departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo … · tudo que estamos discutindo até agora...
TRANSCRIPT
CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASEVENTO: Audiência Pública N°: 0300/03 DATA: 15/04/03INÍCIO: 14h50min TÉRMINO: 19h04min DURAÇÃO: 04h14minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 4h13min PÁGINAS: 78 QUARTOS: 51REVISÃO: Carla, Lia, Luciene Fleury, Odilon, SilviaSUPERVISÃO: Cláudia Luiza, Debora, J. Carlos, Letícia, MirandaCONCATENAÇÃO: Neusinha
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃONILVO SILVA – Presidente em exercício do IBAMAMARIJANE VIEIRA LISBOA – Secretária de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanose representante do Ministério do Meio AmbienteSAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Secretário-Geral e representante do Ministério dasRelações ExterioresEDSON LUPATINI JÚNIOR – Diretor do Departamento de Crédito Exterior e representante doMinistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorGERARDO TOMMASINI – Presidente do Sindicato Nacional da Indústria de PneumáticosCâmaras de Ar e CamelbackFRANCISCO SIMEÃO – Presidente da Associação Brasileira da Indústria de PneusRemoldados — ABIP e Presidente da Empresa BS Colway Remoldagem de Pneus Ltda.MARCOS DE OLIVEIRA – Gerente de Qualidade do INMETROARTHUR BADIN – Chefe de Gabinete da Secretaria de Direito Econômico e representante doMinistério da Justiça
SUMÁRIO: Discussão sobre o Decreto nº 4.592, de 2003, relativo à isenção do pagamento demultas para importação de pneumáticos reformados.
OBSERVAÇÕESHá intervenções inaudíveis.Há oradores não identificados.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
1
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Declaro aberta a presente
reunião de audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio
Ambiente e Minorias, que tem como objetivo debater o Decreto nº 4.592/2003, que
trata da isenção do pagamento de multas para importação de pneumáticos
reformados provenientes dos países que fazem parte do MERCOSUL, bem como
conhecer o programa Rodando Limpo, da ABIP, da Colway Pneus.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, peço a palavra
pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, aqui temos altos
funcionários públicos que tratam da questão dos pneus usados. Alguns pneus estão
apresentados aqui com suas respectivas marcas. Assim, solicito que os mesmos
sejam retirados, para que não sejam fotografados ao lado de funcionários que
cuidam dessa questão em suas atividades normais. Não seria correto que os
mesmos fossem transformados, inadvertidamente, em propagandistas desses
pneus.
Vamos discutir o assunto, mas após a retirada dos pneus da frente da Mesa.
É a minha proposta.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – V.Exa. está com a palavra.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, minha proposta é
no sentido de que os pneus permaneçam onde estão, até porque são simplesmente
pneus, não são bichos, nem fantasmas. Sou o representante de uma cidade onde há
uma das fábricas de remodelagem, Piraquara, no Paraná, que é motivo de orgulho
para nós. Não queremos que ninguém tire fotografias e que os pneus sejam
transformados em elementos de propaganda, não há esse trauma. Basta virar ao
inverso e deixar a marca escondida.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado João Alfredo, por
favor.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO – Sr. Presidente, não se trata de
trauma. Na verdade, trata-se de uma audiência pública da Comissão de Defesa do
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
2
Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados, um Poder
Público. É uma audiência institucional e, sem entrar no mérito, é absolutamente
incompatível com a atividade pública a utilização desse espaço para se fazer
propagada do que quer que seja.
A presença desses pneus com suas marcas à mostra significa efetivamente
uma estratégia de marketing, e não cabe a esta Comissão referendar esse tipo de
comportamento de qualquer empresa, seja ela limpa, ecológica, correta, amiga da
criança. Não se trata disso.
Estamos aqui em um espaço público, oficial; ouviremos representantes de
empresas privadas e de instituições públicas, e não se justifica a colocação desse
material de propaganda na mesa dos trabalhos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Deputado João Alfredo, por eu
estar presidindo a sessão, abstenho-me do voto, mas concordo com V.Exa.
Com a palavra o Deputado Antonio Carlos Mendes Thame.
O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME – Declaro minha
profunda estranheza e desconforto de ter de abordar este assunto. Quero saber se
houve expressamente solicitação aos funcionários, à Mesa, à Presidência desta
Comissão para que os pneus fossem aí colocados, ou se foram colocados como se
aqui fosse um lugar privado. Esta é a primeira indagação.
Em segundo lugar, se houve essa estapafúrdia autorização, quem foi o
funcionário que autorizou, porque é um absurdo estarmos aqui discutindo um fato
como esse. Como toda a imprensa está presente, o objetivo da empresa, que é criar
um fato para divulgar, já foi alcançado. É lastimável que se aja dessa foram diante
de todos nós, que temos mandato. É inacreditável que estejamos nesse surrealismo
de discutir um assunto como esse. Por isso, endosso as palavras do Deputado
Fernando Gabeira e dos Deputados que me antecederam contra esse capitis
diminutio por que está passando a Casa da representação do povo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado, a assessoria me
informa que não houve nenhuma solicitação nesse sentido e, conseqüentemente,
nenhuma aprovação. Vou solicitar a retirada do material, visto que a maioria o quer.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, V. Exa. me
concede a palavra?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa. a palavra.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
3
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Venho acompanhando esse
assunto desde o início.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado, como há flagrante
maioria, podemos mandar retirar e prosseguir o debate.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Mas quero discutir o assunto, nem
que a questão seja colocada em votação e eu saia perdedor. Eu quero ser ouvido
porque estapafúrdicos são aqueles a serviço das multinacionais, que não cumpriram
a decisão do CONAMA. Eu estive presente no dia da votação. Deveria haver uma
relação entre a quantidade importada de pneus usados e a quantidade produzida
internamente. Eu estava presente. E as multinacionais não cumpriram essa portaria.
Tudo que estamos discutindo até agora são interesses econômicos das empresas
paulistas. E há Deputados aqui que defendem interesses dessas multinacionais, não
o meio ambiente. Esses pneus que estão aí são uma demonstração de que não são
lixo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Sr. Deputado Max
Rosenmann, estou no exercício da Presidência e não houve nenhum requerimento
nesse sentido. Assim, vou pedir à nossa assessoria que retire os pneus. Por favor,
providenciem a retirada dos pneus.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Eu protesto. V. Exa. não era nem
Deputado quando esse assunto começou a ser discutido.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Sim, eu não era Deputado,
mas hoje presido a sessão. Não foi feito requerimento à Mesa. Delibero no sentido
da retirada.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, sou Deputado pelo
Estado de São Paulo. Não defendo nenhuma empresa multinacional ou nacional da
indústria de pneus, e solicito ao Deputado, para evitar constrangimento, que nomine
os Deputados representantes dessas multinacionais, segundo a acusação. Do
contrário, vamos nos sentir todos acusados. Gostaria que a acusação, se houver,
seja feita diretamente àqueles que são acusados.
Portanto, solicito ao Deputado que formalize ou retire sua afirmativa.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Não retiro minha afirmativa e não
estou aqui para nominar ninguém. Considero todos os Deputados paulistas, no
mínimo, suspeitos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
4
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Vou encaminhar formalmente uma
solicitação à Mesa para que o nobre Deputado faça a nominação, a fim de que
possamos investigar e identificar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Perfeito, Deputado.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Vamos identificar e fazer uma
investigação mesmo: quebrar sigilos bancários, para ver quem recebeu alguma
coisa das multinacionais.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Quero, então, constituir a
Mesa. Sr. Marcos Barros...
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Quem recebeu patrocínio eleitoral.
Começamos pelo patrocínio eleitoral.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Sr. Nilvo Silva, Presidente em
exercício do IBAMA; Sra. Marijane Vieira Lisboa, Secretária de Qualidade Ambiental
nos Assentamentos Humanos, representando a Sra. Ministra do Meio Ambiente; Sr.
Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral, representando o Ministro das
Relações Exteriores; Sr. Edson Lupatini Júnior, Diretor do Departamento de
Operações de Comércio Exterior, representando o Sr. Ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior; Sr. Arthur Badin, Chefe de Gabinete, representando o
Sr. Ministro da Justiça; o Presidente do Conselho Federal Gestor do Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos; Sr. Gerardo Tommasini, Presidente do Sindicato
Nacional da Indústria de Pneumáticos, Câmaras de Ar e Camelback; Sr. Francisco
Simeão, Presidente da Associação Brasileira de Indústria de Pneus Remoldados,
ABIP e Presidente da BS Colway Remoldagem de Pneus Ltda.
Esclareço que também foram convidados a participar como expositores da
presente reunião o Sr. Álvaro Augusto Ribeiro da Costa, Advogado-Geral da União,
que enviou fax, alegando a impossibilidade de comparecer à audiência pública em
razão de compromisso oficial; a Sra. Muriel Sara Goussi, Diretora do Conselho
Nacional de Meio Ambiente — CONAMA, comunicou que a Sra. Marijane Vieira
Lisboa apresentará em plenário sua justificativa de ausência.
Concederei inicialmente a palavra aos expositores por dez minutos e, em
seguida, farão uso da palavra os Deputados Renato Cozzolino, José Borba, Antonio
Carlos Mendes Thame e Fernando Gabeira, que requereram essa audiência. Depois
disso, falarão durante três minutos os Parlamentares previamente inscritos, sempre
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
5
facultadas, em qualquer caso, a réplica e a tréplica. A lista de inscrição se
encontrará à disposição dos Parlamentares com os servidores desta Comissão.
Para facilitar a transcrição deste debate, que está sendo gravado, solicito a
gentileza daqueles que desejarem fazer uso da palavra de declinarem previamente
seus nomes.
Passo a palavra, por dez minutos, ao Sr. Nilvo Silva, Presidente em exercício
do IBAMA.
O SR. NILVO SILVA – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, colegas da
Mesa, o assunto pneus vem causando muita desinformação e controvérsia. Nessa
primeira manifestação, vou tentar distinguir o que estamos tratando quando falamos
da questão pneus no Brasil.
Temos duas questões que devem ser tratadas em princípio separadamente.
Na verdade, elas não tratam apenas de pneus. A primeira delas é relativa às
restrições à importação de resíduos de outros países, que é feito por meio das
relações de comércio internacional e pela Convenção de Basiléia.
Essa é a primeira observação que diz respeito à questão pneus, às restrições
à importação e ao controle de resíduos de outros países, principalmente a discussão
sobre materiais já consumidos, como é o caso do pneu usado, que é considerado
resíduo nos países de origem e aqui no Brasil também.
A restrição à importação de pneus tem acontecido historicamente por meio
das relações de comércio internacional. As primeiras restrições foram estabelecidas
pelo Departamento de Comércio Exterior e, depois, pelas resoluções do Conselho
Nacional de Meio Ambiente. Cito duas resoluções do CONAMA que proíbem a
importação de pneus usados: a CONAMA nº 23, de 1996; e a CONAMA nº 235, de
1998. Essas são as resoluções da área de meio ambiente que proíbem a
importação. Há as normativas da área de comércio exterior, que fazem essa
vedação. Essa é a primeira questão que envolve pneus.
A segunda questão importante diz respeito a uma boa novidade no Brasil, que
não abrange só a questão pneus, ou seja, a implementação da responsabilidade
pós-consumo. Se a responsabilidade por resíduos industriais já está há muito tempo
estabelecida na legislação brasileira, a responsabilidade por produtos após seu
consumo — embalagens, computadores, máquinas e veículos — começa no Brasil a
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
6
ser implementada através de resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente e
não só por este.
Temos hoje no Brasil processos ainda incipientes, mas avançando bastante,
de recolhimento das embalagens vazias de agrotóxicos. Temos a questão das
pilhas. Por mais deficiências que a resolução do CONAMA possua na questão da
obrigatoriedade dos fabricantes de recolherem pilhas usadas, é sem dúvida decisão
que caminha na direção correta.
Quanto a pneus, temos a Resolução nº 258, do CONAMA, que estabeleceu a
obrigatoriedade de os fabricantes e os importadores recolherem pneus usados. É
importante fazer um destaque. Essa Resolução, que trata da responsabilidade pós-
consumo, não cuida da questão da vedação ou autorização de importação de pneus,
mas especificamente da obrigatoriedade de quem produz ou importa pneus no Brasil
dar-lhes destinação adequada. Ela estabelece, também, progressividade na
implementação da Resolução nº 258, a obrigatoriedade de o produtor dar a
destinação final ao pneu depois que o consumidor o utilizou. Ou seja, o fabricante
recebe do consumidor o pneu usado e tem de dar destinação ambientalmente
adequada à carcaça.
O primeiro ano de implementação dessa Resolução do CONAMA foi 2002.
Portanto, temos experiência de um ano. Tenho aqui alguns dados sobre pneus no
Brasil, fornecidos pela equipe técnica do IBAMA: fabricamos 46 milhões de unidades
de janeiro a dezembro de 2002 e importamos cerca de 21 milhões de unidades
nesse mesmo período. Segundo controle do IBAMA, o total de pneus inservíveis
tratados foi de cerca de 13 milhões e 800 mil, um pouco acima do índice de
obrigatoriedade do primeiro ano, que era de um pneu para cada quatro importados
ou fabricados no Brasil.
Este ano a proporção será de dois para um; em 2004, estaremos recolhendo
a mais do que produzimos ou importamos; e, em 2005, o CONAMA deverá revisar
essa Resolução, para que possamos verificar se ela foi bem aplicada e se seus
termos são apropriados para a proteção ambiental no Brasil.
Trataremos aqui de vários outros assuntos. Mas quero ainda manifestar a
preocupação do IBAMA com relação à questão dos pneus. A implementação da
responsabilidade pós-consumo, não somente para pneus, mas para vários outros
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
7
produtos, é uma novidade fundamental para a proteção ambiental no País, e o
Conselho Nacional do Meio Ambiente vem trabalhando para ampliá-la.
O IBAMA preocupa-se com duas questões importantes. Primeiro, a
importação de pneus usados, que consideramos importação de resíduos de outros
países para o Brasil, com o ônus de termos de achar destinação ambiental
adequada, quando já temos um passivo enorme de pneus para o qual não temos
ainda solução. Essa implementação progressiva é uma operação difícil, conforme o
próprio Conselho Nacional de Meio Ambiente a definiu. Portanto, aumentaríamos o
passivo ambiental de carcaças de pneu no País.
A outra questão diz respeito a pneus recuperados, que têm, sabidamente,
vida útil menor. Parece-me que para pneus produzidos no País a recuperação
aumenta a vida útil do pneu, o que pode ser vantajoso para o Brasil. Mas a
recuperação de pneus importados, evidentemente, é mais polêmica e deve ser
discutida pela sociedade brasileira. Até que ponto convém ao Brasil importar pneus
usados? Na opinião do IBAMA, significa importar resíduos para os quais o País
ainda não tem solução adequada. É o mesmo problema, com mais sutilezas, que o
pneu recuperado.
Temos ainda outros dados, mas considero importante ouvir representantes do
Ministério, os colegas da Mesa, e, depois, formarmos o painel da situação,
aprofundando o debate.
Para finalizar, destaco a necessidade real de se separar os temas importação
de resíduos e implementação da responsabilidade pós-consumo no Brasil.
A Resolução do CONAMA, nº 258, trata especificamente desse segundo item.
Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Nobre Deputado Júlio Lopes, requeiro
seja efetuada de imediato a transcrição dos termos da acusação feita pelo Deputado
Max Rosenmann, para que eu possa encaminhar a defesa da posição que acredito
correta.
Não acuso nenhum dos defensores da indústria de pneus importados de ter
sido beneficiado por financiamento e não admito ser acusado. Não recebi um único
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
8
centavo de nenhum desses atores, de nenhum dos lados, e estou absolutamente
tranqüilo para defender as posições que acredito corretas. Cuidarei de encaminhar a
denúncia à Corregedoria desta Casa e ao Conselho de Ética para que juntos
analisem e procedam à condenação dos que forem culpados, embora haja
legalidade no financiamento de campanha por qualquer indústria, desde que
devidamente assumido.
Requeiro, portanto, com a maior brevidade possível, a transcrição dos termos
da declaração do Deputado Max Rosenmann para que possamos proceder à nossa
defesa. Acho injusto que tenhamos de carregar o ônus de uma acusação dessa
monta.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado Luciano Zica,
determinarei à Taquigrafia que faça a imediata transcrição para que V.Exa. possa
tomar as devidas providências.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa, a palavra.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Acho muito importante a Mesa
fornecer todos os elementos que o Deputado Luciano Zica considera acusação.
Essa palavra “acusação” sempre foi usada por S.Exa. Nunca fiz acusações, a não
ser respostas a questionamentos feitos aqui. Ouvi expressões estapafúrdias e
inadequadas sobre o assunto. Ou seja, posso ouvir opiniões inadequadas e eles não
podem ouvir o contraditório. Então, é bom mesmo haver essa sua denúncia,
Deputado Luciano Zica, para discutirmos o contraditório e sermos democratas.
Quero que essa transcrição seja entregue o mais rápido possível a V.Exa. para que
possa fazer sua acusação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado Max Rosenmann,
assim será feito.
Dando prosseguimento à sessão, concedo a palavra à Sra. Marijane Vieira
Lisboa, Secretária de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos, que
representa a Sra. Ministra do Meio Ambiente.
A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, autoridades presentes, senhoras e senhores, o tema pneus, abordado
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
9
inicialmente pelo meu colega do IBAMA, pode ser analisado sob vários aspectos.
Infelizmente, foi o que ocorreu na política brasileira nos últimos dez anos, sem que
houvesse coordenação entre os diversos Ministérios que analisavam a questão dos
pneus — às vezes do ponto de vista comercial, ambiental e até mesmo relacionado
à questão da saúde, os pneus servirem para maior proliferação de insetos, caso do
dengue.
Fomos convidados para esta audiência certamente em função da celeuma
que o Decreto nº 4.592, publicado em 11 de fevereiro último, causou ao isentar
importadores de pneus reformados, vindos do MERCOSUL, de uma multa de 400
reais. Essa foi a razão da convocação, acredito eu, para prestarmos
esclarecimentos.
Se há aspecto positivo nessa história é o fato de a questão ambiental
relacionada aos pneus poder ser devidamente analisada, o que não estava
acontecendo.
O primeiro equívoco ao se analisar esse decreto foi entender que o mesmo
autorizava a importação de pneus usados. E aí vale a pena recuperarmos as
definições. Pneu usado é pneu inservível; foi usado e não poderá mais ser utilizado
como tal. Evidentemente, pode ser jogado fora ou reformado. Se for reformado,
teremos três categorias: o recapeado, o recauchutado e o remoldado. Em termos de
gradação, cada umas dessas operações torna o pneu um pouco melhor. O pneu
recapeado é o mais simples, o recauchutado é o que mais conhecemos no Brasil e o
remoldado é o recauchutado, digamos assim, de maneira mais incrementada.
Nunca houve, na legislação ambiental, proibição para importar pneus
reformados. Mas houve, sim — e há duas resoluções do CONAMA, uma de 1996 e
outra de 1998, que lista novamente as substância proibidas de serem importadas —,
legislação ambiental que proibia a importação de pneus usados. A lógica é aquela
que o Sr. Nilvo Silva já explicou. Depois de usado, depois que se torna inservível, o
pneu é um problema ambiental porque na sua composição entram metais pesados
que são tóxicos. Na própria composição da borracha entra ácido clorídrico.
Temos, então, um objeto complicado não apenas do ponto de vista da
disposição final — ocupa muito espaço nos aterros —, como também relacionado ao
problema de incêndios nos depósitos de pneu. São famosos os incêndios de
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
10
depósitos de pneu em outros países, que levam mais de ano para serem extintos,
pois o pneu é matéria de alta combustão.
Portanto, além de todos os inconvenientes que o pneu traz, uma vez
inservível, quanto a sua disposição final, várias das operações consideradas como
de reciclagem implicam mais danos ambientais. Por exemplo, se os pneus forem
queimados em fornos de cimento, vão emitir metais pesados, voláteis, que estavam
presentes na sua composição; vão emitir ácido clorídrico. Ou seja, é um produto que
depois de usado torna-se um problema ambiental.
Um critério importantíssimo na área ambiental é o ciclo de vida do produto. Há
produtos que são problema na fabricação, na disposição final, mas não quando são
consumidos. Há outros que não são problema na fabricação, na disposição final,
mas o são quando consumidos. No caso do pneu, ele não causa problema quando
está sendo utilizado, mas somente na disposição final. Para esse tipo de produto —
para o qual não se criou alternativa ou não se encontrou tecnologia capaz de fazer
com que não seja, em algum momento do seu ciclo de vida, problemático do ponto
de vista ambiental —, a melhor alternativa é fazer com que dure o máximo possível.
Por quê? Porque enquanto ele for utilizado, estaremos atrasando o momento em
que se transformará em problema. Com esse raciocínio, como explicou o Sr. Nilvo, é
evidente que a recauchutagem, a recapagem ou a remoldagem de um pneu
produzido no Brasil é a solução para adiar o problema.
Agora, a importação de pneu usado ou reformado já não é boa, porque
estaríamos trazendo problema de outros para nós. O Sr. Nilvo tem toda razão ao
dizer que temos de analisar a questão do comércio de pneus usados ou reformados,
importação e exportação, como parte de um comércio de resíduos. Se o pneu é
problema depois de usado, ele é um resíduo. Tivemos ampla experiência nesse
comércio internacional de resíduos nos últimos dez, vinte anos.
A Convenção de Basiléia tratou de grande parte desses resíduos e mostrou a
lógica econômica mais elementar para explicar os fluxos comerciais. Podemos fazer
um cálculo. Por exemplo, em média, quanto custa o descarte de um pneu usado na
Europa? Dois dólares. Quanto custa, em média, o descarte de um pneu usado no
Brasil? Cinqüenta centavos de dólar. Temos aí um dólar e meio que justifica e
financia qualquer operação de exportação de pneus. É essa a lógica econômica,
perversa, que explica todo o fluxo de resíduos perigosos. A Convenção de Basiléia,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
11
em 1994, proibiu a exportação de resíduos perigosos dos países desenvolvidos para
os países em desenvolvimento, porque se vigorasse a mera lógica do mercado,
esses países seriam convertidos em lixões, em depósitos de resíduos perigosos dos
países desenvolvidos.
Precisamos analisar o pneu desse ponto de vista. Não precisamos de
nenhum outro ponto de vista — já que esta é a Comissão de Meio Ambiente — para
dizer que não é interessante para o País receber pneus usados. Tanto não é
interessante que em 1996 o CONAMA já havia baixado resolução que proibia a
importação de pneus usados. Naquela época, e até hoje, a importação de pneus
reformados era pequena em termos numéricos. Por isso nunca houve legislação
específica, apenas uma legislação simples sobre pneus usados.
O que houve depois, conforme o Dr. Nilvo expôs, foi uma resolução que
estabeleceu quem deveria assumir a responsabilidade pelos pneus fabricados no
Brasil ou pelos pneus novos, importados, quando esses pneus se tornassem
inservíveis.
Criou-se um mecanismo também chamado na área das políticas ambientais
de responsabilidade estendida, que, em resumo, é um pouco nestes termos: de
quem é a responsabilidade por ter criado um produto cujo destino final não é
ambientalmente adequado? Como poderemos, até economicamente, incentivar um
produtor a procurar boas soluções para o seu produto? Substituição de material
tóxico, novas tecnologias.
A idéia da responsabilidade estendida é que o problema volta, se estende ao
produtor. Fez-se, então, a Resolução nº 258, que estabelece que os produtores, os
fabricantes, os importadores de pneus novos deveriam recolher, numa determinada
proporção, pneus inservíveis à medida que eles os fabriquem.
Houve, porém, falha na redação dessa resolução, em determinado artigo em
que ela estabelece as quantidades de pneus que devem ser recolhidos. Diz o artigo:
”fabricantes nacionais de pneus e importadores de pneus”. Esqueceram-se os
conselheiros do CONAMA de colocar dois adjetivos que teriam sido muito
importantes: pneus novos ou reformados. E é justamente essa ambigüidade do texto
que importadores de pneus usados utilizam para obter liminares na Justiça.
Eles conseguiram, nesses últimos três anos, introduzir no País 6 milhões, 750
mil carcaças de pneus usados importadas da Europa, ao fundamento de que estão
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
12
atendendo à nova resolução do CONAMA sobre responsabilidade estendida. É
claro, eles importam, mas destinam, na porcentagem indicada no texto da resolução,
uma parte desses pneus para ser reciclada e, assim, alegam que estão contribuindo
não só para a questão ambiental com para a da saúde etc. Não preciso fazer
propaganda deles porque eles já fizeram bastante.
Temos de voltar ao simples raciocínio ambiental que é: por mais que se
recicle, por mais que se contribua para recolher os pneus, estamos recebendo
pneus já usados e não precisamos deles. Não precisamos nem dos nossos, que são
um problema também, não temos solução para eles. Esperamos que a indústria de
pneus — já há algum tempo que volta e meia discutimos esse tema — pesquise e
encontre uma forma de fabricar pneus que não causem dano ambiental e de saúde
posteriormente. Esta é a função de todo fabricante: procurar tornar sua produção
mais limpa, eliminar substâncias tóxicas e adotar tecnologias modernas. Enquanto
isso não for alcançado, vamos ficar com um problema que já é nosso, não vamos
receber problemas de outros países.
Por que o decreto assinado em fevereiro levantou toda essa celeuma?
Porque atendeu a um laudo arbitral do MERCOSUL, produzido pelo Governo do
Uruguai, que se queixou que seus pneus reformados, exportados para o Brasil,
estavam sendo multados em 400 reais e que isso era, sem dúvida, uma restrição ao
livre comércio. A argumentação foi meramente comercial.
Efetivamente, havia um problema do ponto de vista legal. O decreto que
introduziu a multa, de 2001, assinado pelo nosso ex-Presidente Fernando Henrique
Cardoso e pelo antigo Ministro do Meio Ambiente, Dr. José Carlos Carvalho,
aplicava multa sobre a importação de pneus reformados e usados, quando só estava
proibida, por legislação ambiental, a importação de pneus usados; não havia
proibição de importação de pneus reformados. Tínhamos uma situação estranha:
multava-se algo que não era proibido. E era um parágrafo acrescentado à lei de
crimes ambientais. Um fato não tipificado tinha penalidade.
Isso impediu que o CONAMA consertasse aquele resolução que comentei
com V.Exas. há pouco, que, embora muito louvável, porque estabelecia o tal
mecanismo de responsabilidade estendida, ficou sem os dois adjetivos, esqueceram
de dizer “os importadores de pneus novos ou reformados”. Diante dessa omissão, a
indústria das liminares funcionou, e os pneus usados entraram no País.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
13
O CONAMA percebeu o problema e, em março do ano passado, redigiu nova
resolução que acrescentava os dois adjetivos e mais um considerando que deixava
claro, no início da resolução, que os pneus usados continuavam proibidos de serem
importados.
Porém, uma resolução é um texto menor que um decreto. Enquanto tínhamos
um decreto dizendo alguma coisa e uma resolução dizendo outra, era impossível
publicar uma nova resolução. Assim, durante um ano, o CONAMA viu-se impedido
de publicar sua resolução, justamente em razão daquele antigo decreto de setembro
de 2001.
O que aconteceu com o novo decreto é que, embora atendendo à reclamação
do Uruguai, manteve a multa de 400 reais para os pneus importados que não
fossem do MERCOSUL. Portanto, a incongruência jurídica permanecia. O CONAMA
apreciou essa questão na sua primeira reunião deste ano e formou uma comissão
para sugerir nova redação para o decreto, que seria assinada tanto pelo Ministério
do Meio Ambiente quanto pelo Ministério das Relações Exteriores.
Não preciso dizer a V.Exas. que mantivemos entendimentos com o Ministério
das Relações Exteriores e expusemos o problema que a atual redação do decreto
continha, ela não solucionava o problema. Assim, está em andamento a redação de
um novo decreto, que será assinado por ambos os Ministros, permitindo que o
CONAMA possa publicar sua resolução, eliminando a mencionada ambigüidade que
permitia, até recentemente, a indústria de liminares.
Inicialmente, era isso que eu tinha a informar.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço à Sra. Marijane
Vieira Lisboa, que aqui representa a Ministra do Meio Ambiente.
Passo a palavra ao Sr. Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral, que
representa o Ministro das Relações Exteriores.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Boa tarde, Presidente Júlio
Lopes. Quero agradecer muito à Comissão o convite para participar desta audiência
pública. Também agradeço aos Deputados Luciano Zica e Fernando Gabeira,
autores do requerimento que permitiu a realização desta audiência.
A Dra. Marijane e o Dr. Nilvo Silva já apresentaram todas as questões
relativas ao meio ambiente. A própria Dra. Marijane mencionou que estamos em
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
14
tratativas para termos um novo decreto que venha resolver essa questão. Eu quero
dizer que, do ponto de vista do Ministério das Relações Exteriores, é de grande
importância que o Brasil, na esfera internacional, cumpra os compromissos que
assume. Este é um ponto em que temos insistido; o Presidente, o Ministro e todos
os representantes do povo têm insistido. Devemos cumprir nossos compromissos
internacionais.
Assim, temos o Tratado de Assunção, que criou o MERCOSUL, a União
Aduaneira, uma área de livre comércio entre os quatro países membros, que
estabelece a livre circulação de mercadorias para produtos que não são — digamos
— proibidos.
Tivemos, durante longo período, a importação de pneus provenientes do
Paraguai e do Uruguai com livre acesso ao mercado brasileiro. Isso aconteceu até
muito recente, entre 1991 e 2000. Refiro-me a 1991 porque foi neste ano, por meio
de uma portaria do DECEX, que se proibiu a importação de bens de consumo
usados, incluindo pneus.
Há todo um debate sobre se o pneu remoldado é usado ou não-usado, e
assim por diante. Mas esse é um debate técnico, em que também há pareceres
divergentes. O próprio INMETRO tem pareceres no sentido de considerar um pneu
remoldado e um pneu novo como semelhantes. É um parecer técnico do nosso
Instituto de Metrologia.
E essa questão prossegue. A própria legislação ambiental sobre crimes
ambientais e o decreto que a regulamenta não fazem qualquer menção referente à
importação de pneus reformados. Assim, a importação prosseguiu. A legislação data
de 1998.
Mais tarde, em 2000, há uma portaria que proibiu a concessão de licença de
importação de pneumáticos recauchutados e usados. Tal portaria proíbe, se não me
engano, a concessão de licenças, quer dizer, no fundo proíbe a importação. Ou seja,
proíbe a concessão de licença, mas o produto sem licença de importação não pode
ser importado. O que ocorre é que o Uruguai e o Paraguai, países que exportavam
pneus remoldados para o Brasil, possuidores de pequenas fábricas, resolveram
solicitar consultas no âmbito do mecanismo de solução de controvérsias.
Tal mecanismo faz parte de um outro tratado aprovado no protocolo de
soluções de controvérsias, chamado Protocolo de Brasília, aprovado pelo Congresso
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
15
Nacional; ou seja, é lei no Brasil. Por meio desse protocolo, o Estado brasileiro
concordou em submeter suas disputas, suas controvérsias com outros países do
MERCOSUL, relativas à importação e à exportação, ao mecanismo de solução, que
prevê a constituição de um Tribunal Arbitral ad hoc.
O Brasil aceitou participar desse Tribunal Arbitral ad hoc, não contestou a
existência de tal tribunal. Assim, com um membro brasileiro, com um membro
uruguaio, com um advogado diante desse tribunal, concluiu-se por um laudo arbitral
que considerou que aquela medida de proibição de emissão de licenças de
importação contrariava as determinações do MERCOSUL sobre não impor restrições
ao comércio de produtos. Não estamos entrando nas questões ambientais. O
tribunal decidiu dessa maneira.
No meio tempo surgiu um decreto, como já mencionado, que estabeleceu
uma multa, se não me engano, de 400 reais por unidade de pneu, que tem efeito
proibitivo, porque ela proíbe na prática. Aliás, não havia ainda começado o
julgamento que resultou no laudo arbitral, mas foi perto. Não havia decisão ainda,
mas já havia o início do procedimento.
Naturalmente, o Uruguai passou a reclamar do Brasil o cumprimento do laudo
arbitral, que é uma decisão que tem valor jurídico no sistema brasileiro. Foi uma
situação extremamente delicada para o Brasil. Eu não estou entrando e nem vou
entrar, porque não é o caso, na questão dos efeitos ambientais dos pneus usados,
remoldados, recauchutados, recapeados, novos, e assim por diante.
Do nosso ponto de vista, trata-se de um caso de política externa muito
importante, por várias razões paralelas. O Presidente da República, desde o início
do seu Governo, anunciou que o Brasil, na sua política externa, daria toda prioridade
à América do Sul, justamente no seu objetivo de construir um mundo que fosse
multipolar e não hegemônico, e para que o Brasil, na América do Sul, tivesse um
papel ativo.
Mencionou também S.Exa., em seu discurso de posse e em manifestações
posteriores, a importância do MERCOSUL, a questão da sua revitalização e
crescimento, inclusive para fortalecer a posição negociadora do Brasil na
Organização Mundial do Comércio, na União Européia e nas negociações da ALCA.
Temos um país como o Uruguai, em relação ao qual as assimetrias
econômicas são extraordinárias, que tem um laudo arbitral a seu favor, que não está
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
16
exportando para o Brasil, tanto quanto eu saiba, nem exportava, pneus usados, mas
sim remoldados; país que tem situação econômica bastante difícil, em recessão há
pelo menos quatro anos, com o qual temos uma história de relações muito estreitas
por razões óbvias e que nos colocou diante dessa situação.
Eventualmente, foi publicado esse decreto para completar o cumprimento do
laudo arbitral e que isentou da multa prevista as importações de pneumáticos
reformados provenientes dos Estados partes do MERCOSUL. Entendo que o
extraordinário volume de importação de pneus mais prejudicial ao Brasil é o de
usados, que nada tem a ver com esse laudo arbitral. Entendo também que esses
pneus usados não são provenientes do Uruguai nem de outros países do
MERCOSUL.
A situação se nos apresenta desse modo. Se queremos realmente dar
prioridade às nossas relações com os países da América Sul, se queremos
fortalecer o MERCOSUL, se queremos ter uma posição mais firme e mais forte no
contexto das negociações da ALCA e da União Européia e se desejamos o
cumprimento e o fortalecimento do Direito Internacional, temos necessariamente de
cumprir decisões que redundam de compromissos internacionais livremente aceitos
pelo Brasil, os quais, em nenhum momento, foram contestados. Eventualmente,
também interpomos recursos com base nesses mecanismos de solução de
controvérsias. Recorremos a eles para, eventualmente, contestar medidas de outros
países membros do MERCOSUL que os interesses brasileiros consideram
prejudiciais ao Brasil, ou melhor, não só prejudiciais como contrários às normas do
MERCOSUL.
A Secretária Marijane mencionou que há outras questões e que já está sendo
negociado o texto de um novo decreto que permitirá, de um lado, cumprir o laudo
arbitral e, de outro, atender à necessidade de evitar a importação de produtos que
causam prejuízo ambiental. Não entro no mérito se o pneu remoldado causa
prejuízo ambiental. No fundo, qualquer pneu, em algum momento, terá de ser
destruído. Que eu saiba, ainda não existem tecnologias limpas para isso. Já existe
Dra. Marijane? Não existe. Pneu novo, usado, remoldado, em algum momento vai
causar prejuízo ambiental, mas essa é outra questão.
Do nosso ponto de vista, é muito importante o cumprimento do laudo arbitral.
Não se trata de questão de imagem do Brasil, mas da posição do nosso País como
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
17
Estado que cumpre as decisões de mecanismos de arbitragem internacional, mesmo
quando elas possam, eventualmente, não lhe parecer as melhores. Na solução de
mecanismo de controvérsias, o Governo brasileiro defendeu as soluções brasileiras
com os argumentos que pôde, difíceis de articular, defendeu firmemente, mas
perdemos esse laudo arbitral.
(Intervenção inaudível.)
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES - O juiz brasileiro é independente.
São árbitros indicados pelos países. Tínhamos nosso representante, o advogado da
causa brasileira — se estiver errado, o colega me corrija —, mas nossos argumentos
não convenceram os três árbitros, e perdemos.
Se não cumprirmos as decisões de arbitragem decorrentes de compromissos
livremente aceitos pelo Governo brasileiro, ficaremos numa situação muito frágil
diante das reivindicações que fazemos a outros Estados para que cumpram e
respeitem o Direito Internacional.
Era isso, do ponto de vista do Ministério das Relações Exteriores, o que, no
momento, eu teria a dizer.
Agradeço a atenção dos membros da Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradecemos ao Sr.
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
Tem a palavra o Sr. Edson Lupatini Júnior, Diretor do Departamento de
Operações de Comércio Exterior, que representa o Ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior.
O SR. EDSON LUPATINI JÚNIOR - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
autoridades, senhoras e senhores, agradeço à Comissão o convite para comparecer
a esta audiência e trazer o ponto de vista do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior sobre a questão, no que se refere ao aspecto da
licença de importação de pneus usados.
A importação de bens de consumo usados é proibida. A portaria do
Departamento de Operações de Comércio Exterior, como já foi dito,
independentemente de qual seja o produto, pneus, geladeira, automóveis, roupas,
proíbe a importação de bens de consumo usados. Por outro lado, a importação de
máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos usados é permitida, mas para
isso há necessidade de se fazer vários exames no âmbito da Secretaria de
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
18
Comércio Exterior, cujo aspecto principal, entre outros, é que não exista produção
nacional daquele bem de capital, daquela máquina ou equipamento que se pretende
importar. Ratificando, no caso de bens de consumo usados, as importações estão
proibidas.
Acontece que o Uruguai abriu controvérsia no âmbito do MERCOSUL, como
foi dito pelo Embaixador Samuel Pinheiro, e, em janeiro de 2002, saiu vencedor.
Assim, a Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, não poderia tomar outra decisão que não dar
cumprimento a essa decisão do Tribunal Arbitral. Com isso, editou a Portaria da
Secretaria de Comércio Exterior nº 2, de março de 2002, que autoriza a importação
de pneus remoldados quando procedentes do MERCOSUL, notadamente do
Uruguai e do Paraguai.
São essas as considerações, Sr. Presidente, que podemos fazer em relação
ao licenciamento das importações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Agradeço ao Sr. Edson
Lupatini Júnior.
Concedo a palavra ao Sr. Arthur Badin, Secretário de Direito Econômico, que
representa o Sr. Ministro da Justiça.
O SR. ARTHUR BADIN – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, antes de
mais nada quero fazer uma retificação. Sou Chefe de Gabinete da Secretaria de
Direito Econômico, represento o Secretário de Direito Econômico Daniel Goldberg.
Parece-me que o debate cinge-se a duas questões que se confrontam. A
primeira é a questão ambiental. O Brasil quer ser o repositório de produto que o
mundo não sabe o que fazer: os pneus usados. A segunda é a questão das relações
exteriores. O Brasil é signatário do Protocolo de Ouro Preto, integra o MERCOSUL,
submete-se às regras de solução de controvérsia do MERCOSUL, participou de um
Tribunal Arbitral legitimamente constituído, indicou um árbitro, Prof. Guido Soares,
que votou em desfavor do Brasil, o que gera uma situação realmente conflitiva.
Existem duas questões que se contrapõem, e esse é o problema.
São duas questões que tangenciam as matérias atinentes à Pasta do
Ministério da Justiça, que fica muito honrado com a possibilidade de participar deste
debate, mas tem pouco a acrescentar, pelo menos neste primeiro momento, às
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
19
informações muito bem apresentadas pelo Dr. Samuel, pela Dra. Marijane e pelos
demais membros da Mesa.
Coloco-me à disposição dos Srs. Deputados para qualquer esclarecimento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Agradeço ao Sr. Arthur Badin.
Concedo a palavra ao Sr. Gerardo Tommasini, Presidente do Sindicato
Nacional da Indústria de Pneumáticos, Câmaras de Ar e Camelback.
O SR. GERARDO TOMMASINI – Em primeiro lugar, agradeço à Presidência
desta Comissão, na pessoa do Deputado Givaldo Carimbão, pela gentileza do
convite e, ao mesmo tempo, cumprimento os Srs. Deputados presentes.
Antes de mais nada, esclareço que a ANIP, a Associação Nacional da
Indústria de Pneus, e o sindicato dessa mesma indústria, entidades que presido,
fundadas em 1959 e 1960, respectivamente, representam quinze fabricantes de
pneumáticos, de câmara de ar, de materiais de reforma, num total de 21 unidades
industriais, instaladas em oito Estados, e não somente no Estado de São Paulo,
distribuídas por dezoito Municípios, com força de trabalho de 20 mil empregos
diretos e arrecadação de impostos diretos da ordem de 1,5 bilhão de reais.
O convite foi-me formulado por duas vezes. O primeiro em 18 de março e,
posteriormente, em 27 de março, devido à publicação do Decreto nº 4.592, de 11 de
fevereiro último, que trata da isenção do pagamento de multa na importação de
pneumáticos reformados oriundos de países parte do MERCOSUL.
Ao ser divulgado esse fato, houve uma série de interpretações, algumas
equivocadas, sugerindo que estaria ocorrendo a liberação de importação de pneu
usado, o que obviamente gerou e continua gerando grandes polêmicas em vários
setores da economia nacional.
Na realidade, o que ocorreu foi dito aqui claramente. Segundo nos foi possível
apurar, houve a homologação pelo Presidente da República de uma decisão
unânime do Tribunal Arbitral do MERCOSUL julgou procedente a reclamação do
Governo uruguaio relativamente à queixa de um reformador daquele país que se
sentiu prejudicado, primeiro pela Portaria nº 8 da SECEX, e depois pelo próprio
Decreto nº 3.919. Trata-se daquele famoso decreto que multava em 400 reais os
que fossem apanhados com pneumáticos importados, usados e reformados, ou que
os transportassem, armazenassem, etc. Embora a quantidade dos produtos que
chegam do Uruguai seja extremamente reduzida, é bom lembrar que o reformador
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
20
uruguaio, segundo o Parlamentar que lá esteve, dispõe somente de dezessete
funcionários. Ora, por mais que trabalhe dia e noite, nunca conseguirá trazer para o
país quantidades que impressionem. Enquanto o médio reformador brasileiro dispõe,
no mínimo, de quarenta a sessenta operários, o reformador uruguaio dispõe
somente de dezessete operários.
No que diz respeito ao Paraguai, não deveria haver grandes repercussões.
Em relação à Argentina, não há problema, pois lá a importação de pneus usados
reformados está proibida. Apesar disso, não podemos ignorar que se trata de
precedente extremamente perigoso não só para as pretensões da União Européia,
mas também para os Estados Unidos. Todos sabemos das enormes quantidades de
pneus existentes na Europa, e a melhor alternativa parece ser o envio deles para
algum país que deseje recebê-los.
De qualquer forma, é preciso monitorar o volume das importações para evitar
triangulações perigosas, abusos, situações extras, porém facilmente detectáveis
pelo Departamento de Comércio Exterior da SECEX e pela própria Receita Federal.
Tudo isso se refere ao Uruguai e, eventualmente, ao Paraguai.
Permita-me, Sr. Presidente, ilustrar aos nobres Deputados a outra face da
moeda. Nos últimos oito anos entraram no País mais de 14 milhões de pneus
reformados, grande parte da Europa e não do Uruguai ou do Paraguai, ao preço
médio de 4 a 5 dólares a unidade. Em quatro anos, de 1997 a 2000, foram
importados 9,5 milhões de pneus. De 2001 a 2002, a quantidade de pneus
reformados diminuiu, mas em compensação, de acordo com as estatísticas da
SECEX, subiu vertiginosamente a importação de pneus usados. Para se ter idéia,
nos últimos dez anos, embora proibida por vários atos normativos legais, ela
alcançou a cifra de 28 milhões de unidades. Somadas aos 14 milhões de pneus
reformados dos quais falamos há pouco, obtemos o total de 42 milhões de pneus
usados e reformados que entraram — a maioria por meio de liminares — no País
nos últimos oito anos.
O impacto da importação de 42 milhões de pneus importados, usados e
reformados — cifra impressionante —, na indústria nacional, corresponde a mais de
três anos de produção de pneus novos para automóveis destinados ao mercado de
reposição. Somente no ano passado entraram no País mais de 3 milhões de pneus.
As 21 fábricas instaladas no Brasil, e que citamos há pouco, produziram no período
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
21
12 milhões e 900 mil pneus destinados ao mercado de reposição para automóveis,
gerando 20 mil empregos, com 3 milhões de pneus usados e reformados. Com
estes, seria possível instalar nova fábrica, com produção diária de 10 mil pneus/dia e
500 empregos diretos. Quadro realmente impressionante.
É desnecessário ressaltar os reflexos negativos provocados pelo elevado
número de importações. Quanto aos problemas de caráter ecológico, ambiental e de
saúde, a indústria nacional de pneus, contrariamente ao que foi dito aqui, cumpre
fielmente as disposições da Resolução nº 258 do CONAMA, dos órgãos estaduais e
municipais, muitas vezes de forma voluntária, a custo altíssimo que a indústria evitou
repassar ao consumidor, diferentemente do que acontece tanto na Europa quanto
nos Estados Unidos, onde o consumidor contribui com taxa destinada a cobrir os
custos da coleta e da reciclagem. Para os senhores terem idéia, no norte da Europa,
quando o cidadão compra um carro, depositam-se alguns dólares por pneus, para
posterior reciclagem.
A Resolução nº 258 obrigava a coleta e a reciclagem de um pneu para cada
quatro produzidos ou importados. No ano passado, a indústria colocou no mercado
aproximadamente 476 milhões de pneus novos. Destes, 15 milhões foram
exportados, restando 32 milhões como base de cálculo, que, divididos por quatro —
um pneu a ser reciclado para cada quatro produzidos ou importados —, resultaram
em 8 milhões de pneus ou 79 mil toneladas de material.
Para cobrir a meta constante da Resolução nº 258, a indústria nacional de
pneus, contrariamente ao que foi dito aqui, repito, entregou ao IBAMA certificados de
destinação final ambientalmente adequada, num total superior a 130 mil toneladas,
ou seja, deveriam ter sido recicladas 79 mil toneladas, mas foram recicladas e
tiveram destinação ambientalmente adequada 130 mil toneladas.
Na audiência pública de abril de 2002, nesta Comissão — muitos dos
presentes participaram —, afirmamos que, diversamente do que diziam à época e
dizem hoje, a indústria ia cumprir as suas obrigações relativamente à Resolução nº
258. Os fatos comprovam que cumprimos a meta e estamos orgulhosos por isso.
Existem alguns problemas a serem analisados. Quanto à segurança, por
exemplo, os pneus nacionais exportados para mais de cem países, entre eles
Estados Unidos, União Européia, Japão e outros tantos, geram receita de mais de
500 milhões de dólares por ano, possuem garantia de fábrica de cinco anos contra
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
22
defeitos de fabricação e garantias suplementares contra choques e acidentes de até
105 mil quilômetros.
Quanto ao aspecto econômico, convém ressaltar que todos os pneus
importados, usados e reformados, foram produzidos no exterior; foram pagos
impostos lá fora; e no fim da vida útil, como chamam na Europa o end of life, são
enviados para cá a fim de serem vendidos ao incauto consumidor e depois
reciclados a um custo extremamente elevado.
São essas, Sr. Presidente, as minhas considerações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço ao Sr. Gerardo
Tommasini, Presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Pneumáticos.
Tem a palavra o Sr. Francisco Simeão, Presidente da Associação Brasileira
da Indústria de Pneus Remoldados — ABIP e Presidente da Empresa BS Colway,
Remoldagem de Pneus Ltda.
O SR. FRANCISCO SIMEÃO – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
senhoras e senhores, para mim é importantíssima a oportunidade de participar desta
reunião. Tenho certeza de que estamos a desenvolver cada vez mais no Brasil a
democracia, da qual somos intransigentes defensores.
Não defendo a importação de pneus remoldados, tampouco de bens de
consumo usados. Deixo claro também que tanto um quanto o outro concorrem
conosco. Embora filosoficamente o mercado deva ser mais livre, o consumidor tem
de decidir o que serve para ele. Na nossa empresa, comercialmente preferiria que
fossem proibidas as importações de pneus remoldados e de bens usados,
notadamente os pneus meia vida, cuja importação aumentou muito.
A nossa sugestão conduz efetivamente à solução, ao contrário do que tem
sido tentado até agora. São doze anos de litígio com a Receita Federal e a União.
Trouxemos a solução, debatemos com os Parlamentares, e o Senador Flávio Arns,
que há anos acompanha nossa luta, elaborou projeto de lei — em tramitação nesta
Casa — que resolve definitivamente esse litígio.
Temos sido acusados de produzir pneus menos duráveis do que os novos.
Não é verdade. Não trouxemos nossos pneus para tentar vendê-los neste plenário
ou fazer marketing, mas para apresentar prova material da nossa afirmação.
Dificilmente qualquer um dos senhores conseguirá, visualmente, diferenciar os
nossos pneus de um novo. O INMETRO expediu documento certificando que os
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
23
nossos pneus, testados em laboratório, a mais de 200 quilômetros por hora, com
carga plena, foram todos aprovados.
Fabricamos pneus e inovamos no Brasil a garantia de quilometragem — até
então não existente — de até 80 mil quilômetros e de cinco anos contra defeito de
fabricação. Temos orgulho de dizer que a nossa indústria é exemplar e é aplaudida
internacionalmente porque os nossos pneus são os de melhor qualidade do mundo.
O INMETRO tem conhecimento disso e enviou nota técnica à SECEX, há três anos,
que diz não ser possível a fabricação de pneus remoldados com carcaça de pneus
usados em território nacional.
O próprio INMETRO atesta que o nosso pneu é de qualidade, mas tenho
bradado no deserto e todas as vezes sou obrigado a ouvir afirmações e adjetivações
como lixo na nossa atividade. Desculpe-me, Sra. Marijane, mas preciso citar a nota
técnica distribuída na semana passada por V.Sa. ao CONAMA, alegando que
precisamos acabar com o tráfico de pneus usados, naturalmente se referindo ao
volume majoritário de pneus importados pela indústria de pneus remoldados.
Advogamos aqui a importação de matéria-prima e temos o direito de escolher a
melhor. São importados diversos resíduos como matéria-prima, para a fabricação de
diversos materiais. A indústria de pneumáticos advoga a tese de que se deve
importar borracha porque é mais barata e possui melhor qualidade; de que deve
importar aço porque é mais barato. Temos o direito, sim, de importar a matéria-prima
que nos convém. Não temos o direito de agredir o meio ambiente. Pelo contrário,
temos de protegê-lo. E a nossa empresa possui 403 empregados.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior baixou a
Portaria nº 08/91, e já são doze anos de litígio contra indústrias do porte da
Goodyear, da Firestone e da Pirelli, com fantásticos números. Elas são muito bem-
vindas no Brasil, eu as aplaudo, bem como toda a Nação, mas isso não lhes dá o
direito de serem protegidas pelo Governo, em detrimento da nossa indústria
tupiniquim. Queremos, no mínimo, os mesmos direitos. Não estamos reivindicando o
direito maior, previsto no art. 170 da Constituição Federal, relativo à ordem
econômica, que trata da proteção da pequena e microempresa. Queremos igualdade
de condições para lutar contra os nossos concorrentes.
A nossa indústria possui cinco pilares que a sustentam. Estão lá como prova
material para quem desejar nos visitar. Insistimos muito em dizer que as pessoas,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
24
quando decidem ir, mudam de opinião, assim como o INMETRO, que se
manifestava contrariamente a nós e hoje nos defende.
Quanto à qualidade de vida, à defesa do meio ambiente e da saúde pública, à
responsabilidade social e ao desenvolvimento da cidadania, todos esses aspectos
estão materializados na nossa empresa. Qualquer pessoa que a visitar terá provas
materiais e cabais dos resultados. Acompanham-nos na luta pela erradicação da
dengue no Paraná, num programa criado por nós, companheiros como Valter
Sâmara, que veio a esta Comissão nos apoiar, o Vice-Presidente da Assembléia
Legislativa do Paraná, Deputado Estadual Stica, e o Governador do Estado,
atualmente no comando do mutirão. O programa foi criado há dois anos, mas há um
ano a dengue foi erradicada em Curitiba e em mais 26 Municípios da área
metropolitana, como V.Exas. poderão acompanhar no vídeo que mostrarei a seguir.
Esse programa foi levado à ONU pelo Prefeito de Curitiba, foi aplaudido de pé e
indicado aos países-membros. Ele é o sustentáculo do mutirão contra a dengue em
399 Municípios do Paraná.
No dia 24 de fevereiro do próximo ano V.Exas. podem me cobrar a total
erradicação da dengue no Estado do Paraná. Com o apoio da Itaipu Binacional, das
Secretarias de Saúde, Meio Ambiente e Educação de 399 Municípios e sob o
comando do Governador Roberto Requião, assumimos esse compromisso de
público. É bom ressaltar que 278 associações comerciais trabalham no programa, a
custo zero para os cofres públicos.
Ontem, em Curitiba, assinamos convênio com a Rede Globo de Televisão,
que fará campanha publicitária do programa, a custo zero para o Erário, a fim de
ajudar a combater e a erradicar a dengue em Londrina.
O Estado do Paraná, onde nasci e moro, me conhece muito bem. Sou
analisado por todos e tenho orgulho de dizer que a Assembléia Legislativa me
outorgou o título de cidadão benemérito, por unanimidade de votos. Então, não sou
essa pessoa normalmente citada pelo IBAMA e pelo Ministério do Meio Ambiente.
Faço lobby sozinho, arrasto pneus pelo Congresso Nacional e na televisão, tenho
sempre nos braços muito papel. Nunca contratei lobista ou qualquer empresa.
Fizemos o trabalho pessoalmente e com muito orgulho. Podemos dizer, sem medo
de errar, que existem duas eras no Brasil: antes e depois da nossa luta na ABIP e do
nosso trabalho político. Antes não havia solução para o pneu lixo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
25
O Deputado Fernando Gabeira é testemunha da luta que travamos nesta
Casa, embora S.Exa. seja contrário à importação do pneu usado porque infelizmente
não sabe do que se trata. S.Exa. ainda não me deu o privilégio e o prazer de levá-lo
ao Paraná. Já o convidei várias vezes para nomear uma comissão e nos auditar,
juntamente com o Deputado Luciano Zica, que tem péssima impressão de nós, que
nos julga muito mal. Embora respeite o Deputado, entristece-me demais o fato de
S.Exa. fazer julgamento prévio da nossa atividade sem ao menos ir ao meu Estado.
Antes de nós, nada existia no setor de pneus.
Todo o mundo enfrenta o problema do pneu lixo. Foi a partir de nossa luta,
em 1995, que nasceu a conscientização de todo o Congresso Nacional. Em equipe,
visitamos 492 dos 513 Deputados e 75 dos 81 Senadores, levando informações e
fitas de vídeo. Elaboramos o Projeto de Lei nº 1.259, e o Deputado Pedro Novais —
se estiver presente, poderá confirmar — acreditando em nossa luta, subscreveu o
projeto.
Em 1994, firmamos convênio com o IBAMA e com o IDT para buscar no
exterior subsídios técnicos que exatamente viabilizassem a obrigação da
contrapartida ambiental pela fabricação e importação de pneus. Mas contra isso
ficou a indústria de pneumáticos novos no Brasil, sob o argumento, lavrado nas
notas taquigráficas desta Casa, de que reciclar era economicamente inviável. Tenho
esses documentos, essas provas.
Está na Internet o documento assinado com o IBAMA, em 1994 — sempre
custo zero para o Erário. Pagamos tudo. Em 1998, fomos ao Conselho Nacional do
Meio Ambiente levar, como sugestão, a Resolução nº 258, de 1999. Se ela hoje
existe, se é a “solução exemplo” adotada no mundo, isso se deve a nós, que a
lavramos e a defendemos e convencemos os senhores conselheiros a acatá-la.
Também iniciamos sua materialização na prática e criamos o mutirão contra a
dengue, hoje exemplo em todo o mundo.
Trouxe material — fico triste ao constatar que algumas pessoas não lêem —
que contém três páginas sobre o Decreto nº 4.592 e sobre o Decreto nº 3.919, este
último uma fraude, que nos favorece — mas ainda assim é fraude, pois não existe
na lei ambiental a palavra "pneu" ou mesmo "pneumático". Alguém pendurou um
artigo na lei. É fácil comprovar o que estou dizendo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
26
Há uma página onde se explica a vantagem de se importar carcaças de
pneus usados, desde que previamente se destrua outra, o que é fácil de entender:
para se importar carcaça é obrigatório, antes, retirar outra do meio ambiente daqui,
ao mesmo tempo em que se importa uma de fora. Portanto, para cada pneu
remoldado produzido, duas carcaças são destruídas: uma, no Brasil, definitivamente
retirada do meio ambiente, e, outra, na Europa; ou seja, uma no Brasil e duas no
planeta. Afinal, vivemos no mesmo planeta!
Ao finalizar, Sr. Presidente, se V.Exa. me permitir, desejo exibir breve vídeo
sobre o mutirão contra a dengue. Muitos são contrários ao que digo, e todos
evidentemente exageram. A maior parte sequer sabe do que se trata. Por isso, peço
encarecidamente a V.Exas., de forma democrática, que visitem o Paraná para verem
nosso trabalho; que nos fiscalizem, nos julguem, examinem nossa folha corrida de
serviços prestados à Nação, notadamente no setor de pneumáticos. Depois, então,
respeitarei a opinião de todos.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Obrigado, Sr. Francisco
Simeão, Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados —
ABIP.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, gostaria que a fita
de vídeo fosse exibida.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Como se manifestam os
demais Deputados?
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, sou favorável à
exibição, mas faço uma ressalva. Esta audiência pública destina-se a discutir
decreto específico que sobre importação de pneus no MERCOSUL. Relativamente
aos debates entre a indústria que produz e a indústria que remolda, não
conhecemos tudo, mas já temos visto muito.
A questão que levanto, e também o Deputado Luciano Zica —
compartilhamos o mesmo horizonte intelectual e as mesmas preocupações com o
meio ambiente — é no sentido de que discutamos o decreto do Governo com o
representante do Ministério das Relações Exteriores, Sr. Samuel Pinheiro
Guimarães, em quem devemos nos concentrar.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
27
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado, sendo uma
exibição de vídeo com duração de apenas três minutos, peço a V.Exa. que releve
seu pedido.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Pensei que fosse de vinte
muitos...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Vamos à apresentação de
vídeo.
(Exibição de vídeo.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Vamos dar prosseguimento à
sessão. Concedo a palavra ao Sr. Deputado Fernando Gabeira, do PT do Rio de
Janeiro, autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sr. Presidente, as
circunstâncias nos levaram a esta audiência pública com o objetivo de encontrar
saída construtiva para a questão criada com o decreto que retirou a multa de
importação dos pneus.
O nosso diálogo vai ser prioritariamente com o Itamaraty, especificamente
com o Dr. Samuel Pinheiro Guimarães, que admiramos muito, mesmo que,
infelizmente, às vezes tenhamos que entrar em pequenas divergências, mas sem
perder a admiração pelos grandes nomes da política externa que nos visitam. Mas a
vida é assim. À medida que os caminhos avançam, tomamos diferentes posições,
sem perder, contudo, a admiração, o respeito e a vontade de contribuir.
O primeiro aspecto que me preocupa é o fato de o senhor, na sua exposição,
dizer que o Brasil está, a partir da própria decisão do Presidente da República,
disposto a cumprir com seus compromissos internacionais e internos, mas sem
entrar no mérito da questão ambiental. A discussão sobre a mercadoria dava-se no
âmbito legal do MERCOSUL. No entanto, a não-introdução da variável ambiental na
reflexão parece-me a grande lacuna. Não estamos mais no século XIX, quando
apenas se discutia a produção e a distribuição das mercadorias. Estamos no século
XXI, em que discutimos também a produção e a distribuição dos riscos. Esta é uma
questão fundamental.
Se a variável ecológica tivesse sido considerada nas reflexões do Itamaraty, a
Convenção de Basiléia seria um dos instrumentos a serem considerados e a serem
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
28
utilizados, até em nossa defesa, porque, como signatários dela, teríamos a
possibilidade de questionar a nossa participação nisso.
Há outros argumentos empregados pelo Governo que não foram aqui
mencionados.
O Sr. Marco Aurélio Garcia, Assessor Especial do Presidente para questões
de política externa, afirmou ser essa a maneira também de tratar bem, de ajudar e
de fortalecer o MERCOSUL, conforme está mais ou menos implícito na exposição do
Sr. Samuel Pinheiro Guimarães.
No entanto, duas dúvidas me assolam. A primeira: se é para fortalecer o
MERCOSUL, como explicar que dentro do mercado exista um Estado que proíbe? A
Argentina está contra o MERCOSUL? Está. A Argentina faz parte do MERCOSUL e
não aceita; a Venezuela, que é candidata, ou aderiu ao MERCOSUL, ainda que
indiretamente, também não aceita; o Chile também não aceita. Todos proíbem a
importação de pneus. Claro que o Itamaraty poderia proibir a importação de pneus
independentemente do Congresso e das leis existentes. Mas, como existe essa luta
no Congresso desde 1994, seria interessante que, ao se preparar para debater
questão internacional desse porte, essas variáveis ambientais e o histórico delas
fossem levados em conta, o que não aconteceu.
O argumento de que estamos contribuindo com o Uruguai é falso. Recebi
pessoalmente, na semana passada, delegação de trabalhadores do Uruguai, da
única fábrica que produz pneus novos no país. Pois eles diziam que iriam fechar,
que estavam quebrados e estavam tentando se reestruturar em cooperativa. Então,
qual o pneu usado que o Uruguai vai nos enviar se ele não produz?! Evidentemente,
o pneu virá da Europa. E a Europa estará, via Uruguai, jogando o pneu aqui no
nosso País.
Isso interessa ao Brasil? É posição adequada para o Brasil? É algum tipo de
generosidade com o MERCOSUL? Não. No âmbito do MERCOSUL, antes da posse
deste novo Governo, já estávamos negociando a unificação das leis ambientais.
Lembro-me muito bem das reuniões de que participei, algumas com a
presença do Itamaraty, ou lideradas pelo Itamaraty, em que o Brasil era vanguarda
em termos de leis ambientais. O Brasil desempenhava, em relação ao MERCOSUL,
o papel que os chamados países avançados desempenham nas negociações: o de
tentar atrair as outras nações para posições mais avançadas.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
29
O fato de estarmos a um passo atrás da Argentina nessa questão, de sermos
signatários da Convenção de Basiléia, de estarmos prejudicando a força real no
Uruguai são elementos que deveríamos considerar. Mais ainda: deveríamos
considerar alguns aspectos internos no Brasil, porque, no Uruguai — conforme
observei — havia quinhentos operários na indústria e nove funcionários na empresa
para exportar ao Brasil. E o próprio Deputado Luciano Zica constatou essa situação
quando esteve no Uruguai. A informação que tive é de que duzentos trabalhadores
em todo o país trabalham nisso. Segundo o Deputado Luciano Zica, o número é
ainda menor.
Portanto, estamos fechando postos de trabalho no Uruguai e no Brasil.
O segundo aspecto é que estamos no auge da campanha contra a dengue.
Precisamos, por isso, ter a preocupação de reduzir ao máximo essa importação.
Outro dado importante é que as estradas brasileiras estão em petição de
miséria. Quem viaja pelo Brasil ou pelo interior de Minas Gerais verifica que as
condições de segurança das nossas estradas são diferentes das européias; no
entanto, os europeus continuam exportando. A idéia central era a de que o Brasil
proibisse as exportações dos pneus usados, como proíbe a importação de carros
usados. Proibimos a importação de carro usado, de roupas usadas e também de
produtos usados. É simples. Se não há definição, compete a nós apresentar projeto
que trate da proibição da importação de pneus usados e reformados. Agora, existe
séria questão levantada pelo Sr. Francisco Simeão, que acredita não sermos
preconceituosos. Tenho observado com muita atenção o seu trabalho. Li todo o
material de propaganda, acompanhei tudo. Se a indústria brasileira está exportando
e o INMETRO diz que os pneus no Brasil não podem ser remoldados, como explicar
isso? Existe na indústria brasileira a exportação de duas linhas de produção: uma
para o exterior e outra para o interior? Existe essa possibilidade técnica? Temos de
discutir essa questão, porque o ideal é caminharmos para um processo no sentido
da proibição da importação e da remoldagem de parte dos nossos pneus, como em
Portugal. Nesse país há perspectiva de remoldagem de 30%. Os portugueses
definem que 30% dos pneus podem ser remoldados. A nossa perspectiva deveria
caminhar no sentido de proibirmos a importação e determinarmos sério estudo
sobre a qualidade do pneu brasileiro, se comparado com o pneu que circula em
outros países, para que possamos também ajustá-lo.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
30
É inegável o processo de ajustamento das empresas produtoras no Brasil,
como o caso da reciclagem. De 1994 para cá, esse debate realmente produziu a
idéia da reciclagem e sua responsabilidade. Mas agora é necessário avançarmos
um pouco mais. O Brasil está maduro para proibir, a partir do trauma desse decreto,
essa importação e passar a remoldar os pneus numa determinada quantidade. Essa
é a nossa proposta.
O projeto de Portugal está baseado num sistema integrado, e não trata só da
remoldagem de pneus usados, mas também de toda uma política para o pneu tido
como resíduo — este o caminho por onde devemos marchar.
A arbitragem poderá nos causar alguns problemas na Organização Mundial
do Comércio, porque, de certa maneira, se consideramos que poderemos importar
no MERCOSUL, evidentemente os europeus podem questionar isso na Organização
Mundial de Comércio. Nesse caso, vamos ter de arcar com a importação mais livre,
o que causa problemas mais sérios ainda. Acredito sinceramente que o Itamaraty
não poderia, e não pode, tomar decisão fora da lei, e que deve levar em conta a
situação ambiental do País e de outros países que já trataram do assunto, para
então podermos melhor debater no laudo arbitral e não sermos derrotados até pelo
juiz brasileiro, embora esse juiz seja independente, tanto na OMC quanto no Brasil,
podendo votar à vontade contra o interesse do Brasil.
Nesse caso, creio que houve desarticulação compreensível pelo fato de ter
acolhido o Governo, no início do seu trabalho, os Ministérios novos que estão em
fase de implantação. Mas o caminho é este: ou o Governo decreta, por meio de
medida provisória, a proibição da importação dos pneus, ou aprovamos o projeto. E
esse caminho é perigoso para o Brasil e o Uruguai, uma vez que a própria indústria
de pneus daquele país foi destruída. Não estou falando do Paraguai, porque não
conheço especificamente sua situação, mas tenho a impressão de que aquele país
não produz pneus novos. Não conheço fábrica paraguaia, só a uruguaia. E estamos
ameaçados de também receber, via Paraguai, pneus importados da Europa, o que,
a meu ver, talvez não seja interessante.
A minha posição não é questionar a lógica interna da decisão do Itamaraty.
Se você entra na lógica do que chamamos, em ecologia, de irresponsabilidade
organizada, tudo bem, trata-se de uma mercadoria; vamos discutir de acordo com a
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
31
mercadoria e chegar às conclusões do laudo arbitral. Mas não é dessa maneira que
o Brasil deve resolver seus problemas.
Era o que tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Muito obrigado,
Deputado Fernando Gabeira.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Sr. Presidente, peço a palavra
pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Tem V.Exa. a
palavra.
O SR. DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO – Sr. Presidente, solicito aos
meus pares compreensão. Não quero fazer pergunta à Mesa, mas, como tenho de ir
ao plenário, farei pequena explanação como Líder.
Desde 1995, esta Comissão vem acompanhando a questão dos pneus
usados e novos. À época, quando Presidente em exercício desta Comissão,
discutia-se a questão da importação de pneus usados. Fizemos amplo debate e
viajamos por todo o Brasil para saber da existência de depósitos de pneus de 50
metros de altura, como nos Estados Unidos e na Europa, e se o pneu importado
usado era problema para o mercado brasileiro. Fui procurado por um grupo de
taxistas, que me disseram: “Deputado, nós compramos pneus usados no Brasil.”
Perguntei: “Como? Pneus usados?” Eles responderam: “Pneus usados importados
no Brasil.” Eu disse: “E aí?!” Responderam o seguinte: “E, aí, é que nós usamos
esses pneus e eles duram mais do que os pneus fabricados aqui no Brasil.” Ou seja,
os pneus de meia vida importados duravam em média 40 mil quilômetros, enquanto
os pneus novos brasileiros, cerca de 35 mil quilômetros. Isso não quer dizer que a
qualidade dos pneus fabricados aqui no Brasil não seja boa. Pelo contrário, é muito
boa. Mas entre qualidade e durabilidade existe grande distância. A Comissão
descobriu, à época — apesar de o Sr. Gerardo Tommasini discordar —, que a
mistura feita para a borracha do pneu brasileiro não era boa e que seria necessário
melhorar a sua durabilidade. Com isso, esta Comissão decidiu autorizar a
importação de pneus usados na carcaça. Só que, quando eles importavam os pneus
usados, vinham no bojo dos contêineres pneus com meia vida que não poderiam
ser, de forma nenhuma, recauchutados. Afora isso, os pneus eram vendidos no
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
32
mercado a 1 dólar ou a 1,5 dólar e faziam concorrência desleal com a indústria
nacional.
Havia também outro fato interessante: esses pneus vieram regular o mercado
brasileiro de pneus. De que forma? A indústria nacional melhorou a durabilidade do
pneu brasileiro, concedendo o certificado de garantia como indústria de
recauchutados para atender ao consumidor, porque não havia certificado de garantia
para o pneu brasileiro.
Esta Comissão não só fez isso como também fez com que o preço do pneu
brasileiro diminuísse.
Estamos agora vivendo a segunda fase, em que temos de analisar, como
muito bem falou o Deputado Gabeira, se os pneus usados importados devem ser
recondicionados. Devem, mas devem ser pneus fabricados no mercado brasileiro,
porque hoje temos uma indústria pseudonacional. Não é nacional, porque são quatro
grandes indústrias que fabricam pneus em todo o mundo. Então, se existe
concorrência, é da indústria para com a própria indústria, mas de país para país.
Então, vamos recauchutar os pneus brasileiros, e não os importados, porque
não precisamos mais disso.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Muito obrigado, Deputado
Celso Russomanno.
Antes de passar a palavra ao Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, o Dr.
Gerardo Tommasini, Presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Pneumáticos,
deseja prestar esclarecimento ao Deputado Celso Russomanno sobre pneus
fabricados no Brasil de duas vertentes. Se S.Exa. autorizar, darei a palavra ao Dr.
Gerardo Tommasini.
O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME – Está autorizado.
O SR. GERARDO TOMMASINI – Muito obrigado.
Deputado Celso Russomanno, tenho profunda admiração profunda por
V.Exa., mas permito-me discordar da maioria das suas afirmações. Só concordo
com a última.
Com relação à dúvida que possa ter surgido quanto à produção existente nas
fábricas, reafirmo que seria absurdo uma mesma fábrica fazer duas produções com
o mesmo produto. Não é possível tecnicamente. Há alguns anos, o amigo e então
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
33
Deputado Luciano Pizzatto e eu visitamos duas fábricas de pneus e constatamos
que a produção, por oito horas, era exatamente igual, tanto aquela que ia para os
Estados Unidos quanto a que ia para a Europa, para o Paraná ou Mato Grosso.
Convido os Srs. Deputados, que desejarem, a visitar qualquer fábrica para se
certificarem disso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Tem a palavra o Deputado
Antonio Carlos Mendes Thame.
SR. DEPUTADO JOSÉ BORBA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO JOSÉ BORBA – Sr. Presidente, peço a V.Exa. que siga
a ordem das inscrições. Os nossos convidados anotariam e, depois das inscrições,
retornaríamos, em vez de fazermos esse sistema de pingue-pongue.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Defiro o requerimento de
V.Exa.
Tem a palavra o Deputado Antonio Carlos Mendes Thame.
O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS MENDES THAME – Sr. Presidente,
Deputado Júlio Lopes, Sras. e Srs. Deputados, convidados para proferir hoje tão
oportunas e apuradas observações a respeito desse assunto, consegui anotar oito
perguntas, mas vou fazê-las de forma muito rápida. Vou gastar menos tempo do que
a projeção de vídeo, que foi até muito breve e muito nos interessou.
Antes das perguntas, faço duas ponderações conceituais, e não posso perder
a oportunidade de registrar, já que esta sessão está sendo gravada. A primeira diz
respeito ao legítimo interesse econômico. No começo desta reunião, até motivado
por ter falado que a má utilização, que embute o juízo de valor desta sala, era
estapafúrdia, o ilustre companheiro do Paraná — a quem admiro muito — sentiu-se
ofendido e fez algumas considerações a respeito dos interesses econômicos
defendidos por Deputados. Desejo, contudo, fazer rápida observação a esse
respeito.
Tenho projeto que proíbe a produção, a comercialização e a distribuição de
amianto no País. Nem por isso, em momento algum, considerei espúria a forma
como Deputados de Goiás — só Goiás, porque só temos uma única mina lá —
defendem a continuidade da produção do amianto. Pelo contrário, isso é legítima
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
34
defesa, e toda defesa tem seus aspectos, como a defesa do emprego e da
economia regional.
Esse embate dialético deve se dar também no campo das idéias. Por isso,
abandonamos a força e repudiamos toda violência. No Parlamento, deve-se parlar e
se discutir no âmbito das idéias, prevalecendo aquelas que conseguirem galvanizar
maior número de Deputados e, portanto, obterem mais votos.
O Dr. Tommasini mostrou que não é só São Paulo que tem fábricas de pneus.
Ainda que fosse, a defesa de algo produzido naquele Estado seria tão legítima
quanto à legítima defesa que se faz de empresas do vizinho e amigo Estado do
Paraná. Que se defenda com todas as garras! Toda empresa que estiver gerando
empregos, que tiver responsabilidade social e ambiental, deve ser bem vista e muito
bem recebida aqui nesta Casa. Essa é a primeira ponderação. Por isso, jamais iria
pedir que se abrisse o sigilo bancário dos Deputados de Goiás ou do Paraná. Mas o
meu sigilo bancário está absolutamente à disposição...
Na Constituinte, não defendi nenhum lobby espúrio. Nos períodos em que
exerci aqui o mandato de Deputado, ou em que fui Secretário de Estado, em que fui
Prefeito, nunca defendi o lobby espúrio. A transparência deve ser qualidade
fundamental para que haja ética na política.
Ficou também muito claro para nós que há três tipos de empresa, embora a
discussão caísse exatamente naquilo que o Deputado Fernando Gabeira afirmou, de
saber como o Itamaraty está agindo na questão do MERCOSUL.
Mas o debate extrapolou e ficou muito didático. Há empresas que produzem
pneus remoldados com matéria-prima nacional; há as que remoldam pneus com
pneus usados importados, as que usam a possibilidade — fiquei impressionado com
as afirmações do Deputado Celso Russomanno — de importar pneus meia-vida; e
as empresas importadoras de pneus reformados no exterior e que vêm para cá.
Qual a posição em relação às quatro? Parece que há unanimidade contra a
importação de pneus reformados no exterior. Todos são contra; quanto a isso,
parece que ninguém é favorável.
Com relação às empresas que produzem pneus remoldados com matéria-
prima nacional, só na minha cidade há várias que reformam pneus nacionais. A meu
ver, elas contribuem para aumentar a vida útil dos pneus e deveriam ser estimuladas
até com incentivos fiscais.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
35
Outra situação é a das empresas importadoras de pneus usados, que
consideram pneus usados como matéria-prima. Aqui fazemos juízo importantíssimo.
Devemos considerar se é matéria-prima comum ou se vai ser colocada nova variável
nesse polinômio, que é a questão ambiental. Isso é motivo de algumas perguntas.
Há também a hipótese de se importar pneu meia-vida.
Em face dessas observações, a primeira pergunta é para o representante do
Ministério da Justiça, que fez consideração en passant sobre o assunto que
considero vital para o Ministério. Esta Comissão diz respeito diretamente à defesa
do consumidor. Como é encarada essa questão, no caso de acidentes de trabalho
relacionados a pneus importados? Quem irá dar o laudo e irá se responsabilizar no
caso do pneu reformado, recauchutado, recapeado, remoldado? Como o Ministério
da Justiça vê a questão sob a ótica de defesa do consumidor e de acidentes de
trânsito causados pela má qualidade dos pneus?
A segunda questão diz respeito aos chamados pneus reformados importados.
Se todos são contra e se isso o que ocorreu, esse decreto, foi em função de uma
abertura na lei que suscitou esse questionamento do Uruguai, que foi perquirido num
tribunal arbitral e conseguiu uma vitória, pergunto ao Dr. Edson: o que está
propondo o nosso Itamaraty para mudar a legislação e evitar que, futuramente, essa
abertura continue ocorrendo? Qual a proposta? O que temos que mudar na lei? Qual
a nossa parte para evitar que algum outro país suscite a igualdade, a isonomia e se
queira estender para outros países essa condição dada ao Uruguai?
Tenho uma segunda pergunta ao Dr. Edson: como é que o senhor vê um
projeto de lei que transforme em lei esses decretos e portarias que proíbem a
importação de bens de consumo usados?
Pergunto ao Dr. Samuel: quais são os mecanismos usados para controlar a
triangulação? Quem cuida dessa parte para evitar que os países do MERCOSUL
importem um produto reformado, de acordo com a norma, sem pagar multa, e o
introduzam no nosso País? Como é esse mecanismo? As informações que temos é
de que esse controle é muito débil e frágil.
As duas últimas perguntas são para os representantes do IBAMA. Primeiro,
sobre essa questão que ficou como ponto-chave: pneus usados podem ser
entendidos como matéria-prima comum? Como o Governo Lula vê essa questão?
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
36
Qual é a posição do Governo? Se o Governo é contra, que medida legal vai ser
tomada? O Governo vai fazer vista grossa, vai deixar a coisa correr?
A última pergunta ao IBAMA surgiu em função das observações de um dos
mais brilhantes e ativos Deputados que conheço, o Deputado Celso Russomanno.
Como o IBAMA faz para fiscalizar a venda do pneu usado? Gostaríamos até
de saber se o IBAMA tem conhecimento de alguma empresa no País — talvez até o
próprio Dr. Francisco possa nos informar — que tenha importado pneus usados
como matéria-prima, mas que, como achou que estavam quase novos — nem meia-
vida, mas três-quartos-de-vida —, os lavou e vendeu diretamente como pneus meia-
vida. Como o IBAMA controla a qualidade dessas vendas? Quantos pneus meia-vida
vêm sendo vendidos atualmente no País?
São essas as perguntas. Quero agradecer as informações tão oportunas que
tivemos o privilégio hoje de receber nesta reunião de audiência pública. Muito
obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Obrigado, Deputado Antonio
Carlos Mendes Thame.
Estando ausente o Deputado Renato Cozzolino, do Rio de Janeiro, passo a
palavra ao também autor do requerimento, Deputado José Borba, do PMDB do
Paraná.
O SR. DEPUTADO JOSÉ BORBA – Sr. Presidente, nobres companheiros
Deputados, expositores que compõem a Mesa e que vêm oferecer um debate com
todos os segmentos da sociedade organizada, tenho a alegria de ter tido a
oportunidade de presidir esta Comissão já por várias vezes. Posso afirmar, sem
nenhum menosprezo pelas outras reuniões de audiência pública que já tivemos, que
já dá para avaliarmos esta como a de melhor aproveitamento e acompanhamento,
pautada pelo silêncio, pela atenção de todos os presentes.
Minutos antes do início da instalação desta audiência, estávamos um pouco
tensos e preocupados com o resultado. E o resultado está sendo dos melhores, de
alto aproveitamento!
Não podemos deixar de reconhecer a contribuição para esta Comissão do
Deputado Fernando Gabeira, do Deputado Celso Russomanno, do Deputado
Luciano Zica, nosso amigo e companheiro, do Deputado Antonio Carlos Mendes
Thame, do Deputado Max Rosenmann, deste Deputado que vos fala e dos demais
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
37
Deputados que aqui chegaram, como a Deputada do nosso partido que vem
abrilhantar esta Comissão.
A experiência nos tem mostrado que só a ação conjunta e o entendimento
são capazes de produzir os resultados de que esta Comissão, o Congresso e o País
precisam. Tenho a certeza, em que pesem algumas farpas no início, de que
haveremos de recompor o entendimento entre esses valorosos Deputados. Vamos
caminhar!
Todos tiveram oportunidade de fazer explanações claras e objetivas, com um
longo alcance. Também não podemos esquecer do Presidente da ABIP, que,
mesmo não combinando, mesmo não podendo, acabou apresentando seu produto.
Às vezes, o proibido, o não permitido é mais cobiçado e chama mais a atenção. E
ele acabou alcançando seu papel.
A exibição do vídeo foi muito ilustrativa.
Teve também a sua oportunidade o Presidente do Sindicato Nacional da
Indústria de Pneumáticos. Portanto, ambos em posições antagônicas, mas todas
elas convergindo para um só ponto: o de dias melhores, de melhores condições,
dando a contribuição de que nosso País precisa, contribuindo com o meio ambiente.
A cada dia somos surpreendidos com algo de que se precisou, ou de que se
careceu, ou que tenha faltado cuidado, atenção, entendimento. Tudo isso haverá de
contribuir.
Não podemos esquecer o projeto de lei do então Deputado Flávio Arns, hoje
Senador do PT pelo Estado do Paraná. Acredito que, se atentarmos para esse
projeto de lei e tivermos a oportunidade, a exemplo da nossa presença e a do
Deputado Luciano Zica e a de tantos outros Parlamentares, de ir até o nosso Estado
— e será uma honra recebê-los — observar o investimento e o trabalho
desenvolvidos, o que estamos oferecendo, certamente chegaremos à conclusão de
que a ação desse empresário não prestou nenhum desserviço, nem ao Estado nem
ao País. Muito pelo contrário. Certamente ficaremos convencidos de que lá se
estabeleceu o começo de um serviço que contribui com o nosso Estado e com o
nosso País.
Peço aos experientes Deputados e àqueles que aqui chegam, a nós
somando-se com a maior boa vontade, que retomemos a paz, o entendimento, o
acordo, e vamos em frente para ver a que ponto chegamos. Desejamos que o
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
38
resultado seja benéfico e que atenda a todos os interesses. Que se guarneça a
ordem e principalmente o nosso meio ambiente, que realmente tem sido ameaçado
por vários segmentos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço ao Deputado José
Borba.
Não estando presente a Deputada Janete Capiberibe, do PSB, passo a
palavra ao Deputado Luciano Zica.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
membros da Mesa, concordo com as palavras do nobre Deputado José Borba,
companheiro e amigo da Comissão, de que cabe a nós exercer a atividade
parlamentar com a responsabilidade que é inerente a cada um de nós; ou seja,
exercê-la com respeito ao próximo. Nesse sentido, disponibilizo meu sigilo bancário,
e entrarei com uma representação assim que estiver de posse da transcrição, já que
não fiz qualquer manifestação. Julgo-me no dever de defender minha honra, uma
vez que foram citados os setenta Deputados da bancada paulista. Membro dessa
bancada, vejo-me na posição de me defender para não ser incluído em situação de
suspeita.
Com relação às minhas questões, para mim não está em debate a parte
exposta pelo Sr. Francisco Simeão ou pelo Sr. Gerardo Tommasini. São questões
que não cabiam, no meu ponto de vista, nesta audiência. Mesmo considerando essa
questão, gostaria de registrar que não tenho absolutamente nada contra a pessoa
ou a empresa do Sr. Francisco Simeão. Tive apenas um contato com ele, o que
infelizmente propiciou uma repercussão negativa. E sinto-me no dever de relatar a
esta Casa, já que fui citado.
No ano de 1995, quando debatíamos as reformas propostas pelo Presidente
Fernando Henrique Cardoso, os sindicalistas eram impedidos de entrar nesta Casa,
para abordar os Deputados, por forte esquema de segurança. No entanto, aqui
transitavam livremente representantes da empresa do Sr. Francisco Simeão. E
lembro-me de que um conjunto de moças, com aparelho de TV e videocassete,
insistiam que assistíssemos a um vídeo sobre as maravilhas do pneu importado.
Disse-lhes que tinha opinião formada, contrária, que conhecia o assunto. E, assim,
passei um longo tempo sem assistir ao vídeo. No entanto, uma delas me procurou e
disse que ganhava sessenta reais por exibição de quinze minutos do filme. Por essa
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
39
nobre razão, resolvi assistir ao filme. Naturalmente, ela anotou meu nome em seu
relatório de trabalho.
No dia seguinte, deparei, na porta do meu gabinete, com o Sr. Francisco
Simeão, que me deu de presente uma agenda eletrônica muito bonita. Hesitei em
recebê-la, mas acabei pegando a agenda. Entrei em meu gabinete e, em dez
minutos, fiz um requerimento e encaminhei-o à Corregedoria da Câmara, para que
proibisse aquele lobby, já que os trabalhadores não podiam entrar na Casa.
Esse ato que pratiquei, aliado à manifestação de outros Deputados que
protestaram contra as abordagens no aeroporto, se transformou em matéria da
revista Veja. Felizmente, conseguimos, naquele momento, parar aquela situação. As
meninas até hoje me olham torto, porque perderam o emprego. Mas, como disse, fui
um dos últimos a ser abordado. Não tiveram tanto prejuízo; portanto, estou tranqüilo.
Não tenho nada contra o Sr. Francisco Simeão, mas divirjo da forma e do
objeto da sua indústria.
Foi dito que há um apoio do INMETRO à indústria do pneu reformado, usado
e importado. Tenho em mãos a Resolução nº 133, do INMETRO, que trata de
caracterizar, entre outras coisas, o que é pneu usado ou reformado:
“Pneu reformado é pneu usado — portanto,
proibida a importação — que passou por um dos
seguintes processos para reutilização de sua carcaça:
recapagem, recauchutagem ou remoldagem.
Recapagem é o processo pelo qual um pneu é
reformado pela substituição de sua banda de rodagem.
Recauchutagem é o processo pelo qual um pneu é
reformado pela substituição de sua banda de rodagem e
de seus ombros.
Remoldagem é um processo pelo qual um pneu é
reformado pela substituição de sua banda de rodagem,
dos seus ombros e de toda a superfície de seus flancos.
Esse processo também é conhecido como
recauchutagem de talão a talão.”
Há uma nota técnica que pode estar sendo usada como testemunho de que o
INMETRO é favorável.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
40
Outra questão que queria comentar: a citação do Deputado Fernando Gabeira
sobre a viagem que fiz ao Uruguai. Estive, no início do mês de março, em
Montevidéu, representando a Presidência da Câmara dos Deputados, na condição
de Ouvidor-Geral da Câmara, numa Conferência da Organização dos Estados
Americanos, atividade interparlamentar.
Abri mão do almoço, numa quarta-feira, no meio da viagem, e solicitei ao
Embaixador do Brasil que organizasse uma visita à empresa que, no Uruguai,
processa essa recuperação dos pneus, no que fui prontamente atendido.
Fui muito bem recebido pelo Sr. Ralph, o proprietário. Segundo ele, são
processados 300 mil pneus por ano, importados da Europa — nenhum do Uruguai.
O dono da empresa me mostrou os pneus empilhados. O processo era esse
terceiro, o chamado recauchutagem talão a talão. O pneu é todo descascado e lhe é
aplicada uma nova camada de borracha. É a popular recauchutagem feita no Brasil,
mas o processo é um pouco diferente. Para minha surpresa, essa empresa só
trabalha em dois turnos, com dezessete empregados diretos e doze indiretos, que
fazem o processo de descarga no porto até a entrega. O proprietário ainda fez uma
demonstração de todos os custos.
Acredito que nosso Ministério das Relações Exteriores poderia aprofundar a
análise, já que, para mim, estamos diante de uma fraude. Essa ação tem vício de
origem, e o Brasil precisa defender-se melhor nesse aspecto.
Considero muito importante a integração do MERCOSUL, mas acho que ela
não deve ser feita por esse lado. Segundo o Sr. Ralph, o dono da empresa que
processa esses 300 mil pneus por ano no Uruguai, 80% são vendidos para o Brasil;
e ele pretende ampliar o negócio. Só há outra empresa do mesmo tamanho no
Paraguai que faz esse processo no MERCOSUL. Há uma legislação, aprovada no
dia 17 de julho e sancionada no dia 8 de agosto de 2002, que veda a importação
desses pneus pela Argentina, como o Deputado Fernando Gabeira citou, assim
como ocorre em outros países do MERCOSUL.
O Uruguai é hoje o quinto maior produtor de arroz no mundo, e o Brasil está
importando arroz dos Estados Unidos. Se queremos integrar o MERCOSUL, vamos
importar arroz do Uruguai. Vamos fazer uma integração positiva, com qualidade,
valorizando o que temos de bom. Vamos deixar que a Europa ou os Estados Unidos
resolvam o problema do seu lixo. Nós já temos muito o que resolver.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
41
Sinto-me contemplado pelas perguntas feitas pelos Deputados Fernando
Gabeira e Antonio Carlos Mendes Thame, mas quero lembrar algo que me preocupa
sobremaneira com relação a essa iniciativa tomada pelo MERCOSUL, diante do
Tribunal Arbitral, frente às perspectivas que vamos enfrentar na OMC.
Evidentemente, não lidamos nesse mercado com anjos. Há interesses dos
mais diversos. Quem nos garante que o grande Embaixador Samuel Guimarães não
terá que se preparar com muita dedicação para defender na OMC que não
tenhamos que implantar a isonomia com todos para dar o mesmo tratamento dado
ao MERCOSUL? É óbvio que teremos que enfrentar isso. Seríamos irresponsáveis
se não nos preparássemos para esse enfrentamento.
Gostaria de perguntar ao Embaixador Samuel Guimarães, por quem tenho um
profundo respeito: como nos estamos preparando para esse enfrentamento, que
inevitavelmente virá, já que esse é um dos mais graves problemas do mundo?
Quero fortalecer minha preocupação com o aspecto do direito internacional.
De resto, tenho informações de que se busca construir um decreto no sentido
de estabelecer o cumprimento da norma estabelecida pelo Tribunal Arbitral,
vedando, definitivamente, a importação de pneus usados. Queria saber se a Mesa
confirma essa perspectiva.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Deputado Luciano Zica,
solicitei a nossa assessoria que me informasse se havia qualquer posição oficial do
INMETRO com relação à divergência levantada por V.Exa. Fui informado, então,
que está presente a esta audiência o Dr. Marcos de Oliveira, Gerente de Qualidade
do INMETRO.
Portanto, concedo a palavra ao Sr. Marcos de Oliveira, para esclarecer a
posição do INMETRO aos Srs. Deputados.
O SR. MARCOS DE OLIVEIRA – Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a
oportunidade de poder esclarecer o que foi dito sobre o INMETRO. Quero deixar
bem claro que não regulamentamos a possibilidade de importação de pneu usado,
novo ou reformado. O que o INMETRO estabelece, através de regulamentos
técnicos, refere-se à qualidade e à segurança do pneu a ser utilizado ou
comercializado em vias públicas nacionais.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
42
Há cinco ou seis anos, estabelecemos um regulamento técnico para pneus
novos de automóveis e caminhões. Em setembro de 2001, a portaria citada pelo
nobre Deputado Luciano Zica estabeleceu o regulamento técnico, ou seja, as
características quanto à segurança do pneu reformado, que entrará em vigor em
janeiro de 2004. Houve, portanto, um tempo de adequação do mercado nacional às
exigências estabelecidas. A partir de janeiro de 2004, o pneu reformado só poderá
circular em território nacional se estiver certificado segundo o nosso sistema.
O INMETRO trabalha de forma imparcial. Não apoiamos ou deixamos de
apoiar determinado setor. Trabalhamos para atender as necessidade do País para
regular o mercado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Com a palavra o Deputado
João Alfredo.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO – Gostaria de saber se houve alguma
certificação dos pneus da empresa BS Colway.
O SR. MARCOS DE OLIVEIRA – Não tenho informação sobre a existência de
certificação voluntária por parte do fabricante BS Colway, até porque, no caso de
pneus reformados, ainda não há organismos de certificação credenciados, aquelas
instituições que executam a certificação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço a participação ao
Sr. Marcos de Oliveira, Gerente de Qualidade do INMETRO. Peço a V.Sa. que
encaminhe ofício a esta Comissão esclarecendo a posição do INMETRO diante do
que ouviu e presenciou nesta sala hoje.
Com a palavra o Deputado Mendes Thame. (Pausa.) S.Exa. abriu mão da
inscrição.
Com a palavra a Deputada Ann Pontes.
A SRA. DEPUTADA ANN PONTES – Exmo. Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, gostaria de dividir com os membros desta Mesa quatro
questionamentos.
Segundo artigo da revista Época, edição de 10 de março de 2003, ainda que
haja no Brasil uma legislação que proíba a importação de pneus usados e
recauchutados, isso ocorre em função das liminares concedidas pela Justiça. O
Brasil é o maior comprador desse produto. Só em 2002, 3 milhões de pneus usados
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
43
entraram no País, o que corresponde a 10% da produção nacional de pneus. Ainda
segundo a revista, menos de 5% dessa importação vinha do MERCOSUL.
Pergunto ao Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães: com a isenção, não
corremos o risco de receber mais pneus usados e recauchutados vindos da Europa
e dos Estados Unidos via MERCOSUL?
Segundo: não se estará abrindo um precedente, como muito bem lembrou o
nobre Deputado Fernando Gabeira, para que outros países exijam o mesmo
tratamento na Organização Mundial do Comércio?
À Dra. Marijane Lisboa pergunto: o Brasil tem tecnologia para reciclar esse
contingente de produtos que, num curto espaço de tempo, se tornarão sucata,
gerando efetivo dano ambiental?
Finalmente, pergunto ao Dr. Edson: a segurança ambiental não foi colocada
em segundo plano diante dos interesses econômicos? Como conciliar a manutenção
de acordos internacionais com a defesa dos direitos difusos, do qual o meio
ambiente faz parte?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Com a palavra o Deputado
Max Rosenmann.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, Srs. Deputados,
quero deixar claro que não costumo utilizar o debate de forma ofensiva, e não o fiz
nos meus dezesseis anos de vida pública. Agora, não aceito que colegas ajam de
forma absolutista, não permitindo o contraditório.
Estou tratando desse assunto desde que foi encaminhado a esta Casa.
Orgulho-me de ter participado ativamente desse processo, ainda mais de ter estado
presente, junto com o Deputado Luciano Pizzatto, quando foi aprovada a resolução
do CONAMA que estabelece a reciclagem, coisa que não existe em outros países.
Portanto, participamos, e muito, da busca de soluções para a questão ambiental.
É claro que há Deputados novos, com grande vontade de contribuir, e alguns
colegas, como o ilustre amigo Mendes Thame, que foi Constituinte e por muito
tempo esteve em São Paulo, atuando como Prefeito e Secretário de Estado. S.Exa.
perdeu uma parte importante dessa discussão e, pelo que percebi, ainda não
conseguiu distinguir o pneu recauchutado do remolde, o que dificulta sua
visualização sobre assunto tão sério para que possa fazer afirmações absolutas.
Esse assunto merece ser bem discutido e explicado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
44
Gostaria de fazer algumas perguntas. A indústria — que, segundo o Sr.
Gerardo Tommasini, são em torno de vinte no Brasil, mas ouvi do Deputado
Fernando Gabeira e de outros que são apenas quatro grandes — sempre fabricou
pneus. Sou um consumidor, um cidadão normal, não um técnico em pneus. Não sei
se nesta sala há algum especialista em durabilidade de pneus, mas também não há
nenhum bobo. Todos nós, consumidores, sabemos que, no Brasil, um pneu
raramente chega aos 40 mil quilômetros. Nunca vi um pneu brasileiro durar 105 mil
quilômetros sem ficar completamente careca. O senhor afirmou há pouco, com muito
orgulho, que a indústria nacional está produzindo pneus com capacidade de rodar
105 mil quilômetros. Comungo da posição do Deputado Fernando Gabeira no
sentido de que, se eles são bom para exportarmos, são bons também para termos
no mercado interno. Por que não temos no mercado interno pneus com durabilidade
de 105 mil quilômetros?
Quando iniciamos essa discussão, um pneu normal de automóvel custava 80
dólares no Brasil. Depois, a partir do grande patriotismo desta Casa, os pneus
chegaram a 30, 35 dólares no mercado. Sem dúvida alguma, essa discussão é
muito séria e importante não só pelo lado ambiental mas pelo lado econômico, da
economia do povo brasileiro. Insisto em pedir que pneus com essa qualidade,
capazes de rodar 105 mil quilômetros, assim como as garantias oferecidas aos
consumidores estrangeiros, sejam oferecidas também ao consumidor brasileiro.
O IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente têm uma participação muito
importante nessa questão. Na verdade, o início dessa discussão deu-se a partir de
uma portaria do então Ministro José Eduardo Andrade Vieira, do Paraná. Ninguém
sabe que a iniciativa partiu do Ministério da Indústria e Comércio, nem que, na
época, foi pedida a revogação dessa portaria porque o nosso Exército era um
grande comprador de sucata. Quando viram o projeto, pediram sua suspensão
imediata, porque grande parte do que é utilizado pela frota de aviões e de navios é
material de segunda mão. Digo isso só para ilustrar, para informar aqueles que não
sabem. Não estou entrando no mérito dos procedimentos do Exército, apenas
ressaltando que não foi iniciativa do Ministério do Meio Ambiente.
Uma vez que temos uma decisão do CONAMA, quero saber se houve
fiscalização por parte do IBAMA e do Ministério a respeito do efetivo pagamento pela
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
45
decisão de destruir adequadamente tantos pneus inservíveis para haver o direito de
importação ou mesmo de produção.
Ouvi da Sra. Marijane Lisboa que não existe uma tecnologia comprovada.
Tenho a informação de que o meu Estado, o Paraná, de que me orgulho muito,
através da PETROBRAS Xisto, dominou a tecnologia e, junto com a empresa BS
Colway, está fazendo a destruição dos pneus de forma adequada. A destruição não
está sendo feita em fundo de quintal, para obter documento falso de destruição; está
sendo feita com a PETROBRAS, e acreditamos todos que ela está dando os
números corretos e fazendo um serviço que nos orgulha.
Há um domínio tecnológico que também resultou de discussão nesta Casa.
Se não houvesse o pedido de reciclagem feito por esta Casa, a PETROBRAS nem
teria entrado nessa questão e hoje não teríamos esse domínio tecnológico. É mais
uma conquista desta Casa nessa matéria, que é polêmica mas também positiva, Sr.
Presidente. Por isso devemos ter muito cuidado, respeito e conhecimento para
discutir esse assunto e não fazê-lo de olhos fechados, porque podemos nos dar mal
e dizer palavras ofensivas. Sinto-me ofendido pela forma como fui impedido na
minha proposta inicial.
Portanto, gostaria de saber se há controle por parte do IBAMA, se tudo foi
cumprido pelas vinte empresas, se não houve falha na questão da destruição e se,
por acaso, algum dos importadores ou produtores de pneu não cumpriram a sua
parte. Gostaria de saber se o IBAMA efetivamente fez esse serviço.
Outra coisa interessante. Também sou brasileiro, patriota, nacionalista, gosto
ao máximo das coisas brasileiras. Gostaria muito que, para a fabricação do pneu
remolde, fossem utilizados pneus brasileiros e não fosse preciso importar pneus
europeus. Há oito anos venho ouvindo que, para que os pneus sejam remoldados, é
preciso que sejam pneus europeus. Nem pneu americano serve, muito menos os
pneus fabricados por seus companheiros, Sr. Gerardo Tommasini, verdadeiras
drogas que, após chegarem aos 30 mil quilômetros, ficam carecas e mal servem
para aquela recapagem clássica.
Nós, brasileiros, estamos cansados de saber de casos de pneus de
caminhões e de automóveis que estouram nas estradas, matando brasileiros. Eles
não só trazem prejuízo econômico como ceifam vidas. Temos de aprender a
respeitar as vidas e não somente os lucros, pelos quais os senhores procuram,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
46
assim como grandes empresários do setor. Não estamos tristes porque V.Sa. não
está montando mais uma fábrica; estamos tristes porque pessoas estão morrendo
no País por causa dos pneus mal fabricados no Brasil.
Está na hora de defendermos a qualidade do pneu brasileiro. Não sou
técnico, mas sei que um pneu nacional não dura 40 mil quilômetros em condições de
segurança.
O Deputado Antonio Carlos Mendes Thame indagou como sabemos se o
pneu é inservível. Existem na Europa medidas por milímetro da espessura da
borracha para considerar pneus meia-vida. A meia-vida tem regulamentação, tem
até aparelhos de medição. A meia-vida não é medida no olho, tem realmente
condições de verificação.
Sr. Gerardo, vou dizer uma coisa que posso dizer, porque são minhas
palavras contra as suas. No dia em que o CONAMA aprovou, o senhor disse: “Eu
não vou cumprir”. Hoje estou feliz ao ver que o senhor está manso, dizendo que
cumpriu e está feliz porque atingiu a sua meta. O senhor aprendeu a respeitar o
nosso País. Então, o senhor aprendeu a respeitar a decisão do CONAMA, sendo
que naquele dia o senhor disse publicamente que de forma alguma iria cumpri-la. O
senhor sabe que o Brasil é um país que está-se tornando sério.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço ao Deputado Max
Rosenmann. A requerimento do Sr. Gerardo Tommasini, vou encaminhar-lhe o
certificado de garantia de alguns pneus que passam dos 40 mil quilômetros.
Quero esclarecer que a Mesa mandou retirar os pneus que estavam diante
dela em função da majoritária decisão dos Srs. Deputados aqui presentes.
Passo a palavra ao Deputado João Alfredo.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
integrantes da Mesa, convidados para esta audiência pública, demais companheiros
Parlamentares aqui presentes, antes de fazer meus questionamentos, gostaria de
expressar minha solidariedade a duas pessoas. A primeira é a Dra. Marijane Lisboa,
não por esta audiência de hoje, mas pela audiência passada, em que foi, de forma
grosseira e injusta, agredida. Eu já havia usado a palavra, e a única forma que
encontrei de fazer um desagravo foi aplaudindo-a quando foi citada pela nossa
Ministra Marina Silva. O segundo é o Deputado Luciano Zica, cuja integridade
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
47
conheço. Sei que S.Exa. defende os interesses do povo brasileiro na Câmara dos
Deputados e não tem vinculação com nenhum lobby. Quero ainda manifestar ao
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães meu apreço e minha admiração pela
história e pela defesa que tem feito dos interesses nacionais. Já o fiz pessoalmente,
e agora o faço publicamente.
Preocupou-me, Embaixador, acredito que pela exigüidade do tempo, o fato de
V.Exa. não ter abordado o aspecto ambiental desse decreto. Sou um admirador,
talvez dos mais entusiastas, da nossa Ministra Marina Silva. Um dos princípios da
política ambiental do Governo, que S.Exa. tem repetido sempre por onde tem
passado, inclusive nesta Comissão, é a transversalidade, ou seja, ou a política
ambiental — vou usar uma expressão ecológica — percola todos os setores das
ações governamentais ou será mais uma, como ocorreu desde que se criaram os
órgãos ambientais no Governo. Muitas vezes, a política industrial e agrícola
caminhava numa direção e a política ambiental em outra, completamente adversa,
sempre colocada, na verdade, como uma política marginal, mais para alcançar
credibilidade internacional do que propriamente por uma ação de fato.
Então, essa é uma questão básica, porque me parece que ficou claro aqui —
digo isso até como Deputado do PT — que há uma visão divergente do Governo
nesse caso, seja pelos aspectos comerciais de defesa do interesse nacional, já
citados pelo Dr. Edson Lupatini Júnior, seja pelos aspectos ambientais ou mesmo
tendo em vista o MERCOSUL. Isso me preocupa, porque essa questão pode tornar-
se insolúvel. Mesmo com a edição de um novo decreto, esse precedente poderá
tornar o nosso País destinatário de lixo, de resíduos perigosos.
Portanto, pergunto ao Embaixador Samuel Pinheiro e à Dra. Marijane: como
conciliar esses dois aspectos?
Custo a acreditar que uma pequena empresa de um país vizinho ao nosso,
integrante do MERCOSUL, empregando dezessete pessoas, cause essa comoção
aqui. Parece-me, com todo o respeito e admiração que tenho por V.Exa, uma
situação surreal abrirmos esse precedente para uma empresa fraudulenta, segundo
o testemunho absolutamente isento do Deputado Luciano Zica. Isso é um absurdo,
uma vez que essa empresa alcança posição adotada por governos passados, não
um governo do PT, cujo Ministério do Meio Ambiente é comandado pela Sra. Marina
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
48
Silva, uma personalidade fantástica. O que vale mais: a Convenção de Basiléia,
assinada por nós e por todos os países do MERCOSUL, ou esse laudo arbitrário?
Como estudante de Direito, principalmente no mestrado, estudei o princípio
da proporcionalidade, e percebo que as coisas estão desproporcionais pelo lado
comercial, da defesa dos interesses nacionais e da defesa do emprego, uma vez
que o MERCOSUL não pode passar por isso. Não será essa a questão que irá
definir o futuro do MERCOSUL.
Ressalto que somos defensores ardorosos da nova política de relações
externas do Governo do nosso companheiro Lula. Este Governo foi muito feliz ao
colocar à frente do Ministério das Relações Exteriores o Ministro Celso Amorim. Eu
dizia ao Ministro da minha alegria ao ver o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães,
depois do que sofreu, assumir a Secretaria-Geral daquele Ministério, assim como ao
ver José Bustani, que havia sido defenestrado da OPAQ por pressão do Governo
dos Estados Unidos, assumir o cargo de Embaixador em Londres. Isso mostra a
independência, a altivez e a soberania do Governo brasileiro. Hoje, nosso País é
respeitado porque deixou de ser capacho do Governo dos Estados Unidos e firmou
uma política própria. Por isso, tenho absoluta confiança na política de relações
exteriores deste Governo a despeito do decreto que está engasgado na nossa
garganta, que mexe com nossos brios de ambientalistas — apesar de novato nesta
Casa, aprendo muito com os Deputados Fernando Gabeira e Luciano Zica.
Para finalizar, quero dizer que esse precedente não tem justificativa, quer do
ponto de vista ambiental, comercial, quer do ponto de vista do direito internacional.
Como Deputado Federal, como petista e como ambientalista, peço ao Governo
brasileiro que reveja a sua posição, sem que isso crie dificuldades diplomáticas ou
ameace o MERCOSUL.
Em outro momento, devemos discutir o aproveitamento, ao qual nenhum de
nós mostrou-se contrário. Nosso problema está ligado à importação desses resíduos
perigosos que vêm para o Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Com a palavra o Deputado
Takayama.
O SR. DEPUTADO TAKAYAMA – Sr. Presidente, no calor do debate,
percebo que algumas palavras acabam ofendendo um ou outro. No entanto, tudo
isso faz parte da nossa democracia. Hoje, por exemplo, se encontram presentes
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
49
pessoas com todos os sobrenomes lutando pelo nosso produto nacional, brigando
por Pirelli, Firestone, Bridgestone, Michelin e Goodyear — na verdade, tudo produto
importado. Até nós somos. Há algum brasileiro aqui? Aqui, quem defende? O Silva,
o Lisboa, o Guimarães, o Lupatini, o Simeão, que deve ser nome judeu; Gabeira,
não sei se é espanhol ou português; o Rosenmann, o Zica e eu, Takayama. Todos
temos ascendência estrangeira. Todos nós somos matéria-prima importada, mas
fomos fabricados aqui — uns mais, outros menos; alguns com um pouquinho de
produto mais nacional — e estamos discutindo a questão de ser ou não importado.
Gente, estamos aqui discutindo o crescimento do Brasil! Eu sei que as
grandes multinacionais, como Firestone, Pirelli ou Michelin, têm que lutar, mas
estamos diante da oportunidade de baratear um produto que não é de má qualidade,
como o INMETRO detectou.
Tenho certeza de que não se trata de uma briga entre os Estados de São
Paulo e Paraná, que sofre muito por ter sido a 5ª Comarca de São Paulo. Até hoje
sofremos com o IBAMA em função de certos produtos produzidos nas divisas com
São Paulo e Santa Catarina, como o camarão, que não podem ser produzidos no
Paraná; há peixes que podem ser produzidos no Rio Paraná, um pouquinho mais
acima, no Estado de São Paulo ou no Mato Grosso, mas não no Paraná. Não sei se
está havendo um cerceamento, acredito que não, mas estamos lutando pelo
crescimento do Brasil.
Eu tinha a mesma preocupação da Deputada Ann Pontes: era radicalmente
contra a vinda de pneu, lixo lá de fora, para promover a destruição no meio
ambiente. Mas que alegria a minha ao saber que a PETROBRAS, na cidade de São
Mateus do Sul, Paraná, conseguiu reciclar pneus, produto tido pelo mundo como um
problema que não se sabia como resolver. Hoje, quanto mais pneus velhos vierem,
melhor para nós, porque, com esse produto barato, produziremos asfalto e outros
derivados nas refinarias daquela cidade.
Para os senhores terem uma idéia, na década de 50, o Japão, arrasado pela
Segunda Guerra Mundial, importava lixo do Brasil, e hoje é uma potência mundial.
Por que isso aconteceu? Deixaram a hipocrisia de lado. Claro, desta discussão
nascerá a luz para nos conduzir a um melhor caminho para o Brasil, mas se
começarmos a discutir demais, pode-se repetir o que aconteceu com o café, que foi
tão discutido e hoje o mercado está sendo tomado por países como a Colômbia.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
50
Outra hipocrisia é dizer que não podemos mexer com produtos de fora.
Desafio os Deputados aqui presentes se não têm pelo menos um produto de origem
asiática no seu corpo, como um botão, um relógio. Até o bottom que usamos talvez
seja fabricado lá fora.
Querem defender o MERCOSUL quando a Argentina, quando lhe interessa,
faz propaganda dizendo aos argentinos para não comprar produtos do Brasil? Ora,
minha gente, vamos acabar com isso. Vamos permitir que o nosso empresário, que
achou talvez a galinha dos ovos de ouro, traga o melhor produto. Eu queria até
saber quantos empregos ele está gerando, qual sua capacidade de produção, o
custo. Como peguei a coisa no meio do caminho, não sei se isso foi dito. Quantos?
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO TAKAYAMA - São quatrocentos empregos, minha gente!
Peçam para o Simeão instalar uma indústria em São Paulo, em Santa Catarina, que
talvez a coisa melhore.
Vamos lembrar que precisamos defender o menor preço e o desenvolvimento
do Brasil. Não podemos fechar a porta. Não vou dizer que seja demagogia. Cada
um, segundo sua ótica, procura o melhor para o Brasil, mas temos de evitar a
hipocrisia e ver que a vinda desses pneus, em nenhum momento, traz prejuízos.
Pelo contrário, ajudou o Brasil a desenvolver uma tecnologia que transforma aquilo
que alguns chamam de lixo, mas não é. O Japão aceitou tudo quanto é sucata do
mundo todo, principalmente do Brasil, e hoje está na situação em que está.
Então, deixo meu pensamento de que precisamos avançar. Não podemos
ficar para trás, como aconteceu com a borracha. O látex era do Brasil e levaram
nossas mudas para a Malásia e a Polinésia, que estão hoje competindo com o
Brasil. É hora de repensarmos a situação e entender que isso é bom para todos nós.
Não estamos pensando no Paraná, em Santa Catarina, em empresa nacional ou
estrangeira; estamos pensando no desenvolvimento do Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Concedo a palavra ao
Deputado Dr. Heleno.
O SR. DEPUTADO DR. HELENO – Muito obrigado, Sr. Presidente. Cheguei
no final, mas acho que o assunto mexe com todos nós.
O Deputado Fernando Gabeira fez uma exposição de motivos baseada no
que acredita — e, de fato, defende à facão e ferro —, que é o alto padrão de vida do
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
51
ser vivo. Um colega disse que no Brasil temos de importar tudo. Ele tem razão,
porque se formos parar de importar pneu, temos de parar também de importar todos
esses produtos das lojas de 1,99. Temos de parar de importar gravatas, certos
alimentos e até de modificar certos hábitos.
Agora, eu quero sair daqui com a certeza de que, de fato, defenderei alguma
coisa, porque uma das fábricas de remoldeds, de pneus remoldados, está na minha
cidade, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde há bolsões de miséria. A
fábrica emprega 280 trabalhadores. Eu não quero que ninguém aqui defenda isso
apenas como uma bandeira qualquer, mas o fato é que essa atividade gera
emprego, embora não queira que aconteça um crime ecológico no meu País.
Sr. Presidente, pergunto, primeiro, com relação aos cata-pneus. Aqueles que
catavam papel hoje estão catando pneu? Não sei a quem direcionar essa pergunta,
mas quero saber se isso é verdade, porque vi num jornal uma foto de uma montanha
de pneus e abaixo se dizia que o Brasil estava cheio de lixo. Quando fui olhar direito,
vi que a foto tinha sido tirada nos Estados Unidos. Será que pensam que sou bobo
para engolir isso? Quero que me provem, que me digam onde estão esses
depósitos.
Segundo: o pó do pneu é aproveitado no asfalto? Não tenho certeza disso,
mas gostaria de saber.
Terceiro: o pneu remoldado tem tanta duração quanto o pneu novo, fabricado
aqui?
Quarto: a transformação forçou, de verdade, a queda do preço do pneu novo
de 80 para 45 dólares?
Quinto: a carcaça do pneu importado transformada em pequenas bolachas de
borrachas, adicionando-se carvão, ao queimar, libera mais calor?
Sexto: parece que o remoldado trouxe um benefício tremendo para o Brasil,
porque obrigou as fábricas de pneu a dar um destino adequado aos pneu usados. A
mesma coisa está acontecendo com a carcaça do pneu importado?
Sr. Presidente, não sei se entenderam minhas perguntas e quem poderá, de
fato, respondê-las a fim de que eu tome uma decisão.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Concedo a palavra ao
Deputado Ronaldo Vasconcellos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
52
O SR. DEPUTADO RONALDO VASCONCELLOS – Sr. Presidente, Sras. e
Srs. Deputados, serei brevíssimo, até porque, estudioso da área ambiental, sou
totalmente contrário a essa importação de pneus. Sou do PTB, partido da base de
apoio do Governo, e fiquei mais que assustado, fiquei preocupadíssimo ao saber
que este Governo que apóio, que tem uma Ministra competente, dedicada, assinou
um decreto nesse sentido.
Aproveito para fazer minha pergunta — posso estar equivocado — aos
representantes do IBAMA e do Ministério do Meio Ambiente. Não escondo de
ninguém — e estou aqui há cinco anos — que sempre defendi o pensamento do
Ministério do Meio Ambiente e do IBAMA e vou continuar fazendo assim enquanto
acreditar nesses dois órgãos. Queria saber, então, a posição dos dois nesse caso.
Minha posição, quero lembrar, é inteiramente contrária à importação de pneus.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Vamos passar à fase das
respostas. Pela ordem, a primeira pergunta foi do Deputado Fernando Gabeira.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, pela ordem. Só queria
alertar os Srs. Deputados para o fato de que foi iniciada a Ordem do Dia. Sugiro que
nos alternemos para marcar presença no plenário. Quem ainda não marcou
presença, que o faça, para não prejudicarmos o processo de votação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Agradeço a V.Exa. a
sugestão. Peço, porém, ao Deputado Fernando Gabeira que aqui permaneça em
função de que será dada resposta à pergunta de S.Exa.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Pela ordem, Sr. Presidente. Sem
querer ensinar o Padre Nosso ao vigário, sugiro que V.Exa. dê a palavra a todos os
integrantes da Mesa, a fim de que respondam um a um os questionamentos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) - Estando os demais Deputados
de acordo, procederemos nessa ordem.
Primeiro, concedo a palavra ao Sr. Arthur Badin, representante do Ministério
da Justiça.
O SR. ARTHUR BADIN – O Deputado Antonio Carlos Mendes Thame muito
me honrou dirigindo-me o seu questionamento, externando sua preocupação com
relação ao vício e aos fatos do produto pneu recauchutado. A preocupação do
Deputado Antonio Carlos Mendes Thame é muito coerente com a história de sua
vida política, sabidamente voltada à defesa dos consumidores. Muito alegra a
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
53
Secretaria de Direito Econômico e o Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor poder contar com sua colaboração.
O vício do produto — e vale a pena fazer uma rápida distinção técnica — diz
respeito aos defeitos que tornam o produto inadequado ao fim a que se destina. Por
exemplo, pode-se citar o caso do pneu que se esvazia com freqüência. O fato do
produto geralmente diz respeito aos acontecimentos relacionados a uma ameaça à
segurança do consumidor, que pode ser ocasionada por um defeito do produto.
O Deputado manifestou preocupação com relação aos acidentes que podem
vir a ocorrer por causa do uso de pneus recauchutados e remodelados. A questão
aqui debatida é a importação dos pneus usados do Uruguai. Do ponto de vista da
defesa do consumidor, é irrelevante a origem do insumo ou do produto a ser
colocado no mercado; ou seja, tanto faz o produto nunca ter sido utilizado como ser
remodelado, desde que não cause danos ao consumidor. No caso do produto
remodelado ou recauchutado, desde que o consumidor seja devidamente informado
de que está comprando um produto dessa natureza, o direito do consumidor estará
sendo perfeitamente atendido.
Ainda que precise de novo fôlego, o Brasil possui um dos mais avançados
sistemas de defesa do consumidor, formado por todos os PROCONs e entidades de
defesa do consumidor muito ativas.
Antes de encerrar, com relação especificamente a acidentes com veículos
automotores, por incrível que pareça, apesar de pertencerem ao mesmo Ministério,
nunca houve um entendimento entre a Polícia Rodoviária e o Departamento de
Proteção e Defesa do Consumidor. Com o novo Governo, por orientação do Ministro
Márcio Thomaz Bastos, ambos os Departamentos estão conversando para que,
quando ocorrer um acidente numa das estradas federais, os funcionários da perícia
técnica estejam preparados para levantar informações que digam respeito às causas
daquele acidente. Muitos acidentes acontecem por causa de defeitos nos veículos
ou no pneu, mas esse dado não entra nas estatísticas porque rapidamente o carro
acidentado é recolhido e as provas de um eventual vício ou defeito do produto são
perdidas.
Eram esses os esclarecimento que tinha a dar. Espero haver atendido aos
anseios desta Comissão.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
54
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Muito obrigado, Sr. Arthur
Badin.
Tem a palavra o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral
do Ministério das Relações Exteriores.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Desejo fazer alguns comentários,
pois foram muitas as perguntas que, de uma forma ou de outra, se referem à política
exterior brasileira. Antes, porém, agradeço as menções a mim feitas. Fico muito
grato e um pouco encabulado. Mas, enfim, as pessoas podem cometer erros de
julgamento.
Nos últimos anos, o Ministério das Relações Exteriores tem-se destacado por
uma atuação muito firme na área do meio ambiente. O Ministério muito se preocupa
com as questões relacionadas ao meio ambiente. Essa preocupação não é de hoje.
Ela vem desde a conferência realizada no Rio de Janeiro e, mais recentemente, da
conferência na África do Sul e da Rio + 10. Portanto, temos dado uma atenção muito
grande às questões ambientais.
Talvez seja preciso olhar a questão dos pneus remoldados e importados do
Uruguai de outro ângulo. Temos de levar em conta o que é necessário considerar do
ponto de vista da política internacional.
Quanto ao número de funcionários envolvidos, essa é uma questão relativa.
Afinal, dezessete operários no Uruguai não é o mesmo que no Brasil, pois aquele
país tem 3 milhões de habitantes, enquanto temos sessenta vezes essa população.
Então, se considerarmos o problema do ponto de vista proporcional, para eles, o
número de operários tem de ser multiplicado por sessenta.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - E os quinhentos funcionários da
fábrica que fechou?
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Qual fábrica?
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – A fábrica que produzia pneus.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – A fábrica que produzia pneus no
Uruguai?
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Exatamente.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Ela fechou, quebrou.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
55
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Estou comentando apenas que
temos de relativizar a questão. Estou apenas dizendo que há uma assimetria muito
grande entre o Brasil e o Uruguai, mas ambos os países estão no mesmo processo
e projeto de integração. Até por causa de questões nacionais, institucionais e
políticas, o Uruguai é muito suscetível a esses problemas. Talvez pudéssemos dizer
que esse comportamento é exagerado, mas é um fato.
Em segundo lugar, temos no Brasil pneus remoldados. É feita a importação
de pneus usados que, aqui, são remoldados. Já o Uruguai importa pneus usados
que, lá, são remoldados e exportados para cá. Por causa do MERCOSUL, uma
união aduaneira, o fato de o pneu ser remoldado no Uruguai significa o mesmo de
ele ser remoldado no Paraná ou em Minas Gerais. Não podemos estabelecer
restrições à importação somente por que os pneus vêm do Uruguai. Podemos ser
contra o sistema do MERCOSUL e a união aduaneira, mas, no momento em que
admitimos que o Brasil faz parte de uma união aduaneira, temos também de admitir
que o produto vindo do Uruguai pode ser vendido tanto lá como aqui, desde que
cumpra os requisitos dessa união, isto é, que haja uma agregação de 60% do valor.
Além disso, nossa defesa se torna mais difícil na medida em que também
remoldamos pneus no Brasil, e em quantidade muito superior ao Uruguai. Não estou
defendendo o Uruguai, mas comentando o problema. Produzimos um produto que é
vendido no Brasil, e o Uruguai produz o mesmo produto e da mesma forma, porque
importa o pneu usado, transforma-o em pneu remoldado e o vende lá mesmo ou em
nosso País. Falta-nos o argumento ecológico, pois permitimos que o Brasil importe
pneus usados e os remolde.
Não havia uma multa que impedisse a produção do pneu remoldado ou a
importação de pneus usados no Brasil. A maior parte dessas importações é feita
com o uso de liminares. Estou dizendo isso para que V.Exas. saibam que
dificuldades foram encontradas.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Dr. Samuel, o senhor é um
homem extremamente inteligente e conhece os princípios do MERCOSUL. Os
países integrantes do MERCOSUL se associaram para produzir mais e abrir frentes
de trabalho. Então, fez-se um acordo que é essencialmente contrário aos princípios
do MERCOSUL. Liquida-se uma fábrica no Uruguai, reduz-se o número de operários
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
56
naquele país e passamos a importar da Europa via Uruguai. Como eu já disse, isso
é contra os princípios essenciais do MERCOSUL.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – O princípio do MERCOSUL é que
qualquer país pode importar uma matéria-prima, transformá-la, agregar valor até o
percentual mínimo de 60%, se não me engano. A partir daí, esse produto é
considerado nacional. É claro que se o país não está agregando os 60% de valor,
isso se constitui em fraude, que é outro problema; talvez seja preciso investigar se
aquela fábrica agrega ou não os 60% ao valor do produto. A regra é esta: um país
pode importar matéria-prima e processá-la, e o produto novo pode ser consumido
pelo próprio país ou por qualquer outro integrante do MERCOSUL.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – A informação dos trabalhadores
do setor é de que existe a agregação de 22%.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Então, se essa informação é
verdadeira — não quero afirmar que o Uruguai está cometendo uma fraude —, a
situação tem de ser verificada. E quem faz essa investigação é a Receita Federal.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Esse é o primeiro passo.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Quanto a isso não há dúvidas, e
isso vale também para outros casos. Da mesma forma, há a questão da
triangulação. Se o pneu entra no Uruguai e depois vem para cá, esse é um problema
de fiscalização e não de essência.
Quanto à OMC e ao fato de havermos aberto um precedente, devo dizer que
podemos dar tratamento preferencial ao Uruguai, ao Paraguai e à Argentina, em
termos comerciais, em relação aos países não-membros do MERCOSUL, mas não
podemos dar um tratamento ambiental mais favorável, isto é, por razões ambientais.
Naturalmente já fazemos isso, porque os produtos oriundos do MERCOSUL vêm
com tarifa zero, enquanto os de outros países aqui chegam com tarifas mais
elevadas. Isso é permitido, portanto, não podemos ser atacados em âmbito de OMC,
mas não podemos afirmar que não vamos importar de outros países da OMC por
razões ambientais e que vamos importar do Uruguai.
Por enquanto, essa questão não se apresentou. De acordo com as
informações de que disponho, não há decisão da Justiça no sentido de que a
importação de pneus remoldados seja proibida.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
57
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Permita-me dizer que a Portaria nº 133,
que regulamenta a caracterização do pneu reformado, reformulado ou remoldado,
afirma que esse é um pneu usado, portanto...
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Trata-se do regulamento do
INMETRO?
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Exatamente.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Mas isso não é lei. Um
regulamento do INMETRO não é lei.
(Intervenção inaudível.)
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Enfim, há uma questão jurídica.
Amanhã pode ser promulgada uma lei que determine o que faz a Lei nº 9.650 —
segundo me informaram —, que é recente e não tipificou como crime ambiental a
fabricação, comercialização e importação de pneus recauchutados ou remodelados.
(Intervenção inaudível.)
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Aí, tudo se torna diferente.
Estamos no momento anterior a essa lei, ou seja, do laudo arbitral. A argumentação
do Uruguai é que era feita importação tradicional e que a lei brasileira não a proibia.
A importação...
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, desejo prestar um
esclarecimento importante. Estive no Uruguai, onde visitei a empresa. O empresário
me informou que não existe a importação histórica e que a empresa ficou fechada
durante dois anos; ela foi mantida não por sei por que interesses ou quem pagava
pela manutenção da empresa. Essa questão precisa ser analisada.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Os dados de importação
brasileiros indicam que havia a importação do Uruguai.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Júlio Lopes) – Solicito aos colegas a
permissão para me ausentar desta reunião, pois vou ao plenário registrar minha
presença.
Assumirá a Presidência o Deputado Ronaldo Vasconcellos.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – A informação de que disponho é
que há importações do Uruguai registradas.
(Intervenção inaudível.)
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
58
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – De pneus remodelados? Não.
Há, sim. Desculpe-me, Deputado.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Só para esclarecer: a não ser que o
empresário tenha tentado me enganar fornecendo informações contra ele mesmo.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – A informação de que disponho é
de que há...
(Intervenção inaudível.)
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Não. Quando passa a haver a
proibição e a multa, naturalmente...
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Só para esclarecer definitivamente
essa questão: a empresa é nova, é a única existente no Uruguai que compra pneus
na Europa e os traz. Durante dois anos, essa empresa ficou aguardando a
possibilidade de instalar-se e começar a funcionar. Portanto, aquela empresa, que é
a única fábrica de produto no Uruguai — a não ser que aquele país estivesse
funcionando como entreposto —, não trabalhava; a não ser que o empresário, dono
da empresa, tenha me enganado com informações contra si mesmo. Juntamente
com o adido comercial de nossa Embaixada, fiz uma visita àquele país; e o
empresário me relatou o drama que, segundo ele, viveu por ter ficado fechado
durante todo aquele período, porque ele não operou antes. Não houve operação
anterior.
Conheci as instalações da empresa, as adaptações feitas e a história. Pelo
menos, foi essa a informação passada pelo empresário.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Os dados que tenho referem-se
aos pneus recauchutados de borracha provenientes do MERCOSUL, de 1996 a
2003. Não são pneus provenientes da Argentina.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Ao assumir os
trabalhos, esta Presidência tomará uma atitude constrangedora, mas que precisa ser
adotada.
Solicito ao Sr. Samuel que conclua sua exposição e que os Srs. Deputados
colaborem.
Já foi dado início à Ordem do Dia. Daqui a pouco teremos de nos dirigir para
o plenário imediatamente.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
59
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Mas os culpados pelo atraso
fomos nós, Deputados, que o interrompemos várias vezes.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Por isso, solicito
aos Srs. Deputados que me auxiliem na condução dos trabalhos e não interrompam
mais o Dr. Samuel.
(Não identificado) – Essa posição não foi diplomática.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – De fato, ela não foi
diplomática, mas necessária e objetiva.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – Sr. Presidente, não se preocupe.
Não há problema em ser interrompido.
É preciso apresentar a questão da seguinte forma: podemos não gostar da lei
e considerá-la prejudicial ou podemos também não gostar de determinada decisão
judicial, e até com razão, mas o que existe é uma decisão. Estou apenas
comentando a posição na qual o Governo brasileiro se viu.
O Governo brasileiro é membro de um sistema de solução de controvérsias
no MERCOSUL e aceitou discutir determinada questão nesse sistema; entretanto,
foi-nos apresentado um laudo contrário aos nossos interesses. Se o Brasil não
cumprir o que foi decidido, não teremos mais qualquer possibilidade de exigir o
cumprimento de certas decisões quando os laudos nos forem favoráveis. O
problema do sistema judiciário é que temos de aceitar a conclusão do laudo. Além
disso, é preciso estudar muito cuidadosamente a questão ambiental para que,
depois, não pareça que uma nova medida legal não foi tomada apenas para
contornar determinada decisão arbitral. Essa é uma situação delicada. E dessa
maneira foi interpretada a multa de quatrocentos reais, isto é, como uma medida
para contornar o laudo.
A situação é delicada porque o Brasil, por qualquer índice, corresponde a
mais de 60% do MERCOSUL. Então, nossa situação é muito delicada. Não
podemos querer construir um projeto de integração e, ao mesmo tempo, manter
determinados mecanismos inviáveis, por razões que admitimos serem de política
externa brasileira e, no caso específico, do próprio MERCOSUL — não estou
entrando no âmbito ambiental, pois existem outras pessoas que podem discutir
muito melhor do que eu os danos causados ao meio ambiente. Essa é uma questão
muito delicada. Era só isso que gostaria de lembrar.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
60
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Agradecemos ao
ilustre Dr. Samuel Pinheiro Guimarães a participação.
(Não identificado) – Sobre a Convenção de Basiléia, que tal suscitar outra
controvérsia...
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES - A Convenção de Basiléia não fez
parte do procedimento de arbitragem. Ela não foi...
(Não identificado) - Mas o Governo poderia suscitar?
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES – O Governo não poderia suscitar,
na época, porque, quando se vai fazer o laudo para elaborar o exame arbitral, tem
de ser definido o objeto da questão. O Uruguai não levantou a questão ambiental, e
sim a comercial. Ficamos limitados a isso.
(Não identificado) - Vamos levantar agora.
O SR. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES - Outras pessoas conhecem muito
melhor do que eu a Convenção de Basiléia e poderão dizer se é resíduo perigoso ou
não. Estamos levantando a questão do tema ambiental para o âmbito do
MERCOSUL, para definir uma política nessa área. A Dra. Marijane é quem lidera
essa questão no âmbito do MERCOSUL e poderá dar melhores explicações.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Vou passar a
palavra imediatamente ao Dr. Nilvo Silva, Presidente em exercício do IBAMA.
O SR. NILVO SILVA – Já deixamos claro em nossa primeira intervenção que
é importante separar a implementação da responsabilidade pós-consumo no Brasil
da discussão sobre a importação de resíduos.
Então, sobre as questões de fiscalização, de como o IBAMA está fazendo o
controle, o primeiro elemento que gostaríamos de destacar, e que citamos no início,
é a resolução do CONAMA que estabeleceu a responsabilidade pós-consumo, em
1999, e concedeu prazo bastante elástico para o início dos trabalhos. Iniciou-se o
primeiro ano em que houve responsabilidade pós-consumo com a proporção de
quatro para um, ano passado.
O IBAMA fiscaliza com base na declaração dos importadores da destinação
prévia, e eles devem estar autorizados pelos órgãos estaduais de meio ambiente.
Hoje, há quatorze empresas destinadoras de pneumáticos inservíveis e cinco em
vias de regularização junto aos órgãos estaduais de meio ambiente, por meio do
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
61
licenciamento ambiental. Essas empresas estão localizadas no Rio Grande do Sul,
no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Goiás e em
Mato Grosso. O Brasil está criando capacidade de processamento desses pneus
utilizados.
É importante destacar a questão dos pneus usados. Pela gradualidade
estabelecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, em 2002 sequer
conseguimos recuperar os pneus que produzimos nesse mesmo ano. A proporção é
de quatro para um. Então, aumentamos o passivo de pneus no Brasil e sequer
tratamos do passivo que já havia, do ponto de vista quantitativo.
Portanto, o IBAMA vê com muita preocupação a intenção de importarmos
pneus usados. A matéria-prima produzida no País — se quisermos tratar como
matéria-prima, mas pela legislação é resíduo — já representa resíduo por muito
tempo. E seria, segundo o IBAMA, um equívoco para o País, do ponto de vista
ambiental, tratarmos de também dar uma destinação final ao resíduos de outros
países.
Então, se a questão é geração de emprego, é busca de matéria-prima, sequer
começamos a tratar do passivo que o Brasil produziu. Portanto, há plena
possibilidade de que isso gere emprego, de que isso resolva os problemas
ambientais.
O importante para o IBAMA é que desenvolvamos tecnologia e capacidade de
processamento para tratar dos resíduos que produzimos aqui. Não há sentido em o
Brasil desenvolver tecnologia para tratar dos resíduos produzidos em outros países
quando ainda não temos condição de tratar do nosso próprio, repito. Essa é a
posição clara do IBAMA.
Quanto às questões de importação no MERCOSUL, fica claro que estamos
no início do Governo e estamos procurando construir. Ainda há desencontros, mas
nós, do IBAMA, queremos e vamos trabalhar para isso. No MERCOSUL, o Governo
brasileiro buscará, com os demais países, a uniformização dos procedimentos e
normas ambientais. Não abriremos mão, evidentemente, de critérios que o Brasil já
adota para termos condições iguais dentro do MERCOSUL. Queremos, sim, ajudar e
trabalhar juntos com os países do MERCOSUL, mas no sentido de uniformizar com
outros países a legislação ambiental que o Brasil já possui.
Eram essas as minhas palavras.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
62
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Com a palavra o
Deputado Fernando Gabeira.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Quero fazer uma proposta à
Mesa. Esse processo mereceria a visita de uma Comissão ao Uruguai e ao
Paraguai, a fim de levantar toda essa situação. Não é o primeiro caso, não é o
primeiro problema do Uruguai que temos aqui.
Se formos buscar a gênese desse processo, vamos passar pelo Paraná, com
o Governador Roberto Requião, vamos chegar ao Uruguai e a essa empresa que
estava lá meio fechada, meio sonolenta e foi subitamente reativada, com a
participação oficial dos dois Estados.
Valeira a pena, na próxima reunião, consideramos a possibilidade de se criar
Comissão Externa que vá ao Paraguai e ao Uruguai e passe pelo Paraná, para
levantarmos toda essa situação, repito. Na verdade, do jeito que está sendo
apresentado pelo nosso querido Samuel Guimarães, é apenas o cumprimento da lei.
Ao examiná-la, sem analisar a gênese e o contexto em que foi desenvolvida, até
concordamos com ela. Mas quando a vemos, percebemos que os Governos foram
caindo numa armadilha. Ou foram, de certa maneira, cúmplices desse processo.
Isso vamos ver no futuro.
Vamos aprender mais sobre o que aconteceu realmente e, dessa forma,
chegaremos ao ponto desejado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – A idéia do
Deputado Fernando Gabeira é muito boa, só que a criação de Comissão Externa
tem de ser aprovada pelo Plenário da Casa e por esta Comissão — S.Exa sabe
disso. Se for o caso, poderemos, na reunião de amanhã, formar um grupo de
trabalho, Deputado Fernando Gabeira.
Com a palavra Deputado Max Rosenmann.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Só queria, de forma objetiva,
formular as seguintes perguntas ao Presidente do IBAMA: a fiscalização está sendo
feita pelo IBAMA? É satisfatória? Tecnologicamente está convencido da destruição
dos pneus com condição ecologicamente correta? Há alguma das vinte empresas
produtoras ou importadoras que não cumpriu a regra de quatro por um? Foram
essas as perguntas que fiz, e S.Sa. não respondeu a elas.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
63
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Consulto o Dr.
Nilvo Silva sobre se vai responder ou se será a Dra. Marijane Vieira.
O SR. NILVO SILVA – Rapidamente falei sobre o cumprimento na minha
apresentação inicial. O trabalho de destinação final ou destruição, do ponto de vista
técnico e do controle, é feito pelos órgãos estaduais de meio ambiente que licenciam
e controlam essas atividades nos Estados por mim mencionados anteriormente.
Como esse assunto requer mais detalhes, proporia ao Deputado ou ao
Presidente da Comissão que encaminhassem pedido de uma resposta formal.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Gostaria de dar minha opinião:
V.Sa. não está por dentro do assunto. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Estão registradas
as palavras do Deputado Max Rosenmann.
Com a palavra a Dra. Marijane Vieira Lisboa, Secretária de Qualidade
Ambiental nos Assentamentos Humanos, do Ministério do Meio Ambiente.
A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA – Bem, seguindo a ordem de minhas
anotações, a primeira questão é referente à Convenção de Basiléia. O Deputado
Gabeira e outros se referiram à Convenção de Basiléia como um marco legal que
nos poderia permitir ou impedir a importação de pneus usados. Nesse caso,
infelizmente não cabe.
A Convenção de Basiléia trata de exportação e importação de resíduos
perigosos e lista o que considera resíduos perigosos. É discutido se poderão ser
incluídos ou não como resíduos perigosos aqueles que ainda não estão listados ali.
Informo aos senhores que já houve, por parte da Dra. Zilda Veloso, do IBAMA e que
participou durante muito tempo dessas discussões, o intuito de incluir pneus usados
nessa lista, mas infelizmente isso foi rejeitado pela maioria dos países.
Portanto, a Convenção de Basiléia não representa um marco para a questão
de pneus usados. Isso depende do nosso País. Podemos pedir ao Ministro Everton
Vargas, que acompanha a Convenção de Basiléia, se for o desejo do País, que
proponha seja novamente examinada a categoria de pneus usados.
O Deputado Fernando Gabeira perguntou o que podemos fazer em relação
aos pneus reformados. E o Deputado Luciano Zica deseja saber como é que vamos
conciliar a questão do MERCOSUL. Vou comentar a parte técnica.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
64
É matéria-prima ou não um pneu usado? Claro, pode ser, assim como o
arsênico ou o curare — este veneno indígena também pode ser matéria-prima.
Usa-se o curare para fazer uma série de remédios, vacinas, etc.
Algo que é tóxico pode ou não servir de matéria-prima para outro tipo de
produto. A questão é: interessa-nos reciclar algo que é perigoso e tóxico? É a
mesma discussão que já se fez na Convenção de Basiléia, ainda que pneus não
faça parte dela.
Também naquela época vários exportadores de resíduos perigosos diziam:
“Não, isso é matéria-prima”. Tivemos vários casos no Brasil, resíduos perigosos de
indústrias siderúrgicas e metalúrgicas vinham para o País, onde de fato se podia
sempre fazer alguma coisa com aqueles resíduos, mas com um custo para o meio
ambiente, para a saúde dos trabalhadores e para a população que não se
justificava.
É matéria-prima perigosa para o meio ambiente? Queremos trazê-la para ser
utilizada e com isso causar mais estrago? Essa que é a questão do ponto de vista
das matérias-primas.
Vou responder ao questionamento do Deputado Takayama. O que se pode
fazer? A questão fundamental — esta é uma Casa de legisladores e V.Exas. sabem
disso mais do que qualquer um de nós — é que só são elaboradas leis quando as
situações estão criadas. Não temos leis para situações futuras. Embora tenha
surgido o estilo de guerra preventivo, as leis preventivas ainda não surgiram. Só
existem resoluções referentes a pneus usados. Por quê? Porque a quantidade de
pneus que vinha para o País era muito pequena. Então, o CONAMA elaborou duas
resoluções: uma proibindo e a outra insistindo em incluir no anexo que classificava
os produtos proibidos de serem importados os pneus. Os pneus reformados vão se
tornar — é minha opinião pessoal — grande fluxo de importação. Chamo a atenção
de V.Exas. para o grande problema: não foi publicada a resolução do CONAMA que
acrescentava que estava proibida a importação de pneus usados, e por isso há
ambigüidade.
Nosso grande problema tem sido, até agora, a importação de pneus usados.
Mas acredito que, na medida em que se proíba claramente a importação, os pneus
vão continuar a fluir pela lógica econômica que já tinha sido discutida anteriormente.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
65
Com uma pequena atividade industrial de remodelagem, recauchutagem, alguma
coisa será feita para que, já que a lei permite, continue entrando no País.
Temos um novo problema. Sob o ponto de vista ambiental, há que haver
legislação sobre a importação de pneus reformados. Há a resolução do CONAMA
sobre pneus usados, mas não temos legislação sobre pneus reformados. Até
defenderia o Itamaraty porque, na verdade, a decisão do laudo arbitral do tribunal do
MERCOSUL foi referente a uma portaria que não concedia licenciamento para a
importação de pneus reformados. Por isso, em nenhum momento considerou-se a
questão ambiental no laudo.
E já respondendo à pergunta do Deputado João Alfredo de como conciliar a
questão do MERCOSUL com a ambiental, acho que nunca aconteceu essa
comparação. Todo laudo arbitral referiu-se à questão comercial. A argumentação
ambiental nunca esteve presente, não foi considerada pertinente. E acredito que, se
houvesse uma legislação que proibisse a importação de pneus reformados,
referente a argumentos ambientais, o laudo não seria o mesmo, porque em todos os
casos de acordo de livre comércio reconhece-se o direito de países colocarem
restrições ao comércio a partir de razões ambientais ou de saúde. Esse direito é
reconhecido, tanto na OMC quanto no MERCOSUL.
Que eu saiba, o Ministério do Meio Ambiente não teria sido solicitado — ainda
no ano passado, quando foi feito esse laudo —, a fornecer argumentação de ordem
ambiental, mas também os juízes teriam considerado inapropriada tal
argumentação, já que se dirigiam a uma portaria do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, e não a uma legislação ambiental.
Portanto, acho perfeitamente possível conciliar, como achamos que isso
poderia ter sido feito, já respondendo à pergunta do Deputado Luciano Zica e do
Deputado Ronaldo Vasconcellos, Presidente da Comissão. A Ministra não assinou
esse último decreto, de 11 de fevereiro. Aconteceu, justamente como comentou o
Deputado Fernando Gabeira, no período de transição de Governos. Quando o
decreto foi assinado, a Ministra e o Secretário-Executivo estavam no Fórum Social
Mundial, no Rio Grande do Sul, e eu, que seria a pessoa competente imediatamente
seguinte, ainda não havia sido nomeada. Portanto, não havia quem consultar no
Ministério. Houve uma razoável dificuldade de contato. Esse decreto foi assinado
pelo Ministro Celso Amorim.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
66
Acredito que a solução seria um decreto que apenas se referisse aos pneus
usados, não porque queiramos deixar liberada a porta para os pneus reformados,
mas queremos resolver o problema da publicação da resolução do CONAMA, do
ano passado, que fecha a porta para as liminares. Os juízes lêem a resolução —
nem todos, mas muitos deles, pois 6 milhões e 700 mil pneus-carcaça entraram no
País devido à interpretação dos juízes —, que se refere a “fabricantes e
importadores de pneus que recolherem um em cada quatro”, e concedem a liminar.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Gostaria de um esclarecimento: que
indústrias ou setores do comércio têm impetrado essas petições de liminares?
A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA - Tenho a lista completa.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Gostaria de recebê-la. Obrigado.
A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA - Vamos por partes. Precisamos permitir
a publicação da resolução do CONAMA que vai acabar com a ambigüidade do texto
anterior, que permite sejam concedidas liminares. Em seguida, o País precisa
enfrentar o novo problema — pneus reformados começarão a ser problema daqui
por diante. Aliás, isso já está acontecendo.
Portanto, Deputado, acredito existirem várias possibilidades. No âmbito do
Ministério, já abrimos a discussão. Na primeira reunião do ano do novo CONAMA,
sugerimos a realização de seminário em que analisaremos as soluções técnicas
existentes para a reciclagem de pneus no Brasil e em outros países.
Analisaremos também a legislação referente a pneus usados e reformados
em todos os países exportadores de pneus e no MERCOSUL, a fim de detectarmos
as diferenças de legislação, as lacunas e as incompatibilidades de legislação —
legislação comparada.
Em terceiro lugar, analisaremos o comércio de pneus usados e reformados no
mundo, os principais fluxos, as tendências, as evoluções, para informar ao
CONAMA, a fim de que o órgão possa, então, elaborar uma política que deverá ser
de proibição ou de, por exemplo, aplicação de multa, levando-se em conta o ponto
de vista ambiental. Isso está em aberto. Temos de detectar o mecanismo mais
eficiente.
É evidente que melhor que uma resolução é um decreto, que melhor que um
decreto é uma lei. É pertinente que os senhores considerem a possibilidade de uma
legislação. A Argentina tem uma legislação.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
67
Enfim, há saída. Mas, em primeiro lugar, precisamos liberar o CONAMA para
publicar sua resolução. Para isso é preciso um decreto mais restrito do que os dois
últimos sobre pneus usados e reformados. É preciso tratar apenas de pneus usados,
para que não haja contradição entre decreto e resolução, que é uma lei menor, e
para que o CONAMA possa, então, publicar sua resolução, que está pronta há um
ano.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Esta Presidência
agradece à Sra. Marijane Vieira Lisboa a participação.
Solicito ao Deputado Luciano Zica que pegue a lista de que dispõe a Sra.
Marijane, para que também tenhamos essas informações em mãos.
Com a palavra o Deputado Max Rosenmann.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Sr. Presidente, gostaria de saber
da Dra. Marijane há quanto tempo S.Sa. lida com esse assunto.
A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA – Deputado Max Rosenmann, há dez
anos, no Greenpeace, descobrimos esse problema de importação de pneus. Como
trabalhava, no Greenpeace, justamente na Convenção de Basiléia, com o comércio
de exportação e importação de resíduos perigosos, é um tema com o qual sou
bastante familiarizada.
O SR. DEPUTADO MAX ROSENMANN – Então, a senhora é mais uma
pessoa do Greenpeace no IBAMA. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Com a palavra o
Deputado Dr. Heleno.
O SR. DEPUTADO DR. HELENO – Foi dito que na Argentina já há uma lei
que proíbe isso. Quanto custa um pneu novo na Argentina hoje?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – V.Exa. quer saber
se alguém da Mesa sabe disso?
O SR. DEPUTADO DR. HELENO – Certo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Não sabemos.
O SR. DEPUTADO DR. HELENO – Era só isso, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Concedo a palavra
ao Sr. Edson Lupatini Júnior, representante do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
68
O SR. EDSON LUPATINI JÚNIOR – Foram-me feitas três perguntas. Uma
delas, feita pela Deputada Ann Pontes, é relativa a seguro ambiental. Creio que a
Sra. Marijane tenha dado a resposta no seu pronunciamento.
As outras duas foram feitas pelo Deputado Antonio Carlos Mendes Thame,
sobre o que seria necessário para as importações de remoldados. Para reforçar,
gostaria de dizer que as importações de bens de consumo usados, incluídos os
pneus remoldados, recapados, rechapados, ou seja, toda sorte de pneus que não
são considerados novos, já são proibidas, por portaria do nosso departamento,
desde 1991. Ou seja, já existe um arsenal de medidas e dispositivos legais que
proíbem a importação de bens de consumo usados. Todavia, existem liberações,
como está se dizendo aqui a todo momento. E essas liberações ocorrem por conta
de decisões na Justiça, ou seja, com base em medidas liminares.
A outra pergunta é sobre a possibilidade de elaboração de projeto de lei que
venha a proibir importação de pneus usados. São medidas e iniciativas importantes,
sobretudo vindas desta Casa, que se somarão às já existentes no Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no que diz respeito à proibição de
importação de bens de consumo usados, incluídos os pneus usados.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Concedo a palavra
ao Sr. Gerardo Tommasini.
O SR. GERARDO TOMMASINI – É uma pena que o Deputado Max
Rosenmann tenha saído da reunião, porque queria dizer que sempre tive maior
respeito por S.Exa., porém não concordo com as observações que fez a respeito da
indústria nacional de pneus e à minha pessoa.
Gostaria que a Presidência da Mesa registrasse que eu, na condição de
convidado, sinto-me ofendido. Já participei muitas vezes de reuniões nesta Casa, e
isso nunca aconteceu. Talvez, no fogo da discussão, S.Exa. tenha se excedido.
Quanto às considerações de S.Exa., não é verdade que a qualidade dos
pneus nacionais melhorou quando entraram os pneus usados. Qualquer pessoa de
inteligência mediana se ofenderia ao ouvir tal afirmação, que não é verdadeira.
Talvez muitos dos amigos não saibam que dentro das fábricas existe o total
quality system, o sistema total de qualidade, e o processo de melhoramento
contínuo. Portanto, a qualidade de qualquer produto segue aquilo que os japoneses
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
69
chamam de “a perseguição do defeito zero”. Não há nada demais em dizer que a
qualidade de hoje é melhor que a de dez, quinze ou vinte anos atrás.
Também, Sras. e Srs. Deputados, não é verdade que o pneu custava 80
dólares e, depois, 40. É claro que, quando o dólar valia 1 real, podia ser 80, mas o
dólar passou a valer dois reais. Ocorreu, então, o efeito-câmbio. Dizer isso ofende
não a mediana, mas a mais pobre das inteligências.
Quanto aos pedaços de pneu que se vê nas estradas — meu Deus —, isso
não é de pneu novo, é de pneu mal recauchutado, que se solta da banda de
rodagem. Aliás, atenção. Quando alguém dirige um carro, é bom não ficar muito
perto de caminhão ou ônibus, porque pode ser que tenham feito recauchutagem em
uma firma não muito recomendada. Há firmas maravilhosas, mas também há
aquelas de fundo de quintal. O INMETRO eliminará esse problema. Se um pedaço
de pneu a uma velocidade de duzentos quilômetros por hora bate no pára-brisa do
carro, as pessoas que estão na frente podem morrer.
Portanto, os pedaços de pneu que S.Exa. vê não são de pneu novo. Foi
comprovado que são pedaços de pneu que se soltam da banda de rodagem, porque
mal vulcanizados.
Por último, quilometragem. Entreguei ao Sr. Presidente, que encaminhou a
S.Exa., anúncio de jornal em que uma de minhas associadas põe todas as medidas,
por coincidência, e todos os tipos de garantia. Há garantia de cinco anos contra
defeito de fabricação e a garantia de quilometragem vai de 40 mil, 50 mil até 105 mil
quilômetros, dependendo do tipo de pneu. Há um tipo de pneu para carro esportivo,
e não existe quilometragem garantida para um carro que participa de competição, é
óbvio.
Senhores, não se olha somente a quilometragem e a durabilidade de um
pneu, olha-se também a performance. Quando um pneu é seguro? Quando, bem
calibrado, o carro freia em vinte ou trinta metros em determinada velocidade, no piso
seco ou molhado. O pneu bom não é só aquele que dura, senhores, é também
aquele que, na curva, não tira o carro da estrada; ou aquele que, à velocidade de
120 quilômetros por hora, se passar um cachorro e o motorista tiver de fazer uma
manobra brusca, consegue manter o carro na direção logo após uma virada para a
esquerda ou para a direita.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
70
Portanto, quando se fala em qualidade de pneus — pelo amor de Deus —,
vamos pôr em dúvida pessoas que fabricam pneus de carros de Fórmula 1 e
Fórmula Indy? São os mesmos, têm uma tecnologia elevadíssima. Então, não
deveria haver essa discussão.
Volto a repetir: todos os Srs. Deputados desta Comissão que quiserem fazer
visita às fábricas de pneumáticos — localizadas em Feira de Santana, na Bahia; em
Resende, no Rio de Janeiro; em São Paulo; no Rio Grande do Sul — estão
convidados. Podem organizar visitas, para que tudo isso seja esclarecido e para que
não se fale simplesmente com a experiência de consumidor. Quando se fala que o
produto é bom ou não, há que ter base, com experiências claras, com testes. Não se
pode simplesmente falar que a durabilidade no meu carro foi de 30 mil, 40 mil ou 50
mil quilômetros.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Muito obrigado.
Agradeço ao Sr. Gerardo Tommasini a participação. O seu convite será
analisado posteriormente pelos membros desta Comissão.
Consulto os Srs. Deputados sobre se querem fazer uso da palavra. (Pausa.)
Consulto os senhores expositores sobre se querem fazer uso da palavra,
desde que seja rapidamente, por gentileza.
Com a palavra o Sr. Francisco Simeão.
O SR. FRANCISCO SIMEÃO - O representante do Itamaraty fez uma
brilhante exposição. S.Sa. afirmou que, em relação aos pneus remoldados, não se
discutiu no MERCOSUL o problema ambiental, até porque esse produto é permitido
no Brasil. A proibição da importação por razão ambiental tem de corresponder à
proibição do uso dos pneus fabricados e produzidos no Brasil.
O que se pretende também, como foi dito, é criar uma lei que proíba a
importação e até a fabricação de pneus remoldados.
Eu faço um alerta: o nosso pneu BS Colway é produzido com a mesma
tecnologia utilizada na fabricação de pneus de avião. Pneus remoldados de avião
são importados pelo Brasil, e a importação é autorizada pelo DECEX. Então, ao se
tentar proibir, por lei, a importação de pneus remoldados, há que se lembrar que se
estará proibindo também a importação de pneus remoldados fabricados pela
Goodyear, pela Firestone e pela Pirelli nos outros países.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
71
Quanto à definição da Portaria nº 62 do INMETRO, não se estabelecia que o
pneu remoldado é pneu usado. Publicada a portaria, houve enorme reação por parte
das empresas industriais Goodyear, Firestone e Pirelli, e o INMETRO voltou atrás e
publicou portaria com texto fornecido pela Dra. Lytha Spíndola, então Secretária de
Comércio Exterior, dizendo que o pneu remoldado é pneu usado.
Sem dúvida, é uma completa inconseqüência essa afirmação. O pneu
remoldado é industrializado e, portanto, é passível de IPI. É um produto verde no
mundo inteiro. Na Itália, por exemplo, é obrigatória, por lei, a utilização pelos órgãos
públicos de 20% desse produto, em defesa da ecologia e do meio ambiente, porque
são economizados vinte litros de petróleo para cada pneu remoldado que substitui
um novo. No caso de pneus de caminhonete, quarenta litros. Outro motivo também é
a economia. Existe uma lei, que eu deixei nas mãos do diretor do IBAMA, para que
S.Sa. a analise. Na Itália, há uma lei que determina isso.
Temos um atestado de qualidade fantástico da nossa empresa, fornecido pela
Receita Federal. Numa fiscalização, justificando multa de mais de 10 milhões de
reais, numa das devassas fiscais que sofremos, o fiscal disse que os nossos pneus
são de muito melhor qualidade do que os recapados e recauchutados. Ele visitou as
fábricas. Afirmou que a tecnologia é de ponta, que as máquinas são de última
geração, que os pneus eram novos e que haviam sido aprovados em testes de
laboratório indicados pelo INMETRO.
Isso é o que eu afirmei. Eu não falei que o INMETRO me deu um atestado.
Ainda não deu. Mas, dentro de dois meses, vai me dar, porque estamos em
processo espontâneo de certificação. Eu disse que fomos testados por laboratórios
indicados pelo INMETRO. Passamos, a duzentos quilômetros por hora, com carga
plena. Os pneus são excelentes mesmo.
Assim o fiscal do imposto de renda referiu-se a nós. E disse que nossos
pneus, portanto, eram novos. E ainda que nunca aqueles pneus, com aquela
qualidade, vendidos com a garantia contra defeitos de fabricação de cinco anos e 80
mil quilômetros de garantia de durabilidade, poderiam ser pneus recapados,
recauchutados ou remoldados. Eles eram, de fato, novos. Estamos defendendo essa
multa, porque achamos mesmo que foi a atividade industrial que transformou o
produto.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
72
Ele tem razão em todos os argumentos na sua citação das leis. Mas se
esqueceu apenas de que o IPI do pneu remoldado é zero, a alíquota é zero. Se o
Governo Federal entender que deve mudar a alíquota, ele tem de fazê-lo inclusive
para recapado e recauchutado. Mas existe IPI, sim, portanto, é um produto
industrializado.
Quanto à nota técnica assinada pelo representante do INMETRO que acabou
de se pronunciar nesta reunião, embora digam que ela não foi reconhecida pelo
Instituto, seu próprio representante a assinou junto a outro funcionário e ficou
incumbido de elaborar ofício. Disse ainda que, pelas avaliações dos técnicos, estava
claro e absolutamente correto afirmar que não havia disponibilidade de pneus
usados brasileiros para fabricação de pneu remoldado. Existe, sim, disponibilidade
para fabricar pneu recapado e recauchutado, de qualidade muito inferior. Para o
remoldado, não existem pneus usados no Brasil, em função da condição das
estradas, do tipo de usuário e dos cuidados que este aplica ao veículo. Essa é a
razão. Essa nota técnica, que é oficial, foi assinada e encaminhada para o DECEX.
Finalizando, será formada uma comissão. O Dr. Tommasini se aborrece, com
razão, pelas muitas afirmações e acusações voluntariosas feitas contra ele. Da
mesma forma, também me sinto no direito de querer ser julgado, mas por alguém
que vá nos analisar, alguém que discuta conosco ponto a ponto as nossas
sugestões e a verdade da nossa fábrica. Orgulhamo-nos de dizer que temos a
melhor fábrica de pneus remoldados do mundo e podemos substituir a importação
desses pneus no Brasil, mas por competência, não queremos decreto nos
favorecendo. É evidente que para nós é muito confortável um decreto que proíba a
importação. E essa luta de pneus do Dr. Tommasini, que representa a ANIP, e
minha, que represento a ABIP, só aconteceu por interesses econômicos.
Felizmente, no decurso das discussões, descobrimos o problema ambiental, e partiu
de nós a sugestão de solucioná-lo. Temos orgulho de dizer que, se existe hoje uma
resolução do CONAMA, é lavra nossa. Eu mesmo levei o texto dessa resolução ao
Conselho Nacional do Meio Ambiente e consegui convencê-los de que fosse
organizado um grupo de trabalho, e as coisas aconteceram. No mínimo, merecemos
melhor avaliação.
Peço à Comissão a ser constituída e que irá ao Uruguai e ao Paraguai para
analisar esse assunto que, por favor, atenda à sugestão do Deputado Gabeira de
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
73
também nos visitarem e nos auditarem. Que esse grupo de trabalho faça todos os
questionamentos, pois teremos imenso prazer em responder.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Agradeço ao Sr.
Francisco Simeão a participação.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Tem V.Exa. a
palavra.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Presidente Simeão, V.Sa. conhece a
alíquota para pneus novos?
O SR. FRANCISCO SIMEÃO - A alíquota de importação?
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Não, a alíquota do IPI para pneus novos.
O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Se não me engano, não tenho certeza, é uma
alíquota maior do que 10%, talvez 15%.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – V.Sa. há de convir que há um novo
problema a ser examinado profundamente por esta Comissão.
O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Esse eu admito.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Há a questão da disparidade fiscal,
importantíssima.
O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Se o Brasil achar que deve apenar a
reciclagem...
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Apenar, não, dar equidade fiscal.
O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Exatamente, se quiser achar que deve ser
diferente do mundo e apenar, estarei feliz de pagar o IPI. Se achar que deve pagar
15%, pagaremos 15% também. Acho justo. Se o Ministério da Fazenda chegar ao
entendimento de que em nosso produto industrial, fabricado a partir de
matéria-prima importada, tem de incidir IPI igual ao do novo, desde já digo que estou
de acordo.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Sr. Simeão, neste momento não desejo
fazer nenhuma consideração afirmativa, porque desconheço a matéria. Apenas,
para fins de registro nesta Comissão, parece-me haver também um problema de
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
74
imposto, de eqüidade fiscal, que tem de ser profundamente tratado, uma vez que há
uma distorção.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - A Presidência pede
à Secretaria que registre as palavras do Deputado Júlio Lopes, para constar da ata,
atendendo ao pedido do ilustre Deputado.
Com a palavra a Sra. Marijane Vieira Lisboa, para fazer considerações de sua
visão, e do Ministério do Meio Ambiente, sobre a questão do MERCOSUL.
A SRA. MARIJANE VIEIRA LISBOA – O Sr. Samuel pediu que comentasse
sobre como o Ministério do Meio Ambiente está pensando em tratar a questão da
importação de pneus reformados no âmbito do MERCOSUL. V.Exas. sabem que,
entre os diversos subgrupos de trabalho que negociam no MERCOSUL, há um
especializado em questões ambientais, que surgiu tardiamente, mas que realiza seu
trabalho há alguns anos. Na primeira reunião deste ano, que aconteceu em final de
março, início de abril, introduzi o tema de importação de pneus reformados, historiei
a crise que tivemos com decreto, a decisão do tribunal, do MERCOSUL, etc., e
houve total acordo. É verdade que o representante do Governo uruguaio não estava
presente no subgrupo, mas estavam os representantes da Argentina e do Paraguai
e também, como observadores, os da Bolívia e do Chile. Houve total acordo de que
esse será um tema de pauta, e nosso objetivo será harmonizar a legislação, trocar
informações e ver a legislação comparada, quais as tecnologias, os problemas, e, na
medida do possível, estabelecer uma política comum para a questão dos pneus.
Também há iniciativa no sentido de explorar esse tema para verificar os problemas
ambientais dele decorrentes.
Acho que será uma excelente oportunidade de obter mais informações sobre
a questão dos pneus, a origem dos pneus importados. Creio que a Comissão
formada por V.Exas. poderá nos fornecer subsídios para uma análise na próxima
reunião do subgrupo do MERCOSUL.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Obrigado, Sra.
Marijane.
Passo a palavra ao Sr. Edson Lupatini Júnior, para as considerações finais.
O SR. EDSON LUPATINI JUNIOR – Obrigado, Presidente. Parece-me que o
Dr. Francisco Simeão citou o nome da Dra. Lytha numa questão que, no momento,
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
75
não consegui compreender. Gostaria de saber exatamente o que S.Sa. disse, para,
eventualmente, fazer algum esclarecimento, até porque a Dra. Lytha foi nossa
Secretária de Comércio Exterior.
O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Afirmei que o INMETRO, depois de discutir
durante um ano e meio a regulamentação de pneus remoldados, decidiu, aprovou
consensualmente todos os pontos e publicou a Portaria nº 62. Isso não foi do agrado
do Sr. Ivan Ramalho, da Dra. Lytha e de toda a equipe na época, porque não dava
ao pneu remoldado a definição de que era, sim, um pneu usado. Houve uma
orientação do Ministério, mais especificamente da Secretaria de Comércio Exterior,
que coordenou o trabalho, no sentido de que fosse determinado ao INMETRO a
republicação da portaria, modificando o texto. Estivemos lá com o então Senador
Roberto Requião, na ocasião da publicação da nova portaria. Tínhamos recebido a
informação, e o então Senador, hoje Governador do Paraná, questionou o Dr. Lobo
sobre se era verdade que se pretendia mutilar a primeira para fazer a segunda, com
o intuito de atender aos interesses comerciais das multinacionais. Assim se
posicionou o Senador Requião na época. O Dr. Lobo garantiu que não. Algum tempo
depois, foi publicada a Portaria nº 133, cuja redação é diferente da Portaria nº 62.
O que aconteceu com a Portaria nº 62, que foi objeto do consenso do setor, e
por que surgiu a Portaria nº 133, que substituiu a outra sem razão maior? O que
levou à publicação da Portaria nº 133? A diferença é apenas dizer que o remoldado
é um pneu usado, porque isso serve para justificar a Portaria nº 8/2000, que
englobava todos os produtos e estabelecia que pneu remoldado era usado, quando,
na verdade, não é. Foi um argumento vitorioso do Uruguai, contra o nosso interesse
e o do Paraguai. A discussão sobre a Portaria nº 8/2000 já havia sido derrotada em
projeto de decreto legislativo do então Senador Roberto Requião aprovado na
Comissão de Constituição e Justiça e não aprovado no Senado que continua
tramitando, pois tinha a intenção de revogar a portaria.
Estamos apresentando sugestões que colocariam um ponto final ao litígio do
setor de pneu usado com o do meio ambiente e o da saúde pública. Creio que, se o
Dr. Tommasini verificasse bem, isso atenderia aos seus interesses e aos de toda a
Nação brasileira e pacificaria o setor.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) – Agradeço ao Sr.
Francisco Simeão a participação.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
76
Passo a palavra ao Sr. Nilvo Silva, Presidente em exercício do IBAMA.
O SR. NILVO SILVA – Sras. e Srs. Deputados, a elaboração de normas do
CONAMA é feita por grupos de trabalho e por câmaras técnicas. A responsabilidade
e o mérito pela aprovação de resoluções dentro do Conselho é dos senhores
conselheiros e daqueles que os representam, evidentemente reconhecida a
colaboração de todos os que participam do Conselho, das câmaras técnicas e dos
grupos de trabalho.
Meu agradecimento é direcionado aos Srs. Deputados que trouxeram à
discussão pública tema tão importante. É necessária uma política muito clara, devido
à enorme extensão das possíveis repercussões de qualquer decisão sobre a
importação de pneus reformados e mesmo de pneus usados. Então, cumprimento
os Deputados pela iniciativa.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Tem V.Exa. a
palavra.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA – Deputado Ronaldo Vasconcellos, pedi
a palavra pela ordem para, primeiro, ser solidário com o Presidente anterior,
Deputado Júlio Lopes, quando mencionou, frente à posição do Sr. Simeão, a
questão do IPI do pneu reciclado. Na minha opinião, as palavras de S.Sa. foram
irônicas ao dizer que o Brasil poderia querer ficar na contramão do mundo cobrando
um IPI maior sobre o reciclado. Acredito que, se levássemos pneu de qualquer outro
país para reciclar na Inglaterra, na França ou na Alemanha, seria a ele atribuída
carga tributária maior para apenar a importação do resíduo.
Sr. Simeão, gostaria de deixar registrado que seria francamente favorável à
alíquota zero de IPI para o pneu recuperado brasileiro, porque estaríamos dando
uma contribuição ao meio ambiente, e à isenção de IPI para matérias-primas
recicladas brasileiras, e não para lixo estrangeiro.
Portanto, faço esse registro, além de render minhas homenagens ao
Deputado Júlio Lopes, que, com muita clareza, abordou tema que passava
despercebido e que foi, em certa medida, ironizado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - A Presidência faz
questão de que conste em ata a solicitação do Deputado Júlio Lopes, de forma
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
77
separada daquelas famosas frases que lotam as atas. A consideração do ilustre
Deputado Júlio Lopes será feita à parte das considerações generalizadas.
Com a palavra o Deputado Eduardo Cunha.
O SR. DEPUTADO EDUARDO CUNHA – Sr. Presidente. Serei breve. Não
sou membro desta Comissão, mas se trata de tema muito importante para o País.
Estava no plenário e vim à Comissão a tempo de dar minha contribuição.
Sr. Presidente, há anos que assistimos nesta Casa a um lobby por importação
de pneus usados. Assisto em Brasília, há pelo menos oito anos, a uma tentativa de
lobby para fazer o que foi feito agora rapidamente, em início de governo. Já
participei de várias discussões sobre esse tema. Temos de tratar de proteger a
indústria nacional. Neste momento de desemprego no País e de queda de produção,
vamos estimular a entrada de pneu usado, lixo que vem de outro lugar? Estamos
numa situação absurda. Quem gera emprego, quem paga imposto no País?
Espanta-me muito o Presidente da República, de origem humilde, trabalhador,
membro do Partido dos Trabalhadores, colocar sua assinatura num decreto dessa
natureza para facilitar o prejuízo da indústria nacional.
Sr. Presidente, na condição de Parlamentar, pretendo tomar a iniciativa de
fazer decreto legislativo para revogar esse decreto de iniciativa do Governo Federal,
a fim de que a indústria nacional seja protegida e possamos gerar mais empregos no
Brasil, mas não para que lixo importado de outro lugar passe pelo Paraguai e acabe
no Brasil.
Sr. Presidente, gostaria de deixar registrada minha intenção de levar essa
propositura ao meu partido.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Concedo a palavra
ao ilustre Deputado Júlio Lopes.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES – Sr. Presidente, como foi mencionado
auto da Secretaria da Receita Federal relativo à empresa BS Colway, poderíamos
requerê-lo para que a Comissão o examinasse, porque, no meu entendimento, a
Receita extrapola a competência quando tece considerações se as fez da forma
mencionada pelo Presidente da empresa.
Peço a V.Exa. que requeira o auto, para que possamos examiná-lo no âmbito
da Comissão.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0300/03 Data: 15/04/03
78
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - O ilustre Presidente
Francisco Simeão o envia para a Comissão?
O SR. FRANCISCO SIMEÃO - Concordo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Solicito a V.Sa. que
o envie para a Comissão, para que se imprima aspecto mais institucionalizado, e o
passarei depois ao Deputado Júlio Lopes e a quem mais se interessar.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Na realidade, Sr. Presidente, estou
requerendo à Receita Federal e como Comissão temos competência para fazê-lo,
independentemente da manifestação do senhor presidente da empresa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Então, tenho de
solicitar a V.Sa. que, na reunião de amanhã, apresente o requerimento de maneira
formal.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - O que não impede o
Sr. Francisco Simeão de nos enviar e se antecipar ao fato.
O SR. DEPUTADO JÚLIO LOPES - Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ronaldo Vasconcellos) - Não havendo mais
quem queira fazer uso da palavra, declaro encerrada a presente reunião de
audiência pública, agradecendo aos expositores e demais convidados a presença.
Antes, porém, informo aos membros desta Comissão que, amanhã, dia 16 de
abril, quarta-feira, às 10h, neste plenário, teremos reunião ordinária deliberativa para
apreciação de requerimentos e proposições.
Está encerrada a presente reunião.