleo e gs natural na provncia petrolfera do Pr-Sal devem ser maiores que os dos reservatrios localizados acima da camada de sal, cuja tecnologia plenamente dominada pelas empresas, especialmente pela Petrobrs. O custo mdio de extrao de petrleo pela Petrobrs tem sido de aproximadamente US$ 10 por barril, excludas as participaes governamentais. Admitindo-se que no Pr-Sal o custo de extrao seja 50% maior que o atual, esse custo seria, ento, de U$ 15 por barril. A Figura 5.1 mostra os ltimos custos mdios trimestrais da Petrobrs para extrao do petrleo, com e sem participao governamental. Do primeiro semestre de 2007 ao segundo trimestre de 2008, o custo de extrao aumentou de cerca de US$ 8 por barril para quase US$ 10 por barril. Registre-se que o preo mdio do barril de petrleo no ano de 2007 foi de US$ 64,40, enquanto no primeiro semestre de 2008 foi de US$ 112,19. Essa elevao nos preos fez com que houvesse um grande aumento na arrecadao da participao governamental. Principalmente em razo da elevao dos preos, o custo de extrao da Petrobrs aumentou de pouco mais de US$ 16 por barril para cerca de US$ 31 por barril, includos nesse custo os royalties e a participao especial.35

US$/Barril

30 25 20 15 10 5 0 1T07 2T07 3T07 4T07 1T08 2T08

Trimestre / anoCusto de extrao sem participao governamental Custo de extrao com participao governamental

Figura 5.1 Custo trimestral de extrao de petrleo (US$ por barril) Fonte: Petrobrs, 2008

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De acordo com a Figura 5.1, preos na faixa de US$ 60 a US$ 70 por barril gerariam custos de extrao pela Petrobrs, includa a participao governamental, de cerca de US$ 18 por barril. Caso o barril de petrleo viesse a ter um preo de US$ 35, haveria uma forte reduo tanto nos royalties como na participao especial. Assim, mesmo com um preo de US$ 35 por barril, a produo de petrleo pela Petrobrs continuaria rentvel. No caso da provncia do Pr-Sal, admitindo-se um custo de extrao de US$ 15 por barril, mesmo um preo de mercado de US$ 40 por barril ainda garantiria a rentabilidade da extrao. De 1970 a 2007, o preo mdio do petrleo, ajustado pela inflao, foi de US$ 40,85. Como existe uma tendncia de aumento da demanda maior que o aumento da oferta, provvel que o preo mdio nas prximas dcadas seja superior a US$ 40 por barril. Dessa forma, a explorao de petrleo e gs natural do Pr-Sal tem grande probabilidade de ser exitosa. A Figura 5.2 mostra a evoluo dos preos do petrleo de 1970 a 2007.120 100 80 60 40 20 0 1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006

Figura 5.2 Evoluo dos preos do petrleo (US$ por barril) de 1970 a 2007 Fonte: Inlationdata.com, 2008

5.1 | Investimentos da PetrobrsNo Plano de Negcios para o perodo de 2009 a 2013, a Petrobrs anunciou investimentos totais de US$ 174,4 bilhes. Desse total, US$ 104 bilhes sero investidos na rea de explorao e produo. Cerca de US$ 28 bilhes sero investidos no desenvolvimento da provncia do Pr-Sal. A Petrobrs projeta investimentos anuais de mais de US$ 30 bilhes nos prximos cinco anos. Para 2009, a companhia divulgou ter conseguido os recursos: US$ 11,9 bilhes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

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(BNDES), US$ 5 bilhes de outras instituies financeiras e o restante do prprio caixa. Para os investimentos previstos para o ano de 2010, US$10 bilhes viro do BNDES e, pelo menos, US$ 16 bilhes do prprio caixa. No entanto, essa gerao prpria poder crescer com o aumento do preo do barril. A partir de 2011, a Petrobrs talvez possa contar com maior oferta de crdito externo. A produo inicial de leo do Pr-Sal na Bacia de Santos ocorrer por meio de navios flutuantes de produo e estocagem (FPSOs). Inicialmente, o gs natural ser transportado por gasodutos at a costa. At 2014, sero instalados seis FPSOs nos blocos do Pr-Sal das Bacias de Santos e do Esprito Santo, sem contar as unidades dos testes de longa durao (TLD). A Petrobrs estima que, em 2013, a provncia do Pr-Sal j estar produzindo 219 mil barris de petrleo por dia. Em 2020, a Petrobrs e seus parceiros devero estar produzindo 1,815 milho de barris por dia apenas no Pr-Sal.

5.2 | Tributao e participao governamentalNo ano de 2007, a Petrobrs recolheu tributos prprios e de terceiros no valor total de R$ 80,142 bilhes. Esse valor corresponde a 47% de sua receita operacional lquida, que, nesse mesmo ano, foi de R$ 170,578 bilhes. Destaque-se, contudo, que boa parte desses R$ 80,142 bilhes decorre de tributos sobre o consumo de derivados, como o imposto sobre circulao de mercadorias e a contribuio de interveno no domnio econmico. Menos da metade desse valor decorreu da produo de petrleo propriamente dita. Especificamente sobre a produo de petrleo incidem, principalmente, os royalties, a participao especial, a contribuio social sobre o lucro lquido e o imposto de renda. Estima-se que, em 2007, esses tributos e participaes governamentais foram de R$ 39,157 bilhes. Dessa forma, se o petrleo produzido pela Petrobrs, ou por qualquer outra empresa, fosse exportado, seriam arrecadados pelo Estado brasileiro, em mdia, cerca de 23% da receita operacional lquida. Esse percentual muito pequeno

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quando comparado com os percentuais praticados por pases exportadores, onde a participao do Estado chega a ser maior que 60%. No caso do petrleo produzido em blocos do Pr-Sal j concedidos, poderia ser estabelecida uma alquota de exportao sobre o leo cru. Essa alquota poderia ser crescente e comear a incidir daqui a alguns anos. Dessa forma, as empresas que forem desenvolver campos do Pr-Sal, cientes da cobrana do imposto de exportao, poderiam iniciar seus movimentos no sentido de refinar o petrleo do Pr-Sal no Brasil.

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6 | Desafios institucionaisA principal fonte de informao do setor petrolfero brasileiro o Banco de Dados de Explorao e Produo (BDEP), gerenciado pela ANP e operado pela Halliburton. O acesso ao BDEP pblico, mas no gratuito. Somente empresas multinacionais so assinantes do BDEP. Registre-se que a Petrobrs no assinante do BDEP. Registre-se, ainda, que a Empresa de Pesquisa Energtica (EPE) no tem acesso gratuito ao BDEP. Essa empresa pblica foi criada pela Lei n 10.847, de 15 de maro de 2004, com a finalidade de prestar servios na rea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energtico, tais como energia eltrica, petrleo e gs natural e seus derivados, carvo mineral, fontes energticas renovveis e eficincia energtica. A Cmara dos Deputados, uma das Casas do Congresso Nacional, que o titular do controle externo brasileiro, tambm no tem acesso ao BDEP. Dessa forma, o planejamento energtico e propostas de polticas pblicas do Poder Legislativo para a explorao do Pr-Sal tm sido feitas sem o principal banco de dados do setor petrolfero nacional. Ressalte-se tambm que a ANP sequer disponibiliza os contratos de concesso para a explorao de um bem pblico, que o petrleo. Sugere-se que o BDEP passe a ser administrado por um rgo de Estado e no por um rgo regulador. Nesse caso, os estudos geolgicos tambm passariam a ser feitos por esse rgo, de modo a fornecer os dados tcnicos para embasar as decises do CNPE, quando da formulao da poltica pblica do setor petrolfero. Prope-se, ainda, que essa poltica, manifestada, principalmente, na definio das reas a serem licitadas e nas condies da licitao, seja submetida aprovao da Cmara dos Deputados e do Senado Federal. Atualmente, em razo da ausncia de informaes por parte da ANP, rgos tcnicos da Cmara dos Deputados e a prpria EPE recorrem a artigos de revistas especializadas para proposio de polticas pblicas. Uma dessas revistas levantou a possibilidade de o Brasil vir a ter uma das maiores reservas de petrleo do mundo (Berman, 2008). Apenas em alguns blocos do

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cluster, mostrado na Figura 3.1, poderia haver um volume de leo recupervel de 55 bilhes de barris. Esse volume muito maior que as atuais reservas brasileiras, que so de aproximadamente 14 bilhes de barris de petrleo equivalente. Tambm importante destacar a possibilidade de haver grandes volumes de petrleo recupervel em reas no licitadas. Segundo o presidente da Petrobrs, muito provavelmente o campo descoberto no prospecto de Iara, mostrado na Figura 3.5, dever se estender da rea licitada por uma rea da Unio. O leo recupervel presente na rea no licitada um bem pblico, um bem da Unio. Dessa forma, a explorao do campo descoberto em Iara deve ser feita com a efetiva participao da Unio, que passaria a compor o conjunto de detentores de direitos e obrigaes desse campo. Nesse caso especfico, o campo foi descoberto por um consrcio formado pela Petrobrs (65%), BG (25%) e Petrogal (15%). O plano de desenvolvimento do campo de Iara deveria ser feito em conjunto com a Unio. Nesse contexto, sugere-se que a Unio seja representada por uma empresa pblica federal que atuaria tanto na fase do desenvolvimento quanto na fase de produo do campo. Haveria, ento, um acordo para individualizao da produo entre a Unio e as empresas do consrcio. Essa individualizao da produo tecnicamente denominada unitizao, em razo de o campo passar a ser tratado como uma unidade localizada em reas onde atuam diferentes detentores de direitos e obrigaes. Na unitizao, a Unio receberia uma receita proporcional ao volume de leo recupervel presente na rea no licitada. Nesse processo, a atuao de uma empresa pblica iria maximizar o retorno para a Unio da explorao do campo de Iara, ou de qualquer outro campo em situao semelhante. Assim, grandes poderiam ser os benefcios para o conjunto da sociedade brasileira. Registre-se que a Lei n 9.478/97 no prev a individualizao da produo de campos que se estendam de blocos licitados por reas no licitadas. Essa lei tambm estabelece que as atividades de explorao, desenvolvimento e produo de petrleo no Brasil s podem ocorrer mediante contratos de concesso. Dispe, ainda, que o produto extrado propriedade dos concessionrios.

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As reas distantes do cluster e as reas distantes dos reservatrios j descobertos abaixo da camada de sal no norte da Bacia de Campos poderiam ser licitadas nos termos da modalidade contratual de partilha de produo. Nesse tipo de contrato, um volume de leo correspondente ao lucro da explorao do campo seria dividido entre a Unio e o vencedor da licitao. A mesma empresa pblica que representasse a Unio em processos de unitizao de campos que se estendam de blocos licitados por reas no licitadas poderia representar a Unio como parte em contratos de partilha de produo. Registre-se que no deve caber Petrobrs atuar como representante da Unio, pois ela, alm de atuar no mercado como concessionria e ser operadora em igualdade de condies e em parceria com empresas privadas, tem cerca de 60% do seu capital social em mos privadas. Destaque-se tambm que estrangeiros detm cerca de 40% do capital social da Petrobrs. Ressalte-se, por fim, a importncia de o Estado estabelecer o ritmo de extrao da provncia do Pr-Sal. Nesse contexto, cabe salientar que, em razo da falta de substitutos, o petrleo deve apresentar altos preos nas prximas dcadas. No entanto, em decorrncia de seus efeitos ambientais e do desenvolvimento tecnolgico, o petrleo pode perder valor no futuro. Dessa forma, caso o petrleo do Pr-Sal no seja extrado nas prximas dcadas, ele corre o risco de continuar debaixo do mar, para nunca mais ser extrado.

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7 | Novo marco legalA Lei n 9.478/97 estabeleceu as condies para a contratao, entre outras, das atividades de pesquisa e lavra de petrleo e gs natural. Destaque-se, no entanto, que essa lei limita o exerccio do monoplio constitucional, previsto no art. 177 da Constituio Federal, pois obriga a Unio a assinar contratos de concesso para que se possa explorar e produzir petrleo ou gs natural no Brasil. Para regulamentar, de fato, esse artigo e resgatar os ditames da Emenda Constitucional n 9, que retirou da Petrobrs a exclusividade para explorao e produo de petrleo e gs, sugere-se que a Lei n 9.478/97 seja alterada, com o objetivo de dar Unio maior flexibilidade no exerccio do seu monoplio. Nesse novo marco, o petrleo e o gs natural poderiam ser explorados diretamente pela Unio, permitida a contratao de servios, por contratos de concesso ou por contratos de partilha de produo. Na contratao de servios, a prpria Petrobrs poderia realizar as atividades de pesquisa e lavra de petrleo e gs natural, sendo remunerada pela Unio, em razo dos trabalhos prestados. Os contratos de concesso j esto devidamente regulamentados pela Lei n 9.478/97, restando a incluso dos contratos de partilha. Nos contratos de partilha de produo, a Unio celebraria contratos com empresas estatais ou privadas para a execuo das atividades de pesquisa e lavra. Essas empresas e a Unio partilhariam os hidrocarbonetos produzidos ou seu valor monetrio. Ressalte-se, ainda, que a Lei n 9.478 no prev a possibilidade da explorao de um campo que se estenda de um bloco licitado por uma rea no licitada. Nesse caso, o novo marco legal deve prever a celebrao de acordos para a individualizao da produo entre a Unio e os detentores de direitos e obrigaes da rea concedida. Como j mencionado, no caso do prospecto de Iara, o campo descoberto deve se estender da rea licitada por rea no licitada. Os acordos de individualizao da produo e, em especial, os contratos de partilha de produo podero acelerar o ritmo de produo do Pr-Sal. Isso pode ser muito importante, pois, no futuro, como j mencionado, o petrleo poder perder valor no mercado.

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Tanto nos acordos de individualizao quanto nos contratos de partilha, a Unio poderia ser representada por uma empresa pblica, visto que a Petrobrs, com 60% do capital social em mos privadas, no teria legitimidade para exercer essa representao. As receitas advindas do exerccio direto do monoplio pela Unio, de acordos de individualizao da produo e de contratos de partilha de produo poderiam ser destinadas a um fundo especial, a ser distribudo entre todos os Estados, Territrios e Municpios; ao Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome; ao Ministrio da Educao; ao Ministrio de Minas e Energia; ao Ministrio da Cincia e Tecnologia; ao Ministrio da Sade; e ao Ministrio da Defesa.

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8 | ConclusesA descoberta da provncia do Pr-Sal, localizada na plataforma continental das Regies Sudeste e Sul, representa um novo marco na histria da indstria petrolfera brasileira. Sua descoberta resultado de um processo de anos de esforos da Petrobrs e da Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis ANP. Na rea de maior potencial do Pr-Sal, na Bacia de Santos, o leo est armazenado em reservatrios tipo carbonato microbial sob mais de 2 km de lmina de gua e sob espessa camada de sal. Nessa rea, apenas nos prospectos de Tupi e Iara, a estimativa feita pela Petrobrs de volume recupervel de petrleo equivalente de 8 a 12 bilhes de barris. No entanto, o volume total recupervel pode ser de mais de 50 bilhes de barris. A estatal j est produzindo petrleo do Pr-Sal nos campos de Tupi e Jubarte. Em Jubarte, a produo teve incio em setembro de 2008 e, em Tupi, em maio de 2009. Essa produo faz parte dos programas de teste de longa durao com vistas avaliao do comportamento dos reservatrios. Mais uma vez a Petrobrs, fruto de lutas histricas em defesa dos mais legtimos interesses nacionais, demonstra sua liderana tecnolgica e sua capacidade para enfrentar desafios. A ExxonMobil, a Anadarko e a BG tambm divulgaram descobertas de petrleo no Pr-Sal, mas ainda sem estimativas de petrleo recupervel. A descoberta da ExxonMobil foi prxima a Tupi; a da Anadarko no litoral do Esprito Santo, e a da BG na Bacia de Santos, em uma rea onde a Petrobrs no indicava a presena de reservatrios abaixo da camada de sal. No novo contexto trazido pelas descobertas ocorridas no Pr-Sal, o atual modelo de pesquisa e lavra de petrleo, disposto na Lei n 9.478/97, precisa ser reavaliado. Como j afirmado, essa lei estabeleceu a concesso como nico instrumento para se explorar e produzir petrleo e gs natural no Brasil. Nesse modelo, empresas petrolferas disputam os blocos, em leiles pblicos. O petrleo produzido das concessionrias, que, no entanto, pagam uma compensao financeira obrigatria, denominada royalty. Nos casos de grande volume de produo, ou de grande rentabilidade, h tambm o pagamento de uma participao especial.

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Alm disso, a Lei n 9.478/97 no dispe sobre a individualizao da produo de campos que se estendam de reas licitadas por reas no licitadas. A Unio, como titular de direitos e obrigaes de reas no licitadas, teria que participar do processo de individualizao da produo de campos que extrapolem as reas concedidas. Trata-se de condio necessria ao desenvolvimento de determinadas reas do Pr-Sal, como o prospecto de Iara. Na unitizao, o campo passa a ser tratado como uma unidade, de forma que o petrleo possa ser produzido com a maior eficincia possvel, e todos os detentores de direitos e obrigaes das reas onde ele est localizado tm que celebrar um acordo para individualizao da produo. Mantido o atual modelo brasileiro de tributos e participaes governamentais, se todo o petrleo do Pr-Sal fosse exportado, a participao do Estado brasileiro na renda petrolfera seria de cerca de 23%, percentual esse muito inferior ao dos pases exportadores. Uma possibilidade para aumentar esse percentual a instituio de alquotas crescentes de imposto de exportao incidente sobre o leo cru. Isso faria com que os produtores de petrleo tivessem maior interesse em refinar o petrleo no Brasil. A criao de uma empresa pblica para representar os interesses da Unio na provncia petrolfera do Pr-Sal afirma-se como opo capaz de maximizar o retorno para o Estado. Essa nova empresa pblica poderia atuar em nome da Unio tanto em processos de unitizao como em contratos de partilha de produo, capazes de acelerar o ritmo de produo do Pr-Sal. Registre-se que a Petrobrs, principal concessionria do Pas, tem cerca de 60% do seu capital social nas mos de investidores privados, sendo que os investidores estrangeiros detm aproximadamente 40% desse capital. Dessa forma, a Petrobrs no teria legitimidade para representar, unicamente, os interesses do Estado. Para que a Petrobrs pudesse representar o Estado em contratos de partilha de produo ou em acordos de invidualizao da produo de campos descobertos que se estendam por reas no licitadas, ela teria que ser transformada em uma empresa pblica. Nesse caso, no seria necessria a criao de uma nova empresa. Destaque-se, por fim, que se os investimentos em explorao so to vultosos, as necessidades de desenvolvimento de novas tecnologias e a demanda por empre-

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gos to altas, deveria haver por parte do poder pblico maior nfase em programas de formao e capacitao de recursos humanos, principalmente nas reas de geologia e engenharia.

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RefernciasAGNCIA NACIONAL DO PETRLEO, GS NATURAL E BIOCOMBUSTVEIS. reas sob concesso, blocos e setores oferecidos na nona rodada de licitaes. Ago. 2007. ______. Anurio Estatstico Brasileiro do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis 2008. Disponvel em: http://www.anp.gov.br/doc/anuario2008/T2.9.xls. Acesso em 05 nov. 2008. AZEVEDO, Jos Sergio Gabrielli. Apresentao. In: RIO OIL & GAS CONFERENCE. Rio de Janeiro: set. 2008. Disponvel em: http://www2.petrobras.com.br/ri/pdf/RioOilGas_Gabrielli.pdf. Acesso em: 17 out. 2008. NOS DOIS BARBASSA, Almir Guilherme. Descoberta de grandes volumes de leo leve no pr-sal do Esprito Santo. Fato Relevante da Petrobras. Rio de Janeiro: nov. 2008. BERMAN, Arthur. Three super-giant fields discovered in Brazils Santos Basin. In: World Oil: v. 229, n. 2, fev. 2008. FORMIGLI, Jos. Pre-Salt Reservoirs Offshore Brazil: Perspectives and Challenges. ENERGY CONFERENCE. Miami: nov. 2007. ______. Santos Basin Pre-Salt Cluster. In: RIO OIL & GAS CONFERENCE. Rio de Janeiro: set. 2008. HAYASHI, Mauro Yuji. Plano Diretor de Desenvolvimento do Polo Pr-Sal na Bacia de Campos. Frum Nacional de Secretrios de Estado para Assuntos de Energia. Set. 2008. INLATIONDATA.COM. Historical Crude Oil Prices Out. 2008. Tabela. LIMA, Paulo Csar Ribeiro. Pr-sal. Documentos produzidos Consultoria Legislativa Cmara dos Deputados, 2008. Disponvel em: http: //intranet2.camara.gov.br/ internet/ fiquePorDentro/ Temasatuais/presal/ documento-de-referencia-da-consultoria-legislativa-1. Acesso em: 17 out. 2008. _____. Um novo marco legal para pesquisa e lavra das jazidas brasileiras de petrleo e gs natural. Documentos produzidos Consultoria Legislativa Cmara dos Deputados, agosto 2008, 14 p.

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NEPOMUCENO, Francisco. Experincias da Petrobras no caminho do pr-sal. In: RIO OIL & GAS CONFERENCE. Rio de Janeiro: set. 2008. PETROBRAS. Petrleo Brasileiro S.A. Destaques operacionais Explorao e Produo Custo de Extrao. Fev. 2008. ______. Relevante Acumulao de leo no Pr-Sal da Bacia de Santos. FATO RELEVANTE. Set. 2008.

Referncias

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ANEXOProposio legislativa e justificao

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Proposio legislativa

PROJETO DE LEI N 4.565, DE 2008 (Dos Srs. Membros do Conselho de Altos Estudos e Avaliao Tecnolgica Inocncio Oliveira, Fernando Ferro, Paulo Teixeira, Ariosto Holanda, Flix Mendona, Jaime Martins, Professora Raquel Teixeira, Severiano Alves, Colbert Martins, Jos Genono, Waldir Maranho, Humberto Souto) Regulamenta o art. 177 da Constituio Federal, no que diz respeito ao monoplio da Unio das atividades de pesquisa e lavra das jazidas de petrleo e gs natural e outros hidrocarbonetos fluidos, e d outras providncias.

O Congresso Nacional decreta: Art. 1 Esta Lei regulamenta o art. 177, no que diz respeito ao monoplio da Unio das atividades de pesquisa e lavra das jazidas de petrleo e gs natural e outros hidrocarbonetos fluidos. Art. 2 A Lei n 9.478, de 6 de agosto de 1997, passa a vigorar com as seguintes alteraes:Art. 5 A Unio poder contratar com empresas estatais ou privadas a realizao das atividades previstas nos incisos I a IV do art. 4 desta Lei. 1 No caso de haver a contratao das atividades de que trata o caput deste artigo, a Unio ser responsvel pela regulao e fiscalizao.

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2 A atividade prevista no inciso I do art. 4 desta Lei poder ser realizada diretamente pela Unio, permitida a contratao de servios, ou mediante a celebrao de contratos de partilha de produo ou de concesso. 3 As atividades previstas nos incisos II a IV do art. 4 desta Lei podero ser exercidas mediante concesso ou autorizao. 4 No caso de reas estratgicas, de baixo risco exploratrio ou com grande potencial de produo de petrleo ou gs natural, as atividades previstas no inciso I do art. 4 desta Lei sero realizadas diretamente pela Unio, permitida a contratao de servios, ou mediante contratos de partilha de produo. 5 As empresas de que trata o caput deste artigo devem ser constitudas sob as leis brasileiras, com sede e administrao no Pas. (NR) Art. 23. As atividades de explorao, desenvolvimento e produo de petrleo ou de gs natural sero exercidas diretamente pela Unio, permitida a contratao de servios, ou mediante contratos de partilha de produo ou de concesso, precedidos de licitao. Pargrafo nico. A definio dos blocos a serem licitados pela Unio e a modalidade de contratao sero submetidas autorizao do Congresso Nacional. (NR) Art. 27. Quando se tratar de campos que se estendam por blocos vizinhos j licitados, onde atuem distintos vencedores dos processos licitatrios, devero eles celebrar acordo para a individualizao da produo. Art. 27-A Quando se tratar de campos que se estendam de blocos licitados por reas no licitadas, devero os vencedores dos processos licitatrios e a Unio, que poder ser representada por uma empresa pblica federal, celebrar acordo para a individualizao da produo. Art. 27-B No chegando as Partes a acordo nos casos previstos nos arts. 27 e 27-A, em prazo mximo fixado pelo rgo regulador, caber a este determinar, com base em laudo arbitral, como sero equitativamente apropriados os direitos e obrigaes sobre os blocos, com base nos princpios gerais de Direito aplicveis. (NR)

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Art. 3 Os contratos de partilha de produo sero celebrados entre a Unio e empresas estatais ou privadas para a execuo de trabalhos de explorao, desenvolvimento e produo. 1 A produo de petrleo e gs natural decorrente do contrato ser dividida entre as Partes do contrato, que so a Unio e a empresa contratada. 2 As Partes do contrato devero estabelecer as condies e os procedimentos para:I determinar a parcela da produo necessria para cobrir os custos de investimento e os custos de operao e manuteno; II repartir o lucro da produo entre a Unio e a empresa contratada; III transferir a parcela da produo de propriedade da Unio ou seu valor monetrio equivalente.

3 A Unio poder ser representada, como Parte do contrato de partilha de produo, por uma empresa pblica federal. Art. 4 Os contratos de partilha de produo sero precedidos de licitao pblica. 1 Os contratos sero celebrados entre a Unio e os vencedores da licitao. 2 O edital da licitao indicar:I o prazo e o procedimento da licitao; II as reas; III os trabalhos a serem realizados; IV o investimento mnimo; V os critrios de partilha da produo.

3 A critrio da Unio, o edital da licitao poder estabelecer que a produo somente poder ser vendida e processada em territrio brasileiro. Art. 7 O contrato de partilha de produo estabelecer:

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I a lista dos tipos de atividade das empresas e o programa de trabalhos obrigatrios, indicando prazos, escopos, condies de financiamento e tipos de equipamentos; II o nome das Partes; III a descrio da rea, incluindo as coordenadas geogrficas; IV o plano de restaurao de reas degradadas; V escopos e prazos para execuo dos trabalhos estabelecidos pelo contrato; VI os direitos e obrigaes das Partes; VII a produo estimada; VIII as condies de uso da produo; IX o procedimento para determinar o valor da produo; X os pontos de medio; XI a obrigao de entregar a produo em determinado ponto de medio; XII as condies para calcular a produo necessria para cobrir os custos; XIII a estrutura dos custos a serem reembolsados; XIV o procedimento e condies para partilha da produo e dos benefcios comerciais entre a Unio e as empresas contratadas; XV o procedimento e o prazo para transferir Unio sua parcela da produo; XVI o procedimento pelo qual a empresa obtm sua parcela da produo; XVII o procedimento para controlar a execuo dos trabalhos estipulados pelo contrato, a forma e o contedo dos relatrios, a informao e as demonstraes contbeis que a empresa contratada dever submeter Unio; XVIII as condies para alterao, extino antecipada e alcance do contrato; XIX as condies para transferncia dos direitos e obrigaes estipuladas pelo contrato; XX os requisitos relativos proteo e recuperao do meio ambiente;

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XXI os requisitos relativos segurana do trabalho e a proteo dos trabalhadores envolvidos nos trabalhos estabelecidos pelo contrato; XXII o procedimento para desativao das instalaes; XXIII o prazo do contrato, data, local de assinatura e a entrada em vigor; XXIV as responsabilidades das Partes e os meios de garanti-las; XXV procedimento de soluo de controvrsias; XXVI o compromisso de aquisio, mesmo que parcial, de bens e servios de fornecedores nacionais; XXVII declarao anual das caractersticas da produo; XXVIII o procedimento para utilizar informaes geolgicas e geofsicas; XXIX as peculiaridades referentes aos custos e s necessidades tecnolgicas; XXX as obrigaes relativas utilizao de gs e de condensado, alm das condies relativas ao manuseio dessa produo; XXXI o procedimento e os perodos para avaliar os nveis de poluio na rea afetada pelo contrato; XXXII os escopos, os custos e os prazos para implementao de medidas de proteo ambiental; XXXIII o procedimento para definio e aprovao dos programas anuais de trabalho; XXXIV as condies para uma estocagem confivel da parcela da Unio, antes de sua transferncia; XXXV as condies para evitar perdas e danos resultantes de vazamento, fogo, entre outros; XXXVI outras condies acertadas entre as Partes.

Art. 6 Para os fins desta Lei e de sua regulamentao, ponto de medio aquele onde a produo medida e dividida entre a produo necessria para cobrir os custos, de investimento e de manuteno e operao, e a produo equivalente ao lucro gerado pelas atividades decorrentes no contrato. Pargrafo nico. No mnimo cinquenta por cento da produo equivalente ao lucro gerado pelas atividades estipuladas no contrato de partilha

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de produo ser de propriedade da Unio, que transferir parte das receitas advindas dessa produo a Estados e Municpios. Art. 7 Sem que de outra forma seja estabelecida pelo contrato, a produo ser partilhada trimestralmente. 1 A parcela da produo necessria para cobrir os custos de investimento no pode exceder, at que a empresa seja totalmente reembolsada, sessenta por cento da produo total. 2 Nenhuma Parte tem direito de dispor da produo, antes da partilha, sem a autorizao, por escrito, das outras Partes do contrato. 3 procedimento para determinar a composio dos custos a serem reembolsados dever atender s seguintes exigncias:I somente os custos associados com a execuo dos trabalhados estipulados pelo contrato so sujeitos a reembolso; II os custos de investimentos devem ser reembolsados dentro de um prazo determinado.

Art. 8 Para a realizao das atividades previstas no contrato, devero ser empregados, prioritariamente, cidados brasileiros. Pargrafo nico. As empresas devero organizar programas de treinamento de cidados brasileiros. Art. 9 O prazo do contrato de partilha de produo no poder ser superior a quarenta anos. 1 Os prazos para a execuo dos trabalhos sero detalhados no contrato. 2 Se a empresa no executar os trabalhos nos prazos previstos, a Unio poder rescindir o contrato e requerer que a empresa contratada arque com os danos causados.

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Art. 10 As receitas advindas do exerccio direto do monoplio da Unio, dos acordos de individualizao da produo e dos contratos de partilha de produo sero destinadas:I a um fundo especial, a ser distribudo entre todos os Estados, Distrito Federal e Municpios; II a Estados e Municpios confrontantes; III ao Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome; IV ao Ministrio da Educao; V ao Ministrio de Minas e Energia; VI ao Ministrio de Cincia e Tecnologia; VII ao Ministrio da Sade; VIII ao Ministrio da Defesa.

Pargrafo nico. As parcelas destinadas aos Estados, Distrito Federal e Municpios, em razo das receitas mencionadas no caput deste artigo, sero, no mnimo, iguais s decorrentes de royalties e participao especial, caso a produo de petrleo e gs natural ocorresse mediante celebrao contratos de concesso, conforme estabelecido na Lei n 9.478, de 6 de agosto de 1997. Art. 11 Esta Lei entra em vigor no prazo de noventa dias, a partir da data de sua publicao.

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JUSTIFICAO

Em 1997, a Lei n 9.478, tambm conhecida como Lei do Petrleo, estabeleceu as condies para a contratao, dentre outras, das atividades de pesquisa e lavra de petrleo e gs natural. Alm disso, instituiu o Conselho Nacional de Poltica Energtica e a Agncia Nacional de Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis. Destaque-se, no entanto, que essa Lei limita o exerccio do monoplio constitucional, previsto no art. 177 da Constituio Federal, pois obriga a Unio a assinar contratos de concesso para que se possa explorar e produzir petrleo ou gs natural no Brasil. Para regulamentar, de fato, esse artigo e resgatar os ditames da Emenda n 9, de 1995, que eliminou o monoplio da Petrobras, sugere-se que a Lei n 9.478 seja alterada, com o objetivo de dar Unio maior flexibilidade no exerccio do seu monoplio. Ressalte-se, ainda, que o pas necessita de um novo marco legal, em razo, principalmente, da descoberta de reas de grande potencial e baixo risco exploratrio, como a camada pr-sal. Essa camada pode se estender do litoral do Esprito Santo at o litoral de Santa Catarina, ocupando uma rea de 112 mil km2. Desse total, 41 mil km2 j foram licitados e concedidos. Nesse novo marco, o petrleo e o gs natural poderiam ser explorados diretamente pela Unio, permitida a contratao de servios, por contratos de concesso ou por contratos de partilha de produo. Na contratao de servios, a prpria Petrobras poderia realizar as atividades de pesquisa e lavra de petrleo e gs natural, sendo remunerada pela Unio, em razo dos trabalhos prestados. Os contratos de concesso j esto devidamente regulamentados pela Lei n 9.478. Registre-se, entretanto, que essa Lei no prev a possibilidade da explorao de um campo que se estenda de um bloco licitado por uma rea no licitada. Nesse caso, a proposio ora apresentada prev a celebrao de um acordo para a indi-

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vidualizao da produo entre a Unio e os detentores de direitos e obrigaes da rea licitada. Registre-se que no encerramento da Conferncia Rio Oil & Gas 2008, o presidente da Petrobras declarou que Dadas as informaes que temos hoje, achamos que, provavelmente, em Tupi estaremos contidos dentro do bloco, e em Iara, provavelmente estaremos fora do bloco. Assim, no caso do prospecto de Iara, localizado na camada pr-sal da Bacia de Santos, o campo deve se estender da rea licitada por rea no licitada. Nos contratos de partilha de produo, prev-se que a Unio celebre contratos com empresas estatais ou privadas para a execuo das atividades de pesquisa e lavra. Essas empresas e a Unio partilhariam os hidrocarbonetos produzidos ou seu valor monetrio. Tanto nos acordos de individualizao da produo quanto nos contratos de partilha de produo, a Unio poderia ser representada por uma empresa pblica, visto que a Petrobras, com 60% do capital social em mos privadas, no teria legitimidade para exercer essa representao. Sugere-se, por fim, que as receitas advindas do exerccio direto do monoplio pela Unio, de acordos de individualizao da produo e de contratos de partilha de produo sejam destinadas a um fundo especial, a ser distribudo entre todos os Estados, Territrios e Municpios; ao Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome; ao Ministrio da Educao; ao Ministrio de Minas e Energia; ao Ministrio de Cincia e Tecnologia; ao Ministrio da Sade; e ao Ministrio da Defesa. Em razo da urgente necessidade de se regulamentar, de fato, o art. 177 da Constituio Federal, principalmente no tocante s atividades de pesquisa e lavra de petrleo ou gs natural, esperamos contar com o apoio de nossos pares nesta Casa, para ver este projeto de lei, no menor prazo possvel, transformado em Lei.

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Sala das Sesses, em

de

de 2008.

Deputado Inocncio Oliveira (PR-PE) Deputado Fernando Ferro (PT-PE) Deputado Paulo Teixeira (PT-SP) Deputado Ariosto Holanda (PSB-CE) Deputado Flix Mendona (DEM-BA) Deputado Jaime Martins (PR-MG) Deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO) Deputado Severiano Alves (PDT-BA) Deputado Colbert Martins (PMDB-BA) Deputado Jos Genono (PT-SP) Deputado Waldir Maranho (PP-MA) Deputado Humberto Souto (PPS-MG)

CONSELHO DE ALTOS ESTUDOS

I SBN 857365619 - 0 ISBN 978-85-736-5619-0

9 788573 656190