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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO DENISE PIRES DA SILVA ALFABETIZAÇÃO POLÍTICA PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE SOCIAL: o caso de uma Comissão de Direitos do Paciente RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

DENISE PIRES DA SILVA

ALFABETIZAÇÃO POLÍTICA PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE SOCIAL: o caso

de uma Comissão de Direitos do Paciente

RIO DE JANEIRO

2012

2

Denise Pires da Silva

ALFABETIZAÇÃO POLÍTICA PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE SOCIAL: o caso

de uma Comissão de Direitos do Paciente

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Educação em

Ciências e Saúde. Núcleo de Tecnologia

Educacional para a Saúde, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como requisito para

a obtenção do título de Mestre em Educação

em Ciências e Saúde.

Orientadora: Profª Drª Ivone Evangelista Cabral

RIO DE JANEIRO

2012

3

Silva, Denise Pires da.

Alfabetização política para o exercício do controle social: o caso de uma comissão de direitos do paciente / Denise Pires da Silva.– 2012.

90 f.; 30 cm.

Orientador: Ivone Evangelista Cabral. Dissertação (mestrado) -- Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, 2012.

Bibliografia: f. 82-83.

1. Comissão de Direito do Paciente - Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - Rio de Janeiro. 2. Controle social. 3. Estudos de casos. 4. Alfabetização Política. I. Cabral, Ivone Evangelista. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nutes, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde. III. Título.

4

Denise Pires da Silva

ALFABETIZAÇÃO POLÍTICA PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE SOCIAL: o caso

de uma comissão de direitos do paciente

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Educação em

Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia

Educacional para a Saúde, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como requisito para

a obtenção do título de mestre em Educação

em Ciências e Saúde.

Aprovada em:

____________________________________________

Profª Ivone Evangelista Cabral, Doutora, NUTES/UFRJ

__________________________________________

Profª Rita Vilanova Prates, Doutora, NUTES/UFRJ

____________________________________________

Profª Janete Luiza Leite, Doutora, Faculdade Serviço Social/UFRJ

5

AGRADECIMENTOS

A DEUS! Por tudo que tenho e sou. Se Eu o agradecer a cada minuto do meu dia ainda não

será o bastante. Ele tornou possível todo este caminho até a chegada deste momento e com

certeza me dará oportunidade e me levará a outros caminhos.

Colocou em minha vida PESSOAS as quais posso denominar seres humanos capazes de

muita doação e amor, que muito me amam e me incentivaram a buscar por aquilo que desejo.

PESSOAS com as quais convivi e que me mostraram sentimentos de bondade, generosidade,

tolerância, paciência, aceitação, humildade, sofrimento, resignação e dor ........ como todos,

estes sentimentos nos fazem crescer! Aprendi tanto.......ainda preciso continuar aprendendo,

sou um ser humano inacabado e inconcluso.

Decidi iniciar uma pesquisa tendo como problema de estudo estas PESSOAS, e logo ao

iniciar, Eu e meus questionamentos, tentando organizar objeto de estudo, método etc... já me

deparei com muitas dificuldades; ainda não sou uma expertise, e elas são seres tão complexos

e com tanta expressividade.

Pela análise preliminar, leitura flutuante já realizada nos momentos em que, com elas, estive,

identifiquei que todas estas PESSOAS me foram enviadas por DEUS. Se fizeram presentes

em minha vida para dar um significado especial a cada momento em que, com elas, convivi e

tudo o quê com elas aprendi.

A estas PESSOAS a minha eterna gratidão.

6

Para reflexão:

Qual a melhor Religião?

(Breve diálogo entre o teólogo Leonardo Boff e Dalai Lama).

Leonardo Boff explica:

“No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, no qual ambos (eu e

o Dalai Lama) participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe

perguntei em meu inglês capenga:

___“Santidade qual é a melhor religião?” (Your holiness, What' the best religion?) Esperava

que ele dissesse: “É o budismo tibetano” ou “São as religiões orientais, muito mais antigas do

que o cristianismo.”

O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos – o que me

desconcertou um pouco, porque eu sabia da malicia contida na pergunta – e afirmou:

___“A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito”. “É aquela que te faz

melhor.”

Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar: ___“O que me faz

melhor?”

Respondeu ele:

___ “Aquilo que te faz mais compassivo” (e aí senti a ressonância tibetana, budista, tauista de

sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais

humanitário, mais responsável.....Mais ético....A religião que conseguir isso de ti é a melhor

religião...”

Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando a sua resposta sábia e irrefutável...

Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo se tem ou não religião.

O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho,

7

tua comunidade, perante o mundo...

Lembremos:

“O Universo é o eco de nossas ações e nossos pensamentos”.

A Lei da Ação e Reação não é exclusiva da Física.

Ela está também nas relações humanas.

Se eu ajo com o bem, receberei o bem.

Se ajo com o mal, receberei o mal.

Aquilo que nossos avós nos disseram é a mais pura verdade:

“terás sempre em dobro aquilo que desejares aos outros”.

Para muitos, ser feliz não é questão de destino.

É de escolha.

Pense nisso.

8

RESUMO

SILVA, Denise Pires. Alfabetização Política para o exercício do Controle Social: O caso

de uma Comissão de Direitos do Paciente. 2012. 90 f. Dissertação (Mestrado em Educação

em Ciências e Saúde)-- Núcleo de Tecnologia Educacional Para a Saúde, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

A implantação e consolidação da Comissão de Direitos do Paciente (CDP) do Hospital

Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(HUCFF/UFRJ), período 2001-2011, e sua contribuição para o processo de alfabetização

política no exercício do controle social foi o objeto investigado. Os objetivos foram descrever

o processo de implantação e consolidação da CDP, no período de 2001-2011; analisar a

participação social dos membros da Comissão e suas ações no exercício do controle social; e,

c) discutir a alfabetização política na construção do exercício do controle social no

microespaço da Comissão. A pesquisa qualitativa foi desenvolvida tendo-se o estudo de caso

institucional como método de investigação, cujo aprofundamento na unidade foi alcançado

com a adoção da triangulação das técnicas. As entrevistas semiestruturadas envolveram dois

gestores, dois representantes de pacientes e quatro funcionários; a análise documental

consistiu da leitura de 970 paginas de atas, regimentos, relatórios etc.; e a observação

participante de duas reuniões ordinárias da CDP. Para a análise dos dados, elegeu-se a análise

de conteúdo, de Laurence Bardin, com destaque para os seguintes resultados. No curso de 10

anos de existência da CDP - da implantação à consolidação -, seus membros participaram

ativamente da resolução de problemas que se apresentavam no cotidiano do hospital. Para

tanto, realizaram reuniões ordinárias e extraordinárias, promoveram encontros anuais para

debater temas de interesse à resolução dos problemas, representaram a comissão em outras

instâncias do hospital e fora dele, levando a voz do controle social para a gestão do serviço e

dos cuidados. A CDP, que emerge como uma estrutura da gestão para atender uma

necessidade de diálogo com o usuário, gradativamente desenvolve um processo de

alfabetização política que fortalece sua construção e consolidação, efetivando o exercício do

controle social no espaço institucional, cercado de contradições e paradoxos.

Palavras-chave: Controle Social. Alfabetização Política. Estudo de caso

9

ABSTRACT

SILVA, Denise Pires. Alfabetização Política para o exercício do Controle Social: O caso

de uma Comissão de Direitos do Paciente. 2012. 90 f. Dissertação (Mestrado em Educação

em Ciências e Saúde)-- Núcleo de Tecnologia Educacional Para a Saúde, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

The implantation and consolidation of the Commission on Patient’s Rights (CPR)

from Clementino Fraga Filho University Hospital from Rio de Janeiro’s Federal University

(CFFUH/RJFU), from 2001 to 2011, and its contribution to political literacy on social control

was the object to be investigated. The aims were: a) describe the process of implantation and

consolidation of the CPR from 2001 to 2011; b) analyze the social participation of the

Commission’s members and their actions on social control; and, c) discuss the political

literacy on the construction of social control exercise in the micro space of this institutional.

The qualitative research was developed having the institutional subject as a researching

method the adoption of three techniques helped to make the unity deeper. The semi-structured

interviews which involve two managers, two patient’s representations and four members of

the staff; the documental analysis consisted of the reading of 970 pages of minutes, regiments

reports, and the field observation on two periodical meetings from CPR. To analyze the data,

the content analysis, by Laurence Bardin, was chosen putting in evidence the following

results. In the period of ten years of CPR’s existence, from its implantation to its

consolidation its members participate actively in the solution of problems which appeared in

the everyday life of the hospital. For that, they held common and extraordinary meetings; they

organized annual meetings to debate subjects of interest to the solution of problems, they

represented the Commission in other places of the hospital and outside it, carrying the voice

of social control to the management of service and care. The CPR, which came out as a

management structure to attend the need for dialogue with the users, gradually develops a

process of political literacy which supports its construction and consolidation, placing the

exercise on social control in the institutional space, surrounded by contradictions and paradox.

Keywords: Social control. Political literacy. Subject study.

10

LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS

Tabela 1: Acervo de documentos da CDP, objeto da análise documental 2001-

2011

39

Tabela 2: Marcas da participação da Presidente nas reuniões ordinárias da

CDP

40

Tabela 3: Marcas da participação dos membros (presidente, representante de

pacientes e de profissionais) nas reuniões ordinárias da CDP

41

Tabela 4: Marcas da participação dos convidados nas reuniões ordinárias da

CDP

42

Tabela 5: Marcas da participação do grupo nas reuniões ordinárias da CDP 42

Tabela 6: Construção das UC/US com as marcas da participação da Presidente

nas reuniões ordinárias da CDP

47

Tabela 7: Movimento de análise das entrevistas com os pacientes. CDP, 2011 48

Figura 1: Quantitativo de participações na CDP. HUCFF. 2001-2011 62

Figura 2: Quantitativo de participações nos encontros de pacientes. CDP.

HUCFF. 2001-2010

66

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAMN: Amigos do Transplante. Associação de Apoio à Mulher Portadora de Neoplasia

AAPODII: Associação dos Amigos e Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais

AIDS: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

CDP: Comissão de Direitos do Paciente

CEIP: Centro de Estudos Interdisciplinares da Pessoa

CNS: Conselho Nacional de Saúde

CONASEMS: Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

CONASS: Conselho Nacional de Secretários de Saúde

CPIH: Coordenação de Políticas Institucionais de Humanização e Valorização do Cliente

CREMERJ: Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro

CS: Controle Social

DAA: Divisão de Apoio Assistencial

DEN: Divisão de Enfermagem

DFN: Divisão de Finanças

DG: Direção Geral

DMD: Divisão Médica

DRH: Divisão de Recursos Humanos

DSC: Divisão de Saúde da Comunidade

FIOCRUZ: Fundação Oswaldo Cruz

GRACO: Grupo de Resgate à Auto-Estima e Cidadania do Obeso

GTSPN: Grupo de Trabalho da Saúde da População Negra

HUCFF: Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

JECRIM: Juizado Especial Criminal

ONGS: Organizações não governamentais

PNH: Programa Nacional de Humanização

SAA: Serviço de Admissão e Alta

SDM: Serviço de Documentação Médica

SICC: Serviço de Intercorrências Clínicas e Cirúrgicas

SUS: Sistema Único de Saúde

TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UC: Unidade de contexto

12

UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro

US: Unidade de significação

13

SUMÁRIO

CAPITULO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................15

1 APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO......................................................................15

CAPITULO 2. A PROBLEMÁTICA DO ESTUDO: CONCEPÇÃO E ORIGEM DO

CONTROLE SOCIAL NO BRASIL...................................................................................18

CAPÍTULO 3. QUADRO TEÓRICO E METODOLÓGICO DA

INVESTIGAÇÃO...............................................................................................................28

3.1 REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................................28

3.2 PERCURSO METODOLÓGICO...............................................................................34

3.2.1 A pesquisa qualitativa..................................................................................34

3.2.2 O método de estudo de caso institucional...................................................35

3.2.2.1 A triangulação das técnicas......................................................................37

3.2.3 A análise dos dados.....................................................................................42

CAPITULO 4. O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DE UMA COMISSÃO DE

DIREITOS DO PACIENTE: O CASO DO HUCFF/UFRJ ...............................................46

4.1 O COTIDIANO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL DOS MEMBROS DA CDP..........52

CAPÍTULO 5. O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO POLÍTICA NA CONSTRUÇÃO

E CONSOLIDAÇÃO DA CDP DO HUCFF, 2001-2011 .................................................56

5.1 A Participação dos Membros da CDP e suas ações políticas......................................56

5.1.1 A fila para a coleta de sangue..................................................................................63

5.1.2 Prontuário...........................................................................................................65

5.2 Percepção de Controle Social para os membros da CDP.........................................69

CAPITULO 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................76

14

6.1 LISTA DO ACERVO DOCUMENTAL OBJETO DA ANÁLISE.............................81

REFERÊNCIAS...................................................................................................................82

ANEXOS.............................................................................................................................84

ANEXO 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..............................................85

ANEXO 2 - Roteiro de Entrevista semiestruturado com o paciente................................87

ANEXO 3 - Roteiro de Entrevista semiestruturado com o profissional..........................88

ANEXO 4 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa Nº 72/2011..................................89

ANEXO 5 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa Nº 121/2011...............................90

15

CAPITULO 1. INTRODUÇÃO

1. APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

O estudo apresentado é o resultado de um processo de muito investimento pessoal e

teórico, e espero poder contribuir para o debate e reflexões sobre o tema que acredito ser de

grande relevância social e em especial para a minha categoria profissional, Serviço Social.

No meu entendimento, a motivação para empreender uma análise sobre o processo de

alfabetização política parte de três perspectivas. A primeira, da possibilidade de que ao

apreender conceitos de participação social e cidadania, os cidadãos usuários da saúde podem

instrumentalizar-se para o agir cotidiano no exercício do controle social. Segundo, advém da

minha formação profissional e experiência construída ao longo de vinte e cinco anos de

trabalho no campo da saúde. Terceiro, do convívio com pessoas que muito tem a aprender e

com as quais muito aprendi.

Por vezes, sinto-me inquietada e questiono sobre o meu agir profissional. Penso! Esse

agir tem oportunizado ao paciente uma construção do significado de direito? Segundo o

entendimento dos pacientes: O que é saúde?, O que é SUS? O que vem a ser controle social?

Estamos instrumentalizando os usuários da saúde para ao exercício da participação social?

No decorrer do processo de construção do estudo, deparamo-nos com dificuldades,

mas a principal foi a de estar inserida no trabalho desta comissão, na condição de profissional

daquele serviço atuando como assistente social desta comissão. Abstrair-me deste espaço para

analisá-lo se tornou um processo doloroso, mas acredito que os resultados obtidos e a

contribuição deste, ao trabalho da Comissão de Direitos do Paciente possa ter superado as

possíveis falhas. Esta Comissão foi construída apropriando-se do principio do SUS de

controle social e participação, uma “fórmula específica” através da qual pode implementar o

exercício do controle social em unidade médica espaço que operacionaliza a politica de saúde,

sendo esta uma prática inovadora neste espaço institucional.

O estudo sobre à implantação da Comissão de Direitos do Paciente do Hospital

Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro e sua

contribuição para o processo de alfabetização política, no exercício do controle social. Esta

comissão foi criada em 2001 com uma proposta de trabalho inovadora, e não se tem

conhecimento até o presente momento de outra instituição que desenvolva algo assemelhado

aos seus objetivos.

Nesse contexto da microestrutura do exercício do controle social, investigamos a

seguinte questão de pesquisa: Como a implantação e consolidação da Comissão de Direitos

16

do Paciente do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do

Rio de Janeiro contribuiu para o processo de alfabetização política, no exercício do controle

Social? No decorrer deste estudo elucidamos suas contradições, superações e transformações

em seu processo de construção do exercício do controle social, com os objetivos de descrever

o processo de implantação e consolidação da CDP, no período de 2001-2011; analisar a

participação social dos membros da Comissão e suas ações no exercício do controle social; e,

c) discutir a alfabetização política na construção do exercício do controle social no

microespaço da Comissão.

Para o encaminhamento do processo de investigação elegeu-se como procedimento

metodológico a pesquisa qualitativa, pois envolve questões de ordem científica, de natureza

ideológica e prática. Optou-se pelo método de estudo de caso institucional, para o

desenvolvimento do estudo sobre a CDP, por ser esta uma experiência singular de um hospital

universitário do Rio de Janeiro, no momento de disseminação do controle social no Brasil.

Utilizamos uma variedade de fontes para coleta de dados e optamos pela triangulação

de técnicas para o aprofundamento na unidade desse caso. Nesse sentido, utilizamos técnicas

para gerar os dados que constituíram as fontes primárias, particularmente a análise

documental. Trabalhamos com uma massa documental de 970 páginas, a observação de

campo, observamos duas reuniões ordinárias da CDP, e realizamos oito entrevistas

semiestruturadas. Os sujeitos da pesquisa, como os denominamos, foram pacientes, gestores e

funcionários membros da CDP. Para a análise dos dados, trabalhamos com a análise de

conteúdo, pautando-nos nas orientações teóricas de Laurence Bardin, onde se busca outras

realidades por meio da análise do conteúdo mensagens. É a interpretação dos seus conteúdos,

o reinterpretar das mensagens, buscando atingir a compreensão de seus significados,

procurando conhecer aquilo que está manifesto na comunicação das palavras, objetivando

atingir níveis de compreensão mais profundos do fenômeno proposto a ser elucidado.

O resultado da análise foi estruturado nos seguintes capítulos: Capitulo 1- A

problemática do estudo - Concepção e origem do controle social no Brasil, abordando a

justificativa e relevância do estudo. Capitulo 2- O quadro teórico e metodológico do estudo.

Capítulo 3- O processo de implantação de uma Comissão de Direitos do Paciente: O caso do

HUCFF. UFRJ, o cotidiano da participação social dos membros da CDP. Capítulo 4- O

Processo de Alfabetização Política na construção e consolidação da CDP do HUCFF, 2001-

2011. Capítulo 5- Considerações Finais.

Todo o processo de estudo esteve pautado no referencial teórico de Paulo Freire em

sua concepção de educação problematizadora, e em Demétrio Delizoicov quanto à questão da

17

alfabetização política, e para o estudo do controle social com as concepções das autoras Maria

Valeria Correia e Maria Inês de Souza Bravo.

Ao finalizarmos este estudo, em nossas considerações finais, problematizamos as

contradições que se apresentaram como forma de contribuição para o estudo deste caso, a

CDP.

18

2 A PROBLEMÁTICA DO ESTUDO: CONCEPÇÃO E ORIGEM DO CONTROLE

SOCIAL NO BRASIL

No curso de duas décadas (1964-1984), houve a transformação de uma sociedade

militarmente controlada pelo Estado, para uma sociedade civilmente organizada. Pois, como

disse Semeraro (2007, p. 95), por exemplo: “Em plena ditadura militar, assistimos a um

florescimento espantoso de práticas político-pedagógicas inovadoras e de criações teóricas em

diversos campos que tiveram na ‘libertação’ sua temática aglutinadora.”

Com o golpe de 1964 e a ascensão dos militares ao poder, o processo de organização

política e democrática, em curso na realidade brasileira, caminha lentamente. Particularmente

nas duas primeiras décadas do regime militar, ganha ênfase a concentração do poder político,

na tomada de decisão sobre os rumos do país, em mãos de poucos.

O poder militar constituiu-se no único regulador das ações do Estado sobre a

sociedade, e o país foi governado por decretos, atos institucionais e repressão. Com o início

da abertura política, ampliam-se os espaços de participação da sociedade civil abrindo-se

novas possibilidades para as organizações do movimento social. Segundo Simionatto (2001):

Com o início da chamada abertura democrática entre 1978-84 e a revogação do AI5, ocorrerá

uma ampliação dos espaços de participação dos movimentos populares, incluindo novos itens

na agenda política, que iam desde o direito à greve até melhores condições de trabalho o que

permitiu ampliar a consciência crítica dos trabalhadores e ressaltar a importância da sua

participação como sujeitos políticos (p. 5).

Nesse sentido, os movimentos populares passaram a desempenhar papel fundamental

no quadro político brasileiro. Formaram-se novos grupos de representantes de diversos

segmentos da população, associações de bairro etc. A população avança com o processo de

mobilização, de participação social buscando, através da pressão política, mudanças no

contexto social, emergindo um novo paradigma de sociedade civil1. Com o fim do regime

militar, a sociedade civil organiza-se para ocupar novos espaços dentro de uma nova ordem

política e exercer o controle social sobre as políticas do estado.

Paradoxalmente, a falta de legitimação dos governos militares impulsionada pelos

movimentos sociais e pela força dos trabalhadores promoveu a transição democrática. Fato

este, que influenciou decisivamente na promulgação da nova Constituição, pautada no ideal

1 A expressão “’sociedade civil” é aqui adotada segundo a concepção de Gramsci apropriada por Violin (2006,

p. 5) como formada por um conjunto de organizações responsáveis pela elaboração e difusão das ideologias,

composta pelo sistema escolar, igreja, sindicatos, partidos políticos, organizações profissionais, organizações

culturais (revistas, jornais, meios de comunicação de massa etc.).

19

de um Estado democrático de direito, pelo anseio da sociedade, garantindo a todos os

cidadãos, direitos e deveres de cidadania.

Em uma década de transição política, pós-regime militar, segunda metade da década

de 1980 e primeira parte da década de 1990, no período de redemocratização do país2, a

sociedade brasileira conviveu com o efeito rebote do sistema econômico que sustentou a

ditadura, gerando inúmeras demandas sociais, bem como a necessidade de repensar os direitos

dos cidadãos. A sociedade brasileira conviveu ainda com a aceleração da inflação, muitos

planos econômicos e a deterioração das finanças públicas. Particularmente, em 1985, por

uma emenda constitucional, restabeleceu-se as eleições diretas para Presidente; buscou-se a

reconstrução de espaços e a instauração de um governo plenamente democrático, em que o

Presidente da República fosse eleito diretamente pelo povo.

As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas por profundas mudanças na sociedade

brasileira, foi um período marcado por conquistas democráticas, os movimentos sociais se

fortaleceram, e a sociedade pode dar visibilidade as suas demandas e lutar pela consolidação

de direitos sociais. Emerge o controle da sociedade sobre o Estado com a mobilização e as

lutas da sociedade civil, ampliando seus espaços de participação democrática. Alteram-se as

formas de gestão das políticas públicas, sendo intermediada pela sociedade e o poder público,

alteram-se as relações entre o estado e a sociedade civil, com a inserção da participação social

nesses espaços.

Segundo Demo (1999) a participação não é algo dado nem concedido como dádiva,

mas sim um processo de conquista. Essa participação pode ser utilizada como mecanismo de

busca por mudanças nos rumos das políticas públicas e o fortalecimento do exercício de

cidadania.

O processo de mobilização da sociedade que antecedeu a Constituinte contribuiu para

que a Nova Constituição garantisse direitos fundamentais ignorados durante duas décadas

pelo regime militar. O processo de redemocratização instaurado na década de 1980, e incluído

na Constituição Federal de 1988, assegurou direitos sociais e criou mecanismos de

participação e controle social da sociedade civil sobre o estado. A Constituição Cidadã teve

legitimidade popular, assegurou direitos sociais, participação popular e exigiu mudanças nas

relações de poder entre a sociedade civil e o estado.

2 Primeiro Presidente eleito pelo voto direto, em 1990, foi Fernando Collor de Mello que governou o país por

dois anos (1990-1992). Com o movimento do “impeachment”, em 1992, devido a denuncias de corrupção no

governo, conhecido como a República das Alagoas, Itamar Franco, vice-presidente, assumiu o mandato em 1992

e governou até 1994.

20

No contexto da saúde, a sociedade civil organizada busca exercer controle sobre as

ações do estado, tendo sua matriz no movimento da reforma sanitária brasileira, mediada pelo

processo de emancipação política. No entanto, para alcançar esse estágio de organização do

controle social pela sociedade, inúmeros eventos históricos marcaram este processo.

O Movimento de Reforma Sanitária Brasileira3 foi a matriz de uma nova política

pública de saúde. Nele, estudantes, profissionais de saúde, integrantes dos movimentos

populares de saúde e outros segmentos sociais, discutiram novas ideias e novos rumos da

saúde no país. A força do movimento permitiu que fosse incluído, no texto da nova

constituição brasileira, o capítulo da saúde como um direito do cidadão, dever do Estado e

uma das possibilidades para se melhorar as condições de vida da população. As proposições

desse movimento eram dirigidas à construção de uma nova política de saúde efetivamente

democrática, considerando a descentralização, universalização, equidade e acessibilidade

como elementos essenciais.

Ainda na década de 80, procurou-se consolidar o processo de expansão da assistência

médica, iniciado na década de 1970, em resposta às proposições formuladas pela Organização

Mundial de Saúde na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava “Saúde para todos no

Ano 2000”.

A 8ª Conferência Nacional de Saúde foi o marco para a formatação do modelo político

ideológico do projeto de reforma sanitária brasileira. Esta conferência foi convocada pelo

Decreto Presidencial nº. 91.466, sendo realizada entre os dias 17 e 21 de março de 19864, em

Brasília. Foram realizadas conferências estaduais preparatórias para a escolha dos delegados

para a participação da conferência nacional. Em todos os lugares, debateu-se a ampliação da

consciência sanitária dos cidadãos, uma nova ética profissional e a criação de mecanismos de

participação dos usuários na gestão de recursos e o controle social sobre o novo sistema.

Com base nesses pressupostos, a 8ª Conferência Nacional de Saúde construiu um

conceito ampliado de saúde, entendendo saúde como um direito de cidadania e propondo

reformulação para o sistema nacional de saúde. Nesse sentido, "Saúde como Direito",

"Reformulação do Sistema Nacional de Saúde" e "Financiamento do Setor" foram os temas

discutidos por mais de quatro mil pessoas, que representaram todas as partes do Brasil.

3A Reforma Sanitária Brasileira, mais que uma reforma setorial, foi proposta em um contexto de intensas

mudanças, de exclusão da maior parte dos cidadãos do direito à saúde. O acesso das pessoas à atenção a saúde

dava-se por meio do Instituto Nacional de Previdência Social, restrita apenas aos trabalhadores contribuintes. 4Convocada pelo primeiro presidente que governou o país, após o regime militar, José Sarney assumiu a

presidência em virtude da morte de Tancredo Neves, ambos eleitos pelo colégio eleitoral.

21

A ampliação do conceito de saúde, explicitada no Relatório Final da 8ª Conferência

Nacional de Saúde não é abstrato, se situa no contexto histórico de determinada sociedade e

no momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em suas lutas

cotidianas. Em seu sentido mais abrangente, saúde é: “a resultante das condições de

alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,

acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde" (BRASIL, 1987).

Buscou-se um processo modernizador e democratizante, para dar conta da saúde dos

cidadãos, entendida como direito universal, devendo ser operacionalizado por um sistema

único de saúde, constituído sob a regulação do Estado, objetivando eficácia e equidade.

O direito à saúde, defendido na Reforma Sanitária, traz, intrinsecamente à sua

constituição, o apoio, a participação e a pressão dos movimentos populares. Em outras

palavras, o direito social de ter garantido a condição de saúde de uma população supõe o

próprio movimento dessa população para assegurar o reconhecimento e a efetivação desse

direito.

A Constituição de 1988 definiu saúde como "direito de todos e dever do Estado", o

qual foi regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080, de 19 de setembro de 19905

e a Lei nº 8142, de 28 de dezembro de 1990, que imprimiu ao Sistema Único de Saúde uma

de suas principais características: a participação da sociedade civil na gestão dos serviços.

Esse sistema articula a abordagem biológica da doença ao contexto social em que ela é

produzida, entende como sua prioridade, o atendimento das necessidades de seus usuários no

processo saúde-doença, prevê a participação dos usuários na gestão dos serviços por meio do

controle social.

Nesse sentido, quatro princípios fundamentaram a formulação do SUS como uma nova

política pública de saúde no Brasil. O primeiro, a equidade, é o de saúde como um direito de

cidadania passa a ser plenamente reconhecido para todos os cidadãos e todas as cidadãs,

independente de ser contribuinte para o sistema previdenciário, trabalhador rural ou urbano,

ou não ser trabalhador. No segundo, da acessibilidade, refere-se ao fato de que não se poderia

excluir ou discriminar qualquer cidadão brasileiro do acesso ao serviço de saúde, de modo a

garantir ações de saúde a serviços preventivo e/ou curativo de doenças e de promoção saúde,

integrando-as em um único sistema. Para a gestão, introduziu-se a concepção de

descentralização administrativa e financeira. Finalmente, o último princípio, o de participação

da comunidade no controle da gestão e das ações de saúde, refere-se ao controle social.

5 Disponível em: http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1990/8080.htm

22

O direito à saúde traz intrinsecamente à sua constituição, o apoio, a participação e a

pressão dos movimentos populares. Em outras palavras, o direito social de ter garantido a

condição de saúde de uma população supõe o próprio movimento dessa população em

assegurar o reconhecimento e a efetivação desse direito.

O “controle social participativo”, como política e como componente da

institucionalidade do Estado, constitui fenômeno recente no processo histórico brasileiro. Sua

institucionalização concretiza-se com a participação da comunidade na deliberação, gestão e

fiscalização das políticas públicas (BRASIL, 2006).

O controle social é, na história de democratização das políticas de saúde, um dos

campos que forneceu visibilidade aos movimentos populares, pela denúncia das precariedades

dos serviços existentes, e pela luta em construir um espaço para o exercício do controle nos

serviços, na gestão da saúde. Foi uma experiência marcante, na década de 1980, a criação dos

conselhos de saúde enquanto representação popular no controle do Estado.

Segundo Bravo, historicamente, o controle social era entendido no sentido coercitivo

como o controle do Estado ou do empresariado sobre a população. Entretanto, na Constituição

de 1988, ela afirma:

o sentido de controle social inscrito na Constituição é o da participação da

população no sentido de elaborar, implementar e fiscalizar as políticas sociais. Esta

concepção tem como marco o processo de redemocratização da sociedade brasileira

com o aprofundamento do debate referente à democracia (BRAVO, 2006, p. 83).

Com base nessa concepção de controle social explicitada por Bravo, percebe-se

escassez de estudos que tratam do exercício do controle social, nos espaços da microestrutura.

No Brasil, o debate sobre o controle social ainda é recente. Ele tem sido alvo de discussões e

práticas de diversos segmentos da sociedade como sinônimo de participação social nas

políticas públicas, seja na sua formulação, seja na implementação e avaliação. Controle social

significa propor e participar na formulação das políticas públicas, acompanhar e monitorar sua

execução, avaliar sua eficácia e adequação às necessidades da sociedade civil. Enfim, o

exercício do controle social seria ter acesso a participar de todo esse processo de construção.

Estudos sobre a participação popular no exercício do controle social, no Brasil, têm

tomado como objeto de análise, os espaços de representatividade na macroestrutura, como por

exemplo, os Conselhos de Saúde, conferências de saúde etc. Particularmente, o estudo de

Borba (2004) aponta para falta de condições e preparo dos usuários para esta participação.

Já o estudo de Wendhausen (2006, p. 2) ressalta:

as desigualdades de poder e saber entre os vários representantes, a ausência de

mecanismos de controle sobre a representatividade dos conselheiros, a capacidade

23

diferenciada de acesso a recursos políticos, a ausência de motivação e

comprometimento e as dificuldades de mobilização da sociedade.

Com a ampliação do conceito de saúde, surgiram novas diretrizes e concepções de

prática na área da saúde, questiona-se se realmente, superamos a prática exclusivamente

biomédica e estamos incentivando no cotidiano, o usuário a refletir e questionar sobre os

serviços que lhe são destinados e oferecidos ou se mantêm ainda uma relação de

subordinação-dominação e conformismo? Será que lhes oportunizamos chances de se

expressar?

Com a nova abordagem da saúde, considerando os aspectos sociais do adoecer,

direcionamos a saúde para o campo político da construção de direitos, mas para concretizá-los

se faz necessária a participação do usuário neste processo de construção. Será que nosso

usuário está sendo estimulado e incentivado a participar?

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho que integra a estrutura da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, ocupando a posição de Órgão Suplementar, ao lado

de outras Unidades e Órgãos do Centro de Ciências da Saúde, integra a rede hospitalar do

Sistema Único de Saúde, como unidade de referência para tratamento de situações de alta

complexidade, no Rio de Janeiro. O Hospital busca manter um vínculo diferenciado e

responsável com seus usuários, uma prestação de serviço compatível com a importância que

esta instituição representa no atendimento ao direito constitucional do cidadão, a saúde,

institui por meio da Portaria Nº 73 de 05 de abril de 20016, a Comissão de Direitos do

Paciente que integra a Coordenação de Comissões Permanentes. Tal iniciativa levou em

consideração a necessidade de fortalecer, junto aos pacientes, a noção de direito e a

possibilidade de ação coletiva em sua defesa; a participação do paciente, transformando-a em

cidadania na saúde;

A implantação desta Comissão é o resultado de um debate realizado pela

administração do HUCFF no ano de 2001, que voltando-se para o compromisso com o

cidadão, percebeu a necessidade de sedimentar uma política institucional, voltada para a

garantia dos seus direitos. O trabalho desenvolvido pela CDP busca incentivar e possibilitar a

participação do paciente na gestão das políticas institucionais, reforçando sua condição de

usuário das políticas de saúde, fortalecendo a noção de direito e a possibilidade de ação

coletiva em defesa deste direito. O paciente é reconhecido como protagonista na produção de

saúde.

6 Fonte documental utilizada na unidade de análise do caso da Comissão de Direitos do Paciente descrito no

capitulo 3 desta dissertação de mestrado.

24

Assim, o usuário dos serviços de saúde, do HUCFF, participa do processo de

elaboração de políticas e do processo de transformação desse espaço. Desta maneira, a

Comissão de Direitos do Paciente atua no Controle Social buscando garantir os direitos

sociais, pela valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde

e visando a defesa da prestação de serviço com qualidade, resolutiva e humanizada.

Nesse contexto da microestrutura do exercício do controle social, a experiência

inovadora nos mobiliza para investigar a seguinte questão de pesquisa, até então

problematizada a partir da concepção de controle social, sua origem e transformações a partir

da década de 1980: Como a implantação da Comissão de Direitos do Paciente do Hospital

Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro contribuiu

para o processo de alfabetização política, no exercício do controle social?

Trabalhando-se com suas contradições, superações e transformações no processo de

construção do exercício do controle social, a questão é investigada nessa dissertação de

mestrado, com os objetivos de a) descrever o processo de implantação da Comissão de

Direitos do Paciente do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade

Federal do Rio de Janeiro no período de 2001 -2011; b) analisar a contribuição dessa

Comissão para a participação no exercício do controle social; e, c) discutir o processo de

alfabetização política na construção do exercício do controle social no microespaço da

Comissão.

As proposições concretas do movimento da reforma sanitária assumem caráter

orgânico ao ser incorporado ao debate e relatório da 8ª Conferência Nacional de Saúde7,

posteriormente incluído no capítulo do direito a saúde na constituição brasileira e

regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde com a criação do Sistema Único de Saúde.

Como um dos quatro princípios do Sistema Único de Saúde, o controle social, na

história de democratização das políticas de saúde, é um dos campos que forneceu visibilidade

aos movimentos populares da saúde, pela denúncia das precariedades dos serviços existentes,

e pela luta em construir mecanismos para o exercício do controle social. O Sistema Único de

Saúde (SUS) estabeleceu estruturas de controle social, com destaque para os Conselhos e

Conferências de Saúde, além das Ouvidorias e Auditorias, nas instâncias das macroestruturas.

No âmbito das microestruturas, as instituições de saúde, em geral, têm implantado

ouvidorias e auditorias. No caso específico do HUCFF da Universidade Federal do Rio de

7 Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_8.pdf

25

Janeiro há Ouvidoria, Programa de Qualidade e a Comissão dos Direitos do Paciente, como

instâncias do controle social, no sentido de atender as demandas da nova política e do novo

sistema de saúde, no âmbito local.

Na teoria política, o significado de controle social é concebido em diferentes sentidos,

por vezes ambíguo, mas sempre atrelados às concepções de Estado e de sociedade civil; ora

pode ser compreendido como controle do Estado sobre a sociedade ou como o controle da

sociedade sobre as ações do Estado. A expressão controle social tem sua origem na

sociologia; “empregada para designar os mecanismos que estabelecem a ordem social

disciplinando a sociedade e submetendo os indivíduos a determinados padrões sociais e

princípios morais”8 (PEREIRA, 2009, p. 104).

A nova Constituição Federal promulgada em 5 de outubro de 1988, no seu Título VIII

da Ordem Social- Capitulo II- da Seguridade Social, Seção II da Saúde, cria o Sistema Único

de Saúde – SUS. O art. 1969 prevê o acesso universal e igualitário às ações e serviços de

saúde, com regionalização e hierarquização, descentralização com direção única em cada

esfera de governo, participação da comunidade e atendimento integral, com prioridade para as

atividades preventivas, sem prejuízo aos serviços assistenciais.

Este sistema entende como sua prioridade o atendimento das necessidades de seus

usuários e prevê sua participação na gestão destes serviços através de sua representação. A

Lei 8.142 de 1990 regulamenta essa participação em instâncias colegiadas: a Conferência de

Saúde que se reunirá a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais,

para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde

nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por

esta ou pelo Conselho de Saúde, órgão colegiado permanente e deliberativo, composto por

representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários. Os

Conselhos atuam na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde

na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões

serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.

Terão ainda a representação: do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e do

Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS). A representação dos

9 DICIONÁRIO da Educação Profissional em Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.

9 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Seção II. Disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/constituicao_saude_idoso.pdf>. Acesso em: 15/10/2011

26

pacientes nos Conselhos de Saúde e Conferências será paritária em relação ao conjunto dos

demais segmentos.

As Conferências de Saúde terão sua organização e normas de funcionamento definidas

em regimento próprio, aprovadas pelo Conselho de Saúde. Este reordenamento da prática

implica no exercício do controle social.

“processo técnico, como um conjunto de saberes, competências e habilidades para o

exercício da fiscalização sobre as ações governamentais”; e sua “natureza ética, no

sentido da constituição de perspectivas de um futuro capaz de reduzir desigualdades e

promover justiça social. (CAMPOS, 2006, p. 107). Segundo Correia (2005), nesta perspectiva o campo das politicas sociais é

contraditório, pois por meio delas o Estado controla a sociedade e ao mesmo tempo apreende

suas demandas. Sendo que, é neste campo contraditório, que nasce um novo conceito de

controle social:

atuação da sociedade civil organizada na gestão das politicas públicas no sentido de

controlá-las para que estas atendam, cada vez mais, às demandas e aos interesses das

classes subalternas. Neste sentido, o controle social envolve a capacidade que a

sociedade civil tem de interferir na gestão pública, orientando as ações do Estado e

os gastos estatais na direção dos interesses da maioria da população. (CORREIA,

2005, p. 121-122).

O próprio SUS em sua orientação prática já prevê suas ações, na busca de ser um

espaço privilegiado de sociabilidade e politização de usuários, objetivando contribuir para o

aumento da capacidade reflexiva e crítica destes, para a ampliação da participação no

exercício do controle social.

Para a concretização da saúde no campo dos direitos sociais, se faz necessária a

participação da sociedade civil neste processo de construção. Entretanto o cotidiano tem

demonstrado dificuldades operacionais para desenvolvê-la como uma prática libertadora,

inclusiva do usuário na gestão participativa dos serviços, que promova uma ruptura na

relação de subordinação-dominação do usuário com o serviço de saúde e com os profissionais

que ali atuam.

Em seus princípios organizacionais o SUS prevê a participação do usuário, preconiza

o dever das instituições de oferecer informações e conhecimentos necessários para que a

população se posicione sobre as questões que dizem respeito à saúde, mas nada foi planejado

ou direcionado neste sentido. O exercício do controle social sobre a prática destes serviços

investe na fiscalização, avaliação e acompanhamento permanente de todas as ações

realizadas, objetiva oportunizar a intervenção nas ações do Estado, enfim promover

mudanças nas políticas do Estado e atender as necessidades da sociedade.

27

Segundo Correia (2002), o controle social pode ser entendido como uma forma de

ação reguladora, resultado da participação da sociedade civil nas instâncias governamentais,

assegurando que as políticas públicas sejam planejadas a responder as demandas sociais.

Como diz Correia (op. cit.), a lógica do controle social é:

a de quem paga indiretamente os serviços públicos, por meio de impostos é a própria

população; portanto, ela deve decidir onde e como os recursos públicos devem ser

gastos, para que tais serviços tenham maior qualidade e atendam aos interesses

coletivos, não ficando à mercê de grupos clientelistas e privatistas. (p. 124)

28

CAPÍTULO 3. QUADRO TEÓRICO E METODOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO

3.1 REFERENCIAL TEÓRICO

Para elucidar o processo de alfabetização política, no exercício do controle social

decorrente da implantação da Comissão de Direitos do Paciente do Hospital Universitário

Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro adotou-se as concepções

freireanas de educação para ampliar o entendimento de educação em saúde; bem como, a

perspectiva de Demétrio Delizoicov sobre alfabetização científica. Para a concepção de

controle social trabalhou-se com Maria Inês de Souza Bravo e Maria Valeria Correia.

A educação é defendida por Freire como parte da historicidade dos homens, não sendo

possível pensar a educação sem relacioná-la aos homens, que pouco sabem de si, que

inquietam-se por saber mais, que são seres inconclusos, que tem consciência deste fato, e se

encontram em constante busca por ser mais. A busca pelo conhecimento é infinita, e através

deste os homens partem do que são para o que desejam ser. O ser humano em sua essência

existencial é um ser individual, sendo que a educação vai lhe dar condição da passagem de um

ser existencial para um ser social, na relação com os outros, inserido em determinado

contexto.

Freire entende que a Educação deve ser crítica e libertadora impulsionando o

processo de transformação do sujeito educando levando-o a condição de libertado. A

liberdade é uma conquista que exige permanente busca do conhecimento, do saber que o

libertará de sua condição de ignorância. Sua capacidade crítica de captar sua realidade

conhecê-la promoverá a ação transformadora, um agir refletido que gera transformações.

Segundo Freire, o homem não está dissociado de sua realidade, de seu mundo, sendo

este o ponto de partida para sua alfabetização, que contribui para que o homem perceba sua

realidade tal como se apresenta, a conheça para transformá-la. Por meio da

educação/alfabetização, o homem se apropria de seu mundo pelo conhecimento que adquire

ao ultrapassar a leitura das palavras, impondo o seu próprio discurso, desenvolvendo suas

competências.

A realidade social, objetiva, não existe por acaso, mas como produto da ação dos

homens, também não se transforma por acaso. Se os homens são os produtores desta

realidade e se esta, na “inversão da práxis”, se volta sobre eles e os condiciona,

transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa dos homens. (FREIRE,

2002, p. 37).

O educador e o educando para Freire interagem no processo de educação mediado

pelo diálogo que promovem e mediatizado pelo mundo em que vivem; assim, educam-se e

29

são educados simultaneamente. Freire sempre destacou a centralidade da problematização e

da dialogicidade em seu fazer educacional. Dialógico no sentido do respeito entre saberes do

educando e do educador, aspecto fundamental para a problematização.

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,

mediatizados pelo mundo.” (FREIRE, 2002, p. 68).

Freire articula o processo de alfabetização como um projeto político emancipador.

Nessa abordagem, relaciona o homem ao mundo e a linguagem com a ação transformadora.

Ou seja, a possibilidade da leitura do mundo e sua transformação, em um sujeito construído

socialmente pelo projeto de alfabetização emancipadora.

A alfabetização para Freire é inerente, um projeto político no qual, homens e

mulheres afirmam seu direito e sua responsabilidade não apenas de ler, compreender

e transformar suas experiências pessoais, mas também de reconstituir sua relação

com a sociedade mais ampla......é parte do processo pelo qual alguém se torna

autocrítico a respeito da natureza historicamente construída de sua própria

experiência. Ser capaz de nomear a própria experiência é parte do significa “ler” o

mundo e começar a compreender a natureza política dos limites bem como das

possibilidades que caracterizam a sociedade. (FREIRE, MACEDO, 2006, p. 7-8).

Em relação ao sentido político da alfabetização Freire e Macedo ressaltam que

“significa desenvolver as condições teóricas e práticas mediante as quais os seres humanos

podem situar-se em suas respectivas histórias, ao fazê-lo, fazer-se presentes como agentes na

luta para expandir as possibilidades da vida e da liberdade humanas.” (2006, p. 10-11).

A alfabetização seria então, pré-condição para transformações. Acrescentam os

autores que “Ser alfabetizado não é ser livre; é estar presente e ativo na luta pela

reivindicação da própria voz, da própria história e do próprio futuro.” (Op. cit., 2006, p. 10-

11).

Toda prática educativa implica uma concepção de homem e mundo, tem um caráter

permanente e traz possibilidades infinitas de intervir no processo de mudança da sociedade,

sendo responsabilidade dos profissionais concretizá-las nos contextos em que desenvolvem

suas práticas. No campo da saúde muito tem se pensando e discutido sobre a prática

educativa; primeiramente como orientadora de novas práticas, e mais tarde passa a ser área de

estudo e pesquisa.

Inicialmente, foi denominada Educação Sanitária, institui-se no âmbito da saúde

pública, como orientadora de novas práticas, e posteriormente, passa a ser área de estudo e

pesquisa. Sua prática esteve voltada para o repasse de regras de higiene pública e individual.

Como campo específico de intervenção configurou-se como dimensão instrumental da

30

política de saúde do Estado, contribuindo para a prevenção de patologias e ou agravos à

saúde, e pela busca da adesão da população. Foi marcada pelo desenvolvimento de doutrinas

higienistas, a saúde então, vista como uma questão de bons hábitos e noções de higiene.

Historicamente, a Educação em Saúde teve sua origem marcada por práticas e

discursos coercitivos e normativos. Desconsiderava-se no processo educativo, o ser humano,

sua história de vida, crenças, cultura e valores, a subjetividade desse processo. Criavam-se

projetos educacionais para populações pobres e desfavorecidas, creditando a estas, a culpa

pela ocorrência dos problemas de saúde, que pelo mérito da informação os sujeitos poderiam

modificá-las.

Durante a década de 1970, ocorreram sucessivas reformas na política de saúde,

buscaram-se novas articulações entre a educação e a saúde, percebendo o paralelo existente

entre causalidade biológica, contexto e condições de vida e trabalho da população como

predisposições ao adoecer.

Ocorrem experiências de prática educativa, pautada na pedagogia do educador

brasileiro Paulo Freire, traziam implícitas um modelo pedagógico, comprometido com a

formação de um cidadão autônomo e crítico e, consequentemente, capaz de empreender uma

ação transformadora das condições de vida, aspecto diametralmente oposto ao regime de

ditadura militar que havia no país da década de 1970. Consequentemente, não houve

disseminação dessas práticas, mas os movimentos sociais pro-educação em saúde

participativa retomaram toda força no período de reabertura política.

O novo conceito de promoção da saúde desenvolvido pelo Ministério da Saúde não se

limitava à prevenção de doenças, porém a prática ainda estava centrada no modelo biomédico

dominante. Priorizavam as ações terapêuticas medicamentosas e administrativas em

detrimento das ações educativas, apesar de serem complementares. A educação em saúde se

pautava na transmissão de conhecimento e o meio efetivo de comunicação era o profissional

de saúde.

L’Abbate (1994) define educação em saúde:

como sendo um campo de práticas que se dão em nível das relações sociais

normalmente estabelecidas pelos profissionais de saúde, entre si, com a instituição e,

sobretudo com o usuário, no desenvolvimento cotidiano de suas atividades. (1994, p.

04).

As propostas de trabalho em educação em saúde devem vir ao encontro do contexto

social, e sendo respeitada a realidade vivenciada pelos usuários deste sistema de saúde. O

papel do trabalhador (profissional de saúde) se dá no processo de mudança desta estrutura. O

novo sistema de saúde, o SUS que avança em seu processo de construção, objetiva trabalhar a

31

educação como uma das estratégias que promova transformações das práticas de gestão, de

atenção em todos os níveis e de controle social. As atividades de educação em saúde

objetivariam socializar o saber sobre a saúde cientificamente construído, sendo necessário que

o profissional relativize seu conhecimento na busca de uma melhor compreensão do

indivíduo, da coletividade, havendo o reconhecimento social do saber popular, com base em

um princípio freireano de saberes relativo.

Com base em Wallerstein e Bernstein10

, Carvalho propõe “a superação de métodos

que reforçam o exercício do poder sobre-o-outro, através da criação de espaços dialógicos e

de cogestão em que se privilegie o exercício do poder-com-o-outro”. (2008, p. 2032).

O próprio SUS em sua orientação já prevê ações na busca de ser um espaço

privilegiado de sociabilidade e politização de usuários, objetivando contribuir para o aumento

da capacidade reflexiva e crítica destes, para a ampliação da participação no exercício do

controle social.

Drummond (2006), com base em Sposati e Lobo de 199211

, afirma que o controle

social se traduz em estratégias de acompanhamento da formulação, gestão e execução de

políticas públicas por parte da sociedade (cidadão usuário) consolidando a democratização do

Estado, reforça que a temática controle social se insere na organização do poder e do Estado

nas suas relações com a sociedade.

Maria Valeria Costa Correia (2006) ressalta que a expressão controle social pode ser

entendida em diferentes sentidos a partir de concepções distintas de Estado, restrito e

ampliada. No estado restrito, ele controla a sociedade em favor dos interesses da classe

dominante por meio da implantação de politicas sociais que amenizem os conflitos de classe.

Na concepção de estado ampliado, a sociedade tem possibilidades de controlar as ações do

Estado em favor dos interesses das classes subalternas.

Segundo Correia, nesta perspectiva o campo das politicas sociais é contraditório, pois

por meio delas o Estado controla a sociedade e ao mesmo tempo apreende suas demandas.

Sendo que é neste campo contraditório que nasce um novo conceito de controle social:

10Citação de Wallerstein& Bernstein publicada em 2008, no texto de Carvalho (p.2032): “julgamos pertinente

valorizar propostas pedagógicas que tenham como eixo uma espécie de “educação empoderadora”. 11“a discussão do controle social não em um patamar burocrático, mas sim em um patamar político. Não se trata

de vigiar uma burocracia [...] O que está em questão é criar uma nova cultura politica/democrática... Resta

indagar como tomar parte e partido nesse processo de construção do direito à saúde. [...] É direito tornar o Estado

efetivamente coisa pública. É desprivatizar interesses. É introduzir cenas de negociação explícitas.” (Sposati e

Lobo, 1992, p. 372-3).

32

atuação da sociedade civil organizada na gestão das politicas públicas no sentido de

controlá-las para que estas atendam, cada vez mais, às demandas e aos interesses das

classes subalternas. Neste sentido, o controle social envolve a capacidade que a

sociedade civil tem de interferir na gestão pública, orientando as ações do Estado e

os gastos estatais na direção dos interesses da maioria da população. (CORREIA,

2002, p. 121).

Ainda segundo Correia o controle social pode ser entendido como uma forma de ação

reguladora, resultado da participação da sociedade civil nas instâncias governamentais,

assegurando que as políticas públicas sejam planejadas a responder as demandas sociais.

A lógica do controle social é a de quem paga indiretamente os serviços públicos, por

meio de impostos é a própria população; portanto, ela deve decidir onde e como os

recursos públicos devem ser gastos, para que tais serviços tenham maior qualidade e

atendam aos interesses coletivos, não ficando à mercê de grupos clientelistas e

privatistas. (CORREIA, 2002, p. 124).

Poderíamos então afirmar, que a expressão controle social significa propor e

participar na formulação das políticas públicas, acompanhar e monitorar sua execução, avaliar

sua eficácia e adequação às necessidades da sociedade civil. Enfim, o exercício do controle

social seria ter acesso e participar de todo este processo de construção da saúde. Pois, segundo

Maria Inês de Souza Bravo: “O controle social inscrito na Constituição é o da participação da

população no sentido de elaborar, implementar e fiscalizar as políticas sociais.” (BRAVO,

2006, p. 83).

Na construção do conhecimento sobre o tema controle social, este foi abordado por

diversos autores, com base em diferentes pensamentos das teorias sociais, inclusive as

discussões sobre o controle social da sociedade civil brasileira sobre a política pública de

saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) imprimiu o controle social através dos Conselhos e

Conferências de saúde, além das Ouvidorias e Auditorias também órgãos de controle.

Sobre a participação dos representantes da sociedade civil (conselheiros), em espaços

de exercício do controle social, é preciso instrumentalizá-los de alguma forma, para qualificar

o debate e as proposições advindas desses espaços. Nesse sentido, a educação, que se trava no

interior da alfabetização científica, contribui para se pensá-la como instrumento formador de

cidadão, independente da idade, credo, raça e escolarização.

A alfabetização científica tem se constituído num tema de debate frequente no campo

da educação tornando-se um importante objetivo para a educação, em espaços formais e não

formais.

Segundo Lacerda, Dal Pian (1993) define alfabetização científica como um conceito

amplo que, “corresponde à aquisição de uma série de conhecimentos gerais relacionados à

33

natureza, aos resultados e à relevância do empreendimento científico.”(1997, p. 97) Em seu

diálogo com Fourez (1994), Lacerda completa o entendimento de Dal Pian e associa seu

conceito ao desenvolvimento do que ele chama de:

unidades de racionalidade, constituídas por um conjunto de conhecimentos de base

em ciência e tecnologia. Tais conhecimentos de base instrumentariam os indivíduos

com conceitos e princípios científicos fundamentais para uma participação ativa na

sociedade, tanto em nível da compreensão de fenômenos e procedimentos, quanto

em nível da facilitação do processo de aquisição de novos conhecimentos. (1997, p.

97).

Auler e Delizoicov (2001) concebem a alfabetização científica sob duas perspectivas,

a reducionista e a ampliada. A reducionista se concentra apenas ao ensino de conceitos, sem

relacionar às implicações da ciência e da tecnologia na sociedade. Para os autores, é o que

Paulo Freire denomina de leitura ingênua da realidade. A perspectiva ampliada da

alfabetização científica se aproxima também do referencial freireano de educação

problematizadora e dialógica, pois questiona a realidade percebida de forma ingênua/mágica.

A realidade é concebida de forma dinâmica, reforçando a mudança. O ser humano, como um

sujeito histórico, pensa os autores freireanamente que “contemporaneamente, cada vez mais, a

dinâmica social está relacionada aos avanços no campo científico e tecnológico” (AULER E

DELIZOICOV, 2001, p. 8), pois a:

a alfabetização não pode se configurar como um jogo mecânico de juntar letras.

Alfabetizar muito mais do que ler palavras, deve propiciar a “leitura do mundo”.

Leitura da palavra e “leitura do mundo” devem ser consideradas numa perspectiva

dialética. Alfabetizar não é apenas repetir palavras, mas dizer a sua palavra. (p. 8).

Na perspectiva ampliada, os conteúdos são considerados como meios para a

compreensão de temas socialmente relevantes. Auler e Delizoicov (op. cit) destacam o mérito

da alfabetização científica em sua possibilidade de instrumentalizar sujeitos com

conhecimentos que possam por eles serem utilizados em seu cotidiano.

“Este tipo de alfabetização científica se preocupa com a superação do obstáculo do

conhecimento científico, entendendo que os conteúdos a serem trabalhados devem

ser contextualizados. Uma alfabetização que introduza novos conhecimentos que

possam ser aplicados na vida das pessoas, que produzam sentido para elas. (p. 9).

O próprio Freire manifestou a necessidade de se exercer o controle sobre a tecnologia

e pô-la a serviço dos seres humanos, em defesa da liberdade mesma, para que a democracia

não se esvaia (1992, p.133).

Finalizando, poderíamos então considerar que a Alfabetização Científica pode

favorecer o indivíduo no convívio com realidades complexas, na busca por soluções, onde

questione e reveja seus próprios conhecimentos, ampliando seus horizontes de informação e

participação social, compreendendo e participando em espaços democráticos na luta pelos

34

direitos sociais. Objetivando ainda, sua emancipação, liberdade individual, desenvolvendo seu

espírito crítico e instrumentalizando-o através da disseminação de saberes significativos e

úteis, para que lhe seja possível compreender e apreender a sociedade na qual se encontra

inserido, em seu exercício de cidadania.

3.2 PERCURSO METODOLÓGICO

3.2.1 A pesquisa qualitativa

A presente proposta de estudo está relacionada à implantação da Comissão de Direitos

do Paciente do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do

Rio de Janeiro e como esta contribuiu para o processo de alfabetização política, no exercício

do controle Social. O cenário da pesquisa elucida dois aspectos fundamentais o campo da

saúde e da educação, o caso a ser estudado se insere em uma instituição de saúde, um hospital

universitário, referência na construção de novos conhecimentos.

Elegeu-se como procedimento metodológico a pesquisa qualitativa para atingir os

objetivos propostos no estudo, pois esta envolve questões de ordem científica, de natureza

ideológica e prática. Trabalha valores, crenças, hábitos, atitudes, representações, opiniões e

aprofunda a complexidade dos fatos. É apropriada quando o fenômeno em estudo é complexo,

de natureza social, buscando entendimento do contexto social e dos aspectos culturais.

A pesquisa qualitativa reúne um conjunto de procedimentos e instrumentais que

permite ao pesquisador aproximar-se das dimensões subjetivas dos processos sociais, da

dinâmica do ser humano na construção desses processos, sua natureza ideológica e prática.

Nesse sentido, mostra-se mais adequada para a compreensão dos acontecimentos diários, bem

como os significados que as pessoas dão aos fenômenos, procurando explorar o mundo das

pessoas na globalidade de seus contextos de vida.

No contexto da metodologia qualitativa aplicada à saúde, emprega-se a concepção

trazida das ciências humanas, segundo a qual “não se busca estudar o fenômeno em si, mas

entender seu significado individual ou coletivo para a vida das pessoas.” Citando uma

publicação de Denzin e Lincoln de 1994, Turano afirma que: “Os pesquisadores

qualitativistas estudam as coisas em seu ambiente natural, tentando dar sentido ou interpretar

fenômenos nos termos das significações que as pessoas trazem para estes” (2005, p. 509).

Prossegue Turano (op. cit):

35

Torna-se indispensável assim saber o que os fenômenos da doença e da vida em

geral representam para elas. O significado tem função estruturante: em torno do que

as coisas significam, as pessoas organizarão de certo modo suas vidas, incluindo

seus próprios cuidados com a saúde. (p. 509)

O termo significado ganha destaque, no contexto da pesquisa qualitativa, cujo

interesse centra-se nas estruturas sociais, procurando conhecer o entendimento sobre

estruturas para os sujeitos participantes do estudo.

Minayo (2004) diz que a metodologia qualitativa é:

[...] aquela capaz de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como

inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas

tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas

significativas. (p. 22).

Lüdke e André ao discutirem a pesquisa qualitativa apontam Bogda Biklen para

discutir as características que configuram esse tipo de pesquisa:

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte de dados e o

pesquisador seu principal instrumento; Os dados coletados são predominantemente

descritivos; A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; O

‘significado’ que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial

pelo pesquisador; A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. (1986,

p. 11-13).

Em sendo a Comissão de Direitos do Paciente do HUCFF, uma experiência singular

de um hospital universitário do Rio de Janeiro, no momento de disseminação da prática do

controle social no Brasil, optamos pela triangulação de técnicas para o aprofundamento na

unidade desse caso. Nesse sentido, o método do estudo de caso, contribuiu para compreender

o exercício do controle social no processo de alfabetização politica.

3.2.2 O método de estudo de caso institucional

Optou-se pelo método de estudo de caso institucional, para o desenvolvimento do

estudo sobre a Comissão de Direitos do Paciente do Hospital Universitário Clementino Fraga

Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esta comissão foi criada em 2001 com uma

proposta de trabalho inovadora, não se tendo conhecimento até o presente momento de outra

instituição que desenvolva algo assemelhado aos objetivos dessa comissão.

Ponte (2006) caracteriza o estudo de caso como:

um estudo de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um

sistema educativo, uma pessoa ou uma unidade social. Visa conhecer em

profundidade o seu “como” e os seus “porquês” evidenciando a sua unidade e

identidade próprias. É uma investigação que assume como particularista, isto é,

debruça-se deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única

em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e

36

característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de certo

fenômeno de interesse. (p. 2).

A Comissão de Direitos do Paciente, o caso estudado, tem caráter unitário específico,

bem delimitado e contextualizado. O estudo investigou a CDP como o caso eleito dentro do

recorte temporal de dez anos, ou seja, de abril de 2001 (implantação) a abril de 2011

(consolidação).

A opção metodológica pelo estudo de caso fundamenta-se em Lüdke e André, (1986)

quando afirma que o estudo de caso deve ser aplicado quando o pesquisador tem o interesse

em pesquisar uma situação singular. Procurando sintetizar os aspectos do estudo de caso,

diríamos que representa uma abordagem metodológica de investigação adequada quando

busca-se compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos,

compreender a singularidade e globalidade do caso em simultâneo.

Entre os potenciais do estudo de caso descrito por Lüdke e André (1986), destacam-se

para o interesse da pesquisa em tela, as características:

o fato de visar à descoberta; enfatizar a ‘interpretação em contexto’; buscar retratar a

realidade de forma completa e profunda; o uso de uma variedade de fontes de

informação; revelam uma experiência vicária; representar os diferentes e às vezes

conflitantes pontos de vista presentes numa dada situação social. (p. 18-20).

A preocupação desse tipo de pesquisa é retratar a complexidade de uma situação

particular, focalizando o problema como uma parte da totalidade do fenômeno a ser

investigado, em nosso caso o exercício do controle social.

As autoras citadas apontam quatro fases para o desenvolvimento de um estudo de caso

embasadas em Nisbet e Watt: a fase exploratória, a delimitação do estudo, a análise

sistemática e a prática do estudo de caso.

A fase exploratória é o momento de explorar os caminhos que o estudo pode ser

encaminhado, para uma definição precisa do objeto de estudo. Várias questões se apresentam

e podem ser consideradas como problema de estudo a ser investigado. Em nosso caso a opção

pelo controle social, parte da vivencia profissional enquanto assistente social da unidade onde

se efetivou o estudo.

Na delimitação do estudo, se faz necessário o recorte e a definição da proposta para

não se desviar de seus propósitos. Aqui, optamos por focalizar o controle social, a educação e

a alfabetização política atreladas a ele.

Quanto à análise sistemática, há necessidade de se iniciar na fase exploratória o

registro das informações que vão surgindo e que poderão ser utilizadas para a definição dos

procedimentos da pesquisa.

37

O pesquisador, no estudo de caso, usa uma variedade de fontes para coleta de dados

que são gerados em vários momentos da pesquisa e em situações diversas. Nesse sentido,

utilizamos técnicas para gerar os dados, que constituíram as fontes primárias, particularmente

a análise documental, a observação de campo e as entrevistas semiestruturadas.

3.2.2.1 A triangulação das técnicas

Quanto à análise documental, utilizou-se documentos institucionais referentes à

criação da CDP, sua constituição e atribuições, com destaque para as duas versões do Estatuto

da Comissão de Direitos do Paciente (primeira versão de 2002, versão atualizada em 2002),

sete portarias de composição dos membros, projetos desenvolvidos, memórias de registro dos

fóruns de encontros de pacientes; relatórios anuais encaminhados a Direção Geral e 210 Atas

das reuniões ordinárias; constituindo o acervo documental com 970 páginas (Tabela 1).

Tabela1. Acervo de documentos da CDP, objeto da análise documental 2001-2011.

Denominação dos documentos Total de páginas

Estatuto da CDP, primeira versão 2002 03

Estatuto da CDP, versão revisada e atualizada em 2002 03

Portarias de designação dos membros da CDP 10

Projetos desenvolvidos pela CDP e pelos alunos 70

Memórias de registro dos fóruns de encontros de pacientes 60

Relatórios anuais encaminhados à Direção Geral 350

Atas (210) de reuniões ordinárias 474

Total 970

Com a análise da massa documental, buscou-se identificar as marcas do exercício do

controle social, os modelos de prática e as estratégias utilizadas pelos membros da CDP no

processo de construção do exercício do controle social desde sua implantação em 2001 até sua

consolidação em 2011. Na documentação da CDP identificaram-se dados que contribuíram

para a elaboração de seu histórico, sua formação, constituição e trabalhos desenvolvidos,

processo de alfabetização política e consolidação da CDP. Por meio das atas das reuniões

ordinárias, analisou-se a prática do exercício do controle social desenvolvida pelos membros

da comissão, as relações estabelecidas entre a comissão e a gestão da instituição.

Os procedimentos adotados para desenvolver a análise documental orientaram-se pelas

diretrizes da analise de conteúdo temática de Bardin (2011). Esse tipo de análise na pesquisa

documental contribui para descrever e interpretar o conteúdo das mensagens dos textos,

conduzindo a interpretação das mensagens e significados que extrapolam a leitura comum.

Os dados coletados nas 34 atas do ano de 2001contribuíram para a descrição e análise

da fase de implantação da CDP, formou-se um Corpus Textual dividido em quatro segmentos:

38

a presidente, os membros, os convidados e o grupo. Deste construímos uma Unidade de

Registro, extraímos as palavras e expressões chaves e em seguida a unidade de contexto. Este

contexto norteou a elaboração.

A título de ilustração do processo de análise empreendido veja a seguir como os

quadros 2, 3, 4 e 5 foram construídos, para identificar as marcas da participação dos membros

da CDP nas reuniões ordinárias, no ano de 2001.

Tabela 2. Marcas da participação da Presidente nas reuniões ordinárias da CDP. Extrato das

atas, ano 2001.

Unidade de registro

Ata 001

Revelar expectativa de trabalho da comissão

Destacar os principais eixos de atuação

Identificar atividades

Reflexões sobre o trabalho

Leitura da cartilha de direitos identificando principais aspectos

Ata 002

Impressões sobre a leitura

Construção de identidade do grupo

Estabelecimento de metas

Identificar situações trazendo para a reunião do grupo

Cobrar respostas e ações

Elencar prioridades para atuar

Ata 003

Informes e troca de questões observadas e/ou sinalizadas que demandam conhecimento dos membros e outras ações

Leitura dos problemas identificados

Ata 006

Leitura da cartilha item por item para avaliação pela Comissão

Ata 007

Apresenta minuta do Estatuto da Comissão e após leitura, a mesma enfatiza que dará cópias para todos os membros para que cada um possa

contribuir para discussão e elaboração final

Impressão cartilha para iniciarmos nossa atividade de ação educativa

Ata 010

Leitura da carta resposta do serviço de saúde mental quanto mudanças de artigos da cartilha

Ata 011

Maior participação dos membros nas reuniões com os pacientes fortalecendo o enfoque educativo

Ata 016

Apresentação do grupo presente explanando a história do controle social na saúde, fazendo relação com a atuação da CDP

Ata 018

Resgatando a metodologia de trabalho usada pela Comissão

Em ação educativa houve distribuição da cartilha

Ata 021

Cópia regimento do Hospital das Clínicas para leitura e reflexão do que poderá ser discutido com Dr. S sobre as normas de atendimento

Ata 023

Participou de reunião com os residentes do HUCFF apresentando o trabalho da Comissão

Ata 026

Necessidade de maior investimento com a ação educativa

Ata 028

Informe acerca divulgação do Boletim HUCFF sobre o desenvolvimento do trabalho da Comissão

39

Tabela 3. Marcas da participação dos membros (presidente, representante de paciente e de

profissionais) nas reuniões ordinárias da CDP. Extrato das atas, ano 2001.

Unidade de Registro

Ata 001

Destacou importância de a comissão atuar na esfera do planejamento

Ata 002

Repercussão da cartilha e a necessidade de inserirmos outros aspectos

Ponderou que a situação não poderia ser individual ou assistencial a atuação seria de fortalecer os canais como: Ouvidoria, Comissão de

Ética, etc.

Faz sugestões que poderiam ser acatadas

Ressalta que a grande tarefa será educacional e que poderíamos fazer alianças

Ata 003

Analisar de perto para uma melhor discussão do grupo

Ata 005

Ao mesmo tempo em que fossem expostos os problemas fossem citados soluções pensadas

Ata 006

Sugeriu melhorar a abordagem de indicação do parecer religioso e psiquiátrico.

Ata 010

Sugere um sistema de chamada interno para melhorar a comunicação

Ata 016

Sinaliza importância de agilidade dos trabalhos da comissão

Tabela 4. Marcas da participação dos convidados nas reuniões ordinárias da CDP. Extrato

das atas, ano 2001.

Unidade de Registro

Ata 005

Chefe lista problemas que interferem no Serviço de Documentação Médica

Ata 009

Chefe discute o problema do direito do paciente e o sigilo do profissional: ter acesso as informações do prontuário. O paciente tem direito de

acesso, a laudos, relatórios, históricos. Garantir também o sigilo do profissional que atua no hospital.

Ata 010

Convidada relata sobre suas dificuldades de controle do número de visitantes e pacientes. O sistema de informações é muito difícil de ser

controlado.

Tabela 5. Marcas da participação do grupo nas reuniões ordinárias da CDP. Extrato das atas,

ano 2001.

Unidade de Registro Ata 003

Decidimos que convidaríamos para nossas reuniões alguns diretores de Divisão acompanhados de chefes de serviços para discutir a questão e

propor prazos para resultados. Reforçamos nossa ação como educativa. Observamos que seria necessário solicitar a impressão de mais

exemplares da cartilha, pois os profissionais estão solicitando e não podemos perder este espaço.

Ata 005

Analisados todos os itens que interferem nos direitos do paciente.

Ata 006

Todos concordam que o paciente pode e deve manusear o prontuário

40

Ata 007

Discutimos dificuldades vivenciadas pela Divisão em relação à reestruturação do atendimento Emergência / Pronto atendimento

Ata 009

Conclusão: estabelecer rotina do HUCFF sobre o assunto para ser divulgado junto aos profissionais e pacientes; proposta de seminário sobre

questões jurídicas envolvendo informações ao paciente.

Ata 011

A comissão fará análise e levantamento mais apurado aos mapas do centro cirúrgico no mês de maio, com vistas a uma abordagem mais

conclusiva ao que diz respeito a procedimentos cirúrgicos SUS/convênio. Leitura da CI N° 040/2001, procedente da Coordenação Adjunta de

transplantes/HUCFF. Assunto Rotina de atendimento aos pacientes extra SUS. Analisando o documento item a item. Leitura da proposta de

Estatuto da Comissão de Direitos do Paciente. Avaliada pelos membros desta comissão, com alterações e encaminhamentos.

Ata 012

Realizada leitura da Rotina de atendimento aos pacientes da Emergência. Após a leitura a Comissão decide fazer uma visita. A visita não tem

intenção de ser fiscalizadora, mas de verificar de que forma esta funcionando, hoje o sistema de pronto atendimento do hospital. As ideias

apresentadas no papel referentes a Rotina provisória de pronto atendimento, não condizem com a realidade que constatamos de fato.

Ata 013

Relato do trabalho realizado junto a Assessoria Jurídica acerca do acesso de pacientes a informação no prontuário fora observado algumas

controvérsias em relação ao Direito do Cidadão e o que a Instituição permite. Optou-se por aguardar o retorno do Dr. M. que está de férias,

para que a acessória jurídica possa atuar plenamente nesta discussão. Entende-se que este tema deva ser realizado em fórum ampliado

prevendo todas as interfaces

Ata 014

Análise do mapa cirúrgico referente ao mês de maio, onde a Comissão decide conhecer as listas de espera para procedimentos cirúrgicos de

vários serviços.

Ata 015

Fora discutido e decidido que os membros desta Comissão escolherão aleatoriamente um dia para ficar no pronto atendimento, a fim de

observar a qualidade do atendimento prestado.

Ata 016

Os membros da Comissão presentes participaram do debate, esclarecendo acerca da metodologia de trabalho utilizada pela Comissão: visitas,

encontros, reuniões O grupo presente debate a questão e propõe que possa ser discutido na comissão para o futuro revezamento.

Ata 017

A Comissão teme que a construção de um hospital de atendimento privado dentro de um espaço público. Questionamos a autonomia da

Comissão frente às situações apresentadas.

Ata 018

A Comissão deseja monitorar a equidade do atendimento e não concorda com a possibilidade de ocorrer diferença no tratamento e de termos

um hospital privado dentro do espaço público. Como ponto crítico, a Comissão destaca a Emergência A Comissão questiona prazo, entende a

situação atual de risco. A comissão reforça a urgência. A comissão define como crítico também o atendimento do laboratório, as filas

intermináveis.

Ata 020

A reunião teve início com a leitura da ata do dia 06/08/01, reunião com o Diretor Geral com o propósito de identificar compromissos

assumidos. A comissão optou por cobrar da DG, as audiências públicas para discussão do modelo de emergência. Acordamos que

intensificaríamos a vigilância na emergência. Será monitorada a qualidade no atendimento ao paciente e a falta de vagas para os pacientes de

emergência.

Ata 021

A Comissão entende a crise, porém entende a necessidade de priorizar áreas de atendimento, então decide retornar a direção geral para que

possa efetuar as contratações necessárias ao bom atendimento e diminuir o tempo de espera. A Comissão segue com análise aos

questionários aplicados aos pacientes atendidos na emergência.

Ata 022

A Comissão iniciou então a discussão sobre o regimento já entregue em reunião passada e observou uma série de questões que em nossa

instituição ainda não estão sistematizadas. Tendo em vista a carência na área SUS a Comissão entende como urgente a discussão sobre

prioridades na utilização da verba.

Ata 023

A Comissão tem conhecimento de que os pacientes estão apresentando relativa insatisfação em relação ao atendimento prestado e a comissão

é de prestar apoio a enfermagem na análise da situação e busca de alternativas. A Comissão elabora texto para ser editado no Boletim do HU.

A Comissão opta por iniciar discussão sobre a organização do I Fórum dos Pacientes.

Ata 025

A Comissão decide agendar reuniões quinzenais a princípio com o diretor geral que deixou sua agenda aberta para a Comissão, procurando

assim intervir no planejamento e ações que garantam o olhar mais direto das demandas dos pacientes do HUCFF. A Comissão insiste com o

compromisso da DG em realizar audiências públicas, visando manter a transparência e o entendimento da comunidade junto a discussão da

nova proposta sobre a emergência. A Comissão permanece monitorando a qualidade do atendimento que vem sendo prestado.

Ata 026

A discutir e a listar pendências as quais buscará atender. Divulgar mais a Cartilha e viabilizar a colocação de painéis explorando a

41

visualização da lista de direitos, principalmente no ambulatório. Discutir normas e rotinas para o atendimento extra/SUS.

Ata 027

A Comissão retoma os trabalhos e prossegue com o esboço do I Fórum dos Pacientes do HUCFF.

Ata 028

A Comissão discute a realização do I Fórum.

Ata 029

Após realizarmos leitura conjunta alguns questionamentos são extremamente pertinentes. Foi observada absoluta falta de vinculo da paciente

com os responsáveis da condução do tratamento. A Comissão entende que a questão evidenciada na carta é comum no dia do HUCFF, dado

este que é preciso reverter. A Comissão decide encaminhar a carta com os questionamentos para direção geral, sugerindo avaliação da

comissão de ética médica, contatar com o paciente a fim de oferecer-lhe apoio de saúde mental e serviço social além de informá-la sobre o

destino de sua carta. A Comissão decide também tirar cópia da carta e encaminhá-la para todos os serviços médicos a fim de que esta

situação sirva de alerta para um dos princípios básicos do atendimento com dignidade e respeito nos remetendo a reflexão sobre

humanização do HUCFF.

Ata 030

A Comissão concluiu que a insatisfação maior é por parte da equipe de profissionais e não de pacientes. Verificou-se ainda há necessidade de

participação da equipe de funcionários nas decisões a serem tomadas, quanto ao assunto emergência/ pronto atendimento, só assim poderá

haver mudanças pretendidas no serviço.

Ata 031

A reunião teve início avaliando: Análise da cópia do mapa do centro cirúrgico a fim de evidenciar queixa feita pelo paciente. A Comissão

concluiu através da análise do mapa que a queixa do paciente procede. A Comissão discute formas de controlar fatos como esses. A

Comissão entende como urgente a normalização através de portaria que regule a ação dos profissionais de saúde no atendimento à clientes

extra/SUS no HUCFF. A Comissão encaminha a DG proposta de elaboração de portaria.

Ata 032

Discussão da proposta de realização do I Encontro de pacientes do HUCFF. O grupo presente discute ideias e foi reflexão comum à

necessidade de ampliar o quantitativo de pacientes na discussão e na Comissão de Direitos do Paciente

Ata 033

A Comissão recebeu visita paciente S.S.S. de quem recebemos uma carta relatando procedimentos recebidos neste hospital por seu

tratamento de câncer de mama. Ao final do relato, a conclusão da Comissão foi que não havia indícios de erro nos procedimentos médicos

realizados, mas que algumas falhas poderiam ter sido evitadas. Para prestar maiores esclarecimentos, os membros da Comissão sugeriram a

convocação do Dr. J.C. chefe do Serviço de Ginecologia.

A observação utilizada na busca de dados deu-se em duas reuniões ordinárias da CDP

no ano de 2011, em que foram observadas as relações interpessoais no seu interior e a

construção do trabalho em grupo. O uso da observação como técnica para o estudo do caso da

CDP, demostrou que nas reuniões ordinárias, as discussões são realizadas por pautas

previamente definidas, mas as prioridades são estabelecidas no início da reunião, pelos

próprios membros da Comissão. As questões são discutidas e os encaminhamentos propostos

pelo próprio grupo. Nele, todos os membros têm voz e o mesmo poder de decisão no voto. Os

membros desta comissão tiveram conhecimento da observação realizada, sendo esclarecidos

os objetivos e constando em Ata da reunião ordinária da CDP de Nº 220. Somente os que

responderiam a entrevista semiestruturada assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE).

Para a entrevista semiestruturada procedeu-se a escolha dos sujeitos considerando-se

os seguintes critérios de inclusão: o período em que participaram como membros da CDP,

entre 2001 e 2011; representação dos três segmentos, gestor, profissional de saúde e paciente;

mínimo de um terço de cada segmento; quantitativo de pacientes e profissionais de saúde

constantes na última nomeação de composição da CDP; voluntariedade.

42

No total, oito pessoas foram entrevistadas, contemplando os três segmentos envolvidos

na pesquisa. Os representantes dos gestores foram dois (2) de três (3), em 10 anos de gestão

da CDP; dos pacientes foram dois de seis e profissionais de saúde foram quatro (4) de 1212

.

A todos os entrevistados foram apresentados os objetivos da pesquisa, lido o termo de

consentimento livre e esclarecido, e sua participação voluntária foi confirmada com a

assinatura do TCLE (Anexo1). A gravação da entrevista foi autorizada formalmente no

Termo.

Para assegurar o anonimato, os nomes das pessoas foram substituídos por código

alfanumérico, variando de SP1 a SP8 para os entrevistados, e iniciais dos nomes quando

constantes nos documentos objeto da análise documental.

Os dados coletados serão utilizados apenas neste estudo e os resultados divulgados em

eventos e/ou literatura científica. Estas entrevistas foram transcritas e serão manuseadas como

estabelecido no item IX.2 da Resolução CNS Nº 196/96, todo o material gravado e a

transcrição dos dados coletados, estão sob a guarda das pesquisadoras e serão destruídos no

prazo de 05 (cinco) anos.

3.2.3 A análise dos dados

Segundo Souza (2009) “analisar significa estudar, interpretar, procurar conhecer

determinada realidade através do exame sistemático dos seus elementos” (2009, p. 264). A

metodologia nos direciona aos caminhos a serem escolhidos para atingirmos os objetivos

propostos. Em nosso caso para a análise dos dados, trabalhamos com a análise de conteúdo

pautando-se nas orientações teóricas de Laurence Bardin.

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas (formas) para se analisar as

comunicações. Então, a análise de conteúdo pode ser compreendida como a análise dos

significados da comunicação. Bardin ressalta a definição de Berelson é: “uma técnica de

investigação que através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo

manifesto das comunicações tem por finalidade a interpretação destas mesmas

comunicações.” (2011, p. 42).

Entende-se que a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades por meio das

mensagens, é a interpretação dos seus conteúdos, o reinterpretar das mensagens, buscando

atingir a compreensão de seus significados, procurando conhecer aquilo que está manifesto na

12 O número de membros entrevistados baseou-se nos dados de composição da última Portaria da CDP de Nº 047

publicada de 03 de setembro de 2010: seis pacientes e 12 profissionais de saúde.

43

comunicação das palavras, objetivando atingir níveis de compreensão mais profundos do

fenômeno proposto a ser elucidado.

Para tal, se torna indispensável à compreensão do contexto do estudo para melhor

explicitar o texto, sempre relacionando-o a proposta de estudo, esta referência facilitará a

delimitação dos dados significativos da pesquisa.

Segundo Bardin, o objetivo da análise de conteúdo é a manipulação das mensagens

(conteúdo e expressão desse conteúdo) para evidenciar os indicadores que permitam inferir

sobre outra realidade que não a da mensagem, ela define como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens

indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/ recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

(2011, p. 48).

A fase de pré analise dos dados foi o trabalho realizado com os documentos, matéria

prima da análise documental. Dos extratos das atas e demais documentos extraíram-se

expressões e palavras chaves que contribuíram para a construção da unidade de contexto (UC)

/unidade de significação (US) apresentada na Tabela 6 a seguir:

Tabela 6. Construção das UC/US com as marcas da participação da Presidente nas reuniões

ordinárias da CDP. Extrato das Atas, ano 2001.

Classe de Palavras/ Expressões Chaves

Cartilha, artigos, documentos – Leitura, discussão, reflexão

Educação - ação educativa, enfoque educativo, atividade de ação educativa, conhecimento, informes.

Atuação da CDP - eixos de atuação, identificar atividade, expectativa de trabalho da comissão, reflexões sobre o trabalho

desenvolvimento do trabalho, trabalho da comissão metodologia de trabalho utilizada, estabelecimento de metas Intervenção,

identificando situações, respostas e ações, problemas identificados, elencar prioridades .

UC/US - No ano de 2001, a Presidente da Comissão investiu na expectativa de trabalho da Comissão (o grupo), destacando quais

seriam os principais eixos de atuação, identificando as atividades (ações) a serem desenvolvidas, os aspectos a serem trabalhados,

elencando prioridades para intervenção, enfatizando as atividades educativas, destacou a metodologia e o desenvolvimento do trabalho,

com o estabelecimento de metas. Preocupou-se com a construção de uma identidade à luz do Estatuto da Comissão.

Suscitou reflexões, discussões, debates, por estar preocupada com a necessidade de as informações circularem entre todos os membros

da Comissão.

O corpus textual das entrevistas foi organizado e processado para facilitar o trabalho

de compreensão e análise a luz dos pressupostos da analise de conteúdo, pois segundo Bardin:

“corresponde a um período de intuições, mas tem por objetivo tornar operacionais e

sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do

desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise”. (BARDIN, 2011, p. 125).

A exploração do material das entrevistas, em uma primeira etapa, foi iniciada pela

composição do corpus textual, sendo elaborado segundo os segmentos de entrevistados:

pacientes, gestores e profissionais. Passamos a fase de elaboração da unidade de registro, para

delimitação das classes de palavras/expressões chaves, chegando-se então a unidade de

44

contexto/unidade de significação. Na Tabela 7 abaixo exemplifica-se os primeiros passos

seguidos, com relação ao segmento paciente, na categoria: exercício do controle social.

Tabela 7. Movimento de análise das entrevistas com os pacientes. CDP, 2011.

Corpus Textual Unidade de Registro Classe

Palavras/Expressões

chaves

Unidade de Contexto/Significação

SP2- Como a senhora entende a questão do controle social. Bom

sinceramente até hoje ainda não consegui entender, fala-se isso

no conselho distrital de saúde, fala-se em todo lugar, eu não

consigo entender. Tá tão confuso que eu não consigo

discernir. Fala um pouquinho do seu trabalho no Conselho

distrital a senhora participou durante muito tempo. É justamente

chegam a nós essas deficiências e às vezes nós visitamos a

unidade. É para ver como os atendimentos e tudo e procuramos

falar com a direção essas coisas todas, não é fácil, mas nós

procuramos falar para amenizar aquelas situações e eu faço parte

as vezes dessas visitas, dessas coisas todas né e as vezes até vou

sim como paciente fico lá na fila e tudo para ver a realidade,

porque se nós chegarmos para visitar o local fica tudo bonitinho

né então eu vou sozinha assim ficar fico lá porque aí eu chego

com isso no conselho e no conselho se discute. A senhora leva

essas questões para o Conselho. Exato, exato. No conselho depois

que estas situações se discutem tem algum encaminhamento.

Justamente isso encaminhamos as direções né das unidades que

nós visitamos. E essa foi a sua prática durante muito tempo dentro

da representação no Conselho distrital. Esse é o exercício do

controle social Eu não conseguia entender muito bem. Estava

exercendo, mas não sabia coadunar uma coisa com a outra. Aí

eu tenho dúvidas em relação aos nossos dirigentes se eles sabem o

que é controle social que é muito bonito, agora com a

neurolinguística então é formidável tudo é neurolinguística né

usam-se as palavras não realmente o que elas valem, mas o que as

pessoas querem que elas passem a valer então a coisa fica

diferente......por isso esse meu desanimo essa minha decepção

com as coisas públicas porque nós lutamos mas quem deveria

realmente fazer isto mais... atuar não fazem deixam para depois e

esse depois chega nunca. .

SP2-Exercício do

controle social:

A questão do controle

social. ...até hoje (depois

de 4 anos) ainda não

consegui entender, fala-

se no conselho distrital de

saúde, em todo lugar...

Tá confuso. não consigo

discernir. Eu não

conseguia entender muito

bem. Estava exercendo,

mas não sabia coadunar

uma coisa com a outra.

Entendimento sobre

controle social:

não entende,

confuso, sem

discernimento.

SP2- Na ambiguidade do pensar o

que é o controle social na teoria e o

exercício desse controle na prática, a

paciente efetivamente esta

cumprindo seu papel social.

SP8- Uma das propostas da CDP né é a questão do controle

social. Como o senhor entende a questão do controle social. Em

que sentido controle social porque é amplo esse sentido. O que o

senhor entende. Eu acho, o controle social deve ser de parte a

parte né eu.... tanto do paciente , porque tem muito paciente

também difíceis, com dificuldades extremas não dificuldade

não só cultural como dificuldade financeira, mas tem outros

também que tem dificuldade de comportamento né isso

dificulta muito né, e se todos os profissionais de saúde, os

pacientes, se nessa relação tivesse um melhor conhecimento dos

seus direitos aonde você pode chegar, aonde você, até onde você

pode atingir acho que ficaria mais fácil . O controle social é

decorrência.

Exercício do controle

social:

É difícil, com

dificuldades cultural,

financeira,

comportamental

dificuldades extremas

Relacional:

Dificuldades

extremas

O paciente entende o exercício do

controle social se dá na relação

paciente – profissionais de saúde,

mas que se apresentam dificuldades

extremas nesta relação.

Segundo Bardin (2011), a fase de tratamento do material, na análise, envolve o

processo de codificação, o que significa dizer que:

corresponde a uma transformação - efetuada segundo regras precisas – dos dados

brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração,

permite atingir uma representação do conteúdo”. Reafirma citando Holsti “A

codificação é o processo pelo qual os dados brutos são transformados

sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exata

das características pertinentes do conteúdo.” (p. 133).

Dando continuidade ao processo, foram criados outros quadros agrupando todos os

segmentos, as categorias até chegar-se a unidade de contexto ou significação, as quais deram

origem ao tema.

45

O tema está relacionado a um determinado assunto, mas este pode estar relacionado a

múltiplas questões, pode ser representado por uma única palavra, expressão ou resumo.

Bardin (2011) caracteriza o tema como:

unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo

certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura, acrescenta ainda que

fazer uma análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que

compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição, pode significar

alguma coisa para o objetivo analítico escolhido. (p.135).

O processo de análise culminou nos seguintes temas: 1º- Processo de implantação da

Comissão de Direitos do Paciente; 2º- O cotidiano da participação social dos membros da

CDP; 3º- Percepção de Controle Social para os membros da CDP; 4º- Exercício do Controle

Social: O trabalho da CDP na prática e Na avaliação de seus membros; 5º- Percepção da

representação do paciente e funcionário de saúde.

46

CAPITULO 4. O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DE UMA COMISSÃO DE

DIREITOS DO PACIENTE: O CASO DO HUCFF. UFRJ

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/ HUCFF é um dos oito hospitais que

integra a estrutura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, somando-se às outras Unidades

e Órgãos do Centro de Ciências da Saúde. O hospital é referência para o Sistema Único de

Saúde no tratamento de pacientes em situações de alta complexidade e no atendimento da

demanda terciária e quaternária de cuidados à saúde. Como um centro de excelência na

assistência, no ensino e na pesquisa, cumpre sua tríplice função social de prestação de

cuidados em atenção às necessidades de saúde da população. A instituição possui em sua

organização, canais de comunicação, como a ouvidoria e comissões, que favorecem a

interlocução entre a instituição hospitalar e a sociedade.

O processo de implantação da Comissão de Direitos do Paciente foi desenvolvido em

etapas, indo da inspiração à sua consolidação.

A inspiração consistiu na primeira etapa de criação da CDP, como um fruto da

experiência pessoal do diretor, com sua valorização pelo movimento contra a discriminação

da AIDS, a partir da década de 1980, e a criação da Ouvidoria, a primeira em um hospital do

Estado do Rio de Janeiro. A participação no movimento de pacientes, familiares e a

comunidade na luta contra a discriminação da AIDS foi fonte de inspiração para se pensar em

canais de comunicação entre o usuário e o hospital.

Minha experiência no trabalho com a AIDS. Os pacientes foram muito discriminados, foi um modelo de

cidadania, para o desenvolvimento dessa discussão entre os pacientes. Na contra mão dessa

discriminação, nós valorizamos os movimentos dos próprios pacientes, seus familiares, na comunidade

e isso fazia com que nós refletíssemos sobre o problema. (Entrevista com o SP7).

Como médico infectologista, desenvolvendo sua prática clínica nos serviços de saúde

público e privado (no consultório particular), sensibilizou-se para a necessidade de estabelecer

canais de comunicação entre os pacientes e o hospital, como uma das bandeiras de sua

administração, na qualidade de diretor geral do hospital.

Eu vinha diretamente da experiência do serviço de doenças infecciosas no HUCFF, tinha uma pratica

no consultório, também com pacientes com AIDS. Naquele momento - 1998, 1999 -havia uma certa

efervescência na sociedade, na discussão de direitos de cidadania; quer dizer, aquele direito inerente à

pessoa que não depende de uma, ou outra condição que não seja a sua própria existência, e esse

direito devia se transformar em ações concretas e politicas públicas permanentes. A base para me

preocupar com isso quando assumisse a direção do hospital. Enfim, começaram a se desenvolver a

ideia, depois ficou muito forte. (Entrevista com o SP7).

Na etapa de idealização, particularmente, 1998 e 1999 foram anos de efervescência da

sociedade civil, período de consolidação da democracia no país, após o movimento do

impeachment do Presidente Fernando Collor (1990-1992), primeiro presidente eleito

47

diretamente pelo povo. O Brasil de 1998 vivia o segundo mandato do Presidente eleito

Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que instituiu a política do estado mínimo do

modelo econômico neoliberal13

. A sociedade promovia uma intensa discussão sobre direitos

de cidadania. Nesse contexto, amadureceu a ideia de se criar um canal de comunicação entre o

hospital e os usuários.

Num primeiro momento, começou a se apresentar a ideia da ouvidoria, o foco era a

ouvidoria. A ideia de ter um canal de comunicação dos pacientes, um movimento de pessoas

que procuravam, encontravam um canal para expressar suas insatisfações, dificuldades etc.

Então, a gente criou a ouvidoria. Foi uma das primeiras ouvidorias em hospital, no Brasil.

Seguramente, a primeira do Rio de Janeiro e o resultado foi muito bom. (Entrevista com o

SP7).

A avaliação positiva do resultado da ouvidora que se instalou no hospital baseou-se na

resolutividade encontrada pelas pessoas que buscavam o serviço, particularmente atender as

insatisfações e dificuldades de cada pessoa.

A ouvidoria tinha essa autonomia. O Ouvidor conseguiu dar uma resposta e fazer com que o

processo crescesse. (Entrevista com o SP7).

A inquietude permaneceu, pois se percebeu que a ouvidoria não era suficiente para a

escuta de tantos problemas imersos num contexto de maior magnitude. O hospital, ao mesmo

tempo em que cria um canal para o usuário expressar sua voz, permanece o mesmo contexto

de precariedade e de crise hospitalar. Os problemas multiplicaram-se; as tensões e conflitos

intensificaram-se. O direito do paciente de ir e vir, ser bem informado e adequadamente

acolhido eram violados no contínuo do atendimento hospitalar.

Porque a gente pensava: se um paciente chega ao hospital e não sabe para onde ir, tem

dificuldade de chegar a determinado lugar - um problema que existe até hoje - porque o

sistema de informação, de direcionamento, de sinalização do hospital é muito ruim, ele já

começa mal. Já começa com dificuldade em se relacionar com o hospital. Não adianta,

apenas, ele ser bem tratado naquele lugar. Ele tem que ser bem tratado, desde o inicio, em

todas as dimensões do funcionamento do hospital. Problemas relacionados ao reconhecimento

do paciente como cidadão de direitos, benefícios, etc. (Entrevista com o SP7).

Era preciso dar uma resposta a tantas demandas.

Não era apenas ouvir queixas passivamente, esperar que alguém se queixasse de alguma coisa

para a gente examinar as queixas e tomar providências. Era preciso ter uma política proativa

e, principalmente, que integrasse os setores do hospital. (Entrevista com o SP7).

A participação do usuário no hospital precisava avançar para além do registro de

queixas na Ouvidoria da instituição. A Comissão de Direitos do Paciente (CDP) é concebida

13

Política de estado mínimo no modelo econômico neoliberal – “estabelecimento de um Estado Mínimo que

cumpra apenas com algumas funções básicas, como educação primária, a saúde pública e a criação e manutenção

de uma infraestrutura essencial ao desenvolvimento econômico”. (Soares, 2002:40).

48

como uma organização interna, vertical e resolutiva, para atender o direito do cidadão que

passa a ser compreendido como algo integrado a vida do hospital.

O direito do cidadão integrado a vida do hospital; uma organização interna que cuidasse verticalmente

desse processo de integração da cidadania dentro dos diversos serviços. Alguém se ocupando do

problema, buscando resolvê-los. Daí, a comissão de direitos do paciente. (Entrevista com o SP7).

Assim, a CDP, na etapa de instituição como órgão de assessoramento à Direção Geral

do hospital somando-se às demais estruturas de participação do paciente no hospital,

integrando à Coordenação de Comissões Permanentes. Seu propósito foi o de monitorar a

qualidade do atendimento prestado ao paciente, com vistas a garantir os direitos contidos na

Cartilha de Direitos dos Pacientes14

. Incentivar e possibilitar a participação dos pacientes na

gestão de políticas institucionais, fortalecer o direito do cidadão e reforçando sua condição de

usuário das políticas de saúde.

A CDP abre espaço para a participação social do paciente no hospital, constituindo-se

em um lugar de encontro com profissionais de saúde (equipe de saúde) para promover

discussões entre os vários segmentos, com vistas a permanente melhoria do atendimento

prestado pelo hospital.

Fortalecer junto aos pacientes a noção de direito e a possibilidade de ação coletiva

em sua defesa; possibilitar a participação do paciente, transformando-a em cidadania

na saúde; monitorar através de indicadores a qualidade dos serviços prestados pelo

hospital; possibilitar acesso, qualidade e humanização na equipe de saúde; favorecer

a discussão entre os variados segmentos da instituição, com vistas a permanente

melhoria do atendimento prestado aos pacientes e observar a equidade do

atendimento a pacientes do SUS e Convênios extra-SUS. (Portaria nº 73 de 05 de

abril de 2001).

O hospital, no enfrentamento da crise de financiamento dos hospitais universitários, no

final da década de 1990 e inicio da década de 2000 decide ampliar a oferta de leitos privados

existentes, sob a égide do Convênio Extra-SUS.

Junto com outros órgãos da Universidade, o Hospital Universitário no ano de 2000-2001 vivenciava

uma crise de financiamento muito grande. A direção do hospital toma a decisão de ampliar o

atendimento Extra SUS no hospital. Na verdade, ele sempre teve, desde a sua criação, uma ala

destinada para atendimentos particulares. Ele até os fazia. A pessoa pagava e tinha o atendimento na

chamada ala F. (Entrevista com o SP1).

A Comissão, na qualidade de representante da comunidade assumiu um papel de

controle sobre a equidade do atendimento, a garantia de aplicação dos recursos captados com

a venda de leitos para benefício do conjunto de pacientes SUS assistidos pela instituição, de

modo a encontrar um ponto de equilíbrio.

14

Cartilha de Direitos dos Pacientes. HUCFF. UFRJ, 2001. Material educativo construído na gestão do Diretor

geral do hospital, período 2000-2005.

49

Nesse sentido, essa comissão, era como se representasse a comunidade para garantir que, como se

pretendia, aqueles recursos do atendimento aos pacientes de convênio Extra SUS beneficiariam o

conjunto, de uma forma significativa. O preço do tratamento não poderia ser diferente. (Entrevista

com o SP7).

Temendo que houvesse uma diferença muito expressiva no atendimento. (Entrevista com o SP1).

Nesse sentido, o HUCFF, como parte da totalidade da crise existente à época, convive

com três modalidades de oferta de leitos: a) usuários do SUS; b) pacientes particulares; c)

pacientes de seguradoras e planos de saúde – Convênio Extra-SUS. A ala F do hospital

destinava-se aos pacientes particulares ou adquirentes de planos e seguradoras de saúde que se

internavam para realizar procedimentos cirúrgicos. Reforça o Sujeito da Pesquisa 2

entrevistado:

Mas o Extra-SUS, no final da década de 1990 para início do ano 2000, seria para o atendimento aos

pacientes que possuíam planos de saúde e seguros: Bradesco, Amil, Unimed, entre outros. (Entrevista

com o SP1).

A porta de entrada dos pacientes de Convênio Extra-SUS era “os próprios médicos do

hospital”, que traziam seus pacientes de consultórios, para realizar procedimentos cirúrgicos,

“revertendo essa verba, tentando com isso minimizar a crise de financiamento em que se

encontrava o hospital”.

A direção geral do hospital preocupava-se com a equidade na prestação de assistência

a pacientes do SUS, um dos quatro princípios fundadores do sistema único de saúde.

Usuários do SUS eram assistidos em uma instituição universitária, essencialmente pública,

que vivia uma profunda crise de financiamento. Nesse mesmo cenário, internavam-se

pacientes particulares e do Convênio Extra-SUS trazidos pelos médicos de seus consultórios,

que exerciam uma medicina pública e privada em um hospital híbrido.

A Comissão de Direitos do Paciente surge nesse contexto de crise dos hospitais

universitários de financiamento e de modelo assistencial, em pleno período de efervescência

das discussões sobre direitos de cidadania, num país, cujo modelo econômico neoliberal

impõe uma política de estado mínimo.

A comissão, nuclearmente de pessoas que vivenciavam o SUS, cumpria do ponto de vista essencial,

essa perspectiva principal. Então, era importante dentro da política de administração que havia na

época, que isso fosse um parâmetro para o funcionamento do setor de convênios. (Entrevista com o

SP1).

Como parte da estrutura do hospital, a comissão é concebida para funcionar com

autonomia, uma extensão da direção geral, mas com independência para levantar questões

próprias e desenvolver métodos de trabalhos para a consecução de seus objetivos:

É uma extensão um braço da administração que tinha autonomia. Porque a comissão de direitos do

paciente foi concebida para ter autonomia. Ela não dependia das diretrizes da direção geral para

50

funcionar, ela tinha autonomia para levantar suas próprias questões, seus métodos de trabalho sempre

foi respeitado. (Entrevista com o SP7).

Um dos papéis da CDP, destacados na entrevista do Sujeito da Pesquisa 2 foi o de

“fiscalizar o Convênio Extra-SUS” e acompanhar a equidade da atenção prestada pelo SUS.

Na etapa de formação do primeiro grupo de representantes na CDP, os membros foram

convidados pelo diretor geral e pela assistente social, cabendo ao diretor geral o convite a uma

assistente social e mais algumas pessoas”. No conjunto dessas pessoas, assim foi composta a

Comissão.

O diretor do hospital me convidou - na época, eu era a chefe do Serviço Social - para iniciar trabalho

que ele entendia como controle social. (Entrevista com o SP1).

Quanto à representação do paciente, convidaram-se cidadãos que frequentavam o

hospital e inseriam-se em grupos organizados de pacientes com patologias específicas. Um

processo de eleição de representante de pacientes, por votação direta, foi justificado como

difícil para iniciar a implantação da Comissão.

Na época, ‘os usuários’ não foram eleitos. Foram convites a pacientes para participar. Foram

procuradas pessoas mais ativas que participavam de grupos de pacientes de determinadas patologias

mais específicas, para participar como de representantes dos pacientes, cidadãos que frequentavam o

hospital. É muito difícil fazer ‘uma eleição’, de uma forma em que os pacientes pudessem fazer uma

votação direta. (Entrevista com o SP7).

Na etapa de formação da comissão, a representação dos trabalhadores do hospital, não

foi formulada e nem pensada. O processo de inserção do trabalhador implicaria em

articulação com a representação sindical ou eleição. Nenhuma das duas iniciativas foram

implementadas pelo gestor à época.

A questão não foi pensada. Quer dizer, a participação dos trabalhadores não foi formulada. De uma

forma organizada seria a representação sindical ou um processo em que a gente tivesse alguma

eleição. (Entrevista com o SP7).

Naquele momento de criação da CDP, a direção geral convida uma assistente social

para integrar a comissão juntamente com outras pessoas. Segundo o Sujeito da Pesquisa 2, tal

indicação da direção geral deve-se ao fato de que a profissão do assistente social15

possui

mais domínio de conhecimento sobre controle social e mais experiência de participação no

movimento sanitário.

Justificou que estava convidando uma assistente social para ser a presidente da comissão, naquele

momento, por entender que a profissão do assistente social, discutia muito a questão do controle

social, a participação no movimento sanitário, nos conselhos distritais.(Entrevista com o SP1).

15 Lei do exercício profissional 8.662 de 7 de junho de 1993. “Art 1º. É livre o exercício da profissão de

assistente social em todo o território nacional, observadas as condições estabelecidas nesta lei.” Disponível em:

www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8662.htm

51

Coube a presidente a escolha dos representantes de pacientes e de profissionais dos

setores que integravam a estrutura do hospital, os quais submetidos à direção geral para

designação em portaria Nº 73 de 2001.

Eu mesma escolhi as primeiras pessoas que participaram desta comissão. (Entrevista com o SP1).

Os critérios adotados para a escolha dos profissionais do hospital foram: a) exercício

cotidiano de interação com o paciente; b) historia de vida profissional em defesa do direito do

paciente (militância); c) zelo pelo direito do paciente (compromisso com o fazer cotidiano); e,

d) representação de setores.

No exercício do dia-a-dia com o paciente. História dos profissionais que se destacavam pelo zelo e pela

questão do direito, então estas pessoas foram convidadas de vários setores, por divisões, da DAA

Divisão de Apoio Assistencial, faculdade de medicina e os alunos. (Entrevista como SP1).

Para a escolha do usuário na primeira formação da CDP, somente um critério foi

adotado pela gestora para o convite, ou seja, ser paciente integrante de um grupo específico –

Grupo de LUPUS.

O usuário era uma paciente portadora de LUPUS que era transplantada. (Entrevista com o SP1).

Em sendo, uma experiência inovadora e pioneira no Estado do Rio Janeiro, o início de

seu funcionamento implicou em dúvidas, incertezas, possibilidades de acertos e desacertos do

papel dos representantes na CDP para o exercício do controle dos convênios Extra SUS.

Eu acho que funcionou razoavelmente bem. Totalmente bem não, porque sempre escapam coisas que

você fica sabendo depois, até pelo depoimento de alguns profissionais. Às vezes, tinha um ou outro

paciente que acabava recebendo uma prioridade que não deveria ter, estava fora da regra; mas, eu

diria que, em termos gerais, essa atribuição desse controle funcionou dentro do que a gente esperava.

(Entrevista com o SP7).

A quinta etapa do processo de implantação da comissão consistiu na iniciação dos

trabalhos.

Então assim iniciamos com pequenos seminários que fazíamos com os profissionais, tentando discutir a

atuação da comissão como educativa e de controle fiscalizando as ações do convênio do hospital.

(Entrevista com o SP1).

A coordenadora da CDP ressalta que ao iniciar este trabalho não identificou em

nenhum outro lugar do Brasil uma experiência em que se pudesse pautar, procurou então, pela

Professora Maria Inês de Souza Bravo na UERJ que elaborou juntamente com ela o esboço

da comissão e lhe forneceu suporte teórico sobre a questão.

Ela é considerada dentro do Serviço Social, um expoente do controle social, uma pessoa militante,

uma teórica, foi ela também a pessoa que nos orientou metodologicamente, tecnicamente nos primeiros

passos da comissão.(Entrevista com o SP1).

A regimentação da CDP em estatuto correspondeu a sexta etapa do processo de

implantação da comissão.

52

Estatutariamente, o art. 5º e seus 10 incisos determinam as atribuições da Comissão de

Direitos do Paciente, a saber:

I- Monitorar as ações do convênio no HUCFF, identificando e denunciando ao

Ministério Público toda “ação” que interfira no Termo de Ajustamento pré-

estabelecido junto à comunidade hospitalar;

II- atuar através de ações educativas em saúde, divulgando os direitos dos pacientes;

III- solicitar e emitir pareceres;

IV- propor ao Diretor Geral medidas administrativas que atendam ao padrão de

qualidade e direitos do paciente;

V- arquivar os pareceres e demais documentos em local designado para esse fim por

5 (cinco) anos, no mínimo;

VI- reunir-se quinzenalmente ou em caráter extraordinário, por convocação de seu

Presidente;

VII- analisar e propor políticas e diretrizes para a direção do HUCFF;

VIII- notificar os responsáveis de cada serviço, sobre os problemas identificados nas

diversas áreas de trabalho do hospital, atuando de modo educativo na busca de

comprometimento e soluções;

IX- coordenar a Coordenação de Políticas Institucionais de Humanização e

Valorização do Cliente, instituída em Portaria n.º 102 de 19 de julho de 2002;

X- coordenar as ações do Programa de Voluntariado do HUCFF.”(Estatuto da

Comissão de Direitos do Paciente, 2002:1-2).

Na última etapa do processo de implantação ocorreu efetivamente o funcionamento

da CDP no seu primeiro ano, implicando em aproximações e distanciamentos ao que constava

no estatuto, quando da sua implementação no cotidiano.

4.1 O COTIDIANO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL DOS MEMBROS DA CDP

Instituída como órgão de assessoria à Direção Geral nasce com o propósito de

monitorar o atendimento prestado ao paciente, incentivar e possibilitar sua participação na

gestão das políticas institucionais, fortalecendo a noção de direito e reforçando o papel do

paciente no exercício da participação social, no cotidiano da CDP.

O grupo que se constituiu na criação da CDP objetivava melhorar a qualidade da prestação de serviços

aos usuários do HUCFF. Garantir a equidade no atendimento público e o privado que estaria se

estabelecendo (Extra SUS). Ampliar a discussão das situações problemáticas apresentadas convocando

os segmentos envolvidos para discuti-las e a busca de possíveis encaminhamentos. A ampliação da

discussão sobre os direitos dos pacientes, procurar por novos fóruns de discussão, Encontro de Pacientes.

Estabelecer a metodologia de trabalho da Comissão, fortalecendo assim seu trabalho. (Fonte documental:

Extraído de atas das reuniões do ano de 2001).

53

Na concepção original da comissão, o paciente assumia um papel central, pois era

percebido como protagonista na produção de saúde, particularmente.

... nas dimensões de prevenir, cuidar, proteger, tratar, recuperar, promover, ser participante ativo deste

processo, respeitando sua autonomia. Trata-se de uma proposta de trabalho, que tem negado a cultura

do favor e do não direito, que valoriza o paciente e a concretização de seus direitos, ciente de suas

possibilidades e também de seus limites. (Fonte documental: Relatórios encaminhados a direção geral.

2001-2010).

A formação do grupo originário e o trabalho ali empreendido pautaram-se no principio

da interdisciplinaridade, pois conforme descrito em Relatório encaminhado a direção geral:

Uniu esforços que somados à disponibilidade de profissionais e o desejo de todos de romper com

práticas coorporativas e conservadoras, objetivou desenvolver um trabalho interdisciplinar voltado para

fim último dessa comissão que é concretizar o direito à saúde dos seus pacientes em uma realidade

complexa. (Fonte documental: Relatórios encaminhados à direção geral. 2001-2011).

A Comissão é constituída por um representante da direção geral; da divisão médica; divisão de

enfermagem, divisão de apoio assistencial; faculdade de medicina; dos usuários; dos residentes; alunos

da faculdade de medicina e funcionário técnico administrativo. Estes representantes poderão ser

substituídos a cada doze meses. (Estatuto da Comissão de Direitos do Paciente, 2002, p. 1-2).

A pressuposição de que a presença de três segmentos conferia interdisciplinaridade,

conflita-se com o tipo de representatividade e o modo de escolha, já discutido anteriormente. A

comissão foi composta por pacientes vinculados a grupo corporativo (LUPUS), profissionais

de saúde e presidente por indicação. A ideologia circunscrita ao campo da saúde, com a

presença de três disciplinas (serviço social, enfermagem, medicina) marca o discurso da

interdisciplinaridade nos documentos, nos primeiros anos de funcionamento da comissão.

Foram convidados pela CDP, chefes do serviço e assessores jurídicos do hospital. (Fonte documental:

Extraído de atas das reuniões do ano de 2001).

Como parte da preparação da presidente para conduzir o cotidiano do trabalho na CDP,

ela busca capacitar-se, particularmente quando da implantação da política nacional de

humanização:

Mais tarde, quando o Programa Nacional de Humanização foi criado pelo Ministério da Saúde, teve

acesso à Câmara Técnica do Rio de Janeiro surgiu então, a oportunidade de participar de um curso

em Campinas com o Professor Wagner Campos. O conteúdo deste curso consolidou segundo a

mesma sua orientação metodológica que já estava sendo usada na comissão, que é a metodologia

que Campos denomina de roda, que visa democratizar as relações. (Entrevista com o SP1).

No cotidiano do trabalho, os membros da comissão assumiram papéis sociais de

representação da comissão em outras instâncias do hospital e fora do hospital, além da reunião

periódica e regular definida em cronograma anual, estabelecido pelo estatuto como quinzenal.

Quanto à inserção de representante dentro de instâncias do próprio hospital, o

segmento dos pacientes engajou-se em subgrupos de trabalho naqueles temas de interface com

a comissão, como por exemplo: revisão de rotinas, elaboração de protocolos, produção de

54

materiais informativos do hospital etc. Pacientes membros da CDP também foram designados

para representar os pacientes no Comitê de Ética em Pesquisa e no Conselho Gestor do

hospital.

Os membros da Comissão pensam sua atuação como fortalecendo canais como ouvidoria, comissão de

ética, e atuando também na esfera do planejamento. Percebem a tarefa educacional da Comissão, e como

instrumento para realização desta o uso da Cartilha de Direitos do Paciente e a busca por construir

alianças. Os membros se propõem a analisar e estudar as situações com postura propositiva. (Fonte

documental: Extraído de atas das reuniões do ano de 2001).

Para representar o HUCFF em instâncias do controle social fora do hospital, a

presidente da CDP foi designada pelo diretor geral para a vaga de representação do segmento

gestor no Conselho Municipal de Saúde.

No cotidiano de seu trabalho, a CDP, por meio de sua presidente, assumiu a liderança

de outras coordenações e grupos de trabalho que faziam interface com a própria CDP. No

segundo ano de funcionamento da CDP, a presidente é distinguida pela direção geral para

assumir, também, a função de coordenadora da CPIH - Coordenação de Políticas Institucionais

de Humanização e Valorização do Cliente-, instituída pela Portaria Nº 102 de 19 de julho de

2002, para proceder a:

análise crítica dos processos de trabalho voltados para assistência, ensino e pesquisa, de modo a

estabelecer diretrizes políticas que serão encaminhadas à Direção Geral, para implementação. (Estatuto

da Coordenação de Políticas Institucionais de Humanização e Valorização do Cliente, 2002:1).

Outros papéis foram assumidos por ela, conforme descrito nos documentos objeto de

análise, responsabilizando-se pelos seguintes grupos de trabalho: Política de Humanização

Institucional, Câmara Técnica de Humanização, Centro de Estudos Interdisciplinares da

Pessoa (CEIP), Saúde da População Negra (GTSPN) e Centro Cultural. A título de

exemplicação, destacam-se nos documentos, os seguintes:

No Centro de Estudos Interdisciplinares da Pessoa (CEIP), buscou “compartilhar relatos de

experiências de trabalho com mais de 30 profissionais, de variadas categorias, que estão sistematizando

depoimentos, tendo em vista uma futura publicação.” No Grupo de Trabalho de Saúde da População

Negra (GTSPN), o qual foi constituído pela Coordenação de Políticas Institucionais de

Humanização, teve por objetivo “iniciar o diálogo com os profissionais de saúde da instituição sobre a

relevância das questões étnico-raciais na promoção da equidade em saúde”. No Centro Cultural, o objetivo

consistiu de “empregar a arte e a cultura como elementos de apoio à humanização hospitalar, disponibilizando

aos pacientes e funcionários oficina de violão, de dança, de crochê, passeios culturais, biblioteca e exposições.”

A CDP mantem parceria com o Juizado Especial Criminal - JECRIM, de onde são

encaminhadas pessoas para o cumprimento de pena socioeducativa. O convênio firmado entre

55

o HUCFF e o JECRIM supre eventualmente o hospital de material de consumo e provimento

de pessoal para atividade meio, envolvendo vários setores do hospital.

De onde são encaminhados ao HUCFF pessoas para cumprimento de pena de conotação socioeducativa,

as penas constam de prestação serviço ou pena pecuniária. Provê recursos humanos dando suporte a

algumas áreas do hospital onde se identifica um déficit de pessoal e como fonte de doação de matérias

que se encontram em falta na instituição, ambas às situações se revertem na prestação com qualidade de

serviços aos usuários do HUCFF. (Convênio HUCFF/JECRIM, Processo Nº 1479/07/2007).

Como parte do cotidiano do trabalho, a CDP mantém o monitoramento das condições

da estrutura física do prédio e da qualidade da prestação de serviço, por meio da escuta de

paciente e seus familiares. Realizam-se grupos eventuais de sala de espera nos ambulatórios e

grupos semanais com acompanhantes de pacientes internados nas unidades de internação.

Nesses encontros, estimula-se o envolvimento de todos na avaliação da prestação de serviço,

esclarece sobre o seu papel na instituição e incentiva a participação nos canais de exercício

do controle social, tais como: caixas de sugestões e críticas do Programa de Qualidade,

disponíveis nas dependências do prédio, e a Ouvidoria.

56

CAPÍTULO 5. O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO POLÍTICA NA

CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA CDP DO HUCFF, 2001-2011

As ações cotidianas desenvolvidas pela comissão contribuíram para que seus membros

construíssem e consolidassem a CDP como um canal de comunicação entre o hospital e os

pacientes, no exercício da participação social. A alfabetização política que se processou no

microespaço da comissão fortaleceu a experiência pioneira de participação social no ambiente

hospitalar, transformando-a em lugar de debate, pluralidade temática e de oportunidades para

seus membros exercitarem o controle social.

5.1. A Participação dos Membros da CDP e suas ações políticas

Lacerda (1997) reconhece que a alfabetização científica assume papel estratégico e

crucial na formação do cidadão, pois,

a apreensão dos princípios de base são essenciais para que o indivíduo possa

compreender interpretar e interferir adequadamente em discussões, processos e

situações. Trata-se da instrumentação do indivíduo com conhecimentos válidos e

significativos tanto do ponto de vista social quanto do ponto de vista individual, sem

os quais o próprio exercício da cidadania ficaria comprometido.” (p. 98).

O caráter ordinário, regular e sistemático das reuniões da CDP, constituindo-se em

espaço legítimo de alfabetização política, além de integrar o corpo social do hospital -

profissionais de saúde e gestores, com os pacientes e eventualmente convidados. Entre 2001-

2011, o número de participantes das reuniões da CDP totalizou 497 pessoas, as quais

problematizaram situações, desenvolveram processos e construíram juntas soluções para

superar as situações limites.

Figura 1. Quantitativo de participações na CDP. HUCFF. 2001-2011.

Observa-se na figura acima que o maior número de participações na CDP aconteceu

naqueles anos (2002, 2005, 2007, 2010) em que a comissão teve uma maior demanda de

57

solicitações para intervir em algum problema pontual. A crise de financiamento do hospital,

no ano de 2002, culminou com a implantação interna de um novo sistema de atendimento - o

leito Extra-SUS – pela direção geral da instituição. Nos demais anos, o hospital vivenciou

crises acirradas, com debates intensos, que levaram a interrupção temporária do atendimento,

uma parte do ano de 2010 para a implosão de parte anexa ao prédio principal. Em momentos

decisivos para a vida orgânica da instituição, fez-se necessário o envolvimento de

profissionais e gestores nas rodas de discussão e encaminhamentos.

Nas reuniões ordinárias da comissão e nos encontros anuais, vários temas foram

debatidos, refletidos e discutidos, com interfaces nos campos políticos das gestões de serviço,

de infraestrutura, de pessoal e de cuidado, com o propósito de propor encaminhamentos,

instrumentalização para o exercício do controle social e prestação de contas do seu trabalho

junto a comunidade ampliada do hospital.

Martins (2008, p. 8) ressalta a perspectiva política da alfabetização cientifica, na

sociedade, “em termos da instrumentalização dos indivíduos para uma tomada de decisão

responsável. No entanto, é preciso distinguir práticas que levam a um letramento funcional

daquelas que permitem um letramento emancipatório.”

Particularmente, no âmbito da CDP, as reuniões eram retroalimentadas por queixas da

gestão no cotidiano funcional da instituição, sem provocar grandes mudanças na

macroestrutura da crise financeira que havia nos hospitais universitários dos anos 1990-2000.

Os temas relativos à gestão do serviço, mais recorrentemente abordados pelos

membros, foram às condições necessárias à realização de exames e tratamentos,

documentação e registro, funcionamento dos setores e da própria CDP:

Exames e tratamentos: falta de transporte, de manutenção de aparelhos e suspensão de cirurgia

(catarata).

Documentação e registro: Prontuário. Termo de Consentimento para procedimentos cirúrgicos e

invasivos. Sumário de alta. Revisão da Cartilha de Direitos do Paciente, do Manual do Paciente, da Cartilha

do Voluntariado, da Cartilha de Apoio ao Usuário e Elaboração de folders educativos.

Funcionamento dos setores: falta de bebedouros, fechamento de setores na hora do almoço, desativação

de isolamento das enfermarias e de postos, mudanças na rotina de visita dos pacientes das unidades de

internação e emergência, paralisação de funcionários cooperativados, a normatização do atendimento

Extra-SUS.

Funcionamento da CDP: planejamento e organização dos encontros dos Pacientes, parcerias com ONGs

e associações de pacientes, divulgação do “Encontro do Núcleo de Cidadania e Saúde”, confecção de

banners com os princípios dos Direitos dos Usuários da Saúde, discussão sobre eventos a realizar.

(Fonte documental: Relatórios encaminhados a direção geral. 2001-2010)

58

Do mesmo modo que nas reuniões ordinárias, os temas que mais se destacaram foram a

política de gestão de serviços: funcionamento dos setores e interno da Comissão, a

documentação e registro.

Funcionamento dos setores: Atendimento Extra-SUS. Atendimento na Emergência. O Funcionamento do

Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar. Melhoria da Qualidade da Assistência através dos grupos.

Funcionamento da CDP: A atuação da CDP. O papel dos grupos de apoio e Associações de pacientes do

HUCFF. A Parceria do Juizado Especial criminal com o HUCFF.

Documentação e registro: Acesso à informação no prontuário.

(Fonte documental: programação dos encontros 2002 a 2010)

Quanto à gestão de infraestrutura, destacaram-se nas reuniões ordinárias e privativas

dos membros e seus convidados, as condições precárias das instalações do hospital em geral,

do ambulatório e da enfermaria, em particular. Problematizaram e debateram possibilidades de

superação das adversidades impostas pelas condições de acessibilidade às dependências do

hospital e a informação, circulação e controle de transeuntes, segurança, manutenção predial,

em um contexto de crise financeira hospitalar e, consequentemente uma crise, que

pressupunha-se ser interna a gerência do serviço. Por sua vez, observa-se uma acriticidade,

pois não se articula a problemática interna como reflexo da totalidade do subfinanciamento da

saúde e da educação no país. Do mesmo modo, não há quaisquer referencia a crise financeira

nos encontros anuais, espaço favorável a esse tipo de debate, por se constituir em espaço

aberto, plural e heterogêneo, com a presença de convidados, conferencistas e palestrantes

externos a instituição.

Estrutura geral do hospital: Limpeza, presença de material exposto (agulha/ seringa) na lixeira e ponta de cigarro

no chão, elevadores precários. Falta de segurança no interior do HUCFF, ausência de identificação de pacientes que

circulam nas dependências do hospital por falta de roupa hospitalar; qualidade da água, problemas com o acesso e

circulação de pessoas devido a ausência de sinalização, de placas informativas e definição de uso das portarias,

precariedade dos transportes públicos no Campus, Balcão de informações na entrada do ambulatório.

Ambulatório: problemas de infraestrutura e condições insalubres na farmácia e precária na sala quimioterapia,

banheiros, Central de Cadeiras de Roda.

Enfermaria: ferrugens na água dos banheiros, Limpeza

(Fonte documental: Relatórios encaminhados a direção geral. 2001-2010)

As crises financeiras e de gerência também afetam a gestão de pessoal e por ela são

afetadas. Nesse sentido, ao longo de 10 anos os temas mais problematizados e debatidos

foram a: falta de pessoal (nutricionista, vigilantes, médicos, enfermeiros, assistentes sociais etc.) e de capacitação

profissional (triagem, por exemplo). (Fonte documental: Relatórios encaminhados à direção geral. 2001-2010).

Por extensão, há um impacto na gestão do cuidado, como problematizado com os

temas Acolhimento do Serviço de Intercorrências Clínicas e Cirúrgicas - SICC), atendimento ao Idoso e falta de água para

o paciente. (Fonte documental: Relatórios encaminhados à direção geral. 2001-2010).

59

A despeito de as situações limites, freireanamente falando, se multiplicarem no

microespaço social do hospital, o debate centra-se em uma visão ingênua da realidade, com

poucos questionamentos.

No ambiente privado das reuniões ordinárias debate-se amplamente a problemática da

gestão da infraestrutura do hospital e timidamente a problemática da gestão de pessoal e de

cuidados, pela falta de contratação de pessoal e pela precarização contratual dos que chegam.

Nas reuniões, adota-se o método Paidéia (Campos, 2007) de condução dos grupos para

promover a reflexão e discussão na roda de conversa. Trata-se de um método que busca

ampliar os canais de análise, debater temas referentes à gestão, suas políticas, seus programas

e resolver problemas apresentados pela instituição.

Em sua aplicabilidade, temas trazidos por profissionais, pacientes, docentes e

discentes da instituição, ou gerados pelo trabalho de monitoramento sistemático da comissão

permitiam que a conversa girasse na roda.

Nos encontros anuais, a gestão do cuidado foi amplamente explorada, em especial para

capacitar os membros da CDP e da comunidade hospitalar, para o exercício da participação

nas instâncias de controle social da instituição. Os temas da educação em saúde mais

abordados foram da humanização, direitos do paciente, controle social e qualificação

profissional.

Humanização: Cultura e Saúde: A humanização do tratamento e o papel na recuperação dos pacientes.

A proposta de Humanização. Acolhimento – Desafio do Processo de Gestão. Atuação e Parceria das

ONGS/HUCFF – Associação dos Amigos e Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais (AAPODII). Grupo de

Resgate à Auto-Estima e Cidadania do Obeso (GRACO). Amigos do Transplante. Associação de Apoio à Mulher

Portadora de Neoplasia (AAMN). A experiência do Paciente como voluntária.

Direitos do paciente: Universalidade e acesso à saúde; Continuidade no tratamento – Passe livre e

medicamentos, A Saúde como direito universal, Autonomia do Paciente Direitos Humanos.

Controle social: Ouvidoria: Transparência e resolutividade, A Construção da Saúde como Direito, Comissão

de Direitos do Paciente - Da Gestão à educação Espaços de Controle Social no HUCFF: Comissão de Direitos do

Paciente, Programa de Qualidade, Ouvidoria. Espaços de Participação do Usuário, A Voz do Usuário, A

importância da participação do paciente no tratamento, Parcerias sociais nos Hospitais., Relação Médico-Paciente,

Relação médico x paciente, A Qualidade na Assistência – A experiência do HUCFF.

Qualificação profissional: A Formação Profissional e Humanização nos Hospitais Universitários:

Stress Profissional - Impactos na qualidade da assistência. A Ética na Formação Profissional., Clinica

Ampliada: desafios e propostas; A experiência no INCA II, Tratado para uma vida melhor. Os desafios da

formação médica e da sua prática cotidiana, Da formação ao atendimento, Formação do Profissional de Saúde e o

Atendimento Humanizado.

(Fonte documental: programação dos encontros 2002 a 2010)

60

Desde o ano de 2002, além das reuniões ordinárias, os nove encontros anuais da

comunidade social do hospital com os pacientes assistidos na instituição e outros convidados

criaram a oportunidade para cerca de 730 participantes se instrumentalizarem, por meio da

alfabetização política, para o exercício do controle social. Ao longo de nove anos, os espaços

de encontro foram marcados por debate de 32 temas, cinco apresentações, uma comemoração

e a divulgação de um livro.

Apresentações: Trabalho desenvolvido pela Comissão de Direitos do Paciente, pela Coordenação de Políticas Institucionais

de Humanização e Valorização do Cliente. As propostas dos candidatos ao cargo de Diretor Geral do HUCFF /

UFRJ, nos anos de 2004 e 2009. Relato de experiência de um paciente com doença renal crônica, divulgando o

livro “Doença Renal não é o fim”. O encontro realizado no ano de 2010 foi para celebrar a Reunião de número

200 da Comissão. (Fonte documental: programação dos encontros anuais 2002-2010).

Figura 2. Quantitativo de participações nos Encontros de Pacientes CDP. HUCFF. 2002-2010.

A Tabela 2 apresenta o número total de participantes - pacientes, funcionários,

gestores, alunos e professores - nos encontros anuais realizados pela CDP. O maior

quantitativo de participantes foi no ano de 2002, quando aconteceu o primeiro encontro (150

pessoas). O elevado quantitativo de participantes, logo no primeiro encontro realizado pela

CDP, foi motivado pela discussão de temática relativa a implantação do atendimento dos

convênios - o denominado Extra-SUS e o Serviço de Intercorrências Clínicas e Cirúrgicas -

da unidade, como temas polêmico envolvendo todo o corpo social do hospital. O quinto e

sexto encontros, anos de 2006 e 2007, o relato de experiências de trabalho das ONGs que

trabalham em parceria com a CDP mobilizaram a participação de pacientes. Os demais

encontros mantiveram uma média de participantes.

Além de as reuniões ordinárias e os encontros anuais funcionarem como espaços de

alfabetização política, outras atividades desenvolvidas pela CDP a fortalecem como

61

instrumento de educação política. No entanto, uma política direcionada para a defesa de

melhores condições de funcionamento interno do hospital. As atividades realizadas na sala de

espera no ambulatório contempla toda a população nos dois turnos de atendimento (manhã e

tarde). Os membros debatem com os pacientes sobre seus direitos, divulgam a Cartilha de

Direitos do Paciente, seu principal instrumento de trabalho. Neste momento, discutem-se os

agravos sofridos, os canais de controle interno e canais de controle externo, bem como a

importância do exercício de cidadania, a partir do entendimento de saúde como direito.

Participam ainda de reuniões de grupo de pacientes formalmente organizados dentro do

HUCFF, objetivando a discussão sobre os direitos do paciente. São ministradas aulas para

alunos da graduação nos cursos de serviço social, enfermagem e medicina, e para os inscritos

no Programa de Residência Multidisciplinar. A CDP participa de encontros, seminários,

congressos, apresentação de Pôster em Semanas Cientificas e outros eventos.

No desenvolvimento de sua pratica educativa, a comissão utiliza-se da prática grupal

de sala de espera com grupos com pacientes e acompanhantes; aulas expositivas para alunos

da graduação (Medicina, Serviço Social e Enfermagem); reuniões interdisciplinares;

seminários e encontros.

Em sendo a alfabetização política, o uso que as pessoas fazem da leitura e da escrita

em seu contexto social, as atividades desenvolvidas pela CDP contribuíram para

instrumentalizar seus participantes nos debates, reflexões e encaminhamentos.

Ao conviver com uma variedade muito grande de informações, objetiva-se que as

pessoas compreendam os significados que os textos propiciam, relacionando-os a realidade e

incorporando-os em sua prática social. Refere-se à forma como as pessoas utilizarão os

conhecimentos científicos, no seu trabalho ou na sua vida pessoal e social, que lhe

oportunizem melhorias em sua qualidade de vida, auxiliando na tomada de decisões frente a

um mundo em constante mudança e exigências.

No ano de 2010, houve um incremento na capacitação de profissionais do hospital para

formar apoiadores institucionais, em parceria com a Câmara Técnica do Estado do Rio de

Janeiro. O objetivo foi a de promover a “aproximação e reflexão sobre o tema Humanização junto aos

trabalhadores do HUCFF, pautado na Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde, colaborando no

processo de democratização e transversalização da gestão, ampliando a possibilidade de implementação de

subprojetos direcionados ao tema e o incremento da produção acadêmica.” (Fonte documental: Relatórios

encaminhados à direção geral. 2001-2010).

O processo de alfabetização política materializou-se na medida em que os membros da

Comissão, em suas reuniões ordinárias, problematizaram as situações limites que surgiram no

62

cotidiano da gestão, e os encaminhamentos foram construídos no espaço grupal, como a roda

de conversa, por exemplo.

Cada reunião produzia-se uma Ata, fonte documental de registro encaminhada a

direção geral, informando-a das situações trabalhadas pela Comissão com base nas demandas

dos pacientes. Segundo um dos entrevistados, na ata preserva-se o anonimato dos

participantes, pois não há identificação das pessoas, protegendo-a de eventual perseguição dos

diretores das diferentes divisões do hospital. Contraditoriamente, a comissão é espaço de

denuncia e anuncio, de medo e liberdade, ao desvelar a ausência de politicidade da própria

instituição com o exercício do controle social. Como denominada pelo entrevistado, ainda

havia uma imaturidade do hospital frente a questão do controle social.

A Ata é um resumo objetivo do que é discutido na reunião só que essa ata não é aquela ata

convencional. Não aparece o nome das pessoas para resguardar privacidade das pessoas, para

poderem falar, citar os seus problemas e também as alternativas. Porque dada a imaturidade do

próprio hospital frente a questão do controle, o temor nosso é que essa ata circulasse entre os diretores

de divisão e depois houvesse uma perseguição aos profissionais que participam da comissão. Então,

porque eles não ficam na comissão, vem para a reunião e voltam para os seus serviços.” (Entrevista

com o SP1).

Imersos nas contradições do medo da perseguição e da liberdade amparada no

anonimato que a memoria da reunião (ata) proporcionava, serão destacados dois exemplos de

processo de alfabetização política na consolidação do exercício do controle social no

microespaço do HUCFF mediado pela CDP: fila para coleta de sangue e prontuário. Com

esses exemplos, tem-se por objetivo demonstrar como se construiu o exercício do controle

social pelos membros, os sucessos e insucessos, a circularidade e morosidade na solução dos

problemas que se apresentavam no cotidiano do hospital, aos longo dos anos.

A fila do laboratório para a coleta de sangue foi uma das primeiras situações

problematizadas, cuja demanda partiu de dois membros da comissão: o paciente que

vivenciou a situação e um profissional de saúde inconformado com o tratamento desumano

recebido pelos pacientes no momento da coleta de sangue.

A comissão pode oportunizar a construção coletiva de estratégias de enfrentamento das

situações. Embora de forma lenta, mas progressiva, a discussão das situações foi se ampliando,

buscou-se mobilizar e envolver outros segmentos na discussão e na busca de

encaminhamentos, tendo se chegado a uma solução com sucesso.

Porém a segunda situação, o Prontuário se apresenta para discussão no decorrer dos

anos com implicações diferenciadas, e os encaminhamentos respondem apenas

temporariamente a questão.

63

5.1.1. A fila para a coleta de sangue

A morosidade do sistema de computação existente na área administrativa do

laboratório foi inicialmente problematizado como responsável pelas grandes filas geradas,

mas com o giro da roda de conversa, os problemas com o fluxo de informações ser debatidos

com os tomadores de decisões: os diretores de divisão e chefes de serviços.

“o problema que envolvia grandes filas não era a coleta, o que gerava a fila era

talvez a morosidade do sistema. ‘Será que se tivéssemos mais máquinas haveria

mais agilidade? Assim ficou de analisar de perto para uma melhor decisão do

grupo’. Grandes filas para coletas laboratoriais, problemas com o fluxo de

informações. Decidimos que convidaríamos, para as reuniões, alguns diretores de

Divisão, chefes de serviço para discutir a questão e propor prazo para resultados.”

(Fonte documental: Ata 03/2001).

Na oitava reunião, os membros retomam a problemática das grandes filas, o

encaminhamento de soluções já em curso, como o aumento do número de coletores, em

virtude da obtenção de financiamento com a Petrobrás. A morosidade do sistema parece ter

relação com o número de pessoas que operava o sistema e procedia a coleta de material.

Aliado a obsolescência das máquinas está a insuficiência de pessoal.

Informa ter conseguido uma verba da Petrobrás para a reforma de todas as áreas do serviço de Patologia

Clínica, inclusive o aumento do número de coletores. (Fonte documental ata 08/2001).

Prosseguindo com a problematização das grandes filas para a coleta de sangue, na

oitava reunião da CDP os membros discutem sobre o aumento do número de pedidos de

exames, sua efetiva necessidade, a falta de orientação para os pacientes que serão submetidos

aos exames, interfaces do atendimento do laboratório com outros segmentos, em particular as

divisões de engenharia, de enfermagem e médica.

Convidados os chefe do serviço de laboratório de Patologia Clinica, Diretora da Divisão Médica, os

gestores reconhecem as dificuldades no processo de coleta no primeiro andar. Alega ter aumentado

muito o número de pacientes do HUCFF. Ressalta o problema de exames pedidos desnecessariamente.

Sugere melhorar as informações para os pacientes, quanto à necessidade ou não de jejum. (Fonte

documental ata 08/2001).

Esta comissão possa fazer encaminhamento à Direção Geral. Fora observado que o problema

relacionado ao atendimento no laboratório possui interfaces com outros segmentos sendo destacada

Divisão de Engenharia, Divisão de Enfermagem, Divisão Médica, o que a Comissão iria encaminhar.

(Fonte documental Ata 08/2001).

A problemática das grandes filas aparece novamente nos registros da ata da 18a e 20

a

reunião, sugerindo que o problema saiu do âmbito da Comissão e encontra-se sob análise de

outras instâncias.

A. concorda e coloca que respaldará a comissão para que tal situação venha a ter uma alternativa

efetiva. (Fonte documental Ata 018/2001).

Apresentaremos ao chefe do laboratório proposta de melhoria de atendimento na coleta de sangue.

(Fonte documental Ata 020/2001).

64

Na 21a Reunião da CDP, os membros detalham mais os benefícios advindos dos

recursos de convenio firmado entre o hospital e a Petrobrás, para, entre outros aspectos,

realizar obras de reforma do laboratório, oferecendo mais conforto ao usuário e melhor

qualidade de atendimento. A solução assume um lugar de visibilidade, e a problemática da

crise financeira é contornada com o firmamento de parceria do hospital com uma empresa

estatal, que possuía instalações no campus da UFRJ na cidade universitária.

Conseguir fechar convênio com CENPES/Petrobras, onde haverá investimento a fim de proporcionar

melhoria na qualidade de atendimento, o que garantirá maior conforto ao usuário do serviço. Comissão

retoma a discussão e enfatiza que conforto é importante, porém é preciso investir de modo imediato nas

condições de atendimento e otimizar a espera no tempo de atendimento. (Fonte documental ata

021/2001).

Quanto aos demais aspectos que contribuía para a formação de grandes filas para a

coleta de sangue, o grupo destacou a necessidade de agendamento prévio para coleta de

material em horário determinado a priori, aumento do tempo de trabalho dos funcionários

cooperativados na prestação de serviço no laboratório, pois constataram haver insuficiência

de pessoal para proceder a marcação dos exames, comprometendo a agilidade no

atendimento. Decidiram apoiar o projeto de reforma financiado pelo convenio firmado entre

a Petrobras e o HUCFF, para que houvesse agilidade na aprovação das obras e se obtivesse as

melhorias no atendimento.

Algumas alternativas foram esboçadas, tais como: marcação previa a partir de sete às onze horas,

aumento na carga horária dos cooperativados para atendimento prévio de registro. Dar apoio e agilidade

ao projeto junto a DEG a fim de que ocorra a aprovação das obras necessárias à melhoria do

atendimento. Não há marcadores suficientes para suprir a necessidade do ambulatório. Então decide

retomar à Direção Geral para que possa efetuar as contratações necessárias ao bom atendimento e

diminuir o tempo de espera. Cobraríamos da Direção Geral uma postura em relação a esta questão.

(Fonte documental Ata 021/2001).

A problematização orientada pela queixa do funcionamento interno da instituição,

particularmente do laboratório de coleta de material para exames, foi o motor que promoveu o

giro da roda no interior da comissão, nas terceira, oitava, decima oitava, vigésima e vigésima

primeira reuniões. Na vigésima oitava reunião, os membros indicam a necessidade de

convidar mais um tomador de decisão para as providencias quanto a melhoria no atendimento

de coleta de sangue no laboratório.

Convidar a S.M. para discutir providências sobre melhora do atendimento na coleta de sangue (Fonte

documental Ata 028/2001).

Os resultados obtidos após os encaminhamentos realizados foram exitosos para a CDP

no sentido de que houve uma melhora no tempo de espera na fila de coleta de sangue. O

convenio foi firmado, os recursos foram captados, as obras realizadas, contratações foram

feitas. A Comissão celebra o seu papel proativo e parabeniza a iniciativa do hospital para

65

solucionar o problema das grandes filas na coleta de sangue, pois observa melhora no

atendimento, constatado na 37a reunião. Oito reuniões depois, a comissão celebra o tempo

total de 20 minutos para alguém ser atendido na coleta de sangue.

A Comissão teve conhecimento que o atendimento na coleta de sangue havia melhorado. A Comissão

irá apurar e encaminhar carta parabenizando o esforço da seção se for o caso. (Fonte documental Ata

037/2001).

O atendimento na coleta de sangue teve seu tempo total em vinte minutos, ele informou que gastou dez

minutos lá fora em atendimento e dez minutos na fila da coleta. A Comissão comemora a melhoria do

atendimento neste setor. (Fonte documental Ata 45/2001).

O papel da comissão foi de efetiva participação dos seus membros na vida político-

institucional do hospital, denunciando a precariedade do atendimento, construindo com os

tomadores de decisão as possibilidades de superação das situações limites que se interpunham

no cotidiano da instituição. Da terceira a 45a reunião ordinária, aproximadamente 22 meses

depois, o grupo obteve a resolução da problemática. O papel fiscalizador e proativo da CDP

desvela o exercício do controle social por meio da participação social, do encontro com os

tomadores de decisão, a despeito da demora em que todo o processo de alfabetização política

se desenrolou. O caráter transitório das soluções pode ser analisado a luz do ano de 2010,

quando a problemática das grandes filas retorna para o giro das rodas de conversa.

O processo de alfabetização política, como descrito por Martins (2008, p.8) “em

termos da instrumentalização dos indivíduos para a tomada de decisão responsável na

sociedade” foi o que modelou a problematização, os encaminhamentos e a resolução da

problemática das grandes filas para coleta de sangue.

Outro exemplo de processo de alfabetização política mediado pela participação social

na consolidação da CDP e construção do controle social no HUCFF foi o prontuário.

5.1.2. Prontuário

A questão do prontuário aparece como tema discutido pela CDP em diversas reuniões

ao longo dos anos, com componentes variados, relacionados à gestão. No cumprimento de sua

guarda documental, uma propriedade do paciente ou do médico, o eventual extravio, a

retenção nos setores e indisponibilidade para os pacientes quando se faz necessário.

Na quarta reunião da CDP, a problemática do prontuário aparece pela primeira vez,

pois a demora do atendimento do paciente deve-se a demora no encaminhamento pelo arquivo

médico, documentação incompleta e desorganização interna do prontuário.

Como problema sério os pedidos de prontuários extra/dia, dificultando o atendimento e andamento do

setor de arquivo médico e a demora do atendimento do cliente. Apresenta uma situação de o prontuário

retornar ao SDM sem o conteúdo, somente com a capa amarela, retornou inclusive com vários

impressos de outros pacientes. (Fonte documental Ata 04/2001).

66

Novamente, mais problemática é apresentada na reunião seguinte, com a alta, o

prontuário permanece em outro setor sem que esteja disponível para o atendimento médico,

possivelmente na consulta ambulatorial de seguimento.

Problema dos prontuários de alta, SAA e DFN. Os mesmos estão ficando presos por vários dias na

DFN. (Fonte documental Ata 05/2001).

Nas 97a e 123

a Reunião Ordinária da Comissão, os membros continuam denunciando a

problemática do prontuário, um documento que pertence ao paciente, contem sua historia de

atendimento no hospital. Aos problemas anteriormente denunciados, somam-se o extravio e a

responsabilização por profissional desvinculado do hospital.

Cinco prontuários foram extraviados sob a responsabilidade de profissional médica que não possui mais

vinculo (foi desligada) com HUCFF e parece que continua solicitando prontuários e atendendo no

ambulatório. (Fonte documental Ata 97/2004).

A revisão da questão dos prontuários e seus extravios. (Fonte documental Ata 123/2006).

A despeito de o problema do prontuário ter sido denunciado nas quarta, 97a e 123

a

reuniões ordinárias da CDP, somente na 206a inicia-se sua problematização. A mesma

agilidade com que foi problematizado a denuncia das grandes filas na coleta de sangue, não se

observa em relação ao prontuário. Somente depois de aproximadamente 101 meses pauta-se o

extravio do prontuário, que é retirado pelos médicos para a coleta de dados para pesquisa. Em

sendo o HUCFF uma instituição de ensino, pesquisa e extensão, e o prontuário uma fonte de

dados permanente para a pesquisa, parece não haver a mesma motivação, pois há conflitos de

interesse entre os envolvidos diretamente na gestão docente-assistencial e os interesses do

controle social.

A questão do extravio de prontuário e a necessidade de articulação e mobilização conjunta para

atrairmos a atenção de todos para a questão.(Fonte documental Ata 82/2003).

A questão desvio de prontuários. (Fonte documental Ata 107/2005).

Queixa sobre a liberação de prontuários. O principal problema é médicos que levam os prontuários para

fazer pesquisas. (Fonte documental Ata 167/2008).

Estabeleceu-se a pauta de discussão para a próxima reunião: elevadores, prontuários: situações de

extravios (Fonte documental Ata 180/2009).

Em seguida foram listados os pontos a serem abordados nas reuniões ordinárias da CDP: Extravio de

prontuários (Fonte documental 206/2011).

Com relação à documentação interna do prontuário, foram apontados vários problemas

em diferentes momentos, desde a quinta até a 123a reunião ordinária, tais como o

preenchimento do sumario de alta, desaparecimento do conteúdo, negação do direito do

paciente em acessar o prontuário e emissão de laudos. Não se percebe nas atas que tenha

67

ocorrido a mesma intensidade de problematização das denuncias, como o foi com a das

grandes filas para a coleta de sangue.

Não preenchimento do sumário de alta dos pacientes internados. (Fonte documental Ata 05/2001).

Quando o paciente necessita reinternar é utilizada uma nova folha de rosto. (Fonte documental Ata

05/2001).

A questão da emissão dos laudos. Sendo trabalhados, pois está vendo se há funcionários interessados

em fazer composição de horário (extra) ou se contrata outros funcionários que ficariam responsáveis

apenas por este monitoramento. Tal questão deverá ser definida até o mês de abril. (Fonte documental

Ata 107/2005).

A necessidade de rigidez no prazo e controle dos Laudos Médicos. (Fonte documental Ata 123/2006).

Paradoxalmente, um dos papeis da comissão é o de distribuir e discutir com os

pacientes, no ambiente da sala de espera, a Cartilha de Direitos do Paciente, mas quando o

tema é o direito do paciente em acessar informações sobre si mesmo no prontuário, percebe-se

uma dificuldade institucional em assegurar esse direito. Vários pareceres jurídicos foram

emitidos sobre a matéria, do Conselho médico, do próprio hospital.

Direito do Paciente ao acesso à informação no prontuário. Apresentado pareceres jurídicos sobre o

assunto, aspectos éticos e jurídicos, conselho federal de medicina. Informe do CREMERJ,

posicionamento do HUCFF sobre o assunto: Garantir o direito constitucional ao paciente de

informações constantes no prontuário, garantindo também o sigilo do profissional que atua no hospital.

(Fonte documental Ata 09/2001).

Os encaminhamentos foram apresentados na nona reunião, quanto a garantia do acesso

do paciente ao prontuário ficou assegurando que seu direito constitucional seja garantido e

será realizado monitoramento da questão. Buscar-se-á ainda, fórum ampliado para discussão

do tema para posterior estabelecimento de rotina, uma vez que a temática atingiu o ápice das

tensões na 13a reunião ordinária da CDP.

Posicionamento do HUCFF sobre o assunto: Garantir o direito constitucional ao paciente de

informações constantes no prontuário, garantindo também o sigilo do profissional que atua no hospital.

O paciente tem direito de acesso aos laudos, relatórios, históricos (quando consciente), ou seu

representante legal, caso esteja impossibilitado ou falecido. Conclusão: estabelecer rotina do HUCFF

sobre o assunto para ser divulgado junto aos profissionais e pacientes; proposta de seminário sobre a

questão jurídica envolvendo informações ao paciente; formado grupo de trabalho. Decidido que a opção

de ceder o prontuário para analise do paciente deve ser do profissional no ato da solicitação e em

hipótese alguma o mesmo deve circular portando-o nas dependências do HUCFF ou mais cópias sem

autorização do SDM, dada à complexidade do tema. (Fonte documental Ata 09/2001).

Relato do trabalho realizado junto à assessoria Jurídica acerca do acesso de pacientes a informação no

prontuário. Fora observado algumas controvérsias em relação ao Direito do Cidadão e o que a

instituição permite: que o mesmo tenha acesso a cópia de alguns itens. A conclusão da comissão foi de

que o acesso ao prontuário e suas informações ficará a critério do profissional de saúde, após avaliação.

(Fonte documental Ata 13/2001).

O espaço interno da comissão, no âmbito das reuniões ordinárias foi considerado

insuficiente para se problematizar a matéria. A decisão foi ampliar os fóruns de debate,

instrumentalizar com argumentos e atualizar os profissionais do hospital quanto aos direitos

68

do paciente, e de ter acesso à informação. O tema direito do paciente de acesso a informação

no prontuário atinge a situação limite no âmbito privado da comissão e atinge a esfera publica

do debate, no encontro anual de pacientes, realizado três anos depois.

A reunião discutindo os objetivos do I Encontro de Pacientes e as prioridades relacionadas aos temas a

serem debatidos no Encontro. Três temas foram fechados: acesso à informação no prontuário, que fora

ampliado para Direito Jurídico do paciente. (Fonte documental Ata 35/2004).

A problemática da guarda do prontuário foi outro aspecto denunciado pelos membros

da Comissão. Falta de responsabilidade com a guarda; prontuários espalhados pelas cadeiras e

sobre latas de lixo; falta de trato, não cumprimento das rotinas etc. Por cinco anos, a

comissão debateu o mesmo assunto sem que chegasse a uma solução de termo comum as

partes conflitadas – os interesses do paciente e dos profissionais do hospital.

Relatório feito por ele nas visitas aos andares em março e abril. O assunto mais discutido foi a falta de

reponsabilidade com os prontuários que ficam espalhados. (Fonte documental Ata 125/2006).

A CDP resolve fazer uma análise do conteúdo obtido nas visitas aos andares As questões levantadas e

observadas foram as seguintes: prontuários espalhados pelas cadeiras. (Fonte documental Ata

127/2006).

É retomada a questão dos prontuários. É posta a necessidade de se resgatar uma rotina de melhor trato

dos prontuários, evitando assim muitos extravios. O ponto central é a questão da distorção da rotina

Hospitalar. (Fonte documental Ata 137/2006).

Visitas aos ambulatórios do 1º e 2º andares, onde houve reclamações em relação aos prontuários que

estavam sendo colocados em cima das latas de lixo. (Fonte documental Ata 140/2007).

Foi relatado que o faturamento segura os prontuários por muito tempo e depois libera uma quantidade

enorme, sem uma rotina. (Fonte documental Ata 165/2008).

Continua a mesma situação, especificamente em relação aos prontuários. Ressaltou-se como sugestão

fazer um levantamento da quantidade de altas que se teve por mês para monitorar de forma eficaz.

(Fonte documental Ata 166/2008).

A reunião teve inicio com relato do trabalho realizado pelos residentes junto com a CDP sobre o

percurso dos prontuários ao sair do ambulatório, com vistas a detectar onde ocorrem os problemas que

possam levar ao extravio dos mesmos. Será feito um relatório com o objetivo de discutir, com os

representantes das áreas envolvidas (DSC, DAA, DEN, DMD, DRH e o coordenador da residência

médica), propostas no sentido de buscar alternativas e reduzir o número de extravios, em reunião a ser

realizada no dia 03/05. (Fonte documental Ata 209/2011).

Os dois exemplos acima apresentados desvelam as fragilidades do controle social no

hospital, mediado pela participação dos membros da CDP quando há conflitos de interesse

entre as partes envolvidas. Por sua vez, percebe-se certa fragilidade entre o pensar e o fazer o

controle social.

Na prática, alguns membros atuam no controle, na fiscalização, na denuncia, na

problematização e nos encaminhamentos de solução; o fazem mediado pela participação

social, a despeito das tensões e contradições. Para outros, sua representação na CDP acontece

69

sem uma construção mais sedimentada, relacionada as ações de humanização no interior da

instituição.

Quanto à representação dos profissionais na CDP, observa-se que não problematizam

as questões mais tensionadas empurrando para a linha do tempo possíveis soluções que não se

sentem aptos a tomada de decisões. Sabem da limitação da representação do serviço a qual

pertence, não questionam quanto à representatividade do segmento do qual também fazem

parte. Nas avaliações foi elucidado o crescimento individual e coletivo dos membros pela

alfabetização política, conforme demonstrado com os próximos temas delimitados com as

entrevistas desenvolvidas com os três segmentos de representação na CDP.

5.2. Percepção de Controle Social para os membros da CDP

Os pacientes designados para integrar a CDP, como membros, possuem diferentes

visões sobre o controle social, as quais foram construídas no exercício da participação social

ao longo de nove anos.

Um representante, que está há quatro anos na CDP, também com inserção no conselho

distrital, possui uma visão ingênua do exercício do controle social, pois exercia, mas não

tinha clareza sobre seu papel naquele lugar.

O trabalho no Conselho distrital é assim: chegam a nós essas deficiências (demandas) e eu faço parte

dessas visitas, às vezes, visitamos a unidade, como membro do Conselho; às vezes, vou como paciente,

fico lá na fila para ver a realidade. Para ver como os atendimentos daquelas situações acontecem...

Procuramos falar com a direção não é fácil, mas nós procuramos falar para amenizar aí chego com

isso no conselho e se discute tem algum encaminhamento as direções das unidades que nós visitamos.

(Entrevista com o SP2).

O outro entende que se trata de um conceito amplo, construído na relação paciente -

profissionais, pois percebe que se apresentam dificuldades de natureza cultural, financeira e

comportamental, e que as partes devem ter mais conhecimento de seus direitos, para que

seja efetivado o exercício do controle social na prática.

É amplo esse sentido de controle social, é decorrência. Eu acho, o controle social deve ser de parte a

parte, tanto do paciente e todos os profissionais de saúde. (Entrevista com o SP8).

O primeiro gestor entende que o trabalhado que a CDP faz é incipiente, apesar de 10

anos da comissão, por ser ainda uma coisa muito nova.

O trabalho que a comissão faz eu diria que é ainda muito incipiente, é uma coisa muito nova. Apesar

de 10 anos da comissão (...) mas é pautado na questão do controle social. (...) a gente tenta fazer o

exercício do controle social dentro das reuniões. (Entrevista com o SP1).

70

O segundo gestor entende que o termo controle revela uma expectativa de falso

conflito e contradição. Prefere o termo participação social, pois revela a possibilidade do

cidadão usuário participar como representante na gestão.

Não gosto muito desse termo controle é como se revelasse uma expectativa de conflito, de contradição

que eu não acho que precisa ser verdadeira.. A palavra controle trás uma ideia mais estreita do que

participação. Prefiro o termo participação social porque ele diz de uma possibilidade que o cidadão,

que é o usuário de determinado serviço, poder ter iniciativa de participar na gestão, como

representantes dos pacientes. (Entrevista com o SP7).

O funcionário entende como extremamente necessário o controle social e a parceria

com os pacientes.

É extremamente necessário parceria com os próprios pacientes. (Entrevista com o SP3).

Outro entende como dar poder ao paciente de questionar mais as atividades as rotinas o

trabalho.

Dar poder aos pacientes de questionar as atividades e as rotinas de trabalho da instituição podendo

melhorar o funcionamento dos serviços. (Entrevista com o SP4).

Entende o controle social como uma forma de humanização das relações entre os

profissionais e usuários.

Assim, o profissional da saúde hoje, ele tá muito mais voltado para a própria rotina do que, a

humanização, uma sabe, não sei te explicar direito, sensibilizar com a dor da pessoa.(Entrevista com o

SP6).

O exercício do controle social no espaço da CDP é compreendido na ambiguidade do

pensar o que é o controle social na teoria, e o exercício desse controle na prática. A paciente

efetivamente está cumprindo seu papel social, sem que tenha uma consciência plena de seu

lugar naquele espaço.

A questão do controle social. ...até hoje (depois de 4 anos) ainda não consegui entender, fala-se no

conselho distrital de saúde, em todo lugar... Tá confuso. não consigo discernir. Eu não conseguia

entender muito bem. Estava exercendo, mas não sabia coadunar uma coisa com a outra. (Entrevista

com o SP2).

O usuário entende o exercício do controle social se dá na relação paciente –

profissionais de saúde, mas que se apresentam dificuldades extremas nesta relação.

O Exercício do controle social é difícil, com dificuldades cultural, financeira, comportamental

dificuldades extremas. (Entrevista com o SP8).

O gestor entende o exercício do controle social como inteirar-se, para ter influência no

processo, assegurando que este seja democrático, respeitoso e com equidade.

Vou me inteirar de certas coisas porque eu quero ter alguma influencia sobre esse processo, eu

quero assegurar que aquele processo seja um processo democrático ou respeitoso ou com

equidade.(Entrevista com o SP7).

71

Um dos profissionais do hospital percebe o exercício do controle social como um

exercício de observação.

Observação (Entrevista com o SP3).

Outro como a discussão de casos e o desencadeamento de ações com a participação do

paciente, objetivando resolver e minimizar os agravos ocorridos.

Discutidos basicamente casos que chegavam a ouvidoria a partir dai eram desencadeadas ações pra

tentar resolver, minimizar os efeitos que haviam sido causados.(Entrevista com o SP4).

Como a proposta de trabalho da comissão implica no encaminhamento coletivo das

situações limites problematizadas, observa-se essa noção marcada no depoimento do

profissional do hospital na representação desse segmento na CDP.

A proposta da comissão não é para tratar de coisas isoladas, são coisas que veem do

coletivo.(Entrevista com o SP5).

E o exercício do controle social como discussão de casos com respeito.

Na CDP os casos são discutidos com respeito esse é o controle social.(Entrevista com o SP6)

Quanto à avaliação do exercício do controle social na CDP, a paciente questiona a

pertinência da participação de dirigentes nesse espaço. Se realmente, na Comissão, eles têm o

proposito do exercício do controle social e até se eles sabem do que se trata em decorrência

sente-se desanimada e decepcionada.

Eu tenho dúvidas em relação aos nossos dirigentes se eles sabem o que é controle social, não

realmente o que elas valem, mas o que as pessoas querem que elas passem a valer. Por isso, esse meu

desanimo, minha decepção com as coisas públicas, porque nós lutamos, mas quem deveria realmente

atuar mais, fazer isto não faz, deixam para depois e esse depois nunca chega. (SP2).

O outro paciente possui uma visão ingênua do controle social, entendendo que as

partes tendo mais conhecimento de seus direitos, se tornará mais fácil o exercício do controle

social.

Tem muito paciente difícil, com dificuldades extremas, de cultural, financeira, de comportamento. Se

nessa relação tivesse um melhor conhecimento dos direitos dos pacientes, aonde pode chegar, pode

atingir, acho que ficaria mais fácil.(Entrevista com o SP8).

O gestor ao avaliar o exercício do controle social na CDP ressalta que só pessoas que

tenham uma percepção politica maior entendem o que seja. O usuário sim, mas não o

profissional. O hospital tem uma historia autoritária, ficando complicado o uso da expressão

controle social. Nem o paciente nem o profissional do hospital entendem que na comissão se

trabalha o exercício do controle social, o paciente entende mais que o profissional do hospital,

sendo que o último entende pouco tem uma história de alienação.

72

Nem usuário e nem trabalhador da saúde entendem o trabalho da CDP como exercício do controle

social. O hospital tendo uma historia mais autoritária, fica complicado a palavra controle social. As

pessoas não estão entendendo que elas estão fazendo o controle social. (Entrevista com o SP1).

O segundo gestor avalia que em seu sentido amplo de participação de representantes, é

o exercício do Controle Social usado hoje na CDP. Porém ressalta que trabalhador de saúde

tem uma noção razoável do que seja, entende a importância do controle social, mas não se

dispõem em participar deste processo, há compreensão, mas não o comprometimento.

Tomando, no sentido amplo, como a expressão controle social é usada hoje, eu acho que todo esse

trabalho idealizado com a CDP, sim, a gente provou essa participação de representantes dos pacientes

dentro da comissão de direitos e isso, o exercício do CS aconteceu. O trabalhador de saúde tem uma

noção razoável do que significa o controle social, entendem a importância; porém, no seu dia-a-dia,

é um pouco diferente na hora de traduzir em ação concreta. Não, eu acho que esta expectativa de

participação no exercício do controle social, a maioria das pessoas, individualmente, não tem. Elas

esperam que as coisas aconteçam, elas em geral não têm a disposição de exercer essa atividade, então

eu acho que há compreensão, mas não há comprometimento nesse sentido. (Entrevista com o SP7)

O membro da CDP, representante dos profissionais do hospital avalia que os outros

profissionais de saúde se veem com muita autonomia

Parece que os profissionais de saúde se veem com muita autonomia para serem questionados, foi muito

importante esse trabalho de controle social por isso. (Entrevista com o SP3).

Outro profissional do hospital coloca que a participação dos usuários possibilita

mudanças na organização do trabalho, e o melhor funcionamento dos serviços.

Participação do usuário na organização do trabalho, colaborando para que sejam feitas mudanças

nas rotinas, podendo melhorar o funcionamento interno dos serviços.(Entrevista com o SP4).

O profissional do hospital entende que a comissão sofre com os respingos da

estrutura da coisa estrutural, e que seu trabalho não demonstrou uma mudança muito grande

infelizmente.

A comissão sofre com os respingos dá estrutura da coisa estrutural., não dá para avançar muito Ela

não demonstrou assim uma mudança muito grande infelizmente. Não dão uma resposta que eu acho

que a comunidade que eles merecem, acho não dá muito não. (Entrevista com o SP5).

Os profissionais do hospital estão voltados para sua rotina de trabalho, falta

acolhimento.

Eu acho que tá faltando isso, é o acolher, é o acolhimento. (Entrevista com o SP6).

Sobre a representação na CDP, pacientes e profissionais do hospital apresentaram

diferentes percepções.

O paciente entende sua representação como a luta pelos direitos dos usuários, e vem

exercendo sua representação no trabalho em conjunto com os demais membros da Comissão.

No exercício desta representação adquire conhecimento e procura utilizá-lo para esclarecer

aqueles que menos entendem, pautada no conhecimento que adquiriu, ou seja na

73

alfabetização política mediada na educação que se travou nas reuniões ordinárias e encontros

anuais da CDP.

Lutar pelos direitos do paciente no conjunto de todos da CDP, enquanto representante dos pacientes;

essa vontade de todos para atingir o mesmo alvo. Olha aurindo conhecimento primeiro de tudo,

porque estou aurindo realmente muito conhecimento e vendo essa como é que eu vou dizer essa

vontade de todos para o mesmo alvo. Procurando explicar aqueles que menos entendem as coisas que

eu, esse conhecimento que fico aurindo aqui como que agora. (Entrevista com o SP2).

O outro paciente entende sua representação percebendo a possibilidade de promover

mudanças nas relações estabelecidas entre usuários e trabalhadores de saúde, humanizar

estas relações.

Foi a ideia de humanizar o relacionamento entre o profissional de saúde e o paciente. (Entrevista com

o SP8).

O gestor realizou convites a funcionários para participarem como membros da

Comissão, indicando os por segmento.

Foram convidados profissionais de vários setores. (Entrevista com o SP1).

O outro gestor ressalta que no estatuto da comissão enquanto representação sindical,

esta situação não foi pensada não consta a participação dos trabalhadores de uma forma

organizada, com processo de eleição, isso não foi formulado.

Com relação ao representante dos trabalhadores do hospital a gente não fez, não tinha clareza da

participação dos trabalhadores organizado, enquanto representação sindical. (Entrevista com o SP7).

O funcionário percebe a representação dos pacientes como fundamental, pois este tem

uma visão diferente, contribui no debate com o olhar de quem vivencia o processo. Entende

que mais pessoas devem participar, é necessário e saudável a renovação de representantes, a

renovação de vozes.

A fundamental por que eram eles que nos traziam o olhar de quem vivencia o processo, contribuíam no

debate com uma visão diferente, uma visão mais completa dos problemas mostrados.(Entrevista com o

SP3).

O funcionário percebe como de suma importância a representação dos pacientes pela

visão diferenciada destes suas contribuições enriquecem a discussão. E com relação à

participação dos funcionários verbaliza que os serviços não valorizam esta representação, não

dão importância.

De suma importância por que a visão do paciente é muito diferente da visão do profissional de saúde, a

visão do usuário é diferenciada, a formação é diferente, uns que não tem formação de estudo, e outros

com formações fora da área de saúde A visão deles é diferente, o que enriquece muito a discussão do

trabalho.(Entrevista com o SP4).

O funcionário percebe a representação dos pacientes como tolhida, isolada ressalta que

estes desejavam uma resposta maior.

Ele fica meio tolhido, espera uma resposta maior. (Entrevista com o SP5).

74

Ressalta que a representação dos pacientes é extremamente positiva, poderia ser

maior, eles tem voz ativa, fazem ponderações e colocações.

Embora ele tenha uma voz bastante ativa, faça as suas colocações, suas ponderações, se tivessem mais

usuários na comissão talvez fosse melhor ainda. Extremamente positiva essa presença. (Entrevista

com o SP6).

Quando questionada pela avaliação que faz do trabalho realizado ao longo dos anos

pela CDP a SP1 ressalta que o trabalho que a comissão faz muitas vezes é anônimo.

Ela discute, discute mas alguém vai levar a gloria de ter feito sei lá uma rotina.......tem acontecido de

ter sido preservado o direito do paciente e a comissão as vezes passa como anônima, mas a função

dela é essa fazer a coisa acontecer......é um trabalho muito difícil muito novo mas se ele foi instituído

para existir em outras instituições que o Ministério da Saúde encampou isso como uma ação de

humanização é porque ele é realmente válido. (Entrevista com o SP1).

O segundo gestor SP7 ressalta a importância de se ter iniciado um trabalho promotor

da cidadania, e da ação política que a CDP fomentou no curso de 10 anos.

Assim me orgulha da minha gestão o fato de ter tido uma visão relacionada a questão do cidadão , a

organização interna do hospital para lidar com isso, olhar para os direitos do paciente encontrar

formas de organização que viabilizassem isso , agora quer dizer é claro que o movimento que as

pessoas fizeram principalmente do serviço social foi o que viabilizou.(Entrevista com o SP7).

Outros sujeitos da pesquisa também avaliaram o trabalho realizado pela CDP, ao

longo dos 10 anos de existência, assim se manifestando: Quem participa da valor, valoriza o trabalho, aprende a conhecer o trabalho e dar importância ao que

é feito, a colaborar com ele. Só que quem não participa ativamente não reconhece esse trabalho. Acho

que mesmo com todo o tempo que a comissão tem ainda, tem muito que divulgar o trabalho com os

usuários, pacientes, e principalmente com os funcionários, divulgar o trabalho da comissão......as

pessoas não veem o paciente sendo assim o eixo principal do trabalho, as diretrizes do trabalho de

todo o hospital, o foco principal é o paciente. (Entrevista com o SP4).

A comissão conseguiu um espaço dentro da politica da saúde, na gestão do hospital só que ainda está

muito a quem do que é necessário. Acho que falta muito essa questão da divulgação mesmo interna do

trabalho que é feito do objetivo, chamar mais as pessoas pra comissão, para participar, mesmo que

seja eventualmente, entender o que é a discussão do controle social. (Entrevista com o SP4).

Posso acrescentar que eu me senti muito honrada de ter participado da comissão de ter iniciado esse

trabalho, esse trabalho maravilhoso. Ver o paciente como cidadão, cidadão no sentido de que

cidadania é ser um ser ativo, não ser um paciente, um ser passivo, é ser responsável pela sua própria

vida, é aquele que mais se interessa pela sua saúde é o próprio paciente. E a comissão foi essa

possibilidade de termos a voz do paciente sendo importante, sendo ouvida, e sendo levado aos

dirigentes, e aos próprios profissionais do hospital. E a voz do trabalhador de saúde? É a minha voz

eu diria que ela não é tão importante como os meus ouvidos, acho que embora eu tenha contribuído por

esse meu olhar mais administrativo, mais saber ouvir foi o que eu mais aprendi ali, saber ouvir e me

sensibilizar com os problemas dos pacientes e me tornar um profissional melhor, (Entrevista com o

SP3).

Positivo foi conseguir superar as dificuldades com o profissional de saúde de aceitar a Comissão, acho

que o maior obstáculo. E o crescimento dela se deu porque é um assunto, a humanização o respeito

mutuo..... quando fala em humanização , eu acho que não tem mais nada que acrescentar, a gente tem

que aprofundar. Concretizar, colocar em pratica, deixar de teorizar e colocar no dia a dia do hospital é

isso que tem fazer, é o que tá faltando mais é isso......O maior crescimento que nos tivemos foi essa

divulgação mas nós temos que divulgado melhor. No inicio eu acho que a dificuldade que nos tivemos

de divulgar a Comissão dentro do hospital não só para os pacientes como também para os

profissionais, para a área administrativa.(Entrevista com o SP8).

75

É eu acho assim dentro das comissões como um todo, se nós pudéssemos reunir todos os grupos das

comissões e traçar algumas diretrizes em prol do bem comum, seria o trabalho das comissões em

paralelo sendo elencada diretamente ligada a direção geral e que tivessem uma resposta rápida. Então

se tivesse reuniões regulares com os presidentes das comissões, onde as comissões colocassem para

DG quais são as suas dificuldades, o que se poderia fazer para melhorar e etc. e tal e tivesse esse

retorno seria fundamental, mas enfim, da mesma forma que não tem representatividade ele fala que

lindo e maravilhoso ele precisa da gente , mas efetivamente a gente não tem respaldo, como

fazer.(Entrevista como SP6).

Eu digo que que modificou para melhor eu daria nota dez a comissão......o esforço foi todo em função

disso acho que realmente teve uma mudança e uma ajuda muito grande, muito grande mesmo pelo

menos está se procurando salvaguarda o paciente......Enquanto representante dos pacientes olha

aurindo conhecimento primeiro de tudo.... porque estou aurindo realmente muito conhecimento e vendo

essa .... como é que eu vou dizer essa vontade de todos para o mesmo alvo. (Entrevista com o SP2).

A análise documental revela outro achado quanto ao encaminhamento do trabalho em

seu cotidiano. O trabalho desenvolvido na CDP está pautado no exercício do controle social a

gente tenta fazer dentro das reuniões mas a palavra controle social talvez se você analisar os

livros as atas ela pouco aparecerá como efetivamente as pessoas entendendo que elas estão

fazendo o controle social.

Porém, a análise do acervo documental da CDP, seus grupos de trabalho, seu

envolvimento em parcerias de trabalho no interior da instituição, se encaminham e se

assemelham com a proposta de trabalho de Humanização Institucional, ou seja, suas ações no

decorrer dos anos estão se afastando da orientação teórica da proposta inicial, o exercício do

controle social.

76

CAPITULO 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O HUCFF é considerado centro de excelência em assistência, ensino e pesquisa. É

uma instituição hospitalar de grande porte e complexo na sua oferta de cuidados, atendimento

às necessidades de saúde da população, razão última e comum a tríplice função social, ensino,

pesquisa e assistência na qual se vê inserido.

As instituições de saúde são os meios utilizados para a operacionalização das políticas

públicas de saúde, mas muitas refletem a precariedade desta política na implementação de

suas propostas. Existem muitas lacunas a serem trabalhadas. Não se pode, entretanto, deixar

de pensar que estas unidades optam por mecanismos próprios para sua sobrevivência, então,

ainda encontramos estruturas organizacionais funcionais voltadas para a “assistência médica”

como objetivo primordial, onde não existe, na prática, interesse em uma produção da saúde

que envolva os vários atores sociais e os comprometa com a construção de um novo conceito

de saúde, novas práticas e experiências inovadoras. Foi no contexto harmonioso e muitas

vezes conflituoso de uma unidade médica que se desenvolveu a pesquisa, pois foi a proposta

inovadora da criação de uma Comissão de Direitos do Paciente que nos despertou o interesse

pelo estudo do exercício do controle social construído no trabalho desta comissão à luz do

referencial da alfabetização política.

A participação do paciente no controle social no campo da saúde ainda é tímida e

acanhada, este ainda reproduz uma percepção de favorecimento ao receber o que lhe é de

direito: acesso à saúde. Ele demonstra estar ainda oprimido em uma relação de subordinação à

instituição que está lhe favorecendo atendimento, pouco questiona e participa. Percebe-se na

prática que o paciente ainda está voltado para questões imediatistas e sua participação se dá de

forma fragmentada. Muitas vezes se envolve por uma questão particular de sua patologia e ao

obter uma resposta, sua participação se encerra. Muitas indagações podem ser realizadas:

nossa prática (acho que deva ser o agir de todos os profissionais do campo da saúde) tem

oportunizado ao paciente uma construção do significado de direito? Ele possui entendimento

do que é saúde? Do que é o SUS? Do que vem a ser o controle social? Estamos trabalhando

no sentido de dar condições ao paciente para que se torne sujeito coletivo, promovendo essa

construção social, e instrumentalizando-o para estar fortalecido para esta participação.

Consequentemente, assegurando direitos, promovendo mudanças e garantido sua participação

na construção de novas políticas públicas que atendam a sua demanda real. Este seria o

processo de alfabetização política que estaria sendo mediado por esta comissão.

77

O estudo nos leva a alguns questionamentos, termo mais utilizado pela categoria

profissional da qual faço parte, ou estranhamentos, me apoderando do termo utilizado pela

educação. Ao término do estudo devo realizar essa problematização para contribuir

efetivamente com o processo de alfabetização política estudado. Deixo os questionamentos e

ou estranhamentos para serem refletidos no contexto da CDP e talvez no contexto da

instituição, a continuidade desta problematização nestes espaços poderá se remeter a sua

superação. Vamos à elucidação dos questionamentos ou estranhamentos.

Na construção da historia da CDP utilizamos entrevistas realizadas com os gestores

que participaram de sua criação e implantação, pois no acervo documental não consta relatos

de sua criação, o inicio, seu primeiro movimento. A massa documental da CDP (relatórios,

projetos, trabalhos realizados, atas de suas reuniões etc..) nos oportunizou recriar o cotidiano

do trabalho desenvolvido.

Então, pela análise do conteúdo das entrevistas foi possível identificar alguns achados

nos núcleos de sentido das mensagens das entrevistas realizadas com os gestores que

idealizaram e implantaram essa comissão. Em 2001, cria-se a CDP: forma-se um grupo para

trabalhar necessidades apontadas em uma portaria. Que necessidades seriam estas? Apontadas

por quem? E como seria trabalhá-las? Quem são estes profissionais que vão trabalhar estas

necessidades? Surgidas de onde? Identificadas por quem? Não identificamos respostas para

todas estas indagações.

No conteúdo das mensagens da entrevista com o Sujeito da Pesquisa 7 pensar a CDP

parte de uma inspiração pessoal atrelada a sua vivência profissional. Inspirou-se em seu

trabalho com pacientes de AIDS e a experiência vivenciada junto aos movimentos sociais

contra a discriminação destes pacientes e seus familiares, para refletir sobre a questão da

participação dos pacientes.

A conjuntura política, a militância por direitos contribuiu, segundo o mesmo, para a

idealização da proposta de trabalho. Inicialmente ela foi pensada como um canal de

comunicação entre pacientes e a instituição, que seria integrado ao espaço institucional. Mas

relata também a existência de uma demanda de queixas, reclamações por parte dos pacientes

que a ouvidoria não teria condições de responder. Mais tarde, essa demanda foi absorvida pela

CDP.

Buscou, então, por parcerias. Sua proposta teve eco junto ao serviço social. A

formação da CDP se deu por convites, sua presidente, indicada pela Direção Geral, era uma

assistente social, que juntamente com a aceitação do gestor dos demais membros, une um

78

grupo de profissionais para implantar uma proposta inovadora de trabalho no interior da

instituição.

Em um contexto de crise de financiamento dos hospitais universitários e do modelo

assistencial, em pleno período de efervescência das discussões sobre os direitos de cidadania

na sociedade brasileira, a direção decide criar a CDP e também ampliar a oferta de leitos

privados celebrando convênios com seguradoras de planos de saúde, e oportunamente delega

à CDP na qualidade de representante de pacientes, o papel de controle sobre a equidade do

atendimento, a garantia de aplicação dos recursos captados com a venda de leitos para

benefício do conjunto de pacientes do SUS assistidos pela instituição.

Na proposta inicial o “cidadão de direito”, o usuário do hospital, o paciente deveria

ser “integrado à vida do hospital”, e a CDP como órgão de assessoramento à Direção Geral

do hospital, foi designada para atender essa demanda. Questiona-se: pretendia-se a

integração, a participação ou a resolução de problemas? Isto porque coube a CDP responder a

uma demanda de queixas e reclamações por parte dos pacientes. Como foi equacionada esta

situação? O próprio estudo elucida esta questão.

A criação da CDP abre um canal de comunicação entre pacientes e a instituição.

Institui-se um espaço de participação para os pacientes. Sua formação se deu pela indicação

da presidente pelo diretor geral, o idealizador da comissão, que juntamente com a presidente

definem os representantes de funcionários que representariam seus serviços, que comporiam

esta comissão, sendo realizados convites. No momento da criação não foi pensado como se

daria a participação, a representação dos funcionários.

Cria-se um canal de participação, mas não se assegura que esta participação seja

democrática, restou uma proposta incompleta do sentido da participação, pois esta foi

regulada pelas indicações e convites que foram realizados. Não se apresentou a proposta

inovadora ao corpo social do HUCFF e não se abriu um canal de discussão.

Quanto ao paciente, sua representação também foi viabilizada por convite. No

cotidiano do trabalho da comissão, nos anos seguintes, este assunto também foi objeto de

discussão por seus membros que desejavam a renovação de vozes, o aumento do número de

representantes de pacientes e a ampliação da participação para outras divisões do hospital,

inclusive com proposta de eleição, o que é possível pois está previsto no Estatuto da

comissão, que foi construído em seu ano de implantação com a participação de todos os

membros.

Entretanto no decorrer dos anos, esta situação não foi modificada, ainda persiste o

controle institucional. A presidente da comissão continua sendo a mesma mantém-se no cargo

79

por indicação da direção geral, sendo este considerado cargo de confiança. Os representantes

de funcionários continuam representando seus serviços, algumas indicações são arbitrárias, o

profissional é indicado “sem questionamentos”. Em alguns serviços não ocorre uma interface

entre a participação na CDP e o serviço, não se asseguram condições para a participação,

ocorre com certa frequência a indicação de um funcionário e a participação de outro, existe

dificuldade quanto à liberação de horário etc... Quanto aos pacientes foram sendo captados

novos membros por convite e outros que encontraram na CDP espaço de participação.

No período de implantação da comissão, objetivando sedimentar o trabalho,

identificou-se a expectativa do grupo que havia sido indicado para integrá-la, discutiu-se com

este os principais eixos de atuação, estabeleceu-se as atividades a serem desenvolvidas, os

aspectos a serem trabalhados, elencando prioridades para intervir. Uma de suas prioridades

seria a ação educativa a ser desenvolvida. Manteve-se uma postura de suscitar reflexões,

discussões, debates fomentados com leituras, preocupando-se com a necessidade de que as

informações circulassem entre os membros da Comissão. Enfatizou a metodologia e o

desenvolvimento do trabalho, com o estabelecimento de metas. Buscou-se construir uma

identidade ao arregimentá-la em estatuto. A esse grupo coube, então, a responsabilidade do

processo de construção do exercício do controle social tornando-se realmente uma proposta

inovadora. A análise do caso demonstra situações onde o exercício do controle social pode ser

constatado. A CDP se apropriou do principio do controle social explícito pelo SUS,

redimensionando para a micro esfera de uma unidade hospitalar.

A comissão mantém no espaço de seus encontros e reuniões ambiente dialógico, plural,

dialético e antagônico. O espaço das reuniões ordinárias mediatiza o encontro para discussão

de questões que podem ser de interesses específicos de pacientes, gestores ou funcionários,

mas o encaminhamento desta discussão deve atender todos. A interação deles neste espaço e

encontros oportuniza a educação, o aprender e ensinar, o ensinar e o aprender. Nesse espaço

em que habitam conflitos e confrontos, que é a CDP, concretizou-se a alfabetização política.

A CDP é um espaço de interação e de encontros, portanto, apresenta-se com potencial

para o desenvolvimento de prática educativa. Tal prática, freireanamente pensando, também

implica uma concepção homem-mundo, traz possibilidades infinitas de intervir no processo

de mudança institucional. O ambiente da micropolítica de humanização de um hospital de

ensino, que conjuga os modelos público e privado de gestão num contexto de crise financeira,

tensiona e traz conflitos às relações na dialética do processo de alfabetização política. Esta

situação pode ser superada no cotidiano do trabalho da CDP, pelo envolvimento e

80

compromisso de seus membros, fortalecendo sua missão no interior da instituição. Porém,

preocupa-nos a possibilidade de seu afastamento.

Em sua prática a CDP vem assumindo muitas frentes de trabalho, por solicitações

diversas, porém estes se aproximam mais da proposta de Humanização Institucional, fato que

pode descaracterizar e enfraquecer a principal proposta de trabalho desta comissão já

sedimentada no interior da instituição, o exercício do controle social.

81

6.1. LISTA DO ACERVO DOCUMENTAL OBJETO DA ANÁLISE

Documentos da Comissão de Direitos do Paciente - Hospital Universitário Clementino Fraga

Filho/UFRJ:

Portaria Nº 73 de 05 de abril de 2001

Portaria Nº 50 de 29 de abril de 2004

Portaria Nº 47 de 15 de junho de 2005

Portaria Nº 63 de 09 de agosto de 2005

Portaria Nº 57 de 12 de setembro de 2006

Portaria Nº 67 de 03 de outubro de 2006

Portaria Nº 83 de 03 de novembro de 2006

Portaria Nº 13 de 31 de março de 2008

Portaria Nº 50 de 27 de agosto de 2009

Portaria Nº 47 de 03 de setembro de 2010

Estatuto da Comissão de Direitos do Paciente - 2001

Estatuto da Comissão de Direitos do Paciente - 2002

Termo de Compromisso da Direção Geral com a Comissão de Direitos do Paciente –

Dezembro de 2004

Atas das reuniões ordinárias da Comissão de Direitos do Paciente do número 01 ao

número 210

Relatórios anuais de atividades encaminhados a Direção Geral no período entre abril

de 2001 e abril de 2011

Relatórios de gestão no período entre abril de 2001 e abril de 2011

Folders dos nove encontros de pacientes realizados no período entre abril de 2001 e

abril de 2011

Projetos elaborados pelos alunos da graduação em serviço social

Trabalhos elaborados pela CDP

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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ANEXO 1

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa intitulada “A educação em

saúde para o exercício do controle social” para elaboração da dissertação de mestrado de

Denise Pires da Silva, sua participação não é obrigatória, a qualquer momento você pode

desistir de participar e retirar seu consentimento

O principal objetivo do estudo é: Identificar e analisar no discurso dosmembros de

uma comissão de direitos como se dá a construção social do processo de conscientização e

alfabetização política para o exercício do controle social e cidadania, mediados pela educação

em saúde.

Utilizaremos como metodologia para a realização deste estudo a observação, a análise

documental e a realização de entrevistas com os membros da Comissão de Direitos do

Paciente/HUCFF/UFRJ, sendo utilizado o estudo de caso. Solicito sua autorização para gravar

uma entrevista, sendo sua participação anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento

será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Os dados coletados serão utilizados

apenas nesta pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou literatura científica. Depois

de concluído o trabalho e como estabelecido no item IX.2 na Resolução CNS Nº 196/96 todo

o material gravado e a transcrição dos dados coletados, que estarão sob a guarda das

pesquisadoras serão destruídos no prazo de 05 (cinco) anos. Você receberá uma cópia deste

termo onde consta o telefone e o endereço institucional da pesquisadora (mestranda) e de sua

orientadora, podendo esclarecer suas dúvidas sobre a pesquisa e sua participação a qualquer

momento.

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Atenciosamente,

Declaro ter sido esclarecido (a) sobre a pesquisa e concordo em participar.

Rio de Janeiro, _____de ____________de 2011.

______________________________________

Instituto de Estudos de Saúde Coletiva CCS / UFRJ

Praça Jorge Machado Moreira, 100 – Cidade Universitária – Ilha do Fundão

CEP: 21.941-598 Rio de Janeiro Tel: (021) 2598-9293

___________________________

Orientadora

Profª Ivone Evangelista Cabral

Email: [email protected]

End: Av. Carlos Chagas Filho, Nº 373

Bloco A, sala 32, Cidade Universitária

Tel: 2562-6345/2562-6348

____________________________

Mestranda

Denise Pires da Silva

Email: [email protected]

End: Av Carlos Chagas Filho, Nº 373

Bloco A, sala 32, Cidade Universitária

Tel: 2562-6345 e Cel: 7701-0183

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ANEXO 2

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADO COM O PACIENTE

1- Como e quando se deu sua inserção na Comissão de Direitos do Paciente, qual foi

a sua motivação para esta participação?

2- Como define o papel de um representante de usuários nesta comissão.

3- Como tem sido a sua participação. Quais os trabalhos que desenvolve, qual a sua

participação?

4- Na sua trajetória de participação ocorreram mudanças no seu comportamento, no

seu agir frente às demandas da comissão. Quando chegou a comissão como era sua

participação e hoje. Caso tenham ocorrido mudanças comente.

5- Faça uma avaliação do caminho percorrido pela CDP, ocorreram mudanças foram

significativas. Comente.

6- Faça uma avaliação final de todo esse processo de construção. Pessoal e coletivo.

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ANEXO 3

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI ESTRUTURA COM PROFISSIONAIS

DE SAÚDE

1- Como se deu sua inserção na CDP. Tempo que participa? Qual foi a sua

motivação?

2- Enquanto trabalhador da saúde como você percebe o exercício do controle social

através do trabalho desenvolvido pela CDP.

3- Como percebe a representação dos usuários nesta Comissão.

4- Qual a contribuição do trabalho de educação em saúde na constituição desta

comissão.

5- Que estratégias e modelos de trabalho têm sido conduzidos no espaço desta

comissão. Como tem sido a sua participação.

6- Avalie sua participação e o trabalho desenvolvido por esta comissão.

89

ANEXO 4

90

ANEXO 5.