dependÊncia do smartphone: um estudo da …...por falar em amigos, tenho muito a agradecer ao...
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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - MPA
THYCIANE SANTOS OLIVEIRA
DEPENDÊNCIA DO SMARTPHONE:
UM ESTUDO DA NOMOFOBIA NA FORMAÇÃO DE FUTUROS
GESTORES
NATAL/RN
2018
THYCIANE SANTOS OLIVEIRA
DEPENDÊNCIA DO SMARTPHONE:
UM ESTUDO DA NOMOFOBIA NA FORMAÇÃO DE FUTUROS
GESTORES
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Administração, da Universidade Potiguar,
como requisito final para obtenção do título de
mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Manoel Pereira da
Rocha Neto
NATAL/RN
2018
Oliveira, Thyciane Santos.
Dependência do Smartphone: Um Estudo da Nomofobia na Formação de
Futuros Gestores / Thyciane Santos Oliveira. –Natal, 2018. – (108)f.
Orientador: Manoel Pereira da Rocha Neto
Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar. Pró-
Reitoria Acadêmica – Núcleo de Pós-Graduação.
Referências: (79-87)f.
1. Nomofobia – Dissertação. 2. Smartphone. 3. Comunicação. 4.
Dependência 5. Estudantes. I. Título.
THYCIANE SANTOS OLIVEIRA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Administração, da Universidade Potiguar,
como requisito final para a obtenção do título
de mestre em Administração.
Aprovado em: 11/05/2018
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Manoel Pereira da Rocha Neto
Orientador
Universidade Potiguar - UNP
Profª. Drª. Laís Karla da Silva Barreto
Examinadora Interna
Universidade Potiguar - UNP
Prof. Dr. Josenildo Soares Bezerra
Examinador Externo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Dedico este trabalho ao meu filho, Miguel, e ao meu
marido, Leonardo Pinheiro, pelo apoio e
compreensão durante esta jornada e pelas horas
roubadas do convívio de vocês.
AGRADECIMENTOS
Agradecer neste momento de conclusão de mais uma etapa em minha vida significa
reconhecer que cheguei mais longe do que eu poderia imaginar e saber que, com a importância
de tantas pessoas queridas, posso ir sempre mais além. Apesar das palavras poderem descrever
de forma satisfatória os resultados de uma pesquisa, elas dificilmente serão suficientes para
reconhecer todos aqueles que, direta ou indiretamente, deixaram sua marca ao longo desta
caminhada. Por isso, apesar de ter sido escrita por duas mãos, esta dissertação é fruto de muitos
afetos, a quem gostaria de expressar meu mais profundo carinho.
Não poderia iniciar esses agradecimentos de maneira diferente que não fosse
reconhecendo a importância de Deus em toda minha vida. Nas orações em que conversávamos
baixinho, sabia que estava sempre presente, nunca me abandonando, mesmo nos momentos
mais difíceis dessa trajetória. Obrigada por iluminar meu caminho e incentivar a seguir. À Ele,
meus eternos agradecimentos.
Ao meu amado filho, Miguel, que nos primeiros meses de mestrado chegou na minha
vida já ensinando a vencer desafios e a lutar todos os dias, incansavelmente. Que me ensinou
que tudo tem o seu tempo, e nem sempre o tempo certo é o que achamos ser. Obrigada pela luz
que me traz, pelo amor que transborda, pelo sorriso que afaga e por fazer deste mundo um lugar
melhor. Essa caminhada ganhou muito mais sentido com você ao meu lado.
Ao meu querido esposo, Leonardo Pinheiro, por ter sido o primeiro a acreditar que sou
capaz. Obrigada por ser quem é, pela admiração que me desperta e por fazer parte de cada
segundo importante de minha vida nos últimos (quase) doze anos. Diante de todas as
dificuldades que foram surgindo ao longo desses anos de mestrado, especialmente em relação
aos vários momentos de cansaço, as noites mal dormidas e trocas de fraldas, é impossível
descrever o quanto você me ajudava e dava forças para continuar seguindo em frente. Te amo!
Apesar de saber que nunca poderei retribuir todo o amor que possuem por mim,
agradeço aos meus pais, Auxiliadora (Kika) e Edivaldo, pelos bons exemplos que sempre me
deram e pelo apoio incondicional em todas as minhas atividades profissionais e acadêmicas.
Tenho muito orgulho de ser sua filha e saber que nunca nenhuma universidade poderia me
ensinar o que aprendi e continuo aprendendo com vocês. Obrigada por me darem asas e se
fazerem tão presentes em miha vida.
Ao meu irmão, Gabriel, pela demonstração de carinho e orgulho de minhas conquistas.
Obrigada por ser o caçula que sempre levava a culpa pelas danações, pelos bons momentos
divididos durante os anos em que crescemos juntos, pela paciência e por ser o melhor amigo
que uma irmã poderia ter. A gratidão também se estende à torcida calorosa de toda a família –
tios(as), avós e primos(as) - que mora em Fortaleza, Aracajú e Brasília. Mesmo com a distância
geográfica que nos separa, essa caminhada não seria possível sem o inestimável amor de vocês.
Aos amigos de longa data, tão presentes e necessários, obrigada por seguirem comigo
mundo afora. Aos amigos recentes, em especial os do mestrado, obrigada pelos incentivos
preciosos, pelas conversas que sempre acabavam em boas rirsadas e pelo convívio ao longo
desses anos. Agradeço especialmente a Dani, Gleicy, Ivy, Thayanne, Gabi, Ludmilla, Shirley,
Carlinhos, Edson, Emanuel, João, Rodrigo, Vivaldo e André pelos conhecimentos partilhados.
Por falar em amigos, tenho muito a agradecer ao professor (e amigo), a quem tive o
prazer e honra de ser orientanda, Dr. Manoel Pereira da Rocha Neto, que com sua competência
e apoio me ajudou a vencer os desafios enfrentados em cada etapa desta pesquisa. Sua
simplicidade cativante e profissionalismo nos inspira não somente na área acadêmica, mas na
vida. Muito obrigada pela dedicação, compreensão e confiança depositada no meu trabalho.
Obrigada pelo acolhimento, por guiar meus passos nessa trajetóia e por ser esse orientador que
não deixou de ser um amigo e um amigo que nunca deixou de ser um orientador.
Expresso também meus agradecimentos à professora Dra. Laís Karla da Silva Barreto,
que tive o prazer de conhecer durante uma das disciplinas do mestrado e por quem tenho grande
carinho e apreço. Suas palavras de conforto, incentivo e os conselhos dados no decorrer da
construção deste trabalho foram essenciais para a realização deste sonho. Obrigada por ser essa
profissional e pessoa incrível.
Agradeço ainda ao professor Dr. Josenildo Soares Bezerra pela participação na banca e
pelas fundamentais contribuições que, sem dúvida, enriqueceram ainda mais esta pesquisa.
Obrigada pelas críticas, sugestões e reflexões para o estudo. Aproveito também para demonstrar
meus sinceros agradecimentos à proferrora Dra. Lydia Maria Pinto Brito pelas considerações
realizadas durante a qualificação deste trabalho e pelos grandes ensinamentos aprendidos em
suas aulas.
Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas
da Universidade Potiguar, em especial ao Mestrado Profissional em Administração, agradeço
por todo o conhecimento compartilhado nas disciplinas ao longo do curso. Juntamente a eles,
agradeço a ex-secretária do programa, Glícia, e a atual, Tânia, pelo auxílio e suporte sempre
que precisava.
Agradeço também a disponibilidade das universidades participantes, a boa vontade dos
professores e aos 377 universitários que contribuíram e possibilitaram a realização desta
pesquisa.
Agradeço, de forma geral, à Universidade Potiguar, pela receptividade e por fazer deste
um programa de excelência e reconhecimento.
Por fim, que venham novos e maiores sonhos.
Muito obrigada!
A qualquer hora do dia
Estou sempre em alerta
Paro tudo o que fazia
É mãe, tia, irmã na certa
Me ligam por qualquer coisa
Dizem sempre que é urgente
Deixe o filme na locadora
E não esqueça o detergente
De reunião ou compromisso
Não se pode escapar
Estou preso e submisso
Ao que ele tem a ditar
Quando ligam entro em choque
E para aumentar minha dor
Há diversos tipos de toque
E a função despertador
Para camuflar o inimigo
Inventaram mil aplicativos
Mas poucos veem o perigo
Atrás dos jogos e mimos
Preste atenção no que digo
A nós ele não dá trégua
E ainda se diz um amigo
Quem por ele nos inquieta
No trânsito, cuidado
Ele vai desconcentrar
E não é exagerado
Dizer que pode matar
Essa coisa está viva
Não é apenas aparelho
A todos nós cativa
Em padrão infravermelho
Imagino o mundo de antes
E é a maioria que diz
A vida era menos estressante
Por isso minha infância feliz
Sofro, mas o carrego comigo
O meu tem tela táctil
E de segunda a domingo
Lembro que o inferno é portátil
(Celular, Rodolfo Neves, 2011)
RESUMO
O crescimento do uso do telefone celular em todo o mundo trouxe mudanças revolucionárias
nas formas como as pessoas interagem umas com as outras. Entretanto, são poucos os
conhecimentos de como os indivíduos usam e os efeitos do uso demasiado desses aparelhos.
Nessa perspectiva, diversos estudos direcionam seu foco principalmente para os benefícios e
vantagens que essa tecnologia pode proporcionar, sendo ainda poucos os que se detém a analisar
os impactos negativos da utilização em excesso do smartphone. Diante disso, traçou-se como
objetivo geral desta pesquisa investigar o nível de nomofobia e as características
comportamentais presentes nos estudantes do curso de Administração em relação à dependência
do telefone celular. Para isso, foi adotada uma abordagem multimetodológica, de caráter
exploratório e cunho descritivo, participando do estudo 377 estudantes universitários das
cidades de Fortaleza/CE e Natal/RN. Os dados quantitativos foram analisados com a ajuda do
software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0; e os dados qualitativos
por meio da análise de conteúdo temática. Os resultados demonstraram que o celular é utilizado
principalmente ao acordar e antes de dormir, bem como em situações de multitarefas. O uso
demasiado das ferramentas proporcionadas pelo aparelho foi evidenciado com maior frequência
na utilização do despertador, aplicativos de conversas e o uso das redes sociais. A complexidade
da dependência do smartphone aponta para a possibilidade de múltiplas causas a influenciá-la,
o que foi constatado pela maior dependência das mulheres, das pessoas mais jovens e dos
estudantes que estavam nos semestres mais avançados do curso. Além disso, o vício na
utilização do aplicativo WhatsApp também foi ligado a fatores relacionados à idade e também
a quantidade de aparelhos que os respondentes possuíam. Os principais significados atribuídos
ao celular giraram em torno da sua importância como um meio de comunicação, a necessidade
de uso e a possibilidade de organização que as diferentes ferramentas proporcionam. Muitos
estudantes não sabiam e nunca haviam ouvido falar sobre nomofobia. Dentre os que informaram
ter algum conhecimento sobre o assunto, as explicações geralmente eram confusas e imprecisas,
demonstrando a pouca familiaridade com o termo. Do ponto de vista gerencial, espera-se que
as identificações encontradas permitam um maior entendimento da importância de se discutir o
tema no ambiente organizacional, bem como uma reflexão sobre a necessidade dos cuidados a
serem adotados nos contextos sociais e acadêmicos.
Palavras-chave: Nomofobia. Smartphone. Comunicação. Dependência. Estudantes.
ABSTRACT
The growth of cell phone use around the world has brought about revolutionary changes in the
way people interact with each other. However, there is little knowledge of how individuals use
and the effects of using too much of these devices. In this perspective, several studies focus
mainly on the benefits and advantages that this technology can provide, and few are still
analyzing the negative impacts of overuse of the smartphone. Therefore, the general objective
of this research was to investigate the level of nomophobia and the behavioral characteristics
present in the students of the Administration course in relation to cell phone dependence. For
this, a multi-methodological approach was adopted, with an exploratory and descriptive
character, with 377 students from Fortaleza / CE and Natal / RN participating in the study.
Quantitative data were analyzed with the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),
version 20.0; and qualitative data through thematic content analysis. The results demonstrated
that the cell phone is mainly used when waking up and before bed, as well as in multitasking
situations. Too much use of the tools provided by the handset has been more often seen in the
use of the alarm clock, chat applications and the use of social networks. The complexity of the
dependence of the smartphone points to the possibility of multiple causes influencing it, which
was evidenced by the greater dependence of the women, the young people and the students who
were in the more advanced semesters of the course. In addition, addiction in using the
WhatsApp application was also linked to factors related to age and also the amount of devices
respondents had. The main meanings attributed to the cell phone revolved around its importance
as a means of communication, the need for use and the possibility of organization that the
different tools provide. Many students did not know and had never heard of nomophobia.
Among those who reported having some knowledge on the subject, the explanations were
usually confusing and imprecise, demonstrating the unfamiliarity with the term. From the
managerial point of view, it is expected that the identifications found will allow a greater
understanding of the importance of discussing the theme in the organizational environment, as
well as a reflection on the need for the care to be adopted in the social and academic contexts.
Keywords: Nomophobia. Smartphone. Communication. Dependency. Students.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Hábitos de uso do smartphone ................................................................................. 36
Figura 2 - Capacidades da mobilidade empresarial .................................................................. 49
Figura 3 - Influência direta e indireta da nomofobia no estresse .............................................. 51
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Perfil dos respondentes ............................................................................................ 58
Tabela 2 - Estatísticas de regressão múltipla para a dependência do telefone celular ............. 64
Tabela 3 - Estatísticas de regressão múltipla para a dependência do WhatsApp ..................... 66
Tabela 4 - Frequência absoluta e percentual de ocorrência dos participantes que emprestariam
o celular .................................................................................................................................... 68
Tabela 5 - Frequência absoluta e percentual de ocorrência dos participantes que não
emprestariam o celular.............................................................................................................. 70
Tabela 6 - Frequência absoluta e percentual de ocorrência dos significados do celular .......... 72
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Quantidade de celulares e densidade nos últimos anos.......................................... 41
Gráfico 2- Dependência de uso do celular................................................................................ 60
Gráfico 3 - Principais momentos de uso do celular .................................................................. 61
Gráfico 4 - Dependência de uso do WhatsApp ........................................................................ 62
Gráfico 5 - Principais aplicativos e ferramentas utilizados no celular ..................................... 63
Gráfico 6 - Pontuação da nomofobia e o sexo dos participantes .............................................. 65
Gráfico 7 - Pessoas que emprestariam o celular ....................................................................... 67
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Trechos das respostas referentes aos participantes que emprestariam o celular .... 69
Quadro 2 - Trechos das respostas dos participantes que não emprestariam o celular .............. 71
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABRAMET Associação Brasileira de Medicina do Tráfego
ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações
CIUT Teoria Compensatória de Uso da Internet
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES Instituições de Ensino Superior
MPAT Mobile Phone Addiction Test
TASW Trabalho Complementar Assistido por Tecnologia
TDAH Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
Sindivarejista Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal
SMS Short Message Service
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
WAAT WhatsApp Addiction Test
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 18
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ......................................................................................... 18
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................... 20
1.3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 21
1.3.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 21
1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................................................ 21
1.4 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 21
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................................. 23
2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 24
2.1 A EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO .............................................. 24
2.2 TECNOLOGIA E AS NOVAS MÍDIAS DIGITAIS ................................................ 29
2.2.1 Paradoxos tecnológicos ........................................................................................... 32
2.3 VÍCIO TECNOLÓGICO: CONTEXTUALIZANDO NOMOFOBIA ..................... 37
2.3.1 O celular e o uso excessivo do aparelho ................................................................. 40
2.4 ADMINISTRAÇÃO E NOMOFOBIA:UMA APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA .. 45
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................ 53
3.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................................ 53
3.2 PARTICIPANTES ..................................................................................................... 54
3.3 INSTRUMENTO ....................................................................................................... 55
3.4 PROCEDIMENTOS .................................................................................................. 56
3.5 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 57
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 58
4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES ............................................................................. 58
4.2 EXPLORANDO AS DIMENSÕES DA NOMOFOBIA .......................................... 59
4.3 SIGNIFICADOS DO CELULAR ............................................................................. 66
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 75
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 79
APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE PESQUISA ............................................................ 89
APÊNDICE B – VALORES DA ESCALA MOBILE PHONE ADDICTION TEST (MPAT) ...... 98
APÊNDICE C – VALORES DA ESCALA WHATSAPP ADDICTION TEST (WAAT)103
18
1 INTRODUÇÃO
O interesse em verificar o impacto da tecnologia no desenvolvimento dos países, na
competitividade das empresas e no comportamento dos seres humanos tem propiciado
discussões políticas, acadêmicas e corporativas relevantes. Estudos sobre a utilização da
tecnologia e a comodidade que ela traz para as pessoas já abordam, de forma mais específica,
as consequências que as plataformas digitais podem provocar nos indivíduos nos mais variados
contextos, ganhando espaço de discussão entre governos, organizações e sociedade.
Nunca a comunicação foi tão fácil e tão abrangente. Com o início da Era da Informação,
na qual as tecnologias foram se modernizando de forma cada vez mais rápida, a dinâmica da
vida também se modificou. As inovações não param de surgir desde então, e uma nova forma
de viver manifesta-se em meio a esse progresso. Acompanhado dessas transformações, a
internet surge para proporcionar às pessoas mais informações, comunicações à distância e
outras inúmeras funções.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
No cenário dinâmico das inovações tecnológicas, o smartphone trouxe mudanças
revolucionárias na forma como as pessoas interagem umas com as outras (KIM, 2018),
ocasionando uma nova configuração social em que o mundo real e o virtual muitas vezes se
confundem e são vividos simultaneamente. Esse universo digital vem sendo adquirido por
gerações cada vez mais jovens, que, por sua vez, entram em contato com tal tecnologia desde
crianças.
Que o smartphone facilitou a vida dos seres humanos, disso ninguém tem dúvida. Nas
últimas décadas, a facilidade de acesso da população para a compra de aparelhos celulares
aumenta a aquisição e o uso de novas tecnologias, que se tornam obsoletas a cada instante que
um novo aparelho é lançado. Diante das suas inúmeras capacidades, os celulares “facilitam a
comunicação instantânea, ajudam as pessoas a permanecerem conectadas em qualquer lugar e
a qualquer hora, e proporcionam as pessoas constante acesso à informação” (YILDIRIM;
CORREIA, 2015, p. 131, tradução nossa).
Embora esses aparelhos viabilize uma série de benefícios, o uso excessivo dos celulares
também pode provocar sérios transtornos psicológicos, físicos e sociais. De acordo com King,
Nardi e Cardoso (2014), a utilização exagerada do smartphone passa a provocar nas pessoas
19
alterações comportamentais, emocionais e sinais semelhantes aos apresentados pelos usuários
de drogas, o que demonstra, portanto, os efeitos nocivos que a dependência tecnológica pode
ocasionar.
Atualmente, o Brasil possui um total de 236,2 milhões de celulares cadastrados
(ANATEL, 2018), o que equivale a uma quantidade maior do que a população nacional, que
corresponde a aproximadamente 207,7 milhões de habitantes (IBGE, 2018). Tantas pessoas
usando esses aparelhos está levando ao surgimento de um fenômeno que começa a chamar cada
vez mais a atenção dos estudiosos. Trata-se do vício específico em celular e da nomofobia,
nome dado ao mal-estar e medo de ficar sem contato ou acesso à internet, computadores e
telefone celular (KING et al., 2014). Conhecida também como o transtorno do século 21, a
nomofobia geralmente vem acompanhada por outros problemas psicológicos, tais como:
alteração no humor, fobia social, depressão, síndrome do pânico, ansiedade, dentre outras
(YILDIRIM; CORREIA, 2015; KING; NARDI; CARDOSO, 2014).
No país, cerca de 10% da população já são considerados viciados digitais (OLIVEIRA,
2013). Visto que o desenvolvimento dessa dependência congrega uma série de aspectos
comportamentais e predisposicionais, diversos estudos procuram compreender as influências e
consequências que a nomofobia pode acarretar (KIM, 2018; SOLER; SÁNCHEZ; SOLER,
2017; BRAGAZZI; PUENTE, 2014; SZPAKOW; STRYZHAK; KRAJEWSKA-KUŁAK et
al., 2012; PROKOPOWICZ, 2011). Nesse aspecto, a perda de controle do tempo de uso do
aparelho e a preocupação demasiada e constante por não estar conectado à internet faz com que
impactos significativos sejam provocados à saúde física e psicológica dos usuários.
Ao ser apontado como um dos principais responsáveis pelo baixo rendimento acadêmico
(SOLER; SÁNCHEZ; SOLER, 2017; KIRSCHNER; KARPINSKI, 2010), o uso em excesso
do celular e das redes sociais pode aumentar os níveis de ansiedade e comprometer o
desempenho dos estudantes (CHEEVER et al., 2014; HARTANTO; YANG, 2016). O fato do
smartphone poder funcionar tanto como recurso e também como uma ameaça ao aprendizado
coloca em questão o tênue limite em relação a utilização indevida dessa tecnologia. Tal
realidade latente vem sendo presenciada fortemente nas universidades, onde professores se
veem obrigados a dividir a atenção com o universo de entretenimento proporcionado pelo
aparelho.
No âmbito organizacional, conectados à rede não só por prazer social, mas também por
obrigação de trabalho, profissionais de diferentes áreas se veem cada vez mais dependentes do
uso do celular, alegando acessibilidade, agilidade e celeridade em atividades realizadas mesmo
fora do horário de expediente. Não é raro encontrar trabalhadores que relatam problemas de
20
insônia, estresse ou cansaço por acordar tarde da noite e, em alguns casos, até mesmo de
madrugada, para responder mensagens, olhar e-mails ou verificar as redes sociais (KING;
NARDI; CARDOSO, 2014).
De fato, diante do exposto e em vista da gravidade dos problemas ligados a dependência
do celular, a ciência da Administração é convocada a cumprir seu papel no entendimento dos
seus impactos desde a formação dos profissionais até as consequências nas organizações. Seu
caráter interdisciplinar possibilita o esforço para que os estudos de outras áreas também possam
contribuir nessa compreensão, tornando-se um desafio frente ao descompasso de produções
desenvolvidas sobre o tema.
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA
O crescimento do uso do telefone celular em todo o mundo e os aplicativos criados para
facilitar a vida das pessoas diariamente como, por exemplo, os de bancos, mensagens,
alimentação, e-mails e redes sociais, contribuem para uma significativa mudança nas relações
sociais. Diante das suas incontáveis funções, as pessoas tornam-se cada vez mais dependentes
de seus aparelhos, podendo provocar transtornos, dependência patológica e ansiedade a partir
dos hábitos adquiridos com o uso excessivo dos celulares (KING; NARDI; CARDOSO, 2014;
KING et al., 2014).
O interesse por estudos sobre as consequências do uso das mídias digitais nas pessoas é
relativamente recente, constituindo-se num campo multi, inter e transdisciplinar, que desafia os
pesquisadores a compreenderem sua complexidade a partir de um enfoque múltiplo. Diante
disso, procurando uma melhor forma de explorar e abordar a relação de dependência
tecnológica, este estudo levará em consideração os comportamentos e os efeitos do uso
excessivo do telefone celular em jovens universitários. Nesse sentido, a presente pesquisa
pretende responder ao seguinte questionamento: Qual o nível de dependência dos estudantes
de graduação do curso de Administração em relação ao smartphone e qual o significado
que atribuem ao uso do aparelho?
21
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
Investigar o nível de nomofobia e as características comportamentais presentes nos
estudantes do curso de Administração em relação à dependência do telefone celular.
1.3.2 Objetivos Específicos
Além do objetivo geral apresentado acima, foram determinados os seguintes objetivos
específicos:
a) Verificar se existe diferença de dependência do celular em relação ao gênero;
b) Identificar se existe diferença de dependência do uso do celular em relação ao
semestre, idade, estado civil, filhos e trabalho;
c) Verificar se a quantidade de celular e de operadoras utilizado está relacionada
à dependência do aparelho e do uso do WhatsApp;
d) Investigar como os estudantes universitários significam o uso do aparelho
celular;
e) Identificar o nível de conhecimento dos universitários sobre a nomofobia.
1.4 JUSTIFICATIVA
É raro encontrar alguém que não tenha ou não carregue consigo um smartphone. A
modernização do telefone, que passou para celular e em seguida transformaram-se nos
smartphones, os quais permitem “ter o mundo às mãos”, parece dar a sensação de que não existe
limites para as modernizações e evoluções deste aparelho.
Diante dessa nova forma de viver, é necessário ter consciência e cautela a essas facilidades,
rapidez e comodidades que as inovações tecnológicas, mais especificamente os smartphones,
proporcionam às pessoas. A utilização em excesso desses aparelhos pode causar, de forma
inconsciente, certa dependência, dada a facilidade de comunicação, troca de informações,
22
acesso à internet, conectividade, agilidade, entretenimento e outras coisas proporcionadas pelo
seu uso.
Nesse sentido, segundo Yildirim e Correia (2015), seria importante identificar se existe
diferença quanto ao gênero e determinar quais fatores podem ser preditores da nomofobia, o
que possibilitaria identificar os grupos de risco e desenvolver estratégias de prevenção para
ajudar tais grupos. Assim, considerando que as relações das pessoas com os celulares e outras
tecnologias influenciam fortemente os comportamentos interpessoais e os hábitos sociais, tais
relações devem ser estudadas e monitoradas continuamente (KING et al., 2014).
Apesar de qualquer pessoa poder estar exposta a essa dependência, se distraindo com
facilidade e com dificuldade de controlar o tempo de utilização, a população jovem parece ser
a mais vulnerável ao vício no smartphone. Nesse sentido, por estarem em um momento de
definição da identidade, a instabilidade emocional e a insegurança dos adolescentes podem
motivar a procura por um refúgio na internet e nas ferramentas que os celulares podem
proporcionar, deixando-os mais vulneráveis e atraídos por esses aparelhos (SOLER;
SÁNCHEZ; SOLER, 2017).
Ademais, ao considerar que os estudantes universitários são os mais propensos a sofrerem
os efeitos negativos do uso exagerado do celular (HARTANTO; YANG, 2016), estes fazem
parte das primeiras gerações adultas que já cresceram com o acesso à internet e ao smartphone,
podendo ser considerados, portanto, “nativos” do celular (FORGAYS; HYMAN;
SCHREIBER, 2014). Como consequência, a dependência pode se tornar uma patologia, já que
nasceram na chamada Era Digital e não sabem como é viver sem todas essas conveniências.
Apesar de as pesquisas sobre o uso excessivo da internet e do celular ter obtido um rápido
crescimento nos últimos anos, os resultados encontrados ainda não são claros, com conclusões
pouco precisas (KARDEFELT-WINTHER, 2014). Além disso, embora tenha havido um
interesse acadêmico crescente em investigar os problemas que emanam do uso específico de
smartphones, as investigações sobre a nomofobia têm sido escassas (KING et al., 2014). Para
Elhai e Contractor (2018), ainda são poucos os conhecimentos de como as pessoas usam seus
smartphones e os efeitos desse uso.
Diante do exposto, busca-se investigar a utilização dos smartphones por jovens
universitários do curso de Administração, tendo em vista estarem sendo preparados para
atuarem como futuros líderes e gestores de empresas, podendo seus comportamentos
influenciarem de forma significativa nas decisões que envolvam o uso de tecnologias, mídias
digitais e relações de trabalho nas organizações.
23
Com a realização da pesquisa, pretende-se contribuir para a discussão do tema tanto em
termos de conscientização, com relação à inserção desenfreada de novas mídias digitais na vida
das pessoas, como aos cuidados a serem adotados com o uso excessivo dos aparelhos celulares.
A difusão desse tipo de estudo faz-se relevante também para uma reflexão sobre a necessidade
de se discutir o tema, ainda mais, no meio acadêmico, social e organizacional.
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO
Além desta seção introdutória, este estudo está dividido em 5 capítulos, conforme
demonstrado no sumário. Nas seções do capítulo 2 são contempladas as revisões da literatura
de interesse desta pesquisa, sendo, inicialmente, realizado uma contextualização geral acerca
da evolução da comunicação e, em seguida, tratado sobre o uso da tecnologia e os impactos das
novas mídias digitais nos mais diversos contextos. Depois, são abordados os principais
paradoxos tecnológicos e os conflitos existentes entre a percepção do uso da tecnologia na vida
pessoal e profissional dos seres humanos, destacando-se a polaridade de sentimentos em relação
aos dispositivos móveis.
Em seguida, ainda no capítulo 2, é apresentado o conceito de nomofobia, suas
características e desafios, bem como alguns dos principais estudos nacionais e internacionais
sobre o tema. Posteriormente, é tratado de forma mais específica a relação entre a nomofobia e
a dependência de uso do smartphone, sinalizando um panorama de pesquisas que direcionam
para uma melhor compreensão do vício no celular. Em seguida, realiza-se uma discussão sobre
a importância de inserir a discussão do uso excessivo do aparelho móvel na área da
Administração, tendo em vista o reflexo que a dependência do celular pode acarretar à saúde
dos funcionários e, consequentemente, à organização.
No capítulo 3, o foco é dado para a caracterização do tipo de pesquisa deste estudo, assim
como os critérios adotados para selecionar os participantes, instrumento de coleta,
procedimentos e análise dos dados. Quanto ao capítulo 4, este se refere à apresentação e
discussão dos resultados, procurando-se contemplar o cumprimento de todos os objetivos (geral
e específicos) traçados anteriormente, além de uma análise comparativa com os estudos já
desenvolvidos sobre o assunto. Por fim, o capítulo 5 apresenta as considerações finais,
abordando os principais achados da pesquisa, suas contribuições, limitações e sugestões para
estudos futuros. Ao final do trabalho, seguem, ainda, a lista de referências utilizadas e os
apêndices.
24
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
É difícil pautar com rigor a história dos meios de comunicação com uma cronologia
exata (COUTINHO, 2014). Contudo, neste capítulo será apresentado um panorama acerca do
tema, fundamentado em estudos realizados ao longo dos anos, bem como alguns de seus
principais autores.
Escrever sobre a evolução dos meios de comunicação é, de certa forma, falar sobre o
próprio desenvolvimento da humanidade (GONTIJO, 2004). Originado do latim communicare,
que significa tornar comum, trocar opiniões, referenciar, compartilhar e associar, a
comunicação envolve a emissão e o recebimento de informações que provocam significados
comuns entre o comunicador e o intérprete, podendo ocorrer por meio de simbologias ou signos
(PINHEIRO, 2005).
A história da comunicação passa a ter seu começo mediante a necessidade humana de
se expressar. Tendo seu início marcado desde o momento em que os seres humanos começaram
a se entender por meio de gritos e gestos, com os quais externalizavam suas intenções
(COSTELLA, 2001). Foi por meio das pinturas rupestres, arte baseada nos desenhos e
representações artísticas gravadas nas paredes e tetos das cavernas, que a comunicação passou
a ganhar uma maior complexidade.
Com o passar dos anos, os símbolos e a pinturas continuaram sendo importantes meios
de comunicação para variados propósitos e as mais diferentes civilizações. Há
aproximadamente 3.000 a.C, visando administrar a cobrança de impostos, o registro dos
animais e o controle sobre os meios de produção e subsistência, os Sumérios deram origem a
escrita cuneiforme, na Mesopotâmia. Já no Egito Antigo, na forma dos conhecidos hieróglifos,
a escrita era realizada de forma pictográfica, representando cada símbolo um objeto (AGUIAR,
2018; CEMBRANI, 2017). Assim, com o surgimento da escrita e do papel, pelos chineses, são
dadas as prerrogativas para que vários meios de comunicação pudessem aparecer
(COUTINHO, 2014).
Desde a sua invenção pelos fenícios, por volta de 2.300 a.C, o alfabeto vem passando
por diversas modificações, ajustando-se aos interesses e necessidades de cada civilização. Pode-
se destacar, por exemplo, o próprio alfabeto criado durante a Grécia Antiga, com a utilização
das letras alfa, beta e ômega. Além da criação de novas simbologias, o processo de comunicação
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entre as pessoas também teve um grande aliado da própria natureza, por meio da utilização dos
chamados “pombo-correio”. Por meio da ajuda desses animais e, mais tarde, dos mensageiros,
as cartas eram encaminhadas, o que permitia transmitir as informações para indivíduos de
localidades mais distantes (CEMBRANI, 2017). Nesse aspecto, cabe destacar o que Serrano
(2009) aponta como sendo um exemplo de esforço coletivo para reproduzir as organizações
sociais e suas identidades, considerando a utilização da comunicação coletiva para se trabalhar
os vínculos entre sociedade e natureza. De acordo com o autor:
Desde suas origens, a comunicação coletiva se debate entre os empenhos de gerar
informação para naturalizar a Sociedade ou para socializar a Natureza. É um debate
radical – talvez o debate mais radical – sobre o papel que a comunicação deve
desempenhar nas representações sociais. Porque as diversas representações sobre a
intervenção humana na Natureza se refletem nas diferentes concepções do mundo e
das comunidades que apareceram desde que existe a humanidade. Finalmente, essas
representações justificam, em cada lugar e em cada época, os valores e os projetos
com os quais as sociedades funcionam (SERRANO, 2009, p. 14).
Nessa perspectiva, segundo Gontijo (2004), a história da humanidade só existe porque
foi passada de geração a geração, de país para país através dos indivíduos e das tecnologias que
expandiram o recurso do corpo humano. Ainda segundo a autora, “os meios de comunicação
são extensões de nosso próprio corpo, e suas mensagens, de nosso sentir e pensar” (GONTIJO,
2004, p.11). Entende-se, portanto, que a comunicação é um processo que possibilita as relações
sociais ao longo de toda a existência humana. Sendo assim, representa um dos fenômenos mais
importantes do ser humano (PERLES, 2007), no qual a medida que o indivíduo vai se
desenvolvendo, o mesmo ocorre com a forma de se comunicar. Nesse aspecto, Perles (2007, p.
6) afirma que:
Por séculos a cultura continuou sendo transmitida oral e visualmente. Durante a Idade
média o povo não tinha acesso à linguagem escrita, que era restrita aos monges e às
pessoas letradas. Enquanto a linguagem se desenvolvia, os suportes e meios de
comunicação também iam se aperfeiçoando. O surgimento do papel, inventado pelos
chineses, substituiu as superfícies de pedra, os papiros e os pergaminhos de couro,
então utilizados para a escrita.
Sendo assim, a medida que o ser humano foi evoluindo, o processo de comunicação
também foi sendo aperfeiçoado e novas formas de interagir foram sendo criadas. Como
exemplo, destaca-se a criação do sistema de prensa tipográfica, que minimizou a lentidão da
fabricação dos documentos escritos, viabilizando a produção de jornais e livros em grande
escala (PERLES, 2007). Tal fato foi considerado como sendo o primeiro passo para a
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democratização da escrita, tendo em vista que somente uma pequena parte da sociedade era
alfabetizada e tinha acesso aos textos produzidos até então (TRAQUINA, 2005).
No Brasil, o Correio Braziliense foi o primeiro jornal lançado, em 1º de Junho de 1808.
Sua impressão era realizada em Londres, uma vez que a coroa portuguesa não permitia a
existência de impressora na colônia brasileira. No mesmo ano, entretanto, a família Real, que
fugia das invasões napoleônicas, chega ao país de posse das máquinas que iriam dar origem a
Imprensa Régia, dando sungimento, assim, ao primeiro jornal impresso propriamente no país.
Ainda no mesmo ano, em 10 de Dezembro de 1808, foi fundada a Gazeta do Rio de Janeiro,
que publicava documentos oficiais e notícias de interesse da Corte. No decorrer dos anos que
se seguiram foram surgindo uma série de outros periódicos, predominando, principalmente, o
jornalismo panfletário (PERLES, 2007).
Durante o século XVIII também teve início os estudos sobre a eletricidade, fato que
proporcionou o surgimento do telégrafo por Samuel Morse, em 1837. Tal invenção possibiliou
a transmissão de informações entre as pessoas através de códigos, desenhos e telegramas.
Aproximadamente 39 anos depois, em 1876, o telefone foi aperfeiçoado por Alexander Graham
Bell, permitindo a comunicação por meio de ondas sonoras (CEMBRANI, 2017). No Brasil, ao
final da década de 1870, começa a funcionar os primeiros telefones na cidade do Rio de Janeiro.
Nesse período as ligações eram feitas de forma muito lenta, operadas por telefonistas, de modo
totalmente manual (IACHAN, 2010).
Após a expansão do jornal e, em seguida, a invenção do telefone, deu-se o surgimento
dos meios de comunicação de massa, tais como: o rádio, o cinema e a televisão. Ao ser lançado
em 1896 por Guglielmo Marconi, a criação do rádio possibilitou adicionar “voz” na
comunicação à distância, o que permitia ir além da transmissão de notícias ao gerar
entretenimento para a população por meio da reprodução de músicas e radionovelas
(CEMBRANI, 2017).
De acordo com Calabre (2003), as primeiras transmissões de rádio no Brasil ocorreram
no dia 7 de setembro de 1922, em comemoração ao dia da independência do país. Segundo o
autor, nesta primeira transmissão, uma estação de rádio de 500 W foi instalada no alto do
Corcovado, no Estado do Rio de Janeiro, contando-se com 80 receptores, sendo alguns também
instalados em praças públicas através dos quais os ouvintes puderam ouvir o discurso do então
presidente Epitácio Pessoa. Contudo, até o início da década de 1930, o rádio permaneceu sendo
experimental, com programação voltada principalmente para a elite do país (MENEGUEL,
1998).
27
Por sua vez, em 1924, Philo Fransworth inventou a televisão. Transmitida inicialmente
em preto e branco, essa nova forma de comunicação de massa foi considerada como uma
espécie de fusão de som e imagem. A chegada da televisão ao Brasil ocorreu em 1950, quando
Assis Chateaubriand, por meio da criação da extinta TV Tupi, assumiu o desafio de instalar
esse meio de comunicação no país, que já repercutia em vários outros lugares do mundo,
principalmente nos Estados Unidos e nos países da Europa (AMORIM, 2007; CEMBRANI,
2017). Para Ortiz (1988) a chegada da televisão no país está diretamente relacionada às
mudanças promovidas pela industrialização, contando-se com uma série de atividades ligadas
à cultura de massa e atingindo o seu auge. As transformações no cenário brasileiro desse período
foi descrito pelo autor como:
A velha sociologia do desenvolvimento costumava descrever essas mudanças
sublinhando fenômenos como o crescimento da industrialização e da urbanização, a
transformação do sistema de estratificação social com a expansão da classe operária
e das camadas médias, o advento da burocracia e das novas formas de controle
gerencial, o aumento populacional, o desenvolvimento do setor terciário em
detrimento do setor agrário. É dentro desse contexto mais amplo que são redefinidos
os antigos meios (imprensa, rádio e cinema) e direcionadas as técnicas como a
televisão e o marketing. Sabemos que é nas grandes cidades que floresce este mundo
moderno (ORTIZ, 1988 p. 38-39).
Nesse contexto, pode-se perceber que o país estava em um momento de profundas
mudanças, onde o entretenimento advindo através dos veículos de comunicação de massa
tornava-se o meio de cultura procurada pelo povo. Outrossim, a televisão foi considerada como
um veículo que possibilitaria maior comunicação às famílias brasileiras, tendo em vista sua
abrangência e o ritmo da informação, bem mais rápido e intenso.
À medida que as inovações tecnológicas eram criadas, novos avanços na comunicação
também iam acontecendo. Nesse sentido, em 1946, John Eickert e John Mauchly inventaram o
primeiro computador que funcionava através de válvulas e possibilitava a realização de
inúmeras multiplicações por segundo, além de outras funcionalidades. Com o passar dos anos,
mediante o aperfeiçoamento tecnológico, teve-se início os conhecidos computadores pessoais,
que permitiram a popularização do aparelho para que uma maior quantidade de pessoas
pudessem tê-los em casa. Diante do surgimento desses computadores, uma nova gama de
criações foram realizadas para tornar esse veículo ainda mais acessível, prático, funcional e
barato. Dentre as novas tecnologias criadas, destacam-se: os notebooks, ultrabooks e os tablets
(CEMBRANI, 2017).
Já em 1947, o celular foi inventado pelo laboratório Bell, nos Estados Unidos. Ao
permitir a comunicação por meio de ondas eletromagnéticas, os primeiros aparelhos permitiam,
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basicamente, a realização de ligações de forma portátil. Em seguida, novas funções foram
adicionadas a esses aparelhos como, por exemplo, o envio de mensagens de texto, reprodução
de músicas, armazenamento de arquivos, captura de imagens, dentre outros, sendo
acompanhada pelo processo de modernização dos seus designs, peso, tamanho e
processamento.
Na década de 1960, emergindo durante a Guerra Fria, surge a Internet. Durante a criação
de um projeto norte-amaricano que visava criar um sistema de informação e comunicação em
rede, que sobrevivesse a um ataque nuclear e deixasse dinâmica a troca de informações entre
os centros de produção científica (GUILES, 2010). Sobre o seu surgimento, Castells (2003, p.
19) afirma que:
Embora a Internet tivesse começado na mente dos cientistas da computação no início
da década de 1960, uma rede de comunicações por computador tivesse sido formada
em 1969, e comunidades dispersas de computação reunindo cientistas e hackers
tivessem brotado desde o final da década de 1970, para a maioria das pessoas, para os
empresários e para a sociedade em geral, foi em 1995 que ela nasceu. (CASTELLS,
2003 p.19).
Segundo Lemos e Lévy (2010), o advento da internet trouxe uma comunicação do tipo
“todos-pra-todos”, enquanto que os veículos de comunicação de massa - televisão e rádio -
possibilitavam a comunicação “um-pra-todos”. Nesse contexto, tem-se que uma mesma
informação passou a ser acessada em diferentes meios de comunicação, surgindo, portanto, a
comunicação em rede. Para Jenkins (2009), esse fenômeno pode ser conhecido como uma
espécie de “cultura da convergência”, tendo em vista o “fluxo de conteúdos através de múltiplas
plataformas de mídias, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento
migratório dos públicos dos meios de comunicação” (JENKINS, 2009 p. 29).
Os telefones inteligentes, chamados de smartphones, são sinônimos de telefones celulares
de alta tecnologia, com grande capacidade de processamento de dados (COUTINHO, 2014).
Criados com as inúmeras capacidades que a internet disponibiliza, estes aparelhos também
facilitam a cultura da convergência. Os smartphones executam um sistema operacional
identificável que premitem aos usuários estenderem suas funcionalidades com os aplicativos
disponíveis em seus sistemas operacionais, IOS, Android etc. Têm capacidades de múltiplas e
rápidas conexões e tamanho da tela adequado e limitado (THEOHARIDOU; MYLONAS;
GRITZALDIS, p. 3, tradução nossa). Ou seja, um computador portátil que funciona em um
telefone celular.
29
De acordo com o que foi exposto, observa-se que ao longo da história da humanidade o
processo de comunicação teve um papel importante nas relações sociais, comerciais e pessoais.
Seja falada, escrita, corporal ou visual, a comunicação foi sendo transformada conforme os
interesses e necessidades das civilizações, assim como acompanhada pelo desenvolvimento das
inovações. Tais inovações possibilitaram uma série de transformações na forma de se
comunicar, o que proporcionou, além dos inúmeros benefícios, diversas incertezas, conforme
aponta Jenkis (2009, p. 38) ao afirmar que “estamos numa era de transição midiática, marcada
por decisões tácitas e consequências inesperadas, sinais confusos e interesses conflitantes e,
acima de tudo, direções imprecisas e resultados imprevisíveis”.
Sendo assim, abordar sobre os impactos que a tecnologia e as novas mídias digitais
acarretam nos seres humanos se torna cada vez mais necessário. Em tempos de ritmo acelerado
de mudanças e sobrecarga de informações, a comunicação através dos smartphones e da internet
permite maior liberdade e beneficia incontáveis pessoas, contudo, conforme aponta Castells
(2003), pode libertar os poderosos para oprimir os desinformados e levar à exclusão dos
desvalorizados pelos conquistadores de valor. Baseado nisso, faz-se importante ter consciência
para todos os atrativos que a forma de comunicação da Era Digital pode ocasionar, não só os
seus benefícios, mas também os malefícios que estão nas entrelinhas da interatividade.
2.2 TECNOLOGIA E AS NOVAS MÍDIAS DIGITAIS
Crescendo principalmente com o advento da globalização, o ser humano nunca esteve tão
exposto aos produtos midiáticos que impulsionam e fortalecem o consumo tecnológico como
na atualidade. Nesse aspecto, o avanço e os impactos da conectividade, segundo Schmidt e
Cohen (2013, p. 44), “ultrapassará largamente o nível pessoal; as formas segundo as quais
mundo físico e mundo virtual coexistem, colidem e se complementam, afetará substancialmente
a forma como cidadãos e Estados se comportarão nas próximas décadas”.
Nos últimos anos, a expansão das novas tecnologias tem marcado relevantes mudanças
na forma de se comunicar, pensar e se comportar do ser humano. Ao influenciar questões
relacionadas ao estilo de vida, bem como fatores políticos, econômicos e sociais, as
transformações oriundas do avanço tecnológico possuem inúmeras vantagens, mas também
consequências ainda pouco abordadas, incertas e nebulosas em relação à saúde física e
psicológica dos seus usuários.
30
“Além de fornecer novos veículos para se expressar, a mídia digital também permite
novas formas de comprar, colecionar, comunicar, jogar, namorar, investir, doar, apostar,
aprender, assistir, ouvir e muito mais” (BELK, 2016, p. 50, tradução nossa). A nova realidade
tecnológica proporcionada pela utilização de computadores, tablets, internet e smartphones,
gera, cada vez mais, adeptos ao novo “mundo digital” e suas infinitas possibilidades, tonando-
se acessível a uma grande parcela da população, independente da classe social, idade, etnia e
escolaridade. De forma específica, o aumento do uso dos celulares nos últimos anos, conforme
Hartanto e Yang (2016, p. 329, tradução nossa), torna-se “uma parte onipresente da nossa
cultura e revolucionam a forma que vivemos”.
Tendo em vista a abrangência na forma de se comunicar, Cardoso (2007) chama de
globalização comunicativa os novos modelos de comunicação nas sociedades informacionais,
provocando transformações espaciais e temporais na vida social do indivíduo. Essa
comunicação em rede também deve ser compreendida na forma como está transformando a
maneira de administrarmos nossa autonomia e exercermos a cidadania nas últimas décadas. De
acordo com o autor:
Hoje, na nossa sociedade, a televisão e a internet (no acesso à diversidade de fontes e
instantaneidade das mesmas) representam um fator de mudança nas nossas vidas, pela
partilha de um mesmo ambiente informativo entre eleitos e eleitores e de um papel
cada vez maior conferido à reflexidade como instrumento de escolha (CARDOSO,
2007, p. 104).
Assim, diante de tempos em que a comunicação “cara a cara” se torna cada vez mais
dificultosa, a imersão dos seres humanos em um universo “online” influencia novas percepções
culturais, o que provoca mudanças significativas nas relações sociais, principalmente no que
tange à comunicação. Segundo Ittelson et al. (1974), o ser humano tem tido um relacionamento
funcional específico com a sociedade que determina como ele pensa a respeito de si próprio,
sendo, portanto, um produto das demandas evolucionárias de seu tempo. Nesse contexto, vale
a pena destacar como exemplo a mudança de comportamento das pessoas diante do avanço
tecnológico e as influências digitais, como destaca Baudrillard (2011, p. 61):
Toda essa interrogação sobre o virtual torna-se hoje ainda mais delicada e mais
complexa por causa do extraordinário blefe que a cerca. O excesso de informação, o
forcing publicitário e tecnológico; a mídia, o deslumbramento ou o pânico – tudo
concorre para uma espécie de alucinação coletiva do virtual e seus efeitos.
Diante do fenômeno que cerca as páginas das redes sociais e blogs cada vez mais
interativos e envolventes, é possível verificar como as pessoas desenvolveram uma maior
31
preferência pela informação que chega de forma mais rápida e fácil através das redes sociais,
bem como a comunicação proporcionada por essas mídias.
Para que se tenha uma ideia aproximada das mudanças provocadas pelo avanço
tecnológico e as implicações na forma que vivemos, o crescimento rápido do número de
aplicativos – também conhecido pelo termo appification – está mudando a maneira como
consumimos, nos relacionamos, armazenamos informações e entretenimento (KOSNER,
2012). Segundo O’Brien e Deventer (2016), trata-se da mudança na forma como se acessa as
informações e a mídia disponível, sendo, portanto, “maneiras de automatizar abordagens
práticas para atender a uma necessidade particular ou interesse ou apenas para facilitar a
diversão” (O’BRIEN; DEVENTER, 2016, p. 418, tradução nossa). Dessa forma, cada vez mais
presentes nos dispositivos móveis, os aplicativos ganham espaço em um novo cenário em que
a praticidade, celeridade e o desempenho no gerenciamento e acesso a informações configuram
o aumento da utilização fundamental dessas ferramentas no cotidiano, influenciando o estilo de
vida dos usuários.
Essas e outras mudanças levaram Jenkins, Green e Ford (2014) a chamarem de “cultura
da conexão” um novo modelo de cultura que passa a surgir diante da disseminação das
tecnologias e mídias digitais. Conforme os autores, os usuários das mídias produzidas não
passam a ser mais vistos simplesmente como mero consumidores, como ocorria anteriormente,
mas sim como criadores de valor e significado. Por permitir a propagação, o compartilhamento
e a criação de materiais além dos limites geográficos, o público tende a influenciar ativamente
na disseminação de conteúdos, discussão e críticas através dos diferentes tipos de mídias,
envolvendo-se cada vez mais com esse processo, seja nos negócios, na política ou na vida
cotidiana.
Diante da máxima de que “aquilo que não se propaga, morre” (JENKINS; GREEN;
FORD, 2014), a mudança de paradigmas que a mídia atual presencia leva ao entendimento da
contemporânea transformação do papel desempenhado pelos seus usuários. Estes, por sua vez,
não se limitam apenas a uma conduta reativa, passando a se engajar e se posicionar diante dos
conteúdos produzidos. É com base nesse engajamento do público que Jenkins, Green e Ford
(2014) sinalizam que no ambiente de mídia digital, as empresas que prosperarão serão aquelas
que souberem lidar com as aspirações e necessidades desse público ansioso por participar e
opinar.
Por outro lado, enquanto as mídias digitais possibilitam uma cultura de conexão e
engajamento, elas também podem provocar um efeito inverso. Castells (2003) aponta que o
comportamento provocado devido à difusão da internet está ocasionando um isolamento social,
32
o que gera um colapso da comunicação social e da vida familiar. Estar conectado pode significar
coisas diferentes para diversas pessoas, dependendo do estilo de vida que cada uma possui.
Com isso, ao mesmo tempo em que a internet possibilita certa igualdade aos seus usuários, com
acesso aos mesmos recursos, informações e plataformas, diferenças significativas ainda
persistem no mundo físico (SCHMIDT; COHEN, 2013).
Com a democratização da comunicação, múltiplos modelos de negócios encontraram no
avanço tecnológico a oportunidade de transcender fronteiras e romper obstáculos, desafiando
os limites até então impostos pelas barreias geográficas, físicas e culturais. Tais negócios
também se reorganizaram na forma de se comunicar, monitorar e cobrar dos seus funcionários
as demandas e os objetivos organizacionais, como aponta Castells (2003, p. 143) ao enfatizar
que “à medida que os trabalhadores se tornam cada vez mais dependentes da interconexão por
computador em sua atividade, a maioria das companhias decidiu que têm o direito de monitorar
os usos de suas redes por seus empregados”.
Ao analisar o amálgama de assuntos relacionados às novas tecnologias e mídias digitais,
pode-se confrontar uma profundidade de transformações que conferem traços marcantes ao
contexto socioeconômico e cultural. Para muitos, refletir sobre essas questões possibilita uma
nova forma e enxergar e (re)significar o uso dessas tecnologias, uma vez que de tão inseridas
no cotidiano, podem passar despercebidas aos olhares conectados do mundo. Embora sua
discussão não seja recente, observa-se que diversos estudos direcionam seu foco principalmente
para os benefícios e vantagens que a tecnologia e as novas mídias digitais podem proporcionar,
sendo ainda poucos os que se detém a analisar os impactos negativos da utilização de tais
ferramentas.
2.2.1 Paradoxos tecnológicos
O surgimento de novas tecnologias marcou o início de uma série de mudanças em nosso
cotidiano, promovendo impactos nos mais variados contextos da história da humanidade. À
medida que cresce as possibilidades do seu uso, com o surgimento de novas funções e
aplicativos, aumenta também a complexidade das relações dos indivíduos com essas
ferramentas, fortalecendo uma visão paradoxal de sentidos e significados atribuídos.
Originando-se desde os filósofos da Antiguidade, as discussões a respeito dos paradoxos
vêm sendo abordada em diferentes tipos de estudos, principalmente os que procuram as
33
ambiguidades existentes nos modos de pensar, agir e sentir. Compreendido como uma forma
de contradição, conflito, ambivalências e oposição entre duas ideias (CORSO; FREITAS;
BEHR, 2012), os paradoxos remetem a uma ideia de condições antagônicas e polares que
podem coexistir simultaneamente como uma situação, ato ou comportamento de qualidades
contraditórias ou inconsistentes (MICK; FOURNIER, 1998; JARVENPAA; LANG, 2005).
Nessa perspectiva, considerando a presença marcante das inovações tecnológicas na
vida das pessoas, Corso; Freitas e Behr (2012, p. 2) afirmam que “ao mesmo tempo em que a
evolução das tecnologias traz o progresso elas criam paradoxos sociais que desafiam as pessoas
nas esferas pessoal e social”. Dessa maneira, reavendo o pensamento de paradoxo e elencando
à utilização das tecnologias, Mick e Fournier (1998), ao investigarem as perspectivas,
significados e experiências dos consumidores em relação a diversos produtos tecnológicos,
sugeriram a presença de oito paradoxos tecnológicos, bem como suas influências sobre as
reações emocionais e estratégias comportamentais de enfrentamento. Os autores acreditam que
alguns paradoxos (controle/caos; liberdade/escravidão; novo/obsoleto;
competência/incopetência) acabam sendo mais perceptíveis do que outros, tendo em vista
serem muitas vezes experienciados em relação a uma grande quantidade de produtos, que
constantemente se quebram ou tornam-se obsoletos.
Mick e Founier (1998), definem que no paradoxo controle/caos, a tecnologia pode
facilitar a regulação ou a ordem, mas também pode levar a transtornos ou distúrbios. No
paradoxo liberdade/escravidão, a tecnologia facilita a independência ou possibilita menos
restrições, mas também pode levar a outros tipos de dependência e maiores restrições. Em
relação ao paradoxo novo/obsoleto novas tecnologias proporcionam às pessoas os benefícios
mais recentemente desenvolvidos, mas também ficam desatualizadas rapidamente à medida que
novos itens chegam ao mercado.
Ainda segundo os autores, no paradoxo competência/incompetência, a tecnologia
proporciona maior sentimento de inteligência e eficácia, mas também pode levar a sentimentos
de ignorância e insuficiência, enquanto que no paradoxo eficiência/ineficiência a tecnologia
proporciona menos esforço e tempo gasto em certas atividades, mas também pode demandar
maior esforço em outras atividades. O sexto paradoxo proposto, trata de satisfação/criação de
necessidades, mostrando que a tecnologia pode facilitar a satisfação de necessidades e desejos,
mas também pode desenvolver a criação de novas necessidades. No paradoxo de
integração/isolamento, a tecnologia pode facilitar a convivência humana, mas também pode
causar o isolamento entre as pessoas, e por fim, o paradoxo engajamento/desengajamento
34
mostra que a tecnologia possibilita maior envolvimento, fluxo ou atividade interpessoal, mas
também pode levar à desconexão, perturbação ou passividade.
Jarvenpaa e Lang (2005) também investigaram, de forma mais específica no uso de
tecnologia móvel, os paradoxos tecnológicos existentes em 222 usuários participantes da
Finlândia, China, Japão e EUA. Os autores também identificaram oito paradoxos, sendo quatro
destes (liberdade/escravidão; competência/incompetência; satisfação/criação de necessidades;
engajamento/desengajamento) os mesmos identificados por Mick e Fournier (1998).
Os quatro paradoxos diferentes encontrados por Jarvenpaa e Lang (2005) são:
independência/dependência, mostra que a sensação de liberdade que as pessoas têm devido a
conectividade, em qualquer momento e local, sistematicamente causa sensação de sempre
depender dessa mesma conectividade para conseguir realizar atividades, tarefas etc. No
paradoxo planejamento/improvisação, é identificado que as facilidades disponíveis na
tecnologia móvel a fim de planejar com antecedência e coordenar atividades e reuniões, geram
também improvisação, no sentido de que há menos tempo investido no planejamento e a
facilidade em justificar atrasos, agendar reuniões em cima da hora e contar com estes recursos
para realizar atividades intempestivamente.
Já no paradoxo público/privado os autores apontam que mesmo sendo de utilidade
pessoal e particular, o aparelho celular/smartphone pode ser manuseado livremente, em
qualquer local, o que pode ocasionar certa invasão de privacidade. O uso da tecnologia móvel
em caráter privado, por vezes, acaba invadindo o espaço coletivo, especialmente quando um
usuário atende uma chamada em local público. Por fim, o paradoxo ilusão/desilusão mostra que
as pessoas acabam por esperar certos benefícios que os smartphones podem proporcionar
através dos aplicativos, porém isso pode não ocorrer e criar certas desilusões acerca dessa
tecnologia (JARVENPAA; LANG, 2005).
Mazmanian, Orlikowski e Yates (2006) investigaram as consequências da utilização de
e-mails por meio dos smartphones em funcionários de uma empresa privada ligada ao setor
financeiro. Os autores assinalaram a existência de três diferentes tipos de dualidades
(continuidade/assincronicidade; autonomia/vício; engajamento/desengajamento) decorrentes
das experiências conflitantes para o trabalho e a vida dos participantes. Em relação ao paradoxo
continuidade/assincronicidade, este se refere à possibilidade do indivíduo permanecer
conectado, contemplando um grande fluxo de informações, ao mesmo tempo em que também
proporciona certo controle pela pessoa, uma vez que ela decide o tempo de responder as
mensagens. Quanto à dualidade autonomia/vício, estes estão relacionados ao sentimento de
independência e autossuficiência, ao passo que também os obriga a manter os smartphones
35
prontamente ligados e disponíveis. O paradoxo engajamento/desengajamento foi o mesmo
encontrado também nas pesquisas de Mick e Fournier (1998) e Jarvenpaa e Lang (2005).
Sorensen (2011), por sua vez, apresenta três paradoxos (criatividade fluida/criatividade
limitada; colaboração fluida/colaboração limitada; controle fluido/controle limitado) voltados
para o desempenho tecnológico e gestão, considerando que mesmo o indivíduo tendo a
oportunidade de utilizar a tecnologia de forma planejada, esta contribui com amplas
oportunidades de ultrapassar seus limites de forma fluida.
De acordo com o autor, o paradoxo criatividade fluida/criatividade limitada se refere a
utilização da criatividade na resolução de problemas e necessidades por meio do celular, mas o
uso dessa criatividade, muitas vezes, requer esforços que não são previstos, podendo ser evitado
pelo usuário. Na perspectiva da colaboração fluida/colaboração limitada, o smartphone tanto
pode contribuir para melhorar o trabalho em equipe, de forma interdependente com os demais
colegas de trabalho, como pode utilizá-lo de forma especificamente individual, limitada por
meio de normas e regras que fazem com que utilize de forma isolada a tecnologia. O controle
fluido/controle limitado está relacionado ao suporte que a tecnologia proporciona à gestão do
trabalho, supervisionando e gerenciando, ao mesmo tempo em que também pode dificultar o
controle.
Com base nos paradoxos apontados anteriormente, Corso, Freitas e Behr (2012)
identificaram as dualidades existentes no uso de smartphones por docentes universitários,
evidenciando três tipos em específico: liberdade/escravidão; continuidade/assincronicidade;
necessidades supridas/criadas. De acordo com os autores, os professores pesquisados sentiam
uma sensação de empoderamento, liberdade, conectividade e comunicação, suprindo suas
demandas diárias de trabalho, ao mesmo tempo em que se sentiam dependentes do aparelho ou
até mesmo viciados. Estudo realizado por Borges e Joia (2013a) evidenciou a presença de cinco
paradoxos tecnológicos em executivos brasileiros (liberdade/escravidão;
dependência/independência; planejamento/improvisação; continuidade/assincronicidade;
autonomia/vício). Os gestores entrevistados pelos autores apontaram que, apesar de
reconhecerem que o smartphone contribui de forma importante nos seus cotidianos, eles sabem
que tal ferramenta causa certa dependência, vício e escravidão à medida que se sentem
obrigados, ainda que inconscientemente, a mantê-los sempre ligados e constantemente
atualizados.
Na mesma perspectiva, Borges e Joia (2013b) encontraram que a diferença de gênero
pode ser um importante fator influenciador na percepção desses paradoxos quanto ao uso de
smartphones, uma vez que as mulheres apresentaram maior intensidade na forma de perceber
36
e vivenciar essas ambiguidades. As executivas entrevistadas demonstraram a existência de seis
paradoxos (liberdade/escravidão; independência/dependência; planejamento/improvisação;
público/privado; continuidade/assincronicidade; autonomia/vício), duas a mais do que os
executivos homens (liberdade/escravidão; independência/dependência;
continuidade/assincronicidade; autonomia/vício).
“Atualmente se misturam o público e o privado. Os limites do particular e do
compartilhado estão cada vez mais estreitos e sutis” (KING; NARDI, 2014, p 34). Com isso, a
diferença de hábitos de uso do celular e o contraste entre os fatores acarretados pela sua
utilização pode ser evidenciado na Figura 1, a seguir:
Figura 1 - Hábitos de uso do smartphone
Fonte: Adaptado de ANSHARI et al. (2016).
De acordo com Corso, Freitas e Behr (2012), o confronto existente com os paradoxos
podem afetar a experiência e o comportamento dos indivíduos como um todo. Dessa maneira,
torna-se relevante compreender o papel efetivo dessas tecnologias no cotidiano de trabalho
destes usuários, pois as dualidades e conflitos oriundos deste uso merecem ser analisadas a fim
de buscar soluções que visem minimizar os aspectos conflitantes associados ao uso destas
tecnologias.
37
2.3 VÍCIO TECNOLÓGICO: CONTEXTUALIZANDO NOMOFOBIA
O crescimento da inovação tecnológica demandou uma alteração no comportamento e
hábito da sociedade, considerando o ato de “estar conectado” a uma condição fundamental para
se incorporar a um mundo cada vez mais interativo, onde a informação é uma significativa
moeda de poder e troca (BORGES; JOIA, 2013a). Nesse sentido, computadores, internet e
telefones celulares se tornaram indispensáveis no dia a dia das pessoas, proporcionando uma
comunicação imediata e ágil para quem busca praticidade e autonomia (KING; NARDI;
CARDOSO, 2014).
As tecnologias móveis podem modificar as dinâmicas sociais através de novas formas
de comunicação e participação (LYYTINEN; YOO, 2002). Nesse sentido, levando-se em
consideração os constantes avanços tecnológicos, os smartphones se tornaram indispensáveis,
sendo crescente, segundo Szpakow, Stryzhak e Prokopowicz (2011) e Krajewska-Kułak et al.
(2012), o aumento do seu uso na última década, especialmente em crianças e adolescentes.
Assim, diante das suas inúmeras capacidades, os celulares facilitam a comunicação instantânea,
ajudam as pessoas a permanecerem conectadas em qualquer lugar e a qualquer hora, além de
proporcionar constante acesso a informação (PARK et al., 2013).
A introdução de telefones celulares e novas tecnologias têm moldado a vida diária, com
aspectos positivos e negativos. Não só na vida pessoal e social, mas também no âmbito
profissional, o uso de smarthphones funcionam como ferramentas facilitadoras e de
fundamental importância para a realização das atividades, estando cada vez mais incorporadas
ao ambiente de trabalho. Entretanto, apesar dos seus benefícios, o uso em excesso de
smartphones pode causar dependência, provocando alterações emocionais, bem como sintomas
físicos e psicológicos, tais como: aumento da ansiedade, taquicardia, alterações respiratórias,
tremores, transpiração, pânico, medo e depressão (KING et al., 2014).
A dependência do uso de computadores, internet e telefone celular pode ser
caracterizada, segundo King et al. (2014), como nomofobia, que significa o medo moderno de
ser incapaz de se comunicar através do smartphone ou da internet. Nomofobia é, portando, a
angústia ou medo do indivíduo ficar impossibilitado de se comunicar pelas novas tecnologias,
ou seja, a fobia de estar sem o telefone celular, computador e/ou internet. Nessa perspectiva,
Yildirim e Correia (2015, p. 136, tradução nossa) também definem nomofobia como sendo:
O medo de não ser capaz de utilizar um aparelho ou um telefone móvel e/ou os
serviços oferecidos. Refere-se ao medo de não ser capaz de se comunicar, perdendo a
38
conexão que os smartphones permitem, não ser capaz de acessar informações através
dos smartphones, e a conveniência que os smartphones oferecem.
O termo foi utilizado pela primeira vez na Inglaterra em 2008, referente a abreviação
das palavras inglesas “no mobile phone phobia”, que significa “fobia de ficar sem telefone”.
Originado de um estudo que investigava o nível de ansiedade dos usuários de telefone celular,
a pesquisa detectou que cerca de 53% dos usuários sofriam de dependência crônica pelo uso do
aparelho (YILDIRIM; CORREIA, 2015; KING et al., 2014).
O estudo também revelou que os homens eram mais propensos a ter nomofobia do que
as mulheres, indicando sentimentos de ansiedade quando não era possível usar o telefone. Não
obstante, após quatro anos, uma nova pesquisa realizada no mesmo país identificou que o
número de pessoas que sofriam de nomofobia havia aumentado de 53% para 66%
(SECURENVOY, 2012). Além disso, ao contrário da pesquisa anterior, o novo estudo
descobriu que as mulheres eram mais suscetíveis a nomofobia. Em relação à faixa etária,
constatou-se que jovens com idades entre 18-24 anos foram mais propensos a nomofobia,
seguido por usuários com idade entre 25-34 anos (BRAGAZZI; PUENTE, 2014; YILDIRIM;
CORREIA, 2015; KING et al., 2014). Nessa perspectiva, Rosen et al. (2012 apud CHEEVER
et al., 2014) também detectaram que as pessoas mais jovens utilizam os smartphones com maior
frequência do que os indivíduos com maior idade.
Caracterizada pela ausência de uma comunicação face-a-face, o uso constante dessas
novas tecnologias também pode interferir nas interações sociais, causando comportamentos
confusos e sentimentos ruins, o que pode levar ao isolamento social, um certo grau de alienação,
problemas econômicos/financeiros e patologias físicas e psicológicas, tais como: danos
relacionados à radiação do campo eletromagnético, acidentes de carro e a angústia ligada ao
medo de não ser capaz de usar novos dispositivos tecnológicos (BRAGAZZI; PUENTE, 2014).
Esse transtorno ou fobia social é descrito por Bragazzi e Puente (2014) como um transtorno de
ansiedade de evolução crônica, marcada pelo alto nível de ansiedade em situações sociais que
envolvem o contato interpessoal e interações, que pode causar extrema ansiedade ou grande
interferência na vida diária de um indivíduo.
Conflitos familiares, perda do sono, problemas no trabalho, baixo desempenho
acadêmico e refeições ignoradas são algumas das principais consequências que também estão
associadas ao vício na internet (KARDEFELT-WINTHER, 2014). Diante disso, com base na
Teoria Compensatória de Uso da Internet (CIUT) – Compensatory Internet Use Theory -,
Kardefelt-Winther (2014) argumenta que o uso em excesso da internet pode ser decorrente das
pessoas procurarem aliviar suas emoções negativas durante a sua utilização. Nesse sentido,
39
conforme o autor, o uso demasiado da tecnologia pode ser visto como resultado de um
comportamento compensatório, que visa regular uma emoção negativa, uma vez que tal vício
geralmente ocorre porque as pessoas procuram escapar dos problemas da vida real. Nesse
aspecto, Peres e King (2014, p. 55) destacam:
A extensão desses problemas fica mais clara ao se perceber notícias dos casos ao redor
do mundo todo como, por exemplo, China, Espanha, Estados Unidos e Brasil. Em um
caso extremo na Tailândia, houve relato do suicídio de um menino de 12 anos após
ter sido proibido de utilizar a internet. Na China, uma pesquisa mostrou que 42% das
pessoas que utilizam a internet são dependentes dela, o que está levando à elaboração
de um manual de tratamento.
Diante disso, ao influenciar intensamente os comportamentos interpessoais e sociais,
Bragazzi e Puente (2014) apontam as principais características relacionadas à nomofobia,
especificamente voltado ao uso excessivo do aparelho celular, tais como: usar regularmente o
smartphone e gastar um tempo considerável na sua utilização; sempre levar o carregador
consigo devido ao medo de ficar sem bateria; sentir-se ansioso ou nervoso quando o telefone
não está próximo ou sem conexão com a internet; manter o celular sempre ligado (24 horas por
dia) e dormir com o aparelho próximo a cama; olhar constantemente a tela do aparelho para
verificar se mensagens ou chamadas foram recebidas; preferir se comunicar usando as novas
tecnologias; e contrair dívidas e grande despesas devido ao uso do aparelho.
Yildirim e Correia (2015) encontraram quatro dimensões da nomofobia em jovens
universitários dos Estados Unidos, sendo elas: 1) incapacidade de se comunicar; 2) perda de
conexão; 3) não ser capaz de acessar informações; 4) conveniência. A primeira dimensão –
incapacidade de se comunicar – está relacionada ao sentimento de perda de comunicação rápida,
não sendo capaz de contatar e também ser encontrado pelas pessoas. Por sua vez, a segunda
dimensão – perda de conexão – refere-se a sensação de perder a conectividade proporcionada
pela onipresença do smartphone, sendo “desconectado de uma identidade online”. Em seguida,
a terceira dimensão – não ser capaz de acessar informações – reflete o incômodo decorrente da
incapacidade de ter o acesso generalizado as informações por meio dos celulares, não sendo
possível recuperar e procurar informações. Por fim, a quarta dimensão – conveniência – aborda
o sentimento de praticidade e comodidade proporcionada pelo aparelho aos usuários, o que
garantia uma maior usabilidade das ferramentas no cotidiano.
Em relação as consequências físicas que a nomofobia pode acarretar, Lee et al. (2012)
acreditam que devido ao uso repetitivo do punho com a utilização excessiva do celular, lesões
no pulso podem ser frequentes, fazendo-se necessário, portanto, precauções ao usar esses
aparelhos. Por sua vez, Krajewska-Kułak et al. (2012) também alertam que o uso exagerado do
40
celular tem sido associado a fatores de risco para o pescoço, ombro e dores lombar em
adolescentes, além de problemas relacionados à audição e visão.
Em tempos de conectividade, a mobilidade proporcionada pelo celular se torna uma
condição indispensável para o mundo moderno. Com base na crescente quantidade de indícios
que colocam em discussão os efeitos negativos do uso em excesso do smartphone, diversos
estudos passaram a analisar as causas e consequências da utilização demasiada desses
aparelhos, colocando em questão os efeitos nocivos, que até então eram timidamente abordados
na literatura. Sendo assim, diante das particularidades voltadas às diferentes tecnologias
existentes, observa-se a necessidade de explorar os estudos específicos que abordam o uso dos
celulares e seus impactos no cotidiano dos seres humanos, bem como seus desafios e
perspectivas.
2.3.1 O celular e o uso excessivo do aparelho
"Não posso discutir isto agora. Dirigir e falar no Facebook não é seguro! Haha"
(Última postagem de Taylor Sauer no facebook, 1994 – 2012).
Antes de morrer em um trágico acidente de carro, a adolescente americana Taylor Sauer,
de 18 anos, postou sua última mensagem no facebook, enquanto dirigia a 130 km/h. Casos
como o de Taylor passaram a ser cada vez mais comuns nos últimos anos, principalmente no
Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET), o uso do
celular na direção já é a terceira causa de mortes no país, sendo registrado cerca de 150 acidentes
por dia ou quase 54 mil por ano (BURNIER, 2017).
Os hábitos e as consequências causadas pela dependência e o uso excessivo do celular
ainda aparecem de forma tímida nas discussões nacionais, tendo em vista que boa parte da
literatura encontrada é de outros países. O constante crescimento das inovações no mercado dos
smartphones potencializa o desejo dos consumidores em adquirir e utilizar as novidades
lançadas, fazendo com que seus usuários fiquem cada vez mais tempo diante desses aparelhos.
Para Borges et al. (2016, p. 206), “os smartphones se tornaram objeto de desejo por concentrar,
em um design simples, em um único aparelho, as funções de telefone (voz) e de processamento
de dados, geralmente executadas em um computador (PC)”.
Segundo Barcelos, Esteves e Piegas (2015, p. 49), até o ano de 1997 “o interessado em
adquirir uma linha de celular precisava se cadastrar a uma telefônica local e esperar até 3 anos
para ser contemplado”. Em 1998, diante das privatizações ocorridas no setor, o processo de
41
massificação da venda de telefonia móvel sofreu um grande salto, principalmente com as
empresas que passaram a ter a concessão desse serviço. Como consequência, foram realizados
maiores investimentos em tecnologia e serviços, o que tornou, pouco a pouco, o celular mais
acessível à população.
Associado ao crescente número de aparelhos no Brasil (BORGES et al., 2016), a
transformação do mercado de telefonia móvel aliada ao perfil de consumo do brasileiro fez com
que a venda de celulares se tornasse um negócio atraente e promissor para uma quantidade
significativa de empresas que comercializam os aparelhos e seus acessórios, tais como:
películas, capas protetoras, fones de ouvido, carregadores portáteis, dentre outros. O gráfico 1,
a seguir, demonstra a evolução no Brasil dos acessos em operação da telefonia móvel nos
últimos anos.
Gráfico 1 - Quantidade de celulares e densidade nos últimos anos
Fonte: ANATEL (2018).
O aumento da “quantidade de usuários dessa tecnologia gera transformações na forma
de ser, de agir, nas relações sociais e de trabalho de um indivíduo” (CUNHA et al., 2014, p.
79). Nesse sentido, uma pesquisa realizada pela agência de publicidade AG2 Publicis Modem,
42
detectou que 70% dos brasileiros utilizam os celulares enquanto estão na cama e 65% no
banheiro. Depois que acordam, em menos de um minuto 61% dos usuários já utilizam o celular.
Ainda segundo o estudo, 91% dos participantes informaram que usam o aparelho para se
divertirem, 86% para se comunicar e 63% para se informar (VIACAVA et al., 2016;
FERREIRA, 2013).
Há uma disseminação crescente e acelerada do uso dos smartphones nos mais diversos
contextos, tais como escolas, universidades, casa e trabalho. Assim, com a utilização cada vez
mais comum desses aparelhos, Nagumo e Teles (2016, p. 358) destacam que “em geral, as
pessoas amam seus celulares, pois estes oferecem novas possibilidades para experimentar
identidades e, particularmente na adolescência, o sentimento de liberdade”. Ao tornar-se um
objeto de desejo contemporâneo (AGUIAR et al., 2014), Sacher e Loudon (2002) acreditam
que o uso do celular envolve experiências e significados pessoais, representando, portanto, a
identidade dos usuários.
Nesse sentido, ao investigar estudantes universitários da Califórnia, Cheever et al.
(2014) identificaram que o uso do telefone celular estava diretamente relacionado à ansiedade
dos alunos, uma vez que a retirada dos aparelhos induzia a um aumento da ansiedade, afetando
o bem-estar e provocando consequências psicológicas nos usuários. Da mesma forma, Hartanto
e Yang (2016) verificaram que os universitários de Cingapura, ao serem afastados dos seus
aparelhos celulares, desenvolviam consequências emocionais e cognitivas negativas,
influenciando no aumento da ansiedade. Para os autores, os alunos universitários são os mais
vulneráveis aos efeitos negativos da separação dos seus celulares, já que são mais intimamente
ligados a seus aparelhos do que qualquer outro grupo etário.
Levando-se em consideração que o celular é um dos objetos materiais mais
predominante da sociedade moderna, a pesquisa realizada na Hungria por Konok et al. (2016)
assinalou que a dependência desses aparelhos pode ser relacionada a um fenômeno normativo
de base e função biológica. Segundo os autores, da mesma forma que os seres humanos
possuem predisposição biológica para formar apegos sociais, eles também podem desenvolver
diferentes apegos para algo não humano (animais) e inanimados (celular). Desse modo, o estudo
dos autores identificou que o apego ao celular estava relacionado com um maior nível de
ansiedade das pessoas, principalmente pela necessidade de contato, posto que o aparelho pode
proporcionar uma maior sensação de segurança ao dar a impressão de estar constantemente
conectado ao mundo, não se sentindo, portanto, sozinho (KONOK et al., 2016).
Nesse contexto, “várias teorias foram propostas para procurar explicar por que a
separação do smartphone induziria a ansiedade” (HARTANTO; YANG, 2016, p. 330, tradução
43
nossa). Como exemplo, faz-se interessante destacar o conceito do “eu estendido” de Belk
(2013), que aponta para a percepção do celular como uma extensão do self, fazendo com que a
separação do aparelho seja vista como a perda de si mesmo, o que acarretaria no aumento da
ansiedade. Tal conceito possibilita entender melhor a sensação de “vibração fantasma”, que
seria quando a pessoa sente a vibração do aparelho junto ao corpo mesmo quando o celular não
está vibrando. Vidal (2014, p.15) explica esse fenômeno comparando-o à síndrome do membro
fantasma, “fato experimentado por amputados, que alegam sentir dores nos membros não
existentes como se ainda estivessem lá”. Sendo assim, conforme Hartanto e Yang (2016), a
simples abstinência do celular não pode ser considerada como um tratamento eficaz para o vício
no aparelho, tendo em vista que a separação do smartphone pode aumentar a ansiedade,
provocando sérias consequências, além de prejudicar o controle cognitivo e o sistema
regulatório.
Em um estudo realizado com estudantes universitários do sul do Brasil, Viacava et al.
(2016) identificaram que quanto menor o autocontrole, mais os alunos utilizavam seus
celulares, ao mesmo tempo em que quanto mais estavam cansados – depleção do ego – piores
esses alunos se saíram em um teste simulado e, consequentemente, mais utilizavam os
smartphones. Conforme os achados dos autores, “o maior autocontrole é capaz de minimizar
os efeitos da depleção do ego sobre a quantidade de vezes que os alunos utilizaram o celular e,
sobre a nota do exame simulado” (VIACAVA et al., 2016, p. 113). Por sua vez, Rosen et al.
(2013) detectaram que o uso de tecnologias e determinada mídia social – facebook –
apresentaram impactos positivos e negativos nos sujeitos pesquisados. Na pesquisa dos autores,
o uso do facebook, por exemplo, foi diretamente relacionado a sinais de narcisismo, enquanto
que uma maior quantidade de amigos nessa rede social estava direcionada a menor sinais de
depressão.
Kim (2018) verificou que as pessoas que apresentavam um alto nível de solidão tinham
uma maior necessidade de segurança social e de conexão imediata, o que levaria a utilizar o
smartphone com mais frequência do que os indivíduos sem esses problemas. Nesse sentido, a
necessidade de segurança social - que seria o desejo do ser humano ser aceito por outros para
se sentir pertencendo a um grupo ou indivíduo - faz o usuário acreditar que com a posse do
celular a pessoa nunca estaria sozinho, devido a possibilidade de se comunicar a qualquer dia,
hora e lugar. Da mesma forma, a necessidade de conexão imediata – que seria o forte desejo de
receber respostas imediatas de outras pessoas – inevitavelmente faz com que alguns indivíduos
queiram sempre estar disponíveis por meio do aparelho, aumentando, assim, o nível de
dependência do smartphone. Com isso, como as pessoas solitárias tendem a estar ansiosas, elas
44
evitam a interação social e demonstram uma maior preferência pela comunicação por meio das
mídias digitais. Ademais, o autor também encontrou uma relação positiva e significativa entre
o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a dependência do uso de
smartphones.
Tendo em vista investigar os hábitos e nível de dependência do celular em jovens
estudantes da Espanha, Soler, Sánchez e Soler (2017) descobriram a existência de três grupos
específicos, denominando-os de: 1) os conectados; 2) os criativos e 3) os nomofóbicos. O grupo
dos ‘conectados’ apresentou alto nível de dependência do smartphone, estando sempre próximo
ao aparelho por acreditarem que sem ele ficam incomunicáveis. Esse grupo também
demonstrou que dormem menos porque ficam utilizando o celular e não gostam de desligá-lo,
independente do contexto. Tais alunos acreditam que sua felicidade depende de ter o
smartphone de última geração ou mesmo o telefone conectado à internet. O Twitter e o
Instagram são alguns um dos aplicativos mais utilizados, além do WhatsApp, Facebook,
Youtube e Snapchat, onde geralmente ficam conectados entre duas ou mais de cinco horas por
dia.
Ainda de acordo com o estudo de Soler, Sánchez e Soler (2017), os alunos pertencentes
ao grupo dos ‘criativos’ se identificaram como pessoas mais imaginativas, pois nunca ficavam
ociosas no tempo livre, apresentando os valores mais baixos de dependência do celular. Dentre
os aplicativos que mais utilizam, destacam-se o Instagram, WhatsApp, Pinterest e o Youtube,
ficando diariamente menos de uma hora conectados. O grupo dos ‘nomofóbicos’ foi o terceiro
detectado pelos autores, apresentando valores consideravelmente mais elevados de dependência
e um comportamento mais obsessivo em relação ao celular. Tais estudantes demonstraram
raiva, nervosismo e desconforto quando não estão com bateria suficiente, não conseguem
conectar à internet ou não podem se comunicar com outras pessoas por meio do aparelho. Esse
grupo se sente mais feliz quando está com a posse dos seus smartphones, priorizando seu uso
em detrimento das relações pessoais, sociais e familiares. O uso contínuo do celular também
apresentou prejuízos nas horas de sono e no desempenho escolar. No tempo livre, esses alunos
gostam de “não fazer nada”, estudando somente quando está próximo das avaliações. O
WhatsApp, Instagram, Snapchat e o Facebook são as redes sociais mais utilizadas por esse
grupo, ficando uma média diária de mais de cinco horas conectados.
O uso do celular antes de dormir e o impacto no sono de jovens universitários foi
investigado por Rosen et al. (2016), que encontraram que a ansiedade influenciava no aumento
do uso do aparelho antes de dormir, fazendo com que os participantes descansassem de forma
insuficiente. Segundo os autores, a luz emitida pelos smartphones contribui para retardar a
45
liberação da melatonina, atrasando o início do sono. Assim, alguns dos estudantes pesquisados
dormiam com o celular ligado ou no modo vibração, despertando pelo menos uma vez por noite
para verificar o telefone. Nesse contexto, ao analisar o papel do telefone celular e os sintomas
provocados em estudantes universitários, Szpakow, Stryzhak e Prokopowicz (2011) e
Krajewska-Kułak et al. (2012) também identificaram que a maioria dos alunos nunca
desligavam seus aparelhos, apesar de saberem dos efeitos nocivos do seu uso, podendo ser
viciante.
Desta forma, destaca-se a necessidade de entender melhor o fenômeno desta dependência,
levando-se em consideração que este é um tema que ainda apresenta lacunas na literatura,
gerando incertezas e contradições. Conforme exporto, a realização de um estudo empírico com
universitários brasileiros poderá proporcionar uma melhor compreensão dos hábitos e
significados desses estudantes em relação ao aparelho celular, proporcionando, portanto,
subsídios para tomadas de decisões e reflexões em relação ao uso excessivo do smartphone e
suas consequências, especialmente no âmbito acadêmico e organizacional.
2.4 ADMINISTRAÇÃO E NOMOFOBIA: UMA APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA
As facilidades de acesso à internet de forma ilimitada e a nova maneira de comunicação,
por meio dos smartphones, mudaram significativamente a maneira de se relacionar e viver no
âmbito social e também organizacional. Seja no trabalho, em casa, na academia ou em um
momento de lazer e maior privacidade, os smartphones parecem se tornar um acessório cada
vez mais indispensável aos seres humanos contemporâneos. Muito mais do que apenas uma
necessidade, o uso desses aparelhos também é objeto de desejo e status, caracterizado pela
obsolescência programada a partir do lançamento constante de novos modelos e atualizações.
Ao transformar a configuração das relações interpessoais na forma de se comunicar, a
nova construção social, marcada pela Era Digital, faz com que o uso dos celulares se torne
inevitável no cotidiano das pessoas. Este passou a ser de fundamental importância também
dentro das empresas, não só para a comunicação entre os funcionários, mas também para a
realização das atividades, possíveis através dos aplicativos e funcionalidades que dispõem.
Sabe-se dos inúmeros benefícios que um smartphone pode oferecer, contudo se usado de
forma descontrolada pode trazer danos às pessoas. King, Nardi e Cardoso (2014), ilustram que
se de um lado o celular dá maior liberdade nas comunicações, tendo em vista que não exige que
o sujeito esteja geograficamente fixo em um local para se ter contato, por outro permite que ele
46
seja localizado a qualquer hora e local, tendo, portanto, uma redução dos seus momentos de
descanso e lazer. Nesse sentido, alguns profissionais tendem a se tornarem “conectados com o
trabalho” por permanecerem sempre acessíveis, como se estivessem continuamente de plantão,
fazendo hora extra com o celular ativo.
É por um desejo de conexão contínua que muitas empresas disponibilizam aparelhos
tecnológicos corporativos – notebooks, tablets e smartphones – para seus funcionários, visando
a uma maior acessibilidade, agilidade e monitoramento. Estes, por sua vez, muitas vezes se
veem trabalhando com tais aparelhos até mesmo fora do horário de expediente, geralmente
recebendo ligações, e-mails ou respondendo clientes por meio dos aplicativos de mensagens.
Apesar da sua utilização trazer uma série de facilidades no âmbito organizacional, o uso
excessivo do celular pode acarretar, muitas vezes inconscientemente, em um aumento da
ansiedade, angústia, dependência e vício.
Não obstante o smartphone poder tornar as atividades mais fáceis e rápidas, colabora
também para o desenvolvimento de um padrão workaholic dos trabalhadores. Nesse sentido,
quando o trabalho não tem hora para começar e nem terminar, o adoecimento de profissionais
torna-se progressivo, causando até a síndrome de burnout1 (KING; NARDI; CARDOSO,
2014). Isto é, além dos problemas diagnosticados diretamente pela utilização excessiva do
aparelho, como a ansiedade, fobia social etc, este ainda pode causar de forma indireta,
síndromes ocasionadas pelo excesso de trabalho. Além disso, Salehan e Negahban (2013)
também chamam a atenção para a tecnostress, que seria o estresse tecnológico decorrente do
uso excessivo do aparelho móvel. Para os autores, o vício na internet está provocando
problemas graves tanto para os indivíduos como para as organizações, já que estas passam a
ficar mais preocupadas com a produtividade dos funcionários.
Por vezes, é possível responsabilizar cargos profissionais pela utilização excessiva do
celular, uma vez que a organização passa a exigir que o funcionário esteja disponível de forma
online sempre que for preciso, bem como para a realização de certas atividades ser necessário
obrigatoriamente o uso do smartphone. De olho nessa facilidade, algumas empresas também
solicitam que seus colaboradores usem suas redes sociais particulares para a divulgação e/ou
realização de questões voltadas ao trabalho, o que coloca em reflexão, afinal, até que ponto as
organizações podem interferir no comportamento dos funcionários e o uso privado das mídias
digitais.
1 Fenômeno psicossocial que emerge como uma resposta crônica dos estressores interpessoais ocorridos na
situação de trabalho (MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001).
47
Nesse aspecto, observa-se que os limites para a utilização dessas ferramentas tecnológicas
– seja pessoal ou a trabalho - são cada vez mais tênues, podendo prejudicar a realização das
atividades cotidianas e interferir nas relações familiares, sociais e de trabalho. Nas
organizações, o uso exagerado e indiscriminado do smartphone pode acarretar na perda de foco
e diminuição de atenção nas atividades, o que, dependendo da tarefa que está sendo realizada,
pode ocasionar em graves acidentes de trabalho. Tem-se, portanto, o outro lado da utilização
do celular, quando o funcionário não necessita estar conectado para a realização de suas tarefas,
porém devido ao vício tecnológico, a utilização desmedida desses aparelhos dentro de empresas
causa desconforto entre empregado e empregador/gestor e subordinado.
De acordo com Rodrigues e Ferrari (2012), o uso constante do celular nas empresas tem
causado transtornos e se tornado um dos principais vilões dos empregadores, pois, ao tirar a
atenção dos funcionários, gera fracionamento do trabalho e, consequentemente, a redução da
produtividade esperada. Ainda segundo os autores:
No ambiente de trabalho, o uso excessivo do celular pode atrapalhar o rendimento e
interferir na produtividade do profissional. E mesmo que ele não atenda o aparelho,
assim que ele recebe ligação ou mensagem (SMS), a concentração é interferida.
Dependendo da área de atuação, essa distração pode gerar falha humana (negligência)
do profissional, e até acidentes em certas situações. No caso de trabalhos de ordem
intelectual, pode levar à perda do foco daquilo que está fazendo (RODRIGUES;
FERRARI, 2012, p. 1).
De acordo com um levantamento realizado pelo site Career Builder, o telefone celular
e as redes sociais são algumas das principais ameaças à produtividade dos funcionários. A
pesquisa, que contou com a participação de mais de 2 mil profissionais de recursos humanos,
detectou que o uso dos smartphones e a troca de mensagens foram os responsáveis pelas
constantes distrações no ambiente laboral, ficando na frente de outras situações, tais como:
visitas aos demais colegas do trabalho, intervalos para fumar ou comer e reuniões. 45% dos
gestores investigados relataram que o tempo perdido gerava uma menor qualidade da tarefa
realizada, seguida pela sobrecarga de tarefas aos demais funcionários (30%) e um impacto
negativo na relação gestor e subordinado (ARCOVERDE, 2015).
Segundo Garcia (2015), nos três primeiros anos de 2015, o Sindicato do Comércio
Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista) registrou 381 reclamações de empresas em relação
ao uso excessivo dos celulares por seus funcionários. Tal índice foi quatro vezes maior se
comparado ao total de queixas sobre o mesmo assunto no ano de 2014, o que demonstra o
progressivo aumento dessas intercorrências nas organizações. Levando-se em consideração os
diversos inconvenientes que podem ser gerados, o autor enfatiza que o uso exagerado do
48
smartphone no ambiente de trabalho pode suscitar, inclusive, a demissão por justa causa. Diante
do seu uso recorrente, sem justo motivo, a empresa pode aplicar advertência de cunho
educativo, punição de suspensão do trabalho e, caso ainda ocorra reincidência, poderá demitir
o colaborador por justa causa, alegando ato de indisciplina (RODRIGUES; FERRARI, 2012),
conforme preconiza o Art. 482, letra h, da Consolidação das Leis Trabalhistas:
Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador:
a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e
quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado,
ou for prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido
suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa,
ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria
ou de outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o
empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou
de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.
Entretanto, ao provocar conflitos nas relações entre funcionários e empregadores, para
que realmente ocorra a demissão por justa causa, faz-se importante que a empresa tenha uma
normativa interna como, por exemplo, um manual ou código de conduta, que conscientize o
funcionário da proibição de usar o smartphone no ambiente de trabalho (GARCIA, 2015).
Nesse aspecto, Jerônimo (2014) também enfatiza que o empregador possui o direito de proibir
o uso do celular durante a jornada de trabalho, devendo regulamentar a forma como os
funcionários devem utilizar o celular durante suas atividades por meio de regras implantadas
através do contrato de trabalho, regimento interno ou até mesmo via Convenção Coletiva.
Jerônimo (2014) destaca um caso específico de acidente de trabalho que foi julgado pelo
Tribunal Superior do Trabalho sobre o uso do celular como questão de segurança e saúde do
trabalhador. No caso, durante a jornada de trabalho, uma funcionária teve a mão prensada em
uma máquina de produção de plásticos, o que ocasionou na perda de 35% da sua capacidade
funcional e laboral, além de sequelas anatômicas e estéticas devido ao acidente. No entanto,
ficou comprovado nos autos do processo que tal acidente só ocorreu porque a trabalhadora
tentou pegar o aparelho em cima da prensa, perdendo a atenção na atividade que estava sendo
49
realizada. Os ministros concluíram que como a empresa adotava medidas de prevenção de
acidentes, dentre as quais a proibição explícita de utilização do celular, esta não deveria ser
responsabilizada. Neste sentido, ficou entendido no julgamento que a funcionária ao
desobedecer a regra imposta pela empregadora, acabou assumindo o risco pelo acidente, sendo,
portanto, a principal responsável pela atitude imprudente.
A tecnologia pode contribuir para uma maior dependência do trabalho (SALEHAN;
NEGAHBAN, 2013). Apesar disso, há uma quantidade pequena de pesquisas que visam
analisar o uso do telefone celular no ambiente organizacional, o que é contrastante com a
considerável utilização desse dispositivo no trabalho (SORENSEN, 2011). Nesse sentido, um
estudo realizado por Porter e Kakabadse (2006) verificou que a tecnologia é intensamente
utilizada pelos funcionários dentro e fora do horário de trabalho, podendo acarretar problemas,
tais como: a diminuição das atividades sociais, abandono das atividades físicas e o ganho de
peso.
Ao trabalhar um conceito de mobilidade organizacional, Sorensen (2011) argumenta os
efeitos da tecnologia móvel, em especial o celular, na gestão de algumas organizações. O autor
propõe a existência de seis capacidades tecnológicas para um melhor entendimento das
consequências da utilização da tecnologia móvel nas empresas, conforme pode ser observado
na figura 2, a seguir.
Figura 2 - Capacidades da mobilidade empresarial
Fonte: Adaptado de SORENSEN (2011).
50
De acordo com Sorensen (2011), a mobilidade empresarial seria a combinação
complexa das seis capacidades de interação descritas na figura 2, o que caracterizaria as
relações da tecnologia móvel e onipresente no trabalho e seus desafios. O autor ainda ressalta
um exemplo da influência dos celulares no ambiente organizacional:
As organizações adotaram rapidamente uma variedade de tecnologias de informação
móveis e onipresentes para suportar a conectividade instantânea, o acesso a
infraestruturas corporativas e para uma variedade de outros propósitos. Os primeiros
telefones móveis volumosos da década de 1980 foram substituídos por smartphones e
tablets que oferecem acesso rápido à Internet. Pequenos microchips e tecnologias de
sensores associados podem ser usados para rastrear objetos, veículos e pessoas
(SORENSEN, 2011, p. 4).
Faz-se possível considerar que a utilização das tecnologias no ambiente de trabalho, de
forma específica os smartphones, provocam mudanças significativas nos hábitos dos
funcionários. Diante do crescimento massivo da geração de trabalhadores “conectados”, as
organizações deverão aprender a lidar com diferentes formas de agir frente a essa nova
realidade. Para Elhai e Contractor (2018, p. 159, tradução nossa), “apesar das vantagens de
produtividade de usar um smartphone, seu uso excessivo tornou-se uma preocupação na
sociedade moderna”.
Haja vista a necessidade de criar contextos de trabalho mais produtivos, em que os
funcionários não são constantemente distraídos por interrupções tecnológicas, alguns ambientes
corporativos aderiram a uma tendência crescente de solicitar que seus empregados deixem os
dispositivos móveis fora da sala de reuniões (TAMS; LEGOUX; LÉGER, 2018). Nesse
contexto, Tams, Legoux e Léger (2018) criaram uma situação fictícia em que solicitavam que
jovens profissionais participantes do estudo se imaginassem em uma reunião comercial durante
a qual não poderiam utilizar seus smartphones.
Ao distribuir os indivíduos aleatoriamente em quatro cenários com informações restritas
que eram passadas aos sujeitos, detectou-se que o contexto de incerteza e falta de controle são
os mais propícios a desempenharem um efeito moderador em que a nomofobia levaria ao
estresse. Além disso, os autores identificaram que a nomofobia exerce uma influência indireta
sobre o estresse, por meio da ameaça social. Ou seja, os sentimentos de incapacidade de
satisfazer as expectativas das outras pessoas por estar indisponível e a não capacidade de
resposta imediata aos e-mails, tweets, postagens no facebook e demais mensagens, fizeram com
que os participantes também tivessem maior propensão a situações estressantes decorrentes da
nomofobia (TAMS; LEGOUX; LÉGER, 2018).
51
Desse modo, “essa noção implica que as fobias sociais, como a nomofobia, levam ao
estresse, gerando sentimentos de serem ameaçados socialmente; isto é, de acordo com o
controle e a incerteza da pessoa, a nomofobia e o estresse estão conectados através de uma
ameaça social percebida” (TAMS; LEGOUX; LÉGER, 2018, p. 3, tradução nossa). Nesse
sentido, a retirada do celular dos funcionários pode acarretar em consequências não intencionais
nas organizações, causando transtornos ainda maiores aos seus colaboradores. Têm-se, assim,
que efeitos diretos e indiretos podem ser provocados pela nomofobia, considerando uma série
de fatores mediadores que podem influenciar no aumento do estresse. A figura 3, a seguir,
demonstra o modelo de investigação proposto pelos autores e suas respectivas relações.
Figura 3 - Influência direta e indireta da nomofobia no estresse.
Fonte: Adaptado de TAMS, LEGOUX E LÉGER (2018).
Levando-se em consideração que as fronteiras entre o trabalho e o lazer estão
praticamente desaparecendo, o uso de smartphones fora do horário de trabalho pode prejudicar
o processo de recuperação psicológica (QUINONES; GRIFFITHS, 2017; RAGSDALE;
HOOVER, 2016). Tendo em vista a crescente demanda das organizações para que seus
funcionários estejam disponíveis e acessíveis fora do horário de trabalho, Nixon e Spector (2014
apud RAGSDALE; HOOVER, 2016) abordam o conceito de Trabalho Complementar Assistido
por Tecnologia (TASW) - Technology-Assisted Supplemental Work – ao argumentarem que
cada vez mais os colaboradores estão, por meio da tecnologia, trabalhando além do horário de
trabalho, o que pode acarretar em conflitos familiares, esgotamento emocional e o sentimento
de estar sobrecarregado (RAGSDALE; HOOVER, 2016).
Nomofobia Estresse
AmeaçaSocial
Controle
Incerteza
Moderadores
52
De fato, “à medida que as empresas competem nesse novo ambiente, os funcionários
são empurrados para fazer mais e trabalhar mais rápido” (PORTER; KAKABADSE, 2006, p.
535, tradução nossa). O tema é polêmico e instiga discussões no âmbito acadêmico e
organizacional, ganhando a cada dia mais relevância, uma vez que o acesso aos celulares e a
internet se tornou ainda mais fácil, prático e barato. Diante do exposto, entende-se que os cursos
de graduação em Administração têm reservado um lugar secundário para a investigação desse
assunto como campo de pesquisa e intervenção. Tal característica expõe a pouca intimidade em
relação ao tema, acentuada pela invisibilidade na forma como o assunto é tratado em livros,
congressos e periódicos da área. Com isso, considerando uma abordagem ainda tímida na área,
torna-se necessária uma maior reflexão e aproximação do assunto nas discussões que envolvam
a administração de empresas, uma vez que o uso desses aparelhos tecnológicos influencia
diretamente em diversas questões comportamentais que vão desde o âmbito universitário até o
organizacional.
53
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No presente capítulo estão descritos os procedimentos metodológicos empregados no
estudo, bem como os critérios adotados para selecionar os sujeitos da pesquisa, a descrição do
instrumento utilizado, os procedimentos para a sua aplicação e a forma como os dados deverão
ser analisados.
3.1 TIPO DE PESQUISA
A fim de melhor investigar o nível de nomofobia dos universitários do curso de
Administração em relação a utilização do smartphone, optou-se pela realização de uma
pesquisa de abordagem multimetodológica, utilizando, com isso, pesquisas de natureza
quantitativa e qualitativa. Conforme Creswell e Clark (2011), o uso de abordagens mistas
proporciona uma melhor compreensão dos problemas de pesquisa do que qualquer tratamento
de dados isolado. Nesse sentido, tal abordagem é indicada tendo em vista poder abarcar de
forma abrangente a complexidade das dimensões ligadas a dependência em relação ao uso do
aparelho celular, assim como as particularidades envolvidas no seu uso descontrolado.
É relevante destacar que o estudo se trata de uma pesquisa exploratória, tendo em vista
ser um tema relativamente novo, já que só recentemente passou a ser abordado em pesquisas
nacionais e internacionais. Além disso, o estudo também é de cunho descritivo, uma vez que,
expõe as características de determinada população e estabelece correlações entre as variáveis
(VERGARA, 2000).
Em consonância com o que foi abordado anteriormente, entende-se que, diante do caráter
interdisciplinar do tema abordado, o delineamento escolhido para a condução deste estudo
possibilita um melhor direcionamento para o cumprimento dos objetivos (geral e específicos)
propostos, bem como a resposta para a questão de pesquisa problematizada na introdução deste
trabalho. Para tanto, as abordagens, técnicas e instrumento utilizado deverão viabilizar um
melhor entendimento do fenômeno investigado.
54
3.2 PARTICIPANTES
A amostra utilizada é de natureza não probabilística, por conveniência, sendo composta
por estudantes universitários do curso de Administração de Empresas de duas Instituições de
Ensino Superior (IES) privadas localizadas na região metropolitana dos Estados do Ceará e Rio
Grande do Norte. Conforme já foi ressaltado anteriormente, a relevância de se investigar os
estudantes desse curso se deve ao fato destes estarem sendo preparados para serem futuros
gestores e líderes de empresas, podendo suas decisões influenciar de forma significativa em
questões relacionadas ao comportamento dos funcionários nas organizações.
Considerando as informações fornecidas pelas coordenações dos cursos, a IES do Ceará
(universidade A) e Rio Grande do Norte (universidade B) apresentam, respectivamente, um
total aproximado de 900 e 1.300 alunos regularmente matriculados no curso de graduação em
Administração nos turnos diurno e noturno. Diante disso, a seguir foram realizados os cálculos
de amostragem com base na fórmula sugerida por Barbetta (2004), sendo:
• N = Tamanho da população:
• E0 = erro amostral tolerável
• n0 = primeira aproximação do tamanho da amostra
• n = tamanho da amostra
A primeira aproximação das amostras foi calculada pela fórmula n0 = 1 / E0². Considerando
um erro tolerável de 8% (0,08), o cálculo foi:
n0= 1/(0,08)²
n0= 1/0,0064
n0= 156
Com base na primeira aproximação, o tamanho da amostra foi calculada pela fórmula:
n = N x n0
N + n0
Para o universo de 900 estudantes na universidade A e considerando o erro amostral de
8%, o cálculo foi:
• n = 900 x 156 ou 140.400= 132,95
900 + 156 1.056
• n= 133
Já para o universo de 1.300 estudantes da universidade B e considerando o mesmo erro
amostral de 8%, têm-se:
55
• n = 1.300 x 156 ou 202.800= 139,28
1.300 + 156 1.456
• n= 140
Portanto, de acordo com os cálculos acima, o número da amostra mínima de questionários
a serem aplicados é de 133 para a universidade A e 140 para a universidade B, considerando
um erro tolerável de 8%.
Com base no cálculo amostral realizado anteriormente, participaram voluntariamente da
pesquisa 391 estudantes universitários, sendo 178 da universidade A e 213 da universidade B.
Ao procurar uma participação significativa dos sujeitos investigados, entende-se que a
quantidade superior à amostragem possibilitará uma maior representatividade e confiabilidade
aos cálculos estatísticos e análises dos resultados. Tendo em vista os critérios estabelecidos para
a participação, 14 questionários tiveram que ser desconsiderados da análise dos dados, já que
cinco destes eram alunos de outros cursos e nove não completaram o preenchimento do
instrumento de pesquisa.
3.3 INSTRUMENTO
O questionário aplicado na pesquisa foi composto por perguntas do tipo fechada e aberta,
sendo dividido em oito partes, conforme pode ser verificado no apêndice A. Inicialmente, a
primeira parte foi composta por questões de natureza sociodemográficas, tais como: gênero,
idade, estado civil, filhos e a participação dos estudantes na vida financeira da família. A
segunda apresentou perguntas ligadas a quantidade de smartphones e operadoras que os
respondentes possuem, bem como se os aparelhos eram bloqueados por algum tipo de senha e
a quem emprestariam desbloqueados (ninguém, pais, namorado/a, cônjuge, parceiros, amigos
etc).
A terceira parte foi composta por duas perguntas abertas, solicitando que os estudantes
justificassem os motivos que os levariam a emprestar seus smartphones para as pessoas
informadas no item anterior, e depois informassem o que o celular significa para eles (VIDAL,
2014). Em seguida, a quarta parte foi composta pela escala Mobile Phone Addiction Test
(MPAT), comporta por 25 variáveis utilizadas para avaliar a dependência do uso do telefone
celular (KING; NARDI, 2014).
56
A quinta parte do instrumento foi composta por 14 itens que avaliava a frequência do uso
do smartphone em diferentes situações como, por exemplo, durante as refeições, aulas, horário
de trabalho e antes de dormir. Por sua vez, a sexta parte apresenta a escala WhatsApp Addiction
Test (WAAT), formada por 25 variáveis utilizadas para avaliar a dependência do uso do
WhatsApp (KING; NARDI, 2014).
A sétima parte do questionário apresenta 16 itens relacionados à frequência com que os
estudantes utilizam alguns aplicativos e ferramentas em seus smartphones, tais como: redes
sociais, edição de imagens, jogos, bancos, saúde, dentre outros (KONOK et al., 2016;
ANSHARI et al., 2016; VIDAL, 2014). Por fim, a oitava e última parte do instrumento foi
composta por duas perguntas que indagava se o participante já havia ouvido falar em nomofobia
e, em caso afirmativo, o que ele sabia sobre o assunto.
Faz-se importante destacar que todas as escalas utilizadas foram do tipo Likert que
variava de 0= Não se aplica até 5= Sempre. O instrumento foi apresentado com linhas de
tonalidades alternadas em branco e cinza para evitar possíveis confusões e erros por parte dos
respondentes na hora do preenchimento e leitura. Baseado nessas diretrizes, obteve-se o
questionário submetido ao pré-teste.
3.4 PROCEDIMENTOS
Inicialmente, o contato com as IES foi realizado pessoalmente pela própria pesquisadora
deste estudo, que explicava o caráter e os objetivos da pesquisa para os coordenadores,
professores e responsáveis pelos cursos. Diante da autorização das universidades e visando
verificar possíveis falhas no entendimento do instrumento e sua adequação para a população
investigada, foi aplicado um pré-teste com 23 estudantes com características semelhantes às
pretendidas. Após as pequenas correções que surgiram com as sugestões realizadas e já de posse
do modelo final, procedeu-se aplicação dos questionários entre os meses de março a maio de
2017.
A pesquisadora aplicou os questionários em salas de aula, dando esclarecimentos
iniciais sobre como respondê-los, mas procurando intervir o mínimo possível durante o
processo de aplicação. Além de ser ressaltada a relevância da pesquisa, também foi enfatizado
a não necessidade de identificação, visando, com isso, minimizar possíveis resistências dos
respondentes ao garantir o anonimato no estudo. Cada estudante levou um tempo aproximado
de 15 minutos para o preenchimento do questionário.
57
3.5 ANÁLISE DOS DADOS
A princípio, será verificada a existência de casos omissos para que, só em seguida, seja
dado prosseguimento as análises coletadas. Como técnicas de análise dos dados quantitativos
será utilizado a ajuda do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão
20.0, para a realização das estatísticas descritivas e regressão múltipla.
Por sua vez, os dados qualitativos deverão ser analisados por meio da análise de conteúdo
temática (BARDIN, 2016), seguindo-se uma lógica positivista. Sendo assim, será analisado a
significação hermenêutica para ser convertida em unidades relevantes, devendo estas ser
categorizadas para possíveis transformações em unidades de cálculos estatístico.
Para avaliar o nível de dependência do aparelho celular e do uso do WhatsApp serão
levados em consideração os parâmetros de pontuação propostos por King e Nardi (2014),
apresentados a seguir:
• Até 50 pontos: utilizador sem sinais de uso abusivo do celular/WhatsApp e com total
controle sobre sua utilização.
• 51-75 pontos: apresenta sinais de uma possível dependência do celular/WhatsApp em
nível leve. Começa a ter problemas ocasionais devido ao uso abusivo em certas
situações, podendo vir a apresentar impacto na vida por ficar utilizando com maior
frequência do que o necessário.
• 76-99 pontos: apresenta sinais de uma possível dependência do celular/WhatsApp em
nível moderado. Começa a ter problemas frequentes devido ao uso abusivo em certas
situações, devendo aprender a lidar com o uso de modo mais consciente.
• Acima de 100 pontos: a utilização do celular/WhatsApp está causando problemas
significativos em nível grave. Deve-se avaliar as consequências destes impactos que
podem estar causando prejuízos nas áreas pessoal, social, familiar e profissional,
comprometendo de modo significativo a qualidade de vida. Recomenda-se procurar
uma orientação através de ajuda profissional.
58
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo são apresentados a análise dos resultados e a subsequente discussão dos
mesmos, que deverão ser abordados em três seções distintas. Tendo em vista os diferentes
procedimentos utilizados no instrumento e o conjunto de dados obtidos, primeiramente é
realizada a descrição do perfil dos sujeitos da pesquisa, levando-se em consideração a análise
sociodemográfica, a quantidade de smartphones e de operadoras que os participantes possuem,
bem como outras informações relevantes. Na segunda seção serão descritos os resultados
quantitativos do estudo, considerando principalmente as análises exploratórias das escalas
utilizadas no instrumento aplicado. Por fim, na terceira seção, será abordada a análise
qualitativa dos dados, contextualizando-se conforme o significado atribuído ao aparelho celular
e o conhecimento sobre nomofobia.
4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES
Por meio dos métodos de estatística descritiva, a amostra utilizada foi composta por um
total de 377 estudantes universitários de todos os semestres do curso de graduação em
Administração de Empresas. Quanto ao gênero, 48% (n=182) dos participantes eram do sexo
masculino e 52% (n=195) do feminino, com idade média de 24 anos, variando estes de 16 a 48
anos. Em relação ao estado civil, 77% dos participantes eram solteiros, 21% casados e 2%
separados ou viúvo (TABELA 1).
Tabela 1 - Perfil dos respondentes.
Variável Percentual
Gênero Masculino 48%
Feminino 52%
Idade
16-20 anos 32%
21-30 anos 57%
31-40 anos 9%
41-50 anos 2%
Estado Civil
Solteiro 77%
Casado 21%
Separado 1%
Viúvo 1%
59
Filhos Sim 15%
Não 85%
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
A maioria dos estudantes não tinha filhos (85%) e já trabalhavam (70%), sendo alguns
responsáveis pelo sustento da família (47%) e outros que ainda contavam com um suporte
familiar (23%) para suprir as despesas do cotidiano. Quanto aos objetivos profissionais a médio
e curto prazo, 26% dos alunos informaram que gostariam de trabalhar em empresa privada,
25% assinalaram o interesse em prestar concurso ou seguir carreira pública, 28% demonstraram
o interesse em abrir o próprio negócio, 15% em seguir a carreira acadêmica ou se dedicar a uma
pós-graduação, e apenas 6% demonstraram vontade de trabalhar ou continuar os negócios da
família.
Ao serem questionados sobre a quantidade de smartphones que os universitários
possuíam, a maioria (88%) informou ter apenas um aparelho, enquanto 11% disseram ter dois
e apenas 1% nenhum. 63% dos sujeitos disseram possuir apenas uma operadora telefônica, 34%
duas e 3%, três ou mais operadoras. Além disso, 82% informaram que utilizavam algum tipo
de senha para bloquear o celular.
4.2 EXPLORANDO AS DIMENSÕES DA NOMOFOBIA
Levando-se em consideração o parâmetro de pontuação (ver item 3.5 da seção anterior)
proposto por King e Nardi (2014) para a análise da escala Mobile Phone Addiction Test
(MPAT), verificou-se, conforme Apêndice B, uma quantidade expressiva de estudantes que
apresentaram um grau alto e grave de dependência do uso do aparelho celular. No gráfico 2 é
possível observar que 3% dos universitários possuem um nível grave de dependência do
aparelho, causando impactos e problemas sérios no cotidiano. Além disso, 32% dos sujeitos
tiveram uma pontuação considerada moderada de compulsão do uso do smartphone, devendo
aprender a utilizar de forma mais consciente. Faz-se relevante destacar que 55% dos
pesquisados também demonstraram sinais de dependência do aparelho celular, o que, mesmo
em um nível considerado leve, já começava a ter problemas ocasionais em algumas situações.
60
Gráfico 2- Dependência de uso do celular.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Com base nas respostas sobre a frequência de uso do celular em determinadas situações
do cotidiano, observou-se, de acordo com o gráfico 3, que o aparelho sempre é utilizado
principalmente ao acordar (45%) e antes de dormir (59%). Tais resultados vão de acordo com
os que também foram encontrados por Vidal (2014), que detectou que antes de dormir e após
acordar são os momentos em que o aparelho mais é utilizado no cotidiano. Ao investigar o
efeito do uso noturno do smartphone, Sallimg e Haire (2016) verificaram que o uso intenso do
aparelho antes de dormir pode atrasar o início ou provocar até mesmo a perda do sono. Os
autores evidenciaram, ainda, que ter o sono interrompido pelo aparelho está associado ao
cansaço, sintomas de depressão, ansiedade e estresse em adultos, prejudicando a qualidade do
sono e as funções psicológicas ao longo do tempo. Baseado nisso, acredita-se que o excesso de
uso do celular, principalmente antes de dormir, pode prejudicar o necessário descanso dos
universitários pesquisados, podendo acarretar em uma série de consequências pessoais,
profissionais e acadêmicas.
Além disso, outros momentos em que às vezes e quase sempre o smartphone é usado,
são: durante as aulas (65%), ao assistir televisão (61%), durante as refeições (55%), em
conversas presenciais com outras pessoas (52%) e enquanto estudam (50%). Essa crescente
frequência de uso do celular pelos jovens em situações de multitarefas é apontada por
Giunchiglia et al. (2018) como um resultado da variedade dos recursos disponíveis no aparelho.
No entanto, os autores ressaltam que o uso do smartphone enquanto fazem outras coisas
prejudica o tempo dedicado às atividades acadêmicas, ocasionando, portanto, um baixo
desempenho nos estudos. De fato, o uso do celular de forma simultâmea a diferentes
10%
55%
32%
3%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Sem sinais de usoabusivo
Sinais de umapossível dependência
em nível leve
Apresenta sinais depossível dependênciaem nível moderado
Sinais dedependência em
nível grave
Pontuação da escala Mobile Phone Addiction Test (MPAT)
61
tarefas/acontecimentos pode influenciar para uma maior dispersão da atenção necessária para
os seus desenvolvimentos, negligenciando a concentração necessária para a realização de
algumas atividades que exigem maior prudência e foco.
Gráfico 3 - Principais momentos de uso do celular.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Para Viacava et al. (2016) a dependência do uso de tecnologias, especificamente os
celulares, em momentos inadequados está relacionado a capacidade de autocontrole e a
depleção do ego, que é o desgaste e a redução da capacidade de atos regulatórios resultantes do
cansaço psicológico. Sendo assim, quanto maior o autocontrole, menos os estudantes irão cair
em tentação para usar o aparelho demasiadamente, passando menos tempo no celular e focando
em cumprir mais suas obrigações. Diante da preocupação de que o uso contínuo do celular
possa afetar o desempenho acadêmico dos estudantes, Anshari et al. (2016) ressaltam a
importância de que seja realizado um gerenciamento do tempo como uma forma de redução e
prevenção dos hábitos indesejados pelos alunos. O costume de fazer muitas coisas ao mesmo
tempo parece ser uma exigência da atualidade, forçando, cada vez mais, as pessoas a
conciliarem diferentes atividades que visam uma maior otimização do tempo e/ou distração.
Tais situações, entretanto, podem ocasionar em aumento da ansiedade e diminuição da
capacidade de filtrar quais informações realmente são importantes e devem ser armazenadas, o
que acarreta em implicações à capacidade cognitiva dos usuários.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Principais momentos de uso do celular
Não se aplica Nunca Raramente Às vezes Quase sempre Sempre
62
Ainda levando-se em consideração os parâmetros de pontuação propostos por King e
Nardi (2014) para a escala WhatsApp Addiction Test (WAAT), que avalia a dependência do uso
do whatsapp, verificou-se que 5% dos universitários demonstraram graves sinais de
dependência de uso desse aplicativo. 74% dos respondentes apresentaram níveis leves (49%) e
moderados (25%) de utilização do whatsapp, o que representa um quantitativo significativo
diante do total de sujeitos investigados, conforme pode ser verificado no gráfico 4, a seguir.
Gráfico 4 - Dependência de uso do WhatsApp.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Com mais de 100 milhões de usuários no Brasil (MANS; SAWADA, 2016), o uso do
WhatsApp se tornou um meio indispensável para a prática de uma comunicação rápida, barata,
a qualquer tempo e lugar. Seja para entrar em contato com a família, amigos ou para atividades
do trabalho, atualmente é indiscutível o quanto esse aplicativo de mensagens instantânea se
tornou uma das ferramentas mais importantes a serem utilizadas no smartphone. Tal fato foi
constatado no estudo pela materialização da quantidade de usuários que usam o aplicativo e
apresentam algum nível de dependência dessa ferramenta.
Quanto à frequência de uso dos aplicativos e funções utilizadas no smartphone,
detectou-se, de acordo com o gráfico 5, que o uso do despertador (68%), os aplicativos de
conversas (58%) e o uso de redes sociais (56%) são as principais ferramentas utilizadas pelos
universitários. Tais resultados vão de acordo com os achados de Anshari et al. (2016), que
também identificaram que os aplicativos de mensagens instantâneas e o uso das redes sociais
eram as ferramentas mais utilizadas no celular.
21%
49%
25%
5%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Sem sinais de usoabusivo
Sinais de umapossível dependência
em nível leve
Apresenta sinais depossível dependênciaem nível moderado
Sinais dedependência em
nível grave
Pontuação da escala WhatsApp Addiction Test (WAAT)
63
Segundo Borges et al. (2016, p. 258), “foi-se o tempo em que o aparelho celular era
utilizado apenas para as pessoas falarem”, acarretando, diante da sua diversidade de uso, um
relevante instrumento de comunicação social. De acordo com os autores, os países em
desenvolvimento são os que tem utilizado cada vez mais os celulares para uma variedade de
propósitos, tais como: mensagens, chamada de voz, redes sociais e compras online. As novas
características e funcionalidades fizeram com que os fabricantes de smartphones dessem
preferência para o aumento de novas funções, proporcionando aparelhos fáceis de usar que
funcionasse quase como microcomputadores de bolso. Com isso, a possibilidade de realizar
várias tarefas em um único aparelho e a portabilidade que ele traz às pessoas pode ser uma das
justificativas para a sua utilização intensa e constante.
Gráfico 5 - Principais aplicativos e ferramentas utilizados no celular.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Após a identificação do panorama geral de uso do celular, foram exploradas as associações
entre a dependência do aparelho e as variáveis: sexo, idade, estado civil, filhos, participação na
vida econômica da família, semestre do curso, quantidade de smartphones, quantidade de
operadoras e o bloqueio do celular por senha. Para isso, buscou-se por meio da regressão
múltipla verificar algumas explicações para a variável explicativa à nomofobia, conforme pode
ser verificado na tabela 2, a seguir.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Ferramentas utilizadas no celular
Não se aplica Nunca Raramente Às vezes Quase sempre Sempre
64
Tabela 2 - Estatísticas de regressão múltipla para a dependência do telefone celular.
Coeficientes
(B)
Estatística -
t Erro P-value Tolerance VIF
(Constant) 10,376 5,990 0,000
Sexo 0,129 2,523 1,549 0,012* 0,947 1,055
Idade -0,186 -2,930 0,170 0,004* 0,618 1,619
Estado civil 0,014 0,215 2,013 0,830 0,574 1,743
Filhos -0,082 -1,270 2,755 0,205 0,600 1,667
Particip. financ. família -0,006 -0,099 1,006 0,921 0,760 1,317
Semestre 0,095 1,807 0,374 0,072** 0,897 1,115
Qtde. celular 0,082 1,553 2,360 0,121 0,895 1,117
Qtde. operadoras 0,046 0,833 1,481 0,405 0,823 1,215
Bloqueio por senhas 0,083 1,625 2,042 0,105 0,943 1,061
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Nota: Estatística F de 3,773 com significância de 0,000. R=0,306, R²=0,093 e R²ajust.=0,069, Durbin-
Watson=1,939
Onde, *, ** Estatisticamente significantes ao nível de 5% e 10% respectivamente.
Diante do modelo, pode-se notar que as variáveis ‘sexo’, ‘idade’ e ‘semestre’ apresentaram
evidências estatísticas significativas para a nomofobia. Quanto ao gênero, detectou-se, com
base na tabulação e análise das médias, que as mulheres (71,2) possuem uma maior tendência
para o uso indiscriminado do celular do que os homens (67,5). Embora o gênero permaneça um
fator não conclusivo em muitas pesquisas (CHEEVER et al., 2014; FORGAYS; HYMAN;
SCHREIBER, 2014; SALEHAN; NEGAHBAN, 2013), esses achados vão de acordo com os
estudos de Konok et al. (2016), Anshari et al. (2016) e Yuldirim e Correia (2012), que também
apontaram que as mulheres eram mais suscetíveis à usarem mais os celulares do que os homens.
Nesse contexto, o gráfico 6, a seguir, demonstra a distribuição da pontuação da nomofobia em
relação ao sexo dos participantes.
65
Gráfico 6 - Pontuação da nomofobia e o sexo dos participantes.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Ao analisar a variável ‘idade’, esta apresentou coeficiente negativo, indicando que quanto
maior a idade dos alunos, menor a dependência do smartphone. Já para a variável ‘semestre’,
pode-se constatar que quanto mais avançado o semestre dos universitários, maior a dependência
de utilização do celular. Tal relação pode ser explicada levando-se em consideração que é
durante os semestres mais adiantados que muitos alunos geralmente estão trabalhando,
demandando, portanto, uma maior utilização do aparelho para a realização de compromissos
profissionais. Báez e Ramírez (2016) também encontraram essa relação entre os semestres mais
avançados do curso universitário e o aumento do uso de smartphones. Cabe destacar, ainda,
que a quantidade de aparelho celular e operadoras não apresentaram índices significativos em
relação à nomofobia.
Acerca do nível de dependência do WhatsApp, também foram exploradas as relações
através da regressão múltipla com as mesmas variáveis consideradas anteriormente (sexo,
idade, estado civil, filhos, participação na vida econômica da família, semestre do curso,
quantidade de smartphones, quantidade de operadoras e o bloqueio do celular por senha). A
tabela 3 a seguir demonstra os valores estatísticos encontrados, conforme o poder de explicação
para a variável ‘dependência do WhatsApp’.
66
Tabela 3 - Estatísticas de regressão múltipla para a dependência do WhatsApp.
Coeficientes
(B)
Estatística -
t Erro P-value Tolerance VIF
(Constant) 7,966 7,800 ,000
Sexo ,063 1,217 2,017 ,224 ,947 1,055
Idade -,188 -2,934 ,221 ,004* ,618 1,619
Estado civil -,027 -,406 2,621 ,685 ,574 1,743
Filhos -,015 -,234 3,588 ,815 ,600 1,667
Particip. financ. família ,064 1,101 1,310 ,272 ,760 1,317
Semestre ,037 ,695 ,487 ,487 ,897 1,115
Qtde. celular ,105 1,968 3,073 ,050** ,895 1,117
Qtde. operadoras -,004 -,079 1,928 ,937 ,823 1,215
Bloqueio por senhas ,066 1,261 2,659 ,208 ,943 1,061
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Nota: Estatística F de 2,654 com significância de 0,004. R=0,260, R²=0,068 e R²ajust.=0,042, Durbin-
Watson=2,207
Onde, *, ** Estatisticamente significantes ao nível de 1% e 5% respectivamente.
De acordo com os valores encontrados, constata-se que as variáveis ‘idade’ e ‘quantidade
de celular’ foram as únicas que apresentaram um poder de explicação significativo para o
modelo. Nesse sentido, como a ‘idade’ possuiu um coeficiente negativo, entende-se que quanto
maior a idade do participante, menor é a sua dependência em relação ao uso do WhatsApp. Esse
resultado vai de acordo com o encontrado anteriormente, que também identificou uma relação
semelhante para com o vício no aparelho celular. Nesse âmbito, Anshari et al. (2016) e Aguiar
et al. (2014) identificaram que a idade exerce um papel importante quanto a usabilidade de
aparelhos celulares, sendo uma variável relevante que influencia esse aspecto comportamental,
principalmente nas gerações mais jovens. Ademais, a quantidade de celulares que os alunos
possuem também demonstrou uma relação significativa para explicar o maior uso desse
aplicativo, uma vez que quanto mais aparelhos os universitários possuem, mais estes utilizam
o WhatsApp por terem o aplicativo instalado nas suas ferramentas.
4.3 SIGNIFICADOS DO CELULAR
Tendo em vista analisar melhor a relação dos participantes do estudo com o celular,
questionou-se para quem o aluno emprestaria o smartphone desbloqueado. Em seguida, era
solicitada uma descrição sumária dos motivos que os levariam a emprestar o aparelho para as
67
pessoas escolhidas ou, em caso negativo, por que não emprestariam para ninguém. Com isso,
foram criadas categorias separadamente tanto para os indivíduos que responderam de forma
afirmativa, como para aqueles que informaram que não emprestariam seus aparelhos. É
importante destacar que as categorias criadas não foram excludentes, o que significa que, da
resposta de cada participante poderia surgir mais de uma categoria, tomando-se o cuidado para
que estas não fossem justapostas.
Com o presente levantamento, observou-se que 15% (55/377) dos universitários disseram
que não emprestariam seu celular a terceiros e 85% (314/377) informaram que emprestariam
para outras pessoas. Dentre as pessoas para as quais estes respondentes emprestariam o
aparelho, pode-se verificar, conforme gráfico 7, que a maioria cederia o uso temporário do
smartphone principalmente para pessoas com algum vínculo próximo de parentesco e/ou
amizade, como pais, cônjuge, parentes e amigos. Além disso, os indivíduos que sinalizaram
que também emprestariam para outras pessoas especificaram que estas poderiam ser: colegas
de trabalho, filhos, irmãos ou alguém de confiança.
Gráfico 7 - Pessoas que emprestariam o celular.
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Assim, diante do presente levantamento, buscou-se investigar os motivos pelos quais os
estudantes emprestariam ou não seus celulares para tais pessoas. Dos 377 universitários que
participaram da pesquisa, 8 não responderam este item, o que levou, portanto, a ser considerado
para as análises um total de 369 respostas categorizadas, sendo destas 314 afirmativas e 55
negativas. A tabela 4 demonstra as principais categorias identificadas nas respostas dos sujeitos
66%
34%
51%
46%
56%
5% 4%
15%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
%
Pessoas que emprestariam o celular
Pais
Cônjuge
Namorado/a
Parentes
Amigos
Desconhecidos
Outros
Ninguém
68
que emprestariam seus smartphones, contendo as frequências absolutas de ocorrência de cada
categoria e as correspondentes porcentagens.
Tabela 4 - Frequência absoluta e percentual de ocorrência dos
participantes que emprestariam o celular.
Categorias
Frequência de
ocorrência
Absoluta Percentual do total de
participantes (N=314)
Confiança 153 48,73%
Nada a esconder 95 30,25%
Necessidade 79 25,16%
Não há problema 30 9,55%
Convívio 26 8,28%
Privacidade 5 1,59%
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
A categoria que apresentou maior expressividade foi a de ‘confiança’, já que 48,73% (153
respostas das 314) das pessoas disseram emprestar o celular por ter confiança em quem vai
utilizá-lo. Significados como lealdade, expectativas mútuas e reciprocidade são atribuídos ao
sentido de confiança (ZUCKER, 1986), fato que pode explicar tal categoria ter surgido de forma
relevante. Assim, diante do caráter particular e da quantidade de informações pessoais que os
atuais aparelhos armazenam, o elo de confiança entre quem empresta e quem irá utilizá-lo
aparece como um dos principais fatores para garantir o uso temporário do smartphone.
Em seguida, 30,25% dos respondentes justificaram o motivo de emprestar o aparelho para
terceiros porque não tinham ‘nada a esconder’. Essa categoria torna-se bastante interessante se
for levado em consideração o caráter defensivo apresentado no conteúdo das respostas. Ou seja,
refletindo no sentido contrário às afirmativas realizadas, aqueles sujeitos que não emprestarim
o celular para outros, necessariamente, procuram esconder algo ou alguma coisa de alguém. Tal
fato pode ser decorrente do sentido de desejabilidade social, uma vez que o indivíduo pode ter
realizado uma autoavaliação excessivamente positiva motivado pela popularidade do conteúdo
e menos pelo traço descritivo do fato.
A ‘necessidade’ representou a terceira categoria com maior expressividade, contendo
25,16% das respostas. Ao ser comumente utilizado com sentidos aparentemente óbvios, a
necessidade pode abranger variados critérios e intersubjetividades, acarretando em variações
na sua compreensão. Nesse sentido, conforme afirmam Rosa e Basto (2009, p. 14), o “rol das
discrepâncias quanto à extensão do ‘necessário’ é infinito, o que torna evidente que, no seu uso
corrente, o termo e o conceito se tornam muito relativos”. Portanto, ao pensar no critério
69
‘necessidade’, muitos estudantes partiram de diferentes pontos de vista, apontando aspectos
pessoais, sociais e utilitários. As demais categorias apresentaram índices inferiores a 10%,
porém não menos importantes, tendo em vista terem surgido o ‘convívio’ e a ‘privacidade’
também como um dos motivos pelos quais as pessoas emprestariam seu celular.
Para que se tenha uma ideia aproximada, a seguir são apresentadas mais detalhadamente
cada categoria com as devidas subcategorias, quando existentes, bem como os trechos das
respostas relacionadas. As subcategorias foram estabelecidas tendo em vista abranger o
significado geral do que foi relatado pelos estudantes, tomando-se o cuidado para que não
ocorra a sobreposição de uma subcategoria por outra, conforme quadro 1.
Quadro 1 - Trechos das respostas referentes aos participantes que emprestariam o celular.
Categoria/Subcategoria Trechos das respostas
Confiança "Porque são pessoas da minha inteira confiança"
Nada a esconder "Porque não tenho nada a esconder"
Necessidade
Para suprir alguma necessidade
"Se houvesse uma necessidade emprestaria, pelo
contrário não!"
Utilizar alguma ferramenta
"Para fazer uma ligação, ver fotos da família,
acessar as redes sociais"
Por um favor "Não nego um favor"
Não há problema "Porque não vejo nenhum problema nisso"
Convívio "Por serem pessoas que tenho contato diário"
Privacidade
Item pessoal
"Apesar de ser um bem pessoal não haverá
problema"
Questão de privacidade "Privacidade" Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Por outro lado, dentre as principais razões que levam alguns universitários a não emprestar
seus aparelhos, destacam-se: ‘privacidade’ (72,72%), ‘intimidade’ (7,27%) e ‘não gostar que
outras pessoas mexam no celular’ (5,45%). Da mesma forma, faz-se relevante destacar que por
conter ‘assuntos profissionais’ e por questões de ‘segurança’ alguns participantes também não
cederiam seus smartphones, de acordo com a tabela 5 a seguir.
70
Tabela 5 - Frequência absoluta e percentual de
ocorrência dos participantes que não emprestariam o
celular.
Categorias
Frequência de
ocorrência
Absoluta Percentual do total de
participantes (N=55)
Privacidade 40 72,72%
Intimidade 4 7,27%
Não gosto que mexam 3 5,45%
Assuntos Profissionais 2 3,63%
Segurança 1 1,81%
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Interessante notar que a categoria ‘privacidade’ aparece de forma bem diferenciada nos
dois grupos de respostas. Enquanto no grupo dos que emprestam o celular surge apenas com
um baixo percentual de representatividade, no grupo dos que não emprestariam o aparelho surge
como a principal razão para tal atitude. Tal discrepância pode ser explicada levando-se em
consideração que, segundo Machado (2014), a expressão ‘privacidade’ é considerada como um
dos termos que mais sofreu transformações nas últimas décadas. Para a autora, “com a evolução
nas tecnologias da informação e comunicação, a privacidade não pode ser analisada apenas pelo
aspecto do recato e do isolamento” (MACHADO, 2014, p. 360), podendo abranger diferentes
interpretações.
Há tempos, por exemplo, a privacidade era resguardada por textos escritos em diários, que
geralmente eram escondidos para que ninguém mais tivesse acesso. Atualmente, ao contrário,
a exposição da vida particular na internet faz com que as pessoas usem as redes sociais como
uma espécie de “diários virtuais”, onde o reconhecimento social vem através de inúmeras
curtidas e “likes”, que parecem dar sentido à vida. Com isso, dependendo de para quem o
aparelho seria emprestado, os alunos pesquisados alegaram fatores relacionados à capacidade
de expor e controlar as informações pessoais tanto nas respostas afirmativas como nas
negativas.
Outro resultado a ser destacado é o caráter íntimo e pessoal que aparece nos resultados dos
que não emprestam o aparelho. Ligada principalmente ao sentido emocional, a ‘intimidade’,
neste caso, foi relacionada à exposição de conteúdo extremamente íntimo do cotidiano dos
participantes como, por exemplo, fotos de “nudes” e de outros momentos íntimos com os
parceiros(as). Nesse sentido, alguns alunos demonstraram um sentimento de invasão e intrusão
mediante uma estreita ligação de intimidade pessoal.
71
Da mesma forma, no quadro 2 são apresentadas as subcategorias e seus respectivos trechos
referentes aos alunos que se posicionaram de forma negativa sobre emprestar o aparelho celular
para outras pessoas.
Quadro 2 - Trechos das respostas dos participantes que não emprestariam o celular.
Categoria/Subcategoria Trechos das respostas
Privacidade "Pois é onde existe minha privacidade"
Coisas pessoais "Informações pessoais que são apenas e somente do meu
interesse"
Senhas salvas "Porque possui senhas salvas nas contas"
Intimidade "Nudes"
Invadido(a) "Me sinto totalmente incomodada e invadida"
Não gosto que mexam "Não gosto que ninguém mexa no meu celular"
Assuntos profissionais
"Porque no meu celular contém aplicativos, como e-mail de
trabalho entre outros"
Segurança "Segurança"
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Ao serem solicitados para completar a frase “meu celular é para mim...”, 369 participantes
responderam a este item, o que resultou no surgimento de 23 categorias. Visando identificar o
significado do smartphone na vida dessas pessoas, percebe-se, desde já, o quão vasta pode ser
a importância, significância e função que um celular pode desempenhar no cotidiano do ser
humano. De acordo com a tabela 5, observa-se que o uso do aparelho como um ‘meio de
comunicação’ (35,50%) e por ‘necessidade’ (29,54%) foram as principais atribuições dadas
pelos respondentes, demonstrando, portanto, o caráter indispensável do celular, especialmente
para a comunicabilidade. Com isso, seja por meio de ligação, mensagens ou interação em redes
sociais, os respondentes apontam que o telefone celular é fundamental como uma forma de
manter a relação, o contato e o diálogo com outas pessoas, sendo de fundamental importância
para o atendimento das necessidades diárias.
72
Tabela 6 - Frequência absoluta e percentual de
ocorrência dos significados do celular.
Categorias
Frequência de
ocorrência
Absoluta Percentual do total de
participantes (N=369)
Meio de Comunicação 131 35,50%
Necessidade 109 29,54%
Organização 70 18,97%
Trabalho 66 17,88%
Interatividade 44 11,92%
Lazer/Entretenimento 36 9,75%
Importante 36 9,75%
Estudos 33 8,94%
Informação/Pesquisa 31 8,40%
Particular 27 7,31%
Facilitar relações 23 6,23%
Não tão importante 22 5,96%
Praticidade 13 3,52%
Tudo 12 3,25%
Ponte para o mundo 8 2,16%
Valioso 7 1,90%
Parte do corpo 7 1,90%
Segurança 4 1,08%
Sobrevivência 3 0,81%
Complemento da vida 2 0,54%
Companhia 1 0,27%
Filho 1 0,27%
Computador Móvel 1 0,27%
Fonte: Dados da pesquisa (2018).
Outro significado que também foi comumente ressaltado pelos universitários é a
possibilidade de ‘organização’ (18,97%) que o celular proporciona, contribuindo como um
facilitador das tarefas do dia-a-dia de forma prática e rápida. Para isso, o caráter multifuncional
dos aparelhos sempre era ressaltado como uma maneira de tornar o cotidiano dos alunos mais
produtivos, à medida que várias tarefas podem ser realizadas ao mesmo tempo. Nesse sentido,
o uso de algumas ferramentas como, por exemplo, agenda, despertador e relógio foi apontado
como características indispensáveis para a presença constante do aparelho na vida dos
participantes.
Muitos sujeitos também enfatizaram o ‘trabalho’ (17,88%) como um significado
importante atribuído ao uso do smartphone. Sua utilização como um instrumento de realização
das atividades laborais foi considerada de forma crucial para o desempenho de algumas
73
atividades, como pode ser verificado na justificativa dos seguintes estudantes: “emprego, pois
vendo peças masculinas e femininas, através de grupos de whatsapp e instagram e fanpage no
facebook” (aluna, 22 anos, 3º semestre); “uma ferramenta complementar do meu trabalho.
Posso não está na empresa direto e ele me proporciona isso” (aluno, 20 anos, 2º semestre); “uma
das ferramentas para trabalho mais eficiente atualmente, meio de obter lucros” (aluno, 21 anos,
5º semestre). Considerado por muitas pessoas como um meio de distração, diversão e
passatempo, 9,75% dos alunos apontaram o uso do celular como uma forma de lazer e
entretenimento, possibilitando o acesso as redes sociais, jogos e conversas instantâneas com
pessoas de diferentes partes do mundo.
Ainda que não tão expressivo, alguns universitários relataram a contribuição do
smartphone para os estudos, aquisição de informações e realização de pesquisas. O uso do
celular em atividades escolares, neste caso, demonstra a contribuição positiva que o aparelho
pode trazer na vida dos alunos, principalmente ao ser utilizado de forma moderada. A difusão
desse e de outros dispositivos móveis em atividades pedagógicas expressa o potencial de
contribuição que o aparelho pode proporcionar também no contexto acadêmico, facilitando o
rápido acesso a conteúdos diversificados, o ensino à distância e a realização de diferentes
métodos de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, segundo Nagumo e Teles (2016), faz-se
importante que as instituições de ensino compreendam as questões sociais e culturais ligadas
ao uso do aparelho por jovens, perceebendo o fenômeno como uma oportunidade de
aproximação e aprendizagem mútua.
É importante ressaltar que alguns indivíduos também atribuíram fortes características aos
celulares, associando-os a uma ‘parte do corpo’, um ‘filho’, ‘complemento da vida’ e
fundamental para a ‘sobrevivência’. Tais atributos sinalizam particularidades interessantes da
amostra pesquisada, tendo em vista o caráter íntimo de dependência e relação com o aparelho,
conforme pode ser verificado no relato a seguir: “Quando estou sem celular, é como se faltasse
uma parte do meu corpo” (aluna, 20 anos, 5º semestre). Segundo Belk (2016), essas
particularidades podem ser entendidas pela formação do que o autor chama de “eu estendido”,
uma vez que determinados objetos e pessoas podem ser vistos como uma parte do próprio
indivíduo, estendendo a identidade para além da mente e do corpo. Assim, segundo o autor,
quando esses objetos ou seres humanos são “danificados, morrem ou estão perdidos, sentimos
sua perda como uma lesão para si mesmo” (BELK, 2016, p. 50, tradução nossa). Nessa
perspectiva, Viacava et al. (2016) também descobriram que os celulares funcionam como parte
da vida de muitas pessoas, pois auxilia em interações sociais e no trabalho, podendo em muitos
contextos serem vistos como tentações e até dependência.
74
Por fim, ao serem questionados se sabiam ou já ouviram falar sobre nomofobia, 90%
(338/377) dos respondentes informaram que não possuíam conhecimento do assunto e 10%
(39/377) afirmaram possuir algum entendimento sobre o tema. Ao serem solicitados a explicar
sobre o que conheciam, as principais respostas estavam voltadas para a dependência da
tecnologia, o medo de ficar sem comunicação, pavor de não ficar conectado e o vício constante
de usar o smartphone. Não obstante, algumas respostas também direcionavam para um
entendimento confuso em relação ao termo, pois o definiam como sendo o medo de ficar
sozinho, medo de ficar sem fazer nada ou um tipo de doença decorrente de dores presentes nos
dedos. Nesse contexto, pode-se perceber que o termo nomofobia ainda é pouco conhecido pelo
público pesquisado, possuindo, em alguns casos, uma compreensão imprecisa e complexa.
Diante da pouca exploração da literatura, principalmente nacional, sobre o tema e da quase
inexistência de relatos de nomofobia no cotidiano, não é de se impressionar que muitos
universitários ainda desconheçam o seu significado. Szpakow, Stryzhak e Prokopowicz (2011)
e Krajewska-Kułak et al. (2012) também detectaram que a maioria dos estudantes pesquisados
não tinham conhecimento sobre o termo, o que foi retratado pela forma excessiva que os alunos
utilizavam o celular no dia-a-dia. Sendo assim, a falta de informação e de maiores investigações
sobre o tema faz com que as pessoas não se reconheçam como dependentes do smartphone ou
de qualquer outro tipo de dispositivo móvel, acarretando em uma série de consequências
pessoais, profissionais e acadêmicas.
75
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso abusivo do celular corresponde a um problema complexo e cada vez mais crescente,
com características diferentes que podem apresentar distintas consequências, como depressão
e fobia social, por exemplo. Se por um lado o hábito de usar esses aparelhos pode ajudar em
contextos pessoais e profissionais, por outro lado, em muito, também pode acarretar sérias
implicações sociais e laborais. Nesse sentido, a utilização e os significados atribuídos ao uso do
smartphone foram discutidos ao longo desta dissertação como uma forma de explorar as
limitações teóricas e empíricas ainda presentes na literatura sobre o tema.
A era da tecnologia direciona para uma, quase que obrigatória, adaptação. O grande
desenvolvimento tecnológico fez com que a população mundial se tornasse, cada vez mais,
dependente dos novos equipamentos que surgiam a cada momento, como os aparelhos
celulares. O uso obsessivo do smartphone faz com que algumas pessoas se sintam subordinadas
ao aparelho, como uma relação de escravidão diante das inúmeras ferramentas e possibilidades
“na palma da mão”. Nesse sentido, sob a égide do entretenimento, atualmente se vive a era em
que as pessoas se queixam por falta de tempo, mas passam horas no seu “mundo” digital. Na
geração do “tudo é pra ontem”, a velocidade da inovação e da informação faz com que o futuro
pareça cada vez mais próximo e o presente cada vez mais curto. Com o uso excessivo do celular,
as relações pessoais são transformadas muitas vezes em virtuais, fazendo com que as horas
incontáveis gastas no aparelho tornem os indivíduos coadjuvantes das suas próprias histórias.
Tendo em vista a dificuldade de se reconhecer a dependência digital, a linha que separa do
uso ao vício em celular é tênue. Nesse contexto, por mais que uma pessoa utilize
demasiadamente o aparelho, isso não pode ser caracterizado como um vício. Para que seja uma
dependência patológica algumas características específicas são identificadas, revelando-se por
meio da angústia e desconforto quando se está sem o smartphone, o que pode acarretar em
mudanças comportamentais como, por exemplo, alteração constante no humor, conflitos no
trabalho e nas relações pessoais e sociais, irritação quando o acesso à internet é restringido,
mentiras sobre a quantidade de tempo que fica no aparelho, dentre outras.
Seja na universidade, no trabalho ou em casa, o celular ocupa cada vez mais espaço na
rotina dos participantes. De acordo com os universitários, o aparelho é usado principalmente ao
acordar e antes de dormir, bem como em situações de multitarefas como, por exemplo, durante
as aulas, ao assistir televisão, durante as refeições, em conversas presenciais com outras pessoas
e enquanto estudam. Tais momentos refletem o quanto o aparelho está presente nas mais
diversas atividades realizadas pelos pesquisados, podendo influenciar na configuração
76
interpessoal e acarretar impactos sociais, laborais e pessoais importantes. Por estas razões,
Okaz (2015) afirma que a nomofobia dos estudantes universitários fez com que o ensino se
tornasse um desafio ainda maior para os professores, tendo em vista que “a crescente presença
de tecnologia mudou o comportamento e as atitudes dos alunos e alterou a maneira como eles
aprendem e se comunicam dentro e fora da aula” (OKAZ, 2015, p. 601, tradução nossa).
O uso demasiado das ferramentas proporcionadas pelo aparelho foi evidenciado com maior
frequência na utilização do despertador, aplicativos de conversas e o uso das redes sociais. A
complexidade da dependência do smartphone aponta para a possibilidade de múltiplas causas
a influenciá-la, o que pôde ser constatado no presente estudo por meio do gênero, idade e o
semestre que os alunos estavam cursando. Com isso, em cuprimento ao primeiro objetivo
proposto neste estudo, as mulheres demonstraram maior propensão do que os homens para a
dependência do celular. Esse resultado encontrado vai de acordo com outros estudos que
realizaram essa comparação e também conseguiram detectar que o gênero feminino possuem
uma maior predisposição ao vício no smartphone (KONOK et al., 2016, ANSHARI et al.,
2016).
Tendo em vista responder ao segundo objetivo apresentado, os universitários que estavam
nos semestres mais adiantados do curso apresentaram maior indicativo de vício no aparelho.
Além disso, a utilização excessiva do WhatsApp também foi ligada a fatores relacionados à
idade e também a quantidade de aparelhos que os respondentes possuíam. Nesse sentido, os
alunos com idades mais elevadas demonstraram menor inclinação para o uso descontrolado,
enquanto a quantidade de aparelhos foi um fator determinante para o vício no uso do WhatsApp,
respondendo, portanto, ao terceiro objetivo sugerido.
É interessante destacar que 85% dos pesquisados sinalizaram que os pais e pessoas de
convívio mais próximo como irmãos, companheiros e amigos, seriam as únicas pessoas que os
participantes emprestariam o celular, sendo justificado pelo caráter de confiança, transparência
e necessidade para o empréstimo do aparelho a terceiros. Por outro lado, dentre os universitários
que não emprestariam o smartphone para ninguém, as principais razões foram atribuídas à
privacidade e a intimidade das informações contidas no smartphone.
Quanto ao quarto objetivo proposto, os principais significados atribuídos ao celular
giravam em torno da sua importância como um meio de comunicação, a necessidade de uso e
a possibilidade de organização que as diferentes ferramentas proporcionam. O aparelho também
foi apontado como elemento importante para as atividades laborais e outras de cunho mais
pessoais, sendo comparados, inclusive, como uma extensão dos próprios sujeitos. Neste
ínterim, visando ao cumprimento do quinto objetivo apresentado, muitos estudantes não sabiam
77
e nunca haviam ouvido falar sobre nomofobia. Dentre os que informaram ter algum
conhecimento sobre o assunto, as explicações eram confusas e imprecisas, demonstrando a
pouca familiaridade com o termo.
Espera-se que esta pesquisa permita um maior entendimento da importância de se
investigar o tema em diferentes contextos, possibilitando traçar formas que direcionem a
identificação da nomofobia. Visto que há pouco tempo os problemas causados pela dependência
do uso do celular ganhou maior notoriedade, principalmente em países estrangeiros e, aos
poucos, no Brasil; seria relevante considerar a necessidade de que mais estudos sejam realizados
para entender melhor porque as pessoas estão cada vez mais dependentes, quais as
consequências acarretadas e como fazer para mitigar essa situação. Em vista das variações
geográficas, culturais e das demais particularidades dos sujeitos pesquisados, faz-se importante
ressaltar que os achados deste estudo não poderão ser generalizados, pois pode não refletir na
realidade de outros contextos, cursos e localidades.
Apesar da pesquisa possuir limitações próprias de uma amostra por conveniência, tendo
sido desenvolvida com estudantes universitários do curso de Administração de dois Estados do
nordeste brasileiro, seus resultados podem não expressar a realidade de alunos de outros cursos
e diferentes localidades. Por isso, tais achados não deverão ser generalizados. Adicionalmente,
não obstante às lacunas apontadas, o estudo possibilita entender melhor o comportamento e o
uso dos estudantes do curso de Administração em relação ao celular, contribuindo, portanto,
com subsídios para que sejam analisadas e adotadas estratégias de conscientização do uso dessa
tecnologia durante as aulas, em casa e no trabalho.
Levando-se em consideração o que foi discutido anteriormente, faz-se importante destacar
que os resultados apresentados são considerados como um esforço inicial de pesquisa em um
campo ainda pouco explorado pela área de Administração no Brasil. Para estudos futuros, seria
interessante a aplicação de outros instrumentos e a realização de entrevistas mais aprofundadas,
o que permitiria um melhor aprofundamento e entendimento do tema investigado. Além disso,
um estudo futuro específico com gestores também seria interessante, bem como aplicação de
pesquisas sobre a nomofobia em empresas que solicitam que seus funcionários estejam sempre
disponível via smartphone.
Finalmente, embora o ser humano seja o principal responsável pelo desenvolvimento das
novas tecnologias, ele também sofre as consequências da sua má utilização, tanto como ser
biológico, quanto social. Em um momento de grandes crises e escândalos associados à
divulgação de informações pessoais na internet, o conhecimento dos seus impactos sinalizam
para a possibilidade de (re)interpretar a sua utilização, bem como aprofundar e refletir sobre o
78
que fazer para minimizá-los. Diante de um país que ostenta o título de um dos maiores usuários
de smartphones do mundo, esse tema deve ser tratado além das fronteiras disciplinares,
possibilitanto que novos olhares e discussões sejam lançados para a sua melhor compreensão.
A realização desta pesquisa não pretendeu trazer respostas irrefutáveis, nem tampouco
conclusões definitivas sobre o assunto. Ao contrário, espera-se que este primeiro esforço
exploratório de análise possa servir como um sinal em direção a todo um conjunto de
possibilidades que o tema permite abordar, e que este também venha a auxiliar no
direcionamento de novos caminhos para sua investigação.
79
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89
APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE PESQUISA
_
(uso da equipe de pesquisa)
Esta pesquisa faz parte de um trabalho acadêmico que visa verificar o uso de aparelhos celulares
por estudantes universitários. Todas as informações aqui prestadas são anônimas, servindo
apenas para validar os procedimentos científicos da pesquisa.
8. Quantos smartphones você possui? ___________ 9. Quantas operadoras possui?
________
10 Seu celular é bloqueado por uma senha? ( ) Sim ( ) Não
11 Emprestaria seu celular desbloqueado para:
(Marque todas que se aplicam)
( ) Ninguém ( ) Seus pai ( ) Cônjuge (marido, esposa,
companheiro/companheira)
( ) Namorado(a) ( ) Um parente (tio, primo, etc.) ( ) Um amigo
( ) Um desconhecido ( ) Outros: ___________________
12 Por que emprestaria para essas pessoas ou, se for o caso, não emprestaria para ninguém?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_____________________
13 Em sua opinião, complete a seguinte frase: Meu celular é pra mim...
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
1. Sexo: 3. Estado Civil 5.Qual é a sua participação
na vida econômica da
família?
7. Quais são seus objetivos profissionais a médio
e curto prazo? (Resposta única)
( ) Masculino
( ) Feminino
( ) Solteiro
( ) Casado
(Conjugue ou
parceiro)
( ) Separado
( ) Viúvo(a)
( ) Não trabalha e seus
gastos são financiados pelos
pais ou pela família
( ) Trabalha mas recebe
complemento da família
( )Trabalha e é responsável
e / ou contribui com sustento
da família
( ) Dedicar-se à pós-graduação integralmente
/ seguir vida acadêmica.
( ) Conseguir emprego em empresa privada
(multinacional, empresa nacional etc)
( ) Prestar concurso público / consolidar
carreira no setor público.
( ) Abrir negócio próprio / consolidar negócio
próprio.
( ) Trabalhar nos negócios da família.
2. Idade: 4. Filhos 6. Curso e Semestre que está
cursando
_____ anos
( ) Sim. Nº ___
( ) Não
Curso: _________________
Semestre: ________
90
________________________________________________________________________
_____________________
14 Utilize a escala abaixo para responder as questões que seguem:
Não se
aplica Nunca Raramente
Às
vezes
Quase
sempre Sempre
n1. Com que frequência você usa o
celular ao longo do seu dia? 0 1 2 3 4 5
n2. Com que frequência você precisa
levar o celular ao sair? 0 1 2 3 4 5
n3. Com que frequência, quando
esquece o celular, costuma voltar para
buscá-lo?
0 1 2 3 4 5
n4. Com que frequência você sente
ansiedade quando percebe que está sem
o celular ou sem bateria?
0 1 2 3 4 5
n5. Com que frequência você sente
angústia quando percebe que está sem
o celular ou sem bateria?
0 1 2 3 4 5
n6. Com que frequência você sente
pânico em alguma situação por não ter
o celular por perto ou quando fica sem
bateria para se comunicar?
0 1 2 3 4 5
n7. Com que frequência você tem medo
de sair sem o celular e passar mal na rua
e não ter como pedir "socorro" imediato
ou fazer contato com alguém de sua
confiança?
0 1 2 3 4 5
n8. Com que frequência você se sente
rejeitado quando ninguém liga para
você no celular?
0 1 2 3 4 5
91
n9. Com que frequência você sente
baixa autoestima quando vê que seus
amigos recebem mais ligações no
celular do que você?
0 1 2 3 4 5
n10. Com que frequência você, com o
celular, gosta de poder ser encontrado a
qualquer hora?
0 1 2 3 4 5
n11. Com que frequência você mantém
o celular sempre por perto mesmo em
casa?
0 1 2 3 4 5
n12. Com que frequência você mantém
o celular ligado 24h por dia? 0 1 2 3 4 5
n13. Com que frequência você dorme
com o celular ligado e próximo a você? 0 1 2 3 4 5
n14. Com que frequência você sente
nervosismo por não ter o celular por
perto ou quando fica sem bateria para
se comunicar?
0 1 2 3 4 5
n15. Com que frequência você não
desliga ou não coloca no modo
silencioso o seu celular quando está
com amigos?
0 1 2 3 4 5
n16. Com que frequência você não
desliga ou não coloca no modo
silencioso o seu celular quando está
com seu par?
0 1 2 3 4 5
n17. Com que frequência você não
desliga ou não coloca no modo
silencioso o seu celular quando está
com a família?
0 1 2 3 4 5
n18. Com que frequência você insere
na agenda do celular o número de um 0 1 2 3 4 5
92
médico com medo de passar mal na
rua?
n19. Com que frequência você insere
na agenda do celular o número de um
psicólogo com medo de passar mal na
rua?
0 1 2 3 4 5
n20. Com que frequência você insere
na agenda do celular o número de um
hospital com medo de passar mal na
rua?
0 1 2 3 4 5
n21. Com que frequência você acessa a
internet no celular? 0 1 2 3 4 5
n22. Com que frequência você joga no
celular? 0 1 2 3 4 5
n23. Com que frequência você não
emprestaria o celular para alguém
próximo por um dia?
0 1 2 3 4 5
n24. Com que frequência você se sente
inseguro sem o celular em mãos ou sem
bateria?
0 1 2 3 4 5
n25. Com que frequência você tem a
sensação de estar acompanhado com o
celular?
0 1 2 3 4 5
15 Assinale de acordo com a frequência de uso do aparelho celular em cada situação:
Não
se
aplica
Nunca Raramente Às
vezes
Quase
sempre Sempre
c1. Assim que acorda 0 1 2 3 4 5
c2. Durante práticas esportivas 0 1 2 3 4 5
c3. Durante as refeições 0 1 2 3 4 5
c4. Durante o horário de trabalho 0 1 2 3 4 5
93
c5. Durante programas de lazer
(cinema, teatro, shows, etc.) 0 1 2 3 4 5
c6. No banheiro 0 1 2 3 4 5
c7. Antes de dormir 0 1 2 3 4 5
c8. Enquanto dirige 0 1 2 3 4 5
c9. Durante as aulas 0 1 2 3 4 5
c10. Assistindo televisão 0 1 2 3 4 5
c11. Enquanto estuda 0 1 2 3 4 5
c12. Durante conversas presenciais
com outras pessoas 0 1 2 3 4 5
c13. No ônibus 0 1 2 3 4 5
c14. Na igreja 0 1 2 3 4 5
16 Assinale de acordo com a frequência de uso do WhatsApp em cada situação:
Não se
aplica Nunca Raramente
Às
vezes
Quase
sempre Sempre
w1. Com que frequência você usa o
WhatsApp ao longo do seu dia? 0 1 2 3 4 5
w2. Com que frequência você sente
necessidade de acessar o WhatsApp? 0 1 2 3 4 5
w3. Com que frequência quando sai do
WhatsApp costuma voltar a acessar? 0 1 2 3 4 5
w4. Com que frequência você sente
ansiedade quando percebe que está sem
acesso ao WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w5. Com que frequência você sente
angústia quando percebe que está sem
acesso ao WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w6. Com que frequência você sente
pânico em alguma situação por não ter
acesso ao WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
94
w7. Com que frequência você tem
medo de ficar sem acesso ao
WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w8. Com que frequência você se sente
rejeitado quando percebe que alguém
leu e não respondeu de imediato as suas
mensagens no WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w9. Com que frequência você troca de
foto no WhatsApp para melhorar sua
autoestima?
0 1 2 3 4 5
w10. Com que frequência você usa o
WhatsApp para evitar a sensação de
estar só?
0 1 2 3 4 5
w11. Com que frequência você checa
mensagens no WhatsApp quando está
em casa?
0 1 2 3 4 5
w12. Com que frequência você mantém
sinais de alerta de recebimento de
mensagens no WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w13. Com que frequência você
participa de grupos no WhatsApp? 0 1 2 3 4 5
w14. Com que frequência você sente
nervosismo quando percebe que está
sem acesso ao WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w15. Com que frequência você consulta
o WhatsApp no seu dispositivo mesmo
quando está com amigos?
0 1 2 3 4 5
w16. Com que frequência você consulta
o WhatsApp mesmo quando está com o
seu par?
0 1 2 3 4 5
w17. Com que frequência você consulta
o WhatsApp mesmo quando está com a
família?
0 1 2 3 4 5
95
w18. Com que frequência você
participa de grupos no WhatsApp com
pessoas que não conhece na sua vida
real?
0 1 2 3 4 5
w19. Com que frequência você acessa o
WhatsApp no seu telefone celular fora
de casa?
0 1 2 3 4 5
w20. Com que frequência você envia
fotos no WhatsApp mostrando uma
realidade diferente da sua vida real?
0 1 2 3 4 5
w21. Com que frequência você se sente
deprimido quando vê no WhatsApp que
os seus amigos têm uma vida mais
interessante do que a sua?
0 1 2 3 4 5
w22. Com que frequência você tem a
sensação de estar acompanhado com o
WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w23. Com que frequência você costuma
checar se alguma pessoa está online
através do WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w24. Com que frequência você ignora
pessoas que estão do seu lado no mundo
real para se comunicar com pessoas no
WhatsApp?
0 1 2 3 4 5
w25. Com que frequência você envia ou
consulta mensagens no WhatsApp
enquanto dirige?
0 1 2 3 4 5
17 Assinale as opções de acordo com a frequência de uso dos aplicativos de smartphone:
Não se
aplica Nunca Raramente
Às
vezes
Quase
sempre Sempre
a1. Aplicativos de acesso a e-mail 0 1 2 3 4 5
96
a2. Aplicativos de acesso à rede de
pesquisa (Google Chrome, Safari,
Mozilla Firefox)
0 1 2 3 4 5
a3. Aplicativos de produção e edição de
arquivos de texto e/ou planilhas (Word,
Excel, Pdf, Scanner)
0 1 2 3 4 5
a4. Aplicativos de reprodução de áudio e
vídeo (Youtube, Soundcloud, Vimeo,
itunes)
0 1 2 3 4 5
a5. Aplicativos de conversação imediata
(Whatsapp, Telegram, Hangouts) 0 1 2 3 4 5
a6. Redes Sociais (Facebook, Twitter,
Instagram, Snapchat, etc) 0 1 2 3 4 5
a7. Aplicativos de serviços bancários 0 1 2 3 4 5
a8. Aplicativos de localização e mapas
(Google maps, Waze) 0 1 2 3 4 5
a9. Despertador 0 1 2 3 4 5
a10. Aplicativos de fotografia (câmera,
editores de imagens) 0 1 2 3 4 5
a11. Calculadora 0 1 2 3 4 5
a12. Envio de SMS
(mensagens de texto) 0 1 2 3 4 5
a13. Jogos 0 1 2 3 4 5
a14. Aplicativos relacionados à saúde
(alimentação, esporte, frequência
cardíaca)
0 1 2 3 4 5
a15. Aplicativos de filmes e televisão
(Netflix, Emissoras de TV) 0 1 2 3 4 5
a16. Tradutor 0 1 2 3 4 5
18 Você sabe o que é ou já ouviu falar em Nomofobia? ( ) Sim ( ) Não
19 Caso afirmativo, explique com suas palavras o que você entende por Nomofobia?
97
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_____________________
20 Caso tenha interesse em participar da próxima etapa desta pesquisa, favor informar seus
dados para contato (telefone/e-mail):
________________________________________________________________________
_______
OBRIGADA!!!
98
APÊNDICE B – VALORES DA ESCALA MOBILE PHONE ADDICTION TEST (MPAT)
Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação
E1 2,2 1,3 55 E127 3,08 1,5 77 E253 2,84 1,5 71
E2 1,6 0,8 40 E128 2,6 1,5 65 E254 1,4 1,2 35
E3 3,2 1,8 80 E129 3 1,7 75 E255 1,48 1,2 37
E4 2,56 2,1 64 E130 2,84 1,3 71 E256 3,52 1,7 88
E5 2,04 2,2 51 E131 2,2 2,0 55 E257 1,92 1,4 48
E6 2,56 1,4 64 E132 3,4 1,5 85 E258 2,88 1,3 72
E7 3 1,4 75 E133 2,44 2,1 61 E259 2,96 1,7 74
E8 3,72 1,4 93 E134 3,32 1,4 83 E260 2,24 1,4 56
E9 2,56 1,6 64 E135 3,6 1,5 90 E261 1,88 1,1 47
E10 1,8 2,1 45 E136 3 1,7 75 E262 4,16 0,4 104
E11 1,88 1,1 47 E137 4,28 1,6 107 E263 2,12 1,9 53
E12 2,44 1,4 61 E138 2,04 1,5 51 E264 2,84 1,3 71
E13 2,68 1,4 67 E139 3,32 1,4 83 E265 1,6 1,6 40
E14 2,32 1,9 58 E140 3,08 1,7 77 E266 2,32 0,9 58
E15 2,92 2,0 73 E141 3,68 1,8 92 E267 3,4 1,6 85
E16 2,12 1,6 53 E142 3,52 1,8 88 E268 2,84 1,4 71
E17 2,64 1,4 66 E143 3,76 1,7 94 E269 2,08 1,4 52
E18 3,68 1,3 92 E144 2,92 1,4 73 E270 2,08 1,4 52
E19 2,44 1,7 61 E145 2,24 1,3 56 E271 1,8 1,1 45
E20 3,08 1,6 77 E146 3,76 1,2 94 E272 2,2 2,3 55
E21 3,52 1,5 88 E147 2,28 1,8 57 E273 2,92 0,8 73
E22 3,32 2,4 83 E148 2,64 1,6 66 E274 2,6 1,6 65
E23 2,08 1,5 52 E149 3,36 1,3 84 E275 3,24 1,7 81
E24 2,68 1,3 67 E150 3,28 1,7 82 E276 2,92 1,7 73
99
E25 3,04 1,5 76 E151 2,68 1,3 67 E277 2,8 2,0 70
E26 2,8 1,5 70 E152 4,12 1,0 103 E278 2,48 1,3 62
E27 2,04 1,1 51 E153 2,64 1,6 66 E279 3,64 1,3 91
E28 2,28 1,6 57 E154 2,64 1,7 66 E280 2,72 1,6 68
E29 3,12 1,8 78 E155 3,28 1,1 82 E281 2,84 1,2 71
E30 2,44 1,2 61 E156 1,88 1,4 47 E282 3,16 1,6 79
E31 2,48 1,6 62 E157 2,96 1,5 74 E283 4,12 0,8 103
E32 2,52 1,3 63 E158 3,12 0,7 78 E284 3,04 1,3 76
E33 2,36 1,3 59 E159 3 1,9 75 E285 2,52 1,7 63
E34 3,04 1,5 76 E160 2,16 1,7 54 E286 2,56 1,5 64
E35 2,84 1,5 71 E161 2,92 1,4 73 E287 3,36 1,6 84
E36 3,32 1,7 83 E162 2,28 1,4 57 E288 2,6 1,2 65
E37 2,6 1,3 65 E163 2,48 1,7 62 E289 1,96 1,5 49
E38 2,2 1,5 55 E164 3,64 1,7 91 E290 2,84 1,8 71
E39 1,8 1,9 45 E165 3,52 1,6 88 E291 3,12 1,7 78
E40 1,96 1,3 49 E166 2,08 1,4 52 E292 2,32 1,5 58
E41 3,52 1,5 88 E167 3,44 1,4 86 E293 3,4 1,4 85
E42 2,8 1,7 70 E168 2,8 1,5 70 E294 2,32 1,4 58
E43 2,6 1,9 65 E169 2,76 1,8 69 E295 1,84 1,9 46
E44 2,04 1,4 51 E170 2,04 1,7 51 E296 1,52 1,3 38
E45 2,96 1,6 74 E171 2,96 1,7 74 E297 2,68 1,6 67
E46 2,28 1,4 57 E172 3,08 1,7 77 E298 3,32 2,1 83
E47 3,08 1,5 77 E173 2,48 1,2 62 E299 2,84 1,2 71
E48 2,48 1,5 62 E174 2,12 1,5 53 E300 2,16 1,2 54
E49 3,6 1,3 90 E175 3,12 1,9 78 E301 3,08 1,2 77
E50 2,8 1,6 70 E176 2,52 1,6 63 E302 2,56 1,9 64
E51 1,68 1,6 42 E177 3,12 1,5 78 E303 2,48 0,8 62
E52 2,92 1,6 73 E178 2,08 1,4 52 E304 2,32 1,8 58
E53 2,96 2,0 74 E179 2,76 1,1 69 E305 2 1,7 50
100
E54 3,24 0,6 81 E180 3,08 1,3 77 E306 2,48 1,5 62
E55 3,76 1,3 94 E181 2,28 1,1 57 E307 3,04 1,0 76
E56 2,68 1,3 67 E182 2,72 1,9 68 E308 2,32 1,6 58
E57 2,6 1,6 65 E183 3,92 1,2 98 E309 2,36 2,1 59
E58 3,6 1,8 90 E184 1,64 1,8 41 E310 2,72 1,5 68
E59 2,64 1,7 66 E185 1,52 2,0 38 E311 2,48 1,3 62
E60 2,84 1,4 71 E186 2,08 2,1 52 E312 2,8 1,6 70
E61 2,4 1,5 60 E187 2,24 1,7 56 E313 3 1,8 75
E62 3,2 1,7 80 E188 3,12 1,5 78 E314 2,44 1,3 61
E63 3,12 1,1 78 E189 2,08 1,0 52 E315 1,8 2,0 45
E64 2,4 1,5 60 E190 1,92 1,0 48 E316 2,48 1,4 62
E65 1,72 1,3 43 E191 4,44 0,8 111 E317 2,6 1,8 65
E66 2,56 0,9 64 E192 3,08 1,9 77 E318 3,08 1,1 77
E67 4,04 1,4 101 E193 2,84 2,0 71 E319 3,04 1,1 76
E68 3,8 1,9 95 E194 1,96 1,8 49 E320 3,04 1,2 76
E69 4 1,6 100 E195 2,92 1,8 73 E321 2,72 1,9 68
E70 3,92 0,8 98 E196 3,52 1,5 88 E322 3,2 1,7 80
E71 2,8 1,3 70 E197 3 1,5 75 E323 3,32 1,5 83
E72 3,44 1,5 86 E198 3,44 1,5 86 E324 2,28 1,3 57
E73 1,68 1,9 42 E199 2,36 1,4 59 E325 3,52 1,6 88
E74 2,24 1,6 56 E200 4,04 1,3 101 E326 3,4 1,6 85
E75 3,16 1,7 79 E201 3,8 2,1 95 E327 2,2 1,6 55
E76 2,88 1,6 72 E202 3,2 1,1 80 E328 2,72 1,3 68
E77 2,36 1,3 59 E203 2,72 1,6 68 E329 2,44 1,4 61
E78 1,96 1,9 49 E204 3,8 1,2 95 E330 2,4 1,5 60
E79 2,84 1,4 71 E205 2,04 1,2 51 E331 2,88 2,1 72
E80 2,92 2,3 73 E206 3 1,6 75 E332 3,24 2,1 81
E81 3,12 1,6 78 E207 3,44 1,8 86 E333 2,36 1,5 59
E82 3,24 1,3 81 E208 3,52 1,7 88 E334 3,88 1,5 97
101
E83 3,52 1,6 88 E209 1,8 1,4 45 E335 2,52 1,8 63
E84 2,6 1,7 65 E210 2,36 1,3 59 E336 2,68 1,8 67
E85 3,2 1,5 80 E211 2,84 1,3 71 E337 3,56 1,2 89
E86 4,04 1,3 101 E212 2,04 1,6 51 E338 2,88 2,0 72
E87 2,04 1,7 51 E213 3,32 1,6 83 E339 3,52 1,7 88
E88 2,44 2,0 61 E214 2,36 1,5 59 E340 2,16 1,7 54
E89 3,28 1,6 82 E215 1,68 1,4 42 E341 3,32 1,8 83
E90 3,56 1,3 89 E216 2,76 1,8 69 E342 3,72 1,5 93
E91 3,56 1,4 89 E217 3,44 1,9 86 E343 2,76 1,5 69
E92 2,92 2,0 73 E218 3,2 1,5 80 E344 2,64 1,5 66
E93 4,32 1,3 108 E219 2,56 1,6 64 E345 1,88 2,1 47
E94 2,4 1,7 60 E220 3,44 1,2 86 E346 2,6 1,5 65
E95 2,64 2,2 66 E221 3,32 1,7 83 E347 2,52 1,5 63
E96 1,84 2,0 46 E222 2,44 1,2 61 E348 2,56 1,4 64
E97 2,16 1,4 54 E223 3,84 1,3 96 E349 2,96 1,3 74
E98 2,28 1,8 57 E224 3,12 1,9 78 E350 3,28 1,4 82
E99 2,4 1,6 60 E225 2,76 1,9 69 E351 3,28 1,3 82
E100 2,96 1,4 74 E226 3,24 1,2 81 E352 2,92 1,6 73
E101 2,64 1,7 66 E227 3,2 1,8 80 E353 2,76 1,6 69
E102 3,8 1,7 95 E228 2,92 1,5 73 E354 2,24 1,6 56
E103 1,76 1,7 44 E229 3 1,4 75 E355 3,2 1,7 80
E104 2,16 1,3 54 E230 2,4 1,4 60 E356 2,08 2,0 52
E105 3,88 1,6 97 E231 2,48 1,2 62 E357 2,84 1,4 71
E106 2,68 1,4 67 E232 2,64 1,6 66 E358 1,72 2,3 43
E107 3,4 1,9 85 E233 2,32 1,6 58 E359 2,16 2,3 54
E108 3,12 1,8 78 E234 3,48 0,8 87 E360 2,12 1,9 53
E109 3,24 1,4 81 E235 2,6 1,5 65 E361 3,36 1,5 84
E110 2,44 1,5 61 E236 3,68 1,3 92 E362 2,4 1,6 60
E111 3,12 1,6 78 E237 2,12 1,3 53 E363 2,2 1,7 55
102
E112 3,24 1,5 81 E238 1,76 1,2 44 E364 3,64 1,8 91
E113 2 1,2 50 E239 4,24 1,1 106 E365 2,72 2,0 68
E114 2,76 2,3 69 E240 2,92 1,9 73 E366 2,28 1,2 57
E115 1,8 1,3 45 E241 2,28 1,3 57 E367 3,88 1,7 97
E116 2,24 1,5 56 E242 2,56 1,8 64 E368 3,8 1,2 95
E117 1,96 1,2 49 E243 3,28 1,6 82 E369 2,56 1,5 64
E118 2 2,2 50 E244 2,48 1,3 62 E370 2,52 2,2 63
E119 2,12 1,1 53 E245 2,4 1,8 60 E371 3,56 1,4 89
E120 3,12 1,7 78 E246 2,2 1,6 55 E372 2,24 1,9 56
E121 3 1,4 75 E247 2,92 1,6 73 E373 2,76 1,7 69
E122 1,84 1,7 46 E248 3,24 1,9 81 E374 2,32 1,6 58
E123 3,04 1,7 76 E249 2,08 1,1 52 E375 2,08 1,4 52
E124 2,52 2,1 63 E250 3,52 2,1 88 E376 3,6 1,5 90
E125 3,32 1,6 83 E251 3,08 2,3 77 E377 2,48 1,6 62
E126 2,88 1,6 72 E252 3,56 1,8 89
103
APÊNDICE C – VALORES DA ESCALA WHATSAPP ADDICTION TEST (WAAT)
Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação Estudantes Média Dv. Padrão Pontuação
E1 2,6 0,9 65 E127 3,36 1,2 84 E253 2,72 1,4 68
E2 1,84 0,9 46 E128 2,48 1,0 62 E254 1,56 0,6 39
E3 2,56 1,4 64 E129 3,44 1,7 86 E255 1,44 0,8 36
E4 2,64 1,9 66 E130 1,84 0,7 46 E256 2,92 1,6 73
E5 1,48 1,8 37 E131 2,64 2,0 66 E257 2,04 1,2 51
E6 2,2 1,7 55 E132 3,96 1,4 99 E258 2,72 1,1 68
E7 1,48 1,0 37 E133 3,24 1,4 81 E259 3,04 1,4 76
E8 3,88 1,4 97 E134 3,4 1,3 85 E260 2,32 1,7 58
E9 2,6 1,2 65 E135 2,92 1,3 73 E261 1,4 1,0 35
E10 1,16 1,9 29 E136 3,16 2,0 79 E262 5 0,0 125
E11 2,56 1,1 64 E137 3,24 1,4 81 E263 1,12 1,1 28
E12 2,04 1,1 51 E138 2,24 1,5 56 E264 3,24 1,4 81
E13 1,92 0,9 48 E139 2,56 1,1 64 E265 1,68 1,2 42
E14 1,48 0,7 37 E140 2,4 1,2 60 E266 1,92 1,2 48
E15 2,88 2,0 72 E141 3,72 1,9 93 E267 2,12 1,2 53
E16 1,8 0,9 45 E142 4,24 1,2 106 E268 2,64 1,1 66
E17 2,96 1,1 74 E143 5 0,0 125 E269 1,88 1,2 47
E18 3,4 1,3 85 E144 2,4 1,3 60 E270 2,04 1,3 51
E19 1,88 1,2 47 E145 2,2 0,9 55 E271 1,88 1,0 47
E20 3,12 1,7 78 E146 4,52 0,8 113 E272 2,28 1,6 57
E21 2,36 1,4 59 E147 1,76 1,5 44 E273 2,96 1,0 74
E22 2,56 1,7 64 E148 1,48 1,2 37 E274 2,36 1,4 59
E23 2,48 1,2 62 E149 3,68 1,4 92 E275 3 1,6 75
E24 2,64 1,2 66 E150 2,48 1,4 62 E276 3,16 1,4 79
104
E25 2,88 1,6 72 E151 3,24 1,1 81 E277 2,36 2,1 59
E26 2,76 1,5 69 E152 3,84 1,3 96 E278 2,24 1,0 56
E27 2 0,8 50 E153 2,68 0,9 67 E279 3 1,4 75
E28 2,12 1,4 53 E154 2,96 1,6 74 E280 3,32 1,3 83
E29 2,2 1,0 55 E155 2,64 1,0 66 E281 2,12 1,1 53
E30 2 0,8 50 E156 1,68 0,7 42 E282 3,08 1,2 77
E31 1,68 1,0 42 E157 3,28 1,3 82 E283 3,4 1,2 85
E32 2,52 1,1 63 E158 2,96 0,6 74 E284 2,76 1,2 69
E33 1,96 0,9 49 E159 3,12 2,0 78 E285 2,28 1,6 57
E34 3,96 0,8 99 E160 1,92 1,7 48 E286 2,12 1,0 53
E35 2,28 1,2 57 E161 2,28 1,2 57 E287 2,68 1,2 67
E36 3,72 1,5 93 E162 2,88 1,1 72 E288 2,28 1,4 57
E37 2,52 1,0 63 E163 2,48 0,8 62 E289 1,92 0,9 48
E38 1,8 1,6 45 E164 3,36 1,2 84 E290 2,56 1,7 64
E39 1,6 1,5 40 E165 3,16 1,4 79 E291 3,36 1,6 84
E40 1,76 1,2 44 E166 2 0,8 50 E292 3,4 1,5 85
E41 4 1,2 100 E167 4 1,2 100 E293 3,36 1,4 84
E42 2,68 1,3 67 E168 1,8 1,1 45 E294 2,36 1,3 59
E43 2,6 1,5 65 E169 2,68 2,0 67 E295 2,36 1,6 59
E44 1,68 0,9 42 E170 2,24 1,2 56 E296 1,6 1,0 40
E45 3,64 1,4 91 E171 1,76 1,1 44 E297 2,32 1,5 58
E46 1,76 0,8 44 E172 2,68 1,4 67 E298 3,24 1,6 81
E47 3,4 1,3 85 E173 2,56 1,1 64 E299 2,32 1,6 58
E48 2,68 1,6 67 E174 1,96 1,3 49 E300 2,4 1,2 60
E49 3,12 1,5 78 E175 3,28 1,9 82 E301 2,12 1,5 53
E50 3,64 1,4 91 E176 2,92 1,2 73 E302 2,36 2,0 59
E51 1,12 0,5 28 E177 2,36 1,3 59 E303 2,4 0,7 60
E52 2,64 1,5 66 E178 2 1,2 50 E304 3,04 1,7 76
E53 3,16 1,2 79 E179 3,08 0,3 77 E305 1,68 1,5 42
105
E54 1,84 0,9 46 E180 2,24 1,2 56 E306 2,2 1,3 55
E55 3,32 1,3 83 E181 1,76 1,1 44 E307 2,96 1,0 74
E56 2,32 1,1 58 E182 2,92 1,8 73 E308 2,84 1,8 71
E57 2,48 1,6 62 E183 3 1,5 75 E309 1,08 1,7 27
E58 3,16 2,1 79 E184 2,04 1,5 51 E310 2,8 1,3 70
E59 2,56 1,8 64 E185 1,88 1,3 47 E311 2,68 0,9 67
E60 2,8 1,4 70 E186 2,08 1,7 52 E312 3,48 1,0 87
E61 2,96 1,5 74 E187 4,16 0,9 104 E313 2,56 1,8 64
E62 3,32 1,5 83 E188 3,72 1,5 93 E314 3,68 1,1 92
E63 2,68 0,7 67 E189 2,76 1,3 69 E315 2 1,6 50
E64 1,12 0,7 28 E190 1,64 0,8 41 E316 2,64 1,8 66
E65 1,56 0,8 39 E191 3,84 1,1 96 E317 2,6 1,1 65
E66 2,4 1,4 60 E192 2,44 1,0 61 E318 2,88 0,9 72
E67 2,68 1,4 67 E193 3,52 1,5 88 E319 3,24 1,3 81
E68 4 1,4 100 E194 1,72 1,5 43 E320 2,52 1,0 63
E69 4,68 0,9 117 E195 2,64 1,6 66 E321 3 1,5 75
E70 3,36 0,8 84 E196 2,28 1,6 57 E322 2,88 1,3 72
E71 2,44 1,0 61 E197 3,2 1,5 80 E323 3,4 1,2 85
E72 3,48 1,3 87 E198 3,72 1,5 93 E324 0 0,0 0
E73 1,72 1,6 43 E199 2,8 1,5 70 E325 3,2 1,4 80
E74 2,44 1,5 61 E200 3,36 1,7 84 E326 3,08 0,9 77
E75 2,48 1,3 62 E201 4,52 1,2 113 E327 2,32 1,5 58
E76 3,64 1,0 91 E202 3,12 1,1 78 E328 2,76 1,1 69
E77 2,76 1,1 69 E203 2,76 1,2 69 E329 2 1,3 50
E78 1,12 1,5 28 E204 3,8 1,2 95 E330 2,32 1,3 58
E79 2,84 1,0 71 E205 1,56 1,1 39 E331 2,96 1,9 74
E80 2,96 1,7 74 E206 3,28 1,1 82 E332 4,24 1,4 106
E81 2,56 1,6 64 E207 3,96 1,4 99 E333 2,48 1,4 62
E82 3,04 1,1 76 E208 2,92 1,8 73 E334 3,48 1,4 87
106
E83 2,08 1,3 52 E209 2,04 1,3 51 E335 2,88 1,8 72
E84 2,56 1,1 64 E210 2,28 0,8 57 E336 2,4 1,5 60
E85 4,08 1,4 102 E211 2,48 1,5 62 E337 3,8 1,4 95
E86 3,32 1,2 83 E212 1,44 0,8 36 E338 2,52 1,5 63
E87 1,8 2,0 45 E213 3,08 1,8 77 E339 3,12 1,3 78
E88 2,04 1,9 51 E214 1,72 1,0 43 E340 2,24 1,2 56
E89 3,56 1,1 89 E215 1,44 0,7 36 E341 2,68 1,7 67
E90 3,76 1,2 94 E216 4,28 1,1 107 E342 3,64 1,0 91
E91 2,96 1,5 74 E217 3,6 1,7 90 E343 2,88 1,3 72
E92 1,92 1,9 48 E218 2,32 1,2 58 E344 2,6 1,1 65
E93 4 1,5 100 E219 2,92 1,6 73 E345 1,96 2,2 49
E94 2,44 1,3 61 E220 3,6 1,1 90 E346 3,88 1,4 97
E95 3 1,6 75 E221 2,96 1,3 74 E347 2,4 1,1 60
E96 2,04 1,7 51 E222 2,64 1,0 66 E348 2,24 0,7 56
E97 1,56 0,9 39 E223 3,8 1,2 95 E349 2,32 1,2 58
E98 2,48 1,8 62 E224 2,6 1,3 65 E350 3,44 1,2 86
E99 2,16 1,7 54 E225 2,92 1,8 73 E351 3,68 1,4 92
E100 2,52 1,2 63 E226 2,96 1,0 74 E352 3,12 1,0 78
E101 0,64 1,1 16 E227 3,16 1,4 79 E353 1,28 0,5 32
E102 3,96 1,3 99 E228 2,52 1,0 63 E354 1,56 1,1 39
E103 1,76 2,1 44 E229 3,4 1,4 85 E355 2,76 1,5 69
E104 2,72 1,3 68 E230 1,84 1,2 46 E356 1 1,1 25
E105 3,64 1,9 91 E231 3 1,0 75 E357 3,36 1,2 84
E106 2,28 1,1 57 E232 2,12 1,6 53 E358 2,36 1,4 59
E107 3,04 2,0 76 E233 2,36 1,3 59 E359 0,84 1,5 21
E108 1,48 1,6 37 E234 4,16 0,7 104 E360 2,84 1,8 71
E109 3,16 0,9 79 E235 2,24 1,3 56 E361 3,4 1,1 85
E110 1,48 1,0 37 E236 4,24 0,7 106 E362 2,36 1,3 59
E111 2,96 1,3 74 E237 1,6 0,7 40 E363 2,44 1,2 61
107
E112 2,84 1,0 71 E238 1,52 1,0 38 E364 3,28 1,7 82
E113 2,92 1,2 73 E239 3,88 1,2 97 E365 3,8 1,3 95
E114 2,36 1,5 59 E240 2,92 1,8 73 E366 2,28 1,4 57
E115 1,84 1,0 46 E241 1,92 1,4 48 E367 4,16 1,3 104
E116 2,68 1,3 67 E242 2,72 1,8 68 E368 3,16 1,1 79
E117 1,64 1,0 41 E243 3,76 1,1 94 E369 2 1,3 50
E118 2,08 1,8 52 E244 2,52 0,7 63 E370 2,12 2,2 53
E119 1,76 0,8 44 E245 1,52 0,8 38 E371 3,08 1,6 77
E120 3,76 1,4 94 E246 1,92 1,0 48 E372 2,44 1,4 61
E121 2,96 1,5 74 E247 2,44 1,5 61 E373 2,28 0,9 57
E122 2,36 1,6 59 E248 3,16 1,8 79 E374 2,24 1,2 56
E123 3,92 1,6 98 E249 1,96 0,9 49 E375 1,16 1,2 29
E124 2,84 1,8 71 E250 3,8 1,5 95 E376 3,52 1,7 88
E125 2,48 1,4 62 E251 4,64 0,9 116 E377 2,56 1,2 64
E126 3,44 1,6 86 E252 2,28 1,6 57