departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo … · sobre a situação não só da comunidade...
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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - PL 3198/2000 - ESTATUTO DA IGUALDADE RACIALEVENTO: Reunião Ordinária N°: 0997/02 DATA: 03/12/02INÍCIO: 15h26min TÉRMINO: 17h08min DURAÇÃO: 01h42minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h43min PÁGINAS: 42 QUARTOS: 21REVISÃO: Liz, Robinson, ZilfaSUPERVISÃO: Debora, Myrinha, YokoCONCATENAÇÃO: Yoko
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
SUMÁRIO: Discussão e aprovação do parecer ao Projeto de Lei nº 3.198, de 2000.
OBSERVAÇÕESHá oradores não identificados.Há intervenções inaudíveis.Há expressões inaudíveis.Há expressão ininteligível.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3198/2000 - Estatuto da Igualdade RacialComissão Especial PL 3198/2000 - Estatuto da IgualNúmero: 0997/02 Data: 03/12/02
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Havendo número
regimental, declaro aberta a 14ª reunião da Comissão Especial destinada a proferir
parecer ao Projeto de Lei nº 3.198, de 2000, que institui o Estatuto da Igualdade
Racial em defesa dos que sofrem preconceito ou discriminação em função de sua
etnia, raça e/ou cor, e dá outras providências.
Encontram-se à disposição dos Srs. Parlamentares cópias da ata da 13ª
reunião. Pergunto aos Srs. Parlamentares se há necessidade de leitura dessa ata.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Entendo que não, Sr.
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Não havendo quem queira
discutir, considero aprovada a ata da sessão anterior.
Inicialmente agradeço ao número significativo de entidades que representam
o movimento negro no País a presença.
Passamos à Ordem do Dia.
Na última quarta-feira, o Deputado Reginaldo Germano emitiu uma versão
preliminar do parecer aos projetos de lei sob apreciação. A iniciativa teve por
objetivo viabilizar a apresentação de sugestões pelos Deputados, visto que, por
tratar-se de matérias sem poder conclusivo, estão sujeitas a emendamento apenas
no plenário da Casa. Dessa forma, o texto ora apresentado é resultado da
participação efetiva dos Srs. Sub-Relatores, da colaboração de entidades civis e de
autoridades públicas, da Fundação Cultural Palmares, de técnicos do PNUD e
principalmente dos Deputados membros da Comissão.
Concedo a palavra ao Deputado Reginaldo Germano, para apresentar o
parecer em sua versão final.
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O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Sr. Presidente Saulo
Pedrosa, Sras. e Srs. Deputados, demais senhores presentes neste plenário,
procuramos, em primeiro lugar, atender todas as questões que pudessem desfazer a
desigualdade racial que vivemos no País.
Neste final do mês, estive em Cabo Verde defendendo dois pontos de vista:
primeiro, a propagação de nossa língua nos demais países que não falam
português; segundo, a não-obrigação de obter visto para viagens aos países de
língua portuguesa. Em Cabo Verde, tive uma experiência que me chamou a atenção
e me marcou muito. São três mil cabo-verdianos que vivem no Brasil. Desses, um
terço faz faculdade. O Primeiro-Ministro de Cabo Verde fez curso superior no Brasil.
E há outros casos de que tomamos conhecimento nessa viagem. Isso fez-me refletir
sobre a situação não só da comunidade negra brasileira como a do brasileiro de
maneira geral, em matéria de educação. A distância é muito grande. Cabo Verde é
um país pobre, mas lá não há miséria. É um país capaz de produzir o suficiente para
que o seu povo tenha uma educação superior à média dos negros brasileiros.
Neste relatório, procuramos atender a reivindicações da comunidade e dos
movimentos negros, por intermédio dos Deputados que representam essa
comunidade em todas as áreas. O Deputado Paulo Paim, em sua preocupação com
a comunidade negra de maneira geral, e também os Deputados Narcio Rodrigues e
Luiz Alberto estão atentos às questões de terra e de religião.
Com relação ao que achamos ser um tanto quanto justo, procuramos
encampar as idéias para que, com várias mãos, possamos construir peça que, se
não for perfeita, pelo menos caminha para que cheguemos à perfeição na discussão
da questão racial.
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Na apresentação do relatório, eu gostaria de sugerir mais uma vez que cada
Deputado apresente sua concordância ou uma sugestão a respeito de questão que
conste dele. Havendo consenso, eu quero, na próxima semana, levar este
documento a plenário para terminar o ano com o dever cumprido de levar às
autoridades constituídas a proposta dessa reparação que devemos fazer.
Há uma sugestão muito importante no relatório: a criação do fundo. Comento
isso porque a História mostra que, ao ser assinada a Lei Áurea, foi negado ao ex-
escravo o direito à vida. De nada adiantou libertá-lo sem lhe garantir condições de
vida. Nesta peça, estamos procurando exatamente garantir a verdadeira libertação,
a libertação da discriminação racial sem lhe ser negado o direito de viver. Estamos
propondo a criação desse fundo para que possamos, com ele, custear as
necessidades especiais da comunidade negra, como o tratamento de anemia
falciforme e o acesso à educação.
No Estado da Bahia, pessoas estão reunindo-se para mover um processo
contra a UNEB, por intermédio da reitora Ivete Sacramento, por conta da cota de
40%. Fomos informados também de que isso não ocorre apenas em Salvador.
Tenho recebido vários e-mails acusando-nos de fazer racismo ao contrário,
principalmente quando propomos cotas para as universidades. Já que a questão se
levantou dessa forma, com a criação e a aprovação desse fundo, vamos precisar
muito pouco dessa cota. Poderemos financiar cursinhos pré-vestibulares, sem
abandonar a cota, e, de igual para igual, aumentar o número de negros e de afro-
descendentes no ensino superior.
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Deixo a palavra aberta para algum Deputado que queira fazer alguma
sugestão sobre este relatório, para que possamos discutir e chegar a um
denominador comum.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Agradeço a participação ao
nobre Relator, que apresenta os acréscimos que fez ao seu relatório na reunião
anterior.
Esclareço às Sras. e aos Srs. Deputados que a lista de inscrição encontra-se
à disposição de V.Exas.
Concedo a palavra ao Deputado João Grandão.
O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO – Sr. Presidente, não me inscrevi
porque sou membro da Comissão de Orçamento, e hoje, às 16h, haverá uma
reunião para discutir o Plano de Safra para o próximo Governo. Demos nossa
contribuição à emenda que trata de religião. Com certeza o Deputado Luiz Alberto
vai lembrar-se disso, pois a apresentamos em conjunto.
Em nome do Mato Grosso do Sul, cumprimento todas as entidades presentes.
Contem com minha boa vontade para que o relatório seja aprovado nesta reunião.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Deputado João Grandão,
agradecemos a V.Exa. a participação.
O prazo para discutir a matéria será de quinze minutos para os membros da
Comissão e de dez para os Líderes e os Deputados que a ela não pertencem.
Comunico a V.Exas. que os destaques poderão ser apresentados até o anúncio da
votação.
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Esclarecidas as regras que nortearão o debate, passaremos à discussão do
parecer do Relator. Observando a ordem de inscrição, concedo a palavra ao
Deputado Paulo Paim.
O SR. DEPUTADO PAULO PAIM – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
na minha exposição, questionarei a forma de encaminhamento da votação da
matéria. Gostaria que a Presidência me esclarecesse se procede a fórmula que vou
propor.
Cumprimento o Deputado Saulo Pedrosa e o Relator Reginaldo Germano,
pela forma como conduziram o debate e os trabalhos durante este rico e nobre
período em que pela primeira o Congresso, em 502 anos de História do País, formou
uma Comissão Especial para se debruçar sobre um assunto que tanto interessa à
população brasileira, definindo políticas de combate ao racismo e ao preconceito,
além de políticas compensatórias em face de todo esse massacre, esse crime
cometido contra os afro-descendentes. Cumprimento também todos os
Parlamentares desta Comissão, pois foi muito importante o trabalho de cada um,
tanto daqueles que foram à África do Sul para participar da conferência como
daqueles que ficaram.
Era o momento de pressionar de maneira democrática e positiva a Casa e o
Poder Executivo, a fim de que concordassem com a instalação desta Comissão
Especial. Houve a participação do Executivo e dos dirigentes desta Casa no esforço
para que esta Comissão fosse instalada. Sabemos da pressa — não nossa — para
a votação em plenário; solicito a todos, portanto, que agilizemos a discussão e a
votação, já que a matéria vem sendo tratada há décadas neste País e há dois anos
na Casa.
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Devemos começar o debate do relatório pelos pontos que entendemos
polêmicos, para que, se for o caso, a reunião e o processo de votação não sejam
suspensos ao se iniciar a Ordem do Dia. Isso impedirá que votemos no meio da
noite, com quorum não privilegiado, o que poderia complicar nossa intenção. Como
autor da proposta original do Estatuto, que não é mais minha, mas sim um
substitutivo global de toda a Comissão, pergunto à Mesa: poderíamos aprovar o
projeto sem prejuízo do debate, destaque por destaque, como fazemos no plenário
da Câmara?
Solicito à assessoria orientação. Podemos aprovar a peça, ressalvados os
destaques? De imediato estaria aprovado o substitutivo, ressalvados os destaques,
sem qualquer prejuízo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – A Secretaria informa que é
possível acatar o requerimento de V.Exa., desde que os destaques sejam
apresentados em tempo hábil, como nos referimos há pouco.
O SR. DEPUTADO PAULO PAIM - Sinto-me contemplado. Vamos iniciar o
debate.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – A proposta do Deputado
Paulo Paim é pertinente e enseja esclarecimentos: votando-se na Comissão,
poderemos fazer modificações do projeto no plenário da Câmara e no Senado.
Quanto mais acelerarmos, melhor.
Concedo a palavra ao Deputado Luiz Alberto.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Sr. Presidente, V.Exa. afirmou que os
destaques deverão ser feitos no momento devido. Os relatórios estão com os
Deputados. Mesmo que eles os tenham lido, o procedimento mais comum seria
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fazer a leitura do relatório para depois se fazerem os destaques, ou poderiam ser
levantados o destaque independentemente da ordem no relatório?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Poderemos receber os
pedidos de destaque antes de iniciada a votação.
Concedo a palavra ao Deputado Carlos Santana.
O SR. DEPUTADO CARLOS SANTANA – Sr. Presidente, estamos
participando de uma discussão a respeito da CIDE na Comissão de Transportes, da
qual sou titular. Há interesse de que a matéria seja aprovada. Estou debruçando-me
sobre ela, e por isso não poderei permanecer nesta reunião. Mas continuarão aqui
os companheiros do Partido dos Trabalhadores, o Deputado Paulo Paim e o colega
da Bahia, que me orientarão quanto à questão racial.
Saúdo a Comissão pelo trabalho que realizou. Pedimos desculpas aos
Parlamentares pela forma como foram recebidos no Rio de Janeiro. Todos sabem
que trabalho de forma independente. Nos outros Estados, sei que foram recebidos
de forma diferente. Isso demonstra que temos de sair do discurso e ir para a prática.
Agradeço a todos a participação nesta Comissão. Como negro, faço parte da
minoria nesta Casa, mas da maioria na sociedade. Valeram a pena os 12 anos em
que aqui estou. O trabalho não é como gostaríamos, mas é o início da longa
caminhada que ainda vamos fazer.
Ontem, 2 de novembro, foi comemorado o Dia Nacional do Samba. Nós
negros temos muito a ver com o samba. Pena que nesta Casa nem se fale do Dia
Nacional do Samba. Vou ter de fazer um discurso sobre isso. O samba ainda é
discriminado, assim como nós negros.
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Espero estar aqui presente na votação do relatório. Estou dando prioridade à
questão da CIDE. Quero agradecer ao Presidente e a todos os Deputados o
empenho nesta Comissão. Num país com tanta hipocrisia como o Brasil, onde o
racismo é uma questão ideológica inserida nas pessoas, e não apenas quanto aos
atos, isso pelo menos representa enorme avanço. Tenho um filho de doze anos que
não encontra nos livros os nossos heróis, pois neste País os heróis são todos
brancos. Mas estamos fazendo a nossa parte.
Quero agradecer ao Presidente, ao Relator, que também é do Rio de Janeiro,
mas o emprestamos à Bahia por alguns anos; depois ele voltará para a minha
terrinha, Bangu. Agradeço ao Deputado Paulo Paim por ter apresentado essa
excelente proposição, que é motivo de orgulho para nós. Ele assumirá o ano que
vem seu mandato no Senado. Sou do Rio de Janeiro mas torci muito por ele, um
negro do Rio Grande do Sul que estará representando muito bem a todos nós no
Senado da República. Vamos ganhar com isso.
E a luta continua! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Feito o registro, agradeço-
lhe a manifestação.
Dando seguimento à ordem de inscrição, concedo a palavra ao nobre
Deputado Narcio Rodrigues, legítimo e digno representante de Minas Gerais.
O SR. DEPUTADO NARCIO RODRIGUES – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras.
e Srs. Deputados, quero seguir na linha que propôs o Deputado Paulo Paim. Este é
o momento final da discussão da matéria nesta Comissão, e o mais importante é
que aperfeiçoemos o debate para que ela seja submetida à votação.
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A Comissão propiciou uma ampla discussão nacional. Como não-negro, sinto-
me muito orgulhoso por ter participado dela. Saio revitalizado e convicto de que a
discriminação racial é uma questão cada dia mais da sociedade brasileira e menos
do negro. Quanto mais a sociedade perceber a dívida que tem em relação à
comunidade negra, mais perto estaremos de fazer os reparos e promover a política
de igualdade racial que nos uniu aqui e fez com que durante a discussão da matéria
por todo o Brasil fôssemos encontrando irmãos. Discutimos a matéria no calor do
processo eleitoral em todos os lugares por onde passamos. Tive a oportunidade de
ir com V.Exa. e o Deputado Reginaldo Germano ao Rio Grande do Sul, terra do
ilustre Senador eleito Paulo Paim, e a discussão superou qualquer divergência de
natureza meramente partidária e ideológica, graças ao posicionamento que vinha
sendo defendido pelo autor do projeto de lei, o Deputado Paulo Paim, que soube
convocar a todos nós nesta Casa para um debate extremamente oportuno.
Eu repito aqui o que disse no Rio Grande do Sul; neste momento, gostaria de
realçar este ponto: a votação desta matéria parece-me ser, Deputado Paulo Paim, o
ato inaugural da nova Nação brasileira. Não acredito que possamos promover o
surgimento de uma Nação da qual nos orgulhemos sem estabelecermos políticas
públicas de igualdade racial. Tive a satisfação de participar deste sonho, o de
transformar esta matéria em lei que agora avança de forma concreta e convergente.
Sob esse aspecto, destaco o trabalho do Presidente Saulo Pedrosa, que
soube promover a discussão de forma democrática, percorrendo o Brasil e
convocando todos os segmentos para participarem de forma direta ou indireta desta
discussão, dando sua contribuição sobre a proposta inicial do Deputado Paulo Paim.
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Finalmente, Deputado Saulo Pedrosa, a estratégia adotada por V.Exa. na
condução da Presidência da Comissão, desde o primeiro momento, retirou a
Câmara dos Deputados da posição de isolamento em que discutem muitas
Comissões Especiais importantes formadas na Casa; acabam debatendo apenas
internamente, sem o calor da rua, sem o sentimento do povo, temas que realmente
dizem respeito à transformação da sociedade brasileira. A iniciativa proposta por
V.Exa. de ir aos Estados brasileiros permitiu que efetivamente este Estatuto fosse
discutido em todas as suas vertentes, promovendo assim a capilaridade, com o que
todos nos sentimos à vontade para contribuir, de uma ou de outra forma, para o
avanço da discussão e da votação do relatório.
Não posso deixar de cumprimentar o Deputado Reginaldo Germano. Tivemos
a oportunidade de acompanhar seu trabalho desde o primeiro momento, e louvamos
a sua permeabilidade às sugestões que lhe chegaram. Há aqui um documento que
deve orgulhar a todos que de alguma forma contribuímos; na verdade, é um
chamamento à Nação brasileira, num momento de transformação da vida nacional,
em que o novo Governo se prepara para assumir comprometido com as questões
populares, um Governo que tem um compromisso histórico com a raça negra,
compromisso esse emblematicamente manifestado no PT pela presença de figuras
como os Deputados Paulo Paim e Luiz Alberto, da Bahia. Temos certeza de que
este Estatuto sairá da Câmara dos Deputados para o Senado e lá encontrará, no
ano que vem, a presença maiúscula do Deputado Paulo Paim, que dará o mesmo
tratamento de articulação que a idéia precisa ter, envolvendo a Câmara Alta da
República, que é caixa de ressonância dos Estados brasileiros, e repercutindo de
forma positiva a necessidade que há, hoje, de colocá-la em prática.
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Mais importante que criar o Estatuto é colocá-lo em prática. Mesmo que
venha a ser aprovado com um ou outro defeito, com uma ou outra necessidade de
reparo, é importante que possamos, no início do ano que vem, ter um Estatuto que
norteie não só o Governo que vai assumir, ou os Governos Estaduais, as
Prefeituras, as Câmaras de Vereadores, mas sobretudo a sociedade brasileira, para
que haja um pacto por meio do qual possamos inaugurar uma nova etapa da
História do Brasil.
Quero dizer ao Deputado Paulo Paim, que se despede desta Casa, o
seguinte: se V.Exa. tivesse passado pela Câmara dos Deputados e tomado apenas
esta iniciativa legislativa — e V.Exa. fez muito mais que isso; todos sabem da sua
rica trajetória nesta Casa, especialmente na Comissão de Trabalho, que ostenta sua
fotografia entre seus ex-Presidentes —, se V.Exa. tivesse apenas feito a proposta do
Estatuto da Igualdade Racial já teria justificado sua passagem por aqui. Minha
alegria é ter compartilhado com V.Exa. esta luta. V.Exa. foi a Uberaba e pôde ver de
que forma, no interior de Minas, também temos procurado, como não-negro, dar
demonstrações da nossa integração a essa causa da igualdade racial. Acredito que
muitos mais setores da sociedade brasileira não-negros se envolverão a partir do
momento em que tivermos este Estatuto consolidado.
Por isso, volto a dizer, Sr. Presidente, que gostaria de ficar aqui com a linha
de proposta do Deputado Paulo Paim, para que possamos votar a matéria e discutir
um ou outro destaque, permitindo que avancemos no plenário. E mais: que
encerremos este ano legislativo podendo voltar para as nossas bases com o orgulho
de poder dizer que nesta Legislatura deixamos uma grande contribuição para a
construção da Nação brasileira com que todos sonhamos.
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Parabéns aos Deputados Saulo Pedrosa e Reginaldo Germano pelo
brilhantismo do formato sintético que deu ao Estatuto. Cumprimento o Deputado
Paulo Paim, autor da proposta que originou esta Comissão Especial, a qual tenho
certeza que deixará uma marca histórica na Câmara dos Deputados.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Agradecemos ao Deputado
Narcio Rodrigues a manifestação. Certamente os elogios fazem parte da sua
benevolência.
À guisa de esclarecimento, a Mesa informa a V.Exas. que há interesse da
Presidência da República em acelerar a conclusão dos trabalhos da Comissão,
assim como do Presidente Aécio Neves. Registro também o desprendimento do
Senador José Sarney, que apresentou um projeto de lei que precedia esta
proposição, mas, em virtude da abrangência do Estatuto e da necessidade de
acelerar o processo, abriu mão do seu projeto, que certamente foi absorvido no
relatório do Deputado Reginaldo Germano, proporcionando que a proposta
chegasse ao Senado o mais rapidamente possível.
Dando continuidade à lista de inscrições, concedo a palavra ao Deputado Luiz
Alberto, do PT da Bahia, que disporá de até quinze minutos.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, registro minha satisfação por ter participado dos trabalhos desta
Comissão, que desde o início recebeu tratamento especial do Deputado Aécio
Neves, Presidente da Câmara dos Deputados, e do Ministro da Justiça, que esteve
presente no dia de sua instalação, o que não é comum nesta Casa.
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Sr. Presidente, esta Comissão desenvolveu um papel importante e tentou,
com todas as dificuldades que enfrentamos, ouvir a sociedade, principalmente a
sociedade civil negra do País. Visitamos os Estados que considerávamos mais
representativos em termos de população negra no País. Ouvimos organizações,
militantes, estudiosos etc. Realizamos diversas audiências públicas nesta Casa.
Ouvimos cientistas sociais. Particularmente, eu quero ressaltar o papel relevante de
mobilização que cumpriram as comunidades remanescentes de quilombos, hoje aqui
presentes. Agradeço a contribuição ao representante do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento — PNUD, organismo da ONU, que disponibilizou à
Comissão alguns consultores, que ajudaram bastante, na elaboração do nosso
trabalho.
Não poderia deixar de registrar também que este momento só foi possível
graças ao incansável trabalho que vem sendo desenvolvido há trinta anos pelo
Movimento Negro Brasileiro, e que foi objeto de contribuição para as formulações.
Nós da Comissão nada inventamos de novo. O projeto em boa hora apresentado
pelo Deputado Paulo Paim representa aquilo que o movimento negro brasileiro tem
acumulado nos últimos trinta anos, e que temos acompanhado com interesse, tanto
ao longo desse período como, particularmente, a partir do momento em que
passamos a participar dos processos de preparação da Conferência Mundial contra
o Racismo, que se realizou na África do Sul.
Assim como alguns Parlamentares desta Comissão, que à época ainda não
estava constituída, como o nobre Presidente Saulo Pedrosa, participamos, no Chile
e em Genebra, dos encontros preparatórios da Conferência Mundial, e também do
próprio evento, na África do Sul. Servimo-nos bastante desse acúmulo de debates,
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que condensou mais ainda nossa convicção de apresentar uma proposta como esta
à Câmara dos Deputados.
Estamos todos de parabéns por este trabalho. Considero-o um dos mais
importantes que esta Casa já pôde apresentar à sociedade deste País. Eu gostaria
de parabenizar o Relator por seu voto. S.Exa. recuperou a dimensão deste projeto
quando, na sua primeira palavra, colocou a reparação como o elemento central que
o orientou. Espero que seja aprovado o mais rapidamente possível.
Reparação, eu acredito, Sr. Presidente, que seja o que podemos apresentar
aqui. Ainda é pouco pelos quatrocentos anos de escravidão de que fomos vítimas
neste País. E isso dá a dimensão da importância de não esquecermos, em nenhum
momento, a necessidade de reparação, pela sociedade brasileira, aos afro-
brasileiros. Construímos a riqueza deste País, e esta Casa não faz nada mais, nada
menos que reconhecer a necessidade de justiça.
Disse o Deputado Narcio Rodrigues que este projeto vem beneficiar a
população negra do País; como disse Nelson Mandela, quando assumiu a
Presidência da República da África do Sul, é um projeto que vem pacificar a
sociedade brasileira. Vivemos um processo de grandes conflitos raciais; no que pese
a grande mídia e os instrumentos de opinião pública impedirem a visibilidade desses
conflitos no País, basta abrir os jornais nos finais de semana para perceber a
realidade das periferias das grandes cidades, das comunidades remanescentes de
quilombos, que vêm lutando insistentemente para que prevaleça um dispositivo
constitucional que nunca chegou a ser plenamente aplicado neste País. Parece-me
que o projeto tem esse objetivo. As pessoas que ainda insistem em não
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compreender a importância e a dimensão dessa medida não conseguem entender a
História do Brasil. Estamos aqui fazendo a História do Brasil.
Considero, Sr. Presidente, que dois eventos importantes ocorrem em 2002. O
primeiro foi a eleição de Lula. Haverá agora um novo ciclo da História do Brasil. Com
um Presidente que saiu do meio do povo, que tem origem afro-brasileira, que não é
membro da elite, inaugura-se uma nova fase na História do Brasil. O segundo foi a
tramitação deste projeto, que ganhará mais celeridade com a presença do nobre
Deputado Paulo Paim no Senado. Já estamos sentido saudade do futuro Senador
da República, representante do Estado do Rio Grande do Sul. Na verdade, é uma
rara presença no Parlamento. Infelizmente, nós negros que exercemos mandato de
Deputado ou Senador no Brasil somos tão poucos que temos de responder a
demandas que não são exclusivamente das Unidades da Federação que
representamos, mas do País inteiro. Portanto, este projeto tem essa dimensão.
Sr. Presidente, o Governo Fernando Henrique Cardoso recentemente
determinou que se realizasse um recenseamento para identificar a presença de
servidores públicos negros na administração federal. Os dados parcialmente
levantados não apresentam nenhuma surpresa. Segundo eles, no serviço público —
área de trabalho na qual a presença negra é mais significativa, por falta de um
processo subjetivo que impeça seu acesso, uma vez que o concurso público permite
o acesso mais democratizado da população negra — 66% dos trabalhadores são
brancos. Trata-se de uma distorção à qual, me parece, esse projeto vem responder,
e espero que ele seja aprovado imediatamente. Mesmo considerando que algumas
questões ainda podem ser modificadas, esperamos que no plenário da Câmara
possamos apresentar essas emendas de Comissão de forma consensual, para que
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o Plenário não tenha dúvida de que o trabalho que realizamos aqui contou com a
presença de Deputados de vários partidos representativos desta Casa.
Por último, quero apresentar um destaque supressivo, na parte que trata da
questão religiosa, do direito à liberdade de consciência, da crença e do livre
exercício de culto religioso, à página 33.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Nobre Deputado, a
apresentação de destaque deverá ser por escrito, a não ser que seja apenas
sugestão.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Trata-se de um destaque, mas o faço
sob a forma de sugestão ao Relator. Gostaria que S.Exa. a acatasse. Trata-se do
inciso VIII do art. 25, que fala sobre a capacitação, a eleição e a designação dos
dirigentes das religiões afro-brasileiras de acordo com suas próprias necessidades e
dogmas. Acredito não ser necessária a apresentação desse inciso, por ser um
direito das religiões o de estabelecerem seus métodos. Não caberia dizer, por
exemplo, aos adeptos da Igreja Católica qual o método de eleger o Papa ou os
Bispos. Portanto, estou sugerindo ao nobre Relator a supressão do inciso VIII desse
dispositivo.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Agradeço ao nobre
Deputado Luiz Alberto a participação. Antes de conceder a palavra ao próximo
orador, quero convidar para fazer parte da Mesa o Dr. Carlos Moura, Presidente da
Fundação Palmares. (Palmas.)
Incontinenti, concedo a palavra ao nobre Deputado Alceu Collares, digno
representante do Rio Grande do Sul.
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O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, estou vivendo um importante momento no Congresso Nacional. Tenho
cabelos brancos e estou há vinte anos no Parlamento. Durante um longo tempo
tentamos iniciar um movimento capaz de sensibilizar a sociedade brasileira e o
Estado para a extraordinária discrepância provocada pela discriminação, pelo
racismo, pelo preconceito cultivado no País. A democracia racial jamais existiu, a
não ser para meia dúzia de pessoas que queriam esconder a dura realidade que
vive o negro brasileiro.
Temos tido o cuidado de dizer que todo este movimento negro, iniciado há
trinta anos, passando pelo trabalho de Abdias, com o teatro experimental do negro,
os jornais, as revistas, passando pela extraordinária conquista de Caó, ao inserir na
Constituição um dispositivo que configura como crime a prática de racismo, culminou
neste momento. O colega Paim conseguiu indiscutivelmente um avanço muito
grande no momento em que a Casa acabou aprovando a constituição desta
Comissão para elaborar o Estatuto da Igualdade Racial. Entretanto, o Presidente
sabe que desde o primeiro momento se queria chamá-lo de Estatuto do Negro. Não
existe o Estatuto do Índio, da Criança e do Adolescente, do Idoso? Vou pedir ao
Senador Paulo Paim que no Senado da República, para onde esse projeto irá, seja
chamado de Estatuto do Negro, até para conscientização da nossa própria raça.
Diria também que não estamos aqui em luta contra qualquer outra etnia,
qualquer outra raça, mas apenas tentando despertar a consciência do povo
brasileiro, de todas as raças. Há uma monumental dívida social a ser paga ao negro
brasileiro, que durante quase 400 anos foi o único braço realizador das
transformações econômicas neste País. Vamos fazer um grande esforço para
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aprovar o projeto, ainda que com uma ou outra falha, apesar do empenho do
Deputado Reginaldo Germano em busca da perfeição.
A posição do Deputado do PT que me antecedeu, pedindo a eliminação do
inciso do art. 25, é absolutamente apropriada.
Gostaria de prestar uma homenagem ao Senador Paulo Paim pela sua luta,
pela sua extraordinária perseverança, pela sua persistência no empenho de aprovar
essa proposição, mesmo com uma ou outra falha. Espero que no Senado tenha
oportunidade de fazer as correções que achar convenientes, e que o novo
Presidente da República, cuja origem é das mais modestas, dos confins da miséria e
da pobreza, tenha historicamente a oportunidade de sancionar este Estatuto,
diferente de outros, que, ao longo do tempo, tantas vezes falaram no movimento
negro e tão pouco fizeram em seu favor.
Não se trata de um movimento contra outras raças. Ao contrário, é um
movimento a favor de uma raça, a única que foi discriminada, porque as outras,
formadas por alemães, italianos, espanhóis, portugueses, judeus, entraram aqui por
livre e espontânea vontade. A crise na Europa, sem dúvida alguma, não oferecia a
menor condição para a sobrevivência desses segmentos, que escolheram a América
para construir sua nova pátria. Vieram com as famílias, de livre e espontânea
vontade, enquanto nós viemos para cá chocados, amargurados, entristecidos,
judiados, com a auto-estima e o auto-apreço absolutamente destruídos. Nossas
famílias foram desconstituídas, nossas mulheres foram estupradas e violentadas. E
durante todo esse tempo, 350, quase 400 anos, jamais fomos capazes de levantar
nossa voz contra qualquer outra raça, outra etnia. Temos mantido a luta apenas em
prol do nosso direito ao pagamento de uma monumental dívida social.
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Por isso, gostaria de pedir a compreensão das outras etnias, que às vezes
dizem que este movimento que estamos liderando é racista às avessas. Racista às
avessas para quem não passou pelo que passamos. Racista às avessas para quem
não compreende o que foi a longa tortura de uma raça durante 350 anos.
Gostaria de fazer menção a Moura, um lutador, testemunha de que, à época
em que se iniciou o movimento no Congresso, certamente por outros antes de nós,
quem lhe deu espaço para começar sua luta — que, indiscutivelmente, é uma das
mais bonitas e mais belas, mais perserverantes e persistentes, e resultou na
Fundação Palmares — foi o negrão Collares, há quarenta anos. (Palmas.) Sou grato
a Deus porque venho perseverando até na idade; já passei dos trinta há muito
tempo, e ainda vou durar mais quarenta anos. E minha mulher diz que não é minha
missão, mas uma maldição que Deus jogou sobre mim.
Quero congratular-me com o colega Paulo Paim, primeiro pela eleição para
Senador, que foi uma glória, uma conquista, um fator de repercussão histórica,
segundo pelo seu trabalho, que vamos aprovar por unanimidade, por consenso. Que
no Senado S.Exa. e outros Senadores aperfeiçoem este instrumento. E que seja
Lula o Presidente da República a entrar para a História como aquele capaz de
sancionar este extraordinário instrumento.
Imaginem V.Exas. que todos os movimentos negros no Brasil têm consciência
de que este é um degrau, e muito tímido, rumo à luta que nós, após tomarmos
consciência da nossa força, vamos empreender com muita perseverança. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Agradeço a fabulosa
participação do eterno Governador Alceu Collares.
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Como próximo orador inscrito, concedo a palavra ao nobre Deputado Costa
Ferreira.
O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA – Sr. Presidente, Sr. Relator,
Deputado Reginaldo Germano, Dr. Moura, demais Parlamentares e representantes
de entidades negras presentes, esta é uma tarde memorável, porque não encerra,
mas coroa de êxito um trabalho persistente, que, ao longo do tempo, procurou
resgatar a dívida social que o Brasil tem para com os negros. Afinal de contas, como
disse o Governador Alceu Collares, os negros não vieram para cá
espontaneamente. Castro Alves retrata essa saga em um de seus poemas e
lamenta o sofrimento daqueles que aqui, hoje, graças a Deus, fazem parte desta
Nação, construindo-a, mas ainda com o trauma do preconceito e do racismo.
É preciso que este Estatuto, depois de aprovado e sancionado, torne-se um
instrumento de exaltação e de resgate de uma raça que, ao chegar ao Brasil, trouxe
não somente sua mensagem, sua cultura, seu trabalho, mas acima de tudo a boa
vontade de construir uma Pátria que hoje tem um lugar entre as comunidades
internacionais. Isso também devemos ao negro, ao afro-descendente. Aliás, também
somos um afro-descendente. Alegramo-nos porque o Estatuto, embora ainda não
acabado, é um passo para alcançarmos a consolidação do ideal de que todos
sejamos iguais perante a lei, sem tramas, e que, afinal de contas, haja um
instrumento de proteção dessa raça tão benfazeja, que no Brasil tem dado cabal
demonstração de competência. Desse movo poderemos alçar bem alto o nome de
nossa Pátria, não só internamente, mas também no exterior. Temos grandes
músicos, cientistas, filósofos, enfim, toda uma geração de pessoas que têm
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contribuído de maneira extraordinária para que o Brasil seja a Pátria da qual nos
orgulhamos.
Estão presentes aqui brasileiros de vários rincões deste País. Estava dizendo
ao Deputado Paulo Paim que considero insuficiente a cota de 20%. No Rio Grande
do Sul é menor a participação dos negros, mas temos Estados brasileiros em que
ela é de quase 60%, 70%. Então, deveria haver flexibilidade; ou seja, esse
percentual seria a cota mínima; e a máxima? Seria 100%, Sr. Relator? Aqui, fala-se
da cota de 20% em todos aqueles segmentos em que pode haver participação do
negro, mas não encontrei a máxima. Deve ser o total. É isso?
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – É a mínima.
O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA – Se é a mínima, então não há limite
para a frente.
Achei muito boa a disposição nos três títulos, muito bem elaborados, assim
como seus capítulos, inclusive quanto à parte religiosa. Em nosso País há liberdade
de culto, e é claro que todas as pessoas que têm fé devem poder exercer na
plenitude de sua consciência seus ideais religiosos, sem serem molestadas por "a"
ou por "b". Também por isso parabenizamos o Sr. Relator.
Queremos também destacar o papel do Deputado Paulo Paim, que
encontramos na Constituinte e com quem temos trabalhando aqui, ali e acolá, em
prol do negro; de Benedita da Silva, também um expoente; de Caó, de Antônio de
Jesus e do Governador Alceu Collares — que em sua brilhante participação
demonstrou-nos sua vontade de desbaratar todo esse preconceito, e exaltou Caó
por inserir na Constituição a caracterização do racismo como crime hediondo, o que
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fez em boa hora e com apoio de todos nós e de muitos outros que passaram por
aqui.
Este Estatuto, apesar de ainda não ser o ideal, demonstra que o Brasil está
amadurecendo e começando a pagar sua grande dívida para com essa raça tão
bondosa e generosa que tanto contribuiu para a grandeza da nossa Pátria.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Agradecemos ao Deputado
Costa Ferreira a participação.
Continuando a lista de inscrição, concedo a palavra à Deputada Almerinda de
Carvalho.
A SRA. DEPUTADA ALMERINDA DE CARVALHO – Sr. Presidente, gostaria
de saudá-lo. Estamos consagrando o trabalho da Comissão com o relatório do
amigo Reginaldo Germano, a quem parabenizo. E parabenizo o Deputado Paulo
Paim pela grande luta que todos conhecemos, não só nessa questão, mas em
tantas outras, e toda a Comissão. Quero saudar a todos os que hoje nos estão
visitando. Espero que esse relatório seja aprovado e possa merecer
aperfeiçoamento no Senado Federal.
Este é o momento de repararmos a grande dívida para com os negros deste
País. Esperamos que o relatório e o Estatuto não fiquem somente no papel. Temos
aprovado relatórios e estatutos que muitas vezes não chegam a ser sancionados.
Que lutemos até o final para colocá-lo em prática, uma vez que essa dívida é grande
e vem de muitos anos. Não é mais possível vermos pessoas sendo humilhadas. Isso
não pode mais acontecer no País, até porque, perante Deus, somos todos iguais.
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Gostaria também de fazer uma saudação toda especial à Governadora do
Estado do Rio de Janeiro, Benedita da Silva. Parabéns a todos. (Palmas.)
Parabéns, mais uma vez, ao Deputado Paulo Paim pela sua brilhante eleição.
Que no Senado S.Exa. seja também o representante não só dos negros, mas do
nosso País, que precisa de pessoas como ele. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Agradecemos à Deputada
Almerinda de Carvalho a participação.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Peço a palavra pela ordem, Sr.
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Pela ordem, concedo a
palavra ao Deputado Luiz Alberto.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Sr. Presidente, para que não seja
necessário apresentar um destaque e forçar um debate desnecessário e muito
complicado no plenário, sugiro a alteração da redação do art. 36, do Capítulo da
Terra, onde diz o seguinte:
“Acrescente-se o seguinte artigo 2º-B”, à Lei nº
8.629, de 25 de fevereiro de 1993:
Art. 2º-B. São consideradas passíveis de
desapropriação para fins de reforma agrária as terras a
serem demarcadas e tituladas aos remanescentes das
comunidades dos quilombos.”
Sugiro ao nobre Relator modificar esse conteúdo uma vez que o estatuto da
reforma agrária é diferente no conceito do que sejam comunidades remanescentes
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de quilombos. Essas comunidades já têm terra e não vão ser assentadas; elas já
ocupam a terra.
O art. 68 estabelece que o Estado emita o título de propriedade na medida em
que reconhece essas comunidades. Portanto, elas podem ser desapropriadas para
fins de atendimento ao art. 68 e não à reforma agrária. Se não, vamos passar a ter
assentados e não comunidades remanescentes de quilombos. Queria sugerir ao
nobre Relator que modificasse o conteúdo desse artigo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Gostaria que V.Exa.
explicitasse a redação do artigo.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Seria o seguinte: “Serão consideradas
passíveis de desapropriação as terras a serem demarcadas e tituladas aos
remanescentes das comunidades de quilombos.”
Trata-se de um direito. Além disso, queremos evitar o que está ocorrendo hoje, pois
há várias comunidades que são reconhecidas, e proprietários que têm seus títulos
registrados em cartório. Com isso, começam os conflitos pela terra. Evidentemente,
com o direito de propriedade desses pretensos proprietários, eles recorrem a
medidas judiciais e o Estado teria de desapropriar e pagar as benfeitorias. Então,
queremos que se retire a expressão “para efeito de reforma agrária”, o que
distorceria o objetivo desse capítulo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Em síntese, V.Exa. retira a
expressão “para fins de reforma agrária”?
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Exatamente, Sr. Presidente.
(Intervenção inaudível.)
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O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Essas comunidades já são
proprietárias.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Nobre Deputado Luiz
Alberto, V.Exa. encerrou o pronunciamento?
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Sim, Sr. Presidente. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Devolvo a palavra ao
nobre Relator, Deputado Reginaldo Germano, para suas considerações finais.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Sr. Presidente, confesso que
não entendi muito bem essa discussão. Por exemplo, a terra que pertence ou
pertenceu a remanescentes de quilombo, mas que hoje é de propriedade... Como
vai ser feita a desapropriação?
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – (Ininteligível.) devolução aos
verdadeiros proprietários.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Nobre Relator, esta é uma polêmica
que foi levantada na reunião que a Fundação Palmares está promovendo com os
remanescentes de quilombos. A posição de alguns setores é a de que, sendo de
propriedade dos remanescentes de quilombos, não caberia desapropriação. A outra,
inclusive do Ministério Público Federal, é de que deveria haver indenização de
benfeitorias. Imaginem só, Sr. Presidente, Sr. Relator, se o Estado reconhecer uma
comunidade remanescente de quilombo numa terra que está sendo reivindicada por
determinado fazendeiro, emitir um título e não pagar nada. Quem tirará esses
pretensos proprietários das terras? Isso vai transformar as comunidades
remanescentes de quilombos em milícias armadas para expulsar os fazendeiros, ou
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o Estado se responsabilizará, mediante força policial, em retirar esses pretensos
proprietários?
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Não há desapropriação, mas
indenização de benfeitorias, porque a propriedade nua já é do negro há séculos e
reconhecida pela Constituição. A redação dada a esse dispositivo representa um
retrocesso. Já avançamos com o reconhecimento da propriedade nua àqueles que
lá constituíram o quilombo. Trata-se de indenização às benfeitorias que porventura
forem feitas por colonos “a”, “b” ou “c”, mas não de desapropriação.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Tendo a concordar com a posição do
Deputado Alceu Collares, que é um avanço e o ideal. Concordo, se o nobre Sr.
Relator aceitar essa redação.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Estou de acordo com a
redação do Deputado Alceu Collares.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Apenas gostaríamos, Sr.
Relator, que ficasse claramente explicitada a redação do Deputado Alceu Collares.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Estamos de acordo, e S.Exa.,
assim que redigi-la, irá nos encaminhar.
Gostaria, Sr. Presidente, ainda nas considerações finais, de tratar um pouco
do assunto religião.
O Deputado Luiz Alberto citou apenas o § 8º e eu cito o § 6º, visto que não sei
como nós, Deputado Paulo Paim, iremos tratar do assunto à página 34, inciso VI,
que menciona o ensino das religiões afro-brasileiras. Também vou suprimir esse
inciso por não encontrar nele respaldo. De outro modo, teríamos de citar todas as
outras religiões automaticamente. Por exemplo, no Estado da Bahia está aprovado o
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ensino religioso nas escolas. Como iríamos fazer isso? Daí podermos suprimir o
inciso VI.
Farei uma inclusão no art. 32, à página 37, que diz:
“O procedimento administrativo de reconhecimento
das terras ocupadas pelos remanescentes das
comunidades dos quilombos deverá ser realizado no
prazo de noventa dias e será constituído de um Relatório
Técnico e do decreto de declaração das terras como
sendo de remanescentes das comunidades dos
quilombos.”
Então, ele ficará como parágrafo único e farei do parágrafo único o § 1º e
incluirei o § 2º. O primeiro diz:
“Fica assegurado aos remanescentes das
comunidades dos quilombos indicar representantes,
assim como assistentes técnicos para acompanhar todas
as fases do procedimento administrativo. No caso, órgão
do Governo Federal poderá solicitar participação de
profissionais de notório conhecimento sobre o tema para
subsidiar os procedimentos administrativos de
identificação e reconhecimento.”
O § 2º ficará assim:
“Caberá à Fundação Cultural Palmares oferecer
subsídios e prestar assessoramento técnico durante o
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procedimento administrativo de reconhecimento das
terras ocupadas pelos remanescentes do quilombo.”
Então, estamos incluindo a Fundação Palmares no subsídio de assessorar
tecnicamente o procedimento administrativo de reconhecimento das terras.
Sr. Presidente, quanto à redação do Deputado Alceu Collares ao art. 36, 2-B,
fica assim: “Não são passíveis de desapropriação as terras a serem demarcadas e
tituladas aos remanescentes das comunidades dos quilombos. “
Esta é a redação.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Sr. Relator, continuo com dúvida. Na
legislação agrária existe o estatuto de desapropriação que garante indenização aos
pretensos proprietários. Esse direito que estamos discutindo é novo nas
comunidades remanescentes dos quilombos. Aliás, não é direito novo, uma vez que
existe dispositivo constitucional, embora os mecanismos do processo ainda não
foram estabelecidos. Por isso queremos, com esse projeto de lei, estabelecer esse
procedimento administrativo. Tanto que a previsão de existência de desapropriação
para efeito de emissão de título de propriedade às comunidades remanescentes de
quilombos é fundamental que seja garantida. E é importante continuarmos esse
debate, seja no plenário, seja no Senado, para melhorar a redação. Não podemos
abrir mão da previsibilidade da desapropriação, até por se tratar de instrumento
legal.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – V.Exa. me permite um aparte.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Pois não, Deputado.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Com o dispositivo que estamos
discutindo vamos retroceder, porque o reconhecimento da propriedade já existe.
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Está na Constituição de 1988. Então, alguns Estados, mediante esse dispositivo,
vão, depois, tentar a desapropriação daquilo que já é propriedade crua do negro. Ele
mora lá há 200 anos, há muitos anos.
Como vamos admitir uma redação que possibilita à autoridade pública realizar
a desapropriação daquilo que já é dele? Então, temos de estabelecer que não é
passível de desapropriação, visto que alguns Estados estão fazendo enorme
confusão por acreditar que devem realizar a desapropriação. Mas como
desapropriar aquilo que é meu? Não pode desapropriar aquilo que já está no meu
patrimônio, que é minha propriedade. E isso é reconhecido constitucionalmente. Se
admitirmos a desapropriação, estaremos retrocedendo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Deputado Luiz Alberto
continua com a palavra.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Sr. Presidente, compreendo e, de certo
modo, concordo com a argumentação do Deputado Alceu Collares. A grande
questão é que em eventual contestação o Judiciário vai necessariamente entender
que haverá... essas propriedades estariam registradas em cartório em nome de
proprietários que não são remanescentes de quilombo. Temos exemplos de
comunidades remanescentes de quilombos que foram obrigadas inclusive a ser
desapropriadas com outro tipo de argumentação para resolver um problema
localizado, uma vez que não existia um estatuto que determinasse o procedimento
legal nesse caso particular.
A argumentação do Deputado Alceu Collares é correta, justa. No entanto, é
preciso argumentar no sentido de haver previsibilidade de indenização das
benfeitorias. Para entender melhor a situação, cito o exemplo das terras indígenas.
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Como é feita a demarcação das terras indígenas nos casos em que há título de
propriedade em nome de terceiros?
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Tenho a impressão de que se ficar
como está, isso representará um retrocesso. O fato de que cartórios ofereceram
títulos às propriedades de quilombos, e há muitos casos, tem ensejado debate
judicial muito demorado. Se estabelecermos agora que isso é passível de
desapropriação, vamos reconhecer os invasores, porque os territórios, os espaços,
já são propriedades dos quilombos.
A Constituição reconheceu a propriedade. Agora, o Judiciário pode determinar
a anulação dos títulos que não têm origem correta. Há um título da grilagem. Então,
se admitirmos isso, será o retrocesso de uma conquista que os quilombos já
alcançaram com a Constituição de 1988. Podemos até chegar a uma melhor
redação.
Todavia, não se pode permitir que esse estatuto não represente avanços para
os direitos do negro brasileiro. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há vários
quilombos. No Brasil há quase setecentos quilombos. Como admitir a possibilidade
de desapropriação e indenização por benfeitorias, se o Judiciário só pode decretar a
anulação dos títulos de propriedade sobre uma propriedade que é de direito e de
fato constitucionalmente do negro?
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Sr. Presidente, gostaria de aceitar a
sugestão do Deputado Alceu Collares para que pudéssemos, de forma consensual,
encontrar uma redação que resolvesse as dúvidas e indagações com nossa
assessoria. Poderíamos apresentá-la ao Relator.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Pela ordem, tem a palavra
o Deputado Paulo Paim.
O SR. DEPUTADO PAULO PAIM – Sr. Presidente, com intuito de colaborar,
recebi redação de um advogado ligado à área dos remanescentes dos quilombos, a
qual vou encaminhar à Mesa. Ela versa sobre o que foi abordado pelos Deputados
Alceu Collares e Luiz Alberto. É a seguinte:
Havendo justo título de propriedade na área a ser
demarcada e titulada, caberá aos órgãos competentes
promover a respectiva indenização ou desapropriações
para fins de caráter étnico nos termos da Lei nº 8.629, de
25 de novembro de 1993.
Acredito que resolve.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Sr. Presidente, se esse título
existe, não é justo. Trata-se de um título que foi manipulado, criado, grilado em cima
da propriedade do negro. Se vai anular, é porque ele não é justo. Como dizer que o
título é justo? Há uma contradição na redação do dispositivo que estamos sugerindo.
Sr. Relator, podemos acertar depois uma redação correta.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Esclareço a V.Exas. que
todas as alterações terão de ser feitas antes da votação.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Sr. Presidente, dando
continuidade, parei no § 2º, no qual coloco a Fundação Palmares para oferecer
subsídios. Era o art. 32, seria o parágrafo único. Então, do parágrafo único criei o §
1º e acrescentei o 2º parágrafo.
O § 2º estará com a seguinte redação, vou repetir:
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Caberá à Fundação Cultural Palmares oferecer
subsídios e prestar assessoramento técnico durante o
procedimento administrativo de reconhecimento das
terras ocupadas pelos remanescentes dos quilombos.
Então, trata-se de fazer justiça com a Fundação Palmares. Não poderia deixar
de fora esse órgão que muito tem nos assessorado e orientado nas terras de
quilombos.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é com muita satisfação que
chegamos a um denominador comum até mesmo nessa discussão sobre as terras
quilombolas. Talvez possamos, antes da votação, oferecer uma redação final que
seja aprovada por todos.
Sr. Presidente, quero agradecer a todos os presentes, aos representantes da
raça negra que se interessaram pela discussão desse tema, desse estatuto e dessa
lei que vai pelo menos nortear a Justiça do País em relação à comunidade negra.
Parabenizo o Deputado Paulo Paim pela conquista de uma cadeira no
Senado. Perdemos Benedita da Silva quando assumiu o Governo do Rio de Janeiro,
mas ainda teremos o Senador Paulo Paim.
Também não posso deixar de fazer justiça a um integrante da minha igreja,
Bispo Rodrigues. O Deputado Paulo Paim e eu — digo isso aqui não como uma
forma de ser reconhecido, mas como uma forma de fato — conversamos sobre sua
eleição no Rio Grande do Sul para o Senado. Eu me dirigi ao Deputado Bispo
Rodrigues e disse a S.Exa. que tínhamos necessidade de ajudar o Deputado Paulo
Paim a se tornar Senador do Rio Grande do Sul. Então, S.Exa. determinou ao
dirigente máximo da Igreja Universal do Rio Grande do Sul que o apoiasse.
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Não vou dizer que nós, no Rio Grande do Sul, participamos com a metade,
com 30% da eleição do Deputado Paulo Paim, mas nós o apoiamos. Na nossa
comunidade evangélica, quando queremos algo o perseguimos até alcançá-lo,
principalmente quando falamos de eleição. Quando definimos nosso candidato,
voltamos todas as nossas intenções e atenções para ele e trabalhamos para ver
seu sucesso. Tenho certeza de que nossa participação em muito ajudou o Deputado
Paulo Paim.
Agradeço ao Bispo Rodrigues que, na eleição do Presidente da República,
uniu-se ao Partido dos Trabalhadores, principalmente no segundo turno, em que
deflagrou uma campanha em favor de Lula. Não posso deixar de citar esse fato e
também de agradecê-lo por ter me orientado na confecção desse relatório,
principalmente na questão mais polêmica que temos encontrado: a religiosa. De
maneira imparcial, pudemos contemplar as intenções, respeitar a condição religiosa
de cada um dos que aqui se encontram. Aqui temos pessoas do candomblé,
católicos, evangélicos, espíritas; há uma mistura de religiões. O Brasil é um país,
verdadeiramente, de liberdade religiosa.
Citamos, naquela oportunidade, o Rio de Janeiro, que é o Estado onde mais
nós podemos comprovar essa tese. Se vamos à praia, a um jardim, a uma
cachoeira, lá encontramos manifestações religiosas por parte do candomblé, da
umbanda, da quimbanda ou seja lá do que for. Se vamos a um ginásio, lá está o
evangélico fazendo seu culto. Se vamos ao clube ou a outro ginásio, lá está um
padre, como o Padre Marcelo Rossi, celebrando sua missa.
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Acredito que não existe neste mundo um país com maior respeito e liberdade
religiosa do que o Brasil. Esse relatório está respeitando o direito e o desejo de
todos de praticar a religião que quiser, respeitando, claro, o direito dos outros.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Vou interromper o nobre
Relator para chamar a atenção para o seguinte: daqui a dez minutos inicia-se a
Ordem do Dia e esta votação poderá ser invalidada se for feita nesse período. O art.
36 não ficou esclarecido. Então, gostaria de chamar a sua atenção para esses dois
fatos: o tempo e a questão da redação.
O SR. DEPUTADO DAMIÃO FELICIANO – Quero, como membro desta
Comissão, parabenizar o Relator e V.Exa. pela condução dos trabalhos. O relatório
será um extraordinário avanço. Não é tudo, precisamos ainda de mais. Mesmo
assim, parabenizo a Comissão. Foi dado um importante passo em direção à
igualdade racial, sendo inclusive exemplo para a América Latina e para todo o
continente.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Muito obrigado a V.Exa.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Peço a palavra pela ordem,
Sr. Presidente.
O Deputado Paulo Paim faz sugestões para o art. 40, parágrafo único, que
está redigido assim: “O Ministério do Desenvolvimento Agrário” — e aí eu vou
colocar a Fundação Cultural Palmares — “ou o órgão que lhe venha a suceder, será
responsável pela execução de políticas públicas especiais voltadas para o
desenvolvimento sustentável das comunidades dos quilombos.” Está correto?
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O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Nobre Relator, em relação ao
parágrafo único que o Deputado apôs aqui, a idéia era que se compreendesse a
importância do conceito de desenvolvimento sustentado ser responsabilidade de
todos os Ministérios e não só do Ministério do Desenvolvimento Agrário — da
Saúde, da Educação, da Fazenda, enfim, onde for possível. Por que não citou o
INCRA e citou o Ministério do Desenvolvimento Agrário? No caso da Fundação
Palmares, poderia ter citado aqui o Ministério da Cultura e assim sucessivamente.
Acho desnecessário, até porque, se o nobre Relator perceber, a redação
desse capítulo da terra omite nome de órgãos, para dar ao Poder Executivo o
estabelecimento das tarefas na execução dos procedimentos administrativos, para
que essa lei seja cumprida. Não estabelecemos o nome de nenhum órgão
específico. Sabemos que a Fundação Palmares, o INCRA têm um importante papel
nesse processo. Se, eventualmente, mudar o nome desse órgão ou o Executivo
determinar que outro órgão seja incluído no procedimento administrativo, vai se
estabelecer isso. Portanto, acho desnecessária a inclusão.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Deputado Luiz Alberto, o
parágrafo único diz: “ou a órgão que lhe venha a suceder...”. Quer dizer, se for
criado outro órgão que venha suceder o Ministério do Desenvolvimento Agrário ou a
Fundação Palmares, estaremos encampando esse outro órgão, seja lá o que for
criado.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Nobre Relator, não vou entrar em
polêmica. Acho restritivo, mas vamos debater essa questão no plenário e no
Senado. O tempo urge.
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O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Gostaria de deixar incluída
essa redação. Mesmo que for discutida depois, que fique: “O Ministério do
Desenvolvimento Agrário, a Fundação Palmares ou o órgão que vier lhe suceder... “
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Está bom.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Se tiver que haver mudança
ou discussão...
(Não identificado.) – Trinta e seis.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Art. 36, precisamos fazer a
redação.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Nobre Relator, estamos fazendo
um enorme esforço, como o Presidente Saulo Pedrosa também, no sentido de que
se aprove esse relatório, com uma ou outra falha, e vá ao plenário, se possível,
ainda no final desta Legislatura.
Considero isso uma homenagem ao Deputado Paulo Paim pela sua luta.
(Palmas.)
Perfeição, certamente os seres humanos não vão atingir, mas vamos nos
aproximar dela. Como Senador, no Senado Federal, Paulo Paim completará essa
obra.
Outra preocupação, que também me tomou conta da alma, é que havia o
interesse de o Senado ainda examinar, discutir, emendar, substituir esse projeto
ainda nesta Legislatura. Acho que isso não seria justo, porque o Sr. Fernando
Henrique teve oito anos. Ele tomou algumas medidas? Sim, mas acho que o justo é
que o Senador eleito, Paulo Paim, no início do seu mandato, possa fazer as
alterações no Senado da República, discutir profundamente com as entidades
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representativas do negro no Brasil e apresentar um instrumento de maior eficácia,
com maior perfeição, para que o Presidente Lula possa se consagrar
internacionalmente como o Presidente que sancionou a lei que trata desse Estatuto.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Eu insisto, nobre Relator,
para que fique claramente registrada a redação do art. 36.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – O Sr. Deputado Paulo Paim
parece que apresentou uma proposta que se aproxima da ideal. Então, vou ler
novamente o art. 8º — o Sr. Deputado Paulo Paim já havia lido —, e encerraremos a
discussão, com a leitura da redação: O órgão do governo federal competente ou o
órgão estadual, concluído o processo de regularização”...
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – “Havendo justo título de
propriedade na área a ser demarcada, intitulada, caberá aos órgãos competentes
promover a respectiva indenização ou desapropriação para fins de caráter étnico,
nos termos da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993.
Gostaria de saber se isso...
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Se mantiver a palavra
“desapropriação”, S.Exa. estará repetindo o que estamos tentado corrigir. Não se
pode desapropriar aquilo que já é propriedade dos negros.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO - Sr. Relator, gostaria de ajudar para ver
se saímos dessa discussão. O nobre Deputado Alceu Collares está coberto de
razão. O problema é que temos um dispositivo constitucional de 1988. Antes de
1998 não existia esse dispositivo; ou seja, esse direito não existia formalmente.
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Então, imaginemos que um juiz julgue um título preexistente a 1988 e tenha de
estabelecer a indenização dessas terras como de justa propriedade.
Acho que deveríamos aprovar, na forma da redação apresentada, depois
faríamos a consulta e a modificação necessária. É o mínimo de consenso a que
poderíamos chegar neste momento.
Quero, também, resolver o problema das comunidades remanescentes de
Quilombos; senão amanhã um juiz dirá que tem de desapropriar, e esse processo
demorará trinta anos, como ocorreu com a comunidade de Rio das Rãs. Pode não
ser, por exemplo, um processo de nulidade de título fraudulento, declaradamente
fraudulento. (Palmas.)
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Sr. Deputado, V.Exa. pode
apresentar uma emenda de plenário já consensual e resolver o problema.
O SR. DEPUTADO LUIZ ALBERTO – Concordo com V.Exa.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Então, eliminaremos toda a
redação do art. 36 e acrescentaremos essa redação que acabamos de ler na
íntegra. Conservaremos as palavras “desapropriação e a indenização”, e depois...
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – (Inaudível.)... título justo ... em
cima daquilo que a propriedade do negro não é justa, não é legal ... grupo de
grilagem.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO - Ele pode não ser justo, mas
que é...
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – (Inaudível.)... de alteração
cartorial. Venderam ou negociaram uma propriedade que não poderia ser
negociada. Desse argumento não dá para tirar. Como vamos tangenciar? Ou é
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propriedade do negro ou não é. Se é propriedade, não pode ser desapropriada. Se
alguém tem um título, não é um título justo.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – E como fazer...
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – É um problema de linguagem
portuguesa.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Tem de ter o processo, não
é?
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Pode ter, mas não pode... Título
justo; título justo é o de um casebre que tenho lá em Porto Alegre.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Então, vamos colocar assim:
“havendo título de propriedade”. Tiraremos a palavra “justo”.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Isso. Não vamos discutir se é ou
não é justo.
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Há consenso. Depois de
tantas idas e vindas, registraremos a redação que prevalecerá: Havendo título de
propriedade — vamos tirar a palavra “justo” — da área a ser demarcada e titulada,
caberá aos órgãos competentes promoverem a respectiva indenização ou
desapropriação, para fins de caráter étnico, nos termos da Lei nº 8.629, de 25 de
fevereiro de 1993.
Há consenso da redação.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Vou aceitar, embora a palavra
“desapropriação”... (inaudível.) Substituiremos um dispositivo que falava sobre
desapropriação. Depois introduziremos, novamente, numa redação, uma emenda ao
dispositivo que queríamos alterar, mas que repete a palavra “desapropriação”.
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Indenização, sim. É o que está acontecendo com o Judiciário. Lá no Estado do Rio
Grande do Sul há vários quilombos cuja legitimidade e propriedade dos negros
foram reconhecidas.
(Não identificado) – Nem precisou serem desapropriados.
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Não. Os colonos estão sendo
indenizados porque provaram que tinham os títulos. É por isso que o título não é
justo. Eles compraram mal; foram vítimas de pessoas de má-fé, de alteração nos
cartórios, de grilagem no País.
(Não identificado) – Peça para tirar a palavra “desapropriação” e manter....
O SR. DEPUTADO ALCEU COLLARES – Não, se o Relator quiser... Vamos
confiar no trabalho do...
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Sr. Deputado Costa Ferreira,
V.Exa. me sugeriu que essa matéria fosse assim para plenário.
O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA – Sim. Para evitar mais delonga.
Como ela vai ter de ser emendada no plenário da Câmara e depois vai para o
Senado, acho que há tempo, durante esse trâmite, de encontrar uma melhor
maneira.
(Não identificado) – Então, vamos deixar assim. Tira-se apenas a palavra
“justo”; encaminha-se para o plenário da Câmara, e depois, no Senado, nós...
O SR. DEPUTADO REGINALDO GERMANO – Correto. Então, deixaremos
essa redação, suprimindo apenas a palavra “justo”, e, posteriormente, no Senado
voltaremos à discussão da matéria.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Concluída a discussão,
passa-se à votação do parecer do Relator.
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Declaro encerrado o prazo para apresentação de destaques.
Votação do parecer do Relator.
Algum dos Srs. Deputados pretende encaminhar?
O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA – Sr. Presidente, para encaminhar a
votação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Concedo a palavra ao
Deputado Costa Ferreira para encaminhar.
Peço a S.Exa. que seja breve, a fim de não prejudicar a votação, em face do
início da Ordem do Dia.
O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA – Serei sucinto. Sr. Presidente, Srs.
Parlamentares e demais representantes de entidades aqui presentes, acreditamos
que chegamos a um consenso, para que realmente se aprove esse estatuto. É claro
que durante sua tramitação irá sendo melhorado, até chegar à última aprovação no
Senado. Sou a favor.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Saulo Pedrosa) – Mais algum dos Srs.
Deputados deseja encaminhar? (Pausa.)
Passa-se à votação.
Em votação o parecer do Relator.
Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam com se encontram. (Pausa.)
Aprovado por unanimidade. (Palmas.)
Consulto os Srs. Deputados se podemos dar por aprovada a ata da presente
reunião, tendo em vista contarmos com a gravação e as notas taquigráficas, que
reproduzem na íntegra o teor do evento.
Em votação a ata da reunião.
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Aqueles que a aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovada.
Está encerrada a presente reunião. (Palmas.)