dependÊncia do smartphone: um estudo da …...por falar em amigos, tenho muito a agradecer ao...

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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - MPA THYCIANE SANTOS OLIVEIRA DEPENDÊNCIA DO SMARTPHONE: UM ESTUDO DA NOMOFOBIA NA FORMAÇÃO DE FUTUROS GESTORES NATAL/RN 2018

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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - MPA

THYCIANE SANTOS OLIVEIRA

DEPENDÊNCIA DO SMARTPHONE:

UM ESTUDO DA NOMOFOBIA NA FORMAÇÃO DE FUTUROS

GESTORES

NATAL/RN

2018

THYCIANE SANTOS OLIVEIRA

DEPENDÊNCIA DO SMARTPHONE:

UM ESTUDO DA NOMOFOBIA NA FORMAÇÃO DE FUTUROS

GESTORES

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Administração, da Universidade Potiguar,

como requisito final para obtenção do título de

mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Manoel Pereira da

Rocha Neto

NATAL/RN

2018

Oliveira, Thyciane Santos.

Dependência do Smartphone: Um Estudo da Nomofobia na Formação de

Futuros Gestores / Thyciane Santos Oliveira. –Natal, 2018. – (108)f.

Orientador: Manoel Pereira da Rocha Neto

Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar. Pró-

Reitoria Acadêmica – Núcleo de Pós-Graduação.

Referências: (79-87)f.

1. Nomofobia – Dissertação. 2. Smartphone. 3. Comunicação. 4.

Dependência 5. Estudantes. I. Título.

THYCIANE SANTOS OLIVEIRA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Administração, da Universidade Potiguar,

como requisito final para a obtenção do título

de mestre em Administração.

Aprovado em: 11/05/2018

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Manoel Pereira da Rocha Neto

Orientador

Universidade Potiguar - UNP

Profª. Drª. Laís Karla da Silva Barreto

Examinadora Interna

Universidade Potiguar - UNP

Prof. Dr. Josenildo Soares Bezerra

Examinador Externo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Dedico este trabalho ao meu filho, Miguel, e ao meu

marido, Leonardo Pinheiro, pelo apoio e

compreensão durante esta jornada e pelas horas

roubadas do convívio de vocês.

AGRADECIMENTOS

Agradecer neste momento de conclusão de mais uma etapa em minha vida significa

reconhecer que cheguei mais longe do que eu poderia imaginar e saber que, com a importância

de tantas pessoas queridas, posso ir sempre mais além. Apesar das palavras poderem descrever

de forma satisfatória os resultados de uma pesquisa, elas dificilmente serão suficientes para

reconhecer todos aqueles que, direta ou indiretamente, deixaram sua marca ao longo desta

caminhada. Por isso, apesar de ter sido escrita por duas mãos, esta dissertação é fruto de muitos

afetos, a quem gostaria de expressar meu mais profundo carinho.

Não poderia iniciar esses agradecimentos de maneira diferente que não fosse

reconhecendo a importância de Deus em toda minha vida. Nas orações em que conversávamos

baixinho, sabia que estava sempre presente, nunca me abandonando, mesmo nos momentos

mais difíceis dessa trajetória. Obrigada por iluminar meu caminho e incentivar a seguir. À Ele,

meus eternos agradecimentos.

Ao meu amado filho, Miguel, que nos primeiros meses de mestrado chegou na minha

vida já ensinando a vencer desafios e a lutar todos os dias, incansavelmente. Que me ensinou

que tudo tem o seu tempo, e nem sempre o tempo certo é o que achamos ser. Obrigada pela luz

que me traz, pelo amor que transborda, pelo sorriso que afaga e por fazer deste mundo um lugar

melhor. Essa caminhada ganhou muito mais sentido com você ao meu lado.

Ao meu querido esposo, Leonardo Pinheiro, por ter sido o primeiro a acreditar que sou

capaz. Obrigada por ser quem é, pela admiração que me desperta e por fazer parte de cada

segundo importante de minha vida nos últimos (quase) doze anos. Diante de todas as

dificuldades que foram surgindo ao longo desses anos de mestrado, especialmente em relação

aos vários momentos de cansaço, as noites mal dormidas e trocas de fraldas, é impossível

descrever o quanto você me ajudava e dava forças para continuar seguindo em frente. Te amo!

Apesar de saber que nunca poderei retribuir todo o amor que possuem por mim,

agradeço aos meus pais, Auxiliadora (Kika) e Edivaldo, pelos bons exemplos que sempre me

deram e pelo apoio incondicional em todas as minhas atividades profissionais e acadêmicas.

Tenho muito orgulho de ser sua filha e saber que nunca nenhuma universidade poderia me

ensinar o que aprendi e continuo aprendendo com vocês. Obrigada por me darem asas e se

fazerem tão presentes em miha vida.

Ao meu irmão, Gabriel, pela demonstração de carinho e orgulho de minhas conquistas.

Obrigada por ser o caçula que sempre levava a culpa pelas danações, pelos bons momentos

divididos durante os anos em que crescemos juntos, pela paciência e por ser o melhor amigo

que uma irmã poderia ter. A gratidão também se estende à torcida calorosa de toda a família –

tios(as), avós e primos(as) - que mora em Fortaleza, Aracajú e Brasília. Mesmo com a distância

geográfica que nos separa, essa caminhada não seria possível sem o inestimável amor de vocês.

Aos amigos de longa data, tão presentes e necessários, obrigada por seguirem comigo

mundo afora. Aos amigos recentes, em especial os do mestrado, obrigada pelos incentivos

preciosos, pelas conversas que sempre acabavam em boas rirsadas e pelo convívio ao longo

desses anos. Agradeço especialmente a Dani, Gleicy, Ivy, Thayanne, Gabi, Ludmilla, Shirley,

Carlinhos, Edson, Emanuel, João, Rodrigo, Vivaldo e André pelos conhecimentos partilhados.

Por falar em amigos, tenho muito a agradecer ao professor (e amigo), a quem tive o

prazer e honra de ser orientanda, Dr. Manoel Pereira da Rocha Neto, que com sua competência

e apoio me ajudou a vencer os desafios enfrentados em cada etapa desta pesquisa. Sua

simplicidade cativante e profissionalismo nos inspira não somente na área acadêmica, mas na

vida. Muito obrigada pela dedicação, compreensão e confiança depositada no meu trabalho.

Obrigada pelo acolhimento, por guiar meus passos nessa trajetóia e por ser esse orientador que

não deixou de ser um amigo e um amigo que nunca deixou de ser um orientador.

Expresso também meus agradecimentos à professora Dra. Laís Karla da Silva Barreto,

que tive o prazer de conhecer durante uma das disciplinas do mestrado e por quem tenho grande

carinho e apreço. Suas palavras de conforto, incentivo e os conselhos dados no decorrer da

construção deste trabalho foram essenciais para a realização deste sonho. Obrigada por ser essa

profissional e pessoa incrível.

Agradeço ainda ao professor Dr. Josenildo Soares Bezerra pela participação na banca e

pelas fundamentais contribuições que, sem dúvida, enriqueceram ainda mais esta pesquisa.

Obrigada pelas críticas, sugestões e reflexões para o estudo. Aproveito também para demonstrar

meus sinceros agradecimentos à proferrora Dra. Lydia Maria Pinto Brito pelas considerações

realizadas durante a qualificação deste trabalho e pelos grandes ensinamentos aprendidos em

suas aulas.

Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas

da Universidade Potiguar, em especial ao Mestrado Profissional em Administração, agradeço

por todo o conhecimento compartilhado nas disciplinas ao longo do curso. Juntamente a eles,

agradeço a ex-secretária do programa, Glícia, e a atual, Tânia, pelo auxílio e suporte sempre

que precisava.

Agradeço também a disponibilidade das universidades participantes, a boa vontade dos

professores e aos 377 universitários que contribuíram e possibilitaram a realização desta

pesquisa.

Agradeço, de forma geral, à Universidade Potiguar, pela receptividade e por fazer deste

um programa de excelência e reconhecimento.

Por fim, que venham novos e maiores sonhos.

Muito obrigada!

A qualquer hora do dia

Estou sempre em alerta

Paro tudo o que fazia

É mãe, tia, irmã na certa

Me ligam por qualquer coisa

Dizem sempre que é urgente

Deixe o filme na locadora

E não esqueça o detergente

De reunião ou compromisso

Não se pode escapar

Estou preso e submisso

Ao que ele tem a ditar

Quando ligam entro em choque

E para aumentar minha dor

Há diversos tipos de toque

E a função despertador

Para camuflar o inimigo

Inventaram mil aplicativos

Mas poucos veem o perigo

Atrás dos jogos e mimos

Preste atenção no que digo

A nós ele não dá trégua

E ainda se diz um amigo

Quem por ele nos inquieta

No trânsito, cuidado

Ele vai desconcentrar

E não é exagerado

Dizer que pode matar

Essa coisa está viva

Não é apenas aparelho

A todos nós cativa

Em padrão infravermelho

Imagino o mundo de antes

E é a maioria que diz

A vida era menos estressante

Por isso minha infância feliz

Sofro, mas o carrego comigo

O meu tem tela táctil

E de segunda a domingo

Lembro que o inferno é portátil

(Celular, Rodolfo Neves, 2011)

RESUMO

O crescimento do uso do telefone celular em todo o mundo trouxe mudanças revolucionárias

nas formas como as pessoas interagem umas com as outras. Entretanto, são poucos os

conhecimentos de como os indivíduos usam e os efeitos do uso demasiado desses aparelhos.

Nessa perspectiva, diversos estudos direcionam seu foco principalmente para os benefícios e

vantagens que essa tecnologia pode proporcionar, sendo ainda poucos os que se detém a analisar

os impactos negativos da utilização em excesso do smartphone. Diante disso, traçou-se como

objetivo geral desta pesquisa investigar o nível de nomofobia e as características

comportamentais presentes nos estudantes do curso de Administração em relação à dependência

do telefone celular. Para isso, foi adotada uma abordagem multimetodológica, de caráter

exploratório e cunho descritivo, participando do estudo 377 estudantes universitários das

cidades de Fortaleza/CE e Natal/RN. Os dados quantitativos foram analisados com a ajuda do

software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0; e os dados qualitativos

por meio da análise de conteúdo temática. Os resultados demonstraram que o celular é utilizado

principalmente ao acordar e antes de dormir, bem como em situações de multitarefas. O uso

demasiado das ferramentas proporcionadas pelo aparelho foi evidenciado com maior frequência

na utilização do despertador, aplicativos de conversas e o uso das redes sociais. A complexidade

da dependência do smartphone aponta para a possibilidade de múltiplas causas a influenciá-la,

o que foi constatado pela maior dependência das mulheres, das pessoas mais jovens e dos

estudantes que estavam nos semestres mais avançados do curso. Além disso, o vício na

utilização do aplicativo WhatsApp também foi ligado a fatores relacionados à idade e também

a quantidade de aparelhos que os respondentes possuíam. Os principais significados atribuídos

ao celular giraram em torno da sua importância como um meio de comunicação, a necessidade

de uso e a possibilidade de organização que as diferentes ferramentas proporcionam. Muitos

estudantes não sabiam e nunca haviam ouvido falar sobre nomofobia. Dentre os que informaram

ter algum conhecimento sobre o assunto, as explicações geralmente eram confusas e imprecisas,

demonstrando a pouca familiaridade com o termo. Do ponto de vista gerencial, espera-se que

as identificações encontradas permitam um maior entendimento da importância de se discutir o

tema no ambiente organizacional, bem como uma reflexão sobre a necessidade dos cuidados a

serem adotados nos contextos sociais e acadêmicos.

Palavras-chave: Nomofobia. Smartphone. Comunicação. Dependência. Estudantes.

ABSTRACT

The growth of cell phone use around the world has brought about revolutionary changes in the

way people interact with each other. However, there is little knowledge of how individuals use

and the effects of using too much of these devices. In this perspective, several studies focus

mainly on the benefits and advantages that this technology can provide, and few are still

analyzing the negative impacts of overuse of the smartphone. Therefore, the general objective

of this research was to investigate the level of nomophobia and the behavioral characteristics

present in the students of the Administration course in relation to cell phone dependence. For

this, a multi-methodological approach was adopted, with an exploratory and descriptive

character, with 377 students from Fortaleza / CE and Natal / RN participating in the study.

Quantitative data were analyzed with the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),

version 20.0; and qualitative data through thematic content analysis. The results demonstrated

that the cell phone is mainly used when waking up and before bed, as well as in multitasking

situations. Too much use of the tools provided by the handset has been more often seen in the

use of the alarm clock, chat applications and the use of social networks. The complexity of the

dependence of the smartphone points to the possibility of multiple causes influencing it, which

was evidenced by the greater dependence of the women, the young people and the students who

were in the more advanced semesters of the course. In addition, addiction in using the

WhatsApp application was also linked to factors related to age and also the amount of devices

respondents had. The main meanings attributed to the cell phone revolved around its importance

as a means of communication, the need for use and the possibility of organization that the

different tools provide. Many students did not know and had never heard of nomophobia.

Among those who reported having some knowledge on the subject, the explanations were

usually confusing and imprecise, demonstrating the unfamiliarity with the term. From the

managerial point of view, it is expected that the identifications found will allow a greater

understanding of the importance of discussing the theme in the organizational environment, as

well as a reflection on the need for the care to be adopted in the social and academic contexts.

Keywords: Nomophobia. Smartphone. Communication. Dependency. Students.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Hábitos de uso do smartphone ................................................................................. 36

Figura 2 - Capacidades da mobilidade empresarial .................................................................. 49

Figura 3 - Influência direta e indireta da nomofobia no estresse .............................................. 51

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Perfil dos respondentes ............................................................................................ 58

Tabela 2 - Estatísticas de regressão múltipla para a dependência do telefone celular ............. 64

Tabela 3 - Estatísticas de regressão múltipla para a dependência do WhatsApp ..................... 66

Tabela 4 - Frequência absoluta e percentual de ocorrência dos participantes que emprestariam

o celular .................................................................................................................................... 68

Tabela 5 - Frequência absoluta e percentual de ocorrência dos participantes que não

emprestariam o celular.............................................................................................................. 70

Tabela 6 - Frequência absoluta e percentual de ocorrência dos significados do celular .......... 72

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Quantidade de celulares e densidade nos últimos anos.......................................... 41

Gráfico 2- Dependência de uso do celular................................................................................ 60

Gráfico 3 - Principais momentos de uso do celular .................................................................. 61

Gráfico 4 - Dependência de uso do WhatsApp ........................................................................ 62

Gráfico 5 - Principais aplicativos e ferramentas utilizados no celular ..................................... 63

Gráfico 6 - Pontuação da nomofobia e o sexo dos participantes .............................................. 65

Gráfico 7 - Pessoas que emprestariam o celular ....................................................................... 67

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Trechos das respostas referentes aos participantes que emprestariam o celular .... 69

Quadro 2 - Trechos das respostas dos participantes que não emprestariam o celular .............. 71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRAMET Associação Brasileira de Medicina do Tráfego

ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações

CIUT Teoria Compensatória de Uso da Internet

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES Instituições de Ensino Superior

MPAT Mobile Phone Addiction Test

TASW Trabalho Complementar Assistido por Tecnologia

TDAH Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

Sindivarejista Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal

SMS Short Message Service

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

WAAT WhatsApp Addiction Test

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 18

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ......................................................................................... 18

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................... 20

1.3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 21

1.3.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 21

1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................................ 21

1.4 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 21

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................................. 23

2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 24

2.1 A EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO .............................................. 24

2.2 TECNOLOGIA E AS NOVAS MÍDIAS DIGITAIS ................................................ 29

2.2.1 Paradoxos tecnológicos ........................................................................................... 32

2.3 VÍCIO TECNOLÓGICO: CONTEXTUALIZANDO NOMOFOBIA ..................... 37

2.3.1 O celular e o uso excessivo do aparelho ................................................................. 40

2.4 ADMINISTRAÇÃO E NOMOFOBIA:UMA APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA .. 45

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................ 53

3.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................................ 53

3.2 PARTICIPANTES ..................................................................................................... 54

3.3 INSTRUMENTO ....................................................................................................... 55

3.4 PROCEDIMENTOS .................................................................................................. 56

3.5 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 57

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 58

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES ............................................................................. 58

4.2 EXPLORANDO AS DIMENSÕES DA NOMOFOBIA .......................................... 59

4.3 SIGNIFICADOS DO CELULAR ............................................................................. 66

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 75

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 79

APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE PESQUISA ............................................................ 89

APÊNDICE B – VALORES DA ESCALA MOBILE PHONE ADDICTION TEST (MPAT) ...... 98

APÊNDICE C – VALORES DA ESCALA WHATSAPP ADDICTION TEST (WAAT)103

18

1 INTRODUÇÃO

O interesse em verificar o impacto da tecnologia no desenvolvimento dos países, na

competitividade das empresas e no comportamento dos seres humanos tem propiciado

discussões políticas, acadêmicas e corporativas relevantes. Estudos sobre a utilização da

tecnologia e a comodidade que ela traz para as pessoas já abordam, de forma mais específica,

as consequências que as plataformas digitais podem provocar nos indivíduos nos mais variados

contextos, ganhando espaço de discussão entre governos, organizações e sociedade.

Nunca a comunicação foi tão fácil e tão abrangente. Com o início da Era da Informação,

na qual as tecnologias foram se modernizando de forma cada vez mais rápida, a dinâmica da

vida também se modificou. As inovações não param de surgir desde então, e uma nova forma

de viver manifesta-se em meio a esse progresso. Acompanhado dessas transformações, a

internet surge para proporcionar às pessoas mais informações, comunicações à distância e

outras inúmeras funções.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

No cenário dinâmico das inovações tecnológicas, o smartphone trouxe mudanças

revolucionárias na forma como as pessoas interagem umas com as outras (KIM, 2018),

ocasionando uma nova configuração social em que o mundo real e o virtual muitas vezes se

confundem e são vividos simultaneamente. Esse universo digital vem sendo adquirido por

gerações cada vez mais jovens, que, por sua vez, entram em contato com tal tecnologia desde

crianças.

Que o smartphone facilitou a vida dos seres humanos, disso ninguém tem dúvida. Nas

últimas décadas, a facilidade de acesso da população para a compra de aparelhos celulares

aumenta a aquisição e o uso de novas tecnologias, que se tornam obsoletas a cada instante que

um novo aparelho é lançado. Diante das suas inúmeras capacidades, os celulares “facilitam a

comunicação instantânea, ajudam as pessoas a permanecerem conectadas em qualquer lugar e

a qualquer hora, e proporcionam as pessoas constante acesso à informação” (YILDIRIM;

CORREIA, 2015, p. 131, tradução nossa).

Embora esses aparelhos viabilize uma série de benefícios, o uso excessivo dos celulares

também pode provocar sérios transtornos psicológicos, físicos e sociais. De acordo com King,

Nardi e Cardoso (2014), a utilização exagerada do smartphone passa a provocar nas pessoas

19

alterações comportamentais, emocionais e sinais semelhantes aos apresentados pelos usuários

de drogas, o que demonstra, portanto, os efeitos nocivos que a dependência tecnológica pode

ocasionar.

Atualmente, o Brasil possui um total de 236,2 milhões de celulares cadastrados

(ANATEL, 2018), o que equivale a uma quantidade maior do que a população nacional, que

corresponde a aproximadamente 207,7 milhões de habitantes (IBGE, 2018). Tantas pessoas

usando esses aparelhos está levando ao surgimento de um fenômeno que começa a chamar cada

vez mais a atenção dos estudiosos. Trata-se do vício específico em celular e da nomofobia,

nome dado ao mal-estar e medo de ficar sem contato ou acesso à internet, computadores e

telefone celular (KING et al., 2014). Conhecida também como o transtorno do século 21, a

nomofobia geralmente vem acompanhada por outros problemas psicológicos, tais como:

alteração no humor, fobia social, depressão, síndrome do pânico, ansiedade, dentre outras

(YILDIRIM; CORREIA, 2015; KING; NARDI; CARDOSO, 2014).

No país, cerca de 10% da população já são considerados viciados digitais (OLIVEIRA,

2013). Visto que o desenvolvimento dessa dependência congrega uma série de aspectos

comportamentais e predisposicionais, diversos estudos procuram compreender as influências e

consequências que a nomofobia pode acarretar (KIM, 2018; SOLER; SÁNCHEZ; SOLER,

2017; BRAGAZZI; PUENTE, 2014; SZPAKOW; STRYZHAK; KRAJEWSKA-KUŁAK et

al., 2012; PROKOPOWICZ, 2011). Nesse aspecto, a perda de controle do tempo de uso do

aparelho e a preocupação demasiada e constante por não estar conectado à internet faz com que

impactos significativos sejam provocados à saúde física e psicológica dos usuários.

Ao ser apontado como um dos principais responsáveis pelo baixo rendimento acadêmico

(SOLER; SÁNCHEZ; SOLER, 2017; KIRSCHNER; KARPINSKI, 2010), o uso em excesso

do celular e das redes sociais pode aumentar os níveis de ansiedade e comprometer o

desempenho dos estudantes (CHEEVER et al., 2014; HARTANTO; YANG, 2016). O fato do

smartphone poder funcionar tanto como recurso e também como uma ameaça ao aprendizado

coloca em questão o tênue limite em relação a utilização indevida dessa tecnologia. Tal

realidade latente vem sendo presenciada fortemente nas universidades, onde professores se

veem obrigados a dividir a atenção com o universo de entretenimento proporcionado pelo

aparelho.

No âmbito organizacional, conectados à rede não só por prazer social, mas também por

obrigação de trabalho, profissionais de diferentes áreas se veem cada vez mais dependentes do

uso do celular, alegando acessibilidade, agilidade e celeridade em atividades realizadas mesmo

fora do horário de expediente. Não é raro encontrar trabalhadores que relatam problemas de

20

insônia, estresse ou cansaço por acordar tarde da noite e, em alguns casos, até mesmo de

madrugada, para responder mensagens, olhar e-mails ou verificar as redes sociais (KING;

NARDI; CARDOSO, 2014).

De fato, diante do exposto e em vista da gravidade dos problemas ligados a dependência

do celular, a ciência da Administração é convocada a cumprir seu papel no entendimento dos

seus impactos desde a formação dos profissionais até as consequências nas organizações. Seu

caráter interdisciplinar possibilita o esforço para que os estudos de outras áreas também possam

contribuir nessa compreensão, tornando-se um desafio frente ao descompasso de produções

desenvolvidas sobre o tema.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

O crescimento do uso do telefone celular em todo o mundo e os aplicativos criados para

facilitar a vida das pessoas diariamente como, por exemplo, os de bancos, mensagens,

alimentação, e-mails e redes sociais, contribuem para uma significativa mudança nas relações

sociais. Diante das suas incontáveis funções, as pessoas tornam-se cada vez mais dependentes

de seus aparelhos, podendo provocar transtornos, dependência patológica e ansiedade a partir

dos hábitos adquiridos com o uso excessivo dos celulares (KING; NARDI; CARDOSO, 2014;

KING et al., 2014).

O interesse por estudos sobre as consequências do uso das mídias digitais nas pessoas é

relativamente recente, constituindo-se num campo multi, inter e transdisciplinar, que desafia os

pesquisadores a compreenderem sua complexidade a partir de um enfoque múltiplo. Diante

disso, procurando uma melhor forma de explorar e abordar a relação de dependência

tecnológica, este estudo levará em consideração os comportamentos e os efeitos do uso

excessivo do telefone celular em jovens universitários. Nesse sentido, a presente pesquisa

pretende responder ao seguinte questionamento: Qual o nível de dependência dos estudantes

de graduação do curso de Administração em relação ao smartphone e qual o significado

que atribuem ao uso do aparelho?

21

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Investigar o nível de nomofobia e as características comportamentais presentes nos

estudantes do curso de Administração em relação à dependência do telefone celular.

1.3.2 Objetivos Específicos

Além do objetivo geral apresentado acima, foram determinados os seguintes objetivos

específicos:

a) Verificar se existe diferença de dependência do celular em relação ao gênero;

b) Identificar se existe diferença de dependência do uso do celular em relação ao

semestre, idade, estado civil, filhos e trabalho;

c) Verificar se a quantidade de celular e de operadoras utilizado está relacionada

à dependência do aparelho e do uso do WhatsApp;

d) Investigar como os estudantes universitários significam o uso do aparelho

celular;

e) Identificar o nível de conhecimento dos universitários sobre a nomofobia.

1.4 JUSTIFICATIVA

É raro encontrar alguém que não tenha ou não carregue consigo um smartphone. A

modernização do telefone, que passou para celular e em seguida transformaram-se nos

smartphones, os quais permitem “ter o mundo às mãos”, parece dar a sensação de que não existe

limites para as modernizações e evoluções deste aparelho.

Diante dessa nova forma de viver, é necessário ter consciência e cautela a essas facilidades,

rapidez e comodidades que as inovações tecnológicas, mais especificamente os smartphones,

proporcionam às pessoas. A utilização em excesso desses aparelhos pode causar, de forma

inconsciente, certa dependência, dada a facilidade de comunicação, troca de informações,

22

acesso à internet, conectividade, agilidade, entretenimento e outras coisas proporcionadas pelo

seu uso.

Nesse sentido, segundo Yildirim e Correia (2015), seria importante identificar se existe

diferença quanto ao gênero e determinar quais fatores podem ser preditores da nomofobia, o

que possibilitaria identificar os grupos de risco e desenvolver estratégias de prevenção para

ajudar tais grupos. Assim, considerando que as relações das pessoas com os celulares e outras

tecnologias influenciam fortemente os comportamentos interpessoais e os hábitos sociais, tais

relações devem ser estudadas e monitoradas continuamente (KING et al., 2014).

Apesar de qualquer pessoa poder estar exposta a essa dependência, se distraindo com

facilidade e com dificuldade de controlar o tempo de utilização, a população jovem parece ser

a mais vulnerável ao vício no smartphone. Nesse sentido, por estarem em um momento de

definição da identidade, a instabilidade emocional e a insegurança dos adolescentes podem

motivar a procura por um refúgio na internet e nas ferramentas que os celulares podem

proporcionar, deixando-os mais vulneráveis e atraídos por esses aparelhos (SOLER;

SÁNCHEZ; SOLER, 2017).

Ademais, ao considerar que os estudantes universitários são os mais propensos a sofrerem

os efeitos negativos do uso exagerado do celular (HARTANTO; YANG, 2016), estes fazem

parte das primeiras gerações adultas que já cresceram com o acesso à internet e ao smartphone,

podendo ser considerados, portanto, “nativos” do celular (FORGAYS; HYMAN;

SCHREIBER, 2014). Como consequência, a dependência pode se tornar uma patologia, já que

nasceram na chamada Era Digital e não sabem como é viver sem todas essas conveniências.

Apesar de as pesquisas sobre o uso excessivo da internet e do celular ter obtido um rápido

crescimento nos últimos anos, os resultados encontrados ainda não são claros, com conclusões

pouco precisas (KARDEFELT-WINTHER, 2014). Além disso, embora tenha havido um

interesse acadêmico crescente em investigar os problemas que emanam do uso específico de

smartphones, as investigações sobre a nomofobia têm sido escassas (KING et al., 2014). Para

Elhai e Contractor (2018), ainda são poucos os conhecimentos de como as pessoas usam seus

smartphones e os efeitos desse uso.

Diante do exposto, busca-se investigar a utilização dos smartphones por jovens

universitários do curso de Administração, tendo em vista estarem sendo preparados para

atuarem como futuros líderes e gestores de empresas, podendo seus comportamentos

influenciarem de forma significativa nas decisões que envolvam o uso de tecnologias, mídias

digitais e relações de trabalho nas organizações.

23

Com a realização da pesquisa, pretende-se contribuir para a discussão do tema tanto em

termos de conscientização, com relação à inserção desenfreada de novas mídias digitais na vida

das pessoas, como aos cuidados a serem adotados com o uso excessivo dos aparelhos celulares.

A difusão desse tipo de estudo faz-se relevante também para uma reflexão sobre a necessidade

de se discutir o tema, ainda mais, no meio acadêmico, social e organizacional.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

Além desta seção introdutória, este estudo está dividido em 5 capítulos, conforme

demonstrado no sumário. Nas seções do capítulo 2 são contempladas as revisões da literatura

de interesse desta pesquisa, sendo, inicialmente, realizado uma contextualização geral acerca

da evolução da comunicação e, em seguida, tratado sobre o uso da tecnologia e os impactos das

novas mídias digitais nos mais diversos contextos. Depois, são abordados os principais

paradoxos tecnológicos e os conflitos existentes entre a percepção do uso da tecnologia na vida

pessoal e profissional dos seres humanos, destacando-se a polaridade de sentimentos em relação

aos dispositivos móveis.

Em seguida, ainda no capítulo 2, é apresentado o conceito de nomofobia, suas

características e desafios, bem como alguns dos principais estudos nacionais e internacionais

sobre o tema. Posteriormente, é tratado de forma mais específica a relação entre a nomofobia e

a dependência de uso do smartphone, sinalizando um panorama de pesquisas que direcionam

para uma melhor compreensão do vício no celular. Em seguida, realiza-se uma discussão sobre

a importância de inserir a discussão do uso excessivo do aparelho móvel na área da

Administração, tendo em vista o reflexo que a dependência do celular pode acarretar à saúde

dos funcionários e, consequentemente, à organização.

No capítulo 3, o foco é dado para a caracterização do tipo de pesquisa deste estudo, assim

como os critérios adotados para selecionar os participantes, instrumento de coleta,

procedimentos e análise dos dados. Quanto ao capítulo 4, este se refere à apresentação e

discussão dos resultados, procurando-se contemplar o cumprimento de todos os objetivos (geral

e específicos) traçados anteriormente, além de uma análise comparativa com os estudos já

desenvolvidos sobre o assunto. Por fim, o capítulo 5 apresenta as considerações finais,

abordando os principais achados da pesquisa, suas contribuições, limitações e sugestões para

estudos futuros. Ao final do trabalho, seguem, ainda, a lista de referências utilizadas e os

apêndices.

24

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

É difícil pautar com rigor a história dos meios de comunicação com uma cronologia

exata (COUTINHO, 2014). Contudo, neste capítulo será apresentado um panorama acerca do

tema, fundamentado em estudos realizados ao longo dos anos, bem como alguns de seus

principais autores.

Escrever sobre a evolução dos meios de comunicação é, de certa forma, falar sobre o

próprio desenvolvimento da humanidade (GONTIJO, 2004). Originado do latim communicare,

que significa tornar comum, trocar opiniões, referenciar, compartilhar e associar, a

comunicação envolve a emissão e o recebimento de informações que provocam significados

comuns entre o comunicador e o intérprete, podendo ocorrer por meio de simbologias ou signos

(PINHEIRO, 2005).

A história da comunicação passa a ter seu começo mediante a necessidade humana de

se expressar. Tendo seu início marcado desde o momento em que os seres humanos começaram

a se entender por meio de gritos e gestos, com os quais externalizavam suas intenções

(COSTELLA, 2001). Foi por meio das pinturas rupestres, arte baseada nos desenhos e

representações artísticas gravadas nas paredes e tetos das cavernas, que a comunicação passou

a ganhar uma maior complexidade.

Com o passar dos anos, os símbolos e a pinturas continuaram sendo importantes meios

de comunicação para variados propósitos e as mais diferentes civilizações. Há

aproximadamente 3.000 a.C, visando administrar a cobrança de impostos, o registro dos

animais e o controle sobre os meios de produção e subsistência, os Sumérios deram origem a

escrita cuneiforme, na Mesopotâmia. Já no Egito Antigo, na forma dos conhecidos hieróglifos,

a escrita era realizada de forma pictográfica, representando cada símbolo um objeto (AGUIAR,

2018; CEMBRANI, 2017). Assim, com o surgimento da escrita e do papel, pelos chineses, são

dadas as prerrogativas para que vários meios de comunicação pudessem aparecer

(COUTINHO, 2014).

Desde a sua invenção pelos fenícios, por volta de 2.300 a.C, o alfabeto vem passando

por diversas modificações, ajustando-se aos interesses e necessidades de cada civilização. Pode-

se destacar, por exemplo, o próprio alfabeto criado durante a Grécia Antiga, com a utilização

das letras alfa, beta e ômega. Além da criação de novas simbologias, o processo de comunicação

25

entre as pessoas também teve um grande aliado da própria natureza, por meio da utilização dos

chamados “pombo-correio”. Por meio da ajuda desses animais e, mais tarde, dos mensageiros,

as cartas eram encaminhadas, o que permitia transmitir as informações para indivíduos de

localidades mais distantes (CEMBRANI, 2017). Nesse aspecto, cabe destacar o que Serrano

(2009) aponta como sendo um exemplo de esforço coletivo para reproduzir as organizações

sociais e suas identidades, considerando a utilização da comunicação coletiva para se trabalhar

os vínculos entre sociedade e natureza. De acordo com o autor:

Desde suas origens, a comunicação coletiva se debate entre os empenhos de gerar

informação para naturalizar a Sociedade ou para socializar a Natureza. É um debate

radical – talvez o debate mais radical – sobre o papel que a comunicação deve

desempenhar nas representações sociais. Porque as diversas representações sobre a

intervenção humana na Natureza se refletem nas diferentes concepções do mundo e

das comunidades que apareceram desde que existe a humanidade. Finalmente, essas

representações justificam, em cada lugar e em cada época, os valores e os projetos

com os quais as sociedades funcionam (SERRANO, 2009, p. 14).

Nessa perspectiva, segundo Gontijo (2004), a história da humanidade só existe porque

foi passada de geração a geração, de país para país através dos indivíduos e das tecnologias que

expandiram o recurso do corpo humano. Ainda segundo a autora, “os meios de comunicação

são extensões de nosso próprio corpo, e suas mensagens, de nosso sentir e pensar” (GONTIJO,

2004, p.11). Entende-se, portanto, que a comunicação é um processo que possibilita as relações

sociais ao longo de toda a existência humana. Sendo assim, representa um dos fenômenos mais

importantes do ser humano (PERLES, 2007), no qual a medida que o indivíduo vai se

desenvolvendo, o mesmo ocorre com a forma de se comunicar. Nesse aspecto, Perles (2007, p.

6) afirma que:

Por séculos a cultura continuou sendo transmitida oral e visualmente. Durante a Idade

média o povo não tinha acesso à linguagem escrita, que era restrita aos monges e às

pessoas letradas. Enquanto a linguagem se desenvolvia, os suportes e meios de

comunicação também iam se aperfeiçoando. O surgimento do papel, inventado pelos

chineses, substituiu as superfícies de pedra, os papiros e os pergaminhos de couro,

então utilizados para a escrita.

Sendo assim, a medida que o ser humano foi evoluindo, o processo de comunicação

também foi sendo aperfeiçoado e novas formas de interagir foram sendo criadas. Como

exemplo, destaca-se a criação do sistema de prensa tipográfica, que minimizou a lentidão da

fabricação dos documentos escritos, viabilizando a produção de jornais e livros em grande

escala (PERLES, 2007). Tal fato foi considerado como sendo o primeiro passo para a

26

democratização da escrita, tendo em vista que somente uma pequena parte da sociedade era

alfabetizada e tinha acesso aos textos produzidos até então (TRAQUINA, 2005).

No Brasil, o Correio Braziliense foi o primeiro jornal lançado, em 1º de Junho de 1808.

Sua impressão era realizada em Londres, uma vez que a coroa portuguesa não permitia a

existência de impressora na colônia brasileira. No mesmo ano, entretanto, a família Real, que

fugia das invasões napoleônicas, chega ao país de posse das máquinas que iriam dar origem a

Imprensa Régia, dando sungimento, assim, ao primeiro jornal impresso propriamente no país.

Ainda no mesmo ano, em 10 de Dezembro de 1808, foi fundada a Gazeta do Rio de Janeiro,

que publicava documentos oficiais e notícias de interesse da Corte. No decorrer dos anos que

se seguiram foram surgindo uma série de outros periódicos, predominando, principalmente, o

jornalismo panfletário (PERLES, 2007).

Durante o século XVIII também teve início os estudos sobre a eletricidade, fato que

proporcionou o surgimento do telégrafo por Samuel Morse, em 1837. Tal invenção possibiliou

a transmissão de informações entre as pessoas através de códigos, desenhos e telegramas.

Aproximadamente 39 anos depois, em 1876, o telefone foi aperfeiçoado por Alexander Graham

Bell, permitindo a comunicação por meio de ondas sonoras (CEMBRANI, 2017). No Brasil, ao

final da década de 1870, começa a funcionar os primeiros telefones na cidade do Rio de Janeiro.

Nesse período as ligações eram feitas de forma muito lenta, operadas por telefonistas, de modo

totalmente manual (IACHAN, 2010).

Após a expansão do jornal e, em seguida, a invenção do telefone, deu-se o surgimento

dos meios de comunicação de massa, tais como: o rádio, o cinema e a televisão. Ao ser lançado

em 1896 por Guglielmo Marconi, a criação do rádio possibilitou adicionar “voz” na

comunicação à distância, o que permitia ir além da transmissão de notícias ao gerar

entretenimento para a população por meio da reprodução de músicas e radionovelas

(CEMBRANI, 2017).

De acordo com Calabre (2003), as primeiras transmissões de rádio no Brasil ocorreram

no dia 7 de setembro de 1922, em comemoração ao dia da independência do país. Segundo o

autor, nesta primeira transmissão, uma estação de rádio de 500 W foi instalada no alto do

Corcovado, no Estado do Rio de Janeiro, contando-se com 80 receptores, sendo alguns também

instalados em praças públicas através dos quais os ouvintes puderam ouvir o discurso do então

presidente Epitácio Pessoa. Contudo, até o início da década de 1930, o rádio permaneceu sendo

experimental, com programação voltada principalmente para a elite do país (MENEGUEL,

1998).

27

Por sua vez, em 1924, Philo Fransworth inventou a televisão. Transmitida inicialmente

em preto e branco, essa nova forma de comunicação de massa foi considerada como uma

espécie de fusão de som e imagem. A chegada da televisão ao Brasil ocorreu em 1950, quando

Assis Chateaubriand, por meio da criação da extinta TV Tupi, assumiu o desafio de instalar

esse meio de comunicação no país, que já repercutia em vários outros lugares do mundo,

principalmente nos Estados Unidos e nos países da Europa (AMORIM, 2007; CEMBRANI,

2017). Para Ortiz (1988) a chegada da televisão no país está diretamente relacionada às

mudanças promovidas pela industrialização, contando-se com uma série de atividades ligadas

à cultura de massa e atingindo o seu auge. As transformações no cenário brasileiro desse período

foi descrito pelo autor como:

A velha sociologia do desenvolvimento costumava descrever essas mudanças

sublinhando fenômenos como o crescimento da industrialização e da urbanização, a

transformação do sistema de estratificação social com a expansão da classe operária

e das camadas médias, o advento da burocracia e das novas formas de controle

gerencial, o aumento populacional, o desenvolvimento do setor terciário em

detrimento do setor agrário. É dentro desse contexto mais amplo que são redefinidos

os antigos meios (imprensa, rádio e cinema) e direcionadas as técnicas como a

televisão e o marketing. Sabemos que é nas grandes cidades que floresce este mundo

moderno (ORTIZ, 1988 p. 38-39).

Nesse contexto, pode-se perceber que o país estava em um momento de profundas

mudanças, onde o entretenimento advindo através dos veículos de comunicação de massa

tornava-se o meio de cultura procurada pelo povo. Outrossim, a televisão foi considerada como

um veículo que possibilitaria maior comunicação às famílias brasileiras, tendo em vista sua

abrangência e o ritmo da informação, bem mais rápido e intenso.

À medida que as inovações tecnológicas eram criadas, novos avanços na comunicação

também iam acontecendo. Nesse sentido, em 1946, John Eickert e John Mauchly inventaram o

primeiro computador que funcionava através de válvulas e possibilitava a realização de

inúmeras multiplicações por segundo, além de outras funcionalidades. Com o passar dos anos,

mediante o aperfeiçoamento tecnológico, teve-se início os conhecidos computadores pessoais,

que permitiram a popularização do aparelho para que uma maior quantidade de pessoas

pudessem tê-los em casa. Diante do surgimento desses computadores, uma nova gama de

criações foram realizadas para tornar esse veículo ainda mais acessível, prático, funcional e

barato. Dentre as novas tecnologias criadas, destacam-se: os notebooks, ultrabooks e os tablets

(CEMBRANI, 2017).

Já em 1947, o celular foi inventado pelo laboratório Bell, nos Estados Unidos. Ao

permitir a comunicação por meio de ondas eletromagnéticas, os primeiros aparelhos permitiam,

28

basicamente, a realização de ligações de forma portátil. Em seguida, novas funções foram

adicionadas a esses aparelhos como, por exemplo, o envio de mensagens de texto, reprodução

de músicas, armazenamento de arquivos, captura de imagens, dentre outros, sendo

acompanhada pelo processo de modernização dos seus designs, peso, tamanho e

processamento.

Na década de 1960, emergindo durante a Guerra Fria, surge a Internet. Durante a criação

de um projeto norte-amaricano que visava criar um sistema de informação e comunicação em

rede, que sobrevivesse a um ataque nuclear e deixasse dinâmica a troca de informações entre

os centros de produção científica (GUILES, 2010). Sobre o seu surgimento, Castells (2003, p.

19) afirma que:

Embora a Internet tivesse começado na mente dos cientistas da computação no início

da década de 1960, uma rede de comunicações por computador tivesse sido formada

em 1969, e comunidades dispersas de computação reunindo cientistas e hackers

tivessem brotado desde o final da década de 1970, para a maioria das pessoas, para os

empresários e para a sociedade em geral, foi em 1995 que ela nasceu. (CASTELLS,

2003 p.19).

Segundo Lemos e Lévy (2010), o advento da internet trouxe uma comunicação do tipo

“todos-pra-todos”, enquanto que os veículos de comunicação de massa - televisão e rádio -

possibilitavam a comunicação “um-pra-todos”. Nesse contexto, tem-se que uma mesma

informação passou a ser acessada em diferentes meios de comunicação, surgindo, portanto, a

comunicação em rede. Para Jenkins (2009), esse fenômeno pode ser conhecido como uma

espécie de “cultura da convergência”, tendo em vista o “fluxo de conteúdos através de múltiplas

plataformas de mídias, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento

migratório dos públicos dos meios de comunicação” (JENKINS, 2009 p. 29).

Os telefones inteligentes, chamados de smartphones, são sinônimos de telefones celulares

de alta tecnologia, com grande capacidade de processamento de dados (COUTINHO, 2014).

Criados com as inúmeras capacidades que a internet disponibiliza, estes aparelhos também

facilitam a cultura da convergência. Os smartphones executam um sistema operacional

identificável que premitem aos usuários estenderem suas funcionalidades com os aplicativos

disponíveis em seus sistemas operacionais, IOS, Android etc. Têm capacidades de múltiplas e

rápidas conexões e tamanho da tela adequado e limitado (THEOHARIDOU; MYLONAS;

GRITZALDIS, p. 3, tradução nossa). Ou seja, um computador portátil que funciona em um

telefone celular.

29

De acordo com o que foi exposto, observa-se que ao longo da história da humanidade o

processo de comunicação teve um papel importante nas relações sociais, comerciais e pessoais.

Seja falada, escrita, corporal ou visual, a comunicação foi sendo transformada conforme os

interesses e necessidades das civilizações, assim como acompanhada pelo desenvolvimento das

inovações. Tais inovações possibilitaram uma série de transformações na forma de se

comunicar, o que proporcionou, além dos inúmeros benefícios, diversas incertezas, conforme

aponta Jenkis (2009, p. 38) ao afirmar que “estamos numa era de transição midiática, marcada

por decisões tácitas e consequências inesperadas, sinais confusos e interesses conflitantes e,

acima de tudo, direções imprecisas e resultados imprevisíveis”.

Sendo assim, abordar sobre os impactos que a tecnologia e as novas mídias digitais

acarretam nos seres humanos se torna cada vez mais necessário. Em tempos de ritmo acelerado

de mudanças e sobrecarga de informações, a comunicação através dos smartphones e da internet

permite maior liberdade e beneficia incontáveis pessoas, contudo, conforme aponta Castells

(2003), pode libertar os poderosos para oprimir os desinformados e levar à exclusão dos

desvalorizados pelos conquistadores de valor. Baseado nisso, faz-se importante ter consciência

para todos os atrativos que a forma de comunicação da Era Digital pode ocasionar, não só os

seus benefícios, mas também os malefícios que estão nas entrelinhas da interatividade.

2.2 TECNOLOGIA E AS NOVAS MÍDIAS DIGITAIS

Crescendo principalmente com o advento da globalização, o ser humano nunca esteve tão

exposto aos produtos midiáticos que impulsionam e fortalecem o consumo tecnológico como

na atualidade. Nesse aspecto, o avanço e os impactos da conectividade, segundo Schmidt e

Cohen (2013, p. 44), “ultrapassará largamente o nível pessoal; as formas segundo as quais

mundo físico e mundo virtual coexistem, colidem e se complementam, afetará substancialmente

a forma como cidadãos e Estados se comportarão nas próximas décadas”.

Nos últimos anos, a expansão das novas tecnologias tem marcado relevantes mudanças

na forma de se comunicar, pensar e se comportar do ser humano. Ao influenciar questões

relacionadas ao estilo de vida, bem como fatores políticos, econômicos e sociais, as

transformações oriundas do avanço tecnológico possuem inúmeras vantagens, mas também

consequências ainda pouco abordadas, incertas e nebulosas em relação à saúde física e

psicológica dos seus usuários.

30

“Além de fornecer novos veículos para se expressar, a mídia digital também permite

novas formas de comprar, colecionar, comunicar, jogar, namorar, investir, doar, apostar,

aprender, assistir, ouvir e muito mais” (BELK, 2016, p. 50, tradução nossa). A nova realidade

tecnológica proporcionada pela utilização de computadores, tablets, internet e smartphones,

gera, cada vez mais, adeptos ao novo “mundo digital” e suas infinitas possibilidades, tonando-

se acessível a uma grande parcela da população, independente da classe social, idade, etnia e

escolaridade. De forma específica, o aumento do uso dos celulares nos últimos anos, conforme

Hartanto e Yang (2016, p. 329, tradução nossa), torna-se “uma parte onipresente da nossa

cultura e revolucionam a forma que vivemos”.

Tendo em vista a abrangência na forma de se comunicar, Cardoso (2007) chama de

globalização comunicativa os novos modelos de comunicação nas sociedades informacionais,

provocando transformações espaciais e temporais na vida social do indivíduo. Essa

comunicação em rede também deve ser compreendida na forma como está transformando a

maneira de administrarmos nossa autonomia e exercermos a cidadania nas últimas décadas. De

acordo com o autor:

Hoje, na nossa sociedade, a televisão e a internet (no acesso à diversidade de fontes e

instantaneidade das mesmas) representam um fator de mudança nas nossas vidas, pela

partilha de um mesmo ambiente informativo entre eleitos e eleitores e de um papel

cada vez maior conferido à reflexidade como instrumento de escolha (CARDOSO,

2007, p. 104).

Assim, diante de tempos em que a comunicação “cara a cara” se torna cada vez mais

dificultosa, a imersão dos seres humanos em um universo “online” influencia novas percepções

culturais, o que provoca mudanças significativas nas relações sociais, principalmente no que

tange à comunicação. Segundo Ittelson et al. (1974), o ser humano tem tido um relacionamento

funcional específico com a sociedade que determina como ele pensa a respeito de si próprio,

sendo, portanto, um produto das demandas evolucionárias de seu tempo. Nesse contexto, vale

a pena destacar como exemplo a mudança de comportamento das pessoas diante do avanço

tecnológico e as influências digitais, como destaca Baudrillard (2011, p. 61):

Toda essa interrogação sobre o virtual torna-se hoje ainda mais delicada e mais

complexa por causa do extraordinário blefe que a cerca. O excesso de informação, o

forcing publicitário e tecnológico; a mídia, o deslumbramento ou o pânico – tudo

concorre para uma espécie de alucinação coletiva do virtual e seus efeitos.

Diante do fenômeno que cerca as páginas das redes sociais e blogs cada vez mais

interativos e envolventes, é possível verificar como as pessoas desenvolveram uma maior

31

preferência pela informação que chega de forma mais rápida e fácil através das redes sociais,

bem como a comunicação proporcionada por essas mídias.

Para que se tenha uma ideia aproximada das mudanças provocadas pelo avanço

tecnológico e as implicações na forma que vivemos, o crescimento rápido do número de

aplicativos – também conhecido pelo termo appification – está mudando a maneira como

consumimos, nos relacionamos, armazenamos informações e entretenimento (KOSNER,

2012). Segundo O’Brien e Deventer (2016), trata-se da mudança na forma como se acessa as

informações e a mídia disponível, sendo, portanto, “maneiras de automatizar abordagens

práticas para atender a uma necessidade particular ou interesse ou apenas para facilitar a

diversão” (O’BRIEN; DEVENTER, 2016, p. 418, tradução nossa). Dessa forma, cada vez mais

presentes nos dispositivos móveis, os aplicativos ganham espaço em um novo cenário em que

a praticidade, celeridade e o desempenho no gerenciamento e acesso a informações configuram

o aumento da utilização fundamental dessas ferramentas no cotidiano, influenciando o estilo de

vida dos usuários.

Essas e outras mudanças levaram Jenkins, Green e Ford (2014) a chamarem de “cultura

da conexão” um novo modelo de cultura que passa a surgir diante da disseminação das

tecnologias e mídias digitais. Conforme os autores, os usuários das mídias produzidas não

passam a ser mais vistos simplesmente como mero consumidores, como ocorria anteriormente,

mas sim como criadores de valor e significado. Por permitir a propagação, o compartilhamento

e a criação de materiais além dos limites geográficos, o público tende a influenciar ativamente

na disseminação de conteúdos, discussão e críticas através dos diferentes tipos de mídias,

envolvendo-se cada vez mais com esse processo, seja nos negócios, na política ou na vida

cotidiana.

Diante da máxima de que “aquilo que não se propaga, morre” (JENKINS; GREEN;

FORD, 2014), a mudança de paradigmas que a mídia atual presencia leva ao entendimento da

contemporânea transformação do papel desempenhado pelos seus usuários. Estes, por sua vez,

não se limitam apenas a uma conduta reativa, passando a se engajar e se posicionar diante dos

conteúdos produzidos. É com base nesse engajamento do público que Jenkins, Green e Ford

(2014) sinalizam que no ambiente de mídia digital, as empresas que prosperarão serão aquelas

que souberem lidar com as aspirações e necessidades desse público ansioso por participar e

opinar.

Por outro lado, enquanto as mídias digitais possibilitam uma cultura de conexão e

engajamento, elas também podem provocar um efeito inverso. Castells (2003) aponta que o

comportamento provocado devido à difusão da internet está ocasionando um isolamento social,

32

o que gera um colapso da comunicação social e da vida familiar. Estar conectado pode significar

coisas diferentes para diversas pessoas, dependendo do estilo de vida que cada uma possui.

Com isso, ao mesmo tempo em que a internet possibilita certa igualdade aos seus usuários, com

acesso aos mesmos recursos, informações e plataformas, diferenças significativas ainda

persistem no mundo físico (SCHMIDT; COHEN, 2013).

Com a democratização da comunicação, múltiplos modelos de negócios encontraram no

avanço tecnológico a oportunidade de transcender fronteiras e romper obstáculos, desafiando

os limites até então impostos pelas barreias geográficas, físicas e culturais. Tais negócios

também se reorganizaram na forma de se comunicar, monitorar e cobrar dos seus funcionários

as demandas e os objetivos organizacionais, como aponta Castells (2003, p. 143) ao enfatizar

que “à medida que os trabalhadores se tornam cada vez mais dependentes da interconexão por

computador em sua atividade, a maioria das companhias decidiu que têm o direito de monitorar

os usos de suas redes por seus empregados”.

Ao analisar o amálgama de assuntos relacionados às novas tecnologias e mídias digitais,

pode-se confrontar uma profundidade de transformações que conferem traços marcantes ao

contexto socioeconômico e cultural. Para muitos, refletir sobre essas questões possibilita uma

nova forma e enxergar e (re)significar o uso dessas tecnologias, uma vez que de tão inseridas

no cotidiano, podem passar despercebidas aos olhares conectados do mundo. Embora sua

discussão não seja recente, observa-se que diversos estudos direcionam seu foco principalmente

para os benefícios e vantagens que a tecnologia e as novas mídias digitais podem proporcionar,

sendo ainda poucos os que se detém a analisar os impactos negativos da utilização de tais

ferramentas.

2.2.1 Paradoxos tecnológicos

O surgimento de novas tecnologias marcou o início de uma série de mudanças em nosso

cotidiano, promovendo impactos nos mais variados contextos da história da humanidade. À

medida que cresce as possibilidades do seu uso, com o surgimento de novas funções e

aplicativos, aumenta também a complexidade das relações dos indivíduos com essas

ferramentas, fortalecendo uma visão paradoxal de sentidos e significados atribuídos.

Originando-se desde os filósofos da Antiguidade, as discussões a respeito dos paradoxos

vêm sendo abordada em diferentes tipos de estudos, principalmente os que procuram as

33

ambiguidades existentes nos modos de pensar, agir e sentir. Compreendido como uma forma

de contradição, conflito, ambivalências e oposição entre duas ideias (CORSO; FREITAS;

BEHR, 2012), os paradoxos remetem a uma ideia de condições antagônicas e polares que

podem coexistir simultaneamente como uma situação, ato ou comportamento de qualidades

contraditórias ou inconsistentes (MICK; FOURNIER, 1998; JARVENPAA; LANG, 2005).

Nessa perspectiva, considerando a presença marcante das inovações tecnológicas na

vida das pessoas, Corso; Freitas e Behr (2012, p. 2) afirmam que “ao mesmo tempo em que a

evolução das tecnologias traz o progresso elas criam paradoxos sociais que desafiam as pessoas

nas esferas pessoal e social”. Dessa maneira, reavendo o pensamento de paradoxo e elencando

à utilização das tecnologias, Mick e Fournier (1998), ao investigarem as perspectivas,

significados e experiências dos consumidores em relação a diversos produtos tecnológicos,

sugeriram a presença de oito paradoxos tecnológicos, bem como suas influências sobre as

reações emocionais e estratégias comportamentais de enfrentamento. Os autores acreditam que

alguns paradoxos (controle/caos; liberdade/escravidão; novo/obsoleto;

competência/incopetência) acabam sendo mais perceptíveis do que outros, tendo em vista

serem muitas vezes experienciados em relação a uma grande quantidade de produtos, que

constantemente se quebram ou tornam-se obsoletos.

Mick e Founier (1998), definem que no paradoxo controle/caos, a tecnologia pode

facilitar a regulação ou a ordem, mas também pode levar a transtornos ou distúrbios. No

paradoxo liberdade/escravidão, a tecnologia facilita a independência ou possibilita menos

restrições, mas também pode levar a outros tipos de dependência e maiores restrições. Em

relação ao paradoxo novo/obsoleto novas tecnologias proporcionam às pessoas os benefícios

mais recentemente desenvolvidos, mas também ficam desatualizadas rapidamente à medida que

novos itens chegam ao mercado.

Ainda segundo os autores, no paradoxo competência/incompetência, a tecnologia

proporciona maior sentimento de inteligência e eficácia, mas também pode levar a sentimentos

de ignorância e insuficiência, enquanto que no paradoxo eficiência/ineficiência a tecnologia

proporciona menos esforço e tempo gasto em certas atividades, mas também pode demandar

maior esforço em outras atividades. O sexto paradoxo proposto, trata de satisfação/criação de

necessidades, mostrando que a tecnologia pode facilitar a satisfação de necessidades e desejos,

mas também pode desenvolver a criação de novas necessidades. No paradoxo de

integração/isolamento, a tecnologia pode facilitar a convivência humana, mas também pode

causar o isolamento entre as pessoas, e por fim, o paradoxo engajamento/desengajamento

34

mostra que a tecnologia possibilita maior envolvimento, fluxo ou atividade interpessoal, mas

também pode levar à desconexão, perturbação ou passividade.

Jarvenpaa e Lang (2005) também investigaram, de forma mais específica no uso de

tecnologia móvel, os paradoxos tecnológicos existentes em 222 usuários participantes da

Finlândia, China, Japão e EUA. Os autores também identificaram oito paradoxos, sendo quatro

destes (liberdade/escravidão; competência/incompetência; satisfação/criação de necessidades;

engajamento/desengajamento) os mesmos identificados por Mick e Fournier (1998).

Os quatro paradoxos diferentes encontrados por Jarvenpaa e Lang (2005) são:

independência/dependência, mostra que a sensação de liberdade que as pessoas têm devido a

conectividade, em qualquer momento e local, sistematicamente causa sensação de sempre

depender dessa mesma conectividade para conseguir realizar atividades, tarefas etc. No

paradoxo planejamento/improvisação, é identificado que as facilidades disponíveis na

tecnologia móvel a fim de planejar com antecedência e coordenar atividades e reuniões, geram

também improvisação, no sentido de que há menos tempo investido no planejamento e a

facilidade em justificar atrasos, agendar reuniões em cima da hora e contar com estes recursos

para realizar atividades intempestivamente.

Já no paradoxo público/privado os autores apontam que mesmo sendo de utilidade

pessoal e particular, o aparelho celular/smartphone pode ser manuseado livremente, em

qualquer local, o que pode ocasionar certa invasão de privacidade. O uso da tecnologia móvel

em caráter privado, por vezes, acaba invadindo o espaço coletivo, especialmente quando um

usuário atende uma chamada em local público. Por fim, o paradoxo ilusão/desilusão mostra que

as pessoas acabam por esperar certos benefícios que os smartphones podem proporcionar

através dos aplicativos, porém isso pode não ocorrer e criar certas desilusões acerca dessa

tecnologia (JARVENPAA; LANG, 2005).

Mazmanian, Orlikowski e Yates (2006) investigaram as consequências da utilização de

e-mails por meio dos smartphones em funcionários de uma empresa privada ligada ao setor

financeiro. Os autores assinalaram a existência de três diferentes tipos de dualidades

(continuidade/assincronicidade; autonomia/vício; engajamento/desengajamento) decorrentes

das experiências conflitantes para o trabalho e a vida dos participantes. Em relação ao paradoxo

continuidade/assincronicidade, este se refere à possibilidade do indivíduo permanecer

conectado, contemplando um grande fluxo de informações, ao mesmo tempo em que também

proporciona certo controle pela pessoa, uma vez que ela decide o tempo de responder as

mensagens. Quanto à dualidade autonomia/vício, estes estão relacionados ao sentimento de

independência e autossuficiência, ao passo que também os obriga a manter os smartphones

35

prontamente ligados e disponíveis. O paradoxo engajamento/desengajamento foi o mesmo

encontrado também nas pesquisas de Mick e Fournier (1998) e Jarvenpaa e Lang (2005).

Sorensen (2011), por sua vez, apresenta três paradoxos (criatividade fluida/criatividade

limitada; colaboração fluida/colaboração limitada; controle fluido/controle limitado) voltados

para o desempenho tecnológico e gestão, considerando que mesmo o indivíduo tendo a

oportunidade de utilizar a tecnologia de forma planejada, esta contribui com amplas

oportunidades de ultrapassar seus limites de forma fluida.

De acordo com o autor, o paradoxo criatividade fluida/criatividade limitada se refere a

utilização da criatividade na resolução de problemas e necessidades por meio do celular, mas o

uso dessa criatividade, muitas vezes, requer esforços que não são previstos, podendo ser evitado

pelo usuário. Na perspectiva da colaboração fluida/colaboração limitada, o smartphone tanto

pode contribuir para melhorar o trabalho em equipe, de forma interdependente com os demais

colegas de trabalho, como pode utilizá-lo de forma especificamente individual, limitada por

meio de normas e regras que fazem com que utilize de forma isolada a tecnologia. O controle

fluido/controle limitado está relacionado ao suporte que a tecnologia proporciona à gestão do

trabalho, supervisionando e gerenciando, ao mesmo tempo em que também pode dificultar o

controle.

Com base nos paradoxos apontados anteriormente, Corso, Freitas e Behr (2012)

identificaram as dualidades existentes no uso de smartphones por docentes universitários,

evidenciando três tipos em específico: liberdade/escravidão; continuidade/assincronicidade;

necessidades supridas/criadas. De acordo com os autores, os professores pesquisados sentiam

uma sensação de empoderamento, liberdade, conectividade e comunicação, suprindo suas

demandas diárias de trabalho, ao mesmo tempo em que se sentiam dependentes do aparelho ou

até mesmo viciados. Estudo realizado por Borges e Joia (2013a) evidenciou a presença de cinco

paradoxos tecnológicos em executivos brasileiros (liberdade/escravidão;

dependência/independência; planejamento/improvisação; continuidade/assincronicidade;

autonomia/vício). Os gestores entrevistados pelos autores apontaram que, apesar de

reconhecerem que o smartphone contribui de forma importante nos seus cotidianos, eles sabem

que tal ferramenta causa certa dependência, vício e escravidão à medida que se sentem

obrigados, ainda que inconscientemente, a mantê-los sempre ligados e constantemente

atualizados.

Na mesma perspectiva, Borges e Joia (2013b) encontraram que a diferença de gênero

pode ser um importante fator influenciador na percepção desses paradoxos quanto ao uso de

smartphones, uma vez que as mulheres apresentaram maior intensidade na forma de perceber

36

e vivenciar essas ambiguidades. As executivas entrevistadas demonstraram a existência de seis

paradoxos (liberdade/escravidão; independência/dependência; planejamento/improvisação;

público/privado; continuidade/assincronicidade; autonomia/vício), duas a mais do que os

executivos homens (liberdade/escravidão; independência/dependência;

continuidade/assincronicidade; autonomia/vício).

“Atualmente se misturam o público e o privado. Os limites do particular e do

compartilhado estão cada vez mais estreitos e sutis” (KING; NARDI, 2014, p 34). Com isso, a

diferença de hábitos de uso do celular e o contraste entre os fatores acarretados pela sua

utilização pode ser evidenciado na Figura 1, a seguir:

Figura 1 - Hábitos de uso do smartphone

Fonte: Adaptado de ANSHARI et al. (2016).

De acordo com Corso, Freitas e Behr (2012), o confronto existente com os paradoxos

podem afetar a experiência e o comportamento dos indivíduos como um todo. Dessa maneira,

torna-se relevante compreender o papel efetivo dessas tecnologias no cotidiano de trabalho

destes usuários, pois as dualidades e conflitos oriundos deste uso merecem ser analisadas a fim

de buscar soluções que visem minimizar os aspectos conflitantes associados ao uso destas

tecnologias.

37

2.3 VÍCIO TECNOLÓGICO: CONTEXTUALIZANDO NOMOFOBIA

O crescimento da inovação tecnológica demandou uma alteração no comportamento e

hábito da sociedade, considerando o ato de “estar conectado” a uma condição fundamental para

se incorporar a um mundo cada vez mais interativo, onde a informação é uma significativa

moeda de poder e troca (BORGES; JOIA, 2013a). Nesse sentido, computadores, internet e

telefones celulares se tornaram indispensáveis no dia a dia das pessoas, proporcionando uma

comunicação imediata e ágil para quem busca praticidade e autonomia (KING; NARDI;

CARDOSO, 2014).

As tecnologias móveis podem modificar as dinâmicas sociais através de novas formas

de comunicação e participação (LYYTINEN; YOO, 2002). Nesse sentido, levando-se em

consideração os constantes avanços tecnológicos, os smartphones se tornaram indispensáveis,

sendo crescente, segundo Szpakow, Stryzhak e Prokopowicz (2011) e Krajewska-Kułak et al.

(2012), o aumento do seu uso na última década, especialmente em crianças e adolescentes.

Assim, diante das suas inúmeras capacidades, os celulares facilitam a comunicação instantânea,

ajudam as pessoas a permanecerem conectadas em qualquer lugar e a qualquer hora, além de

proporcionar constante acesso a informação (PARK et al., 2013).

A introdução de telefones celulares e novas tecnologias têm moldado a vida diária, com

aspectos positivos e negativos. Não só na vida pessoal e social, mas também no âmbito

profissional, o uso de smarthphones funcionam como ferramentas facilitadoras e de

fundamental importância para a realização das atividades, estando cada vez mais incorporadas

ao ambiente de trabalho. Entretanto, apesar dos seus benefícios, o uso em excesso de

smartphones pode causar dependência, provocando alterações emocionais, bem como sintomas

físicos e psicológicos, tais como: aumento da ansiedade, taquicardia, alterações respiratórias,

tremores, transpiração, pânico, medo e depressão (KING et al., 2014).

A dependência do uso de computadores, internet e telefone celular pode ser

caracterizada, segundo King et al. (2014), como nomofobia, que significa o medo moderno de

ser incapaz de se comunicar através do smartphone ou da internet. Nomofobia é, portando, a

angústia ou medo do indivíduo ficar impossibilitado de se comunicar pelas novas tecnologias,

ou seja, a fobia de estar sem o telefone celular, computador e/ou internet. Nessa perspectiva,

Yildirim e Correia (2015, p. 136, tradução nossa) também definem nomofobia como sendo:

O medo de não ser capaz de utilizar um aparelho ou um telefone móvel e/ou os

serviços oferecidos. Refere-se ao medo de não ser capaz de se comunicar, perdendo a

38

conexão que os smartphones permitem, não ser capaz de acessar informações através

dos smartphones, e a conveniência que os smartphones oferecem.

O termo foi utilizado pela primeira vez na Inglaterra em 2008, referente a abreviação

das palavras inglesas “no mobile phone phobia”, que significa “fobia de ficar sem telefone”.

Originado de um estudo que investigava o nível de ansiedade dos usuários de telefone celular,

a pesquisa detectou que cerca de 53% dos usuários sofriam de dependência crônica pelo uso do

aparelho (YILDIRIM; CORREIA, 2015; KING et al., 2014).

O estudo também revelou que os homens eram mais propensos a ter nomofobia do que

as mulheres, indicando sentimentos de ansiedade quando não era possível usar o telefone. Não

obstante, após quatro anos, uma nova pesquisa realizada no mesmo país identificou que o

número de pessoas que sofriam de nomofobia havia aumentado de 53% para 66%

(SECURENVOY, 2012). Além disso, ao contrário da pesquisa anterior, o novo estudo

descobriu que as mulheres eram mais suscetíveis a nomofobia. Em relação à faixa etária,

constatou-se que jovens com idades entre 18-24 anos foram mais propensos a nomofobia,

seguido por usuários com idade entre 25-34 anos (BRAGAZZI; PUENTE, 2014; YILDIRIM;

CORREIA, 2015; KING et al., 2014). Nessa perspectiva, Rosen et al. (2012 apud CHEEVER

et al., 2014) também detectaram que as pessoas mais jovens utilizam os smartphones com maior

frequência do que os indivíduos com maior idade.

Caracterizada pela ausência de uma comunicação face-a-face, o uso constante dessas

novas tecnologias também pode interferir nas interações sociais, causando comportamentos

confusos e sentimentos ruins, o que pode levar ao isolamento social, um certo grau de alienação,

problemas econômicos/financeiros e patologias físicas e psicológicas, tais como: danos

relacionados à radiação do campo eletromagnético, acidentes de carro e a angústia ligada ao

medo de não ser capaz de usar novos dispositivos tecnológicos (BRAGAZZI; PUENTE, 2014).

Esse transtorno ou fobia social é descrito por Bragazzi e Puente (2014) como um transtorno de

ansiedade de evolução crônica, marcada pelo alto nível de ansiedade em situações sociais que

envolvem o contato interpessoal e interações, que pode causar extrema ansiedade ou grande

interferência na vida diária de um indivíduo.

Conflitos familiares, perda do sono, problemas no trabalho, baixo desempenho

acadêmico e refeições ignoradas são algumas das principais consequências que também estão

associadas ao vício na internet (KARDEFELT-WINTHER, 2014). Diante disso, com base na

Teoria Compensatória de Uso da Internet (CIUT) – Compensatory Internet Use Theory -,

Kardefelt-Winther (2014) argumenta que o uso em excesso da internet pode ser decorrente das

pessoas procurarem aliviar suas emoções negativas durante a sua utilização. Nesse sentido,

39

conforme o autor, o uso demasiado da tecnologia pode ser visto como resultado de um

comportamento compensatório, que visa regular uma emoção negativa, uma vez que tal vício

geralmente ocorre porque as pessoas procuram escapar dos problemas da vida real. Nesse

aspecto, Peres e King (2014, p. 55) destacam:

A extensão desses problemas fica mais clara ao se perceber notícias dos casos ao redor

do mundo todo como, por exemplo, China, Espanha, Estados Unidos e Brasil. Em um

caso extremo na Tailândia, houve relato do suicídio de um menino de 12 anos após

ter sido proibido de utilizar a internet. Na China, uma pesquisa mostrou que 42% das

pessoas que utilizam a internet são dependentes dela, o que está levando à elaboração

de um manual de tratamento.

Diante disso, ao influenciar intensamente os comportamentos interpessoais e sociais,

Bragazzi e Puente (2014) apontam as principais características relacionadas à nomofobia,

especificamente voltado ao uso excessivo do aparelho celular, tais como: usar regularmente o

smartphone e gastar um tempo considerável na sua utilização; sempre levar o carregador

consigo devido ao medo de ficar sem bateria; sentir-se ansioso ou nervoso quando o telefone

não está próximo ou sem conexão com a internet; manter o celular sempre ligado (24 horas por

dia) e dormir com o aparelho próximo a cama; olhar constantemente a tela do aparelho para

verificar se mensagens ou chamadas foram recebidas; preferir se comunicar usando as novas

tecnologias; e contrair dívidas e grande despesas devido ao uso do aparelho.

Yildirim e Correia (2015) encontraram quatro dimensões da nomofobia em jovens

universitários dos Estados Unidos, sendo elas: 1) incapacidade de se comunicar; 2) perda de

conexão; 3) não ser capaz de acessar informações; 4) conveniência. A primeira dimensão –

incapacidade de se comunicar – está relacionada ao sentimento de perda de comunicação rápida,

não sendo capaz de contatar e também ser encontrado pelas pessoas. Por sua vez, a segunda

dimensão – perda de conexão – refere-se a sensação de perder a conectividade proporcionada

pela onipresença do smartphone, sendo “desconectado de uma identidade online”. Em seguida,

a terceira dimensão – não ser capaz de acessar informações – reflete o incômodo decorrente da

incapacidade de ter o acesso generalizado as informações por meio dos celulares, não sendo

possível recuperar e procurar informações. Por fim, a quarta dimensão – conveniência – aborda

o sentimento de praticidade e comodidade proporcionada pelo aparelho aos usuários, o que

garantia uma maior usabilidade das ferramentas no cotidiano.

Em relação as consequências físicas que a nomofobia pode acarretar, Lee et al. (2012)

acreditam que devido ao uso repetitivo do punho com a utilização excessiva do celular, lesões

no pulso podem ser frequentes, fazendo-se necessário, portanto, precauções ao usar esses

aparelhos. Por sua vez, Krajewska-Kułak et al. (2012) também alertam que o uso exagerado do

40

celular tem sido associado a fatores de risco para o pescoço, ombro e dores lombar em

adolescentes, além de problemas relacionados à audição e visão.

Em tempos de conectividade, a mobilidade proporcionada pelo celular se torna uma

condição indispensável para o mundo moderno. Com base na crescente quantidade de indícios

que colocam em discussão os efeitos negativos do uso em excesso do smartphone, diversos

estudos passaram a analisar as causas e consequências da utilização demasiada desses

aparelhos, colocando em questão os efeitos nocivos, que até então eram timidamente abordados

na literatura. Sendo assim, diante das particularidades voltadas às diferentes tecnologias

existentes, observa-se a necessidade de explorar os estudos específicos que abordam o uso dos

celulares e seus impactos no cotidiano dos seres humanos, bem como seus desafios e

perspectivas.

2.3.1 O celular e o uso excessivo do aparelho

"Não posso discutir isto agora. Dirigir e falar no Facebook não é seguro! Haha"

(Última postagem de Taylor Sauer no facebook, 1994 – 2012).

Antes de morrer em um trágico acidente de carro, a adolescente americana Taylor Sauer,

de 18 anos, postou sua última mensagem no facebook, enquanto dirigia a 130 km/h. Casos

como o de Taylor passaram a ser cada vez mais comuns nos últimos anos, principalmente no

Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET), o uso do

celular na direção já é a terceira causa de mortes no país, sendo registrado cerca de 150 acidentes

por dia ou quase 54 mil por ano (BURNIER, 2017).

Os hábitos e as consequências causadas pela dependência e o uso excessivo do celular

ainda aparecem de forma tímida nas discussões nacionais, tendo em vista que boa parte da

literatura encontrada é de outros países. O constante crescimento das inovações no mercado dos

smartphones potencializa o desejo dos consumidores em adquirir e utilizar as novidades

lançadas, fazendo com que seus usuários fiquem cada vez mais tempo diante desses aparelhos.

Para Borges et al. (2016, p. 206), “os smartphones se tornaram objeto de desejo por concentrar,

em um design simples, em um único aparelho, as funções de telefone (voz) e de processamento

de dados, geralmente executadas em um computador (PC)”.

Segundo Barcelos, Esteves e Piegas (2015, p. 49), até o ano de 1997 “o interessado em

adquirir uma linha de celular precisava se cadastrar a uma telefônica local e esperar até 3 anos

para ser contemplado”. Em 1998, diante das privatizações ocorridas no setor, o processo de

41

massificação da venda de telefonia móvel sofreu um grande salto, principalmente com as

empresas que passaram a ter a concessão desse serviço. Como consequência, foram realizados

maiores investimentos em tecnologia e serviços, o que tornou, pouco a pouco, o celular mais

acessível à população.

Associado ao crescente número de aparelhos no Brasil (BORGES et al., 2016), a

transformação do mercado de telefonia móvel aliada ao perfil de consumo do brasileiro fez com

que a venda de celulares se tornasse um negócio atraente e promissor para uma quantidade

significativa de empresas que comercializam os aparelhos e seus acessórios, tais como:

películas, capas protetoras, fones de ouvido, carregadores portáteis, dentre outros. O gráfico 1,

a seguir, demonstra a evolução no Brasil dos acessos em operação da telefonia móvel nos

últimos anos.

Gráfico 1 - Quantidade de celulares e densidade nos últimos anos

Fonte: ANATEL (2018).

O aumento da “quantidade de usuários dessa tecnologia gera transformações na forma

de ser, de agir, nas relações sociais e de trabalho de um indivíduo” (CUNHA et al., 2014, p.

79). Nesse sentido, uma pesquisa realizada pela agência de publicidade AG2 Publicis Modem,

42

detectou que 70% dos brasileiros utilizam os celulares enquanto estão na cama e 65% no

banheiro. Depois que acordam, em menos de um minuto 61% dos usuários já utilizam o celular.

Ainda segundo o estudo, 91% dos participantes informaram que usam o aparelho para se

divertirem, 86% para se comunicar e 63% para se informar (VIACAVA et al., 2016;

FERREIRA, 2013).

Há uma disseminação crescente e acelerada do uso dos smartphones nos mais diversos

contextos, tais como escolas, universidades, casa e trabalho. Assim, com a utilização cada vez

mais comum desses aparelhos, Nagumo e Teles (2016, p. 358) destacam que “em geral, as

pessoas amam seus celulares, pois estes oferecem novas possibilidades para experimentar

identidades e, particularmente na adolescência, o sentimento de liberdade”. Ao tornar-se um

objeto de desejo contemporâneo (AGUIAR et al., 2014), Sacher e Loudon (2002) acreditam

que o uso do celular envolve experiências e significados pessoais, representando, portanto, a

identidade dos usuários.

Nesse sentido, ao investigar estudantes universitários da Califórnia, Cheever et al.

(2014) identificaram que o uso do telefone celular estava diretamente relacionado à ansiedade

dos alunos, uma vez que a retirada dos aparelhos induzia a um aumento da ansiedade, afetando

o bem-estar e provocando consequências psicológicas nos usuários. Da mesma forma, Hartanto

e Yang (2016) verificaram que os universitários de Cingapura, ao serem afastados dos seus

aparelhos celulares, desenvolviam consequências emocionais e cognitivas negativas,

influenciando no aumento da ansiedade. Para os autores, os alunos universitários são os mais

vulneráveis aos efeitos negativos da separação dos seus celulares, já que são mais intimamente

ligados a seus aparelhos do que qualquer outro grupo etário.

Levando-se em consideração que o celular é um dos objetos materiais mais

predominante da sociedade moderna, a pesquisa realizada na Hungria por Konok et al. (2016)

assinalou que a dependência desses aparelhos pode ser relacionada a um fenômeno normativo

de base e função biológica. Segundo os autores, da mesma forma que os seres humanos

possuem predisposição biológica para formar apegos sociais, eles também podem desenvolver

diferentes apegos para algo não humano (animais) e inanimados (celular). Desse modo, o estudo

dos autores identificou que o apego ao celular estava relacionado com um maior nível de

ansiedade das pessoas, principalmente pela necessidade de contato, posto que o aparelho pode

proporcionar uma maior sensação de segurança ao dar a impressão de estar constantemente

conectado ao mundo, não se sentindo, portanto, sozinho (KONOK et al., 2016).

Nesse contexto, “várias teorias foram propostas para procurar explicar por que a

separação do smartphone induziria a ansiedade” (HARTANTO; YANG, 2016, p. 330, tradução

43

nossa). Como exemplo, faz-se interessante destacar o conceito do “eu estendido” de Belk

(2013), que aponta para a percepção do celular como uma extensão do self, fazendo com que a

separação do aparelho seja vista como a perda de si mesmo, o que acarretaria no aumento da

ansiedade. Tal conceito possibilita entender melhor a sensação de “vibração fantasma”, que

seria quando a pessoa sente a vibração do aparelho junto ao corpo mesmo quando o celular não

está vibrando. Vidal (2014, p.15) explica esse fenômeno comparando-o à síndrome do membro

fantasma, “fato experimentado por amputados, que alegam sentir dores nos membros não

existentes como se ainda estivessem lá”. Sendo assim, conforme Hartanto e Yang (2016), a

simples abstinência do celular não pode ser considerada como um tratamento eficaz para o vício

no aparelho, tendo em vista que a separação do smartphone pode aumentar a ansiedade,

provocando sérias consequências, além de prejudicar o controle cognitivo e o sistema

regulatório.

Em um estudo realizado com estudantes universitários do sul do Brasil, Viacava et al.

(2016) identificaram que quanto menor o autocontrole, mais os alunos utilizavam seus

celulares, ao mesmo tempo em que quanto mais estavam cansados – depleção do ego – piores

esses alunos se saíram em um teste simulado e, consequentemente, mais utilizavam os

smartphones. Conforme os achados dos autores, “o maior autocontrole é capaz de minimizar

os efeitos da depleção do ego sobre a quantidade de vezes que os alunos utilizaram o celular e,

sobre a nota do exame simulado” (VIACAVA et al., 2016, p. 113). Por sua vez, Rosen et al.

(2013) detectaram que o uso de tecnologias e determinada mídia social – facebook –

apresentaram impactos positivos e negativos nos sujeitos pesquisados. Na pesquisa dos autores,

o uso do facebook, por exemplo, foi diretamente relacionado a sinais de narcisismo, enquanto

que uma maior quantidade de amigos nessa rede social estava direcionada a menor sinais de

depressão.

Kim (2018) verificou que as pessoas que apresentavam um alto nível de solidão tinham

uma maior necessidade de segurança social e de conexão imediata, o que levaria a utilizar o

smartphone com mais frequência do que os indivíduos sem esses problemas. Nesse sentido, a

necessidade de segurança social - que seria o desejo do ser humano ser aceito por outros para

se sentir pertencendo a um grupo ou indivíduo - faz o usuário acreditar que com a posse do

celular a pessoa nunca estaria sozinho, devido a possibilidade de se comunicar a qualquer dia,

hora e lugar. Da mesma forma, a necessidade de conexão imediata – que seria o forte desejo de

receber respostas imediatas de outras pessoas – inevitavelmente faz com que alguns indivíduos

queiram sempre estar disponíveis por meio do aparelho, aumentando, assim, o nível de

dependência do smartphone. Com isso, como as pessoas solitárias tendem a estar ansiosas, elas

44

evitam a interação social e demonstram uma maior preferência pela comunicação por meio das

mídias digitais. Ademais, o autor também encontrou uma relação positiva e significativa entre

o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a dependência do uso de

smartphones.

Tendo em vista investigar os hábitos e nível de dependência do celular em jovens

estudantes da Espanha, Soler, Sánchez e Soler (2017) descobriram a existência de três grupos

específicos, denominando-os de: 1) os conectados; 2) os criativos e 3) os nomofóbicos. O grupo

dos ‘conectados’ apresentou alto nível de dependência do smartphone, estando sempre próximo

ao aparelho por acreditarem que sem ele ficam incomunicáveis. Esse grupo também

demonstrou que dormem menos porque ficam utilizando o celular e não gostam de desligá-lo,

independente do contexto. Tais alunos acreditam que sua felicidade depende de ter o

smartphone de última geração ou mesmo o telefone conectado à internet. O Twitter e o

Instagram são alguns um dos aplicativos mais utilizados, além do WhatsApp, Facebook,

Youtube e Snapchat, onde geralmente ficam conectados entre duas ou mais de cinco horas por

dia.

Ainda de acordo com o estudo de Soler, Sánchez e Soler (2017), os alunos pertencentes

ao grupo dos ‘criativos’ se identificaram como pessoas mais imaginativas, pois nunca ficavam

ociosas no tempo livre, apresentando os valores mais baixos de dependência do celular. Dentre

os aplicativos que mais utilizam, destacam-se o Instagram, WhatsApp, Pinterest e o Youtube,

ficando diariamente menos de uma hora conectados. O grupo dos ‘nomofóbicos’ foi o terceiro

detectado pelos autores, apresentando valores consideravelmente mais elevados de dependência

e um comportamento mais obsessivo em relação ao celular. Tais estudantes demonstraram

raiva, nervosismo e desconforto quando não estão com bateria suficiente, não conseguem

conectar à internet ou não podem se comunicar com outras pessoas por meio do aparelho. Esse

grupo se sente mais feliz quando está com a posse dos seus smartphones, priorizando seu uso

em detrimento das relações pessoais, sociais e familiares. O uso contínuo do celular também

apresentou prejuízos nas horas de sono e no desempenho escolar. No tempo livre, esses alunos

gostam de “não fazer nada”, estudando somente quando está próximo das avaliações. O

WhatsApp, Instagram, Snapchat e o Facebook são as redes sociais mais utilizadas por esse

grupo, ficando uma média diária de mais de cinco horas conectados.

O uso do celular antes de dormir e o impacto no sono de jovens universitários foi

investigado por Rosen et al. (2016), que encontraram que a ansiedade influenciava no aumento

do uso do aparelho antes de dormir, fazendo com que os participantes descansassem de forma

insuficiente. Segundo os autores, a luz emitida pelos smartphones contribui para retardar a

45

liberação da melatonina, atrasando o início do sono. Assim, alguns dos estudantes pesquisados

dormiam com o celular ligado ou no modo vibração, despertando pelo menos uma vez por noite

para verificar o telefone. Nesse contexto, ao analisar o papel do telefone celular e os sintomas

provocados em estudantes universitários, Szpakow, Stryzhak e Prokopowicz (2011) e

Krajewska-Kułak et al. (2012) também identificaram que a maioria dos alunos nunca

desligavam seus aparelhos, apesar de saberem dos efeitos nocivos do seu uso, podendo ser

viciante.

Desta forma, destaca-se a necessidade de entender melhor o fenômeno desta dependência,

levando-se em consideração que este é um tema que ainda apresenta lacunas na literatura,

gerando incertezas e contradições. Conforme exporto, a realização de um estudo empírico com

universitários brasileiros poderá proporcionar uma melhor compreensão dos hábitos e

significados desses estudantes em relação ao aparelho celular, proporcionando, portanto,

subsídios para tomadas de decisões e reflexões em relação ao uso excessivo do smartphone e

suas consequências, especialmente no âmbito acadêmico e organizacional.

2.4 ADMINISTRAÇÃO E NOMOFOBIA: UMA APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA

As facilidades de acesso à internet de forma ilimitada e a nova maneira de comunicação,

por meio dos smartphones, mudaram significativamente a maneira de se relacionar e viver no

âmbito social e também organizacional. Seja no trabalho, em casa, na academia ou em um

momento de lazer e maior privacidade, os smartphones parecem se tornar um acessório cada

vez mais indispensável aos seres humanos contemporâneos. Muito mais do que apenas uma

necessidade, o uso desses aparelhos também é objeto de desejo e status, caracterizado pela

obsolescência programada a partir do lançamento constante de novos modelos e atualizações.

Ao transformar a configuração das relações interpessoais na forma de se comunicar, a

nova construção social, marcada pela Era Digital, faz com que o uso dos celulares se torne

inevitável no cotidiano das pessoas. Este passou a ser de fundamental importância também

dentro das empresas, não só para a comunicação entre os funcionários, mas também para a

realização das atividades, possíveis através dos aplicativos e funcionalidades que dispõem.

Sabe-se dos inúmeros benefícios que um smartphone pode oferecer, contudo se usado de

forma descontrolada pode trazer danos às pessoas. King, Nardi e Cardoso (2014), ilustram que

se de um lado o celular dá maior liberdade nas comunicações, tendo em vista que não exige que

o sujeito esteja geograficamente fixo em um local para se ter contato, por outro permite que ele

46

seja localizado a qualquer hora e local, tendo, portanto, uma redução dos seus momentos de

descanso e lazer. Nesse sentido, alguns profissionais tendem a se tornarem “conectados com o

trabalho” por permanecerem sempre acessíveis, como se estivessem continuamente de plantão,

fazendo hora extra com o celular ativo.

É por um desejo de conexão contínua que muitas empresas disponibilizam aparelhos

tecnológicos corporativos – notebooks, tablets e smartphones – para seus funcionários, visando

a uma maior acessibilidade, agilidade e monitoramento. Estes, por sua vez, muitas vezes se

veem trabalhando com tais aparelhos até mesmo fora do horário de expediente, geralmente

recebendo ligações, e-mails ou respondendo clientes por meio dos aplicativos de mensagens.

Apesar da sua utilização trazer uma série de facilidades no âmbito organizacional, o uso

excessivo do celular pode acarretar, muitas vezes inconscientemente, em um aumento da

ansiedade, angústia, dependência e vício.

Não obstante o smartphone poder tornar as atividades mais fáceis e rápidas, colabora

também para o desenvolvimento de um padrão workaholic dos trabalhadores. Nesse sentido,

quando o trabalho não tem hora para começar e nem terminar, o adoecimento de profissionais

torna-se progressivo, causando até a síndrome de burnout1 (KING; NARDI; CARDOSO,

2014). Isto é, além dos problemas diagnosticados diretamente pela utilização excessiva do

aparelho, como a ansiedade, fobia social etc, este ainda pode causar de forma indireta,

síndromes ocasionadas pelo excesso de trabalho. Além disso, Salehan e Negahban (2013)

também chamam a atenção para a tecnostress, que seria o estresse tecnológico decorrente do

uso excessivo do aparelho móvel. Para os autores, o vício na internet está provocando

problemas graves tanto para os indivíduos como para as organizações, já que estas passam a

ficar mais preocupadas com a produtividade dos funcionários.

Por vezes, é possível responsabilizar cargos profissionais pela utilização excessiva do

celular, uma vez que a organização passa a exigir que o funcionário esteja disponível de forma

online sempre que for preciso, bem como para a realização de certas atividades ser necessário

obrigatoriamente o uso do smartphone. De olho nessa facilidade, algumas empresas também

solicitam que seus colaboradores usem suas redes sociais particulares para a divulgação e/ou

realização de questões voltadas ao trabalho, o que coloca em reflexão, afinal, até que ponto as

organizações podem interferir no comportamento dos funcionários e o uso privado das mídias

digitais.

1 Fenômeno psicossocial que emerge como uma resposta crônica dos estressores interpessoais ocorridos na

situação de trabalho (MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001).

47

Nesse aspecto, observa-se que os limites para a utilização dessas ferramentas tecnológicas

– seja pessoal ou a trabalho - são cada vez mais tênues, podendo prejudicar a realização das

atividades cotidianas e interferir nas relações familiares, sociais e de trabalho. Nas

organizações, o uso exagerado e indiscriminado do smartphone pode acarretar na perda de foco

e diminuição de atenção nas atividades, o que, dependendo da tarefa que está sendo realizada,

pode ocasionar em graves acidentes de trabalho. Tem-se, portanto, o outro lado da utilização

do celular, quando o funcionário não necessita estar conectado para a realização de suas tarefas,

porém devido ao vício tecnológico, a utilização desmedida desses aparelhos dentro de empresas

causa desconforto entre empregado e empregador/gestor e subordinado.

De acordo com Rodrigues e Ferrari (2012), o uso constante do celular nas empresas tem

causado transtornos e se tornado um dos principais vilões dos empregadores, pois, ao tirar a

atenção dos funcionários, gera fracionamento do trabalho e, consequentemente, a redução da

produtividade esperada. Ainda segundo os autores:

No ambiente de trabalho, o uso excessivo do celular pode atrapalhar o rendimento e

interferir na produtividade do profissional. E mesmo que ele não atenda o aparelho,

assim que ele recebe ligação ou mensagem (SMS), a concentração é interferida.

Dependendo da área de atuação, essa distração pode gerar falha humana (negligência)

do profissional, e até acidentes em certas situações. No caso de trabalhos de ordem

intelectual, pode levar à perda do foco daquilo que está fazendo (RODRIGUES;

FERRARI, 2012, p. 1).

De acordo com um levantamento realizado pelo site Career Builder, o telefone celular

e as redes sociais são algumas das principais ameaças à produtividade dos funcionários. A

pesquisa, que contou com a participação de mais de 2 mil profissionais de recursos humanos,

detectou que o uso dos smartphones e a troca de mensagens foram os responsáveis pelas

constantes distrações no ambiente laboral, ficando na frente de outras situações, tais como:

visitas aos demais colegas do trabalho, intervalos para fumar ou comer e reuniões. 45% dos

gestores investigados relataram que o tempo perdido gerava uma menor qualidade da tarefa

realizada, seguida pela sobrecarga de tarefas aos demais funcionários (30%) e um impacto

negativo na relação gestor e subordinado (ARCOVERDE, 2015).

Segundo Garcia (2015), nos três primeiros anos de 2015, o Sindicato do Comércio

Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista) registrou 381 reclamações de empresas em relação

ao uso excessivo dos celulares por seus funcionários. Tal índice foi quatro vezes maior se

comparado ao total de queixas sobre o mesmo assunto no ano de 2014, o que demonstra o

progressivo aumento dessas intercorrências nas organizações. Levando-se em consideração os

diversos inconvenientes que podem ser gerados, o autor enfatiza que o uso exagerado do

48

smartphone no ambiente de trabalho pode suscitar, inclusive, a demissão por justa causa. Diante

do seu uso recorrente, sem justo motivo, a empresa pode aplicar advertência de cunho

educativo, punição de suspensão do trabalho e, caso ainda ocorra reincidência, poderá demitir

o colaborador por justa causa, alegando ato de indisciplina (RODRIGUES; FERRARI, 2012),

conforme preconiza o Art. 482, letra h, da Consolidação das Leis Trabalhistas:

Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo

empregador:

a) ato de improbidade;

b) incontinência de conduta ou mau procedimento;

c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e

quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado,

ou for prejudicial ao serviço;

d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido

suspensão da execução da pena;

e) desídia no desempenho das respectivas funções;

f) embriaguez habitual ou em serviço;

g) violação de segredo da empresa;

h) ato de indisciplina ou de insubordinação;

i) abandono de emprego;

j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa,

ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria

ou de outrem;

k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o

empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou

de outrem;

l) prática constante de jogos de azar.

Entretanto, ao provocar conflitos nas relações entre funcionários e empregadores, para

que realmente ocorra a demissão por justa causa, faz-se importante que a empresa tenha uma

normativa interna como, por exemplo, um manual ou código de conduta, que conscientize o

funcionário da proibição de usar o smartphone no ambiente de trabalho (GARCIA, 2015).

Nesse aspecto, Jerônimo (2014) também enfatiza que o empregador possui o direito de proibir

o uso do celular durante a jornada de trabalho, devendo regulamentar a forma como os

funcionários devem utilizar o celular durante suas atividades por meio de regras implantadas

através do contrato de trabalho, regimento interno ou até mesmo via Convenção Coletiva.

Jerônimo (2014) destaca um caso específico de acidente de trabalho que foi julgado pelo

Tribunal Superior do Trabalho sobre o uso do celular como questão de segurança e saúde do

trabalhador. No caso, durante a jornada de trabalho, uma funcionária teve a mão prensada em

uma máquina de produção de plásticos, o que ocasionou na perda de 35% da sua capacidade

funcional e laboral, além de sequelas anatômicas e estéticas devido ao acidente. No entanto,

ficou comprovado nos autos do processo que tal acidente só ocorreu porque a trabalhadora

tentou pegar o aparelho em cima da prensa, perdendo a atenção na atividade que estava sendo

49

realizada. Os ministros concluíram que como a empresa adotava medidas de prevenção de

acidentes, dentre as quais a proibição explícita de utilização do celular, esta não deveria ser

responsabilizada. Neste sentido, ficou entendido no julgamento que a funcionária ao

desobedecer a regra imposta pela empregadora, acabou assumindo o risco pelo acidente, sendo,

portanto, a principal responsável pela atitude imprudente.

A tecnologia pode contribuir para uma maior dependência do trabalho (SALEHAN;

NEGAHBAN, 2013). Apesar disso, há uma quantidade pequena de pesquisas que visam

analisar o uso do telefone celular no ambiente organizacional, o que é contrastante com a

considerável utilização desse dispositivo no trabalho (SORENSEN, 2011). Nesse sentido, um

estudo realizado por Porter e Kakabadse (2006) verificou que a tecnologia é intensamente

utilizada pelos funcionários dentro e fora do horário de trabalho, podendo acarretar problemas,

tais como: a diminuição das atividades sociais, abandono das atividades físicas e o ganho de

peso.

Ao trabalhar um conceito de mobilidade organizacional, Sorensen (2011) argumenta os

efeitos da tecnologia móvel, em especial o celular, na gestão de algumas organizações. O autor

propõe a existência de seis capacidades tecnológicas para um melhor entendimento das

consequências da utilização da tecnologia móvel nas empresas, conforme pode ser observado

na figura 2, a seguir.

Figura 2 - Capacidades da mobilidade empresarial

Fonte: Adaptado de SORENSEN (2011).

50

De acordo com Sorensen (2011), a mobilidade empresarial seria a combinação

complexa das seis capacidades de interação descritas na figura 2, o que caracterizaria as

relações da tecnologia móvel e onipresente no trabalho e seus desafios. O autor ainda ressalta

um exemplo da influência dos celulares no ambiente organizacional:

As organizações adotaram rapidamente uma variedade de tecnologias de informação

móveis e onipresentes para suportar a conectividade instantânea, o acesso a

infraestruturas corporativas e para uma variedade de outros propósitos. Os primeiros

telefones móveis volumosos da década de 1980 foram substituídos por smartphones e

tablets que oferecem acesso rápido à Internet. Pequenos microchips e tecnologias de

sensores associados podem ser usados para rastrear objetos, veículos e pessoas

(SORENSEN, 2011, p. 4).

Faz-se possível considerar que a utilização das tecnologias no ambiente de trabalho, de

forma específica os smartphones, provocam mudanças significativas nos hábitos dos

funcionários. Diante do crescimento massivo da geração de trabalhadores “conectados”, as

organizações deverão aprender a lidar com diferentes formas de agir frente a essa nova

realidade. Para Elhai e Contractor (2018, p. 159, tradução nossa), “apesar das vantagens de

produtividade de usar um smartphone, seu uso excessivo tornou-se uma preocupação na

sociedade moderna”.

Haja vista a necessidade de criar contextos de trabalho mais produtivos, em que os

funcionários não são constantemente distraídos por interrupções tecnológicas, alguns ambientes

corporativos aderiram a uma tendência crescente de solicitar que seus empregados deixem os

dispositivos móveis fora da sala de reuniões (TAMS; LEGOUX; LÉGER, 2018). Nesse

contexto, Tams, Legoux e Léger (2018) criaram uma situação fictícia em que solicitavam que

jovens profissionais participantes do estudo se imaginassem em uma reunião comercial durante

a qual não poderiam utilizar seus smartphones.

Ao distribuir os indivíduos aleatoriamente em quatro cenários com informações restritas

que eram passadas aos sujeitos, detectou-se que o contexto de incerteza e falta de controle são

os mais propícios a desempenharem um efeito moderador em que a nomofobia levaria ao

estresse. Além disso, os autores identificaram que a nomofobia exerce uma influência indireta

sobre o estresse, por meio da ameaça social. Ou seja, os sentimentos de incapacidade de

satisfazer as expectativas das outras pessoas por estar indisponível e a não capacidade de

resposta imediata aos e-mails, tweets, postagens no facebook e demais mensagens, fizeram com

que os participantes também tivessem maior propensão a situações estressantes decorrentes da

nomofobia (TAMS; LEGOUX; LÉGER, 2018).

51

Desse modo, “essa noção implica que as fobias sociais, como a nomofobia, levam ao

estresse, gerando sentimentos de serem ameaçados socialmente; isto é, de acordo com o

controle e a incerteza da pessoa, a nomofobia e o estresse estão conectados através de uma

ameaça social percebida” (TAMS; LEGOUX; LÉGER, 2018, p. 3, tradução nossa). Nesse

sentido, a retirada do celular dos funcionários pode acarretar em consequências não intencionais

nas organizações, causando transtornos ainda maiores aos seus colaboradores. Têm-se, assim,

que efeitos diretos e indiretos podem ser provocados pela nomofobia, considerando uma série

de fatores mediadores que podem influenciar no aumento do estresse. A figura 3, a seguir,

demonstra o modelo de investigação proposto pelos autores e suas respectivas relações.

Figura 3 - Influência direta e indireta da nomofobia no estresse.

Fonte: Adaptado de TAMS, LEGOUX E LÉGER (2018).

Levando-se em consideração que as fronteiras entre o trabalho e o lazer estão

praticamente desaparecendo, o uso de smartphones fora do horário de trabalho pode prejudicar

o processo de recuperação psicológica (QUINONES; GRIFFITHS, 2017; RAGSDALE;

HOOVER, 2016). Tendo em vista a crescente demanda das organizações para que seus

funcionários estejam disponíveis e acessíveis fora do horário de trabalho, Nixon e Spector (2014

apud RAGSDALE; HOOVER, 2016) abordam o conceito de Trabalho Complementar Assistido

por Tecnologia (TASW) - Technology-Assisted Supplemental Work – ao argumentarem que

cada vez mais os colaboradores estão, por meio da tecnologia, trabalhando além do horário de

trabalho, o que pode acarretar em conflitos familiares, esgotamento emocional e o sentimento

de estar sobrecarregado (RAGSDALE; HOOVER, 2016).

Nomofobia Estresse

AmeaçaSocial

Controle

Incerteza

Moderadores

52

De fato, “à medida que as empresas competem nesse novo ambiente, os funcionários

são empurrados para fazer mais e trabalhar mais rápido” (PORTER; KAKABADSE, 2006, p.

535, tradução nossa). O tema é polêmico e instiga discussões no âmbito acadêmico e

organizacional, ganhando a cada dia mais relevância, uma vez que o acesso aos celulares e a

internet se tornou ainda mais fácil, prático e barato. Diante do exposto, entende-se que os cursos

de graduação em Administração têm reservado um lugar secundário para a investigação desse

assunto como campo de pesquisa e intervenção. Tal característica expõe a pouca intimidade em

relação ao tema, acentuada pela invisibilidade na forma como o assunto é tratado em livros,

congressos e periódicos da área. Com isso, considerando uma abordagem ainda tímida na área,

torna-se necessária uma maior reflexão e aproximação do assunto nas discussões que envolvam

a administração de empresas, uma vez que o uso desses aparelhos tecnológicos influencia

diretamente em diversas questões comportamentais que vão desde o âmbito universitário até o

organizacional.

53

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

No presente capítulo estão descritos os procedimentos metodológicos empregados no

estudo, bem como os critérios adotados para selecionar os sujeitos da pesquisa, a descrição do

instrumento utilizado, os procedimentos para a sua aplicação e a forma como os dados deverão

ser analisados.

3.1 TIPO DE PESQUISA

A fim de melhor investigar o nível de nomofobia dos universitários do curso de

Administração em relação a utilização do smartphone, optou-se pela realização de uma

pesquisa de abordagem multimetodológica, utilizando, com isso, pesquisas de natureza

quantitativa e qualitativa. Conforme Creswell e Clark (2011), o uso de abordagens mistas

proporciona uma melhor compreensão dos problemas de pesquisa do que qualquer tratamento

de dados isolado. Nesse sentido, tal abordagem é indicada tendo em vista poder abarcar de

forma abrangente a complexidade das dimensões ligadas a dependência em relação ao uso do

aparelho celular, assim como as particularidades envolvidas no seu uso descontrolado.

É relevante destacar que o estudo se trata de uma pesquisa exploratória, tendo em vista

ser um tema relativamente novo, já que só recentemente passou a ser abordado em pesquisas

nacionais e internacionais. Além disso, o estudo também é de cunho descritivo, uma vez que,

expõe as características de determinada população e estabelece correlações entre as variáveis

(VERGARA, 2000).

Em consonância com o que foi abordado anteriormente, entende-se que, diante do caráter

interdisciplinar do tema abordado, o delineamento escolhido para a condução deste estudo

possibilita um melhor direcionamento para o cumprimento dos objetivos (geral e específicos)

propostos, bem como a resposta para a questão de pesquisa problematizada na introdução deste

trabalho. Para tanto, as abordagens, técnicas e instrumento utilizado deverão viabilizar um

melhor entendimento do fenômeno investigado.

54

3.2 PARTICIPANTES

A amostra utilizada é de natureza não probabilística, por conveniência, sendo composta

por estudantes universitários do curso de Administração de Empresas de duas Instituições de

Ensino Superior (IES) privadas localizadas na região metropolitana dos Estados do Ceará e Rio

Grande do Norte. Conforme já foi ressaltado anteriormente, a relevância de se investigar os

estudantes desse curso se deve ao fato destes estarem sendo preparados para serem futuros

gestores e líderes de empresas, podendo suas decisões influenciar de forma significativa em

questões relacionadas ao comportamento dos funcionários nas organizações.

Considerando as informações fornecidas pelas coordenações dos cursos, a IES do Ceará

(universidade A) e Rio Grande do Norte (universidade B) apresentam, respectivamente, um

total aproximado de 900 e 1.300 alunos regularmente matriculados no curso de graduação em

Administração nos turnos diurno e noturno. Diante disso, a seguir foram realizados os cálculos

de amostragem com base na fórmula sugerida por Barbetta (2004), sendo:

• N = Tamanho da população:

• E0 = erro amostral tolerável

• n0 = primeira aproximação do tamanho da amostra

• n = tamanho da amostra

A primeira aproximação das amostras foi calculada pela fórmula n0 = 1 / E0². Considerando

um erro tolerável de 8% (0,08), o cálculo foi:

n0= 1/(0,08)²

n0= 1/0,0064

n0= 156

Com base na primeira aproximação, o tamanho da amostra foi calculada pela fórmula:

n = N x n0

N + n0

Para o universo de 900 estudantes na universidade A e considerando o erro amostral de

8%, o cálculo foi:

• n = 900 x 156 ou 140.400= 132,95

900 + 156 1.056

• n= 133

Já para o universo de 1.300 estudantes da universidade B e considerando o mesmo erro

amostral de 8%, têm-se:

55

• n = 1.300 x 156 ou 202.800= 139,28

1.300 + 156 1.456

• n= 140

Portanto, de acordo com os cálculos acima, o número da amostra mínima de questionários

a serem aplicados é de 133 para a universidade A e 140 para a universidade B, considerando

um erro tolerável de 8%.

Com base no cálculo amostral realizado anteriormente, participaram voluntariamente da

pesquisa 391 estudantes universitários, sendo 178 da universidade A e 213 da universidade B.

Ao procurar uma participação significativa dos sujeitos investigados, entende-se que a

quantidade superior à amostragem possibilitará uma maior representatividade e confiabilidade

aos cálculos estatísticos e análises dos resultados. Tendo em vista os critérios estabelecidos para

a participação, 14 questionários tiveram que ser desconsiderados da análise dos dados, já que

cinco destes eram alunos de outros cursos e nove não completaram o preenchimento do

instrumento de pesquisa.

3.3 INSTRUMENTO

O questionário aplicado na pesquisa foi composto por perguntas do tipo fechada e aberta,

sendo dividido em oito partes, conforme pode ser verificado no apêndice A. Inicialmente, a

primeira parte foi composta por questões de natureza sociodemográficas, tais como: gênero,

idade, estado civil, filhos e a participação dos estudantes na vida financeira da família. A

segunda apresentou perguntas ligadas a quantidade de smartphones e operadoras que os

respondentes possuem, bem como se os aparelhos eram bloqueados por algum tipo de senha e

a quem emprestariam desbloqueados (ninguém, pais, namorado/a, cônjuge, parceiros, amigos

etc).

A terceira parte foi composta por duas perguntas abertas, solicitando que os estudantes

justificassem os motivos que os levariam a emprestar seus smartphones para as pessoas

informadas no item anterior, e depois informassem o que o celular significa para eles (VIDAL,

2014). Em seguida, a quarta parte foi composta pela escala Mobile Phone Addiction Test

(MPAT), comporta por 25 variáveis utilizadas para avaliar a dependência do uso do telefone

celular (KING; NARDI, 2014).

56

A quinta parte do instrumento foi composta por 14 itens que avaliava a frequência do uso

do smartphone em diferentes situações como, por exemplo, durante as refeições, aulas, horário

de trabalho e antes de dormir. Por sua vez, a sexta parte apresenta a escala WhatsApp Addiction

Test (WAAT), formada por 25 variáveis utilizadas para avaliar a dependência do uso do

WhatsApp (KING; NARDI, 2014).

A sétima parte do questionário apresenta 16 itens relacionados à frequência com que os

estudantes utilizam alguns aplicativos e ferramentas em seus smartphones, tais como: redes

sociais, edição de imagens, jogos, bancos, saúde, dentre outros (KONOK et al., 2016;

ANSHARI et al., 2016; VIDAL, 2014). Por fim, a oitava e última parte do instrumento foi

composta por duas perguntas que indagava se o participante já havia ouvido falar em nomofobia

e, em caso afirmativo, o que ele sabia sobre o assunto.

Faz-se importante destacar que todas as escalas utilizadas foram do tipo Likert que

variava de 0= Não se aplica até 5= Sempre. O instrumento foi apresentado com linhas de

tonalidades alternadas em branco e cinza para evitar possíveis confusões e erros por parte dos

respondentes na hora do preenchimento e leitura. Baseado nessas diretrizes, obteve-se o

questionário submetido ao pré-teste.

3.4 PROCEDIMENTOS

Inicialmente, o contato com as IES foi realizado pessoalmente pela própria pesquisadora

deste estudo, que explicava o caráter e os objetivos da pesquisa para os coordenadores,

professores e responsáveis pelos cursos. Diante da autorização das universidades e visando

verificar possíveis falhas no entendimento do instrumento e sua adequação para a população

investigada, foi aplicado um pré-teste com 23 estudantes com características semelhantes às

pretendidas. Após as pequenas correções que surgiram com as sugestões realizadas e já de posse

do modelo final, procedeu-se aplicação dos questionários entre os meses de março a maio de

2017.

A pesquisadora aplicou os questionários em salas de aula, dando esclarecimentos

iniciais sobre como respondê-los, mas procurando intervir o mínimo possível durante o

processo de aplicação. Além de ser ressaltada a relevância da pesquisa, também foi enfatizado

a não necessidade de identificação, visando, com isso, minimizar possíveis resistências dos

respondentes ao garantir o anonimato no estudo. Cada estudante levou um tempo aproximado

de 15 minutos para o preenchimento do questionário.

57

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

A princípio, será verificada a existência de casos omissos para que, só em seguida, seja

dado prosseguimento as análises coletadas. Como técnicas de análise dos dados quantitativos

será utilizado a ajuda do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão

20.0, para a realização das estatísticas descritivas e regressão múltipla.

Por sua vez, os dados qualitativos deverão ser analisados por meio da análise de conteúdo

temática (BARDIN, 2016), seguindo-se uma lógica positivista. Sendo assim, será analisado a

significação hermenêutica para ser convertida em unidades relevantes, devendo estas ser

categorizadas para possíveis transformações em unidades de cálculos estatístico.

Para avaliar o nível de dependência do aparelho celular e do uso do WhatsApp serão

levados em consideração os parâmetros de pontuação propostos por King e Nardi (2014),

apresentados a seguir:

• Até 50 pontos: utilizador sem sinais de uso abusivo do celular/WhatsApp e com total

controle sobre sua utilização.

• 51-75 pontos: apresenta sinais de uma possível dependência do celular/WhatsApp em

nível leve. Começa a ter problemas ocasionais devido ao uso abusivo em certas

situações, podendo vir a apresentar impacto na vida por ficar utilizando com maior

frequência do que o necessário.

• 76-99 pontos: apresenta sinais de uma possível dependência do celular/WhatsApp em

nível moderado. Começa a ter problemas frequentes devido ao uso abusivo em certas

situações, devendo aprender a lidar com o uso de modo mais consciente.

• Acima de 100 pontos: a utilização do celular/WhatsApp está causando problemas

significativos em nível grave. Deve-se avaliar as consequências destes impactos que

podem estar causando prejuízos nas áreas pessoal, social, familiar e profissional,

comprometendo de modo significativo a qualidade de vida. Recomenda-se procurar

uma orientação através de ajuda profissional.

58

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo são apresentados a análise dos resultados e a subsequente discussão dos

mesmos, que deverão ser abordados em três seções distintas. Tendo em vista os diferentes

procedimentos utilizados no instrumento e o conjunto de dados obtidos, primeiramente é

realizada a descrição do perfil dos sujeitos da pesquisa, levando-se em consideração a análise

sociodemográfica, a quantidade de smartphones e de operadoras que os participantes possuem,

bem como outras informações relevantes. Na segunda seção serão descritos os resultados

quantitativos do estudo, considerando principalmente as análises exploratórias das escalas

utilizadas no instrumento aplicado. Por fim, na terceira seção, será abordada a análise

qualitativa dos dados, contextualizando-se conforme o significado atribuído ao aparelho celular

e o conhecimento sobre nomofobia.

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES

Por meio dos métodos de estatística descritiva, a amostra utilizada foi composta por um

total de 377 estudantes universitários de todos os semestres do curso de graduação em

Administração de Empresas. Quanto ao gênero, 48% (n=182) dos participantes eram do sexo

masculino e 52% (n=195) do feminino, com idade média de 24 anos, variando estes de 16 a 48

anos. Em relação ao estado civil, 77% dos participantes eram solteiros, 21% casados e 2%

separados ou viúvo (TABELA 1).

Tabela 1 - Perfil dos respondentes.

Variável Percentual

Gênero Masculino 48%

Feminino 52%

Idade

16-20 anos 32%

21-30 anos 57%

31-40 anos 9%

41-50 anos 2%

Estado Civil

Solteiro 77%

Casado 21%

Separado 1%

Viúvo 1%

59

Filhos Sim 15%

Não 85%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A maioria dos estudantes não tinha filhos (85%) e já trabalhavam (70%), sendo alguns

responsáveis pelo sustento da família (47%) e outros que ainda contavam com um suporte

familiar (23%) para suprir as despesas do cotidiano. Quanto aos objetivos profissionais a médio

e curto prazo, 26% dos alunos informaram que gostariam de trabalhar em empresa privada,

25% assinalaram o interesse em prestar concurso ou seguir carreira pública, 28% demonstraram

o interesse em abrir o próprio negócio, 15% em seguir a carreira acadêmica ou se dedicar a uma

pós-graduação, e apenas 6% demonstraram vontade de trabalhar ou continuar os negócios da

família.

Ao serem questionados sobre a quantidade de smartphones que os universitários

possuíam, a maioria (88%) informou ter apenas um aparelho, enquanto 11% disseram ter dois

e apenas 1% nenhum. 63% dos sujeitos disseram possuir apenas uma operadora telefônica, 34%

duas e 3%, três ou mais operadoras. Além disso, 82% informaram que utilizavam algum tipo

de senha para bloquear o celular.

4.2 EXPLORANDO AS DIMENSÕES DA NOMOFOBIA

Levando-se em consideração o parâmetro de pontuação (ver item 3.5 da seção anterior)

proposto por King e Nardi (2014) para a análise da escala Mobile Phone Addiction Test

(MPAT), verificou-se, conforme Apêndice B, uma quantidade expressiva de estudantes que

apresentaram um grau alto e grave de dependência do uso do aparelho celular. No gráfico 2 é

possível observar que 3% dos universitários possuem um nível grave de dependência do

aparelho, causando impactos e problemas sérios no cotidiano. Além disso, 32% dos sujeitos

tiveram uma pontuação considerada moderada de compulsão do uso do smartphone, devendo

aprender a utilizar de forma mais consciente. Faz-se relevante destacar que 55% dos

pesquisados também demonstraram sinais de dependência do aparelho celular, o que, mesmo

em um nível considerado leve, já começava a ter problemas ocasionais em algumas situações.

60

Gráfico 2- Dependência de uso do celular.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Com base nas respostas sobre a frequência de uso do celular em determinadas situações

do cotidiano, observou-se, de acordo com o gráfico 3, que o aparelho sempre é utilizado

principalmente ao acordar (45%) e antes de dormir (59%). Tais resultados vão de acordo com

os que também foram encontrados por Vidal (2014), que detectou que antes de dormir e após

acordar são os momentos em que o aparelho mais é utilizado no cotidiano. Ao investigar o

efeito do uso noturno do smartphone, Sallimg e Haire (2016) verificaram que o uso intenso do

aparelho antes de dormir pode atrasar o início ou provocar até mesmo a perda do sono. Os

autores evidenciaram, ainda, que ter o sono interrompido pelo aparelho está associado ao

cansaço, sintomas de depressão, ansiedade e estresse em adultos, prejudicando a qualidade do

sono e as funções psicológicas ao longo do tempo. Baseado nisso, acredita-se que o excesso de

uso do celular, principalmente antes de dormir, pode prejudicar o necessário descanso dos

universitários pesquisados, podendo acarretar em uma série de consequências pessoais,

profissionais e acadêmicas.

Além disso, outros momentos em que às vezes e quase sempre o smartphone é usado,

são: durante as aulas (65%), ao assistir televisão (61%), durante as refeições (55%), em

conversas presenciais com outras pessoas (52%) e enquanto estudam (50%). Essa crescente

frequência de uso do celular pelos jovens em situações de multitarefas é apontada por

Giunchiglia et al. (2018) como um resultado da variedade dos recursos disponíveis no aparelho.

No entanto, os autores ressaltam que o uso do smartphone enquanto fazem outras coisas

prejudica o tempo dedicado às atividades acadêmicas, ocasionando, portanto, um baixo

desempenho nos estudos. De fato, o uso do celular de forma simultâmea a diferentes

10%

55%

32%

3%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Sem sinais de usoabusivo

Sinais de umapossível dependência

em nível leve

Apresenta sinais depossível dependênciaem nível moderado

Sinais dedependência em

nível grave

Pontuação da escala Mobile Phone Addiction Test (MPAT)

61

tarefas/acontecimentos pode influenciar para uma maior dispersão da atenção necessária para

os seus desenvolvimentos, negligenciando a concentração necessária para a realização de

algumas atividades que exigem maior prudência e foco.

Gráfico 3 - Principais momentos de uso do celular.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Para Viacava et al. (2016) a dependência do uso de tecnologias, especificamente os

celulares, em momentos inadequados está relacionado a capacidade de autocontrole e a

depleção do ego, que é o desgaste e a redução da capacidade de atos regulatórios resultantes do

cansaço psicológico. Sendo assim, quanto maior o autocontrole, menos os estudantes irão cair

em tentação para usar o aparelho demasiadamente, passando menos tempo no celular e focando

em cumprir mais suas obrigações. Diante da preocupação de que o uso contínuo do celular

possa afetar o desempenho acadêmico dos estudantes, Anshari et al. (2016) ressaltam a

importância de que seja realizado um gerenciamento do tempo como uma forma de redução e

prevenção dos hábitos indesejados pelos alunos. O costume de fazer muitas coisas ao mesmo

tempo parece ser uma exigência da atualidade, forçando, cada vez mais, as pessoas a

conciliarem diferentes atividades que visam uma maior otimização do tempo e/ou distração.

Tais situações, entretanto, podem ocasionar em aumento da ansiedade e diminuição da

capacidade de filtrar quais informações realmente são importantes e devem ser armazenadas, o

que acarreta em implicações à capacidade cognitiva dos usuários.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Principais momentos de uso do celular

Não se aplica Nunca Raramente Às vezes Quase sempre Sempre

62

Ainda levando-se em consideração os parâmetros de pontuação propostos por King e

Nardi (2014) para a escala WhatsApp Addiction Test (WAAT), que avalia a dependência do uso

do whatsapp, verificou-se que 5% dos universitários demonstraram graves sinais de

dependência de uso desse aplicativo. 74% dos respondentes apresentaram níveis leves (49%) e

moderados (25%) de utilização do whatsapp, o que representa um quantitativo significativo

diante do total de sujeitos investigados, conforme pode ser verificado no gráfico 4, a seguir.

Gráfico 4 - Dependência de uso do WhatsApp.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Com mais de 100 milhões de usuários no Brasil (MANS; SAWADA, 2016), o uso do

WhatsApp se tornou um meio indispensável para a prática de uma comunicação rápida, barata,

a qualquer tempo e lugar. Seja para entrar em contato com a família, amigos ou para atividades

do trabalho, atualmente é indiscutível o quanto esse aplicativo de mensagens instantânea se

tornou uma das ferramentas mais importantes a serem utilizadas no smartphone. Tal fato foi

constatado no estudo pela materialização da quantidade de usuários que usam o aplicativo e

apresentam algum nível de dependência dessa ferramenta.

Quanto à frequência de uso dos aplicativos e funções utilizadas no smartphone,

detectou-se, de acordo com o gráfico 5, que o uso do despertador (68%), os aplicativos de

conversas (58%) e o uso de redes sociais (56%) são as principais ferramentas utilizadas pelos

universitários. Tais resultados vão de acordo com os achados de Anshari et al. (2016), que

também identificaram que os aplicativos de mensagens instantâneas e o uso das redes sociais

eram as ferramentas mais utilizadas no celular.

21%

49%

25%

5%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Sem sinais de usoabusivo

Sinais de umapossível dependência

em nível leve

Apresenta sinais depossível dependênciaem nível moderado

Sinais dedependência em

nível grave

Pontuação da escala WhatsApp Addiction Test (WAAT)

63

Segundo Borges et al. (2016, p. 258), “foi-se o tempo em que o aparelho celular era

utilizado apenas para as pessoas falarem”, acarretando, diante da sua diversidade de uso, um

relevante instrumento de comunicação social. De acordo com os autores, os países em

desenvolvimento são os que tem utilizado cada vez mais os celulares para uma variedade de

propósitos, tais como: mensagens, chamada de voz, redes sociais e compras online. As novas

características e funcionalidades fizeram com que os fabricantes de smartphones dessem

preferência para o aumento de novas funções, proporcionando aparelhos fáceis de usar que

funcionasse quase como microcomputadores de bolso. Com isso, a possibilidade de realizar

várias tarefas em um único aparelho e a portabilidade que ele traz às pessoas pode ser uma das

justificativas para a sua utilização intensa e constante.

Gráfico 5 - Principais aplicativos e ferramentas utilizados no celular.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Após a identificação do panorama geral de uso do celular, foram exploradas as associações

entre a dependência do aparelho e as variáveis: sexo, idade, estado civil, filhos, participação na

vida econômica da família, semestre do curso, quantidade de smartphones, quantidade de

operadoras e o bloqueio do celular por senha. Para isso, buscou-se por meio da regressão

múltipla verificar algumas explicações para a variável explicativa à nomofobia, conforme pode

ser verificado na tabela 2, a seguir.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Ferramentas utilizadas no celular

Não se aplica Nunca Raramente Às vezes Quase sempre Sempre

64

Tabela 2 - Estatísticas de regressão múltipla para a dependência do telefone celular.

Coeficientes

(B)

Estatística -

t Erro P-value Tolerance VIF

(Constant) 10,376 5,990 0,000

Sexo 0,129 2,523 1,549 0,012* 0,947 1,055

Idade -0,186 -2,930 0,170 0,004* 0,618 1,619

Estado civil 0,014 0,215 2,013 0,830 0,574 1,743

Filhos -0,082 -1,270 2,755 0,205 0,600 1,667

Particip. financ. família -0,006 -0,099 1,006 0,921 0,760 1,317

Semestre 0,095 1,807 0,374 0,072** 0,897 1,115

Qtde. celular 0,082 1,553 2,360 0,121 0,895 1,117

Qtde. operadoras 0,046 0,833 1,481 0,405 0,823 1,215

Bloqueio por senhas 0,083 1,625 2,042 0,105 0,943 1,061

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Nota: Estatística F de 3,773 com significância de 0,000. R=0,306, R²=0,093 e R²ajust.=0,069, Durbin-

Watson=1,939

Onde, *, ** Estatisticamente significantes ao nível de 5% e 10% respectivamente.

Diante do modelo, pode-se notar que as variáveis ‘sexo’, ‘idade’ e ‘semestre’ apresentaram

evidências estatísticas significativas para a nomofobia. Quanto ao gênero, detectou-se, com

base na tabulação e análise das médias, que as mulheres (71,2) possuem uma maior tendência

para o uso indiscriminado do celular do que os homens (67,5). Embora o gênero permaneça um

fator não conclusivo em muitas pesquisas (CHEEVER et al., 2014; FORGAYS; HYMAN;

SCHREIBER, 2014; SALEHAN; NEGAHBAN, 2013), esses achados vão de acordo com os

estudos de Konok et al. (2016), Anshari et al. (2016) e Yuldirim e Correia (2012), que também

apontaram que as mulheres eram mais suscetíveis à usarem mais os celulares do que os homens.

Nesse contexto, o gráfico 6, a seguir, demonstra a distribuição da pontuação da nomofobia em

relação ao sexo dos participantes.

65

Gráfico 6 - Pontuação da nomofobia e o sexo dos participantes.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Ao analisar a variável ‘idade’, esta apresentou coeficiente negativo, indicando que quanto

maior a idade dos alunos, menor a dependência do smartphone. Já para a variável ‘semestre’,

pode-se constatar que quanto mais avançado o semestre dos universitários, maior a dependência

de utilização do celular. Tal relação pode ser explicada levando-se em consideração que é

durante os semestres mais adiantados que muitos alunos geralmente estão trabalhando,

demandando, portanto, uma maior utilização do aparelho para a realização de compromissos

profissionais. Báez e Ramírez (2016) também encontraram essa relação entre os semestres mais

avançados do curso universitário e o aumento do uso de smartphones. Cabe destacar, ainda,

que a quantidade de aparelho celular e operadoras não apresentaram índices significativos em

relação à nomofobia.

Acerca do nível de dependência do WhatsApp, também foram exploradas as relações

através da regressão múltipla com as mesmas variáveis consideradas anteriormente (sexo,

idade, estado civil, filhos, participação na vida econômica da família, semestre do curso,

quantidade de smartphones, quantidade de operadoras e o bloqueio do celular por senha). A

tabela 3 a seguir demonstra os valores estatísticos encontrados, conforme o poder de explicação

para a variável ‘dependência do WhatsApp’.

66

Tabela 3 - Estatísticas de regressão múltipla para a dependência do WhatsApp.

Coeficientes

(B)

Estatística -

t Erro P-value Tolerance VIF

(Constant) 7,966 7,800 ,000

Sexo ,063 1,217 2,017 ,224 ,947 1,055

Idade -,188 -2,934 ,221 ,004* ,618 1,619

Estado civil -,027 -,406 2,621 ,685 ,574 1,743

Filhos -,015 -,234 3,588 ,815 ,600 1,667

Particip. financ. família ,064 1,101 1,310 ,272 ,760 1,317

Semestre ,037 ,695 ,487 ,487 ,897 1,115

Qtde. celular ,105 1,968 3,073 ,050** ,895 1,117

Qtde. operadoras -,004 -,079 1,928 ,937 ,823 1,215

Bloqueio por senhas ,066 1,261 2,659 ,208 ,943 1,061

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Nota: Estatística F de 2,654 com significância de 0,004. R=0,260, R²=0,068 e R²ajust.=0,042, Durbin-

Watson=2,207

Onde, *, ** Estatisticamente significantes ao nível de 1% e 5% respectivamente.

De acordo com os valores encontrados, constata-se que as variáveis ‘idade’ e ‘quantidade

de celular’ foram as únicas que apresentaram um poder de explicação significativo para o

modelo. Nesse sentido, como a ‘idade’ possuiu um coeficiente negativo, entende-se que quanto

maior a idade do participante, menor é a sua dependência em relação ao uso do WhatsApp. Esse

resultado vai de acordo com o encontrado anteriormente, que também identificou uma relação

semelhante para com o vício no aparelho celular. Nesse âmbito, Anshari et al. (2016) e Aguiar

et al. (2014) identificaram que a idade exerce um papel importante quanto a usabilidade de

aparelhos celulares, sendo uma variável relevante que influencia esse aspecto comportamental,

principalmente nas gerações mais jovens. Ademais, a quantidade de celulares que os alunos

possuem também demonstrou uma relação significativa para explicar o maior uso desse

aplicativo, uma vez que quanto mais aparelhos os universitários possuem, mais estes utilizam

o WhatsApp por terem o aplicativo instalado nas suas ferramentas.

4.3 SIGNIFICADOS DO CELULAR

Tendo em vista analisar melhor a relação dos participantes do estudo com o celular,

questionou-se para quem o aluno emprestaria o smartphone desbloqueado. Em seguida, era

solicitada uma descrição sumária dos motivos que os levariam a emprestar o aparelho para as

67

pessoas escolhidas ou, em caso negativo, por que não emprestariam para ninguém. Com isso,

foram criadas categorias separadamente tanto para os indivíduos que responderam de forma

afirmativa, como para aqueles que informaram que não emprestariam seus aparelhos. É

importante destacar que as categorias criadas não foram excludentes, o que significa que, da

resposta de cada participante poderia surgir mais de uma categoria, tomando-se o cuidado para

que estas não fossem justapostas.

Com o presente levantamento, observou-se que 15% (55/377) dos universitários disseram

que não emprestariam seu celular a terceiros e 85% (314/377) informaram que emprestariam

para outras pessoas. Dentre as pessoas para as quais estes respondentes emprestariam o

aparelho, pode-se verificar, conforme gráfico 7, que a maioria cederia o uso temporário do

smartphone principalmente para pessoas com algum vínculo próximo de parentesco e/ou

amizade, como pais, cônjuge, parentes e amigos. Além disso, os indivíduos que sinalizaram

que também emprestariam para outras pessoas especificaram que estas poderiam ser: colegas

de trabalho, filhos, irmãos ou alguém de confiança.

Gráfico 7 - Pessoas que emprestariam o celular.

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Assim, diante do presente levantamento, buscou-se investigar os motivos pelos quais os

estudantes emprestariam ou não seus celulares para tais pessoas. Dos 377 universitários que

participaram da pesquisa, 8 não responderam este item, o que levou, portanto, a ser considerado

para as análises um total de 369 respostas categorizadas, sendo destas 314 afirmativas e 55

negativas. A tabela 4 demonstra as principais categorias identificadas nas respostas dos sujeitos

66%

34%

51%

46%

56%

5% 4%

15%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

%

Pessoas que emprestariam o celular

Pais

Cônjuge

Namorado/a

Parentes

Amigos

Desconhecidos

Outros

Ninguém

68

que emprestariam seus smartphones, contendo as frequências absolutas de ocorrência de cada

categoria e as correspondentes porcentagens.

Tabela 4 - Frequência absoluta e percentual de ocorrência dos

participantes que emprestariam o celular.

Categorias

Frequência de

ocorrência

Absoluta Percentual do total de

participantes (N=314)

Confiança 153 48,73%

Nada a esconder 95 30,25%

Necessidade 79 25,16%

Não há problema 30 9,55%

Convívio 26 8,28%

Privacidade 5 1,59%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

A categoria que apresentou maior expressividade foi a de ‘confiança’, já que 48,73% (153

respostas das 314) das pessoas disseram emprestar o celular por ter confiança em quem vai

utilizá-lo. Significados como lealdade, expectativas mútuas e reciprocidade são atribuídos ao

sentido de confiança (ZUCKER, 1986), fato que pode explicar tal categoria ter surgido de forma

relevante. Assim, diante do caráter particular e da quantidade de informações pessoais que os

atuais aparelhos armazenam, o elo de confiança entre quem empresta e quem irá utilizá-lo

aparece como um dos principais fatores para garantir o uso temporário do smartphone.

Em seguida, 30,25% dos respondentes justificaram o motivo de emprestar o aparelho para

terceiros porque não tinham ‘nada a esconder’. Essa categoria torna-se bastante interessante se

for levado em consideração o caráter defensivo apresentado no conteúdo das respostas. Ou seja,

refletindo no sentido contrário às afirmativas realizadas, aqueles sujeitos que não emprestarim

o celular para outros, necessariamente, procuram esconder algo ou alguma coisa de alguém. Tal

fato pode ser decorrente do sentido de desejabilidade social, uma vez que o indivíduo pode ter

realizado uma autoavaliação excessivamente positiva motivado pela popularidade do conteúdo

e menos pelo traço descritivo do fato.

A ‘necessidade’ representou a terceira categoria com maior expressividade, contendo

25,16% das respostas. Ao ser comumente utilizado com sentidos aparentemente óbvios, a

necessidade pode abranger variados critérios e intersubjetividades, acarretando em variações

na sua compreensão. Nesse sentido, conforme afirmam Rosa e Basto (2009, p. 14), o “rol das

discrepâncias quanto à extensão do ‘necessário’ é infinito, o que torna evidente que, no seu uso

corrente, o termo e o conceito se tornam muito relativos”. Portanto, ao pensar no critério

69

‘necessidade’, muitos estudantes partiram de diferentes pontos de vista, apontando aspectos

pessoais, sociais e utilitários. As demais categorias apresentaram índices inferiores a 10%,

porém não menos importantes, tendo em vista terem surgido o ‘convívio’ e a ‘privacidade’

também como um dos motivos pelos quais as pessoas emprestariam seu celular.

Para que se tenha uma ideia aproximada, a seguir são apresentadas mais detalhadamente

cada categoria com as devidas subcategorias, quando existentes, bem como os trechos das

respostas relacionadas. As subcategorias foram estabelecidas tendo em vista abranger o

significado geral do que foi relatado pelos estudantes, tomando-se o cuidado para que não

ocorra a sobreposição de uma subcategoria por outra, conforme quadro 1.

Quadro 1 - Trechos das respostas referentes aos participantes que emprestariam o celular.

Categoria/Subcategoria Trechos das respostas

Confiança "Porque são pessoas da minha inteira confiança"

Nada a esconder "Porque não tenho nada a esconder"

Necessidade

Para suprir alguma necessidade

"Se houvesse uma necessidade emprestaria, pelo

contrário não!"

Utilizar alguma ferramenta

"Para fazer uma ligação, ver fotos da família,

acessar as redes sociais"

Por um favor "Não nego um favor"

Não há problema "Porque não vejo nenhum problema nisso"

Convívio "Por serem pessoas que tenho contato diário"

Privacidade

Item pessoal

"Apesar de ser um bem pessoal não haverá

problema"

Questão de privacidade "Privacidade" Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Por outro lado, dentre as principais razões que levam alguns universitários a não emprestar

seus aparelhos, destacam-se: ‘privacidade’ (72,72%), ‘intimidade’ (7,27%) e ‘não gostar que

outras pessoas mexam no celular’ (5,45%). Da mesma forma, faz-se relevante destacar que por

conter ‘assuntos profissionais’ e por questões de ‘segurança’ alguns participantes também não

cederiam seus smartphones, de acordo com a tabela 5 a seguir.

70

Tabela 5 - Frequência absoluta e percentual de

ocorrência dos participantes que não emprestariam o

celular.

Categorias

Frequência de

ocorrência

Absoluta Percentual do total de

participantes (N=55)

Privacidade 40 72,72%

Intimidade 4 7,27%

Não gosto que mexam 3 5,45%

Assuntos Profissionais 2 3,63%

Segurança 1 1,81%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Interessante notar que a categoria ‘privacidade’ aparece de forma bem diferenciada nos

dois grupos de respostas. Enquanto no grupo dos que emprestam o celular surge apenas com

um baixo percentual de representatividade, no grupo dos que não emprestariam o aparelho surge

como a principal razão para tal atitude. Tal discrepância pode ser explicada levando-se em

consideração que, segundo Machado (2014), a expressão ‘privacidade’ é considerada como um

dos termos que mais sofreu transformações nas últimas décadas. Para a autora, “com a evolução

nas tecnologias da informação e comunicação, a privacidade não pode ser analisada apenas pelo

aspecto do recato e do isolamento” (MACHADO, 2014, p. 360), podendo abranger diferentes

interpretações.

Há tempos, por exemplo, a privacidade era resguardada por textos escritos em diários, que

geralmente eram escondidos para que ninguém mais tivesse acesso. Atualmente, ao contrário,

a exposição da vida particular na internet faz com que as pessoas usem as redes sociais como

uma espécie de “diários virtuais”, onde o reconhecimento social vem através de inúmeras

curtidas e “likes”, que parecem dar sentido à vida. Com isso, dependendo de para quem o

aparelho seria emprestado, os alunos pesquisados alegaram fatores relacionados à capacidade

de expor e controlar as informações pessoais tanto nas respostas afirmativas como nas

negativas.

Outro resultado a ser destacado é o caráter íntimo e pessoal que aparece nos resultados dos

que não emprestam o aparelho. Ligada principalmente ao sentido emocional, a ‘intimidade’,

neste caso, foi relacionada à exposição de conteúdo extremamente íntimo do cotidiano dos

participantes como, por exemplo, fotos de “nudes” e de outros momentos íntimos com os

parceiros(as). Nesse sentido, alguns alunos demonstraram um sentimento de invasão e intrusão

mediante uma estreita ligação de intimidade pessoal.

71

Da mesma forma, no quadro 2 são apresentadas as subcategorias e seus respectivos trechos

referentes aos alunos que se posicionaram de forma negativa sobre emprestar o aparelho celular

para outras pessoas.

Quadro 2 - Trechos das respostas dos participantes que não emprestariam o celular.

Categoria/Subcategoria Trechos das respostas

Privacidade "Pois é onde existe minha privacidade"

Coisas pessoais "Informações pessoais que são apenas e somente do meu

interesse"

Senhas salvas "Porque possui senhas salvas nas contas"

Intimidade "Nudes"

Invadido(a) "Me sinto totalmente incomodada e invadida"

Não gosto que mexam "Não gosto que ninguém mexa no meu celular"

Assuntos profissionais

"Porque no meu celular contém aplicativos, como e-mail de

trabalho entre outros"

Segurança "Segurança"

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Ao serem solicitados para completar a frase “meu celular é para mim...”, 369 participantes

responderam a este item, o que resultou no surgimento de 23 categorias. Visando identificar o

significado do smartphone na vida dessas pessoas, percebe-se, desde já, o quão vasta pode ser

a importância, significância e função que um celular pode desempenhar no cotidiano do ser

humano. De acordo com a tabela 5, observa-se que o uso do aparelho como um ‘meio de

comunicação’ (35,50%) e por ‘necessidade’ (29,54%) foram as principais atribuições dadas

pelos respondentes, demonstrando, portanto, o caráter indispensável do celular, especialmente

para a comunicabilidade. Com isso, seja por meio de ligação, mensagens ou interação em redes

sociais, os respondentes apontam que o telefone celular é fundamental como uma forma de

manter a relação, o contato e o diálogo com outas pessoas, sendo de fundamental importância

para o atendimento das necessidades diárias.

72

Tabela 6 - Frequência absoluta e percentual de

ocorrência dos significados do celular.

Categorias

Frequência de

ocorrência

Absoluta Percentual do total de

participantes (N=369)

Meio de Comunicação 131 35,50%

Necessidade 109 29,54%

Organização 70 18,97%

Trabalho 66 17,88%

Interatividade 44 11,92%

Lazer/Entretenimento 36 9,75%

Importante 36 9,75%

Estudos 33 8,94%

Informação/Pesquisa 31 8,40%

Particular 27 7,31%

Facilitar relações 23 6,23%

Não tão importante 22 5,96%

Praticidade 13 3,52%

Tudo 12 3,25%

Ponte para o mundo 8 2,16%

Valioso 7 1,90%

Parte do corpo 7 1,90%

Segurança 4 1,08%

Sobrevivência 3 0,81%

Complemento da vida 2 0,54%

Companhia 1 0,27%

Filho 1 0,27%

Computador Móvel 1 0,27%

Fonte: Dados da pesquisa (2018).

Outro significado que também foi comumente ressaltado pelos universitários é a

possibilidade de ‘organização’ (18,97%) que o celular proporciona, contribuindo como um

facilitador das tarefas do dia-a-dia de forma prática e rápida. Para isso, o caráter multifuncional

dos aparelhos sempre era ressaltado como uma maneira de tornar o cotidiano dos alunos mais

produtivos, à medida que várias tarefas podem ser realizadas ao mesmo tempo. Nesse sentido,

o uso de algumas ferramentas como, por exemplo, agenda, despertador e relógio foi apontado

como características indispensáveis para a presença constante do aparelho na vida dos

participantes.

Muitos sujeitos também enfatizaram o ‘trabalho’ (17,88%) como um significado

importante atribuído ao uso do smartphone. Sua utilização como um instrumento de realização

das atividades laborais foi considerada de forma crucial para o desempenho de algumas

73

atividades, como pode ser verificado na justificativa dos seguintes estudantes: “emprego, pois

vendo peças masculinas e femininas, através de grupos de whatsapp e instagram e fanpage no

facebook” (aluna, 22 anos, 3º semestre); “uma ferramenta complementar do meu trabalho.

Posso não está na empresa direto e ele me proporciona isso” (aluno, 20 anos, 2º semestre); “uma

das ferramentas para trabalho mais eficiente atualmente, meio de obter lucros” (aluno, 21 anos,

5º semestre). Considerado por muitas pessoas como um meio de distração, diversão e

passatempo, 9,75% dos alunos apontaram o uso do celular como uma forma de lazer e

entretenimento, possibilitando o acesso as redes sociais, jogos e conversas instantâneas com

pessoas de diferentes partes do mundo.

Ainda que não tão expressivo, alguns universitários relataram a contribuição do

smartphone para os estudos, aquisição de informações e realização de pesquisas. O uso do

celular em atividades escolares, neste caso, demonstra a contribuição positiva que o aparelho

pode trazer na vida dos alunos, principalmente ao ser utilizado de forma moderada. A difusão

desse e de outros dispositivos móveis em atividades pedagógicas expressa o potencial de

contribuição que o aparelho pode proporcionar também no contexto acadêmico, facilitando o

rápido acesso a conteúdos diversificados, o ensino à distância e a realização de diferentes

métodos de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, segundo Nagumo e Teles (2016), faz-se

importante que as instituições de ensino compreendam as questões sociais e culturais ligadas

ao uso do aparelho por jovens, perceebendo o fenômeno como uma oportunidade de

aproximação e aprendizagem mútua.

É importante ressaltar que alguns indivíduos também atribuíram fortes características aos

celulares, associando-os a uma ‘parte do corpo’, um ‘filho’, ‘complemento da vida’ e

fundamental para a ‘sobrevivência’. Tais atributos sinalizam particularidades interessantes da

amostra pesquisada, tendo em vista o caráter íntimo de dependência e relação com o aparelho,

conforme pode ser verificado no relato a seguir: “Quando estou sem celular, é como se faltasse

uma parte do meu corpo” (aluna, 20 anos, 5º semestre). Segundo Belk (2016), essas

particularidades podem ser entendidas pela formação do que o autor chama de “eu estendido”,

uma vez que determinados objetos e pessoas podem ser vistos como uma parte do próprio

indivíduo, estendendo a identidade para além da mente e do corpo. Assim, segundo o autor,

quando esses objetos ou seres humanos são “danificados, morrem ou estão perdidos, sentimos

sua perda como uma lesão para si mesmo” (BELK, 2016, p. 50, tradução nossa). Nessa

perspectiva, Viacava et al. (2016) também descobriram que os celulares funcionam como parte

da vida de muitas pessoas, pois auxilia em interações sociais e no trabalho, podendo em muitos

contextos serem vistos como tentações e até dependência.

74

Por fim, ao serem questionados se sabiam ou já ouviram falar sobre nomofobia, 90%

(338/377) dos respondentes informaram que não possuíam conhecimento do assunto e 10%

(39/377) afirmaram possuir algum entendimento sobre o tema. Ao serem solicitados a explicar

sobre o que conheciam, as principais respostas estavam voltadas para a dependência da

tecnologia, o medo de ficar sem comunicação, pavor de não ficar conectado e o vício constante

de usar o smartphone. Não obstante, algumas respostas também direcionavam para um

entendimento confuso em relação ao termo, pois o definiam como sendo o medo de ficar

sozinho, medo de ficar sem fazer nada ou um tipo de doença decorrente de dores presentes nos

dedos. Nesse contexto, pode-se perceber que o termo nomofobia ainda é pouco conhecido pelo

público pesquisado, possuindo, em alguns casos, uma compreensão imprecisa e complexa.

Diante da pouca exploração da literatura, principalmente nacional, sobre o tema e da quase

inexistência de relatos de nomofobia no cotidiano, não é de se impressionar que muitos

universitários ainda desconheçam o seu significado. Szpakow, Stryzhak e Prokopowicz (2011)

e Krajewska-Kułak et al. (2012) também detectaram que a maioria dos estudantes pesquisados

não tinham conhecimento sobre o termo, o que foi retratado pela forma excessiva que os alunos

utilizavam o celular no dia-a-dia. Sendo assim, a falta de informação e de maiores investigações

sobre o tema faz com que as pessoas não se reconheçam como dependentes do smartphone ou

de qualquer outro tipo de dispositivo móvel, acarretando em uma série de consequências

pessoais, profissionais e acadêmicas.

75

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso abusivo do celular corresponde a um problema complexo e cada vez mais crescente,

com características diferentes que podem apresentar distintas consequências, como depressão

e fobia social, por exemplo. Se por um lado o hábito de usar esses aparelhos pode ajudar em

contextos pessoais e profissionais, por outro lado, em muito, também pode acarretar sérias

implicações sociais e laborais. Nesse sentido, a utilização e os significados atribuídos ao uso do

smartphone foram discutidos ao longo desta dissertação como uma forma de explorar as

limitações teóricas e empíricas ainda presentes na literatura sobre o tema.

A era da tecnologia direciona para uma, quase que obrigatória, adaptação. O grande

desenvolvimento tecnológico fez com que a população mundial se tornasse, cada vez mais,

dependente dos novos equipamentos que surgiam a cada momento, como os aparelhos

celulares. O uso obsessivo do smartphone faz com que algumas pessoas se sintam subordinadas

ao aparelho, como uma relação de escravidão diante das inúmeras ferramentas e possibilidades

“na palma da mão”. Nesse sentido, sob a égide do entretenimento, atualmente se vive a era em

que as pessoas se queixam por falta de tempo, mas passam horas no seu “mundo” digital. Na

geração do “tudo é pra ontem”, a velocidade da inovação e da informação faz com que o futuro

pareça cada vez mais próximo e o presente cada vez mais curto. Com o uso excessivo do celular,

as relações pessoais são transformadas muitas vezes em virtuais, fazendo com que as horas

incontáveis gastas no aparelho tornem os indivíduos coadjuvantes das suas próprias histórias.

Tendo em vista a dificuldade de se reconhecer a dependência digital, a linha que separa do

uso ao vício em celular é tênue. Nesse contexto, por mais que uma pessoa utilize

demasiadamente o aparelho, isso não pode ser caracterizado como um vício. Para que seja uma

dependência patológica algumas características específicas são identificadas, revelando-se por

meio da angústia e desconforto quando se está sem o smartphone, o que pode acarretar em

mudanças comportamentais como, por exemplo, alteração constante no humor, conflitos no

trabalho e nas relações pessoais e sociais, irritação quando o acesso à internet é restringido,

mentiras sobre a quantidade de tempo que fica no aparelho, dentre outras.

Seja na universidade, no trabalho ou em casa, o celular ocupa cada vez mais espaço na

rotina dos participantes. De acordo com os universitários, o aparelho é usado principalmente ao

acordar e antes de dormir, bem como em situações de multitarefas como, por exemplo, durante

as aulas, ao assistir televisão, durante as refeições, em conversas presenciais com outras pessoas

e enquanto estudam. Tais momentos refletem o quanto o aparelho está presente nas mais

diversas atividades realizadas pelos pesquisados, podendo influenciar na configuração

76

interpessoal e acarretar impactos sociais, laborais e pessoais importantes. Por estas razões,

Okaz (2015) afirma que a nomofobia dos estudantes universitários fez com que o ensino se

tornasse um desafio ainda maior para os professores, tendo em vista que “a crescente presença

de tecnologia mudou o comportamento e as atitudes dos alunos e alterou a maneira como eles

aprendem e se comunicam dentro e fora da aula” (OKAZ, 2015, p. 601, tradução nossa).

O uso demasiado das ferramentas proporcionadas pelo aparelho foi evidenciado com maior

frequência na utilização do despertador, aplicativos de conversas e o uso das redes sociais. A

complexidade da dependência do smartphone aponta para a possibilidade de múltiplas causas

a influenciá-la, o que pôde ser constatado no presente estudo por meio do gênero, idade e o

semestre que os alunos estavam cursando. Com isso, em cuprimento ao primeiro objetivo

proposto neste estudo, as mulheres demonstraram maior propensão do que os homens para a

dependência do celular. Esse resultado encontrado vai de acordo com outros estudos que

realizaram essa comparação e também conseguiram detectar que o gênero feminino possuem

uma maior predisposição ao vício no smartphone (KONOK et al., 2016, ANSHARI et al.,

2016).

Tendo em vista responder ao segundo objetivo apresentado, os universitários que estavam

nos semestres mais adiantados do curso apresentaram maior indicativo de vício no aparelho.

Além disso, a utilização excessiva do WhatsApp também foi ligada a fatores relacionados à

idade e também a quantidade de aparelhos que os respondentes possuíam. Nesse sentido, os

alunos com idades mais elevadas demonstraram menor inclinação para o uso descontrolado,

enquanto a quantidade de aparelhos foi um fator determinante para o vício no uso do WhatsApp,

respondendo, portanto, ao terceiro objetivo sugerido.

É interessante destacar que 85% dos pesquisados sinalizaram que os pais e pessoas de

convívio mais próximo como irmãos, companheiros e amigos, seriam as únicas pessoas que os

participantes emprestariam o celular, sendo justificado pelo caráter de confiança, transparência

e necessidade para o empréstimo do aparelho a terceiros. Por outro lado, dentre os universitários

que não emprestariam o smartphone para ninguém, as principais razões foram atribuídas à

privacidade e a intimidade das informações contidas no smartphone.

Quanto ao quarto objetivo proposto, os principais significados atribuídos ao celular

giravam em torno da sua importância como um meio de comunicação, a necessidade de uso e

a possibilidade de organização que as diferentes ferramentas proporcionam. O aparelho também

foi apontado como elemento importante para as atividades laborais e outras de cunho mais

pessoais, sendo comparados, inclusive, como uma extensão dos próprios sujeitos. Neste

ínterim, visando ao cumprimento do quinto objetivo apresentado, muitos estudantes não sabiam

77

e nunca haviam ouvido falar sobre nomofobia. Dentre os que informaram ter algum

conhecimento sobre o assunto, as explicações eram confusas e imprecisas, demonstrando a

pouca familiaridade com o termo.

Espera-se que esta pesquisa permita um maior entendimento da importância de se

investigar o tema em diferentes contextos, possibilitando traçar formas que direcionem a

identificação da nomofobia. Visto que há pouco tempo os problemas causados pela dependência

do uso do celular ganhou maior notoriedade, principalmente em países estrangeiros e, aos

poucos, no Brasil; seria relevante considerar a necessidade de que mais estudos sejam realizados

para entender melhor porque as pessoas estão cada vez mais dependentes, quais as

consequências acarretadas e como fazer para mitigar essa situação. Em vista das variações

geográficas, culturais e das demais particularidades dos sujeitos pesquisados, faz-se importante

ressaltar que os achados deste estudo não poderão ser generalizados, pois pode não refletir na

realidade de outros contextos, cursos e localidades.

Apesar da pesquisa possuir limitações próprias de uma amostra por conveniência, tendo

sido desenvolvida com estudantes universitários do curso de Administração de dois Estados do

nordeste brasileiro, seus resultados podem não expressar a realidade de alunos de outros cursos

e diferentes localidades. Por isso, tais achados não deverão ser generalizados. Adicionalmente,

não obstante às lacunas apontadas, o estudo possibilita entender melhor o comportamento e o

uso dos estudantes do curso de Administração em relação ao celular, contribuindo, portanto,

com subsídios para que sejam analisadas e adotadas estratégias de conscientização do uso dessa

tecnologia durante as aulas, em casa e no trabalho.

Levando-se em consideração o que foi discutido anteriormente, faz-se importante destacar

que os resultados apresentados são considerados como um esforço inicial de pesquisa em um

campo ainda pouco explorado pela área de Administração no Brasil. Para estudos futuros, seria

interessante a aplicação de outros instrumentos e a realização de entrevistas mais aprofundadas,

o que permitiria um melhor aprofundamento e entendimento do tema investigado. Além disso,

um estudo futuro específico com gestores também seria interessante, bem como aplicação de

pesquisas sobre a nomofobia em empresas que solicitam que seus funcionários estejam sempre

disponível via smartphone.

Finalmente, embora o ser humano seja o principal responsável pelo desenvolvimento das

novas tecnologias, ele também sofre as consequências da sua má utilização, tanto como ser

biológico, quanto social. Em um momento de grandes crises e escândalos associados à

divulgação de informações pessoais na internet, o conhecimento dos seus impactos sinalizam

para a possibilidade de (re)interpretar a sua utilização, bem como aprofundar e refletir sobre o

78

que fazer para minimizá-los. Diante de um país que ostenta o título de um dos maiores usuários

de smartphones do mundo, esse tema deve ser tratado além das fronteiras disciplinares,

possibilitanto que novos olhares e discussões sejam lançados para a sua melhor compreensão.

A realização desta pesquisa não pretendeu trazer respostas irrefutáveis, nem tampouco

conclusões definitivas sobre o assunto. Ao contrário, espera-se que este primeiro esforço

exploratório de análise possa servir como um sinal em direção a todo um conjunto de

possibilidades que o tema permite abordar, e que este também venha a auxiliar no

direcionamento de novos caminhos para sua investigação.

79

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88

APÊNDICES

89

APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE PESQUISA

_

(uso da equipe de pesquisa)

Esta pesquisa faz parte de um trabalho acadêmico que visa verificar o uso de aparelhos celulares

por estudantes universitários. Todas as informações aqui prestadas são anônimas, servindo

apenas para validar os procedimentos científicos da pesquisa.

8. Quantos smartphones você possui? ___________ 9. Quantas operadoras possui?

________

10 Seu celular é bloqueado por uma senha? ( ) Sim ( ) Não

11 Emprestaria seu celular desbloqueado para:

(Marque todas que se aplicam)

( ) Ninguém ( ) Seus pai ( ) Cônjuge (marido, esposa,

companheiro/companheira)

( ) Namorado(a) ( ) Um parente (tio, primo, etc.) ( ) Um amigo

( ) Um desconhecido ( ) Outros: ___________________

12 Por que emprestaria para essas pessoas ou, se for o caso, não emprestaria para ninguém?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

_____________________

13 Em sua opinião, complete a seguinte frase: Meu celular é pra mim...

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

1. Sexo: 3. Estado Civil 5.Qual é a sua participação

na vida econômica da

família?

7. Quais são seus objetivos profissionais a médio

e curto prazo? (Resposta única)

( ) Masculino

( ) Feminino

( ) Solteiro

( ) Casado

(Conjugue ou

parceiro)

( ) Separado

( ) Viúvo(a)

( ) Não trabalha e seus

gastos são financiados pelos

pais ou pela família

( ) Trabalha mas recebe

complemento da família

( )Trabalha e é responsável

e / ou contribui com sustento

da família

( ) Dedicar-se à pós-graduação integralmente

/ seguir vida acadêmica.

( ) Conseguir emprego em empresa privada

(multinacional, empresa nacional etc)

( ) Prestar concurso público / consolidar

carreira no setor público.

( ) Abrir negócio próprio / consolidar negócio

próprio.

( ) Trabalhar nos negócios da família.

2. Idade: 4. Filhos 6. Curso e Semestre que está

cursando

_____ anos

( ) Sim. Nº ___

( ) Não

Curso: _________________

Semestre: ________

90

________________________________________________________________________

_____________________

14 Utilize a escala abaixo para responder as questões que seguem:

Não se

aplica Nunca Raramente

Às

vezes

Quase

sempre Sempre

n1. Com que frequência você usa o

celular ao longo do seu dia? 0 1 2 3 4 5

n2. Com que frequência você precisa

levar o celular ao sair? 0 1 2 3 4 5

n3. Com que frequência, quando

esquece o celular, costuma voltar para

buscá-lo?

0 1 2 3 4 5

n4. Com que frequência você sente

ansiedade quando percebe que está sem

o celular ou sem bateria?

0 1 2 3 4 5

n5. Com que frequência você sente

angústia quando percebe que está sem

o celular ou sem bateria?

0 1 2 3 4 5

n6. Com que frequência você sente

pânico em alguma situação por não ter

o celular por perto ou quando fica sem

bateria para se comunicar?

0 1 2 3 4 5

n7. Com que frequência você tem medo

de sair sem o celular e passar mal na rua

e não ter como pedir "socorro" imediato

ou fazer contato com alguém de sua

confiança?

0 1 2 3 4 5

n8. Com que frequência você se sente

rejeitado quando ninguém liga para

você no celular?

0 1 2 3 4 5

91

n9. Com que frequência você sente

baixa autoestima quando vê que seus

amigos recebem mais ligações no

celular do que você?

0 1 2 3 4 5

n10. Com que frequência você, com o

celular, gosta de poder ser encontrado a

qualquer hora?

0 1 2 3 4 5

n11. Com que frequência você mantém

o celular sempre por perto mesmo em

casa?

0 1 2 3 4 5

n12. Com que frequência você mantém

o celular ligado 24h por dia? 0 1 2 3 4 5

n13. Com que frequência você dorme

com o celular ligado e próximo a você? 0 1 2 3 4 5

n14. Com que frequência você sente

nervosismo por não ter o celular por

perto ou quando fica sem bateria para

se comunicar?

0 1 2 3 4 5

n15. Com que frequência você não

desliga ou não coloca no modo

silencioso o seu celular quando está

com amigos?

0 1 2 3 4 5

n16. Com que frequência você não

desliga ou não coloca no modo

silencioso o seu celular quando está

com seu par?

0 1 2 3 4 5

n17. Com que frequência você não

desliga ou não coloca no modo

silencioso o seu celular quando está

com a família?

0 1 2 3 4 5

n18. Com que frequência você insere

na agenda do celular o número de um 0 1 2 3 4 5

92

médico com medo de passar mal na

rua?

n19. Com que frequência você insere

na agenda do celular o número de um

psicólogo com medo de passar mal na

rua?

0 1 2 3 4 5

n20. Com que frequência você insere

na agenda do celular o número de um

hospital com medo de passar mal na

rua?

0 1 2 3 4 5

n21. Com que frequência você acessa a

internet no celular? 0 1 2 3 4 5

n22. Com que frequência você joga no

celular? 0 1 2 3 4 5

n23. Com que frequência você não

emprestaria o celular para alguém

próximo por um dia?

0 1 2 3 4 5

n24. Com que frequência você se sente

inseguro sem o celular em mãos ou sem

bateria?

0 1 2 3 4 5

n25. Com que frequência você tem a

sensação de estar acompanhado com o

celular?

0 1 2 3 4 5

15 Assinale de acordo com a frequência de uso do aparelho celular em cada situação:

Não

se

aplica

Nunca Raramente Às

vezes

Quase

sempre Sempre

c1. Assim que acorda 0 1 2 3 4 5

c2. Durante práticas esportivas 0 1 2 3 4 5

c3. Durante as refeições 0 1 2 3 4 5

c4. Durante o horário de trabalho 0 1 2 3 4 5

93

c5. Durante programas de lazer

(cinema, teatro, shows, etc.) 0 1 2 3 4 5

c6. No banheiro 0 1 2 3 4 5

c7. Antes de dormir 0 1 2 3 4 5

c8. Enquanto dirige 0 1 2 3 4 5

c9. Durante as aulas 0 1 2 3 4 5

c10. Assistindo televisão 0 1 2 3 4 5

c11. Enquanto estuda 0 1 2 3 4 5

c12. Durante conversas presenciais

com outras pessoas 0 1 2 3 4 5

c13. No ônibus 0 1 2 3 4 5

c14. Na igreja 0 1 2 3 4 5

16 Assinale de acordo com a frequência de uso do WhatsApp em cada situação:

Não se

aplica Nunca Raramente

Às

vezes

Quase

sempre Sempre

w1. Com que frequência você usa o

WhatsApp ao longo do seu dia? 0 1 2 3 4 5

w2. Com que frequência você sente

necessidade de acessar o WhatsApp? 0 1 2 3 4 5

w3. Com que frequência quando sai do

WhatsApp costuma voltar a acessar? 0 1 2 3 4 5

w4. Com que frequência você sente

ansiedade quando percebe que está sem

acesso ao WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w5. Com que frequência você sente

angústia quando percebe que está sem

acesso ao WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w6. Com que frequência você sente

pânico em alguma situação por não ter

acesso ao WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

94

w7. Com que frequência você tem

medo de ficar sem acesso ao

WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w8. Com que frequência você se sente

rejeitado quando percebe que alguém

leu e não respondeu de imediato as suas

mensagens no WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w9. Com que frequência você troca de

foto no WhatsApp para melhorar sua

autoestima?

0 1 2 3 4 5

w10. Com que frequência você usa o

WhatsApp para evitar a sensação de

estar só?

0 1 2 3 4 5

w11. Com que frequência você checa

mensagens no WhatsApp quando está

em casa?

0 1 2 3 4 5

w12. Com que frequência você mantém

sinais de alerta de recebimento de

mensagens no WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w13. Com que frequência você

participa de grupos no WhatsApp? 0 1 2 3 4 5

w14. Com que frequência você sente

nervosismo quando percebe que está

sem acesso ao WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w15. Com que frequência você consulta

o WhatsApp no seu dispositivo mesmo

quando está com amigos?

0 1 2 3 4 5

w16. Com que frequência você consulta

o WhatsApp mesmo quando está com o

seu par?

0 1 2 3 4 5

w17. Com que frequência você consulta

o WhatsApp mesmo quando está com a

família?

0 1 2 3 4 5

95

w18. Com que frequência você

participa de grupos no WhatsApp com

pessoas que não conhece na sua vida

real?

0 1 2 3 4 5

w19. Com que frequência você acessa o

WhatsApp no seu telefone celular fora

de casa?

0 1 2 3 4 5

w20. Com que frequência você envia

fotos no WhatsApp mostrando uma

realidade diferente da sua vida real?

0 1 2 3 4 5

w21. Com que frequência você se sente

deprimido quando vê no WhatsApp que

os seus amigos têm uma vida mais

interessante do que a sua?

0 1 2 3 4 5

w22. Com que frequência você tem a

sensação de estar acompanhado com o

WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w23. Com que frequência você costuma

checar se alguma pessoa está online

através do WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w24. Com que frequência você ignora

pessoas que estão do seu lado no mundo

real para se comunicar com pessoas no

WhatsApp?

0 1 2 3 4 5

w25. Com que frequência você envia ou

consulta mensagens no WhatsApp

enquanto dirige?

0 1 2 3 4 5

17 Assinale as opções de acordo com a frequência de uso dos aplicativos de smartphone:

Não se

aplica Nunca Raramente

Às

vezes

Quase

sempre Sempre

a1. Aplicativos de acesso a e-mail 0 1 2 3 4 5

96

a2. Aplicativos de acesso à rede de

pesquisa (Google Chrome, Safari,

Mozilla Firefox)

0 1 2 3 4 5

a3. Aplicativos de produção e edição de

arquivos de texto e/ou planilhas (Word,

Excel, Pdf, Scanner)

0 1 2 3 4 5

a4. Aplicativos de reprodução de áudio e

vídeo (Youtube, Soundcloud, Vimeo,

itunes)

0 1 2 3 4 5

a5. Aplicativos de conversação imediata

(Whatsapp, Telegram, Hangouts) 0 1 2 3 4 5

a6. Redes Sociais (Facebook, Twitter,

Instagram, Snapchat, etc) 0 1 2 3 4 5

a7. Aplicativos de serviços bancários 0 1 2 3 4 5

a8. Aplicativos de localização e mapas

(Google maps, Waze) 0 1 2 3 4 5

a9. Despertador 0 1 2 3 4 5

a10. Aplicativos de fotografia (câmera,

editores de imagens) 0 1 2 3 4 5

a11. Calculadora 0 1 2 3 4 5

a12. Envio de SMS

(mensagens de texto) 0 1 2 3 4 5

a13. Jogos 0 1 2 3 4 5

a14. Aplicativos relacionados à saúde

(alimentação, esporte, frequência

cardíaca)

0 1 2 3 4 5

a15. Aplicativos de filmes e televisão

(Netflix, Emissoras de TV) 0 1 2 3 4 5

a16. Tradutor 0 1 2 3 4 5

18 Você sabe o que é ou já ouviu falar em Nomofobia? ( ) Sim ( ) Não

19 Caso afirmativo, explique com suas palavras o que você entende por Nomofobia?

97

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

_____________________

20 Caso tenha interesse em participar da próxima etapa desta pesquisa, favor informar seus

dados para contato (telefone/e-mail):

________________________________________________________________________

_______

OBRIGADA!!!

98

APÊNDICE B – VALORES DA ESCALA MOBILE PHONE ADDICTION TEST (MPAT)

Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação

E1 2,2 1,3 55 E127 3,08 1,5 77 E253 2,84 1,5 71

E2 1,6 0,8 40 E128 2,6 1,5 65 E254 1,4 1,2 35

E3 3,2 1,8 80 E129 3 1,7 75 E255 1,48 1,2 37

E4 2,56 2,1 64 E130 2,84 1,3 71 E256 3,52 1,7 88

E5 2,04 2,2 51 E131 2,2 2,0 55 E257 1,92 1,4 48

E6 2,56 1,4 64 E132 3,4 1,5 85 E258 2,88 1,3 72

E7 3 1,4 75 E133 2,44 2,1 61 E259 2,96 1,7 74

E8 3,72 1,4 93 E134 3,32 1,4 83 E260 2,24 1,4 56

E9 2,56 1,6 64 E135 3,6 1,5 90 E261 1,88 1,1 47

E10 1,8 2,1 45 E136 3 1,7 75 E262 4,16 0,4 104

E11 1,88 1,1 47 E137 4,28 1,6 107 E263 2,12 1,9 53

E12 2,44 1,4 61 E138 2,04 1,5 51 E264 2,84 1,3 71

E13 2,68 1,4 67 E139 3,32 1,4 83 E265 1,6 1,6 40

E14 2,32 1,9 58 E140 3,08 1,7 77 E266 2,32 0,9 58

E15 2,92 2,0 73 E141 3,68 1,8 92 E267 3,4 1,6 85

E16 2,12 1,6 53 E142 3,52 1,8 88 E268 2,84 1,4 71

E17 2,64 1,4 66 E143 3,76 1,7 94 E269 2,08 1,4 52

E18 3,68 1,3 92 E144 2,92 1,4 73 E270 2,08 1,4 52

E19 2,44 1,7 61 E145 2,24 1,3 56 E271 1,8 1,1 45

E20 3,08 1,6 77 E146 3,76 1,2 94 E272 2,2 2,3 55

E21 3,52 1,5 88 E147 2,28 1,8 57 E273 2,92 0,8 73

E22 3,32 2,4 83 E148 2,64 1,6 66 E274 2,6 1,6 65

E23 2,08 1,5 52 E149 3,36 1,3 84 E275 3,24 1,7 81

E24 2,68 1,3 67 E150 3,28 1,7 82 E276 2,92 1,7 73

99

E25 3,04 1,5 76 E151 2,68 1,3 67 E277 2,8 2,0 70

E26 2,8 1,5 70 E152 4,12 1,0 103 E278 2,48 1,3 62

E27 2,04 1,1 51 E153 2,64 1,6 66 E279 3,64 1,3 91

E28 2,28 1,6 57 E154 2,64 1,7 66 E280 2,72 1,6 68

E29 3,12 1,8 78 E155 3,28 1,1 82 E281 2,84 1,2 71

E30 2,44 1,2 61 E156 1,88 1,4 47 E282 3,16 1,6 79

E31 2,48 1,6 62 E157 2,96 1,5 74 E283 4,12 0,8 103

E32 2,52 1,3 63 E158 3,12 0,7 78 E284 3,04 1,3 76

E33 2,36 1,3 59 E159 3 1,9 75 E285 2,52 1,7 63

E34 3,04 1,5 76 E160 2,16 1,7 54 E286 2,56 1,5 64

E35 2,84 1,5 71 E161 2,92 1,4 73 E287 3,36 1,6 84

E36 3,32 1,7 83 E162 2,28 1,4 57 E288 2,6 1,2 65

E37 2,6 1,3 65 E163 2,48 1,7 62 E289 1,96 1,5 49

E38 2,2 1,5 55 E164 3,64 1,7 91 E290 2,84 1,8 71

E39 1,8 1,9 45 E165 3,52 1,6 88 E291 3,12 1,7 78

E40 1,96 1,3 49 E166 2,08 1,4 52 E292 2,32 1,5 58

E41 3,52 1,5 88 E167 3,44 1,4 86 E293 3,4 1,4 85

E42 2,8 1,7 70 E168 2,8 1,5 70 E294 2,32 1,4 58

E43 2,6 1,9 65 E169 2,76 1,8 69 E295 1,84 1,9 46

E44 2,04 1,4 51 E170 2,04 1,7 51 E296 1,52 1,3 38

E45 2,96 1,6 74 E171 2,96 1,7 74 E297 2,68 1,6 67

E46 2,28 1,4 57 E172 3,08 1,7 77 E298 3,32 2,1 83

E47 3,08 1,5 77 E173 2,48 1,2 62 E299 2,84 1,2 71

E48 2,48 1,5 62 E174 2,12 1,5 53 E300 2,16 1,2 54

E49 3,6 1,3 90 E175 3,12 1,9 78 E301 3,08 1,2 77

E50 2,8 1,6 70 E176 2,52 1,6 63 E302 2,56 1,9 64

E51 1,68 1,6 42 E177 3,12 1,5 78 E303 2,48 0,8 62

E52 2,92 1,6 73 E178 2,08 1,4 52 E304 2,32 1,8 58

E53 2,96 2,0 74 E179 2,76 1,1 69 E305 2 1,7 50

100

E54 3,24 0,6 81 E180 3,08 1,3 77 E306 2,48 1,5 62

E55 3,76 1,3 94 E181 2,28 1,1 57 E307 3,04 1,0 76

E56 2,68 1,3 67 E182 2,72 1,9 68 E308 2,32 1,6 58

E57 2,6 1,6 65 E183 3,92 1,2 98 E309 2,36 2,1 59

E58 3,6 1,8 90 E184 1,64 1,8 41 E310 2,72 1,5 68

E59 2,64 1,7 66 E185 1,52 2,0 38 E311 2,48 1,3 62

E60 2,84 1,4 71 E186 2,08 2,1 52 E312 2,8 1,6 70

E61 2,4 1,5 60 E187 2,24 1,7 56 E313 3 1,8 75

E62 3,2 1,7 80 E188 3,12 1,5 78 E314 2,44 1,3 61

E63 3,12 1,1 78 E189 2,08 1,0 52 E315 1,8 2,0 45

E64 2,4 1,5 60 E190 1,92 1,0 48 E316 2,48 1,4 62

E65 1,72 1,3 43 E191 4,44 0,8 111 E317 2,6 1,8 65

E66 2,56 0,9 64 E192 3,08 1,9 77 E318 3,08 1,1 77

E67 4,04 1,4 101 E193 2,84 2,0 71 E319 3,04 1,1 76

E68 3,8 1,9 95 E194 1,96 1,8 49 E320 3,04 1,2 76

E69 4 1,6 100 E195 2,92 1,8 73 E321 2,72 1,9 68

E70 3,92 0,8 98 E196 3,52 1,5 88 E322 3,2 1,7 80

E71 2,8 1,3 70 E197 3 1,5 75 E323 3,32 1,5 83

E72 3,44 1,5 86 E198 3,44 1,5 86 E324 2,28 1,3 57

E73 1,68 1,9 42 E199 2,36 1,4 59 E325 3,52 1,6 88

E74 2,24 1,6 56 E200 4,04 1,3 101 E326 3,4 1,6 85

E75 3,16 1,7 79 E201 3,8 2,1 95 E327 2,2 1,6 55

E76 2,88 1,6 72 E202 3,2 1,1 80 E328 2,72 1,3 68

E77 2,36 1,3 59 E203 2,72 1,6 68 E329 2,44 1,4 61

E78 1,96 1,9 49 E204 3,8 1,2 95 E330 2,4 1,5 60

E79 2,84 1,4 71 E205 2,04 1,2 51 E331 2,88 2,1 72

E80 2,92 2,3 73 E206 3 1,6 75 E332 3,24 2,1 81

E81 3,12 1,6 78 E207 3,44 1,8 86 E333 2,36 1,5 59

E82 3,24 1,3 81 E208 3,52 1,7 88 E334 3,88 1,5 97

101

E83 3,52 1,6 88 E209 1,8 1,4 45 E335 2,52 1,8 63

E84 2,6 1,7 65 E210 2,36 1,3 59 E336 2,68 1,8 67

E85 3,2 1,5 80 E211 2,84 1,3 71 E337 3,56 1,2 89

E86 4,04 1,3 101 E212 2,04 1,6 51 E338 2,88 2,0 72

E87 2,04 1,7 51 E213 3,32 1,6 83 E339 3,52 1,7 88

E88 2,44 2,0 61 E214 2,36 1,5 59 E340 2,16 1,7 54

E89 3,28 1,6 82 E215 1,68 1,4 42 E341 3,32 1,8 83

E90 3,56 1,3 89 E216 2,76 1,8 69 E342 3,72 1,5 93

E91 3,56 1,4 89 E217 3,44 1,9 86 E343 2,76 1,5 69

E92 2,92 2,0 73 E218 3,2 1,5 80 E344 2,64 1,5 66

E93 4,32 1,3 108 E219 2,56 1,6 64 E345 1,88 2,1 47

E94 2,4 1,7 60 E220 3,44 1,2 86 E346 2,6 1,5 65

E95 2,64 2,2 66 E221 3,32 1,7 83 E347 2,52 1,5 63

E96 1,84 2,0 46 E222 2,44 1,2 61 E348 2,56 1,4 64

E97 2,16 1,4 54 E223 3,84 1,3 96 E349 2,96 1,3 74

E98 2,28 1,8 57 E224 3,12 1,9 78 E350 3,28 1,4 82

E99 2,4 1,6 60 E225 2,76 1,9 69 E351 3,28 1,3 82

E100 2,96 1,4 74 E226 3,24 1,2 81 E352 2,92 1,6 73

E101 2,64 1,7 66 E227 3,2 1,8 80 E353 2,76 1,6 69

E102 3,8 1,7 95 E228 2,92 1,5 73 E354 2,24 1,6 56

E103 1,76 1,7 44 E229 3 1,4 75 E355 3,2 1,7 80

E104 2,16 1,3 54 E230 2,4 1,4 60 E356 2,08 2,0 52

E105 3,88 1,6 97 E231 2,48 1,2 62 E357 2,84 1,4 71

E106 2,68 1,4 67 E232 2,64 1,6 66 E358 1,72 2,3 43

E107 3,4 1,9 85 E233 2,32 1,6 58 E359 2,16 2,3 54

E108 3,12 1,8 78 E234 3,48 0,8 87 E360 2,12 1,9 53

E109 3,24 1,4 81 E235 2,6 1,5 65 E361 3,36 1,5 84

E110 2,44 1,5 61 E236 3,68 1,3 92 E362 2,4 1,6 60

E111 3,12 1,6 78 E237 2,12 1,3 53 E363 2,2 1,7 55

102

E112 3,24 1,5 81 E238 1,76 1,2 44 E364 3,64 1,8 91

E113 2 1,2 50 E239 4,24 1,1 106 E365 2,72 2,0 68

E114 2,76 2,3 69 E240 2,92 1,9 73 E366 2,28 1,2 57

E115 1,8 1,3 45 E241 2,28 1,3 57 E367 3,88 1,7 97

E116 2,24 1,5 56 E242 2,56 1,8 64 E368 3,8 1,2 95

E117 1,96 1,2 49 E243 3,28 1,6 82 E369 2,56 1,5 64

E118 2 2,2 50 E244 2,48 1,3 62 E370 2,52 2,2 63

E119 2,12 1,1 53 E245 2,4 1,8 60 E371 3,56 1,4 89

E120 3,12 1,7 78 E246 2,2 1,6 55 E372 2,24 1,9 56

E121 3 1,4 75 E247 2,92 1,6 73 E373 2,76 1,7 69

E122 1,84 1,7 46 E248 3,24 1,9 81 E374 2,32 1,6 58

E123 3,04 1,7 76 E249 2,08 1,1 52 E375 2,08 1,4 52

E124 2,52 2,1 63 E250 3,52 2,1 88 E376 3,6 1,5 90

E125 3,32 1,6 83 E251 3,08 2,3 77 E377 2,48 1,6 62

E126 2,88 1,6 72 E252 3,56 1,8 89

103

APÊNDICE C – VALORES DA ESCALA WHATSAPP ADDICTION TEST (WAAT)

Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação

E1 2,6 0,9 65 E127 3,36 1,2 84 E253 2,72 1,4 68

E2 1,84 0,9 46 E128 2,48 1,0 62 E254 1,56 0,6 39

E3 2,56 1,4 64 E129 3,44 1,7 86 E255 1,44 0,8 36

E4 2,64 1,9 66 E130 1,84 0,7 46 E256 2,92 1,6 73

E5 1,48 1,8 37 E131 2,64 2,0 66 E257 2,04 1,2 51

E6 2,2 1,7 55 E132 3,96 1,4 99 E258 2,72 1,1 68

E7 1,48 1,0 37 E133 3,24 1,4 81 E259 3,04 1,4 76

E8 3,88 1,4 97 E134 3,4 1,3 85 E260 2,32 1,7 58

E9 2,6 1,2 65 E135 2,92 1,3 73 E261 1,4 1,0 35

E10 1,16 1,9 29 E136 3,16 2,0 79 E262 5 0,0 125

E11 2,56 1,1 64 E137 3,24 1,4 81 E263 1,12 1,1 28

E12 2,04 1,1 51 E138 2,24 1,5 56 E264 3,24 1,4 81

E13 1,92 0,9 48 E139 2,56 1,1 64 E265 1,68 1,2 42

E14 1,48 0,7 37 E140 2,4 1,2 60 E266 1,92 1,2 48

E15 2,88 2,0 72 E141 3,72 1,9 93 E267 2,12 1,2 53

E16 1,8 0,9 45 E142 4,24 1,2 106 E268 2,64 1,1 66

E17 2,96 1,1 74 E143 5 0,0 125 E269 1,88 1,2 47

E18 3,4 1,3 85 E144 2,4 1,3 60 E270 2,04 1,3 51

E19 1,88 1,2 47 E145 2,2 0,9 55 E271 1,88 1,0 47

E20 3,12 1,7 78 E146 4,52 0,8 113 E272 2,28 1,6 57

E21 2,36 1,4 59 E147 1,76 1,5 44 E273 2,96 1,0 74

E22 2,56 1,7 64 E148 1,48 1,2 37 E274 2,36 1,4 59

E23 2,48 1,2 62 E149 3,68 1,4 92 E275 3 1,6 75

E24 2,64 1,2 66 E150 2,48 1,4 62 E276 3,16 1,4 79

104

E25 2,88 1,6 72 E151 3,24 1,1 81 E277 2,36 2,1 59

E26 2,76 1,5 69 E152 3,84 1,3 96 E278 2,24 1,0 56

E27 2 0,8 50 E153 2,68 0,9 67 E279 3 1,4 75

E28 2,12 1,4 53 E154 2,96 1,6 74 E280 3,32 1,3 83

E29 2,2 1,0 55 E155 2,64 1,0 66 E281 2,12 1,1 53

E30 2 0,8 50 E156 1,68 0,7 42 E282 3,08 1,2 77

E31 1,68 1,0 42 E157 3,28 1,3 82 E283 3,4 1,2 85

E32 2,52 1,1 63 E158 2,96 0,6 74 E284 2,76 1,2 69

E33 1,96 0,9 49 E159 3,12 2,0 78 E285 2,28 1,6 57

E34 3,96 0,8 99 E160 1,92 1,7 48 E286 2,12 1,0 53

E35 2,28 1,2 57 E161 2,28 1,2 57 E287 2,68 1,2 67

E36 3,72 1,5 93 E162 2,88 1,1 72 E288 2,28 1,4 57

E37 2,52 1,0 63 E163 2,48 0,8 62 E289 1,92 0,9 48

E38 1,8 1,6 45 E164 3,36 1,2 84 E290 2,56 1,7 64

E39 1,6 1,5 40 E165 3,16 1,4 79 E291 3,36 1,6 84

E40 1,76 1,2 44 E166 2 0,8 50 E292 3,4 1,5 85

E41 4 1,2 100 E167 4 1,2 100 E293 3,36 1,4 84

E42 2,68 1,3 67 E168 1,8 1,1 45 E294 2,36 1,3 59

E43 2,6 1,5 65 E169 2,68 2,0 67 E295 2,36 1,6 59

E44 1,68 0,9 42 E170 2,24 1,2 56 E296 1,6 1,0 40

E45 3,64 1,4 91 E171 1,76 1,1 44 E297 2,32 1,5 58

E46 1,76 0,8 44 E172 2,68 1,4 67 E298 3,24 1,6 81

E47 3,4 1,3 85 E173 2,56 1,1 64 E299 2,32 1,6 58

E48 2,68 1,6 67 E174 1,96 1,3 49 E300 2,4 1,2 60

E49 3,12 1,5 78 E175 3,28 1,9 82 E301 2,12 1,5 53

E50 3,64 1,4 91 E176 2,92 1,2 73 E302 2,36 2,0 59

E51 1,12 0,5 28 E177 2,36 1,3 59 E303 2,4 0,7 60

E52 2,64 1,5 66 E178 2 1,2 50 E304 3,04 1,7 76

E53 3,16 1,2 79 E179 3,08 0,3 77 E305 1,68 1,5 42

105

E54 1,84 0,9 46 E180 2,24 1,2 56 E306 2,2 1,3 55

E55 3,32 1,3 83 E181 1,76 1,1 44 E307 2,96 1,0 74

E56 2,32 1,1 58 E182 2,92 1,8 73 E308 2,84 1,8 71

E57 2,48 1,6 62 E183 3 1,5 75 E309 1,08 1,7 27

E58 3,16 2,1 79 E184 2,04 1,5 51 E310 2,8 1,3 70

E59 2,56 1,8 64 E185 1,88 1,3 47 E311 2,68 0,9 67

E60 2,8 1,4 70 E186 2,08 1,7 52 E312 3,48 1,0 87

E61 2,96 1,5 74 E187 4,16 0,9 104 E313 2,56 1,8 64

E62 3,32 1,5 83 E188 3,72 1,5 93 E314 3,68 1,1 92

E63 2,68 0,7 67 E189 2,76 1,3 69 E315 2 1,6 50

E64 1,12 0,7 28 E190 1,64 0,8 41 E316 2,64 1,8 66

E65 1,56 0,8 39 E191 3,84 1,1 96 E317 2,6 1,1 65

E66 2,4 1,4 60 E192 2,44 1,0 61 E318 2,88 0,9 72

E67 2,68 1,4 67 E193 3,52 1,5 88 E319 3,24 1,3 81

E68 4 1,4 100 E194 1,72 1,5 43 E320 2,52 1,0 63

E69 4,68 0,9 117 E195 2,64 1,6 66 E321 3 1,5 75

E70 3,36 0,8 84 E196 2,28 1,6 57 E322 2,88 1,3 72

E71 2,44 1,0 61 E197 3,2 1,5 80 E323 3,4 1,2 85

E72 3,48 1,3 87 E198 3,72 1,5 93 E324 0 0,0 0

E73 1,72 1,6 43 E199 2,8 1,5 70 E325 3,2 1,4 80

E74 2,44 1,5 61 E200 3,36 1,7 84 E326 3,08 0,9 77

E75 2,48 1,3 62 E201 4,52 1,2 113 E327 2,32 1,5 58

E76 3,64 1,0 91 E202 3,12 1,1 78 E328 2,76 1,1 69

E77 2,76 1,1 69 E203 2,76 1,2 69 E329 2 1,3 50

E78 1,12 1,5 28 E204 3,8 1,2 95 E330 2,32 1,3 58

E79 2,84 1,0 71 E205 1,56 1,1 39 E331 2,96 1,9 74

E80 2,96 1,7 74 E206 3,28 1,1 82 E332 4,24 1,4 106

E81 2,56 1,6 64 E207 3,96 1,4 99 E333 2,48 1,4 62

E82 3,04 1,1 76 E208 2,92 1,8 73 E334 3,48 1,4 87

106

E83 2,08 1,3 52 E209 2,04 1,3 51 E335 2,88 1,8 72

E84 2,56 1,1 64 E210 2,28 0,8 57 E336 2,4 1,5 60

E85 4,08 1,4 102 E211 2,48 1,5 62 E337 3,8 1,4 95

E86 3,32 1,2 83 E212 1,44 0,8 36 E338 2,52 1,5 63

E87 1,8 2,0 45 E213 3,08 1,8 77 E339 3,12 1,3 78

E88 2,04 1,9 51 E214 1,72 1,0 43 E340 2,24 1,2 56

E89 3,56 1,1 89 E215 1,44 0,7 36 E341 2,68 1,7 67

E90 3,76 1,2 94 E216 4,28 1,1 107 E342 3,64 1,0 91

E91 2,96 1,5 74 E217 3,6 1,7 90 E343 2,88 1,3 72

E92 1,92 1,9 48 E218 2,32 1,2 58 E344 2,6 1,1 65

E93 4 1,5 100 E219 2,92 1,6 73 E345 1,96 2,2 49

E94 2,44 1,3 61 E220 3,6 1,1 90 E346 3,88 1,4 97

E95 3 1,6 75 E221 2,96 1,3 74 E347 2,4 1,1 60

E96 2,04 1,7 51 E222 2,64 1,0 66 E348 2,24 0,7 56

E97 1,56 0,9 39 E223 3,8 1,2 95 E349 2,32 1,2 58

E98 2,48 1,8 62 E224 2,6 1,3 65 E350 3,44 1,2 86

E99 2,16 1,7 54 E225 2,92 1,8 73 E351 3,68 1,4 92

E100 2,52 1,2 63 E226 2,96 1,0 74 E352 3,12 1,0 78

E101 0,64 1,1 16 E227 3,16 1,4 79 E353 1,28 0,5 32

E102 3,96 1,3 99 E228 2,52 1,0 63 E354 1,56 1,1 39

E103 1,76 2,1 44 E229 3,4 1,4 85 E355 2,76 1,5 69

E104 2,72 1,3 68 E230 1,84 1,2 46 E356 1 1,1 25

E105 3,64 1,9 91 E231 3 1,0 75 E357 3,36 1,2 84

E106 2,28 1,1 57 E232 2,12 1,6 53 E358 2,36 1,4 59

E107 3,04 2,0 76 E233 2,36 1,3 59 E359 0,84 1,5 21

E108 1,48 1,6 37 E234 4,16 0,7 104 E360 2,84 1,8 71

E109 3,16 0,9 79 E235 2,24 1,3 56 E361 3,4 1,1 85

E110 1,48 1,0 37 E236 4,24 0,7 106 E362 2,36 1,3 59

E111 2,96 1,3 74 E237 1,6 0,7 40 E363 2,44 1,2 61

107

E112 2,84 1,0 71 E238 1,52 1,0 38 E364 3,28 1,7 82

E113 2,92 1,2 73 E239 3,88 1,2 97 E365 3,8 1,3 95

E114 2,36 1,5 59 E240 2,92 1,8 73 E366 2,28 1,4 57

E115 1,84 1,0 46 E241 1,92 1,4 48 E367 4,16 1,3 104

E116 2,68 1,3 67 E242 2,72 1,8 68 E368 3,16 1,1 79

E117 1,64 1,0 41 E243 3,76 1,1 94 E369 2 1,3 50

E118 2,08 1,8 52 E244 2,52 0,7 63 E370 2,12 2,2 53

E119 1,76 0,8 44 E245 1,52 0,8 38 E371 3,08 1,6 77

E120 3,76 1,4 94 E246 1,92 1,0 48 E372 2,44 1,4 61

E121 2,96 1,5 74 E247 2,44 1,5 61 E373 2,28 0,9 57

E122 2,36 1,6 59 E248 3,16 1,8 79 E374 2,24 1,2 56

E123 3,92 1,6 98 E249 1,96 0,9 49 E375 1,16 1,2 29

E124 2,84 1,8 71 E250 3,8 1,5 95 E376 3,52 1,7 88

E125 2,48 1,4 62 E251 4,64 0,9 116 E377 2,56 1,2 64

E126 3,44 1,6 86 E252 2,28 1,6 57